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Da Rússia czarista à web

Beth Brait e Maria Inês Batista Campos

Para entrar na nossa experiência (experiência social, inclusive) esses significados,


quaisquer que eles sejam, devem receber uma expressão espaço-temporal qualquer,
ou seja, uma forma sígnica audível e visível por nós (um hieróglifo, uma fórmula
matemática, uma expressão verbal e linguística, um desenho, etc.). Sem esta
expressão espaço-temporal é impossível até mesmo a reflexão mais abstrata.
Consequentemente, qualquer intervenção na esfera dos significados só se realiza
através da porta dos cronotopos.
Bakhtin

Quantos véus, que escondem a face do ser mais próximo, não precisamos [...]
levantar, véus depositados nele pelas casualidades de nossas reações, de nosso
relacionamento com ele e pelas situações da vida, para ver-lhe o rosto em sua
verdade e seu todo.
Bakhtin

Compreender o que se denomina pensamento bakhtiniano significa percorrer


um caminho que envolve não apenas o indivíduo Bakhtin, mas um conjunto
de intelectuais, cientistas e artistas que, especialmente nas décadas de 1920 e
1930, dialogaram em diferentes espaços políticos, sociais e culturais. Sendo
um homem de seu tempo, não produziu sozinho nem esteve excluído das
circunstâncias benéficas e maléficas de um longo período compreendido entre
as décadas de 1920 e 1970.
Bakhtin e o círculo

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Da Rússia czarista à web

É inegável que a recepção desse pensamento, ou a transmissão como deno-


minam de forma pertinente alguns estudiosos,1 passou e continua passando
por vicissitudes que implicam cuidados, reflexões gerais e pontuais, ausência
de ingenuidade e/ou excesso de pragmatismo. A circulação dos trabalhos de
Mikhail Bakhtin e o Círculo, como num jogo de espelhos, aumenta, diminui,
distorce aspectos essenciais à sua compreensão, muitas vezes refratando mais
do que refletindo.
Vários fatores, ao longo dessa conturbada e polêmica história, testemunham
essas perspectivas. Dentre elas, podem ser destacadas: a disputa em torno das
assinaturas, a presença de vários participantes no Círculo e a origem, diversidade
e particularidade das traduções. A questão das assinaturas e da composição do
Círculo tem variado do extremo da negação intelectual de V. N. Voloshinov
(1895-1936),2 P. Medvedev (1892-1938), I. Kanaev (1893-1983),3 M. Kagan
(1889-1937), L. Pumpianskii (1891-1940), M. Yudina (1899-1970), K. Va-
guinov (1899-1934), I. Sollertinski (1902-1944), B. Zubakin (1894-1937)
às dúvidas em torno da autenticidade de determinadas ideias e conceitos
considerados genuinamente bakhtinianos. Essa dimensão pode ser verificada
em diferentes momentos, sempre dialogando com contextos políticos, sociais,
acadêmicos, nos quais os trabalhos foram e vêm sendo conhecidos e divulgados.
Isso diz respeito às traduções, à recuperação e organização de anotações contidas
em “cadernos de notas” preservados em arquivo e à publicação de originais.4
As traduções, em sua maioria, devem ser olhadas a partir de sua origem.
Nelas pode acontecer a inclusão de conceitos estranhos ao conjunto dos
trabalhos do Círculo, como intertextualidade, ou deslizamentos, reduções,
adaptações e expansões da significação de determinados termos-chave como
heteroglossia, dialogismo, polifonia, gêneros do discurso, entre outros. No Brasil,
país em que Bakhtin e o Círculo têm forte penetração desde os anos 1980, as
traduções, feitas em sua maioria a partir do francês e mais recentemente do
russo, contribuem igualmente para uma polifonia criativa e transgressora em
torno desses e de outros conceitos.
Levando em conta essa complexa realidade, assim como a natureza deste
livro – Bakhtin e o Círculo –, este capítulo tem por objetivo apresentar os espaços
que abrigam os intelectuais do Círculo e suas preocupações, delineando um
mapa bibliográfico que auxilia os leitores a visualizar um inconcluso traçado.
Sem a pretensão de esgotar fronteiras, as informações aqui selecionadas se
completam com os demais textos desta obra.

