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1. Introdução
Até 1936, não havia tratamentos clínicos com medicamentos que fossem
realmente efetivos no tratamento de bactérias, ocasionando milhares de
mortes. A partir dessa data, estudos para o tratamento de infecções surgi-
ram com os primeiros sulfamídicos, que passaram a ser empregados para
esse fim. Em 1942, iniciou-se o uso de penicilina G na prática clínica, subs-
tância bactericida de síntese natural que havia sido descoberta por Alexan-
der Fleming em 1928. Novas substâncias com atividade microbicida foram
sendo descobertas em seguida e, finalmente, na década de 1960, foram in-
troduzidos compostos sintéticos e semissintéticos, o que aumentou muito a
capacidade de produção e o espectro de atividade das drogas antimicrobia-
nas. O impacto na sobrevida da população foi significante, e a perspectiva
de erradicação de todas as infecções (agora com tratamentos possíveis) foi
considerada.
Tabela 1 - Histórico da descoberta de alguns antimicrobianos naturais e microrganis-
mos dos quais foram extraídos
Descobertas Contextos
Alexander Fleming constata a atividade antibacteriana de uma subs-
1929
tância produzida pelo fungo Penicillium notatum.
1932 Atividade antibacteriana das sulfas in vivo.
Surgimento de inúmeros derivados sulfamídicos com atividade anti-
1938 a 1942
bacteriana (exemplos: sulfadiazina, sulfatiazol e sulfamerazina).
1941 Utilização da penicilina, pela 1ª vez, em infecções humanas.
1943 Uso terapêutico da penicilina na prática clínica.
Descoberta da estreptomicina, obtida de culturas de um actinomi-
1944
ceto, o Streptomyces griseus.
Descoberta da cefalosporina C, obtida de culturas de Cephalospo-
1953
rium acremonium.
Obtenção da vancomicina a partir de culturas de Streptomyces
1956
orientalis.
1
Início da produção dos antibióticos semissintéticos, após a obten-
1959
ção do ácido 6-aminopenicilânico (6-APA) em laboratório.
Surgimento da meticilina e da oxacilina, ativas contra os Staphylo-
1960 a 1961 coccus produtores de penicilinase, importante causa de infecções
intra-hospitalares naquele momento.
1962 Obtenção da 1ª cefalosporina semissintética, a cefalotina.
Obtenção da gentamicina, a partir de culturas de Micromonospora
1963
purpurea.
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2. Definições
Segundo o conceito original, antibióticos seriam substâncias capazes de
matar agentes infecciosos ou de impedir seu crescimento, produzidas natu-
ralmente por seres vivos, em geral bactérias ou fungos. A seguir, essas subs-
tâncias foram estudadas em nível molecular, com determinação de seus sí-
tios ativos, reproduzidos em laboratório, originando fármacos sintéticos ou
semissintéticos, que foram denominados quimioterápicos.
2 Atualmente, o termo antimicrobiano refere-se a qualquer composto com
atividade anti-infecciosa, tanto de origem natural (antibióticos) quanto de
síntese laboratorial (quimioterápicos).
Antimicrobianos
Sensibilidade Toxicidade
Resistência Metabolismo
Infecção
Microrganismo Hospedeiro
Imunidade
a) Concentração sérica
Quando uma dose-padrão de antimicrobiano é administrada por via intra-
venosa, sua concentração sérica aumenta rapidamente até atingir a concen-
tração sérica máxima (Cmáx), que rotineiramente se nomeia “pico”. À medi-
da que a droga se distribui pelos tecidos e é metabolizada e/ou eliminada,
sua concentração diminui progressivamente até atingir a concentração sérica
mínima (Cmín), isto é, a concentração detectada antes da administração da
dose seguinte, habitualmente denominada “vale”. A via intravenosa sempre
produz a maior Cmáx possível para determinado antimicrobiano, quando
comparada às vias oral e intramuscular para a mesma dose. O tempo de-
corrido entre a Cmáx e a Cmín varia de acordo com a natureza química da
droga e sua interação com as proteínas e com os tecidos. A concentração
sérica média é a concentração média alcançada quando doses sucessivas do
antimicrobiano são administradas em intervalos regulares. A área sob a curva
(AUC) é a área abaixo da curva em gráficos que relacionam a concentração
sérica e o tempo (Figura 2).
Membrana externa
Espaço periplásmico
As bactérias Gram positivas são
Este compartimento contém enzimas
desprovidas de membrana externa; nas
degradativas (proteases, nucleases, fosfatases)
bactérias Gram negativas, a membrana
que agem em moléculas grandes e
externa constitui um importante fator de
impermeáveis. Esse espaço contém enzimas
virulência pela presença dos
que inativam antibióticos como as beta-
lipopolissacárides (LPSs); a membrana
lactamases. As bactérias Gram positivas não
externa ainda apresenta proteínas
apresentam espaço periplásmico, mas
denominadas porinas, importantes no
secretam exoenzimas e realizam a digestão
mecanismo de ação e na resistência a
extracelular.
determinados antimicrobianos.
20
CAPÍTULO 3
Antimicrobianos betalactâmicos: penicilinas
1. Introdução
- Meningite bacteriana;
- Enterococcia (em associação a aminoglicosídeo);
27
- Tratamento de portador-são de Salmonella typhi;
- Infecção por L. monocytogenes.
Nas décadas de 1980 e 1990, a resistência aos Gram positivos surgiu como
um grande problema nas infecções hospitalares.
Os estafilococos produzem betalactamase (penicilinase), codificada por
plasmídio, que os torna resistentes às penicilinas naturais. A meticilina e as
isoxazolilpenicilinas são resistentes a essa penicilinase. Tais estafilococos são
chamados de meticilino-sensíveis (MSSA) ou oxacilino-sensíveis (OSSA).
Estafilococos MSSA são frequentemente cepas comunitárias, e a droga de
escolha para infecções causadas por essas cepas é a oxacilina.
A resistência dos estafilococos à meticilina e à oxacilina acontece por mu-
28 tação cromossômica e alteração de PBP. Estafilococos meticilino-resistentes
(MRSA) são frequentemente cepas hospitalares; às infecções causadas por
elas, indica-se o tratamento com glicopeptídios (vancomicina ou teicoplani-
na) ou linezolida.
D - Penicilinas de amplo espectro ou anti-Pseudomonas
No Brasil, as formulações disponíveis das penicilinas anti-Pseudomonas
são sempre associadas a inibidores de betalactamase. A ticarcilina (não dis-
ponível no Brasil) e a piperacilina são as mais utilizadas.
Antimicrobianos betalactâmicos: penicilinas
30
CAPÍTULO 4
Antibióticos betalactâmicos: cefalosporinas
1. Introdução
As cefalosporinas constituem um grupo de antimicrobianos semissintéti-
cos, cujo núcleo ativo é o ácido 7-aminocefalosporânico, constituído por um
anel betalactâmico ligado a um anel deidrotiazínico. Apesar da semelhança
química com as penicilinas, a presença desse anel confere às cefalosporinas
maior estabilidade perante as betalactamases que habitualmente inativam
as penicilinas naturais.
O ácido 7-aminocefalosporânico foi isolado em 1961, em culturas do fungo
Cephalosporium, e a partir dele foram produzidas inúmeras cefalosporinas
semissintéticas, com grande importância médica até hoje. As drogas dessa
classe estão entre as mais prescritas para tratamento anti-infeccioso, pela
sua ampla gama de indicações clínicas, sua baixa toxicidade, comodidade po-
sológica e perfil farmacocinético favorável.
As cefalosporinas sofreram manipulações laboratoriais ao longo do tempo,
com adição e substituição de radicais ligados a seu núcleo principal, o que re-
sultou em ampliação progressiva de atividade antibacteriana. A manipulação
de radicais no carbono 7 do núcleo principal leva a alterações no espectro de
ação e na resistência à hidrólise por betalactamase, enquanto a manipula-
ção de radicais no carbono 3 provoca alterações de meia-vida e penetração
tecidual.
2. Classificação
De acordo com a evolução cronológica dessas modificações, as cefalospori-
nas foram classificadas em “gerações”, enumeradas de 1ª a 4ª (recentemen-
te, com lançamento de uma 5ª geração), que agrupam drogas de espectro de
ação semelhantes.
