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INTRODUÇÃO AO MANDALA-REIKI
São Carlos/2005
APRESENTAÇÃO
Este livro foi escrito em 2002 e foi a base do nosso primeiro livro sobre Reiki,
denominado Dharma-reiki: o aprimoramento espiritual e a caridade como caminhos para
a cura. Eu nem me lembrava mais deste texto quando o encontrei no computador. Lendo-o,
percebi que muitas das informações que ele contém não foram aproveitadas em nenhum
dos livros da trilogia que fomos orientados para escrever, sob a inspiração da
espiritualidade que trabalha na ONG Círculo de São Francisco.
Como estamos comemorando os cinco anos do projeto que deu origem à ONG,
tornar esse texto público é mais um modesto presente que damos aos leitores que apreciam
nosso trabalho. Apesar de ser o quarto livro da série sobre Reiki, este, na verdade, é o texto
original, o pioneiro de todo um trabalho que, gradativamente, ganhou corpo e está se
solidificando na cidade de São Carlos, tornando-se um modesto ponto de luz para acolher
todas as pessoas que se solidarizam com nossa proposta de trabalho ou que em nossa
pequena casa procuram por um auxílio, seja através de uma palavra amiga, de um pouco de
energia ou até mesmo de um puxão de orelha.
Nelson Senise
A primeira vez que ouvi falar em Reiki foi em 1996, quando eu trabalhava no SESC
Interlagos, na cidade de São Paulo, como animador cultural. Através de um panfleto de
uma outra unidade, o SESC Carmo, eu fiquei curioso para conhecer essa técnica oriental,
cuja origem é atribuída ao Tibet ou à Índia, onde se acredita que teria sido Shiva quem o
trouxe dos céus para benefício dos homens, há mais de dois mil anos.
Muitas histórias e lendas cercam a história do Reiki, hoje popularizado pela cultura
"nova era" como uma forma de "terapia complementar". Ele é reconhecido, inclusive, pela
Organização Mundial da Saúde.
Minha curiosidade para conhecer a técnica, naquela ocasião, foi logo dissipada
quando descobri como se processava a "especialização" nessa "terapia". Estávamos nos
meados da década de 1980 e eu vivia um conflito moral. Tinha, em meu íntimo, muito
interesse pelas tradições orientais, mas não conseguia aceitar a difusão mercadológica das
mesmas como se faz no Ocidente.
E por já ter algum conhecimento sobre tratamentos através da imposição das mãos
não acreditava que necessitava passar por um “ritual iniciático” para abrir e expandir meus
canais de comunicação com o "sagrado", sobretudo, os chakras coronário e cardíarco, a fim
de me tornar capaz de manipular a energia numinosa que os mestres afirmavam captar.
1
Espíritos no sentido da Doutrina Espírita, ou seja, de seres humanos que se encontram desencarnados.
Alguns anos se passaram e, ao me mudar para a cidade de São Carlos, no interior do
estado de São Paulo, descobri na cidade um "Núcleo de Reiki". Ainda cético, resolvi passar
pelo ritual iniciático. Para mim, tudo aquilo não passaria de charlatanismo, mas, mesmo
assim, resolvi conhecer de perto o que era o Reiki e aceitei pagar quinhentos reais para
viver o ritual de iniciação nos níveis I e II.
Eu tinha certeza que não iria conseguir me auto-aplicar Reiki, diariamente, durante
21 dias para fazer uma limpeza energética em meu organismo para estar apto para a
iniciação no nível II. Porém, foi um processo fácil de realizar e muito prazeroso. Em alguns
dias, ter que fazer auto-aplicação de Reiki já havia se tornado um de meus hobbies
favoritos.
Porém, durante vários meses, nunca tive coragem para aplicar Reiki em outras
pessoas. Aliás, eu nem falava que era reikiano para as pessoas com quem eu convivia na
Universidade. Eu também tinha receio de perder o emprego na faculdade onde eu
lecionava.
Quando a vergonha passou, ou seja, quando me apercebi que não conseguiria mais
viver sem o Reiki, pois ele estava interiorizado dentro de mim, comecei a aplicar Reiki em
familiares e em alguns conhecidos, gratuitamente. A idéia de cobrar pelo Reiki sempre me
pareceu estranha. Apesar do mestre ter me ensinado que não se cobra pelo Reiki, mas pelo
tempo que se “perde”, achei tal justificativa muito capitalista (tempo é dinheiro), e nada
relacionada com a compaixão budista, de onde o Reiki, em tese, teria sido originado.
Hoje em dia é quase impossível encontrar alguém pelas ruas das grandes cidades
brasileiras que nunca ouviu falar em Reiki. Todas as boas bancas de jornal expõem revistas
e livros sobre o assunto. Algumas ONGs trabalham com Reiki em comunidades carentes e
até algumas penitenciárias utilizam essa terapia com os detentos. Porém, nos bastidores,
como ocorre em todos as áreas do conhecimento, há brigas entre grupos para legitimar qual
é o Reiki correto ou o que merece credibilidade. Outros ainda partem para discussões se o
Reiki tem relação com o cristianismo ou não. Nesse aspecto, os evangélicos são curtos e
grossos: "Reiki é coisa do demônio", dizem os “pastores” aos seus “cordeiros”.
