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Departamento de Engenharia Mecânica e Industrial

ANÁLISE DE REGIMES TRANSITÓRIOS


NUMA ESTAÇÃO DE ELEVAÇÃO

Por:
Mário João Ramos Cardoso

Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências e


Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para a obtenção
do grau de Mestre em Engenharia Mecânica.

Orientador científico:
Professor Doutor Luis Miguel Chagas da Costa Gil

LISBOA
2003
Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

As minhas primeiras palavras de profunda gratidão e de admiração vão

indubitavelmente para o orientador deste trabalho, o Prof. Doutor Luis Miguel Chagas da

Costa Gil pela excelente orientação, disponibilidade, ajuda, apoio e encorajamento que

proporcionou ao longo da elaboração desta tese, para ele, o meu sincero muito obrigado.

Apresento a minha profunda gratidão à minha esposa Margarida, pelo encorajamento

constante e pela compreensão da frequente privação da minha companhia em muitos

momentos importantes.

Para os meus pais João e Maria Cardoso, sobrinha Sandra Labarde, irmã Célia Labarde

e cunhado Christian Labarde pela compreensão da minha ausência e pelo constante apoio, o

meu muito obrigado.

Agradeço aos meus sogros Carlos e Maria Silva pelo apoio, incentivo e interesse

manifestado.

Quero também expressar a minha gratidão ao Prof. Doutor A.R. Janeiro Borges, ao

Prof. Doutor J.J. Pamies Teixeira e ao Prof. Doutor J.J. Lopes de Carvalho, pela ajuda e pelas

opiniões e sugestões por eles apresentadas no decurso do trabalho.

Apresento a minha gratidão à empresa E.D.I.A. pela autorização dada para a aquisição

de valores experimentais, onde destaco o Engº José Vicente Reis e o Engº Lourenço da

Cunha.

1
Agradecimentos

Agradeço a colaboração prestada pelo Engº Guillaume Gaudiet com o software

LabView 6 e na medição experimental. Assim como aos Engos Bruno Jorge, Sérgio Martins,

João Custódio e Claudio Matos pelas corridas efectuadas no programa e interpretação de

dados no âmbito do estudo do posicionamento do RAC.

Quero também agradecer à empresa ALSTOM, onde actualmente trabalho, da qual

destaco o Engº Jell Andrade, Engº André Madeira e o Engº Pedro Francisco pelo interesse e

apoio manifestado.

Aproveito para agradecer ao Engº Manuel Petitcolas e à empresa GLOBAL ÁGUA

pela cedência de material.

Finalmente quero agradecer ao Engº Fernando Ferreira, Engº José Pestana e

Engº Sousa Conduto, pelas facilidades concedidas no início da elaboração do presente

trabalho.

Às pessoas, assim como, às empresas e instituições mencionadas, quero manifestar o

meu sincero agradecimento, uma vez que constituíram um incentivo determinante na

elaboração deste trabalho, sem eles esta tese não teria sido possível. A todos pertence esta

tese.

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Sumário

SUMÁRIO

Neste trabalho, desenvolve-se pormenorizadamente um código numérico, baseado no

método das características, capaz de simular os regimes transitórios típicos de um sistema de

adução.

Merece especial relevo a dedução das condições de fronteira utilizadas para

caracterizar reservatórios hidropneumáticos e bombas hidráulicas. Na modelação das bombas

são utilizados parâmetros de Suter, calculados no âmbito desta tese.

As equações não lineares, correspondentes às condições de fronteira, introduzidas

pelos reservatórios hidropneumáticos e pelas bombas, são resolvidas, respectivamente, através

do método de Ridders e de Newton-Raphson.

Efectuam-se simulações numéricas, sendo estudadas situações típicas do ante projecto

de instalações de adução.

Caracterizam-se, do ponto de vista dinâmico, sistemas equipados com reservatórios

hidropneumáticos, recorrendo a espectros de densidade de energia, obtidos pela técnica da

transformada de Fourier discreta.

A utilização da central de elevação contida no ”Sistema de Adução Alqueva-Álamos”,

permitiu realizar ensaios experimentais que conduziram à publicação de resultados originais.

A descrição pormenorizada desta instalação experimental, permite que outros autores utilizem

estes dados na validação dos seus próprios códigos numéricos.

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Abstract

ABSTRACT

In the present work a numerical code, based on the characteristics method, is

developed in detail to simulate typical transient regimes in an adduction system.

The specification of the boundary conditions introduced by surge vessels, and

hydraulic pumps, deserves special relevance. Suter parameters are used for modelling the

pumps and these were calculated within the scope of this thesis.

Non linear equations, corresponding to the boundary conditions, introduced by surge

vessels and pumps, are solved, using Ridders’ and Newton-Raphson’s methods, respectively.

The numerical simulations are performed in typical preliminary project situations of

adduction installations.

From the dynamic point of view, systems equipped with surge vessels are

characterised, using spectral energy density, obtained by a discrete Fourier transform

technique.

Access to the water pumping plant contained in the “Sistema de Adução Alqueva-

Álamos”, enabled experimental tests to be carried out and consequently the publication of the

original results. The detailed description of the experimental installation, will allow other

authors to use these results in the validation process of their own numerical codes.

4
Sommaire

SOMMAIRE

Dans le présent travail, un code numérique été développé de façon détaillé, basé sur la

méthode des caractéristiques, qui permet de simuler les régimes transitoires typiques dans un

système d’adduction.

Un relief spécial fut donné à la déduction des conditions de frontière, introduites pour

caractériser des réservoirs hydropneumatiques ou pour des pompes hydrauliques, a mérité une

attention particulière. Pour la modélisation des pompes les paramètres de Suter ont été

calculés et utilisés, dans cette thèse.

Les équations non linéaires, correspondantes aux conditions de frontière introduites

par les réservoirs hydropneumatiques et par les pompes, sont résolues, respectivement, par les

méthodes de Ridders et de Newton-Raphson.

Des simulations numériques ont été effectuées, dans lesquelles sont étudiées des

situations typiques de l’avant projet des installations d’adduction.

Du point de vue dynamique, les systèmes équipés avec des réservoirs

hydropneumatiques sont caractérisés en utilisant des spectres de densité d’énergie, obtenus

par la technique de transformée de Fourier discrète.

L’utilisation de la centrale d’élévation du “Sistema de Adução Alqueva-Álamos”, a

permis de réaliser des essais expérimentaux originaux, ainsi que leur publication. La

description détaillée de cette installation expérimentale, rend possible l’exploitation de ces

données pour d’autres auteurs pour la validation de leurs codes numériques.

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Simbologia e notações

SIMBOLOGIA E NOTAÇÕES

A – Área da secção transversal da conduta

a – Velocidade de propagação de onda (celeridade)

B – Impedância característica da tubagem

Ci – Coeficiente de correcção da celeridade

Cr – Número de Courant

D – Diâmetro interno da conduta

E – Módulo de elasticidade da conduta

Ef – Módulo volumétrico do fluido

Ef,liq – Módulo volumétrico do fluído relativo à fase liquida

ER – Módulo de rigidez do túnel

e – Espessura da parede da conduta

f – Factor de atrito

g – Aceleração gravítica

H – Cota piezométrica

Habs – Pressão absoluta

Hatm – Pressão atmosférica

Hel. – Altura de elevação fornecida pela bomba

HRes – Cota piezométrica da superfície livre do reservatório

Hi,j – Cota piezométrica na conduta (i), na secção (j)

I – Momento de inércia total do grupo motor bomba relativamente ao eixo de rotação

i – Passo de tempo

Ib – Inércia da bomba

6
Simbologia e notações

Im – Inércia do motor

kl – Coeficiente de perda de carga localizada

kv – Coeficiente de perda de carga localizada numa válvula

L – Comprimento de uma conduta de eixo rectilineo

M – Binário

N – Numero de nós

Ns – Velocidade específica

n – Expoente da equação politrópica

p – Pressão

P – Potência

Q – Caudal volúmico

Q m& – Caudal mássico

R – Coeficiente de resistência da tubagem

Ta – Tempo da anulação da velocidade, segundo Michaud

t – Tempo

V – Velocidade do fluido

V – Volume
r
W j – Velocidade do volume de controlo, segundo a direcção axial

x – Variável associada à posição na conduta.

Zref – Cota geométrica.

β – Tolerância

∆A – Variação da área da secção transversal da conduta

∆H – Variação na cota piezométrica (perda de carga)

∆p – Sobrepressão

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Simbologia e notações

∆t – Passo da discretização temporal

∆x – Passo da discretização espacial

∆V – Variação da velocidade do fluido (fecho parcial)

∆ρ – Variação na massa específica do fluido

η – Rendimento da bomba

ν – Coeficiente de Poisson

θ – Ângulo entre o eixo da conduta e o eixo horizontal

ρ – Massa específica do fluido

τ – Parâmetro adimensional de estado da válvula

τDa – Tensão de corte, segundo Darcy-Weisbach

ω – Velocidade de rotação

Indices

0 – Referente ao regime permanente

i – Passo de tempo de cálculo

i-1 – Passo de tempo anterior (já calculado)

R – Condição de rendimento máximo

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Índice de matérias

ÍNDICE DE MATÉRIAS

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO...............................................................................................15

1.1 MOTIVAÇÃO .................................................................................................................15

1.2 OBJECTIVOS E ESTRUTURA ...........................................................................................16

1.3 DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................17

1.4 SÍNTESE BIBLIOGRÁFICA DO ESTUDO DO GOLPE DE ARÍETE ..........................................19

CAPÍTULO 2: MODELAÇÃO MATEMÁTICA DE REGIMES TRANSITÓRIOS EM

CONDUTAS ............................................................................................................................24

2.1 CELERIDADE DAS ONDAS ELÁSTICAS ............................................................................24

2.2 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DO ESCOAMENTO NO INTERIOR DE CONDUTAS ..................31

CAPÍTULO 3: MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS..........................................................35

3.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................35

3.2 TRANSFORMAÇÃO DAS EQUAÇÕES ATRAVÉS DO MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS .......35

3.3 INTEGRAÇÃO E DISCRETIZAÇÃO DAS EQUAÇÕES ..........................................................37

3.4 DISCRETIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE FRONTEIRA .........................................................41

3.4.1 RESERVATÓRIOS ....................................................................................................42

3.4.2 VÁLVULAS ............................................................................................................42

3.4.3 RESERVATÓRIOS HIDROPNEUMÁTICOS ..................................................................47

3.4.4 BOMBAS HIDRÁULICAS ..........................................................................................53

CAPÍTULO 4: O PROGRAMA “ ARIETE” ...........................................................................62

4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................62

4.2 ENTRADA DE DADOS ....................................................................................................63

4.3 DETERMINAÇÃO DAS GRANDEZAS EM REGIME PERMANENTE .......................................65

9
Índice de matérias

4.4 SUBROTINA “BOMBTRAN”.............................................................................................66

4.5 SUBROTINA “RIDDERS” ................................................................................................67

CAPÍTULO 5: APLICAÇÕES DO CÓDIGO “ ARIETE ” .....................................................68

5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................68

5.2 CONDUTA SIMPLES.......................................................................................................69

5.3 CONDUTA COM RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO ....................................................75

5.3.1 RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO POSICIONADO NA SECÇÃO DE MONTANTE .....76

5.3.2 ESTUDO DO POSICIONAMENTO DO RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO .................84

5.3.3 ESTUDO DA RESPOSTA DE UM RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO........................90

5.4 O SISTEMA DE ADUÇÃO ALQUEVA ÁLAMOS ................................................................95

5.4.1 CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE ADUÇÃO ALQUEVA ÁLAMOS .........................95

5.4.2 AQUISIÇÃO DE DADOS ...........................................................................................98

5.5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA E COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS........................................100

CAPÍTULO 6: CONCLUSÕES .............................................................................................104

6.1 CONCLUSÕES..............................................................................................................104

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................106

ANEXO I: AQUISIÇÃO DE DADOS EXPERIMENTAIS..................................................110

ANEXO II: NOTA SOBRE NOMENCLATURA TÍPICA DE HIDRÁULICA...................115

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Índice de figuras

ÍNDICE DE FIGURAS

L
Figura 2.1 –Propagação da onda de pressão numa conduta nos instantes a) t = 0 ; b) 0 < t <
a

L 2L 2L 3L 3L 4L
; c) <t < ; d) <t < ; e) <t < . .........................................25
a a a a a a

Figura 2.2 – Volume de controlo adoptado para os balanços infinitesimais de massa e de

quantidade de movimento. ..................................................................................31

Figura 3.1 – Malha de cálculo representada no plano das variáveis independentes. ...............38

Figura 3.2 –Válvula colocada entre dois troços da conduta. ....................................................46

Figura 3.3 –Ligação de um reservatório hidropneumático à conduta principal. ......................48

Figura 3.4 – Ramificação da conduta principal e reservatório hidropneumático. Notações

relevantes.............................................................................................................51

Figura 3.5 – Parâmetros de Suter (1966), WH(x) e WB(x), para Ns = 25 , 147 , 261. ................56

Figura 4.1 – Estrutura do programa “ARIETE”........................................................................63

Figura 5.1 – Instalação A (Cotas geométricas correspondentes às condições de fronteira do

programa “ARIETE”). .........................................................................................69

Figura 5.2 – Cota piezométrica ao longo da conduta elevatória (regime permanente). ...........70

Figura 5.3 – Evolução da cota piezométrica na secção de jusante da válvula (resultados

numéricos e analíticos)........................................................................................71

Figura 5.4 – Efeito secundário de inércia. ................................................................................72

Figura 5.5 - Evolução da cota piezométrica a 462 metros da secção de montante

L
(x= =462m ; L=924 m).....................................................................................74
2

Figura 5.6 - Evolução da cota piezométrica e do caudal na secção de jusante (x=L=924 m). .74

11
Índice de figuras

Figura 5.7 – Instalação B – Conduta com reservatório hidropneumático. ...............................75

Figura 5.8 – Cota piezométrica na secção de montante da tubagem; comparação com

Darzé (1988)........................................................................................................77

Figura 5.9 – Caudal no reservatório hidropneumático; comparação com Darzé (1988)..........77

Figura 5.10 – Volume de ar no interior do reservatório hidropneumático, comparação com

Darzé (1988)........................................................................................................78

Figura 5.11 – Evolução da cota piezométrica e do volume de ar no interior do reservatório

hidropneumático..................................................................................................79

Figura 5.12 – Evolução do caudal e da cota piezométrica no interior do reservatório

hidropneumático..................................................................................................80

Figura 5.13 – Comportamento do caudal e do volume de ar no interior do reservatório

hidropneumático durante o regime transitório. ...................................................81

Figura 5.14 – Influência do tipo de perda de carga na cota piezométrica. ...............................82

Figura 5.15 – Influência do tipo de perda de carga no volume de ar contido no reservatório

hidropneumático..................................................................................................83

Figura 5.16 – Diagrama simplificado da central de elevação dos Álamos...............................85

Figura 5.17 – Envolventes das pressões – fecho instantâneo. ..................................................87

Figura 5.18 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 5s..............................................87

Figura 5.19 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 10s............................................88

Figura 5.20 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 15s............................................88

Figura 5.21 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 20s............................................89

Figura 5.22 – Evolução da pressão no interior da conduta durante o regime transitório

(6 grupos) sem perda de carga na conduta de ligação.........................................91

Figura 5.23 – Evolução da cota piezométrica para um reservatório hidropneumático colocado

a ¼ do comprimento total da conduta. ................................................................93

12
Índice de figuras

Figura 5.24 – Variação espectral correspondente à variação da cota piezométrica em função

do volume do reservatório hidropneumático.......................................................94

Figura 5.25 – Traçado do sistema de adução Álqueva Álamos, perfil longitudinal e planta. ..96

Figura 5.26 – Parâmetros de Suter, WH(x) e WB(x), para Ns = 47.............................................97

Figura 5.27 – Conduta elevatória e plataforma dos reservatórios hidropneumáticos. .............97

Figura 5.28 – Implantação do captor de pressão a jusante da válvula de seccionamento. .......99

Figura 5.29 – Medidor electromagnético de nível instalado num dos reservatórios

hidropneumáticos. ...............................................................................................99

Figura 5.30 – Evolução da cota piezométrica imediatamente a jusante da válvula de borboleta

(resultados experimentais e numéricos). ...........................................................101

Figura 5.31 – Evolução do volume de ar no interior dos reservatórios hidropneumáticos. ...102

Figura 5.32 – Variação da cota piezométrica durante a operação de paragem ......................103

Figura A1 – Painel do programa AQUISI...............................................................................112

Figura A2 – Extracto do diagrama de programação do programa “AQUISI”. .......................113

Figura A3 – Aquisição da pressão. a) Breadboard com resistências de precisão ligado na

régua de bornes do quadro do grupo electrobomba 1 ; b) Extracção do sinal para

a placa de aquisição ; c) Vista geral do sistema de aquisição. ..........................114

13
Índice de quadros

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1 – Factor de correcção da celeridade da onda em função do tipo de conduta e do

seu apoio ...........................................................................................................29

Quadro 3.1 – Expoentes politrópicos para processos de um gás perfeito ................................49

Quadro 3.2 – Correlações para o cálculo de PD2 .....................................................................59

Quadro 5.1 – Características relevantes para o estudo da instalação .......................................76

Quadro 5.2 – Comprimento dos troços e respectiva velocidade de propagação ......................85

Quadro 5.3 – Características físicas relevantes da instalação ..................................................92

Quadro 5.4 – Características relevantes da instalação de Álamos ...........................................98

14
Capítulo 1 – Introdução

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO

O facto do autor desempenhar profissionalmente o cargo de gestor de projecto na

construção de instalações hidráulicas para elevação de água para consumo humano ou

irrigação, criou a necessidade de conhecer pormenorizadamente a forma de caracterizar o

escoamento durante os seus regimes transitórios.

O conhecimento do regime transitório é fulcral na selecção de materiais, assim como

na análise de soluções construtivas alternativas que surgem durante a fase de projecto.

Actualmente é fundamental optimizar soluções e equipamentos, visando a redução de custos

de produção, sem colocar em risco a fiabilidade da instalação.

Com a sua inscrição neste curso de mestrado, o autor pretendeu evoluir na sua forma

de abordar os problemas que lhe surgem durante a vida profissional. Este tema foi escolhido

como estratégia de formação, dada a necessidade sentida em preencher algumas lacunas.

Como gestor de projecto, o autor toma muitas vezes decisões baseadas em resultados

de simulações numéricas do funcionamento de instalações, efectuadas com o método das

características. O conhecimento profundo deste método foi assim uma motivação adicional.