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Bakhtin e o círculo

Começo da história: 1889 a 1917


Recuperar Bakhtin e o Círculo implica uma longa viagem. Começa na Rús-
sia czarista do final do século xix e começo do xx. Em seguida, adentra a Rússia
soviética (urss) visualizada em três períodos. O primeiro, de 1917 a 1953,
demarcado entre a Revolução Russa e a morte de Joseph Stalin. O segundo,
de 1953 a 1991, é uma ampla paisagem da urss governada por Nikita Khrus-
chev (1953-1964), Leonid Brejnev (1964-1982), Iuri Andropov (1983-1984),
Konstantin Chernenko (1984-1985), Mikhail Gorbachev (1985-1991). O
terceiro, a partir da eleição de Boris Eltsine, presidente da República da Rússia.
Quando os membros do futuro Círculo nasceram, no final do século xix e
começo do xx, o czarismo estava em seus estertores e a Rússia vivia um período
de instabilidade e descrédito do poder czarista. Alexandre iii, que governou o
país de 1881 a 1894, mantinha em descompasso a população, que oscilava da
extrema riqueza – os nobres –, à pobreza absoluta – os operários e camponeses.
Nicolau ii Romanov (1894-1917), último czar, enfrentou em 1905 um mo-
vimento de operários em São Petersburgo, o qual, reprimido violentamente,
ficou conhecido como Domingo Sangrento.
A partir daí, formaram-se os sovietes.5 A instabilidade e a pobreza tiveram
como consequência a continuidade e o crescimento do movimento popular que
culminou com a Revolução de Fevereiro de 1917, pondo fim a quatro séculos de
domínio czarista. Em outubro do mesmo ano, os bolcheviques,6 liderados por
Lênin (Vladimir Ilitch Ulianov) e Leon Trotski assumiram o poder e criaram
o Partido Comunista, primeiro passo para a formação da urss.
Se esse contexto político é importante para localizar o começo da história
que envolve os membros do Círculo, o geográfico também o é. Nevel, Vilnius,
São Petersburgo, Vitebsk e Orel são as cidades de nascimento deles. Tomando
como ponto de referência a capital Moscou, e considerando que Vilnius é a
mais distante, aproximadamente 787 quilômetros, e Orel, a mais próxima, 323
quilômetros, tem-se uma noção do primeiro mapa que os abriga.
O mais velho deles, o filósofo Matvei Isaevich Kagan (1889) e a pianista
e professora Maria Veniaminovna Yudina (1899) nasceram em Nevel. Em
Vilnius, nasceu Lev Vasilievich Pumpianskii (1891), professor da Faculdade de
História e Filologia da Universidade de São Petersburgo. Em São Petersburgo
nasceram vários membros do Círculo: o jornalista literário Pavel Nikolaevich
Medvedev (1892), o biólogo, filósofo e historiador da ciência Ivan Ivanovich

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Da Rússia czarista à web

Kanaev (1893), o poeta e escultor Boris Mikhailovitch Zubakin (1894), Valen-


tin Nikolaevich Voloschinov (1895), pós-graduado no Instituto de Literaturas
e Línguas Ocidentais e Orientais (iliazv), e Konstantin K. Vaguinov (1899),
poeta influenciado por Baudelaire e pelos cubo-futuristas, cujo poema “Deux
minces oreillers...” retrata uma certa atmosfera do Círculo bakhtiniano.7
O mais conhecido dos membros do Círculo, Mikhail Mikhailovitch Bakhtin,
nasceu em Orel (Oriol), em 1895, a aproximadamente 323 quilômetros de Mos-
cou. O mais jovem, Ivan Ivanovich Sollertinski, músico, crítico e professor de
história do teatro, nasceu em Vitebsk, em 1902. Não cabendo aqui biografias de-
talhadas, embora haja muitos estudos sobre eles,8 Mikhail Bakhtin será a figura
focalizada nos trilhos do trem que leva ao início dos grandes encontros entre eles.

