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RESERVAS EXTRATIVISTAS:
Dando Poder às Comunidades através da Elaboração
e Implantação Participativas do Plano de
Desenvolvimento.
Porto Velho
1998
2
Secretária de Planejamento
• Janilene Vasconcelos de Melo
Normatização Técnica
• Dione Correia da Silva
Biblioteca/PLANAFLORO
Av. Imigrantes s/n (Antigo Prédio da SUDECO)
Porto Velho - RO 78.903-900
Tel: (069) 224-1513 Fax: (069) 224-3331
Weigand Jr., Ronaldo & Paula, Daniela J. de. Reserva Extrativista: Dando
Poder às Comunidades através da Elaboração e Implantação
Participativas do Plano de Desenvolvimento. Porto Velho: SEPLAN/
PLANAFLORO/ PNUD/ BRA/94/007 1998. 66p.
Apresentação
O Projeto de Cooperação Técnica do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento - PNUD ao Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia -
Planafloro tem atuado junto às reservas extrativistas no sentido de dar maior
efetividade às ações do Planafloro e apoiar a consolidação das reservas estaduais.
Essa consolidação envolve obrigatoriamente o fortalecimento da sociedade civil, já
que são os extrativistas, organizados em associações, os maiores beneficiários e
também os guardiães das reservas. Mais do que isso, envolve a capacitação das
comunidades na promoção de seu próprio desenvolvimento: um desenvolvimento
que garanta benefícios democraticamente distribuídos, que não tenham excessiva
dependência de fontes externas de recursos e que apontem para a sustentabilidade
das reservas. Um desenvolvimento definido pelas próprias comunidades. Por outro
lado, mesmo sendo a sociedade civil chave no processo de consolidação das
reservas extrativistas, o Governo tem um papel importante.
Os planos de desenvolvimento das reservas extrativistas de Rondônia têm
sido surpresas agradáveis nesse caminho. Sabemos que o desenvolvimento é um
processo lento e gradual, sem atalhos, e esperávamos que, no caso das reservas,
fosse ainda mais lento, devido ao tempo relativamente recente de organização e ao
baixo nível educacional dessas comunidades. Entretanto, as respostas ao plano de
desenvolvimento têm sido geralmente muito rápidas. É como se fosse um solo fértil,
preparado e semeado, esperando pela água da chuva. Assim, as comunidades que
já vinham recebendo apoio do movimento extrativista para a sua organização
(através da Organização dos Seringueiros de Rondônia e de outras entidades),
algumas vezes traduzidos em projetos de melhorias nas áreas, e que ainda
apresentavam uma resposta lenta às propostas, aceleraram seus progressos e
caminham mais rapidamente para a sua autonomia através da sua organização com
o plano de desenvolvimento.
Através dos planos de desenvolvimento, as comunidades definem seus
objetivos e estratégias, que são inicialmente viabilizados através de projetos para os
problemas mais prioritários. Mas, talvez mais importante que os objetivos e
estratégias, em si, seja o processo de sua definição, que envolve as comunidades
no levantamento de seus problemas, na negociação de conflitos internos, na
definição do que é mais importante e na identificação de alternativas. Esse
processo, juntamente com a implantação do plano, capacita as comunidades para
um desenvolvimento mais contínuo.
Os autores.
5
Sumário:
Apresentação.............................................................................................................................3
Introdução:................................................................................................................................7
1) Plano de Desenvolvimento:..........................................................................................................7
2) Desenvolvimento e Reservas Extrativistas:................................................................................8
3) A proposta de elaboração dos planos de desenvolvimento para as reservas extrativistas
estaduais de Rondônia:..................................................................................................................12
Capítulo I - Métodos para a elaboração e implantação participativas dos Planos de
Desenvolvimento:.....................................................................................................................14
1) Base metodológica para a elaboração dos planos de desenvolvimento: DRP e métodos
participativos..................................................................................................................................14
2) Participação:...............................................................................................................................18
3) Equipe para elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................................19
4) Técnicas utilizadas na elaboração do Plano de Desenvolvimento:.........................................20
5) Redação do Plano de Desenvolvimento:...................................................................................44
6) Implantação e revisão do Plano de Desenvolvimento:.............................................................45
Capítulo II - Aquariquara e Rio Cautário: a experiência da elaboração e implantação dos
primeiros planos de desenvolvimento......................................................................................48
1) Reserva Extrativista Aquariquara............................................................................................48
2) Reserva Extrativista Estadual do Rio Cautário:.....................................................................49
3) Comparação entre Aquariquara e Rio Cautário:....................................................................50
4) Aquariquara e Rio Cautário: Resultados da implantação......................................................53
5) Lições Aprendidas:....................................................................................................................61
Capítulo III - Incluindo as mulheres no desenvolvimento....................................................65
6) A importância da inclusão da perspectiva de gênero no trabalho de desenvolvimento
comunitário:...................................................................................................................................65
7) Gênero e o plano de desenvolvimento:.....................................................................................66
8) Incluindo as mulheres nas etapas do plano de desenvolvimento............................................66
Capítulo IV - Limites e possibilidades desta proposta de Plano de Desenvolvimento:.........70
1) Limites:.......................................................................................................................................70
2) Outras possibilidades desta proposta:......................................................................................70
Capítulo V - Como multiplicar a geração de Planos de Desenvolvimento para Reservas
Extrativistas:............................................................................................................................72
6
Considerações Finais:............................................................................................................75
Literatura Consultada:...........................................................................................................78
Sobre os Autores: ...................................................................................................................81
7
Introdução:
A Amazônia brasileira vem sendo alvo de ocupação acelerada e exploração
de seus recursos naturais por colonos de outras regiões, fazendeiros, madeireiros e
grandes projetos, causando a destruição rápida da floresta e conflitos pela terra,
cujas vítimas principais têm sido os seringueiros, ribeirinhos e índios da Região. Em
Rondônia, esse processo tem sido muito intenso, com a colonização e a exploração
madeireira. Em defesa de seu modo de vida e dos ecossistemas que habitam,
seringueiros de toda a Amazônia, incluindo os de Rondônia, têm se organizado na
luta pela criação e implantação das reservas extrativistas (resexs).
De acordo com Alegretti (1994), o conceito de reservas extrativistas foi criado
em 1985, no primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros da Amazônia, em que os
seringueiros definiram-nas como áreas para o uso sustentável dos recursos naturais
por populações tradicionais, com apoio nas áreas de produção, saúde e educação.
Assim, as reservas extrativistas são áreas que pertencem ao poder público, e que
são dadas em concessão a uma entidade que represente os moradores,
normalmente uma associação.
No âmbito federal, as resexs são administradas pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, que define os
procedimentos da sua implantação, através da Portaria Ibama Nº 51-N de 11/05/94
(ver UICN, 1995). Em Rondônia, além de uma reserva extrativista federal, foram
criadas 21 reservas estaduais, com apoio do Plano Agropecuário e Florestal de
Rondônia - Planafloro. As reservas extrativistas estaduais mantém vários princípios
das federais, mas são administradas pelo Instituto de Terras de Rondônia - Iteron e
pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental - Sedam. Essas reservas
“têm a sua implantação com maior participação dos extrativistas (através da
Organização dos Seringueiros de Rondônia, que atua como representação política e
executora de projetos), e podem se beneficiar da experiência das Resexs federais
para desenvolver procedimentos próprios para melhorar a sua implantação”
(Rondônia, 1996d).
1) Plano de Desenvolvimento:
A portaria 51-N do Ibama define também como deve ser o plano de
desenvolvimento das reservas extrativistas. De acordo com essa portaria, o plano de
desenvolvimento resulta da experiência da comunidade com o plano de utilização1,
1
O plano de utilização é o conjunto das regras de uso dos recursos naturais da reserva,
incluindo direitos e deveres dos moradores, e as penalidades no caso de desobediência
às regras estabelecidas. Esse plano é anexado ao contrato da Concessão do Direito Real
de Uso, dada à comunidade pelo Iteron, e serve de garantia ao Governo de que os
recursos da reserva serão utilizados de forma sustentável. Para a comunidade, é um
instrumento de defesa da Reserva e um guia para as atividades a serem desenvolvidas.
