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AULA 2: PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E

SUAS INTERAÇÕES COM A ATMOSFERA.

Profa. María Valverde


26 de Junho 2014
INTRODUÇÃO

“O homem e o clima se afetam mutuamente, pois


assim como o clima influencia o ser humano de
diversas maneiras, este pode influenciar aquele por
meio de suas mais diversas atividades. Os efeitos das
ações humanas sobre o clima podem ser vistos e
sentidos principalmente nas regiões com maior
adensamento populacional, por implicar expansão de
áreas construídas, maior modificação da paisagem
natural, maior quantidade de veículos em circulação,
aumento das atividades industriais etc. Em resumo, é
nas áreas com maior adensamento populacional que
a paisagem original é modificada de forma mais
intensa” (COX, 2008).
RITMO DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NO MUNDO

Crescimento da população mundial


segundo a ONU. Os dados pós-2010
são apenas projeções. Fonte: United
Nations. Economic & Social Affairs.
New York, 2007, p.15 (com
adaptações).

Até 2030, a ONU prevê que mais pessoas em todas as regiões do globo terão deixado as zonas rurais,
mesmo na África e Ásia, que atualmente estão entre as menos urbanizadas do globo. O maior crescimento,
vai ocorrer em países em desenvolvimento. Por volta do meio do século, o total da população urbana destes
países vai mais que dobrar: de 2.5 bilhões em 2010 para 5.3 bilhões em 2050. É a América Latina que vai
estar na primeira posição do ranking mundial. No meio do século XXI, 91.4% da população dos países
latinos estará vivendo em cidades, seguido pela Europa (90,7%) e América do Norte (90,2%). As regiões
menos urbanizadas continuarão sendo Ásia (66.2%) e África (61.8%).
Os dados apresentados fazem parte da pesquisa “(Mis)Informed cities? The urban level of climate change
as reported on the pages of UK prestige press”, conduzida no âmbito do PressFellowship Programme –
Easter Term 2011, da Universidade de Cambridge/UK.
MEIO URBANO
Espaço remodelado pelo homem no qual os vários
elementos primários, orgânicos e inorgânicos – entre
eles o ser humano- são afetados e ou modificados por
esses novos padrões.

 modificações  refletem-se na própria


composição da atmosfera, e portanto no
seu comportamento;
 atmosfera da cidade: um dos elementos
mais atingidos no processo de urbanização;
PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
O processo de urbanização seria a transformação de uma
forma menos densa e mais esparsa de distribuição da
população no espaço para uma forma concentrada em
núcleos urbanos (Serra, 1991).

Expansão Urbana
Crescimento do espaço urbano para além dos seus
limites, acompanhando pela difusão do modo de vida
urbano e pelo desaparecimento de estruturas e modos
de vida rurais.

O processo de crescimento urbano impõe um caráter peculiar a


baixa troposfera (camada limite atmosférica), a ponto de produzir
condições atmosféricas locais distintas das encontradas em áreas
vizinhas.
Resumidamente, o processo de urbanização ocorre em quatro principais
etapas, sofrendo algumas poucas variações nos diferentes pontos do planeta:

Em geral, o que se observa, portanto, é a


industrialização funcionando como um
motor para a urbanização das sociedades
(1ª ponto do esquema acima). Em
seguida, ampliam-se as divisões
econômicas e produtivas, com o campo
produzindo matérias-primas, e as cidades
produzindo mercadorias industrializadas
e realizando atividades características do
setor terciário (2º ponto). Esse processo
é acompanhado por um elevado êxodo
rural, com a formação de grandes
metrópoles e, em alguns casos, até de
megacidades, com populações que
superam os 10 milhões de habitantes (3º
ponto). Por fim, estrutura-se a
chamada hierarquia urbana, que vai
desde as pequenas e médias cidades às
grandes metrópoles.

