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Eram 7:30.

Sabia que tinha que levantar e se arrumar para chegar no


horário de sempre. Mas não queria chegar no horário de sempre. Não queria
chegar hoje. Não queria chegar nunca mais.

Abriu os olhos, e os fechou novamente evitando a claridade excessiva que


entrava pela porta da varanda. Sentiu as latinhas de cerveja jogadas aos
seus pés. Levou a mao ao rosto, e aos poucos foi ajeitando o corpo até estar
sentado no sofá. E aos poucos analisou a situação da sala.

Latinhas e vinis se misturavam no chao da sala. A mesa de centro estava


torta. Sentiu na boca o gosto de cerveja velha e teve vontade de vomitar.
Respirou fundo e levantou, estava de pé diante daquele pequeno caos que
tinha se instaurado em seu apartamento. Em sua vida.

Lembrou aos poucos dos detalhes da noite. Do beijo, dos cheiros, dos
toques. Se sentou novamente no sofá e dessa vez teve vontade de chorar.
Deixou uma lágrima solitária escorrer por seu rosto. Não sabia o que fazer,
o que pensar e muito menos o que sentir. Tinha agido por impulso, estava
bebado. Mas tinha gostado, queria mais.

Água gelada no corpo. Escovou os dentes e tomou uma grande chícara de


café forte. Já tinha avisado no escritório que iria chegar um pouco atrasado.
Colocou sua melhor blusa social sem perceber, passou mais perfume do que
o normal sem perceber e sem perceber lembrou de uma frase que uma tia
costumava repetir. “Ser feliz é muito mais do que sorrir. É ter coragem para
sentir o que te faz feliz”

E assim Marcos saiu de casa um pouco menos confuso. Um pouco mais


relaxado. O medo era presente e forte. Mas Marcos ainda tinha uma vida a
qual devia seguir. Não podia deixar que o medo o deixasse abalado. Mas
não podia negar o frio que dava barriga ao pensar em cruzar com Dani
assim que entrasse no escritório. A dúvida era se aquele frio na barriga era
de nervoso ou de ansiedade. No fundo, estava louco para reencontrar Dani.
Mas não iria admitir, não por enquanto.

Dentro do carro não colocou o ipod. O silencio estava mais atraente naquela
manha ensolarada. O verão carioca estava fazendo os corpos suarem mais
rapidos e os pensamentos correrem mais lentos.

Antes de abrir a porta do escritório Marcos fechou os olhos esperando que


os pensamentos do trabalho invadissem sua mente. Só conseguiu enxergar
o sorriso de Dani e os olhos cor de mel próximos. O dia prometia ser mais
difícil do que ele imaginava.

Entrou no escritório, sabia que a primeira mesa era a de Dani, não poderia
nem passar despercebido. Fechou a porta, raspirou fundo mais uma vez e
continuou andando em uma velocidade que parecia eterna. Sabia que a
primeira pessoa que iria ver assim que virasse no canto da parede era o
Dani e Marcos não sabia o que sentir quanto a isso. Queria muito
reencontrá-lo. Mas não sabia o que dizer, o que falar, como sorrir, ou não
sorrir. Estava nervoso e suando.

Os óculos escuros escondiam o olhar nervoso. Assim que Marcos contornou


a parede e estava prestes a abrir um sorriso ainda sem muitos significados
viu a mesa de Dani vazia. Poderia pensar que ele tivesse ido ao banheiro,
mas viu os papéis intactos e o computador desligado. Perguntou a
secretária que trabalhava na mesa ao lado o que tinha acontecido e ele lhe
informou que Dani tinha acordado doente e não poderia vir hoje, mas que já
tinha avisado que iria compensar com horas extras.

Marcos seguiu calado até sua mesa, fechou a porta. Deixou a chave a
carteira em cima da mesa e sentou em sua cadeira, ainda no automático
ligou o computador, rodou a cadeira e olhou a praia pela janela. Ao mesmo
tempo que passou uma sensacao de alívio por dentro dele estava com
medo de não ver mais o Dani. Estava com medo de o ter assustado. Foi uma
terça feira diferente e estranha.

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