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Atividade de leitura

Para você refletir!

Os contos populares são narrativas de tradição oral que expressam costumes, ideias e julgamentos de
um povo ou de determinada cultura.
Uma característica frequente nos contos populares é a presença de seres com poderes sobrenaturais,
palavras mágicas, feitiços, encantos e crendices. Leia o texto a seguir e confira!

Grande abraço das prós!

Texto 1:

Um encontro fantástico
Todos os anos eles se reuniam na floresta, à beira de um rio, para ver a quantas andava a sua fama.
Eram criaturas fantásticas e cada uma vinha de um canto do Brasil. O Saci-Pererê chegou primeiro.
Moleque pretinho, de uma perna só, barrete vermelho na cabeça, veio manquitolando, sentou-se numa
pedra e acendeu seu cachimbo. Logo apontou no céu a Serpente Emplumada e aterrissou aos seus pés. Do
meio das folhagens, saltou o Lobisomem, a cara toda peluda, os dentes afiados, enormes. Não tardou, o
tropel de um cavalo anunciou o Negrinho do Pastoreio montado em pelo no seu baio.
– Só falta o Boto – disse o Saci, impaciente.
– Se tivesse alguma moça aqui, ele já teria chegado para seduzi-la – comentou a Serpente Emplumada.
– Também acho – concordou o Lobisomem. – Só que eu já a teria apavorado.
Ouviram nesse instante um rumor à margem do rio. Era o Boto saindo das águas na forma de um belo
rapaz.
– Agora estamos todos – disse o Negrinho do Pastoreio.
– E então? – perguntou o Boto, saudando o grupo. – Como estão as coisas?
– Difíceis – respondeu o Saci e soltou uma baforada. – Não assustei muita gente nessa temporada.
– Eu também não – emendou a Serpente Emplumada. – Parece que as pessoas lá no Nordeste não têm
mais tanto medo de mim.
– Lá no Norte se dá o mesmo – disse o Boto. – Em alguns locais, ainda atraio as mulheres, mas em
outros elas nem ligam.
– Comigo acontece igual – disse o Negrinho do Pastoreio. – Vivo a achar coisas que as pessoas perdem
no Sul. Mas não atendi muitos pedidos esse ano.
– Seu caso é diferente – disse o Lobisomem. – Você não é assustador como eu, o Saci e a Serpente
Emplumada. Você é um herói.
– Mas a dificuldade é a mesma – discordou o Negrinho do Pastoreio.
– Acho que é a concorrência – disse o Boto. – Andam aparecendo muitos heróis e vilões novos.
– Pois é – resmungou a Serpente Emplumada. – Até bruxas andam importando. Tem monstros demais
por aí...
– São todos produzidos por homens de negócios – disse o Saci. – É moda. Vai passar...
– Espero – disse o Lobisomem. – Bons aqueles tempos em que eu reinava no país inteiro, não só no
cerrado.
– A diferença é que somos autênticos – disse o Negrinho do Pastoreio. – Nós nascemos do povo.
– É verdade – disse o Boto. – Mas temos de refrescar a sua memória.
– Se pegarmos no pé de uns escritores, a coisa pode melhorar – disse a Serpente Emplumada.
– Eu conheço um – disse o Saci. – Vamos juntos atrás dele! – E foi o primeiro a se mandar, a mil por
hora, em uma perna só.

João Anzanello Carrascoza.


In revista Nova Escola. Caderno de atividades. São Paulo, Abril, março de 2001.
Glossário:

Manquitolando: andar mancando.


Baio: cavalo de pelo castanho com crina e extremidades pretas.
Cerrado: formação vegetal típica do planalto central brasileiro, constituída por gramíneas e árvores de
troncos retorcidos.
Autênticos: verdadeiros, legítimos.

Questão 01

Leia o verbete abaixo:

Fantástico – adj. S. m. 1. Que ou aquilo que só existe na imaginação, na fantasia. 2. Que tem caráter
caprichoso, extravagante. 3. Que é fora do comum; extraordinário, prodigioso. [...]
(Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Editora Objetiva, 2009, 1ª edição).

Quais os sentidos podemos atribuir à palavra fantástico, no título do texto? Justifique.


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Questão 02

Sobre os elementos da narrativa, responda:

a) O conto lido apresenta um tempo:

( ) determinado

( ) indeterminado

b) Transcreva do texto uma expressão de tempo que comprove sua resposta anterior.

c) Quem são as personagens da história lida? Caracterize-as a partir de sua leitura do texto.
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d) Onde os fatos aconteceram?

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Questão 03

“Todos os anos eles se reuniam na floresta, à beira de um rio, para ver a quantas andava a sua fama.”

a) Atribua um sentido à frase destacada:

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b) Escreva como cada personagem chegou à conclusão acima:

Lobisomem
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Negrinho
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Boto
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Questão 04

O Saci afirma que os novos heróis são produzidos por “homens de negócios”. A quem ele faz referência?

