Você está na página 1de 81

Governo do Estado de Rondônia

Secretaria de Estado de Planejamento – Seplan


Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia – Planafloro
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/ Projeto BRA/94/007
Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental - Sedam

RESERVAS EXTRATIVISTAS:
Dando Poder às Comunidades através da Elaboração
e Implantação Participativas do Plano de
Desenvolvimento.

RONALDO WEIGAND JR., M.A.


DANIELA J. DE PAULA, Engª. Agrª.

Porto Velho
1998
2

Governador do Estado de Rondônia


• Valdir Raupp de Matos

Secretária de Planejamento
• Janilene Vasconcelos de Melo

Coordenação Geral do PLANAFLORO


• Pedro Costa Beber

Assessor Técnico Principal PNUD/Projeto BRA/94/007


• J. S. Michael Allen

Secretário do Estado de Desenvolvimento Ambiental


• Emerson Teixeira

Presidente da Organização dos Seringueiros de Rondônia


• José Maria dos Santos

Normatização Técnica
• Dione Correia da Silva

Biblioteca/PLANAFLORO
Av. Imigrantes s/n (Antigo Prédio da SUDECO)
Porto Velho - RO 78.903-900
Tel: (069) 224-1513 Fax: (069) 224-3331

Home Page: http://www.ronet.com.br/~rondonia


E-mail: pnud@ronet.com.br

Weigand Jr., Ronaldo & Paula, Daniela J. de. Reserva Extrativista: Dando
Poder às Comunidades através da Elaboração e Implantação
Participativas do Plano de Desenvolvimento. Porto Velho: SEPLAN/
PLANAFLORO/ PNUD/ BRA/94/007 1998. 66p.

1. Reserva Extrativista 2. Planejamento Comunitário Participativo -


Métodos I. Título
CDU: 711.436: 502.48 (811.1)
3

Apresentação
O Projeto de Cooperação Técnica do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD ao Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia -
Planafloro tem atuado junto às reservas extrativistas no sentido de dar maior
efetividade às ações do Planafloro e apoiar a consolidação das reservas estaduais.
Essa consolidação envolve obrigatoriamente o fortalecimento da sociedade civil, já
que são os extrativistas, organizados em associações, os maiores beneficiários e
também os guardiães das reservas. Mais do que isso, envolve a capacitação das
comunidades na promoção de seu próprio desenvolvimento: um desenvolvimento
que garanta benefícios democraticamente distribuídos, que não tenham excessiva
dependência de fontes externas de recursos e que apontem para a sustentabilidade
das reservas. Um desenvolvimento definido pelas próprias comunidades. Por outro
lado, mesmo sendo a sociedade civil chave no processo de consolidação das
reservas extrativistas, o Governo tem um papel importante.
Os planos de desenvolvimento das reservas extrativistas de Rondônia têm
sido surpresas agradáveis nesse caminho. Sabemos que o desenvolvimento é um
processo lento e gradual, sem atalhos, e esperávamos que, no caso das reservas,
fosse ainda mais lento, devido ao tempo relativamente recente de organização e ao
baixo nível educacional dessas comunidades. Entretanto, as respostas ao plano de
desenvolvimento têm sido geralmente muito rápidas. É como se fosse um solo fértil,
preparado e semeado, esperando pela água da chuva. Assim, as comunidades que
já vinham recebendo apoio do movimento extrativista para a sua organização
(através da Organização dos Seringueiros de Rondônia e de outras entidades),
algumas vezes traduzidos em projetos de melhorias nas áreas, e que ainda
apresentavam uma resposta lenta às propostas, aceleraram seus progressos e
caminham mais rapidamente para a sua autonomia através da sua organização com
o plano de desenvolvimento.
Através dos planos de desenvolvimento, as comunidades definem seus
objetivos e estratégias, que são inicialmente viabilizados através de projetos para os
problemas mais prioritários. Mas, talvez mais importante que os objetivos e
estratégias, em si, seja o processo de sua definição, que envolve as comunidades
no levantamento de seus problemas, na negociação de conflitos internos, na
definição do que é mais importante e na identificação de alternativas. Esse
processo, juntamente com a implantação do plano, capacita as comunidades para
um desenvolvimento mais contínuo.

Assim, esse documento tem três funções importantes:


*0 Consolidar o roteiro metodológico para a elaboração e implementação dos
planos de desenvolvimento;
4

*1 Fornecer aos técnicos do Governo e da Sociedade Civil um material instrutivo


importante para a elaboração e implantação dos planos de desenvolvimento
(favorecendo a sua continuidade e multiplicação);
*2 Divulgar e discutir a experiência em Rondônia, de forma que ela possa ser
adaptada para outros estados e, mesmo, outros tipos de comunidade extrativista.
Finalmente, os métodos para elaboração e implantação dos planos de
desenvolvimento estão em constante evolução, já que nosso aprendizado tem sido
muito rico junto às comunidades. Assim, esta proposta não deve ser vista como um
roteiro definitivo, já que vai continuar evoluindo. Um exemplo disso foi a rica troca de
experiências e a avaliação do processo de elaboração e implantação dos planos de
desenvolvimento, realizado com técnicos e lideran’cas extrativistas, de Rondônia e
de outros estados, durante a Oficina “Plano de Desenvolvimento: Elaboração e
Implantação Participativas”. Por outro lado, é um roteiro consolidado, resultado de
nossa experiência nas reservas extrativistas de Rondônia e da interação com outros
técnicos, e que vai ser útil ao leitor em seu trabalho para o desenvolvimento
comunitário sustentável nas reservas ou em outros tipos de comunidades.
Entretanto, aqui não apresentamos uma nova “metodologia” e, sim,
adaptamos métodos já existentes e aplicados com sucesso em várias regiões do
mundo em um roteiro capaz de ajudar as comunidades na busca do seu
desenvolvimento. Por isso, consideramos importante a interação de todos os que
estão trabalhando com planos de desenvolvimento, ou que venham a usar este
roteiro em benefício das comunidades.

Porto Velho, dezembro de 1997.

Os autores.
5

Sumário:

Apresentação.............................................................................................................................3
Introdução:................................................................................................................................7
1) Plano de Desenvolvimento:..........................................................................................................7
2) Desenvolvimento e Reservas Extrativistas:................................................................................8
3) A proposta de elaboração dos planos de desenvolvimento para as reservas extrativistas
estaduais de Rondônia:..................................................................................................................12
Capítulo I - Métodos para a elaboração e implantação participativas dos Planos de
Desenvolvimento:.....................................................................................................................14
1) Base metodológica para a elaboração dos planos de desenvolvimento: DRP e métodos
participativos..................................................................................................................................14
2) Participação:...............................................................................................................................18
3) Equipe para elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................................19
4) Técnicas utilizadas na elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................20
5) Redação do Plano de Desenvolvimento:...................................................................................44
6) Implantação e revisão do Plano de Desenvolvimento:.............................................................45
Capítulo II - Aquariquara e Rio Cautário: a experiência da elaboração e implantação dos
primeiros planos de desenvolvimento......................................................................................48
1) Reserva Extrativista Aquariquara............................................................................................48
2) Reserva Extrativista Estadual do Rio Cautário:.....................................................................49
3) Comparação entre Aquariquara e Rio Cautário:....................................................................50
4) Aquariquara e Rio Cautário: Resultados da implantação......................................................53
5) Lições Aprendidas:....................................................................................................................61
Capítulo III - Incluindo as mulheres no desenvolvimento....................................................65
6) A importância da inclusão da perspectiva de gênero no trabalho de desenvolvimento
comunitário:...................................................................................................................................65
7) Gênero e o plano de desenvolvimento:.....................................................................................66
8) Incluindo as mulheres nas etapas do plano de desenvolvimento............................................66
Capítulo IV - Limites e possibilidades desta proposta de Plano de Desenvolvimento:.........70
1) Limites:.......................................................................................................................................70
2) Outras possibilidades desta proposta:......................................................................................70
Capítulo V - Como multiplicar a geração de Planos de Desenvolvimento para Reservas
Extrativistas:............................................................................................................................72
6

Considerações Finais:............................................................................................................75
Literatura Consultada:...........................................................................................................78
Sobre os Autores: ...................................................................................................................81
7

Introdução:
A Amazônia brasileira vem sendo alvo de ocupação acelerada e exploração
de seus recursos naturais por colonos de outras regiões, fazendeiros, madeireiros e
grandes projetos, causando a destruição rápida da floresta e conflitos pela terra,
cujas vítimas principais têm sido os seringueiros, ribeirinhos e índios da Região. Em
Rondônia, esse processo tem sido muito intenso, com a colonização e a exploração
madeireira. Em defesa de seu modo de vida e dos ecossistemas que habitam,
seringueiros de toda a Amazônia, incluindo os de Rondônia, têm se organizado na
luta pela criação e implantação das reservas extrativistas (resexs).
De acordo com Alegretti (1994), o conceito de reservas extrativistas foi criado
em 1985, no primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros da Amazônia, em que os
seringueiros definiram-nas como áreas para o uso sustentável dos recursos naturais
por populações tradicionais, com apoio nas áreas de produção, saúde e educação.
Assim, as reservas extrativistas são áreas que pertencem ao poder público, e que
são dadas em concessão a uma entidade que represente os moradores,
normalmente uma associação.
No âmbito federal, as resexs são administradas pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, que define os
procedimentos da sua implantação, através da Portaria Ibama Nº 51-N de 11/05/94
(ver UICN, 1995). Em Rondônia, além de uma reserva extrativista federal, foram
criadas 21 reservas estaduais, com apoio do Plano Agropecuário e Florestal de
Rondônia - Planafloro. As reservas extrativistas estaduais mantém vários princípios
das federais, mas são administradas pelo Instituto de Terras de Rondônia - Iteron e
pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental - Sedam. Essas reservas
“têm a sua implantação com maior participação dos extrativistas (através da
Organização dos Seringueiros de Rondônia, que atua como representação política e
executora de projetos), e podem se beneficiar da experiência das Resexs federais
para desenvolver procedimentos próprios para melhorar a sua implantação”
(Rondônia, 1996d).

1) Plano de Desenvolvimento:
A portaria 51-N do Ibama define também como deve ser o plano de
desenvolvimento das reservas extrativistas. De acordo com essa portaria, o plano de
desenvolvimento resulta da experiência da comunidade com o plano de utilização1,
1
O plano de utilização é o conjunto das regras de uso dos recursos naturais da reserva,
incluindo direitos e deveres dos moradores, e as penalidades no caso de desobediência
às regras estabelecidas. Esse plano é anexado ao contrato da Concessão do Direito Real
de Uso, dada à comunidade pelo Iteron, e serve de garantia ao Governo de que os
recursos da reserva serão utilizados de forma sustentável. Para a comunidade, é um
instrumento de defesa da Reserva e um guia para as atividades a serem desenvolvidas.
8

partindo para a quantificação das atividades na reserva. A comunidade elaboraria o


plano apoiada pelo Ibama e pelas instituições que assessoram a reserva. Ainda,
segundo a portaria, o plano de desenvolvimento deveria ser feito no primeiro ano de
execução do projeto. Entretanto, somente agora, anos depois de sua criação, as
reservas extrativistas federais começam o processo de elaboração de seus planos
de desenvolvimento.
O conceito do plano de desenvolvimento, para o CNPT/Ibama, está definido
na Portaria Ibama No. 118:
“É o principal instrumento de gestão da reserva e deverá estabelecer as diretrizes específicas
que normatizem as intervenções do homem na floresta, permitindo compatibilizar o
desenvolvimento econômico e social com a conservação do meio ambiente.”

Já para as reservas extrativistas estaduais de Rondônia, conforme o trabalho


que vem sendo realizado pela Cooperação Técnica do PNUD ao Planafloro, o plano
de desenvolvimento é um instrumento de gestão em que a comunidade da reserva
extrativista define seus objetivos e estratégias de desenvolvimento. O plano de
desenvolvimento é implantado através da organização comunitária em projetos para
as áreas/problemas prioritários. Assim, embora o conceito que está sendo aplicado
de fato nas resexs federais tenha evoluído2, o conceito definido na Portaria 118 é
mais normatizador das atividades (como um plano diretor municipal). No caso do
conceito de Rondônia, o plano tem uma ênfase maior para a organização
comunitária, sendo um instrumento dos moradores para atingir seus objetivos
através estratégias por eles definidas.

2) Desenvolvimento e Reservas Extrativistas:

Desenvolvimento sustentável:
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CNUMAD, ou Eco 92, a idéia do desenvolvimento sustentável
tem se popularizado entre as ONGs, governos e empresas. Segundo Fontes (1996),
“a necessidade de qualificar desenvolvimento surge tendo em vista os diversos
sentidos atribuídos a este termo nos últimos anos”. Assim, não basta apenas dizer
“desenvolvimento”. É preciso definir de que desenvolvimento estamos falando.
Desenvolvimento sustentável (DS) é um termo que surge a partir de uma proposta
de crescimento econômico que contemple aspectos de conservação. O relatório O
Nosso Futuro Comum define desenvolvimento sustentável como aquele capaz de
atender as necessidades das presentes gerações sem comprometer a capacidade
das futuras gerações de atenderem às suas. Assim, o DS surgiu a partir das

2
Nas reservas federais, uma variedade de abordagens está sendo utilizada, conforme os
consultores que estão trabalhando na elaboração de cada plano. Na Resex do Rio Ouro
Preto, tem grande importância a elaboração de cenários tendenciais e desejados para a
definição de estratégias para o desenvolvimento da resex.
9

reflexões sobre os impactos do crescimento econômico no meio ambiente, causando


uma série de problemas, que começaram a atrapalhar o próprio crescimento.
Slocum e Thomas-Slayter (1995) apontam que o conceito do DS veio de um
paradigma que privilegia o crescimento sem atenção a equidade e responsabilidade
social e, como é tipicamente usado, não desafia as desigualdades entre os países
ricos e pobres, nem dentro deles. Assim, um novo conceito de DS incluiria justiça
social, econômica e política e favoreceria o empoderamento das pessoas
necessitadas em todos os lugares.
Segundo Brent Milikan, que apresentou palestra sobre esse assunto na
Oficina Plano de Desenvolvimento: Elaboração e Implantação Participativos, o DS
foi o resultado de uma crítica ao modelo que era baseado na idéia de economistas
que diziam “vamos crescer o bolo para depois dividir”, ou seja, ao invés de atacar as
desigualdades geradoras da pobreza, a idéia era que, ao crescer a economia, os
pobres automaticamente seriam beneficiados. Isso, como sabemos, não aconteceu.
Esse modelo não deu certo, a pobreza cresceu e os problemas ambientais
começaram a comprometer o próprio crescimento. Essa discussão, levantada
primeiramente pela sociedade civil planetária, foi incorporada pelas Nações Unidas
na década de oitenta, com a criação da Comissão Brundtland, que elaborou o
relatório “Nosso Futuro Comum”. Segundo Milikan, para isso ser possível, o DS
precisa incluir:
• Sustentabilidade ambiental;
• Equidade social;
• Eficiência econômica;
• Bem estar da população.
Como explicou Milikan, a atual crise em que vivemos deve-se à exclusão do
meio ambiente e à falta de democracia. Existem muitas idéias de como se alcançar
esse estilo de desenvolvimento “sustentável”, que muitas vezes recebem outros
nomes (ecodesenvolvimento, desenvolvimento auto-sustentável etc.).

Desenvolvimento para Reservas Extrativistas:


O próprio conceito de reservas extrativistas inclui a palavra desenvolvimento
em sua definição. O desenvolvimento “auto-sustentável”, definido como um objetivo
para as reservas extrativistas na própria legislação tem uma preocupação com a
conservação, mas passa um sentido de auto-suficiência. Entretanto, os extrativistas
dificilmente se tornarão auto-suficientes, e talvez isso nem seja desejável, já que o
aumento de renda nas reservas deve levar ao consumo de bens produzidos fora
delas, importantes para a melhoria da qualidade de vida nas comunidades. Além
disso, para serem valorizadas pela sociedade, ao invés de ilhas auto-suficientes, as
reservas deveriam estar integradas no desenvolvimento regional.
A primeira Oficina do Plano de Desenvolvimento (Rondônia, 1996c), com
participação de técnicos e lideranças extrativistas, levantou idéias do que seria
desenvolvimento para as reservas, que incluíram: melhoria da qualidade de vida na
reserva; melhoria da autonomia da população extrativista; conservação; e produção
10

sustentável. Isso dependeria de organização social e política, participação


comunitária, melhoria da produção, e serviços de saúde, educação e comunicação
próprios para a realidade local. Na área de produção, envolveria novas alternativas,
diversificação planejada, garantia de mercado, e implementação de tecnologias
simples e baratas para produção e beneficiamento de novos produtos. Para isso,
pesquisa e adaptação de tecnologia são necessárias. Nos serviços sociais e
proteção da reserva, esse desenvolvimento envolveria uma participação efetiva do
Estado. Ainda, deveria dar atenção especial à participação das mulheres, por muito
tempo excluídas das políticas públicas.
Existe um debate em torno da viabilidade do extrativismo enquanto um
modelo de desenvolvimento. Homma (1992) e Browder (1992) são céticos quanto a
essa possibilidade. Homma (1992) sustenta que os produtos extrativistas estão
fadados ao fracasso e à estagnação econômica devido a inelasticidade de sua
produção, o que estimularia a sua substituição por produtos cultivados ou sintéticos.
Por outro lado, Allegretti (1994) defende as reservas como modelos para o
desenvolvimento sustentável: as reservas definem um território e as formas de
acesso a ele, não o tipo de economia.
O argumento de que os produtos extrativistas serão cedo ou tarde
substituídos não chega a ser um empecilho absoluto para o extrativismo. De fato, se
as reservas extrativistas continuarem a se basear na borracha e em outros produtos
tradicionais que vêm sendo substituídos e estão em fase de decadência, não haverá
futuro para elas, principalmente se as formas de utilização e comercialização
continuarem as mesmas. Mas mesmo produtos industrializados não são eternos e a
agricultura também passa por ciclos de ascensão e decadência. O grande trunfo das
reservas pode estar na sua biodiversidade, na infinidade de bens e serviços que,
mediante a pesquisa e mecanismos de apropriação dos benefícios pelos moradores,
a floresta pode fornecer.
Isso pode ter um impacto muito forte nas populações extrativistas, que de
“tradicionais” terão que passar a pesquisar e capacitar-se para o fornecimento de
novos produtos e serviços da floresta, muitos dos quais passarão a valer mais e
mais à medida em que as áreas de floresta vão desaparecendo. Além disso, terá
que envolver um enorme esforço de capacitação e assistência técnica às
comunidades. Os maiores obstáculos provavelmente serão a educação nas reservas
(hoje muito precária, mas que será necessária para permitir essa flexibilidade) e a
falta de mecanismos institucionais e de mercado capazes de remunerar as reservas
extrativistas pelos serviços ambientais que desempenham. Entretanto, a discussão
desses mecanismos, embora inicial, aponta para várias possibilidades (ex: “selo
verde”, pagamento por estoque de carbono, imposto sobre utilização de recursos
hídricos, subsídios para os produtos extrativistas, beneficiamento e industrialização
local de produtos, fornecimento de sementes, pagamento de royalties pela utilização
do conhecimento tradicional e da biodiversidade etc.) .
Porém, se as reservas extrativistas são unidades de conservação e também a
reforma agrária dos seringueiros, esses objetivos precisam ser combinados em
11

qualquer modelo assumido. Não é apenas a “sustentabilidade” do uso que se


pretende. Por exemplo, mesmo que o solo de uma reserva seja apropriado para a
agricultura sustentável, as restrições ao desmatamento vão continuar sendo
severas, pois espera-se que as reservas conservem a floresta, não somente o solo.
Assim, as reservas têm um papel implícito em seu conceito, o de conservação da
floresta.

O papel das reservas extrativistas no desenvolvimento sustentável:


A idéia do desenvolvimento sustentável pressupõe que a sociedade está
organizada em um sistema formado por componentes interdependentes e
complementares, em que sustentabilidade ambiental, equidade, eficiência e bem
estar estão combinados em certos níveis que garantam a continuidade do sistema
indefinidamente. Para garantir a inclusão das reservas extrativistas no
desenvolvimento sustentável, e a sua existência no futuro, é importante definir o
papel das reservas nesse sistema.
De acordo com Brent Milikan (comunicação pessoal), as reservas não podem
ser ilhas, isoladas em suas regiões, mas devem participar das estratégias regionais
de desenvolvimento.
Para Almeida (1994), a conciliação entre desenvolvimento e conservação nas
reservas extrativistas é impossível se esta não for remunerada. A conservação,
segundo o autor, pode ser remunerada pelo poder público (com pagamentos diretos
ou indiretos pelo serviço de conservar a biodiversidade) ou através de mercados
privados (através de produtos “verdes”).
Por outro lado, o novo paradigma econômico, ao incluir o conceito de
sustentabilidade, está buscando formas de “desmaterializar a economia”, ou seja,
substituir produtos por serviços, materiais por informação, como aponta Robert
Shapiro, presidente da Monsanto International3, em entrevista à revista Harvard
Business Review (1997). Assim, diminuindo a quantidade de matéria por unidade de
valor circulado, economizar-se-iam recursos naturais, contribuindo para a
sustentabilidade. No caso das reservas extrativistas, isso pode ser observado em
um exemplo simples de substituição: na Reserva Extrativista Aquariquara, em
Rondônia, a renda obtida com a venda de sementes florestais (que, em última
análise, guardam as informações genéticas de como fazer uma árvore) tem sido
maior do que a que seria normalmente obtida com a venda da madeira, com menos
trabalho, riscos e impactos no ambiente.
Uma outra forma de remunerar a conservação, e que substitui matéria por
informação, é o ecoturismo. Iniciativas desse tipo estão começando em duas
reservas de Rondônia, mas estão ainda na fase de estudos (João Alberto Ribeiro,
comunicação pessoal). Ainda, “inserir” informação no produto pode aumentar o seu
valor, como é o caso do artesanato de borracha. Várias outras alternativas têm sido
estudadas e tentadas. Como o artesanato, a maioria esbarra na dificuldade de
comercialização e na falta de mecanismos de remuneração eficientes.
3
Nessa entrevista, Shapiro fala da experiência da Monsanto em busca da
sustentabilidade ambiental.
12

Para garantir sua existência e viabilidade no futuro, cada reserva deve definir
o seu papel, como ela vai contribuir para o DS de uma região. Isto é, suas
oportunidades de desenvolvimento (de preferência, baseadas na conservação). Por
exemplo, se uma reserva guarda os mananciais de água de uma região e os últimos
estoques de madeira, pode-se pensar em seu papel como protetora dos mananciais,
produtora de madeira com alto valor agregado ou de sementes para reflorestamento.
Se o valor de sua biodiversidade for alto, a reserva pode ser guardiã dessa
biodiversidade para trabalhos de pesquisa e para repovoamento de áreas
degradadas na região. Dependendo do papel da reserva, mecanismos de estímulo e
controle podem ser estabelecidos para permitir a remuneração dos serviços
prestados. Como a sustentabilidade deve tornar-se mais e mais um componente
obrigatório do desenvolvimento, isso pode abrir oportunidades para as reservas,
como é o caso das sementes florestais, cujo mercado vem crescendo em função do
maior cumprimento da obrigatoriedade de reflorestamento por parte dos
consumidores de madeira.

