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INSTITUTO POLITÉCNICO - IPUC

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

(Frankipile Australia Pty Ltd – GeoEng 2000)

FUNDAMENTOS DE MECÂNICA DOS SOLOS

IDENTIFICAÇÃO e CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS


INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

COMPACTAÇÃO DOS SOLOS

HIDRÁULICA DOS SOLOS: CAPILARIDADE,


PERMEABILIDADE e PERCOLAÇÃO.

DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NO SUBSOLO

RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO UNIDIRECIONAL

Belo Horizonte, 2o semestre de 2010.

(15a edição)

1
Apresentação
O presente trabalho de compilação tem por objetivo orientar os alunos no estudo dos solos, levando-os a
conhecê-los sob o interesse específico da Engenharia Civil, qual seja o de comporem ou interagirem com as
obras objetos dela. O conteúdo parte da classificação dos solos, passa pelas principais propriedades mecânicas
desses, até alcançar aplicações práticas como estabilização de taludes.
Este estudo dos solos prende-se ao aspecto essencialmente geotécnico, ou seja, direcionado às aplicações da
Engenharia Civil, tais como fundações (particularmente as prediais), muros de arrimo, escavações, taludes,
aterros em geral etc. Enquanto na disciplina Materiais de Construção III o enfoque era o solo como material
de construção (abordando caracterização, identificação de jazidas, amostras deformadas, material amolgado,
estabilizado, compactado etc.), em Fundamentos da Mecânica dos Solos já abrange também o solo nas
condições naturais. Para efeitos didáticos, o comportamento mecânico dos solos perante as obras correntes de
Engenharia Civil, é analisado basicamente segundo três principais propriedades interativas, quais sejam a
permeabilidade, a resistência ao cisalhamento e a compressibilidade, objetivando-se alcançar ao final, uma
visão sistêmica do assunto. Especial importância é atribuída à relação tensão "versus" deformação dos solos,
frente à condição limite de ruptura. Os princípios teóricos expostos e as respectivas aplicações práticas
poderão ser acompanhados por experiências em laboratório e eventualmente, verificações de campo, nas
visitas a obras. A boa assimilação da disciplina exige razoável embasamento matemático, bem como de
Mecânica, Fenômenos de Transporte, Hidráulica e Resistência dos Materiais.
A abordagem adotada é a da Mecânica dos Solos moderna, a partir da sistematização dos conhecimentos
creditada a KARL TERZAGHI. Desta forma, pretende-se apresentar aos estudantes os correspondentes
“ensinamentos organizadores”, ou seja, os fundamentos tidos como mais bem consolidados, aceitos e
difundidos da referida técnica no contexto mundial, ainda que sob um olhar crítico e confrontado com a nossa
realidade próxima. Enfim, visa-se contribuir na habilitação dos futuros Engenheiros nas atribuições que lhe
são inerentes, bem como propiciar-lhes condições de prosseguir seus estudos da própria graduação - no
mesmo ramo ou não - e em níveis mais avançados, valendo-se da bibliografia indicada.
Na oportunidade, não custa salientar que a Matemática - juntamente com a Física - constitui o mais
importante embasamento teórico da Engenharia. Ela exerce papel “estruturante do pensamento”, promove
o desenvolvimento do raciocínio lógico e proporciona ao estudante competências e habilidades
indispensáveis aos estudos posteriores. Portanto, ela permeia todo o curso e referir-se apenas a alguns de
seus tópicos pode significar uma visão compartimentada, bitolada, limitante e empobrecedora das
ciências da Engenharia. Não obstante, vale destacar alguns assuntos de aplicação mais explícita e
rotineira em Mecânica dos Solos, com os quais o aluno deve estar “em dia”, para um melhor
aproveitamento da matéria:
- Sistema Legal de unidades de medidas,
- Elementos de geometria plana,
- Funções exponenciais e logarítmicas,
- Funções trigonométricas,
- Soluções de equações algébricas,
- Derivadas. Integrais,
- Matrizes, determinantes (resolução de um sistema de equações lineares com o auxílio de matrizes),
- Elementos de Geometria Analítica Plana. Cônicas (circunferência, elipse, parábola, hipérbole);
- Cálculo Numérico,
- Regressão linear simples. Ogiva.
Bons estudos !
Prof. MARCUS SOARES NUNES

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BIBLIOGRAFIA NACIONAL (e traduções)
Em ordem cronológica

- Mecânica dos Solos – ROBERT F. CRAIG. 7ª ed., LTC Editora / GEN, RJ, 2007.
- Fundamentos de Engenharia Geotécnica – BRAJA M. DAS. Tradução da 6ª edição norte-americana. Thomson
Learning. SP, 2007.
- Curso Básico de Mecânica dos Solos – Com Exercícios Resolvidos – CARLOS DE SOUSA PINTO. 3ª edição.
Oficina de Textos – SP, 2006.
- Obras de Terra – Curso Básico de Geotecnia – FAIÇAL MASSAD. Oficina de Textos. SP, 2003.
- Fundações – Teoria e Prática – WALDEMAR HACHICH e outros.Editora PINI Ltda. SP, 1996.
- Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos – J. A. R. ORTIGÃO. Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A. RJ, 1995.
- Mecânica dos Solos e suas aplicações - HOMERO PINTO CAPUTO. Vol. 1: Fundamentos (6ª ed., RJ 1988),
vol.2: Fundações e Obras de Terra (6ª ed., RJ 1987) e vol.3: Exercícios (4ª ed., RJ 1987) Livros Técnicos e
Científicos Editora S.A.
- Propriedades Mecânicas dos Solos – Uma introdução ao projeto de fundações – FERNANDO EMMANUEL
BARATA - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. RJ, 1984.
- Fundações, Estruturas de Arrimo e Obras de Terra – GREGORY P. TSCHEBOTARIOFF. Tradução de EDA
FREITAS DE QUADROS - Editora McGraw-Hill do Brasil. SP, 1978.
- Introdução à Mecânica dos Solos – MILTON VARGAS. McGraw-Hill do Brasil / Editora da Universidade de São
Paulo. SP, 1977.
- Mecânica dos Solos na prática da engenharia – K. TERZAGHI & R. B. PECK Tradução de A. J. DA COSTA
NUNES – Ao Livro Técnico, RJ 1962.
- Solos e Rochas – Revista Brasileira de Geotecnia – ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica) & ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia). Desde Janeiro de 1978.

Normas da ABNT / INMETRO:


- NBR 6497 - Levantamento geotécnico
- NBR 6502 - Rochas e Solos
- NBR 7250 - Identificação e descrição de amostras de solos obtidas em sondagens de simples reconhecimento dos
solos.
- NBR 6484 - Execução de sondagens de simples reconhecimento dos solos
- NBR 9303 - Sondagem a trado.
- NBR 9604 - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo com retirada de amostras deformadas e
indeformadas.
- NBR 6457 - Amostras de solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
- NBR 6508 - Grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm - determinação da massa específica
- NBR 7181 - Solo - análise granulométrica
- NBR 7180 - Solo - determinação do Limite de Plasticidade
- NBR 6459 - Solo - determinação do Limite de Liquidez
- NBR 7182 - Solo - Ensaio de Compactação
- NBR 5681 - Controle tecnológico da execução de aterros em obras de edificações

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Disciplinas do currículo 706/708 do CEC PMG N vinculadas à área de Geotecnia:
Materiais de Construção III (3º per., 32 h-a teo.): Origem e formação dos solos. Solos residuais e
sedimentares. Índices físicos. Caracterização do solo. Estabilização do solo. Aplicações do solo como
material de construção.
Resistência dos Materiais I (4º per., 32 h-a teo. + 16 h-a lab.): Conceito de esforços solicitantes.
Conceito de tensão e de deformações axiais e angulares. Tração, compressão e cisalhamento. Diagrama
tensão-deformação. Lei de Hooke. Efeito Poisson. Lei de Hooke generalizada.
Geotécnica Viária (4º per., 32 h-a teo., pré-req. MC III): Estruturas geológicas principais, águas
subterrâneas e superficiais. Aplicação da geologia em obras viárias. Diretrizes para estudos geotécnicos
de projetos viários. Estabilidade de aterros e cortes. Aterros sobre solos moles.
Laboratório de Pavimentação (4º per., 48 h-a teo., 16 h-a lab., pré-req. MC III): Caracterização de
solos através de ensaios geotécnicos. Controle de compactação de solos. Aplicação dos resultados dos
ensaios nos estudos geotécnicos de projeto. Caracterização de materiais betuminosos através de ensaios
normalizados. Metodologia de dosagem de misturas. Critérios para controle tecnológico de revestimentos
betuminosos. Interpretação de resultados dos ensaios de materiais e sua aplicação em projetos de
engenharia.
Fundamentos de Mecânica dos Solos (5º per., 64 h-a teo.): Identificação e classificação dos solos.
Compactação dos solos. Hidráulica dos solos. Capilaridade, permeabilidade e percolação. Distribuição de
tensões no subsolo. Resistência ao cisalhamento. Compressibilidade e adensamento.
Ensaios de Laboratório e de Campo (5º per., 32 h-a teo. + 32 h-a lab.): Prospeção do subsolo.
Preparação de amostras para ensaios de caracterização e especiais. Ensaios de caracterização. Ensaios
especiais: permeabilidade à carga constante e à carga variável, adensamento edométrico, cisalhamento
direto, compressão simples, compressão triaxial - Q, R e S. Controle de compactação. Ensaios
penetrométrico, pressiométrico e dilatométrico.
Estruturas de Fundações e Contenções (6º per., 64 h-a teo., pré-req. FMS): Tipos de fundações. Prova
de carga direta. Fundações rasas e profundas: dimensionamento (detalhes). Tipos de estruturas de
contenção. Barragens de terra e enrocamento: fatores condicionantes de projeto, estudo de empréstimo,
compactação, análise de estabilidade e fundações. Aplicação de instrumentação em obras de terra.
Tópicos Especiais em Mecânica dos Solos (6º per., 64 h-a teo. , pré-req. FMS): Capacidade de carga de
fundações rasas e profundas. Dimensionamento geotécnico de fundações. Rebaixamento de lençol de
água: dimensionamento e execução. Empuxos. Escavações e escoramentos. Projeto de aterros e cortes.
Geotecnia Ambiental (7º per., 96 h-a teo.): Mecanismos de movimentação de massas. Estabilidade de
taludes (corte e aterro) e encostas. Aterros sanitários. Disposição de resíduos, rejeitos e estéreis.
Aplicações de geossintéticos em geotecnia ambiental. Erosão. Análise-diagnóstico de problemas
ambientais. Recuperação de áreas degradadas. Aspectos básicos da legislação ambiental.

Tecnologia das Construções (9º per., 64 h-a teo. , pré-req. MC III): Conceitos básicos de construção e
sistemas construtivos. Implantação de obras, execução e acompanhamento de fundações, contenções,
estruturas de concreto e vedações. Revestimentos verticais, horizontais e acabamentos. Equipamentos e
ferramentas utilizados em edificações. Noções gerais sobre funcionamento dos equipamentos, custos
horários e locação. Produtividade dos equipamentos e dimensionamento.

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
SIMBOLO SIGNIFICADO(S)
Área
Grau de Aeração
Atividade coloidal (de SKEMPTON)
A
Linha “A” do Gráfico de Plasticidade de CASAGRANDE
Área da seção transversal da proveta
Designação principal do grupo de solo na classificação HRB/AASHTO
AASHTO “American Association of State Highway and Transportation Officials”
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AC “Airfield Classification System”
ASTM “American Society for Testing Materials”
Área da seção transversal da bureta (tubo de carga do permeâmetro)
Termo da fórmula do Índice de Grupo
Distância entre duas linhas de fluxo
a
Dimensão linear (comprimento ou largura)
Subgrupo do grupo A-1 do método HRB
Atto (10-18)
av Coeficiente de compressibilidade
Termo da Equação de STOKES, função de η, γg, γa (CAPUTO: A)
B
Largura
BPR “Bureau of Public Road”
BR “Bureau of Reclamation” (Departamento de Recuperação)
Termo da fórmula do Índice de Grupo
b Subgrupo do grupo A-1 do método HRB
Dimensão linear horizontal (comprimento ou largura)
Argila (“clay”)
Teor de argila
C Correção (da leitura do densímetro)
Constante empírica da fórmula de HAZEN (tanto a de k quanto a de hc)
Centro do círculo de MOHR
CBR “California Bearing Ratio” (ou ISC)
CC Carga constante (permeâmetro)
CCR Concreto Compactado a Rolo (“Roller Compacted Concrete”)
CD Ensaio triaxial adensado-drenado (“consolidated-drained”)
CP Corpo-de-prova
“Cone Penetration Test” - Ensaio de penetração dinâmica ou “diep
CPT
sondering”
CPTu “Piezocone Penetration Test”
CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CS Coeficiente de segurança (ou FS, fator de segurança)
CU Ensaio triaxial adensado-não drenado (“consolidated-undrained”)
CV Carga variável (permeâmetro)
Coeficiente de curvatura (ou Cz)
Cc
Índice de Compressão (ou K)
Ce Índice de expansão (ou Cs)
Cr Índice de recompressão

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Índice de expansão (ou Ce) ou descarregamento ou descompressão ou
Cs
inchamento
Cu Coeficiente de Uniformidade (ou D, desuniformidade)
Coeficiente de adensamento
Cv
Coeficiente de viscosidade
Coesão total
Coeficiente
c
Termo da fórmula do Índice de Grupo
Centi (10-2)
c` Coesão efetiva
D Coeficiente de Desuniformidade (ou Cu, de Uniformidade)
DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes
DPL Penetrômetro Dinâmico Ligeiro
Correção de L (leitura do densímetro) devido ao defloculante
Diâmetro (do CP)
Distância
Diferencial
d
Dia
Deci (10-1)
Espessura de camada
Termo da fórmula do Índice de Grupo
da Deca (101)
d ef. Diâmetro efetivo (ou d10)
dyn Dina (=10-5 N)
d10, d30, d60 Diâmetro correspondente a 10, 30 ou 60% que passa
Energia de compactação
Empuxo (de ARQUIMEDES)
E Módulo de Elasticidade
Módulo de deformabilidade (ou deformação)
Exa (1018)
EA Equivalente de Areia
EC Energia Cinética
Ef Eficiência da compactação
Índice de vazios (ou ε)
e Espessura
Base natural de logaritmo = 2,718281828459045235360287...
eo Índice de vazios original, natural (enat.), inicial ou na tensão σ’i
ei Índice de vazios num determinado instante
ef Índice de vazios final
enat. Índice de vazios natural (ou eo)
Fator (ou Relação) de forma (Nf / Nd) da rede de fluxo
F
Dimensão de força
Fator de conversão (ou de “correção”)
Fc
Força geradora da tensão superficial
FS Fator de segurança (ou CS, coeficiente de segurança)
FHWA “Federal Highway Administration”

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Porcentagem de empolamento
Coeficiente de atrito (interno, no caso dos solos)
f
Função
Femto (10-15)
Grau de Saturação (ou S)
Pedregulho (“gravel”)
G
Densidade (relativa), ou δ
Giga (109)
GC Grau de Compacidade
Gc Grau de Compactação
Gs Grau de sensibilidade ou sensitividade (ou Is, índice de estrutura)
Aceleração da gravidade
g
Grama
Altura
Carga hidráulica total
H
Horizontal
Alta (“high”) compressibilidade
Hd Altura de drenagem
Hf Altura final (ou H1) no permeâmetro de carga variável
Ho Altura inicial (ou Hi) no permeâmetro de carga variável
H1 Altura final (ou Hf) no permeâmetro de carga variável
Hq Altura de queda
HRB “Highway Research Board”
Hs Altura de sólidos (ou dos grãos)
Hv Altura de vazios
Teor de umidade (ou w)
h Hora
Hecto (102)
hc Altura de ascensão capilar
hot Umidade ótima
I Fator de influência
IPR Instituto de Pesquisas Rodoviárias
IC Índice de Consistência (ou Ic)
Ic Índice de Consistência (ou IC)
IF Índice de Fluidez (ou de Fluência)
IG Índice de Grupo
IP Índice de Plasticidade
ISC Índice de Suporte Califórnia (ou CBR)
Gradiente hidráulico (ou J )
i Unidade imaginária
Subscrito significando condição num determinado instante
ic Gradiente hidráulico crítico
Força de percolação
J
Joule (Nm)
J Gradiente Hidráulico (ou i)

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
j Pressão de percolação
Constante da prensa CBR ou do conjunto dinamométrico
Índice de Compressão (ou Cc)
K
Coeficiente de tensão lateral
Kelvin
Ka Coeficiente de empuxo ativo
Kp Coeficiente de empuxo passivo
Ko Coeficiente de empuxo em repouso
Coeficiente de permeabilidade ou Condutividade hidráulica
Termo que multiplicado pela leitura do densímetro fornece % ≤ Ø
k
Quilo (103)
Constante
Coeficientes equivalentes de permeabilidade em terrenos estratificados, na
kh , kv
direção horizontal (h) ou vertical (v)
kp Coeficiente de percolação
Leitura do densímetro
Leitura do extensômetro
Comprimento
L
Altura do CP
Dimensão linear
Baixa (“low”) compressibilidade
LC (ou wS) Limite de Contração
LL (ou wL) Limite de Liquidez
LP (ou wP) Limite de Plasticidade
ℓ (ele Litro
manuscrito)
log Logaritmo vulgar, decimal ou de BRIGGS
ln Logaritmo neperiano, natural ou hiperbólico
Mega (106)
M Dimensão de massa
Silte (“mo”)
MPU Movimento Permanente Uniforme
MT Ministério dos Transportes
Correção de L (leitura do densímetro) devida ao menisco
Massa
m Metro
Mili (10-3)
Termo da fórmula de NEWMARK
mv Coeficiente de variação volumétrica
Número de camadas
Índice SPT
N Newton (kg.m/s2)
Número
Força normal
N Número de golpes médio, do relatório de sondagem SPT
NA Nível de água

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Normalmente adensado (OCR = 1)
NBR Norma Brasileira aprovada pela ABNT
Nd Número de quedas de potencial (“Number of equipotential drops”)
Nf Número de canais de fluxo (“Number of flow channels”)
NL Não líquido
NP Não plástico
Np Número de passadas
NT Nível do terreno
Nϕ Valor de fluência (“flow factor”)
Porosidade
Expoente empírico de TALBOT
Número de camadas drenantes
n Número de golpes (no LL e na compactação PROCTOR)
Coeficiente de restituição elástica na teoria do choque de NEWTON
Termo da fórmula de NEWMARK
Nano (10-9)
O Orgânico
OCR “Over consolidation ratio” (ou RSA ou RPA) = σ`a / σ`i
Peso
Peso do solo úmido (ou Ph ou Pt)
Peso passado (no ensaio de granulometria)
P Ponto qualquer
Poise
Mal (“poorly”) graduado
Peta (1015)
PA Pré-adensado (OCR > 1)
Peso de água (ou Pw)
Pa
Pascal
Ps Peso de sólidos ou dos grãos ou do solo seco
Ph Peso do solo úmido (ou P ou Pt)
Psat Peso do solo saturado
Psub Peso do solo submerso
Pw Peso de água (ou Pa)
Pressão (ou tensão) de pré-adensamento ou de sobreadensamento ou de pré-
PPA
consolidação (ou σ`a)
PPM Plano Principal Maior
PI Proctor intermediário
PM Proctor modificado
PMT Ensaio pressiométrico
PN Proctor normal
PRA “Public Road Administration”
Turfa (“peat”)
Pt
Peso do solo úmido (ou Ph)
PWP Poro-pressão (“pore-water pressure”)
P4 Porcentagem que passa na peneira número 4

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
P10 Porcentagem que passa na peneira número 10
P40 Porcentagem que passa na peneira número 40
P200 Porcentagem que passa na peneira número 200
Pressão
p Tensão resultante da ação conjunta de σ e τ no plano
Pico (10-12)
patm. Pressão atmosférica
pc Pressão corrigida (no ensaio CBR)
pp Peso próprio
ppm Plano Principal Menor
Volume
Vazão (ou Q/t)
Q
Carga (peso, força)
Ensaio triaxial rápido (“quick”)
Q/t Vazão (ou Q)
q Vazão específica
qu Resistência à compressão simples ou não confinada (ou RCS ou Rc)
Ensaio triaxial rápido (“rapid”)
Peso retido
R
Raio
Termo da fórmula de STEINBRENNER
REL Regime de escoamento laminar (ou lamelar)
RCS Resistência à compressão simples ou não confinada (ou Rc ou q u)
Rc Resistência à compressão simples ou não confinada (ou RCS ou q u )
Rm Raio do menisco
RN Referência de nível (ou “datum” )
RPA Razão de pré-adensamento (ou OCR ou RSA) ou razão de cedência
RSA Razão de sobreadensamento (ou OCR ou RPA) ou razão de cedência
Raio (do círculo de MOHR)
r Recalque parcial (ou ρ)
Coordenada cilíndrica, polar ou esférica.
rad Radiano (1 rd = 180°/π)
Grau de saturação (ou G)
S Ensaio triaxial lento (“slow”)
Areia (“sand”)
SI Sistema Internacional de Unidades
SPT Ensaio de Penetração Padrão (“Standart Penetration Test”)
SUCS Sistema Unificado de Classificação de Solos
Superfície específica
s
Segundo
sc Sobrecarga
Temperatura
Fator tempo
T
Correção de L (leitura do densímetro) devida à temperatura
Força tangencial

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Tera (1012)
Carga transiente
Dimensão de tempo
T.E. Tensão efetiva
TRB “Transportation Research Board”
Ts Tensão superficial
T.T. Tensão total
Tempo
t
Tonelada
U Porcentagem de adensamento ou Grau de adensamento
URL Localizador Uniforme de Recursos (“Uniform Resource Locator”)
USBR “United States Bureau of Reclamation”
USP Universidade de São Paulo
UU Ensaio triaxial não adensado-não drenado (“uncons.-undrained”)
u Tensão neutra (ou sobre pressão hidrostática)
u/γa Carga piezométrica ou de pressão
uo Pressão hidrostática
Volume
V Velocidade de descarga
Vertical
Va Volume de água
Var Volume de ar
Vb Volume do bulbo do densímetro
Vp Volume da pastilha (no LC)
Vs Volume de sólidos (ou dos grãos)
VST Ensaio de palheta ou “vane test”
Vt Volume total
Vv Volume de vazios
Velocidade
v
Velocidade de sedimentação
v2/2g Carga cinética
vb Velocidade da água na bureta (ou tubo de carga) no permeâmetro CV
v Velocidade de percolação (ou v p )
vp Velocidade de percolação (ou v )
Peso
W Bem (“well”) graduado
Watt
w Teor de umidade (ou h)
x Coordenada
y Coordenada
Carga altimétrica ou geométrica ou de posição
Porcentagem de água em relação ao peso do solo úmido
Z Distância entre o centro do bulbo do densímetro e uma leitura qualquer da
sua escala.
Profundidade (ou z)

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Profundidade (ou Z)
z
Coordenada

Desvio
Diferença
Δ (delta Deslocamento
maiúscula) Incremento
Determinante da regra de CRAMER
Laplaciano ou operador de Laplace (operador diferencial de 2ª ordem)
Δe Variação do índice de vazios
Perda de carga hidráulica (entre equipotenciais adjacentes)
ΔH Deformação absoluta
Recalque total (ou recalque a tempo infinito), ou ρ∞
ΔHt Perda de carga total (montante / jusante)
Δh Desvio de umidade
ΔL Comprimento
ΔR Variação de resistência
Δt Intervalo de tempo
Δσa Diferença de tensões principais (“deviator stress”)
Δσa r Resistência à compressão
Laplaciano ou operador de LAPLACE (operador diferencial de 2ª ordem)
∇2
(ou Δ)
∑ (sigma
Somatório
maiúscula)
%P Porcentagem que passa (no ensaio de granulometria)
%R Porcentagem retida (no ensaio de granulometria)
“Versus”
×
Vezes (multiplicação)
∝ Proporcionalidade
∂ Derivada
ϕ (fi Fator de empolamento
maiúsculo) Ângulo de atrito interno total
ϕ` Ângulo de atrito interno efetivo
Diâmetro
φ (fi)
Diâmetro (equivalente) dos grãos
φ10 Diâmetro (equivalente) efetivo (ou φef.)
φ30 Diâmetro correspondente a 30% que passa
φ60 Diâmetro correspondente a 60% que passa
φef. Diâmetro (equivalente) efetivo (ou φ10 )
φmáx. Diâmetro máximo de grãos presentes no solo (da Equação de TALBOT)
π (pi) 3,141592653589793238462643...
Massa específica ou Densidade absoluta
ρ (ro)
Recalque parcial (ou r)

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS
Viscosidade cinemática [m2/s]
ν (nu)
Coeficiente de POISSON (ou η)
τ (tau) Tensão tangencial ou cisalhante
Viscosidade
η (eta)
Coeficiente de POISSON (ou ν)
Ângulo de inclinação do plano
Ângulo de contato ou de tensão capilar
α (alfa)
Ângulo de propagação ou espraiamento
Ângulo de posição
θ (teta) Ângulo de posição
β (beta) Ângulo de posição
Densidade (relativa)
δ (delta)
Recalque diferencial
Peso específico (aparente)
γ (gama)
Peso específico (aparente) úmido
γ` Peso específico (aparente) submerso (ou γsub)
γa Peso específico da água (ou γw) a uma temperatura T qualquer
γconv. Peso específico (aparente) convertido
γd Peso específico (aparente) seco (ou γs)
γg Peso específico (real) dos grãos ou dos sólidos
γh Peso específico (aparente) úmido (ou γ)
γo Peso específico da água pura a 4 graus centígrados
γs Peso específico (aparente) seco
γs, máx. Peso específico (aparente) seco máximo
γsat Peso específico (aparente) saturado
γsub Peso específico (aparente) submerso (ou γ`)
γw Peso específico da água (ou γa) a uma temperatura T qualquer
Tensão normal
σ (sigma)
Tensão total
σadm. Tensão admissível (ou Capacidade de Carga da fundação)
σ` Tensão efetiva
Tensão (ou pressão) de pré-adensamento ou de sobreadensamento ou de
σ`a
pré-consolidação (ou PPA) ou ainda, de cedência.
σc Tensão confinante
σ1 Tensão (normal) principal maior
σ3 Tensão (normal) principal menor
Deformação linear (tangencial) específica ou unitária
ε (épsilon)
Índice de vazios (ou e)
Viscosidade absoluta ou dinâmica [N.s/m2]
μ (mu)
Micro (10-6)
τr Resistência ao cisalhamento
∞ Infinito

