1.1) INTRODUÇÃO
A correta seleção de motores para realizar um acionamento, principalmente nas plantas in-
dustriais, constitui um dos mais importantes problemas da eletrotécnica aplicada, pelos aspectos
técnicos e econômicos envolvidos. Ao longo de muitos anos, o fato de a energia elétrica ter sido um
insumo relativamente barato na composição dos custos dos produtos industriais, criou entre muitos
técnicos uma cultura de relativa indiferença quanto a uma correta seleção dos motores elétricos para
realizar um determinado acionamento. Desde que o acionador colocasse a máquina em operação na
velocidade correta, fornecendo a potência necessária, outros aspectos do problema, tais como su-
perdimensionamento do motor, teriam importância secundária. Porém, com o custo da energia elé-
trica se tornando cada vez maior, principalmente nas regiões onde ela é gerada a partir de combustí-
veis fósseis, a preocupação dos engenheiros eletricistas com um melhor rendimento dos motores
elétricos e, conseqüentemente, com uma correta escolha do motor para acionar uma determinada
máquina, foi se tornando um ponto relevante no problema do acionamento industrial.
1
Eixo principal de uma máquina é o eixo através do qual ela recebe potência e conjugado do acionador. Ele pode estar
acoplado ao eixo do acionador diretamente ou através de um sistema de transmissão.
2
O quadro 1.01 mostra a “família” dos motores elétricos a partir da qual um dos tipos deverá
ser escolhido.
A área de aplicação dos motores elétricos que mais apresenta problemas é a área industrial
ou as grandes instalações comerciais de condicionamento de ar e refrigeração. Nestas, predomina a
fonte de alimentação em corrente alternada (CA) trifásica. Em algumas situações especiais vamos
encontrar acionamentos industriais feitos por motores monofásicos ou, mais raramente, por motores
de corrente contínua (CC), estes, principalmente em instalações industriais mais antigas. Os moto-
res de CC têm sido utilizados, ao longo do tempo, nas plantas industriais, nas aplicações em que se
deseja um controle eficiente de velocidade. Os motores com excitação de campo em derivação são
especialmente empregados com esta finalidade. Porém, os progressos obtidos com a eletrônica de
potência que permitem sejam hoje fabricados conversores estáticos de alta capacidade e confiabili-
dade para fazer o controle de velocidade de motores de indução de rotor em gaiola, serão certamen-
te opções mais atraentes do que o uso de motores de CC. Os motores de indução, em especial os de
rotor em gaiola, possuem diversas vantagens em comparação com os motores de CC:
• Maior robustez que lhes permite operar em temperaturas mais elevadas e alta velocidade
por períodos prolongados sem manutenção.
• Menor custo comparado com o motor de CC de mesma potência e velocidade.
• Menor peso do rotor, cerca de metade do peso do rotor de CC de mesma potência e velo-
cidade, conseqüentemente, menor efeito de inércia.
• Não apresentam as limitações de corrente e tensão devidas ao processo de comutação me-
cânica presente na operação dos motores de CC.
2
Dados obtidos da publicação “Motor de Alto Rendimento” da ELETROBRÁS/PROCEL & CEPEL, agosto de 1998.
O consumo anual de energia elétrica no Brasil é 262,52 TWh.
3
MOTORES
ELÉTRICOS
• Imã permanente
• Campo série
• Campo derivação
• Campo composto
Motores Motores
Monofásicos Trifásicos
Os motores de grande potência (acima de 1000 CV) e tensão elevada (acima de 2200 volts)
são motores especiais, isto é, eles são fabricados sob encomenda e sua potência não é padronizada.
Os motores de CC são extensamente empregados na tração elétrica. Os trens metropolitanos,
os grandes caminhões “fora-de-estrada” e os “trolleybuses” utilizam, como principais acionadores,
motores de CC com excitação série por possuírem um elevado conjugado de partida.
Os motores síncronos são muito aplicados em acionamentos de máquinas que requerem
grande potência ou naquelas aplicações em que a velocidade da máquina deve ser mantida constante
em qualquer condição de carga. O fato de poderem funcionar superexcitados e, com isto, fornecer
energia reativa para a instalação industrial para fins de melhoria do fator de potência, também re-
comenda sua aplicação em algumas situações.
A figura 1.01 mostra um quadro sinóptico da aplicação dos motores de indução e síncronos,
em função da potência (CV) e velocidade (RPM), onde se pode notar a supremacia absoluta dos
motores de indução de qualquer potência para os motores de alta velocidade (2 e 4 pólos em 60 Hz.)
1000
CV Motores síncronos
800
200
3600 1800 1200 900 720 600 514 450 360 327 300 RPM
Por todas estas razões, vamos concentrar nosso estudo em acionamentos feitos pelos moto-
res de indução. Porém, os conceitos que serão estabelecidos poderão ser aplicados aos demais tipos
de motores, adaptando o que for necessário.
Quando se vai fazer a escolha de um motor para realizar o acionamento de uma determinada
carga, uma das primeiras providências é verificar se a característica conjugadoxvelocidade do mo-
tor atende aos requisitos exigidos pela característica da carga acionada. O comportamento do mo-
tor durante os períodos transitórios de partida, de frenagem ou de variação da velocidade depende
de como os conjugados do motor e da máquina acionada variam com a velocidade. É necessário
estudar estas características de modo a se fazer uma seleção correta e econômica do motor.
Vamos iniciar nosso estudo pelas características do motor de indução. Em seguida, estuda-
remos as características típicas das máquinas acionadas.
O rotor do motor de indução gira a uma velocidade n menor do que a velocidade ns do cam-
po magnético girante do estator. A velocidade ns do campo magnético girante do estator está rela-
cionada com a freqüência da rede e o número P de pólos do motor através da seguinte equação:
Pn s 120 f 1
f1 = ∴ ns = [1.01]
120 P
ns − n
s= ∴ n = n s (1 − s ) [1.02]
ns
Nas equações [1.01] e [1.02] a letra n representa a velocidade do motor em RPM. Em muitas
equações que serão apresentadas mais adiante a velocidade será dada em radianos por segundo e
representada pela letra grega ω. A relação entre as duas grandezas é dada pela equação [1.03].
2πn
ω= [1.03]
60
3
A diferença entre o conjugado mecânico interno e o conjugado eletromagnético é que este último inclui um conjugado
fictício associado às perdas jóulicas do rotor além do conjugado mecânico interno. Somente este último e o conjugado
útil disponível no eixo é que são grandezas mecânicas.
6
explicita essa relação em função dos parâmetros do circuito equivalente segundo o modelo baseado
no teorema de Thévénin 4.
A figura [1.02] mostra o circuito equivalente completo correspondente a uma fase de um
motor de indução a partir do qual a característica de conjugado foi deduzida.
R1 X1 I1 A I2 R2 X2
R2
(1 − s )
E1 Rw Xm s
V1
Io
Figura 1.02 - Circuito equivalente completo de um motor de indução para uma fase.
