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Ela não sabia mais o que fazer.

Acordou antes de tocar o despertador naquela manha,


olhou para o lado, sorriu. O grande amor da vida dela, aquela pessoa que ela não
conseguia viver sem, estava ali, ao seu lado, com um sono angelical, um semblante de
paz. Tinha dois anos que elas estavam morando juntas. E há 5 que elas estavam juntas.
Victória não sabia viver se não fosse ao lado da Giulia. Victória tinha 23, Giulia tinha
25.

Victória era publicitária, Giulia designer. Ambas ganhavam bem, podiam desfrutar de
uma vida de luxos e desejos atendidos. Só tinha um problema, Victória, geminiana até o
fim, vem acordando antes do despertador há algum tempo pensando no que seria da
vida dela se ela tivesse feito tudo diferente. E se ela tivesse desistido de sua opção
sexual, e tivesse seguido atrás dos homens? E se tivesse aceitado a proposta de ir pra
São Paulo? E se tivesse feito a outra faculdade que ela queria?

Mas a dúvida que mais incomodava a cabeça dela era se ela seria feliz com um homem,
afinal de contas, ela nunca tinha estado com um homem na cama. Nunca. E isso a
perseguia até hoje. Mas como ela ia contar pro grande amor da vida dela que ela queria
fazer sexo com um homem? Depois de 5 anos de relacionamento, ela não podia fazer
isso com a Giulia, ela não teria perdão, e ela não suportaria viver sem ela.

Durante horas Victória ficou olhando para o teto imaginando milhões de coisas,
deixando que milhões de imagens passassem correndo pela sua frente, era como se ela
estivesse assistindo a um filme da sua própria vida, mas parecia mais um filme de terror,
do que uma comédia romântica.

Num susto o despertador a acordou do sonho-acordado. Olhou novamente para o lado,


um sorriso de bom dia a esperava no rosto que ela tanto adorava e um ‘te amo’ dito
cheio de carinho fez com que ela esquecesse qualquer pensamento prévio, e tivesse a
certeza de que fez todas as escolhas certas. Quem sabe amanha de manhã ela muda de
opinião. Mas até lá ela vai passar mais um dia ao lado do amor da sua vida, com a sua
vida perfeita.

_/_

Victoria acordou naquela manha cinza preocupada. Ela e Giulia tinham


brigado na noite anterior. Olhou para o lado, viu apenas as costas da amada.
Foi assim a noite inteira, cada uma virada para um lado, sem nem se tocar.

Victoria tinha comecado uma discussao sobre traicao. Giulia, era irredutivel,
tinha visto seus pais se separarem e brigarem várias vezes por causa de
traicao, e tinha posto em sua cabeca, que nunca perdoaria a traicao. Já Vic,
repudiava traicao, mas entendia que as vezes era possivel ocorrer acidentes,
era possivel que coisas que a gente não queria que acontecesse, acontecia. As
duas comecaram a defender o seu ponto de vista fortemente, até que Giulia fez
a pergunta proibida, “Voce esta falando isso porque aconteceu alguma coisa
com voce?” Vic ficou irritada, falou que não tinha aocntecido nada e elas
estavam apenas conversando, nesse ponto, a discussao sobre traicao ficou pra
tras, e a confianca foi posta na mesa.

Giulia aumentou o tom da voz junto com a crescente irritacao, não aceitava
que Vic desconfiasse dela, da lealdade dela. As duas eram super
comprometidas com o relacionamento, e não tinha motivos para isso. Vic
ficou aflita, pediu desculpas e disse que a pergunta foi mal formulada, que ela
nunca desconfiara de Giulia, sabia que ela era fiel. Não teve muito jeito. A
partir daí na cabeca de Vic era um filme em camera lenta.

Giulia levantou, foi ate a porta da varanda, ficou la fora por exatos 20
minutos, enquanto Vic continuou sentada a mesa, na mesma posiçao. Depois
de pegar um vento e olhar o céu Giulia entra na sala e diz com a voz seca e o
tom baixo “Eu te amo mais que tudo, voce não tem pq desconfiar, nunca.” Foi
a gota d’agua. Vic fez mencao de levantar, Giulia na mesma hora pediu que
não “Fique, vou tomar um banho.” As lagrimas correram sem parar pelo rosto
de Vic, elas escorriam, e terminavam na mesa, onde ela estava apoiada. O
choro silencioso, triste tomava a sala em silencio. O único barulho no fundo
era o do chuveiro desligando, os passo de Giulia, o armário abrindo, a luz
apagando. E a madrugada caindo.

