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Amazon 

Em julho de 1995, a Amazon lançou-se como a ‘maior li- as celebridades recomendavam de um a três de seus produ-
vraria do mundo’. No entanto, era uma livraria virtual que não tos favoritos disponíveis no site. As recomendações podiam
possuía fisicamente um livro sequer. Muitos questionavam ser de seus próprios CDs ou filmes, ou algo que elas gostariam
se o canal on-line era apropriado para livros. Sem percorrer de comprar lá. “A recomendação de produtos feita pelos con-
as prateleiras e examinar os volumes, tal qual faziam nas lo- vidados foi uma maneira excelente de apresentar aos compra-
jas, como os compradores poderiam decidir se iam gostar dores itens para presente de fim de ano — mas também uma
ou não da obra? Sem uma equipe de atendentes atencio- oportunidade para eles ganharem certa intimidade com essas
sos e bem informados, como o comprador encontraria o livro celebridades. Foi uma promoção de muito impacto”, conta a
certo? O único lado positivo do novo canal era que a Amazon relações-públicas da Amazon, Emily Glassman.
podia oferecer uma variedade muito maior de títulos do que a Mantendo em segredo a programação das ‘apresenta-
maioria das livrarias tinha à disposição. ções’, a Amazon incentivou os compradores a visitar o site
A Amazon procurou copiar as características de uma li- diariamente para ver quem seria o próximo convidado. A pro-
vraria física em seu site. Primeiro, reproduziu os conselhos moção, com a oferta estendida de produtos e o frete gratuito
da ‘equipe de atendentes atenciosos e bem informados’ na para pedidos acima de 25 dólares, proporcionou à Amazon
forma de críticas dos leitores. Qualquer pessoa pode escre- as melhores vendas de fim de ano já registradas. Mais de 2,1
ver uma crítica sobre um livro na Amazon, e essas críticas milhões de unidades foram encomendadas em um único dia
ajudam os clientes a escolhê-lo. Além disso, um sistema — 24 itens por segundo.
de avaliação permite aos visitantes avaliar quais críticas são A Amazon não tem presença no varejo, portanto não
úteis e quais não são. Alguns críticos até ganharam fama, precisa se preocupar com diferenças de preço entre o canal
escrevendo centenas de opiniões ao longo dos anos e con- on-line e o canal lojas. Varejistas que operam nos dois ca-
quistando uma legião de seguidores fiéis que fazem compras nais, porém, correm o risco de assistir a esse conflito — que-
com base em seus comentários. das de braço entre os canais on-line e lojas físicas quanto à
Depois, a Amazon reproduziu o prazer de examinar divisão de custos (por exemplo, de marketing), à competição
os livros oferecendo um serviço de recomendação perso- de preço (se o canal on-line tem preço menor que o canal
nalizado. Ela percebeu que, se alguém está comprando o físico) e à divisão de lucro (por exemplo, quando um cliente
mesmo livro que outra pessoa comprou, os dois provavel- próximo a uma loja física decide comprar on-line).
mente têm interesses e visões em comum. Portanto, esse Em várias páginas da Amazon, encontram-se exempla-
alguém pode estar interessado também nos outros exempla- res usados de livros ao lado dos exemplares novos. Os livros
res que a outra pessoa comprou. Assim, o serviço de reco- usados são vendidos na verdade por sebos independentes,
mendação pessoal da Amazon reúne dados sobre padrões não pela Amazon. Por que a Amazon canibaliza seu negócio
de compra para inferir recomendações sobre quem gostaria de novos com a venda de usados que nem são dela? A res-
de qual livro. O resultado é uma lista ao lado de cada título posta é que a taxa de transação e o lucro da venda de um
que informa: “As pessoas que compraram este livro também livro usado não são iguais aos da venda de um livro novo. A
compraram os seguintes títulos...”. Isso convida o usuário a venda de um livro novo proporciona uma receita maior do
percorrer as prateleiras virtuais da Amazon. que ajudar alguém a vender um usado, mas o custo de ven-
A Amazon também está contornando a última desvanta- der um novo também é muito maior. No fim das contas, aju-
gem do canal virtual. Agora, é possível folhear o conteúdo, o dar os outros a vender livros usados traz mais lucro e mais
índice e as primeiras páginas dos livros. Em 2003, ela expan- clientes para o site da Amazon.
diu ainda mais o canal virtual lançando o recurso ‘pesquise A Amazon não teme o canal de varejo. Na verdade, saiu
dentro do livro’, que permite aos clientes pesquisar todo o lucrando ao ajudar varejistas tradicionais como a Target, a
texto de 120 mil livros — praticamente o mesmo número de Nordstrom e a Toys “R” Us a ingressar no mundo on-line.
títulos disponíveis em uma livraria Barnes & Noble. O serviço é Ela não só recebe uma taxa de serviços pela abertura do
gratuito, embora os clientes devam se registrar e fornecer um site, como também um percentual sobre as vendas dessas
número de cartão de crédito para cadastrar-se na Amazon. O empresas no canal on-line, o que contribuiu para um au-
usuário digita uma palavra, nome ou frase e obtém uma lista mento de 33 por cento em sua receita total de 2003. Para a
das páginas em que esses termos aparecem. Além disso, Amazon, o canal não significa comprar no atacado e vender
pode-se ver a imagem da página e de duas páginas anterio- no varejo, mas, sim criar um canal de serviços de varejo que
res e posteriores a ela, apesar de não ser possível imprimi-las. conecta vendedores a consumidores.
O canal Internet permite à Amazon fazer promoções que
as livrarias físicas não podem fazer. No Natal de 2003, por Questões para discussão
exemplo, a Amazon fez uma promoção de celebridades: a 1. Quais são os fatores-chave para o sucesso da Amazon?
cada dia alguém famoso — um ator, autor, diretor, músico
2. Em que pontos a Amazon está vulnerável? Com o que
ou personalidade da mídia — oferecia de graça um conteúdo
deveria tomar cuidado?
on-line exclusivo para os compradores da Amazon. Michael
J. Fox e Jack Black, por exemplo, apresentaram uma obra 3. Que recomendações você faria aos executivos de
de arte inédita. Músicos como Bruce Spring­steen apresenta- ­marketing da Amazon?
ram trailers de futuros lançamentos de seus shows em vídeo
e especiais ‘por trás dos bas­tidores’. Fontes: Elizabeth West, “Who’s next?”, Potentials, fev. 2004, p. 7-8; Nikki Swartz,
“Amazon.com’s text search revolution”, Information Management Journal, jan./
A meta da Amazon com a promoção era encantar os
fev. 2004, p. 18-19; Chris Taylor, “Smart library”, Time, 17 nov. 2003, p. 68; Cynthia L.
clientes, estimular o tráfego e aumentar as vendas. Para tanto, Webb, “Amazon’s lump of coal?”, Washingtonpost.com, 22 out. 2003.

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