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Giovanna Ferreira

IMUNOSSUPRESSORES 3) bloqueio de moléculas da superfície


das células T por anticorpos mono e
Mecanismo de ação: o imunossupressor policlonais.
altera a função linfocitária usando fármacos
INIBIDORES SELETIVOS DA
ou anticorpos contra as proteínas
imunológicas. Devido à grave toxicidade PRODUÇÃO E DA FUNÇÃO DAS
desses fármacos quando são usados como CITOCINAS
monoterapia, geralmente é empregada uma Fármacos que interferem na produção ou na
associação de imunossupressores em baixas atividade da IL-2 reduzem significativamente
dosagens. Os regimes imunossupressores a resposta imune e, assim, diminuem a
consistem, em geral, de dois a quatro rejeição de transplantes. Dentre esses
fármacos com mecanismos diferentes, que fármacos estão inibidores da calcineurina,
interrompem várias etapas da ativação das bloqueadores da coestimulação e inibidores
células T. de mTOR.

A cascata de ativação da imunidade pode ser A. CICLOSPORINA


descrita com um modelo de três sinais:
um inibidor da calcineurina, é um
1º sinal constitui a ativação das células T no polipeptídeo cíclico li- pofílico extraído do
complexo receptor CD3 por um antígeno na fungo do solo Beauveria nivea.
superfície de uma célula apresentadora de Mecanismo de ação: suprime
antígeno (CAA). O primeiro sinal isolado é preferencialmente as reações imunes
insuficiente para ativar as células T e precisa mediadas por células, enquanto a imunidade
do segundo sinal. humoral é bem menos afetada. Depois de
difundir para as células T, ela se liga à
2º sinal, também chamado de coesti- ciclofilina (ou imunofilina), formando um
mulação, ocorre quando CD80 e CD86, na complexo que se liga à calcineurina. Esta é
superfície das CAAs, ativam CD28 nas células responsável pela desfosforilação do fator
T. nuclear citosólico da célula T ativada
Ambos, ativam várias vias intracelulares de (FNcTA). Como o complexo calcineurina-
transdução de sinais, sendo uma delas a via ciclosporina não consegue executar essa
calcineurina-cálcio. Essas vias iniciam a reação, o FNcTA não conse- gue entrar no
produção de citocinas, como a interleucina- núcleo para promover as reações
2 (IL-2), e a ativação de linfócitos B necessárias à síntese de citocinas, incluindo
dependentes de células T. A IL-2, então, fixa- a IL2. O resultado é a diminuição da IL2, que
se ao receptor IL-2 (também conhecido por é o estímulo químico primário para
CD25) na superfície de outras células T, aumentar o número de linfócitos T.
ativando o alvo da rapamicina em mamíferos Uso terapêutico: usada para prevenir a
(mTOR) e promovendo o 3ºsinal, que é o rejeição de transplantes alogênicos de rim,
estímulo para proliferação de células T. fígado e coração e, geralmente, é combinada
em regime de dois ou três fármacos com
Classificação: podem ser classificados pelo corticosteroides e um antimetabólito.
seu mecanismo de ação: Também pode ser usada contra a psoríase
recalcitrante.
1) interferência na produção ou na
Farmacocinética: pode ser administrada
ação das citocinas;
por via oral ou infusão intravenosa (IV). A
2) desregulação do metabolismo
absorção oral é variável devido à
celular, impedindo a proliferação
biotransformação pelo CYP450 (CYP3A4) no
dos linfócitos;
trato gastrintestinal (TGI) e ao efluxo pela
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glicoproteína P (gpP), que limita a absorção em pacientes para os quais o tratamento


