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XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia - Aracaju - SE - Brasil, 16 a 20 de maio de 2010

ESTUDO DOS PERFIS TEMPORAIS DE ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NO


DISTRITO DE SUSSUNDENGA-MOÇAMBIQUE

Hugo Adriano Mabilana


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia
Laboratório de Estudos de Agricultura e Agrometeorologia
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Campus do Vale
Cx. Postal: 15044 CEP. 91501-970 - Porto Alegre - RS – Brasil
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Denise Cybis Fontana


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Agronomia
Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia
Av Bento Gonçalves, 7712 - Agronomia
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dfontana@ufrgs.br

Eliana Lima da Fonseca


Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Geociências
Departamento de Geografia
Av. Bento Gonçalves, 9500 - Campus do Vale
Cx. Postal: 15001 CEP. 91501-970 - Porto Alegre - RS – Brasil
eliana.fonseca@ufrgs.br

RESUMO
Moçambique é um país que se localiza ao longo da costa Leste da África Austral, com a economia baseada essencialmente
na prática da agricultura. A cultura do milho Zea mays L. é a mais importante, cultivada em regime de sequeiro, com
rendimentos dependentes das condições meteorológicas. O calendário agrícola e o sistema de produção tornam o uso de
geotecnologias uma importante ferramenta para o monitoramento de culturas e o desenvolvimento de modelos de estimativa
de rendimentos. Um passo preliminar para aplicação dessas tecnologias é o estudo da dinâmica temporal dos índices de
vegetação, derivados de dados de sensoriamento remoto, e da sua variação inter anual e relação com os dados
meteorológicos, os quais representam os objetivos deste trabalho. A área de estudo é o distrito de Sussundenga, localizado
na região central de Moçambique. Os perfis temporais foram construídos com base nas imagens de índices de Vegetação
provenientes do produto MOD13Q1 do sensor MODIS que contém imagens de composições de 16 dias de NDVI e EVI.
Foram extraídos os valores médios de índices de vegetação e traçados os perfis temporais para a série de 2000 a 2009.
Totais mensais de precipitação pluvial e evapotranspiração, para a mesma série temporal, foram coletados e correlacionados
com valores de índices de vegetação. Os resultados mostraram fortes associações entre os valores de índices de vegetação e
os dados meteorológicos medidos na superfície, evidenciando a possibilidade de uso de dados de sensoriamento remoto
como instrumento útil em programas de monitoramento da safra de milho em Moçambique.

Palavras chaves: MODIS, EVI, NDVI, Precipitação pluvial, evapotranspiração, Zea mays L.
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ABSTRACT
Mozambique is a country located on the east coast of southern Africa, with the economy based primarily on the agriculture
practice. Maize Zea mays L. is the main crop cultivated on non irrigated systems, its yields depend on weather conditions.
The crop calendar and management make the use of geo technologies an important tool for crop monitoring and for the
development of the yield forecast models. A preliminary step to implementing these technologies is the study of the
temporal dynamics of vegetation indices profiles, derived from remote sensing data, its inter-annual variations and the
relationship with meteorological data, which represent the objectives of this paper. The study area is the Sussundenga
district, located in central Mozambique, which has an agro climatic suitability for maize crop growing. The profiles were
built based on the images of vegetation indices from MOD13Q1, a MODIS product that contains images of 16-days
composites of NDVI and EVI, with 250 meters of spatial resolution. The study area mask was created, the mean values of
vegetation indices were extracted and the temporal vegetation Indices profiles for 2000 to 2009 series were plotted. Rainfall
and evapotranspiration monthly data for the same period were collected and correlated with the values of vegetation indices.
The results showed a high association between the values of vegetation indices and the measured ground data, indicating the
possibility of using remote sensing data as a useful tool in the maize monitoring programs in Mozambique.

Keywords: MODIS, NDVI, EVI, Precipitation, evapotranspiration, Zea mays L.

