Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
OLIVA NETO - Traduções de Epigramas PDF
OLIVA NETO - Traduções de Epigramas PDF
A. Epigramas gregos
Lírica convivial.
οὐ φιλέω, ὃς κρητῆρι παρὰ πλέωι οἰνοποτάζων Não
amo
quem,
bebendo
ante
a
cratera
cheia,
νείκεα καὶ πόλεμον δακρυόεντα λέγει,
de
lutas
fala
e
guerras
lacrimosas,
ἀλλ' ὅστις Μουςέων τε καὶ ἀγλαὰ δῶρ' Ἀφροδίτης mas
quem,
das
Musas
dons
brilhantes
e
Afrodite
συμμίσγων ἐρατῆς μνήσκεται εὐφροσύνης.
unindo,
lembra
o
gozo
e
a
amável
festa.
Epigramas fúnebres
Lamento pela morte do amigo, cuja falta é suprida pela doçura dos poemas
que deixou. O Hades, reino dos mortos, não vai silenciá-los.
3. Antologia Palatina, 7, 80 – Calímaco de Cirene (300–240 a.C.) Epigramas, 2 (Pf.)
Εἶπέ τις, Ἡράκλειτε, τεὸν μόρον, ἐς δέ με δάκρυ Alguém
contou
teu
fim,
Heráclito,
e
às
lágrimas
ἤγαγεν· ἐμνήσθην δ', ὁσσάκις ἀμφότεροι
levou-‐me.
Lembro
o
quanto
em
falas
nós
ἥλιον ἐν λέσχῃ κατεδύσαμεν. ἀλλὰ σὺ μέν που, embalamos
o
sol
e
agora
tu,
meu
hóspede
ξεῖν' Ἁλικαρνησεῦ, τετράπαλαι σποδιή
de
Halicarnasso,
há
muito
só
és
cinza.
αἱ δὲ τεαὶ ζώουσιν ἀηδόνες, ᾗσιν ὁ πάντων 5 Mas
vivem,
rouxinóis,
teus
cantos,
em
que
o
Hades
ἁρπακτὴς Ἀίδης οὐκ ἐπὶ χεῖρα βαλεῖ. –
devora-‐tudo
–
a
mão
não
vai
tocar.
Epigramas eróticos
No amor, na guerra, ri melhor quem ri por último. Sendo ainda poeta, pode
celebrizar a própria vitória na posteridade.
6. Antologia Palatina, 5, 107 – Filodemo de Gádara (séc. I a.C.)
“Γινώσκω, χαρίεσσα, φιλεῖν πάνυ τὸν φιλέοντα, “Sei
bem,
ó
minha
graça,
amar
a
quem
me
ama
καὶ πάλι γινώσκω τόν με δακόντα δακεῖν
e
sei
morder
também
a
quem
me
morde.
μὴ λύπει με λίην στέργοντά σε μηδ' ἐρεθίζειν Não
me
firas,
que
bem
te
quero,
nem
provoques
τὰς βαρυοργήτους σοι θέλε Πιερίδας.”
a
ira
das
Piérides
tão
grave.”
τοῦτ' ἐβόων αἰεὶ καὶ προὔλεγον· ἀλλ' ἴσα πόντῳ 5 Isto
só
fiz
gritar,
preveni,
mas
qual
mar
Ἰονίῳ μύθων ἔκλυες ἡμετέρων.
Jônio
minhas
palavras
não
ouvistes.
τοιγὰρ νῦν σὺ μὲν ὧδε μέγα κλαίουσα βαΰζοις· E
tu
agora
a
lamentar-‐te
muito
choras,
ἡμεῖς δ' ἐν κόλποις ἥμεθα Ναϊάδος.
enquanto
ao
colo
deito-‐me
de
Náiade.
B. Epigramas latinos
I. Marco Valério Marcial (40–c.104 d.C.)
Epigramas jocosos
Catulo celebrizou também outra imagem, “os milhares de beijos” nos poemas 5 e 7.
13. Marco Valério Marcial (40–c.104 d.C.), Epigramas 11, 6
Vnctis Falciferi senis diebus, Nos
festos
dias
do
ancião
Falcífero
regnator quibus inperat fritillus quando
o
fritilo
impera
soberano
uersu ludere non laborioso brincar
com
verso
não
laborioso
permittis, puto, pilleata Roma.
permites,
penso,
pileada
Roma.
Risisti; licet ergo, non uetamur. 5
Riste:
permites,
pois,
não
me
proíbes.
Pallentes procul hinc abite curae,
Longe
daqui
parti,
cuidados
lívidos,
quidquid uenerit obuium loquamur
quero
falar
o
que
me
der
na
telha
morosa sine cogitatione.
