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Entretanto, isto não configura uma impostação cronológica, mas sim uma
priorização ontológica,
Ser ‘fundante’, para Lukács, não significa ser ‘anterior’, vir antes, ou,
ainda, possuir um fundamento que não seja a própria processualidade
da qual o trabalho é a categoria fundante. Pelo contrário, não pode
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Portanto, “ser fundante não significa ser cronologicamente anterior, mas sim
ser portador das determinações essenciais do ser social, das determinações ontológicas
que consubstanciam o salto da humanidade para fora da natureza” (LESSA, 2002, p.
38). Desse modo não existe nenhuma das esferas citadas acima sem o trabalho. Ele
representa o momento fundante do ser social porque efetua o salto ontológico do mundo
orgânico para o mundo dos homens. Apenas por seu intermédio pôde um ser meramente
biológico tornar-se ser social. Por isso, ele torna-se o fundamento de todos os outros
complexos que configuram o ser social, o que não significa a redução desses complexos
ao trabalho1.
A educação é uma das esferas sociais que surge no momento de constituição do
ser social. Nasce a partir do trabalho, sendo dialeticamente condição para a realização
dele. Isto não significa, como já assinalamos, que esse complexo social tenha prioridade
ontológica sobre o trabalho, mas apenas mas que este último a exige como forma de sua
realização.
Neste sentido, a educação aparece no memento em que passar a existir o
homem. E quanto ele surge? Formulando de outra forma, quando ocorre o salto
ontológico que origina o ser social? O salto não pode ser determinado
cronologicamente, uma vez que o desenvolvimento da estrutura orgânica não assegura a
passagem do indivíduo meramente biológico para o homem social, de acordo com
Lukács,
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Embora as esferas sociais possuam as suas formas de existência assentadas em seus fundamentos
ontológicos, o que as remete ao trabalho, “nenhum ato de trabalho em sua singularidade pode exercer
todas as funções sociais que, no interior da reprodução de uma dada sociedade, em um dado momento
histórico, são requeridas do trabalho em sua totalidade.” (LESSA, 2002 p. 39).
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este processo deve sempre ocorrer sem que (sic) a transmissão dos
resultados do desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas
gerações seguintes seria impossível, e impossível, conseqüentemente a
continuidade do processo histórico. (s/d, p. 291, grifos do autor).
Entretanto, o papel social da educação não se resume aos aspectos traçados até
aqui. Cabe a ela, primordialmente, todavia, não de modo exclusivo, infundir sobre os
homens determinadas formas de agir em relação ao mundo natural e aos outros
homens. Dito de outro modo, a ação teleológica educativa tem com função ontológica,
na medida em que conserva os conhecimentos produzidos sócio-historicamente,
transmiti-los de modo favorável a forma de sociabilidade concretamente existente. Esse
caráter é apontado por Lukács (1981b, p. xxiv), “a problemática da educação reenvia à
questão sobre a qual ela se funda: a sua essência consiste em influenciar os homens a
fim de que, frente às novas alternativas da vida, reajam no modo socialmente desejado.”
Do ponto de vista do indivíduo, é insofismável a imprescindibilidade da
educação. Uma vez que ela atua no sentido de possibilitar a construção do gênero
humano nos indivíduos singulares. Conforme aponta Leontiev,
Com efeito, nos cabe por em relevo o papel da educação enquanto mediação da
reprodução social. Conforme ressalta Tonet, a construção genérica no indivíduo
mediada pela educação se processa de modo subordinado à reprodução da totalidade
social (Tonet, 2005 p. 215). Desse modo,
A educação animal pode ser feita totalmente pelo exemplo (...) para as
crianças, que tanto têm que a aprender, o método imitativo seria
fatalmente lento. Nas sociedades humanas, a instrução é dada tanto
pela explicação como pelo exemplo. (CHILDE, 1988, p. 13)
A criança não pode esperar até que um urso ataque a família para
aprender como evitá-lo. A instrução apenas pelo exemplo, neste caso,
poderá ser fatal a alguns dos alunos. A linguagem, porém, permite aos
mais velhos advertir o mais jovem contra os perigos mesmo quando
não se manifestam, e demonstrar as ações apropriadas no caso de sua
ocorrência. (1986, p. 44)
gerou. Neste sentido, os fios de ligação entre ela e o trabalho podem está mais ou menos
estreitos, mas nunca exclusivamente diretos. Em alguns momentos históricos ela só
pode cumprir sua função se justamente consegue se afastar relativamente dele.
É no comprimento de sua tarefa, mesmo, ou justamente, quando não estabelece
relação direta com transformação do mundo natural que a educação mais contribui para
a instauração das condições de reprodução da relação de trabalho na forma que ela
assume nas formações sociais concretas.
REFERÊNCIAS
CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem. 5a ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1986.
______. O que aconteceu na história. 5a ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1988.
FRIGOTTO, G. A produtividade da escola improdutiva. 3.a ed. São Paulo: Cortez, 1989.
______. Educação e a crise do capitalismo real. 4.a ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LEONTIEV, Aléxis. O desenvolvimento do psiquismo. 1.a ed. São Paulo: Moraes, s/d.
LESSA, Sérgio. Lukács: por que uma ontologia no século XX?. In: BOITO JR et al.
(Orgs.) A obra teórica de Marx: atualidade, problemas e interpretações. São Paulo:
Xamã, 2000. p. 159-170.
______. O mundo dos homens. 1.ª ed. São Paulo: Boitempo, 2002.
LUKÁCS, Georg. Il Lavoro. In: Per una Ontologia dell’essere sociale. Roma: Riuniti,
1981a, p. 11-131. (Tradução Mimeogr. de Ivo Tonet, 145p.).
______. La Riproduzione. In: Per una Ontologia dell’essere sociale. v. II, Roma:
Riuniti, 1981b. (Tradução Mimeogr. de Sergio Lessa, ccxlvii p.).
PONCE, Aníbal. Educação e luta de classes. 12 a ed. São Paulo: Cortez, Autores
Associados, 1992.