Primeiras paradas:
Orel, Vilnius, Odessa e São Petersburgo
Deixando sua cidade natal, Orel, em 1905, Bakhtin vai para Vilnius, capital
da Lituânia, realiza parte de seus estudos secundários e lá reside até 1911/12. A
cidade, uma colônia governada por russos, tinha o russo e a religião ortodoxa
como instituições oficiais, mas a população, constituída em sua maioria por
poloneses e lituanos, era católica, hostil aos russos ortodoxos. Havia também
muitos judeus, parte dos quais falavam iídiche. Dadas essas condições, Bakhtin
vivenciou o pluralismo linguístico e cultural, que mais tarde se transformaria
em uma de suas preocupações centrais, aflorando teoricamente como polifonia,
heteroglossia, plurilinguismo, dialogismo.
Era uma época de turbulências de movimentos políticos, estéticos e reli-
giosos que prenunciavam a Revolução de 1917. Liam-se precocemente Karl
Marx e Friedrich Engels, entoavam-se hinos revolucionários, discutiam-se
Nietzsche, Baudelaire, Wagner e Da Vinci. Havia um forte envolvimento com o
movimento simbolista, cujos principais representantes eram Viatchesláv Ivanov
(1866-1949), Andréi Biéli (1880-1934), Aleksandr A. Blok (1880-1921), Di-
mitri S. Merejkóvski (1866-1941). Esse cenário, de intensas leituras e interesses
diversificados, influenciou o desenvolvimento das reflexões bakhtinianas.
Em seguida, Bakhtin chega a Odessa, cidade portuária da Ucrânia, localizada
no mar Negro, que naquela época já era cosmopolita, com grande variedade
cultural e linguística. Aí permaneceu durante o ano de 1913, leu o filósofo

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Bakhtin e o círculo

Martin Buber e inscreveu-se na universidade. Em 1914, transfere-se para São


Petersburgo, capital czarista, e continua seus estudos superiores na Universidade
de São Petersburgo,9 no Departamento de Estudos Clássicos da Faculdade
Filológico-Histórica. Tadeusz Zielínski, professor de Filologia Clássica, exerceu
forte influência sobre o modo de Bakhtin enfrentar a literatura e a questão dos
gêneros. Esse é um momento de grande desenvolvimento intelectual e contato
com os movimentos de vanguarda que começavam a aparecer.

Estação Nevel: Seminário Kantiano


Em 1918, Bakhtin passa a residir em Nevel, cidadezinha da Rússia Oci-
dental, a 765 km de Moscou, onde leciona História, Sociologia e Russo em
diferentes escolas e participa ativamente da vida cultural. É o momento da
formação do Primeiro Círculo, denominado Seminário Kantiano ou Círculo de
Nevel. Os participantes desse Círculo são: Matvei Kagan, Lev Pumpianskii,
Maria Yudina, Valentin Voloshinov, Bóris Mikhailovitch Zubákin, Mikhail
Tubianski, Ana Sergueiévna. “Os membros do grupo tinham em comum uma
paixão pela filosofia e pelo debate de ideias [...] discutiam dos antigos gregos
até Kant e Hegel, ou mesmo textos contemporâneos.”10
Politicamente, essa época caracteriza-se pelo domínio dos bolcheviques que
dissolveram a Assembleia Constituinte, criaram o Exército Vermelho, transfor-
maram o Partido Bolchevique em Partido Comunista da Rússia, promulgaram
a primeira Constituição soviética. Muitos intelectuais, incluindo os do Círculo,
envolveram-se com o clima da Revolução e participaram ativamente da vida cul-
tural. Nesse ano, a capital, então São Petersburgo, foi transferida para Moscou.
Em 1919 Bakhtin publicou, na revista Den’iskosstva (O dia da arte), números
3 e 4, o artigo intitulado “Arte e responsabilidade”, só republicado na década de
1970.11 Existem várias traduções: espanhol, 1982; inglês, 1986; português, 2003.

Próxima parada: Vitebsk


No final de 1920, membros do Círculo começam a deslocar-se para a
vanguardista Vitebsk, cidade natal do pintor Marc Chagall, situada a aproxi-

