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Serviço de Fisiologia
Aula Teórico-Prática
REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO
Texto de Apoio
Nota:
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REGULAÇÃO NERVOSA DA RESPIRAÇÃO
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CENTROS RESPIRATÓRIOS
O centro respiratório do tronco cerebral é formado por vários grupos de neurónios localizados,
bilateralmente, no bolbo raquidiano e na ponte (FIG.2).
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Durante a respiração normal em repouso, o sinal nervoso transmitido aos músculos
inspiratórios é fraco, mas aumenta progressivamente de intensidade num padrão “tipo rampa” durante
cerca de 2 segundos – Sinal Inspiratório em Rampa. Durante os próximos 3 segundos cessa
bruscamente, interrompendo a estimulação do diafragma e permitindo a retracção (elastic recoil) da
parede torácica e dos pulmões – expiração passiva. De seguida, o sinal inspiratório inicia outro ciclo
que se repete, sucessivamente, intercalando a expiração. O Sinal Inspiratório em Rampa permite um
aumento do volume pulmonar harmonioso e uniforme durante a inspiração.
CENTRO PNEUMOTÁXICO
Constituído por neurónios do núcleo Parabraquial. Envia fibras eferentes para o centro
respiratório dorsal. A sua principal função é regular a duração da inspiração controlando o ponto
limitante do Sinal Inspiratório em Rampa. Quando o sinal pneumotáxico é intenso, a inspiração pode
durar apenas 0,5 segundos, mas quando o sinal é fraco, a inspiração pode continuar durante mais de 5
segundos, preenchendo os pulmões com grandes quantidades de ar. Quando o centro pneumotáxico é
inactivado, a inspiração torna-se muito prolongada – apneusis (> 10 segundos).
Um sinal pneumotáxico intenso pode aumentar a frequência respiratória para 30-40
ciclos/minuto (a limitação da inspiração também encurta a expiração e, portanto, todo o ciclo
respiratório), enquanto que um sinal fraco pode reduzir a frequência para apenas alguns ciclos por
minuto.
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O centro pneumotáxico regula a relação entre a inspiração e a expiração. O estiramento das
fibras pulmonares durante a inspiração desencadeia um feedback negativo (vide infra) que activa o
centro pneumotáxico, inibindo o Sinal Inspiratório em Rampa. Portanto, após vagotomia o tempo de
inspiração aumenta (FIG.4).
FIG.4 – Registos de dois ciclos respiratórios antes (A) e após (B) vagotomia.
Constituído por neurónios dos núcleos Ambiguus e Retroambiguus. Este centro respiratório
difere do centro respiratório dorsal em vários aspectos:
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CENTRO APNÉUSTICO
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Córtex
Cerebral
Ponte
Excitação
Centro
Inibição
Pneumotáxico
Centro
Apnéustico
Controlo
Voluntário
Centros
Bulbares
Qr.Centrais
Inspiração Qr.Periféricos
Expiração
Espinal
Medula
Diafragma Músculos
M.Intercostais Intercostais
externos internos Receptores
Mecânicos dos
Pulmões e
Parede Torácica
Movimentos
Respiratórios
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REGULAÇÃO QUÍMICA DA RESPIRAÇÃO
QUIMIORRECEPTORES CENTRAIS
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Alterações produzidas experimentalmente na pressão de CO2 do LCR têm efeitos reduzidos na
variação da respiração desde que a [H+] seja mantida constante. Estas observações experimentais
indicam que os quimiorreceptores bulbares respondem a alterações da [H+] do fluido intersticial
cerebral que os rodeia e não ao CO2. O aumento da [H+] estimula a ventilação e a diminuição inibe-a.
A composição do fluido intersticial depende do LCR, do fluxo sanguíneo local e do
metabolismo local. O LCR é o mais importante. A barreira hemato-encefálica é impermeável aos iões
H+ e HCO3-, no entanto, as moléculas de CO2 atravessam-na facilmente por difusão. Assim, quando a
PaCO2 aumenta, o CO2 difunde-se para o LCR a partir dos vasos sanguíneos cerebrais e é rapidamente
hidratado. O H2CO3 dissocia-se, aumentando a concentração local de iões H+ que estimulam os
quimiorreceptores centrais (FIG.7). Portanto, os efeitos do CO2 na ventilação são secundários a
alterações que provoca no pH do LCR.
