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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO

CASAS-MUSEU EM PORTUGAL
TEORIAS E PRÁTICAS

António Manuel Torres da Ponte

Dissertação apresentada na FLUP, no âmbito do


Mestrado em Museologia, no dia 8 de Outubro de 2007,
com a classificação de Muito Bom, pelo Júri constituído por:
Prof. Doutor Armando Coelho
Prof. Doutor João Brigola
Prof. Doutor Rui Centeno

Porto
2007
À Anabela, à Alexandra e ao Francisco
Aos meus pais
AGRADECIMENTOS

O interesse pela temática das Casas-Museu advém do nosso desempenho profissional, nomea-
damente na Casa de José Régio, iniciado na década de 90 do século passado e culminando com
a presente dissertação, para a qual contámos com a preciosa colaboração de inúmeras pessoas
e entidades a quem nos cumpre agradecer de forma especial.

Ao Professor Doutor Rui Centeno, sob cuja orientação foi desenvolvido este trabalho. Recor-
dam-se os diálogos estimulantes e frutuosos, os importantes conselhos, revelando-se um exem-
plo de saber e preciosa exigência crítica.

Aos Professores e Colegas de Mestrado, pela disponibilidade e camaradagem.

Às Instituições que prontamente connosco colaboraram. À Rede Portuguesa de Museus,


sempre disponível para todas as solicitações apresentadas. Ao DEMHIST, comité das casas his-
tóricas do ICOM, que nos enviou toda a informação solicitada. À Câmara Municipal de Vila do
Conde por nos ter disponibilizado a Casa de José Régio e as informações inerentes. Às Casas-
-Museu Portuguesas que prontamente colaboraram, preenchendo e enviando o questionário
que tantas e tão úteis informações produziu para esta dissertação.

Aos Amigos que colaboraram neste trabalho. Sabem quem são. Foi imprescindível a sua dispo-
nibilidade.

Aos meus Pais, que desde sempre foram um exemplo de dedicação e estímulo para a concreti-
zação desta etapa.

À Anabela, pelo seu amor, acompanhamento, paciência, pela sua serenidade, por tudo o que me
deu além do que podia, por todas as outras coisas que nunca lhe poderei agradecer.

À Alexandra e ao Francisco, por me darem tudo aquilo que um pai deseja, por saberem amar
e, acima de tudo, esperar.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Sumário

Introdução 13

Capítulo 1
CASA-MUSEU – Definição |Conceitos e Tipologias 19

1.1- Contributos para um conceito de Casa-Museu 25


1.2- O que apresentam as Casas-Museu 28
1.3- Fundadores e Sustentabilidade da Instituição no âmbito das
Políticas Culturais Contemporâneas 30
1.4- Motivos para a criação de Casas-Museu 38
1.5- Tipologias de Casas-Museu – As Propostas de Classificação 41
1.6- A Casa-Museu – Um Discurso em Directo
O Poder Evocativo nas Casas-Museu 49
1.7- Relação Espaço | Objecto | Personalidade 52
1.8- Relação Casa-Museu | Visitante 55
1.9- A Casa-Museu como Estrutura Museológica 57
1.9.1- A Missão e Objectivos da Casa-Museu 58
1.9.2- A História do Espaço da Casa-Museu 58
1.9.3- Estudo e Gestão de Colecções 59
1.9.4- A definição dos Conteúdos 60
1.9.5- Suportes Informativos 62
1.9.6- Serviços Educativos 62
1.9.7- Conservação Preventiva 64
1.9.8- Segurança 66
1.9.9- Recursos Humanos 68

Capítulo 2
As Casas-Museu em Portugal 71
2.1- Fontes Documentais utilizadas 75
2.2- O Inquérito AP (António Ponte) 76

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2.3- Caracterização das Casas-Museu em Portugal 080


2.3.1- Tutelas 080
2.3.2- Integração na Rede Portuguesa de Museus 082
2.3.3- Tipos de Designação das Casas-Museu 084
2.3.4- Distribuição Geográfica das Casas-Museu 085
2.3.5- Períodos de Fundação e Abertura ao Público das Casas-Museu 086
2.3.6- Missões e Objectivos 088
2.3.7- Iniciativa de criação das Casas-Museu 088
2.3.8- As Colecções 092
2.3.9- Cláusulas de Salvaguarda 096
2.3.10- A Prática Museológica 097
2.3.11- Recursos Humanos e Financeiros 109
2.4- Análise Tipológica das Casas-Museu Portuguesas 111
2.4.1- Análise do cumprimento dos requisitos para ser
considerada Casa-Museu 111
2.4.2- Tabelas de integração das Casas-Museu Portuguesas
nas Propostas de Classificação das Casas-Museu 116
2.4.3 - Apresentação da Proposta de classificação das Casas-
-Museu portuguesas 124
2.4.4- Unidades Museológicas que se inserem noutras
tipologias de Museus 129

Capítulo 3
A Casa de José Régio de Vila do Conde - Um Exemplo Paradigmático de Casa-Museu 137
3.1- A Criação da Casa de José Régio | Casa-Museu José Régio 140
3.2- Os Objectivos da Casa de José Régio 143
3.3- A “História” da Casa de José Régio 143
3.4- A Casa e as Colecções de José Régio 147
3.4.1- A Casa 147
3.4.2- As Colecções 149
3.5- Diagnóstico da Situação em 1994 150
3.5.1- A Casa de José Régio de Vila do Conde em 1994 151
3.5.2- A planificação do processo de intervenção 152
3.6- A Casa-Museu José Régio de Vila do Conde – O Novo
Programa 153

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3.6.1- O Novo Equipamento – O Centro de Documentação


José Régio | O Caminho para o cumprimento dos
objectivos definidos 153
3.6.2- Uma nova informação 154
3.6.3- O Serviço Museológico na Casa-Museu José Régio de Vila
do Conde 155
3.6.4- Os Recursos Humanos 162
3.6.5- A Divulgação 162
3.6.6- A Sustentabilidade Financeira 163

Conclusão 165
Bibliografia 171
Anexos 187

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Lista de Abreviaturas

OAC Observatório das Actividades Culturais


IPM Instituto Português de Museus
RPM Rede Portuguesa de Museus
ICOM “International Council of Museums” – Conselho Internacional
dos Museus
DEMHIST “Demeures Historiques” – Comité das Casas Históricas Museu
do ICOM
Inquérito AP Inquérito desenvolvido no âmbito desta dissertação
Inquérito OAC|IPM Inquérito desenvolvido pelo OAC para o IPM, no sentido
de se aferir a realidade museológica portuguesa, apresentado
em 1999
Doc. RPM Listagem enviada pela RPM onde constam as casas-museu
cadastrada no âmbito da Rede Portuguesa de Museus
CM Casa-Museu
C Casa
Ctrad. Casa Tradicional
C.dor Comendador

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

INTRODUÇÃO

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se assistido a uma forte expansão do tecido museológico português.
De entre as muitas unidades museológicas criadas, as casas-museu assumem um papel funda-
mental, uma vez que, o seu número tem aumentado, a sua função se tem mostrado fundamental
na preservação de parcelas consideráveis do património nacional. Destinadas à celebração de
uma determinada personalidade ou grupo que se destaca no seu tempo através de actos, traba-
lhos ou criações, estes espaços do quotidiano, considerados por muitos, instituições de menor
importância, permitem a percepção directa da forma de viver, dos gostos, da educação, assim
como do enquadramento sociocultural de um determinado indivíduo.

A Casa de José Régio de Vila do Conde, onde, desde 1994, desenvolvemos a actividade profis-
sional no âmbito da acção museológica, foi-nos levantando ao longo dos anos um conjunto de
questões e reflexões sobre a forma como uma instituição deste tipo deveria evoluir e desenvol-
ver-se, que designação deveria assumir, quais as áreas técnicas necessárias para o cumprimen-
to cabal dos seus objectivos. Todas estas questões foram suscitando pesquisas, contactos com
instituições museológicas do mesmo tipo, participação em encontros sobre este tema.

Face às inúmeras ideias que foram surgindo, e observando o panorama das casas-museu em
Portugal, sentiu-se a necessidade de desenvolver um estudo que permitisse um conhecimento
objectivo, consubstanciado em elementos sólidos destas unidades museológicas. O conceito de
casa-museu é bastante abrangente, servindo de designação a um conjunto de unidades museo-
lógicas que, em nosso entender, não se enquadrarão nos pressupostos internacionalmente utili-
zados para definir unidades deste tipo. Empiricamente, estamos conscientes de que a realidade
portuguesa, no que concerne a este assunto, é bastante complexa, uma vez que a proliferação
de museus com esta terminologia é imensa. Celebrando personalidades, homenageando gru-
pos, apresentando realidades quotidianas regionais ou meras colecções etnográficas, o pano-
rama das casas-museu em Portugal tem vindo a sofrer da falta de regulamentação apropriada,
evoluindo ao sabor de vontades pessoais ou de grupos que decidem criar museus sob denomi-
nação de casas-museu.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Esta dissertação pretende contribuir para a definição do que é uma casa-museu, apresentar os
diferentes elementos que a constituem: casa, indivíduo, acervo, vivência, todos envolvidos e es-
tudados em correlação permitirão ao público ter acesso a realidades museológicas de alto valor
simbólico e determinantes, muitas vezes, para o estudo de correntes, teorias, formas de vida, e
para o conhecimento de épocas históricas. As verdadeiras casas-museu só poderão demonstrar
o seu verdadeiro valor desenvolvendo actividades com interesse, respondendo às exigências de
um trabalho museológico de alta qualidade, com estudos efectuados por especialistas materiali-
zados em exposições e catálogos bem estruturados e de alto valor científico e didáctico.

Este nosso contributo ao estudo das casas-museu desenvolve-se ao longo de três capítulos. No
primeiro apresenta-se uma abordagem teórica ao conceito e seus constituintes, forma de orga-
nização, modo de criação, comunicação, propostas internacionais de classificação destas uni-
dades museológicas, para além de abordar as casas-museu, enquanto instituições que devem
desenvolver um conjunto de actividades expressas na definição de museu do ICOM.

O segundo capítulo dá uma imagem da realidade das casas-museu em Portugal, qual o seu
número, de que forma se organizam, como funcionam, as suas reais carências, quais as suas
verdadeiras capacidades perante um público cada vez mais exigente. Para o efeito, serão apre-
sentadas diferentes análises da realidade nacional, através de dois estudos, um realizado pelo
Observatório das Actividades Culturais (OAC) e pelo Instituto Português de Museus (IPM) e outro
desenvolvido por nós especialmente para esta dissertação. Neste capítulo procurar-se-á apre-
sentar uma proposta de definição de casa-museu, tendo em conta a realidade nacional, assim
como uma proposta de classificação das instituições museológicas que integram a amostra do
presente estudo.

Finalmente, o terceiro capítulo apresentará um estudo sobre a Casa de José Régio de Vila do
Conde, face ao pressuposto teórico desenvolvido nos capítulos anteriores. Será apresentado o
patrono, a evolução da Casa, o seu processo de restauro, as suas colecções e o seu novo modo
de funcionamento após a intervenção que sofreu. Depois de cerca de 30 anos em funcionamen-
to, a Casa de José Régio foi alvo de uma grande intervenção, pensada e estruturada com vista
a dar resposta às necessidades de um museu actual, sem, contudo, perder o seu carácter inti-
mista, onde se consegue percepcionar a presença de uma individualidade de carácter complexo,
mas reveladora de uma sensibilidade extrema.

Para a realização deste trabalho foi fundamental realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a te-
mática das casas-museu, procurando-se recolher informação que permitisse o estabelecimento
de uma definição correspondente a uma instituição museológica com este carácter, quais as

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

suas componentes essenciais, como se processa o seu estudo e conhecimento, qual a melhor
forma de planificação do trabalho numa instituição deste género. Face à escassez de bibliografia
específica e actualizada em Portugal, recorreu-se ao Comité das Casas-Museu do ICOM (Inter-
national Council of Museums), o DEMHIST (Demeures Historiques), a quem se solicitaram as
actas dos encontros realizados sobre este tema, onde se encontram os estudos mais recentes.
Simultaneamente, foi desenvolvido um levantamento em revistas e outras obras da especialida-
de, que permitiram um conhecimento mais aprofundado deste tipo de museu. A análise bibliográ-
fica permitiu recolher informações sobre este universo em diferentes países, sendo a partir daí
possível estabelecer linhas de paralelo à realidade portuguesa.

A par das pesquisas bibliográficas foi realizada uma busca na Internet sobre o tema das casas-
-museu, no sentido de levantar o maior número possível de documentação sobre o assunto. Foi
realizada, também na Internet, uma busca para acesso às casas-museu existentes em Portugal
que, posteriormente, permitisse conhecimentos específicos sobre cada uma das unidades. Lei-
turas, pesquisas, inquéritos e visitas a muitas casas-museu forneceram os elementos em que
assenta este estudo.

Como já foi referido, ao nível das fontes de informação foram fundamentais para o nosso estudo
o inquérito desenvolvido pelo Observatório das Actividade Culturais para o Instituto Português de
Museus, uma lista recebida da Rede Portuguesa de Museus (RPM) onde constam as instituições
museológicas enquadradas nesta categoria museológica, a par do inquérito por nós realizado
especialmente para esta dissertação, que permitiu o acesso a uma informação mais actualizada
do que aquela que consta no inquérito OAC|IPM, realizado em 1998.

Estas fontes primárias e secundárias foram absolutamente essenciais para se proceder à carac-
terização destas unidades museológicas, tanto a nível internacional como nacional. A bibliografia
apresentada no final desta dissertação será, certamente, uma lista de fontes que traduz o que de
mais importante sobre este tema se produziu nos últimos anos.

Por fim espera-se que este trabalho contribua para a compreensão da realidade das casas-mu-
seu em Portugal, suprindo, dentro do possível, a falta de informação existente, sugerindo novos
caminhos a investigadores e outros interessados por este tema que conduzam a um melhor
conhecimento desta realidade. Espera-se também que este estudo possa ser uma fonte inspira-
dora para quem, no futuro, pretenda constituir ou requalificar uma casa-museu, alertando para
as diferentes componentes a equacionar. Às entidades competentes cabe criar mecanismos de
regulamentação desta realidade, complexa, muito diversificada e que, neste momento, não é
alvo de qualquer cuidado específico na sua acção.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

1. CASA-MUSEU
DEFINIÇÃO | CONCEITOS | TIPOLOGIAS

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

1. CASA-MUSEU
DEFINIÇÃO | CONCEITOS | TIPOLOGIAS

“No, por Dios! Mi casa es mi casa, nada más, una casa en


la que he procurado que se vean cosas bellas!
Pero un museo, no!...”
(LOPEZ REDONDO 2001: 40)

Life is not reproduced in a house museum,


But it is just represented…”
(CABRAL 2000: 37)

Ao longo dos últimos anos e no decurso de inúmeras actividades, entre elas as profissionais,
face a tantas questões que têm sido levantadas, sentiu-se muitas vezes a necessidade de per-
ceber claramente o que é de facto uma casa-museu.

Muitas unidades museológicas, de diferentes características, assumem a terminologia de casa-


-museu. Se ao nível técnico diversas dúvidas se levantam, este problema deve suscitar inúme-
ras questões a pessoas que gostam de visitar museus, sentindo-se expectantes relativamente à
percepção do que poderão observar quando visitam uma casa-museu.

O estudo das casas-museu, nomeadamente no que concerne à sua definição e classificação ti-
pológica, é um exercício complexo. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho de investigação,
muitas foram as definições encontradas, as quais serão apresentadas nesta dissertação.

O que é uma casa-museu? O que a caracteriza? Como se processa a sua compreensão e estu-
do? Que valências deve abranger? Qual o conteúdo destas unidades museológicas? Como fo-
ram instituídas e que implicações tem a sua criação? Como deve comportar-se a casa e o acervo
perante os visitantes? Qual a sensação colhida por quem efectua uma visita a uma casa-museu?
Estas e outras questões devem ser equacionadas, analisadas e compreendidas, no sentido de
se evoluir no estudo da definição de casas-museu.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Muitos conceitos são apresentados: uns colocando a tónica no edifício; outros, no ambiente;
aqueloutros nas colecções e ainda alguns na vivência de uma determinada pessoa ou grupo
social. Provavelmente, ou certamente, perante as muitas ideias a apresentar, a simbiose entre
múltiplos factores dará a resposta à necessidade de chegar a um conceito com o máximo de ob-
jectividade, assim como à definição das funções, importância e eficácia destes museus que co-
meçam a ser frequentes desde o século XIX, como nos refere Pedro Lorente (LORENTE LORENTE
1998: 31), eventualmente substituindo os gabinetes de curiosidades, vindo nos últimos anos a ser
questionados no que concerne à sua função e eficácia junto do público, face à transmissão de
conhecimentos e à valorização das colecções e informações intrínsecas que possuem.

Todavia, antes de avançar para a definição daquilo que se nos afigura poder vir a considerar-se
uma casa-museu, é fundamental reter a nossa atenção na expressão casa-museu, composta por
duas palavras em justaposição, dois conceitos com dimensões completamente opostas quanto
à sua abrangência, em relação à sua extensão pública e privada.

Estamos perante o conceito casa que tem um sentido privado, pessoal, de refúgio e intimidade,
ao qual se junta o conceito museu com toda a sua carga e dimensão pública. Um museu é criado
para receber pessoas, transmitir conhecimentos e interagir com o público, a que se associa a
função de conservar, estudar e divulgar as colecções. No âmbito das casas-museu, a própria
casa é, também, uma importante e imponente peça do museu a preservar e estudar.

Estando perante terminologias conceptualmente opostas, aumenta a complexidade desta abor-


dagem, levantando um sem número de questões a quem trabalha nestas instituições. Assim, é
igualmente importante, antes de avançar para o conceito de casa-museu, apresentar algumas
definições daquilo que é uma casa e, paralelamente, o conceito de casa histórica. A análise da
bibliografia consultada, permite observar, muitas vezes, que os conceitos casa-museu e casa
histórica não estão perfeitamente definidos e separados1. Na nossa perspectiva, estes não se
reportam à mesma realidade. Uma casa-museu pode ser, simultaneamente, uma casa histórica,
mas sendo histórica não significa que seja museu. Sem pretender atingir posições demasiado
puristas, deve-se caminhar no sentido de estabelecer as diferenças entre todos os conceitos

1 Na última edição do Encontro Anual do DemHist, que decorreu entre 10 e 14 de Outubro de 2006, em Valleta - Malta,
esta questão foi levantada e minimizada. Entendeu-se que a percepção anglo-saxónica e latino-americana é diferente
no que concerne ao conceito em questão. Se para o latinos os conceitos de casa-museu e casa histórica são distintos,
por sua vez, para os anglo-saxonicos, uma casa-museu pode assumir o conceito de casa histórica. Como exemplo
desta afirmação está o próprio nome do comité do ICOM, direccionado para o estudo das casas-museu - DEMHIST
(Demeures Historiques).

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

e assim clarificar a realidade. Considera-se que a casa histórica, “historic house”, está relacionada
com o imóvel que apresenta histórias e leituras de um determinado local, de uma época definida
ou estrato social, tal como se pode depreender da leitura de inúmeros textos (D’AIX 1997: 47).

Por exemplo, nos Estados Unidos da América, este conceito é, também, amplamente utilizado
face à crescente instituição de casas que se reportam à história do país, dos seus habitantes,
das minorias e, simultaneamente, das classes dominantes. Estas casas ganham tanto mais
importância e valor quanto mais os cidadãos de um país se interessam pela sua História, pela
evolução da sociedade, transformando estes espaços simbólicos em pontos de passagem,
quase de peregrinação, que merecem ser salvaguardados para perpetuar o seu passado (PINA
2001: 7). Esta forma de pensar e de valorizar o passado vem abrir um novo campo de acção
para a museologia contemporânea. Todavia, estas casas só passam a ser casas-museu quando
a função museológica é de facto aplicada, quando se começam a verificar alterações na forma
como o imóvel é tratado, no momento em que se começa a ter preocupações ao nível da exposi-
ção, conservação, estudo das colecções e de outra documentação de interesse museológico.

Em Portugal, considera-se a casa histórica como uma estrutura relacionada com alguma figura
pública de relevância nacional, regional ou local, ou com algum acontecimento da história do
país ou de um determinado local, sem que, contudo, tenha implícito o trabalho e a função mu-
seológica. Não tem inclusivamente de estar aberta ao público. A casa histórica pode evoluir no
sentido da casa-museu, pois que ainda não o é. Recentemente, foi possível verificar esta situ-
ação, quando se levantou a questão da demolição da casa de Almeida Garrett, em Lisboa. Este
imóvel tem interesse histórico, uma vez que esteve, de facto, relacionado com uma das maiores
figuras da literatura portuguesa, não sendo, contudo, uma casa-museu, uma vez que nele não
se cumprem os requisitos para tal.

Partindo da definição básica da palavra casa, apresentada pelo Grande Dicionário da Língua
Portuguesa: “Todos os edifícios especialmente destinados à habitação” (MACHADO 1981: 11),
passa-se, depois, para noções mais complexas, tais como: “Casa: il termine appare straordina-
riamente ampio, tanto da giustificare una gamma assai vasta di accezioni e manifestazioni diffe-
renti; così come evoca altrettanto differenti immagini e ambienti, legati all’esperienza personale,
tali dunque da generare aspettative (di conoscenza, emozionali, visive) modulate su un registro
ricchissimo di sentimenti.” (PAVONNI e SELVAFOLTA 1997: 32).

Ana Margarida Martins (MARTINS 1996: 87) refere a casa como um espaço com uma identidade
particular, reflectindo a actividade quotidiana de um indivíduo ou família. É este indivíduo ou fa-
mília que determinam aquilo que é a sua casa, com áreas sociais, áreas privadas e mais íntimas,

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

reflectindo valores sócio-culturais, económicos, religiosos ou políticos. A casa tem a marca do


indivíduo ou família, integrando a sua vivência, gostos e enquadramento.

As três definições apresentadas, umas mais complexas do que outras, fundamentam e suportam
o entendimento da casa como o universo de habitação com a marca pessoal dos seus habitan-
tes, os quais são fruto de uma educação, época e enquadramento social. Este domínio privado,
onde existe memória de quem lá habitou2, porque o organizou de acordo com o seu gosto e
modo de vida, é aquilo que se deve reflectir numa casa-museu, quando o imóvel se relaciona
com uma pessoa ou acontecimento que justifiquem a sua musealização3.

Partindo para outras dimensões, e considerando o universo artístico, os artistas simbolistas en-
tendem a casa como algo mais do que o lugar de habitação. A sua casa é o santuário inspirador
e protector das suas teorias estéticas (HIRSH 2003: 70). Por seu turno, Ruy Belo refere a casa
como a coisa mais importante da vida, formulando conceitos de habitação, sendo este o espaço
escolhido para a circulação do corpo (RIBEIRO e VILHENA 1997: 8).

Uma vez abordados os conceitos anteriores e apresentadas as respectivas diferenças e abrangên-


cias, é momento de tentar chegar à definição de uma casa-museu. Pretende-se, no entanto,
antes de avançar, referir que, no presente estudo, não se abordará a temática dos palácios, uma
vez que se entende que em termos de classificação estão perfeitamente definidos enquanto
tipologia. Contudo, a realidade dos palácios reais, de soberania, pode levantar questões quanto

2 Marta Rocha Moreira (MOREIRA 2006: 305) na sua Dissertação de Mestrado apresenta uma citação de Gaston
Bachelard de uma definição de Casa que exprime a essência destes lugares e a sua atribuição ao nível psicológico
de quem aí habita. “a casa é, evidentemente, um ser privilegiado; isso desde que a consideramos ao mesmo tempo
na sua unidade e na sua complexidade, tentando integrar todos os seus valores particulares num valor fundamental.
A casa fornecer-nos-á simultaneamente imagens dispersas de um corpo de imagens. Em ambos os casos, provaremos
que a imaginação aumenta os valores da realidade [...]
Nessas condições, se nos perguntassem qual o benefício mais precioso da casa, diríamos: a casa obriga ao devaneio,
a casa protege o sonhador, a casa permite sonhar em paz. Só os pensamentos e as experiências sancionam os valores
humanos. Ao devaneio pertencem os valores que marcam o homem na sua profundidade. [...]Então, os lugares onde
se viveu o devaneio reconstituem-se por si mesmos num novo devaneio. É exactamente porque as lembranças das
antigas moradas são revividas como devaneios que as moradas do passado são imperecíveis dentro de nós.
O nosso objectivo agora está claro: pretendemos mostrar que a casa é uma das maiores forças de integração para os
pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem. [...] O passado, o presente e o futuro dão à casa dinamismos
diferentes, dinamismos que não raro interferem, às vezes opondo-se, às vezes excitando-se mutuamente. Na vida do
homem, a casa, afasta contingências, multiplica os seus conselhos de continuidade. Sem ela, o homem seria um ser
disperso.”
3 “Del siglo XIX a nuestros días no dejarían de proliferar las casas-museo de todo o tipo. No serian pocos los casos
en que este homenaje monográfico había de estar dedicado a algún gran literato, pero por ser mucho más fácilmente
atractiva una instalación museística tradicional hecha con obras de arte , fueron si cabe todavía más exitosas las casas
de escultores o pintores abiertas como museo.” (LORENTE LORENTE 1998 : 31)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ao seu enquadramento nos conceitos de casa histórica e casa-museu. Considera-se que, even-
tualmente, todos os palácios serão casas históricas pela importância que assumem na História
de um povo, de uma nacionalidade, mas nem todos são considerados casas-museu, uma vez
que ainda não sofreram a transformação necessária para assumir essa designação4.

1.1. CONTRIBUTOS PARA UM CONCEITO DE CASA-MUSEU

A casa-museu deverá reflectir a vivência de determinada pessoa que, de alguma forma, se dis-
tinguiu dos seus contemporâneos, devendo este espaço preservar, o mais fielmente possível, a
forma original da casa, os objectos e o ambiente em que o patrono viveu5 (PINA 2001: 4), ou no
qual decorreu qualquer acontecimento de relevância, nacional, regional ou local, e que justificou
a criação desta unidade museológica. Temos, nesta primeira definição, algumas condicionantes
fundamentais, tais como a originalidade, residência do patrono e a função anterior da casa. Ou-
tras especificidades se nos apresentarão no decurso desta dissertação.

Ao reproduzir estes ambientes e, estando aberta como se de uma casa se tratasse, estas uni-
dades museológicas vão musealizar o dia-a-dia destes espaços (PAVONNI 2001: 6). É este am-
biente doméstico representando a maneira como alguém viveu, que reflectirá aspectos tão pes-
soais, como, por exemplo, a forma de se situar no mundo, transportando os visitantes para os
tempos desse quotidiano que suscita interesse e curiosidade. Estas casas, verdadeiros teatros

4 Stephan Bann apresenta as diferenças que considera existirem entre casas-museu e casas históricas, assim como
as especificidades de alguns tipos de casas-museu: “ The house Museum is not the same as a country house, or
palazzo; but a country house, such as Sir Walter Scott’s Abbotsford, or a palazzo, such as the Bagatti Valsecchi, can
be a House Museum. The House Museum is not the same as a Historical Museum. But some Historical Museums are
also, or at least began as, House Museums… The House Museum is not the same as an artist’s House. But certain
artists’houses were certainly conceived as House Museums, such the Soane Museum, or the Maison Pierre Loti. The
House Museum is not the same as a collector’s house. But a collector’s House, like Kettle’s Yard, can become a House
Museum.” (BANN 2000: 20)
5 A investigação desenvolvida no âmbito da presente dissertação permitiu a compilação de um conjunto de definições
de casa-museu, as quais permitirão, certamente, apresentar um enunciado que agrupe os principais conceitos por
forma a determinar-se o que de facto é uma casa-museu: “The historic house is certainly an incomparable and unique
museum in that it is used to conserve, exhibit or reconstruct real atmospheres which are difficult to manipulate […]
The historic house museum is unlike other museum categories because it can grow only by bringing together original
furnishings and collections from one or other of the historic periods in which the house was used.” (PINNA 2001: 4)
“More than a monument that celebrates a lost past, a historic house is seen as a place where people have lived out
their life.” (GORGAS 2001: 10)
“Una casa-museo es un ámbito doméstico abierto al público como testimonio ejemplar de la decoración de interiores
de una época o como homenaje a alguien que por alguna razón está relacionado con ella.” (LORENTE LORENTE
1998 : 30)
“Les musées consacrés à un artiste distinguent l’œuvre d’un créateur, ils en retracent la genèse, ils évoquent le
contexte dans lequel elle a été crée. ” (WHITTINGHAM 1996: 4)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

da memória, permitem o encontro com alguém, realizar visitas à casa desse escritor, daquele
pintor, do Homem que se admira pela sua actividade política, da personalidade que se distinguiu
numa determinada época (GORGAS 2001: 14; GORGAS 2002: 32; LORENTE LORENTE 1998: 31)6.

A proximidade com o espaço doméstico e privado é determinante na organização da casa-mu-


seu, assim como na motivação do público para a visitar. Ao chegar à casa-museu, o visitante
deparar-se-á com o quotidiano da pessoa que dá nome à instituição, percebendo determinada
maneira de pensar, de agir, inteirar-se-á do seu ambiente familiar, da sua época, da sua econo-
mia, da sua envolvência social e educativa. Todas estas variantes que formam a personalidade
dos indivíduos estarão presentes no seu espaço habitacional e doméstico. Este será uma cria-
ção de autor, verdadeiro teatro da vida, de quem nessas casas habitou, e aí criou o seu cenário
diário (BANN 2001: 20). Assim, quando se entra numa casa-museu, para além dos sistemas de
vida doméstica, observando os objectos na sua forma original ou próxima dela, penetra-se di-
rectamente na intimidade de alguém, uma pessoa muitas vezes introvertida e que nunca pensou
nesse espaço para ser fruído por estranhos. É esta intromissão, a vontade de olhar a forma como
alguém ali viveu, que suscita o interesse de uma substancial parte do público. A memória pessoal,
reflectida no espaço privado, transforma-se em memória colectiva, o espaço pessoal torna-se
espaço público, procurado por quem pretender chegar ao íntimo de uma certa personalidade.

Como refere Sherry Butcher-Younghans (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: 205), se a casa foi palco
de vivências domésticas alegres, com crianças circulando pelo espaço, o visitante deverá con-
seguir percepcionar a actividade daí decorrente. É fundamental perceber, pelo espaço que visi-
támos, a dimensão espiritual da personalidade que é homenageada, devendo, simultaneamen-
te, reflectir a vida e a obra desenvolvida. A casa-museu deverá ser comparada à sua biografia
(CABRAL 2002: 28), dependendo a sua dimensão e natureza da personalidade que aí é retratada.

Face às condicionantes apresentadas até ao presente momento, pode-se observar que muitas
estruturas museológicas enquadradas nesta tipologia não têm qualquer sentido. Inúmeras casas-
-museu não reflectem personalidades, não apresentam realidades domésticas e/ou quotidianas
relacionadas com o patrono. Concomitantemente, muitos dos homenageados nem sequer ha-
bitaram esses espaços, outras são criações posteriores, sem qualquer relação com os patronos.

6 O exemplo apresentado materializa a perspectiva de que a casa e, posteriormente, a casa-museu é fruto da


personalidade que a criou e habitou, pois as peças apresentadas e com as quais conviveu quotidianamente demonstram
os seus gostos e preferências. “The house contains some very beautiful objects, but also reflects the sometimes unusual
taste of its founders. It shows how a wealthy couple of Swiss collectors lived in Switzerland during the twentieth century,
and preferred mainly Italian furniture and objects of the eighteenth century for the “noble” and visited portions of the
house, while “witnesses” of the local Swiss taste were relegated to “secret” chambers.” (ACKERMANN 2003: 49)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Certas casas-museu, embora apresentem realidades e espaços domésticos, não passam de


museus regionais, outras deveriam ser museus de arte, podendo ter o nome do homenageado,
uma vez que este teve o mérito de desenvolver uma certa colecção, não devendo, contudo, as-
sumir a denominação de casa-museu, pois não se apresentando como cenários de vida, não
configuram uma casa-museu, mas podem assumir-se como um meio de manutenção de uma
colecção intacta.

A observação dos conceitos mencionados permite a definição do conjunto dos requisitos neces-
sários para que o edifício possa merecer a classificação de casa-museu. Assim, refere-se como
essencial a existência do espaço, a casa, local onde tenha habitado a personalidade que, pelos
seus méritos, se distinguiu dos seus contemporâneos. Este pressuposto remete, de imediato,
para as demais condições a observar: a vivência do patrono ou homenageado no espaço, e os
bens móveis com os quais conviveu. Espaço, homem e objectos têm de ser correlativos, para
que seja possível um ambiente de vivência, fruído por alguém que criou um universo reflector
das suas necessidades, dos seus gostos.

Adiante, neste trabalho, desenvolver-se-ão as questões relacionadas com as colecções exis-


tentes nas casas-museu, a forma como se devem apresentar, de que maneira deve ser aferido
o seu valor. As questões colocadas pelo acervo existente fazem equacionar outros assuntos: o
patrono, o doador, o fundador ou organizador da casa-museu. É necessário averiguar onde estas
figuras se poderão fundir, ou qual a razão da sua diferenciação.

Para que a casa se transforme numa casa-museu, esta terá de sofrer um processo de transfor-
mação, processo este que dará a dimensão pública a um espaço eminentemente privado.

Não sendo uma condição básica, mas provavelmente uma das referidas em primeiro lugar, a casa
de habitação passa a estar aberta ao público. Todavia, não é este o único pressuposto implicado
nesta transformação. Deverão ser observados todos os pressupostos do trabalho museológico,
o estudo, a conservação, a comunicação, a educação, entre outros. A transformação destes
imóveis em equipamentos públicos, implicará a necessidade de equacionar uma programação a
diversos níveis: museológico, financeiro, cultural, social, de modo a que possam ser considera-
dos estruturas de sucesso. A planificação de uma casa-museu, trabalho que deve ser encarado
de primordial importância, é amiudadamente descurado e remetido para segundo plano.

Hodiernamente, o grande desafio que se coloca às casas-museu, enquanto estruturas museo-


lógicas, abertas ao público e ao serviço deste, relaciona-se com o facto de se tratar de pontos
de interesse cultural, locais onde o público possa ver modos de vida, ambientes de determinada

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

época, e aí se consiga refugiar aprendendo com a experiência sensorial resultante da visita


efectuada. Face à globalização da informação que se verifica actualmente, é importante que as
casas-museu sejam associadas a centros de documentação ou áreas de serviços museológicos
complementares, possibilitando aos visitantes a percepção e entendimento do enquadramento
de determinada personalidade numa sociedade, época, região, corrente política ou intelectual.
Assim, se o imóvel tem dimensão que permita a criação de espaços interpretativos, a solução
para as necessidades de ampliação da estrutura museológica está encontrada. Caso contrário,
deve procurar-se na envolvência geográfica, edifícios onde seja possível instalar a recepção,
salas de exposições, auditórios entre outras infra-estruturas que abordaremos com mais deta-
lhe. São fundamentais as referidas estruturas para a afirmação do serviço das casas-museu na
sociedade actual, credibilizando e valorizando estas unidades museológicas como instituições
essenciais para a transmissão de um conjunto de informações que museus generalistas não
conseguem passar aos seus visitantes.

1.2. O QUE APRESENTAM AS CASAS-MUSEU

Uma observação atenta da realidade das casas-museu, analisadas a partir de visitas, inquéritos
e estudos científicos efectuados, mostra que estas instituições retratam o quotidiano da pessoa
homenageada. Neste sentido, a colecção da casa-museu será o conjunto dos objectos do quo-
tidiano doméstico existente em qualquer habitação, mas ligados ao gosto pessoal do patrono, e
peças de artes decorativas, sendo possível determinar acervos mais ou menos valiosos, mais ou
menos eruditos, de acordo com o gosto, interesses e situação financeira do patrono7.

Outros objectos também poderão estar presentes nestas instituições, mesmo nada tendo a ver
com o quotidiano doméstico, nem com o universo artístico. No entanto, fazem parte da definição
do gosto pessoal e terão motivado a curiosidade dessa personalidade. Para além dos potenciais

7 Os textos que se seguem fundamentam a perspectiva de que apesar da grande diversidade e tipologias de objectos,
para além do seu valor intrínseco é fundamental conhecer o seu relacionamento com o patrono da instituição.
“… when instead the object’s greatest interpretative contribution is as a piece of the puzzle that, when assembled,
presents settings and suggest meanings. Objects, taken collectively, give context and structure to the realities of
domestic living. […] The object collection is neither the sole nor the supreme element, but a coequal component of
historic house interpretation. It is integral.” (DONNELLY 2002: 2)
“The object per se has no intrinsic value. The object is defined instead by its relationships with humankind, which
attributes different values to it. […] In the context of the house museum, an object’s significance depends not on its
stylistic, artistic or technological values, but on its capacity to be consistent with the narrative or discourse, and to
transmit a message.” (GORGAS 2001: 14)
“Dans le contexte de la maison-musée, la signification des objectes ne dépend pas de leur valeur stylistique ou
technologique, mais de leur harmonie avec une histoire ou une présentation et du message qu’ils peuvent transmettre. ”
(PAVONNI 2001: 17)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

acervos referenciados, é provável, e de certa forma coerente, a presença de objectos relaciona-


dos com a vida profissional das pessoas que dão o seu nome à casa-museu.

As tipologias apresentadas permitem definir algumas colecções: os objectos de uso doméstico


quotidiano, as alfaias domésticas, objectos de utilização profissional, objectos de arte, colecções
etnográficas que podem resultar de uma certa organização social local ou de uma recolha efec-
tuada, conjuntos bibliográficos especializados ou de bibliofilia.

Os objectos numa casa-museu têm mais do que o seu valor artístico ou utilitário, valem pelo
contacto que estabeleceram com determinada personalidade, não devendo ser estudados de-
senquadrados da vivência da pessoa que os possuiu. Assim, entende-se que no momento em
que se programa a visita a uma casa-museu, deve, sempre que possível, tentar estabelecer-se a
relação do objecto com a função desempenhada, tendo em conta o respectivo contexto (LÓPEZ
REDONDO 2002: 42; BOGAARD 2002:17)8.

Não será errado pensar que, ao visitar uma casa-museu, se possa estar perante uma casa em
funcionamento, podendo-se chegar ao ponto de recriar actividades com o objectivo de dinamizar
esse espaço (LEONCINI 2001: 50). Contacta-se a casa e uma determinada época, período em que
certa personalidade viveu9. Poderá observar-se como se organizava o espaço, a vida doméstica
em determinada sociedade ou cultura, a época em que se integra a vivência do homem que dá
nome à casa-museu. (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: 204; LORENTE LORENTE 1998: 30; LÓPEZ
REDONDO 2001: 41). Nestas estruturas museológicas apresentam-se Histórias dinâmicas, faz-se
da história da casa e das suas vivências um puzzle que o visitante vai construindo à medida que
vai evoluindo pelo espaço (ELLIS 2002: 67).

Luca Leoncini (LEONCINI 1997: 10) refere que o edifício da casa-museu é o local onde se habitou
ou onde se habita, conserva a nossa presença na casa, fornecendo aos visitantes a possibilidade
imediata de decifrar qualidade e quantidade. É muito comum encontrar em casas de escritores ou

8 Luca Leoncini apresenta-nos, também, a sua perspectiva na análise das casas-museu. “The heritage handed down
by stately home museum is not limited to the collections shown there. It includes, as part of a consistent system, a
system of signs, its paitings, sculptures, decorations, decorative arts and items of artistic craftsmanship such as doors,
handles, bolts […] This is why people visiting a stately home museum find a vast offering of interpretations, narratives,
symbols, suggestions and opportunities for striking um an immediate and personal relationship with the place and with
the many genies who still inhabit it.” (LEONCINI 2000: 48)
9 A forma como se organiza uma casa-museu, nomeadamente o seu discurso expositivo, deve aproximar-se do seu
estado original, no sentido de testemunhar uma vivência em concreto. Este pressuposto encontra fundamento na
citação seguinte: “Now these buildings are furnished to represent an evocative “moment in time”, infused with things
that can help interpret the variety of characters who lived within, their important relationships, and their activities.”
(BRYK 2002: 144)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

de políticos os seus escritórios, locais de criação de teorias políticas ou de obras literárias e, em


casas de artistas plásticos, os seus ateliers.

A casa-museu vai oferecer um conjunto de interpretações, narrativas, símbolos e relações do


local com a pessoa que o habitou. O aliciante de uma casa-museu reside na intrínseca relação
entre os objectos presentes e as pessoas a quem pertenceram e aí habitaram. As colecções
têm um valor sentimental, o qual é percepcionado através da observância da relação do objecto
com o indivíduo. A casa-museu é assim o teatro da vida, a visão do mundo, necessariamente
fragmentária, de alguém que se transmite pelo seu espaço e pelos objectos que possuiu, numa
simbiose de acções e funções desenvolvidas e que estão presentes no ambiente em causa. Os
visitantes são colocados perante realidades cheias de detalhes, que darão a verdadeira dimen-
são da personalidade que aí habitou ou do acontecimento que aí teve lugar (BRYK 2002: 146).

Quando a casa-museu é organizada após a morte do seu patrono, algumas situações podem ser
observadas: o museólogo pode transformar a casa numa casa-museu, respeitando a integridade
doméstica, assim como a forma de vida do patrono. Porém, isto só poderá ser aceite quando exis-
te uma casa com uma organização bem definida, devidamente salvaguardada e documentada10.

1.3. FUNDADORES E SUSTENTABILIDADE DA INSTITUIÇÃO NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS


CULTURAIS CONTEMPORÂNEAS

Tendo detido atenção, até este momento, na figura do patrono, do homenageado na casa-mu-
seu, deve-se introduzir neste processo de criação a figura do doador e do fundador, os quais, em
certas situações, são o próprio homenageado, mas que noutros casos são outras pessoas ou
entidades. Assim, várias questões se levantam quando se abordam estas temáticas: o fundador
da casa é o seu patrono? O patrono é activo ou passivo na organização da casa-museu? Como
se faz sentir a sua presença no espaço? Qual o papel dos doadores e dos fundadores? Como se
gerem no futuro estas instituições? Qual a sua importância no âmbito das políticas culturais?

10 Magaly Cabral afirma que nas casas-museu nem sempre encontramos exposições muito espectaculares pois
estas sofrem de limitações muito próprias de uma estrutura deste género.“There may be few historic house museums
that can be included in the group of museums that operate with spectacular exhibitions, big productions, and so forth,
because this type of museums does not lend itself to this kind of exhibitions. This is because the historic house museum
is generally organized respecting the layout of its interiors as they were at a particular time in history.” (CABRAL 2001:
27)
Luca Leoncini apresenta, de igual forma, a sua visão de uma casa-museu perspectivando aquilo que estas instituições
podem apresentar. “La dimora resta un museo particolare[…] Non è il museo di tutti o di tutto, mas solo di uno o di una
parte. È ancora la casa della famiglia, della dinastía, del collezionista, del succedersi dei proprietari, del sovrapporsi e
mescolarsi di identitá storiche non sempre omogenee.” (LEONCINI 1997: 10)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Os patronos podem ser provenientes das mais diferentes áreas da vida pública. Nos Estados
Unidos da América11, temos referências às casas dos seus Presidentes, o mesmo podendo
acontecer em alguns países da Europa. Pode-se estar perante um patrono que se distinguiu na
luta pela igualdade ou liberdade como é o caso de Anne Frank, um escritor, tal como Vítor Hugo,
um pintor ou outra qualquer individualidade.

A figura que se homenageia na instituição museológica, aquele que oferece o seu nome à ins-
tituição, poderá assumir-se como interventivo e activo na organização da casa-museu12, uma
vez que ao longo da sua vida programou o seu espaço, que posteriormente se converterá num
equipamento público, permitindo que os visitantes possam fruir esse espaço de quotidiano,
observando os seus objectos e assim compreender a sua forma de viver, os seus gostos, e apre-
ender a sua individualidade (SCAON 2001: 49)13 garantindo-se desta forma a “imortalidade” da
personalidade em causa (PAVONNI e SELVAFOLTA 1997: 32). Deve-se mostrar aquilo que o próprio
patrono quer que se conheça da sua personalidade, uma vez que foi ele que deu corpo a toda a
exposição, apresentando-se o que de melhor conseguiu reunir ao longo da sua existência, aquilo
que pretende revelar da sua personalidade14 (LÓPEZ REDONDO 2002: 41).

O patrono pode ainda ser alguém que coleccionou obras de arte ou objectos etnográficos, que
o distinguem pela sua acção, mas não fundamentam a existência de uma casa-museu. Muitas
vezes, as pessoas, para manterem a unidade das suas colecções, porque têm nelas grande
valor sentimental, criam casas-museu. Como diz Jesus Pedro Lorente: “… todos tenemos cerca
algún caso de individuos que han construido un museo o han encargado de ello a las institu-
ciones financieras o a los poderes públicos a quienes han legado su colección con tal de que
dicho museo llevase su nombre.” (LORENTE LORENTE 1998 : 30). É importante a visão que
muitos destes fundadores tiveram, uma vez que uma casa-museu precisa de sustentabilidade,

11 As casas-museu americanas, que começam a surgir em 1853, procuram valorizar a acção feminina na salvaguarda
do património, nomeadamente das casas-museu, seguindo três linhas principais: exaltação da identidade nacional
através do culto de personalidades políticas, participação activa em lutas e reformas sociais e educação da população
através da transmissão de valores. (WEST 1999: 1)
12 Marta Rocha Moreira (MOREIRA 2006: 301) refere que ao nível da exteriorização simbólica esta pode ter uma de
duas origens. A casa-museu pode ter uma exibição ou criação voluntária, quando esta é determinada pela vontade do
próprio homenageado, ou uma exibição involuntária se resulta da vontade de familiares ou amigos.
13 Pierre Loti foi ao longo da sua vida organizando a casa que posteriormente viria a ser convertida em casa-museu
com o seu nome. “The house in which he was born mirrors his individuality which was, at the same time, very much
in tune with the tastes of intellectuals today. Loti wanted his house to be a display case, where the treasures gathered
during his exotic adventures could be exhibited, and where his historical fantasies, along with the memories of his
childhood, could be shown.” (SCAON 2001: 49)
14 A criação da casa-museu reflecte a visão do mundo do seu patrono, ou aquilo que este pretende dar a conhecer
da sua personalidade.“Out of a rather modest middle-class house, he managed to create a fantastic universe in
which one finds side by side historical references [...] and the more intimate universe of his own life.” (Idem, Ibidem).

31
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

quando ainda em vida, se preocuparam em garantir o equilíbrio financeiro da sua casa-museu,


entregando-a a instituições financeiras ou entidades públicas que se responsabilizaram pela sua
manutenção e viabilidade.

Todavia, outras realidades podem acontecer. O patrono poderá não organizar a sua casa no
momento da sua transformação em casa-museu, podendo esta passagem operar-se após a
sua morte, por vontade de um familiar ou através de um grupo de amigos que lhe são próximos,
existindo assim um acto de doação ou de venda a favor da instituição a tutelar a casa-museu.
Estamos assim perante um patrono passivo. Os doadores podem, de alguma forma, ter um rela-
cionamento directo com o patrono, ser um parente próximo, tais como esposas, filhos ou outros
familiares de quem se pretende evocar, trazendo o seu espaço privado para o público, com o
nome daquele que aí habitou ou trabalhou15 (SOUSA 2005: 2). Está presente neste acto uma
certa noção de “imortalização”, de homenagem. Várias são as instituições em Portugal, assim
como na Europa, que se enquadram nesta tipologia de criação. Apesar de em certas situações
o patrono ser passivo no que respeita à fundação da casa-museu, esta poderá reflectir, de igual
forma, o quotidiano da personalidade que se distingue, mormente em alguns compartimentos da
casa, que reflectem o seu gosto, modo de vida ou profissão (SOUSA 2005: 2).

Porém, a criação das casas-museu, independentemente do seu fundador (activo ou passivo), em


inúmeras situações, apresenta cláusulas de salvaguarda16, que vão desde a reserva de áreas de
habitação (MAGNIFICO 1997: 50) para familiares, ou mesmo criados que foram determinantes na
vida do dono da casa, até às limitações de alteração dos espaços ou objectos existentes na casa
(BOGAARD 2001:17). As escrituras e/ou documentos de fundação das casas-museu inibem, nou-
tros casos, a incorporação de acervo, uma vez que se pretende que a casa só exponha aquilo
que é contemporâneo à existência do patrono.

Uma outra figura deve ser tida em conta neste processo: o organizador, alguém que estará re-
lacionado com a actividade museológica do ponto de vista profissional e que irá materializar a
passagem da casa a casa-museu ou promover a abertura de um museu monográfico de home-
nagem a uma personalidade, aquele que deverá planificar toda a actividade museológica ineren-
te à casa-museu. Todavia, em determinadas situações, ao organizar estes museus não se está a

15 Diego Rivera criou a Casa-Museu Frida Khalo, sua esposa, no edifício onde esta viveu, recriou alguns dos espaços
que se manifestaram importantes na vida da artista, musealizando inclusivamente o seu atelier, expondo aí, nomeada-
mente, os seus pincéis e tintas. Preocupou-se ainda em doar esta instituição ao povo mexicano, através do Banco do
México, entidade que ficou responsável pela tutela desta unidade museológica (OLMEDO PATIÑO 1996: 21).
16 Este autor questiona o que poderá ser feito numa casa-museu quando as cláusulas de salvaguarda são limitativas
da sua acção. “What can one do when the founder has put in his, or her, last will that nothing in the house should be
changed, or that no objects should be bought, sold, or lent? …” (BOGAARD 2001:17)

32
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

transmitir vivência, não se estando, por isso, perante a criação de casas-museu, mas de museus
que se poderão integrar noutra classificação. Apresentam-se objectos do quotidiano, objectos de
valor profissional e artístico, todavia, desenraizados do ambiente de vivência, de utilização pelo
próprio patrono. Nestas casas, estaremos, essencialmente, perante um museu dedicado a uma
personalidade, onde se apresentam objectos relacionados com a sua vivência.

Entende-se que a casa-museu deve apresentar os objectos da colecção existentes à data do


patrono, como prova de vivência. Porém, também já se defendeu a existência de centros de
documentação associados, os quais permitiriam a realização de exposições temporárias de en-
quadramento da vida do homenageado, onde muitos objectos considerados fundamentais po-
dessem ser, desta forma, visionados, para a compreensão da sua vida e obra.

Doador, patrono ou criador, todos devem ser considerados benfeitores face àquilo que deixam ao
público (JERVIS 1997: 43), na medida em que permitem ao visitante o conhecimento da intimidade
de alguém importante.

No âmbito das políticas contemporâneas que se debruçam sobre a validade das indústrias e
políticas culturais, os sociólogos consideram duas dimensões fundamentais das relações
sociais: a cultura e o poder (COSTA 1997: 1). É necessário, por isso, aferir até que ponto as casas-
museu podem dar uma resposta positiva no campo da rentabilidade económica e ser motores de
desenvolvimento das áreas geográficas onde se inserem. A questão da sustentabilidade é cada
vez mais um pormenor que não se deve deixar imponderado. Será que as casas-museu acres-
centam algo à realidade cultural do seu meio? Serão elas um capricho de quem as instituiu por
mero interesse de imortalizar um familiar, ou uma colecção? No sentido de obter alguns esclare-
cimentos e respostas foi desenvolvida uma pesquisa sobre estes temas, com vista a perceber as
perspectivas, e de que forma se podem potenciar as casas-museu.

Os museus são unidades de actividade cultural integrados numa rede mais vasta de instituições,
podendo incrementar o desenvolvimento local através daquilo que actualmente é designado por
indústria cultural. Esta resulta do facto de indivíduos ou empresas produzirem bens ou serviços
para vender, trocar, ou mesmo, simplesmente, para seu prazer. O seu sentido económico assu-
me cada vez maior dimensão, na medida em que cria postos de trabalho e responde às neces-
sidades do consumidor (THROSBY 2001: 111).

O termo indústria cultural tem origem na década de 40 do século XX, resultado do trabalho de
dois filósofos judeus, Theodor Adorno e Max Horkheimer, no sentido de criarem um choque entre
dois conceitos, sendo a palavra cultura utilizada para designar as formas excepcionais da criati-

33
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

vidade humana. Cultura e indústria, termos supostamente opostos, levaram à desvalorização da


primeira, mas na democracia do capitalismo moderno as duas acabam por se fundir. Na década
de 60, tornou-se claro que cultura, sociedade e negócios começaram a andar cada vez mais
relacionados, com investimentos transnacionais, ao nível do cinema, da televisão ou outros, ga-
nhando cada vez maior importância social e política.

Nos anos 70, o termo indústria cultural foi retomado por sociólogos franceses, activistas e políti-
cos, sendo convertido no plural indústrias culturais, no sentido de demonstrar a complexidade e a
diversidade das estruturas no domínio da cultura (HESMONDHALGH 2005: 15 -16). Esta variedade
resulta da evolução da própria definição de cultura, que, nomeadamente, desde o século XVI até
à actualidade vem evoluindo no sentido da sua complexidade17.

Hoje, a cultura18 deve ser encarada como qualquer outro bem produzido para garantir o bem-
estar social do homem, representando na prática um sistema dinâmico, evolutivo e interactivo,
que se ancora no passado, e se enriquece no presente, através de actividades inovadoras e
criativas, para se projectar no futuro com modernidade (MATEUS 2005: 100), convertendo-se num
capital cultural19 que é necessário preservar. Este capital cultural existe como uma fonte de bens
e serviços culturais, que beneficia a sociedade no presente e no futuro, sendo, pois, necessária
a sua preservação ante a problemática da sustentabilidade20 das instituições culturais.

17 David Throsby (THROSBY 2001: 3 – 4) defende que no Séc. XVI a noção de cultura se relacionava com o cultivo da
mente e do intelecto. Todavia, no século XIX a definição passou a abranger o desenvolvimento intelectual e espiritual
da civilização como um todo. Porém, actualmente, a cultura é apresentada num duplo sentido: 1- Tem a ver com o
domínio antropológico e sociológico descrevendo atitudes, crenças, costumes, valores e práticas que são partilhadas
por um grupo. Este pode ser definido em termos políticos, geográficos, religiosos ou étnicos, procurando analisar-se
a relação entre a cultura e o desenvolvimento económico. 2- Tem uma orientação mais funcional, denotando algumas
actividades diversificadas por pessoas e o resultado dessas actividades que se relacionam com os aspectos intelec-
tuais, morais e artísticos da vida humana.
18 Os novos estudos no âmbito das políticas culturais e da sua avaliação, tendem a alargar cada vez mais os conceitos
da palavra cultura (MATEUS 2005: 100). Aqui define-se cultura como algo que “ contempla uma série de características
partilhadas por uma determinada comunidade – modos de vida, sistemas de valores, tradições e crenças – e baseadas
no conhecimento herdado do passado.”
19 Por capital cultural entende-se segundo Throsby (THROSBY 2001: 10) o conjunto de manifestações de cultura,
tradições, língua, costumes, objectos que resultam da cultura de um povo, o qual é necessário preservar.
20 Throsby (THROSBY 2001: 52-58) define seis princípios essenciais à sustentabilidade aplicada ao capital cultural:
1- Existência de bens materiais (acervo tangível) e imateriais (património imaterial); 2- equidade intergeracional e
eficiência (relacionada com a distribuição dos bens pelas diferentes gerações futuras); 3- equidade intrageracional
(igualdade na capacidade de distribuição dos bens no âmbito da mesma geração); 4- manutenção da diversidade ( de
ideias, crenças, tradições e valores); 5- princípios de precaução (todas as decisões que possam alterar e pôr em risco
o capital cultural e que possam ser irreversíveis devem ser muito ponderadas); 6- manutenção dos sistemas culturais
e sua inter-relação (nada é independente, devendo ser relacionado com outro).

34
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Até ao final da década de 90 do século passado, por iniciativa de programas de desenvolvimento


económico, a cultura não era considerada como elemento que integrava a discussão. “Ora,
muitos exemplos provam hoje que os projectos culturais contribuem directa e indirectamente
para o desenvolvimento das regiões. A própria Comissão Europeia individualizou-a já como
área de política que cimenta a coesão europeia e participa das políticas de desenvolvimento”
(PORTUGAL 2000: 10).

Os projectos culturais são considerados determinantes na valorização das regiões onde se


inserem21. Tendo em conta o tempo-livre e a subida do nível de educação22, os equipamentos
culturais de uma região, podendo ser de diferentes tipos: renovação do património arquitectónico,
urbanismo de qualidade, produção de espectáculos, museologia, passaram a constituir uma
mais-valia de incalculável valor, influenciando o turismo, e, concomitantemente, provocando uma
melhoria da rede de transportes, serviços públicos e hotelaria. Esta consciência vem alargando
o campo das tutelas e dos tipos de expressões artísticas, promovendo uma cada vez maior
democratização da cultura e descentralização das decisões, articulando diferentes poderes
públicos, autarquias, associações e sistemas de ensino (COSTA 1997: 3), sendo que as políticas
públicas têm gravitado em torno do património, da formação de públicos, da sustentação da oferta
cultural e do uso económico, social e político da cultura. Os projectos culturais, independentemente
da sua área de actividade, património, arte ou outros considerandos são geradores de emprego,
frequentemente, qualificados e duradouros. A cultura é, enfim, um objectivo do desenvolvimento,
um elemento essencial na formação dos indivíduos e da sociedade.

Neste panorama, os museus, assim como a tipologia específica das casas-museu, devem assu-
mir um papel determinante no domínio da produção de bens culturais de qualidade. Os museus
são instituições que, teoricamente, devem preservar as memórias materiais e imateriais, home-
nageando personalidades e evocando acontecimentos, zelar pela sua conservação, no sentido
de permitirem o acesso das gerações do presente a esses patrimónios e, fundamentalmente,

21 Segundo José Portugal (PORTUGAL 2000: 10) os projectos culturais têm consequências económicas multiplicado-
ras: “ 1- porque deles decorre a melhoria global do atractivo de uma zona ou de uma região inicialmente desfavorecida;
2- porque a qualidade de vida para a qual contribui em grande parte o ambiente cultural e natural, constitui um dos
critérios de escolha dos detentores do poder de decisão e dos investidores; 3- porque melhorar a situação cultural de
uma região favorece a sua posição em termos de concorrência do ponto de vista do seu atractivo face a outras regi-
ões; 4- porque, finalmente, a identidade cultural é um recurso estratégico “A Cultura fertiliza e pode ser fertilizada pelos
diferentes domínios de expressão e de construção do desenvolvimento, incluindo os da organização e da eficiência
na utilização dos recursos””.
22 O aumento do nível de instrução das diferentes camadas sociais assim como da sua formação, tem aumentado e
alimentado os consumos culturais, os níveis de exigência dos públicos, motivando por consequência o aumento do nível
de formação dos recursos humanos que desenvolvem a actividade cultural como profissão. (MATEUS 2005: 102)

35
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

que as gerações futuras possam fruir o que de melhor se produziu no âmbito da criação humana
ao longo dos tempos, catalisando vontades e agregando grupos em torno de ideais, minimizan-
do, assim, os riscos da globalização social23, onde o princípio de identidade se esgota.