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ÍNDICE DE SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS
DE MECÂNICA DOS SOLOS

Alfabeto grego
Maiúscula Minúscula Equivalente Nome
Α α a Alfa
Β β b Beta
Γ γ g Gama
Δ δ d Delta
Ε ε e Epsilon
Ζ ζ z Zeta
Η η e Eta
Θ θ th Teta
Ι ι i Iota
Κ κ k Kapa
Λ λ l Lambda
Μ μ m Mu
Ν ν n Nu
Ξ ξ x Csi
Ο ο o Omikron
Π π p Pi
Ρ ρ r Ro
Σ σ s Sigma
Τ τ t Tau
Υ υ y Ypsilon
Φ φ ph Fi
Χ χ ch Qui
Ψ ψ ps Psi
Ω ω o Omega

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Unidade 1
IDENTIFICAÇÃO e CLASSIFICAÇÃO de solos
O enfrentamento de praticamente todos os problemas de Engenharia Civil envolvendo solos deve partir
da identificação e/ou classificação destes, pois só assim ficaremos aptos a equacioná-los e solucioná-
los. Tal procedimento procurará enquadrar o solo numa classe com características peculiares e então
será possível prever o seu provável comportamento mecânico.
Na Engenharia Civil, classificar solos é particularmente importante nos casos de prospecção de jazidas
ou sempre que o solo é empregado como material de construção.
Frações constituintes dos solos, de acordo com a NBR 6502 da ABNT:
A distribuição granulométrica do solo (variação do tamanho dos seus grãos) influi no seu
comportamento mecânico e é uma informação importante na sua descrição.
A ABNT padronizou a seguinte Escala Granulométrica:
Argila Silte Areia fina Areia média Areia grossa Pedregulho
0,005 0,05 0,42 2 4,8 76
Diâmetro equivalente do grão (mm)
Outras designações complementares:
Pedra (-de-mão) (cobble) Matacão (boulder) Bloco de rocha
7,6 25 100
Tamanho (cm)
Identificação granulométrica dos solos
Raramente se encontra na natureza as partículas primárias do solo de modo isolado. Em geral são
encontradas agrupadas, com seus constituintes individuais independentes porém cimentadas entre si em
agregações secundárias ou torrões, por meio de ligantes orgânicos ou inorgânicos. Estes solos assim
agrupados são designados pelo nome do tipo da fração predominante seguido do nome daquele de
proporção imediatamente inferior.
A designação baseia-se nas quantidades percentuais (em peso) das frações presentes no solo, a partir de
10 %, possibilitando as seguintes combinações:
Areia Silte Argila
Areia siltosa Silte arenoso Argila arenosa
Areia argilosa Silte argiloso Argila siltosa
Areia silto-argilosa Silte areno-argiloso Argila areno-siltosa
Areia argilo-siltosa Silte argilo-arenoso Argila silto-arenosa
Caso os percentuais sejam iguais, adota-se a seguinte ordenação:
1º) argila, 2º) areia e 3º) silte.
Quando a fração comparecer com menos de 5 %, usa-se o termo “com vestígios de...” e se estiver entre
5 e 10 %, usa-se “com pouco ...”.
Se a presença de pedregulho for de 10 a 30 %, acrescenta-se “com pedregulho”; além disto, acrescenta-
se “com muito pedregulho”.
Obs.: A NBR 7250 da ABNT recomenda que não se utilize nomenclatura onde aparecem mais do que
duas frações (por exemplo: argila silto-arenosa). Porém, quando for o caso, pode-se acrescentar
“com pedregulhos”.
15
Alguns exemplos:
Argila (%) Areia (%) Silte (%) Pedregulho (%) Identificação
12 61 27 Areia silto-argilosa
22 22 56 Silte argilo-arenoso
03 39 04 54 Areia c/ vestígios de silte, argila e muito pedregulho
18 42 23 17 Areia silto-argilosa com pedregulho

Testes de identificação dos solos pela inspeção expedita


Consistem na descrição de todos os aspectos perceptíveis da amostra do solo, como a textura, a cor, o
odor (solos orgânicos), a presença de minerais evidentes etc., a partir de uma análise simples baseada
principalmente nos sentidos (visão, olfato, tato, até mesmo o paladar!) e/ou uso de instrumentos
comuns ou rudimentares (lâmina de gilete, folha de papel, água ou saliva!)... e na experiência pessoal.
Exemplo: Silte argiloso marrom escuro, com pedregulhos.
Procura-se em especial distinguir entre solos grossos e finos, ou melhor, entre solos de
comportamento argiloso ou arenoso.
¾ Teste visual (exame de granulometria)
Consiste na observação visual do tamanho, forma, cor e constituição mineralógica dos grãos do
solo. Permite distinguir entre solos grossos e finos.
¾ Teste do tato
Consiste em apertar e/ou friccionar entre os dedos, a amostra de solo: os solos “ásperos" são de
comportamento arenoso e os solos "macios" são de comportamento argiloso.
¾ Teste do corte
Consiste em cortar a amostra com uma lâmina fina e observar a superfície do corte: sendo "polida"
(ou lisa), trata-se de um solo de comportamento argiloso; sendo "fosca" (ou rugosa), trata-se de um
solo de comportamento arenoso.
¾ Teste da dilatância (ou da mobilidade da água ou ainda, da "sacudidela").
Consiste em colocar na palma da mão uma pasta de solo (em umidade escolhida) e sacudi-la
batendo leve e rapidamente uma das mãos contra a outra. A dilatância se manifesta pelo
aparecimento de água à superfície da pasta e posterior desaparecimento ao se amassar a amostra
entre os dedos: os solos de comportamento arenoso reagem sensível e prontamente ao teste,
enquanto que os de comportamento argiloso não reagem.
¾ Teste de resistência seca
Consiste em tentar desagregar (pressionando com os dedos) uma amostra seca do solo: se a
resistência for pequena, trata-se de um solo de comportamento arenoso; se for elevada, de solo de
comportamento argiloso.
¾ Teste de desagregação do solo submerso
Consiste em colocar um torrão de solo em um recipiente contendo água, sem deixar o torrão imerso
por completo: desagregação da amostra é rápida quando os solos são siltosos e lenta quando são
argilosos.
¾ Teste de sujar as mãos
Consiste em umedecer uma amostra de solo, amassá-la fazendo uma pasta e esfregá-la na palma da
mão, colocando, em seguida, sob água corrente: o solo arenoso lava-se facilmente, isto é, os grãos
de areia limpam-se rapidamente das mãos. O solo siltoso só limpa depois que bastante água correu
sobre a mão, sendo necessário sempre alguma fricção para limpeza total. Já o solo mais argiloso
oferece dificuldade de se desprender da palma da mão, porque os grãos muito finos impregnam-se
na pele, sendo necessário friccionar vigorosamente para a palma da mão se ver livre da pasta.
¾ Teste de dispersão em água
Consiste em desagregar completamente uma amostra de solo e colocar uma porção num recipiente
de vidro contendo água. Agita-se o conjunto, em seguida imobiliza-se o recipiente, deixando-o em
repouso e observa-se o tempo de deposição da maior parte das partículas do solo: os solos mais
16
arenosos assentam suas partículas em poucos segundos enquanto que os argilosos podem levar
horas.
¾ Teste de plasticidade (ou da "cobrinha")
Consiste em umedecer uma amostra de solo, manipular bastante essa massa entre os dedos e tentar
moldar com ela uma “cobrinha": se isto não for possível, o solo é arenoso. Se for possível, mas ela
se quebrar ao se tentar dobrá-la, o solo é areno-argiloso. Se a cobrinha se dobrar, mas se quebrar ao
se tentar fazer um círculo, o solo é argilo-arenoso. Se a cobrinha for dobrada em forma de círculo
sem se quebrar, o solo é argiloso.

Identificação trilinear
Consiste num diagrama triangular (um gráfico de 3 eixos) – Fig. 1.1-a, artifício atribuído a FERET, em
que cada lado corresponde à quantidade percentual (de 0 a 100) das frações areia, silte e argila contidas
no solo analisado. As 3 coordenadas (bastam duas) definem um ponto no interior do diagrama, inserido
numa área poligonal pre-delimitada empiricamente, correspondente ao tipo de solo, como no exemplo
da Fig. 1.1-b, do Bureau of Public Roads.

Fig. 1.1-a

Matriz

Fig. 1.1-b

17
Existem inúmeras versões deste tipo de diagrama. Um outro exemplo pode ser visto na Fig. 3-9 do
livro Mecânica dos Solos e suas aplicações - Vol. 1, H. P. CAPUTO – L.T.C., R.J. 88, que é a
proposta do FHWA. Você poderá encontrar outras semelhantes, em outros livros que consultar. Procure
obter pelo menos mais uma.
Segue abaixo – Fig. 1.1-c, um exemplo de outro tipo de gráfico, equivalente à Fig. 1.1-b, parecido com
o trilinear, mas na verdade é um gráfico comum (sistema cartesiano de eixos ortogonais) de dupla
entrada.

Fig. 1.1-c

Obs.: Aplica-se para φ máx. = 2 mm. A fração ARGILA % não aparece.

CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
Consiste em se efetuar ensaios de laboratório com a amostra do solo e com os resultados obtidos
enquadrá-los num critério técnico padronizado por normas, reconhecido regional, nacional ou
internacionalmente, dentro da especialidade, no caso a Engenharia Civil. Existem diversos sistemas de
classificação geotécnica, sendo os mais difundidos mundialmente – inclusive aqui no Brasil - os que
serão apresentados abaixo. Em geral os sistemas exigem dados sobre a granulometria do solo (tais
como: P4, P10, P40, P200, φ10, φ30, φ60) e plasticidade (LL e LP).
Lembre-se que:
- P4, P10, P40, P200 = Porcentagem que passa na peneira n° 4 (4,8 mm), 10 (2mm), 40 (0,42 mm) ou
200 (0,075 mm), extraídas da curva granulométrica.
- φ10, φ30, φ60 = diâmetro dos grãos correspondente a 10%, 30% e 60% que passam, também extraídos
da curva granulométrica.
- LL = Limite de Liquidez, que é o teor de umidade para o qual o sulco se fecha com 25 golpes no
Aparelho de Casagrande (concha que bate numa base dura à medida que se gira a manivela). É o
teor de umidade que separa os estados de consistência plástico e líquido.
- LP = Limite de Plasticidade, que é o teor de umidade de um bastonete de solo com 3 mm de
diâmetro e 10 cm de comprimento, o mais seco possível sem se fragmentar, ao ser rolado sobre
uma placa de vidro. É o teor de umidade que separa os estados de consistência semi-sólido e
plástico.
18
PRINCIPAIS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO GEOTÉCNICA

Sistema Rodoviário de Classificação – TRB (ou HRB / AASHTO).

O sistema original foi desenvolvido pelo “US Bureau of Public Road” (na década de 20, baseado em
trabalhos de TERZAGHI e HOGENTOGLER) e publicado pelo “US Public Roads Administration”
(atual AASHTO – “American Association of State Highway and Transportation Officials”) em 1942.
Posteriormente (1945) foi adotada, com alterações, pelo “US Highway Research Board”, que hoje é o
TRB – “Transportation Research Board”.
Assim, todas estas siglas (em negrito) são usadas para designar o método.

Divide os solos em grupos e subgrupos, conforme o quadro abaixo (Fig. 1.2):

SISTEMA RODOVIÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO TRB ( HRB / AASHTO )


Tipo de Sub- Granulometria Plasticidade
Grupo IG
material grupo P10 P40 P200 LL IP
a ≤ 50 ≤ 30 ≤ 15
A.1 ≤6
b ≤ 50 ≤ 25
A.3 > 50 ≤ 10 NP
0
4 ≤ 40
Granular ≤ 10
5 > 40
A.2 ≤ 35
6 ≤ 40
> 10 ≤ 4
7 > 40
A.4 ≤ 40 ≤ 8
≤ 10
A.5 > 40 ≤ 12
Silto- > 35
argiloso
A.6 ≤ 40 > 10 ≤ 16
5 10 < IP ≤ (LL - 30)
A.7 > 40 10 < IP > (LL - 30) ≤ 20
6
Cor e odor típicos, partículas fibrosas, fofo, altamente compressível,
Turfoso A.8
muito leve e inflamável quando seco, não-plástico. Testes.

Fig. 1.2

(O sistema compreendia, inicialmente, dois grupos, A e B, sendo os solos A de bom comportamento e


os B de mau comportamento. Abandonou-se o símbolo B, ficando apenas com o A, que não tem hoje
nenhum significado específico.)

IP = Índice de Plasticidade = LL – LP

NP = Não-plástico.

IG = Índice de Grupo, elemento definidor da “capacidade de suporte” do terreno de fundação do


pavimento, representado por um número inteiro variando de 0 a 20 que retrata o duplo aspecto de
plasticidade e graduação do solo. Calculado por fórmula empírica, segundo método concebido por D.J.
STEELE, engenheiro do antigo “US Bureau of Public Roads”, baseada nos estudos e verificações de
materiais de subleito examinadas por diversas organizações rodoviárias. Em condições normais de boa
drenagem e forte compactação, a capacidade-suporte de um material para subleito é inversamente
proporcional ao seu Índice de Grupo, isto é, um IG = 0 representa um “bom” material e um IG = 20
representa um material “muito fraco” para subleito.

19
Geralmente os solos granulares apresentam IG menores (até 4), os siltosos valores intermediários (até
12) e os argilosos maiores (até 20).
Cálculo do IG
(a) analiticamente: IG = 0,2.a + 0,005.a.c + 0,01.b.d Eq. 1.1, onde:

a = P200 – 35 Devem variar só de 0 a 40 (se der negativo, coloque zero e se


b = P200 – 15 for maior que 40, coloque 40)

c = LL – 40 Devem variar só de 0 a 20 (se der negativo, coloque zero e se


d = I P – 10 for maior que 20, coloque 20)

P200 ≤ 15% ⇒ IG = 0

A Eq. 1.1 pode então ser apresentada da seguinte forma:

IG = (P200 - 35)[0,2 + 0,005(LL - 40)] + 0,01(P200 - 15)(IP - 10) Eq. 1.1’


0 a 40 0 a 20 0 a 40 0 a 20

(b) graficamente:
- veja a figura 13-3 do livro Mecânica dos Solos e suas aplicações - Vol. 1 - H. P. CAPUTO – L.T.C.,
R.J. 88 e também o ábaco Fig. III-24 do livro Pavimentação Rodoviária – M. L. DE SOUZA – 2a ed. –
Vol.1 – LTC IPR / DNER / MT – R.J. 80.

A classificação neste sistema é feita simplesmente enquadrando-se os dados do solo (P10, P40, P200, LL
e IP – obtidos em laboratório) no quadro da Fig. 1.2. A 1a linha de cima para baixo do quadro em que
todos os dados se encaixarem, fornece a classificação – grupo, subgrupo (se houver) e sempre se
indica, entre parênteses, o valor do IG. Exemplos: A.1-b (0), A.5(10).
O livro Prospecção geotécnica do subsolo de M. J. C. P. A. DE LIMA - L.T.C., R.J. 79, apresenta, na
Fig. 3.2 – pág. 15, um relatório de sondagem onde os solos foram classificados por estes sistema.[Há
um erro na designação de um dos solos (encontre-o) e faltam, em todas, a indicação dos IG`s].
Os campos em branco nas colunas Granulometria e Plasticidade significam que “qualquer valor serve”.
No caso dos solos finos (silto-argilosos, P200 > 35%) as condições de plasticidade do quadro podem
ser representadas pelo seguinte gráfico LL “versus” IP:
70

A.6 A.7-6 Equação desta linha:


IP IP = LL - 30
A.7-5 (Eq. 1.2)

10
A.4 A.5

0 40 100 LL
Fig. 1.3 (fora de escala)

20
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO UNIFICADA – USC / ASTM.

Este sistema, chamado originalmente de sistema de classificação para aeroportos (“Airfield


Classification System” – AC) foi proposto por ARTHUR CASAGRANDE (em 1942/48) e em 1952 o
“US Bureau of Reclamation” e o Corps of Engineers of the United State Army” o apresentaram com
ligeiras modificações, como “Unified Soil Classification System” – USC, ou Sistema Unificado de
Classificação de Solos – SUCS. Foi homologado pela ASTM – “American Society for Testing
Materials”.

A Fig. 1.4, apresenta um quadro síntese que permite classificar solos por este sistema, conforme
descrição a seguir. As classificações são representadas por combinações de letras (provenientes de
termos estrangeiros), sendo que algumas se referem à designação principal do solo e outras às
designações complementares ou secundárias. São elas:
- designação principal: G = pedregulho (“gravel”) ou S = areia (“sand”)
- designação complementar: W = bem graduado (“well graded”) ou P = mal graduado (“poorly
graded”). M = silte (“mo” em sueco, já que em ingles é “silt” e o S já foi empregado para areia), C
= argila (“clay”). O = orgânico (“organic”). L = baixa (“low”) ou H = alta (“high”)
compressibilidade. Pt = turfa (“peat”).

O processo de classificação consiste no seguinte:


1) Comece pelo P200. Se ele for menor ou igual a 50 trata-se de solo grosso e então tem-se que definir
se ele é G ou S. Para isto basta verificar qual destas frações predomina no solo, calculando:
G = 100 – P4 e S = P4 – P200. O que for maior define o tipo de solo.
2) Se o P200 for menor ou igual a 5, deve-se dizer se o solo é W ou P (além de G ou S). Para isto
calculam-se os coeficientes de curvatura (Cc = φ302 / φ60.φ10) e de Uniformidade (Cu = φ60 / φ10).
Para que o solo seja W, é necessário que o Cu seja maior que 4 no caso do G e maior que 6 no caso
do S e, simultaneamente, que o Cc esteja compreendido entre 1 e 3, em ambos os casos. Caso uma
ou as duas condições não sejam atendidas, ele é P. As alternativas são, portanto: GW, GP, SW ou
SP.
3) Se o P200 estiver entre 5 e 12, o solo grosso (G ou S) recebe dupla classificação. Além de dizer se
ele é W ou P, tem-se que acrescentar se ele é M ou C. Para isto utiliza-se o Gráfico de Plasticidade
de CASAGRANDE ( Fig 1.5) ou apenas a Eq. 1.3. Se o ponto LL x IP cair acima da Linha A é C,
se cair abaixo é M. As alternativas são, portanto: GW-GC, GW-GM, GP-GC, GP-GM, SW-SC,
SW-SM, SP-SC, SP-SM.
4) Se o P200 for maior que 12 (e menor que 50), não precisa mais dizer nada sobre a granulometria,
isto é, se ele é W ou P, mas continua sendo necessário dizer se ele é M ou C. Para isto basta, do
mesmo modo anterior, usar o Gráfico de Plasticidade de CASAGRANDE (Fig 1.5). As alternativas
são: GC, GM, SC ou SM.
5) Se o P200 for maior que 50 (mas naturalmente menor que 100), ele é fino. Nestes casos basta usar o
Gráfico de Plasticidade de CASAGRANDE (Fig 1.5). A região que contiver o ponto LL x IP do
solo define a classificação. Acima da Linha A está o C. Abaixo da Linha A estão o M e o O. À
esquerda de LL = 50 está o L e à direita o H. As alternativas são, portanto: CH, CL, MH, ML,
OH e OL. Existe ainda uma região de transição, acima da Linha A, com IP entre 4 e 7, que é
CL-ML. Para distinguir entre solo M ou O, é necessário dispor de mais informações, geralmente
fornecidas pelo laboratório, do tipo: cor, odor e outras características que permitam deduzir que o
solo seja orgânico (mas não propriamente turfoso, este altamente orgânico). Um dos elementos de
diferenciação consiste em comparar os Limites de Liquidez do solo, sob o seguinte critério:
LLsec o
< 0,75 ⇒ O
LL
onde LL seco = Limite de Liquidez realizado com a amostra previamente seca em estufa.

21
Se a dúvida persistir, indique as duas classificações, assim: ML ou OL, MH ou OH; use OU e não
hífen ou barra etc.
Agora procure entender o quadro da Fig. 1.4 a partir das instruções acima.
- No Brasil não se usam 3 letras juntas, como SMW. Se for o caso, repete-se a designação principal:
SM-SW, separadas por hífen.
- Também não existe tripla classificação, como SW-SM-SC.
- Nunca se usam numa mesma classificação as letras G e S, como GS ou GM-SM.
- Para solos grossos (G, S) nunca se usam os complementos L, H ou O, como GL, SO etc.
- Observe que tanto o sistema TRB quanto o USC utilizam o percentual passado na peneira número 200
(P200) para distinguir entre solos grossos ou finos. Só que um considera 35% e o outro 50%. Assim,
podem ocorrer discrepâncias entre os dois sistemas. Verifique.
- Como decidir nos casos duvidosos:
(a) quando P200 < 50, a regra é favorecer a classificação menos plástica.
Exemplo: um pedregulho com 10% de finos, Cu = 20, Cc = 2 e IP = 6 será classificado com mais razão
como GW-GM do que GW-GC.
(b) quando P200 > 50, a regra é favorecer a classificação mais plástica.
Exemplo: um solo de granulometria fina com LL = 50 e IP = 22 será classificado com mais razão como
CH-MH que como CL-ML.
(b.1) se o ponto LL x IP cair sobre, ou praticamente sobre a Linha A ou mesmo caindo acima mas
tendo IP entre 4 e 7, deverá ser dada ao solo uma classificação intermediária adequada, tal como
CL-ML ou CH-OH.
(b.2) se o ponto LL x IP cair sobre ou praticamente sobre a linha LL = 50, deverá ser dada ao solo uma
classificação intermediária apropriada, tal como CL-CH ou ML-MH.
Não deixe de conhecer as tabelas de comparações que Liu (1967) fez entre as classificações obtidas pelos dois
sistemas e que podem ser encontradas no item 11 – pág. 71 – Cap. III do livro Pavimentação Rodoviária – M.
L. de Souza – 2a ed. – Vol.1 – LTC IPR / DNER / MT – RJ, 80 ou nas Tabelas 4.4 e 4.5 do livro de Braja M.
Das, indicado na Bibliografia.

22
SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO UNIFICADA ( USC / ASTM )
Tipo de Granulometria Plasticidade
Classificação
Material P200 (%) P4 (%) Cc, Cu IP LL
GW
≤5 GP
SW
1 ≤ Cc ≤ 3 e SP
Cu > 4 (para G) W GW – GC
Cu > 6 (para S) GW – GM

5 < P200 ≤ 12
7 < IP > 0,73(LL – 20) : C GP – GC

( 100 – P4 ) > ( P4 – P200 ) : G

( 100 – P4 ) < ( P4 – P200 ) : S


GP – GM
Fora destas faixas: P IP ≤ 0,73 (LL – 20) M SW – SC
Grosso ou IP ≤ 7 SW – SM
SP – SC
SP – SM
IP
“A”
12 < P200 ≤ 50

GC
C GM
SC
7 M SM

LL
7 < IP > 0,73(LL – 20) : C
> 50 : H CH
MH ou OH
IP ≤ 0,73 (LL – 20) M
Fino > 50 ou IP ≤ 4
CL
≤ 50 : L ML ou OL
(4 < IP ≤ 7 ) e [ IP > 0,73 (LL – 20)] : C – M CL - ML
Caracterizado pela cor e odor típicos, partículas fibrosas, fofo, altamente compressível, muito leve e
inflamável quando seco, não-plástico. Teste de perda ao fogo (rubro). Limites de consistência antes e depois
Turfoso Pt
da secagem. Segundo a NBR 6502, “são solos com grande porcentagem de partículas fibrosas de material
carbonoso ao lado de matéria orgânica no estado coloidal”.

Fig. 1.4

23
Gráfico (ou Carta) de Plasticidade de CASAGRANDE (para ser usado sempre que P200 > 5%):

IP
Limite teórico*: CH
IP = LL Equação desta linha
(denominada “Linha A”):
IP = 0,73(LL-20)
(Eq. 1.3)
CL
7
CL – ML
4 ML ou OL MH ou OH

50 LL
Fig. 1.5 (fora de escala)

* Segundo o “US Corps of Engineeres”, existe também um limite prático (“upper-limit line”), verificado para os solos naturais, dado pela
equação IP = 0,9(LL - 8).
Compare o gráfico da Fig. 1.3 com o da Fig. 1.5

Referências bibliográficas adicionais:


- DNER (atual DNIT) - “Manual de Pavimentação” – vol. 1. Edições Engenharia 16/77.
- GENE STANCATI, JOÃO BAPTISTA NOGUEIRA, ORÊNCIO MONJE VILAR - “Ensaios de Laboratório em Mecânica dos Solos”.
Departamento de Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos / USP, 1981
- SAMUEL DO CARMO LIMA - “Como Observar e Interpretar Solos”. Revista Sociedade & Natureza. Uberlândia – MG, 1994

- Item 1.4 do CRAIG.


- Capítulo 4 do BRAJA.
- Capítulo 3 do CARLOS DE SOUSA PINTO..

