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IIfI.

ÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTARIA


!f) GERALDO ATALlBA

11/. edição /973: l!! ediçüo, IfI. (iragem, /975: 21.!. tiragem, /978:
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p tiragem, /99-1: -lI! lirugem. /995; 5'1 tiragem, /996: 6f!firagem,
(
/997; 7'llirageJn. 1998: 8'1 lirogl.!1I1, 1999: 6º ediçtio. lI! lirflJ;elll, !
1000; 2!! tiragem. 2001: ];[ tiragem. 1002: .J'l tiragem, 200]:
51! Jiragem, 200-1: 6" liraKem, 2005: 7!!. lirar,em, 2005:
8'-' tiragem. 2006; 9! tiragem, 2008.

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dedico esfe frelb"'",,
01.2009

Capítulo Único
ASPECTOS DA HIPÓTESE
DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

/7. Norma trihutária. IX. Questão terminológit'u. 19. Hipótese de ;nó-


déncia como cOr/airo legal. 20. Universalidade do wnceito de h.i. 2/.
Unidade /6gim da hipótcsc de incidência. 22. FalO im(lof/f\'el. 23. Faro
impon{\,cl e sua suhslm~"âo tl hipótese de incidê1l{";a, 24. Nascimento da
obrigação Irihurárill 25. Subsunçáo. 26. Fato imfJoní~'e/. como faro
jurfdico e não ato jurídico. 27. Caráter unitário do falO imponlvel. 28.
ASpeCIO.'i da hipótese til' incidência. 29. ASPC('fOpessoal. 30. Sujeito
ativo. 3/. Parafiscalulade. 32. Sujeito IhlSSi\'O. Dest/o/JramenlOs do
lema. 33. SujeilO 1'11.uim nos tributos vinculados. 34. Sujeição passim
indireta. 35. Aspecto temporal. 36 Colocarão tradicional do lema. 37.
Classificação tios imposlOJ baseada no {lJ"cero temporal da hi. 3H.
Crftica ao critério d(' da.uificação. 39. Cll1ssiJiwrâo dellllfica das h.i
quanto {lO os{J('("Io temporal. 40. Asp('Uo espacial. 41. Aspecto Itlilte.
rial. 42. Base imponíl"{'l (qllestâo term;,wlógim) .J3. D(1i"i~'ãode base
imponfllei. 44. AlíqUO{(1,-15. AUquota e tata. 46, {)('ferminaçáo do
"qllantum debctur". 47. {)inâmica da Ohrigll(âo tributária.

/7. Norma tributária


/7./ Direito tributário objetivo é o conjunto de nonnas jurídicas
que regula a tributação, entendendo-se por tributação a ação estatal de
tributar (isto é, de exigir tributos). Para que este conceito, provisório,
I não seja tautológico, mister se faz ter presente o conceito de tributo,
I examinado anterionnente.
Ii /7.2 O conceito jurídico de tributo é eminentemente fonnal. Como

f todos os conceitos jurídico-posilivos - tal como conceilllados por Celso


Antônio Bandeira de Mello (v. Natureza e Regime Jurídico das Autarquias,
pp. 77 e S5.) - s6 pode 5er fonnulado a partir do desenho legal construído
discricionariamente pelo legislador constituinte (já que. no Brasil, a Consti.
tuição adotou implicitamente um conceito de tributo, que o legislador infra.
constitucional não pode alterar).
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HIPóTESE DE INClDtNCIA TRIBUTÁRIA
ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCI[)~NClA TRIBUTÁRIA
53
17.3 Dizendo-se que se trata de obrigação pecuniária, já se deixa
17.9 Para que de tributo se trate, é mister que o comando "pague
claro seu objeto: a transferência de (comportamento do sujeito passi-
dinheiro ao est:tdo" sej:t preso à hipótese "se acontecer um fato X,
vo consistente em "transferir") dinheiros. O cunho obrigacional já é que não seja ilícito".
salientado no enunciado, que mais se circunscreve e melhor se defi-
ne quando se sublinha tratar-se de vínculo ex lege. isto é, result,mte Ao legislador incumbe descrever esses fatos, com a discriciona-
da vontade da lei, com abstração ou prescindência da vontade dos riedade que o sistema constitucion:tllhe concede (arts. 145, 153 a 156
da Constituição de 1988).
sujeitos afinal ligados pelo laço jurídico. Por derradeiro, completam
o conceito de tributo tanto a noção do sujeito passivo, como sendo
alguém submetido à lei, como a noção de sujeito ativo Como pessoa 17./0 Em suma: se a naona jurídica tem a seguinte estnHura: I) hipó-
públic:t, em regra (porque excepcionalmente o sujeito ativo pode ser tese, 2) mandamento, 3) sanção, só é obrigação tributária a que nasce por
pessoa privada, desde que deleg:tda pela lei). força do (2) mandamento. Aquelas obrigaçõcs pecuniárias que decorrem da
(3) sanção, não são tributárias.

/7.4 É norma tributária - compondo o conjunto que se convencionou


designar direito tributário material - a que trata do tributo, na sua configu. Pois este com,mdo só é obrigatório para a pessoa contemplada na
ração e dinâmica, c rege o relacionamento que o instituto enseja eSlabclccer hipótese legal; e só quando se configure, concreta e atu:tlmente, o fato
entre os sujeitos da obrigação tribulári.a e dos deveres de conlomo (assim ou estado de fato previsto n:t respectiva hipótese.
designados por Renalo Ales,i).
o
estudo desta hipólcse. em nível conceptual. tal como se configura no
direito lributário. é o objelO desle trabalho: examinar-lhe a estrulura. princi-
/7.5 Como afirmado, a estnItura de todas as normas do direito pais caraclerísticas c funçiio, nos seus aspeclos din~.II11icos e estáticos.
tributário é idêntica à das demais nonnas jurídicas, sendo passíveis de
igualtratarnento técnico.
Há um tipo de norma que fonna o centro do direito tributário, em /8. Questão terminológica
tomo da qual todo ele se eSlnItura: é a que contém a descrição do fato
a que se impu la o comando "entregue a importância x de dinheiro ao /8./ Tributo é a expressão consagrada para design:tr:t obrigaç,'o
est:tdo". ex lege, posta a cargo de certas pessoas. de levar dinheiros aos cofrc.s
públicos. É o nome que indica a relação jurídica que se cnn'titui no
núcleo do direito tributário, já que decorre daquele m:tndamento legal
/7.6 É evidente que não idemifica a nonna lributária o seu comando. capital, que impõc o comport:tmento mencionado.
porque outros casos há. de situações n;io tributárias. em que o comando é
também esse. como em todas as situações em que alguém lhe cause (ao esta- Esta relação jurídica - que reveste todas as cardcieríslicas c~lru-
do) dano c seja obrigado a indenização; ou de quem lhe adquire um bem ou turais da obrigação - por corresponder à categoria das obrigaçõcs ex
serviço contratualmente e deva proceder ao respectivo pagamento; de quem, lef'.e, surge com a realização i" concrel/l. num determinado momen-
por infringir uma disposição legal. se tome devedor de multa. to, de um fato, previsto em lei anterior e que del:t (lei) recebeu a força
17.7 Para ser possível isolar a nonlla tribulária, mister se faz excluir. de jurídica p:tra detenninar o surgimento desta obrigação.
um lado. a'i siruaçõcs contratuais, cuja hipótese se perfaz pelo decisivo con. 18.2 Assim, um:t lei descreve hipoteticamente um estado de fato,
curso da vontade livre das partes e, de outro lado, a sanção por ato ilícilo, um fato ou um conjunto de circunstàncias de fato, e dispõe que:t rea-
configuradora da llIuha. ou da obrigação de indenizar.
lização concreta. no mundo fenomênico, do que foi descrito. determi-
na o nascimento de uma obrigação de pagar um tributo.
/7.8 Em outras pal:tvras, a norma cuja hipótese se refira à cria- Portanto, temos primeiramente (lógica e cronologicamente) uma
ção de obrigação por virtude de livre manifestação de vontade dos descrição legisl:ttiva (hipotética) de um fato; ulteriormente, ocorre,
sujeitos, voltada precipuamente para a constituição de vínculo, não é acontece, realiza-se este fato concretamente.
tributária, e :t obrigação nela baseada não é tributo. Nem é tributo a
18.3 A obrigação só nasce com a realização (ocorrênci:t) deste
obrigação que, não obstante ex lef'.e. configura sanção de ato ilícito.
fato, isto é: só surge quando este fato concrelO, localiz:tdo no tempo
54 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA 55
e no espaço, se realiza (pressuposto. Jattispecie. hecho imponihle,
também censuram a expressão e reprovam sua adoção. A. Becker levou sua
hecho generador. Tatbestand. presupuesto de hechoJait générateur) coerência até o ponto de rejeitá-Ia.
(Misabel Derzi aprofunda, com rigor, o significado conceitual de Tat-
18.7 Deve-se esta ternlinologia. entre n6s consagrada. de fato gerador,
hesland. ao cuidar do "modo da pessoa tipificante", no seu excelente
ao extraordinário prestígio de um dos maiores publicistas franceses, Gaston
Direito trihutário. direito penal e tipo, Ed. RT, 1988. pp. 45 e ss.).
Jezc. cujas liçõcs tiveram notável divulgação entre nós. tendo, aliás, contri-
buído para o incremento dos estudos científicos de direito tributário. no Dra-
18.4 A doutrina tradicional. no Brasil, costuma designar por fato gera- sil. Um seu artigo, publicado na RDA denominado "O fato gerador do
dor tanto aquela figura conceptual e hipotética - consistente no enunciado imposto", marcou época e dctenninou imediata e total adesão a esta tenni-
descritivo do fato, contido na lei - como o próprio fato concreto que. na sua nologia (RDA 2/50).
conformidade. se realiza, hic el nUflc, no mundo fenomênico. 18.8 Este vício terminológico tem uma explicação psicológica. que
Ora, não se pode aceitar essa confusão terminológica. consistente em deve ser a mesma que detenninou. no direito penal. com relação à expressão
designar duas realidades tão distimas pelo mesmo nome. "crime". uma equivocidade nominal. já que crime designa a descrição hipo-
tética legal de um fato, da mesma fonna que designa a própria prálica daque.
Não é possível desenvolver trabalho científico sem o emprego de um le falO.
vocabulário técnico rigoroso. objetivo e unívoco. Por isso parece errado
designar tanto a previsão legal de um fato, quanto ele próprio, pelo mesmo Quanto a nós. preferimos repudiar a expressão, levando as razões de
termo (fato gerador). rejeição até as úllima.c;;conseqüências: substituímo.la por hipótese de inci.
dência. a exemplo de Becker. mas distinguimo-Ia do fato concreto que a ela
se subsume.
/8.4./ Tal é a razão pela qual sempre distinguimos estas duas
coisas. denominando "hipótese de incidência" ao conceito legal (des-
/8.9 Duas realidades distintas - '1uais sejam, " descrição hipoté-
crição legal. hipotética, de um fato, estado de fato ou conjunto de cir-
tica e a concreta verificação - não devem ser designadas pelo mesmo
cunstãncias de fato) e "fato imponível" ao fato efetivamente aconte-
termo. Esta terminologia equívoca é generalizada. Para efeitos didá-
cido. num determinado tempo e lugar, configurando rigorosamente a
ticos, entretanto, e para bem discemir as duas hipóteses. tão distintas,
hipótese de incidência.
julgamos conveniente designar a descrição legal. portanto hipotética.
dos fatos idôneos para gerar a obrigação tributária. por hipótese de
18.4.2 Ilugo de Brito Machado também assim pt:nsa:"3 expressão hipó. incidência. (Barros Carvalho optou por hipótese trihutária, v. Curso.
tese tlt' incidência designa com maior propriedade a descrição. contida na p. 134).
lei, da situação necessária e suficiente ao nascimento da obrigação tributá~
/8./0 Há, portanto, dois momentos lógicos (e cronológicos): pri-
ria. enquanto a expressão faro gerador diz da ocorrência. no mundo dos
meiramente. a lei descreve um fato e di-lo capaz (potencialmente) de
fatos. daquilo que está descrito na lei. A hipótese é simples descrição, é sim.
pIes previsão. enquanto o fato é concretização da hipótese. é o acontecimen-
gerar (dar nascimento a) lima obrigação. Depois, ocorre o fato; vale
dizer: acontece, realiza-se.
to do 4UC fora previsto" (in Curso de Direito Tributário. Malhciros Editores.
16' ed.. 1999. p. 102). Se ele revestir as características antes hipoteticamente descritas
18.5 A questão terminológica. aqui posta, tem atomlcnlado. como visto, (previstas) na lei, então determina o nascimento de uma obrigação tri-
os nossos cientistas mais preocupados com o rigor conceitual que nossos es- butária colocando a pessoa (que a lei indicou) como sujeito passivo,
tudos impõem. Por isso, o ínclito Rubens Gomes de Sousa. ao se referir a ligado ao estado até obter a sua liberação. pela prestação do objeto da
fato gerador. viu.se compelido a esclarecer. entre parêlltesis: "concretização obrigação (tendo o comportamento de levar aos cofres públicos a
da definição legal da hipótese abstrata de incidência" ("Sujeito passivo das quantia de dinheiro fixada pela lei).
taxas". in RDP 16/350). ou a ele se refere como "fato gerador abstrato"
Preferimos designar o fato gerador in abstraClo por "hipótese de
(h.i.), em oposição a "fato gerador concreto".
incidência" e in concrelU por "fato imponível". pelas razões já expostas.
18.6 A expressão fato gerador, predominantemente adotada por nossa
doutrina. jurisprudência e legislação é merecedora das mais acerbas crítica').
A. Becker. Souto Maior Borges. Amílcar Falcão e Paulo Barros Carvalho 18./1 Perez de Ayala formula idênlica observação, embora não ofereça
sugestão para solução da questão: "Sói empregar-se o termo "fato imponí-
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ASPECTOS DA IIIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBtrrÁRIA 57

vel" para designar tanto o conceito legal (fato imponível em abstrato) corno que, sobre a matéria, escreveu Henscl: "Na doutrina alemã, Hensel defi-
a realização desse conceito legal (falO imponível real ou concreto). Já vimos ne a 'jattispecie do imposto" (Steuetatbestand) como o complexo dos
como nos arts, 23 e 25 da lei geral tributária (espanhola) emprega-se a pressupostos abstratos contidos em normas de direito tributário material.
expressão "fato imponívcl" para designar ambas as noções" (Derecho Trihu- a cuja realização concreta (realizzazione de/la [ollispecie: Tathestand
lario, 1968, Madri, Ed. de Derecho Financiero. p. 150). Venvirklicllllllg) devem seguir-se determinadas conseqüências jurídicas"
A adoção de uma só expressão - seja fato gerador ou outra qualquer- (ob. cit .. p. 180).
leva o escritor a situações difíceis. Até mesmo um jurista do porte de A. Bcc- E emprega, subseqüentemente. as expressõcs hipótese de incidência e
ker se vê na contingência de tcr que referir-se a "hipótese realizada" o que é suporte fático. no que revela seu inconformismo com a terminologia domi.
um contra-senso, pois. se se trata de fato já acontecido, não é mais hipótese, nante que - mais do que imprecisão vocabular - trai certa confusão concei-
c vice-versa. tuai. comprometedora do rigor científico.
18.12 Ao conceituar fato gerador. Hensel (ob. cit.. p. 72) se vê forçado /8./7 Dino Jarach se atribui a paternidade da locução/ato impolJh'el-
a frisar a dúplice perspectiva a que o termo se refere. Por isso. se vê obriga- não no sentido por nós adotado. mas como sinônima de "falo gerador" _
do a explicar "é o complexo de pressupostos abstraias, contidos nas nomlaS designação assim de seu desenho legal como de sua concrelização fática (v.
Iributárias maleriais" (para nós, isso é hipótese de incidência) "de cuja con. RDP 16/338).
creta exislência - realização do fato gerador - derivam determinadas canse.
qüências jurídicas".
18.13 E sublinha "0 fato gerador é. por a<;simdizer, a imagem abstraia /8.18 Tal expressão mereceu de A. Becker estas palavras: "Fato
do concreto eSlado de coisas". Isto decorre da dificuldade lenninológica gerador: Esta é uma expressão que os cientistas das finanças públicas
resultante da equivocidade da expressão fato gerador. que nós pensamos ler construíram, aglutinamJo vodbulos por eles mal compreendidos e
superado. Efetivamente. lIenscl viu-se obrigado a assinalar a diferença catados na Teoria Geral do Direito ... " (Teoria GNal do DireÍlo Tri-
essencial entre a "imagem abstrata e hipotética comida na lei" e o "estado de hllláno, p. 75).
coisas" (fato imponível) reali:ado, ocorrido efelivarnente.
/8./9 É radical e candente esse notável cientista: "Esta ,íitima
/8.14 Tudo isto foi intuído com nitidez por Souto Maior Borges. com
sua proverbial acuidade. quando escreveu. no seu clássico e primoroso Isen- expressão é a mais utilizada pela doutrina brasileira de direito tribu-
ções Tributárias: - "A incidência supõe a regra jurídica e o fato, ou falOS tário e. de lodas elas. a mais infeliz porque o "fato gcrador" não gera
sohre os quais ela incide. tornando-os falOSjurídicos ... _ uA nonn3 jurídica coisa alguma além de confusão intelectual" (ob. cit.. p. 288).
t'nuncia abstralamente os fatos a cujo acontecimenlo condiciona a produção /8.20 Após longa dissertação sobre a importãncia da eleição ade-
de efeitos jurídicos ... "Suporte fático ou fato-col1teúdo é o acontecimemo quada de flominu iuris. cscreve Becker: "No campo da doutrina do
legalmente previsto para yue a regra jurídica incida" (p. 175). direito tributário. a expressão "fato gerador" é a que mais extensos
18.15 Esse nOI:iveljurista - desejando fazer Irabalho científico profun. prejuízos lhe tem causado, a tal ponto que é freqüente encontrarem-
do e rigoroso, para poder examinar com objetividade um instituto jurídico- se autores que, embora dotados de vigorosa inteligência e brilhante
tributário - notou e denunciou a insuficiência e superficialidade da doutrina erudição. escrevem - imersos numa atitude mental pseudojurídica _
existente e desvendou a'i distinções objetivas. que sua argúcia foi surprecn.
capítulos e livros destituídos de valor jurídico, os quais, todavia, são
dendo. E se faz arauto das conclusões de Berliri e Trabucchi. quando bem
discernem a norma do fato que a ela se pode subsumir. reproduzindo um
excelentes no plano pré-jurídico da ciência d'L' finanças públicas e da
política-fiscal" (ob. cit.. p. 289).
notável trecho deste último: "O complexo dos elementos juridicamente rele.
vanles para a especificação do "fato gerador" constitui a hipótese de incidên-
cia legal (jallispecie típica) isto é, aquele evento previsto pela norma em
18.21 Não há quem possa discordar dessas contundentes palavras. O
caráter hipotético que. concretizando-se no falto gl.'lleralore singular. dá
equívoco mais grave, porém. não está nesse ou naquele nome. O que é
lugar ao nascimento da relação jurídica tributária: hipótese de incidência
mais gritante. mais chocanlC e anticientífico não é a designação adotada.
lípica (fattispecie típica) e falO imponível (/a((o };('Ilt'l"l/fore)não são senão.
mas a confusão conceitual de que a terminologia é sintoma: agem acrite-
portanto, espécies de dois gêneros mais vastos: a hipólese legal (jaltl..'pecie)
riosamente os escritores. comportam.se de modo anlicientffico quando
c o "fato jurídico" (Isenções Tributârias, nota de rodapé à p. 179).
empregam uma só designação para duas entidades cientificamente lão dis-
18.16 Souto Maior Borges sublinha a distinção expressa que Trabuc. tinias. corno a descrição legal de um fato e o próprio falO, concrct~Hnente
chi formula entre fattispecie abstrata e concreta. Em seguida. assinala o considerado.
5& HIPóTEsE DE INCIDêNCIA TRlBlJf ÁRIA
ASPECTOS DA IIIPÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA 59

18.22 A nonna tributária assume a seguinte configuração: concretizado, acarrela a incidência das conseqüências previstas pela pró.
Hipótese - "se acontecer o fato Y". pria lei.

Mandamento - "pague X, em dinheiro, ao estado" (ou pessoa


designada pela lei). 19.3 A figura típica penal conslltul-se num conceito legal, da
Sanção - "se não pagar, incidirão as seguintes nonnas ....• mesma forma que a hipótese de incidência. A figura legal do crime
Posta a norma, se e quando acontecerem os fatos descritos, inci- é merá descrição legal. simples conceito legal hipotético. Há crime
de o mandamento. in coneretu, se e quando alguém pratica o fato descrito abstratamen-
te na lei.
h 18.23 À descrição hipotética, contida na lei, do fato apto a dar
nascimento à obrigação - fato jurígeno condicionante (Kelsen. Teo- 19.4 A h.i. tributária é a hipótese da lei tributária. É a descrição
r/a General dei Estado. trad. Luiz Legaz y Lacambra. México, 1959. genérica e abstrata de um fato. É a conceituação (conceito legal) de
p. 63) - chamamos de hipótese de incidência tributária. /,o um fato: mero desenho contido num ato legislativo.
Ao fato concreto. efetivamente ocorrido, na confonnidade da 19.5 Perez de Ayala discorre sobre os "momentos" necessários
previsão legal, designamos por fato imponível. para que haja uma obrigação tributária: "a definição por uma lei de
cenos supostos de fato a cuja hipotética e possível realização a lei
O fato imponível acarreta a incidência do mandamento que, ao atribua determinados efeitos jurídicos (obrigação de pagar o tributo).
detenninar que alguém "pague X ao estado". cria um laço obrigacio-
convenendo-os assim. numa classe de fatos jurídicos (fato imponí-
nal ligando esse alguém ao estado.
vel). A realização desse fato jurídico. o fato imponível, que origina a
obrigação de pagar o tributo" (Derecho TrihUlario, 1968. Madri. Ed.
18.24 No direito penal encontramos idêntica situação. Designa-se de Derecho Financiero. p. 45).
"crime" assim à descrição legal do fato. como ao próprio fato, a despeito da
consciência que têm os pcnalisla..~.em maior ou menor grau, do discernimen-
to entre uma e outTa coisa. 19.6 Esse autor distingue bem a criação do tributo, abstratamenle. pela
lei, e o surgimenlO de cada obrigação tributária: "Fa~ede cria\';1o do tributo
18.25 Camelutti. a propósito do direito penal. escreveu: ..... como resul-
(função tribulária abstrata). Promulgação de uma lei e criação do imposto
tado deI estudio de la ley y dei hecho. los penalista~ más recicntes fonnulan como inslituto jurídico (definição kgal do fato imponível).
la distinción entre el delito instituto-jurídico y el delito-hccho ..... , (Franccs-
co Camelulti, £1 Arte deI Derecho. Ed. Jurídicas Europa-América. Buenos 19.7 "Essa fase se decompõe. conccptualmente, em dois ekmentos:
Aires. 1956. p. 64). "a) promulgação de uma lei tributária e definição, nela. de uma hipóte.
se legal;
"b) a lei vincula a produção de certos efeitos jurídicos (a obrigaç<io de
19. Hipótese de incidência como conceito legal pagar um tributo) à realização da hipótese legal que nela se contém, vale
dizer, ao fato imponível.
19.1 A h.i. é primeiramente a descrição legal de um falO: é a for-
1."A hipólese legal é s6 uma definição contida numa lei. Pertence ao
mulação hipotética, prévia e genérica, contida na lei, de um fato (é o
mundo dos valores jurídicos. Pelo contrário. o fato imponível real é a realiza.
espelho do fato. a imagem conceitual de um fato; é seu desenho). ção dessa hipótese legal. Pertenceao mundo da realidade fática" (ob.loe. cit.). .,y
É. penanto, mero conceito. necessariamente abstrato. É fonnula-
do pelo legislador fazendo abstração de qualquer fato concreto. Por
isso é mera "previsão legal" (a lei é. por definição. abstrata, impes- 20. Universalidade do conceito de h.i.
soal e geral).
20.1 O conceito de h.i. - como o de relação, sanção, preceito e
pessoa - é universal, no sentido de que não decorre da observação de
19.2 O paralelismo feito por muitos autores com o conceito de crime, um sistema particular, nem se compromete com nenhum instituto
formulado pela lei penal, é rigorosamente apropriado. Na "figura típica", jurídico localizado no tempo e no espaço (cf. Juan Manuel Teran.
lemos a descrição hipotética de um comportamento humano (Üito), que, se Filosofía deI derecho, Ed. Porrúa. México, 1952, pp. 79 e ss.).
'.
60 IIIPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIBlITÁRIA ASPECTOS DA HIPóTESE DE I NCIDí:.NCIA TRIBUTÁRIA 61

. É apl~cável assim ao direito vigente COmoao revogado ou cons- (s6 representada) um determinado cOIlleúdo: o conceito significa o objeto,
tItuendo. E válido aqui, como alhures, onde haja direito, porque con- está intencionalmente dirigido a ele" (\Valter Brugger, Diccioflario de Filo-
ceito lógico-jurídico. softa, Ed. Herder, Barcelona, 1953, p. 60).

