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MITOS HEBREUS

Tinham já decorrido quase quinhentos anos desde que se


produziu o assentamento da raça semita na extensa zona que
deu em denominar-se Palestina, quando um dos seus chefes
(de nome Saul) foi proclamado rei. As doze tribos hebraicas
decidem unificar-se num único estado e se constituem em reino
para se tornarem fortes e poderosas e defrontar todos os seus
inimigos filisteus, "povos do mar", e amonitas, que ocupavam a
franja do oriente da Jordânia; nada mais apropriado, para
conseguir os seus propósitos, que instituíssem em estado

monárquico em que Saul tinha decretado (para conseguir


méritos aos olhos da única deidade, isto é, do poderoso
Yahveh) que magos e adivinhos deviam ser expulsos de Israel;
"Saul tinha posto fora do país os necromantes e os
adivinhos".

No entanto, assim que os filisteus conseguem fazê-lo


retroceder, pensa que Yahveh já não está da parte dele nem
dos seus exércitos, e decide consultar a pitonisa de Endor
para que esta o ponha em contato com o profeta Samuel,
personagem -este último- que, por mandato de Yahveh,
instituiu Saul como rei de Israel. O ancestral mítico continua
manifestando-se na população israelita e no seu rei Saul.
Relatos de livros sagrados hebreus narram de que modo
certos personagens importantes, entre os antepassados de
Saul, tais como Jacob, já se tinham servido de métodos
mágicos para que o seu rebanho crescesse mais do que o do
seu tio e sogro Labão. Aquele tinha-se visto obrigado a servir
ao tio durante quatorze anos, para conseguir que lhe fosse
entregue por esposa a sua filha Raquel. Ao princípio o acordo
era de sete anos de serviço mas Labão enganou Jacob e
entregou-lhe a sua filha Lia em vez de Raquel. Para a
conseguir que estar mais outros sete anos trabalhando para
Labão.

PODER DO MÁGICO

O método utilizado por Jacob para que os cordeiros


nascessem com pintas foi (segundo os estudiosos da
mitologia e do esoterismo) o adscrito à magia conhecida com
o nome de "homeopática", que se baseia na chamada lei de
semelhanças: "o semelhante produz o semelhante".

Segundo este princípio imitativo, o mago podia produzir


qualquer efeito, com a simples condição de imitá-lo: "os
efeitos assemelham-se às suas causas".
Toda a natureza,e os objetos que esta contém,são suscetíveis
de manipulação por meio da magia "homeopática"ou
"imitativa". E também no momento de curar e prevenir
doenças, se recorreu ao remédio da magia.

Esta forma de encantamento foi levada a cabo ao longo da


história pela maioria dos povos de cultura e civilização
ancestrais. O relato do Antigo Testamento é muito
esclarecedor a esse respeito: "Então Jacob procurou umas
varas verdes de álamo, de amêndoa e plátano e lavrou nelas
umas moscas brancas, deixando ao descoberto o branco das
varas, e fincou as varas assim lavradas nas pias ou
bebedouros aonde vinham as reses a beber, justa- mente
diante das reses, com o qual estas se aqueciam ao
aproximarem-se para beber. Ou seja que se aqueciam à vista
das varas, e assim pariam crias listradas, pintas ou
manchadas."

A verdade é que, com semelhante método, em breve reuniu


Jacob um rebanho muito superior ao do seu tio e sogro: "Jacob
medrou muitíssimo, e chegou a ter rebanhos numerosos, e
servas e servos e camelos e asnos."

ESPÍRITOS E PEQUENOS GÊNIOS

Até confiar completamente de Yahveh como única e poderosa


deidade, os hebreus utilizaram, no momento de conhecer a
vontade, espíritos e pequenos gênios que animavam o mundo
não só a magia, mas também outras formas tradicionais muito
estendidas entre a população. No entanto, o clero judeu
lutava por todos os meios contra este tipo de manifestações
e, sob nenhum conceito, aceitavam a magia, que
consideravam própria de povos pagãos.

