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Giovanni Seabra

(Organizador)

Educação ambiental:
biomas, paisagens e o saber ambiental

Ituiutaba, MG

2017
© Giovanni Seabra (Org.), 2017.
Arte Gráfica e editoração: Alex David Silva de Assis, Claudia Neu, Gabriel de Paiva Cavalcante,
Laciene Karoline Santos de França, Laysa Borba e Silva, Loester Figueirôa de França Filho e Maria
Imaculada de Andrade Morais.
Editor: Anderson Pereira Portuguez
Arte da capa: Gabriel de Paiva Cavalcante

Contatos:
www.cnea.com
ambiental.gs@gmail.com

Editora: Barlavento
Prefixo editorial: 68066
Braço editorial da Sociedade Cultural e Religiosa Ilé Asé Babá Olorigbin.
CNPJ: 19614993000110
Caixa postal nº 9. CEP 38.300-970, Centro, Ituiutaba, MG.

Conselho Editorial:
Mical de Melo Marcelino (Editor-chefe)
Anderson Pereira Potuguez (Editor da Obra)
Antônio de Oliveira Junior
Claudia Neu
Giovanni de Farias Seabra
Hélio Carlos Miranda de Oliveira
Leonor Franco de Araújo
Maria Izabel de Carvalho Pereira
Jean Carlos Vieira Santos

Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental / Giovanni Seabra


(Organizador). Ituiutaba: Barlavento, 2017. 1440p.

ISBN: 978-85-68066-53-9

1. Educação Ambiental; 2. Biomas; 3. Paisagens


I. SEABRA, Giovanni

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra são de


responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa estão reservados à Editora


Barlavento e aos organizadores da obra.
APRESENTAÇÃO
Educação Ambiental - Biomas, Paisagens e o Saber Ambiental

Água, Terra, Fogo e Ar são os pilares de sustentação do V Congresso Nacional de Educação


Ambiental e VII Encontro Nordestino de Biogeografia, realizados, simultaneamente, no período de
9 a 12 de outubro de 2017, na cidade de João Pessoa, estado da Paraíba, Brasil.
Apoiados no tema geral Os quatro elementos da natureza na sustentabilidade dos biomas
brasileiros, os eventos reuniram 800 congressistas, cujos trabalhos apresentados foram publicados
em cinco livros, com distintos temas atuais versando sobre a sociedade e o meio ambiente.
Os quatro elementos fazem parte e sustentam a vida no Planeta desde a sua origem. A água
mantém e revigora a vida, garantindo aos seres crescimento, regeneração, reprodução e perpetuação
das espécies. A terra é o lastro da geodiversidade e suporte da biosfera, abrangendo as terras
continentais e insulares, o solo, o subsolo e o fundo dos mares. O fogo é a fonte de energia criadora
da Terra, do Sol, das estrelas e de tudo o que existe no Universo; é responsável pela germinação das
plantas e o suprimento alimentar do mundo animal. O ar oxigena o espaço vital renovando os
lugares e perpetuando a biodiversidade.
Distintas civilizações e grupos sociais cultuam os quatro elementos como base de equilíbrio
do ser. O elemento Água está associado à bioquímica, ás emoções e os sentimentos; o elemento
Terra oferece ao corpo a matéria composta de substâncias minerais; o elemento Fogo governa a
energia, a intuição e o poder; o elemento Ar é condutor das energias sutis que elevam o ser humano
à esfera espiritual.
Os artigos presentes nesta obra abordam os temas socioambientais que despertam o interesse
da sociedade e, portanto, do meio científico-acadêmico, tais como Biogeografia, Biodiversidade,
mudanças climáticas e geoecologia das paisagens. Por outro lado, as reflexões, fruto da pesquisa
científica, trazem possíveis soluções para as questões ambientais prementes, envolvendo a
legislação e o direito ambiental, as políticas públicas e a segurança alimentar.

Giovanni Seabra
Sumário
Biogeografia e Biodiversidade ..............................................................................................15
COMPOSIÇÃO DA MEIOFAUNA NO ESTUÁRIO DO RIO FORMOSO, PE, BRASIL ........ 16

ATIVIDADE DE VOO DA ABELHA SEM FERRÃO Frieseomelitta doederleini (APIDAE,


MELIPONINI) EM UMA ÁREA DE DOMÍNIO DA CAATINGA ............................................ 24

A ABORDAGEM DA BIODIVERSIDADE AQUÁTICA E IMPACTOS AMBIENTAIS NO


ENSINO FUNDAMENTAL UTILIZANDO ATIVIDADES INVESTIGATIVAS ..................... 37

INFLUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NA DIVERSIDADE DE


MOLUSCOS NA PRAIA DOS CARNEIROS, PE, BRASIL ....................................................... 48

BIOMAS NORDESTINOS: UM ESTUDO NO ÂMBITO DA MATA ATLÂNTICA E DA


CAATINGA ................................................................................................................................... 59

INTERAÇÃO ECOLÓGICA DE ECHINODERMATA E MACROALGAS NA PRAIA DOS


CARNEIROS, PE, BRASIL .......................................................................................................... 68

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA PARA


ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA SERRA DOS CAVALOS - PE................. 79

CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NA


REGIÃO DO PONTAL DO PARANAPANEMA, SÃO PAULO, BRASIL. .............................. 91

INVENTÁRIO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS NA COMUNIDADE DE


TITARA, PILÕES-PB, NORDESTE DO BRASIL .................................................................... 101

EXPERIMENTANDO O MUNDO: REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O CAMPO BIO-


GEOGRÁFICO NA PERSPECTIVA HUMANISTA ................................................................. 111

SÍNDROMES DE DISPERSÃO E POLINIZAÇÃO EM UM REFÚGIO VEGETACIONAL DA


CAATINGA ................................................................................................................................. 122

FITOSSOCIOLOGIA EM FRAGMENTOS DE MATA DE BREJO DE ALTITUDE, SERRA


DO ESPINHO, PILÕES - PB ...................................................................................................... 136

ESTUDO DO MEIO: CONHECENDO UM REMANESCENTE FLORESTAL OMBRÓFILO


DENSA SUBMONTANA EM ESTÁGIO DE REGENERAÇÃO MÉDIO ............................... 145

DIVERSIDADE DA FLORÍSTICA DO SÍTIO FUNDÃO E DA FLONA DO ARARIPE-


APODI/CE ................................................................................................................................... 156
DIVERSIDADE DE SAMAMBAIAS DA FONTE DAS GUARIBAS, CAMPO ALEGRE,
MUNICÍPIO DE CRATO, CEARÁ ............................................................................................ 163

CHECKLIST DOS FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES NA REGIÃO NORDESTE


DO BRASIL................................................................................................................................. 171

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO DAS ESPÉCIES VEGETAIS NA UNIVERSIDADE


FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, CERES-CAICÓ .................................................. 181

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO E ESTRUTURAL DE UM FRAGMENTO DE CAATINGA


E SEU POTENCIAL DE CAPTURA DE CARBONO............................................................... 191

EMPREGO DO PREDADOR Euborellia annulipes NO CONTROLE BIOLÓGICO DO


PULGÃO Brevicoryne brassicae SOB DIFERENTES TEMPERATURAS .............................. 197

FAUNA URBANA: OS ANIMAIS SINANTRÓPICOS NO CAMPUS I DA UDESC -


FLORIANÓPOLIS/SC ................................................................................................................ 203

REGISTRO DA FAUNA SILVESTRE ATRAVÉS DE FICHAS CATALOGRÁFICAS:


PARQUE MUNICIPAL DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS, SC...................... 214

Geoecologia das Paisagens ..................................................................................................226


ANÁLISE MACROMORFOLÓGICA, FÍSICA E QUÍMICA DOS SOLOS DA COMUNIDADE
VENEZA NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB ................................................................... 227

EMISSÃO DE CO2 EM SOLO SOB PASTAGEM NA REGIÃO AGRESTE DA PARAÍBA . 238

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DO RIO ESPINHARAS NO TRECHO URBANO DO


MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA DO NORTE/RN .................................................................. 249

SITUAÇÃO ATUAL DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS URBANOS EM IMPERATRIZ


(MA) A PARTIR DO AGLOMERADO POPULACIONAL DENOMINADO GRANDE
CAFETEIRA ................................................................................................................................ 259

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO RIO APODI-MOSSORÓ NO TRECHO DE PAU DOS


FERROS/RN ................................................................................................................................ 269

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS USUÁRIOS DA PRAIA DO OLHO D‘ÁGUA,


MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO .............................................................................. 281

TEOR DE CARBONO ARMAZENADO EM UM ARGISSOLO SOB UMA DISJUNÇÃO DE


FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA, E SOB ÁREA DE PASTAGEM .................................. 292

A INFLUÊNCIA DA ANTROPIZAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA


EXTRAÇÃO DE AÇAÍ E DE CASTANHA-DO-PARÁ NA AMAZÔNIA.............................. 302
MAPEAMENTO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DO MANGUE SECO,
NO MUNICIPIO DE RAPOSA, DO MARANHÃO COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A
OCEANOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL.................................................................................. 313

Mudanças Climáticas, Natureza e Sociedade....................................................................324


A PASSAGEM DE UM TORNADO NO MUNICÍPIO DE TAPEJARA/RS ............................ 325

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE NA MALHA


URBANA DE ARAGUARI/MG, UTILIZANDO-SE BANDA TERMAL DO SATÉLITE
LANDSAT 8 ................................................................................................................................ 333

CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DE SÃO LOURENÇO,


MT................................................................................................................................................ 342

AVALIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PATOS-PB


...................................................................................................................................................... 351

Planejamento e Gestão de Áreas Protegidas .....................................................................358


SERRA DO TORREÃO: POTENCIALIDADES PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE
CONSERVAÇÃO NA CAATINGA NO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL ..................... 359

A CRIAÇÃO DO PARQUE ECOLÓGICO MUNICIPAL DA SERRA DO LENHEIRO,


MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI/MG, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES DOS
BAIRROS TEJUCO E SENHOR DOS MONTES...................................................................... 371

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE: UMA PROPOSTA PARA INSERÇÃO DA


DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL ATRAVÉS DO TRABALHO DE CAMPO ..................... 381

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS


AMBIENTAIS URBANOS DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE............................................ 392

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NECESSIDADE COTIDIANA ........................................ 401

UMA ANÁLISE AMBIENTAL DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DO PARQUE


ESTADUAL HORTO DOIS IRMÃOS, LOCALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DO
RECIFE- PE ................................................................................................................................. 409

OS EFEITOS DAS ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ASSOCIADAS ÀS


PRÁTICAS DO ECOTURISMO NO PARQUE ESTADUAL DE DOIS IRMÃOS, RECIFE-PE
...................................................................................................................................................... 415

EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DAS UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO MARANHÃO .................................................................. 423
RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA PRÁTICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
PARQUE ECOLÓGICO BAGUAÇU, MUNICÍPIO DE ARAÇATUBA - SÃO PAULO ........ 433

A CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UM ROTEIRO GUIADO NO PARQUE PARREÃO I,


FORTALEZA – CE ..................................................................................................................... 442

GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO PARA O GEOSSÍTIO CÁRSTICO GRUTA DO


URUBU REI, LAGOA DOS PATOS - MG ................................................................................ 449

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: TRABALHANDO A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO


DE NASCENTES NA COMUNIDADE PIROÁS, REDENÇÃO, CEARÁ.............................. 457

A IMPORTÂNCIA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DAS NASCENTES DO


MUNDAÚ PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INCLUSIVA .............................................. 466

AS TRILHAS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DO


MANGUEZAL DO RIO COCÓ.................................................................................................. 473

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE ÁREAS PROTEGIDAS:


CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO ÓLEO EM
UBERLÂNDIA – MG ................................................................................................................. 485

COMO VARIA O NÚMERO DE ESPÉCIES NAS CATEGORIAS DE AMEAÇA DA IUCN


NO CARIBE CONTINENTAL E INSULAR? ........................................................................... 494

A DIVERSIDADE VEGETAL CATARINENSE: O CASO DO PARQUE MUNICIPAL DA


LAGOA DO PERI, FLORIANÓPOLIS, SC. .............................................................................. 505

APENAS VISITAÇÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NÃO PROMOVE


CONCEPÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 516

Riscos, Impactos e Desastres Naturais ...............................................................................525


IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA EXTRAÇÃO DE CAULIM NO
MUNICÍPIO DE JUNCO DO SERIDÓ-PB ................................................................................ 526

RIO CAPIBARIBE MIRIM E A DEGRADAÇÃO ANTRÓPICA: ESTUDO DE CASO DO


GRUPO HIDROCAMPUS .......................................................................................................... 539

USO DE LIQUENS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DO AR, NO PARQUE


VILLA-LOBOS DA CIDADE DE SÃO PAULO – SP. ............................................................. 548

CENÁRIOS DO COTIDIANO, IMPACTOS ASSOCIADOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL:


ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE SÃO RAFAEL EM JOÃO PESSOA – PB ............ 559
CARGAS AMBIENTAIS ASSOCIADAS A UM PROTÓTIPO DE BOMBA DE CALOR
PARA DESUMIDIFICAÇÃO E AQUECIMENTO DO AR ...................................................... 571

IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE SALINEIRA EM MOSSORÓ/RN .................. 580

ABSORÇÃO DO TEBUTHIURON EM SOLOS COM DIFERENTES TEORES DE MATÉRIA


ORGÂNICA PELO MÉTODO DE BIOENSAIO....................................................................... 591

ESTUDO DA EROSÃO MARINHA E VULNERABILIDADE DAS PRAIAS DA PAJUÇARA


E PARTE DA PONTA VERDE, MACEIÓ-AL.......................................................................... 601

IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DAS EXTRAÇÕES INADEQUADAS DE


GRANITOS NA CIDADE DE BOM JARDIM-PE .................................................................... 613

OCORRÊNCIA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM UM RESERVATÓRIO DE


ABASTECIMENTO PÚBLICO NO CEARÁ ............................................................................ 621

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INSTRUMENTO PARA DIFUSÃO DO CONHECIMENTO


ACERCA DA POLUIÇAO ATMOSFÉRICA OCASIONADA PELA QUEIMA DA PALHA
DA CANA-DE-AÇÚCAR ........................................................................................................... 633

USO DE MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS SUBPROTUDOS COMO ADJUVANTES DE


CLADONIA SUBSTELLATA NA DESSALINIZAÇÃO DE SOLOS ..................................... 643

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE PETRÓLEO EM PÓ EM PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA


...................................................................................................................................................... 651

ANÁLISE DE IMPACTOS DOS PARQUES EÓLICOS NOS DISTRITOS DE MUNDAÚ E


FLECHEIRAS, TRAIRI-CEARÁ ............................................................................................... 661

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO E QUALITATIVO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E


ANÁLISES FÍSICO–QUÍMICAS DA ÁGUA E DO SOLO DO HORTO FLORESTAL DE
MAMANGUAPE – PB ................................................................................................................ 670

OS PERIGOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE ASSOCIADOS AO CONSUMO E


DESCARTE DE BATONS: UM ESTUDO DE CASO ................. Erro! Indicador não definido.

A IMPORTÂNCIA DO SENSORIAMENTO REMOTO E SUA APLICAÇÃO NOS ESTUDOS


CLIMÁTICOS E IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................................... 695

ESTUDO DA CAPACIDADE DE DESENVOLVIMENTO DE ATRIPLEX NUMMULARIA NO


SERTÃO CENTRAL................................................................................................................... 705

AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NO ENTORNO DA BARRAGEM


JAIME UMBELINO EM SÃO CRITÓVÃO-SE ........................................................................ 713
IED INDUSTRIAL NO ESTADO DE PERNAMBUCO NO PERÍODO 1995-2011:
POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL, SOBRE A RENDA E O EMPREGO ................ 721

MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE ENCHENTES E INUNDAÇÕES NO ALTO CURSO DA


BACIA HIDROGRÁFICA DO ANIL, ILHA DO MARANHÃO .............................................. 738

IMPACTOS DA ENERGIA EÓLICA NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA ABORDAGEM


OCORRIDA NO LITORAL COSTA BRANCA (RN) ............................................................... 746

EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA AMBIENTAL EM ÁREAS DEGRADADAS PELO HOMEM:


AS IMPLICAÇÕES DA BARRAGEM ENGENHO PEREIRA, MORENO – PE .................... 757

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS: UM ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE


DA ILHA DE DEUS - PE............................................................................................................ 766

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO,


PIAÇABUÇU, ALAGOAS. ........................................................................................................ 778

DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DO ENTORNO


DA LAGOA DO APODI-RN ...................................................................................................... 789

VULNERABILIDADES DE IMPACTOS HIDROMETEÓRICOS NA CIDADE DE VITÓRIA


DA CONQUISTA-BA: ESTUDO DAS PRECIPITAÇÕES ENTRE OS ANOS DE 2012 A 2016
...................................................................................................................................................... 803

RISCOS E IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NOS BIOMAS COSTEIROS: UMA ANÁLISE


DE CASOS ESPECÍFICOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO........................................... 816

ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DECORRENTES DO LANÇAMENTO


DE EFLUENTES NO TRECHO DO CANAL FLUVIAL DO RIO PIANCÓ NA CIDADE DE
POMBAL-PB ............................................................................................................................... 827

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS PELOS CEMITÉRIOS: UMA BREVE


ANÁLISE NO CEMITÉRIO SÃO SEBASTIÃO - MOSSORÓ-RN. ........................................ 840

A PROBLEMÁTICA DE DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE CASO NO BAIRRO


RODOVIÁRIA NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE ............................................................... 853

ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DA BARRA DE GRAMAME: ABORDANDO


SEUS PARÂMETROS OXIGÊNIO DISSOLVIDO E DEMANDA BIOQUÍMICA DE
OXIGÊNIO. ................................................................................................................................. 864

OS IMPACTOS AMBIENTAIS NA ZPA8 EM NATAL - RN .................................................. 874

QUALIDADE DA ÁGUA NAS PRAIAS BESSA E MANAÍRA NA CIDADE DE JOÃO


PESSOA/PB ................................................................................................................................. 886
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ZONA RURAL DE CAMPINA GRANDE-PB .............. 891

AVALIAÇÃO TEMPORAL A PARTIR DE IMAGENS DE SATÉLITE DAS


CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO DE BELÉM DO SÃO FRANCISCO –
PE ................................................................................................................................................. 901

CONTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES ANTROPÍCAS NA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM


PARTE DO RIO PEDRA COMPRIDA, SUMÉ-PB ................................................................... 913

Políticas Públicas, Projetos e Ações....................................................................................924


A CONTRIBUIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NO CENTRO DE
TECNOLOGIA - CTEC, PARA A COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE ALAGOAS –
COOPREL ................................................................................................................................... 925

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: PERCEPÇÃO QUANTO A SUA VIDA E


EXPECTATIVAS FUTURAS POR MEIO DA ANÁLISE DO DISCURSO DO SUJEITO
COLETIVO .................................................................................................................................. 933

DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL DE UM APLICATIVO PARA QUANTIFICAÇÃO


DE PEGADA DE CARBONO EM EDIFÍCIOS PÚBLICOS .................................................... 944

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS VIA PROJETO ―ECO KIDS E ECO TEENS‖
...................................................................................................................................................... 956

TRABALHANDO A SUSTENTABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS POR MEIO DA


AVALIAÇÃO SOCIAL DO CICLO DE VIDA ......................................................................... 967

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL E SEUS INDICADORES: O


DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO DO ALTO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO APODI-MOSSORÓ/RN ...................................................................................................... 977

PROJETO GTAR- VERDELUZ: O OCEANO COMO FONTE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


NA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE........................................................ 990

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O EXERCÍCIO CRÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL .............. 1000

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO: APLICAÇÃO PRÁTICA EM ESPAÇO


ESCOLAR DE FORTALEZA – CE .......................................................................................... 1011

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO .......................................................................... 1020

IED INDUSTRIAL NO ESTADO DO CEARÁ NO PERÍODO 1995-2011: POTENCIAL DE


IMPACTO AMBIENTAL, SOBRE A RENDA E O EMPREGO ............................................ 1030
PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO
DA POLÍTICA MUNICIPAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE PATOS/PB................ 1047

ASSISTÊNCIAS DE MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DE SECAS: ESTUDO DE CASO DE


PEQUENAS COMUNIDADES DOS MUNICÍPIOS DE MILHÃ E SOLONÓPOLE - CEARÁ
.................................................................................................................................................... 1059

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO AGENTE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS


.................................................................................................................................................... 1069

CONDIÇÕES DE TRABALHO DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS


ASSOCIADOS NO INTERIOR POTIGUAR ........................................................................... 1077

O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) NO TERRITÓRIO RURAL DO


MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ ......................................................................................... 1089

RECURSOS ENERGÉTICOS: SENSIBILIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DA


RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ........................................................................ 1099

ESTUDO SOBRE O USO DE INDICADORES NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 1107

IDENTIFICAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS COMO FERRAMENTA PARA O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................................................................... 1119

REAPROVEITAMENTO DO POLITEREFTALATO DE ETILENO (PET) PARA USO NA


CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................................................................................. 1131

CONFECÇÃO DE CARTILHA SOBRE COLETA SELETIVA DESTINADA A MORADORES


DE CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS VERTICAIS COMO ESTRATÉGIA DE PROMOVER
EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 1142

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA PRAIA DE BOA


VIAGEM, RECIFE-PE .............................................................................................................. 1149

COMUNICAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA: O CASO DO


ESTALEIRO NAVAL PROMAR S.A – PERNAMBUCO ...................................................... 1157

A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO ATRAVÉS DA LUDICIDADE: UMA


EXPERIÊNCIA INSTITUCIONAL DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA NA PARAÍBA .......... 1169

PROPOSTA DE UM PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL PARA EXTRAÇÃO E


BENEFICIAMENTO DE SCHEELITA, CURRAIS NOVOS-RN .......................................... 1177

Movimentos Sociais, Legislação e Direito Ambiental .....................................................1189


MOVIMENTOS SOCIAIS, ESTADO E CAPITALISMO NO TENSIONAMENTO DA
QUESTÃO AMBIENTAL ........................................................................................................ 1190

EXPOSIÇÃO DE TARTARUGA MARINHA VÍTIMA DE INTERAÇÃO COM LIXO E


PESCA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RELATO DE CASOS DA
ONG ECOASSOCIADOS, PERNAMBUCO – BRASIL ......................................................... 1198

INSTITUTO VERDELUZ: UMA PROPOSTA PRÁTICA E TRANSDISCIPLINAR DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL ..................................................................................................... 1208

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO


BÁSICA EM POMBAL, PB ..................................................................................................... 1217

RENDA DOS CATADORES NO LIXÃO DE JI-PARANÁ SOB O PRISMA DO


SURGIMENTO E FORTALECIMENTO DA COOPERATIVA ............................................. 1227

PARQUE LAGOA DA VIÚVA, FORTALEZA, CEARÁ: REFLEXÕES SOBRE O


MOVIMENTO AMBIENTAL E SUAS IMPLICAÇÕES ........................................................ 1235

Patrimônio Cultural e o Saber Ambiental.......................................................................1246


IMPORTÂNCIA DOS SABERES HEREDITÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
COMUNIDADE DE PESCADORES DE RIO FORMOSO (PE)............................................. 1247

A Economia Solidária nos Arranjos Produtivos Locais ..................................................1252


HORTAS COMUNITÁRIAS: UMA EXPERIENCIA COM APENADAS DO PRESÍDIO
FEMININO MARIA JULIA MARANHÃO EM JOÃO PESSOA, PB .................................... 1253

PESCA INTENSIVA DA FAMILIA LUTJANIDAE NO ESTUÁRIO RIO FORMOSO (PE –


BRASIL) .................................................................................................................................... 1260

Produção Rural, Sustentabilidade Social e Segurança Alimentar .................................1266


CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES AGRÍCOLAS DE PORTEIRAS-CE QUANTO
AO CONSUMO DE ÁGUA E DISPOSIÇÃO DE EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS ... 1267

BATATA-DOCE: DO PLANTIO À COLHEITA .................................................................... 1275

MATÉRIA ORGÂNICA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS


DO SOLO .................................................................................................................................. 1287

DO CULTIVO DE PINHÃO MANSO EM ASSENTAMENTO COMO ALTERNATIVA: UM


ESTUDO DE CASO NO RIO GRANDE DO NORTE ............................................................ 1298

DIAGNÓSTICO MACROMORFOLÓGICO, FÍSICO E QUÍMICO DAS TERRAS DA


COMUNIDADE POÇO ESCURO NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB ......................... 1310
PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA COMO PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO
CAMPO: FORMAÇÃO DE JOVENS CAMPONESES PARA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
NO SEMIÁRIDO PARAIBANO .............................................................................................. 1322

ALGODÃO COLORIDO COMO ALTERNATIVA DE RENDA PARA UM


ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA NO AGRESTE PARAIBANO ................... 1332

UTILIZAÇÃO DE UM SIMULADOR DE CHUVAS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO


SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO ........................................................................................... 1339

EXPERIÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DA COMPOSTAGEM VISANDO A PRÁTICA DA


AGRICULTURA ORGÂNICA ................................................................................................. 1351

AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO:


RECONHECENDO A IDENTIDADE DOS SUJEITOS DO CAMPO .................................... 1362

RESIDÊNCIA AGRÁRIA: ESTÁGIO DE INTERDISCIPLINAR VIVÊNCIA NA


COMUNIDADE DE PEDRA GRANDE-PB ............................................................................ 1370

DESENVOLVIMENTO E ACEITAÇÃO SENSORIAL DE DOCE DE XIQUE-XIQUE


(Pilosocereus gounellei) ............................................................................................................ 1381

EFEITO DE DIFERENTES SUBSTRATOS ORGÂNICOS NO DESEMPENHO INICIAL DE


MUDAS DE TOMATE CEREJA.............................................................................................. 1387

EFEITO DA NUTRIÇÃO MINERAL NA FLORAÇÃO DO ABACAXIZEIRO CV. VITÓRIA


CULTIVADO SOB DUAS COBERTURAS DE SOLO .......................................................... 1394

PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DA FEIRA LIVRE DO MUNICÍPIO DE POMBAL -


PB SOBRE O USO DE AGROTÓXICOS ................................................................................ 1402

FORMAÇÃO DE EDUCADORES AMBIENTAIS: UM OLHAR VOLTADO À


AGRICULTURA FAMILIAR ................................................................................................... 1413

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADES


ANTIOXIDANTES DE FRUTAS DE CULTIVO AGROECOLÓGICO E CONVENCIONAL
DO SERIDÓ POTIGUAR ......................................................................................................... 1422

TEMPERATURA INTERFERE NOS EFEITOS DOS ESTRESSES SALINO E OSMÓTICO


EM PLÂNTULAS DE FEIJÃO DE CORDA ........................................................................... 1432
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Biogeografia e Biodiversidade

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 15


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

COMPOSIÇÃO DA MEIOFAUNA NO ESTUÁRIO DO RIO FORMOSO, PE, BRASIL

Priscila Ferreira de MELO


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)
mfprih@gmail.com
Goretti SONIA-SILVA
Docente e pesquisadora da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)
goretti@unicap.br

RESUMO
A meiofauna desempenha um papel importante no fluxo de energia dos sistemas bentônicos. Os
processos físicos comuns aos estuários são seus movimentos de correntes e a mistura entre as
massas de água de origem contrastante: água doce de origem fluvial e a água do mar adjacente, por
isso que os impactos hidrodinâmicos intervém na distribuição da meiofauna nas áreas estuarinas,
portanto objetiva-se avaliar a composição da meiofauna no estuário do rio Formoso, PE, Brasil, a
fim de detectar possíveis poluentes. O estuário do Rio Formoso, com 12 Km de extensão, localiza-
se no Município do Rio Formoso (8o 39‘ 45‘‘ Sul e 35o 06‘ 15‘‘ W), 76 Km ao Sul da cidade do
Recife. As coletas da meiofauna foram realizadas mensalmente durante a baixa- maré diurna, no
período de abril de 2015 a dezembro de 2015. Em campo delimitaram-se três pontos fixos no médio
litoral para coleta do material. Paralelamente os parâmetros abióticos (temperatura, salinidade, pH,e
Oxigênio) foram aferidos. A densidade da meiofauna foi calculada para o número de indivíduos
por 10 cm-2 e, a meiofauna foi separada a nível de táxons pela Abundância Relativa (Ar = N. 100 /
Na ). A meiofauna ao longo do estuário do Rio Formoso, esteve composta por 8 grandes grupos
taxonômicos: Copepoda, Nematoda, Ostracoda, Rotifera, Oligochaeta, Polychaeta, Kinorhyncha,
Gastrotricha, Acari. O grupo taxonômico mais abundante considerando todas as estações foi
Nematoda, em seguida, os Copepoda. Fatores abióticos como salinidade, temperatura, amônia, pH
foram aferidos mostraram que possuem influencia na distribuição da meiofauna. A meiofauna
desempenha um importante papel no sistema estuarino sendo um grupo-chave nas interações
tróficas. A abundância e frequência da diversidade e distribuição da meiofauna dependem de
fatores abióticos como temperatura, salinidade granulometria que são determinantes na estrutura das
comunidades biológicas.
Palavras-Chaves: impacto, meiofauna, estuário, hidrodinâmica.
ABSTRACT
The Meiofauna plays an important role in the energy flow of benthic systems. The physical
processes common to the estuaries are their movements of currents and the mixing between the
masses of water of contrasting origin: fresh water of fluvial origin and the adjacent sea water,
therefore the hydrodynamic impacts intervenes in the meiofauna distribution in the estuarine areas,
Therefore, the objective of this study was to evaluate the composition of meiofauna in the estuary of
the Formoso River, PE, Brazil, in order to detect possible pollutants. The estuary of Rio Formoso,
12 km long, is located in the municipality of Rio Formoso (8o 39 '45' 'South and 35o 06' 15 '' W),
76 km south of the city of Recife. The meiofauna samples were collected monthly during the low-
tide diurnal period from April 2015 to December 2015. In the field three fixed points were
delimited in the mid-coast to collect the material. Parallelly the abiotic parameters (temperature,
salinity, pH , And Oxygen) were measured. Meifauna density was calculated for the number of
individuals per 10 cm -2, and meiofauna was separated at the level of taxa by Relative Abundance
(Ar = N. 100 / Na). The meiofauna along the Rio Formoso estuary was composed of 8 large
taxonomic groups: Copepoda, Nematoda, Ostracoda, Rotifera, Oligochaeta, Polychaeta,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 16


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Kinorhyncha, Gastrotricha, Acari. The most abundant taxonomic group considering all the seasons
was Nematoda, then the Copepoda .. Abiotic factors such as salinity, temperature, ammonia, pH
were measured showed to have influence on meiofauna distribution. Meiofauna plays an important
role in the estuarine system being a key group in trophic interactions. The abundance and frequency
of meiofauna diversity and distribution depends on abiotic factors such as temperature, salinity and
granulometry that are determinant in the structure of biological communities.
Keywords: impact, meiofauna, estuary, hydrodynamics.

INTRODUÇÃO

A meiofauna é um grupo ecológico constituído de organismos bentônicos que passam por


uma malha de abertura de 1,0 mm e ficam retidos em uma de 0,044 mm, abrangendo quase todos os
filos de invertebrados, sendo abundante em sedimentos estuarinos de todo o mundo (Giere, 1993).
A meiofauna desempenha um papel importante no fluxo de energia dos sistemas bentônicos,
servindo de alimento para a própria meiofauna, para macrobentos e peixes (Coll, 1988). Além disso,
atua na remineralização de detritos orgânicos tornando-os disponíveis para o mesmo nível trófico e
para níveis tróficos superiores e apresenta grande sensibilidade às ações antrópicas, podendo ser
utilizada como indicadora de poluição (Tenore et al., 1977; Coull,1999). Em estuários de acordo
com Coull (1999), a meiofauna facilita a biomineralização da matéria orgânica aumentando a
regeneração de nutrientes (Coull 1999).
De acordo com Giere (1993) é esperado encontrar cerca de 103 ind.10 cm-2 de meiofauna
em praticamente todos os tipos de sedimento, não contaminados, de estuários de todo o mundo. Os
valores tendem a ser maiores em lama rica em matéria orgânica, e menores, em areia. Geralmente
os Nematoda são mais abundantes nos sedimentos, representando de 60 a 90% da fauna total
enquanto os Copepoda vêm frequentemente em segundo lugar, com 10 a 40% (Coull 1999).
Os processos físicos comuns aos estuários são seus movimentos de correntes e a mistura
entre as massas de água de origem contrastante: água doce de origem fluvial e a água do mar
adjacente. Como resultado desses processos, os estuários são corpos de água não homogêneos e os
fenômenos no seu interior variam em amplos intervalos de escalas espacial e temporal; desde
dimensões microscópicas até seus limites geométricos (Miranda et al. 2002). Os processos
ambientais que afetam a distribuição dos organismos podem estar relacionados com variações na
concentração de salinidade, de nutrientes e sedimento em suspensão (Coull 1999, Santos 1999,
Santos et al. 2000, Yamamuro 2000, Gomes et al. 2002), por isso que os impactos hidrodinâmicos
intervém na distribuição da meiofauna nas áreas estuarinas, portanto objetiva-se avaliar a
composição da meiofauna no estuário do rio Formoso, PE, Brasil, a fim de detectar possíveis
poluentes.

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MATERIAL E MÉTODOS

O estuário do Rio Formoso, com 12 Km de extensão, localiza-se no Município do Rio


Formoso (8o 39‘ 45‘‘ Sul e 35o 06‘ 15‘‘ W), 76 Km ao Sul da cidade do Recife. O clima da região
é do tipo As‘ na parte Oeste e Ams‘ no Leste na escala de Köppen. O tipo As‘ é caracterizado por
ser quente e úmido, com chuvas de outono/inverno e, o tipo Ams‘ é tropical-chuvoso, do tipo
monção, com verão seco. A precipitação pluviométrica anual em torno de 2.000 mm e
temperatura média anual de 24° C (CPRH, 2001). O rio Formoso (PE, Brasil) nasce na porção
noroeste do município de mesmo nome, em terras do Engenho Vermelho onde estão localizadas as
cabeceiras de seus dois formadores – os riachos Vermelho e Serra d‘Água - cuja confluência se dá a
montante da sede do Engenho Changuazinho. A partir desse ponto, já com o nome de rio Formoso,
dirige-se para sudeste, passando pela cidade homônima. Três quilômetros a jusante desta, o referido
rio alcança a Planície Costeira dominada por seu amplo estuário que se dilata a nordeste e norte
através dos vários braços constituídos pelos rios Ariquindá, dos Passos, Porto das Pedras e
Lemenho (CPRH, 2001).
As coletas da meiofauna foram realizadas mensalmente durante a baixa- maré diurna, no
período de Abril de 2015 a dezembro de 2015. Em campo delimitaram-se três pontos fixos no
mediolitoral dos quais foram coletadas as amostras biosedimentológicas utilizando-se um corer de
10 cm de comprimento por 2,5 cm de diâmetro interno, nos 10 primeiros centímetros de sedimento.
As amostras foram acondicionadas em recipientes plásticos, etiquetadas e fixadas com formol
salino a 5%. Em laboratório as amostras foram triadas manualmente em peneira com malha de
0,044-0,5 mm e, posteriormente, o sobrenadante levado ao estereomicroscópio para contagem e
identificação dos espécimes. Os parâmetros abióticos aferidos foram a temperatura (°C) e a
salinidade da água, utilizando o termômetro manual e o refratômetro Hanna Instruments (escala de
0,0 e intervalo de l.), respectivamente. Para análise do pH utilizou-se o pHmetro digital AT – 730
do oxigênio por meio do Oxímetro digital AT – 120.
A densidade da meifauna foi calculada para o número de indivíduos por 10 cm2. Em
seguida, a meifauna foi separada a nível de táxons zoológicos e a Abundância Relativa de cada
táxon foi calculada pela seguinte fórmula: Ar = N . 100 / Na onde: Ar = abundância relativa N =
número de organismos de cada táxon na amostra; Na = número total de organismos na amostra. De
acordo com os percentuais obtidos para cada amostra os táxons foram classificados como
dominante acima de 50%.

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RESULTADOS

A meiofauna ao longo do estuário do Rio Formoso, esteve composta por 8 grandes grupos
taxonômicos: Copepoda, Nematoda, Ostracoda, Rotifera, Oligochaeta, Polychaeta, Kinorhyncha,
Gastrotricha, Acari. Destes, os 5 primeiros grupos estiveram presentes em todas as estações de
coleta. A meiofauna no estuário foi de 4.690 ind.10 cm-2 .. O grupo taxonômico mais abundante
considerando todas as estações foi Nematoda representando 65% do total de indivíduos da
meiofauna com densidade média de 2.720 ind.10cm-2, em seguida, os Copepoda corresponderam a
16% com densidade média de 1.424 ind.10cm-2 . Os outros 7 grupos correspondem com 17%.
A média de salinidade foi de 30.8S com máxima de 38S no período seco (setembro a
dezembro/2014 e setembro a outubro/2015) e mínima de 25S no período chuvoso nas Estações
estudadas. A média da temperatura da água foi de 26.8oC, com máxima de 29ºC no período seco e
mínima de 26oC no período chuvoso. As condições de temperatura apresentaram pequenas
amplitudes de variação. O oxigênio dissolvido foi mensurado o valor de 8,5 mg.L-1 em período
chuvoso e 7,0 mg.L-1 no período seco. Quanto mais fria a água, maior foi à concentração de
oxigênio dissolvido. O potencial hidrogênio (pH) variou entre 7,0 no período chuvoso e 8,5 no
período seco, com média de 8,5. Os menores valores de pH ocorreram na estação de seca,
provavelmente devido à pouca influência das águas fluviais, típicas do período.

DISCUSSÃO

As Variáveis ambientais físico-químicas (temperatura, matéria orgânica, sedimento e


salinidade, entre outros) são citadas frequentemente como as principais responsáveis pela
distribuição e abundância da meiofauna (Giere 1993, Coull 1999). Neste trabalho o fator salinidade
que influenciaram a variação espacial da estrutura da comunidade da meiofauna provavelmente foi
determinante na hidrodinâmica local e interferindo na abundancia da meiofauna.
Os Nematoda apresentam maior frequência e abundância, essa porcentagem elevada pode
ser explicada pela composição do solo favorecendo uma forte correlação entre estas variáveis,
concordando com a preferência destes animais por ambientes onde o espaço intersticial é menor,
pois eles apresentam o corpo vermiforme e estariam bem adaptados a este tipo de ambiente. Os
Nematoda também apresentaram correlação significativa com a matéria orgânica
(Vasconcelos,2004). Em estuários onde o processo físico é mais estável, predominando o extremo
químico (Giere, 1993), o aumento da oferta alimentar e a redução no tamanho dos grãos propiciam
uma melhor condição de estabilidade para estes organismos. Os parâmetros granulométricos
contribuem fortemente para quali-quantificar a meiofauna, uma vez que a sua composição

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potencializa maior ou menor quantidade de água retida, oxigênio, matéria orgânica e outros fatores
indispensáveis a esses organismos.
A dominância dos Nematoda na maioria das estações é uma característica da meiofauna,
dominando mais de 50% do número total de indivíduos (Coull, 1988), principalmente em
sedimentos correlacionados do sublitoral. Fonsêca-Genevois (1987) ressaltou a importância da
natureza química das argilas na distribuição intermareal da meiofauna estuarina. Em estuários
geralmente com substrato composto por sedimentos silte-argilosos a meiofauna concentra-se nos
primeiros centímetros (Tietjen, 1969; Boucher, 1979; Warwick,1971; Heip et al. 1985; Vanhove,
1993) estando, desta forma, submetida à ação da dinâmica das águas
De acordo com os caracteres morfológicos relacionados com o hábito alimentar os nematoda
ocupam diferentes posições na cadeia trófica do bentos (Heip et al., 1985). Muitas espécies
alimentam-se de bactérias, microalgas, detritos e possivelmente matéria orgânica, além de um
grande número ter hábito predador, ingerindo outros Nematoda, Oligochaeta, Polychaeta e outros
organismos meiofaunísticos (Platt & Warwick, 1983; Heip et al., 1985; Medeiros, 1989, 1998). Em
estuários, onde há grande quantidade de matéria orgânica, os Nematoda habitam os primeiros
centímetros da camada sedimentar, pois a camada oxi-redutora do sedimento é bastante superficial.
Sua importância neste ambiente está ligada sobretudo à facilidade de biomineralização da matéria
orgânica, à sensibilidade aos inputs antropogênicos e ao grande papel na teia trófica bentônica
(Coull, 1999). O sucesso ecológico das comunidades de Nematoda está no grande número de
espécies presentes em qualquer que seja o habitat (Vinx, 1990). Bouwman (1983) aponta razões
para explicar o sucesso adaptativo e a dominância dos Nematoda, como a tolerância do grupo, como
táxon, à uma variedade de estresse ambiental (diversidade de espécies). Heip & Decraemer (1974)
afirmaram que a diversidade é um dos importantes parâmetros usados na descrição de uma
comunidade. A abundância e a estrutura da comunidade de Nematoda é também sensível ao
tamanho dos grãos do sedimento (Van Damme et al. 1980; Li & Vincx, 1993). Sob condições de
estresse ambiental, seja através de perturbações naturais ou artificiais, os Nematoda são capazes de
colonizar os sedimentos e tendem a se localizar nos primeiros centímetros (Palmer, 1988). Em
praias a meiofauna, como resposta às correntes de maior velocidade, tendem a se enterrar (Fegley,
1987). A esse respeito, comenta Palmer (1984) que o deslocamento vertical aparece como um
comportamento para evitar o risco de serem carreados pela erosão. Em estuários, onde geralmente
há ocorrência de sedimentos arenolamosos, senão lamosos e grande quantidade de matéria orgânica,
os Nematoda habitam os primeiros centímetros da camada sedimentar, pois a camada oxi-redutora
do sedimento é bastante superficial.
Os parâmetros ambientais podem afetar a distribuição da fauna marinha e pode estar
relacionado com variações na concentração de salinidade, de nutrientes e sedimento em suspensão

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(Yamamuro 2000). Segundo Dittman et al (1998) a sazonalidade ambiental, também, é um fator


determinante no crescimento de recursos marinhos no estuário. Honorato da Silva et al. (2004)
afirmam que no Nordeste a temperatura dos estuários é sempre elevada e as pequenas variações que
ocorrem durante o ciclo sazonal, dependem do grau de insolação e de outras condições
meteorológicas, fato favorável do desenvolvimento de espécies.
A salinidade é um dos fatores importantes apontados na distribuição da meiofauna. Segundo
Heip et al. (1982) existe uma clara diferença entre o padrão de riqueza de espécies ao longo de um
gradiente de salinidade entre a macrofauna e a meiofauna. Na meiofauna, alguns grupos
taxonômicos podem estar ausentes em baixas salinidades, como no Báltico (Kinorhyncha e
Ostracoda), mas não existe uma redução óbvia de riqueza das espécies. Existe uma meiofauna muita
rica, verdadeiramente de água salobra, a razão para isso, prossegue os autores, não é apenas o fato
de os estuários poderem sustentar grandes populações dos bentos, mas provavelmente pela
existência de uma meiofauna adaptada à água salobra.
Nas comunidades aquáticas o pH atua nos processos de permeabilidade da membrana
celular, ou seja, no transporte iônico intra e extracelular e, entre os organismos e o meio (Esteves,
1998). Segundo Coelho et al. (2004) os valores de oxigênio e do pH estão ligados entre si. Em
condições normais, durante o dia, a fotossíntese faz aumentar os do gás carbônico, acontecendo o
inverso durante a noite, devido à respiração. Em condições alteradas, pode haver o aumento do
consumo de oxigênio ou a diminuição de sua produção. No estuário do rio Formoso (PE, Brasil), os
valores de oxigênio de pH estiveram diretamente sujeitos as variações ambientais.