20.2 É. enfim. categoria. arquétipo. protótipo, fórmula que fixa concei- 20,10 O conceito legal - como parece claro - designa (espclha)
to ope~acional de ampla valida~e. com alcance lato e abrangente de parte uma coisa, designação esta que é seu conteúdo. Por isso, o conteúdo
essencial da realidade jurídica. E conceito formulado pela ciência do dircj~ da h.i. não é o eslado de fato, mas sua designação ou descrição; a h,i.,
to, como o expõe Celso Antônio. com alcance limitado ao universo jurídico portanto, significa o estado de fato, dirige-se a ele, mas com ele se
(Teran, pp. 81 e ss.)
não confunde. A h.i. é conceito (legal).
20.3 Não se podem confundir as qualidades de um falo material, com
20,11 É que o estado de fato, descrito pela h.i" é objeto do con-
as qualidades de uma abstração, como o é o conceito em que a h.i. consiste.
ceito legal em que ela se constitui. A h.i. é a descrição de um estado
Conceito é sinônimo de idéia. "fanna abstrata e universal com que a de fato. Este é objeto da descrição e não ela mesma. A descrição
inteli.gência pensa as coisas"(Diccionario Manual de Filosofía, de Amáiz y
(h.i.) é uma coisa exterior, distinta e externa ao seu objeto (o eSlado
AlcaIde, Ed. Voluntad, Madri, 1927, p. 155). Esta, coisa, são o objeto do
conceito.
de fato),
20.4 "O objeto é o contraposto delineado pelo conceito. É o a-;pccto do
realjá trabalhadopelo pensamento. Precis..unente porque o objelo é a matéria- É muito importante entender isto. porque a categoria jurídica "hipótese
prima elaborada por uma forma cOflceplUal.a relação entre conccilO e objeto de incidência" deve receber um tratamcnlo científico imcirarnente adequa-
é uma correlação" (Lourival Vilanova. Sohre o Conceito do Direito, p. 13). do, pena de prejudicar.se na sua função instrumental serviente do direito tri-
butário.
20.5 A h.i. é conceito, no sentido de que é uma representação mental d'e
um falOou circunstância de fato. Mas. a h.i. não é mero e simples conceito 20./2 Nesta seqüência de idéias é imponante assinalar que "como
- na acepção filosófica do temlO - já que, por definição. é um..l manifesta- representação abstrata, Oconceito apresenla as coisas não em sua cOllcreta e
ção legislativa. é contida num enunciado legal. Não é mero conceito. mas intuitiva plenitude. senão só mediante caracteres isolados dela extraídos"
um "conceito legal", isto é, constanle de lei, contido numa proposição legis- (Brugger. ob. loc. cit.), verificação lógica de inteira ílplicação aos conceitos
lativa. jurídicos.

20,6 É, pois, uma categoria jurídica, um ente do mundo do direi- 20,/3 Na verdade, como a h.i, é um conceito (legal), não tem
to. Como descrição hipotética, fonnulada pcla lei, de um fato, é um nem pode ter as características do ohjeto conceituado (descrito), mas
conceito jurídico-legal, e não um conceito puro e simples. recolhe e espelha certos caracteres, isolados do estado de fato concei-
20.7 Seus aspectos, ponanto, não têm natureza ou qualidade tuado, dele extraídos, na medida necessária ao preenchimento da fun-
diversa. São também conceituais, panicipam da natureza de concei- ção técnico-jurídica que lhe é assinalada, como catcgoria jurídica
tos legais e como entes jurídicos devem ser entendidos. concei tual- normat iva.
20,14 Assim, a lei - ao descrever um estado de fato - limita-se a
20.8 Deve-se distinguir o conceito, como ato de pensamento (como arrecadar cenos caracteres que bem o definam, para os efeitos de
conteúdo de pensamento), do objeto do conceito. criar uma h.i. Com isto, pode negligenciar outros caracteres do
"Por isso. o conceito funciona como um princípio de simplificação, mesmo, que não sejam reputados essenciais à configuração de lima
conslatando-se. aqui, como o conhecimenlo não é. nem poderia ser, uma h.i, Pode, ponanto, o legislador arrolar muitos ou só alguns dos carac-
duplicação do real" (Lourival Vilanova, Sohre o Conceito do Direito, p. 15). teres do estado de fato, ao erigir uma h.i. Esta, como conceito legal,
Daí a inclinação dos filósofos a comparar o conceito ao speculum que
é ente jurídico bastante em si.
não duplica, nem reproduz o objeto. apenas o espelhando. 20.i 5 Só interessam ao exegeta, no fato concreto subsumido à
20.9 "O conceito representa o objeto. não por suas propriedades onto- hipótese de incidência, os caracteres que tenham sido contemplados
lógicas. mas enquanto o ato de pensamento leva em si. com existência ideal pela lei (h. i.). Os demais são desprezíveis, por irrelevantes,
62 Hll'ÓlcSE DE INCIDÊNCIA TRIRUTÂRIA
ASPEcroS DA HIPólCSE DE INcm£NCIA TRIBUTÂRIA 63
20,16 A multiplicidade não é abrangida pelos concei-
de faros concretos
tos legais (h.i.). Pejo contrário. 56 alguns falOS são objeto de conceitos "Tipos", em sentido impróprio, são conceitos classificatórios. cUjas
notas se cristalizem em número rígido e limitado.
legais. do que resulta que s6 um número muito reduzido constitui falo jurí-
gcno ou fato jurídico relevante. "Observe-se, mais uma vez. que o tipo, quer usado em sentido próprio.
quer impróprio, tem sempre o significado nuclear de abstração generaliza-
20.17 Vale, a propósito. recordar a advertência autorizada de Lourival
dora ou padrão, e oferece rica descrição do objeto. Nos tipos propriamente
Vilanova: "Mas, é preciso distinguir claramente o conceito e o seu objeto.
ditos, essas abstrações ou padrões apresentam-se em ordens. e nos impró-
As propriedades análogas, os caracteres comuns a um grupo de coisas ou
prios. em conceitos fechados" (Misabel Derzi. Diráto Trihutário ... e tipo.
fenômenos não entram na constituição do conceito. São elementos que per-
ci." p. 48).
tencem ao objeto. que participam do tipo de cada esfera de objetividade.
enquanto o conceito é. em todos os casos, um ente ideal" (Lourival Vilallo-
va. Sobre o COlJceiw ...• p. 16). 20.20 A h.i. é conceito determinado e fechado, por ex.gencia
20.18 Souto Maior Borges, apoiado em Pontes de Miranda. rcssalla esla constitucional. no Brasil. Não cabe, na matéria. falar-se em tipo; é
circunstância: "A composição do suporte fático pode ser da mais variada errado invocar-se o princípio da tipicidade. que não satisfaz às exi-
natureza porque é incalculável o número de fatos do mundo que a regra jurí- gências da segurança jurídica. Demonstra-o Misabel Derzi:
dica, incidindo. faz entrar no mundo jurídico. tomando-os assim. falos ju- .,
"A legalidade estrita, a segurança jurídica. a uniformidade e a
rídicos. Esta é uma funçào classificadora da regra jurídica: dividir os falOS
praticidade determinam a tcn<..lência conceitual prevalcntc no Direito
do mundo em falOS rclevanles (fatos jurídicos) e falOS irrelevantes (faiaS aju- Tribut4Írio.
rídicos) para o direi.o" (ob. cit.. p. 180).
20.19 Produziu-se. no Brasil, recentemente (1988) notável trabalho "Além desses princípios citados, a repartição constitucional do
técnico - digno dos melhores centros acadêmicos europeus - sobre o COI1- poder tributário, assentada. sobretudo, na competência privativa tem
ceito legal fechado em contrasle com o tipo. Essa especulação da professo- como prcssuposto anles a forma de raciocinar por conceitos fechados
ra Misabel Derzi eSlá publicada sob o tÍlulo Direito Tributário. dirt'iw do que por tipos.
IU'IUlle tipo. Sobre o terna escreveu: "Grande parte daquilo que se chama "Os tributos são objeto de lima enumeração legal exaustiva de
tipo jurídico é convertido na realidade. em conceilo fechado. pela lei ou modo que aquilo que não está na lei. inexiste juridicamente. A dife-
pela Ciência do Direito. Assim acontece. por e;(cmplo. no Direito Penal ou rcnciação enlre um tributo c outro se dá através de UTTlaclassificação
Tribul.írio.
legal, esgotante do conceito de tributo. Criam.~e. a rigor. espécies tri-
.. É úlil. desde logo. desfazer o equívoco. butürias como conceitos determinados c fechados que se distinguem
"O pensar tipologicamenle. o tipificar. em semido lécnica, ao contrário umas das outras por notas fixas e irrenunciáveis.
do que se supõc, não é eSI.1Oclecer rígidos conceitos de espécies jurídicas.
baluanes da segurança do Direito. Essa função compete aos conceitos fecha-
"Não se admitem as ordens de estrutura nexível. graduáveI e de carac.
dos. delerminados e c1.l'\sificalórios.
Icríslicas renunci:.íveis que s.io os lipos. Esses. por SU<l vez. levariam à acei-
"Sendo assim. podemos encontrar. no Direilo. o uso de tipo em sentido tação tias fonnas mistas ou novas. deduzidas e descobertas. implicilamente.
lato. não técnico, com o significado de ahstraçâo gNlualizatiora (desprezo no ordenamento ou criadas. no Iráfego jurídico. pela pr.ílica administrativa.
das diferenças individuais) ou padrão (modelo ou esquema que reproduz ou segundo a'\ necessidades do Tesouro. o que se chocaria com os princípios
pode se reproduzir em série). O conceilo de tipo lato sellsu é. ao mesmo vigorantes no sistema tributário.
tcmpo, um conceilo derivado, vale dizer, o que sc extrai de comum dos três
"Com essas afirmações. novamente insistimos. não se está a negar a
usos distintos de tipo no Direito.
existência de uma zona cinzenla ou da chamada zona de penumbra de Car-
"Os lipos propriamenle ditos (ou apenas lipos). stricto sellSU, além de rió. no Direito Tribulário. Iam pouco asseverando a ausência de conceitos
serem uma abstração generalizadora, são ordens fluidas. que colhem. atra. indeterminados ou carenles de especial valoração.
vés da comparação. caracleríslicas comuns. nem rígidas, nem limiladas.
"Estas normas. quando prcsenlCS, são um ponto de difícil caracteriza-
onde a lotalidade é critério decisivo para ordenação dos fenômenos aos
ção e uma transição enlre o conceilo determinado fechado e o lipo propria-
quais se estende. São no las fundamentadas em leis do tipo. a abertura. a rncn:e dilo.
gradualidade, a aproximação da realidade e a plenitude de sentido na tota-
lidade. "Por essa razão. constala-se ser. como quer Lecnen, meramente gradual
e lipol6gica a distinção clllre lipo e conceito, no campo jurídico.
64 HIPÓTESE DE INCIDêNCIA TRlBUTÁRIA
ASPECfOS DA IflróTESE DE INCIDí:NCIA TRIBUTÁRIA 65

"O importante é realçar que, no Direito Tributário, mesmo quan- contrário, os tributos se especificam em conceitos determinados e1as-
do em presença de indeterminação e de uma 'zona de penumbra' os sificatórios, assim como as formas de exoneração tributária" (ob. cit.,
casos limites são submetidos, assim como aqueles clarameme identi- pp. 248 e ss.).
ficáveis, a uma subsunção alternativa. Ou se está em presença de uma
taxa, ou de um preço; ou imposto sobre serviços ou sobre operação
de circulação de mercadorias ... 2/. Unidade lógica da hipótese de inci,/ência

21./ Enquanto categoria jurídica, a hipótese de incidência é una


.'Há todo um esforço da Ciência do Direito nessa linha de raciocínio, e indivisível. Trata-se de ente lógico-jurídico unitário e incindível.
que busca uma definição à qual não se conciliam um "mais ou menos" e um
"tanto mais quanto mais", próprios do modo de pensar tipológico. Esse
o ••

esforço não advém apenas de uma preocupação com a precisão conceitual c O legislador ao erigi-Ia, pode arrecadar inúmeros falOS e elemeJ1los
o rigor lógico, mas é inafa~tável diante dos princípios-valores consagrados de fato tirados do mundo pré-jurídico. Da perspectiva pré-jurídica. estes
nesse ramo jurídico. fatos compõem um todo complexo, integrado por diversos e variados ele-
mentos. Juridicamente considerados. entretanto. são uma unidade. uma
"Resta ind.agar. como fizemos a propósito do Direito Penal, se haveria coisa 56. uma categoria só. não alterando esta sua feição. necessariamen.
espaço para os tipos. aqui também no Direito Tributário. te unitária. a eventual multiplicidade de elementos do fato que por ela é
descrito.

"Pensamos que não se deve falar em tipo de imunidade ou de 21.2 Como enle jurídico - entidade do mundo do direito - traia-se de
isenção, nem de outras formas de exoneração tributária (remissão. uma s6 coisa: a "hipólese de incidência". Esta é que. no seu lodo unitário. d"
devolução de tributo pago, etc). configuração ao lribulo. e permite determinar. por suas característica.s. a
espécie tributária.
"Não é que o emprego do método tipológico de interpretação da
21.3 A conseqüência imediata e necessária do caráter unitário da hipó-
imunidade ou da isenção prejudicasse a segurança jurídica. É que ou- lese de incidência está. em cada caso, na identificação de cada hipótese de
tro princípio jurídico aplicável cOlbe a compreensão tipológica das incidência só consigo mesma no plano epistemológico-jurídico.
diversas formas de exoneração triburária. Esse princípio é o da igual-
dade jurídica.
Como decorrência necessária, cada hipótese de incidência só é
igual a si mesma c. portanto, inconfundível com todas as demais.
"O tribulo representa um dever de caráter patrimonial e, por isso. um Vale dizer - como a hipótese de incidência é o núcleo do tributo _
sacrifício pecuniário, legalmente imposto. As exonerações liberam alguns cada tributo só é igual a si mesmo (Isto é. aliás, que permite classi-
que, na maioria das vezes, poderiam suportar. economicamente, o encargo, ficar os tributos em espécies e subespécies).
em situações de interesse pesadas pelo legislador.
"Compreender tipo logicamente essas situaçõcs é. de certa forma. admi-
2/.4 Assim, uma e única é a h.i. "vender mercadorias", ou
tir urna certa fluidez e, sobretudo. as formas mistas ou novas. deduzidas por
"receber rendimentos" ou "introduzir mercadorias no território do
analogia. Transferir-se-ia para o intérprete do Direito Tributário c para os
Poderes aplicadores da norma. o papel criativo e seletivo da lei que põe as pais", embora se refira a atos complexos ou fatos constituídos de
diversas formas de exoneração tributária. elementos heterogêneos e múltiplos. Una e incindível é a h.i.,
ainda quando a realidade que conceilua seja integrada por elemen-
"Sem dúvida. do ponto de vista da igualdade, uma exoneração só se
justifica por razões e interesses superiores legislativamente valorados, los vários. como. por exemplo "transmitir um imóvel". Não cons-
porque representam a atenuação do sacrifício econômico que o tributo tilui h.i. só o alo de transmitir. nem só o imóvel. mas a conjuga-
significa. ção dos dois termos, conceptualmente. que se reporta ao "ato de
transmitir que tem por objeto um imóver .. Este complexo é que.
pela lei, é qualificado como hábil a determinar o nascimento de
"Portanto, não é de se aceitar que os tributos e as formas de exo- obrigações tributárias, erigindo-se. pois, em hipótese de incidên-
neração sejam tipos ou devam ser pensados por meio de tipos. Ao cia tributária.

66 HIPÓTE..% DE INCIO~NCIA TRlBlJr ÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA 67

22. Fato imponíve/ 22.8 O celebrado tributarista alemão Albert Hensel, ao estudar o
poder triburnrio, afirma que seu exercício pressupõe "uma vontade,
22.1 A hipótese de incidência é a descrição hipotética e abstrata
do Estado, de cxercer a tributação" e expôc os dois modos de mani-
de um fato. É parte da norma tribut"ria. É o meio pelo qual o legisla-
festação dessa vontade: "Num primeiro momento, o Estado usa de
dor institui um tributo. Est" criado um tributo, desde que a lei descre-
seu direito à imposição emanando normas tribut~lrias. ou melhor:
va sua h.i., a ela associando o mandamento "pague".
estabelece normativamente as hipóteses cuja concreta realização faz
22.2 A competência para criar tributos é privativa do legislador, surgir a pretensão tribut,íria cm scu favor" (ob. cit., pp. 27-28).
onde, como no Brasil, vige O princípio da legalidade (art. 150, ().
Aí est" a hipótese de incidência.
22.3 A criação de tributos - que se traduz na descrição hipotéti-
22.9 Em scqüência Hcnsel mostra que, pelo lançamento, o esta-
ca dos fatos cuja ocorrência d" nascimento às obrigações tributtIrias
do "providencia a execução efctiva da sua pretensão".
concretas - é a mais solene e elevada manifestação da competência
tribut",ia de que são investidas as pessoas públicas políticas. Esta E assinala: "Entre estas duas principais atividadcs da pessoa titu-
manifestação precede lógica e cronologicamente a atividade concre- lar da tributação M uma lacuna. A atividade administrativa. para exe-
ta e efetiva de tributar. E prim"ria, no sentido de que, sem ela, não cução da pretensão, não se segue imediatamente fi emanação da
pode haver ação tribut"r;a (tributação). É o próprio início da ação tri- norma; mas só se pode iniciar quando. em mamenlo ulterior, se dê a
but"ria. concreta rcalização do fato dcscrito (previsto) na lei" (ob. loc. cit.).
22.10 Aí o fato imponível, quc h" de scr um fato concrcto, ocor-
rido hic ('I llii1le. no mundo fcnomênico, como acontecimento ftitica.
22.4 Renato Alessi. dos mais conceituados juristas italianos. expoenle
sensível. palp;ível. concrelo, m:t1erial. apreensíveJ c que corresponde
da literatura administralivista mundial. escrevl.'u: "O poder tributário pode
à "imagem abstrata" como diz A. D. Giannini que ode faz a lei.
ser considerado em dois distintos planos jurídicos. em cada um dos quais dá
origem a institutos e situaçõcs diversas: 22.1/ Dino Jarach deixou bem claro o discernimento que estabe-
22.5 "a) acima de tudo, pode ser considerado de um plano abstrato em lece entre hipótese de incidência e fato imponível. ao dizer: "Em
relação a uma coletividade de sujeitos indeterminados, a respeito dos quais todos os casos. entretanto. deve tratar-se de fatos que produzem. na
de se desenvolve. Neste plano abstrato "exação l'oativa" significa simples- realidade. a imagem abstrata que deles formulam as normas jurídi-
mente "instituição abstrata de urna contribuição coativa"; a atuação do cas" ("Estrutura e elemcntos da relação jurídica tribul"ri,,", in RDP
poder tributário, aqui. significa somente emanação de normas jurídicas com 16/339).
base nas quais são instituídas as várias contribuições coativas. Aqui, O
22./2 Estas linhas deixam m"nifesta a distinçiio cntre a h.i. -
poder tributário. portanto, se manifesta mediante atos com valor e função
descrição legal hipotética dos fatos aptos a determinarem o nascimen-
normativa, dirigidos à ereção do ordenamento jurídico tributário. Neste
to de obrigações tributárias - e fato imponível, como concretização,
plano abstrato, temos. portanto, o que podemos denominar poder tribut,írio
primário, em oposição àquele complcmcntar do primeiro, que a seguir exa-
realização efetiva dos fatos descritos.
minaremos; Ao "plano abstrato" a que se refere Alessi, corresponde a h.i. Ao
11.6 Ub) o poder tributário pode, por outro lado. ser considerado de um "plano concrcto", o fato imponívcl.
plano concreto, em relação a determinados membros singulares da coletivi-
dade. Aqui "exação coativa" significa "contribuição concreta", em aplicação
22.13 Na sua Arte do Direito, diz Camelutti: "Los penalistas más
concreta da norma que institui o tributo em abstrato; aqui portanto, o poder
vigorosos, cn cfccto, dislingucn, como vimos, cl delito instituto-jurídico y
tributário se desenvolve em atividade de caráter administrativo, dirigida a
el delito hecho con cl resultado de limitar su ciencia ai estudio dei prime-
obter - com a atuação concreta do comando abstrato da norma - a passagem
m; cl delito-hecho deberá ser objeto de las investigaciones de los criminó-
material da quota de riqueza privada. a que o comando legislativo se refere.
lagos y no de los juristas, Este movimiento hacia la purificación de la cien-
21.7 "Nesta perspectiva e neste plano concreto. pode-se falar de um cia jurídica se vc menos claramente en la materia civil; pero lambién los
poder tributário complementar. meio de atuação do podcr tributário primá- civilistas cOl1lit:nzan a dejar a los cultivadores dc la técnica mercantil cI
rio acima exposto" (Alessi-Stammati, /stiruziolli di Diritto Trilmtario. estudio de sus hechos principales y, en particular, dei contrato" (Camelut-
UTET. pp. 29-30). li, ob. cit., p. 6~).
68 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIOUTÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA nUBUTÁRIA 69

22.14 Aplicada a lição ao direito tributário, que está a exigir semelhan- 24.2 A configuração do fato (aspecto material), sua conexão com
te "purificação". fica saliente que o estudo do fato imponível e suali proprie- alguém (aspecto pessoal), sua localização (aspecto espacial) e sua
dades fáticas (não juridicas) incumbe a economistas e financistas. transcen- consumação num momento fático detenninado (aspecto temporal),
dendo a esfera do direito. reunidos unitariamente delenninam inexoravelmente o efeito jurídico
Ao jurista basta a'\sinalar que o fato imponível é fato jurígeno e que se desejado pela lei: criação de uma obrigação jurídica concreta, a cargo
deve subsumir à hipótese de incidência para ser tal. de pessoa detenninada, num momento preciso.

