Você está na página 1de 16

XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE

Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde


Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

ANÁLISE DA ASSOCIAÇÃO ENTRE OS CASOS DE DIARRÉIA E GASTROENTERITE DE ORIGEM


INFECCIOSA PRESUMÍVEL E VARIÁVEIS CLIMÁTICAS DO MUNICÍPIO DE BACABAL (MA) PARA
ANOS DE 2008 A 2022

Brenda Soares da Silva Nunes da Costa


Universidade Estadual do Maranhão, São Luís – MA, Brasil
Mestranda em Geografia
brendanunes690@gmail.com
Orcid: 0000-0001-5487-5820

Priscilla Venâncio Ikefuti


Universidade Estadual do Maranhão, São Luís -MA, Brasil
Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo-USP e Professora Adjunta da UEMA.
priscilla.ikefuti@yahoo.com.br
Orcid: 0000-0003-0332-9015

RESUMO
A diarréia e gastroenterite é um agravo a saúde humana ligada a uma série de agentes
etiológicos, como vírus, bactérias e parasitas. Ela se caracteriza pelo aumento de evacuações
fecais e vômitos com duração de 24 horas ou até 14 dias, em casos mais graves pode levar a
desidratação, desnutrição ou óbito. É considerado um sério problema de saúde pública no Brasil,
onde as crianças e os idosos são as faixas etárias mais vulneráveis, principalmente nos centros
urbanos periféricos. Os fatores relacionados ao aparecimento de diarréias podem está
associados a falta de saneamento básico, falta de água potável de qualidade, consumo de
alimentos contaminados, ou ainda a variáveis ambientais, como as climáticas. Estudos apontam
que o clima tende a inflenciar diretamente na saúde humana, sobre efeitos em diversas doenças,
sendo assim este trabalho tem como objetivo analisar preliminarmente a associação entre o
total dos casos de internações por diarréia e gastroenterites com as variavéis climáticas
precipitação, temperatura e umidade do ar para o município de Bacabal (estado do Maranhão),
entre os anos de 2008 a 2002. Logo, para esta análise foram utilizados os dados secundários do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) por meio do Tabnet, que
fornece dados anonimizados mensais por município de residência, referente ao capítulo 1 do
CID-10, que contempla as doenças infecciosas e parasitárias, no qual integra a diarréia e
gastroenterite de código CID- A09. Os dados de internações foram agrupados por mês de 2008
a 2022. Quanto aos dados de precipitação, temperatura máxima e mínima e umidade do ar,
estes foram oriundos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) através da estação
convencional de Bacabal, sendo informações mensais. Toda a base de dados foi organizada no
software Excel e depois aplicados em modelos de scripts de comando no Programa R Studio para
a análise estatística e matriz de correlação. Os resultados mostraram que existe um fator de
correlação entre variáveis climáticas e a doença de diarréia, onde a temperatura mínima (r=
0,30) e a precipitação (r=0,16) mostraram-se como as mais significativas, principalmente
durante os meses de janeiro a maio, marcado pelo período chuvoso em Bacabal, e meses do ano
que registraram mais casos de internações

Palavras-chave: Diarréia, Variáveis climáticas, Saúde ambiental, Babacal (MA).


XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

INTRODUÇÃO

A diarréia ou gastroenterite é um agravo considerado de grave problema de saúde


pública, no qual afeta milhares de pessoas e em muitos países é responsável por um elevado
percentual de mortalidade infantil, principalmente nos considerados em desenvolvimento,
como o caso do Brasil. De acordo com Veras et al. (2022) a diarréia e gastrotoenterite de origem
infecciosa presumível possui uma variedade de agentes etiológicos, como vírus, bactérias e
parasitas, e se caracteriza por aumento quantitativo de evacuações e volume do líquido fecal,
com síntomas que podem ter duração de 24 horas ou até 14 dias.
No que condiz aos seus efeitos fisiológicos, destacam-se a desidratação e a desnutrição,
sendo geralmente acompanhada por náuseas, vômitos, cólicas abdominais e febre, nos quais
podem se agravar de acordo com a forma da diarréia (Silveira et al, 2020). Ainda esse tipo de
enfermidade está inserida no Cápitulo 1 do Código Internacional das Doenças (CID-10) e no
grupo das Doenças Diarreicas Agudas (DDA). Segundo o Ministério da Saúde (2022) as DDA
podem ser causadas por diferentes microrganismos infeccciosos (bactérias, vírus, parasitas e
etc), nos quais geram a inflamação do trato gastrointestinal, geralmente a infeccção é causada
pelo consumo de água e alimentos contaminadados, ou ainda pelo contato com objetos e mãos
contaminados.
Consoante Dias et al. (2010, p.53) relatam que “estudos sobre a etiologia das doenças
diarreicas têm demostrado que a prevalência dos patógenos varia com diversos fatores, tais
como o extrato socioeconômico, a localização geográfica, o tipo e local de residência, a idade da
população estudada e as estações do ano”. Assim sendo, a análise dos casos de
morbimortalidade causados pelas diarréias ou gastroenterites são de extrema importância
social, geográfica e econômica, pois a compreensão dos agentes que corroboram para a
ocorrência de casos podem auxiliar em medidas de melhoria no atendimento da rede de saúde
básica, assim como no serviço de saneamento básico.
Em muitas regiões do Brasil, as diarréias aparecem associadas a falta de saneamento
básico, principalmente nos centros urbanos periféricos, onde as crianças e idosos são as faixas
etárias mais vulneravéis. Entretanto, toda as faixas etárias e tipos de genêros estão sujeitos á
contaminação. Conforme dados do Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento-SNIS
(2021) no ano de 2021, da população total estimada brasileira de 213,3 milhões de habitantes,
desses, somente 117,3 milhões possuiam atendimento de esgoto, sendo a região Norte e
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

Nordeste com os menores percentuais (14% e 30,2% respectivamente), e em relação a rede de


atendimento de água, cerca de 84,2% da população total dispõem do serviço, na qual as áreas
urbanas integravam a maior concentração da rede de abastecimento, com 93,5%.
Ainda, os dados do SNIS (2021) revelam que as regiões Norte e Nordeste são as que
apresentam as menores taxas de cobertura de serviços de saneamento básico em relação as
outras regiões do Brasil. Doravante, essas áreas geográficas necessitam de maior atenção por
parte da rede pública de saúde, pois devido a esse déficit de cobertura, as chances de ocorrência
de doenças relacionadas a falta de sanemento podem ser potencializadas, especialmente as de
veiculação hídrica, caso das diarréias.
Assim, destaca-se que essas diferenças regionais em relação a situação do sistema de
saneamento básico reflete nos índices dos casos de diarréia e gastroenterite, nos quais os
autores Veras et al. (2022) ressaltam que a região Nordeste é a que obteve as maiores
incidências desse tipo de doença devido a falta desse serviço.
No Maranhão, o cenário também torna-se preocupante, uma vez que no estado estão
situados alguns dos municípios com menores IDHM do país. E em referência as condições de
saneamento, em 2021, o estado tinha uma população estimada em 7, 2 milhões, onde apenas
55,8% da população possuiam atendimento com rede de água (ou seja 3,6 milhões de hab.),
desse percentual, a população urbana é a que concentra a maior rede, com 78,5 % ( ou 3,3
milhões de hab.) (SNIS, 2021).
Além de fatores sociais e econômicos, as variavéis ambientais também podem contribuir
para o aumento de casos de diarréias e gastroenterites, desses podem ser citados os extremos
climáticos pluviométricos que geram episódios severos de inundações, nos quais se configuram
como canal de proliferação de doenças veiculadas a água, como leptospirose, diarréias,
dermatites, ambíase e outras. Os autores Veras et al. (2022, p.3) destacam que “com relação ao
abastecimento hídrico, as chuvas se mostram como um fator importante que culmina na piora
da qualidade da água que abastece a população”.
Ainda, Florentiano et al. (2014, p. 2) acrescenta que a associação do aumento do índice
de contaminação bacteriológica de águas de poços do lençol freático superficial está associada
ao escoamento das águas das chuvas que carregam excretas humanas e animais, logo o uso
dessa água não tratada pode ocasionar o aumento de diarréias no período chuvoso.
A mudança de temperatura e umidade do ar também podem excer influência direta no
ciclo de vida de determinados patógenos que causam infecções gastroentestinais. Dessa forma,
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