CONCLUSÃO

A meiofauna desempenha um importante papel no sistema estuarino sendo um grupo-chave


nas interações tróficas. A abundância e frequência da diversidade e distribuição da meiofauna
dependem de fatores abióticos como temperatura, salinidade granulometria que são determinantes
na estrutura das comunidades biológicas. A grande abundancia do grupo dos Nematoda está ligada
à facilidade de biomineralização da matéria orgânica, à sensibilidade as ações antrópicas e ao
grande papel na teia trófica bentônica.

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ATIVIDADE DE VOO DA ABELHA SEM FERRÃO Frieseomelitta doederleini


(APIDAE, MELIPONINI) EM UMA ÁREA DE DOMÍNIO DA CAATINGA

José Victor do Nascimento SOUZA


Instituto Federal do Rio Grande do Norte
jvnss2@hotmail.com
Eduardo Alves de SOUZA
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
eduardo-braz97@hotmail.com
Michelle de Oliveira GUIMARÃES-BRASIL
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
michelle.guimaraes@ifrn.edu.br
Daniel de Freitas BRASIL
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
danieldfb@gmail.com

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo registrar a atividade de voo da abelha sem ferrão Frieseomelitta
doederleini nidificada em árvore de jucazeiro (Caesalpinia ferrea), em área de vegetação natural da
caatinga, durante as estações seca e chuvosa, no município de Marcelino Vieira, RN, semiárido
brasileiro. O estudo foi realizado no período de abril, maio e setembro de 2016. As coletas de dados
foram realizadas durante cinco dias não consecutivos nas estações secas e chuvosas do ano, com
observações de dez minutos em intervalos de uma hora, entre 07h20 até às 16h30, próximo à
entrada da colônia. Foram registrados o número de abelhas operárias que entraram e saíram do
ninho com algum material visível ou sem carga. À vista disso, foram registradas durante o período
chuvoso 509 abelhas em atividade externa ao longo dos cinco dias de observação, sendo 265
entrando e 244 saindo do ninho. No período seco, foram contabilizadas 664 campeiras entrando e
616 saindo da colônia, totalizando 1280 abelhas. Observou-se que os valores de todas as atividades
externas exercidas pelas abelhas foram maiores durante o período seco, com exceção do
comportamento para coleta de resina. Contudo, essas diferenças não foram significativas (p > 0,05)
para todas as comparações, exceto para as abelhas que entraram e saíram da colônia sem carga
visível (p < 0,05). Este estudo possibilitou o entendimento sobre as atividades de voo da abelha sem
ferrão F. doederleini em uma área de domínio da caatinga, gerando informações úteis para estudos
científicos, ações de manejo e conservação dessas abelhas em ambientes naturais e agroambientes.
Palavras-chave: abelhas sem ferrão, ecologia de abelhas, padrão de forrageamento, Caatinga.

ABSTRACT
The objective of this work was to record the activity of Frieseomelitta doederleini stingless bees
(Caesalpinia ferrea) nested in an area of natural vegetation of the caatinga during the dry season in
the municipality of Marcelino Vieira, RN, Brazilian semi-arid. The data were collected during five
non-consecutive days in the dry and rainy seasons of the year, with observations of ten minutes at
one-hour intervals, between 07:20 and 16:30, beside the colony entrance. The number of worker
bees that entered and exited the nest with some visible or unloaded material was recorded. In view
of this, 509 bees were recorded during the rainy season during the five days of observation, with
265 entering and 244 coming out of the nest. In the dry period, 664 entered and 616 coming out of

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the colony, totaling 1280 bees. It was observed that the values of all external activities performed by
the bees were higher during the dry period, except for the resin collection behavior. However, these
differences were not significant (p > 0.05) for all comparisons, except for the bees that entered and
left the colony without a visible load (p < 0.05). This study allowed the understanding of the flight
activities of the stingless bee F. doederleini in an area of the caatinga domain, generating useful
information for scientific studies, management actions and conservation of these bees in natural
environments and agroenvironment.
Keywords: stingless bees, bee ecology, foraging pattern, Caatinga.

INTRODUÇÃO
As abelhas sem ferrão, também conhecidas como meliponíneos, estão agrupadas na família
Apidae e apresentam comportamento social (SILVEIRA et al., 2002). O tamanho do corpo dessas
abelhas pode variar de muito pequeno a médio (MICHENER, 2000), permitindo grande diversidade
quanto aos hábitos de nidificação e estabelecimento de colônias em ocos de árvores, no solo, fendas
de pedras e associadas à ninhos de formigas e cupins (BATISTA et al., 2003; ROUBIK, 2006;
CARVALHO et al. 2014).
A distribuição geográfica das abelhas sem ferrão é comumente observada em regiões
tropicais e subtropicais do planeta (MICHENER, 2000; MICHENER, 2013), apresentando maior
diversidade na região Neotropical, sendo que o Brasil possui maior riqueza de espécies descritas
(SILVEIRA et al., 2002; CAMARGO e PEDRO, 2008), pouco mais de 300 espécies
(CORTOPASSI-LAURINO e NOGUEIRA-NETO, 2016). Contudo, devido a alterações de seus
habitats naturais causadas por ações antrópicas degradantes, diversas espécies de abelhas sem ferrão
nativas das áreas de domínio das caatingas estão seriamente ameaçadas de extinção (PEREIRA et
al., 2006), denotando, portanto, uma diminuição acentuada do número de espécies de abelhas
presentes nas matas brasileiras (KERR et al., 1996; SILVA e PAZ, 2012).
Em razão das abelhas sem ferrão apresentarem facilidades no manejo, haja vista que
possuem baixa defensividade, possibilidade de uso em casa de vegetação e resistência à doenças
(HEARD, 1999; CRUZ et al., 2004), além de, notoriamente, se configurarem como as principais
responsáveis pelo serviço de polinização realizado em diversas plantas nativas e cultivadas (KERR,
1997; FREITAS e SILVA, 2015), estas se mostram como uma alternativa frente às abelhas
melíferas (Apis mellifera) para utilização em programas de polinização de culturas agrícolas (PICK
e BLOCHTEIN, 2002).
Para tanto, faz-se necessário a realização de estudos sobre as atividades de voo em abelhas
sem ferrão, com o intuito de obter informações para ampliar a compreensão de seus padrões de
forrageamento (NOGUEIRA-NETO, 1997; PICK e BLOCHTEIN, 2002) que, por sua vez, podem
apresentar comportamento influenciados por fatores externos, como temperatura, umidade,
luminosidade, vento e disponibilidade de recursos no ambiente (KLEINERT-GIOVANNINI, 1982;

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IMPERATRIZ-FONSECA et al.,1985; INOUE et al., 1985; ROUBIK, 1992; HEARD e


HENDRIKZ, 1993; AZEVEDO, 1997; HILÁRIO et al., 2001); ou por fatores internos, como
tamanho da população e necessidade de recursos pela colônia (HILÁRIO et al., 2000; 2003;
POMPEU, 2003).
O gênero de abelhas sem ferrão Frieseomelitta possui ampla distribuição geográfica, com
abelhas ocorrendo do sudoeste do México ao sudeste do Brasil, podendo ser encontradas em
diferentes fitofisionomias (OLIVEIRA, 2003). Uma característica peculiar desse gênero é a
disposição dos favos de cria em forma de cacho e uma célula real visível, além de não apresentarem
o invólucro, normalmente encontrado na maioria dos Meliponini (NUNES, 2012).
A abelha sem ferrão Frieseomelitta doederleini, também conhecida como moça branca ou
abelha branca, é apontada como endêmica da região Nordeste, típica do bioma caatinga, estando,
geograficamente, distribuída na quase totalidade dos estados nordestinos (OLIVEIRA, 2003;
NUNES, 2012) e apontada como polinizadora de espécies comuns na região do semiárido brasileiro
(MEDEIROS, 2001; KIILL e SIMÃO-BIANCHINI, 2011).
Nesse contexto, considerando as poucas informações sobre os padrões de ritmos diários de
atividade de voo em abelhas sem ferrão em diferentes épocas ao longo do ano, o presente trabalho
teve como objetivo verificar as atividades externas da abelha Frieseomelitta doederleini nidificada
em uma área de domínio da caatinga, durante os períodos chuvoso e seco, no município de
Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte, semiárido brasileiro.

METODOLOGIA

Área de estudo

O trabalho foi realizado na zona rural do município de Marcelino Vieira (6° 17′ 38″ S e 38°
10′ 4″ W), Rio Grande do Norte. O clima característico do local é o semiárido (Bsh), apresentando
temperaturas médias históricas de 28 ºC, umidade relativa do ar em torno de 66% e volume de
chuvas anual de aproximadamente 700 mm, irregularmente distribuídos, com período chuvoso
concentrado entre os meses de fevereiro a maio. A vegetação é a caatinga hiperxerófila,
caracterizada pela presença de arbustos espinhosos, abundância de cactáceas e plantas de porte
baixo (BELTRÃO et al., 2005; IDEMA, 2008; IBGE, 2017).

Coleta dos dados

As observações foram realizadas durante cinco dias não consecutivos, na estação chuvosa
(março e abril de 2016) e na estação seca (setembro de 2016). Foi utilizado um ninho natural da
abelha sem ferrão Frieseomelitta doederleini, nidificado em árvore de jucazeiro (Caesalpinia

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ferrea). As coletas de dados foram realizadas através de observações feitas próximo à entrada da
colônia, durante 10 minutos de cada hora, entre 07h20 e 16h30. Em cada horário de observação foi
contabilizado o número de abelhas operárias que entraram na colônia com carga visível (pólen ou
resina) e não visível (néctar ou água) e as que saíram da colônia removendo algum material (lixo)
ou sem carga

Análise dos dados

Os dados coletados referentes a cada um dos comportamentos observados nos dois períodos
do ano foram analisados com auxílio do software Microsoft Excel 15.0 (Office 2013), para
obtenção de médias e desvios padrão. Para testar a hipótese de diferença entre o número de
observações de determinado comportamento entre os períodos chuvoso e seco, foi utilizado o teste
de Mann-Whitney, com nível de significância de 5% (ZAR, 1999).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período chuvoso, foram registradas 509 abelhas em atividade ao longo dos cinco
dias de observação, sendo 265 entrando e 244 saindo do ninho. No período seco, foram
contabilizadas 664 campeiras entrando e 616 saindo da colônia, totalizando 1.280 abelhas
realizando atividades externas ao longo do período de observação. O número total de abelhas com
seus respectivos percentuais e a distribuição destas de acordo com as atividades externas exercidas,
nos períodos chuvoso e seco, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Atividade diária de voo, percentual de cargas coletadas pelas abelhas Frieseomelitta doederleini e
valores de probabilidade (Mann-Whitney) entre as coletas nos períodos chuvoso e seco no município de
Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte, Brasil.
Período do Ano Mann-Whitney
Entrada Chuvoso (março/2016) Seco (setembro/2016) (n=100)
Pólen 73 (27,5%) 117 (17,6%) p = 0,0565
Néctar/Água 113 (42,7%) 492 (74,1%) p < 0,0001
Resina 79 (29,8%) 55 (8,3%) p = 0,1019
Saída
Lixo 114 (46,7%) 136 (22,1%) p = 0,6892
Sem carga 130 (53,3%) 480 (77,9%) p < 0,0001

Observou-se que os valores de todas as atividades externas exercidas pelas abelhas foram
maiores durante o período seco do que no período chuvoso, exceto para coleta de resina, pois esta
auxilia na impermeabilização da colmeia durante o período chuvoso, principalmente. No entanto,
essas diferenças não foram significativas (p > 0,05) para todas as comparações, exceto para as
abelhas que entraram e saíram da colônia sem carga visível (p < 0,05) (Tabela 1). À vista disso,
pode-se atribuir esses resultados ao fato de que essa região apresenta temperaturas mais intensas no

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período seco, o que estimula o maior fluxo de entrada e saída de abelhas para coleta de recursos que
contribuam para a termorregulação de suas colônias e reduzam a produção de calor metabólico nos
ninhos (ROUBIK e PERALTA, 1983; SEELEY, 2006; SUNG et al., 2008).
Durante o período chuvoso, observou-se um grande número de abelhas saindo sem carga da
colônia (53,3%), possivelmente devido à grande oferta de recursos, principalmente néctar,
disponibilizados por uma ou mais plantas nesse período (RIBEIRO et al., 2012). Além disso, ainda
no período chuvoso, pôde-se observar um significativo número de abelhas retornando à colônia com
néctar/água (42,7%), o que poderia justificar essa quantidade de abelhas saindo da colônia em busca
de recursos florais. Foram observadas abelhas entrando com resina (29,8%) e pólen (27,5%) no
ninho e retirando lixo da colônia (46,7%), nesse mesmo período (Tabela 1).
No período sem chuvas, as abelhas F. doederleini também apresentaram maior atividade de
voo para coleta de néctar/água (74,1%), seguido pela coleta de pólen (17,6%) e resina (8,3%)
(Tabela 1). No entanto, o número de operárias realizando tais atividades foi muito maior no período
seco, quando comparado ao período chuvoso, com exceção para a coleta de resina. Observou-se,
ainda, um grande percentual de abelhas saindo do ninho sem carga (77,9%) nesse período (Tabela
1), possivelmente pela necessidade de termorregulação da colônia, tendo em vista que nessa estação
do ano ocorre um aumento gradativo da temperatura do ambiente para a região do semiárido
potiguar (SOUZA et al., 2014).
Contudo, verificou-se que as atividades externas ocorreram durante todo o dia, com as
maiores quantidades de cargas de pólen sendo coletadas no período da manhã para a estação
chuvosa (Tabelas 2 e 3). Alguns autores relatam que as abelhas sem ferrão têm preferência por
coletar pólen nas primeiras horas da manhã, possivelmente por causa da grande oferta desse recurso
pelas plantas que concentram a produção de pólen no período matutino, como também devido a
redução da sua oferta pelo forrageamento de outros visitantes florais ao longo do dia (PIERROT e
SCHLINDWEIN, 2003; BORGES e BLOCHTEIN, 2005; OLIVEIRA et al., 2012). No período
seco, o maior percentual de coleta de pólen ocorreu no período da tarde (Tabela 2 e 4),
possivelmente pelo fato de que algumas flores produtoras de pólen têm seus florescimentos
associados à períodos secos (SOUSA, 2010), ofertando, provavelmente, uma maior quantidade de
pólen no período da tarde, o que induziu as abelhas F. doederleini aproveitarem ao máximo a oferta
desse recurso durante esse momento de escassez de alimento.

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Tabela 2. Atividade diária de voo e percentual de cargas coletadas pelas abelhas Frieseomelitta doederleini
nos períodos da manhã e da tarde, durante os períodos chuvoso e seco, no município de Marcelino Vieira,
Rio Grande do Norte, Brasil.
Material Coletado
Período Chuvoso
Entrada Manhã Tarde
Pólen 41 (15,5%) 32 (12,1%)
Néctar/Água 52 (19,6%) 61 (23,0%)
Resina 27 (10,2%) 52 (19,6%)
Saída Manhã Tarde
Lixo 27 (11,1%) 87 (35,7%)
Sem carga 49 (20,1%) 81 (33,2%)
Período Seco
Entrada Manhã Tarde
Pólen 32 (4,8%) 85 (12,8%)
Néctar/Água 153 (23,0%) 339 (51,0%)
Resina 12 (1,8%) 43 (6,4%)
Saída Manhã Tarde
Lixo 16 (2,5%) 120 (19,4%)
Sem carga 174 (28,2%) 306 (49,6%)

As maiores quantidades de cargas de néctar/água foram coletadas no período da tarde em


ambas as estações (Tabelas 2, 3 e 4), o que pode ser explicado pelo esgotamento ou escassez do
recurso pólen, fazendo com que as abelhas procurem outros recursos, como néctar e água, para
auxiliar na termorregulação da colônia à tarde (SBORDONI, 2015); ou resina e barro, para
contribuir na construção e manutenção da estrutura física da colônia (VILLAS-BÔAS, 2012).
As tabelas 2, 3 e 4 também demonstram que há uma maior movimentação de saída da
colônia no período da tarde, em ambas as estações, principalmente se tratando dos serviços de
limpeza, sendo observado um maior carregamento de lixo para fora da colônia no período da tarde
em comparação com o período da manhã. O mesmo comportamento é observado com abelhas que
saem da colônia sem carga visível, indo ao campo, provavelmente, coletar recursos ou,
simplesmente, abandonam momentaneamente a colônia, o que contribui para o arrefecimento
passivo do ambiente interno, uma vez que a diminuição de indivíduos em seu interior também reduz
a produção de calor (ROUBIK e PERALTA, 1983; SUNG et al., 2008).
Na estação chuvosa, foi observado que, após o pico de movimentação (11h00), houve
redução nas atividades externas de voo, com exceção da atividade remoção de lixo, que apresentou
um aumento gradativo até o final da tarde (16h30) (Tabela 3). A diminuição das atividades externas
e o aumento da atividade de remoção de lixo pelas abelhas F. doederleini podem estar associados
ao aumento da temperatura no período vespertino, diminuindo atividades externas e induzindo
comportamentos de arrefecimento da colônia (MICHENER, 2000).

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Tabela 3. Número médio de abelhas Frieseomelitta doederleini entrando e saindo do ninho ao longo do dia,
durante o período chuvoso, no município de Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte, Brasil.
Entrada Saída
Horários Pólen Resina Néctar/Água Lixo Sem carga
7h20-7h30 0,8±0,83 0,4±0,54 2,2±1,30 0,6±0,89 1,8±1,30
8h20-8h30 1±1,41 0,2±0,44 1,2±1,09 0,2±0,44 1±0.70
9h20-9h30 1,4±0,54 1,4±1,34 0,6±0,54 1±1,22 1,8±1,78
10h20-10h30 3±2 1,4±0,54 2,8±1,09 1,4±1,67 2,2±1,92
11h20-11h30 2±1 2±0,70 3,6±3,20 2,2±1,78 3±3,67
12h20-12h30 1,6±2,07 1,8±1,30 1,6±2,07 4,6±3,71 3±3
13h20-13h30 1±1 0,4±0,54 1±1 2±0,70 2,8±0,83
14h20-14h30 1,4±1,14 1±1,41 2±2 0,6±1,34 2±1
15h20-15h30 1,2±0,83 3±1,87 2,4±4,33 4,2±1,30 2±2,7
16h20-16h30 1,2±0,83 4,2±2,16 5,2±2,86 6±3,08 6,4±1,81

Na estação seca, as abelhas F. doederleini apresentaram maior fluxo de entrada com


recursos no período da tarde, nos horários entre 13h20 e 15h30, para os três recursos observados.
Houve uma maior saída de abelhas sem carga do ninho, possivelmente direcionadas à coleta de
néctar/água (74,1%) no período vespertino (51,0%) (Tabelas 1, 2 e 4).
A temperatura do ambiente pode ter sido um fator determinador no maior número de
indivíduos de F. doederleini registrados em atividade de voo à tarde durante o período seco, uma
vez que as abelhas de menor porte apresentam maior desempenho nas atividades externas entre as
faixas de temperaturas de 21 até 34 ºC (IMPERATRIZ-FONSECA et al., 1985; OLIVEIRA, 1973;
KLEINERT-GIOVANNINI, 1982; HILÁRIO et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2012; FIGUEIREDO-
MECCA et al., 2013; MALERBO-SOUZA e HALAK, 2016); enquanto que em baixas
temperaturas, há a diminuição do metabolismo e a consequente limitação sobre o voo
(MICHENER, 1974).

Tabela 4. Número médio de abelhas Frieseomelitta doederleini entrando e saindo do ninho ao longo do dia,
durante o período seco, no município de Marcelino Vieira, Rio Grande do Norte, Brasil.
Entrada Saída
Horários Pólen Resina Néctar/Água Lixo Sem carga
7h20-7h30 0,8±0,74 0,8±0,97 3,6±1,35 0,6±0,48 3,6±2,87
8h20-8h30 1±1,26 0,6±1,20 2,4±0,80 0,4±0,48 4,6±3,77
9h20-9h30 1,6±1,01 0,2±0,40 6,2±3,96 0,4±0,80 4,8±2,48
10h20-10h30 1,4±1,49 0,4±0,48 6,4±3,55 0,8±1,16 10±6,41
11h20-11h30 1,6±1,49 0,4±0,48 12±5,09 1±1,54 11,8±6,49
12h20-12h30 1,6±1,49 1,4±1,20 8,8±2,78 2±1,41 13,6±7,86
13h20-13h30 3,2±1,72 1,2±1,46 19,4±9,76 3,6±4,02 15,6±10,70
14h20-14h30 5,2±4,16 2,6±1,62 15,4±2,72 4,8±3,42 11,4±4,63
15h20-15h30 4±2,09 0,8±1,16 11±3,89 6,2±5,03 11,2±2,71
16h20-16h30 3±1,78 2,6±1,20 13,2±12,96 7,4±6,34 9,4±4,92

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CONCLUSÕES

As atividades externas das abelhas sem ferrão Frieseomelitta doederleini sucederam-se


durante todo o dia, para ambos os períodos do ano avaliados e apresentaram variação de acordo
com a disponibilidade de recursos florais e pelas atividades de limpeza e termorregulação da
colônia. Os principais comportamentos de pastejo observados foram para néctar, água e pólen, com
maior ocorrência e atividade forrageadora pela manhã no período chuvoso e à tarde para o período
sem chuvas. Ademais, o presente estudo possibilitou o entendimento das atividades de voo da
abelha sem ferrão F. doederleini em uma área de domínio da Caatinga, no estado do Rio Grande do
Norte, semiárido brasileiro, gerando informações úteis para trabalhos científicos, ações de manejo e
conservação dessas abelhas em ambientes naturais e áreas agricultáveis.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A ABORDAGEM DA BIODIVERSIDADE AQUÁTICA E IMPACTOS AMBIENTAIS


NO ENSINO FUNDAMENTAL UTILIZANDO ATIVIDADES INVESTIGATIVAS

Gabriela de Souza CRISTINO


Graduanda em Ciências Biológicas da UEG
gabycristino11@gmail.com

Juliana SIMIAO-FERREIRA
Docente da Universidade Estadual de Goiás
j_simiaoferreira@yahoo.com.br

RESUMO
O ensino de ciências por investigação tem o propósito de desenvolver no aluno a capacidade de
argumentação, bem como suas capacidades cognitivas a partir da apresentação de um problema que
esteja consonante com suas experiências e desenvolvimento intelectual. Portanto, essa abordagem
de ensino pode ser muito útil para tratar de temas ambientais visto que nesse modelo de ensino as
atividades são desenvolvidas a partir de um problema. Portanto, o objetivo deste trabalho foi aplicar
e verificar as contribuições de uma intervenção pelo uso de sequência didática investigativa em
ambientes não formais para construção do conhecimento científico sobre os impactos ambientais e
biodiversidade aquática. Os sujeitos da pesquisa foram 56 alunos matriculados regularmente no 7º
ano do ensino fundamental de uma escola da rede pública do Estado de Goiás no perímetro urbano
da cidade de Teresópolis de Goiás. A atividade de investigação para o entendimento de impactos
ambientais no ambiente aquático e sua relação com a biodiversidade foi desenvolvida em quatro
etapas em dois espaços não formais de educação, o Laboratório de Pesquisas Ecológicas e
Educação Científica da Universidade Estadual de Goiás (LAB-PEEC/UEG) e na trilha ecológica do
Campus. Para verificar a eficácia da atividade foi utilizado questionário aberto e uso de desenhos da
biodiversidade em um ambiente aquático preservado e em um degradado. Foi possível observar que
antes das atividades os alunos representaram principalmente peixes, repteis e animais marinhos,
desenharam poucos invertebrados e após as atividades as crianças mostraram ter compreendido
mais a biodiversidade presente em ambientes aquáticos como rios e riachos, com desenhos mais
realistas e com mais representantes das comunidades aquáticas. A realização das atividades em
ambientes não formais contribuiu para o maior interesse e envolvimento dos alunos que mostraram-
se motivados.
Palavras-chave: Ensino por Investigação, Ensino de ciências, Degradação Ambiental.

ABSTRACT
The inquiry-based learning sciences aims to develop in the student the capacity for argumentation,
as well as their cognitive abilities from the presentation of a problem that is consonant with their
experiences and intellectual development. Therefore, this teaching approach can be very useful to
deal with environmental issues since the activities are developed from a problem in this teaching
model. Therefore, the objective of this study was to verify the contributions of an intervention
through the use of a didactic investigative sequence in non-formal environments for the
construction of scientific knowledge on environmental impacts and aquatic biodiversity. The
research subjects were 56 students enrolled regularly in the 7th grade of a public school in the state
of Goiás, in the urban perimeter of the city of Teresópolis de Goiás. Research activities were carried
out in four =stages, two at non-formal educational spaces, one at The Laboratory of Ecological
Research and Scientific Education of the State University of Goiás (LAB-PEEC / UEG) and at the
ecological trail of the Campus. The research activity for the understanding of environmental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

impacts on the aquatic environment and its relation with biodiversity was developed in four
meetings. To verify the effectiveness of the activity on the students knowledge and perception of
these organisms, an open questionnaire and use of biodiversity drawings were used in a preserved
and degraded aquatic environment. It was possible to observe that before the activities the students
represented mainly fish, reptiles and marine animals, they draw only a few invertebrates and after
the activities, the children seemed to have understood much more the biodiversity present in aquatic
environments, like rivers and streams, with more realistic drawings, with more representatives of
aquatic communities. The performance of activities in non-formal environments contributed to the
greater interest and involvement of the students who were motivated.
Keywords: Inquiry-based learning, Science education, environmental degradation.

INTRODUÇÃO

Atualmente, muito se fala de uma educação escolar capaz de emancipar o aluno, de


favorecer a argumentação e torná-lo um cidadão crítico que esteja preparado para atuar na
sociedade em que vive (VIEIRA, 2012). Nesse sentido, a Educação Ambiental (EA) torna-se
elemento-chave para a transformação social e deve estar presente em todos os espaços educativos,
de forma interdisciplinar, transversal e holística (LEFF, 2001).
É notório que na Educação, a metodologia e a didática utilizadas em alguns grupos podem
não funcionar em outros e isto faz parte da dinâmica do ensino. Assim, a Educação deve reconhecer
os aspectos históricos e culturais de um povo para desenvolver da melhor maneira seu papel. Ela
não está restrita à escola ou às instituições científicas, mas presente em qualquer meio em que se
transmita e compartilhe conhecimentos. Nesse sentido, há várias abordagens de ensino, uma delas o
ensino por investigação, que possibilita a criação e reformulação de ideias previamente concebidas
pelo aluno e traz a possibilidade de mudanças de paradigmas. Tendo isso em vista, as atividades
investigativas criam espaço para que o aluno possa construir conhecimento e também se inteirar dos
mecanismos de construção deste (CICILLINI; SICCA, 2010).
Ainda nessa perspectiva, alguns autores (SASSERON; CARVALHO, 2008; SASSERON;
CARVALHO, 2014) defendem pontos comuns nas atividades investigativas, como o engajamento
dos alunos para realizar as atividades; emissão de hipóteses, nas quais é possível a identificação dos
conhecimentos prévios dos mesmos; a busca por informações, tanto por meio dos experimentos,
como na bibliografia que possa ser consultada por eles para ajudá-los na resolução do problema
proposto na atividade; a comunicação dos estudos feitos para os demais. Os alunos não devem
descobrir algo, mas por meio da utilização do processo de construção do conhecimento, os
estudantes deveriam procurar soluções para questões das quais não sabiam a resposta. Então, a
partir da apresentação de um problema que esteja consonante com suas experiências e
desenvolvimento intelectual, o estudante deve levantar uma hipótese, coletar os dados e apresentar
uma conclusão (ZÔMPERO; LABURÚ, 2011; PRAIA, CACHAPUS e GIL-PERES, 2002).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

De acordo com Jacobucci (2008) o termo ―espaço não formal‖ é utilizado por pesquisadores
em Educação, professores de diversas áreas do conhecimento e profissionais que trabalham com
divulgação científica para descrever lugares, diferentes da escola, onde é possível desenvolver
atividades educativas. Rink e Neto (2009) observaram em seus estudos que na educação ambiental
existe um forte interesse em questões voltadas para o âmbito formal de ensino, ou seja, a maior
parte dos estudos são direcionados ao contexto escolar. Todavia, as iniciativas de EA em ambientes
não formais remetem a algumas discussões que não são recentes. Ainda de acordo com esses
autores, a organização espaço-tempo flexível das instituições que adotam uma abordagem de ensino
em ambientes não formais permite maior liberdade na escolha de conteúdos, ampliando as
possibilidades de executar estratégias metodológicas não-tradicionais, criando atividades
interdisciplinares e ligadas a problemáticas atuais. Isso confere a tais espaços um potencial
significativo no sentido de motivar e sensibilizar o público visitante para as questões trabalhadas.
Um tema bastante negligenciado é a biodiversidade aquática e o efeito de impactos
ambientais (ANGELINI et al., 2011). No entanto, sabe-se que a popularização de conhecimentos
sobre a biodiversidade possibilita a implementação de estratégias educacionais para fomentar as
atitudes positivas nos alunos em relação à conservação (KILINK et al., 2013). Segundo Angelini et
al., (2011) atividades de campo ou em espaços de ciências possibilitam a compreensão de questões
ambientais e de conservação da biodiversidade, principalmente, por proporcionar uma aproximação
com os objetos estudados e por despertar bastante interesse em alunos da educação básica.
É notável que nos últimos anos as atividades antrópicas tenham exercido grande impacto
ambiental nos ecossistemas aquáticos. Como consequência destas atividades, tem-se observado uma
expressiva queda da qualidade da água e perda de biodiversidade aquática (GOULART e
CALLISTO, 2003). Entretanto, os organismos aquáticos são pouco conhecidos popularmente,
principalmente os insetos que vivem pelo menos uma fase da vida na água. Partindo do princípio de
que a conservação é diretamente proporcional ao conhecimento a cerca do que deve ser preservado,
acreditamos que divulgação do conhecimento científico pode ser uma ferramenta auxiliar na
conservação da biodiversidade pela aproximação de crianças com o conhecimento ecológico e
assim, gerar uma maior compreensão, por exemplo, dos impactos gerados pelas alterações
antrópicas sobre a biodiversidade de ambientes naturais (ANGELINI et al., 2011). Desta forma, este
trabalho objetiva aplicar e verificar as contribuições de uma sequência didática investigativa para
abordar impactos ambientais e biodiversidade aquática em ambientes não formais, de modo a
popularizar conhecimentos ecológicos pouco estudados no ambiente escolar.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

METODOLOGIA

A pesquisa teve como público-alvo 56 alunos matriculados regularmente no 7º ano do


ensino fundamental de uma escola da rede pública do Estado de Goiás no perímetro urbano da
cidade de Teresópolis de Goiás. A cidade está dentro do bioma Cerrado, com a construção da
Barragem do Ribeirão João Leite o Município de Teresópolis está 100% inserido na APA (Área de
Proteção Ambiental) do Ribeirão João Leite desde 2002 e ainda possui grandes áreas verdes onde
há muitas regiões que hospedam alta diversidade de espécies selvagens. Portanto, os alunos da
amostra têm oportunidade de estar em contato com a natureza.
A atividade de investigação para o entendimento de impactos em um ambiente aquático e
sua relação com a biodiversidade foi desenvolvida em quatro encontros, totalizando
aproximadamente 12 aulas, propostas por Cirilo (2016). Tais atividades foram desenvolvidas nos
seguintes espaços: no Laboratório de Pesquisas Ecológicas e Educação Científica da Universidade
Estadual de Goiás (LAB-PEEC/UEG), na trilha interpretativa de educação ambiental do Campus (a
Trilha do Tatu) e na unidade escolar.
O primeiro encontro aconteceu na unidade escolar, onde os alunos foram informados sobre
os objetivos e metodologia da pesquisa e, em seguida, foi solicitado a eles que respondessem três
questões sobre o assunto a ser abordado nas atividades. Em seguida, foi ministrada uma aula
expositiva dialogada sobre impactos ambientais em sistemas aquáticos, com duração aproximada de
60 minutos. Posteriormente, foi solicitado que eles elaborassem hipóteses sobre as possíveis
consequências desses impactos sobre a biodiversidade aquática e a integridade dos riachos.
Na semana seguinte, os alunos foram até o LAB-PEEC/UEG, onde receberam um material
de apoio, composto por colete personalizado, boné, squeeze, lápis e um diário de campo para
anotações. Em seguida, foi ministrada uma aula expositiva dialogada de aproximadamente 40
minutos sobre biodiversidade aquática com ênfase em Insetos Aquáticos. Posteriormente, os alunos
percorreram a Trilha do Tatu, acompanhados de monitores, onde fizeram coletas de insetos
aquáticos no córrego Barreiro, localizado no final da trilha. Durante todo o processo, os monitores
orientaram as crianças a anotarem suas observações.
Na terceira semana, em nova visita ao LAB-PEEC/UEG, os alunos assistiram uma aula
expositiva dialogada de aproximadamente 20 minutos sobre insetos aquáticos como bioindicadores
da qualidade da água. Feito isso, foram expostos materiais didáticos sobre o tema, tais como:
maquetes de rios preservados e degradados, insetos aquáticos de pelúcia e ciclo de vida dos insetos
feitos com massinha de modelar. Depois, com o auxílio dos monitores e utilização de microscópios
estereoscópicos, os alunos observaram e identificaram os insetos coletados na etapa anterior.
Identificados os insetos, os alunos contabilizaram os táxons sensíveis, resistentes e tolerantes à
poluição encontrados no córrego e, a partir disso, elaboraram conclusões acerca das hipóteses
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

propostas na primeira visita e responderam novamente o questionário. Finalmente, na quarta


semana, os alunos em um encontro na escola sistematizaram e socializaram suas soluções para o
problema proposto e os resultados da investigação realizada nos encontros anteriores.
Para a avaliação da eficácia da sequência didática foram aplicados questionários, no início e
no final das atividades, composto por três questões abertas. Além das questões, foi solicitado a
elaboração de dois desenhos, um no qual os alunos deveriam representar a biodiversidade de um rio
com mata ciliar e outro onde deveria ser representada a biodiversidade de um rio sem mata ciliar.
Para a avaliação da eficácia da atividade, foi utilizada como instrumento de pesquisa a observação
participante e com o intuito de verificar a eficiência das atividades em termos quantitativos
verificamos a frequência de ocorrência dos organismos representados pelas crianças através dos
desenhos antes e depois das atividades.
Seguem as perguntas do questionário aplicado aos alunos:
01. Para você, quais são os organismos que vivem dentro do rio?
02. O desmatamento é a retirada da vegetação de uma área. Você acha que o desmatamento
próximo do rio pode afetar os organismos que vivem nele? De que maneira?
03. O que podemos fazer para proteger os organismos que vivem no rio?

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades desenvolvidas despertaram grande interesse nos alunos, principalmente por


viverem próximos ou em áreas rurais, ou seja, com grande contato com a natureza e por se tratar de
um tema que atualmente tem sido muito discutido nos meios de comunicação. Na ocasião o assunto
foi repassado de uma forma clara e acessível, proporcionando um interesse pelo tema e
despertando-os para o entendimento da sua importância na preservação dos ambientes aquáticos.
Kilink et al. (2013) acreditam que as crianças desenvolvem concepções sobre fenômenos
naturais desde o nascimento. Estas concepções são construídas através de experiências pessoais
com a natureza e sentimentos como prazer, alegria, interesse e orgulho em ser capazes de identificar
organismos. Salientam ainda que, as experiências com colegas, familiares e professores nos
primeiros anos de educação também são influentes na construção das concepções individuais da
natureza.
Um dos passos essenciais no ensino de ciências por investigação é a proposição da
problemática inicial, nesse caso a problemática é a degradação ambiental próxima ao rio, e de que
maneira ela afeta os organismos que vivem dentro dele. Diante disso, após a aula sobre o assunto
procurou-se demonstrar o processo de construção do conhecimento científico e suas etapas.
Partindo do princípio que a hipótese é a resposta a um determinado problema, nesse caso, o
problema foi: ―O que acontece com organismos que vivem dentro de um rio que sofreu impacto

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ambiental?‖ Em grupos, os alunos formularam suas hipóteses. Nesse momento o professor atuou
como orientador dos grupos, sem interferir com respostas prontas. Basicamente todos os grupos
propuseram que os organismos que vivem dentro daquele rio morreriam com a degradação de sua
mata ciliar. O desenvolvimento do conhecimento científico requer que o professor proponha
problemas aos estudantes e são estes problemas que irão estimular a ação dos mesmos, pois ―ele
motiva, desafia, desperta interesse e gera discussões‖ (CARVALHO et al., 2007).
A avaliação dos desenhos feitos antes da execução das atividades mostrou que os alunos
possuem uma concepção distorcida da biodiversidade de um ambiente aquático de água doce, pois
foram desenhados cenários com alta predominância de peixes e com a presença de animais
marinhos (Figura 1). Após a intervenção, percebeu-se com maior frequência, a representação por
meio do desenho, de um cenário com mais biodiversidade, os peixes ainda predominaram, mas
houve maior quantidade de representação de macroinvertebrados aquáticos bem como de répteis e
mamíferos em ambiente aquático com mata ciliar preservada (Figura 2).

Figura 1. Frequência de cada táxon representado pelas crianças no desenho antes das atividades
investigativas.

Fonte: Da própria autora.

Figura 2. Frequência de cada táxon representado pelas crianças no desenho depois das atividades
investigativas.

Fonte: Da própria autora.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Antes das atividades investigativas os alunos propuseram como hipótese para um rio
degradado a morte ou ausência de todos os seres vivos que ali viviam, isso se mostra evidente
também nos desenhos elaborados no questionário respondido anteriormente às atividades. Segundo
Ferreira (1998), a criança desenha para significar seu pensamento, sua imaginação, seu
conhecimento, criando um modo simbólico de objetivação desses pensamentos.
Após as atividades os desenhos foram mais realistas, com mais representantes das
comunidades aquáticas (Figura 3). Para Ferreira e Silva (2004), o desenho que a criança desenvolve
no contexto das atividades escolares é um produto de sua atividade mental e reflete sua cultura e seu
desenvolvimento intelectual, e nesse caso foi por meio deles os alunos representaram a
biodiversidade em um ambiente aquático preservado e em um ambiente aquático degradado.

Figura 3. Desenho mostrando que antes das atividades investigativas (A) as crianças demonstravam pouco
conhecimento sobre a biodiversidade aquática. Depois das atividades (B) desenharam um ambiente com
maior biodiversidade aquática.