1. INTRODUÇÃO tipo de modelos são a economia de tempo e recursos para


além da facilidade de sua implementação.
Moçambique é um país que se localiza ao
longo da costa Leste da África Austral, com a economia A disponibilidade de produtos de
baseada essencialmente na prática da agricultura. O sensoriamento remoto, como os índices de vegetação,
milho é a principal cultura agrícola produzida em com caráter operacional e fornecido em tempo “quase
sequeiro no setor Familiar. Dados do Censo real”, possibilita o seu uso para monitoramento de
Agropecuário de 2000 mostram que as culturas do milho culturas agrícolas e a sua implementação em modelos de
e da mandioca totalizam 50% do valor de produção da estimativa de produtividade. Índices de vegetação são
agricultura para pequenas e médias explorações (Walkers medidas empíricas e robustas da atividade da superfície
et al, 2006). Os Camponeses alocam entre 20 a 60 % das terrestre, desenhadas para melhorar o sinal da vegetação
áreas agrícolas para produzir o milho em todo o país através de medidas da resposta espectral pela
(MICOA, 2002), o que evidencia a contribuição essencial combinação de duas bandas espectrais nomeadamente
dessa cultura para a segurança alimentar da população vermelho e infravermelho próximo (Huete et al, 1999). A
Moçambicana. Como todas as culturas produzidas em adição da componente espectral nos modelos
sequeiro, o rendimento do milho é fortemente agrometeorológicos de estimativa de produtividade das
influenciado pelas condições meteorológicas, culturas pode melhorar o seu desempenho e permitir a
condicionando o seu abastecimento. Situações extremas operação destes numa escala regional.
de escassez de chuvas levam a fracassos de campanhas
agrícolas e conseqüente fome extrema. O fato do setor familiar de produção em
Moçambique semear a cultura do milho em época
Modelos agrometeorológicos de estimativa de bastante uniforme, devido a sua relação com o início da
produtividade de cultura podem ser importantes época chuvosa, torna viável o uso de geotecnologias
ferramentas de auxilio a tomadores de decisão em como uma importante ferramenta para o monitoramento
medidas para a mitigação de efeitos negativos associados de culturas e o desenvolvimento de modelos de
a eventos de estiagem, ou mesmo, para tirar proveito de estimativa de produtividade das culturas. Deste modo,
condições de adequada disponibilidade hídrica. Em 1994 todos os estágios de desenvolvimento das culturas
foi desenvolvido em Moçambique um modelo ocorrem quase que sincronizados, e a probabilidade de se
agrometeorológico de estimativa de produtividade do ter culturas agrícolas em estágios diferentes em campo é
milho que relacionava a produtividade média do milho e mínima.
o índice de satisfação das necessidades de água (ISNA)
(Rojas, 1994). O ISNA é uma variável composta, Um passo preliminar para aplicação dessas
resultante do balanço hídrico da cultura, dada pela razão tecnologias é o estudo da dinâmica temporal dos índices
entre a evapotranspiração real e a evapotranspiração de vegetação e sua relação com os elementos
máxima da cultura. As grandes vantagens do uso desse meteorológicos. Isto é possível através do estudo de
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perfis temporais de índices de vegetação, sua associação reduzindo a influência do solo e a interferência
com a fenologia da cultura, condições meteorológicas e atmosférica na resposta do dossel (Fontana et al, 2007
produtividade da cultura. O índice de vegetação por citando Huete, 2002; Ponzoni e Shimabukuro, 2007
diferença normalizada (NDVI- Normalized Difference citando Justice et al, 1998).
Vegetation Índex) tem sido muito usado para essas e
outras aplicações (Fontana et al, 2001; Zhang et al, 2002; Alguns autores estudam os perfis de índices de
Anderson e Shimabukuro, 2007;Fontana et al, 2007; vegetação, estabelecendo relação com variáveis
Ponzoni e Shimabukuro, 2007; Klering et al, 2007; meteorológicas e em casos específicos de aplicações
Lohman et al, 2009). agrícolas se faz a relação com a produtividade média das
