Você está na página 1de 11

DOI: 10.

5327/Z0100-0233-2015390200016

Revista Baiana ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE


de Saúde Pública
MORTALIDADE INFANTIL EVITÁVEL EM MONTES CLAROS, MINAS GERAIS, BRASIL, 1999-2011

Eliene de Oliveiraa
Matheus Barbosa Soutoa
Rafael de Oliveira Santosa
Rayde Luiz Fonsecaa
Fabrícia Vieira de Matosa
Antônio Prates Caldeiraa

Resumo
Introdução: A mortalidade infantil evitável refere-se ao excesso de óbitos associados
a inadequadas condições de acesso e resolubilidade dos cuidados de saúde. Pretendeu-se
descrever a ocorrência dos decessos infantis em Montes Claros, cidade do norte de Minas Gerais,
por meio da análise do perfil de evitabilidade desses óbitos. Métodos: Os dados foram coletados
do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (SINASC) e correspondem ao período entre 1999 e 2011. Para cada grupamento de causas
evitáveis, verificou-se a correlação entre seu comportamento e a série temporal por meio do
coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: A taxa de mortalidade infantil no período caiu
de 22,3 para 10,5/1000 nascidos vivos. Quase três quartos dos óbitos infantis registrados (72%)
foram considerados evitáveis, sendo que a maior contribuição correspondeu às mortes reduzíveis
por adequada atenção à gestação (43%). A segunda posição foi ocupada pelos falecimentos
evitáveis por adequada atenção ao recém-nascido (31%). Registrou-se correlação significativa para
o comportamento dos grupos de causas evitáveis por adequada atenção à gestação (p=0,019),
adequada atenção ao recém-nascido (p<0,001) e adequada atenção ao parto (p=0,003).
Conclusão: Apesar do decréscimo observado, ainda existe um elevado contingente de óbitos que
alertam sobre a necessidade de melhora dos cuidados de saúde.

Palavras-chave: Mortalidade Infantil. Mortalidade Perinatal. Sistemas de Informação em Saúde.

a
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – Montes Claros (MG), Brasil.
Endereço para correspondência: Antônio Prates Caldeira – Departamento de Saúde da Mulher e da Criança, Universidade
Estadual de Montes Claros – Avenida Doutor Rui Braga, Prédio 6 (CCBS) – Vila Mauricéia – CEP: 39401-089 – Montes Claros
(MG), Brasil – E-mail: antonio.caldeira@unimontes.com

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 397
AVOIDABLE INFANT MORTALITY IN MONTES CLAROS, MINAS GERAIS, BRAZIL, 1999-2011

Abstract
Introduction: The avoidable infant mortality refers to the excess of deaths
associated with inadequate access and resolution of health care. We aimed to describe the
occurrence of infant deaths at Montes Claros, a northern city in the state of Minas Gerais,
Brazil, through the analysis of the profile of avoidable deaths. Method: Data were collected
from the Mortality Information System (SIM) and Live Birth Information System (SINASC)
and correspond to the period between 1999 and 2011. For each group of avoidable causes,
we analyzed the correlation between their behavior and the time series using the Spearman
correlation coefficient. Results: The infant mortality rate in the period decreased from 22.3
to 10.5/1000 live births. Almost three quarters of the registered infant deaths (72%) were
considered avoidable, and the major contribution corresponded to deaths avoidable through
proper care during pregnancy (43%). The second position was occupied by preventable
deaths through the provision of specialized care to newborns (31%). Significant correlation
to the behavior of groups of avoidable causes by proper care during pregnancy (p=0.019),
adequate care to the newborn (p<0.001) and adequate care during labor (p=0.003) were
registered. Conclusion: Despite the observed decrease, there is still a high number of deaths
that warn about the need to improve health care.
Keywords: Infant Mortality. Perinatal Mortality. Health Information Systems.