Antes das atividades os táxons de animais com maior frequência de representações nos
desenhos foram peixes (91%, n= 52) e répteis (25%, n= 14), além disso alguns alunos antes das
atividades representaram uma biodiversidade menor em ambiente aquático sem mata ciliar (12,5%,
n=7). Cirilo (2016) encontraram resultados semelhantes a esse, com desenhos representando a perda
da diversidade (número de espécies) e o aumento da dominância de uma espécie de peixes nos rios
sem mata ciliar. Poucos alunos (5,3%, n=3) desenharam os ambientes aquáticos (preservado e
degradado) sem nenhum organismo. Alguns alunos representaram os animais mortos no rio sem
mata ciliar (33%, n=19), também representaram atividades antrópicas como causa para a perda da
biodiversidade do ambiente, tanto antes como depois das atividades (12,5%, n= 7).
Os resultados sugerem que as crianças que participaram do presente estudo, além possuírem
previamente uma concepção simplista sobre a biodiversidade aquática, muitos desconheciam a
importância da pecuária como ameaça à biodiversidade do Cerrado. Klink e Machado (2005)
mostram que uma área de aproximadamente 65.874.145 ha (41% da área central do bioma) é

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

utilizada para plantação de pastagens para o gado, e isso gera um ameaça à biodiversidade. Apesar
disso, as crianças mostram acreditar que a criação de gado não representa um impacto ambiental, e
isso ficou evidente em dois momentos, o primeiro durante a primeira aula sobre ―Impactos
Ambientais em Ambientes Aquáticos‖, em meio as discussões, quando perguntados: ―Quais os
animais típicos do Cerrado vocês conhecem?‖ A resposta da turma foi unanime: ―A vaca‖. Outro
momento em que esse desconhecimento ficou evidente foi durante as análises dos desenhos, em que
a pastagem e as vacas foram representadas em ambientes preservados. Isso se dá, provavelmente,
devido ao fato do tema Cerrado ser negligenciado nos conteúdos escolares (BIZERRIL; FARIA,
2003). Além disso, pode-se associar essa visão a respeito da paisagem com o contexto em que as
crianças desse estudo estão crescendo.
Barbosa-Lima e Carvalho (2008) acreditam que o desenho realizado pelos alunos possa ser
um instrumento precioso de avaliação para o professor perceber quando e porque deve voltar a tocar
naquele assunto para que o aluno possa pensar sobre ele e procurar resolvê-lo construindo soluções
mais adequadas, buscando sanar suas dúvidas e desenvolver mais e melhor seu raciocínio. No
presente trabalho nota-se que as representações em forma de desenho foram eficazes para analisar o
efeito da atividade investigativa na concepção que as crianças traziam sobre biodiversidade aquática
e impactos ambientais e ainda o conjunto dos desenhos mostrou que após a intervenção os alunos
representaram com maior frequência e precisão organismos característicos desse ambiente.
Além de habilidades como escrever e desenhar, o saber comunicar procedimentos de forma
organizada é importante na construção do conhecimento científico, uma vez que existe uma
recapitulação do conteúdo. Segundo Vieira (2012), ao oportunizar esta comunicação, o ensino por
investigação permite que significados adquiridos sejam evidenciados, oportunizando uma
aprendizagem significativa. Os alunos, com auxilio da professora, organizaram suas observações e
registros escritos para a confecção de materiais como cartazes e maquetes, esta etapa foi a
sistematização dos conhecimentos. Nessa etapa, o professor com perguntas do tipo ―como e por
quê‖ busca do aluno o entendimento que eles tiveram do processo, permitindo com isso a passagem
da ação manipulativa à ação intelectual (SASSERON; CARVALHO, 2014). Essa sistematização se
deu na escola na semana após as atividades na trilha e no laboratório. Os materiais produzidos pelas
três turmas sintetizavam o conhecimento científico adquirido/produzido após a realização das
atividades anteriores. A exposição foi realizada para todas as turmas que participaram das
atividades, além dos professores.
Seguem alguns trechos do momento de sistematização: ―A nossa maquete é dividida em
mata galeria e mata seca. Durante nossa visita na UEG vimos os insetos aquáticos, e observamos
eles na lupa. Nós visitamos a mata seca e depois a mata galeria, na mata galeria vimos animais e
várias plantas, no rio não tem peixes, lá no laboratório nós aprendemos sobre a importância da

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mata galeria e no rio coletamos muitos insetos como libélula, mas lá estava degradado‖ (Estudante
x)
Diante disso, foi proposta uma discussão a fim de esclarecer esses argumentos e organizá-
los, pode-se entender que o argumento é o esclarecimento intencional de um raciocínio durante ou
após a sua elaboração (COSTA, 2008). Então, foi perguntado: ―Depois de tudo que discutimos
durante as aulas e durante as visitas ao laboratório e trilha, além do o que vocês observaram
durante as coletas dos insetos no córrego Barreiro, o que vocês notaram de diferente nas ideias
que vocês tinham sobre os animais que vivem dentro do rio?‖. Outro aluno do grupo respondeu:
―Ah professora, eu pensava que todos os animais morriam, não sobrava nenhum, mas não é assim
que acontece. O que acontece é que quando desmata na beira do rio o barranco cai porque não
tem raiz, e caiu e virou só lama, aí os animais que vivem lá vão ficando sem alimento porque tem
os insetos que se alimentam de raízes e vivem nelas, então esses vão morrer, os que se alimentam
desses vão morrer, só vão sobrar os resistentes, e você percebe que não são todos que morrem‖.
As atividades desenvolvidas possibilitaram aos alunos o acesso ao conhecimento científico
por meio da investigação, eles próprios construíram as percepções sobre o ambiente que visitaram e
sobre os impactos ambientais que este sofria. O ensino por investigação permite ao aluno participar
do processo de ensino-aprendizagem e com isso ele fixa muito mais o que aprende e pode fazer
relações com os assuntos já estudados anteriormente (SASSERON, 2015).

CONSIDERAÇOES FINAIS

A abordagem investigativa para a construção do conhecimento sobre biodiversidade


aquática e a preservação da mata ciliar mostrou-se eficiente como estratégia de ensino para temas
ambientais, pois proporcionou uma melhor compreensão por parte dos alunos sobre os conceitos
envolvendo biodiversidade aquática e a degradação ambiental. Foi possível ainda despertar nos
alunos do ensino fundamental mudanças na percepção do ambiente ao seu redor, bem como
despertar o interesse para o conhecimento científico e isso fica claro durante as discussões em aula e
ao compararmos os resultados obtidos após as atividades com os resultados dos questionários
diagnósticos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INFLUÊNCIA DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NA DIVERSIDADE DE


MOLUSCOS NA PRAIA DOS CARNEIROS, PE, BRASIL

Reginaldo Lourenço PEREIRA JÚNIOR


Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNICAP
reginaldolpjunior@outlook.com
Higor Maciel Pontes da SILVA
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNICAP
higor.maciel13@gmail.com
Goretti SÔNIA-SILVA
Professora do Curso de Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Biológicas da UNICAP
goretti@unicap.br

RESUMO
Na zona entremarés da praia dos Carneiros, a malacofauna presente no recife arenítico sofre
diariamente com diversos fatores que podem influenciar a distribuição e a diversidade. Entre os
fatores, podemos citar as chuvas. Assim, o objetivo do presente trabalho é verificar se a diversidade
da malacofauna no recife arenítico da Praia dos Carneiros (PE: Brasil) é influenciada pela
precipitação pluviométrica (mm). Coletas de moluscos foram realizadas na praia por meio de
transectos (10 x 10m) e quadrantes (25 x 25 cm) em três poças marinhas na área recifal durante dois
meses da estação chuvosa (abril e junho/2016) e dois meses da estação seca (janeiro e
novembro/2016). Na identificação taxonômica utilizou-se a literatura especializada e os dados da
precipitação pluviométrica foram obtidos com a APAC. Paralelamente foi utilizada a Frequência de
Ocorrência (%) para classificar os moluscos e o Coeficiente de correlação de Pearson para
correlacionar a inter-relação dos moluscos com a precipitação pluviométrica. Foram identificadas
dezoito espécies, sendo catorze gastrópodes, três bivalves e um da Classe Polyplacophora. Cinco
espécies foram encontradas em todos os meses amostrados, sendo classificadas como constantes. O
maior número de espécies ocorreu na estação chuvosa. O mês de abril apresentou a maior
diversidade e os meses de janeiro e novembro os menores números de espécies. Em relação a
precipitação pluviométrica, a precipitação mensal caiu na maioria dos meses em relação aos anos
anteriores. Abril teve a maior precipitação e novembro a menor, ocorrendo uma correlação positiva
entre o número de espécies e a precipitação pluviométrica. Assim, os moluscos representaram três
classes e a precipitação pluviométrica influenciou positivamente na diversidade de moluscos. São
necessários mais estudos acompanhando as espécies e aumentar as políticas de preservação do
ecossistema recifal.
Palavras-chaves: Bivalvia; Gastropoda; Polyplacophora; Recife arenítico; Zona entremarés.

ABSTRACT
In the intertidal zone of Carneiros beach, the malacofauna present in the sandy reef suffers daily
with several factors that can influence the distribution and the diversity. Among the factors, we can
mention the rains. Thus, the objective of the present work is to verify if the diversity of the
malacofauna in the sandstone reef of Carneiros beach (PE: Brazil) is influenced by rainfall (mm).
Mollusks collections were carried out on by means of transects (10 x 10 m) and quadrants (25 x 25
cm) in three marine pools in the reef area during two months of the rainy season (April and
June/2016) and two months of dry season (January and November/2016). In the taxonomic
identification the specialized literature was used and the rainfall data were obtained with the APAC.

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At the same time, the Frequency of Occurrence (%) was used to classify the molluscs and Pearson's
correlation coefficient to correlate the interrelationship between molluscs and rainfall. Eighteen
species were identified, being fourteen gastropods, three bivalves and one of the Polyplacophora
Class. Five species were found in all the months sampled, being classified as constants. The largest
number of species occurred in the rainy season. The month of April presented the greatest diversity
and the months of January and November had the lowest numbers of species. In relation to rainfall,
the monthly precipitation fell in most months compared to previous years. April had the highest
rainfall and November had the lowest, occurring a positive correlation between the number of
species and rainfall. Thus, molluscs represented three classes and rainfall influenced positively the
diversity of molluscs. More studies are needed to accompany the species and to increase policies for
the preservation of the reef ecosystem.
Keywords: Bivalvia; Gastropoda; Polyplacophora; Sandstone reef; Intertidal zone.

INTRODUÇÃO

―No litoral pernambucano os substratos duros estão representados, predominantemente,


pelos recifes de franja‖ (Pereira et al., 2002). Essas formações recifais são geralmente de estrutura
arenítica, caracterizados por areia de praias consolidadas por matéria calcária e fragmentos de
organismos calcários recristalizados‖ (Silva; Lira; Sônia-Silva, 2015). ―Muitos organismos vivem
direta ou indiretamente dos ecossistemas recifais, utilizando-os principalmente como áreas de
reprodução, alimentação e refúgio‖ (Correia e Sovierzoski, 2005). A praia dos Carneiros apresenta
em sua zona entremarés um recife arenítico com uma macrofauna bentônica bastante diversa. Nesse
habitat, a malacofauna se apresenta como um dos grupos mais abundantes. Os moluscos presentes
nesse ambiente sofrem diariamente com diversos fatores que podem influenciar a distribuição e a
diversidade. Entre esses fatores podemos citar a salinidade, a temperatura, o pH e as chuvas, sendo
que, alguns estudos têm sido realizados nos últimos anos para entender os efeitos deles sobre a
malacofauna. Olímpio (2015) ―verificou se a salinidade seria um fator determinante para a
comunidade da macrofauna bentônica, incluindo a malacofauna‖; Melo-Ferreira et al. (2016)
―abordaram a correlação da temperatura ambiental e a distribuição espacial da malacofauna‖.
Pereira Júnior; Silva; Sônia-Silva (2017) ―verificaram se o potencial hidrogeniônico (pH) interveio
na distribuição dos moluscos‖. Com relação as chuvas, Souza et al. (2014), por exemplo,
―trouxeram informações sobre os efeitos de eventos extremos de chuvas sobre a fisiologia de
mexilhões‖.
A preocupação com as mudanças climáticas e os efeitos das chuvas sobre os organismos e
habitats aumentou recentemente devido ao aumento das discussões e das projeções climáticas.
―Diversos estudos demostram que o aumento da temperatura média do planeta causa uma
intensificação do ciclo hidrológico, podendo ocasionar mudanças nos regimes das chuvas, como o
aumento da ocorrência de eventos hidrológicos extremos‖ (Silva; Montenegro; Souza, 2017).
Segundo Santos et al. (2016) ―o destaque que as mudanças climáticas têm produzido nos últimos

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tempos ressalta a importância de analisar as tendências de precipitação para a compreensão de como


as modificações do clima podem impactar os ecossistemas‖. Nesse contexto, o objetivo do presente
trabalho é verificar se a precipitação pluviométrica (mm) intervém na diversidade da malacofauna
no recife arenítico da Praia dos Carneiros, Pernambuco, Brasil.

METODOLOGIA

A praia dos Carneiros está localizada no município de Tamandaré no litoral Sul de


Pernambuco, a 110 km da cidade do Recife. ―O clima da região é quente e úmido do tipo AS‘,
segundo o sistema de classificação de Köpp ocorrendo uma estação chuvosa (março-agosto) e uma
estação seca (setembro-fevereiro)‖ (Pereira et al., 2002; Rosevel da Silva et al., 2005).
Moluscos foram coletados utilizando-se a metodologia de transectos (10 x 10 m) e
quadrantes (25 x 25 cm) em três poças marinhas na área recifal da praia dos Carneiros (8°42'08.5"S
e 35°04'39.3"W) (Figura 01). As coletas aconteceram durante a baixa-mar diurna no andar do médio
inferior em dois meses da estação chuvosa (abril e junho/2016) e dois meses da estação seca
(janeiro e novembro/2016). Em laboratório os exemplares foram selecionados, acondicionados e
preservados em álcool 70%. Na identificação taxonômica utilizou-se a literatura especializada
(Rios, 1994), onde os nomes das espécies foram revisados e atualizados segundo o banco de dados
World Register of Marine Species (WoRMS). Todo o material encontra-se armazenado no
laboratório de Biologia Marinha da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Os dados da
precipitação pluviométrica (mm) do município de Tamandaré foram obtidos com a Agência
Pernambucana de Águas e Clima (APAC).
Paralelamente foi utilizada a Frequência de Ocorrência (%), sendo expressa em termos
percentuais e calculada pela fórmula: FO = m x 100/ M, onde: FO = Frequência de Ocorrência; m=
número de meses onde a espécie ocorreu; M = número total de meses. Os resultados fornecidos em
porcentagem classificaram os moluscos, seguindo o critério de Bezerra (2011): ―25% ≥ FO (%) >
0% = Ocasionais; 50% ≥ FO (%) > 25% = Pouco Frequentes; 75% ≥ FO (%) > 50% = Frequentes;
FO (%) > 75% = Constantes‖. Para correlacionar a inter-relação dos moluscos com a precipitação
pluviométrica (mm) foi utilizado o Coeficiente de correlação de Pearson, onde se o valor está
próximo de 1 a correlação é positiva; Se o valor está próximo de -1 = a correlação é negativa.

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Figura 1: Localização da área recifal da praia dos Carneiros, Tamandaré, Pernambuco, Brasil. Fonte: Pereira
Júnior; Silva; Sônia-Silva (2017).

RESULTADOS

A tabela 1 apresenta a diversidade de moluscos identificados, com um total de dezoito


espécies, sendo catorze gastrópodes, três bivalves e um da Classe Polyplacophora. As espécies
encontradas em todos os meses amostrados e classificadas como constantes foram Astraea tecta
olfersii, Cerithium atratum, Stramonita haemastoma, Pisania pusio e Mytilaster solisianus.
Columbella mercatoria, Ischnochiton hartmeyeri e Morula nodulosa foram classificadas como
frequentes. As demais espécies dez foram classificadas como pouco frequentes (quatro espécies) ou
como ocasionais (seis espécies).

ES EC
Espécie CL JA N A JU FO
Astraea tecta olfersii Philippi, 1846 G X X X X C
Cerithium atratum Born, 1778 G X X X X C
Stramonita haemastoma Linnaeus, 1767 G X X X X C
Pisania pusio Linnaeus, 1758 G X X X X C
Mytilaster solisianus d‘Orbigny, 1842 B X X X X C
Columbella mercatoria Linnaeus, 1758 G X X X F
Ischnochiton hartmeyeri Thiele, 1910 P X X X F
Morula nodulosa C. B. Adams, 1845 G X X X F
Tegula viridula Gmelin, 1791 G X X PF

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Fissurella nimbosa Linnaeus, 1758 G X X PF


Arca imbricata Bruguière, 1789 B X X PF
Diodora cayenensis Lamarck, 1822 G X X PF
Hemitoma octoradiata Gmelin, 1791 G X O
Monoplex parthenopeus Salis Marschlins, 1793 G X O
Tivela mactroides Born, 1778 B X O
Phrontis polygonata Lamarck, 1822 G X O
Conus regius Gmelin, 1791 G X O
Cassis tuberosa Linnaeus, 1758 G X O
n 7 7 15 14
Tabela 1: Diversidade de espécies por época e mês e a classificação com base na ocorrência. (ES:
Estação seca; EC: Estação chuvosa; CL: Classe; JA: Janeiro; N: Novembro; A: Abril; JU: Junho; FO:
Frequência de Ocorrência; G: Gastropoda; B: Bivalvia; P: Polyplacophora; C: Constantes; F:
Frequentes; PF: Pouco Frequentes; O: Ocasionais; n: Número de espécies).

O maior número de espécies ocorreu na estação chuvosa (n= 17), sendo que Tegula viridula,
Fissurella nimbosa¸ Arca imbricata, Diodora cayenensis¸ Monoplex parthenopeus, Tivela
mactroides, Phrontis polygonata, Conus regius e Cassis tuberosa ocorreram somente nesta estação.
Enquanto que na estação seca ocorreu nove espécies, sendo Hemitoma octoradiata exclusiva dessa
estação. O mês de abril apresentou o maior número de espécies (n = 15) e os meses de janeiro e
novembro apresentaram os menores números, com sete espécies cada. Com relação aos dados de
precipitação pluviométrica, o mês com maior precipitação foi abril com 222,8 mm. Já o mês com
menor precipitação foi novembro com 18,6 (Figura 2). A média da precipitação pluviométrica foi de
108,1 mm e de acordo com o Coeficiente de correlação de Pearson, houve correlação positiva (r =
0,797) entre a precipitação pluviométrica e a diversidade de espécies.

Figura 2: Número de espécies correspondentes à Precipitação pluviométrica (mm) nos meses de coleta.

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DISCUSSÃO

Nos últimos anos a malacofauna da Praia dos Carneiros tem sido alvo de diversas pesquisas.
Pereira Júnior; Silva; Sônia-Silva (2016) ―identificaram seis bivalves e doze gastrópodes, incluindo
Stramonita haemastoma, Conus regius, Astraea tecta olfersii, Columbella mercatoria, Pisania
pusio, Tivela mactroides e Mytilaster solisianus‖. Enquanto Pereira Júnior; Silva; Sônia-Silva
(2017) ―encontraram Cerithium atratum, Stramonita haemastoma, Astraea tecta olfersii, Morula
nodulosa, Pisania pusio, Columbella mercatoria, Cassis tuberosa, Tegula viridula, Arca imbricata e
Ischnochiton hartmeyeri‖. Além disso, todas as espécies identificadas no presente estudo já foram
registradas em Pernambuco por outros autores (Rios, 1994; Tenório; Luz; Melo, 2002; Melo-
Ferreira et al., 2016).
Pereira Júnior; Silva; Sônia-Silva (2016) ―registraram Mytilaster solisianus com frequência
de 100%; Astraea tecta olfersii, Stramonita haemastoma e Columbella mercatoria com 70% a 40%
de frequência e Conus regius, Pisania pusio e Tivela mactroides com frequência entre 40% e 10%‖.
Melo-Ferreira et al. (2016) ―encontraram Astraea tecta olfersii, Stramonita haemastoma e
Mytilaster solisianus em todos os prontos amostrados‖. Jesus (2000) ―considerou Fissurella
nimbosa como constante e com frequência acima de 50% no Recife Ponta Verde em Maceió (AL)‖.
Mota (2011) ―registou as espécies Arca imbricata, Tegula viridula, Columbella mercatoria, Pisania
pusio, Stramonita haemastoma e Morula nodulosa como algumas das espécies mais frequentes nos
recifes costeiros do litoral da Paraíba, enquanto a espécie Phrontis polygonata foi pouco frequente‖.
Veras (2011) ―registrou, na Praia da Pedra Rachada (CE), Cerithium atratum com frequência
superior a 80%, Columbella mercatoria com frequência de aproximadamente 10% e as espécies
Arca imbricata e Tegula viridula com frequência de pouco mais de 20%‖. Bezerra (2011)
―estudando a malacofauna associada a uma espécie de alga na praia de Cupe em Ipojuca (PE),
registrou Columbella mercatoria e Arca imbricata como pouco frequentes‖. Almeida (2011)
―pesquisando nos recifes do Cabo Branco em João Pessoa na Paraíba observou Cerithium atratum
com Frequência de Ocorrência de 13,3% e Columbella mercatoria com frequência de 6,67‖.
―Stramonita haemastoma foi considerada uma das espécies mais abundantes na Ilha do Farol no
Paraná e em substratos rochosos da região entremarés no Piauí‖ (Birckolz; Gernet; Santos, 2012;
Cavalcante; Souza; Filho, 2012). Oliveira (2014) ―identificou Cerithium atratum com frequência
acima de 75% em alguns pontos do estuário do Rio Tubarão em Rio Grande do Norte, enquanto
Phrontis polygonata, Tegula viridula e Diodora cayenensis obtiveram frequência de 25%‖.
Pereira Júnior; Silva; Sônia-Silva (2016) ―encontraram na praia dos Carneiros uma maior
frequência de moluscos no período de estiagem‖. Chavez Villegas; Enriquez Diaz; Aldana Aranda
(2014) ―afirmaram que no Caribe Mexicano a época que apresentou a maior diversidade e
abundância de larvas de gastrópodes foi a época de chuvas‖. Dados similares aos de Oliva Rivera e
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De Jesus Navarrete (2000), ―que encontraram a maior abundância e riqueza de espécies na época de
chuvas‖. Segundo Jesus (2000) ―no período chuvoso ocorreu menor densidade de organismos no
Recife Ponta Verde em Maceió (AL)‖. Sônia da Silva (2003) ―observou que os índices
pluviométricos foram significativos na distribuição das espécies e que a pluviosidade foi um dos
elementos relevantes na distribuição dos bivalves endofaunais no manguezal do rio Formoso (PE)‖.
―A macrofauna bentônica da Praia de Paracurú (CE) mostrou-se mais rica e diversa no período
chuvoso quando comparada ao período de estiagem‖ (Viana; Rocha-Barreira; Grossi Hijo, 2005).
Segundo Almeida (2007) ―a maior densidade dos taxa foi constatada entre os meses do período seco
no Pontal do Cupe, Ipojuca (PE)‖. De acordo com Barroso e Matthews-Cascon (2009) ―não houve
diferença estatisticamente significante em relação ao número de espécies encontradas nos períodos
não-chuvoso e chuvoso no estuário do rio Ceará (CE)‖. Segundo Bezerra (2011) ―os fatores
salinidade e precipitação, na análise dos componentes principais, foram os que tiveram maior
correlação com a variação da fauna no Pontal do Cupe (PE)‖. Cavalcante; Matthews-Cascon; Rocha
(2014) ―constataram que a média de precipitação pode ter influenciado na diferença de composição
e riqueza de espécies encontradas nos meses de coleta em Barra Grande (PI)‖. Souza et al. (2014)
―concluíram que algumas espécies de mexilhões são muito bem-adaptadas à região entremarés e às
variações ambientais e não serão prejudicados pelo aumento de eventos extremos de chuvas‖.
Rebouças et al. (2017) ―evidenciaram que nas épocas chuvosas é menor o número de espécies na
Praia de Baixa Grande (RN)‖.
Segundo Beltrão et al. (2005) ―a precipitação média anual é da região de Tamandaré é
1309,9 mm‖ e os meses de coleta representaram aproximadamente um terço deste valor.
Comparando com os dados de precipitação média mensal de Silva (2015), os meses de janeiro e
junho obtiveram uma precipitação menor em relação a média desse meses no anos 1999 – 2013,
enquanto abril teve uma média superior e novembro um valor similar. Segundo a Apac, ―o mês de
janeiro teve precipitação maior do que a média do mês nos anos de 2014 e 2015, porém em abril,
junho e novembro a precipitação foi menor‖. De acordo com Marengo (2008) ―as projeções do
clima sugerem que no nordeste a chuva pode se reduzir de até 20% nos finais do século XXI, num
cenário de altas emissões‖.

CONCLUSÕES

As espécies do Filo Mollusca representaram três Classes: Gastropoda, Bivalvia e


Polyplacophora, com as espécies Astraea tecta olfersii, Cerithium atratum, Stramonita
haemastoma, Pisania pusio e Mytilaster solisianus sendo encontradas em todos os meses
amostrados e classificadas como constantes. A média mensal da precipitação pluviométrica foi de
108,1 mm e a maioria dos meses tiveram precipitação menor comparado a média do mesmo período

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nos anos de 2014 e 2015. A precipitação pluviométrica influenciou positivamente na diversidade de


moluscos na praia dos Carneiros, com o número de espécies maior na estação chuvosa. Assim, são
necessários mais estudos, principalmente na época de verão, com acompanhamento regular das
espécies e o aumento das políticas de preservação dos recifes e das espécies.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 58


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

BIOMAS NORDESTINOS: UM ESTUDO NO ÂMBITO DA


MATA ATLÂNTICA E DA CAATINGA

Rodrigo Coelho da SILVA


Graduando do curso de Geografia da UPE – CMN
rodrigocoelhosep@hotmail.com
Solange Fernandes Soares COUTINHO
Professora Orientadora
solangefscoutinho@gmail.com

RESUMO
Os biomas Mata Atlântica e Caatinga são os principais ecossistemas terrestres da Região Nordeste
do Brasil. Nesses ambientes encontram-se imensas diversidades e riquezas biológicas. Apesar disso,
eles também sofreram degradação ao longo de séculos causadas por ações humanas predatórias, tais
como: desmatamento, queimadas, agricultura, pecuária, expansão imobiliária e comércio ilegal de
espécies nativas. Neste contexto, acredita-se que a Educação Ambiental pode atuar como um
importante instrumento de sensibilização visando o uso racional e sustentável dos seus recursos
naturais através do respeito às capacidades de suporte desses biomas e à necessidade de
conservação dos mesmos. Sendo as universidades e as escolas, lugares voltados à construção e
disseminação de conhecimento, torna-se pertinente sugerir possíveis ações a serem desenvolvidas
ou incentivadas por essas entidades que estejam relacionadas à propagação de informações sobre a
importância dos biomas, suas competências em termos de prestação de serviços ecossistêmicos e
sua proteção, com base no fortalecimento da educação ambiental. Neste contexto o presente
trabalho foi desenvolvido como uma atividade acadêmica tomada por base o tema da Campanha da
Fraternidade 2017 – Biomas Brasileiros e Defesa da Vida – no âmbito do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) do Campus Mata Norte da Universidade de Pernambuco.
Palavras-chaves: Biomas, Educação Ambiental, Proteção do Meio Ambiente.

ABSTRACT
The Atlantic Forest and Caatinga biomes are the main terrestrial ecosystems of the Northeast
Region of Brazil. In these environments are immense diversities and biological riches. Despite this,
they have also suffered degradation over the centuries caused by predatory human actions, such as:
deforestation, burning, agriculture, ranching, real estate expansion and illegal trade in native
species. In this context, it is believed that Environmental Education can act as an important
instrument of sensitization aiming at the rational and sustainable use of its natural resources through
respect to the capacities of support of these biomes and the need for conservation of them. As
universities and schools are places dedicated to the construction and dissemination of knowledge, it
is pertinent to suggest possible actions to be developed or encouraged by these entities that are
related to the propagation of information on the importance of biomes, Ecosystem services and their
protection, based on the strengthening of environmental education. In this context, the present work
was developed as an academic activity based on the theme of the Campaign of the Fraternity 2017 -
Brazilian Biomes and Defense of Life - within the scope of the Institutional Program of Initiation to
Teaching Grants (Pibid) of the Campus Mata Norte of the University of Pernambuco.
Keywords: Biomes, Environmental Education, Environmental Protection.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Biomas são grandes ecossistemas terrestres delimitados por um clima regional com
diversidades biológicas próprias e também no interior deles em função de condicionantes locais,
como relevo e solo. Representam sistemas ecológicos distintos, apresentam área de transição entre
eles – ecótonos – mais ou menos fácil de constatar ao simples olhar e diferenciadas interações com
os biociclos aquáticos. De acordo com Adriano Figueiró um dos conceitos mais utilizados
Biogeografia é o de Bioma. Para ele ―o termo bioma (do grego bio, vida e oma, grupo) foi proposto
por Clements e Shelford (1935) para designar certo tipo de formação vegetal em associação com a
sua fauna própria, e subordinada a uma determinada condição climática.‖ (FIGUEIRÓ, 2015,
p.269). Todavia, na concepção do mesmo autor, cada Bioma representa:

Um agrupamento didático de ecorregiões ao redor do planeta que compartilham


características fitifisionômicas, mas que conservam no seu interior diferenças ecológicas e
fitossociológicas mais ou menos pronunciadas, derivadas da história da constituição dessas
paisagens e que permite identifica-las apenas como ecorregiões biogeograficamente
próximas (FIGUEIRÓ, 2015, p.282).

O Brasil possui cinco biomas típicos: Floresta Pluvial Equatorial (a Mata Amazônia), Mata
Atlântica, Caatinga, Cerrado e Pampa. Cada um desses ambientes possui diferentes características
de fauna e flora e estão sofrendo deterioração com a intensa ação antrópica devido diversos fatores.
Dessa forma, a educação ambiental possui um importante papel no que se refere à sensibilização
quanto ao manejo sustentável dos biomas. Ela nos propicia reflexões críticas sobre as práticas que
levam a um uso irracional dos recursos naturais. As propostas da educação ambiental podem
contribuir para a ampliação da compreensão das características dos diferentes tipos de biomas, pois
o entendimento das funções dos componentes de um sistema ecológico é uma das formas mais
dinâmica de provocar ações com a intenção de proteger o ambiente. Um bioma é formado por todos
os seres vivos de uma determinada região delimitada por um clima regional, onde a fauna e a flora
mais semelhante, podendo variar de acordo com aspectos ecológicos localmente presentes.
O objetivo da intervenção na escola foi apresentar e discutir com os alunos do Ensino Básico
as características dos biomas brasileiros no âmbito do tema da Campanha da Fraternidade de 2017 –
Biomas Brasileiros e Defesa da Vida – como atividade do Pibid (Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência) do Campus Mata Norte da Universidade de Pernambuco, bem como
alertar para degradação dos mesmos por parte dos seres humanos, levando aos discentes uma
sensibilização quanto à necessidade de proteção desses ecossistemas a partir do conhecimento e
compreensão dos mesmos. A Campanha da Fraternidade 2017 teve como tema ―Fraternidade:
biomas brasileiros e defesa da vida, e seu objetivo foi alertar as pessoas para a necessidade de
cuidar dos biomas brasileiros no que for necessário (POLETTO, 2017).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com o intuito de provocar reflexões acerca dos propósitos da Educação Ambiental, aqui
considera um processo que permite à espécie humana se ver como componente no meio e assim
corresponsável pela sua qualidade, foram trabalhados com maior profundidade os biomas
brasileiros Mata Atlântica e Caatinga, julgou-se também importante discutir ações conflitantes em
função de interesses divergentes relacionadas ao contexto atual dos problemas que associam o ser
humano a esses biomas. Para tanto, foram destacados as características marcantes dos mesmos e os
problemas ambientais que se apresentam para que fossem questionados os desafios atuais de
protegê-los e, assim, beneficiar as pessoas que neles vivem e/ou obtêm neles seus meios de vida.
Este artigo foi construído através de metodologia quantitativa com abordagem descritiva que
permitiu apurar e interpretar os resultados alcançados a partir das referências presentes em livros e
sites que tratam dos assuntos objetos de estudos.

BIOMAS DA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Nesse contexto, Barros (2009) afirma que um bioma pode ser definido como um grande
ecossistema com aspecto geral mais ou menos semelhante em termos de composição de espécies e
aparência da flora e da fauna, e clima próprio. Desta forma, estudar as características dos biomas é
necessário no sentido de perceber a sua importância para a manutenção da vida na Terra. Mas para a
reprodução da vida nos biomas, é indispensável a determinação e implementação de políticas
públicas ambientais, o reconhecimento de interesses para a conservação dos mesmos a partir de uso
sustentável e distribuição de benefícios da biodiversidade que possuem De modo geral, o conceito
de biodiversidade compreende mais do que as espécies de animais, plantas e demais reinos, inclui
também os distintas ecossistemas e variações genéticas que em cada espécie. Segundo Barbieri
(2010, p. 16):

Biodiversidade é a totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de uma região, agrupando,


por meio desta definição, os três níveis da diversidade entre os seres vivos que são:
diversidade de espécies (diversidade entre as espécies), diversidade genética (diversidades
dos genes em uma espécie) e diversidades de ecossistemas (diversidade em nível mais alto,
compreendendo todos os níveis da variação).

O Nordeste brasileiro possui diversos biomas, a saber: Caatinga (maior parte), Cerrado
(Oeste da Bahia, Piauí e Leste do Maranhão), Mata Atlântica (Litoral Nordestino, até o Rio Grande
do Norte) e Floresta Amazônia (Oeste do Maranhão). No caso deste relato, como já mencionado,
serão enfatizados os biomas Caatinga e Mata Atlântica.

BIOMA CAATINGA

A Caatinga ocupa grande parte da Região Nordeste: Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas e Sergipe. Vale ressaltar que há presença desse tipo de bioma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

em pequenas ocorrências nos estados do Maranhão e Minas Gerais. Segundo Almeida; França;
Cuellar (2009) a Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e é um dos mais alterados
pelas atividades humanas nos últimos anos. É rico em biodiversidade, mesmo com a escassez de
recursos hídricos, o que poderia fazer pensar o contrário.
A vegetação da Caatinga não apresenta a abundância verde das florestas tropicais úmidas e a
aparência seca dominada por cactos e arbustos propõe uma baixa variação da fauna e flora.
Entretanto manifesta grande biodiversidade de espécies e ecossistemas. São variadas as formas de
adaptação dos seres vivos que lá estão aos elementos ecológicos desse sistema – potencial biótico
das espécies. Muitas plantas perdem suas folhas para reduzir a perda de água nos períodos
chamados de estresse hídrico, renovando-as quando as chuvas chegam de forma rápida e fantástica
quando a paisagem muda quase que da noite para o dia.
A Caatinga encontra-se no domínio do clima semiárido, que abrange territórios de oito
estados do Nordeste brasileiro mais o norte de Minas Gerais. Muitas plantas desse bioma, a
exemplo do Umbuzeiro, guardam água em suas raízes para poder se utilizar dela em tempos de
ausência de chuva. Espécies vegetais caducifólias e com caules retorcidos e folhas pequenas, outras
com acúmulo de água no caule e espinhos substituindo folhas, e outras mais desenvolvendo raízes
com reserva de líquidos caracterizam uma comunidade que não apresentam pobreza florística, mas
sim demonstração de vidas que souberam se adaptar ao clima semiárido – que possuem capacidades
biológicas compatíveis com as demais condições ecológicas no meio.
O bioma Caatinga pode ser considerado um dos mais ameaçados do Brasil. Grande parte
dele já foi bastante modificado por utilização indefinida e ocupação humana desordenada. Apesar
de sua grande importância, inclusive porque só ocorre no Brasil, o bioma vem sendo desmatado de
maneira acelerada nos últimos anos, devido ao intenso consumo de lenha nativa que é explorada de
forma ilegal e irracional, para os fins domésticos e industriais. Além disso, outros fatores que levam
ao desmatamento da Caatinga são o sobrepastoreio e a combinação entre a pastagem e a agricultura.
Todos esses fatores acabam gerando impactos ecológicos, sociais e econômicos típicos de áreas
degradadas onde a desertificação, por exemplo, se instala. A Figura 1 proporciona uma visão do que
foi exposto.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1. Vegetação típica da paisagem atual da Caatinga. Município de Souza-PB.


Foto: Rodrigo Coelho, 2014.

Muitos estados são carentes de medidas mais efetivas de conservação da diversidade, como
a criação de unidades de conservação de proteção integral. Para Luz (2009, p.7):

Promover a conservação da biodiversidade da Caatinga não é uma ação simples, uma vez
que grandes obstáculos precisam ser superados, dentre eles, a falta de um sistema regional
eficiente de áreas protegidas e a falta de inclusão do componente ambiental nos planos
regionais de desenvolvimento.

Todavia, apesar de um bioma endêmico, o que lhe devia garantir especial tratamento em
termos de proteção, ainda muito dele precisa ser conhecido e compreendido. Julga-se, assim,
importante desenvolver ações com o objetivo de eliminar as informações erradas que são bastantes
divulgadas por falta de entendimento mais preciso sobre o Semiárido de uma forma geral e mais
especificamente sobre o Bioma Caatinga nos diversos níveis nível e modalidades da educação, seja
ela formal ou não formal. Isto é: realizar uma educação contextualizada às realidades nacional e
local.

BIOMA MATA ATLÂNTICA

A Mata Atlântica ocupa a faixa litorânea de Norte a Sul do Brasil. É uma das superfícies
mais ricas em biodiversidade e mais ameaçadas do Planeta. Segundo o Ministério do Meio
Ambiente restam apenas 8,5% de remanescentes florestais da Mata Atlântica (BRASIL, 2017).
O bioma Mata Atlântica é o mais devastado do Brasil por ter sofrido vários tipos de pressão
e exploração. A devastação desse bioma vem desde o período colonial e algumas das causas foram
a irracional extração do Pau-brasil e os ciclos de cana de açúcar, café, ouro e fumo. Além disso, a
devastação das araucárias no contexto de intensa exploração predatória de madeiras, a
industrialização, a expansão urbana desordenada, a poluição do ar, das águas e a degradação dos
solos contribuem para o estado atual desse bioma. Observando-se a Figura 2 – foto tomada durante

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

uma excursão didática da disciplina de Fundamentos da Ecologia do Curso de Licenciatura em


Geografia do Campus Mata Norte da Universidade de Pernambuco – pode-se ter a ideia da
fitofisionomia e das condições internas da Mata Atlântica em um ponto já próximo ao limite
setentrional do bioma em questão.

Figura 2. Santuário Ecológico de Pipa-RN.


Foto: Rodrigo Coelho, 2016.

É neste bioma que se encontra, também, lugares de contemplação e lazer para brasileiros e
estrangeiros – sejam eles moradores, visitantes, excursionistas ou turistas. A ameaça a ele deriva-se
da falta de consciência ecológica de grande parte da população brasileira, da omissão do poder
público e do modelo de desenvolvimento econômico dominante que resultou, como já mencionado,
na degradação do meio ambiente e, consequentemente, na expulsão de diversas comunidades
tradicionais que dependiam dos seus recursos ou dos sistemas ecológicos a ele associados. Além
das ameaças anteriormente citadas ainda pode-se incluir a falta ou precariedade de saneamento
básico e a especulação imobiliária.

CAMPANHA DA FRATERNIDADE E ATUAÇÃO NA ESCOLA

A Campanha da Fraternidade 2017 teve como tema ―Fraternidade: Biomas brasileiros e


defesa da vida‖, e o lema ―Cultivar e guardar a criação (Gn 2.15)‖. Desse modo, trabalhou-se com
os alunos da Escola de Referência em Ensino Médio Maciel Monteiro, localizada no Município de
Nazaré da Mata, no Estado de Pernambuco, os biomas brasileiros com um enfoque maior na Mata
Atlântica e na Caatinga, como já mencionado antes. Para tanto, a Educação Ambiental foi
considerada o instrumento de sensibilização a ser trabalhado transversalmente com os discentes, no
sentido de explorar a relação de pertencimento da espécie humana ao meio ambiente e, ao mesmo
tempo, os impactos que suas ações podem causar no contexto ecológico e, consequentemente social.
As ameaças de perda de biodiversidade e consequentes modificações na distribuição geográfica das

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

espécies influem-nas dinâmicas populacionais não apenas das espécies diretamente atingidas, mas
até de outros sistemas ecológicos terrestres ou aquáticos. Essas ameaças, que estão frequentemente
relacionadas à expansão econômica e que trazem consigo usos e ocupações inadequadas
promovendo a necessidade de medidas e políticas públicas de proteção, foram pontos trabalhados
durante a oficina (Figura 3) que buscou provocar momentos de construção coletiva do saber
geográfico.

Figura 3. Apresentação da oficina sobre os Biomas Brasileiros.


Foto: Patrícia Maria, 2016.