culturas (Klering, 2007; Rojas, 2007). Em sistemas de
Para o monitoramento da vegetação e produção agrícola não irrigada, pode se assumir que a
modelagem da produtividade com o auxílio de dados de condição da vegetação seja um reflexo, em grande parte,
sensoriamento remoto, é necessário fornecimento da influência das condições meteorológicas no local.
contínuo de imagens de satélite, o que torna possível Neste caso os elementos meteorológicos componentes do
detalhar as variações dos índices de vegetação balanço hídrico, nomeadamente a precipitação pluvial e a
decorrentes das mudanças na sua fenologia. Situação não evapotranspiração, são aqueles que têm mais influência
muito adequada ocorre quando se usa sensores de sobre as condições da vegetação, a qual é captada por
resolução espacial média, como TM landsat ou ASTER, sensores orbitais e facilmente interpretada através dos
que possuem baixa resolução temporal e, portanto menor índices de vegetação. É baseado nesse princípio que se
probabilidade de encontrar imagens livres de nuvens. propõe para o presente trabalho o estudo dos perfis
Sensores como o AVHRR, EOS/MODIS e SPOT anuais de índices de vegetação e a sua relação com
VEGETATION, com resolução espacial moderada e, variáveis meteorológicas.
portanto, maior resolução temporal, são mais adequados
para esse tipo de aplicações, pelo fato de fornecer O principal objetivo do presente trabalho é,
imagens da mesma região com maior freqüência. O portanto, analisar a evolução temporal dos índices de
AVHRR, a bordo dos satélites NOAA e com resolução vegetação ao longo da safra de milho, a variação inter
espacial máxima de 1 km, possui a maior série temporal anual destes índices e a sua relação com as condições
de NDVI, a qual teve inicio em 1981. No entanto, meteorológicas no distrito de Sussundenga-Moçambique.
algumas limitações persistem no uso dessa mesma série,
principalmente as relativas à influência atmosférica e
distorções geométricas (Rizzi e Rudorff, 2004). O sensor 2. MATERIAL E MÉTODOS
MODIS, lançado em 1999, iniciando a operação em
2000, trouxe grandes melhorias na qualidade das imagens A área de estudo abrange o distrito de
no que se refere à geometria, interferência atmosférica e Sussundenga, localizado na região central de
resolução espacial, a qual aumentou para 250 metros em Moçambique e da Província de Manica, a 19º 12’
produtos de índices de vegetação. Latitude Sul e 33º 8’ Longitude Leste (Figura 1). Com
uma superfície de 7.057 km2, o clima predominante é o
O NDVI tem sido bastante usado, para várias tropical chuvoso de savana- Aw (classificação de
aplicações ambientais, sendo bom indicador de presença Köppen), com duas estações distintas, uma quente e
e condição da vegetação (Fontana et al, 2001, Ponzoni e chuvosa e outra fresca e seca. O distrito é dividido em
Shimabukuro, 2007). É o mais usado e melhor duas regiões agro ecológicas com potencial para
documentado índice baseado em sensoriamento remoto produção de milho que, de acordo com Walters et al
para o monitoramento de culturas e previsão de (2006), constituem as regiões mais dinâmicas do país em
rendimentos (Savin e Nègre, 2003). O NDVI do sensor termos de produção deste cereal. O milho é a principal
MODIS é referido como sendo uma continuidade da série cultura alimentar produzida, sendo explorada em regime
de NDVI do sensor AVHRR do NOAA (Huete et al, de consórcio, com feijão nhemba, amendoim e batata
1999; Fontana et al, 2007). Para além do NDVI o sensor doce (MAE, 2005).
MODIS no produto índices de vegetação, possui também Foram utilizadas duas séries de dados,
o índice de vegetação melhorado (EVI- Enhanced meteorológicos e imagens de satélite, compreendendo a
Vegetation Index ). Este índice foi desenvolvido pelo série de 10 anos, de 2000 a 2009.
MODIS Land Discipline group com o propósito de
otimizar o sinal da vegetação, melhorando sua
sensibilidade a condições de alta densidade de biomassa,
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Fig. 1 Localização do distrito de Sussundenga, Moçambique.