24
CLASSIFICAÇÃO MCT (Noções)

É uma proposta brasileira (NOGAMI e VILLIBOR, 1981) de classificação geotécnica ajustada a solos tropicais,
originalmente desenvolvida para fins rodoviários. Ela parte do princípio que os sistemas tradicionais, importados,
baseados na granulometria e características plásticas dos solos não devem ser aplicados diretamente aos solos
tropicais, pois isto leva frequentemente a resultados não condizentes com o desempenho real nas obras, no caso
de solos tipicamente tropicais, face às suas peculiaridades. A metodologia baseia-se na obtenção de propriedades
de corpos de provas de dimensões reduzidas compactados, daí a sigla MCT – Miniatura, Compactados, Tropicais.
A classificação MCT divide os solos tropicais em duas grandes classes, quais sejam, os solos de comportamento
laterítico e de comportamento não-laterítico (classe esta na qual se incluem os saprolíticos, os transportados e
outros) e então enquadra os solos tropicais em 7 grupos: NA, LA, NS`, NA`, NG` e LG`, onde L significa
laterítico, N = não-laterítico, A = areia, A` = arenoso, G`= argiloso e S´= siltoso. A separação nas duas classes
não se baseia em critérios geológicos ou pedológicos, mas sim em considerações essencialmente tecnológicas
ou geotécnicas. As propriedades dos solos utilizadas na classificação são provenientes de ensaios mecânicos
e hidráulicos simplificados, como o método de compactação mini-MCV – Moisture Condition Value,
(sem imersão / perda por imersão), expansão / contração, coeficiente de permeabilidade, coeficiente de sorção
e algumas correlações. Uma das limitações do método é a ainda baixa representatividade estatística
(“... apenas meia centena de solos típicos das rodovias do Estado de São Paulo”). Outra é não se aplicar a solos
granulares, por não serem compactáveis.

Fontes de consultas:
- “Uma nova classificação de solos para finalidades rodoviárias” – JOB SHUJI NOGAMI e DOUGLAS FADUL
VILLIBOR. Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia – COPPE/UFRJ, CNPq, ABMS.
Rio de Janeiro, 21 a 23/09/1981.
- “Classificação Geotécnica MCT para solos tropicais” – VERA M. N. COZZOLINO e JOB S.NOGAMI.
Solos e Rochas – revista brasileira de Geotecnia, vol. 16, n. 2, agosto de 1993.

25
Prática

1) O que são os “Testes de Identificação pela Inspeção Expedita dos Solos” ? Qual é seu objetivo principal?
2) Em que consiste a Identificação Trilinear dos solos?
3) Quais são as diferenças geotécnicas mais marcantes entre um solo arenoso e um argiloso?
4) Em que consiste a identificação dos solos ? Cite exemplos.
5) Descreva detalhadamente, quais procedimentos você adotaria para identificar amostras de solos no campo,
caso não pudesse contar com qualquer apoio de um laboratório no momento.
6) Como são obtidos e para que servem os Limites de ATTERBERG?
7) Qual é a importância e a utilização prática de se fazer a classificação (geotécnica) dos solos e quais são os
elementos necessários para tal ?
8) O que é e para que serve o Gráfico de Plasticidade de A. CASAGRANDE adotada no SUCS?
9) Um mesmo solo pode ser classificado como grosso pelo sistema TRB / AASHTO e fino pelo sistema
USC / ASTM? E o contrário? Por quê?
10) Pesquise e forneça o significado dos seguintes termos da Geotecnia: Solos tropicais, solos saprolíticos e solos
lateríticos. Pesquise também e apresente uma breve síntese sobre a Classificação Resiliente (Pinto, Preussler,
Medina, COPPE/UFRJ 1976).
11) Recolha com cuidado uma pequena amostra de solo; anote a localização precisa de onde foi extraída (num mapa)
e identifique-a. Faça um relatório descrevendo todos os procedimentos adotados para tal. Recorra a profissionais
mais experientes. Acondicione a amostra num saquinho plástico ou vidro de boca larga, bem fechado e etiquetado
e leve para a sala de aula.
12) Identifique, usando o diagrama trilinear do FHWA , o do BPR e mais um outro geotécnico (a seu critério), um solo
que apresentou em laboratório, a seguinte composição granulométrica:
Areia = _ _ _ %, Silte = _ _ _ % e Argila = _ _ _% (Atribua valores a seu critério, lembrando que a soma
dos 3 deve totalizar 100).
Agora responda:
- você acha que os 3 resultados são coerentes entre si?
13) Classifique todos os 16 solos (Mi) abaixo, pelos Sistemas TRB / AASHTO e USC / ASTM, cujas
características geotécnicas determinadas em laboratório, estão informadas nos quadros.
%≤ Ø
Solo M1 Solo M2 Solo M3 Solo M4
Peneira nº 4 97 98 85 100
Peneira nº 10 96 94 80 93
Peneira nº 40 93 80 60 69
Granulometria Peneira nº 200 87 57 28 32
Peneira nº 270 84 50 27 26
0,005 mm 50 20 9 9
0,001 mm 25 15 3 3
Limite de Liquidez 32 47 21 42
Plasticidade
Limite de Plasticidade 23 35 16 34

26
Solo P4 (%) P10 (%) P40 (%) P200 (%) ≤ 2μ (%) LL (%) LP (%)
M5 100 40 10 2 0 - -
M6 72 62 55 48 10 36 26
M7 100 100 95 86 39 50 22
M8 48 32 8 0 0 - -
M9 100 98 80 62 27 64 38
M10 81 60 32 10 01 26 16
M11 90 82 65 50 31 25 22
≤ 2μ (%) significa porcentagem de grãos do solo com tamanho inferior a dois microns. 1μ = 10-6m = 10-3 mm

Granulometria Plasticidade
Solo
P4 (%) P10 (%) P40 (%) P200(%) Ø10(mm) Ø30(mm) Ø60(mm) LL (%) LP (%)
M12 82,5 52,8 23,8 10 0,075 0,66 2,57 50 30
M13 100 100 78 43 25,5 20,5
M14 66 44 21 09 0,1 0,9 4,0 75 67
M15 47 37 23 14 0,03 1,0 10 15 10
M16 100 100 100 86 0,005 0,01 0,022 80 55
Legenda: P = porcentagem que passa. Ø = diâmetro equivalente do grão. LL = Limite de Liquidez. LP
= Limite de Plasticidade.
14) Classifique, pelos sistemas USC / ASTM e TRB / AASHTO o solo M17 que apresentou os seguintes
resultados em laboratório: n
- Equação da Curva Granulométrica: ⎛ φ ⎞
P = ⎜⎜ ⎟⎟ x 100
⎝ φ máx . ⎠
onde
P = porcentagem que passa (em %)
φ = diâmetro equivalente do grão do solo (em mm)
φmáx.= diâmetro equivalente da maior partícula presente no solo = 1,1.N° - 0,6 = _ _ _ mm
n = expoente empírico = (N° + 14)/100 = _ _ _ (adimensional).
- Plasticidade:
Limite de Liquidez, LL = 93 - 2 N° = _ _ _ %
Limite de Plasticidade, LP = 10%.
Apresente todos os passos da sua resolução.
15) Classifique, pelos sistemas USC e TRB, os 2 solos que apresentaram os resultados de laboratório expostos
a seguir. Apresente todos os passos necessários à resolução, inclusive marque no gráfico os pontos usados.
GRANULOMETRIA

Solo M18 Solo M19

100

90 PLASTICIDADE

80
Solo LL IP
70
M18 71 61
60
M19 NP
% Passa

50

40

30

20

10

0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)

27
16) Classifique, pelos sistemas USC e TRB, os 2 solos que apresentaram os seguintes resultados em
laboratório:
- Granulometria:

100

90

80

70
Porcentagem que passa (%)

60

50

40

30

20

10

0
0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm) - Esc. log.

- Plasticidade (vale para ambos os solos): Abertura de algumas peneiras:


N° 4 = 4,8 mm
Limite de Liquidez = (3.No +7) /2 = _ _ _ % N° 10 = 2,0 mm
Limite de Plasticidade = 3(No -1) / 4 = _ _ _%. N° 40 = 0,42 mm
N° 200 = 0,075 mm
Apresente todos os passos da sua resolução, inclusive
marque no gráfico os pontos que você utilizou.

17) Classifique, pelos sistemas USC e TRB, um solo (M22) cuja curva granulométrica pode ser expressa
com suficiente precisão, pela equação P = (Ø / 76)n × 100, onde P é a porcentagem que passa (%), ∅ é
o diâmetro equivalente do grão (mm) e n é um expoente empírico adimensional = (No + 9) / 100 = _ _ _
O Limite de Plasticidade = 66 - No = _ _ _% e o Limite de Liquidez = 2 × LP.

Obs.: N° deve ser substituído por um número específico para cada aluno, conforme indicação do professor.

28
Unidade 2
INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS
Poços
Manuais Trincheiras
Trados manuais
Diretos Sondagens à percussão com circulação de água (SPT)
Sondagens rotativas
Mecânicos
Sondagens mistas
Métodos de Sond. especiais com extração de amostras indeformadas
prospecção Ensaio de palheta ou “vane test” (VST)
Semi-diretos Ensaio de penetração dinâmica ou “diep sondering” (CPT)
Ensaio pressiométrico (PMT)
Sísmico
Indiretos Gravimétricos
(geofísicos) Magnéticos
Elétricos
(Prospecção geotécnica do subsolo - Maria José C. Porto A. de Lima)

Trataremos aqui apenas do método SPT - Standard Penetration Test, já que ainda é o mais difundido
no Brasil, como um processo de simples reconhecimento do subsolo. Também por atender
suficientemente ao interesse mais imediato desta disciplina e em vista do assunto ser abordado na
Unid. III da disciplina associada Ensaios de Laboratório e de Campo.

SONDAGEM A PERCUSSÃO SPT, COM CIRCULAÇÃO DE ÁGUA

As finalidades deste método para fins da Engenharia Civil são:


- exploração por perfuração e amostragem do solo,
- medidas do índice de resistência à penetração (N),
- determinação da profundidade do nível de água (NA) e
- identificação dos horizontes do terreno.

As principais vantagens do método são:


- Custo relativamente baixo.
- Facilidade de execução e possibilidade de trabalho em locais de difícil acesso.
- Permite a coleta de amostras do terreno, a diversas profundidades, possibilitando o conhecimento
da estratigrafia do mesmo.
- Através da maior ou menor dificuldade oferecida pelo solo à penetração de ferramenta padronizada,
fornece indicações sobre a consistência ou compacidade dos solos investigados.
- Possibilita a determinação da profundidade de ocorrência do lençol freático.

Equipamento padrão

Peças principais:
- Tripé equipado com sarilho, roldana e cabo de aço ou corda de sisal
- Tubos de revestimento em aço, com diâmetro interno mínimo de 66,5 mm
- Haste de aço para avanço
- Martelo de 65 kg para cravação das haste de perfuração e dos tubos de revestimento
29
- Amostrador padrão de diâmetro externo de 50,8 mm e interno 34,9 mm. O corpo do amostrador é
bipartido. A cabeça tem dois orifícios laterais para saída da água e ar e contém interiormente uma
válvula de bola
- Bomba de água motorizada para circulação de água no avanço da perfuração
- Trépano ou peça de lavagem (peça de aço terminada em bisel e dotada de duas saídas laterais para a
água)
- Trado concha com 100 mm de diâmetro e trado espiral de diâmetro mínimo de 56 mm e máximo de
62 mm

Descrição da técnica de execução da sondagem.

a) Perfuração
A perfuração é iniciada com o trado cavadeira até a profundidade de 1 (um) metro, instalando-se o
primeiro segmento do tubo de revestimento. Nas operações subsequentes de perfuração utiliza-se o
trado espiral, até que se torne inoperante ou até encontrar o nível de água . Passa-se então ao processo
de perfuração por circulação de água no qual, usando-se o trépano de lavagem como ferramenta de
escavação, a remoção do material escavado se faz por meio de circulação de água, realizada pela
bomba de água motorizada.
Durante as operações de perfuração, caso a parede do furo se mostre instável procede-se a descida do
tubo de revestimento até onde se fizer necessário, alternadamente com a operação de perfuração. O
tubo de revestimento deve ficar no mínimo a 50 cm do fundo do furo, quando da operação de
amostragem.
Em sondagens profundas, onde a descida e a posterior remoção dos tubos de revestimentos for
problemática, poderá ser empregada lama de estabilização em lugar do tubo de revestimento.
Durante a operação de perfuração são anotadas as profundidades das transições de camadas detectadas
por exame táctil-visual e da mudança de coloração dos materiais trazidos à boca do furo pelo trado
espiral ou pela água de lavagem.
Durante a sondagem o nível de água no interior do furo é mantido em cota igual ou superior ao nível
lençol freático.

b) Amostragem
Será coletada, para exame posterior, uma parte representativa do solo colhido pelo trado concha
durante a perfuração até um metro de profundidade. Posteriormente, a cada metro de perfuração, a
contar de um metro de profundidade, são colhidas amostras dos solos por meio do amostrador padrão.
Obtêm-se amostras cilíndricas, adequadas para a classificação porem evidentemente comprimidas. Este
processo de extração de amostras oferece entretanto a vantagem de possibilitar a medida da
consistência ou compacidade do solo por meio de sua resistência à penetração no terreno.
Os recipientes das amostras devem ser providos de uma etiqueta, na qual, escrito com tinta indelével,
devem constar:
- designação ou número do trabalho
- local da obra
- número da sondagem
- profundidade da amostra
- número de golpes do ensaio de penetração.

c) Ensaio de Penetração Dinâmica


O amostrador padrão conectado à extremidade da haste de perfuração, é descido no interior do furo de
sondagem e posicionado na profundidade atingida pela perfuração. A seguir, a cabeça de bater é

30
colocada no topo da haste, o martelo apoiado suavemente sobre a cabeça de bater e anotada a eventual
penetração do amostrador no solo.
Utilizando-se o topo do tubo de revestimento como referência, marca-se na haste de perfuração, com
giz, um segmento de 45 cm dividido em três trechos iguais de 15 cm.
Para efetuar a cravação do amostrador padrão, o martelo deve ser erguido até a altura de 75 cm ,
marcada na haste-guia, por meio de corda flexível que se encaixa com folga no sulco da roldana.
Não tendo ocorrido penetração igual ou maior do que 45 cm no procedimento descrito, inicia-se a
cravação do barrilete por meio de impactos sucessivos do martelo, até a cravação de 45 cm do
amostrador . Devem ser anotados, separadamente, os números de golpes necessários à cravação de cada
15 cm do amostrador.

Boletim de campo

Nas folhas de anotações de campo devem ser registrados:


- nome da obra e interessado
- identificação e localização do furo
- diâmetro de sondagem
- data de execução
- descrição e profundidade das amostras coletadas
- medidas de nível de água com data, hora e profundidade do furo por ocasião da medida
- ferramenta utilizada na perfuração e respectiva profundidade .

Considerações sobre o lençol freático

Durante a perfuração o operador deve estar atento a qualquer aumento aparente da umidade do solo,
indicativo da presença próxima do nível de água (NA), bem como um indício mais forte, tal como de
estar molhado um determinado trecho inferior do trado .
Durante a execução da sondagem à percussão são efetuadas observações sobre o nível de água,
registrando-se a sua cota, a pressão que se encontra e as condições de permeabilidade e drenagem das
camadas atravessadas .
Ao se atingir o nível de água interrompe-se a operação de perfuração, anota-se a profundidade e passa-
se a observar a elevação do nível de água no furo, efetuando-se leituras a cada 5 minutos, durante 30
minutos.
Deve ser medida, caso ocorra, a vazão de água ao nível do terreno.
O nível de água também deverá ser medido 24 horas após a conclusão do furo.

Composição do relatório final

Os resultados das sondagens devem ser apresentados em relatórios, numerados, datados e assinados
por responsável técnico pelo trabalho perante o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia - CREA . O relatório deve ser apresentado em formato A4 .
Devem constar do relatório:
- nome do interessado
- local e natureza da obra
- descrição sumária do método e dos equipamentos empregados na realização das sondagens
- total perfurado, em metros
- declaração de que foram obedecidas as Normas Brasileiras relativas ao assunto
- outras observações e comentários, se julgados importantes
- referências aos desenhos constantes do relatório.
31
Anexo ao relatório deve constar desenho contendo:
- planta do local da obra, cotada e amarrada a referências facilmente encontradas e pouco mutáveis,
de forma a não deixar dúvidas quanto a sua localização
- nesta planta deve constar a localização das sondagens cotadas e amarradas a elementos fixos e bem
definidos no terreno . A planta deve conter , ainda, a posição da referência de nível (RN) tomada
para o nivelamento das bocas das sondagens, bem como a descrição sumária do elemento físico
tomado como RN .

Os resultados das sondagens devem ser apresentados em desenhos contendo o perfil individual de cada
sondagem e seções do subsolo, nos quais devem constar, obrigatoriamente:
- o nome da firma executora das sondagens, o nome do interessado, local da obra, indicação do
número do trabalho e os vistos do desenhista, do engenheiro ou geólogo responsável pelo trabalho
- diâmetro do tubo de revestimento e do amostrador empregados na execução das sondagens
- número(s) da(s) sondagem(ns)
- cota(s) da(s) boca(s) dos furos de sondagem, com precisão de 1 cm
- linhas horizontais cotadas a cada 5 m em relação à referência de nível
- posição das amostras colhidas
- os índices de resistência à penetração (N), calculados como sendo a soma do número de golpes
necessários à penetração no solo dos 30 cm finais do amostrador
- identificação dos solos amostrados
- a posição do nível de água encontrado e a respectiva data de observação
- convenção gráfica dos solos que compõem as camadas do subsolo
- datas de início e término de cada sondagem
- indicação dos processos de perfuração empregados e respectivos trechos, bem como as posições
sucessivas do tubo de revestimento.

Fatores que influem no valor de N


- O estado de conservação do barrilete amostrador e das hastes; uso de hastes de diferentes pesos.
- A maneira com que são contados os golpes (desde o início da cravação do amostrador ou após certa
penetração)
- Variação na energia de cravação. A calibração do peso de bater e a sua altura de queda, além da
natureza da superfície do impacto (ferro sobre ferro, ou adoção de uma superfície amortecedora -
coxim de madeira). Não é lícito variar o peso e a altura de queda mantendo a mesma energia por
golpe.
- O uso de martelo automático e hastes AW (no lugar de tubos Schedule 80), mais rígidas, conduz a
resultados mais confiáveis.
- Má limpeza do furo ou não alargado suficientemente, para a livre passagem do amostrador.
- Emprego de técnica de avanço por circulação de água acima do NA.

Programação das sondagens

Quantidade de furos

Lotes de terrenos urbanos: mínimo de 3, não alinhados


Edifícios, pontes, barragens, portos: mais próximos, mais profundos.
Estradas, canais, galerias: mais distanciados, mais rasos.
Distância entre sondagens: de 15 a 20 m (V. MELLO). Próximas aos limites.
Distanciamento entre furos não deve ultrapassar 25 m (MARCELLO e BAPTISTA)
32
NBR 8036:
Área construída (projeção, em m2) Número mínimo de furos
< 200 2
200 – 400 3
400 – 600 3
600 – 800 4
800 – 1000 5
1000 - 1200 6
1200 – 1600 7
1600 – 2000 8
2000 – 2400 9
> 2400 A critério

Locação – exemplos:
(Fora de escala)
• • • • • • • •

• •
30 • •
20m • 40 • • •

• • • • •

• • • •
10 m 10 20 20
• 20 20
• • • •
30 20
• • 30
• •
• • • • 15

60 35
Fig. 2.1

Profundidade:
- 15 a 20 m para obras médias e subsolo em condições normais
- Existem 3 considerações principais que governam a profundidade das sondagens (V. MELLO):
a) Profundidade na qual o solo é significativamente solicitado pelas tensões devidas à construção,
dependendo da intensidade da carga aplicada por ela e do tamanho e forma da área carregada.
b) Profundidade na qual o processo de alteração afeta o solo. É o caso da erosão do solo pela
corrente de um rio, junto à fundação de uma ponte ou de um edifício junto ao mar.
c) Profundidade para alcançar estratos impermeáveis. É o caso de barragens.
- NBR 8036: z≥8m z =c×B (Eq. 2.1)
z = profundidade a ser atingida na sondagem e que para fundações rasas é contada da superfície
do terreno e para fundações por estacas ou tubulões será contada a partir da metade do comprimento
estimado para os mesmos.
B = largura do retângulo de menor área que circunscreve a planta de edificação.

33
c = coeficiente, função da taxa média sobre o terreno (peso da obra dividido pela área da
construção). Pode-se tomar o valor 12 kPa por andar para edifícios normais com estrutura de concreto
armado.
Taxa média (kPa) Coeficiente c
< 100 1,0
100 a 150 1,5
150 a 200 2,0
> 200 A critério
Critério de paralisação (NBR 6484):
O processo de perfuração por lavagem, associado aos ensaios penetrométricos, deve ser utilizado até :
- quando, em 3 m sucessivos, se obtiver índices de penetração maior do que 45/15
- quando, em 4 m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/15 e 45/30
- quando, em 5 m sucessivos, forem obtidos índices de penetração entre 45/30 e 45/45
Caso a penetração seja nula dentro da precisão da medida na seqüência de cinco impactos do martelo, o
ensaio deve ser interrompido.
SP i-A SP i
Impenetrável Caso ocorra a situação acima antes da
SP i-D
profundidade de 8 m, a sondagem deve
SP i-B ser deslocada até o máximo de quatro
vezes em posições diametralmente
2 (a 3) m opostas, a 2 m da sondagem inicial.

SP i-C
Fig. 2.2

Recomendações (KÖGLER e SCHEIDIG – 1930 apud M. VARGAS)


- Levar em conta na escolha ou compra de um terreno, as características do solo que interessam às
fundações.
- Providenciar sempre, no caso de dúvida, as pesquisas necessárias para se por a salvo de surpresas
desagradáveis.
- Levar sempre em consideração as verbas necessárias para pesquisas geotécnicas, por ocasião do
anteprojeto, para que as mesmas possam ser executadas a tempo.
- Prever sempre largo espaço de tempo para os estudos geotécnicos.
- Não decidir sobre as fundações de uma obra sem o conhecimento prévio de pesquisas geotécnicas.
- Lembrar-se que um estudo geotécnico executado com as fundações já em andamento pode conduzir
a um “impasse” na construção.
- Lembrar-se que a retirada de amostra indeformada na ocasião ou logo após a execução de
sondagens de reconhecimento evita, em geral, a execução de novas sondagens.
- Lembrar-se que as amostras indeformadas só tem valor quando a sua retirada e proteção for
impecável.
- Lembrar-se que o pesquisador de solo deve estar a par do projeto a ser executado, a fim de evitar
trabalhos inúteis.
- Lembrar-se que ensaios de laboratório de solos só trazem vantagens, mesmo durante a construção
da obra, se o subsolo estiver explorado (e se as amostras a serem ensaiadas tiverem sido extraídas
impecavelmente).

34
Estimativa da capacidade de carga ou tensão admissível (σadm.) em função do N
Em solos coesivos aplicam-se na prática, para fins estimativos, as seguintes correlações empíricas:
- Argila ........................................... σadm. ≤ N / 4 kg/cm2
- Argila siltosa ................................ σadm. ≤ N / 5 kg/cm2
- Argila arenosa .............................. σadm. ≤ N / 7,5 kg/cm2

É comum adotar σadm. ≤ N /5 kg/cm2 ou N /50 MPa (tal que 6 ≤ N ≤ 20), para fundações superficiais
acima do NA, onde N é a média dos Ns na vizinhança da base da sapata, sendo mais relevante a região
situada a uma profundidade cuja ordem de grandeza é igual a duas vezes o lado menor da base da
sapata (no caso de base circular toma-se o diâmetro), contando a partir da cota de apoio (ALONSO,
U.R.). Já que não se tem a dimensão da sapata, é necessário arbitrar uma primeira medida, estimar o
SPT médio e calcular a base. Este cálculo deve ser repetido até a convergência entre o valor arbitrado
para base da sapata e o valor obtido aplicando-se a fórmula empírica. (GeoFast).
(Se N > 20 ⇒ σadm. = 4 kg/cm2)

Também é usual a relação: σadm. = N -1 kg/cm2


(conf. Eng. Mauro Hernandez Lozano, Dynamis Engenharia Geotécnica)

Tabelas úteis

SPT CARACTERÍSTICA
3 Mínimo trabalhável
4 Mínimo para uso de fundação direta
8 Alta resistência para perfuração a trado manual (limite)
15 Mínimo recomendável para assentamento de fundações profundas
20 Máximo para aplicação da estimativa N/50 MPa para fundações diretas
25 Começam a surgir dificuldades em cravar estacas (franki, pré-moldadas)
50 Máximo trabalhável (“impenetrável”)

35
ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS DO SOLO A PARTIR DO SPT
Pressão
Peso Ângulo Módulo de Coeficiente de
Tipo de N° de golpes Coesão admissível
Classificação específico de atrito Elasticidade Poisson
solo N SPT c (kPa) Fund. direta
γ (kN/m3) ϕ (°) E (103 kPa) ν
(kg/cm2)
Fofa <4 16 25 a 30 1a5
Areias Pouco compacta 4 – 10 18 30 a 35 5 a 14 0,8
e solos Compacidade Medianamente compacta 10 – 30 19 35 a 40 14 a 40 0,8 a 3,0 0,3 a 0,4
arenosos Compacta 30 – 50 20 40 a 45 40 a 70 3,0 a 5,0
Muito compacta > 50 > 20 > 45 > 70 > 5,0
Muito mole <2 13 < 12 0,3 a 1,2 < 0,45
Mole 2–4 15 12 a 25 1,2 a 2,8 0,45 a 0,90
Argilas
Média 4–8 17 25 a 50 2,8 a 5 0,90 a 1,80
e solos Consistência 0,4 a 0,5
Rija 8 – 15 19 50 a 100 5 a 10 1,80 a 3,60
argilosos
Dura 15 – 30 20 100 a 200 10 a 20 3,60 a 7,20
Muito dura > 30 > 20 > 200 > 20 > 7,20

ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA DOS SOLOS DE FUNDAÇÕES (kg/cm2)


Tipo de solo
Resistência à penetração Misturas
Pedregulhos Argilas
Areias Areias Argilas de
N SPT Areias Siltes arenosas
médias finas puras areias e
grossas coesivas
argilas
≤2 0 0 0 0 0
≤4 0,3 0 0,3 0,3 0
≤8 1,0 0,5 0,3 0,5 0,5 1,2
≤ 15 1,5 1,0 0,6 0,9 1,0 2,0
≤ 25 5,0 3,0 2,5 2,0 1,8 2,0 3,0
≤ 30 7,0 5,0 2,5 2,0 3,6 4,0 5,0
Fonte: Anexo IV – Resolução 26 de 19/12/50 da Prefeitura do D.F. (D.O. de 23/12/50)

36
Prática

1) Cite 5 dos principais componentes ou peças de um equipamento de sondagem à


percussão SPT.