23. Fato imponíve/ e sua slIbslInção à hipótese de incidência 24.3 A ordenação tributária alemã vigente (RAO) diz incisivamen-
te: "a dívida tributária nasce ao produzir-se a situaçào de fato que. segun-
//23.1 Fato imponível é o fato concrelO, localizado no tempo e no do a lei, dá lugar ao imposto" (texto de acordo com a lei de adaptação tri-
espaço, acontecido efetivamente no universo fenomênico, que - por butária).
corresponder rioorosamente
o à descrição prévia, hipoteticamente
. for- 24.4 Pontes de Miranda designa o fato imponívd por suporte fático.
mulada pela h.i. legal - dá nascimento à obrigação tributána. YJ Escreve excelentemente: "A regra jurídica de tribufação incide sobre o
Cada fato imponível detennina o nascimento de uma obrigação suporte fático, como todas as regra." jurídica.l;. Se ainda não existe o suporte
tributária. fático, a regra juridica de tributação não incide; se não se pode compor tal
suporte fático. nunca incidirá. O crédito do trihulo (imposto ou taxa) nasce
23.2 A lei (h.i.) descreve hipoteticamellle certos fatos, estabelecen-
do falO jurídico, que se produz com a entrada do suporle fático no mundo
do a consistência de sua materialidade. Ocorridos concretamente estes
jurídico. Assim. nascem o débito, a pretensão e a obrigação de pagar o tri-
fatos hic Cf nUIIe. com a consistência prevista na lei e revestindo a
buto. a ação e as exceçõcs. O direito tributário é apenas ramo do direiro
forma prefiguraua idealmente na imagem legislativa abstrata. reconhe- público; inlegra-se. como os outros, na Teoria Geral do Direito" (Pontes de
cc-se que desses fatos nascem obrigações tribut,Ílias concretas. A esses Miranda, Comentários li Constituição de 1967. com a Emenda 1 de 1969.
fatos, a cada qual. designamos "fato imponível" (ou fato tributário). Ed. RT. t. 11.p. 366).
No momento em que, segundo o critério legal (aspecto temporal 24.5 Ao estudannos o aspecto temporal da h.i .. leremos ocasi;10 de
da h.i.), se consuma um fato imponível, nesse momento nasce uma investigar melhor os critérios para reconhecimclllo da consumação do faro
obrigação tributária, que lerá a feição c características que a h.i. ditar. imponível (v. P. Barros Carvalho, Curso .... pp. 138 e S5.).
23.3 O fato imponível é. pois, um fato jurígeno (falO juridica- 24.6 Renato Alessi expôs com clareza a fUll,,'ão do fato imponívcl. ao
mente relevante) a que a lei atribui a conseqüência de dctenninar o escrever: "A concretização da obrigação tributária. e a seguir a sua consti-
surgimento da obrigação tributária concreta. Em tennos kelsenianos: tuição em concreto a cargo de sujeitos determinados. surge da simples cir-
é um suposto a que a lei imputa a conseqüência de causar o nascimen- cunstância de acontecer o pressuposto e da relação deste com o sujcilo con-
creto. Pode-se dizer. portamo. que, assim como no plano abstrato é a norma
to do vínculo obrigacionallriout;""in.
que tem função constitutiva da obrigação tributária. também no plano con-
Para que um fato (estado de fato, situação) seja reputado fato creio um fato material tem valor e função constituliva da obrigação conere-
imponível. deve corresponder integralmente às características previs- la que se toma, por isso - mediante um fenômeno bem conhecido - fato
tas abstrata e hipoteticamente na lei (h. i.). jurídico: a existência de um certo pressuposto que se encontra numa certa
/, 23.4 Diz-se que o fato. assim, se suosume à imagem abstrata da relação com o sujeito" (Alcssi-Stammati. Isriru:ioni de Diriuo Trihutario.
lei. Por isso. se houver subsunção do fato à h.i., ele será fato imponí- UTET. pp. 32-33).
veJ. Se não houver subsunção. estar-se-,í diante de falO irrelevante
para o direito tributário .•••
... 25. SubslInção

("25.1 Subsunção é o fenômeno de um fato configurar rigorosa-


24. Nascimento da obrigação tributária
mente a previsão hipotética da lei. Diz-se que um fato se subsumc à
24.1 O vínculo obrigacional que corresponde ao conceito de tri- hipótese legal quando corresponde completa e rigorosamente à des-
buto nasce. por força da lei, da ocorrência do fato imponível. crição que dele faz a lei. li
70 HiPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA ASPECfOS DA HrPÓTESE DE INCIDENCIA TRIBUTÁRIA 11

É fato imponível um fato concreto, acontecido no universo feno- 26.2 "Na gênese das obrigações tributárias, situa-se, pois, sem-
mênico, que configura a descrição hipotética contida na lei, É a rea- pre um fato a que a lei atribui a vinualidade de produzir determina-
lização da previsão legal. O fato imponível está para a hipótese legal das conseqüências necessárias. Tratando-se de fato, os efeitos jurídi-
assim como, logicamente, o objeto está para o conceito. cos que dele decorrem independem da vontade dos obrigados" (A. R.
Sampaio Dória, Da Lei Triburária 110 Tempo. 1968. p. 266).
25.2 Paulo Barros Carvalho - com o rigor de professor de teoria geral
do direito. que é - depois de assinalar que a subsunção, como fenômeno 26.3 A. R. Sampaio Dória deixa bem explícito o fundamento desla lese:
lógico. só "se opera entre iguais". sublinha que o que se dá é a subsunção do ••...é evidente que um ato voluntário não pode se constituir em fonte de obri-
conceito do falo ao conceito da nom1a. instância e automaticamente (v. gaçõcs tributária 'i. Pois não está na vonlade da..';;partes determinar se do alo
Curso .... p. 135). praticado há.d~ nascer uma conseqüência necessária (pagamenlo de um lri-
25.3 Roque Carrazza pensa também assim: "Convém assinalar que buto), ou não. A primeira vista, pode.se confundir essa situação com a facul-
56 quando houver a SUhSllflÇão do fato à norma (ou, em lermos mais téc- dade de o indivíduo decidir praticar certo ato de que resultem efeilos lribu.
nicos, do cOl/ceito do falO ao ('onceifO da norma, como precisa Karl lá~i~s que Ih~ parecem indesejáveis (a compra de mercadorias, por exemplo,
Engisch) é que nascerá o tributo. De conseguinte, ocorrido o fato imponí- sUjeita a um Imposto de vcndas). Mas. veja-sc bem. sua opção está na práli-
vel. nasce a obrigação tributária, que vincula o sujeito passivo ao sujeito ca do ato (compra e venda) e não no surgimcnlo de um efeito colateral (obri.
ativo. conferindo. a este. o direito suhjeth'o à percepção do tributo c gação Iributária), que deriva não do ato em si. em sua configuração jurídico-
impondo. àquele. o dever jurídico de efeluar o pagamento do mesmo" (O fonnaJ, mas de um f~llo econômico que ele ex!erioriza (circulação da
Regulamento .... p. 56). ri4ucza)" (ob. cit., p. 267).
. 26.4 O fato imponível é falO jurídico. Dissc.o com segurança e clareza
f)mo Jarach:
25.4 A h.i. contém um arquétipo. um protótipo bem circunstan-
ciado. O fato imponível é a materialização desse arquétipo legal. Os "A caracteTÍslic<l fundamental do falo imponíveJ consiste. pois. na sua
natureza de fato jurídico. a que a lei vincula o nascimcnto da obrigaç;io. A
escritores de direito penal, ao desenvolverem a teoria da tipicidade,
esse respeito. deve-se dizer que a obrigação nasce da lei quando se vcrifica
nada mais fizeram do que enfatizar a necessidade da subsunção de
o fato imponível. sem a existência. na vida real. de falO imponível que se
um fato ao tipo legal, para que esse fato pudesse ser reputado crime. possa subsumir à definição legal. Por OUlraparte. o f~lIoimponível nJo cria.
Misabel Derzi, mostrando a insuficiência da tipicidade, expõe o prin- por si só. a obrigação. mas () faz mediante a lei.
cípio da conceituação legal estrita e fechada, única fórmula que aten-
26.5 "Esta conexJo - entre falO imponível e a norma que é fOllle da
de à segurança jurídica (v. Direito trihlltârio .... e ripo. p. 2X2). obrigação - tem C0l110 conseqüência iniluuível ser o raIO imponíveJ UIlI falO
jurídico. isto ê. um falO produtivo de efeitos jurídicos. por vontade da lei"
25.5 Amílcar Falcão se refere à doutrina alemã que esludou o "postula- (Estrutura .... cit.. p. 33Y).
do da adequação", que implica só poder um fato ser reconhecido corno 26.6 Desse modo de ver não discrepa Amílcar Falcão. quando Suslenla
imponívcl se se subsumir à hipótese de incidência (Fato Gerador da Oh,.i~ "Fonte de lal obrigaç~io. obviamente. é a lei.
gação Tribwãr;o. 2' cd., 1971, p. 36). . "Todavia, não basta a existência de lei para que a obrigação tributária
se lIlstaure. Para o nascimento da obrigação. neccss;írio é que surja concrc-
tam~nle o fato ou pressuposto que o legislador indica como sendo capaz de
26. Faro impolIÍl'ei como faro jurídico e ",ia ato jurídico serVIr de fundamento à ocorrência da relação jurídica tributária" (Faro Gera-
dor ... cit.. p. 26) ... "Não é O fato gerador quem cria. qucm, digamos assim.
26./ Dizemos que a lei (h.i.) sempre descreve um fato, atribuin-
ger~ a obrigação tributária_ A fonte de lal obrigação. a energia ou força que
do-lhe se e quando acontecido. a fomla jurídica de criar o vínculo a cna ou gera. é a própria lei" (Fato gerador ...• p. 29).
obrigacional tributário, porque na lição de Jarach, Amilcar Falcão,
A. R. Sampaio Dória e outros autorizados juristas só para a lei tribu-
tária, a situação posta como hipótese de incidência é sempre um fato 26.7 O fato imponível é um fato jurígello. Para o direito tributá.
(fato jurídico. fato de que decorrem efeitos jurídicos. por disposição rio, não é ato jurídico. Não quer isto dizer que seja fato econômico.
do sistema). que esta categoria o direito desconhece.
72 HIPóTESE DE INCIDENCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA 73

26.8 Não é "ato" jurídico, explica-o bem A. Becker: "Quando o contém. se em lei. Um fato empírico poderá assim ser qualificado quando se
sujeito passivo praticou o ato, ou consentiu no fato ou permaneceu no subsume, se enquadra na hipótese de incidência. Ou, como o diz Alfredo
estado de fato (elementos integrantes da hipótese de incidência), não Becker, é a "realização da hipólcse de incidência", a sua concretização.
desejou o efeito jurídico tributário (dever jurídico), embora o tenha
previsto (exemplo: evasão fiscal mediante escolha de fato jurídico
27,3 Pois, cada fato imponível é um todo uno (unitário) e incin-
cuja tributação seja menos onerosa que o fato jurídico de outro gêne- dível e detennina o nascimento de uma obrigação tribut<Íria.
ro). Sua vontade neste sentido (de prever ou até dcsejar o dever jurí-
dico tributário) foi inteiramente neutra, ou melhor, indifercnte para a É uma unidade lógica, entidade una, somente identificável con-
incidência da regra jurídica tributária. ~igo mesma. Por mais variados e diversos que sejam os fatos que o
mtegram, como dados ou elementos pré-jurídicos, o fato imponível
26.9 "Noutras palavras, na composição da hipótese de incidência
~omo tal - ou seja, como ente do mundo jurídico - é uno e simples,
da regra jurídica tributária, a vontade do sujeito passivo não entrou trredutível em Sua simplicidade, indivisível e indecomponível.
diretamente, mas só indiretamente, isto é, entrou porque foi elemen-
to integrante de outra hipótese de incidência de outra regra jurídica
(por exemplo: civil ou comercial); hipótese de incidência que, juridi- ~/ 27.4 N:1o Id. em conseqüência. dois fatos imponívcis iguais: cada fato
cizada por aquela outra regra jurídica, participou como ato ou fato j~P."nível só se id~ntifica consigo mesmo e dá nascimento a uma obrigação
jurídico na composição da hipótese da regra jurídica tributária" (ob. d~stlllta. Cada fala Imponível se subsumc inleiramente à hipólcse de incidên-
cia a que corrcspondc
cit., p. 240). b
t'
26./0 Vê-se que a melhor doutrina é unânime na afirmação da
tese segundo a qual o falO imponível é um fato jurídico e não um ato /27.5 Uma hipótese de incidência - enquaIllo vigcr a ki que a con-
jurídico. Isto quer dizer: se a lei colocar como aspecto material da tém - pode cobrir milhões de fatos imponíveis. Cada qual ser:í uno e
hipótese de incidência um fato que para outros ramos do direito é Inconfundível com os demais, por mais acentuados que sejam os tra-
voluntário, para O direito tribut,irio esse fato será fato jurídico sim- ços de semelhança que apresentem entre si. Ainda quando as circuns-
plesmente, sendo indiferente sua classificação como fato voluntário tânci~s de tempo e lugar sejam as mesmas. bem como os sujeitos c a
ou não. base IITlponível. ainda assim. cada falO imponívcl é uma individual i-
d~de.~ nesta individualidade estarão todas as características previstas
26.// Em outras palavras: para o direito tributário é irrelevante a
hipoteticamente pcla hipótese de incidência a que corresponde.",
vontade das partes na produção de um negócio jurídico. Tal vontade
é relevante, para os efeitos privados (negociais) do negócio. Para o
direito tributário a única vontade relevante. juridicamente. é a vonta- 2?6 Ev~dêllcia disto está no imposto sobre vendas. por exemplo
de da lei, que toma esse negócio (ou ato unilateral privado) como (ICMS). A h.l. é a "venda de mercadorias". Cada alo de venda é um falo
fato, ao colocá-lo, como simples fato jurídico, na h.i. imponível. não irnpona se seu objeto (ObjclOdo aro de venda) é urnasó mer-
cad~ria ou. um lote (c.oletividade d.e mercadorias). (A circunstáncia de poder
a leI autOrIzara conSideração conjunta de fatos iguais. bem como seu trata~
27, Caráter ulIitário do fato impollível ~ento em bloco - como. p. ex .. ceOlenas de vendas de Ijpis. por um comer-
cIante. no mesmo dia - não reriraa individualidade de cada venda).
27,/ A principal conseqüência da unidade fonnal e substancial da . 2?.7 A unidade lógica do fato imponível não se allera pela eventwll
hipótese de incidência está em que o fato imponível é também neces- vanaçao dos elemenlos de fato. ou sua extensão ou outras características.
sariamente - trata-se de postulado metodológico e axiomático exigi- de~deque o conjunlo. como um IOduunilário. se subsum .., ..10 arquélipu legal
do pela dogmática jurídica - uno e incíndível. ~1.1.I.). ~aulo Barros Carvalho designa à indecomponibilidade da h-i. por
mtegndade conceptual" (Curso .... p. 138).

27.2 Fato imJXlnívei é. C0l110visto. aquele fato concrelo do mundo


fenomênico que é qualificado pelo direito como aplo a detenninar o nasci- 27.8 Assim. reiteradas venuas de um mesmo comerciante a um
mento da obrigação tributária- falo jurígeno. ponanto. ESla qualificação mesmo freguês. da mesma ou diferentes mercadorias. constituem
74 HIPóTESE DE INCID.êNCIA TRIBUTÁRIA
ASPECfOS DA HiPóTESE DE INCIOE1NCIA TRIBUTÁRIA 75

cada qual um fato imponível, não obstante a identidade de pessoas, campo próprio; a hipótese de incidência como entidade conceitual, fonnula.
aspecto material, data, etc. Cada venda é um fato imponível, com ção hipotética do legislador. O fato imponível. pclo contrário. é um aconte-
individualidade completa, identificável por suas peculiaridades pró- cimento concreto da vida prática, do mundo dos fatos, acontecimento que
prias. Na hipótese de incidência, tais características estarão enuncia- tem conseqüências jurídicas (fato jurígeno) porque a lei (h.i.) assim dispôs.
das genericamente. de forma necessariamente abstrata. Em cada fato O fato imponível é um fala jurígeno, e. como falO, cmpiricamente observá.
imponível estarão configuradas com nitidez, de forma particularizada vel, aprecnsível. sensível, dimensionável, determinável. localizado no tempo
e concreta, suas características básicas, legalmente definidas. e no espaço.

27.9 Na h.i. se prevê que o sujeito passivo será uma pessoa (físi-
ca ou jurídica) que deve ter tais ou quais qualidades; que o fato con- 27./2 A h.i. é a expressão de UIna vontade legal, que qualifica
templado deve ter tais ou quais características e que a base imponível um fato '1ualquer, abstratamente, formulando uma descrição anteci-
é este ou aquele aspecto dimensível desse fato etc. pada (conceito legal), genérica e hipotética. Fala imponível é um
/JCada falo imponível se configura concretamente nom local e fato efetivo, localizado concretamente - porque acontecido, ocorri-
momento definidos e determinados; tem uma feição própria c defini- do - no tempo e no espaço e revestido de características individuais
da. um modo particular e individual de ser; já surge fixando uma pes- e concretas.
soa determinada como sujeito passivo e atribuindo-lhe um débito Assim, a lei formula a seguinte hipótese:
explícito c definido quanto ao montante. tJ
"comerciante realizar operação de venda de mercadoria no terri-
27.10 O confronto das diferenças emre estas categorias permiti- tório X"
rá evidenciar suas peculiaridades:
a que associa o mandamcnto:
"esse comerciante fica devedor de 1/10 do valor da operação ao
IllPÓTESE DE FATO IMPONíVEL eSlado",
INCIDÊNCIA
27.13 Aí estão a hipótese e o mandamenlo. Pois eIn dia determi-
descrição genérica e hipotética - fato concretamente ocorrido no nado (dia lU) Tício vende a Semprônio um receplOr de televisão
de um falo; mundo fcnomênico. empiricalllcn- (mercadoria). pelo preço de I OU.
te verificável (hic CCllflflc):
Esse fato (a venda) - porque previsto rigorosamente na lei ante-
- conceito legal (universo do - falO jurígello (esfera tangível rior - é um fato imponível. detenninando o nascimcnto de uma obri-
direito); dos fatos):
gação, a cargo de Tício, de pagar 10 ao estado. em cumprimento ao
- designação do sujeito ativo; - sujeito ativo já determinado: mandamento a que a hipótese se liga.
- critério genérico de identificação - sujeito passivo: Tício; 27./4 Como mcra previsão (descrição hipotética c genérica). a
do sujeito passivo; hipótese de incidência se limita a colocar os dados que caracterizam
uma situação, dispondo o mandamento legal que. à sua verificação.
critério de fixação do momento - ocorrência - dia e hora dctenni-
se seguirá automaticamente o surgimento da obrigação de dar dinhei-
de configuração; nados;
ro ao estado. Por isso" h.i. Hensel se refere como"a imagem abstra-
eventual previsão genérica de - modo determinado e objetivo. ta do concreto estado de coisas".
circunstâncias de modo e lugar; local dctenllinado;
27./5 O fato imponível, como fato individual e concreto, carac-
- critério genérico de mensuração - medida (dimensão) teril.a-se por localizar-se no tempo e no espaço, por ler peculiaridades
(ba<;e imponível ou base de detenninada (bao;c calculada). individuais (forma própria, localização espacial e temporal, medida
cálculo). definida etc.) e por referir-se a pessoa determinada e individualizada
(Tício).
27./ / A comparação entre ao;características destes dois arquétipos ensc- É um fato da vida. do mundo dos fatos. um acontecimento em-
ja verificar bem as diferenças entre ambos e localizar cada qual em seu pírico que recebe da lei (h. i.) a qualificação que o toma apto a de-
ASPECTOS DA fllPÓTESE DE IJ';CIDÊNCIA llHBUTÁRIA 77
76 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA

de do conceito de hipótese de incidência não repugna o reconhecimento de


terminar o n"scimento de uma obrigação tributária. É. pois. um fato
inúmeros "aspectos" na mesma
jurígeno. 28.5 Se. numa aula de física, se propusesse como objeto de estudo uma
27.16 A cada fato imponível realiz"do ("contecido) corresponde esfera metálica, salientaria o professor inicialmente o caráter unitário e in~
o surgimento de uma obrig"ção tributária. Cada fato imponível deter- cindível desse objeto. Ela (a esfera) não tem elementos ou partes. Não pode
mina (acarreta) o nascimento de uma obrigação. Assim, haverá tantas ser decomposta ou desmontada. Se for cindida. já não será mais urna esfera,
obrigações tributárias quantos forem os fatos imponíveis. mas outro objeto: duas semi-esferas. Para manter sua identidade substancial,
Enquanto viger a lei que contém determinada h.i .• os fatos nel" como objeto de estudo, há de ser considerada unitariamente.
previstos conceptual e hipoteticamente - desde que ocorram e sem- Isto não obstante. a esfera pode ser examinada quanto a diversas proprie-
pre que ocorram - serão fatos imponíveis, dotados de força jurídica dades, ou característica •.•ou aspectos. reconhecíveis na sua unidade sub~tancial.
que os habilita a produzir est3 relevante conseqüência jurídica: deter- 28.6 Efetivamente, a esfera pode ser estudada nos seus aspectos: fOml<l,
minar o nascimento de uma obrigação tributária. brilho. peso, simetria, matéria. mobilidade, tamanho. consistência. densida-
de. etc.
São aspectos ínsitos na sua unit~iria consistência. A consideração sepa-
radamente, de cada qual. não importa decomposição do indecomponível.
28. Aspectos ela hipótese ele incielência
nem separação do inseparável.
28.1 Hipótese de incidênei" é " descrição Icgisbtiva (necessaria- 28.7 Só logicamente se estabelece separação entre estes diversos aspec-
mente hipotética) de um fato a cuja ocorrência in cOlJcrl'lu a lei atribui tos: é possível, e útil. o estudo e consideração de cada qual. A reunião dos
a força jurídic" de detennin"r o nascimento d" obrig"ção tribul<Íria. estudos e conclusões. extraídos do exame de lodos os aspectos mencionados.
28.2 Pois esta categoria ou protótipo (hipótese de incidência) se conduz a melhor, mais perfeito e mais minucioso conhecil11~n!O do objeto
"csfera metálica" quc. por ter propriedades. qualidades ou atribulos inúmc.
apresenta sob variados aspectos. cuja reunião lhe d;:í entidade. Tais
ros. não deixou de ser uno e incindivcl.
aspectos não vêm necessariamente arrolados de forma explícita e
integrada na lei. Pode haver - c lal é o caso mais faro - uma lei que
os enumere e especifique a todos. mas. normalmente. os aspectos Assim a hipótese de incídência: não deixa de ser lIna c indivisí-
intcgrativos da hipótese de incidência estão esparsos na lei. ou em vel. pelo fato de possuir diversos aspectos. cuja consideração não im-
diversas leis. sendo que muitos são implícitos no sistema jurídico. plica sua decomposição em "partes" ou "elementos".
Esta multiplieid"de de aspectos não prejudica. como visto. o caráter
unitário c indivisível da hipótese de incidência. Percebe-o o jurista, 28.8 Não nos parece adequada a expressão elementos da hilx')tese de
utilizando o instrumental d" ciência do direito. incidência, usada por alguns autores. É que esla expressão sugere a idéia de
que se está diante de algo que enlra na composição doutra coisa c serve para
formá-Ia. Cada aspecto da hipótese de incidênCia não é algo li se srllll1e, de
28.3 Com palavra •.•diversa,>. não é oulra coisa o que diz A. Becker. for-
forma que associado aos demais resulte na composição da hipótese de inci-
mulando obs~rvação mais genérica dência, mas, são simples qualidades. atributos ou relações de lIllla coisa una
"Recorde-se: Não existe urna regra jurídica para a hipótese de incidên- c indivisível, que é a hiptStesc de incidência. juridicamente considerada. Sob
cia, outra para a regra. outra para a base de cálculo, oulra para a alíquota etc.; esta perspectiva. a h.i. é um todo lógico unitário e incindível.
tudo isto integra a estrutura lógica de urna única regra jurídica resultante de
28.9 É sabido que a hipótese de incidência descreve UIll falO jurígeno.
diversas leis ou artigos de leis (fórmula literal legislativa). É preciso não
Como tal. é uma unidade, embora os elementos pré-jurídicos arrecadados
confundir regra jurídica com a lei; a regra jurídica é uma resullante da tota-
pelo legislador, para descrevê-lo. possam ser múltiplos ou complexos.
lidade do sistema jurídico fomlado pelas leis" (ob. cit.. p. 270). Sach" Cal-
mon é enfático ao sublinhar que lei n50 é nonna Esta contém-se naquela. A Preferimos falar em aspcclOs da hipótese de incidência porque, na ver.
norma revela-se nos enunciados legais (v. Teoria Meral do trihuto e da exo- dade, esta unidade conceitual p<X.Ieser encarada, examinada e estudada sob
neração tributária. Ed. RT, 1982, p. 211). diferentes prismas, sem destituir.se de seu caráter unit~írio e sem que a com-
preensão. exame c estudo de um possa pem1ilir negligenciar ou ignorar os
28.4 Paulo !Jarros Carvalho costuma socorrer-se de analogia muito
demais. panícipcs da unidade e nela integrados.
ilustrativa. de notável alcance didático. para demonstrar que à incindibilida-