(ρIVP) e o vermelho (ρV) normalizado pela sua soma, dado


Os dados meteorológicos foram obtidos junto por:
ao Instituto de Investigação Agrária de Moçambique ρ IVP − ρV
(IIAM), através de uma das suas unidades experimentais NDVI = (1)
no centro do país, a Estação Agrária de Sussundenga ρ IVP + ρV
(EAS). O conjunto inclui, entre outros, registros mensais
de precipitação pluvial e temperatura média da área de O EVI é de certa forma um NDVI modificado,
estudo. Os registros de temperatura foram aplicados no com fatores de ajustes da influência do solo (L) na
modelo de estimativa de evapotranspiração potencial resposta dos alvos e coeficientes (C1 e C2) que descrevem
proposto por Thornthwaite (1948), no qual são a correção quanto ao espalhamento atmosférico da banda
necessários apenas dados de temperatura média do ar e vermelha pela azul (ρAZUL) (Jensen, 2009). Calculado por:
latitude do local em questão (Rolim e Centelhas,1999).
ρ IVP − ρV
Imagens de índices de vegetação, provenientes EVI = G (1 + L) (2)
do produto MOD13Q1 do sensor EOS MODIS coleção ρ IVP + C1 ρV + C2 ρ AZUL + L
5, foram usadas para a construção dos perfis. Este
produto contém, para além de quatro bandas de Com o software de processamento de imagens
reflectância de superfície das regiões espectrais do azul, ENVI 4.5, as imagens dos índices de vegetação foram
vermelho, infravermelho próximo e médio, duas recortadas para área de estudo. A partir destes recortes,
composições de 16 dias de índices de vegetação foram extraídos os valores médios de índices para cada
nomeadamente o NDVI e o EVI com resolução espacial imagem e traçados os perfis temporais, os quais foram
de 250 m. Neste trabalho foram usados somente os dados usados para caracterizar índices de vegetação para cada
de NDVI e EVI. ano. Nos perfis construídos foram considerados os anos
agrícolas de modo que a principal época de cultivo de
O NDVI é calculado a partir da diferença entre milho fosse continuamente ilustrada. Os perfis tiveram
as reflectâncias de superfície do infravermelho próximo deste modo, início no primeiro decêndio de setembro e
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finalizaram no terceiro decêndio de agosto do ano


seguinte.

Os dados meteorológicos e os valores médios


de índices de vegetação foram inicialmente analisados
individualmente, a fim de evidenciar as variações intra e
inter anuais. Após, estabeleceu-se a relação dos perfis
anuais de índice de vegetação com o calendário agrícola
do milho na região na sua principal época de produção.
Os valores de índices de vegetação foram,
posteriormente, organizados em médias de períodos
mensais, de modo a compatibilizar com o conjunto de
dados meteorológicos, que também apresentam uma base
temporal mensal.

Estabeleceram-se relações entre os elementos Fig. 2 Variabilidade de evapotranspiração mensal no


meteorológicos e a “resposta” da vegetação apresentada período de 2000 a 2009, para distrito de Sussundenga.
pelos índices de vegetação. Duas variantes de análises
foram consideradas: a relação entre os elementos
meteorológicos e índices de vegetação no mesmo período
e tendo em conta uma defasagem em um mês entre os
mesmos grupos de dados. Nesta ultima variante, assume-
se que a condição da vegetação num dado período seja
resultado das condições meteorológicas no período
imediatamente anterior. A associação entre os dois
conjuntos de dados (meteorológicos e índices de
vegetação) foi avaliada pelo índice de correlação de
Pearson (r).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados meteorológicos, agrupados em totais


