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TEMAS
CRONOLOGIA
DATA 08/08/1901 30/04/1938 31/12/1940 04/08/1947 29/04/1976 19/07/1976 01/10/1976 05/07/1991
Primeiro estatuto dos dis-
da Região Autónoma da
as
O conselho de ministros
do distrito do Funchal
sório da Madeira
adjacentes
Madeira
deira
1974
Art. 225º Regime político-administrativo CONDICIONALISMOS E FORMAS DA AUTONOMIA
dos Açores e da Madeira
A História da Autonomia
A aspiração da autonomia nasceu com o homem,
mas foi na antiguidade clássica que mereceu a necessária
teorização política e a primeira aplicação prática. O siste-
ma de governo definido pelas civilizações grega e romana
para os espaços conquistados é a primeira expressão disso.
Os territórios ou cidades formavam unidades administra-
tivas independentes., usufruindo de poder legislativo e
executivo. A longevidade e afirmação das cidades italianas
é resultado disso. Só no século dezanove a formação do
reino da Itália (1856-70) acabou com o poder destas.
O Senhorialismo medieval foi o elo de continuidade
ao definir para os senhores feudais um território de poder
fora da alçada da coroa. Mas a tendência para a afirmação
e centralização do poder régio, reforçada pelas teses de
Maquiavel e Jean Bodin, desfez essas formas de poder MAQUIAVEL[1469-1527] e JEAN
BODIN [1529/1596] argumentam a
descentralizado. favor de um poder centralizado forte.
O caso da Espanha em 1492, com a conquista de Enquanto o primeiro se opõe à anar-
Granada e a total unificação dos reinos, é exemplo desta quia italiana apostando na centraliza-
ção do poder na figura do príncipe, o
política. O movimento continuou em toda a Europa e só segundo apresenta a ideia de soberania
no século XVII as disputas autonómicas entraram na de acordo com a ideia romana de
ordem do dia, com o caso da Irlanda. Todavia só em 1885 majestade imperial para afirmar que é
perpétua, indivisível e absoluta.
discutiu-se o “Home Rule” que foi aprovado em 1893 e
levado à prática desde 1914. Esta política surgira nos EUA
em 1872 com John F. Dillon.
Entretanto em 1755 na Córsega foi pioneira do
movimento autonomista liderado por Pascal Paoli que
conduziu ao projecto, não concretizado, de independência
a 8 de Maio de 1769.
A Revolução Francesa não deu continuidade às teorias Federalismo: O Federalismo actual
federalistas dos EUA, antes pelo contrário, reforçou a surge com a independência dos Esta-
estrutura centralista do poder. Em oposição ao jacobinis- dos Unidos da América e define a
existência de duas comunidades: local
mo surgiu no século XIX o regionalismo tradicional. e nacional, em que se expressam for-
Os anos quarenta do século XX provocaram uma mas de governo distinto. A divisa dos
profunda transformação da conjuntura política. A ideia de EUA, “Pluribus unum”[união de vá-
rios] expressa de forma clara esta reali-
autodeterminação, que surge na carta do Atlântico(1941) dade
ganha vigor nos acordos de Yalta(1945). No fim da
Segunda Guerra Mundial o regionalismo passou para a
ordem do dia: a Sicília tornou-se região autónoma em 15
de Maio de 1946.
Do século XV ao Liberalismo
(Manuel Pestana Reis, "Regionalismo. A autonomia da Madeira", in Quinto Centenário do Descobrimento da Madeira, Publicação
comemorativa, Funchal, Dezembro 1922)
Constituição de 1976
TÍTULO VII
Regiões Autónomas
Artigo 225.º - (Regime político-administrativo dos Açores e da Madeira)
1. O regime político-administrativo próprio dos arquipélagos dos Açores e da Madeira fundamenta-se nas suas característi-
cas geográficas, económicas, sociais e culturais e nas históricas aspirações autonomistas das populações insulares.
2. A autonomia das regiões visa a participação democrática dos cidadãos, o desenvolvimento económico-social e a promo-
ção e defesa dos interesses regionais, bem como o reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade entre todos os
portugueses.
3. A autonomia político-administrativa regional não afecta a integridade da soberania do Estado e exerce-se no quadro da
Constituição.