Misce dimidios, puer, trientes, sem
demorada
consideração.
quales Pythagoras dabat Neroni, 10 Mistura,
jovem,
copos
meio
a
meio
misce, Dindyme, sed frequentiores: como
Pitágoras
a
Nero
dava;
possum nil ego sobrius; bibenti mistura,
agora
mais
freqüentes,
Díndimo,
succurrent mihi quindecim poetae. que
sóbrio
eu
nada
posso:
se
beber,
Da nunc basia, sed Catulliana: quinze
poetas
vêm-‐me
socorrer.
quae si tot fuerint quot ille dixit, 15 Beijos
me
dá,
porém
Catulianos:
donabo tibi Passerem Catulli. se
tantos
forem,
quantos
ele
disse,
te
dou
o
Passarinho
de
Catulo.
Epigrama jocoso contra poetas obscuros. Sexto é poeta tão difícil, que até
mesmo os gramáticos Modesto e Clarano, comentadores e conhecedores de poesia, mal
compreendem: só mesmo o deus Apolo, decifrador de enigmas, para entendê-los. Marão
não é outro senão Públio Virgílio Marão, autor da Eneida, a quem Marcial,
epigramatista convicto, considera inferior ao poeta neotérico Gaio Hélvio Cina, de que
só restaram fragmentos. “Juiz” (v. 4, iudice, de iudex) é termo jurídico acolhido pela
poética e designa a crítica que inclui precisamente “juízo”, “julgamento” sobre que
autores são melhores. Se Sexto é bom crítico, deverá considerar que Cina, autor de
poemas ligeiros, é superior a Virgílio, autor de poema épico e grave, isto é, um
“pesado”, que é a Eneida.
16. Marco Valério Marcial (40–c.104 d.C.), Epigramas, 10, 21
Scribere te quae uix intellegat ipse Modestus Sexto
por
que
te
apraz
compor
o
que
Modesto,
et uix Claranus, quid, rogo, Sexte, iuuat?
o
que
Clarano
a
custo
compreendem?
Non lectore tuis opus est, sed Apolline libris: Leitor
teus
livros
não
requerem,
mas
Apolo.
iudice te maior Cinna Marone fuit.
Se
és
juiz,
mais
do
que
Marão
foi
Cina.
Sic tua laudentur sane: mea carmina, Sexte, 5 Que
assim
se
louvem
teus
poemas,
Sexto:
os
meus,
grammaticis placeant, ut sine grammaticis.
gramáticos
deleitem,
sem
gramáticos.
Epigrama programático
sobre matéria e elocução próprias do gênero epigramático. Notar dissociação
entre o caráter da persona epigramática e da pessoa do poeta.
17. Marco Valério Marcial (40–c.104 d.C.), Epigramas, 1, 4
Contigeris nostros, Caesar, si forte libellos, Se
acaso
nos
livrinhos
meus
tocares,
César,
terrarum dominum pone supercilium.
decerra
o
cenho
de
senhor
da
Terra:
Consueuere iocos uestri quoque ferre triumphi, toleram
brincadeira
até
vossos
Triunfos;
materiam dictis nec pudet esse ducem.
não
cora
o
chefe
por
dar
mote
aos
ditos.
Qua Thymelen spectas derisoremque Latinum, 5
Se
a
Tímele
e
a
Latino
derrisor
assistes,
illa fronte precor carmina nostras legas.
co’
rosto
com
que
os
vês
lê
meus
poemas.
Innocuos censura potest permittere lusus:
Troças
permita
inócuas
a
censura:
em
mim
lasciua est nobis pagina, uita proba.
a
página
é
lasciva,
proba
a
vida.
Rhodumque nobilem horridamque Thraciam não
o
desdiz
a
má
Propôntida
da
Trácia
3
loquente saepe sibilum edidit coma. muitos
sibilos
fez
na
fronde
murmurante.
Amastri Pontica et Cytore buxifer, 6
Amástris
Pôntica!,
ó
Citoro
rico
em
toras!,
tibi haec fuisse et esse cognitissima tudo
isto
foi,
tudo
é
de
ti
bem
conhecido,
ait phaselus: ultima ex origine 15 diz
o
barquinho
–
e
desde
as
últimas
origens
7
tuo stetisse dicit in cacumine, afirma
no
teu
cimo
ter
estado
em
pé,
tuo imbuisse palmulas in aequore, os
remos
ter
molhado
então
em
tuas
águas
et inde tot per impotentia freta e
desde
lá
em
meio
a
mares
indomáveis
erum tulisse, laeua siue dextera seu
dono
ter
levado,
quer
à
sestra,
quer
uocaret aura, siue utrumque Iuppiter 20 à
destra
houvesse
vento,
ou
Júpiter,
propício,
simul secundus incidisset in pedem; batesse
numa
e
noutra
escota
ao
mesmo
tempo,
neque ulla uota litoralibus diis nem
voto
algum
jamais
a
deuses
litorais
sibi esse facta, cum ueniret a mari diz
que
fez,
quando
a
este
lago
cristalino
nouissime hunc ad usque limpidum lacum. vinha
de
mares
nunca
dantes
navegados.