mensais, apresentaram uma variação característica do Fig. 3 Variabilidade de precipitação pluvial mensal no
clima predominante na região ao longo dos anos período de 2000 a 2009, para o distrito de Sussundenga.
agrícolas em estudo. A precipitação pluvial e a
evapotranspiração potencial apresentam valores médios Este padrão temporal dos índices de
maiores, no período decorrente de outubro a abril (Figura vegetação, pode em parte ser explicado pelas
2 e 3), coincidindo com a estação quente e chuvosa, que características climáticas da região. Na estação seca, os
inclui a principal época de plantio do milho. A índices são baixos, associados à baixa densidade de
evapotranspiração potencial apresentou variação inter cobertura vegetal, em consequência da reduzida
anual, sendo os meses da estação fresca e seca os que quantidade de precipitação pluvial. Na estação chuvosa,
apresentaram maiores amplitudes. No entanto, em termos os índices são altos pelo considerável aumento da
de valores absolutos, essa variação não se pode comparar precipitação pluvial e aumento da densidade vegetal.
a da precipitação pluvial, que apresenta grandes
amplitudes nos meses de outubro a abril. Somado a isto, a variação temporal também
pode ser associada ao calendário agrícola, em que o
período de baixos índices coincide com a época em que
Verificou-se, pelos perfis médios de índice de
se faz a preparação do terreno, para a semeadura. A
vegetação (Figuras 5 e 6), que estes seguem um padrão
semeadura do milho em sequeiro é feita majoritariamente
semelhante em todos os anos avaliados. Os valores
nos meses novembro e dezembro (Cumba, 2001). No
médios de índices são relativamente baixos no início do
período anterior aos meses indicados, há uma grande
ano agrícola, seguido de um gradual aumento até um
chance de encontrar áreas de solo exposto, refletido pelo
dado pico, que se estabiliza no período de dezembro a
baixo valor de índice de vegetação, visto que o setor
março, reduzindo nos meses seguintes.
familiar em Moçambique faz a semeadura imediatamente
após o início das chuvas. No entanto, os valores
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observados de índices de vegetação no período em 0.9


questão não correspondem aos característicos de alvos de
solo exposto, que de acordo com Fontana et al (2001) são
0.8
positivos e próximos de zero. A diferença entre os
valores observados e esperados, possivelmente, se deve
0.7 2000/01
ao fato dos índices que compõem os perfis se tratarem de 2001/02
valores médios para toda a extensão territorial do distrito 2002/03
de Sussundenga. Neste caso, estão sendo incluídos alvos 0.6
2003/04
não agrícolas, como formações montanhosas, áreas 2004/05

florestais e corpos de água, que não apresentam alta 0.5 2005/06


2006/07
variação ao longo do ano, mas que influenciam os 2007/08
valores médios de índices de vegetação extraídos. 0.4 2008/09

De modo geral os perfis gerados são 0.3


semelhantes ao perfil característico de culturas anuais
como milho, com baixos valores no início do ciclo, um 0.2
rápido crescimento até um máximo que se estabiliza até a 26/8 27/9 29/10 30/11 1/1 2/2 6/3 7/4 9/5 10/6 12/7 13/8

maturação decrescendo no final do ciclo.


Fig. 5 Perfis temporais do EVI no distrito de
Sussundenga, no período de 2000 a 2009.
0.9

As Figuras 6 e 7 apresentam, a título de


0.8 ilustração, a evolução temporal da precipitação pluvial e
NDVI e da evapotranspiração e EVI para o ano agrícola
2000/01
0.7
2001/02
de 2003/2004. É possível perceber que a variação de
2002/03 ambos índices de vegetação ao longo do ano tem
0.6 2003/04 associação com a variação dos registros mensais dos
2004/05 elementos meteorológicos defasados em 1 mês.
0.5 2005/06
2006/07 Analisando todos os anos conjuntamente,
2007/08
0.4 verifica-se que os totais mensais dos elementos
2008/09
meteorológicos mostraram forte associação com as
0.3 médias mensais de ambos índices de vegetação, tanto
quando se considerava a relação simultânea, como com a
0.2
defasagem em um mês dos índices de vegetação. Essa
26/8 27/9 29/10 30/11 1/1 2/2 6/3 7/4 9/5 10/6 12/7 13/8 forte associação é comprovada pelo coeficiente de
correlação superior a 0,5 e em muitos casos significativa
Fig. 4 Perfis temporais de NDVI do distrito de a 5% de probabilidade (Tabela 1) dos grupos de dados
Sussundenga, no período de 2000 a 2009. apresentados por ano agrícola, confirmando a
significativa influência dos elementos meteorológicos
Os valores dos dois índices de vegetação sobre as condições médias da vegetação em
analisados foram distintos, para o mesmo período, sendo Sussundenga.
que os de NDVI (Figura 4) apresentam maiores valores
do que os EVI (Figura 5). Isso se deve a provável Considerando os resultados alcançados como
otimização do sinal da vegetação providenciado pelo satisfatórios, pode se afirmar que são esperados melhores
EVI, que reduz a influência atmosférica e do solo. O resultados se os valores médios de índices de vegetação
NDVI, mesmo sendo um ótimo indicador da atividade forem extraídos sobre uma máscara de cultivo do milho.
vegetal, apresenta alguns fatores limitantes, como a Neste caso, deve ocorrer menor interferência de outros
existência de pontos de saturação e a interferência alvos cujos valores de índices de vegetação não mostrem
atmosférica que é diferenciada nas regiões espectrais do o mesmo nível de dependência das condições
vermelho e infravermelho próximo (Ponzoni e meteorológicas.
Shimabukuro, 2007). Os dois índices se complementam e
melhoram a extração de parâmetros biofísicos do dossel
(Huete et al, 1999).
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correlação das variáveis meteorológicas e os índices de