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Da Rússia czarista à web

madamente a quinhentos quilômetros de Moscou e a cem quilômetros ao sul


de Nevel. Vivia-se ali, como em toda a urss, a expansão da educação superior
e das instituições culturais, a proeminência dos formalistas, a criação de uni-
versidades nas províncias. Esse cenário inclui também o caos provocado pela
guerra civil, pela escassez de suprimentos, pela intervenção de potências estran-
geiras e pelas tentativas de criação de associações de proteção aos intelectuais.
Depois que outros membros do Círculo já haviam se transferido, Bakhtin vai
para lá, onde ensina Literatura, no Instituto Pedagógico, e História e Filosofia da
Música, no Conservatório de Vitebsk. Recomeçam as reuniões do Círculo, que
contava com os mesmos membros e ainda mais Pavel Medvedev. Bakhtin casa-se
com Elena Okolovitch e dá continuidade ao grande projeto, iniciado em Nevel,
sobre “A arquitetônica da responsabilidade”, do qual restam os importantes
fragmentos: “O autor e o herói”12 e “Por uma filosofia do ato”.13 Nessa época
aconteceram as primeiras menções a um livro sobre Dostoiévski.14 Também é
o momento da escrita de “Autor e herói na atividade estética”15 e “O problema
do conteúdo, do material e da forma na arte verbal”.16 Nesse momento Kagan
escreve “No curso da história: a partir dos problemas da história da filosofia” e
“Paul Natorp e a crise da cultura”; Pumpianskii redige “Dostoiévski e a Anti-
guidade” e “Gogol”; Zubakin, “O riso e a seriedade” e “Sobre o legado literário
de Dostoiévski”; e Medvedev escreve “O pathos criativo de Aleksandr Blok”.

O trem segue para Leningrado


De 1924 a 1929, o Círculo, acrescido de Kanaev, Zalieski, Vaguinov, Kliouev
e Tubianski, encontra-se em Leningrado, à margem do rio Nievá, a 700 quilô-
metros de Moscou, travando uma longa batalha pela sobrevivência, ministrando
cursos particulares sem vínculos institucionais. Nessa terceira fase do Círculo, que
pode ser considerada uma versão leningradense da Escola de Nevel e do Seminário
Kantiano, eles discutem a importância da filosofia da linguagem na psicologia,
filosofia e poética. Resultam desses estudos quatro obras fundamentais para a
compreensão do pensamento bakhtiniano: O freudismo: um esboço crítico (1927),
assinado Voloshinov; O método formal nos estudos literários: introdução crítica a
uma poética sociológica (1928), assinado Medvedev; Marxismo e filosofia da lingua-
gem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (1929),
assinado Voloshinov, e Problemas da obra de Dostoiévski (1929), de Bakhtin.

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Bakhtin e o círculo

Além dessas obras, há vários artigos que atestam a efervescência intelectual


do Círculo: “O método formal ou o salierismo erudito”, Medvedev (1924);
“Hereditariedade: uma introdução para não especialistas”, Kanaev (1925); “Para
além do social: sobre o freudismo”, Voloshinov (1925); “A palavra na vida e a
palavra na poesia”, Voloshinov (1926); “O vitalismo contemporâneo”, Kanaev
(1926); “Sociologismo sem sociologia”, Medvedev (1926); “O drama e poemas
narrativos: Aleksandr Blok” (1928) e “Pushkin: um ensaio histórico literário”,
Pumpianskii (1928); “As últimas tendências do pensamento linguístico no Oci-
dente”, Voloshinov (1928). Encontram-se, ainda, inúmeras palestras dos vários
participantes, sobre literatura russa, poética sociológica, escritores, dramaturgos
e poetas, incluindo Maiakóvski, Turgniev, entre muitos outros.
A produtividade compreendida entre 1924 e 1929, independentemente
das assinaturas, aponta para discussões e concepções do Círculo que dialogam
com formalistas, marxistas ortodoxos, ideólogos, psicólogos e psicanalistas, a
partir de um lugar em que a polêmica, sem ser destrutiva, constrói novos lugares
epistemológicos. A poética sociológica, a resposta a teorias freudianas e o enfren-
tamento dos formalistas constituem formas de construção de uma filosofia da
linguagem e da cultura, inaugurando uma concepção nova ao confrontar os estu-
dos da linguagem, quer literária, cotidiana, visual, musical, corporal, científica.
Os textos e fragmentos produzidos posteriormente confirmam essa matriz
inovadora dos anos 1920 e a concepção dialógica (ética e estética) da nature-
za humana que guiará os escritos bakhtinianos. Bakhtin foi preso em 24 de
dezembro de 1928, muito mais por seu vínculo com a tradição ortodoxa –
por sua ligação com a Ressurreição, organização religiosa não oficial –
que por suas posições políticas. Devido ao agravamento da osteomielite, foi
hospitalizado em 1929. O exílio em Kustanai, em 1930, coincide com o mo-
mento em que o Círculo se dispersa e seus membros seguem diferentes destinos:
Voloshinov, Medvedev, Sollertinsk, Kanaev e Pumpianskii permanecem em
Leningrado, lecionando em diferentes lugares. Zubakin foi preso e exilado no
norte da Rússia. Iudina é demitida do conservatório de Leningrado e vai atuar
como “professora Geórgia”.