As cefalosporinas de 1ª geração têm atividade direcionada basicamente
para Gram positivos. Já as cefalosporinas de 2ª geração têm melhor ativida-
de contra alguns Gram negativos em relação às de 1ª geração, e mantêm a
atividade contra cocos Gram positivos. Neste grupo, estão inclusas as cefami- 31
cinas, notáveis por sua atividade anaerobicida.
As cefalosporinas de 3ª geração têm importante atividade contra Gram
negativos, bastante superior à das gerações anteriores. Em contrapartida,
algumas drogas têm espectro reduzido para Gram positivos. Cefalosporinas
de 4ª geração apresentam o maior espectro de atividade de todo o grupo,
visto que resgatam a ação contra Gram positivos das 2 primeiras gerações,
mantendo a ampla atividade contra bacilos Gram negativos obtida a partir
da 3ª geração, inclusive contra cepas dotadas de mecanismos de resistência
Guia de Antibioticoterapia
titulada como uma nova classe (5ª geração) pelo fabricante, mas não houve
consenso em se usar este termo.
O ceftobiprole apresenta ação contra Staphylococcus aureus meticilino-
-resistente (MRSA), o que até o momento nenhuma cefalosporina havia
conseguido. Possui ainda ação contra Streptococcus pneumoniae penicilino-
-resistente, Pseudomonas aeruginosa e enterococos. Mudou o perfil de tra-
tamento de algumas infecções, já que, segundo o laboratório fabricante, te-
ria o mesmo espectro de ação da associação de vancomicina e ceftazidima
para infecções de pele complicadas, por exemplo.
42
CAPÍTULO 5
Antibióticos betalactâmicos: carbapenéns
1. Introdução
Os carbapenéns são antibióticos betalactâmicos derivados da tienamicina,
um composto produzido naturalmente pelo fungo Streptomyces cattleya.
São as drogas de maior amplo espectro entre os betalactâmicos e são está-
veis à hidrólise pela maioria das betalactamases, o que as torna drogas de es-
colha no tratamento de infecções graves, nosocomiais, causadas por agentes
multirresistentes. No Brasil, estão aprovados para uso clínico o imipeném, o
meropeném e o ertapeném. Apesar de disponível em vários outros países, o
doripeném ainda não é comercializado no Brasil, sendo que seu espectro é
muito semelhante ao do meropeném.
2. Mecanismo e espectro de ação
Assim como os demais betalactâmicos, os carbapenéns agem ligando-se às
PBPs – transpeptidases envolvidas na síntese de parede celular bacteriana –,
levando a célula à lise. No entanto, têm alta afinidade com PBP de alto peso
molecular, o que os torna altamente ativos contra Gram positivos e Gram
negativos. Além disso, penetram a membrana externa de Gram negativos
através de porinas específicas – diferentes das utilizadas por penicilinas e
cefalosporinas –, o que permite afluxo rápido e altas concentrações no espa-
ço periplásmico. Essa característica dificulta a hidrólise por betalactamases,
que habitualmente já têm menor afinidade pelas moléculas carbapenêmicas
quando comparadas ao anel betalactâmico de penicilinas e ao anel cefêmico
de cefalosporinas. Dessa forma, a maioria das cepas permanece sensível a
carbapenêmicos mesmo quando resistentes a penicilinas e às cefalosporinas
de 4ª geração.
Além dos Gram positivos e Gram negativos habitualmente sensíveis a pe-
nicilinas e cefalosporinas, seu espectro inclui Staphylococcus aureus, Escheri-
chia coli, Enterobacter cloacae, Citrobacter freundii, Proteus rettgeri, Serratia
marcescens, Proteus vulgaris, Klebsiella oxytoca, Pseudomonas aeruginosa e
Bacteroides fragilis, bactérias frequentemente produtoras de penicilinases e 43
betalactamases.
Os carbapenéns têm espectros de ação semelhantes. O imipeném é leve-
mente mais ativo contra Gram positivos, enquanto o meropeném e o ertape-
ném são ligeiramente mais ativos contra Gram negativos aeróbios.
Todas as drogas são muito eficientes contra Streptococcus beta-hemo-
líticos, Streptococcus pneumoniae e Staphylococcus (aureus e epidermidis)
meticilino-sensíveis. O imipeném apresenta atividade bacteriostática contra
Enterococcus faecalis sensíveis à penicilina, porém o mesmo não ocorre com
Guia de Antibioticoterapia
44 As drogas desta classe são muito mais estáveis e resistentes à ação de betalac-
tamases. Somente 1 tipo desta enzima – a metalobetalactamase – é capaz de hi-
drolisar e inativar os carbapenêmicos. Nem todos os Gram negativos são capazes
de produzir esse tipo de enzima, já descrito em Pseudomonas e Acinetobacter.
A alteração de PBP também é o principal mecanismo de resistência em
Gram positivos. No entanto, como os carbapenêmicos apresentam alta afini-
dade por sua PBP específica, a resistência é rara.
A destruição pela produção de enzima carbapenemase (KCP) é assunto
atual e de importância clínica, principalmente a partir de 2009. Essa enzima é
Antibióticos betalactâmicos: carbapenéns
6. Efeitos adversos
Os possíveis efeitos adversos dos carbapenêmicos são semelhantes aos
provocados pelos demais betalactâmicos, e o mais frequente deles é a hi-
persensibilidade. Não há evidência de que os carbapenêmicos tenham maior
propensão a causar nefrotoxicidade ou hepatotoxicidade. As alterações he-
matológicas também são similares.
O imipeném pode provocar náuseas se infundido rapidamente. Descreve-
-se neurotoxicidade associada ao imipeném, manifestada por convulsões,
geralmente em indivíduos que apresentam condição neurológica de base ou
indivíduos com insuficiência renal para os quais não foi feito ajuste de dose.
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CAPÍTULO 6
Quinolonas
1. Introdução
As quinolonas são antimicrobianos sintéticos, bactericidas, derivados do
ácido nalidíxico – 1º fármaco desta classe, introduzido na prática clínica em
1962. As primeiras quinolonas tiveram uso limitado em razão das baixas con-
centrações séricas e da rápida emergência de resistência. No entanto, no fi-
nal da década de 1970, a manipulação laboratorial dessas drogas deu origem
às fluoroquinolonas (átomo de flúor na posição 6), com melhor perfil farma-
cocinético e maior atividade bactericida. A partir daí, iniciou-se o amplo uso
de quinolonas até os dias atuais.
Tabela 1 - Características gerais
Mecanismo de ação
- Bloqueiam a atividade da topoisomerase tipo II em Gram negativos (também de-
nominadas DNA-girase) e tipo IV em Gram positivos; atuam em bactérias em fase
de crescimento estacionário.
Farmacodinâmica
- Concentração-dependentes.
Efeito antimicrobiano
- Ação bactericida.
Resistência
- Mutações cromossômicas determinando menor afinidade da DNA-girase;
- Redução de porinas, com consequente diminuição de permeabilidade.
Propriedades
- Efeito pós-antibiótico.
2. Mecanismo de ação
O sítio de ação das quinolonas são as enzimas topoisomerases: tipo II em
Gram negativos (também denominadas DNA-girase) e tipo IV em Gram po-
Quinolonas
A - Norfloxacino
O norfloxacino foi uma das primeiras quinolonas lançadas no mercado, no 51
início da década de 1980. Sua absorção oral é parcial, variando de 30 a 45%, e
as concentrações plasmáticas obtidas são baixas. No entanto, a concentração
urinária é muitas vezes maior do que a plasmática. Essa característica, junta-
mente com seu espectro de ação contra enterobactérias – incluindo E. coli –,
resulta em sua principal indicação clínica: tratamento de infecções do trato
urinário (não complicadas).
Entretanto, as baixas concentrações séricas impedem seu uso em infec-
ções urinárias complicadas e pielonefrites, que podem ser acompanhadas de
Guia de Antibioticoterapia
C - Ofloxacino
O ofloxacino apresenta uma das melhores biodisponibilidades orais entre
as quinolonas, razão pela qual está disponível apenas nessa formulação. Cer-
ca de 90% da dose administrada são excretados sobre a forma ativa na urina,
o que lhe confere grande utilidade no tratamento de infecções urinárias. Seu
espectro e indicações clínicas são muito similares aos do ciprofloxacino, ex-
ceto pela menor atividade anti-Pseudomonas.
