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Giovanna Ferreira

Infecções do trato respiratório A infecção é causada pelo vírus da


influenza de tipos A, B e C. Vírus A e B são
As infecções respiratórias altas responsáveis pelas epidemias sazonais. Vírus
comprometem o trato respiratório superior C associa-se a casos esporádicos de
(coriza ou resfriado comum, amigdalite, infecções de menor gravidade.
faringite, adenoidite, otite); infecções Transmissão: vias respiratórias (fala,
respiratórias baixas afetam o trato tosse, espirro ou contato com superfícies
respiratório inferior (bronquite, bronquiolite, contaminadas através das mãos);
pneumonia). Clinica: mialgia, tosse seca, calafrios,
cefaleia, prostração e febre, muitas vezes
Infecções respiratórias agudas altas
superior a 38°C. Podem ocorrer vômitos e
caracterizam-se por sintomas nasais
diarreia, especialmente em crianças.
(rinorreia, obstrução nasal, dificuldade
respiratória), amigdalinos/faríngeos (dor de Grupo de risco: crianças, gestantes,
garganta, linfadenopatias cervicais), de seios puérperas, idosos e pessoas com doenças
da face (sinusites) e otológicos (otalgia, crônicas;
hipoacusia, vertigens), com ou sem A mais eficaz medida para controle da
comprometimento sistêmico (mal-estar infecção é a vacinação anual, feita
geral, prostração, falta de apetite, nacionalmente e destinada a populações de
hipertermia). risco (crianças, gestantes, trabalhadores de
As infecções respiratórias agudas baixas saúde, puérperas, idosos, indígenas e
apresentam-se como dificuldade população privada de liberdade).
respiratória, dor torácica, tosse, febre, TTO
cansaço marcado e falta de apetite. Terapia antiviral específica: inibidores
da neuraminidase: zanamivir (inalado),
Resfriado comum oseltamivir (oral) e peramivir (intravenoso),
que impedem a liberação do vírus influenza
Obstrução nasal, rinorreia, odinofagia e
das células infectadas, para pacientes com
tosse são os sintomas mais comuns. Tosse
influenza H1N1 suspeita ou confirmada e
em geral persiste após a resolução de
concomitante doença grave, complicada ou
rinorreia e obstrução nasal. Febre é mais
progressiva ou que estejam hospitalizados.
comum em crianças, sendo geralmente
baixa. Intensidade e variedade de sintomas Oseltamivir aumentou o risco de efeitos
estão diretamente ligadas à imunidade do adversos, como náuseas, vômito, efeitos
paciente, e não à capacidade do vírus em psiquiátricos e renais em adultos e vômitos
causar danos ao sistema respiratório. A em crianças.
apresentação clínica é a base do diagnóstico, A baixa biodisponibilidade pode
não sendo essencial a pesquisa do vírus. explicar a menor toxicidade com zanamivir
TTO comparativamente a oseltamivir.

Não há terapêutica específica;


Analgésicos e anti-inflamatórios não Rinossinusite
esteroides para alivio de dor muscular, O quadro mais arrastado que o de
articular, odinofagia e hipertermia quando resfriado comum, acometendo os seios
presente; nasais.
Anti-histamínico + descongestionante O diagnóstico deve ser considerado
para alivio de sintomas nasais pela presença de manifestações sistêmicas
Soluções salinas intranasais; (incluindo febre), dor sobre os seios nasais (e
por sua compressão), secreção nasal, tosse,
entre outros. É necessário diagnóstico
Influenza (gripe) diferencial com rinofaringites de outras
Duração de 4 a 6 semanas; etiologias, especialmente alérgica.
Giovanna Ferreira