Atualmente, além de ter sido iniciado até o nível III-A do Reiki dito tradicional, sou
também iniciado no sistema Karuna-Reiki. Porém, um fato curioso aconteceu quando, ao
procurar informação sobre o mestrado em Reiki, fui visitado, no dia seguinte, por dois
médiuns kardecistas que me falaram que foram ao meu encontro porque uma entidade
espiritual pediu-lhes que me procurassem. Ou seja, tal espírito queria me ensinar algumas
coisas sobre o Reiki.
Se o Reiki costuma ser visto como charlatanismo pela academia, que não acredita
no ritual realizado por um “mestre” encarnado, o que dizer da informação de que é possível
aprender Reiki com um desencarnado. Porém, o que aprendi com este espírito chocou
muitos reikianos. Em suma, o Reiki nada mais é do que um “passe espírita” feito em uma
maca e por muito mais tempo. Além disso, o reikiano não canaliza nenhuma energia
especial através dos símbolos, mas, pela sua vontade, emite sua própria bioenergia. E, para
completar, o tratamento é realizado por médicos do plano espiritual.
Durante muito tempo refleti, junto com alguns amigos, encarnados e desencarnados,
se deveríamos continuar usando a expressão Reiki. Mas fomos orientados para difundir este
novo enfoque sobre a técnica com um novo nome. Foi assim que surgiu o Dharma-Reiki,
uma diferente filosofia sobre esta técnica de fluidoterapia oriental, no qual os símbolos
valem pelos significados morais que traduzem e, no qual, a caridade e a reforma íntima são
suas palavras-chaves. E também o Mandala-Reiki, um tratamento psico-social, realizado
em grupo, e que utiliza danças circulares como propedêutica.
Capítulo 1
Mircea Eliade
Como já salientei, fui fazer a iniciação no Reiki de forma desinteressada. A
sintonização no reiki I demorou, aproximadamente, 45 minutos. Os neófitos estavam
sentados, com os olhos fechados e suas mãos eram posicionadas de várias formas diferentes
durante o ritual, pelo mestre. Eu, particularmente, não senti o tempo passar e relaxei
profundamente. Lembro-me de ter visto vários círculos lilases que se expandiam em minha
mente.
Além dos círculos, o que me chamou a atenção foi visualizar um grande olho que
ora aparentava ser opressivo, ora meigo. Lembro-me também de ter visto alguns
ideogramas orientais de cor dourada. Estes passavam pela minha mente com muita
velocidade, como se fossem carros em uma avenida movimentada.
Após essa breve sensação desagradável, tive a nítida imagem de quando eu tinha
cerca de 7 anos de idade e fiz a extração das amígdalas. Era como se algo vivido naquela
operação, seja no plano físico ou em outro, não tivesse sido totalmente curado e o gosto de
sangue na boca, a agulhada na garganta e a sensação de estar bebendo muita água fosse
resultado dessa limpeza energética. Essa apercepção ficou muito nítida para mim após o
processo iniciático.
Algumas das imagens que apareceram em minha mente possuem uma simbologia
muito especial, em diferentes culturas. No caso do olho, a imagem mais facilmente
identificável entre todas que circularam pela minha mente, podemos dizer que se trata do
símbolo da percepção intelectual. CHEVALIER aponta que o olho é o símbolo da
percepção intelectual e chegou a identificar três "olhos": o olho físico, o olho de Shiva
(também chamado de o terceiro olho) e o olho do coração. O Xamã, nesse contexto, é o
clarividente, em outras palavras, "o que tem olhos".
No livro Bhagavad-Gita os dois olhos físicos são identificados com o Sol e com a
Lua (seria o olhar opressor solar e o olhar meigo lunar o que eu via durante o processo
iniciático?). Para os budistas, o olho frontal é chamado de Dharma-chaksus, o que permite
apreender, simultaneamente, a unidade e a multiplicidade. Os bambaras, por sua vez,
acreditam que o sentido da visão é o único que permite uma percepção com um caráter de
integralidade e o olho abrange, metaforicamente, as noções de beleza, luz, mundo, universo
e vida.
Acredito nessa possibilidade, pois tive dois sonhos muito significativos nas noites
seguintes. O primeiro sonho foi perturbador. Eu estava indo fazer um curso e me dirigia
para uma sala de aula. Quando cheguei na porta vi que cada carteira trazia colado um
pequeno papel com o nome do aluno que deveria ali se sentar. Ao localizar a minha carteira
percebi um detalhe muito curioso. No teto da sala havia várias lâmpadas fluorescentes
exatamente acima de cada carteira. Notei que apenas a lâmpada que estava sobre a carteira
onde eu precisava me sentar estava apagada. Ou seja, todos os demais alunos eram
iluminados, menos eu. Perceber que somente o meu lugar estava sem luz me deixou
envergonhado.
Alguns dias depois da iniciação tive um outro sonho. Este também foi muito
curioso. Meu pai havia falecido e, um pouco antes dele, o ex-governador Mário Covas. Em
meu sonho, ambos apareciam e, juntos com um japonês, estavam coordenando uma reunião
em que se discutia a criação de um "pólo industrial" no interior do estado. Eu me
surpreendia vendo o meu pai animado com a idéia e se prontificando em ajudar a
desencadear o processo.