Todavia, antes da sua conversão em bem público, o património, móvel ou imóvel, pode neces-
sitar de intervenções, restauros e estudos, podendo a sua exposição pressupor investimentos
avultados, sendo necessário proceder a estudos económicos de avaliação do custo/benefício,
não devendo, contudo avaliar-se somente o custo financeiro, pois o valor patrimonial, muitas
vezes, é superior. Se o projecto se relacionar com uma peça absolutamente única, esta relação
não se coloca24, uma vez que este bem deve mesmo ser salvaguardado, devido ao seu valor
de unicidade. Segundo Throsby (THROSBY 2001: 78-79) o património pode assumir os seguintes
valores:
- Valor Existencial: o acervo vale por si mesmo ou pelo valor que tem na comunidade,
mesmo que este não seja considerado num momento inicial;
- Valor Opcional: futuramente, um indivíduo, grupo ou comunidade pode pretender
usufruir desse património;
- Valor do Conhecimento: o povo pode beneficiar do conhecimento produzido por um
bem patrimonial, passando-o de geração em geração.

No âmbito da museologia, nomeadamente no processo de criação de casas-museu onde, mui-


tas vezes, são tidas mais em conta as razões de ordem pessoal do que patrimonial ou de reco-
nhecida relevância, a questão custo-benefício nem sempre é tomada em linha de conta.

O artista que pretende imortalizar a sua obra, o seu espaço; o coleccionador que pretende
preservar a sua colecção, um qualquer familiar que deseja exortar um familiar que se destacou
numa qualquer área da vida pública; ou, simplesmente, um governo ou uma autarquia local que
desenvolve uma acção para demonstrar a importância de determinada personalidade local,
nem sempre ponderam a relação custo-benefício da sua acção, instituindo unidades museoló-

23 A criação de museus em Portugal, algo que não distingue o nosso país dos outros países europeus, associa-se
à valorização da História local e ao incremento recente na investigação na área. “isso faz-se através da valorização
das raízes das comunidades, que se perdem na noite dos tempos, desde os homens rudes que habitavam o alto dos
montes ou faziam desenhos nos vales [...] até aos escritores, artistas plásticos e políticos, filhos da terra. Qual é a terra
que não tem um capitão ou pelo menos um marinheiro [...] uma mamoa [...] alfaias agrícolas em desuso recolhidas por
um senhor padre autor da monografia local?” (PORTUGAL 2000: 13)
24 O valor cultural do património é determinado por: 1- valor estético; 2- valor espiritual; 3- valor social; 4- valor histórico;
5- valor simbólico; 6- valor de autenticidade. Todavia estes valores nem sempre são tomados em conta, tendo os
poderes políticos uma palavra determinante na selecção do património a conservar (THROSBY 2001: 84 - 85).

36
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

gicas que posteriormente não têm capacidade de desenvolvimento e valorização. Na sociedade


globalizada, numa perspectiva economicista, são cometidos erros que posteriormente darão
origem a instituições sem valor, amorfas, passadistas e sem capacidade de implantação.

Muitos dos criadores de casas-museu procuram que estas passem, o mais rapidamente pos-
sível, para a esfera pública. Esta transferência de responsabilidades, em muitos casos, sem
estudos profundos, não é difícil de justificar, uma vez que estas instituições museológicas
podem ser consideradas essenciais no sentido da formação de uma identidade local, regional
ou nacional. Segundo muitos autores, a estrutura museológica deverá ser, preferencialmente,
tutelada por um órgão estatal ou uma fundação com capacidade financeira para suportar as
necessidades técnico-funcionais de um museu com este carácter (S/A 1934: 277).

Assim, não será de estranhar que uma parte considerável das casas-museu seja administrada
por autarquias locais, as quais tentam criar laços de identidade local, apresentando a individua-
lidade capaz de atrair turismo e, eventualmente, investimento para a localidade. O turismo tem
uma grande visibilidade pelo que representa em termos de fluxos humanos, empregos directos
e indirectos, recursos e receitas, mas a cultura não se esgota aí, implica um conjunto mais di-
versificado de outras actividades.

Os responsáveis pela casa-museu devem procurar garantir fundos que lhes permitam desen-
volver uma actividade de qualidade, geradora de factores de divulgação e valorização da
unidade museológica. O plano museológico deve estabelecer as principais linhas de gestão
da instituição, as suas principais fontes de financiamento e a forma como a instituição será
gerida ao longo do seu processo de existência25. Desde logo se deve equacionar sobre os
valores da bilheteira a aplicar, a sua actualização ao longo dos anos, a existência de uma
loja do museu, de uma cafetaria, a forma como se procederá à procura de mecenato cultural,
os encargos com restauros, consumos energéticos, com meios de comunicação, promoção e
divulgação.

De primordial importância é a existência de um plano de marketing26, o qual traçará a linha de

25 As novas políticas culturais tendem no sentido das estruturas que se criam e se afirmam neste domínio procurarem
ser auto-sustentáveis, com vista à responsabilização dos seus dirigentes e simultaneamente como forma de estimular
a criação de actividades que produzam recursos financeiros que evitem o constante recurso ao financiamento público.
Os museus e no caso concreto as casas-museu têm de ter a capacidade de iniciativa, com vista à criação de recursos
para a sua sustentabilidade. (HESMONDHALGH 2005: 3)
26 A partir dos anos 80 do século passado verificaram-se grandes alterações ao nível da definição das políticas
culturais, dos conteúdos, mas também na promoção e no desenvolvimento de planos de marketing, que permitam uma
maior promoção e rentabilização das instituições culturais. (HESMONDHALGH 2005: 2)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

divulgação e promoção da casa-museu27. Para que o público visite o museu tem de o conhe-
cer; só com uma boa campanha de divulgação se poderá levar a instituição ao conhecimento
de um maior número de público. É crucial chegar junto dos meios de comunicação social, dos
operadores turísticos, dos centros culturais com os quais pretendemos desenvolver actividades,
visando como se referiu, aumentar o número de visitantes, factor que potencia a aplicação de
mais verbas por parte das tutelas e, simultaneamente, pode proporcionar o desenvolvimento do
mecenato.

1.4. MOTIVOS PARA A CRIAÇÃO DE CASAS-MUSEU

Depois de identificados os sentidos e os intervenientes no processo de criação de uma casa-


-museu, é importante sistematizar as razões que podem motivar a criação de uma instituição
museológica deste género.

Motivos de vária ordem podem ser avançados, uns mais de carácter pessoal, outros mais de
índole institucional, que passam desde a auto-homenagem até ao enriquecimento do sentido
histórico de um país.

Ao celebrar uma personalidade, legitima-se a memória pessoal de alguém, operando a pas-


sagem do domínio privado para o público (MARTINS 1996: 71), consagrando-se uma determinada
memória (CABRAL 2003: 60). Entre os inúmeros casos apresentados, destaca-se o caso da Casa-
-Museu Leal da Câmara, em Sintra (DIAS 1997: 34), a qual foi instituída com vista à perpetuação
da memória do Mestre Leal da Câmara, da sua vida pessoal, mas também, em grande parte, da
sua actuação política de resistência. A musealização da casa de um determinado político, de um
escritor ou artista de qualquer área, poderá acontecer face à enorme projecção obtida na época
em que viveu e/ou devido à influência que exerceu sobre as gerações vindouras. É legítimo que
essa figura seja usada como um símbolo de uma nacionalidade, alguém que agregue em si
a vontade de um povo, o seu orgulho. Isto determina que se pretenda criar uma estrutura onde
o público possa tomar contacto com essa personagem, onde se perceba a sua realidade, a
sua forma de vida, com o objectivo de o conhecer melhor e de consigo criar laços de identi-
dade.

27 Segundo Maria de Lurdes Santos (SANTOS 1999: 1-2) as indústrias culturais sofrem de grande imprevisibilidade
quanto à sua eficácia junto dos mercados, não sendo possível determinar à partida a adesão do público, “Donde, o
uso de estratégias que tendem a ser mais sofisticadas do que nos outros mercados, com vista a tentar gerir aquela
imprevisibilidade – estratégias tais como a aposta em públicos bem determinados, a promoção do star-system, o re-
curso a gate-keepers, etc.”

38
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Estes conceitos de homenagem, consagração e perpetuação da memória de alguém, podem


ter ainda outra abrangência. Em muitas situações, a consagração dessa personalidade é de-
senvolvida por outrém. Existem, porém, situações em que se verifica uma séria necessidade
de auto-homenagem e de perpetuação da própria memória (MARTINS 1996: 71). Esta ideia
associa-se à de organização da casa-museu pelo próprio patrono. Este trabalhará para dei-
xar organizada uma instituição que fará perdurar, nos tempos vindouros, a sua acção e a sua
personalidade. Implícita a esta necessidade de auto-homenagem pode-se, ainda, agregar a
eventual necessidade de reconhecimento social, assim como de um determinado status social
(CABRAL 2003: 60).

A criação de casas-museu relacionadas com figuras públicas pode ainda pressupor outras ra-
zões. Estas instituições são usadas para veicular ideias e ideais de alguém ou de determinado
regime (CABRAL 2003: 62). A forma como vive e os objectos de que se rodeia, podem identificar
e legitimar um determinado estilo de vida, que ao ser apresentado ao público se vai tornar mais
conhecido e, certamente, mais claro aos olhos de quem toma contacto com uma realidade até
então desconhecida.

Devido ao seu grande valor simbólico, uma vez que podem representar alguém que identifique
uma nação, estas casas foram e continuam a ser usadas pelas ideologias dominantes como
símbolos de identidade nacional e para legitimar ou negar a validade de alguns regimes. Na
Argentina, estas instituições serviram como paradigmas de unidade nacional (GORGAS 2001:
12)28. A Casa de Anne Frank foi usada para mostrar os efeitos devastadores da perseguição ao
povo judeu por parte dos nazis (STAM 2002: 66).

Pode aceitar-se como justificação para a criação de casas-museu o facto de determinado indi-
víduo, que tendo reunido ao longo da sua vida uma significativa colecção de objectos, de arte
ou mesmo etnográficos, não gostaria de ver esse conjunto dividido ou mesmo perdido, usando
a figura da casa-museu como forma de preservar o seu acervo intacto. Não se pode deixar
de referir: entende-se que a casa-museu só o é, se esses objectos mantiverem o seu enqua-
dramento doméstico. Este acto pode resultar de duas situações: o patrono não ter herdeiros e
sentir a necessidade de assegurar a integridade das suas colecções, ou o mesmo não desejar
que os objectos deixem de constituir uma unidade e possam dispersar-se pelos herdeiros.

28 Mónica Risnicoff de Gorgas (GORGAS 2001: 12-13) apresenta alguns exemplos de estruturas museológicas que
pelo seu carácter são utilizadas como forma de legitimação de sistemas ou actos de cariz político. É o caso da Casa
do escritor Argentino Manuel Mujica, a Casa da Inconfidência Mineira ou as Casas da Companhia de Jesus utilizadas
para demonstrar a importância do papel desempenhado pela referida Ordem em território argentino.

39
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Para além das motivações pessoais, identificam-se outras de carácter patriótico ou de identida-
de nacional (BRYANT 2003: 54; FACOS 2003: 66). A apresentação de uma determinada forma de
organização doméstica, numa época, numa sociedade, de um determinado grupo, pode motivar
a criação de uma qualquer casa-museu (LORENTE LORENTE 1998: 30; DIAS 2001: 68).

Mas, independentemente do seu carácter, as populações dos locais onde se insere a casa-mu-
seu sentem por ela um enorme orgulho, uma vez que essa localidade é apresentada como o
local onde determinada figura, que se destacou dos demais, viveu e teve alguma relação com
essa terra (SOUSA 2005: 21).

Por vezes, denominam-se casas-museu inúmeras estruturas que retratam diferentes formas de
quotidiano doméstico sem se relacionarem com alguma vivência concreta, reportando-se an-
tes a formas de vida de determinada localidade ou região. Estas unidades museológicas tanto
poderiam ser no local em que se encontram como noutro, uma vez que não têm a referência a
qualquer indivíduo em concreto. Não se consideram estas estruturas casas-museu, falta-lhes o
factor vivência. Serão museus etnográficos, casas-típicas, museus de história, onde os objectos
organizados de determinada forma contam uma história criada por alguém. Não é uma história
real, apesar de se poder basear em factos concretos (DIAS 1997: 165; Idem 1999: 133).

Para além de celebração individual, as casas-museu podem também funcionar como autênticos ac-
tos celebratórios de um determinado regime político ou social. O enquadramento de um espaço do-
méstico num certo regime, vai fazer reflectir essas mesmas tendências nas suas diversas áreas.

A casa-museu, símbolo que reflecte acontecimentos, épocas e regimes que não podem ser apa-
gados desse espaço (PINNA 2001: 7) transporta o visitante para os tempos retratados no sítio,
levando o público a pensar nas pessoas que outrora viveram e usufruíram esse espaço, e que
estiveram sujeitas a uma determinada organização política vigente num certo momento.

Estes espaços podem também ser instrumentos utilizados pelas classes dominantes com o ob-
jectivo de imporem os seus modelos culturais, a sua visão da história, recorrendo, para o efeito,
a altas personalidades, inquestionáveis face ao seu reconhecimento. Através das suas casas e
das ideias aí implícitas, tentam influenciar o pensamento e a conduta de um grupo de pessoas
que visita uma casa-museu (CABRAL 2003: 62; FACOS 2003: 66). Por exemplo, nos Estados Uni-
dos da América (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: fw) a criação deste tipo de museus acelera entre
os anos de 1979 e 1980, face às comemorações do segundo centenário da revolução, sendo,
neste momento, importante relançar os valores e as motivações desse processo revolucionário,
assim como os seus principais heróis.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

A criação de Mont Vermon, em meados do século XIX (1858), não poderá ser esquecida. Este
complexo foi criado, liderado por mulheres que musealizaram a vida doméstica e salientaram o
papel do homem branco na história deste país (WEST 1999: 5), realçando alguns protagonistas
como é o caso de George Washington. Em finais do século XIX e durante o século XX, as mu-
lheres perderam o domínio das casas-museu em favor dos homens, continuando, contudo, estas
instituições a desempenhar um importante papel celebratório, tendo este deixado de ser exclusi-
vamente das classes dominantes, passando estas instituições a reflectir também as classes mais
desfavorecidas da sociedade, tal como os escravos.

1.5. TIPOLOGIAS DE CASAS-MUSEU – AS PROPOSTAS DE CLASSIFICAÇÃO

Um dos objectivos que motivou o presente trabalho, prende-se com a necessidade sentida em
perceber claramente o que são casas-museu e se é possível estabelecer a diferenciação tipoló-
gica destas unidades museológicas. É imprescindível perceber, de uma forma clara e rápida, o
tipo de instituição que se visita, através da análise da terminologia integrante do seu nome.

No senso comum, o conceito de casa-museu compreende sítios de diferentes tipos e dimensões:


de palácios reais a residências de pessoas poderosas, famosas, a estúdios de artistas, casas de
burgueses até habitações mais modestas (PINNA: 2001), podendo a diversidade tipológica fun-
cionar como um motor da confusão instalada. Certamente, ao visitar uma casa-museu dedicada
a uma certa individualidade, muitos visitantes sentiram-se defraudados, pois aquilo com que se
deparam nada tem a ver com o patrono da instituição.

Desde o século XIX até aos nossos dias, foram fundadas inúmeras casas-museu dedicadas a
vultos da literatura, da escultura, da pintura, ou a um conjunto de personalidades, preservando
fidedignamente a arquitectura e a decoração original do espaço (LORENTE LORENTE 1998: 31).
Paralelamente, surgem casas-museu de âmbito etnográfico que, por norma, se encontram mais
perto do conceito de museu local ou regional, monográfico ou etnográfico, do que de casa-mu-
seu (MARTINS 1996: 8).

Com a realização da 1ª reunião do comité das casas históricas e casas-museu, no âmbito do


International Council of Museums (ICOM), em 1997, foi sentida a necessidade de criar um siste-
ma de classificação tipológica para estas unidades museológicas. Tal classificação será tão mais
importante quanto mais facilitar a comunicação entre a instituição e o seu público, no sentido de
evitar confusão e frustração. Por outro lado, o estabelecimento de um sistema de identificação
destas instituições permitirá, de igual forma, uma fácil compreensão e comunicação entre a co-
munidade científica (PAVONNI 2001: 64). Definindo-se a natureza específica dos diferentes tipos

41
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

de casas-museu, será mais fácil definir as suas práticas, modos de acção, missão, actos de
conservação, restauro, estudo e outras actividades, segundo as características específicas de
cada grupo (MEYER 2003: 130).

Pela sua natureza, pode-se considerar que uma casa-museu está relacionada com uma individu-
alidade com determinada relevância; todavia, se isso não acontece, temos de definir uma acção
e um tempo a apresentar. Esta selecção, eminentemente técnica, é responsabilidade do director
e determinará toda a acção da instituição. Noutros casos, a casa-museu está relacionada com a
apresentação de um grupo social, uma estrutura cultural, numa determinada época, designadas
por casas-museu interpretativas, criando ex-novo objectos e estruturas como forma de interpretar
ou representar um período histórico, um estilo artístico, gosto ou forma de vida (PAVONNI 2002:
52), possuindo elementos museológicos precisos: os objectos da colecção, estilos, períodos his-
tóricos em questão devem estar conformes com estilo arquitectónico do edifício. Nesta categoria
podemos incluir quartos e casas dedicadas a artistas, decorados com materiais produzidos com
vista a contextualizar o trabalho de alguém que se notabilizou no mundo da arte, visando recriar
a atmosfera em que este trabalhou ou viveu (PAVONNI 2003: 118; PAVONNI 2002: 52).

Nos Estados Unidos da América, recuperaram-se as casas dos Presidentes da Nação, de auto-
res famosos, de homens ricos. Ao mesmo tempo, surgiu a ideia de preservar as casas de pessoas
simples, incluindo determinadas minorias, como é o caso dos escravos (BUTCHER YOUNGHANS
1993: 5), interpretando-se o modus-vivendi de cada grupo social de forma diferenciada. Quando
a acção da casa-museu se reporta à celebração de uma personalidade, poderá ser encarada
como uma casa-museu biográfica, conferindo uma informação que se aproxima de um estudo
semelhante ao de uma publicação desse género (BURKOM 2003: 32).

Élvio Sousa (2005) apresenta cinco factores, alguns já referidos, para que se possa proceder
à classificação de uma casa-museu: a instalação na casa que o patrono habitou, pelo menos
durante algum tempo; o espaço deverá ser o espelho da vivência do Homem que lhe dá o nome,
sendo suposto entrar no espaço íntimo de alguém, desde que o local assinale e testemunhe a
vivência efectiva do homenageado; a estrutura museológica deve realçar o factor vivência, que
funciona como o motor da acção; tanto quanto possível, deve apresentar a dimensão pessoal
e individualizada, clara e próxima da pessoa que se homenageia; possuir um serviço de cariz
museológico, tal como o horário de funcionamento com abertura ao público, uma equipa técnica
e desenvolvendo actividades de conservação, educação e investigação, entre outras acções
universalmente assumidas por um museu. Ao aceitar estas premissas, estamos, à partida, pe-
rante um quadro que limita a existência deste tipo de estruturas, deixando de fora instituições até
agora aceites como casas-museu.

42
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Face à diversidade e à dificuldade na definição destas estruturas museológicas, vários autores


tentaram apresentar tipologias para clarificar o quadro existente e facilitar o acesso a estas ins-
tituições, uma vez que é imperioso estabelecer um processo de classificação, permitindo uma
terminologia diferenciada, que deverá ser divulgada em cada instituição.

No artigo “Les Maisons Historiques et leur Utilization comme Musées”, publicado em 1934, na
revista Museion do Office International des Musées, são indicados 3 grupos de casas-museu,
estabelecidos a partir da análise das suas colecções (S/A 1934:283):

Casas de Interesse Biográfico, nas quais as colecções podem ser constituídas a par-
tir de manuscritos, correspondência, escritos, biografias, desenhos, recortes de publica-
ções, objectos pessoais, espécimes de trabalhos, entre outros objectos com estas carac-
terísticas tipológicas.

Casas de Interesse Social, apresentando objectos que documentam a vida quotidiana


dos ocupantes, tais como, cartas, quadros, objectos pessoais, peças de decoração e
vestuário, entre outros.

Casas de Interesse Histórico Local, onde o acervo é composto de objectos de diferen-


tes períodos e com diversas utilizações, tais como armas, uniformes, alfaias agrícolas ou
outros com estas especificidades.

George Henry Rivière quando publicou o conjunto de lições de museologia, em 1985, apresen-
tou, com a colaboração de Gilbert Delcroix, uma proposta de classificação dos bens musealiza-
dos (RIVIÈRE 1985: 240-243).

“Por um lado, integrou-as no conjunto dos monumentos/edifícios civis como bem museológico
imóvel cultural ecológico, ou seja, aquele que vive da relação com o meio original da sua produ-
ção e/ou utilização, e cujo tratamento museológico é praticado em função da existência anterior
do edifício (em oposição ao bem museológico imóvel cultural tipológico que vive independente-
mente da relação com o meio original da sua produção e utilização)” (MOREIRA 2006: 17).

Casas Históricas: terminologia utilizada para classificar três categorias de imóveis de


acordo com a tipologia dos seus habitantes:

Museus-Palácios e Castelos de Soberania: espaços relacionados com a habi-


tação das classes dominantes.

43
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Palácios, Castelos e Casas Privadas: espaços que, depois de passar o seu


período áureo, apresentam significativos problemas de funcionamento e manu-
tenção, abrindo ao público apenas temporariamente, cobrando bilhetes, alugando
espaços para os mais diversos eventos.

Casas de Notáveis e de Pessoas Célebres, tais como, de Artistas, de Escri-


tores ou de Cientistas: espaços ligados à celebração de pessoas notáveis. Em
Paris, escritores como Balzac, artistas como Délacroix, ou cientistas, como Pas-
teur, têm as suas casas musealizadas.

Casas Rurais: equipamentos que traduzem a tradição de um certo local, caracterizadas


com a natureza dos edifícios. Este conjunto, descontextualizado, poderá ser criado em
qualquer museu.

Em 1993, Sherry Butcher-Younghans apresentou uma proposta de classificação dividida em


quatro categorias (BUTCHER YOUNGHANS 1993: 184-186):

Casas-Museu Documentárias: apresentam a vida de uma personagem famosa, rica,


um fundador de uma cidade, um escritor famoso, um presidente. O grande objectivo é
apresentar a vida de uma figura ou um acontecimento histórico, contendo os objectos e,
se possível, o lugar em seu estado original. Este tipo de casa-museu, vulgar nos Estados
Unidos da América e também na Europa, pode apresentar-nos um tipo de sociedade eli-
tista, uma vez que muitas das figuras tratadas apresentam nas suas casas objectos que
lhes deram a projecção e o seu status social.

Casas-Museu Representativas: documentam um estilo, uma época ou modo de vida.


Estes ambientes podem ser reconstruídos utilizando objectos não originais. Algumas ca-
sas foram restauradas para apresentarem determinado estilo de arquitectura ou período
histórico em particular, utilizando peças adquiridas em mercados com o objectivo de mos-
trar histórias de grupos, mais do que individualidades.

Casas-Museu Estéticas: servem de abrigo e expõem colecções de arte de grande qua-


lidade, mobiliário e antiguidades de diferentes períodos. A casa serve de contentor para
os objectos, não tendo importância determinante o seu fundador ou acontecimento que
decorreu nesse espaço. A organização de exposições artísticas em espaços de cariz
doméstico sem vivência dão origem aos denominados “period rooms”, locais onde se
apresentam conjuntos de objectos e obras de arte de determinado período e tipologia.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas-Museu que combinam categorias anteriores: uma casa-museu pode ser docu-
mentária, uma vez que algumas das salas apresentam a sua decoração original, ao tempo
em que aí habitou o patrono ou a família alvo, mas pode incluir outros espaços organizados
com exposições temáticas sobre assuntos regionais ou de outros tipos de informação;
por vezes, alguns espaços funcionam ainda como sedes de sociedades históricas ou dão
abrigo a museus etnográficos locais. Assim, estamos perante estruturas museológicas que
retratam os seus fundadores (documentárias), apresentando também interiores elegantes
e trabalhos artísticos (estéticas) e explicando fenómenos sociais através de objectos, even-
tualmente, não originais (representativas).

Alguns anos depois, face à necessidade sentida aquando do encontro do DEMHIST já referido, Ro-
sana Pavonni e Ornella Selvafolta, em 1997, tentaram estabelecer tipologias mais pormenorizadas
de casas-museu (PAVONNI e SELVAFOLTA 1997: 35-36), determinando as seguintes categorias:

Palácios Reais: são realidades muito particulares no panorama das casas-museu, com
alto valor representativo, sendo necessário diferenciar, de entre os que ainda mantêm a
função residencial e aqueles que são unicamente museus.

Casas de pessoas eminentes: museus que identificam pessoas ilustres através dos seus
objectos pessoais, da sua vida e da sua carreira, utilizando geralmente as casas onde nas-
ceram e/ou viveram uma parte da sua vida.

Casas criadas por artistas: casas criadas para a promoção de um artista e/ou divulgação
da obra, expondo, por exemplo, materiais ou modelos usados.

Casas dedicadas a um estilo ou época: têm por objectivo contextualizar peças de mobi-
liário ou artes decorativas, de acordo com a interpretação dos museólogos.

Casas de coleccionadores: não contemplam um discurso museológico, mas sim a exibi-


ção e protecção de colecções pessoais, evoluindo, posteriormente, no sentido de se trans-
formarem em museus.

Casas de família: nascem e desenvolvem-se como museus familiares, sendo representa-


tivas de um determinado meio social e cultural.

Casas com identidade social e cultural específica: representando gostos de grupos


sociais ou profissionais, estas construções são conotadas com a presença de objectos

45
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

de trabalho e, em alguns casos, transformam-se em museus relacionados com o fol-


clore.

Casas onde são conservadas colecções sem ligação particular com a história da
casa.

Rosana Pavonni aprofunda, depois, a sua proposta de classificação, apresentando subcatego-


rias de classificação das casas-museu, reflectindo a adaptação da casa a museu, o seu discurso
e o seu relacionamento com a sociedade:

Casa-Museu Descritiva, intacta, permite o desenvolvimento de um discurso directo a


partir da apresentação dos espaços e dos seus acervos.

Interpreting Homes (PAVONNI 2002: 52), casas-museu interpretativas criadas para


interpretar uma pessoa, um período da História da Arte, um estilo de vida, um facto histó-
rico ou outra que se retrate no ambiente doméstico.

Em 2006, no 6º Encontro Anual do DEMHIST, Linda Young (YOUNG 2006), docente da Universi-
dade de Deakin, em Melbourne, e investigadora deste tema, apresentou uma nova proposta de
classificação tipológica das casas-museu, baseada na análise de cerca de 600 unidades museo-
lógicas em Inglaterra, Estado Unidos da América e Austrália:

Casas de Heróis e a museologia dos significados intangíveis: são espaços onde


viveram pessoas importantes ou, em alguns casos, onde só por lá passaram, podendo
interpretar a história desse homenageado, levando-nos a pensar no tipo de inspiração
que aí podemos encontrar. A esta tipologia de casas-museu está associada a necessida-
de de estabelecer um panteão de heróis, os quais têm um enorme poder na imaginação
popular. Este movimento iniciou-se nos Estados Unidos depois em Inglaterra, tendo-se
posteriormente alastrado.

Casas de Colecção e a museologia de colecções intactas: estas casas definem-se


através da presença de colecções especificas ou de material com alto valor intrínseco
para a casa. Nestas instituições está muito presente a necessidade de preservar intactas
colecções de artes decorativas, história ou arqueologia. Este tipo de casa-museu facil-
mente se poderá confundir com um museu generalista. Porém, para que isso não acon-
teça, o esquema expositivo deixado pela personalidade que organizou a colecção deverá
ser mantido, com vista à preservação dos significados que a mesma tem.

46
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas de Design e a museologia da experiência estética num ambiente histórico:


apresentam a casa como criação artística com objectivo de apreciação estética pelos
visitantes. A casa e a colecção são fundamentais, mas a estas acresce a importância na
percepção espacial dos volumes, texturas, permitindo, muitas vezes, aos visitantes, o
contacto com obras primas do design.

Casas de Acontecimentos ou Casas de Processos e a museologia da representação


histórica: estão relacionadas com acontecimentos determinantes da História. Os habitan-
tes destes espaços não são pessoas de tal forma importantes que possam ser considera-
dos heróis, tendendo a história destas casas a ser anónima e genérica, caminhando-se no
sentido de contar a história do dia-a-dia e das classes mais baixas da sociedade.

Museologia das casas de campo inglesas: Estas constituem uma tipologia distinta
de casas-museu, com grande influência da musealização de casas no restante mundo
anglo-saxónico. Estes imóveis eram, na sua maioria, residência de famílias nobres, apre-
sentando o seu estilo de vida, o qual encanta as pessoas de hoje.

Casas de Sentimento e a museologia alternativa: são as casas-museu criadas sem gran-


de sentido, resultando, geralmente, da vaga musealizadora de casas disponíveis, onde se
colocam peças resultantes de recolhas efectuadas. Muitas comunidades começam a aperce-
ber-se de que as casas-museu que existem na sua envolvência não têm qualquer importância.

No sentido de tentar aferir os pontos de confluência das diversas propostas de classificação


elaborou-se a tabela comparativa das quatro propostas de classificação de casas-museu, que
se apresenta.
Tipologia Tipologia
Tipologia Tipologia
Museion, 1934 S. Butcher Younghans: Pavonni – Selvafolta:
G. H. Rivière: 1985 Linda Young: 2006
1993 1997
- Casas Históricas
- Casas de pessoas
- Castelos e
eminentes - Casas de Heróis
- Casas de Interesse Palácios de - Casas-Museu
- Palácios reais 30 - Casas de
Social Soberania 29 documentárias
- Casas criadas por Acontecimentos
- Casas de
artistas
notáveis
- Casas Históricas
- Palácios Reais 32
- Castelos e
- Casas-Museu - Casas dedicadas a um
Palácios de - Casas de Campo
Representativas estilo ou época
Soberania 31
- Casas de Família
- Casas Rurais
- Casas de
- Casas de Interesse - Casas-Museu Coleccionadores - Casas de Colecções
Biográfico Estéticas - Casas onde são - Casas de Design
conservadas colecções
- Casas-Museu que - Casas com identidade
- Casas de Interesse
combinam as três social e cultural - Casas de Sentimento
Histórico Local
categorias anteriores especifica

47
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Relacionaram-se as casas-museu documentárias (S. Butcher Younghans) com as casas de pessoas


eminentes, com os palácios reais e as casas criadas por artistas (Pavonni – Selvafolta), com os
palácios de soberania e as casas de notáveis (G. H. Rivière) ou com as casas de interesse social
da proposta de 1934 (Museion) e ainda as Casas de Heróis e Casas de Acontecimentos (Linda
Young) porque todas elas têm por objectivo celebrar e homenagear uma personalidade que se
destacou no seu meio social. Através dos seus espaços e das suas colecções o visitante poderá
tomar contacto com alguém que admira, estes espaços museológicos podem ainda estar asso-
ciados a acontecimentos social e historicamente relevantes e que merecem destaque.

Estabeleceram-se relações entre as Casas-Museu Representativas (S. Butcher Younghans), com


os palácios reais, casas dedicadas a um estilo ou época e ainda Casas de Família (Pavonni
– Selvafolta), com os castelos e palácios de soberania, as casas rurais (G. H. Rivière), e ainda com
as Casas de Campo (Linda Young), uma vez que todas estas casas-museu, de acordo com as
definições apresentadas dedicam a sua actividade à demonstração de um estilo ou época, uma
determinada camada social ou actividade profissional.

É importante referir que se integraram os palácios e os castelos nos dois grupos classificativos,
pois estes podem ter uma actividade diferenciada. Podem representar uma personalidade, mas
de igual forma a sua acção pode direccionar-se no sentido de ilustrar uma determinada época ou
estilo sem ter um homenageado especifico.

Consideraram-se as Casas-Museu Estéticas (S. Butcher Younghans) no mesmo grupo das Casas
de Interesse Biográfico (Museion), Casas de Coleccionadores, casas onde são conservadas co-
lecções (Pavonni – Selvafolta), assim como das Casas de Colecção e as Casas de Design (Linda
Young), uma vez que em todas as situações o mais importante são as colecções, não tendo a
casa importância determinante. Têm um objectivo muito preciso de preservar e expor colecções
pessoais, podendo vir a transformar-se em museus generalistas. A apreciação estética é o ele-
mento mais determinante destas unidades museológicas.

Finalmente relacionaram-se as casas que combinam as três categorias (S. Butcher Younghans),
com as casas com identidade social e cultural especifica (Pavonni – Selvafolta), com as Casas de
Interesse Histórico Local (Museion) e as Casas de Sentimento (Linda Young), unidades com menor
relevância do ponto de vista das casas-museu. Estas podem combinar actividades de diversa

29 podem representar uma personalidade ou família que habitou no imóvel.


30 podem representar uma personalidade ou família que habitou no imóvel.
31 podem representar um período específico.
32 podem representar um período específico.

48
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ordem, tais como centros culturais, espaços para eventos diversos, podendo ser, muitas vezes,
casas vazias onde se apresentam colecções que resultaram de recolhas locais.

Estas classificações abrem portas a tipos de casas-museu que, em nosso entender, não devem
ser consideradas como tal, uma vez que não implicam vivências directas no imóvel ou contacto
com os objectos expostos. Quando for analisada a realidade portuguesa das casas-museu, em
capítulo próximo, tentar-se-á relacionar estas propostas com o panorama museológico nacional,
clarificando o nosso ponto de vista quanto àquilo que deve ser enquadrado no domínio das ca-
sas-museu.

1.6. A CASA-MUSEU – UM DISCURSO EM DIRECTO


O PODER EVOCATIVO E A COMUNICAÇÃO NAS CASAS-MUSEU

Desde o início deste capítulo apresentou-se a definição, os objectivos e os âmbitos de acção de


uma casa-museu. Conseguiu-se definir uma casa-museu, como um espaço doméstico conver-
tido em equipamento público, posto ao serviço deste com vista a celebrar e evocar a história de
um homem, de um país, de um grupo ou um acontecimento, que, por estar directamente relacio-
nada com a casa, se consegue apreender nesse espaço.

A profusão de casas-museu nos últimos anos permite constatar a existência de estruturas mu-
seológicas sem qualquer carisma, não apresentando mensagens fundamentadas em vivências.
Devido ao seu valor simbólico, as casas-museu passam mensagens de certa forma simplifica-
das, uma vez que o visitante as pode percepcionar directamente, através do contacto visual com
determinado cenário (PAVONNI 2001: 19; BUTCHER YOUNGHANS 1993: 207). Simultaneamente,
despertam memórias e sentimentos devido à atmosfera envolvente: ao visitar uma casa-museu,
o público está a entrar directamente na história do homem (LEONCINI 1997: 9), da família ou de
um determinado grupo. Esta intromissão tão directa faz com que as casas-museu sejam um
instrumento de forte poder evocativo e comunicativo, de pessoas ou acontecimentos (MARTINS
1996: 71; VERBRAAK 2001: 29).

Se se pretende celebrar um pintor, um escritor ou um político, nada melhor que utilizar o seu am-
biente doméstico, no sentido de demonstrar as práticas mais íntimas do Homem que habitou ou
ainda habita essa casa, uma vez que este não aparece transfigurado na sua intimidade. A casa
apresenta a personagem tal qual é, ou a forma como esta quer ser conhecida, permitindo este
segundo factor, também, percepcionar o tipo de personalidade da pessoa em causa (LEONCINI
1997: 10). São evocados hábitos, pessoas, períodos, memórias, todo um património material e
imaterial, através das relíquias de uma vida que se esconde dentro das paredes de um edifício

49
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

(PAVONNI e SELVAFOLTA 1997: 32). É esta memória pessoal que funciona como elemento agluti-
nador do trabalho de uma casa-museu.

O mergulhar no passado, no privado, permitirá ao visitante um melhor conhecimento sobre a


pessoa que admira, ou perceber, em certos momentos, o porquê de determinada atitude e de
certa forma de vida, porque ao evocar o homem, legitima-se ou nega-se a sua vivência, mas co-
nhecem-se sempre os factores que influenciaram a formação da sua personalidade. Neste tipo
de museu, mais do que apresentar o quadro de um pintor, o livro daquele escritor, o mobiliário,
deve-se contar a história do homem, grupo ou acontecimento, numa inter-relação de histórias
que tornam as casas-museu muito importantes do ponto de vista educativo. Evoca-se o passado
de um país, através da exposição de alguns dos seus mais ilustres Homens (PALMA 2001: 43;
WEST 1999: 50), contando histórias através de espaços domésticos.

As casas-museu são instrumentos de comunicação altamente relevantes (GORGAS 2002: 34). A


mais elementar forma de comunicação surge nestas instituições através do seu próprio espaço,
do seu conteúdo e ambiente33. O espaço comunica sem que seja necessário grande esforço
por parte da equipa de programação. Porém, no sentido de credibilizar as mensagens e a forma
como estas são transmitidas ao público, são exigidos esforços suplementares no sentido de
estabelecer um contacto mais eficaz com o público34. Existem diferentes tipos de casas-museu,
tendo cada uma a sua significação cognitiva específica, o que implica, eventualmente, formas de
transmissão diferenciada (PAVONNI 2001: 16).

Todavia, num mundo globalizado, a comunicação assume-se como factor determinante nestas
instituições museológicas, funcionando como um factor-âncora da sua actividade35. Se a men-

33 Por entender que as casas-museu não devem ser povoadas de tabelas de legendagem e por textos explicativos, Ma-
galy Cabral, uma das maiores investigadoras do processo de comunicação nas casas-museu, apresenta nos seus textos
as razões identificadas para colmatar estas dificuldades: “Como comunicar num museu-casa? Sabemos que em todo
e qualquer museu não podemos transformar suas paredes num livro, colocando grande quantidade de texto nelas. Mas
as dificuldades nos parecem maiores num museu-casa que, em geral, é arrumado como era num determinado período
quando alguém nele morou: quarto de dormir, sala de jantar, quarto de trabalho, etc., arrumados como teriam sido e,
muitas vezes, muitos cômodos cobertos com papel de parede.”( CABRAL 1996: s/p)
34 A apresentação dos estudos efectuados pela equipa, nomeadamente, no que se refere à relação espaço/objecto/
patrono é a forma de comunicação que produzirá mais resultados numa casa-museu: «  In a house museum, the
document (object/cultural asset) is the actual space/setting (the building), the collection and the owner […] the relations
established between them favour communication, allow greater interaction with space to be visited and, fundamentally,
enable the possibility of appreciating a determined historic period and the society that it comprised” (CABRAL 2001: 36)
35 A evolução social e tecnológica tem motivado inúmeros avanços no processo de comunicação nas casas-
-museu em particular e nos museus em geral: “In the past five years, many European and, above all, North-American
house-museums have changed their approach, not only toward their public, but also toward education, services and
communication in order to attract more visitors, and to raise founds.” (ZANNI 2002: 86)

50
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

sagem não é credível, o público não só pode questionar, como dificilmente voltará a esse museu.
Por outro lado, se as mensagens são assertivas, objectivas, com valor e bem apresentadas,
podemos ter sucessivas e diferentes visitas de um mesmo visitante a uma mesma casa-museu
(ZANNI 2002: 86).

Nos dias de hoje existem várias formas de concretizar a comunicação na casa-museu36 (CABRAL
2002: 29). Para além da exposição do ambiente doméstico inerente a este tipo de instituição, é
fundamental a produção de exposições temporárias, sobre diferentes assuntos que se relacio-
nem com o âmbito de acção da casa-museu. Para este efeito, a instituição deve possuir espaços
específicos, onde seja possível desenvolver actividades paralelas. A casa-museu deverá dispo-
nibilizar, também, um serviço educativo eficaz (CABRAL 2001: 36), capaz de responder às solicita-
ções de diferentes faixas etárias, culturais, adaptando a forma de transmissão da mensagem ao
tipo de visitantes com que se encontra a trabalhar.

Assim, a casa-museu há-de garantir o funcionamento de três serviços (exposição permanente,
exposições temporárias e serviço educativo), sendo um factor determinante: a necessidade de
formação com qualidade de guias e monitores (PIATT 2002: 241); uma boa preparação, aliada à
motivação, ao prazer e ao gosto pela actividade, são essenciais para o sucesso da comunicação
na casa-museu.

As novas tecnologias são hoje uma preciosa ajuda no sistema de comunicação das casas-mu-
seu: CD-ROMs, DVDs, audioguias, diaporamas, entre outros, são mecanismos que, postos ao
serviço da instituição, podem contribuir para o seu sucesso (BRYANT 2001: 30; ZANNI 2002: 88-89;
CABRAL 2001: 36). O uso das novas tecnologias e de outros instrumentos de comunicação exige
um grande esforço na produção de conteúdos de qualidade, só assim havendo sucesso.

Para transmitir mensagens, pode-se utilizar o acervo existente nas casas-museu, o qual deve
ser entendido no seu conjunto como símbolo de determinada situação (LÓPEZ REDONDO 2002:
41; WILL 1994: 21). A casa-museu vale pelo seu conteúdo, a sua vivência, a personalidade que se
reflecte num espaço. Se se proceder a restauros ou intervenções que alterem o espaço, pode-se
falsear a mensagem (LEONCINI 2001: 49).

36 Marta Rocha de Almeida (MOREIRA 2006: 313) apresenta uma citação de Philippe Dubois que demonstra a im-
portância e o modo de comunicação nos museus: “ “comunicar o museu” é sem dúvida uma dimensão que se pode
considerar, numa hierarquia progressiva [...], das missões fundamentais do museu, como sendo a última. Aquela que
vem no final, depois das outras: após a colecção, a conservação, o restauro, e mesmo após a exposição. Quando se
“faz comunicação”, é porque se tem tudo o resto atrás.”

51
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

No ano de 1999, a Casa de Anne Frank foi alvo de um processo de restauro, nomeadamente
devido ao desgaste do papel de parede do quarto da jovem, e, simultaneamente, para melhorar
as condições ao público visitante. O paradoxo da Casa de Anne Frank é que este espaço, de re-
duzidas dimensões, deveria ficar secreto; todavia, atrai centenas de milhares de visitantes. Estes
tentam perceber o que sentia uma adolescente que viveu sob o medo de um regime opressor
(VERBRAAK 2001: 28). Quando se chegou à conclusão de que o museu deveria sofrer algumas
alterações para melhor comunicar com o público, foi concebido um CD-Rom interactivo, onde os
visitantes podiam obter informações sobre a história da casa e do holocausto. O novo edifício
compreende ainda um espaço para exposições temporárias, onde se relaciona a segunda guerra
mundial com as dificuldades dos dias de hoje (VERBRAAK 2001: 30-31). Esta casa é utilizada para
veicular informações que visam estimular os cidadãos à participação política.

Por outro lado, ao visitar a Casa do Presidente dos Estados Unidos penetra-se num espaço que
pretende mostrar a glória de um país e do seu povo, os seus dirigentes, a forma como estes viviam
o seu quotidiano, entre outras histórias que podem ser apresentadas nesta estrutura museológica.

A comunicação entre a casa-museu e o seu visitante é um elemento fundamental para que o


conhecimento se transmita, se credibilize e se valorize a acção da instituição (PIATT 2002: 239).
Esta é uma das linhas de acção essenciais nos museus, tornando-se determinante nas casas-
museu, devido às suas especificidades. Somente com um sistema de comunicação desenvolvi-
do as casas-museu deixarão de ser consideradas instituições menores ou sem interesse para a
generalidade das pessoas. Desenvolvendo novos caminhos, conseguir-se-á a afirmação destas
instituições, tornando-as atractivas, apelativas e fundamentais no domínio cultural.

1.7. RELAÇÃO ESPAÇO | OBJECTO | PERSONALIDADE

De entre as muitas especificidades das casas-museu, a ligação entre contentor (casa) e o con-
teúdo (objectos e vivência) é uma das características que marca de forma significativa estas
estruturas (PAVONNI 2001: 17). A casa-museu pode viver só dos seus materiais originais, não
necessitando de uma integração constante de acervo. Os seus objectos não valem pela sua
unidade ou raridade, mas pelo conjunto e pela relação com aqueles que habitam ou habitaram
a casa37 (PINNA 2001: 4), simbiose que se transforma em documento, permitindo que a partir da

37 Mónica Risnicoff Gorgas expressa, na seguinte citação, de que modo o objecto pode ser valorizado, no momento
em que se torna parte integrante na casa-museu e na sua vivência:“We are more interested in processes than in ob-
jects, and we are interested in them not for their capacity to remain pure, always authentic, but because they represent
certain ways of seeing and experiencing the world and life per se…”(GORGAS 2001: 11)

52
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

sua interpretação seja produzido determinado conteúdo informativo, que se transformará em


conhecimento para todos aqueles que visitarem a instituição museológica.

No sentido de haver coerência e para que a casa-museu transmita uma história verdadeira e con-
sistente, é fundamental uma grande convergência entre o móvel (as colecções), o imóvel (a casa)
e o imaterial (a memória e a personalidade do homenageado). Em paralelo à relação Homem | Es-
paço verifica-se a relação Espaço | Objecto (LEHMBRUCK 2001: 60). Muitas unidades museológicas
apresentam as suas colecções como um mero museu de arte, esquecendo os seus proprietários,
os seus sentimentos e as razões que motivaram determinada colecção (DONNELLY 2002: 2).

Alexandra Araújo (ARAUJO 2004: 18) aponta algumas diferenças essenciais entre um museu ge-
neralista e uma casa-museu apresentando particularidades muito próprias no domínio dos con-
ceitos: “Uma Casa-Museu é antes de mais um museu. Mas uma observação mais atenta permi-
te-nos evidenciar alguns elementos distintivos das Casas-Museus, nomeadamente a memória
pessoal e os seus suportes materiais: o edifício e a sua envolvente (constituindo os bens imó-
veis) e a colecção (os bens móveis), documentos tangíveis da personalidade e do pensamento
do indivíduo. Estes elementos assumem-se como um todo indissociável, onde cada elemento
estabelece um jogo de relações de influência recíproca.” (ARAÚJO 2004: 18)

Também Ana Margarida Martins defende a relação e interacção destes três factores como elemen-
tos distintivos da casa-museu e determinantes para o verdadeiro conhecimento do patrono, onde to-
dos os constituintes têm um papel importante e imprescindível a desempenhar (MARTINS 1996: 67).

O verdadeiro valor da casa-museu, isto é, a sua manutenção o mais próximo possível do original,
está na capacidade de nos revelar a sua organização tal qual era no tempo de vida do patrono,
que serve de motor à sua existência: os objectos e o meio derivam da sua personalidade (GOR-
GAS 2001:11; BANN 2001: 20).

Como anteriormente foi referido, o valor do objecto afere-se precisamente pela relação que este
teve com o espírito de quem o fruiu (GORGAS 2002: 33), a colecção não é o único nem supremo
elemento, mas um elemento igual na interpretação, devendo caminhar-se no sentido de se en-
tender a relação entre o tangível e intangível desses espaços38. As casas-museu devem contar

38 Segundo Marta Rocha Moreira (MOREIRA 2006: 310), é necessário definir “ valores de memória, relativos ao pas-
sado e, valores de contemporaneidade, referentes ao presente, a aplicar ao património móvel, imóvel e ao intangível.
Os primeiros conferem ao lugar valor de antiguidade, valor histórico e valor comemorativo. Os segundos apreciam
esse lugar considerando o seu valor de uso, artístico novo e artístico relativo.”

53
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

histórias da vida doméstica, as quais ligam pessoas, eventos, coisas, problemas e soluções (DON-
NELLY 2002: 4). A colecção é entendida como o conjunto de objectos que transitam para a esfera
do museu e cujo sentido está no facto destes terem pertencido a uma determinada personalidade.
A relação que o acervo estabelece com os seus proprietários permite-nos concluir que os mes-
mos funcionam como uma projecção desses indivíduos.

A busca de conhecimento sobre determinada figura é o motor para a visita à casa-museu, o visi-
tante procura nesta instituição formas de vida de alguém que admira. As peças que vê aparecem
integradas num cenário mais complexo, num todo onde a vivência, a casa e o acervo se relacio-
nam e espelham aquele que habitou esse local. Estabelece-se na casa-museu uma simbiose de
equilíbrio entre objecto, casa e homem.

Utilizando o exemplo da Casa de Pièrre Loti (SCAON 2001: 16), percebe-se que é no conjunto
dos três elementos em estudo que se encontra o encanto e a base da análise destas instituições
museológicas39: a personalidade de Pièrre Loti, tanto no aspecto do viajante como na vontade
de mostrar vários outros momentos da sua vida, através de diversos elementos, tais como as
suas colecções organizadas nas inúmeras viagens que empreendeu, assim como a casa onde
se apresenta toda a história, local para onde todas as memórias confluem e se integram na sua
memória pessoal mais geral40. É esta memória pessoal que funciona como o elemento aglutina-
dor da teoria e prática da casa-museu. É ela que confere coerência e justifica estas instituições
museológicas.

A afirmação de Lázaro Galdiano, “No, por Dios! Mi casa es mi casa, nada más, una casa en la
que he procurado que se vean cosas bellas! Pero un museo, no!...” (LÓPEZ REDONDO 2001: 40),
mostra que a sua casa, no seu conjunto, reflecte um modelo de beleza pessoal, estando este
conceito subjectivo de beleza muito presente em casas deste tipo, onde se misturam, muitas
vezes, obras de arte tão diversas. Estes objectos, com os quais contactamos, estiveram directa-
mente presentes no evoluir da História de alguém, de um grupo ou de um país, tendo interagido
com aqueles que protagonizaram essa mesma História.

39 A casa de Pièrre Loti é a imagem da sua vivência e o reflexo dos seus sonhos. ���������������������������������
Ela apresenta ao visitante a per-
sonalidade de quem a concebeu: “ Loti wanted his house to be a display case, where the treasures gathered during
his exotic adventures could be exhibited, and where his historical fantasies, along with the memories of his childhood,
could be shown.” (SCAON 2001: 16).
40 Ana Margarida Martins defende, também, que é nos diferentes factores em análise, os quais devem ser relacionados
que está o interesse das casas-museu, devendo o seu estudo ser processado desta forma: “O edifício é aqui encarado
como um espaço físico delimitado, onde residiu e trabalhou o indivíduo ou grupo de indivíduos. A colecção é aqui
entendida, como o conjunto do acervo que diz respeito não só aos objectos relativos ao indivíduo ou grupo, mas
também o espaço físico de vivência ou trabalho.” (MARTINS 1996: 67-68).

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Pode-se apresentar alguns exemplos de casas-museu em que as colecções, conjuntamente


com a casa, reflectem a vivência dos seus proprietários originais:

- A Casa-Museu de Mané Katz (TARSHISH 1996: 12) que legou os seus bens à municipalida-
de de Haifa, teve por modelo o atelier do artista de Paris conhecido através de fotografias,
sendo reproduzido nesta casa, onde o homenageado habitou, o seu ambiente de trabalho;

- A Casa de Gian G. Poldi Pezzoli, aquando da sua construção e organização inicial,


como a maioria das casas, não se destinava a casa-museu. Só mais tarde o seu proprie-
tário, através do seu testamento, determina que a sua casa reverta a favor do público.
Hoje, esta casa com os seus objectos reflecte de modo exemplar os mais importantes
acontecimentos europeus e o gosto milanês moderno (ZANNI 1997: 55).

- A Casa de Carl e Karin Larson reflecte o carácter, gosto e uso dos seus habitantes, as-
sim como o meio em que se insere. Reflecte as necessidades sentidas por um casal com
muitos filhos, renovando-a e ampliando-a sempre que tal se justificava (FACOS 2003: 66).

Pelo exposto e através dos exemplos referidos demonstra-se o complexo âmbito de estudo das
casas-museu, onde todos os factores devem ser analisados através de um estudo contextualizado.
Todos quantos se dedicam ao trabalho nestas instituições devem reflectir e organizar as suas tare-
fas, procurando sempre estabelecer relações sem anular um factor em favor de qualquer outro.

1.8. RELAÇÃO CASA-MUSEU | VISITANTE

As casas-museu são lugares especiais. Aqui são apresentadas personalidades e vivências, que
funcionam como pólos de atracção do público, o qual não se limita a procurar as peças numa
determinada lógica e nas condições ideais de exposição, preferindo penetrar na intimidade do
homenageado. O visitante sente o fascínio de se intrometer no espaço íntimo e privado de ou-
trém (ARAÚJO 2004: 18). Amiudadas vezes sente-se grande prazer em visitar uma casa-museu,
por se estar no interior de uma casa, local habitado, e não de um museu clássico (LEHMBRUCK
2001: 60). A observação das colecções processa-se num contexto habitacional que permite o es-
tabelecimento de relações com a actualidade e potencia a forma de observação dos objectos41.

41 Nas casas-museu os objectos podem, em muitos casos, ser apreendidos no seu modo de utilização, contextuali-
zados no espaço doméstico e não expostos em vitrines isolados da realidade: “ In historic houses, however, there is a
tradition not only of living history, but also of displaying decorative arts collections. Visitors to houses come not only to
learn about life style, but also to learn how to look at objects.” (BRYANT 2002: 23)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Todavia, esta proximidade com os espaços de alguém pode criar alguma perplexidade, uma vez
que sentimos uma presença, mesmo que essa personalidade esteja ausente do espaço. O visi-
tante sente-se viajando numa máquina do tempo, onde se depara com um conjunto congelado,
sem transformações ao longo de muitos anos (GORGAS 2001: 10).

Há outros estímulos que motivam a visita a uma casa-museu. A vontade de conhecer mais pro-
fundamente determinada pessoa ou a forma de viver de um certo grupo, num certo espaço
(PALMA 2001: 43). A visita à casa-museu vai permitir aprofundar o conhecimento sobre algo ou
alguém, com base num ambiente familiar, privado e íntimo (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: 6). É
possível o sentimento de alguma identidade com o espaço visitado, levando a que seja respeita-
do religiosamente e a considerar-se “sagrado” o palco de vivência de alguém que consideramos
superior e que se destacou dos seus contemporâneos.

Ao entrar na casa-museu, devido ao seu carácter de intimidade, o visitante vai sentir o despertar
de sentimentos e memórias, sobre a vida pessoal do homenageado42. Simultaneamente, esta
privacidade e familiaridade, segundo alguns autores, permite ao público abrandar o seu ritmo
de vida quotidiana, uma vez que se encontra a observar um passado congelado, o qual poderá
transmitir a serenidade de tempos mais ou menos remotos (CABRAL 2002: 28). Ao mesmo tempo,
pode observar a colecção integrada num ambiente, contactar com a música, com a escultura,
pintura, poesia ou política, sendo possível meditar sobre algo que habitualmente lhe escapa.

Também já se referiram as casas-museu como elementos de manipulação das mentalidades,


pois a forma como estas são criadas e a relação que se estabelece com o patrono podem levar
o visitante a apreciar, negar ou reflectir sobre um determinado sistema político, económico ou
social43. Os visitantes procuram a Casa de Anne Frank devido à sensação de autenticidade que
transmite. A História é contada no palco onde verdadeiramente aconteceu (VERBRAAK 2001: 28;
STAM 2002: 66). Na casa-museu, o visitante encontra o palco da realidade onde lhe são ofereci-
das narrativas, interpretações, símbolos e relações. Ao encontrar um cenário perfeito e integral,
o público sente um elemento humano de fácil compreensão, aproximando a instituição pública
do universo particular do visitante (LEONCINI 2001: 50).

42 Devido ao facto de as casas-museu estarem tal como as deixaram os seus patronos, verifica-se no visitante uma
sensação de regresso ao passado: “ ... the historic house museum in fact has the power to evoke and create links
between the visitor and the history present in the house itself, or which it seeks to represent.” (PINNA 2001: 7)
43 Podemos observar um exemplo de uma casa-museu utilizada no sentido de valorizar uma reforma social que se
operou e que está a ser promovida pelo Estado para dar a conhecer esse fenómeno : “La maison de Mary Ann et Thomas
M’Cclintock est en cours de restauration, et l’on prévoit d’en faire le symbole de l’importance du travail de réforme des
quakers pour le mouvement féministe avant la guerre civil. Chaque site donne une dimension supplémentaire à la
mission centrale du parc, telle que le Congrès l’a définie dans une loi ; à savoir inspirer les visiteurs et leur apprendre
ce que fut «  la lutte des femmes pour obtenir des droits égaux » “ (ROSE 2001: 32).

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

As casas-museu, nomeadamente as de maiores dimensões, com jardins e parques, permitem


ainda a fruição de espaços exteriores, áreas verdes que fazem com que o visitante possa desfru-
tar de momentos de lazer e convívio, aproximando-se destas instituições porque estas lhes dão
acesso a sensações únicas de espiritualidade e aprendizagem.

1.9. A CASA-MUSEU COMO ESTRUTURA MUSEOLÓGICA

Depois de apresentados os conceitos teóricos considerados essenciais na abordagem às casas-


museu, é importante abordar os conceitos dos serviços museológicos que devem estar implícitos
numa instituição deste género. Como se verificou anteriormente, o conceito privado e público
estão aqui associados, sendo necessário conciliar as duas definições em favor da história que
se pretende contar44, da personalidade que se deseja homenagear e do público que se ambi-
ciona envolver45. Torna-se imperioso proceder à conversão do espaço doméstico, que se pre-
tende manter, num espaço musealizado (MARTINS 1996: 88), onde os visitantes vão em busca
de histórias de pessoas, que são apresentadas com o apoio dos objectos existentes no espaço
quotidiano e que reflectem uma vivência (DONNELLY 2002: 4). Esta tarefa vai levantar, à partida,
uma série de questões, às quais é necessário responder com o objectivo de criar uma estrutura
consistente e com sucesso no futuro.

