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SISTEMAS DE RECALQUE
Abstract - The main goal of this research is a development of a computer code for the analysis of
the Water Hammer phenomenon in pipelines caused by a failure in the pumping system. This
failure is common in pipelines specially due to cuts in the eletric power supply. The model
developed using the Visual Basic computer language is easy to use and allows the user to visualize
the dynamic waves of over and under pressures in real time. Besides these features, it allows an
input of water hammer relief mechanisms such as air chamber and safety valve. The final part of
this research consists on applying the computer code developed to real pipeline cases which
involved: Water Hammer caused by the failure of the pumping system; Simulation of the
consequences of the introduction of two relief mechanisms: air chamber and safety valve. Analysis
of the influence of the moment of inertia of the rolling masses of the pumps in water hammer
phenomenon.
1
Universidade Federal do Ceará; Depto de Engenharia Hidráulica e Ambiental; Campus do PICI Bloco 713,
CEP:60000-00; Fortaleza; CE; Brasil; Telefone: (85) 2889623; Fax (85) 2889627; e-mail: neivarodrigo@hotmail.com
2
Universidade Federal do Ceará; Depto de Engenharia Hidráulica e Ambiental; Campus do PICI Bloco 713,
CEP:60000-00; Fortaleza; CE; Brasil; Telefone: (85) 2889623; Fax (85) 2889627; e-mail: marco@ufc.br
INTRODUÇÃO
Os sistemas hidráulicos, constituídos de tubulação com água sob pressão, podem sofrer
alterações nas condições de escoamento caracterizadas pela variação de pressão e de velocidade de
escoamento do fluido em função do tempo, ocasionando regimes variados.
Chama-se transiente ou transitório hidráulico, o regime variado que ocorre durante a
passagem de um regime permanente para outro regime permanente. Assim, qualquer alteração no
movimento ou paralisação eventual de um elemento do sistema dão origem aos chamados
fenômenos transitórios. Após a ocorrência da perturbação, como o desligamento de uma bomba, o
regime permanente presente antes da perturbação é alterado, dando origem a um regime não
permanente que posteriormente passará a um novo estado de permanência.
Durante o transitório hidráulico, as oscilações de pressão ao longo da canalização ocorrem de
maneira brusca, provocando ruídos que se assemelham a pancadas. Por isso, o transitório hidráulico
também é comumente denominado de Golpe de Aríete.
As sobrepressões e subpressões que ocorrem durante o transitório hidráulico podem causar
sérios problemas à tubulação e seus equipamentos, se estes não forem dimensionados para suportar
tais sobrecargas, comprometendo a segurança e o funcionamento do sistema. Desse modo, a
quantificação das pressões máximas e mínimas é de fundamental interesse para o projetista, a fim
de que este possa dimensionar a tubulação e introduzir equipamentos protetores, cuja finalidade é
amortecer as variações de carga, prejudiciais à vida útil da instalação.
A análise do Golpe de Aríete nos sistemas hidráulicos é baseada na equação da continuidade e
na equação da quantidade de movimento. Essas duas equações formam um sistema de equações
diferenciais cuja solução exata não está disponível, sendo necessário utilizar técnicas específicas
para se determinar uma solução aproximada do problema. Desse modo, foram criados diferentes
métodos gráficos e analíticos, baseados em diferentes suposições restritivas. Esses métodos, até
pouco tempo os únicos disponíveis, são pouco precisos e difíceis de serem aplicados a sistemas
complexos.
Apesar dos fenômenos transitórios serem conhecidos desde o início do século, foi somente
recentemente, com o surgimento e aperfeiçoamento dos computadores digitais, que estes fenômenos
puderam ser estudados mais detalhadamente, sem a necessidade de simplificações grosseiras.
Sendo, hoje em dia, ferramenta indispensável no dimensionamento de sistemas hidráulicos.
O estudo do Golpe de Aríete requer o conhecimento das condições iniciais do regime
permanente e das condições de contorno da instalação, que são os pontos onde ocorrem
descontinuidades das grandezas físicas, como pressão e velocidade de escoamento. Como é um
fenômeno complexo, geralmente é muito pouco discutido nos cursos de graduação, principalmente
devido à falta de divulgação e ensino da metodologia numérica apropriada.
Neste trabalho foi desenvolvido um modelo matemático computacional para a análise do
Golpe de Aríete em sistemas de adução de água, utilizando-se do Método das Características e das
equações características dos equipamentos mais comumente encontrados nos sistemas hidráulicos.