8
Desenvolvimento sustentável:
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – CNUMAD, ou Eco 92, a idéia do desenvolvimento sustentável
tem se popularizado entre as ONGs, governos e empresas. Segundo Fontes (1996),
“a necessidade de qualificar desenvolvimento surge tendo em vista os diversos
sentidos atribuídos a este termo nos últimos anos”. Assim, não basta apenas dizer
“desenvolvimento”. É preciso definir de que desenvolvimento estamos falando.
Desenvolvimento sustentável (DS) é um termo que surge a partir de uma proposta
de crescimento econômico que contemple aspectos de conservação. O relatório O
Nosso Futuro Comum define desenvolvimento sustentável como aquele capaz de
atender as necessidades das presentes gerações sem comprometer a capacidade
das futuras gerações de atenderem às suas. Assim, o DS surgiu a partir das
2
Nas reservas federais, uma variedade de abordagens está sendo utilizada, conforme os
consultores que estão trabalhando na elaboração de cada plano. Na Resex do Rio Ouro
Preto, tem grande importância a elaboração de cenários tendenciais e desejados para a
definição de estratégias para o desenvolvimento da resex.
9
Para garantir sua existência e viabilidade no futuro, cada reserva deve definir
o seu papel, como ela vai contribuir para o DS de uma região. Isto é, suas
oportunidades de desenvolvimento (de preferência, baseadas na conservação). Por
exemplo, se uma reserva guarda os mananciais de água de uma região e os últimos
estoques de madeira, pode-se pensar em seu papel como protetora dos mananciais,
produtora de madeira com alto valor agregado ou de sementes para reflorestamento.
Se o valor de sua biodiversidade for alto, a reserva pode ser guardiã dessa
biodiversidade para trabalhos de pesquisa e para repovoamento de áreas
degradadas na região. Dependendo do papel da reserva, mecanismos de estímulo e
controle podem ser estabelecidos para permitir a remuneração dos serviços
prestados. Como a sustentabilidade deve tornar-se mais e mais um componente
obrigatório do desenvolvimento, isso pode abrir oportunidades para as reservas,
como é o caso das sementes florestais, cujo mercado vem crescendo em função do
maior cumprimento da obrigatoriedade de reflorestamento por parte dos
consumidores de madeira.
4
Rocheleau (1994) discute uma série de métodos participativos, como o D&D
(Diagnóstico e Desenho) desenvolvido para sistemas agroflorestais, a pesquisa ecológica
baseada na comunidade, DRP e outros).
15
Fases do DRP:
O DRP usa técnicas participativas de pesquisa, baseadas principalmente na
entrevista semi-estruturada, na entrevista com grupos-foco, e na observação
participante5, para conseguir a precisão necessária e a maior exatidão possível.
Chambers & Guijt (1995) apontam que um dos princípios do DRP é a “ignorância
ótima e imprecisão apropriada”6. Para isso, os resultados obtidos com as diversas
5
Ver adiante.
6
“Não investigar mais que se necessita e não medir quando comparar é o suficiente.
Somos formados para realizar medições absolutas, mas geralmente tudo o que se requer
16
Outros métodos:
Existem outros métodos participativos, utilizados para o planejamento de
empresas e organizações, e mesmo para o trabalho interinstitucional, como o PES –
Planejamento Estratégico Situacional, o ZOPP – Planejamento Orientado por
Objetivos, e o planejamento baseado em cenários.
Tanto o PES como o ZOPP partem da análise de problemas, apresentando,
portanto, semelhanças com o DRP. Entretanto, embora a fonte de informações do
PES e do ZOPP seja o grupo com quem está se fazendo o planejamento, por isso
muitas vezes superficial, a análise dos problemas é mais profunda que no DRP. Este
trabalha sobre problemas e causas (ligados em pares). Aqueles analisam os
problemas e suas causas em “’árvores” onde alguns problemas são causas de
outros, e assim por diante, até a definição de alguns problemas centrais, que
originam consequências que também poderiam ser tratadas como problemas.
Assim, a partir dessa árvore de problemas (negativa), tenta-se resolver o problema
2) Participação:
Muito tem se falado sobre participação nos projetos de desenvolvimento.
Embora a participação seja vista normalmente como algo positivo, ela pode ser
usada com o “propósito de transformar o sistema atual ou simplesmente de manter o
status quo” (Slocum e Thomas Slayter, 1995). De fato, a participação, quando feita
de maneira acrítica, pode respaldar propostas de cima para baixo, paternalistas ou
equivocadas. O fato de serem chamados para uma decisão não quer dizer que os
indivíduos tenham possibilidade de uma participação plena. Assim, a participação,
para ser transformadora, exige um processo gradual de crescimento e capacitação.
De maneira simplificada, existem dois tipos básicos de participação:
• Mobilização: é o envolvimento da comunidade na execução de uma
ação, como por exemplo os mutirões de limpeza que várias prefeituras
promovem. Na mobilização, em geral, as comunidades não participam do
planejamento das ações e não melhoram sua situação de autonomia para
implantar melhorias.
• “Empoderamento”(aumento do poder): é o aprendizado da
comunidade em maneiras de melhorar sua situação e a melhoria efetiva da
posição das pessoas em relação a outros setores, como as elites, o
governo, aos homens (no caso do empoderamento de mulheres), etc.
(Ver a discussão apresentada por Diane Rocheleau,1994)
Técnicas de diagnóstico:
Na elaboração dos planos de desenvolvimento, valorizamos principalmente as
informações fornecidas pelas comunidades (fontes de primeira mão, ou primárias),
mas têm grande utilidade as fontes secundárias, como publicações, mapas,
relatórios, e mesmo a experiência de algumas pessoas que conhecem bem a área.
São essas fontes secundárias que vão orientar a elaboração de uma lista de dados
necessários para a elaboração do plano de desenvolvimento. Essa lista é muito
importante para a geração do diagnóstico, como veremos adiante.
Apesar da maioria dos trabalhos sobre DRP e metodos participativos
enfatizarem as “ferramentas” (mapas, históricos, calendários, transectos,
diagramas), a base da maioria das ferramentas é a entrevista semi-estruturada
(Tillman & Salas, 1994), a entrevista com grupos-foco e a observação. A entrevista
não estruturada também é utilizada em vários momentos. Assim, o uso flexível do
DRP (uma de suas maiores qualidades) depende do entendimento dessas técnicas
de pesquisa, e de como as chamadas “ferramentas” funcionam.
Entrevista não-estruturada:
A entrevista não-estruturada é uma técnica de pesquisa social e é a
ferramenta mais utilizada para coleta de dados em Antropologia Cultural (Bernard,
1994). Há uma ampla literatura em
como conduzir esse tipo de entrevista.
Segundo Bernard (1994) não há nada Tillman & Salas apresentam algumas dicas sobre a
de informal nesse tipo de entrevista: “arte da pergunta”:
“você senta com um informante e faz • Perguntas abertas: “qual a
sua opinião sobre...”
uma entrevista. Ponto”. A entrevista
não-estruturada é baseada em um • Perguntas estimulantes:
“como conseguiu esta horta tão bem
plano claro que é mantido em sua feita?”
mente. É mais utilizada quando você • Perguntas dignificantes:
tem muito tempo e vai fazer um “você que sabe tanto sobre este
trabalho a longo prazo, em que cultivo...o que você me diz de...”
poderá encontrar o informante várias • Perguntas sobre eventos
vezes. chaves: “como conseguiram recuperar-
se da enchente?”