Em nosso meio, o ofloxacino tem sido reservado para o tratamento de tu-
berculose, associada a outros tuberculostáticos, em pacientes que necessi-
tem de esquema alternativo ao de 1ª linha, geralmente em virtude de hepa-
totoxicidade. Essa indicação é mais frequente em indivíduos que apresentem
hepatopatia de base, de etiologia alcoólica, viral ou outra.
A dose habitual é de 200 a 400mg de 12/12h.
D - Levofloxacino
O levofloxacino é a 1ª das chamadas quinolonas de “3ª geração”, com-
postos sintéticos com radicais específicos para melhoria de espectro e perfil
farmacocinético. Assim, foram lançadas drogas de administração em dose
única diária, com melhor atividade contra cocos Gram positivos, incluindo
Streptococcus pneumoniae; e com melhor concentração sérica e penetração
pulmonar, permitindo o seu uso em infecções das vias aéreas superiores e
inferiores adquiridas na comunidade.
O levofloxacino corresponde ao isômero levógiro do ofloxacino, com
melhor perfil farmacocinético, que permite administração de dose única
diária (500 a 750mg). A administração oral resulta em concentrações sé-
ricas muito semelhantes às obtidas com a via intravenosa – biodisponibili-
dade oral de 100%. A eliminação é predominantemente renal (80%). Tem
excelente distribuição por todos os tecidos e fluidos do organismo, onde
atinge, habitualmente, concentrações superiores à sérica, com ênfase para
a concentração pulmonar (2 a 5 vezes maior que a concentração sérica).
Exceção é feita à concentração liquórica, que se situa em torno de 16% da
sérica, o que não permite o uso rotineiro para o tratamento de meningites
bacterianas.
Seu espectro de ação abrange quase todos os agentes etiológicos de infec- 53
ções respiratórias adquiridas na comunidade, incluindo pneumococos resis-
tentes à penicilina, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e agentes
“atípicos”, como Legionella, Chlamydia e Mycoplasma. Portanto, suas princi-
pais indicações clínicas são: pneumonias adquiridas na comunidade, exacer-
bações agudas de bronquite crônica e rinossinusites agudas e crônicas. Pode
ser usada, ainda, nas infecções complicadas do trato urinário, nas infecções
de pele e subcutâneo e nas infecções intestinais causadas por Salmonella,
Shigella, Campylobacter jejunii e Yersinia enterocolitica.
Guia de Antibioticoterapia
E - Moxifloxacino
O espectro de ação do moxifloxacino é muito similar ao do levofloxacino,
assim como sua penetração nas vias aéreas superiores e inferiores. Está dis-
ponível para usos oral e parenteral, também em dose única diária (400mg),
e não há necessidade de ajuste de dose em insuficiência renal. Seu uso é se-
guro em pacientes com insuficiência hepática leve a moderada (Child A e B),
porém não há dados de segurança disponíveis para hepatopatias terminais
(Child C).
As principais indicações clínicas são: pneumonias adquiridas na comunida-
de, exacerbações agudas de bronquite crônica, rinossinusites agudas e crô-
nicas e infecções de partes moles. A descrição inicial da ação contra alguns
anaeróbios também indica o uso dessa droga a infecções de partes moles
não tão simples, mas sem internação prévia.
É importante ressaltar que esta droga pode provocar o prolongamento do
intervalo QT, devendo ser usada com cautela em cardiopatas e evitada em
pacientes com distúrbios de condução e do ritmo cardíaco.
7. Efeitos adversos
Os efeitos adversos mais frequentes relacionam-se ao trato gastrintestinal
e incluem anorexia, náuseas, vômitos, desconforto abdominal e diarreia, que
podem ocorrer em 3 a 13% dos pacientes. Hepatotoxicidade ocorre mais ra-
ramente.
Podem ocorrer efeitos neurológicos em 1 a 7% dos pacientes: cefaleia,
tontura, sonolência, delírios, alucinações e, mais raramente, convulsões. Os
efeitos mais graves, sobretudo delírio e alterações de nível de consciência,
são mais habituais em idosos.
As reações de pele são menos frequentes que em betalactâmicos e in-
cluem prurido, urticária e rash fixo.
Descreve-se o efeito tóxico de quinolonas sobre a cartilagem epifisária,
com degeneração e erosões prejudiciais ao crescimento, detectada em ani-
mais de laboratório. Por isso, as quinolonas habitualmente são contraindica-
das a recém-nascidos, lactentes e crianças de até 12 anos e durante a ges-
tação. Recentemente, foi comprovado por vários trabalhos que este risco é
desprezível em crianças, mas seu uso ainda é evitado por pediatras nessa
54 faixa etária.
Outros efeitos muito raramente citados são nefrite intersticial, anemia,
leucopenia, eosinofilia, plaquetopenia, artrite e tendinite.
Algumas quinolonas trazem alterações eletrofisiológicas cardíacas, principal-
mente prolongamento do intervalo QT, como o moxifloxacino. Deve ser utiliza-
do com cautela em cardiopatas, e seu uso é desencorajado em indivíduos com
alteração do ritmo cardíaco. O grepafloxacino foi retirado do mercado nos EUA
em razão desse efeito adverso, com 7 óbitos por arritmia cardíaca em indiví-
duos que faziam uso da droga, durante o período em que foi comercializada.
Quinolonas
55
CAPÍTULO 7
Macrolídeos
1. Introdução
Os macrolídeos, antimicrobianos com ação sobre a síntese proteica bacte-
riana, ligam-se ao RNA ribossômico, impedindo a extensão da cadeia peptí-
dica nascente. Essa ligação é reversível, o que lhes confere atividade bacte-
riostática. Os macrolídeos clássicos são a eritromicina e a espiramicina, e os
mais novos, mais amplamente utilizados atualmente, são a claritromicina,
a azitromicina e a roxitromicina. Em virtude de suas peculiaridades, neste
capítulo será estudada cada droga separadamente.
2. Eritromicina
56
A eritromicina foi o 1º macrolídeo introduzido na prática médica, em 1952,
quando foi obtida a partir de culturas do fungo Streptomyces erythreus. É um
antibiótico essencialmente bacteriostático, podendo eventualmente ter ati-
vidade bactericida em altas concentrações contra bactérias muito sensíveis.
Pode ser usada por vias oral (base, sais estearato e estolato), intramuscular
e intravenosa. Para a adequada absorção oral, deve ser formulada em cáp-
sulas que a protejam dos ácidos gástricos, pois é inativada em pH gástrico.
A absorção ocorre no segmento superior do intestino delgado e é melhor
Macrolídeos
Infecções em que
os macrolídeos
constituem a Macrolídeos Doses para adultos
terapêutica de 1ª
escolha
Complexo Azitromicina 1.200mg, semanal
Mycobacterium avium
– profilaxia Claritromicina 500mg de 12/12h
Claritromicina 500mg de 12/12h VO por 1 ano após
Mycobacterium avium (+ etambutol) culturas de escarro negativas
– doença pulmonar Azitromicina 500mg 1x/d VO por 1 ano após culturas
(+ etambutol) de escarro negativas
Mycobacterium Claritromicina
500mg de 12/12h VO por 4 a 6 meses
fortuitum/chelonae (+ amicacina)
Azitromicina 500mg VO 1x/d por 5 a 10 dias
Mycoplasma
Claritromicina 250mg VO de 12/12h por 14 dias
pneumoniae
Eritromicina 500mg de 6/6h VO por 14 a 21 dias
Uretrite não
gonocócica em homens Azitromicina 1g VO, dose única
(C. trachomatis
ou Ureaplasma Eritromicina 0,5g de 6/6h VO por 7 dias
urealyticum)
63
CAPÍTULO 8
Glicopeptídios, oxazolidinonas e lipopeptídios
1. Glicopeptídios
Os glicopeptídios são antimicrobianos semissintéticos isolados e desenvol-
vidos a partir da década de 1950 e apresentam espectro de ação principal-
mente contra bactérias Gram positivas, inclusive as resistentes a betalactâ-
micos, sendo as infecções por essas cepas suas principais indicações clínicas.