Evidentemente, que o desenvolvimento de um código numérico, obriga à utilização de uma

linguagem de programação. Este facto constituiu, desde logo, um desafio adicional, pois

obrigava-o, pela primeira vez, a programar de forma estruturada e a recorrer a técnicas

numéricas que lhe eram desconhecidas.

15
Capítulo 1 – Introdução

A possibilidade de obter dados experimentais numa instalação de grandes dimensões,

foi uma motivação suplementar. A área da aquisição e tratamento de sinais, à data de início

deste trabalho, era uma lacuna na formação do autor.

Concluído este trabalho, não restam dúvidas quanto à importância das mais valias

adquiridas.

1.2 OBJECTIVOS E ESTRUTURA

O presente trabalho tem como principal objectivo o desenvolvimento e validação de

um código numérico capaz de simular os regimes transitórios numa instalação hidráulica.

A autorização, por parte da empresa E.D.I.A. (Empresa de Desenvolvimento e

Infra-estruturas do Alqueva, S.A.), para a recolha de dados na central de bombagem,

integrada na obra: ”Sistema de Adução Alqueva-Álamos”, permitiu realizar ensaios na

referida instalação e assim dotar este trabalho de uma importante e rara componente

experimental, pois esta estação é a que eleva o maior caudal nominal na Península Ibérica.

A estrutura desta dissertação é reflexo das componentes teóricas, numéricas e

experimentais abordadas.

No capítulo 1, refere-se a importância do tema abordado e efectua-se uma pequena

síntese do enquadramento histórico do estudo dos regimes transitórios em tubagens,

consequência de uma pesquisa bibliográfica inicial.

No capítulo 2 introduz-se a metodologia de cálculo da celeridade das ondas elásticas.

São também apresentadas as equações diferencias hiperbólicas que descrevem o escoamento

em regime transitório.

16
Capítulo 1 – Introdução

O capítulo 3 é destinado à resolução numérica do sistema de equações diferenciais,

apresentadas no capítulo 2, utilizando o método das características. São ainda deduzidas as

equações numéricas referentes às condições de fronteira utilizadas neste trabalho.

O capítulo 4 é consagrado à descrição do código numérico desenvolvido a que se deu

o nome de “ARIETE”.

No capítulo 5 valida-se o código de cálculo, comparando inicialmente os seus

resultados com soluções analíticas e resultados publicados por outros autores. Seguidamente,

as simulações numéricas são confrontadas com resultados experimentais originais obtidos na

instalação elevatória integrada na obra: ”Sistema de Adução Alqueva-Álamos”.

Finalmente, no capítulo 6, resumem-se os resultados obtidos mais importantes e

tiram-se conclusões que decorrem de uma análise global do trabalho realizado. Este capítulo

encerra com uma perspectiva de desenvolvimentos futuros, salientando os aspectos que

carecem de uma análise mais profunda.

1.3 DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Qualquer alteração às condições de funcionamento de um sistema hidráulico provoca a

ocorrência de regimes transitórios durante um determinado intervalo de tempo. Estes regimes

correspondem à passagem do escoamento permanente inicial ao regime permanente final. No

caso das variações de pressão associadas a estes regimes transitórios serem significativas

relativamente aos valores típicos do regime permanente e mobilizarem forças de natureza

elástica, quer da conduta quer do fluido, é usual designar este fenómeno por golpe de aríete ou

choque hidráulico. O golpe de aríete consiste então na formação e propagação de ondas de

pressão no fluido ocasionadas por grandes perturbações no escoamento. As causas mais

17
Capítulo 1 – Introdução

vulgares deste fenómeno devem-se a: manobra de válvulas, ao arranque ou paragem de

bombas e à obstrução súbita de condutas.

As consequências do golpe de aríete são muitas vezes relevantes, pois as ondas de

pressão podem atingir amplitudes muito elevadas, dando lugar a esforços importantes nos

componentes do sistema que podem implicar a sua avaria, ou mesmo a sua destruição parcial

ou total. Desde que existam condições para a reflexão das ondas de pressão e a dissipação não

seja forte, o fenómeno adquire características cíclicas.

No projecto de uma instalação têm de se ter em conta os efeitos deste regime

transitório. Só assim será possível seleccionar materiais, dimensionar acessórios ou ainda

escolher equipamentos de protecção. A análise deste tipo de regimes transitórios é importante

no projecto e dimensionamento de um grande número sistemas hidráulicos, nomeadamente:

− Sistemas adutores: sistemas elevatórios e gravíticos de abastecimento de água.

− Sistemas colectores: sistemas elevatórios e gravíticos de águas residuais.

− Sistemas hidroeléctricos: sistemas onde é efectuada a turbinagem e ou a

bombagem.

− Circuitos de circulação de água nas centrais termoeléctricas e nucleares para

arrefecimento.

− Sistemas de oleoductos e gasoductos.

− Sistemas adutores de fluidos diversos.

Nos dois últimos tipos de sistemas, o fluido sofre eventualmente reacções internas

rápidas que podem ser potencialmente perigosas. As baixas pressões provocam, em muitas

situações, a ocorrência de ruptura da veia líquida (cavitação) com todas as suas

consequências.

Os métodos de análise dos regimes transitórios, em condutas e equipamentos

hidráulicos, têm conhecido um crescente desenvolvimento e aperfeiçoamento, uma vez que

18
Capítulo 1 – Introdução

cada vez é mais importante evitar sobredimensionamentos, tendo em vista a redução dos

custos sem diminuir a segurança e a fiabilidade.

Desde 1960, a conjugação destes factores conduziu a um grande número de

publicações, resultado das investigações desenvolvidas desde então. No que diz respeito a

Portugal, é importante citar os trabalhos experimentais e analíticos de Almeida (1981, 1982,

1999) que constituem, sem dúvida, um contributo relevante na análise e compreensão do

fenómeno do golpe de aríete. Com base nestes trabalhos, foram elaborados no Laboratório

Nacional de Engenharia Civil (L.N.E.C.) diversos manuais imprescindíveis no projecto de

instalações hidráulicas.

1.4 SÍNTESE BIBLIOGRÁFICA DO ESTUDO DO GOLPE DE ARÍETE

O estudo do golpe de aríete iniciou-se na segunda metade do século XIX. Um dos

primeiros autores a utilizar a designação de “golpe de aríete” para identificar o regime

transitório em condutas, foi Manabrea, em 1858. Segundo Chaudhry (1987) e

Anderson (1976), ele terá sido o primeiro a efectuar uma análise energética do golpe de aríete,

a qual permitiu deduzir a expressão 1.1 para o cálculo da sobrepressão ∆p, que é originada

pela anulação instantânea da velocidade do escoamento inicialmente em regime

permanente, V0:

∆p = ρ a V0 (1.1)

sendo:

∆p – Sobrepressão.

ρ – Massa específica do fluido.

a – Velocidade de propagação da onda elástica.

V0 – Velocidade do fluido em regime permanente.


19
Capítulo 1 – Introdução

Manabrea designava a constante, “a”, como um parâmetro de cálculo, não a

identificando como sendo a velocidade de propagação da onda de pressão.

De acordo com Almeida (1981), as publicações de Michaud de 1878, são ainda

utilizadas no cálculo e dimensionamento do golpe de aríete. Estes trabalhos fizeram a

transição entre a análise científica do fenómeno, englobada na Física, para o ponto de vista da

engenharia; isto é ciência hidráulica. Este autor analisou também o golpe de aríete provocado

pela manobra de um obturador, colocado na secção de jusante de uma conduta alimentada por

um reservatório de nível constante. Os conceitos de fecho rápido e fecho lento foram então

introduzidos neste contexto. Para manobras instantâneas e como dispositivos de protecção,

Michaud previu a existência de um reservatório de ar comprimido, ou de uma válvula de

descarga automática, tendo deduzido expressões de cálculo que todavia não tomavam em

consideração os efeitos elásticos nem da conduta, nem do fluido. Para as manobras lentas

deduziu a expressão 1.2, que relaciona a sobrepressão máxima, ∆p, numa conduta de

comprimento L, com a velocidade em regime permanente inicial V0, e o tempo de fecho Ta.

2 LρV0
∆p = (1.2)
Ta

Ainda segundo Almeida (1981), Frizell publicou no final do século XIX um estudo do

golpe de aríete em condutas forçadas, induzido pela regulação da velocidade de rotação em

turbinas. Este autor apresentou a expressão 1.3 que permite calcular a depressão,

correspondente a uma variação ∆V da velocidade do escoamento.

∆p = - ρ a ∆V (1.3)

Na dedução da última equação, o autor utilizou o princípio da conservação da

quantidade de movimento e incluiu explicitamente a velocidade de propagação das ondas

elásticas. Foi também este autor que iniciou o estudo do golpe de aríete em condutas

ramificadas.

20
Capítulo 1 – Introdução

A expressão 1.3 foi mais tarde também deduzida por Joukowsky, sendo actualmente

referenciada por “fórmula de Joukowsky”. As publicações deste autor foram fruto de ensaios

sistemáticos em sistemas de condutas para o abastecimento de água. Este trabalho

experimental permitiu-lhe efectuar uma descrição completa dos ciclos de oscilação após a

anulação instantânea da velocidade do escoamento, assim como a determinação do período de

oscilação.

As primeiras descrições diferenciais do fenómeno do golpe de aríete foram

estabelecidas por Allievi em 1902. Segundo este autor, caudal mássico, Qm& , e a cota

piezométrica, H, numa conduta com área, A, estão relacionados pelas equações:

∂H 1 ∂Qm&
+ =0 (1.4)
∂x gA ∂t

∂H a 2 ∂Qm&
+ =0 (1.5)
∂t gA ∂x

Este sistema de equações, sob determinadas hipóteses, pode reduzir-se à equação das

cordas vibrantes, cuja solução formal (solução d’Alembert) era já conhecida na época.

Apoiando-se nestes resultados analíticos, Allievi calculou a evolução das pressões junto ao

obturador e ao longo de uma conduta considerando diversas leis de fecho. Contudo, esta

teoria carecia ainda de desenvolvimentos, pois apoiava-se em hipóteses simplificativas

grosseiras:

− Não considerava as perdas de carga, nem os efeitos do peso (apenas era válida para

condutas horizontais).

− Desprezava as acelerações convectivas.

− Considerava condições de fronteira muito simples.

A teoria de Allievi foi desenvolvida por diversos autores e aplicada a situações cada

vez mais complexas. Numa primeira fase, foram obtidas soluções particulares efectuando-se

hipóteses simplificativas que permitiam resolver analiticamente as equações 1.4 e 1.5.

21
Capítulo 1 – Introdução

Se as variações de caudal e de pressão forem relativamente lentas, a variação da massa

contida na conduta é desprezável. Os efeitos dissipativos são tomados em conta por inclusão

de um termo referente à perda de carga semelhante ao do regime permanente. Desta forma,

obtém-se uma equação diferencial de solução conhecida, que permite determinar a variação

da cota piezométrica entre duas secções referenciadas por a e b:

fLV V L dV
Hb − Ha + + =0 (1.6)
2 gD g dt

Os métodos baseados nas hipóteses simplificativas acima citadas são designados na

literatura por “modelos rígidos e de oscilação de massa”.

Vários autores apresentaram métodos gráficos de resolução das equações 1.4 e 1.5.

Segundo Wylie e Streeter (1993), o mais popular foi o de Schnyder–Bergeron. Este método

admite que as perdas de carga estão concentradas em determinadas secções da conduta, onde

é admitida a presença fictícia de diafragmas, cuja finalidade é produzir uma perda de carga

localizada equivalente à perda de carga distribuída. Em 1950, Bergeron descreveu de forma

muito completa aplicações práticas do método, o que permitiu a elaboração de ábacos e

fórmulas muito úteis na análise expedita dos regimes transitórios em escoamentos sob

pressão. Contudo, após o aparecimento e vulgarização dos computadores, este método passou

apenas a ter interesse didáctico como auxílio à compreensão rápida e quantitativa dos

fenómenos inerentes aos regimes transitórios.

Do ponto de vista conceptual o fenómeno do golpe de aríete foi também tema de

diversos estudos. Os trabalhos de Skalak (1956), permitiram a compreensão do fenómeno da

propagação de ondas de pressão numa conduta elástica de parede fina; tendo sido utilizados

métodos de resolução mais elaborados, nomeadamente transformadas de Laplace, de Fourier,

e funções de Bessel. Aquele autor introduziu os efeitos de inércia radial e longitudinal do

líquido e da conduta e concluiu que existiam duas ondas distintas. Efectivamente, além da

onda de pressão no fluido, também se propaga uma onda elástica na parede da conduta. A

22
Capítulo 1 – Introdução

confirmação experimental da existência desta onda, assim como a estimação da sua

importância relativa, foi obtida por Thorley (1979).

A partir da década de setenta, com o aparecimento dos computadores digitais,

numerosos investigadores optaram por resolver as equações 1.4 e 1.5 através de técnicas

numéricas. O método das características tornou-se o método numérico de simulação mais

popular. Este método é a base deste trabalho sendo descrito no capítulo 3.

A simulação numérica deste fenómeno pode também ser efectuada utilizando métodos

baseados em elementos finitos, Wylie e Steeter (1993).

23
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

CAPÍTULO 2
MODELAÇÃO MATEMÁTICA DE REGIMES

TRANSITÓRIOS EM CONDUTAS

2.1 CELERIDADE DAS ONDAS ELÁSTICAS

O conhecimento da celeridade das ondas elásticas é indispensável para a

caracterização e modelação numérica do golpe de aríete. O seu valor depende principalmente

dos seguintes factores:

- Características do fluido: a massa volúmica e o módulo volumétrico.

- Características da conduta: geometria, material construtivo e tipo de apoio.

Para determinar a velocidade de propagação da onda, considere-se que a válvula

montada na conduta da figura 2.1 é fechada instantaneamente. Antes do fecho, escoava-se em

regime permanente um fluido de massa volúmica ρ, com uma velocidade média V, numa

conduta de secção transversal com área A. O fecho da válvula provoca a paragem do fluido na

sua secção de montante e um consequente aumento de pressão, ∆p. Devido ao fluido ser

compressível, o aumento de pressão ∆p provoca uma alteração ∆ρ na sua massa volúmica.

Por outro lado, como a conduta é elástica, a variação da pressão provocará uma alteração ∆A

na área da sua secção transversal.

Na figura 2.1, representam-se, em três instantes criteriosamente escolhidos, as

grandezas relevantes para o problema.

24
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

a)

V
p,ρ,A

b)

V a V=0
p,ρ,A
p + ∆p, ρ + ∆ρ , A + ∆A

c)

V a V=0
p,ρ,A

p + ∆p, ρ + ∆ρ , A + ∆A
d)

V a V=0
p,ρ,A
p + ∆p, ρ + ∆ρ , A + ∆A

e)

V a V=0
p,ρ,A
p + ∆p, ρ + ∆ρ , A + ∆A

Figura 2.1 – Propagação da onda de pressão numa conduta nos instantes:

L L 2L 2L 3L 3L 4L
a) t = 0 ; b) 0 < t < ; c) < t < ; d) <t < ; e) <t <
a a a a a a a

Note-se que, se o fluido fosse incompressível, após o fecho da válvula a velocidade

seria anulada instantaneamente em todas as secções da conduta. Contudo, devido à sua

compressibilidade, o fluido a montante da válvula é progressivamente imobilizado e a

consequente sobrepressão desloca-se para montante com uma celeridade, a.

Para a determinação da variação de pressão e da velocidade de propagação da onda,

considera-se um volume de controlo móvel, com um comprimento elementar, colocado num

25
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

referencial fixo à frente da onda. Admitindo que o perfil de velocidade é uniforme, a equação

da continuidade escreve-se:

ρ (a + V) A = (ρ + ∆ρ) a (A + ∆A) (2.1)

Desprezando os diferenciais de ordem superior à primeira, obtém-se:

ρ V A = a ρ ∆A + a A ∆ρ (2.2)

Por aplicação de um balanço integral de quantidade de movimento e desprezando-se a

dissipação viscosa, obtém-se:

(ρ + ∆ρ) a2 (A + ∆A) - ρ (a + V)2A =

= p A - (p + ∆p)(A + ∆A)+(p + ∆p) ∆A = - A ∆p (2.3)

Desenvolvendo a equação 2.3:

ρ A a2 + ρ ∆A a2 + A ∆ρ a2+ ∆ρ ∆A a2 - ρ (a2 + 2 a V + V2) A = - A ∆p (2.4)

Introduzindo no primeiro termo a equação 2.2 e desprezando os termos de ordem superior,

obtém-se:

-ρ a V A - ρ A V2 = -ρ V (a + V) A = - A ∆p (2.5)

Nesta equação, pode-se desprezar a velocidade do escoamento face à celeridade da onda

elástica, pois é de ordem de grandeza inferior. A expressão da amplitude da onda de pressão é

dada por:

∆p = ρ V a (2.6)

Generalizando para o caso de uma redução instantânea da velocidade do escoamento

do fluido, isto é, para um valor diferente de zero, Vfi, correspondente a um fecho parcial da

válvula , a sobrepressão é dada por:

∆p = ρ (V - Vfi) a (2.7)

No caso da válvula estar colocada na secção de montante da conduta, a abordagem do

problema é feita de forma análoga, contudo o valor de ∆p é simétrico.

26
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

Para a determinação da celeridade da onda, basta substituir a velocidade calculada a

partir da equação 2.6:

∆p
V= (2.8)
ρa

na equação 2.2, obtendo-se:

∆ρ ∆A
1 ρ
= + A (2.9)
ρa 2
∆p ∆p

O primeiro termo do segundo membro da equação 2.9, é o inverso do módulo volumétrico do

fluido, Ef, que é definido por:

∆p
Ef = (2.10)
 ∆ρ 
 
 ρ 

O módulo volumétrico é uma característica do fluido que traduz a sua rigidez, ou seja, a

variação da sua massa volúmica quando é sujeito a uma variação isentrópica de pressão. O

último termo da equação 2.9 traduz a elasticidade da conduta, relacionando a variação da área

da sua secção transversal com a variação da pressão.