4
Ver o assunto sobre circuito equivalente no capítulo VII do livro Máquinas Elétricas, de A. E. Fitzgerald; Charles
Kingsley Jr; Alexander Kusko; Editora Mc Grawhill do Brasil
7
a) Método clássico: substituindo o circuito do rotor da figura 1.03 por uma impedância e-
R
quivalente composta da reatância Xm em paralelo com a impedância do rotor Z 2 = 2 + jX 2 . Esta
s
impedância se soma à impedância do estator dando como resultante a impedância total do motor
para o escorregamento estabelecido, percorrida pela corrente I1 do estator.
R1 I1 X1 A I2 R2 X2
Im
R2
(1 − s )
Xm s
V1 E1
RTh I2 XTh A I2 R2 X2
R2
(1 − s )
s
VTh
m1R2 2 1− s 2
Pem = I 2 = m1R2 I 22 + m1R2 I2 [1.05]
s s
m1 R2
(1 − s ) I 2 = (1 − s )P = Pmi
2 em [1.07]
s
onde Pmi representa a potência mecânica interna do motor. A potência mecânica útil disponível no
eixo será obtida subtraindo de Pmi as perdas rotacionais a vazio. A potência nominal do motor que
vem indicada na sua placa de identificação se refere à potência mecânica útil disponível no eixo.
5
Foi introduzida a letra m1 para designar o número de fases do motor. m1 = 3 para motores trifásicos.
9
A expressão do conjugado mecânico interno Cmi será obtida dividindo-se a equação [1.07]
pela velocidade do motor, ou seja:
m1 R2
(1 − s ) I 2
Pmi 2
s m1 R2 2
C mi = = = I2 [1.08]
ω ω s (1 − s ) ωss
Na expressão [1.08], se a potência for medida em watts e ωs em radianos por segundo, Cmi
será obtido em Nm.
A corrente I2 será obtida a partir do circuito equivalente através da seguinte expressão:
VTh
I2 = [1.09]
⎛ R ⎞
⎜ RTh + 2 ⎟ + j ( X Th + X 2 )
⎝ s ⎠
mR VTh2
C mi = 1 2⋅ [1.10]
sω s ⎛ R ⎞
2
⎜ RTh + 2 ⎟ + ( X Th + X 2 )
2
⎝ s ⎠
• Conjugado mínimo, Cmin: é o menor valor que o conjugado assume durante o período de
aceleração, representado pelo ponto mais baixo da característica, entre a velocidade zero e a veloci-
dade correspondente ao conjugado máximo, sob tensão e freqüência nominais. É um valor impor-
6
Os motores de indução trifásicos de rotor em gaiola são classificados pela NBR-7094 nas categorias N, H e D, de acor-
do com os valores de seu escorregamento nominal, conjugado de partida e corrente de partida. Para cada uma destas
categorias resulta uma característica típica de conjugado × velocidade, como se verá mais adiante.
10
tante de se conhecer, principalmente quando são usadas chaves redutoras de tensão para dar a parti-
da no motor (estrela-triângulo, autotransformadora, chaves estáticas, etc).
figura 1.05 - Curva característica típica de um motor de indução de rotor em gaiola de categoria N
R2
sm = [1.11]
RTh2 + ( X Th + X 2 )
2
11
2
m1VTth
Cm = [1.12]
2ω s ⎡ RTh + RTh2 + ( X Th + X 2 ) ⎤
2
⎢⎣ ⎥⎦
A equação [1.10] mostra que o valor do conjugado se altera quando as constantes do circuito
equivalente se alteram, em especial a resistência do rotor. Nos motores de rotor bobinado, por e-
xemplo, é relativamente fácil aumentar a resistência rotórica introduzindo segmentos de resistências
em série com R2 por meio de um reostato. Com isto, a característica do conjugado se desloca na
direção do eixo das ordenadas, obtendo-se valores maiores de conjugado de partida.
No caso dos motores de rotor em gaiola isto, obviamente, não é possível. Para atender as
exigências de conjugado requeridas pela máquina acionada, os motores de rotor em gaiola são fa-
bricados com diferentes tipos de gaiola, o que equivale dizer, com diferentes valores de resistência
rotórica. Se de um lado, ao se projetar um motor com alta resistência rotórica, o conjugado de parti-
da aumenta, de outro lado, as perdas jóulicas do rotor também aumentam durante a operação nor-
mal. Há de se buscar, portanto, uma solução de compromisso no projeto do motor de modo a aten-
der estas exigências conflitantes. Como exemplo, o motor de dupla gaiola ou de barras profundas
resolve, dentro de certos limites, este problema: possui alta resistência na partida devida ao efeito
pelicular da corrente do rotor e uma resistência normal durante a operação em regime contínuo
quando o efeito pelicular cessa.
A NBR-7094, norma brasileira que fixa os requisitos básicos a serem atendidos pelos moto-
res de indução, estabelece o que ela denomina de categoria dos motores de indução trifásicos de
rotor em gaiola à qual estão associadas as grandezas conjugado de partida, conjugado mínimo e
conjugado máximo que, por sua vez, dependem do valor da resistência rotórica. Estas categorias
receberam as designações N, H e D e as características de conjugado típicas correspondentes estão
mostradas na figura 1.06. As configurações dependem do valor da resistência rotórica. Assim, por
exemplo, um motor de categoria D possui uma resistência rotórica maior do que os de mesma po-
tência e número de pólos das demais categorias, sendo o de categoria N o de menor resistência.
Ainda segundo a NBR-7094, para que os motores sejam classificados em cada uma das ca-
tegorias acima, eles devem satisfazer a valores mínimos de conjugado de partida, conjugado máxi-
mo e conjugado mínimo, conforme tabelas estabelecidas e aceitas em comum acordo por todos os
12
fabricantes7. Esta classificação dos motores em categorias é válida para motores de fabricação seri-
ada, tensão até 600 V e com limite de potência e número de pólos. Os grandes motores especiais, de
tensão e potência superiores aos valores normalizados pela NBR-7094, também podem nela se en-
quadrar de acordo com os valores de seus conjugados.
De uma maneira geral, podemos dizer que os motores de categoria N devem ser usados no
acionamento de cargas que possuem um baixo conjugado resistente na partida, tais como bombas
centrífugas, ventiladores, exaustores, etc. Estes motores possuem um baixo conjugado de partida
comparado com as duas outras categorias. Os motores de categoria D são ideais para o acionamento
de cargas de grande impacto tais como as prensas ou máquinas de corte que exigem um elevado
conjugado durante a sua operação e que operam em regimes intermitentes. Os motores de categoria
H são aplicados em situações intermediárias entre a categoria N e D e são muito usados no aciona-
mento de ventiladores de grande potência e elevada inércia. Os motores de dupla gaiola ou de bar-
ras profundas são exemplos típicos de motores desta categoria.