Quando acordei, tive a nítida impressão que meu pai desencarnaria naquele mesmo
dia. E, assim, às dez horas da manhã, recebi um telefonema do hospital avisando-me de seu
falecimento. A minha intuição, com a prática do Reiki, estava se tornando muito mais
aguçada.
A maioria das pessoas que passa por uma sessão de Reiki, pelo menos, em nossa
ONG, sente muito calor nos pés, nas mãos e em outros órgãos específicos do corpo, ou,
então, uma espécie de formigamento. Outras pessoas visualizam cores, normalmente uma
das sete cores do arco-íris acrescidas, às vezes, com uma forte luz dourada. As reações
durante a sessão costumam várias de pessoa para pessoa, porém, dificilmente alguém não
sente ou não visualiza absolutamente nada.
***
O ritual iniciático durou, praticamente, o mesmo tempo do anterior. Não sei se foi o
fato de estar mais receptivo para as visualizações que poderiam ocorrer, mas sei que as
imagens que passaram em minha mente foram muito intensas. Lembro-me de ter visto um
rosto que parecia ser de um senhor de idade. Eu via, nitidamente, sua boca e nariz. Algumas
vezes ele estava com barba, outras vezes com o rosto limpo. Em alguns momentos eu senti
vertigem e vi muitas cores, predominando o verde e o violeta.
O rosto também representa a sede dos órgãos dos sentidos e é o que apresentamos
para os outros. Como já afirmou CHEVALIER, o rosto é uma "porta para o invisível". E o
por quê da barba? Para muitos se trata de um símbolo da virilidade, da coragem e da
sabedoria.
Um fato curioso sobre as barbas vem da Antigüidade. Aos homens imberbes eram
dadas barbas postiças quando davam prova de coragem e de sabedoria. Como na
visualização a barba aparecia e desaparecia, talvez fosse uma representação de uma barba
“postiça”, ou seja, manifestando o paradoxo daquele momento entre a mistificação e a
verdade espiritual.
Outra hipótese, porém, é que pode se tratar do rosto do meu guia espiritual ou,
então, lembranças de minhas antigas encarnações. Soma-se a essas imagens alguns sonhos
que tive nos dias seguintes, após a iniciação. Um deles foi com o meu avô paterno que
faleceu quando eu tinha entre 12 e 14 anos de idade. Acredito que foi a primeira vez que
sonhei com ele após a sua morte. No sonho, eu andava por uma rua sem movimento. A
calçada era estreita e muito comprida. As casas eram feias e o local parecia abandonado. De
repente, vejo o meu avô em frente a um portão muito enferrujado e podre. Ele sorri para
mim, abre o portão e me convida para entrar. Quando eu o vejo, fico feliz e, num primeiro
momento aceito o convite. Porém, quando olho para dentro do portão, e vejo um estreito
corredor muito escuro, fiquei com medo. Falo para ele que não quero entrar. Despeço-me
dele e continuo andando/vagando pela rua. E, como já salientei, meu pai já tinha
desencarnado. Tive outros sonhos peculiares e com informações muito precisas. Quase
todos estavam relacionados com a sua morte. Em um deles, lembro-me que eu, ele e minha
irmã caminhávamos dentro do cemitério em que seu corpo foi enterrado. Ele seguia
abraçado com a minha irmã e vestia um agasalho esportivo e um belo para de tênis, calçado
que ele nunca usou. Ele parecia um jovem esportista, pois estava muito bonito e não tinha a
aparência de quando faleceu vítima de um câncer generalizado no sistema digestivo.
Nós três estávamos caminhando em direção ao seu túmulo. Nosso objetivo era ver
se o mesmo estava em ordem. No sonho, eu sabia do que se tratava, ou seja, eu tinha
consciência de que estava andando com um “morto” e íamos visitar o seu próprio túmulo.
Um outro sonho me chamou muito a atenção. Várias pessoas estavam na sala onde o
corpo dele estava sendo velado. De repente, vejo-o, em pé, junto às pessoas, e olhando,
com certa admiração, para o seu próprio corpo dentro do caixão. Novamente achei muito
natural aquela cena. Somente quando despertei é que me dei conta do "absurdo" da
imagem.
O curioso, porém, é que tais lembranças ocorreram de uma forma muito agradável.
Não houve remorsos, nem desejo de vingança. Ao contrário, a sensação que ficou em meu
corpo e em minha alma foi de limpeza e de leveza. Após tais experiências de desbloqueio
energético descobri que, através do Reiki, o passado é limpo e, raramente, proporciona a
lembrança dolorosa que Belchior manifestou em uma de suas canções ("nas paredes da
memória, essa lembrança é o quadro que dói mais"). Com a aplicação do Reiki, a
lembrança parece reacender, mas para aliviar a dor.
Essa experiência me fez rever algumas das minhas conclusões sobre a Memória,
defendida em meu mestrado na FEUSP, em 1996. Em minha dissertação fui um crítico
feroz do bergsonismo. Hoje, ao contrário, devo confessar que acredito que todas as nossas
vivências ficam armazenadas em algum lugar da alma e que nos esquecemos de várias para
vivermos no presente, mas que elas podem ser acessadas integralmente, como ele afirmava,
seja através do Reiki ou de outras técnicas.