no Maranhão, estudos voltados a análise do perfil epidemiológico das doenças diarreicas são
essenciais, uma vez que o estado apresenta características potenciais para o aumento dos casos
de internação e até óbitos causados pelo agravo da gastroenteriente, principalmente nos
municípios que registram episódios históricos de inundações, falta de saneamento básico e
variações climáticas extremas.
Diante disso, esta pesquisa busca analisar preliminarmente a associação entre o total de
internações por diarréia e gastrotoenterite de origem infecciosa presumível com as variáveis
climáticas, sendo a precipitação, temperatura e umidade do ar, a partir do uso de estatística
descritiva e testes de correlação para o município de Bacabal (MA), entre os anos de 2008 a
2022 na escala mensal . A cidade de Bacabal está localizada na porção Centro-Maranhanse, a
260 km da capital do estado, São Luís (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Localização do município de Bacabal – MA.

Segundo o IBGE (2022) a população estimada é de 103.711 mil habitantes, onde a maior
parte da população reside na zona urbana. A escolha do município como área de estudo se
justifica devido ao registro histórico de inundações e por apresentar setores urbanos de alta
vulnerabilidade social aos impactos desses eventos hidrometeorológicos, principalmente devido
ao sistema de saneamento básico fragilizado nessas áreas e que podem contribuir para o
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

aumento de doenças gastroentestinais, em decorrência da contaminação da água durante as


cheias do Rio Mearim no período chuvoso.
Destaca-se que a produção deste estudo contempla resultados preliminares de pesquisa
de mestrado, sendo um trabalho inédito desenvolvido na cidade de Bacabal, nos quais os
resultados produzidos podem contribuir significamente para a compreensão entre ambiente/
saúde e auxiliar na elaboração de sistemas de alerta ou preparo do serviço de saúde da região
frente ao número de casos da doença estudada.

Variavéis climáticas e implicações no processo saúde-doença

A relação entre clima e as doenças diarreicas são complexas, tendo em vista que
diversos são os fatores que corroboram para o aumento dos casos da doença. No Brasil, ainda
existem poucos trabalhos que visam analisar tal relação (Fonseca, 2018), doravante, devido a
sazonalidade climática que nosso país possui, torna-se cada vez mais necessário estudos que
buscam verificar os impactos da variabilidade climática sobre a saúde humana, principalmente
as doenças sensíveis ao clima (DSC). De acordo com Barcellos et al. (2009) as doenças infecciosas
podem ser fortemente afetadas pelas mudanças ambientais e climáticas, como as de veiculação
hídrica, que têm no saneamento a sua principal estratégia de controle.
Alterações nos padrões de precipitações, temperatura e umidade relativa do ar podem
criar condições para o aumento de casos de diarréias e gastroenterites. Em alguns casos, as
anomalias negativas ou positivas dessas variáveis climáticas podem ter relação direta com as
fases do El Niño Oscilação Sul (ENOS), nos quais podem aumentar ou reduzir os casos de doenças
infecciosas. No Nordeste brasileiro, a fase negativa do ENOS provoca chuvas acima da média
climatológica ocasionando em diversos municípios da região (caso de Bacabal) episódios de
inundações e enchentes. Logo, as ruas alagadas das cidades durante os eventos de enchentes
podem conter agentes infecciosos, onde o contato humano com estas podem ocasionar doenças
como a leptospirose e ou ainda o contato com as mucosas causar diarréias (Correia, 2021).
Por outro lado, mudanças de temperatura podem influenciar no ciclo de vida e no
hábitat de patógenos e vetores (Epstein,2021). Correia (2021) acresecenta que as flutuações
climáticas sazonais produzem efeitos na dinâmica de doenças causadas por vetores, como a
incidência de dengue no verão e da malária na Amazônia durante o período de estiagem. O autor
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

destaca que as doenças de veiculação hídrica podem se agravar com as enchentes ou secas pois
afetam a qualidade e o acesso a água.