1. As regiões autónomas são pessoas colectivas territoriais e têm os seguintes poderes, a definir nos respectivos estatutos:
a) Legislar, com respeito pelos princípios fundamentais das leis gerais da República, em matérias de interesse específico para
as regiões que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania;
b) Legislar, sob autorização da Assembleia da República, em matérias de interesse específico para as regiões que não este-
jam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania;
c) Desenvolver, em função do interesse específico das regiões, as leis de bases em matérias não reservadas à competência da
Assembleia da República, bem como as previstas nas alíneas f), g), h), n), t) e u) do n.º 1 do artigo 165.º;
d) Regulamentar a legislação regional e as leis gerais emanadas dos órgãos de soberania que não reservem para estes o res-
pectivo poder regulamentar;
e) Exercer a iniciativa estatutária, nos termos do artigo 226.º;
f) Exercer a iniciativa legislativa, nos termos do n.º 1 do artigo 167.º, mediante a apresentação à Assembleia da República de
propostas de lei e respectivas propostas de alteração;
g) Exercer poder executivo próprio;
h) Administrar e dispor do seu património e celebrar os actos e contratos em que tenham interesse;
i) Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regio-
nais, nos termos de lei-quadro da Assembleia da República;
j) Dispor, nos termos dos estatutos e da lei de finanças das regiões autónomas, das receitas fiscais nelas cobradas ou gera-
das, bem como de uma participação nas receitas tributárias do Estado, estabelecida de acordo com um princípio que asse-
gure a efectiva solidariedade nacional, e de outras receitas que lhes sejam atribuídas e afectá-las às suas despesas;
l) Criar e extinguir autarquias locais, bem como modificar a respectiva área, nos termos da lei;
m) Exercer poder de tutela sobre as autarquias locais;
n) Elevar povoações à categoria de vilas ou cidades;
o) Superintender nos serviços, institutos públicos e empresas públicas e nacionalizadas que exerçam a sua actividade exclu-
siva ou predominantemente na região, e noutros casos em que o interesse regional o justifique;
p) Aprovar o plano de desenvolvimento económico e social, o orçamento regional e as contas da região e participar na ela-
boração dos planos nacionais;
q) Definir actos ilícitos de mera ordenação social e respectivas sanções, sem prejuízo do disposto na alínea d) do n.º 1 do
artigo 165.º;
r) Participar na definição e execução das políticas fiscal, monetária, financeira e cambial, de modo a assegurar o controlo re-
gional dos meios de pagamento em circulação e o financiamento dos investimentos necessários ao seu desenvolvimento
económico-social;
s) Participar na definição das políticas respeitantes às águas territoriais, à zona económica exclusiva e aos fundos marinhos
contíguos;
t) Participar nas negociações de tratados e acordos internacionais que directamente lhes digam respeito, bem como nos be-
nefícios deles decorrentes;
u) Estabelecer cooperação com outras entidades regionais estrangeiras e participar em organizações que tenham por objec-
to fomentar o diálogo e a cooperação inter-regional, de acordo com as orientações definidas pelos órgãos de soberania com
competência em matéria de política externa;
v) Pronunciar-se por sua iniciativa ou sob consulta dos órgãos de soberania, sobre as questões da competência destes que
lhes digam respeito, bem como, em matérias do seu interesse específico, na definição das posições do Estado Português no
âmbito do processo de construção europeia;
x) Participar no processo de construção europeia mediante representação nas respectivas instituições regionais e nas delega-
ções envolvidas em processos de decisão comunitária quando estejam em causa matérias do seu interesse específico.
2. As propostas de lei de autorização devem ser acompanhadas do anteprojecto do decreto legislativo regional a autorizar,
aplicando-se às correspondentes leis de autorização o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo 165.º.
3. As autorizações referidas no número anterior caducam com o termo da legislatura ou a dissolução, quer da Assembleia
da República, quer da assembleia legislativa regional a que tiverem sido concedidas.
4. Os decretos legislativos regionais previstos nas alíneas b) e c) do n.º 1 devem invocar expressamente as respectivas leis de
autorização ou leis de bases, sendo aplicável aos primeiros o disposto no artigo 169.º, com as necessárias adaptações.
Para efeitos do disposto no n.º 4 do artigo 112.º e nas alíneas a) a c) do n.º 1 do artigo 227.º, são matérias de interesse espe-
cífico das regiões autónomas, designadamente:
a) Valorização dos recursos humanos e qualidade de vida;
b) Património e criação cultural;
c) Defesa do ambiente e equilíbrio ecológico;
d) Protecção da natureza e dos recursos naturais, bem como da sanidade pública, animal e vegetal;
e) Desenvolvimento agrícola e piscícola;
f) Recursos hídricos, minerais, termais e energia de produção local;
g) Utilização de solos, habitação, urbanismo e ordenamento do território;
h) Vias de circulação, trânsito e transportes terrestres;
i) Infra-estruturas e transportes marítimos e aéreos entre as ilhas;
j) Desenvolvimento comercial e industrial;
l) Turismo, folclore e artesanato;
m) Desporto;
n) Organização da administração regional e dos serviços nela inseridos;
o) Outras matérias que respeitem exclusivamente à respectiva região ou que nela assumam particular configuração.
1. Os órgãos de soberania asseguram, em cooperação com os órgãos de governo regional, o desenvolvimento económico e
social das regiões autónomas, visando, em especial, a correcção das desigualdades derivadas da insularidade.
2. Os órgãos de soberania ouvirão sempre, relativamente às questões da sua competência respeitantes às regiões autóno-
mas, os órgãos de governo regional.
3. As relações financeiras entre a República e as regiões autónomas são reguladas através da lei prevista na alínea t) do arti-
go 164.º.
Artigo 230.º - (Ministro da República)
1. O Estado é representado em cada uma das regiões autónomas por um Ministro da República, nomeado e exonerado pelo
Presidente da República, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho de Estado.
2. Salvo o caso de exoneração, o mandato do Ministro da República tem a duração do mandato do Presidente da República
e termina com a posse do novo Ministro da República.
3. O Ministro da República, mediante delegação do Governo, pode exercer, de forma não permanente, competências de
superintendência nos serviços do Estado na região.
4. Em caso de vagatura do cargo, bem como nas suas ausências e impedimentos, o Ministro da República é substituído pelo
presidente da assembleia legislativa regional.
1. São órgãos de governo próprio de cada região a assembleia legislativa regional e o governo regional.
2. A assembleia legislativa regional é eleita por sufrágio universal, directo e secreto, de harmonia com o princípio da repre-
sentação proporcional.
3. O governo regional é politicamente responsável perante a assembleia legislativa regional e o seu presidente é nomeado
pelo Ministro da República, tendo em conta os resultados eleitorais.
4. O Ministro da República nomeia e exonera os restantes membros do governo regional, sob proposta do respectivo pre-
sidente.
5. É da exclusiva competência do governo regional a matéria respeitante à sua própria organização e funcionamento.
6. O estatuto dos titulares dos órgãos de governo próprio das regiões autónomas é definido nos respectivos estatutos polí-
tico-administrativos.
1. É da exclusiva competência da assembleia legislativa regional o exercício das atribuições referidas nas alíneas a), b) e c),
na segunda parte da alínea d), na alínea f), na primeira parte da alínea i) e nas alíneas l), n) e q) do n.º 1 do artigo 227.º, bem
como a aprovação do orçamento regional, do plano de desenvolvimento económico e social e das contas da região e ainda
a adaptação do sistema fiscal nacional às especificidades da região.