***
Não sei se o lobo se jogou ou se caiu, mas a imagem, nítida em minha mente, era
dele despencando por um enorme abismo. Após a sua queda, o céu que era roxo foi se
tornando mais claro e sua cor passou a ser de um violeta claro e, no seu centro, eu visualizei
algo como se fosse uma estrela tridimensional.
Essa imagem, porém, era por mim observada de baixo para cima. Ou seja, do
ângulo que eu a via era possível observar apenas quatro “pontas”, as duas para baixo e as
duas mais horizontalizadas. A quinta ponta não era possível de se ver, mas eu tinha a
impressão que era uma estrela de cinco pontas (um pentagrama). A cor dessa estrela era de
um dourado intenso.
Na primeira noite, após a iniciação no nível III-A, eu tive um sonho muito curioso.
Eu me encontrava sentado em um sofá quando vi um pequeno rato correndo em seu
encosto. Com muita agilidade, consegui esticar a mão direita e o peguei. Assim que eu o
trouxe para a minha direção, como se fosse trazê-lo até o meu coração, acordei sem
nenhum sobressalto ou medo.
Na época não conseguia compreender, mas hoje acredito que o lobo e o rato
estavam anunciando a prosperidade, não necessariamente econômica, da redescoberta da
espiritualidade e de uma nova forma de encarar o mundo, com novos propósitos.
***
Tal informação, para mim, era uma grande fantasia. Não que a presença espiritual
desses seres iluminados fosse impossível, mas em um lugar onde o amor incondicional
custava R$ 1000,00 é de se duvidar.
Mas foi na iniciação no sistema Karuna-Reiki que tive a intuição para criar o
Mandala-Reiki, o nosso trabalho de energização em grupo, e passei a ver, com freqüência, a
imagem do crucifixo de São Damião, apesar de, até então, desconhecê-lo.
O Mandala-Reiki consiste no envio de Reiki para um grupo de pessoas que se
encontram presentes em um mesmo local. Antes do processo de energização, como parte de
um exercício de relaxamento, focaliza-se algumas dançar circulares.
Na primeira experiência em que usei esta técnica, em uma escola privada de São
Carlos, uma professora teve uma visão maravilhosa e que me impressionou bastante. Por
alguns momentos, ela ficou envergonhada de contar o que viu com medo de que os demais
professores fossem ironizá-la. Quando ela se sentiu à vontade, ela nos narrou que, de
repente, viu todos os participantes deitados no chão, inclusive ela. Pouco tempo depois,
aparecia uma menina de, aproximadamente, sete anos de idade. A criança andava entre as
pessoas com um pequeno balde na mão. Quando ela se aproximava de cada participante,
jogava um pó dourado na cabeça de cada um. Com certeza ela teve um desdobramento e
assistiu ao tratamento realizado pela espiritualidade socorrista.
Mas a experiência mais importante, até o momento, foi quando visualizei a cruz de
São Damião. Como afirmei, eu não sabia da existência desse crucifixo e nem de seu
significado. Durante uma vivência de Mandala-Reiki, notei que uma forte luz verde
começava a se formar em minha mente e, em seu meio, tornava-se nítida a imagem de uma
cruz. Ela não era uma cruz comum. Ela apresentava um desenho singular.
Essa "revelação" fez com que, carinhosamente, o método que intui e chamei de
"Mandala Reiki", começasse a ser chamado também de "Círculo de São Francisco", nome
que a espiritualidade sugeriu para a nossa ONG. É sobre este assunto que vou discorrer no
próximo capítulo.
Capítulo 2
Como salientei, após a visualização do crucifixo de São Damião, resolvi estudar sua
simbologia e descobri que ele foi um dos mais importantes ícones associados à São
Francisco de Assis. É necessário, antes de prosseguir, fazer apenas um esclarecimento.
Talvez a forma como estou apresentando esse texto possa trazer a idéia equivocada de que
esses lampejos de imagens arquetípicas ocorrem a todo o momento. Isso não é verdade.
Normalmente, quase todos os participantes visualizam turbilhões coloridos, mas sem uma
forma definida. Outros apenas sentem um fluxo energético pelo corpo. E tem aqueles que
dizem que não sentem absolutamente nada.
Por outro lado, é preciso compreender que, quando as imagens nítidas e intensas
surgem diante de nós, significa que conseguimos nos abrir para aquela dimensão que Henry
CORBIN chamou de imaginal. Por isso, não podemos simplesmente reduzir essas visões
numinosas a simples fantasias de nossa mente consciente, tanto que, se tentamos dominar
mentalmente essas imagens, elas simplesmente desaparecem. O olho físico e a razão não
são capazes de retê-las.
Em uma das vivências eu vi cerca de cinco ou seis crianças, todas carecas, olhando
para mim com curiosidade e com um agradável sorriso nos lábios. Era como se eles
tentassem se comunicar comigo. Todos usavam um hábito budista cuja cor era de um
laranja intenso e tinha frisos brancos nos ombros. No momento em que tomei consciência
da imagem e tentei retê-la em minha mente, ela desapareceu completamente.