Espaço urbano: qualidade da água e doenças de veiculação hídrica

A busca pelo desenvolvimento econômico fez com que as cidades se tornassem pólos
de atração para trabalho, riqueza e melhoria da qualidade de vida. No entanto, a parcela da
população de baixa renda é forçada pela dinâmica econômica, a residir em áreas periféricas das
cidades onde não há infraestrutura básica de saneamento e saúde, além de muitas vezes essas
áreas serem de risco para inundações e enchentes, ou com risco para desabamento e
movimentos de massa. Consequentemente, a elevada densidade demográfica nos centros
urbanos acaba contribuindo para a manutenção de doenças ligada a insalubridade.
Os espaços urbanos concentram diversos problemas ambientais e sociais, pois é nesse
ambiente que acontecem a produção das atividades humanas. Diante desse panorama, Gouveia
(1999, p.53) menciona que “a urbanização desenfreada ultrapassou a capacidade financeira e
administrativa das cidades em prover infra-estrutura e serviços essenciais como água,
saneamento, coleta e destinação adequada de lixo, serviços de saúde, além de emprego e
moradia”.
Para Gouveia (1999, p.54) “a água e o saneamento constituem um dos mais sérios
problemas ambientais, embora problemas dessa natureza estejam concentrados
principalmente nas áreas urbanas de países mais pobres”. O autor ainda dispõe que apesar do
aumento percentual da população servida pelo saneamento adequado e diminuição nas taxas
de mortalidade infantil por diarréia, ainda persiste entre as regiões brasileiras as diferenças em
cobertura de saneamento básico.
Segundo Correia et al. (2021) a qualidade da água é fator importante para o
estabelecimento dos benefícios á saúde e está diretamente relacionada a redução da incidência
e prevalência de vários tipos de doenças. Logo, a baixa demanda de água potável de qualidade
para o consumo humano pode aumentar os riscos de proliferação de microrganismos que
causam doenças de veiculação hídrica.
Desta maneira, “as doenças de veiculação hídrica ou waterborne diseases são um grupo
de patologias geralmente infecciosas, cuja proliferação ocorre através do contato com água
inadequada para o consumo” (Correia, et al. 2021, p.2). As doenças consideradas de origem
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

hídrica são: doenças diarreicas; cólera; shigelose; febre tífoide; amebíase e as hepatite A e E. De
acordo com o Instituto Trata Brasil (2021) no Brasil, no ano de 2019 foram registradas 273.403
internações e 2.734 óbitos por doenças de veiculação hídrica, onde os gastos com as
hospitalizações foram de R$ 108 milhões, com incidência de internação para cada 10 mil
habitantes de 13,01.
A relação triangular entre água , saneamento básico e saúde é muito preocupante no
país, sobretudo no Maranhão, onde a cobertura desse sistema ainda não alcançou toda a
população, onde áreas urbanas concentram os maiores casos de doenças relacionadas a água,
entretanto, não se deve excluir as zonas rurais, nos quais ainda são bastantes representativas
em território maranhense e que carencem de mais atenção das políticas públicas, sobretudo na
garantia do abastecimento de água de qualidade, pois parcela significativa das comunidades
rurais no estado tem água provenientes de poços perfurados.
Essa realidade também é observada no espaço urbano do município de Bacabal,
sobretudo na periferia pobre social, onde o serviço de saneamento básico é ineficiente, como
no bairro Trizidela, situado as margens do Rio Mearim que integra importante bacia hidrográfica
maranhense, os resíduos domésticos produzidos são lançados in natura diretamente no rio e,
comprometendo a qualidade das suas águas, que posteriormente pode contaminar a população
pois muitos utilizam o rio como fonte de lazer para banhos e pesca.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este estudo trata-se de uma análise preliminar descritiva, quantitativa e exploratória