Rede interrompida
Em 1930, Bakhtin chega a Kustanai, no Cazaquistão, distante de Moscou apro-
ximadamente três mil quilômetros. Era uma região árida, agrícola, com tempera-

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Da Rússia czarista à web

turas abaixo de 18ºC durante o inverno, que recebeu milhões de exilados da União
Soviética, duplicando a população entre 1926 e 1939. Nessa cidade, com uma vida
cultural muito restrita, Bakhtin, proibido de ensinar em escolas oficiais, trabalhou
como economista contábil e leu livros enviados de Leningrado pelo amigo Kanaev.
Nos seis anos passados em Kustanai, o principal trabalho produzido foi “O
discurso no romance” (1934-1935), publicado somente em 1975.17 Aí perma-
neceu até 1936, ainda que sua pena tivesse chegado ao fim em 1934. Nessa
época, morre Vaguinov; Voloshinov contrai tuberculose e morre no sanatório
dois anos mais tarde, deixando incompleta uma tradução do primeiro volume
de Ernest Cassirer, A filosofia das formas simbólicas, considerado um trabalho
fundamental para o Círculo. Enquanto isso...

O trem apita às margens do Volga


Em 1936, Bakhtin recebe permissão para passar férias em Leningrado e
aproveita para ir ao reencontro de Yudina, Kagan, Medvedev e Zaliéski, velhos
companheiros, em Moscou. Lá conversa sobre a possibilidade de um emprego
e, pouco depois, Medvedev o indica para atuar como professor de Literatura no
Instituto Pedagógico. Em 1937, Bakhtin chega a Saransk, capital da República
Autônoma da Mordóvia, a 320 quilômetros de Moscou, situada às margens do
rio Volga, onde, antes da Revolução de 1917, somente 13% da população era
alfabetizada. Além de professor de Literatura, Bakhtin atuou como alfabetiza-
dor, trabalhou em “O romance de educação e sua importância na história do
realismo”18 e, provavelmente, iniciou o texto sobre o “Formas do tempo e do
cronotopo”. Seu amigo Kagan morre de angina em 1937.

Paradas na periferia: Savelovo e Kimry


Em 1937, época do Grande Expurgo vivido pela Rússia, Bakhtin é obrigado
a pedir demissão do Instituto Pedagógico de Saransk. No outono do mesmo
ano, o casal Bakhtin vai morar em Savelovo, pequeno centro ferroviário junto
ao rio Volga, nas cercanias de Moscou.
Apesar das muitas dificuldades, falta de emprego e amputação da perna
em fevereiro de 1938, essa é uma fase produtiva para Bakhtin. Seus trabalhos

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Bakhtin e o círculo

relacionados à teoria do romance incluem: “Da pré-história do discurso roma-


nesco” (1936-1938), “Formas do tempo e do cronotopo no romance: ensaios
de poética histórica” (1937-1938), “Rabelais na história do realismo” (1940),
primeira versão da tese, “Rabelais e Gógol: arte e discurso e cultura cômica
popular” (1940); verbete “Sátira” para a Enciclopédia literária, que nunca foi
publicado (1940). Também, nesse ano, escreve resenhas críticas para sobreviver,
e profere a conferência sobre “O discurso no romance”. No ano seguinte, 1941,
escreve “Epos e romance (sobre a metodologia do estudo do romance)”.
Medvedev foi executado em julho de 1938 e Pumpianskii morre de câncer
em 1940.
Em junho de 1941, a Rússia entra na Segunda Grande Guerra e Bakhtin
vai para Kimry, cidade manufatureira situada às margens do Volga, a mais ou
menos cem quilômetros de Moscou, conhecida pela produção de calçados, e
trabalha em várias escolas. Em 1943, Tubianski morre nos campos de conce-
tração e Solertinski, em 1944, morre de um ataque do coração. No final da
guerra, volta para Saransk.