3) A proposta de elaboração dos planos de desenvolvimento para


as reservas extrativistas estaduais de Rondônia:
Em 1996, a Organização dos Seringueiros de Rondônia - OSR solicitou ao
Planafloro o apoio à elaboração dos planos de desenvolvimento, através da
Cooperação Técnica do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –
PNUD. Em resposta a esse pedido, em outubro de 1996 foi promovida a Oficina
“Plano de Desenvolvimento - elaboração participativa”, de que participaram técnicos
que assessoram os seringueiros e líderes extrativistas (Rondônia, 1996c). Na
Oficina, partiu-se da discussão do que é desenvolvimento e do que é
desenvolvimento para as reservas extrativistas, para então discutir-se uma proposta
para o plano de desenvolvimento. Então, foi discutida a proposta do Ibama para o
plano (contida na Portaria 51-N), que contempla os seguintes assuntos principais:
• Capacitação para a gestão da reserva;
• Organização social e comunitária;
• Gestão da reserva;
• Produção e comercialização;
• Habitação - transporte - saúde - educação;
• Apoio institucional.

Na Oficina “Plano de Desenvolvimento - Elaboração Participativa”, “os


participantes analisaram as diversas seções propostas para o plano de
desenvolvimento, fizeram críticas e sugestões, e criaram sua própria proposta de
roteiro de plano de desenvolvimento” (Rondônia, 1996c). Então, consideraram que o
plano deveria conter estratégias e projetos para:
• Melhorar a renda;
• Implementar tecnologias simples de beneficiamento;
• Manejar o potencial extrativo florestal e animal;
13

• Encontrar mercado para produtos estrativistas;


• Fazer um zoneamento da resex;
• Implementar escola para crianças e adultos;
• Promover saúde preventiva e curativa, com postos de saúde equipados, agentes de
saúde e medicamentos;
• Proteger a reserva;
• Melhorar a capacidade de gerenciamento;
• Aumentar a participação das mulheres e a participação comunitária (Rondônia,
1996a).

Após essas reflexões e a discussão da portaria 51-N do CNPT/Ibama, “os


participantes da Oficina definiram que o Plano deverá ser simples, para facilitar o
entendimento dos beneficiários, factível e prático, para que não se torne mais um
plano de escritório, e participativo. Partiu-se para definição do roteiro mínimo do
Plano, com as principais linhas a serem trabalhadas. Salienta-se que o conteúdo
será definido através do diagnóstico e planejamento participativos a serem
realizados com as comunidades” (Rondônia, 1996c). De acordo com os participantes
da Oficina, cada componente do plano deve abordar também capacitação,
pesquisas necessárias, parcerias e apoio institucional necessário. Então, os
participantes elaboraram um roteiro básico para o plano, discutiram métodos para a
sua elaboração e definiram uma área-piloto onde o trabalho deveria começar: a
Reserva Extrativista Estadual Aquariquara, em Vale do Anari, RO.
Atualmente, estão em implantação os planos de desenvolvimento das Resexs
Aquariquara, em Vale do Anari, e do Rio Cautário, em Costa Marques e Guajará-
Mirim. Esses planos de desenvolvimento são o resultado de diagnósticos e
planejamentos participativos com os moradores das duas reservas, e representam o
compromisso dessas comunidades com o seu desenvolvimento.
A proposta apresentada nesta publicação é resultado do roteiro de Plano de
Desenvolvimento gerado na oficina citada acima, das experiências práticas com os
Planos de Desenvolvimento das Reservas Extrativistas Aquariquara e do Rio
Cautário, e também da discussão realizada em uma segunda Oficina, realizada em
novembro de 1997, e que envolveu técnicos locais, consultores que estão
trabalhando com os planos de desenvolvimento em outros estados, lideranças do
movimento extrativista e moradores das Reservas Aquariquara e do Rio Cautário.
14

Capítulo I - Métodos para a elaboração e


implantação participativas dos Planos de
Desenvolvimento:

1) Base metodológica para a elaboração dos planos de


desenvolvimento: DRP e métodos participativos.
Na elaboração dos planos de desenvolvimento das reservas extrativistas
estaduais de Rondônia, tem-se procurado incluir a participação dos moradores
através da adaptação do Diagnóstico Rural Participativo (DRP). O DRP busca uma
ampla participação da comunidade na geração e análise da informação, enfatizando
mais os aspectos qualitativos do que a quantificação da realidade.
O Diagnóstico Rural Participativo surgiu a partir da prática do Diagnóstico
Rural Rápido – DRR, criado e aperfeiçoado no final dos anos 70 e durante a década
de 1980. O DRR partiu de uma crítica ao trabalho até então desenvolvido pelas
organizações de desenvolvimento, que privilegiava os produtores mais prósperos,
localizados próximos às cidades ou às estradas pavimentadas, normalmente
consultando só os homens. Os produtores mais carentes e amplos setores da
população rural, como as mulheres, ficavam excluídas. O DRR foi uma estratégia
criada para coletar dados desses setores, subsidiando a tomada de decisão e a
elaboração de propostas de desenvolvimento mais adequadas. O DRR, utilizando
técnicas de pesquisa participativa, busca melhores subsídios para o trabalho de
desenvolvimento. Entretanto, Rocheleau (1994) aponta que o DRR pode ser
utilizado de maneira extrativa ou interativa. A comunidade realmente participa, mas
pode ou não ver resultados concretos.4 Chambers & Guijt (1995) apontam que as
informações coletadas são analisadas posteriormente pela equipe longe da
comunidade.
Já o DRP surgiu nos anos 90 com um propósito bem diferente. Tem sua base
na pesquisa-ação, e a proposta de capacitar as comunidades para a mudança de
sua realidade, buscando melhores condições de vida. No DRP, o cliente principal
das informações geradas pela pesquisa é a própria comunidade. “Significa
reconhecer as pessoas locais – tanto homens como mulheres – como analistas,
planejadores e organizadores ativos” (Chambers & Guijt, 1995).
Segundo Chambers & Guijt (1995), “aprender a ver o ‘processo’ como um dos
produtos do DRP” re-orienta o trabalho de campo, requerendo habilidades para ver

4
Rocheleau (1994) discute uma série de métodos participativos, como o D&D
(Diagnóstico e Desenho) desenvolvido para sistemas agroflorestais, a pesquisa ecológica
baseada na comunidade, DRP e outros).
15

os processos e facilitá-los. O DRP passa a ser mais que o simples exercício de


diagnóstico e coleta de dados. Chambers & Guijt apontam que muitas organizações
são ingênuas a ponto de acreditarem que seu breve exercício participativo com um
grupo de pessoas locais trará resultados positivos e duradouros. Mas o trabalho de
desenvolvimento é lento e gradual. “Não há um atalho”, apontam os autores,
“nenhum enfoque participativo oferece uma solução rápida para problemas
complexos”.
Segundo Chambers & Guijt (1995) o trabalho baseado no DRP tem sido
utilizado em quase todos os campos de ações e desenvolvimento comunitário:
planejamento comunitário, gestão de bacias hidrográficas, silvicultura social,
recuperação de açudes, programas femininos, crédito, programas de saúde, água e
saneamento, pecuária, pesquisa e extensão rural, desenvolvimento institucional,
segurança alimentar, programas para emergências, e capacitação de pessoal ligado
ao trabalho de desenvolvimento. Há um crescente interesse das instituições
financiadoras, organizações governamentais e ONGs, que solicitam e muitas vezes
exigem que se utilize o DRP em seus programas e projetos.
Por outro lado, Slocum e Thomas-Slayter argumentam que, atualmente,
muitas metodologias participativas (como o DRP e os Métodos Participativos de
Aprendizagem - MAP) não respondem a questões de relações sociais, a exclusão
certos grupos sociais, ou gênero. Para Luiz Fernando Fleck (comunicação pessoal),
um problema do DRP é que ele normalmente não diferencia tipos de produtores, não
estabelece uma “tipologia” que possa ajudar a atender necessidades específicas de
certos grupos na comunidade. Entretanto, esses problemas parecem ser mais
relacionados à prática do que ao potencial do DRP. As técnicas de pesquisa
utilizadas pelo DRP são bastante úteis, tanto para atender as questões sociais
quanto para estabelecer tipologias para as famílias em uma comunidade.
Um problema é ainda o tratamento do DRP, MAP ou mesmo DRR, como
“metodologias”. Na verdade, essas “metodologias” são pacotes de técnicas de
diagnóstico e planejamento, que contém diferentes formas de aplicação de técnicas
de pesquisa utilizadas pela antropologia cultural e outras ciências sociais.
Entretanto, elas têm a vantagem de estarem “equipadas” com um conjunto de
técnicas de mídia, que favorecem a comunicação, o registro de informações e a
participação das pessoas das comunidades (que muitas vezes são analfabetas ou
têm dificuldade para a leitura).

Fases do DRP:
O DRP usa técnicas participativas de pesquisa, baseadas principalmente na
entrevista semi-estruturada, na entrevista com grupos-foco, e na observação
participante5, para conseguir a precisão necessária e a maior exatidão possível.
Chambers & Guijt (1995) apontam que um dos princípios do DRP é a “ignorância
ótima e imprecisão apropriada”6. Para isso, os resultados obtidos com as diversas
5
Ver adiante.
6
“Não investigar mais que se necessita e não medir quando comparar é o suficiente.
Somos formados para realizar medições absolutas, mas geralmente tudo o que se requer
16

técnicas participativas são cruzados e checados (processo chamado de


“triangulação de informações”).
O DRP tem as seguintes fases:
*3 Diagnóstico ou levantamento dos problemas da comunidade e suas causas.
Antes de ir à comunidade, o diagnóstico envolve o levantamento de informações de
estudos anteriores e conversas com pessoas familiarizadas com a realidade a ser
estudada. Na comunidade, a entrevista semi-estruturada é usada nas entrevistas
domiciliares e é também a base de outras ferramentas de pesquisa, normalmente
aplicadas a grupos, como o calendário sazonal, o diagrama das instituições, o
diagrama histórico, o mapeamento participativo e outras. A partir das informações
obtidas com essas ferramentas, a equipe do DRP elabora e verifica hipóteses para
os problemas da comunidade, que tentam explicar os problemas em termos de suas
causas. Faz-se, então, uma lista de problemas e causas.
*4 Planejamento: A lista dos problemas e causas é apresentada à comunidade,
que é estimulada a escolher os problemas mais importantes. Isso é chamado de
priorização7, e há várias maneiras de ser feito. Em seguida, discute-se as soluções
para os problemas mais importantes. Escolher as melhores soluções pode também
envolver métodos de priorização. O planejamento termina com projetos simples de
melhoria da comunidade, em que são distribuídas as tarefas de cada participante.

Outros métodos:
Existem outros métodos participativos, utilizados para o planejamento de
empresas e organizações, e mesmo para o trabalho interinstitucional, como o PES –
Planejamento Estratégico Situacional, o ZOPP – Planejamento Orientado por
Objetivos, e o planejamento baseado em cenários.
Tanto o PES como o ZOPP partem da análise de problemas, apresentando,
portanto, semelhanças com o DRP. Entretanto, embora a fonte de informações do
PES e do ZOPP seja o grupo com quem está se fazendo o planejamento, por isso
muitas vezes superficial, a análise dos problemas é mais profunda que no DRP. Este
trabalha sobre problemas e causas (ligados em pares). Aqueles analisam os
problemas e suas causas em “’árvores” onde alguns problemas são causas de
outros, e assim por diante, até a definição de alguns problemas centrais, que
originam consequências que também poderiam ser tratadas como problemas.
Assim, a partir dessa árvore de problemas (negativa), tenta-se resolver o problema

é identificar as tendências, qualificações ou priorizações” (Chambers & Guijt, 1995).


7
Em inglês, ranking.
17

central (objetivo), através da resolução de suas causas (meios), para mudar as


conseqüências (que passam a ser definidas como resultados esperados ou objetivos
específicos).
Esses métodos participativos podem ser combinados com o DRP, já que
partem de identificação de problemas. Segundo Schönhuth e Kievelitz (1994) o DRP
pode se integrar ao ciclo de um projeto e é facilmente combinável com outros
métodos de planejamento, como o ZOPP (ver adiante como foi feito o segundo
planejamento da Resex Aquariquara).
A construção de cenários tem sido utilizada no planejamento do
desenvolvimento e no planejamento empresarial com enfoques distintos, e tem
ganhado destaque em vários projetos para o planejamento regional (como é o caso
do Projeto Úmidas, em Rondônia, e do Plano de Desenvolvimento da Reserva do
Rio Ouro Preto). Embora tanto o planejamento para o desenvolvimento como o
planejamento empresarial partam da elaboração de cenários tendenciais, algumas
propostas de planejamento do desenvolvimento sustentável tem incluído também a
elaboração de “cenários desejáveis”.
Enquanto o DRP tem ótimas ferramentas para analisar o presente, os
cenários tentam diagnosticar o futuro. Segundo Arroyo o valor de um cenário para o
planejador é o quanto se pode acreditar nele. Os cenários serão tão mais corretos
quanto maior for a base de informação disponível. Entretanto, visualizar cenários
que são determinados por variáveis distantes das comunidades enquanto realidades
prováveis pode ser difícil no planejamento participativo. Embora tenham grande
domínio da informação sobre a realidade local, as comunidades (e muitas vezes os
técnicos) têm pouco domínio sobre a informação que determinará o ambiente em
que estarão atuando no futuro.
O uso de cenários, enquanto método, na elaboração dos planos de
desenvolvimento das reservas estaduais de Rondônia ainda não foi realizado. De
maneira informal, visualizamos o futuro, por exemplo, estimulamos a comunidade a
pensar sobre como vai evoluir o preço da borracha.
Por outro lado, o planejamento a partir de problemas (combinando-se DRP e
ZOPP), como será discutido adiante, tem se mostrado prático e eficiente ao
promover melhorias e estimular a participação. Resolver problemas também tem
sido uma ótima maneira de capacitar as pessoas e grupos. Assim, nesta publicação,
vamos centrar a atenção sobre os métodos que temos utilizado, embora o uso de
cenários tendenciais para variáveis específicas, como o preço dos produtos, possa
ser útil, tanto para a avaliação de alternativas propostas como para a revisão de
modelos mentais pré-estabelecidos8.
8
Um exemplo disso é que os seringueiros vêm enfrentando a concorrência dos seringais
de cultivo há mais de 80 anos. Foi particularmente intrigante a sua surpresa, no último
ano, com o colapso do mercado da borracha em Rondônia devido à abertura de mercado
para a borracha importada. Para os extrativistas, o “cenário desejável” muitas vezes é
um espelho cor de rosa, que reflete o passado. “Desejável “ seria que tivessem preço alto
da borracha, a organização e o paternalismo que os patrões impunham, abundância de
caça, seringais cheios de gente e festas. Romper a barreira desse espelho e seus
modelos mentais pode ser a tarefa de cenários gerados de forma participativa e que
18

2) Participação:
Muito tem se falado sobre participação nos projetos de desenvolvimento.
Embora a participação seja vista normalmente como algo positivo, ela pode ser
usada com o “propósito de transformar o sistema atual ou simplesmente de manter o
status quo” (Slocum e Thomas Slayter, 1995). De fato, a participação, quando feita
de maneira acrítica, pode respaldar propostas de cima para baixo, paternalistas ou
equivocadas. O fato de serem chamados para uma decisão não quer dizer que os
indivíduos tenham possibilidade de uma participação plena. Assim, a participação,
para ser transformadora, exige um processo gradual de crescimento e capacitação.
De maneira simplificada, existem dois tipos básicos de participação:
• Mobilização: é o envolvimento da comunidade na execução de uma
ação, como por exemplo os mutirões de limpeza que várias prefeituras
promovem. Na mobilização, em geral, as comunidades não participam do
planejamento das ações e não melhoram sua situação de autonomia para
implantar melhorias.
• “Empoderamento”(aumento do poder): é o aprendizado da
comunidade em maneiras de melhorar sua situação e a melhoria efetiva da
posição das pessoas em relação a outros setores, como as elites, o
governo, aos homens (no caso do empoderamento de mulheres), etc.
(Ver a discussão apresentada por Diane Rocheleau,1994)

É muito importante também verificar quem participa. Diagnóstico,


planejamento, e implantação incluem homens e mulheres? Só os mais ricos ou
também os pobres? Só os católicos ou também evangélicos? Só os alfabetizados ou
também os analfabetos? E como é a sua participação? É representativa,
democrática, igualitária?
A participação pode acentuar ou reduzir as desigualdades. Em um projeto, se
ninguém é consultado, isso provavelmente reduzirá os benefícios para todos. Por
outro lado, se só um grupo é consultado, é provável que esse grupo seja mais
beneficiado que os outros. Temos observado esse tipo de distorção, às vezes difícil
de corrigir, nas reservas extrativistas, onde os homens participam mais do que as
mulheres (e recebem a maior parte dos benefícios) e onde comunidades de acesso
mais fácil recebem mais melhorias, pois lá são feitas a maior parte das reuniões,
resultando em maior participação daquelas comunidades.
Em geral, observa-se que as pessoas que trabalham junto aos extrativistas
estão bastante preocupadas com uma participação efetiva das comunidades. Há um
consenso de que implantar reservas extrativistas sem participação não constitui um
trabalho competente. Assim, procura-se envolver as comunidades na implantação
das reservas, principalmente por meio de: a) envolvimento, consulta e trabalho
conjunto com organizações representativas dos extrativistas e b) reuniões de base.
Esses métodos não têm sido suficientes pois a) não promovem o envolvimento das
mulheres, b) as organizações têm problemas internos de participação e lideranças
possam se fazer acreditar pelas comunidades.
19

viciadas, e c) os planejamentos realizados resultam geralmente em uma lista de


demandas e as poucas atividades sob a responsabilidade das comunidades
raramente são executadas. Isso não quer dizer, porém, que o trabalho via reuniões
de base e organizações não deva ser realizado. Pelo contrário, são o ponto de
partida, a primeira fase do processo de organização. Mas para ampliar o processo
participativo, além de reuniões bem organizadas e do suporte das organizações de
base, são necessários métodos, ou caminhos definidos e comprovados para
alcançar esse objetivo. Com os planos de desenvolvimento, espera-se suprir essa
necessidade nessa segunda fase do processo de organização.

3) Equipe para elaboração do Plano de Desenvolvimento:


Assim como no DRP, a equipe de elaboração do plano de desenvolvimento é
formada com o objetivo de incorporar os vários pontos de vista, para alcançar uma
melhor coleta de informações e garantir a participação da comunidade no
diagnóstico.
Dessa maneira a equipe deve ser:
• Mista (composta de homens e mulheres, para incluir os dois pontos de
vista);
• Interdisciplinar (composta por técnicos de diversas áreas do
conhecimento; se isso não for possível, devemos nos colocar na posição de
outros técnicos, e valorizar outras áreas também);
• Com técnicos locais (para facilitar o acompanhamento do plano quando
os técnicos de fora não estiverem presentes, garantindo maior continuidade;
os técnicos locais também conhecem melhor a realidade da reserva e
ajudam nas observações e conclusões);
• Com técnicos de fora (para facilitar o conhecimento de aspectos tidos
como “conhecidos” pelas pessoas locais e para diminuir o vício das
conclusões baseadas no senso comum e preconceitos decorrentes das
relações mais próximas das pessoas locais com a comunidade);
• Com pessoas da Associação (a Associação desempenha um papel
fundamental na implementação do Plano; por isso, é importante a inclusão
de pessoas da diretoria da Associação na equipe);
• Com pessoas da comunidade (além da Associação, pessoas da
comunidade são importantes para conseguirmos boas informações e
fazermos conclusões corretas, de acordo com o ponto de vista da
comunidade);

A nossa experiência mostrou que o número mínimo para garantir essa


composição é de quatro pessoas (dois técnicos, uma pessoa da Associação e outra
da comunidade, sendo dois homens e duas mulheres). Enquanto que o número
máximo, sendo eficiente para a movimentação da equipe e sistematização dos
dados, deve ser oito pessoas.
20

4) Técnicas utilizadas na elaboração do Plano de


Desenvolvimento:
Embora o procedimento de elaboração participativa do plano de
desenvolvimento seja principalmente baseado no DRP, aqui apresentamos algumas
adaptações resultantes da experiência nas reservas extrativistas.