dos dados totais de morbidades por diarréia e gastroenterite de 7origem7 infecciosa presumível
(CID- A09) para o município de Bacabal-MA, referente a série histórica de 2008 a 2022. Para tal,
foram realizadas duas etapas de pesquisa, sendo a primeira operacionalizada em gabinente,
sendo realizadas atividades de revisão blibliográfica, coleta e processamento de dados e análises
de informações. A segunda etapa foi direcionada a trabalho de campo na área de estudo para
reconhecimento de feições físicas naturais, padrões espaciais da cidade e levantamento de áreas
de risco a inundação.
Primeira etapa: processamento de dados

No que comprende ao processamento e análise de dados, foram utilizados o banco de


dados secundários do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) por
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

meio do Tabnet, que fornece dados anonimizados mensais por município de residência, a partir
do CID-10, capítulo 1 referentes as doenças infecciosas e parasitárias. Adotou-se os seguintes
comando para obteção das informações: site DATAUS < Tabnet < Epidemiológicas e Morbidades
< Morbidade Hospitalar do SUS < Geral, por local de resiência, a partir de 2008 < Maranhão <
Ano/mês de processamento < Capítulo CID-10 < Internações < Mês/ Ano < Bacabal < Lista Morb
CID-10 < Diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível.
Os dados de internação hospitalar por diarréia e gastroenterite foram agrupados por
mês, tendo assim um valor total mensal de internações para a série temporal adotada.
Posteriormente, esses foram organizados em software Excel na extensão (xlsx.)
Quanto aos dados mensais de precipitação, temperatura máxima média, temperatura
mínima e umidade relativa, estes foram oriundos do Banco de Dados Meteorológicos para
Pesquisa (BDMP) do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), da estação meteorológica
convencional de Bacabal (82460). O processamento mensal das informações ocorreram a partir
da data 01/01/2008 a 31/12/2022, posteriormente foram tabulados no software Excel na
extensão (xlsx.)
Após a organização do banco de dados, as informações foram processadas no software
livre “R Studio”, nos quais foram aplicados modelos de scripsts (uma sequência de comandos)
para determinar quais as relações de associação existente entre os totais de internação da
doença estudada e os valores mensais das variáveis climáticas. Desta forma, definiu-se: a
estatística descritiva dos dados; a matriz de correlação linear de Pearson entre as variáveis
analisadas e a regressão linear múltipla.
Segunda etapa: trabalho de campo

O trabalho de campo foi realizado no período chuvoso de Bacabal, no dia 23/04/2023,


como proposta de identificação in loco dos problemas causados pela inundação (fato este
ocorrido no respectivo mês da visita de campo), além de verificação das condições dos abrigos
ofertados para as famílias desabrigadas por conta da inundação, ainda entrevista informal com
moradores das áreas de risco e observação dos problemas voltados ao saneamento básico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Climatologia do município de Bacabal apresenta dois períodos distintos, sendo um


chuvoso e o outro de estiagem. De acordo com a normal climatológica de 1991 - 2020, o
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

município apresenta uma média anual de 1774,4 mm de precipitação, com os meses mais
chuvosos de janeiro a maio, com os máximos de chuvas em março, com média de 369,1 mm
(Figura 2). Destarte, as médias de temperatura máxima e mínima são elevadas durante todo o
ano, com médias mensais entre 33°C a 37°C de Tmáx (Figura 3) e 16°C a 24°C de Tmín. Quanto
a umidade relativa do ar mensal, oscila entre 66% a 85,1%, sendo o primeiro semestre do ano
com as médias mais elevadas para esta variável climática.

Figura 2: Gráfico da normal climatológica de precipitação acumulada de


Bacabal-MA.

Fonte: INMET (2023).

Figura 2: Gráfico da normal climatológica de Temperatura máxima de


Bacabal-MA.

Fonte: INMET (2023).


XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

O município de Bacabal foi construído as margens do Rio Mearim e é considerada uma


área vulnerável a desastres naturais meteorológicos e hidrológicos, devido a isso, segundo relato
de moradores e canais de mídias, desde o início dos anos 2000, os anos de 2009 , 2011 e 2023
foram os que registraram as maiores cotas de inundação no município, no qual atingiu vários
bairros, principalmente o bairro Trizidela, situado no setor central da cidade e onde concentra
parcela da população de baixa renda, sendo os que mais sofrem com os danos causados pelos
extremos pluviométricos que causam o transbordamento do Rio Mearim.
Destaca-se que tais anos de maiores ocorrências das inundações foram anos de atuação
do fenômeno La Niña (caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial),
que interferiu no regime de chuvas em todo o estado do Maranhão, e consequentemente em
Bacabal, com chuvas acima da média histórica. Assim, a Figura 3 mostra a situação do bairro
Trizidela durante o período de inundação do Rio Mearim no mês de abril de 2023, observado em
trabalho de campo, no qual deixou mais de 100 famílias desabrigadas.

Figura 3: Bairro Trizidela em Bacabal -MA coberto pelas águas


do Rio Mearim

Durante a visita de campo, verificou-se que a população mais atingida pela inundação são
as mais vulneráveis economicamente, onde suas residências não possuem sistema de saneamento
básico eficiente, como rede de tratamento de esgoto e de água, nos quais tais falhas podem se
tornar potencializadores de doenças de veiculação hídrica durante o período chuvoso (como as
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

diarréias), como mostra a Figura 4, a situação de uma residência quanto a rede de esgoto e
qualidade da água fornecida durante o evento de cheia do Rio Mearim.

Figura 4: Situação do sistema de saneamento básico no bairro Trizidela em Bacabal -MA.

Quanto aos resultados da estatística descritiva do banco de dados utilizados nesta


pesquisa, a Tabela 1 apresenta o resumo descritivo dos casos de diarréias e das variáveis
meteorológicas selecionadas para esta análise.
Entre os anos de 2008 a 2022 observamos pela Tabela 1 que os casos de diarréias
apresentou um valor médio de aproximadamente 25 internações mensais. Levantamos ainda que
os meses de dezembro de 2014, julho de 2015, setembro e outubro de 2021 e janeiro e julho de
2022 foram registrados uma única internação respectivamente. Já os valores máximos acima de
100 internações por mês ocorreram em janeiro e fevereiro de 2008, janeiro e fevereiro de 2010 e
março de 2012 com respectivamente, 128, 108, 101, 107 e 102 internações.

Tabela 1: Estatistica descritiva dos casos de diarréia e gastroenterite de origem infecciosa


pressumível e variaveis meteorológicas.
Estatistica Descritiva Diarreia precipitação tmax tmin UR%
Média 24,9 151,4 34,7 23,0 75,0
Mínimo 1 0 30,91 17 54
Máximo 128 586,3 39,11 25,45 90,19
Soma 4481
Contagem 180 180 180 180 180

A Figura 5 mostra os casos de internação por diarréia e gastroenterite (linha vermelha)


e a pcrecipitação acumulada (barras azuis) por mês no período de 2008 a 2022 em Bacabal. O
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

que observamos pelo gráfico é que Bacabal possui 2 períodos distintos no ano em relação a
precipitação. Os primeiros meses do ano de janeiro a maio a precipitação acumulada (2008 a
2022) é maior que 2.500 mm/mês, sendo superior a 5.000 mm nos meses de fevereiro, março e
abril.
Analisando os casos de internação com a precipitação acumulada por mês, é possível
verificar que os meses de janeiro, fevereiro, março e abril, foram os meses com maior número
de internações, assim como os mais chuvosos do ano. A pesar dos meses de junho a dezembro
a precipitação ser escassa e os casos de internações manter-se próximos a 300 por mês,
entende-se que este tipo de agravo acontece muitas vezes pela ingestão de alimentos mal
lavados e hábitos de falta de higiene, que não específicamente esteja ligado aos problemas de
excesso de chuva. Esta questão só levanta hipóteses de que as doenças diarreicas apresentam
um padrão regular de casos mesmo na estação seca, no entanto na estação chuvosa, que se
observa é um aumento significativo dos casos.