Quem cria a casa-museu? Qual a missão e objectivos destas instituições? Como se organi-
zam? Como conseguirão apoios? Como se processa a incorporação e tratamento da colec-
ção? Como se preservará a casa para futuras gerações? Como poderá o público perceber
a importância da casa-museu? Que tipo de equipa deverá ser equacionada? (BUTCHER
YOUNGHANS 1993: fw) Qual o suporte financeiro para a instituição? Quem a visita? Que
histórias se vão contar ao público? (BUTCHER YOUNGHANS 1993: 6). A estas questões está
associado um conjunto de problemas que é necessário também equacionar: a exiguidade dos
espaços; como estabelecer a circulação dos visitantes; como solucionar os problemas infra-
estruturais (CAMACHO S/d: 2). Todas estas questões devem ter uma resposta esclarecida, devi-
damente fundamentada, avaliada por profissionais qualificados e apresentada num documento
que será a base do trabalho museológico da instituição no futuro: o plano de acção ou plano mu-
seológico (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: 15; SCREVEN 1993: 6; LEVY 2002: 43; BRYK 2002: 157;

44 Segundo Charlotte Smith (SMITH 2002) recriar um interior implica seleccionar o estado de evolução que pretende-
mos mostrar. Devemos seleccionar um determinado período.
45 Amparo Lopez Redondo (LOPEZ REDONDO 2002) refere que devemos conseguir um equilíbrio entre o interesse
por comunicar o conceito, o gosto e o protagonismo que devem ter as peças. Todavia, devemos reconstruir ou criar
um espaço que recrie o modo de vida de uma pessoa ou época. Temos que conseguir mensagens documentais e
estéticas pelo conjunto dos objectos integrados num espaço.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

BROOKS 2002: 128), que deverá nortear a acção de todos os profissionais que estão envolvidos
na casa-museu.

Este documento, por integrar todas as funções museológicas e por apresentar as ideias sobre a
instituição, é absolutamente fundamental para o desenvolvimento futuro das casas-museu, para
definição da sua posição perante o público, para o estudo dos bens móveis, imóveis e imateriais,
assim como para a produção dos conteúdos pela equipa do museu (BROOKS 2002: 128). Deverá
ser desenvolvido com vista a dar resposta a médio prazo, eventualmente para um período de
cinco anos, findo o qual será necessário proceder à sua revisão (BUTCHER YOUNGHANS 1993:
15). Porém, mesmo antes da definição deste plano é essencial que seja efectuado um inventário
detalhado de todos os bens que por qualquer forma legal passam a integrar a instituição. Isto
permitirá conhecer em detalhe a colecção e identificar todos os bens, situação obrigatória do
ponto de vista legal e crucial para o processo de investigação futuro. Simultaneamente, deve
proceder-se à avaliação daqueles que serão os pontos fortes e fracos da instituição.

1.9.1. A Missão e Objectivos da Casa-Museu

Neste documento será possível encontrar as principais definições da acção da casa-museu,


fundamentadas pela sua missão, ponto número um a ser ponderado (EDSON e DEAN 1994: 28).
A definição da missão de uma unidade museológica é a identificação de forma sumária do seu
principal objectivo, para o qual se norteará toda a sua acção (LEVY 2002: 43). A Missão e o plano
de acção devem estar em perfeita consonância para que toda a actividade se articule em torno
de um objectivo a atingir. Após este primeiro momento, a equipa de programação deverá definir
quais os objectivos gerais e específicos da instituição, conjunto de pressupostos que nortearão
o serviço, o qual procurará atingir metas e, desta forma, responder ao elencado com vista a
garantir o sucesso da instituição.

A Missão e os objectivos do Museu são dois passos fundamentais na definição da política de


gestão de colecções, que orienta a recolha, podendo ser um instrumento fundamental na defesa
do próprio Museu, permitindo uma justificação cabal das políticas empreendidas pela unidade
museológica.

1.9.2. A História do Espaço da Casa-Museu

Antes de se avançar para a análise da instituição e dos seus serviços técnicos e sociais, é
indispensável proceder ao estudo, o mais exaustivo possível, do significado histórico da casa e
dos seus contextos, trabalho que deverá ser transcrito para este documento, pois será a base

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

de muitas actividades da instituição e o fundamento de muitas das suas histórias46. Para esta
análise deverão utilizar-se as mais diversas fontes, das documentais às orais. Todas elas permiti-
rão conhecer mais profundamente a casa e as suas histórias. Encontrando-se o estudo histórico
efectuado, a equipa de planificação ou as pessoas que esta indicar têm a importante tarefa de
elaborar uma descrição da casa que deverá ser o mais exaustiva possível, tendo por base o
inventário do acervo, mas também a realidade ao nível de recursos humanos, de conservação
preventiva, segurança, entre outros aspectos que possam ser importantes para que no futuro
se possam tomar decisões que melhorem o funcionamento da casa-museu. Este processo de
investigação deverá transpor as paredes do museu e analisar a sua envolvente, verificar o que é
que os monumentos e o meio ambiente com que se relaciona espacialmente nos podem trans-
mitir acerca da casa em que determinada personalidade habitou ou onde certo acontecimento
teve lugar (LEVY 2002: 47).

1.9.3. Estudo e Gestão de colecções

A compilação de informação sobre a estrutura física da casa-museu referida no ponto anterior


deve ser complementada com uma profunda investigação do acervo móvel que compõe a uni-
dade museológica. Só assim se conseguirá comunicar correctamente com o público, promover
actividades com fundamentação científica, mas no universo especifico das casas-museu, como
se refere nesta dissertação, as peças, para além do seu valor intrínseco ao nível artístico e
financeiro, devem ser estudadas na sua dimensão de objectos que participaram da realidade
quotidiana de alguém. É importante também ser analisada a sua importância e valor na relação
com a personalidade homenageada na instituição.

A necessidade de desenvolver estudos com base em metodologias sustentadas deu origem


a um conjunto de modelos de análise das colecções: em 1982, J. Prown e R. Elliot, em 1984
Batchelor e, por fim, em 1992 Susan Pearce apresentam o seu método de análise, sendo este
último aquele que tende a ser mais utilizado, nomeadamente das unidades museológicas que
seguem as correntes britânicas (PEARCE 1992: 266–273). Susan Pearce propõe cinco pon-
tos para o estudo das colecções: material, história, contexto, significado e interpretação. Este
conjunto de informações, quando reunido, permitirá apresentar melhores legendas e textos

46 No âmbito de um museu generalista a “collections management policy is a detailed, written statement that sets
forth the purpose of the museum and its goals, and explains how these goals are interpreted in its collections activity”
(EDSON e DEAN 1994: 67). Todas as diversidades devem ser procuradas em cada objecto. Devemos recolher todas
as informações (ELSNER e CARDINAL 1994: 7), as tangíveis e as intangíveis, fundamentais numa casa-museu, onde
as relações estabelecidas pelo acervo com os patronos e a interacção com o imóvel é absolutamente determinante
para a sua contextualização.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

nas exposições, melhores brochuras e/ou catálogos das colecções, actividades educativas mais
fundamentadas.

Será necessário, idealmente, seleccionar um programa informático que responda aos requisitos
definidos pela coordenação da casa-museu, proceder ao registo fotográfico completo e em várias
dimensões de cada objecto, procurando concentrar a informação com os objectivos apresenta-
dos, a qual pode ainda ter um papel decisivo no apoio às estruturas policiais em caso de furto.

1.9.4. A definição dos Conteúdos

Depois de organizada a história do espaço e dos seus principais acontecimentos é o momento de


definir aquilo que se pretende transmitir a quem visita o museu. A equipa de programação deverá
elencar um conjunto de histórias que serão contadas de acordo com os interesses do público em
causa, mas também por forma ao museu cumprir o seu papel no desenvolvimento cultural do seu
público alvo47. Certamente, aquilo que se transmite a um grupo escolar de ensino básico é dife-
rente da informação transmitida a jovens ou adultos: é necessário seleccionar a história para ca-
madas de população com menos instrução e as narrativas que se contam a grupos, por exemplo,
de investigadores. Só conhecendo bem a casa e os interesses dos visitantes se pode atingir este
objectivo. Já anteriormente se referiu a relação das casas-museus e a forma como estas interagem
com os seus visitantes, bem como os motivos que levam as pessoas a visitar uma casa-museu.
O conhecimento do público e da história da instituição são as chaves do sucesso.

A transformação do privado em público, para além dos pressupostos teóricos expostos, tem
também implicações ao nível da estruturação do próprio espaço. O desafio de reconverter os
espaços é uma tarefa grande e difícil de levar a efeito, exigindo um grande cuidado a quem
processa esta transformação. Se se verifica a necessidade de criar infra-estruturas que facili-
tem a compreensão pelo público dos espaços e das mensagens que se pretendem transmitir48,
a metamorfose dos ambientes e das áreas envolventes devem ser ponderadas por forma a não

47 Verifica-se cada vez mais uma maior inter-relação entre o museu e o público sendo que o primeiro assume um
papel cada vez mais importante na modelação dos gostos e das estruturas mentais dos públicos que os visitam. Fou-
cault defende que a evolução das governações públicas depende cada vez mais da utilização das novas tecnologias,
as quais assumem um papel cada vez maior na regulação da conduta dos indivíduos e das populações. (LEWIS e
MILLER 2003:177-180)
48 Os museus assumem no panorama das novas formas de poder um duplo principio:
- O direito público de ser acessível a todos;
- Deve representar a cultura e valores das diferentes camadas da sociedade.
Os direitos públicos exigem que os museus sejam veículos para a educação popular, demostrando a retórica da
governação democrática, por outro lado devem exercer um papel fundamental na elevação da educação das várias
camadas da sociedade. (LEWIS e MILLER 2003:181)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

adulterar o enquadramento da casa, o que poderá transportar o visitante para espaços comple-
tamente novos (VALENTIEN 1996: 34).

Podem encontrar-se casas degradadas com boas colecções ou excelentes palácios sem acervo.
Porém, os visitantes escolhem as casas-museu com o objectivo de observarem e sentirem am-
bientes e espaços num determinado período histórico, o que implica grande trabalho de inves-
tigação antes de se iniciar qualquer processo de intervenção49 (BUTCHER-YOUNGHANS 1993:
196). Assim, caso se encontre uma estrutura arquitectónica com deficiências, deve procurar-se,
através da análise documental, uma reconstituição da história do edifício50, restituindo-lhe o seu
estado ao tempo de vivência do patrono51.

A generalidade dos espaços domésticos são bastante fragmentados e apresentam dificuldades


de circulação, nomeadamente ao público portador de deficiências várias; mas a verdade
histórica, a manter nestas instituições, não permite, na maior parte dos casos, adaptações tão
profundas que garantam a resposta adequada a todos os tipos de visitantes. Esta é mais uma
das razões que fundamentam a ideia de associação de centros de documentação ou centros
interpretativos a estas unidades museológicas, os quais poderão dar respostas às necessidades
de complementaridade informativa e de acesso deste público especial à casa-museu, que

49 Carin Bergstrom, (BERGSTROM 2001: 36-37) ao referir a intervenção efectuada no Castelo Skokloster sintetiza o
programa do restauro nos seguintes pontos:
- manter em boas condições um edifício frágil;
- preservar a identidade do edifício;
- intervir o mínimo possível, sem acrescentar nem retirar nada;
- realizar intervenções segundo as técnicas construtivas do século XVII.
50 Luca Leoncini (LEONCINI 2001: 48-49) refere que muitas casas-museu necessitam de restauros. Todavia, traçar
a linha das intervenções não é fácil. É necessário ponderar, avaliar os riscos para não destruir o passado. Recompor
um sistema desconexo, coloca problemas que não são fáceis de resolver.
Cada casa tem a sua história de transformações, documentos, restauros, exposições. Devemos identificar perfeitamente
a casa e verificar o que a distingue de outra. É a partir desta identificação perfeita que poderemos avançar para o
verdadeiro projecto da casa.
51 Aqui apresentamos um exemplo de um processo de intervenção numa casa-museu assim como os pressupostos
iniciais para esse processo: “ Paleis Het Loo, built in the late 17th Century, as a hunting lodge and summerpalace in
the eastern part of the country, has been presented as a museum since 1984. […] These historical data were the point
of departure in the restoration work. It was decided to restore the 17th Century geometric only within walls. […] An
essential facet of Het Loo as a museum has been to adhere its original function as closely as possible: on the one hand
this helps to keep alive the relationship with the Royal House which encourages public interest, while on the other hand
it reinforces the historical tie with the royal collections.
In terms of its interior Het Loo presents an impression of an original palace in the form of a series of images from its
inhabited history.
[…] The layout and arrangements were based on contemporary documents including inventories, accounts, diaries of
visitors, and descriptions in letters. There were no illustrations of the interiors from the 17th Century, except for three
engravings by the designer Daniel Marot.” (VLIEGENTHART 1997: 85)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

pretende aceder aos conteúdos da unidade museológica e que não a pode visitar face às suas
limitações (SCAON 2001: 50; BURKOM 2003: 36; VLIEGENTHART 1997: 87).

1.9.5. Suportes Informativos

Se por um lado se criam condições de acesso e de circulação pelo espaço físico, por outro é es-
sencial criar materiais de suporte informativo e de novas técnicas que facilitem a compreensão,
por parte do público, das mensagens que se pretendem veicular52 (SCREVEN 1993: 11). Para tal,
para além daquilo que se aponta quando se analisa as casas-museu e a sua capacidade comu-
nicativa, reitera-se a necessidade de criar desdobráveis e brochuras que apresentem a história
da casa, que os visitantes podem transportar consigo e assim, a todo o momento, recorrer às
informações disponibilizadas; preparar programas multimédia53 que possam integrar o público
na história da casa, dos seus habitantes e dos seus acontecimentos; realizar exposições tempo-
rárias que explorem pormenores das histórias centrais que se contam; organizar visitas guiadas
e/ou audio-guiadas que transmitam um conjunto informativo preciso. As casas-museu são ainda
excelentes palcos para a criação de representações de história ao vivo, onde se recriam as vi-
vências das pessoas que aí habitaram, das suas principiais actividades54.

1.9.6. Serviços Educativos

No âmbito do plano museológico não pode deixar de ponderar-se a integração e planificação es-
pecífica do Serviço Educativo. Sendo o papel fundamental do museu transmitir cultura é crucial
criar mecanismos que facilitem a transmissão dos conceitos envolvidos em cada unidade. Desde

52 Recentes estudos sobre as indústrias culturais dão conta da importância que a forma de transmissão de conheci-
mentos ao público tem nos dias de hoje: “More than other types of production, the cultural industries are involved in
the making and circulating of products- that is, texts – that have na influence on our understanding of the world. [...] So
studying the cultural industries might help us to understand how such texts take the form they do, and hoe these texts
have come to play such a central role in contemporary societies.”(HESMONDHALGH 2005: 3)
53 O sector cultural tem caminhado no sentido de adoptar cada vez mais as novas tecnologias como forma de atracção
do público, nomeadamente das camadas mais jovens da população. “As possibilidades de surgimento e difusão
de iniciativas e projectos culturais utilizando o suporte digital foram, assim, largamente aumentadas pelas novas
tecnologias de informação e comunicação, seja no plano quantitativo (atracção de novos consumidores), seja no
plano qualitativo (novas possibilidades de selecção, participação e interacção. [...] A presença da “cultura de suporte
digital” nos projectos culturais serviu, em especial, para produzir uma nova relação entre a cultura cientifica e a arte
convencional, tendo sido possível, devido a estas circunstancias que promovem a transferência interdisciplinar , criar
novas pontes...” (MATEUS 2005: 107)
54 Farida Simonetti (SIMONETTI 2001: 78) alerta para a necessidade de rigor nos guiões destas recriações históricas
pois podem induzir os visitantes em erro, se as mesmas não retratarem com fidelidade aquilo que se viveu no espaço.
Quando isso não acontece os espectadores deverão ser devidamente alertados daquilo que foi alteração à história real.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

a 2ª Guerra Mundial os museus deixaram de ser estruturas elitistas, fechadas sobre si mesmas,
passando a envolver-se mais com a comunidade, tentando conjugar os seus interesses com os
do meio envolvente. Esta atitude social e educativa, tem por objectivo criar uma estrutura formati-
va e de bem estar para a sociedade, visando, também, o aumento do número de visitantes e con-
sequentemente, aumentar a sua influência comunitária. Tentam-se perceber as necessidades da
sociedade envolvente para, se possível, através das colecções e do trabalho museológico, dar
resposta às questões que são colocadas (EDSON e DEAN 1994: 191). Segundo Eilean Hooper-
Grenhill, nos últimos anos os museus e galerias de arte começaram a preocupar-se mais com
os seus visitantes e com a missão educativa. Para além das preocupações com a conservação
das colecções, que eram as predominantes, passou-se a procurar observar de que forma o seu
acervo poderá ser útil para o público que visita o museu (HOOPER-GREENHILL 1991: 128). A mis-
são educativa dos museus deixa de ser uma actividade complementar passando a constituir-se
como um elemento vital e integral para o sucesso de um museu, assim como a razão da sua
existência. Os museus sentem necessidade de criar um departamento educativo, com recursos
humanos especializados, tendendo a dar resposta a um novo tipo de público, cada vez mais
presente e exigente dos museus: o público escolar. O museu começa a ser considerado como
uma extensão da instituição de ensino, para além de ser utilizado como objecto de cultura, de
enriquecimento espiritual, de conhecimento científico e mesmo de entretenimento (LIRA 2000: 29).

Os museus estão a adoptar uma nova atitude, começando a denotar-se uma nova preocupação
social. Aparecem novas tendências pedagógicas que incidem em ideias como a comunidade
educativa, a educação permanente, a educação a partir do contacto directo com os objectos e
os ambientes. Por seu lado Edson e Dean (EDSON e DEAN 1994: 191), defendem que o museu
deve aproveitar todas as oportunidades para desenvolver o seu papel como fonte educacional
usada por todas as camadas sociais ou grupos especializados a quem se destina o museu. Este
deve atrair a sociedade na sua totalidade com vista a transmitir algum ensinamento. A criação
de um eficiente serviço educativo deve obedecer a um conjunto de critérios e parâmetros esta-
belecidos55.

A política educacional não deve esquecer qualquer franja de público potencial, o que sustenta
a afirmação que o museu não se destina a um público, mas públicos diferenciados, com níveis
culturais distintos. Tal como os museus generalistas, a casa-museu destina-se: ao público local,
para o qual a comunicação deverá ser directa; ao visitante escolar, que vem em grupo, sendo a
sua atenção superficial, importando criar mecanismos de captação; aos turistas que, se forem

55 Os critérios e parâmetros podem ser analisados em (HOOPER-GREENHILL 1991: 242) e (EDSON e DEAN 1994: 200).

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

estrangeiros, apresentam ainda a barreira linguística, tanto ao nível da informação escrita como
oral; aos investigadores com um nível cultural mais elevado que vêm em busca de informação
mais aprofundada; às pessoas portadoras de deficiência. O museu deve ter em conta que esta
camada da sociedade é membro de pleno direito, devendo ter acesso a toda a informação que
as instituições museológicas desenvolvem, através da disponibilização de textos em braille, fitas
audio-magnéticas, legendagem das exposições específicas.

A política educativa dos museus deve equacionar, também, critérios de avaliação no sentido de
permitir que os seus responsáveis possam aferir se as estratégias definidas são as mais acerta-
das, ou, então, se é necessário proceder a alterações para aumentar a sua eficiência.

Nas casas-museu, o princípio é o mesmo. Esta atitude social e educativa tem por objectivo criar
uma estrutura formativa e de bem-estar da sociedade envolvente, visando o potencial aumento
dos visitantes e, consequentemente, aumentar a influência comunitária. Tenta-se perceber quais
são as reais necessidades da sociedade e a partir da casa, da colecção, da personalidade do
patrono e dos acontecimentos que aí decorreram, responder às necessidades identificadas. Esta
função educativa deixa de ser complementar na actividade museológica e passa a constituir um
elemento vital do museu, assim como a razão da sua existência (HOOPER-GREENHILL 1991: 128).

1.9.7. Conservação Preventiva

O plano museológico deve ainda compreender um detalhado programa de conservação pre-


ventiva, que deverá ser realizado por pessoal com formação adequada, devendo recorrer-se,
sempre que necessário, a consultorias externas com vista ao rigor técnico dos procedimentos,
essencial para a preservação dos acervos e dos imóveis (LANDI 1992: 23). Este deve iniciar-se
com a identificação dos principais problemas ao nível da conservação que se verificam nas
colecções e na casa56: devem identificar-se os agentes de deterioração, os diferentes tipos de
acervo, os materiais que constituem cada tipologia de objecto, o tipo de construção da casa, o
meio envolvente e identificar as necessidades de conservação preventiva e a atitude a ter com
cada tipologia especifica de material (EDSON e DEAN 1994: 101). Como nos refere Luis Alonso
Fernandez, “El estado material de las obras de arte y otros objectos muebles del museo depende
de los materiales que los componem, de sus interrelaciones y de los medios a los que han sido
expuestos en el curso de su existencia.” (ALONSO FERNANDEZ 1993: 216).

56 A criação do plano de conservação é uma das principais obrigações do conservador de museus: “ El conservador
de museos está obligado, en consecuencia, a planificar y aplicar un programa de conservación – y, en su caso, de
restauración – que proteja com los medios técnicos y humanos adecuados el bien cultural contra todo proceso de
destruoción o detrioro.” (ALONSO FERNANDEZ 1993: 227)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

No contexto de uma casa-museu é normal a convivência de objectos de diferentes tipos, com


necessidades de conservação diferenciados. Todavia, o conceito da casa-museu que impele a
que se mantenham objectos o mais possível de acordo com o existente no tempo do patrono,
leva à criação de condições de estabilidade ambiental onde seja viável a convivência destes di-
ferentes materiais. Porém, a antiguidade e exiguidade dos espaços nestas estruturas, algumas
com vários séculos, fazem com que nem sempre seja fácil a colocação de meios mecânicos de
climatização devidamente camuflados. A reconstituição de espaços, a instalação de meios me-
cânicos de suporte à conservação preventiva, o restauro de edifício e colecções são problemas
bastante difíceis de resolver57, devendo estas operações ser muito ponderadas (PEROT 2001: 74)58.
A realização de muitas alterações e adaptações podem transformar as casas ao ponto de as tornar
irreconhecíveis59.

Muitas vezes, quando os acervos e os edifícios estão aclimatados a condições ambientais mui-
to diversas, qualquer alteração radical e instantânea pode ditar a sua destruição. Este tipo de
procedimentos levanta uma questão relacionada com alguns materiais que vulgarmente exis-
tem nas casas-museu. Frequentemente, os responsáveis por casas-museu deparam-se com o
seguinte problema: como conservar cortinas e carpetes? Por vezes é difícil impedir que estas
sejam calcadas, uma vez que os espaços de circulação são muito limitados, e evitar a exposição
a radiações solares dos cortinados que causam problemas na conservação destes materiais
(VLIEGENTHART 1997: 87). Quando estas peças são de superior qualidade ou com um significado
relevante, será preferível a produção de uma réplica, que substituirá o original que, por sua vez,
será colocado na reserva em condições de conservação mais favoráveis. No caso das cortinas
uma outra solução passa pela colocação de filtros de radiação em vitrais e vidros.

57 Dineke Stam (STAM 2002), ao apresentar o restauro efectuado na Casa de Anne Frank, refere que a preocupação
foi de não tornar muito perceptível a intervenção. Para o efeito, foi utilizado um processo de envelhecimento do papel
de parede, no sentido de o aproximar do original.
58 A definição dos cuidados de conservação preventiva, por serem absolutamente decisivos no âmbito da instituição
museológica, “ it is imperative that any preventive treatment that impacts directly on collection items be carefully
considered prior to the institution. No process should be considered without consulting a qualified individual for advice
and instructions”. (EDSON e DEAN 1994: 97).
59 Os trabalhos de restauro de uma casa-museu devem obedecer a estudos profundos na fase prévia à intervenção :
“Les travaux de restauration d’une maison historique doivent être confiés à un spécialiste; une personne non qualifiée ne
doit pas être autorisée à les entre prendre. […] Une restauration maladroite peut avoir des conséquences désastreuses.
Il est souvent bien préférable de maintenir une maison en l’état plutôt que d’essayer de la restaurer.
[…]
Les principes généraux que l’on doit observer dans les travaux de restauration peuvent être brièvement formulés :
comme ce genre de travail exige des recherches et des études minutieuses, il est important de ne rien précipiter ; toute
la documentation doit être conservée, car le spécialiste consulté a le devoir de laisser un rapport détaillé des données
sur lorsquelles il est basé”  (S/A 1934: 279).

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quando as colecções apresentam sinais evidentes de deterioração (BERGSTROM 2001: 36), al-
guns autores defendem a utilização de réplicas, as quais, devidamente assinaladas, nos permi-
tirão ter uma percepção mais real do espaço primitivo (S/A 1934: 282). Não se devem, contudo,
utilizar desmedidamente as réplicas, sob pena de confundir a apreensão da evolução do espaço.
Na casa-museu devem ver-se coisas históricas. Assim, Julius Bryant (BRYANT 2002: 22) defende
que devemos separar três níveis de reformulação: restituir os objectos ao seu ambiente original;
hierarquizar as substituições de originais por equivalentes de outras casas, solução que deve ser
indicada aos visitantes; utilizar réplicas que devem ter originais por perto para permitir a compa-
ração entre os dois tipos de objectos.

Para além dos procedimentos de conservação preventiva, consideramos primordial a criação de


um documento que guie os trabalhos de manutenção e limpeza corrente. O grupo de pessoal
de manutenção deve ter absolutas indicações dos procedimentos a tomar em cada situação,
que tipo de rotinas, os materiais a utilizar e a periodicidade das limpezas. Estes pormenores não
devem ser deixados ao acaso, pois estão na origem de muitos danos irreparáveis em muitas
colecções.

1.9.8. Segurança

A casa-museu, devido à sua estrutura original, que não se encontra adaptada para receber cen-
tenas ou milhares de visitantes em curtos espaços de tempo, a par da colocação de peças em
regime livre, sem barreiras nem vitrines, levanta também grandes problemas de segurança que
devem ser equacionados antes da sua abertura ao público.

A par dos cuidados de conservação e manutenção é fundamental criar uma estrutura de segu-
rança para a casa e suas colecções. Este capítulo deve prever a segurança contra dano, furto
e incêndio. A relação número de visitantes / capacidade da estrutura física deverá ser sempre
considerada e colocada como condicionante ao número limite de público a aceder, em simul-
tâneo, ao interior do imóvel (S/A 1934: 282). Torna-se necessário ponderar uma estrutura que
suporte e controle a afluência desse mesmo público (BURKOM 2003: 36)60, sendo, certamente,
forçoso fazer determinadas adaptações que criem condições de segurança aos visitantes, à
casa e às colecções (MARTINS 1996: 89), as quais podem passar pela introdução de um re-
gime de bilheteira, que poderá limitar o número de visitantes. Certas casas-museu organizam
as visitas com grupos, normalmente acompanhados por guias da instituição. Discretamente,

60 Na obra referida este autor defende que estas casas, muitas vezes de reduzidas dimensões, não estão preparadas
para grandes quantidades de público.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

deve proceder-se a uma vigilância muito atenta, no sentido de ser impedido o furto de objectos.
Algumas instituições dispõem, também, de guias multimédia, audioguias ou brochuras de acom-
panhamento de visitas, instrumentos que poderão ter um desempenho primordial na transmissão
da mensagem da casa-museu (CABRAL 2002: 29), facilitando a realização de visitas individuais.
Para dar resposta à segurança exigida neste tipo de soluções é conveniente a instalação de câ-
maras de vigilância, que devem estar devidamente posicionadas, uma vez que, devido à grande
divisão dos espaços, se torna difícil colocar um guarda em cada sala, algumas delas de dimen-
sões bastante reduzidas, ou então proceder-se discretamente à vigilância feita por pessoal da
casa-museu, visto serem muitos os casos onde não existe vigilância técnica.

A questão da segurança do acervo passa também por não permitir que o público toque nas
peças. Vontade difícil de controlar. As casas-museu devem também dispor de um local onde os
visitantes depositem os sacos, mochilas e outros objectos não essenciais para a visita, pois a
profusão de objectos em espaços de reduzidas dimensões causam transtornos e podem provo-
car acidentes.

É, de igual forma, necessário precaver medidas de segurança contra incêndios, devendo ser
colocado um sistema de detecção, se possível, de intervenção automática em caso de uma de-
flagração. Cada sala deverá ter o número de detectores necessários, que estarão ligados a uma
central que, directamente, deve comunicar com os serviços de bombeiros locais. Caso existam
possibilidades financeiras, deverá ser equacionada a instalação de um sistema de intervenção
automático, na perspectiva de minorar os danos em caso de acidente. Todavia, não devem ser
instalados “springlers” de água, uma vez que estes poderiam contribuir para danificar grave-
mente o acervo, sendo conveniente a utilização de mecanismos, capazes de controlar fogos em
tempo útil.

A instalação de sistemas mecânicos de segurança pode suprir a inexistência de um corpo de


segurança humano. Aqueles devem ser compostos por um conjunto de detectores a instalar em
todos os locais que possam ser potenciais entradas no espaço museológico.

Todos estes detectores devem estar ligados a uma central que se accionará 30 segundos após
detectar movimento, se antes não for introduzido o código secreto de segurança. A central deste
sistema deverá estar ligada à central de segurança da Polícia de Segurança Pública, a qual po-
derá tomar medidas de imediato, no caso do alarme se activar ao detectar qualquer intrusão.

O sistema de alarme deve abranger duas ou três zonas, permitindo assim a permanência de
funcionários do museu numa determinada área, sem comprometer a segurança de outras.

67
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Estes sistemas só funcionam durante a noite, pois quando o espaço está em funcionamento não
podem ser accionados. Assim, consideramos que se deveria conjugar a segurança humana com
a segurança mecânica. É nossa opinião que, se os dois sistemas forem usados, a segurança con-
tra danos, intrusão e roubo ficaria salvaguardada nos vários elementos constituintes do Museu.

1.9.9. Recursos Humanos

A planificação de todo o tipo de actividades é essencial para que se determine o quadro de pes-
soal necessário para dar resposta às actividades que se prevê desenvolver. A análise da docu-
mentação efectuada, assim como o nosso conhecimento da realidade permite-nos perceber as
grandes carências ao nível das equipas nestas instituições museológicas que estão, em muitas
situações, dependentes de um grupo ou da pessoa que suporta a casa-museu do seu cônjuge,
pai ou ente próximo que se pretende homenagear. Isto deriva, frequentemente, do facto de uma
casa-museu surgir da vontade individual ou de um grupo restrito, geralmente dependente do
trabalho dessa pessoa ou grupo, na maior parte dos casos, em regime de voluntariado, não con-
templando assim uma equipa técnica de qualidade. Esta situação acaba por arrastar as casas-
museu para situações de debilidade ao nível da interpretação, estudo, criação de actividades
para os visitantes bem como do ponto de vista da conservação preventiva. A falta de recursos
humanos associa-se, obviamente, à fragilidade financeira.

Todavia, existem instituições com disponibilidade de recursos humanos que permitem o cumprimen-
to das diversas actividades de cariz museológico. Desde logo se destaca a necessidade de forma-
ção deste pessoal com vista à boa pratica das suas tarefas. Não se pretende valorizar um serviço
sobre outro, porém, devido à sua importância no contacto com o público, os guias devem ser espe-
cialmente bem seleccionados e devidamente formados. São eles a face da casa-museu, são eles
que irão transmitir as mensagens, muitas vezes, fruto de grandes processos de investigação61.

61 Hoje em dia existem estudos que definem as características essenciais a que devem obedecer os guias dos mu-
seus, por forma a dignificarem a sua instituição: “ At an interpreter’s conference in 1991, interpretative specialist Dale
Jones and I identified a list of six qualities that most speakers want in their voice, they are:
1. Vocal expressiveness. Controlled by the use of pitch, volume, and speed, the human voice is capable of
subtle nuances and shades of meaning.
2. Articulate diction. Using the lips, teeth, and tongue to shape words,…
3. Pleasing tone. Effected by the way sound resonates through our nasal and mouth…
4. Personality. This unique quality identifies each of us as individuals…
5. Projection. Both volume and energy are controlles by the release of air from our lungs to create a voice…
6. Sincerity. The most effective voices sound honest and reinforce the meaning of the spoken word.
Interpreter training materials should include books on the care and use of voice including for warm-up, flexibility, and
control.” ( PIATT 2002: 242)

68
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

No momento em que se institui uma casa-museu, de imediato se deve começar a ponderar a sua
sustentabilidade financeira. O criador/fundador deve ter a preocupação de garantir o futuro da
instituição62, preservando da melhor forma possível a estrutura física e acervo. (S/A 1934: 276).
Será que esta instituição terá forma de subsistir? Terá interesse e motivará o público a visitá-la?
Deverá ser elaborado um plano de gestão onde se avalia a instituição, o público, os meios de
gestão, os financiamentos, os recursos existentes, a criação de fontes de receita, o plano de
marketing, enfim, todos os pressupostos que viabilizam o funcionamento da unidade museoló-
gica (BUTCHER-YOUNGHANS 1993: 196).

Pela presente exposição foi apresentada a complexidade da reconversão de uma casa particular
numa organização museológica, na qual se criam condições para transmitir determinada men-
sagem, conteúdo cultural ou outro. Para além das transformações ao nível físico da estrutura da
casa, é absolutamente essencial a criação de um plano de acção que aborde a totalidade dos
serviços de um museu, criando documentos específicos para cada área determinada. Este plano
é crucial para nortear a acção da casa-museu, orientar o seu pessoal e, também, para que quem
possa chegar ao museu num outro período possa perceber as atitudes e métodos utilizados.
A casa-museu, tal como os outros museus, deve ter na sua vocação o serviço público (CREDLE
2002: 270), devendo dar as respostas que este espera de uma estrutura deste género.

O Museu de hoje é um canalizador de cultura e tem de facto, ainda, um importante papel edu-
cativo no que toca à divulgação do seu acervo cultural. Procura fazê-lo de uma forma contextu-
alizada e atractiva, no sentido de suscitar a curiosidade do público que justifica a sua existência
(GUERREIRO e ASCENSÃO 1999: 17).

As casas-museu constituem, no conjunto das instituições culturais e museológicas, um caso sin-


gular de relacionamento entre os mundos da educação e da cultura, uma vez que a sua missão
não se confina à conservação e à divulgação de um acervo patrimonial, procurando sobretu-
do transmitir um legado também humanista através da obra do seu criador (ARAÚJO 2004: 18).
Gonçalo Rey Lama (SOUSA 2005: 35) refere que as casas-museu abraçam três grandes áreas de
dedicação: uma endógena, que se relaciona directamente com o patrono, “con la conservación,
estudio y promoción de la personalidad del autor, de su vida y obra, a través del património de la
institución”, outra, exógena, “dedicada a la conservación de la institución en um centro de acti-
vidad cultural, derivada y apoyada en el área anterior, pero de más diverso alcance temático” e,

62 Já se referiu neste trabalho o caso do pintor Diego Rivera que doou os seus bens e de sua mulher através de uma
instituição financeira, como forma de garantir a sua perenidade e funcionamento. (OLMEDO PATIÑO 1996: 21.)

69
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

por último, uma simbólica “emanada, más que construída, de los significados identificadores del
autor relacionados com una suerte de ontologia social o cultural”.

Pretendeu-se neste capítulo apresentar um pressuposto teórico que dissecasse a estrutura


constituinte destas instituições museológicas, iniciando o estudo pela análise da definição teórica
destas instituições, passando pela sua classificação tipológica, sem deixar de se pensar na qua-
lidade dos serviços que estas instituições, por serem museus, devem prestar à comunidade que
as procura. A casa-museu, que parte das duas bases contrastantes e constituintes da palavra
formada por justaposição, encerra em si mesma capacidades evocativas e de comunicação, que
os museus generalistas não conseguem atingir. Certamente, o descrédito a que muitas delas es-
tão votadas, deriva da falta de capacidade empreendedora ou de diálogo com outras instituições,
por parte dos seus responsáveis, incapazes de criar serviços de qualidade e atractivos a um
público que, nos dias de hoje, tem à sua disposição produtos de altíssimo valor e excelência.

Devem aproveitar-se todas as potencialidades que nos são oferecidas pela personalidade, edi-
fício, acervo e memória da vivência do espaço de alguém a quem pretendemos prestar home-
nagem, para criar estruturas munidas de equipamentos e outros suportes que sejam atraentes
e que permitam a apreensão dos conteúdos que definimos para a casa-museu. Os espaços
originais devem ser conservados no seu formato original, pois só dessa forma estaremos a apre-
sentar o real espaço de vivência, não devendo deixar de equacionar a existência de áreas de
apoio, onde todos os serviços técnicos devem ser instalados até instituições que se dediquem ao
estudo da mesma personalidade que aí é evocada.

Existem neste processo algumas palavras determinantes como seriedade, equilíbrio, investiga-
ção e uma forte planificação da estrutura, para que esta se organize e responda às exigências
de um século XXI cheio de ofertas, provavelmente, mais aliciantes e de fácil captação para um
público globalizado.

70
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2. AS CASAS-MUSEU EM PORTUGAL

71
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2. AS CASAS-MUSEU EM PORTUGAL

As casas-museu, para além da sua importância na conservação e divulgação do património


cultural e histórico, como qualquer outro museu, assumem uma missão com especificidades
próprias, que se relaciona com a presença de um patrono, personalidade homenageada pela
instituição, uma casa que deverá ter sido habitada, mesmo que por pouco tempo, pela pessoa
que merece destaque por se ter evidenciado em qualquer domínio da vida pública, ou ter sido
palco de um acontecimento histórico relevante. A casa-museu deve permitir percepcionar, para
além das colecções e do edifício, as relações de todos os elementos presentes com a figura ou
acontecimento tutelar da instituição.

A casa-museu deve considerar-se um pólo de dinamização cultural, criando actividades em torno


da personalidade ou do facto histórico que a sustenta, potenciando um processo de investigação
que dê origem a novos conhecimentos, os quais devem ser colocados à disposição de todos
aqueles que procuram a instituição, assumindo-se como um local de memória histórica, de âmbi-
to nacional, regional ou local. Na sequência do exposto, entende-se que um número substancial
de casas-museu, em Portugal, evidencia um importante papel a desempenhar na preservação
de identidades locais. Muitas autarquias tentam criar casas-museu no intuito de valorizarem o
seu passado e as suas tradições.

A realidade portuguesa é bastante diversificada, respondendo a critérios e pressupostos diferen-


ciados, tanto do ponto de vista dos patronos, da multiplicidade dos temas abordados, das dimen-
sões das estruturas físicas, assim como dos serviços prestados aos visitantes. Ao longo do nosso
percurso profissional, tivemos a possibilidade de visitar casas-museu, no sentido de contactar
com realidades próximas da Casa de José Régio, do ponto de vista tipológico, o que permitiu
sentir as carências destas estruturas museológicas. Embora algumas tenham grande potencial
do ponto de vista patrimonial, móvel e imóvel, uma vez que parte delas surgem como formas de
salvaguarda, por exemplo, de colecções artísticas, no referente à investigação sobre a vida e obra
dos seus patronos. Em muitas situações, as carências financeiras, técnicas e de recursos huma-
nos têm dado origem a unidades museológicas estáticas e sem grande interesse para o público.

73
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Relativamente à sua organização interna, uma significativa parte das instituições limita-se a um
núcleo expositivo, em certos casos sem qualquer relação com o patrono, sendo muitas delas
instituições que, numa perspectiva organizacional, nada têm a ver com uma verdadeira casa-mu-
seu, a qual pressupõe a vivência dos homenageados ou a ocorrência de acontecimentos nesse
espaço, permitindo estabelecer uma relação entre espaço, objecto e memória.

Como se referiu, um significativo número de instituições privilegiava unicamente as áreas expo-


sitivas, de diferente tipologia temática, sendo a visita orientada por um funcionário, em certos
casos o único recurso humano da instituição, sem formação, repetindo a história que tinha me-
morizado, dando uma imagem de um museu parado no tempo, sem conseguir captar a atenção
do público.

Relativamente aos processos de conservação preventiva, a situação era, também, manifesta-


mente insuficiente, verificando-se casos reclamando uma intervenção urgente nos bens móveis
e imóveis, uma vez que denotavam evidentes sinais de degradação.

Da pesquisa documental que antecedeu a elaboração do presente trabalho, constatou-se a pre-


sença de um conjunto de motivações que estiveram na origem das casas-museu, tais como a
homenagem a determinada personalidade que se distinguiu numa área da vida pública, a home-
nagem a um familiar63, a salvaguarda de valores regionais, a evocação de um acontecimento e,
noutras situações, a preservação da unidade de colecções desenvolvidas ao longo de uma vida.

A situação neste domínio da museologia portuguesa é pouco animadora. A maioria das insti-
tuições não dignifica a categoria museológica das casas-museu. Neste estudo, foram continu-
amente procuradas soluções para as dúvidas que se iam levantando, constituindo-se, para o
efeito, um fundo documental no sentido de se obterem respostas mais precisas que permitissem
traçar um retrato real da situação das casas-museu. O objectivo não foi desenvolver um trabalho
historicista, mas sim uma dissertação que nos dê uma imagem da realidade, permitindo traçar
metas para o futuro.

Uma acção de valorização tem de ser desenvolvida pelas tutelas e pelos responsáveis como
forma de dignificarem e transformarem as casas-museu em instituições museológicas que se
implantem e ganhem um lugar relevante no panorama museológico nacional.

63 A Casa-Museu Maria da Fontinha foi criada como homenagem de um neto à sua avó. O museu apresenta as colec-
ções reunidas ao longo da vida do fundador da instituição. O patrono, no caso uma senhora, não tem qualquer relação
directa com a casa-museu. (DIAS 1999: 95).

74
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2.1. FONTES DOCUMENTAIS UTILIZADAS

No momento em que se decidiu iniciar este processo de investigação, para além da bibliografia
específica sobre as casas-museu, pesquisada em diversas bibliotecas e na Internet, foi sentida a
necessidade de compilar dados que permitissem uma análise da realidade das casas-museu em
Portugal. Era fundamental aceder a dados oficiais e precisos que nos prestassem informações
seguras e fiáveis. Foi solicitado à Rede Portuguesa de Museus que facultasse uma lista (anexo
1) de todas as instituições museológicas, onde constasse o termo “Casa”, tendo-se verificado a
existência de 113 unidades museológicas nessas condições. A lista, para além da designação
das instituições, permite a leitura de outros dados, tais como os diferentes tipos de tutela, contac-
tos, distribuição geográfica, assim como a sua situação do ponto de vista da abertura ao público.
De imediato, foi possível perceber que, associado ao termo “casa”, existe uma série de outros
termos que permitirão estabelecer as diferenças entre as instituições.

Através dos motores de busca da Internet identificou-se um conjunto significativo de unidades


museológicas. Porém, apesar das inúmeras repetições de instituições, outras não eram assina-
ladas por não terem referências na Internet. Foram analisadas as páginas principais dos “sites”
das casas-museu, o que permitiu compreender a verdadeira tipologia das instituições, qual a sua
missão, assim como a sua acção essencial.

Na tentativa de encontrar o maior número possível de instituições, efectuaram-se pesquisas em


bibliotecas, onde se encontraram catálogos com estudos sobre museus portugueses, contendo
informações sobre as casas-museu, apresentando os seus objectivos, missões e descrevendo
os espaços e colecções. Face à nossa actividade profissional, já possuíamos uma série de es-
tudos publicados pelo IPM que também permitiram a recolha de alguns dados importantes para
o presente trabalho.

Fundamental para a investigação foi a possibilidade de consultar o inquérito desenvolvido pelo


Observatório das Actividades Culturais e pelo Instituto Português de Museus. Os resultados des-
te inquérito (anexo 4) revelaram-se essenciais para o retrato da realidade portuguesa na área
das casas-museu. Foram analisados 39 questionários, onde existia a terminologia “casa”.

75
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Mapas que apresentam a distribuição geográfica dos 39 inquéritos analisados

Paralelamente, também foi possível consultar o inquérito desenvolvido pela Dr.ª Rosana Pavonni,
com vista ao estabelecimento do processo classificativo das casas-museu.

Finalmente, foi decidido elaborar um inquérito (Inquérito AP) que permitisse comparar os dados
com o inquérito OAC/IPM, uma vez que este tinha sido realizado em 1998. Era possível que se
tivessem operado algumas alterações qualitativas. O desenvolvimento do questionário, que teve
por base os dois inquéritos anteriores, acrescentou algumas questões consideradas essenciais
a esta investigação.

2.2. O INQUÉRITO AP

A análise do inquérito OAC/IPM suscitou a necessidade de um outro escrutínio sobre esta


realidade, que fornecesse informações mais recentes, permitindo traçar um perfil da realidade
das casas-museu em Portugal. Formatou-se o inquérito (anexo 6) com resposta aberta, no
sentido de se perceber até que ponto os responsáveis pelas casas-museu estavam disponí-
veis a identificar as suas próprias realidades e carências, sem se sentirem condicionados. Isto
permitiu, à partida, verificar a qualificação de alguns responsáveis por casas-museu, consta-
tando-se que apresentavam pouca formação profissional e técnica, na medida em que nas

76
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

questões de carácter mais técnico ou legal, em muitos questionários, não se obteve qualquer
resposta.

A sua formulação obedeceu ao cumprimento de um conjunto de normas estabelecidas para a


realização deste tipo de estudos. Os objectivos de cada grupo de questões expressar-se-ão no
momento em que estas forem descritas. As perguntas são direccionadas no sentido de se obte-
rem respostas essenciais para contextualizar e explicar o universo das casas-museu, no âmbito
da museologia portuguesa. Depois de desenvolvido o questionário, o mesmo foi testado em
algumas unidades museológicas consideradas exemplares, no sentido de se aferir a capacidade
de resposta a todo o questionário, assim como a sua adequabilidade.

Foi necessário seleccionar o universo de amostra das casas-museu a estudar. Seleccionaram-se


as 39 casas-museu analisadas no inquérito OAC/IPM, mais 31 unidades que tornaram a amos-
tra mais diversificada do ponto de vista geográfico e institucional (anexo 5). A lista recebida da
RPM era muito diversificada do ponto de vista dos tipos de casas e casas-museu existentes em
Portugal. Para que a análise dos dados fosse abrangente, considerou-se a hipótese de abarcar
casas-museu de diferentes tipos, de áreas geográficas diferenciadas e vários tipos de tutela,
sendo estes os critérios de selecção.

Mapas que apresentam a distribuição geográfica da amostra seleccionada para o Inquérito AP

77
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Após o envio dos questionários, foram contactadas todas as instituições, a fim de ser apresen-
tado o projecto de investigação e explicado o objectivo do inquérito, tendo sido assinalada a
importância da colaboração de cada uma das instituições. Passadas três semanas, encetou-se
novo contacto com as instituições que ainda não tinham respondido. Quando se aproximava a
data estabelecida como limite para a recepção de respostas, contactaram-se, novamente, as
unidades museológicas com respostas em atraso. Apesar de toda a persistência, só foi possível
obter uma resposta a 67,1% dos inquéritos enviados (anexo 8 e 9).

O primeiro ponto do inquérito, para além da identificação da casa-museu, pretendia recolher in-
formações sobre a localização da instituição, os seus contactos, assim como a sua tutela.

O segundo ponto reportava-se à fundação e abertura ao público da casa-museu. O momento da


fundação não é, normalmente, o mesmo da inauguração. As instituições museológicas devem
provir de um documento fundador, instituindo legalmente a entidade museológica, o qual pre-
cede, ou deve preceder, a construção ou recuperação do edifício, a montagem da exposição,
a criação das estruturas técnicas de apoio ao visitante, assim como todas as restantes funções
museológicas. Considera-se, ainda, essencial que no momento da criação de qualquer unidade
museológica se formule a missão e se definam os objectivos da instituição. Estes devem orientar
e conduzir toda a actividade da casa-museu. Pretendeu-se conhecer quais as missões e objec-
tivos, qual o seu relacionamento com a restante estrutura museológica. É também importante
conhecer quem foram os fundadores das casas-museu e a sua relação com o respectivo patro-
no. Sabia-se que em algumas situações o fundador e o patrono eram a mesma pessoa; porém,
num número considerável de casos, as casas-museu resultam da vontade de familiares, amigos,
associações ou outras instituições.

O terceiro ponto direccionava-se para o património, pretendendo-se compilar informações sobre


o património móvel e imóvel, conhecer as tipologias das colecções, o modo legal como estas
integraram a casa-museu, se as instituições têm as suas colecções fechadas ou continuam a in-
corporar o acervo. O objectivo passa por conhecer o tipo de trabalho que está a ser desenvolvido
sobre as colecções, do ponto de vista do inventário ou da conservação.

Se, no momento da fundação, se pretendeu conhecer a relação entre fundador e patrono, no


âmbito patrimonial o objectivo é percepcionar qual a relação da colecção e do imóvel com o
homenageado. Havia o conhecimento do facto de muitas casas-museu resultarem de colecções
efectuadas ao longo da vida de determinada pessoa; porém, também eram conhecidas situações
em que as colecções não tinham qualquer relação com o patrono da instituição. O propósito foi,
sem dúvida, recolher dados objectivos sobre estas questões.

78
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Ainda sobre o domínio do património, inquiriram-se as casas-museu acerca da originalidade


dos seus bens móveis e imóveis, sobre a dimensão das instituições, se as mesmas sofreram
intervenções e qual a dimensão das beneficiações ou alterações, qual a afectação de áreas do
edifício a outros serviços, entre os quais os técnicos. Aspira-se compreender algumas dinâmicas,
o tipo de trabalho que está a ser desenvolvido em cada unidade museológica e qual o ponto do
seu desenvolvimento.

O quarto ponto do inquérito relacionava-se com as actividades directamente dirigidas ao público.


O tipo de horário de funcionamento, o regime de ingresso, assim como o público habitual e, simul-
taneamente, qual o público que a instituição gostaria de captar. É, todavia, fundamental indagar
acerca das actividades programadas para os visitantes, quais os meios de comunicação utiliza-
dos para veicular as suas mensagens e se a casa-museu tem um serviço educativo organizado.

A fase seguinte do inquérito tinha o propósito de averiguar a existência de projectos de investi-


gação, o seu desenvolvimento e interacção com as instituições exteriores à casa-museu, bem
como o modo de difusão dos respectivos resultados.

Os meios financeiros, nomeadamente a existência de orçamento anual, bem como a prove-


niência dos fundos, era a questão do sexto ponto do inquérito, visando conhecer o nível orga-
nizacional e com que meios a instituição funciona. Em Portugal, as instituições deste tipo ainda
dependem muito dos fundos públicos. É fundamental que os responsáveis pelas unidades mu-
seológicas, assim como outras instituições culturais, criem meios no sentido de conseguir fundos
provenientes de outras fontes.

Depois dos recursos financeiros, formularam-se questões sobre os recursos humanos. É do conhe-
cimento geral que os museus sofrem de uma grande carência de pessoal, sendo o existente
pouco qualificado técnica e profissionalmente.

O inquérito terminava com uma questão aberta, pretendendo dar aos responsáveis das casas-
museu, constituintes da nossa amostra, a possibilidade de identificar quais as principais carên-
cias da sua unidade museológica.

O panorama das casas-museu em Portugal é muito diversificado, proliferando um pouco por todo
o país, com características diferenciadas e tipos de funcionamento bastante diversificado. A selec-
ção da amostra visa a análise de unidades museológicas de diferentes tutelas, do IPM às Câma-
ras Municipais, das Juntas de Freguesia às associações, passando pelas fundações, entidades
religiosas, empresas, universidades e particulares, assim como a sua distribuição geográfica em

79
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Portugal. Das setenta casas-museu seleccionadas, não foi enviado a duas delas o inquérito,
uma vez que no primeiro contacto telefónico se verificou não corresponderem aos pressupostos
mínimos para serem consideradas casas-museu.

Importa, antes de passar à apresentação dos resultados (anexo 7), salientar o número elevado
de inquéritos não respondidos (anexo 8 e anexo 9). Percebeu-se uma diferença substancial en-
tre a quantidade de respostas dadas a um inquérito oficial (OAC|IPM) e outro solicitado por um
investigador sem relação com nenhuma instituição pública.

Outra nota prévia prende-se com as respostas recebidas e que nada têm a ver com as questões
apresentadas, o que permite concluir que alguns responsáveis pelas instituições museológicas
não têm a formação técnica necessária que lhes permita entender as questões apresentadas.

2.3. CARACTERIZAÇÃO DAS CASAS-MUSEU EM PORTUGAL

Baseados em três fontes de informação específicas sobre as casas-museu em Portugal (Docu-


mento RPM, Inquérito OAC/IPM e Inquérito AP), procurar-se-á traçar um perfil da situação destas
instituições museológicas no nosso país. A intenção é apresentar um conjunto de dados que per-
mitam perceber como funcionam estas instituições, quais as suas tutelas, que tipos de colecções
dispõem e o modo de as trabalhar, que tipo de actividades desenvolvem para o público, entre
outros assuntos directamente relacionados com a actividade museológica, uma vez que nem
todas podem ser consideradas casas-museu.

2.3.1. Tutelas

Para se proceder à análise alargada das tutelas que exercem o seu domínio sobre as casas-
museu portuguesas, trabalhou-se a listagem fornecida pela RPM, uma vez que se trata da fonte
que fornece informações sobre a totalidade das instituições que oficialmente se podem integrar
nesta categoria de museus. As Câmaras Municipais são as instituições políticas dominantes do
ponto de vista tutelar, tal como acontece no âmbito da museologia portuguesa em geral (NEVES
e SANTOS 2006: 7). Das 113 casas-museu indicadas no Doc. RPM, 39 integram as estruturas
municipais, logo seguidas por casas-museu tuteladas por Juntas de Freguesia, Associações e
Fundações. A diversidade de tutelas é perceptível na análise do quadro 4 do anexo 2.

80
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Lista RPM -Tutelas


Lista RPM – Tutelas
40 39

Câmaras Municipais
35
Associações Culturais e Outras
Juntas de Freguesia
30 Fundações
Particulares
Direcções Regionais
25 Grupos Folclóricos
IPM
Santas Casas da Misericórdia
20 Empresas
Centros Sociais e Paroquiais
Instituições Religiosas
15
Ligas de Amigos
Institutos Públicos
10 10 10
10 9 Empresas Municipais
Universidades
6
5 Comissões Administrativas
5 4 Parques Naturais
3 3
2 2 2 2 2 2
1 1
0

A predominância da tutela autárquica pode relacionar-se com o facto deste tipo de instituições ser
um dos meios utilizados para a valorização de determinada área geográfica, para a salvaguarda
dos valores locais ou para homenagear uma figura que em determinado município se destacou
na vida pública. Não pode deixar de referir-se o inquérito do OAC/IPM, onde foram analisados
39 inquéritos, nos quais são referenciadas 23 casas-museu tuteladas por entidades públicas, 16
das quais por Câmaras Municipais. De entre as casas-museu tuteladas por entidades privadas
destacam-se as dirigidas por Fundações (quadros 6 e 7 do anexo 4).

Ressalta desta análise o baixo número de unidades museológicas deste tipo no universo do Insti-
tuto Português de Museus, registando-se apenas quatro situações: a Casa-Museu Dr. Anastácio
Gonçalves, a Casa-Museu Manuel Mendes, a Casa-Museu Fernando de Castro, a Casa-Museu
Almeida Moreira que recentemente reabriu ao público convertida num museu de arte, onde se
apresentam as colecções do Capitão Almeida Moreira. Destas, apenas a Casa-Museu Dr. Anas-
tácio Gonçalves tem funcionamento autónomo, encontrando-se as outras unidades integradas
em museus generalistas do universo IPM: o Museu do Chiado, o Museu Nacional Soares dos
Reis e o Museu Grão Vasco, respectivamente. A administração central faz, também, sentir a sua
influência através de instituições universitárias. A Universidade do Minho e a Universidade do
Porto, tutelam casas-museu no âmbito das suas actividades académicas.

Quando foi definido o universo da amostra para o Inquérito AP, teve-se por objectivo abranger todas
as tipologias de tutelas. Face à predominância da tutela autárquica sobre o universo das casas-
museu, foram enviados 20 inquéritos a instituições de direcção municipal, para os quais foi possível
obter 15 respostas. O quadro 1 do inquérito AP (anexo 7), permite observar a selecção efectuada
do ponto de vista tutelar para constituir o universo da amostra do inquérito levado a efeito.

81
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Analisando os diferentes núcleos de informação do Doc. RPM, e tentando cruzar estes dados,
pode observar-se que das 113 unidades museológicas referidas, 24 eram intenções ou projectos
para criar casas-museu. Destes, 16 pertenciam às Câmaras Municipais, sendo os restantes 8
distribuídos por Juntas de Freguesia, Associações, Universidades e Direcções Regionais. Mais
uma vez se observa que a dinâmica museológica nacional está muito relacionada com a admi-
nistração local, com factores positivos e negativos que daí advêem.

2.3.2. Integração na Rede Portuguesa de Museus

No âmbito da análise correspondente às tutelas das casas-museu, aferiu-se sobre a integração


das unidades museológicas, enquadradas na amostra da actual dissertação, na Rede Portugue-
sa de Museus. A estrutura de missão, agora regulada pela Lei Quadro dos Museus e da alçada
do Ministério da Cultura, observa a actividade das unidades museológicas que pretenderam
formular os seus pedidos de adesão, prestando apoio técnico especializado e financeiro, contem-
plando a formação dos recursos humanos, criando instrumentos de informação e exigindo uma
actividade museológica que cumpra os requisitos de qualidade na actividade desenvolvida.

Conforme se pode verificar, pela análise do quadro que seguidamente se apresenta, da Rede
Portuguesa de Museus só fazem parte casas-museu do IPM, algumas Câmaras Municipais, uma
Associação e uma Direcção Regional Madeirense.

CM Dr. Anastácio Gonçalves CM João de Deus

CM Almeida Moreira Casa de Bocage


IPM
CM Manuel Mendes Casa Fernando Pessoa

CM Fernando de Castro C Memorial Lopes Graça

CM Leal da Câmara CM Ferreira de Castro

CM Egas Moniz CM Soledad Malvar

CM dos Patudos CM Manuel Ribeiro de Pavia

CM Pintor José Cercas CM de Ferro

C da Cultura - Casa da Botica C da Malta


Museu Mineiro
CM Guerra Junqueiro CM de Pechão

Casa Oficina António Carneiro CM de S. Jorge da Beira


JF
CM CM de Camilo CM de Jarmelo

C Rural Tradicional CM José Antunes Pissarra


Museu Etnográfico
CM Marta Ortigão Sampaio CM Palmira Bastos

CM Teixeira Lopes CM Miguel Torga

C Roque Gameiro CM Abel Salazar

CM Fernando Namora CM Joaquim Ferreira


Ass.
CM José Régio - VC Ctrad. de Glória do Ribatejo

CM José Régio - P CM Reg. Oliveira de Azeméis

82
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CM de Penacova CM Bissaya Barreto

Casa Memorial Humberto Delgado CM Eng.º António de Almeida

CM Manuel Luciano da Silva CM Biblioteca de Peva

CM do Paúl CM João Soares

CM Frederico de Freitas CM Mário Botas

Casa de Colombo CM Nogueira da Silva


DR
CM Armando C.-Rodrigues UNIV CM de Monção

C Derreter Baleias - Lajes CM Marques da Silva

CM S. Rafael CM Maria da Fontinha

EMP Casa da Malta Casa Agrícola José Mota Cortes

CM Ramos Pinto PART CM João da Silva

CM C.dor Nunes Correia CM do Pescador da Nazaré

CM de Aljustrel CM Dr. Horácio B. Gouveia

CM da Ordem Terceira de
IR S. Francisco
CM Padre Belo

C da Cultura António Bentes Quadro que indica as casas-museu da amostra


Museu do Traje Algarvio seleccionada que integram a RPM.
CM Maurício Penha

CM Marieta Solheiro Madureira Sim Não


FUND
CM D.ª Maria Emilia
Vasconcelos Cabral

A análise deste quadro levantou algumas questões, nomeadamente o porquê de um tão reduzido
número de casas-museu no âmbito da Rede Portuguesa de Museus, sendo que das 13 casas-
museu 4 têm admissão directa por integrarem museus do IPM. Para obter respostas, foram
contactadas as responsáveis da RPM, com as quais se aventaram algumas explicações. Todas
as casas-museu que formularam o seu pedido de adesão foram aceites. Muitas, como empirica-
mente se percebe, não têm qualificações para aderirem à RPM, e algumas delas, provavelmen-
te, não conhecerão a existência desta instituição.