As drogas pertencentes a este grupo, disponíveis no Brasil, são a vancomi-
cina e a teicoplanina.
A - Vancomicina
A vancomicina, o 1º glicopeptídio introduzido na prática médica, em 1957,
produzido a partir de culturas de Streptomyces orientales, foi lançada no
mercado como alternativa ao tratamento de infecções por estafilococos pe-
nicilino-resistentes. No entanto, a alta toxicidade dos primeiros compostos
produzidos e a disponibilização de novos betalactâmicos mais estáveis diante
das penicilinases estafilocócicas praticamente restringiram seu uso a pacien-
tes alérgicos a betalactâmicos.
A partir da década de 1980, a emergência de cepas de estafilococos me-
ticilino-resistentes, que limitavam o uso de oxacilina para o tratamento de
estafilococcias nosocomiais, ocasionou a retomada do uso da vancomici-
na, uma vez que essas cepas mantinham sensibilidade a glicopeptídios, e
as novas técnicas de purificação permitiam a fabricação de compostos de
vancomicina com menos efeitos adversos. Desde então, a vancomicina é
amplamente utilizada, especialmente em infecções hospitalares, e já há re-
latos de emergência de resistência a glicopeptídios, inicialmente por cepas
de Enterococcus e, mais recentemente, a clones isolados de Staphylococcus
aureus.
a) Mecanismo de ação
A vancomicina tem uma estrutura molecular complexa, composta por uma
64 série de peptídios organizados em uma conformação tricíclica, ligados a um
dipeptídio constituído por glicose e vancosamina.
Seu efeito bactericida baseia-se na inibição da síntese de parede celular
em bactérias Gram positivas, e seu sítio de ação são os peptidoglicanos que
compõem a parede celular – N-metilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico
– e os peptídios que fazem as ligações cruzadas entre essas moléculas. Os
monômeros que participam da síntese de peptidoglicano são produzidos no
citoplasma. A seguir, atravessam a membrana celular para serem adiciona-
dos à cadeia nascente.
Glicopeptídios, oxazolidinonas e lipopeptídios
o indivíduo apresenta fatores de risco para infecção por Gram positivos re-
sistentes. O risco de resistência bacteriana está presente em hospitalizados
há mais de 48 horas – especialmente em unidades críticas – ou, ainda, não
hospitalizados que frequentem serviços de saúde (hospital-dia, serviços de
diálise, unidades de quimioterapia) ou tenham recebido alta hospitalar nos
últimos 30 dias. Esse risco é ainda maior quando houve exposição recente a
antimicrobianos. Dentre os fatores de risco para infecção por Gram positivos,
é importante ressaltar: presença de cateter venoso central de curta ou longa
permanência, ventilação mecânica atual ou extubação recente, cirurgia re-
cente e lesão de pele como possível porta de entrada.
A incidência de S. aureus como agente de pneumonia relacionada à ven-
tilação mecânica é variável e pode ser elevada em algumas instituições. Em
caso de incidência elevada, a vancomicina deve compor o esquema terapêu-
tico empírico inicial até que estejam disponíveis análises microbiológicas de
espécimes obtidos de vias aéreas (cultura quantitativa de secreção traqueal,
lavado ou escovado broncoalveolar), especialmente em pacientes que apre-
sentem instabilidade hemodinâmica. Deve ser associada a antimicrobianos
com amplo espectro para Gram negativos, frequentes em pneumonia asso-
ciada à ventilação mecânica e não cobertos por vancomicina (cefalosporina
de 4ª geração ou carbapenêmico).
No tratamento da neutropenia febril, a vancomicina deve ser associada
quando o paciente mantém febre após 48 horas a partir do início do esque-
ma empírico inicial, para ampliação de espectro. A pacientes com fatores de
risco para infecção por Gram positivo – cateter venoso central, mucosite, in-
fecção de pele e fâneros, foco em cavidade oral ou perianal –, recomenda-se
a vancomicina desde o 1º momento.
A tromboflebite associada a acesso venoso periférico, em pacientes in-
ternados, comumente tem componente infeccioso, cujos principais agentes
são S. aureus e S. epidermidis, com alta incidência de resistência à oxacilina.
Quando há evidência de infecção, a vancomicina é indicada, juntamente com
medidas locais (retirada do acesso, compressas quentes). Pode estar indica-
da anticoagulação, dependendo da extensão da trombose. É importante a
coleta de hemoculturas em outro sítio, para descartar a presença de infecção
de corrente sanguínea associada.
A colite pseudomembranosa é uma entidade clínica causada pelas toxi- 69
nas A e B de Clostridium difficile. Pacientes colonizados por esse agente,
quando expostos a antibióticos que favoreçam a seleção dessa bactéria no
trato gastrintestinal, podem apresentar proliferação do Clostridium diffici-
le, com intensa liberação de toxinas na luz intestinal, o que provoca colite
com formação de pseudomembranas fibrinosas que recobrem a mucosa.
O quadro clínico habitualmente inclui diarreia profusa, distensão abdomi-
nal e febre, e o diagnóstico é confirmado pela detecção das toxinas A e B
nas fezes, com ou sem isolamento do agente em coprocultura. Em caso
Guia de Antibioticoterapia
confirmado, o tratamento deve ser instituído com metronidazol por via oral,
para ação tópica na luz intestinal. Em pacientes que não respondem ao tra-
tamento com a droga de escolha, a vancomicina é uma opção e deve ser
usada por via oral na dose de 125 a 500mg de 6/6h, até a resolução clínica e
a ausência da toxina nas fezes. É recomendado o isolamento de contato do
paciente durante todo o tratamento. O uso de vancomicina intravenosa não
é indicado para tratamento de colite, pois ela pode inclusive causar colite em
uso prolongado intravenoso.
Aqueles em programas de diálise peritoneal que apresentem infecção es-
tafilocócica ou enterocócica relacionada a cateter de diálise, com cultura po-
sitiva de líquido peritoneal, sem repercussão sistêmica, podem ser tratados
com vancomicina em instilação intraperitoneal. Caso haja qualquer manifes-
tação sistêmica, deve ser instituída terapia intravenosa.
Por fim, a vancomicina constitui opção terapêutica para o tratamento de
estafilococcias e estreptococcias em alérgicos a betalactâmicos, independen-
te do perfil de sensibilidade dos agentes.
f) Efeitos adversos
A principal toxicidade da vancomicina é a nefrotoxicidade, e sempre deve
ser realizado ajuste de dose de acordo com o clearance de creatinina. As
primeiras formulações eram mais nefrotóxicas em virtude de impurezas no
composto, porém as apresentações mais recentes são mais bem purificadas
e tiveram esse efeito reduzido, porém ainda considerável. O efeito nefrotó-
xico é associado quando há junção de outras drogas com tal potencial, como
os aminoglicosídeos.
É recomendada a monitorização de nível sérico da droga para administra-
ção de doses conforme a necessidade para manutenção da faixa terapêutica,
porém é importante ressaltar que não existem estudos suficientes para cor-
relação entre os valores de nível sérico e resposta clínica. Logo, a administra-
ção em dose plena deve ser feita sempre que possível.
Os efeitos adversos mais frequentes da vancomicina são aqueles relaciona-
dos à sua infusão, podendo ocorrer de mal-estar inespecífico a pico febril. É
descrita a “síndrome do homem vermelho”, representada por eritema de rá-
pido estabelecimento durante a infusão no tronco superior, no pescoço e na
face, mais raramente associada a hipotensão e angioedema. O mecanismo
provável é a liberação maciça de histamina e a degranulação de mastócitos
induzida pela droga. O fenômeno não é considerado hipersensibilidade e em
geral é resolvido com diminuição de velocidade de infusão e administração
de anti-histamínicos. A hipersensibilidade à vancomicina não é comum.
Existe descrição de ototoxicidade relacionada à vancomicina, porém esse
evento era frequente com as formulações antigas de vancomicina, e rara-
mente registrado atualmente.