Embora, em ocasiões, a vontade dos espíritos, assim como as


suas exigências aos mortais, fossem conhecidas por métodos
adivinhadores muito populares. Entre estes sobressaem os
célebres dados que se guardavam numa espécie de cofre
chamado "efod". A interpretação do significado dos dados,
uma vez lançados, estava considerada como uma arte
reservada a magos e adivinhos.

Também houve ocasiões em que se venerou um bezerro de


ouro, pois o touro se considerava como a personificação de
certas deidades que formavam tríades sagradas entre si. Se
tratava, realmente, de uma espécie de totem que protegia a
tribo que o invocasse. Embora ao princípio parecesse que o
citado guarda certo paralelismo com o mítico boi Ápis das
lendas egípcias, realmente têm muito pouco em comum, dado
que estes últimos associavam o animal -que veneravam vivo-
com uma das duas luminárias, concretamente a Lua.

Outro aspecto importante a apontar, entre a população


hebraica, era o rito do "nazireu". Tudo surgia, por mor da
exigência de pureza, pela necessidade de evitar qualquer
contato com aquilo que pudesse considerar-se impuro. Nesse
sentido, grande número de pessoas decidiam retirar-se e
viver em solidão. Segundo relata o "Livro dos Números 6",
algumas pessoas faziam votos de "nazireado" ou nazireu
("nazireu" significa separado, consagrado), e se apartavam da
sociedade e esqueciam a própria família e os seus íntimos;
não raspavam a cabeça e não bebiam nenhuma bebida
alcoólica.

"POVO ESCOLHIDO"

Embora Saul sempre saísse vitorioso de todas as suas


batalhas, no entanto, num amargo dia, foi derrotado na
grande planície de Jezrael pelos certeiros arqueiros filisteus,
que cravaram as suas flechas mortíferas no corpo exausto de
Saul e, como sangrento final, penduraram-no nas paredes de
um dos templos que tinham erigido em honra da deusa Vênus.
Uma grande ironia, de resto, dado que no templo da deusa do
amor se exibe o corpo de um homem, produto do ódio entre
uns e outros. "O mito é diferente da Bíblia"

Então é ungido David como rei, que conquista a mítica cidade


de Jerusalém e a converte em capital política e religiosa dos
hebreus, ao mesmo tempo que deposita nela a Arca da
Aliança, que constituirá o dado (carregado de conotações
simbólicas) que mostra acreditadamente o pacto levado a
cabo entre os hebreus, desde essa altura transformados em
"povo escolhido", e o poderoso deus Yahveh.

ARCA DA ALIANÇA

David, antes de mais, foi reconhecido como o rei da unificação


pois preconizou a união entre Judéia e Israel. Alistou, além
disso, mercenários e conseguiu, assim, conquistar muitas das
cidades-estado dos povos cananeus limítrofes, com o qual viu
consideravelmente ampliados os seus territórios originais.

Para transportar o Arca da Aliança que continha as "Tabelas


de pedra", com a lei de Yahveh gravada nelas para Jerusalém
contrataram-se os serviços da carreta de Uzzá, que conduziu
os bois durante o trajeto até que, por ter tentado segurar a
Arca -que ia dando saltos por causa do mau estado do
caminho- para não cair, foi ferido como por magia por um raio
de Yahveh. E é que a Arca só podia ser tocada por famílias
privilegiadas e por sacerdotes. Mas, à raiz do incidente
relatado, até o próprio David temeu a ira de Yahveh e, para
implorar a clemência do airado deus, ordenou que cada certo
trecho se fizesse um alto no caminho, se depositasse a Arca
em terra e se sacrificasse, em honra de Yahveh, "um boi e um
carneiro alimentado".