Além das características mecânicas de conjugado em função da velocidade, típicas dos mo-
tores de indução, indicadas nas figuras 1.05 e 1.06, há outras características que mostram a variação
das grandezas presentes na operação do motor (corrente, rendimento, rotação e fator de potência)
em função da carga no eixo (ver figura 1.06a).
Como se pode observar, entre aproximadamente 70 e 100% da carga, os valores de rendi-
mento η do motor decrescem muito pouco. Porém, a partir de 100% de carga, as perdas jóulicas que
representam cerca de 70% da perda total do motor aumentam significativamente fazendo com que o
rendimento diminua mais rapidamente. Por outro lado, a curva do fator de potência, cos ϕ, apresen-
ta sempre valores crescentes. Estas variações em sentidos opostos do rendimento e do fator de po-
tência fazem com que o produto η × cos ϕ permaneça praticamente constante, para uma tensão cons-
tante, o que nos permite, em termos práticos, considerar a potência do motor diretamente propor-
cional à corrente entre aqueles limites de carga.
7
Ver a citada NBR-7094, edição de dezembro1996.
13
Por outro lado, a velocidade do motor diminui com o aumento da carga. O conjugado resis-
tente correspondente, como vimos anteriormente, não deve ultrapassar o valor do conjugado máxi-
mo, pois este valor sendo ultrapassado o motor entra em processo de desaceleração ou será desliga-
do pela proteção térmica. Em outras palavras, o motor só pode operar na região estável de sua ca-
racterística de conjugado.
Fig. 1.07a - Características típicas dos motores de indução trifásicos de rotor em gaiola
(
Cmm = 0,45 C p + Cm ) [1.14]
Para uma máquina realizar o trabalho para o qual ela foi construída é necessário que ela seja
acionada, isto é, receba no seu eixo principal um conjugado mecânico de um órgão acionador. Este
conjugado mecânico equilibra o conjugado desenvolvido pela máquina, chamado conjugado resis-
tente e que se opõe ao conjugado fornecido pelo órgão acionador.
O conjugado resistente da máquina é composto de duas parcelas: a primeira, que chamare-
mos de conjugado útil, Cu, isto é, o conjugado que ela desenvolve ao realizar o trabalho para o qual
foi construída; a segunda, é o conjugado originário do atrito entre as partes móveis e fixas da má-
quina, que se transforma em perdas, chamado de conjugado de atrito Co. Podemos escrever:
C r = C o + Cu [1.15]
Como o conjugado resistente é devido ao movimento que a máquina realiza, podemos afir-
mar que existe uma relação entre esse conjugado e a velocidade do eixo principal da máquina. Esta
relação recebe o nome genérico de característica mecânica e pode ser representada, graficamente,
por retas ou algumas curvas típicas, dependendo de como o conjugado útil varia com a velocidade
do eixo principal da máquina. Apesar de existir uma variedade imensa de máquinas, podemos agru-
par as suas características mecânicas em uma única equação empírica geral [1.16] que se aplica,
com particularidades, a todas elas.
C r = C 0 + Cu = C0 + K r ω x [1.16]
Crn − C0
Crn = C0 + K rω nx ∴ K r = [1.17]
ω nx
C r = C 0 + K r = C rn [1.18]
tambor Cr
de aço
d = 2r
F Crn
C0 + Kr
G v (m/s)
0 ω
(a) (b)
O conjugado útil que a máquina desenvolve é constante com a velocidade do seu eixo prin-
cipal e igual a Kr. Somado ao conjugado de atrito é igual ao seu conjugado nominal, se a máquina
estiver operando na condição nominal. Obviamente, se ela estiver operando em outra condição dife-
rente da nominal, o conjugado que ela está desenvolvendo será diferente do nominal, mas sua natu-
reza será a mesma, isto é, continuará a ser constante com a velocidade.
Dentre as máquinas cujas características se enquadram na equação [1.18] estão os sistemas
de elevação dos guindastes, pontes rolantes, talhas, gruas, guinchos, correias transportadoras e todas
as máquinas cujo conjugado útil é devido ao atrito. A figura 1.08a representa, simplificadamente,
um sistema de elevação de um guincho ou talha simples constituído por um tambor sobre o qual se
enrola um cabo de aço que eleva o peso G. A figura 1.08b mostra a característica mecânica
correspondente.
16
O tambor está acoplado ao eixo de um motor através de um redutor não representado na fi-
gura. O conjugado útil que o motor “enxerga” é igual a Fr para qualquer velocidade v de elevação
do peso G, isto é, para qualquer velocidade ω do motor.
As correias transportadoras que carregam um volume constante de material por unidade de
comprimento se enquadram nesta característica porque o seu trabalho útil se faz através do atrito da
correia com o cilindro acionador acoplado ao motor.
Esta é a equação de uma reta que passa pelo ponto (Cr = C0; ω = 0), com uma determinada
inclinação, conforme mostra a figura 1.09. O conjugado útil varia linearmente com a rotação. Den-
tre os tipos de máquinas cujas características se enquadram nesta equação podem ser citadas as ca-
landras para conformar chapas de aço, moinhos de rolos, alguns tipos de plainas e outras. O gerador
de corrente contínua com excitação separada ou em derivação é um exemplo de máquina elétrica
que se enquadra nesta característica.
Cr Cr
C0 C0
0 ω 0 ω
Cr = C0 + K rω 2 [1.20]
A equação [1.20] é a de uma parábola que corta o eixo dos conjugados no ponto (Cr = C0;ω
=0). A figura 1.10 mostra apenas o ramo da parábola no primeiro quadrante onde a velocidade do
motor é considerada positiva. Vê-se que o conjugado útil varia com o quadrado da velocidade. Uma
grande variedade de tipos de máquinas industrial possui características mecânicas que se enquadram
nesta equação: bombas centrífugas, compressores centrífugos, todos os tipos de ventiladores (héli-
ces, exaustores, sopradores de ar) e outras.
17
Kr
Cr = C0 + K rω −1 = C0 + [1.21]
ω
Esta é a equação de uma hipérbole conforme mostra a figura 1.11. O conjugado útil varia in-
versamente com a velocidade do eixo principal da máquina. As bobinadeiras de papel ou de chapas
de aço (semelhantes na sua operação às fitas de vídeo ou cassete), constituem o exemplo clássico
das máquinas cujas características mecânicas satisfazem à equação [1.21].
Cr
C0
0 ω1 ω2 velocidade
Outras máquinas que podem ser citadas como exemplos são as máquinas de furar, serras de
fita ou serras de disco para madeiras e outras. Como se pode observar pela equação [1.21], se n = 0,
o conjugado seria, teoricamente infinito; se ω = ∞, o conjugado seria C0. Tais condições, obviamen-
te, a máquina não atinge. Por isto, para este tipo de máquina, a sua característica mecânica é anali-
sada entre dois valores limites ω1 e ω2, conforme mostra a figura 1.11.