A dosagem de vancomicina sérica (vancocinemia) deve ser realizada sem-
pre, a fim de evitar efeitos colaterais sérios e realizar o tratamento na dose
adequada com erradicação das bactérias almejadas de aniquilação. A vanco-
cinemia rotineiramente é indicada a pacientes acima de 60 anos, em insufi-
ciência renal, obesos ou no uso prolongado da droga. É realizada por meio
da dosagem no pico de vale da droga, 1 hora antes da 4ª dose (momento em
que a concentração deve estar menor).
B - Teicoplanina
A teicoplanina tem espectro de ação muito semelhante ao da vancomicina, 71
e, portanto, indicações clínicas sobreponíveis. Exceção é feita às infecções do
SNC, pois a teicoplanina não apresenta penetração liquórica que autorize o
uso para esse fim.
As vantagens da teicoplanina em relação à vancomicina dizem respeito ao
seu perfil farmacocinético, uma vez que apresenta meia-vida longa e boa con-
centração tecidual prolongada. Tais características permitem seu uso em dose
única diária, por via intravenosa ou intramuscular. Sendo assim, uma boa op-
ção para tratamento por tempo prolongado, ambulatorial ou em hospital-dia.
Guia de Antibioticoterapia
2. Oxazolidinonas
As oxazolidinonas são antimicrobianos sintéticos desenvolvidos por síntese
orgânica laboratorial e têm ação bacteriostática contra uma série de pató-
genos humanos – especialmente Gram positivos –, com destaque para es-
treptococos e estafilococos, incluindo cepas resistentes a betalactâmicos e
glicopeptídios. Tal característica fundamenta os principais usos clínicos desta
classe de drogas.
Várias oxazolidinonas encontram-se em estudo, no entanto, até o momen-
to, somente uma representante dessa classe está disponível para uso clínico:
a linezolida, lançada no mercado em 1987 e disponível no Brasil há alguns
anos. Sua estrutura molecular difere essencialmente das moléculas de be-
talactâmicos e glicopeptídios, o que torna improvável a resistência cruzada
entre linezolida e essas classes de drogas.
A - Mecanismo de ação e resistência
A linezolida liga-se à subunidade 50S do ribossomo bacteriano, impedindo
72 a formação do complexo com a subunidade 30S, necessária para o início da
síntese proteica. Dessa maneira, a síntese de proteínas é inibida em sua fase
inicial, o que confere ação bacteriostática a essa droga. Não há interferência
na ligação do RNA transportador.
A resistência à linezolida ainda é rara, e os casos descritos referem-se a es-
tafilococos meticilino-resistentes e VREs com mutações no RNA ribossômico.
A maioria dos casos relacionava-se à exposição prévia à linezolida e/ou ao
seu uso prolongado. Ainda há poucos dados sobre o impacto clínico desses
mecanismos de resistência.
Glicopeptídios, oxazolidinonas e lipopeptídios
B - Aspectos farmacológicos
Existem apresentações de linezolida para uso intravenoso e por via oral.
Esta última apresenta boa biodisponibilidade, com concentrações séricas
máximas semelhantes às obtidas após a administração intravenosa.
Apresenta boa distribuição orgânica e concentração tecidual, especialmen-
te no parênquima pulmonar, uma vez que sua concentração no líquido alve-
olar pode corresponder a até 4,5 vezes a concentração sérica.
A excreção é predominantemente renal, 30% sob a forma ativa inalterada,
e 50% sob a forma de metabólito por processo de oxidação. Cerca de 10% da
droga são eliminados por via fecal.
C - Espectro de ação
A linezolida é altamente ativa contra a maioria das bactérias Gram positivas
de importância médica, incluindo Staphylococcus aureus (sensíveis e oxaci-
lino-resistentes), estafilococos coagulase-negativos, Enterococcus faecium e
Enterococcus faecalis (sensíveis e vancomicino-resistentes) e estreptococos
(incluindo cepas de Streptococcus pneumoniae penicilino-resistentes).
A despeito de sua atividade habitualmente bacteriostática, há evidência
de atividade bactericida contra cepas de S. pneumoniae e Streptococcus pyo-
genes.
Outros Gram positivos que vêm adquirindo importância, especialmente
em imunodeprimidos, demonstram sensibilidade à linezolida, como Coryne-
bacterium spp., Listeria monocytogenes, Bacillus sp. e Rhodococcus equi.
Há evidência sobre a atividade da linezolida contra anaeróbios, incluindo
Bacteroides fragilis, Clostridium difficile, Fusobacterium, e cocos Gram posi-
tivos anaeróbios.
O espectro de ação da linezolida contra bactérias Gram negativas e atípi-
cas é limitado, o que contraindica o seu uso com tal fim de cobertura. Existe
atividade comprovada contra uma série de micobactérias – entre elas M. tu-
berculosis –, entretanto ainda não está validada sua utilidade clínica para o
tratamento de infecções por tais agentes.
D - Uso clínico
73
O uso clínico da linezolida em nosso meio está diretamente relacionado
ao seu potencial para tratamento de infecções por agentes resistentes a be-
talactâmicos e glicopeptídios, especialmente em ambiente hospitalar. O alto
custo da droga ainda limita seu uso em infecções não complicadas adquiridas
na comunidade, a despeito de seu espectro compatível e da possibilidade de
uso por via oral.
Em geral, é indicada para o tratamento de infecções por estafilococos me-
ticilino-resistentes (MRSAs), VREs e Streptococcus pneumoniae.
Guia de Antibioticoterapia
E - Efeitos adversos
A linezolida, em geral, é bem tolerada, podendo ocorrer sintomas gastrin-
testinais – como náuseas, vômitos e diarreia – tanto em seu uso por via oral
quanto por via parenteral.
74 A toxicidade mais frequentemente relatada é a hematológica. Podem ocor-
rer citopenias isoladas de todas as séries e, mais raramente, pancitopenia.
Entre as citopenias, a mais habitual é a plaquetopenia, que atinge até 47%
dos pacientes que fazem uso de linezolida por tempo superior a 10 dias. Sua
gênese parece estar relacionada a mecanismos imunomediados. Há relatos
de anemia isolada, causada aparentemente por inibição medular de eritro-
poese. A neutropenia isolada é rara. É recomendada a monitorização com
hemograma de todos que fazem uso de linezolida, especialmente por tempo
superior a 10 dias.
Glicopeptídios, oxazolidinonas e lipopeptídios
75
CAPÍTULO 9
Aminoglicosídeos
1. Introdução
Os aminoglicosídeos são antibióticos naturais de um grupo cuja 1ª dro-
ga foi a estreptomicina, substância isolada em 1944, a partir de culturas do
fungo Streptomyces griseus. Sua composição química envolve 2 ou mais ami-
nocarboidratos unidos por uma ligação glicosídica. A ação é bactericida, rela-
cionada à inibição de síntese proteica. As principais drogas desse grupo são a
estreptomicina, a gentamicina, a neomicina, a tobramicina e a amicacina (um
antibiótico semissintético).
Tabela 1 - Características gerais
Mecanismo de ação
- Agem por meio da ligação ao RNA ribossômico (RNAr), inibindo o início da síntese
proteica, e provocam a produção de proteínas defeituosas e não funcionais (in-
cluindo as proteínas da membrana celular), o que leva à lise celular e à consequen-
te morte bacteriana.
Farmacodinâmica
- Concentração-dependentes.
Efeito antimicrobiano
- Ação bactericida.
Resistência
- Cromossômicas e extracromossômicas:
· Mecanismos:
* Alteração estrutural do sítio de ação ribossômico;
* Síntese de enzimas inativadoras.
Propriedades
- Efeito pós-antibiótico.
2. Mecanismos de ação
Os aminoglicosídeos agem por meio da ligação ao RNA ribossômico (RNAr),
76 impedindo a ligação adequada ao RNA mensageiro (RNAm) para a tradução
e o início da síntese proteica. Além disso, mesmo que seja iniciada a síntese
proteica, a presença do aminoglicosídeo induz ao pareamento errôneo entre
os códons do RNAm e anticódons do RNA transportador (RNAt), provocando
a produção de proteínas defeituosas e não funcionais. Dentre essas proteí-
nas, estão inclusas as responsáveis pela estrutura da membrana celular, que
se tornam anômalas e incapazes de mantê-la, o que leva à lise celular e à
consequente morte bacteriana. Essa ação garante aos aminoglicosídeos efei-
to bactericida contra agentes sensíveis.