MORTALIDAD INFANTIL EVITABLE EN MONTES CLAROS, MINAS GERAIS, BRASIL, 1999-2011

Resumen
Introducción: La mortalidad infantil evitable se refiere al exceso de muertes
asociadas a las inadecuadas condiciones del acceso y de la resolución de atención en salud.
Se objetivó describir la ocurrencia de muertes infantiles en una ciudad del norte de Minas
Gerais, Brasil, llamada Montes Claros, por medio del análisis del perfil de muertes evitables.
Métodos: Los datos fueron recolectados del Sistema de Información sobre Mortalidad (SIM)
y del Sistema de Informaciones sobre Nacidos Vivos (SINV), que corresponden al período de
1999 hasta 2011. Para cada grupo de causas evitables, se verificó una correlación entre su
comportamiento y la serie temporal, utilizándose el coeficiente de correlación de Spearman.
Resultados: La tasa de mortalidad infantil en el período disminuyó desde 22,3 hasta

398
Revista Baiana 10,5/1.000 nacidos vivos. Casi tres cuartas partes de las muertes infantiles registradas (72%)
de Saúde Pública fueron consideradas evitables, y la mayor contribución correspondió a las muertes evitables
a través de una atención adecuada durante el embarazo (43%). La segunda posición fue
ocupada por las muertes evitables mediante la atención especializada a los recién nacidos
(31%). Hubo una correlación significativa al comportamiento de los grupos de causas evitables
por la atención adecuada durante el embarazo (p=0,019), al recién nacido (p<0,001) y en
el parto (p=0,003). Conclusión: A pesar de la disminución observada, todavía hay un alto
número de muertes que advierten sobre la necesidad de mejorar la atención en salud.
Palabras clave: Mortalidad Infantil. Mortalidad Perinatal. Sistemas de Información en Salud.

INTRODUÇÃO
O Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) é um indicador de saúde de fácil
mensuração que estima o risco de morte no primeiro ano de vida. De modo global, avalia os
cuidados que determinada população disponibiliza às crianças e ao ciclo gravídico-puerperal,
e constitui um dos indicadores mais comumente utilizados para análise das condições de
saúde de uma população e da efetividade dos serviços de saúde materno-infantis.1-4
O Brasil registrou importante declínio da mortalidade infantil nas últimas
décadas, especialmente nas regiões menos desenvolvidas. Todavia, os índices observados
ainda são elevados e representam um grande desafio para os gestores públicos.5,6
Outro aspecto relevante é que a maior parte das mortes infantis brasileiras é composta
por óbitos considerados evitáveis.7 O conceito de óbitos infantis evitáveis remete ao
excesso de falecimentos que, em princípio, não deveriam ocorrer diante de adequadas
condições de acesso e resolubilidade dos cuidados de saúde.8-10 Nesse sentido, esses
perecimentos são considerados “eventos sentinela” da qualidade da atenção à saúde e
permitem identificar falhas no desempenho da assistência à saúde.1,9,11
A análise da tendência da mortalidade infantil de causas evitáveis permite uma
avaliação das condições de vida e saúde dos menores de um ano de idade e provê subsídios
para implantação de intervenções direcionadas às necessidades desse grupo populacional.1
O conhecimento das condições de perecimento infantil e da dinâmica de ocorrência
desses falecimentos representa uma ferramenta importante para definir e orientar as ações
dos gestores de saúde. Neste sentido, o presente estudo objetivou descrever a ocorrência
das mortes pueris em Montes Claros, norte de Minas Gerais, no período de 1999 a 2011,
analisando o perfil de evitabilidade desses óbitos.