Figura 5: Relação entre os casos de internação por diarréia e gastroenterites e a precipitação


acumulada mensal entre 2008 a 2022.

A Figura 6 traz a matriz de correlação linear de Pearson entre as internações e as


variáveis meteorológicas mensais. Como é possível observar os valores de correlação são baixos,
mas já esperado devido a multicausalidade do agravo estudado. No entando, esse passo de
cálculo da correlação nos permite selecionar as variáveis que obtiveram melhor correlação com
as internações para calcularmos um modelo de regressão múltipla.
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

Dentre as variáveis meteorológicas a temperatura mínima foi a que obteve maior


correlação com a diarréia (r=0,30) e a precipitação (r = 0,16) ambas correlações positivas,
indicando que quando há um aumento/diminuição da internação por diarréia há também uma
aumento/diminuição da temperatura mínima e da precipitação. Além disso, ambas as variáveis
meteorológicas não apresentaram colinearidade entre elas e inclusão as outras variáveis
aumentou os graus de liberdade do modelo.

Figura 6: Matriz de correlação linear de Pearson para as internações por diarréia e


gastroenterite com as variáveis meteorológicas.

O resultado da regressão linear múltipla pode ser observado na Figura 7. Tanto a


precipitação quanto a temperatura mínima foram significativas para explicar a variabilidade da
série de internação do ponto de vista estatístico. A pesar do baixo poder de explicação (R2 =
0.10) das variáveis meteorológicas o modelo foi significante. O que demonstra que nossa
hipótese inicial estava correta em associar a internação por diarreia com o clima.
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

Figura 7: Resultado da Regressão linear mútipla.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultandos preliminares demostrados neste trabalho foram considerados


satisfatórios quanto a hipóstese inicial levantada, destacando que pode haver uma correlação
entre os casos de internação por doenças diarreicas e variáveis climáticas, onde as estatísticas
demonstraram que a variação de temperatura mínima e precipitação tendem a agravar no
número de casos da doença estudada. Durante todo o ano são notificados casos de internação
hospitalar por diarréias e gastroenterites, entretanto, observou-se que durante os meses de
janeiro a maio, há um aumento no número de casos de internação, que pode estar relacionado
ao período chuvoso em Bacabal. Durante os meses de estiagem há um decréscimo de casos,
mas as notificações podem ter como fatores de correlação as condições de saneamento básico,
falta de higiene pessoal e o consumo de alimentos contaminados, além de outros fatores que
serão analisados nas próximas etapas desta pesquisa. Por tanto, estudos voltados a temática de
Clima e Saúde são essências para compreender os fatores de correlações entre variáveis
ambientais e sociais para agravos de doenças em humanos no espaço geográfico.

CRÉDITOS
Brenda Soares da Silva Nunes da Costa: conceitualização; investigação; metodologia; redação
– rascunho original e final.
Priscilla Venâncio Ikefuti: conceitualização; metodologia; redação – rascunho original e final;
supervisão; revisão crítica.
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

AGRADECIMENTOS

A Universidade Estadual do Maranhão pelo financiamento da pesquisa, através da bolsa


de mestrado em vigência e apoio técnico - operacional por meio dos laboratórios de pesquisa.
A Coordenação do Programa de Pós -Graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do
Espaço pelo apoio e incentivo a pesquisa.
Ao grupo de pesquisa CLISA – Núcleo de Pesquisa em Climatologia e Saúde Ambiental
liderado pela professora Dra. Priscilla V. Ikefuti pelas contribuições no desenvolvimento deste
trabalho.