Aminoglicosídeos
A - Estreptomicina
A estreptomicina foi o 1º aminoglicosídeo introduzido na prática médica,
em 1943, e está disponível para uso intramuscular. Até 30% da dose admi-
nistrada sofrem inativação hepática, e cerca de 70 a 90% são excretados por
via renal sob a forma ativa. Altas concentrações são atingidas no parênquima
renal, entretanto também são encontradas em pequena quantidade na bile.
Atualmente, as indicações clínicas da estreptomicina são limitadas, entre
as quais se podem citar: tratamento de tuberculose; tratamento de endocar-
dite por Streptococcus do grupo viridans ou Enterococcus sp., em associação 79
a penicilina G ou ampicilina, respectivamente; tratamento de peste bubônica
(Yersinia pestis) e brucelose (Brucella sp.).
No tratamento da tuberculose, a estreptomicina é indicada em 3 situações:
- Como parte do esquema para tuberculose multirresistente (TBMR), indi-
cado nos casos de falência do esquema básico, com resistência à rifam-
picina + isoniazida ou rifampicina + isoniazida + outra droga de 1ª linha;
- Como alternativa a pacientes com intolerância à rifampicina ou à isoniazi-
da, com necessidade de terapêutica parenteral;
Guia de Antibioticoterapia
B - Neomicina
A neomicina foi isolada em 1949, a partir de culturas do fungo Strep-
tomyces fradiae. É dotada de extrema nefrotoxicidade e ototoxicidade quan-
do administrada por via parenteral, de maneira que não é disponível para
uso através dessa via. Por ela, tem ação tópica sobre a flora intestinal, porém
não é absorvida em quantidades suficientes para seu uso em infecções em
outros sítios.
Dessa maneira, seu uso se limita basicamente a formulações tópicas – ha-
bitualmente, cremes ou pomadas – associadas a outros antimicrobianos e/
ou corticosteroides, para tratamento de infecções cutâneas leves e superfi-
ciais ou, ainda, profilaxia de infecções, como em queimaduras e feridas ope-
ratórias.
80 Existe também a solução oral, indicada para o preparo cirúrgico do cólon
e no tratamento da encefalopatia hepática. O uso pré-operatório é questio-
nável e dispensável quando realizada antibioticoprofilaxia intravenosa ade-
quada na indução anestésica. Com relação à encefalopatia hepática, seu uso
objetiva a redução da carga bacteriana na luz intestinal, de maneira a dimi-
nuir a produção de compostos nitrogenados por esses microrganismos, que
acabam por ser absorvidos e, pela falta de metabolização hepática adequa-
da, participam da fisiopatologia da encefalopatia. No entanto, a indicação
está caindo em desuso, uma vez que o uso de lactulona isoladamente parece
Aminoglicosídeos
6. Efeitos adversos
Os principais efeitos adversos dos aminoglicosídeos dizem respeito à sua
nefrotoxicidade e ototoxicidade.
O mecanismo de lesão renal por aminoglicosídeos é a necrose tubular por
toxicidade direta, que ocorre em 5 a 25% dos pacientes que usam alguma
droga parenteral deste grupo. Em contato com o aminoglicosídeo, ocorre
morte das células tubulares renais, geralmente, relacionada ao processo de
recaptação que se segue à filtração glomerular da droga. Esse efeito depende
da dose administrada e do tempo de tratamento e parece ser minimizado
quando a administração é feita em dose única diária. É mais frequente em
idosos, nefropatas, diabéticos, desidratados ou em uso concomitante de ou-
tras drogas nefrotóxicas.
A ototoxicidade acontece por lesão direta das células cocleares e vestibula-
res em contato com a droga e é mais comum em indivíduos com insuficiência
renal, em função da excreção diminuída, que acarreta níveis séricos mais ele-
vados e prolongados. A lesão coclear manifesta-se por zumbido e hipoacusia
para sons de alta frequência e pode evoluir para anacusia se mantido uso
por tempo prolongado. A lesão vestibular manifesta-se por vertigem e, mais
rara e tardiamente, por ataxia. O uso otológico tópico dos aminoglicosídeos
também pode levar a essas lesões.
83
CAPÍTULO 10
Polimixinas
1. Introdução
As polimixinas são antibióticos naturais obtidos a partir de culturas da bac-
téria Bacillus polymyxa. Das diversas substâncias produzidas por esse micror-
ganismo, designadas pelas letras A, B, C, D, E e M, somente as polimixinas B
e E são usadas na prática clínica, em razão de sua menor toxicidade. Foram
disponibilizadas para uso médico em 1947, e sua estrutura química é consti-
tuída por polipeptídios cíclicos com ação bactericida.
Esses antibióticos foram amplamente utilizados entre as décadas de 1960
e 1980, especialmente em infecções por Pseudomonas aeruginosa. No en-
tanto, a alta incidência de efeitos tóxicos, principalmente renais, levou as
polimixinas a serem gradualmente substituídas por antimicrobianos de de-
senvolvimento mais recente, dotados de menor nefrotoxicidade. Seu uso
foi retomado somente a partir da década de 1990, devido à emergência de
bactérias Gram negativas multirresistentes, que limitaram o uso de outras
classes de antimicrobianos nessas situações, inclusive cefalosporinas e car-
bapenêmicos.
2. Mecanismo de ação e aspectos farmacológicos
As polimixinas agem sobre a membrana plasmática de bactérias Gram ne-
gativas, inicialmente, ligam-se aos LPSs da membrana externa e, a seguir, são
internalizadas. Além disso, integram-se à estrutura fosfolipídica da membra-
na plasmática, gerando descontinuidades letais à célula, seja por desregula-
ção dos mecanismos osmóticos, seja por extravasamento de citoplasma, que
culminam em lise celular – são, portanto, antibióticos de ação bactericida.
Por sua ação “detergente” nas membranas, é raro o desenvolvimento de re-
sistência bacteriana.
No entanto, esse mesmo mecanismo é responsável pelas toxicidades des-
sas drogas. Como sua ação sobre as membranas é pouco seletiva, ocorre
também sobre as membranas celulares humanas, especialmente no rim, de-
84 terminando a nefrotoxicidade característica das polimixinas.
As polimixinas estão disponíveis apenas em apresentação parenteral e em
algumas formulações para uso tópico, além de apresentarem meia-vida de
4 a 6 horas. A eliminação se dá pela via renal, razão pela qual devem sofrer
ajuste em caso de insuficiência renal.
A polimixina E, sob a forma do sal colistimetato, é também conhecida como
colistina. É mais utilizada por apresentar menor potencial tóxico que a poli-
mixina B e está disponível em apresentações parenterais, com formulação
em unidades ou miligramas. A dose habitual é de 3 a 5mg/kg/d, divididos a
Polimixinas
1. Introdução
As tetraciclinas são antibióticos naturais e semissintéticos caracterizados
pela presença de um anel tetracíclico em sua estrutura química. As primeiras
tetraciclinas isoladas foram a aureomicina (clortetraciclina), em 1947, a par-
tir de culturas de Streptomyces aureofaciens, e a terramicina (oxitetraciclina),
em 1950, a partir de culturas de Streptomyces rimosus. Daí em diante, foi
possível a identificação do núcleo ativo comum a essas substâncias – a tetra-
ciclina base –, que originou novos derivados, com espectro de ação e perfil
farmacocinéticos mais favoráveis para uso clínico.
Dentre os vários compostos semissintéticos derivados da tetraciclina, os
que estão disponíveis e são usados com mais frequência no Brasil são a mi-
nociclina e a doxiciclina, classificadas como tetraciclinas de longa ação, por
apresentarem meia-vida mais prolongada, melhor penetração tecidual e
maior espectro antimicrobiano.
As tetraciclinas agem sobre a síntese proteica e impedem a ligação do RNA
transportador ao ribossomo, necessária à agregação do aminoácido trans-
portado ao peptídio nascente. Tal mecanismo lhes confere ação bacteriostá-
tica. A resistência, quando ocorre, é causada por alteração de sítio ribossômi-
co de ação e/ou bombas de efluxo.
2. Aspectos farmacológicos
As tetraciclinas estão disponíveis para usos oral e parenteral, e quase 100%
da dose de doxiciclina ou minociclina administrada são absorvidos no estô-
mago e no intestino delgado, podendo chegar a 80% a absorção oral das de-
mais drogas do grupo.
