Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bakhtin e o Circulo Primeiro Capitulo PDF
Bakhtin e o Circulo Primeiro Capitulo PDF
Quantos véus, que escondem a face do ser mais próximo, não precisamos [...]
levantar, véus depositados nele pelas casualidades de nossas reações, de nosso
relacionamento com ele e pelas situações da vida, para ver-lhe o rosto em sua
verdade e seu todo.
Bakhtin
16
Da Rússia czarista à web
17
Bakhtin e o círculo
18
Da Rússia czarista à web
Primeiras paradas:
Orel, Vilnius, Odessa e São Petersburgo
Deixando sua cidade natal, Orel, em 1905, Bakhtin vai para Vilnius, capital
da Lituânia, realiza parte de seus estudos secundários e lá reside até 1911/12. A
cidade, uma colônia governada por russos, tinha o russo e a religião ortodoxa
como instituições oficiais, mas a população, constituída em sua maioria por
poloneses e lituanos, era católica, hostil aos russos ortodoxos. Havia também
muitos judeus, parte dos quais falavam iídiche. Dadas essas condições, Bakhtin
vivenciou o pluralismo linguístico e cultural, que mais tarde se transformaria
em uma de suas preocupações centrais, aflorando teoricamente como polifonia,
heteroglossia, plurilinguismo, dialogismo.
Era uma época de turbulências de movimentos políticos, estéticos e reli-
giosos que prenunciavam a Revolução de 1917. Liam-se precocemente Karl
Marx e Friedrich Engels, entoavam-se hinos revolucionários, discutiam-se
Nietzsche, Baudelaire, Wagner e Da Vinci. Havia um forte envolvimento com o
movimento simbolista, cujos principais representantes eram Viatchesláv Ivanov
(1866-1949), Andréi Biéli (1880-1934), Aleksandr A. Blok (1880-1921), Di-
mitri S. Merejkóvski (1866-1941). Esse cenário, de intensas leituras e interesses
diversificados, influenciou o desenvolvimento das reflexões bakhtinianas.
Em seguida, Bakhtin chega a Odessa, cidade portuária da Ucrânia, localizada
no mar Negro, que naquela época já era cosmopolita, com grande variedade
cultural e linguística. Aí permaneceu durante o ano de 1913, leu o filósofo
19
Bakhtin e o círculo
20
Da Rússia czarista à web
21
Bakhtin e o círculo
Rede interrompida
Em 1930, Bakhtin chega a Kustanai, no Cazaquistão, distante de Moscou apro-
ximadamente três mil quilômetros. Era uma região árida, agrícola, com tempera-
22
Da Rússia czarista à web
turas abaixo de 18ºC durante o inverno, que recebeu milhões de exilados da União
Soviética, duplicando a população entre 1926 e 1939. Nessa cidade, com uma vida
cultural muito restrita, Bakhtin, proibido de ensinar em escolas oficiais, trabalhou
como economista contábil e leu livros enviados de Leningrado pelo amigo Kanaev.
Nos seis anos passados em Kustanai, o principal trabalho produzido foi “O
discurso no romance” (1934-1935), publicado somente em 1975.17 Aí perma-
neceu até 1936, ainda que sua pena tivesse chegado ao fim em 1934. Nessa
época, morre Vaguinov; Voloshinov contrai tuberculose e morre no sanatório
dois anos mais tarde, deixando incompleta uma tradução do primeiro volume
de Ernest Cassirer, A filosofia das formas simbólicas, considerado um trabalho
fundamental para o Círculo. Enquanto isso...
23
Bakhtin e o círculo
24
Da Rússia czarista à web
Terminal Moscou
Em 1969, devido ao agravamento de seu estado de saúde, Bakhtin é trans-
ferido, inicialmente, para um hospital do Kremlin, em Moscou, e em seguida
é colocado num asilo em Grivno.
Em 1970, começa a divulgação de Bakhtin no Ocidente. Problemas da poéti-
ca de Dostoiévski merece duas versões: uma francesa, com a importante e polêmi-
ca apresentação de J. Kristeva, e outra suíça. No mesmo ano, A cultura popular
na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, aparece em
francês. Em 1971, morre sua esposa. Muito doente, Bakhtin é cuidado na Casa
dos Escritores de Peredelkino, onde se forma um Círculo de amigos e discípulos.
