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Fabienne N. da Cunha
RESUMO
No presente trabalho será abordada a problemática de uma crença apontada pela crítica
literária, que é a impossibilidade da tradução de uma poesia. A exigência de uma transposição
absoluta de forma e conteúdo de uma língua para outra, a versão de um original para outro
original idêntico pertencente a outra língua de chegada, são minuciosamente analisadas pelos
críticos, onde avaliam o grau de perdas e ganhos alcançados pelo tradutor, reduzindo seu
ofício a um processo de negociação que pretende ser o mais satisfatório possível. O soneto
Apelo de Eno Teodoro Wanke será o arcabouço para tal estudo, partindo da tradução feita
para o italiano onde será detalhado se há ou não perdas e ganhos dentro destas transposições
de línguas distintas.
ABSTRACT
In the present work will be addressed the problem pointed to a belief by literary criticism,
which is the impossibility of translating poetry. The requirement to implement an absolute
form and content from one language to another, the original version of an original identity to
another belonging to another target language, are scrutinized by critics, which evaluate the
degree of losses and gains made by the translator, reducing their craft to a negotiating process
that purports to be the most satisfactory possible. The sonnet Appeal Eno Teodoro Wanke will
be the framework for such study, from the translation made for the Italian which will be
detailed whether or not gains and losses within these transpositions of different languages.
Para os italianos, tradução é tradurre, mas também é tradire, ou seja, trair. Conforme
essas sugestões presentes no italiano, poderíamos sustentar que fazer uma tradução é sempre
cometer uma traição contra a língua original? Para Borges, traduzir é uma tarefa muito difícil,
pois “um idioma é uma tradição, uma forma de sentir a realidade, não um repertório arbitrário
de símbolos”. (BORGES 1974, p. 857). Traduzir é um ato muito importante, e não basta
dominar a língua de partida e a língua de chegada, é igualmente imprescindível conhecer
profundamente a cultura e a linguagem especializada das duas línguas.
Maillot ressalta:
Não é, pois, suficiente que o tradutor tenha conhecimento, ainda que profundo, do
vocabulário técnico de uma língua, na medida em que se pode considerar que esse
vocabulário (que, aliás, não passa de um complemento do léxico geral) abrange,
sobretudo, substantivos designativos de fenômenos, objetos, etc.; é indispensável
que conheça perfeitamente as regras que determinam as associações de termos, tanto
na língua de partida quanto na de chegada. As notas que seguem não visam de modo
algum a retomar sistematicamente o estudo da estrutura da língua, de que se deve
admitir que o tradutor tenha um bom conhecimento, mas a chamar-lhe a atenção
para certos pontos que a prática dos textos científicos e técnicos põe em destaque.
(1975, p. 49)
Segundo Bassnett o primeiro passo em direção a um exame do processo de tradução
deve ser:
Goldstein ressalta:
Como toda obra de arte, o poema tem uma unidade, fruto de características que lhe
são próprias. Ao analisar um poema, é possível isolar alguns de seus aspectos, num
procedimento didático, artificial e provisório. Nunca se pode perder de vista a
unidade do texto a ser recuperada no momento da interpretação, quando o poema
terá sua unidade orgânica restabelecida”. (2003, p. 05)
Eu venho das lições dos tempos idos, Vengo dai fili di vecchi tempi e guardo,
e vejo a Guerra no horizonte armada. E vedo Guerra all'orizonte armata.
Será que os homens bons não fazem nada? Che fanno i buoni, se han dimenticata
Será que não me prestarão ouvidos? La pace? O non ascoltan per riguardo?
Observando a tradução realizada por Renieri, percebe-se que foram deixadas as rimas
emparelhadas dos sonetos, o tradutor optou por fazer uma tradução mais “fiel”, ou seja, tentou
deixar mais parecida com a original que partiu da língua portuguesa para o italiano. Detectou-
se significados diferenciados entre algumas palavras, como no caso da última estrofe, a
palavra em português colocada pelo poeta Wanke foi “fortuna!”, já na tradução foi trocada
por “l‟onestà” que significa honestidade e não fortuna. Na frase “Será que os homens bons
não fazem nada?” temos a presença da palavra “homens”, já na tradução esta mesma palavra
foi retirada “Che fanno i buoni, se han dimenticata” mudando um pouco o contexto do soneto
original.
Fica evidente que o ato de traduzir requer muito conhecimento do tradutor diante
aquilo que ele se empenhou a traduzir, não basta somento ter o conhecimento prévio da língua
de partida, o tradutor tem que possuir um feeling para tal feitiu, pois não é qualquer pessoa
que consegue transpor e transladar palavras de uma língua para outra, sendo que este simples
fato de traduzir envolve cultura e riquezas de países diferenciados entre si, pois pode-se
perceber na tradução feita para o italiano do soneto Apelo que ocorreu perdas em palavras que
no português fazia sentido no contexto do soneto mais no decorrer da tradução fica claro que
o autor optou por não colocar a mesma palavra na tradução para o italiano, pois existem
significados e conotações diferenciados de ambas as línguas. Graças as traduções existentes
podemos conhecer as diferentes culturas que habitam o mundo, imagine se não houvessem os
tradutores? Nunca iriamos saber, por exemplo, como foi a história de Jesus que esta inscrita
na Biblía, por ter sido traduzida para diversos idiomas é que temos conhecimento de sua
existência e importância. Cabe aos tradutores não banalizarem esta profissão que a cada dia
cresçe tomando proporções gigantescas.
Referências
BENJAMIN, Walter, A tarefa- Renúncia do tradutor (Die aufgabe des übersetzers), 2001,
Clássicos da Teoria Bilíngüe, Antologia Bilíngüe, Volume I, Alemão- Português, Werner
Heiderman (org.), Universidade Federal de Santa Catarina, CCE/DLLE- Núcleo de Tradução:
Florianópolis.
BORGES, Jorge Luis. Obras Completas. Emecé Editores: Buenos Aires - Argentina, 1974.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13ª edição. São Paulo. Editora Ática, 2003.
MAILLOT, Jean. A tradução científica e técnica. Tradução Paulo Rónai. São Paulo,
McGraw-Hill do Brasil. Brasília, Ed. Na Universidade de Brasília, 1975.
Site
Clube da poesia. Disponível em:
<http://www.clubedapoesia.com.br/sonetos/sonfamcont.htm>. Acessado 13 dezembro.