2) Quais são as 3 etapas básicas de uma sondagem a percussão SPT ?

3) Como se obtém o índice de resistência SPT (cuja notação é NSTP), segundo a norma da
ABNT ?

4) Cite 4 informações sobre o subsolo prospectado que um relatório final de sondagem SPT
deve conter.

5) A partir de um relatório de sondagem SPT, como você pode estimar a cota de fundação?

6) Qual deve ser a profundidade a ser atingida pela sondagem a percussão SPT ? (Cite pelo
menos 2 critérios).

7) Cite 3 informações sobre o subsolo que um relatório final de sondagem SPT deve
conter.

8) Em um terreno com 20 x 60 m vai ser construído um prédio cuja projeção em planta é de


15 m × 40 m, com 12 pavimentos, cada pavimento com 3m de pé direito.
Determine:
a) o número de furos de sondagem
b) a disposição e profundidade dos furos.

9) Qual o preço mínimo (em reais) que poderia ser cobrado para se executar o serviço de
sondagem SPT no terreno da figura abaixo (fora de escala), o qual vai ser ocupado por
um prédio, na RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte. Apresente a planilha
de composição de custos, eventuais explicações e indique na mesma figura, a locação
dos furos.

15 m

30 m
15 m

35 m

Solução:

Área do terreno = 750 m2


NBR 8036: Terreno de 200 a 1200 m2 ⇒ 1 sondagem para cada 200 m2 ∴ 3,75 ≅ 4 “furos”.
Profundidade mínima = 8 m (fundações rasas)

Preço por metro de perfuração = R$ 50,00 (mínimo de 30 m, ou seja, R$ 1.500,00)


37
Para 4 furos de sondagem com pelo menos 8 m cada = R$ 1.600,00
Taxa de mobilização e desmobilização do equipamento e pessoal na RMBH = R$ 500,00
Preço total = R$ 2.100,00 (valor mínimo, em condições normais)

Locação dos furos:

Melhor: 6 furos

Bibliografia adicional
MARIA JOSÉ C. PORTO A. DE LIMA - Prospecção geotécnica do subsolo – RJ: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
1979.

FERNANDO SCHNAID – Ensaios de Campo e suas aplicações à Engenharia de Fundações – São Paulo: Oficina de textos,
2000.

RUY THALES BAILLOT e ANTÔNIO RIBEIRO JÚNIOR - Sondagem a Percussão: comparação entre processos disponíveis
para ensaios SPT - Revista Solos e Rochas volume 22, N.3, dezembro 1999.

CARLOS VON SPERLING GIESEKE – Sondagem à percussão para investigação geotécnica – um enfoque necessário –
Publicação técnica n° 23 – ano XXIII – dez. 87

AUGUSTO OLIVEIRA JÚNIOR – Especificação para serviços de sondagem à percussão (SPT) – Serviço de Geologia e
Sondagem – DER-MG DE/DMP/SGS 08/08/99

RAGONI DANZIGER, BERNADETE – Estudo de Correlações entre os Ensaios de Penetração Estática e Dinâmica e suas
aplicações ao projeto de fundações profundas. Tese – UFRJ Set. 1982 (itens I-5 e I-6)

DE MELLO, V.F.B. - The Standard Penetration Test – State of the Art Paper
Proc. 4th PanAmerican Conf. on Soil Mech. and Fdn. Eng. – Puerto Rico, vol.1, pp. 1-86

TEIXEIRA, ALBERTO HENRIQUES. A padronização da sondagem de simples reconhecimento – Anais do V Congresso


Brasileiro de Mecânica dos Solos, SP, out. 74, Vol. III, Tema I.

MASSAD, FAIÇAL, PINTO, C.DE SOUZA, MASSAD, EMIR e KOSHIMA, AKIRA. Efeito da profundidade nos valores do
SPT Vol. IV, Tema I – Sondagens.

BERBERIAN, DICKRAN. Sondagens do subsolo para fins de engenharia. Vol. 1, UnB / INFRASOLO, 1986

ABEF - Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos - Sondagem à percussão - 1a ed.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA. Diretrizes para execução de sondagens. 1990

ABNT / INMETRO. Normas:


- NBR 8036: Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios – Procedimento.
- NBR 9820: Coleta de amostras indeformadas de solo em furos de sondagem – Procedimento.
- MB 3406: Solo- Ensaio de penetração de cone in situ (CPT) – Método de ensaio.

38
Unidade 3
COMPACTAÇÃO
Histórico. Considerações gerais.

Antigamente os aterros eram executados simplesmente “lançando-se o material pelas pontas” e então
aguardava-se o chamado “tempo de consolidação” que poderia durar anos, até décadas. Enquanto isto,
sofriam deformações que eram corrigidas à medida da necessidade. O desenvolvimento dos meios de
transporte, em especial o rodoviário (que se tornaram inclusive mais pesados) e o advento da
pavimentação asfáltica, bem como a urgência da utilização, com maior conforto para os usuários,
provocou o surgimento de uma técnica mais apurada do serviço de compactação e do seu controle de
qualidade. Os primeiros estudos mais racionais foram desenvolvidos pelo Engenheiro da Califórnia R.R.
PROCTOR (1933, Los Angeles Bureu of Water Works – U.S.A.), ao analisar a relação entre a energia, a
umidade e o peso específico, visando conciliar a natureza do solo com o tipo de equipamento empregado
na compactação e as características estruturais pretendidas para a obra.
Naturalmente a técnica aplica-se para o solo como material de construção e, muitas vezes associado ao
processo de correção ou mistura granulométrica, constitui um método de melhoria das características
do solo (Estabilização Mecânica).

Definição

Compactação “é a operação pela qual se obtém para um solo uma estrutura estável, por meio de esforços
mecânicos e em condições econômicas. Um solo é estável quando conserva suas características
mecânicas sob condições previstas, tais como solicitações a esforços, intempéries etc.
Na compactação as partículas do solo são forçadas a agruparem-se mais estreitamente através de uma
redução nos vazios de ar. É pois um processo de densificação, na qual a água age como lubrificante.”

Objetivos

Visa melhorar as seguintes propriedades geotécnicas :


- resistência (melhora a estabilidade dos taludes; aumenta a capacidade de suporte);
- permeabilidade (reduz a tendência do solo em absorver água);
- compressibilidade (reduz o recalque);
- variação volumétrica (expansão e contração).

Campo de aplicação
Obras de:
- barragens de terra, de rejeito de mineração, diques, canais, rodovias, ferrovias, aeroportos, encontro de
pontes, fechamento de valas, aterros sanitários, aterros em geral.

No exemplo da Fig. 3.1 são


mostradas trincas numa
edificação decorrentes de
recalques de fundação assente
em terreno de corte e aterro mal
compactado.

Fig. 3.1

39
Curvas de Compactação, Saturação e Resistência

a) Curva de Compactação

Compactando-se um determinado solo (δ) com uma energia de compactação (E) constante, à medida que
o teor de umidade (h) aumenta o peso específico aparente seco (γs) também aumenta, até atingir um valor
máximo (γs,máx.) e daí, passa a cair, dando origem à chamada Curva de Compactação (Fig. 3.2), a qual só
pode ser obtida através de procedimentos práticos, em laboratório ou campo.
A abscissa correspondente ao ponto γs,máx. é chamada de (teor de) umidade ótima – hot., que é a melhor
umidade para se compactar aquele solo, com aquela energia.

γh
γs =
1+ h

Fig. 3.2

A compactação se processa principalmente pela redução do ar existente no solo. Com o aumento da


quantidade de água, a saída do ar vai ficando cada vez mais difícil, provocando a geração de ar ocluso. A
partir desta umidade, a adição de água ao sistema só tende a aumentar o volume de vazios saturados e em
consequência diminuir o peso específico seco. (GEOFAST)
b) Curva de Saturação

É uma curva traçada no mesmo sistema de eixos (h versus γs) que a de Compactação e representa um
limite da posição da Curva de Compactação no gráfico. Ela correlaciona γ e h quando o solo se encontra
saturado.
Sua equação é: δ .γ a (Eq. 3.1)
γs =
1 + h.δ
γg
que vem daquela conhecida fórmula de correlação de Índices Físicos dos solos: e = − 1 , onde
γs
γg = δ.γa e e = h.δ/S, sendo S o Grau de Saturação, em %.

O formato desta curva é um trecho de uma


“hipérbole equilátera” (Fig. 3.3). Para traçá-la
basta conhecer o valor da densidade (δ) das
partículas do solo, considerar γa = 10 kN/m3,
atribuir valores para uma das variáveis (γs ou h)
e calcular a outra pela Eq. 3.1

Fig. 3.3:

40
c) Curva de Resistência (ou de Estabilidade)
Representa a variação do valor da resistência do solo compactado em função do seu teor de umidade de
compactação. Esta resistência (R) pode ser o CBR – California Bearing Ratio, a Resistência à
Compressão não-confinada – qu, a Resistência à Compressão Triaxial, a resistência da Agulha Proctor ou
outras. A resistência cai com o aumento da umidade de moldagem (Fig. 3.4).
Esta curva só pode ser traçada a partir de ensaios de laboratório ou de campo.

Fig. 3.4

As 3 curvas em conjunto explicam porque se deve compactar o solo na chamada “condições ótimas”, ou
seja, na hot., até se atingir γs,máx. Acompanhe na Fig. 3.5 o seguinte raciocínio :
- compactar o solo numa umidade baixa (ponto 1) parece vantajoso, pois a resistência inicial é alta
(ponto 2);
- porém o peso específico é baixo (ponto 3), o que significa elevado índice de vazios (solo muito
poroso) e assim, em época de chuvas, absorve muita água e alcança uma umidade elevada (ponto 4),
saturando-se. Então a resistência cai muito (ponto 5), ΔR1.
- Compactar o solo numa umidade alta (ponto 4) já fica descartado pois a resistência inicial é baixa
(ponto 5).
- Agora, compactar na hot. (ponto 6) a princípio não leva a nenhum valor notável de resistência (ponto
7) (nem muito alto, nem muito baixo). Porém, o peso específico é máximo (ponto 8), o que significa
que o índice de vazios é mínimo, levando a absorver pouca água ao se saturar (ponto 9). A resistência
não deixa de cair um pouco (ponto 10), mas esta é a menor variação de resistência possível, ΔR2.
ΔR2 << ΔR1 !

Portanto, as “condições ótimas” não levam


propriamente à maior resistência, mas sim
à condição mais estável, ou seja, aquela seria,
na verdade, a “maior resistência-estável”.

Fig. 3.5
41
Influência do tipo de solo na compactação
Quanto mais arenoso for o solo, menor a hot. e maior o γs,máx. (Como se a curva fosse deslocando para a
esquerda e para cima): Fig. 3.6-a

Influência do valor da energia da compactação


Quanto maior for a energia de compactação, menor a hot. e maior o γs,máx. (idem): Fig. 3.6-b.

Fig. 3.6-a Fig. 3.6-b

Métodos de Compactação (Formas de transferencia da energia para o solo)

a) Dinâmico vibração P
impacto (ou percussão)
Caracteriza-se pela ação da energia cinética; Hq
o solo é compactado por intermédio de um
peso (soquete) que cai de uma certa altura.
É ainda o mais empregado em laboratório.
Exemplos:
- Proctor (Normal – PN, Intermediário – PI,
Solo (CP) Fig. 3.7-a
Modificado – PM);
- CSP – Carlos Sousa Pinto
- Iowa State University
- Mini-CBR / DER-SP
EC = P. Hq

b) Estático (compressão)
F
Consiste na aplicação de uma carga F que
cresce gradativamente desde zero até seu
valor máximo, no qual é mantido durante
certo tempo, após o que é aliviada. Não há Fig. 3.7-b
ação da energia cinética (EC).De modo geral, Solo (CP)
ensaios estáticos de laboratório, o pistão que
comprime o solo tem área igual à da seção 0 → F → 0 ( num tempo t)
transversal do cilíndro. EC = 0

42
c) Amassamento (pisoteamento ou “kneading”) T
É devido a HVEEM. Aplica-se uma carga T
transiente, isto é, de ação rápida; não há
também EC. É o método de laboratório cujos
Fig. 3.7-c
resultados mais se aproximam dos de campo. Solo (CP)
Exemplo: Harvard miniatura
0 → T → 0 (num tempo Δt muito pequeno)
São usadas também, combinações destes métodos.

Compactação no laboratório

O objetivo do ensaio de compactação é determinar uma curva umidade × peso específico comparável à
que corresponde ao mesmo material quando compactado por meio de equipamentos e procedimentos
empregados na obra. De acordo com o objetivo da obra e do equipamento ali empregado, define-se o
método de compactação a ser utilizado no laboratório, cada qual caracterizado por sua energia de
compactação (E).
O ensaio padronizado Proctor Normal (ou AASHTO Standard), por exemplo, fornece uma energia
próxima de 6 kg.cm/cm3. Utiliza-se ainda, de acordo com as situações, energias superiores a esta, como o
Proctor Modificado E = 27 kg.cm/cm3 e o Proctor Intermediário (do antigo DNER), E = 13 kg.cm/cm3.
“ Na execução do ensaio em condições de laboratório, todos os fatores que o influenciam podem ser
controlados com exatidão, mas normalmente isso não é possível nas condições existentes no campo
durante os trabalhos de construção. Assim, devido a inúmeros fatores, os ensaios de laboratório não são
necessariamente exatamente representativos dos resultados de campo mas apesar disso tem sido
amplamente adotados e considerados satisfatórios.”

Compactação no campo (obra)


É executada com o solo numa umidade dentro da faixa especificada pelo laboratório, em torno da ótima
(por exemplo, h = hot. ± 2%, ver item 3.11)
- lisos
- rolos tracionados (ou rebocados) e autopropelidos - pneumáticos
Compactadores usuais - com patas
- compactadores manuais
Considerações gerais:
Os equipamentos autopropelidos permitem maior maneabilidade e eliminam o problema de manobra no
fim da cancha, compactando para frente e ré, descongestionando a pista. Por outro lado, em áreas
menores de trabalho, quase sempre é mais econômico usar um rolo rebocado, porque normalmente estará
em operação apenas parte do dia e assim o trator poderá ser usado em outros serviços enquanto o rolo
fica parado.
A escolha do equipamento adequado para um serviço prende-se a questões econômicas (preço,
manutenção, gasto de combustível etc.) e a questões técnicas (peso específico do solo e resistência
desejados).
A compactação deve ser feita na umidade ótima para se atingir o peso específico máximo possível, para
uma determinada energia de compactação.
Uma vez atingido o γs,máx. é inútil continuar a passar o rolo, pois o aterro não mais se compactará.
Na prática, o que interessa ao empreiteiro da obra saber é quantas vezes deve passar o rolo compressor
para que o Grau de Compactação – GC (ver item 3.11) atinja o mínimo especificado. Uma forma de

43
determinar este número de passadas é fazer um ensaio em escala natural no campo (“pista
experimental”).
A quantidade de água a ser adicionada ao solo é calculada em função da descarga da barra de distribuição
e da velocidade do carro-pipa.

A espessura das camadas é determinada pelo tipo de compactação e também pode ser obtida na pista
experimental – Fig. 3-8 (fazendo-se uma rampa e verificando-se o alcance em diferentes profundidades).

Fig. 3-8

Uma forma de se determinar a capacidade máxima do rolo é verificar a melhor relação entre a espessura
da camada (e) e o número de passadas (Np) na rampa de prova. Por exemplo, sendo as pistas na rampa de
prova compactadas com 3, 4 e 5 passadas a certa velocidade e supondo que a de 3 passadas apresente o
grau correto de compactação a uma profundidade de 30 cm, a de 4 a 55 cm e a de 5 a 80 cm, a melhor
relação e/Np é 80/5 = 16.
(Engo.Wim Kam, Produtos Vibro, Suécia / Revista Engenheiro Moderno, março 73)

No ensaio Proctor Normal, a energia de compactação corresponde a um rolo compressor do tipo


denominado “pé-de-carneiro” de 3 a 5 toneladas de peso total, passando cerca de 10 a 15 vezes em cima
de camadas cujas espessuras variam de 15 a 30 centímetros.
O rolo liso é constituído por uma ou mais rodas cilíndricas pesadas, de cargas aproximadamente 10
toneladas. Sua área de impressão é muito pequena, o que restringe o seu emprego para a compactação de
camadas de no máximo 10 cm de espessura, pois esta máquina não distribuiu a carga a profundidades
maiores.
O rolo pneumático é constituído por rodas geralmente de grande diâmetro, ligadas a um eixo comum, que
suporta um vagão pesado, totalizando 25,5 ou até 100 toneladas. São rolos compressores de grande área
de impressão, podendo compactar camadas de espessura até 50 centímetros.

44
No quadro a seguir, adaptado de “Earth Compactation” – M.D. MORRIS – McGraw-Hill Co. Inc.,
encontram-se os tipos mais apropriados de equipamentos para vários solos (em caráter meramente
indicativo).

Espessura da camada
Peso
Tipo de rolo após a compactação Tipo de solo
(t)
(cm)
Pé de carneiro estático 20 40 Argilas e siltes
Pé de carneiro vibratório 30 40
Misturas: areia com silte e argilas
Pneumático leve 15 15
Pneumático pesado 35 35 Praticamente todos
Vibratório com rodas metálicas lisas 30 50 Areias, cascalhos, materiais granulares
Liso metálico (3 rodas) 20 10 Materiais granulares, brita
Grade (malhas) 20 20 Materiais granulares ou em blocos
Combinados 20 20 Praticamente todos

Controle da compactação

Realizado o ensaio e traçada a curva de compactação, determina-se, a partir do ponto culminante, os


valores da umidade ótima (hot.) a ser compactado na obra e o valor do peso específico aparente seco
máximo (γs,máx.) a ser alcançado. No campo o valor deve ser próximo àquele de laboratório, ou seja, deve
ser alcançado um certo Grau de Compactação (GC), expresso genericamente pela relação:

γ s ( obra )
GC = 100
γ s ,máx.(lab.) (Eq. 3.2)

Normalmente o valor mínimo admissível para o GC é especificado à empreiteira pelo projetista e fica
sujeito à fiscalização.
A tolerância no valor do γs,máx. reflete-se no da hot., sendo admissível um correspondente desvio de
umidade - Δh, dado por:
Δh = h – hot.
(Eq. 3.3) onde h é o teor de umidade da obra.

O controle da compactação consiste em verificar, através de determinações “in loco”, se o GC e o Δh


estão respeitando as especificações de projeto.

45
Prática
1) Por quê a curva de compactação apresenta aquele formato característico
(semelhante a uma parábola com a concavidade voltada para baixo)?
2) Por quê deve-se compactar o solo na obra nas denominadas condições ótimas ?
3) Por quê não é vantajoso compactar o solo com uma umidade baixa, onde ele
apresenta maior resistência inicial?
4) O que acontece com os valores da umidade ótima e do peso específico seco máximo,
para um mesmo solo, à medida que aumenta a energia de compactação?
5) Como se classifica o ensaio Proctor quanto a forma de transferência da energia para
o solo? Quais são os 3 níveis de energia Proctor adotados no Brasil (pelo DNIT, por
exemplo).
6) Em que consiste o Controle da Compactação no campo?
7) Existe alguma tolerância no controle da compactação no campo, em relação às
condições ótimas obtidas em laboratório? Se houver, quais são?
8) Um solo foi ensaiado em laboratório e sua Curva de Compactação apresentou um
formato cujo trecho principal pode ser assimilado a uma parábola com a seguinte
equação: 10γs = 88h – 2h2 – 808, sendo γs (peso específico seco) em kN/m3 e h (teor
de umidade) em %. Na obra, o ensaio “frasco-de-areia” revelou que o mesmo solo
foi compactado (com energia equivalente à de laboratório) até atingir γs = 15,2
kN/m3.
Calcule:
a) o valor do Grau de Compactação alcançado e
b) o valor do Desvio de Umidade correspondente.
9) A curva de compactação de um solo usado na construção do pavimento de uma
rodovia pode ser expressa com suficiente aproximação pela equação 9γs = 40h – h2 –
265, sendo γs (peso específico seco) em kN/m3 e h (teor de umidade) em %. O
projeto geotécnico exigia GC ≥ 92 % e Δh = ± 2 %. Na obra a fiscalização constatou
que o peso específico seco “in situ” obtido pelo frasco-de-areia alcançou 14 kN.m-3.
Então o trecho pode ser liberado? Por quê? (Justifique devidamente sua resposta).
10) Um ensaio de Compactação Proctor Normal executado em laboratório forneceu os
pontos abaixo informados, para um certo solo cujo peso específico (real) dos grãos
foi determinado como sendo igual a 27 kN.m-3.
Ponto → 1 2 3 4 5 6 7
h (%) 10 13 16 18 20 22 25
γh (kN.m-3) 15,55 16,80 18,75 19,70 20,35 20,20 19,40
Baseando-se nesses dados, faça a resolução dos seguintes itens:
(a) Traçar a curva de compactação e obter o peso específico aparente seco máximo
e a umidade ótima.
(b) Traçar um trecho da curva de saturação total.
(c) Se for exigido do empreiteiro que obtenha 93 % de compactação, qual seria o
desvio de umidade mais aconselhável?
(d) Qual é o Grau de Saturação médio alcançado pelo ramo úmido da curva de
compactação.

46
Unidade 4
HIDRÁULICA DOS SOLOS
4.1) CAPILARIDADE NOS SOLOS

Fenômenos Capilares - Teoria do tubo capilar

Ao introduzirmos um tubo de pequeníssimo diâmetro, digamos “tubo capilar” (por ser


comparável a um fio de cabelo), com os extremos abertos, verticalmente em um recipiente com
água, esta, por “ação capilar” subirá pelo tubo até uma determinada altura hc. Na extremidade
exposta ao ar, assume a forma de um “menisco”, com a cavidade voltada para cima, formando,
no contato com as paredes do tubo, um “angulo de tensão capilar” ou “angulo de contato” - α,
cujo valor depende do material do tubo e das impurezas químicas que o cobrem (Fig. 4.1).

Fig. 4.1

Para a água pura (destilada) e o vidro limpo e úmido, este angulo é nulo, α ≅ 0° (Fig. 4.2) e se
as paredes do tubo contiverem uma película de graxa por exemplo, α poderá superar 90° (as
moléculas se repelem). Normalmente 0°< α< 80°.

Fig. 4.2

R = Rm.cos α Para α = 0° ⇒ R = Rm

Outros exemplos:
- Mercúrio e vidro: α ≅ 140°;
- Prata limpa e água: α ≅ 90°.

47
Os fenômenos capilares estão associados diretamente à tensão superficial – Ts, que é uma
propriedade de líquidos puros a certas temperaturas e atua em toda superfície de um líquido,
como decorrência da ação da “energia superficial livre”, definida como sendo o trabalho
necessário para aumentar a superfície livre de um líquido em 1 cm2.

A tensão superficial surge nos líquidos como resultado do desequilíbrio entre as forças agindo
sobre as moléculas da superfície em relação àquelas que se encontram no interior do fluido. As
moléculas de qualquer líquido localizadas na interface líquido-ar realizam um número menor de
interações intermoleculares comparadas com as moléculas que se encontram no interior do
líquido. Estas forças de coesão tendem a diminuir a área superficial ocupada pelo líquido,
explicando assim a forma esférica das gotas de líquidos. Pela mesma razão ocorre a formação
dos meniscos e a conseqüente diferença de pressões através de superfícies curvas ocasiona o
efeito denominado capilaridade. A esta força que atua na superfície dos líquidos dá-se o nome
de tensão superficial e, geralmente, quantifica-se a mesma determinando-se o trabalho
necessário para aumentar a área superficial.

Portanto, um líquido (a água, no caso), por causa da atração existente entre suas moléculas – a
coesão, tende a atrair qualquer molécula que se encontre à superfície para o seu interior,
originando uma tendência para diminuir a sua superfície. Quando em contato com um sólido,
uma gota de líquido tende a “molhar” o sólido, dependendo da atração molecular entre o líquido
e o sólido – a adesão, dando origem ao menisco.

Fig. 4.3-a Fig. 4.3-b

Diz-se que a água “molha” o vidro O mercúrio “não molha” o vidro


(adesão maior), elevando-se. (coesão maior), rebaixando-se.

A pressão no lado côncavo de um menisco é maior que a do lado convexo. Considerando a Fig.
4.4-a, tem-se que no NA (ponto 1), num ponto no interior do tubo à mesma cota que o NA
(ponto 2) e num ponto à superfície externa do menisco (ponto 3), a pressão tem o mesmo valor,
ou seja, é igual à atmosférica (pa). Já no ponto situado logo abaixo da superfície (ponto 4), a
pressão deverá ser hc.γa menor que no ponto 2 e portanto, menor que a atmosférica.

O nível freático – NA é a superfície em que atua a pressão atmosférica e, na Mecânica dos


Solos, é tomada como origem do referencial para as “pressões neutras” e no nível freático a
pressão neutra é zero. A pressão capilar é pois negativa, ou uma sucção. O diagrama de
pressões assume a forma indicada na Fig. 4.4-b.