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 399
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de análise de tendência da mortalidade infantil, de
abordagem quantitativa, sobre óbitos de filhos de mulheres residentes em cidade do norte do
estado de Minas Gerais. O município abriga uma população de aproximadamente 390 mil
habitantes e representa o principal pólo urbano da região, sendo uma importante referência
na área da saúde para mais de cem municípios.
Os dados foram coletados por meio do DATASUS, do Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações sobre Nascidos
Vivos (SINASC) entre junho e julho de 2014, e correspondem ao período entre 1999 a
2011. A definição dessa série temporal foi dada pelos autores como período de maior
confiabilidade dos dados coletados, conforme se explica: o país passou pela implantação
da 10ª Classificação Internacional de Doenças (CID-10) entre os anos de 1996 e 1997,
e repercussões desse processo poderiam ocorrer até dois anos depois. De forma similar,
a limitação da série temporal ocorreu por considerar-se, no período de coleta de dados,
que as informações dos anos subsequentes poderiam se mostrar incompletas, já que são
atualizadas em nível central. A análise dos dados foi conduzida com o apoio de uma
planilha eletrônica do Microsoft Office Excel® e do software SPSS (Statistical Package for
Social Sciences) versão 19.0.
Além da tendência do CMI e de seus componentes durante o período estudado,
foi avaliado o comportamento dos óbitos considerados evitáveis segundo os critérios de
evitabilidade da classificação proposta por Wigglesworth, conforme modificada e adotada
pelo Ministério da Saúde.12 Os óbitos identificados foram classificados como evitáveis por
ações de imunização, adequada atenção à gestação, adequada atenção ao parto, adequada
atenção ao recém-nascido, ações de diagnóstico e tratamento adequadas ou ações de
promoção vinculadas a ações de atenção em saúde.
Para cada grupamento de causas evitáveis, verificou-se a correlação entre seu
comportamento e a série temporal por meio do coeficiente de correlação de Spearman,
assumindo-se um nível de significância de 5% (p<0,05).

RESULTADOS
O coeficiente de mortalidade infantil no município estudado decresceu no
período em questão, passando de 22,3 óbitos em 1999 para 10,5 óbitos por mil nascidos
vivos em 2011, correspondendo a um decréscimo de cerca de 53%. O Gráfico 1 apresenta o
comportamento de tendência do CMI e seus componentes para o período estudado.

400
Revista Baiana
Taxa
de Saúde Pública
25

20

15

10

0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Ano

Neonatal precoce Neonatal tardio Pós-neonatal Mortalidade infantil

Gráfico 1 – Coeficiente de Mortalidade Infantil e seus componentes em Montes Claros


(MG) de 1999 a 2011

Dos 1186 óbitos infantis registrados no período estudado, 731 ocorreram no


período neonatal precoce (mortes ocorridas entre o nascimento e os seis dias completos de
vida), 148 no período neonatal tardio (entre o 7º e 27º dia de vida) e 307 no período pós-
neonatal (entre o 28º e o 364º dia de vida). O maior decréscimo de falecimentos ocorreu
para o período neonatal precoce, cujo coeficiente passou de 16 para 6 óbitos a cada mil
nascidos vivos, correspondendo a uma queda de 62,5%.
Quase três quartos dos óbitos infantis registrados (72%) foram considerados
evitáveis, sendo que a maior contribuição correspondeu aos óbitos reduzíveis por adequada
atenção à gestação (43%). A segunda posição foi ocupada pelos perecimentos evitáveis
por adequada atenção ao recém-nascido (31%). Ocorreram também mortes que poderiam
ser evitadas por adequada atenção ao parto (12%), por ações de diagnóstico e tratamento
adequado (9%) e por ações de promoção vinculadas a ações de atenção (5%).
A evolução das principais causas evitáveis de óbito no primeiro ano de vida é
apresentada no Gráfico 2. Destaca-se o comportamento irregular de todos os grupamentos de
causas evitáveis.
Dos falecimentos infantis evitáveis, os que apresentaram correlação negativa
significativa foram aqueles reduzíveis por adequada atenção à gestação, por adequada

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 401
Taxa
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Ano

Evitáveis por adequada atenção à gestação


Evitáveis por adequada atenção ao recém-nascido
Evitáveis por ações de promoção vinculadas a ações de atenção
Evitáveis por adequada atenção ao parto
Evitáveis por ações de diagnóstico e tratamento adequados

Gráfico 2 – Evolução da taxa de mortalidade por critério de evitabilidade em Montes


Claros (MG) de 1999 a 2011

atenção ao recém-nascido e por adequada atenção ao parto (Tabela 1). Apesar da


irregularidade das taxas de mortalidade infantil por grupamento de causas evitáveis, todas as
causas apresentaram correlação negativa. A Tabela 1 apresenta os coeficientes de correlação
de Spearman para as análises de correlação entre o comportamento dos grupos de causas
evitáveis de óbitos infantis e a série temporal estudada, com as respectivas significâncias.
Houve correlação significativa para o comportamento dos grupos de causas evitáveis por
adequada atenção à gestação (p=0,019), por adequada atenção ao recém-nascido (p<0,001)
e por adequada atenção ao parto (p=0,003).