Depois de David, governa Israel um rei sábio e compreensivo


para com os seus súditos: trata-se do seu filho Salomão. Este,
embora fosse um bom diplomata, não tinha, em
compensação, os dotes guerreiros do pai e, pelo mesmo
motivo, "não pôde evitar a perda de territórios como o dos
edomitas, provenientes da estirpe de Edom, que tinha
sobrevivido à matança levada a cabo pelo chefe do exército
de David e cujo representante, Hadad, tinha conseguido fugir:
este refugiou-se com alguns homens edomitas no Egito e foi
protegido pelo Faraó de forma especial, até o ponto que lhe
deu por mulher uma das suas irmãs. Hadad foi adversário de
Israel durante todo o reinado de Salomão."

A "DIÁSPORA"

No entanto, durante o reinado de Salomão, o comércio e as


transações mercantis de todos os tipos, especialmente com os
territórios de Arábia, experimentaram um incremento
substancial. Por isso, Salomão decide utilizar tanta riqueza na
construção da "Casa de Yahveh em Jerusalém, no monte
Morria, onde Yahveh se tinha manifestado ao seu pai David."

No entanto, nos tempos de Salomão, os israelitas perdem as


províncias arameas, com o que se vai debilitando o reino de
Israel. Além disso, tudo isso vai constituindo-se em prelúdio
do que a partir do ano 926 (aC), data em que morre o rei
Salomão, se transforma num fato consumado, a saber: a
separação de Israel e Judá.

Jerusalém erigir-se-á em capital de Judá e, quanto ao reino de


Israel, carecerá de capital fixa; a última das suas cidades,
constituída em centro político e religioso, será Samaria. Mas
este lugar, considerado como centro neurálgico e
administrativo pela população israelita, é destruído pelo rei
Sargão II, aproximadamente duzentos anos depois da morte
de Salomão. Quando a cidade fortificada de Samaria foi
destruída, os israelitas dispersaram-se e refugiaram-se entre
os povoadores dos territórios próximos e limítrofes. Sucede a
mesma coisa com Jerusalém, que sofre o acosso de
Senaquerib e, tempo depois, é destruída por Nabucodonosor
II, no ano 587 (aC), que a tinha submetido a um cerco
contínuo durante um ano. Os seus habitantes fogem e
dispersam-se em todas as direções, com o qual se produz um
fato histórico conhecido com o nome de "diáspora".

PROFETISMO

Não tinha passado muito tempo desde que os seus profetas


os tinham avisado do perigo que se lançava sobre a raça judia
e os seus territórios: "o profeta Jeremias tinha prevenido
sobre as adversidades que se aproximavam, mas o seu povo
não acreditou em tais palavras. Com o cativeiro de Babilônia e
com a destruição do templo de Jerusalém começa a
decadência dos diferentes movimentos proféticos e, ao
mesmo tempo,se iniciam os movimentos religiosos e
tradicionais que conformarão, com os seus ritos e mitos, o
chamado judaísmo."

A palavra dos profetas hebreus caía quase sempre, por assim


dizer, num vazio. Nem o povo, nem os sacerdotes, nem os
governantes, faziam muito caso das ameaças verbais,
previsões e avisos, dos profetas. Estes denunciavam a
idolatria, a coação e a hipocrisia e, além disso, odiavam o
formalismo vago de numerosos ritos e cerimônias, dirigidas
pelos sacerdotes e governantes, com a assistência do povo
servil. Mas o que verdadeiramente fez com que os profetas
caíssem em desgraça e não fossem aceitos entre os seus (de
aqui o célebre asserto "ninguém é profeta na sua terra"),foi a
denúncia constante e cortante de certos costumes que eles
consideravam licenciosos: "os profetas criticam o luxo e a
vida refestelada de muitos israelitas ricos, deploram os vícios
sexuais e rejeitam qualquer atitude vaidosa."