Entrevista semi-estruturada: Os autores ainda ressaltam que a
Nas situações em que não entrevista não é hora para dar recomendações,
haverá uma nova chance para mas que o técnico pode mostrar sua posição e seu
conhecimento, sem impor, para estimular a
entrevistar alguém, a entrevista semi- conversa. Ainda, é importante evitar as perguntas
21
Informantes-chave ou especializados:
Informante-chave é aquela pessoa que sabe muito sobre um
determinado assunto e pode nos dar informações confiáveis. O uso de
informantes-chave pode agilizar muito a coleta de informações, além de
orientá-la. Com um informante especializado pode-se utilizar a maioria das
ferramentas do DRP.
9
A não ser que haja um processo de delegação/representação.
10
Na elaboração do plano de desenvolvimento, muitos conflitos detectados nas
entrevistas domiciliares podem ser negociados ou solucionados nas entrevistas em grupo
e reuniões.
23
Mapas participativos:
O mapeamento participativo é um jogo que facilita a coleta de informações
baseado na percepção e conhecimento que indivíduos e grupos têm do espaço em
que vivem ou atuam. Os mapas não precisam ter precisão ou escala, e dependendo
do propósito, pode ser interessante que a “escala” e as proporções sejam livres para
permitir que a percepção dos indivíduos seja expressa. Esses mapas podem ser
representados em uma só folha (unificados) ou, conforme o nível de detalhe, serem
separados conforme o tipo de informação.
Tipos de mapa conforme o tipo de informação apresentada:
• Mapa de localização das colocações e infraestrutura (colocações,
famílias, nº de pessoas, varadouros, construções, escolas, etc.);
• Mapa de recursos naturais (rios, solos, relevo, castanhais, caça, peixe,
etc.);
• Mapa de impactos ambientais e ameaças;
• Outros.
Ainda, segundo Tillmann e Salas (1994), existem os mapas sociais (que
servem para mostrar as diferenças sociais), os mapas de danos ecológicos, os
mapas de confluência e outros.
Para fazer os mapas pode ser usado um mapa básico da área e foto de
satélite para confirmar. As pessoas entrevistadas poderão desenhar ou apontar as
informações sobre o mapa básico. Pode ser usado um aparelho de GPS (Global
Positioning System), para checar coordenadas.
O DRP tem utilizado também modelos e maquetes feitas com materiais locais,
como terra, folhas e sementes, pedras e outros (Chambers & Guijt, 1994). Além
desses podem ser utilizados lençóis, flanelógrafos (painéis de flanela em que podem
ser afixadas figuras), e outras técnicas.
O mapeamento pode também ser feito para a propriedade (colocação, no
caso dos seringueiros) para entender como se utilizam os recursos e a inter-relação
das atividades.
Mais do que obter o resultado gráfico, é importante entrevistar os moradores
sobre os mapas que criaram. À medida em que explicam os desenhos, uma série de
informações (que serão registradas posteriormente no diário de campo do
entrevistador) podem ser coletadas. O processo de elaboração de um mapa
participativo pode ainda ser um momento de aprendizado e troca de informações
entre equipe e comunidade, e mesmo dentro da própria comunidade.
Tracajás
Pesca anzol anz flec anz anz flech
ol ha e ol ol a no
igap anz rio
ó igap ol no no
ó rio rio
Roçado broc broc derr derr quei quei plan limp limp
a a u- u- - - ta a a
1o. Ano bad bad mad mad
(tro (tro a a a a, milh (cap (mat
ca ca o o- a
dia) dia) coiv eira brut
a-ra arro ) a)
z
mac
a-
xeir
a
Fazer
farinha
Cuidar da
Casa
Criações
Épocas
mais
ocupadas
para
homens e
mulheres
Dinheiro
Legenda:
27
Dicas:
• Agrupar atividades ligadas ao roçado, as atividades ligadas aos pequenos animais, e as
atividades ligadas ao quintal (ver exemplo acima). Separar essas atividades, que na verdade
ocorrem em muita integração, torna o calendário difícil, cansativo e com maior risco de erros.
• A inclusão de gênero (quem faz o quê?) pode ser feita juntamente com o calendário ou na
análise de atividades (ver a seguir).
• As atividades podem ser representadas por desenhos ou ícones.
• As estações, seca e chuvosa, podem ser determinadas com o grupo, estimulando os
participantes a colarem no calendário um cartão com o desenho de um sol (seca) ou de uma
nuvem (chuva).
É importante notar que a análise de atividades pode ser feita em outros jogos,
como nos mapas de colocação ou no calendário de atividades.
Dica:
• A análise de atividades vai ser melhor se realizada separadamente com homens e
mulheres, pois muitos homens têm vergonha de admitir que as mulheres também
contribuem para a produção com o seu trabalho, e as mulheres extrativistas muitas
vezes ficam inibidas de desmentir os homens em grupos mistos.
11
Como veremos adiante, priorizar problema e soluções é um passo importante para a
eficácia do planejamento e o maior envolvimento da comunidade. A estrutura e as regras
do quem-é-quem também poderiam ser utilizadas em um jogo para identificar o
problema mais importante para a comunidade. Como se vê, os jogos são muito flexíveis e
podem ser usados em vários contextos e com propósitos diferentes.
30
Incra
Comunidade
Rio Cautário
João
Alberto
Secretaria W WF
Ribeiro
Municipal Sucam
de Saúde Miranda
Cunha
(marreteiro)
Prefeitura
AGUAPÉ
OSR
SEMEC
Costa Marques PNUD
Governo
de
Rondônia
Planafloro
CNS
Iteron
Sedam Ibama
Costa Costa
Marques Marques
Figura 2 A: Quem-é-quem elaborado pela Comunidade Canindé, Diagnóstico do Rio Cautário. Fonte:
Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Cautário (Rondônia, 1997a).
Incra
PNUD
Sedam Iteron
Porto Velho
WWF
CNS Planafloro
OSR Ecoporé
Prefeitura
de Costa
Marques
Sedam Ibama
Costa Costa
Marques Marques
Figura 2 B: Quem-é-quem elaborado pela Comunidade Cajueiro, diagnóstico do Rio Cautário. Fonte:
Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista do Rio Cautário (Rondônia, 1997a).
31
É claro que o resultado gráfico, assim como em outras técnicas, não vale
muita coisa sem as observações do comportamento, atitudes e falas dos
participantes durante o jogo. Por Dica:
exemplo, na figura 2A, como • Círculos de tamanhos diferentes confundem
apareceram o marreteiro e o a comunidade e também a análise.
Planafloro?12 Por que o Governo de • Recomendamos o uso de círculos de
Rondônia está colocado tamanho igual.
separadamente dos órgãos
estaduais (Sedam, Iteron,
13
Planafloro)? Por que o Incra recebeu só um pontinho e foi colocado na margem do
papel (já que não era permitido colocar nas costas do papel)?14 Esses dados são
coletados, analisados e colocados no relatório.
Diagrama Histórico:
Existem vários jogos para coletar dados históricos nas comunidades. Podem
ser feitos desenhos, gráficos, listas de acontecimentos. Tudo depende de quais
dados se quer coletar, da hipótese que se quer verificar15, e da capacitação da
comunidade no uso desses jogos (ex: alfabetização). Temos utilizado um diagrama
histórico montado a partir de discussões em grupo, Dicas:
em que o grupo escolhe as épocas e recursos (ou • Os períodos históricos
itens) a serem representados. Esses recursos são devem ser divididos por
apresentados em cartas (previamente preparadas, ou datas marcantes, que
improvisadas quando a comunidade surge com algo tenham um significado
não previsto). As cartas são arranjadas pelos importante para a
participantes, comparando as três épocas escolhidas, maioria das pessoas.
incluindo a atual. A cada decisão, o grupo é Pode ser um fato local
estimulado a justificar. No final, o grupo é estimulado ou nacional (ex: tri-
a estabelecer inter-relações e analisar a evolução da campeonato da seleção
disponibilidade dos recursos e da qualidade de vida.
brasileira).
