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ELETRÔNICA INDUSTRIAL

2007.2 - Noite

Notas de aula: Sistemas Trifásicos e Correção de Fator de Potência


Professor: Osglay Izídio

Estas notas de aula, relativas aos sistemas trifásicos e correção de fator de potência, são um
complemento do conteúdo apresentado em sala e não devem ser utilizadas isoladamente como
referência para estudos para nossas avaliações

1 - Geração de Energia em Corrente Alternada

O fenômeno da indução eletromagnética ocorre quando um condutor se encontra mergulhado


em um campo magnético variável. Um gerador transforma energia mecânica em energia elétrica
através do movimento relativo entre um campo magnético e uma bobina, também denominada de
induzido. A energia da fonte primária é fornecida por uma turbina acoplada ao eixo do gerador. A
energia primária pode ser a queda d’água, vapor sob pressão e queima de gás. A figura 1 ilustra o
modelo de um gerador trifásico, onde o campo é obtido por um enrolamento alimentado com
corrente contínua. As bobinas aa’, bb’, e cc’ representam as bobinas das três fases, as quais estão
distribuídas geometricamente ao longo da circunferência da armadura, com um espaçamento de 120
graus entre elas. De acordo com a lei da indução eletromagnética, Lei de Faraday, haverá tensão
induzida somente quando houver variação de fluxo magnético, conforme a equação 1.

Ein = N dφ/dt (1)


Onde:
Ein – força eletromotriz induzida (tensão)
N – número de espiras da bobina
φ – fluxo magnético
O valor instantâneo da tensão induzida também depende da quantidade de linhas de campo
que atravessam a bobina, de forma que essa tensão descreve uma função temporal senoidal, como
representada na figura 2. Considerando as três fases, e a fase a como referência, o máximo da tensão
da fase b ocorrerá 120 graus depois do máximo da fase a e 240 graus para a fase c, como
representado na figura 3.
Sendo a máquina trifásica, e o que se deseja transmitir é a diferença de potencial gerada até o
ponto de consumo, não há necessidade de ser levar os seis terminais do gerador até a carga. Os
geradores são conectados de forma que a energia gerada possa ser transmitida por três ou quatro
fios. Dessa forma, os terminais a’, b’ e c’, são curto-circuitados de forma que a diferença de
potencial entre eles se neutraliza, formando o que denominamos terminal neutro ou simplesmente
neutro. Dessa forma, um sistema trifásico passa a ser transmitido com 4 fios, sendo três condutores
fase e um condutor neutro.

c’
a’
S

c
N
neutro

b’ b

Figura 1 – Modelo elementar de um gerador trifásico


200
150
100
50
0
-50 0 180 360

-100
-150
-200

Figura 2 – Forma de onda da força eletromotriz induzida

200 Van’ Vbn’ Vcn’

150
100
50
0
-50 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360

-100
-150
-200

Figura 3 – Representação das três tensões de um sistema trifásico

Como apresentado acima, o gerador trifásico elementar apresenta 6 terminais, que são as
pontas das bobinas. Ao se conectar os terminais a’, b’, e c’ para formar o neutro, é constituído um
tipo de ligação denominada conexão estrela. Para efeito de simplificação, pode-se representar esta
conexão de acordo com a figura 4, onde se percebe que obtemos 6 tensões, quais sejam:

Tensão entre a fase a e o neutro;


Tensão entre a fase b e o neutro;
Tensão entre a fase c e o neutro;
Tensão entre a fase a e fase b
Tensão entre a fase b e fase c
Tensão entre a fase c e fase a

b
c

c’ b’
a’
neutro

Figura 4 – Representação conexão estrela

As tensões entre a fase e o neutro são denominadas tensões de fase, sendo iguais em módulo
para as três fases. Aqui denotaremos por VF . As tensões entre duas das três fases são denominadas
de tensões de linha, aqui denotadas or VL. De qualquer forma torna-se mais fácil compreender as
diferenças entre as tensões de fase e de linha através de uma representação vetorial ou fasorial.
2 - Representação vetorial

Considere a figura 5, onde os vetores Van, Vbn e Vcn são os módulos das tensões induzidas
nas fases a,b e c, respectivamente. A diferença de potencial entre as fases é dada pelas somas
vetoriais de acordo com:
____ ___ ___
VAB = Van - Vbn
____ ___ ___
VBC = Vbn - Vcn
____ ___ ___
VCA = Vcn - Van

VBC
Vbn

120o

120o

Vcn
120o
Van

Figura 5 – Composição vetorial da tensão VBC


Para as demais fases, o diagrama vetorial resulta como representado pela figura 6.

