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1. Retrospectiva da eletrificação
Com o desenvolvimento técnico havido na indústria capitalista, desde as primeiras
máquinas a vapor (segunda metade do século XVIII) e os primeiros motores a combustão
interna (século XIX), tornou-se factível a geração de eletricidade através do acionamento
dos dínamos e depois, dos modernos geradores. A força motriz (rotação e torque de um
eixo) para esse acionamento foi obtida em duas diferentes rotas :
Por meio do aproveitamento das quedas d’água nos cursos dos rios, geleiras, fjords, e
de alguns lagos de altitude; daí a expressão genérica hidroeletricidade.
E, por meio da expansão dos gases quentes ou do vapor d’água obtidos a partir da
queima controlada de combustíveis, daí a expressão termeletricidade.
O processo de eletrificação de uma localidade, região, ou país, se fundamenta na
construção e operação de usinas elétricas, mas significa muito mais que isso, algo mais
integrado, historicamente, geograficamente, socialmente. Mesmo quando adotamos
estritamente o ponto de vista técnico, o processo de eletrificação compreende também
várias etapas intrinsecamente acopladas à produção (chamada de geração de eletricidade),
que é feita nas usinas, também chamadas de casas de força (power plants) ou de centrais
elétricas. A começar pelas etapas de construção e montagem de tais usinas. Exigem
grandes encomendas de insumos e de partes, feitas a vários setores da indústria (construção
civil, construção pesada, metalurgia do aço e ferro-ligas, cobre, alumínio, caldeiraria,
montagem mecânica, eletromecânica e elétrica de grande peso e montagens de grande
precisão).
De modo similar, a transmissão de eletricidade em alta voltagem e a longas
distâncias exige também investimentos pesados na construção de subestações com
transformadores e vários outros implementos, e em “eletrovias” , sistemas de cabos (em
geral aéreos e suportados por “torres”, estruturas e pórticos metálicos).
1 Apostila inédita, em versão experimental, sujeita a revisões e aperfeiçoamentos, elaborada especialmente para uso
no Mini curso oferecido pelo autor na IX Semana de Engenharia Mecânica Unicamp, organizada pela Motriz
Empresa Jr e pela SAE Campinas, dia 19 de outubro de 2005.
2 Engenheiro mecânico de produção (EPUSP, 1971) Mestre em Engenharia de Produção, área de Sistemas
Econômicos, (COPPE / UFRJ, 1974) doutor em Ciências Humanas (Institut de Géographie, Université de Paris I
Panthéon - Sorbonne, 1982). Desde 1991, professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia
Mecânica, Unicamp e na pós graduação em Planejamento Energético.
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roda dágua com gerador elétrico corte transversal de usina hidrelétrica desenho O Sevá
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Configuração básica do ciclo Rankine; o gerador elétrico acionado por uma turbina a vapor
Desenho O Sevá
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Kilovolts (kV) – igual a mil volts. Volt é unidade de tensão elétrica, de diferença de potencial entre dois
pólos elétricos. Para os consumidores, as tensões mais comuns são de 110, 220 e 380 volts. As linhas urbanas
rurais de distribuição de eletricidade têm tensão de 11 kV e de 13, 8 kV, e as Linhas de Transmissão à longa
distância têm tensões especificadas em 69, 138, 230, 345, 440 e 500 kV
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SEVA Filho, A . O . “Tenotã Mõ . Alertas sobre as conseqüências dos projetos hidrelétricos no rio Xingu”,
IRN, São Paulo, 2000. Ver endereços nas fontes de informação, ao final dessa apostila.
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Kilowatts (kW) – igual a mil watts; Watt (W) – Unidade física de Potência mecânica ou elétrica , equivalente
ao trabalho de um Joule (equivale a uma força de um kg vezes a distância de um metro) feito durante o tempo
de um segundo. um HP que mede a potência dos motores de veículos, equivale a 0, 746 kW; Megawatts
(MW) – igual à um milhão de watts; Gigawatts (GW) – igual a 1 bilhão de watts.
Um pequeno gerador está na faixa de alguns kW, os maiores geradores em uso têm de
400 a 700 mil kW cada. As maiores usinas (Itaipu; Três Gargantas do rio Yang Tsé, na
China; Grand Coulee no rio Columbia, nos EUA; Guri, no rio Caroni, na Venezuela) têm
potência instalada na faixa de 9 mil a 14 mil MW. A potência instalada no conjunto das
usinas elétricas no Brasil deve estar na faixa de 70 mil MW, dos quais mais de 60 mil nas
hidrelétricas . Nos EUA e alguns outros países isto vai a centenas de mil MW.