Os objetivos principais do estudo são:
- Simular, usando o modelo computacional desenvolvido, o comportamento das ondas de
pressão resultantes do golpe de aríete em decorrência do desligamento do conjunto moto-bomba;
- Analisar a influência do momento de inércia das massas girantes do conjunto moto-bomba
no transitório hidráulico;
- Verificar o comportamento do sistema após a introdução de mecanismos de atenuação do
golpe de aríete: um reservatório hidropneumático e uma da válvula de alívio localizados na seção da
bomba.
MODELAGEM MATEMÁTICA
∂Q ∂H f
+ gA + QQ =0 (1)
∂t ∂x 2 D A
Equação da Continuidade:
∂H c 2 ∂Q
+ =0 (2)
∂t g A ∂x
∂Q ∂H f
L1 = + gA + Q Q =0 (3)
∂t ∂x 2 D A
∂Q ∂H
L2 = c 2 +gA =0 (4)
∂x ∂t
L = L1 + λ L2 (5)
Assim:
∂Q ∂Q ∂H 1 ∂H f
+ λ c2 + λ g A + + Q Q =0 (6)
∂t ∂x ∂t λ ∂x 2 D A
Dois valores distintos, reais e diferentes de zero para o parâmetro λ, formam duas equações
diferenciais ordinárias que exprimem as equações originais em termos de H e Q.
Sabendo que a carga H(x,t) e a vazão Q(x,t) são funções da posição x e do tempo t, e
impondo-se uma dependência entre x e t de forma que o parâmetro λ seja dado por:
1
λ=±
c
dQ dH f
L= +λ g A + Q Q =0
dt dt 2 D A
Assim, a equação acima pode ser escrita, para cada valor escolhido de λ, como:
dQ g A dH f
L*1 = + + Q Q =0 (7)
dt c dt 2 D A
dx
se =c (8)
dt
dQ g A dH f
L*2 = − + Q Q =0 (9)
dt c dt 2 D A
dx
se = −c (10)
dt
Como resultado do Método das Características, foram obtidas as quadro equações diferenciais
ordinárias acima. Já que nenhuma aproximação matemática foi feita durante a transformação das
equações diferenciais parciais originais, essas equações representam o fenômeno hidráulico de
maneira similar as equações (3) e (4), diferenciando-se somente pelo fato de serem válidas apenas
se as equações (8) e (10) forem satisfeitas.
Na realidade, segundo RIGHETTO (1972), as equações (7) e (9) são as mesmas equações
fundamentais, estando a primeira associada com a equação (8) e a segunda associada com a equação
(10).
As equações (8) e (10) representam no plano (x,t) duas linhas retas com declividades ± 1/c,
como se pode observar pela Figura 1. Essas linhas retas são chamadas de linhas características, daí
o nome Método das Características. A reta de inclinação + 1/c é chamada característica positiva e a
reta de inclinação – 1/c é a característica negativa, sendo convenientemente chamada de C+ e C-
respectivamente.
Desta forma, discretizando-se o domínio ∆x e o tempo ∆t em intervalos, uma solução
numérica pode ser obtida.
t O+3 t
t O+2 t P
C+ C-
t O+ t M J
R C S
x x
tO
i-1 i i+1
x
Convergência e estabilidade
Para se obter uma solução numérica satisfatória para as equações diferenciais parciais, as
aproximações por diferenças finitas devem satisfazer certas condições de convergência e
estabilidade.
Uma solução exata para as equações diferenciais é impossível de ser obtida quando se utiliza
métodos numéricos, já que é finito o número de casas decimais em qualquer computador que se
utilize. Entretanto, uma solução bastante próxima da realidade pode ser obtida quando se utiliza um
esquema de diferenças finitas dito convergente, ou seja, quando se faz tender para zero as
dimensões da malha definidas por ∆x e ∆t.
Ao se reduzir o tamanho da malha, deve-se ter o cuidado de não perder o ganho obtido com a
diminuição do intervalo de discretização com um aumento excessivo do número de operações
aritméticas, e consequentemente, de um aumento do erro computacional embutido nos
truncamentos e arredondamentos do cálculo do transiente.
Segundo CHAUDHRY (1987), um esquema de diferenças finitas é instável quando o erro
acumulado cresce à medida que a solução progride e que, para se obter convergência e estabilidade,
deve-se atender a uma relação entre os intervalos ∆x e ∆t.
Ainda segundo esse autor, critérios para determinação da convergência e estabilidade são
muito difíceis de serem obtidos, contudo, critérios podem ser obtidos linearizando ou
negligenciando os termos não lineares. A adoção de tal critério, segundo esse autor, não acarreta
problemas pois os termos não lineares são relativamente pequenos.