Já notei que as pessoas que não conseguem ver ou sentir nada durante uma sessão
de Mandala-Reiki costumam dizer que possuem dificuldade para se concentrar. Acredito,
porém, que é, justamente, o contrário o que acontece. Ou seja, a pessoa se concentra
demais, tanto nas danças como no Reiki e não consegue dar folga para a mente.
Em toda sua volta e também no seu interior se manifestava uma cor verde muito
brilhante e intensa. Nas semanas seguintes, a mesma cruz continuava a aparecer em minha
mente, até que consegui descobrir que se tratava da Cruz de São Damião, através de um
estudioso da Cabala.
Como não a conhecia, pelo menos na atual encarnação, possivelmente, ela estava
dentro de mim, vinculada a minha parte a-histórica. Ou seja, como afirmou Mircea
ELIADE em seu livro Imagens e Símbolos:
Acredita-se que a cruz foi pintada por um artista (não se sabe quem), natural de
Úmbria, no século XII. A cruz foi pintada em um pano e colada em uma madeira
(nogueira). Suas dimensões originais eram: 1,90m de altura; 1,20m de largura e 12cm de
espessura. Essa cruz, durante algum tempo, decorava o altar da igreja de São Damião, na
cidade de Assis. Há fortes indícios de que, em 1257, as Clarissas, após deixarem a igreja de
São Damião, levaram-na para uma outra igreja: a igreja de São Jorge.
Durante 700 anos a cruz ficou guardada, cuidadosamente, e sua exposição para o
público se deu na Semana Santa de 1957, sobre o novo altar da Capela de São Jorge, na
Basílica de Santa Clara de Assis.
1 - A imagem de Cristo
2 - O círculo vermelho
5 - Maria e João
Eles aparecem lado a lado. O manto de Maria é branco (vitória, purificação e boas
obras). No manto há pedras preciosas (as graças do Espírito Santo). Sua veste externa é de
um vermelho intenso (amor) e a interna é púrpura. Sua mão esquerda está no rosto e sua
mão direita aponta para João. Gotas de sangue caem sobre João que usa um manto cor de
rosa (sabedoria eterna) e uma túnica branca (pureza).
6 - Maria Madalena
Junto à cruz aparece Maria Madalena. Sua mão está no queixo e sua veste tem cor
escarlate (amor) e um manto azul.
7 - Maria de Cléofas
Aparece com uma veste de cor castanha (humildade) e com um manto verde claro
(esperança). O gesto de suas mãos parece de admiração por Jesus.
8 - O centurião de Cafarnaum
9 - Os soldados
Possivelmente, trata-se de Longinus (soldado romano que feriu Jesus com uma
lança) e de Estefânio (soldado que ofereceu a Jesus uma esponja encharcada com vinagre).
10 - santos desconhecidos
Embaixo dos pés de Jesus aparecem seis santos. Alguns estudiosos dizem que são,
respectivamente, Damião, Rufino, Miguel, João Batista, Pedro e Paulo. Essa hipótese parte
do pressuposto de que todos foram patronos de igrejas na região de Assis.
11 - Os ladrões
À direita da cruz aparece Dismas, o ladrão bom; à esquerda o ladrão mau (?).
12 - O formato da Cruz
Acredita-se que o artista alterou o formato tradicional para que pudesse incluir todos
os participantes da paixão de Cristo.
Em relação à Oração pela Paz (a oração de São Francisco), Leonardo BOFF nos diz
que ela "nasceu anônima, na periferia, sem que ninguém lhe desse importância especial.
Aos poucos, seu conteúdo belo e inspirador foi acalorando corações e acendendo mentes."
Por ser simples e ter uma mensagem convincente ela é recitada por crianças budistas no
Japão, por monges taoístas no Tibete, por muçulmanos no Cairo, por babalorixás em
Angola, por papas cristãos em Roma, pelos fiéis das comunidades de base na América
Latina e até por operários em manifestações e greves, lembra-nos BOFF.
Isso talvez ocorra porque ela manifesta, de forma intensa, alguns dos desejos
ancestrais da humanidade. Ela vem ao encontro de nossa demanda por paz e tolerância.
A Oração pela Paz apareceu pela primeira vez em 1913 numa pequena revista local
da Normandia, na França. Após sua publicação em Roma (20 de Janeiro de 1916), um
franciscano, visitador da Ordem Terceira Secular de Reims, na França, imprimiu um cartão
tendo de um lado a figura de São Francisco com a regra da Ordem Terceira Secular na mão
e, do outro, a Oração pela Paz. No impresso, colocou ainda a seguinte frase: "essa oração
resume os ideais franciscanos e, ao mesmo tempo, representa uma resposta às urgências de
nosso tempo".
Possivelmente, foi essa pequena frase que se tornou o elo revelador permitindo que
a oração deixasse de ser apenas Oração pela Paz para ser também conhecida como "Oração
de São Francisco" ou como a Oração da Paz de São Francisco de Assis.