A meia-vida é variável, sendo a doxiciclina e a minociclina as de meia-vida
mais prolongada: 18 e 20 horas, respectivamente. Têm boa penetração teci-
dual e alcançam altas concentrações no fígado, no baço, na medula óssea,
nos ossos e nos dentes, bem como no líquido sinovial e na mucosa dos seios
paranasais. As concentrações também são terapêuticas nos rins, nos múscu-
los, na pele, na saliva e no humor vítreo. Na bile, são encontradas em concen-
86 trações 5 vezes maiores que a sérica.
A capacidade de penetração é maior para a doxiciclina e a minociclina, em
virtude das suas características de lipossolubilidade e hidrossolubilidade.
Além de todos os sítios já mencionados, concentram-se bem na secreção
brônquica, nos órgãos genitais femininos e na próstata. A doxiciclina atinge
concentração pulmonar semelhante à do soro, enquanto a minociclina tem
concentração superior na parede da vesícula biliar e nos intestinos.
As tetraciclinas de ação curta (tetraciclina, oxitetraciclina e clortetraciclina)
são excretadas pelos rins (60%) e pelas fezes (40%) e não devem ser adminis-
Tetraciclinas
Doença de Lyme
Tanto a tetraciclina quanto a doxiciclina podem ser usadas no tratamento da fase
aguda da doença de Lyme (Borrelia burgdorferi), em doses usuais por 14 a 21 dias.
Infecções por Vibrio vulnificus
O tratamento das infecções de partes moles com rápida evolução para sepse rela-
cionadas a traumas penetrantes por espinhas ou barbatanas de peixe deve incluir
a doxiciclina no esquema terapêutico, pois habitualmente são provocadas por esse
vibrião.
Infecções por Pasteurella multocida
O tratamento de celulites e abscessos relacionados a mordedura de cão ou de gato
deve contemplar este bacilo Gram positivo na cobertura, pois está presente na flora
natural da boca desses animais. A tetraciclina constitui alternativa ao tratamento
dessas infecções, para as quais a amoxicilina-clavulanato é a droga de escolha.
Malária
A malária por Plasmodium falciparum tem, como principal causa de recrudescência pós-
-tratamento, as hemácias parasitadas que permanecem sequestradas nos capilares pe-
riféricos. A doxiciclina está indicada como esquizonticida sanguíneo de ação lenta para
a erradicação dessas formas, após o uso de um esquizonticida de ação rápida para a
redução da parasitemia, como quinino, mefloquina ou derivados de artemisinina.
Febre maculosa
Provocada pela Rickettsia rickettsii, esta febre purpúrica infecciosa tem a doxiciclina
e o cloranfenicol como opções terapêuticas. A doxiciclina pode, ainda, ser usada na
profilaxia de febre maculosa em indivíduos picados por carrapatos em regiões onde
estejam ocorrendo casos da doença.
Leptospirose
A droga de escolha para o tratamento das infecções por Leptospira interrogans é
a penicilina cristalina, porém a doxiciclina pode ser utilizada profilaticamente em
indivíduos que entraram em contato com águas potencialmente contaminadas por
urina de ratos, como as vítimas de enchentes.
4. Efeitos adversos
Os principais efeitos adversos referem-se ao trato gastrintestinal, por into-
lerância por via oral. Podem ocorrer náuseas, vômitos e diarreia. A hepatoto-
xicidade é rara e relaciona-se com a esteatose microvesicular.
As reações cutâneas podem ocorrer por hipersensibilidade, desde um
exantema maculopapular fugaz até uma erupção fixa com formação de vesí-
culas. A 1ª manifestação é mais comum e pode ser acompanhada por febre,
88 mal-estar e linfadenomegalia. São descritas reações de fotossensibilidade,
desencadeadas por exposição à luz ultravioleta, com lesões eritematosas, hi-
perpigmentadas e descamativas.
Quadros extremos podem simular porfiria. As tetraciclinas são considera-
das os antimicrobianos com maior potencial fototóxico, porém a incidência
desse efeito é menor com a doxiciclina e a minociclina quando comparadas
às demais tetraciclinas.
Um efeito adverso peculiar é o acúmulo na dentina e no esmalte dentário,
provocando pigmentação irreversível dos dentes e até mesmo hipoplasia de
Tetraciclinas
1. Introdução
As sulfonamidas, as primeiras drogas com atividade antimicrobiana intro-
duzidas na prática médica, a partir de 1932, são compostos derivados da sul-
fanilamida, uma molécula de estrutura química muito semelhante à do ácido
para-aminobenzoico (PABA), substrato requerido para a síntese de ácido fóli-
co em células bacterianas. O ácido fólico, por sua vez, é um cofator essencial
na síntese de purinas e, em última análise, de DNA.
Por sua semelhança com a molécula de PABA, as sulfonamidas inibem de
forma competitiva a enzima bacteriana deidropteroato-sintetase, que é res-
ponsável pela incorporação do PABA ao ácido deidrofólico (ácido fólico); des-
sa forma, bloqueia a síntese desse mesmo ácido e, consequentemente, a sín-
tese de ácido tetraidrofólico, metabolicamente ativo (Figura 1). Tal inibição é
altamente prejudicial à síntese bacteriana de ácidos nucleicos, uma vez que
as bactérias, ao contrário de células eucarióticas, não utilizam ácidos fólicos
pré-formados e necessitam formá-los a partir do PABA.
90
pelo HIV tornou-se a principal indicação clínica do SMX-TMP, por sua exce-
lente atividade e a possibilidade de tratamento intravenoso em casos graves,
que pode ser concluído por via oral. A associação é útil, ainda, na profilaxia
primária de pneumocistose e neurotoxoplasmose em intensamente imuno-
deprimidos (CD4 <200 células/mm3) e na profilaxia secundária de pneumo-
cistose até a reconstituição da imunidade.
Cabe destacar ainda que a associação constitui uma das opções para o tra-
tamento das formas leves e moderadas de paracoccidioidomicose no Brasil.
Outras indicações usuais estão listadas na Tabela 3.
Tabela 3 - Indicações clínicas
- Isosporíase;
- Nocardiose;
- Infecções por Stenotrophomonas maltophilia;
- Infecções por Burkholderia cepacia.
93
CAPÍTULO 13
Antifúngicos
1. Introdução
O reino Fungi ou Eumycota abrange organismos uni ou pluricelulares, com-
postos por células eucariotas, isto é, com material genético constituído por
DNA envolto por membrana nuclear, e dotadas de organelas membranosas
(complexo de Golgi, mitocôndrias e retículo endoplasmático). A membrana
plasmática lipoproteica é rica em ergosterol.
Esses organismos apresentam parede celular constituída por quitina e são
seres estritamente aeróbios, heterótrofos, desprovidos de cloroplastos e clo-
rofila, portanto incapazes de realizarem fotossíntese. Além disso, nutrem-se
a partir de absorção e armazenam glicogênio.
As células fúngicas não formam tecidos verdadeiros. Há organismos uni-
celulares, que crescem em colônias, denominados leveduras, e organismos
pluricelulares, que formam filamentos de células denominadas hifas e ema-
ranhados de hifas que constituem o micélio – são classificados como filamen-
tosos. Por fim, algumas espécies se caracterizam por apresentarem a forma
miceliana filamentosa quando no ambiente e a forma de levedura quando
em parasitismo – são fungos denominados dimórficos.
Tabela 1 - Principais gêneros patogênicos
Leveduriformes
- Candida;
- Cryptococcus;
- Malassezia;
- Pichia;
- Rhodotorula;
- Trichosporon.
Filamentosos
- Aspergillus;
- Cladosporium;
- Fusarium;
94
- Mucor;
- Penicillium;
- Sporothrix.
Dimórficos
- Coccidioidis;
- Histoplasma;
- Loboa;
- Paracoccidioidis.