Tabela 1 – Correlação entre os grupos de causas evitáveis de óbitos infantis e a série


temporal em Montes Claros (MG) de 1999 a 2011
Grupos de causas evitáveis de óbitos infantis “rho” Valor p
Evitáveis por adequada atenção à gestação -0,638 0,019*
Evitáveis por adequada atenção ao recém-nascido -0,890 <0,001*
Evitáveis por ações de promoção vinculadas a ações de atenção -0,334 0,265
Evitáveis por adequada atenção ao parto -0,756 0,003*
Evitáveis por ações de diagnóstico e tratamento adequados -0,386 0,192
*Estatisticamente significante

402
Revista Baiana DISCUSSÃO
de Saúde Pública No período estudado, registrou-se um importante declínio da mortalidade infantil para
o município semelhante ao observado em estudos realizados em diferentes regiões do país.10,13,14
A redução da mortalidade infantil na cidade acompanhou, portanto, o comportamento de declínio
registrado para o país como um todo. Em 1990, o Brasil registrava 58 mortes a cada mil crianças
nascidas vivas, taxa que foi reduzida para 16 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2011.15
Nas últimas décadas foram desenvolvidos diversos programas e ações de saúde
que tiveram importante impacto na redução da mortalidade infantil. O Programa Nacional
de Imunização, o Programa de Incentivo ao Aleitamento Materno, o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde e, mais recentemente, o Programa de Saúde da Família são exemplos
de ações efetivas com impactos positivos sobre os indicadores de saúde infantil, apesar de
ainda existirem desafios a serem superados.6 Os municípios que buscaram tornar viável a
implantação dos referidos programas, com execução das medidas interventivas, alcançaram
melhores resultados e impactos mais positivos sobre a saúde da população, incluindo-se a
redução da mortalidade infantil.16 Alguns autores destacam que resultados melhores foram
alcançados em regiões mais carentes em função de ações mais específicas para os grupos de
maior vulnerabilidade e pelo desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas.6,16
Nos resultados deste estudo, observou-se uma maior participação do
componente neonatal no CMI, o que se assemelha a outros estudos realizados, seguindo a
tendência nacional de decréscimo desde o final da década de 1980.13,17,18 Desse momento
em diante, o componente neonatal passou a destacar-se, representando mais da metade das
mortes infantis em todo o Brasil.
De modo geral, a redução dos óbitos infantis tem se concentrado principalmente no
período neonatal tardio, tornando os óbitos nos primeiros dias de vida os principais responsáveis
pelo alto CMI.15 Entretanto, os resultados da presente pesquisa destacaram dados diferentes.
Ao longo do período estudado, o componente neonatal precoce foi o que apresentou maior
declínio. Esse dado pode traduzir ações mais efetivas dos serviços de saúde materno-infantis
em relação à gestação e aos cuidados com o recém-nascido, pois foram vinculados a esses dois
grupamentos de causas evitáveis os maiores declínios no período estudado.
Embora os resultados observados sejam relevantes, é preciso destacar que a
mortalidade neonatal precoce ainda representa o principal componente da mortalidade
infantil em Montes Claros. Na verdade, a redução da mortalidade neonatal ainda é
um desafio para muitas regiões do país e do mundo.19,20 O Brasil é um país signatário
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, compromisso proposto às nações pela