2. Compete à assembleia legislativa regional apresentar propostas de referendo regional, através do qual os cidadãos eleito-
res recenseados no respectivo território possam, por decisão do Presidente da República, ser chamados a pronunciar-se
directamente, a título vinculativo, acerca de questões de relevante interesse específico regional, aplicando-se, com as neces-
sárias adaptações, o disposto no artigo 115.º.
3. Compete à assembleia legislativa regional elaborar e aprovar o seu regimento, nos termos da Constituição e do estatuto
político-administrativo da respectiva região.
4. Aplica-se à assembleia legislativa regional e respectivos grupos parlamentares, com as necessárias adaptações, o disposto
na alínea c) do artigo 175.º, nos n.os 1, 2 e 3 do artigo 178.º e no artigo 179.º, com excepção do disposto nas alíneas e) e f)
do n.º 3 e no n.º 4, bem como no artigo 180.º, com excepção do disposto na alínea b) do n.º 2.
1. Compete ao Ministro da República assinar e mandar publicar os decretos legislativos regionais e os decretos regulamenta-
res regionais.
2. No prazo de quinze dias, contados da recepção de qualquer decreto da assembleia legislativa regional que lhe haja sido
enviado para assinatura, ou da publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se pronuncie pela
inconstitucionalidade de norma dele constante, deve o Ministro da República assiná-lo ou exercer o direito de veto, solici-
tando nova apreciação do diploma em mensagem fundamentada.
3. Se a assembleia legislativa regional confirmar o voto por maioria absoluta dos seus membros em efectividade de funções,
o Ministro da República deverá assinar o diploma no prazo de oito dias, a contar da sua recepção.
4. No prazo de vinte dias, contados da recepção de qualquer decreto do governo regional que lhe tenha sido enviado para
assinatura, deve o Ministro da República assiná-lo ou recusar a assinatura, comunicando por escrito o sentido dessa recusa
ao governo regional, o qual poderá converter o decreto em proposta a apresentar à assembleia legislativa regional.
5. O Ministro da República exerce ainda o direito de veto, nos termos dos artigos 278.º e 279.º.
1. Os órgãos de governo próprio das regiões autónomas podem ser dissolvidos pelo Presidente da República, por prática de
actos graves contrários à Constituição, ouvidos a Assembleia da República e o Conselho de Estado.
2. Em caso de dissolução dos órgãos regionais, o governo da região é assegurado pelo Ministro da República.
A Assembleia da República decreta, nos termos da 2 - No âmbito das competências dos órgãos regionais, a
alínea b) do artigo 164.°, do n.° 3 do artigo 169.° e do execução dos actos legislativos no território da Região é
artigo 228.° da Constituição, precedendo proposta da assegurada pelo Governo Regional.
Assembleia Regional da Madeira, nos termos do n.° 1 do
artigo 228.° e da alínea e) do n.° 1 do artigo 2'29.° da Art. 5
Constituição. o seguinte:
1 - A Região tem bandeira. brasão de armas, selo e hino
Título I próprios, aprovados pela Assembleia Legislativa
Regional.
Artigo 1.°
2 - Os símbolos regionais são utilizados nas instalações e
1 - O arquipélago da Madeira, composto pelas ilhas da actividades dependentes dos órgãos de governo próprio
Madeira, do Porto Santo, Desertas, Selvagens e seus ilhéus, da Região ou por estes tutelados.
constitui uma região autónoma da República Portuguesa,
dotada de personalidade jurídica de direito público. 3 - Os símbolos regionais são utilizados conjuntamente
com os correspondentes símbolos nacionais e com
2 - A Região Autónoma da Madeira abrange ainda o mar salvaguarda da precedência e do destaque que a estes são
circundante e seus fundos, definidos como águas devidos, nos termos da lei.
territoriais e zona económica exclusiva, nos termos da lei.
Art. 6.°
Art. 2.°
A soberania da República Portuguesa é especialmente
1 - A autonomia política, administrativa e financeira da representada na Região por um Ministro da República,
Região Autónoma da Madeira não afecta a integridade da nos termos definidos na Constituição.
soberania do Estado e exerce-se no quadro da Constituição
e do seu Estatuto. Art. 7.°
2 - A autonomia da Região Autónoma da Madeira visa a A organização judiciária nacional tomará em conta as
participação democrática dos cidadãos, o desenvolvimento necessidades próprias da Região.
económico e social integrado do arquipélago e a promoção
e defesa dos valores e interesses do seu povo, bem como o Art. 8.°
reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade
entre todos os portugueses. 1 - A Região exerce poder tributário próprio nos termos
da lei e dispõe das receitas fiscais nela cobradas, bem
Art. 3.° como de outras que lhe sejam, atribuídas, nomeadamente
as geradas no seu espaço territorial.
1 - São órgãos de governo próprio da Região a Assembleia
Legislativa Regional e o Governo Regional. 2 - Nos termos da Constituição, a Região tem o sistema
fiscal próprio resultante da adaptação do sistema fiscal
2 - As instituições autonómicas regionais assentam na nacional às especificidades regionais.
vontade dos cidadãos, democraticamente expressa, e
participam no exercício do poder político nacional. 3 - Nos termos da Constituição, o sistema fiscal regional
será estruturado por forma a assegurar a correcção das
Art. 4.º desigualdades derivadas da insularidade, a justa repartição
da riqueza e dos rendimentos e a concretização de uma
1 – A representação da Região cabe aos respectivos órgãos política de desenvolvimento económico e de justiça
de governo próprio. social.