Antifúngicos
A - Mecanismo de ação
Por sua característica lipofílica, a molécula da anfotericina B exerce sua ati-
vidade antifúngica por meio da inserção na membrana plasmática do fungo,
ligando-se às moléculas de ergosterol. Em baixas concentrações da droga,
esse mecanismo aumenta a atividade dos canais de potássio transmembrana
e, em altas concentrações, forma poros na membrana celular. O resultado
dessas alterações é a modificação da permeabilidade seletiva da membrana
plasmática, o que compromete a sobrevida da célula.
É importante ressaltar que a capacidade de ação da anfotericina sobre a
membrana plasmática independe da divisão celular ou de qualquer atividade
metabólica do fungo, visto que seu sítio de ligação está permanentemente
exposto. Essa característica é crucial para a rápida e intensa atividade anti-
fúngica da droga.
B - Formulações
A 1ª formulação de anfotericina, licenciada desde 1959, foi a anfotericina B
deoxicolato, que contém a droga ativa associada ao sal deoxicolato de sódio.
Essa formulação é insolúvel em água em pH fisiológico e, por sua caracterís-
tica lipofílica e pela afinidade por membranas, exerce atividade também em
membranas celulares humanas, cuja expressão clínica mais importante é a
nefrotoxicidade.
Com o objetivo principal de minimizar o efeito nefrotóxico da anfotericina,
foram desenvolvidas formulações da droga com excipiente lipídico. Atual-
mente, estão disponíveis 3 desses compostos: anfotericina B dispersão coloi-
dal, complexo lipídico e lipossomal.
A anfotericina B dispersão coloidal (ABCD – Amphocil®) é um composto de
anfotericina B com sulfato de colesterol em quantidades equimolares, for-
mando partículas coloidais. O resultado, deste modo, são moléculas da droga
agregadas a moléculas lipídicas, formando uma dispersão lipofílica.
Já na anfotericina B complexo lipídico (ABLC – Abelcet®), as moléculas es-
tão complexas a moléculas de fosfatidilcolina e fosfatidilglicerol, formando
uma suspensão lipídica em que cada molécula de anfotericina está ligada a
uma molécula de excipiente.
Por fim, na anfotericina B lipossomal (LAmB – Ambisome®), a droga é
96 processada com várias moléculas de lecitina-colesterol-fosfatidilglicerol, de
maneira a formar um lipossoma, isto é, uma vesícula lipofílica unilamelar
contendo a molécula de anfotericina em seu interior. Dessa maneira, toda a
superfície da molécula está recoberta pelo excipiente lipídico, o que diminui
o seu potencial de toxicidade.
Essas formulações apresentam espectro de ação sobreponíveis, porém
com perfis farmacocinéticos diferentes. Aparentemente, os resultados tera-
pêuticos são similares, no entanto é necessária a validação de seu uso para
cada indicação clínica da anfotericina.
Antifúngicos
renal. Em doses mais altas, podem ocorrer necrose tubular aguda, lesão de
membrana basal e perda definitiva da função do néfron.
Recomendam-se a diluição máxima da droga e a expansão volêmica com
solução salina em infusão rápida antes e depois da administração, o que tem
algum efeito protetor para a nefrotoxicidade. Alguns estudos têm demons-
trado redução de toxicidade renal com infusão contínua em 24 horas, mas
essa forma de administração ainda não tem sido utilizada rotineiramente. As
formulações lipídicas apresentam menor toxicidade renal, especialmente a
anfotericina lipossomal.
Há ainda toxicidade hematológica, sobretudo sobre a série eritrocítica. A
anemia deve-se tanto à redução de eritropoetina consequente da toxicidade
renal quanto à mielotoxicidade direta. A anemia isolada é o fenômeno he-
matológico mais comum, mas pode haver pancitopenia. Há descrição, ainda,
de cardiotoxicidade, sobretudo alterações de condução, e mais raramente
diminuição da contratilidade miocárdica.
As reações de hipersensibilidade são raras e, quando ocorrem, incluem
broncoespasmo e taquidispneia.
3. Azólicos
Os azólicos são compostos sintéticos caracterizados pela presença de um
anel imidazólico em sua estrutura química, que lhes confere atividade anti-
fúngica. Seu mecanismo de ação relaciona-se à inibição de síntese de ergos-
terol – componente essencial da membrana plasmática fúngica – por meio
da inibição da enzima C-14-alfa-lanosterol-demetilase. Esse mecanismo lhes
confere atividade fungistática.
O 1º derivado azólico desenvolvido foi o cetoconazol, e, a seguir, manipula-
ções do anel imidazólico deram origem a compostos denominados triazólicos,
com menor toxicidade, menor interação com outras drogas e maior espectro.
A seguir, as peculiaridades de cada droga deste grupo.
A - Cetoconazol
O cetoconazol está disponível para uso por via oral, e sua biodisponibilida-
de é variável por essa via. É solúvel em pH ácido (<3) – situação em que apre-
senta melhor absorção –, por isso a sua biodisponibilidade é intensamente
afetada pela integridade do trato gastrintestinal e pela alimentação do pa- 99
ciente. O uso concomitante de bloqueadores H2 ou de inibidores de bomba
de prótons prejudica a absorção e a eficácia terapêutica do cetoconazol.
Sua metabolização ocorre no fígado, com eliminação biliar, e a eliminação
renal é muito baixa, por essa razão apresenta importante hepatotoxicidade,
seu principal efeito adverso.
A distribuição e a penetração teciduais são variáveis e dependentes do ní-
vel sérico. Em geral, há boa concentração nos pulmões, na pele e na secreção
vaginal.
Guia de Antibioticoterapia
Seu uso por via oral é limitado apenas a pacientes que não possuem, com
integridade do trato gastrintestinal, os distúrbios de absorção intestinal. A
formulação intravenosa é limitada a pacientes com insuficiência renal, pois
seu excipiente – a ciclodextrina – pode acumular-se e gerar toxicidades entre
indivíduos com clearance de creatinina <50. Não é contraindicado o uso da
formulação oral nessa situação, desde que a gravidade da infecção e a condi-
ção clínica do paciente o permitam.
O espectro é amplo contra leveduras, fungos filamentosos e dimorfos, in-
cluindo fungos de importância crescente em imunodeprimidos – como As-
pergillus, Fusarium e Scedosporium – e boa atividade contra espécies com
sensibilidade à anfotericina intrinsecamente reduzida.
Em relação ao espectro, a limitação diz respeito à sua inatividade contra
zigomicetos (Mucor, Rhizopus, Absidia, Rhizomucor) – fungos filamentosos
responsáveis por infecções invasivas graves em neutropênicos. Desta forma,
deve ser usado com cautela na terapia empírica de infecções invasivas por
fungos filamentosos prováveis ou comprovados. Essa característica vem mo-
tivando ampla discussão científica sobre a sua utilidade para a profilaxia de
infecções fúngicas em neutropênicos e transplantados, pela possibilidade de
aumento de incidência de infecções por zigomicetos.
Tem sido utilizado, ainda, no tratamento de candidíases superficiais não
responsivas ao fluconazol, e candidíase invasiva, incluindo candidemia.
Segundo o consenso de neutropenia febril de 2011, da Sociedade Americana
de Doenças Infecciosas (IDSA), o voriconazol é a 2ª opção no tratamento em-
pírico de infecções fúngicas em neutropênicos febris (atrás apenas das equi-
nocandinas). Em pacientes neutropênicos febris pós-transplante de medula
óssea, passa a ser a 1ª opção pelo alto risco de aspergilose nessa população.
Em nosso meio, o voriconazol ainda é limitado pelo alto custo.
E - Posaconazol
Trata-se, provavelmente, do azólico mais potente já lançado, não disponí-
vel ainda no Brasil, mas com previsão de lançamento para 2012. Tem espec-
tro de ação semelhante ao do voriconazol, com maior potência em algumas
leveduras. Também não trata adequadamente zigomicetos.
Apresenta como maior inconveniente a apresentação apenas via oral, com
102 necessidade de uso em conjunto com alimentos para melhorar a absorção.
Tem sido discutido seu uso em profilaxia pós-transplantes de medula, pelo
uso via oral e pela boa cobertura para Aspergilose, Fusarium e Scedosporium.
4. Equinocandinas
A - Caspofungina
A caspofungina (Cancidas®) foi a 1ª equinocandina licenciada para uso,
inaugurando essa classe de antifúngicos. Trata-se de um lipopeptídio cíclico
Antifúngicos
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