Complementarmente é apresentado o diagrama de cargas (Fig. 4.4-c), piezométrica (u/γa),


geométrica (Z) e total (H).

48
Fig. 4.4-a Fig. 4.4-b Fig. 4.4-c

O equilíbrio requer que o peso da água sugada pela força geradora da tensão superficial – Fc da
água seja igual à componente vertical desta força (Fig. 4.5).

Fig. 4.5

Fc.cos α = P

Fc = 2.π.R.Ts
P = π.R2.hc.γa

2.π .R.Ts. cos α 4.Ts. cos α


hc = ou hc = onde φ = 2.R (Eq. 4.1.1)
π .R 2 .γ a φ .γ a
Equação de JURIN

Ts = 73 dinas/cm = 0,073 N/m para água – ar a 20° C

Percebe-se então, pela Eq. 4.1, que a altura de ascensão capilar – hc, é inversamente
proporcional ao diâmetro dos poros e também que hc será máxima quando α = 0°, ou seja

0,306
hc máx. = cm (Eq. 4.1.2 )
φ

49
TEMPERATURA TENSÃO SUPERFICIAL
°C Ts (g/cm)
-5 0,07791
0 0,07713
5 0,07640
10 0,07567
15 0,07494
20 0,07418
25 0,07339
30 0,07258
35 0,07177
40 0,07091
100 0,06001
(J.J.Tuma & M. Abdel-Hady)

“Quanto menor a tensão superficial, maior a facilidade para um líquido se espalhar”


CAPILARIDADE NOS SOLOS
Como os solos possuem uma estrutura porosa, a interligação entre seus vazios pode ser
considerada como que formando um conjunto de tubos capilares e assim estarem sujeitos à ação
dos fenômenos capilares. Isto explica, por exemplo, a ocorrência de zonas saturadas na massa
de solo situada acima do lençol freático (Fig. 4.6).

Fig. 4.6
S (%) = Grau de Saturação
Acima do lençol freático ocorre a chamada “franja capilar”, de espessura variável, onde o solo
se encontra saturado, mas a água não participa do movimento gravitacional.
A altura de ascensão capilar nos solos depende da natureza do solo, da sua granulometria e
outros fatores. Nos solos finos, como as argilas e siltes, os canalículos possuem pequeno
diâmetro, provocando elevada ascensão, ao contrário do que ocorre nos solos grossos (areias e
pedregulhos). Teoricamente, teríamos os seguintes valores aproximados:
Solo hc
Areias grossas 3 cm
Siltes 60 cm
Argilas 30 m
(Fonte: Victor F.B. Mello e A. H. Teixeira, 1971)

A rigor não se pode dizer que existe uma determinada altura de ascensão capilar (hc) para um
solo, devido à variação de diâmetros dos vazios num mesmo solo (com a máxima ascensão
possível correspondendo aos diâmetros dos menores vazios), como é óbvio. Existem sim,
limites para tais valores.
A altura capilar média dos solos pode também ser estimada através de fórmulas empíricas,
como por exemplo:
C
hc = (Eq. 4.2 ) – A. HAZEN
e.φ10

50
sendo C um coeficiente variando entre 0,1 e 0,5 cm2, e o índice de vazios do solo e φ10 o seu
diâmetro efetivo (aquele correspondente a 10 % que passa, na curva granulométrica), em cm.

Efeitos da capilaridade nos solos

Em tubos capilares, à força que puxa a água no tubo capilar corresponde uma reação que
comprime as paredes do tubo.
Nos pontos de contato dos meniscos com os grãos, evidentemente agirão pressões de contato,
tendendo a comprimir os grãos (Fig. 4.7).

Fig. 4.7

Tal fato explica a “contração” de um solo fino durante o processo de secagem. Como a água
capilar está com pressão neutra negativa, há o aumento da pressão efetiva (intergranular) e
consequentemente provoca um acréscimo de resistência dos solos, denominada “coesão
aparente”, a qual desaparece com a secagem ou saturação.
Em construções de pavimentos e aterros em geral, deve-se atentar bem para o aspecto da
capilaridade dos terrenos de fundação, que pode comprometer a estabilidade da obra. Em
regiões de clima frio, por exemplo, a capilaridade pode causar o empolamento do solo a partir
do congelamento da água absorvida do lençol subterrâneo.

Dentre outros efeitos da capilaridade, citam-se também aqueles que ocorrem em barragens de
terra, como o “sifonamento capilar” na crista (Fig. 4.8-a) e a zona adicional de saturação acima
da linha prevista (Fig. 4.8-b), ambos podendo alterar (prejudicando) consideravelmente as
condições de projeto.

Fig. 4.8-a Fig. 4.8-b

Bibliografia adicional
- LAMBE, T.W. – “Soil Testing for Engineers” – John Wiley & Sons, Inc. – New York, 1951.
- TAYLOR, D. W. – “Fundamentals of Soil Mechanics” - John Wiley & Sons, Inc.
- TERZAGHI, K. – “Theoretical Soil Mechanics” - John Wiley & Sons, Inc.
- RODAS, R. VALLE – “Carreteras, Calles y Aeropistas” - Editorial El Ateneo – Buenos Aires.
- BADILLO,J. & RODRÍGUEZ, R. – “Mecánica de Suelos” – Tomo I, Cap. VIII – Ed. Limusa, 77.

51
Prática
1) Qual é o efeito da capilaridade na pressão neutra desenvolvida nos solos?
2) Teoricamente, qual tipo de solo proporciona maiores alturas de ascensão capilar, o arenoso fino
ou o siltoso? Por quê?
3) Sabendo-se que hc é máximo, quanto vale α2, na fig. 4-9?

Fig.4-9

4) Calcule o valor do “diâmetro” aproximado dos “canalículos” (ou vazios ou interstícios) de um


solo siltoso no qual a água do lençol freático sobe por capilaridade e no ponto de máxima
ascensão produz uma tensão de 6 kPa (medida por instrumentos devidamente instalados).
5) No perfil de subsolo da figura 4-10, a água do lençol freático subterrâneo ascende por
capilaridade e satura certa faixa (hc) acima do nível de água (NA). A partir da Equação de
JURIN e conhecendo-se o gráfico de variação das tensões neutras (u) com a profundidade (h),
calcule o valor aproximado do diâmetro médio (em mm) dos “canalículos” (ou vazios ou
interstícios) do solo.
NT
(No + 44)/10 0 2(No + 44)
u (kPa)

hc

h (m)
Obs.: Considere γw = 10 kN.m-3 No = número do(a) aluno(a).
Fig. 4-10
Solução

52
0,306
hcmax . = cm
φ
JURIN:

u = - γa.hc

0,306
φ=
hcmax

N ° + 44
u=− = −hcmax 10
10

u 0,0306
hcmax = m ∴φ = mm
10 hcmax
Veja na tabela abaixo os resultados numéricos para cada aluno(a).

hc máx. 26 7 70 4,37E-02
No u (kPa) ∅ (mm)
(cm) 27 7,1 71 4,31E-02
1 4,5 45 6,80E-02 28 7,2 72 4,25E-02
2 4,6 46 6,65E-02 29 7,3 73 4,19E-02
3 4,7 47 6,51E-02 30 7,4 74 4,14E-02
4 4,8 48 6,38E-02 31 7,5 75 4,08E-02
5 4,9 49 6,24E-02 32 7,6 76 4,03E-02
6 5 50 6,12E-02 33 7,7 77 3,97E-02
7 5,1 51 6,00E-02 34 7,8 78 3,92E-02
8 5,2 52 5,88E-02 35 7,9 79 3,87E-02
9 5,3 53 5,77E-02 36 8 80 3,83E-02
10 5,4 54 5,67E-02 37 8,1 81 3,78E-02
11 5,5 55 5,56E-02 38 8,2 82 3,73E-02
12 5,6 56 5,46E-02 39 8,3 83 3,69E-02
13 5,7 57 5,37E-02 40 8,4 84 3,64E-02
14 5,8 58 5,28E-02 41 8,5 85 3,60E-02
15 5,9 59 5,19E-02 42 8,6 86 3,56E-02
16 6 60 5,10E-02 43 8,7 87 3,52E-02
17 6,1 61 5,02E-02 44 8,8 88 3,48E-02
18 6,2 62 4,94E-02 45 8,9 89 3,44E-02
19 6,3 63 4,86E-02 46 9 90 3,40E-02
20 6,4 64 4,78E-02 47 9,1 91 3,36E-02
21 6,5 65 4,71E-02 48 9,2 92 3,33E-02
22 6,6 66 4,64E-02 49 9,3 93 3,29E-02
23 6,7 67 4,57E-02 50 9,4 94 3,26E-02
24 6,8 68 4,50E-02 51 9,5 95 3,22E-02
25 6,9 69 4,43E-02

53
Unidade 4
HIDRÁULICA DOS SOLOS
4.2) PERMEABILIDADE

Introdução
A permeabilidade, juntamente com a Resistência ao Cisalhamento e a Compressibilidade, é uma das
principais propriedades mecânicas dos solos, as quais interagem entre si.
Definição
É a maior ou menor facilidade com que a água pode locomover-se no interior do solo.
Um material é dito permeável se contém vazios ininterruptos. (Terzaghi & Peck)
Aplicações
Projetos e análises de barragens, taludes em geral, arrimos, escavações, filtros de proteção, drenos,
sistemas de drenagens (bombeamento) e várias outras obras de terra caracterizadas pela presença da
água.
Importância
Informações fundamentais em problemas práticos de fluxo de água relativos a :
- vazão perdida através da zona de fluxo;
- a influencia do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo, através do qual ele ocorre;
- possibilidades da água de infiltração produzir carreamento, erosões, piping (ou renard) etc.;
- outros ( por exemplo, compressão volumétrica por saturação).
Fundamentos teóricos
O solo é formado por sólidos e vazios que formam uma estrutura porosa; os vazios contidos no solo
estão interligados, formando canais por onde um fluido pode percolar. No solo o fluido mais comum é a
água.

Para que se estabeleça um movimento de água entre dois pontos de um solo, é preciso que entre os
mesmos haja uma diferença de carga total, sendo esta calculada pela Equação de DANIEL
BERNOULLI (1700 -1782).

O princípio em que se baseia a equação, num sentido restrito é aplicável a todos os pontos da trajetória
das partículas de um líquido perfeito (incompressível, desprovido de viscosidade e sem atrito), sujeito
somente à ação da gravidade e em movimento permanente, pode ser assim enunciado: “a soma das
alturas representativas da posição, da pressão e da velocidade é constante ao longo de qualquer linha de
corrente (a trajetória de uma partícula)” – Fig. 4.11.

54
Fig. 4.11

u v2
Z+ + = constante (Eq. 4.3-a )
γ a 2. g

 u   v2   u   v2 
ou Z 1 +   +   = Z 2 +   +   = H (Eq. 4.3-b )
γ a 1  2.g 1  γ a  2  2. g  2

Todos esses termos, denominados cargas, tem dimensão linear (cm, m, mm etc.).
Carga hidráulica é a energia por unidade de massa [MּL / M = L]:
- Energia cinética = m.v2/2.g [M.L2.T2/T2.L = M.L] ⇒ carga de velocidade ou dinâmica (v2/2.g);
- Energia de pressão ou piezométrica = m.u/γa [M.M.L3/L2.M = M.L] ⇒ carga de pressão ou
piezométrica (u/γa);
- Energia de posição ou potencial = m.Z [M.L] ⇒ carga geométrica ou de posição ou altimétrica (Z).
Z é a carga de posição ou geométrica ou altimétrica (representa a cota do ponto considerado da
trajetória em relação a um plano horizontal de comparação)
u/γa é a altura piezométrica ou carga de pressão (define a pressão dinâmica existente neste ponto)
v2/2g é a altura de velocidade ou taqui-carga.
A soma das 3 alturas é a carga total e representa a altura de um plano, chamado plano de carga
dinâmico, acima do plano de comparação (RN).

55
A Equação de BERNOULLI, além do seu significado meramente geométrico, é a expressão do
princípio da conservação de energia, aplicado a uma massa líquida em movimento.
Nos escoamentos líquidos reais, devido à sua viscosidade, parte de sua energia é empregada para vencer
a resistência que se opõe ao movimento; deve-se, por isso, acrescentar à equação de BERNOULLI, um
quarto termo, representativo dessa perda de energia.

 u   v2   u   v2 
Z 1 +   +   = Z 2 +   +   + ∆H (Eq. 4.3-c )
γ a 1  2.g 1  γ a  2  2. g  2

O termo ∆H, denominado perda de carga, tem dimensão linear e corresponde à energia perdida por
unidade de massa.
Portanto, no movimento permanente dos líquidos reais, a energia disponível numa seção qualquer é
igual à existente na seção anterior, diminuída da perda de carga verificada entre elas.
No caso de um subsolo, com 2 pontos (P1 e P2) situados à mesma cota:

Fig. 4.12

Neste caso Z1 = Z2 e a parcela de carga cinética, para o fluxo de água em um solo, é desprezível.
 u   u 
Portanto a Eq. de BERNOULLI se simplifica para:   =   + ∆H = H (Eq. 4.3-d)
 γ a 1  γ a  2

Obs. 1) A carga piezométrica é numericamente igual à altura de coluna de água, medida no ponto,
através de piezômetros. Ou seja: a altura de pressão ou altura piezométrica, é a altura de líquido que
causa uma determinada pressão u.
Obs. 2) O fluxo é considerado unidirecional.
A perda de carga total ( ∆H) por unidade de comprimento (∆L) é chamado de Gradiente Hidráulico, i.

∆Η (Eq. 4.4-a) ou: ∆Η dH (Eq. 4.4-b )


i= i = lim =−
∆L ∆L →0 ∆L dL

56
PERMEABILIDADE DO SOLO

“Em 1856 o Engenheiro HENRY DARCY (1803 – 1858), durante a realização de ensaios de filtração
através de areias finas, relacionados com a construção do novo sistema de abastecimento de água da
cidade de Dijon – França, constatou a existência de uma proporcionalidade praticamente linear entre a
vazão específica q e o gradiente hidráulico J .
...
A proporcionalidade entre q e J é descrita por uma grandeza escalar de dimensões L.T-1, em unidades
internacionais m/s, denominada condutividade hidráulica” (saturada).

Fig. 4.13

Segundo as experiências de DARCY, baseadas numa montagem esquematizada na Fig. 4.13:


- a velocidade média (v) com que a água atravessa a amostra de solo é diretamente proporcional ao
desnível, ou seja, v ∝ ∆H e inversamente proporcional ao trajeto percorrido, ou seja,
v ∝ 1/∆L.
Então: v ∝ ∆H / ∆L
A constante de proporcionalidade foi simbolizada por k e denominada de coeficiente de
permeabilidade ou simplesmente permeabilidade.
Sendo ∆H / ∆L = i (gradiente hidráulico) – Eq. 4.4-a, vem:
Lei de DARCY (Eq. 4.5),
v= k.i
que é o princípio básico do escoamento das águas subterrâneas.

Já que i é adimensional, k tem dimensão de velocidade (LT-1) e normalmente é expressa em cm/s.

A expressão só é válida para Movimento Permanente Uniforme (MPU) e Regime de Escoamento


Laminar (REL).

57
A área (A) da seção transversal do CP é sempre normal à direção do fluxo e por “comodidade” é
considerada a área total, isto é, área de cheios (grãos) + vazios do solo. Daí, a velocidade (v) “passando”
por esta área “falsa” é chamada de velocidade aparente.
Na verdade a água só passa mesmo pela área de vazios e a esta velocidade pode-se denominar de
velocidade real ou de percolação intersticial – vp. Pode-se demonstrar que v ≅ vp.n (Eq. 4.6), sendo n a
porosidade do solo. (O Prof. VICTOR DE MELLO, por exemplo, propõe: v ≅ vp.n2/3).

Portanto, existe também um outro coeficiente, que é função desta velocidade real, denominado
coeficiente de percolação – kp, cuja relação com o de permeabilidade é:

k = n.kp (Eq. 4.7)

Determinação do Coeficiente de Permeabilidade k


1) Métodos diretos
a) Permeâmetro de carga constante (mais apropriado para solos de alta permeabilidade,
como as areias):

Fig. 4.14
k=v/i

Da Hidráulica sabe-se que a “velocidade (v) é igual à vazão (Q/t) dividida pela área da
seção transversal (A)”.

Simbolizando-se vazão por Q/t, onde Q é o volume e t o tempo, vem:


(Q/t) = v.A
Q.∆L
e assim: k= (Eq. 4.8)
A.∆H .t

58
b) Permeâmetro de carga variável (mais apropriado para solos de baixa permeabilidade,
como as argilas):

Fig. 4.15

Partindo-se do princípio que a vazão na bureta (b) = vazão no corpo-de-prova (CP), tem-se:

(Q/t)b = (Q/t)CP

vb.a = v.A

dH ∆H
− a = v. A = k A
dt ∆L

dH k. A
− = dt
∆H ∆L.a

dH
H1 k . A ∆t
−∫
∆L.a ∫0
= dt
H 0 ∆H

H 0 k . A.∆t
ln =
H1 ∆L.a

∆L.a H 0
k= ln
A.∆t H 1

Mudando de base (de logaritmo neperiano ou base e, para logaritmo decimal, ou base 10):

59
∆L.a H
k = 2,3 log 0 (Eq. 4.9)
A.∆t H1

c) Simultaneamente ao ensaio de adensamento.


d) Ensaios de campo (in situ ou in loco): bombeamento, de “tubo aberto” etc.

2) Métodos indiretos (valores estimativos)

a) a partir da curva granulométrica


a.1) fórmula de HENRY ALLEN HAZEN (1849 -1900)
(válida para as areias com Cu < 5 e 0,10 < φ10< 3,0 mm)

k = C. φ102 (Eq. 4.10) sendo φ10 em cm e k em cm/s .

C é um coeficiente empírico que pode variar em torno de 40 a 150, sendo comum usar o valor 100.

a.2) fórmula de SCHLICHTER (semelhante à de HAZEN, mas considera


também o efeito da temperatura e da compacidade).

a.3) fórmula de TERZAGHI (semelhante à de SCHLICHTER, mas considera


também a forma dos grãos).

b) correlacionando com os resultados obtidos em um ensaio de adensamento.

c) A partir da curva de distribuição dos vazios de um solo granular (ARAKEN


SILVEIRA, EESC/USP).

Classificação dos solos quanto a permeabilidade


Abaixo tem um exemplo das muitas propostas de classificação que existe, esta atribuída a
A. Casagrande e R. E. Fadum:

muitíssimo baixa muito baixa baixa média alta ← Grau de permeabilidade


(ou baixíssima) (ou muito permeável)
10 -7 10 -5 10 -3 10 -1 ← k, cm/s

Argilas Areias muito Areias Areias Pedregulhos


finas, siltes e muito finas
argilas e siltes

Solos “impermeáveis” Solos “permeáveis”

Fig. 4.16

60
Fatores que afetam a permeabilidade
a) Influência do meio líquido (massa específica e viscosidade)
A temperatura interfere na viscosidade da água que por sua vez, influi no valor do
coeficiente de permeabilidade.
Deve-se sempre exprimir o valor do coeficiente de permeabilidade à temperatura padrão
de 20º C, fazendo-se a seguinte conversão:
ηT
k 20 = k T (Eq. 4.11)
η 20
sendo η a viscosidade da água a diferentes temperaturas, que pode ser obtida de tabelas*,
do gráfico da Fig. 8-4 do livro do CAPUTO vol. 1 ou ainda pela fórmula de
0,0178
HELMHOLTZ: η = (Eq. 4.12)
1 + 0,033.T + 0,00022.T 2

Experiencias demonstraram que “a influencia do meio líquido é maior na formação da


estrutura do solo do que propriamente na permeabilidade do mesmo”.

O formato padrão de apresentar o coeficiente de permeabilidade é:

k20 = no ×10± ... cm/s

* Por exemplo, na página 32 da apostila “Notas de Aula da Disciplina Ensaios de Laboratório e Campo” , da
Professora Ana Lúcia – Ago. 05.

b) Influencia do solo (diâmetro, forma, arranjo, tipo de superfície dos grãos etc.)
b.1) Textura
k ∝ φ2 (partículas “esféricas”, como os pedregulhos, areias e siltes grossos).
Por exemplo: k = 102.φ2 (Fórmula de HAZEN – Eq. 4.10).
b.2) Índice de vazios
Raramente k ∝ e, mas k ∝ f(e), exemplos:
e3 e2
kα kα kαe 2 ou k ∝ log e etc.
1+ e 1+ e

f(e)
Fig. 4.17

c) Composição mineralógica
Praticamente nenhuma influencia no caso dos solos grossos; média influencia no caso
dos siltes e grande influencia no caso das argilas.

61
Para um mesmo índice de vazios (e), a permeabilidade é maior para as caulinitas que
para as montmorilonitas.
d) Estrutura (solos finos)
Para um mesmo índice de vazios (e), a permeabilidade é muito maior no caso da
estrutura floculada (ramo seco da curva de compactação) que no caso da estrutura
dispersa (ramo úmido da curva de compactação).
e) Grau de Saturação
“Solos não saturados apresentam valores do coeficiente de permeabilidade menores do
que solos saturados” (J.B. NOGUEIRA)

Permeabilidades equivalentes em terrenos estratificados

Em subsolos estratificados, nos solos onde há uma orientação das partículas (como é o caso das
alterações de rochas xistosas) ou nos casos de aterros compactados em camadas sucessivas, os
coeficientes de permeabilidade são diferentes na direção do acamamento e normal ao mesmo.

Seja k1 a permeabilidade na direção da estratificação e k2 na normal a essa direção e se


considerarmos o caso particular, mas comum, de um perfil de subsolo simples (ou regular) com
estratificação horizontal, teremos:

k1 ≡ k H

Fig. 4.18
k2 ≡ kV

Fluxo permanente paralelo à estratificação ⇒ k H :

Q Q Q Q Q


=   +   +   +L+  
t  t 1  t  2  t  3  t n

k H .i.A = k1.i1.A1 + k2.i2.A2 + k3.i3.A2 + … + kn.in.An

Na direção horizontal todos os extratos tem o mesmo gradiente hidráulico:

∆H
i = i1 = i2 = i3 = … = in ou i = ii onde i =
∆L

A=d×1

k H .d = k1.d1 + k2.d2 + k3.d2 + … + kn.dn sendo d = d1 + d2 + d3 + … +dn

62
n


∑ k .d i i
kH = i =1
n

∑d
i =1
i Eq. 4.13

NA m

NAj
∆H

d1
k1 (Q/t)1

Q k2 d2
(Q/t)2
t
k3 (Q/t)3 d3
d

dn
kn (Q/t)n

∆L

Fig. 4-19

Fluxo permanente perpendicular à estratificação ⇒ kV :

Na direção vertical, sendo contínuo o escoamento, todos os extratos tem a mesma vazão:

Q Q Q Q Q


=   =   =   =L=  
t  t 1  t  2  t  3  t n

∆H = ∆H 1 + ∆H 2 + ∆H 3 + L + ∆H n

63
∆H Q ∆L
kV .i.A = kv ⋅ ⋅A ⇒ ∆H = ⋅
∆L t kv ⋅ A

Q ∆L Q d Q d2 Q d3 Q dn


⋅ =  ⋅ 1 +  ⋅ +  ⋅ +L+   ⋅
t k v ⋅ A  t 1 k1 ⋅ A1  t  2 k 2 ⋅ A2  t  3 k 3 ⋅ A3  t  n k n ⋅ An

∆L d1 d 2 d 3 d
= + + +L+ n
kv k1 k 2 k 3 kn

∆L = d1 + d 2 + d 3 + L + d n

∑d i n
di
i =1
=∑
kv i =1 ki

∴ ∑d i
kV = i =1
n Eq. 4.14
di

i =1 k i

NAm

Q/t
∆H

k1 (Q/t)1 d1
NAj
d2
k2 (Q/t)2

d
∆L ...

kn (Q/t)n dn

Q/t

64
Se existir uma grande diferença entre as permeabilidades dos vários extratos e se tiverem
espessuras da mesma ordem de grandeza, a permeabilidade de menor valor influencia muito o
valor da permeabilidade equivalente vertical, acarretando kH > kV.
Para aterros compactados em camadas pouco espessas e para solos argilosos de deposição fluvial,
k k k
a relação 1 varia respectivamente entre os seguintes intervalos: 2 < 1 < 5 e 1 < 1 < 10.
k2 k2 k2

O coeficiente de permeabilidade (kx) em uma direção qualquer é:


k1 .k 2
kx =
k1 .sen α + k 2 .sen 2α
2

onde α é o ângulo de inclinação do fluxo de água em relação às camadas.

Bibliografia adicional
- “Hidráulica de meios permeáveis – Escoamento em meios porosos” – FERNANDO OLAVO FRANCISS –
Ed. Interciência / Ed. da USP, 1980.
- “Fluxo de água nos solos” – GENE STANCATI – EESC/USP, 1978.
- ... – SALOMÃO PINTO – IPR
- “Mecânica dos Solos II” – Prof. ERINALDO H. CAVALCANTE

65
Prática

1) Como se enuncia o princípio da conservação da energia (Equação de BERNOULLI) para os


solos, em termos de cargas hidráulicas ?

2) O que é Gradiente Hidráulico no estudo da Permeabilidade dos Solos?

3) Qual é a diferença convencional entre velocidade “aparente” e “real” do fluxo de água nos solos?

4) Qual é o princípio no qual tradicionalmente se baseia o conceito de permeabilidade do solo?


O que diz esse princípio?

5) Quais são as condições hidráulicas (hipóteses) de validade do conceito de permeabilidade para os


solos?