O diagrama pode ainda ser feito com
indivíduos, informantes representativos ou especializados.
Um potencial que ainda não tem sido muito explorado, é o uso desse
diagrama para estabelecer um cenário dos recursos no futuro. Dessa forma, o
12
O marreteiro foi sugerido pelo técnico da Reserva; o Planafloro teve uma série de ações
realizadas, incluindo a doação de equipamentos para a Associação.
13
A comunidade quis reconhecer o ato do Governo em decretar a Reserva.
14
A comunidade considera que o Incra é o principal responsável pelo desmatamento e
expulsão dos seringueiros das áreas de seringais que foram desapropriados para projetos
de colonização. A comunidade afirmava que o escritório do Incra no município tinha
funcionários que estimulavam a invasão da reserva por pequenos agricultores, causando
desmatamento de castanhais.
15
O uso de hipóteses é a principal ferramenta lógica para conhecer a realidade no
diagnóstico do plano de desenvolvimento e será abordado adiante.
32
diagrama histórico constitui também uma boa técnica de educação ambiental e para
a escolha de medidas de proteção.
Veja o diagrama histórico produzido no Rio Cautário no Anexo 1.
17
As soluções em negrito correspondem àquelas que comunidade tem certa
governabilidade ou possibilidade de ação.
34
Escolas distantes
Transporte difícil
35
Figura 3 – Árvore de problemas para a área de Educação, caso tivesse sido aplicada
no diagnóstico do Rio Cautário (Fonte, Weigand e Paula, 1998).
18
Áreas do desenvolvimento, exemplos: Educação, Saúde, Renda etc.
36
Técnicas de planejamento:
No planejamento são utilizadas as reuniões com grupos comunitários,
assembléia de moradores e trabalho em subgrupos. Após a apresentação dos
resultados do diagnóstico à comunidade, acontece a priorização dos problemas a
serem primeiramente trabalhados, a elaboração de objetivos e estratégias para cada
área do desenvolvimentoe elaboração de projetos para cada área.
Retorno e validação do diagnóstico:
Antes da priorização, é importante retornar e discutir as conclusões do
diagnóstico da reserva. Para isso, podem ser usados diversos meios: cartazes,
álbuns seriados, mensagens gravadas em fitas cassete, teatro de fantoches etc. O
importante é que a comunidade Uso do rádio para retorno e validação do
discuta os problemas e suas causas e diagnóstico:
corrija o que discordar do diagnóstico. No Rio Cautário, o retorno do diagnóstico foi O
uso de desenhos para representar os feito a partir da audição das fitas do
problemas pode ajudar na discussão e programa Rádio Cautário produzido e
veiculado nas rádios Educadora de Guajará
na posterior priorização. Mirim, e Caiari (em Porto Velho; as duas
com alcance na Resex do Rio Cautário),
semanalmente, iniciando uma discussão
Técnicas de priorização: sobre os problemas da reserva em cada
A priorização é um processo área do desenvolvimento. Os programas de
muito importante dentro do cada área tiveram entre cinco e 15 minutos.
No planejamento com a comunidade,
planejamento. Trabalhando sobre os juntamente com o programa, foram
problemas mais importantes para a introduzidos cartões com desenhos que
maioria é que se consegue o
envolvimento da comunidade nas ações do plano. Toda priorização envolve uma
escolha. O método mais conhecido é a votação. Na votação escolhe-se através do
voto qual a opção mais interessante para a comunidade ou qual o problema mais
urgente. Existem várias formas de fazer uma votação, a maior parte delas bem
conhecida. Mas a votação pode ser
feita proporcionalmente (em que os POR QUE PRIORIZAR?
diversos grupos envolvidos, por
exemplo, comunidades mais distantes e • Os recursos humanos, materiais,
com menor número de participantes, financeiros e de tempo são
têm o mesmo peso nas decisões), pode limitados;
ser feita em separado (estabelecendo • Priorizar aumenta o
prioridades de cada grupo, por
envolvimento,
exemplo, de cada comunidade, ou dos
homens e das mulheres). • Diminui os conflitos,
Apesar de ser o método de • Aumenta a legitimidade do plano,
escolha em grupo mais utilizado, • Aumenta a satisfação com os
quando o número de opções é elevado resultados das ações,
(mais que três ou quatro), a votação
começa a ficar pouco eficiente e pouco • Aumenta a eficiência,
• MELHORA OS RESULTADOS!
37
19
São parâmetros de tempo gasto, lucro, mão de obra necessária, tipo de trabalho etc.
39
Tempo gasto
Lucro
Mão de obra
Banco/em- - - - -
préstimo
Trabalho
pesado
Figura 4 - Priorização por valoração de opções (Fonte: Rondônia (1996a), adaptada
de Mascarenhas (1993)).
como fazer a proteção através do movimento extrativista (que tem sido fundamental
para cobrar dos órgãos ambientais ações de fiscalização e desintrusão na Reserva).
Assim, as estratégias geradas para o Plano do Rio cautário pouco incluíram esse
aspecto, pois a comunidade centrou atenção nas perguntas que foram colocadas no
roteiro.
Essa técnica já foi discutida quando discutimos as técnicas de entrevista
semi-estruturada e com grupos-foco. A diferença é que, no planejamento, ela é
aplicada só uma vez por tema, em um tempo curto, tornando a elaboração de um
roteiro de perguntas completo um aspecto crítico para o seu sucesso.
Técnicas para a elaboração de Projetos:
No caso dos projetos, a partir dos problemas mais prioritários para cada área
(de um a três problemas, dependendo de sua complexidade), e dentro de
subgrupos, faz-se a discussão de metas, atividades, responsáveis, prazos e apoio
necessário. Nesse momento, a moderação de discussão em grupos também é
fundamental. Pode-se, entretanto, fazer a priorização de um problema central e
aplicar o ZOPP simplificado. Veja o caso do segundo planejamento que foi realizado
na Reserva Aquariquara, após seis meses de implantação do Plano de
Desenvolvimento:
comunidade.
41
Destruição da
Floresta
Miséria na cidade
Colocações abandonadas
Seringueiro
não corta
Desânimo
Baixa
Renda
Falta uma
usina dos Pouca pressão sobre o
seringueiros governo
Aumento da renda
Aumentar a Garantir o
Produzir Manejo da Controle e Implantar produção mercado
couro floresta planejament consórcio agrícola para a
vegetal o s borracha
Implantar
coleta de Capacitaç
ão e Conseguir
sementes boas
planejame Controlar as Cooperativa Proteção a
nto sementes pragas e comercializ borracha
doenças ando nativa
borracha
Aumentar a
roça Capital de
giro para Pressionar o
comercializ governo
Mutirão ação
Cooperativa
funcionando
5) Lições Aprendidas:....................................................................................................................61
Capítulo III - Incluindo as mulheres no desenvolvimento....................................................65
6) A importância da inclusão da perspectiva de gênero no trabalho de desenvolvimento
comunitário:...................................................................................................................................65
7) Gênero e o plano de desenvolvimento:.....................................................................................66
8) Incluindo as mulheres nas etapas do plano de desenvolvimento............................................66
Capítulo IV - Limites e possibilidades desta proposta de Plano de Desenvolvimento:.........70
1) Limites:.......................................................................................................................................70
2) Outras possibilidades desta proposta:......................................................................................70
Capítulo V - Como multiplicar a geração de Planos de Desenvolvimento para Reservas
Extrativistas:............................................................................................................................72
Considerações Finais:............................................................................................................75
Literatura Consultada:...........................................................................................................78
Sobre os Autores: ...................................................................................................................81
Após um período inicial, novos recursos podem ser captados a partir dos
projetos elaborados com as comunidades, em que é solicitado apoio para atividades
que dependem de recursos não disponíveis localmente.