VBC
Vbn

120o

VCA

120o

Vcn
120o
Van

VAB

Figura 6 – Composição vetorial das três tensões de linha

VAB2 = Van2 + Vbn2 + 2. Van . Vbn cosα


VAB2 = Van2 + Vbn2 + 2. Van . Vbn cos 60
VL2 = VF2 + VF2 + 2VF . VF . 0,5
VL2 = 3 . VF2
VL = 1,73 VF

Ex: Seja um sistema onde a tensão de linha vale 220 Volts. Determine a tensão de fase.

Solução: VF = VL /1,73 = 220 / 1,73 = 127 Volts.


3 - Tipos de Cargas em Sistemas de Corrente Alternada

Existem três tipos de cargas nos sistemas de corrente alternada, as resistivas, as indutivas e as
capacitivas. As capacitivas não realizam trabalho e são utilizadas normalmente como filtros, como
elementos auxiliares de partida de motores monofásicos e como compensadores de reações
indutivas.

3.1 - Carga resistiva

Uma carga resistiva funciona como um dissipador de energia, consumindo toda a energia
fornecida pela rede elétrica. A potência fornecida pela rede é dada pelo produto da tensão e da
corrente, denominada potência aparente, dada por:

S = V. I

Onde:
S – potência aparente [kVA]
V – tensão [V]
I – corrente [A]

De acordo com a Lei de Ohm, a carga resistiva, funciona como um limitador de corrente, não
provocando qualquer outro tipo de reação, ou seja,

I = V/R
em que
I – corrente [A]
V – tensão [V]
R – resistência em [Ω]
Graficamente, pode-se observar que a corrente em uma carga puramente resistiva se mantém em
fase com a tensão aplicada em seus terminais, como apresentado na figura 6.

200
150
100
50
0
-50 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360

-100
-150
Ir V
-200

Figura 6 - Representação gráfica e fasorial da tensão e da corrente


para uma carga puramente resistiva

A potência útil dissipada por uma carga resistiva é dada pelo valor médio do produto da
tensão e da corrente, ou seja, o valor médio da potência aparente. Graficamente, se observa na figura
7 que toda a potência fornecida pela fonte é dissipada na forma de calor, ou em outras palavras, a
área sob a curva do produto tensão corrente é positiva, indicando que a carga está consumindo
energia.

1000
800
600
400
200
0
-200 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360
-400
-600
-800
-1000

Figura 7 – Representação gráfica da potência dissipada pela


carga resistiva
3.2 - Carga Indutiva

As cargas indutivas são aquelas que na presença de tensão alternada armazenam energia sob
a forma de campo eletromagnético, como é o caso de reatores e motores, dentre outras. A carga
puramente indutiva produz uma reação na corrente elétrica como limitação de seu valor e ainda
provoca um atraso de 90 graus em relação à tensão induzida em seus terminais. Essa reação é
denominada reatância indutiva, representada de acordo com a equação 3.

XL = 2 πf L (3)
Onde:
XL – reatância indutiva [Ω]
F – frequência da tensão da rede [V]
L – indutância [Henry]

A figura 8 apresenta graficamente o defasamento angular entre a corrente e a tensão para


uma carga puramente indutiva.

200
150
100
50
IL
0
-50 0 45 90 135 180 225 270 315 360

-100
-150 V
-200

Figura 8 – Representação gráfica e fasorial da tensão e da corrente


para uma carga puramente indutiva
Uma carga puramente indutiva não realiza trabalho, ou seja, durante meio ciclo da tensão da
fonte, o indutor armazena energia sob a forma de campo eletromagnético e durante o segundo meio
ciclo da tensão ele devolve a energia para a fonte, o que pode ser melhor compreendido ao se
observar a figura 9.

1000
800
600
400
200
0
-200 0 45 90 135 180 225 270 315 360
-400
-600
-800
-1000

Figura 9 – Representação gráfica da potência dissipada pela


carga indutiva

3.3 - Carga Capacitiva

As cargas capacitivas são aquelas que na presença de tensão alternada armazenam energia
sob a forma de campo elétrico, como é o caso de condensadores, filtros, dentre outras. A carga
puramente capacitiva produz uma reação na corrente elétrica como limitação de seu valor e ainda
provoca um atraso de 90 graus na tensão em relação a corrente. Essa reação é denominada reatância
capacitiva, representada de acordo com a equação 4.

XC = 1/2 πf L (4)
Onde:
XC – reatância capacitiva [Ω]
F – freqüência da tensão da rede [V]
C – capacitância [Faraday]
A figura 10 apresenta graficamente o defasamento angular entre a tensão e a corrente para
uma carga puramente capacitiva.