Relação Precipitação NDVI com defasagem
vegetação é apresentado na Tabela 1. Dos pares de
(2003/04)
350 0.9
variáveis apresentados, os que envolviam a
300
evapotranspiração potencial e os dois índices de
0.8
P recip itação (m m )

250 vegetação defasados, mostraram correlações


0.7
200 significativas em todos os anos em análise, exeptuando o
0.6 ano agrícola de 2006/07. Explicado pelo reduzido
150
100
0.5 número de pares neste ano como resultado de falhas de
50 0.4 registros de evapotranspiração verificadas em alguns
0 0.3 meses. Essas correlações justificam o uso da
set- out- nov- dez- jan- fev- mar- abr- mai- jun- jul- ago- evapotranspiração como indicador de produção de
03 03 03 03 04 04 04 04 04 04 04 04
P matéria seca das formações vegetais e sua aplicação em
Meses do ano modelos de estimativa de produtividade de culturas.
NDVI
Exemplos concretos da aplicação deste elemento
Fig. 6 Relação precipitação NDVI com defasagem de 1 meteorológico em modelos de estimativa de
mês (2003/04) produtividade das culturas são as de Jensen (1968),
Doorenbos e Kassam (1979) e Frére e Popov (1979).
Evapotranspiração Potencial EVI com defasagem
(2002/03)
A forte associação das variáveis medidas em
terreno e os dados provenientes de sensoriamento servem
de indicador para a possibilidade de combinação destes
E v a p o tra n s p ira ç ã o (m m )

160 0.6
140 0.55 tipos de variáveis em aplicações diversas. Entre as
120 0.5
100 0.45 possibilidades, destaca-se seu uso em programas de
80 0.4 monitoramento de culturas e modelagem
60 0.35
40 0.3
agrometeorológica espectral de safras na área de estudo.
20 0.25
0 0.2 Tendo como referência a cultura do milho,
set- out- nov- dez- jan- fev- mar- abr- mai- jun- jul- ago-
melhores resultados podiam ser encontrados se os valores
02 02 02 02 03 03 03 03 03 03 03 03
E médios de índices de vegetação fossem extraídos sobre
Meses do ano
EVI uma máscara de cultivo de milho, refletido apenas a
Fig. 7 Relação evapotranspiração Potencial e EVI com resposta espectral das áreas de cultivo. A base temporal
defasagem de 1 mês (2002/03) usada, pode também influenciar a qualidade dos
resultados. Possivelmente se os dados meteorológicos
Verificou-se que os pares que apresentavam fossem organizados em totais de 16 dias, que constitui o
maiores correlações envolviam os elementos número de dias de composições de índices de vegetação
meteorológicos e os índices de vegetação com defasagem do sensor MODIS, melhores associações pudessem ser
de um mês. Isto reforça o princípio de que as condições encontradas
da vegetação refletem as condições meteorológicas
imediatamente anteriores. Um resumo dos índices de