6) Defina permeabilidade do solo e responda: qual é o parâmetro numérico para expressar a grandeza
do coeficiente de permeabilidade e qual é sua unidade de medida usual ?
7) Qual é a diferença conceitual entre coeficiente de permeabilidade e de percolação?
8) Qual é a ordem de grandeza dos valores dos coeficientes de permeabilidade das areias e das argilas?
9) Quais são os fatores inerentes ao solo (inclusive relativos ao meio líquido) que interferem no valor
do seu coeficiente de permeabilidade? Faça comparações entre os casos das areias e das argilas.
10) De qual propriedade parte a dedução da fórmula de determinação do coeficiente de permeabilidade
em permeâmetros de carga variável?
11) Para qual tipo de solo cada tipo de permeâmetro é mais apropriado? Por quê?
12) O valor do coeficiente de permeabilidade do solo, determinado em laboratório, depende das
dimensões do corpo-de-prova ? Explique bem.
13) Calcule os valores dos coeficientes de permeabilidade e expresse-os no formato padronizado, de
duas amostras de solos cujos dados dos ensaios de laboratório são fornecidos na planilha a seguir:

Solo Argiloso Solo Arenoso


Altura do corpo-de-prova (cm) 25
Área da seção transversal do tubo de carga hidráulica (cm2 ) 3,25
Diâmetro do corpo-de-prova cilíndrico (cm) 5 10
Gradiente hidráulico 6
Temperatura de trabalho da água de percolação ( ºC ) 29 27
Variação do nível de água no tubo de carga (m) 1,25 para 0,65
Vazão (ml / min) 5
Velocidade média de descida da água no tubo de carga (cm/min) 0,06

66
14) Para o permeâmetro de carga constante da Fig. 4.18, traçar os diagramas das cargas altimétrica
(Z), piezométrica (u/γa) e total (H). Traçar também o diagrama de velocidades aparente (v) e real
(vp). Considere que o valor do índice de vazios (e) do CP da figura seja 0,5 e o Coeficiente de
permeabilidade (k) seja igual a 2 x 10-3 cm/s.

Fig. 4.18

15) Trace os diagramas de CARGAS HIDRÁULICAS (altimétrica - Z, piezométrica - u/γa e


total - H) “versus” Elevação, para os casos a seguir. Figuras sem escala!
(a)
Elevação (cm)

Carga (cm)
Fig. 4.19-a

67
(b) Elevação (cm)

Fig. 4.19-b Carga (cm)

(c) Elevação (cm)

Carga (cm)
Fig. 4.19-c

(d) Elevação (cm)

Carga (cm)

Fig. 4.19-d

68
16) Um córrego e um rio correm paralelamente por longa distância e entre eles existe uma
camada de areia, ligando-os, conforme a figura abaixo.
Calcule a vazão que flui, por metro corrido (perpendicular ao plano da figura) através dessa
camada permeável.

No +14 = _ _ _ m

531 m

Camada impermeável 526 m

Água

Córrego 2,5 m Areia Água

Camada impermeável Rio

Fig. 4.20 – Seção transversal (fora de escala)

O coeficiente de permeabilidade da areia foi determinado em laboratório utilizando um


permeâmetro de carga constante onde, através de uma amostra cilíndrica de 20 cm de altura e
10 cm de diâmetro, durante 4 minutos e meio percolou 1,5 litros de água, sob um desnível
(montante – jusante) de 2(No + 49) = _ _ _ _ _ _ centímetros.

Solução
Q × ∆L
k=
A × ∆H × t
O caso corresponde a permeabilidade a carga constante:
k × A × ∆H × t
⇒ Q=
∆L

1,5 × 1000 × 20 × 4 1,41471


k CP = = cm / s
3,14159 × 100 × ∆H × 4,5 × 60 ∆H

250 × 100 × (531 − 526) × 100 × 1


∴ Q = k CP × = ..........cm 3 (veja a tabela de resultados
∆L
numéricos a seguir)

69
No ∆H lab. kcp (cm/s) ∆L (cm) Q (cm3) Q (ℓ)
1 100 1,41E-02 1500 1,18E+02 1,18E-01
2 102 1,39E-02 1600 1,08E+02 1,08E-01
3 104 1,36E-02 1700 1,00E+02 1,00E-01
4 106 1,33E-02 1800 9,27E+01 9,27E-02
5 108 1,31E-02 1900 8,62E+01 8,62E-02
6 110 1,29E-02 2000 8,04E+01 8,04E-02
7 112 1,26E-02 2100 7,52E+01 7,52E-02
8 114 1,24E-02 2200 7,05E+01 7,05E-02
9 116 1,22E-02 2300 6,63E+01 6,63E-02
10 118 1,20E-02 2400 6,24E+01 6,24E-02
11 120 1,18E-02 2500 5,89E+01 5,89E-02
12 122 1,16E-02 2600 5,57E+01 5,57E-02
13 124 1,14E-02 2700 5,28E+01 5,28E-02
14 126 1,12E-02 2800 5,01E+01 5,01E-02
15 128 1,11E-02 2900 4,76E+01 4,76E-02
16 130 1,09E-02 3000 4,53E+01 4,53E-02
17 132 1,07E-02 3100 4,32E+01 4,32E-02
18 134 1,06E-02 3200 4,12E+01 4,12E-02
19 136 1,04E-02 3300 3,94E+01 3,94E-02
20 138 1,03E-02 3400 3,77E+01 3,77E-02
21 140 1,01E-02 3500 3,61E+01 3,61E-02
22 142 9,96E-03 3600 3,46E+01 3,46E-02
23 144 9,82E-03 3700 3,32E+01 3,32E-02
24 146 9,69E-03 3800 3,19E+01 3,19E-02
25 148 9,56E-03 3900 3,06E+01 3,06E-02
26 150 9,43E-03 4000 2,95E+01 2,95E-02
27 152 9,31E-03 4100 2,84E+01 2,84E-02
28 154 9,19E-03 4200 2,73E+01 2,73E-02
29 156 9,07E-03 4300 2,64E+01 2,64E-02
30 158 8,95E-03 4400 2,54E+01 2,54E-02
31 160 8,84E-03 4500 2,46E+01 2,46E-02
32 162 8,73E-03 4600 2,37E+01 2,37E-02
33 164 8,63E-03 4700 2,29E+01 2,29E-02
34 166 8,52E-03 4800 2,22E+01 2,22E-02
35 168 8,42E-03 4900 2,15E+01 2,15E-02
36 170 8,32E-03 5000 2,08E+01 2,08E-02
37 172 8,23E-03 5100 2,02E+01 2,02E-02
38 174 8,13E-03 5200 1,95E+01 1,95E-02
39 176 8,04E-03 5300 1,90E+01 1,90E-02
40 178 7,95E-03 5400 1,84E+01 1,84E-02
41 180 7,86E-03 5500 1,79E+01 1,79E-02
42 182 7,77E-03 5600 1,74E+01 1,74E-02
43 184 7,69E-03 5700 1,69E+01 1,69E-02
44 186 7,61E-03 5800 1,64E+01 1,64E-02
45 188 7,53E-03 5900 1,59E+01 1,59E-02
46 190 7,45E-03 6000 1,55E+01 1,55E-02
47 192 7,37E-03 6100 1,51E+01 1,51E-02
48 194 7,29E-03 6200 1,47E+01 1,47E-02
49 196 7,22E-03 6300 1,43E+01 1,43E-02
50 198 7,15E-03 6400 1,40E+01 1,40E-02
51 200 7,07E-03 6500 1,36E+01 1,36E-02

70
Unidade 4
HIDRÁULICA DOS SOLOS
4.3) Percolação
O termo percolação significa “movimento de água no solo” e insere-se, juntamente com a
capilaridade e a permeabilidade, no estudo da Hidráulica dos Solos.
O assunto é de importância fundamental em qualquer obra de terra, como barragens, muros de
arrimo, aterros em geral etc. e para o seu bom entendimento é necessário conhecer certos
princípios da Mecânica dos Fluidos, como os regimes de escoamento (laminar, permanente), a
Equação de DARCY (v = k.i), o princípio de BERNOULLI para fluidos em movimento ( Z + u/γa
+ ∆H = H ) e outros, cujas abordagens já ocorreram no item anterior (Unid. 4.2 –
Permeabilidade).
Equação diferencial do fluxo
Consideremos num maciço terroso sujeito à percolação de água, um elemento de dimensões dx,
dy e 1 (Fig.4.20). Embora a rigor o fluxo de água através do solo se processe normalmente
segundo 3 dimensões, é admissível considerá-lo bidimensional por simplificação, conforme
faremos a seguir.
Sejam vx e vy as componentes da velocidade com que a água penetra no elemento de solo.
À saída passarão a ser respectivamente: vx + dvx e vy + dvy.
vy + dvy

vx vx + dvx ∂v y
v y + dv y = v y + dy
dy ∂y
∂v
vx + dvx = vx + x dx
∂x
vy

dx

Fig. 4.20
Sendo iguais as quantidades de água que entram e saem do elemento, teremos:
 ∂v   ∂v y 
v x .dy + v y .dx =  v x + x dx dy +  v y + dy dx
 ∂x   ∂y 
Simplificando, vem:
∂vx ∂v y
+ =0 ( Eq. 4.13 ) conhecida como Equação da Continuidade.
∂x ∂y

Sendo válida a Equação de DARCY (Eq. 4.5), temos:


dH 1 ∂H ∂H
v x = k x .i x = k x = kx dx = k x , onde
dx dx ∂x ∂x

71
kx = Coeficiente de Permeabilidade na direção x,
H = Carga hidráulica total.
∂H
Analogamente: vy = k y
∂y

Fazendo-se a substituição dessas expressões na Eq. 4.13, chega-se a:

∂2H ∂2H
kx + ky =0 (Eq. 4.14)
∂x 2 ∂y 2

que é a Equação Geral do Fluxo ou Equação de LAPLACE, que rege o movimento dos líquidos
em meios porosos e também outros fenômenos físicos (transmissão de calor, campo elétrico etc.).
Se o meio for isotrópico em relação à permeabilidade (kx = ky ≠ 0) a Eq. 4.14 se simplifica para:

∂2H ∂2H
+ =0 ( Eq. 4.15 )
∂x 2 ∂y 2

A solução dessa equação é representada por um reticulado ortogonal (Fig. 4.21), ou seja, duas
famílias de curvas parabólicas confocais ortogonais entre si, denominada REDE DE
ESCOAMENTO ou REDE DE FLUXO (“flow net”) ou ainda REDE DE PERCOLAÇÃO.

Fig. 4.21

A rede é composta pelas LINHAS DE FLUXO que representam as trajetórias das “partículas” do
fluido e pelas LINHAS EQUIPOTENCIAIS, nas quais todos os pontos possuem idêntico valor de
carga hidráulica total (H). Entre duas dessas equipotenciais existe uma diferença de carga ∆H. As
linhas de fluxo adjacentes definem um canal de fluxo, responsável por uma parcela ∆(Q/t) da
vazão total Q/t.
Note-se que no caso de kx = ky, as redes de fluxo para materiais diferentes terão a mesma forma
geométrica.
Demonstra-se facilmente que numa rede de fluxo a razão ∆L/a entre os lados dos “retângulos”
formados, é constante. Se estabelecermos essa relação como sendo igual a 1 ⇒ ∆L = a, o traçado
da rede será feito com maior facilidade, embora não chegaremos exatamente a quadrados, pois

72
seus lados são curvos, mas será sempre possível inscrever um círculo tangenciando os quatro
lados da malha.

Métodos de obtenção das redes de fluxo


- Exato
1) Método analítico. Consiste em estabelecer as condições iniciais ou de contorno e integrar a
equação diferencial do fluxo, obedecendo-as. Chega-se então às equações das curvas
equipotenciais e das linhas de fluxo, traçadas a seguir por pontos. Face às dificuldades em se
definir as condições de contorno e à complexidade matemática do método, ele fica restrito apenas
aos casos mais simples.
- Aproximado
2) Método dos modelos reduzidos. Consiste em se reproduzir fielmente em areia, a forma
geométrica e as condições de contorno do maciço em estudo. Emprega-se para tal uma caixa com
paredes transparentes munidas de piezômetros (tubos plásticos transparentes) pelos quais se terão
as equipotenciais. As linhas de fluxo ficam definidas a partir da observação do percurso de gotas
de substancias corantes (permanganato de potássio, por exemplo) devidamente aplicadas em
pontos do maciço.
- Analógicos (semelhantes a outros fenômenos também regidos pela Equação de LAPLACE)
3) Método da analogia elétrica. Parte da igualdade entre a equação do fluxo elétrico através de um
meio condutor e a do fluxo hidráulico em meios porosos. Desta forma é possível alcançar-se a
rede de fluxo promovendo-se, em modelos reduzidos com materiais isolantes e condutores,
diferenças de potencial elétrico entre dois pontos, em correspondência com a diferença de
potencial hidrostático causador da percolação. As linhas de corrente elétrica terão o mesmo
formato que as linhas de fluxo. Com o auxílio de uma ponte de Wheatstone é possível medir os
potenciais em vários pontos, ao que chegaremos às equipotenciais.
4) Método da analogia magnética.
- Gráfico
5) Método gráfico. A rede é obtida traçando-a a mão livre por tentativas, procurando-se seguir
certas condições e recomendações. É um método de ampla aplicabilidade e que requer certa
prática de quem o utiliza, mas não depende da habilidade manual para desenho, pois se as regras
forem cuidadosamente seguidas, a equação de LAPLACE será atendida e a solução será única.
Deve-se atentar para os seguintes aspectos:
a) as linhas de fluxo e as equipotenciais são normais entre si;
b) as malhas serão “quadradas” (embora seja também correta a forma retangular, o que dificulta
o traçado);
c) as condições limites serão determinadas observando-se que:
- todas as superfícies de entrada e saída de água são equipotenciais;
- toda superfície impermeável é uma linha de fluxo e
- as linhas freáticas – NA (u = p atm.) tem, em cada ponto, o potencial H dado por sua
própria cota, ou seja: u/γa = 0 ⇒ H = Z.
ARTHUR CASAGRANDE fornece as sugestões a seguir, como forma de auxílio ao traçado das
redes (extraído do vol. 2 - H.P.CAPUTO):
- observar o aspecto das redes de fluxo bem desenhadas; quando a figura estiver bem
gravada, tentar reproduzi-la de memória;
- para uma primeira tentativa, não traçar mais que 4 ou 5 canais de fluxo, pois a
preocupação com maior número poderá desviar a atenção de outros detalhes importantes;

73
- não tentar acertar detalhes antes que a rede, como um todo, se apresente aproximadamente
correta;
- notar sempre que todas as transições, entre trechos retos e curvas das linhas, são suaves e
de forma elíptica ou parabólica. Os “quadrados”, em cada canal de fluxo, mudam
gradativamente de tamanho.
A seguir apresentam-se exemplos de redes de fluxo traçadas pela solução gráfica, nos casos de
uma cortina de estacas-prancha cravadas num terreno arenoso (Fig. 4.22) – que é o problema
clássico de FORCHHEIMER, e de uma barragem impermeável sobre um terreno permeável,
assente sobre duas linhas de estacas-prancha (Fig. 4.23).

Fig. 4.22

Fig. 4.23
Nos casos em que o terreno seja anisotrópico (kx ≠ ky) a rede de fluxo poderá ser obtida
empregando-se o chamado Artifício de SAMSIOE, que consiste numa transformação de
coordenadas, multiplicando-se as dimensões segundo a direção x por (ky/kx )½ ou então por
(kx/ky )½ se optarmos por alterar as medidas segundo a direção y. Feito isso resolvemos o
problema como se fosse isótropo e em seguida retornaremos o desenho às dimensões
originais, o que sem dúvida provocará uma deformação na rede.

Cálculo da vazão (Q/t)

Para fins do dimensionamento de sistemas de filtro-drenagem.


De uma rede de fluxo corretamente traçada, podemos assegurar que:
a) a diferença de carga total entre duas linhas equipotenciais adjacentes é constante, e
b) a quantidade de água que percola entre duas linhas de fluxo (canal de fluxo) é constante.
Essas propriedades permitem-nos determinar a quantidade de água que se infiltra através de
um maciço terroso, por unidade de comprimento. Com efeito, sendo a e ∆L as dimensões da

74
malha, Nd o número de quedas de potencial, Nf o número de canais de fluxo e os demais
termos já conhecidos, temos:

Q Q ∆H ∆H t a Nf
= ∆ .N f = k .i. A.N f = k . .a.1.N f = k .a.N f = k .∆H t . .
t t ∆L ∆L.N d ∆L N d

Q
a = ∆L ⇒ = k .∆H t .F
t (Eq. 4.16)

Nf / Nd é chamado de Fator de Forma (F).

Nf = número de linhas de fluxo menos 1


Observe que
Nd = número de equipotenciais menos 1

Na Fig. 4.22, por exemplo, Nd = 10 e Nf = 4 ⇒ Fator de forma = 0,4.

Cálculo da pressão neutra (u)

Devido ao princípio das tensões efetivas (σ’ = σ - u).


Num ponto qualquer P (Fig. 4.24) da rede de fluxo, aplica-se a equação de BERNOULLI:
u
+ Z + ∆H = H
γa
de onde tem-se que:

u = ( H − ∆H − Z ).γ a (Eq. 4.17)

Plano de carga
Montante
∆H
Piezômetro ∆Ht
u/γa
H
Jusante

P
Z
RN (“datum”)

Fig. 4.24
∆H t
onde ∆H = N d P . e N d P = número de quedas de potencial até o ponto P, contado na rede
Nd
de fluxo (podendo ser fracionário).

75
Cálculo do fator de segurança (FS) à ruptura hidráulica
Por causa dos carreamentos e erosões, externas e internas.
Em certos pontos da rede de fluxo, geralmente junto a superfícies livres, pode ser detectado o
risco de ruptura, causado pela elevação do valor do gradiente hidráulico (i).
Basicamente as duas formas mais comuns de ruptura hidráulica são o fenômeno da areia
movediça (também denominada quicksand), situação típica de areias finas e o da retroerosão
tubular (também denominada piping ou renard).
Seja j a pressão de percolação que se desenvolve em cada ponto do maciço sujeito ao fluxo de
água. Ela é do tipo intergranular e tem o mesmo sentido do escoamento.
A Fig. 4.25 ajuda-nos a deduzir sua expressão.

Fig. 4.25

A força de percolação agindo na área A é: J = ∆H.γa.A


∆H .γ a . A ∆H
Por unidade de volume: j = = γa ∴ j = i.γa (Eq. 4.18)
∆L. A ∆L
Quando j = γ’ (sendo γ’ o peso específico submerso do solo), diz-se que o gradiente
hidráulico crítico – ic foi alcançado. Ocorre então um afofamento da areia, com suas
partículas praticamente sem peso.
Substituindo na igualdade acima, j por γa.i = ic.γa , vem: γ` (Eq. 4.19)
ic =
γa

Agora substituindo γ’ por


(δ − 1)γ a , teremos: δ −1
ic = (Eq. 4.20)
1+ e 1+ e

onde δ representa a densidade das partículas de areia e e o índice de vazios.

76
Sendo ∆H constante, à medida que ∆L diminui, cresce o i, podendo atingir um valor crítico.
O máximo gradiente hidráulico na superfície de descarga – que condiciona a segurança contra
∆H
a ruptura, é imáx. = , extraído da rede de fluxo, onde ∆Lmín. é o comprimento do menor
∆Lmín.
“quadrado” (trecho de uma linha de fluxo) na superfície de descarga.

Naturalmente imáx. < ic e portanto


ic
FS = ≥1
imáx. (Eq. 4.21)

Por exemplo: ic ≅ 3 × imáx.. Neste caso o FS = 3.

Bibliografia adicional

- “Movimento d’água no solo” – JOÃO BATISTA NOGUEIRA. EESC, 1976.


- “Mecánica de Suelos – Tomo III: Flujo de Agua en Suelos” – EULALIO JUÁREZ
BADILLO & ALFONSO RICO RODRIGUEZ. Editorial Limusa. México, 1976.

77
Prática
1) O que representa a Equação de LAPLACE no estudo da Hidráulica dos Solos?
2) O que é, como é constituída e para que serve a rede de fluxo, no estudo da Hidráulica dos Solos?
3) O que é um canal de fluxo?
4) O que é o Fator de Forma da Rede de Fluxo?
5) Descreva sucintamente 3 métodos de obtenção das redes de fluxo num maciço terroso.
6) Cite pelo menos 3 condições que devem ser respeitadas no traçado da rede de fluxo pelo
método gráfico de FORCHHEIMER.
7) Cite 3 exemplos de aplicações práticas que atestem a importância da determinação das redes
de fluxo em problemas de engenharia.
8) Trace a rede de fluxo do sistema da figura 4.18. Para colocar a figura em escala, considere que o
diâmetro do CP seja 15 cm. Em seguida calcule a vazão que percola, usando o fator de forma.

9) Dados: Calcule:

Cortina de estaca-prancha
NA1 com 50 m de extensão (a) a vazão (Q/t) que
percola através do
maciço permeável.
NA2 ≡NT
10m
(b) O valor da pressão
neutra (u) no ponto
8m P.
15m
20m P

k = 5×10-4 cm/s
4m
Impermeável Fig. 4.26 (Fora de escala)

78
10) Calcule a vazão total perdida por percolação, por unidade de comprimento da fundação, numa
barragem de concreto cuja seção transversal é apresentada na Fig. 4.27, onde foi traçada a
correspondente rede de fluxo.
NA1

. Concreto
. impermeável NT ≡ NA2
45 m . ..
. .
................................ .........................................
................................ .................. ..........................................
.......................................................................................................
.......................................................................................................
....................................................................................... k = 4 × 10-2 cm/s
.........................................................................................................
.........................................................................................................

Substrato rochoso (rocha sã)


Fig. 4.27 (Fora de escala)

11) A figura 4.28 representa a Rede de Fluxo na seção transversal de uma barragem homogênea de
terra com filtro horizontal, tipo tapete. Sabendo que a permeabilidade do maciço é de 2 x 10 -7 m/s e a
espessura da lâmina de água a montante é H = 2N°+18 = _ _ _ m, calcule:
(a) o valor da vazão através da barragem por unidade de comprimento longitudinal.
(b) O valor da carga piezométrica no ponto marcado com ×, situado a Z = 2N°+3 =_ _ _m
acima do RN.

Fig. 4.28 – Corte transversal (Fora de escala)

12) Na figura 4.29 encontra-se esboçada a seção transversal de uma barragem de peso em CCR -
Concreto Compactado a Rolo. Esta barragem tem sua fundação em terreno homogêneo, isotrópico
e permeável, constituído por areia compacta, cujo coeficiente de permeabilidade (k) foi
determinado em laboratório como sendo igual a 2,5 x 10-3 cm/s.
Para este caso, trace a rede de fluxo subterrâneo e, a partir dela, calcule:
(a) a vazão (em l/s) por metro de comprimento da barragem.
(b) A vazão (em m3/dia), considerando que a barragem tem 40 m de extensão.
(c) O valor da pressão neutra (u) num ponto P situado no encontro das diagonais (linhas
tracejadas) abaixo da barragem.

79
NAmontante

Água
12 m NT NT ≡ NA jusante

3m

24 m
15 m
Terreno permeável (areia compacta)

Substrato rochoso (impermeável)


Fig. 4.29 (Fora de escala)

SOLUÇÃO
Traçado da Rede de Fluxo pelo método gráfico, em escala.

a) Cálculo da vazão, para 1 m

Q Nf
= k .∆H t .
t Nd
3
Q 2,5 4 −4 m
= × 12 × = 10 = 0,1l / s
t 10 3 × 10 2 12 s

b) Cálculo da vazão para 40 m

Q 10 −4
= × 40 = 345,6m 3 / dia
t 1 / 86400

c) Cálculo da poropressão u

80
u
+ Z + ∆H = H
γa
BERNOULLI, num ponto P qualquer:

∆H t 12
∆H = = = 1m
Nd 12

N dP
∆H P = N d P × ∆H = ∆H t × = 1 × 6 = 6m
Nd

u N dP
+ Z + ∆H t × =H
γa Nd

+ 6 + 6 = 27 ⇒ u = 10(27 − 12) = 150kPa


u
10

13) Refazer a resolução do problema 6.1, página 75, Capítulo 6, vol.3 – Exercícios e Problemas
Resolvidos, 4a edição do livro Mecânica dos Solos e suas aplicações, de HOMERO PINTO
CAPUTO, Livros Técnicos e Científicos S.A., R.J., 1987.
Conservar as dimensões indicadas na Fig. 6.1 mas ampliar a escala.
Obs.: a espessura da lâmina de água à montante é de 6,00 metros.

81
Unidade 5
DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES NO SUBSOLO
Tensões num maciço de terra

Todo ponto no interior da terra está solicitado por esforços devidos ao peso próprio do solo (tensões
virgens) e a forças externas aplicadas (tensões induzidas) – Fig. 5.1.

TANQUE

NT Tensões (kPa)

Peso Sobrecarga (Somatório)


Próprio (sc)
(pp)

Profundidade (m)
Fig. 5.1

A rigor as tensões se desenvolvem no espaço em 3 dimensões (ou nas 3 direções ortogonais entre
si), mas a favor da simplicidade consideraremos o problema plano, ou seja, em duas dimensões, o
que não se afasta muito da realidade, como se no subsolo as tensões laterais fossem iguais (Fig.
5.2).

Hipótese simplificadora:

Fig. 5.2

Tensões devidas ao peso próprio do solo

A determinação desses esforços é bastante complexa, em ambos os casos (pp e sc).


Mas se considerarmos:
a) a superfície do terreno plana (a princípio horizontal, embora possa ser inclinada também),
b) a natureza do solo variando muito pouco na direção horizontal (pode variar na direção vertical) e
c) se houver água, ela estará parada (“condição estática da água”), cairemos num caso mais simples.
É, no entanto, uma situação que se apresenta freqüentemente, em especial nos solos sedimentares.
Sob estas hipóteses a tensão vertical devida ao peso próprio é dada simplesmente por:

σv = γ.z (Eq. 5.1)

e estes esforços são chamados de Geostáticos (segundo T.W.LAMBE).