(Lei nº.13/91 de 5 de Junho, Diário da República, nº.128,
série 1ª de 5 de Junho de 1991)
PERSONALIDADES
PERSONALIDADES DE DESTAQUE NA LUTA PELA AUTONOMIA
Henrique Vieira de Castroapresentou a 16 de Outubro de 1910 uma proposta mais arrojada, que ia no sentido da orga-
nização de um partido regional que fosse a “sentinela vigilante na defesa dos interesses da Madeira”, um “partido autono-
mista” apostando na descentralização administrativa, capaz de promover o desenvolvimento económico da Madeira e de
fornecer técnicos para colaborarem com o governo nacional e a Junta Geral. A autonomia da Madeira seria um ideal “pelo
qual devem lutar todos os seus filhos legítimos e adoptivos”.
O Diário de Notícias diz confiar na competência e na boa vontade dos governantes republicanos para levar a bom termo
os melhoramentos que Vieira de Castro reclamava e sugeria a colaboração com aqueles para que a Madeira deixasse de ser
“a Irlanda Portuguesa”.
Mais emotiva foi a reacção do articulista do dia 18 de Outubro que assinava como “um republicano da velha guarda”.
Para além da rejeição do projecto federal de H. Vieira de Castro colocou a questão do unanimismo: só há monárquicos e
republicanos, ou se está com o Governo que apenas iniciara a sua árdua tarefa ou se está contra ele suspirando pela
Monarquia e fundar um partido novo era dividir para reinar. E rematava: “Vá, cidadão Vieira de Castro, ─ um passo em
frente, e saúde a bandeira verde e encarnada, a exemplo do que já fizeram o exército, a marinha e os homens mais
ilustrados do país. Depois venha o abraço fraternal e a sua valiosa colaboração na obra redentora da República”.
A polémica em torno da proposta de Vieira de Castro continuou por algum tempo nas páginas do Diário de Notícias,
afirmando aquele que o partido autonómico pretendia oferecer a colaboração dos monárquicos ao novo regime, desde que
a Madeira passasse a ser um Estado Federado dentro do novo regime constitucional que em breve seria implementado.
O “republicano da velha guarda” acusava-o de querer a independência da Madeira. No dia 21 de Outubro Vieira de
Castro, nas páginas do mesmo diário, esclarecia que apenas tinha reclamado um Estado Federado dentro da República Por-
tuguesa e que no caso da Constituição optar por um Estado Unitário, o partido autonomista trabalharia “para que a Madei-
ra tenha uma mais ampla autonomia e maior dotação a fim de poder realizar os melhoramentos de que tanto carece e que
se não podem levar a efeito com o actual rendimento da Junta Geral”.
Dois dias depois, a 23 de Outubro, o “republicano da velha guarda”, continuando a acusar Vieira de Castro de preten-
der a independência da Madeira, denunciava a sua atitude como malabarismo político dos saudosos da Monarquia: “a
Madeira foi por longos anos uma antiga Irlanda, quando teve a boa sorte de ser administrada pelos monárquicos, que hoje
se oferecem, novíssimos messias, para a salvarem dum abismo que eles próprios lhe escancararam! Mas hoje os tempos são
outros e não venham os especuladores das velhas tricas e mistificações eleitorais pescar em águas turvas, que o peixe não
pega na isca (...). A boa fé do senhor candidato autonomista e dos amigos relata-se em duas palavras: eles oferecem a sua
cooperação eleitoral aos candidatos republicanos sob condição da escolha destes recair em indivíduos que conheçam as
necessidades do distrito, possam e saibam defender os interesses deste no parlamento. Pois são estes mesmos catões de
cebo que na última eleição de deputados andaram a eleger pelos seus caciques os senhores Emílio Gil e Lobo da Vila Lima,
dois continentais que sabem tanto das necessidades do distrito, como nós de um lagar de azeite”.
MANUEL PESTANA REIS [1894/1966] nasceu na freguesia dos Canhas, concelho da Ponta de Sol, no dia 1 de Abril
de 1894 e faleceu na cidade do Funchal no dia 4 de Julho de 1966.
Frequentou o Seminário Diocesano do Funchal, transitando daí para o Liceu do Funchal
onde fez o Ensino Secundário, matriculando-se depois na Faculdade de Direito da Universida-
de de Coimbra, terminando o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa.
Nacionalista convicto, foi advogado, político, escritor, jornalista e poeta. Colaborou em
vários jornais da Madeira e continente, entre eles O Imparcial, Correio da Madeira, Jornal da Madei-
ra e dirigiu mais tarde o órgão do regime salazarista Diário da Manhã. Católico indefectível,
defendeu sempre esta causa e militou no Centro Católico Português. Era amigo de Salazar e
Cerejeira. Combateu na célebre batalha de La Lys durante a 1ª Guerra Mundial.
Nos tempos de estudante dedicou-se à poesia tendo escrito em 1913 um livro de versos
intitulado Canções Tristes, e mais tarde recriou outros dois Avezinha e Canção da Ilha. Proferiu
muitas palestras na Emissora Nacional tendo-se depois publicado em 1944, com o título de
Consciência Nacional e Consciência Política.
Foi professor no Liceu do Funchal e no Liceu Passos Manuel, dirigiu durante vários anos a Casa Pia de Lisboa e per-
tenceu à administração da Santa Casa da Misericórdia do Funchal. Foi vogal da Câmara Municipal do Funchal, procurador
à Junta Geral da mesma cidade e porta-voz da comissão de propaganda da União Nacional.
"A Madeira precisa tomar posições de defesa e resistência dentro da vida política portuguesa para manter os seus direi-
tos e atingir aquele grau de civilização e progresso, a que obriga a roda da fortuna. A sua situação geográfica e incremento
da sua riqueza, as suas condições de isolamento no Atlântico, a idiossincrasia do seu povo, a confluência de linhas de inte-
resses que centraliza e põe em contacto com o mundo, marcam-lhe uma finalidade própria, diversa da continental, que lhe
definem horizontes dentro dos quais cabe uma larga autonomia administrativa.
