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RESENHA: Avaliação na pré- escola: um

Olhar sensível e reflexivo sobre a criança.


HOFFMANN, Jussara. Avaliação na pré- escola: um Olhar sensível e reflexivo
sobre a criança. Porto Alegre: Mediação, 2000.[1]
Ana Cristina de Oliveira[2]

Jussara Maria Lerch Hoffmann é natural do Rio Grande do Sul, da cidade de


Bagé. Fez o curso Normal, foi professora primária e de Língua Portuguesa. Com a
formação em letras pela UFRJ e mestrado em Educação / Avaliação passou a atuar na
Delegacia de Educação/ SEC, na PUCRS atuou como docente em Metodologia do
Ensino Superior e no ano de 1986 foi aprovada por concurso para a Faculdade de
Educação da UFRJ, é conferencista e escritora de muitos livros.
O livro em questão aborda a temática Avaliação na Pré- escola este faz parte de
uma coleção que trata assuntos referentes à temática, sendo o terceiro da série. O livro
se divide em oito capítulos que retratam: a avaliação no contexto da educação infantil,
pressupostos básicos da avaliação, avaliação e desenvolvimento infantil, o espaço
pedagógico versus avaliação mediadora, recortes do cotidiano, um olhar sensível e
reflexivo sobre a criança, pareceres descritivos: uma análise crítica, delineando
relatórios de avaliação, relatórios diários e relatórios gerais: um exercício de reflexão
sobre a ação.
Nestes capítulos a autora traz aspectos da avaliação na educação infantil,
citando fatores como reflexão, registros diários e acima de tudo nos leva a pensar sobre
a avaliação como um acompanhamento e promoção do desenvolvimento, de modo que
os objetivos propostos pelo educador façam a diferença na vida das crianças. A partir
dos estudos apresentados sobre o desenvolvimento infantil, Hoffman utiliza de
pareceres descritivos e encaminha procedimentos que auxiliem na elaboração de
relatórios de avaliação que poderão ser utilizados para a educação infantil e para as
séries iniciais.

CAP.1 AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL


O surgimento dos processos avaliativos, em educação infantil, deve ser
questionado em termos de sua intencionalidade básica. Na verdade, a questão da
avaliação insere-se na discussão histórica, acerca de uma concepção assistencialista ou
educativa para o atendimento às crianças. A exigência de um processo formal de
avaliação parece surgir, mais propriamente, como elemento de pressão das famílias de
classe média por propostas verdadeiramente pedagógicas, para além do modelo de
guarda e proteção do modelo assistencialista. A prática avaliativa, dessa forma, surge
como um elemento de controle sobre a escola e sobre os professores que se vêem com a
tarefa de formalizar e comprovar o trabalho realizado via avaliação das crianças.
Conceber o avaliar implica em conceber a criança que se avalia e essa não é
uma prática neutra ou descontextualizada como procura se caracterizar a avaliação no
ensino regular, onde os professores determinam sentenças sobre os alunos sem perceber
o seu inalienável compromisso com os julgamentos proferidos. É preciso, portanto, re-
significar a avaliação em educação infantil como acompanhamento e oportunização ao
desenvolvimento máximo possível de cada criança, assegurando alguns privilégios
dessa instancia educativa, tais como o não- atrelamento ao controle burocrático do
sistema oficial de ensino em termos de avaliação, e a autonomia em relação à estrutura
curricular.

CAP. II – PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA AVALIAÇÃO


Compreendendo a criança, o professor redimensiona o seu fazer a partir do
mundo infantil descoberto e re-significado. E dessa significação decorre diretamente a
qualidade de sua interação com a criança. È essa a complexidade própria da avaliação
em educação infantil.
Formar educadores infantis é muito mais do que lhes sugerir ou supervisionar
um trabalho junto às crianças. È oferecer-lhes espaço de reflexão e troca de experiências
e suscitar-lhes autonomia e iniciativa, principalmente no que se refere à avaliação.
O tema avaliação é por demais complexos justamente, porque é diretamente
depende da observação das crianças em sua exploração permanente do mundo e da
aproximação dos educadores com a realidade sócio-cultural dessas crianças, à luz de
suas próprias representações e sentimentos. Não se pode conceber a avaliação como um
jogo de regras uniformes e definidas, à luz de parâmetros fixos, controladores, pois ela
encerra a dinâmica da interação e a própria dialética do conhecimento, com suas
continuidades e descontinuidades.