∫ω
ω
2
(C o )
+ K r ω x dω
C rm = 1
[1.22]
ω 2 − ω1
ω2
⎡ K r ω x +1 ⎤
⎢ 0
C ω + ⎥
⎣ x + 1 ⎦ω
C rm = 1
[1.23]
ω 2 − ω1
∴
⎛ ω 2x +1 − ω 1x +1 ⎞ 1
C rm = C 0 + K r ⎜⎜ ⎟⎟ [1.24]
⎝ ω 2 − ω 1 ⎠ x +1
Quando a máquina é acelerada a partir do repouso até atingir a velocidade nominal, teremos
ω1 = 0 e ω2 = ωn. A equação [1.24] se simplifica tornando-se a [1.25].
ω nx
C rm = C 0 + K r [1.25]
x +1
O conjugado médio equivalente a cada uma das características mecânicas será designado por
Conjugado Resistente Médio e representado por Crm. O seu valor será obtido a partir das caracterís-
ticas mecânicas de cada tipo de máquina fazendo na equação [1.25] x = 0,1,2 e –1 e substituindo o
valor de Kr dado pela equação [1.17]. Teremos, então, para cada tipo de máquina os seguintes valo-
res:
• x = 0 ⇒ Característica constante: Crm = C0 + K r = Crn [1.26]
C 0 + C rn
• x = 1 ⇒ característica linear crescente: C rm = C 0 + K r ω = [1.27]
2
C rn − C 0
•x= 2 ⇒ Característica parabólica: C rm = C 0 + K r ω = C 0 +
2
[1.28]
3
ω2 Kr
∫ω ω
dω
Kr ω
C rm = = ln 2
1
[1.29]
ω 2 − ω1 ω 2 − ω1 ω1
Pr
d
c b
0 ω
Vê-se, portanto, que a potência útil requerida pelas máquinas varia, com a velocidade, um
grau acima da característica de conjugado útil correspondente, ou seja, uma máquina cuja caracte-
rística de conjugado útil é constante com a velocidade dá origem a uma característica de potência
útil requerida que varia linearmente com a velocidade; a característica de conjugado útil com varia-
ção linear com a velocidade se transforma em uma característica de potência útil requerida com
variação parabólica da velocidade, isto, é, a potência útil requerida varia com o quadrado da veloci-
dade; a característica de conjugado útil de variação parabólica com a velocidade torna-se uma ca-
racterística de potência útil requerida que varia com o cubo da velocidade; a característica de conju-
20
gado útil com variação hiperbólica com a velocidade origina uma característica de potência útil
constante com a velocidade. A parcela correspondente ao conjugado de atrito variará sempre line-
armente com a velocidade.
As máquinas com característica mecânica parabólica crescente são das mais comumente
utilizadas nas plantas industriais como exaustores, sopradores de ar, compressores centrífugos e
bombas centrífugas. Estas, por exemplo, são equipamentos dos mais usados nas refinarias de petró-
leo para movimentação dos produtos em todas as suas fases de produção. A potência que uma bom-
ba centrífuga requer do acionador acoplado ao seu eixo pode ser obtida através da seguinte expres-
são:
γQH
Pr = [1.32]
η
Quando o conjunto acionador e máquina se põe em movimento, aparecem dois tipos de con-
jugados que podem ser diferenciados pelo seu modo de atuação: o primeiro tipo atua no sentido de
propagar e sustentar o movimento e o segundo, atua no sentido de se opor a esta propagação e sus-
tentação do movimento. Ao primeiro tipo, que se desenvolve no acionador, denominamos de conju-
gado ativo ou conjugado motor; ao segundo, que se desenvolve na máquina acionada, denomina-
mos de conjugado reativo ou resistente.
O movimento do conjunto pode ser uniforme, se a velocidade n do eixo do motor for cons-
tante, ou não uniforme, se ela for variável. O movimento uniforme ocorre, por exemplo, quando a
máquina trabalha em regime contínuo na sua condição nominal. O movimento não uniforme ocorre
em condições transitórias, isto é, durante a partida e aceleração, frenagem ou uma súbita variação da
velocidade.
Quando o movimento é não uniforme, o conjugado desenvolvido pelo motor deve equilibrar,
além do conjugado resistente desenvolvido pela máquina, o conjugado inercial Ci devido à inércia
das massas do conjunto que se põem em movimento. Este conjugado é também um conjugado rea-
tivo, pois ele se opõe ao conjugado desenvolvido pelo motor tendendo a retardar o movimento,
quando o motor está se acelerando, e a mantê-lo, quando o motor está desacelerando. Sua expressão
é dada pela equação [1.34].
dω
Ci = J [1.34]
dt
dω
onde J é o momento de inércia8 das massas que estão em movimento rotativo e representa a
dt
aceleração. Qualquer que seja a condição operacional do conjunto, os conjugados presentes duran-
te a operação devem estar em equilíbrio, isto é, o conjugado motor é igual à soma de todos os con-
jugados resistentes. Este é o conceito fundamental sobre o qual se apóia toda a teoria do aciona-
mento. A partir dele podemos estabelecer a equação fundamental do acionamento:
8
O conceito de momento de inércia será apresentado na próxima seção e no APÊNDICE A, fim do presente capítulo.
21
dω
C = C r + Ci = C r + J [1.35]
dt
onde C representa o conjugado útil desenvolvido pelo motor, disponível no seu eixo; J o momento
de inércia de todas as massas em movimento, inclusive a massa do rotor do motor e Cr o conjugado
resistente da máquina acionada dado por uma das equações [1.18] a [1.21].
A equação [1.35] parte do pressuposto de que o motor e a máquina acionada giram à mesma
velocidade ω, ou seja, o acoplamento entre o motor e a máquina é um acoplamento direto, confor-
me indica a figura 1.13. Na realidade, é muito comum a máquina acionada girar a uma velocidade
diferente da do motor. Neste caso, devemos considerar um conjunto equivalente, semelhante ao da
figura 1.13, em que o eixo AA é o mesmo para o motor e a máquina. Isto será sempre possível, co-
mo se verá mais adiante.
ACOPL.
C
A MOTOR MÁQUINA A
. ω
Cr
dω
C − Cr = J [1.36]
dt
Enquanto na equação [1.35] está destacado o conjugado desenvolvido pelo motor, na equa-
ção [1.36] o que aparece é a diferença entre os conjugados motor e resistente. Esta diferença poderá
ser positiva (C>Cr), negativa (C<Cr) ou nula (C = Cr). No primeiro caso, significa que a derivada
dω
é positiva, ou seja, a velocidade do motor aumenta no sentido considerado positivo. O motor
dt
dω
está se acelerando. Quando C<Cr, a derivada é negativa, ou seja, a velocidade do motor está
dt
diminuindo (aumentando no sentido oposto ao considerado positivo). O motor está, então, se desa-
celerando. Esta situação ocorre quando o motor é desligado e se aplica ou não algum tipo de frena-
gem para fazê-lo parar. Podemos falar, por analogia com o caso anterior, que temos um conjugado
dω
de desaceleração. Finalmente, quando C = C r , a derivada se anula, o que significa dizer que a
dt
velocidade ω é constante. Neste caso, o motor está funcionando em uma condição de regime está-
vel.