Por outro lado, as casas-museu integradas nas universidades ou em fundações, com estruturas
desenvolvidas, trabalho de qualidade e recursos humanos qualificados, também não integram a
estrutura referida. Levantaram-se algumas hipóteses. Os responsáveis por estas unidades mu-
seológicas não estão interessados em submeter a sua actividade a estruturas externas; as ca-
sas-museu universitárias, pertencendo à administração central, não podem concorrer aos fundos
para requalificação dos museus portugueses; daí o seu desinteresse pela RPM. As Fundações,
em muitos casos, têm capacidade financeira para assegurar o seu funcionamento não necessi-
tando, por isso, de apoios externos para a sua actividade.

Provavelmente, num significativo número de casos, existe um desinteresse de integração nes-


ta estrutura, factor que determina o reduzido número de casas-museu na RPM. Actualmente,

83
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

o processo de adesão encontra-se encerrado face ao início da credenciação de museus previsto


no Lei Quadro dos Museus, sendo possível que alguns museus que integram a RPM deixem de
pertencer à estrutura, por falta de cumprimento dos requisitos exigidos para tal.

2.3.3. Tipos de Designação das Casas-Museu

Depois de analisadas as tutelas, é importante observar as diferentes formas de designação das


instituições museológicas consideradas casas-museu, e que integram o Doc. RPM. Das 113 uni-
dades referidas, 75 são designadas casas-museu, 24 referem unicamente a terminologia casa,
4 são referenciadas como casas da cultura, podendo ainda ser observadas outras formas de
assinalar estas unidades (anexo 2, quadro 5). Verifica-se uma grande diversidade terminológica.
Certamente, a maior parte destas unidades museológicas não se integram na definição de casa-
museu que é proposta, nesta dissertação, para as instituições deste género. Serão espaços
onde se encontra exposta uma colecção de determinada personalidade64, onde se apresentam
aspectos da vida de determinada pessoa65 ou região66, estando, contudo, longe de representar
espaços de vivência onde, de forma fidedigna, é possível contactar o espaço de habitação, or-
ganizado enquanto tal, representando uma forma de vida, fruto de um enquadramento cultural,
social, político e/ou económico.

Ao relacionar as terminologias com as diferentes tutelas, podem ser observadas algumas situa-
ções. Das quatro casas-museu, integradas no IPM, três67 assumem esta terminologia, resultam
de colecções de personalidades, sendo a sua acção direccionada para a salvaguarda e apre-
sentação de uma colecção directamente relacionada com uma personalidade, estando o home-
nageado, mais ou menos, presente nesse espaço. A sua existência revela-se, no mínimo, pela
selecção de objectos de arte de que se rodeou.

No âmbito das instituições autárquicas, Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia,


começam a revelar-se diferenças. Se algumas instituições museológicas mantêm os
pressupostos enunciados para uma casa-museu, assumindo esta denominação, outras
não são mais do que museus etnográficos, alguns, museus generalistas que se dedicam
a uma personalidade que, localmente, se pretende homenagear. Assim, a par da Casa-

64 Tal como a Casa-Museu Comendador Nunes Correia, a Casa-Museu Mário Botas, entre outras.
65 É o caso da Casa de Bocage, da Casa-Museu Fernando Namora, da Casa de Fernando Pessoa entre outras no
universo analisado.
66 Dentro destas especificidades podemos destacar a Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis, ou a Casa-Mu-
seu de Glória do Ribatejo, onde se apresentam exposições de carácter etnográfico, sem contexto de vivência.
67 Conforme se referiu anteriormente, a Casa-Museu Almeida Moreira foi convertida num museu de arte com o nome
do doador da colecção.

84
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

-Museu Leal da Câmara, da Casa-Museu José Régio de Vila do Conde e da Casa-Museu


de Camilo, verdadeiras casas-museu, existem a Casa-Rural Tradicional da Chamusca
de cariz etonográfico, ou a Casa Roque Gameiro, a Casa de Bocage ou a Casa de
Fernando Pessoa, centros culturais ou museus dedicados a personalidades evocadas
localmente.

As Autarquias, assim como as associações locais, criam casas-museu com diferentes objectivos
e terminologias (casa-museu, casa rural, casa tradicional, casa memorial) pretendendo homena-
gear personalidades locais ou ressalvar aspectos tradicionais das suas áreas de implantação. As
Fundações, por seu lado, estão mais relacionadas com a homenagem a personalidades, onde,
muitas vezes, o patrono da Casa-Museu é o patrono da Fundação, sendo possível observar que,
da amostra seleccionada, todas as unidades se denominam de casa-museu. Ao analisar o Doc.
RPM, constata-se que, na grande maioria, os patronos das Fundações são epónimos das casas-
museu.

2.3.4. Distribuição Geográfica das Casas-Museu

Antes da análise das questões funcionais, pretende-se deixar uma imagem da distribuição geo-
gráfica, segundo o Doc. RPM (anexo 2, quadro 2).

Mapas que apresentam a distribuição geográfica do Doc. RPM

85
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Destacam-se, essencialmente, 3 zonas com uma grande concentração deste tipo de museus: a
Região Centro, Lisboa e Vale do Tejo e a Região Norte, com mais casos na zona mais próxima
do litoral do que do interior do país. À semelhança do que acontece no panorama dos museus
generalistas, o Alentejo e o Algarve continuam a manifestar uma baixa concentração de unidades
museológicas no panorama nacional.

É interessante verificar que, se ao nível de Portugal continental as zonas que se destacam no


panorama das Casas-Museu são as mesmas dos museus generalistas, observando os números
resultantes da análise das Ilhas da Madeira e Açores os resultados são inversos (NEVES e SAN-
TOS 2006: 17). A análise do Doc. RPM permite observar a existência de 9 unidades nos Açores e
apenas 4 no Arquipélago da Madeira.

Com diferentes tipos de tutela, as casas-museu açorianas, de acordo com o Doc. RPM, destacam-
se pela sua forte componente etnográfica. Por seu lado, nas ilhas do Arquipélago da Madeira, as re-
ferências às casas-museu permitem perceber a sua actividade direccionada para o estudo da vida,
obra e colecções de determinadas personalidades. Destaca-se a Casa de Colombo por se tratar de
um museu de história, onde se apresentam rotas marítimas, a importância da ilha de Porto Santo na
história das navegações, não estando enquadrada naquilo que se considera uma casa-museu.

As casas-museu alentejanas apresentam uma forte componente etnográfica, tal como a Casa-Agríco-
la José Mota Cortes, a Casa-Museu do Mineiro ou a Casa-Museu do Alpalhão, ressaltando algumas
excepções, onde se enquadram a Casa-Museu José Régio de Portalegre ou a Casa-Museu Manuel
Ribeiro de Pavia, podendo aqui observar-se a vida, obra ou colecção do patrono. Por seu lado, no
Algarve, através do Doc. RPM, é possível observar a existência de casas-museu de diferentes tipos:
umas dedicadas a personalidades, outras de carácter etnográfico e ainda outras que se enquadram
mais no âmbito de estruturas culturais generalistas do que no domínio das casas-museu.

Por sua vez, na região centro, Lisboa ,Vale do Tejo e na região Norte, dada a proliferação de
Instituições Museológicas, as Casas-Museu integram-se nas mais diversas tipologias. Umas
dedicadas a personalidades, outras de carácter etnográfico, centros de documentação ou cen-
tros culturais preenchem o mapa nacional das instituições culturais vulgarmente designadas por
casas ou casas-museu.

2.3.5. Períodos de Fundação e Abertura ao Público das Casas-Museu

A análise dos dados relacionados com os principais períodos de fundação e abertura ao público
das casas-museu que, por sua vez, se ligam à evolução histórica do nosso país, mostra que o

86
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

desenvolvimento do poder local fomentou a incrementação do tecido nacional das casas-museu,


daí, como já foi observado, um número significativo destas unidades museológicas ser tutelado
por Câmaras Municipais. Estes dados são corroborados pela análise dos dois inquéritos ante-
riormente referidos68.

% %
47 resp. 39 resp.
I. AP I. OAC|IPM
N. Responde 10,64
Sem funcionamento 4,26
A inaugurar 4,26
Década de 40 2,13
Década de 50 6,38 0
Década de 60 4,26 14,71
Década de 70 8,51 20,59
Década de 80 23,4 32,35
Década de 90 27,65 32,35
A partir do ano 2000 8,51

Tabela comparativa de dados resultantes dos dois inquéritos estudados, referentes à abertura ao público das casas-
museu que integram as amostras.

O sentido crescente de criação de casas-museu ao longo da segunda metade do século XX


acentua-se, como pode observar-se pelo quadro apresentado, nas três últimas décadas. A re-
volução de 1974, a nova organização política e o fomento do desenvolvimento do poder local,
assim como o facto de Portugal ter aderido à União Europeia em 1985, podendo, a partir dessa
data, usufruir dos fundos comunitários, são, sem dúvida, factores que podem ter estimulado o
aparecimento de algumas das referidas estruturas museológicas.

Em Portugal, a primeira metade do século XX é, pelos números compilados, pouco marcan-


te para a História das casas-museu quanto ao número de instituições referenciadas; porém, é
de referir que neste período surgem duas instituições emblemáticas no panorama museológico
português: a Casa-Museu de Camilo, aberta ao público como Museu Camiliano em 1922, e a
Casa-Museu Guerra Junqueiro, inaugurada a 19 de Junho de 1942. É na segunda metade do
século XX que se assiste ao exponencial desenvolvimento destas unidades museológicas, espe-
cialmente a partir da década de 70, aumentando a sua profusão nas décadas de 80 e 90, como
se pode comprovar pela análise dos resultados dos inquéritos efectuados (anexo 4, quadros 2 e
3, anexo 7, quadros 2 e 3).

68 Quadro 2 e 3 do anexo 4 e quadro 2 e 3 do anexo 7.

87
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2.3.6. Missões e Objectivos

Observando missões e objectivos apresentados nas respostas ao inquérito AP (anexo 7, quadro


5), conclui-se que o principal motivo para a criação destas unidades museológicas se relacio-
na com a divulgação da vida e das obras da personalidade que dá o seu nome à instituição. A
segunda motivação mais referida prende-se com a conservação e divulgação de colecções. A
formulação de um testamento ou acto de doação pode ser encarado como uma forma de perpe-
tuação de uma colecção constituída ao longo de uma vida, procurando-se criar condições para
que a mesma se conserve e mantenha a sua importância69, a qual, muitas vezes, é aferida pelo
número de espécimes que a colecção possui. Quando forem analisadas as cláusulas de salva-
guarda impostas por estes documentos, poder-se-á clarificar e percepcionar este aspecto.

As razões de ordem educacional e cultural70 são aquelas que se seguem na lista de resultados
obtidos, seguindo-se-lhes as motivações que se relacionam com a divulgação do património
local ou regional71. As casas-museu de carácter geográfico ou etnográfico, ao apresentarem
modos de vida de determinado local ou região, pretendem, muitas vezes, ilustrar uma tipologia
de arquitectura regional.

2.3.7. Iniciativa de criação das Casas-Museu

No âmbito do estudo acerca da criação das casas-museu, que integram a amostra, interessa
conhecer quem foi responsável pela respectiva iniciativa de criação.

Patrono Pública Privada


CM Dr. Anastácio Gonçalves      
CM Almeida Moreira      
IPM
CM Manuel Mendes   Adm. Central  
CM Fernando de Castro     Família
CM Leal da Câmara   CMun. Família
CM dos Patudos - José Relvas   CMun.  
CM Pintor José Cercas   CMun.  
CM CM Guerra Junqueiro Família
Casa Oficina António Carneiro CMun.
C Rural Tradicional - Museu
CMun.
Etnográfico

69 A análise da missão da Casa-Museu Fernando de Castro, localizada na cidade do Porto, apresenta-nos como mis-
são a salvaguarda do património reunido pelo patrono. Com semelhante missão encontrámos a Casa-Museu Manuel
Mendes, ambas as instituições no universo do IPM. Porém, também noutras tutelas encontrámos a mesma missão
para instituições museológicas desta tipologia, tais como a Casa-Museu dos Patudos ou a Casa-Museu de José Régio
em Portalegre, no âmbito da tutela municipal.
70 Missões dentro deste âmbito são apresentadas por diversas unidades museológicas, de entre elas a Casa-Museu
Abel Salazar, a Casa-Museu Leal da Câmara ou a Casa Fernando Pessoa.
71 Tais como a Casa Rural Tradicional da Chamusca, a Casa-Museu do Jarmelo ou a Casa-Museu do Pescador da Nazaré.

88
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CM Marta Ortição Sampaio


C Roque Gameiro CMun.
CM Fernando Namora CMun.
CM José Régio - VC CMun. Família
CM José Régio - P   CMun.  
CM João de Deus   CMun.  
Casa Fernando Pessoa   CMun.  
C Memorial Lopes Graça   CMun.  
CM Ferreira de Castro      
CM Manuel Ribeiro de Pavia   CMun.+JF Amigos
CM de Ferro   JF  
C da Malta - Museu Mineiro   JF  
JF
CM de Jarmelo   JF+Ass.  
CM Palmira Bastos   JF  
Ctrad. de Glória do Ribatejo   Assoc.  
CM de Penacova   Assoc.  
ASS
CM Regional de Ol. Azeméis     Amigos
CM Abel Salazar   Ass. Amigos 
DR CM Frederico de Freitas      
CM S. Rafael     Empresa
EMP Casa da Malta   Estado  
CM Ramos Pinto     Empresa
CM C.dor Nunes Correia     Família
CM de Aljustrel   Igreja  
IR CM Padre Belo   SCMis.  
C da Cultura António Bentes -
Museu do Traje Algarvio     Família
CM Marieta Solheiro Madureira     Família
CM D.ª Maria Emilia Vasconcelos
Cabral     Família
CM Bissaya Barreto      
FUND CM Eng.º António de Almeida     Fundação
CM Biblioteca Aquilino Ribeiro     Família 
CM João Soares     Fundação
CM Mário Botas      
UNIV CM Nogueira da Silva      
Casa Agrícola José Mota Cortes     Família
PART CM do Pescador da Nazaré     Proprietário
CM Dr. Horácio B. Gouveia     Família
Quadro onde se apresentam os responsáveis pelas iniciativas de criação das casas-museu – Inq. AP

Iniciativas de Criação Patrono


Patrono+Pública
15 Adm. Central
14
Câmara Municipal
10 Junta de Freguesia
8 Instituições Religiosas
7
5 Associações
4
3 3 3 Pública+Particular
2 2
1 Família/Amigos
0
Fundações

Este quadro permite observar a diversidade de entidades envolvidas na criação de casas-mu-


seu em Portugal. Nem sempre a personalidade homenageada está envolvida neste processo.
Todavia, a criação daquelas casas-museu, que, pelo estudo desenvolvido, se enquadram no
conceito defendido na presente dissertação, contam, no seu acto de fundação, com a vontade

89
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

do patrono, de familiares ou amigos que conjugam os seus interesses com entidades públicas
de diversa ordem. A análise das respostas aos questionários permite perceber que entre as
entidades públicas e os privados são celebrados diferentes tipos de contratos, os quais podem
passar por testamentos, doações, ou outros, através dos quais se pretendem salvaguardar as
casas, as colecções e as memórias, mas, acima de tudo, garantir a sustentabilidade financeira
da instituição museológica.

As casas-museu instituídas por entidades públicas tais como Câmaras Municipais e Juntas de
Freguesia, apresentam uma forte componente etnográfica. Por outro lado, instituições museoló-
gicas onde se homenageia uma personalidade, a qual não esteve presente na sua génese, dão
origem a museus generalistas onde se apresentam colecções diversas, ou museus de personali-
dades, onde se expõem aspectos da vida ou da obra do homenageado sem que se apresentem
aspectos de vivência quotidiana.

Importa, antes de continuar, tentar perceber a importância e relevância dos patronos das casas-
museu portuguesas do ponto de vista Local/Regional, Nacional e Internacional.

Quanto às unidades museológicas analisadas, podem observar-se os seguintes dados quanto à


existência de uma figura tutelar da instituição museológica. 52 das casas-museu são dedicadas
a uma personalidade, sendo os patronos maioritariamente masculinos.

Porém, será interessante observar, nestes valores, a relevância que se consegue conferir a cada
uma destas personalidades.

Relevância do Patrono
Relevância Relevância
Sim Relevância
Local / Internacio-
Não Nacional
Regional nal
CM Dr. Anastácio Gonçalves      
CM Almeida Moreira      
IPM
CM Manuel Mendes      
CM Fernando de Castro        
CM CM Leal da Câmara        
CM Egas Moniz        
CM dos Patudos        
CM Pintor José Cercas        
C da Cultura - Casa da Botica        
CM Guerra Junqueiro        
Casa Oficina António Carneiro        
CM de Camilo        
C Rural Tradicional - Museu Etnográfico
CM Marta Ortigão Sampaio
CM Teixeira Lopes
C Roque Gameiro

90
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CM Fernando Namora        
CM José Régio - VC        
CM José Régio - P        
CM João de Deus        
Casa de Bocage        
Casa Fernando Pessoa        
C Memorial Lopes Graça        
CM Ferreira de Castro        
CM Soledad Malvar        
CM Manuel Ribeiro de Pavia        
CM de Ferro        
C da Malta
Museu Mineiro        
CM de Pechão        
JF CM de S. Jorge da Beira        
CM de Jarmelo        
CM José Antunes Pissarra        
CM Palmira Bastos        
CM Miguel Torga        
CM Abel Salazar        
CM Joaquim Ferreira        
Ctrad. de Glória do Ribatejo        
CM de Penacova        
ASS
Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis        
Casa Memorial Humberto Delgado        
CM Manuel Luciano da Silva        
CM do Paúl        
CM Frederico de Freitas        
Casa de Colombo        
DR
CM Armando C.-Rodrigues        
C Derreter Baleias - Lajes        
CM S. Rafael        
EMP Casa da Malta        
CM Ramos Pinto        
CM C.dor Nunes Correia        
CM de Aljustrel        
IR
CM da Ordem Terceira de S. Francisco        
CM Padre Belo        
C da Cultura António Bentes
Museu do Traje Algarvio        
CM Maurício Penha      
CM Marieta Solheiro Madureira        
CM D.ª Maria Emilia Vasconcelos Cabral        
FUND
CM Bissaya Barreto        
CM Eng.º António de Almeida        
CM Biblioteca Aquilino Ribeiro        
CM João Soares        
CM Mário Botas      
CM Nogueira da Silva        
UNIV CM de Monção        
CM Marques da Silva

91
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CM Maria da Fontinha        
Casa Agrícola José Mota Cortes        
PART CM João da Silva        
CM do Pescador da Nazaré        
CM Dr. Horácio B. Gouveia        

Legenda        
Sim
Não

Relevância dos Patronos

30
23 23
24 Local / Regional
20 Nacional
Internacional
10
5

A análise do quadro apresentado e do referido gráfico permitem verificar não só a predominância


da relevância local/regional, relacionada, essencialmente, com a tutela das Juntas de Freguesia,
Associações, Fundações e particulares, mas também uma relevância nacional dos homenagea-
dos em instituições museológicas, no âmbito das instituições do IPM e das Câmaras Municipais.
Pode ainda dar-se conta do reduzido número de personagens de cariz internacional, sendo uma
delas figura-maior da história das navegações mundiais (Cristóvão Colombo), outra (S. Rafael),
uma entidade relacionada com o universo religioso, por isso com esta avaliação, restando três fi-
guras maiores da cultura e ciência portuguesa (Egas Moniz, Fernando Pessoa e Teixeira Lopes)

2.3.8. As Colecções

Após a análise das casas-museu do ponto de vista institucional e da sua abertura ao público,
apresentam-se os resultados verificados sobre as tipologias de colecções e a forma como se
integram nas estruturas museológicas72.

2.3.8.1. Tipos de Colecções

Os resultados recolhidos não são 100% consensuais; porém, permitem determinar as prin-
cipais tipologias de colecções. Se o Doc. RPM (anexo 2, quadro 3) permite verificar que das

72 Os resultados dos dois inquéritos permitiu constatar que a generalidade das instituições que respondeu às questões
apresentadas sobre este assunto assinalou mais do que uma resposta, comprovando-se assim a conjugação de peças
de tipos diferentes nas casas-museu.

92
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

113 unidades museológicas indicadas, 44 não têm colecção definida, situação que advém da
diversidade de objectos que possuem, os inquéritos que sustentam esta dissertação apontam
como colecções dominantes as de arte, seguidas pelas colecções de carácter etnográfico e
etnológico.

A análise dos quadros 6 (anexo 7) e 9 (anexo 4) permite perceber a grande diversidade de co-
lecções identificadas, algumas que conjugando-se, dão origem a instituições de enorme valor
artístico e, muitas vezes, fundamentais na salvaguarda do património nacional. As casas-museu
em Portugal, num número significativo de casos, apresentam peças de coleccionadores, porém,
não integradas em ambientes de vivência. A figura tutelar aparece somente como um meio que
potencia a salvaguarda das colecções. Na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, podem conhe-
cer-se as colecções do seu patrono organizadas ao longo da sua vida no seu espaço de residên-
cia; a Casa-Museu Fernando de Castro apresenta as colecções do patrono, por ele organizadas
no seu espaço de quotidiano, mas podem encontrar-se muitas outras situações, tais como na
Casa-Museu Guerra Junqueiro, na Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, na Casa-Museu Pintor
José Cercas, na Casa-Museu Frederico Freitas, entre outras que fazem parte do fundo docu-
mental desta dissertação onde os acervos aparecem sem enquadramento doméstico ou com
ambientes de vivência recriados.

Verifica-se a existência de um número expressivo de instituições museológicas cujas colecções


são de carácter etnográfico, as quais se reportam à funcionalidade de espaços regionais de
habitação, que, com o mesmo resultado, podem ser apresentados num qualquer outro espaço.
Este tipo de casas-museu aparece referenciado em três tipos de tutela muito específicos: as
Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia e as Associações locais, instituições que pre-
tendem valorizar e salvaguardar tradições, usando este tipo de unidade museológica. Dentro
destes pressupostos, destacam-se a Casa Rural Tradicional da Chamusca, a Casa-Museu do
Jarmelo, a Casa da Malta-Museu Mineiro, a Casa-Museu de Pechão, a Casa-Museu de Pena-
cova, a Casa-Museu de Glória do Ribatejo, a Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis, a
Casa-Museu de Paúl, a Casa-Museu José Mota Cortes, a Casa-Museu do Pescador da Nazaré,
entre outras.

2.3.8.2. Relevância das Colecções

Não estando directamente expressa nos questionários e sendo subjectiva a sua avaliação, pro-
cedeu-se ao desenvolvimento de um quadro onde se tentou aferir da relevância das colecções
existentes nas casas-museu estudadas. Desta forma, pretendeu-se, também, avaliar a pertinên-
cia da própria instituição no panorama museológico em geral.

93
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Relevância
Local/ Relevância Relevância
Regional Nacional Internacional
CM Dr. Anastácio Gonçalves      

CM Almeida Moreira      
IPM
CM Manuel Mendes      

CM Fernando de Castro      

CM Leal da Câmara      

CM dos Patudos -José Relvas      

CM Pintor José Cercas      

CM Guerra Junqueiro      

Casa Oficina António Carneiro      


C Rural Tradicional
     
Museu Etnográfico
CM Marta Ortigão Sampaio      

CM Teixeira Lopes      

CM C Roque Gameiro      

CM Fernando Namora      

CM José Régio - VC      

CM José Régio - P      

CM João de Deus      

Casa Fernando Pessoa      

C Memorial Lopes Graça      

CM Ferreira de Castro      

CM Manuel Ribeiro de Pavia      

CM de Ferro      
C da Malta
     
Museu Mineiro
JF CM de Pechão      

CM de Jarmelo      

CM Palmira Bastos      

CM Abel Salazar      

Ctrad. de Glória do Ribatejo      


ASS
CM de Penacova      

CM Reg. de Oliveira de Azeméis      

DR CM Frederico de Freitas      

CM S. Rafael      

EMP Casa da Malta      

CM Ramos Pinto      

CM C.dor Nunes Correia      

CM de Aljustrel      
IR
CM Padre Belo      
C da Cultura António Bentes
     
Museu do Traje Algarvio
CM Marieta Solheiro Madureira    
CM D.ª Maria Emilia
     
Vasconcelos Cabral
CM Bissaya Barreto      

FUND CM Eng.º António de Almeida      

CM Biblioteca Aquilino Ribeiro      

CM João Soares      

CM Mário Botas      

UNIV CM Nogueira da Silva      

Casa Agrícola José Mota Cortes      

 PART. CM do Pescador da Nazaré      

CM Dr. Horácio B. Gouveia      

94
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Este quadro permite constatar que as colecções mais relevantes se encontram sob o domínio do
IPM, de algumas casas-museu tuteladas pelas Câmaras Municipais e por Fundações. As colec-
ções que integram casas-museu de Juntas de Freguesia, Associações e instituições religiosas e
particulares, assumem uma clara relevância de confinidade local e regional.

Relavância das Colecções

30
25 26
Local / Regional
20 21
Nacional
15
Internacional
10
5 2

A qualidade e relevância das colecções existentes podem ser reveladoras da qualidade e impor-
tância da própria instituição museológica.

2.3.8.3. Modo de Incorporação das Colecções

No domínio do estudo das colecções, para além de se conhecerem as tipologias, é importante


verificar a forma legal como esses acervos integram as casas-museu. A análise dos inquéritos
(anexo 4, quadro 24 e anexo 7, quadro 7), deixa perceber que a forma mais comum é a doação,
acto legal logo seguido pela aquisição onerosa das colecções e pelos legados. As doações de
colecções a entidades públicas são a forma considerada por certas pessoas que se dedicaram
ao coleccionismo, ou que têm um determinado conjunto de bens que consideram de valor e que
pretendem que sejam salvaguardados, como uma forma de cumprir o objectivo de perpetuar a
sua colecção, sem que esta sofra qualquer desintegração ou deixe de ser acautelada do ponto
de vista da sua conservação.

2.3.8.4. Colecção Fechada ou continuam a incorporar acervo

No sentido de estabelecer uma relação entre as colecções e os patronos das casas-museu,


foi formulada uma questão na qual se perguntava claramente qual a relação entre estes dois
elementos. Face ao resultado das respostas obtidas, não é possível retirar qualquer conclusão.
Dos 47 inquéritos recebidos, 31 não responderam à questão, tendo 16 referido que as colecções
eram do próprio patrono73.

73 Anexo 7, quadro 10.

95
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Para aferir sobre a dinâmica e desenvolvimento das casas-museu, questionou-se se as colec-


ções continuavam a integrar o acervo, ou se se encontravam fechadas, isto é, se a colecção
se limitava ao conjunto de objectos que o fundador integrou na instituição. Uma casa-museu,
apesar de dever apresentar a casa e a colecção da forma mais fiel possível ao gosto e ambiente
de vivência do seu patrono, deve continuar a adquirir peças que se relacionem com a vivência
do homenageado, com a sua actividade ou com a tipologia de colecção de que é detentora.
Por seu turno, as casas-museu de carácter etnográfico devem continuar a recolher peças que
lhes permitam cumprir a sua missão de salvaguardar o património, assim como as tradições de
determinado local. Ao analisar os resultados dos inquéritos que servem de amostra ao nosso
estudo, deu-se conta de que a resposta mais assinalada indica que as instituições continuam a
incorporar peças nas suas colecções74.

2.3.9. Cláusulas de Salvaguarda

O modo legal de incorporação das colecções é um elemento importante neste estudo, uma
vez que ao fazer a doação, os doadores destas colecções e outros bens, móveis e imóveis,
estabelecem cláusulas de salvaguarda que obrigam a determinadas condicionantes, situa-
ção que pode desencorajar ou inviabilizar a criação ou desenvolvimento das instituições
museológicas.

Como primeiro exemplo, pode referir-se o Dr. Anastácio Gonçalves que impôs, como condição,
que a colecção com o seu nome não fosse dispersa. Por outro lado, Fernando de Castro esta-
beleceu que os objectos devem ser mantidos em exposição tal como ele os deixou, sendo que
os bens apenas poderiam ser retirados da casa temporariamente e em situações muito espe-
cíficas de exposições temporárias e restauros que, eventualmente, fossem necessários. Pode
observar-se que as cláusulas de salvaguarda impostas na instituição da Casa-Museu Marta
Ortigão Sampaio funcionam como forma de perpetuar a memória da coleccionadora e a não
dispersão das suas colecções. Foi, todavia, no inquérito recebido da Casa dos Patudos, que se
pôde analisar um conjunto de cláusulas mais estruturado, que permitiu perceber o cuidado que
muitas destas pessoas tinham com os seus bens. José Relvas determinou, no momento do seu
legado à Câmara Municipal de Alpiarça, que a casa não devia sofrer alterações sem autorização
do Estado, sendo que, no caso de serem realizadas obras, estas deveriam ser dirigidas por um
arquitecto que fosse fiel à arquitectura tradicional portuguesa; nenhum espécime da colecção
poderia ser alienado, nem deveria existir corrente eléctrica no edifício, devendo os trabalhos de
conservação e restauro ser executados por peritos.

74 Ver quadro 8 do anexo 7 e quadro 25 do anexo 4.

96
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

A aquisição da Casa-Museu José Régio de Portalegre pela respectiva Câmara Municipal, conti-
nha uma cláusula no sentido da não alteração da exposição existente nas salas mais utilizadas
por José Régio. Por seu turno, a Casa-Museu Ferreira de Castro ficou com a obrigação de recriar
o ambiente doméstico da infância do escritor.

A Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis, que deveria ser considerada um museu etno-
gráfico, uma vez que o seu propósito é a defesa do património da região do Douro e do Vouga,
tem, como cláusula de salvaguarda por parte dos seus fundadores, a obrigatoriedade de ser
designada Casa-Museu.

Curiosa é a cláusula de salvaguarda apresentada pela Casa-Museu Horácio Bento Gouveia,


relativamente a alguns familiares do homenageado, estabelecendo que os membros da família
do 2º casamento do escritor não pudessem interferir na casa-museu.

2.3.10. A Prática Museológica

Inquérito AP
Abertura ao Acolhimento Serviços Divulgação Inventariação
Exposição Investigação Conservação
Público ao público Educativos conhecimento Catalogação
1- CM Dr. Anastácio
3 3 3 3 3 3 3 3
Gonçalves 75
2- CM Almeida Moreira 3 2 3 0 2 0 3 3
IPM
3- CM Manuel Mendes 1 1 2 0 2 0 3 3
4- CM Fernando de
3 2 3 1 2 3 3 3
Castro
CM 5- CM Leal da Câmara 3 3 3 3 2 3 2 3
7- CM dos Patudos 3 3 3 3 3 3 3 3
8- CM Pintor José
3 2 3 0 0 0 2 2
Cercas
9- CM Guerra Junqueiro 3 3 3 3 3 3 3 3
10- Casa Oficina António
1 1 1 1 0 0 2 2
Carneiro
12- C Rural Tradicional
2 2 2 0 0 0 0 0
Museu Etnográfico
13- CM Marta Ortigão
3 3 3 3 3 3 2 2
Sampaio
15- C Roque Gameiro 3 2 2 2 2 2 2 0
16- CM Fernando
3 2 2 0 2 0 2 0
Namora
17- CM José Régio - VC 3 3 3 3 3 3 3 3
18- CM José Régio - P 3 3 3 3 0 0 2 3
19- CM João de Deus 3 2 3 2 2 2 3 0
21- Casa Fernando
3 3 3 2 3 0 3 3
Pessoa
22- C Memorial Lopes
1 1 2 0 0 0 0 0
Graça
23- CM Ferreira de
3 0 3 1 2 3 2 2
Castro
25- CM Manuel Ribeiro
0 2 2 1 1 1 2 1
de Pavia

75 Os números que precedem a identificação de cada casa-museu permitem identificar a unidade museológica na
listagem onde se apresenta uma breve descrição da mesma, com base na entrevista efectuada aos directores das
instituições estudadas, chegando-se nesse momento à conclusão que algumas unidades museológicas se encontram
encerradas, as quais se encontram indicadas na tabela de identificação das Casas-Museu em Portugal.

97
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CM de Ferro 0 0 0 0 0 0 0 0
26- C da Malta
3 0 2 0 1 1 2 0
JF Museu Mineiro
28- CM de Jarmelo 2 2 2 1 0 0 3 0
29- CM Palmira Bastos 2 2 2 1 1 1 1 1
32- CM Abel Salazar 3 3 3 3 3 3 3 3
30- Ctrad. de Glória do
2 2 2 2 2 2 3 1
ASS Ribatejo
CM de Penacova 1 1 1 1 1 1 1 1
31- CM Reg. Oliveira
3 2 2 1 2 2 2 2
Azeméis
35- CM Frederico de
DR Freitas 3 3 3 3 2 0 3 3
39- CM S. Rafael 2 0 2 0 0 0 0 0
EMP 40- Casa da Malta 3 0 3 1 1 1 3 2
41- CM Ramos Pinto 1 2 3 2 3 3 2 3
42- CM C.dor Nunes
2 2 3 1 1 1 2 1
Correia
43- CM de Aljustrel 3 2 2 2 0 0 2 0
IR 45- CM Padre Belo 3 3 3 3 2 1 3 2
46- C da Cultura António
Bentes 3 1 2 2 2 2 2 1
Museu do Traje Algarvio
48- CM Marieta Solheiro
3 2 3 2 2 2 2 3
Madureira
49- CM D.ª Maria Emilia
3 2 3 1 1 1 2 2
Vasconcelos Cabral
50- CM Bissaya Barreto 3 2 3 1 2 2 2 0
FUND 51- CM Eng.º António de 3 2 3 2 2 3 2 0
Almeida
52- CM Bibl. Aquilino
3 1 2 0 1 0 2 0
Ribeiro
53- CM João Soares 3 3 3 3 2 2 3 3
54- CM Mário Botas 1 1 1 1 1 1 2 0
55- CM Nogueira da
UNIV Silva 3 3 3 3 3 3 3 3
58- Casa Agrícola José
2 2 2 2 1 2 2 2
Mota Cortes
59- CM do pescador da
PART 2 1 2 1 1 1 2 0
Nazaré
60- CM Dr. Horácio B.
Gouveia
2 2 2 1 2 2 1 1
Quadros com as actividades museológicas descritas nos questionários do Inquérito AP.
0- Não Respondeu, 1- Não, 2- Sim, 3- Sim

2.3.10.1. Abertura/Horário de Funcionamento

Ao analisar a possibilidade de visita a estas casas-museu, percebe-se alguma diversidade de


respostas. Segundo o Doc. RPM (anexo 2, quadro 1), constata-se a existência de três tipos de
situações. Das 113 unidades museológicas, 89 encontram-se a funcionar, 21 estão em projecto
e 3 são meras intenções de criação de casas-museu.

Uma análise mais detalhada proporcionada pelos dois inquéritos trabalhados, permite observar
a existência de casas-museu a funcionar com horários regulares de abertura ao público; outras,
temporariamente encerradas; ainda algumas com funcionamento sazonal, e mesmo algumas
que só abrem com marcação prévia (anexo 7 quadro 16, anexo 4 quadro 4).

98
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Abertura ao Público

40

31 N. Respondeu
30
Não
20 Sim - 2
Sim - 3
10 9
2 5
0

Gráfico resultante dos dados da coluna “abertura ao Público” do quadro de avaliação das funções museológicas.

À primeira vista, a observação deste gráfico leva a supor que a realidade do ponto de vista da
abertura ao público se encontra, na generalidade, bem programada. Apesar de tudo, foi neces-
sário estabelecer uma graduação das respostas positivas. Assim, ao número 2 correspondem as
respostas que indicam que a unidade museológica se encontra aberta ao público, todavia, sem
horário de funcionamento definido, sendo necessária a marcação prévia. O número 3 refere-se
às instituições com horário mais ou menos alargado, com abertura só nos dias úteis ou incluindo
o fim de semana, com um período de funcionamento diário mais ou menos alargado, porém,
apresentam uma definição do período em que se encontram disponíveis para visita, sem que
seja necessário contacto prévio.

Ao tentar conjugar alguns elementos de avaliação da realidade, utilizando os dados fornecidos pelo
inquérito AP, nomeadamente a tutela com a existência de horário de funcionamento, verifica-se que as
casas-museu tuteladas por Câmaras Municipais mantêm horários de funcionamento regulares, com
diversas formatações, dependentes das decisões das entidades responsáveis, sendo alguns horá-
rios mais adaptados à realidade museológica do que outras. Algumas unidades apresentam horários
coincidentes com o funcionamento administrativo das autarquias, sendo as visitas ao fim-de-semana
possíveis num número considerável de unidades museológicas. A análise das respostas enviadas
pelas casas-museu do IPM permitiram constatar 3 tipos de horários de funcionamento para o público.
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves e a Casa-Museu Fernando de Castro apresentam horários de
funcionamento alargados e regulares, a Casa-Museu Almeida Moreira, que se encontrava encerrada
ao público, reabriu no final do ano 2006 com horário regular, e a Casa-Museu Manuel Mendes só
permite visitas mediante marcação prévia, uma vez que não se encontra permanentemente aberta.
Observando os questionários remetidos pelas Juntas de Freguesia, observa-se a prática de diferentes
tipos de abertura ao público, horários regulares de funcionamento museológico, que compreendem o
fim-de-semana, horários de funcionamento que correspondem ao serviço administrativo e unidades
museológicas que só abrem portas mediante marcação prévia. A mesma situação é observada no âm-
bito das casas-museu tuteladas por Associações. O funcionamento de tais unidades museológicas in-
tegradas nestas tutelas manifestam as dificuldades e deficiências gerais do seu funcionamento.

99
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

A análise dos questionários recebidos da Ilha da Madeira permitem constatar horários diferencia-
dos de acordo com a diferença das tutelas. As casas-museu dirigidas pelas Direcções Regionais
apresentam um horário de funcionamento regular, incluindo abertura ao fim-de-semana. A casa-
museu de tutela particular só funciona mediante marcação prévia. As casas-museu tuteladas por
empresas só funcionam nos dias úteis. As de tutela religiosa têm horários de diferentes formatos,
mais ou menos alargados consoante têm mais ou menos disponibilidade de recursos humanos.
Por seu lado, as casas-museu integradas em Fundações são aquelas que, na grande maioria,
têm horários de funcionamento mais adequado à realidade museológica, com abertura nos dias
úteis e fins-de-semana. Por seu lado, a Casa-Museu Nogueira da Silva, de tutela universitária,
apresenta um horário de funcionamento regular com abertura ao fim-de-semana, o que facilita o
acesso dos diferentes públicos.

Em nenhuma das casas-museu de tutela privada, que responderam ao questionário, se encontra


um horário de funcionamento definido.

Esta diversidade de horários deverá ser relacionada, por um lado, com o número de visitantes que
as instituições em questão apresentam e, por outro, com a disponibilidade de recursos humanos
que permitam o seu regular funcionamento. A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves apresenta
um horário de funcionamento permanente, tendo somente a segunda-feira como dia de descan-
so, com doze funcionários que asseguram as diferentes valências do serviço museológico, tendo
uma média anual de cerca de 8.000 visitantes. A Casa-Museu Guerra Junqueiro, de tutela muni-
cipal, apresenta um serviço museológico global, aparentemente bem estruturado, com um quadro
de pessoal alargado, com horário de funcionamento regular, recebendo cerca de 6000 visitantes
anuais. Por outro lado, a Casa-Museu Fernando Namora, que só abre ao público nos dias úteis,
refere apenas um funcionário, não indicando o número médio anual de visitantes. Por seu turno,
a Casa-Museu do Jarmelo, que só funciona ao fim-de-semana, recebe cerca de 950 visitantes por
ano, não fornecendo qualquer informação do ponto de vista do pessoal. A Casa-Museu de Ferro,
que no inquérito do IPM|OAC aparece como uma estrutura já com alguma organização, no ques-
tionário AP é apresentada como mera intenção de criação de Casa-Museu.

2.3.10.2. Acolhimento ao Público

Depois de analisados os problemas que se manifestam ao nível patrimonial, pretende-se realizar


uma abordagem às questões relacionadas com as actividades directamente desenvolvidas para
o público76.

76 Cf. quadros de resultados n.ºs 13 e 32 do anexo 4 e quadros de resultados n.ºs 14, 22, 23 do anexo 7.

100
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Acolhimento ao Público

25

20 21
N. Respondeu

15 Não

13 Sim - 2
10 Sim - 3
8
5 5

Gráfico resultante dos dados da coluna “acolhimento ao Público” do quadro de avaliação das funções museológicas.

Quais são, como se programam, como se desenvolvem, foram algumas questões colocadas,
tendo a análise aos dois inquéritos revelado pouca diversidade. Contrariamente àquilo que numa
percepção imediata do gráfico faria pensar, o acolhimento ao público resume-se, em muitos
casos, à recepção dos visitantes por um funcionário ou guia, assim como a disponibilização de
visitas guiadas pelos trabalhadores da instituição. As principais actividades prendem-se com
a realização de exposições, essencialmente permanentes, algumas temporárias, às quais são
facilitadas visitas guiadas. Porém, em poucos casos, existem referências a conferências ou
espectáculos. É reconhecida, pela análise das respostas, a falta de inovação, o pouco recurso
às novas tecnologias, e à definição de programas interactivos. As casas-museu portuguesas
continuam a limitar as suas publicações ao desdobrável. Mais uma vez é possível pensar que a
falta de recursos humanos qualificados, assim como a falta de recursos financeiros, têm tornado
amorfas estas instituições museológicas e sem capacidade de captar o público. Sobre os meios
de comunicação utilizados para o estabelecimento de relações com o público, verificou-se que
se utilizam essencialmente os instrumentos de comunicação em papel, estando os audio-visuais
limitados a um reduzido número de instituições77.

Ao nível dos espaços de acolhimento, os dois inquéritos indicam a mesma tipologia de espaços,
de onde se destaca a existência de café, loja, espaços de recepção e áreas para exposições
temporárias. Todavia, não convém deixar de observar que estes espaços sociais, que devem
integrar as estruturas museológicas contemporâneas, existem num número muito reduzido de
unidades estudadas.

77 A resposta a esta questão deixou a impressão de que esta não foi entendida por muitas instituições. Um número
significativo de casas-museu entendeu que nós questionávamos acerca dos meios de comunicação social e não sobre
instrumentos de comunicação.

101
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2.3.10.3. Exposição

A organização de exposições permanentes e/ou temporárias é muitas vezes a única manifestação


de carácter museológico que as casas-museu apresentam. Com um enorme défice ao nível dos
recursos humanos, dos espaços e dos meios financeiros, as exposições representam, numa
considerável parte dos casos estudados, o único meio marcante da sua existência, talvez por ser
esta a forma mais directa de transmitir uma mensagem.

A análise dos questionários recebidos permitiu constatar um conjunto de instituições museológicas


com dimensões muito diversificadas, sendo possível identificar unidades com apenas 27 m2,
como a Casa-Agrícola José Mota Cortes, e outras de maior dimensão, como a Casa-Museu
Frederico de Freitas, com 3.900m2, ou a Casa-Museu Abel Salazar com cerca de 2.279m278,
estas já com áreas ajardinadas e edifícios anexos que complementam o edifício principal.
Este factor é determinante , por exemplo, na dimensão das exposições patentes ao público,
na possibilidade de produzir exposições temporárias, ou de organizar actividades no âmbito
das mostras efectuadas. Desta forma, ao analisar os questionários e confrontando as respostas
com outras informações disponíveis, procedeu-se a uma avaliação qualitativa, em dois aspectos
dimensionais das exposições apresentadas aos visitantes.

Exposição

25
21 22
20 N. Respondeu

15 Não
Sim - 2
10
Sim - 3
5
1 3
0

Gráfico resultante dos dados da coluna “exposição” do quadro de avaliação das funções museológicas.

Independentemente da sua dimensão, uma visita às casas-museu em Portugal permitirá apreciar


exposições de diferentes tipologias:
- Exposições permanentes ou de longa duração: mantêm-se durante um período de tempo
alargado, ou nunca sofrem alterações ao longo da sua existência. Podem identificar-se de
diferentes formas:

78 Cf. quadro n.º 12, anexo 7.

102
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

- Referentes a Espaços Domésticos do Patrono da Instituição: espaços de vivência


do patrono, organizados por si ou de acordo com as suas indicações, mantidos o mais
fiel possível de acordo com a organização inicial, onde é permitido contactar com o
modo de vida do homenageado, perceber os seus sentimentos, os seus pensamentos,
entre outros aspectos da personagem representada.
Podem integrar-se neste tipo de exposição a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, a
Casa-Museu Fernando de Castro, a Casa-Museu José Régio de Vila do Conde, a Casa-
Museu Bissaya Barreto ou a Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, entre outras.
- Referentes a Espaços Domésticos Recriados: unidades museológicas que repre-
sentam o quotidiano doméstico da personalidade que se pretende homenagear, ou o
modo de organização quotidiana de determinada região, época ou classe social, con-
cebidos através da recolha de objectos numa localidade ou região, ou recorrendo às
colecções do patrono da instituição. Podemos estar perante espaços com coerência
cronológica ou mediante “períod rooms” com cronologias diferenciadas.
Inserem-se nesta tipologia, por exemplo, a Casa-Museu Guerra Junqueiro, a Casa-
-Museu Marta Ortigão Sampaio, a Casa-Museu João de Deus, a Casa-Museu Padre
Belo, a Casa Rural Tradicional da Chamusca, a Casa-Museu do Pechão ou a Casa
Tradicional da Glória do Ribatejo.
- Documentárias sobre personalidades: sobre a vida ou obra da personalidade que dá
nome à unidade museológica, recorrendo-se a objectos, documentos de vários tipos:
cartas, fotografias ou outros, que ilustram uma vivência, actividade ou momento da
História.
Podem referir-se, entre outros, nesta tipologia, a Casa de Fernando Pessoa, a Casa-
Museu João Soares, a Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia, a Casa-Museu Palmira
Basto, a Casa de Bocage, a Casa Memorial Humberto Delgado, a Casa-Museu Dr.
Horácio Bentes Gouveia.
- Mostras de Colecções de Arte: a casa-museu pode ser o local onde se apresentam
as colecções realizadas por determinada pessoa ao longo da sua vida, a qual antes
da sua morte ou alguém por si, promove uma unidade museológica que vai mostrar
e salvaguardar um acervo com determinadas características, muitas vezes, de valor
duvidoso, organizadas numa certa lógica museográfica.
Podem mencionar-se a Casa-Museu Fernando Namora, a Casa-Museu Comendador
Nunes Correia, a Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco, a Casa-Museu Mário
Botas, a Casa-Museu Pintor José Cercas.
- Mostras de Colecções Etnográficas: apresentam, sem qualquer forma de organi-
zação doméstica, utensílios tradicionais de determinada região ou localidade, funcio-
nando como uma forma de salvaguarda dos usos, costumes e saberes tradicionais.

103
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Inserem-se neste grupo a Casa-Museu de Jarmelo, a Casa-Museu Regional de Olivei-


ra de Azeméis, a Casa-Agrícola José Mota Cortes, a Casa da Cultura António Bentes
– Museu do Traje Algarvio.
- Exposições Mistas: combinam diferentes tipos de exposição atrás referenciados.
Encontram-se em algumas casas-museu espaços de vivência preservados, ao lado
de salas onde se expõem documentos ou se recriam ambientes tradicionais.
A Casa-Museu Leal da Câmara associa à exposição dos espaços domésticos a galeria
de desenhos de Leal da Câmara, a Casa-Museu Egas Moniz alia a visita à casa do mé-
dico com exposição de cerâmicas e faianças; a Casa-Museu Abel Salazar conjuga os
espaços do quotidiano à exposição da obra plástica do patrono; a Casa-Museu Frede-
rico de Freitas apresenta a recriação dos espaços domésticos às galerias de exposição
da colecção artística; a Casa-Museu Ferreira de Castro conjuga os espaços de vivência
com uma exposição etnográfica no piso 0.
- Exposições temporárias: As casas-museu que hoje prestam um serviço museológico mais
avançado recorrem a espaços complementares para aí poderem organizar actividades que pro-
movam um conhecimento mais amplo do homenageado. Mantêm intacto o espaço de vivência
e promovem, em áreas anexas, exposições documentais, de acervo que não integra a exposi-
ção permanente, estabelecem parcerias com outros centros culturais, com vista a alargar o seu
horizonte de acção e, desta forma, dar um maior contributo para o conhecimento do seu home-
nageado e da localidade ou região onde se inserem. A análise da documentação compilada para
esta dissertação permite concluir que algumas casas-museu apresentam unicamente exposições
temporárias.

2.3.10.4. Serviços Educativos

Quando se tenta aferir a existência de serviços educativos organizados, com actividades pro-
gramadas, o inquérito OAC|IPM apresenta um número relativamente diferente daquele que se
conseguiu obter no inquérito AP. No primeiro, 69,23% das instituições referem a existência de
serviços educativos79. Mais uma vez, quando se tenta perceber qual a estrutura educacional,
verifica-se que esta se limita à organização de visitas guiadas, sendo as restantes actividades
pouco expressivas. Porém, a análise do inquérito AP é bem menos animadora80: à questão
formulada que pretendia indagar sobre a existência de serviços educativos, 21,28% não davam
qualquer resposta, tendo 31,91% respondido negativamente à questão; pressupõe-se, assim,
que cerca de 53% das unidades museológicas não promovem qualquer actividade educativa no
âmbito dos seus serviços.

79 Cf. quadros n.ºs 35 e 36, anexo 4.


80 Cf. quadro 24, anexo 7.

104
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Serviços Educativos

15 15

12 N. Respondeu
10 10 10 Não
Sim - 2

5 Sim - 3

Gráfico resultante dos dados da coluna “serviços educativos” do quadro de avaliação das funções museológicas.

O gráfico atrás apresentado revela que a maior parte das unidades museológicas estudadas
não desenvolve qualquer actividade de serviço educativo, e, daquelas que indicam esta activida-
de, poucas casas-museu dispõem de serviços educativos de qualidade, bem estruturados; daí
merecerem ser assinalados pela importância que assumem na transmissão de conhecimentos,
a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, a Casa-Museu Guerra Junqueiro, a Casa-Museu No-
gueira da Silva, a Casa-Museu Leal da Câmara, a Casa-Museu João Soares e a Casa-Museu
Frederico de Freitas.

2.3.10.5. Investigação

A análise desta função museológica suscita algumas dúvidas, quando se observam os resulta-
dos às diferentes questões apresentadas sobre este tema nos dois inquéritos recolhidos. No que
concerne à existência de um programa de investigação, 55,32% das instituições não respondeu,
no inquérito AP, levando a crer que não desenvolvem qualquer acção de investigação81, número
que vem confirmar os dados compilados na análise do inquérito OAC|IPM82. Porém, a quan-
tidade de instituições que assinalam contactos entre comunidades científicas é relativamente
diferente83. Depreende-se, assim, que as acções de investigação podem ser esporádicas e,
essencialmente, motivadas por interesses externos às instituições museológicas em causa.

Paradoxalmente, quando questionadas sobre o desenvolvimento de acções de investigação (in-


quérito AP) 57,45% das instituições respondem afirmativamente84.

81 Cf. quadro de resultados n.º 28, anexo 7.


82 Cf. quadro de resultados n.º 33, anexo 4.
83 Cf. quadro de resultados n. 34 do anexo 4 e quadro de resultados n.º 26 do anexo 7.
84 Cf. Quadro 25, anexo 7.

105
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Investigação

20
18 N. Respondeu
15 Não
10 11 Sim - 2
9 9
5 Sim - 3

Gráfico resultante dos dados da coluna “investigação” do quadro de avaliação das funções museológicas.

Todavia, quando verificadas em pormenor trata-se essencialmente de estudos básicos, sem


grande profundidade científica. A observação do quadro acima apresentado, referente ao in-
quérito AP, permite perceber em que tutelas as acções de investigação são mais estruturadas e
desenvolvidas. São elas: o IPM, algumas Câmaras Municipais, a Casa-Museu dependente da
Direcção Regional, certas casas-museu tuteladas por Fundações e a Casa-Museu Nogueira da
Silva tutelada pela Universidade do Minho

Estas dificuldades relacionam-se, certamente, com a escassez de recursos humanos, a falta de


corpos directivos esclarecidos e com capacidade de recrutarem meios externos para promove-
rem o desenvolvimento de estudos de qualidade, a manutenção de muitas instituições em círcu-
los fechados de pessoas que receiam perder a liderança das instituições que criaram.

A observação dos resultados dos inquéritos analisados (anexo 4, quadro 37 e anexo 7, quadros
23 e 27) demonstra a forma como estas instituições museológicas transmitem e apresentam ao
público os resultados das suas acções de investigação. Exposições, folhetos, catálogos, desdo-
bráveis e textos fotocopiados estão como os meios mais usados. Denota-se um grande défice de
inovação e de recurso às novas tecnologias.

Divulgação do Conhecimento

15 15

12
N. Respondeu
10 10 10
Não
Sim - 2
5 Sim - 3

Gráfico resultante dos dados da coluna “divulgação do conhecimento” do quadro de avaliação das funções museológicas.

106
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Apesar da maioria dos questionários não responder ou assumirem que não têm iniciativas ao
nível da divulgação de conhecimentos, as que existem são, como se referiu, em muitos casos,
de qualidade duvidosa. As casas-museu necessitam de, rapidamente, dar o salto da inovação,
no sentido da captação de novos públicos. Numa sociedade mediatizada, onde cada vez mais
as novas gerações se sentem atraídas por novos tipos de técnicas e programas interactivos, as
casas-museu devem desenvolver acções que atraiam os públicos jovens, programas culturais
mais adaptados a gerações mais idosas, rentabilizando mais as suas acções de investigação.

2.3.10.6. Inventariação e Catalogação

O estudo das colecções, as actividades desenvolvidas sobre e com os materiais, os diferentes


processos de registo permitem verificar a capacidade de desenvolvimento de actividades museo-
lógicas. O inventário e a catalogação são processos fundamentais para o desenvolvimento de
todo o tipo de actividades, assim como para a segurança do museu. As questões que permitem
aferir estes processos nas casas-museu que constituem a amostra dos dois inquéritos, deram
origem a respostas muito diversificadas e apresentadas no quadro 9 do inquérito AP (anexo 7) e
nos quadros 26, 27 e 28, do inquérito do OAC|IPM (anexo 4). Em ambos os inquéritos é possível
constatar uma preocupação neste domínio na generalidade das casas-museu. Um significativo
número de instituições indica a existência de registo por inventário das suas colecções. Porém,
o desenvolvimento dos inventários ou catalogação é referido por um número bastante mais re-
duzido. Certamente, esta limitação na forma de registo das colecções está relacionada com a
falta de recursos humanos, traduzido no diminuto número de colaboradores das casas-museu
e, simultaneamente, na falta de formação para que o preenchimento de fichas de registo seja o
mais desenvolvido possível.

Inventariação / Catalogação

25 23 N. Respondeu

20 17 Não

15 Sim - 2

10 Sim - 3
6 1
5
0

Gráfico resultante dos dados da coluna “inventariação/catalogação” do quadro de avaliação das funções museológicas.

Os inventários sumários permitem, todavia, o conhecimento do número de espécimes existentes


na colecção. Quanto ao suporte dos processos de inventário, estes vão desde inventários em pa-
pel, manuais, até aos de suporte informático, sendo que algumas instituições combinam as duas
metodologias. Relativamente às bases de dados utilizadas para o registo das colecções, verifica-se

107
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

alguma diversidade: as casas-museu afectas ao IPM utilizam o Programa Matriz; algumas ins-
tituições de outras tutelas servem-se do Programa IN Arte; outras instituições desenvolvem as
suas bases de dados em sistema Access.

2.3.10.7. Conservação

Para que se cumpram os objectivos, as missões e algumas cláusulas de salvaguarda das ins-
tituições museológicas, é fundamental que se desenvolvam acções de conservação sobre os
acervos, assim como nos edifícios. Em visitas efectuadas a algumas unidades museológicas
constatou-se que neste domínio se sentem grandes carências, observando-se peças pouco cui-
dadas e a necessitarem de cuidados de conservação e tratamentos de restauro, tendo sido
possível observar, pelo inquérito que desenvolvemos, que 59,57% dos inquiridos nos referiu a
existência de beneficiações nos imóveis85, algumas das quais significativas, sendo outras meras
operações de cosmética. Todavia, os inquéritos revelam que são sinalizadas e diagnosticadas
pelos responsáveis situações de necessidade premente de intervenção, sendo, precisamente,
esta a área em que muitas unidades museológicas apresentam o seu principal problema86 que
não é resolvido pela falta de capacidade técnica e financeira da instituição.

Quando questionadas sobre as áreas da casa afectas a outras funções, verifica-se que no inqué-
rito desenvolvido pelo OAC/IPM (anexo 4), nos quadros 10 e 11, só um caso apresenta uma res-
posta indicando a existência de áreas afectas a depósitos. Quando o mesmo inquérito questiona
sobre a existência de serviços, a maioria das instituições responde não possuir nenhum tipo de
acção identificada pelos promotores do estudo, tendo sido registada uma única existência de la-
boratório de conservação e restauro, na Casa-Museu Teixeira Lopes, em Vila Nova de Gaia87.

Na estruturação do inquérito AP, que se pretendia submeter às casas-museu seleccionadas para


esta amostra, foi reforçada esta questão. Desejava-se perceber como tinha evoluído a situação.
Assim, à questão que tipo de áreas da casa estão afectas ao serviço museológico, 22 unidades
museológicas não assinalam qualquer resposta, registaram-se 8 casas-museu que dispunham
de reservas e 3 com serviços técnicos não identificados88.

85 Cf. no quadro de resultados n.º 13 do anexo 7.


86 Cf. no quadro de resultados n.º 34 do anexo 7 e no quadro de resultados n.º 40 do anexo 4.
87 Pode comprovar-se esta informação pelos quadros n.ºs 13 e 14 do anexo 4.
88 Informações apresentadas em anexo, no quadro 14 dos resultados do anexo 7.

108
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Conservação

16 16
15
14
12
N. Respondeu
10 Não
9
8 Sim - 2
7
6 Sim - 3

4
2
0

Gráfico resultante dos dados da coluna “conservação” do quadro de avaliação das funções museológicas.