Técnicas de diagnóstico:
Na elaboração dos planos de desenvolvimento, valorizamos principalmente as
informações fornecidas pelas comunidades (fontes de primeira mão, ou primárias),
mas têm grande utilidade as fontes secundárias, como publicações, mapas,
relatórios, e mesmo a experiência de algumas pessoas que conhecem bem a área.
São essas fontes secundárias que vão orientar a elaboração de uma lista de dados
necessários para a elaboração do plano de desenvolvimento. Essa lista é muito
importante para a geração do diagnóstico, como veremos adiante.
Apesar da maioria dos trabalhos sobre DRP e metodos participativos
enfatizarem as “ferramentas” (mapas, históricos, calendários, transectos,
diagramas), a base da maioria das ferramentas é a entrevista semi-estruturada
(Tillman & Salas, 1994), a entrevista com grupos-foco e a observação. A entrevista
não estruturada também é utilizada em vários momentos. Assim, o uso flexível do
DRP (uma de suas maiores qualidades) depende do entendimento dessas técnicas
de pesquisa, e de como as chamadas “ferramentas” funcionam.
Entrevista não-estruturada:
A entrevista não-estruturada é uma técnica de pesquisa social e é a
ferramenta mais utilizada para coleta de dados em Antropologia Cultural (Bernard,
1994). Há uma ampla literatura em
como conduzir esse tipo de entrevista.
Segundo Bernard (1994) não há nada Tillman & Salas apresentam algumas dicas sobre a
de informal nesse tipo de entrevista: “arte da pergunta”:
“você senta com um informante e faz • Perguntas abertas: “qual a
sua opinião sobre...”
uma entrevista. Ponto”. A entrevista
não-estruturada é baseada em um • Perguntas estimulantes:
“como conseguiu esta horta tão bem
plano claro que é mantido em sua feita?”
mente. É mais utilizada quando você • Perguntas dignificantes:
tem muito tempo e vai fazer um “você que sabe tanto sobre este
trabalho a longo prazo, em que cultivo...o que você me diz de...”
poderá encontrar o informante várias • Perguntas sobre eventos
vezes. chaves: “como conseguiram recuperar-
se da enchente?”
Entrevista semi-estruturada: Os autores ainda ressaltam que a
Nas situações em que não entrevista não é hora para dar recomendações,
haverá uma nova chance para mas que o técnico pode mostrar sua posição e seu
conhecimento, sem impor, para estimular a
entrevistar alguém, a entrevista semi- conversa. Ainda, é importante evitar as perguntas
21

estruturada é melhor. Ela tem muitas das mesmas qualidades e requisitos da


entrevista não-estruturada, mas é baseada em um roteiro (uma lista escrita de
questões e tópicos que precisam ser abordados em uma ordem particular). Esse
roteiro é muitas vezes baseado nos resultados de outras entrevistas (Bernard,
1994).
Tillman & Salas (1994) apontam que a entrevista tem como base os
processos de percepção e comunicação dialógicos. “Ao realizar uma entrevista,
penetramos no mundo das idéias e das experiências do entrevistado”. Desenhos e
gráficos podem reforçar a possibilidade de entendimento do que os informantes
pensam e fazem. Ao contrário dos questionários, esse tipo de entrevista deixa
espaço para que a percepção, motivações e opiniões do entrevistado se expressem,
orientando a entrevista em função de temas específicos.
Os dados coletados na entrevista podem ser registrados durante a entrevista
ou posteriormente. O registro durante a entrevista pode ser feito com anotações ou
com um gravador. Entretanto, esse registro pode influenciar as respostas (por
exemplo, as pessoas podem ficar mais intimidadas a assumir que caçam, diante de
um gravador). Uma maneira de diminuir esse problema é registrar depois da
entrevista. Assim, o entrevistador deve aprender a memorizar as informações
coletadas até que tenha uma oportunidade de registrá-las. Isso pode ser feito com o
auxílio do roteiro de entrevista. Outra forma de facilitar esse registro é ter mais de
um entrevistador por entrevista.
Quando a equipe de entrevista é composta por três a quatro pessoas, com
formações e interesses diferentes, e inclui homens e mulheres, a entrevista, mesmo
quando não-estruturada e o registro feito posteriormente, costuma coletar uma
grande riqueza de informações e detalhes (Peter Hildebrand, comunicação pessoal).

Para as entrevistas não-estruturada e semi-estruturada, existem dois tipos


básicos de informantes:

Informantes-chave ou especializados:
Informante-chave é aquela pessoa que sabe muito sobre um
determinado assunto e pode nos dar informações confiáveis. O uso de
informantes-chave pode agilizar muito a coleta de informações, além de
orientá-la. Com um informante especializado pode-se utilizar a maioria das
ferramentas do DRP.

Informantes representativos (entrevistas domiciliares):


Os informantes representativos são moradores comuns da reserva, que
representam os tipos de pessoas ou de famílias presentes. São normalmente
entrevistados em entrevistas domiciliares. As entrevistas domiciliares são
usadas para verificar e completar informações obtidas com os informantes-
chave. Elas também podem incluir as famílias dos informantes especializados
(adquirindo às vezes um caráter de entrevista com grupos, ver a seguir).
22

Muitas vezes, os moradores de uma comunidade são representativos e


especializados ao mesmo tempo, dependendo do tipo de informação. Por exemplo,
um seringueiro pode ser representativo para dados sobre produção de borracha,
mas por ser um dos melhores caçadores, ser informante especializado sobre dados
da fauna.

Entrevistas com grupos-foco e moderação de discussões em grupo:


Além da entrevista individual, na elaboração do plano de desenvolvimento são
comuns as entrevistas em grupo. A identificação de problemas, sua hierarquização e
outras técnicas se realizam através da discussão em grupos. Desta forma, adquirem
uma dinâmica interativa que requer moderação para facilitar a participação de todos
(Tillmann & Salas 1994). Segundo Bernard (1994), “grupos-foco são recrutados para
discutir um tópico particular”. Normalmente têm de seis a 12 membros, além do
moderador. Grupos muito pequenos podem ser dominados por uma ou duas
pessoas. Grupos muito grandes ficam difíceis de serem manejados. O moderador do
grupo leva as pessoas a conversarem sobre qualquer questão que esteja em
discussão. Para Bernard (1994), ser um moderador envolve “as habilidades de
etnógrafo, pesquisador, e terapêuta”.
Uma questão-chave, quando se fala em plano de desenvolvimento, é que no
grupo é que se decidem questões, que o planejamento é feito. Os grupos são
formados por pessoas da comunidade, portanto, velhos conhecidos na maioria das
vezes. Ao lidarmos com discussões em grupo, estamos lidando com velhas rixas,
lideranças e relações já estabelecidas e, principalmente, poder. Muitas vezes, o
grupo ultrapassa o tamanho desejado, pois a democracia exige a decisão com
todos9.
Com os grupos, podem ser feitas discussões sobre temas específicos ou
podem ser aplicadas as “ferramentas” (ver adiante).
Outras funções da entrevista:
Embora sejam técnicas de pesquisa, na elaboração do plano de
desenvolvimento, as entrevistas individuais ou em grupo são espaços de
aprendizado da comunidade (pesquisa interativa). As entrevistas em grupo são
espaços de decisão e poder, para o reconhecimento, negociação, esclarecimento e
eventual resolução de conflitos10. Além disso, as entrevistas são ocasião de
expressão de sentimentos, idéias e propostas. Por isso, as pessoas da comunidade
o fazem com estratégia, sempre com um objetivo em mente. Reconhecer esse
objetivo e o contexto das informações coletadas é um dos maiores desafios para a
equipe do plano de desenvolvimento.

9
A não ser que haja um processo de delegação/representação.
10
Na elaboração do plano de desenvolvimento, muitos conflitos detectados nas
entrevistas domiciliares podem ser negociados ou solucionados nas entrevistas em grupo
e reuniões.
23

Ferramentas participativas...ou jogos?


Tanto nas entrevistas individuais como nas em grupo podem ser utilizados
roteiros com os tópicos que devem ser abordados durante a entrevista. Esses
roteiros são normalmente vistos como uma lista de temas ou informações a serem
coletadas. Por outro lado, na literatura sobre DRP e métodos participativos,
costuma-se enfatizar as “ferramentas” (mapas, históricos, calendários etc.; ver na
próxima seção), com seus procedimentos, utilidades, dicas de aplicação. Isso acaba
resultando em receitas, ou pacotes, que podem gerar dúvidas sobre o valor do DRP
e sobre o caráter de suas técnicas.
Apesar de recente, o DRP baseia-se em técnicas consagradas de pesquisa
antropológica e social. Porém, uma das novidades principais está no uso das
“ferramentas”, que permitem maior comunicação e domínio da informação coletada
por comunidades pouco letradas.
Entretanto, essas “ferramentas” não são técnicas de pesquisa (no mesmo
sentido em que as entrevistas o são), mas são roteiros para a coleta de informação
através da entrevista semi-estruturada individual ou com grupos. Cada ferramenta
“contém” uma lista de informações a serem coletadas.
O calendário de atividades, por exemplo, contém os seguintes tópicos:
• Quais são as atividades principais da comunidade?
• Quando são realizadas? Por quem?
• Quando são as épocas de escassez e disponibilidade de recursos?
• Quais são as épocas mais ocupadas do ano?
Além de roteiros, as “ferramentas” são mídia bastante interessante para
facilitar a comunicação entre a equipe e os entrevistados, e para permitir à
comunidade maior domínio sobre a informação coletada.
Assim, as “ferramentas” podem ser utilizadas de forma bastante flexível, em
entrevistas semi-estruturadas individuais ou com grupos-foco. O seu uso vai
depender do interesse da equipe do diagnóstico.
Antes de escolher quais as ferramentas que serão aplicadas, deve-se fazer
uma lista detalhada do que se quer saber. Com a lista em mãos, pode-se escolher
as ferramentas dentre as já consagradas pelo DRP e adaptá-las, ou criar novas
ferramentas para a coleta das informações desejadas.

Ferramentas ou jogos? As comunidades, quando têm uma prática de


organização e reuniões - que normalmente ocorrem de forma monótona, confusa ou
conflituosa - ficam maravilhadas pela dinâmica diferente dada pelas chamadas
“ferramentas”. Para os participantes, os mapas, diagramas, históricos, e outras,
parecem jogos ou brincadeiras. O caráter lúdico dessas técnicas é muito importante
para conseguir a participação. Assim, temos preferido chamar as “ferramentas” de
“jogos”.
A seguir, vamos abordar alguns jogos que têm sido utilizados na elaboração
de planos de desenvolvimento:
24

Jogos que faciltam a coleta de informação:

Mapas participativos:
O mapeamento participativo é um jogo que facilita a coleta de informações
baseado na percepção e conhecimento que indivíduos e grupos têm do espaço em
que vivem ou atuam. Os mapas não precisam ter precisão ou escala, e dependendo
do propósito, pode ser interessante que a “escala” e as proporções sejam livres para
permitir que a percepção dos indivíduos seja expressa. Esses mapas podem ser
representados em uma só folha (unificados) ou, conforme o nível de detalhe, serem
separados conforme o tipo de informação.
Tipos de mapa conforme o tipo de informação apresentada:
• Mapa de localização das colocações e infraestrutura (colocações,
famílias, nº de pessoas, varadouros, construções, escolas, etc.);
• Mapa de recursos naturais (rios, solos, relevo, castanhais, caça, peixe,
etc.);
• Mapa de impactos ambientais e ameaças;
• Outros.
Ainda, segundo Tillmann e Salas (1994), existem os mapas sociais (que
servem para mostrar as diferenças sociais), os mapas de danos ecológicos, os
mapas de confluência e outros.
Para fazer os mapas pode ser usado um mapa básico da área e foto de
satélite para confirmar. As pessoas entrevistadas poderão desenhar ou apontar as
informações sobre o mapa básico. Pode ser usado um aparelho de GPS (Global
Positioning System), para checar coordenadas.
O DRP tem utilizado também modelos e maquetes feitas com materiais locais,
como terra, folhas e sementes, pedras e outros (Chambers & Guijt, 1994). Além
desses podem ser utilizados lençóis, flanelógrafos (painéis de flanela em que podem
ser afixadas figuras), e outras técnicas.
O mapeamento pode também ser feito para a propriedade (colocação, no
caso dos seringueiros) para entender como se utilizam os recursos e a inter-relação
das atividades.
Mais do que obter o resultado gráfico, é importante entrevistar os moradores
sobre os mapas que criaram. À medida em que explicam os desenhos, uma série de
informações (que serão registradas posteriormente no diário de campo do
entrevistador) podem ser coletadas. O processo de elaboração de um mapa
participativo pode ainda ser um momento de aprendizado e troca de informações
entre equipe e comunidade, e mesmo dentro da própria comunidade.

Calendário sazonal (calendário):


No calendário, várias informações podem ser coletadas: distribuição das
chuvas, atividades durante o ano, épocas de maior trabalho, épocas de falta de
dinheiro ou alimento, a participação de homens e mulheres nas atividades, etc.
25

Veja o exemplo do Calendário elaborado pelos moradores do Rio Cautário


(Figura 1).
26

Figura 1: Calendário de atividades do Rio Cautário, diagnóstico do Rio Cautário.


Estação:

Ativida jan fev m Ab m ju jul ag se ou no dez


des ar ri ai n o t t v
Corte de X $ $ $ $ $
Seringa
Castanha $ $

Tracajás
Pesca anzol anz flec anz anz flech
ol ha e ol ol a no
igap anz rio
ó igap ol no no
ó rio rio

Caça tatu que que


xa- xa-
da da

Roçado broc broc derr derr quei quei plan limp limp
a a u- u- - - ta a a
1o. Ano bad bad mad mad
(tro (tro a a a a, milh (cap (mat
ca ca o o- a
dia) dia) coiv eira brut
a-ra arro ) a)
z
mac
a-
xeir
a

Roçado 2a. cort limpa limpa arranc


limp e de terra mato ao
o
2 . Ano a arro p/ do feijão,
(cap z feijão, feijão bate
oe- quebr feijão
ira) $ ao $,
milho,
leva faz mel
p/ de
paiol cana

Fazer
farinha
Cuidar da
Casa
Criações
Épocas
mais
ocupadas
para
homens e
mulheres
Dinheiro

Legenda:
27

ÉPOCAS DE ATIVIDADE OU DISPONIBILIDADE


ÉPOCAS DE MAIOR ATIVIDADE OU DISPONIBILIDADE
Fonte: Plano de Desenvolvimento do Rio Cautário (Rondônia, 1997a).

Dicas:
• Agrupar atividades ligadas ao roçado, as atividades ligadas aos pequenos animais, e as
atividades ligadas ao quintal (ver exemplo acima). Separar essas atividades, que na verdade
ocorrem em muita integração, torna o calendário difícil, cansativo e com maior risco de erros.
• A inclusão de gênero (quem faz o quê?) pode ser feita juntamente com o calendário ou na
análise de atividades (ver a seguir).
• As atividades podem ser representadas por desenhos ou ícones.
• As estações, seca e chuvosa, podem ser determinadas com o grupo, estimulando os
participantes a colarem no calendário um cartão com o desenho de um sol (seca) ou de uma
nuvem (chuva).

Análise de Atividades (“quem-faz-o-quê?”):


A análise de atividades consiste em saber quais são as atividades
desenvolvidas por homens, mulheres e crianças. Pode ser feita em grupo ou
individualmente. Faz parte dos procedimentos da Análise de Gênero, e pode ser
feita na forma de uma tabela, como a que foi elaborada para o Plano de
Desenvolvimento do Rio Cautário (Tabela 1):
28

Tabela 1: Análise de Atividades (quem-faz-o-quê) do Rio Cautário (Fonte: Plano de Desenvolvimento


do Rio Cautário (Rondônia, 1997a)).
Atividades Homens Mulheres Crianças
Corte da seringa x / x
Coleta castanha x x x
Tracajá x x
Pesca x x
Caça x /
Broca x x
Derruba da mata ou capoeira x /
Coivara X
Queima da derrubada X
Plantio X x
Limpa no roçado X x x
Corte do arroz X x x
Colheita do milho X x x
Colheita do feijão X x x
Bater o feijão X x
Colheita da macaxeira X / x
Fazer farinha X x /
Pilar o arroz X x /
Cuidar das criações x
Comercialização X
Cuidar da casa x x
Zelar o terreiro x
Legenda
X Participa ativamente da atividade
/ Não participa muito da atividade

É importante notar que a análise de atividades pode ser feita em outros jogos,
como nos mapas de colocação ou no calendário de atividades.
Dica:
• A análise de atividades vai ser melhor se realizada separadamente com homens e
mulheres, pois muitos homens têm vergonha de admitir que as mulheres também
contribuem para a produção com o seu trabalho, e as mulheres extrativistas muitas
vezes ficam inibidas de desmentir os homens em grupos mistos.

Quantificação de produtos em grupos


A quantificação em grupo é a entrevista com um grupo-foco (de preferência
representativo da comunidade) para a discussão da produção das lavouras e
atividades extrativistas, e a coleta de dados sobre a quantidade produzida dos
diversos produtos (Leda Luz, comunicação pessoal). Pode ser feita em grupos
pequenos, de seis a 12 pessoas. É interessante saber a maior e a menor quantidade
produzida, e principalmente a quantidade mais comum.
Essa técnica pode ser Dica:
utilizada com outras, como o • Perguntar a maior e a menor produção.
• Reconhecer a produção mais comum através das
respostas a essas perguntas.
29

mapeamento participativo, para problematizar as causas das produções


encontradas.

Diagrama institucional ou de Venn (“quem-é-quem?”):


Os diagramas institucionais servem para identificar os indivíduos ou
instituições importantes para uma comunidade ou grupo. Também podem ser
usados dentro de uma organização (Chambers & Guijt, 1994). Podem ser aplicados
com indivíduos ou grupos.
Os entrevistados assinalam com círculos de diferentes tamanhos a
importância que as instituições têm para a comunidade, e depois mostram a
distância a que se percebe essa instituição (Tillmann & Salas).
Além de ajudar na coleta de informações, o quem-é-quem serve para educar
a comunidade sobre a função dos diversos órgãos do governo e entidades da
sociedade civil.
Uma modificação que adotamos no trabalho com os planos de
desenvolvimento foi o uso de círculos de tamanhos iguais, já que a importância da
organização era freqüentemente confundida com a distância. Assim, temos
analisado o que é efetivamente importante, usando a distância: quanto mais próximo
do centro do diagrama, mais importante é para a comunidade.
Essa não deixa de ser uma técnica de priorização ou hierarquização, pois
atribui diferentes níveis de importância às instituições, conforme a percepção do
grupo, sendo que várias outras também poderiam ser utilizadas11.
Veja os exemplos do Rio Cautário na Figura 2 A e 2 B:

11
Como veremos adiante, priorizar problema e soluções é um passo importante para a
eficácia do planejamento e o maior envolvimento da comunidade. A estrutura e as regras
do quem-é-quem também poderiam ser utilizadas em um jogo para identificar o
problema mais importante para a comunidade. Como se vê, os jogos são muito flexíveis e
podem ser usados em vários contextos e com propósitos diferentes.
30

Incra

Comunidade
Rio Cautário
João
Alberto
Secretaria W WF
Ribeiro
Municipal Sucam
de Saúde Miranda
Cunha
(marreteiro)

Prefeitura
AGUAPÉ
OSR
SEMEC
Costa Marques PNUD

Governo
de
Rondônia
Planafloro
CNS
Iteron

Sedam Ibama
Costa Costa
Marques Marques

Figura 2 A: Quem-é-quem elaborado pela Comunidade Canindé, Diagnóstico do Rio Cautário. Fonte:
Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Cautário (Rondônia, 1997a).
Incra

PNUD

Sedam Iteron
Porto Velho

WWF
CNS Planafloro
OSR Ecoporé

Polícia Militar Aguapé Sucam


Florestal

Comunidade Rio Cautário

Prefeitura
de Costa
Marques

Sedam Ibama
Costa Costa
Marques Marques

Figura 2 B: Quem-é-quem elaborado pela Comunidade Cajueiro, diagnóstico do Rio Cautário. Fonte:
Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Cautário (Rondônia, 1997a).
31

É claro que o resultado gráfico, assim como em outras técnicas, não vale
muita coisa sem as observações do comportamento, atitudes e falas dos
participantes durante o jogo. Por Dica:
exemplo, na figura 2A, como • Círculos de tamanhos diferentes confundem
apareceram o marreteiro e o a comunidade e também a análise.
Planafloro?12 Por que o Governo de • Recomendamos o uso de círculos de
Rondônia está colocado tamanho igual.
separadamente dos órgãos
estaduais (Sedam, Iteron,
13
Planafloro)? Por que o Incra recebeu só um pontinho e foi colocado na margem do
papel (já que não era permitido colocar nas costas do papel)?14 Esses dados são
coletados, analisados e colocados no relatório.