Obs.: Distinção entre pressão e tensão:


- Pressão corresponde a um estado de tensão particular em que as três tensões principais são iguais
(por exemplo, pressão neutra). Um elemento de fundação ou de contenção aplica tensões ao
terreno. (Hachich, W)

82
NT
γ.z Demonstração:
σ (kPa)
σ = F /A
γ=P/V ⇒ σ = γ.z
γ V = A.z
z P=F
A
Prof.(m)
Fig. 5.3

Em terrenos estratificados:
NT
γ1.z1 γ1.z1 + γ2.z2
σv

z1
γ1

z2
γ2
Fig. 5.4 z γ2.z2

n
∴ σv = ∑ γi.zi (Eq. 5.2)
i=1

TENSÕES TOTAIS, EFETIVAS e NEUTRAS

Admitindo-se um plano onde atuam tensões provenientes de cargas que agem sobre o solo, a tensão
no plano considerado é: σ = F /A, sendo F a carga total e A a área do plano. Mas o solo é um meio
contínuo composto de sólidos e vazios. Há uma superfície de sólidos e outra de vazios, e os “vazios
cheios” de água se comportam de maneira diferente dos sólidos em tensão.
Existem, portanto, duas superfícies de pressões:
- a correspondente aos sólidos e
- a correspondente aos vazios.
Assim, chamaremos de Poropressão (u) ou Pressão Neutra (termo em desuso), a toda pressão que
atua na água intersticial existente nos vazios do solo; Pressão Efetiva (σ’) a toda pressão que se
transmite grão a grão do solo e Pressão Total (σ) a soma das duas.

σ = σ’ + u (Eq. 5.3) - TERZAGHI

A tensão efetiva controla certos aspectos do comportamento do solo, principalmente o adensamento


e a resistência. A tensão neutra não mobiliza resistência ao cisalhamento.

Obs.: Para solos parcialmente saturados: σ = σ’ + u + uar

83
a) Pressões verticais no subsolo, até um plano x-x situado a uma profundidade z, quando NA
coincide com o NT:

NT≡NA σ’v u σv
σ
σv = γsat.z
u = γa.z
z σ’v = γsub.z
γsat
(Lembre-se que: γsat.= γsub. + γa)

x x
z
Fig.5.5 u
No caso de esforços geostáticos, a pressão neutra é numericamente igual à carga piezométrica.

b) Pressões verticais no subsolo, até um plano x-x situado a uma profundidade z, quando NA abaixo
do NT: u

NT γh.za u σ’v γh.z σv


σ

za γh NA γ
NA σv = γh.za + γsat.zb
z σ’v = γh.za + γsub.zb
γsat u = γa.zb
zb γ

x x
(γsat - γh).zb
z
Fig. 5.6

c) Pressões verticais no subsolo, até um plano x-x situado a uma profundidade z, quando NA
acima do NT: u
NA γa.za σ`v u σv
σ
za γa NT σv = γa.za + γsat.zb
σ`v = γsub.zb
u = γa.z
z
zb γsat.

x x
z Fig. 5.7

84
A pressão efetiva não depende da altura de água acima das camadas de solo. Porém, nos cálculos
onde há camadas submersas em água é necessário utilizar-se o peso específico do solo submerso.
Desta forma um acréscimo de pressão neutra sobre uma camada não tem efeito sobre as
propriedades mecânicas do solo nem sobre seu peso específico.
A pressão neutra é considerada nula quando é igual à pressão atmosférica.

d) Pressões verticais no subsolo, até um plano x-x situado a uma profundidade z, quando NA abaixo
do NT e ocorre capilaridade:
NT (5) (1) (4) (6) (2) (7) (3)
0
σ (+)

γh
za

hc NA −
z

zb u σ’v σv
γsat.
+
γsub.
x x
z u
Fig. 5.8
Pontos da abscissa do gráfico:
(1) σv = σ’v = γh.(za – hc)
(2) σv = σ’v = γh.(za – hc) + γsat.hc
(3) σv = γh.(za – hc) + γsat.hc + γsat.zb = γh.(za – hc) + γsat.(hc + zb)
(4) u = γa.zb
(5) u = - γa.hc
(6) σ’v = γh.(za – hc) + γa.hc
(7) σ’v = γh.(za – hc) + γa.hc + γsub.(hc + zb)
Obs.: Em qualquer cota é válida a Eq. 6.3: σv = σ’v + u

Tensões geostáticas horizontais


Conforme já foi dito no início, representando-se um ponto no interior do solo por um cubo,
simultaneamente à atuação da tensão vertical σv em suas faces horizontais, ocorrem também tensões
nas faces laterais, a rigor diferentes entre si em faces perpendiculares, porém, para maior
simplicidade do estudo, consideraremos como iguais (Figs. 5.2 e 5.9).

σy σy ≡ σv

σz σz = σx ⇒ σx ≡ σH

σx
Fig. 5.9

85
Assim, à pressão vertical de terra σv, corresponderá uma outra horizontal σH. A relação entre essas
tensões se expressa por um coeficiente K denominado coeficiente de tensão lateral, ou seja:
K = σH / σv.
< 1 se σv > σH
K será > 1 se σv < σH
= 1 se σv = σH

Coeficientes de empuxo ativo, passivo e em repouso:

Estado ativo Estado em repouso Estado passivo


y y y

-∆ ∆=0 +∆

σv = γ.z σv = γ.z σv = γ.z

σH = Ka.γ.z σH = Ko.γ.z
σH = Kp.γ.z
Solo (γ,c,ϕ)

y y y

Kp

Ko

Ka

∆ = deslocamento do paramento (contenção, cortina, muro de arrimo etc.)

Ka ≤ Ko ≤ Kp

Fig. 5.10

86
Esses estados limites de equilíbrio ou estados plásticos – o primeiro estado de equilíbrio inferior, o
segundo de equilíbrio superior – são também chamados de Estados de RANKINE.

Se não houver deformações laterais (εx = εy = 0) induzidas ao solo, K = Ko = coeficiente de


empuxo em repouso, ou seja:
σ`
K0 = H (Eq. 5.4)
σ `V

Ko é definido pela relação entre tensões efetivas !

O conceito do empuxo em repouso é empírico e, portanto, seu valor é essencialmente experimental.


Para as areias as observações tem mostrado valores de 0,3 a 0,8, variando com a compacidade. Para
as argilas o coeficiente de empuxo em repouso pode tomar qualquer valor, desde praticamente nulo
até superior a 1(no caso de argilas pré-adensadas).
Há uma fórmula empírica (dentre várias), que estabelece Ko ≅ 1 – sen ϕ’ (JÁKY, 1944), onde ϕ’ é
o angulo de atrito interno efetivo do solo (será visto com mais detalhes na Unid. 6 do Plano de
Ensino).Esta fórmula não pode ser aceita indiscriminadamente para as argilas, onde o valor de Ko
dependerá também de outros fatores (MILTON VARGAS).
Para solos normalmente adensados Ko = (0,9 a 1) × (1-sen ϕ’).
O valor de Ko de um solo pode ser obtido em um ensaio de compressão triaxial (C.S.PINTO) ou no
ensaio pressiométrico (B.S.BUENO & O.M. VILAR).
Valores de Ko obtidos experimentalmente:
(Fonte: CAPUTO – LTC, pág. 104 – vol. 2)
SOLO Ko
Argila 0,70 a 0,75
Areia solta 0,45 a 0,50
Obs.: Para fluidos Ko = 1. Areia compacta 0,40 a 0,45

Valor teórico de Ko (considerando-se um meio perfeitamente elástico):


p
Da Lei de HOOKE generalizada extraímos:
1
εx = [σx - ν(σy + σz)]
E
σz onde o símbolo grego minúsculo ν (nu – N) representa o
Coeficiente de POISSON, conforme será visto adiante.
σx Se não ocorrem deformações horizontais: εx = εy = 0
e sendo σx = σy = Ko.σz, vem:
σy ν .K 0 .σ Z K 0 .σ Z ν .σ Z
εx = − + − =0
E E E

Fig. 5.11 ν
K0 =
∴ 1 −ν (Eq. 5.5)

Coeficiente de POISSON (S.D. POISSON, 1781-1840. Matemático francês)


“Referindo-se a uma massa de solo submetida a uma tensão normal σ numa determinada direção z,
ν representa a relação entre as deformações específicas (ou unitárias) ε nas direções perpendicular e
paralela à direção z “.
87
z ν = deformação lateral / deformação axial =
∆b
εx b
= =
σ ε Z ∆L
L
O Coeficiente de POISSON é de difícil determinação
∆L para os solos, pois varia continuamente com a
deformação do elemento, mas para pequenas
L deformações, dentro da fase elástica do material, o
coeficiente pode ser considerado constante.
Exemplos (seg. CAPUTO):

z Material ν
Aço 0,30
b Concreto 0,20
Solos e Rochas 0,20 a 0,40
b + ∆b
Areias 0,30
Siltes 0,35
Fig. 5.12 Argilas 0,40

σ’H =Ko.σ’v σ’v = γ’.z


Tensões Em resumo, se a superfície do
terreno é horizontal e o peso
específico é constante com a
profundidade, os esforços
geostáticos vertical (σv) e
horizontal (σH) aumentam
linearmente com a profundidade
(LAMBE). Fig. 5.13.

z
(Obs.: Neste caso Ko < 1)
Profundidade
Fig. 5.13

88
Tensões induzidas (produzidas por carregamentos aplicados na superfície de um maciço)

a) Hipótese simples ou simplificada


Q Q
Q σv = = =p
o
A π .R 2

Sapata circular

σv o

R
Z
α α
σVz

Fig. 5.14 x

Q π .R 2 R2
σV z = = σ = σ (Eq. 5.6)
π ( R + x) 2 π ( R + Z .tgα ) 2 ( R + Z .tgα ) 2
vo vo

α = angulo de propagação ou espraiamento ≅ 30° (para solos predominantemente argilosos e


pouco rígidos) a 45° (para solos predominantemente granulares e compactos).

KÖGLER & SCHEIDIG, sugerem:


- solos muito moles α < 40°
- areias puras (coesão nula) α ≅ 40° a 45°
- argilas de coesão elevada (rijas e duras) α ≅ 70°
- em rochas α > 70°

(Sobre este tópico, veja também: item 3-2 H, pág. 86, 6a ed., vol. 2 de H.P.CAPUTO; o item 6.3.3 da NBR 6122 da
ABNT; a pág. 107, vol. I de VICTOR DE MELLO & A. TEIXEIRA; a pág. 114 de TSCHEBOTARIOFF, item 8.1 de
C.S. PINTO e outros)

b) Carga concentrada – Equação de BOUSSINESQ


Hipóteses básicas:
- o solo se comporta como um meio elástico;
- o solo é um meio homogêneo
- o solo é um meio isotrópico
- o maciço é um meio semi-infinito.

Integrando as equações diferenciais da Teoria da Elasticidade (equações de equilíbrio de forças e


momentos e a Lei de HOOKE) para as condições de contorno do problema (Fig. 5.15),
BOUSSINESQ chegou à equação 5.7:
Observe que esta fórmula não
3.Q.z 3 3.Q. cos 5 θ
σV Z = = depende do tipo de solo.
2π (r + z )
2 2 5/ 2
2π .z 2 (Eq. 5.7)
89
Q

θ σv z


r P

Fig. 5.15

Obs.: “Na fase de anteprojeto de fundações é frequentemente bastante útil substituir a fundação
real por uma carga pontual equivalente”. (ROMANEL, C. e SCHVARTZ, D.S. – PUC RJ, 1983)
5.4.3) Placa circular flexível* – Fórmula de LOVE (1935)
Integrando a Eq. 5.7 para as condições da Fig. 5.16, LOVE chegou à Eq. 5.8.

σ V = σ V .I
z o
(Eq. 5.8) , onde
3/ 2
 
 
 1 
I = Fator de Influência = 1 −
  R 2 
2R 1 +   
 z 
que pode ser tabelado.

σ v (pressão uniformemente distribuída) = p


o

z
σv z


P
Fig. 5.16

* Sendo a placa flexível, a distribuição da pressão de contato será igual à distribuição da carga na
superfície superior da fundação.

c) Carga distribuída em forma de um trapézio retangular, infinitamente longo.


Solução de CAROTHERS-TERZAGHI
90
b a

σv σ v = γ × altura
o
o

β α σv  
β + α − 2 [x − (a + b )]
x Z
Z r ∆σ v z = o

π  a r 
P
• (Eq. 5.9)

∆σ v z

x
Fig. 5.17

Solução de OSTERBERG (analítica e gráfica)

b a
∆σ V Z = σ vo .I 1
σv o
1 
β + α − 2 [x − (a + b )]
x Z
I1 =
π a r 
1 a+b 
β x = a + b ⇒ I1 =  β + α
Z=r α π a 
 b π
β =  arctg  rad
 Z  180
•  a.Z  π
P α = arctg 2  rad
∆σVZ  Z + b(a + b )  180

(Eq. 5.10)
x

Obs.: α e β estão multiplicados por π/180 para converter graus em radianos, se for preciso.

91
Fig. 5.18*

d) Carga distribuída sobre uma placa retangular flexível


Solução de STEINBRENNER (analítica e gráfica)
σ
I = VZ =
1  ( )
 b a a 2 + b 2 − 2aZ (R − Z ) 
+
b.Z a R 2 + Z 2 ( )
p
arctg 
2π  (
2 2
) 2 
 Z a + b (R − Z ) − Z (R − Z )  b + Z a + Z R 
2 2 2 2
( 
)
R = a2 + b2 + Z 2
(Eq. 5.11)
Obs.: arc tg em rad 1 rad = 180°/π 1° = π/180 rad

b p

a>b
•P
σV Z

* Gráfico traçado em Excel pelo monitor de Tecnologia da Construção, de Transporte e de Obra de Terra, AMIRO
JOSÉ PASSADAS, sob orientação do Prof. MARCUS S. NUNES, no 1º semestre de 2007.

92
Fig. 5.19

93
Solução de NEWMARK (analítica e gráfica)

σV Z 1  2mn m 2 + n 2 + 1 m 2 + n 2 + 2 2mn m 2 + n 2 + 1 
I= =  2 + arctg 
p 4π  m + n + m .n + 1 m + n + 1
2 2 2 2 2
m 2 + n 2 − m 2 .n 2 + 1
b (Eq. 5.12)
m=
Z
a
n=
Z
Obs.: arc tg em rad

Fig. 5.20

94
Prática

1) O que são esforços geostáticos e quais são suas hipóteses básicas simplificadoras?

2) Determine os valores das tensões geostáticas verticais, efetivas e totais, que ocorrem no
subsolo cujo perfil está apresentado na Fig. 6.21. Trace o correspondente diagrama tensões
“versus” profundidade até o plano x-x.

NT

za γh = 16 kN/m3
NA

γsat. = 18 kN/m3

x x

z = (N° + 24)/10 = _ _ _m za = (N° + 4)/10 = _ _ _ m

Fig. 5.21

3) Para o perfil de subsolo da Fig. 5.22 (croqui fora de escala), trace o diagrama de variação
das tensões geostáticas verticais efetivas, neutras e totais, até um plano situado a meia
espessura da camada de argila.

NA ≡ NT

12,5 m Areia compacta, peso específico natural


= 17 kN.m-3

Argila mole, teor de umidade


15,0 m natural = 38,2 %
densidade (relativa) = 2,75

5,0 m Areia compacta

Rocha sã
Fig. 5.22

95
4) Determine os valores das tensões geostáticas horizontais (efetivas e totais), que ocorrem no
tardóz do muro de arrimo indeslocável cuja seção transversal está representada na Fig. 5.23.
Trace o correspondente diagrama tensões “versus” profundidade, até o plano x-x.

NT

γh = 16 kN/m3
No + 4
NA za = m
10
N o + 24
z= m
10
γsat. = 18 kN/m3
Ko = 0,6

x x

Fig. 5.23

5) Calcule e trace (em escala) o diagrama de tensões geostáticas horizontais, efetivas e totais,
que atuam na parede de concreto do reservatório enterrado da Fig. 5.24, considerando-a
indeslocável.
NT

γh = 17,3 kN/m3 NA 2,5 m

8,5 m
γsat = 18,9 kN/m 3

Ko = 0,58

Fig. 5.24

6) Trace o gráfico de variação dos esforços geostáticos horizontais (efetivos e totais) que
atuam no tardóz de um muro de arrimo indeslocável da Fig. 5.25 (croqui fora de escala), que
retém um maciço terroso cujo coeficiente de empuxo em repouso é conhecido. Acima do
nível de água (NA) do lençol freático subterrâneo o solo pode ser considerado seco, por
simplificação. Abaixo do NA o peso específico natural foi fornecido.

96
NT

Muro de
arrimo (N°+20) / 20 = _ _ _ m
NA

γs = 18 kN/m3
γsat = 20 kN/m3
(N°+20) / 4 = _ _ _ m
Ko = 0,5
Tardóz

Fig. 5.25

7) Trace um gráfico com os diagramas de variações das tensões geostáticas horizontais


(efetivas e totais) que atuam no tardóz do muro de arrimo por gravidade (concreto ciclópico)
que retém um maciço terroso cujo coeficiente de empuxo ativo é 0,35, conforme o croqui
abaixo (fora de escala). Acima do nível de água o peso específico natural pode ser tomado
como 17 kN/m3 e abaixo 21 kN/m3.

NT1

NA N o + 19
20

N o + 19
4

NT2

Fig. 5.26

8) Para o caso da Fig. 5.27, calcule e trace os diagramas de tensões geostáticas horizontais
efetivas e totais, ativas e passivas, que atuam no elemento de contenção.

97
NT1

Muro de arrimo de
3,0 m
concreto armado γh = 16 kN/m3 NA
o
(N +59)/10 =
=___m

NT2 γsat= 18 kN/m3


Ka = 0,33
Solo não-coesivo
1,6 m
Kp = 3,0

(Figura fora de escala)

Fig. 5.27

9) Calcule e trace (em escala) o diagrama de tensões geostáticas horizontais, efetivas e totais,
que atuam na parede de concreto do reservatório enterrado da figura 5.28, considerando-a
indeslocável. O valor do coeficiente de empuxo em repouso do solo foi determinado em
laboratório como sendo igual a 0,55.

Concreto armado NT

γh=17kN/m3
3 × N o + 197
NA Za = = ___ m
100
Z = 3×Za

γsat.=19 kN/m3
Reserv.

Solo

Fig. 5.28 (fora de escala)

10) Para uma carga concentrada igual a 50 kN, aplicada na superfície do terreno, trace gráficos
que expressem as seguintes situações:
a) a variação das tensões verticais induzidas (σv z), com a profundidade (z), no eixo de
aplicação da carga (θ = 0);
b) a variação das tensões verticais induzidas (σv z), a 2 m de profundidade (z), à medida que
se afasta do eixo de aplicação da carga (r ou θ variando).

98
11) Uma sapata circular de raio 1 m, apoiada na superfície de um terreno, recebe uma carga de
628,3 kN. Trace o diagrama de tensões produzidas por este carregamento em pontos
situados na vertical que passa pelo centro da sapata, considerando a distribuição de tensões
uniforme e sob um angulo de propagação ou espraiamento de 45°. Compare com a solução
de LOVE.
12) Um tanque de aço para armazenamento de combustível encontra-se apoiado na superfície
plana horizontal de um terreno cujo subsolo é constituído por uma espessa camada de solo
silto-argiloso, conforme a figura 5.29. O nível do lençol freático (NA) ocorre a 6 m de
profundidade. O peso específico do solo pode ser tomado como 18,4 kN/m3 acima do NA e
19,2 kN/m3 abaixo do NA e o peso específico da água 10 kN/m3.Considerando a tensão de
contato exercida pelo tanque como sendo uniformemente distribuída numa placa flexível e o
solo de fundação homogêneo e isotrópico, trace o diagrama de tensões verticais (virgens e
induzidas), efetivas e totais, que se desenvolvem até Z = (No + 21)/2 = _ _ _m de
profundidade, segundo o eixo central do tanque.

Ø = 20 m
Peso bruto =
314,16 MN

NT

NA

Fig. 5.29 (fora de escala). Sistema Internacional de Unidades.

13) Três edifícios (A, B e C) estão construídos no mesmo alinhamento, tal como indicado na
figura 5.30, vendo-se as projeções horizontais (planta) das obras.

5
10 A C 10
B

20 5 30 5 20

Fig. 5.30 (fora de escala). Dimensões em metros.

99
As tensões de contato (na superfície do solo), aplicadas pelos prédios são:
- prédio A = 200 kPa, prédio B = 500 kPa e prédio C = 200 kPa.
Calcule a pressão vertical no centro do edifício B, a Z = (No + 21)/2 = _ _ _m de
profundidade.
14) Para fins de alcançar o greide de projeto de uma rodovia , um longo aterro com bermas (cuja
seção transversal tem a forma apresentada na Fig. 5.31) foi assente num terreno plano
horizontal, tendo a sondagem revelado um subsolo estratificado simples (ou regular),
também apresentado na mesma figura. Calcule o acréscimo de tensão vertical que a
construção do aterro provoca a meia espessura da camada compressível (argilosa), ao longo
do seu eixo de simetria.
Eixo de
2 3m 7m simetria
Aterro com bermas
Peso específico úmido = 16 kN/m3
2 6,0 m
NT ≡ NA 1
2,5 m

Areia compacta, peso específico natural = 17 kN/m3. 12,5 m

Argila mole, h nat = 38,2 %, δ = 2,75


15,0 m
Areia compacta
14,0 m

Rocha sã
Fig. 5.31 (fora de escala) Sistema Internacional de Unidades

15) Num terreno de superfície plana horizontal, cujo subsolo é constituído por uma espessa
camada de silte argiloso rijo, o nível de água do lençol freático ocorre a 5 m de
profundidade. Conforme resultados de laboratório, o peso específico natural do solo é 17
kN/m3 acima do NA, 18 kN/m3 abaixo do mesmo e o coeficiente de empuxo em repouso é
igual a 0,6. Sobre este terreno vai ser construído um galpão para depósito de materiais, cuja
projeção em planta tem 60 m × 30 m. Estima-se que o peso total da edificação a ser
distribuída uniformemente naquela área será 4,5 MN (meganewton). Calcule os valores (em
kPa) das tensões (virgens + induzidas), verticais e horizontais, totais e efetivas, que ocorrem
num ponto situado a 22,5 m de profundidade, no alinhamento de um eixo imaginário que
passa pelo centro da planta retangular do galpão.
16) Um radier de 15,30 x 9,15 m foi uniformemente carregado a uma intensidade média de 170
kPa na sua área total. Calcule a pressão vertical resultante num plano situado a
(N°+90,5)/10=_ _ _m abaixo da base do radier, sob os pontos P1 (no canto), P2 (no centro)
e P3 (no alinhamento do lado), conforme a figura 5.32.
15,30 m 27,50 m

P1• • P3

P2• 9,15m
Fig. 5.32 (Fora de escala)
100
17) Determine a tensão vertical 6 metros abaixo do ponto P indicado na figura abaixo (fora de
escala), devida a influencia do carregamento de uma caixa de água circular e da edificação
ao lado, por ela abastecida.

8,0
50 kPa 200 kPa m
P

9,0 m 10,0 m 16,0 m

101
Unid. 6) RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO
6.1) Introdução

É uma das principais propriedades mecânicas dos solos, cujo conhecimento é básico na análise
e solução dos mais importantes problemas da engenharia civil, tais como:
- estabilidade de taludes (aterros, cortes e barragens)

Solo Superfície
potencial
de ruptura Água

Fig.6.1-b
Fig. 6.1-a

- empuxos em muros de arrimo


Solo

Fig. 6.2

- capacidade de carga de fundações

Solo

Fig.6.3

São situações que envolvem


sempre em sua análise, o Tensão atuante (ττa)
deslizamento de uma parte do
maciço em relação a outra. Tensão
resistente (ττr)
Fig. 6.4

102
6.2) Estado Duplo ou Plano de Tensões
O caso ao lado (Fig. 6.5), de Esforços
NT Geostáticos, já estudado na Unid. 5, é um
exemplo do Estado Duplo ou Plano de
Tensões (tração ou compressão em duas
γ’ direções perpendiculares)
z Chamando de σ1 a maior das tensões
σ’v =γγ’.z
normais atuantes no elemento de solo
destacado na figura e de σ3 a menor delas e
P σ’H = σ’v.Ko
considerando que no caso
σ’v > σ’H, teremos a situação da Fig. 6.6.

Consideremos agora um plano genérico


Fig. 6.5
MN, inclinado de um angulo α, passando
pelo ponto P. Nele atuarão uma tensão
normal σ e uma tangencial ou cisalhante τ,
σ1 decorrentes da ação de σ1 e σ3, conforme a
Fig. 6.7.

σ1 N

σ3 α

P σ

Fig. 6.6 σ3
τ

M
Fig. 6.7

É fácil demonstrar, com o uso da trigonometria, que:

σ1 + σ 3 σ1 − σ 3 σ1 − σ 3
σ= + cos 2α (Eq. 6.1) e: τ= sen 2α (Eq. 6.2).
2 2 2

Valem aqui os seguintes princípios da Mecânica dos Sólidos:


- σ1 é a TENSÃO (NORMAL) PRINCIPAL MAIOR
- σ3 é a TENSÃO (NORMAL) PRINCIPAL MENOR (portanto, sempre σ1 > σ3)
- o plano onde σ1 atua denomina-se PLANO PRINCIPAL MAIOR (PPM)
- o plano onde σ3 atua denomina-se PLANO PRINCIPAL MENOR (ppm)
- os planos principais são sempre ortogonais (perpendiculares) entre si
- nos planos principais não atuam tensões tangenciais (τ = 0)

103
- o angulo α é contado sempre a partir do PPM, no sentido anti-horário, até o plano
em estudo (MN).