Durante os trabalhos realizados na escola observou-se o pouco conhecimento dos alunos no


que diz respeito aos biomas, em vários sentidos. As participações foram bastantes significativas e
nelas foi possível perceber equívocos e dúvidas. Alguns pontos foram discutidos disseram respeito à
proteção dos biomas, dentre eles: exigir do poder público em suas diferentes esferas a recuperação
das áreas degradadas, o reflorestamento dos ambientes urbanos com espécies arbóreas nativas e o
incentivo à produção agroecológica, considerando-se para isso os princípios da sustentabilidade,
esta entendida como a necessidade de respeitar ―a capacidade de suporte de um ecossistema,
permitindo sua reprodução ou permanência no tempo‖ (LOUREIRO, 2012, p.56).
Vale ressaltar, também, a proposta dos educandos para a realização de ações objetivando
não ampliar a degradação ambiental, como plantar uma árvore e não descartar lixo em locais
inadequados, ressaltando a constatação de cada pessoa é corresponsável pela qualidade do ambiente
no qual faz parte, seja em que biociclo se encontre ou interfira no Planeta Terra. Quanto menos a
espécie humana desenvolve hábitos e ações predatórias, menos poluição se terá e menos problemas
sanitários e de escoamento da chuva, por exemplo, se darão. A Educação Ambiental hoje no Brasil,
mais que nunca, deve ser vivenciada nas escolas e para além delas de forma crítica, abrangendo
todos os atores que desses espaços façam parte direta ou indiretamente.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vem se aumentando a preocupação da população em relação a degradação dos diversos


tipos de biomas, mesmo eles não sendo conhecidos por este termo e, dessa forma, já se observa
iniciativas de variados setores da sociedade para o desenvolvimento de programas e projetos com a
intenção de educar as pessoas, procurando sensibilizá-las sobre as questões ambientais relacionadas
a esses ecossistemas e estimulá-las a ativa e continuamente contribuir para a proteção dos biomas,
inclusive, quando pertinente, na restauração do equilíbrio ecológico dos mesmos.
Com a sensibilização para as questões ambientais pretendeu-se criar uma tendência nos
alunos e alunas para mudanças de atitudes em relação a hábitos que contribuam para a degradação
ambiental, incluindo aí a perda da biodiversidade e, consequentemente, alteração na distribuição
biogeográfica. Contudo, essas mudanças só se podem acontecer se a pessoa for educada, ou seja,
tenha atitudes mais corretas ao interferirem nos ambientes. Ambientes aqui são considerados como
produtos das diversas interações entre os elementos que os continuem, sejam ele físico-químicos,
biológicos, sociais, econômicos, políticos e todos mais.
De acordo com o que foi desenvolvido na escola verificou-se a falta de conhecimento dos
alunos quanto aos biomas, inclusive os brasileiros e até nordestinos. Evidencia-se as poucas ações
desenvolvidas com relação à Educação Ambiental e a proposta de Sustentabilidade. Do ponto de
vista educativo, o trabalho desenvolvido através da Campanha da Fraternidade possibilitou o
fortalecimento da sensibilização nos alunos e, dessa forma, os conhecimentos educativos ganharam
mais significado e os discentes se sentiram mais motivados e interessados pelos temas relacionados
ao Meio Ambiente, principalmente no espaço sócio-ecológico em que os mesmos estão inseridos.
É de total interesse da população que os órgãos do governo apresentem soluções, junto com
a comunidade e as instituições educacionais, propostas para resolverem ou amenizarem os
problemas ambientais, buscando possibilidades sustentáveis para conciliar os inúmeros problemas
socioambientais que podem ser encontrados no Nordeste brasileiro, e que consequentemente afetam
diretamente os biomas Mata Atlântica e Caatinga.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTERAÇÃO ECOLÓGICA DE ECHINODERMATA E MACROALGAS NA PRAIA


DOS CARNEIROS, PE, BRASIL

Vitória da Fonseca DIAS


Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UNICAP
vi.dias11@hotmail.com
Higor Maciel Pontes da SILVA
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNICAP
higor.maciel13@gmail.com
Reginaldo Lourenço PEREIRA JÚNIOR
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da UNICAP
reginaldolpjunior@outlook.com
Goretti SÔNIA-SILVA
Professora do Curso de Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Biológicas da UNICAP
goretti@unicap.br

RESUMO
O estudo dos equinodermos tem se aprimorado nos últimos anos, pois esses organismos se
relacionam com diferentes grupos e promovem, por exemplo, a predação nos organismos
bentônicos ou uma herbivoria na cobertura algal. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a
interação ecológica do Filo Echinodermata e as macroalgas da Praia dos Carneiros, PE, Brasil. As
coletas de Echinodermos foram realizadas no período de 2015/2016 durante a baixa-mar diurna,
utilizando-se a metodologia por meio de transectos (10x10m) e quadrantes (25x25cm)
perpendiculares à costa, em três poças marinhas na zona entremarés da praia dos Carneiros, Litoral
Sul pernambucano. Paralelamente foi utilizado um método de amostragem, a Frequência de
Ocorrência (%), que correspondeu ao número de pontos similares aos equinodermos e algas.
Durante o período de amostragem, foram coletados sete espécies pertencentes a 4 classe de
equinodermos: Aphioderma appressum; Ophiocoma echinata; Echinometra lucunter; Mellita
quinquiesperforata; Chiridota rotífera; Linckia guildingii e Ocnus Suspectus. Os exemplares foram
registrados em sua maioria sob rochas, enterrados no sedimento, como também nos fitais de
Halimeda opuntia; Dictyopteris delicatula; Ulva lactuca; Padina gymnospora; Dictyurus
occidentalis; Sargassum filependula; Dictyota cervicornis; e Caulerpa racemosa. A interação
equinoderma versus algas pode ser tratada como fator de beneficência para as espécies de
equinodermos, visto que, as macroalgas servem como fonte de alimentos para esses herbívoros.
Ressaltamos que, estudos de cunho ecológico devem ser realizados para uma avaliação da
preferência de habitat, da riqueza e da estrutura populacional dos equinodermos na Praia dos
Carneiros (PE, Brasil).
Palavras-chave: importância; entremáres; amostragem; Echinoidea.

ABSTRACT
The study of echinoderms has improved in recent years, since these organisms relate to different
groups and promote, for example, predation in benthic organisms or an herbivory in the algal cover.
The present work aims at an ecological interaction of Phylum Echinodermata and macroalgae of
Carneiros Beach, PE, Brazil. Echinodermos samples were collected during the 2015/2016 period
during the low tide, using the methodology by means of transects (10x10m) and quadrants (25x25

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cm) perpendicular to the coast, in three marine pools in the zone between the Carneiros Beach,
south coast of Pernambuco. In parallel, At the same time, a sampling method was used, the
Frequency of Occurrence (%), which corresponds to the number of points similar to echinoderms
and algae. During the sampling period, seven species belonging to 4 classes of echinoderms were
collected: Aphioderma appressum; Ophiocoma echinata; Echinometra lucunter; Mellita
quinquiesperforata; Chiridota rotífera; Linckia guildingii and Ocnus Suspectus. The specimens
were mostly recorded under rocks, buried in the sediment, as well as in the phalanges of Halimeda
opuntia; Dictyopteris delicatula; Ulva lactuca; Padina gymnospora; Dictyurus occidental;
Sargassum filependula; Dictyota cervicornis; And Caulerpa racemosa. Echinoderms versus algae
interaction can be treated as a beneficence factor for echinoderm species, since macroalgae serve as
a food source for these herbivores. We emphasize that ecological studies should be carried out to
evaluate the habitat preference, richness and population structure of echinoderms in Carneiros
Beach (PE, Brazil).
Keywords: Importance; Intertidal zone; Sampling; Echinoidea.

INTRODUÇÃO

―O grupo Echinodermata é comumente encontrado em ambientes recifais. Suas populações


vivem em todas as latitudes, desde a zona entremarés até fundos abissais, sendo mais abundantes na
região tropical do que nas águas polares‖ (Sampaio, 2010). ―Muitos organismos estão adaptados a
se fixar em substratos rochosos, enquanto outros vivem em substratos lodosos, arenosos, em
madeira submersa ou em epibiose‖ (Hendler et al., 1995). ―Uma importante característica do grupo
é sua tendência a apresentar distribuição agregada em altas densidades‖ (Hendler et al., 1995,
Tommasi et al., 1998). ―Em locais onde as condições são favoráveis a essas espécies, o substrato
pode ficar totalmente coberto por ouriços-do-mar, serpentes-do-mar ou estrelas-do-mar‖ (Sampaio,
2010). ―Agregações de equinodermos adultos têm sido relacionadas a locais com abundância de
comida, a requerimento reprodutivo, ao comportamento defensivo e ao aumento na eficiência de
filtradores‖ (Ellis e Rogers, 2000).
Compreender a adaptação humana ao ambiente é algo muito complexo, pois implica a
interação entre os ―entornos físicos e biológicos‖. ―Contudo, o entorno social faz parte de um
sistema de inter-relações onde a introdução de novos elementos, em virtude de interferências
externas pode alterar o equilíbrio de um ecossistema‖ COSTA e IGNÁCIO (2011). ―Assim,
podemos até considerar que a comunidade local gera um desequilíbrio sistêmico, mas sem dúvida
alguma, corresponde a um ponto de partida para a construção de uma consciência ecológica‖
COSTA e IGNÁCIO (2011). Interferências ou não, muitas comunidades da baixa renda, frutos da
desigualdade social utilizam o ambiente como meio de subsistência, com marcas visíveis na
estrutura ambiental. São na verdade populações de um sistema de exploração autossustentáveis.
―Hoje, verifica-se em muitas áreas costeiras a exploração indiscriminada dos vários sistemas
ecológicos, produto do desenvolvimento acelerado, da exploração irracional dos recursos naturais e

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da ocupação urbana que vem se atenuando gradativamente, principalmente o turismo local‖


(Wearing et al., 2001; FAO/NACA, 1999). Cruz (2005) ―afirmava que o turismo como uma prática
social e como objeto de consumo, é cada vez mais um agente de transformação dos sistemas
ecológicos‖. ―Assim, aos poucos os impactos antropogênicos incidem negativamente sobre as
regiões de praias que passam a sofrer degradação e redução biológica, modificando e
comprometendo a produtividade ecossistêmica, como é o caso da Praia dos Carneiros, localizada no
Município de Tamandaré, litoral Sul de Pernambuco‖ (CPRH, 1999, 2003); a praia tem sido
atingida, nas últimas décadas, por um acelerado processo de ação antrópica, em face da velocidade
do turismo local. Possui um paredão de recifes (1Km de extensão) de formação arenítica
caracterizado por areia de praias consolidadas por matéria calcária e fragmentos de organismos
calcários recristalizados. Esse sistema natural representa área de relevância ecológica por
desempenhar papel fundamental na manutenção das águas costeiras, e na manutenção de espécimes
marinhas, como macroalgas e representantes do Filo Echinodermata. Contudo, o acesso à praia dos
Carneiros se caracteriza por um elevado grau de variabilidade quanto à disponibilidade relativa das
diversas espécies exploradas, associadas a comercialização e ao desaparecimento de espécies
bioindicadoras ambientais. ―Nos ambientes tropicais, os equinodermos estão entre os organismos
mais abundantes e diversos, e ocorrem em substratos consolidados ou não, e até mesmo em epibiose
com outros animais ou plantas‖ (Hendler et al., 1995, Hadel, 1997). ―Sabe-se, por exemplo, que no
Brasil dezenove espécies de equinodermos foram incluídas na lista de ameaçados de extinção e
destas, cinco podem ser encontradas no Estado de Pernambuco (Fernandes et al., 2002), sendo três
equinoides Eucidares tribuloides tribuloides Lamarck 1816, Tripneustes ventricosus Lamarck 1816
e Mellita quinquesperforata Leske 1778; um crinoide, Tropiometra carinata carinata Lamarck
1816 e uma asteroide, Oriaster reticulatus Linnaeus 1758‖.

Macedo (1993) e Braga et al. (1990) ―registraram que com a implantação do complexo
industrial portuário de SUAPE (PE), ações antrópicas foram preponderantes na escassez de
espécimes marinhas no Estado de Pernambuco; as áreas litorâneas têm sido
sistematicamente destruídas, existindo apenas pequenas áreas remanescentes‖.

Para Koening et al. (2002) ―todas as intervenções no meio ambiente geram impactos,
positivos ou negativos, ocasionando alterações quali-quantitativas nos componentes florísticos e
faunísticos, nas características geomorfológicas, sedimentológicas e hidrológicas‖. Assim, a
proposta apresentada tem uma grande consolidação biológica e ambiental, tornando o trabalho
―Estudo da interação ecológica de Echinodermata e macroalgas da praia dos Carneiros, PE, Brasil‖
extremamente relevante no contexto da conservação das espécies marinhas e no entendimento dos
níveis de impactos existentes na região costeira da praia de Tamandaré. O presente trabalho tem
como objetivo avaliar a interação ecológica do Filo Echinodermata e as macroalgas da Praia dos
Carneiros, PE, Brasil.

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MATERIAL E MÉTODOS

A praia dos Carneiros, local de estudo, localiza-se no Município de Tamandaré (sul da


cidade de Recife) que está localizada no litoral sul de Pernambuco, distando a 110 km da cidade do
Recife. ―Seu sedimento é classificado como carbonático com predomínio de macroalgas, com altas
taxas de sedimentação e baixa hidrodinâmica, em função da ocorrência de barreiras de arenito
paralelas à costa que criam um confinamento das águas‖ (Maida e Ferreira, 1996, LEÃO et al.,
2003) (Figura 1).

Figura 1: Localização da praia dos Carneiros, Tamandaré, Pernambuco, Brasil. Fonte: Pereira Júnior; Silva;
Sônia-Silva (2017).

As coletas de equinodermos foram realizadas mensalmente, de janeiro de 2015 a 2016,


durante a baixa-mar diurna, utilizando-se a metodologia de dois transectos A e B (10 x 10m) e seis
quadrantes (25 x 25) perpendiculares à costa (Figura 2) e em 03 estações (A1, A2 e A3) da praia dos
Carneiros (8°42'08.5"S e 35°04'39.3"W). Em laboratório os espécimes amostrados e/ou coletados
foram triados, fixados em formol a 4%, acondicionados em frascos de vidro devidamente
etiquetados e posteriormente foram realizadas as análises taxonômicas, através da literatura
pertinente. A interpretação dos dados obtidos referentes à distribuição dos espécimes equinodermos
foi analisada e traduzida através de valores numéricos. O índice numérico utilizado foi a
Frequência de Ocorrência (%), que corresponde ao número de pontos em que determinada espécie
está presente, pelo número total de pontos, sendo expressa em termos percentuais e calculada pela
fórmula: Fo = P x 100/ p, onde: Fo = Frequência de ocorrência; P= número de pontos onde a
espécie ocorreu; p = número total de pontos. Os resultados fornecidos em percentagem foram
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classificados, seguindo o critério abaixo: > 70%... muito frequentes; 70 % ≥ 40% ... Frequentes;
40% ≥ 10% Pouco Frequentes; ≤ 10% .... Esporádicos.

Figura 2. Metodologia de ―transectos e ―quadrantes‖. Fonte: Autor (2016).

RESULTADOS

Foram identificadas em três áreas distintas, 7 espécies pertencentes a quatro classes do filo
Echinodermata. Na estação A¹ foram encontradas 6 espécies, Aphioderma appressum; Ophiocoma
echinata; Echinometra lucunter; Mellita quinquiesperforata; Chiridota rotífera e Linckia
guildingii; na A² e A³ foram encontradas 5 espécies, Aphioderma appressum; Ophiocoma echinata;
Echinometra lucunter; Chiridota rotífera e Parathyone suspecta. A classe com a maior número de
espécies foi Ophiuroidea (n = 2), seguida de Echinoidea (n = 2). Holothuroidea (n = 2) e Asteroidea
(n = 1). Os exemplares foram registrados em sua maioria sob rochas, enterrados no sedimento,
como também nos fitais (Algas) (Figura 3), de Halimeda opuntia; Dictyopteris delicatula; Ulva
lactuca; Padina gymnospora; Dictyurus occidentales; Sargassum filependula; Dictyota
cervicornis; e Caulerpa racemosa. As espécies mais encontradas nas áreas onde houve coletas de
materiais foram as dos gêneros Sargassum e Halimeda. As espécies da classe Ophiuroidea
registrados em áreas recifais, entre blocos soltos e submersos ou encontradas em fundos de areia
sob pedras, em sua maioria, juvenis e aparentemente na fase reprodutiva, exclusivamente
representantes por Ophiocoma echinata e Ophioderma appressum. Na classe Echinoidea, a espécie
Echinometra lucunter foi registrada tanto em locas de rochas como sob estas, enquanto Mellita
quinquiesperforata, uma espécie de equinoide irregular comum em praias arenosas, inclusive em
praias urbanas onde sofrem forte impacto antropogênico.
Dentre os indivíduos da classe Holothuroidea, a espécie Parathyone suspecta foi observado
com pouca frequência sob rochas e em fendas. Chiridota rotifera foi tipicamente observada
enterrada em sedimentos finos, sob rochas e vivendo de forma agregada. O indivíduo da classe

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Asteroidea, Linckia guidingii foi encontrada em formações recifais submersas ou enclaves do


infralitoral, em poças de maré. Entre as espécies encontradas muito frequentes (> 70%) e, em todos
os pontos amostrados foram Echinometra lucunter, Linnaeus, 1758; Ophioderma appressum Say,
1825; Ophiocoma echinata, Lamarck, 1816; Chiridota rotífera, Pourtalés, 1851. Enquanto que
Mellita quinquiesperforata Leske, 1778; Linckia guidingii Gray, 1840 e Parathyone suspecta,
Ludwig, 1875, foram registradas como pouco frequentes, na categoria (40% ≥ 10%). Não foi
registrada nenhuma espécie na categoria frequente (70 % ≥ 40%).

Figura 3: Equinodermo sobre fital de algas. Fonte: Autor (2016).

DISCUSSÃO

A praia dos Carneiros mostrou uma fauna de equinodermos bem diversificada e tipicamente
tropical, na qual a classe Ophiuroidea foi a mais representativa. ―Este resultado assemelha-se aos
obtidos por Martins e Martins de Queiroz (2006), Alves e Cerqueira (2000) e Lima-Verde (1969),
para alguns estados da região Nordeste‖. De acordo com Tommasi (1966, 1969, 1970a, 1970b) ―as
espécies de Echinodermata registradas no presente estudo são tipicamente litorâneas, ou possuem
ampla distribuição batimétrica‖. ―Dentre da classe Asteroidea, a espécie Linckia guildingii foi
registrada sobre rochas‖ Gondim et al. (2008), no entanto de acordo com Hendler et al. (1995) ―a
espécie Linckia guildingii também pode ser encontrada em bancos de areia‖. ―Com relação aos
Ophiuroidea, a alta diversidade observada pode estar relacionada à capacidade desses animais
viverem em hábitats variados‖ (Gondim et al., 2008). Godim et al. (2008) também afirma que
―Echinometra lucunter vive em locas e principalmente na região do mesolitoral que fica o maior
tempo exposta‖. ―A grande abundância desta espécie no ambiente sugere que não devam existir
muitos predadores ou parasitas que consigam controlar a população do ouriço, como também, que

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se trata de uma espécie extremamente resistente a períodos de ressecamento e a mudanças de


temperatura e salinidade‖ (Hendler et al., 1995). Segundo Tavares e Borzone, (2005) ―a espécie de
Echinometra lucunter tem sido registrado com o maior número de táxons na Ilha da Galheta, litoral
paranaense, onde a presença constante de macroalgas indicou uma tendência a herbívora‖.

No estudo feito em Tamandaré (PE) por Pacheco (2008) ―foi observado uma maior
densidade de Echinometra lucunter nos topos rugosos com algas filamentosas, e também
uma maior densidade nos recifes abertos ao turismo e pesca, numa provável resposta a
redução no número de predadores e/ou consequência de um alto assentamento larval‖.

―A espécie Mellita quinquesperforata ocorre em baixo número e restrita às regiões com


sedimento arenoso dentro e fora do terraço de abrasão marinha‖ (Gondim et al., 2008). A
diversidade encontrada na classe Holothuroidea foi pouco representativa na praia dos Carneiros,
comparando-se com os resultados apresentados por Alves e Cerqueira, (2000) que ―encontraram
cinco espécies nas praias de Salvador‖. As duas espécies de Holothuroidea registradas na praia dos
Carneiros são típicas de regiões tropicais de águas quentes e litorâneas. ―Chiridota rotifera foi a
espécie mais comum da área, possivelmente devido à presença de biodetritos, considerado o habitat
preferencial desta espécie‖ (Hadel, 1997). Esta espécie foi frequentemente encontrada em
agregados de 10 a 15 indivíduos, coincidindo com as observações de Hadel (1997) e Martins e
Martins de Queiroz (2006). Os diferentes exemplares foram encontrados em tipos de habitats
variados, observa-se, no entanto, que houve maior riqueza de espécies em ambientes protegidos,
como locas e sob rochas. Cabe ressaltar, também, que estudos quantitativos devem ser realizados
para uma melhor avaliação da especificidade ou não das espécies e da riqueza destes habitats, dados
comparados por Alves e Cerqueira, (2000). Segundo Steiner et al. (2015), ―as espécies do gênero
Sargassum, bem como a alga calcária Halimeda opuntia (Linnaeus) J. V. Lamouroux, 1816, que
ocorreu principalmente na porção central do recife são comuns na plataforma continental da praia
dos Carneiros (PE, Brasil)‖. Fato similar foi observado por (Steiner et al. 2015, p. 189, apoud
Ramos et al. 2010, p. 98), e (Steiner et al. 2015, p. 189-190, apoud Barradas et al. 2010, p. 63), para
a Baía de Todos os Santos (BA) e para a plataforma recifal da Praia de Porto de Galinhas (PE),
respectivamente. A proporção do número de táxons registrados na área de estudo e a Frequência de
Ocorrência das espécies foram similares aos estudos realizados na plataforma continental por outros
autores (Tommasi 1985; Tommasi e Aron 1987, 1988; Tommasi et al. 1988).

CONCLUSÕES

Sete espécies pertencentes a quatro classes do filo Echinodermata foram encontradas nas três
áreas sob rochas, enterrados no sedimento, como também nos fitais de oitos algas, principalmente
dos gêneros Sargassum e Halimeda. A interação equinoderma versus algas pode ser tratada como
fator de beneficência para as espécies de equinodermos, visto que, as macroalgas servem como

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fonte de alimentos para esses herbívoros. Ressaltamos que, estudos de cunho ecológico devem ser
realizados para uma avaliação da preferência de habitat, da riqueza e da estrutura populacional de
equinodermos na Praia dos Carneiros.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA


PARA ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA SERRA DOS CAVALOS - PE

Viviane Trajano da SILVA


Discente em Bacharelado em Geografia da UFPE
vivitrajanogeo@hotmail.com
Ítalo Rodrigo Paulino de ARRUDA
Discente em Licenciatura em Geografia da UFPE
italotavares0811@gmail.com
Gerlando Rodrigues de LIMA
Discente em Licenciatura em Geografia da UFPE
rodriguesgerlando@gmail.com
Danielle Gomes da SILVA
Profª. Drª do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE
dannyavlis@gmail.com

RESUMO
Esta pesquisa está relacionada a análise da dinâmica espacial da cobertura da terra na Serra dos
Cavalos no Estado de Pernambuco a partir da aplicação das geotecnologias. A análise da categoria
de conservação da cobertura vegetal nos anos de 1988 e 2014, foi um dos principais indicadores
utilizados visando à interpretação e compreensão do estado atual de vegetação desse Brejo de
Altitude. O objetivo geral da pesquisa foi a análise temporal do Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI). Os procedimentos teóricos, metodológicos e operacionais foram baseados
nas técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento. A importância desse trabalho parte do
princípio de mensuração e geopreservação das áreas remanescentes da Mata Atlântica situadas no
ambiente semiárido, as quais foram e ainda são descaracterizadas pela intensa atividade antrópica.
Verificou-se na área estudada o processo de expansão urbana realizada de forma desordenada por
falta de políticas públicas e de propostas de geoconservação. A ação do homem e as formas de uso e
ocupação do espaço ampliaram a degradação ambiental na Serra dos Cavalos/PE. Assim, se torna
essencial um olhar mais abrangente por parte de inciativas públicas e privadas em relação a
vegetação presente e planejamentos no uso e cobertura da terra. A não utilização de formas
conservacionistas no uso do solo e cobertura da terra podem gerar problemas ambientais
praticamente irreversíveis, colocando em risco a dinâmica do ciclo hidrológico, a capacidade
produtiva dos solos, a cobertura vegetal, o aumento dos processos erosivos, os quais produzem
modificações irreversíveis na paisagem. Sendo assim, é necessário a promoção e cuidados desta
área as gerações futuras.
Palavras chaves: Geoprocessamento; Sensoriamento Remoto, Brejo de altitude, Mata atlântica.

RESUMEN
Esta investigación está relacionada con el análisis de la dinámica espacial de la cobertura de la tierra
en la Sierra de los Caballos en el Estado de Pernambuco a partir de la aplicación de las
geotecnologías. El análisis de la categoría de conservación de la cobertura vegetal en los años 1988
y 2014, fue uno de los principales indicadores utilizados para la interpretación y comprensión del
estado actual de vegetación de ese Brejo de Altitud. El objetivo general de la investigación fue el
análisis temporal del Índice de Vegetación por Diferencia Normalizada (NDVI). Los

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procedimientos teóricos, metodológicos y operativos se basaron en las técnicas de Percepción


Remota y Geoprocesamiento. La importancia de este trabajo parte del principio de medición y
geopreservación de las áreas remanentes de la Mata Atlántica situadas en el ambiente semiárido, las
cuales fueron y aún son descaracterizadas por la intensa actividad antrópica. Se verificó en el área
estudiada el proceso de expansión urbana realizada de forma desordenada por falta de políticas
públicas y de propuestas de geoconservación. La acción del hombre y las formas de uso y
ocupación del espacio ampliaron la degradación ambiental en la Sierra de los Caballos / PE. Así, se
hace esencial una mirada más amplia por parte de inciativas públicas y privadas en relación a la
vegetación presente y planificaciones en el uso y cobertura de la tierra. La no utilización de formas
conservacionistas en el uso del suelo y la cobertura de la tierra pueden generar problemas
ambientales prácticamente irreversibles, poniendo en riesgo la dinámica del ciclo hidrológico, la
capacidad productiva de los suelos, la cobertura vegetal, el aumento de los procesos erosivos, que
producen modificaciones Irreversibles en el paisaje. Por lo tanto, es necesario la promoción y
cuidado de esta área a las generaciones futuras.
Palabras-claves: Geoprocesamiento; Sensación remota, Brejo de altitud, Mata atlántica.

INTRODUÇÃO
Analisar e compreender a dinâmica geológica, geomorfológica e ecológica em um
determinado ambiente e as finalidades antrópicas com o mesmo torna-se indispensável os estudos
sobre planejamentos e monitoramento do espaço. O uso excessivo de determinadas áreas pode
acarretar em desequilíbrios ecológicos irreversíveis, gerando vasta degradação do meio natural.
Esta pesquisa parte do princípio de análise e compreensão das áreas remanescentes da Mata
Atlântica situadas no Brejo de Altitude localizado geograficamente no semiárido Pernambucano. A
importância das áreas de remanescentes vegetacionais para estes tipos de ambientes se dá na função
de estes regularem o fluxo dos mananciais hídricos, assegurando a fertilidade do solo, interferindo
no clima, protegendo escarpas e encostas das serras além de preservar um patrimônio natural,
histórico e cultural imenso. Neste contexto, convém destacar a importância desse sistema ambiental
no quadro dinâmico do Nordeste brasileiro (LIMA, 2014).
Essa pesquisa visa, com o auxílio das geotecnologias, demonstrar os níveis de degradação da
Serra dos Cavalos-PE. Para se obter uma melhor resposta sobre os índices de degradação, é
necessário o uso de imagens de satélite na comparação de anos distintos da área de estudo. Os
produtos de sensoriamento remoto bem como os resultados que se obtém deles fornecem
informações sobre a dinâmica e a situação atual da cobertura vegetal.
Sob esta perspectiva, o presente trabalho consistiu na análise da cobertura vegetal da Serra
dos Cavalos por meio do Normalized Difference Vegetation Index (NDVI) ou Índice de Vegetação
por Diferença Normalizada, gerando assim, uma ferramenta indispensável para a compreensão do
processo de degradação ambiental desta área, e acima de tudo, uma contribuição valiosa para os
trabalhos de planejamento ambiental.

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ÁREA DE ESTUDO
Geograficamente, o recorte titulado como Serra dos Cavalos se localiza no Agreste
Pernambucano. Está situado entre municípios de Caruaru, São Caetano e Bezerros na porção norte,
Agrestina, São Joaquim do Monte e Altinho na porção sul do mapa (Figura 1). Dentro deste recorte

se encontra o Parque Ecológico João Vasconcelos Sobrinho.

Figura 1: Mapa de localização da Serra dos Cavalos entre os municípios do Estado de Pernambuco. Fonte: Autores

A Serra dos Cavalos é um Brejo de Altitude que apresenta a formação de um microclima


diferenciado, onde, por efeito orográfico, a pluviosidade é bastante superior à do entorno,
denominado de ―agreste subúmido‖ (Andrade-Lima, 1960). O clima da área é tropical chuvoso com
verão seco, sua temperatura média é de 24ºC. A precipitação média anual oscila entre 650 e 800
mm (CPRH, 1994). A distribuição das chuvas delimita duas estações distintas, a chuvosa, entre os
meses de abril e julho, e a seca, correspondendo aos demais meses do ano.
Parte da floresta Atlântica nordestina é composta pelos brejos de altitude: ―ilhas‖ de floresta
úmida estabelecidas na região semiárida, sendo cercadas por uma vegetação de caatinga
(ANDRADE-LIMA, 1982). São considerados verdadeiros refúgios atuais para espécies de floresta
Atlântica nordestina dentro dos domínios da caatinga. A existência dessas ilhas de floresta em uma
região onde a precipitação média anual varia entre 240 - 900 mm (IBGE, 1985; LINS, 1989) está
associada à ocorrência de planaltos e chapadas entre 500 - 1.100 m altitude, onde as chuvas
orográficas garantem níveis de precipitação superiores a 1.200 mm/ano (ANDRADE-LIMA, 1960;
1961).

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A área do Brejo dos Cavalos apresenta uma drenagem razoavelmente bem definida, com
dois cursos d'água principais: os riachos do Chuchu e Capoeirão. Ambos nascem fora dos limites da
Reserva, sendo constituintes da sub-bacia do rio Taquara, afluente da margem direita do rio Ipojuca.
Está sub-bacia possui uma área de drenagem de 2.101 ha, ultrapassando os limites do município de
Caruaru, expandindo-se até Altinho, (CABRAL et al., 2004). Podemos encontrar uma variedade de
solos na área de estudo, tais como: Neossolo Flúvicos, Neossolo Regolítico, Argissolos Amarelo,
Argissolos Vermelho- Amarelo, Planossolo e Vertissolo.
A área de estudo localiza-se geologicamente em terrenos de origem pré-cambriana
pertencentes ao complexo cristalino da Borborema, formado por granodioritos com gradação para
granitos e tonolitos de coloração, e granulometria variada (ANDRADE & LINS 1964, CPRH 1994).
Do ponto de vista geomorfológico, a Serra dos Cavalos encontra-se inserida dentro da unidade
morfoestrutural do Planalto da Borborema, que corresponde ao conjunto de terras altas estruturadas
em terrenos cristalinos de diversas idades que se distribuem no nordeste oriental do Brasil, cujos
limites são marcados por uma série de desnivelamentos topográficos, geralmente com amplitude da
ordem de 100m em relação ao entorno, sendo comum não apresentar solução de continuidade
litológica em relação ao relevo rebaixado adjacente (CORRÊA et al., 2010).

MATERIAL E MÉTODOS

Para a elaboração deste trabalho realizou-se uma vasta pesquisa bibliográfica por meio de
livros, artigos e outros meios de informação como periódicos (revistas, boletins, jornais), com
intuito de encontrar trabalhos com temática semelhante. Realizou-se trabalho de campo, que
ocorreu durante o período de agosto de 2016 a janeiro de 2017, que foi realizado por parte dos
bolsistas de Iniciação Cientifica da Universidade Federal de Pernambuco, para reconhecimento da
área e comparação dos dados obtidos.
Foram levados em consideração alguns critérios para a escolha das imagens utilizadas no
mapeamento do Índice de vegetação, cujo o primeiro critério foi a disponibilidade das imagens. O
segundo leva a qualidade das imagens e o terceiro o período da imagem, a partir da semelhança das
quadras climáticas.

PROCESSAMENTOS DAS IMAGENS


Para elaboração dos mapas de NDVI foram adquiridas gratuitamente duas imagens de
satélite junto ao United States Geologial Survey – USGS da National Aeronautics and
Space Administration (NASA). As imagens correspondem a órbita 217 e ponto 65. A primeira
imagem foi capturada pelo sensor TM do satélite Landsat 5, gerada em 30 de dezembro de 1988. A
segunda pelo sensor OLI do satélite Landsat 8, datada de 26 de abril de 2014.

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O processamento das imagens de satélite foi utilizado o software ERDAS Imagine 9.3
licenciado do laboratório de Geomorfologia do Quaternário (GEQUA) do Departamento de
Ciências Geográficas da UFPE. Para a imagem Landsat 5 foram realizadas as etapas de
empilhamento das bandas, calibração radiométrica, reflectância e geração de índices de vegetação.
Enquanto para a imagem Landsat 8 as etapas realizadas consistiram no empilhamento das bandas,
reprojeção para o hemisfério sul, reflectância espectral e geração dos índices de vegetação.
Na realização do empilhamento das imagens foi utilizada a ferramenta a Layer Stack do
menu Utilites. As bandas empilhadas das imagens Landsat 5 compreendem todas as 7 bandas
espectrais, enquanto para a imagem Landsat 8 foram empilhadas as bandas 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 10, que
correspondem as faixas encontradas nas bandas do Landsat 5. As imagens Landsat 8 possuem
orientação para o hemisfério Norte, sendo necessária a reprojeção para o hemisfério Sul, para tanto
utilizou-se a ferramenta Reproject Images do menu Data Preparetion no software Erdas Imagine
9.3.
Para o processamento da reflectância da imagem Landsat 5 é necessário realizar
anteriormente a calibração radiométrica, que consiste no processo de conversão do Número Digital
- ND de cada pixel da imagem, em radiância espectral monocromática. Para tanto utilizou-se a
Equação (1), proposta por Markham e Baker (1987).

55
(Eq. 1)
Onde, a e b são as radiâncias espectrais mínima e máxima; ND é a intensidade do pixel
(número digital - número inteiro de 0 a 255); e i corresponde as bandas espectrais. Após a obtenção
da radiância foi realizado o cálculo da reflectância espectral, utilizando a Equação (2) proposta por
Bastiaanssen (1995).

(Eq. 2)
Onde rpi é refletância planetária da banda, i corresponde as bandas espectrais, Kλ é a
irradiância solar espectral no topo da atmosfera, cosZ é o ângulo zenital do Sol e dr é o inverso do
quadrado da distância relativa Terra – Sol. Para obtenção da reflectância da imagem Landsat 8 OLI,
foi utilizada a Equação (3).

(Eq. 3)
Onde, Add corresponde ao fator aditivo de reescalonamento para cada banda, disponível no
arquivo metadados da imagem, assim como o Mult que corresponde ao fator multiplicativo de

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reescalonamento para cada banda. ND representa os valores de número digital da imagem, Z é o


ângulo zenital solar. O dr corresponde ao quadrado da razão entre a distância média Terra-Sol e a
distância Terra-Sol em dado dia do ano, e pode ser calculado através da Equação (4).

( )

(Eq. 4)
O Índice de vegetação por diferença normalizada – NDVI é proposto inicialmente por Rouse
et al., (1973), onde aponta a grosso modo a porção e situação da vegetação nas áreas em estudo.
Sendo calculado a partir da seguinte equação (5):

(Eq. 5)
Onde: 4 e 3 são os valores da refletância das bandas 3 e 4 do Landsat 5 TM e Landsat 8
OLI. Visando uma análise da relação dos resultados gerados através do NDVI com a precipitação e
temperatura na área de estudo, foi realizado um levantamento com o total de precipitação
mensal/anual dos anos de 1988 e 2014. Os dados foram obtidos com ajuda da Agência
Pernambucana de Águas e Clima do estado pelo posto meteorológico de Caruaru. Após a obtenção
dos índices de vegetação para as imagens utilizadas foi realizado o recorte para a área e em seguida
a montagem dos layouts utilizando o software ArcGis 9.3 licenciado do laboratório de
Geomorfologia do Quaternário (GEQUA) do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Serra dos Cavalos apresenta uma cobertura vegetal que se encontra diretamente
relacionada com as condições climáticas e edáficas da região. Tais condições contribuem
diretamente para a distinção na estrutura destas formações fitogeográficas, como porte e diâmetro
de espécies, o número de estratos que as mesmas desenvolvem, e o grande índice de Biodiversidade
local. Percebe-se então, que os Brejos de Altitude atribuíssem como disjunção de reserva peculiar
(Figura 2 e 3), por apresentar peculiaridades fisionômicas, florísticas e ecológicas de matas úmidas
refugiadas em domínios de Caatinga.
A análise da cobertura vegetal foi estabelecida através do Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI). A partir da análise, verificaram-se alterações no padrão espacial da
vegetação. Foram analisados dois períodos, dezembro de 1988 e abril 2014.Foram definidos e
classificados sete intervalos de tons de cinza, conforme especificado na Tabela 01.

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Classes Climáticas Intervalo entre as classes


Água ≤a0
Área urbana 0 – 0,2
Solo Exposto 0,2 – 0,3
Agropecuária (Agricultura ou Pastagem) 0,3 – 0,4
Caatinga 0,4 – 0,5
Vegetação Moderada 0,5 – 0,6
Vegetação Condensada 0,6 – 0,86

Tabela 1: Divisão de classes e intervalos usado na classificação de NDVI. Fonte: Autores

Os principais problemas oriundos das formas inapropriadas do uso e ocupação da terra, fora
os riscos causados pela própria natureza, causam sérios problemas socioeconômicos às
comunidades no geral. Com base nos estudos e nos trabalhos in loco, constata-se a ação do homem
como principal agente e responsável pelo aumento na degradação do meio.
O recorte de dez/1988 (Figura 2), observa-se uma redução espacial da vegetação,
aumentando as áreas de solo exposto. Sabendo que dezembro é mês de período seco na área
estudada, essa redução da vegetação está associada a redução do índice pluviométrico (Figura 3)
entre os meses de setembro a dezembro do ano que apresentou totais pluviométricos de 30,4 mm
para os quatros meses.

Figura 2: Mapa de NDVI da Serra dos Cavalos no mês de dezembro de 1988. Fonte: Autores

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Climograma do Munícipio de Caruaru (1988). Fonte: adaptado por APAC, Posto Meteorológico
Caruaru (IPA), 1988.

Em abril de 2014 (figura 4), a região está no período chuvoso, verificou-se uma expansão da
vegetação tanto da floresta atlântica como também da caatinga que se encontra em todo o entorno.
Isso se deve ao aumento significativo do índice pluviométrico (Figura 5), contribuindo assim, para o
adensamento da vegetação.

Figura 4: Mapa de NDVI da Serra dos Cavalos no mês de dezembro de 2014. Fonte: Autores

Figura 5: Climograma do Munícipio de Caruaru (1988). Fonte: adaptado por APAC, Posto Meteorológico
Caruaru (IPA), 2014.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O NDVI apresentou valores variando entre -0,1 e 0,86, que foram subdivididos em sete
classes (Tabela 1). Os valores entre -1 e 0 fazem referência a corpos hídricos. A classe que abrange
os valores de 0,001 a 0,2 corresponde a solo exposto e/ou perímetros urbanos e no geral apresentou
uma variação nas 2 imagens analisadas. A classificação 0,2001 a 0,3; indica áreas com presença de
solo exposto bastante ativo. Em 1988, foi a classificação que mais se destacou na imagem. Isso
pode ser explicado devido ao período seco do ambiente. Rêgo et al (2012), afirmam que vários
índices podem ser alterados em função de diferentes fatores como posição das folhas, arquitetura do
dossel, substrato, características químicas das folhas e presença da água. Sugerindo que este
fragmento florestal neste referido período observado estava em ascensão da faixa Urbana e
produção agrícola. Assim, a observação dessa dinâmica pode ser obtida de acordo com o ciclo anual
de precipitação e isso gera uma significativa resposta das plantas em relação aos regimes de seca e
chuva.
A quarta classificação corresponde a agropecuária (Agricultura ou Pastagem) de grandeza
familiar. Foi a classe que mais sofreu redução de sua extensão no ano de 1988, com valores que
variam entre 0,3001 e 0,4, são áreas com a presença de vegetação baixa de porte médio ou de
agricultura irrigada. A quinta classificação com valores que vão de 0,4001 a 0,5 é representada pela
Caatinga. Essas áreas apresentava um maior percentual para no ano de 2014, provavelmente em
virtude dos altos índices pluviométricos encontrados para esse ano.
Na sexta classificação, com valores entre 0,5001 e 0,6, são ambientes que apresentam uma
vegetação mais moderada. No ano de 2014, esse intervalo de classe se destacou mais que no outro
ano estudado. A explicação se dá pelas propostas de conservação do Parque nas áreas centrais da
Serra dos Cavalos. É possível analisar (Figura 6) que nos ambientes mais elevados próximos á
resquícios de vegetação fechada, existe áreas de cultivo de porte familiar.

Figura 6: Uso intensivo de agricultura familiar na área de cimeira. Fonte: Autores

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A última classificação, corresponde a uma vegetação concentrada, mais fechada, de variados


portes. Pode ser classificada como o resquício de Mata Atlântica do ambiente, correspondendo
cerca de 17% no ano de 1988 e passou a ter 36% no ano de 2014. Comparando os meses estudados
nos distintos anos fica evidente a influência do período chuvoso na dinâmica do quantitativo da
vegetação principalmente ao se analisar as alterações no aumento das áreas correspondentes as
classes de vegetação para o ano de 2014.
As marcas da ação do homem na Serra dos Cavalos são identificadas através do
desmatamento da cobertura vegetal em algumas partes do recorte, do manejo realizado de forma
totalmente inadequado dos solos e dos recursos hídricos, da prática de cultivo/pastagem e da
expansão urbana realizada de forma desordenada entre os municípios que fazem parte da área
estudada. Assim, resultando no aumento da erosão nas vertentes, onde se verifica mudança
constante na paisagem.
Observa-se que dentro do recorte existem diferentes formas de uso e ocupação. Verificam-se
que as áreas mais elevadas possuem paisagens naturais remanescentes, ou seja, essas paisagens
mantêm certas características primitivas, porém, com o decorrer dos anos, as políticas de
preservação foram mais severas o que ocasionou uma vegetação mais acentuada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método empregado para o mapeamento da Serra dos Cavalos/PE mostrou-se bastante
eficiente, representando bem as classes previamente identificadas e definidas com o auxílio do
Google Earth Pro, além dos trabalhos in loco para averiguação dos dados. Outro fator muito
importante diz respeito às mudanças observadas nos últimos anos, bem representada diante das
análises. De modo geral, evidenciou-se que maior parte das transformações empreendidas sobre as
coberturas naturais se deram no sentindo de ampliar as áreas de solo exposto na região. Entre as
classes naturais observadas, a que perdeu mais área foi a de caatinga, com uma taxa de
desmatamento bem acentuada durante a última década.
Quanto a classe que corresponde a Mata Atlântica, esta foi menos explorada no campo
devido ao difícil acesso e pelas regulamentações de conservação que o Parque atribui dentro área.
Vale salientar, que apesar de diversos fragmentos da área são voltados para agropecuária familiar e
muitos deles de forma desorganizada e sem controle ambiental. A taxa de degradação da área com
vegetação mais concentrada, foi considerada baixa diante da forte política de preservação, após a
criação do Parque para conservação da Geodiversidade dessa área de refúgio.
As análises mostram também que a metodologia aplicada se mostra bastante robusta e
essencial para verificar se as ferramentas empregadas foram imprescindíveis na formulação desse

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

trabalho, além de permitir analisar e identificar os locais mais susceptíveis a diminuição da


cobertura vegetal e os que mais sofreram com as interferências antrópicas.
A degradação ambiental traz consigo uma série de problemas ao meio ambiente. Resultados
que já são apresentados e comprovados em diversos estudos no decorrer do presente ensaio. Por
outro lado, não é possível quantificar, neste estudo, os impactos que a degradação das florestas
naturais produziu sobre a Serra dos Cavalos. Neste sentido, recomenda-se o desenvolvimento de
outras pesquisas mais específicas, que o utilizem o presente estudo como base para avaliação do
quadro ambiental da região.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE PONTOS AMOSTRAIS NA


REGIÃO DO PONTAL DO PARANAPANEMA, SÃO PAULO, BRASIL.