78 HIPÓTESE DE INClDtNCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA HiPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRtA 79

28.10 Se se considera, por outro lado, que a palavra elemelllo é. nesta posto; em segundo, a determinação objetiva do sujeito ou sujeitos que resul-
acepção, ,sinônima de princípio, mais saliente parece ficar a objeção à sua tem obrigados ao pagamento do gravame e o momento de vinculação do
adoção. E que "princípio" é ludo que, de alguma fOTma, innuencia a existên- pressuposto de fato com o sujeito ativo da imposição; em terceiro lugar. a
cia de um ser. Ora, o princípio é necessariamente distinto do ser principiado. base de medição, chamada também base imponível, isto é, a adoção de parâ-
Por isso pode ser seu princípio, sua causa. metros que servem para valorar quantitativamcnte os fatos. cuja verificação
28.11 Ora, como veremos, os a"pcctos da hipótese de incidência não origina a obrigação; em quarto lugar. a delimitação. no espaço e no tempo,
são suas causas, não lhe determinam o ser, mas só o modo (3 maneira) de destes fatos; c cm quinto. a quantidade expressada numa sorna finita. ou
ser. Integram-na e não a originam. São pontos de vista sob os quais a inteli- numa percentagem ou alíquota aplicável à base imponível. que pcrntile
gência considera o objeto - no caso, a hipótese de incidência _ segundo suas detenninar como resultado. o lfuolllum da obrigaç50 tributária" (Estrutura e
relações (tomada esta palavra no seu sentido estático). £lemelllO,. .... cit.. p. 337).
28.12 'íoda e qualquer hipótese de incidência. ao realizar~sc acontece 28.17 E sublinha, em duas passagens, o caráler unitário da h.i. ao dizer:
num detemlinado tempo e espaço. A regra jurídica ao preestabelecer os faias "Neste enfoque, todos os elementos subjetivos e objetivos da relação jurídica
que integralizarão a hipótese de incidência logicamente também predcterrlli- tributária se resumem no único conceito de "pressuposlO de fa(o" definido pcla
na as coordenadas de lem(X) e as de lugar para a realização da hipótese de lei" (ob. loc. CiL)... "Isto não implica desconhecer que também a base imponí-
incidência" (A. Bccker. ob. cit.. p. 238). vcl conslitui elemento do pressuposto de fato da obrigaçJo. que. em seu con-
junto. abarca todos os aspectos subjetivos. objetivos. quantitativos. espaciais e
temporais quc a lei define de fonna expressa ou implícita" (oh. ciL, p. 338).
"r 28.13 São, pois. aspectos da hipótese de incidência as qualidades 28./8 Dino Jarach tem a vis;io mais completa e intl'grada da hipótese
que esta tem de dctenninar hipoteticamente os sujeitos da obrigação de incidência. entre os doutrin~ldores.
tributária, bem corno scu conteúdo substancial. local e momento de
nascimento. Daí designannos os aspectos essenciais da hipótese de
incidência tributária por: a) aspecto pessoal; b) aspecto material; c) 28./9 Ao intérprete cabe reconhecer e identificar os diversos
aspecto temporal e d) aspecto espacial. // aspectos da h.i., aplicando as noções cicntíricas no seu trabalho exe-
gético. Não incumbe ao legislador desdobrar sinoticamenlc, de forma
did;ítica. seus comandos e prcceitos, esquematizando-os para facilitar
28.14 Ensina A. Becker "Os f~\tos (míclco e elementos adjetivos) quc a tarefa do hermeneuta. O legislador não é cientista. nem didata.
realizam a hipótese de incidência, necessariamente, acontecem num detcr. Esgota sua tarefa fonnulando a hipótese e o respectivo comando, como
minado tempo e lugar. dc modo que a realizaç50 da hipótese de incidência melhor lhe pareça.
sempre está condicionada às coordenadas de tempo c às de lugar. O acollle-
cimento do núcleo c dos elementos adjetivos somente terão realizado a hipó-
tese de incidência se tiverem acontecido no tempo e no lugar predetenllina- 28.20 Isto é dito. com muita felicidade, por Â. D. Gi~Hlllini: uÉ natural
do~. implícita ou explicitamente, pela regra jurídica" (ob. CiL, p. 301). que os v;írios elementos, até aqui indicados. da relação ubrigatória não se
aprcscntem em todas as espécies tribut;Írias perfeitamente distintos, um do
28.15 Giannini só dá saliência a dois aspectos da hipótese de incidên.
outro. Nos impostos. cuja estrutura é muito singela. quando reduzida à mais
cia. aos quais, aliás. designa por elementos. corno bem o salienta Souto
simples ex.pressão a situação de fala a que se relacionam (a posse, ('xempli
Maior Borges: "Deve.se a Giannini, no campo do direito tributário, ulTladas
Rl'atia. de um piano), os supraditos elementos. por serem conceitualmente
tentativas de dissecação do fato gerador (hipótese de incidência) da regra
diversos. vêm, de regra. a confundir.se materialmente; mas na maioria dos
jurídica. dcnominado. pelo mestre italiano, "prcssuposto do tributo" e por
imposlos os elementos supra.indicados (e as normas que lhes dizem respei.
de dividido em dois elemelllos. O primeiro, o elemento material, é o quc
to) surgem, mcsmo exteriormcnte, perfcitamente distintos. Considere~se, por
mais propriamente constitui o objeto do imposto c serve para diferenciar um
exemplo. o imposto sobre os contratos que contenham uma transferência de
imposto de outro; o segundo, o elemento pessoal do pressuposto, que con-
bens: o pressuposto objetivo. em sentido próprio. do tributo consiste no alo
siste numa certa relação de fato ou de direito, na qual se deverá encontrar o
jurídico de transferir um bem. que é o objeto em sentido restrito: a relação
sujeito passivo do imposto com o elemcnto material" (ob. ciL, p. I X I).
do sujeito passivo do tributo com o pressuposto é dada pela participação no
18.16 Dino Jarach designa por elementos os aspectos da h.i. Escreve: alO; a base imponível é fornecida pelo complexo das prestações pactuadas
"Este pressuposto de fato se compõe, por sua vez, de diferentcs elemenlos: ou pelo valor na praça do hem transferido" (I Conccui Fondamelltali dei
em primeiro lugar. os fatos objetivos contidos na definição Icgal do pressu- Dir;{f() Tnhutario, UTET. 1956. p. 154).

80 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA nUBUTÁRIA
ASPECTOS DA HiPóTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA 81

29. Aspecto pessoal


legislador" (Aspecto .... cit., p. 289). Na verdade, o legislador proce-
1/ 29./ O aspecto pessoal, ou subjetivo, é a qualidade - inerente à de à eleição dos sujeitos (aspecto pessoal da h.i.) com certa discri-
hipótese de incidência - que determina os sujeitos da obrigação tribu- ção, exceto no Brasil, onde ele é obrigado, pena de inconstituciona-
tária, que o fato imponível fará nascer. Consiste numa conexão (rela- lidade, a pôr como sujeito passivo o destinatário constitucional
ção de fato) entre o núcleo da hipótese de incidência e duas pessoas, tributário.
que serão erigidas, em virt;,de do fato imponível e por força da lei,
em sujeitos da obrigação. E, pois, um critério de indicação de sujei- É que, por ser extremamente minuciosa e quase exaustiva, a Conslitui-
tos, que se contém na h.i. f'
I ção brasileira não deixa margem de liberdade ao legislador ordinário, seja
A detenninação do sujeito ativo é discricionária; seu único limi- para eleger a m~Hcrialidade da h.i., seja para designar sujeitos passivos. ESICS
te é que se trate de pessoa com finalidades públicas (por força do estão implícitos na Conslituição: já eslão designados no Texlo Supremo, ou
princípio da destinação pública dos tributos, exposto por Aliomar por dicção expressa, ou pela indicação sistemálica, confinnadao;; pelos prin-
Baleeiro e sublinhado por Antonio Roberto Smnpaio Dória). cípios da retribuição (art. 145,Il), da proporcionalidade (arts. 145. III e 149),
29.2 O sujeito passivo é, no direito constitucional brasileiro, quanto às taxas e contribuições. ou capacidade conlributiva (an. 145, * 10).
aqucle que a Constituição designou, não havendo discrição do legis- quanto aos impostos_
lador na sua designação. Só pode ser posto nessa posição o "desti- 29.5 Dino Jarach põc a questão em lermos c1aros:"O aspeclo subjelivo
natário conslilucionallribul,trio" (para usarmos a excelente catego- da hipótese de incidência consiste na definiç:l.o dos sujeitos alivo e passivo
rização de lIector Villegas). Nos impostos, é a pessoa que revela que estão relacionados com as circunstâncias objetivas definidas na lei. de
capacidade contributiva, ao participar do fato imponível. promo- forma tal que surja para uns a obrigaç:l.o e para outros a pretensJo ao imros.
vendo-o, realizando-o ou dele tirando proveito econômico (CF, art. lO" ("Aspectos d':l hipólcse de incidência tributária", in RDP 17I2X7).
145, ~ I').
Nas t'LXas,o administrado cuja atividade requeira o ato de polí-
No nosso sistema constitucional. isso é feito pelo legislador,
cia. Oll que provoque, rcqueir<-i ou, de qualquer modo. ulilizc o servi-
preso estritamcnte ao estabelecido - cmbora implicitamcnte - na
ço público (CF, art. 145, li). Nas contribuições, o sujeito que receba
Constiluição. Esta fixa imodificavelmcnte o destinatário da carga tri-
espec;,,1 benefício ou cause e'pe,.;,,1 detrimento ao estado (CF, arts.
butária, como o definiu Cleber Giardino. aprimorando as elaborações
145. 1I1e l.j~). Todo desvio desse critério material implica inconsti- de Hector VilIegas.
tucionalidade da lei tributária, no Rrasil.
Daí que o sujeito passivo designado pelo legislador, no Brasil. só
possa ser aquele j~íconstÍlucionalmcnrc de.winaJo. ou alguém 4uc
29.3 HCllsel sublinha que o sujeiro passivo das obrigações. que nasce-
possa transferir-lhe a carga tributária imediata c automaticamente (v.
rão dos falOS imponíveis previslos pela hipótese de incidência, é aquele RDT 34{204).
cuja capacidade contributiva é revelada pelo fato imponívcl. Esta afinlla.
ção não pode ser generalizada; nos Iribulos vinculados (v. ~ 59) não cabe
cogitação quanlo à capacidade cOnlribuliva, já que o critério informativo
29.6 O que. na lei. recebe a qualificaç.l.o de a.specto pessoal da h.i. é a
das taxas c contribuições é outro, que não qualquer atribulO ou qualidade
detemúnação - explícita ou implícita - do sujeito ,uivo e o estabelecimento
dos contribuinres. corno o é a capacidade contributiva, só aplicável aos
imposlos. do crilério para idenlificar o sujeito passivo, critério esse que também pode
vir explícito (o que é mais raro) ou implícito.
""29.7 Arguta é a observação de Paulo Barros Carvalho no senlido de que
29..1 O legislador é que, explícita ou implicitamente, designa os
a h.i. só designa o sujeito ativo (expressa ou implicitamente). Quanto ao
sujeitos da obrigação tributária. na conformidade do desígnio cons-
sujeito passivo. limita-se a dar o critério para sua deternlinação. É que só o
titucional. Alhures, ao cont"írio do Rrasil, moslra-o Jarach, "... a
rato imponível irá concretizar em alguém a indicação genérica e abslrata da
atribuição do fato imponível ao sujeito principal depende de diferen-
lei. Só depois do fato imponível. é possível determinar concrelarnenle o
tes circunstàncias c, definitivamente. de um critério discricionário do sujeito passivo./ /
82 HIPÓTESE DE INCIDt;NCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA Hll'ÓlEE DE INCIDENCIA TRIBUTÁRIA 83

//29.8 Por isso, devemos dizer que aspecto pessoal é o atributo da o primeiro é o fato em si; o segundo "a relação, preestabelecida na lei, na
h.i. que determina o sujeito ativo da obrigação tributária respectiva e qual se deve encontrar o sujeito passivo diante do fato, para que possa sur-
estabelece os critérios para fixação do sujeito passivo.V' gir, para ele, o débito tributário" (I COIlCCll; FOflc/amenlali dei Diriuo Trilm-
lario, UTET, p. 152).
Ao sublinhar a circunstância de que essa "relação" é "preestabelecida
o fato imponível, por assim dizer, é que tem conc,;ão física com alguém.
pela lei" indicou aquilo que nós designamos por aspecto pessoal da hipóte-
que. em regra. é colocado. por força da lei, na situação de sujeito passivo.
se de incidência.
29.9 A hipótese de incidência se limita a ditar o critério segundo o qual
29.13.1 Devemos, no Brasil. entretanto, ler com cautela a literatura do
se vai detenninar, in conerelU, em cada caso, quem é o sujeito passivo.
direito comparado (literatura estrangcira). É que, como sublinhado por nós
Aí, mais uma vez, aparece a relevância da distinção entre h.i. e fato (v. Sistema consTitucional tribtttário hrasileiro. Ed. RT, 2. cd., 1990), o le-
imponível. Na h.i. sujcito passivo é "quem vende", "quem recebe renda", gislador, noutros países. tem liberdade para eleger os sujeitos passivos. No
"aqucle que exporta", "aquele que tiver a propriedade". Diante do falO impo- Brasil, não tem, porque a Constituição designa os "destinatários constitucio-
nível. sabe. se que o sujeito passivo é João, é José, é Antônio etc. nais tributários". Só as pessoas já implicitamente compreendidas no desíg-
nio constitucional podem. pela lei. ser postas como sujeito passivo. na lição
29./0 A indicação do sujeito passivo é, na maioria dos casos, de Cleber Giardino.
implícita. Decorre da configuração da h.i. Por isso Jarach escreve que 29.13.2 Igual cuidado deve-se ter ao ler os autores brasileiros que _
o contribuinte "é o sujeito obrigado em vinude da própria natureza no afã de traduzir e transplantar a doutrina alienígena - não perceberam
dos fatos imponívcis. que, de acordo com a lei. resultam atribuíveis a essa diferença dc postura do constituinte, que tem tão sérias conseqüências
práticas.
dito sujeito. por ser quem os realiza" ("Aspectos da hipótese de inci-
dência trihutária", in RDI' 17/287). 29.14 O terna comporta aprofundamcllto. IJ1Ieressante, a propósito, é ler
o excelente trabalho de Dino Jarach. aqui tanlas vezes citado (in RlJP, v. 17,
29./0./ É a imputação das conseqiiências jurídicas de um fato a
especialmente PIl. 296n97), bem C0l110 as tTlcdilações oportunas de Clcber
um sujeito: nos impostos é quem revela capacidade contributiva, par- Giardino (RDr .14/216 e ss.).
ticipando do fato imponível: auferindo renda, sendo proprietário,
Os desdobral1u:ntos deste tema est;lo. adiante. nos IIS. 3/.2 e ~eguillles.
vendendo etc. Nas taxas, utilizando serviço público ou provocando
atos de polícia. Nas contribuições, recebendo benefício especial da
ação pública, ou provando despesa eII"'cial do estado.
30. Sujei/o ali,'o

29./1 Assim A. Becker expõe o aspecto pessoal da hipótc~e de incidên- 1130./ Sujeito ativo é o credor da obrigação tribut,íria. É a pessoa
cia: "Dentre a infinita variedade de elementos adjetivos que poderão ser a quem a lei atribui a exigibilidade do tributo. Só a lei pode designar
escolhidos pdo legislador para especificar o núcleo da hipótese de incidên- o sujeito ativo. Esta designação compõe a h.i., irucgrando seu aspec-
cia. existe um elemento adjetivo que sempre, expressa ou implicitamentc. to pessoal. y
está presente na composição da hipótese de incidência. Este elemento adje-
30.2 A lei que contém a h,i. só pode ser expedida pela pessoa
tivo sempre constante é o que liga a hipótese de incidência a alguém. Esta
político-constitucional competente (União, Estados, Distrito Federal
vinculação da hipótese de incidência a ullla ou mais pessoa.•.•.normalmente
e Municípios), de acordo com os critérios de repartição de competên-
está implícita. quando ela compõe-se de atos; porém, quando seu conteúdo
consiste de fato (estrito senso) ou em estado de fato, aquela vincul<tção surge cias tributárias (discriminação de rendas) constitucionalmente estabe-
expressa na composição da hipótese de incidência. lecidos. Não se confunde a competência para legislar. com a capaci-
29./2 "A realização da hipótese de incidência cst;í sempre ligada a dade de ser sujeito ativo de obrigações tributárias (v. Roque Carrazza,
alguém; entretanto esta ligação (que não necessita ser social. podendo ser de O sujeiro ativo dllo!JriKaçlio trihullÍrill).
nalUreza física ou psicológica ou de proximidade etc.) não é relação jurídi- 30.3 A lei pode atribuir a titularidade de um tributo à própria
ca" (ob. eit.. pp. 299.3(0). pessoa pública de que ela (lei) é expressão. ou a pessoa diversa. No
29./ J A. D. Giannini reconhece dois elementos em que a h.i. se primeiro caso. não precisa mencionar expressamente o sujeito ativo.
"decompõc": o material - ali pressuposto objetivo - e o pessoal - subjetivo. Sua determinação é implícita. Se lei do estado "x" cria um tributo c
S4 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA ASPECfOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRtA 85

não explicita quem será o sujeito ativo das relações obrigacionais A taxa de pedágio exigida nas rodovias federais tem como sujeito ativo
concretas que irão nascer, sabe-se que ele (sujeito ativo) será o pró- uma autarquia federal, o Departamento Nacional de Estradac; de Rodagem,
prio estado "x". por expressa disposição legal (aspecto pessoal da h.i.).
30.4 Sujeito ativo é, em regra, a pessoa constitucional titular da 30,/0 A lei federal poderá dar ao DNER ou ao DNOCS, por exemplo,
competência tributária. Nestes casos (regra gcral), a lei não precisa a rirularidade (capacidade para ser sujeito ativo) de cOlllribuição de melho.
ser expressa na designação do sujeito ativo. Se nada disser, emende- ria. referente à valorização imobiliária causada por suas obras (federais).
se que sujeito ativo é a pessoa titular da competência tributária. Em
30,lI Algumas vezes recebem (da lei) esta qualidade de ser sujeito
outras palavras: a regra geral é que o sujeito ativo é a pessoa cuja lei
tributária pessoas de direito privado, como é o cac;o do
ativo de obrigação
criou a h.i. (no Brasil, União Federal, Estados Federados, Distrito
SESC, SENAC, SENAI. Siio expressamente indicadas pela tei tributária
Federal e Municípios). Está ele implícito na h.i., não havendo neces-
(h. L) como titulares de certos tributos lançados e cobrados por si ou por
sidade de que seja sua indicação formulada explicitamente.
outras pessoas (v. Roque CarTaZ7..:!,SujeilO ativo ..., p. 40).
30.5 Se, entretanto. a lei quiser atribuir a titularidade da exigibi-
lidade de um tributo a outra pessoa que não a competeme para insti-
tuí-lo, deverá ser expressa. designando-a explicitamente; na maioria 31.Parajiscalidade
das vezes, assim se configura a parafiscal idade (v. Geraldo Ataliba.
Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. Ed. RT, 2' ed., 1990) _ 31./ Surge aí o fenômeno que se convencionou designar pela ex-
pressão parafiscal idade.
30.6 No caso dos tributos não vinculados (impostos), presume-se
sujeito ativo (quando não explicitamente designado pela lei) a pessoa /vConsiste isso em a lei atribuir a titularidade de tributos a pes-
competente para instituí-los. No caso dos vinculados. presume-se su- soas diversas do estado, que os arrecadam cm benefício das pró-
jeito ativo a pessoa exercente da atuação posta no núcleo da hipótese prias finalidades. É o caso de aUlarquias dotadas de capacidade
de incidência. tributária ativa (INSS, DNER. OAB, CONFEA, CEF) ou de enti-
dades paraestatais, pessoas de direito privado chamadas pela lei a
colaborar com a administração pública, como as define Celso
30.7 Em QUITaS palavra,,: se os Iributos vinculados têm por hipótese de
Antônio Bandeira de Mello (Natureza e Regi",,' JuridiclI das A,,-
incidência uma atuaçiio estatal. a pessoa que exerça essa atuação (União.
lar""ias. cit., p. 356). r
Estados. D. rcdcral, Municípios, Autarquias. socicdadcs mista..,;c cmplcsas
públicas) será seu titular - c. em conseqüência. sujeito .uivo.
3/.2 Roque Carrazza cOllceitua a paraliscalidade nos termos seguintes:
Os critérios para fixação substancial do sujeito ativo. pelo Icgislador.
..... é a atribuição, pelo titular da cOlllpdência Iribuljria. mediante lei. de
são políticos. não exercendo nenhuma influência na exegese jurídica. A lei
capacidade tributária ativa. a pessoas públicas ou privadas que persigam
(h.i.) designará como sujeitos as pessoas que discricionariamente o legisla.
llnalidades públicas ou de illleressc público), divcrs,l<; do ente imposto, que.
dor entender oportuno eleger, observados os critérios constitucionais. por vontade desta mesma lei, passam a dispor do produto arrecadado, para a
30.8 Por isso. na lei do imposto de renda. ou do imposto sobre produ. consecução dos seus objetivos" (O sujl'ilO mil'o .... p. 40).
tos industrializados (IPI). por exemplo. debalde se procurará expressa l1len.
ção do sujeito ativo. É que. se a lei nada dispuser expressamente em contrá-
3/.3 A circunstãncia de o sujeito ativo não ser a própria entida-
rio. estará dizendo implicitamente que sujeito ativo é a União. já que a
de estalai (União, Estado ou Município), mas outra pessoa designa-
Constituição lhe atribuiu competência para criar tal imposto. Se quisesse o
da pela lei - que arrecada o Iributo em proveito das próprias finali-
legislador federal outorgar capacidade para exigi. lo a outra pessoa. devia
dades - em nada altera o regime tributário, que deverá persistir
fazê.lo expressamente. Em não o fazendo, está dispondo implicitamcnte que sendo observado.
sujcito é a própria União.
JO.9 Já quando foi criada a contribuição prcvidenci,íria federal. deveu
J I A Rubens Gomes de Sousa faz excelente resenha do estado da ques.
a lei dizer expressamente que o sujeito ativo é a autarquia previdenciária
tão na doutrina intemacional e nacional, de inexcedível valor (v. RDP
federal. Se o não dissesse. sujeito ativo seria a União. 17/314 e ss.).