Relativamente à velocidade de propagação da onda, impõem-se considerar duas

situações limite:

a) Conduta rígida – Na prática, as condutas podem ser consideradas rígidas se tiverem uma

espessura elevada, ou forem construídas num material de grande rigidez. A equação 2.9,

transforma-se então na seguinte expressão, que corresponde à velocidade de propagação

do som no meio em condições isentrópicas:

∆p Ef
a= = (2.11)
∆ρ ρ

27
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

b) Conduta com paredes extremamente flexíveis – A equação 2.9, toma a forma:

∆p
a= (2.12)
∆A
ρ
A

No caso geral, a celeridade da onda é obtida resolvendo a equação (2.9):

∆p Ef
ρ ρ
a= = (2.13)
∆A ∆ρ  ∆A 
+ 1 + E f ×  
A ρ  A∆p 

∆A
O termo depende não só do material e dimensões da conduta, mas também do
( A∆p )
tipo de apoios. Se bem que neste trabalho as condutas utilizadas nas simulações sejam de

parede fina, com juntas de dilatação ao longo de toda a sua extensão, apresentam-se

seguidamente os tipos de condutas e os apoios mais comuns:

− Tipo 1: Conduta apoiada apenas na sua extremidade de montante.

− Tipo 2: Conduta apoiada ao longo de toda a sua extensão, restringindo o seu

deslocamento axial.

− Tipo 3: Conduta apoiada e dispondo de juntas de dilatação ao longo de toda a sua

extensão.

No quadro 2.1 resumem-se as expressões obtidas na bibliografia e adoptadas para o

cálculo do factor de correcção da celeridade da onda, em função do tipo de apoio e da

espessura do tubo. Estas expressões foram obtidas em Larock (2000), Wylie e Steeter (1993),

Chaudhry (1987), no entanto, não se encontram deduzidas nestas obras. A sua dedução, para

os casos mais complexos (condutas espessas), pode ser consultada nos livros clássicos da

teoria da elasticidade, nomeadamente Timoshenko (1983).

28
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

Apoio Conduta Ci
 ν
Fina 1 − 
 2
Tipo 1
Espessa
2e
(1 + ν ) + D  1 − ν 
D D+e 2
Fina (1 −ν )2

(1 + ν ) + D(1 − ν )
Tipo 2 2e 2
Espessa
D D+e
Fina 1
Tipo 3
Espessa
2e
(1 +ν ) + D
D D+e

Quadro 2.1 – Factor de correcção da celeridade da onda em função do tipo de conduta e do

seu apoio.

Para a utilização do quadro 2.1 introduziu-se na equação 2.13 o parâmetro Ci:

Ef
ρ
a= (2.14)
 E f  D 
1 +   C i
 e 
 E  

Os símbolos E e ν representam, respectivamente, o módulo de elasticidade e o

coeficiente de Poisson do material da conduta.

Em condutas de rocha firme, ou de betão, a celeridade é estimada utilizando:

[Larock (2000), Wylie e Steeter (1993), Chaudhry (1987)].

Ef
ρ
a= (2.15)
 2E f 
1 +  (1 + ν )

 E R 

Se no interior do túnel de betão, ou de rocha firme, em contacto directo com o material

do túnel for colocada uma conduta metálica, a velocidade de propagação da onda aumenta

29
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

significativamente. De acordo com Wylie e Steeter (1993), a celeridade pode neste caso ser

estimada pela equação 2.14, desde que o parâmetro Ci seja calculado de acordo com:

2 Ee
Ci = (2.16)
E R D + 2 Ee

No âmbito deste estudo não serão necessários outros coeficientes de correcção da

celeridade da onda. No entanto, este tema é abordado de forma mais exaustiva pelos autores:

Larock (2000), Wylie e Steeter (1993), Chaudhry (1987).

A celeridade da onda é alterada significativamente se existirem bolhas de ar arrastadas

pelo líquido. Nesta situação, o meio fluido torna-se mais elástico, pelo que o seu módulo

volumétrico, interveniente nas expressões anteriores, deve ser corrigido. Segundo Larock et

al. (2000), o módulo volumétrico equivalente para a mistura líquido-ar pode ser estimado por:

E f ,liq
Ef = (2.17)
 Vg  E f ,liq 
1 +  
 p − 1

V  

Ef - Módulo volumétrico da mistura líquido e ar.

Ef , liq - Módulo volumétrico referente à fase líquida da mistura.

Vg
- Concentração volumétrica do gás na mistura.
V

Esta correcção no módulo volumétrico para o cálculo da celeridade da onda elástica é

em geral desprezada.

30
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

2.2 EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DO ESCOAMENTO NO INTERIOR DE CONDUTAS

Tendo por objectivo a análise de regimes transitórios no interior de condutas, interessa

adaptar as equações fundamentais: equação da continuidade e da quantidade de movimento1,

ao âmbito deste estudo. Desta forma, admite-se que o escoamento no interior de condutas

rectilíneas com secção transversal uniforme é unidimensional e axissimétrico. Os efeitos

elásticos no fluido e na conduta são supostos moderados. Não obstante ser possível

simplificar as equações de Navier-Stokes de acordo com as hipóteses citadas, a maioria dos

autores prefere, neste caso específico, obter directamente a conservação da quantidade de

movimento e da massa por intermédio de um balanço num volume de controlo definido

criteriosamente. O volume de controlo deve ser deformável e mover-se à velocidade de

propagação da onda. Na figura 2.2 representa-se o volume de controlo e as grandezas

infinitesimais relevantes:

 ∂p dx  ∂A
p+  dx
 ∂x 2  ∂x
∂ρ
ρ+ dx
r ∂x
W2
ρ p.A+ ∂( pA) dx
∂x
r
W1 ∂A
A+ dx
p.A ∂x

θ
A τ0.π.D.dx

dx

ρ.g.A.dx

Figura 2.2 – Volume de controlo adoptado para os balanços infinitesimais de massa e de


quantidade de movimento.

1
Para um escoamento não permanente e tridimensional estas equações são designadas por equações de
Navier-Stokes.

31
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

r
A velocidade relativa, W , é definida a partir de um referencial inercial que se desloca
r
axialmente, à velocidade de propagação da onda, a :
r r r
W =V −a (2.18)

Os trabalhos de Chaudhry (1987), Wylie e Streeter (1993) ou de Almeida (1981)

contêm deduções claras e pormenorizadas das equações diferenciais, correspondentes aos

balanços infinitesimais de massa e de quantidade de movimento. O primeiro destes autores

optou por aplicar directamente o “teorema do transporte de Reynolds” às variáveis extensivas

caudal mássico e quantidade de movimento. Os dois últimos autores, preferiram impor

separadamente as condições conservação de massa e de equilíbrio de forças. Não obstante, as

equações obtidas são evidentemente análogas. As equações correspondentes à conservação de

massa e ao balanço de quantidade de movimento escrevem-se, respectivamente:

∂p ∂p ∂V
+V + ρa 2 =0 (2.19)
∂t ∂x ∂x

 ∂V ∂V  1 ∂p fV | V |
 ∂t + V ∂x  + ρ ∂x + gsenθ + 2 D = 0 (2.20)
 

Na dedução destas equações, foram efectuadas algumas hipóteses simplificativas que

convém explicitar:

a) A conduta tem um comportamento elástico linear (a deformação é proporcional à

tensão tangencial);

b) A tensão de corte junto à parede da conduta, τDa, pode ser relacionada com o factor de

atrito, f, através da lei de Darcy-Weisbach1:

1
τDa= ρfV|V| (2.21)
8

1
A lei de Darcy-Weisbash foi obtida em condições de regime permanente, pelo que esta hipótese equivale a
admitir que a tensão de corte se mantém invariável em regime transitório.

32
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

A forma das equações 2.19 e 2.20 permite associar as variáveis independentes, p e V,

e as variáveis dependentes, x e t, obtendo-se com recurso à notação matricial:

V ρa 2   p   0 
∂  p   ∂   = 
 + 1 fV | V | (2.22)
∂t V   V  ∂x V  − gsenθ −
ρ   2 D 

ou ainda;

∂U ∂U
+B =E (2.23)
∂t ∂x

em que se considerou:

 p
U=  (2.24)
V 

V ρa 2 
B= 1  (2.25)
 V 
ρ 

 0 
E= fV | V | (2.26)
− gsenθ − 2 D 

O tipo de sistema de equações diferenciais de primeira ordem composto pelas

equações 2.19 e 2.20, pode agora ser caracterizado. Introduzindo-se o parâmetro, λ, que

designa o valor próprio da matriz B, a respectiva equação característica é dada por:

(V − λ )2 = a2 (2.27)

λ=V±a (2.28)

Como ambos os valores de λ são reais e distintos, o sistema de equações 2.20 e 2.21 é

hiperbólico, o que é típico de fenómenos que envolvam propagação de ondas. A

caracterização das equações diferenciais é importante na escolha do método numérico

adequado à sua integração, este problema transcende o âmbito desta tese. No entanto, em

Chaudhry (1987) justifica-se a escolha do método das características, que serviu de base ao

33
Capítulo 2 – Modelação matemática de regimes transitórios em condutas

código numérico utilizado neste trabalho. Para a implementação deste método é ainda

necessário simplificar as equações 2.19 e 2.20. No que diz respeito aos fenómenos em estudo,

 ∂p   ∂V 
os termos convectivos, V   e V   são de ordem de grandeza inferior aos restantes,
 ∂x   ∂x 

pelo que são desprezados.

O termo relativo à força gravítica, ( g senθ ) , pode também ser desprezado na

generalidade das situações. No entanto, no caso de condutas muito inclinadas e de manobras

de fecho lento, ou abertura, pode ser incluído na solução final através de um método de

sobreposição, como será visto no capítulo 3.

De acordo com o exposto, a simplificação das equações (2.19) e (2.20) permite

escrever:

∂p ∂V
+ ρa 2 =0 (2.29)
∂t ∂x

∂V 1 ∂p fV | V |
+ + =0 (2.30)
∂t ρ ∂x 2D

Sendo mais corrente, na área da Hidráulica, utilizar a cota piezométrica, H, em vez da

pressão ou da altura piezométrica, as anteriores equações são transformadas obtendo-se2:

∂H a 2 ∂V
+ =0 (2.31)
∂t g ∂x

∂V ∂H fV | V |
+g + =0 (2.32)
∂t ∂x 2D

A integração destas equações pelo método das características, é abordada no próximo

capítulo.

2
Na substituição da pressão pela cota piezométrica (H=p+ρgz), considerou-se que a massa específica, ρ, é
constante. No entanto, isto não equivale a considerar o fluido incompressível, uma vez que a compressibilidade
foi introduzida por via da velocidade de propagação da onda.

34
Capítulo 3 – Método das características

CAPÍTULO 3
MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capitulo, apresenta-se a técnica numérica utilizada na resolução das equações

obtidas no capítulo anterior. Inicialmente, aplica-se o método das características às equações

diferenciais 2.31 e 2.32, transformando-as em equações diferenciais ordinárias. Em seguida,

estas últimas equações são integradas, obtendo-se um esquema explícito de diferenças finitas.

Finalmente, são apresentadas e discretizadas as condições de fronteira relevantes para este

trabalho.

3.2 TRANSFORMAÇÃO DAS EQUAÇÕES ATRAVÉS DO MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS

Não sendo conhecida a forma analítica da solução geral das equações 2.31 e 2.32, a

sua resolução pode ser efectuada numericamente. A escolha do método das características

revela-se à priori ajustada pois, como foi visto na secção 2.2, o sistema de equações é do tipo

hiperbólico, Chaudhry (1987). A grande vantagem deste método é permitir obter um sistema

de equações diferenciais ordinárias equivalentes ao sistema de equações às derivadas parciais

2.31 e 2.32. Para tal, identificam-se estas últimas equações por L1 e L2:

∂H ∂V f
L1 = g + + V | V |= 0 (3.1)
∂x ∂t 2 D

35
Capítulo 3 – Método das características

∂H a 2 ∂V
L2 = + =0 (3.2)
∂t g ∂x

Recorrendo à utilização de um multiplicador desconhecido λ, podem combinar-se

linearmente as duas equações obtendo-se:

∂H ∂V f  ∂H a 2 ∂V 
L = L1 + λL2 = g + + V | V | +λ  +  =0 ⇔
∂x ∂t 2 D  ∂t g ∂x 

 g ∂H ∂H   a λ ∂V ∂V 
2
f
⇔ λ +  +  + + V | V |= 0 (3.3)
 λ ∂x ∂t   g ∂x ∂t  2 D

Evidentemente, uma solução de 3.3 é simultaneamente solução de 3.1 e 3.2. Desta

forma, é possível escolher criteriosamente o multiplicador λ, e assim simplificar a

equação 3.3.

A cota piezométrica, H, e a velocidade, V, são ambas função da distância, x, e do

tempo, t. Admitindo que a variável independente, x, é função do tempo, t, podem obter-se as

derivadas totais de H e de V por aplicação da regra de derivação da função composta:

dH ∂H ∂H dx ∂H dH ∂H dx
= + ⇔ = − (3.4)
dt ∂t ∂x dt ∂t dt ∂x dt

dV ∂V ∂V dx ∂V dV ∂V dx
= + ⇔ = − (3.5)
dt ∂t ∂x dt ∂t dt ∂x dt

∂H ∂V
Com base neste resultado, as derivadas parciais da equação 3.3, e , podem ser
∂x ∂x

substituídas por derivadas totais, desde que sejam respeitadas as seguintes condições:

dx g λa 2 g
= = ⇔λ=± (3.6)
dt λ g a

obtém-se então a equação diferencial ordinária:

dH dV f
λ + + V | V |= 0 (3.7)
dt dt 2 D

e duas condições suplementares resultantes de equação 3.6:

36
Capítulo 3 – Método das características

dx
= ±a (3.8)
dt

Conforme exposto, a equação 3.7 deve ser escrita de acordo com o sinal escolhido

para λ. Desta forma, obtém-se dois sistemas de equações diferenciais às derivadas totais,

identificadas por C+ e C- (em função do sinal escolhido para o parâmetro λ):

g dH dV f
+ + V | V |= 0 (3.9)
a dt dt 2 D

C+

dx
= +a (3.10)
dt

g dH dV f
− + + V | V |= 0 (3.11)
a dt dt 2 D

C-

dx
= −a (3.12)
dt

No plano das soluções, (x, t), a cada uma das condições 3.10 e 3.12 corresponde uma

recta sobre a qual as equações 3.9 e 3.11 são válidas. Estas duas rectas, sobre as quais as

soluções são calculadas, são denominadas linhas características1.

3.3 INTEGRAÇÃO E DISCRETIZAÇÃO DAS EQUAÇÕES

Pretendendo-se resolver numericamente as equações 3.9 e 3.11, estas vão ser

integradas e discretizadas sobre as suas linhas características. O método escolhido neste

1
No cálculo diferencial designa-se esta técnica de resolução das equações por “método das características”. Na
Hidráulica, é usual dar ao “método das características” um significado mais amplo, incluindo também a técnica
de discretização das equações.

37
Capítulo 3 – Método das características

trabalho foi introduzido por Wylie e Steeter (1993) e permite obter um esquema numérico

explícito, evitando assim a resolução de sistemas de equações algébricas.

A discretização das equações é feita dividindo a tubagem de comprimento L, num

número N, de troços com comprimento:

L
∆x = (3.13)
N

A estes troços correspondem N+1 nós, representando as correspondentes secções do

tubo. Por forma a resolver as equações sobre as linhas características, a discretização

temporal, vulgarmente designada por passo de tempo, tem de ser igual a:

∆x
∆t = (3.14)
a

As linhas características, C+ e C-, definem no plano (x, t) uma malha, como se

representa na figura 3.1. Nas intercepções das linhas características (nós da malha), as

equações 3.9 a 3.12 são simultaneamente válidas.

t i-1 i i+1 N N +1

t = 2∆t P1 P3 P5 Pn

P2 P Pn-1
t = ∆t

C+ C-

t=0 A B
x=0
∆x x=L

Figura 3.1 – Malha de cálculo representada no plano das variáveis independentes.

38
Capítulo 3 – Método das características

As variáveis dependentes, velocidade e altura piezométrica, são conhecidas no instante

inicial em todos os nós e assumem os valores de regime permanente. Considerando, por

exemplo, os nós A e B representados na figura 3.1, as equações 3.9 e 3.11 são válidas ao longo

das linhas C+ e C-, respectivamente, podendo ser integradas até ao ponto P. O método de

integração que aqui se apresenta foi introduzido por Wylie e Steeter (1993). Se bem que em

Larock, Jeppson e Watters (2000) as mesmas equações são deduzidas, aplicando directamente

um esquema de diferenças finitas às equações diferenciais 3.9 e 3.11.

dt dx
Multiplicando a equação 3.9 por a ,= , e substituindo a velocidade pelo caudal
g g

volúmico, Q, a integração é feita ao longo de C+, obtendo-se:

HP QP xP
a f
∫ dH + gA ∫ dQ + ∫ Q | Q | dx = 0 (3.15)
HA QA 2 gDA 2 x A

Apenas a dependência do caudal da posição, x, não é conhecida. Wylie e

Steeter (1993) propõem a seguinte aproximação, utilizando uma integração por partes:

[ ] [ ]
xP xP xP
xP xP
∫ Q | Q | dx = Q x − ∫ xdQ 2 = Q 2 x − 2 ∫ xQdQ
2
xA xA
xA xA xA

Q x + QA x A
≈ QP2 x P − Q A2 x A − 2  P P (QP − Q A )
 2 

≈ QP | Q A | ( x P − x A ) (3.16)

o que permite escrever:

HP − HA +
a
(QP − Q A ) + f∆x 2 QP | Q A |= 0 (3.17)
gA 2 gDA

De igual forma, mas para a característica C-, obtém-se:

HP − HB −
a
(QP − QB ) − f∆x 2 QP | QB |= 0 (3.18)
gA 2 gDA

As equações algébricas 3.17 e 3.18 dizem respeito, às características C+ e C- e

permitem calcular a cota piezométrica e o caudal no interior da tubagem, em regime

39
Capítulo 3 – Método das características

transitório. Resolvendo-as em ordem à cota piezométrica no ponto P, (HP), e agrupando as

constantes, vem:

C+ : HP = HA – B ( QP - QA ) – R QP | QA | (3.19)

C- : HP = HB + B ( QP – QB ) + R QP | QB | (3.20)

em que:

a
B= (3.21)
gA

é apenas função das propriedades físicas da tubagem e do fluido e é frequentemente

designado por impedância característica da tubagem.