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 403
Organização Mundial da Saúde no ano de 2000 para reduzir em dois terços a mortalidade
infantil no período de 1990 a 2015. O alcance dessa meta depende, necessariamente, da
redução do componente neonatal precoce.5,6,13 A proporção de óbitos neonatais é 2,5 vezes
maior que a pós-neonatal, de forma que a ocorrência da primeira aponta a necessidade de
melhor qualificação na assistência pré-natal, no parto e no recém-nascido.17
Em relação à evitabilidade das mortes ocorridos, verificou-se que a grande
maioria delas constituiu-se de mortes infantis evitáveis, característica observada também em
outros estudos.3,18,20 Elevadas taxas de mortes consideradas evitáveis revelam a necessidade de
investimentos no acesso e na qualidade do serviço de saúde ofertado à população.10,11,13,21
A análise do perfil de evitabilidade aponta para uma dificuldade de intervenções
mais efetivas, uma vez que ainda se registram elevadas taxas de mortalidade em relação
ao que se observa em outros países. Mesmo com o registro de declínio observado para a
mortalidade evitável, os índices observados ainda são inaceitáveis, especialmente porque são
reduzíveis mediante adequada atenção à gestação, ao parto e ao recém-nascido — o que
evidencia que as ações de assistência materno-infantil ainda devem melhorar muito.
Em relação às elevadas taxas de óbitos infantis que podem ser reduzidas por
adequada atenção à gestação, alguns autores lembram que esse dado também pode significar
melhora dos registros na identificação correta da causa do falecimento.20 Mas é preciso
destacar também que essas taxas podem refletir uma inadequada assistência pré-natal e torna
imperiosa a vigilância sobre os cuidados de saúde para o binômio mãe-filho.13
Apesar de registros de com taxas ainda preocupantes, é sensato admitir que alguns
dos resultados observados revelam aspectos positivos. Ao longo do período estudado, houve
redução da mortalidade infantil e seus componentes. Alguns autores também registraram reduções
em períodos similares e destacam a ampliação da cobertura do Sistema Único de Saúde e das
unidades de Saúde da Família como fatores que favoreceram os resultados observados.7,10,16,22
Naturalmente, existe um limite para atuação das equipes de atenção primária
sobre os indicadores de mortalidade infantil. Os cuidados com os recém-nascidos prematuros,
principal grupo de crianças que vai a óbito, implicam em fortalecimento das equipes das
salas de parto e das tecnologias voltadas ao cuidado com recém-nascido criticamente
enfermo. Existem dados sugestivos de melhoria desses cuidados nos últimos anos.10 Porém,
alguns autores ainda destacam a necessidade de ampliação dos cuidados de terapia intensiva
neonatal como ferramentas úteis para reduzir ainda mais a mortalidade desse grupo.23
Embora o presente trabalho possua limitações por ter sido conduzido a partir
de uma avaliação local e de dados secundários, os resultados podem induzir a reflexões

404
Revista Baiana para os gestores de saúde de todo o país. A abordagem dos óbitos infantis, com ênfase na
de Saúde Pública evitabilidade, tem potencial para gerar reflexões e propostas que vão desde a organização dos
serviços de saúde, com ampliação do acesso da população a ele, até melhoria da qualidade
dos cuidados pré, peri e pós-natais.

CONCLUSÃO
A análise realizada demonstrou, no período estudado, uma redução de todos os
componentes da mortalidade infantil com destaque para o período neonatal precoce. Apesar do
decréscimo de óbitos infantis registrados, ainda existe um elevado contingente de óbitos que
denuncia a necessidade de melhora dos serviços de saúde, especialmente porque pode ser
considerado evitável. Nesse sentido, sugere-se ampla articulação entre os diferentes níveis de
atenção materno-infantil, visando melhoria da vigilância e assistência ao binômio mãe-filho.

REFERÊNCIAS

1. Nascimento SG, Oliveira CM, Sposito V, Ferreira DKS, Bonfim CV.


Mortalidade infantil por causas evitáveis em uma cidade do Nordeste do
Brasil. Rev Bras Enferm. 2014;67(2):208-12.

2. Bittencourt RM, Gaíva MAM. Mortalidade neonatal precoce relacionada a


intervenções clínicas. Rev Bras Enferm. 2014;67(2):195-201.

3. Jodas DA, Scochi MJ, Vicente JB, Colucci AG. Análise dos óbitos evitáveis
de menores de cinco anos no município de Maringá-PR. Esc Anna Nery.
2013;17(2):263-70.

4. Boing AF, Boing AC. Mortalidade infantil por causas evitáveis no Brasil:
um estudo ecológico no período 2000-2002. Cad Saúde Pública.
2008;24(2):447-55.

5. Barros FC, Matijasevich A, Requejo JH, Giugliani E, Maranhão AG, Monteiro


CA et al. Recent trends in maternal, newborn, and child health in Brazil:
progress toward Millennium Development Goals 4 and 5. Am J Public
Health. 2010;100(10):1877-89.