Diagrama Histórico:
Existem vários jogos para coletar dados históricos nas comunidades. Podem
ser feitos desenhos, gráficos, listas de acontecimentos. Tudo depende de quais
dados se quer coletar, da hipótese que se quer verificar15, e da capacitação da
comunidade no uso desses jogos (ex: alfabetização). Temos utilizado um diagrama
histórico montado a partir de discussões em grupo, Dicas:
em que o grupo escolhe as épocas e recursos (ou • Os períodos históricos
itens) a serem representados. Esses recursos são devem ser divididos por
apresentados em cartas (previamente preparadas, ou datas marcantes, que
improvisadas quando a comunidade surge com algo tenham um significado
não previsto). As cartas são arranjadas pelos importante para a
participantes, comparando as três épocas escolhidas, maioria das pessoas.
incluindo a atual. A cada decisão, o grupo é Pode ser um fato local
estimulado a justificar. No final, o grupo é estimulado ou nacional (ex: tri-
a estabelecer inter-relações e analisar a evolução da campeonato da seleção
disponibilidade dos recursos e da qualidade de vida.
brasileira).
O diagrama pode ainda ser feito com
indivíduos, informantes representativos ou especializados.
Um potencial que ainda não tem sido muito explorado, é o uso desse
diagrama para estabelecer um cenário dos recursos no futuro. Dessa forma, o

12
O marreteiro foi sugerido pelo técnico da Reserva; o Planafloro teve uma série de ações
realizadas, incluindo a doação de equipamentos para a Associação.
13
A comunidade quis reconhecer o ato do Governo em decretar a Reserva.
14
A comunidade considera que o Incra é o principal responsável pelo desmatamento e
expulsão dos seringueiros das áreas de seringais que foram desapropriados para projetos
de colonização. A comunidade afirmava que o escritório do Incra no município tinha
funcionários que estimulavam a invasão da reserva por pequenos agricultores, causando
desmatamento de castanhais.
15
O uso de hipóteses é a principal ferramenta lógica para conhecer a realidade no
diagnóstico do plano de desenvolvimento e será abordado adiante.
32

diagrama histórico constitui também uma boa técnica de educação ambiental e para
a escolha de medidas de proteção.
Veja o diagrama histórico produzido no Rio Cautário no Anexo 1.

Caminhada de Observação (Transversal):


Caminhada de observação, transecto agroecológico, corte transversal ou
perfil é um jogo que permite ver com mais detalhes as informações descritas nos
mapas participativos. Permite também a identificação de usos, limitações e
oportunidades de diferentes zonas agroecológicas. Pode ser feito para uma
comunidade ou para uma propriedade rural (colocação, no caso dos extrativistas)
(Tillmann & Salas, 1994).
A caminhada de observação é feita reunindo um grupo de pessoas da
comunidade para percorrer um trecho com os principais ambientes. O grupo então
observa os principais aspectos relacionados com atividades, problemas e
potencialidades, além das características ambientais mais marcantes.
Veja o resultado da caminhada de observação feita no Rio Cautário no Anexo 2.
Dica:
• Dividir a responsabilidade de observar aspectos diferentes da caminhada (solo, fauna,
flora, etc.) entre os participantes do grupo.
• Caminhada em um local mais ou menos representativo dos diversos ambientes.
O uso de hipóteses no diagnóstico:
Embora pouco enfatizado nas publicações sobre o DRP, no diagnóstico
participativo, um dos principais aspectos é o uso de hipóteses, isto é, explicações
ainda não comprovadas, sobre os problemas das comunidades. Durante todo o
diagnóstico o uso de hipóteses sobre os problemas é a principal ferramenta lógica
que guia o uso dos jogos, o roteiro das entrevistas e demais procedimentos. Como o
planejamento é baseado principalmente na resolução de problemas, é muito
importante saber as suas origens e causas.
Assim, durante todo o diagnóstico, nas entrevistas individuais ou em grupo,
levantam-se e testam-se hipóteses. Aqui, a comprovação não tem um caráter
científico ou estatístico. O importante é se a equipe, formada por pessoas de fora e
da comunidade, está convencida de que a explicação está certa, de que a hipótese
realmente expressa uma relação válida de causa e efeito, ou não. Posteriormente,
essas hipóteses podem ser apresentadas à comunidade para a verificação por
todos.
Para isso, temos trabalhado da seguinte maneira. Durante o diagnóstico na
comunidade, à noite, ou em ocasiões em que a equipe tem privacidade 16 para trocar
idéias e informações sobre o que foi observado nas entrevistas individuais e em
16
A troca de informações sobre as entrevistas domiciliares pode ser constrangedora
quando feita na presença de pessoas da comunidade que não fazem parte da equipe.
Como muitos não conhecem bem o propósito das entrevistas, podem pensar que a
equipe está fazendo fofoca, ou que está muito interessada nos “podres” (aspectos
negativos) das famílias.
33

grupo, fazemos reuniões para troca e sistematização de informações. A


sistematização tem sido feita na forma de uma lista de problemas e causas, como a
apresentada na Tabela 2.
Tabela 2 – Lista de problemas e causas para a área de educação, elaborada
durante o diagnóstico participativo do Rio Cautário, 1997.
Problemas Motivos Soluções Possíveis17
Alunos faltam muito e muitos • As escolas são distantes. • Envolver a comunidade com a
desistem antes de terminar o
ano • Há dificuldade de transporte,
escola, na construção e no dia-dia
da escola
principalmente na estação das chuvas
• Pais precisam dos filhos durante o verão
• Para a 1a.- 4a. série aulas intensivas
no inverno
devido a concentração de atividades
nesse período. • De 5a. - 8a. série semi-internato
• O conteúdo não é útil para melhorar a
qualidade vida
• Material apropriado as condições
locais, tanto em termos de
• A família não entende o papel da escola conteúdo como de pedagogia
• Conflitos entre as pessoas e com a • Organização dos pais para o
localização da escola transporte dos alunos.
• Garantir combustível para o
transporte dos alunos.
Repetência alta • Alunos faltam muito • Formação adequada do professor


Livros inadequados à realidade regional
Não é feito um trabalho de pré-
• Cursos de capacitação do
professor
alfabetização
• Material apropriado
• Má formação do professor
• Evitar a ausência do professor
A maioria dos moradores não •
é alfabetizada.
Falta de oportunidades de estudo no
passado e no presente
• Garantir a contratação do
professor por mais um período
• O professor não é pago para alfabetizar
• Combinar horário e rodízio entre
adultos
os membros da família
• Trabalho deixa a pessoa cansada para
• Alfabetização de adultos com
estudar
aulas algumas vezes por semana
• Combinar apoio da comunidade ao
professor
• Material adequado par alfabetizar
adultos

Qualidade das aulas não é
boa
• Professores não têm treinamento
Garantir formação
pedagógica do professor
conteúdo-
suficiente
• Material apropriado
• As instalações não são adequadas para
• Aulas práticas, incorporando a
as aulas
difusão de alternativas de renda
• Os livros não são adequados à realidade
para a comunidade
regional
• Adequação de instalações pela
comunidade

Escolas não têm mesas,
carteiras ou outros materiais
Faltam recursos
• Organização da comunidade para
(mesas e cadeiras serão • Comunidade não está a construção de móveis e
doadas à Aguapé) organizada/mobilizada para resolver esse obtenção de apoio para material
problema escolar
Não existe APP • Falta de informação sobre os benefícios
disponíveis e de como criar uma APP
Pessoas capacitadas muitas • A cidade é mais atrativa quando a pessoa • Contrato vinculado à permanência na
vezes abandonam a reserva tem uma profissão Reserva
depois de terem contrato

17
As soluções em negrito correspondem àquelas que comunidade tem certa
governabilidade ou possibilidade de ação.
34

A tabela apresenta também as soluções levantadas durante as reuniões que


realizamos com profissionais da área de Educação, após o diagnóstico. Essas
soluções serviram par embasar o planejamento junto às comunidades, já que não
dispunhamos de uma equipe multidisciplinar em campo (ver adiante).
Um problema com essa forma de análise dos problemas e causas da
comunidade é que ela não permite um encadeamento lógico mais complexo de
causas e problemas. Assim, quando problemas causam outros problemas, a tabela
torna-se repetitiva e confusa.
Uma outra forma de apresentar as hipóteses sobre os problemas e causas é
através de uma “árvore de problemas”, como as que são elaboradas para o ZOPP,
mas baseada em uma análise mais profunda, mais em dados que em opiniões, e
construída ao longo do período do diagnóstico. Assim, evitar-se-iam erros,
esquecimentos, e a predominância da opinião ao invés da realidade, como muitas
vezes ocorre no ZOPP. Veja as hipóteses da tabela acima colocadas em uma árvore
de problemas (Figura 3):

Professor não é pago


para alfabetizar adultos

Trabalho deixa a pessoa Analfabetismo de


cansada para estudar adultos
Falta pré-
escolar
Falta de oportunidades de
estudo no passado e no
presente Pais precisam A maioria dos
dos filhos para moradores não é
o trabalho em alfabetizada
Livros
Conteú certas épocas
inadequa Alunos Repetência
dos do faltam
escolar Alguns pais têm muito
não é pouco interesse na
Professor útil educação dos filhos
es com
Evasão
pouco
escolar
treinamen Instalações
to inadequadas

Escolas sem carteiras e


Qualidad
equipamentos
e das
aulas não
Alunos e professores é boa
preparam merenda

Escolas distantes

Transporte difícil
35

Figura 3 – Árvore de problemas para a área de Educação, caso tivesse sido aplicada
no diagnóstico do Rio Cautário (Fonte, Weigand e Paula, 1998).

Essas árvores devem ser construídas lentamente durante o diagnóstico. Para


cada problema pode ser usada uma cartela. As hipóteses estabelecendo relações
causais aceitas e os problemas confirmados podem receber uma marca sinalizando
isso. À medida em que hipóteses não comprovadas aparecem na árvore, isso pode
ir redirecionando o diagnóstico, exigindo novas entrevistas, perguntas ou jogos.
Problemas ou oportunidades?
Trabalhar a partir de problemas traz limitações quanto ao uso de
oportunidades que seriam facilmente aproveitáveis para a melhoria da qualidade de
vida na reserva. Como veremos adiante, trabalhamos sobre os problemas mais
prioritários. Isso às vezes coloca a comunidade em busca da resolução de
problemas difíceis, deixando de se organizar em torno de oportunidades mais
simples, que ajudariam a capacitar a comunidade na implantação de melhorias e
que trariam sucessos rápidos que estimulariam a organização comunitária. Mas
como integrar as oportunidades dentro da lógica do diagnóstico?
O DRP usa como instrumento uma “tabela de viabilidade técnica”, que serve
para analisar a situação de equipamentos e recursos, e as oportunidades que
oferecem. Talvez, uma ampliação dessa tabela, com a análise de aspectos
institucionais e de mercado, por exemplo, possa ser apropriada para a inclusão
sistemática das oportunidades no diagnóstico.
Soluções possíveis:
Na Tabela 2, apresentamos uma lista de problemas, causas e soluções
possíveis para área de Educação na Resex do Rio Cautário. Para possibilitar uma
análise mais interdisciplinar (já que todos os técnicos da equipe são das Ciências
Agrárias), a lista foi revisada com especialistas da área de Educação. Isso foi
realizado com cada área do desenvolvimento18, sendo que localizamos, em
entidades não-governamentais, no Governo e na Universidade, pessoas experientes
ou especialistas em cada área, dispostas a coloborar de forma voluntária com o
plano de desenvolvimento.
Assim, esse procedimento permitiu uma checagem das hipóteses (problemas
e causas), gerou um cardápio de possíveis soluções para serem discutidas com as
comunidades, e baixou o custo da interdisciplinaridade no plano de
desenvolvimento.

18
Áreas do desenvolvimento, exemplos: Educação, Saúde, Renda etc.
36

Técnicas de planejamento:
No planejamento são utilizadas as reuniões com grupos comunitários,
assembléia de moradores e trabalho em subgrupos. Após a apresentação dos
resultados do diagnóstico à comunidade, acontece a priorização dos problemas a
serem primeiramente trabalhados, a elaboração de objetivos e estratégias para cada
área do desenvolvimentoe elaboração de projetos para cada área.
Retorno e validação do diagnóstico:
Antes da priorização, é importante retornar e discutir as conclusões do
diagnóstico da reserva. Para isso, podem ser usados diversos meios: cartazes,
álbuns seriados, mensagens gravadas em fitas cassete, teatro de fantoches etc. O
importante é que a comunidade Uso do rádio para retorno e validação do
discuta os problemas e suas causas e diagnóstico:
corrija o que discordar do diagnóstico. No Rio Cautário, o retorno do diagnóstico foi O
uso de desenhos para representar os feito a partir da audição das fitas do
problemas pode ajudar na discussão e programa Rádio Cautário produzido e
veiculado nas rádios Educadora de Guajará
na posterior priorização. Mirim, e Caiari (em Porto Velho; as duas
com alcance na Resex do Rio Cautário),
semanalmente, iniciando uma discussão
Técnicas de priorização: sobre os problemas da reserva em cada
A priorização é um processo área do desenvolvimento. Os programas de
muito importante dentro do cada área tiveram entre cinco e 15 minutos.
No planejamento com a comunidade,
planejamento. Trabalhando sobre os juntamente com o programa, foram
problemas mais importantes para a introduzidos cartões com desenhos que
maioria é que se consegue o
envolvimento da comunidade nas ações do plano. Toda priorização envolve uma
escolha. O método mais conhecido é a votação. Na votação escolhe-se através do
voto qual a opção mais interessante para a comunidade ou qual o problema mais
urgente. Existem várias formas de fazer uma votação, a maior parte delas bem
conhecida. Mas a votação pode ser
feita proporcionalmente (em que os POR QUE PRIORIZAR?
diversos grupos envolvidos, por
exemplo, comunidades mais distantes e • Os recursos humanos, materiais,
com menor número de participantes, financeiros e de tempo são
têm o mesmo peso nas decisões), pode limitados;
ser feita em separado (estabelecendo • Priorizar aumenta o
prioridades de cada grupo, por
envolvimento,
exemplo, de cada comunidade, ou dos
homens e das mulheres). • Diminui os conflitos,
Apesar de ser o método de • Aumenta a legitimidade do plano,
escolha em grupo mais utilizado, • Aumenta a satisfação com os
quando o número de opções é elevado resultados das ações,
(mais que três ou quatro), a votação
começa a ficar pouco eficiente e pouco • Aumenta a eficiência,
• MELHORA OS RESULTADOS!
37

esclarecedora, sujeita a manipulações. Assim, existem outros métodos de


priorização, que são apresentados a seguir:

Priorização por pares:


A priorização por pares é feita através de uma matriz em que os problemas
são comparados dois a dois. No exemplo abaixo, temos a matriz de priorização por
pares feita para a Resex Aquariquara, com a qual foram escolhidas as áreas do
desenvolvimento a serem trabalhadas.

Tabela de priorização por pares, comparando as áreas do Plano de Desenvolvimento (Fonte:


Rondônia, 1996b):
Saúde Educaç Renda Transp Comuni Organiz Proteçã Lazer
ão or-te ca-ção a-ção o
Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde Saúde
Educação Educaç Educaç Educaç Educaç Educaç Educaç
ão ão ão ão ão ão
Renda Transp Comuni Organiz Proteçã Renda
or-te ca-ção a-ção o
Transport Transp Organiz Proteçã Transpo
e or-te a-ção o r-te
Comunica Organiz Proteçã Comuni
ção a-ção o cação
Organizaç Organiz Organiz
ão a-ção a-ção
Proteção Proteçã
o
Lazer

Nesta tabela, as áreas foram comparadas duas a duas, com a comunidade


escolhendo qual deveria ser trabalhada primeiro. No final, contou-se o número de
vezes que cada área foi escolhida. A área mais escolhida deveria ser trabalhada
primeiro, e assim por diante. Assim, para a comunidade de Aquariquara, as áreas
deveriam ser trabalhadas nesta ordem:
1. Saúde
2. Educação
3. Organização Dica:
Proteção • A priorização por pares
4. Transporte pode ser muito
5. Comunicação demorada e tediosa,
6. Renda principalmente quando
7. Lazer o número de opções é
muito alto.
38

Priorização por ordenação:


A priorização por ordenação é
feita utilizando-se ícones (desenhos)
representando os problemas da
comunidade. Os participantes escolhem
os problemas mais prioritários,
colocando-os em ordem de importância
(ver foto ao lado).

É um método mais simples que


a priorização por pares, mas fica
confuso a medida em que discute-se
os problemas menos importantes.

Comparação por valoração de opções:

Esta técnica de priorização ainda não foi utilizada nos planos de


desenvolvimento. Vamos descrevê-la por julgarmos interessante.

“Na valoração de opções as diversas soluções possíveis são comparadas em relação a


certos critérios ou parâmetros19 previamente definidos com a comunidade”...“No uso desse
método de priorização, os critérios devem ser muito bem discutidos com a comunidade.
Todos devem concordar que esses critérios de avaliação são os adequados e importantes
para a comunidade. As pessoas discutem o valor de cada opção e colocam na tabela. Essa
tabela pode ser feita em papel, no quadro negro, ou mesmo no chão. Para marcar o valor de
cada opção pode-se utilizar números, pedras, sementes, ou o que estiver disponível e for
adequado. É um método útil para comparar diversas soluções para o mesmo problema”
(Rondônia 1996a).

Veja o exemplo da Tabela 3, realizado na índia e bastante citado na literatura.

19
São parâmetros de tempo gasto, lucro, mão de obra necessária, tipo de trabalho etc.
39

Tecelagem Tamarindo Camada de Confecção de Lenha


folhas tijolos

Tempo gasto

Lucro

Mão de obra

Banco/em- - - - -
préstimo

Trabalho
pesado
Figura 4 - Priorização por valoração de opções (Fonte: Rondônia (1996a), adaptada
de Mascarenhas (1993)).

Votação a partir da priorização dos recursos disponíveis:


Valdebenito (1996) descreve um método de seleção participativa de
problemas para o Planejamento Estratégico Situacional. Recentemente, tivemos a
experiência de utilizar esse método de votação dentro do planejamento da segunda
fase do Plano de Desenvolvimento da Resex Aquariquara. Em primeiro lugar,
coloca-se os problemas a serem priorizados, discutindo sua importância. Depois,
distribui-se um certo número de votos para cada participante. Os votos representam
os recursos de cada um (tempo, trabalho, dinheiro...). Os participantes podem votar
em mais de um problema, e distribuir seus recursos (votos) conforme a importância
dos problemas para cada um.
É um método rápido e eficiente para priorizar muitas opções de uma vez.
Porém, caso não haja uma boa discussão anterior, corre-se o risco de decisões
superficiais e pouco embasadas.
Técnicas para a elaboração de Objetivos e Estratégias:
A elaboração de objetivos e estratégias utiliza a moderação de discussões em
grupo, através de um roteiro de perguntas. O moderador deve usar o roteiro com
flexibilidade e senso crítico. Essa é uma fase muito importante do trabalho, pois das
perguntas depende a definição de estratégias apropriadas. Veja o exemplo abaixo:
No exemplo, observa-se as perguntas elaboradas para o trabalho de grupo
PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO RIO CAUTÁRIO
Roteiro de moderação de discussões em grupo

PERGUNTAS PARA A ÁREA DE PROTEÇÃO


20
Um problema com esse método é que a lista de perguntas (roteiro) é elaborada pela
⇒ O que queremos para a área de proteção?
equipe. Embora esse roteiro seja usado de forma a incluir outras preocupações, o grupo
tende
⇒ O queaprecisamos
centrarteratenção
para fazer anas perguntas
vigilância da reserva?pré-elaboradas. Assim,
Como faremos a vigilância? é deve
Quem preciso cuidado e a
nos apoiar?
equipe
⇒ Como deve
devemos fazer um esforço
nos organizar para
para vigiar ter uma lista o mais completa possível, consultando,
a reserva?
⇒ É
se preciso
for de treinamento?
o caso, especialistas e pessoas experientes em cada área, e mesmo pessoas da
⇒ Quem deve fiscalizar a reserva? Como iremos fazer contato com esses órgãos?
40

como fazer a proteção através do movimento extrativista (que tem sido fundamental
para cobrar dos órgãos ambientais ações de fiscalização e desintrusão na Reserva).
Assim, as estratégias geradas para o Plano do Rio cautário pouco incluíram esse
aspecto, pois a comunidade centrou atenção nas perguntas que foram colocadas no
roteiro.
Essa técnica já foi discutida quando discutimos as técnicas de entrevista
semi-estruturada e com grupos-foco. A diferença é que, no planejamento, ela é
aplicada só uma vez por tema, em um tempo curto, tornando a elaboração de um
roteiro de perguntas completo um aspecto crítico para o seu sucesso.
Técnicas para a elaboração de Projetos:
No caso dos projetos, a partir dos problemas mais prioritários para cada área
(de um a três problemas, dependendo de sua complexidade), e dentro de
subgrupos, faz-se a discussão de metas, atividades, responsáveis, prazos e apoio
necessário. Nesse momento, a moderação de discussão em grupos também é
fundamental. Pode-se, entretanto, fazer a priorização de um problema central e
aplicar o ZOPP simplificado. Veja o caso do segundo planejamento que foi realizado
na Reserva Aquariquara, após seis meses de implantação do Plano de
Desenvolvimento:

comunidade.
41

Destruição da
Floresta
Miséria na cidade

A profissão do seringueiro fica ameaçada

Colocações abandonadas

Seringueiro
não corta
Desânimo

Seringueiro passa a vender Perda da Qualidade de


outros recursos da floresta, vida
como a madeira

Baixa
Renda

Baixa Produção do Falta de Preço baixo e Falta Falta controle e


Roçado alternativas falta de mão de planejamento da
mercado para a obra colocação
borracha
Pragas Pouca Qualid Costume de
roça ade produzir só Dívidas Costume
das borracha
Semen Analfabetismo
tes Maior Borracha do
exigência de exterior
qualidade mais barata

Pouca Poucos Só tem um


Assistência recursos para Não existe proteção para a
comprador
Técnica investir borracha nativa

Falta uma
usina dos Pouca pressão sobre o
seringueiros governo

Figura 5: Árvore de problemas no segundo Planejamento da Reserva extrativista


Aquariquara (Fonte: Rondônia, 1997c).