Não é possível afirmar que o Mandala-Reiki nos foi enviado por São Francisco de
Assis, mas, não há dúvida de que seus ideais estão presentes nessa técnica, cujo objetivo
primordial é o cultivo do homo cooperativus.
Em uma outra vivência, a mesma médium teve uma visão premonitória. Ela, durante
a vivência, viu uma pessoa descendo as escadas do local onde estávamos, com vários
pacotes de compra e indo guardar as mercadorias em um armário. Após a realização da
vivência e enquanto conversávamos na proximidade da cozinha do centro de estudos, a
cena aconteceu. Minha mãe desceu as escadas com vários pacotes e foi em direção à
cozinha para guardar as compras que havia feito.
Em uma outra vivência, ela também narrou uma imagem muito bonita. Ela via todas
as pessoas que participavam daquela experiência deitadas no chão e, atrás de cada um, um
certo ser iluminado que, com as mãos, fazia algum tipo de trabalho espiritual nos
participantes. Atrás desses seres iluminados, outros espíritos caminhavam. Ela nos narrou
que, primeiramente, teria imaginou que fosse eu quem estava caminhando por trás do
círculo, mas depois percebeu tratar-se de seres incorpóreos, uma vez que eu fiquei o tempo
todo focalizando o processo no centro da mandala.
Nessa mesma vivência, a médium nos narrou que viu novamente a mesma criança
negra brincando. Dessa vez, no local onde funcionava a cozinha do centro de estudos, havia
um jardim e a criança ali se encontrava fazendo, ininterruptamente, uma estrela de cinco
pontas em um chão de terra.
Um outro médium, dessa vez, de formação kardecista, narrou que logo no início do
processo ele visualizou uma forte luz branca. A luz era muito intensa e tomava conta de
todo o ambiente. Era impossível enxergar qualquer coisa. Depois, como se fosse uma
fumaça que ia se dissipando ele notou que havia quatro seres incorpóreos na sala: uma
mulher loira de olhos azuis, um índio, um homem com farto bigode e um outro que ele não
conseguiu identificar. Ele notou também que uma forte luz verde brilhante vinha do teto da
sala e entrava em minhas costas.
Numa outra ocasião, este médium disse ter recebido informações de guias
espirituais informando que o trabalho ali realizado apresentava duas dimensões
complementares e ambas eram importantes. Uma era “psico-social” e, a outra, “fluídica”
(espiritual). Assim, as danças que antecediam o processo de energização com o Reiki,
ajudavam através dos movimentos, da respiração e dos toques a estimular o desabrochar do
homo cooperativus, por estimular a vivência e a energia em grupo. Essa parte do trabalho
fortalece o “emocional” do grupo e a união, segundo as entidades.
Porém, fiquei muito emocionado no dia em que ele recebeu algumas mensagens dos
guias espirituais sobre o Mandala-Reiki. Em primeiro lugar, estas entidades me pediram
para tirar os cristais que eu utilizava em volta do círculo. Segundo o médium, os cristais
seriam uma “arma” nas mãos de quem não sabe utilizá-los. Porém, o que mais me
impressionou foi a informação de que apareciam “espíritos inferiores” que ficavam
tentando furar o campo energético ali formado. A informação que recebi, através desse
médium, é que dificilmente tais espíritos conseguiriam, mas não era algo impossível de
acontecer. Para afastá-los, seria necessário fazer o seguinte:
1 - Uma oração antes do início do processo de energização, pois isso criaria uma
conexão mais forte entre os participantes e seus guias espirituais e afastaria esses “espíritos
inferiores”.
Em um outro dia, novas revelações nos foram enviadas, sempre intermediadas por
esse mesmo médium. Uma das informações era para se tomar um copo de água antes e um
depois da vivência, o que ajudaria no fluxo eletro-magnético do Reiki, e para evitar que
pessoas viciadas em drogas ou que, naquele dia, estivessem com muito ódio de alguém
participassem da vivência. Essas pessoas deveriam ser orientadas para fazer apenas o Reiki
individual e nunca o Mandala-Reiki, ou a energização em grupo.
Capítulo 3
Também conhecido como Círculo de São Francisco, esta técnica, do ponto de vista
teórico, pode ser interpretado à luz das obras de pensadores ocidentais tais como Mircea
Eliade, Edgar Morin, Henry Corbin, C. G. Jung, entre outros, e também de textos clássicos
de filosofia oriental e de Espíritos, como Ramatís, Emmanuel, André Luiz etc.
2
O texto a seguir foi escrito para apresentação no II Simpósio de Organizações Holísticas, realizado na cidade
do Recife, em 2002, e foi publicado como apêndice em nosso primeiro livro sobre Reiki.
Preferi chamar esses movimentos corporais de “danças numinosas”, pois são formas
de se utilizar sistêmica e coletivamente da mimese, uma vez que, a potência simbólica da
linguagem corporal, potencializada no rito corporal, permite a comunicação/interação do
corpo com a alma. As danças possibilitam amplificar a recepção do fluxo energético
compassivo durante o tratamento fluidoterapêutico. Assim, no Mandala-REIKI, elas são um
meio e não um fim.
Por meio do contato mediúnico com alguns mentores soubemos que tais
movimentos auxiliam na limpeza energética do perispírito. Dessa forma, a sensação de
plenitude e a troca fluídica ou energética são um fato. As danças preparam e auxiliam a
realização do trabalho seguinte: o REIKI em grupo.