A constante, R, é designada por coeficiente de resistência da tubagem:

f∆x
R= (3.22)
2 gDA 2

Tendo por objectivo obter um esquema explícito, os termos das equações 3.19 e 3.20

relativos ao passo de tempo anterior, i-1, e ao passo de tempo de cálculo, i, são agrupados da

seguinte forma:

C+ : Hi = CP – BP Qi (3.23)

C- : Hi = CM + BM Qi (3.24)

com:

CP = Hi-1 + B Qi-1 (3.25)

BP = B + R |Qi-1| (3.26)

CM = Hi+1 - B Qi+1 (3.27)

BM = B + R |Qi+1| (3.28)

Note-se que CP, BP, CM, BM são conhecidos, pois dependem apenas do passo de tempo

anterior e das constantes B e R.

As equações 3.23 e 3.24 permitem calcular o caudal e a cota piezométrica no passo de

tempo, i, desde que sejam conhecidas todas as variáveis no passo de tempo, i-1. Assim,

resolvendo as anteriores equações em ordem a Hi e Qi, obtém-se:

40
Capítulo 3 – Método das características

C P BM + C M B P
Hi = (3.29)
B P + BM

C P − CM
Qi = (3.30)
B P + BM

Como é ilustrado na figura 3.1, conhecidos os valores do caudal e das cotas

piezométricas no regime permanente (condição inicial) o esquema numérico permite calcular

os novos valores dos caudais e das cotas piezométricas em todos os nós interiores da conduta

no instante 2∆t. Refira-se que as linhas características têm por declive o inverso da velocidade

de propagação da onda, assim as perturbações introduzidas no escoamento nas secções

extremas do tubo, x=0 ou x=L, apenas chegam ao nó interior mais próximo das fronteiras,

decorrido o tempo 2∆t. Desta forma, no início de cada passo de tempo, o cálculo nos nós

interiores não necessita da actualização dos valores do caudal nem da cota piezométrica nas

suas fronteiras. A introdução das condições de fronteira pode então ser efectuada no final de

cada passo de tempo, 2∆t, após o cálculo dos nós interiores. Na próxima secção apresentam-se

as equações numéricas correspondentes às condições de fronteira relevantes para este

trabalho.

3.4 DISCRETIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE FRONTEIRA

Nos nós situados nos extremos da conduta, as equações 3.23 e 3.24 não podem ser

válidas simultaneamente. Relativamente à figura 3.1, em x = 0 apenas é válida a equação 3.24

e em x = L a equação 3.23. Nestes nós, são introduzidas as condições de fronteira que

correspondem à compatibilização do escoamento no exterior e interior da conduta. Nas

próximas secções, apresentam-se as condições de fronteira correspondentes a reservatórios,

válvulas, reservatórios hidropneumáticos e bombas hidráulicas.

41
Capítulo 3 – Método das características

3.4.1 RESERVATÓRIOS

A condição de fronteira correspondente a um reservatório de grandes dimensões

transversais consiste na imposição de uma pressão constante, função da profundidade a que a

tubagem está ligada ao reservatório. No caso de se pretender considerar a perda de carga

localizada, a cota piezométrica na secção extrema da tubagem escreve-se:

H i = H Re s ± k l Qi Qi (3.31)

com, kl, o coeficiente de perda de carga localizada e HRes, a cota piezométrica da superfície

livre do reservatório. A escolha do sinal depende da posição relativa do reservatório, da

conduta e do sentido convencionado como positivo para o escoamento. No entanto, na

generalidade dos casos, a perda de carga relativa à junção tubo-reservatório é desprezável face

às perdas de carga totais da instalação.

A equação 3.31 é combinada com a 3.24 ou 3.23, respectivamente no caso do

reservatório estar a jusante ou a montante, relativamente à conduta. Obtém-se então para

condição fronteira (desprezando a perda de carga):

Hi − CP
Qi = − (reservatório a jusante) (3.32)
BP

H i − CM
Qi = (reservatório a montante) (3.33)
BM

3.4.2 VÁLVULAS

Sendo as válvulas órgãos hidromecânicos fundamentais no controlo do caudal, a sua

manobra origina regimes transitórios nas condutas onde estão instaladas. Importa assim

modelar o seu comportamento durante as manobras a que estão sujeitas.

42
Capítulo 3 – Método das características

Em regime permanente, uma válvula introduz uma perda de carga localizada, ∆H0, que

é calculada da seguinte forma:

V02 k v0 Q02
∆H 0 = k v0 = (3.34)
2 g A2 2 g

em que kv, é o coeficiente de perda de carga (função da posição do obturador) e o índice, 0,

diz respeito ao valor das variáveis em regime permanente.

Da equação 3.34 obtém-se o caudal:

A
Q0 = ± 2 g∆H 0 (3.35)
k v0

O sinal é escolhido de acordo com a convenção do sentido positivo para o caudal.

Se admitirmos que as equações, 3.34 e 3.35, são também válidas em regime

transitório, o recurso ao parâmetro adimensional τ, permite caracterizar o funcionamento da

válvula. Este parâmetro é definido por adimensionalização do coeficiente de perda de carga:

k v0
τ= (3.36)
kv

Uma manobra da válvula, pode então ser caracterizada através de uma função

temporal do parâmetro τ. A função τ(t) é vulgarmente conhecida por “lei de fecho ou de

abertura da válvula”. Desta forma, se τ = 1, não houve qualquer alteração da posição do

obturador desde o regime permanente inicial. Quando a válvula estiver completamente

fechada o parâmetro τ é nulo. Note-se que este parâmetro pode tomar valores superiores à

unidade, se inicialmente a válvula não estiver totalmente aberta. Em situações intermédias,

correspondentes ao regime transitório, pode-se relacionar o caudal instantâneo com o caudal

em regime permanente, através da expressão:

Q0
Q= τ ∆H (3.37)
∆H 0

A equação 3.37 pode alternativamente ser apresentada da seguinte forma:

43
Capítulo 3 – Método das características

∆H 0
∆H = Q2 (3.38)
(Q0τ ) 2

O tipo de condição fronteira que a válvula impõe depende da posição onde está

colocada na tubagem. Seguidamente, são apresentadas as situações relevantes para este

trabalho, que dizem respeito às instalações apresentadas no capítulo 5.

a) Válvula colocada na extremidade de uma conduta que descarrega directamente para a

atmosfera.

Admitindo que a válvula está posicionada na secção de jusante da conduta, x = L, e

que o fluido é directamente descarregado para a atmosfera2, a variação da cota piezométrica

na válvula, coincide com o valor da pressão na secção de montante da mesma. A condição de

fronteira, na secção a jusante da tubagem, deve no entanto ser escrita utilizando a cota

piezométrica e não a sua variação, pois todo o método das características foi desenvolvido

utilizando esta variável. Assim a equação 3.37 deve ser adaptada:

Q0
Qi = τ H i − Z ref (3.39)
∆H 0

em que, Zref, representa a cota geométrica, ou seja a altitude relativamente à referência

escolhida.

A combinação da última equação algébrica de segundo grau com a característica C+,

equação 3.23, permite obter:

∆H 0
( )
Qi2 + BP Qi − C P − Z ref = 0 (3.40)
(Q0τ ) 2

Esta equação permite calcular o caudal no passo de tempo i, utilizando apenas

grandezas calculadas no passo de tempo anterior ou relativas ao regime permanente, i-1:

2
A utilização de pressões relativas permite considerar a pressão atmosférica igual a zero e assim simplificar as
equações.

44
Capítulo 3 – Método das características

∆H 0
(
− BP ± BP2 − 4 Z ref − C P )
(Q0τ )2
Qi = (3.41)
∆H 0
2
(Q0τ )2
Introduzindo o parâmetro, Cv, definido por:

(Q0τ )2
Cv = (3.42)
2∆H 0

na equação 3.41, obtém-se:

Qi = − B P C v ± (B P C v )2 − 2C v (Z ref − CP ) (3.43)

Como a válvula descarrega para a atmosfera, o caudal pode apenas ter a direcção

correspondente à saída do fluido. Desta forma, apenas se deve ter em conta o valor positivo da

raiz quadrada.

Conhecido o valor do caudal, basta substitui-lo alternativamente numa das

equações 3.39 e 3.23 para obter o valor da cota piezométrica no passo de tempo de cálculo, i.

b) Válvula colocada entre dois troços da conduta.

Nesta situação, a válvula introduz uma condição de fronteira dupla. Relativamente à

figura 3.2, no troço Œ, a condição fronteira diz respeito à última das suas secções, enquanto

que no troço • diz respeito à primeira secção. Evidentemente, estas duas condições de

fronteira não são independentes. Utilizando a notação introduzida na figura 3.2, e para um

caudal no sentido positivo, as condições de conservação da massa e de perda de carga na

válvula escrevem-se respectivamente:

Q1,NS = Q2 ,1 = Qi (3.44)

(H 1,NS − H 2 ,1 )0
(H 1,NS − H 2 ,1 )i = Qi2 (3.45)
(Q0τ ) 2

45
Capítulo 3 – Método das características

Œ •

1 , NS 2,1

Figura 3.2 – Válvula colocada entre dois troços da conduta.

As cotas piezométricas, H1,NS e H2,1, intervenientes na equação 3.45, podem ser

substituídas fazendo intervir respectivamente as equações, 3.23 e 3.24, relativas às

características C+ e C-. Obtém-se assim a equação:

(H 1,NS − H 2 ,1 )0
Qi2 + Qi (BP + BM ) + (C M − C P ) = 0 ⇔
(τQ0 )2
cuja solução é:

Qi = −C v (BP + BM ) + C v2 (BP + BM )2 + 2C v (C P − C M ) , (3.46)

com:

(Q0τ )2
Cv =
2(H 1,NS − H 2 ,1 )0
(3.47)

Quando o escoamento se dá no sentido negativo, o raciocínio é análogo, obtendo-se:

Qi = C v (BP + BM ) − C v2 (BP + BM )2 − 2C v (C P − C M ) . (3.48)

Conhecido o caudal no passo de tempo, i, as cotas piezométricas, H1,NS e H2,1, são

calculadas, para o mesmo instante, utilizando as equações características 3.23 e 3.24,

respectivamente.

46
Capítulo 3 – Método das características

Neste trabalho, são também utilizadas válvulas de retenção, cuja função é garantir que

o escoamento não sofra inversão de sentido. Este equipamento é modelado admitindo que o

seu fecho é instantâneo, sempre que o escoamento tenda a alterar o sentido previsto. Na

realidade, a inércia da válvula impedirá que esta feche instantaneamente. Note-se que a

generalidade dos fabricantes não fornece dados que permitam caracterizar a lei de fecho da

válvula; contudo em Darzé (1988) apresentam-se algumas leis de fecho típicas.

3.4.3 RESERVATÓRIOS HIDROPNEUMÁTICOS

As variações de pressão que ocorrem num sistema hidráulico durante os regimes

transitórios são por vezes de tal forma elevadas que podem colocar em risco a funcionalidade

e até a segurança da instalação. Em vez de sobredimensionar a instalação, opta-se, na

generalidade dos casos, por minimizar a flutuação dos valores da pressão recorrendo a

dispositivos de protecção. De entre estes dispositivos, o reservatório hidropneumático, é o

mais utilizado em sistemas adutores de grande ou médias dimensões. Este dispositivo de

protecção consiste num reservatório fechado, com ligação permanente à conduta elevatória,

contendo no seu interior água e ar sob pressão. A sua forma é aproximadamente cilíndrica e a

sua ligação à conduta é feita como se indica na figura 3.3. O reservatório hidropneumático

tem como função absorver a energia durante as fases de sobrepressão e de fornecer energia

nas situações de depressão.

Em regime permanente, não existe escoamento no ramal de ligação ao reservatório,

pelo que a pressão no seu interior será a pressão hidrostática correspondente à pressão na

secção de ligação à conduta principal.

47
Capítulo 3 – Método das características

Reservatório 2
RESERVATÓRIO 6
Hidropneumático
By-pass 3

1 – Conduta principal

2 - Ramal de ligação ao reservatório

3 – By-pass

4 – Sentido do escoamento que entra no reservatório hidropneumático

5 - Sentido do escoamento que sai do reservatório hidropneumático

6 – Válvula de retenção

Figura 3.3 – Ligação de um reservatório hidropneumático à conduta principal.

Tendo em vista o aumento da eficácia do reservatório e consequentemente a redução

da sua dimensão e custo, pode-se optar pela colocação de um by-pass de diâmetro inferior ao

da conduta de ligação, como representado na figura 3.3. Este by-pass permite introduzir

perdas de carga localizadas assimétricas, e assim provocar uma maior dissipação da energia

no fluido quando este entra no reservatório. Contudo, quando a conduta principal está em

depressão, o reservatório deve fornecer o maior caudal possível, para que esta não colapse. É

para cumprir este objectivo que se inclui uma válvula de retenção no ramal de ligação.

48
Capítulo 3 – Método das características

Para modelar o comportamento do reservatório hidropneumático é necessário admitir

as seguintes hipóteses simplificativas:

- Não se considera a dissolução de ar no líquido, pelo que a massa da fase gasosa

mantém-se constante.

- Despreza-se a inércia dos fluidos contidos no reservatório, face à inércia do líquido

existente no interior da tubagem.

- A fase gasosa contida no reservatório comporta-se como um gás perfeito.

- A compressão ou a expansão do gás pode ser modelada como processo politrópico.

- O reservatório é considerado rígido.

De acordo com última das hipóteses, pode escrever-se, recorrendo à definição de

processo politrópico:

Habs. V n = C te (3.49)

onde:

V - Volume de gás no interior do reservatório hidropneumático.

Habs. – Pressão absoluta no interior do reservatório (m.c.a.).

Cte - Constante

No quadro 3.1, recordam-se os valores que o expoente da politrópica, n, toma em

processos termodinâmicos particulares, para o caso de um gás perfeito.

Processo Expoente politrópico

Isotérmico n=1

Isobárico n=0

Isocórico n=∞

Isentrópico n = Cp/Cv

Quadro 3.1 – Expoentes politrópicos para processos de um gás perfeito.

49
Capítulo 3 – Método das características

Cp e Cv foram admitidos constantes e representam respectivamente os calores

específicos a pressão e a volume constantes.

Os processos reais a que o ar estará submetido no interior do reservatório situam-se

entre o isotérmico e o isentrópico, ou seja, o expoente da politrópica assume um valor entre

n = 1 e n = Cp/Cv. A relação entre calores específicos, na gama de temperaturas típica do

funcionamento de reservatórios hidropneumáticos, tem aproximadamente o valor de 1,4.

O valor da constante politrópica a adoptar na modelação numérica do reservatório foi

um dos temas abordados por Darzé (1988). Este autor refere ensaios efectuados em

protótipos, onde se concluiu que o valor do coeficiente politrópico varia ao longo do regime

transitório, de acordo com a evolução da pressão e do volume do gás contido no interior do

reservatório. Nos primeiros instantes do regime transitório, a variação da pressão e do volume

de gás no interior do reservatório tem grande amplitude não tendo havido ainda tempo para a

ocorrência de trocas significativas de calor entre o interior do reservatório e o meio exterior.

O processo pode então ser considerado adiabático adoptando-se, n = 1,4. Numa fase

posterior, as variações de pressão e de volume têm uma menor amplitude, existindo então

trocas significativas de calor com o meio envolvente; pode-se então considerar o processo

como isotérmico, n = 1,0. Por esta razão, muitos autores consideram o valor médio, n = 1,2.

Ainda relativamente à expressão 3.49, o valor da constante pode ser calculado

utilizando a pressão absoluta no interior do reservatório e o volume ocupado pelo ar em

regime permanente.

Importa agora adaptar a expressão 3.49 ao regime transitório a que o reservatório está

sujeito, e discretizá-la para que possa ser inserida no código numérico. Para tal, assume-se que

a variação do volume do líquido no interior do reservatório é igual ao produto do valor médio

do caudal que flui na conduta de ligação pelo dobro do passo de tempo de cálculo, uma vez

que este é calculado em dois passos de tempo sucessivos. Como se pode constatar na figura

3.4, esta técnica apoia-se na conservação da massa aplicada à ramificação Œ , • , Ž . De

50
Capítulo 3 – Método das características

acordo com o exposto e fazendo intervir a cota piezométrica e a pressão atmosférica no

cálculo da pressão absoluta obtém-se:

n
  Q + Q3;i −1  
(H res ,i + H atm − Z ref )
Vi −1 −  3;i
 ∆t  = C te (3.50)
  2  

Hres,i – Cota piezométrica da superfície livre no passo de tempo i (incógnita).

Hatm – Pressão atmosférica (m.c.a.).

Zref – Cota geométrica.

Q3;i – Caudal na conduta de ligação no passo de tempo de cálculo i (incógnita).

Q3;i-1 – Caudal na conduta de ligação no passo de tempo anterior i-1.

Vi-1 - Volume de ar no interior do reservatório no passo de tempo anterior i-1.

Hres.

Zref
+ -
C C
Ž
Hp Œ • Hp

Figura 3.4 – Ramificação da conduta principal e reservatório hidropneumático. Notações

relevantes.

51
Capítulo 3 – Método das características

As cotas piezométricas na superfície livre, Hres, e na conduta principal, Hp, estão

relacionadas através da equação de Bernoulli. Note-se que, de acordo com as hipóteses

simplificativas se despreza a inércia do fluido no interior ao reservatório, obtendo-se:

H p ,i = H res ,i + ∆H = H res ,i + k l Q3 ,i Q3 ,i (3.51)

Para introduzir uma perda de carga localizada, ∆H, assimétrica, basta alterar o

coeficiente, kl, de acordo com o sentido do caudal.

Desprezando a perda de carga na ramificação, as alturas piezométricas nas secções Œ e

• são iguais:

H1,i = Hp,i (3.52)

H2,i = Hp,i (3.53)

A aplicação da equação da continuidade à ramificação conduz a:

Q1,i = Q2,i + Q3,i (3.54)

As equações das características, C+ e C-, escrevem-se utilizando esta notação

particular:

C+ : H1,i = CP – BP Q1,i (3.55)

C- : H2,i = CM + BM Q2,i (3.56)

Obteve-se assim um sistema de sete equações a sete incógnitas. Para facilidade de

interpretação, as incógnitas estão referenciadas com o índice, i, relativo ao passo de tempo de

cálculo. Note-se ainda que as equações 3.50 e 3.51 não são lineares.

Por substituição sucessiva das incógnitas obtém-se a equação:

 C P BM + BP C M − Q3;i BP BM  
  + H atm − Z ref − k l Q3 ,i Q3 ,i ×
 BP + BM  
n
(3.57)
  Q + Q3;i −1  
× Vi −1 −  3;i ∆t  = C te
  2  

Na qual a única incógnita é o caudal Q3,i . Para a resolução desta equação

transcendente foi utilizado um método numérico iterativo que se descreve no capítulo 4.