A árvore de problemas, acima, mostra as causas (nas raízes) do problema


central (no tronco, priorizado pela comunidade; ver “Técnicas de priorização”, acima)
e suas conseqüências (os frutos, na copa). Esta é uma forma facilmente assimilada
pelos extrativistas, que participam da sua construção, sendo fácil para eles entender
porque os “frutos” dessa “árvore” são tão ruins.
42

Conservação da floresta Permanência na reserva

Vai ficar muito animado

Bom uso da floresta


Melhoria da qualidade de vida

Aumento da renda

Aumentar a Garantir o
Produzir Manejo da Controle e Implantar produção mercado
couro floresta planejament consórcio agrícola para a
vegetal o s borracha
Implantar
coleta de Capacitaç
ão e Conseguir
sementes boas
planejame Controlar as Cooperativa Proteção a
nto sementes pragas e comercializ borracha
doenças ando nativa
borracha

Aumentar a
roça Capital de
giro para Pressionar o
comercializ governo
Mutirão ação

Cooperativa
funcionando

Figura 6: Árvore de objetivos no segundo planejamento da Resex Aquariquara


(Fonte: Rondônia, 1997c).

A árvore de objetivos, acima, mostra os meios (nas raízes), o objetivo central


da comunidade (no tronco) e os resultados esperados (na copa). A árvore de
objetivos é feita pela comunidade com base na árvore de problemas, transformando
os problemas em objetivos, ou situação desejável. Isso permitiu um melhor
planejamento do projeto, à medida em que os meios são transformados em metas
(“o que fazer?”), e são discutidas as atividades (“como fazer?), os responsáveis
43

(“quem?”), prazos (“quando?”) e apoio necessário. Veja o exemplo na tabela a


seguir:

Tabela 3 – Divisão de tarefas do projeto de aumento da renda da Resex Aquariquara


(fonte: Rondônia, 1997c).
O que fazer ? Como Fazer? Quem? Quando? Apoio
Responsável
Aumentar produção
agrícola
Controlar pragas e . Promover 02 cursos sobre controle de Outubro / 97 EMATER / Técnicos
doenças. pragas e doenças (mela, vaquinha, feijão, Combustível – Prefeitura
chico preto / rolinha, arroz). Paulino
. Promover 01 curso sobre aplicação de
agrotóxicos. Dilson
Aumentar a roça . Comprar ferramentas, máquinas, Lídere Abril / 98 Projeto Comunidade
defensivo. ( 01 motor / grupo). ( Acompanhar) associação
. Organizar mutirões Líderes
. Pedir moto serra. Sabá
Conseguir sementes Pedir sementes na secretaria agricultura Chico Agosto/ 97 SEAGRI / Rosalvo
( feijão, arroz, milho). Líderes ( lista ) associação
Implantar consórcio . Pedir sementes de café, cacau, cupuaçu, Rosalvo ( ver Julho EMBRAPA
guaranã, côco, pupunha; sacolinhas possibilidade)
. Produzirmudas
. Coletar Sementes seringa
. Curso enxertia Líderes
. Modelo de Consórcio ( acompanhar )
. Número de mudas / sementes
PNUD
Assitência técnica . Eescolher 02 pessoas / comunidade Líder Julho
. Treinar 02 pessoas de cada comunidade
( EMATER / PREFEITURA)
. Conseguir um técnico Líderes Janeiro PNUD/Planafloro
SEDAM/ PROJETO
Produzir couro . Construir estufas Ecoporé/OSR Dezembro/97
vegetal . Conseguir química
. Acompanhar a produção
Manejo Florestal . Corte Equipe do Plano de OSR/Ecoporé
. Acompanhamento Manejo Agosto
Setembro
Julho
Implantar .Ver como está interessado Equipe Outubro PNUD/Planafloro
Coleta . Treinamento Ulisses
Sementes . Equipamentos Rosalvo / Ataíde
. Propaganda Guia
. Escolher árvores matrizes Grupos
Criame de Peixe . Levantar interesados . Lissio / Chico 15 de Setembro Sedam/
. Técnica para fazer o tanque . Emília Depois do PNUD/Planafloro
. Treinamento . Maria José Treinamento
. Organizar mutirões para construçao dos Projeto
02 tanques Janeiro
. Conseguir alevinos
Garantir Mercado . Cobrar a cooperativa . Rosalvo 15 julho / 97 SEDAM/ PNUD/
borracha . Abaixo assinado ao Presidente da julho PLANAFLORO
República Comunidade
. Carta
Capacitação em . Curso Equipe do Plano de Outubro SEDAM / PNUD/
administração e . Cartilha Desenvolvimento PLANAFLORO
planejamento
Merenda p/ escola . Horta Maria José Fevereiro Comunidade
Criação de galinha – 2º agosto Técnico

A partir desta tabela, a comunidade tem implantado suas melhorias, sendo


que um projeto foi elaborado e enviado para financiamento.
44

A prática em Aquariquara tem mostrado a eficiência desse método de


planejamento, como será visto adiante, na discussão das experiências das Resexs
Aquariquara e do Rio Cautário. De qualquer forma, planejamento não é algo que se
faz uma vez e pronto. Principalmente no caso dos projetos de implantação do plano
de desenvolvimento, ajustes periódicos são necessários.

5) Redação do Plano de Desenvolvimento:


Há várias formas de redigir o plano de desenvolvimento. Pode ser feito na
forma de uma cartilha ou de um documento mais complexo. Temos optado pelo
documento, pois o plano tem servido para a comunidade ser reconhecida junto aos
órgãos públicos, o que um documento mais informal não faria. Isso não quer dizer
que a linguagem tenha que ser complicada. Pelo contrário, embora extenso, o plano
pode ter uma linguagem acessível aos moradores da reserva, desde que saibam ler
ou tenham alguém para fazer a leitura para eles. Entretanto, é sempre bom ter uma
versão reduzida, pelo menos com o resumo dos projetos elaborados.
O plano de desenvolvimento pode ser organizado da seguinte forma:
Apresentação.............................................................................................................................3
Introdução:................................................................................................................................7
1) Plano de Desenvolvimento:..........................................................................................................7
2) Desenvolvimento e Reservas Extrativistas:................................................................................8
3) A proposta de elaboração dos planos de desenvolvimento para as reservas extrativistas
estaduais de Rondônia:..................................................................................................................12
Capítulo I - Métodos para a elaboração e implantação participativas dos Planos de
Desenvolvimento:.....................................................................................................................14
1) Base metodológica para a elaboração dos planos de desenvolvimento: DRP e métodos
participativos..................................................................................................................................14
2) Participação:...............................................................................................................................18
3) Equipe para elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................................19
4) Técnicas utilizadas na elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................20
5) Redação do Plano de Desenvolvimento:...................................................................................44
6) Implantação e revisão do Plano de Desenvolvimento:.............................................................45
Capítulo II - Aquariquara e Rio Cautário: a experiência da elaboração e implantação dos
primeiros planos de desenvolvimento......................................................................................48
1) Reserva Extrativista Aquariquara............................................................................................48
2) Reserva Extrativista Estadual do Rio Cautário:.....................................................................49
3) Comparação entre Aquariquara e Rio Cautário:....................................................................50
4) Aquariquara e Rio Cautário: Resultados da implantação......................................................53
45

5) Lições Aprendidas:....................................................................................................................61
Capítulo III - Incluindo as mulheres no desenvolvimento....................................................65
6) A importância da inclusão da perspectiva de gênero no trabalho de desenvolvimento
comunitário:...................................................................................................................................65
7) Gênero e o plano de desenvolvimento:.....................................................................................66
8) Incluindo as mulheres nas etapas do plano de desenvolvimento............................................66
Capítulo IV - Limites e possibilidades desta proposta de Plano de Desenvolvimento:.........70
1) Limites:.......................................................................................................................................70
2) Outras possibilidades desta proposta:......................................................................................70
Capítulo V - Como multiplicar a geração de Planos de Desenvolvimento para Reservas
Extrativistas:............................................................................................................................72
Considerações Finais:............................................................................................................75
Literatura Consultada:...........................................................................................................78
Sobre os Autores: ...................................................................................................................81

6) Implantação e revisão do Plano de Desenvolvimento:


A proposta de plano de desenvolvimento aqui apresentada não produz um
planejamento para dez anos ou mesmo para um prazo longo. É uma proposta
participativa e deve respeitar os limites de decisão de seus participantes. Os
seringueiros costumam viver para o dia de hoje. A própria tradição de recolher no dia
o que a seringueira produz, de pescar ou caçar no dia o seu almoço, fez dos
extrativistas pessoas pouco habituadas ao planejamento de longo prazo. Assim,
como o plano de desenvolvimento não pode enxergar mais longe do que a
comunidade que o elaborou, propomos um prazo de revisão do plano relativamente
curto: de dois a três anos.
Dessa forma, um novo diagnóstico e um novo planejamento devem acontecer
depois de três anos de implantação, discutindo os problemas e causas, os avanços,
e definindo novos objetivos e estratégias para a reserva. Supõe-se, entretanto, que
após o segundo planejamento, as comunidades estarão capacitadas para planejar a
um prazo um pouco mais longo, e o plano só precise ser revisado depois de quatro
ou cinco anos.
Esta proposta não é de um plano de gaveta. O plano de desenvolvimento é
dinâmico, guia e coordena as ações de desenvolvimento da reserva, e deve estar
apto a responder aos novos desafios que vão surgindo. Apesar da revisão geral
(com novo diagnóstico participativo) a cada três anos, o plano é constantemente
revisado pela comunidade. Difícil é mantê-lo atualizado no papel.
46

Estratégias para a implantação do plano de desenvolvimento:


Após o planejamento, o trabalho de implantação também é intenso. Embora o
planejamento seja participativo, se as ações não forem acompanhadas e
estimuladas, o planejamento “não sai do papel”. Para isso, a equipe de facilitadores
usa as seguintes estratégias:
Monitoria e mobilização comunitária:
Assim, para monitoria e mobilização comunitária são feitas visitas às famílias
e reuniões nas comunidades. Nessas ocasiões são revisadas as metas e as
atividades previstas, são discutidos problemas e novas idéias dos moradores. As
atividades de monitoria possibilitam que, durante as visitas, possam ser
apresentados e reconhecidos os sucessos alcançados pela comunidade, o que
anima as pessoas para as atividades programadas.
As atividades de monitoria e mobilização podem ser incluídas em outras,
como os cursos e replanejamentos (ver a seguir).
Cursos:
A implantação dos planos de desenvolvimento normalmente requer muita
capacitação e treinamento. Isso reflete a filosofia de um desenvolvimento
baseado nas pessoas e não nas “coisas” que estão presentes na comunidade
(ex: máquinas e construções doadas). Mesmo que, por alguma eventualidade, as
ações de implantação sejam interrompidas, é valiosa a capacitação para organizar-
se, buscar melhorias, produzir novos produtos, cuidar da saúde etc., que é feita na
comunidade. Assim, a implantação do plano de desenvolvimento deve incluir cursos
em temas definidos pelas comunidades no seu planejamento de projetos.
Replanejamentos:
Além de cursos, pequenos planejamentos de atividades ou uma revisão do
planejamento inicial podem ser facilitados nas reservas. Nessas ocasiões, são
usadas técnicas participativas como as descritas neste documento. Em alguns
casos, os pequenos planejamentos são previstos no próprio projeto de implantação
do plano de desenvolvimento (ex: elaboração do regimento interno e eleição da
comissão de proteção da reserva). Em outros, são estimulados pela equipe em
função do fracasso de algumas atividades, que precisam ser reprogramadas.
Replanejamentos maiores, com revisão geral do projeto, são feitos quando a maioria
das metas inicialmente propostas foram alcançadas.

Recursos para a implantação:


As atividades iniciais do plano de desenvolvimento devem estar previstas no
projeto de elaboração. Isto é, não se deve começar a elaborar um plano sem a
garantia de recursos suficientes para sua implantação imediata, pelo menos, com a
realização das atividades citadas acima. Para isso, pode-se elaborar um projeto para
captação de recursos, como será discutido adiante.
47

Após um período inicial, novos recursos podem ser captados a partir dos
projetos elaborados com as comunidades, em que é solicitado apoio para atividades
que dependem de recursos não disponíveis localmente.
48

Capítulo II - Aquariquara e Rio Cautário: a


experiência da elaboração e implantação dos
primeiros planos de desenvolvimento.

1) Reserva Extrativista Aquariquara


A primeira reserva no Brasil a ter seu plano de desenvolvimento foi a Reserva
Aquariquara, no município de Vale do Anari, com 18.100 hectares. Hoje, cerca de 40
famílias de seringueiros desenvolvem atividades extrativistas na Reserva. O Plano,
que inclui também um trabalho de fortalecimento das mulheres extrativistas, está na
segunda fase de implantação, pois nos primeiros seis meses os moradores tiveram
sucesso em quase todas as ações previstas.
Aquariquara é uma reserva onde a extração da borracha é feita em terra firme
e, diferentemente da Reserva Extrativista do Rio Cautário, permite a extração do
látex o ano todo. É uma área remanescente de florestas no Projeto de
Assentamento Machadinho, onde o Incra assentou colonos que receberam somente
metade da área usual de 100 ha. A outra metade, destinada a reserva legal foi
agrupada em áreas mais frágeis na forma de reservas florestais condominiais
(conhecidas entre os técnicos rondonienses por "reservas em bloco"). Mais tarde,
verificadas a impossibilidade legal dos colonos manterem sua cota de reserva legal
nas reservas condominiais e a população extrativista que ocupava a área, essas
reservas foram destinadas a reservas extrativistas. Aquariquara é a maior das
"reservas em bloco" de Machadinho. Como a maioria, está cercada de lotes de
colonos, que algumas vezes são aliados dos seringueiros, e outras facilitam as
invasões por madeireiros ou caçam no interior da reserva. Em certas linhas, como a
MP 44 e a MP 46, boa parte dos colonos são seringueiros donos de colocações no
interior da reserva. Os filhos estudam na escola da linha e o posto de saúde, assim
como a máquina de arroz, localizam-se em uma parcela que agora pertence à
Associação. A agricultura é feita principalmente nos lotes. As colocações são
destinadas à coleta do látex e ao plantio de sistemas agroflorestais. Assim,
Aquariquara é uma reserva extrativista bem peculiar.
Os moradores de Aquariquara são representados pela Associação de
Seringueiros de Machadinho, que representa, além de Aquariquara, outras 15
reservas extrativistas na região. A Reserva hoje é dividida em três comunidades, ou
grupos: o da MA 18 (que abrange os moradores das linhas MP 44 e 46, além das
colocações cujo o acesso se dá a partir da MP 46), a Comunidade Dois de Agosto
(mais central) e a Porão (que engloba colonos-seringueiros). Assim como a Reserva
Extrativista do Rio Cautário, Aquariquara está executando um Projeto de Manejo
Comunitário de Recursos Florestais, onde a madeira é o produto principal. A
49

extração de madeira de reservas extrativistas sempre foi polêmica. Entretanto, a


pressão dos madeireiros sobre as reservas, a baixa capacidade dos órgãos
ambientais de defendê-las e a falta de alternativas econômicas têm levado as
entidades que representam ou apoiam os seringueiros a rever sua posição contrária
à extração madeireira. A partir do conhecimento de técnicas de extração que podem
tornar a atividade madeireira sustentável, os seringueiros decidiram iniciar planos de
manejo em duas reservas. Essa atividade está sendo financiada pelo WWF - Fundo
Mundial para a Natureza e o primeiro corte deve acontecer ainda este ano.
A elaboração do Plano de Desenvolvimento de Aquariquara iniciou-se em
outubro e foi concluída em dezembro de 1996. O Plano está em implantação desde
então, sendo que um novo planejamento foi realizado em julho de 1997.

2) Reserva Extrativista Estadual do Rio Cautário:


A Reserva Extrativista do Rio Cautário foi a segunda reserva a ter seu plano
de desenvolvimento. Com 144 mil hectares, localiza-se nos municípios de Costa
Marques e Guajará Mirim. É ocupada por uma população de seringueiros mais
tradicionais que Aquariquara, correspondendo hoje a cerca de 35 famílias. As duas
fontes principais de renda são o extrativismo da borracha e o da castanha, sendo
que a extração de borracha é feita em ambiente de várzea, o que restringe a
atividade durante a estação chuvosa (de dezembro a maio). A renda também
provém da produção de farinha e outros produtos agrícolas.
A Reserva é representada pela Associação dos Seringueiros do Vale do
Guaporé – Aguapé, que possui uma história de luta pela terra importante na região.
A área é cobiçada por madeireiros, grileiros, saqueadores de palmito, entre outros,
que vêm avançando em direção a um de seus limites. No Cautário, como foi dito
acima, a defesa da reserva teve que considerar a extração madeireira, já que a
pressão era enorme por parte dos madeireiros da região.
Entretanto, é uma reserva com uma população mais estável que Aquariquara,
onde a mobilidade é muito grande. No Cautário, após a criação da reserva, as
famílias têm tido a tendência de permanecer na mesma colocação por muitos anos.
Os moradores da reserva têm uma forte participação na Associação, que é também
uma das mais organizadas do Estado.
Um problema sério para a organização na Reserva é o analfabetismo,
inclusive das lideranças comunitárias.
O trabalho de elaboração do Plano de Desenvolvimento do Rio Cautário
iniciou-se em março e foi concluído em junho de 1997. Desde então, o plano está
em implantação, como será descrito a seguir na comparação das duas reservas.
50

3) Comparação entre Aquariquara e Rio Cautário:


Os processos para elaboração dos planos de desenvolvimento das Resexs
Aquariquara e do Rio Cautário contiveram pequenas diferenças refletindo: 1) o
aprendizado de nossa equipe com os métodos utilizados, e 2) as próprias diferenças
entre as comunidades.
Como se vê na Tabela 4, os procedimentos de diagnóstico nas duas reservas
foram bem semelhantes, sendo que no Cautário algumas técnicas de grupo foram
adicionadas: reunião exclusiva com mulheres, análise de atividades separada do
calendário, quantificação em grupos, e caminhada transversal.
A reunião exclusiva com mulheres foi utilizada para problematizar e conhecer
a realidade sob o ponto de vista das mulheres, já que elas costumam participar
pouco nas outras reuniões com os homens. Assim, os problemas das mulheres
puderam ser melhor incluídos no diagnóstico. A análise de atividades
separadamente ao calendário foi feita no Cautário porque ela simplifica o calendário.
A quantificação em grupo foi utilizada para completar os dados de produção
da comunidade. No caso da caminhada transversal, ela não foi aplicada em
Aquariquara porque as diferenças ambientais são menos padronizadas, já que a
Reserva localiza-se em terra firme. No caso da Resex do Cautário, partindo da beira
do Rio e caminhando em direção à terra firme, tivemos uma variação ambiental mais
ou menos padronizada, que permitiu análise e problematização.
Conforme a Tabela 5, os procedimentos para o planejamento nas duas
reservas teve várias diferenças. No Rio Cautário, como a maioria dos moradores são
analfabetos, utilizamos o rádio para retornar o diagnóstico. A estratégia foi boa, mas
é necessário uma apresentação mais detalhada para diminuir conflitos existentes
nas reservas.
Em Aquariquara a priorização foi feita por áreas do desenvolvimento,
enquanto no Rio Cautário foram trabalhadas todas as áreas-fins21. Foi feito um
planejamento específico por comunidade para as áreas de saúde e educação, pois
cada comunidade tem situações específicas para essas áreas. As áreas de renda,
proteção da reserva e mulheres foi trabalhada com todos os moradores em uma
assembléia.

21
Áreas-fins são as áreas do desenvolvimento que realmente trazem mudanças quanto
à qualidade de vida (ex: Educação, Saúde, Proteção e Aumento da Renda). Definimos
áreas-meio aquelas que são necessárias para a execução das áreas fins (ex:
comunicação, transporte e, muitas vezes, organização). Por exemplo, quando falamos de
transporte, ele está vinculado a uma área fim: transporte para saúde, transporte para
educação, para os produtos. Isso também dá um sentido objetivo à organização:
organização para a saúde, para a educação, para a proteção etc.
51

Tabela 4: Quadro comparativo da elaboração dos Planos de Desenvolvimento nas Resexs


Aquariquara e do Rio Cautário: Dados gerais e Diagnóstico. (Fonte: Weigand e Paula
(1998)).
Atividade Resex Aquariquara Resex do Rio Cautário
Dados Gerais
Localização Vale do Anari – RO Costa Marques/ Guajará
Mirim – RO
Ambiente predominante para Terra firme Várzea
extração de borracha
Renda Principal Borracha Borracha, Castanha
No. de famílias ~40 ~35

Diagnóstico
No. de informantes representativos 15 famílias 14 famílias
No. de Informantes especializados Não-definido 16 informantes
No. de entrevistas em grupo 2 2
Reunião com mulheres Não aplicado Aplicado em uma das três
comunidades
• Mapa participativo Localização das colocações Localização das colocações
e infra-estrutura. Sobre e infra-estrutura. Sobre
mapa fornecido pela Sedam mapa fornecido pela Sedam
e imagem de satélite e imagem de satélite.
Resultados limitados.
• Calendário Aplicado em duas Aplicado em uma
comunidades comunidade
• Análise de atividades Aplicado juntamente com o Aplicado separadamente ao
calendário calendário
• Quantificação em grupos Não aplicado Aplicado em uma das três
comunidades
• Histórico dos recursos Aplicado em uma Aplicado em uma
comunidade comunidade
• Diagrama institucional Aplicado em duas Aplicado em duas
comunidades comunidades
• Caminhada transversal Não aplicado Aplicado em uma
comunidade

• Definição de problemas e Com grupo foco Com a equipe do


motivos diagnóstico (incluindo três
membros da comunidade)
52

Tabela 6: Quadro comparativo da elaboração dos Planos de Desenvolvimento nas


Resexs Aquariquara e do Rio Cautário: Planejamento (Fonte: Weigand e Paula
(1998))
Atividade Resex Aquariquara Resex do Rio Cautário
Planejamento:
Retorno do diagnóstico Reunião com apresentação Apresentação do programa Rádio
detalhada Cautário
Reuniões Uma reunião de dois dias com Uma reunião em cada comunidade
membros de todas as sobre Saúde e Educação
comunidades
Reunião geral dos moradores
sobre aumento da renda, proteção
da reserva e mulheres
Priorizaçã Por pares, para as áreas do Por ordenação, dentro de cada
o desenvolvimento que deveriam ser área do desenvolvimento, para os
trabalhadas primeiro problemas que deveriam ser
trabalhados primeiro
Projetos Somente recursos locais Recursos locais e de fora
Grande envolvimento da Houve menor envolvimento da
comunidade nas ações comunidade na ações que
dependiam de recursos externos

Os processos para elaboração dos planos de desenvolvimento das Resexs


Aquariquara e do Rio Cautário contiveram pequenas diferenças refletindo: 1) o
aprendizado de nossa equipe com os métodos utilizados, e 2) as próprias diferenças
entre as comunidades.
Como se vê na Tabela 4, os procedimentos de diagnóstico nas duas reservas
foram bem semelhantes, sendo que no Cautário algumas técnicas de grupo foram
adicionadas: reunião exclusiva com mulheres, análise de atividades separada do
calendário, quantificação em grupos, e caminhada transversal.
A reunião exclusiva com mulheres foi utilizada para problematizar e conhecer
a realidade sob o ponto de vista das mulheres, já que elas costumam participar
pouco nas outras reuniões com os homens. Assim, os problemas das mulheres
puderam ser melhor incluídos no diagnóstico. A análise de atividades
separadamente ao calendário foi feita no Cautário porque ela simplifica o calendário.
A quantificação em grupo foi utilizada para completar os dados de produção
da comunidade. No caso da caminhada transversal, ela não foi aplicada em
Aquariquara porque as diferenças ambientais são menos padronizadas, já que a
53

Reserva localiza-se em terra firme. No caso da Resex do Cautário, partindo da beira


do Rio e caminhando em direção à terra firme, tivemos uma variação ambiental mais
ou menos padronizada, que permitiu análise e problematização.
Conforme a Tabela 5, os procedimentos para o planejamento nas duas
reservas teve várias diferenças. No Rio Cautário, como a maioria dos moradores são
analfabetos, utilizamos o rádio para retornar o diagnóstico. A estratégia foi boa, mas
é necessário uma apresentação mais detalhada para diminuir conflitos existentes
nas reservas.
Em Aquariquara a priorização foi feita por áreas do desenvolvimento,
enquanto no Rio Cautário foram trabalhadas todas as áreas-fins22. Foi feito um
planejamento específico por comunidade para as áreas de saúde e educação, pois
cada comunidade tem situações específicas para essas áreas. As áreas de renda,
proteção da reserva e mulheres foi trabalhada com todos os moradores em uma
assembléia.