HIPóTESE DE INCIDÊNCIA TRInUT ÁRIA
ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
"7
31.5 Esta indicação explícita ou implícita, contida na lei tributá-
ria, da pessoa que irá ser sujeito ativo das obrigaçõcs nascidas dos 32.5 A indicação do critério para identificação do sujeito passivo
fatos imponíveis, integra a h.i. e constitui seu aspecto pessoal, junta- nem sempre é expressa. Neste caso, é implícita e deve ser deduzida.
mente Com o critério de determinação do sujeito passivo. pelo intérprcte, do sistema constitucional, sempre tendo em vista o
fato imponível.

32. Sujeito passÍl'O. Desdobramentos do tema Disse.o, COm outras palavras, o autorizado Dino Jarach: ..... há impos-
tos que, como se viu, nem sequer contêm, nas disposições legais pertinentes.
32.1 Sujeito passivo da obrigação tributária é o devedor, conven-
a definição dos sujeitos. Por outra parte, quando a lei define e estabelece seu
cionalmente chamado contribuinte. É a pessoa que fica na contingên-
grau de responsabilidade. relativamente ao pagamento do tributo e ao alcan.
cia legal de ter o comportamento objeto da obrigação. em detrimento ce de sua pretensão - tratando-se de sujeitos ativos _ o faz, exclusivamente.
do próprio patrimônio e em favor do sujeito ativo. É a pessoa que terá em conexão com os fatos objetivos que constilucl1l o pressuposto legal da
diminuição patrimonial, com a arrecadação do tributo. obrigação" ("Estrutura e Elementos" '.. eit., pp. 337-338).

32.2 Dizemos que a hipótcsc de incidência indica o critério para iden-


32.6 Quanto ao aspecto pessoal, assinalamos COm Cleber Giardino:
lificação do sujeito passivo - e não o determina imcdiatamente - porque só
o fala impunível se relaciona com alguém determinado "ie et IIW1C. Por isso "Em princípio, só pode ser posta. pelo legislador, como sujcito
Jarach escreveu: "Os sujcitos da relação tributária n50 são um elemento a das relações obrigacionais tributárias, a pessoa que - explícila ou
priori, ncm desvinculado do pressuposto de fato objetivo. N50 td ulTlarela- implicitamcnte - é refcrida pelo texto constitucional como 'dcstina-
ção inrersubjetiva. com prescindência da obrigação tributáriaconcrela, que l~irio da carga tribut~iria' (ou destinaI.irio legal tribut,irio. na feliz
surge da verificação dos fatos definidos pela lei" ("Estruturasc elemcntos da construção dc IIcctor Villegas, cf. artigo in RDP 30/242).
relação jurídica lriblllária", in RDI' 16/337).
"Sed sujeito passivo. no sistema tributário brasileiro. a pessoa
que provoca, desencacll'itl ou produz a malerialidade da hipótese de
32.3 É sujeito passivo, em regra, lima pessoa que est,í em cone- incidência de um tributo (como inferida da constituição) ou "quem
xão íntima (relação de fato) com o núcleo (aspecto material) da hipó- tcnha relação pessoal c direla' - como diz o ano 121, partigrafo lÍnico.
lese de incidência. Ao exegeta incumbe desvendar esta conexão. nos I do CTN - Com essa materialidade. Efetivamcnte, por simples como-
casos em que a lei não explicita tal circunstância. Muitas vezes a lei didade ou por qualquer outra razão. não pode o Estado deixar dc
contém indicação pormenorizada, explícita e precisa - embora con- colher lima pessoa, como sujeito passivo. para, discricion:íria e arbi-
ceituai - do sujeito passivo, simplificando a exegese. trariamente. colhcr outra" (RDT 34/216)

O legislador - inspirado pela ciência das finanças - orienta-se


por princípios financeiros na configuração da hipótese de incidên- "De tudo se vê que n:1oé livre o legislador ordinário na escolha dos
cia, quanto ao aspecto subjeri\'o passi\'o. Em todos os casos, no sujeiras passivos. Pelo corHrário.ele é obrigado a colher como lal SOfllCllle
Brasil, só pode ser onerado o destinatário constitucional tributá- aquela pessua quc ,-calme1lle corre~jJmula ás exigéllcias do aspe('(o pessoal
rio, porque esse juízo político-financeiro foi exaurido pelo consti- da hipótese de incidência, lal como delernlillada (pressuposta), em seus con-
luinte. tornos essenciais, pelo próprio texto constitucional: o 'realizador' da opera-
ção tributável" (RDl" 34/217).

32.4 Tais critérios, pré-jurídicos. de nenhuma fonnJ exercem innuên-


32.7 O legislador deve colocar como sujeito passivo, nos impos-
da na configuração da conexão. tal como afinal resulta no tcxto legal. Mui-
(as vezes, porém, o seu conhecimento auxilia a exegese legal. principalmen-
tos, a pessoa cuja capacidade contributiva é manifestada (revclada)
te nos casos duvidosos: é que. parase saber qucm suportou a carga tributária pelo fato imponível. No Brasil, é a Constituição (art. 153, ~ 12) que
- para verificar-se se foi o destinatário constitucional - às vezes as elabora. obriga tal procedcr. identicarncnlc. nos regimes constitucionais que
çõcs de ciência das finanças são esclarecedoras. consagram, de modo restritivo para o Icgislador ordinário. o princípio
da capacidadc cotllributiva, como a It:ília e a Espanha.
88 HIPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA IlIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA 89

32.8 Nos impostos. o sujeito passivo é alguém de alguma fonna 33.2 De modo geral, certa conexão fática (provocar, requerer,
relacionado com o fato posto como aspecto material da hipótese de exigir, utilizar) entre uma pessoa e a atuação posta no núcleo da h.i.
incidência, de modo que se infira ser o titular da capacidade contri- - nos tributos vinculados - autoriza o legislador a colocá-la como
butiva onerada. sujeito passivo da correspondente obrigação tribu(,íria. Como o prin-
cípio básico da tributação é a isonomia, a equivalência é o critério do
A importância do aspecto pessoal fica bem saliente. nos casos em que legislador e du intérprete da lei tributária.
a modificação do sujeito passivo pode alterar até a classificação de um
imposto. 33.3 O legislador aqui é orientado por critérios pré-jurídicos de ciência
32.9 Exemplo expressivo disto está no imposto sobre remessas de juros das finanças. Os princípios cOllstilUcionajs implícitos servem de limite à sua
para o exterior. Enquanto o contribuinte era o beneficiário. tinha-se imposto faculdade, nes[a matéria. Efetivamente, a sistemática constitucional exige
sobre a renda. Com a superveniência da lei que definiu o remetente como que o legislador ponha, como sujeito passivo dos tributos vinculados. só as
contribuinte, já não se está mais diante de imposto sobre a renda, mas sim pessoas que se relacionem, de algum modo, com a atuação estatal que figu~
imposto sobre despesa. ra no núcleo da respectiva h.i. Não tem. nesla matéria. nenhum arbítrio o
32.10 O saudoso Alllncar Falcão começou a vislumbrar a significaç:l.o °
legislador. Seu guia é princípio da equivalência (na<.;taxa'i) ou da compen-
da questão com admirável nitidez, embora de forma ainda incipiente. Teve sação (nas contribuições) (v. capítulo 111).
oponunidade de CSCrt:vcr:"Dir-sc-j que a alusão ao sujeito passivo da obri.
gação tributária, como a faz Seabra Fag..undcs, é importante para aferir-se a
idclllidade dos impostos considerados. E e não é: depende do caso. A figura 34. Sujeição passiva indireta
do sujeito passivo é relevante, in hypothesi, quando dela rcsulta. confonTlc a
34./ Por razões metajurídicas - que não importa aqui recordar
situação. a alleração da nalureza do fato gerador e, pois. do próprio impos-
to" (Sistema TrihwlÍrio Brasileiro, Ed. Financeiras. p. 112). precisamente porque juridicamente irrelevante - o legislador muitas
vezes dispõe que seja sujeito passivo pessoa que nào corresponde
rigorosamente à configuração supradescrita, ou ainda desloca a qua-
32.lJ Em suma. o critério para detenninação do sujeito passivo lidade dc sujcito passivo de uma pessoa para outra. quc fica na posi-
está na hipótese de incidência. A ocorrência do fato imponível ir;! ção jurídica daquela.
fixar (revelar. declarar) concretamente a Tício ou Caio. em cada caso
Assim. ou a obrigação j;í nasce tendo corno sujeito passivo
concreto.
alguém que não correspondc à configuração indicada pela Constitui-
O critério legal obedece a princípios que conduzem o legislador ção - quando prevê o destinat<Írio tributário - ou a sujeição passiva
- ao formular a h.i. - a sujeitar quem. de algum modo, esteja em desloca-se, por força de lei. para outra pessoa. Isto só é possível quan-
conexão com o falO imponível, de forma a ter sua riqueza. por ele. do o desígnio constitucional não seja desacatado.
revelada. Será o destinatário constitucional tributário.
J.J.2 O eSludo da sujeição passiva, em todas as sua", configuraçõcs, não
é objclo deSle tópico. Importa. porém. observar as baliz~L'"constitucionais à
33. Sujeito passivo /lOS tributos l'i/lculados discrição - jamais arbítrio - do legislador. nesta matéria.
33.1 Quanto aos tributos vinculados, é mais intuitiva e fácil a 34.3 O importante é. a este propósito, sublinhar bem que a delermina-
determinação do sujeito passivo. É a pessoa que utiliza um servi- ção do sujeito passivo da obrigação tributária depende da hipótese de inci-
ço, tem-no à disposição ou é atingida por um ato de polícia nu dência, que é prefixada - no Brasil - pcla Cons[ituição. Com Cleber Gjardi-
no, escrevemos:
ainda a que recebe especial benefício de uma atividade pública, ou
a provoque. 34.4 "Na vcrdade, a substiluição é. entre nós. figura de difícil delinca.
menta. É um instituto exccpcional que exige da parte do legislador ordin;:í-
Estas diferentes configurações da h.i. - determinando critérius rio extremos cuidados. para n;io incidir em inconstitucionalidades, pela vio-
diversos para a designação do sujeito passivo - decorrem da classifi- lação de princípios ou desobediência a preceitos expressos ou implícitos,
cação dos tributos em espécies. constantes do texlo constitucional. que se opõem. como desdobramentos ou
90 HIPÓTESE DE lNCID~NCIA llUBUTÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCID~NClA 'm.IBUTÂRIA 91

corolários das características do sistema constitucional tributário" (RDT dadeira 'inutilidade' da discriminação constitucional de competências tribu-
34/216). tárias - diante da compreensão deste conteúdo, postula obrigatória coorde-
nação dos raciocínios correntes sobre essa matéria" (p. 218).
34.5 "Não pode a lei atribuir a sujeição passiva a quem não lenha sido
nitidamente referido no desígnio constitucional; a quem não seja o destina-
tário da carga tributária, segundo a referência constitucional (peculiaridade
34.8 "Há 'responsabilidade tributária, sempre que, pela lei, ocor-
do nosso sistema de Constituição minuciosa c exaustiva, de descriminação
tributária rígida). rido o fato imponível, não é posto no pólo passivo da obrigação con-
seqüente (na qualidade de obrigado tributário, portanto) o promoven-
te ou idealizador do fato que suscitou a incidência (o contribuinte
"Na própria designação constitucional do tributo já vem implici- stricto sensu - art. 121, parágrafo único, I, do CTN, o sujeito passi-
tamente dito 'quem' será o seu sujeito passivo. No quadro dos contor- vo 'natural' ou 'direto' corno usualmente designado), se não um ter-
nos fundamentais da hipótese de incidência dos tributos - que esta- ceiro, expressamente referido na lei. Assim. ".Ii., o despachante adua-
belece a Constituição Federal ao instituir e partilhar competências neiro (o contribuinte do imposto de importação é o importador); o
tributárias, entre União, Estados e Municípios - está referido o sujei- transportador (contribuinte do IPI é O industrial vendedor). a fonte
to passivo do tributo, aquela pessoa que, por imperati,'o constitucio- pagadora (contribuinte do imposto sobre a renda é o beneficiário do
nal, terá seu patrimõnio diminuído. como conseqüência da tributação rendimento) etc. Em todos esses casos é um terceiro, diverso do 'des-
(v. Hector Villegas. in RDP 30/271). tinatário legal tributário' (Víllegas) ou seja. diverso do 'realizador' do
"É óbvio. assim, que só pode ser sujeito passivo da relação obri- fato imponívcl. quem as:->ume, na rclaç.l0 jurídico-tributária. a posi-
gacional tributária de imposto de renda aquele que recebe renda. Do ç,io de obrigado ao pagamento do tributo. Há. portanto, visivelmente.
imposto de exportação, quem exporta. Do de importação. quem nesses casos. obrigação de pagar 'tributo alheio', tributo pertinente a
importa. Do sobre serviços, o prestador. Como só pode ser sujei- outrem. logicamente atribuível ao sujeito passivo 'natural'. o contri-
to passivo do imposto predial o dono do prédio. E assim por diante" buinte, na expressiva designação de Jarach. Dessa natureza a carga
(p.217). tributária exigível ao 'responsável'" (p. 219).
34.9 "Exatamente por isso é que. nos casos em que se institui
J4.6 "Parcce de evidência total que não pode a lei exigir de alguém - 'responsabi Iidade' ou . substituição':
que mora 110 primeiro andar de um prédio - o imposto de renda devido por
"a) a obrigação é estruturada tcndo em consideração as caracte-
todos os moradores do prédio, simplesmente porque a cobrança, ~Lljsirn, sc
rísticas objetivas do "'to imponível implementado pelo contribuinte.
toma mais fácil! Ncm exigir de quem more na esquina, o imposto predial de
todos os contribuintes daquele quarteirão - ou ainda que, depois, se lhe asse.
O responsável, na verdade, não realiza o fato relevante para detenni-
gurem mecanismos de reembolso junto aos demais - só porque tal cxpcdien. Tlaf o surgimento da obrigação - tão-só é posto, pela lei, no dever de
te é cômodo à Administração. prover o recolhimento de tributo decorrente de fato prol'Ocotlo ou
produzido por outrem;
"Seria supremo arbítrio exigir tributo de alguém, simplesmente pela
circunstância de que é mais fácil colhê.lo do que ao destinatário da carga trio "b) os elementos subjetivos que eventualmente conCOrram na
butária, corno induzido pela Constiluição. Esse raciocínio nos leva à conciu- realização do fato, ou na formação da obrigação, são estabelecidos
são de que há exi~ência constitucional implícita, no sentido de que um em consideração à pessoa do contribuinte (e não à pessoa do res-
imposto somente pode ser cobrado daquela pessoa cuja capacidade COlltribu- ponsável ou substituto). Assim, "K, os casos de isenções ou imu-
tiva seja revelada pelo acontecimcnto do fato imponível ou, nos caliOS de tri. nidades subjetivas, gradações pessoais do imposto de renda na
butos vinculados, somente daquela pessoa a que a atuação cstat~ll se retira de fonte etc.;
alguma maneira" (idem).
"c) a carga do tributo não pode - c não deve - ser suportada pelo
34.7 "Do contrário, o 'fato tributável', referido constitucionalmente
terceiro responsável. Por isso é rigorosamente imperioso que lhe seja
como 'nece.'isário' c 'suficiente' para a exigência do tributo. se converterá
em meTO . pressuposto' de tributação. Pois é no que se rcsumiria se, aconte- objetivamente assegurado o direito de haver (percepção) ou descon-
cido. estiver facultado ao Poder Público cobrar tributo de quem (a lei) qui- tar (retenção), do contribuinte, o qU(JllIum do tributo que deverá pagar
ser e do modo como (a lei) quiser. A perspectiva do 'esvaziamento' - da ver- por eonta daquele" (idem).
92 flU'ÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA
ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA 9,\

34.10 "Ora, é natural que tais implicações (da chamada 'sujeição pas-
haveria necessidade de frisar essa exigência. A lei aplicável, no caso da subs-
siva indireta') obrigam revestir seu regime jurídico de extremas limitações e
tituição, é a lei do momento do acontecimento do fato imponível, ocorrido
rcstritíssimo âmbito de aplicação. Daí que - assegurando a observância des-
por obra e graça do substituído.
ses princípios fundamentais do exercício da tributação _ tenha disposto o art.
128 do CfN só pode ser imputada 'responsabilidade tributária' a quem este- "Em último lugar, requer a Constituição que a lei estabeleça mecanis-
ja \'illcu/ado ao fato imponível (o chamado 'fato gerador'). Isto é, somente mos expeditos, ágeis. prontos e eficazes de ressarcimento do substituto, soh
pessoas que - pela proximidade material com os elementos fáticos determi- peno de comprometimel1lo da ~'aJidade da substituição.
nantes da incidência - possam adequadameme conhecer os contornos c "Isto por força de três exigências constitucionais. A primeira, o princí-
características dos fatos produtores das relações jurídicas (em que se envol- pio da igualdade de todos perante a lei, em cujas dobra') se contém o princí-
vem) é que podem ser postas, pela lei, na condição de 'responsáveis', Nesse pio da capacidade contributiva. Se o fato imponívcl é imputável ao substi-
restrito quadro fático, necessariamente. terão controle sobre os dados objeti- tuído, dele é a manifestação de capacidade contributiva revelada pela sua
vos contidos no fato acontecido; conhecerão as notas subjetivas eventual. ocorrência, como sublinha Arnílcar Falcão.
mente influentes da obrigação de que são titulares passivos; poderão, eficaz- "A segunda, o princípio constitucional que proibe o confisco. Se não
mente, exercer a~ faculdades regressivas implicadas no regime, Terão, houver ressarcimento do substituto, pelo substituído, dc modo ágil. eficaz,
enfim, adequadali condições de exercer todos os direitos subjetivos que, no imediato e expedito, O substituto estará pagando o tribulO cujo destinalário é
campo da tributação - atividade rigidamente vinculada - são constitucional- outrem. Estará arcando com carga tributária correspondente a uma capacida-
mcnte reconhecidos aos que devem pagar tributos, seja a título próprio, seja de econômica (revelada pelo fato impunível) que não revelou, e que porlan-
por conta de terceiros" (idcm). to, somcllfe a outrem (c não a ele) poderia ser imputada.
"A lerceira - estes argumentos se hannonizam no conleXlO constitucio-
34.11 "Visível, portanto, que nas hipóteses de 'responsabilida- nal - porque a Constiluição scmpre designa implicitamente queni é o sujei-
to passivo do tributo. A designação é implícita, porém flcm por isso é menos
úe tributária' tem-se fenômeno de pagamento Uuridicamente consi- categórica.
derado) de 'tributo alheio' por terceiro (não-contribuinte) diverso
"Ao fazê-lo, o texto conslitucional já estabelece que a capacidade con-
do realizador do fato sujeito ;1 incidência (este sim. o contribuinte).
tributiva a ser atingida pelo tributo é a do sujeito 'vinculado' ao fato imJX)-
Nesse sentido. o instituto atina. a mutações no pólo passivo de rela- nívcl (como o explicita o al1. 128 do CI'N).
ções jurídico-tributürias, elegendo. como obrigado tributário, pes-
"N;to teria sentido a Constituição fazer menção a uma determinada
soa que, por deJiniçüo. é diversa daquela usada constitucionalmen-
figura, e consentir desprezar ao; Ilcccss,írias conscqüência:-o jurídicas do reco-
Le" (p. 220).
nhecimcnto da existência, em concreto, dessa figura.
"Importa deixar sublinhado que as exigências constitucionais rígidíssi-
'Tudo deve passar-se desse modo na substituição tributária (modalida- mas cm rnatt:ria da sujeição passiva de tributos ohrigum regime estrilo e
de de responsabilidade tributária). excepcional para as figuras (restritivamente admissíveis) da responsabilida-
de c da substituição tributária.
"Em primeiro lugar, o regime jurídico aplicável será o regime do suhs-
tituído e não o regime do substituto. O substituto está pagando tributo alheio, "A ausência de respeito pela lei, pelo menos. aos requisitos mínimos
vai pagar o que deve outro sujcito, nas condiçõcs pessoais dele, o substituí- acima apontados, inutiliza a cláusula legal inslituit6ria da substituição ou
do. É imperativo que o regime jurídico, legal e constitucional, aplicável seja responsabilidade, inibindo sua aplicaçi'io e efic;ícia.
o da outra pessoa.
"Se o substituído é imune, ou isento, se tem direito a redução ou dila- "Todos os estudos elaborados a respeito da discriminação de
ção tributária, o substitUlO exercitará os direitos correspondentes (Baleeiro, competências tributárias, a partir das robustas mcditaçõcs de Rubens
Direito Tributário Brasileiro. Forense, 10.1 ed., p. 480).
Gomes de Sousa, Aliomar Baleeiro e Gilberto de Ulhoa Canto. até os
"Em segundo lugar, a lei aplicável é a vigenlc na data das operaçõe~ mais recentes trabalhos de Antônio Roberto Sampaio Dória e Paulo
sujeitas à substituição e não a vigente na data da openlção do substituto. E Barros Carvalho, mostram que o fato imponível não é, nem pode ser
de evidência solar que não se pode sequer invocar o modelo da substituição, mero 'pretexto' para tributação; muito mais que isso, deve ser enten-
se a lei aplicável não é a da data da oneração do substituído. Isso está dito,
dido como expressão de contel;(/os normativos rigorosamente dese-
no al1. 144 do CfN, de modo patente, claro, insofismável c explícito. Não
jados. previstos e incluídos nos desígnios constitucionais em matéria
94 HIPÓTESE DE INCID~NCIA TIUBlJT ÁRIA ASPECTOS DA HiPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA 95

de tributação. Ora, a Constituição é sempre expressa implícita ou (questões de vigência e eficácia da lei), da observância da irretroati-
explicitamente em prescrever quem são os sujeitos passivos de tribu- vidade (art. ISO, IlI, "a") e anterioridade (art. ISO, m, "b"). além da
tos (e, na verdade, em ambas as hipóteses. a eficácia dos comandos contagem dos prazos de decadência e prescrição.
constitucionais é a mesma).