O trem retorna a Saransk


Ao voltar ao Instituto Pedagógico de Saransk, em 1945, atua como profes-
sor e é promovido, logo em seguida, a chefe do Departamento de Literatura
Geral. Nesse momento, profere palestras como “A linguagem e o estilo das
obras literárias à luz dos estudos linguísticos de Joseph Stalin” e “Problemas do
ensino de literatura”. Volta-se para seu trabalho sobre Rabelais e defende a tese
no Instituto Gorki de Literatura, em Moscou, no final de 1946, recebendo o
título de “candidato a doutor” em 1952.
Na década de 1950, a situação de Bakhtin melhora: dirige a Cátedra de
Literatura Russa e Estrangeira na Universidade de Saransk e escreve o ensaio
“Os gêneros do discurso”. Em 1957, é redescoberto pelos então estudantes V.
Kozhinov, S. Bocharov e G. Gachev, e ministra muitas aulas particulares.
Na década de 1960, aposenta-se, trabalha na reedição de Problemas da obra
de Dostoiévski,19 que sai em 1963 com o título Problemas da poética de Dostoiévski
e publica A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de
Rabelais, em 1965. Em 1969, deixa Saransk, no momento do degelo soviético,
sob o regime de Kruschev.

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Da Rússia czarista à web

Terminal Moscou
Em 1969, devido ao agravamento de seu estado de saúde, Bakhtin é trans-
ferido, inicialmente, para um hospital do Kremlin, em Moscou, e em seguida
é colocado num asilo em Grivno.
Em 1970, começa a divulgação de Bakhtin no Ocidente. Problemas da poéti-
ca de Dostoiévski merece duas versões: uma francesa, com a importante e polêmi-
ca apresentação de J. Kristeva, e outra suíça. No mesmo ano, A cultura popular
na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, aparece em
francês. Em 1971, morre sua esposa. Muito doente, Bakhtin é cuidado na Casa
dos Escritores de Peredelkino, onde se forma um Círculo de amigos e discípulos.
Bakhtin concedeu três entrevistas: em 1966, a A. Z. Vuls; em 1971, a
Zbigniew Podgórzec; em 1973, ao professor de literatura Viktor Duvakin,20
registrada em seis encontros.
Entre 1973 e 1975, prepara uma antologia de textos intitulada Questões de
literatura e de estética: a teoria do romance. Não chega a ver a publicação, que
sai em meados de 1975, porque morre em março daquele ano.

Abertura: direção web


A União Soviética, apesar das agruras stalinistas, preservou em seu território
um pensamento que, hoje, parece antecipar e ao mesmo tempo dialogar com
o que há de mais vivo nas discussões sobre os métodos e objetos nas ciências
humanas. Em 1979, com a abertura dos primeiros arquivos, surge uma segunda
coletânea, Estética da criação verbal,21 que, juntamente com a anterior, Questões
de literatura e de estética: a teoria do romance, muda a ótica sobre a herança
bakhtiniana. A partir dos anos 1985, período de transição entre a desestabiliza-
ção do socialismo soviético e sua derrubada, os demais arquivos de Bakhtin co-
meçam a ser abertos, mas a maior parte dos trabalhos foi divulgada fora da urss.
Desde esse momento, as obras vêm sendo recebidas, multiplicadas e inter-
pretadas, revelando que podem funcionar como surpreendentes bandeiras para
diferentes contextos de recepção, como o do antiestruturalismo, do antipositi-
vismo, do cultural studies, das várias vertentes da Análise do Discurso.
Em 1968, sai a edição italiana de Problemas da poética de Dostoiévski;22
seguido de “Epos e romance”23 e Marxismo e filosofia da linguagem: ensaio de

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Bakhtin e o círculo

aplicação do método sociológico em linguística (1976); O freudismo: esboço crítico