A FORÇA E O PODER DE YAHVEH

Os povos querem guardar zelosamente os seus deuses e nem


sequer pronunciam o seu nome diante de pessoas de outra
tribo, etnia, família ou país. A lei sagrada proibia aos hebreus
pronunciar o nome de Yahveh; o incumprimento dessa medida
levava implícito um drástico castigo: a pena de morte.

Então, torna-se necessário procurar vários nomes para


referir-se a uma única deidade. Há que evitar pronunciar o
nome sagrado de Yahveh e, ao mesmo tempo, guardar em
segredo a escritura das quatro consoantes que compõem o
misterioso tetragrama grego. Não se encontram as vogais do
nome Adonai (que significa Senhor) e, ao pronunciar-se,
resulta a palavra Jeová. Alguns autores mantêm, em
compensação, que a verdadeira pronunciação é Jahoveh, que
contém o lexema formado pelas consoantes IHWH (____),
significado do conceito "ser". Daqui uma das próprias
formulações do Deus ao falar da sua própria identidade: "Eu
sou o que sou" ou "Eu sou o existente".

Segundo outras versões, o nome da deidade superior estava


considerado como tabu e, por isso, tinha que ser guardado no
maior dos segredos. Estava proibido nomeá-lo. Além disso,
podia suceder, por outra parte, que os inimigos chegassem a
reparar no nome da deidade de um determinado povo e, pelo
mesmo motivo, ao evocá-lo, fariam com que o deus se virasse
contra os seus antigos adoradores e protegidos. Tratava-se,
pois, de uma medida de segurança e sobrevivência para todo
um povo, ao manter em segredo o nome das suas deidades
superiores.

MITO DA CRIAÇÃO

Além de Jeová, também existia o nome de Elohim para referir-


se à única deidade, e os livros sagrados colhem estas
designações nos relatos da criação; "No dia em que Jeová
Elohim criou a terra e os céus, nenhum arbusto havia ainda
sobre a terra, nenhuma erva tinha germinado ainda, porque
Jeová Elohim não tinha feito ainda que sobre a terra chovesse
e nem havia homens que cultivassem o chão. Mas uma nuvem
levantou-se da terra e regou o chão. E Jeová Elohim formou o
homem com o pó do chão e soprou-lhe no nariz a respiração
da vida".

Antes de encontrar com Jeová, os hebreus tinham outras


deidades menores e mais fracas. Adoravam os gênios ou
espíritos de certos fetiches, entre os quais se encontram os
denominados "terafim"; estes eram pequenos ídolos que
podiam transportar-se e que presidiam o interior das tendas
das diversas tribos. O próprio rei David levava-os consigo nas
suas digressões e, quando se encontrava em perigo, permitia
que os adivinhos e magos os invocassem para obter a sua
ajuda. O mesmo termo "Elohim" significa "os deuses" (em
plural, o que indica que veneravam vários deuses e que,
portanto, não eram ainda monoteístas). No entanto, Yahveh é
um deus ciumento e não quer outros deuses fora ele. É, além
disso, "o deus dos exércitos e exige obediência cega e
submissão plena. Era-lhe erigido culto e, em sua honra, se
sacrificavam animais dos rebanhos e se supunha que na
comida de comunhão o próprio Yahveh tomava parte. Era-lhe
reservado o sangue dos animais que aos mortais se proibia."

UM DEUS-PAI SEM ROSTO


Yahveh manifesta-se de diversas formas, pois o seu rosto não
foi visto por ninguém, nem se verá nunca. Os eleitos
reconhecem a sua voz e obedecem-no, dado que dá
suficientes provas do seu poder. Por exemplo, elimina os
primogênitos dos egípcios e respeita as casas dos israelitas,
que previamente tinham pintado as suas portas com o sangue
do cordeiro como sinal combinado.

Sempre existiam dados, provas e indícios que indicavam a


presença de Yahveh, que mostrava imediatamente o seu
poder de uma ou outra forma. Os prodígios que fazia tinham,
não obstante, um fim prático: convencer o Faraó do Egito para
deixar em liberdade os israelitas, ou mostrar perante estes o
seu vigor e a sua força.