35.7 Pode a lei mencionar uma data (caso dos impostos imobiliários).
"Por isso. a "deslocação' do sujeito passivo é absolutamente excepcional
uma circunstância determinável no tempo; isto se dá com o imposto sobre
no sistema brasileiro, exigindo rigoroso e extremo cuidado do legislador exa-
operações mercantis (ICMS). Sua h.i. é a realização, por comerciante ou
tamente para que não se vulnerem. sejam os desígnios constitucionais referi-
dos, sejam os diversos preceitos que hamlOnicamente - compondo o sistema equiparado, de operação jurídica mercantil que importe (impulsione. provo-
constitucional tributário - têm em vista assegurar a eficácia daqueles mesmos que) circulação - entendida juridicamente como mudança de titular _ de
princípios (entre eles, o da capacidade contributiva e o da igualdade)." mercadoria. O aspecto temporal da h.i. é explicitamente disposto pela lei
como sendo a sua saída do estabelecimento do sujeito passivo. A referência
à saída é uma indicação - não da materialidade da h.i. - ma.s do momento
35. Aspecto temporal em que deve ser reputado consumado o fato imponível. Se a lei assim não
dispusesse expressamente. o momento a ser considerado seria o da pr..ítica
;;-35./ A lei continente da h.i. tributária traz a indicação das cir- do ato juridico mercanlil posto como aspeclo m::llcrial da h.i.
cunstâncias de tempo, importantes para a configuração dos fatos
imponíveis. Esta indicação pode ser implícita ou explícita. Na maio-
ria das veles é simplesmente implícita.~. 35.8 Enfim. é o legislador que discricionariamente estabelece o
.ti' 35.2 Acontecendo concretamente fatos descritos na h.i .. depois momento que deve ser levado em consideração para se reputar con-
da vigência da lei em que inserida - c enquanto perdure esta - tais sumado um fato imponível. E esta indicação legislativa (que pode ser.
falOSserão "fatos imponíveis". aptos. portanto, a darem nascimento a repita-se. explícita Oll implícita) recebe a designação de aspecto tem-
poral da h.i.
obrígaçõcs tributária?,
35.9 Se o legislador se omitir. estad implicitamente dispondo
que o momento a .ser considerado é aquele em que o fato material des-
35.3 Raramente a lei tribulária estabelece condições especiais explíci-
las de tempo. restringindo o âmbito da h.i. e. portanto. limitando a só alguns
crito ocorre (acontece). Deve-se entender, pois. que sempre há aspec-
fatos - cabentes na descrição em que a h.i. consiste - a qualificação de fatos to temporal da h.i. Este é, em lodos os casos, disposto pelo legislador.
imponívcis. amda que nem sempre explicitamente.
35 ../ A mais importante função do aspecto temporal diz rcsr:x:ito à indi- 35./0 IH um limite constitucional intransponível il discrição do
cação - necessariamente contida na hipótese de incidência - do momento legislador. na fixação do aspecto temporal: não pode ser anterior il
em que se reputa ocorrido o fato imponível (e. pois. nascida a obrigação tri- consumação (completo acontecimento) do fato. Isto violaria o princí-
butária). pio da irretroalividade da lei (art. 150. lll, "a"). Daí a inconstitucio-
35.5 Não é este aspecto. pois. em regra. um fator destacado dos demais nalidade das antecipações de tributos (algumas vezes camunadas sob
que conformam a h.i .. mas, tão-somenle ullla implicação da própria configu. a capa da substituição tributária).
ração geral da h.i.
35.1l A dctennin;lçâo do momento do nascimento da obrigação tribu-
35.6 Define-se o aspecto temporal da h.i. como a propriedade lária (aspecto temporal da h.i.) está nas disposições legislativas. Dino Jarach
que esta tem de designar (explícita ou implicitamente) o momento é incisivo. ao sublinhá-lo: "Para a delimitação temporal das hipóteses de
em que se deve reputar consumado (acontecido. realizado) um fato incidência. o legislador pode adotar diferentes posturas: pode atribuí.las ou
imponível. imputá-Ias - para os efeitos da obrigação tribulária que nasce - a um perío-
do. ou ainda pode considerá. las no resultado último. ao finalizar o processo;
Os modos mediante os quais o legislador se expressa são os mais ou bem adotar um momento qualquer do próprio processo inicial ou final"
variados. Isto é relevante. para fins de exata apuração da lei aplicável (RDP, v. 17. eit.).
,,.. ..
96 HIPón::SE DE INCID~NCIA llUBUTÁRIA ASPECfOS DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
97

36. Colocação tradiciollal do tema isto, a determinação do momento de sua verificação ou ocorrência se resol-
ve na apuração do momento de sua exteriorização, que realiza o conceito
36.1 A doutrina costuma sustentar que, conforme a sua estrutura legal em instante determinado e determinável. A cada repetição do mesmo
(da h.i.) seja singela ou complexa - isto é, segundo os dados de fato fato, tem-se fato imponível autônomo e distinto dos antecedentes. Como
arrecadados pelo legislador para erigi-Ia se constituam de um fato conseqüência, tanlas obrigações quantos forem os fatos imponíveis.
ou acontecimento singelo, único e simples. ou de um estado de fato, ou 36.7 Ao contrário destes casos - em que os fatos, por sua própria natu-
situação de fato ou conjunto de fatos - poderemos classificar a h.i. reza, se definem. se colocam e se localizam objetivamente no tempo -OUlros
como simples ou complexa. haveria em que os fatos arrecadados pelo legislador (para erigir a hipólese
36.2 Classificar-se-ia - de acordo com a literatura dominante - de incidência) não teriam por sua própria natureza nenhum compromisso
como simples aquela que se conforma pela conceituação de um fato com o lempo. nenhuma situação temporal definida: são fatos persistentes.
São a~ h.i. que consistem em situações ou estados. como "ser titular de
ou acontecimento uno e singelo. A implicação temporal está em que, domínio". "ser titular de direito de posse", etc.
ocorrido o fato (acontecido empiricamente), verifica-se o fato impo-
nível (nasce, portanto, uma obrigação tributária). A eclosão do efeito 36.8 Nestes casos, embora haja um momento inicial do estaúo ou situa-
ção. bem como um momento de modificação ou eXlinç;io desta. a própria
jurídico magno e principal da h.i, se dá a cada ocorrência concreta do
consistência da h.i. é uma situação permanente, que. enquanto não alterada
fato previsto. é imulável e persistente, sem nenhum compromisso temporal. Estas situa-
36.3 Já h.i. complexa seria a que se configura pela conjunção de ções estáticas não podem ser definidas. relativamente ao lempo, senão pelo
diversos acontecimentos ou fatos. pela compreensão de uma situação legislador. que há de expressamenle referidas a coordenadas albitrárias de
integrada por variados elementos e os reúne numa só figura (h.i.). Icmpo, como que artificialmente estabelecidas (pelo próprio legislador).
Neste caso, o fato imponível só se daria com a completa realização de Nestes ca.<:;os.o falO im[X)nível só é reputado consumado (exaurido. verifica-
do) no momelllO fixado na lei (h.i.).
todos os elementos de fato. Reputa-se ocorrido o fato imponível, só
no momento em que o líltimo dos fatos requeridos pela h.i. se verifi. 36.9 A. D. Giannini, embora selll muita ênfase. parece presligiar esse
caro integrando a figura. isto é: subsumindo~sc inteiramente à h.i. pensamenlo ou. pelo menos. os que assim pensam podem em suas palavras
enconlrar apoio. Escreveu o grande mestre italiano: "Porém. como já se teve
36.4 Estas duas possíveis configurações da h.i. têm - para essa ocasião de advertir, a reprodução da obrigação tributiÍri<l de período em
corrente doutrinária - relevante significado. em lermos temporais: é período não deve induzir a considerar que se cuida de uma só obrigação,
que o momento em que se deve reputar consumado o fato imponível cujo cumprimento seja repartido no tempo. Para cada período. pelo contrá.
depende do aCOlllccimenlo do fato simples. no primeiro caso, ou per- rio, surge uma nova obrigação. de tal forma que. uma vez delcrrninado o
feição (perfazimento) integral da situação prevista, no segundo. período tributário. a obrigação periódica não se distingue mais das instantâ-
Exemplo do primeiro caso se aponta no imposto sobre vendas; do nea~. senão nisto que para esla perdura. 110S limites supra~il1dicados, a eficá-
cia do lançamenlo relativo da obrigação inicial. onde. para cada obrigação
segundo, incidente sobre a renda, tal como juridicamente conceituada.
instantânea. se requer necessariamente um dislinto !;mçamento" (/ COllcelli
FOfllillmelllali dei Dir;rlO Tríhutllrío, UTET, 1956. p. 177).
36.5 Em lennos de aplicação da lei tribulária no tempo - de que cuidou.
36.10 Amncar Falcão dedica excelentes páginas à exposição desta
entre nós, com mestria A. R. Sampaio Dória - esle discernimento é de supi- mesma c!.L'\sificação e seus fundamentos. invocando autorizada doulrina
na relevância para os doulrinadores que adotam tal posição. estrangeira.
Outra classificação que se costuma fazer - 1150 já das hipóteses de inci- Para esse autor. "instantâneos são os fatos geradores ... que ocorrem
dência. quanto ao seu aspecto temporal. mas - dos fatos impuníveis. COllcer- num momenlo dado de tempo e que. cada vez que surgem. dão lugar a uma
ne não tanto à estrutura dos fatos, mas, mais propriamente. à sua dinâmica. relação obrigacional tributária autônoma. Exemplo: o fato gerador venda.
Segundo esta forma de c1a.'~sificá.los,os falOSimponíveis podem ser instan- em relação ao imposlo de vendas ... ; o fato gerador impor1ação (islo é. trans-
tâneos ou periódicos.
posição de lindes. limites ou barreira\) aduaneiras em relação ao imposto de
36.6 Instantâneos seriam os fatos imponíveis que consistem em fatos import<.lção. ele:'. Por outro lado. "colllplexivos ou periódicos são os fatos
consumáveis definitivamente no tempo. faIaS que se esgolam num átimo. O geradores ... cujo ciclo de fonllação se cumplela deIllru de um detemlinado
fato imponível ocorre. acontece. realiza-se num instanle. num momento período de tempo (Zeitahsch"ítt. StseuerabJdlllitt, período d'ímpm.ta) c
detenninado. esgolando concretamente a previsão constante da h. i. Com que consistem num conjunto de falOS, circunstâncias ou acontecimcntos
. '.
9' HIPóTE.<:';E DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA
ASPECTOS DA HIPÓTESE DE JNCID~NCIA TRIBUTÁRIA 99

globalmente considerados. Exemplo: o fato gerador renda (isto é. o fluxo de anteriores (rendimentos menos deduções e abatimentos verificados no ano
riqueza que vem tcr às mãos do seu destinatário e que importa um aumen- civil precedente).
to do seu patrimônio, durante um período de tempo determinado), em rela-
ção ao imposto de rcnda" (Direito Tributário Brasileiro, Ed. Financeiras, 37.3 "De evidência, pois. que o fato gerador do imposto de renda bra-
1960. p. 287). sileiro sobre as pessoas físicas é da natureza dos complexivos. cujo proces-
so de fonnação se aperfeiçoa após o transcurso de unidades sucessivas de
36.11 Salienta que essa distinção pemúte determinar-se que ocorre a tempo, resultando de um conjunto de fatos. atos ou negócios renovados
incidência "quando se realiza cada fato isolado ... ou quando se completa o durante o ano civil imediatamente anterior àquele em que o imposto é devi-
ciclo de fonnação de um falo ou situação globalmente considerados ....• (ob. do" (artigo in "Cadernos de Direito Tributário". RDP 18/362).
cit.. p. 288). Aí o critério para se identificarem casos de retroatividade (veda-
E. logo adiante. prossegue:
da constitucionalmente) da lei. Aí também o critério para - segundo o
mesmo autor - distinguirem.se os impostos sobre atos jurídicos. 37.4 "Ora, dada a natureza própria de cada imposto, detenninada pela
36.12 Esta argumentação - a despeito de parecer profícua e rentável _ realidade econômica em que assenta, pode o legislador eleger. dentro de um
espectro mais ou menos amplo de alternativas Oll opções válidas. qual o
além de ter perdido qualquer possível utilidade, com o desaparecimento da
momento em que um específico falO gerador se exterioriza, desprezando
menção constitucional a impostos sobre "atos e instrumentos regulados por
lei" federal. estadual e municipal (arts. 15. 19 e 29 da Constituição de IY46). outras componentes de fato que integram a mesma realidade econômica e
cuja manifestação, aDIes ou depois, é juridicamente irrelevante para caracte-
toma por pressuposto um discernimento entre hipóteses de incidência cujas
consistências sejam atos ou fatos. rizar ou modificar a obrigação tributária respt:ctiva. A propósito, segundo
dispõc o CrN, em seu art. 114, "fato gerador da obrigação principal é a
36./3 Ora. o próprio Amílcar Falc;io ensina que a hipótese de incidên. situação definida em lei como necessária c suficiente à sua ocorrência".
cia. para o direito tributário, é um falO jurídico. não i~lportando se. para
outros ramos do direito, se configura como ato ou fato. E sua esta excelente J7.5 "O imposto de rcnda é tributo que se presta excelentemente para
ilustrar essa situação. Seu fato gerador é compkxivo, pois o acréscimo patri-
e categórica afimlação: "É o fato gerador um fato jurídico em sentido estri-
monial (sllhslraclum econômico do imposto) normalmente se apura após a
to. Pode exprimir.se a mesma idéia. afimlando não ser ele, para o direito tri.
verificação de uma cadci<l de fatos, atos ou negócins. que tiveram lugar em
butário. um ato jurídico de conteúdo negociaI ou um negócio jurídico" (Faro
Gerador .... 2~ed.. p. 63). unidades sucessiva.,> de tempo. Ora, o legislador poderia preferir idemific:lr
na rC;llização de cada um desses falos ou negócios. uma extcriorizaç{io autô.
noma de acréscimos patrimoniais e, nesse enscjo. impor uma obrigação tri-
butária (como. aliás. o faz em relação ao imposto na fonte). Mas pode tam.
37. Classificação dos impostos baseado /10 aspecto temporal da h.i. ocrn o legislador dar preferência a um cômputo conjullto daquelas hipóteses
indicadoras de capacidade contributiva, representada por um aumento do
37./ Toda a utilidade destas c1assificaçõcs estaria no estabeleci-
patrimônio. No primeiro caso, portanto. tcrernos falOS juridicamente rele.
mento de um critério par.! reconhecimento do momento em que se vantes de per si. cujJ verificação faz nascer um débito fiscal na confomlida.
reputa ocorrido O fato imponívcl - momento do nascimento da obri- de da lei cOlltemporâne.1 ao mesmo fato. Enquanto. na derradeira hipótese,
gação tributária (aspecto temporal da h.i.). ocorrem certos fatos ainda juridicamente irrelevantes de per si, embora
A doutrina tradicional costuma classificar os "fatos geradores". potencialmente relevanles em conjunto, para fins jurídico.tributários, ao fim
quanto à estrutura. em simples e complexos e. quanto ao processo de de determinado penado de tempo.
sua fonnação, em complexivos, instantâneos e con(illuado~. .17.6 "Destarte, tais falOS preliminares ou. para empregar a tenninolo.
gia corrente no direito intertemporal, tais fatos pendentes, por serem juridi.
camente inócuos no momento de sua ocorrência, n.io podem ser disciplina-
37.2 Antônio Roberto Sampaio DóriJ - um de nossos mais autorizados
dos pela lei fiscal contemporânea à sua verificação. Entender de fomla
doutrinadorcs - escrevendo sobre o imposto de renda, expôs o raciocínio
contrária, condicionando os efeitos tributários de um fato integrante de um
dos suslcntadores dessa posição. pela seguinte forma: "Fixa-se aqui, de
processo de constituição de um débito futuro à lei vigente no instante de sua
modo nítido. que o imposto se (orna devido em um dado exercício financei-
ocorrência. seria subverter toda a estrutura jurídica acolhida entre nós. pois
ro sobre a renda líquida percebida no ano civil imediatamente anterior. Por
se atribuem conseqüência.,> fiscais a um fato ainda não efetivamente relevan.
conseguinte, o falO gerador do imposto ocorre a 12 de cada ano (data inau-
te na esfera do direito. quando considerado isoladamente. Acresce notar que
gurai do exercício financeiro) e sua base de cálculo é dada pela rendalíqui.
a matéria já foi resolvida pelo CrN, cujo art. 105 determina: "A legislação
da auferida no penado de I Q de janeiro a 31 de dezembro imediatamente
tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos penden-
-.
100 HIPÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA IUPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
101

teso assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não este- equiparado (tomemos esta entre oulras hipóteses). Por outro lado, o "fato
ja completa nos termos do art. 116"(ob. loc. cit.). gerador" ,do im~sto de renda seria da ~latureza dos complexos porque
37.7 Pouco depois. sublinha enfaticamente: "Mas cumpre não perder de dependena de vários fatores, que se entrehgam, no sentido de delenninar o
vista que o objeto do imposto não é fato isolado, que produza até mesmo resultado, que é a renda líquida tributável.
acréscimos patrimoniais. mas sim o conjunto de tais falos isolados, verifica- 38.3 "Na verdade, a incidência tributária atinge Somcnte o resultado
dos num certo lapso de tempo. Assim, não se pode jamais dissociar. na sis- seja o fato representado pela saída do produto industrializado de certo esta~
temática do imposto de renda, o elemento fato do elemento tempo. nem olvi- bclecimenlo, ou o saldo final que detennina renda líquida tributável, no caso
dar que o tributo incide sobre uma situação constatada após o decurso de um do imposto de renda, pois se não for possível concebemlOs renda líquida tri-
período e não anterionncnte a ele" (ob. IDe. ciL). butável indepcndentemente das receitas e despesas relativa'i a detemúnado
exercício, igualmente inviável será aceitarmos um produlo industrializado
independentemente do processo de industrialização" (aula proferida no II
37.8 Não é científica ou útil a classificação dos fatos imponíveis
Curso de Especialização em Direito Tributário, promovido pela Universida-
em instantãneos e periódicos; tanto é assim que o notável Hector Vil- de Católica de São Paulo. em 1971).
legas pode escrever: "En ciertos casos, los hechos imponibles son
circunstancias de hecho de verificación instantânea. Por ejemplo en
eI impuesto inmobiliario el hecho imponible surge de la mera cir- 38.4 Tem razão esse professor. O qoe é relevante para a lei tribu-
cunstancia de ser propietario o poseedor a título de dueno dei in- tária é o resultado, sendo ilegítimo pretender-se extrair do processo
mueble, ai comienzo dei ano fiscal. De igual manera, en el impues- que o causa, antes de consumado, efeitos tributários.
to substitutivo dei gravamen a la transmisión gratuita de bienes, el 3~.5Por ~sso~ merece transcrição a restante argulllentaç;10 desse
hecho imponible es la poscsión de capital y reservas tomados en conceituado Cientista: "Em suma o que interessa para a lei tributária
determinado momento. Se trata de hechos imponibles de verifica- é detemlinado resultado spbre o qual incidirá o preceito, desenca-
ción instantânea" (Curso c/e Finallz{ls, Derec/zo Fin{lllciero y Trihu- dean~o efeitos jurídicos. Obvio será que, na condição de resultado,
tar;o, Depalma, p. 161). estara semprc a depender dos e1cmentos que o detenninaram.
37.9 Aquilo precisamente que os defensores da classificação que
acabamos de expor sustentam ser exemplo típico de "fato gerador" . 38.6"0 me,sOlo rac~oci.nio pode ser fcito em relação ao "fato gerador"
continuado, esse excelente tributarista argentino aponta como para- d.o Imposto predl<ll e tem'onal urbano. Quer saber a Ici quem é o proprietá-
digma de falo instantâneo. Só isto, jâ mostra a inconsistência do cri- no ou qucl1ltcllha o domínio útil ou detcnha a posse de bcm imóvel. no perí-
tério. Pior: seu cunho perturbador da compreensão da eficácia cons- mClro urbano. Tal "fato" é considerado como "fato gerador" simples _ "ser
titucional específica da lei tributária. proprie~ári.o". Todavia ninguém scd proprietário sem ames haver adquirido
o bem unovel. por uma das formas prevista'i em nossa ordenação jurídica.
Tal processo, contudo, é irrelev<lme. A lci não se preocupa em saber dos
38. Crítica ao critério de classificação momentos anteriores à condição dc proprietário. Cura apenas do resultado:
"ser proprielário" do mesmo modo com que se preocupa somente com o
38.1 Esta teoria foi refutada por Paulo Barros Carvalho ao for- resultado final do cotejo entre receitas e dcspesa"i, o que consubstancia a
mular severd crítica - que principia por deixar saliente sua inconfor- renda liquida tributável.
midade com a expressão ambígua e anticientífica "fato gerador", que, 38.7 "Por tudo isso, entendemos scr totalmente infundada a classifica-
nesse passo, emprega "entre aspas" - em tom categórico e termos ção dos "fatos geradores" em simples e complexos. Ou todos serão simples
candentes: ou todos complexos, como queiram.
"Da mesma forma, merece acerbas crític,l"i a classificação dos "fatos
38.2 "No que diz com a primeira classificação. havemos de convir que geradores" em instantâneos, continuados e complexivos.
não tem o menor fundamento jurídico, porque os "falOS geradores" são lodos 38.8 "Quando ocorre o fato imponível, dá.se a incidência do manda-
simples ou todos complexos. Senão, vejamos. O "fato gerador" do 11'[é con- mento de modo automático e infalível. Não há. ponanto, falar-se em "fatos
siderado como falO simples, por isso que se consubstancia na simples saída geradores" inst,Ulr<1neos, continuados e complexos. Segundo a doutrina domi.
de produlO industrializado, do estabelecimento industrial ou que lhe seja nante, instantâneo seria o "falo gerador" que se realiza num<l unidadc de
. "
102 HI£'ÓTESE DE INCIDf:.NCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCro£NCIA TRlBlITÁRIA 10)

tempo e. sempre que se realize. dá nascimento a uma obrigação tributária "Como conclusão, sugiro que seja adotada a classificação das
autônoma Continuado. aquele que tende a persistir no tempo e complexivo hipóteses de incidência em: a) hipóteses de incidência que prevêem
aquele formado por vários fatos que se entre ligam, de modo que somente momento exato para a ocorrência do falo imponíveI e b) hipóteses de
com a conjugação de todos eles é que estaria completa a figura típica. incidência que não fazem alusão ao momento em que deva ocorrer o
"Para que os senhores bem sintam a fragilidade de tal c1;:Lo;sificaçâo, fato imponível.
convém lembrar que a palavra "complex:ivo" nem existe na língua portugue-
sa. É. talvez. uma das muitas traduções impensada 'i que campeiam nas coi-
sas do direito tributário. 39.4 "Segundo me parece, esta é a única c1a'isificação com base cienlí.
38.9 "Mas essa segunda classificação é infundada, como salientara, pre- fica, de vez que nasceu do exame do próprio aspeclo temporal das hipóleses
cisamente porque ignora dado fundamental, qual seja. o da incidência auto- de incidência dos diversos tributos.
mática da lei tributária. Para que fosse possível, mister seria que pudéssemos "De todo irrelevante sermos proprietários de imóvel urbano no dia 4 de
conceber um fato que vai acontecendo aos poucos. sendo que a ordem jurídi- maio, posto que a hipólese de incidência do imposto predial e lerritorial
ca, concomitantemente. vai reconhecendo. de modo parcial. os eventos que urbano exige que tal fato ocorra no dia 111 de janeiro. Igualmente. de nada
foram ocorrendo. o que. evidentemente. seria um grande absurdo. Por mais valerá fazer minha declaração de rendimentos no dia 27 de outubro. UIll3 vez
complexo que seja o fato objeto de consideração pela lei tributária, s6 se
que o resultado previsro na lei do IR é o apurado no dia 31 de dezembro"
poderá falar em "fato gerador" no momento exato em que estiver completa (ob. loc. ci1.).
a figura típica. Se for constatado. digamos. por I(Xl,elemelHOSe apenas 99
ocorrerem. nada existirá de relevante para o direito. E como St':nada houvera
acontecido. Seria o mesmo que nenhum dos 91) jamais houvesst': ocorrido. 39.5 Esta longa transcrição teve em mira - além de :isse!..!.urar
"Por IUdo isso se pode concluir que todos os faiaS são in~tant;i.neos. não absoluta fidelidade ao reproduzir o pensamcnto de Paulo Barros"Car-
tendo cabimento a classificação lripartida adotada pela doutrina" (ob. loc. cit.). valho - deixar palente nossa adesão irreSlrita ~Itese assim exposta.