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Questão 05

Qual é a defesa apresentada pelas criaturas fantásticas brasileiras para confirmar o seu valor?
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Agora leia o texto a seguir:

Texto 2:

Lobisomem
O lobisomem é um ser fantástico assustador que, como o nome indica, é meio lobo, meio homem.
Durante os dias da semana é um homem comum, magro, alto, de pele macilenta, com um olhar
melancólico. Normalmente afável e calmo, de uma hora para outra pode tornar-se irritadiço. De vez em
quando dá longos suspiros como se fossem uivos silenciosos. E às sextas-feiras, precisamente à meia-noi-
te, esse homem se transforma. Adquire características de lobo: as orelhas crescem, surgem pelos espessos
no rosto e no corpo, a boca se escancara mostrando dentes afilados. As mãos mais parecem patas ou
garras. Torna-se então perigoso para os outros animais, sobretudo para o homem.
É difícil saber de onde o lobisomem é originário. O maior estudioso dos seres fantásticos do Brasil, o
folclorista Câmara Cascudo, afirma que se trata de um bicho universal, encontrável em todos os países. E
em cada um ele recebe um nome diferente: licantropo (na Grécia), versiopélio (em Roma), volkdlack (nos
países eslavos), obototen (na Rússia), hamramr (nos países nórdicos), loup-garou (na França)... Os nossos
caboclos dizem "lobisome" e têm muito medo dele.
Sexta-feira, da meia-noite às duas da manhã, o lobisomem sai numa corrida barulhenta e atropelada
para percorrer ou sete cemitérios, ou sete outeiros, ou sete encruzilhadas, ou sete vilas. Nas vilas, sítios e
fazendas por onde passa, os moradores rezam e atiçam os cães para persegui-lo, para afugentá-lo. Perto
das casas plantam arruda e alecrim. Percorridos os sete lugares, ele retorna ao local de partida ― onde há
uma umburana, árvore frondosa na qual esconde sua roupa ― e volta à forma humana.
Diz a lenda que o lobisomem é o filho homem que nasce depois de sete filhas mulheres e só começa
a se transformar a partir dos treze anos de idade. Trata-se de uma sina, de um triste destino. Mas que pode
ser "curado", desencantado. Para tanto, basta um ferimento, ainda que pequeno, que sangre, ou um tiro de
bala untada em vela que ardeu numa missa.
Contam que em Lambari, perto do Porto Martins, um casal teve um filho homem depois de já ter sete
filhas mulheres. O menino estava predestinado a ser um lobisomem. Seus pais rezavam todas as noites
para que esse destino não se cumprisse. Mas na noite em que fez treze anos ele saiu correndo até uma
umburana, em frente de sua casa, estrebuchou e virou lobisomem. Já estava pronto para percorrer sete
vilas quando ouviu uma algazarra. Eram seus colegas de classe que estavam vindo para fazer-lhe uma
festa de aniversário, de surpresa.
Quando viram a fera, saíram em disparada. Menos uma menina de nome Mariza, que, além de não
acreditar em lobisomem, usava óculos por ser muito míope. Na correria, um colega derrubou seus óculos no
chão. Sem enxergar direito, Mariza foi em frente, carregando o bolo de aniversário e uma faca para cortá-lo.
O lobisomem avançou. Mariza, vendo sem nitidez um vulto que avançava sobre o bolo, cutucou-o, pen-
sando que fosse um convidado guloso. Gritou:
— Sai pra lá e espera! Primeiro o aniversariante.
Ao cutucar com a faca, feriu a pata do lobisomem, que começou a sangrar. E a fera, na mesma hora,
se transformou novamente no menino, que se apressou em cortar o bolo. Enquanto isso a turma voltava
para cantar o "Parabéns a você".
O menino cresceu normal e nunca mais se transformou em lobisomem. Terminado o colégio, montou
uma doceria chamada Ao bolo do lobo, que até hoje existe em Lambari. Mariza formou-se em História e
tornou-se professora. Diz a seus alunos que essa história de lobisomem é bobagem, que nunca viu
nenhum. A propósito, gosta de citar o filósofo Hobbes, para quem o verdadeiro lobo do homem é o próprio
homem.

Samir Meserani. Os incríveis seres fantásticos.


São Paulo, FTD, 1993.

* Thomas Hobbes, filósofo inglês (1588-1679), afirmava que os seres humanos são todos iguais e
têm os mesmos direitos. Se não houver respeito em relação à liberdade de cada pessoa, passa-se a
ter um estado de guerra, ou seja, o homem se comporta como se fosse “o lobo do homem.”

Glossário:

Macilenta: pálida.
Afável: educado, delicado.
Outeiros: montes.
Nitidez: clareza.
A propósito: por falar nisso.

Questão 06

Após a leitura dos textos “Um encontro fantástico” e “Lobisomem”, podemos afirmar que eles têm a mesma
função? Justifique sua resposta.

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Questão 07

“... o folclorista Câmara Cascudo afirma que se trata de um bicho universal, encontrável em todos os
países.” Por que o lobisomem seria um “bicho universal”?

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Questão 08

“Os nossos caboclos dizem “lobisome” e têm muito medo dele.”

a) A palavra destacada confirma que no Brasil ocorrem variações no uso da língua portuguesa? Justifique a
sua resposta.

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b) Que variedade linguística é representada pela palavra destacada?

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