CAP. III- AVALIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL


A busca de significado pela avaliação requer o estudo das concepções de
educação infantil, das teorias de desenvolvimento e das abordagens do processo
educativo que elas se originam. O tema da avaliação insere-e gradativamente nessa
discussão, buscando-se a contestação de práticas descontextualizadas da realidade da
criança, de práticas assistencialistas ou compensatórias que se revelam nos processos
avaliativos.
Estudos e pesquisas invalidam as funções assistencialistas e compensatório da
creche e pré-escola. A concepção construtivista-interacionalista de conhecimento
provoca outro olhar sobre o desenvolvimento infantil e conseqüentemente sobre
posturas pedagógicas e avaliativas. Segundo Piaget, a criança constrói o conhecimento
na sua interação com o objeto, (...) os fenômenos físicos em geral. O que quer dizer que
existe um sujeito ativo desde o nascimento, com estruturas orgânicas que impulsionam à
ação, mas cujo desenvolvimento depende radicalmente dessa mesma ação.
Como séria conseqüência de certos procedimentos avaliativos, chega-se as
famílias em termos do alcance pela criança de maior número de itens assinalados, ao
treinamento de crianças por pais e professores para o alcance de “habilidades” ao final
dos semestres, à retenção de alunos em certos níveis da pré-escola pelo não alcance de
questionáveis aspectos como procurei exemplificar.

CAP. V- O ESPAÇO PEDAGÓGICO VERSUS AVALIAÇÃO MEDIADORA


Para que a avaliação se efetive como mediação, com sentido significativo das
ações cotidianas e pensamentos das crianças. Um processo avaliativo mediador não
entra em sintonia com um planejamento rígido de atividades por um professor, com
rotinas flexíveis, com temas previamente definidos para unidades de estudo, onde os
conhecimentos construídos pelas crianças não são levados em conta.
A ação avaliativa mediadora também não se efetiva num espaço pedagógico
improvisado. As atendentes de creche assistencialistas, onde se realizam os estágios,
pouco tem a nos dizer sobre as crianças além de algumas atitudes ou hábitos de dormir,
comer etc. Sem propor nenhum trabalho às crianças a cada momento.
Atrelados com a visão comportamentalista, objetivos enunciados pelos
professores referem-se à capacidade a serem atingidas pelas crianças nos domínios
afetivo, cognitivo e psicomotor, aos quais me referi anteriormente. Na verdade o
abandono de educação infantil em termos de políticas de educação concorre para tornar
caótico esse panorama, onde se percebe a completa ausência de fundamentos que
norteiam a constituição dos currículos.
È urgente repensar esse espaço pedagógico bem como a definição dos
objetivos educacionais, uma vez que a finalidade da educação infantil é o
acompanhamento sério e reflexivo do desenvolvimento global de uma criança,
estendendo-se dos cuidados que ela necessita à natureza do seu ser racional, conhecido,
desde recém nascido.

CAP. V- RECORTES DO COTIDIANO.


Ao se perceber tais fundamentos essenciais ao delineamento de uma proposta
pedagógica, torna-se necessário, assim, analisar os componentes curriculares que se
articulam para compor o planejamento do cotidiano em educação infantil.
Historicamente, o planejamento na pré- escola organiza-se em unidades
temáticas o que reproduz, de certa forma a organização curricular em disciplinas do
ensino regular. O planejamento desenvolvido através de projetos pedagógicos, em
educação infantil, tem por fundamento uma aprendizagem significativa para as crianças
A ação avaliativa mediadora implica em projetar o futuro a partir de recortes
do cotidiano, em delinear a continuidade da ação pedagógica, respeitando a criança em
seu desenvolvimento, em sua espontaneidade na descoberta de mundo oferecendo-lhe
um ambiente de afeto e segurança para suas tentativas.

CAP. VI – UM OLHAR SENSÍVEL E REFLEXIVO SOBRE A CRIANÇA


Como provocar o professor a um olhar sensível e reflexivo sobre a criança que
gere uma verdadeira aproximação entre ambos, que o leve a ser ainda mais curioso
sobre as ações e os pensamentos dela?Percebe-se, no processo avaliativo, que difícil é
para o professor dar-se conta de suas próprias concepções de vida.
O conhecimento de uma criança é construído lentamente, pela sua própria ação
e por suas próprias ações e por suas próprias idéias que se desenvolvem numa direção:
para maior concorrência, maior riqueza e maior precisão. È preciso que o processo
avaliativo supere o individualismo e gere a cooperação entre os elementos da ação
educativa. A cooperação envolve o exercício da descontração, a coordenação da
diversidade de pontos de vista para se ampliar o entendimento sobre a formação infantil.
Na tentativa de realizar uma síntese organizada das considerações feitas,
aponto três princípios norteadores da avaliação mediadora que fundamentam a
elaboração de registros de avaliação: principio de investigação docente, princípios de
provisoriedade dos juízos estabelecidos e princípios de complementaridade.