Sed haec prius fuere: nunc recondita 25 Mas
isto
tudo
foi
outrora,
agora,
à
parte
senet quiete seque dedicat tibi, descansa
em
calma
e
envelhece
e
se
dedica
gemelle Castor et gemelle Castoris.
8
a
ti,
Castor,
e
a
ti,
ó
gêmeo
de
Castor .
Epigrama invectivo. Ausônio, poeta cristão (c. 310 – c. 393 d.C.), já não
ratifica as práticas amorosas dos pagãos, embora não se furte da linguagem.
“Herdeiro de Hércules” (Herculis heredi, v. 3) na mitologia é Filoctetes,
legatário das armas de Hércules. Como Filoctetes permaneceu 10 anos
sozinho na ilha de Lemnos, a privação, isto é, a abstinência sexual (egestas,
v. 3), levou-o, subetende-se, à masturbação. Lúcio Afrânio (Afrani, v. 4) foi
comediógrafo do fim do século II e início do I a.C., que segundo Quintiliano
(Instituições Oratórias, 10, 1, 100) em suas comédias levou à cena “torpes
amores de meninos” (puerorum foedis amoribus), ou seja, o amor
pederástico e a conseqüente penetração anal, ratificada e especificada para
mulher em “numa gruta e noutra” (utramque cauernam, v. 7), bem
entendido, penetração vaginal e anal. A luxúria da boca (capitalis luxus,
literalmente “luxúria da cabeça”, v. 5) diz respeito à felação, que segundo
Ausônio era comum em Nola, cidade da Campânia.
30. Ausônio (c. 310–c. 393 d.C.), Epigramas, 79
Praeter legitimi genialia foedera coetus, Além
de
amplexos
lídimos
do
casamento,
repperit obscenas ueneres uitiosa libido, obscenos
gozos
quis
a
viciosa
libido
Herculis heredi quam Lemnia suasit egestas,
que
a
Lêmnia
privação
deu
ao
herdeiro
de
Hércules;
quam toga facundi scaenis agitauit Afrani,
que
a
toga
do
facundo
Afrânio
pôs
em
cena;
et quam Nolanis capitalis luxus inussit. 5
que
a
luxúria
da
boca
aos
Nolanos
calcou.
Crispa tamen cunctas exercet corpore in uno:
Mas
Crispa
tudo
faz
num
corpo
só:
descasca
deglubit, fellat, molitur per utramque cauernam,
ne quid inexpertum frustra moritura relinquat. e
chupa
e
é
socada
numa
gruta
e
noutra
por
nada
em
vão
deixar
na
morte
sem
provar.
Epigrama erótico.
31. Ausônio (c. 310–c. 393 d.C.), Epigramas, 50
Uxor uiuamus ut uiximus et teneamus Mulher,
vivamos
qual
vivemos
e
tenhamos
nomina, quae primo sumpsimus in thalamo;
os
nomes
que
à
primeira
noite
usamos.
nec ferat ulla dies, ut commutemur in aeuo, Não
haja
um
dia
só,
bem
que
mudemos
sempre,
quin tibi sim iuuenis tuque puella mihi.
Que
não
me
digas
“jovem”
e
eu,
“menina”.
Nestore sim quamvis provectior aemulaque annis 5
Mais
velho
embora
que
Nestor,
rival
que
venças
uincas Cumanam tu quoque Deiphoben,
em
anos
a
Deífobe
de
Cumas,
nos ignoremus quid sit matura senectus.
a
velhice
madura
ignoremos:
o
mérito
Scire aeui meritum, non numerare decet.
convém
saber
do
tempo,
não
a
soma.
1
CÍCLADES: são ilhas do mar Egeu.
2
RODES TÃO FAMOSA: grande ilha do mar Egeu.
3
PROPÔNTIDA DA TRÁCIA: o atual mar de Mármara. Trácia é região situada ao norte da Grécia.
4
PONTO EUXINO, MAR CRUEL: pontus significa “mar” e Pontus por antonomásia é o Ponto Euxino, o atual
Mar Negro. Por antífrase eufemística era chamado Po/ntoj Eu)/cenoj (“Mar Hospitaleiro”), latinizado para
Pontus Euxinus.
5
CITORO: monte da Paflagônia às costas do Mar Negro.
6
AMÁSTRIS: cidade banhada pelo Ponto Euxino, próxima ao monte Citoro.
7
ÚLTIMAS ORIGENS: ultimas porque o poeta parte do presente.
8
GÊMEO DE CASTOR: É Pólux; estes deuses gêmeos, os Dioscuros, protegiam navegantes.