O resultado deste vector, em específico, resulta da análise das respostas ao inquérito AP; todavia, é,
também, consubstanciado no conhecimento que se tem do tipo de actividade que é desenvolvida em
algumas instituições ao nível da conservação preventiva e dos cuidados no restauro do acervo.

O cruzamento dos dados fornecidos pelos inquéritos com os recolhidos nas visitas permitem
concluir que são muito débeis os serviços relacionados com a conservação preventiva e o apoio
aos visitantes. A casa-museu é geralmente encarada como um espaço de exposição, o local
onde, nas maioria dos casos, se apresentam peças aos visitantes sem condições de conserva-
ção e salvaguarda. A análise dos diferentes quadros de resultados, nomeadamente o quadro 15
do anexo 7 e o quadro 31 do anexo 4, permitem concluir acerca das grandes carências que se
verificam, em Portugal, neste âmbito. Percepcionou-se que a realidade não é muito favorável à
conservação das colecções e dos edifícios. No inquérito AP, a maioria das instituições não referiu
qualquer tipo de restauro, donde se considera que o facto de um número considerável não res-
ponder à questão leva a supor que não efectuam acções do género.

Ainda através do cruzamento de dados efectuado, verifica-se que a maior parte das casas-museu
não se revela estruturalmente organizada para o desenvolvimento da actividade museológica,
não dispondo de estruturas de conservação, segurança ou outras áreas técnicas exigidas a um
museu na actualidade. Os dados recolhidos e que reportam à adaptação destas casas ou à sua
conjugação com outras estruturas museológicas permitem perceber a carência de laboratórios ,
reservas, centros de documentação, áreas sociais, entre outras.

2.3.11. Recursos Humanos e Financeiros

Já anteriormente foram referidas as enormes carências que se foram sentindo ao nível dos re-
cursos humanos. Importa referir que os dados revelados pelos dois inquéritos não são coinciden-

109
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

tes. Não deve esquecer-se que o primeiro inquérito (OAC|IPM) foi realizado por uma entidade
estatal, situação que poderá ter condicionado algumas respostas. No que concerne à existência
de quadro de pessoal, no inquérito OAC|IPM, 53,8% das instituições responderam afirmativa-
mente à questão89; porém, no inquérito AP, à mesma questão, cerca de 85% dos inquéritos
não apresentam qualquer resposta ou respondem negativamente90. Aquando da planificação
do novo questionário, pretendeu-se saber algo mais, nomeadamente o número de funcionários
das instituições e a sua formação. No que respeita ao primeiro assunto, ou seja, ao número de
funcionários, este varia desde a existência de um único funcionário, como ocorre na Casa-Museu
Fernando Namora e na Casa da Malta-Museu Mineiro, entre muitas outras, até uma instituição
que refere 23 colaboradores, a Casa-Museu Frederico Freitas, no Funchal91. Porém, a situação
mais comum situa-se entre os dois e os quatro funcionários por instituição.

Quanto às categorias profissionais dos funcionários, convém referir que somente 17 unidades
museológicas referem a existência de técnicos superiores, seguindo-se as referências a pessoal
auxiliar, funcionários administrativos, vigilantes, recepcionistas e guias. Curiosa é a referência
que uma instituição faz à existência de um colaborador para apoio científico, concretamente a
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, instituição museológica devidamente organizada no âm-
bito do serviço museológico 92.

Derivando esta análise para as questões financeiras e orçamentais, observa-se que em ambos
os inquéritos a maioria das instituições reconhece não ter orçamento anual próprio93, encon-
trando-se muitas vezes inscrito na rubrica orçamental da tutela, como é caso das casas-museu
das Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia e Fundações. Esta situação torna-se ainda mais
clara quando se tenta saber de onde provêm os fundos com os quais é possível as casas-museu
desenvolverem os seus trabalhos, sendo que a maioria provém da tutela94. Não se conseguiu
percepcionar actividades que resultem em lucros claros para apoiarem o funcionamento destas
unidades museológicas.

As casas-museu, em Portugal, têm de definitivamente, dar um salto qualitativo, considerando-se


fundamental que se estabeleça uma definição daquilo que é realmente uma casa-museu no con-

89 Cf. quadro de resultados n.º 20, anexo 4.


90 Cf. quadro de resultados n.º 31, anexo 7.
91 Cf. quadro de resultados n.º 32, anexo 7.
92 Cf. quadro de resultados n.º 33, anexo 7.
93 Cf. quadro de resultados n.º 22 do anexo 4 e quadro n.º 29 do anexo 7.
94 Cf. quadro de resultados n.º 23 do inquérito OAC|IPM; ver quadro de resultados n.º 30 do inquérito desenvolvido
para esta dissertação.

110
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

texto da museologia portuguesa, no sentido de serem traçadas metas e caminhos a seguir por
estas unidades museológicas. Não se deve permitir que a todo o momento se criem instituições
com este nome, devendo exigir-se rigor na acção para, desta forma, ser melhor aplicado o finan-
ciamento público. A valorização técnica e financeira levará a uma valorização da instituição por
parte do público que dará, certamente, um voto de confiança às unidades museológicas capazes
de dar resposta às exigências dos dias de hoje. Exposições com acervos cuidados, casas que
apresentem boas condições de conservação e circulação, actividades bem planeadas, iniciativas
que estimulem o aumento dos recursos financeiros são absolutamente necessárias para que
todo este universo se altere e no futuro se possa ter uma imagem da realidade bem diferente da
de hoje, onde as carências sentidas condicionam toda a acção das casas-museu.

2.4. ANÁLISE TIPOLÓGICA DAS CASAS-MUSEU PORTUGUESAS

Depois de se ter traçado um perfil das casas-museu portuguesas, do ponto de vista do seu
funcionamento museológico, importa, neste momento, definir, afinal, quais são de facto casas-
museu e em que outras tipologias de museus se integram as unidades museológicas que fazem
parte da amostra da presente dissertação, compiladas e retiradas da lista enviada pela Rede
Portuguesa de Museus. Para o efeito apresenta-se uma tabela, com os requisitos considerados
essenciais para que uma instituição museológica integre a categoria das casas-museu, proce-
dendo-se, posteriormente, à sua integração no âmbito das propostas de classificação internacio-
nal e, finalmente, a proposta para classificação das casas-museu em Portugal.

2.4.1. Análise do cumprimento dos requisitos para ser considerada Casa-Museu

O desenvolvimento da dissertação em questão foi sedimentando a possibilidade de se estabele-


cer a definição de casa-museu, fundamentada na existência de um espaço de habitação com o
seu acervo móvel, elementos que foram fruídos, pelo menos por algum tempo, pelo patrono da
instituição, indivíduo ou grupo, reflectindo a sua personalidade, formação cultural e, eventual-
mente, ideológica, que deve manter-se, o mais possível, no seu estado original. Todavia, podem
ainda considerar-se aquelas unidades museológicas representando ambientes domésticos, que
contaram com o apoio do homenageado na sua organização, ou que resultaram de processos
de investigação, permitindo, desta forma, retratar ambientes domésticos específicos. Para além
destas especificidades a casa-museu deve dar cumprimento ao serviço de cariz museológico
implícito na definição do ICOM.

Porém, para tentar conhecer-se o entendimento da comunidade museal portuguesa, foi solicitado a
um conjunto de museólogos, bem como aos colegas de mestrado, a colaboração, através da apre-

111
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

sentação de uma definição do que cada um entendia ser uma casa-museu e o que esperavam ver
quando visitavam uma instituição museológica deste género. As respostas obtidas a este convite
apresentam-se na integra no anexo 10. Expõe-se, neste momento, as ideias-chave, comuns à
generalidade das respostas recebidas. A globalidade vai no sentido de identificar a casa-museu
como o espaço onde viveu uma personalidade que se distinguiu numa determinada área e que
se rodeou de objectos de acordo com os seus gostos. Nas respostas enviadas, apresentam-se-
nos sempre os seguintes conceitos: casa, bens móveis, personalidade e vivência. Estas casas
permitirão conhecer o modo de vida de alguém, são evocativas da actividade de uma certa pes-
soa, devendo, por isso, ser preservadas fielmente como no tempo do seu patrono. A vontade de
contactar com determinada realidade específica é o motor que determina a visita a estas unidades
museológicas, procurando-se o intimismo que só uma unidade museológica deste tipo pode dar.

Face à diferença de conteúdo, deve destacar-se a resposta recebida de uma colega, que apre-
sentou a noção de casa-museu como uma instituição ultrapassada, parada e sem interesse. Este
texto apresenta ainda uma outra especificidade ao referir que a casa-museu, assim como outro
qualquer museu, é aquilo que o seu director fizer dela, o seu sucesso depende da capacidade de
empreendimento de quem a dirige.

É um pressuposto fundamental deste trabalho concluir sobre o que são verdadeiramente ca-
sas-museu, o que permitirá a não contabilização das unidades museológicas que, assumindo
esta terminologia, não cumprem os indispensáveis requisitos, relegando-as para categorias de
museus diferenciados. É essencial definir quais as estruturas museológicas que são verdadeiras
casas-museu e investir no seu modo de funcionamento, a fim de não mais serem consideradas
amorfas e passadistas, não respondendo às questões que se levantam sobre o seu campo de
acção. Exige-se a uma estrutura museológica organização, respostas, dinamismo, novas tecno-
logias de informação.

Têm-se apresentado instituições criadas ao longo do tempo e às quais foi atribuída a terminologia
de casa-museu, por as mesmas serem dedicadas a uma personalidade que se destacou numa
área da vida pública, tanto no domínio cultural, político como científico, de âmbito internacional,
nacional, regional ou local, e noutros casos, por serem representações de quotidianos de um de-
terminado período ou região, com objectivos de perpetuação da memória, de uma obra ou de uma
colecção. Todavia, muitas delas não apresentam marcas de vivência efectiva, pelo que deverão
dar origem a uma instituição museológica de outra ordem, algo que também é demonstrado pelo
seu modo de funcionamento, as suas valências de trabalho, os seus objectivos. No sentido de
identificar as unidades museológicas, efectivamente no âmbito das casas-museu, foi desenvolvi-
do o quadro seguinte:

112
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Patrono Casa Colecção


Relação Documenta Relação Espaço Espaço Decoração
Estuda o Original / Novos Org. pelo Estuda a
Sim/Não Homem / a vida do Espaço / Doméstico Doméstico Original /
patrono Alterada Espaços Patrono Colecção
Espaço patrono Objecto Social Intímo alterada
1                        
2                        
IPM
3                        
4                        
5                        
6                        
7                        
8                        
9                        
10         Sem aplicação
11                        
12                        
13                        
14                        
CM 15                        
16                      
17                        
18                        
19                        
20                        
21                        
22                        
23                        
24                        
25                        
26                        
27                        
JF
28                        
29                        
30                        
31                        
ASS 32                        
33                        
34                        
35                        
36                      
DR
37                        
38                        
39                        
EMP 40                        
41                        
42                        
43                        
IR 44                        
45                        
46                        
47                        
48                        
49                        
50                        
FUND
51                        
52                        
53                        
54                        
55                        
UNIV
56     doadora doadora           doadora    
57                      
58                        
PART
59
60

No anexo n.º 12 poderá observar-se a relação entre o número e a unidade museológica correspondente. Optou-se por esta solução
no sentido de apresentar a tabela numa única página.
Legenda afirmativo negativo ambas alterada 113
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quando se estabeleceram os pressupostos no sentido de definir quais as instituições museológi-


cas que se poderiam enquadrar no domínio das casas-museu procurou aferir-se sobre a origina-
lidade, tanto do edifício como da decoração. A sua definição pressupõe que estas se mantenham,
o mais possível, de acordo com a vontade do homenageado, ou que as alterações sofridas não
sejam de tal forma que adulterem a sua imagem inicial. Assim, através da entrevista efectuada,
da documentação existente e da análise dos inquéritos recebidos, foi possível determinar o esta-
do dos imóveis e da disposição dos acervos no espaço.
Tipo de Casa Tipo de Decoração

35
34
35 35

30 30

25 21 25
19
20 20

15 15

10 10 5
4
1 5 1
5

0 0

Original/Patrono Alterada Mista Não Aplicável Original/Patrono Alterada Mista Não Aplicável

Os dados apresentados são claros, vão ter influência e revelar-se essenciais, quando se esta-
belecerem as tipologias das casas-museu e das outras unidades museológicas. A maioria das
respostas, em ambas as questões, indicam que as decorações e os edifícios foram alterados,
verificando-se ainda um significativo número de realidades que mantêm espaços originais ao
lado de outros que sofreram alterações, no sentido de, eventualmente, ser prestado um melhor
serviço ao visitante.

Outro vector determinante para análise e classificação destas instituições museológicas como
casas-museu é o facto de apresentarem espaços domésticos, originais ou recriados, que docu-
mentam o tipo de vida doméstica do patrono. É através da observação dos espaços por onde
circula que se tenta apreender a sua personalidade, os gostos e o modo de pensar de quem
habitou naquele lugar e desta forma responder aos desejos do “voyeur” de uma parte do público
que visita a casa-museu.

Espaços de Quotidiano Intímo Espaços de Quotidiano Social

40 40
36 37
30 30
23
20 20
17
10 10
1 1
0 0

sim não não aplicável sim não não aplicável

114
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

A análise dos dois quadros atrás apresentados permite aferir que nem todas as unidades mu-
seológicas apresentam espaços domésticos, íntimos ou sociais nas suas estruturas organiza-
cionais e expositivas, não se enquadrando, desta forma, no âmbito das casas-museu segundo
ele é entendido nesta dissertação. Para além do exposto, não se deve deixar de equacionar
que algumas das unidades museológicas que apresentam estes espaços, os mesmos não se
relacionam com nenhuma personalidade em concreto, sendo antes recriações dos responsáveis
pela criação dos museus, para desta forma apresentarem ao publico espaços representativos de
determinada época ou região. A maior predominância de instituições onde se verifica a presença
de espaços quotidianos, domésticos e sociais, com um relacionamento directo entre o patrono e
a casa, assim como com a colecção é no âmbito das casas-museu tuteladas pelo IPM, Câmaras
Municipais e Fundações, as quais apresentam uma actividade museológica mais desenvolvida.

Pela observação dos dados referentes à organização do espaço museológico, na sequência de


informação atrás disponibilizada, constata-se que os patronos nem sempre estão implicados na
criação da casa-museu. Para além deste facto, muitas unidades museológicas deste tipo, vêm
ao longo dos anos a sofrer remodelações e beneficiações que vão sucessivamente alterando o
espaço original. Por outro lado, como se pode observar pela quadro referente à existência de
patrono, um significativo número de instituições não está dedicada a nenhuma personalidade em
concreto pelo que não é possível a identificação organizacional com nenhuma personalidade em
especifico.

Organização pelo Patrono

40
37
sim
30 não
não aplicável
20
17 ambas
alterada
10
1 4 1
0

As alterações aos espaços de base, vieram, como se referiu, criando uma significativa adapta-
ção das áreas a novas funcionalidades, no sentido de ampliar as áreas de exposição, criar outros
serviços ou actividades. Estes novos espaços, segundo se pode determinar pelos dados recolhi-
dos situam-se, em algumas unidades museológicas, nas áreas domésticas originais, ou seja, no
seio da casa-museu. Noutras situações, segundo se entende, mais correctamente, em edifícios
que se anexam ao primeiro no sentido de ampliar a área e a capacidade de dar novas respostas
às exigências do trabalho museológico contemporâneo.

115
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Novos Espaços

50 50

40 sim
não
30
não aplicável
20 ambas

10 8
1 1
0

2.4.2. Tabelas de integração das Casas-Museu Portuguesas nas Propostas de Classifica-


ção das Casas-Museu

A análise dos inquéritos em estudo, assim como de outras fontes de informação e as entrevis-
tas realizadas permitem verificar que algumas das denominadas casas-museu não passam de
meras salas de exposição sobre variadas temáticas, podendo outras ser consideradas estrutu-
ras museológicas generalistas e, outras ainda podem ser classificadas como museus de arte,
etnográficos ou de personalidade. Mesmo utilizando as classificações tipológicas descritas de
S. Butcher Younghans, Rosana Pavonni e Ornela Selvafolta, assim como G. H. Rivière e Linda
Young, ou a apresentada na revista Museion conclui-se que em Portugal as referidas casas-mu-
seu devem ser classificadas sem se utilizar a palavra casa95, porque estas estruturas nada têm
a ver com os sistemas de vida doméstica quotidiana.

Assim, procedeu-se à integração das casas-museu portuguesas nas propostas de classificação


internacional, no sentido de aferir a sua adequabilidade à realidade nacional.

Quadro de relação das Casas-Museu Portuguesas na proposta apresentada no artigo publicado


na revista Museion em 1934 (S/A 1934: 283).

Casas-Museu Portuguesas que se podem integrar


Tipologia Características
nestas tipologias

Colecções constituídas 2- Casa-Museu Manuel Mendes


por manuscritos, 5- Casa-Museu Leal da Câmara
- Casas de Interesse
correspondência, escritos, 10- Casa-Oficina António Carneiro
Biográfico
biografias, recortes, objectos 11- Casa-Museu de Camilo
pessoais, trabalhos diversos. 16- Casa-Museu Fernando Namora

95 Segundo Ana Margarida Martins, “ [...] a casa revela-nos nas suas formas diferentes de ocupação, como um produto
que depende e reflecte os valores sócio-culturais, políticos e religiosos da comunidade local onde está inserida. [...] os
interiores da casa vão poder revelar aspectos da personalidade, não só pelas funções utilitárias conferidas a cada espa-
ço, mas também noutros aspectos mais simbólicos, inerentes à própria forma de habitar a casa.” (MARTINS 1996: 88)

116
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

17- Casa-Museu José Régio – VC


32- Casa-Museu Abel Salazar
52- Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro
60- Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia

1- Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves


4- Casa-Museu Fernando de Castro
6- Casa-Museu Egas Moniz
- Casas de Interesse 7- Casa-Museu dos Patudos
Social Objectos que documentam
8- Casa-Museu Pintor José Cercas
a vida quotidiana dos
9- Casa-Museu Guerra Junqueiro
ocupantes, cartas,
14- Casa-Museu Teixeira Lopes
quadros, objectos
18- Casa-Museu José Régio – P
pessoais, decoração e
19- Casa-Museu Ferreira de Castro
vestuário
35- Casa-Museu Frederico de Freitas
50- Casa-Museu Bissaya Barreto
51- Casa-Museu Eng.º António de Almeida
55- Casa-Museu Nogueira da Silva

12- Casa Rural Tradicional – Museu


Etnográfico da Chamusca
13- Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio
19- Casa-Museu João de Deus
24- Casa-Museu Soledad Malvar
26- Casa da Malta – Museu Mineiro
Objectos de diferentes 27- Casa-Museu de S. Jorge da Beira
- Casas de Interesse Períodos e utilizações, 30- Casa Tradicional da Glória do Ribatejo
Histórico Local armas, uniformes, alfaias 34- Casa-Museu de Paúl
agrícolas, entre outros 40- Casa da Malta – Museu Nacional do Vinho
43- Casa-Museu de Aljustrel
45- Casa-Museu Padre Belo
48- Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira
49- Casa-Museu Maria Emilia Vasconcelos Cabral
56- Casa-Museu de Monção
59- Casa-Museu do Pescador da Nazaré

Casas que podem não se enquadrar em nenhuma das categorias

20- Casa de Bocage – Museu de Personalidade


22- Casa Memorial Lopes Graça – Museu de Personalidade
25- Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia – Museu de Personalidade
29- Casa-Museu Palmira Bastos – Museu de Personalidade
33- Casa Memorial Humberto Delgado – Museu de Personalidade

2- Casa-Museu Almeida Moreira – Museu de Arte


42- Casa-Museu Comendador Nunes Correia – Museu de Arte
44- Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco – Museu de Arte Sacra
47- Casa-Museu Maurício Penha – Museu de Arte
54- Casa-Museu Mário Botas – Museu de Arte
57- Casa-Museu Maria da Fontinha – Museu de Arte

28- Casa-Museu do Jarmelo – Museu Etnográfico


31- Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis – Museu Etnográfico
38- Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores – Museu Etnográfico
46- Casa da Cultura António Bentes – Museu do Trajo do Algarve – Museu Etnográfico
58- Casa Agrícola José Mota Cortes – Museu Etnográfico

39- Casa-Museu S. Rafael – Museu de Empresa


41- Casa-Museu Ramos Pinto – Museu de Empresa

36- Casa de Colombo – Museu de História

15- Casa Roque Gameiro - Centro Cultural / Estudos / Documentação


21- Casa Fernando Pessoa - Centro Cultural / Estudos / Documentação
37- Casa-Museu Armando Cortes Rodrigues - Centro Cultural / Estudos / Documentação
53- Casa-Museu João Soares - Centro Cultural / Estudos / Documentação

117
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro de relação das Casas-Museu Portuguesas com a proposta de classificação


apresentada por Georges Henry Rivière (RIVIÈRE 1985: 240-243).

Casas-Museu Portuguesas que se podem integrar


Tipologia Características
nestas tipologias
- Casas Históricas - Espaços relacionados com
- Castelos e Palácio a habitação das classes
de Soberania dominantes
- Palácios que depois do seu
período áureo apresentam
problemas de sustentabilidade e
- Casas Históricas
conservação;
- Castelos Privados
- Abrem temporariamente ao
público, para fazer face às
despesas
1- Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
3- Casa-Museu Manuel Mendes
4- Casa-Museu Fernando de Castro
5- Casa-Museu Leal da Câmara
6- Casa-Museu Egas Moniz
7- Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça
8- Casa-Museu Pintor José Cercas
9- Casa-Museu Guerra Junqueiro
10- Casa Oficina António Carneiro
11- Casa-Museu de Camilo
- Casas Históricas 14- Casa-Museu Teixeira Lopes
- Casas de notáveis, - Espaços relacionados com as 16- Casa-Museu Fernando Namora
artistas, escritores ou colecções de pessoas notáveis 17- Casa-Museu José Régio de Vila do Conde
cientistas 18- Casa-Museu José Régio de Portalegre
19- Casa-Museu João de Deus
23- Casa-Museu Ferreira de Castro
32- Casa-Museu Abel Salazar
35- Casa-Museu Frederico de Freitas
45- Casa-Museu Padre Belo
51- Casa-Museu Eng.º António de Almeida
50- Casa-Museu Bissaya Barreto
52- Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro
55- Casa-Museu Nogueira da Silva
60- Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia
12- Casa Rural Tradicional – Museu Etnográfico da
Chamusca
26- Casa da Malta – Museu Mineiro
- Equipamentos que traduzem a
27- Casa-Museu de S. Jorge da Beira
tradição de um certo local;
- Casas Rurais 30- Casa Tradicional da Glória do Ribatejo
- Descontextualizadas podem ser
34- Casa-Museu de Paúl
colocadas num qualquer museu
40- Casa da Malta - Museu Nacional do Vinho
43- Casa-Museu de Aljustrel
59- Casa-Museu do Pescador da Nazaré

Casas que podem não se enquadrar em nenhuma das categorias


20- Casa de Bocage – Museu de Personalidade
22- Casa Memorial Lopes Graça – Museu de Personalidade
25- Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia – Museu de Personalidade
29- Casa-Museu Palmira Bastos – Museu de Personalidade
33- Casa Memorial Humberto Delgado – Museu de Personalidade

2- Casa-Museu Almeida Moreira – Museu de Arte


42- Casa-Museu Comendador Nunes Correia – Museu de Arte
44- Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco – Museu de Arte Sacra
47- Casa-Museu Maurício Penha – Museu de Arte
54- Casa-Museu Mário Botas – Museu de Arte
57- Casa-Museu Maria da Fontinha – Museu de Arte

28- Casa-Museu do Jarmelo – Museu Etnográfico


31- Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis – Museu Etnográfico
38- Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores – Museu Etnográfico
46- Casa da Cultura António Bentes – Museu do Trajo do Algarve – Museu Etnográfico
58- Casa Agrícola José Mota Cortes – Museu Etnográfico

118
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

39- Casa-Museu S. Rafael – Museu de Empresa


41- Casa-Museu Ramos Pinto – Museu de Empresa

36- Casa de Colombo – Museu de História

15- Casa Roque Gameiro - Centro Cultural / Estudos / Documentação


21- Casa Fernando Pessoa - Centro Cultural / Estudos / Documentação
37- Casa-Museu Armando Cortes Rodrigues - Centro Cultural / Estudos / Documentação
53- Casa-Museu João Soares - Centro Cultural / Estudos / Documentação

13- Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio – Casa-Museu (Caracterização de época)


24- Casa-Museu Soledad Malvar – Casa-Museu (Vertente de Coleccionador não notável)
48- Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira – Casa-Museu (Vertente de Coleccionador não notável)
49- Casa-Museu Maria Emilia Vasconcelos Cabral – Casa-Museu (Vertente de Coleccionador não notável)
56- Casa-Museu de Monção – Casa-Museu (Caracterização de época)

Quadro de relação das Casas-Museu Portuguesas com a classificação proposta por Sherry
Butcher Younghans (BUTCHER YOUNGHANS 1993: 184-186).
Casas-Museu Portuguesas que se podem integrar
Tipologia Características
nestas tipologias
1- Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
- Apresentam a vida de uma 3- Casa-Museu Manuel Mendes
personagem famosa, rica 4- Casa-Museu Fernando de Castro
- Objectivo: apresentar a 7- Casa-Museu dos Patudos
personagem com os objectos 8- Casa-Museu Pintor José Cercas
- Casas-Museu
e casa, se possível, no lugar 17- Casa-Museu José Régio de Vila do Conde
Documentárias
original 18- Casa-Museu José Régio de Portalegre
- Podem apresentar uma 45- Casa-Museu Padre Belo
sociedade elitista 48- Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira
51- Casa-Museu Eng.º António de Almeida
60- Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia

- Documentam um estilo, uma 9- Casa-Museu Guerra Junqueiro


época ou modo de vida 12- Casa Rural Tradicional da Chamusca
- Podem reconstruir ambientes 19- Casa-Museu João de Deus
utilizando objectos não originais 26- Casa da Malta – Museu Mineiro
- Casas-Museu - Representam determinados 27- Casa-Museu de S. Jorge da Beira
Representativas estilos de arquitectura 30- Casa Tradicional de Glória do Ribatejo
- Representam um período 34- Casa-Museu do Paúl
histórico 40- Casa da Malta – Museu Nacional do Vinho
- Pretendem mais mostrar 43- Casa-Museu de Aljustrel
grupos do que individualidades 59- Casa-Museu do Pescador da Nazaré

- Expõem colecções de arte de


grande qualidade, mobiliário
e antiguidades de diferentes
períodos
13- Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio
- A casa serve de contentor,
24- Casa-Museu Soledad Malvar
não sendo determinante
49- Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcelos
a personalidade ou
- Casas-Museu Estéticas Cabral
acontecimento que decorreu no
55- Casa-Museu Nogueira da Silva
espaço
56- Casa-Museu de Monção
- Quando as exposições são
organizadas segundo uma
determinada formatação
doméstica dão origem a “period
rooms”
- Podem apresentar a
decoração original ao tempo 5- Casa-Museu Leal da Câmara
da vivência do patrono 6- Casa-Museu Egas Moniz
(documentárias) 10- Casa Oficina António Carneiro
- Outras salas apresentam 11- Casa-Museu de Camilo
exposições temáticas de 14- Casa-Museu Teixeira Lopes
- Casas-Museu que combinam
diferentes tipologias de 16- Casa-Museu Fernando Namora
as três categorias anteriores
colecções (estéticas) 23- Casa-Museu Ferreira de Castro
- Alguns espaços funcionam 32- Casa-Museu Abel Salazar
como sedes de sociedades 35- Casa-Museu Frederico de Freitas
históricas, ou dão abrigo 50- Casa-Museu Bissaya Barreto
a museus etnográficos 52- Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro
(representativas)

119
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas que não se enquadram em nenhuma das categorias


20- Casa de Bocage – Museu de Personalidade
22- Casa Memorial Lopes Graça – Museu de Personalidade
25- Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia – Museu de Personalidade
29- Casa-Museu Palmira Bastos – Museu de Personalidade
33- Casa Memorial Gen. Humberto Delgado – Museu de Personalidade

2- Casa-Museu Almeida Moreira – Museu de Arte


42- Casa-Museu Comendador Nunes Correia – Museu de Arte
44- Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco – Museu de Arte Sacra
47- Casa-Museu Maurício Penha – Museu de Arte
54- Casa-Museu Mário Botas – Museu de Arte
57- Casa-Museu Maria da Fontinha – Museu de Arte

28- Casa-Museu de Jarmelo – Museu Etnográfico


31- Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis – Museu Etnográfico
38- Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores – Museu Etnográfico
46- Casa da Cultura António Bentes – Museu do Trajo do Algarve – Museu Etnográfico
58- Casa Agrícola José Mota Cortes – Museu Etnográfico

39- Casa-Museu S. Rafael – Museu de Empresa


41- Casa-Museu Ramos Pinto – Museu de Empresa

36- Casa de Colombo – Museu de História

15- Casa Roque Gameiro – Centro Cultural / Estudos / Documentação


21- Casa Fernando Pessoa – Centro Cultural / Estudos / Documentação
37- Casa-Museu Armando Cortês-Rodrigues – Centro Cultural / Estudos / Documentação
53- Casa-Museu João Soares – Centro Cultural / Estudos / Documentação

Quadro de relação das Casas-Museu Portuguesas com a proposta de classificação apresentada


por Rosana Pavonni e Ornella Selvafolta (PAVONNI e SELVAFOLTA 1997: 35-36).

Casas-Museu Portuguesas que se podem integrar


Tipologia Características
nestas tipologias
- Funções inerentes à
designação
- Devem ser separados
- Palácios Reais aqueles que mantêm funções
residenciais daqueles que
têm unicamente funções
residenciais
1- Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
3- Casa-Museu Manuel Mendes
4- Casa-Museu Fernando de Castro
6- Casa-Museu Egas Moniz
- Identificam uma 7- Casa-Museu dos Patudos
personalidade através dos 9- Casa-Museu Guerra Junqueiro
seus objectos pessoais ou da 11- Casa-Museu de Camilo
- Casas de pessoas
sua actividade profissional; 17- Casa-Museu José Régio de Vila do Conde
eminentes
- São geralmente as casas 18- Casa-Museu José Régio de Portalegre
onde nasceram ou habitaram 19- Casa-Museu João de Deus
essas personalidades 23- Casa-Museu Ferreira de Castro
32- Casa-Museu Abel Salazar
50- Casa-Museu Bissaya Barreto
51- Casa-Museu Eng.º António de Almeida
60- Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia
5- Casa-Museu Leal da Câmara
- Criadas para promoção de um 8- Casa-Museu Pintor José Cercas
artista ou da sua obra; 10- Casa Oficina António Carneiro
- Casas criadas por artistas
- expõem as suas obras ou os 14- Casa-Museu Teixeira Lopes
seus modelos 16- Casa-Museu Fernando Namora
52- Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro
- Contextualizam peças de arte
ou mobiliário numa determinada
- Casas dedicadas a estilos ou 13- Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio
época;
épocas 56- Casa-Museu de Monção
- Interpretação e criação da
exposição por um museólogo

120
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

- Não contemplam um discurso


24- Casa-Museu Soledad Malvar
museológico;
35- Casa-Museu Frederico de Freitas
- Têm por função expor
45- Casa-Museu Padre Belo
- Casas de Coleccionadores e conservar determinada
48- Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira
colecção;
55- Casa-Museu Nogueira da Silva
- Evoluem no sentido de se
transformarem em museus
- Nascem e desenvolvem-se
como museus familiares; 49- Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcelos
- Casas de Família
- Representam um Cabral
determinado estatuto social
12- Casa Rural Tradicional da Chamusca
- Representam gostos de
26- Casa da Malta – Museu Mineiro
grupos sociais ou profissionais;
27- Casa-Museu de S. Jorge da Beira
- Estão muitas vezes
- Casas com identidade social 30- Casa Tradicional da Glória do Ribatejo
relacionadas com a presença
e cultura específica 34- Casa-Museu de Paúl
de objectos de trabalho;
40- Casa da Malta – Museu Nacional do Vinho
- Podem transformar-se em
43- Casa-Museu de Aljustrel
museus de folclore
59- Casa-Museu do Pescador da Nazaré

Casas que podem não se enquadrar em nenhuma das categorias


20- Casa de Bocage – Museu de Personalidade
22- Casa Memorial Lopes Graça – Museu de Personalidade
25- Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia – Museu de Personalidade
29- Casa-Museu Palmira Bastos – Museu de Personalidade
33- Casa Memorial Humberto Delgado – Museu de Personalidade

2- Casa-Museu Almeida Moreira – Museu de Arte


42- Casa-Museu Comendador Nunes Correia – Museu de Arte
44- Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco – Museu de Arte Sacra
47- Casa-Museu Maurício Penha – Museu de Arte
54- Casa-Museu Mário Botas – Museu de Arte
57- Casa-Museu Maria da Fontinha – Museu de Arte

28- Casa-Museu de Jarmelo – Museu Etnográfico


31- Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis – Museu Etnográfico
38- Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores – Museu Etnográfico
46- Casa da Cultura António Bentes – Museu do Trajo do Algarve – Museu Etnográfico
58- Casa Agrícola José Mota Cortes – Museu Etnográfico

39- Casa-Museu S. Rafael – Museu de Empresa


41- Casa-Museu Ramos Pinto – Museu de Empresa

36- Casa de Colombo – Museu de História

15- Casa Roque Gameiro – Centro Cultural / Estudos / Documentação


21- Casa Fernando Pessoa – Centro Cultural / Estudos / Documentação
37- Casa-Museu Armando Cortês-Rodrigues – Centro Cultural / Estudos / Documentação
53- Casa-Museu João Soares – Centro Cultural / Estudos / Documentação

Quadro de relação das Casas-Museu Portuguesas com a classificação proposta por Linda Young
(YOUNG 2006).

Casas-Museu Portuguesas que se podem integrar


Tipologia Características
nestas tipologias
1- Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves
3- Casa-Museu Manuel Mendes
- São espaços onde viveram ou 4- Casa-Museu Fernando de Castro
passaram pessoas importantes, 5- Casa-Museu Leal da Câmara
- Casas de Heróis e a permitindo interpretar a história 6- Casa-Museu Egas Moniz
museologia dos significados do homenageado; 7- Casa dos Patudos –Museu de Alpiarça
intangíveis - Estão associadas à 10- Casa Oficina António Carneiro
necessidade de criar um 11- Casa-Museu de Camilo
panteão de heróis; 16- Casa-Museu Fernando Namora
17- Casa-Museu José Régio de Vila do Conde
18- Casa-Museu José Régio de Portalegre

121
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

19- Casa-Museu João de Deus


23- Casa-Museu Ferreira de Castro
32- Casa-Museu Abel Salazar
52- Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro
60- Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia
- Estas casas definem-se 8- Casa-Museu Pintor José Cercas
pela presença de colecções 9- Casa-Museu Guerra Junqueiro
ou material de alto valor 13- Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio
intrínseco; 14- Casa-Museu Teixeira Lopes
- Está presente a necessidade 24- Casa-Museu Soledad Malvar
de manter as colecções 35- Casa-Museu Frederico de Freitas
- Casas de Colecção e a
intactas; 45- Casa-Museu Padre Belo
museologia de colecções
- Para não se confundirem 48- Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira
intactas
com museus generalistas, 49- Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcelos
deve manter-se a disposição Cabral
expositiva deixada pelo 50- Casa-Museu Bissaya Barreto
homenageado, no sentido 51- Casa-Museu Eng.º António de Almeida
de se preservarem os 55- Casa-Museu Nogueira da Silva
significados; 56- Casa-Museu de Monção
- Apresentam a casa como
uma criação artística,
- Contém objectos de
- Casas de Design e a importância estética para os
museologia da experiência visitantes;
estética num ambiente - A casa e a colecção são
histórico importantes, devendo
estes ser apreciados em
todas as dimensões, muito
especialmente, as estéticas;
- Estão relacionadas com
acontecimentos importantes
26- Casa da Malta – Museu Mineiro
da História;
- Casas de Acontecimentos 40- Casa da Malta – Museu Nacional do Vinho
- Os seus habitantes não são
ou casas de processos e a
pessoas importantes;
museologia da representação
- Tendem a contar a história
de pessoas e classes menos
favorecidas;

- Constituem uma tipologia


especifica de casas-museu;
- Casas de Campo Inglesas - Eram na maioria residências
de famílias nobres;
- Apresentam um estilo de vida;

- Casas-museu criadas sem


12- Casa-Rural Tradicional – Museu Etnográfico da
grande sentido;
Chamusca
- Casas onde se colocam
27- Casa-Museu S. Jorge da Beira
- Casas de Sentimento e a peças que resultaram de
30- Casa Tradicional da Glória do Ribatejo
museologia alternativa uma recolha;
34- Casa-Museu do Paúl
- Têm sentido para as
43- Casa-Museu de Aljustrel
comunidades onde se
59- Casa-Museu do Pescador da Nazaré
inserem;

Casas que podem não se enquadrar em nenhuma das categorias


20- Casa de Bocage – Museu de Personalidade
22- Casa Memorial Lopes Graça – Museu de Personalidade
25- Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia – Museu de Personalidade
29- Casa-Museu Palmira Bastos – Museu de Personalidade
33- Casa Memorial Humberto Delgado – Museu de Personalidade

2- Casa-Museu Almeida Moreira – Museu de Arte


42- Casa-Museu Comendador Nunes Correia – Museu de Arte
44- Casa-Museu da Ordem 3º de S. Francisco – Museu de Arte Sacra
47- Casa-Museu Maurício Penha – Museu de Arte
54- Casa-Museu Mário Botas – Museu de Arte
57- Casa-Museu Maria da Fontinha – Museu de Arte

28- Casa-Museu de Jarmelo – Museu Etnográfico


31- Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis – Museu Etnográfico

122
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

38- Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores – Museu Etnográfico
46- Casa da Cultura António Bentes – Museu do Trajo do Algarve - Museu Etnográfico
58- Casa Agrícola José Mota Cortes – Museu Etnográfico

39- Casa-Museu S. Rafael – Museu de Empresa


41- Casa-Museu Ramos Pinto – Museu de Empresa

36- Casa de Colombo – Museu de História

15- Casa Roque Gameiro – Centro Cultural / Estudos / Documentação


21- Casa Fernando Pessoa – Centro Cultural / Estudos / Documentação
37- Casa-Museu Dr. Armando Cortes Rodrigues – Centro Cultural / Estudos / Documentação
53- Casa-Museu João Soares – Centro Cultural / Estudos / Documentação

Encerradas ao público e sem actividade


Casa-Museu do Pechão
Casa-Museu Marques da Silva
Casa-Museu João da Silva
Casa-Museu de Ferro
Casa-Museu de Penacova

Outras de que não dispomos de informação


Casa-Museu Joaquim Ferreira
Casa-Museu José Antunes Pissarra
Casa-Museu Manuel Luciano da Silva

A proposta apresentada no artigo da revista Museion, apesar de pioneira, e por isso merecer aten-
ção, do ponto de vista operacional e face à realidade portuguesa não parece muito aplicável, pois,
se fosse esse o entender deste estudo, muitas das instituições que se colocaram fora das suas
categorias poderiam ser ainda consideradas no âmbito dos diferentes tipos de casas-museu.

Apesar da validade da proposta apresentada por Rivière, e da importância que esta assume,
apresenta-se de certo modo redutora, uma vez que não integra as casas-museu e respectivas
colecções, que se dedicam ao estudo de personalidades menos notáveis da sociedade. Por
outro lado, esta classificação integra casas-museu que, segundo a análise apresentada nesta
dissertação, se situam no âmbito dos museus de etnografia, uma vez que na sua génese não
existem vivências específicas.

As tabelas atrás apresentadas não corresponderão, certamente, à proposta de classificação das


casas-museu em Portugal, que, à frente, será exposta. Nas listas das casas-museu que não se
enquadram em nenhuma das categorias, estão unidades museológicas que, de facto, se inte-
gram no domínio das casas-museu originais ou reconstituídas, de colecções ou representativas
de épocas.

Mais de acordo com a realidade portuguesa, a proposta de classificação de Butcher Younghans,


ainda permite a integração de casas-museu de fundamentação duvidosa, nomeadamente as de

123
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

cariz etnográfico, ao assumir que as casas-museu representativas podem representar períodos


da história, ou grupos sociais, sem referências específicas às vivências quotidianas de alguém.

A proposta de classificação apresentada por Rosana Pavonni e Ornella Selvafolta, apesar da


grande distribuição das unidades museológicas por outras tantas tipologias, abre portas a unida-
des museológicas portuguesas que em nada se integram na tipologia das casas-museu. Por seu
lado, a classificação de Linda Young apresenta um conjunto de realidades especificas, que nada
têm a ver com a realidade portuguesa.

Assim, embora todas as propostas sejam válidas, pelo seu esforço organizacional, todas ne-
cessitam de ajustes para a realidade portuguesa. Apesar disso, aquela que, de acordo com os
pressupostos preconizados nesta dissertação, mais se adequa à realidade nacional é a de Bu-
tcher Younghans.

Depois de distribuídas pelas diferentes propostas internacionais de classificação, percebe-se


que aquelas que se adequam menos à realidade portuguesa são a da revista Museion e a
de George Henry Riviére, uma vez que os seus pressupostos integram e deixam de fora um
conjunto de casas-museu que não se conseguem integrar nas diferentes categorias equacio-
nadas.

Relativamente às restantes três propostas classificativas, todas elas permitem enquadrar aque-
las unidades consideradas casas-museu, à luz do entendimento apresentado nesta dissertação,
deixando de fora as instituições museológicas que se enquadram no âmbito de museus com
especificidades diferenciadas.

2.4.3. Proposta de classificação das casas-museu portuguesas96

Depois da análise da possibilidade de enquadramento das casas-museu portuguesas no âm-


bito das propostas de classificação internacionais, apresentam-se, de seguida, as propostas
de categorias de classificação das casas-museu portuguesas seleccionadas para esta disser-
tação, separando-se de acordo com a sua fundação, objectivos e modos de apresentação ao
público.

96 No anexo 11 apresenta-se uma descrição de cada unidade museológica que enquadra a opção de classificação tomada.

124
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

1. Casa-Museu97

Categoria 1 – Casa-Museu Original

É uma unidade museológica localizada num edifício onde residiu, por um determinado período
de tempo, mais ou menos longo, a personalidade que se pretende homenagear, preservando, o
mais fielmente possível, não só o seu aspecto arquitectónico original, mas a decoração dos es-
paços, onde os objectos devem ser conservados, sem prejuízo da sua conservação, nos locais
onde foram deixados pelo patrono, documentando assim uma forma de vida, uma personalidade,
um certo gosto, permitindo um contacto directo entre o visitante, a figura que habitou esse lugar
e as colecções que o integram.

1 Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves IPM


3 Casa-Museu Manuel Mendes IPM – Museu do Chiado
4 Casa-Museu Fernando de Castro IPM – Museu Nacional Soares dos Reis
5 Casa-Museu Leal da Câmara Câmara Municipal de Sintra
6 Casa-Museu Egas Moniz Câmara Municipal de Estarreja
7 Casa-Museu dos Patudos Câmara Municipal de Alpiarça
8 Casa-Museu Pintor José Cercas Câmara Municipal de Aljezur
14 Casa-Museu Teixeira Lopes Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
17 Casa-Museu José Régio -VC Câmara Municipal de Vila do Conde
18 Casa-Museu José Régio -P Câmara Municipal de Portalegre
32 Casa-Museu Abel Salazar Associação Divulgadora de Abel Salazar
40 Casa da Malta – MN do Vinho Instituto da Vinha e do Vinho
45 Casa-Museu Padre Belo Santa Casa da Misericórdia do Crato
48 Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Fundação Solheiro Madureira
50 Casa-Museu Bissaya Barreto Fundação Bissaya Barreto
51 Casa-Museu Eng.º António de Almeida Fundação Eng.º António de Almeida
60 Casa-Museu Dr. Horácio Bentes Gouveia Particular – Dr. Américo Soares

Casas-Museu Originais

Câmaras Municipais
7
IPM
Associações
Empresas
3 3
Instituições Religiosas

1 1 1 1 Fundações
Particulares

97 Ao analisar as definições de museus apresentadas no Relatório ao Inquérito dos Museus em Portugal, nomeada-
mente as definições apresentadas para os diferentes tipos de unidades museológicas existentes, entende-se enqua-
drar as casas-museu no âmbito dos museus especializados, pois das definições apresentadas, é nesta que melhor se
enquadram estas instituições museológicas. A definição criada pelos autores deste estudo para museus especializa-
dos contempla: “museus preocupados com a pesquisa e exposição de todos os aspectos relativos ao tema ou sujeito
particular...”. A UNESCO entende que estes museus são: “museus preocupados com a pesquisa e exposição de todos
os aspectos relativos a um tema ou sujeito particular...”. (SILVA e SANTOS 2000: 171).

125
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Categoria 2 – Casa-Museu Reconstituída

Estas casas-museu podem localizar-se num edifício onde a personalidade homenageada tenha
vivido, ou num outro onde se reconstituem os ambientes e a decoração original, recorrendo-se,
para isso, a colecções e objectos dessa personalidade, ou outros que lhes sejam semelhantes,
sendo esta montagem baseada em indicações fornecidas pelo patrono, ou fruto de um processo
de investigação que permita conhecer de que forma se organizavam os espaços domésticos da
figura tutelar, que se pretendem reconstituir.

O objectivo é que se percepcionem e se possam contactar os espaços íntimos e sociais do quo-


tidiano da personagem que se ilustra na casa-museu, as suas colecções, os seus gostos e a sua
personalidade. Apesar de não serem espaços originais, devem representar, fidedignamente, os
mesmos, facilitando, desta forma, o contacto directo com a figura homenageada no espaço.

9 Casa-Museu Guerra Junqueiro Câmara Municipal do Porto


11 Casa-Museu de Camilo Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
16 Casa-Museu Fernando Namora Câmara Municipal de Condeixa-A-Nova
19 Casa-Museu João de Deus Câmara Municipal de Silves
23 Casa-Museu Ferreira de Castro Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis
52 Casa-Museu Biblioteca Aquilino Ribeiro Fundação Aquilino Ribeiro

Casas-Museu Reconstituídas

5 5

4
Câmaras Municipais
3
Fundações
2

1 1

Categoria 3 – Casa-Museu Estética / Colecção

São casas-museu que se localizam nos espaços de vivência do homenageado, sendo, todavia,
o seu principal objectivo apresentar as colecções que este reuniu ao longo da sua vida, não
sendo a tónica essencial colocada no conhecimento da personalidade do patrono, mas nas suas
colecções. Assim, em muitos casos, a decoração pode ser alterada com vista a uma melhor per-
cepção do acervo exposto, mantendo, porém, a organização ao longo dos diferentes espaços
domésticos.

126
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Estas unidades museológicas dão um contributo essencial na divulgação, conservação das co-
lecções e na preservação da unidade das mesmas, evitando que estas se dispersem entre her-
deiros ou em vendas diversas, quando não existam sucessores.

24 Casa-Museu Soledad Malvar Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão


35 Casa-Museu Frederico de Freitas Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira
49 Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcelos Cabral Fundação D.ª Maria Emilia Vasconcelos Cabral
55 Casa-Museu Nogueira da Silva Universidade do Minho

Casas-Museu Estéticas / Colecção

1 1 1 1
Câmaras Municipais
Fundações
Universidades
Direcções Regionais

Categoria 4 – Casa-Museu de Época “Period Rooms”

Estas casas-museu organizam-se em espaços de vivência originais, ou noutros que recriam


espaços íntimos e sociais do quotidiano doméstico do patrono, ou sem referências pessoais
específicas, recorrendo a colecções ou acervos do homenageado.

A exposição é organizada com o objectivo de transmitir conhecimentos sobre tipos de decoração


ou formas de vida em determinada época. A decoração poderá ser original ou reconstituída, po-
dendo promover-se no mesmo edifício a apresentação de várias épocas, sendo, assim, criados
vários “period rooms”.

13 Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto


56 Casa-Museu de Monção Universidade do Minho

Casas-Museu de Época

1 1

Câmaras Municipais
Universidades

127
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas-Museu / Tutelas

IPM
15 Câmaras Municipais
Associações
Direcções Regionais
Empresas
Instituições Religiosas
5 Fundações
3 Universidades
1 1 2
1 1 1 Particulares

Ao analisar a informação referente a estas instituições museológicas, nomeadamente as tute-


las dominantes no universo das casas-museu, constata-se que as casas-museu originais se
encontram, predominantemente, no âmbito tutelar das Câmaras Municipais, uma vez que estas
recebem legados e doações de personalidades locais, às quais pretendem prestar homenagem,
como forma de valorização da localidade, afirmando-se como o berço ou a localidade escolhida
por alguém famoso para residir, preservando intacta a sua residência. Por outro lado, pessoas
que desenvolveram colecções ao longo da sua vida, umas de grande importância patrimonial, a
par de outras de interesse relativo, procuram garantir a salvaguarda dos seus acervos através
da doação às autarquias locais, às quais deixam um conjunto de cláusulas de salvaguarda, no
sentido de serem mantidos os espaços e as colecções tal como os doadores as deixam. As Câ-
maras Municipais são sempre muito sensíveis a estes legados, os quais são muitas vezes alvo
do controlo das populações locais, o que obriga a um cuidado especial a estas unidades vigiadas
pelos concidadãos da terra.

As casas-museu reconstituídas, mais uma vez, gravitam em torno das autarquias municipais e
das Fundações, reconstituindo espaços de vivência quotidiana de uma figura ilustre da terra ou
do Epónimo da Fundação, sendo os objectivos semelhantes exibidos nas casas-museu origi-
nais. As casas-museu que apresentam colecções situam-se no âmbito de quatro tipos de tutelas
que, promovem um trabalho museológico de qualidade, visando preservar a memória, mas, so-
bretudo, os acervos legados pelos homenageados, conservando objectos artísticos de grande
qualidade. As casas-museu que recriam épocas, salvaguardam colecções que, para além da sua
importância intrínseca, originam instituições museológicas organizadas pelos homenageados ou
por sua indicação, recriando períodos cronológicos, podendo dar origem a um conjunto diversi-
ficado de “period rooms” no mesmo espaço físico, distribuindo-se, nesta amostra, do ponto de
vista da tutela de Câmaras Municipais e de Universidades.

Em todas estas categorias de casas-museu está implícita a noção de homenagem a um conjunto


de personalidades, através dos seus espaços e dos acervos que constituíram ao longo da sua
vida. Globalmente, o universo das casas-museu, em Portugal, é garantido pelo IPM (apesar do
reduzido número de instituições deste género nesta tutela), pelas Câmaras Municipais e por

128
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Fundações. Podem ainda constatar-se outras tutelas, públicas e privadas, todavia, pouco ex-
pressivas.

Apesar do grande número com que inicialmente se iniciou o presente estudo, esta dissertação
pretende dar um contributo para a clarificação desta realidade museológica, aferindo as ver-
dadeiras casas-museu, separando-as por categorias, e das outras unidades museológicas de
tipologia diversa, como de seguida se refere.

2.4.4. Unidades Museológicas que se inserem noutras tipologias de Museus

Após a apresentação da proposta de classificação das casas-museu e depois de aferidas as ca-


racterísticas das instituições museológicas vulgarmente integradas nessa tipologia, entendeu-se
integrar aquelas que não preenchem os requisitos para serem casas-museu noutras categorias
de museus, cuja proposta se expõe de seguida.

Museus Etnográficos

São unidades museológicas cujo principal objectivo se dirige no sentido da preservação de


acervos patrimoniais, testemunhos e tradições de uma localidade, região ou país. Apesar de,
em alguns casos, poderem estar apresentados segundo um determinado tipo de organização
doméstica, estas instituições não têm referências específicas ao quotidiano de alguém98.

12 Casa Rural Tradicional - Museu Etnográfico da Chamusca Câmara Municipal da Chamusca


26 Casa da Malta - Museu Mineiro Junta de Freguesia de S. Pedro da Cova
27 Casa-Museu de S. Jorge da Beira Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira
28 Casa-Museu de Jarmelo Junta de Freguesia de S. Pedro de Jarmelo
Associação de Defesa do Património Etnográfico e Cultural de
30 Casa Tradicional da Glória do Ribatejo
Glória do Ribatejo
31 Casa-Museu Regional de Oliv. de Azeméis Associação da Casa-Museu de Oliveira de Azeméis
34 Casa-Museu de Paúl Casa do Povo de Paúl
38 Casa de Derreter Baleias das Lajes Câmara Municipal de Lajes das Flores
43 Casa-Museu de Aljustrel Santuário de Fátima
Casa da Cultura António Bentes
46 Santa Casa da Misericórdia de S. Brás de Alportel
Museu do Trajo do Algarve
58 Casa Agrícola José Mota Cortes Particular – Maria Domingas Cortes
59 Casa-Museu Pescador da Nazaré Particular - Manuel Limpinho

98 No relatório do Inquérito aos Museus em Portugal é apresentada a definição de Museu Etnográfico e Antropológico
no âmbito do estudo em causa e ainda a definição da mesma realidade para a UNESCO.
No primeiro caso “Museus de Etnografia e de Antropologia: museus que expõem materiais que se relacionam com a
cultura, com as estruturas sociais, com as crenças, com os costumes, com as artes tradicionais, etc.”. A UNESCO,
considera Museus de Etnografia e Antrologia: “museus que expõem materiais que se relacionam com a cultura, com
as estruturas sociais, com as crenças, com as artes tradicionais, etc.”. (SILVA e SANTOS 2000: 170).

129
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Museus Etnográficos

3 3

Câmaras Municipais

2 2 2 Juntas de Freguesia
Associações
Instituições Religiosas
Particulares

Museu de Arte

Integram-se nesta categoria as unidades museológicas que têm como objectivo a apresentação de
colecções, que compreendem o conjunto ou um único tipo de manifestações artísticas, que vão desde
a pintura à escultura, da fotografia à cerâmica. Não obedecem a qualquer tipo de organização de tipo-
logia doméstica, tendo, porém, o grande mérito de ter preservado a unidade de algumas colecções.

Apesar de se poderem localizar em espaços de vivência quotidiana, estes foram de tal forma altera-
dos, que perderam o seu carácter intimista e demonstrativo de quem aí habitou. É frequente estas
instituições assumirem a denominação de casa-museu, funcionando esta terminologia como uma
forma de garantir a unidade da colecção e exclusividade da acção da entidade museológica.99

2 Casa-Museu Almeida Moreira IPM – Museu Grão Vasco


42 Casa-Museu Comendador Nunes Correia Santa Casa da Misericórdia de Pedrogão Grande
44 Casa-Museu da Ordem 3ª de S. Francisco Venerável Ordem 3ª de S. Francisco de Assis de Ovar
47 Casa-Museu Maurício Penha Fundação Casa-Museu Maurício Penha
54 Casa-Museu Mário Botas Fundação Mário Botas
57 Casa-Museu Maria da Fontinha Particular – Arménio Vasconcelos

Museus de Arte

2 2

IPM
Instituições Religiosas
1 1 Fundações
Particulares

99 O relatório do Inquérito aos Museus Portugueses apresenta duas definições para esta tipologia de Museus. O
presente estudo define como Museu de Arte: “museus consagrados às belas-artes, às artes plásticas e às artes per-
formativas. Neste grupo estão incluídos os museus de escultura, pinacotecas, os museus de fotografia, de cinema, de
teatro, de arquitectura e as galerias de exposição dependentes de bibliotecas e de arquivos.”. Por seu lado, a UNESCO
define estas estruturas como “museus consagrados às belas-artes e às artes aplicadas. Neste grupo estão incluídos os
museus de escultura, as galerias de pintura, os museus de fotografia e de cinema, os museus de arquitectura e as
galerias de exposição dependentes das bibliotecas e dos centros de arquivo.”. (SILVA e SANTOS 2000: 170).

130
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Museu de Empresa

São instituições museológicas cuja acção visa apresentar ao público a história da empresa, a
evolução dos materiais produzidos ou das técnicas utilizadas. Podem localizar-se em espaços
específicos das entidades tutelares ou ocupar antigas instalações da empresa, sendo este tam-
bém um meio de demonstrar a evolução e o crescimento empresarial.100

39 Casa-Museu S. Rafael Faianças Artisticas Bordalo Pinheiro, L.da


41 Casa-Museu Ramos Pinto Adriano Ramos Pinto

Museu de Personalidade

São unidades museológicas que desenvolvem a sua acção em torno da investigação da vida e/ou
obra de determinada figura que se destacou em alguma área da vida pública. Como se pode obser-
var pelo quadro apresentado, estão basicamente associadas a autarquias e associações locais.

A sua exposição não tem qualquer carácter doméstico, podem nem estar localizadas em casas
habitadas pelos patronos, apresentando documentos e objectos que ilustram a vida e obra do
homenageado, tais como livros, documentos fotográficos, objectos de arte ou outros. O seu ob-
jectivo não é representar o quotidiano doméstico mas a vida de uma forma alargada.101

100 De acordo com as definições do Relatório ao Inquérito dos Museus em Portugal, estas unidades museológicas
podem enquadrar-se no âmbito dos museus e ciência e tecnologias que “... consagram-se a uma ou mais ciências
exactas ou técnicas tais como a astronomia, as matemáticas, a física, a química, as ciências médicas, a construção
e as indústrias da construção, os artigos manufacturados, etc. ...” . Por seu lado, a UNESCO define-os como museus
que “consagram-se a uma ou mais ciências exactas ou técnicas tais como a astronomia, as matemáticas, a física, a
química, as ciências médicas, a construção e as indústrias da construção, os artigos manufacturados, etc.”. (SILVA e
SANTOS 2000: 170).
101 Estes museus podem enquadrar-se no âmbito dos Museus de História, cujas definições apresentadas no Relatório
do Inquérito aos Museus em Portugal contemplam as instituições que: “ ... ilustram um determinado tema, personali-
dade, ou momento histórico e nos quais as colecções reflectem predominantemente essa leitura. Neste grupo estão
incluídos os museus comemorativos, militares, escolares, dedicados a personalidades históricas.”. A definição da
UNESCO para estas instituições apresenta-as como as que “... têm como objectivo apresentar a evolução histórica de
uma região, de um país ou de uma província em períodos limitados de tempo ou ao longo dos séculos. [...] Este grupo
engloba os museus de colecções de objectos históricos ou vestígios, museus comemorativos, museus de arquivos,
museus militares, museus de personalidades históricas, museus de arqueologia, museus de antiguidades.”. (SILVA e
SANTOS 2000: 170).