Desviar a Madeira das engrenagens da política portuguesa, é uma obra de salvação. Para isso urge criar uma adminis-
tração modelar, que apague a fisionomia de campanários eleiçoeiros, de estreitas sucursais de S. Bento e Terreiro do Paço,
degraus de profissionais da política, que os actuais municípios apresentam, em que a vida distrital e concelhia encontre
defesa, amparo e cuidados puramente regionalistas. Na composição das câmaras e das Juntas devem entrar despidos de
preconceitos e ódios partidários, capazes de deixar em casa credos políticos e confessionais, (...) claro que não é ainda aqui
que param as nossas reivindicações e aspirações regionalistas. É o primeiro passo para uma obra larga de autonomia. Den-
tro do sistema administrativo actual, pouco mais se pode fazer. (...) Porque desenganemo-nos, enquanto as questões de
interesse madeirense estiverem sujeitas a passar pelo crivo do critério do deputado de Trás-os-Montes, do Douro, do Alen-
tejo ou do Algarve, e até do deputado latoeiro de Lisboa, não se conseguirá vê-las resolvidas a tempo, e, muito menos, a
nosso contento. Proteladas, esquecidas ou estragadas pelos dignos pais da Pátria, as nossas questões são sempre tidas e
resolvidas a título de favor que nos vexa e prejudica. De semelhante tutela, devemos todos trabalhar para nos emancipar-
mos.
Alcançar a carta de alforria que nos dê o governo da nossa casa com independência e largueza, conformes com os
nossos interesses vitais, é o objectivo primacial de uma campanha de regionalismo, que tem de ser feita por todos os madei-
renses de sangue e coração, com fé e persistência. Lancemos os alicerces... Vamos aos municípios e arredemos a política,
essa política baixa, cancerada de todos os vícios que um século de partidarismos caciqueiros amontoou em torno da árvore
administrativa, esterilizando-a e minando-a de morte".
[M. Pestana Reis, “Palavras que o vento leva....” Correio da Madeira 19.08.1922 ]
“A Autonomia da Madeira tem sido o pão nosso de cada dia dos artigos de fundo dos jornais, nos últimos tempos. (...)
parece-me que já vai sendo tempo de passar da literatura à prática, do sonho à realidade, das afirmações platónicas às
acções, das aspirações abstractas, indecisas, sem finalidade concreta, ao estudo consciencioso, dum plano de organização
firme e decisiva (...).
Não basta gritar: viva a autonomia da Madeira!... É preciso que esse viva possa ser vivido realmente, não só em grito,
em berro, mas em actos, em consciência e inteligência esclarecidas e orientadas por razões sérias, fundamentadas nas possi-
bilidades de emancipação dum povo condenado à tutela perpétua e, portanto, destituído de faculdades de adaptação ime-
diata a fórmulas novas administrativas ou corporativas.
Tenho visto escrito e dito que o que se pretende é um alargamento da autonomia administrativa. Isto corresponde,
não à consecução da verdadeira carta de alforria de que a Madeira urgente e estruturalmente precisa, mas a uma maior
comparticipação nas receitas criadas e cobradas pelo Estado. Já é alguma coisa, mas não é tudo, é até muitíssimo pouco
Isso fica muito aquém da fórmula regionalista preconizada por mim e por outros desde há um ano.
A aspiração máxima regionalista dos que me acompanham e animam nesta campanha, é a conquista do governo com-
pleto da nossa casa, das nossas cousas, dos nossos interesses, dos nossos negócios, das nossas riquezas privativas, dentro
dum sistema de descentralização administrativa, que nos liberte dos tentáculos absorventes, atrofiadores, eloquentes do
Terreiro do Paço, sem quebra dos laços nacionais.
Somos portugueses e portugueses queremos viver e perpetuarmo-nos com a imortalidade da Pátria comum.
Mas dentro dessa Pátria, como madeirenses, queremos ar, vida própria, liberdade para criar o nosso lar à nossa seme-
lhança, segundo o meio, a fortuna, as possibilidades de querer e poder de povo que esmagou a rocha, domou o mar, criou
relações fortes e assentes com o mundo, relações morais, de sangue e de comércio e uma finalidade, um destino, maneiras
de ser inconfundíveis.
Atingimos a maioridade.
Não precisamos que nos dêem a emancipação. Havemos de fazer com que se quebre por nossas mãos a tutela abusi-
vamente imposta e avaramente regateada.
Vamos dar forma ao nosso esforço, ao nosso querer, às nossas aspirações. Depois, será tempo de tocar a reunir.
P. S. Vejo pelos relatos dos jornais que a Junta Geral do Distrito pela voz do seu presidente pôs a questão da Autonomia da
Madeira nos termos convenientes afirmando, como
órgão representativo de todos os organismos populacionais do arquipélago, a urgente necessidade de dar forma a um pen-
samento e a uma vontade em marcha. Muito bem! Vejo mais que ao escrever as linhas que atrás ficam, interpretei com
vigor um pensamento que é pertença de todos os que, em assuntos de tamanha responsabilidade, não se deixam arrastar
por ventanias de impressões, mas sabem que no meio de tais ventanias urge lançar ferro para a nau não dar à costa.
Entremos, pois, na fase do estudo e da organização!
Um alvitre: - porque se não reúnem os advogados para tomar para si o encargo de estudar e elaborar as bases orgâni-
cas, sob o ponto de vista jurídico, da autonomia da Madeira?"
[M. Pestana Reis, “Regionalismo / A Autonomia da Madeira / Falou já o sentimento; fala agora a razão”, Correio da Madeira
07.11.1922]
“Há quinhentos anos as caravelas do Infante entregaram às penedias da Ilha, os primeiros povoadores. Gente
portuguesa, o seu sangue e o seu génio transmitiram-se de geração em geração sem mistura sensível. Os actuaes habitantes
da Madeira são portugueses, portuguesa é a sua língua, portugueses são os seus costumes. Por cá passaram espanhóis e
ingleses em contínuas caravanas de nómadas do cosmopolitismo, e a larga porta da emigração espalhou pelo mundo
colónias de naturais cujo número d'almas deve ascender presentemente a bem um milhão. Todavia, a natureza étnica deste
povo permanece inalterável. A fixidez dos caracteres específicos antropológicos e psicológicos, resistiu a todos os
contactos, a todas as misturas, a todas as infiltrações. Em quinhentos anos a árvore genealógica dos primeiros povoadores
desenvolveu-se em linha recta. Os madeirenses não podem renegar a Pátria pela razão natural de não poderem negar a raça.
