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AULA 1: CONCEITOS DE CLIMA URBANO

Profa. María Valverde


24 de Junho de 2014
CLIMA
Clima refere-se às características da atmosfera,
inferidas de observações contínuas durante um
longo período de tempo (Ayoade, 1988).

 O clima inclui considerações dos


desvios em relação às médias,
condições extremas, e a
probabilidade de frequência de
ocorrência de determinadas
condições de tempo.
 Para Ayoade (1988, p. 10), ―O
clima é um componente vital do
ambiente tropical, que deve ser
compreendido e levado em
consideração em qualquer
programa de desenvolvimento
que tenha por objetivo elevar o
padrão de vida e a qualidade
dessa população‖.
SUBDIVISÕES DO CLIMA
O campo da climatologia é bastante amplo, comportando
subdivisões com base na escala dos fenômenos atmosféricos que
são ressaltados (Ayoade, 1988):
1. Climatologia sinótica – é o estudo do tempo e do clima em uma
área com relação ao padrão de circulação atmosférica
predominante.
2. Climatologia física – é a investigação do comportamento dos
elementos do tempo ou processos atmosféricos em termos de
princípios físicos. Neste campo, dá-se ênfase à energia global e
aos regimes de balanço hídrico da terra e da atmosfera;
3. Climatologia dinâmica – é o estudo dos movimentos
atmosféricos em várias escalas, particularmente na circulação geral
da atmosfera;
4. Climatologia aplicada – é a aplicação dos conhecimentos e
princípios climatológicos às soluções dos problemas práticos que
afetam a humanidade;
6. Climatologia histórica (Paleoclimatologia) – é o estudo do
desenvolvimento dos climas através dos tempos, da historia do
planeta;
7. Bioclimatologia – tem como objeto de estudo as interacções
entre a biosfera e a atmosfera terrestre, tendo como escala
temporal as estações do ano ou intervalos de tempo superiores;
8. Climatologia Agrícola – é o estudo dos fenômenos
climatológicos ligados à produção animal e vegetal, tentando
estimar os fenômenos para evitar perdas críticas na produção;
9. Climatologia Urbana – é o estudo dos fenômenos
climatológicos ligados à superfície das cidades, buscando
estabelecer relações entre os aspectos urbanos e o clima local;
CLIMA URBANO
O estudo do clima urbano pode ser realizado tanto pela
meteorologia urbana quanto pela climatologia urbana.
Meteorologia Urbana  é o estudo dos processos físicos,
químicos e biológicos que operam para mudar o estado da
atmosfera nas cidades,
Climatologia urbana  é o estudo dos seus estados
atmosféricos mais frequentes Oke (1984b: 19)
IMPORTANTE: O clima urbano resulta das
modificações que as superfícies materiais e as
atividades das áreas urbanas provocam nos balanços
de energia, massa e movimento (Oke, 1987).

Interdisciplinaridade: A climatologia urbana é uma área de


intensa interdisciplinaridade, onde se ―cruzam‖ contribuições
de especialistas de diferentes domínios, como a Geografia, a
Arquitetura e o Urbanismo, a Engenharia e a Meteorologia.
CLIMA E ESPAÇO URBANO
― O clima urbano é um sistema que abrange o clima de um
dado espaço terrestre e sua urbanização‖ Monteiro e
Mendoça (2003: 19).

Espaço urbanizado, é o espaço que se


identifica a partir do sítio, constitui o núcleo do
sistema que mantem relações íntimas com o
ambiente regional imediato em que se insere.
Monteiro e Mendoça (2003: 19)
NATUREZA DO CLIMA URBANO
A natureza do clima urbano foi expressa por Lowry (1977) através de
equação matemática linear formada por três componentes que
estabelece que os valores dos elementos do clima possam ser
expressos de acordo com:
M i, t, x = R i, t, x + L i, t, x +U i, t, x