39. Classificação científica das h.i. quanto ao uspecto t,'mporal 39.6 Do aceno desla crítica e da excekncia da classificação que se pro-
pôe em substituição. diz eloqüentemente o seguillle trecho de Alfredo Bec-
39.1 Após tão bem fundamentada refutação das classificações tra- kcr: "A mesma regra jurídica não pode incidir. mais de uma vez. sobre a sua
dicionais. Paulo Barros Carvalho expõe sua classificação. fundada em hipótese de incidência realizada. Esta se realiza pelo aconrecimento do fato
critério puramente jurídico: "A unica classificação que me parece reu- (ou complexo de fatos) ljue forma o seu contelído e. sobre este fato exislen-
nir dados científicos é a que vislumbra, nas hipóteses de incidéncia. a te (e no qual consisre a hipótese de incidência realizada). a mesma regra jurí.
previsão ou nflo de sua ocorrência em determinado momento. dica incidirá apenas um<lvez. Entretanto. se fato idêntico novamenre acon4
39.2 "Efetivamente. hipótescs de incidência há quc prevêem a tecer, então. a mesma regra jurídica voltará.l incidir porque houve segunda
ocorrência do fato imponível para determinado momento. Se ocorre- realização de sua hipólese de incidência'. (ob. cit.. p. 292).
rem em instante diverso, não se d,i por realizado o fato imponível.
Desse tipo. temos a hipótese de incidência do imposto de renda. Inte- 39.7 Na verdade, aí está dito. com toda simplicidade, o que i'lle-
ressa. apenas, saber qual a renda líquida. mas no último dia do exer- ressa considerar, nilo importando ao intérprete se o fato qualificado
cício. Em qualquer outra data será de todo irrelevante. Também desse pela lei se consuma num átimo ou se depende de penoso e lento pro-
tipo. o nosso imposto predial e tcrritorial urbano. Releva saber quem cesso pré-jurídico para se consumar. Só o que é relevante é o momen-
é o proprietário. quem tem o domínio útil ou detém a posse, mas no to de sua consumação. Só entilo é ele fato jurídico. fato imponível.
primeiro dia do exercício.
39.3 "Por outro lado, hipóteses de incidência existem que não Este mesmo categorizado escritor deita por lerra a classificação rradi.
prevêem momento exato para que se realize o fato imponível. Assim cional, ao dizer: "Quando o fato (sentido lato) que realiza a hip6tese de inci.
sendo, em cada momento em qu~ ocorrerem darão nascimento a uma dência consislc num estado de fato. poderia parecer. à primeira vista. que a
obrigação tributária autõnoma. E o caso do IPI, ICMS etc. mesma regra jurídica estaria incidindo duas ou mais vezes sobre a mesma
••
'''' HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
ASPECTOS DA U1PÓTESE DE INCIDÊNCIA nUBUTÁRIA
10'
hipótese de incidência realizada, pois o estado de fala é o fato que aconte-
ceu c permanece e que, por isto, pode ser contemplado: ou no momento em
municipal só tem eficácia no território do Município; a lei estadual só
que aconteceu (portanto. como fato estrito senso) ou sob ângulo de sua dura.
no próprio estado. Só a lei federal tem abrangência nacional.
ção continuada (portanto, como estado de fato). 40.2.1 Um determinado fato. ainda que revista todos os caracle-
39.8 "Entretanto. refletindo-se, verifica-se que não é a mesma hipóte- res previstos na h.i., se não se der em lugar nela previsto implícita ou
se de incidência realizada que está sofrendo a segunda e sucessivas incidên- - o que é raro e em geral dispens<ível - explicitameme, não será fato
cias da mesma regra jurídica. Esta poderá incidir tantas vezes (anualmente imponível. Vale dizer: não detenninar,í o nascimento de nenhuma
ou diariamente) enquanto durar o estado de fato; O número de incidências obrigação tributáia.
dependerá das coordenadas de tempo de realização da hipótese de incidên-
Será um fato juridicamente irrelevante.
cia, isto é, a hipótese de incidência poderá consistir no estado de fala com
duração de um ano ou de um dia. de modo que. ao ténnino do segundo ano 40.3 Por outro lado, a lei pode dar saliência ou relevo ao aspec-
ou do segundo dia. logicamente ocorre uma segund~1realização da hipóte- to espacial da h.i., acrescentando a este condicionamento genérico
se de incidência. Por exemplo: o chamado imposto sobre a propriedade ter- um fator específico de lugar, posto como decisivo à própria configu-
ritorial e predial tem corno hipótese de incidência um estado de fato: a exis- ração dos fatos imponíveis.
tência permanente. durante um ano civil. de imóvel objeto de direito de
Na It,ília, a circunstância de uma indústria nova instalar-se no
propriedade privada. Iodos os anos. enquanlo o imóvel for objeto de direi-
to de propriedade privada. o imposto será cobrado urna única vez e. duran-
"Mezzogiomo" exclui a incidência de cenas tributos. No Brasil, o
le aquele ano. não ser<Í cobrado outra vez o mesmo imposto. ainda que o
mesmo aCOnlece relativamente à sua regi~o Nordeste ou à Zona Fran-
imóvel. cada dia. lenha um proprietário diferente" (ob. cit.. pp. 292-293) (v. ca de Manaus (ZFM). Dão-se. ne"'L' áreas, fatos subsumíveis à h.i.,
também. Cur..•o .... Paulo Barros Carvalho. pp. 13R e ss .. especialmente pr. não configurando, porém, falOSimponíveis, por faltar o aspecto espa-
1510ss.). cial da h.i.. ou seja, porque o aspecto espacial não abrange (não atin-
ge) fatos localizados nessas <Ífeas. O mesmo ocorre. l'er!Jixratia. nas
zonas francas ou portos francos.

-lO. Aspecto espacial


40..1 Escreve A. Recker: "As coordenadas de lugar podcm condicionar
// 40.1 Designa-se por aspecto espacial a indicação de circunstán- que o núcleo e elemelllos adjetivos devam acontecer no mesmo lugar ou
cias de lugar, comidas explícita ou implicitameme na h.i., relevames cada um em distintos lugares (exemplo: imposto de venda de mercadoria
para a configuraçáo do fato imponível. fabricada em Estado diverso daquele onde foi celebrado o contrato)" (ob.
ell .• p. 301).
Os fatos imponíveis - como fatos concretos da vida real. inseri-
dos no mundo fenomênico - acontecem num determinado lugar. A
ubicação dos fatos imponíveis é essencial à configuração da obriga- -10.5 No direito brasileiro são inúmeros e freqüentes os proble-
ção tribut,í.riaj- mas referentes a esse importante aspecto da h.i.
-10.1.1 éomo descrição legal - condicioname de um comando Critério geral da circunscrição global dos âmbitos das leis tribu-
legislativo - a h.i. só qualifica um falO. como h,íbil a detenninar o tárias dá a Cana ConstilUcional ao deixar patente que a lei federal é
nascimemo de uma obrigação, quando este fato se dê (se realize, aplicável em todo o território nacional; as estatiuais. no âmbito de
ocorra) no ámbito territorial de validade da lei, isto é, na área espa- cada estado; as municipais, no território do respectivo Município.
cial a que se estende a competência do legislador tributário. Isto é
conseqüência do princípio da territorialidade da lei, perfeitamente 40.6 Persistem sendo problcm:l.s <Iprestação de serviços de firma regis-
aplicável ao direito tributário. trada em um Município. em outro; ccrtas operações rnercamis com sujeitos
40.2 Pois, as conotações espaciais da hipótese de incidência são sitos em dois Estados. etc.
decisivas para a conformação do fato imponível. A própria Constituição se encarregou de resolver alguns desses problc.
Essa perspectiva genérica do aspecto espacial da h.i. está presa mas. ao dispor expressamente sobre competências. em casos que seriam
ao (dependendo) âmbito de competência do legislador ordinário: a lei duvidosos (ans. ISS,
porém. a Constituição
* I'. I, lI. Ill, VIII. e 156, * 2'. lI). Implieitaffiellle,
tem critério para solução de todas as queslões.
106 HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
AsrEcros DA HIP()TESE DE INCIDE:.NCIA TRIBUTÁRIA
107

40.7 O aspecto espacial tem, além disso, âmbito específico,


tindo sua caracterização e individualização. em função de todas a'i demais
quando abrange o próprio local físico onde a lei reputa consumado o hipóteses de incidência. É o aspecto decisivo que cnseja fixar a espécie tri-
fato imponível. Quando a lei menciona estabelecimento, depósito, butária a que o tributo (que a h.í. define) pertence. Contém ainda os dados
filial sucursal etc., está fixando condições de situação do fato ,mpo- para fixação da subespéde em que ele se insere.
nível relevantes para se qualificar a incidência e a isenção, conforme As c1a'isificaçõcs jurídicas dos Iributos encontram crilério e fundamen.
o caso. to na configuração do aspecto material da hipótese de incidência.
40.8 Se a lei nada disser, estará implicitamente dispondo que 4/.3 Sua importância é intuitiva e tão evidenle que a maioria dos aulo-
lugar relevante é aquele mesmo em que se consuma o f~to imponível. res nela se fixam, negligenciando o cuidado dos demais. ou mesmo não os
Dentro de certos limites, a lei pode estabelecer presunçoes ao atnbUlr considerando. Devera~. a maioria dos autores fica ao Irato do aspeCIO mate-
efeitos diversos a fatos imponíveis ocorridos em lugares d,ferentes rial. desconsiderando os demais aspectos da h.i.
(desde que no território do legislador).
41.3.1 Aspecto material é a imagem abstrata de um fato jurídico:
40.9 Dino Jarach adverte que, algumas vezes. sob aparência de desig- propriedade imobiliária, patrimônio, renda, produção. consumo de
nação de condições de lugar. o que está efelivalllc~lc fazendo a lei é indican- bens. prestação de serviços. ou uma atuação pública (como o estado
do o sujeito ativo do tributo. Estar-se-ia, então. diante do aspecto pessoal e realizar obra, produzir um serviço. conceder uma licença, uma auto-
rização. uma dispensa, etc.)
não espacial da h.i.
40./0 Dino Jarach salienta que. alguma ....vezes, quando a lei menciona 4104 Tão íntima é a conexão entre o aspecto material e o pessoal
fatos "situados em detemlinada área. não há uma definição do aspecto o~j~- - os dois mais imp0r1antcs - da h.i., que não se pode cuidâr de um.
com abstração de outro.
tivo do fato imponível; há uma vinculação deste a.~rcctoobjetivo CO~l o sUJel-
lo ativo da imposição. porque, como se vê. se estabelece uma relaç,ao entre ~
.l~pcctoobjelivo - que é disposição da propricd~de d~ um ir~ó~e1dcter~lI.
J Assim. não se pode considerar a propriedade imobili;iria. com abstra-
nado -c a entidade polílico-tcrrilorial, que é o sujeno <lUVa; dehrmta-se asslr~ ção do proprietário. nem a renda. sem a pessoa que a recebe. etc. (por isso
o âmbito de imposiç50 daqueles imóveis que se achem loca)jl.ado~ no ter~l. Clebcr Giardino reconhece. pela regra-malriz constitucional. o destinatário
constitucional tributário).
tório que é próprio do sujeito ativo" (Aspeuos .... p. 2~6).No Brasil. o .legls-
lador - seja complernelllar. seja ordinário - n;io lem hberd~dc de malll~ulaJ .//.5 Confonne a lei dê ênfa,e maior ou menor a um nu outro aspecto-
esses dados. Todos vêm já implícitos na ConstilUição e são inderrogáveiS. sem jamais poder excluir um ou oUlro - altera.se substancialmente a própria
nalureza da h.i. Há uma c1assifica,,:ão, muito divulgada. dos imposlos _ de
grande importância em alguns sistemas Iributários alienígenas. porque crité-
rio de repartição de compelênciao:; - em pessoais e reais. que repousa preci-
-11.Aspecto material samente na tônica que o legislador põe no aspeclo pessoal ou material, para
f 41.1 O aspecto mais complexo da hipótese de incidência é o
efeito de modular o quallllUn do lribulo.

material. Ele contém a designação de toJos os dados de orde~l obJ:- .//.6 No Brasil, tal classificaç50 passou a ter maior significação com a
tiva, configuradores do arquétipo em que ela (h.1.) conSISte; e a pro- Conslituição de 1988. É importante assinalar que, por maior que seja a ênfa-
se posta num, o outro não desaparece, ncm pode deixar de ser considerado.
pria consistência material do fato ou estado de fato descnto feia h.1.;
dado o caráter necessário dos qualTO aspectos da hipótese de incidência.
é a descrição dos dados substanc,a,s que servem de suporte ,\ h.l;?'
IIEste a~peclo dá, por assim dizer. a verdadeira consistência da hipó-
tese de incidência. Contém a indicação de sua substânCia essencial. que Pela sua função capital, o aspecto material da h.i. merece o estu-
do mais desenvolvido.
é o que de mais importanle e decisivo h,í na sua configuração..;!
Fornece o critério básico. para se responder "quanto é devido",
além de servir de fulcro para o discrímen que permite fonnular a~
4/.2 É o mais importante aspecto. do ponto de vista funci?na.1 e oper~-
única c1a~sificaçãojurídica dos tributos, desdobrando-os em espécies
tivo do conceito (de h.i.) porque, precisamente, revela sua essenCI<l. pcnm- e subespeCles.
• ••
HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA ASPECTOS DA HIPÓTESE DE INCID~NCIA TRlBlJTÂRtA
109

42. Base imponível (questão terminológica) ~O ' aspecto material -,da h.i. é sempre mensurável
. . " isto e' sempre
.
re( Iut.•v~1 a uma expr~ssao numenca. A cOisa posta na materialidade
42./ A perspectiva dimensional da hipótese de incidência se cos-
da h.1. e sempre pasSlvel de medição. ~
tuma designar por base de cálculo, base tributável oU,base imponível.
A base imponível é ínsita à hipótese de incidência. E atributo essen- 43.1.1 Aires Barreto, sublinhando que "não se mede o abst . t "
. I. b d 'I I ' . rd o •
cial, que, por isso, não deixa de existir em nenhum caso. Todo tribu- ~sc a;ece que ase"e ca cu o e fundamento ou apoio para cálculo.
to tem base de cálculo, por exigência constitucional (sublinhada por "dcnteno. - para medI[ o fato Imponível (ob . cit o.. p 38)
.. D"ai d emir'
f" .
Paulo Barros Carvalho, ao demonstrar a inconstitucionalidade dos . escnçao legal ~e um padrão ou unidade de referência que possibi:
chamados tributos fixos - v. Curso ... , p. 207). Ela fornece critério IIte a quantlficaçao da grandeza financeira do fato tributário".
para detenninação do quolllUm tributário. 43.2 O aspecto material. além de necessariamente referir,se a
qualidades físicas (consistência e fonna), e outros atributos é SUsce-
42.2 Aires Barreto - aplicando nossos discemimentos conceituais entre tível t,ambém, direta ou indiretamente. de apreciação quantitativ;1. A
hipótese de incidência e fato imponívcl (plano abstrato e plano concreto: uni- boase e. P?IS. lima ~rande~a apreci.ível mensur<l.vel do aspeclo mate-
verso do direito e mundo fenomênico) - distingue b,l'ie de cálculo de base nal da tu. Tem carater Uniforme, abstrato e genérico; tem cunho nor-
calculada. COIOC;U1do a primeira no pl<U10legal e a segunda no nível fático (v. mativo (AIres Barreto) corno toda a h.i.
Base de cá/c"u/o,alíquota e princípios constitucionais, Ed. RT, pp. 37 e 55.), 43.2./ O aspecto material da hipótese de incidência é a concei-
Souto Maior Borges prefere empregar a tenninologia "base tribut;ivel" tuação legal d: u~na ~eterminada .consistência c fonna, que consti-
(Lançamento Tributário, 21 ed .. Malhciros Editores, 1999. pp. 14& e 55.). tuem o seu propno nucleo essencial. Pois os atributos dimcnsórios
42.] RlXlue Carrazza pensa da mesma forma:" A base de cálculo in abs- (ou a grandeza! deste aspecto se designam base imponível. Esta é
(racto está para a hipótese de incidência do tributo (fato gerador in ahstrac- semp~e mcnsura~el. poden~o ser dimensionada, segundo critérios de
to), a<;sim C0ll10 a base de cálculo i1l ('ollcrefU está para o fato imlX'níve! (fato relaçao estabelecidos na leI.
gerador in concretu).
"Do mesmo modo pelo qual não se confundem a hipólese de incidên-
cia (descrição nornlativa do fato quc. se e quando acontecido, fará surgir o ~].3. Jurid~camente,a ba<;c imponívcl é um atributo do aspt'clo material
tributo) c o fato imponível (o fala acontecido que. por ajustar-se à hipótese da 11.10, ~Hllellslvel de algum modo: é o conceito de peso, volume, compri-
legal. detennina o nascimento do lributo), também não se superpõcm a des- mento, (.lrgura. altura. valor, preço, CUSIO. perímetro, capacidade. sUIX'rfícic
crição normativa da base de cálculo (base de cálculo in ahstrllcto) e a real gr~ss~ra ou qualquer outro atributo de tamanho ou grandcz<I mem.uráveis d~
apuração do valor nela indicado (base de cálculo in amcretu)"' (parecer in propno aspecto material da h.io

RDT.29/128). . 43..1 P?f i.sso, Amílcar Falcão qU<lJifira a ba.se imponívd como "verda-
deira c aute.ntlca expressão econômica" da hipótese de incidência (I'-ato
gerador .... Clt., p. 138).

43. Definição de base imponível ,A este atribUlO a lei ~esigna ?papel de base imponível; ou seja: a lei
qualifica um ou alguns atnbutos dnnensionávcis do aspecto nWleria! da h.i.
I 43./ Base imponível é uma perspectiva dimensível do aspecto c lhes confere a função jurídica de base imponível.
material da h.i. que a lei qualifica. com a finalidade de fixar critério 43.5 O~ atributos dirncnsívcis (ou mcnsuníveis) do aspecto material
para a determinação, em cada obrigação tributária concreta, do quolI- ~dem ser o.lvcrsos. ou podem ser medidos segundo diferentes critérios. A
111m debelllr. "É padrão ... ou referência para medir um fato tributá, I pode.deslgl~ar a um só, ou a alguns, ou a lodos estes atributos a função
rio" (Aires Barreto. ob. cit.. p. 38). f de I~ase Imporuvd: função jurídica (para efeitos jurídicos) de Illt'dir a rnatc-
na Idade da base.
r;- A base imponível é a dimensão dó aspecto material da hipótese
de incidênci~É. pOl1anto, uma grandeza ínsita na h.i. (Alfredo
Augusto Becker a coloca, acel1adamente. como cerne da h.i.). E. por . 43.5 ./ Note'se bem que eSlamos tratando de um atributo de um
assim dizer, seu aspecto dimensional, uma ordem de grandeza própna .ISpeCtOda h .I. A h,po'te se d e IIICI(
. . 1-enc"l" e uma d escnção
. hipotétiC'l de
do aspecto material da h.i.; é propriamente uma medida sua. um fato ou estad d f . .. •
, o e ato. contida em lei (feita pela lei). E, portanto
••
HIPÓTESE DE INCID~NCIA TRIBUTÁRIA
ASPEcroS DA IiIPÓTESE DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA
111

um mero conceito, necessariamente abstrato, Desta natureza abstrata ccito cm que a h.i. se constitui ou somente alguma'i. Pode também dar-lhes
obviamente participam seus aspectos e respectivos atributos. Por isso. configuração jurídica própria, diversa da que, em realidade, e no mundo
estes - os atributos - são eminentemente conceptuais (o que ficou fcnomênico, elas têm.
bem frisado por Aires Barreto). Assim, um estado de fato pode tcr diversos atributos dimensíveis' a
43.6 Daí por que - enquanto aspecto da h.i. - a base imponível é base imponível estabelecida pelo legislador pode considerar somente um, ~u
um conceito-Iegal, a que fica preso o intérprete. É qualidade jurídico alguns - e n;1o necessariamente todos.
nomlativa da h.i. A mensuração do fato imponível só pode ser feita de 4.1.9 A. Becker desenvolve longo raciocínio, para mostrar - como já o
acordo com o critério normativo que na base de cálculo (legal) se adota. fizeram Rubens Gomcs de Sousa. Amilcar Falcão e Gilbcrlo de Ulhoa Canto
- que, no caso de o aspecto material ser muito complexo, será essencialmen-
te importante e decisivo o elemento de fato cuja perspectiva dimensível for
43.6.1 Aires Barreto diz: "É por lei que se indica a base de cálculo in qualificada pelo legislador como base imponivcl (ob. cir.. p. 331).
abstracto. mero conceito nomlativo, A lei, ao descrever a hipótese legal que.
se e quando acontecida, dará na"ócimento à obrigação tributária. já terá erigi~ -13./0 Nessas páginas deixa cste insigne mestre expressa sua bem fun.
do a base de cálculo. damentad~ convicçã? de q.ue as duas espécies tribUl~írias (tipos de imposto)
se determmam pela mveslIgaçüo da base imponíveJ. que repousa no núcleo
UNa expressão basc de cálculo, a partícula 'de' indica relação alributi~ da h.i.
va 'de fim' cujo emprego tomaria mais explícito o seu próprio objeto".
-13.// O lúcido Hector Villegas leciona, a propósito da base imponívcl
43.6.2 Agrega Aires Barreto: "Balie de cálculo quer dizer 'fundarncnio
da laxa: "A taxa também tem limites que são nalurais à sua própria confor-
para calcular', 'apoio para contar', 'estimar' ou 'avaliar'. Exprime o critério
mação objetiva c que estão referidos ao seu monlanle. Estes limites devem
para a realização de uma operação, ou de combinação destas. sobre nlÍme-
partir da noção básica, segundo ~lqual a mesma é um tributo vinculado,
ros. Equivale a dizer: expressa o padrão para medir. por comparação. gran.
sendo sua hipótese de incidência uma dctcrnúnada atividade estatal Susce-
dezas da mesma espécie".
tível de ser individualizada, relativamente a determinada pessoa. Daí por
43.6.3 E arremat;:l. com sua proverbial clareza: "Balic de cálculo é a (IUC a fixação do montante n<io podcr levar em conta circunslâncias ineren.
definição legal da unidade de medida. constitutiva do padrão de referência a tes à pessoa ou aos bens do obrigado (que são hipôlese de incidência de
ser observado na quantificação financeira dos falOS tributários. Consiste em imposto), mas só circunslâncias atinentes à atividade em si mesma, por ser
critério abstrato para medir os fatos tribulários que, conjugado à alíquolJ., ela: c não ?utra coisa, a hipótese de incidência da obrigaç<io corresponden-
permite obter a dírida tributária" (Base de cálculo, alíquota e princípios te as taxas _
cOlI-'tituciollais, Ed. RT. 19X7.pp. 39/40).
43./2 Prossegue Villcgas: "Resulta, ponalllo, indisculível que a base
imponível das taxas deve estar relacionada com sua hipótcse de incidência
43.7 A lei é que qualifica uma. dentre as perspectivas dimensí- (a atividade vi.ncul~nte), a~sim como nos imposlos lal base de medição se
veis da h.i., para exercer as funções de base imponível. Com isto con- conecta com sltuaçao relativa ao sUJCItOpassivo. a seus bens ou arividades
corda A. Becker: "A base de cálculo foi escolhida pela própria regra que são consideradas hipóteses de incidênci;:1 pela lei
jurídica, por isso ela é critério objetivo e jurídico. E porque esta esco- "Em conseqüência. tais critérios de graduação levarüo em conta uma
lha procedeu-se dentre os múltiplos elementos da hipótese de inci- série de aSIXctos relativos à atividade que o E.litado desenvolve e ao serviço
dência, a base de cálculo é o núcleo da hipótese de incidência que que resulta prestado corno conseqüência de tal atividadc" ("Verdades e fic~
estrutura a regra jurídica de tributação" (ob. cit., p. 343). ções em tomo do tributo denominado laxa", in RDP 17/337).
43.8 Insistimos em sublinhar o aspecto conceptual da b'L,e impo-
nível, para afastar claramente a idéia de que se trate de algo "mate- 43./3 Efetivamente, fica evidente a posição central da base
rial", inerente ao objeto a que o conceito legal "hipótese de incidên- imponivel - relativ",nente à hipótese de incidência - pela circunstân-
cia" se refere. Pelo contrário. a base imponível é um atributo de um cia de ser impossível que um tributo, sem se desnaturar, tenha por
aspecto (o material) da h.i. e, como tal, um conceito legal também. base Imponivel uma grandeza que não seja insita na materialidade de
sua hipótese de incidência.
Esta verificação tem uma conseqüência imediata: a base imponível po- Efetivamente, não é possível que um imposto sobre o patrimônio
de abranger inteiramente as perspectivas dimensíveis do fala objeto do con' tenha por base imponível a renda do seu titlJlar. Tal situação _ essen-
. \. .-
112 HiPóTESE DE INCID~NCIA TRIBlffÁRIA ASPEcros DA HIpÓTESE DE INCfD~NCIA TRIBUTÁRIA 113

cialmente teratológica - configuraria um imposto sobre a renda e não coisas se inverte. e a natureza jurídica do próprio tributo passa a ser deter-
sobre o patrimônio. Daí a advertência de Amílcar Falcão; minada pela base de cálculo, e não pela definição legal da incidência. Esta
"De outro modo, a inadequação da base de cálculo pode repre- última fica. a<)sim, reduzida a uma simples afimlação vazia de sentido. por.
que desmentida pela determinação legal de se calcular o lributo sobre cir-
sentar uma distorção do fato gerador e, assim, desnaturar o tributo"
cunstâncias oulras. que com ela não tenham relação, ou que dela não decor-
(Fato gerador ..., cit., p. 138).
ram necessariamente" (Rubens Gomes de Sousa. parecer, in RT227/65.66).

