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A história de Santos é parte integrante da história do Brasil. Nosso país foi colônia de
Portugal desde 1500, durante 322 anos. Somente a partir de 1822, conseguimos nossa
independência. Com isso, o Brasil tornou-se um país com governo monárquico até 1889, quando foi
proclamada a República.
A capitania de São Vicente, onde estava localizada a vila e atual cidade de Santos, teve
grande desenvolvimento durante o período colonial: os engenhos de cana-de-açúcar e o porto foram
fatores essenciais para esse sucesso.
No período monárquico, Santos foi palco de visitas constantes do imperador, cidade natal
do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, e um poderoso reduto do
movimento abolicionista.
Durante o período Republicano, nossa cidade foi celeiro de grandes homens, sedentos por
liberdade, resistiu a uma intervenção federal e, após anos de luta, retornou ao cenário político do
país com o sindicalismo portuário.
Atualmente, por ter o maior porto da América Latina, Santos tem destaque mundial.
A pré-história de Santos
Homens do sambaqui
O Trecho da Terra da Vera Cruz era habitado pela grande família Tupi-guarani.
Com a ambição de dominar a orla marítima devido à abundância de peixes, moluscos,
crustáceos e sal, os Tupi-guaranis durante vários séculos conseguiram expulsar os habitantes do
litoral, aos quais chamavam Tapuias ("os outros", aqueles que não falam a nossa língua e não têm
os nossos hábitos)
Em 1500, os Tupi-guaranis dominavam grande parte da costa entre o Ceará e Cananéia e
ainda o litoral situado entre Cananéia e a Lagoa dos Patos, para além das notáveis regiões no Sertão.
Nas terras que constituíam a Capitania de São Vicente, havia a leste os Tamoios, também
chamados Tupinanbas. Ao sul e a sudoeste, encontravam-se os carijós; na costa, próximo ao porto
de São Vicente, nos campos de Piratininga e no Vale do Tietê estavam os Tupiniquins.
Os índios viviam em bandos. Eram nômades, por isso a dificuldade em se determinar com
exatidão os pontos onde se fixavam por algum tempo.
Nos tempos da fundação da vila de São Vicente, as mais nobres famílias Tupis dominavam
as terras que Martim Afonso de Souza tomaria em nome do rei de Portugal. Os Tupis eram
formados por diversos grupos indígenas que, em sua maioria, viviam em guerra.
Os Tupi-guaranis caracterizavam-se pela prática de uma horticultura de raízes, embora a
pesca e a caça fossem igualmente muito importantes. De acordo com as condições ecológicas os
Tupi-guaranis optavam pela mandioca e pelo milho.
Além destes alimentos básicos plantavam batata-doce, feijão, cará (inhame), jerimum
(abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares podem realçar-se o tabaco, o
algodão, a purunga (cabaça), jenipapo e urucu (corante).
Devido à maior quantidade de alimentos, a caça era mais a abundante e diversificada nas
proximidades dos rios e lagoas, pelo que nestas zonas mais ricas se caçavam "facilmente" pacas,
veados, caititus, antas, macacos, tamanduás, queixadas, cutias, aves, tatus, répteis, preguiça e
capivaras.
A pesca era a atividade preferida das tribos em termos de tempo e dispêndio de energia em
relação à caça.
A cerâmica permitiu a preparação e conservação dos alimentos; Esta se caracterizava pela
técnica do alisado simples e pela pintura (pintura polícroma com linhas vermelhas e pretas sobre
fundo branco). Eles fabricavam com abundância as grandes igaçabas (potes).
Para o fabrico de jangadas e canoas utilizavam madeiras leves. Para os instrumentos de
guerra nomeadamente os arcos utilizavam o ipê e fabricavam as cordas com fibras vegetais longas
de folhas de tucum. Para as flechas usavam ubá e as pontas eram feitas de taquana, osso ou dentes
de tubarão.
Entre as tribos vigorava a nudez, o corpo era interpretado como uma marca que despertava
uma particular atenção. As pinturas protegiam dos raios solares e das picadas dos insetos, os
corantes mais utilizados eram o jenipapo (era o azul escuro que ao sol ficava preto) e o urucu (que
era vermelho).
O tipo de habitação era a taba ("aldeia") que tinha entre trinta a sessenta famílias nucleares.
As habitações eram construídas com madeira, cipós e folhas de árvore para a cobertura.
A permanência das populações num local era temporária, cerca de três a quatro anos, pois
a sua fixação era condicionada pelas condições de subsistência.
A divisão do trabalho era feita consoante o sexo. Os homens executavam tarefas que
implicavam esforço e as atividades mais arriscadas. Às mulheres competiam os trabalhos
produtivos, domésticos e de apoio nas expedições guerreiras terrestres ou marítimas.
Aqui foram abordados alguns aspectos da vida daquela gente, gente que nasce, vive e morre
na terra, mas sua cultura sobreviveu a séculos de influências e esquecimento.
A chegada dos portugueses em terras brasileiras
O destino da nossa região começou no dia 10 de maio de 1501 quando uma frota de três
caravelas, comandada por Gonçalo Coelho, zarpou de Lisboa em direção ao Brasil. A bordo dos
navios, atuando como cosmógrafo ou como piloto, também estava Américo Vespúcio, a quem se
deve o relato existente dessa viagem.
Por mais de dois meses os navios de Gonçalo Coelho enfrentaram calmarias no Atlântico
mas, durante 10 dias, a frota enfrentou tempestades e turbilhões.
Chegando ao litoral brasileiro as caravelas ancoraram em praia do atual estado do Rio
Grande do Norte, seguindo pelo litoral brasileiro e batizando todos os seus acidentes geográficos.