M  representa os elementos do clima avaliados sob a presença de um


determinado tipo de tempo ―i” (condição sinóptica), em um momento ―t”,
em um determinado local do meio urbano ―x” (normalmente uma estação
meteorológica),
R  representa a componente regional,
L  a componente local devida aos fatores não urbanos e;
U  a componente urbana propriamente dita (meio físico pré-existente).
R representa os valores dos elementos do clima que seriam observados
na presença de condições de topografia plana ou sem efeitos urbanos,
sendo que L e U são os desvios em relação ao valor observado para R
devido aos efeitos topográficos e da presença da região urbana.
NATUREZA DO CLIMA URBANO

A natureza do clima urbano pode ser diferenciada face ao espaço envolvente,


resultado de um conjunto de fatores, internos e externos, que condicionam,
ampliam ou mitigam determinadas variáveis climáticas (vento, temperatura,
humidade). A topografia, neste contexto, pode ter um efeito atenuador, em
determinados sectores, ou de incremento em outros (Figura).
HISTÓRICO
 A climatologia convencional preocupa-se mais com os resultados dos processos
atuantes na atmosfera do que com seus impactos.
 Segundo Monteiro (1976), o primeiro estudo de clima urbano surgiu em Londres,
no início da era industrial, com a obra do climatologista amador Luke Howard,
em 1833, que analisou contrastes meteorológicos em Londres, entre a metrópole
e o entorno.
 Até a década de 1970, os estudos sobre clima urbano eram mais descritivos
sobre os fenômenos climáticos e suas inter-relações. Após esta data, as
investigações, realizadas nesse campo de estudo, passaram a ser mais
orientadas para a aplicação metodológica teórica e quantitativa.
 A contribuição de Oke (1973a, 1973b, 1981, 1999) é das mais significativas; ao
longo de todo o seu trabalho demonstrou que o clima da cidade é produto de um
fenômeno de transformação de energia a partir da interação entre o ar
atmosférico e o ambiente urbano construído. O autor explica a diferença entre os
processos térmicos rural e urbano, e coloca em evidência a geometria urbana e
a inércia térmica dos materiais de construção no processo de mudança climática
causado pelos assentamentos urbanos. O trabalho deste autor consolida o
estudo da inter-relação entre clima urbano e uso e ocupação do solo.
 No Brasil, os modelos teóricos sobre clima urbano desenvolveram-
se principalmente durante as décadas de 1960 e 1970.
 Segundo Tarifa (2002), a maior parte dos trabalhos desenvolvidos
na área urbana concentrava-se em avaliar aspectos referentes à
ocorrência de chuvas e poluição do ar. Esta visão não considerava
que a vida das pessoas na cidade sofre a influência, por exemplo,
da qualidade do ar e do conforto térmico.
 Monteiro (1972) cria um modelo que explica e inter-relaciona os
efeitos urbanos com o clima local, chamado de Sistema Clima
Urbano.
 O trabalho desenvolvido por Monteiro para abordagem do clima
urbano é considerado pioneiro nas pesquisas desenvolvidas no
Brasil.
SISTEMA CLIMA URBANO (S.C.U.)
O S.C.U. é um sistema aberto e dinâmico, composto de três
subsistemas, que se articulam segundo canais de percepção
climática: o termodinâmico, o físico-químico e o hidrométrico,
conforme ilustra a Tabela (Monteiro e Mendonça, 2011).

Subsistemas Caraterização
I Enfatiza os estudos de ilhas de calor e ilhas
Termodinâmico de frescor urbanas, conforto e desconforto
térmico da população, inversão térmica.
II É voltado para a análise dinâmica do ar e
Físico-Químico suas interações com a cidade, destacando a
poluição do ar, as chuvas ácidas e a relação
entre as estruturas urbanas e os ventos.
III Orienta-se para o estudo das precipitações
Hidrométrico urbanas e seus impactos, tais como os
processos de inundação nas cidades.
NOÇÕES SOBRE ESCALAS NO CLIMA URBANO
A mudança de escala, passando dos estudos de clima
regional para os estudos de clima urbano, criou novas
necessidades técnicas e metodológicas.