Esquema simplificado sobre o processo de urbanização na era capitalista


A ERA INDUSTRIAL
 Pode-se estabelecer um paralelismo entre industrialização e urbanização, no
processo de desenvolvimento que se verifica, a partir do século XIX, em
todos os países europeus do ocidente, até mesmo na América do Norte.
 Com o desenvolvimento industrial, verificado a partir da segunda metade do
século XVIII e, mais acentuadamente, no século XIX, observou-se
imediatamente uma aceleração do processo, adquirindo as características
de nossa época: verticalização, conurbação, favelas, parques etc. (Serra,
1987).
 A partir da revolução industrial, o processo de urbanização e o crescimento
populacional se intensificaram de tal maneira que “os espaços urbanos
passaram a assumir a responsabilidade do impacto máximo da atuação
humana sobre a organização na superfície terrestre e na deterioração do
ambiente” (Monteiro, 1976, p. 54).
 Aumento do tamanho físico: acompanhado por crescimento demográfico,
interesses imobiliários e muitas vezes ausência de políticas públicas de
ordenamento do território;
 Verticalização, um dos principais agentes modificadores do meio urbano,
contribuindo para que o indivíduo perca a noção de espaço.
PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E AS MUDANÇAS NO
AMBIENTE
 O processo de urbanização produz mudança radical nas
características radiativas, térmicas, de umidade e aerodinâmicas das
superfícies, o que inevitavelmente produz mudanças no balanço de
radiação e hidrológico, o que traz como consequência, modificações
nas propriedades atmosféricas da região.
 Entre os processos e mecanismos relacionados à modificação dos
balanços de energia e hídrico responsáveis pela formação do clima
urbano, pode-se citar:
a) Fontes de calor antropogênico – O uso de energia para
aquecimento das edificações, iluminação, transporte, uso industrial,
dentre outros, introduzem no meio urbano uma enorme quantidade de
energia, que é dissipado na atmosfera urbana sob a forma de calor, o
que contribui para que a mesma se aqueça. Por outro Lado, a queima
de combustíveis fósseis (gás natural, gasolina, óleo diesel, óleo
combustível) e alguns processos industriais liberam uma enorme
quantidade de vapor d’água no meio, o que pode em casos específicos
aumentar a umidade do ar na composição atmosférica;
b) Impermeabilização das superfícies urbanas – A troca das
superfícies naturais por edifícios e pavimentos (asfaltos e concreto)
diminui a infiltração da água no solo e aumenta o escoamento das
águas superficiais, reduzindo o armazenamento de água na superfície
urbana, o que faz com que grande parte da energia disponível seja
utilizada para aquecer as superfícies (fluxo de calor sensível), e
consequentemente, a atmosfera, aumentando desta forma a
temperatura do ar nesses ambientes. A retirada da vegetação do meio
urbano reduz a evapotranspiração, um dos principais mecanismos de
introdução de umidade na atmosfera;
c) Contaminação do ar urbano – A introdução de poluentes no ar
atmosférico urbano contribui para que haja redução na radiação de
onda curta, principalmente devido à absorção e difusão da radiação
solar pelas partículas em suspensão. Por outro lado, essas partículas
são responsáveis por absorver a radiação de onda longa
(infravermelha termal) emitida pelas superfícies urbanas, o que resulta
em maior emissão de onda longa pela atmosfera em direção à
superfície terrestre. Outro aspecto a ser considerado é que essas
atuam ainda como núcleos de condensação, aumentando assim a
frequência de nevoeiros e de precipitações; e,
d) Cânions Urbanos – Constituem os cânions urbanos unidades básicas
do tecido urbano compostos por paredes e solo (normalmente uma rua ou
avenida) contidos entre dois edifícios adjacentes. São nesses cânions que
se processam os principais mecanismos de modificação do clima urbano,
principalmente por serem compostos por materiais com diferentes
propriedades térmicas, diferentes orientações solares, características
aerodinâmicas (rugosidade) e maior área de exposição às radiações de
onda curta e longa.
O tecido urbano é representado pelas dimensões, distribuição, volumetria
e distância entre os edifícios e pela tipologia de ocupação dos edifícios,
ruas e áreas verdes, pode ser simplificado de tal forma que se possa
trabalhar com formas unitárias básicas que se repetem ao longo do dossel
urbano.