52
Capítulo 3 – Método das características

Conhecido, Q3,i, as outras incógnitas determinam-se por substituição sucessiva nas

equações 3.50 a 3.56.

3.4.4 BOMBAS HIDRÁULICAS

A operação de arranque ou paragem de uma bomba provoca um regime transitório,

cujas consequências para a instalação importa saber avaliar na fase de projecto.

Nesta secção, são expostos os regimes de funcionamento de uma bomba hidráulica

durante um regime transitório, assim como, a forma de os modelar e integrar no método

computacional.

No instante em que se interrompe o fornecimento de energia ao motor, o fluido aplica

um binário resistente ao rotor, provocando uma redução na sua velocidade de rotação,

diminuindo assim a altura de elevação, não obstante da bomba continuar a rodar no mesmo

sentido devido à sua inércia. No que diz respeito à modelação do regime transitório,

designa-se o regime permanente e esta primeira fase de paragem, enquanto o caudal não altera

o seu sentido, como “zona de bombagem normal”.

No caso do sentido do caudal se alterar, mas a bomba continuar a rodar no mesmo

sentido, devido à inércia das suas massas girantes, corresponde a este regime de

funcionamento uma grande dissipação de energia, pelo que é normal designá-lo por “zona de

dissipação”.

O caudal, no sentido inverso, provoca inicialmente uma rápida redução na velocidade

do rotor e seguidamente a alteração do seu sentido de rotação. A bomba passa assim a

funcionar como turbina, designando-se este regime de funcionamento por “zona de

turbinagem”.

53
Capítulo 3 – Método das características

Seguidamente, o eventual retorno da onda de pressão pode levar a que o escoamento

se faça novamente no sentido inicial. A esta situação corresponde uma grande dissipação e é

designada por “zona de dissipação a velocidade negativa” ou “zona de embalamento”.

Para caracterizar o funcionamento de uma bomba em regime transitório, Wylie e

Streeter (1993) adimensionalizaram a altura de elevação, o binário, o caudal e a velocidade de

rotação pelos correspondentes valores na condição de rendimento máximo (índice R):

H el
h= (3.58)
H el R

M
β = (3.59)
MR

Q
υ= (3.60)
QR

ω
α= (3.61)
ωR

Os mesmos autores representaram a dependência destas variáveis em diagramas

polares, cujos eixos coordenados foram por eles definidos como:

h υ  β υ 
r= em função de tg-1   e r= em função de tg-1  
α +υ
2 2
α  α +υ
2 2
α 

Para a utilização numérica destas relações introduzem-se os parâmetros WH (x) e

WB (x) assim definidos:

h
WH (x) = (3.62)
α +υ 2
2

β
WB (x) = (3.63)
α 2 +υ 2

υ
x = π + tg-1 (3.64)
α

54
Capítulo 3 – Método das características

A representação de todos os regimes de funcionamento de uma bomba ocupará assim

os quatro quadrantes do plano (υ , α), Wylie e Streeter (1993):

 π
− Quadrante I – Zona de turbinagem, x ∈ 0;  e υ ≤ 0 e α < 0
 2

π 
− Quadrante II – Zona de dissipação, x ∈  ; π  e υ < 0 e α ≥ 0
2 

 3π 
− Quadrante III – Zona de bombagem normal, x ∈ π;  e υ ≥ 0 e α ≥ 0
 2

− Quadrante IV – Zona de dissipação a velocidade de rotação negativa, x ∈

 3π 
 2 ;2 π  e υ > 0 e α < 0
 

Na prática, a caracterização das bombas fora do terceiro quadrante é difícil, tendo na

maioria dos casos apenas um carácter aproximado. Os fabricantes raramente cedem

informação sobre os resultados de ensaios relativos aos quadrantes I, II, e IV. Para ultrapassar

esta dificuldade, fazem-se interpolações utilizando os resultados de ensaios experimentais

publicados por Suter (1966).

Este autor, efectuou um estudo adimensional para os quatro quadrantes de

funcionamento, tendo utilizado três bombas que caracterizou através do valor da sua

velocidade específica, que é dada por:

 
 Q 
N S = ω  (3.65)
 (H ) 4 
3
 el ηmax .

NS – Velocidade especifica.

ω – Velocidade de rotação (r.p.m.).

Q – Caudal nominal (m3/s).

Hel – Altura de elevação nominal (m).

55
Capítulo 3 – Método das características

Os valores das velocidades especificas das bombas estudadas por Suter foram de: Ns = 25 ,

Ns = 147 , Ns = 261. Os resultados obtidos estão representados graficamente na figura 3.5.

0 1.57 3.14 4.71 6.28 0 1.57 3.14 4.71 6.28


4 4 4 4
Ns = 25 Ns = 25
Ns = 147 Ns = 147
Ns = 261 Ns = 261
2 2 2 2

WH(x)
WH(x)

WB(x)

WB(x)
0 0 0 0

-2 -2 -2 -2

-4 -4 -4 -4
0 1.57 3.14 4.71 6.28 0 1.57 3.14 4.71 6.28

x (rad.) x (rad.)

Figura 3.5 – Parâmetros de Suter (1966), WH(x) e WB(x) para Ns = 25 , 147 , 261.

Para utilizar a teoria de Suter necessita-se apenas de calcular a velocidade específica

da bomba em estudo, que é definida em condições de rendimento máximo:

Assim, por interpolação das curvas da figura 3.5 obtém-se WH(x) e WB(x) para

qualquer tipo de bomba.

Contudo, nas situações abordadas neste trabalho, conhece-se a curva da bomba na

zona de bombagem normal, quadrante de funcionamento III. Pode-se então calcular

directamente os valores de, WH(x) e WB(x), e compará-los aos obtidos através da interpolação

das curvas de Suter (1966). Acresce ainda que a instalação considerada neste trabalho, contém

uma válvula que impede o retorno do caudal, pelo que a bomba funcionará sempre no terceiro

quadrante. Não obstante, foram utilizados os valores interpolados e os calculados, tendo-se

comparado os resultados.

56
Capítulo 3 – Método das características

O cálculo das funções WH(x) e WB(x), a partir da curva de funcionamento da bomba à

rotação ωR é feita da seguinte forma:

− Conhecida a curva da bomba para a rotação ωR, obtém-se o caudal e altura para a

condição nominal. Ficam assim conhecidos QR e Hel R e por cálculo o binário MR.

− Os parâmetros de Suter são calculados, em função da variável, x, de forma directa

por utilização das expressões 3.62 a 3.64.

De acordo com o exposto, o método de Suter permite determinar, para cada velocidade

de rotação, o caudal e a altura fornecidos pela bomba. No entanto, a velocidade de rotação da

bomba em regime transitório depende da inércia total resultante da soma das massas girantes

da bomba e do motor, no caso do acoplamento ser directo. É assim necessário conhecer o

momento de inércia do conjunto rotórico. Não obstante, esta informação só excepcionalmente

é fornecida pelos fabricantes.

Para efeito de estudo preliminar, podem-se utilizar resultados publicados, como por

exemplo os de Thorley (1979). Este autor elaborou gráficos que permitem obter valores do

momento de inércia total do conjunto rotórico de bombas hidráulicas relativamente ao eixo de

rotação, incluindo o momento de inércia equivalente à acção do fluido nos impulsores e do

respectivo motor eléctrico. A expressão que propõe, para o momento de inércia da bomba

relativamente ao eixo de rotação, é o resultado de ensaios efectuados em 282 bombas de cinco

fabricantes:

0 ,9556
 P 
I b = 1,5 × 10 7  3  (3.66)
ω 

Ib – Momento de inércia total da bomba relativamente ao eixo de rotação, está incluída

a inércia do fluido (kg.m2).

P – Potência (kW).

ω – Velocidade de rotação (rpm).

57
Capítulo 3 – Método das características

A expressão para o momento de inércia do motor é o resultado de 272 ensaios

realizados com diversos motores eléctricos:

1,48
P
I m = 118  (3.67)
ω 

Im – Momento de inércia total do motor eléctrico (kg.m2)

O momento de inércia total do conjunto rotórico, I, para um acoplamento directo, é

então dado por:

I = Ip + Im (3.68)

Almeida (1981) efectuou um estudo semelhante, mas, contrariamente a Thorley, não

quantificou a inércia total do conjunto rotórico, mas sim o parâmetro (PD2), referente ao

conjunto formado pelas massas girantes ligadas rigidamente à bomba e à massa líquida

arrastada no interior da voluta e da roda. Segundo este autor, nos casos em que não existe

volante de inércia, a parcela mais significativa do momento de inércia deve-se ao rotor do

motor eléctrico. O parâmetro (PD2) é definido como:

PD2 = 4 g I (3.69)

e varia fundamentalmente com a velocidade de rotação e com a potência nominal do grupo.

Utilizando informação fornecida por diversos fabricantes, para potências entre 2,9 e

440 kW, Almeida (1981) construiu ábacos que permitiram a elaboração de fórmulas de

cálculo do parâmetro PD2, que são apresentadas no quadro 3.1.

58
Capítulo 3 – Método das características

Velocidade de Valor do parâmetro PD2 (kgf.m2) do


sincronismo motor em função da potência (P) em
(rpm) (kW)

750 0,30076 + 0,11992 P + 0,0089 P2

1000 0,5118 + 0,0071 P + 0,000638 P2

1500 -0,2249 + 0,0527 P + 0,000223 P2

3000 -0,9909 + 0,0617 P + 0,0000187 P2

Quadro 3.2 – Correlações para o cálculo de PD2 .

Contudo, este autor adverte que quando se pretender elaborar um estudo rigoroso

deve-se solicitar ao fabricante da bomba os valores relativos ao parâmetro PD2, e que apenas

se devem utilizar este tipo de procedimento numa fase de ante-projecto.

A altura de elevação duma bomba pode ser calculada fazendo intervir os parâmetros

adimensionais atrás definidos. Desta forma, utilizando as equações 3.58 e 3.62, obtém-se:

( )
H el = H el R h = H el R α 2 + υ 2 WH ( x ) (3.70)

A adaptação da equação 3.70, com vista a integrá-la num código numérico, passa pelo

cálculo aproximado da função WH(x). Esta aproximação consiste numa linearização por troços

desta função em cada passo de tempo i, Wylie e Streeter (1993). Obtém-se assim a equação

3.71:

( )  υ 
H el = H el R α 2 + υ 2  A0 + A1  π + tan −1  ⇔
α 
  (3.71)
( )
⇔ − H el + H el R α 2 + υ 2 [ A0 + A1 X ] = 0

59
Capítulo 3 – Método das características

Os parâmetros, A0 e A1, são definidos por:

WH ( i + 1 ) − WH ( i )
A1 = (3.72)
∆x

A0 = WH(i+1) - i A1 ∆x (3.73)

A equação 3.71, permite calcular a altura de elevação, em função dos parâmetros

(α) e (υ).

A equação 3.71, pode ser combinada com as equações características da conduta, 3.23

e 3.24, obtendo-se:

(C P − BP Qi ) − (C M ( )   υ 
+ BM Qi ) + H el R α 2 + υ 2  A0 + A1  π + tan −1  = 0 (3.74)
α 
 

Recorrendo à igualdade 3.60, obtém-se:

(C P − BPυQR ) − (C M ( 
)  υ 
+ BM υQR ) + H el R α 2 + υ 2  A0 + A1  π + tan −1  = 0 (3.75)
α 
 

e, denominando por FH a expressão anterior:

( 
)  υ 
FH = (C P − C M ) − υQR (B P + BM ) + H el R α 2 + υ 2  A0 + A1  π + tan −1  = 0
α 
 
(3.76)

Na maioria das instalações, imediatamente a jusante da bomba, existem duas válvulas:

uma de seccionamento e outra de retenção. Importa assim, incorporar estes acessórios na

condição fronteira da bomba. A inclusão da lei de fecho da válvula, τ(t), obriga a alterar a

equação 3.76, obtendo-se, Wylie e Streeter (1993):

 υ υ ∆H 0 
FH = (C P − BP υQ R ) − k 0 − (C + B υQ ) 2
(2
)
 + H el R α + υ [A 0 + A1 X] = 0 (3.77)
τ 2 M M R
 

em que k0 representa o coeficiente de perda de carga localizada em regime permanente. A

equação 3.77 não é determinada, pois contém duas incógnitas (α) e (υ).

Para obter uma outra equação em α, é necessário conhecer a velocidade de rotação ω

em função do tempo (equação 3.61). Por outro lado a condição, que relaciona a velocidade de

60
Capítulo 3 – Método das características

rotação da bomba com o tempo faz apelo à inércia das massas girantes. Neste trabalho

optou-se por utilizar a formulação introduzida por Wylie e Streeter (1993) e Chaudhry (1987),

especialmente adequada à implementação numérica. De acordo com estes autores, a equação

que integra os efeitos da inércia escreve-se:

( )
FT = α 2 + υ 2 [B0 + B1 X ] + β ii − CT (α ii − α ) = 0 (3.78)

ω R π α ii − α
β =I − β ii (3.79)
M R 30 ∆t

ωR π
CT = I (3.80)
M R 30 ∆t

WB ( i + 1 ) − WB ( i )
B1 = (3.81)
∆x

B0 = WB(i+1) - i B1 ∆x (3.82)

O índice ii reporta-se à grandeza em questão calculada dois passos de tempo atrás,

2.∆t. O momento de inércia, I, pode ser obtido através das equações 3.69 ou alternativamente

3.68.

As equações 3.77 e 3.78 são resolvidas simultaneamente, utilizando o método de

Newton-Raphson, como se descreve no capítulo 5.

A utilização do método de Suter também é possível em regime permanente. Desta

forma, determina-se facilmente o ponto de funcionamento da instalação, pois neste caso a

velocidade de rotação da bomba é constante e conhecida.

61
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

CAPÍTULO 4
O PROGRAMA “ARIETE”

4.1 INTRODUÇÃO

O código numérico “ARIETE”, desenvolvido no âmbito deste trabalho, permitiu a

simulação dos regimes transitórios em condutas. Este programa baseia-se no método das

características, apresentado no capítulo anterior. No caso dos nós interiores, utilizou-se o

esquema numérico apresentado por Wylie e Streeter (1993). A programação das condições de

fronteira foi efectuada utilizando as expressões deduzidas neste trabalho e apresentadas no

capítulo 3.

Tendo como objectivo dotar o programa “ARIETE” de versatilidade foram criadas três

sub-rotinas, que funcionam autonomamente, permitindo simular várias configurações

geométricas e diferentes tipos de equipamentos, sem ter de se alterar substancialmente o

código.

O programa foi implementado no ambiente Windows e escrito na linguagem Fortran.

Utilizou-se um computador pessoal dotado de um processador Intel Pentium III a 1.2

GHz, com 128 Megabyte de memória RAM.

Nas situações mais complexas os tempos de cálculo foram da ordem das 4 horas.

Contudo, em simulações típicas, os tempos de cálculo foram cerca de 20 minutos.

Na figura 4.1 apresenta-se a estrutura do programa “ARIETE” que é exposta com

maior pormenor, nas secções seguintes.

62
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

Entrada de dados

Subrotina “BOMPER”

Inicialização para ciclo


transitório
T=0

Não
T < Tsimulação FIM

Sim

Ciclo transitório Subrotina “BOMBTRAN”


Actualizaçãodas variáveis e
saídas para ficheiros ( Método das características )
Subrotina “RIDDERS”

Figura 4.1 – Estrutura do programa “ARIETE”.

4.2 ENTRADA DE DADOS

Na versão base do código numérico, todas as características físicas e geométricas

podem ser alteradas, recorrendo à escrita directa em linhas de programa bem identificadas.

Desta forma, as alterações significativas à geometria da instalação têm de ser

efectuadas recorrendo a programação directa em Fortran. No entanto, após definir, em termos

gerais, a geometria da instalação e as condições de fronteira, o programa pode ser compilado

prevendo a introdução directa de dados através de teclado pelo utilizador.

A entrada de dados no programa está organizada de acordo com os módulos em que

este se divide.

63
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

No que diz respeito ao tronco principal do programa, é necessário fornecer:

a) Características da tubagem e do escoamento:

- Comprimento dos vários troços de conduta simples.

- Diâmetro da conduta.

- Factor de atrito da conduta.

b) Constantes físicas:

- Velocidade de propagação das ondas.

- Massa específica do fluido.

c) Discretização:

- Número de nós da conduta, (o passo de tempo fica imposto pela

equação 3.14).

- Tempo de simulação.

d) Condições de fronteira lineares:

- Cota piezométrica do reservatório de abastecimento ou de descarga.

- Coeficiente de perda de carga nas válvulas (regime permanente).

- Lei de fecho ou abertura das válvulas.

e) Definição das saídas:

Dado que o programa calcula a cota piezométrica e o caudal em todos os nós

da conduta, pode-se criar vários tipos de ficheiros de saída. O programa cria

opcionalmente quatro tipos de ficheiros:

- Um ficheiro geral, onde ficam registados os valores da cota piezométrica e

do caudal em todos os nós e em todos os passos de tempo.

- Ficheiros do tipo “sonda numérica”, onde são registadas as cotas

piezométricas e os caudais, apenas em nós previamente definidos.

64
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

- Ficheiros em que os dados estão organizados ao longo da conduta para o

mesmo passo de tempo.

- Ficheiro com os valores da curva das envolventes máxima e mínima ao

longo de toda a extensão da conduta.

4.3 DETERMINAÇÃO DAS GRANDEZAS EM REGIME PERMANENTE

Em situações em que se simulam instalações sem bomba hidráulica, ou fechos

instantâneos de válvulas, apenas é necessário conhecer o valor do caudal em regime

permanente. A partir deste valor é calculada, no tronco comum do programa a evolução das

cotas piezométricas ao longo da tubagem por aplicação da equação de Bernoulli em regime

estacionário.

Em instalações equipadas com bombas, é necessário determinar o ponto de

funcionamento, tendo sido criada a subrotina “BOMBPER” para esse efeito. Esta subrotina

necessita apenas de uma pequena parte da informação relativa à bomba, contrariamente à

subrotina “BOMBTRAN”, que é apresentada na secção seguinte. Com efeito, a bomba em

regime permanente funciona a velocidade de rotação constante e conhecida, situada no

terceiro quadrante de funcionamento. A obtenção do ponto de funcionamento da bomba, em

regime permanente, é feita utilizando os parâmetros de Sutter. Recorre-se ao método de

Newton-Raphson na resolução das equações 3.77 e 3.78, como explicado na secção 3.4.4.