De acordo com LESSA (1984) e CHAUDHRY (1987), para que método das características
seja estável, a seguinte inequação, conhecida como condição de estabilidade de COURANT-
FRIEDRICH-LEWY, deve ser satisfeita:
∆x
≥c (11)
∆t
Geometricamente, esta condição exige que as linhas características positiva e negativa, que
passam por P, interceptem a linha MJ entre MD (R) e JD (S), respectivamente.
CHAUDHRY (1987), STREETER (1978), ALMEIDA (1981) e KOELLE (1983) mostram
que soluções mais acuradas são obtidas quando se faz:
∆x
=c (12)
∆t
Segundo CHAUDHRY (1987) e STREETER e WYLIE (1978), para os casos em que tal
condição não for satisfeita, os valores em R e S podem ser obtidos com a utilização de um processo
de interpolação numérica através das condições conhecidas em M, D e J. Contudo, ainda segundo
os autores, tal procedimento pode provocar a atenuação dos picos transientes e dispersão numérica.
Quando se tem dois ou mais diferentes condutos em um mesmo sistema, é necessário que se
utilize o mesmo incremento de tempo ∆t para todos os condutos. Com isso pode-se utilizar as
condições de contorno nas junções e determinar as incógnitas para um dado instante.
Deve-se então escolher cuidadosamente o incremento de tempo ∆t e o número inteiro de
divisões N de cada canalização. De modo a obedecer a condição de COURANT deve-se ter:
Li
∆t =
ci N i
CONDIÇÕES DE CONTORNO
Para se incluir a bomba em um modelo matemático, deve-se obter uma relação entre a vazão
Q e diferença de carga H (carga na saída da bomba menos a carga na entrada da bomba). Como a
vazão Q de uma bomba centrífuga é função da velocidade de rotação N, do torque T e da carga de
bombeamento H, essas quatro variáveis devem ser especificadas para uma correta representação
matemática. Usualmente os fabricantes fornecem a relação entre tais variáveis na forma de curvas,
chamadas de curvas características das bombas.
Segundo CHAUDHRY (1987), quando se deseja estudar os fenômenos transitórios, pouca ou
nenhuma informação está disponível sobre o comportamento dinâmico das bombas. Assim, dados
obtidos de testes em regime permanente (situação normal de bombeamento) são utilizados para a
análise do transiente, mesmo que sua validade não esteja demonstrada. Tentando solucionar esse
problema, BROWN & ROGERS (1980) desenvolveram curvas características completas para
diversos valores de rotação específica Ns = 20,5; 22,1; 24,6; 37,5; 85,2; 147 e 261, as quais foram
usadas no modelo matemático desenvolvido. A rotação específica de uma bomba é definida em
função das condições de máximo rendimento.
Nos casos em que as curvas características completas das bombas não estão disponíveis,
CHAUDHRY (1987) recomenda o uso da característica de uma bomba que tenha rotação específica
próxima àquela em estudo, para uma análise aproximada. Tal procedimento tem sido aplicado com
sucesso e encontra apoio teórico na semelhança dinâmica existente entre duas máquinas hidráulicas
(MARTIN, 1982).
Utilizando-se a metodologia descrita por CHAUDHRY (1987) podemos obter duas equações
algébricas não-lineares com duas incógnitas que relacionam a carga com a vazão. STREETER
(1978) e CHAUDHRY (1987) sugerem o método de NEWTON-RAPHSON como o mais adequado
para a solução do sistema de equações. Segundo AL-KHAFAJI (1986) esse método é
particularmente conveniente quando se conhece aproximadamente o valor da raiz. Assim,
inicialmente estima-se uma solução e, por meios de interações sucessivas, essa solução é refinada
até que se atinja uma aproximação desejada.
Para se evitar um número excessivo de interações, em caso de divergência da solução, um
contador deve ser usado para interromper o procedimento computacional de acordo com um valor
pré-estabelecido. No caso em estudo, permitiu-se que o modelo computacional executasse 30
interações.
Os transientes hidráulicos nas linhas de recalque foram avaliados para o caso de parada do
bombeamento nas estações elevatórias, com o objetivo de analisar o comportamento do conjunto
moto-bomba, válvula de retenção e efeito de volantes. Considerou-se inicialmente que os sistemas
estariam funcionando sem qualquer equipamento de proteção contra o golpe de aríete. Essa
condição constitui-se na mais crítica de funcionamento do sistema, quando são provocadas as
maiores sobrepressões e subpressões nas linhas de recalque.
Após essa análise, procedeu-se à avaliação dos transientes considerando a presença de um
reservatório hidropneumático, localizado na seção da bomba, perfazendo assim um único contorno
para a seção. Em seguida, a mesma metodologia foi adotada considerando-se a presença de uma
válvula de alívio no lugar do reservatório hidropneumático, comparando-se os resultados.