131
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

10 Casa Oficina António Carneiro Câmara Municipal do Porto


20 Casa de Bocage Câmara Municipal de Setúbal
22 Casa Memorial Lopes Graça Câmara Municipal de Tomar
25 Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Câmara Municipal de Mora
29 Casa-Museu Palmira Bastos Junta de Freguesia de Aldeia Gavinha
33 Casa Memorial Humberto Delgado Associação Casa Memorial

Museus de Personalidade

Câmaras Municipais
Juntas de Freguesia
Associações

1 1

Museu de História

Categoria integrada por museus que consagram a sua actividade à investigação e apresentação
de determinados períodos da história de uma localidade, região, país ou tema específico. Po-
dem localizar-se no local onde decorreu um acontecimento histórico, todavia, sem envolvência
doméstica.102

36 Casa de Colombo Delegação Regional de Assuntos Culturais

Centro Cultural / Estudos / Documentação

Através da observação das actividades que desenvolvem, conclui-se que estão vocacionados
para a realização de actividades culturais diversificadas, tais como exposições de temática diver-
sa, actividades culturais, tais como concertos, conferências, congressos ou outras, relacionadas
com a figura tutelar ou não, não apresentando sinais de vivência quotidiana.

15 Casa Roque Gameiro Câmara Municipal da Amadora


21 Casa Fernando Pessoa Câmara Municipal de Lisboa
37 Casa-Museu Armando Cortes Rodrigues Direcção Regional Assuntos Culturais dos Açores
53 Casa-Museu João Soares Fundação Mário Soares

102 Ver nota de rodapé n.º 99.

132
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Centro Cultural / Estudos /Documentação

2
2

Câmaras Municipais
1.5
Direcções Regionais
1 1
1 Fundações

0.5

São instituições culturais de grande importância nos espaços onde se inserem, podendo de
alguma forma integrar-se naquilo que o ICOM considera museus, ao referir “As instituições de
conservação e galerias de exposição dependentes de bibliotecas e centros de arquivo.” (SILVA e
SANTOS 2000: 169).

Os quadros e gráficos apresentados permitem observar uma grande diversidade ao nível dos
diferentes tipos de instituições museológicas, desde casas-museu até unidades museológicas
específicas, e também analisar os diferentes tipos de tutelas que se destacam em cada tipo
de classificação museológica. No que concerne às casas-museu originais e às reconstituídas,
estas encontram-se, predominantemente, sob a tutela autárquica; por outro lado, as casas-mu-
seu estéticas/colecção e as casas-museu de época distribuem-se por diferentes tutelas públicas
(Câmaras Municipais, Universidades e Direcções Regionais) e por Fundações. Estão aqui mui-
to presentes razões de valorização de patrimónios e personalidades que possam, de alguma
forma, aglutinar vontades e valorizar determinadas localidades, razões que podem fazer com
que ao nível dos museus de personalidade as Câmaras Municipais sejam, também, as tutelas
predominantes.

Os museus etnográficos situam-se, essencialmente, no âmbito da tutela das Juntas de Fregue-


sia e Associações. Como já anteriormente se referiu, estas entidades sustentam unidades mu-
seológicas que se dedicam à preservação de patrimónios e tradições locais e/ou regionais. No
que se refere aos museus de arte, que integram esta amostra, distribuem-se por diferentes tipos
de tutela: IPM, Instituições Religiosas, Fundações e Particulares. Os Centros Culturais / Estudos
/ Documentação apresentam três tipos de entidades tutelares: Câmaras Municipais, Fundações
e Direcções Regionais, unidades culturais que promovem diferentes tipos de eventos sobre a fi-
gura homenageada ou não. Os outros dois tipos de unidades museológicas não são expressivos
ao nível da quantidade e situam-se no âmbito das empresas (museus de empresa) e de uma
Delegação Regional da Madeira (museu de história).

133
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quantidade por tipologia

4 2 1
17
8

6 4
12 2 4

Casas-Museu Originais Casas-Museu Reconstituídas Casa-Museu Estéticas / Colecção


Perid rooms Museus Etnográfico Museus de Arte
Museus de Personalidade Centros Cultural / Estudos / Documentação Museus de Empresa
Museus de História

Quadro que apresenta o número de unidades museológicas/tipologia, na amostra seleccionada para o inquérito AP.

Unidades por definir


Casa-Museu José Antunes Pissarra Junta de Freguesia de Arrifana
Casa-Museu Joaquim Ferreira Centro Cultural e Desportivo de Belas
Casa-Museu Manuel Luciano da Silva Associação Dr. Manuel Luciano da Silva

Unidades encerradas
Casa-Museu João da Silva Particular
Casa-Museu de Penacova Sociedade Propaganda e Progresso de Penacova
Casa-Museu Pechão Junta de Freguesia de Pechão
Casa-Museu de Ferro Junta de Freguesia de Ferro
Casa-Museu Arq.º Marques da Silva Universidade do Porto

Esta análise à situação das casas-museu em Portugal possibilitou a verificação de um panorama


pouco interessante neste domínio concreto da museologia portuguesa. O recurso aos dois in-
quéritos permitiu traçar uma perspectiva objectiva da realidade que, de facto, não é de todo favo-
rável a estas unidades museológicas, uma vez que apresentam um leque de carências que não
lhes permite desenvolver um serviço que apele ao interesse do público, condenando-se, assim,
a permanecer como museus sem dinâmica, sem interesse e muito pouco activos na divulgação
da sua figura tutelar.

Os dados coligidos deixaram também perceber que se estava perante museus de diferentes
tipos, todos sob a capa das casas-museu. Neste sentido, estabeleceu-se uma definição de ca-
sas-museu, recorrendo a outras classificações internacionais, a testemunhos de museólogos
que deram a sua perspectiva de uma instituição deste género e aos resultados dos inquéritos
realizados. Na sequência desse trabalho, foi possível propor uma nova ordenação do universo
das unidades tradicionalmente designadas como casas-museu, concluindo-se que, com a adop-
ção destes critérios, o número de casas-museu será muito reduzido. Porém, só com esta espe-

134
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

cificidade é possível valorizar estas estruturas e dar às outras a capacidade de desenvolverem


actividades que se situam mais na esteira de outros tipos de museus.

A criação de casas-museu e de outras unidades museológicas deve ser precedida de estudos de


viabilidade económica, onde se aferirá a relação custo/beneficio. A instituição de uma unidade
museológica deve trazer mais valias científicas, sociais e económicas para o meio restrito onde
se insere e para o âmbito de acção mais alargado que deverá ser definido. O facto de existir uma
casa que se pretende conservar, uma colecção que se deseja salvaguardar, uma personalidade
que merece ser homenageada não é motivo suficiente para a criação de uma casa-museu.

Os responsáveis institucionais devem criar mecanismos de regulamentação que inibam este tipo
de atitude, sendo recomendável a realização de uma análise local das carências ao nível cultu-
ral. Uma personalidade poderá ser o motivo para a criação de uma unidade de investigação, de
um centro de estudos nas áreas em que se destacou, originando instituições, eventualmente,
mais dinâmicas e com maior interesse.

Por seu lado as casas-museu existentes actualmente, assim como aquelas que possam vir a
ser criadas devem ser repensadas quanto à sua missão e objectivos, ao seu modo de funciona-
mento. É fundamental que se tornem estruturas dinâmicas, apelativas, que usem as suas mais
valias como forma de atrair o público, desenvolvendo actividades de interacção com os públicos
que as frequentam, com recurso a novas tecnologias. O espaço deve ser pensado com vista à
realização de eventos múltiplos de divulgação do patrono e acervo. Poderá, para o efeito, ser
necessário recorrer a edifícios anexos, ou quando as áreas da casa não são essenciais para a
compreensão do discurso expositivo, a espaços dentro da própria unidade museológica.

Claramente, pode-se afirmar que do ponto de vista educativo e cultural, será muitas vezes pre-
ferível criar museus de personalidade, de arte ou etnográficos, sob a denominação de determi-
nado patrono, onde as colecções podem ser apresentadas de acordo com determinado discurso
museológico o que facilitará a sua percepção e fruição. As casas-museu não podem ser consi-
deradas como as instituições que salvaguardarão unidades de colecção ou memórias indiferen-
ciadas, devendo antes ser unidades museológicas com referências especiais, para preservar a
memória de pessoas especiais. Só assim se poderão afirmar num mundo globalizado e com
tanta falta de memória colectiva.

135
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3. A CASA DE JOSÉ RÉGIO DE VILA DO CONDE


UM EXEMPLO PARADIGMÁTICO DE CASAS-MUSEU

137
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3. A CASA DE JOSÉ RÉGIO DE VILA DO CONDE


UM EXEMPLO PARADIGMÁTICO DE CASAS-MUSEU

A Casa de José Régio de Vila do Conde onde, desde 1994, desenvolvemos a nossa actividade
profissional é considerada um exemplo paradigmático de uma casa-museu, uma vez que, segun-
do se entende, preenche todos os requisitos de uma instituição museológica deste género. É um
espaço de vivência efectiva, onde se contacta com o quotidiano doméstico de um dos maiores
escritores do século XX português, preservado como se encontrava no momento do falecimento
do poeta, ao qual foi associado um novo edifício onde se desenvolverão actividades complemen-
tares de recepção e enquadramento do público na instituição que se prepararam para visitar. Foi
criada através da conjugação de esforços da família, amigos do poeta e da Câmara Municipal de
Vila do Conde, contando com a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian na aquisição do
imóvel e acervo aos herdeiros de José Régio.

Esta casa-museu é dedicada a uma personalidade que nasceu, viveu e faleceu em Vila do Con-
de, tendo este último acontecimento ocorrido neste imóvel, verificando-se uma relação directa
entre o homenageado e o espaço que documenta o seu modo de vida e de pensar. Encontram-
se aqui expostos livros de diferentes géneros, o escritório do poeta, outros espaços utilizados
para a actividade da escrita, um jardim que documenta o seu gosto pelas flores, entre outros.
Ao nível da actividade cientifica, directamente ou em colaboração com outras instituições, são
desenvolvidas acções de investigação sobre a vida e obra de José Régio, assim como das dife-
rentes colecções que compõem esta unidade museológica.

Ao nível da relação imóvel/objecto pode afirmar-se que há uma verdadeira relação entre ambos.
A organização e disposição do acervo respeita a vontade da personagem que aqui viveu. Cada
espaço mantém as peças colocadas por Régio, numa lógica que se descobre através da obser-
vação de alguns pormenores temáticos dos objectos de arte e os espaços onde os mesmos se
encontram. O visitante da Casa de José Régio contactará com uma exposição de objectos de
arte de grande qualidade, passando pelos espaços íntimos e sociais da casa que, como se re-
feriu, se mantém o mais fiel possível de acordo com a vontade do patrono.

A Casa de José Régio adquirida e aberta ao público no ano de 1975, no dia do aniversário do poeta,
17 de Setembro, sofreu ao longo de largos anos da falta de cuidados técnicos específicos, sendo
preservada à custa da acção de algumas pessoas que aí foram trabalhando. Se por um lado isto po-
derá ter acentuado a degradação de algum acervo, por outro fez com que não se tomassem ati-

139
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

tudes precipitadas que poderiam ter alterado a casa de forma irreversível. Assim, depois do con-
tacto com a realidade, do diagnóstico do imóvel e das colecções, da definição do tipo de serviço
que se pretendia prestar ao público, foi desenvolvido um projecto de intervenção e ampliação da
unidade museológica que acentua a sua vertente de casa-museu através do cumprimento dos
requisitos definidos para uma instituição museológica com este carácter, onde todas as funções
museológicas podem ser desenvolvidas. Manteve-se o imóvel de referência do homenageado,
tendo a este sido anexado um outro edifício onde se receberão os visitantes, desenvolverão es-
tudos sobre a sua vida, obra e colecções e onde estão criadas as condições para se introduzir o
público nas histórias que se pretendem veicular.

3.1. A CRIAÇÃO DA CASA DE JOSÉ RÉGIO | CASA-MUSEU JOSÉ RÉGIO

O poeta e professor, ao longo da sua vida, dedicou-se à recolha de objectos de arte, os quais
foi comprando e trocando, alimentando um gosto que resultou, numa primeira fase, na venda à
Câmara Municipal de Portalegre de um significativo acervo que se encontra na casa onde sem-
pre habitou nessa cidade. Depois de ter vivido cerca de 35 anos em Portalegre onde leccionou,
quando se aposentou José Régio regressou a Vila do Conde, sua terra natal, onde recuperou a
casa da “Madrinha” Libânia, que entretanto tinha herdado de seu pai. Concluído esse primeiro
momento, recheou-a, também, com inúmeras peças do seu valioso acervo, transformando-a
num memorial ao seu modo de vida e de pensar103.

Depois da morte do poeta, a 22 de Dezembro de 1969, surge um movimento que visa a aquisi-
ção da casa pela autarquia vilacondense e posterior abertura desta ao público. Amigos, intelec-
tuais e jornalistas começam a publicar textos onde se expõem as razões para que o espaço de
residência do poeta se transforme num equipamento público104. Negociações começam a ser
desenvolvidas entre a Câmara Municipal de Vila do Conde e os herdeiros no sentido de aferir do
valor a pagar sobre todo este património.

Depois de realizadas avaliações e acordado o valor a pagar à família, a Autarquia Vilacondense


procurou apoios para fazer face aos custos inerentes a esta transacção. Como se referiu, foi a
Fundação Calouste Gulbenkian a entidade que suportou o valor da compra do imóvel e respecti-
vo acervo, que passou para a tutela pública, mantendo desta forma uma unidade essencial para
a sua compreensão.

103 “ A futura Casa-Museu de José Régio de Vila do Conde está recheada de colecções de objectos de arte e peças
de mobiliário de grande importância.
[...] Evidentemente que a colecção mais importante do poeta encontra-se em Portalegre, na casa onde viveu dezenas de
anos. No entanto, já quase nos finais da sua vida, Régio quis restaurar a casa onde tinha sido criado. [...] Entretanto foi
recheando a sua casa com peças que trouxera de Portalegre e outras que foi comprando em antiquários do norte.”
(MOUTINHO 1972: última página)
104 Nos anos que se seguiram à morte do poeta, foram surgindo nos jornais reportagens que motivaram a aquisição
da casa por parte da Câmara Municipal de Vila do Conde.

140
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Até hoje, esta estrutura museológica foi considerada, pela família de José Régio e pela Autarquia,
como a Casa de José Régio, não a denominando de casa-museu. Isto deriva do facto deste
imóvel se encontrar no estado em que o poeta o deixou, ser a sua própria residência aberta ao
público e não um museu criado para apresentar e divulgar uma personalidade. João Maria Reis
Pereira, irmão de José Régio, um acérrimo defensor desta terminologia, escreveu vários artigos
sobre esta problemática, considerando que, uma vez que José Régio se destacou em diversas
facetas, esta casa é uma forma de retratar a sua personalidade105. Por seu lado, a Autarquia
Vilacondense tenta de alguma forma diferenciar a Casa de Vila do Conde de todo um conjunto de
instituições que assumem a terminologia Casa-Museu, e que, por não preencherem os requisitos
de uma verdadeira casa-museu defraudam as expectativas do público desmotivando a visita a
instituições congéneres.

Ao longo deste estudo, apresentou-se uma definição de casa-museu, na qual se enquadra a


Casa de José Régio de Vila do Conde, muito especialmente a partir da sua reabertura. Neste
momento, a nova estrutura museológica será certamente uma casa-museu, pois, para além da
estrutura permanente da casa, existe uma organização mais alargada, através da qual o público,
pode apreender um conjunto de conteúdos definidos que permitem um maior conhecimento da
personalidade de José Régio ou a sua obra, com um tratamento mais adequado à realidade
museológica contemporânea, cuidados de conservação, investigação e comunicação essenciais
na divulgação da figura tutelar de José Régio.

“ Da parte da Câmara de Vila do Conde nada mudou. O Presidente do Município aguarda apenas que lhe sejam forne-
cidos números, condições. Este disse-nos:
Sim, apenas espero que a comissão de amigos de José Régio, que tão amavelmente se prontificou a colaborar, forne-
ça indicações finais sobre a operação de compra da casa.” (GARCIA 1971: s/p)
“ A casa de Régio tem de ser defendida – escrevia, não há muito, Joaquim Pacheco Neves n’O Comércio do Porto
[...] A casa de Régio, em Vila do Conde, tem de ser defendida – e isso para interesse não apenas de Vila do Conde,
que aí tem o seu património como poucas localidades têm a “sorte” de ter, mas para interesse também da cultura em
Portugal.” (ROCHA 1973: 20)
“ Um grupo de amigos de Régio, os Drs. Joaquim Pacheco Neves, António de Sousa Pereira e Orlando Taipa lutaram
desde o desaparecimento do escritor para que a casa de Régio pertencesse ao património de Vila do Conde. Ela seria
uma casa-museu e simultaneamente um Centro de Estudos Regianos. Foram anos de um trabalho difícil, que estão
agora a produzir os seus frutos. Com o auxilio da Câmara, da Gulbenkian, dos amigos e da família de Régio, foi pos-
sível o acordo.
[...] O edifício e o recheio custarão 2125 contos, oferecendo a família do escritor tanto os preciosos manuscritos como
a correspondência, que estão avaliados em cerca de 690 contos.” (GARCIA 1975: 26)
105 “Como se verifica, Casa é a palavra de ordem, e, na verdade, está correcto. Em outros patrimónios deparamos
com a palavra composta Casa-Museu, solução que se justifica quando se trata de um património que pertenceu a de-
terminada individualidade, que se salientou apenas como coleccionador, e assim, criou um Museu na sua própria casa.
Mas, sempre que se tratar de uma individualidade, que – embora sendo coleccionador – se salientou em outros cam-
pos de forma relevante (na literatura, na ciência, etc.) deve de ser, então, usada apenas Casa, pois deste modo me-
lhor se retrata ou evoca, quer a totalidade do mundo habitacional, quer a complexidade da própria personalidade.”
(PEREIRA 1986: 39)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Escritura de aquisição da Casa de José Régio pela Câmara Municipal de Vila do Conde à família do poeta

142
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3.2. OS OBJECTIVOS DA CASA DE JOSÉ RÉGIO

A Casa de José Régio, aberta ao público a 17 de Setembro de 1975, dia em que se assinala o
nascimento de José Régio, foi adquirida pela Câmara Municipal aos seus familiares, com dois
objectivos prioritários: se por um lado era fundamental para Vila do Conde perpetuar a memória
deste ilustre poeta, por outro, era também muito importante não destruir a unidade e harmonia
da casa, colecção e personalidade.

Entre os objectivos principais da Casa de José Régio encontra-se a promoção do estudo da vida
e obra do poeta. Para além de apoiar e disponibilizar os materiais a investigadores, a Câmara
Municipal de Vila do Conde é sócia-fundadora e principal impulsionadora do Centro de Estudos
Regianos, associação que se dedica ao estudo da vida e obra do poeta vilacondense.

Pretende-se, também, preservar, estudar e divulgar a colecção de obras de arte pertencentes


ao acervo da casa. Destaca-se a valiosa colecção de arte popular que deverá ser conservada,
estudada e posta à disposição do público que visita a Casa do poeta, uma vez que Régio foi um
dos grandes coleccionadores do nosso país.

Depois dos objectivos gerais, definiram-se objectivos específicos que se inumeram a seguir:

- Perceber, através da sua obra, qual a importância de José Régio na âmbito da História da Li-
teratura portuguesa;
- Realizar estudos da Colecção de Arte Contemporânea no âmbito da Arte Portuguesa do Século
XX;
- Estudar a História da Família Reis Pereira – uma família de artistas vilacondenses;
- Promover, junto das comunidades locais, a figura de José Régio, um ilustre vilacondense, cujo
valor deve ser reconhecido por todos;
- Percepcionar a religiosidade de Régio pela sua escrita e pelas suas colecções;
- Reconstituir o jardim da casa, um dos espaços mais apreciados por Régio;
- Promover colóquios, conferências e encontros sobre o poeta ou sobre outros poetas, a literatu-
ra portuguesa, a arte popular, temas relacionados com este espaço.

3.3. A “HISTÓRIA” DA CASA DE JOSÉ RÉGIO

A Casa de José Régio de Vila do Conde insere-se no panorama arquitectónico urbano do século
XIX. Desde a sua construção até à posse por parte de José Régio, a casa foi sempre pertença
do ramo familiar paterno.

143
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Por morte da “Madrinha” Libânia106, no ano de 1928, o imóvel, por herança, veio para a posse
do pai de José Régio, originando um novo ciclo quanto à utilização da Casa. Esta fase terminaria
com a morte do pai do poeta, que lhe sucede como único proprietário do imóvel. Verificam-se três
fases de utilização de um espaço que vai sendo ajustado às necessidades e aos gostos de cada
um dos principais intervenientes.

Hoje, quando visitamos a Casa de José Régio, deparamos com uma estrutura de habitação que
foi evoluindo, tendo, nos anos 60 do século XX, sofrido a última grande alteração, fruto da inter-
venção levada a cabo por José Régio, altura em que, definitivamente, adapta a casa aos seus
gostos e de acordo com a funcionalidade desejada. Neste momento, a casa ostenta uma grande
variedade de peças de mobiliário e obras de arte, testemunho da inestimável valia do acervo
regiano. Algumas destas peças, propriedade da “Madrinha” Libânia, foram unicamente recoloca-
das em novos espaços por José Régio; outras são peças que o poeta, ao longo da sua vida, foi
adquirindo e transferindo de Portalegre para a sua casa de Vila do Conde.

A Sala de Pintura Contemporânea, apesar de não concluída, foi toda ela programada por José
Régio. As obras expostas foram por ele deixadas no local onde hoje podem ser observadas.

A loja foi, até à época de ocupação de José Régio, um local de armazenamento de produtos
necessário para o funcionamento da casa (lenhas, mantimentos e outros). Neste espaço, onde a
rocha do monte do Mosteiro, se encontra a descoberto, podemos admirar alguns exemplares de
arte sacra, destacando-se a Pietá e o Santo António do Saco, a escultura de S. Pedro, para além
de uma excelente colecção de almofarizes e ferros tradicionais.

Chegados ao 1º andar, encontramo-nos no escritório de José Régio, espaço que hoje se apre-
senta como um dos lugares de trabalho do poeta, mas que teve, em tempos, outras funcionali-
dades. José Régio adopta para seu escritório o aposento de morte da “Madrinha” Libânia. Este
era o quarto de sua tia, composto por duas partes: a alcova, local onde se dormia, separado do
restante espaço de convívio social e oração por duas portas que o poeta retirou.

Após a morte da tia, e sendo a casa propriedade de seu pai, José Régio elegeu este espaço para
funcionar como o seu quarto. Foi após as obras efectuadas pelo poeta na casa que aqui instalou

106 Maria Libânia da Conceição, a Madrinha Libânia, tia-avó de José Régio, nasceu a 3 de Setembro de 1834 e fale-
ceu a 6 de Abril de 1928. Exercia sobre a família uma espécie de matriarcado. O seu feitio autoritátio fazia–se sentir,
motivando o respeito de todos.
(NOVAIS 2002: 27)

144
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

a sua biblioteca e preparou o seu escritório. A biblioteca de José Régio é composta por cente-
nas de títulos, com alguns exemplares de grande interesse, destacando-se a primeira edição da
“Mensagem” autografada por Fernando Pessoa, “Rampa” de Miguel Torga, primeiras edições de
Natália Correia, bem como de vários clássicos da literatura europeia e portuguesa. No escritório,
para além da forte presença de imagética de temática Mariana, destacamos uma cruz de madre
pérola, adquirida pelo poeta e as peças de mobiliário de altíssima qualidade, tal como um ca-
deirão indo-português e uma papeleira em estilo D. João V em pau preto, que tem merecido os
melhores comentários dos peritos que passam pela casa-museu, entre outras.

Penetrando no edifício até entrar no quarto de José Régio, temos necessariamente de referir a
magnífica colecção de ex-votos existente no corredor do primeiro andar. A este propósito refira-
se a citação do Dr. Flávio Gonçalves que salienta a boa qualidade da colecção de Ex-Votos, a
qual, segundo ele, foi por sua insistência que Régio a transferiu para Vila do Conde107. Eis-nos
chegados ao aposento onde faleceu o escritor. Foi neste espaço que, no dia 22 de Dezembro de
1969, José Régio deixou a vida terrena, tendo por leito uma belíssima cama do século XVII, a
qual já teria pertencido à “Madrinha” Libânia.

Destacam-se neste quarto a presença de algumas peças:


- O Sr. da Boa Morte, que terá sido oferecido a José Régio pelo barbeiro e amigo Macedo, por
esta pintura representar a morte de S. José. Para além de ser seu barbeiro, este amigo partilhava
com José Régio o gosto pelo teatro e era um excelente artista amador.
- A Virgem com o menino;
- O Cristo colocado no oratório em frente à cama de José Régio (provavelmente do século
XVII)
- Conjunto de pergaminhos pintados.

Ao aceder ao segundo andar, depara-se com um conjunto de peças em barro, para além de
um interessante retábulo pintado com o tema da Anunciação. O segundo andar é composto por
diversos compartimentos, destacando-se a sala de jantar. Este espaço é, também, testemunha
das diferentes fases de ocupação da casa. No tempo da “Madrinha” Libânia, era o local onde se
tomavam as refeições, e a ela pertenceu a mesa de jantar. Na posse de seu pai, era o local onde
se faziam as consoadas, até à fase de ocupação por José Régio. O poeta utilizou muito pouco
esta sala, pois em virtude de viver só, tomava a generalidade das refeições no restaurante. To-
davia, convém destacar algumas peças:

107 “Julgo ter responsabilidades na presença da colecção de tábuas votivas – cerca de 30 – na casa de Vila do Conde.
Insisti com Régio para que a trouxesse para cá. A colecção é bastante boa” (MOUTINHO 1972:24)

145
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

- as quatro gravuras do Filho Pródigo, que pertenceram à “Madrinha” Libânia e que Régio trouxe
do seu aposento para a sala de jantar;
- a banca de ourives da família;
- o Cristo, de marfim, colocado no oratório, o qual foi pertença do ramo familiar Pereira;
- a colecção de pratos ratinho.

Os quartos do segundo andar eram do tempo da “Madrinha” Libânia para alguns dos irmãos, não
tendo tido no tempo de José Régio qualquer ocupação.

O edifício onde hoje se encontra a sala das alminhas e a sala dos jugos já existia no tempo da
“Madrinha” Libânia, seria um edifício adquirido pelo “Mano Brasileiro”, e acoplado ao edifício
principal. Refira-se a propósito que foi neste edifício que o pintor Júlio teve o seu primeiro atelier.
Segundo Flávio Gonçalves, “aqui poderemos ainda encontrar a única, pelo tamanho e qualidade,
colecção de painéis de alminhas e caixas de esmolas para as almas do purgatório que existe
no nosso país.” (MOUTINHO 1972: 24). No piso inferior guardava a colecção de jugos e barros de
Barcelos. Saídos da sala dos jugos encontramo-nos no jardim. Este foi construído em 1913 pelo
pai do poeta.

“Nos meses de Primavera, princípios de Verão, o meu quintal era um grande açafate de flores!
A geometria fora aí completamente desprezada; as várias espécies cresciam, reverdeciam,
floresciam na mais completa liberdade, misturando-se em caprichosas e espontâneas
combinações” (RÉGIO 2000: 390).

Situado no jardim, encontra-se o mirante, local onde Régio escreveu algumas das suas
criações.

Através dos espaços e da história da Casa de José Régio, com informações recolhidas junto do
único irmão vivo do poeta, o Dr. João Maria Reis Pereira, podem-se percepcionar os diferentes
momentos de ocupação da casa, que se foi transformando ao sabor dos diferentes proprietários
do imóvel.

Pertencente a uma família, com hábitos profundamente religiosos, a casa foi sofrendo significativas
mudanças, transformando-se na sua fase final, pela acção directa de José Régio, no seu refúgio
de final de vida e, simultaneamente, no contentor para uma vasta colecção de obras de arte,
muitas delas de cariz religioso e popular.

Se esta versão da história da Casa de José Régio tem um profundo lado sentimental, devido à
proximidade do Dr. João Maria Reis Pereira a seu irmão, outras fontes nos têm ao longo dos anos
servido de suporte, tais como os testemunhos de alguns dos seus amigos, a correspondência do
poeta, assim como alguns dos seus principais textos biográficos; todavia, será, certamente, o Dr.
João Maria Reis Pereira quem melhor nos pode informar acerca deste imóvel.

146
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3.4. A CASA E AS COLECÇÕES DE JOSÉ RÉGIO

Fachada

Distribuídos por 3 andares é possível percorrer um conjunto de espaços de vivência repletos de


referências e memórias, apresentadas em áreas sociais e íntimas, onde se observam os objec-
tos de que se rodeava José Régio, espelhos da sua personalidade e disponíveis para quem o
pretende conhecer.

3.4.1. A Casa

Conforme se referiu, este edifício, um imóvel do século XIX, apresenta uma traça simples e
com espaços muito exíguos. Dispõe de um grande número de compartimentos, na generalidade
de reduzidas dimensões, sendo de destacar três áreas fundamentais: o escritório, o quarto de
dormir de José Régio e a sala de jantar. O jardim, pela sua relação com o poeta, não deve ser
esquecido.

Fachada

De linhas rectas e sóbrias, a fachada permite perceber a existência de duas áreas distintas. As
interiores, no edifício principal e a zona exterior observada através do muro lateral.

147
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

R/Chão

O R/c é composto por duas salas e o corredor. A Sala de Pintura Contemporânea, na qual estão
expostos trabalhos de Régio, Júlio, Alvarez, Barrias, entre outros. A loja ou antro, de acordo com
a terminologia adoptada por Régio, confina directamente com a rocha do monte do Mosteiro,
encontrando-se neste local a colecção de almofarizes, para além de valiosa escultura e pintura
dos séculos XVI e XVII.

O Acesso aos pisos superiores é possível através de uma escada de madeira, localizada no
centro da casa.

1º andar

No 1º andar existem duas áreas essenciais na casa. O Escritório, onde se encontra a Biblioteca
de José Régio, uma rica colecção de esculturas dos séculos XVI, XVII e XVIII, e o quarto de Ré-
gio, onde este veio a falecer a 22 de Dezembro de 1969.

O corredor do 1º andar, embora de reduzidas dimensões, alberga uma importante colecção de


ex-votos, alguns dos quais de grande qualidade, beleza e raridade.

2º andar

No 2º andar encontra-se a sala de jantar, com uma bela colecção de cerâmica e faiança, para
além de pintura, escultura e mobiliário; dois quartos, que seriam para hóspedes e que nunca
terão sido utilizados por José Régio; o Corredor que está também decorado com pintura e escul-
tura religiosa.

Casa das Alminhas

Saindo do corpo central da Casa de José Régio, e, num edifício anexo, a Casa das Alminhas ou
purgatório, local onde, de acordo com referências do Dr. Flávio Gonçalves, está reunida a maior
colecção de objectos sobre a temática de almas em Portugal. É pela tipologia da colecção que se dá
o nome a esta área da casa, assim como aquela que se encontra no R/c deste mesmo espaço.

No piso inferior, a sala dos Jugos reúne e apresenta a colecção de etnografia, onde se encon-
tram jugos e utensílios do quotidiano agrícola da região. Também neste espaço se pode observar
a presença da rocha do monte do Mosteiro.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Jardim

Elemento significativo deste imóvel é o seu jardim, pelo qual Régio nutria um carinho muito es-
pecial. A sua construção, datada de 1913, foi obra de seu pai, apresentando-se como um típico
jardim romântico. Aqui encontra-se o mirante, local onde Régio guardou as suas primeiras anti-
guidades.

3.4.2. As Colecções

“Na verdade, nos últimos anos da sua vida, o notável poeta d’As Encruzilhadas de Deus con-
seguiu reunir em Vila do Conde, na casa onde nascera, e que lhe pertencia, uma importante
colecção de obras de arte, de ampla gama cronológica e dos géneros mais variados. Destacam-
se do conjunto, as peças relativas à arte popular antiga – matéria em que José Régio foi, como
coleccionador108, pioneiro no nosso país, e um admirador apaixonado.”109,110

As peças que escolheu para a sua residência de Vila do Conde, constituem, sem dúvida, partes
significativas das colecções reunidas111, tendo Régio decidido guardar, na casa da sua terra
natal, certas colecções específicas112. Estão neste caso, por exemplo, a série de vinte e sete

108 A propósito da sua faceta de coleccionador de obras de arte, na introdução ao trabalho “Correspondência Familiar
– Cartas a seus Pais”, coordenada por António Ventura este refere que:
“Algumas abordam questões familiares, contratempos que surgiam, problemas pontuais, financeiros, com os quais
José Régio se debatia por causa da compra de antiguidades. [...] Quantas vezes o aparecimento de uma peça única
lhe comprometia o vencimento mensal e o obrigava a recorrer ao pai ou a alguns amigos mais próximos.” (VENTURA
1997:16)
109 Relatório efectuado pelo Prof. Flávio Gonçalves aquando da aquisição desta casa pela Câmara Municipal de Vila
do Conde, o qual se anexa a este trabalho, a 25 de Fevereiro de 1975.
110 “Se as preferências de Régio iam também para as cerâmicas populares, ferros, vidros e obras de pastores, não
deixavam de contemplar, quando a bolsa lhe não minguava ou podia obtê-las por troca, trabalhos de gosto erudito
desde esculturas a pinturas. A propósito, deve atribuir-se o seu interesse pelas peças de arte popular ao amor pelo
povo, essa gente humilde com quem, em terras do Alentejo e em Vila do Conde, lidava com alegria e estimava, sendo
de igual forma correspondido. [...] Havia também razões psicológicas, dado que sempre consagrara a maior estima ao
povo – à sua vida, linguagem e costumes.” (MARQUES 2000: 48)
111 “Nesta procura de antiguidades percorreu sem descanso os arredores de Portalegre, andou por aldeias e vilas
alentejanas a pé, de carro ou de burro [...] Tais negócios e andanças levou-o obviamente a relacionar-se com antiquários
[...] Foi desta forma que povoou a sua casa de Portalegre de Cristos, de barros da região com dezenas e dezenas de
Senhores da paciência [...] E muito trouxe ainda para a sua casa de Vila do Conde.” (MARQUES 2000: 50 – 52)
112 “ A futura Casa-Museu de José Régio de Vila do Conde está recheada de colecções de objectos de arte e peças
de mobiliário de grande importância.
[...] Evidentemente que a colecção mais importante do poeta encontra-se em Portalegre, na casa onde viveu dezenas
de anos. No entanto, já quase nos finais da sua vida, Régio quis restaurar a casa onde tinha sido criado. [...] Entretanto
foi recheando a sua casa com peças que trouxera de Portalegre e outras que foi comprando em antiquários do norte.”
(MOUTINHO 1972: última página)

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

tábuas votivas, dos séculos XVII, XVIII e XIX, o salão, único em Portugal, de painéis e esculturas
com o tema do Purgatório e as caixas de esmolas das Confrarias das Almas, a colecção de jugos
provenientes do concelho de Vila do Conde. No campo da arte popular antiga contam-se, ainda,
alguns exemplares de imaginária religiosa, em pintura, mobiliário e cerâmica.

Merecem particular menção diversas esculturas religiosas – góticas, maneiristas e barrocas – ora
de madeira, ora de pedra ou barro. São igualmente de apontar várias pinturas dos séculos XVI e
XVII (das escolas regionais) e bem assim numerosos móveis dos séculos XVII e XVIII (dos quais
se salienta a bela cama setecentista em que José Régio morreu). Acrescentem-se as gravuras,
os estanhos, os vidros, as rendas, os bronzes, os ferros, as peças lapidares, entre outros, para
além das pinturas e desenhos de artistas contemporâneos como Mário Eloy, Dominguez Alvarez,
Diogo de Macedo, Júlio e do próprio Régio113.

Não se pode deixar de referir a excelente biblioteca, onde, além de volumes dos séculos XVII e
XVIII, e de valiosas obras históricas e literárias, se encontra uma rara série de primeiras edições
dos mais notáveis escritores portugueses da primeira metade do século XX, que, na maior parte
dos casos, enriqueceram os seus livros com dedicatórias autógrafas. De valor incalculável é
todo o arquivo de José Régio, com seus manuscritos, provas tipográficas, primeiras edições e os
milhares de cartas que recebeu.

3.5. DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO EM 1994

O ano de 1994 marcou o inicio da nossa actividade profissional na Câmara Municipal de Vila do
Conde, tendo esta sido direccionada para a coordenação do Museu de Vila do Conde, concelho
com grande História e riqueza patrimonial. O conceito do Museu Municipal, designado Museu de
Vila do Conde, era o de uma estrutura polinucleada constituída por núcleos temáticos consagra-
dos a aspectos específicos da historiografia, etnografia e antropologia local.

O Museu de Vila do Conde, na sua globalidade, tem como objectivo principal o estudo, valo-
rização da história e salvaguarda do património do concelho de Vila do Conde. Dentro destes
objectivos gerais enquadram-se os objectivos da Casa de José Régio, os quais, genericamente,
visam a salvaguarda da casa e acervo de José Régio como forma de valorizar e homenagear
este ilustre vilacondense, figura maior das letras portuguesas do século XX, apresentando o seu
espaço de vivência como forma de transmitir conhecimentos sobre a vida e a obra deste poeta.

113 Diversos jornais diários, em Setembro de 1975 fazem a descrição da casa e das colecções de José Régio, aquan-
do da inauguração da casa do poeta.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

O edifício da Av. José Régio, a principal artéria de Vila do Conde, foi a casa que o poeta escolheu
para passar os últimos anos da sua vida, após a sua aposentação do ensino, em 1962, hoje um
núcleo museológico do Museu de Vila do Conde.

3.5.1. A Casa de José Régio de Vila do Conde em 1994

Os primeiros contactos com a Casa de José Régio, permitiram percepcionar as carências e difi-
culdades desta unidade museológica. Soalhos e tectos com infestações, madeiras com fendas,
janelas e portas sem isolamento, estrutura eléctrica deficiente, enfim, todo um conjunto de pro-
blemas elencados e comunicados aos responsáveis da Câmara Municipal de Vila do Conde.

Foi-se sedimentando a ideia da necessidade de uma intervenção profunda no edifício, altamente


simbólico para a cidade, uma vez que se tratava de um marco da presença de um homem que
se destacou nas letras nacionais e internacionais ao longo da sua vida. Por seu lado a colecção
demonstrava a necessidade de cuidados urgentes. A Casa de José Régio, depois de aberta ao
público em 1975, não havia sido objecto de qualquer intervenção até aos anos 90. Os níveis de
humidade que interagiam com o acervo eram elevadíssimos, as condições de limpeza e con-
servação estavam longe de ser as ideais, os problemas de infestação constatados no edifício
reflectiam-se no acervo.

A equipa de pessoal era limitada e sem preparação para o serviço que efectuava. Três pessoas
asseguravam a totalidade das tarefas a realizar. O Guarda era porteiro e assegurava as visitas
guiadas, um guarda nocturno, assegurava a vigilância da casa entre as 22h00 e as 08h00, uma
funcionária de limpeza cumpria as suas tarefas de manutenção da casa.

Não se conhecia a quantidade exacta das peças que integravam a colecção. Recebemos inven-
tários parcelares, elaborados por pessoas sem formação, com números colados nos móveis e
molduras para se identificarem as peças num roteiro de visita, que não continha mais do que a
indicação do nome de algumas pinturas e esculturas.

Face ao cenário traçado, tanto do ponto de vista da conservação, da equipa de pessoal, bem
como da administração da unidade museológica podemos perceber que o visitante, bem como
a própria estrutura, não estavam a receber o tratamento adequado. Era necessário travar o
processo de deterioração, interromper métodos e práticas inadequados e enraizados ao longo
de anos. Aconselhamo-nos com algumas pessoas, visitámos locais semelhantes para perceber
como se processava o serviço nessas instituições, e só depois começámos a intervir neste es-
paço.

151
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3.5.2. A planificação do processo de intervenção

Iniciou-se um processo de estudo e de conhecimento da realidade, através da verificação do


inventário, registando peças não inventariadas e indicando alguns, poucos, casos de peças que
já não existiam. Este processo era determinante em termos de responsabilização futura. Preten-
deu-se apresentar aos responsáveis da Câmara Municipal o estado do inventário.

Paralelamente, procedeu-se ao registo fotográfico e vídeo pormenorizado da casa e colecção.


Fotografaram-se conjuntos detalhados que permitem perceber a todo o momento alguma falha,
fazer uma remontagem, caso fosse necessário retirar as peças para alguma intervenção no edi-
fício. Suspenderam-se todas as acções de limpeza sobre a colecção até à definição de novas
práticas. Foi analisado o tipo de visita disponibilizada ao público, depurando algumas informa-
ções veiculadas pelo guia. Sentiu-se a necessidade de estudar e solicitar o apoio de pessoas
especializadas em diversas áreas, no sentido de definir os procedimentos a tomar nas diferentes
áreas de actividade. Com o apoio de conservadores de outras instituições, nomeadamente do
Instituto Português de Museus, traçou-se de imediato um plano de acção no sentido de evitar
erros, involuntariamente, cometidos no trabalho, o qual foi partilhado com a funcionária que de-
sempenhava as funções de limpeza.

À medida que se foi conhecendo melhor a colecção, nomeadamente, os materiais, assim como o
estado de conservação, foram definidas acções de conservação e metodologias de limpeza para
cada tipo de acervo e material existente. Na primeira intervenção efectuada após esta análise, foram
removidas grandes camadas de sujidade em objectos de diferentes tipos, provando-se à equipa que
um serviço planeado e bem pensado dará resultados mais positivos e duradouros e, desta forma,
foram-se motivando os recursos humanos para as vantagens de uma orientação especializada.

Outro aspecto a equacionar era a segurança do edifício e dos materiais existentes, sendo neces-
sário garantir a detecção de incêndio, pois a existência de qualquer acidente colocava em risco
toda a estrutura. Conseguiu-se instalar um sistema de detecção de intrusão, um de detecção de
incêndio com a ligação dos sistemas às autoridades policiais e à corporação dos bombeiros para
garantir eficácia.

Foram traçados ainda objectivos a diferentes prazos. Prioritária era a necessidade de estagnar o pro-
cesso de deterioração do edifício e colecções; criar métodos de trabalho na equipa existente e, logo
que possível, alargar o grupo de agentes profissionais da Casa de José Régio; dignificar a estrutura,
nomeadamente criando um percurso e história de visita estruturado e fundamentado; estudar a casa
por forma a iniciar a planificação de uma intervenção profunda em toda a Casa de José Régio.

152
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Depois de um estudo profundo da casa e da colecção, após se definir que tipo de instituição
museológica se pretendia promover, definir objectivos estratégicos para o novo equipamento,
de como seria possível ampliar as áreas de serviço ao público, planificou-se a intervenção sobre
o imóvel e o acervo existente, solucionando os problemas estruturais, sem contudo alterar a
morfologia e o aspecto do casa. O projecto foi apresentado ao Instituto de Turismo de Portugal
– Programa PIQTUR, através do qual foi avaliada a potencialidade turística desta unidade museo-
lógica, merecendo a aprovação deste organismo da Administração Central.

O ambiente interior é intimista, mostrando a personalidade do homem que aí viveu e morreu.


Este carácter é considerado uma mais-valia importante. Todavia, o programa funcional da casa
é, necessariamente, diferente do adoptado no tempo de José Régio, a casa e habitação transfor-
maram-se num equipamento público, destinado a ser visitado por todos aqueles que sentirem o
desejo de conhecer um pouco mais da figura do poeta.

3.6. A CASA-MUSEU JOSÉ RÉGIO DE VILA DO CONDE – O NOVO PROGRAMA

Tendo sido iniciada a obra no ano de 2005, esta terminou em 2006. Todavia, é necessário perce-
ber a alteração que o serviço sofreu com esta nova intervenção. Se por um lado se preservou a
casa onde viveu e morreu José Régio, imagem da sua personalidade e vivência, por outro, cons-
truiu-se uma estrutura onde se podem receber os visitantes, enquadrar o público e desenvolver
acções de investigação sobre a história e a vida do poeta.

3.6.1. O Novo Equipamento – O Centro de Documentação José Régio


O Caminho para o cumprimento dos objectivos definidos

Casa e Centro de Documentação José Régio

153
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Para o efeito, a autarquia adquiriu a casa da criada da família de José Régio, a qual foi transfor-
mada num edifício onde é possível criar um conjunto de actividades complementares, sobre a
vida e obra de José Régio, valorizando a visita à casa do poeta. Dispõe-se de um espaço para
recepção e loja, onde se vendem produtos e livros relacionados com José Régio. Criou-se uma
sala de exposições temporárias, onde se apresentarão exposições sobre diversos temas regia-
nos. Esta sala é determinante no cumprimento de um dos objectivos desta unidade museológica:
apoiar a Casa-Museu no enquadramento da figura de José Régio. Só com um conhecimento da
personalidade e obra do poeta se poderá perceber o seu espaço de habitação. Foram criadas
instalações para o Centro de Estudos Regianos, associação que, em parceria com a casa-mu-
seu, se dedica ao estudo do escritor. No último piso, localiza-se a sala polivalente, local onde to-
dos os visitantes, mesmas as pessoas portadoras de deficiência, podem assistir a um audiovisual
sobre a Vida de José Régio, sendo ainda possível aí organizar conferências, leituras de poesia,
entre outras actividades. É fundamental o conhecimento do homem antes de se visitar o espaço
do seu quotidiano. Sem contextualização, aquilo que poderá ficar na memória do visitante é um
conjunto de peças dispostas num espaço.

R/c
- Recepção e loja da Casa-Museu
- Instalações sanitárias, que respondem às necessidades dos diferentes tipos de público.

1º Andar
- Sala de exposições temporárias, destinada a mostras sobre a vida e/ou obra de José Régio, as
suas colecções, acções de intercâmbio com instituições.

2º Andar
- Instalações do Centro de Estudos Regianos.

3º Andar
- Sala polivalente, equipada com um audiovisual sobre a vida e obra de José Régio, onde tam-
bém se poderão organizar conferências, leituras de poesia entre outras actividades.

3.6.2. Uma nova informação

Face à nova estrutura física disponível, onde se aliam os espaços domésticos da casa-museu
aos novos espaços que conferem uma nova funcionalidade ao equipamento cultural, foi ela-
borado um programa museológico que responderá às diferentes valências desta actividade. O
objectivo é proporcionar melhores condições de visita, criar motivos de atracção permanente e

154
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

corresponder aos desejos dos diferentes tipos de público, continuar os trabalhos de investiga-
ção e conservação, essenciais para a manutenção desta unidade museológica ao longo dos
tempos. É uma programação mais cuidada a todos os níveis, desde as visitas, às actividades
paralelas até à formação e motivação do pessoal, passando pelas actividades científicas a
desenvolver.

3.6.2.1. Conteúdos a apresentar

Para definir as acções que se pretende levar a efeito na Casa-Museu de José Régio e no Centro
de Documentação, e estando os objectivos previamente definidos e apresentados, foi necessá-
rio identificar claramente a história que se pretende contar na Casa-Museu, e quais as histórias
secundárias merecedoras de serem tratadas.

Desta forma, definiu-se como história principal A VIDA E A OBRA DE JOSÉ RÉGIO NO SEU
ESPAÇO DE VIVÊNCIA. Quem era este homem que se distinguiu no mundo das letras, no sé-
culo XX, qual a sua obra, que inovações trouxe para a cultura portuguesa e de que forma orga-
nizava José Régio o seu quotidiano, quais os seus gostos, como preenchia os seus espaços e
os seus tempos.

Definiram-se ainda duas histórias secundárias possíveis de serem apresentadas nesta casa:
A FAMÍLA REIS PEREIRA, a qual se destacou no campo das artes em Vila do Conde, pela figura
do pai do Poeta, mas também pela obra de seu irmão Júlio / Saúl Dias, pintor e poeta de grande
importância no século XX português.

O FACTOR RELIGIOSO NUMA FAMÍLIA DE CLASSE MÉDIA NOS INÍCIOS DO SÉCULO XX,
é a segunda história secundária que se pode propor aos visitantes, demonstrando de que forma
a educação profundamente religiosa pode interferir na personalidade de uma pessoa, tanto pelo
lado positivo como pelo negativo, e de que forma esta casa era usada no tempo da “Madrinha”
Libânia, uma fervorosa devota da religião cristã e determinante na formação da família Reis
Pereira.

3.6.3. O Serviço Museológico na Casa-Museu José Régio de Vila do Conde

A nova estrutura do serviço implicava um conjunto de espaços e actividades que se relacio-


nam directamente com a globalidade do serviço museológico. Espaço e acção têm de andar
de mãos dadas, só com uma estrutura espacial compatível é possível desenvolver boas acti-
vidades.

155
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

3.6.3.1. A Recepção e Acolhimento

A Casa de José Régio não dispunha de um espaço especialmente destinado a recepção. Os


visitantes eram recebidos pelos guias já dentro da casa, onde lhes eram fornecidas algumas
informações, todavia, sem condições essenciais para o acolhimento do público. A partir deste
momento, todos os visitantes serão recebidos na recepção criada no Centro de Documentação,
por um recepcionista, o qual chamará os guias de visita, que darão as boas-vindas aos visitan-
tes, apresentando a visita, explicando a relação das duas casas no trabalho da Casa-Museu,
seguindo depois para o percurso estruturado e distribuído pelos dois edifícios.

Neste espaço, estará ainda colocado um ponto de venda de produtos especialmente concebidos
para este núcleo museológico. Por questões de segurança e de conservação, na recepção serão
colocados cacifos, onde os visitantes terão de deixar todos os sacos, mochilas e outros pertences.

É fundamental a criação deste espaço de forma a que o público se sinta bem acolhido e envolvi-
do numa visita que se pretende enriquecedora, não só do ponto de vista do conhecimento, mas
também na ocupação de tempos livres. O visitante deve sair do museu com um sentimento de
bom acolhimento, de um serviço organizado para bem servir o público.

3.6.3.2. O Serviço Educativo

Uma das funções essenciais dos museus do século XXI é serem veículos de conhecimentos, os
quais devem ser transmitidos utilizando meios de comunicação que se adaptem aos diferentes tipos
de público que o museu pretende atingir. Assim, a planificação de um serviço educativo é fundamen-
tal para que a Casa-Museu José Régio se afirme como uma âncora no processo de conhecimento
do poeta. Conhecendo os diferentes tipos de público que procuram este serviço, serão criados me-
canismos específicos para as diferentes faixas etárias e diferentes graus de ensino, por forma a ser
possível transmitir os conhecimentos que pretendemos a cada tipo de público específico.

Face à especificidade da Casa-Museu José Régio e à inexistência do Centro de Documenta-


ção, nunca foram estimuladas visitas a este espaço por parte de Jardins de Infância e Escolas
do 1º CEB. Considerava-se não ser o tipo de Museu adequado a estas faixas etárias face ao
ambiente que se apresentava e à falta de espaço próprio ao desenvolvimento de actividades
consentâneas. Com os espaços criados no novo edifício, as camadas mais jovens de visitantes
podem aí ser recebidas, visitarem as exposições temporárias, verem o diaporama, desenvolve-
rem as actividades programadas pela equipa do museu, podendo, desta forma, ficar com alguns
conhecimentos iniciais sobre a figura de José Régio, de um Homem nascido em Vila do Conde,

156
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

que se transformou num escritor tão conhecido que haveria de conquistar um lugar ao nível dos
mais notáveis artífices da literatura portuguesa, coleccionador de coisas antigas e que nutria um
prazer muito especial pela jardinagem. Estas visitas não terão de passar, obrigatoriamente, pelo
edifício da Casa-Museu, pois só com a colaboração dos educadores e professores poderemos
aferir da real eficácia desta visita.

Um segundo nível passa pelos jovens em idade escolar entre o 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico.
Estes, depois de recebidos e após a visita às exposições temporárias e ao diaporama, passarão
à Casa-Museu José Régio. Após um conhecimento prévio da sua personalidade, do seu trabalho,
farão uma visita que se pretende estimulante aos sentidos, criando actividades que direccionem
os jovens para a descoberta dos espaços, das suas funções no tempo de vivência do José Régio
nesta casa; para algumas peças da colecção; para o jardim e os seus diferentes componentes.

Os jovens em idade de frequência do Ensino Secundário serão orientados no sentido da desco-


berta da obra de José Régio e sobre a forma como esta pode ser percepcionada na sua casa de
habitação. Estes visitantes serão ainda estimulados à observação de algumas correntes artísti-
cas e da diversidade das colecções de José Régio.

Alunos universitários e investigadores têm questões sempre muito próprias, pelo que a Casa-
Museu colaborará no desenvolvimento de trabalhos curriculares e projectos de investigação.

Ao visitante individual à Casa-Museu José Régio será proporcionada uma visita que privilegie o
conhecimento da vida e da obra do poeta, integrada num espaço que reflicta os seus gostos, a
sua personalidade e a sua forma de vida. Toda a organização do serviço educativo visa, como
se pode observar, estimular o interesse pela vida e obra de José Régio através do seu espaço
quotidiano, complementado com um conjunto de informação fundamental para um melhor co-
nhecimento desta individualidade.

Para a preparação destas visitas organizadas de acordo com as idades dos visitantes, procurou-se
a cooperação de educadores e professores com motivação para colaborar nestas estruturas cultu-
rais, visto as considerarem fundamentais para o desenvolvimento integral de todos os cidadãos.

3.6.3.3. Os Serviços Culturais

Para além do serviço educativo programado pela Casa-Museu José Régio de Vila do Conde,
esta tem, também, uma importante missão na divulgação da vida e da obra de José Régio, que
não se esgota no espaço confinado à Casa-Museu.

157
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Assim, é intenção organizar conferências e seminários sobre a vida e obra de José Régio, em
colaboração com o Centro de Estudos Regianos, Universidades, ou com a comunidade escolar
local, abordando temas que possam ser do interesse dos diferentes tipos de público. Estas inicia-
tivas poderão realizar-se na sala polivalente localizada no Centro de Documentação associado
à Casa-Museu, no Auditório Municipal, ou em qualquer outro local onde se manifeste pertinente.
Pretende-se, ainda, levar a efeito leituras de poesia extraída da obra de Régio ou de contempo-
râneos seus, de outros escritores de quem tenha sofrido influência ou tenha influenciado, bem
como a encenação de peças de teatro, entre outras iniciativas.

3.6.3.4. A Comunicação na Casa-Museu José Régio de Vila do Conde

Conforme o apresentado no primeiro capítulo deste trabalho, considera-se que as Casas-Museu


têm em si um forte poder de comunicação. O espaço doméstico de alguém, preservado na sua
forma original, vai transmitir directamente a forma de vida, os hábitos, os gostos, entre muitos
outros aspectos da sua personalidade.

A Casa-Museu José Régio de Vila do Conde, de acordo com o anteriormente referenciado, é


um espaço que o poeta escolheu e adaptou para viver após a sua aposentação. A preparação
e organização da sua casa, de acordo com os seus gostos e a sua personalidade, demonstrou
claramente o seu quotidiano e as suas actividades profissionais. Por isso se justifica todo o cui-
dado na sua manutenção e preservação, para que a casa perdure tal como José Régio a deixou
em 1969, aquando da sua morte. Por si só, a casa seria capaz de apresentar aos visitantes
algumas facetas da personalidade deste homem. Todavia, face a um mundo globalizado, onde
as mensagens têm de ser passadas com rigor, inovação e profissionalismo, não é suficiente a
mensagem directa.

A equipa de programação tem de desenvolver um trabalho de investigação que sustente ma-


teriais auxiliares a disponibilizar aos visitantes, sendo estes o reflexo da seriedade do trabalho
desenvolvido pela instituição. Para além das visitas guiadas, exigentes da preparação dos temas
e, simultaneamente, da qualificação dos funcionários que guiam o público no espaço, foram de-
senvolvidos outros serviços colocados à disposição do público. O serviço educativo, fundamen-
tal na transmissão e aquisição de conhecimentos, foi já apresentado, sendo considerado, pela
instituição e pela tutela, fundamental para o sucesso museológico. Se este for atractivo, pode
suscitar nos visitantes a busca de novas actividades.

Paralelamente, foram criados materiais impressos que suportam a informação da visita. Um des-
dobrável com um resumo da biografia de José Régio, assim como um breve historial da casa e

158
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

das colecções serão oferecidos a todos os visitantes, para que estes possam levar a informação
mínima sobre esta Instituição Museológica e dos seus serviços.

Foi editada uma brochura, colocada à venda com a seguinte informação: a biografia de José
Régio, a sua bibliografia activa, o historial e descrição da casa e das colecções, bem como al-
guns testemunhos de quem nela viveu, nomeadamente de familiares e amigos de José Régio, o
cineasta Manoel de Oliveira, a escritora Luisa Dacosta, o professor universitário João Marques e
o irmão do Poeta, João Maria dos Reis Pereira. Este trabalho é entendido como muito importan-
te, pois contém em si a síntese de muito do trabalho realizado pela equipa do museu, com rigor
científico, aliado ao factor sentimental dos testemunhos apresentados.

Face às exigências dos dias de hoje, aos gostos que a generalidade dos jovens e de outras faixas
etárias do nosso público manifestam pelas novas tecnologias, neste novo momento da progra-
mação não foram esquecidos alguns meios tecnológicos. Após a recepção dos visitantes, estes
serão conduzidos à vida e obra de José Régio através de um diaporama em suporte multimédia
com recurso a imagens da época e contemporâneas. Apresentar-se-ão os principais momentos
da vida do poeta, da sua obra e, sempre que possível, confrontar-se-á o espaço com imagens
desses locais na actualidade. Ao entrar no Museu o visitante já está desperto para pormenores
que irá descobrir ao longo da visita. Face aos diferentes tipos de público, este audiovisual é pas-
sível de ser apresentado em Português, Inglês e Francês.

Os visitantes poderão ainda realizar a visita ao espaço, recorrendo a audio-guias, os quais es-
tarão preparados para apresentar os diferentes espaços, a sua ocupação funcional ao tempo
de José Régio, as colecções aí expostas. Estes materiais estarão também disponíveis em três
línguas, com um discurso claro e acessível que permite a compreensão do espaço e o conheci-
mento do homem que habitou esta casa.

3.6.3.5. A Conservação e a Segurança

Quando se pensa em conservação preventiva ou curativa numa Casa-Museu, tem sempre de consi-
derar-se dois factores: o edifício e as colecções. Ambas as componentes são determinantes para o
estudo das personalidades que aí habitaram. De acordo com o referido no presente estudo, é o con-
junto do edifício, no qual está instalado o acervo, que reflecte aspectos vivenciais de determinada
personalidade, que constituem os elementos do estudo das unidades museológicas em questão.

Para que o processo de conservação possa ser bem estruturado é essencial conhecer o edifício,
tanto do ponto de vista histórico como dos materiais que o constitui. Para que isso se tornasse

159
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

realidade tentou-se localizar, no Arquivo Municipal, o projecto de arquitectura da casa. A referida


procura foi infrutífera. Face a isto, procedeu-se ao levantamento do desenho da casa, dimensões
e estruturas de suporte. Efectuaram-se sondagens que permitiram perceber várias técnicas de
construção e diversas épocas de intervenção. Este estudo foi determinante para o desenvolvi-
mento do processo documental da Casa, permitindo definir o tipo de intervenções a efectuar,
uma vez que as técnicas de construção tradicional devem ser preservadas, pois documentam
processos de construção tradicionais.