48
21
Áreas-fins são as áreas do desenvolvimento que realmente trazem mudanças quanto
à qualidade de vida (ex: Educação, Saúde, Proteção e Aumento da Renda). Definimos
áreas-meio aquelas que são necessárias para a execução das áreas fins (ex:
comunicação, transporte e, muitas vezes, organização). Por exemplo, quando falamos de
transporte, ele está vinculado a uma área fim: transporte para saúde, transporte para
educação, para os produtos. Isso também dá um sentido objetivo à organização:
organização para a saúde, para a educação, para a proteção etc.
51
Diagnóstico
No. de informantes representativos 15 famílias 14 famílias
No. de Informantes especializados Não-definido 16 informantes
No. de entrevistas em grupo 2 2
Reunião com mulheres Não aplicado Aplicado em uma das três
comunidades
• Mapa participativo Localização das colocações Localização das colocações
e infra-estrutura. Sobre e infra-estrutura. Sobre
mapa fornecido pela Sedam mapa fornecido pela Sedam
e imagem de satélite e imagem de satélite.
Resultados limitados.
• Calendário Aplicado em duas Aplicado em uma
comunidades comunidade
• Análise de atividades Aplicado juntamente com o Aplicado separadamente ao
calendário calendário
• Quantificação em grupos Não aplicado Aplicado em uma das três
comunidades
• Histórico dos recursos Aplicado em uma Aplicado em uma
comunidade comunidade
• Diagrama institucional Aplicado em duas Aplicado em duas
comunidades comunidades
• Caminhada transversal Não aplicado Aplicado em uma
comunidade
Colocação.
O projeto de organização dos moradores, criado no Plano de
Desenvolvimento, também incluiu a eleição de uma Comissão de Proteção da
Reserva, órgão previsto no Plano de Utilização (PU) e responsável pela proteção da
reserva e aplicação do PU. Assim, os líderes eleitos foram treinados no Plano de
Utilização e elaboraram uma minuta de regimento interno para a Comissão. A
eleição da Comissão e aprovação do regimento interno se deu em assembléia dos
moradores. Após a eleição, a Comissão realizou um planejamento de suas
atividades, entre elas um curso sobre o Plano de Utilização, apoiado pela equipe de
monitoria, realizado em duas das três comunidades.
Os agentes de saúde começaram seu treinamento conforme planejado antes
do Plano de Desenvolvimento. Depois de treinados, foi um longo tempo sem
progressos nessa área pois as obras para a construção do posto de saúde (de
responsabilidade do Instituto de Terras de Rondônia - Iteron) estavam atrasadas. O
mesmo se deu com a contratação da professora. Mas através do Plano, e com o
estímulo dado pelas visitas de monitoria, a ASM estabeleceu contatos com
representantes da Câmara Municipal de Vale do Anari e com o prefeito. Isso resultou
em apoio por parte daquele município. Alguns meses depois, as vagas estavam
abertas, como veio descobrir sozinha uma dos agentes treinados. Sabendo disso, e
com o apoio da equipe de monitoria, outro agente foi negociar sua contratação
diretamente com o prefeito de Vale do Anari. O mesmo se deu com a professora.
A construção dos postos de saúde e da escola ainda não havia sido iniciada e
disso dependia a contratação dos agentes e da professora. Entretanto, alguns
meses antes, os líderes comunitários (reunidos em um curso sobre liderança, como
parte da implantação do Plano de Desenvolvimento) haviam decidido construir um
centro comunitário, usando materiais locais, como troncos de árvores finas e palha
de palmeiras. Esse centro vinha abrigando parte das reuniões comunitárias e era
adaptável para o funcionamento da escola. Assim, estimulada pela equipe, a
comunidade propôs que o centro fosse usado como escola e, graças a isso, as
crianças de Aquariquara não perderam o ano letivo de 1997. O uso de materiais
locais resultou em uma construção simples, fácil de ser feita pelos seringueiros, com
custo muito baixo (não necessitou de recursos externos a comunidade), e com um
ótimo ambiente para as aulas (mais fresco e ventilado que casas de madeira
fechadas e cobertas com telhas de amianto, como a escola que mais tarde acabou
sendo construída a um custo muito mais alto). Apesar de simples, a escola
construída pelos seringueiros desempenhou as mesmas funções que a escola de
tábuas, construída a um custo muito alto para os cofres públicos.
O mesmo aconteceria com os postos de saúde, mas a construção dos postos
definitivos iniciou-se exatamente enquanto a comunidade estava construindo os
postos com materiais locais, desmobilizando as pessoas.
É importante notar que a comunidade acompanhou as obras, fiscalizando-as.
Um dos postos a deixou satisfeita. No caso da Comunidade Dois de Agosto, porém,
onde um posto e uma escola foram construídos, o representante eleito pela
57
comunidade tentou fiscalizar as obras, mas quando indicou problemas, não foi
ouvido pelos empreiteiros.
Ao mesmo tempo em que essas atividades ocorriam, atividades não incluídas
no Plano também eram estimuladas junto às mulheres, como está descrito no
Capítulo III. Através dessas atividades, a participação das mulheres de Aquariquara
cresceu muito, o que também foi apoiado pela maioria dos homens.
Em julho de 1997, com a maior parte das atividades planejadas em dezembro
de 1996 já encaminhadas, foi promovido o segundo planejamento participativo de
Aquariquara. Nesse segundo planejamento, o aumento da renda foi o problema
escolhido como principal, para homens e mulheres. Na verdade, os homens
escolheram primeiro o baixo preço da borracha, mas visto que é um problema cuja
solução fugia de sua governabilidade, passaram a trabalhar sobre a questão de
baixa renda. A partir dessa escolha, um novo projeto foi elaborado e vários
resultados já podem ser observados.
Vários moradores foram treinados em coleta de sementes florestais. A
primeira comercialização de sementes foi feita com cerca de 200 kg de pinho
cuiabano vendidos à Ecoporé, uma ONG que apoia os seringueiros e que revendeu
o produto, rendendo cerca de R$1.000,00 aos seringueiros. Na última visita
realizada, em dezembro de 1997, mais 500 kg haviam sido negociados a R$5,00/kg
e outros mil quilos foram vendidos rendendo um preço mais baixo para os
extrativistas (R$3,50/kg). Estima-se que R$7.000,00 entraram na reserva em apenas
dois meses, equivalentes a cerca de 10.000 kg de borracha, ou seja, a produção
típica de dez famílias durante um ano (lembramos que a Reserva tem cerca de 35
famílias). Ressalta-se que essa renda foi adicional às atividades desenvolvidas e
não um substituto, já que a coleta não tomou grande tempo dos extrativistas.
Entretanto, apesar de nem todas as famílias estarem coletando sementes, o
pinho cuiabano é uma das espécies mais fáceis de coletar. Com sementes mais
difíceis, que necessitam a escalada de árvores, um menor número de famílias deve
ser beneficiado, já que é um trabalho mais perigoso, que necessita de maior
capacitação e que toma mais tempo. Além disso, a coleta de sementes vai
necessitar um plano de manejo, para a correta identificação de matrizes e para
incluir cuidados e critérios que garantam a qualidade das sementes e a
sustentabilidade da atividade. Mesmo assim, o recurso que as sementes podem
render pode ser razoável. Uma das famílias, que coletou cerca de 200 kg, conseguiu
uma renda adicional de cerca de R$800,00 a partir das sementes em apenas um
mês e meio de coleta.
O sucesso com as sementes até estimulou algumas pessoas a tentar
intermediar a venda, “marretando” (atravessando), ou agenciando a venda para
outras pessoas. Entretanto, a comunidade tem sabido lidar com esses problemas.