Alisson Rodrigues SANTORI


Graduando em Geografia - FCT/UNESP
rodriguessantori@hotmail.com
José Mariano Caccia GOUVEIA
Professor Assistente Doutor – FCT/UNESP
caccia@fct.unesp.br
Raul Borges GUIMARÃES
Professor Adjunto (Livre Docente) – FCT/UNESP
raul@fct.unesp.br

RESUMO
O presente trabalho busca aprofundar o entendimento das questões que envolvem a problemática
ambiental na região do pontal do Paranapanema, no interior do estado de São Paulo, elaborando um
diagnóstico ambiental baseado no levantamento de material bibliográfico e técnico, o ultimo com
base em legislações vigentes, bem como, a revisão teórica baseada nos conceitos da ecodinâmica e
da ecologia da paisagem, somado a posteriores levantamentos de campo, que contribuíram para
uma avaliação prévia das características ambientais gerais das unidades que compõem a estrutura
ecossistêmica desses ambientes amostrais. Tais dados foram correlacionados com informações das
amostras de vetores de moléstias (leishmaniose) no caso do Parque Estadual do Morro do Diabo
(PEMD), e da qualidade dos corpos hídricos do entorno, que forneceram resultados, entre eles
mapas, gráficos e tabelas, tornando-se um material de base para o início das correlações entre as
formas de ocupação da região, visualizada principalmente a partir dos mapas, e das condições
qualitativas dos recursos hídricos. Foi preciso avaliar não somente as condições ambientais mais
gerais, mas também relacionar o papel social com o processo de proteção ou degradação, não
somente dos mananciais locais, mas dos fragmentos vegetais remanescentes, entre eles o PEMD.
Todas essas informações gerais, especificas e teóricas colaboraram com o alcance do objetivo
principal desta pesquisa, que é identificar e mensurar as pressões e impactos das atividades
antrópicas próximas a fragmentos vegetais e cursos d‘aguas importantes da região, e como o
planejamento e a conscientização podem colaborar para a melhoria da qualidade ambiental na
região.
Palavras Chave: Ecossistemas; Biogeografia; Ecologia; Diagnóstico ambiental; Impactos
ambientais.
ABSTRACT
The present work seeks to deepen the understanding of environmental issues in the Pontal do
Paranapanema region, in the interior of the State of São Paulo, elaborating an environmental
diagnosis, without the collection of bibliographical and technical material, the last one based on
current legislation, A theoretical revision in the concepts of ecology and landscape ecology,
together with subsequent field surveys, which contribute to a prior evaluation of the general
environmental technologies of the units that compose an ecosystem structure of the sample
environments. These data correlate with information from disease vector samples (leishmaniasis) in
the case of State Park Morro do Diabo (PEMD), and the quality of bodies for the environment,
which provide results, including maps, charts and tables, Making it a basic material for the
beginning of the correlations between how forms of occupation of the region, seen mainly from the
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card, and the qualitative conditions of the water resources. Although it is not in environmental
conditions, but also relates the social role to the process of protection or degradation, it is not one of
the local mananciales, but of the remaining vegetal fragments, among them the PEMD. All of this
general, specific, and theoretical information has been instrumental in reaching the main objective
of this research, which is identified and measured as pressures and impacts of anthropogenic
activities near fragments and inland waterways in the region, and how planning and awareness can
collaborate to improve the environmental quality in the region.
Keywords: Ecosystems; Biogeography; Ecology; Environmental diagnosis; Environmental impacts.

INTRODUÇÃO

Este trabalho buscou efetuar análise qualitativa, caracterização e diagnóstico ambiental,


focado nos padrões de conservação ou degradação de pontos de coleta dos vetores de leishmania
(mosquito-palha), e de pontos amostrais de qualidade da agua e sedimentos no Parque Estadual do
Morro do Diabo (PEMD) e em oito sub-bacias hidrográficas na região do pontal do Paranapanema,
São Paulo.
A importância desse trabalho se consolida na necessidade de desenvolvimento de um
planejamento ambiental que possa contribuir para a restauração da qualidade dos corpos d‘agua e
dos fragmentos vegetais ainda existentes na região, além da possível e necessária ampliação dos
mesmos. E não menos importante é a perspectiva de estabelecer correlações entre os níveis de
degradação ambiental com a incidência de mosquitos portadores da leishmania.
As condições ambientais na região oeste do estado de São Paulo estão em processo
constante de degradação, devido principalmente a série histórica de uso e manejo inadequado dos
recursos naturais. Esta degradação ambiental é nítida quando observada nas áreas de preservação
permanente dos rios, nos próprios cursos d‘agua e nos tamanhos e caracteristicas dos fragmentos
vegetais remanescentes na região oeste, e principalmente na região do Pontal do Paranapanema,
local onde este trabalho se desenvolve e que consistirá na base para as análises relativas as
interações ecológicas e não-ecológicas entre as paisagens. ―O território brasileiro, devido a sua
magnitude espacial, comporta um mostruário bastante completo das principais paisagens e
ecologias do mundo tropical‖ (AB‘SABER, 2005, p. 10). No entanto grande parte dessas paisagens
sofrem com pressões oriundas de interesses econômicos, e os casos dos biomas Cerrado e Mata
Atlântica se tornam emblemáticos devido sua constante e intensa exploração.
O estudo teórico se baseou principalmente em conceitos ligados a teoria da ecodinâmica,
onde os ecossistemas resultam em uma interação e organização dos componentes físicos da
natureza, portanto em unidades ecodinâmicas que se integram ao ecossistema (TRICART, 1977).
―A ecologia da paisagem define o ambiente como um mosaico heterogêneo de unidades interativas,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

que englobam aspectos físicos naturais e antrópicos, e que produzem fluxos e relações horizontais
que afetam direta e indiretamente cada unidade de forma diferente‖ (METZGER, 2001).
Para Metzger (2001), a necessidade de entender o funcionamento e as relações que a
paisagem antropizada desenvolve é um fator determinante para avaliar como e em que escala o
homem está alterando o ambiente. Avaliar esses fatores a partir da qualidade da agua e das relações
ecológicas entre os vetores de leishimania e as derivações ambientais são etapas primordiais para a
construção de um panorama ambiental. ―As atividades humanas e sua espacialização, constituem-se
na presente proposição, em importante elemento na análise da degradação ambiental, e deve ser
abordada de um ponto de vista crítico‖ (MENDONÇA, 1999).

ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL E LEVANTAMENTO DOS DADOS

O desenvolvimento deste trabalho se organizou em etapas definidas conforme o plano de


atividades elaborado. Inicialmente foram levantados e organizados os materiais bibliográficos,
técnicos e cartográficos referentes às caraterísticas físicas e naturais da área de estudo em escala
regional. O levantamento bibliográfico se focou em uma caracterização física prévia e geral das
áreas de estudo, sendo essencial para agrupar informações referentes a pedologia, geomorfologia,
geologia, rede hídrica e uso e ocupação do solo, bem como informações sobre a fisiologia e hábitos
dos insetos flebotomíneos.
A aquisição de dados cartográficos, infográficos e tabelas colaborou para o conhecimento
das características mais especificas dos locais, sendo observados nesse momento os padrões de
qualidade e quantidade de certos indicadores que estão sendo utilizados para a realização das
relações de impacto e derivações acusadas nas caracterizações pontuais.

Figura 1: Mapa de localização dos pontos de coleta de agua e sedimentos analisados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foram realizados trabalhos de campo para uma avaliação prévia do estágio de preservação
ou degradação da área, em um raio de 50 metros de cada um dos 10 pontos de coleta (Figura 1), as
condições ambientais foram avaliadas conforme a resolução CONAMA 01/1994 que dispõem sobre
os estágios de sucessão ecológica, alguns dos critérios avaliados foram as formas de uso
predominantes no entorno, tipo de solo, relevo e impactos e derivações mais perceptíveis, além
dessas informações consideradas primarias também foi realizado levantamento das condições da
vegetação encontrada nos locais, entre alguns dos critérios temos, o produto lenhoso, estrato
lenhoso, DAP médio (diâmetro a altura do peito), a presença ou ausência de epífitas, serrapilheira e
a taxa de diversidade biológica de cada ponto.
Com as fichas de campo, fotografias, coordenadas dos pontos e imagens de satélite deu-se
início a sistematização e tratamento dos dados, posteriormente o mapeamento realizado
prioritariamente no software Quantum GIS 2.16 teve o objetivo de identificar as formas de uso e
ocupação da terra na área da sub-bacia a montante de cada ponto de coleta, os usos identificados
foram pastagens e outros usos, cultura canavieira, assentamentos, fragmentos florestais arbóreos
(incluindo unidades de conservação), malhas urbanas e app e área de várzea.
Posteriormente à produção dos mapas de uso e ocupação da terra das sub-bacias, se calculou
a área total de cada categoria que serviu de base para a produção de tabelas representando as áreas
ocupadas em Km² e em percentuais relativos à totalidade da área da bacia. A partir dessa tabela
foram elaborados gráficos demonstrando as taxas de ocupação de cada categoria em porcentagem.
Esse material está sendo utilizado juntamente com os dados de qualidade da agua avaliados e
fornecidos para o projeto, com o objetivo de estabelecer as correlações necessárias para a
compreensão da influência do impacto dos usos antrópicos na qualidade dos fragmentos, das App‘s
e dos cursos d‘agua e, posteriormente, essa analise se estenderá para a avaliação das relações
ecológicas entre as unidades de paisagem, buscando definir qual o grau de perturbação que as
unidades antrópicas estão gerando dentro do ecossistema natural nas bordas e no interior do PEMD.
As análises do mapeamento que segue sendo realizado, agora busca descobrir em uma
análise mais geral, se as áreas de preservação permanentes (App‘s) estão sendo respeitadas, ou se
ocorrem processos de conflitos de usos dentro do raio estabelecido pela Lei Florestal 12.651/12.
Nesse sentido, será possível relacionar as caracteristicas ambientais e de ocupação da sub-bacia
direta e indiretamente relacionada a manutenção da qualidade ambiental da vegetação
remanescente, e do próprio curso d‘agua.
As correlações que serão realizadas para o estudo dos flebotomíneos são baseadas
principalmente nas relações ecológicas-ambientais da espécie, com a influência das relações
sociais-ambientais do ser humano, as formas de espacialização dessas relações serão os produtos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

dessa parte do trabalho desenvolvido, os resultados devem permear a forte influência e


interferências que as paisagens antrópizadas tem no ambiente.

ANÁLISE DOS DADOS E PRODUÇÃO DOS RESULTADOS

Os dados produzidos para as correlações com a qualidade da agua são essenciais para
compreender como as formas de uso da terra podem influenciar no equilíbrio ecológico de outras
áreas, como as de recursos naturais. Neste trabalho foi definido como ―unidades antrópicas‖, as
áreas com cana de açúcar e pastagens e outros usos (ex: eucalipto), as terras destinadas a reforma
agraria (assentamentos), e os núcleos ou perímetros urbanos. É importante avaliar que a
caracterização e diagnostico ambiental aqui proposto observa as condições/qualidade ambiental de
cada uma das áreas, portanto, as relações sociais e as formas de produção que ocorrem no ambiente
precisam também ser diagnosticados. As ―unidades naturais‖ seriam portanto, as faixas de App‘s e
fragmentos florestais arbóreos com área significativa.
Na tabela de uso e ocupação da terra nas sub-bacias (tabela 1) podemos destacar alguns
pontos importantes para a análise e diagnostico, os 10 pontos de qualidade estão situados em oito
sub-bacias na região de estudo, vale ressaltar que as áreas das sub-bacias possuem diferenças,
algumas significativas, em suas áreas totais, considerando também que todos os cálculos de áreas
foram realizados em quilômetros quadrados (Km²).
Para ilustrar parte das análises que compõem este trabalho, o ponto 3, localizado na sub-
bacia do Ribeirão Sedema, no município de Teodoro Sampaio-SP e os pontos 8 e 9 ambos na sub-
bacia do Córrego Anhumas, no município de Marabá Paulista, todos parte da Bacia Hidrográfica do
Rio Paranapanema (UGRHI – 22), a escolha dessas duas áreas para algumas correlações, se vale
principalmente da proximidade das áreas totais das mesmas, 77,155 Km² e 75, 136 Km²
respectivamente. Pretende-se assim obter uma análise mais adequada e heterogênea das condições
dos dois ambientes, no caso do ponto 3, é possível observar com mais clareza essa heterogeneidade
entre a maior parte dos usos identificados, onde as áreas de cultura canavieira, pastagens e
fragmentos vegetais possuem valores próximos. No caso dos pontos 8 e 9 é observado o oposto,
considerando que possui 52,898 Km², portanto 71% de sua área ocupada por pastagens e os
fragmentos vegetais representam um valor entorno 0,571 Km², cerca de 1%. Os pontos 8 e 9 estão
separados em determinada distancia no Córrego Anhumas, sendo que o 8 está a montante e o 9 a
jusante, com isso o ponto 8 pode ser analisado isoladamente dentro da sua área de influência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 1: Uso e ocupação da terra nas sub-bacias, em Km²


PONTO 2 3 4 5 6 7 8 9 11 12
AMOSTRAL

Cultura 11,207 26,734 100,994 3,273 2,980 304,264 1.016 18,404 - 1,513
canavieira
Pastagens e - 20,994 150,363 19,028 37,827 481,273 3,713 52,898 - 6,899
outros usos
Fragmentos 47,986 15,543 14,487 1,018 - 48,001 0,406 0,571 4,208 0,130
vegetação arbórea
APPs e Áreas de 2,719 0,783 10,018 0,866 2,398 74,537 0,165 3,042 0,198 1,020
várzea
Assentamentos da 15,951 - 4,219 - - 55,024 - - 11,271 -
Reforma Agrária
Área urbana - - - - 5,556 1,925 - - - -

ÁREA TOTAL 77,155 64,038 279,802 24,055 49,008 965,024 5.263 75,136 15,667 9,560
DA SUB-BACIA

Fonte: Autores

Talvez a principal ameaça à manutenção da biodiversidade dos cursos d‘agua e dos


fragmentos sejam os efeitos que a ocupação nociva exerce sobre esses recursos. A principal
atividade desenvolvida não somente na região do Pontal do Paranapanema, mas em grande parte do
interior do estado de São Paulo é, sem dúvida o agronegócio canavieiro, que é o grande responsável
pela produção de açúcar e biocombustível (Etanol) do pais. Essa tendência econômica faz com que
cada vez mais proprietários optem por arrendar suas terras para a produção de cana de açúcar.
Em grande parte dos mapas produzidos é possível observar a existência de fragmentos com
plantações extensas de cana de açúcar, principalmente nas áreas mais ao sul do pontal do
Paranapanema, os conflitos de terra na região acompanham esse contexto. A degradação ambiental
na região não ocorre somente no presente, pelo contrário, é uma tendência histórica desde o
processo de exploração e ocupação do interior paulista. Os poucos resquícios da vegetação nativa
podem ser observados em ―fragmentos significativos‖ como o PEMD e a Estação Ecológica Mico
Leão-Preto, estas áreas ainda conseguem manter relativa qualidade ambiental.
O mapa de uso e ocupação do solo da sub-bacia do Ribeirão Sedema (Figura 2) é um bom
exemplo desse cenário e de parte da dinâmica ecológica entre o alterado e o natural, na área da sub-
bacia a montante do ponto 3 temos, além da presença da Esec Mico Leão-Preto, um corredor
ecológico liga a Estação com uma possível Reserva do Patrimônio Particular Natural (RPPN) ou
Reserva Legal (RL)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2: Mapa de uso e ocupação da sub-bacia do Ribeirão Sedema (Ponto 3).

Para colaborar com a discussão aqui apresentada a área dos pontos 8 e 9 podem ser
utilizadas como contrapartida à medida que a presença e forma dos fragmentos vegetais
significativos é muito menor que as observadas no mapa anterior, essa tendência a maior ocupação
humana pode ser observada no mapa de uso e ocupação da sub-bacia do Córrego Anhumas (Figura
3), a área é em sua grande parte tomada por pastagens, que inclusive tem colaborado para a
supressão das faixas que deveriam ser destinadas a App‘s em alguns trechos do curso d‘agua, fato
que pode colaborar com a poluição e assoreamento do rio e a consequente diminuição da qualidade
ambiental.
Esta área também apresenta uma forma de relevo mais dissecada em alguns pontos, e foi
possível observar a presença de erosões nos barrancos do curso d‘agua, estas possuem inclusive
certa altura em trechos do leito. Um dos maiores problemas causados pela presença das pastagens
na região, as erosões, carregam sedimentos para o rio desequilibrando sua dinâmica e ecologia,
estas erosões ocorrem com frequência em áreas muito pisoteadas pelo gado.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Mapa de uso e ocupação da sub-bacia do Córrego Anhumas (Pontos 8 e 9)

Entre as principais caracteristicas que fornecem base para diferenciar e diagnosticar a


qualidade ambiental entre essas duas áreas de sub-bacias e os 3 pontos analisados, são não somente
a diferença de quantidade, mas também a forma com que os fragmentos vegetais estão dispostos no
local, isso pode-se notar principalmente no mapa da figura 2. Para a realização das análises de
qualidade da agua pelo grupo responsável, foram utilizadas as legislações vigentes, entre elas a
resolução CONAMA 357/05

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As informações referentes à qualidade da agua, tais como turbidez, pH, oxigênio dissolvido,
materiais orgânicos e inorgânicos e temperatura entre outros, são a base para as correlações,
analises e obtenção dos resultados finais, onde espera-se estabelecer relações de causa-efeito entre
as características ambientais de uso e ocupação das áreas estudadas, com as condições de qualidade
físico-químicas da agua, e da qualidade ambiental dos fragmentos vegetais remanescentes,
apoiando-se também nos mapas, tabelas e gráficos produzidos.
Os dados baseados no mapeamento proporcionaram uma avaliação efetiva das
caracteristicas de uso e ocupação e demonstrou com clareza que a tendência de determinadas áreas
é pelo aumento gradativo da produção agrícola extensiva. Observando os mapas e gráficos
produzidos, um dos principais aspectos destacados está na prevalência de um dos usos sobre os
demais, exemplo da atividade pastoril que é predominante em seis das oito sub-bacias estudadas, e
chegando a níveis de 77,2% e 79,1% nos Ribeirões Vai-e-Vem (ponto 6) e Cuiabá (ponto 4/5)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

respectivamente. Nas demais bacias que não possuem a pastagem como cobertura dominante, estão
em destaque as áreas de fragmentos vegetais no ribeirão bonito (ponto 2) e a atividade canavieira no
Córrego do Burrinho (ponto 12).
Como destacado anteriormente, também ocorrem pontos com relativo equilíbrio entre as
formas de usos como no exemplo do Ribeirão Sedema (Figura 2), no entanto, apenas essa
característica não garante que ocorra também um equilíbrio na qualidade ambiental desses
fragmentos e do curso d‘agua, pois, as formas de manejo das atividades econômicas, principalmente
da cana de açúcar, no âmbito da sub-bacia também é um dos principais pontos de análise para
observar-se, devido ao uso descriminado de insumos agrícolas e outros compostos químicos, da
utilização de maquinário pesado e das queimadas que ainda ocorrem em determinados locais da
região.
Algumas correlações prévias e gerais podem ser feitas observando fatores importantes, a
análise é orientada a partir de variáveis que podem ter grandes diferenças, causadas por vezes, meio
a eventos extremos ou pontuais, é preciso então compreender que a variação dos dados em
determinados períodos do tempo, também podem representar pressões mais diretas no sistema da
sub-bacia, essas pressões podem mesclar causas naturais e antrópicas, como uma intensa
precipitação em uma pastagem, causando ravinamentos e voçorocas ou serem exclusivamente
antrópicas, como o periódico impacto de um canavial e o seu manejo, cabe então a caracterização e
ao diagnóstico ambiental da área determinar essas relações e interferências entre as unidades de
paisagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho se encontra em fase final de organização e consolidação dos dados, mas as


avaliações e relações realizadas até o momento demonstram que as condições ambientais do pontal
do Paranapanema, já preocupantes, estão cada vez mais ameaçadas pelas formas de ocupação e
manejo desses usos antrópicos (principalmente as áreas de pastagem e de cultivo intensivo de cana
de açúcar), considerando ainda o fato de que na maioria das áreas caracterizadas, analisadas e
posteriormente mapeadas, a vegetação arbórea representa em média menos de 5% da cobertura da
terra. Esse cenário demonstra que a qualidade ambiental da região está se deteriorando ainda mais, e
que medidas para reverter esse processo devem ser iniciadas.
Este trabalho permanece em evolução, pois pretende-se ainda estabelecer correlações mais
solidas entre os índices de qualidade da agua obtidos e aqui discutidos, a partir da caracterização
dos usos da terra realizados na escala local e na escala da sub-bacia hidrográfica; assim como
estabelecer foco nas caracteristicas e informações referentes à incidência de leishmaniose na região,
e avaliar sua relação com os usos próximos às principais paisagens que os flebotomíneos integram.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com isso, será possível estabelecer mais fielmente um panorama da qualidade ambiental do Pontal
do Paranapanema, observando suas formas e taxas de perturbação, e destacar qual o papel da
sociedade nesse processo e os possíveis modos de atenuação dessas pressões antrópicas.

REFERÊNCIAS

AB‘ SABER, A. N. Os domínios da Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 4 ed. São


Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 144 p.

BRASIL - Lei Florestal 12.651/12. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm >. Acesso em 04 de
Jul/2017.

CONAMA - Resolução 01/1994. Disponível em: <


http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res94/res0194.html >. Acesso em 04 de Jul/2017.

CONAMA - Resolução 357/2005. Disponível em: <


http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf >. Acesso em 04 Jul/2017.

METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens. Biota Neotropica, São Paulo, v.1, p. 1-9, 2001.

MENDONÇA, F. Diagnostico e análise ambiental de microbacia hidrográfica: Proposição


metodológica na perspectiva do zoneamento, planejamento e gestão ambiental. RAEGA,
Curitiba, v. 3, n. 6, p. 47-70, 1999.

TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de janeiro. IBGE, Diretoria Técnica, SUPREN, 1977. 91 p.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INVENTÁRIO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS NA COMUNIDADE


DE TITARA, PILÕES-PB, NORDESTE DO BRASIL

Ana Maria Ferreira de ANDRADE


Aluna de graduação em Licenciatura Plena em Geografia-UEPB-Campus III
E-mail: ana.mferreira12@gmail.com
Danielli Rodrigues da SILVA
Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia-UEPB-Campus III
E-mail: danielli.r.@hotmail.com
Simone da SILVA
Graduada em Licenciatura Plena em Geografia-UEPB-Campus III
Aluna de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente-PRODEMA-UFPB
E-mail: simoneds86@gmail.com
Prof. Dr. Carlos Antonio Belarmino ALVES
Orientador - Professor do departamento de Geografia - UEPB-Campus III
E-mail: c_belarminoalves@hotmail.com

RESUMO
As plantas medicinais possuem princípios ativos que podem tratar organismos humanos ou até
mesmo de animais de modo geral, no combate de sintomas e cura de diversas patologias. Objetivo
principal da pesquisa foi de realizar um levantamento sobre o uso das plantas medicinais na
Comunidade Titara em Pilões (Paraíba, Nordeste do Brasil). Foram realizas visitas em todas as
residências, sendo aplicado formulários com entrevistas semiestruturadas. Entrevistou-se 13
indivíduos, perfazendo 100% das residências existentes na comunidade, sendo 09 do sexo feminino
e 04 do sexo masculino. A idade dos informantes variou de 32 a 80 anos, tendo como representante
de maior faixa etária o sexo masculino. Foram registradas 124 citações de usos de plantas
medicinais com 53 espécies pertencentes a 31 famílias e para esse total obtive-se 27 indicações
terapêuticas para diferentes usos das plantas medicinais. O Caju-roxo Anacardium humile A. St.
Hil. e o Hortelã da folha miúda Mentha x piperita L. destacaram-se como as espécies mais citadas.
Dentre as partes utilizadas o uso das folhas dos vegetais evidenciou-se com 78 citações. O chá
abafado foi a forma de preparo mais evidenciada entre os entrevistados. Quanto as indicações de
uso terapêuticos as que mais tiveram relevância foram: tosse, inflamação no geral, má digestão,
verme etc. Identificou-se que usos medicinais são direcionados ao tratamento das patologias que
afetam ao sistema respiratório, principalmente gripe e resfriados. Entende-se que, o amplo
conhecimento sobre as plantas medicinais usadas pelos moradoras da comunidade de Titara, dar-se
através da propagação do conhecimento tradicional compartilhado entre os membros de uma mesma
família e as vezes entre vizinhos e os agricultores da mesma comunidade.
Palavras Chaves: Conhecimento tradicional, Etnobotânica, Espécies vegetais.
ABSTRACT
Medicinal plants have active principles that can treat human organisms or even animals in general,
in the combat of symptoms and cure of various pathologies. The main objective of the research was
to carry out a survey about the use of medicinal plants used by community dwellers Titara in Pilões
(Paraíba, Northeast Brazil). Visits were carried out in all residences, and forms with semistructured
interviews were applied. We interviewed 13 individuals, making up 100% of the existing residences
in the community, of which 9 were female and 4 were male. The age of the informants ranged from

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

32 to 80 years, with the largest age group representing males. There were 124 citations of medicinal
plant uses with 53 species belonging to 31 families and for this total 27 therapeutic indications were
obtained for different uses of medicinal plants. The Purple Castor Anacardium humile A. St. Hil.
and the mint of the small leaf Mentha x piperita L. stood out as the most cited species. Among the
parts used the use of leaves of vegetables was evidenced with 78 citations. The muffled tea was the
most evidenced form of preparation among the interviewees. As for the indications for therapeutic
use, the most relevant were: cough, inflammation in general, poor digestion, worm, etc. It was
identified that medicinal uses are directed to the treatment of pathologies that affect the respiratory
system, mainly influenza and colds. It is understood that the extensive knowledge about medicinal
plants used by the inhabitants of the community of Titara, take place through the spread of
traditional knowledge shared between members of the same family and sometimes between
neighbors and farmers of the same community.Key words: Traditional knowledge, Ethnobotany,
Plant species.
Key words: Traditional knowledge, Ethnobotany, Plant species

INTRODUÇÃO

O conhecimento tradicional pode ser conceituado como o saber e o saber-fazer, a respeito do


mundo natural, sobrenatural, gerados no âmbito da sociedade não-urbano/industrial, transmitidos
oralmente entre as gerações (DIEGUES, 2000). Desde a antiguidade o homem usa os recursos
naturais para sua sobrevivência, dentre eles, as plantas medicinais utilizadas com fins terapêuticos,
no combate a sintomas e tratamento das mais diversas patologias. (BERG, 2010).
As plantas medicinais possuem princípios ativos que podem tratar organismos humanos ou
até mesmo de animais de modo geral, no combate de sintomas e cura de diversas patologias
(ALBUQUERQUE, et al. 2010). ―A utilização de plantas, além de outros produtos naturais, no
tratamento e prevenção de doenças, pode ser detectada em diferentes formas de organização social,
constituindo-se como uma prática milenar associada aos saberes populares e médicos e a rituais‖
(FERNANDES, 2004, p.27).
A Etnobotânica é um ramo da ciência que estuda as diversas relações estabelecidas entre
seres humanos e plantas (XOLOCOTZI, 1983). A Ciência denominada de etnobotânica estuda o
conhecimento e as conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade com relação ao mundo
vegetal, englobando tanto a maneira como o grupo social classifica os vegetais, como as suas
finalidades (AMOROZO, 1996). ―Essa ciência reúne pesquisadores de diferentes orientações
teóricas e epistemológicas, estabelecendo uma base de diferentes perspectivas científicas, tais como
a antropologia, botânica, ecologia, genética, evolução e economia‖ (ALBUQUERQUE, 2017, p.57).
Os povos tradicionais desempenham suas atividades utilizando-se dos ambientes naturais,
podendo fornecer informações relevantes sobre diversas formas de uso, manejo e preservação dos
recursos naturais, viés importante para sua subsistência local. As informações oriundas de seus
conhecimentos são indispensáveis para um bom plano de manejo e conservação. Por isto é salutar o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

reconhecimento dos saberes tradicionais, capazes de garantir a sustentabilidade das futuras


gerações. (ALBURQUERQUE, et al 2002).
Assim, o saber tradicional fornece informações importantes para novas descobertas
científicas. As pesquisas sobre o uso de plantas medicinais no Brasil, destacam-se quanto ao uso e
diversidade de espécies utilizadas para fins terapêuticos por comunidades tradicionais, tendo em
vista a conservação desses recursos (MOSCA e LOIOLA, 2009; ALBUQUERQUE, 2010; MAIA
et al., 2011, OLIVEIRA et al., 2010; CABRAL e MACIEL, 2011; PAULINO et al., 2011;
ALENCAR, 2012; FREITAS et al., 2012; LEITE et al., 2015; SIQUEIRA, et al., 2017).
Objetivo principal da pesquisa foi de realizar um levantamento sobre o uso das plantas
medicinais na Comunidade Titata em Pilões (Paraíba, Nordeste do Brasil). Além de identificar o
modo de preparo, partes utilizadas e indicação terapêutica das espécies citadas pelos informantes da
pesquisa.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área de estudo

O município de Pilões localizado nas coordenadas geográfica 06°52‘12‖ S e 35°37‘06‖ W,


no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, situado na Mesorregião do Agreste e Microrregião do
Brejo Paraibano, distando aproximadamente 120,4 Km da Capital João Pessoa/PB, inserido no
Planalto da Borborema, limitando-se aos municípios de Serraria (norte e oeste), Areia (sul),
Alagoinha (sul), Pilõezinhos (leste) e Cuitegi (leste). De acordo com dados do censo demográfico
sua área territorial abrange (64 km²), abriga aproximadamente uma população de (6.978 habitantes),
onde 47,75% da população residem na área urbana e 52,25% na zona rural, dividida entre 50,40%
homens e 49,60% mulheres, (IBGE, 2010). É na porção leste desse município onde está localizada a
Serra do Espinho, objeto da nossa pesquisa, possui um ambiente com área aproximada de 25 km2,
ocupado por um assentamento rural (Veneza) e a comunidade (Titara,), que são ligadas por estradas
vicinais ligadas à rodovia principal, a PB 077, em direção ao encontro do município de Cuitegi (PB)
este último, pertencente à microrregião de Guarabira-PB.
Apresenta altitude elevada, com vales profundos e estreitos dissecados variando entre 500 a
700 metros. Inserido na bacia hidrográfica do rio Mamanguape, sua hidrografia é composta por rios
perenes com pequena vazão e possui um baixo potencial de água subterrânea. O Clima é do tipo
tropical chuvoso e verão seco, com períodos de chuvas de janeiro a outubro, (CPRM 2005).
A comunidade rural de Titara Pilões (PB) local desta pesquisa dista a 5 km da sede do
município. Localizada através das coordenadas 06°52‘48‖S e 35°35‘15‖W. O acesso a mesma é
realizado através de um perímetro pavimentado e outros via estrada vicinal percorrendo 8 km de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

distância da PB 077 até a comunidade. A base econômica da comunidade é a agricultura de


subsistência e a fruticultura, que ocupa as áreas alveolares, as áreas ribeirinhas e as vertentes. Os
principais cultivos agrícolas são a banana (Musa sp), o feijão (Phaseolus vulgaris), a fava (Vicia
faba), milho (Zea mays), a mandioca (Manihot esculenta Crantze), batata doce (Ipomea batatas) e
algumas culturas permanentes, tais como o urucum (Bixa orellana) e o coco (Cocos nucifera). O
período de cultivo é janeiro a março, que são os meses mais chuvosos.

Coleta e análises dos dados

As informações foram coletadas de junho de 2016 a junho de 2017, com visitas semanais
durante esse período. Com o intuito de apresentar o projeto e explicar o objetivo do estudo,
solicitou-se, em seguida, aos que concordaram participar da pesquisa, assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido exigido pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio do Comitê
de Ética em Pesquisa (Resolução CNS 196/96).
Na comunidade estudada foram realizas visitas em todas as residências sendo aplicados
formulários com entrevista semiestruturada (ALBURQUERQUE, et al., 2010) (Figura 1-2). Foram
entrevistados 13 indivíduos, perfazendo 100% das residências existentes na comunidade, sendo a
maioria do sexo feminino 09 e 04 do sexo masculino. A idade entre os informantes variou de 32 a
80 anos, tendo como representante de maior faixa etária o sexo masculino. A profissão dos
informantes varia entre agricultores e agricultores aposentados. Conforme o levantamento realizado
o estado de saúde dos entrevistados, os mesmos possuem algum tipo de doença crônica, como
diabetes, hipertensão arterial.
O material botânico coletado em campo durante o levantamento etnobotânico foram
identificados e incorporados ao Herbário Jaime Coelho de Morais (EAN) da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB), Campus II, no Centro de Ciências Agrárias (CCA), Areia- PB.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 124 citações de usos de plantas medicinais com 53 espécies pertencentes
a 31 famílias e para esse total obtivemos 27 indicações terapêuticas para diferentes usos das plantas
medicinais. O Caju - roxo Anacardium humile A. St. Hil. e o Hortelã da folha miúda Mentha x
piperita L. destacaram-se como as espécies mais citadas, seguidos da Colônia Alpina zerumbet
(Pers.) B.L. Burtt. & R.M.Sm 7, Erva- cidreira Lippia alba (Mill.)N.E.Br. 7, Hortelã da folha grossa
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr. 6, Mastruz Chenopodium ambrosioides Hance 5 (Gráfico 1).

Gráfico 01 - Espécies mais citadas no uso medicinal comunidade Titara, Pilões-PB

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 104


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Chenopodium ambrosioides Hance 5

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr. 6

Lippia alba (Mill.)N.E.Br. 7

Alpinia zerumbet 7

Mentha x piperita L. 9

Anacardium humile A. St. Hil. 9

0 2 4 6 8 10
Fonte: pesquisa de campo, 2016/2017.

O Caju-roxo Anacardium humile A. St. Hil. Foi citado principalmente no uso do tratamento
de infecções, essa espécie apresenta uma variedade de ação terapêutica. O cozimento da entrecasca
serve como antisséptico em bochechos e gargarejos e como anti-inflamatório em casos de feridas e
úlceras da boca e afecções da garganta. A película que envolve a amêndoa tem ação anti-
inflamatória. O suco é rico em minerais e vitaminas. Como antibiótico, todas as partes da planta
demonstraram ação anti-inflamatória (BARACUHY, et al; 2016).
O uso das folhas dos vegetais destacou-se com 78 citações, 15 entrecascas, 9 frutos,7 raízes,
6 flores e 4 para sementes (Gráfico 02). O tratamento de doenças com base na fitoterapia utiliza-se
de diversas partes das plantas, como: raízes, cascas, folhas, frutos e sementes, de acordo com as
ervas em questão. Há também diferentes formas de elaboração, sendo o chá a mais utilizada, nos
preparos de decocção ou infusão (REZENDE e COCCO, 2002; OLIVEIRA, et al, 2010).

Gráfico 02 - Partes utilizadas nos preparos caseiros comunidade Titara, Pilões- PB


90
78
80
70
60
50
40
30
20 15
9 7
10 6 4
0
Folha Entrecasca Fruto Raiz Flor Semente

Fonte: pesquisa de campo, 2016/2017

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 105


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para o preparo dos medicamentos, as formas mais utilizadas segundo os entrevistados foi o
Chá abafado com 40 citações, seguindo do chá cozido 30, lambedor 23 etc. (Gráfico 03). Dentre os
mais diversos usos, seja através de chás, cataplasmas, tinturas ou na sua forma natural. Os chás
terapêuticos são bebidas amplamente consumidas no mundo, que contribuem para a prevenção e o
tratamento de várias doenças (TREVISANATO; KIM, 2000).

Gráfico 03 - Modo de preparo comunidade Titara, Pilões-PB


45
40
40

35
30
30

25 23

20

15

10
6
5 2
0
Chá abafado Chá cozido Lambedor Suco Banho
Fonte: pesquisa de campo, 2016/2017

Quando os informantes foram indagados sobre às indicações de uso terapêuticos, as que


mais relevantes foram: 38 citações tosse, 16 inflamação no geral, 16 má digestão, 6 verme,
calmante 4, diabetes 4. (Gráfico 04), dentre as patologias mais tratadas com o uso de plantas
medicinais na Região Nordeste, estão as que agridem o sistema respiratório, como gripes,
resfriados, tosses; e também as que atacam o sistema digestório como: problemas de digestão, dor
de barriga, empachamento, azia, diarreia, etc (ALBUQUERQUE, et al., 2010). Resultados
semelhantes foram encontrados em estudos de Almeida e Albuquerque (2002) em áreas de Caatinga
no Nordeste do Brasil.

Gráfico 04 - Principais indicações terapêuticas citadas na comunidade de Titara, Pilões-PB

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 106


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

40 38

35

30

25

20
16 16
15

10
6
5 4 4

0
Tosse Inflamações Má digestão Verme Calmante Diabetes

Fonte: pesquisa de campo, 2016/2017

Comprova-se que os entrevistados da pesquisa, apresentaram a preferência por conservar os


cultivos das plantas medicinais principalmente nos quintas e jardins, e assim, enfatizaram que se
torna mais fácil à coleta além, de obterem as espécies com melhor qualidade para os preparos. A
importância de cultivar esses vegetais nas proximidades das residências é uma forma de mantê-los
em ambientes limpos e longe de agrotóxicos mantendo a qualidade para o uso das espécies
(BADKE, et al., 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo identificou que os moradores da comunidade Titara, utilizam das bases do


conhecimento tradicional para e fazer uso das plantas medicinais como uma das formas de tratar e
amenizar os sintomas de diversas doenças, sendo principalmente as patologias que agridem os
sistemas digestório e respiratório, utilizando principalmente as folhas nas preparações dos remédios,
principalmente os chás em forma de infusão e decocto.
Comprova-se a preferência dos moradores da comunidade Titara, preferem as plantas
medicinais, devido a facilidade de coletar e cultivar as espécies, que na sua maioria são inseridas
nos quintas e jardins das residências, além de encontrar muitas espécies nas matas do entorno das
comunidades estudadas, onde são os ambientes de coleta para tratamento das diversas patologias.
Entende-se, que o amplo conhecimento sobre as plantas medicinais usadas pelas moradoras
da comunidade de Titara, dar-se através da propagação do conhecimento tradicional compartilhado
entre os membros de uma mesma família e as vezes entre vizinhos e agricultores da mesma
comunidade. Esse fato só reforça a importância de manter-se vivo esse elo entre as novas gerações.
Logo, o resgate do conhecimento local sobre as indicações terapêuticas das espécies vegetais
citadas, pode contribuir para a conservação e manejo dos recursos naturais, além de especificar a

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 107


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

riqueza cultural das práticas utilizada no trato das plantas medicinais, fortalecendo os vínculos entre
os moradores da comunidade e os recursos naturais locais.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 110


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EXPERIMENTANDO O MUNDO: REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O CAMPO BIO-


GEOGRÁFICO NA PERSPECTIVA HUMANISTA

Beatriz Godinho ROCHA1


Graduanda do Curso de Geografia da UFMG
beatrizgodinhorocha@gmail.com
Janise Bruno DIAS
Professora Doutora do Departamento de Geografia da UFMG
janisebdufmg@gmail.com

RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo refletir sobre uma proposta de trabalho de campo biogeográfico a
partir dos princípios da Geografia Humanista. Para isso, buscamos analisar relatos de experiências
de estudantes nos campos de Biogeografia. Observamos suas vivências em campo e como fizeram
correlações com o conteúdo programático ministrado na disciplina. Essa reflexão foi feita a luz de
uma revisão bibliográfica a cerca dos conceitos de vivência e experiência, somando-se a minha
própria vivência como monitora/bolsista e participante dos campos da disciplina. Considera-se que
é preciso exercitar a vivência geográfica por meio de todos os sentidos humanos, na busca de
estreitar a relação entre o sujeito e o objeto, deixar surgir a paisagem, pois é nessa relação que o
fenômeno se revela.
Palavras-chaves: Biogeografia, trabalho de campo, vivência, experiência e Geografia Humanista.
ABSTRACT
This work has witch the aims to reflect on the propose of biogeographic fieldwork from the
principles of humanistic geography. For this, we read field reports of Biogeography students and
reflected about their experiences in the field and how did they make the correlations with the
programmatic subject teaching in the discipline. This reflection was executed based on the
bibliographical review about the concepts lived and experience and with my own experience as a
monitor and fellowship of scientific initiation accompanying and participating in the fields of the
discipline. It is necessary to live the geographical experience through all the human senses,
searching to get in the relation between the subject and the object, let the landscape emerge, in this
relationship the phenomenon is revealed.
Keywords: Biogeography, fieldwork, experience and Humanistic Geography.

