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O SAPATEIRO E OS ANÕEZINHOS

De Jakob e Wilhelm Grimm


Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett
Naquela cidadezinha havia um sapateiro que, apesar de muito
trabalhar, ficou tão pobre que perdeu tudo o que tinha, exceto um
pedaço de couro que dava apenas para fazer mais um par de sapatos.
Uma noite, ele cortou aquele couro, nos moldes de um bom par de
sapatos, mas como estava muito cansado, deixou para cosê-los no
dia seguinte. Em seguida foi deitar-se tranquilamente e dormiu.
Logo pela manhã, quando o sol ainda não havia surgido,
levantou-se, fez suas orações e dirigiu-se para a oficina. Qual não foi
sua surpresa, ao encontrar os sapatos já prontos em cima de uma
mesa de trabalho.

Ficou muito admirado e nem sabia o que pensar. Pôs-se então a


examinar aqueles sapatos e verificou que estavam bem acabados
como se tivessem sido feitos por mãos de mestre.
Não demorou muito e apareceu um freguês em quem os sapatos ficaram muito bem. Por
isso, feliz da vida, pagou um bom preço por eles.
Com o dinheiro recebido daquele cliente, o sapateiro pode comprar mais couro para
fazer não apenas um, mas dois pares de sapatos, que certamente venderia com bom lucro. Quando
chegou a noite, ele cortou o couro para os dois pares e deixou para cozê-los no dia seguinte, mas
isso novamente não aconteceu porque, quando ele se levantou, os dois pares já estavam prontos e
logo apareceu um novo freguês, que os comprou por muito dinheiro.
E dessa maneira, foi possível comprar mais couro suficiente para quatro pares de
sapatos. Novamente, no dia seguinte, de manhã bem cedo, ele encontrou os sapatos prontos. E
assim sempre acontecia: ele cortava o couro para novos pares à noite e, pela manhã, os
encontrava prontos. Em pouco tempo enriqueceu e tornou-se importante.
Uma noite, quando já se aproximava o Natal, ele acabou de cortar couro para novos
pares de sapatos, mas antes de deitar-se, disse à esposa:
- Que tal se nós ficássemos escondidos, esta noite, para descobrir quem está fazendo
meu trabalho?
Ela concordou e os dois se esconderam num canto da pequena sala, atrás de algumas
roupas que estavam penduradas, e ali ficaram espreitando. Assim que deu meia noite, entraram
dois anõezinhos, maltrapilhos, que se sentaram, em em frente ao outro, e começaram a trabalhar.
Eles cosiam, furavam e martelavam com perfeição e tão rapidamente, que os olhos do sapateiro
quase não conseguiam acompanhá-los. Quando terminaram o trabalho, levantaram-se e foram
embora.

Na manhã seguinte, a mulher do sapateiro disse ao marido:


- Querido, esses pobres anõezinhos nos tornaram ricos e nós devemos demonstrar-lhes
nossa gratidão. Eles estão tão mal vestidos! Com todo esse frio que está fazendo devem passar
mal. Vou costurar camisas, casacos, coletes e calças para eles; também farei uma meias de lã e
você fará, para cada um, um par de sapatos bem acabadinhos.
O marido concordou de boa vontade e à noite, quando tudo estava pronto, em vez de
sapatos cortados, eles deixaram os presentes em cima da mesa e esconderam-se para espreitá-
los.
Quando deu meia noite, os anõezinhos entraram, prontos para começar o trabalho.
Quando viram os presentes, ficaram surpresos e, ao mesmo tempo, muito contentes. Apanharam
as roupas, vestiram-se e puseram-se a cantar e dançar.

Depois se retiraram e nunca mais apareceram, pois o sapateira já estava rico e não
precisava mais deles.
.
MORAL DA HISTÓRIA
Não se pode deixar de ajudar quem estiver precisando. Mas, tão logo tenha se recuperado, deve
andar com as próprias forças.

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