Além dos bons resultados com as sementes, uma das comunidades teve um
encontro sobre criação de peixes e foi realizado um curso sobre como melhorar a
administração da colocação. Os resultados dessas atividades ainda não são visíveis.
As mulheres, como será visto no Capítulo III, organizaram-se em torno da
produção de farinha de babaçu, um produto que pode substituir parte do trigo usado
58
em bolos e pães, além de ser ótima para a preparação de mingaus. A farinha, além
de economizar até metade do dinheiro gasto com trigo, também teve uma boa
aceitação no mercado local. Para alguns moradores, é um produto que dá um senso
de identidade, algo típico da Reserva, do qual têm orgulho.
A maior parte desses resultados foram planejados com os moradores de
Aquariquara. Outros são resultados indiretos do trabalho, a partir da capacitação da
comunidade e do estímulo do Plano de Desenvolvimento. Dois exemplos são um
grupo de mulheres sobre remédios caseiros (ver Capítulo III) e uma maior
capacidade de negociação de conflitos e maior autonomia de organização. Esse
último aspecto foi mostrado quando a Comunidade Dois de Agosto negociou sozinha
com um colono uma nova saída da Reserva (que é cercada por lotes), quando
alocou um dos burros principalmente para a escola (transporte de merenda escolar)
e quando trocou de líder sem ajuda externa.
Entre os resultados indiretos, um bastante marcante foi o aumento da
“capacidade de sonhar” da comunidade. No segundo planejamento, todos tinham
sonhos muito mais ambiciosos que no primeiro, mostrando que a comunidade
ampliou os horizontes do que achava possível ser atingido. Essa evolução mostra
como, no desenvolvimento, o resgate do potencial das pessoas é também o resgate
de sua dignidade e poder, refletidos em seus sonhos de futuro.
No Rio Cautário, o Plano foi finalizado em junho de 1997 (ver Tabela 7). A sua
implantação, porém, começou com dificuldades. Primeiramente, as comunidades
falharam ao implantar a construção dos postos de saúde provisórios, que foi
planejada de maneira ambiciosa demais, com a necessidade de vários materiais não
disponíveis na Reserva. Na primeira visita de monitoria, no final de julho, voltaram a
ser estimulados a cumprir o planejado, sendo que parte dos planos foram
59
capacitação das pessoas para realizá-las). Outra possível razão, relacionada com a
organização local, é que vários moradores tinham a expectativa de que o Plano era
mais um projeto que faria as coisas por eles, ao invés de organizá-los para fazer por
si mesmos (isso também ocorreu em Aquariquara, mas em uma intensidade muito
menor).
Entretanto, o próprio processo de planejamento no Cautário, embora menos
cansativo e mais estimulante, teve problemas chaves: 1) o retorno das informações
através da audição das fitas do Programa Rádio Cautário (baseado no diagnóstico
da Reserva), não foi suficiente para provocar uma boa negociação de conflitos; 2) a
priorização de problemas não foi suficiente para a escolha de poucos problemas
sobre os quais a comunidade pudesse realmente agir, pois todas as quatro áreas do
desenvolvimento (renda, proteção, saúde e educação, mais o fortalecimento das
mulheres), foram alvo da ação da comunidade, deixando o planejamento complexo e
com ações acima da capacidade de execução da comunidade; e 3) o planejamento
dos projetos em subgrupos muitas vezes permitiu que a comunidade colocasse
metas muito difíceis e que dependiam de recursos ou ajuda externa para serem
atingidas. Todos esses problemas foram resultado da suposição, por parte da
equipe, de que a comunidade do Cautário era de algum modo já bastante
organizada e com grande conhecimento de seus problemas, e de que a Associação
era mais organizada do realmente era. Além disso, considerava-se que a
comunidade deveria ter a liberdade de colocar planos ambiciosos e errar. Seria,
entretanto, mais apropriado orientar a comunidade com uma boa dose de realismo e
cuidado quando ela está propondo metas.
Por outro lado, em Aquariquara, supúnhamos (corretamente) que a
comunidade tinha pouca experiência organizativa e que deveria ter planos bem
simples. Assim, o planejamento foi orientado para a escolha de três áreas de
desenvolvimento mais importantes, sobre as quais se agiria primeiro. Foi um
processo longo e cansativo, primeiro de apresentação do diagnóstico; depois, de
priorização das áreas e planejamento de projetos simples, sem perspectivas de
recursos externos e que dependiam mais dos moradores que da Associação. Isso
gerou um conjunto de metas simples, que puderam logo ser alcançadas, gerando
auto-confiança e um resgate do senso de compromisso com metas assumidas.
Finalmente, a maior proximidade da Reserva Aquariquara de nossa base em
Porto Velho, e o fato de ter sido a primeira reserva (e por isso ter recebido atenção
exclusiva da equipe durante alguns meses) foram fatores que favoreceram um maior
número de visitas, maior estímulo aos moradores e, assim, maior envolvimento da
comunidade.
Entretanto, se os projetos das duas reservas tiveram diferenças quanto ao
seu sucesso de implantação, a maior parte das estratégias geradas reflete em alto
61
5) Lições Aprendidas:
O processo de elaboração e implantação dos Planos de Desenvolvimento de
Aquariquara e Rio Cautário resultou no aprendizado de uma série de lições por
nossa equipe:
Diagnóstico:
A partir da lista de informações necessárias, é importante definir como serão
coletadas (através de entrevistas, jogos etc.), antes de ir a campo;
A definição de perfis de informantes especializados23 facilita a sua localização;
Caso haja recursos, é aconselhável fazer uma visita prévia à comunidade. No
caso das Reservas Aquariquara e do Rio Cautário, substituímos a visita prévia
por conversas com pessoas que conhecem bem a área;
Para garantir a participação suficiente de pessoas da comunidade dentro da
equipe (mais de 1/3) é importante viabilizar recursos para compensar a
participação dos membros da comunidade na equipe (para eles, dia sem
trabalhar em suas atividades é dia sem renda; para quem já vive no limite, essa
compensação pode ser essencial para viabilizar sua participação sem prejuízos à
família);24
23
Ver nos Anexos.
24
Entretanto, deve-se tomar o cuidado para que a remuneração não seja excessiva, em
relação a outras atividades, para não criar vícios, e evitar o paternalismo e a participação
de pessoas sem real interesse no bem da comunidade. Sempre é bom manter uma certa
dose de doação ou sacrifício individual para o bem da comunidade.
62
Planejamento:
Áreas como transporte, comunicação e organização são áreas-meio para
melhorar as áreas-fim, isto é, aumento da renda, saúde, educação, lazer e
proteção da reserva. Para incluir os interesses das mulheres tanto como os dos
homens, convém incluir um planejamento específico para as mulheres;
Áreas do desenvolvimento que têm características específicas por comunidades,
devem ter planejamentos específicos por comunidade;
Os projetos não devem obrigatoriamente ser elaborados para cada área do
desenvolvimento, pois a comunidade não deve assumir tarefas acima de sua
capacidade;
As primeiras atividades dos projetos devem ser feitas com recursos da própria
comunidade para aumentar a autonomia no seu desenvolvimento.
Geral:
Para elaborar um plano são necessárias de duas a três visitas. Três ajuda a criar
maior intimidade com a reserva;
63
A época das visitas deve ser bem estudada para não coincidir com outras
reuniões, atividades comunitárias ou épocas de muito trabalho;
Quando uma equipe de fora trabalha na capacitação de pessoal local, os
técnicos locais podem ficar um pouco resistentes ao método, e desenvolver uma
postura de sabe-tudo em relação à comunidade ou de “esse-trabalho-não-é-meu”
em relação ao plano. Isso tenderia a diminuir e poderia ser bastante reduzido
caso o plano fosse uma solicitação da comunidade ao técnico, e não uma
proposta de fora, que o técnico passa a fazer parte;
É difícil garantir uma equipe multidisciplinar. O máximo que conseguimos foi a
participação de técnicos na área de Ciências Agrárias ou Florestais com
formação e interesses ecléticos.
