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ÉTICA PARA UM JOVEM, Fernando Savater

“Do que se trata é de levarmos a sério a liberdade, ou seja, de sermos


responsáveis. O que há de sério na liberdade é que ela tem efeitos
indubitáveis, que não se podem apagar quando isso nos convém, uma
vez que tenham sido produzidos. Sou livre de comer ou de não comer o
pastel que tenho à minha frente; mas, depois de o ter comido, já não sou
livre de o ter à minha frente ou não. Dou-te outro exemplo, desta vez de
Aristóteles: se tiver uma pedra na mão, sou livre de ficar com ela ou de a
deitar fora, mas se a atirar para longe já não poderei ordenar-lhe que
volte para que eu continue com ela na mão. E se a pedra partir a cabeça
de alguém… estás a ver, não estás?

O que há de sério na liberdade é que cada acto livre que faço limita as
minhas possibilidades quando escolho realizar uma delas. E não vale
fazer batota e esperar para ver se o resultado é bom ou mau, antes de
assumir se sou ou não responsável por ele. Deste modo, talvez seja
possível enganar um observador exterior, como pretende a criança que
diz «não fui eu!», mas a nós próprios nunca podemos enganar por
completo. (…)

E sermos responsáveis é sabermo-nos autenticamente livres, para o


bem e para o mal: assumirmos as consequências do que fizemos,
emendar o mal que possamos emendar e aproveitarmos o bem ao
máximo. Ao contrário da criança malcriada e cobarde, o indivíduo
responsável está sempre pronto a responder pelos seus actos. (…)

O núcleo da responsabilidade, se te interessa sabê-lo, não consiste em


termos a decência ou a honradez de assumirmos as nossas patadas na
poça sem procurar desculpas à direita e à esquerda. Quem é
responsável é consciente do real da sua liberdade.(…) responsabilidade
é saber que cada um dos meus actos me vai construindo, me vai
definindo, me vai inventando. Todas as minhas decisões deixam a sua
marca em mim.”

Victor Ribeiro Página 1

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