4) Aquariquara e Rio Cautário: Resultados da implantação.


A Reserva Extrativista Aquariquara teve seu plano finalizado em dezembro de
1996. Com o apoio da Associação dos Seringueiros de Machadinho d’Oeste - ASM,
os resultados não tardaram a surgir (ver Tabela 6). Logo em seguida ao
planejamento, representantes da Reserva e a diretoria da Associação buscaram
junto à Prefeitura de Machadinho a contratação dos agentes de saúde e da
professora. Foram informados que a contratação deveria ocorrer via Prefeitura de
Vale do Anari, onde a Reserva está localizada, e a ASM ficou de contatar o prefeito
de lá. Em janeiro de 1997, a Associação realizou três reuniões de base na Reserva,
como previsto no Plano, para a eleição dos líderes comunitários e a formação de
três grupos. Os grupos seriam as unidades de organização na Reserva e passariam
a zelar pelos bens da ASM disponibilizados para a comunidade, que seriam
distribuídos entre os grupos. Assim ocorreu. Os animais de carga antes
concentrados em poder do antigo cantineiro, passaram a ser zelados pelos
diferentes grupos da Reserva. Um burro, que estava nas mãos de um morador e só
estava disponível para ele e seus cunhados, foi repassado para o grupo da
Comunidade Dois de Agosto. Outros bens comunitários também foram repassados
para o grupo, conforme planejado. Cada grupo elegeu um líder nas reuniões de
base. Em uma das comunidades, resolveram ter também um vice-líder, e essa idéia
foi adotada mais tarde pelos outros grupos, a partir de uma proposta surgida durante
um treinamento para os líderes comunitários. Através dos grupos comunitários, toda
os moradores da Reserva puderam parar de vender a borracha para marreteiros e a
22
Áreas-fins são as áreas do desenvolvimento que realmente trazem mudanças quanto
à qualidade de vida (ex: Educação, Saúde, Proteção e Aumento da Renda). Definimos
áreas-meio aquelas que são necessárias para a execução das áreas fins (ex:
comunicação, transporte e, muitas vezes, organização). Por exemplo, quando falamos de
transporte, ele está vinculado a uma área fim: transporte para saúde, transporte para
educação, para os produtos. Isso também dá um sentido objetivo à organização:
organização para a saúde, para a educação, para a proteção etc.
54

maioria começou a vender através da ASM. Isso aumentou o movimento de


borracha proveniente de Aquariquara através da Associação em cerca de um terço,
com a volta do grupo do ex-cantineiro (que foi re-eleito em sua comunidade) a
vender pela ASM e com a entrada de moradores antes não envolvidos com a
Associação. Isso também aumentou a renda da maioria naquele momento.
55

Tabela 6: Resultados diretos e indiretos do Plano de Desenvolvimento de


Aquariquara (novembro/97)(Fonte: Weigand & Paula,1998).
Resultados Diretos Resultados Indiretos
• Organização de três grupos comunitários e • Aumento de 30% da borracha proveniente de
eleição de seus líderes; Aquariquara para ser vendida pela Associação;
• Distribuição de benefícios comunitários (burros, • Maior interesse dos moradores na Associação;
engenhocas de cana) entre os grupos, tornando-
os mais disponíveis à comunidade;
• Treinamento sobre o plano de utilização para os • Construção, a partir da própria iniciativa da
líderes comunitários; comunidade, com materiais locais e sem recursos
externos, de um centro comunitário na colocação
Dois de Agosto;
• Aprovação do regimento interno e eleição da • Aumento marcante da participação das mulheres
Comissão de Proteção da Reserva; da comunidade Dois de Agosto, inclusive com a
Associação de cinco novas mulheres na reserva,
aumentando de uma para seis o número de
sócias em Aquariquara (70% das famílias da
comunidade Dois de Agosto). Várias outras
mulheres associaram-se posteriormente.
• Líderes eleitos acompanhando a reunião de • Organização para trabalhos comunitários, como a
coordenação da Associação de seringueiros de abertura de 12 km de varadouros e de uma nova
Machadinho; entrada para a Reserva;
• Primeira reunião da Comissão de Proteção da • Melhoria na capacidade da comunidade para
Reserva e planejamento de atividades; negociar de conflitos;
• Contratação de dois agentes de saúde e de uma • Formação de dois grupos de mulheres em
professora; Aquariquara.
• Escola funcionando; • Líderes cobrando a Associação de forma mais
responsável.
• Treinamento da comunidade no Plano de • Comunidade trocou de líder sem ajuda externa,
Utilização, e discussão de ajustes necessários; através de reunião e nova eleição.
• Cursos sobre fabricação de sabão e pintura em • Grupo de mulheres da MA-18 reunindo-se
tecidos, dados por pessoas da própria periodicamente e preparando remédios caseiros.
comunidade;
• Oficina de sensibilização e capacitação em • Aumento da capacidade de sonhar
organização comunitária para mulheres.
• Elaboração de projetos para a melhoria da Renda •
• Curso sobre coleta de sementes •
• Comunidade Dois de Agosto fiscalizando a •
qualidade da construção da escola e posto de
saúde pelo Iteron/Planafloro.
• Primeira comercialização de sementes •
envolvendo 5 famílias que produziram cerca de
200 kg, rendendo um total de R$1.000,00.
• Curso sobre farinha de babaçu •
• Comercialização experimental de 60 kg de •
farinha de babaçu do grupo de mulheres.
• "Dia do babaçu" em Machadinho d'Oeste, onde o
produto foi divulgado aos consumidores.
• Encontro sobre criação de peixes para •
alimentação da família
• Curso sobre Administração e Planejamento da •
56

Colocação.
O projeto de organização dos moradores, criado no Plano de
Desenvolvimento, também incluiu a eleição de uma Comissão de Proteção da
Reserva, órgão previsto no Plano de Utilização (PU) e responsável pela proteção da
reserva e aplicação do PU. Assim, os líderes eleitos foram treinados no Plano de
Utilização e elaboraram uma minuta de regimento interno para a Comissão. A
eleição da Comissão e aprovação do regimento interno se deu em assembléia dos
moradores. Após a eleição, a Comissão realizou um planejamento de suas
atividades, entre elas um curso sobre o Plano de Utilização, apoiado pela equipe de
monitoria, realizado em duas das três comunidades.
Os agentes de saúde começaram seu treinamento conforme planejado antes
do Plano de Desenvolvimento. Depois de treinados, foi um longo tempo sem
progressos nessa área pois as obras para a construção do posto de saúde (de
responsabilidade do Instituto de Terras de Rondônia - Iteron) estavam atrasadas. O
mesmo se deu com a contratação da professora. Mas através do Plano, e com o
estímulo dado pelas visitas de monitoria, a ASM estabeleceu contatos com
representantes da Câmara Municipal de Vale do Anari e com o prefeito. Isso resultou
em apoio por parte daquele município. Alguns meses depois, as vagas estavam
abertas, como veio descobrir sozinha uma dos agentes treinados. Sabendo disso, e
com o apoio da equipe de monitoria, outro agente foi negociar sua contratação
diretamente com o prefeito de Vale do Anari. O mesmo se deu com a professora.
A construção dos postos de saúde e da escola ainda não havia sido iniciada e
disso dependia a contratação dos agentes e da professora. Entretanto, alguns
meses antes, os líderes comunitários (reunidos em um curso sobre liderança, como
parte da implantação do Plano de Desenvolvimento) haviam decidido construir um
centro comunitário, usando materiais locais, como troncos de árvores finas e palha
de palmeiras. Esse centro vinha abrigando parte das reuniões comunitárias e era
adaptável para o funcionamento da escola. Assim, estimulada pela equipe, a
comunidade propôs que o centro fosse usado como escola e, graças a isso, as
crianças de Aquariquara não perderam o ano letivo de 1997. O uso de materiais
locais resultou em uma construção simples, fácil de ser feita pelos seringueiros, com
custo muito baixo (não necessitou de recursos externos a comunidade), e com um
ótimo ambiente para as aulas (mais fresco e ventilado que casas de madeira
fechadas e cobertas com telhas de amianto, como a escola que mais tarde acabou
sendo construída a um custo muito mais alto). Apesar de simples, a escola
construída pelos seringueiros desempenhou as mesmas funções que a escola de
tábuas, construída a um custo muito alto para os cofres públicos.
O mesmo aconteceria com os postos de saúde, mas a construção dos postos
definitivos iniciou-se exatamente enquanto a comunidade estava construindo os
postos com materiais locais, desmobilizando as pessoas.
É importante notar que a comunidade acompanhou as obras, fiscalizando-as.
Um dos postos a deixou satisfeita. No caso da Comunidade Dois de Agosto, porém,
onde um posto e uma escola foram construídos, o representante eleito pela
57

comunidade tentou fiscalizar as obras, mas quando indicou problemas, não foi
ouvido pelos empreiteiros.
Ao mesmo tempo em que essas atividades ocorriam, atividades não incluídas
no Plano também eram estimuladas junto às mulheres, como está descrito no
Capítulo III. Através dessas atividades, a participação das mulheres de Aquariquara
cresceu muito, o que também foi apoiado pela maioria dos homens.
Em julho de 1997, com a maior parte das atividades planejadas em dezembro
de 1996 já encaminhadas, foi promovido o segundo planejamento participativo de
Aquariquara. Nesse segundo planejamento, o aumento da renda foi o problema
escolhido como principal, para homens e mulheres. Na verdade, os homens
escolheram primeiro o baixo preço da borracha, mas visto que é um problema cuja
solução fugia de sua governabilidade, passaram a trabalhar sobre a questão de
baixa renda. A partir dessa escolha, um novo projeto foi elaborado e vários
resultados já podem ser observados.
Vários moradores foram treinados em coleta de sementes florestais. A
primeira comercialização de sementes foi feita com cerca de 200 kg de pinho
cuiabano vendidos à Ecoporé, uma ONG que apoia os seringueiros e que revendeu
o produto, rendendo cerca de R$1.000,00 aos seringueiros. Na última visita
realizada, em dezembro de 1997, mais 500 kg haviam sido negociados a R$5,00/kg
e outros mil quilos foram vendidos rendendo um preço mais baixo para os
extrativistas (R$3,50/kg). Estima-se que R$7.000,00 entraram na reserva em apenas
dois meses, equivalentes a cerca de 10.000 kg de borracha, ou seja, a produção
típica de dez famílias durante um ano (lembramos que a Reserva tem cerca de 35
famílias). Ressalta-se que essa renda foi adicional às atividades desenvolvidas e
não um substituto, já que a coleta não tomou grande tempo dos extrativistas.
Entretanto, apesar de nem todas as famílias estarem coletando sementes, o
pinho cuiabano é uma das espécies mais fáceis de coletar. Com sementes mais
difíceis, que necessitam a escalada de árvores, um menor número de famílias deve
ser beneficiado, já que é um trabalho mais perigoso, que necessita de maior
capacitação e que toma mais tempo. Além disso, a coleta de sementes vai
necessitar um plano de manejo, para a correta identificação de matrizes e para
incluir cuidados e critérios que garantam a qualidade das sementes e a
sustentabilidade da atividade. Mesmo assim, o recurso que as sementes podem
render pode ser razoável. Uma das famílias, que coletou cerca de 200 kg, conseguiu
uma renda adicional de cerca de R$800,00 a partir das sementes em apenas um
mês e meio de coleta.
O sucesso com as sementes até estimulou algumas pessoas a tentar
intermediar a venda, “marretando” (atravessando), ou agenciando a venda para
outras pessoas. Entretanto, a comunidade tem sabido lidar com esses problemas.
Além dos bons resultados com as sementes, uma das comunidades teve um
encontro sobre criação de peixes e foi realizado um curso sobre como melhorar a
administração da colocação. Os resultados dessas atividades ainda não são visíveis.
As mulheres, como será visto no Capítulo III, organizaram-se em torno da
produção de farinha de babaçu, um produto que pode substituir parte do trigo usado
58

em bolos e pães, além de ser ótima para a preparação de mingaus. A farinha, além
de economizar até metade do dinheiro gasto com trigo, também teve uma boa
aceitação no mercado local. Para alguns moradores, é um produto que dá um senso
de identidade, algo típico da Reserva, do qual têm orgulho.
A maior parte desses resultados foram planejados com os moradores de
Aquariquara. Outros são resultados indiretos do trabalho, a partir da capacitação da
comunidade e do estímulo do Plano de Desenvolvimento. Dois exemplos são um
grupo de mulheres sobre remédios caseiros (ver Capítulo III) e uma maior
capacidade de negociação de conflitos e maior autonomia de organização. Esse
último aspecto foi mostrado quando a Comunidade Dois de Agosto negociou sozinha
com um colono uma nova saída da Reserva (que é cercada por lotes), quando
alocou um dos burros principalmente para a escola (transporte de merenda escolar)
e quando trocou de líder sem ajuda externa.
Entre os resultados indiretos, um bastante marcante foi o aumento da
“capacidade de sonhar” da comunidade. No segundo planejamento, todos tinham
sonhos muito mais ambiciosos que no primeiro, mostrando que a comunidade
ampliou os horizontes do que achava possível ser atingido. Essa evolução mostra
como, no desenvolvimento, o resgate do potencial das pessoas é também o resgate
de sua dignidade e poder, refletidos em seus sonhos de futuro.

TABELA 7: RESULTADOS DIRETOS E INDIRETOS DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO E DO


FORTALECIMENTO DAS MULHERES DA RESERVA EXTRATIVISTA DO RIO CAUTÁRIO (NOVEMBRO/97).
Resultados Diretos Resultados Indiretos
• Criação da Comissão de Proteção da Reserva • Parte da comunidade está mais animada e
confiante
• Curso sobre Administração da Colocação • Contratação de agente de saúde para a
comunidade Jatobá (ainda não efetivada).
• Curso de crochê •
• Curso para Monitoras de Saúde da Mulher: • Maior participação das mulheres
Saúde da Mulher.
• Curso para Monitoras de Saúde da Mulher: •
• Alimentação alternativa e remédios caseiros
• Escola funcionando na Comunidade Jatobá •
• Alfabetização de adultos na Comunidade Jatobá •
• Fornos para couro vegetal* •
OBS: As metas que precisam de financiamento estarão sendo incluídas em um projeto para finaciamento.
* Embora essa atividade fosse ocorrer de qualquer maneira, o Plano de Desenvolvimento também inclui em suas
estratégias e atividades os benefícios que já estavam planejados.

No Rio Cautário, o Plano foi finalizado em junho de 1997 (ver Tabela 7). A sua
implantação, porém, começou com dificuldades. Primeiramente, as comunidades
falharam ao implantar a construção dos postos de saúde provisórios, que foi
planejada de maneira ambiciosa demais, com a necessidade de vários materiais não
disponíveis na Reserva. Na primeira visita de monitoria, no final de julho, voltaram a
ser estimulados a cumprir o planejado, sendo que parte dos planos foram
59

adaptados. Entretanto, representantes do Governo estiveram na Reserva


prometendo o reinício das obras, o que desmobilizou os moradores.
O primeiro resultado concreto foi o primeiro módulo do treinamento de
monitoras de saúde, que contou com boa participação das mulheres da reserva.
Durante o treinamento, as mulheres também aprenderam crochê, um tema que
continuou nos módulos seguintes, sobre alimentação e remédios caseiros, e sobre
cuidados pré-natais e parto (ver Capítulo III).
Outra conquista foi o início de funcionamento da escola da colocação Jatobá,
a única construção do Iteron terminada na Reserva, e a alfabetização de adultos
naquela comunidade.
Fornos para a fabricação de couro vegetal (tecido emborrachado), previstos
em projeto anterior ao Plano de Desenvolvimento, também foram construídos.
Apesar de não serem ações surgidas a partir do Plano, foram nele incluídas como
uma estratégia de aumento da renda.
Outro resultado foi a eleição da Comissão de Proteção da Reserva e a
aprovação do seu regimento interno, baseado no da Reserva Aquariquara.

Comparação dos Resultados:


Apesar dos bons resultados iniciais, consideramos que a implantação do
Plano de Desenvolvimento do Rio Cautário tem caminhado mais lentamente que a
de Aquariquara. Isso foi bastante surpreendente para a equipe pois a comunidade
da Reserva do Rio Cautário era tida como mais organizada que a de Aquariquara,
que era inclusive considerada problemática. Três fatores podem explicar essa
diferença: 1) a maior dificuldade para os moradores do Rio Cautário se deslocarem
até a cidade e sua dependência maior na Associação; 2) o planejamento para o Rio
Cautário foi ambicioso demais; e 3) o menor número de visitas realizadas no
mesmo espaço de tempo na Reserva do Rio Cautário.
Os moradores de Aquariquara tem maior acesso à cidade e tem menor apoio
da Associação. Enquanto os moradores do Cautário têm hegemonia em sua
associação, Aquariquara é apenas uma das 16 reservas sob a responsabilidade da
Associação de Seringueiros de Machadinho. Além disso, a ASM passou, em 1997,
por grandes dificuldades internas. Assim, as dificuldades de organização e a
facilidade de acesso à cidade favoreceram nos seringueiros de Aquariquara a sua
iniciativa e independência. No Cautário, a dificuldade de acesso à cidade e uma
associação mais forte causaram o efeito oposto: no planejamento, boa parte das
ações foram planejadas contando-se com a participação da diretoria da Associação.
Esta, por sua vez, já bastante ocupada, não pode desempenhar o papel esperado
no planejamento (de fato, isso nem seria desejável, já que considera-se que, no
plano de desenvolvimento, mais importante que as ações concluídas é a
60

capacitação das pessoas para realizá-las). Outra possível razão, relacionada com a
organização local, é que vários moradores tinham a expectativa de que o Plano era
mais um projeto que faria as coisas por eles, ao invés de organizá-los para fazer por
si mesmos (isso também ocorreu em Aquariquara, mas em uma intensidade muito
menor).
Entretanto, o próprio processo de planejamento no Cautário, embora menos
cansativo e mais estimulante, teve problemas chaves: 1) o retorno das informações
através da audição das fitas do Programa Rádio Cautário (baseado no diagnóstico
da Reserva), não foi suficiente para provocar uma boa negociação de conflitos; 2) a
priorização de problemas não foi suficiente para a escolha de poucos problemas
sobre os quais a comunidade pudesse realmente agir, pois todas as quatro áreas do
desenvolvimento (renda, proteção, saúde e educação, mais o fortalecimento das
mulheres), foram alvo da ação da comunidade, deixando o planejamento complexo e
com ações acima da capacidade de execução da comunidade; e 3) o planejamento
dos projetos em subgrupos muitas vezes permitiu que a comunidade colocasse
metas muito difíceis e que dependiam de recursos ou ajuda externa para serem
atingidas. Todos esses problemas foram resultado da suposição, por parte da
equipe, de que a comunidade do Cautário era de algum modo já bastante
organizada e com grande conhecimento de seus problemas, e de que a Associação
era mais organizada do realmente era. Além disso, considerava-se que a
comunidade deveria ter a liberdade de colocar planos ambiciosos e errar. Seria,
entretanto, mais apropriado orientar a comunidade com uma boa dose de realismo e
cuidado quando ela está propondo metas.
Por outro lado, em Aquariquara, supúnhamos (corretamente) que a
comunidade tinha pouca experiência organizativa e que deveria ter planos bem
simples. Assim, o planejamento foi orientado para a escolha de três áreas de
desenvolvimento mais importantes, sobre as quais se agiria primeiro. Foi um
processo longo e cansativo, primeiro de apresentação do diagnóstico; depois, de
priorização das áreas e planejamento de projetos simples, sem perspectivas de
recursos externos e que dependiam mais dos moradores que da Associação. Isso
gerou um conjunto de metas simples, que puderam logo ser alcançadas, gerando
auto-confiança e um resgate do senso de compromisso com metas assumidas.
Finalmente, a maior proximidade da Reserva Aquariquara de nossa base em
Porto Velho, e o fato de ter sido a primeira reserva (e por isso ter recebido atenção
exclusiva da equipe durante alguns meses) foram fatores que favoreceram um maior
número de visitas, maior estímulo aos moradores e, assim, maior envolvimento da
comunidade.
Entretanto, se os projetos das duas reservas tiveram diferenças quanto ao
seu sucesso de implantação, a maior parte das estratégias geradas reflete em alto
61

grau o entendimento da comunidade do que é desenvolvimento. Isso pôde ser


observado algumas vezes, sempre que novas ações tinham que ser planejadas,
quando as comunidades planejavam de forma bastante coerente com o que estava
expresso no seu plano de desenvolvimento (mesmo sem consultá-lo). Assim,
demonstra-se o caráter participativo dos planos, e como eles existem mesmo fora do
papel, no consenso construído na comunidade.
Dessa forma, apesar de a Reserva do Cautário necessitar de um novo
planejamento de projetos para adequar as metas às suas possibilidades, os planos
têm tido bastante sucesso ao identificar as prioridades dos moradores, seus
objetivos e estratégias de ação. O projeto da Reserva Aquariquara também tem tido
ótimos resultados na melhoria das condições de vida da comunidade. Para isso, o
processo participativo tem sido fundamental. Por outro lado, ele não tira da equipe
parte da responsabilidade por erros e acertos. Essa responsabilidade é
compartilhada entre equipe e comunidade.