Bakhtin concedeu três entrevistas: em 1966, a A. Z. Vuls; em 1971, a
Zbigniew Podgórzec; em 1973, ao professor de literatura Viktor Duvakin,20
registrada em seis encontros.
Entre 1973 e 1975, prepara uma antologia de textos intitulada Questões de
literatura e de estética: a teoria do romance. Não chega a ver a publicação, que
sai em meados de 1975, porque morre em março daquele ano.
25
Bakhtin e o círculo
26
Da Rússia czarista à web
27
Bakhtin e o círculo
Notas
1
Zbinden e Henking, 2005.
2
Ver, neste livro, capítulo “Bakhtin/Voloshinov: condições de produção de Marxismo e filosofia da linguagem”.
3
Ver, neste livro, texto inédito de Kanaev (Bakhtin): “O vitalismo contemporâneo”.
4
Bakhtin, 1996, 2000, 2002, 2008.
5
Ver, neste livro, capítulo “Bakhtin/Voloshinov: condições de produção de Marxismo e filosofia da linguagem”.
6
Bolchevique: fração majoritária do Partido Operário Social-Democrata Russo (posdr).
7
Este poema aparece na íntegra em Depretto, 1997, pp. 6-7.
8
Sériot, 2003; Vauthier, 2007; Sériot e Friedrich, 2008.
9
São Petersburgo passou a se chamar Petrogrado a partir de 1914, início da Primeira Guerra Mundial.
10
Clark e Holquist, 1998, p. 65.
11
Bakhtin, 2003, pp. xxxiii-xxxiv. Ver comentário de Adail Sobral, neste livro.
12
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O que estava presente desde
a origem”.
13
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Para uma filosofia do ato: ‘válido e inserido
no contexto’”.
14
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Problemas da poética de Dostoiévski e
estudos da linguagem”.
15
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O que estava presente desde a origem”.
16
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O problema do conteúdo, do material e
da forma na arte verbal”.
17
Ver, neste livro, capítulo “Da Rússia czarista à web”.
18
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Estética da criação verbal”.
19
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Problemas da poética de Dostoiévski e
estudos da linguagem”.
20
Bakhtin, 2008.
21
Bakhtine, 1984.
22
Bachtin, 1968.
23
Este texto saiu em Turim, pela Einaudi, numa coletânea intitulada Problemi di teoria del romanzo: metodologia
letteraria e dialettica istorica, de Lukacs Gyorgy, Michail Bachtin et al., organizada por Vittoria Strada, em 1976.
24
Bakhtine, 1977.
28
Da Rússia czarista à web
25
Bakhtine, 1978.
26
Voloshinov, 1926; Bakhtine, 1929; Voloshinov, 1930; Voloshinov, 1930.
27
Bakhtine, 1984.
Bibliografia
Bachtin, M. M. Dostoievsk: poética e stilistica. Trad. G. Garritano. Torino: Einaudi, 1968.
______. Estética e romanzo. Trad. Clara Strada Janovi. Torino: Einaudi, 1979.
Bakhtin, M. M. Obras reunidas em 7 volumes. Moscou: Rússkii Slovarí, 1996, v. 5.
______. Obras reunidas em 7 volumes. Moscou: Rússkii Slovarí, 2000, v. 2.
______. Obras reunidas em 7 volumes. Moscou: Rússkii Slovarí, 2002, v. 6.
______. Obras reunidas em 7 volumes. Moscou: Rússkii Slovarí, 2008, v. 4.
______. Mikhail Bakhtin em diálogo: conversas de 1973 com Viktor Duvakin. Trad. Daniela Miotello Mondardo, a
partir da edição italiana. São Carlos: Pedro e João Editores, 2008.
Bakhtine, m. (V. Volochinov). Le marxisme et la philosophie du langage: essai d’application de la méthode sociologique
en linguistique. Paris: Minuit, 1977.
Bakhtine, M. Esthétique et théorie du roman. Paris: Gallimard, 1978.
______. Préface à Ressurection. In: Todorov, T. Mikhail Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du Cercle
de Bakhtine. Paris: Du Seuil, 1981, pp. 217-41.
______. Esthétique de la création verbale. Paris: Gallimard, 1984.
Brandist, Craig; Shepherd, David; Tihanov, Galin. The Bakhtin Circle: in the master’s absence. Manchester/New
York: Manchester University Press, 2004.