de ciclosporina e a bombeia de volta ao padrão da rejeição falhou. Está aprovada
lúmen intestinal. A ciclosporina é exten- uma preparação em pomada contra a
samente biotransformada, primariamente dermatite atópica de moderada a grave, que
pelo CYP3A4 hepático. A excreção dos não responde ao tratamento convencional.
metabólitos é primariamente por via biliar, Farmacocinética: administrado por via oral
nas fezes. ou IV. A via oral é preferida, a absorção oral
Efeitos adversos: vários dos efeitos é incompleta e variável, exigindo ajusta-
adversos causados pela ciclosporina são mento da dosagem. Esse fármaco é
dose-dependentes. Portanto, é importante biotransformado no intestino pela isoenzima
monitorar os níveis do fármaco no sangue. A CYP3A4/5 e é substrato da gpP. Juntos, esses
nefrotoxicidade é o efeito adverso mais mecanismos limitam a biodisponibilidade
comum e importante da ciclosporina; oral do tacrolimo. A absorção diminui se o
portanto, é crucial monitorar a função renal. fármaco for ingerido com alimentos ricos em
A redução da dosagem pode reverter a gorduras ou carboidratos. O fármaco e seus
nefrotoxicidade na maioria dos casos. metabólitos são excretados, primariamente,
nas fezes.
Pode ocorrer hepatotoxicidade, a função
Efeitos adversos: Nefrotoxicidade e
hepática deve ser avaliada periodicamente.
neurotoxicidade (tremores, convulsões e
Em pacientes que usam ciclosporina, alucinações). O desenvolvimento de
infecções são comuns e podem ameaçar a diabetes melito dependente de insulina
vida. Infecções virais devido ao grupo herpes depois do transplante é um problema, espe-
e ao citomegalovírus (CMV) são prevalentes. cialmente em pacientes negros e hispânicos.
Em pacientes transplantados, pode ocorrer O tacrolimo não causa hirsutismo nem
linfoma devido ao nível de imunossupressão. hiperplasia gengival, mas pode causar
alopecia. Comparado à ciclosporina, o
Hipertensão, hiperlipidemia, tacrolimo tem menor incidência de
hiperpotassemia tremores, hirsutismo, toxicidade cardiovascular, como hipertensão
intolerância à glicose e hiperplasia gengival. e hiperlipidemia, ambas comorbidades
comuns em receptores de transplante renal.
B. TRACOLIMO As interações medicamentosas são similares
às da ciclosporina.
outro inibidor da calcineurina, é um
macrolídeo isolado de um fungo do solo, o
Streptomyces tsukubaensis. Esse fármaco é C. BLOQUEADORES DE
preferido à ciclosporina devido a sua maior COESTIMULAÇÃO (BELATACEPTE)
potência, a menos episódios de rejeição e ao um bloqueador de coestimulação de
efeito poupador de esteroide, reduzindo, segunda geração, é uma proteína de fusão
assim, a probabilidade de efeitos adversos recombinante que atinge o segundo sinal da
associados aos esteroides. cascata de ativação da imunidade. É usado
Mecanismo de ação: efeito imunos- para tratamento imunossu- pressor de longa
supressor da mesma forma que a duração.
ciclosporina, exceto por ele se ligar a uma
imunofilina diferente, a FKBP-12, e o Mecanismo de ação: bloqueia a coesti-
complexo se fixar à calcineurina. mulação dos linfócitos T mediada por CD28
Usos terapêuticos: prevenir rejeição de rim (segundo sinal), ligando-se ao CD80 e ao
e fígado (junto com glicocorticoides). CD86 nas CAAs. Isso impede os sinais
Também é usado no transplante de coração estimulantes e promove a sobrevivência e a
e pâncreas e como tratamento de resgate proliferação das células T e a produção de IL-
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2. serina/treonina), interferindo com o terceiro


Usos terapêuticos: usado em transplantes sinal.
de rins, em combinação com basiliximabe,
(Nota: as proteínas TOR são essenciais para
micofenolato de mofetila (MMF) e
várias funções celu- lares, como progressão
corticosteroides.
do ciclo celular, reparo de DNA, e como
Esse fármaco pode tomar o lugar dos reguladores envolvidos na translação de
inibidores da calcineurina na tentativa de proteínas.)
evitar as complicações cardiovasculares,
A ligação do sirolimo ao mTOR bloqueia a
metabólicas e renais de longa duração e
progressão das células T ativadas da fase G1
prejudiciais observadas com ciclosporina e
para a fase S do ciclo celular e,
tacrolimo.
consequentemente, a proliferação dessas
(Nota: o bloqueador de coestimulação de células. O sirolimo não diminui a produção
primeira geração, o abatacepte, está aprova- de IL-2, mas inibe a resposta celular à IL-2.
do contra a artrite reumatoide.) Usos terapêuticos: aprovado para o uso em
Farmacocinética: primeiro imunossupres- trans- plantes renais, juntamente com
sor de manutenção de uso IV e dosificado ciclosporina e corticosteroides. A associação
em duas fases. A fase inicial, de dose alta, é de sirolimo e ciclosporina é sinérgica, pois o
administrada em intervalos mais frequentes. sirolimo atua no final da cascata de ativa-
Na fase de manutenção, a dose diminui e é ção imune. Para limitar os efeitos adversos
administrada uma vez por mês. A dosificação prolongados da ciclosporina, o sirolimo é
mensal pode ser benéfica para pacientes usado com frequência em protocolos de
cuja aderência ao tratamento é um retirada do inibidor da calcineurina em
problema. A depuração do belatacepte não pacientes que permanecem sem rejeição
é afetada por idade, sexo, raça, função renal durante os primeiros três meses pós-
ou hepática. transplante. A ação antiproliferativa do
Efeitos adversos: aumenta o risco de sirolimo é valiosa na cardiologia, quando
distúrbio linfoproliferativo pós-transplante molas (stents) revestidas de sirolimo são
(DLPT), particularmente no SNC. usadas para inibir a rees- tenose dos vasos
sanguíneos, diminuindo a proliferação das
Contraindicado: para pacientes que nunca
células endoteliais.
foram ex- postos ao vírus Epstein-Barr, uma
Farmacocinética: O sirolimo está disponível
causa comum de DLPT. A titulação
em solução oral e comprimido. Refeições
sorológica para o EBV é obtida para
ricas em gordura podem diminuir a
confirmar a exposição. Os efeitos adversos
absorção.
comuns incluem anemia, diarreia, infecção
do trato urinário e edema. meia-vida longa (57-62 horas), permitindo
dosificação única por dia.