A [H+] no LCR é directamente proporcional à PaCO2 e a estimulação da ventilação é
directamente proporcional ao aumento [H+]. Alterações na [H+]a têm menores efeitos do que alterações
da PaCO2. Portanto, paradoxalmente, são libertados mais hidrogeniões na área quimiossensitiva
respiratória quando aumenta a PaCO2 do que quando aumenta a [H+]a.
FIG.7 – Activação dos Quimiorreceptores Centrais por alterações PaCO2. Note que não são
directamente activados pelo PaCO2, mas sim por alterações do pH do LCR.
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QUIMIORRECEPTORES PERIFÉRICOS - CORPOS CAROTÍDEOS E AÓRTICOS
Cada glomus (FIG.8) contém ilhéus de dois tipos de células, células tipo I e células tipo II,
rodeadas de capilares sinusoidais fenestrados. As células tipo I têm grânulos densos que contêm
catecolaminas e recebem terminações em cálice de nervos aferentes. Estas células são estimuladas
quando expostas à hipóxia e libertam dopamina (principal neurotransmissor) que excita as terminações
nervosas através de receptores D2. As células tipo II são semelhantes a células gliais, e cada uma
rodeia quatro a seis células tipo I. A sua função é, provavelmente, de sustentação.
Externamente à cápsula que rodeia cada glomus, as fibras nervosas aferentes adquirem uma
baínha de mielina. Enquanto as fibras aferentes dos corpos carotídeos ascendem até ao bolbo
raquidiano através do seio carotídeo e do nervo glossofaríngeo, as fibras dos corpos aórticos ascendem
através do nervo vago. Os glomus são quimiorreceptores com potenciais gradativos, isto é, a amplitude
dos seus potenciais aumenta com a grandeza dos estímulos que os desencadeiam, têm condução
decremental e podem sofrer somação temporal ou espacial.
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Os receptores nos corpos carotídeos são estimulados, principalmente, por diminuições da
PaO2. As células tipo I têm canais de K+ sensíveis-O2, cuja condutância é inversamente proporcional
ao grau de hipóxia a que estão expostos. A diminuição de radicais de oxigénio parece ser o “gatilho”
bioquímico que activa os quimiorreceptores do corpo carotídeo quando PaO2 diminui. A diminuição
do efluxo de K+ durante a hipóxia despolariza a célula e causa um influxo de Ca2+, principalmente via
canais L. O influxo de Ca2+ desencadeia um potencial de acção e a libertação dos neurotransmissores,
que consequentemente, excitam as terminações dos nervos aferentes (nervo de Hering).
Nota: Enquanto as células musculares lisas das artérias pulmonares contêm canais de K+ sensíveis-O2,
semelhantes aos dos quimiorreceptores, que provocam vasoconstrição quando a PaO2 diminui, as artérias
sistémicas contêm canais de K+ dependentes-ATP que levam a um maior efluxo de K+ em estados de hipóxia e,
consequentemente, causam vasodilatação em vez de vasoconstrição.
O fluxo sanguíneo por unidade de tecido nos corpos carotídeos (2000mL/100g/min) é superior
ao do cérebro (54mL/100g/min) e ao dos rins (420 mL/100g/min), que são órgãos de elevada perfusão
sanguínea. Devido ao enorme fluxo sanguíneo por unidade de tecido, as necessidades das células
glomus podem ser facilmente satisfeitas apenas com o O2 dissolvido no plasma. Portanto, os
receptores não são estimulados em condições como anemia e intoxicação por CO, nas quais a PaO2
está diminuida, geralmente, à custa do componente combinado (HbO2). Os receptores são estimulados
quando a PaO2 diminui à custa de ambos os componentes (combinado e dissolvido) ou quando a
quantidade de O2 que chega aos receptores por unidade de tempo está diminuida, devido a estase
vascular. O fluxo sanguíneo por minuto dos corpos carotídeos é cerca de 20 vezes o seu peso,
portanto, a percentagem de remoção de O2 é virtualmente zero. Logo, como os quimiorreceptores
estão sempre expostos a uma pressão de O2 semelhante à PaO2, têm uma acção importante na resposta
ventilatória a alterações da PaO2.
Quando os corpos carotídeos são extraídos ou desnervados, existe uma pequena alteração na
ventilação em repouso, mas a resposta ventilatória à hipóxia é perdida e há uma redução de 25% na
resposta ventilatória ao aumento da PaCO2. A resposta dos quimiorreceptores periféricos a alterações
da PaCO2 é menos importante do que a dos quimiorreceptores centrais.