Os dados gerais empregados na análise dos transientes hidráulicos das linhas de recalque do
sistema de Paraguaçú foram fornecidos de projeto.
Os valores da celeridade de propagação da onda foram calculados com base na metodologia
descrita por CHAUDHRY (1987) para cada tipo e classe de tubo. Assim, diferentes condutos de um
mesmo sistema apresentaram diferentes valores para a celeridade de onda.
Utilizou-se, para todos os cinco casos estudados, um intervalo de tempo computacional de ∆t
= 0,05 segundos, observando-se as recomendações descritas anteriormente.
Os momentos de inércia dos conjuntos moto-bomba foram obtidos com base em informações
de catálogo de fabricantes (WORTHINGTON e KSB).
Utilizou-se a simulação realizada no trecho entre a estação elevatória EE-4 e EE-5 (Caso 3)
para visualizar a oscilação da Carga Piezométrica no interior da tubulação e verificar seu
comportamento com o tempo (Figura 2). A seção escolhida do trecho foi a da extremidade de
montante, seção onde localiza-se o conjunto moto-bomba.
750
730
710
420
370
Cota Piezométrica (m)
320
270
220
170
120
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
650
550
500
450
0 5000 10000 15000 20000 25000
750
700
Cota Piezométrica (m)
650
600
550
500
450
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000
Comprimento da Adutora (m)
850
750
700
650
600
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
1000
950
Cota Piezométrica (m)
900
850
800
750
0 500 1000 1500 2000 2500
Comprimento da Adutora (m)
Em seguida utilizou-se o trecho entre a estação elevatória EE-5 e a estação elevatória EE-6
para analisar o comportamento das sobrepressões e subpressões, devido ao desligamento da bomba,
para o caso da presença de um reservatório hidropneumático ou de uma válvula de alívio na seção
da bomba.
O dimensionamento e a escolha dos parâmetros característicos dos acessórios foi feita com
base em algumas simulações, onde variou-se os valores inicialmente adotados até se atingir os
resultados esperados.
Em seguida são apresentados os dados dos acessórios utilizados na análise do modelo
computacional:
Reservatório Hidropneumático:
- Área do Reservatório Hidropneumático = 0,8 m2
- Altura do Reservatório Hidropneumático = 1,5 m
- Porcentagem de Ar no Reservatório Hidropneumático = 40%
Válvula de Alívio:
- Coeficiente de Dascarga = 0,6
- Área do Orifício = 1,8 cm2
- Sobrepressão de Regulagem da Válvula = 160 mca
A Figura 8 mostra as envoltórias de pressão máximas e mínimas sem a presença de
dispositivos de alívio do golpe de aríete e com a presença do reservatório hidropneumático e da
válvula de alívio.
850
800
750
700
650
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Comprimento da Adutora (m)
Terreno Natural Envoltória Máxima - Res. Hidrop. Envoltória Mínima - Res. Hidrop.
Envoltória Máxima - Val. de Alívio Envoltória Mínima - Val. de Alívio Envoltória Máxima - Sem proteção
Envoltória Mínima - Sem proteção Linha Piezométrica Inicial
810
790
770
750
730
710
690
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (s)
810
790
770
750
730
710
690
0 10 20 30 40 50 60
Tempo (s)
2,5
Tempo de Anulação da
1,95
2 1,76
1,45
Vazão (s)
1,5
1,20
1
0,63
0,5 0,32
0,06
0
0,010 0,050 0,100 0,300 0,400 0,500 0,583
Momento de Inérica (Kg.m2)
902
900 893 891
880
864
857
(m)
860 851
844
840
820
800
0,010 0,050 0,100 0,300 0,400 0,500 0,583
740
Cota Piezométrica Mínima
720 713
706
699
700 692
675
680 666
(m)
659
660
640
620
600
0,010 0,050 0,100 0,300 0,400 0,500 0,583
2
Momento de Inércia (Kg.m )
2. A análise do golpe de aríete requer o correto conhecimento das condições de contorno dos
equipamentos do sistema, sob pena de não se obterem resultados condizentes com a realidade.
7. Deve-se ter o cuidado de usar nas simulações o diâmetro interno da tubulação, pois o
transitório hidráulico é sensível a quaisquer variações na seção dos condutos.
8. A análise do golpe de aríete não dever ser feita de forma simplista e usual, tal como se
adota ainda na maioria dos estudos envolvendo a comunidade técnica de consultoria, pois essa
metodologia conduz a resultados bastante imprecisos e contrários à segurança da instalação.