O primeiro membro da equação é chamado conjugado de aceleração e será, doravante, re-
presentado por Ca. Como se pode observar, este conjugado é, numericamente, igual ao conjugado
22
Todo corpo que se põe em movimento acumula uma certa quantidade de energia chamada
energia cinética. Esta energia acumulada resulta da reação que o corpo oferece à força externa apli-
cada para tirá-lo do seu estado de repouso. Esta propriedade dos corpos de acumular energia cinéti-
ca está associada à sua massa e é chamada de inércia. Quando se trata de um movimento linear, a
energia acumulada é dada através da conhecida expressão [1.37]:
mv 2
Ec = [1.37]
2
onde m é a massa do corpo (kg), v a velocidade de deslocamento (m/s) e Ec a energia cinética acu-
mulada (joules).
Quando o corpo está animado de um movimento rotativo em torno de um eixo, ocorre o
mesmo fenômeno de acumulação de energia. Neste caso, a energia cinética acumulada está associa-
da não apenas à massa do corpo, mas à maneira como ela se acha distribuída no corpo em relação
ao eixo de rotação.
Quando um corpo gira ao redor de um eixo, sua massa, sob o ponto de vista dinâmico, se
comporta como se ela tivesse se deslocado e se concentrado numa coroa circular de espessura infi-
nitesimal, a uma determinada distância do eixo de rotação, denominada raio de giração representa-
do por R. (Figura 1.14)
Coroa com
espessura
infinitesimal
m m
•O rotação •O
D = 2R
⎛ 2πn ⎞
2
J⎜ ⎟
mR ω
2 2
Jω 2
⎝ 60 ⎠
Ec = = = [1.38]
2 2 2
Aparece na equação [1.38] a grandeza mR2 que fizemos igual a J. Sendo o produto de uma
massa pelo quadrado de uma distância, ela recebe o nome de momento de inércia dinâmico. O cál-
culo do momento de inércia de um corpo é, às vezes, um problema complicado devido à necessida-
de de se conhecer o seu raio de giração. Quando se trata de corpos de formas geométricas regulares
tais como cilindros, esferas, cubos e outros, e o eixo de rotação coincide com o eixo de simetria
destes corpos, o raio de giração pode ser calculado por meio de fórmulas matemáticas. Porém,
quando os corpos possuem formas geométricas não regulares, que é o caso mais comum, o cálculo
do raio de giração torna-se muito complexo e o momento de inércia tem de ser obtido através de
outros meios tais como ensaios de fábrica.
Alguns fabricantes de equipamentos rotativos, em lugar de usar a grandeza momento de i-
nércia definida por J = mR2, preferem usar uma outra à qual dão o nome de momento de impulsão,
mais conhecida pelo seu símbolo GD2, e que se relaciona com o momento de inércia J como segue:
GD 2
J = mR 2 = [1.39]
4g
GD 2
J= [1.40]
4
As figuras 1.15 mostram as fórmulas para se calcular os diâmetros de giração de alguns vo-
lumes conhecidos em função de suas dimensões principais, para um eixo de rotação coincidindo
com seus respectivos eixos de simetria.
X d Y
d2
D =
2
h
X Y d1 d2
d12 + d 22
D2 =
2
d d X Y
D 2 = 0,4d 2 D 2 = 0,3d 2
(c1) (c2)
X Y d1 d2
d 25 − d15
D 2 = 0,4
d 23 − d13
d1 X Y d2
d 25 − d15
D 2 = 0,3
d 23 − d13
Fig. 1.15e - Tronco de cone maciço de diâmetros de base d1 e d2 e altura h entre as ba-
ses, com o eixo de rotação passando pelo seu centro.
O momento de inércia J que aparece nas equações [1.34] e seguintes supõe um modelo de
conjunto em que máquina e motor giram à mesma velocidade. Quando a máquina gira a uma velo-
cidade diferente da do motor, torna-se necessário referir o momento de inércia da máquina ao eixo
do motor para que as equações possam ser aplicadas. Em outras palavras, trata-se de determinar
como o momento de inércia da máquina é visto do lado do motor. A figura 1.16 mostra um conjunto
em que os eixos da máquina e do motor giram a velocidades diferentes obtidas por meio de um re-
dutor de velocidades de engrenagens.
A MOTOR A ω
Jm
B MÁQUINA B ω1
J1
O eixo AA do motor gira à velocidade ω rad/s e o seu momento de inércia é Jm. O eixo BB
da máquina gira à velocidade ω1 rad/s e o seu momento de inércia, tomado em relação a este eixo, é
J1. Em geral, o momento de inércia do sistema de transmissão é tomado como um percentual do
26
momento de inércia do rotor do motor, da ordem de 20%, e somado a este último. O problema con-
siste, portanto, em referir apenas o momento de inércia da máquina. Para isto, vamos supor um
momento de inércia J equivalente aos momentos de inércia existentes no conjunto, referido ao eixo
do motor.
A energia cinética armazenada nele será igual à soma das energias cinéticas armazenadas em
cada um dos momentos de inércia do conjunto, ou seja:
Jω 2 J mω 2 J mω 2 J1ω12 J mω 2 J1ω12
= + 0,2 + = 1,2 + [1.41]
2 2 2 2 2 2
⎛ω ⎞
2
J = 1,2 J m + J 1 ⎜ 1 ⎟ [1.42]
⎝ω ⎠
Se o conjunto for mais complexo e possuir outras máquinas interligadas, com seus eixos de
rotação paralelos, girando a velocidades diferentes ω1, ω2, ω3, .........ωn, com seus respectivos
momentos de inércia J1, J2, J3, ..........Jn, o momento de inércia equivalente referido ao eixo do
motor será dado por:
⎛ω ⎞ ⎛ω ⎞ ⎛ω ⎞
2 2 2
J = 1,2 J m + J 1 ⎜ 1 ⎟ + J 2 ⎜ 2 ⎟ + ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ + J n ⎜ n ⎟ [1.43]
⎝ω ⎠ ⎝ω ⎠ ⎝ω ⎠
A MOTOR A ω
Jm
B TAMBOR B
ω1
G v (m/s)
Jω 2 J ω 2 J ω 2 mv 2 ⎛ω ⎞
2 2
⎛v⎞
= 1,2 m + tb 1 + ∴ J = 1,2 J m + J tb ⎜ 1 ⎟ + m⎜ ⎟ [1.44]
2 2 2 2 ⎝ω ⎠ ⎝ω ⎠
G
onde m = , é a massa da carga em kg a ser levantada com a velocidade de v m/s e Jtb é o momento
g
de inércia do tambor sobre o qual o cabo de aço se enrola.
Os exemplos acima mencionados são clássicos e representam uma grande maioria de con-
juntos. Outros tipos de acionamentos devem ser examinados procurando torná-los equivalentes aos
acima estudados.