O nome dessa técnica que reúne tratamento mediúnico e psico-social surgiu depois
que visualizei por diversas vezes o crucifixo bizantino encontrado na Capela de São
Damião, na cidade de Assis. Estudando a simbologia do crucifixo descobri que ele
representa um dos mais importantes ícones associados a São Francisco de Assis. Entretanto,
antes de prosseguir, faz-se necessário apenas um esclarecimento. Talvez a forma como
estou apresentando esse texto possa trazer a idéia equivocada de que esses lampejos de
imagens arquetípicas ocorrem a todo o momento. Não é verdade. Normalmente, quase
todos os participantes visualizam turbilhões coloridos, mas sem uma forma definida. Outros
apenas sentem um fluxo energético pelo corpo.
Por outro lado, é preciso compreender que, quando as imagens nítidas e intensas
surgem diante de nós, isso significa que conseguimos nos abrir para aquela dimensão que
Henry Corbin chamou de imaginal. Por isso, não podemos simplesmente reduzir essas
visões numinosas a simples fantasias de nossa mente consciente, tanto que, se tentamos
dominar mentalmente essas imagens, elas simplesmente desaparecem. O olho físico e a
razão não são capazes de retê-las.
Segundo os mentores espirituais que nos instruíram, esse trabalho possui duas
dimensões complementares e importantes: uma “psico-social” e a outra “fluídica”
(espiritual). As danças ajudam, por meio dos movimentos, da respiração, dos toques físicos,
etc., a criar o que chamei de homo cooperativus, uma vez que estimulam a vivência em
grupo. Essa parte do trabalho fortalece o “emocional” do grupo e a união. Além dessa
dimensão com os encarnados, as danças são importantes também para o tratamento de
espíritos desencarnados. Os fluidos liberados pelos participantes, sobretudo os fluidos de
amor, amizade, carinho etc. são armazenados pelos médicos siderais e utilizados para o
tratamento de desencarnados que estão se libertando de enfermidades oriundas do ódio ou
do desejo de vingança ou que ainda sentem necessidade de fluidos animalizados, etc.
4 – Pessoas viciadas em drogas e que estão com muito ódio de alguém não devem
participar do trabalho coletivo. Essas pessoas devem ser encaminhadas para um tratamento
individual (Dharma-REIKI).
É importante salientar que problemas cármicos não se resolvem com essa técnica.
Apenas alguns sintomas podem ser amenizados. O carma, para ser “desidratado”, só pode
ser eliminado com o “suor do trabalho oposto feito com amor” ou com as “lágrimas da
dor”.
Urano, apesar de ser um mito heróico, não deixa de representar atributos "noturnos",
pois é um mito envolvente. Gaia, por sua vez, apesar de ser Yin, é quem luta para se des-
envolver dos laços de Urano e gerar os filhos que estão em seu ventre. Lembremos também
que, ao contrário do neto Zeus, Urano praticamente não luta. Ele costuma laçar os seus
inimigos e trazê-los para o seu lado.
Por ser uma experiência inefável, é difícil nos reportar ao sagrado. Nesse sentido,
lembrar as sábias palavras de Eliade nos traz algum conforto para tentar transmitir o que é
uma vivência de Mandala-REIKI:
A focalização de uma vivência é muito tranqüila. Todo o processo deve ser feito em
um local limpo, preparado exclusivamente para fins espiritualistas (aulas de Yoga, T’ai
Chi, meditação etc.) podendo ser de piso frio ou não. Através da experiência notei que,
quando o processo ocorre com os pés descalços, o fluxo de energia eletromagnético parece
estabelecer as trocas necessárias entre os corpos físicos e o ambiente. A única vez que
focalizei uma vivência de sapatos, fiquei uma semana com dores na região dos tornozelos.
A aparência parece ser essencial para que a essência apareça. Assim, uma limpeza
do ambiente é necessária. E não só uma limpeza das sujeiras visíveis, mas também de
padrões energéticos que vibram negativamente, poluindo os ambientes.
Cheguei a fazer uma experiência a distância com uma amiga que concluíra
recentemente o seu mestrado na Faculdade de Educação da USP e que não estava mais
conseguindo lecionar em uma escola pública. Por e-mail ela me narrou a mudança no
comportamento dos alunos durante o período em que fiquei meditando e enviando bons
fluidos para os alunos. Infelizmente, ela não me autorizou a dar mais detalhes da nossa
experiência e nem citar o seu nome com medo de perder o emprego ou ser chamada de
“maluca” por seus pares incrédulos.
A prece, antes e depois da vivência, é sempre obrigatória. É ela que nos une aos
nossos protetores espirituais, conectando-nos aos espíritos iluminados e benevolentes e
formando uma corrente espiritual de benéficos fluidos.