Se “unificarmos” as fórmulas 6.1 e 6.2, teremos:


2
σ +σ3  σ +σ3 
2
 (Eq. 6.3)
 σ − 1  +τ 2 =  1 
 2   2 
que é uma equação do tipo : (x – xo)2 + (y – yo)2 = r2 (Eq. 6.4), ou seja, a equação de uma
circunferencia (Fig. 6.8).
Fazendo a correspondência entre os termos das
equações 6.3 e 6.4, percebe-se que no caso da
Eq. 6.3, yo = 0 e portanto, a circunferência tem o
centro no eixo das abcissas.

Então, na Fig. 6.9, as coordenadas do centro são:


σ +σ3 
C = ( x0 ,0) =  1 ,0 
 2 
σ −σ3
e o raio é: r = 1
2
Esta representação gráfica é chamada de Círculo
das Tensões ou de MOHR – um artifício
Fig. 6.8 fabuloso para se expressar qualquer estado de
tensões.
τ

Fig. 6.9

104
6.3) Círculo de MOHR

Para um estado plano de tensões os valores de σ e τ, para um determinado α, podem ser


obtidos graficamente pelo Círculo da Tensões ou Círculo de MOHR.
O lugar geométrico dessas tensões representado um sistema de coordenadas cartezianas de
σ +σ3  σ −σ3
eixos σ × τ é um círculo de centro C =  1 ,0  e raio r = 1 .
 2  2

O Círculo de MOHR pode ser traçado quando se conhece as duas tensões principais ou as
tensões normais e de cisalhamento em dois planos quaisquer, desde que nestes dois planos as
tensões normais não sejam iguais (neste caso haveria uma infinidade de círculos).

ppm
σ1
α
PPM •
τ
σσ ϕ p

σ3

Solo

(direção de σ1) τ = σ.tgϕ

ϕ
τmáx.
τ
p r

ϕ (direção do PPM)
0 σ3 σ1 +σ
σ C

Fig. 6.10

105
CONVENÇÃO DE SINAIS

Positivo (+) Compressão


Tensão
normal
σ
Negativo (-) Tração

Tensão Positivo (+) Anti-horário •


tangencial
τ Negativo (-) Horário •

6.4) Estado de ruptura

6.4.1) Critério de MOHR-COULOMB


Como os Círculos de MOHR podem ser utilizados para representar qualquer estado de
tensões, através deles pode-se representar as tensões correspondentes ao estado de ruptura.
Em Resistência dos Materiais (ou Mecânica dos Sólidos) são estudadas as Teorias de
Resistência ou Critérios de Ruptura, que estabelecem cada uma delas, diferentes hipóteses
sobre o comportamento dos materiais nas condições de ruptura. Em Mecânica dos Solos são
empregados quase que exclusivamente os critérios de OTTO MOHR (1882) e
C.A.COULOMB (1776). O Critério de MOHR considera que a tensão de cisalhamento
correspondente à ruptura do material depende unicamente da tensão normal sobre o plano de
ruptura: τr = ƒ (σ). Esta equação é representada pela “curva intrínseca de ruptura” (seg.
CAQUOT) obtida traçando-se a envoltória dos círculos de MOHR correspondentes a pares de
tensões principais σ1 e σ3 causadores da ruptura do material (Fig. 6.11).
O critério de MOHR-COULOMB é um caso particular do critério de MOHR, supondo-se uma
variação linear entre σ e τ (hipótese perfeitamente válida na gama de tensões tratadas na
Engenharia) – Fig. 6.12, conforme a equação 6.5.

τ Região das τ τr = c + σ.tgϕ (Eq. 6.5)


tensões de ruptura

σ
σ
Fig. 6.11 Fig. 6.12

106
O intercepto c é atribuído à COESÃO (em kPa, por exemplo)
ϕ é o ANGULO DE ATRITO INTERNO (em °)

τr é a RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO (em kPa, p.e.)

Desta forma, pode-se admitir então que a “resistência ao cisalhamento” - τr, é constituída de
duas parcelas:
- atrito interno, ou seja, a resistência devida ao contato e à interpenetração das partículas e
- coesão, ou seja a resistência devida às forças (de natureza elétrica) que tendem a manter
unidas as partículas da massa sólida.
Assim, em primeira aproximação, diremos que os solos grossos, tais como as areias, devem a
sua resistência ao corte quase inteiramente ao atrito existente entre as partículas (Fig. 6.13-a).
Solos argilosos, sob certas condições, comportam-se como possuindo apenas coesão (Fig. 6.13-
b). E em outros, a resistência ao cisalhamento provém de ambas as parcelas (Fig. 6.13-c).

τ τ τ

ϕ ϕ
c ϕ=0
c Solos c-ϕ
(coesivo-friccionais)

σ σ σ
Fig. 6.13-a Fig. 6.13-b Fig. 8.13-c

Obs.:
A resistência por atrito pode ser simplificadamente demonstrada pela analogia com
o problema do deslizamento de um corpo sobre uma superfície plana horizontal:
N N
T
ϕ ϕ
T

(desprezado o p.p. do bloco) T = N.f f


1

Fig.6.14-a Fig.6.14-b N
Fig. 6.14-c
f = coeficiente de atrito

6.4.2) Definição de Resistência ao Cisalhamento:


“A resistência ao cisalhamento (τr) de um solo é a máxima tensão de cisalhamento (τ)
que o solo pode suportar sem sofrer ruptura” , ou : “a tensão de cisalhamento do solo
no plano em que a ruptura ocorre” (CARLOS DE SOUSA PINTO)

107
6.4.3) Fator de Segurança ao Cisalhamento:
Para um mesmo α e considerando-se σ3 constante, ao aumento de σ1 corresponde um aumento
de τa, até que este atinge τr (o círculo tangencia a envoltória).
Esforço resistente τ r
Sendo o FS (fator de segurança) ≤ 1, ocorrerá a ruptura, onde FS = =
Esforço atuante τa
τ

τa = τr = c + σ.tgϕ
τr

τa
σ Fig. 6.15
σ3
O diagrama de MOHR tanto é válido para tensões totais quanto para as efetivas:

τ Círculo das tensões efetivas Círculo das tensões totais

σ, σ’
σ’3 σ’1 σ3 σ1
σ1 - σ3 = σ’1 - σ’3 = 2r (Eq. 8.6)
u
Fig. 6.16 σ3 - σ’3 = σ1 - σ’1 = u (Eq. 8.7)

Assim, também a envoltória de MOHR-COULOMB pode ser expressa em termos de tensões


totais (T.T.) ou de tensões efetivas (T.E.):
τ

ϕ’
ϕ
T.E. T.T.

c
c’
σ, σ’

Fig. 6.17
c, ϕ : parâmetros referentes a tensões totais;
c’, ϕ’ : parâmetros referentes a tensões efetivas.

108
Os parâmetros de resistência c e ϕ (c’ e ϕ’) do solo são grandezas que variam com as
condições de solicitação, sendo a possibilidade ou não de drenagem, a permeabilidade do
material e a velocidade de carregamento os principais fatores que regem a variação deles.

Para se determinar a resistência ao cisalhamento de um solo, realizam-se ensaios RCT


(Resistência à Compressão Triaxial) em laboratório, com diferentes valores de tensão
confinante (σc = σ3), elevando-se σ1 até a ruptura (Fig. 6.18).

.
τ Faixa de dispersão

σ
σ3 σ3 σ3

σ1r σ1r σ1r

Fig. 6.18

6.4.4) Equação da ruptura de MOHR:


Plano de
τ ruptura teórico

c (σ1 - σ3)/2
ϕ α 2α
σ
σ3 C σ1

c σ1 +σ 3
tgϕ 2 ϕ
α = 45 o + (Eq. 6.8)
Fig. 6.19 2

σ1 −σ 3
senϕ = 2 ⇒ ... ⇒ σ1 = σ3. tg2α + 2.c.tg α
c σ +σ3
+ 1
tgϕ 2
Denominando tg α por Nϕ (valor de fluência – “flow factor”, seg. TERZAGHI), vem:
2

σ1 = σ3 . Nϕ + 2.c. √Nϕ (Eq. 6.9) : Equação da ruptura de MOHR

109
6.5) Prática

1) Qual é a diferença conceitual (de acordo com as definições teóricas) entre resistência à
compressão e resistência ao cisalhamento, no estado duplo ou plano de tensões ?

2) Em que consiste o critério de ruptura de MOHR-COULOMB para os solos?

3) Considere a Fig. 6.20 e determine:


a) as direções (valores de α) dos planos que passam por P1 onde atuam
simultaneamente as tensões | τ | = 130 kPa e σ = 320 kPa.
b) Os valores das tensões principais e as suas direções, em P2.

Tanque
NA

Solo

400 kPa 112,5 kPa

100 kPa P1 262,5 kPa


P2 75 kPa

Fig. 6.20

4) Um ponto no interior de um maciço terroso está submetido ao estado de tensões


esquematizado na Fig. 6.21, no qual as tensões principais valem 25(N° + 3) = _ _ _ kPa
e 25.N° = _ _ _ kPa. Determine os valores das tensões que ocorrem no plano x-x que
passa pelo mesmo ponto.

Fig. 6.21

5) Calcule (gráfica e/ou analiticamente) os valores da Resistência à Compressão e da


Resistência ao Cisalhamento para um solo submetido a uma tensão confinante total de
400 kPa, cuja equação da envoltória de MOHR-COULOMB foi informada pelo
laboratório como sendo τr = 16 + 0,384.σ kPa, também em termos de tensões totais
(T.T.).

110
Unid. 7) COMPRESSIBILIDADE e ADENSAMENTO
7.1) Introdução
Recalque
Recalque imediato (não-drenado; pouco expressivo): Teoria Matemática da Elasticidade
Recalque por adensamento primário = rec. por recompressão + rec. por compressão
Recalque por adensamento secundário (após a dissipação de ∆u; lento): creep

r = ri + rp + rs (Eq. 7.1)

O recalque por adensamento é a parcela mais importante no caso de obras em solos argilosos
normalmente adensados, saturados. Sua magnitude pode alcançar decímetros em obras prediais.
Em solos não saturados ou permeáveis o adensamento ocorre de forma rápida, sendo então o
recalque imediato o mais importante. O recalque secundário ocorre geralmente em solos argilosos
submetidos a tensões cisalhantes, tanto em nível de partículas quanto macroscópico. Tem
magnitudes muito baixas e ocorre durante longos períodos de tempo, chegando a décadas.
(GEOFAST)
7.2) Teoria do Adensamento
Quando se comprime o solo, segue uma redução em seu volume, decorrente
da diminuição do volume de vazios, caso as partículas sólidas (grãos) sejam
consideradas incompressíveis, o que é perfeitamente válido na engenharia.
Esta propriedade do solo é designada por compressibilidade.

No caso de solos saturados (S ≅ 100%), a variação do índice de vazios só ocorre mediante expulsão
de água (também esta considerada incompressível), o que se dará com relativa lentidão, produzindo
os denominados recalques por adensamento (deformações plásticas). Tal fenômeno pode ser bem
visualizado pela Analogia Mecânica de TERZAGHI. Em resumo esse modelo consiste num
recipiente cheio de água no qual se ajusta com perfeição um pistão ou êmbolo provido de uma
válvula, atuando sobre uma mola. Imediatamente após a aplicação de uma carga σ, toda ela será
absorvida pela água e gradualmente vai sendo transferida para a mola devido a expulsão da água
pela válvula, com simultânea descida do pistão. Chega-se por fim a situação na qual toda a carga é
suportada pela mola, que representa o arcabouço sólido (o “esqueleto”) do solo (Fig. 7.1).
σ

uo (pressão hidrostática)

z Fig. 7.1
Chamando de σ` a parcela de σ suportada pela mola e u a suportada pela água, teríamos a seguinte
variação com o tempo (t):
Tensões
σ
σ`

u
o Tempo Fig. 7.2

111
onde, em qualquer instante: σ = σ`+ u (Eq. 5.3, Unid. 5) ou seja, “Total = Efetiva + Neutra”

Este processo de transferência gradativa de pressões envolvendo um fluxo de água ao


longo do tempo e uma redução do volume do solo é o que se denomina adensamento.

A velocidade com que este fenômeno ocorre depende, no modelo de TERZAGHI, da capacidade de
vazão da válvula, correspondendo à permeabilidade no caso dos solos.
A rigor o problema deveria ser tratado em três dimensões e admitindo-se a possibilidade de
saturação parcial. Mas devido à complexidade matemática que isso acarreta, é comum e plenamente
admissível, por aproximar-se bem de condições reais, a adoção das seguintes Hipóteses Básicas
Simplificadoras, nas quais se fundamenta a Teoria do Adensamento de TERZAGHI:
- solo saturado e homogêneo;
- adensamento ou compressão unidimensional;
- escoamento da água intersticial unidimensional,
e ainda:
- validade da Lei de DARCY;
- valores constantes para certas características dos solos (av, k) que a rigor variam com a
pressão;
- linearidade da relação entre a variação do índice de vazios e o decréscimo de pressão;
além da já citada:
- água intersticial e partículas sólidas incompressíveis.
Quando o excesso da pressão hidrostática u diminui em função do tempo, a pressão efetiva aumenta
na mesma proporção:
∂u ∂σ `
=− (Eq. 7.2)
∂t ∂t
O desenvolvimento de tal condição leva à equação diferencial de 2a ordem:

∂u k .E ' ∂ 2 u k .E '
=− − = constante = cv [cv] = L2.T-1
∂t γ a ∂z 2
(Eq. 7.2-a)
γa (Eq. 7.3)

sendo cv denominado Coeficiente de Adensamento.


∆p
E `= = Módulo Edométrico (equivale ao Módulo de Elasticidade E para outros materiais).
∆h / h

Considerando então aquelas hipóteses, o fenômeno do adensamento de uma camada argilosa


expressa-se pela seguinte equação diferencial (de derivadas parciais de 2a ordem):

∂ 2 u ∂u (Eq. 7.4)
cv =
∂z 2 ∂t
Esta equação fornece a variação da pressão neutra (u) com o tempo (t) e a profundidade (z), se a
pressão neutra inicial (uo) é constante. Deverá ser resolvida levando-se em conta as condições
iniciais e de contorno de cada caso. A integração da equação é feita por séries de FOURIER.
“A forma da equação diferencial do adensamento era há muito conhecida na Física Teórica, que a utilizava
no estudo da transmissão do calor, do movimento dos sólidos nos líquidos viscosos e outros fenômenos
físicos de difusão (POISSON-EULER)” apud Costa Nunes

112
7.3) Aplicações práticas
Neste capítulo analisaremos uma situação de subsolo correspondente a uma camada argilosa
(compressível) entre duas arenosas (drenantes, incompressíveis), conforme Fig. 7.3.

NT ≡ NA

Camada arenosa ≥ 10k


(drenante)

Camada argilosa saturada k (Coef. de Permeabilidade)


(compressível)

Camada arenosa ≥ 10k


(drenante)

Fig. 7.3

Esta situação de campo corresponde ao Ensaio de Adensamento Edométrico executado no


Laboratório, que é um ensaio de compressão unidimensional, lateralmente confinado (Fig. 7.4),
caso em que εx = 0 ⇒ ν (Coef. de POISSON) = 0 (variação volumétrica: deformação lenta por
redução de volume, sem mudança de forma).
σ1

Anel rígido
σ2 = σ3 = ?
CP

σ1
Fig. 7.4

Obs.: e = índice de vazios; ε = deformação específica.

113
Fig. 7.5) Prensa de Adensamento Edométrico do LMS do IPUC

7.3.1) Cálculo do recalque total por compressão primária (adensamento), ∆H


Ocorrem nos solos argilosos saturados. São decorrentes da expulsão da água dos vazios do solo.
Desenvolvem-se lentamente, chegando mesmo a demorar séculos.
∆σ

∆H ∆H = Hi - Hf (Eq. 7.5)

Hf Hi Considerando as seguintes relações já conhecidas:

P γg
V = A.H γ = e= −1
V γs
teremos:

Ps Ps
A
V Vf γ s γ sf P  1 1 

∆Fig.
H =7.5 i − = i − = s −
A A A A A  γ si γ s f 

∆H =
Ps
(1 + ei − 1 − e f ) = Ps ⋅ ∆e = Ps ⋅ Vi ⋅ ∆e = Ps . A.H i ⋅ ∆e
A.γ g A.γ g A.Ps (1 + ei ) Ps . A(1 + ei )

Hi
∴ ∆H = ⋅ ∆e
1 + ei (Eq. 7.6)

(Observe que esta demonstração não depende do solo estar saturado!)

114
A variação do índice de vazios ∆e com a tensão σ` é obtida em laboratório, no Ensaio de
Adensamento Edométrico, que gera a curva de compressibilidade abaixo:
A inclinação da reta virgem,
σ’a ∆e /∆logσ`, é chamada de
σ` (esc. log.) Índice de Compressão e
designado por Cc (às vezes K),
adimensional.
eo
∆e
Cc = (Eq. 7.7)
∆logσ` ∆ log σ `

∆e σ’a = Pressão de pré-adensamento (ou PPA).


“Reta virgem” σ `f
∆e = C c ⋅ ∆ log σ `= C c (log σ ` f − log σ `i ) = C c ⋅ log =
σ `i
σ `i + ∆σ
= C c ⋅ log
e Fig. 7.6 σ `i

Substituindo na Eq. 7.6, vem: σ `i + ∆σ


Hi
∆H = C c ⋅ ⋅ log
1 + ei σ `i (Eq. 7.8)

equação esta aplicável aos casos de argilas normalmente adensadas (OCR = 1).
As tensões são calculadas a meia espessura da camada compressível.

A deformação volumétrica específica (ou unitária) do solo (εvol.) em relação ao acréscimo de


pressão, é chamada de coeficiente de variação volumétrica unidimensional, designado por mv,
conforme a seguinte expressão:

(ou seja, a variação específica de volume é diretamente proporcional ao aumento da pressão).


Fisicamente mv expressa a compressibilidade do solo, relacionada com seu volume inicial. Regula a
quantidade de água a sair do solo.

Assim teremos:
∆V A.∆H
ε V A.H i ∆H 1
mv = vol . = i = ⇒ mv = ⋅ ∴ ∆H = mv .H i .∆σ (Eq. 7.9)
∆σ ∆σ ∆σ H i ∆σ

∆H
Eq. 7.9 ⇒ = mv .∆σ
Hi ∆e ∆e 1
mv ⋅ ∆σ = ⇒ mv = ⋅
∆H ∆e 1 + ei ∆σ 1 + ei
Eq. 7.6 ⇒ =
H i 1 + ei

Chamando ∆e/∆σ de Coeficiente de Compressibilidade vertical e designando por av, vem:


av
mv = (Eq. 7.10) [mv] = [av] = L2.F-1 115
1 + ei
av representa, em módulo, a inclinação da curva de compressibilidade, em escala natural, no ponto
de que se trata. O valor de av depende da pressão atuante sobre o solo, portanto a rigor não é uma
constante do mesmo. Fisicamente o av mede a razão de variação do índice de vazios com a pressão.
Um av alto caracteriza um solo muito compressível.

O inverso do coeficiente de variação volumétrica é chamado de Módulo de Adensamento médio


ou Módulo de Deformabilidade por Adensamento ou ainda Módulo Edométrico e designado
por E`:
σ ∆σ 1 1 + ei
E `= = = = [E`] = F.L-2
ε ∆H mv av (Eq. 7.11)
Hi

k (1 + ei )
cv =
Relacionando a Eq. 7.11 com a Eq. 7.3, vem: a v .γ a (Eq. 7.3-a)

(Na prática despreza-se o sinal negativo e expressa-se em m2/ano )

7.3.2) Evolução do recalque em função do tempo, rp = f (t)

Recalque parcial, rp = U.∆H U= Porcentagem média ou Grau de Adensamento = f (T)

A resolução da Eq. 7.4 para as condições de contorno expressas na Fig. 7.3 fornece:
c .t
T= v 2
 Hi  (Eq. 7.12) T = Fator tempo [T] = adimensional
 
 n 

Hi / n é a distância de drenagem, Hd n = 1: drenagem simples ( “camada semi-aberta”)


onde n = número de camadas drenantes: n = 2: drenagem dupla (“camada aberta”)

U% 10 20 30 40 50 60 70 80 90 95 98 99
T 0,008 0,031 0,071 0,126 0,197 0,287 0,403 0,567 0,848 1,129 1,500 1,781
Obs.: Para T = 2 ⇒ U ≅ 100% ⇒ rp = ∆Η

Determinação do cv:
- é obtido através de um determinado ponto da curva ∆H × t do ensaio de adensamento em
laboratório.
Pelo método de TAYLOR & MERCHANT, o ponto é U = 50 % e o tempo é plotado em escala t .

2
 Hi 
2  
cv = T50
Hd
= 0,197  n  (Eq. 7.13)
t 50 t 50
t50 é extraído da curva, conforme visto no laboratório.
116
Pelo método de CASAGRANDE, o ponto é U = 90 % e o tempo é plotado em escala log t
2
 Hi 
2  
cv = T90
Hd
= 0,848  n  (Eq. 7.14)
t 90 t 90

t90 é extraído da curva, conforme se vê no laboratório.

Segundo H.P.CAPUTO, “ambos os métodos conduzem praticamente ao mesmo resultado”, o


que é controverso! (ver, p.ex., COSTET & SANGLERAT, T.W.LAMBE)
Quanto maior cv mais rápido é o adensamento. Ele regula a velocidade dos recalques, por reunir os
parâmetros do solo (e, k, av) que afetam a velocidade do adensamento.

Existem outros métodos de determinação do cv (ver WINTERKORN and FANG Foundation Engineering Handbook):
Inflection Point Method (COUR, 1971), NAYLOR-DORAN (1948) e balanced area method – aproximações sucessivas
(TEVES and MOH, 1968).

Recomendação bibliográfica adicional:


- PACHECO SILVA, F. Uma nova construção gráfica para determinação da pressão de pré-adensamento de uma
amostra de solo. In: IV CBMSEF, Rio de Janeiro. Anais, v.2, tomo I, p. 225-232, 1970.

117
7.4) Prática

1) O que é o Índice de Compressão edométrica e para que serve?

2) Determine o valor do recalque total por adensamento da camada de argila, num prédio
assente sobre o terreno cujo perfil de subsolo é visto na Fig. 7.7. Pelo método de
STEINBRENNER estima-se que esta obra provoca um acréscimo de 7,3 kPa a meia
espessura da camada compressível.

COTA
(m) NT
100

NA Classificação HRB/USC: A.3 (0) / SP


Peso específico natural, γnat. = 21 kN/m3 (acima do
99,0
NA) e γnat. = 22 kN/m3 (abaixo do NA)

93,5
Classificação HRB/USC: A.7-6(19) / CH
Índice de vazios, e = 0,90
Peso específico natural, γnat. = 20 kN/m3
Coeficiente de permeabilidade, k = 2,8 × 10-8 cm/s
Índice de compressão, Cc = 0,49
85,5

Classificação HRB/USC: A.2-6 (3) / SC

Fig.7.7

Resp.: 50 mm.
3) Determine o tempo (em dias) necessário para que se produza 80% de adensamento na
camada do solo com as seguintes características:
- coeficiente de permeabilidade = 8,29 × 10-5 cm/s
- índice de vazios natural = 0,90
- coeficiente de compressibilidade = 8 × 10-3 m2/kN
- peso específico da água = 10 kN/m3
A espessura da camada é de 12 m, com superfícies permeáveis acima e abaixo.
Resp.: ∼ 12 dias.
4) Calcule o valor do recalque total por adensamento, r ou ∆H (mm), que ocorre devido ao
rebaixamento do lençol freático de 2m para 8 m de profundidade, num subsolo
estratificado regular, onde ocorre a presença de uma camada argilosa compressível com Hi
= 5 m de espessura situada entre duas de areia (ambas com 10 m de espessura cada). Sabe-
se também que o índice de vazios natural da camada argilosa é 1,08 e o índice de
compressão edométrica é 0,50. Considere ainda os seguintes pesos específicos dos solos:
areia acima do NA = 16 kN.m-3, areia abaixo do NA = 18 kN.m-3 e argila no estado natural
= 20 kN.m-3.
118
5) Um longo aterro com seção transversal na forma de um trapézio isósceles vai ser construído
sobre um terreno plano horizontal. A sondagem do local revelou que o nível do lençol
freático (NA) praticamente coincide com o nível do terreno (NT) e que o subsolo
estratificado regular, é constituído por uma camada compressível com 5 m de espessura
entre duas camadas de areia.
O laboratório forneceu os seguintes resultados:
a) para a camada compressível:
- solo CL-ML / A.7.5 (16);
- peso específico natural (saturado), γsat. = 20 kN/m3;
- índice de vazios natural = 1,08
- índice de compressão edométrica, Cc = 0,50.
b) para as camadas drenantes:
- solos SW / A.1.b(0)
- peso específico natural = 18 kN/m3.
Estima-se, pelo método de OSTERBERG, que a obra provocará um acréscimo de 150 kPa a
meia espessura da camada compressível, plano este situado a (N°+39)/4 = _ _ _m de
profundidade, a partir do NT.
Nestas condições, calcule o valor do recalque total por adensamento esperado.

6) Numa estrutura de concreto, duas sapatas isoladas quadradas precisam ter o mesmo recalque
uniforme, embora seus carregamentos e tamanhos sejam diferentes.Ambas as sapatas estão
apoiadas à mesma profundidade na camada de areia, acima do nível de água (NA), conforme
croqui abaixo.
O laboratório forneceu os seguintes valores lidos durante um ensaio de adensamento
edométrico executado em corpos-de-prova de amostras indeformadas do solo da camada de
argila:
σ` (kPa) 25 50 100 200 400 800 1000 1600 3200
e ( - ) 0,760 0,744 0,728 0,712 0,707 0,614 0,585 0,522 0,429
Despreze qualquer interferência entre as sapatas e despreze também o recalque da areia.
a) Qual é o valor do recalque total da sapata S1 devido à camada compressível?
b) Em primeira aproximação, considere a propagação da pressão 1:2 (H:V) e determine o
tamanho da sapata S2 para sofrer o mesmo recalque de S1.

119

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