5) Lições Aprendidas:
O processo de elaboração e implantação dos Planos de Desenvolvimento de
Aquariquara e Rio Cautário resultou no aprendizado de uma série de lições por
nossa equipe:

Diagnóstico:
 A partir da lista de informações necessárias, é importante definir como serão
coletadas (através de entrevistas, jogos etc.), antes de ir a campo;
 A definição de perfis de informantes especializados23 facilita a sua localização;
 Caso haja recursos, é aconselhável fazer uma visita prévia à comunidade. No
caso das Reservas Aquariquara e do Rio Cautário, substituímos a visita prévia
por conversas com pessoas que conhecem bem a área;
 Para garantir a participação suficiente de pessoas da comunidade dentro da
equipe (mais de 1/3) é importante viabilizar recursos para compensar a
participação dos membros da comunidade na equipe (para eles, dia sem
trabalhar em suas atividades é dia sem renda; para quem já vive no limite, essa
compensação pode ser essencial para viabilizar sua participação sem prejuízos à
família);24

23
Ver nos Anexos.
24
Entretanto, deve-se tomar o cuidado para que a remuneração não seja excessiva, em
relação a outras atividades, para não criar vícios, e evitar o paternalismo e a participação
de pessoas sem real interesse no bem da comunidade. Sempre é bom manter uma certa
dose de doação ou sacrifício individual para o bem da comunidade.
62

 Quando não há participação efetiva de pessoas da comunidade na equipe do


diagnóstico, é importante validar o diagnóstico fechando a lista de problemas e
causas com a comunidade;
 É importante, antes do início das atividades, a apresentação e aprovação do
trabalho pela comunidade, através de uma reunião ou, pelo menos, de visitas
domiciliares;
 Diferentemente do apontado na literatura sobre o DRP, utilizamos a entrevista
domiciliar como mobilizadora das reuniões e das entrevistas em grupos, como
“quebra-gelo”, e também para a definição de quais os jogos que serão utilizados;
 Pedir que os seringueiros desenhem (mapas etc.) não funciona tão bem quanto
com outros grupos, como os índios por exemplo, pois não estão familiarizados
com esse tipo de atividade;
 No caso da Quantificação em Grupos, é bom checar com dados das entrevistas
domiciliares as respostas sobre caça, pois notamos que os números citados
parecem muito baixos. Pode ser que as respostas sejam dadas com estratégia;
 Além dos problemas, o diagnóstico deve apresentar também as oportunidades e
os avanços da comunidade;
 Pode ser interessante estabelecer uma tipologia das colocações na comunidade
para melhor entender os sistemas de produção presentes.

Planejamento:
 Áreas como transporte, comunicação e organização são áreas-meio para
melhorar as áreas-fim, isto é, aumento da renda, saúde, educação, lazer e
proteção da reserva. Para incluir os interesses das mulheres tanto como os dos
homens, convém incluir um planejamento específico para as mulheres;
 Áreas do desenvolvimento que têm características específicas por comunidades,
devem ter planejamentos específicos por comunidade;
 Os projetos não devem obrigatoriamente ser elaborados para cada área do
desenvolvimento, pois a comunidade não deve assumir tarefas acima de sua
capacidade;
 As primeiras atividades dos projetos devem ser feitas com recursos da própria
comunidade para aumentar a autonomia no seu desenvolvimento.

Geral:
 Para elaborar um plano são necessárias de duas a três visitas. Três ajuda a criar
maior intimidade com a reserva;
63

 A época das visitas deve ser bem estudada para não coincidir com outras
reuniões, atividades comunitárias ou épocas de muito trabalho;
 Quando uma equipe de fora trabalha na capacitação de pessoal local, os
técnicos locais podem ficar um pouco resistentes ao método, e desenvolver uma
postura de sabe-tudo em relação à comunidade ou de “esse-trabalho-não-é-meu”
em relação ao plano. Isso tenderia a diminuir e poderia ser bastante reduzido
caso o plano fosse uma solicitação da comunidade ao técnico, e não uma
proposta de fora, que o técnico passa a fazer parte;
 É difícil garantir uma equipe multidisciplinar. O máximo que conseguimos foi a
participação de técnicos na área de Ciências Agrárias ou Florestais com
formação e interesses ecléticos.
 Na falta de uma equipe multidisciplinar, entre o diagnóstico e o planejamento,
realizamos reuniões temáticas com profissionais que vêm trabalhando nas áreas
de Educação, Saúde, Aumento da Renda e Proteção da Reserva. Essas
reuniões foram importantes para possibilitar um melhor planejamento, mas não
foram suficientes para garantir a multidisciplinariedade necessária. Seria bom
envolver os técnicos/especialistas de diversas áreas desde a formulação dos
dados necessários e na listagem de técnicas de pesquisa/diagnóstico para
coletar os dados;
 Os jogos (ferramentas) empolgam a comunidade mas podem deixar técnicos,
formados dentro do padrão científico da Universidade, com dúvidas em relação à
validade do método. Isso tende a diminuir com o trabalho de sistematização, feito
de maneira séria e sistemática;
 Para incluir as mulheres nas reuniões, deve-se providenciar o preparo da comida
antes e arranjar algum esquema que ocupe as crianças;
 Desenvolvimento é uma arte. Somente o processo contínuo pode levar ao
empoderamento das comunidades. Mais do que métodos, é preciso
sensibilidade, fé obstinada no potencial das comunidades, paciência e
simplicidade;
 De nada adianta elaborar um plano se nenhum acompanhamento será dado à
sua implementação. Mais um plano de gaveta é o que as comunidades não
precisam! Em vez de ser benéfico, pode desmobilizar a comunidade e dificultar
trabalhos mais conseqüentes no futuro. Nossa experiência tem demonstrado
que, quando há acompanhamento e envolvimento imediato nas ações, as
comunidades crescem rapidamente e os ganhos podem ser mais permanentes;
 É importante divulgar o plano junto a todas as instituições que apoiam os
extrativistas, para subsidiar suas ações;
64

 Pequenos sucessos são melhores que um grande fracasso. Deve-se


respeitar e valorizar as pequenas conquistas da comunidade;
 As comunidades vão valorizar suas próprias conquistas. Isso pode,
aparentemente, retirar das organizações que apoiam os extrativistas parte dos
méritos pelas melhorias25. Entretanto, os sucessos tendem a ser maiores e as
comunidades vão aproveitar o apoio recebido se organizadas em torno das
ações priorizadas no plano de desenvolvimento;
 O plano de desenvolvimento ajuda as comunidades a aproveitarem melhorias ou
oportunidades oferecidas de maneira não participativa. Mesmo comunidades
sem uma forte base de organização local conseguirão sucesso no
aproveitamento dessas melhorias, pois a organização é favorecida em todo o
processo de elaboração e implantação do plano.

25
Isso pode gerar certo desconforto e malentendidos entre a comunidade ou equipe do
plano e as organizações de apoio, e precisa ser negociado. Junto à comunidade, deve ser
enfatizada a importância das organizações de apoio, no passado, no presente e no futuro.
Junto às organizações, deve-se enfatizar o valor que esse sentimento de conquista tem
para a comunidade. Além disso, no futuro, o apoio recebido pelas comunidades deverá
ser melhor aproveitado e mais reconhecido.
65

Capítulo III - Incluindo as mulheres no


desenvolvimento.

6) A importância da inclusão da perspectiva de gênero no


trabalho de desenvolvimento comunitário:
O sucesso inicial da elaboração e da implantação dos Planos de
Desenvolvimento das Reservas de Aquariquara e do Rio Cautário reafirma a
necessidade de se adotar uma pespectiva de gênero em todas as etapas do Plano.
Gênero é um conceito que se refere aos papéis e as relações entre mulheres
e homens, os quais não são determinados pelas características sexuais mas pela
história, ideologia, religião e desenvolvimento econômico de uma cultura. Adotar
uma pespectiva de gênero é “...distinguir entre o que é natural e biológico, o que é
social e culturalmente construído, e no processo, renegociar as fronteiras entre o
natural e, por isso relativamente inflexível, e o social relativamente transformável.“
(Kabeer, 1990 citado por INSTRAW,1995).
A adoção da pespectiva de gênero no planejamento do desenvolvimento,
atualmente, é um pré-requisito para os programas/ projetos. Muitas são as
justificativas para a inclusão do gênero, destacando-se:
 as desigualdades entre homens e mulheres são grandes, sendo discriminatórias
para as mulheres, e a superação das desigualdades é condição indispensável
para o desenvolvimento,
 programas/projetos participativos que não adotam uma pespectiva de gênero
tendem a beneficiar metade dos beneficiários, geralmente os homens, e não
atingem de forma eficiente os seus objetivos,
 a inclusão favorece o melhor aproveitamento dos recursos (humanos e materiais)
disponíveis, e a não inclusão leva ao fracasso de várias iniciativas,
 a inclusão favorece distribuição das melhorias de forma equitativa, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável.
A pespectiva de gênero valoriza o papel das mulheres como promotoras do
desenvolvimento. As mulheres respondem rápido e melhor ao trabalho de
mobilização para o desenvolvimento. Além disso, melhorando a situação das
mulheres, se melhora a vida de toda a família. Estudos têm demonstrado que o
aumento da renda das mulheres resulta em benefícios proporcionais para toda a
família. Por outro lado, afirma Suárez (1995), a ênfase dada ao lado feminino de
gênero, é em decorrência das desigualdades, mas somente a soma de esforços de
mulheres e homens poderá alcançar os objetivos desejáveis para a coletividade.
Por fim, o que se busca ao incorporar a pespectiva de gênero nos
programas/projetos é estimular o potencial produtivo de homens e mulheres, como
66

promotores de desenvolvimento, com poder de decisão de modo que possam


contribuir para o fortalecimento e o bem-estar das comunidades e das famílias.

7) Gênero e o plano de desenvolvimento:


Para incluir a perspectiva de gênero na elaboração do plano de
desenvolvimento, a equipe é mista, formada por homens e mulheres. Dessa
maneira, é feita a inclusão dos vários pontos de vista e favorecido o acesso de
homens e mulheres ao planejamento.
Apesar de que as comunidades extrativistas muitas vezes resistem ao trabalho
misto, no decorrer do trabalho as posições ficam mais flexíveis, melhorando o
trabalho com homens e mulheres no mesmo grupo.
A análise de gênero feita no diagnóstico do plano de desenvolvimento
demonstra que as desigualdades entre homens e mulheres são grandes, sendo que
as mulheres estão em desvantagem. As atividades realizadas por elas não são
consideradas “trabalho” e poucas mulheres participam dos processos de decisão em
suas comunidades. Mesmo quando trabalham nas atividades que geram renda, as
mulheres extrativistas normalmente não têm controle sobre os recursos gerados
(Rondônia, 1997b).
Assim, é necessário que, no início da implantação do plano, um trabalho
específico com as mulheres para fortalecer sua organização e reconhecimento de
suas demandas. Porém, o trabalho é feito de forma integrada, procurando incluir as
mulheres sem isolá-las ou sem reforçar a discriminação. Envolvendo os homens na
promoção dos interesses das mulheres os ajustes que devem ser feitos entre eles
se dão de forma mais fácil. Os interesses comuns devem ser enfatizados.

8) Incluindo as mulheres nas etapas do plano de desenvolvimento

Diagnóstico:
No diagnóstico, são feitas entrevistas com homens e mulheres, e quando
possível, com as crianças. São respeitados os espaços definidos por gênero. Se
para as mulheres extrativistas a cozinha é um espaço apropriado, lá são
desenvolvidas as entrevistas e outras atividades.
Nas reuniões gerais, todos são convidados, mas a presença e a participação
dos homens é maior. Isso ocorre devido ao nível de organização dos homens e à
falta de costume de participação das mulheres nas decisões comunitárias.
Entretanto, devido às reuniões exclusivas com mulheres e às entrevistas
domiciliares (em que as mulheres foram entrevistadas por mulheres, em seus
espaços típicos na colocação), algumas entrevistadas relataram que o diagnóstico
foi a primeira oportunidade de elas serem ouvidas.
No diagnóstico, é feita uma análise de gênero simplificada, que tem sido uma
importante ferramenta para tornar visível o papel e a função de cada um dentro da
67

comunidade e da família. Entretanto, alguns cuidados devem ser tomados nas


entrevistas em grupo (ou mesmo domiciliares). Em grupos mistos, muitas mulheres
ficaram inibidas em colocar as suas opiniões e em se contrapor às opiniões
masculinas. Assim, deve-se tentar realizar essa atividade (análise de gênero
simplificada) separadamente para homens e mulheres para obter-se resultados mais
confiáveis.
Na elaboração do Plano de Aquariquara, não era clara para a equipe a
necessidade de um planejamento específico com as mulheres. Na elaboração do
Plano do Rio Cautário, com base na experiência anterior, foi feita uma entrevista em
grupo com as mulheres para o levantamento das expectativas, problemas
específicos e aptidões.
Nessa fase, é interessante identificar lideranças entre as mulheres, que
funcionem como animadoras comunitárias nas próximas fases.
Uma das lições aprendidas é que não se deve forçar a participação, e que
esta deveria ser conquistada. É prejudicial ao trabalho e muitas vezes constrangedor
para as mulheres a obrigação de participar. Entretanto, isso não quer dizer que a
participação feminina não deva ser
estimulada ou favorecida. Aos poucos, à Incluindo as mulheres do Plano
medida em que o aprendizado vai se dando de Desenvolvimento
nos espaços criados especificamente para  No diagnóstico
as mulheres, elas vão se integrando e Entrevista com homens e
conquistando lugar nos espaços "mistos", mulheres,
tradicionalmente dos homens. Entrevista em grupo com
mulheres,
Planejamento: Identificação de lideranças
entre as mulheres.
As mulheres participaram nas  No planejamento
reuniões de planejamento, mas a presença Planejamento específico com e
a participação masculina, como acontece mulheres.
nas reuniões do diagnóstico, foi maior.  Na implantação
No Rio Cautário foi feito um Formação de grupo de
planejamento específico para a melhoria da mulheres,
situação das mulheres. Foi utilizado o Reuniões e treinamentos com
mesmo método de planejamento utilizado atividades práticas e manuais,
Valorização do conhecimento
para as áreas do desenvolvimento: a
local.
entrevista em grupo (só de mulheres) para a
definição de objetivos e estratégias, priorização de problemas e elaboração de
projeto.
Em Aquariquara, apesar de não ter sido feito um planejamento específico com
as mulheres, na implantação tornou-se necessário um trabalho direcionado ao seu
fortalecimento. Após dois meses de implantação, as mulheres de uma comunidade
foram convidadas para uma reunião (que aconteceu, apropriadamente, em uma
cozinha!). Nessa reunião foi feito as mulheres identificaram seus problemas e
planejaram atividades.
68

Implantação:
Na implantação, estratégia utilizada é a organização de grupos de mulheres
para a realização de um objetivo específico. O grupo funciona como um espaço
educativo de exercício de decisão, de desinibição e de auto-gestão. O grupo de
mulheres é uma unidade de organização, dentro da organização da comunidade.
Não é desvinculado do contexto comunitário, e aos poucos se insere nos espaços
de decisão.
Nas reuniões, além da troca de idéias ou dos treinamentos específicos, são
realizadas atividades práticas e manuais, como o tricô, a pintura em tecido e a
manufatura de sabão. As atividades práticas dão um resultado concreto ao encontro,
relaxam e aumentam a identificação enquanto grupo.
No grupo valoriza-se a troca de experiências, os recursos naturais locais e o
conhecimento popular como fontes de melhoria de vida para as mulheres e para
toda a família extrativista.
Em Aquariquara, o trabalho iniciou-se em uma das comunidades através do
grupo de mulheres para pintura em tecido. A outra comunidade, com o
conhecimento do trabalho realizado, se interessou na formação de um grupo.
Entretanto, atividades de lazer, como pintura, foram fracas para manter um grupo
unido. Foi necessário um objetivo consistente.
O próximo passo, foi uma atividade de formação, com a realização de uma
oficina sobre organização comunitária e relações de gênero. Os temas foram
trabalhados através de dinâmicas, músicas e reflexões. Após essa oficina, formou-
se o grupo de remédios caseiros em uma das comunidades. Ele funciona de
maneira autônoma, se encontra quinzenalmente, e uma das moradoras é a
"monitora" do grupo.
Na avaliação de seis meses do Plano de Desenvolvimento de Aquariquara,
com a elaboração de novos projetos, foi feito um planejamento específico com a
mulheres. Foi priorizado o aumento da renda e a estratégia utilizada foi a produção e
comercialização de farinha de babaçu. Como é um produto ainda pouco conhecido
no município, as mulheres realizaram o "dia do babaçu", com a distribuição de bolos
e mingaus em um supermercado local. O grupo continua comercializando e a
expectativa é que o trabalho se expanda. Para algumas famílias, estima-se que a
farinha correspondeu a um aumento de 10% na renda familiar, naquele período.
Entre os resultados, destaca-se o aumento da participação das mulheres nas
decisões das comunidades de Aquariquara. No decorrer do trabalho, aumentou o
número de mulheres sócias da Associação e algumas mulheres se candidataram
para cargos comunitários.
Na Resex do Rio Cautário, foi priorizada a melhoria da saúde e a estratégia
utilizada foi a formação de monitoras de saúde da mulher. Foram realizados três
treinamentos, incluindo os temas: saúde da mulher e da criança, formas de
diagnosticar doenças, verminoses, remédios caseiros e plantas medicinais. Nos
treinamentos houve um espaço específico para o crochê, uma atividade lúdica, que
relaxa e aumenta a identificação entre as mulheres. Atualmente, cada comunidade
69

conta com uma farmácia básica de plantas medicinais e com mulheres aptas a fazer
o exame pré-natal.
Fortalecer as mulheres no contexto dos planos de desenvolvimento tem sido uma
experiência rica e recompensadora. As mulheres respondem rápido ao trabalho de
organização, têm alto compromisso com as metas estabelecidas e estão mais
dispostas a inovar na busca de alternativas para a melhoria da renda familiar. O
trabalho mais concentrado sobre poucos objetivos de execução mais simples
favorece o seu sucesso. Entretanto, parece que a falta de uma envolvimento
passado com projetos é também uma vantagem, pois as mulheres têm menos
expectativas em relação a ajuda externa (já que foram menos vitimadas pelo
paternalismo de alguns projetos). Pouco acostumadas a receber as coisas
facilmente, as mulheres tendem a confiar mais em si mesmas ao estabelecer metas
e dividir tarefas. Assim, seu sucesso particular destaca-se na implantação do plano
de desenvolvimento.
70

Capítulo IV - Limites e possibilidades desta proposta


de Plano de Desenvolvimento:

1) Limites:
Como toda proposta metodológica esta também apresenta limites. A seguir,
apresentamos alguns dos limites identificados:

 O plano não traz soluções milagrosas, mas só organiza as soluções


existentes. Isso não quer dizer que, dada a crise em que se encontra o
extrativismo o plano vá perpetuar a miséria. Ele é uma maneira de tornar mais
eficazes as soluções existentes e de generalizar um êxito particular. Novas
soluções não dependem do plano, dependem de um trabalho sério de pesquisa
sobre alternativas (cuja a demanda pode estar colocada no plano);
 A governabilidade do plano limita-se ao nível da comunidade;
 As soluções estão normalmente dentro do universo da comunidade. Porém, na
interação entre agentes externos e comunidade, sempre há um aprendizado e
uma expansão, mesmo que pequena, do universo de todos (pessoas de fora e
da comunidade);
 Essa expansão além dos problemas sentidos pela comunidade depende da
problematização da realidade;
 O horizonte de tempo das comunidades extrativistas é limitado. Os extrativistas
estão acostumados a viver no presente. Se queremos soluções participativas,
elas devem ser de curto a médio prazo.
 Esta proposta precisa de acompanhamento, o que significa um processo longo e
caro. Entretanto, os custos de um plano de desenvolvimento podem ser menores
do que a organização comunitária através da realização de reuniões de base;
 O Plano pode não corresponder à vontade do Estado (é um limite ou uma
qualidade?), isto é, pode não indicar melhorias que o Estado tenha o costume ou
o interesse de implementar nas comunidades.