Vamos aos símbolos. O centro simboliza todo princípio, o real absoluto, Deus. É no
centro que se condensam e coexistem as forças opostas. Assim, é o lugar onde há a maior
concentração de energia. Isso não significa que o centro seja estático. Ao contrário, deve
ser considerado como o foco de onde parte o movimento da unidade para a multiplicidade,
do interior para o exterior, do eterno para o temporal. Os processos de retorno, dessa forma,
são movimentos de busca da unidade perdida. O centro possui uma significação esotérica: é
o alimento místico que emana do centro e também o alimento biológico que emana do
sangue materno. Em várias culturas, o centro é simbolizado como o umbigo da terra.
Por sua vez, a cruz é um dos símbolos mais antigos da humanidade. Em Creta foi
encontrada uma cruz de mármore datada, possivelmente, do século XV a.C. Como o
quadrado, que veremos a seguir, também simboliza a Terra, mas com uma diferença sutil: a
cruz está muito mais relacionada à ligação, à intermediação. A cruz, no Ocidente, está
fortemente relacionada à simbólica do 4, portanto, da totalidade, já que a cruz aponta para
os 4 pontos cardeais. Na China, por sua vez, a cruz está relacionada ao número 5, pois
considera também o centro, o ponto de intersecção que coincide com o do círculo, como
salientamos.
Por fim, podemos afirmar que o círculo e o quadrado representam dois aspectos
divinos complementares. O primeiro, representa a unidade; o segundo, a manifestação
divina. Por isso, entre eles, existe ora uma relação de distinção, ora de conciliação. Em
suma, o formato quadrangular representa a perfeição da esfera no plano terrestre.
Meditação do Equinócio
Os participantes, que devem estar voltados para o centro da roda, iniciam a dança
com uma das mãos sobre o chakra cardíaco e a outra sobre o chakra umbilical. Não importa
a ordem, apesar de a mão direita ser considerada mais Yang que a esquerda.
Cada participante dará dois passos lentos para o interior da roda e, ao mesmo tempo,
suas mãos devem fazem dois giros no ar e se abrir como se fossem reverenciar o céu. Em
seguida, o participante faz o movimento oposto, retornando à posição original.
Meditação da Flor
Cada participante deverá fazer esse movimento lentamente, em seu próprio ritmo.
Como na dança anterior, procuro sempre fazê-la com os olhos fechados e com a língua no
céu da boca.
Gosto de realizar essa “coreografia” com o mantra indu Om Nama Shiva ao fundo.
CONCLUSÃO
Muitas pessoas relatam imagens belíssimas. É preciso salientar que não se trata de
meras fantasias da mente consciente. Ao contrário, por ser uma técnica que estimula o
participante a se entregar às atividades metacognitivas, é possível acessar imagens que se
escondem no âmago do seu Ser, no Self. Nesse sentido, não se trata de um Estado Alterado
de Consciência, mas de um Estado Ampliado de Consciência.
Não é à toa que a hipertrofia da estrutura heróica em nossa psique leva a uma
militarização do mundo e, como apontam vários psicólogos de linha junguiana, para uma
naturalização da esquizofrenia como norma de comportamento, uma vez que a dissociação
é sua força motriz. Podemos encontrar também a estrutura heróica do imaginário
manifestando-se fortemente através do chamado paradigma cartesiano, cuja característica é
a separação dos objetos em diferentes reinos ou dicotomias (corpo e mente, natureza e
cultura, entre outros).
Por outro lado, a estrutura mística do imaginário é aquela que se caracteriza pela
união, pela mistura, pelo envolvimento. Não é à toa também que essa estrutura do
imaginário predomina nas culturas orientais, de onde surgem expressões como YOGA
(palavra do idioma sânscrito que significa integração), REIKI (expressão japonesa que
significa união da energia cósmica com a vital) e outras que procuram considerar não mais
a existência de dicotomias, mas sim de polaridades dentro de uma única realidade. Essa
estrutura do imaginário também tende a predominar nas culturas não-modernas e esteve
fortemente presente nas sociedades matriarcais.
E a estrutura dramática? Ela, segundo Durand, é a mais difícil de ser observada, pois
ela não seria uma simples síntese das duas anteriores, mas a estrutura que possibilita re-
ligar as duas descritas anteriormente. Este re-ligamento, no plano científico, já havia sido
assinalado por Edgar Morin e outros pensadores ao discutirem o chamado paradigma
holonômico no qual a Parte é revalorizada por também conter o Todo.
Uma metáfora que nos permite ilustrar a diferença entre essas três estruturas é a da
relação entre as árvores e a floresta. A estrutura heróica, que fundamenta nossa visão
militarista, ativa, desenvolvimentista, cartesiana etc., é aquela que, quando polarizada, nos
faz enxergar apenas as árvores isoladamente. Por sua vez, a estrutura mística do imaginário,
fundamentando uma mentalidade holística, quando polarizada nos leva a ver a floresta ou
as relações entre as árvores, porém, extingue toda a singularidade de cada espécie. É o que
Morin chamou de “redução pelo Todo”. Por fim, a estrutura dramática, uma estrutura
“andrógina” por excelência ou contraditória (oximorônica segundo os pré-socráticos), é
aquela que nos permite valorizar simultaneamente as árvores e a floresta.
Dito isso, podemos pensar qual é a estrutura do imaginário que estimula a
cooperação e, de forma recursiva, compreender qual a estrutura do imaginário que é
valorizada ou expandida quando cooperamos.