Na falta de uma equipe multidisciplinar, entre o diagnóstico e o planejamento,
realizamos reuniões temáticas com profissionais que vêm trabalhando nas áreas
de Educação, Saúde, Aumento da Renda e Proteção da Reserva. Essas
reuniões foram importantes para possibilitar um melhor planejamento, mas não
foram suficientes para garantir a multidisciplinariedade necessária. Seria bom
envolver os técnicos/especialistas de diversas áreas desde a formulação dos
dados necessários e na listagem de técnicas de pesquisa/diagnóstico para
coletar os dados;
Os jogos (ferramentas) empolgam a comunidade mas podem deixar técnicos,
formados dentro do padrão científico da Universidade, com dúvidas em relação à
validade do método. Isso tende a diminuir com o trabalho de sistematização, feito
de maneira séria e sistemática;
Para incluir as mulheres nas reuniões, deve-se providenciar o preparo da comida
antes e arranjar algum esquema que ocupe as crianças;
Desenvolvimento é uma arte. Somente o processo contínuo pode levar ao
empoderamento das comunidades. Mais do que métodos, é preciso
sensibilidade, fé obstinada no potencial das comunidades, paciência e
simplicidade;
De nada adianta elaborar um plano se nenhum acompanhamento será dado à
sua implementação. Mais um plano de gaveta é o que as comunidades não
precisam! Em vez de ser benéfico, pode desmobilizar a comunidade e dificultar
trabalhos mais conseqüentes no futuro. Nossa experiência tem demonstrado
que, quando há acompanhamento e envolvimento imediato nas ações, as
comunidades crescem rapidamente e os ganhos podem ser mais permanentes;
É importante divulgar o plano junto a todas as instituições que apoiam os
extrativistas, para subsidiar suas ações;
64
25
Isso pode gerar certo desconforto e malentendidos entre a comunidade ou equipe do
plano e as organizações de apoio, e precisa ser negociado. Junto à comunidade, deve ser
enfatizada a importância das organizações de apoio, no passado, no presente e no futuro.
Junto às organizações, deve-se enfatizar o valor que esse sentimento de conquista tem
para a comunidade. Além disso, no futuro, o apoio recebido pelas comunidades deverá
ser melhor aproveitado e mais reconhecido.
65
Diagnóstico:
No diagnóstico, são feitas entrevistas com homens e mulheres, e quando
possível, com as crianças. São respeitados os espaços definidos por gênero. Se
para as mulheres extrativistas a cozinha é um espaço apropriado, lá são
desenvolvidas as entrevistas e outras atividades.
Nas reuniões gerais, todos são convidados, mas a presença e a participação
dos homens é maior. Isso ocorre devido ao nível de organização dos homens e à
falta de costume de participação das mulheres nas decisões comunitárias.
Entretanto, devido às reuniões exclusivas com mulheres e às entrevistas
domiciliares (em que as mulheres foram entrevistadas por mulheres, em seus
espaços típicos na colocação), algumas entrevistadas relataram que o diagnóstico
foi a primeira oportunidade de elas serem ouvidas.
No diagnóstico, é feita uma análise de gênero simplificada, que tem sido uma
importante ferramenta para tornar visível o papel e a função de cada um dentro da
67
Implantação:
Na implantação, estratégia utilizada é a organização de grupos de mulheres
para a realização de um objetivo específico. O grupo funciona como um espaço
educativo de exercício de decisão, de desinibição e de auto-gestão. O grupo de
mulheres é uma unidade de organização, dentro da organização da comunidade.
Não é desvinculado do contexto comunitário, e aos poucos se insere nos espaços
de decisão.
Nas reuniões, além da troca de idéias ou dos treinamentos específicos, são
realizadas atividades práticas e manuais, como o tricô, a pintura em tecido e a
manufatura de sabão. As atividades práticas dão um resultado concreto ao encontro,
relaxam e aumentam a identificação enquanto grupo.
No grupo valoriza-se a troca de experiências, os recursos naturais locais e o
conhecimento popular como fontes de melhoria de vida para as mulheres e para
toda a família extrativista.
Em Aquariquara, o trabalho iniciou-se em uma das comunidades através do
grupo de mulheres para pintura em tecido. A outra comunidade, com o
conhecimento do trabalho realizado, se interessou na formação de um grupo.
Entretanto, atividades de lazer, como pintura, foram fracas para manter um grupo
unido. Foi necessário um objetivo consistente.
O próximo passo, foi uma atividade de formação, com a realização de uma
oficina sobre organização comunitária e relações de gênero. Os temas foram
trabalhados através de dinâmicas, músicas e reflexões. Após essa oficina, formou-
se o grupo de remédios caseiros em uma das comunidades. Ele funciona de
maneira autônoma, se encontra quinzenalmente, e uma das moradoras é a
"monitora" do grupo.
Na avaliação de seis meses do Plano de Desenvolvimento de Aquariquara,
com a elaboração de novos projetos, foi feito um planejamento específico com a
mulheres. Foi priorizado o aumento da renda e a estratégia utilizada foi a produção e
comercialização de farinha de babaçu. Como é um produto ainda pouco conhecido
no município, as mulheres realizaram o "dia do babaçu", com a distribuição de bolos
e mingaus em um supermercado local. O grupo continua comercializando e a
expectativa é que o trabalho se expanda. Para algumas famílias, estima-se que a
farinha correspondeu a um aumento de 10% na renda familiar, naquele período.
Entre os resultados, destaca-se o aumento da participação das mulheres nas
decisões das comunidades de Aquariquara. No decorrer do trabalho, aumentou o
número de mulheres sócias da Associação e algumas mulheres se candidataram
para cargos comunitários.
Na Resex do Rio Cautário, foi priorizada a melhoria da saúde e a estratégia
utilizada foi a formação de monitoras de saúde da mulher. Foram realizados três
treinamentos, incluindo os temas: saúde da mulher e da criança, formas de
diagnosticar doenças, verminoses, remédios caseiros e plantas medicinais. Nos
treinamentos houve um espaço específico para o crochê, uma atividade lúdica, que
relaxa e aumenta a identificação entre as mulheres. Atualmente, cada comunidade
69
conta com uma farmácia básica de plantas medicinais e com mulheres aptas a fazer
o exame pré-natal.
Fortalecer as mulheres no contexto dos planos de desenvolvimento tem sido uma
experiência rica e recompensadora. As mulheres respondem rápido ao trabalho de
organização, têm alto compromisso com as metas estabelecidas e estão mais
dispostas a inovar na busca de alternativas para a melhoria da renda familiar. O
trabalho mais concentrado sobre poucos objetivos de execução mais simples
favorece o seu sucesso. Entretanto, parece que a falta de uma envolvimento
passado com projetos é também uma vantagem, pois as mulheres têm menos
expectativas em relação a ajuda externa (já que foram menos vitimadas pelo
paternalismo de alguns projetos). Pouco acostumadas a receber as coisas
facilmente, as mulheres tendem a confiar mais em si mesmas ao estabelecer metas
e dividir tarefas. Assim, seu sucesso particular destaca-se na implantação do plano
de desenvolvimento.
70
1) Limites:
Como toda proposta metodológica esta também apresenta limites. A seguir,
apresentamos alguns dos limites identificados:
Objetivo central:
• Elaborar, participativamente, o Plano de Desenvolvimento da Reserva Extrativista Estadual do
Rio Pacaás Novos e realizar a sua implantação inicial.