Escala de um determinado fenômeno meteorológico refere-se


as suas dimensões espacial e temporal “típicas”.

De acordo com Tarifa (2001, p.25),


“Desde os primeiros trabalhos de campo efetuados em
cidades, a representatividade do ponto de observação e sua
extensão no espaço se tornam um problema quase intangível
e assim permanece. A necessidade de se conhecer como se
movimentam e se transformam as propriedades do ar (calor,
luz e composição) nos espaços da escala humana, onde
(respirar, trabalhar, habitar) se produz a vida enquanto
totalidade é um fato de importância inquestionável.”
NOÇÕES SOBRE ESCALAS NO CLIMA URBANO
 Geralmente, as cidades são mais aquecidas e menos ventiladas
que as áreas rurais. Porém, as modificações do clima urbano são
altamente variáveis, ou seja, as variações climáticas no ambiente
urbano não ocorrem de forma homogênea, assim como não são
homogêneas as tipologias de ocupação e uso do solo nas cidades.
 Essas alterações climáticas podem ser observadas em diferentes
escalas climáticas (distância horizontal) e limites da camada
atmosférica (distância vertical).
 A classificação das escalas climáticas permite uma maior
compreensão e, assim, o desenvolvimento de métodos mais
adequados para diagnosticar o clima urbano.

Barbugli (2004, p.28) refere à necessidade de novas escalas para


observação do clima das cidades:
“Ao analisar as diferenças climáticas entre o centro urbano
de uma cidade e seu entorno, trabalha-se numa escala
diferente do que na análise da influência de um conjunto de
edifícios, em um determinado bairro da cidade.”
ESCALAS CLIMÁTICAS URBANAS
 As várias escalas têm interação permanente, pois fazem parte de um
contínuo, não sendo possível entender o clima urbano enquanto um
fenômeno isolado, pois há uma interação hierárquica entre os vários níveis
atmosféricos acima do solo (Oke, 1978) .
 Em cada escala de análise, as unidades morfológicas (prédios, bairros, zonas
homogêneas de uso do solo) terão balanços de energia diferenciados. Neste
sentido, o conceito de escala é fundamental no entendimento de como os
elementos da superfície urbana se relacionam com a atmosfera.
 As escalas de comprimento podem variar de milímetros, como no caso da
influência da rugosidade local, até quilômetros, como nos movimentos
atmosféricos associados a centros de baixa e alta pressão.
 A escala temporal é determinada pelo tempo de vida ou período de duração
do fenômeno.
o De forma geral, as escalas climáticas urbanas (distância horizontal)
podem ser classificadas, segundo Oke (2004), da seguinte forma:
- Escala Macroclimática
- Escala Mesoclimática
- Escala Local
- Escala Microclimática
ESCALA MACROCLIMÁTICA
 Este clima é decorrente da formação topográfica e
da latitude. Recebe influência das massas térmicas
(massas de ar), que, além de suas características
originais, durante sua trajetória recebem influência
de outras massas térmicas e do mar. Os dados que
caracterizam este clima são compostos de séries
históricas e geralmente são fornecidos por estações
meteorológicas e descrevem o clima genérico de
um estado ou de um país, com detalhes de
insolação, nebulosidade, precipitações, temperatura
e umidade.
ESCALA MESOCLIMÁTICA
 Nessa escala é possível observar a influência da cidade
no tempo e no clima de toda a área urbana. Costuma-se
adotar médias de 30 anos de dados climáticos
comparadas com parâmetros da evolução urbana.
Normalmente, estes dados são fornecidos por estações
meteorológicas ou aeroportos localizados no perímetro
urbano.
ESCALA LOCAL
o Essa escala inclui os efeitos da característica das paisagens no
clima, tal qual a topografia, porém exclui os efeitos do
microclima. Nas cidades, isso corresponde ao impacto de vizinhanças
com tipos similares de desenvolvimento urbano (cobertura da
superfície, tamanho e espaçamento das construções e atividade).

o Essa escala é adotada quando


se tem dimensões que variam
entre um a mais quilômetros.
Nessa classificação de escala
utilizam-se dados diários e
horários coletados durante um
período de tempo que pode variar
de cerca de um ano, um trimestre
ou mesmo por um episódio típico
de verão ou de inverno. Tais
dados costumam ser coletados
pelo próprio pesquisador.
ESCALA MICROCLIMÁTICA
 Equivale à camada mais próxima do solo. É típica para
microclimas urbanos, sendo ajustadas pelo
dimensionamento de elementos individuais: prédios,
árvores, estradas, ruas, pátios, jardins e etc., estendendo-
se, em média, por menos de um metro até cem metros.