P
P = Cω ∴ C = [1.45]
ω
Consideremos o conjunto da figura 1.16 e seja Cr1 o conjugado resistente que a máquina
desenvolve no seu eixo que gira à velocidade de ω1 rad/s e Cr o seu valor referido ao eixo do motor.
Sendo η o rendimento do sistema de transmissão, podemos escrever a seguinte equação:
C r1 ⎛ ω 1 ⎞
C r ωη = C r1ω 1 ∴ C r = ⎜ ⎟ [1.46]
η ⎝ω ⎠
Quando se tratar de um conjunto semelhante ao da figura 1.17 sendo F a força que é exerci-
da pelo guincho ou talha para equilibrar o peso G que é alçado à velocidade de v m/s, (F igual e
oposta a G), esta força F será referida ao eixo do motor como um conjugado resistente. Chamando
de Cr o conjugado equivalente à força F, referido ao eixo do motor, teremos:
F⎛v⎞
Crωη = Fv ∴ Cr = ⎜ ⎟ [1.47]
η ⎝ω ⎠
1) Determinar a potência e a velocidade que o motor está fornecendo para elevar o peso G
da figura 1.17 sabendo-se que: a) O peso G é igual a 1000 kgf.; b) A velocidade de levantamento é
igual a 0,6 m/s; c) O rendimento do sistema de transmissão é 85%; d) O diâmetro do tambor sobre
o qual se enrola o cabo de aço é 0,60 m; e) A relação das velocidades dos eixos AA e BB é 61:1.
Solução:
A potência requerida para elevar o peso G a uma velocidade de 0,6 m/s será:
Esta potência será fornecida pelo motor através do sistema de transmissão que tem um ren-
dimento de 85%. Logo, a potência que o motor deverá fornecer será:
Fv 5886
P= = = 6924,7 w = 6,9kw
η 0,85
A sua velocidade n será obtida através de n = 61n1. A velocidade n1 está relacionada com a
2πn1 v
velocidade de levantamento do peso G (velocidade tangencial do tambor) através de = ω1 =
60 r
2πn1 0,6
, sendo r o raio do tambor. Substituindo v e r pelos seus valores teremos = ∴ n1 = 19,099
60 0,3
RPM. Portanto, a velocidade do eixo do motor será n = 61x19,099 = 1165 RPM
Se fôssemos escolher o motor através de catálogo, para uma freqüência de 60 Hz, seria um
motor de 6 pólos e potência padronizada de 7,5 Kw.
A subida do peso G seria “enxergada” pelo motor como um conjugado resistente igual a
P 6,9247
C r = 9550 = 9550 = 56,76 Nm, dos quais a elevação do peso consumiria 85% e os restan-
n 1165
tes 15% seriam consumidos no sistema de transmissão.
2) Com relação ao acionamento anterior, determinar qual o momento de inércia total referi-
do ao eixo do motor sabendo-se que: a) O momento de inércia do rotor do motor escolhido é 0,05
kgm2; b) O momento de inércia do tambor (cilindro maciço) é 3,4 kgm2.
Solução:
O momento de inércia total referido ao eixo do motor será igual à soma de cada um dos
momentos de inércia dos componentes referidos, individualmente, ao eixo do motor. Teremos:
2
⎛ ⎞
2 ⎜ ⎟ 2 2
⎛ n1 ⎞ ⎜ v ⎟ ⎛1⎞ ⎛ 0,6 ⎞
J = 1,2 J m + J tb ⎜ ⎟ + m = 1,2 × 0,05 + 3,4⎜ ⎟ + 1000⎜ ⎟ = 0,0851 kgm
2
Ela foi acoplada diretamente, por engano, (a placa com seus dados estava ilegível), a um
motor trifásico de 37 kW, 440 V, 60 Hz, 4 pólos, 1775 RPM, Jm = 0,354 kgm2. O motor foi ligado à
rede e então se percebeu que a bomba não fornecia a vazão esperada. Pede-se: a) Porque a bomba
não operava corretamente? Qual a potência que o motor estava fornecendo a ela? b) Na tentativa de
resolver o problema, instalou-se um multiplicador de velocidades de relação igual 2 e rendimento
80% que estava disponível. O problema foi resolvido? Porque? c) Determinar o momento de inércia
de todo o conjunto, bem como o conjugado resistente médio, na condição do item b), referidos ao
eixo do motor.
Solução
a) Sendo a velocidade nominal da bomba 3550 RPM, ao ser acoplada diretamente a um mo-
tor que girava a 1775 RPM, o seu conjugado útil que é igual a Cu = 95 – 9,5 = 85,5 Nm, vai variar
com o quadrado da velocidade, ou seja:
2
⎛n⎞
2
⎛ 1775 ⎞
C = Cu ⎜⎜ ⎟⎟ = 85,5⎜
'
u ⎟ = 21,37 Nm
⎝ n1 ⎠ ⎝ 3550 ⎠
Portanto, a bomba não poderia operar corretamente pois o seu conjugado útil requerido ha-
via se reduzido para 25% do necessário. A potência total requerida pela bomba, a ser fornecida pelo
motor será então:
( Cu' + Co ) n ( 21,37 + 9,5)1775
Pr =
'
= = 5,74 kW (R)
9550 9550
Crn × n 95 × 3550
Pr = = = 35,31 Nm
9550 9550
Pr 35,31
Pmot = = = 44 ,14 kW (R).
ηt 0,80
44 ,14
O motor estaria operando com uma sobrecarga contínua de = 1,19 que, prova-
37
velmente, provocaria a atuação dos relés de proteção contra sobrecarga. Logo, o problema
não foi resolvido (R).
95 − 9 ,5
Crm = 9 ,5 + = 38 Nm. Este valor referido ao eixo do motor será igual a:
3
C rm (ref ) =
38
× 2 = 95 Nm (R)
0,80
As perdas rotacionais a vazio totalizam 400 W. O motor opera em regime permanente com
um escorregamento de 2%. Pede-se calcular: a) A velocidade do motor; b) O conjugado útil; c) A
potência mecânica útil disponível no eixo; d) A corrente do estator; e) O fator de potência; f) O ren-
dimento do motor (Problema do provão elétrica 2000).
02) Um motor de 3,7 kW, 220 V, 60 Hz, 4 pólos, 1730 RPM, possui uma corrente de partida
rotórica igual a 7,5 pu tomando a corrente nominal do rotor como corrente base. Qual deve ser o seu
conjugado de partida, em pu e em Nm, tomando o conjugado nominal como conjugado base?