Na actual intervenção, procurou-se promover isolamento térmico. Simultaneamente, coloca-


ram-se filtros de protecção UV, reduzindo, desta forma, o risco de dano no acervo. Parale-
lamente, foram colocadas cortinas de linho, semelhantes às preexistentes, com o mesmo
objectivo.

No que concerne à dotação de condições ambientais favoráveis aos materiais, com o objectivo
de garantir a sua conservação, é importante referir que, na presente colecção, se encontram
objectos compostos por materiais de diferentes naturezas, existindo, inclusive, uma grande mul-
tiplicidade de objectos compósitos. Estabeleceu-se um equilíbrio ambiental ao nível da tempera-
tura e humidade relativa que não causasse danos irrecuperáveis no acervo existente. Procura-
se manter a temperatura na ordem dos 19 – 20º e a humidade relativa média entre 50 – 55%.
Saliente-se o facto de muitos dos objectos terem estado sujeitos a condições ambientais muito
diferentes das actualmente criadas, todavia, o período de obras permitiu a respectiva climatiza-
ção progressiva a novas condições ambientais. Durante a intervenção, foi instalado um sistema
mecânico de insuflação de ar, que permitirá criar as condições estáveis à conservação dos ma-
teriais. A monitorização ambiental, será assegurada por um sistema informático, relacionado com
uma rede de “Data Logger”, distribuído por todo o edifício.

Os objectos encontram-se expostos em regime livre, sem recurso a vitrines ou outros equipa-
mentos. Assim, o processo de limpeza tem de ser contínuo, mas, simultaneamente, cuidado,
de modo a que as técnicas e os produtos utilizados não causem danos irreversíveis aos
materiais. Elaborou-se um documento que não só determina o tipo de procedimentos a efec-
tuar, tendo em conta a especificidade dos materiais, mas também selecciona os produtos a
utilizar.

Os tratamentos de conservação preventiva necessários serão realizados no laboratório do Nú-


cleo Central do Museu Municipal, ao passo que os restauros, de acordo com a linha adoptada,
neste momento, serão realizados em laboratórios especializados nos diferentes tipos de mate-
riais constituintes da colecção.

160
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Para além dos problemas de manutenção e conservação, é fundamental referir a questão da


segurança dos materiais, os quais, por estarem em regime de exposição livre, podem ser, em
alguns casos, facilmente furtados. Assim, as visitas serão guiadas, cabendo, simultaneamente,
aos guias a função de vigiar a conduta dos visitantes. Quando as visitas forem efectuadas com
o recurso a audio-guias, os vigilantes do museu, de forma discreta, devem zelar pelas peças e
pelo edifício. Pretende-se quando existirem recursos, magnetizar a colecção de maneira a obstar
a eventuais tentativas de furto.

Relativamente aos meios mecânicos, a Casa-Museu José Régio dispõe de um sistema de detec-
ção de intrusão, o qual será activado sempre que a instituição se encontre encerrada, estando
devidamente conectado à Polícia de Segurança Pública de Vila do Conde e à Polícia Municipal.

A Casa-Museu dispõe, ainda, de um sistema de detecção de incêndio. Pretende-se desenvolver


com os Bombeiros Voluntários de Vila do Conde um documento que estabeleça as normas de
intervenção em caso de sinistro, pois se estes utilizam água no combate às chamas, esta pode
danificar séria ou irremediavelmente as peças cuja integridade se pretende salvaguardar. Numa
estrutura museológica com as características da Casa-Museu José Régio, as questões de con-
servação e segurança estão interligadas, daí a decisão de as apresentar num tema único.

3.6.3.6. A Investigação

A investigação é uma das acções essenciais para a sustentabilidade científica da instituição,


especificamente, das mensagens que pretendemos veicular. Assim, para além das actividades
internas em prol da busca de informações sobre a casa, a vida e obra de José Régio, existem
outros horizontes, alguns dos quais já em acção.

A parceria com o Centro de Estudos Regianos, associação com vocação eminentemente cien-
tífica, e que estuda, diariamente, a vida e obra de José Régio é essencial. O Centro de Estudos
dirigido por especialistas na obra regiana, será instalado no Centro de Documentação, anexo à
Casa-Museu, disponibilizando o vasto arquivo e biblioteca do poeta. Os resultados são apresen-
tados na Revista do CER – REGIANA, mas, também, em exposições e colóquios promovidos em
parceria com a Câmara Municipal e a Casa-Museu.

Porém, existe disponibilidade para responder a outras solicitações, que se apresentem como
sérias e valorizadoras de José Régio. A Casa-Museu participa, aliás, como vem sendo hábito,
em colóquios, seminários ou conferências, acções que implicam investigação sobre os temas
específicos que apresentamos.

161
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Para além disto, é objectivo estabelecer uma parceria com uma Universidade, com vista ao
estudo da colecção artística de José Régio, como forma de melhor se conhecer os diferentes
espécimes da nossa colecção.

Muitas acções têm vindo a ser realizadas; no entanto pretende-se orientar a acção para a sistematiza-
ção e desenvolvimento da vertente da investigação na Casa-Museu José Régio de Vila do Conde.

3.6.4. Os Recursos Humanos

A equipa de pessoal da Casa-Museu José Régio de Vila do Conde é bastante reduzida, factor
que obriga a um grande empenhamento de todos os funcionários para que todos os serviços
sejam prestados com a qualidade que se exige a uma estrutura deste género.

Assim, a coordenação e a programação de todas as actividades partem de um corpo central


e comum às restantes unidades constituintes do Museu de Vila do Conde, no qual se integra.
Neste, para além do desenvolvimento das iniciativas de conservação consideradas necessárias,
objectivando-se a manutenção do edifício e colecções, conceptualiza-se todo um conjunto de ac-
tividades, entre elas as educativas, definição de diferentes discursos expositivos, tendo em conta
a diversidade tipológica de visitantes ou a mera administração do núcleo museológico.

A Casa-Museu José Régio de Vila do Conde conta, localmente, com dois funcionários responsá-
veis pelas visitas guiadas, recebendo a calendarização das visitas a partir da estrutura central.
Concomitantemente, acumulam funções de vigilância e acolhimento, desenvolvendo as activida-
des programadas para o efeito.

Ao longo deste período, em que a Casa-Museu permaneceu encerrada ao público, envolveram-


-se os funcionários na resolução dos problemas de conservação, proporcionando-lhes formação
na área em questão, tentou-se motivar a equipa para a necessidade contínua do bom acolhimen-
to do público. Procurou responder-se a três premissas essenciais para o sucesso da instituição:
formação, motivação e envolvimento da equipa, tentando demonstrar a sua importância, valori-
zando algumas das suas ideias, e sugerindo a exposição de sugestões para o bom funcionamen-
to do serviço, apresentando novas tarefas a realizar.

3.6.5. A Divulgação

Fundamental para o sucesso futuro da instituição é a sua divulgação junto dos diferentes tipos
de público, isto é, de investigadores, visitas escolares ou do visitante individual. Como núcleo do

162
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Museu de Vila do Conde, a Casa-Museu José Régio será divulgada em todo o material promo-
cional elaborado para o Museu de Vila do Conde, nomeadamente o “site” na Internet como um
veículo de comunicação e divulgação do Museu.

Pretendemos, igualmente, desenvolver uma campanha de divulgação junto da comunicação so-


cial, a quem o presente projecto será apresentado como algo de inovador, factor potenciador do in-
teresse dos jornalistas pelas Casas-Museu. Eventualmente, considera-se a hipótese de promover
algumas acções destinadas única e exclusivamente à comunicação social, tentando, desta forma,
atrair a atenção para o projecto de valorização da Casa-Museu José Régio de Vila do Conde.

Serão criados cartazes e desdobráveis promocionais, a enviar para diferentes instituições de en-
sino e agências de viagens, como forma de promover a unidade museológica em questão. Uma
parte considerável do nosso público é escolar; Assim, uma boa divulgação junto das escolas e
universidades poderá fomentar o aumento do número de visitantes. Por outro lado, as agências
de viagens, promotoras de muitas visitas, sentindo-se atraídas pelo projecto, poderão criar pro-
gramas, nomeadamente de turismo cultural, nos quais se integram a Casa-Museu José Régio
de Vila do Conde.

Ao mesmo tempo, procura-se-á integrar a Casa-Museu de José Régio de Vila do Conde em ro-
tas de turismo cultural, especificamente nas de casas de escritores ou outras que possam surgir
como forma de divulgar o presente núcleo museológico em estruturas mais alargadas, potencia-
doras do seu desenvolvimento e divulgação.

3.6.6. A Sustentabilidade Financeira

A implementação do programa museológico e de animação de uma estrutura com este carácter


pressupõe investimento que terá de ser assegurado. Assim, sendo a Casa de José Régio depen-
dente da Câmara Municipal de Vila do Conde, esta, como tutela, tem a responsabilidade de asse-
gurar os meios necessários para o desenvolvimento das actividades e acções previstas. Porém,
é obrigação da direcção da unidade museológica procurar meios alternativos que dispensem a
entidade tutelar de realizar investimentos permanentes. Para tal, é possível recorrer as fundos
de financiamento nacional e comunitário, os quais apoiam entre 50 e 75%, em média, as acções
que se revelam de qualidade.

Existe ainda a possibilidade de se recorrer ao mecenato cultural, algo que em Portugal não está
muito implantado, mas que é um meio a explorar e não difícil de conseguir, se as acções e o
papel do museu estiverem verdadeiramente implantadas no seio da comunidade.

163
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

O financiamento da Casa de José Régio será, ainda, complementado pela venda de materiais
na loja do museu e pelo resultado das cobranças nas bilheteiras.

A Casa de José Régio, aberta ao público em 1975, evoluiu no último ano no sentido de se assu-
mir como uma verdadeira Casa-Museu, desenvolvendo acções sustentadas com vista à valori-
zação e divulgação da vida e obra de uma das maiores figuras das letras portuguesas do século
XX, com o apoio do seu espaço de quotidiano que se preserva inalterado.

Este projecto arrastou-se por muitos anos, sujeitando a instituição museológica a um profundo
marasmo; porém, o arranque do processo de renovação verificou-se após uma discussão madu-
ra, uma análise cuidada e com objectivos muito precisos.

A Casa-Museu está, agora, melhor apetrechada para desenvolver um trabalho consciente, sus-
tentado e seguro do ponto de vista científico, por José Régio, pela sua obra e por Vila do Conde.

164
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CONCLUSÃO

165
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

CONCLUSÃO

O movimento impulsionador da criação de casas-museu é uma realidade a que se assiste, a


nível mundial, desde o século XIX, nomeadamente a partir do momento em que se sente a ne-
cessidade de criar elementos de referência social, de salvaguardar e apontar exemplos de per-
sonalidades que podem servir de referência à comunidade em que se inserem. Estas unidades
museológicas apresentam grande diversidade temática, de forma e dimensão, constituindo-se
como espaços celebratórios de personalidades, transformando espaços privados em equipa-
mentos públicos, o que, conforme se referiu, cria uma tensão entre dois domínios absolutamente
antagónicos: a necessidade de preservar o espaço doméstico e privado e, simultaneamente, o
desejo de demonstração de um modo de vida, de pensar, ao que se junta a enorme vontade do
público em observar, directamente, o espaço quotidiano de uma personalidade que admira. Ao
poderem ser consideradas estruturas onde o discurso se apresenta directamente ao visitante,
as casas-museu devem ser estudadas através da correlação entre diversos factores que importa
considerar, tais como, a casa e os seus espaços, a personalidade e os seus ambientes com os
objectos que o homenageado dispôs pelas áreas de ocupação doméstica. É esta simbiose que
poderá dar a informação que o público procura. Só com a conjugação destes vectores se conse-
guirá apreender a verdadeira essência da casa-museu.

As razões da criação deste tipo de instituições podem ser de vária ordem, das quais se destacam
a homenagem a uma personalidade e a necessidade de preservação e conservação das colec-
ções existentes. Os seus fundadores, sejam eles os patronos ou outros, tais como amigos e/ou
familiares, apresentam uma preocupação básica, a sustentabilidade da casa-museu, assistindo-
se a uma preocupação para que a tutela privada seja transferida para a esfera pública no sentido
da instituição se manter para além da vida da personalidade instituidora da entidade museológi-
ca. As inúmeras casas-museu existentes ao nível internacional, a sua diversidade e acção, têm
dado origem a uma preocupação de classificação e clarificação desta realidade. Assim, surgiram
diversas propostas de classificação destas unidades museológicas que foram comparadas no
sentido de aferir a sua compatibilidade à realidade portuguesa, concluindo-se que muitas das
casas-museu portuguesas não se integram em nenhuma das tipologias propostas.

167
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

As casas-museu, para além da sua especificidade temática e conceptual apresentam um con-


junto de condicionantes ao nível da acção museológica, dado tratar-se de espaços domésticos,
bastante fragmentados, com estruturas, muitas vezes deficientes, onde é necessário conser-
var espaço e acervo, estudar e documentar a casa, as colecções e a personalidade que deu
origem à instituição museológica e, simultaneamente, garantir a funcionalidade e comunicação
com os diferentes tipos de público, procurando manter o espaço, o mais possível, como se
encontrava no tempo do patrono. Desta forma, e para que a actividade museológica possa ser
garantida, poderá ser necessário recorrer a espaços anexos e contíguos à casa-museu para
a instalação de espaços técnicos e sociais que garantam a eficácia da actividade de índole
museológica.

A realidade das casas-museu em Portugal apresenta grande complexidade e reflecte a diversi-


dade da acção museológica que se pode observar ao nível da museologia em geral. Assiste-se
ao surgimento de unidades museológicas designadas de casas-museu, casas, casas memoriais,
entre outras designações, não sendo algumas delas mais do que pequenas salas de exposição,
onde se preserva uma colecção de carácter etnográfico local. Ao analisar um conjunto de unida-
des museológicas que poderiam integrar-se neste domínio, constatou-se que, do ponto de vista
da acção museológica, se assiste a uma grande diferença entre as instituições, umas devida-
mente organizadas e outras com grandes carências ao nível dos recursos humanos e financei-
ros, que limitam a sua acção e eficácia.

Desde a primeira metade do século XX, vem-se assistindo progressivamente a um aumento do


número de casas-museu, acelerando-se a sua criação a partir do momento em que se verifica o
fortalecimento do poder local, entidades tutelares predominantes nesta tipologia de instituições
museológicas, e também com a chegada a Portugal dos fundos comunitários, nas décadas de 80
e 90 do século passado. Como se aferiu e indicou, criam-se instituições de carácter museológico,
de tipologias diversas, sob a capa das casas-museu, onde se podem constatar grandes diferen-
ças do ponto de vista da actividade museológica, com horários de funcionamento para o público
muito diversos, que vão desde a abertura através de marcação prévia até horários de funciona-
mento alargado. Também ao nível das outras actividades, como a conservação e restauro, inves-
tigação, documentação e comunicação, é notória uma grande diferença na qualidade do serviço
entre as diferentes instituições museológicas, sentindo-se a necessidade de implementação de
actividades mais diversificadas, nomeadamente recorrendo-se às novas tecnologias, com o ob-
jectivo de responder às necessidades e gostos dos diferentes públicos dos dias de hoje. Para
que isto se verifique, torna-se imperioso um investimento financeiro e qualitativo nas instituições
museológicas, que devem recrutar recursos humanos especializados, habilitados a programar e
a promover a requalificação do tecido museológico nacional.

168
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Depois de analisadas as instituições que serviram de amostra a este estudo, nomeadamente


após a criação de tabelas de relação entre as casas-museu portuguesas e as propostas de
classificação internacional, concluiu-se que estas necessitavam de ser equacionadas de outra
forma, e diferenciadas quanto à sua acção e tipo, para se proceder à formatação de uma propos-
ta que pudesse servir de contributo para uma tabela nacional de classificação das casas-museu
que clarificasse a realidade existente, valorizando as verdadeiras casas-museu, relativamente a
outras unidades museológicas com características diferenciadas. A realização desta análise e a
triagem efectuada reduziu substancialmente a lista das casas-museu portuguesas, uma vez que
permitiu que fossem classificadas segundo parâmetros mais rigorosos, de acordo com as várias
classificações de museus, as unidades até agora integradas na categoria das casas-museu.

De entre as unidades museológicas portuguesas que se inserem na classificação de casas-mu-


seu, está a Casa-Museu José Régio de Vila do Conde, local onde residiu a faleceu este poeta,
figura-maior das letras portuguesas do Século XX. Aberta ao público a 17 de Setembro de 1975,
esta unidade museológica é preservada tal como o poeta a deixou, tendo unicamente sido criada
por dois irmãos, segundo indicações do patrono, a sala de pintura contemporânea. Desde a sua
abertura ao público até cerca de meados da década de 90, a casa-museu não teve acompanha-
mento técnico especializado, tendo sofrido alguns problemas ao nível da conservação preventiva
do acervo e do imóvel.

Após a admissão de pessoal técnico especializado, foi efectuado um diagnóstico de situação,


que originou um projecto de intervenção profundo, contemplando um processo de tratamento do
imóvel e da colecção, para além de um novo edifício anexo que permitirá a melhoria dos serviços
disponíveis ao público. Tentou-se nesta intervenção responder aos requisitos internacionais para
que se preservasse o carácter de casa-museu sem, contudo, descurar a preservação e conser-
vação, a documentação e a comunicação com o público.

As casas-museu como elementos essenciais da memória e aglutinadoras de valores e identida-


des, merecem, por parte das tutelas dominantes, uma atenção especial na sua preservação, sal-
vaguarda e valorização, uma vez que concentram também parcelas fundamentais do património
artístico, etnográfico e cultural dos países e/ou regiões onde se inserem, necessitando de um
maior investimento ao nível dos recursos humanos, conferindo-lhes maior dignidade. Ao iden-
tificar os problemas, ao apresentar os pressupostos teóricos referentes a esta realidade, esta
dissertação pretendeu contribuir para a valorização e requalificação das casas-museu, muito
especialmente para a sua classificação e organização tipológica.

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

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CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

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184
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

www.jarmelo.com.

www.cm-covilha.pt.

www.jornaldaguarda.com.

www.cm-penacova.pt.

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www.portugal-live.net.

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www.cm-ovar.pt.

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www.apagian.pt.

www.feaa.pt.

185
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

www.cm-aljezur.pt.

www.cm-alpiarca.pt.

http://lazer.publico.pt.

186
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXOS

187
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Anexo 1
Lista das Casas-Museu remetida pela Rede Portuguesa de Museus

Anexo 2
Resultados da Lista RPM

Anexo 3
Lista das Casas-Museu no inquérito OAC|IPM

Anexo 4
Resultados da análise do Inquérito OAC|IPM

Anexo 5
Lista das Casas-Museu seleccionadas para o envio do inquérito AP

Anexo 6
Inquérito AP

Anexo 7
Resultados do Inquérito AP

Anexo 8
Lista das Casas-Museu que responderam ao Inquérito AP

Anexo 9
Lista das Casas-Museu que não responderam ao Inquérito AP

Anexo 10
Definições de casa-museu por Museólogos portugueses

Anexo 11
Descrição das Unidades Museológicas de acordo com a proposta de classificação

Anexo n.º 12
Lista de correspondência de n.º à Casa-Museu na tabela de análise dos requisitos para ser con-
siderada Casa-Museu

189
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 1

191
IPM/RPM
Listagem de Casas-Museu
Total de registos: 113
Fonte: OAC/ IPM-RPM
Museu Entidade que tutela Concelho Tipo Região Situação de
(Nut II) Funcionamento
Casa “Carpintaria Antiga” Centro Social e Paroquial da Ribeira Chã LAGOA Por definir AÇORES A Funcionar
Casa Cultural do Grupo Folclórico das Doze Ribeiras ANGRA DO HEROÍSMO Etnografia e AÇORES A Funcionar
Grupo Folclórico das Doze Ribeiras Antropologia
Casa da Freira do Arcano (Presépio) Câmara Municipal da Ribeira Grande RIBEIRA GRANDE Por definir AÇORES Em Projecto
Casa das Debulhadoras Direcção Regional da Cultura dos Açores SANTA CRUZ DA GRA- Por definir AÇORES A Funcionar
CIOSA
Casa de Derreter Baleias das Câmara Municipal de Lajes das Flores LAJES DAS FLORES Por definir AÇORES Intenção
Lages das Flores
Casa Típica - Museu Dr. Marcelino Associação Cultural das Cinco Ribeiras ANGRA DO HEROÍSMO Etnografia e AÇORES A Funcionar
Moules Antropologia
Casa Tradicional / Centro Social e Paroquial da Ribeira Chã LAGOA Por definir AÇORES A Funcionar
Casa-Museu de Maria dos Anjos Re-
belo
Casa-Museu Armando Cortês-Rodrigues Direcção Regional dos Assuntos Culturais da PONTA DELGADA História AÇORES Em Projecto
Madeira
Casa-Museu de Francisco Ernesto Francisco Ernesto ANGRA DO HEROÍSMO Pluridisciplinares AÇORES A Funcionar
de Oliveira Martins
Casa Agrícola José Mota Cortes Maria Domingas Cortes ESTREMOZ Etnografia e ALENTEJO A Funcionar
Antropologia
Casa Escritor Fialho de Almeida Câmara Municipal de Cuba CUBA Por definir ALENTEJO Em Projecto
Casa-Museu de Alpalhão Junta de Freguesia Alpalhão NISA Por definir ALENTEJO A Funcionar
Casa-Museu do Mineiro Câmara Municipal de Mértola MÉRTOLA Por definir ALENTEJO Em Projecto
Casa-Museu dos Bonecos de Emílio Câmara Municipal de Portalegre PORTALEGRE Por definir ALENTEJO Em Projecto
Relvas
Casa-Museu José Régio Câmara Municipal de Portalegre PORTALEGRE Etnografia e ALENTEJO A Funcionar
Antropologia

193
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS
194
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Câmara Municipal de Mora MORA Arte ALENTEJO A Funcionar
Casa-Museu Padre Belo Santa Casa da Misericórdia do Crato CRATO História ALENTEJO A Funcionar
Casa da Cultura António Bentes Santa Casa da Misericórdia de S. Brás de SÃO BRÁS DE ALPOR- Etnografia e ALGARVE A Funcionar
Museu do Trajo Algarvio Alportel TEL Antropologia
Casa-Museu de Pechão Junta de Freguesia Pechão OLHÃO Etnografia e ALGARVE A Funcionar
Antropologia
Casa-Museu João de Deus Câmara Municipal de Silves SILVES Especializados ALGARVE A Funcionar
Casa-Museu Pintor José Cercas Câmara Municipal de Aljezur ALJEZUR Arte ALGARVE A Funcionar
Casa da Cultura - Museu Municipal Câmara Municipal de São Pedro do Sul SÃO PEDRO DO SUL Por definir CENTRO Em Projecto
Casa da Cultura Visconde da Corujeira Câmara Municipal de Mira MIRA Pluridisciplinares CENTRO Em Projecto
Casa da Madalena Rancho Folclórico Rosas do Lena BATALHA Etnografia e CENTRO A Funcionar
Museu Etnográfico da Alta Estremadura Antropologia
Casa do Monte Câmara Municipal de Penacova PENACOVA Por definir CENTRO Em Projecto
Casa Gafanhoa Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré ÍLHAVO Etnografia e CENTRO A Funcionar
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Antropologia
Casa-Museu Afonso Lopes Vieira Câmara Municipal da Marinha Grande MARINHA GRANDE História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu António Pinto Peixoto Comissão de Instalação do Casa-Museu ALMEIDA Por definir CENTRO Em Projecto
José Pinto Peixoto
Casa-Museu Bissaya Barreto Fundação Bissaya Barreto COIMBRA História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu Comendador Nunes Cor- Santa Casa da Misericórdia de Pedrogão PEDRÓGÃO GRANDE Arte CENTRO A Funcionar
reia Grande
Casa-Museu Custódio Prato Rancho Folclórico “Os Camponeses da Beira MURTOSA Etnografia e CENTRO A Funcionar
Ria” Antropologia
Casa-Museu D. Maria Emília Fundação D. Maria Emília Vasconcellos OLIVEIRA DO HOSPI- Pluridisciplinares CENTRO A Funcionar
Vasconcellos Cabral Cabral TAL
Casa-Museu da Ordem Terceira de Ordem Terceira de São Francisco de Assis OVAR Arte CENTRO A Funcionar
São Francisco de Ovar
Casa-Museu de Almeida Moreira IPM - Instituto Português de Museus VISEU Arte CENTRO A Funcionar
Casa-Museu de Alvoco da Serra Liga dos Amigos da Freguesia de Alvoco da SEIA Etnografia e CENTRO A Funcionar
Serra Antropologia
Casa-Museu de Carlos e João Reis Câmara Municipal da Lousã LOUSÃ Por definir CENTRO Em Projecto
Casa-Museu do Ferro Junta de Freguesia do Ferro COVILHÃ Pluridisciplinares CENTRO A Funcionar
Casa-Museu de Penacova - Casa da Sociedade de Propaganda e Progresso de PENACOVA Etnografia e CENTRO A Funcionar
Freira Penacova Antropologia
Casa-Museu de São Jorge da Beira Junta de Freguesia São Jorge da Beira COVILHÃ Por definir CENTRO A Funcionar
Casa-Museu do Carvalho Liga de Melhoramentos de Carvalho PAMPILHOSA DA Etnografia e CENTRO A Funcionar
SERRA Antropologia
Casa-Museu do Castelejo Junta de Freguesia Castelejo FUNDÃO Etnografia e CENTRO A Funcionar
Antropologia
Casa-Museu do Jarmelo Junta de Freguesia São Pedro do Jarmelo GUARDA Por definir CENTRO A Funcionar
Casa-Museu do Paúl Casa do Povo do Paúl COVILHÃ Etnografia e CENTRO A Funcionar
Antropologia
Casa-Museu do Rancho Folclórico do Rancho Folclórico do Juncal do Campo CASTELO BRANCO Etnografia e CENTRO A Funcionar
Juncal Antropologia
Casa-Museu Egas Moniz Câmara Municipal de Estarreja ESTARREJA História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu Fernando Namora Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova CONDEIXA-A-NOVA História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu João Soares Fundação Mário Soares LEIRIA História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu João Tomás Nunes (Particular) ÁGUEDA Etnografia e CENTRO A Funcionar
Antropologia
Casa-Museu José Antunes Pissarra Junta de Freguesia de Arrifana GUARDA Especializados CENTRO A Funcionar
Casa-Museu Maria da Fontaínha Arménio de Vasconcelos CASTRO DAIRE Pluridisciplinares CENTRO A Funcionar
Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Fundação Solheiro Madureira ESTARREJA História CENTRO A Funcionar
Casa-Museu Pires de Campos Câmara Municipal de Idanha-a-Nova IDANHA-A-NOVA Por definir CENTRO Em Projecto
Casa da Malta Instituto da Vinha e do Vinho ALCOBAÇA Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa da Música - Museu Jorge Peixinho Câmara Municipal do Montijo MONTIJO Por definir LISBOA E Em Projecto
VALE DO
TEJO
Casa de Bocage Câmara Municipal de Setúbal SETÚBAL Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa do Corpo Santo -Museu do Bar- Câmara Municipal de Setúbal SETÚBAL Por definir LISBOA E A Funcionar
roco VALE DO

195
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

TEJO
Casa do Fado e da Guitarra Portuguesa EBAHL - Equipamentos dos Bairros Históri- LISBOA Especializados LISBOA E A Funcionar

196
cos de Lisboa, E.M. VALE DO
TEJO
Casa Fernando Pessoa Câmara Municipal de Lisboa LISBOA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa Memorial Humberto Delgado Associação Casa Memorial TORRES NOVAS História LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa Memorial Lopes Graça Câmara Municipal de Tomar TOMAR Por definir LISBOA E Em Projecto
VALE DO
TEJO
Casa Rainha D. Catarina de Bragança Fundação Histórico Cultural Oureana VILA NOVA DE OURÉM Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

TEJO
Casa Roque Gameiro Câmara Municipal da Amadora AMADORA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa Rural Tradicional Câmara Municipal da Chamusca CHAMUSCA Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Antropologia VALE DO
TEJO
Casa Típica Avieira Câmara Municipal de Salvaterra de Magos SALVATERRA DE MA- Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Núcleo Museológico de Escaroupim GOS Antropologia VALE DO
TEJO
Casa Tradicional de Glória do Ribatejo - Associação para a Defesa do Património SALVATERRA DE MA- Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Museu Etnográfico Etnográfico e Cultural de Glória do Ribatejo GOS Antropologia VALE DO
TEJO
Casa-Memória de Camões Associação da Casa Memorial de Camões CONSTÂNCIA Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu de Aljustrel Santuário de Fátima VILA NOVA DE OURÉM Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Antropologia VALE DO
TEJO
Casa-Museu de José Maria da Fonseca José Maria da Fonseca, SA SETÚBAL Especializados LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu do Pescador da Nazaré Manuel Limpinho Águeda NAZARÉ Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Antropologia VALE DO
TEJO
Casa-Museu dos Patudos Câmara Municipal de Alpiarça ALPIARÇA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves IPM - Instituto Português de Museus LISBOA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Joaquim Ferreira Grupo Cultural Recreativo e Desportivo de SINTRA Etnografia e LISBOA E A Funcionar
Belas Antropologia VALE DO
TEJO
Casa-Museu Leal da Câmara Câmara Municipal de Sintra SINTRA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Manuel Mendes IPM - Instituto Português de Museus LISBOA Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Maria de Lourdes Melo e Câmara Municipal de Tomar TOMAR Por definir LISBOA E Intenção
Castro VALE DO
TEJO
Casa-Museu Mário Botas Fundação Casa-Museu Mário Botas NAZARÉ Por definir LISBOA E Em Projecto
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Mário Coelho Mário Coelho VILA FRANCA DE XIRA Por definir LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Mestre João da Silva (Particular) LISBOA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO

197
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS
Casa-Museu Palmira Bastos Junta de Freguesia Aldeia Gavinha ALENQUER Por definir LISBOA E A Funcionar

198
VALE DO
TEJO
Casa-Museu San Rafael Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda CALDAS DA RAINHA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Vasco de Lima Couto José Ramoa Ferreira CONSTÂNCIA Arte LISBOA E A Funcionar
VALE DO
TEJO
Casa-Museu Vieira Natividade IPPAR - Instituto Português do Património ALCOBAÇA Por definir LISBOA E Em Projecto
Arquitectónico VALE DO
TEJO
Casa Colombo Direcção Regional dos Assuntos Culturais da PORTO SANTO História MADEIRA A Funcionar
Madeira
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casa-Museu Dr. Horácio Bento de Américo de Miranda Soares SÃO VICENTE Por definir MADEIRA A Funcionar
Gouveia
Casa-Museu Frederico de Freitas Direcção Regional dos Assuntos Culturais da FUNCHAL Arte MADEIRA A Funcionar
Madeira
Casa-Museu Pimentel de Mesquita Direcção Regional da Cultura dos Açores SANTA CRUZ DAS Por definir MADEIRA A Funcionar
FLORES(MADEIRA)
Casa da Cultura/Casa Botica Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso PÓVOA DE LANHOSO Pluridisciplinares NORTE A Funcionar
Casa da Justiça Câmara Municipal de Felgueiras FELGUEIRAS Por definir NORTE Intenção
Casa da Malta / Museu Mineiro Junta de Freguesia São Pedro da Cova GONDOMAR Ciência e NORTE A Funcionar
História Natural
Casa de José Régio Câmara Municipal de Vila do Conde VILA DO CONDE Por definir NORTE A Funcionar
Casa do Aldeão Fundação Aquilino Ribeiro MOIMENTA DA BEIRA Por definir NORTE A Funcionar
Casa do Forno Adriano Ramos Pinto (Vinhos) SA VILA NOVA DE FOZ Por definir NORTE A Funcionar
COA
Casa do Linho Parque Natural do Alvão VILA REAL Por definir NORTE Em Projecto
Casa-Museu Abel Salazar Associação Divulgadora da MATOSINHOS Arte NORTE A Funcionar
Casa-Museu Abel Salazar
Casa-Museu Biblioteca da Fundação Aquilino Ribeiro MOIMENTA DA BEIRA História NORTE A Funcionar
Fundação Aquilino Ribeiro
Casa-Museu da Cooperativa Câmara Municipal de Vila Verde VILA VERDE Por definir NORTE Em Projecto
“Aliança Artesanal”
Casa-Museu de Camilo Câmara Municipal de Vila Nova de Famal- VILA NOVA DE FAMAL- História NORTE A Funcionar
icão ICÃO
Casa-Museu de Fernando de Castro IPM - Instituto Português de Museus PORTO Por definir NORTE A Funcionar
Casa-Museu de Monção Universidade do Minho MONÇÃO Por definir NORTE Em Projecto
Casa-Museu dos Nichos Câmara Municipal de Viana do Castelo VIANA DO CASTELO Arqueologia NORTE Em Projecto
Casa-Museu Eng. António de Almeida Fundação Eng. António de Almeida PORTO Arte NORTE A Funcionar
Casa-Museu Ferreira de Castro Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis OLIVEIRA DE AZEMÉIS História NORTE A Funcionar
Casa-Museu Guerra Junqueiro Câmara Municipal do Porto PORTO Arte NORTE A Funcionar
Casa-Museu Manuel Luciano da Silva Associação Dr. Manuel Luciano da Silva VALE DE CAMBRA Por definir NORTE A Funcionar
Casa-Museu Marques da Silva Instituto Marques da Silva (Universidade do PORTO Por definir NORTE Em Projecto
Porto)
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto PORTO Arte NORTE A Funcionar
Casa-Museu Mártir São Sebastião Comissão Admin. de Mártir S. Sebastião MATOSINHOS Por definir NORTE A Funcionar
Casa-Museu Maurício Penha Fundação da Casa-Museu Maurício Penha ALIJÓ Pluridisciplinares NORTE A Funcionar
Casa-Museu Miguel Torga Junta de Freguesia Sabrosa SABROSA Por definir NORTE Em Projecto
Casa-Museu Regional de Associação de Defesa e Conhecimento do OLIVEIRA DE AZEMÉIS Etnografia e NORTE A Funcionar
Oliveira de Azeméis Património Cultural Oliveirense Antropologia
Casa-Museu Soledad Malvar Câmara Municipal de Vila Nova de Famal- VILA NOVA DE FAMAL- Por definir NORTE A Funcionar
icão ICÃO
Casa-Museu Teixeira Lopes / Gaia Nima - Equipamentos Municipais, EM VILA NOVA DE GAIA Arte NORTE A Funcionar
Galerias Diogo de Macedo
Casa-Oficina António Carneiro Câmara Municipal do Porto PORTO Arte NORTE A Funcionar

199
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 2

201
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

DOCUMENTO RPM
RESULTADOS

Quadro 1

MODO DE FUNCIONAMENTO
A Funcionar 89
Em Projecto 21
Intenção 3
Total 113

Quadro 2

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL
Região Centro 31
Lisboa e Vale do Tejo 30
Região Norte 27
Arq. Açores 9
Alentejo 8
Algarve 4
Arq. Madeira 4
Total 113

Quadro 3

TIPO DE COLECÇÃO
Por definir 44
Etnografia e Antropologia 23
Arte 20
História 13
Pluridisciplinares 7
Especializados 4
Arqueologia 1
Ciência e História Natural 1
Total 113

Quadro 4

ENTIDADES DE TUTELA
Câmaras Municipais 39
Associações Culturais e Outras 10
Juntas de Freguesia 10
Fundações 10
Particulares 9
Direcções Regionais 6
Grupos Folclóricos 5
IPM 4

203
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Santas Casas da Misericórdia 3


Empresas 3
Centros Sociais e Paroquiais 2
Instituições Religiosas 2
Ligas de Amigos 2
Institutos Públicos 2
Empresas Municipais 2
Universidades 2
Comissões Administrativas 1
Parques Naturais 1
Total 113

Quadro 5

TIPOLOGIAS DE DESIGNAÇÃO
Casa-Museu 75
Casa, Casa de/o/a 24
Casa da Cultura 4
Casa Tradicional 2
Casa Memorial 2
Casa Tipica 2
Casa Oficina 1
Casa Memória 1
Casa Rural 1
Casa Agrícola 1
Total 113

204
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 3

205
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas-Museu Inquérito OAC|IPM

Nome Tutela
IPM

Casa-Museu de Almeida Moreira IPM - Instituto Português de Museus


Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves IPM - Instituto Português de Museus

Câmaras Municipais

Casa-Museu José Régio Câmara Municipal de Portalegre


Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Câmara Municipal de Mora
Casa-Museu Pintor José Cercas Câmara Municipal de Aljezur
Casa-Museu Egas Moniz Câmara Municipal de Estarreja
Casa-Museu Fernando Namora Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova
Casa Roque Gameiro Câmara Municipal da Amadora
Casa Rural Tradicional Câmara Municipal da Chamusca
Casa-Museu Leal da Câmara Câmara Municipal de Sintra
Casa-Museu dos Patudos Câmara Municipal de Alpiarça
Casa da Cultura/Casa Botica Câmara Municipal de Póvoa de Lanhoso
Casa-Museu de Camilo Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão
Casa-Museu Guerra Junqueiro Câmara Municipal do Porto
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto
Casa-Oficina António Carneiro Câmara Municipal do Porto
Casa-Museu Teixeira Lopes / Gaia Nima - Equipamentos Municipais, EM
Galerias Diogo de Macedo

Juntas de Freguesia

Casa-Museu de Ferro Junta de Freguesia Ferro


Casa da Malta / Museu Mineiro Junta de Freguesia São Pedro da Cova

Associações

Casa-Museu de Penacova - Casa da Freira Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova


Casa Tradicional de Glória do Ribatejo - Associação para a Defesa do Património Etnográfico e
Museu Etnográfico Cultural de Glória do Ribatejo
Casa-Museu Joaquim Ferreira Grupo Cultural Recreativo e Desportivo de Belas
Casa-Museu Abel Salazar Associação Divulgadora da
Casa-Museu Abel Salazar
Casa-Museu Regional de Associação de Defesa e Conhecimento do Património
Oliveira de Azeméis Cultural Oliveirense

Direcções Regionais

Casa Colombo Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira


Casa-Museu Frederico de Freitas Direcção Regional dos Assuntos Culturais da Madeira

207
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Empresas

Casa-Museu San Rafael Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda

Instituições de Cariz Religioso

Casa-Museu Comendador Nunes Correia Santa Casa da Misericórdia de Pedrogão Grande


Casa-Museu de Aljustrel Santuário de Fátima

Fundações

Casa-Museu Bissaya Barreto Fundação Bissaya Barreto


Casa-Museu D. Maria Emília
Fundação D. Maria Emília Vasconcellos Cabral
Vasconcellos Cabral
Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Fundação Solheiro Madureira
Casa-Museu Biblioteca da
Fundação Aquilino Ribeiro
Fundação Aquilino Ribeiro
Casa-Museu Eng. António de Almeida Fundação Eng. António de Almeida
Casa-Museu Maurício Penha Fundação da Casa-Museu Maurício Penha

Universidades

Casa-Museu Nogueira da Silva Universidade do Minho

Particulares

Casa Agrícola José Mota Cortes Maria Domingas Cortes


Casa-Museu Maria da Fontínha Arménio de Vasconcelos
Casa-Museu Mestre João da Silva (Particular)

208
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 4

209
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

INQUÉRITO OAC|IPM
RESULTADOS

Quadro 1
Patrono/Dedicatória
%
Homem 25 64.1
Mulher 4 10.25
Actividade Profissional 2 5.13
Localidade 6 15.39
Santos 1 2.56
Outros 1 2.56
39 99.99

Quadro 2
Abertura ao público
%
1900-1950 4 10.26
1951-1998 34 87.18
S/data 1 2.56
39 100

Quadro 3
Décadas
%
Década de 50 0 0
Década de 60 5 14.71
Década de 70 7 20.59
Década de 80 11 32.35
Década de 90 11 32.35
34 100

Quadro 4
Possibilidade de visita
%
Aberto 4 10.26
Temporariamente aberto 34 87.18
Temporariamente Fechado 1 2.56
Fechado 0 0
39 100

Quadro 5
Funcionamento
%
Permanente 31 79.49
Sazonal 2 5.13
Esporádico 6 15.38
39 100

211
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 6
Tutela
%
Pública 23 58.97
Privada 16 41.03
39 100

Quadro 7
Pública
%
Câmara Municipal 16 69.57
Junta de Freguesia 1 4.35
Regiões Autónomas 2 8.7
MC | IPM 2 8.7
Universidade 1 4.35
Casa do Povo 1 4.35
23 100.02

Quadro 8
Privada
%
Fundação 6 37.5
Misericórdias | I. Católica 2 12.5
Particular 3 18.75
Associação 4 25
Empresa 1 6.25
16 100

Quadro 9
Colecções
%
Arte 28 23.33
Etnologia | Antropologia 14 11.66
Fotografia 10 8.33
Literatura 9 7.5
Arqueologia 7 5.83
Arte Sacra 7 5.83
Numismática 7 5.83
História 6 5
Traje 6 5
Porcelanas | Faianças 4 3.38
Outras 4 3.38
Indústria 2 1.66
Mobiliário 2 1.66
Espécies Não Vivas 2 1.66
Brinquedos 1 0.83
Artesanato 1 0.83

212
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Pratas 1 0.83
Prémio Nobel 1 0.83
Ciência | Técnica 1 0.83
Acervo Documental 1 0.83
Filatelia 1 0.83
Borboletas 1 0.83
Barros Negros 1 0.83
Pedras 1 0.83
Objectos Pessoais 1 0.83
Casa-Museu 1 0.83
120 100.01

Quadro 10
Edifício
%
Ocupado na Totalidade 27 69.23
Ocupado Parcialmente 12 30.77
39 100

Quadro 11
Outras Ocupações do Espaço
%
Habitação 5 29,41
Biblioteca 2 11,76
Centro de Estudos 1 5,88
Galeria de Exposições 1 5,88
Actividades Culturais 1 5,88
Associação de Reformados 1 5,88
Depósito 1 5,88
Atelier 1 5,88
Serviços Administrativos 1 5,88
Ourivesaria 1 5,88
Posto Médico 1 5,88
Sede de Associação 1 5,88
17 100

Quadro 12
Tipo de Construção
%
De Raiz 3 7.69
Adaptada a Casa-Museu 28 71.8
Ambas as situações 7 17.95
Não respondeu 1 2.56
39 100

213
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 13
Serviços de Acolhimento ao Público
%
Espaços Exteriores 27 29.35
Biblioteca | C. Documentação 24 26.09
Auditório 9 9.78
Loja 9 9.78
Cafetaria | Restaurante 8 8.7
Serviços Educativos 6 6.52
Sala Multimédia | Audiovisuais 4 4.35
Nenhum 3 3.26
Outros 1 1.09
Não Respondeu 1 1.09
92 100.01

Quadro 14
Serviços Técnicos
%
Nenhum 18 46.15
Biblioteca | C. Documentação 16 41.03
Não Respondeu 4 10.26
Laboratório de Restauro 1 2.56
39 100

Quadro 15
Barreiras Arquitectónicas
%
Na Entrada 21 36.84
No Percurso de Visita 18 31.58
Acesso para Deficientes 7 12.28
Elevadores 6 10.52
Não Respondeu 5 8.96
57 100.18

Quadro 16
Sinalética
%
Não 30 76.92
Sim 8 20.51
Não Respondeu 1 2.56
39 99.99

Quadro 17
Segurança
%
Ambos 15 36.59
Sistema Anti-Roubo 11 26.83

214
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Sistema Anti-Incêndio 3 7.32


Nenhum 11 26.83
Não Respondeu 1 2.44
41 100.01

Quadro 18
Sistema Anti-Roubo
%
Electrónico 18 40,91
Guardaria Própria 9 20,45
Empresa de Segurança 9 20,45
Ligação à Policia 8 18,18
44 100

Quadro 19
Sistema Anti-Incêndio
%
Sem ligação aos Bombeiros 10 25,64
Ligado aos Bombeiros 7 17,95
Não Respondeu 22 56,41
39 100

Quadro 20
Recursos Humanos - Quadro de Pessoal
%
Sim 21 53.85
Não 14 35.9
Não Respondeu 4 10.26
39 100.01

Quadro 21
Recursos Humanos - Formação
%
Sim 20 51.28
Não 15 38.46
Não Respondeu 4 10.26
39 100

Quadro 22
Recursos Financeiros - Orçamento Anual
%
Sim 11 28.21
Não 23 58.97
Não Respondeu 5 12.82
39 100

215
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 23
Recursos Financeiros - Receitas
%
Não Respondeu 13 16.66
Dotação da Tutela 11 14.1
Bilheteira 11 14.1
Loja | Publicações 11 14.1
Subsidio da Adm.Local 8 10.26
Aluguer de Espaços 5 6.41
Patrocínios Particulares 5 6.41
Fundos Comunitários 4 5.13
Prestação de Serviços 2 2.57
Rendas de Imóveis 2 2.57
Subsidio da Adm. Central 2 2.57
Direitos Fotográficos 1 1.28
Quotas de Sócios 1 1.28
Mecenato em Espécie 1 1.28
Outros 1 1.28
78 100

Quadro 24
Modo de Incorporação
%
Doação 27 31.4
Aquisição 22 25.58
Legado 14 16.28
Recolha 13 15.12
Achado 5 5.81
Outros 5 5.81
Transferência 0 0
86 100

Quadro 25
Continua a Incorporar
%
Sim 14 35.9
Não 1 2.56
Não Respondeu 24 61.54
39 100

Quadro 26
Inventário - Estado de desenvolvimento
%
Inv. Sumário 21 43.75
Registo | Cadastro 14 29.17
Inv. Desenvolvido 7 14.58
Não Respondeu 6 12.5
48 100

216
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 27
Inventário - Informatização
%
Iniciada 12 30.77
Prevista 12 30.77
Não Prevista 10 25.64
Não Respondeu 3 7.69
Concluída 2 5.13
39 100

Quadro 28
Inventário - Com Imagens
%
Com 14 35.9
Sem 1 2.56
Não Respondeu 24 61.54
39 100

Quadro 29
Conservação - Tipo de Conservação
%
Preventiva 16 41.03
Activa 5 12.82
Ambas 5 12.82
Não Existe 9 23.08
Não Respondeu 4 10.26
39 100.01

Quadro 30
Conservação - Condições Ambientais
%
Razoáveis 22 56.41
Boas 8 20.51
Más 4 10.26
Relativamente Más 3 7.69
Não Respondeu 2 5.13
39 100

Quadro 31
Conservação - Restauros
%
Sim, mas insuficientes 12 30.77
Não 12 30.77
Sim 11 28.21
Não, mas sem necessidade 4 10.26
39 100.01

217
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 32
Actividades para os Visitantes
%
Renovação da Expo Permanente 14 18.18
Expo. Temporária P/ Museu 14 18.18
Conferências 12 15.58
Espectáculos 12 15.58
Outros 12 15.58
Expo Temporária para o exterior 10 12.99
Não Respondeu 3 3.9
77 99.99

Quadro 33
Projectos de Investigação
%
Não 22 56.41
Sim 14 35.9
Não Respondeu 3 7.69
39 100

Quadro 34
Projectos de Investigação - Por Quem
%
Ambos 9 64,29
Só por Técnicos do Museu 3 21,43
Investigadores Externos 2 14,29
Não Respondeu 25
14 100

Quadro 35
Serviços Educativos
%
Sim 27 69.23
Não 10 25.64
Não Respondeu 2 5.13
39 100

Quadro 36
Serviços Educativos - Sim
%
Visitas Guiadas a Estudantes 25 75,76
Outros 4 12,12
Actividades de Exterior 3 9,09
Ateliers 1 3,03
Não Respondeu 6
33 100

218
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 37
Publicações para o Público
%
Folheto | Desdobrável 18 21.43
Texto Fotocopiado 14 16.67
Catálogo 10 11.9
Estudos Científicos 10 11.9
Outros 10 11.9
Roteiro | Guia 9 10.72
Publicações Periódicas 5 5.95
Não Respondeu 3 3.57
Diapositivos 2 2.38
Vídeo 2 2.38
Cd-Rom 1 1.19
84 99.99

Quadro 38
Controlo de Visitantes
%
Sim 28 71.8
Não 8 20.51
Não Respondeu 3 7.69
39 100

Quadro 39
Controlo de Visitantes Com Bilheteira
%
Não 19 48.72
Sim 16 41.03
Não Respondeu 4 10.26
39 100.01

Quadro 40
Principais Carências
%
Pessoal 21 12
Restauros 20 11.43
Recursos Financeiros 20 11.43
Formação 18 10.29
Conservação 18 10.29
Promoção | Divulgação 15 8.57
Equipamento Informático 14 8
Instalações | Espaço 13 7.43
Manutenção do Edifício 13 7.43
Segurança 13 7.43
Equipamento | Mobiliário 6 3.43
Não Respondeu 4 2.29
175 100.02

219
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 5

221
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Selecção de Casas Museu para o Inquérito AP

IPM – MINISTÉRIO DA CULTURA


Nome Tutela
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves IPM
Casa-Museu Almeida Moreira IPM
Casa-Museu Manuel Mendes IPM
Casa-Museu Fernando de Castro IPM

CÂMARAS MUNICIPAIS
Nome Tutela
Casa-Museu Leal da Câmara Câmara Municipal de Sintra
Casa de José Régio Câmara Municipal de Vila do Conde
Casa-Museu Egas Moniz Câmara Municipal de Estarreja
Casa-Museu dos Patudos Câmara Municipal de Alpiarça
Casa-Museu Pintor José Cercas Câmara Municipal de Aljezur
Casa da Cultura – Casa da Botica Câmara Municipal Póvoa de Lanhoso
Casa-Museu Guerra Junqueiro Câmara Municipal do Porto
Casa Oficina António Carneiro Câmara Municipal do Porto
Câmara Municipal de Vila Nova de
Casa-Museu de Camilo
Famalicão
Casa Rural Tradicional – Museu Etnográfico Câmara Municipal da Chamusca
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto
Casa-Museu Teixeira Lopes – Galerias Diogo de
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Macedo
Casa Roque Gameiro Câmara Municipal da Amadora
Casa-Museu Fernando Namora Câmara Municipal Condeixa-A-Nova
Casa-Museu José Régio Câmara Municipal de Portalegre
Casa-Museu João de Deus Câmara Municipal de Silves
Casa de Bocage Câmara Municipal de Setúbal
Casa Fernando Pessoa Câmara Municipal de Lisboa
Casa Memorial Lopes Graça Câmara Municipal de Tomar
Câmara Municipal de Oliveira de
Casa-Museu Ferreira de Castro
Azemeis
Câmara Municipal de Vila Nova de
Casa-Museu Soledad Malvar
Famalicão

JUNTAS DE FREGUESIA
Nome Tutela
Casa-Museu de Ferro Junta de Freguesia de Ferro
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Junta de Freguesia de Pavia
Casa de Malta – Museu Mineiro Junta de F. de S. Pedro da Cova
Casa-Museu de Pechão Junta de Freguesia de Pechão
Casa-Museu de São Jorge da Beira Junta de Freguesia de S. Jorge da Beira
Junta de Freguesia de S. Pedro do
Casa-Museu do Jarmelo
Jarmelo
Casa-Museu José Antunes Pissarra Junta de Freguesia de Arrifana
Junta de Freguesia Aldeia Gavinha
Casa-Museu Palmira Bastos
Prof. Guapo
Casa-Museu Miguel Torga Junta de Freguesia de Sabrosa

223
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ASSOCIAÇÕES
Nome Tutela
Casa-Museu Joaquim Ferreira Centro Cultural e Desportivo de Belas
Casa Tradicional Glória do Ribatejo – Museu Assoc. Defesa do Património Etnog. e
Etnográfico Cultural de Glória do Ribatejo
Sociedade de Propaganda e Progresso
Casa-Museu de Penacova ou Casa da Freira
de Penacova
Associação Casa Museu Oliveira de
Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis
Azeméis
Casa Memorial Humberto Delgado Associação Casa Memorial
Casa-Museu Manuel Luciano da Silva Associação Dr. Manuel Luciano da Silva
Casa-Museu do Paúl Casa do Povo do Paúl
Associação Divulgadora da Casa Museu
Casa-Museu Abel Salazar
Abel Salazar

DIRECÇÕES REGIONAIS / ILHAS


Nome Tutela
Direc. Reg. Assuntos Culturais da
Casa-Museu Frederico de Freitas
Madeira
Casa de Colombo Del. Reg. de Assuntos Culturais
Casa-Museu Armando Cortês - Rodrigues Dir. Regional Ass. Cult. dos Açores
Casa de Derreter Baleias das Lajes das Flores Câmara Municipal de Lajes das Flores

EMPRESAS
Nome Tutela
Casa-Museu S. Rafael Faianças artísticas Bordalo Pinheiro
Casa da Malta Instituto da Vinha e do Vinho
Museu Ramos Pinto Adriano Ramos Pinto

INSTITUIÇÕES DE CARIZ RELIGIOSO


Nome Tutela
S.ta Casa da Misericórdia de Pedrogão
Casa-Museu Comendador Nunes Correia
Grande
Casa-Museu de Aljustrel Santuário de Fátima
Ordem Terceira de S. Francisco de Assis
Casa-Museu da Ordem Terceira de S. Francisco
de Ovar
Casa-Museu Padre Belo S.ta Casa da Misericórdia do Crato
Casa da Cultura António Bentes – Museu do Traje S.ta Casa da Misericórdia de S. Brás de
Algarvio Alportel

FUNDAÇÕES
Nome Tutela
Casa-Museu Maurício Penha Fundação Casa Museu M. Penha
Fundação D.ª Maria Emilia Vasconcellos
Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcellos Cabral
Cabral
Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Fundação Solheiro Madureira
Casa-Museu Bissaya Barreto Fundação Bissaya Barreto
Casa-Museu Eng.º António de Almeida Fundação Eng.º António de Almeida
Casa-Museu Biblioteca de Aquilino Ribeiro Fundação Aquilino Ribeiro
Casa-Museu João Soares Fundação Mário Soares
Casa-Museu Mário Botas Fundação Casa Museu Mário Botas

224
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

UNIVERSIDADES
Nome Tutela
Casa-Museu Nogueira da Silva Universidade do Porto
Casa-Museu de Monção Universidade do Minho
Casa-Museu Marques da Silva Universidade do Porto

PARTICULARES
Nome Tutela
Casa-Museu Maria da Fontinha Dr. Arménio S. Vasconcelos
Casa Agrícola José Mota Cortes M.ª Domingas R. M. Cortes
Casa-Museu João da Silva
Casa-Museu do Pescador da Nazaré Manuel Limpinho Águeda
Casa-Museu Dr. Horácio Bento de Gouveia Américo de Miranda Soares

68 inquéritos enviados

225
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 6

227
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casa Museu

Endereço:

Tel: Fax: e-mail:

Director/Responsável:

Tutela:

Fundação

Data de Fundação: Abertura:

Fundador Relacionamento com o patrono:

Clausulas de salvaguarda? Quais?

Missão

Objectivos gerais:

Património

Tipologia da Colecção:

Modo de incorporação:

Colecção fechada ou continuam a incorporar:

Tipo de registo/inventário/catalogação:

229
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Relacionamento do patrono com a colecção e o edifício:

Património Original da Casa

Imóvel
Edificío Não Sim
Todo
Parte

“Grounds” Não Sim


Todo
Parte

Decoração Fixa Não Sim


Todo
Parte

Móvel
Decoração Móvel Não Sim
Todo
Parte

Mobiliário Não Sim


Todo
Parte

Colecções Não Sim


Todo
Parte

Área da Casa:

Alterações? Quando? Dimensão da Intervenção?

Afectação de áreas aos diferentes serviços

Restauros na colecção: por quem:

230
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Público

Horário de Funcionamento:

Tipo de entrada: bilhete: valor:

Website:

Público alvo preferencial:

Público habitual:

Números médios anuais:

Actividades com o público. O que é oferecido na visita?

Meios de comunicação utilizados: Recorrem às novas tecnologias?

Acções de serviço educativo programadas:

Investigação

Acções de investigação desenvolvidas: Relacionadas com o patrono, com a colecção, com o edifício.