65
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

4.4 SUBROTINA “BOMBTRAN”

A subrotina “BOMBTRAN” modela e caracteriza o funcionamento da bomba em

qualquer dos quadrantes durante o regime transitório. Para tal, incorpora as equações

referentes às condições de fronteira da válvula que se encontra a jusante da bomba e a sua lei

de fecho ou de abertura.

Esta subrotina necessita que o utilizador forneça os seguintes dados:

- Parâmetros de Suter nos quatro quadrantes de funcionamento. Esta entrada pode ser

feita através de tabelas integradas no próprio programa ou de ficheiros externos.

- Lei de fecho da válvula, τ(t), e o respectivo coeficiente de perda de carga em regime

permanente.

- Os valores da altura de elevação, do caudal, do binário e da velocidade de rotação em

condições de rendimento máximo da bomba.

- Características da inércia das massas girantes. Alternativamente, pode ser utilizada a

equação 3.68 ou as correlações relativas ao parâmetro PD2 (Quadro 3.1).

A subrotina utiliza o método de Newton-Raphson para a resolução das equações 3.77 e

3.78. Relativamente a este método, o utilizador pode ajustar a precisão de cálculo; no entanto,

nas simulações efectuadas foi adoptada uma tolerância de 10-4, que se revelou satisfatória.

Esta subrotina tem como saídas as variáveis υ e α, razão de caudais e de velocidades de

rotação, respectivamente. Conhecidas estas variáveis, por substituição sucessiva nas equações

3.58 a 3.64, calcula-se a cota piezométrica, o caudal e a velocidade de rotação em cada passo

de tempo, podendo assim iniciar-se um novo ciclo de cálculo.

66
Capítulo 4 –O programa “ARIETE”

4.5 SUBROTINA “RIDDERS”

Com esta subrotina, introduzem-se as condições de fronteira estabelecidas pelo

reservatório hidropneumático.

Para a sua utilização é necessário fornecer as seguintes características:

- Volume das fases líquida e gasosa em regime estacionário.

- Constante politrópica.

- Pressão na superfície livre em regime permanente.

- Perdas de carga no ramal de ligação à conduta principal; é possível, como se

disse, introduzir assimetria nestas perdas de carga.

Esta subrotina permite resolver numericamente, em cada passo de tempo, a equação

3.57, para tal utilizando o método de Ridders, Vetterling et al. (1994). Este método, embora

não seja muito rápido, foi escolhido devido à sua robustez.

A subrotina permite ajustar a tolerância na determinação da raiz da equação. Uma vez

que o programa é compilado em precisão simples foi adoptada uma tolerância de 10-5.

O método de Ridders, como todos os métodos de “falsa posição”, necessita que se

identifique o intervalo onde está contido o zero da função. Foi implementado um critério

físico simples: admitiu-se que o caudal no passo de tempo i não varia mais de 10%

relativamente ao caudal no passo de tempo anterior i-1. Este critério foi corrigido quando a

raiz estava próxima de zero.

A saída desta subrotina é o caudal no passo de tempo de cálculo, que permite calcular

todas as restantes incógnitas, utilizando as equações 3.51 a 3.56, e actualizar o volume de ar

no reservatório hidropneumático, dados necessários para o cálculo no passo de tempo

seguinte.

67
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

CAPÍTULO 5
APLICAÇÕES DO CÓDIGO “ARIETE”

5.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, são apresentados resultados relativos a simulações efectuadas com o

programa “ARIETE”, tendo em vista a sua validação e tentando exemplificar a sua

versatilidade em diversas situações.

A primeira situação analisada é bastante simples e consiste no fecho instantâneo de

uma válvula situada na zona de montante de uma conduta sem acessórios. Este caso tem

solução analítica conhecida (capítulo 2) pelo que a comparação é fácil. Pretendeu-se, neste

primeiro teste, validar o código no que diz respeito à simulação do fenómeno nas secções

internas da tubagem.

Como segunda situação abordada considera-se um sistema elevatório que contém um

reservatório hidropneumático. Inicialmente, o reservatório está situado na extremidade de

montante da conduta, sendo os resultados obtidos comparados com os de Darzé (1988). Este

autor utilizou também um código baseado no método das características.

De seguida, ilustra-se a versatilidade do código abordando situações comuns no

projecto de sistemas adutores equipados com reservatórios hidropneumáticos. Nesta fase

validam-se as subrotinas que introduzem a simulação do reservatório hidropneumático como

condição de fronteira da tubagem.

68
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Na última situação analisada, é efectuada uma comparação entre os resultados

calculados com o código “ARIETE” e os resultados experimentais obtidos na Estação de

Bombagem de Álamos.

5.2 CONDUTA SIMPLES

Tendo em vista a validação do programa, foi estudado o efeito do fecho instantâneo de

uma válvula numa conduta simples que termina num reservatório de grandes dimensões. Os

valores obtidos são confrontados com o modelo analítico apresentado no capítulo 2.

A situação simulada corresponde à ocorrência de um fecho instantâneo na instalação

representada na figura 5.1.

Z = 236,9 m

Z = 200 m Z = 200 m

L = 924 m

Figura 5.1 – Instalação A (Cotas geométricas correspondentes às condições de fronteira do

programa “ARIETE”)

As características da instalação relevantes para esta análise são:

∆Z = 36,9 m

D = 200 mm

a = 1200 m/s
69
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Em regime permanente, a altura de elevação fornecida pela bomba e o caudal são

respectivamente:

Hbomba = 51,06 m

Q = 0,0539 m3/s

De acordo com estes dados, representa-se na figura 5.2 a linha piezométrica ao longo

da conduta para o regime permanente.

0 200 400 600 800 1000

252 252
Linha piezométrica

248 248
Cota Piezométrica(m)

Cota Piezométrica(m)
244 244

240 240

236 236

0 200 400 600 800 1000

Distancia(m)

Figura 5.2 – Cota piezométrica ao longo da conduta elevatória (regime permanente).

Para fecho instantâneo, a equação 2.6 permite estimar o valor máximo da

sobrepressão, ou da depressão. Contudo, como foi referido no capítulo 2, os efeitos viscosos

não são considerados nesta análise, pelo que, para tempos superiores ao tempo de trânsito

2L/a, a equação 2.6 já não pode ser utilizada, pois o efeito da dissipação viscosa começa a ser

significativo.

Aplicando a referida equação, o valor máximo da sobrepressão e mínimo da depressão

na secção imediatamente a jusante da bomba é de:

∆p = ρ V a = (998 x 1,7 x 1200 ) ± 210,08 m. (5.1)

70
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

A cota piezométrica tem então como valores máximos e mínimos:

Hmin = 40,97 m

Hmáx = 461,14 m

Para comparar estes resultados analíticos com os numéricos, simulou-se o fecho

instantâneo da válvula. Consideraram-se duas situações: a primeira ideal, em que o factor de

atrito f é nulo; a segunda um caso real, com f = 0,0208.

As cotas piezométricas foram obtidas através de uma sonda numérica colocada

imediatamente a jusante da válvula e representam-se conjuntamente com os resultados

analíticos na figura 5.3.

0 4 8 12 16 20

500 500
Resultado analítico
Sem atrito (Cod. "ARIETE")
Com atrito (Cod. "ARIETE")
400 400
Regime permanente
Cota Piezométrica(m)

Cota Piezométrica(m)

300 300

200 200

100 100

0 0

0 4 8 12 16 20

Tempo(s)

Figura 5.3 – Evolução da cota piezométrica na secção de jusante da válvula (resultados

numéricos e analíticos).

A simulação efectuada sem efeito viscoso (f = 0), permitiu obter valores para a

depressão e sobrepressão de Hmin = 41,10 m e Hmax = 461,02 m, respectivamente. Estes

valores são muito próximos dos calculados analiticamente, no caso da sobrepressão o erro

relativo é de 0,3% e da depressão de 0,03%.

71
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

A simulação, com factor de atrito f = 0,02 permitiu identificar os efeitos da dissipação

viscosa. Na figura 5.3, está patente a diminuição da cota piezométrica ao longo do tempo,

devido ao efeito dissipativo que não é considerado nas aproximações analíticas. As curvas

relativas às duas simulações numéricas iniciam-se no mesmo valor. Contudo, no caso do

factor de atrito não ser nulo, observa-se uma diminuição no valor da depressão que atinge o

valor mínimo de Hmin= 26,68 m. A observação cuidada da figura 5.3 permite identificar uma

ligeira variação da pressão nos patamares da curva. A redução da velocidade, provocada pela

dissipação viscosa na parede, cria um efeito de inércia secundário que é transmitido à mesma

velocidade de propagação que o principal. Desta forma, o efeito total só se faz sentir na

secção de montante, junto à válvula, com um atraso de 2L/a.

O programa consegue simular correctamente não só o fenómeno do golpe de aríete,

como também este efeito de inércia secundário, representado em pormenor na figura 5.4 que é

o resultado de uma ampliação da figura 5.3.

0 1 2 3 4 5

500 500
Com atrito (Cod."ARIETE")

400 400
Cota Piezométrica(m)

Cota Piezométrica(m)

300 300

200 200

100 100

0 0

0 1 2 3 4 5

Tempo(s)

Figura 5.4 – Efeito secundário de inércia.

72
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

O fecho instantâneo de uma válvula, num sistema com esta simplicidade, dá origem a

um fenómeno cíclico que se passa a descrever. No instante inicial, t = 0 s, a válvula é fechada

instantaneamente, a velocidade, que no regime permanente tinha um valor constante em toda

a conduta, passa a ser nula na secção de montante, induzindo uma depressão. A frente da

perturbação desloca-se na direcção de jusante, à velocidade de propagação da onda, chegando

à secção de descarga no instante t = L/a. Neste instante toda a conduta está em depressão.

A onda é então reflectida, regressando à secção de montante e atingindo a válvula no

instante t=2L/a. A conduta está neste instante submetida a uma pressão aproximadamente

igual à de regime permanente.

A onda é então de novo reflectida para jusante, atingindo a descarga no instante

t=3L/a. A conduta está submetida ao valor máximo da pressão.

A reflexão seguinte, provoca que no instante, t=4L/a, a conduta seja de novo

submetida a uma pressão semelhante à do regime permanente. Estando a conduta de novo

perante condições idênticas às iniciais. O fenómeno repete-se ciclicamente com um período,

t=4L/a. No entanto, a amplitude da onda não se mantém constante, uma vez que esta sofre um

efeito de dissipação de energia, o que conduz a um amortecimento dos valores da depressão e

da sobrepressão, conforme está patente na figura 5.3.

A conduta não fica sujeita em toda a sua extensão ao mesmo tipo de solicitação, uma

vez que a onda atinge cada uma das suas secções em instantes diferentes. Representa-se,

seguidamente, a evolução da cota piezométrica e do caudal em secções da tubagem

criteriosamente escolhidas. As figuras 5.3, 5.5 e 5.6 representam a evolução da cota

L
piezometrica e do caudal em secções que distam respectivamente: 0 s , =462 m e L=924 m
2

da secção de montante.

73
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

L 2 (L − x )
= 0 ,77 s = 0 ,77 s
a a
0 2 4 6 8 10

500 500
Sem atrito (Cod."ARIETE")
Com atrito (Cod."ARIETE")

400 400

Cota piezométrica (m)


Cota piezométrica(m)

300 300

200 200

100 100

0 0

0 2 4 6 8 10

Tempo(s)

Figura 5.5 - Evolução da cota piezométrica a 462 metros da secção de montante.


L
(x= =462m ; L=924 m).
2

0 2 4 6 8 10

500 0.08
Cota piezométrica (Cod."ARIETE")
Caudal (Cod."ARIETE")

400
0.04
Cota piezométrica(m)

Caudal (m3/s)

300

200

-0.04
100

0 -0.08

0 2 4 6 8 10

Tempo(s)

Figura 5.6 - Evolução da cota piezométrica e do caudal na secção de jusante (x=L=924 m).

74
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

As descontinuidades no caudal e na cota piezométrica estão em perfeito acordo com a

teoria clássica do golpe de aríete, apresentada no capítulo 2.

Este conjunto de resultados, mostra que o programa “ARIETE” calcula com grande

precisão as características cíclicas do fenómeno no interior da conduta, o que permite concluir

que o método das características foi correctamente implementado. Desta forma, a simulação

de escoamentos transitórios em condutas simples fica garantida para qualquer tipo de fecho.

5.3 CONDUTA COM RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO

Nesta secção são efectuadas simulações de instalações que possuem um reservatório

hidropneumático. Numa primeira fase, o reservatório está instalado na secção de montante,

conforme se mostra na figura 5.7, sendo o estudo posteriormente alargado a uma qualquer

localização deste órgão.

Z = 236,9 m

Z = 200 m
Z = 200 m

L = 924 m

Figura 5.7 – Instalação B – Conduta com reservatório hidropneumático.

75
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

5.3.1 Reservatório hidropneumático posicionado na secção de montante

Tendo em vista o teste e validação da subrotina, “RIDDERS”, que simula o

funcionamento de um reservatório hidropneumático em regime transitório, efectuaram-se

simulações numéricas, em condições idênticas às publicadas por Darzé (1988). Este autor

utilizou também um código numérico baseado no método das características.

Os parâmetros relevantes para esta análise, estão resumidos no quadro 5.1.

Volume do reservatório hidropneumático 0,9 m3

Volume de ar 0,33 m3

Diâmetro da conduta 200 mm

Factor de atrito1 0,02

Velocidade de propagação 1200 m/s

Cota piezométrica na secção de montante em regime permanente 251,06 m

Cota piezométrica na secção de jusante em regime permanente 236,87 m

Caudal em regime permanente 0,0539 m3/s

Quadro 5.1 – Características relevantes para o estudo da instalação.

As simulações efectuadas, permitiram obter a cota piezométrica e o caudal na secção

de montante da conduta, assim como, o volume de ar no interior do reservatório. Estes

resultados são comparados com os de Darzé (1988) nas figuras 5.8, 5.9 e 5.10. A perda de

carga na conduta de ligação foi considerada nula.

Os valores de Darzé (1988), foram obtidos a partir da leitura das figuras publicadas na

sua tese, pelo que neste trabalho são apresentados como valores discretos.

1
Este factor de atrito foi estimado tendo por base o diâmetro do tubo e admitindo uma rugosidade de 0,2 mm. O
escoamento é completamente rugoso. Darzé (1988) não indicou de forma explícita o valor do factor de atrito na
sua obra.

76
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 20 40 60 80

270 270
Cota piezometrica
Reservatório sem perda de carga
Cota piezométrica (Cod."ARIETE")
260 260 Cota piezométrica (Darzé 1988)
Cota Piezométrica(m)

Cota Piezométrica(m)
250 250

240 240

230 230

220 220

210 210

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.8 – Cota piezométrica na secção de montante da tubagem; comparação com

Darzé (1988).

0 20 40 60 80

0.06 0.06

Caudal
Reservatório sem perda de carga
Caudal (Cod."ARIETE")
0.04 0.04 Caudal (Darzé 1988)
Caudal(m3/s)

Caudal(m3/s)

0.02 0.02

0 0

-0.02 -0.02

-0.04 -0.04

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.9 – Caudal no reservatório hidropneumático; comparação com Darzé (1988).

77
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 20 40 60 80

0.6 0.6
Volume de ar
Reservatório sem perda de carga
Volume de ar (Cod."ARIETE")
Volume de ar (Darzé 1988)

0.5 0.5
Volume de ar(m3)

Volume de ar(m3)
0.4 0.4

0.3 0.3

0.2 0.2

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.10 – Volume de ar no interior do reservatório hidropneumático, comparação com

Darzé (1988).

Da análise das figuras 5.8 e 5.9, conclui-se que existe uma boa concordância nos

resultados obtidos pelos dois modelos, embora se verifiquem pequenas diferenças ao nível

dos valores máximos e mínimos a partir do primeiro ciclo, especialmente nos valores

referentes à cota piezométrica. Este facto, pode ser explicado por se ter admitido um factor de

atrito diferente do utilizado por Darzé (1988).

Relativamente ao volume de ar no interior do reservatório hidropneumático, os

resultados são idênticos nos dois primeiros ciclos, após isto, o volume de ar calculado por

Darzé (1988) apresenta uma menor oscilação. Esta divergência é de difícil compreensão, pois

os resultados referentes à cota piezométrica e ao caudal apresentam uma melhor concordância

e estão intrinsecamente ligados ao volume de ar contido no reservatório. Contudo, para o

objectivo pretendido, teste à implementação das condições fronteira na subrotina “RIDDERS”,

os resultados são satisfatórios.

78
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Nas figuras 5.11, 5.12 e 5.13 representam-se simultaneamente a cota piezométrica, o

volume de ar e o caudal, pretendo-se evidenciar a forma como se relacionam entre si.

No que diz respeito à cota piezométrica e ao volume de ar contido no reservatório

hidropneumático, figura 5.11, verifica-se que o reservatório hidropneumático absorve energia

nas fases de sobrepressão e cede energia nas fases de depressão. Como se verifica na figura

5.11 estas duas variáveis estão em oposição de fase, não existe portanto nenhum atraso na

resposta do reservatório hidropneumático. Este resultado é consequência directa de se ter

desprezado a inércia do fluido contido no interior do reservatório hidropneumático.

0 20 40 60 80

270 0.6
Reservatório sem perda de carga
Cota piezométrica (Cod."ARIETE")
Volume de ar (Cod."ARIETE")
260

0.5

250
Cota piezométrica(m)

Volume de ar(m3)

240 0.4

230

0.3

220

210 0.2

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.11 – Evolução da cota piezométrica e do volume de ar no interior do reservatório

hidropneumático.

79
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Na figura 5.12 representa-se a evolução da cota piezométrica e do caudal.

0 20 40 60 80

270 0.06
Reservatório sem perda de carga
Cota Piezométrica (Cod."ARIETE")
Caudal (Cod."ARIETE")
260
0.04
Cota piezométrica (m)

250

Caudal(m3/s)
0.02

240

230

-0.02
220

210 -0.04
0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.12 – Evolução do caudal e da cota piezométrica no interior do reservatório

hidropneumático.

A análise da figura 5.12 permite concluir que os valores extremos da cota piezométrica

ocorrem no instante em que o caudal é nulo. Este era o resultado esperado, pois os valores

máximos e mínimos da pressão, têm de ocorrer receptivamente, quando a superfície livre no

interior do reservatório hidropneumático começa o seu movimento descendente ou

ascendente.