TTO Associa-se à obstrução da tuba auditiva


Antimicrobianos não são indicados no e se apresenta com dor de ouvido e
manejo de sinusite aguda não complicada. diminuição da audição. Febre nem sempre
está presente. Infecção respiratória alta
uso de antimicrobianos na resolução de
frequentemente precede o quadro.
sintomas a partir do 14º dia.
Streptococcus pneumoniae é a bactéria
mais comumente identificada, seguida
Faringoamigdalite por Haemophilus influenzae.
quadros infecciosos mais frequentes, Otite média com efusão é caracterizada
especialmente em crianças, sendo causado pela presença de líquido na orelha média,
predominantemente por grande sem sinais de flogose timpânica.
multiplicidade de vírus.
Otite crônica caracteriza-se por
estreptococo do grupo A, perfuração timpânica e persistência da
Chlamydophila pneumoniae e Mycoplasma infecção, por vezes acompanhada de
pneumoniae; mastoidite e formação de colesteatoma.
Quadros mais localizados – sem estado TTO
gripal e tosse, de início agudo, com exsudato
Antimicrobianos tópicos (dado haver
e placas, febre mais elevada, maior
perfuração timpânica) e sistêmicos fazem
acometimento sistêmico, linfadenopatia
parte do manejo. Muitas vezes o processo
anterior (critérios Centor) – são
requer abordagem cirúrgica.
presumivelmente bacterianos.
Otite externa é tratada com
TTO
antimicrobianos tópicos (quinolonas,
Tratamento antimicrobiano está polimixinas e aminoglicosídeos).
indicado frente ao diagnóstico de infecção
Amoxicilina é o antimicrobiano de
por estreptococo do grupo A para prevenir
eleição, com longa tradição de emprego em
febre reumática. Uso de penicilina G
OMA.
benzatina comparativamente a sulfa
administrada por via oral em prevenção de Cefuroxima e
febre reumática. sulfametoxazol/trimetoprima são
substitutivos
Benzilpenicilina (penicilina G) injetável,
com procaína ou benzatina, foi o tratamento Amoxicilina com clavulanato e
demonstradamente eficaz para prevenir administração em três doses diárias não se
febre reumática em faringites mostraram superiores a amoxicilina utilizada
estreptocócicas; em uma ou duas doses diárias;

penicilina V (fenoximetilpenicilina), Macrolídios;


administrada por via oral por 10 dias;
amoxicilina, vantagem na cobertura de Laringite
outros microrganismos; pode apresentar-se de forma aguda ou
Cefalosporinas e macrolídios crônica (mais de 3 semanas / por infecção).
(particularmente azitromicina) são As causas incluem mau uso de cordas
substitutivos de penicilinas; vocais, agressores químicos e agentes
tratamento cirúrgico (amigdalectomia infecciosos.
com ou sem adenoidectomia) para casos Bactérias mais comumente identificadas
recorrentes de amigdalite. são Branhamella catarrhalis e Haemophilus
influenzae;
Otite média Clinica: rinorreia, tosse, dor de garganta,
apresenta-se em formas aguda, com ocasionalmente febre, com acréscimo de
efusão e crônica. disfonia, por vezes dolorosa (odinofonia).
TTO
Giovanna Ferreira

repouso das cordas vocais; pneumonia adquirida na comunidade e


Anti-histamínicos e antigripais são pneumonia nosocomial, que se desenvolve
aparentemente desprovidos de efeitos após 48 h de internação hospitalar.
relevantes As manifestações usuais são febre, dor
Não há embasamento para uso de pleurítica. dispneia e tosse purulenta,
antimicrobianos; associadas a sintomas sistêmicos como
adinamia e anorexia. Achados do exame
O tratamento do Crupe viral depende
físico incluem taquicardia, taquipneia e
da gravidade do quadro. Nos casos leves,
estertores pulmonares, mas podem estar
que não apresentam estridor em repouso,
ausentes, especialmente em pacientes
são requeridos somente hidratação oral e
idosos.
mínimo manuseio. Os pacientes com
estridor em repouso devem ser TTO
encaminhados ao hospital a fim de serem Empírico: betalactâmicos são os
monitorados do ponto de vista respiratório antimicrobianos de primeira escolha com
e receberem oxigênio e inalação com associação de macrolídios ou quinolonas
epinefrina. A dexametasona na dose de 0,6 para quadros mais graves.
mg/kg em dose única, por via intramuscular, Tratamento ambulatorial: antibióticos
ou 0,15 mg/kg, por via oral, e a budesonida de primeira escolha são a amoxicilina na
inalatória têm demonstrado eficácia em dose de 50 mg/kg, dividida em duas
melhorar os sintomas e diminuir a tomadas a cada 12 horas por três a cinco
necessidade de internação. A epiglotite é dias após o desaparecimento dos sintomas
uma emergência respiratória, sendo clínicos.
necessário o tratamento em ambiente
Em crianças maiores de cinco anos,
hospitalar.
devido à incidência do micoplasma e da
clamídia, pode-se optar pela introdução de
Bronquite aguda macrolídios.
processo inflamatório brônquico Pacientes com alergia a penicilina
autolimitado, de curso relativamente breve, podem ser tratados com macrolídios como a
com tosse, mas sem febre. Expectoração eritromicina ou a azitromicina, ou, ainda,
purulenta é relatada em até 50% dos casos e com cefalosporinas.
representa descamação de células a partir Tratamento hospitalar: deve ser
do epitélio traqueobrônquico, juntamente indicado às crianças com idade inferior a
com células inflamatórias. dois meses, devendo-se introduzir penicilina
TTO cristalina ou ampicilina associada a
Grande parte dos pacientes apresenta amicacina ou gentamicina. Para pacientes
quadro similar a resfriado comum e deve ser com idade inferior a cinco anos e presença
tratada somente com medicamentos de pneumonia extensa, de evolução rápida e
sintomáticos. A prescrição rotineira de com comprometimento importante do
antitussígenos e beta-2-agonistas não é estado geral, deve-se optar pela introdução
aconselhada. de oxacilina ou cefalosporina de terceira
geração, devido à possibilidade de infecção
pelo S. aureus ou pelo H. influenzae.
Pneumonia
Nos pacientes internados, o emprego
infecção aguda do parênquima do oxigênio está indicado para todas as
pulmonar, constituindo-se na mais grave crianças classificadas como tendo
infecção do trato respiratório. pneumonia grave.
Giovanna Ferreira