Um povo subjugado deixa as suas antigas crenças, abandona


os seus ídolos e submete-se ao mandato de Yahveh para que
este o livre da ira dos faraós e o conduza, através do deserto,
para uma bela terra.

No entanto, num princípio, os egípcios não tinham a menor


intenção de deixá-los partir, pelo qual a intervenção de
Yahveh se torna manifesta e necessária. Transmite as suas
ordens a Moisés para que este atue segundo às suas
palavras. Como Yahveh carece de rosto e de corpo visível
serve-se de um mortal em todas as suas ações.

A primeira coisa que encomenda ao seu subordinado é a


missão de pôr o Faraó egípcio em antecedentes da sua
existência e dos seus atributos. Mas o Faraó não parece
importar-se pelo qual habitualmente não cumpre as suas
promessas.

Yahveh dispõe-se a mostrar o alcance do seu poder e, num


primeiro momento, faz com que Moisés bata nas águas dos
rios egípcios. Convertem-se imediatamente em sangue e os
cidadãos egípcios não podem beber, e os peixes morrem. Ao
cabo de uma semana, o Faraó promete que deixará em
liberdade o povo israelita; o primeiro aviso de Yahveh foi
decisivo. Mas serão necessários muitos mais para que lhes
seja permitido, aos escolhidos, abandonar o Egito.

AS PRAGAS

De novo Yahveh envia Moisés perante o Faraó egípcio para


anunciar-lhe que,se persistir na sua atitude negativa, uma
nova amostra do seu poder poderá ser comprovada por
aquele: e disse Yahveh a Moisés: "Apresenta-te ao Faraó e
diz-lhe: assim diz Yahveh: Deixa sair o meu povo para que me
dê culto. Se te negares a deixá-lo partir infestarei de rãs todo
o teu país. O rio bulirá de rãs, que subirão e entrarão na tua
casa, no teu quarto e no teu leito, nas casas dos teus
servidores e na tua povoação, nos teus fornos e nas tuas
gamelas. Subirão as rãs sobre ti, sobre o teu povo e sobre os
teus servos".

Como o Faraó intuiu o mal que lhe causava esta praga de rãs
prometeu a Moisés que deixaria sair de Egito todos os
israelitas. Mas de novo incumpriu a sua promessa e foram
necessários muitos outros avisos e amostras de poder por
parte de Yahveh para que, por fim, o Faraó consentisse em
levar a cabo as citadas petições.

Finalmente, os israelitas saem do Egito -não sem antes


despojar os seus opressores dos objetos de ouro e prata que
tinham-, e entram no deserto atrás de uma coluna de fogo e
uma nuvem que os guia.

O Faraó decide perseguí-los mas, segundo narra o relato


bíblico, é engolido pelo mar Vermelho junto com todo o seu
exército, enquanto os israelitas, pelo poder de Yahveh, "que
fez soprar durante toda a noite um forte vento do este que
enxugou o mar", conseguiram atravessá-lo a pé sem grandes
dificuldades.

O MONTE SINAI

Quando os mortais procuram a proteção de um "deus pai" é


porque confiam em que não vai abandoná-los na sua
infelicidade e porque esperam que sempre acuda em sua
ajuda.

Quando os israelitas caminham pelo deserto, Yahveh envia o


maná para alimentá-los: "Olha eu farei chover sobre vocês
pão do céu; o povo sairá para apanhar todos os dias a porção
diária".

Embora durante muito tempo se alimentassem unicamente de


maná - o que era "como semente de coentro, branco e com
sabor a torta de mel" -, no entanto, os israelitas não se
sentiam a gosto e, em ocasiões, protestavam ou maldiziam a
sua sorte. Além disso, agora se dedicam a adorar um bezerro
de ouro, o que pode provocar a ira de Yahveh, dado que é um
deus muito ciumento e, além disso, não permite compartilhar
a sua glória com outras deidades inferiores; mais ainda: fora
dele não há nenhum outro deus.