Para completar este estudo comparativo, apresenta-se na figura 5.13 a variação do

volume de ar e do caudal no interior do reservatório hidropneumático. Também neste caso o

volume de ar no reservatório apresenta valores extremos quando o caudal se anula, o que é

uma consequência evidente do princípio da conservação da massa.

80
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 20 40 60 80

0.06 0.6
Reservatório sem perda de carga
Caudal (Cod."ARIETE")
Volume de ar (Cod."ARIETE")
0.04
0.5

Volume de ar (m3)
Caudal(m3/s)

0.02

0.4

0.3
-0.02

-0.04 0.2

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.13 – Comportamento do caudal e do volume de ar no interior do reservatório

hidropneumático durante o regime transitório.

A concordância global dos resultados obtidos permite ter confiança no código

desenvolvido, parecendo assim ser razoável aplicá-lo no estudo de situações mais complexas.

A atenuação na amplitude das oscilações deve-se apenas à dissipação na tubagem

principal, pois não se considerou perda de carga na conduta de ligação ao reservatório

hidropneumático. Esta situação é abordada seguidamente, introduzindo perdas de carga

simétricas e assimétricas. Na prática, os reservatórios hidropneumáticos estão equipados com

um circuito paralelo que permite introduzir perdas de carga assimétricas (ver figura 3.3). A

finalidade deste dispositivo é a protecção da conduta, aumentando a dissipação energética e

reduzindo assim a duração do transitório. Para tal, o reservatório hidropneumático está dotado

de um elemento dissipador mais eficaz nas situações de sobrepressão, mas mantém a sua

capacidade de ceder energia à conduta principal o mais rapidamente possível, prevenindo-se

assim eventuais depressões que possam levar a conduta ao colapso. Evidentemente, não se

81
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

pode aumentar sem critério a perda de carga pois, no limite, valores exagerados, conduzem a

caudais nulos, equivalentes à inexistência de reservatório. Importa pois, optimizar a perda de

carga em função do tipo de instalação e de fecho, o que raramente é feito pelos fabricantes. As

simulações que se passam a analisar dizem respeito à instalação, cujas características

relevantes já foram resumidas no quadro 5.1. Quanto ao tipo de perda de carga, consideraram-

se três situações:

- perda de carga assimétrica ( kentrada= 2500 m-5s2, ksaída = 0 m-5s2).

- perda de carga simétrica (k = 2500 m-5s2).

- sem perda de carga (k = 0 m-5s2).

Nas figuras 5.14 e 5.15 representa-se, respectivamente, a variação da cota

piezométrica e do volume de ar no interior do reservatório.

0 20 40 60 80

270 270
R.H. sem perda de carga
R.H. com perda de carga simétrica
R.H. com perda de carga assimétrica
260 260

250 250
Cota piezométrica(m)

Cota piezométrica(m)

240 240

230 230

220 220

210 210

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.14 – Influência do tipo de perda de carga na cota piezométrica.

82
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Na figura 5.14, verifica-se que a introdução de perdas de carga assimétricas permitiu

reduzir o valor extremo das sobrepressões e das depressões. A eficácia do reservatório

hidropneumático foi assim melhorada. No que diz respeito à perda de carga simétrica,

constata-se que as depressões são superiores às que ocorrem com perda de carga nula. É de

notar ainda que a variação do período da oscilação com o tipo de perda de carga é pequena.

Na figura 5.15, representa-se a variação o volume de ar no interior do reservatório em

função do tipo de perda de carga.

0 20 40 60 80

0.7 0.7
R.H. sem perda de carga
R.H. com perda de carga simétrica
R.H. com perda de carga assimétrica

0.6 0.6
Volume de ar(m3)

Volume de ar(m3)
0.5 0.5

0.4 0.4

0.3 0.3

0.2 0.2

0 20 40 60 80

Tempo(s)

Figura 5.15 – Influência do tipo de perda de carga no volume de ar contido no reservatório

hidropneumático.

Quanto ao volume de ar no reservatório hidropneumático, é interessante constatar que

à situação de perda de carga assimétrica corresponde uma menor variação. Não obstante,

analisando da figura 5.14, conclui-se que o reservatório protege melhor a conduta.

83
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

É importante voltar a salientar que estas conclusões são à priori válidas apenas para a

instalação considerada. No entanto, fica bem exemplificada a utilidade do código “ARIETE”

no estudo deste tipo de problemas.

5.3.2 Estudo do posicionamento do reservatório hidropneumático

Uma situação que se pretende abordar com maior profundidade em trabalhos futuros, é

aqui introduzida com o objectivo de testar a versatilidade do programa “ARIETE”. Desta

forma, mostra-se seguidamente como o código pode ser utilizado no estudo do

posicionamento e dimensionamento do reservatório hidropneumático numa instalação

elevatória. Evidentemente, do ponto de vista conceptual, o reservatório hidropneumático deve

ser colocado imediatamente após a bomba. No entanto, na prática, esta não é sempre a melhor

escolha, quer do ponto de vista económico, quer no que diz respeito à segurança. Em alguns

casos, as dimensões dos reservatórios hidropneumáticos implicam o aumento do custo

inerente à acessibilidade ao seu local de montagem. Opta-se então por instalar o reservatório

hidropneumático numa outra posição, e sobre-dimensionar a conduta na zona em que não fica

protegida. Uma outra situação em que, por razões de segurança, o reservatório não deve ser

instalado próximo da bomba ocorre em centrais de elevação que se encontram submersas. Em

ambos os casos, durante a fase de projecto, é necessário optimizar a protecção da instalação

do ponto de vista hidráulico com os custos inerentes a cada localização do reservatório

hidropneumático.

Na fase inicial do projecto da central de elevação dos Álamos, abordada com maior

pormenor na secção 5.4, foi necessário escolher o posicionamento dos reservatórios

hidropneumáticos. As características da instalação estão resumidas na figura 5.16 e no

quadro 5.2.

84
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Foram estudadas quatro posições alternativas para a colocação do reservatório

hidropneumático:

- Reservatório colocado o mais próximo possível das bombas (L=7m).

- Reservatório colocado na zona do maciço M3 (L=130m).

- Reservatório colocado na zona do maciço M4 (L=250m).

- Reservatório colocado entre os maciços M4 e M9 (L=512).

190,5m 221,5m

180 m
M9
M4
130m
M3

120m

M2

Figura 5.16 – Diagrama simplificado da central de elevação dos Álamos.

Como a conduta elevatória não tem a mesma espessura em todos os troços, foi

necessário determinar a velocidade de propagação em cada troço e o valor da celeridade

equivalente na conduta.

Até M2 M2 - M3 M3 – M4 M4 – M9

L [m] 66 64 120 595

a [m/s] 1411,98 1260,59 778,66 698,94

Quadro 5.2 – Comprimento dos troços e respectiva velocidade de propagação.

85
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Segundo Almeida (1982), a celeridade equivalente pode ser calculada utilizando a expressão:

Ltotal 845
aeq = n L
= = 766 ,15 m s (5.2)
66 64 120 595
∑ i
+ + +
i =1 ai 1411,98 1260 ,59 778 ,66 698 ,94

Para cada posição do reservatório hidropneumático, calcularam-se as curvas

envolventes das pressões máximas e mínimas em função tempo de fecho. A lei de fecho

utilizada tem a seguinte expressão:

0.75
t 
τ = 1 −   (5.3)
 tc 

representando, tc, o tempo de fecho.

Este estudo tem como objectivo, não só seleccionar a melhor posição para a colocação

do reservatório hidropneumático, mas também optimizar o tempo de fecho da válvula que

permita evitar fenómenos de cavitação e consequente ruptura da veia líquida. Parte

substancial das corridas do programa foram efectuadas por Jorge, Matos, Custódio e Martins

(2003). Nesta análise, considerou-se o funcionamento dos seis grupos de bombagem, situação

de horizonte do projecto, a que corresponde um caudal em regime permanente de 41,3 m3/s. O

volume de cada reservatório hidropneumático é de 86,5 m3, sendo um terço deste volume

ocupado por ar.

Nas figuras 5.17 a 5.21, apresentam-se as envolventes da pressão relativa, utilizando a

unidade metros de coluna de água, para os seguintes tempos de fecho: 0, 5, 10, 15 e 20 s. A

ocorrência de cavitação é assim facilmente detectável por comparação directa com a pressão

de vaporização da água à temperatura do escoamento.

Neste tipo de estudo, não é suficiente conhecer apenas a variação da pressão

consequência do regime transitório. Como foi visto no capítulo 3, o método utilizado não tem

em consideração os efeitos da gravidade. Estes efeitos são introduzidos sobrepondo o campo

hidrostático de pressão, resultante da variação da cota geométrica ao longo da instalação.

86
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


800 800
007 m
700 700
130 m
600 250 m 600
512 m
500 SemR.H.
Sem RAC 500

400 400

300 300

Pressão [m]
Pressão [m]

200 200

100 100

0 0

-100 -100

-200 -200

-300 -300

-400 -400

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


Comprimento [m]

Figura 5.17 – Envolventes das pressões – fecho instantâneo.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


240 240
007 m
200 130 m 200
250 m
160 160
512 m
120 Sem RAC
Sem R.H. 120

80 80
Pressão [m]

Pressão [m]

40 40

0 0

-40 -40

-80 -80

-120 -120

-160 -160
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Comprimento [m]

Figura 5.18 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 5s.

87
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


200 200
007 m
160 130 m 160
250 m
512 m
120 SemR.H.
Sem RAC 120
Pressão [m]

Pressão [m]
80 80

40 40

0 0

-40 -40

-80 -80
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Comprimento [m]

Figura 5.19 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 10s.

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


180 180
007 m
160 160
130 m
140 250 m 140
512 m
120 SemR.H.
RAC 120
Sem
100 100
Pressão [m]
Pressão [m]

80 80

60 60

40 40

20 20

0 0

-20 -20

-40 -40
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Comprimento [m]

Figura 5.20 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 15s.

88
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900


180 180

160 007 m 160


130 m
140 250 m 140
512 m
120 120
SemR.H.
Sem RAC
100 100

Pressão [m]
Pressão [m]

80 80

60 60

40 40

20 20

0 0

-20 -20

-40 -40
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900
Comprimento [m]

Figura 5.21 – Envolventes das pressões – Tempo de fecho – 20s.

A análise das figuras 5.17 e 5.18 permite concluir sobre a importância do tempo de

fecho, pois a passagem de fecho instantâneo para 5 segundos permite uma redução

significativa da pressão no interior da conduta. Note-se que todas as leis de fecho utilizadas

correspondem a fechos lentos, pois os tempos de fecho são todos superiores a (2L/a=2,2 s).

Evidentemente que, à medida que o tempo de fecho aumenta, as sobrepressões e as

depressões no interior da conduta diminuem.

Analisando em conjunto os gráficos anteriores, observa-se que, para cada tempo de

fecho, os valores de pressões máximas no interior da conduta são muito próximos,

independentemente da localização do reservatório hidropneumático. No entanto, nas

depressões, a utilidade do reservatório hidropneumático está bem patente, principalmente nos

tempos de fecho mais baixos (5 e 10 segundos).

89
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Com o aumento do tempo de fecho as diferenças de pressão no interior da conduta,

entre o sistema com e sem dispositivo de protecção, são menores. Observa-se ainda que,

quando o tempo de fecho for muito elevado, o reservatório deixa de exercer a sua função de

protecção da instalação, isto é, deixa de ser necessário.

No caso desta instalação as bombas estão colocadas num edifício submerso, pelo que a

localização L = 7m é desaconselhavel do ponto de vista da segurança. Devido ao relevo do

terreno o posicionamento do reservatório hidropneumático, entre os maciços M2 e M4, figura

5.16, obrigaria à construção de acessibilidades específicas, o que acarretaria um aumento

substancial do custo da obra. Por estas razões foi escolhida a posição L = 250m, devido à sua

boa acessibilidade.

Definida a posição dos reservatórios, conclui-se da figura 5.20 que, para evitar a

cavitação, o tempo de fecho não deve ser inferior a 15 s.

5.3.3 ESTUDO DA RESPOSTA DE UM RESERVATÓRIO HIDROPNEUMÁTICO.

Durante o estudo do posicionamento do reservatório hidropneumático, foi possível

verificar que as curvas correspondentes à variação de pressão apresentavam oscilações

diferentes quando se variava a posição e/ou o volume do reservatório hidropneumático. Na

figura 5.22, representa-se conjuntamente a evolução da pressão: junto à válvula (secção de

montante da conduta), no interior do reservatório hidropneumático e na secção do maciço M5.

Estas curvas foram obtidas para a instalação da figura 5.6 utilizando os parâmetros referidos

na secção 5.3.2.

90
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 10 20 30 40 50 60 70 80
170 170
Junto à válvula
160 No R.H.
RAC 160

150 Maciço M5 150

140 140

130 130
Pressão [m]

Pressão [m]
120 120

110 110

100 100

90 90

80 80

70 70

60 60

50 50
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Tempo [s]

Figura 5.22 – Evolução da pressão no interior da conduta durante o regime transitório

(6 grupos) sem perda de carga na conduta de ligação.

Surgiu assim a ideia de verificar se seria possível estudar a composição espectral dos

sinais relativos à variação de pressão, utilizando o programa “ARIETE”. Para tal,

considerou-se uma instalação do tipo B, figura 5.7, com características apresentadas no

quadro 5.3.

91
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Comprimento da conduta 845 m

Diâmetro da conduta 3,2 m

Factor de atrito 0,02

Celeridade da onda 794 m/s

Caudal em regime permanente 6,6 m3/s

Volume do reservatório hidropneumático Variável (ver figuras 5.23 e 5.24)

Tipo de fecho da válvula Instantâneo

Quadro 5.3 – Características físicas relevantes da instalação.

Para simplificar o estudo o reservatório hidropneumático foi colocado numa única

posição, a um quarto do comprimento total da conduta, e em cada simulação variou-se apenas

o volume do reservatório. Como valor de referência para o volume do reservatório

hidropneumático considerou-se 8,65 m3. Para visualizar, de forma clara, as variações

espectrais consideraram-se os casos correspondentes a dez vezes, vinte vezes e duzentos vezes

o volume de referência. Evidentemente que os dois últimos volumes são exagerados do ponto

de vista prático.

As respectivas variações de cota piezométrica, na secção imediatamente a jusante do

reservatório hidropneumático, estão representadas na figura 5.23.

92
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 10 20 30 40

200 200
Reservatório hidropneumático
a 1/4 do comprimento total
Volume do RAC: 1730 m3
Volume do RAC: 173 m3
160 160 Volume do RAC: 86,5 m3
Volume do RAC: 8,65 m3

Cota piezométrica(m)
Cota piezométrica(m)

120 120

80 80

40 40

0 0

0 10 20 30 40

Tempo(s)

Figura 5.23 – Evolução da cota piezométrica para um reservatório hidropneumático

colocado a ¼ do comprimento total da conduta.

As curvas da figura 5.23 apresentam formas bem distintas. Como seria de prever, o

aumento do volume do reservatório hidropneumático provoca uma forte diminuição na

oscilação da cota piezométrica. No entanto, é mais interessante constatar as diferentes

componentes espectrais de cada um dos sinais. Para tal, efectuou-se a transformada de Fourier

de cada um dos sinais, obtendo-se a respectiva densidade espectral de energia, Gil (1994). Os

espectros resultantes estão representados na figura 5.24.

93
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 0.4 0.8 1.2

60 60
Volume do R.H.: 1730 m3
Volume do R.H.: 173 m3
Volume do R.H.: 86,5 m3
Volume do R.H.: 8,65 m3

40 40
D.E.E. (m2/Hz)

D.E.E. (m2/Hz)
20 20

0 0

0 0.4 0.8 1.2

Frequência(Hz)

Figura 5.24 – Variação espectral correspondente à variação da cota piezométrica em função

do volume do reservatório hidropneumático.

Relativamente a cada espectro, o pico de maior conteúdo energético está associado à

frequência de oscilação da coluna de água no interior do reservatório hidropneumático. Os

picos de menor conteúdo energético estão associados às frequências de oscilação nas condutas

situadas a montante e jusante do reservatório. As frequências relativas a estas duas condutas,

quando isoladas do reservatório hidropneumático, são calculadas a partir do tempo de trânsito

da onda no seu interior, t = 4L/a, e correspondem a 0,95 Hz e 0,18 Hz, respectivamente, para

os troços de montante e de jusante do reservatório hidropneumático. Embora o conjunto de

ensaios seja escasso, é possível constatar que com o aumento de volume do reservatório

hidropneumático as frequências secundárias tornam-se mais baixas distanciam-se da

frequência natural de cada uma das condutas. A redução da energia associada às oscilações

com o aumento da dimensão do reservatório é também facilmente constatada pela diminuição

de amplitude do pico principal. Observa-se também que este pico se desloca na direcção das

frequências mais baixas quando o volume do reservatório hidropneumático aumenta.

94
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Parece assim razoável utilizar futuramente o programa “ARIETE” para caracterizar o

comportamento dinâmico dum sistema deste tipo.

Em, Cardoso, Jorge , Gil e Martins (2003), apresenta-se um estudo adimensional

efectuado com o código “ARIETE”, em que se caracteriza o comportamento dum sistema

deste tipo.

5.4 O SISTEMA DE ADUÇÃO ÁLQUEVA ÁLAMOS

A estação de bombagem de Álamos, pertence à empresa E.D.I.A. (Empresa de

Desenvolvimento e Infra-estruturas do Álqueva, S.A.) e situa-se num braço da albufeira de

Álqueva, correspondente ao vale do rio Degebe, a montante da barragem.

Nas secções seguintes apresentam-se as características desta instalação relevantes para

o estudo dos regimes transitórios e os dados experimentais obtidos. Por fim, os resultados

experimentais são comparados com simulações numéricas efectuadas com o programa

“ARIETE”.

5.4.1 Caracterização do Sistema de Adução Alqueva Álamos

O traçado do Sistema de Adução Alqueva Álamos está representado na figura 5.25 e

integra: a tomada de água, uma central de bombagem, a conduta de elevação, a plataforma

dos reservatórios hidropneumáticos e a estrutura de descarga para o canal de irrigação de

Álamos.

95
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Figura 5.25 – Traçado do sistema de adução Álqueva Álamos, perfil longitudinal e planta.

A Estação de bombagem dispõe actualmente de dois grupos electrobomba, sendo de

6MW a potência de cada um dos seus motores. O horizonte deste projecto prevê a instalação

de mais quatro grupos, com características idênticas. A central está submersa na albufeira do

Alqueva, no leito do rio Degebe.