Devido à sua localização anatómica, os corpos aórticos não têm sido estudados em grande
detalhe como os corpos carotídeos. As suas respostas são provavelmente semelhantes, mas de menor
amplitude.
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RESPOSTA VENTILATÓRIA AO CO2
Existe uma relação linear entre o volume respiratório por minuto e a PACO2 (FIG.9). No entanto,
esta relação tem um limite superior. Quando a pressão de CO2 é superior a 7% do ar inspirado, a
expiração de CO2 está dificultada e as pressões alveolar e arterial aumentam abruptamente apesar da
hiperventilação. A acumulação de CO2 no organismo (hipercapnia) deprime o SNC, incluindo o centro
respiratório, e produz cefaleias, confusão e eventulamente coma (CO2 narcosis).
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RESPOSTA VENTILATÓRIA À HIPÓXIA
Apesar da PaCO2 ser a principal variável controlada, o oxigénio também pode tornar-se
importante na regulação da respiração, quando a PaO2 diminui para valores muito baixos. A
estimulação dos quimiorreceptores periféricos é, portanto, um mecanismo de emergência que é
activado na hipóxia grave. Quando os sensores de O2 nos glomus são estimulados a ventilação
aumenta. Se os corpos carotídeos forem removidos ou desnervados, a hipóxia deprime a respiração,
uma vez que a diminuição da pressão cerebral de O2 deprime a actividade neuronal do tronco cerebral.
Quando a percentagem de O2 no ar inspirado está diminuida, há um aumento no volume
respiratório por minuto. A estimulação é fraca enquanto a pressão de O2 inspirado for superior a 60
mmHg, e marcada para níveis inferiores. Contudo, qualquer declíneo na PaO2, abaixo de 100 mmHg
produz descargas sucessivamente mais intensas nos nervos dos quimiorreceptores carotídeo e aórtico,
isto é, a relação entre PaO2 e a ventilação é hiperbólica (FIG.10).
Existem 2 razões que explicam porque nos individuos normais este aumento na transmissão do
impulso não aumenta a ventilação enquanto o PaO2 não atingir valores inferiores a 60mmHg: (1) a
hemoglobina é um ácido mais fraco que HbO2, logo, há uma diminuição ligeira na [H+] do sangue
arterial quando PaO2 diminui; (2) qualquer aumento na ventilação que ocorra diminui PaCO2, inibindo
a ventilação.
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INTERACÇÃO ENTRE HIPERCAPNIA E HIPÓXIA
Quando a PACO2 é estabilizada em níveis 2-3 mmHg acima do normal, há uma relação inversa
entre a ventilação e a PAO2 que se estabelece mesmo para valores de PAO2 dentro do intervalo 90-110
mmHg; mas quando a PACO2 é mantida em níveis inferiores dos valores normais, não há estimulação
da ventilação pela hipóxia até que PAO2 diminua abaixo de 60 mmHg. Isto é, a hipercapnia aumenta a
sensibilidade dos quimiorreceptores periféricos à hipóxia (FIG.11).
A hipóxia é um estímulo muito intenso quando a PaCO2 está elevada. Portanto, a asfixia
(hipercapnia + hipóxia) estimula a ventilação muito mais que apenas a hipóxia isolada. Quando a
resposta ao CO2 é testada a diferentes níveis de valores de PAO2, o declive da curva aumenta à medida
que a PAO2 diminui (FIG.12). Por outras palavras, a hipóxia torna o indivíduo mais sensível a aumentos
na PaCO2, acentuando os efeitos da hipercapnia e da acidose na actividade dos quimiorreceptores
periféricos.
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RESPOSTA VENTILATÓRIA AO PH
A taxa de produção de CO2 nos neurónios é constante, uma vez que o metabolismo cerebral é
praticamente constante. Logo, a pressão do CO2 no LCR varia de acordo com o fluxo sanguíneo para o
cérebro. A hipóxia inibe o tónus da vasculatura arterial cerebral e, portanto, provoca vasodilatação. A
hipercapnia também provoca vasodilatação cerebral..
O SNC pode modificar a sensibilidade dos quimiorreceptores periféricos. Alterações na
actividade nervosa simpática alteram o fluxo sanguíneo nos corpos carotídeos, alterando a sua pressão
de O2. A diminuição do fluxo sanguíneo dos glomus aumenta a sua sensibilidade para a hipóxia.
A hipoxemia crónica, que pode ocorrer em pessoas adaptadas a grandes altitudes, deprime a
resposta ventilatória à hipóxia, devido a uma adaptação dos quimiorreceptores periféricos e dos
centros bulbares da respiração.