Em 4 de outubro de 1501, a expedição chegou à foz de um grande rio, que foi batizado de
São Francisco. Deixando o grande rio para trás em fins de outubro, chegou em novembro a uma
baía que chamou de “Todos os Santos”, atual Rio de Janeiro.
Em fins de janeiro de 1502, as caravelas entraram em uma baía ao fundo da qual existia uma
ilha que foi batizada de Cananéia. Nessa estada, Gonçalo Coelho teria abandonado ali um
degradado*, homem chamado Cosme Fernandes que, 25 anos mais tarde, ao ser encontrado pela
expedição de Diego Garcia, passaria a ser conhecido como Bacharel de Cananéia.
Existem várias versões sobre este nome dessa região, a mais coerente afirma que Cananêa
tem sentido histórico e sociológico,
que significa Cananía, do hebraico:
Canaani e Cannania, que significa:
“Lugar dos judeus ou judeu” – de
Cananeu, como eram chamados os
judeus; denominação esta que pode
ter sido dada devido à presença do
Bacharel nessa região, pois o mesmo
era judeu.
Cananéia, localizada no
litoral sul de São Paulo, tornar-se-ia
um dos locais mais importantes do
Brasil na primeira metade do século
XVI, pois o recuo em direção ao
sudoeste do litoral não estava dentro
das possessões da Coroa Portuguesa,
mas sim, dentro da zona pertencente
à Espanha de acordo com
determinações do tratado de
Tordesilhas.
Américo Vespúcio foi
demitido pelo rei português,
deixando Portugal em abril de 1505. Viagem de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio.
Naturalizou-se espanhol e informou
o rei da Espanha, D. Fernando, que o Brasil não era uma ilha, mas parte de um vasto continente que
se estendia desde o golfo de Pária, na Venezuela, até pelo menos Cananéia, no litoral sul do estado
de São Paulo. Assim, em 1508, D. Fernando decidiu enviar uma expedição para averiguar em que
lugar do litoral sul do Brasil passava a linha de Tordesilhas, Cananéia.
Em 1527, Diego Garcia partiu do porto de Palos, na Espanha, e depois de abastecer sua
armada nas ilhas Canárias, seguiu com seus navios para São Vicente, no litoral sul de São Paulo.
Após curto tempo nesse local, conhecido como porto dos Escravos, rumou para Cananéia chegando
ao seu destino no dia 15 de janeiro de 1528.
Nessa região encontrou o Bacharel de Cananéia, o degredado abandonado por Gonçalo
Coelho no início do século, que se tornara uma espécie de rei branco vivendo entre os índios
piquerobi. Era o virtual senhor do litoral sul do Brasil e um dos maiores traficantes de escravos
indígenas dessa localidade.
A conquista do Peru em 1532, por Francisco Pizarro, paralisou toda a atividade exploratória
e colonizadora dos portugueses ( e dos espanhóis) na “ costa do ouro e da prata”, como era
chamado, então, o litoral que vai de Cananéia até a foz do rio da Prata.
Com fracasso das capitanias hereditárias, o Brasil continuou dependendo das ações de
náufragos como Caramuru e de degredados como João Ramalho e o Bacharel de Cananéia. Um
destino obscuro para este território que, por intermédio de sua exploração, desvendou toda América
do Sul.
Benedito Calixto (1921). Reprodução do encontro de Martim Afonso de Souza com João Ramalho e os irmãos
Tibiriçá.
Entre a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500, e a fundação da vila de São
Vicente, em 1532, ocorreram várias expedições que acabaram, por aqui, deixando muitos homens,
sendo eles degredados, desertores ou náufragos.
A Ilha de São Vicente, onde, atualmente, situam-se as cidades de Santos e São Vicente, era
primitivamente chamada de Goiahó ou Gohaió ou Guaio ou Guaiahó. Quanto ao nome atual,
devemos a Américo Vespúcio que, em 1502, aportando seus navios no atual estuário santista , na
altura da Ponta da Praia, chamaram-no Rio de São Vicente.
As controvérsias quanto ao verdadeiro local de atracação de Martim Afonso na nossa região
são muitas e diversos documentos já foram estudados sobre o assunto. Aqueles com maior
veracidade e confiabilidade demonstram que, devido às condições físicas dos atracadouros, o local
onde Martim Afonso aportou com sua nau foi na atual Ponta da Praia, e que, daquele ponto, eram
conduzidos, por terra, ou por pequenas embarcações pessoas e mercadorias, para a vila de São
Vicente. Sendo assim, o porto de São Vicente, nunca foi situado junto à vila, e sim, no estuário de
Santos, pouco para dentro da Ponta da Praia do Embaré. Existia, sim, um segundo “Porto das Naus”
perto da vila de São Vicente, onde embarcações menores deviam aportar. Assim, justifica-se a
existência do “Porto das Naus” de São Vicente.
Em meados de 1510, o Bacharel de Cananéia, já caracterizado anteriormente, fundou à
margem do rio de São Vicente ( o atual estuário santista), o porto do mesmo nome, identificados
em mapas de navegantes que por aqui passaram. Esse “Porto de São Vicente” desenvolveu-se
como o povoado do outro extremo, da vila de São Vicente, tornando-se o porto mais freqüentado do
litoral brasileiro.
Ao aportar na ilha de São Vicente, em 1532, Martim Afonso, tratou de familiarizar-se com
os portugueses que já habitavam a região, sendo recebido por João Ramalho e Antônio Rodrigues.
Santos
Uma nova visão
da velha história
SANTOS - 2003
Bibliografia
Obs. As fotografias e imagens utilizadas na elaboração da apostila também fazem parte dos livros
adotados para a pesquisa.