INTRODUÇÃO
A Biogeografia como disciplina do curso de Geografia se trata da ciência que estuda a
distribuição dos seres vivos pelo planeta, considerando diferentes escalas espaciais e temporais. Se
a Biogeografia busca compreender as razões e causas de os seres vivos estarem onde estão, e ainda
considerando o homem enquanto ser vivo nas relações que estabelece com os outros seres no
espaço, então, essa ciência tem a paisagem como objeto de estudo. Dessa forma, esse objeto
também a conduz para a compreensão da paisagem. Dardel (2011, p.30) afirma que a paisagem não

1
Bolsista do programa PRONOTURNO da Geografia/UFMG, financiado pela PROGRAD/UFMG.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 111


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

é apenas a soma de características particulares, mas sim um ―conjunto, uma convergência, um


momento vivido, uma ligação interna, uma ‗impressão‘, que une todos os elementos‖. Segundo
Lucien Febvre, citado por Dardel (2011, p.30), ―toda a geografia está na análise da paisagem‖.
Existe uma discussão sobre a Geografia que a subdivide em duas áreas: a humana e a física.
Dentro desse debate, considera-se que a Biogeografia está na Geografia física por abordar em seus
estudos aspectos característicos da Geologia, Biologia, Pedologia, Geomorfologia, entre outras
ciências consideradas como da área física. Contudo, a Geografia é única e busca compreender as
relações socioespaciais, e que, para isso, abarca várias áreas, entre elas a Biogeografia que, por sua
vez, traz em si uma síntese dessas outras disciplinas que também explicam a relação que o homem
estabelece no espaço. Ou seja, a ação humana também compõe a análise biogeográfica, pois o
homem, além de fazer parte da natureza, imprime suas marcas na mesma.
Além disso, a Geografia contempla várias formas de abordagem. Uma delas é a Geografia
Humanista. Essa vertente propõe uma maneira de pensar a Geografia ―sob um enfoque cultural, no
qual a natureza, a sociedade e a cultura são refletidas como fenômenos complexos sobre os quais só
se obtém respostas a partir de experiências que se apresentam e conforme o sentido que as pessoas
dão à sua existência‖ (ROCHA, 2007, p.21). Yi Fu Tuan é um dos principais pensadores da
Geografia Humanista e na sua perspectiva ela ―procura um entendimento do mundo humano através
do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico, bem como
dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar‖ (TUAN, 1982, citado por ROCHA,
2007, p.21). Assim, seus princípios valorizam as experiências, os sentimentos e as ideias subjetivas
para a compreensão das relações sujeito-sujeito e sujeito-objeto.
Essa valorização se dá, pois, a Geografia Humanista reconhece que cada um de nós percebe
o mundo de uma forma, que por sua vez fica explícita através dos valores e ações de cada um com
relação ao meio ambiente (ROCHA, 2007, p.21). Logo, de acordo com essa perspectiva, é
importante compreender o ―contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu espaço e o seu
mundo, e nele se relaciona‖ (ROCHA, 2007, p.21) para o entendimento das relações socioespaciais.
Nessa mesma direção, Bondía (2002, p.21) nos diz que ―a experiência é o que nos passa, o
que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca‖. Assim, o
sujeito precisa assumir uma postura que permita que a paisagem seja percebida plenamente, ou seja,
expondo-se, deixando-se sensibilizar diante dela. Para Houaiss (2009), citado por Chiapetti (2001,
p.140), ―vivência é o processo de viver; é coisa que se experimentou vivendo, vivenciando; é o
conhecimento adquirido no processo de viver ou vivenciar uma situação ou de realizar alguma
coisa; é experiência, prática; é aquilo que se viveu‖. Assim sendo, a vivência do olhar pode trazer
várias coisas, estimular sentidos, cores, odores, formas, associar com as questões físicas,
geográficas e humanas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Logo, a partir da experiência é possível deixar que se revele a geograficidade definida por
Dardel (2011). Ela corresponde a uma relação tangível que liga o homem à Terra, demonstrada pelo
amor ou vontade de desbravar o mundo: ―Conhecer o desconhecido, atingir o inacessível, a
inquietude geográfica precede e sustenta a ciência objetiva‖ (DARDEL, 2011, p.1).
Dessa maneira, o trabalho de campo na Geografia é um recurso pedagógico muito
importante e vai ao encontro do que a visão humanista apresenta, pois ele vai muito além do que
colocar em prática a teoria estudada em sala de aula. Cada trabalho de campo é uma experiência
única, e é por meio dessa vivência que o sujeito compreende a revelação dos fenômenos que, a
princípio, podem estar ocultos na paisagem. Porém, não se trata do outro (um professor ou um
colega) mostrar/ o fenômeno e, sim, permitir maneiras que levem o próprio sujeito a perceber os
fenômenos revelando-se para si, por meio da exposição às sensações.
Assim sendo, esse tipo de abordagem vem nos instigando (a mim e minha orientadora
professora da disciplina) a pensar em uma proposta de campo em Biogeografia na perspectiva
humanista, e como a base da proposta é a experiência, temos a colocado em prática há alguns
semestres. Sabemos que se trata de uma proposta onde nos deparamos com desafios. Nesse sentido,
o presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a construção do trabalho de campo
biogeográfico a partir dos princípios e de autores ou influenciadores da geografia humanista tais
como: Sauer, Wright, Tuan, Dardel e Marandola Jr., entre outros. Buscamos analisar relatos de
campo de estudantes sobre suas vivências em campo e suas correlações com o conteúdo
programático proposto na disciplina, na tentativa de se trabalhar a Biogeografia - uma disciplina
considerada de natureza física - na perspectiva dos princípios humanistas.
Para atingir esse objetivo foi necessária uma revisão bibliográfica atrelada aos trabalhos de
campo que acompanhei, como monitora, da disciplina de Biogeografia na UFMG. Foram lidos e
analisados os relatos produzidos pelos alunos sobre suas experiências biogeográficas de campo,
nesses respectivos semestres, sendo que alguns deles contribuem para essa discussão que está sendo
feita, mostrando também que o olhar geográfico pode transitar por várias escalas, correlacionando-
as. Além disso, a experiência de participar do I Workshop sobre ―A experiência geográfica de
mundo: por uma fenomenologia ordinária‖, organizado pelo NPGEOH-UFMG2, acrescentou
bastante nessa reflexão.

METODOLOGIA

Inicialmente, e no decorrer da produção deste trabalho, fiz uma revisão bibliográfica sobre
os princípios da Geografia Humanista, entre eles os conceitos de experiência e vivência. Além
disso, presenciei algumas apresentações de trabalhos abordados com esse olhar e participei de um

2
Núcleo de Pesquisa e Estudo em Geografia Humanista - UFMG.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

workshop sobre ―A experiência geográfica de mundo: por uma fenomenologia ordinária‖3. Por meio
dessas vivências, foi possível escavar e aprender muito sobre esse olhar humanista, alcançando
algumas respostas e ao mesmo tempo deixando que outras questões se revelassem.
Como preparação para o campo, foram realizadas visitas à Estação Ecológica da UFMG,
para a realização de atividades dirigidas, tais como uma caminhada dentro da mata com os olhos
fechados, permitindo que os alunos contemplassem a paisagem por alguns instantes, para que todos
os sentidos pudessem ser explorados, dando maior destaque para um ou mais em determinados
momentos. Além disso, foram feitas questões para estimular a reflexão dos alunos sobre o trabalho
de campo, tais como ―O que é vivência?‖ e ―O que é experiência?‖, juntamente com a indicação de
algumas referências bibliográficas que discorrem sobre isso, como ―Humano, Demasiado Humano‖
de Nietzsche, ―A Educação de um Geógrafo‖ de Sauer, entre outros.
Além disso, houve a minha participação e acompanhamento do trabalho de campo da
disciplina de Biogeografia na UFMG, durante 4 semestres consecutivos (segundo semestre de 2015
ao primeiro semestre de 2017). Ele é estruturado em três etapas. A primeira delas é o pré-campo e
que corresponde a produção de um texto, desenho, poesia, ou outro tipo textual, por cada aluno,
refletindo e discutindo sobre as suas expectativas para o trabalho de campo de Biogeografia, após a
leitura de textos pré-definidos como ―A Terra Incognitae: o lugar da imaginação na geografia‖ de
Wright e ―Notas sobre a experiência e o saber da experiência‖ de Bondía.
A segunda etapa consiste em uma travessia através do quadrilátero ferrífero, durante três
dias consecutivos, partindo de Belo Horizonte, passando por Nova Lima e Rio Acima em direção à
Serra da Gandarela em Santa Bárbara/MG (comunidade rural André do Mato Dentro), e retornando
no último dia à capital mineira. A Serra da Gandarela compreende áreas dos municípios de Caeté,
Santa Bárbara, Barão de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos na região metropolitana de Belo
Horizonte-MG e faz parte da Reserva da Biosfera do Espinhaço. A serra abriga uma biodiversidade
e mananciais que abastecem a região (Projeto Manuelzão, 2017). Apresenta campos rupestres
sustentados por cangas, ―os mais preservados de toda a região, constituindo a principal área de
recarga do Sinclinal Gandarela, a abastecer vários córregos e ribeirões, de classes Especial e 1, das
bacias dos rios Piracicaba/Doce e Velhas/São Francisco – este último, à montante da principal
captação para o abastecimento público da RMBH‖ (Projeto Manuelzão, 2017). A serra ''forma um
corredor ecológico natural com o Caraça, unindo as duas bacias‖ (Projeto Manuelzão, 2017). Além
disso, ―a Mata Atlântica, no interior e nas vertentes exteriores da serra, é a maior e mais preservada
de toda a região. Juntamente com os campos rupestres e os campos de altitude, guarda uma rica

3
Ministrado pelo professor Eduardo Marandola Jr. da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de
Campinas, em agosto de 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 114


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

diversidade de flora e fauna, que abriga espécies endêmicas e em extinção, além de uma das
maiores geodiversidades da região do Quadrilátero Ferrífero‖ (Projeto Manuelzão, 2017).
Ao longo dessa travessia, são realizadas algumas paradas. Em cada uma delas é proposto
que os alunos contemplem a paisagem individualmente, buscando usufruir de seus sentidos (visão,
tato, olfato, audição e paladar), estabelecendo relações com seu entorno da maneira que escolher
para compreendê-la, registrando em suas cadernetas de campo as suas reflexões e vivência. Após
esse momento, os alunos podem compartilhar suas percepções e a professora faz suas
considerações, utilizando diferentes mapas (geológico, pedológico, climatológico, topográfico, etc.)
sobre a área de estudo. Além disso, em uma das paradas os alunos fazem um levantamento
fitofisionômico em um transecto de 50m x 2m e em uma parcela 10m x10m. O propósito de aplicar
essa técnica vai muito além de apresentá-la aos alunos. Ela é uma vivência, pois, como o geógrafo
não tem conhecimento técnico de botânica, ele tem que ter outros critérios para classificar a
vegetação: o uso dos sentidos.
Ao final dessa segunda etapa e do trabalho de campo é de interesse que os alunos se
esforcem em esboçar um transecto que correlacione os aspectos geológicos, geomorfológicos,
vegetacionais e de uso e ocupação do solo da área de estudo, vistos e vivenciados no percurso, tais
como os exemplos que seguem nas figuras 1, 2 e 3 a seguir:

Figura 1– Trajeto realizado no trabalho de campo de Biogeografia e perfil topográfico e fitofisionômico


desse trajeto.4

4
Produzido por alunos da Disciplina de Biogeografia – Turma TNA/ Primeiro semestre de 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 115


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 – Representação de um transecto fitofisionômico na área de estudo.5

Figura 3 - Representação de um transecto fitofisionômico na área de estudo.6

Por fim, a terceira etapa do trabalho de campo consiste em um relato de cada aluno sobre a
sua experiência biogeográfica. Assim como no pré-campo, nesse momento, os alunos também têm a

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Produzido por alunos da Disciplina de Biogeografia – Turma TNB/ Primeiro semestre de 2016.
6
Produzido por alunos da Disciplina de Biogeografia – Turma TNA/ Primeiro semestre de 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 116


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

liberdade de escolherem o tipo textual que irão usar para produzir esse relato, ou seja, pode ser uma
música, uma carta, uma poesia, um desenho, um conto, uma crônica, etc., desde que seja de autoria
deles e que relacione a sua vivência ao programa da disciplina. Esse conteúdo engloba diversos
tópicos entre eles a Introdução à Biogeografia; Noções Básicas de Biologia; Elementos de Ecologia
ligados à Biogeografia; Variação/Distribuição espacial e temporal dos seres vivos;
Paleobiogeografia; Bioreinos e Biomas; Biogeografia e meio-ambiente.
A partir dessa proposta, como monitora e bolsista da disciplina, li todos os relatos
produzidos no segundo semestre de 2015, os elaborados nos semestres de 2016 e os do primeiro
semestre de 2017, buscando alguns relatos para refletir sobre ela, sempre pensando sobre a proposta
em si, entre outras palavras, se a experiência que cada um adquiriu no campo contribuiu de forma
efetiva para o aprendizado deles. Para isso selecionei alguns trechos que demostram algumas
conclusões e numerei os alunos, como forma de preservar as suas identidades. Todavia, não foi
apenas a carga do conhecimento que obtive a partir das leituras e palestras que assisti durante todo o
período de realização do presente trabalho que me permitiu fazer essas considerações. Eu também
vivenciei esse trabalho de campo e, portanto, também tenho a minha experiência sobre ele que, por
sua vez, é muito importante para eu que eu possa fazer essa reflexão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Apesar da proposta do trabalho de campo ter um trajeto mais ou menos já definido (já que
podem ocorrer imprevistos durante a travessia), em que momento se inicia o campo? Quando se
entra no ônibus? Quando se chega ao primeiro destino? O campo se inicia no momento em que se
começa a esperar algo em relação a ele. Por isso a importância do pré-campo. A seguir, o trecho de
um texto produzido por um aluno nessa etapa reflete isso:

―Lendo o texto proposto é possível perceber também que nem sempre o que
julgamos experiência, assim se constitui: experienciar é fazer acontecer, enxergar
sentido, quase um ato passional com o viver humano. Viver a experiência é ser
capaz de lembra-se, futuramente, daquilo que foi vivido. Não se trata também de um
acúmulo, um quantitativo, mas do sentir, de atribuir qualidade. Ir para o Gandarela
com tantos ruídos, tantos outros relatos, tantas pré-disposições minhas e de outros
colegas, amplia a ansiedade pelo desconhecido e pela vontade em querer conectar
todas estas noções. O compromisso é retornar com novas visões, sentidos e coloca-
los à espera de mais uma nova experiência, longe de somente os valores empíricos
ou do saber acadêmico acumulado‖. Trecho do pré-campo do Aluno 1 – Primeiro
semestre de 2016.

Nesse fragmento percebe-se que o aluno absorveu a noção de experiência abordado por
Bondía (2002, p.21) e está disposto a abrir-se para uma nova vivência capaz de fazê-lo ―retornar
com novas visões, sentidos e coloca-los à espera de mais uma nova experiência, longe de somente
os valores empíricos ou do saber acadêmico acumulado‖.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 117


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Além do mais, apesar do aluno ter ouvido relatos de outros colegas sobre esse campo,
quando não se conhece a área de estudo, o ideal é que não se obtenha informações prévias a respeito
dele. Mas e quando já se conhece o lugar, significa que não há expectativas? Pode ser que elas
estejam mais próximas do que a paisagem pode revelar, mas a experiência jamais será igual. Pode-
se ir/visitar várias vezes um mesmo lugar ou fazer um mesmo trajeto mais de uma vez, no entanto,
cada momento é único, o que faz com que as experiências sejam singulares.
Dessa maneira, é necessário um desarmamento, ou seja, abrir mão de quaisquer preconceitos
sobre a disciplina, a área de estudo, e outros, visando uma desconstrução da expectativa e se
permitindo estar aberto para novas experiências a partir dos sentidos. Por mais que a princípio
pareça difícil (ou impossível), é preciso fazer esse esforço de não se deixar influenciar pelo que já
se conhece. As dinâmicas realizadas antes do campo na Estação Ecológica da UFMG, bem como as
reflexões e leituras propostas, subsidiaram essa desconstrução, para que os alunos pudessem colocá-
la em prática no campo.
O trecho seguinte, extraído de um dos relatos analisados, mostra que em um momento da
travessia o aluno soube explorar mais o olfato e o tato, permitindo que ele compreendesse que ele
estava cercado por terra molhada, mesmo que sua visão não colaborasse para isso devido a intensa
neblina no momento:

―Uma parte marcante da viagem, por sinal coincidente com a temática do texto
Vespral de Chuva, foi a ocorrência ou quase ocorrência da chuva no momento que
subíamos a serra. Apesar de paradoxalmente estarmos em um mirante e não
conseguirmos ver nada, podíamos sentir o cheiro de terra molhada e a grande
umidade no ar‖. Trecho do relato do Aluno 2 – Segundo semestre de 2016.

A partir de tudo isso, como encarar as paisagens presentes no trajeto durante o


deslocamento? Elas simplesmente passam ou nos tocam, assim como diz Bondía (2002, p.21)? Em
outros trabalhos de campo, pode ser que não seja fundamental na opinião do professor(a) que o
aluno se atente ao caminho que passa por ele em um deslocamento, importando apenas o local onde
se dará o estudo propriamente dito. Entretanto, esse trajeto, assim como os demais que são
percorridos dentro do veículo ou a pé, em momento nenhum pode ser negligenciado ou passar
despercebido. Dessa maneira, é preciso estar atento e perceber as paisagens no que tange às suas
cores, formas, sons, texturas aparentes contidas nos trajetos, mesmo que ele não lhe seja estranho,
para que assim, alguns fenômenos possam ser revelados.
Durante toda a travessia, foi proposto que os alunos refletissem sobre ―O que me chama a
atenção?‖, ―Qual sentido tenho usado?‖, ―O que tudo isso tem a ver com a Geografia e com a
Biogeografia?‖, ―Como isso se revela na paisagem?‖ e ―Tenho permitido que a geograficidade
apareça?‖. E qual a razão para essas perguntas? Elas aguçam os sentidos e estimulam a pensar sobre
o que eles têm que apreender.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As paradas consistiram na observação e registro na caderneta de campo (com palavras e


desenhos) tudo o que os sentidos alcançaram. Ou seja, cada um, em 10 a 15 minutos
aproximadamente, procurou enxergar com todos os sentidos, focando não só no extraordinário, mas
também no ordinário, pois ele nem sempre é igual. Assim sendo, primeiramente, é importante dizer
também sobre a relevância do relato que os alunos produziram. Ele é mais do que uma forma para
que o professor(a) constate e/ou avalie a participação do aluno na atividade. De acordo com
Marandola Jr. (2016, p.17), ―em uma investigação geográfica, a palavra permite trazer do ordinário,
da experiência do ser-no-mundo e das relações, a possibilidade de pensar e sobretudo compreender
seus sentidos: este é o caminho metodológico que nos leva ao desvelamento‖.
Em seguida, é pertinente reconhecer que a princípio pode parecer que nesse momento seja
mais difícil focar no que é comum e que, mais ainda, seja um desafio reconhecê-lo em lugares
incomuns. Por exemplo, uma das primeiras paradas é feita em Nova Lima de um ponto que é
possível avistar de forma abrangente a depressão belohorizontina. Em seguida, paramos na cidade
de Rio Acima que, ao contrário de Belo Horizonte e Nova Lima, pode não fazer parte do cotidiano
da maioria dos estudantes. Dessa maneira, como focar no ordinário? Ele se encontra nos detalhes.
Seria possível dizer sobre a Serra da Gandarela ordinariamente?
Durante essa mesma parada, os alunos puderam conversar brevemente com um ou mais
moradores para saberem das experiências deles sobre um ou mais aspectos da cidade. Por que ter
contato com os habitantes de Rio acima? É nessa relação ―EU-TU‖ que o fenômeno é revelado
(MARANDOLA JR., 2016, p.9). Como dito anteriormente, a experiência do outro e a própria
experiência de ouvi-lo contribuem para a experiência do ouvinte que, por sua vez, contribui para a
sua descrição do fenômeno. O trecho abaixo mostra essa relação sendo estabelecida. O aluno
desconhecia muitos aspectos da cidade, mais ao abrir-se para dialogar com uma senhora, ele pode
aproximar sua relação com a cidade a partir da experiência de uma moradora:

―Fui correndo ver o rio que corria lá em cima, tinha pouco tempo, mas ao menos,
contemplei-o por alguns minutos: água que desce nervosa pelas rochas , detentora de
frescor e vida. Desci em direção á estação de trem, havia uma lojinha para turistas,
fui conversar com a sra. Elenice , responsável pelo local: nascida e criada em Rio
Acima, ela relatou o interesse em se preservar a história daquele lugar, reativando a
Maria Fumaça. Falou sobre o enfoque turístico ambiental, mas com caráter
preservacionista, disponibilizou alguns cartões de visita de pousadas e restaurantes
que atendem aos turistas pelo mato adentro. Falou sobre a família Fernandes e sobre
as terras coloridas extraídas no alto da Serra para comércio e artesanato‖. Trecho do
relato do Aluno 3 - Primeiro semestre de 2016.

O trecho seguinte também corrobora com as reflexões que estão sendo feitas neste trabalho.
O aluno ressalta que aprendeu a ―exercitar‖ a geograficidade - a experiênciá-la - e reconhece que
paisagens comuns ao seu olhar não os tocava da maneira como tocaram durante essa experiência:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

―Voltei para casa, na certeza de que o mundo natural, como diria Keith Thomas (que
me recebeu na Academia, tão logo cheguei na UFMG), faz muito mais parte de mim
do que suponho, do que me coloco desconexa por não considerar as experiências e
particularidades do campo diário. A natureza, o cerrado, a biodiversidade, a região
metropolitana, dentre tantos outros fatores deste campo, estão diante de mim, todos
os dias, mas sempre com o olhar de quem passa sem deixar-se passar, sem ser
tocada. A experiência do campo se fez evidente em cada uma destas peculiaridades
tão próximas no dia-a-dia. Repito Manoel de Barros: [...] aprendia melhor no ver, no
ouvir, no pegar, no provar e no cheirar. Aprendi e fiz geografia, como vivência e
como ciência e como geograficidade, diante das imagens dos espaços, dos lugares,
do meu pensamento e da minha imaginação‖. Trecho do relato da Aluno 4 –
Primeiro semestre de 2016.

À medida que as sensações são percebidas (elas revelam muitas coisas), os alunos deveriam
procurar descrever o seu lugar e o seu lugar-Serra da Gandarela, por exemplo. Ou seja, fazer uma
descrição inicial e outra abarcando intensamente os sentidos, aquilo que vivenciaram. Assumir essa
postura é explorar o olhar geográfico, transformando a relação ―EU-ISSO‖ que é distante, sem
atribuição de sentido, para a relação ―EU-TU‖, ou seja, uma aproximação, seja ela qual for, entre o
sujeito e o lugar. É nela que se destaca a revelação do fenômeno (MARANDOLA JR., 2016, p.9).
Assim sendo, as percepções de cada aluno são capazes de dizer sobre o fenômeno, antes
mesmo que o professor faça suas considerações, à medida que essas percepções podem remeter ao
que já foi estudado e às experiências passadas, correlacionando-as. No entanto, o que essas
sensações podem dizer sobre o que tem sido estudado na disciplina de Biogeografia ou de outras
disciplinas geográficas? Quando ocorre essa transição do ―EU-ISSO‖ para o ―EU-TU‖ o aluno
compreende de fato o que está sendo estudado, de forma mais efetiva do que se simplesmente
estivesse apenas escutado o que o professor (a) falou. No entanto, uma vez que nem todos percebem
as mesmas coisas ou percebem de maneiras diferentes (porque somos diferentes – carregamos
conosco experiências passadas únicas e elas interferem no modo como percebemos o mundo),
convém a troca dessas reflexões e a apresentação de algumas considerações do professor para que,
assim, não restem questões e o conteúdo seja apreendido por completo.
Portanto, os sentidos do geógrafo não devem cessar. Em todos os momentos ele deve
procurar exercitar os sentidos, estreitando o sujeito (EU) daquilo que ele ―vê‖ (ISSO). Essa
aproximação permite que fenômenos sejam revelados, à medida que o sujeito procura descrever a
paisagem na perspectiva de lugar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho está apenas começando. Pretendemos utilizar outras ferramentas para a nossa
reflexão. Trabalhar a bio-geografia por meio dos princípios humanistas, considerando a vivência em
campo e somada às experiências anteriores, pareceu-nos contribuir no estreitamento da relação do
sujeito com seu objeto, deixando-se revelar a paisagem. Os trechos dos relatos apresentados
caminham na direção desses princípios e mostram que essa abordagem tem colaborado para a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

construção do conhecimento do aluno e apreensão do conteúdo programático da disciplina de


Biogeografia, ou seja, para a sua formação como geógrafo.
Entretanto, as reflexões apresentadas nesse trabalho não se encerram por aqui. Essa
abordagem geográfica é desafiadora e provoca novas questões. Como estimular de forma efetiva o
aluno que está tão acostumado com a abordagem tradicional, e que não está aberto a uma
desconstrução, a valorizar essa aproximação fenomenológica entre ele e o objeto? Qual o limite da
subjetividade dessas relações na compreensão dos fenômenos? Como não negligenciar o ordinário
nos estudos biogeográficos? Esses e outros questionamentos, possivelmente, podem ser respondidos
a partir de novas experiências, aprofundando-se no estudo desses princípios humanistas e sua
aplicação aos estudos bio-geográficos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.
Educ. [online]. 2002, n.19, pp.20-28.

CHIAPETTI , R.J. N. Pesquisa de campo qualitativa: uma vivência em geografia humanista.


GeoTextos, Periódicos Eletrônicos da UFBA vol. 6, n. 2, dez. 2010. pp. 139-162.

DARDEL, Éric. O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: ed. Perspectiva,
2011. 159p.

MARANDOLA JR., Eduardo José. I Workshop A experiência geográfica de mundo: por uma
fenomenologia ordinária. NPGEOH-UFMG, 2016. pp. 1-20.

Projeto ‗‘Manuelzão‘‘. Desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em:
<http://www.manuelzao.ufmg.br/serradagandarela/>. Acesso em: 30 ago. 2017.

ROCHA, Samir Alexandre. Geografia humanista: histórias, conceitos e uso da paisagem percebida
como perspectiva de estudo. R. RA´E GA, Curitiba, n. 13, p. 19-27, 2007. Editora UFPR.

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SÍNDROMES DE DISPERSÃO E POLINIZAÇÃO EM UM REFÚGIO


VEGETACIONAL DA CAATINGA

Humberto Araújo de ALMEIDA


Graduação em Ciências Biológicas, UEPB
humbertoalmeida4@gmail.com
Maiara Bezerra RAMOS
Mestranda em Ecologia e Conservação UEPB
Sonaly Silva da CUNHA
Especialista em Etnobiologia
sonaly.nnally12@hotmail.com
Sérgio de Faria LOPES
Departamento de Biologia, UEPB
defarialopes@gmail.com

RESUMO
Áreas serranas em regiões de Caatinga tem sido indicada como refúgios vegetacionais. Perante esse
pressuposto é de suma importância caracterizar as espécies vegetais desses ambientes em relação a
seus aspectos fenológicos, contribuindo para futuros projetos de manejo da flora nativa, nessa
perspectiva, tivemos como objetivo caracterizar as espécies e os indivíduos arbustivos-arbóreos de
uma região montanhosa do semiárido brasileiro, quanto a suas estratégias fenológicas (síndromes de
dispersão, polinização e tipos de fruto). O estudo foi realizado na Serra da Arara no município de
São João do Cariri, Paraíba. Foram demarcadas 100 parcelas de 100 m² cada ao longo da montanha.
Em cada parcela foram inclusos todos os indivíduos vivos com altura ≥ 1m e diâmetro do caule ao
nível do solo (DNS) ≥ maior 3 cm. Foram amostrados 3.155 indivíduos, distribuídos em 35 espécies
e 12 famílias. Em relação as características fenológicas verificamos que 75% dos indivíduos
possuem vetores abiótico como meios para dispersão de sementes, sendo a síndrome autocoria a
mais predominante entre indivíduos (59,75%) e as espécies (37,9%) corroborando estudos
anteriores, que indicavam a autocoria como principal estratégia de dispersão em condições
semiáridas marcadas pela alta sazonalidade. A maioria dos frutos possuem consistência seca, onde
os principais tipos foram o legume e a cápsula, já entre os indivíduos o esquizocarpo foi o mais
representativo (39,82%). Esses tipos de frutos são comuns a plantas com dispersão por meio de
vetores abióticos. Em relação a polinização foram evidenciadas as seguintes síndromes: melitofilia,
quipterofilia, ornitofilia e esfingofilia. A melitofilia foi a síndrome mais representativa, tanto entre
espécies, sendo evidenciada em 20 espécies, quanto entre os indivíduos (63,41%), conforme
constatado em outros estudos em áreas de Caatinga. Esse grande sucesso das abelhas como vetores
de polinização está estritamente associado a seu desenvolvimento adaptativo que garante uma maior
eficiência na polinização.
Palavras-chave: Caatinga; autocoria; melitofilia; montanhas.
ABSTRACT
Mountain areas in regions of Caatinga vegetation has been indicated as biodiversity refugia. Before
this assumption is of paramount importance to characterize plant species of these environments in
relation to their phenological aspects, contributing to future projects of management of native flora.
We aim to characterize the species and individuals tree of a mountainous region from the Brazilian
semi-arid region, about their phenological strategies (dispersal, pollination syndromes and types of

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

fruit). The study was conducted in Serra de Arara in the municipality of São João do Cariri, Paraíba.
Were demarcated 100 plots of 100 m ² each along the mountain. In each plot were included all
individuals living with height ≥ 1 m and diameter of the stem at ground level (DNS) ≥ greater than
3 cm. Were sampled 3,155 individuals, distributed in 35 species and 12 families. The phenological
features showed that 75% of individuals have abiotic vectors as a means for seed dispersal, being
autochory syndrome the most prevalent among individuals (59.75%) and species (37.9%)
corroborating previous studies, which indicated the main dispersal strategy autochory in semiarid
conditions marked by high seasonality. Most fruits have dry consistency, where the main types were
the vegetable and the capsule, already among the individuals the schizocarp was the most
representative (39.82%). These types of fruits are common to plants with dispersal through abiotic
vectors. About pollination were highlighted the following: melittophily syndromes, chiropterophily,
bird watching and phalenophily. The melitofilia was the most representative syndrome, both among
species, being shown in 20 species, as between individuals (63.41%), as noted in other studies in
areas of Caatinga. This great success of bees as pollination vectors is strictly associated with your
adaptive development that ensures greater efficiency in pollination.
Keywords: Caatinga; autochory, melittophily; mountain

INTRODUÇÃO

A Caatinga corresponde a um domínio fitogeográfico, caracterizado por um clima semiárido


e composto por um mosaico de fitofisionomias. As espécies da Caatinga possuem um conjunto de
adaptações morfofisiológicas que garantem o desenvolvimento em condições de estresse hídrico
(Coutinho, 2006; Japiassú et al.,2016; Moro et al., 2016). O impacto antrópico nessa região tem
ocasionado uma redução gradativa das áreas de vegetação nativa, limitando-as a manchas isoladas
especialmente em regiões montanhosas (Barbosa et al., 2007; Silva et al., 2014). Desse modo, essas
regiões representam refúgios dotados de uma vegetação nativa preservada (Lopes et al., 2017).
A caracterização das diferentes fácies da Caatinga, principalmente de áreas em boas
condições de conservação é de grande importância, para o entendimento dos aspectos ecológicos
regionais, fomentando bases para iniciativas conservacionistas ou de exploração sustentável
(Guedes et al, 2012). Assim, estudos que buscam compreender a dinâmica de populações e
comunidades vegetais da Caatinga ainda são incipientes, sendo necessário o desenvolvimento de
trabalhos que visem compreender as interações e mecanismos que regulam o funcionamento da
vegetação local (Barbosa et al., 2003). Dentre esses mecanismos, as características fenológicas das
espécies vegetais estão diretamente associadas as interações, como a competição por recursos ou
polinizadores (Neves et al., 2010).
A fenologia, compreende o estudo das fases vegetativas e reprodutivas das espécies
vegetais, bem como a influência de fatores bióticos e abióticos em cada uma dessas fases, sendo
uma ferramenta imprescindível para compreensão do funcionamento e manutenção de ecossistemas
(Biondi et al., 2007; Souza et al., 2014). O estudo das síndromes de dispersão e polinização de
espécies vegetais é de suma importância para o entendimento da diversidade funcional de um

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ambiente, sendo possível uma melhor compreensão das interações planta-polinizador e planta-
dispersor (Domingues et al., 2013; Domingues; Gomes; Quirino; 2013).
A dispersão corresponde ao transporte de sementes para diferentes áreas, promovendo a
colonização de uma maior diversidade de ambientes, constituindo uma etapa crucial para o
estabelecimento, desenvolvimento e evolução das formações vegetais, promovendo o intercâmbio
de material genético entre diferentes populações (Rondon-Neto et al., 2001; Herrera, 2002). Por
outro lado, o estudo da ecologia de polinização em comunidades vegetais permite compreender o
fluxo gênico entre as populações, bem como a partilha e competição por polinizadores em um
ecossistema (Quirino, 2006).
Em ecossistemas tropicais tem-se constatado a zoocoria como a principal síndrome de
dispersão e as abelhas como principais vetores para a polinização (Howe e Smallwood, 1982; Reis
et al., 2012; Gomes e Quirino, 2016; Santos-Filho, 2016; Souza e Funch, 2015). Entretanto, as
diferentes condições ambientais presentes em ecossistemas tropicais, tais como variações na
precipitação, podem influenciar diferentes padrões de dispersão e polinização nesses ambientes
(Souza et al., 2014).
Em regiões com baixas precipitações pluviométricas, como na Caatinga, há um predomínio
de vetores abiótico na dispersão de sementes, sendo a autocoria e a anemocoria as principais
síndromes de dispersão (Silva e Rodal, 2009), bem como uma maior predominância de frutos do
tipo seco (Amorim et al., 2009). Em relação as síndromes de polinização, tem-se evidenciado nessas
regiões uma predominância de melitofilia, onde as abelhas representam os principais vetores
(Quirino e Machado, 2014).
Nesse contexto, buscamos por meio do presente estudo caracterizar a vegetação arbustiva-
arbórea de uma região montanhosa do semiárido paraibano, quanto a suas síndromes de dispersão e
polinização, na expectativa de contribuir para o banco de dados a respeito da reprodução de
espécies vegetais da Caatinga, afim de oferecer subsídios para futuros projetos de reflorestamento e
manejo da fauna e flora nativa.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O presente estudo foi realizado na Serra da Arara município de São João do Cariri (07º 23‘
27‖ S e 36º 31‘ 58‖ O) (Figura 1). O município está localizado na mesorregião da Borborema e
microrregião do Cariri Ocidental no Estado da Paraíba, Brasil.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1. Mapa de localização da Serra de Arara, município de São João do Cariri, indicando a localização
do estado da Paraíba, Brasil.

A comunidade vegetal estudada distribui-se ao longo de todo o ambiente serrano. Na região


basal da montanha é possível evidenciar sinais de corte seletivo, de modo que a vegetação dessa
área da serra encontra-se em estágio inicial de sucessão. Entretanto, a biota vegetal dos níveis
superiores é mais conservada, estando em um maior grau de sucessão em relação a região do sopé,
fato que pode ser explicado pela dificuldade de acesso a essa região. No momento não há indícios
de exploração de madeira. Atualmente a matriz do entorno da serra é utilizada para a criação de
caprinos (Capra aegagrus hircus) e ansinos (Equus asinus).

Coleta de dados e análise dos dados

Foram demarcadas 100 unidades amostrais de 10 m², com espaçamento de 10 m entre si,
distribuídas em quatro transectos dispostos na serra de forma longitudinal, totalizando uma área de
um hectare. Em cada parcela foram incluídos todos os indivíduos vivos com altura ≥ 1m e diâmetro
do caule ao nível do solo (DNS) ≥ maior 3 cm, por caracterizarem indivíduos adultos para a
vegetação da Caatinga (Amorim; Sampaio; Lima; 2005).
Para as medidas de DNS foram utilizados paquímetros e fita métrica com leitura direta para
diâmetro e perímetro, enquanto as estimativas de altura dos indivíduos amostrados foram feitas com
o auxílio de podão de coleta de 12 metros e acima disso por estimativa visual. Em campo foram
registrados os seguintes dados: altura, nome cientifico, diâmetro ao nível do solo e para aqueles
indivíduos não identificados foram anotadas as principais características morfológicas, e realizada a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

coleta do material botânico para futura análise por especialistas ou comparação com coleções de
herbário.
Após a coleta de dados, com o auxílio de literatura, foi efetuada a caracterização ecológica
das síndromes de polinização, dispersão, e tipo de fruto (Barbosa et al., 2002; Barbosa et al., 2003;
Quirino, 2006; Silva et al., 2013a; Quirino e Machado, 2014; Gomes e Quirino, 2016). Com base na
classificação proposta por Van Der Pijl, para a dispersão foram consideradas duas categorias: 1.
Abiótica –quando não há intervenção de animais, subdivida em: anemocóricas e autocóricas; 2.
Zoocóricas – quando são dispersadas por animais (Santos-Filho, 2016). Em relação a polinização
foram verificadas a ocorrência das seguintes síndromes: Cantarofilia (besouros), Miofilia (moscas),
Melitofolia (abelhas), Esfingofilia (mariposas grandes), Falenofilia (mariposas pequenas), Psicofilia
(borboletas), Ornitofilia (aves) ou Quiropterofilia (morcegos).

RESULTADOS

Foram amostrados 3.155 indivíduos vivos distribuídos em 35 espécies, destas seis não foram
identificadas, não sendo possível a caracterização ecológica das mesmas. Os demais indivíduos
estão alocados em 29 espécies e 12 famílias. Fabaceae e Euphorbiaceae, com nove e cinco espécies,
respectivamente, foram as famílias mais representativas (Tabela 1).

Tabela 1. Características ecológicas da vegetação arbustiva-arbórea da serra da Arara, São João do Cariri,
Paraíba. SD = síndrome de dispersão; ane = anemocoria; aut = autocoria; zoo = zoocoria; SP = síndrome de
polinização; esf = esfingofilia; mel = melitofilia; qui =quiropterofilia; orn = ornitofilia; SNI = síndrome não
identificada; dru = drupa; cri = criptosâmara; leg = legume;cap = cápsula; esq = esquizocarpo; nuc = nucula;
sam =sâmara.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Espécies Familia Abundância SD SP Fruto

Allophylos sp. Sapindaceae 23 zoo SNI dru

Amburana cearensis Fabaceae 1 ane mel cri

Anadenanthera colubrina Fabaceae 28 aut mel leg

Aspidosperma pyrifolium Apocynaceae 236 ane esf cap

Bauhinia cheilantha Fabaceae 285 aut qui leg

Cynophalla flexuosa Capparaceae 34 zoo mel cap

Capparis jacobinae Brassicaceae 15 zoo mel cap

Ceiba glaziovii Malvaceae 2 ane qui cap

Cochlospermum vitifolium Bixaceae 65 ane mel cap

Commiphora leptophloeos Burseraceae 93 zoo mel dru

Croton blanchetianus Euphorbiaceae 174 aut mel esq

Croton heliotropiifolius Euphorbiaceae 857 aut mel esq

Erythrina velutina Fabaceae 30 zoo mel leg

Jatropha molíssima Euphorbiaceae 51 aut mel esq

Luetzelburgia auriculata Fabaceae 44 ane mel nuc

Manihot glaziovii Euphorbiaceae 93 aut mel esq

Maytenus rigida Celastraceae 40 zoo mel cap

Mimosa ophthalmocentra Fabaceae 123 aut mel leg

Mimosa tenuiflora Fabaceae 1 aut mel leg

Myracrodruon urundeuva Anacardiaceae 44 ane mel dru

Pilosocereus glaucescens Cactaceae 53 zoo qui bag

Pilosocereus gounellei Cactaceae 41 zoo qui bag

Piptadenia stipulacea Fabaceae 64 aut mel leg

Poincianella pyramidalis Fabaceae 109 aut mel leg

Pseudobombax marginatum Malvaceae 64 ane mel cap

Sapium glanduloson Euphorbiaceae 44 aut orn esq

Schinopsis brasiliensis Anacardiaceae 11 ane mel sam

Spondias tuberosa Anacardiaceae 2 zoo qui dru

Tacinga palmadora Cactaceae 434 zoo orn bag

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 127


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A síndrome de dispersão mais representativa foi a autocoria com 11 espécies (37,9%),


seguida de zoocoria com 10 (34,48%) e anemocoria com apenas oito (27,5%). As espécies estão
distribuídas nas síndromes de forma equilibrada, no entanto quando analisada a expressividade de
indivíduos em cada síndrome, evidenciamos que 59,75% dos indivíduos são autocóricos, 25%
zoocóricos e 15,25% anemocóricos (Figura 2).

Figura 2. Síndromes de dispersão por espécie, e indivíduos da comunidade arbustivo-arbórea da Serra da


Arara.

