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MANIFESTO DADAISTA de TRISTAN TZARA de 1918 Traducio do francés e fotos de Ivo Korytowski http://sopanomel.blogspot.com A magia de uma palavra — DADA — que levou os jornalistas as portas de um mundo inesperado, para nés nao tem a menor importancia. Para langar um manifesto é preciso querer: A.B.C., fulminar contra 1, 2, 3, se enervar e agucar suas asas para conquistar e difundir pequenas e grandes a, b, c, assinar, gritar, jurar, organizar a prosa sob uma forma de evidéncia absoluta, irrefutavel, provar seu non-plus-ultra e sustentar que a novidade se assemelha 4 vida como a iiltima aparicao de uma prostituta prova a esséncia de Deus. Sua existéncia j4 foi provada pelo acordedo, a paisagem e palavras doces.s Impor seu A.B.C. é uma coisa natural — portanto lamentavel. Todo mundo o faz sob uma forma de cristalblefemadona, sistema monetario, produto farmacéutico, perna nua convidando a primavera ardente e estéril. O amor a novidade é a cruz simpatica, prova de uma atitude ingénua de nfio-estou-nem-ai, sinal sem causa, passageiro, positivo. Mas essa necessidade esta também antiquada. Ao darmos a arte o impulso da suprema simplicidade — novidade — somos humanos e fiéis ao divertimento, impulsivos, vibrantes para crucificar 0 tédio. Na encruzilhada das luzes, alertas, atentos, espreitando os anos, dentro da floresta.= Escrevo um manifesto e nada quero, digo porém certas coisas e sou em principio contra os manifestos, como sou também contra os principios (decilitros para o valor moral de toda frase — comodidade demais; a aproximacao foi inventada pelos impressionistas). = Escrevo este manifesto para mostrar que é possivel realizar agées contrarias ao mesmo tempo, em um sé félego fresco; sou contra a acho; quanto 4 continua contradigio, quanto a afirmacéo também, nfo sou a favor nem contra e nao me explico porque detesto o bom senso. DADA — eis uma palavra que oferece as idéias A cacada; cada burgués é um pequeno dramaturgo, inventa assuntos diferentes; em vez de colocar os personagens adequados no nivel de sua propria inteligéncia, qual crisdlidas em cadeiras, procura as causas ou os propésitos (seguindo o método psicanalitico que ele pratica) a fim de reforgar sua trama, uma hist6ria que fala e se define. » Cada espectador € um enredador, se tenta explicar uma palavra (conhecer!). Do refiigio acolchoado das complicacées serpentinas, é preciso manipular seus instintos. Dai as infelicidades da vida conjugal. Explicacéo: Divertimento dos barrigas-vermelhas nos moinhos de cranios vazios. DADA NAO SIGNIFICA NADA. Se o consideramos fitil e se nado queremos perder nosso tempo com uma palavra que nao significa nada... O primeiro pensamento que vem a essas cabecas é de ordem bacteriolégica: encontrar sua origem _ etimoldgica, histérica ou psicolégica, pelo menos. Vemos nos jornais que os negros Krou chamam a cauda de uma vaca sagrada: DADA. O cubo, e a mie, em uma certa regio da Italia: DADA. Um cavalo de madeira, a ama de leite, uma dupla_ afirmacio em russo e em romeno:DADA. Jornalistas cultos ali véem uma arte para os bebés, outros santos Jesuschamandoascriancinhas do dia, a volta a um primitivismo drido e ruidoso, ruidoso e monétono. Nao se constréi sobre uma palavra a sensibilidade; toda construgio converge para a perfeicio que entedia, idéia

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