REFERÊNCIAS

Barcellos, C., Monteiro, A. M. V., Corvalán, C., Gurgel, H. C., Carvalho, M. S., Artaxo, P., Ragoni,
V. (2009, setembro). Mudanças climáticas e ambientais e as doenças infecciosas:
cenários e incerteza para o Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, 18 (3), 285 - 304.
http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v18n3/v18n3a11.pdf .
Correia, C. V., Huszcz, G. B., Paes, B. A, & Martens, L. B., (2021). Doenças de veiculação hídrica
e seu grande impacto no Brasil: consequência de alterações climáticas ou ineficiência
de políticas públicas. Brazilian Medical Students Journal, 5 (8). DOI:
10.53843/bms.v5i8.100
Dias, D. M., Silva, A. P., Helfer, A. M., Maciel, A. M. T. R., & Souza, C. O. (2010).
Morbimortalidade por gastroenterites no Estado do Pará, Brasil. Revista Pan-Amaz
Saude, 1 (1), 53-60. Doi: 10.5123/S2176-62232010000100008.
Epstein, P. R. (2001). Climate change and emerging infectious diseases. Microbes and Infection,
3 (9), 747v- 754. https://doi.org/10.1016/S1286-4579(01)01429-0
Florentino, I. L., Gomes, I. C., Mota, M. L., Damacena, M. C. S. (2014, junho). Epidemiologia das
doenças diarreicas agudas no Cariri-CE. Revista Interfaces: Saúde, Humanas e
Tecnologia, 2 (2), 1-5. https://interfaces.unileao.edu.br/index.php/revista-
interfaces/article/view/51
Fonseca, P. A. M. (2018). Influência de variáveis hidro-climáticas na ocorrência de diarreias em
menores de 5 anos na Amazônia Ocidental. (Tese de Doutorado, Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia – Universidade do Estado do Amazonas) Repositório do INPA
de Teses e Dissertações.
XI SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE
Amazônia, fronteiras e escalas geográficas na análise da saúde
Manaus - Brasil - 5 a 9 de novembro de 2023
ISSN 1980-5829

https://repositorio.inpa.gov.br/bitstream/1/12962/1/TESE_CLIAMB_Fonseca_Paula_A
ndrea_Morelli_Fonseca_Jun2018.pdf.
Gouveia, N. (1999, fevereiro). Saúde e ambiente nas cidades: os desafios da saúde ambiental.
Saúde e Sociedade, 8(1), 49 -61. https://doi.org/10.1590/S0104-12901999000100005
Instituto Trata Brasil (2021). Saneamento e doenças de veiculação hídrica: DATASUS e SNIS
2019. Disponível em: https://tratabrasil.org.br/wp-
content/uploads/2022/09/Sumario_Executivo_-_Saneamento_e_Saude_2021__2.pdf .
Acesso em: 10.jun.2023.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2022). Cidades e Estados: Bacabal. Disponível
em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ma/bacabal.html . Acesso em:
05.mai.2023.
Instituto Nacional de Meteorologia (2023). Banco de Dados Meteorológicos para Pesquisa:
serie histórica de dados de 2008 a 2022. Disponível em: https://bdmep.inmet.gov.br/#
. Acesso em: 10.mai.2023.
Ministério da Saúde (2022). Doenças diarreicas agudas. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/dda . Acesso em:
10.jun.2023.
Siqueira, S. M. C., Franco, R. M. C., Camargo, C. L. & Mariano, I. A. (2020). Panorama da
diarreia e gastroenterites entre crianças brasileiras na última década. Revista
Saúde.Com, 16(4), 1951-1958. DOI10.22481/rsc. v16i4.6643
Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento. (2021). Painel do Setor Saneamento.
Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/snis/painel .
Acesso em: 31.jul.2023.
Veras, L. D. L., Soares, L. W. F, Neto, M. R. S, Rodrigues, M.G.S, Silva, A. C. F, Galdino, M.R.L, &
Mendonça, M. H. R. (2022,3 de junho). Diarreia egastroenterites de origen infecciosa
presumível: análise do perfil epidemiológico nas regiões do Brasil no período de 2012 a 2022.
Researh, Society and Developmen 11(7), 1-15. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i7.

Você também pode gostar