TABELA 1 Coeficientes de correlação entre as variáveis meteorológicas: precipitação pluvial (P) e evapotranspiração (ET)
e os indices de vegetação: NDVI e EVI no período de 2000 a 2009, estabelecidas de forma simultânea e com defasagem
(def) de um mês.
Ano Agrícola
2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09
P NDVI 0,55 0,58* 0,53 0,49 0,58* 0,55 0,59* 0,43 0,68
** * * ** ** * ** *
P EVI 0,71 0,66 0,69 0,78 0,74 0,67 0,72 0,64 0,82**
** ** * ** * ** *
P NDVI_def 0,75 0,72 0,64 0,79 0,69 0,53 0,63 0,62 0,70**
** ** ** ** ** **
P EVI_def 0,71 0,82 0,57 0,82 0,80 0,53 0,64 0,78 0,61*
ET NDVI 0,59* 0,67* 0,5 0,33 0,57 0,70* -0,49 0,16 0,42
* * * * **
ET EVI 0,64 0,69 0,65 0,60 0,72 0,81** -0,54 0,42 0,75*
** ** ** * ** ** *
ET NDVI_def 0,82 0,90 0,80 0,70 0,78 0,96 0,29 0,62 0,84**
** ** ** ** ** ** **
ET EVI_def 0,88 0,97 0,80 0,88 0,82 0,94 0,42 0,78 0,98**
* **
Correlação significativa a 0,05 Correlação significativa a 0,01
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3. CONCLUSÕES Fontana D. C. et al. 2001. Monitoramento e previsão da


safra de soja 1999/2000 no Brasil. Relatório técnico n.
Os dados mensais de precipitação pluvial e de 005/01. Porto Alegre: Centro Estadual de pesquisa em
evapotranspiração medidos na superfície na série de anos Sensoriamento Remoto e Meteorologia,
em estudo apresentam uma considerável variabilidade
anual e interanual, o que é resultado das estações de ano Fontana, D.C, A. Potgieter e A. Apan, Assessing the
bem definidas em termos de disponibilidade de água relationship between shire winter crop yield and seasonal
característica da região de estudo. variability of the MODIS NDVI and EVI images.
Applied GIS v.3, n.6, p.1-16.
Os perfis anuais de ambos índices de
vegetação têm um comportamento característico, Huete A, C. Justice e W. Leeuwen, 1999. MODIS
definido pelas condições meteorológicas e se encontra vegetation index (MOD13) Algorithm Theoretical Basis
sincronizado ao calendário agrícola do setor familiar Document Version 3, 129 páginas.
sobre a área de estudo.
Jensen, M.E., 1968. Water consumptions by agricultural
Fortes associações existem entre os somatórios plants. In: Water deficits and plant growth, T.T.
mensais de precipitação pluvial e de evapotranspiração e Kozlowsky (Ed.), New York: Academic Press, 2, pp. 1–
as médias mensais de índices de vegetação em todos os 22.
anos agrícolas em questão. Isto é válido tanto quando se
analisa os pares de dados em períodos simultâneos, Klering E.V, D. C. Fontana, M. A. Berlato, 2007. Perfis
quanto quando se considera uma defasagem dos índices Temporais de NDVI e o rendimento de arroz irrigado nas
em relação às variáveis meteorológicas. regiões orizícolas do Rio Grande Sul In Anais do XV
Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, Aracaju –
Torna-se evidente a possibilidade de uso de SE, Brasil, 5 páginas.
dados de sensoriamento como o NDVI e o EVI como
ferramentas úteis em programas de monitoramento e Lohman M, F. Deppe, K. Simões, E. G. Mercuri, 2009.
previsão de safras do milho no distrito de Sussundenga. Monitoramento da Evolução Temporal da Cultura da
Soja no Estado do Paraná utilizando Imagens
4. AGRADECIMENTOS TERRA/MODIS in Anais XIV Simpósio Brasileiro de
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Os autores gostariam de agradecer ao Dr.
Carvalho Ecole, Eng. Moises Vilankulos, Eng. Eduardo MAE - Ministério da Administração Estatal, 2005. Perfil
Mulima e Dr. David Mariote do Instituto de Investigação do distrito de Sussundenga Província de Manica;
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