Potência - Quantidade de energia elétrica solicitada por unidade de tempo. No sistema internacional é
expressa em watts (W), kilowatts (kW) e Megawatts (MW). É comum se utilizar a expressão como sinônimo
da potência elétrica ativa (medida em kVA) , que é uma categoria criada para se poder estimar a potência
que realmente foi convertida em trabalho. Outra parte da potência fornecida pela usina assume a forma de
potência reativa (kVAr), que é própria do campo eletromagnético mantido ao longo dos cabos, mas inclui
também a eletricidade gasta na criação de campos que “compensem” a potencia reativa, e que mantenham a
tensão dentro da especificação.
Potência Nominal - Potência máxima que pode ser fornecida ou consumida em regime contínuo. Em geral
é a potência para a qual a instalação foi projetada. Normalmente vem indicada nas especificações fornecidas
pelo fabricante e na placa metálica ou tag afixada nas máquinas.
Demanda –Indica a quantidade de potência requerida à rede ou ao sistema elétrico, por uma
determinada carga durante um intervalo de tempo especificado. Pode se referir à média da potência elétrica
ativa , ou à média da potência elétrica reativa, ou ainda, de uma potência aparente (medida em MVA)
considerando-se uma composição trigonométrica das potências ativa e reativa.
Consumo de Energia – Utilização de energia com o objetivo da sua conversão em energia secundária ou da
produção de energia útil. Devem ser indicados os níveis de referência respectivos (energia primária, energia
secundária, energia final, energia útil)- e - o tempo como denominador (por dia, hora, minuto).
Como os “relógios”, ou medidores de consumo são sempre colocados na interface entre a empresa
distribuidora e o usuário, trata-se de Consumo de energia final (do ponto de vista de quem vende a
energia). Mas o usuário também tem pontos de perda e dissipação, e aí haverá sempre um número menor do
que este, que corresponderia ao consumo final da energia útil. E, acima desses patamares, fica sempre o
Consumo em Horas de Ponta, que é máximo consumido durante um curto período determinado de
tempo, usualmente das 17 às 20 horas nos dias úteis.
Consumo Próprio (de um usuário final)- Consumo de energia elétrica que foi gerada pelo próprio
utilizador em sua fábrica, usina, destilaria, que têm na instalação industrial uma casa de força, uma pequena
ou média termelétrica, ou que são proprietários e operadores de uma ou mais hidrelétricas exclusivas; em
ambos os casos, atuam na modalidade institucional chamada de autoprodução de eletricidade.
Consumo Próprio do Setor Energético – Nos balanços energéticos são as quantidades de Energia de todas
as naturezas utilizadas pelos produtores (geradores) e pelos transformadores de energia (as coquerias das
siderúrgicas e as refinarias de petróleo) para o funcionamento das suas instalações: sistemas de controle e
informática, de telecomunicações e telecomando, condicionamento de ambientes, iluminação, bombeamento
dos fluidos lubrificantes e refrigerantes e, nas hidrelétricas, bombeamento de água percolada, acionamento de
motores elétricos de comportas, pontes rolantes, guinchos, além de combustível usado nos geradores
emergenciais.
Consumo Próprio de uma Rede - Consumo de energia elétrica nas instalações elétricas auxiliares ou anexas,
necessárias ao bom funcionamento da própria rede, ou seja: energia dissipada e gasta para transmitir,
modular e distribuir energia: aquecimento dos cabos energizados, aquecimento e gasto na refrigeração dos
transformadores, resistores e capacitores; sistemas de controle e acionamento elétrico e eletro-magnético. Do
ponto de vista do vendedor da energia transmitida, e do balanço geral de energia, o montante de consumo
próprio também é chamado de perdas técnicas.
Consumo Real –. Representa a energia primária requerida para cobrir o consumo final. (por exemplo, a
energia contida em x toneladas de combustível antes de ser queimado numa termelétrica) Nos balanços
energéticos, indica o Consumo final acrescido das perdas de conversão, de transporte e de distribuição
Vazão – variável que representa a dimensão do fluxo de material por tempo, medida em m3/s, metros
cúbicos (mil litros) por segundo ou então, em litros/s, litros por segundo. Vazão d’água de um rio é uma
medida da correnteza, da quantidade de água passando durante um tempo x em uma secção transversal da
calha do rio, em um ponto determinado do rio. Vazão Turbinada em usina – parte da vazão de um rio,
acumulada numa represa e que foi engolida por uma turbina hidráulica, fazendo girar o seu eixo; se estiver
acoplada num gerador, será gerada eletricidade.
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A parte da vazão afluente que não é turbinada - ou ela se acumula no reservatório - ou é vertida no
Vertedouro (ou também vertedor) - uma parte do corpo da barragem, em geral numa das laterais do
paredão, construída com comportas e estruturas especiais para poder escoar parte da vazão d’água. O mais
comum é o vertedouro de crista, e quando aberto, a água vertida desce pelos “tobogãs” até a bacia de
dissipação rio abaixo. Há barragens com vertedouros de fundo, que quando abertos escoam também o lodo
acumulado e podem ser usados para esvaziar totalmente a represa.