Assim como na escala local,


os dados são, também,
coletados pelo próprio
pesquisador dentro de um
período de tempo que pode
variar de cerca de um ano, um
trimestre ou mesmo por um
episódio típico de verão ou de
inverno.
FIGURA 1- ESCALAS TEMPORAL E ESPACIAL ENVOLVIDAS EM
FENÔMENOS DE CLIMA URBANO. FONTE - ADAPTADO DE OKE (2006B).

Fenômenos de
movimento:
1. Turbulência
mecânica provocada por
obstáculos;
2. Turbilhão em canyon
urbano;
3. Efeito de um único
edifício;
4. Concentração de
poluentes urbanos.
5. Circulação de brisa em
área urbana;
6. Sistema de brisa em
área rural-urbana;
7. Elevação da ‗pluma‘
sobre a cidade.
ESCALAS SEGUNDO AS CAMADAS QUE COMPÕEM A
ATMOSFERA
 Na análise das camadas que compõem a atmosfera existe
uma camada denominada camada limite atmosférica
ou planetary boundary layer (PBL), que se associa ao
estudo do clima urbano. Nesta camada o escoamento das
massas de ar tem comportamento diferenciado ao longo de
sua extensão vertical, variando do comportamento
turbulento, nos níveis inferiores, ao não turbulento no topo
desta camada.
 Na análise do vento na PBL associada à ocupação, a
morfologia urbana representa uma superfície rugosa que
determina o comportamento do ar na camada mais
próxima aos edifícios e acima do nível das coberturas dos
prédios.
 Oke (1978) propõe a divisão da PBL em dois níveis: a
―camada urbana ao nível das coberturas ou camada límite
do dossel urbano - CLD‖ (urban canopy layer - UCL) e a
―camada limite urbana - CLU‖ (urban boundary layer -
UBL).
1. Camada Limite do Dossel Urbano - CLD – (Canopy
Layer ):
Estratificada abaixo do nível dos telhados. Produzida pelos
processos em micro escala localizados nas ruas, entre os
prédios etc. A natureza ativa dessa superfície produz uma
considerável complexidade de fatores atuantes.

2. Camada Limite da Influência Urbana – CLU - Urban


Boundary Layer) :
Estende-se acima do nível dos telhados. É um fenômeno
localizado, com características produzidas pela natureza da
superfície urbana, cuja rugosidade, proporcionada pela
presença de prédios relativamente altos, provoca uma
aerodinâmica particular. A velocidade do vento se reduz, mas
ocorre um aumento da turbulência e do arrasto produzidos
pela fricção do ar (Ver Figura).
Camada Limite da Influência Urbana
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 Ayoade, J.O: Introduction to climatology for the Tropics spectrum Books,
Ibadan, 1988.

 LOWRY, W. P. Empirical estimation of urban effects on climate: a problem


analysis. Journal of Applied Meteorology, 16: 129-153. (1977).

 Monteiro, C. A. e Mendonça, F. Clima Urbano. Editora Contexto, 2003.

 OKE, T. R. Boundary layer climates . London: New York, 1978. 372p.

 OKE, T. R. Initial guidance to obtain representative meteorological


observations at urban sites . World Meteorological Organization,
Instruments and Observing Methods, Report nº 81, nº 1250. Canadá:
WMO/TD, 2006A.

 OKE, T. R. Towards better scientific communication in urban


climate .Theoretical and Applied Climatology , 84, 2006B. 179—190.

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