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Dezembro. Calor. Nenhum motivo pra festa.

Naquela noite Carlos estava em sua casa, entediado, o que existe de tão
especial no dia 24? Ele não podia entender. Ele não podia entender ninguém,
ninguém podia entender ele.

This is my december
this is my time of the year
this is my december
this is all so clear - Ele escutava.

Ele estava na dele. As pessoas tinham com o que se importar, com quem se
importar. Ele se importava por não ter com o que se importar.

Esse é o dezembro dele. No Brasil não neva. Na verdade no hemisfério sul


dezembro é epoca de verão, calor. Mas quando começaram os fogos de final
de ano ele cobriu sua cabeça com o cobertor. Ele sentia frio.
Ele não era capaz de se iludir. Ele sabia que o próximo ano ia ser só mais um
ano da vida dele que ele ia disperdiçar. Marcos era ateu. Doía quando ele
pensava q estava disperdiçando sua vida. Mas ele não era capaz de se iludir.
Algo estava errado. Tudo estava errado. Porém ele era fraco, ele prefere
esperar a morte chegar silenciosamente, ele odeia gente dramatica, ele
odeia gente que se exibe, apesar de isso ser a síntese dele.

Janeiro. Férias. Tédio. Palavras que dificilmente conseguem se separar na


mente de Carlos.
Carlos. "Decisões que você faz podem te deixar vazio". Ele adorava aquela
música. Ele não podia ver que ele tinha feito a decisão errada. Ele não podia
ver que ele tinha feito a decisão errada?
Ele assiste TV, ele vê televisão. Todo dia a mesma coisa, repetição, é disso
que eles vivem. A cópia da cópia da cópia. É assim que eles querem que
Carlos seja, mas ele não aceita isso. Ele quer ser livre pra ser ele mesmo.
Mas quem ele é? É dificil ser alguém, quando não se segue um padrão. É
dificil se encontrar, quando não se sabe pra onde quer ir. É dificil se
conhecer.
Ele queria conhecer o mundo mas ele não pode. Ele é do tipo de pessoa que
se acomoda fácil, ele é do tipo de pessoa que precisa de alguém pra mostrar
os caminhos pra ele. Ele já tem 17, velho de mais pra ter alguém pra mostar
o caminho pra ele, novo de mais pra ir procurar seu caminho sozinho. Ele
sabe esperar. Ele não tem medo de andar sozinho. Ele só lamenta o tempo
perdido. Ele tem medo de perder todo o tempo. Tic tac, um dia a bomba
relógio explode. Ele não quer ser coadjuvante, ele quer ser protagonista.
Todo mundo quer. Mas ele não quer ser feito o galã, o mocinho. Ele não quer
ser perfeito, ele quer ser ele, mas quem ele é? Ele sente tédio. Férias? E esse
é seu janeiro.

Fevereiro, tem carnaval. Tem carnaval. Acho que vocês ja conhecem Carlos.
Ele queria ter algum bom filme pra assistir, mas depois de dois
mesestrnacado em casa ja não existe muita coisa pra se assistir. Ele quase
fica feliz quando volta pra escola. Ele odeia aquele lugar, ele odeia os
professores, ele odeia o que querem que ele aprenda, ele odeia os sorrisos
falsos, ele odeia as conversas sem sentido, ele odeia o sistema. Mas ele ama
ter o que odiar, ele ama fazer nada porque ele quer, ele ama sentir que está
escolhendo aquilo. Ele ama que falem mal dele, ele se sente superior. Ele é o
cara mais inteligente da sala, ele se sente superior. Ele se encontra, ele sabe
o que ele quer ser, ele ve o que ele é. Mas quando ele percebe, ele vê que é
um lixo. Confuso. Ele quer mudar, ele quer ser mimesis. Ele quer amores
platonicos, ele quer a vida que ele vê na TV. Mas ele não é isso. Ele quer ser
o que ele é. Ele não é o tipo de pessoa que muda de opnião fácil. Confusão,
nada melhor que isso para matar o tédio. Carlos feliz. Carlos lixo. Carlos rei.
Felicidade é ter no que pensar, isso faz ele escapar da vida que ele leva, isso
faz ele esquecer como as pessoas vêm ele, lixo, ele nunca vai conseguir
mudar, é da natureza dele. Carlos pode ser definido pela sua racionalidade,
mas tem uma coisa que é maior que isso que está dentro dele, com a qual
ele convive, que o corrompe, seu ego, rei.

Eu sou um rei, eu sou rei - Ele dizia pra ele mesmo. O ego falava mais alto
que a razão. O ego controlava a razão. Ele não podia controlar. Se seu ego
tivesse um nome, esse nome seria Tyler.
Egoísta à ponto de querer mudar o mundo, só pra ele poder andar tranquilo.
Policial do BOPE. Ele quer que o mundo seja uma favela limpinha.
Seu ego alimenta a razão, a razão contem o ego. Ciclo vicioso.
No inicio está tudo bem, mas o tempo passa, e ele ve que apesar do carnaval
, fevereiro pode ser um ótimo mês.

Março. Suas tentativas de parecer um cara normal vão por agua abaixo. Não
demora muito até todos perceberem que ele é um cara estranho, ele tenta
disfarçar em vão. Você pode sentir quando alguém é egoista até pelo olhar.
Você sente isso. Gênio. Egocentrico. Anti social. Orgulhoso. Todos nós temos
o hábito de rotular, coisas, pessoas, é natural do ser humano. Mas ele não
conseguia se rotular, ele não conseguia se encaixar na sociedade, ele não
queria ser nada. Ser nada é pior do que ser lixo. Ser você mesmo é ótimo.

Ser nada não é algo legal. Você é nada. Carlos já esta cansado de pensar,
pensar de novo... É involuntário, ele não ve saída. Por um momento ele
queria ser o cara feliz da novela. Ele queria gostar da música verão, e
conversar sobre a última rodada do futebol, mas isso não seria ele. Ele é
mais fiel ao ego do que aos seus sentimentos. Ele é mais fiel ao ego do que à
razão? Ele não sabe.

Abril. Chocolate. Ele ta cansado de chocolate. Até as coisas boas em excesso


podem ficar ruins. Tudo em excesso é ruim. Ele está cansado do seu ego. Ele
sente isso em sua garganta, ele ja esta enjoado disso. Doce. Ele quer parar.
Ele quer mudar. O doce e viciante sabor do ego, ele sente nojo disso.
Excesso. Vomito. Ele joga pra fora, ele muda. Troca o chocolate pela bebida,
confiança, não é tão doce, mas é mágica. Ela faz as coisas acontecerem, ele
muda as coisas, Carlos se encontrou. Agora Carlos é rei. Se sente bem como
nunca. Todos concordam com ele.

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