Quanto aos tipos de fruto, a maioria das espécies possuem frutos do tipo legume (7
espécies), cápsula (7) e esquizocarpo (5), sendo ainda evidenciadas espécies com frutos do tipo
drupa (4), baga (3) e criptosâmara, núcula e sâmara com uma espécie cada. Frutos esquizocarpos foi
o tipo mais representativo entre os indivíduos, sendo este evidenciado em 39,82% dos indivíduos
(Figura 3).

Figura 3. Tipos de frutos por espécie e indivíduos, da comunidade arbustivo-arbórea da Serra da Arara.

Em relação as síndromes de polinização foram evidenciadas as seguintes síndromes:


melitofilia com 20 espécies; quipterofilia com cinco espécies; ornitofilia com duas espécies, uma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

espécies com esfingofilia, e para Allophylos sp. não foram encontrados registros para seu vetor de
pólen. A melitofilia foi a síndrome de polinização mais representativa, tanto entre as espécies,
quanto em relação ao número de indivíduos, de modo que 63,41 %, dos 3061 indivíduos possuem
abelhas como vetores de pólen (Figura 4).

Figura 3. Síndromes de polinização, entre as espécies e indivíduos da comunidade arbustivo-arbórea da Serra


da Arara.

DISCUSSÃO

A alta riqueza de espécies evidenciadas no presente estudo corrobora o pressuposto de que


regiões serranas do semiárido representam refúgios vegetacionais, (Silva et al., 2014), apesar da
área aqui estudada não ser uma unidade de proteção ambiental notamos uma elevada riqueza de
espécies arbustivo-arbóreas, sendo esta equivalente a encontrada em unidades de conservação (Silva
et al., 2013a). Essa maior riqueza de espécies encontrada nas regiões montanhosas pode estar
relacionada também ao fato dessas áreas coincidirem com gradientes altitudinais os quais são
responsáveis por uma elevada heterogeneidade ambiental (Bertoncello et al., 2011; Olsen;
Klanderud, 2014), a qual proporciona a formação de micro-habitats distintos ao longo do gradiente,
comportando uma maior diversidade de nichos, sendo assim, capaz de alocar um maior número de
espécies (Bernard; Verdier et al, 2012).
Em relação a fenologia reprodutiva foi evidenciada uma maior predominância de vetores
abióticos na dispersão de sementes, se contrapondo ao pressuposto de que espécies de ambientes
tropicais possuem animais como principais vetores a dispersão de sementes (Howe e Smallwood,
1982), de modo que na comunidade analisada 75% dos indivíduos possuem autocoria e anemocoria
como síndromes de dispersão corroborando estudos anteriormente realizados em áreas de Caatinga
(Griz & Machado 2001, Barbosa et al., 2002; Silva, et al., 2013a).
Vale ressaltar que no presente estudo essa maior predominância de agentes abióticos na
dispersão de sementes foi melhor evidenciada quando analisada a nível de indivíduos, alguns

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 129


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

trabalhos que tem apontado a zoocoria como principal síndromes de dispersão, em áreas de
Caatinga, analisaram apenas a nível de espécies (Freire et al., 2016; Gomes e Quirino, 2016),
havendo uma carência em relação a quantificação dos indivíduos, sendo este um importante
aspecto, sobretudo em meio a comunidades vegetais com uma baixa equitabilidade entre as
espécies. Apesar de no presente estudo o número de espécies autocóricas ter sido similar ao de
zoocóricas, as autocóricas aparentemente possuem um maior sucesso na colonização e
estabelecimento em regiões de Caatinga, o que pode ser comprovado pelo elevado número de
indivíduos descrevendo essa síndrome.
Essas diferenças na expressividade das síndromes dispersivas, entre a mata seca e outras
formações florestais úmidas, podem ser atribuídas a características endógenas da Caatinga,
desenvolvidas em respostas ao estresse hídrico local, de modo que em ambientes com maiores taxas
de precipitação há um predomínio de vegetais zoocóricos e à medida que o grau de sazonalidade é
elevado em ambientes áridos, vetores abióticos, tais como o vento e a gravidade, assumem maior
destaque na dispersão de sementes (Griz et al., 2002; Silva e Rodal, 2009; Vicente et al., 2003).
A maior predominância de frutos secos tem sido evidenciada em fisionomias de Caatinga
(Barbosa et al., 2002; Gomes e Quirino, 2016), sendo essa consistência predominante em vegetais
com síndromes abióticas (Silva et al., 2013a). A maioria das espécies possuem frutos do tipo
legume e cápsula ambos com sete espécies, conforme evidenciado em outras áreas de Caatinga
(Silva et al., 2013a) e em uma floresta ciliar, no Cerrado (Santos-Filho, 2016). Apesar da maioria
das espécies possuírem esse tipo de fruto, vale ressaltar que a nível de indivíduos há uma
predominância de frutos do tipo esquizocarpo, indicando um maior sucesso de colonização na área
de estudo, por espécies com esse tipo de fruto.
As síndromes de polinização desempenham um papel fundamental na estruturação das
comunidades vegetais (Reis et al., 2012). As diferentes síndromes de polinização presentes na
comunidade arbustivo-arbórea da Serra da Arara podem ser explicadas por diferenças nas condições
ambientais entre os estágios sucessionais da comunidade, as quais promovem variações no nicho
ecológico dos polinizadores (Silva et al, 2012). A predominância da melitofilia como síndrome de
polinização também foi evidenciada em um estudo desenvolvido na Fazenda Almas, também
localizada no Cariri, próximo à área estudada (Quirino; Macchado, 2014). A eficiência de abelhas
como vetores de polinização, está diretamente ligada a seu conjunto de adaptações morfológicas
para obtenção de pólen, o qual garante a esse grupo maiores vantagens em relação a outros grupos
quanto a quantidade de flores visitadas e a velocidade da visita (Mascena, 2011). O grande número
de espécies e indivíduos que possuem abelhas como vetores de polén confere as abelhas papel
preponderante na manutenção da comunidade arbustiva-arbórea (Reis et al., 2012), sendo

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 130


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

necessário que em projetos de manejo da flora sejam integrados a estratégias de conservação da


fauna melífera do semiárido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A expressiva riqueza de espécies presente na região montanhosa analisada, eleva a


importância dessas áreas da Caatinga como refúgios vegetacionais. Ambientes semiáridos possuem
vetores abióticos como principais agentes dispersores de sementes, sendo essa característica melhor
evidenciada quando se analisa a distribuição das síndromes pelos indivíduos, onde é possível
evidenciar o sucesso de colonização que espécies vegetais, pertencentes a esse grupo dispersivo
possui em regiões de Caatinga. As diferentes síndromes de polinização evidenciadas podem ocorrer
devido a variação nos estágios sucessionais presentes ao longo da montanha, os quais oferecem
maior disponibilidade de nicho aos polinizadores. A alta representatividade das abelhas como
vetores de pólen se deve a seu desenvolvido aparato adaptativo, para essa função, e eleva a
importância desse grupo na manutenção das comunidades vegetais do semiárido brasileiro.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 135


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FITOSSOCIOLOGIA EM FRAGMENTOS DE MATA DE BREJO DE ALTITUDE,


SERRA DO ESPINHO, PILÕES - PB7

Jenifer Freitas DIAS


Aluna de graduação em Licenciatura Plena em Geografia-UEPB-Campus III
jeniferfreitasd@hotmail.com
Ramon Santos SOUZA
Graduado em Licenciatura Plena em Geografia-UEPB-Campus III
Aluno de mestrado em Geografia-UFPB
ramonssouza93@gmail.com
Joel Maciel Pereira CORDEIRO
Aluno de Doutorado em Agronomia, UFPB
joelmpcordeiro@yahoo.com.br
Profª. Drª. Luciene Vieira de ARRUDA
Professora do departamento de Geografia UEPB-campus III
luciviar@hotmail.com

RESUMO
Os brejos de altitudes no Nordeste são considerados ecossistemas prioritários para a manutenção da
biodiversidade brasileira, porém, existem poucas informações sobre a composição florística
existente nestas regiões, especialmente no estado da Paraíba. Desta forma, o trabalho objetiva
realizar levantamentos fitossociológicos em fragmentos de matas de Brejos de altitude localizados
na Serra do Espinho (Pilões, PB), nas comunidades rurais de Veneza e Titara. Foi empregado o
método dos quadrados, onde foram plotadas duas parcelas (10 × 10m) em fragmentos de mata de
cada comunidade. Todos os indivíduos que apresentarem DAP (diâmetro à altura do peito) ≥ 2cm e
altura ≥ 1,30m foram inclusos. No total, foram amostrados 272 indivíduos e 43 espécies. O índice
de diversidade de Shannon H‘ foi de 2,93, enquanto o índice de equabilidade de Pielou (J‘) foi de
0,85, o que sugere a ocorrência de uma alta uniformidade na relação de indivíduos e números de
espécies na comunidade vegetal.
Palavras-chave: Fitossociologia, Conservação, Brejos de altitude.
ABSTRACT
Brejos de altitude in the Northeast are considered priority ecosystems for the conservation of
Brazilian biodiversity, however, there is little information on the floristic composition in these
regions, especially in the state of Paraíba. The purpose of this research was to make a
phytosociological surveys on fragments of forests of the Brejos de altitude located in Serra do
Espinho (Pilões, PB), in the rural communities of Veneza and Titara. The squares method was used,
where two plots (10 × 10m) were plotted in forest fragments of each community. All plants ≥ 1.5m
high and ≥ 2cm of stem diameter were included. In total, 272 individuals and 43 species were
sampled. The Shannon diversity index (H') was 2.93, while the Pielou equability index (J') was
0.85, which suggests the occurrence of a high uniformity in the relation of individuals and species
numbers in the community vegetable.
Keywords: Phytosociology, Conservation, Brejos de altitude.

7
Orientador Profº Dr° Carlos Antônio Belarmino Alves - Professor do Departamento de Geografia - UEPB- Campus III

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica é um dos principais biomas brasileiros que necessitam de prioridades para
a conservação da fauna e flora. Na região Nordeste estima-se que haja apenas 5% dos
remanescentes originais (ANDRADE et al. 2002). Parte da Mata Atlântica nordestina é composta
pelos Brejos de altitude, que formam ―ilhas‖ de floresta úmida ou ―matas serranas‖ em meio à
vegetação de Caatinga (TABARELLI e SANTOS, 2004).
O estado de conservação dos brejos de altitude é crítico em todo o Nordeste, pois a expansão
da agropecuária, em particular da lavoura da cana-de- açúcar, praticamente devastou aquelas
formações, restando apenas pequenas manchas (LINS e MEDEIROS, 1994). As áreas rurais dos
Brejos de Altitude perpassam atualmente por um processo de crescimento imobiliário, acarretando a
criação de condomínios horizontais e loteamentos privados, ocupando, inclusive, áreas de
preservação permanente (MARQUES et al., 2016).
A substituição da vegetação nativa por sistemas de produção, aliada a coleta seletiva de
plantas e caça aos animais silvestres, contribui para a descaracterização de habitats com a
consequente perda de diversidade biológica (SILVA, 2013). Desse modo, é de fundamental
importância que haja um fortalecimento das políticas públicas para que se faça cumprir as ações que
garantam a preservação e manutenção dos ecossistemas naturais, especialmente dos Brejos de
altitude, que estão entre os mais ameaçados (THEULEN, 2004).
A análise dos componentes estruturais de fragmentos florestais é um recurso útil à pesquisa
ecológica, permitindo qualificar a fitodiversidade e desenvolver estudos biogeográficos (FIEDLER
et al., 2004; MEDEIROS & MIRANDA, 2008). Entre os métodos para se estudar a vegetação, a
fitossociologia aparece entre os mais empregados, pois permite estudar as causas e efeitos da
coabitação de plantas de um determinado ambiente, além do surgimento, constituição e estrutura
dos agrupamentos vegetais, assim como os processos que implicam sua continuidade ou sua
mudança ao longo do tempo (PETER, 1991; MARTINS, 2003). A fitossociologia demonstra ainda
com seus valores paramétricos o nível de conservação ou perturbação antrópica em determinado
fragmento florestal, possibilitando subsidiar estratégias conservacionistas em áreas naturais.
O referente trabalho tem como objetivo realizar um levantamento fitossociológicos em
fragmentos de mata de Brejo de altitude, localizados na Serra do Espinho (Pilões, PB), com o
intuito de conhecer sua composição florística e seus parâmetros estruturais, aliando tais informações
para subsidiar a conservação da flora local.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 137


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATERIAL E MÉTODOS

Área amostral - O referente trabalho foi realizado na Serra do Espinho (Pilões-PB), em


fragmentos de mata localizados nas comunidades rurais de Veneza (06°52‘06‖S; 35°35‘48‖W) e
Titara (06°52‘48‖S; 35°35‘15‖W) (Figura 1). A região apresenta altitude entre 500 e 700 metros,
com vales profundos e estreitos-dissecados; a hidrografia pertence ao rio Mamanguape, sendo
composta por rios perenes com pequena vazão, destacando-se o rio Cuitegí como afluente principal;
O clima da região é do tipo As‘ quente e úmido com chuvas de outono-inverno, apresentando
temperatura média de 23°C e precipitações entre 900 e 1200 mm anuais (CPRM, 2005).

Figura 1. Localização geográfica da área amostral, comunidades de Veneza e Titara, Pilões, PB.

Levantamento Fitossociológico - Para o levantamento fitossociológico foi empregado o


método de parcelas (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974), onde foram plotadas duas
parcelas (10 × 10m) em fragmentos de mata nas comunidades de Veneza e Titara. Todos os
indivíduos que apresentarem DAP (diâmetro à altura do peito) ≥ 2cm e altura ≥ 1,30m foram
inclusos (ANDRADE et al., 2006; FELFILLI et al., 2011). Para cada espécie amostrada, foram
calculados os parâmetros fitossociológicos de frequência e densidade conforme Mueller-Dombois e
Ellenberg (1974). As espécies foram coletadas e identificadas por meio de chaves de identificações,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 138


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

literatura especializada e morfologia comparada com exsicatas depositadas em herbários virtuais.


Os espécimes em idades férteis foram coletados e enviados ao herbário Professor Jaime Coelho de
Moraes (EAN) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II, no Centro de Ciências
Agrárias (CCA), Areia-PB.

Figura 2 - Delimitação da parcela na comunidade de Figura 3 - Identificação das espécies na parcela


Titara, Pilões -PB. Fonte: pesquisa de campo, Titara, na comunidade de Pilões - PB. Fonte:
2016/2017 pesquisa de campo, 2016/2017

Figura 4 - Realização da medição do Diâmetro a Figura 5 - Coleta das espécies na parcela, na


Altura do Peito - DAP, na comunidade de Titara, comunidade de Titara, Pilões-PB. Fonte: pesquisa de
Pilões-PB. Fonte: pesquisa de campo, 2016/2017 campo, 2016/2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos fragmentos de mata pesquisados foram amostrados 272 indivíduos e 43 espécies, destas
duas permaneceram indeterminadas (Tabela 1). O índice de diversidade de Shannon H‘ foi de 2,93,
enquanto o índice de equabilidade de Pielou (J‘) foi de 0,85. Entre as espécies, destacam-se pelo
maior número de indivíduos Astronium fraxinifolium (49), Inga ingoides (28), Senegalia polyphylla
(28) e Guazuma ulmifolia (20), compondo juntas 45,95% das espécies registradas.

Tabela 1. Parâmetros fitossociológicos das espécies vegetais encontradas em fragmentos florestais na Serra
do Espinho (Pilões-PB).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Espécies N DA DR FA FR
Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. 49 816,7 17,95 100 8,22
Inga ingoides (Rich.) Wlld. 28 466,7 10,26 33,33 2,74
Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose 28 466,7 10,26 50 4,11
Guazuma ulmifolia Lam. 20 333,3 7,33 66,67 5,48
Lonchocarpus araripensis Benth. 18 300 6,59 50 4,11
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke. 17 283,3 6,23 66,67 5,48
Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. ex Steud. 12 200 4,4 33,33 2,74
Cupania revoluta Radlk. 10 166,7 3,66 16,67 1,37
Tabernaemontana cf. catharinensis A.DC. 8 133,3 2,93 33,33 2,74
Miconia albicans (Sw.) Triana 8 133,3 2,93 16,67 1,37
Coccoloba mollis Casar. 7 116,7 2,56 33,33 2,74
Indet. 1 5 83,3 1,83 16,67 1,37
Spondias mombin L. 4 66,7 1,47 16,67 1,37
Manihot carthaginensis subsp. glaziovii (Müll.Arg.) Allem 4 66,7 1,47 16,67 1,37
Amorimia rigida (A.Juss.) W.R.Anderson 4 66,7 1,47 16,67 1,37
Vismia guianensis (Aubl.) Pers. 3 50 1,1 50 4,11
Handroanthus serratifolius (Vahl.) S.O.Grose. 3 50 1,1 16,67 1,37
Talisia esculenta (Cambess.) Radlk. 3 50 1,1 33,33 2,74
Albizia polycephala (Benth.) Killip. ex Record. 3 50 1,1 16,67 1,37
Senna georgica H. S. Irwin & Barneby 3 50 1,1 33,33 2,74
Casearia sylvestris Sw. 3 50 1,1 33,33 2,74
Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose 3 50 1,1 33,33 2,74
Psidium guineense Sw. 3 50 1,1 16,67 1,37
Samanea inopinata (Harms.) Barneby & J. W. Grimes 2 33,3 0,73 33,33 2,74
Genipa americana L. 2 33,3 0,73 33,33 2,74
Psidium guineense Sw. Sw. 2 33,3 0,73 33,33 2,74
Lantana camara L. 2 33,3 0,73 33,33 2,74
Samanea inopinata (Harms.) Barneby & J. W. Grimes. 2 33,3 0,73 16,67 1,37
Strychnos parvifolia A. DC. 2 33,3 0,73 16,67 1,37
Artocarpus heterophyllus Lam. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Crescentia cujete L. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Ziziphus joazeiro Mart. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Guapira hirsuta (Choisy) Lundell. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Cecropia pachystachya Trécul 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Campomanesia aromatica (Aubl.) Griseb. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Handroanthus impetiginosus ( Mart. ex DC.) Mattos 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Fridericia pubescens (L.) L.G.Lohmann 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Mangifera indica L. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Stenocarpus sinuatus (A. Cunn.) Endl. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Casearia hirsuta Sw. 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Cnidoscolus urens (L.) Arthur 1 16,7 0,37 16,67 1,37
Indet. 2 1 16,7 0,37 16,67 1,37

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O número de espécies (43) é considerado elevado para uma pequena área amostral (200m 2),
característica esta comumente encontrada em áreas de floresta úmida, seja na Mata Atlântica
litorânea (AMAZONAS & BARBOSA, 2011; CAMPOS et al., 2011) ou em brejos de altitudes de
outras regiões do Nordeste brasileiro (ANDRADE et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2006). O registro
de espécies como Inga ingoides entre as que apresentam maiores valores de densidade e frequência
também reforça as características de elevada umidade dos Brejos de altitudes, tendo em vista que a
maioria das espécies deste gênero geralmente ocorre em áreas de matas ciliares (ANDRADE et al.,
2006; GOMES et al., 2014).
A espécie Astronium fraxinifolium apresentou maiores valores de frequência e densidade na
área amostral. A espécie consta na lista da flora brasileira ameaçada de extinção, na categoria de
espécie com deficiência de dados (MMA 2008). Isto reforça a importância da manutenção dos
Brejos de altitude para a conservação da biodiversidade brasileira, pois muitas espécies que ocorrem
nesses ambientes ainda são pouco estudadas ou mesmo desconhecidas pela comunidade científica.
Em contrapartida, a ocorrência de espécies exóticas, como Mangifera indica e Artocarpus
heterophyllus na área amostral demonstra certo nível de interferência antrópica na comunidade
vegetal estudada, tendo em vista que estas espécies estão entre as plantas frutíferas mais cultivadas
nas comunidades rurais do Brasil (LORENZI, 2002).
Comparando as espécies registradas na área amostral com levantamentos florísticos
realizados em Areia, município também inserido nos Brejos de altitude na Paraíba (OLIVEIRA et
al., 2006), verifica-se que 24 espécies (55,8%) ocorrem em ambos os ambientes amostrados, além
de valores aproximados nos índices de diversidade de Shannon (H‘) e de equabilidade de Pielou
(J‘), demonstrando que os fragmentos de matas que formam os Brejos de altitude apresentam
significativa similaridade florística.
O registro das espécies vegetais aliado aos parâmetros estruturais da vegetação nos
fragmentos de matas nas comunidades rurais pesquisadas oferece subsídios para a adoção de
estratégias de conservação na região, tendo em vista que muitas das espécies registradas podem ser
empregadas para diversas finalidades pelos moradores locais. Espécies como Guazuma ulmifolia,
Spondias mombin, Manihot carthaginensis, Handroanthus serratifolius, Talisia esculenta, Albizia
polycephala, entre outras, são comumente citadas em estudos que discutem utilizações de plantas
nativas por comunidades rurais, inclusive para fins não madeireiros (SILVA & ANDRADE, 2005;
SOLDATI et al., 2011; SILVA et al., 2014). Desta forma, diversos usos como espécies forrageiras
para rebanho caprino e bovino, plantas medicinais, plantas usadas na apicultura e espécies de valor
ornamental, podem ser obtidos nas matas da região sem que haja a necessidade da extração
madeireira desordenada e derrubada destas plantas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Além do uso racional dos recursos naturais existentes na região, outras ações, como a
criação de unidades de conservação, a criação de corredores ecológicos entre os fragmentos de
matas remanescentes, e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental junto aos
moradores das comunidades rurais poderiam contribuir para uma maior conservação da diversidade
natural existente na Serra do Espinho, assim como em outras áreas de Brejos de altitude no
Nordeste brasileiro.

CONSIDERAÇOES FINAIS

O levantamento fitossociológico realizado em fragmentos de mata de Brejo de altitude na


Serra do Espinho, município de Pilões, Paraíba permitiu o registro de 273 indivíduos e 43 espécies,
das quais se destacam pelo número de indivíduos e valores estruturais de densidade e frequência
Astronium fraxinifolium, Inga ingoides, Senegalia polyphylla e Guazuma ulmifolia. A composição
florística, de forma geral, se assemelha a outras áreas de Brejos de altitude da Paraíba,
demonstrando certa similaridade florísticas entre estas regiões.
Entre as espécies registradas, Astronium fraxinifolium apresentou-se como importante
indicador ecológico, tendo em vista que a mesma consta na lista da flora brasileira ameaçada de
extinção e foi um dos componentes mais abundantes nos fragmentos pesquisados, demonstrado a
importância dos Brejos de altitude na conservação da biodiversidade brasileira.
Informações da literatura demonstram que a maior parte das espécies registradas pode ser
usada para diversas atividades não madeireiras, como forragem para caprinos e bovinos, plantas
medicinais, plantas usadas na apicultura e espécies de valor ornamental. O uso racional das espécies
vegetais, aliada a criação de unidades de conservação, corredores ecológicos e o desenvolvimento
de atividades voltadas à educação ambiental podem contribuir para a conservação da diversidade
florística existente na Serra do Espinho e de outras áreas de Brejos de altitude no Nordeste
brasileiro.

REFERÊNCIAS

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remanescente de Floresta Atlântica Estacional na microbacia hidrográfica do rio Timbó, João
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ESTUDO DO MEIO: CONHECENDO UM REMANESCENTE FLORESTAL


OMBRÓFILO DENSA SUBMONTANA EM ESTÁGIO DE REGENERAÇÃO MÉDIO

Juma Gomes da SILVA


Graduanda no curso de Ciências Biológica-UNEB/Campus II
Jjuma.gomes22@gmail.com
Diele Gonçalves dos SANTOS
Graduanda no curso de Ciências Biológica-UNEB/Campus II
dieliysantos@hotmail.com
Zilvânia Martins de OLIVEIRA
Graduanda no curso de Ciências Biológica-UNEB/Campus II
zmosyagrus@gmail.com
Edilma Nunes de JESUS
Doutoranda Universidade Federal de Sergipe
edilmanunes@hotmail.com

RESUMO
Estudo do meio faz-se de extrema relevância para compreensão da dinâmica ambiental de diferentes
ecossistemas, promovendo uma concepção da influência mútua existente no meio, vinculando de
forma sistemática a teoria com a prática. Estudo do meio tornaram-se importantes ferramentas
associadas ao ensino de Ciências e Biologia. Nesse sentido, os Diretores da Verde Empresa Jr. de
Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia- Campus II- Departamento de Ciências
Exatas e da Terra de Alagoinhas, com uma parceria com o Campus II, promoveram uma vivência
de uma turma de 4º semestre do Curso Técnico de Meio Ambiente da Escola Estadual Polivalente,
com a vegetação situada no referido Campus. Com esta atividade buscou-se incentivar os discentes
a desenvolverem habilidades como observação, analise e reflexão. Assim o objetivo do trabalho foi
de promover a vivência e análise dos aspectos ecológicos de uma mata, por meio da técnica de
estudo do meio. A trilha foi percorrida com 30 alunos e as professoras de biologia da escola
visitante, analisando e discutindo os aspectos ecológicos encontrados no percurso, associando as
aulas teóricas com a observação. Foi possível observar a grande diversidade vegetal da área,
apresentando espécies de portes variados desde ervas a árvores com até 30m de altura. Foram
avaliadas características vegetais como: folhas, flores, frutos e odores das famílias locais, entre elas
Fabaceae, Rubiaceae, Asteraceae, Melastomataceae, Bignoniaceae entre outras. Além disso,
realizou-se uma a reflexão acerca da importância da conservação vegetacional que serve de abrigo
para uma diversidade de artrópodes, aves, répteis e anfíbios. Concluímos que o estudo do meio
contextualizado proporciona uma rica aprendizagem, promovendo o desenvolvimento intelectual e
social dos discentes, sensibilizando-os para o desenvolvimento de uma consciência ambiental.
Palavras-Chave: Ecologia; Botânica; Mata atlântica; Educação Ambiental.
ABSTRACT
The study of the environment is of extreme relevance for understanding the environmental
dynamics of different ecosystems, promoting a conception of mutual influence in the environment,
systematically linking theory with practice. Study of the environment have become important tools
associated with teaching science and biology. In this sense, the Directors of the Green Enterprise Jr.
of Biological Sciences of the State University of Bahia - Campus II - Department of Exact Sciences
and Land of Alagoinhas, in partnership with Campus II, promoted an experience of a group of 4th

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

semester of the Environmental Technical Course of the State Polyvalent School, with the vegetation
located in said Campus. With this activity, the aim was to encourage students to develop skills such
as observation, analysis and reflection. Thus the objective of the work was to promote the
experience and analysis of the ecological aspects of a forest, through the medium study technique.
The trail was traversed with 30 students and the biology teachers of the visiting school, analyzing
and discussing the ecological aspects found in the course, associating the theoretical classes with
the observation. It was possible to observe the great vegetal diversity of the area, presenting species
of sizes ranging from herbs to trees up to 30m in height. Plant characteristics such as leaves,
flowers, fruits and odors of local families were evaluated, among them Fabaceae, Rubiaceae,
Asteraceae, Melastomataceae, Bignoniaceae and others. In addition, a reflection was made on the
importance of vegetation conservation that shelters a diversity of arthropods, birds, reptiles and
amphibians. We conclude that the study of the contextualised environment provides a rich learning,
promoting the intellectual and social development of the students, sensitizing them to the
development of an environmental conscience.
Key-words: Ecology; Botany; Atlantic forest; environmental education

INTRODUÇÃO

O trabalho de campo através do estudo do meio se apresenta como peça fundamental no


ensino.Neste contexto, a aula de campo para ensino técnico foi fundamental para o estudante
vivenciar as práticas elencada em sala, transcendendo as teorias na formulação de novos
conhecimentos e técnicas.
Para Bazarra et al. (2006, p.88) (...) ―a educação precisa universalizar a pessoa, colocá-la em
contato com a complexidade, os mistérios e os encantos do mundo que habitamos‖. Visivelmente
atividades complementares como observação, experimentação e campo são recursos pedagógicos
no ensino de Biologia, que dinamizam e motivam, facilitando a associação da realidade entre teoria
e prática, importantes na análise do conhecimento.
Nesse contexto Freire (1996) ressalta que conteúdos cuja compreensão, tão clara e tão lúcida
quanto possível, deve ser planejada com uma prática formadora. É preciso, desde o princípio
assumir o estudante como sujeito importante na produção do saber, e viabilizar definitivamente o
fato que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a
sua construção.
A atividade de campo pode constituir uma excelente alternativa metodológica que permite
explorar múltiplas possibilidades de aprendizagem dos alunos, desde que bem planejada e elaborada
(VIVEIRO E DINIZ, 2009, p. 27). As observações dos fenômenos naturais fortalecem o processo
de ensino e aprendizagem em Ciências e principalmente em Biologia, uma vez que, motivam os
estudantes a serem críticos e criativos em relação ao aprendizado acerca dos fenômenos naturais
(SILVA, et al. 2016, p. 5660).
Compreendendo assim, o Estudo do Meio como um método de ensino interdisciplinar que
visa proporcionar para alunos e professores contato direto com uma determinada realidade, um

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

meio qualquer natural ou urbano, que se decida estudar. Concretizada pela imersão orientada na
complexidade de um determinado espaço geográfico, do estabelecimento de um diálogo inteligente
com o mundo, com o intuito de verificar e de produzir novos conhecimentos (LOPES e
PONTUSCHKA, 2009).
Ressalvando ainda o fato, que atualmente só se preserva e conserva aquilo que conhecemos
e conhecer a biodiversidade e a sua importância para a manutenção dos ecossistemas terrestres é
fundamental para gerenciar políticas públicas futuras, de preservação e conservação das espécies
(SILVA, et al.2016, p. 5660). Para tal, os futuros profissionais da área ambiental, necessitam
conhecer as áreas que precisam ser conservadas em seu município, partido do histórico de
degradação da Floresta Atlântica, é indispensável orientar e divulgar quanto aos riscos e problemas
que esta foi e está submetida ao longo da história do Brasil.
Na atualidade, as florestas do Brasil sofreram mudanças que geraram alterações nos
processos ecológicos. Quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, em 1500, a Mata
Atlântica cobria aproximadamente 15% do território brasileiro, área equivalente a 1.306.421 km2,
ainda segundo o último levantamento divulgado pela Fundação SOS Mata Atlântica, (2013), o
percentual de remanescentes bem conservados, é de apenas 8,5%. Deste modo, compreender os
processos ecológicos associados ao histórico de degradação ambiental ao longo do tempo,
possibilita ao aluno abarcar novas ideias e teoria que somem na investigação e criação de técnicas
inovadoras para viabilizar a preservação das florestas.
O estudo ecológico de campo vem proporcionar a observação do ambiente natural, onde as
informações obtidas são analisadas de acordo com o conhecimento prévio adquirido em sala de aula
(FERREIRA E PASA, 2015). Para Cirino et al. (2009) espera-se que o aluno vá além, onde as
transformações das mentalidades exigem diálogo, dúvidas, questionamentos e principalmente o
auto-questionamento, aonde o aluno vai se perguntar o quê é, e como ocorrem os processos e
transformação do espaço em que vive.
Na Universidade do Estado da Bahia/Campus II, situada em Alagoinhas-Bahia, apresenta-se
uma considerável cobertura de vegetação remanescente no domínio da Floresta Ombrófilo Densa
Submontana em estágio de regeneração médio, área de refúgio e abrigo biológico. Essa área
abrange pesquisas diversas no campo da biologia pelos graduandos do curso de Licenciatura em
Ciências Biológicas ofertada pela universidade e, devido à sua importância esta área foi selecionada
para a atividade de campo.
Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo promover a vivência e análise dos
aspectos ecológicos de uma mata, por meio da técnica de estudo do meio caracterizada como
remanescente no domínio da Floresta Ombrófilo Densa Submontana em estágio de regeneração
médio. A partir desta atividade, foi possível observar a grande diversidade vegetal presente na área;

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

visualizar os métodos e técnicas utilizados em pesquisas botânicas; ponderar sobre a ecologia local;
vivenciar e analisar os aspectos ecológicos desse ambiente, como por exemplo, a interação entre os
seres vivos.

METODOLOGIA

O agendamento da aula de campo ocorreu a partir da necessidade de praticar os conceitos


trabalhados em sala de aula, com isso os professores de biologia da Escola Estadual Polivalente de
Alagoinhas, solicitaram a Diretora do Departamento um passeio ecológico pelo Campus, e os
integrantes da Diretoria da Verde Empresa Jr. de Ciências Biológicas da Universidade do Estado da
Bahia- Campus II- Departamento de Ciências Exatas e da Terra de Alagoinhas, se disponibilizaram
para realizar turnê em conjunto com os professores e alunos da escola.

Figura: Área de estudo de campo.


(A) Mapa de localização da cidade de Alagoinhas e
(B) o Complexo da Universidade do Estado da Bahia, Campus II.

Fonte: Google Earth, (2016).

Para isso anterior a data marcada, demarcamos o percurso do passeio, sinalizando com fitas
vermelhas os locais que seriam visitados. Visando a segurança dos visitantes. O passeio ecológico
ocorreu no dia 26 de setembro de 2016, encontramos a delegação às 7h da manhã e verificamos os
requisitos que havíamos repassado para os professores, quanto às roupas leves e confortáveis
prioritariamente calça e blusas ou camisas de marga longa, sapatos preferencialmente tênis ou
botas, utilização de bonés ou chapéu devido à exposição ao sol, utilização de protetores solares e
repelentes devido à grande quantidade de insetos na área, salientamos também quanto a não
utilização de perfumes e desodorantes, pois muitos insetos são atraídos a partir desses odores,
evitando assim ataques desses pequenos animais.
Com todas as informações complementares repassadas, nos apresentamos para a turma e
prosseguimos para os estornos da mata, onde apresentamos algumas das espécies da borda. Em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

muitas literaturas torna-se consenso que espécies de bordas de fragmentos possuem composição de
espécies diferente do interior (BROTHERS & SPINGARN, 1992; FRAVER, 1994; MATLACK,
1994). Conceituamos e exemplificamos bordas de um fragmento para a delegação.
Continuamos nosso passeio analisando a fauna e flora do remanescente para instigar alunos
a analisarem as interações bióticas ocorrentes no meio, como adaptabilidade para captação de
alimentos ou apenas abrigo, além da fauna que possibilitar a dispersão de sementes, garantindo a
propagação de determinadas espécies vegetais.
Em campo explicamos as principais formas de identificação de algumas famílias botânicas,
indicando as características marcantes de cada grupo como tipo e coloração das folhas, tipos de
flores e inflorescência, salientando que para analisar as flores é necessário levar o material botânico
para laboratório e avaliar com a ajudar de microscópio óptico, além desses caracteres é de grande
importância verificar se a planta possui algum odor. Evidenciando os métodos e técnicas para coleta
do material botânico, herborização e identificação.
No decorrer do percurso podemos visualizar e discutir sobre uma pesquisa de campo
relacionado à fitossociologia, pesquisa de uma aluna do curso de Ciências Biológica do Campus II,
onde questionamos sobre o processo e procedimentos da pesquisa, como delimitação da área,
plaqueteamento das espécies e importância dessas pesquisas para comunidade. Finalizamos o
passeio ecológico, visitando o laboratório de Zoologia (Museu) da Universidade, onde foi possível a
observação das coleções biológicas de insetos presentes no Campus, além de visualizar algumas
espécies marinhas conservadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A atividade em campo teve a duração de 4 horas, iniciando às 7 horas e completamos o


percurso às 11 horas. Com os discentes devidamente equipados adentramos a mata e iniciamos as
observações, orientamos os mesmos a indicarem o que lhes chamavam atenção, para partilhamos,
discutir, analisar e conceituar os questionamentos apontados.
Em primeiro momento denominamos a mata expondo suas características, esta foi
caracterizada como Florestas Ombrófila Densa pela presença de árvores de grandes e médios portes,
além de lianas (cipós) e epífitas em abundância. Estende-se pela costa litorânea desde o Nordeste
até o extremo Sul. Sua ocorrência está ligada ao clima tropical quente e úmido, sem período seco,
com chuvas bem distribuídas durante o ano (MATA ATLÂNTICA, 2010).
Prosseguindo, falamos sobre a degradação da Floresta Atlântica, relacionando alguns
conceitos como fragmento, corredores ecológicos, efeito de bordas, perda da biodiversidade.
Instigamos os alunos a conceituar degradação ambiental, e eles apontaram que seria a perda de
espécies de animais e vegetal devido à caça, e derrubada de árvores, a fim de gera renda. Com isso

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 149


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

complementamos as respostas enfatizando que ―degradação das florestas refere-se às modificações


impostas pela sociedade aos ecossistemas naturais, alterando as suas características físicas,
químicas e biológicas, comprometendo, assim, a qualidade de vida dos componentes bióticos‖
(RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA, 2000).
A degradação das florestas acorrenta em uma serie de problemas, que dificultam a
estabilidade do ambiental entre eles destacamos o empobrecimento dos solos, assoreamento de rios
e reservatórios, fragmentação dos ecossistemas e perda da diversidade biológica. Caso que está
acontecendo a Floresta Atlântica. E é a Floresta na qual estávamos explorando corresponde a um
fragmento do todo da Floresta Atlântica.
Analisamos as características das espécies de borda (figura 2), onde os discentes apontaram
que as espécies de bordas eram menores que as do interior do fragmento, explicamos que as bordas
estão mais perceptíveis as ações antrópicas e biológicas, por estarem expostas. ―As bordas de um
fragmento são comumente distintas ecologicamente do interior do fragmento, e os padrões
ecológicos mudam próximos ás bordas, assim como a dinâmica no nível da paisagem, e os impactos
na fragmentação‖ (FAHRIG, 2003). Enfatizando que apesar dessa influencia e diferenças entre as
populações de bordas e interior, os organismos da comunidade interagem ente si exercendo
influencias recíprocas garantindo a estabilidade do fragmento.

Figura 2: Trilha percorrida pelos os alunos no complexo da UNEB, Campus II.

Fonte: Silva, (2016).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 150


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Exemplificou-se como ocorre a coleta para trabalhos botânicos, para isso mostramos aos
discentes os materiais que usamos durante as coletas entre eles: Prensas provisórias de trabalho com
base de madeira junto com papelão, jornal e cordas para amarração das prensas, ficha de campo
para anotações, sacos plásticos grandes para guardar o material coletado; aparelho de GPS e
máquina fotográfica para o registro, etc.
Quanto às técnicas explicamos que devemos seguir algumas regras para garantir a
viabilidade do material coletado durante a identificação, bem como possibilitando a identificação
segura. Para isso alertamos sobre a contratação de mateiros para compor a equipe de campo, pois,
estas pessoas conhecem a localidade e dominam os nomes populares das espécies. Alertou-se
também que é necessário coletar no mínimo três exemplares de cada espécie observada. O material
botânico deve ser fértil contendo folhas, flores, frutos, dependendo do organismo coletado. Feito
isso todo material coletado será levado pra laboratório para o processo de herborização. A coleta e
herborização são realizadas conforme as técnicas usuais em botânica citadas por Fidalgo & Bononi
(1984).
No laboratório as prensas de madeira são encaminhadas às estufas para secagem através do
calor, para preservar as estruturas vegetais, prosseguindo com a produção de exsicatas de forma que
o ―material seco será fixado em papel cartolina ou similar com dimensões padronizadas pela
instituição‖ (Rotta et al. 2008, p26). Foram avaliadas características vegetais como: folhas, flores,
frutos e odores das famílias locais, entre elas Fabaceae, Rubiaceae, Asteraceae, Melastomataceae,
Bignoniaceae. Características essas que facilitam a identificação das famílias para um bom
pesquisador.
Visitando uma área experimental de Fitossociologia (figura 3) elucidada pela graduanda
Zilvania Martins de Oliveira, onde a mesma discorreu sobre os métodos utilizados na sua pesquisa,
a demarcação de 17 parcelas de 10 x 10, de modo que as plantas do interior das parcelas com DAP
(diâmetro da altura peito) =/> 1.30, foram plaqueteadas e conferindo parâmetros como
circunferência, altura e coletado material botânico e anotado informações importantes em uma ficha
de campo. Levantamento esse essencial para análise da diversidade florística local.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 151


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Área da fitossociologia e a amostra das árvores plaqueteadas.

Fonte: Silva, (2016).

No Museu da universidade, os alunos conheceram alguns insetos da fauna local, entre eles
formigas, escorpiões, besouros, borboletas entre outros. Coletados durante pesquisas zoológicas no
Campus II. Além de visualizar algumas espécies marinhas conservadas no laboratório advindas de
pesquisas fora da Universidade em outras regiões baiana.

Figura 4: laboratório de Zoologia na Universidade do Estado da Bahia, Campus II, Alagoinhas.

Fonte: Silva, (2016).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Segundo Hodson, (1992) atividades que possibilitam os estudantes a utilizam os processos e


métodos da Ciência na investigação de fenômenos, resolvendo problemáticas como meio de
acrescentar e desenvolver seus conhecimentos, e fomentam elemento poderoso para o currículo. E o
método de investigação torna-se eficaz para aprender ciência como para aprender sobre as ciências.

CONCLUSÃO

O ensino de Ciências e Biologia necessitam de complementos como experimentos,


dinâmicas, observação, e aulas de campo, que comprovem a aplicabilidade deste componente
curricular no dia a dia do alunado. Precisamente comprovando as teorias, métodos e técnicas
repassados em sala de aula, além de tornar prazeroso tal aprendizado, concretiza-se com
experimentação, propiciando ao pesquisador/discentes/Professor apreciar o desenvolver da
ampliação de novos conhecimentos.
Há necessidade de deslumbrar os discentes, apresentando para os mesmo o nosso laboratório
vivo, aprendendo os conceitos ecológicos essenciais para carreira de um técnico em meio ambiente,
viabilizado o mantra ―É preciso conhecer para preservar.‖ Principalmente a Floresta Atlântica que é
o nicho de muitas espécies que precisam ser preservadas, e para isso é fundamental fomentar
projetos de educação ambiental nas escolas.
Além disso, a conservação de matas e florestas perpassa pela sensibilização humana e, as
atividades de estudo do meio possibilitam que espaços-não-formais de ensino promovam este
processo, o que contribui diretamente para a formação de estudantes, principalmente na área
ambiental.
Logo, conclui-se que técnicos em meio ambiente precisam familiarizar-se com seu ambiente
de trabalho matas, florestas, campos, ecossistemas diversos, como meio de explorar os
conhecimentos e métodos elencados em aulas discursivas, tornado de grande importância a prática
(práxis) no desenvolvimento profissional desses discentes.