200
150
100
50
0
V
-50 0 45 90 135 180 225 270 315 360
IC
-100
-150
-200

Figura 10 – Representação gráfica e fasorial da tensão e da corrente


para uma carga puramente capacitiva

Uma carga puramente capacitiva não realiza trabalho, ou seja, durante meio ciclo da tensão
da fonte, o capacitor armazena energia sob a forma de campo elétrico e durante o segundo meio
ciclo da tensão ele devolve a energia para a fonte, o que pode ser melhor compreendido ao se
observar a figura 11.

1000
800
600
400
200
0
-200 0 45 90 135 180 225 270 315 360
-400
-600
-800
-1000

Figura 11 – Representação gráfica da potência dissipada pela


carga capacitiva
3.4 - Circuitos RL

Em termos de potência, o sistema elétrico ou a fonte de energia enxerga as cargas como uma
composição de cargas resistivas, indutivas e capacitivas. Observando o circuito representado pela
figura 12, nota-se que a corrente I, drenada da fonte, é a composição das correntes IR, IL . Entretanto,
essa composição não é algébrica, pois existe um defasamento de 90 graus entre IR e IL .

I
IR IL

R L
V

Figura 12 – Circuito RL em paralelo

Em termos de composição vetorial, observa-se que haverá um ângulo de defasamento entre a


corrente I e a tensão menor do que 90 graus, ou seja ângulo ϕ, que irá depender dos valores da
resistência e da reatância indutiva. A figura 13 representa essa operação.

IL
I

IR V

Figura 13 – Representação das correntes para o


circuito RL em paralelo

Em termos de potência, parte da potência aparente fornecida pela rede, será transformada em
trabalho pela resistência e parte será armazenada durante meio ciclo no campo eletromagnético
devido à reatância indutiva. Essa energia, conforme visto anteriormente ocupa a linha da
concessionária, porém não realiza trabalho, o que não é interessante para a concessionária de
energia, tampouco para o consumidor. A potência pode ser representada através do triângulo de
potência, constituído pela potência ativa (P), potência reativa (QL) e potência aparente (S), como
representado na figura 14.

S [kVA]
QL [kVAR]
ϕ

P [kW]

Figura 14 – Triângulo de potência para carga RL

Note-se que o coseno do ângulo ϕ é, em realidade uma relação entre a potência ativa P e a
potência aparente S, por essa razão ele é um parâmetro denominado fator de potência. O fator de
potência mostra como um instalação ocupa a linha da concessionária para a realização do trabalho
pelas cargas elétricas. A Agência Nacional de Energia Elétrica, ANEEL, determina que o menor
fator de potência permitido é de 0,92, ou em outras palavras, o defasamento entre a corrente e a
tesão para consumidores industriais é de aproximadamente 23 graus. Caso uma instalação apresente
um fator de potência inferior a 0,92, a concessionária aplica uma multa por baixo fator de potência.
Para se evitar essa multa é necessário proceder a correção do fator de potência, o que pode ser
conseguido através da instalação de banco de capacitores em paralelo com as cargas.

3.5 – Circuito RLC

Ao se instalar capacitores em um circuito RL, o comportamento da corrente se altera, pois a


fonte passa a enxergar uma impedância que é o somatório dos efeitos provocados pela resistência,
pela reatância indutiva, pela reatância capacitiva.
Considerando o circuito da figura 15, onde se instalou um capacitor em paralelo com a carga,
nota-se que a corrente I’, agora, é a composição das correntes IR, IL e , IC. . Entretanto, vale lembrar
que a composição deve ser vetorial e não algébrica.
I’
IR IL IC

R L C
V

Figura 15 – Circuito RLC em paralelo

Em termos de composição vetorial, observa-se que continuará havendo um ângulo de


defasamento entre a corrente I’ e a tensão de ϕ’, que irá depender do valor da capacitância inserida
no circuito. A figura 16 representa essa operação.

IL
I

IL- IC I’
ϕ’

IC IR V

Figura 16 – Representação das correntes para o


circuito RLC em paralelo

Essa operação é denominada correção do fator de potência, que resulta em uma redução da
corrente drenada da fonte, para um mesmo valor do trabalho realizado, ou em outras palavras, a
ligação de capacitores não interfere na potência ativa. Através da redução da corrente, libera-se
capacidade de fornecimento da linha de distribuição de forma que a concessionária possa atender a
outros consumidores sem investimento em novas linhas de alimentação. Do contrário, para se
atender novos consumidores, seria necessário a recapacitação das linhas existentes, através da
substituição dos condutores atuais por condutores de bitolas maiores.
A figura 17 apresenta o novo triângulo de potência após a correção do FP, onde se pode
notar a redução da potência aparente fornecida pela fonte e a importância de se manter um fator de
potência elevado.

S [kVA]
QL [kVAR]
S’ QL – QC
ϕ’

QC [kVAR]
P [kW]

Figura 17 – Triângulo de potência para o


circuito RLC em paralelo

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