Toronto
IMPACTOS DAS MODIFICAÇÕES ATMOSFÉRICAS
ASSOCIADA À URBANIZAÇÃO

Uma das mais importantes modificações associada à


urbanização é:
1. Alteração das características térmicas da superfície,
decorrente da presença de edificações e materiais de
construção quando comparada às áreas verdes.
 Um dos impactos mais visíveis, decorrentes da
urbanização, é o aumento da temperatura e a alteração da
umidade do ar em relação ao entorno, fenômeno
conhecido como "ilha de calor urbana".
EXEMPLO DE ILHA DE CALOR NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Fonte: http://blig.ig.com.br/geomarcelocoelho/2009/08/16/ilha-de-calor/
2. A impermeabilização do solo, e das superfícies urbanas
contribui para a intensificação de inundações, enchentes,
alagamentos e enxurradas.

http://dcsbcsp.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html
3. As fontes antrópicas, por sua vez, poluem a atmosfera
urbana pela adição de material particulado.

http://www.companhiadeimprensa.com.br/assessoria/release.php?id=2212
4. Um dos principais problemas com que os urbanistas se
deparam na contemporaneidade é o planejamento urbano, mais
precisamente, o desenho urbano futuro, aplicado ao uso e
ocupação do solo, permitindo a continuação do crescimento das
áreas urbanas e de suas atividades, sem que isso interfira
drástica e negativamente nas condições climáticas do local.

O planejamento urbano é o processo de idealização,


criação e desenvolvimento de soluções que visam
melhorar ou revitalizar certos aspectos dentro de uma
determinada área urbana ou do planejamento de uma nova
área urbana em uma determinada região, tendo como
objetivo principal proporcionar aos habitantes uma
melhoria na qualidade de vida.
AMBIENTE URBANO E AMBIENTE RURAL
Há muitos fatores que determinam as diferenças entre o ambiente urbano e o
rural. No contexto da cidade, a substituição de materiais naturais por materiais
urbanos provoca mudanças nos processos de absorção, transmissão e
reflexão da radiação, e, consequentemente, causa mudanças no balanço
energético, na temperatura do ar, nas taxas de umidade relativa do ar, nas
correntes de vento, na precipitação, dentre outros fatores. Contudo, é
imprescindível considerar sempre a latitude, que regula a entrada de radiação
solar, e a altitude, que regula a coluna de ar sobre o local.

Definem-se as zonas rurais (ou o meio rural, ou campo) como as regiões no


município não classificadas como zona urbana ou zona de Expansão Urbana,
não urbanizáveis ou destinadas à limitação do crescimento urbano, utilizadas
em atividades agropecuárias, agroindustriais, extrativismo, silvicultura,
e conservação ambiental.
Embora tradicionalmente estas áreas tenham sido primariamente utilizadas para
a agricultura ou pecuária, atualmente grandes superfícies podem estar
protegidas como uma área de conservação (de flora, fauna ou outros recursos
naturais), terras indígenas, reservas extrativistas e ter outra
importância económica, por exemplo, através do turismo rural ou ecoturismo.
CARACTERÍSTICAS DA FORMA URBANA QUE SÃO
CONDICIONANTES CLIMÁTICOS

 As características da forma urbana são condicionantes do


clima urbano. A forma urbana pode atuar, fraca ou
intensamente, na configuração do clima urbano, através da
sua maior ou menor influência no desempenho de um ou
mais elementos climáticos.
Vejamos algumas caraterísticas:
- Conformação espacial;
- Rugosidade;
- Porosidade;
- Densidade da construção
- Tamanho;
- Uso e ocupação do solo;
- Orientação da massa edificada
- Permeabilidade do solo
- Vegetação
1. Conformação espacial –é representada pelo espaçamento,
disposição, altura, largura, e profundidade da massa edificada,
acrescidos dos aspectos geomorfológicos (solo e paisagem natural).
Deve ser avaliada quanto ao tipo de relevo do solo, observando se o sítio
é côncavo, convexo ou plano; e quanto à massa edificada, analisando o
espaçamento, a disposição, a largura, a altura e a profundidade da
massa.
2. Rugosidade – trata das saliências e reentrâncias
peculiares à forma urbana conforme seus espaçamentos e
alturas relativas, em relação ao atrito que propicia por
ocasião da passagem das correntes de ar.
3. Porosidade – uma maior ou menor permeabilidade às
manifestações que ocorrem na atmosfera (ventos, ruídos) que
a estrutura urbana apresenta. Analisa-se a relação entre altura
e o espaçamento dos volumes para possibilitar a criação de
canais de circulação, ou excesso de sombra, etc.
A rugosidade e a porosidade são características morfológicas
que determinam o desempenho da estrutura urbana em
relação a um maior ou menor aproveitamento dos ventos.
4. Densidade da construção – é entendida como a relação entre a massa
edificada e a área total considerada, podendo ser muito densa, densa ou pouco
densa.
A Densidade de construção é representada pelo índice de ocupação. Às mais
altas densidades correspondem as mais altas temperaturas. É o que verificou
Lombardo (1985) em sua pesquisa em São Paulo, onde observou que os mais
altos valores de temperatura estão relacionados às mais altas densidades de
população, onde se encontram mais de trezentos habitantes por hectare. É nas
áreas do centro da cidade, em áreas industriais e bairros operários com alto
coeficiente de ocupação dos lotes na grande São Paulo onde Lombardo verificou
os maiores gradientes de temperatura.
5. Tamanho – considerações sobre as dimensões
horizontais e vertical da forma urbana.