Afluência – Volume variável de água que passa numa dada secção transversal de um rio, canal, tubulação,
durante um período de tempo determinado; pode-se usar para significar a vazão que chega numa represa,
uma vazão afluente. A palavra isolada Afluente é sempre usada em relação ao rio principal; afluente é um rio
menor, ribeirão, igarapé que é tributário do maior, que desemboca no maior, cuja vazão d’água alimenta a
vazão do rio principal. Ano Úmido - Ano baseado em critérios estatísticos, em que o curso de água tem
afluências superiores à média. Em contraposição, a cada período de x anos, pode-se ter um Ano Seco –
escolhido com base em critérios estatísticos, em que o curso de água tem afluências inferiores à média.
Cota – nome técnico genérico da altura ou altitude de um terreno ou de uma construção, usualmente medida
em m, metros acima do nível do mar, e em geral vem indicada numa planta técnica, numa cartografia, num
mapa. No caso de um rio ou de uma represa, as várias cotas são as alturas em que chega a água nas várias
situações: cota mínima, média, máxima. Nível de Água a Montante – Nível (m) do plano de água na
represa , ou rio acima, indicando o ponto onde se mede. Nível Máximo de Exploração (ou Cota máxima)
- É o nível mais alto permitido normalmente numa represa (sem ter em conta as sobre-elevações devidas a
cheias). Corresponde ao nível de pleno armazenamento da represa, máximo admissível em caso de cheias.
Nível de Água a Jusante- Nível (m) do plano de água rio abaixo, no canal de fuga da água turbinada, após a
barragem, indicando o ponto onde se mede.
emprego das palavras, do jargão técnico, e no manuseio dos números que representam
grandezas físicas, e também comerciais. Ao avaliar estamos tratando de problemas e de
atividades que podem significar custos econômicos e também ambientais e até em termos
de saúde e de vidas humanas.
Não esquecer que combustíveis incendeiam e explodem; que usinas nucleares são
também usinas termelétricas, e que podem desarranjar a ponto de emitir radiações ou até
derreter seu núcleo, como na usina de Tchernobyl, na Ucrânia nos anos 1980.
As leis da conservação de massa e da energia continuam em vigor, e basta que os
estudiosos tracem em cada perímetro analisado, as portas de entrada e saída corretas,
completas, ... para que todos os processos industriais e de produção de eletricidade
produzam necessariamente resíduos, fluxos regulares de resíduos, e energias dissipadas,
perdidas. No balanço hídrico correto das represas, há muitos outros fluxos além da água
turbinada, (atividade fim) e da água vertida (contingência do rio e do projeto), pois a água
na represa pode infiltrar em falhas rochosas, e brotar mais adiante, em locais onde não
havia minas d’água antes da represa existir...a água pode percolar constantemente pela
porosidade dos paredões, dos diques, e até do concreto da casa de força, e certamente
evapora na superfície da represa, e que evapora nebulizando nos “tobogãs” do vertedor e
do dissipador, e no turbilhão do canal de fuga.
A mera aplicação do balanço energético seguindo a 1al lei da Termodinâmica
recomendaria não usar muito a expressão “gerar energia”, pois energia não se cria, apenas se
transforma. Gerar corrente elétrica não é tão incorreto, pois é algo que na natureza existe de
formas apenas não controladas, não utilizadas (a corrente que salta num raio, a estática que
acompanha as nuvens), portanto precisa mesmo é ser fabricada, gerada. Gerar eletricidade
é menos incorreto, mas mesmo assim, não tem rigor, pois essas máquinas convertem
energia mecânica em elétrica, deveriam ser batizadas convertedores, e não geradores.
Na aplicação da 2ª.lei da Termodinâmica, fica evidente que (apesar de existirem
turbinas com fluido quente e com fluido frio), todas as máquinas aquecem, e precisam ser
refrigeradas; e que eletricidade aquece, diretamente por meio de resistência, efeito Joule, e
indiretamente por meio de campos eletromagnéticos e elétricos. Os valores numéricos
atingidos pela eficiência dependem estritamente do perímetro adotado para o sistema
avaliado, ou para o Volume de controle do fluido de trabalho avaliado. O perímetro em
torno da Turbina pode dar mais de 95% de eficiência; ao acoplar o Gerador pode cair para
a faixa de 80 %, na Casa de Força e na usina inteira, considerando-se o auto consumo de
eletricidade e todas as perdas até o despacho da carga na saída da Subestação, pode-se ficar
em 70% e , no sistema barragem e represa com vertedouro, considerando que metade da
vazão anual é vertida, na mesma altura que a outra parte da vazão que foi turbinada,
portanto, com a mesma potência, aí finalmente a eficiência atingiria 35% ou menos!
O conhecimento efetivo e legítimo dessas usinas exige um acompanhamento
sistemático, por vários anos, do parque técnico existente, dos projetos, das usinas
desativadas, das tecnologias antigas e das atuais, de suas vizinhanças, dos rios
“aproveitados”, dos trabalhadores destas usinas e redes elétricas, dos seus usuários. –x-x-
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