D. SIROLIMO O sirolimo também aumenta a concentração


de ciclosporina. Deve ser feita cuidadosa
conhecido como rapamicina é um
monitoração dos níveis sanguíneos dos dois
macrolídeo obtido da fermentação de um
fármacos para evitar a toxicidade.
fungo do solo, o Streptomyces
Efeitos adversos: Um efeito adverso fre-
hygroscopicus.
quente do sirolimo é a hiperlipidemia, o que
Mecanismo de ação: O sirolimo se liga à
pode exigir tratamento. Além de cefaleia,
mesma proteína ligadora FK citoplasmática
náusea, diarreia, leucopenia e
que o tacrolimo (FKBP-12), mas, em vez de
trombocitopenia. Observou-se dificuldade
for- mar um complexo com a calcineurina, o
de cicatrização em pacientes obesos e
sirolimo se une ao mTOR (uma cinase
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diabéticos que usaram sirolimo; isso pode citotóxicos da azatioprina, devido à rápida
ser problemático especialmente após proliferação da resposta imune e à sua
transplantes e em pacientes que recebem dependência da síntese de purinas,
corticosteroides. necessária para a divisão celular.

E. EVEROLIMO Sua maior toxicidade não imune é a


depressão da medula óssea.
Outro inibidor da mTOR, é aprovado para
uso em transplan- tes renais. Ele também é O uso concomitante com inibidores da
indicado como tratamento de segunda enzima conversora de angiotensina ou com
opção em pacientes com carcinoma de cotrimoxazol em pacientes que sofreram
células renais avançado. transplante renal pode levar a uma resposta
Mecanismo de ação: mesmo do sirolimo. leucopênica exagerada.
Usos terapêuticos: usado na prevenção da
O alopurinol, usado no tratamento da gota,
rejeição de transplantes renais em
inibe significativamente a biotransformação
combinação com basiliximabe, ciclosporina
da azatioprina. Por isso, a dosagem de
e corticosteroides.
azatioprina precisa ser reduzida. Náusea e
Farmacocinética: O everolimo é rapidamente
êmese também são observadas.
absorvido, mas a absorção diminui com
alimentos ricos em gorduras. É B. MICOFENOLATO DE MOFETILA
recomendado monitorar sua concentração
no sangue. Meia-vida muito mais curta do O MMF substituiu amplamente a
que a do sirolimo, necessitando de duas azatioprina, por oferecer mais segu- rança e
dosificações diárias. O everolimo aumenta a eficácia para prolongar a sobrevida do
enxerto. O MMF tem sido usado com
concentração da ciclosporina, aumentando,
consequen-temente, a sua nefrotoxicidade. sucesso nos transplantes de coração, rins e
fígado.
Efeitos adversos: tem efeitos adversos
similares aos do sirolimo. Um efeito adverso Mecanismo de ação: um inibidor não
adicional é o angioedema, que pode competitivo, reversível e potente da desi-
aumentar com o uso simultâneo de drogenase do monofosfato de inosina, que
inibidores da enzima conversora de bloqueia a formação de guanosina fosfato.
angiotensina. Também existe o aumento do Assim, como a 6-MP, ele priva as células T e
risco de trombose arterial e venosa renal, B em proliferação rápida de um
resultando na perda do transplante, nor- componente-chave dos ácidos nucleicos.
malmente nos primeiros 30 dias pós- administração por via oral.
transplante.
O metabólito glicuronídeo é excretado
predominantemente na urina.
ANTIMETABÓLITOS
IMUNOSSUPRESSORES Efeitos adversos: são gastrintestinais (GI),
incluindo diarreia, náuseas, êmese e dor
abdominal. Dosagens altas de MMF estão
A. AZATIOPRINA associadas ao maior risco de infecção por
A azatioprina foi um dos primeiros fármacos CMV. A administração simultânea com
amplamente usados no transplante de antiácidos contendo magnésio ou alumínio,
órgãos. ou com colestiramina, pode diminuir a
absorção do fármaco.
Mecanismo de ação: Os linfócitos são
predominantemente afetados pelos efeitos
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C. MICOFENOLATO SÓDICO COM


REVESTIMENTO ENTÉRICO

Em um esforço para minimizar os efeitos GI


associados ao MMF, foi desenvolvido o
micofenolato sódico, contido em formulação
de liberação prolongada, para liberação no
pH neutro do intestino delgado. Essa for-
mulação é equivalente ao MMF na
prevenção dos episódios agudos de rejeição
nos receptores de transplantes renal.
Contudo, a taxa de efeitos adversos GI é
similar à taxa do MMF.

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