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Nelson Rodrigues
- Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas
farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido
não interessa a ninguém.
- Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das
irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer
borra-botas.
- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande
apoteose. Os admiradores corrompem.
- O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma.
Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica
uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
- Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se
chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.
- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam
por ele.
- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou
vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.
- Outro dia ouvi um pai dizer, radiante: — "Eu vi pílulas anticoncepcionais na bolsa
da minha filha de doze anos!". Estava satisfeito, com o olho rútilo. Veja você que
paspalhão!
- Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.
- O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil
para todos, melhor ainda.
- Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma
ressentida contra si mesma.
- Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que
não chegam nunca.
As frases polêmicas e cheias de humor de Nelson Rodrigues são publicadas como uma
homenagem à passagem de seu aniversário de nascimento (23-08-1912). Elas foram
selecionadas e organizadas por Ruy Castro, extraídas do livro "Flor de Obsessão",
Cia. das Letras - São Paulo, 1997, págs. diversas.