CAP.VII PARECERES DESCRITIVOS: UMA ANÁLISE CRÍTICA.


A falta de preparação dos professores para enunciar e redigir pareceres sobre o
desenvolvimento infantil, a ausência de uma proposta pedagógica das instituições e que
acaba por se retratar nessa forma de registro, ou a falta de acompanhamento consistente
das crianças pelos professores que acabam por incorrer em certos absurdos registrados
sobre elas. Hoffmann menciona alguns equívocos na elaboração dos registros
avaliativos.
A complexidade que envolve a avaliação do desenvolvimento infantil exige
registros descritivos e reflexivos que ultrapassem em muito uma prática de “avaliação
por cruzinhas” ou preenchimento de formulários padronizados. E essa é uma
consideração que se aplica a todos as instancias da educação. O que se deve garantir em
educação é o respeito às diferenças de cada um. E esse respeito às diferenças exige uma
permanente observação e reflexão do processo individual de construção do
conhecimento.

CAP. VIII- DELINEANDO RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO


O registro da história da criança, no processo avaliativo, não pode significar
apenas memória como função bancária, ou seja, há que se pensar no significado desse
registro para além da coleta de dados e informações. Por outro lado em avaliação como
nos basearmos apenas na memória, porque ela é muitas vezes falha.

CAP. VIIII- RELATÓRIOS DIARIOS E RELATÓRIOS GERAIS: UM


EXERCÍCIO DE REFLEXÃO SOBRE A AÇÃO
A avaliação, enquanto mediação insere-se no processo educativo como um
instrumento de reflexão, que auxilie o professor a tomar consciência de mudanças a
operar em sua ação, a comprovar e/ ou refutar hipóteses sobre processos vividos pelas
crianças. Percebe-se no dia a dia do professor de educação infantil, o risco das rotinas,
das ações improvisadas e/ ou não refletidas em termos do seu significado educativo para
as crianças.
Os relatórios diários tem sido uma pratica das estagiarias do Curso de
pedagogia, os relatórios evidenciam, em sua seqüência e evolução, que está em jogo um
processo de mudança conceitual das estagiarias, para o qual o suporte teórico e a relação
dessa prática como essencial.
Os relatórios gerais, por sua vez, consistem em relatos globalizantes do trabalho
pedagógico desenvolvido pelo professor, numa turma de crianças, ao longo de um
semestre letivo.
Minhas considerações sobre o livro.
A avaliação necessita ser uma prática multidimensional, e os educadores
devem perceber que o ato de avaliar envolve aspectos importantes, dentre eles é válido
destacar que saber valorizar as pessoas e compreendê-las, torna-se uma necessidade
desse modo, é importante construir um envolvimento bem como o reconhecimento de
que é primordial conhecer a criança e suas especificidades, para que a educação seja
transformadora.
Considerei importante quando a autora destacou os pressupostos da avaliação,
dizendo que a mesma deve servir para investigação, e jamais para estabelecer sentenças.
A realidade é que muitos educadores não sabem avaliar, utilizam de testes e medidas
apenas para aferir um escore aos alunos, desse modo, acontecem equívocos e o processo
avaliativo acaba estando cada dia mais perto de números, não apresentando uma
precisão nos resultados, entretanto, a avaliação deve ser um processo que proporcione
um diálogo entre educador e educando.
Foi importante a analogia proposta pela autora quando faz menção da
importância da prática pedagógica, esta que deve existir na educação infantil, pois
sempre servirão de base de sustentação para a avaliação, assim, os educadores poderão
recorrer a Teóricos que se estudaram o desenvolvimento humano, como por exemplo,
Jean Piaget, Lev, S. Vigotski.
Se tratando dos registros, muitas instituições impõem tais práticas
simplesmente porque ao final de cada etapa deverão prestar conta as famílias das
crianças, enquanto estes deveriam valorizar o desempenho e o desenvolvimento de cada
criança, de modo que a partir deles os educadores vislumbrassem possibilidades de
reflexão no intuito de mudar tais práticas.
Desse modo, partindo do pressuposto que o livro traz reflexões importantes à
prática educativa, neste sentido é viável recomendá-lo educadores, não somente aos que
atuam na educação infantil, e também a estudantes e pesquisadores que lutam por uma
melhoria na qualidade da educação, sabendo que para isso a avaliação é um aspecto
primordial.

[1] Resenha apresentada como requisito parcial para obtenção de nota na Disciplina de Teoria e Prática
em Educação Infantil sob orientação da Prof. Edinéia Maria Azevedo Machado.
[2] Acadêmica do VII período do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondônia- UNIR.

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