03) Os dados do circuito equivalente de um motor de indução trifásico, rotor em gaiola, esta-
tor ligado em estrela, de 37 kW, 440 V, 60 Hz, 1766 RPM, segundo o modelo de Thévénin, são os
seguintes (valores por fase):
VTh = 266 V; RTh = 0,133 ohms; XTh = 0,497 ohms; R2 = 0,10 ohms; X2 = 0,20 ohms
O motor operava na sua condição nominal quando ocorreram, simultaneamente, dois even-
tos: a tensão do barramento caiu para 85% do seu valor e uma sobrecarga momentânea no eixo do
motor fez aumentar o conjugado resistente em 35% durante 25 segundos (o relé de proteção contra
sobrecargas não atuou, pois estava ajustado para atuar com 30 segundos). Pergunta-se: a) O motor
terá conjugado suficiente para acionar a carga nesta condição? b) Se o motor não conseguir acionar
a carga ele vai se desacelerar. Qual o valor do seu conjugado mínimo Cmin, sabendo-se que ele ocor-
re a 560 RPM?
04) Um motor de indução opera na sua condição nominal acionando uma carga cujo conju-
gado resistente é constante com a velocidade. O seu conjugado máximo é igual a 2,0 pu. Qual o
valor mínimo que a tensão pode ser rebaixada de modo a permitir que o motor continue a acionar a
sua carga?
05) Um motor de indução trifásico, rotor em gaiola, tem um escorregamento a plena carga
igual a 4%. A resistência e a reatância por fase do rotor são, respectivamente, 0,02 ohms e 0,10
31
ohms, podendo ser desprezadas a resistência e a reatância do estator. O motor aciona uma carga de
conjugado constante com a velocidade. Deseja-se reduzir a velocidade do motor a 50% da nominal.
Pede-se: a) Qual o percentual de redução deve ocorrer na tensão aplicada? b) A mesma pergunta
quando o conjugado útil da carga varia parabolicamente.
06) A figura 1.18 representa um volante de inércia cortado por um plano que passa pelo seu
centro. Calcular o seu momento de inércia em relação ao eixo de giração que passa pelo seu centro,
decompondo-o em volumes semelhantes aos da figura 1.10. As dimensões são dadas em mm e o
material usado na fabricação da peça é aço de massa específica igual a 7,8 kg/dm3.
30
60 10
100
240
300
OBSERVAÇÃO
Volante de inércia é uma peça metálica, em geral de aço, que é acoplada ao eixo de motores
elétricos que acionam máquinas que demandam potência variável durante o seu regime de trabalho
(britadores, prensas, laminadores, etc). Durante o processo de aceleração do conjunto, o volante de
Jω 2
inércia armazena energia sob a forma , (ω é sua velocidade de operação) e depois a utiliza
2
para manter a velocidade quando esta diminui motivada por um aumento da carga. Com isto, as
flutuações de potência requerida da rede elétrica que alimenta o motor tornam-se mais suaves.
07) O volante da questão anterior será acoplado diretamente ao eixo de um motor elétrico
que gira a 1760 RPM nas condições normais de trabalho, acionando um britador (figura 1.19). O
rotor do motor, que pode ser considerado um cilindro maciço, possui uma massa igual a 50 kg e o
seu diâmetro mede 0,20 m. O momento de inércia do britador é igual a 2 kgm2. Calcular a energia
armazenada no conjunto.
VOLANTE
32
MOTOR BRITADOR
ACOPL.
08) Supondo que o britador do problema anterior esteja acoplado ao motor através de um re-
dutor de velocidades de relação 0,333, qual seria a energia cinética acumulada no conjunto?
acoplamento
a1 .
A Motor A nA
b2 b1
B B nB
Tambor
C C nC
G v = 0,62 m/s
Pede-se: a) Determinar a potência que o motor está fornecendo (dar seu número de pólos pa-
ra uma freqüência de 60 Hz; b) Calcular o momento de inércia total referido ao eixo do motor.
10) A figura 1.21 representa um conjunto de engrenagens (“trem de engrenagens”) que de-
verá ser empregado para se conseguir uma redução de 0,125 na velocidade do motor e de modo a se
obter o mínimo momento de inércia equivalente referido ao eixo do motor. Todas as engrenagens
são maciças, têm a mesma largura e o momento de inércia dos eixos sobre os quais elas estão mon-
tadas é desprezível.
Calcular os momentos de inércia de cada uma das soluções dadas a seguir, referidos ao eixo
do motor, tomando como base o momento de inércia da engrenagem (pinhão) do eixo do motor, o
qual será suposto conhecido e igual a 1 pu.
a1
A MOTOR A nA
b
B B nB
a2
C MÁQUINA C nC
ACOPL.
12) Sabendo-se que o motor síncrono é um motor de velocidade constante para qualquer va-
lor de conjugado que ele desenvolve, desenhar a sua característica de conjugado C = f(n) compa-
rando-a com a característica do motor de indução de rotor em gaiola.
13) Uma planta industrial possui geração própria na freqüência de 50 Hz. A maior parte da
carga é constituída de bombas centrífugas acionadas por motores de indução de rotor em gaiola. Foi
decidido eliminar a geração própria e comprar energia da concessionária cuja freqüência é de 60
Hz. Quais as conseqüências desta mudança sobre os motores e que medidas podem ser tomadas
para resolver os problemas surgidos?
14) A tiragem de um forno de aquecimento de uma refinaria de petróleo é feita com o auxí-
lio de um exaustor (característica mecânica parabólica crescente com a velocidade) acionado por
um motor de indução trifásico, rotor em gaiola, acoplado diretamente ao seu eixo. O conjugado de
atrito do compressor é igual a 10% do seu conjugado nominal. Quando o conjunto opera na sua
condição nominal, para evitar baixa temperatura no interior do forno, na saída do exaustor há uma
válvula tipo borboleta que controla a vazão dos gases e que opera numa posição semi-aberta. Desta
forma, há perda de energia localizada durante a operação que foi estimada em 12% de toda a ener-
gia consumida pelo exaustor quando ele opera na velocidade de 1780 RPM. As principais caracte-
rísticas do motor são:
30 kW - 60 Hz - 4 pólos - 1780 RPM - 440 V
15) A figura 1.22 representa de uma forma simplificada uma correia transportadora (repre-
sentação nos planos horizontal e vertical) cujos dados são fornecidos abaixo:
Pede-se: a) Escolher o motor para acionar a correia, utilizando o catálogo da WEG. Dar sua
potência e número de pólos para uma freqüência de 60 Hz; b) Calcular o momento de inércia total
referido ao eixo do motor.
d
Plano Vertical
Tambores de
desvio Roldanas de Tambor
suporte Acionador
Plano Horizontal
Tambor de
inversão
Motor
16) Uma calandra, máquina para conformar chapas de aço para serem usadas na fabricação
de tanques, cuja característica mecânica é linear crescente com a velocidade, possui os seguintes
dados:
36
Conjugado nominal: 90 Nm
Velocidade nominal: 950 RPM
Conjugado de atrito: 10 Nm
Momento de inércia: 5 kgm2
18) A característica mecânica de uma máquina é linear crescente e varia de acordo com a
seguinte equação:
Cr = 40 + 0,25n
sendo n a velocidade de seu eixo principal em RPM e Cr o seu conjugado resistente em Nm. Ela é
acionada por um motor elétrico através de um redutor de velocidades de relação 0,4. Nas condições
nominais de operação, a rotação do eixo principal da máquina é 710 RPM. O rendimento do redutor
é 88%. Pede-se: a) Qual a potência que o motor fornece no seu eixo nestas condições? b) Reescre-
ver a característica mecânica da máquina referida ao eixo do motor; c) Calcular o seu valor médio
referido.