NEM DEUSES DE PRATA NEM OURO


Torna-se,portanto, necessária uma norma escrita e durável,
pela qual se têm que reger para assim evitar confusões e mal-
entendidos. Moisés é reclamado por Yahveh (que sempre
necessita de intermediários) e é citado no cimo do Monte
Sinaí: "Sobe a mim, ao monte; fica lá, e dar-te-ei as tábuas de
pedra (a lei e os mandamentos) que tenho escritos para a sua
instrução."

Embora acompanhasse Moisés o seu irmão Aarão e vários


anciãos israelitas, só ao primeiro estava permitido aproximar-
se, isto é, a Moisés: todos os outros deveriam contemplar a
cena de um lugar afastado. E eis aqui que uma nuvem cobriu
o monte Sinai, e entre trovões e relâmpagos se manifestou a
glória de Yahveh, que entrega as Tábuas da Lei a Moisés.
Desta forma, um povo sela uma aliança com uma poderosa
deidade à qual, a partir de agora, deverá submissão e
adoração: "Eu, Yahveh, sou o teu Deus, o que te tirou do país
do Egito, da casa de servidão.

Não haverá para ti outros deuses diante de mim.

Não farás escultura nem imagem alguma nem do que há em


cima nos céus, nem do que há em baixo na terra, nem do que
há nas águas debaixo da terra.

(...) não terão junto de mim deuses de prata, nem farão


deuses de ouro. Faz-me um altar de terra para oferecer sobre
ele os teus holocaustos e os teus sacrifícios."

A partir de agora, fará único objeto de culto e adoração o


poderoso Yahveh e rejeitará qualquer ídolo ou fetiche
terrenos.

CANASTRA DE PAPIRO

A Aliança entre Yahveh e o povo hebreu fica selada do modo


citado e nas tábuas de pedra que Moisés tomou no monte
Sinaí, aparecerão gravadas, em forma de preceitos, as
obrigações para com tão terrível deidade. E, assim, o primeiro
mediador, e intérprete, da palavra divina foi escolhido entre
os filhos dos mortais. O próprio nascimento de Moisés e as
diversas circunstâncias que se sucedem então, talvez
pressagiassem o seu posterior protagonismo. No "Livro do
Êxodo" é narrada a história de uma criatura que se livrou de
perecer afogada porque não foi achada pelas hostes do Faraó
egípcio, que tinha ordenado que todos os homens
israelitas,recém-nascidos,fossem arrojados ao rio Nilo. No
entanto, e curiosamente, foi uma filha do próprio Faraó quem
salvou Moisés (nome que significa "das águas o tirei") de
perecer afogado no rio. Eis aqui o relato dos fatos: "Um
homem da casa de Levi foi tomar por mulher uma filha de
Levi. Concebeu a mulher e deu à luz um filho; e vendo que era
belo teve-o escondido durante três meses. Mas não podendo
ocultá-lo já por mais tempo, tomou uma cestinha de papiro,
calafetou-a com betume e pixe, metia nela o menino e pô-la
entre os juncos, à beira do rio. A irmã do menino colocou-se
ao longe para ver o que lhe passava.

Desceu a filha do Faraó para banhar-se no rio e, enquanto as


suas donzelas passeavam pela beira do rio, viu a cestinha
entre os juncos e enviou uma criada sua para que a
trouxesse. Ao abri-la, viu que era um menino que chorava.
Compadeceu-se dele e exclamou: "É um dos meninos
hebreus". Então disse a irmã à filha do Faraó: "Queres que eu
vá e chame uma aia entre as hebraicas para que te crie este
menino? ". "Vai", respondeu-lhe a filha do Faraó. Foi, pois, a
jovem e chamou a mãe do menino. E a filha do Faraó disse-
lhe: "Toma este menino e cria-o que eu te pagarei". Tomou a
mulher o menino e criou-o. O menino cresceu e ela levou-o
então à filha do Faraó, que o teve por filho e lhe chamou
Moisés, dizendo: "Das águas o tirei".