Sumário de indicação de tratamento e seleção de antimicrobianos em


infecções respiratórias.
Indicação de Grau de Nível de Comentários
tratamento e recomendação evidência
opções
terapêuticas
■ Resfriado comum
Antimicrobianos III C Não há qualquer evidência de
que antimicrobianos abreviem
o curso clínico
Tratamento IIa C Opções terapêuticas não
sintomático foram avaliadas em ensaios
clínicos de qualidade
■ Infecção por vírus influenza (gripe)
Doença I A Com confirmação laboratorial,
estabelecida em pacientes de risco,
(tratamento), com iniciando em até 48 h (ver
oseltamivir Capítulo 30)
Uso empírico de IIa B Pacientes de alto risco (ver
oseltamivir Capítulo 30)
Profilaxia de IIa A Contatos domiciliares e
contatos próximos (ver Capítulo 30)
(oseltamivir,
zanamivir)
■ Rinossinusite aguda
Tratamento com III A Apresentação sem
antimicrobianos complicações
■ Faringoamigdalite
Antimicrobiano em I A Para prevenir febre reumática,
presença de preferencialmente com
infecção por penicilina (benzilpenicilina ou
estreptococo do fenoximetilpenicilina)
grupo A
Antimicrobianos IIb B Discreta melhora sintomática
sem diagnóstico e prevenção de complicações
etiológico com altos NNTs
Prevenção com III C
antimicrobianos
Amigdalectomia IIb B Modesta redução de sintomas
no 1 ano em crianças
o

■ Otite média aguda


Tratamento com IIa A Benefício discreto em alívio de
antimicrobiano dor e complicações
supurativas (infrequentes);
preferência por amoxicilina em
até duas tomadas diárias
■ Laringite
Tratamento com III B
antimicrobianos
Giovanna Ferreira

■ Bronquite aguda
Tratamento com III B
Em pacientes sem
antimicrobianos complicações, na ausência de
DPOC
■ Exacerbações de causa infecciosa em DPOC
Tratamento com IIa B Em pacientes graves
antimicrobianos internados. Benefício
discutível em casos menos
graves
Opções de antimicrobianos
apresentadas no texto e
no Quadro 23.1
Prevenção com IIa B Para pacientes com
antimicrobianos exacerbação recorrente, uso
preferencial de macrolídios
■ Pneumonia comunitária
Tratamento com IIa B Amoxicilina (com e sem
antimicrobianos clavulanato) ou azitromicina,
por no máximo 7 dias;
ver Quadro 23.2

Quadro 23.3 ■ Esquema de administração de antimicrobianos utilizados no tratamento de infecções


respiratórias.
Medicamentos Via de administração Dose Intervalo entre doses
Penicilinas
Ampicilina VO, IV 250 a 500 mg A cada 6 h
Amoxicilina VO 500 mg A cada 8 h
Amoxicilina/clavulanato IV 875 mg A cada 12 h
VO 250 a 500 mg A cada 8 h
Macrolídeos
Azitromicina IV 250 a 500 mg A cada 24 h
VO 250 a 600 mg A cada 24 h
Claritromicina VO 250 a 500 mg A cada 12 h
Fluoroquinolonas
Gemifloxacino VO 320 mg A cada 24 h
Levofloxacino IV 500 mg A cada 24 h
Moxifloxacino VO, IV 400 mg A cada 24 h
Cefalosporinas
Cefuroxima (2a geração) VO 250 a 500 mg A cada 12 h
IV 750 mg A cada 8 h
Ceftriaxona (3a geração) IV 1.000 a 2.000 mg A cada 12 ou 24 h
IM 50 a 75 mg/kg A cada 24 h
Cefotaxima (3a geração) IV 1.000 a 2.000 mg A cada 8 h
Cefepima (4a geração) IV 1.000 a 2.000 mg A cada 8 h
IM 500 a 1.000 mg A cada 12 h
Outras
Sulfametoxazol/trimetoprima IV 8 a 12 mg*/kg/d A cada 12 h
VO 160 a 320 mg* A cada 12 h ou 24 h

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