Madeirenses e ingleses, madeirenses e americanos, são elementos que se repelem. Não é só o facto do sangue que
impede essa união fantasiada, essa osmose repugnante de raças diferentes, mas uma civilização secular com raízes
profundas na vida e na história.
Nestas circunstâncias, é tão impossível o separatismo ou independência como uma substituição ou troca de bandeira
nacional.
Autonomia, quer dizer descentralização, ou melhor, desconcentração política e administrativa, apenas. Isto significa
que a sombra da bandeira de todos os portugueses se levantará a bandeira regional, particular dos madeirenses, com seu
escudo e brasão d'armas.
Não é um grito de revolta, mas simples petição de justiça. Adquirimos direitos, exigimos que os reconheçam e nos
garantam o seu livre gozo e exercício.
Esses direitos. e aqui está porque a nossa voz soa a quebrado, colidem, de certo modo com os princípios da
democracia pura. E digo de certo modo, porque o sistema político, dito democrático, que nos rege, é manifestamente
híbrido. Em boa democracia a centralização é a regra. Todas as funções se concentram nas mãos do Estado.
A Nação resume-se numa abstracta consciência colectiva que se define pela lei do número que por sua vez, se
concretiza nos poderes legislativo e executivo. Uma república individualista e igualitária, como parece ser a nossa, só
aberrativamente comporta uma, administração diferenciada e fraccionada por autonomias locais. O Estado dividiu o País
em províncias, distritos, concelhos e freguesias. Administrativamente a província nada significa, é uma designação que ficou
dos velhos tempos que se conserva em atenção à história. As restantes divisões são arbitrárias. Criou-as o Estado para
escalonar e facilitar a sua administração. A sua base é o cadastro populacional. O Estado define-as e limita-as pelo número
de habitantes, de contribuintes e de eleitores. Por cada uma distribui um número certo de funcionários que o representam e
executam serviços em seu nome. Tudo isto é uniforme e puramente mecânico.
As câmaras municipais gozam hoje duma ténue autonomia que se traduz na consignação dum mínimo e dum máximo
de faculdades que se exercem no todo ou em parte conforme as necessidades locais, critério e vontade dos vereadores. Mas
o seu estatuto é o mesmo para todas. O mesmo acontece com as Juntas Gerais, à excepção das ilhas a que foram dadas
atribuições especiais. Em tudo isto não se verifica a livre iniciativa ou a autodeterminação político-administrativa,
condicionadas, que, a meu ver, deve ser a essencial característica definidora da autonomia.
O hibridismo do regímen reside na incompleta equação entre os princípios e a prática. A uma república individualista
e igualitária deveria repugnar a excepção e a diferenciação. Todavia, inúmeros exemplos podem apontar-se do contrário, a
começar no sufrágio que é restrito, o mais restrito possível, apenas extensivo aos dez ou quinze por cento da população
masculina tida por saber ler e escrever, e a acabar nos novos cavaleiros da Ordem de Cristo.
Nem é preciso recordar a situação criada à Igreja Católica, e, muito menos, a, Fénix dos tribunais especiais. Sob o
ponto de vista administrativo, olhe-se para as Colónias. Quão longe estamos daquela voz de puritano que num dos últimos
parlamentos da monarquia bradava:--percam-se as colónias, mas salvem-se os princípios!...
Não vem a propósito discutir se a república neste andar de mala-posta aos solavancos para a esquerda e para a direita,
corre bom caminho. O que importa, e constatar que este regímen político em que se vive, diante do facto consumado ou
inevitável, parte de parte os princípios para atender à realidade. Esta nossa democracia, mau grado as aparências, é um
regime de bem fácil acomodação as necessidades e ideais novas dos novos tempos. O regímen, à medida que se afasta do 5
de Outubro, reprodução serôdia de 89, mais se aproxima do século XX. E ainda bem. Posto isto podemos esperar que
sejam satisfeitas as nossas reivindicações sem duras resistências por parte do Governo e do Congresso da República. Basta
que todos os madeirenses queiram!
E todos os madeirenses hão-de querer quando tiverem uma consciência esclarecida e forte dos seus direitos.
Mas não se pode querer, sem crer. A fé transporta montanhas! é preciso, pois, que este sentimento tenha a violência
da vara de Moisés batendo na rocha. O milagre virá depois. Quais são, porem, os nossos direitos?
Tem-se dito: são os da maioridade. São, portanto, aqueles direitos definidos e compreendidos na capacidade de
regermos a nossa pessoa e bens, ou seja a auto-administração da nossa pessoa e bens. Mas porque se trata duma pessoa
colectiva, duma pessoa moral chamada de direito público, esses direitos são determinados e limitados pela sua natureza e
fins.
Dar autonomia à Madeira, é constitui-la em unidade política e administrativa. É outorgar-lhe a carta
constitucional dos seus direitos políticos e públicos, compatíveis com os direitos de soberania nacional e em bases
conformes com as condições d'existencia do agregado regional. É reconhecer que a Madeira pela sua situação
geográfica, pela qualidade e número das suas relações com o mundo, pelos usos e costumes do seu povo, pelo grau do
seu desenvolvimento moral, intelectual, agrícola, industrial e comercial, adquiriu uma fisionomia própria e especiais
interesses colectivos próprios, que a individualizam como Região e como agregado social. Daqui surge a necessidade
duma diferenciação nos processos políticos e administrativos a aplicar-lhe.