Resultados esperados:
• Fortalecimento da Associação dos Extrativistas da Reserva do Rio Pacaás Novos – Primavera;
• Aumento da organização e capacitação da comunidade da Reserva na implantação de melhorias;
73
Proponente:
• Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR
Rua Joaquim Nabuco, 1215 – Areal – Porto Velho – RO 78916-420
Tel/fax: 069 224 1368
Representante legal: José Maria dos Santos
Período:
01/02/98 – 30/01/99
Contexto e Justificativa:
A gestão participativa das reservas extrativistas, que inclui a conservação dos seus recursos e
a melhoria da qualidade de vida dos moradores, é baseada em dois instrumentos: o Plano de
Utilização (que define as regras de uso dos recursos) e o Plano de Desenvolvimento (que define
objetivos e estratégias de desenvolvimento, e as ações para a resolução dos problemas prioritários).
Em Rondônia, os primeiros planos de desenvolvimento de reservas extrativistas do Brasil foram
elaborados com o apoio da Cooperação Técnica do PNUD ao Planafloro. Os planos são elaborados
com ampla participação da comunidade no diagnóstico de problemas e no planejamento comunitário.
A partir da percepção, conhecimento e capacidade das comunidades, o planejamento tem gerado
resultados imediatos na melhoria das condições das reservas, capacitando comunidades no melhor
uso de recursos locais (antes não aproveitados). Essa é a primeira fase de implantação. A segunda
fase de implementação do plano pode ser mais ambiciosa e necessitar de recursos externos.
Atualmente, está sendo trabalhada uma estratégia de descentralização da elaboração e implantação
inicial dos planos de desenvolvimento, que serão elaborados diretamente pela OSR ou pelas
associações, buscando mais autonomia para as comunidades.
Este projeto refere-se somente à elaboração e implantação da primeira fase do plano na
Reserva do Rio Pacaás Novos. A metodologia que será empregada é baseada na experiência das duas
primeiras reservas a terem seu plano de desenvolvimento e que, no uso de métodos participativos (por
sua vez baseados no Diagnóstico Rural Participativo – DRP) têm alcançado bons resultados no
fortalecimento das mulheres, educação ambiental, discussão e implantação de alternativas
econômicas e organização comunitária.
A Reserva do Rio Pacaás Novos não tem recebido apoio de projetos, somente algumas
benfeitorias com recursos do Planafloro. Sua comunidade não conta com assessoria, é analfabeta em
sua grande maioria, grande parte das pessoas não têm documentos e, com a crise da borracha, tem
sofrido muito com a falta de alternativas econômicas. São 55 famílias, guardiãs de cerca de 343 mil
hectares de floresta tropical. A Primavera, associação que representa os moradores, foi criada em
30/6/96, e nunca recebeu apoio em infra-estrutura. Isso a coloca em desvantagem em relação a
outras associações, sendo que a implantação do Plano de Desenvolvimento deve envolver também o
fortalecimento institucional da Associação.
74
Custos:
Descrição Solicitado Contrapartida Geral
Equipamentos 3540.00 3600.00 7140
Comunicação 2400.00 2400
Administração 3816.00 1800.00 5616
Material de consumo 600.00 600
Alimentação 1200.00 1200
Combustível 2500.00 2500
Equipe 25060.00 25060
Cursos 2400.00 2400
Total 40316.00 6600.00 46916.00
75
Considerações Finais:
Até o momento, o plano de desenvolvimento tem se mostrado um instrumento
útil e eficiente na promoção do desenvolvimento comunitário. Sua base em métodos
participativos e sua busca pela simplicidade têm resultado em um desenvolvimento
baseado nas pessoas, que resgata sua dignidade, auto-respeito e sensação de
poder. O poder de mudar sua própria realidade. Os resultados apresentados até o
momento demonstram o valor da metodologia utilizada, o seu caráter mobilizador e
de empoderamento das comunidades, trazendo maior autonomia para o seu
desenvolvimento. O plano de desenvolvimento, acima de tudo, é um compromisso
dos moradores com o seu futuro.
Esta proposta mostra a importância da inclusão da perspectiva de gênero no
planejamento do desenvolvimento, da utilização de métodos participativos com
populações tradicionais e da sua aplicação sistemática. São inúmeras as lições, mas
a mais importante é a de que a comunidade pode melhorar sua condição, que
através do plano é resgatada a fé em seu futuro e em sua capacidade, e aumenta-se
o reconhecimento da comunidade por parte da sociedade.
Entretanto, esses resultados são iniciais, e sua consolidação depende de
acompanhamento e, ao mesmo tempo, de uma retirada estratégica (mudança de
função) dos promotores/facilitadores iniciais desse processo. Os maiores desafios
no momento são a continuidade dos planos em implantação, a multiplicação das
experiências para outras reservas e a incorporação dos planos de desenvolvimento
pelo movimento extrativista.
A continuidade da implantação vai depender dos técnicos que assessoram as
reservas realmente incorporarem o plano em suas atividades e da viabilização de
recursos financeiros para a implantação (o que depende da aprovação dos projetos
que estão sendo enviados às fontes financiadoras). Entretanto, muitas vezes isso se
dá de maneira mais lenta que o desejável, seja pela dificuldade dos técnicos
envolvidos darem uma atenção exclusiva aos planos, seja pela lentidão de algumas
agências financiadoras em julgar os projetos e liberar recursos. Os planos devem
começar a serem elaborados somente quando se tem recursos disponíveis para
elaboração e implantação inicial de pelo menos seis meses. Entretanto, seria
aconselhável ter recursos para um período mais longo, já que a elaboração
(redação) de um projeto para garantir a continuidade da implantação do plano,
levando-se em conta as exigências de algumas fontes, pode levar de dois a três
meses, enquanto que o julgamento e liberação de recursos podem levar de seis
meses a um ano. Garantindo-se recursos para um período inicial mais longo, evitar-
se-iam períodos sem dinheiro e a descontinuidade da implantação do plano.
A multiplicação dessa experiência depende da incorporação, por parte do
movimento extrativista, dos planos de desenvolvimento como parte de suas
estratégias; da continuidade do trabalho da Cooperação Técnica do PNUD ao
76
Literatura Consultada:
Chambers, R. & Guijt, I. DRP: después de cinco años, ¿en qué estamos ahora?
Bosques, Arboles y Comunidades Rurales, 26, dez 1995. pp. 4-15.
Roteiro para criação e legalização das reservas extrativistas. In: UICN. Reservas
Extrativistas. Editores: Julio Ruiz Murrieta e Manuel Pinzón Rueda. UICN,
Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido, 1995.
80
Sobre os Autores:
Ronaldo Weigand Jr. é engenheiro agrônomo e vem atuando na Amazônia
desde 1992. Desde a época da graduação na Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz – Esalq, da Universidade de São Paulo, vem atuando no
campo da educação ambiental e no desenvolvimento com conservação. Em
1992, começou a trabalhar como professor de Ecologia na Universidade
Federal do Acre - UFAC, onde também coordenava o Projeto Arboreto, que
envolvia pesquisa e extensão em sistemas agroflorestais. Em 1994, deixou a
UFAC para realizar seu mestrado em Estudos Latino-Americanos, com
concentração em Conservação e Desenvolvimento Tropical, na Universidade
da Flórida, EUA. Em 1996, retornou ao Brasil e começou a atuar como
consultor para o Projeto de Cooperação Técnica do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD ao Plano Agropecuário e Florestal
de Rondônia – Planafloro. Nessa função, vem desenvolvendo trabalhos de
apoio a execução das metas do Planafloro relacionadas às Reservas
Extrativistas, apoiando a Organização dos Seringueiros de Rondônia – OSR
e, principalmente, adaptando métodos participativos para a promoção do
desenvolvimento comunitário, capacitando pessoal e promovendo a
elaboração e implantação dos primeiros planos de desenvolvimento de
reservas extrativistas. Está deixando a Cooperação Técnica PNUD/Planafloro
para seguir estudos de doutorado em Antropologia na Universidade da
Flórida.