Alguns estudiosos da história e da mitologia notaram o


paralelismo entre a história de Moisés (narrada no Livro de
Êxodo) e a infância de um rei de Akad chamado Sargão (nome
que significa "Senhor das Quatro partes do Mundo") que
invadiu a Mesopotâmia durante a sua juventude e, quando
era menino, a sua mãe tinha-se visto obrigada a depositá-lo
numa cestinha trançada com juncos.

ORGANIZAÇÕES SECRETAS

Se aprofundarmos no ancestral do povo hebreu,


descobriremos que antes de abraçar esse radical monoteísmo
que os caracteriza, tinham os seus fetiches e os seus ídolos e,
pelo mesmo motivo, praticavam (como outros povos da
mesma zona e época) o politeísmo. Adoravam deidades, por
exemplo, que provinham dos fenícios. E também, seguindo os
ensinos de um filho de Abraão, chamado Madian, tinham
fundado seitas e organizações que recebiam o nome de
madianitas, e nas quais se venerava um ídolo denominado
Abda.

Também existia uma deidade que representava o mal;


chamava-se Asmodeu (nome que significava "o que faz
perecer") e, segundo a crença popular, tinha sido obrigado
por Salomão a trabalhar na construção do templo de
Jerusalém, Asmodeu tinha também por missão introduzir a
desconfiança entre os cônjuges para, assim, separá-los e
destruir o seu casamento. Era considerado, além disso, como
uma espécie de Anjo Exterminador.

LEVIATÃ

Mas na mitologia hebraica sobressaía de maneira especial um


Dragão ou "Serpente Esquiva", também denominado
"Leviatã". Já os fenícios falavam deste monstro e, nas suas
lendas, faziam-no vir do caos primitivo. Para os hebreus só
cabia a possibilidade de que fosse um dos muitos filhos de
Lilith, mulher legendária (desposada com Adão) que paria
todas as classes de criaturas deformes, monstros e demônios.
Temia-se que o Leviatã despertasse e introduzisse o mal no
mundo; por exemplo, no "Livro do Apocalipse" é considerado
como a personificação do mal que enfrenta, por sua vez, a
bondade encarnada na deidade superior.

Mas é no Livro de Job onde se encontra a descrição do Leviatã


mais exaustiva:

" (E Leviatã, tu o pescarás a anzol, segurarás com um cordel a


tua língua? / Farás passar pelo seu nariz um junco?, / Furarás
com um gancho o seu queixo? / (. ..) Furarás a sua pele com
dardos?, / Cravarás com o arpão a sua cabeça? / Põe sobre ele
a tua mão: / Ao recordar a luta não terás vontade de voltar! /
Seria vã a tua esperan- ça / Porque a sua vista só aterra! /
Não há audaz que o acorde, / E quem poderá resistir diante
dele? / Quem o enfrentou e ficou salvo? / Nenhum sob a capa
dos céus! / Mencionarei também os seus membros, / Falarei
da sua força incomparável. / Quem rasgou a dianteira da sua
túnica / E penetrou no seu coração duplo? / Quem abriu as
folhas das suas fauces? / Reina o terror entre os seus dentes!
/ O seu dorso são filas de escudos, / Que fecha um selo de
pedra. / Estão apertados um a outro, / E nem um sopro pode
passar entre eles. / Estão colados entre si / E ficam unidos
sem fissura. / Deita luz o seu espirro, / Os seus olhos são
como as pálpebras da aurora. / Saem tochas das suas fauces,
/ Faíscas de fogo saltam. / Do seu nariz sai fumo, / Como de
um caldeirão que ferve junto ao fogo. / O seu sopro acende
carvões, uma chama sai da sua boca."

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