Para que a autonomia que se pretende dar a Madeira corresponda a uma verdadeira carta d'alforria, tem de assentar
nestas ou semelhantes bases:
1. função representativa: desempenhada por um governador civil que não seja exclusivamente um alter-ego do
Ministro do Interior, mas apenas um representante do Estado.
2. função governativa: compreendendo um Conselho Legislativo e um Conselho Executivo. As atribuições do
Conselho Legislativo são especiais, restritas aos interesses puramente regionais, quer públicos, quer privados. São-lhe
interditas as questões de Soberania (formas de governo, exercito e relações exteriores, a função judicial, a instrução
secundaria e superior. eleição indirecta. O Conselho Executivo, saído do Conselho Legislativo por eleição, recolhe e
administra as receitas, orçamenta e fiscaliza as despesas. Sob a sua direcção, estão todas as obras de fomento e instituições
de assistência distritais (Junta Geral, Obras Publicas, Juntas autónomas, Região Agrícola, serviços de saúde e asilos)
3. função administrativa: Câmaras Municipais.
4. função educativa: Liberdade d'ensino. instrução primária a cargo dos municípios. Protecção às escolas livres sob
forma de prémios às que melhores provas derem no seu ensino. Escolas industriais e profissionais. Museus regionais d'arte
e história natural.
5. função judicial: alteração no número de comarcas e da sua jurisdição territorial de modo a evitar-se a ausência de
magistrados de carreira e a facilitar-lhes o acesso dos povos das várias freguesias da ilha. Uma possível criação dum
tribunal de 2ª instância no Funchal. Um juiz de paz em cada concelho que desempenhe a mais as funções dos actuais
administradores.
6. função d'Ordem Pública: Guarda Fiscal e Guarda Civil, compreendendo esta uma Polícia d'investigação Criminal,
uma Polícia de Segurança Pública. Uma Polícia Rural e uma Polícia Florestal.
7. Sobre o produto bruto das receitas criadas e arrecadadas no arquipélago, será deduzida uma percentagem fixa para o
Estado.
8. A organização administrativa e social fundar-se-á na família (restrição do divorcio e criação do homestead), paróquia e
município associações de classe.
9. Religião: a católica reconhecida e protegida como sendo a tradicional e a única capaz de produzir a unidade moral
do agregado regional. Liberdade de culto, d'ensino religioso e assistência religiosa.
Estas bases são lançadas sem preocupações científicas, apenas na intenção de focar pontos de vista que me parecem
fundamentais quando se trata de elaborar o estatuto autonómico da Madeira Outros aspectos há a atender e os que aí ficam
demandam um estudo mais detido e uma explanação mais detalhada. Isso porem, não cabe nos limites deste artigo
destinado a suscitar ideais e a interpretar sentimentos que andam na consciência pública ainda em estado incoerente.
Na base 2ª falo num corpo legislativo, Esta função é importante e essencial. Basta atender-se ao que se está passando
com as questões que mais interessam a nossa vida económica. É já vasta a legislação especial aplicada unicamente à
Madeira. O regime sacarino, o regime dos trigos e farinhas, o regime vinícola, etc. Mas há ainda o regime dos bordados, das
manteigas, do turismo, das obras e exploração do porto, afora as questões d'aguas, de colónia, de baldios, de florestas e
outras sobre que nos temos de pronunciar criando fórmulas jurídicas que satisfaçam as suas especiais condições e os seus
fins. E não nos digam que tudo isso nos pode vir por meio dum parlamento nacional! A mecânica e composição do
Congresso da República obstam a que tais assuntos sejam resolvidos a nosso contento. O sistema parlamentar, entregue a
partilhas partidárias, pouco mais produz do que intriga política.
Os nossos interesses, as nossas necessidades não são atendidas, porque se não cura do seu estudo e porque os
senhores deputados nos ignoram completamente, quando nos não desprezam. Ora nós, se queremos viver e progredir,
temos de fugir à intriga política e acomodar-nos dentro de fórmulas políticas e administrativas que nos permitam regular as
questões regionais por nós mesmos, livres da acção imoral de agenciadores de votos.
A base 7ª consigna uma percentagem fixa das nossas receitas para o Estado. É a inversa do que se dá presentemente.
Mas assim é que deve ser. O produto do nosso trabalho, das nossas riquezas, deve ser aplicado em nosso proveito. O que
não faz sentido é que se esteja a contribuir para as obras do Porto de Leixões, para o sorvedouro dos bairros sociais e de
todas as revoluções que a irrequieta gente da Capital queira fazer e alimentar.”
[Manuel Pestana Reis, "Regionalismo. A autonomia da Madeira", in Quinto Centenário do Descobrimento da Madeira, Publicação
comemorativa, Funchal, Dezembro 1922)]
ALBERTO HENRIQUES DE ARAÚJO [1903/1997] Nasceu na freguesia de S. Pedro no Funchal no dia 3 de Março
de 1903. Tirou o curso liceal no Funchal, matriculando-se depois na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
sendo aqui presidente da Associação Académica.
Foi Advogado, jornalista e político, destacando-se como um grande orador. Dirigiu o Diário de Notícias do Funchal
desde 1931 até 1974. Foi conferencista de brilhantes recursos. Fez parte da União Nacional, chegando a presidir, por seis
vezes consecutivas, à comissão distrital do Funchal.
Foi deputado à Assembleia Nacional, de 1945 a 1969, chegando a vogal da comissão de finanças desta Câmara, fez parte,
sendo várias vezes relator, da Comissão dos Negócios Estrangeiros. Fez parte de outras comissões que estudaram várias questões
importantes da vida nacional durante o Estado Novo.
Foi administrador da Madeira Wine Association, do Reid´s Hotel, presidente da Associação Comercial do Funchal.
Fez parte do Conselho Municipal, da Junta Autónoma dos Portos e do Conselho de Turismo da Madeira.