O circuito hidráulico consiste numa única tubagem de aço com secção circular com

diâmetro interior de 3,2 m e tem uma extensão total de 854 m.

A curva desta instalação foi determinada recorrendo ao cálculo das perdas de carga

segundo Idelcik (1969) e Jorge et al.(2003), tendo-se obtido:

H = 91,5 + 6,108 x 10-3 Q2 (5.4)

As bombas instaladas foram fabricadas, sob encomenda, pela empresa Voith e têm

como curva característica:

H = -1,37 Q2 + 4,683 Q + 118,395 (5.5)

96
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Os parâmetros de Suter, WH(x) e WB(x), foram calculados para esta situação específica

e estão representados na figura 5.26.


0 1.57 3.14 4.71 6.28 0 1.57 3.14 4.71 6.28
1.5 1.2 2 1
Ns = 47 Ns = 47

0.5
1
0.8 1

0
0.5

WH(x)
WH(x)

WB(x)

WB(x)
0.4 0 -0.5

0
-1

0 -1
-0.5
-1.5

-1 -0.4 -2 -2
0 1.57 3.14 4.71 6.28 0 1.57 3.14 4.71 6.28

x (rad.) x (rad.)

Figura 5.26 – Parâmetros de Suter, WH(x) e WB(x), para Ns = 47.

Imediatamente a montante de cada uma das bombas, estão instaladas válvulas de

seccionamento do tipo corrediça. A jusante das mesmas, existe uma válvula de isolamento do

tipo borboleta, (DN1400 PN16), com batente e contra-peso.

A instalação possui actualmente quatro reservatórios hidropneumáticos, que estão

localizados numa plataforma situada à cota 190,50 m, adjacente ao maciço de amarração da

conduta forçada M4, representada na figura 5.26. Cada reservatório hidropneumático tem um

diâmetro interno de 3,5 m e 9,0 m de altura, com uma capacidade unitária de 86,5m3.

Figura 5.27 – Conduta elevatória e plataforma dos reservatórios hidropneumáticos.

97
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Tendo em vista a simulação dos regimes transitórios nesta instalação, resume-se no

quadro 5.4 as suas características relevantes:

Cota da superfície livre da água na albufeira 136,0 m

Cota do eixo da válvula de compressão 120,0 m

Cota da base de assentamento dos reservatórios 192,8 m


hidropneumáticos

Cota da descarga da conduta 221,5 m

Nível da superfície livre da água no canal 227,5 m

Volume de cada reservatório hidropneumático 86,5 m3

Numero de reservatórios hidropneumáticos ligados 4


simultaneamente

Diâmetro da tubagem 3,2 m

Comprimento total da tubagem 845 m

Factor de atrito da conduta 0,011

Celeridade da onda (expressão 5.1) 766,15 m/s

Quadro 5.4 – Características relevantes da instalação de Álamos.

5.4.2 Aquisição de dados

Utilizou-se um captor de pressão e um medidor de nível na aquisição dos resultados

experimentais. As pressões foram medidas na secção imediatamente a jusante da válvula de

seccionamento, por intermédio de um captor de pressão, representado na figura 5.27, cujas

características são descritas no anexo I.

98
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Figura 5.28 – Implantação do captor de pressão a jusante da válvula de seccionamento.

O nível da superfície livre da água no interior dos reservatórios hidropneumáticos foi

adquirido a partir de um medidor electromagnético de nível instalado num dos reservatórios

hidropneumáticos, cujas características são resumidas no anexo I.

Figura 5.29 – Medidor electromagnético de nível instalado num dos reservatórios

hidropneumáticos.

99
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

Os sinais provenientes destes dois captores foram digitalizados utilizando uma placa

de aquisição analógica-digital instalada num computador. O software para a aquisição destes

sinais, desenvolvido no âmbito deste trabalho, está descrito no anexo I.

Foram efectuados seis ensaios de arranque e paragem das bombas, tendo-se registado

as correspondentes variações de pressão e de nível dos reservatórios. Os resultados

experimentais são comparados com os numéricos na próxima secção.

5.5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA E COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS

Através do código “ARIETE” foi simulada uma saída de serviço da bomba. De acordo

com o projecto desta instalação, a paragem processa-se da seguinte forma:

- Durante os cinco segundos iniciais, a válvula de borboleta fecha até 70% do seu

curso, mantendo-se a bomba em funcionamento.

- Findo este intervalo de tempo, é interrompida a alimentação eléctrica da bomba,

prosseguindo a válvula o seu fecho, terminando-o quatro segundos mais tarde.

Para a realização destas simulações numéricas, foi necessário implementar no código

“ARIETE”: a geometria e características da instalação, as curvas características da bomba e

respectivos parâmetros de Suter e a lei de fecho da válvula. Pretendendo comparar os

resultados experimentais com os numéricos, criaram-se dois ficheiros de saída, contendo: os

valores da pressão na secção imediatamente a jusante da válvula e o volume de ar no interior

do reservatório hidropneumático.

Na figura 5.30 representam-se os valores da cota piezométrica obtidos pelas vias

numérica e experimental.

100
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 40 80 120 160

235 235

230 230
Cota piezométrica(m)

Cota piezométrica(m)
225 225

220 220

215 215

Código numérico "ARIETE"


Resultados experimentais

210 210

0 40 80 120 160
Tempo(s)

Figura 5.30 – Evolução da cota piezométrica imediatamente a jusante da válvula de

borboleta (resultados experimentais e numéricos).

A comparação dos resultados, relativos ao volume de ar contido no interior dos

reservatórios hidropneumáticos, é feita na figura 5.31. Nesta figura, é possível observar que o

conversor analógico-digital do medidor de nível tem uma baixa precisão, como demonstram

os patamares observáveis na curva experimental. Estes patamares, correspondem ao “bit

menos significativo, L.S.B.” do conversor.

101
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

0 40 80 120

140 140
Código numérico "ARIETE"
Resultados experimentais

130 130

Volume (m3)
Volume (m3)

120 120

110 110

100 100

0 40 80 120
Tempo(s)

Figura 5.31 – Evolução do volume de ar no interior dos reservatórios hidropneumáticos.

A análise das figuras 5.30 e 5.31, permite concluir que existe uma boa concordância

entre os resultados numéricos e experimentais. Os desvios, no que diz respeito às amplitudes

máximas e mínimas das curvas, são da ordem dos 5%. Relativamente ao período das

oscilações, verifica-se um desvio da mesma ordem. Esta pequena divergência entre os

resultados pode ser explicada com a incerteza no cálculo dos parâmetros característicos do

sistema. Com efeito, a celeridade das ondas elásticas foi obtida através de uma média em

várias secções e os efeitos elásticos na zona dos maciços foram desprezados. Foi efectuada

numericamente uma análise paramétrica, onde se mudou a celeridade e o comprimento da

tubagem, tendo-se concluído que variando cerca de 2% estes parâmetros obtinham-se tempos

de oscilações coincidentes.

102
Capítulo 5 – Casos de aplicação do código “ARIETE”

A mais importante divergência entre resultados numéricos e experimentais verifica-se

durante o período de fecho da válvula e paragem da bomba, representado em pormenor na

figura 5.32.

0 10 20 30 40

235 235

230 230
Cota piezométrica(m)

Cota piezométrica(m)
225 225

220 220

215 215

Código numérico "ARIETE"


Resultados experimentais

210 210

0 10 20 30 40
Tempo(s)

Figura 5.32 – Variação da cota piezométrica durante a operação de paragem

Na figura 5.32, é possível observar discrepâncias entre a paragem que foi na realidade

efectuada e a paragem manobra idealizada na fase de projecto e programada numéricamente.

Fica assim a dúvida se as pequenas diferenças na amplitude das curvas das figuras 5.30 e 5.31

se devem a divergências nas operações de fecho e paragem.

Não obstante, é lícito afirmar que o código “ARIETE” simula satisfatoriamente os

regimes transitórios numa central de elevação.

103
Capítulo 6 – Conclusões

CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES

6.1 CONCLUSÕES

Como referido na introdução, o principal objectivo deste trabalho foi o

desenvolvimento e validação de um código numérico capaz de simular os regimes transitórios

em sistemas de adução e a sua aplicação nas simulações de uma instalação de grandes

dimensões.

A primeira parte do trabalho consistiu numa consulta bibliográfica, o que permitiu

conhecer as técnicas analíticas e numéricas clássicas utilizadas na análise de regimes

transitórios no interior de condutas. Foi depois desenvolvido um trabalho de componente

analítica, no qual se deduziram ou transformaram as equações discretas referentes às

condições de fronteira do sistema.

Paralelamente ao trabalho bibliográfico e analítico, foi desenvolvido um código

numérico, designado por “ARIETE”. Este baseia-se na implementação numérica do método

das características. Este programa foi validado em situações cada vez mais complexas.

A utilização da central de bombagem contida no ”Sistema de Adução Alqueva-

Álamos”, permitiu realizar ensaios experimentais “in situ” e a obtenção de resultados

originais. A caracterização pormenorizada desta instalação, permitirá que outros autores

utilizem estes dados na validação dos seus próprios códigos numéricos.

As situações abordadas no capítulo 5 permitiram concluir que o programa simula

satisfatoriamente os regimes transitórios numa instalação elevatória. A curto prazo

104
Capítulo 6 – Conclusões

pretende-se utilizar este código numérico na optimização da perda de carga entre um

reservatório hidropneumático e uma conduta principal. A análise espectral da resposta do

reservatório hidropneumático constituiu uma originalidade deste trabalho. Ficou demonstrada

a capacidade do programa na caracterização dinâmica deste tipo de sistemas, estudo que já se

iniciou.

Os sucessivos adiamentos da data de entrada em serviço da Central de Bombagem de

Álamos, foram durante o desenvolvimento desta tese, um obstáculo à execução completa do

plano de trabalhos inicialmente proposto. Apenas no passado mês de Junho de 2003,

ocorreram os primeiros ensaios em carga. Estando ainda a instalação em período de testes,

não foi possível garantir o sincronismo entre o fecho da válvula e a paragem da bomba. No

entanto, os ensaios experimentais permitiram comprovar que o código numérico permite

simular sistemas adutores de grandes dimensões.

Para finalizar, referira-se que a formação adquirida pelo autor durante a realização

deste curso de mestrado permitir-lhe-á abordar com maior rigor e profundidade o estudo e

compreensão dos fenómenos relacionados com os regimes transitórios. Desta forma, e dadas

as funções por ele desempenhadas, prevê-se novas aplicações do código “ARIETE” em futuras

instalações em que venha a ser o gestor de projecto.

105
Referências bibliográficas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Doutoramento, Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

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ALMEIDA, A., MARTINS, S. – 1999. “Controlo hidráulico–operacional de sistemas

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Division., ASCE, HY-1, pp.29-39.

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Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Monte da Caparica.

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Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

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Caderno de Encargos do concurso público nº8/99.

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Millan Press.

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Tese de mestrado, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia,

Monte da Caparica.

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Engenharia Civil, Divisão de Hidráulica Sanitária.

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curso, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte da

Caparica.

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MORAN, M., SHAPIRO, H.- 1993. “Fundamentals of engineering Thermodynamics”. John

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PRESS, W., VETTERLING, W., TEUKOLSKY, S., FLANNERY, B. – 1994. “Numerical

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PURCELL, P. – 1997. “Case study of Check-valve slam in rising main protected by Air

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Científicos.

THORLEY, A.R.D., ENERVER, K.J. – 1979. “Control and supression of pressure surges in

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WYLIE, E.,STREETER,V. – 1993. “Fluid Transients in Systems”. Prentice Hall, New Jersey.

WYLIE, E., STREETER, V. – 1982. “Mecânica dos fluidos”, 7ª edição. Mc Graw Hill.

ZÁRUBA, J – 1993. “Water Hammer in Pipe-Line Systems”. Developments in water science,

43. Vlatva Basin, Prague, Czechoslovakia.

109
Anexo I – Aquisição de dados experimentais

ANEXO I

AQUISIÇÃO DE DADOS EXPERIMENTAIS

110
Anexo I – Aquisição de dados experimentais

I.1 AQUISIÇÃO DE DADOS EXPERIMENTAIS

Na aquisição dos dados, correspondentes às pressões na conduta e ao nível da água no

reservatório hidropneumático na central de elevação dos Álamos, foi utilizada uma placa com

um conversor analógico-digital PCI 6024 E, fabricada pela National Instruments. Esta placa

de aquisição, foi programada por intermédio de um software do tipo “visual” o LabVIEW 6.

Esta linguagem de programação, permite que o computador seja facilmente utilizado como

um instrumento de medida ou de comando. A programação é feita de forma gráfica por

ligação de ícones representando: os usuais operadores matemáticos (numéricos, lógicos,

vectoriais ou matriciais), rotinas de leitura ou de escrita nas portas da placa e subrotinas

criadas pelo utilizador ou já existentes nas bibliotecas do programa.

O programa de aquisição utilizado neste trabalho resultou da adaptação e interligação

de dois programas existentes no tutorial do LabVIEW 6. Ao código assim construído, deu-se

o nome de “AQUISI”.

Este programa permite inicialmente, visualizar online até oito sinais que se encontrem

ligados à placa de aquisição. A informação é apenas representada no écran, não ficando

guardada na memória do computador. Quando por observação dos sinais no écran, o

utilizador decide que estes devem ser guardados em ficheiro dá essa ordem, directamente

através do teclado ou com o rato do computador. A placa passa então ao modo de aquisição

mais rápido, sendo a informação guardada na sua memória. A frequência de aquisição e o

tempo da amostra são definidos pelo utilizador. No final deste processo, apenas os sinais

adquiridos são visualizados e o utilizador escolhe o nome e formato do ficheiro onde pretende

guardar os resultados.

111
Anexo I – Aquisição de dados experimentais

Qualquer código escrito em LabVIEW divide-se em duas partes distintas:

1) O painel, correspondente aos visores e comandos de um instrumento clássico. Nele são

colocados interruptores, potenciómetros, écrans gráficos que permitem ao utilizador

introduzir parâmetros através do teclado ou do rato do computador ou ler valores medidos

ou calculados.

2) O diagrama de programação, correspondente às componentes que estão dentro da caixa de

um instrumento de medida clássico. Este diagrama só é visível quando se constrói ou

modifica um programa.

Durante a execução do programa apenas o painel é acessível ao utilizador.

Nas figuras A1 e A2 reproduzem-se o painel e parte do diagrama do programa “AQUISI”.

Figura A1 – Painel do programa AQUISI.

112
Anexo I – Aquisição de dados experimentais

Figura A2 – Extracto do diagrama de programação do programa “AQUISI”.

No reservatório hidropneumático instalou-se um transdutor electromagnético, do

fabricante KROHNE, modelo B26 AG. Este transdutor coloca, na sua saída, um sinal em

tensão, entre 0 e 5 Volt, o que permitiu que fosse ligado directamente à placa de aquisição. A

sua calibração foi efectuada estaticamente, recorrendo a uma régua que permitia aferir

visualmente o nível da superfície livre.

A aquisição da pressão revelou-se mais complicada. Na conduta, após a válvula de

borboleta, foi instalado um captor do tipo piezoresistivo, do fabricante WIKA, modelo ECO-

1. Este captor permite detectar variações de pressão até 5 ms, período significativamente mais

baixo que o característico dos fenómenos que se pretendem medir. Contudo, a saída deste

captor faz-se através de uma fonte de corrente. Como a placa utilizada não permitia adquirir

sinais em intensidade de corrente, mas apenas em potencial, foi necessário recorrer a

resistências de precisão (3x100 Ω ± 0,1%). Estas resistências foram colocadas em serie com o

sinal proveniente do captor, sendo adquirida a respectiva queda de potencial.

113
Anexo I – Aquisição de dados experimentais

a) b) c)

Figura A3 – Aquisição da pressão. a) Breadboard com resistências de precisão ligado à

régua de bornes do quadro do grupo electrobomba 1 ; b) Extracção do sinal

para a placa de aquisição ; c) Vista geral do sistema de aquisição.

A calibração foi feita a partir de manómetros instalados na mesma secção da conduta,

utilizando os valores em regime permanente e com a instalação parada.

Nas duas situações abordadas, configurou-se a placa de aquisição para modo

diferencial, pois, desta forma, minimiza-se o ruído proveniente do circuito de alimentação da

bomba, nomeadamente dos conversores estáticos de frequência.

114
Anexo II – Nota sobre nomenclatura típica de hidráulica

ANEXO II
NOTA SOBRE NOMENCLATURA TÍPICA DE HIDRÁULICA

115
Anexo II – Nota sobre nomenclatura típica de hidráulica

II.1 Nota sobre nomenclatura típica de hidráulica

O facto da pressão poder ser medida alternativamente recorrendo à sua definição de


força por unidade de área, ou à equação fundamental da hidrostática, utilizando a unidade,
metros de coluna, levantou durante a elaboração deste trabalho dúvidas que se considerou
pertinente esclarecer neste anexo.
Tradicionalmente, a formação na área da engenharia mecânica, conduz à utilização de
unidades para a pressão que derivam directamente da sua definição. No caso do sistema
internacional, o Pascal (Pa). Tal não acontece na área da hidráulica, onde se utiliza o metro de
coluna de fluido como unidade na quantificação da pressão. Aparecem assim na literatura
especializada os termos: cota piezométrica, altura piezométrica, cota geométrica ou cota
altimétrica. Esta diferente nomenclatura utilizada entre as áreas da Engenharia Mecânica e da
Hidráulica, por si só não constituiria problema. Contudo, verificou-se durante a pesquisa
bibliográfia que poucos autores definiam com clareza as diferentes grandezas. Com efeito,
constatou-se, essencialmente nas obras traduzidas, um grande abuso e por vezes falta de rigor
na utilização desta nomenclatura.
A definição inequívoca destas grandezas, encontrada-se em Quintela (1993), tendo
sido utilizada neste trabalho. Segundo este autor, define-se a energia mecânica total de um
escoamento por:

p V2
+z+ (AII.1)
ρg 2g
em que:
z – cota geométrica, ou altimétrica, altura em relação à referência.
p
- altura piezométrica.
ρg

V2
- altura cinética.
2g
Com base nestas grandezas, define-se a cota piezométrica, como sendo, a soma da
altura piezométrica com a cota geométrica:
 p 
 + z  (AII.2)
 ρg 
As curvas que representam a cota piezométrica e a energia mecânica total ao longo de
uma instalação designam-se, respectivamente, por linha piezométrica e linha de energia.

116

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