Ela será acionada por um motor de indução trifásico, rotor em gaiola, 45 kW, 60 Hz, 4 pó-
los, 1775 RPM, Jm = 0,56 kgm2 cujos rendimentos em função da carga no eixo são os seguintes:
95 – 100 0,95
90 – 95 0,92
85 – 90 0,89
A máquina está acoplada ao motor através de um “trem” de engrenagens redutor que, man-
tendo a mesma velocidade de entrada do motor permite obter várias velocidades de saída. O rendi-
mento do “trem” para qualquer relação de velocidades é 88 %. Com o objetivo de economizar ener-
gia foi proposto que a máquina devesse girar a 1050 RPM. Pede-se: a) Qual a energia em kWh foi
economizada na nova condição operacional em relação à condição nominal, durante 30 dias, com a
máquina operando 10 horas/dia? b) Reescrever a característica da máquina para o eixo do motor na
condição operacional fora da nominal; c) Calcular a energia cinética armazenada no conjunto na
condição nominal de operação.
ÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃ
APÊNDICE A
Consideremos a figura 1.23 que mostra um corpo rígido de massa m que pode girar em torno
do eixo OY, descrevendo um ângulo θ que varia com o tempo, isto é, θ = f(t).
Y
r r d = 2r
A
m
dr
0
r r X
B
ds
Quando o corpo gira em torno de OY, cada ponto, tal como o ponto A que está situado a
uma distância r do eixo de rotação, descreverá uma circunferência de raio r. Se ds representa um
arco infinitesimal desta circunferência, ao qual corresponde o ângulo dθ, descrito durante o tempo
dt, a velocidade instantânea do ponto A será igual a:
ds
v= [1.47]
dt
Porém, ds está relacionado com o ângulo dθ, quando este é medido em radianos, através da
seguinte relação:
ds = r.dθ [1.48]
Substituindo [1.50] em [1.49], teremos:
dθ
v=r = rω [1.49]
dt
dθ
sendo ω = a velocidade angular em rad/s do corpo em torno de OY, medida em rad/s.
dt
Se ω for constante ao longo do tempo, todos os pontos situados a uma mesma distância do
eixo de rotação OY possuem a mesma velocidade instantânea v. Se ω for variável com o tempo, isto
é, se o corpo está em movimento não uniforme, os pontos situados a uma distância r terão uma ace-
leração instantânea definida por:
dv dω
at = =r [1.50]
dt dt
dω
dF = at dm = rdm [1.51]
dt
Esta força elementar, aplicada sobre dm aumentará a sua velocidade de dω. O produto desta
força pela distância ao eixo de rotação OY, representa o conjugado de aceleração elementar, isto é:
dω
d (C − C r ) = r.dF = r 2 dm [1.52]
dt
Integrando a equação acima teremos:
dω dω 2
C − Cr = Ca = ∫ r 2 dm = ∫ r dm [1.53]
dt dt
O resultado da integração da equação [1.56] vai nos conduzir a um resultado como o que se
segue:
J = m.R 2 [1.55]
onde R representa o raio de giração do corpo de massa m em relação ao eixo de rotação OX.
dm = ρ .dV [1.56]
dV = π (r + dr ) .h − πr 2 .h = 2πrh.dr
2
[1.57]
dm = ρ (2πrh.dr ) [1.58]
d /2 d /2
⎛ d4 ⎞
J= ∫ ρ.2πhr dr = 2πhρ ∫ r dr = 2πhρ ⎜⎜ ⎟⎟
3 3
[1.59]
0 0 ⎝ 16.4 ⎠
A massa m total do cilindro será:
⎛d2 ⎞
m = π ⎜⎜ ⎟⎟hρ [1.60]
⎝ 4 ⎠
Levando os valores de J e m obtidos nas expressões acima na equação [1.61] teremos:
40
J d 2 (2r )
2
⎛D⎞
2
r2 d2 d2
R = =
2
= = ou ⎜ ⎟ = ∴D =
2
[1.61]
m 8 8 2 ⎝2⎠ 8 2
ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ
APÊNDICE B
A grande maioria das correias transportadoras opera numa posição inclinada, isto é, além de
transportar o material elas precisam de eleva-lo a uma determinada altura. A potência requerida
para realizar a operação de transporte é calculada em 3 parcelas, a saber:
Pr = P1 + P2 + P3
A seguir, serão apresentadas tabelas que permitem calcular as parcelas acima mencionadas.
A tabela P1 fornece a potência K1 necessária para transportar 100 t/h de material no plano
horizontal.
TABELA P1
A potência P1, em kW, requerida para transportar na horizontal uma carga Q diferente de
100 t/h será dada por:
Q
P1 = K1
100
A tabela P2 fornece a potência K2 necessária para elevar uma carga de 100 t/h de material a
uma altura H.
TABELA P2
9
Transcrito do catálogo da WEG, Especificação de Motores Elétricos.
41
A potência P2, em kW, necessária para elevar uma carga Q diferente de 100 t/h é dada por:
Q
P2 = K2
100
A tabela P3 fornece a potência K3 necessária para acionar uma correia transportadora a vazio
à velocidade de 100 m/min.
TABELA P3
40 0,61 0,66 0,71 0,76 0,82 0,93 1,04 1,15 1,26 1,38 1,48 1,59
50 0,79 0,86 0,94 1,02 1,08 1,23 1,38 1,51 1,66 1,80 1,96 2,10
60 0,96 1,05 1,13 1,22 1,31 1,38 1,66 1,83 2,02 2,19 2,36 2,53
75 1,35 1,46 1,61 1,71 1,80 2,08 2,32 2,57 3,81 3,06 3,30 3,55
90 1,58 1,72 1,88 2,03 2,17 2,38 2,75 3,04 3,32 3,62 3,92 4,20
100 1,92 2,09 2,27 2,44 2,61 2,97 3,30 3,66 4,02 4,36 4,72 5,06
A potência P3 requerida para acionar a correia transportadora, a vazio, em kW, a uma velo-
cidade Vc diferente de 100 m/min será dada por:
Vc
P3 = K3
100
Pr P1 + P2 + P3
P= =
η η
ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ
APÊNDICE C
A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, tem editado várias normas que dizem
respeito à fabricação e aplicação das máquinas girantes em geral. Vamos relacionar estas normas
porque elas são de muita utilidade para o engenheiro que lida com a especificação e aplicação das
máquinas elétricas girantes, em especial dos motores.
ΩΩΩΩΩΩΩΩΩ