Faleceu no Funchal a 28 de Outubro de 1997.
BIOGRAFIAS
1928/Fevereiro/16 - Decreto n.º 15:035 do governo da 1975/Janeiro/5 - O movimento de Autonomia das Ilhas
ditadura criando o lugar de delegado especial do governo Atlânticas divulga o seu programa, em que preconiza o
da República nos distritos do Funchal, Ponta Delgada e fim de estatuto de colónia e o estabelecimento do regime
Angra do Heroísmo. de autonomia.
1928/Julho/31 - Decreto n.º 15:805 do governo da 1975/Março/11- decreto-lei nº.139/75, criando a Junta
ditadura que estabelece a forma de transição dos serviços de Planeamento, constituída pelo governador civil e mais
dos ministérios para as Juntas Gerais. quatro vogais, ficando sob a sua tutela a junta Geral e a
Comissão Regional de Planeamento.
1931/Fevereiro/4 - Greve e manifestação popular no
Funchal contra o decreto nº.19273 de 26 de Janeiro, 1975/Março/25 - Tomada de posse da Junta de
conhecido com o decreto da fome e do monopólio da Planeamento para a Madeira.
farinha.
1975/Agosto/5 - A Junta de Planeamento pediu a
1931/Abril/4 - Revolta da Madeira, iniciada pelos militares exoneração ao governo.
e que contou com a adesão dos populares e dos políticos
republicanos. Até 2 de Maio a ilha esteve sob a miragem de 1975/Dezembro/13 - Anunciada a criação da Junta
um governo local. A autonomia confunde-se aqui com Governativa e de Desenvolvimento Regional da Madeira,
independência directamente dependente do primeiro-ministro, por
decreto-lei nº.101/76 de 3 de Fevereiro. A tomada de
1935/Maio/23 - Carta do Dr. Oliveira Salazar ao posse teve lugar a 20 de Fevereiro de 1976.
governador do distrito do Funchal, Dr. João Abel de
Freitas, apresentando soluções para a crise e a sua resposta 1976/Abril/2 - Aprovação pela Assembleia Constituinte
às reclamações de autonomia. da constituição da República Portuguesa, que no
parágrafo segundo do artigo 6º define os arquipélagos
1936/Agosto/6 - Revolta do leite. A população das dos Açores e Madeira, como” regiões autónomas dotadas
freguesias rurais manifesta-se contra o decreto nº.26655, de estatutos político-administrativos próprios”
sobre os lacticínios.
1976/Abril/29 - Aprovação pelo conselho de ministros
1938/Abril/30 - Lei n.º 1967 estabelecendo as bases de do Estatuto provisório da Madeira, publicado no dia 30
administração do território das ilhas adjacentes. no Diário da República, alterado em 1 de Junho.
1939/Dezembro/22 - Decreto-lei nº.30214 que aprova o 1976/Junho/27 - 1ªs eleições para a Assembleia
estatuto dos distritos autónomos das ilhas adjacentes e a lei Regional.
orgânica dos serviços das respectivas juntas gerais
1976/Julho/19 - Aprovação da constituição da República
1940/Dezembro/31 - Primeiro estatuto dos distritos - Inauguração da Assembleia Regional
autónomos das ilhas adjacentes.
1976/Junho/27- Primeiras Eleições Regionais
1947/Agosto/4 - Estatuto definitivo dos distritos
autónomos das ilhas adjacentes, que se manteve até 25 de 1976/Setembro/6. Lino Miguel, o primeiro Ministro da
Abril de 1974. República para a Madeira
1. Documentos e Testemunhos:
CAMACHO, Augusto da Silva Branco, Estatuto dos Distritos Autónomos das ilhas Adjacentes, P. Delgada, 1972.
LEITE, José Guilherme Reis, Autonomia dos Açores na Legislação Portuguesa, Horta, 1987.
REIS, Manuel Pestana, Regionalismo. A Autonomia da Madeira, in Quinto Centenário do Descobrimento da Madeira.
Publicação Comemorativa, Funchal, 1922.
2. Bibliografia:
CARREIRO, José Bruno , A Autonomia Administrativa dos Distritos das Ilhas Adjacentes, Ponta Delgada, 1994.
CORDEIRO, Carlos, Nacionalismo, Regionalismo e Autoritarismo nos Açores durante a I República, Lisboa, 1999.
FREITAS, João Abel de, Turismo, Madeira Construir o futuro Hoje, Lisboa, 1984.
JANES, Emanuel, Nacionalismo e Nacionalistas na Madeira nos Anos Trinta (1928-1936), Funchal, 1997.
JORDÃO, Carlos A. R. Carvalho, Tutela Administrativa dos Governos Regionais sobre as Regiões Autónomas, Braga, 1980,
Administração Regional Autónoma. Um Percurso ao redor da Própria Dinâmica Evolutiva da Autonomia, Funchal,
1983.
NEPOMUCENO, Rui, As Crises de Subsistência na História da Madeira. Ensaio Histórico, Lisboa, 1994.
SILVA, António Ribeiro Marques da, Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900), Lisboa, 1994.
VIEIRA, Alberto, A Autonomia XX. Aniversário. Breves Notas Históricas, Funchal, 1996.
3 - Internet
Estatuto Politico- Administrativo da Regiao Autonoma dos Açores[disponível na Internet via WWW,
http://www.partido-socialista.pt/ar/biblioteca/leis_fund/leiraa.htm]Arquivo capturado em 30 de Janeiro de
2001.
Assembleia Legislativa Regional dos Açores, [disponível na Internet via WWW, http://www.alra.raa.pt/]Arquivo
capturado em 30 de Janeiro de 2001.
5. MONUMENTOS
Autonomia, Trilogia dos Poderes
6. EDIFÌCIOS
Assembleia Legislativa Regional, Governo Regional(Av. Arriaga), Quinta Vigia, Madeira Tecnopolo
7. RUAS