(1977); O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética
sociológica (1978); Questões de literatura e de estética: a teoria do romance, A cul-
tura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais;
e “Arte e responsabilidade” (1979).
A França, desde a década de 1970, traduz Bakhtin e o Círculo: Marxismo
e filosofia da linguagem: ensaio de aplicação do método sociológico em linguística24
(1977); Questões de literatura e de estética: a teoria do romance25 (1978); Mikhail
Bakhtine: le príncipe dialogique suivi de écrits du Cercle de Bakhtine, estudos de
Tzvetan Todorov e inéditos26 do Círculo (1981), Estética da criação verbal (1984).27
Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Brasil, entre outros, da
mesma forma que Itália e França, trazem Bakhtin e o Círculo para suas línguas,
para a reflexão dentro das ciências humanas e para um debate que não cessa
de ter continuidade.
Para se ter uma ideia da amplitude alcançada pelas traduções, pela fortuna
crítica bakhtiniana, pela produção motivada pela abertura dos arquivos e pela
impossibilidade de fornecer, com precisão, o total de textos produzidos tanto na
Rússia quanto no estrangeiro, basta observar duas tentativas de atualização reali-
zadas na década de 1990. Uma delas, a importante revista de Vitebsk, intitulada
Dialog.Karnaval.Khronotop. (Diálogo Carnaval Cronotopo), que em seu núme-
ro 5, de 1994, reúne quase setecentos títulos, sem incluir as publicações russas.
Outra, M. M. Bakhtin no espelho da crítica, publicada em Moscou, de 1995, reú-
ne publicações aparecidas entre 1989 e 1995 e é composta de mais de mil títulos.
Além dessas publicações, há outros eventos que demonstram as formas
de divulgação e recepção de Bakhtin e do Círculo. No verão de 1991, os aca-
dêmicos russos participam pela primeira vez da v Conferência Internacional
de Bakhtin, em Manchester, na Inglaterra. Entre 1993 e 1995, o jornal russo
Chelovek publicou as transcrições das entrevistas com Duvakin. Em 1993, sai a
primeira biografia feita pelos russos Semyon Konkin e Larisa Konkin: Mikhail
Bakhtin: página de sua vida e sua obra. Até esse momento, eram duas as biografias
existentes: a de Michael Holquist e Katerine Clark e a de Caril Emerson.
Também em 1993, o arquivo de Bakhtin foi aberto e se tornou objeto de
trabalhos preparatórios das Obras reunidas, pensadas para 7 volumes, cada um
abarcando: (v. 1) textos filosóficos e estéticos do período de 1920; (v. 2) Proble-
mas da obra de Dostoiévski (1929), artigos sobre Tolstoi (1929) e notas de leitura
na história da literatura russa, período de 1920; (v. 3) artigos sobre a teoria do

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Da Rússia czarista à web

romance, período de 1930; (v. 4) Rabelais e materiais associados (1940-70);


(v. 5) trabalhos do período de 1940 até o início de 1960; (v. 6) Problemas da
poética de Dostoiévski (1963) e trabalhos de 1960 a 1970; (v. 7) trabalhos do
Círculo de Bakhtin, que incluem Voloshinov e Medvedev, mas não Kagan e
Pumpianski, porque já foram publicadas edições separadas contendo trabalhos
dos dois. Os volumes 2, 4, 5 e 6 já estão publicados, mas não traduzidos.
No ano do centenário de nascimento de Bakhtin, 1995, foram muitas as
comemorações em universidades do Ocidente e do Oriente. Há, ainda, como
prova da profusão de obras e do interesse contínuo, a chegada de Bakhtin e dos
demais membros do Círculo à internet. Isso acontece com o site http://www.
shef.ac.uk/bakhtin/, que existe desde a década de 1990, inserindo-se no projeto
de Craig Brandist e David Shepherd, da University of Sheffield, cujo objetivo
é a edição eletrônica dos trabalhos bakhtinianos com versões para o inglês.
Perseguir as possibilidades de compreensão da maneira de ser de Bakhtin e
do Círculo é a proposta da obra em que este capítulo se insere. A viagem pelos
trilhos das diferentes Rússias, aqui empreendida, seguiu um percurso que, do
czarismo à internet, mostrou o deslocamento de um homem que ao longo dos
seus 80 anos participou, juntamente com vários companheiros, de diferentes
círculos cuja influência nos estudos da linguagem pode ser sentida até hoje. Às
agruras da época juntam-se a intensa vida cultural, as sistemáticas discussões
filosóficas, literárias, artísticas, as instituições que delimitam o contexto em que
esse importante pensamento foi produzido, recebido, rejeitado, redescoberto.
No Brasil, desde a década de 1980, o pensamento bakhtiniano tem recebido
atenção de vários estudiosos. Além de artigos, projetos, cursos, grupos de pes-
quisa, seminários, destacam-se as seguintes obras: Turbilhão e semente: ensaios
sobre Dostoiévski e Bakhtin (1983), de Boris Schnaiderman; Uma introdução a
Bakhtin (1988), organizado por Carlos Alberto Faraco; Analogia do dissimilar:
Bakhtin e o formalismo russo (1989), de Irene Machado; Infância e linguagem:
Bakhtin, Vygotsky e Benjamin (1994), de Solange Jobim e Souza; Dialogismo,
polifonia e intertextualidade: em torno de Bakhtin (1994), organizado por D.
L. P. Barros e J. L. Fiorin; O romance e a voz: a prosaica dialógica de Mikhail
Bakhtin (1995), de Irene Machado; Diálogos com Bakhtin (1996), organizado
por C. A. Faraco, C. Tezza e G. Castro; Ironia em perspectiva polifônica (1996),
de Beth Brait; Bakhtin, dialogismo e construção do sentido (1997), organizado
por B. Brait; Introdução à teoria do enunciado concreto do círculo Bakhtin/Vo-
loshinov/Medvedev (1999), de Geraldo Tadeu Souza; O pesquisador e seu outro:

27
Bakhtin e o círculo

Bakhtin nas ciências humanas (2001), de Marília Amorim; Ciências humanas


e pesquisa: leitura de Mikhail Bakhtin (2003), organizado por M. T. Freitas,
S. Jobim e Souza e S. Kramer; Linguagem & Diálogo: as ideias linguísticas do
Círculo de Bakhtin (2003), de C. A. Faraco; Entre a prosa e a poesia: Bakhtin e
os formalistas russos (2003) de Cristovão Tezza; Mikhail Bakhtin: contribuições
para a filosofia da linguagem e estudos discursivos (2005), organizado por Ana
Zandwais; Bakhtin: conceitos-chave (2005), organizado por B. Brait; Vinte ensaios
sobre Bakhtin (2006), de C. A. Faraco, C. Tezza e G. Castro; Introdução ao pen-
samento de Bakhtin (2006), de José Luiz Fiorin; Bakhtin: outros conceitos-chave
(2006), organizado por B. Brait; Trangressões convergentes: Vigotski, Bakhtin,
Bateson (2007), organizado por J. W. Geraldi, B. Fichtner e M. Benites; Janelas
bakhtinianas: refrações, reflexões e rascunhos (2008), organizado por V. Miotello.

Notas
1
Zbinden e Henking, 2005.
2
Ver, neste livro, capítulo “Bakhtin/Voloshinov: condições de produção de Marxismo e filosofia da linguagem”.
3
Ver, neste livro, texto inédito de Kanaev (Bakhtin): “O vitalismo contemporâneo”.
4
Bakhtin, 1996, 2000, 2002, 2008.
5
Ver, neste livro, capítulo “Bakhtin/Voloshinov: condições de produção de Marxismo e filosofia da linguagem”.
6
Bolchevique: fração majoritária do Partido Operário Social-Democrata Russo (posdr).
7
Este poema aparece na íntegra em Depretto, 1997, pp. 6-7.
8
Sériot, 2003; Vauthier, 2007; Sériot e Friedrich, 2008.
9
São Petersburgo passou a se chamar Petrogrado a partir de 1914, início da Primeira Guerra Mundial.
10
Clark e Holquist, 1998, p. 65.
11
Bakhtin, 2003, pp. xxxiii-xxxiv. Ver comentário de Adail Sobral, neste livro.
12
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O que estava presente desde
a origem”.
13
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Para uma filosofia do ato: ‘válido e inserido
no contexto’”.
14
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Problemas da poética de Dostoiévski e
estudos da linguagem”.
15
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O que estava presente desde a origem”.
16
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “O problema do conteúdo, do material e
da forma na arte verbal”.
17
Ver, neste livro, capítulo “Da Rússia czarista à web”.
18
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Estética da criação verbal”.
19
Ver, no livro Bakhtin, dialogismo e polifonia (Contexto, 2009), capítulo “Problemas da poética de Dostoiévski e
estudos da linguagem”.
20
Bakhtin, 2008.
21
Bakhtine, 1984.
22
Bachtin, 1968.
23
Este texto saiu em Turim, pela Einaudi, numa coletânea intitulada Problemi di teoria del romanzo: metodologia
letteraria e dialettica istorica, de Lukacs Gyorgy, Michail Bachtin et al., organizada por Vittoria Strada, em 1976.
24
Bakhtine, 1977.

28
Da Rússia czarista à web

25
Bakhtine, 1978.
26
Voloshinov, 1926; Bakhtine, 1929; Voloshinov, 1930; Voloshinov, 1930.
27
Bakhtine, 1984.

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