Exausta do choro, Vic foi deitar, dormiu por excesso de cansaço, mas sabia
que o dia ia ser longo.

Após repassar esses momentos em sua memória Vic ouviu o despertador


tocar, Giulia acordar, deu bom dia, ela respondeu. Continuou deitada, Giulia
saiu do banho e entao ela disse. “Eu nunca desconfiei de voce. Voce e a minha
vida” Giulia deu um sorriso, falou que acreditava, desejou bom dia de novo, e
saiu para trabalhar.

As lágrimas no rosto de Vic voltaram, e ela não sabia o que fazer com
elas.

_/_

E o dia se passou longa e lentamente. Celulares silenciosos, bocas


caladas, emails formais, mensagens não mandadas, ligações desligadas.
Vic já não sabia o que fazer, Giulia nunca tinha passado tanto tempo
sem falar com ela. Mesmo quando discutiam, elas acabavam se
entendendo logo, ai o dia seguinte passavam o dia todo se falando,
celular, email, MSN, o que quer que fosse. Mas esse dia estava
estranho. A tarde continuava cinza e a noite prometia estar mais
escura, e sem estrelas.
Vic queria de qualquer jeito ligar pra Giulia, mas não sabia exatamente
o que dizer, não por celular. Olhava várias vezes no telefone para ver se
não tinha alguma chamada perdida, alguma mensagem recebida, ou
qualquer coisa que mostrasse que a Giulia também estava passando o
pior dia da vida dela.

Do outro lado, Giulia estava em sua mesa, olhando para a parede,


tentando encontrar uma maneira de falar com Victoria, estava arrasada
e com saudades. Mas não sabia como fazer, não queria dar o braço a
torcer. Estava impaciente, queria de qualquer jeito ouvir a voz dela,
nunca tinha passado tanto tempo sem ouvir a voz da pessoa que ela
mais amava na vida.

O almoço estava sem gosto, o café desceu amargo, as risadas alheias


estavam longe, o trabalho estava acumulado. O mundo até podia estar
girando, mas para elas estava em um ritmo diferente do que elas
estavam. A vontade que tinham, era de parar o mundo e descer,
precisavam deitar, olhar as estrelas e descansar, conversar, alguma
coisa que acabasse com aquela angustia que estava dentro do peito.

A tarde caiu mais escura do que o normal, Giulia saiu do escritório, se


despediu sem perceber, fez promessas sem escutar entrou no elevador,
encostou a cabeça, fechou os olhos e deixou escorrer uma lagrima.
Aquela que tinha passado o dia inteiro presa, o dia inteiro querendo
sair e não podia. Entro em seu carro, ligou, saiu do estacionamento, e
como se estivesse no piloto automático, Giulia ligou o radio e colocou
na estação preferida de Vic.

Vic, entrou no elevador da empresa, ainda discutindo com seu chefe,


mas sem ouvir nem um palavra que fosse, no estacionamento deu um
sorriso para o porteiro simpático que ela nem lembrava o nome. Deu
carona para o seu colega de trabalho, o deixou no lugar de sempre e
seguiu para casa, sem ter nocao do que poderia acontecer e sem nem
perceber desligou o radio. Não estava para musica.

“ Não esqueça do seu amor, lembre a ele o quanto você o ama. De uma
jóia Monte Carlo” A propaganda na rádio chamou a atenção de Giulia,
na mesma hora ela pegou um retorno, dirigiu rapidamente até uma
floricultura que Vic adorava. Comprou 3 duzias de rosas colocou no
carro e seguiu confiante para casa.

Quando chegou entrou no apartamento, Vic ainda não tinha chegado.


Espalhou as rosas pelo apartamento, acendeu velas e fez um jantar
romântico. Quando Victoria entrou e viu tudo aquilo, tomou um susto,
não estava esperando uma recepção muito carinhosa, Giulia veio do
quarto, de banho tomado, linda, de cabelo molhado, com roupa de ficar
em casa. A visão mais linda do mundo para Vic. “Parabéns meu amor,
essas 3 duzias de rosas são para comemorar nossos 3 anos morando
juntas.” “Voce lembrou?” “Nunca esqueceria do amor da minha vida.”

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