Vista aérea de Manhattan, cidade de Nova York


6. Usos e ocupação do solo – refere-se à concentração/dispersão de
determinados edifícios em relação ao seu uso, e à
centralização/descentralização de determinadas atividades e a
proporção de áreas verdes.
Deve-se analisar como as atividades influenciam o aumento de calor,
ruído e o aumento das partículas de poluentes.
Distribuição/localização das atividades antropogênicas no centro
urbano.
7. Orientação – refere-se ao posicionamento apropriado da forma
urbana frente aos caminhos aparentes do sol, aos ventos e a elementos
naturais ou não, contudo significativos – o mar, uma encosta de
montanha, um grande rochedo, um lago artificial, às fontes poluidoras e
aos ruídos, seja para expor-se ou para abrigar-se, periódica ou
permanentemente, aos e dos efeitos produzidos por esses elementos.
(Oliveira,1988).
8. Permeabilidade do solo – deve-se observar a área do solo
urbano destinada à infiltração das águas pluviais, quanto à sua
impermeabilidade por pavimentação ou edificação. A
impermeabilização do solo pode ocorrer por: ocupação por
edifícios ou construções, pavimentação de passeios, ruas e
avenidas, compactação de solo nú (estacionamento de
veículos, circulação de pessoas e automóveis).
9. Propriedades físicas dos materiais constituintes –
analisa todos os materiais que cobrem a massa edificada e a
pavimentação, por tipos (cerâmica, alvenaria, asfalto) e cor
(claras ou escuras), conforme sua incidência na transmissão
de calor ou de poluentes.
Influenciam na quantidade de energia térmica acumulada e
irradiada para a atmosfera, contribuindo para o aumento da
temperatura urbana.
10. Vegetação – Atuam como moderadores de temperatura, absorção
de energia, manutenção do ciclo do oxigênico, criação de zonas
abrigadas. São analisadas por tipo de:
disposição - isoladas ou agrupadas.
porte - rasteira, arbustiva ou arbórea.
tipo - cinturões verdes, jardins, reservas florestais ou parques,
residual.
porosidade/fechamento – formando barreiras contra os elementos
climáticos, formando filtros que diminuem a velocidade dos ventos,
retem parte da poluição do ar, isolam acusticamente.
plasticidade/flexibilidade – permitem sua moldagem em formas
adequadas ao controle dos elementos climáticos (ventos, temperatura
do ar, umidade).
A OMS recomenda 12m2 de área verde por habitante, mas é preciso
atentar para a sua distribuição. A maior disponibilidade de área verde
tende a coincidir com a distribuição de renda da população.
NATUREZA DO CLIMA URBANO

A natureza do clima urbano pode ser diferenciada face ao espaço envolvente,


resultado de um conjunto de fatores, internos e externos, que condicionam,
ampliam ou mitigam determinadas variáveis climáticas (vento, temperatura,
humidade). A topografia, neste contexto, pode ter um efeito atenuador, em
determinados sectores, ou de incremento em outros (Figura).
BIBLIOGRAFIA
 Cox, E. P. “Interação entre clima e superfície urbanizada: o
caso da cidade de Várzea Grande / MT”. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-graduação em Física e
Meio Ambiente da Universidade Federal de Mato Grosso.
Cuiabá, Março de 2008.
 BUSTOS ROMERO, Marta Adriana. A arquitetura bioclimática
do espaço público. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2001.
 OLIVEIRA, Paulo Marcos P. Cidade apropriada ao clima – a
forma urbana como instrumento de controle do clima urbano.
UnB: Dissertação de Mestrado, 1985.
 VIEIRA, Janaina D. Exercício de desempenho morfológico na
área central de Goiania – GO. UnB: Dissertação de Mestrado,
2002.

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