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Ano IX
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Nmero 227
O macaco, quando empilha caixotes para apanhar bananas suspensas fora de seu alcance, est usando um atributo, denominado inteligncia, comum a vrias espcies animais. J quem se empenha em conhecer a Verdade e o Bem, usa de uma outra faculdade, especificamente humana, chamada razo. E a razo esteve no centro da revoluo filosfica dos sculos XVIII e XIX.Que decepo teriam aqueles pensadores se pudessem confrontar o otimismo humanista que suas idias suscitaram com a quase absoluta irracionalidade a que conduziram! Nunca como nestes anos que correm a humanidade foi to destra em empilhar caixotes para apanhar bananas, nunca a inteligncia disps de tantos instrumentos para ser produtiva, mas jamais esteve to distante de perceber o sentido da vida e desinteressada de orient-la para o Bem. Erich Fromm resume assim a situao: Possumos o 'saber-como' (know-how), mas no possumos o 'saber-por-que' (know-why) nem o 'saber-para-que' (know-what-for). O motivo evidente. Absolutizando razo e liberdade, essa filosofia desenrolou o tapete para o relativismo e o existencialismo: se a razo for a nica fonte da verdade e se a liberdade for a essncia do homem, ter-se- uma verdade para cada mente e o homem deve ser o que quiser fazer de si. O resultado a misria da filosofia e o trgico descaminho, travestido de liberdade, percorrido por geraes despreocupadas com a Verdade e com o Bem, patrocinadoras da prosperidade de advogados e profissionais da sade mental. Destes porque lidam com os cacos que as pessoas acabam fazendo de si (e umas das outras) por no terem compreendido o que de fato so, e daqueles porque - ausente a noo de Bem - as relaes sociais se orientam apenas por interesses que se complicam quando a regra o desregramento.Um prato cheio, de bananas. Extraviada a idia de Bem, a noo de erro se esvazia e a conscincia pessoal se amordaa num novelo de racionalizaes oportunistas e egostas. Nada h de surpreendente, ento, na derrocada da instituio familiar, na irresponsabilidade moral de pais, educadores, comunicadores, legisladores, julgadores, na decadncia do papel do Estado, no estmulo violncia, no avano das drogas e da AIDS, nem na insignificncia do amor, da justia, da solidariedade e da virtude. E ainda aparece quem erga a voz para chamar conservador, como se o adjetivo fosse ofensivo, quem defende a preservao de tais valores.
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24/08/2013 22:51