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REGULAÇÃO MECÂNICA DA RESPIRAÇÃO
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RECEPTORES NA PAREDE TORÁCICA
OUTROS RECEPTORES
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↓ PO2 Arterial ↑ da Produção de Ácidos ↑ PCO2 Arterial
↑ PCO2 do LCR
↑ [H ] do LCR
+
↑ [H ] Arterial
+
Quimiorreceptores Quimiorreceptores
Periféricos Centrais
↑ Impulsos Aferentes ↑ Impulsos Aferentes
Diafragma e
M. Intercostais
↑ Contracção
↑ VENTILAÇÃO
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REGULAÇÃO DA RESPIRAÇÃO COM A VARIAÇÃO DA ALTITUDE
Ao nível do mar a pressão atmosférica é de 760 mmHg (1 atmosfera). O ar normal que respiramos
é composto na sua grande maioria por azoto (78%) e por oxigénio (21%). Outros gases que compõem
a atmosfera, como o CO2 e o vapor de água, existem em quantidades muito pequenas. Em altitudes
superiores ao nível médio das águas do mar a pressão atmosférica é inferior a 760 mmHg. No entanto,
a proporção de cada gás, na mistura que é o ar, não varia. Consequentemente, a pressão parcial de cada
gás diminui em termos absolutos.
Quando um indivíduo chega pela primeira vez a um local de altitude elevada, os seus
quimiorreceptores periféricos ao detectarem a hipoxemia vão condicionar uma hiperventilação. Esta
hiperventilação vai diminuir a PaCO2 e a [H+]a (alcalose). Esta redução vai inibir os quimiorreceptores
centrais e, como consequência, vai limitar a hiperventilação induzida pela hipóxia. Assim, uma
exposição imediata a uma baixa pressão parcial de O2 só permite melhorar a ventilação alveolar em
65%. As sensações experimentadas quando a transição para altitude elevada é demasiado rápida para
permitir a aclimatização são cansaço, cefaleias, tonturas e náuseas. Os sintomas tendem a ser piores
quanto mais rápida for a subida.
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Se este indivíduo permanecer em altitude durante dois ou três dias a sua capacidade de ventilação
começa a aumentar progressivamente até atingir um novo equilíbrio; consequentemente irá melhorar
os níveis de oxigenação do sangue. Este processo denomina-se aclimatização e é devido a vários
mecanismos de compensação, alguns dos quais ocorrem rapidamente enquanto outros surgem ao
longo de semanas e até meses ou anos.
MECANISMOS DE ACLIMATIZAÇÃO
Todos estes mecanismos acabam por permitir que um indivíduo aumente a sua ventilação para
cerca de cinco vezes o normal. Melhora a oxigenação do sangue, a capacidade de permanência à
mesma altitude e permite que continue a subir. Mesmo assim, nem a pessoa melhor aclimatizada
consegue sobreviver no pico do Evereste durante muito tempo sem a ajuda de oxigénio.
BIBLIOGRAFIA
1. Berne RM, Levy MN, editors. Physiology. St Louis: Mosby, 4th edition, 1998: 572-585.
2. Guyton AG, Hall JE, editors. Textbook of Medical Physiology. Saunders, 10th edition, 2000:474-482.
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6. John B. West: Respiratory Physiology. The Essencials. Lippincott Williams&Wilkins, 6th edition, 2000.
7. Slorim N.B, Hamilton L.H. Respiratory Physiology 5Th Edition, CV Mosby Co. 1987
9. Agamemnon Despopoulos, Stefan Silbernagl. Color Atlas of Physiology. 4Th Edition, Thieme 1991.
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↓ PO2 Inspirado
↓ PO2 Alveolar
↓ PO2 Arterial
Quimiorreceptores Periféricos
↑ Impulsos Aferentes
Músculos Respiratórios
↑ Contracções
↑ Ventilação
FIG. – 15-29
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Inspiração de uma
mistura de ar com CO2
↑ PCO2 Alveolar
↑ PCO2 Arterial
↑ PCO2 do LCR
↑ [H ] Arterial
+
↑ [H ] do LCR
+
Quimiorreceptores Quimiorreceptores
Periféricos Centrais
↑ Impulsos Aferentes ↑ Impulsos Aferentes
Músculos Respiratórios
↑ Contracções
↑ Ventilação
Retorno PCO2
do LCR
+
Retorno [H ] +
Retorno [H ] do
Arterial LCR
FIG. – 15-31
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