Contactos com comunidades cientificas, nomeadamente universidades:

Como difundem os resultados da investigação: Exposições, boletins, catálogos, estudos, net:

Existe programa de investigação e comunicação

Meios Financeiros

Orçamento anual: proveniente de:

231
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

De onde provêm os fundos:

Recursos Humanos

Quadro de Pessoal:

N.º de funcionários e Tipologia:

Principais carências sentidas:

232
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 7

233
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

INQUÉRITO AP
(Desenvolvido para esta Dissertação)
RESULTADOS

Selecção de casas-museu 70

Inqúeritos enviados 68

Inqúeritos Recebidos 47

Quadro 1
Inquéritos por tipologia de tutela
Tutela Enviados Recebidos % de recebidos
IPM 4 4 100
Câmaras Municipais 20 15 75
Juntas de Freguesia 8 5 62.5
Associações 7 3 42.9
Dir. Reg. (Ilhas) 4 1 25
Empresas 3 3 100
Insts. Religiosas 5 4 80
Fundações 8 7 87.5
Universidades 4 2 50
Particulares 5 3 60
68 47 69.12

Quadro 2
Data de Fundação
%
N. Responde 11 23.4
Década de 40 1 2.13
Década de 50 3 6.38
Década de 60 5 10.64
Década de 70 7 14.89
Década de 80 8 17.02
Década de 90 8 17.02
A partir do ano 2000 4 8.51
47 100

Quadro 3
Data de Abertura ao público
%
N. Responde 5 10.64
Sem funcionamento 2 4.26
A inaugurar 2 4.26
Década de 40 1 2.13
Década de 50 3 6.38
Década de 60 2 4.26

235
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Década de 70 4 8.51
Década de 80 11 23.4
Década de 90 13 27.65
A partir do ano 2000 4 8.51
47 100

Quadro 4
Fundador / Patrono
%
N. Responde 6 10.71
O mesmo 14 25
Outro 36 64.29
Ad. Central 2
C. Mun. 11
Fam. 12
J. Freg. 1
CM+JF 1
Individual 1
Empresa 2
Assoc. 2
Amigos 3
Grupo cid. 1
56 100

Quadro 5
Missão e Objectivos
%
Não responde 4 5.06
Conservar e Divulgar a Colecção 17 21.52
Valorizar vida cultural da região 4 5.06
Divulgar a vida e obra do patrono 21 26.58
Educação e Cultura 16 20.25
Divulgação do património local 7 8.86
Turismo 1 1.27
Divulgar a região 3 3.8
Manter a memória da empresa 2 2.53
Divulgar acontecimentos 1 1.27
Religiosos 1 1.27
Solidariedade social 2 2.53
79 100

Quadro 6
Tipologia de Colecção
%
Não Responde 5 7.35
Mista 3 4.41
Artes Plásticas e Decorativa 25 36.76

236
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Objectos pessoais 4 5.88


biblioteca 7 10.29
Objectos etnográficos 13 19.12
Arquivo 3 4.41
Arte Sacra 2 2.94
Fotografia 2 2.94
Religião 1 1.47
Objectos musicais 1 1.47
Arqueologia 1 1.47
Traje 1 1.47
68 100

Quadro 7
Modo de Incorporação
%
Não responde 13 25
N. Identifica (Fala do dono 6 11.54
sem ident. a forma de Inc.)
Legado 4 7.69
Doação 14 26.92
Oferta 5 9.62
Compra 9 17.31
Empréstimo 1 1.92
52 100

Quadro 8
Colecção aberta ou fechada
%
N. Responde 9 19.15
Aberta 24 51.06
Fechada 14 29.79
47 100

Quadro 9
Tipo de Registo da colecção
%
N. Responde 7 13.46
Inventário 22 42.31
Inventário Manual 5 9.62
Inventário Informático 16 30.77
Catalogo 2 3.84
52 100

237
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 10
Relacionamento do Patrono com a colecção
%
N. Responde 31 65.96
Do próprio 16 34.04
47 100

Quadro 11
Património
%
Imóvel Original Sim 40 85.1
todo 10
em parte 19

Não 0 0
todo
em parte
N. Responde 7 14.9
47 100

Móvel Original
Sim 30 63.83
Todo 12
em parte 9

Não 7 14.89
todo
em parte
N. Responde 10 21.28
47 100

Quadro 12
Área da Casa
%
N. Responde 14 29.79
até 50 m2 2 4.25
até 100m2 5 10.64
até 150m2 1 2.13
até 200m2 2 4.25
até 250m2 2 4.25
até 300m2 2 4.25
mais de 300m2 19 40.43
47 100

238
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 13
Alterações ou intervenções na casa
%
N. Responde 18 38.3
Sim 28 59.57
Não 1 2.13
47 100

Quadro 14
Áreas da casa afectas a serviços museológicos
%
N. Responde 22 28.95
Serv. Adm. 10 13.16
Reserva 8 10.53
Loja 3 3.95
Recepção 6 7.89
Exposições temporárias 11 14.47
Serv. Técnicos 3 3.95
Cafetaria 1 1.32
Serv. Educativo 1 1.32
Biblioteca 3 3.95
Não 8 10.53
76 100

Quadro 15
Restauros na Colecção
%
N. Responde 17 36.17
Sim 23 48.94
Não 7 14.89
47 100

Quadro 16
Horário de Funcionamento
%
N. Responde 2 4.25
Regular 34 72.35
Esporádico 2 4.25
Encerrado 5 10.64
Por marcação 4 8.51
47 100

Quadro 17
Ingresso
%
N. Responde 8 17.02
Bilhete 20 42.55
Grátis 19 40.43
47 100
239
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 18
Website
%
N. Responde 22 46.81
Sim 21 44.68
Não 4 8.51
47 100

Quadro 19
Público Alvo Preferencial
%
N. Responde 14 24.56
Todos 26 45.61
Pub. Escolar 11 19.3
População local 6 10.53
57 100

Quadro 20
Público habitual
%
N.Responde 14 22.58
Associações 1 1.61
Púb. Escolar 19 30.64
Púb. Em Geral 21 33.88
Turistas 7 11.29
62 100

Quadro 21
Números médios anuais
%
N. Responde 11 23.41
Fechado 1 2.13
Até 1000 9 19.15
1001-2000 3 6.38
2001-3000 7 14.89
3001-4000 3 6.38
4001-5000 1 2.13
5001-6000 4 8.51
6001-7000 2 4.25
7001-8000 1 2.13
(+) 10000 5 10.64
47 100

Quadro 22
Actividades com o público
%
N. Responde 18 37.5

240
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Visitas guiadas 12 25
Ateliers 5 10.42
jogos 1 2.08
Folha de trabalho 1 2.08
workshop 1 2.08
acts. Culturais 2 4.17
folheto 5 10.42
Exposições temporárias 2 4.17
Nada 1 2.08
48 100

Quadro 23
Meios de Comunicação utilizados
%
N. Responde 26 55.32
Desdobráveis 2 4.26
Brochuras 2 4.26
Computador 1 2.13
Audiovisuais 4 8.51
Catálogo 2 4.26
Posto de iNternet 1 2.13
Sim 3 6.38
Não 6 12.77
47 100

Quadro 24
Serviço Educativo
%
N. Responde 10 21.28
Sim 22 46.81
Não 15 31.91
47 100

Quadro 25
Acções de Investigação
%
N. Responde 9 19.15
Sim 27 57.45
Não 11 23.4
47 100

Quadro 26
Contactos com a comunidade cientifica
%
N. Responde 14 29.79
Sim 24 51.06
Não 9 19.15
47 100

241
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Quadro 27
Como difundem resultados da investigação
%
N. Responde 23 28.4
Catálogo 12 14.81
Exposições 14 17.28
Conferências 4 4.94
Internet 6 7.41
Visitas guiadas 1 1.24
Boletins 3 3.7
Cd 1 1.24
Publicações 7 8.64
Periódicos 7 8.64
Folheto 1 1.24
Não 2 2.47
81 100

Quadro 28
Existe programa de investigação
%
N. Responde 26 55.32
Não 13 27.66
Sim 8 17.02
47 100

Quadro 29
Orçamento anual
%
N. Responde 11 23.4
Sim 17 36.17
Não 19 40.43
47 100

Quadro 30
De onde provêm os fundos
%
N. Responde 17 32.08
Câmaras Municipais 11 20.75
Juntas de Freguesia 1 1.89
Igreja 3 5.66
Orçamento de Estado 4 7.55
Mecenato 2 3.77
Vendas de Produtos 1 1.89
Visitas 1 1.89
Empresa 1 1.89
Fundação 5 9.43
Universidades 2 3.77

242
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Ofertas 2 3.77
Várias Fontes 3 5.66
53 100

Quadro 31
Quadro de Pessoal
%
N. Responde 18 38.3
Sim 7 14.89
Não 22 46.81
47 100

Quadro 32
N.º Funcionários
%
Não responde 21 44.67
1 5 10.64
002-004 13 27.66
005-009 6 12.77
0010-0014 1 2.13
(+) de 15 1 2.13
47 100

Quadro 33
Tipologia de funcionários
%
Técnico Superior 17 29.31
Pessoal Auxiliar 8 13.79
Técnico Profissional 8 13.79
Pessoal Administrativo 7 12.07
Vigilantes 7 12.07
Recepcionistas 3 5.17
Serviço Educativo 5 8.62
Guias 2 3.45
Apoio Ciêntifico 1 1.72
58 100

Quadro 34
Pricipais carências
%
N. Responde 20 28.57
Orçamento 13 18.57
Pessoal 13 18.57
Espaço 5 7.14
Necessidade de Obras 3 4.29
Material Informático 3 4.29
Falta de Apoio 3 4.29

243
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Estudos 2 2.86
Conservação e Restauro 2 2.86
Meios Técnicos 1 1.43
Equipamentos 1 1.43
Bibliografia 1 1.43
Falta de interesse da tutela 1 1.43
Falta de Segurança 1 1.43
Pouco Público 1 1.43
70 100

244
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 8

245
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas Museu que responderam ao inquérito

IPM – MINISTÉRIO DA CULTURA


Nome Tutela
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves IPM
Casa-Museu Almeida Moreira IPM
Casa-Museu Manuel Mendes IPM
Casa-Museu Fernando de Castro IPM

CÂMARAS MUNICIPAIS
Nome Tutela
Casa-Museu Leal da Câmara Câmara Municipal de Sintra
Casa de José Régio Câmara Municipal de Vila do Conde
Casa-Museu dos Patudos Câmara Municipal de Alpiarça
Casa-Museu Pintor José Cercas Câmara Municipal de Aljezur
Casa-Museu Guerra Junqueiro Câmara Municipal do Porto
Casa Oficina António Carneiro Câmara Municipal do Porto
Casa Rural Tradicional – Museu Etnográfico Câmara Municipal da Chamusca
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio Câmara Municipal do Porto
Casa Roque Gameiro Câmara Municipal da Amadora
Casa-Museu Fernando Namora Câmara Municipal Condeixa-A-Nova
Casa-Museu José Régio Câmara Municipal de Portalegre
Casa-Museu João de Deus Câmara Municipal de Silves
Casa-Fernando Pessoa Câmara Municipal de Lisboa
Casa Memorial Lopes Graça Câmara Municipal de Tomar
Câmara Municipal de Oliveira de
Casa-Museu Ferreira de Castro
Azeméis

JUNTAS DE FREGUESIA
Nome Tutela
Casa-Museu Manuel Ribeiro de Pavia Junta de Freguesia de Pavia
Casa de Malta – Museu Mineiro Junta de F. de S. Pedro da Cova
Junta de Freguesia de S. Pedro do
Casa-Museu do Jarmelo
Jarmelo
Casa-Museu Palmira Bastos Junta de Freguesia Aldeia Gavinha
Casa-Museu de Ferro Casa do povo de Ferro

ASSOCIAÇÕES
Nome Tutela
Casa Tradicional Glória do Ribatejo – Museu Assoc. Defesa do Património Etnog. e
Etnográfico Cultural de Glória do Ribatejo
Sociedade de Propaganda e Progresso
Casa-Museu de Penacova ou Casa da Freira
de Penacova
Associação Casa Museu Oliveira de
Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis
Azeméis
Associação Divulgadora da Casa Museu
Casa-Museu Abel Salazar
Abel Salazar

247
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

DIRECÇÕES REGIONAIS
Nome Tutela
Direc. Reg. Assuntos Culturais da
Casa-Museu Frederico de Freitas
Madeira

EMPRESAS
Nome Tutela
Casa-Museu S. Rafael Faianças artísticas Bordalo Pinheiro
Casa da Malta Instituto da Vinha e do Vinho
Museu Ramos Pinto Adriano Ramos Pinto

INSTITUIÇÕES DE CARIZ RELIGIOSO


Nome Tutela
Casa-Museu Comendador Nunes Correia S.ta Casa da Misericórdia
Casa-Museu de Aljustrel Santuário de Fátima
Casa-Museu Padre Belo S.ta Casa da Misericórdia do Crato
Casa da Cultura António Bentes – Museu do Traje S.ta Casa da Misericórdia de S. Brás de
Algarvio Alportel

FUNDAÇÕES
Nome Tutela
Fundação D.ª Maria Emilia Vasconcellos
Casa-Museu D.ª Maria Emilia Vasconcellos Cabral
Cabral
Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Fundação Solheiro Madureira
Casa-Museu Bissaya Barreto Fundação Bissaya Barreto
Casa-Museu Eng.º António de Almeida Fundação Eng.º António de Almeida
Casa-Museu Biblioteca de Aquilino Ribeiro Fundação Aquilino Ribeiro
Casa-Museu João Soares Fundação Mário Soares
Casa-Museu Mário Botas Fundação Casa Museu Mário Botas

UNIVERSIDADES
Nome Tutela
Casa-Museu Nogueira da Silva Universidade do Minho

PARTICULARES
Nome Tutela
Casa Agrícola José Mota Cortes M.ª Domingas R. M. Cortes
Casa-Museu do Pescador da Nazaré Manuel Limpinho Águeda
Casa-Museu Dr. Horácio Bento de Gouveia Américo de Miranda Soares

48 respostas por carta ou inquérito

248
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 9

249
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Casas-Museu que não responderam ao Inquérito AP

Casa-Museu Egas Moniz


Casa-Museu de Camilo
Casa-Museu Teixeira Lopes
Casa de Bocage
Casa-Museu Soledad Malvar
Casa-Museu de Pechão
Casa-Museu de S. Jorge da Beira
Casa-Museu José Antunes Pissarra
Casa-Museu Joaquim Ferreira
Casa Memorial Humberto Delgado
Casa-Museu Manuel Luciano da Silva
Casa-Museu de Paúl,
Casa de Colombo
Casa-Museu Armando Cortes Rodrigues
Casa de Derreter Baleias – Lajes
Casa-Museu da Ordem Terceira de S. Francisco
Casa-Museu Maurício Penha
Casa-Museu de Monção
Casa-Museu Marques da Silva
Casa-Museu Maria da Fontinha
Casa-Museu João da Silva.

O questionário não foi enviado para

Casa da Botica
Casa-Museu Miguel Torga

No contacto telefónico inicial verificou-se que não eram instituições de carácter museológico que
cumprissem os requisitos enunciados.

251
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 10

253
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 1

De: sofia lage [sofia_lage2005@yahoo.com.br]


Enviado: quinta-feira, 20 de Abril de 2006 20:57
Para: Dr António Ponte
Assunto: Re: FW: PEDIDO DE COLABORAÇÃO

Caro António,

Em primeiro lugar peço desculpa pelo atraso na minha “colaboração”, mas a mensagem foi para a pasta dos endereços “em
massa” e só hoje vi a mensagem.
Quanto à questão das casa-museu...
Creio que o interesse, ou relevância, destes espaços museológicos, depende, em grande parte, do conceito de museu que têm os
seus directores (da dinâmica que conseguem imprimir a esse espaço, das histórias que conseguem contar, das “provocações” que
conseguem fazer aos seus visitantes).
Grande parte destes equipamentos são verdadeiros “contentores” de memorabilia relacionada com personalidades relevantes, que
os aproxima dos gabinetes de curiosidades Oitocentistas. Pelo menos, são assim algumas das casas-museu que tive oportuni-
dade de conhecer: È a cadeira onde se sentou, o caderno onde escreveu, a biblioteca que leu, as peças que coleccionou, o jardim
que o inspirou... Estas casas, as peças que nelas se expoem, permitem-nos, não há dúvida, reconhecer a personalidade das
personagens que se pretendem retratar (gostos, estilos de vida, evolução...), mas não passa[ar]m disso: de homenagem a determi-
nado momento ou personalidade histórica (artística, científica...).
A ideia que tenho das casa-museu È de serem espaços museológicos [ainda] amorfos, parados no tempo, com conceitos exposi-
tivos passadistas e ultrapassados.
Talvez tenha tido azar!
Espero ter sido útil e desculpa a falta de inspiração.
Bom trabalho!
Sofia Lage
A diversidade

Dr António Ponte <antonio.ponte@cm-viladoconde.pt> escreveu:

Caro(a)s Colegas,
Na sequência do meu pedido, venho pelo presente solicitar-vos a resposta à
minha pergunta até ao dia 15 de Abril. Era importante para mim que
conseguissem dar a vossa opinião até esta data.

Cumprimentos
António Ponte
Técnico Superior de Museologia
Câmara Municipal de Vila do Conde
Tel. 252248400 * Fax. 252248470

-----Mensagem original-----

De: Dr António Ponte [mailto:antonio.ponte@cm-viladoconde.pt]


Enviada: terça-feira, 21 de Fevereiro de 2006 12:32
Para: sofia_lage2005@yahoo.com.br
Assunto: PEDIDO DE COLABORAÇÂO

Caro(a) Colega
No âmbito do trabalho da minha tese, gostaria de poder contar com a tua colaboração.
Um dos objectivos deste trabalho é chegar a uma definiço de Casa Museu paraa realidade portuguesa.
A maior parte da bibliografia em análise é estrangeira. Assim, gostaria de poder ter uma resposta à seguinte questão, a
qual poderia contribuir para a definição de casa museu no âmbito nacional.
“O que é para mim uma casa-museu? O que È que espero quando visito um museu deste tipo?
Agradecia a colaboração escrita, em cerca de meia página A4
Grato pela Colaboração
Um abraço,

António Ponte

255
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 2

António:

Em sequência do pedido que me fez à algum tempo atrás, venho por este meio responder.
1. O que é para mim uma casa-museu?
R: Uma casa-museu é para mim um espaço de excelência que me é possivel “entrar” no universo de
alguém, seja ele um pintor, um escritor outra personalidade pública, permitindo um conhecimento mais
alargado da sua vida e obra. 
2. O que é que espero quando visito um museu deste tipo?
R: Espero ter a possibilidade de ver e de compreender a vida de uma personalidade.

Votos de um bom trabalho,

Patrícia Carla Rodrigues Mota da Costa
Museu Parada Leitão (Isep)
Rua Drº António Bernardino de Almeida, nº 431
4200-072 Porto
Telefones: 228340500 (geral) ou 228340508 (directo)
Extensão: 1308
E-mail museu : isep.museu@ipp.pt ou museu@ipp.pt
E-mail pessoal: pcmc@isep.ipp.pt

256
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 3

(excerto da apresentação no I Encontro de Casas-Museu, que se realizou na Casa-Museu


Dr Abel Salazar, em Setembro de 2004)

O DEMHIST é o comité temático dedicado às casas-museu e nasceu da necessidade


sentida por membros de outros comités, designadamente do ICDAD – comité para as Artes
Decorativas – de ter um fórum de discussão dos problemas específicos com que se debate
esta tipologia de museu. Na génese da criação do comité temático das Casas Históricas está o
conceito de residência histórica, é esta a tradução à letra da sigla DEMHIST: demeures historiques.
Os membros fundadores estão, na sua maioria, ligados a instituições às quais se aplica esta
designação; esta caracterização remete para um determinado tipo de casa, “um espaço onde
a história e a pessoa que a escreve estão juntas” (Giovanni PINNA). Uma definição de carácter
redutor quando, já em 1993, Butcher-Younghans havia proposto uma análise que partia de três
categorias:
Casa museu documental, um local que conta a vida de um personagem ou lugar de
interesse histórico ou cultural (onde os objectos deverão ser originais);
Casa museu representativa, um espaço representativo de uma época ou estilo de
vida,que pode integrar objectos de proveniência diversa e até cópias;
Casa museu estética, o local de exposição de uma colecção privada (contentor que
perfaz uma simbiose com o conteúdo, tornando-se em mais um dos objectos da colecção).
Estas categorias são um bom ponto de partida para o debate sobre uma tipologia que se
revela bem mais abrangente. Em Portugal, ao contrário de outros países do hemisfério norte, a
reflexão sobre Casas Museu tem adquirido uma feição local, provável reflexo da tutela da maioria
das dezenas de unidades museológicas associadas à administração local. Estas Casas Museu
pertencem sobretudo à categoria documental. Este debate tem excluído as residências históricas
mais emblemáticas: os palácios, locais onde mais do que uma das categorias propostas se
cruzam.
A Ficha de Pré-Catalogação de Casas Museu elaborada pela Dra Rosanna Pavoni,
actual Presidente do DEMHIST, e que muitos de vós conhecem, foi pensada para tentar tipificar
as casas-museu, identificar os principais problemas com que se debatem e a partir daí equacionar
as estratégias para os ultrapassar.

A criação de grandes ‘famílias’ de museus funciona na medida em que sejam realçadas


as semelhanças entre as colecções, a mensagem que se pretende passar, apesar das diferenças
de dimensão, de tutelas, de recursos, geográficas ou outras.
Uma casa-museu ou museu-casa tem de englobar as duas vertentes, julgo também
fundamental como instrumento de trabalho a utilização das categorias definidas por Butcher-
Younghans.
Em Portugal, as instituições que se auto denominam Casas-Museu saem dos parâmetros
universalmente aceites na medida em que permanecem fechadas para o diálogo com o exterior.
Muitas não cumprem os critérios mínimos para qualquer museu, tendo como base a definição do
ICOM. A especificidade, que apregoam como explicação para esta situação deficitária, é muitas
vezes a desculpa para alguma inércia em abordar a questão de forma profissional, construtiva e
dentro de parâmetros nacional e internacionalmente definidos.

257
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 4

De: MDDS - Directora [mdds.directora@ipmuseus.pt]


Enviado: quarta-feira, 22 de Fevereiro de 2006 10:51
Para: Dr António Ponte
Assunto: RE: Casa-Museu

Caro António

Não me sendo o tema da casa-museu familiar, em termos de trabalho, a opinião que posso dar
é como visitante/ utente.

O que espero de uma casa-museu é que reflicta a personalidade/ vivência/ época da


personalidade que esteve na sua origem.

Creio que a questão da personalidade é central, de modo a distinguir casa-museu de um


museu temático, ou mais propriamente temática e cronologicamente organizado, como por
exemplo o Museu dos Biscainhos.

Ou seja, relativamente a um museu temático - como por exemplo um espaço da arquitectura


civil do Barroco - creio que se procuram os traços, a obra, relacionada com uma determinada
personalidade, a sua influência local/regional/ nacional.

Não sei mais que possa dizer-te.

Bom trabalho e um abraço

Isabel Silva

258
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 5

O que é para mim uma Casa Museu? O que é que espero ver quando visito um
museu deste tipo?

Para além de alguma ambiguidade que o termo Casa Museu me suscita, provavelmente mais
pelo referente “Casa” do que propriamente “Museu”, o conceito remete-me para um lugar
onde deveriam coexistir necessariamente outros elementos significantes, como “habitantes” e
“vivências”, os quais por vezes, se encontram excluídos do discurso físico e algo redutor dos
objectos e das cronologias, que as Casas Museu, na grande maioria dos casos, apresentam e
no qual se encerram.

Geralmente sou remetido para um local quase sempre confinado ao edifício (a Casa), sem
qualquer possibilidade de um outro espaço mediador da percepção, da exibição, da confrontação
ou mesmo de interpretação dessas outras dimensões imateriais e articulações culturais, entre a
memória, o tempo e a história dos seus antigos moradores e as comunidades da actualidade (o
Museu).

Faltarão talvez elos e gestos de ligação com o presente, a incorporar com urgência na
programação da gestão das Casas Museu, para dessa forma dar sentido e sequência, mais
ao legado incorpóreo dos que a viveram, valorizando o seu trabalho e o seu contributo cívico,
independentemente e apesar das heranças e dos imóveis.

Gostarias pois, de ver nas Casas Museu, uma área de interpretação da vida, da obra e do
tempo, dos seus habitantes, de ser convocado regularmente por um programa que me dirigisse
a reflexão para outras propostas de percepção dos contextos e condições de desenvolvimentos
dos seus percursos, através de um novo olhar e uma nova dinâmica na apreensão da dimensão
ética e estética e da importância do seu pensamento e da sua obra, para a com a sociedade.

Seria importante que a esta programação das Casas Museu, estivessem associadas criativa e
museologicamente todas as áreas da expressão cultural e artística, centrando as suas actividades
na divulgação dos aspectos mais decisivos do pensamento e da acção do patrono/habitante da
“casa”, no reforço dos actos de ligação e socialização às comunidades e ao encontro dos seus
diferentes públicos e níveis etários,

Talvez assim conseguíssemos progressivamente deslocar a denominação de “Casas Museu”


para um outro sentido, mais próximo da designação de “Vidas Museu”, provavelmente mais
consentânea com a sua missão e objectivos.

José Gameiro

259
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 6

Caro António
Aproveitando o interregno de trabalho proporcionado pelo fim-de-semana da Páscoa, finalmente
abordei o assunto que me propuseste e pediste. Não será uma matéria em que já tenha
reflectido muito mas creio que, sobre alguns princípios gerais, tu próprio pretendesses alguma
espontaneidade de resposta(s).
Então, cá vão, literalmente, as respostas às tuas perguntas:

«O que é para mim uma casa-museu? O que é que espero quando visito um museu deste
tipo?»


Uma casa-museu é uma entidade permanente e acessível ao público, com as diversas funções
em princípio atribuídas a qualquer entidade museal. É um museu de categoria especial, resultante
da musealização de um conjunto patrimonial constituído por um espaço construído, um imóvel, e
por um acervo complementar, que deverão ser conservados com a maior autenticidade possível
em relação ao contexto original que justificou a sua incorporação museal. Esse conjunto será
possuidor de um significado e de um valor histórico particular, ou evocativo de um contexto
histórico, social e cultural, no qual desempenhou um papel marcante alguém cuja vida ou
actividade se ligou a esse espaço (de habitação ou de trabalho) e respectivo acervo.

Quando visito uma casa-museu espero, portanto, em primeiro lugar, conhecer um acervo
original bem conservado, apresentado de forma acessível e de modo que possa proporcionar
aos visitantes a interpretação do ambiente original, cuja importância histórica, social, artística ou
cultural, ou cujo valor simbólico ou identitário fundamenta e legitima a musealização.
O que espero ao visitar um museu do tipo específico de uma casa-museu, para além de poder
interpretar o significado dos objectos no espaço, e deste, como documento complexo, num
ambiente ou envolvente mais abrangente, é poder explorar e tentar apropriar-me das narrativas
complexas do lugar, outrora pleno de vivências. Visitando uma casa-museu é minha expectativa
conhecer a vida, o pensamento ou a obra de uma dada personagem, no seu tempo e num
espaço… porventura comparável a um “teatro de memórias” (usando uma expressão, creio, de
Mónica Risnicoff de Gorgas, museóloga argentina).




Um abraço. Até uma próxima ocasião, continuando disponível (mesmo que não seja sempre
rápida na colaboração – desculpa!)

Graça Filipe

260
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Documento 7

Casas Museu

As casas museu são instituições museológicas de carácter monográfico e, ao mesmo tempo,


histórico. São espaços de memórias. Destinam-se a criar ambientes de residências de
coleccionadores ou de personagens que se destacaram pela sua obra cultural, científica, artística
ou social. O valor cultural ou está nas colecções ou nos edifícios ou em ambos, portanto, quer
nos conteúdos quer nos contentores. Muitas vezes, as colecções são mistas e os espaços muito
complexos para se poder criar um percurso expositivo que garanta a segurança e a narrativa dos
objectos.
As casas museu apresentam-se como um grande desafio para o museólogo, porque, na maior
parte dos casos, são confrontados com bastantes dificuldades na elaboração do programa para
a reabilitação da estrutura espacial do edifício destinada às diferentes funções da instituição
museológica e, sobretudo, à organização de um percurso museológico. Existem casos bem
sucedidos como a Casa Museu Frederico de Freitas, no Funchal, ou a Casa Museu Dr. Anastácio
Gonçalves, em Lisboa, Casa Museu Guerra Junqueiro, no Porto, Casa Museu Teixeira Lopes,
em Vila Nova de Gaia, entre outros.
Nem todas as casas museu têm o perfil de museu; são apenas meras colecções ou objectos de
natureza bastante heterogénea reunidos e expostos numa casa; ou apenas a habitação, com
ou sem recheio, de uma figura pública. De um modo geral, reflectem o gosto do seu proprietário
e a mentalidade de uma época ou ainda a obra criativa se a casa pertenceu a um artista. A casa
museu para funcionar como instituição museológica deverá desenvolver a investigação sobre a
personagem, a sua obra e a época em que viveu. Portanto, a obra, o meio ambiente e as relações
sócio-culturais ou sócio-artísticas devem ser estudadas e divulgadas nestes espaços museais,
de modo a que sejam equipamentos culturais que promovam o conhecimento, o desenvolvimento
cultural, social e económico (turístico).

Fevereiro de 2006

António J. C. Maia Nabais

261
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 11

263
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Descrição das Unidades Museológicas de acordo com a proposta de classificação

CASAS-MUSEU

Categoria 1 - Casa-Museu Original

Casa adquirida por Anastácio Gonçalves para sua habitação e


local para albergar a sua colecção de obras de arte. Verifica-se
uma relação efectiva entre o patrono e o espaço assim como
entre as colecções e o espaço físico onde se encontram.
Pode aceitar-se que documenta um estilo de vida, mas
Casa-Museu Dr.
basicamente o gosto do patrono por um determinado tipo de
Anastácio Gonçalves
obras de arte, de onde se destacam a pintura e a cerâmica.
1
Ao longo da visita podem ser observados espaços domésticos
sociais e íntimos, com uma decoração e organização renovada
aquando da última intervenção no edifício.
Desenvolve estudos sobre as peças do acervo, os quais são
apresentados ao público em catálogos diversos.
A iniciativa de criação foi do próprio patrono que fez a sua doação
ao Estado.

A Casa-Museu, foi o espaço de habitação de Manuel Mendes,


onde se podem visitar as áreas domésticas sociais e íntimas,
com o mobiliário próprio de cada espaço.
O acervo artístico de maior importância e qualidade foi recolhido
para o Museu do Chiado, no sentido de aí ser conservado e
Casa-Museu Manuel
estudado.
Mendes
3 Com “cenários” alterados devido à ocorrência referida, realizam-
se estudos sobre a obra de Manuel Mendes e sobre algumas
das suas colecções.
A iniciativa de criação da casa-museu foi do Estado como forma
de homenagear a actividade do escritor, entregando uma pensão
mensal à esposa e posteriormente à criada, até à sua morte.
Ainda não tem horário de funcionamento regular.

A casa-museu, local de residência do Fernando de Castro,


documenta o gosto do homenageado pelo coleccionismo de
obras de arte. A casa profundamente decorada e organizada pelo
patrono é um lugar quase sagrado, onde todos os espaços estão
profundamente preenchidos e mantidos tal como o comerciante
a deixou.
Casa-Museu Fernando
4 Verifica-se uma relação entre o espaço e os objectos, onde,
de Castro
pelos diversos espaços domésticos, sociais e íntimos, se pode
observar a dimensão da colecção do patrono.
Através do Museu Nacional Soares dos Reis são promovidos
estudos sobre a colecção do homenageado.
Iniciativa de criação da irmã de Fernando de Castro que cumpre
o desejo formulado pelo patrono, que faleceu sem testamento.

265
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Foi espaço de habitação de Leal da Câmara, onde se


podem apreender as actividade profissionais e ideologias do
homenageado.
Através da sua acção desenvolvem-se estudos sobre a
personalidade e as colecções do homenageado.
Através do percurso pelas espaços domésticos, íntimos e sociais,
Casa-Museu Leal da
5 que se mantêm o mais fiel possível preservados como no tempo
Câmara
do patrono, podem ser observados objectos do “mestre”, alguns
deles desenhados pelo próprio, reflectindo os seus gostos.
Decoração original à qual se aliam espaços novos onde se
apresentam trabalhos realizados por Leal da Câmara ao longo
da sua actividade profissional.
Iniciativa de criação da esposa de Leal da Câmara.

Local onde Egas Moniz viveu em criança e passava férias.


Através das colecções expostas e das áreas que integram
o circuito de visita, o público fica a conhecer os gostos e a
actividade profissional do homenageado.
Com uma decoração desenvolvida pelo patrono, que cria uma
Casa-Museu Egas relação entre os espaços e os objectos, que se preservada o
6
Moniz mais possível de acordo com a organização primitiva, apresenta
áreas sociais e íntimas do espaço doméstico, para além de uma
galeria de exposição onde se apresentam outras colecções e
objectos do homenageado.
A iniciativa de criação é do próprio Egas Moniz que pretende
deixar à sua terra um centro com potencialidade cultural.

É um dos locais onde habitou José Relvas, figura marcante


da História de Portugal, grande coleccionador de objectos
artísticos.
Os objectos e os espaços apresentam-se numa relação criada
pelo patrono, que criou uma casa num compromisso perfeito
entre as áreas de habitação e a exposição das suas colecções,
Casa-Museu dos tendo em testamento, criado um conjunto de cláusulas de
7
Patudos salvaguarda, com vista à protecção do imóvel e o respectivo
acervo, permitindo, desta forma, que se visitem espaços de
quotidiano, íntimos e sociais.
A iniciativa da criação foi do próprio José Relvas que legou a
casa e todos os seus bens à Câmara Municipal de Alpiarça, que
promove a conservação do edifício, das colecções, assim como
estudos sobre o acervo artístico.

266
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Esta casa serviu de residência ao Pintor José Cercas na fase


final da sua vida, que depois de ter residido em Lisboa regressa
à sua terra natal.
Ao visitar estes espaços, que documentam a actividade o
homenageado, o público percorre o espaço de quotidiano
que se preserva tal como no tempo do patrono, tais como a
Casa-Museu Pintor José cozinha, o quarto e o atelier, conferindo assim uma relação
8 Cercas entre os espaços e os objectos que aí foram colocados pelo
homem que aí habitou.
Existem outros espaços que servem para expor outras peças
que resultam da actividade coleccionista do homenageado.
A iniciativa de criação ficou a dever-se ao artista e à Câmara
Municipal de Aljezur, que decidiu atribuir uma pensão a José
Cercas, para fazer face às dificuldades em que o artista vivia,
recebendo em troca a casa e o seu acervo.

Esta casa serviu de residência a António Teixeira Lopes, eminente


artista português.
Ao visitar este espaço, que permite contactar com a realidade
diária do patrono, documentando o seu estilo de vida e que
mantém em alguns espaços a decoração original, o visitante
passa por espaços do quotidiano íntimos e sociais, onde pode
Casa-Museu Teixeira apreciar obras de arte de altíssima qualidade, de alguns dos
14 Lopes – Galerias Diogo maiores artistas portugueses e de outros países da Europa,
de Macedo com quem Teixeira Lopes manteve relações.
Simultaneamente, pode ser visitada a Galeria Diogo de Macedo,
onde se expõe outra parte da colecção de arte de Teixeira
Lopes.
Desenvolvendo estudos sobre a colecção, a iniciativa de criação
ficou a dever-se ao próprio António Teixeira Lopes, que, em 1933,
decidiu legar a sua casa e colecções ao Município de Gaia.

Este imóvel herdado por José Régio de seu pai, serviu de


residência ao poeta nos últimos anos da sua vida. Foi para
aqui que, depois de se aposentar do ensino, veio residir,
organizando os espaços com algumas colecções que reuniu
ao longo da sua vida, e que permitem a apreensão da
personalidade do homenageado.
Percorrendo espaços íntimos e sociais, o público contacta
Casa-Museu José Régio directamente com o espaço doméstico de Régio, que se mantém
17
–VC preservado tal como no tempo do patrono, garantindo assim
uma relação entre espaços e objectos, apesar das beneficiações
sofridas.
A iniciativa de criação deveu-se a amigos e família do poeta, que
propuseram à autarquia a aquisição de bens móveis e do imóvel,
sendo hoje possível desenvolver estudos sobre a colecção e o
homem que dá o nome à casa-museu, colaborando-se muito
estreitamente com o Centro de Estudos Regianos.

267
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Foi neste edifício que residiu José Régio durante os cerca de 3


anos que leccionou em Portalegre. A Pensão da D.ª Rosalina,
onde de inicio arrendou um quarto, foi sendo sucessivamente
ocupada por José Régio, para colocar os objectos resultantes
do seu fervor coleccionista.
Depois das negociações encetadas com a Câmara Municipal de
Portalegre para a aquisição do imóvel e de parte das colecções,
foi aberta ao público a Casa-Museu, onde na visita se podem
Casa-Museu José
18 contactar com espaços íntimos, sociais e de trabalho do poeta,
Régio –P
organizados por si, sendo desta forma possível contactar com a
personalidade homenageada, os seus gostos, a sua profissão,
entre outros aspectos, uma vez que se preservam os espaços
o mais possível de acordo com a organização deixada pelo
patrono.
Actualmente são desenvolvidos estudos sobre Régio e as suas
colecções, nomeadamente em colaboração com o Centro de
Estudos Regianos.

Foi neste espaço que Abel Salazar residiu com a sua esposa
durante cerca de 30 anos.
A visita permite o contacto com espaços do quotidiano doméstico
do homenageado, sendo possível passar por áreas íntimas e
sociais que se preservam, praticamente intactas, podendo sentir-
se em alguns espaços os perfumes usados pelos habitantes
da casa, percebendo-se uma relação entre os objectos e os
espaços que estes ocupam, resultando daí um contacto com a
Casa-Museu Abel figura do homenageado.
32
Salazar Simultaneamente, pode ser visitada uma exposição onde
se observa a actividade médica e artística do patrono, sendo
promovidos estudos, directamente ou em conjunto, sobre as
diferentes vertentes da personalidade de Abel Salazar.
A iniciativa de criação ficou a dever-se a um grupo de amigos,
que apesar das dificuldades, conseguiu preservar um património
essencial, o qual, actualmente, é dirigido pela Associação
Divulgadora de Abel Salazar e propriedade da Universidade do
Porto.
Este espaço mantém as características dos inicio do século,
designando-se desta forma, por ser aqui que viviam os
trabalhadores oriundos de outras regiões e que se deslocavam
em rancho para as vindimas. Mantendo ainda as duas grandes
tarimbas que serviam de dormitório com palha e um considerável
Casa da Malta – MN do
40 conjunto de objectos do quotidiano, este espaço conta, também,
Vinho
com diversas alfaias agrícolas que acompanhavam estes
imigrantes sazonais.
Apesar de não se reportar a uma personalidade especifica, de
acordo com a informação disponível, mantém-se o espaço de
quotidiano original.

268
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Foi residência e organizada pelo patrono que ainda é vivo, e


que em determinadas ocasiões se refugia neste espaço, para,
segundo ele, conversar com as suas peças.
A Casa-Museu apresenta a personalidade do homenageado, dos
seus gostos e modo de viver, uma vez que o espaço e a colecção,
tanto tematicamente como do ponto de vista da distribuição, são
fruto da vontade e dos gostos de uma determinada pessoa.
Uma vez que a organização se processou por vontade do patrono,
este vai determinar uma relação entre o espaço e os objectos,
45 Casa-Museu Padre Belo
uma vez que estes são colocados num espaço especifíco por
que coleccionou e organizou a casa para habitar.
De acordo com a informação disponível são desenvolvidos
estudos sobre o acervo existente.
A iniciativa de criação ficou a dever-se ao patrono que fez um
testamento a favor da Santa Casa da Misericórdia do Crato,
entidade que tutela a instituição, preservando-se desta forma
a unidade da colecção desenvolvida ao longo de determinado
período de tempo.
Foi local de habitação da homenageada e de seu marido,
que instituiu a Fundação Solheiro Madureira, para conservar
a Casa-Museu que recebeu o nome da esposa, entre outras
actividades.
Com espaços domésticos quotidianos, íntimos e sociais, a casa
Casa-Museu Marieta preserva-se tal como no tempo de vida do patrono.
48
Solheiro Madureira Documentando um estilo de vida, onde se denota um
determinado gosto e “status” social, percebe-se uma relação
entre o acervo móvel e o edifício, uma vez que cada objecto se
encontra no local original.
De acordo com a informação disponível são desenvolvidos
estudos sobre a colecção existente.

Edifício mandado construir por Bissaya Barreto que aí residiu


até 1974. A unidade museológica, tutelada e instituída pela
Fundação Bissaya Barreto, além de apresentar as colecções
do homenageado, preserva e mostra ao público as áreas de
quotidiano sociais e íntimas da habitação.
Casa-Museu Bissaya
Ao longo da visita ao espaço podem ser observados inúmeros
50 Barreto
objectos de arte, nomeadamente a colecção de pintura e de
azulejaria, tendo o patrono colocado importantes painéis de
azulejo em diversos compartimentos da casa.
Preservado este imóvel permite o conhecimento de um eminente
coimbrão, médico e cirurgião da Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra.

269
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Residência do homenageado, preserva-se tal como este a


deixou, documentando desta forma um certo estilo de vida e
posição social, sendo possível visitar os espaços de quotidiano
íntimos e sociais.
Verificando-se a existência de espaços novos na envolvência,
estes não alteram a área de habitação onde o acervo móvel se
Casa-Museu Eng.º
51 mantém nos locais originais, verificando-se assim uma relação
António de Almeida
entre o espaço e o objecto.
São promovidos estudos sobre o homenageado e as suas
colecções.
A sua instituição resulta da vontade do patrono que, através
do seu testamento, cria a casa-museu e a fundação com o seu
nome.
Foi a casa onde nasceu e habitou até à sua juventude tendo
numa fase posterior da sua vida funcionado como a sua casa
de férias.
Preserva espaços domésticos, íntimos e sociais, tal como foram
Casa-Museu Dr. Horácio deixados pelo homenageado, retratando o seu estilo de vida.
60
Bentes Gouveia Um espaço da casa foi adaptado para aí promover uma exposição
sobre a obra do Dr. Horácio Bentes Gouveia.
Promovida pela filha e genro do homenageado, preserva
a memória desta personalidade, estudando a sua obra,
promovendo a sua publicação.

Categoria 2 - Casa-Museu Reconstituída

O imóvel onde está localizada a Casa-Museu Guerra Junqueiro,


na Rua D. Hugo, foi adquirido pela sua esposa e filha, para aí
reconstituirem os espaços originais de vivência quotidiana,
íntimos e sociais, representantes das suas vivências, prestando
desta forma, uma homenagem ao poeta.
Na década de 90 foram efectuadas obras de beneficiação
projectadas pelo Arq.º Alcino Soutinho, as quais deram origem
Casa-Museu Guerra
9 a novos espaços, técnicos e sociais, com vista a melhorar os
Junqueiro
serviços museológicos para o público.
A iniciativa de criação foi da esposa e da filha do poeta, as quais
doaram o imóvel e o acervo à Câmara Municipal do Porto que
se responsabilizou pela sua preservação.
Hoje, além de uma actividade museológica de qualidade,
desenvolvem estudos sobre as colecções existentes nesta
instituição museológica.

270
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Está instalada no edifício que serviu de habitação ao escritor,


onde foi escrita uma parte significativa da sua obra e onde se
suicidou a 1 de Junho de 1890.
O acervo hoje existente pertenceu a Camilo Castelo Branco
e à sua família nuclear, objectos de uso pessoal e inúmera
bibliografia.
A visita permite o contacto com espaços de quotidiano,
reconstituídos, com base na documentação disponível, na
11 Casa-Museu de Camilo sequência da intervenção, que ocorreu no edifício, na década
de 40, a qual restituiu a casa à sua configuração original.
A iniciativa de criação ficou a dever-se a uma comissão de
homenagem a Camilo Castelo Branco, dependendo hoje da
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Depois da abertura ao público do Centro de Estudos Camilianos,
projecto do Arq.º Siza Vieira, existem excelentes condições
para o desenvolvimento de estudos sobre a vida e a obra do
homenageado.

Casa onde nasceu Fernando Namora, promove o conhecimento


de várias facetas da visa do homenageado, nomeadamente
reconstituindo os seus aspectos vivênciais, com acervos pessoais
transferidos para este imóvel.
Casa-Museu Fernando Para além da obra e objectos particulares, o acervo da Casa-
16
Namora Museu compreende obras de arte e literárias de autores
portugueses e estrangeiros.
A iniciativa de criação é do próprio Fernando Namora que cedeu
os seus bens ao Município de Condeixa-A-Nova para a instituição
da Casa-Museu.
É o espaço onde viveu o homenageado até ir estudar para
Coimbra, documentando o seu estilo de vida, através da
reconstituição dos seus espaços de quotidiano íntimos e sociais,
sendo o património móvel existente, cedido por familiares,
amigos e pela Casa-Museu João de Deus de Lisboa.
Casa-Museu João de Para além dos espaços ou de quotidiano apresenta uma
19
Deus exposição documental sobre a actividade de pedagogo, em
que se distinguiu o homenageado, sendo esta uma das suas
principais vertentes de investigação.
A iniciativa de criação foi da Câmara Municipal de Silves e da
população de S. Bartolomeu de Messines, que pretenderam
homenagear um “ilustre filho da terra”.

271
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Edifício onde Ferreira de Castro residiu até aos 11 anos, tendo


nesta casa sido recriados os espaços de quotidiano doméstico
íntimo e social, acção que contou com a colaboração do próprio
homenageado.
O acervo móvel da casa que tinha sido disperso por outros
espaços foi recolhido, o que permitiu uma reconstituição
Casa-Museu Ferreira de
23 dos espaços com os seus objectos originais, estando aqui
Castro
documentada a fase da vida de infância de Ferreira de Castro.
No R/c existe uma exposição etnográfica que documenta outros
espaços existentes na casa.
A iniciativa de criação da casa-museu foi de Ferreira de Castro
que depois a doou à Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis,
com vista à sua preservação e sustentabilidade.

Local onde habitou Aquilino Ribeiro, tendo aqui sido reconstituído


o seu escritório e sala de Jantar. Nos restantes espaços da casa
foram montadas áreas expositivas, sendo o acervo proveniente
da colecção do próprio homenageado.
Casa-Museu Bibl.
52 Dedica a sua acção essencialmente ao estudo da vida e da obra
Aquilino Ribeiro
do patrono, não se dedicando ao estudo das colecções.
A iniciativa de criação foi da Fundação Aquilino Ribeiro, tendo
reconstituído os espaços de acordo com a sua forma original,
baseando-se em documentação existente.

Categoria 3 - Casa-Museu Estética / Colecção

É um espaço contíguo à residência de Soledad Malvar, onde


esta guardava uma parte da sua colecção de antiguidades, tendo
sido recriados os espaços domésticos, para a apresentação
das colecções legadas à Câmara Municipal de Vila Nova de
Famalicão.
Documenta a actividade profissional da homenageada que, ao
Casa-Museu Soledad
longo da sua vida, se dedicou ao coleccionismo e venda de
24 Malvar
antiguidades.
Soledad Malvar propôs à autarquia famalicense a criação
da unidade museológica, a qual lhe entendeu conferir uma
configuração de casa-museu. A sua actividade visa a preservação
e estudo de uma colecção, que se apresenta recriando espaços
quotidianos, daí a sua integração nesta categoria de casa-
museu.

272
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Foi residência do Dr. Frederico de Freitas até à sua morte e


resulta do legado da colecção à Região Autónoma da Madeira e
posterior aquisição do imóvel pelo Governo Regional, que a abriu
ao público enquanto a Casa-Museu em 1888, após a primeira
fase de intervenção. Resultante da 2ª fase de adaptação, abre
ao público em 1999, um conjunto de novas estruturas que vêm
Casa-Museu Frederico
35 melhorar significativamente a actividade museológica.
de Freitas
Actualmente, a Casa-Museu disponibiliza vários espaços, onde
se podem observar as diferentes colecções reunidas pelo patrono
e uma área onde se recriam os ambientes domésticos.
Documentando os gostos do homenageado por diferentes tipos
de arte, a Casa-Museu desenvolve estudos sobre as diversas
colecções.
Foi residência da homenageada, todavia, sofreu alterações
ao nível da distribuição dos acervos móveis para albergar as
colecções de arte de outros elementos da família e provenientes
de outros espaços.
Casa-Museu D.ª Maria Mantém os espaços domésticos, íntimos e sociais onde se
Emilia Vasconcelos apresenta todo o acervo, embora, como se referiu, reconstituído,
49
Cabral documentando o estilo de vida e os gostos de uma família de
proprietários e administradores de propriedades agrícolas.
A organização e criação é da responsabilidade da Fundação
criada pelo filho de D.ª Maria Emilia Vasconcelos Cabral, com
o objectivo de manter preservada a unidade da colecção de um
núcleo familiar.

É o local de habitação de Nogueira da Silva, onde só se mantém


intacto o seu escritório.
Só a colecção, que resulta da actividade do homenageado,
documenta o seu gosto por determinado tipo de objectos de arte,
pois, a sua organização ao longo da casa, que mantém o carácter
Casa-Museu Nogueira doméstico, resulta da actividade de uma equipa que promoveu
55
da Silva uma nova distribuição dos objectos, separando as peças originais
das falsas, promovendo, assim, uma melhor fruição da colecção,
preservando a sua unidade e promovendo a sua conservação.
Efectuando estudos sobre as diversas colecções, a Casa-Museu
resulta de uma doação do patrono em favor da Universidade do
Minho.

273
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Categoria 4 - Casas-Museu de Época - “Period Rooms”

Edifício construído a mando de Marta Ortigão Sampaio para


colocar uma parte significativa da sua colecção artística e aí
habitar temporariamente, situação que nunca aconteceu. Para
além das áreas de exposição de joalharia, pintura entre outras, na
casa podem ser apreciados espaços do quotidiano doméstico de
D.ª Marta, alguns dos quais recriando as suas áreas quotidianas
Casa-Museu Marta
13 do “chalet” da Foz, que mandou demolir, e da sua casa de S.
Ortigão Sampaio
Mamede, recriando o ambiente burguês em que habitava.
Documenta o estilo de vida da criadora desta unidade
museológica, que posteriormente a doou à Câmara Municipal
do Porto, garantindo desta forma a conservação, preservação e
unidade da colecção.
São desenvolvidos estudos sobre as diversas colecções.

Casa de férias que documenta uma época e o “Status” social da


família que lhe deu origem.
A organização desta unidade museológica compreende a
apresentação de diversas áreas do quotidiano da homenageada
e doadora, provenientes de diversas casas que possuía, no
sentido de criar uma instituição museológica que caracterizasse
o estilo de vivência de uma família rica e culta, na primeira
Casa-Museu de Monção metade do século XX.
56
Foram criados novos espaços que permitem o promoção
de actividades culturais, pressuposto essencial da carta de
doação.
A iniciativa de criação foi da proprietária do imóvel e do acervo
móvel, D.ª Maria Teresa Salgueiro, com vista a evitar a dispersão
da colecção pelo grande número de herdeiros que tinha, legando
à Universidade do Minho estes bens, com o objectivo de criar
uma importante instituição de acção cultural no Alto Minho.

274
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

2- Unidades Museológicas que se inserem noutras tipologias de Museus

Museu Etnográfico

É um museu etnográfico onde se apresenta a forma de habitação


Casa Rural Tradicional
das camadas mais baixas da população, com uma exposição
12 - Museu Etnográfico da
que recria os ambientes domésticos e objectos relacionados,
Chamusc
porém, sem qualquer referência específica.
Espaço doméstico reconstituído, onde se tenta apresentar o
Casa da Malta - Museu
26 ambiente e os objectos da vida dos mineiros de S. Pedro da
Mineir
Cova.
Recria uma casa típica da localidade dos anos 30/40, sem
Casa-Museu de S.
27 referências específicas ao quotidiano de determinada
Jorge da Beira
personalidade ou grupo.
Casa tradicional da região de Jarmelo, onde se apresenta uma
Casa-Museu de exposição de artefactos e objectos tradicionais da freguesia. Para
28
Jarmelo além da exposição dispõe ainda de uma mercearia de produtos
regionais.
Casa agrícola de Salvaterra de Magos, representa o quotidiano
Casa Tradicional da das lavradores que iam pedir trabalho ao Sr. Silvestre José.
30
Glória do Ribatejo O acervo apresentado resulta de uma recolha efectuada pela
Associação junto da população local.
Retrata o ambiente burguês do início do Século XX, apresentando
Casa-Museu Regional ainda colecções diferenciadas de etnografia, arqueologia, arte,
31
de Oliv. de Azeméis objectos tradicionais da região entre Douro e Vouga, e outros
que documentam temas da história local.
Está instalada num edifício recuperado pela Casa do Povo,
apresentando o ambiente quotidiano de uma família burguesa,
34 Casa-Museu de Paúl
no fim do século XIX, assim como a reconstituição de uma
taberna da época.

Está instalado na 1ª fábrica de desfazer baleias das Lajes das


Casa de Derreter
38 Flores. Documenta uma actividade no seu espaço de trabalho
Baleias das Lajes
apresentando a utensilagem necessária para o mesmo.
Está instalada num edifício que remonta, possivelmente, ao
Casa-Museu de século XVII. Desde Agosto de 1992, alberga um museu que tem
43
Aljustrel como objectivo retratar o quotidiano familiar local, no tempo das
aparições.
Apresentando variados trajes algarvios, para além de veículos
Casa da Cultura
antigos, testemunhos de outros tempos. Pretende constituir-
António Bentes
46 se como um polo de desenvolvimento e valorização cultural da
Museu do
população local, promovendo exposições temporárias sobre a
Trajo do Algarve
temática do Trajo.
Foi criado com o objectivo de apresentar os costumes e as
Casa Agrícola José
58 actividades agrícolas da região, através do acervo da casa
Mota Cortes
agrícola familiar e de outros objectos doados pela população.

275
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Representa a casa tradicional cujos compartimentos e acervos


Casa-Museu Pescador
59 apresentam o modo de vida dos pescadores da Nazaré, sem
da Nazaré
referências a vivências especificas.

Museu de Arte

A casa do Capitão Almeida Moreira deixou de ter a sua


Casa-Museu Almeida configuração doméstica tendo sido transformada num espaço
2
Moreira museológico onde se apresentam as colecções artísticas do
patrono da instituição.
Localizado na casa onde nasceu o pai do comendador, apresenta
Casa-Museu
um acervo, bastante diversificado, constituído por telas, moedas,
42 Comendador Nunes
medalhas, borboletas, instrumentos musicais e uma colecção de
Correia
ex-libris.
Apresenta a colecção de arte sacra da Ordem, a qual é constituída
Casa-Museu da Ordem
44 por imagens de procissão, alfaias de culto, paramentos para
3ª de S. Francisco
além de outros objectos da mesma tipologia
Na casa onde nasceu o artista são apresentadas obras de
Casa-Museu Maurício escultura, pintura, gravura e fotografia. Tendo como objectivo
47
Penha principal apresentar a obra do patrono, pretende assumir-se
como um centro de artes da região.
A instalar num edifício construído de raiz para apresentar a
Casa-Museu Mário produção artística de Mário Botas, havendo a intenção de
54
Botas apresentar objectos pessoais descontextualizados da vivência
quotidiana.
Unidade museológica onde é apresentada a colecção de arte
Casa-Museu Maria da reunida ao longo da vida do Dr. Arménio de Vasconcelos, que
57
Fontinha entendeu dedicar este museu à memória da sua avó, a matriarca
da família.

Museu de Empresa

Propriedade das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, dispõe


de um acervo constituído por cerâmica produzida ao longo de
39 Casa-Museu S. Rafael 30 anos na Fábrica Bordalo Pinheiro, contendo originais, peças
desenhadas e executadas por este artista no final do século
XIX.

Unidade museológica localizada num edifício da empresa, em


Casa-Museu Ramos
41 Vila Nova de Gaia, onde se apresenta a história da empresa, as
Pinto
suas principais produções, as técnicas e os modos de trabalho.

Museu de Personalidade

Unidade museológica que se situará no local do antigo atelier do


Casa Oficina António artista, retratando a sua actividade.
10
Carneiro Uma vez que ainda não está aberta ao público, não é possível
uma informação mais precisa.

276
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Exposição permanente sobre a vida e obra de Bocage, com


Casa de Bocage recurso a peças de mobiliário e outros objectos. Além desta
20
recriação, o piso térreo inclui pinturas, gravuras e documentos
num reforço do acervo que compunha a exposição inicial.

Espaço de memória evocando o nascimento de Fernando


Casa Memorial Lopes Lopes Graça na cidade de Tomar, pretendendo ser um espaço
22
Graça interpretativo sobre a sua vida e obra, recorrendo-se a algum
acervo original de Lopes Graça.

Trata-se de um pequeno espaço que apresenta a obra do


homenageado, nomeadamente cerca de duas dezenas de
Casa-Museu Manuel
25 desenhos originais, algumas reproduções e bastantes livros
Ribeiro de Pavia
ilustrados. Para além desta exposição podem ser observadas
peças do artesanato local.
Localizada no terreno onde se situava a casa onde nasceu a
homenageada reúne um conjunto de testemunhos da carreira
Casa-Museu Palmira da artista e também da sua vida familiar. Além dos objectos
29
Bastos pessoais, esta unidade museológica apresenta inúmeras
fotografias assim como a máquina de costura que comprou com
o primeiro ordenado.
Casa Memorial É um núcleo museológico dedicado à vida desta ilustre figura,
33
Humberto Delgado localizado na casa onde este nasceu.

Museu de História

Pretende afirmar esta ilha como um ponto estratégico no


36 Casa de Colombo contexto da expansão portuguesa. É mais um museu dos
descobrimentos do que de personalidade.

Centro Cultural / Estudos / Documentação

É uma das principais referências do património histórico e cultural


do concelho. A casa comporta um notável conjunto de azulejos.
Casa Roque Gameiro A Autarquia herdou o edifício, promoveu a sua recuperação,
15
utilizando-o com fins culturais. Este espaço polivalente é capaz
de congregar, promover, organizar e implementar diversificadas
actividades

É um espaço cultural criado em homenagem ao poeta e


concebido como uma casa da poesia. O único espaço preservado
na sua forma original é o quarto do poeta, que se encontra,
21 Casa Fernando Pessoa
na generalidade, vazio, permitindo, periodicamente, que este
seja recriado por artistas convidados. Os objectivos são mais
documentais que museológicos.
Foi a casa onde o patrono viveu em Ponta Delgada, na qual foram
Casa-Museu Armando
37 feitas adaptações no sentido de se promoverem actividades de
Cortes Rodrigues
divulgação dos escritores açoreanos.

277
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Encontra-se instalado num edifício na freguesia de Cortes


(Leiria), tendo aqui sido criada uma biblioteca e espaços para
Casa-Museu João
53 receberem exposições temporárias das ofertas recebidas
Soares
por Mário Soares durante a sua vida pública. Tem ainda uma
exposição sobre o século XX português.

278
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

ANEXO 12

279
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

Lista de correspondência de n.º à Casa-Museu na tabela de análise dos requisitos para ser
considerada Casa-Museu

1 CM Dr. Anastácio Gonçalves


2 CM Almeida Moreira
IPM
3 CM Manuel Mendes
4 CM Fernando de Castro
5 CM Leal da Câmara
6 CM Egas Moniz
7 CM dos Patudos - José Relvas
8 CM Pintor José Cercas
9 CM Guerra Junqueiro
10 Casa Oficina António Carneiro
11 CM de Camilo
12 Casa Rural Tradicional - Museu Etnográfico
13 CM Marta Ortigão Sampaio
14 CM Teixeira Lopes
CM 15 C Roque Gameiro
16 CM Fernando Namora
17 CM José Régio - VC
18 CM José Régio - P
19 CM João de Deus
20 Casa de Bocage
21 Casa Fernando Pessoa
22 C Memorial Lopes Graça
23 CM Ferreira de Castro
24 CM Soledad Malvar
25 CM Manuel Ribeiro de Pavia
26 Casa da Malta - Museu Mineiro
27 CM de S. Jorge da Beira
JF
28 CM de Jarmelo
29 CM Palmira Bastos
30 Ctrad. de Glória do Ribatejo
31 CM Regional de Ol. Azeméis
ASS 32 CM Abel Salazar
33 Casa Memorial Humberto Delgado
34 CM do Paúl
35 CM Frederico de Freitas
36 Casa de Colombo
DR
37 CM Armando Cortes Rodrigues
38 C Derreter Baleias - Lages
39 CM S. Rafael
EMP 40 Casa da Malta
41 CM Ramos Pinto
42 CM Comendador Nunes Correia
43 CM de Aljustrel
IR 44 CM da Ordem Terceira de S. Francisco
45 CM Padre Belo
46 C da Cultura António Bentes - Museu do Traje Algarvio

281
CASAS-MUSEU EM PORTUGAL TEORIAS E PRÁTICAS

47 CM Maurício Penha
48 CM Marieta Solheiro Madureira
49 CM D.ª Maria Emilia Vasconcelos Cabral
50 CM Bissaya Barreto
FUND
51 CM Eng.º António de Almeida
52 CM Biblioteca Aquilino Ribeiro
53 CM João Soares
54 CM Mário Botas
55 CM Nogueira da Silva
UNIV
56 CM de Monção
57 CM Maria da Fontinha
58 Casa Agrícola José Mota Cortes
PART
59 CM do Pescador da Nazaré
60 CM Dr. Horácio B. Gouveia

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