Brandist, Craig; Shepherd, David. From Saransk to cyberspace: towards an electronic edition of Bakhtin. In:
Zbinden, Karine; Henking, Irene Werber (ed.). La quadrature du Cercle Bakhtine: traductions, influences et
remises en contexto. Théorie, n. 45. Lausanne: ctl/Université de Lausanne, 2005, pp. 7-22.
Bubnova, Tatiana. Bajtin en la encrucijada dialógica: datos y comentarios para contribuir a la confusión general. In:
Zavala, Iris (coord.). Bajtin y sus apócrifos. Barcelona/Puerto Rico: Anthropos/Univerdidad de Puerto Rico,
1996, pp. 13-72.
Depretto, C. (ed.). L’Héritage de Bakhtinine. Paris: Presse Universitaire de Bordeaux, 1997.
Emerson, Caryl. Os cem primeiros anos de Mikhail Bakhtin. Trad. Pedro Jorgensen Jr. Rio de Janeiro: Difel, 2003.
Lähteenmäki, Mika. De l’interprétation des idées linguistiques de Bakhtine: le problème des textes des années 50 et 60.
In: Zbinden, Karine; Henking, Irene Werber (eds.). La quadrature du Cercle Bakhtine: traductions, influences
et remises en contexto. Théorie, n. 45. Lausanne: ctl/Université de Lausanne, 2005, pp. 169-202.
Lähteenmäki, Mika; Dufva, Hannele (eds.). Dialogues on Bakhtin: interdisciplinary readings. Jyväskylä: Centre for
Applied Language Studies, 1998.
Platone, Rossana. Introduzione. In: Bachtin, M. Estética e romanzo. Trad. Clara Strada Janovi. Torino: Einaudi,
1979, pp. vii-xxv.
Schnaiderman, Boris. Turbilhão e semente: ensaios sobre Dostoiévski e Bakhtin. São Paulo: Duas Cidades, 1983.
Sériot, P.; Friedrich, J. (eds.). Langage et pensée: Union Soviétique années 1920-1930. Cahier de i’ilsl, 24. Lausanne:
Université de Lausanne, 2008.
Sériot, P. (ed.) Le discours sur la langue en urss à l’époque stalinienne: épistémologie, philosophie, idéologie. Cahier
de i’ilsl, 14. Lausanne: Université de Lausanne, 2003.
Tihanov, Galin. L’ideologie et le langage chez Vološinov: comment l’esprit de la Lebensphilosophie a engendré la
sociologie marxiste. In: Zbinden, Karine; Henking, Irene Werber (eds.). La quadrature du Cercle Bakhtine:
traductions, influences et remises en contexto. Théorie, n. 45. Lausanne: ctl/Université de Lausanne, 2005,
pp. 125-167.
______. The Master and the Slave: Lukács, Bakhtin, and the ideas of their time. New York: Oxford University
Press, 2002.
Todorov, T. Mikhail Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du Cercle de Bakhtine. Paris: Du Seuil, 1981.
Vautier, Bénédicte (ed.). Mikhail Bakhtine, Valentin Volochinov et Pavel Medvedev dans les contextes européen et russe.
Slavica Occitania, 25. Toulouse: crims, 2007.
29
Bakhtin e o círculo
Volochinov, V. N. Le discours dans la vie et le discours dans la poésie: contribuition à une poétique sociologique.
In: Todorov, T. Mikhail Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du Cercle de Bakhtine. Paris: Du
Seuil, 1981, pp. 181-215.
______. Les frontières entre poétique et linguistique. In: Todorov, T. Mikhail Bakhtine: le principe dialogique suivi
de écrits du Cercle de Bakhtine. Paris: Du Seuil, 1981, pp. 243-85.
______. La structure de l’énoncé. In: Todorov, T. Mikhail Bakhtine: le principe dialogique suivi de écrits du Cercle
de Bakhtine. Paris: Du Seuil, 1981, pp. 287-316.
Zbinden, Karine; Henking, Irene Werber (eds.). La quadrature du Cercle Bakhtine: traductions, influences et remises
en contexte. Théorie, n. 45. Lausanne: ctl/Université de Lausanne, 2005.
Zbinden, Karine. La conquête de l’ouest: Bakhtine en Amérique du Nord et en Grande-Bretagne. In: Zbinden,
Karine; Henking, Irene Werber (eds.). La quadrature du Cercle Bakhtine: traductions, influences et remises
en contexto. Théorie, n. 45. Lausanne: ctl/Université de Lausanne, 2005, pp. 27-62.
30