6. Victora CG, Aquino EM, Leal MC, Monteiro CA, Barros FC, Szwarcwald
CL. Maternal and child health in Brazil: progress and challenges. Lancet.
2011;377(9780):1863-1876.

7. Santos HG, Andrade SM, Silva AMR, Mathias TAF, Ferrari LL, Mesas AE.
Mortes infantis evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde:
comparação de duas coortes de nascimentos. Ciênc saúde coletiva.
2014;19(3):907-16.

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 405
8. Wigglesworth JS. Monitoring perinatal mortality. A pathophysiological
approach. Lancet. 1980;2(8196):684-6.

9. Fernandes CA, Vieira VCL, Schochi MJ. Mortalidade infantil e classificação


de evitabilidade: pesquisando municípios da 15ª regional de saúde do
Paraná. Cienc Cuid Saude. 2013;12(4):752-9.

10. Malta DC, Duarte EC, Escalante JJC, Almeida MF, Sardinha LMV, Macário
EM et al. Mortes evitáveis em menores de um ano, Brasil, 1997 a 2006:
contribuições para a avaliação de desempenho do Sistema Único de Saúde.
Cad Saúde Pública. 2010;26(3):481-91.

11. Rutstein DD, Berenberg W, Chalmers TC, Child CG 3rd, Fishman AP, Perrin
EB. Measuring the quality of medical care. A clinical method. N Engl J Med.
1976;294(11):582-8.

12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual


de vigilância do óbito infantil e fetal e do Comitê de Prevenção do Óbito
Infantil e Fetal. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

13. Soares ES, Menezes GMS. Fatores associados à mortalidade neonatal


precoce: análise de situação no nível local. Epidemiol Serv Saúde.
2010;19(1):51-60.

14. Morais CAM, Takano OA, Souza JSF. Mortalidade infantil em Cuiabá, Mato
Grosso, Brasil, 2005: comparação entre o cálculo direto e após o linkage
entre bancos de dados de nascidos vivos e óbitos infantis. Cad Saúde
Pública. 2011;27(2):287-94.

15. Ferrari RAP, Bertolozzi MR. Postnatal mortality in Brazilian territory: a


literature review. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(5):1204-11.

16. Frias PG, Szwarcwald CL, Lira PIC. Estimação da mortalidade infantil no
contexto de descentralização do sistema único de saúde (SUS). Rev Bras
Saúde Matern Infant. 2011;11(4):463-70.

17. Geib LTC, Fréu CM, Brandão M, Nunes ML. Determinantes sociais e
biológicos da mortalidade infantil em coorte de base populacional em Passo
Fundo, Rio Grande do Sul. Ciênc saúde coletiva. 2010;15(2):363-70.

18. Gastaud ALGS, Honer MR, Cunha RV. Mortalidade infantil e evitabilidade
em Mato Grosso do Sul, Brasil, 2000 a 2002. Cad Saúde Pública.
2008;24(7):1631-40.

19. Guinsburg R. Redução da mortalidade neonatal: um desafio atual na agenda


de saúde global e nacional. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005;27(6):301-2.

20. Silva CMCD, Gomes KRO, Rocha OAMS, Almeida IMLM, Moita Neto JM.
Validade, confiabilidade e evitabilidade da causa básica dos óbitos neonatais
ocorridos em unidade de cuidados intensivos da Rede Norte-Nordeste de
Saúde Perinatal. Cad Saúde Pública. 2013; 29(3):547-56.

406
Revista Baiana 21. Vanderlei LCM, Navarrete MLV. Mortalidade infantil evitável e barreiras
de Saúde Pública de acesso à atenção básica no Recife, Brasil. Rev Saúde Pública.
2013;47(2):379-89.

22. Aquino R, Oliveira NF, Barreto ML. Impact of the family health program
on infant mortality in Brazilian municipalities. Am J Public Health.
2009;99(1):87-93.

23. Schoeps D, Almeida MF, Alencar GP, França Jr. I, Novaes HMD, Siqueira AAF
et al. Fatores de risco para mortalidade neonatal precoce. Rev Saúde Pública
2007;41(6):1013-22.

Recebido: 07.02.2015. Aprovado: 15.10.2015.

v.39, n.2, p.397-407


abr./jun. 2015 407

Você também pode gostar