2) Outras possibilidades desta proposta:


 O Estado pode utilizar o plano para subsidiar sua política extrativista e o
planejamento de suas ações na reserva. Hoje o plano é feito sob o ponto de vista
das comunidades (que deve conseguir as coisas), mas poderia incluir as ações
do Estado programando-as junto às comunidades. Isso deve ser feito com
cuidado para não deixar o plano paternalista;
71

 A utilização dos planos de desenvolvimento pelas entidades de pesquisa, ou de


fomento à pesquisa, para a geração de pautas de pesquisa;
 O financiamento, através de projeto, da elaboração e implantação dos planos de
desenvolvimento das outras reservas;
 O envolvimento de centros de pesquisa, universidades, ou outras organizações
com equipes multidisciplinares, na elaboração do plano de desenvolvimento;
 Uso dos planos na definição de estratégias do movimento extrativista;
72

Capítulo V - Como multiplicar a geração de Planos


de Desenvolvimento para Reservas Extrativistas:
Embora cara se encarada como simples elaboração de projetos participativos,
a elaboração e implantação de um Plano de Desenvolvimento poderia ser financiada
por entidades interessadas na melhoria das condições de vida das populações
extrativistas pois, além de gerar objetivos, estratégias e projetos, essa proposta
contempla:
 fortalecimento da organização comunitária;
 fortalecimento das mulheres;
 educação ambiental;
 capacitação da comunidade em temas diversos;
 melhoria do uso dos recursos já disponíveis;
 fortalecimento institucional (capacitação de técnicos).

Assim, investindo relativamente pouco, uma entidade financiadora conseguiria


benefícios mais sustentáveis do ponto de vista social e econômico, e distribuídos de
maneira mais igualitária. Para isso, o projeto deve garantir recursos para:
 Capacitação da equipe local;
 Visitas de diagnóstico e planejamento;
 Visitas de acompanhamento e reuniões;
 Cursos e treinamentos;
 Materiais educativos.
Veja a seguir o exemplo da carta consulta para a elaboração do Plano de
Desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Pacaás Novos:
Carta Consulta

Projeto: Elaboração participativa do Plano de desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Pacaás


Novos, RO.

Objetivo central:
• Elaborar, participativamente, o Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista Estadual do
Rio Pacaás Novos e realizar a sua implantação inicial.

Resultados esperados:
• Fortalecimento da Associação dos Extrativistas da Reserva do Rio Pacaás Novos – Primavera;
• Aumento da organização e capacitação da comunidade da Reserva na implantação de melhorias;
73

• Planejamento e implantação inicial de alternativas econômicas sustentáveis;


• Melhoria da conservação dos recursos naturais e proteção da Reserva;
• Fortalecimento das mulheres extrativistas;
• Melhoria nos benefícios obtidos a partir dos recursos naturais, humanos, institucionais e dos
bens materiais disponíveis localmente.

Proponente:
• Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR
Rua Joaquim Nabuco, 1215 – Areal – Porto Velho – RO 78916-420
Tel/fax: 069 224 1368
Representante legal: José Maria dos Santos

Período:
01/02/98 – 30/01/99

Contexto e Justificativa:
A gestão participativa das reservas extrativistas, que inclui a conservação dos seus recursos e
a melhoria da qualidade de vida dos moradores, é baseada em dois instrumentos: o Plano de
Utilização (que define as regras de uso dos recursos) e o Plano de Desenvolvimento (que define
objetivos e estratégias de desenvolvimento, e as ações para a resolução dos problemas prioritários).
Em Rondônia, os primeiros planos de desenvolvimento de reservas extrativistas do Brasil foram
elaborados com o apoio da Cooperação Técnica do PNUD ao Planafloro. Os planos são elaborados
com ampla participação da comunidade no diagnóstico de problemas e no planejamento comunitário.
A partir da percepção, conhecimento e capacidade das comunidades, o planejamento tem gerado
resultados imediatos na melhoria das condições das reservas, capacitando comunidades no melhor
uso de recursos locais (antes não aproveitados). Essa é a primeira fase de implantação. A segunda
fase de implementação do plano pode ser mais ambiciosa e necessitar de recursos externos.
Atualmente, está sendo trabalhada uma estratégia de descentralização da elaboração e implantação
inicial dos planos de desenvolvimento, que serão elaborados diretamente pela OSR ou pelas
associações, buscando mais autonomia para as comunidades.
Este projeto refere-se somente à elaboração e implantação da primeira fase do plano na
Reserva do Rio Pacaás Novos. A metodologia que será empregada é baseada na experiência das duas
primeiras reservas a terem seu plano de desenvolvimento e que, no uso de métodos participativos (por
sua vez baseados no Diagnóstico Rural Participativo – DRP) têm alcançado bons resultados no
fortalecimento das mulheres, educação ambiental, discussão e implantação de alternativas
econômicas e organização comunitária.
A Reserva do Rio Pacaás Novos não tem recebido apoio de projetos, somente algumas
benfeitorias com recursos do Planafloro. Sua comunidade não conta com assessoria, é analfabeta em
sua grande maioria, grande parte das pessoas não têm documentos e, com a crise da borracha, tem
sofrido muito com a falta de alternativas econômicas. São 55 famílias, guardiãs de cerca de 343 mil
hectares de floresta tropical. A Primavera, associação que representa os moradores, foi criada em
30/6/96, e nunca recebeu apoio em infra-estrutura. Isso a coloca em desvantagem em relação a
outras associações, sendo que a implantação do Plano de Desenvolvimento deve envolver também o
fortalecimento institucional da Associação.
74

Descrição e Formas de Implantação:


Nos primeiros três meses, será realizada a elaboração participativa do Plano de
Desenvolvimento, que contará com as fases de diagnóstico e planejamento, envolvendo uma equipe
local composta pelo técnico a ser contratado pelo projeto, técnicos dos governo (convidados), um
consultor em diagnóstico rural participativo (contratado para treinamento e orientação), um diretor
da Primavera e uma ou duas pessoas da comunidade.
Também nos primeiros três meses, será equipada a Associação, com telefone, computador, e
outros equipamentos que permitam sua comunicação com a OSR, entidades financiadoras e órgãos
públicos. Os diretores também receberão treinamento em serviço, e será contratada uma secretária.
A partir do quarto mês, com a implantação inicial do Plano, serão feitas, pelo técnico da
Associação, visitas de 15 dias à Reserva (a cada 45 dias). Nessas visitas, a comunidade continuará
sendo mobilizada para implantação das metas planejadas e serão promovidos quatro cursos sobre
temas definidos como prioritários pela comunidade. Para esse fim, o Projeto poderá contratar ou
contatar profissionais nos temas escolhidos. Em dezembro de 98 será realizada uma primeira reunião
de avaliação e replanejamento.
Com base nos planejamentos participativos realizados na elaboração do Plano, e na sua
avaliação, serão elaborados projetos para a resolução de problemas que necessitem de recursos
externos. Esses projetos deverão garantir a continuidade da implantação do Plano.

Custos:
Descrição Solicitado Contrapartida Geral
Equipamentos 3540.00 3600.00 7140
Comunicação 2400.00 2400
Administração 3816.00 1800.00 5616
Material de consumo 600.00 600
Alimentação 1200.00 1200
Combustível 2500.00 2500
Equipe 25060.00 25060
Cursos 2400.00 2400
Total 40316.00 6600.00 46916.00
75

Considerações Finais:
Até o momento, o plano de desenvolvimento tem se mostrado um instrumento
útil e eficiente na promoção do desenvolvimento comunitário. Sua base em métodos
participativos e sua busca pela simplicidade têm resultado em um desenvolvimento
baseado nas pessoas, que resgata sua dignidade, auto-respeito e sensação de
poder. O poder de mudar sua própria realidade. Os resultados apresentados até o
momento demonstram o valor da metodologia utilizada, o seu caráter mobilizador e
de empoderamento das comunidades, trazendo maior autonomia para o seu
desenvolvimento. O plano de desenvolvimento, acima de tudo, é um compromisso
dos moradores com o seu futuro.
Esta proposta mostra a importância da inclusão da perspectiva de gênero no
planejamento do desenvolvimento, da utilização de métodos participativos com
populações tradicionais e da sua aplicação sistemática. São inúmeras as lições, mas
a mais importante é a de que a comunidade pode melhorar sua condição, que
através do plano é resgatada a fé em seu futuro e em sua capacidade, e aumenta-se
o reconhecimento da comunidade por parte da sociedade.
Entretanto, esses resultados são iniciais, e sua consolidação depende de
acompanhamento e, ao mesmo tempo, de uma retirada estratégica (mudança de
função) dos promotores/facilitadores iniciais desse processo. Os maiores desafios
no momento são a continuidade dos planos em implantação, a multiplicação das
experiências para outras reservas e a incorporação dos planos de desenvolvimento
pelo movimento extrativista.
A continuidade da implantação vai depender dos técnicos que assessoram as
reservas realmente incorporarem o plano em suas atividades e da viabilização de
recursos financeiros para a implantação (o que depende da aprovação dos projetos
que estão sendo enviados às fontes financiadoras). Entretanto, muitas vezes isso se
dá de maneira mais lenta que o desejável, seja pela dificuldade dos técnicos
envolvidos darem uma atenção exclusiva aos planos, seja pela lentidão de algumas
agências financiadoras em julgar os projetos e liberar recursos. Os planos devem
começar a serem elaborados somente quando se tem recursos disponíveis para
elaboração e implantação inicial de pelo menos seis meses. Entretanto, seria
aconselhável ter recursos para um período mais longo, já que a elaboração
(redação) de um projeto para garantir a continuidade da implantação do plano,
levando-se em conta as exigências de algumas fontes, pode levar de dois a três
meses, enquanto que o julgamento e liberação de recursos podem levar de seis
meses a um ano. Garantindo-se recursos para um período inicial mais longo, evitar-
se-iam períodos sem dinheiro e a descontinuidade da implantação do plano.
A multiplicação dessa experiência depende da incorporação, por parte do
movimento extrativista, dos planos de desenvolvimento como parte de suas
estratégias; da continuidade do trabalho da Cooperação Técnica do PNUD ao
76

Planafloro junto às reservas extrativistas; e da viabilização de recursos para a


elaboração e implantação inicial de outros planos. Este último ponto já apresenta
boas notícias, com o apoio do Projeto Ecoscâmbio à elaboração e implantação
inicial do Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista Estadual do Rio Pacaás
Novos.
Finalmente, a incorporação pelo movimento extrativista depende de um
trabalho mais direto junto às lideranças, divulgando as vantagens de trabalhar com
planos de desenvolvimento junto às associações. Dessa forma, este é um momento
para divulgação e discussão dessa proposta metodológica e da formação de
pessoas interessadas no desenvolvimento participativo das reservas.
Somente saberemos sobre o sucesso definitivo dos planos de
desenvolvimento em dois ou três anos, com a consolidação do envolvimento da
comunidade, da associação e do técnico local. Entretanto, o plano de
desenvolvimento é uma alternativa promissora aos métodos tradicionais de
organização comunitária e aos projetos de desenvolvimento propostos de cima para
baixo.
Ainda, é uma estratégia para superar o desafio de elaborar projetos
participativos. Atualmente, participação comunitária na elaboração de projetos é
mais e mais um requisito para a sua aprovação. Entretanto, as entidades raramente
têm recursos para cobrir os custos de reuniões e outras atividades prévias à
elaboração dos projetos. No caso das reservas extrativistas esses custos são muito
altos. Assim, muitos projetos são elaborados com a participação de somente
algumas lideranças, ou são discutidos muito brevemente em reuniões de base,
sendo que a participação da maioria da comunidade na análise de seus problemas
fica reduzida. O plano de desenvolvimento, porém, oferece uma solução para esse
problema: é aberto o suficiente para incluir a participação comunitária, mas oferece
aos financiadores passos determinados, objetivos palpáveis, e resultados
comprovados. Além disso, a metodologia aqui apresentada tem uma clara
preocupação com a continuidade e a sustentabilidade dos planos.
O plano de desenvolvimento, como é aqui proposto, libera a comunidade para
dar iniciativa à sua elaboração e implantação (não é preciso esperar pelo Governo).
Qualquer associação pode buscar financiamento para elaborar um plano para a
comunidade que representa (como está fazendo a Associação Primavera, da Resex
do Rio Pacaás Novos). Os métodos apresentados foram adaptados por nossa
equipe, mas têm origem no DRP e outras metodologias participativas que estão
cada vez mais reconhecidas pelas ONGs que apoiam as populações rurais. Assim,
pode-se encontrar profissionais capacitados para assessorar as comunidades e para
treinar técnicos locais.
Além disso, ao contrário da proposta inicial do CNPT/Ibama, de elaborar o
plano de desenvolvimento somente depois da criação da reserva extrativista, um
ano após a elaboração do plano de utilização, o plano de desenvolvimento pode
também ser elaborado antes de criada a reserva. Qualquer comunidade extrativista
pode usar os métodos aqui descritos para planejar o seu desenvolvimento, mesmo
fora das reservas. Para certas comunidades, as reservas poderão fazer parte de sua
77

estratégia de desenvolvimento, como uma forma de garantir o seu acesso e a


conservação dos recursos naturais. O plano pode ser usado para organizar a
comunidade para obter a criação de uma reserva extrativista ou de outra forma de
regularização fundiária. O plano ainda poderia ser usado para organizar a
comunidade em torno da necessidade de uma plano de utilização dos recursos
naturais. Isto é, a ordem poderia ser invertida. Claro que as primeiras atividades
teriam que ser bem simples, mais relacionadas com a capacitação da comunidade.
Assim, são muitas as possibilidades de uso do plano de desenvolvimento
para a efetiva consolidação das reservas extrativistas enquanto proposta de
desenvolvimento com conservação e justiça social e para a melhoria das populações
extrativistas em geral. Grandes são os benefícios que podem ser obtidos pelas
comunidades e pelo movimento extrativista em geral. Na perspectiva governamental
e das instituições finaciadoras, o potencial dos planos de desenvolvimento não pode
ser ignorado, e deve ser utilizado para a maior efetivação das suas missões como
promotoras do desenvolvimento social e da conservação da Natureza.
78

Literatura Consultada:

Allegretti, M. H. Reservas Extrativistas: Parâmetros para uma política de


desenvolvimento sustentável na Amazonia. IN: O destino da floresta: reservas
extrativistas e desenvolvimento sustentável na Amazonia/ Anthony Anderson...
[et al]; - Rio de Janeiro: Relume-Dumará; Curitiba: Instituto de Estudos
Amazônicos e Ambientais, Fundação Konrad Adenauer, 1994 pp. 17-47.

Almeida, M. Reservas Extrativistas: Parâmetros para uma política de


desenvolvimento sustentável na Amazonia. IN: O destino da floresta: reservas
extrativistas e desenvolvimento sustentável na Amazonia/ Anthony Anderson...
[et al]; - Rio de Janeiro: Relume-Dumará; Curitiba: Instituto de Estudos
Amazônicos e Ambientais, Fundação Konrad Adenauer, 1994 pp. 259 –270.

Arroyo, V. & Marco A . Planejamento: Orientações para um exercício baseado numa


concepção estratégica situacional – Instituto Cajamar, 1996. 2ª edição. 20p.

Browder, J.O. Social and Economic Constraints on The Development of Market :


Oriented Extractive Reserves in Amazon Rain Forests. Advances in Economy
Botany 9:31-41,1992.

Chambers, R. & Guijt, I. DRP: después de cinco años, ¿en qué estamos ahora?
Bosques, Arboles y Comunidades Rurales, 26, dez 1995. pp. 4-15.

Feldstein, H. S. et alii. Modelo Conceitual para a Análise de Gênero em Pesquisa e


Extensão em Sistemas Agropecuários (trad.). In: Feldstein, Hilary Sims e Poats,
Susan V. (edit.). Working Together: Gender Analysis in Agriculture, Volume 1:
Case Studies. West Hartford, CT, EUA: Kumarian Press, 1989, 271p.

Fontes, A . O desenvolvimento sustentável e o papel desempenhado pelas redes de


mulheres. Revista Admnistração Municipal, 43 (218), Rio de Janeiro, 1996, pp
34-48.

Homma, A. K. O . The Dynamics of Extration in Amazonia: A Historical Pespective.


Advances in Economic Botany 9: 23-31, 1992.

Instituto de Los Recursos Mundiales e Grupo de Estudios Ambientales, A.C. El


Processo de Evaluación Rural Participativa: Una propuesta metodológica.
Washington: Instituto de Los Recursos Mundiales; México: Grupo de Estudios
Ambientales, A.C., 1993, 103 p.
79

INSTRAW – ONU. Gender concepts in development planning, 1995.

Lindahl, Z. A Viabilidade econômica de Extrativismo em Rondônia. Porto Velho,


1996. (Não publicado)

Mascarenhas, J. Diagnóstico rural participativo e métodos participativos de


aprendizagem: experiências recentes do MYRADA e do sul da Índia (trad.). In:
A. A. Atualização em Agroecologia, 25, dez 1993, pp. 9-16.

Odour-Noah, E. et alii. Implementing PRA: A Handbook to Facilitate Participatory


Rural Appraisal. Worcester, EUA: Clark University, 1992, 64 p.

Rocheleau, D. E. Participatory Research and the Race to Save the Planet:


Questions, Critique, and Lessons from the Field. Agriculture and Human Values,
Vol. 11, No. 293, 1994.

Rondônia. SEPLAN/PLANAFLORO/PNUD. Métodos de Planejamento Comunitário


Participativo: apostila da oficina realizada dias 17 e 18 de setembro no auditório
do ITERON. Elaboração: Ronaldo Weigand Jr. Porto Velho, 1996.

________________________. Plano de Desenvolvimento de Aquariquara. Redação:


Ronaldo Weigand Jr. e Daniela J. de Paula. Porto Velho, 1996. 59p.

________________________. Relatório da Oficina “Plano de Desenvolvimento


-elaboração participativa”. Porto Velho, 1996.

________________________. Reservas Extrativistas em Rondônia: garantindo a


sua consolidação através do Plano de Utilização e do Plano de
Desenvolvimento/ por Ronaldo Weigand Jr Porto Velho, 1996. 21 p.

________________________. Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista do


Rio Cautário. Facilitadores: Ronaldo Weigand Jr., Daniela J. de Paula, Celso Franco
Damasceno e Maria da Guia R. da Costa. Costa Marques, 1997. 60p.

________________________. Perfil das Mulheres Extrativistas da Reserva do Rio


Ouro Preto e Aquariquara. Porto Velho, 1997.

Roteiro para criação e legalização das reservas extrativistas. In: UICN. Reservas
Extrativistas. Editores: Julio Ruiz Murrieta e Manuel Pinzón Rueda. UICN,
Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido, 1995.
80

Schönhuth, M. & Uwe K. Diagnóstico Rural Rápido, Diagnóstico Rural Participativo,


Métodos participativos de diagnóstico e planificación en la cooperacion al
desarrolo. Una introdução comentada. GTZ: Eschborn, 1994.

Shapiro, R. Harvard Business Review, jan e fev, 1997.

Suárez, M. & Libardoni, M. Desenvolvimento rural com pespectiva de gênero: Guia


de coleta de informação ao nível local – Brasília, 1995. 73p.

Tillmann, H. J. & Salas, M. A. Nuestro Congresso: Manual de diagnóstico Rural


Participativo para la Extensión Campesina. Santiago de Puriscal, Costa Rica:
PRODAF – GTZ, 1997.

Weid, J. M. Roteiro de Diagnóstico Rural Participativo de Agroecossistemas . Rio de


Janeiro: AS-PTA, 1991. 33 p.
81

Sobre os Autores:
Ronaldo Weigand Jr. é engenheiro agrônomo e vem atuando na Amazônia
desde 1992. Desde a época da graduação na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz – Esalq, da Universidade de São Paulo, vem atuando no
campo da educação ambiental e no desenvolvimento com conservação. Em
1992, começou a trabalhar como professor de Ecologia na Universidade
Federal do Acre - UFAC, onde também coordenava o Projeto Arboreto, que
envolvia pesquisa e extensão em sistemas agroflorestais. Em 1994, deixou a
UFAC para realizar seu mestrado em Estudos Latino-Americanos, com
concentração em Conservação e Desenvolvimento Tropical, na Universidade
da Flórida, EUA. Em 1996, retornou ao Brasil e começou a atuar como
consultor para o Projeto de Cooperação Técnica do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD ao Plano Agropecuário e Florestal
de Rondônia – Planafloro. Nessa função, vem desenvolvendo trabalhos de
apoio a execução das metas do Planafloro relacionadas às Reservas
Extrativistas, apoiando a Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR
e, principalmente, adaptando métodos participativos para a promoção do
desenvolvimento comunitário, capacitando pessoal e promovendo a
elaboração e implantação dos primeiros planos de desenvolvimento de
reservas extrativistas. Está deixando a Cooperação Técnica PNUD/Planafloro
para seguir estudos de doutorado em Antropologia na Universidade da
Flórida.

Daniela Jorge de Paula é engenheira agrônoma e vem atuando na


Amazônia desde 1994. Seu interesse por conservação e movimentos sociais
vem desde os tempos de graduação na Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro – UFRRJ. Ao chegar em Rondônia teve atuações diversas na área
ambiental, integrando a equipe da Cooperação Técnica do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD ao Plano Agropecuário e
Florestal de Rondônia – Planafloro em 1996, junto à área de Educação
Ambiental. Ainda em 1996, passou a integrar a equipe de Reservas
Extrativistas, onde vem apoiando a execução das metas do Planafloro e
apoiando a Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR,
principalmente no fortalecimento das mulheres extrativistas e na adaptação
de métodos participativos para o desenvolvimento comunitário, capacitação
de pessoal, elaboração e implantação dos primeiros planos de
desenvolvimento de reservas extrativistas.

Você também pode gostar