43./3.1 Uma taxa por serviços municipais de conservação de rodovia~ 43.16 Enfim, tão importante, central e decisiva é a base imponí-
não pode tomar por base o valor dos veículos ou sua idade, mas só o seu peso vel que se pode dizer que - conforme o legislador escolha uma ou
ou outras características que provoquem desgaste maior ou menor das rOOo-
outra - poderemos reconhecer configurada esta ou aquela espécie e
via'i (o que, indiretamente. vai detenninar o vulto do serviço de conservação).
subespécie tributária.
43.13.2 Se a lei (Ornar por base o valor do veículo. desnatura inteira-
mente a taxa configurando imposto sobre o patrimônio. Em oUlros sistema'i
isso pode ser irrelevante. No nosso. essa lei municipal seria inconstitucional, 43./7 Efetivamente, em direito tributário. a importância da base impo-
porque imposto sobre bem patrimonial representado por veículo pertence nível é nuclear. já que a obrigação tributária tem por objeto sempre o paga-
exclusivamente à competência tributária dos Estados (art. 155. I. "c"). mento de uma soma de dinheiro. que somente pode ser fixada em referência
a uma grandeza prevista em lei e ínsita no fato imponíveJ. ou dela decorren-
te ou com ela relacionada.
43./4 A decisiva importância da base imponível e sua posição A própria classificação geral dos tribulOs em espécies e destas em
nuclear - exatamente porque é um atributo do aspecto material da h.i. subespécies depende visceralmenle deste tão importante a<;peclo da h.i.
- não escaparam ao ínclito Rubens Gomes de Sousa. que teve opor- O mais complclO estudo da "base imponível fática", no direito compa.
tunidade de escrever; •.... a escolha, pelo legislador. de uma base de rado, é do jurista espanhol Juan Ramallo Massanel (in RDT 11/11).
cálculo inadequada pode desvirtuar não só a natureza específica do
tributo. transformando-o. por exemplo, de imposto sobre a renda em
43.18 Base calculada - A base calculada resulta da aplicação
imposto sobre o capital. mas também a sua natureza genérica, trans-
concreta da base imponível (esta no plano legal, aquela no plano da
formando-o de imposto em taxa. ou vice-versa" ("Um caso de ficção
aplicação da lei). A contribuição cienlífica criativa de Aires Barreto
legal no direito tributário; a pauta de valores como base de c,ílculo do
leva a conceituar base calculada corno "o resultado expresso em
reM". publicado in RDP 11/16).
moeda da aplicação do critério abstrato (base de cálculo) a um caso
concreto" (ob. cit.. p. 91).
43./5 Esse nOláveimcstre e pioneiro já manifestara lal convicção, ante.
43.19 Ramallo diz da base calculada que ela é "o resultado quan-
rionnente: "Se um tribulo, fomlalmente inslituído como incidindo sobre
titativo a que se chega para um comribuinte concreto".
delenninado pressuposto de fato ou de direito. é calculado com base em uma
circunstância cstranha a csse pressuposto. é evidcnte que não se poderá 43.20 A base de cálculo é um conceito legal de tamanho; base
admilir que a natureza jurídica desse tributo seja a que nonnalmenle corres. calculada é magnitude concreta, é a precisa medida de um fala.
púnderia à definição de sua incidência. Assim, um imposto sobre vendas e
consignações, mas calculado sobre o capital da tinna. ou sobre o valor do
seu estoque. em vez de o ser sobre o preço da mercadoria vendida ou con. 44. ,Híquota
signada, claramente não seria um imposto de venda.<; e consignações. mas
um imposto sobre o capilal ou sobre o palrimônio". 44./ A alíquota é um termo do mandamento da nonna tributária,
malldamemo esse que incide se e quando se consuma o fato imponí-
43./5./ Continua Gomes de Sousa: "Por oulras palavras, a ordem nor-
mal da.';coisas é que o pressuposto malerial ou jurídico da incidência defina vel dando nascimento à obrigação tributária concreta.
a natureza do tributo e delermine a escolha da sua base de cálculo. Mas. Deve receber a designação de alíquota só esse termo que se con-
quando a base de cálculo adotada pela lei fiscal seja incompatível com o
substancia na fixação de um critério indicativo de uma parte, fração ..otiIIIIIIIIII
pressuposto material ou jurídico da incidência. então a ordem normal das - sob a fom!a de percemual, ou outra - da base imponível. ••
,..... 'fÍ,:
114 HiPóTESE DE INCIDÊNCIA TRIOUTÁRIA ASPECTOS DA HiPóTESE DE INCIDêNCIA TRIBUTÁRIA
115

44.2 A própria designação (alíquota) já sugere a idéia que esteve sem- se caracteriza por ter certo valor, que só pode ser detcnninado me-
pre na raiz do conceito assim ex.presso: é a quota (fração), ou parte da diante a combinação de dois critérios numéricos: a base imponível c
grandeza contida no fato imponível que o estado se atribui (editando a lei a alíquota.
tributária).
44.2.1 Aires Barreto mostra que a idéia de fração. parte, cota está na
44.7 O objeto de cada obrigação tributária (individual e concreta) é o
raiz do termo alíquota. mas não é O seu significado técnico preciso: a) a alí-
pagamento de uma soma dctenninada. A fixação dessa soma depende inle.
quota é critério para atribuir ao estado uma soma de dinheiro. Essa soma é o
gralmentc da lei. Nem a administração nem o contribuinte concorrem com
quaflwnJ devido; b) é a dívida tributária que, em certos casos, pode ser par-
qualquer margem de liberdade no processo de sua formação.
cela da base. Não da base de cálculo - que é abstrata - mas da base calcula-
da; c) genericamente. o qUQflfUm devido é apenas parcela da riqueza do con- 44.8 Aires Barreto analisa a alíquota no r/afio normativo e no plano da
tribuinte atribuída ao estado, porque quando o percentual for superior a aplicação da lei. No plano normativo. para Aires, "alíquota é o indicador da
100% não se pode dizer que o quantum é parcela da base calculada. embo- proporçlÍO a ser tomada da hase de cá/culo".
ra seja parcela da riqueza do contribuinte (p. 93). "Nesse patamar, alíquota esgota-se 'no ser llleTO indicador' porque
só passível de conjugação com um dado abstraIo (no sentido de não
numérico): a base de cálculo. Enquanto não se der a ocorrência do falo a
44.3 Na maioria dos impostos, essa grandeza é uma expressão de
ser medido. não se presta a alíquota à obtenção do quaJl1um devido a títu-
riqueza do sujeito passivo tributário. da qual o estado se atribui lo de tributo".
(mcdiante a lei tribut:íria) uma quota (parte, fração, quota, alíquota).
44.8./ Continua Aires Barreto: "Alíquota. no plano da aplicação da lei,
44.3,1 Assim, a lei tribut..'Íria imputa ao estado 10% da rcnda é o fato que deve ser conjugado à base calculada para a obtenção do objeto
de alguém; 15% do valor de um produto; 10% do prcço de uma da prestação tributária. Ncs[c est;Ídio. a alíquota já alua como um dos termos
operação mercantil, etc. Na maioria das vezes. a alíquola é expres- da multiplicação cujo produto é, concretamente. o qualllum deIJelur.
sa sob a forma de perccntual do valor dc uma coisa. Evidentemen- "Só no momento da aplicação da lei ao caso eOllerelo é que se terá a
te, só tem cabimcnto a alíquota ad vaiarem, quando a basc imponí- lransfonnação da incógni[a matemática (valor venal. preço do serviço.
vel seja o valor da coisa posta como aspecto material da h.í. Quer valor da operação. valor da rt:nda. da importação c[c.) em cifra; e. só
dizer: se a perspectiva dimensívcl do aspecto material da h.i. for depois de conhecida csla. será possível obter concretamente a dívida Iri~
um valor. expresso em dinheiro. então a alíquota poder.l ser um bUlária" (Base de cálculo. alíquot(J e princípios constituciollais, Ed. RT,
percentual. 19X7. p. 44).

44.4 Se - como é. hoje. raro - a base imponível for outra (peso. volu- 44.9 Por essa forma. a lei serve de instrumento para que o esta-
me, tamanho. capacidade. etc.) j.Í a alíquota deverá ser expressa diretamen- do retire - de acordo com o critério objetivo, genérico e abstrato _
te em dinheiro. cuja expressão numérica será multiplicada pela base impo- uma quota de uma riqueza da pessoa posta como sujeito passivo da
nível. Assim. por exemplo, a lei tribu[ária dirá: "pague $ 1,00 por quilo". ou obrigação.
"por mt:lro", etc.
44.10 Merece transcrição Renato Alessi: "O excreício do poder
44.5 Por isso. Renato Alessi define o poder tributário como "poder de
tributário se apresenta. portanto. como logicamente condicionado à
exigir coativamente urna alíquo[a de riqueza privada" (ob. cit.. pp. 33-34).
existência concreta - junto ao particular, em relação ao qual o próprio
poder deve se expressar atualmcnte - desta riqueza da qual se deve
44.6 Não basta para a lixação do quatllum debetur. a indicação retirar uma alíquota, na forma c natureza determinada pela nonna ins-
legal da base imponível. Só a base imponível não é suficiente para a titutiva de cada contribuição coativa espeeífica ... " (Alessi-Stammati,
dctenninação in concretu do vulto do débito tributário, resultante de /stiruzioni di Diriuo Tributario. UTET, pp. 33/34).
cada obrigação tributária. 44.II A alíquota - disse-o implicitamente A. Becker - é uma
A lei devc cstabelecer outro critério quantitativo que - combina- quota ou parte ideal do fato posto como aspecto material da h.i. São
do com a ba<c imponível - pennita a fixação do débito tributário.
suas palavras: " ... o tributo - sempre e logicamente - consiste nu~~ ....IIIIIIIIIII
decorrentc de cada fato imponível. Assim, cada obrigação tributária parcela daquele fato que foi transfigurado em cifra (base de CáJcU.
-
ASPECTOS DA IHPÓTI:.sE DE INCIDêNCIA TRIBUTÁRJA
117

por escolha e detenninação da regra que estrutura a regra jurídica de 45. Alíquota e taxa
tributação" (ob. cit., p. 343).
45.1 ~e tudo que vem sendo exposto, já se vê que alí uota nã '
conceito Igualmente aplicável a todos os trib t B q. ,o e
44.12 Explica-o melhor em outra passagem: "A alíquota será aplicada .
to d os os ,mpostos . u os. aSe 'mpomvel
somente depois que o fato escolhido para base de cálculo. sob a ação do e algumas contribuiçõcs e taxa t-
. , _ " s a em. enquanto
método de conversão, transfigurou-se em cifra, de modo que a alíquota sem- em mumeros casos, nao ha calculo a ser"1 ( 'b . -
fiIxas.) . .e, o contn llIçoes e taxas
pre representa uma parcela deste fato já transfigurado em cifra e não daque-
le outro falOque condicionou a variação da alíquota" (ob. cil., p. 344). ,,45.2 AS,taxas nem sempre têm alíquotas. Na verdade não se trata
de atnblllçao ao estado peh lei de parcel d' I"
44.13 A base calculada é um falor individual de determinação
r ~ ~ '. r' ,'. a e nqueza a guma". Esta
exp Icaç~o nao e ap Icavel as taxas. cujo princípio infonnativo é tOlal-
da grandeza de cada débito. A alíquota um fator genérico. Dizemos mente dIverso: decorre da Constituiç'io (art 145 11) " .
d' ' '. , que o prmc,p'o
"individual" a base porque o dado numérico por ela fornecido rcge~te a ~axa e a rc;muneração. Assim, o CUSlode um serviço públi-
varia conforme cada fato individual (fato imponível) realizado. co nao geral (espeCIfico) deve ser repartido emre seus usuários na
Sendo a perspectiva dimensível do aspecto material, fornece um med,da em que cada administrado o ulÍliza. '
dado essencial à individualização do débito, dado este que varia de 45.2.1,. Muitas "taxas não têm alíquot.,• . Ale' I, nesses ."casos d,spen-
.
fato concreto para fato concreto (cada fato imponívcl tcm a sua sa essa tecnlca e Ja estabelece o quww I d .d. ..•.
dimensão). (pedágio. certidõcs elc.). I l/ eVI o, .tnteclpadamente
44.13.1 Já a alíquota - por ser eSlabelecida ohjetivamente em lei Em muitos outros casos, cncontrar-sc-ão alíquotas de taxO} Ao
- é um falor estável e genérico. Assim, a combinação do dado numé- Iralannos das laxas aprofundaremos Csse aspect AI' '.
rico individual e específico (base calculada) com o dado numérico é.o crité:~~.legal de repartição, pelos admi~istra~~s ~;:'~~:'t~~Sol~I~::,
genérico (alíquota) permile a fixação do débito correspondente a cada v,ços pu, ICols, ou Ido custo da alividade administ;ativa condic'ionai
obrigação. d o eXCrCICI(} l o P()( Cf de polícia.
44.14 Do exposto se vê que a base calculada é uma grandeza
ínsita à coisa Iributada. que o legislador qualifica com esta função.
46. Determinação do HqUQlltUt1l debetllr"
Alíquota é urna ordelll de grandeza eXlerior. que o legislador estabe-
lece nonnativamente c que, combinada com a base imponível, penni- 46.1 Na lei devem conter-se os " ..
. cntcnos para dClcnni ' ;- d .
te determinar o qualllwll do objeto da obrigação tributária. fatos que fazem nascer obrigaçõcs (h i ) sU' ,. _ ,naçao os
'f' . >" - • '.rea ,zaçao genenca e espe-
"
CI Ica. momento, Identlficaçao do sUJ'eito['"'S' .' d .
. (. SIVOe qu,tntla eVld'l
44.15 Amílcar f'alcão relaciona alíquota e base, cOI'K:ciluando esta como
A base IInponívcl é uma or'mdcz'l ir]e t . '.
a "grandeza econômica ou numérica sobre a qual se aplica a alíquota para . d' o ' , ren c ao aSSIm ch'un'ldo
o b)eto o Imposto (aspecto material ,h h ") C b '.
obter o quafllum a pagar" (Fato gerador da Obrigaçâo Tributária. cit.. p. 137). > I d" • .1.. omo ase calculada
tem um laman 10 Ilerente em c'ld'l " caso'
. 1t1(I I"d
VI ua.I '
44.16 O eSludo da alíquota, a rigor, não pertence ao capítulo "hipólesc
de incidência", mas sim ao da cstrulura dinâmica da obrigação tributária. A A alíquota é uma grandeza (um f"lo ' .
" , . • r, um nUlllero) extenor '10
alíquota é. na vcrdade, integrante da parte mandamental da nonna~ a alíquo- o b)eto; e uma grandeza cnada pela lei É porto t ,.. '
. _ . ',.111 o, genenca, 'mutável.
[a não está na hipótese legal, mas no mandamento. O mandamento principal. 46.2 A aplicaçao da le, fixa e 'lu',I,'fica u ma grand eza d a co' .
. ,
na nanna tributária não é simplesmente "pague", mas "pague x% sobre a permite estabelecer a base calculada. Sobre t. " " tS.1e
base calculada", ou "pague uma moeda por quilograma", ou "uma moeda d eza, extenor . I' es a .Ip Ica-se outra gran
a e a, a aliquota. número fixod . I . A . _-
por metro", ou "ou uma moeda por litro" etc. j d uas pennlte'. d'" ., o na el. combmaç',o
,as a m IVIdualização do débito ou . . _'
c/uantum devido em cada caso concreto. ' seja, fixaçao do
o resultado da aplicação da alíquota sobre a base imponível, em 46.3 Está criado um tributo desde que ex e,i' .
cada fato imponível, é que enseja determinar o qual/11Ul' correspon- creve a h.1. Abstrata e genericamente t I p Ida a le, que lhe des-
dente a cada obrigação tributária. situação legalmente prevista serão de~e~~~:s~s
que se encontrem na
ASPECTos DA I-IJPóTEsE DE INClDtNCIA 1l0BUTÁklA
elamente os fatos, a obrigação abslrata legal 119
Aconlceido~ c':>n.~ aliza-se. Para detemlinação do montante de quem se deve pagar, quem deve pagar, quando nasce o dever de pagar
cone retiza-se
. ação, c mdlVl
há nccesslu, "d.'d
,I e de 'Iplicação
, dos critérios gerais da lei e quanto deve ser pago.
cada obng
concreto. b . . - t. 47.3 Assim, determinar concretamente "se, quem, para quem,
ao caso '. d e d'Inh'CITO obJ'eto de cada
uantl"l .
o ng,lçao
1";- concre
d ra, quando, c quanto", só é possível à vista da lei, "interpretada corre-
46.4 Ad q cada f',I,to imponívcl se determma peia ap Icaçao I a fa t- tamente" - como adverte Hensel - à luz dos princípios, categorias e
emergente e I llada, que resulta do dimensionamento 'o ato técnicas da ciência do direito tributário (que só didaticamente é
- base ca CI
'luota "vel
a. I os . ,.
cntenos d a b ase (Ie ca'I cuIo. autônomo ).
impoIlt . scgun( o
à indagação: "como se deve pagar", dá resposta o direito admi.
5 Alfredo B e cker demonstra os elementos a serem considerados para nistrativo tributário, que cuida, entre outras questôes, do lançamento
administrativo.
46.. t do quantum dehewr:
lecunen o _ . ,. "b"
o estabe
"Para obtt;T esta (.I~ terminação
• do objclOda prestaçao Jundlca In utana, 47.4 A detenninaç;jo concrela, em cada caso, dos elementos
, a'. egra escolhe. . _ . objetivos de resposta à primeira série de Ijuestôes, depende da quali.
a propn r 1 nCllto(d cntre os múltiplos que integram . aI composlçao da 11Ipó- ficação jurídica - a ser procedida mediante cuidadosa exegese _ de
a) o. e .CI.
IdencIa') ql IC deverá servir de base de caleu o; .
cada fala imponível.
tesc de me _
b) o metodo (pc. . ~so ou medida, ou valor) para convener a base de cal.
47.5 Os critérios para cabal desempenho desse trabalho estão na
lei: na hipótese de incidência e no mandamelllo. Na hipótese de inci.
culo em cifra; . Icuhda sobre a base de cálculo, já cOl1vcnida em
I, otaque,ca..". ~. ti dência, a indicação do sujeito ativo e dos critérios para determinação
c) a a Iqll uhado uma segunda cifra, a qual corrcspondc 3 gran e.
cifra, com~br~s)
do sujeito passivo (aslX'ClOpessoa/); a indicação da materialidade ou
1.ado dará
objeto (tn u o da prestação jurídica trlbulária" (oh. cit., p. 341). consistência material do fato descrito (aspeclo material); a Ijualifica_
ç;jo das coordenadas de tempo (aspecto temporal) e de lugar (aspec-
D slane pOlIc"-se . dizer 'lue a lei (h.i.) fixa - mediante 'Io to espacial) juridicamente relevantes e a fixação da perspectiva
46.6. e d~ critérios - os débitos abstratamente (ba,,; de ca .. dimensível do aspecto material (base imponívcl) que deve ser Consi-
eSlabeleClmentol 'vel detennina individualizadamente o debIto tn- derada. no fato, pelo intérprete. Aplicada a alíljuota _ inserida no
O f to Impon . I"
cujo). ba C'l IclI la,I')
". em cada caso. O lançamento Vai se IOHtar
. _ . a mandamento - à base calculada, obtém-se, em cada caso. o q(/amum
bulário ( ase • f 'IOS do hto iml,onível em função dos cntenos devido. objeto da obrigação. nascida do fato imponível.
os c CI.. '. B "
reconhecer
. I can d'lo ....'1líquOla à base calculada (v. Aires Barreto, (/5<
legaIS, ap ' e ss.). 47.6 A forma solene e legalmente regulada de se operar a apli-
.,., CI1., pp.90 cação concreta, mediante este trabalho exegético, da lei ao fato
imponível (lançamento) é matéria de direito administrativo, que, por
conveniência prática e didática, se expõe nos compêndios de direito
. - ' d obrigação tributária tributário, na parte Ijue cuida do chamado direito administrativo tri-
47. Dlnatnlca a .. .... butário.
. é a exigênCIa uOllateral e coallva de dmhelro, fella
47.1 Tn~:to ssoas submetidas à lei, com fundamento na Consll-
pelo estado a pe. 156).
. , (artS. \45 a . , . I" .
luIça0 de enlr egar dinheIro aos cofres 11lIbheosdecorre_ '"C mCI- .
O. dever
I . .
Inbut,tr1:'a _ material e fonnalmcnte
'.. confonne a on5tl- d'
dêncta da el
. . de sua ap l'c'lç1.0
I , , , segundo procedimentos de direito a (TII-
11IIçao- e , .
. .' Vo tribulano. .•. .. .b
OIstr,Ilt _ práticas que a chamada ClenCIado dlrclto In u-
A uestoes 'b
47.2 s q ropôe a resolver são: se se deve pagar tn uto, a
la'r',o matenal se p

\
\.

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