REFERÊNCIA

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de mudança. São Paulo: Paulinas, 2006.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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FRAVER, S. Vegetation responses along edgeto-interior gradients in the Mixed hardwood Forests
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
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- Bibliografia Eletrônica:

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 154


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2013/06/04/restam-85-da-
vegetacao-original-da-mata-atlantica-diz-levantamento.htm

www.sosma.org.br

www.inpe.br

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 155


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DIVERSIDADE DA FLORÍSTICA DO SÍTIO FUNDÃO


E DA FLONA DO ARARIPE- APODI/CE

Lidiane Marinho TEIXEIRA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
lidy.mt@outlook.com
Girlaine Souza da Silva ALENCAR
Profa. Dra. Orientadora e Titular em Ciências Ambientais do IFCE-Campus Juazeiro do Norte
girlainealencar@gmail.com
Hugo Hermógenes de ALENCAR
Prof. Dr. Orientador e Titular em Ciências Agrárias do IFCE- Campus Juazeiro do Norte
hugohermogenes@gmail.com

RESUMO
O estudo da diversidade biológica torna-se importante para a conservação das espécies e dos seus
recursos. A Floresta Nacional (FLONA) do Araripe-Apodi localiza-se no Sul do Ceará e é
reconhecida por fazer a manutenção do equilíbrio hidrológico, climático e ecológico regional. O
Parque Estadual Sítio Fundão está localizado na cidade do Crato, é uma das reservas ecológicas
mais importantes da região do Cariri, pois abriga Geossítio Batateiras. O objetivo desta pesquisa foi
comparar a diversidade biológica de duas parcela intencional, uma do Parque Estadual Sitio Fundão
e outra da FLONA do Araripe-Apodi que sofreram diferentes interferências antrópicas. Para isto,
foi realizado o levantamento arbóreo-arbustivo de uma parcela de 200m2, considerando apenas
plantas vivas com altura ≥ 1m, sendo classificadas como arbustos espécies com altura ≤ 2 m e como
árvores espécies com altura > 2 m. No Sitio Fundão (Parcela 1), foram identificados 171 indivíduos,
sendo que 64,33% arbustos e 35,68% árvores, com densidade absoluta estimada em 8.55 ind-1ha.
Na parcela 2 localizada na FLONA foram identificados 345 indivíduos, sendo 58,26 % composto
por árvores e 41,74 % por arbustos, com densidade absoluta estimada em 17.250 ind-1ha. A parcela
1 apresentou média diversidade biológica de espécies vegetais, segundo o índice de Shannon-
Wiener, supõe-se que isto ocorre, pois o parque está localizado próximo a zona urbana. Na parcela
2 apresentou um valor baixo de diversidade biológica, acredita-se que este fato ocorre, pois a
FLONA está localizada próximo a uma rodovia estadual e próximo ao acampamento de coletores de
pequi (Caryocar brasiliensis).
Palavras-chaves: Diversidade biológica, Levantamento florístico, Parcela internacional
ABSTRACT
The study of the biological diversity gets important for the conservating of the species and its
resources. The national forest of Araripe-Apodi (FLONA) is located in the south of Ceara and is
known for making the maintenance of the hydrological, climatic and regional balance. The state
park Sítio Fundão is located in the city of Crato. It's one of the more important ecological reserves
of the Cariri's region, because it houses the Batareira's geosite. This research's objective is
comparing the biological diversity of two international portions, the first one of the state park Sítio
Fundão and the other one the "FLONA"(national forest) of Araripe-Apodi that suffered different
anthropic interferences. For doing so, was realized the surveys of tree and shrub in a portion of
200m², considering just living-trees with a height of more than 1m, being classified as shrubs, only
the species with more than 2m and the trees was considered only those with more than 2m. In the
Fundão site (Portion 1), were identified 171 individuals, of which 64,33% are shrubs and 35,68%
are trees, with absolute density estimated in 8.55 ind-1ha. In the 2nd portion located in the national
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

forest were identified 345 individuals, of which 58,26% are composed of trees and 41,74% from
shrubs, with absolute density estimated in 17.250 ind-1ha. The first portion presented median
biological diversity in what is related to vegetable species, according to the Shannon-Wiener index,
it's supposed it happens because the park is located next to the urban area. The second parcel
presented a low value of biological diversity, it is believed that it occurs because the national florest
is located next to the state highway and next to the acampment of pequi collectors (Caryocar
brasiliensis).
Keyword: Biological diversity; floristic survey; international portion.

INTRODUÇÃO

O conhecimento da composição estrutural e florística das populações de espécies arbustivo-


arbóreas é fundamental para a adoção de estratégias de manejo e conservação de remanescentes
florestais e de restauração de áreas degradadas com chances de grande sucesso para a recuperação
(MARTINS et al., 2007).
Sampaio et al., (2011), afirmam que o conhecimento fitossociológico de comunidades
vegetais nativas em diversos níveis de intervenção antrópica são necessárias para entender a
diversidade do ecossistema como um todo, pois fornece uma visão básica sobre a composição
arbórea-arbustiva dos ecossistemas, bem como os parâmetros estruturais como dominância,
densidade e frequência.
Estudos como este, fornecem informações do conhecimento florístico de determinada
vegetação e também informações complementares sobre as espécies mais importantes e/ou
representativas das comunidades florísticas (BRAUN-BLANQUET, 1950).
A Floresta Nacional (FLONA) do Araripe-Apodi foi criada em 1946. Localizada no extremo
Sul do estado do Ceará, nas coordenadas 07º 11‘ 42‖ e 07º 28‘ 38‖ Sul e 39º 13‘ 28‖ e 39º 36‘ 33‖
Oeste, abrange os municípios de Barbalha, Crato, Jardim e Santana do Cariri, possui uma área de
39.333 ha. De acordo com Toniolo e Kazmierczak (1998) possui quatro diferentes formações: Mata
Úmida, Cerradão, Carrasco e Cerrado.
O Parque Estadual Sítio Fundão é uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral
do Estado do Ceará, criada pelo Decreto Estadual n° 29179 de 08 de fevereiro de 2008 (SEMACE,
2014). Localiza-se nas coordenadas 07°14' 03‖ Sul e 39°24'34‖ Oeste, no sopé da Chapada do
Araripe, com área de 93,54 ha. Possui diferentes tipos de coberturas vegetais: Mata Ciliar, Caatinga
Hiperxerófita e Áreas Antropizadas (LIMA, 2003).
Tendo em vista a importância do estudo da vegetação nativa para a manutenção e
conservação das espécies e dos seus recursos, a presente pesquisa teve como objetivo comparar a
diversidade biológica de duas parcela intencional, uma do Parque Estadual Sitio Fundão, Crato - CE

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e a outra um fragmento de Cerradão da FLONA do Araripe-Apodi que sofreram diferentes


interferências antrópicas.

METODOLOGIA

Caracterização da Área De Estudo

Foram analisados, duas parcelas intencionais, a Parcela 1 localiza-se no município do Crato


- CE, nas coordenadas 07°13' 56,1‖ Sul e 039°26'15,3‖ Oeste (Figura 1). O clima predominante é
do tipo AW tropical chuvoso, segundo a classificação Koeppen, com precipitação pluviométrica
anual de 800 a 900mm (OLIVEIRA, 2009), o solo é arenoso com horizontes O, A, B e C, e em
pontos mais baixos, os solos aluviais são arenosos com presença de matéria orgânica oriunda das
áreas de maior latitude (LIMA, 2003).

Figura 1: Localização do Parque Estadual Sitio Fundão


Fonte: Autor,2017.

A Parcela 2 localiza-se nas coordenadas 07º 27‘ 07,3‖ Sul e 39º 19‘ 52,4‖ Oeste (Figura 2), a
892 m de altitude, a 2 km de um acampamento de coletores de Pequi (Caryocar brasiliensis) as
margens da rodovia CE 040.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2: FLONA do Araripe/Apodi com localização e vegetação da parcela em estudo..


Fonte: SANTOS, 2012

O clima predominante na área pesquisada é o tropical quente subúmido (classificação de


Koepen), os solos são bem desenvolvidos e a classe dominante é a dos Latossolos com
predominância dos Amarelos Distróficos (EMBRAPA, 2006). A precipitação média anual é de
1.061 mm, a temperatura média é de aproximadamente 25°C (SRH/CE, 2011) e a umidade relativa
do ar varia entre 32 e 92% (LOPES; SILVA, 1998).

Coleta de Dados

As áreas foram georeferenciadas utilizando-se o GPS Garmin modelo eTrex Vista H. Para o
levantamento arbóreo e arbustivo, foram alocadas vinte parcelas de 1m², totalizando 200m², com
dimensões de 10 x 20m, em cada parcela. Consideraram-se apenas árvores vivas com altura ≥1m.
Os parâmetros coletados foram: Diâmetro a Altura do Solo (DAS) a 3,0 cm, de acordo com a
metodologia de RODAL et al., (1992), Diâmetro a Altura do Peito (DAP) a 1,30 m, o Diâmetro da
Copa (DC) e altura de planta (H), apenas dos arbustos.
Posteriormente as árvores e arbustos foram etiquetados e identificados pelo nome popular,
identificadas por um nativo da região. Para calcular a diversidade de Shannon-Wiener (H‘),
utilizou-se o software DivEs.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Os dados coletados foram direcionados ao Laboratório de Estudos Ecológicos (LEECO) do


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará – Campus Juazeiro do
Norte, onde foram tabulados.

RESULTADOS

Na parcela 1 foram identificados 171 indivíduos vivos, sendo que 64,33% arbustos e
35,68% árvores (Figura 3). A densidade absoluta foi estimada em 8.55 ind-1ha. Nesta
parcela 19 indivíduos adultos mortos foram registrados, evidenciando intervenção
antrópica na área nas últimas décadas.

Legenda: Arbusto; Árvores


Figura 3: Croqui com o levantamento arbóreo e arbustivo da parcela do Sitio Fundão

Em relação aos parâmetros coletadas, os arbustos (Ab) apresentaram uma altura média (H)
de 1,15m, diâmetro a altura do solo (DAS) 9,00mm, diâmetro a altura do peito (DAP) 4,2mm e o
diâmetro de copa (DC) 1,42m. Quanto às árvores (Ar) o DAS e o DAP em média, foram maiores do
que os dos arbustos, como esperado. Sendo 8,8cm de DAP e 11,5cm de DAS.
Na parcela 2 foram identificados 345 indivíduos, sendo 58,26 % composto por árvores e
41,74 % por arbustos (Figura 4), com densidade absoluta estimada em 17.250 ind-1ha.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Legenda: Arbusto; Árvores


Figura 4: Croqui com o levantamento arbóreo e arbustivo da parcela da FLONA DO ARARIPE- APODI/CE

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área estudada do Parque Estadual Sítio Fundão apresentou média diversidade biológica de
espécies vegetais, segundo o índice de Shannon-Wiener, supõe-se que isto ocorre devido ao parque
localizar-se na Zona Urbana da cidade. Por haver predominância de arbustos esta área encontra-se
em fase de sucessão ecológica.
A Floresta Nacional do Araripe-Apodi apresentou baixa diversidade biológica de espécies
vegetais, acredita-se que este fato ocorre, pois próximo a FLONA localiza-se às margens da
Rodovia Estadual O40 e próximo ao acampamento dos coletores de Pequi (Caryocar brasiliensis).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DIVERSIDADE DE SAMAMBAIAS DA FONTE DAS GUARIBAS, CAMPO ALEGRE,


MUNICÍPIO DE CRATO, CEARÁ

Matheus Pereira da SILVA


Graduando em Ciências Biológicas da URCA
Matheuspereira1836@hotmail.com
Elaine Cristina Conceição de OLIVEIRA
Professora mestre do Curso de Ciências Biológicas da URCA
elainecryca@hotmail.com
Eliete Lima de Paula ZÁRATE
Professora Associada Doutora do Curso de Ciências Biológicas da UFPB
lilazarat@hotmail.com
Sírleis Lacerda RODRIGUES
Professora Doutora do Curso de Ciências Biológicas da URCA
sirleisrl@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo realizar um levantamento florístico das samambaias da Fonte
das Guaribas, localizada no distrito de Campo Alegre, município de Crato, Ceará. Foram realizadas
coletas mensais no período de novembro/2015 a novembro/2016. A flora da referida Fonte esteve
representada por oito espécies de samambaias, distribuídas em seis famílias e seis gêneros. As
famílias registradas como mais representativas foram Cyatheaceae e Polypodiaceae, ambas com
duas espécies e os gêneros mais representativos foram Cyathea e Polypodium, ambos com duas
espécies também. O baixo número de espécies de samambaias pode ser atribuído ao grande
desmatamento da área, com a consequente fragmentação de habitats e exposição do solo à luz solar.
Por necessitarem de ambientes sombreados e úmidos, as samambaias são sensíveis a qualquer
desmatamento. Assim, mediante os dados de baixa diversidade registrados, sugere-se que haja uma
maior fiscalização e monitoramento das matas da Chapada do Araripe e que se promova uma
campanha de educação ambiental para conscientizar a comunidade local sobre a importância de
conservar esses ambientes.
Palavras-chave: Pteridófitas, Mata Úmida, Chapada do Araripe
ABSTRACT
The present study aimed to carry out a florístic survey of the ferns of the Guaribas Fontain, located
in Campo Alegre district, Municipality of Crato, Ceará. Monthly collections were carried out during
the period from november 2015 to november 2016. The flora of the Fountain of the Guaribas was
representated by eight species, distributed in six families and six genera. The most representative
families were Cyatheaceae and Polypodiaceae, both with two species and the most representative
genera were Cyathea and Polypodium, both with two species too. The low number of species of
ferns can be attributed to the great deforestation of the area, with the consequent fragmentation of
habitats and exposure of the soil to sunlight. Ferns are sensitive to any deforestation, because they
require shaded and humid environments. Thus, it is suggested that there is a greater control and
monitoring of the forests of the Araripe plateau and that an environmental education campaign is
promoted to raise awareness in the local community about the importance of conserving the
Chapada do Araripe.
Key words: Pteridophytes, fountain of the Guaribas, Campo Alegre

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 163


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

As plantas vasculares sem sementes são plantas que apresentam uma marcante alternância
de gerações com uma fase gametofítica, haploide (n), efêmera, de tamanho pequeno e que não
possui tecido vascular para condução de água e nutrientes; e uma fase esporofítica, que é mais
conspícua, perene, de porte maior, diploide (2n) e dotada de tecido vascular, formando assim raízes,
caules e folhas (PRADO & SILVESTRE, 2010).
Essas plantas foram durante muito tempo agrupadas sob o nome de pteridófitas, porém, de
acordo com estudos moleculares recentes, estão incluídas em duas divisões: Monilophyta e
Lycophyta (PRYER et al., 2001; PRYER et al., 2004; SMITH et al., 2006; SMITH et al., 2008).
Essas duas divisões juntas compreendem cerca de 13.600 espécies, com 3.500 destas encontradas na
América do Sul (MORAN, 2008), e 1.325 registradas para a flora brasileira (LISTA DE ESPÉCIES
DA FLORA DO BRASIL, 2017).
Esses grupos podem ser encontrados em vários ambientes, desde desertos até florestas
tropicais (ZUQUIM et al., 2008), entretanto, é nas florestas úmidas que são mais comuns por causa
das condições de umidade e sombreamento que esses habitats propiciam, e que assim favorecem a
diversidade e abundância desse grupo de plantas (SENNA & WAECHTER, 1997; XAVIER &
BARROS, 2005).
De acordo com Paula et al. (2007), o grupo das monilófitas, ou samambaias, junto com as
licófitas, desempenham um importante papel na manutenção da umidade no interior da floresta, e
dentre outras importâncias, são utilizadas no controle da erosão do solo, algumas espécies são
utilizadas como alimento e/ou para fins medicinais, como para tratamento de verminose,
reumatismo ou úlceras. Bem como para fins ornamentais, tanto vivas como secas.
No estado do Ceará, ainda são poucos os estudos encontrados sobre esses dois grupos, sendo
estes concentrados apenas em monografias e teses de doutorado (LOPES, 2000; ALVES, 2002;
PAULA-ZÁRATE, 2004; BRITO, 2013). Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi realizar um
levantamento florístico das espécies de samambaias da Fonte das Guaribas, uma importante área de
mata úmida inserida no município de Crato, e assim contribuir para o conhecimento da diversidade
desses vegetais na região do Cariri, Sul do Ceará.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de Estudo

A Fonte das Guaribas (Figura 1), é uma zona de mata úmida inserida na Chapada do Araripe
e localizada no distrito de Campo Alegre, município de Crato – CE. Situada a 74,7 km do centro do
município, entre as coordenadas S 07º13‘11.7‖ e W 039º28‘22.4‖ e com uma altitude de 679 m.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A área vem sofrendo grande desmatamento, além de suas fontes serem utilizadas pelos
moradores para lavagem de roupas, contaminando assim, com sabão e outros produtos, as águas da
localidade também.

Figura 1 – Entrada da mata da Fonte das Guaribas, distrito de Campo Alegre, Crato - Ceará.

Coleta, Herborização e Identificação

Foram realizadas coletas mensais na Fonte das Guaribas durante o período de


novembro/2015 a novembro/2016, sendo o material biológico herborizado de acordo com
metodologia estabelecida por Windisch (1992), com testemunhos depositados no Herbário
Caririense Dárdano de Andrade Lima – HCDAL da Universidade Regional do Cariri - URCA.
A circunscrição adotada para as famílias de samambaias seguiu Smith et al. (2006) e os
nomes dos autores dos táxons foram abreviados de acordo com Pichi-Sermoli (1996).
A identificação das amostras coletadas foi realizada com base em comparações com
espécimes revisados por especialistas e depositados no Herbário Lauro Pires Xavier, da
Universidade Federal da Paraíba, assim como com base em chaves analíticas e textos especializados
como os de Paula-Zárate (2004) e Alves (2002).

RESULTADOS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na localidade da Fonte das Guaribas foram registradas oito espécies de samambaias,


distribuídas em seis famílias e seis gêneros (Tabela 1). Tais dados se aproximam aos de Brito
(2013) para o Parque Riacho do Meio em Barbalha – Ceará, onde a autora encontrou 10 espécies,
distribuídas em cinco famílias e seis gêneros, e aos de Alves (2002), que registrou uma flora de 11
espécies, distribuídas em sete famílias e oito gêneros para o sítio Grangeiro, no Município de Crato
– Ceará.
Porém o número de espécies constatado pelo presente trabalho é pouco representativo se
comparado com o resultado de outros estudos na região nordeste (SANTIAGO & BARROS,
PIETROBOM & BARROS, 2003; PIETROBOM & BARROS, 2007; FARIAS et al., 2012;
SILVESTRE & XAVIER, BARROS & XAVIER, 2013). Essa baixa diversidade de samambaias
pode ser atribuída ao desmatamento da área e a consequente fragmentação de habitats e exposição
do solo à luz solar. De acordo com Xavier & Barros (2003), qualquer desmatamento compromete
seriamente a sobrevivência dessas plantas que têm o seu ambiente natural destruído, sendo,
portanto, ótimas indicadoras do grau de preservação de áreas florestais.

Tabela 1 - Espécies de samambaias registradas na Fonte das Guaribas, distrito de Campo Alegre, Município
de Crato - Ceará.
Família/espécies
Blechnaceae
Blechnum occidentale L.
Cyatheaceae
Cyathea sp1.
Cyathea sp2.
Lygodiaceae
Lygodium venustum Sw.
Polypodiaceae
Polypodium sp1.
Polypodium polypodioides (L.) Watt.
Pteridaceae
Adiantum sp.
Thelypteridaceae
Thelypteris interrupta (Willd.) Iwastls.

As famílias registradas como mais representativas foram Cyatheaceae e Polypodiaceae, com


duas espécies cada, e os gêneros mais representativos encontrados foram Cyathea e Polypodium,
ambos também com duas espécies cada. Cyatheaceae também foi uma das famílias mais
representativas (4 spp.) no estudo desenvolvido por Brito (2013) em três áreas da Chapada do
Araripe, sendo também uma das famílias com maior número de espécies encontradas no Ceará
(cinco spp.) por Paula-Zárate (2004).
Polypodiaceae também já foi registrada em muitos estudos como uma das famílias de maior
riqueza específica, como nos trabalhos de Conceição & Ruggiere (2010), Pereira et al. (2011),
Góes-Neto et al. (2012), Barros et al. (2013), Barros & Xavier (2013) e Santiago (2014). De acordo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

com Santiago (2006), essa é uma das famílias que mais se destacam em diversidade nos
levantamentos realizados na região nordeste e em outras áreas do território brasileiro.
Cyathea é um gênero cosmopolita e também foi um dos mais representativos no estudo de
Brito (2013) para áreas também da Chapada do Araripe e áreas adjacentes, com quatro espécies. O
gênero não é comumente encontrado entre os mais representativos nos trabalhos florísticos, porém,
para o Ceará, Paula-Zárate (2004) cita apenas quatro espécies igualmente ao encontrado no trabalho
anteriormente citado. Polypodium também foi o gênero com maior número de espécies (quatro)
registrado por Xavier & Barros (2003) para a serra negra de Bezerros, em Pernambuco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo foram encontradas apenas oito espécies de samambaias, um número pouco
representativo em relação à flora já registrada em outros estudos na região, o que pode ser atribuído
à vasta degradação da mata, com a consequente fragmentação de habitats e exposição do solo ao
sol.
Assim, mediante os dados de baixa diversidade registrados, sugere-se que haja um maior
monitoramento e fiscalização na localidade, além de educação ambiental para conscientizar a
comunidade local sobre a importância de conservar a Chapada do Araripe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 170


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CHECKLIST DOS FUNGOS MICORRÍZICOS ARBUSCULARES NA REGIÃO


NORDESTE DO BRASIL

Mayara Alice Correia de MELO


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas com Ênfase em Ciências Ambientais da UFPE
maya_alice@hotmail.com
Larissa Cardoso VIEIRA
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Biologia de Fungos da UFPE
lari360@gmail.com
Daniele Magna Azevedo de ASSIS
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Biologia de Fungos da UFPE
dma.assis@gmail.com
Gladstone Alves da SILVA
Professor do Departamento de Micologia da UFPE
gladstonesilva@yahoo.com

RESUMO
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) são organismos cosmopolitas que formam com as
plantas uma associação simbiótica mutualista, disponibilizando nutrientes do solo para os vegetais.
O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento das espécies de FMA registradas na região
Nordeste do Brasil, contribuindo para o conhecimento da biogeografia deste grupo. Para isso foi
realizada uma pesquisa bibliográfica da ocorrência dos FMA nos estados nordestinos a partir de
estudos desenvolvidos em áreas naturais e cultivadas. Foi registrado um total de 140 espécies de
FMA, cerca de 50% da diversidade total conhecida. A realização deste estudo permitiu a detecção
de 15 novos registros de espécies de FMA para a região nordestina, possibilitando o aumento do
conhecimento da diversidade de FMA. Estes resultados indicam que esta região abriga elevada
riqueza de táxons, contribuindo inclusive para o conhecimento de novos taxa deste grupo,
reforçando a importância da realização de estudos sobre as comunidades de FMA.
Palavras Chave: Glomeromycotina, Diversidade, Nordeste do Brasil, Distribuição geográfica.
ABSTRACT
Arbuscular mycorrhizal fungi (AMF) are cosmopolitan organisms that do with plants a symbiotic
mutualistic association, providing nutrients from the soil to the plants. The objective of this work
was to perform a survey of FMA species recorded in the Northeast region of Brazil, contributing to
the knowledge of the biogeography of this group. For this, a bibliographical research was carried
out on the occurrence of AMF in the North American states from studies carried out in natural and
cultivated areas. A total of 140 FMA species were recorded, about 50% of the known total
diversity. The realization of this study allowed the detection of 15 new records of AMF species for
the northeastern region, making possible an increase in the knowledge of AMF diversity. These
results indicate that this region is rich in taxa, contributing to the knowledge of new groups of this
group, reinforcing the importance of conducting studies on the communities of AMF.
Keywords: Glomeromycotina, Diversity, Brazilian Northeast, Geographic distribution.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) estão classificados no filo Mucoromycota e no


subfilo Glomeromycotina (Spatafora et al., 2016), são biotróficos obrigatórios e formam com as
plantas uma simbiose mutualística, na qual há transferência dos nutrientes do solo para as plantas,
através da interação das hifas e estruturas especializadas dos fungos com as raízes, e o fungo por
sua vez recebe carboidratos do vegetal (Smith & Read, 2008). Os FMA estão presentes nos mais
diversos ecossistemas terrestres, sendo considerados organismos cosmopolitas, com ocorrências
registradas em florestas tropicais e temperadas, desertos e pradarias (Davison et al., 2015).
Atualmente, são conhecidas cerca de 300 espécies desses organismos, as quais podem se associar a
mais de 200.000 táxons vegetais, sendo esta associação, a mais comum encontrada na natureza
(Kivlin et al., 2011).
O conhecimento da composição das comunidades de FMA é essencial para a compreensão
das suas funções nos ecossistemas, uma vez que a diversidade destes fungos tem conseqüências
ecológicas significativas, pois as espécies variam em seu potencial para promover benefícios aos
vegetais, causando um forte impacto sobre a estrutura e a diversidade das comunidades de plantas
associadas (Jeffries et al., 2002), influenciando na produtividade vegetal (Wagg et al., 2015). Como
a sobrevivência dos FMA está diretamente associada às espécies vegetais, sua distribuição está
relacionada aos fatores dos hospedeiros (Antoninka et al., 2015), além de fatores bióticos e
abióticos.
A biogeografia permite a compreensão de fatores que influenciam a distribuição das
espécies no espaço, possibilitando o conhecimento de mecanismos que geram e mantêm a
diversidade (Martiny et al., 2006), de modo que esta pode ser avaliada em nível local ou regional
dependendo do tamanho da área geográfica e dos habitats analisados (Ricklefs, 2010).
A região Nordeste do Brasil compreende nove estados com predominância dos biomas
Caatinga e Mata Atlântica, incluindo os ecossistemas associados, como brejos de altitude, restinga e
mangues que podem variar desde o litoral até o interior do continente, de acordo com as condições
climáticas locais (MMA, 2017). Diante da grande variedade ambiental, diversos estudos foram
realizados para determinar a diversidade de FMA na região Nordeste, em áreas naturais e de
cultivo, a investigação desses locais permitiu que novas espécies fossem conhecidas (Goto et al.,
2012a; Mello et al., 2013; Pontes et al., 2013b; Marinho et al., 2014a; Pereira et al., 2016).
O objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento e analisar a distribuição das espécies de
FMA presentes na região Nordeste do Brasil.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATERIAL E MÉTODOS

O levantamento das espécies de FMA foi realizado através dos estudos registrados na região
Nordeste do Brasil. A bibliografia utilizada inclui Assis et al. (2016), Carneiro et al. (2012), Dantas
et al. (2015), de Souza et al. (2010), Goto et al. (2010), Goto et al. (2011), Goto et al. (2012a), Goto
et al. (2012b), Goto et al. (2013a), Goto et al. (2013b), Jobim; Goto (2016), Maia; Trufem (1990),
Marinho (2014b), Mello et al. (2012a), Melo et al. (1997) Menezes et al.(2016), Mergulhão et al.
(2009), Nobre (2014), Pagano et al. (2013), Pereira et al. (2014), Pereira et al. (2015), Pereira et al.
(2016), Pontes et al. (2013a), Pontes et al. (2013b), Pontes et al. (2017), Santos et al. (2013), Silva
et al. (2005), Silva et al. (2007), Silva (2010), Silva et al. (2012), Silva et al. (2015a), Silva et al.
(2015b), Silva et al. (2017a), Silva et al. (2017b), Souza et al. (2003), Souza et al. (2010), Souza et
al. (2012), Souza et al. (2013), Sousa et al. (2014), Teixeira-Rios et al. (2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na região Nordeste do Brasil foram encontradas 140 espécies de FMA, com a realização
deste trabalho foi possível constatar a ocorrência de aproximadamente 50% da riqueza conhecida
para esse grupo de fungo. Anteriormente, através do levantamento realizado por de Souza et al.
(2010) foram registradas 81 espécies, enquanto Silva et al. (2014) registraram 125 espécies de FMA
nessa mesma região. Portanto, a realização deste estudo permitiu um aumento de 14,4% no
conhecimento da diversidade destes fungos para o Nordeste brasileiro.
A maioria dos estudos sobre diversidade de FMA no Nordeste do Brasil tem sido realizada
em Pernambuco, onde há maior número de espécies catalogadas, seguido por Bahia e Paraíba. No
Piauí e Alagoas existem poucos registros de espécies de FMA, e apenas o estado de Sergipe
permanece sem estudos sobre a comunidade desses fungos, formando uma lacuna para a região, que
pode ser explorada para obtenção dos dados de biodiversidade.
Todas as classes, ordens e famílias dos FMA estão representadas nesta região, dos 38
gêneros conhecidos desses fungos foram observados 30 neste inventário (Tabela 1). Houve
predominância do gênero Acaulospora com 30 espécies, seguido por Glomus (21), enquanto os
demais gêneros foram menos representativos: Racocetra (10), Rhizoglomus (9), Gigaspora (6),
Ambispora, Dentiscutata e Scutellospora (5), Claroideoglomus, Entrophospora, Funneliformis,
Fuscutata, Paraglomus e Sclerocystis (5), Diversispora, Cetraspora, Pacispora e Septoglomus (3),
Corymbiglomus, Kuklospora, Paradentiscutata e Orbispora (2), Archaeospora, Redeckera,
Sacculospora, Simiglomus, Dominikia, Quatunica, Intraornatospora e Bulbospora (1).
Acaulospora e Glomus são os gêneros que possuem os maiores números de espécies
descritas (50 e 54 taxa respectivamente), maior riqueza de espécies destes taxa tem sido constatada

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

frequentemente em estudos realizados nesta região (Silva et al., 2014; Silva et al., 2015; Assis et al.,
2016; Pontes et al., 2017). Acaulospora scrobiculata foi identificada em todos os oito estados que
possuem registros de espécies de FMA. Outros táxons estiveram presentes em sete estados:
Ambispora appendicula, Acaulospora morrowiae, Glomus macrocarpum, Sclerocystis sinuosa e
Fuscutata heterogama. Segundo o levantamento realizado por de Souza et al. (2010) para as
espécies de FMA no Brasil, Acaulospora morrowiae, A. scrobiculata, Ambispora appendicula,
Glomus macrocarpum, Sclerocystis sinuosa são espécies de ampla distribuição geográfica no país,
pois estão presentes na maioria dos Estados. Além disso, as espécies citadas acima, somadas a
Fuscutata heterogama foram identificadas em mais de 70% de ambientes analisados.
Espécies recentemente descritas (a partir de 2014) com material da região representam
novos registros para a ciência: Acaulospora reducta, Acaulospora minuta, Acaulospora papillosa,
Bulbospora minima e Rhizoglomus natalensis. Além destas, Ambispora reticulata,
Claroideoglomus lamellosum, Corymbiglomus tortuosum, Gigaspora rosea, Orbispora
projecturata, Pacispora robigina, P. franciscana, Paraglomus laccatum, Racocetra alborosea e
Rhizoglomus arabicum são novas ocorrências para o Nordeste, totalizando 15 registros inéditos.
Na região Nordeste, alguns gêneros foram representados por 100% das espécies que os
compõe: Bulbospora, Entrophospora, Intraornatospora, Kuklospora, Orbispora, Paradentiscutata,
Quatunica, e Simiglomus, sendo estes formados por uma ou duas espécies apenas. Acaulospora,
Claroideoglomus, Rhizoglomus, Gigaspora, Sclerocystis e Scutellospora foram representados por
60 a 67% das espécies conhecidas, enquanto que para Racocetra e Fuscutata foram encontrados
>80% dos táxons descritos para esses gêneros (Tabela 1).
Quatro gêneros (Bulbospora, Intraornatospora, Orbispora e Paradentiscutata) e 16
espécies foram descritos a partir de material coletado em áreas da região Nordeste: Acaulospora
reducta Oehl et al. (Pereira et al., 2015), A. papillosa C.M.R. Pereira & Oehl (Pereira et al., 2016),
A. endographis B.T. Goto), Bulbospora minima Oehl et al. (Marinho et al., 2014a), Dentiscutata
colliculosa B.T. Goto & Oehl (Goto et al., 2010), Fuscutata aurea Oehl et al. (Mello et al., 2012),
Glomus trufemii Goto et al. (Goto et al., 2012a), Intraornatospora intraornata (B.T. Goto & Oehl)
Goto et al. (Goto et al., 2012b), Orbispora pernambucana Oehl et al. (Oehl et al., 2011),
Paraglomus pernambucanum Oehl et al. (Mello et al., 2013), Paradentiscutata maritima Goto et al.
(Goto et al., 2012b), P. bahiana Goto et al. (Goto et al., 2012b), Racocetra tropicana Oehl et al.
(Goto et al., 2011), Rhizoglomus natalense (Błaszk. et al.) Sieverd. (Sieverding et al., 2014),
Septoglomus titan B.T. Goto & G.A. Silva (Goto et al., 2013b) e Scutellospora alterata Oehl et al.
(Pontes et al., 2013).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 174


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Classes (3) Ordens (5) Famílias (15) Gêneros (30)

*Nº de espécies Representatividade


(%)**
Paraglomeromycetes Paraglomerales Paraglomeraceae Paraglomus (4) 50

Archaeosporomycetes Archaeosporales Archaeosporaceae Archaeospora (1) 33

Ambisporaceae Ambispora (5) 45


Dominikia (1) 9
Funneliformis (4) 36,4
Glomus (21) 38,8
Glomeraceae Rhizoglomus (9) 64
Sclerocystis (5) 62,5
Septoglomus (3) 27,3
Glomerales Simiglomus (1) 100
Claroideoglomus (4) 67
Entrophosporaceae Entrophospora (1) 100

Racocetraceae Cetraspora (3) 37,5


Racocetra (10) 83,3
Dentiscutata (5) 55
Dentiscutataceae Fuscutata (4) 80
Quatunica (1) 100
Glomeromycetes Gigasporales Intraornatosporaceae Intraornatospora (1) 100
Paradentiscutata (2) 100
Gigasporaceae Gigaspora (6) 66
Bulbospora (1) 100
Scutellosporaceae Orbispora (2) 100
Scutellospora (5) 62,5
Pacisporaceae Pacispora (3) 37,5
Sacculosporaceae Sacculospora (1) 50
Acaulosporaceae Acaulospora (29) 60
Diversisporales Kuklospora (2) 100
Corymbiglomus (2) 50
Diversisporaceae Diversispora (3) 16
Redeckera (1) 16,7
Total 140
Tabela 1. Espécies de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) registradas na região Nordeste do Brasil. *Número de
espécies por gênero registrado no Nordeste do Brasil. **Representatividade (%) de espécies registradas no Nordeste do
Brasil em relação ao número total de espécies descritas.

CONCLUSÕES

Foram relatados 15 novos registros de espécies de FMA para o Nordeste brasileiro,


indicando que esta região abriga elevada riqueza de táxons destes fungos. O aumento do
conhecimento da biodiversidade propicia maiores chances e vantagens na manutenção e
preservação dos ecossistemas nordestinos. Os resultados reforçam a importância da realização de
estudos sobre os FMA em áreas desta região, especialmente nas que permanecem com esta
diversidade ainda desconhecida, os dados gerados podem ser usados como base para políticas
públicas de conservação destes locais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 175


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 180


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO DAS ESPÉCIES VEGETAIS NA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, CERES-CAICÓ

Paulo Jerônimo Lucena de OLIVEIRA


Graduando do curso de Geografia pela UFRN/Campus de Caicó
Paulojeronimo.geo@gmail.com
Carlos Roberto da SILVA FILHO
Graduando do curso de Geografia pela UFRN/Campus de Caicó
carloslamma@gmail.com
Mioquides de Souza MEDEIROS
kidsmedeiros07@gmail.com
Diógenes Félix da Silva COSTA
Professor do departamento de Geografia da UFRN/Campus de Caicó
diogenes.costa@pq.cnpq.br

RESUMO
O Campus de Caicó da UFRN localiza-se na zona urbana de Caicó na microrregião do Seridó
Ocidental do Estado do Rio Grande do Norte. Percebeu-se que boa parte de sua área dispõe de
vegetação da Caatinga, bioma nativo onde a área de estudo em questão está inserida. Sabendo que
em meio a zonas urbanas, existe pouca vegetação nativa de Caatinga por serem poucas as espécies
da mesma usadas na arborização e também da importância de obter-se mais estudos sobre seu
bioma, o presente trabalho teve como objetivo elaborar um levantamento quantitativo de todos os
espécimes de porte arbustivo-arbóreo presentes nas delimitações do campus, quantificando também,
espécies exóticas utilizadas na arborização e outras que estão espontaneamente dentro de seu
território. Foram catalogados 1899 indivíduos, divididos em 34 espécies, 14 famílias, sendo elas:
Euphorbiaceae, Anacardiaceae, Annonaceae, Apocynaceae, Arecaceae, Bignoniaceae, Cactaceae,
Meliaceae, Brassicaceae, Chrysobalanaceae, Combretaceae, Myrtaceae, e a Rhamnaceae. A família
Fabaceae merece destaque, por ter 11 espécies representadas, concretizando como a Família com
mais indivíduos da vegetação no campus. A espécie com mais indivíduos foi a Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poir. Fabaceae-Mimosoideae (jurema preta) com 763 indivíduos, equivalendo a 40,2% de
todas as espécies encontradas, e logo em seguida a Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Euphorbiaceae
(pião bravo) com 629 espécimes, representando 33,1% das espécies. Constatou-se que o Campus de
Caicó apresenta uma considerável representatividade ecológica das espécies nativas devido ao
elevado números de espécies, podendo ser inserido como uma Área de Preservação Permanente
(APP).
Palavras-Chave: Caatinga; Seridó-Potiguar; CERES-Caicó.
ABSTRACT
The Campus from Caicó of UFRN is placed on urban area of Caicó in a micro area of the state Rio
Grande do Norte that is called Seridó Ocidental. Was seen that a big area from this place have the
vegetation Caatinga, that is the native biome from where the study area is located. Is understanded
that under the urbans areas, there is not so much vegetation native of Caatinga because there are just
a bit species of it used in the afforest and is important too gain more studies about your biome, the
present work had the objective of make a quantitative pool of all species of bushs in campus
perimeter, counting exotic species that has been used to afforest and others that are under them
territory. Was cataloged 1899 types, being 34 sepcies, 14 family's, like: Euphorbiaceae,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 181


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Anacardiaceae, Annonaceae, Apocynaceae, Arecaceae, Bignoniaceae, Cactaceae, Meliaceae,


Brassicaceae, Chrysobalanaceae, Combretaceae, Myrtaceae, e a Rhamnaceae. The Fabaceae family
needs a spotlight, it have 11 species presented, so they are the family with most subjects of
vegetation on campus. The specie with more subjects was Mimosa Tenuiflora(Wild.) Poir.
Fabaceae-Mimosoideae (Jurema Preta) with 763 subjects, being 40,2% of all species found, right
next the Jatropha presents a bigeco-representativeness of native species because of the high number
of species, might be inserted like a Área de Preservação Permanente (APP).
Keywords: Caatinga; Seridó-Potiguar; CERES-Caicó.

INTRODUÇÃO

Devido ao crescimento desordenado, as cidades estão se desenvolvendo de forma não


planejada, fazendo com que áreas de vegetação nativa sejam afetadas gradativamente, sendo que
este fato traz problemas não só aos componentes vegetais, mas aos próprios residentes da zona
urbana. De acordo com Machado (2013), espaços integrantes do sistema de áreas verdes de uma
cidade exercem, em função do seu volume, distribuição no espaço, densidade e tamanho, inúmeros
benefícios ao seu entorno e àqueles que as utilizam. Evidenciando os benefícios obtidos das áreas
verdes aos residentes da zona urbana, pode-se citar redução térmica e também desempenharem um
importante papel na diminuição da poluição atmosférica.
Com base nestes fatores, ao que se refere às cidades interioranas do Nordeste brasileiro que
predomina o bioma Caatinga, outro ponto que deve ser levado em consideração, é que estas cidades
pouco são arborizadas com espécies nativas.
Dando ênfase a o que foi dito em relação a trechos urbanos das cidades rodeadas pela
vegetação da Caatinga, o Campus da UFRN em Caicó/RN chama atenção pela sua extensa área com
presença de vegetação nativa, levando-se em conta o fato de que ele está inserido dentro da cidade
de Caicó-RN.
A vegetação de Caatinga é caracterizada por apresentar diferentes tipologia vegetal,
principalmente se tratando de porte e densidade das plantas. Segundo Amorim (2005) no Bioma
Caatinga, em mudanças de escala local com poucas dezenas de metros, é fácil uma variação de
ambiente claramente identificável, por exemplo: em ambientes serranos e de vales, consiste em uma
vegetação de maior porte, e menor porte em um ambiente de lajedos e solos rasos, por consequência
de maior ou menor estresse hídrico.
A Caatinga do Seridó se destaca por estar inserida dentro de um núcleo de desertificação
devido ao baixo nível de pluviosidade e forte presença da ação antrópico com o processo de
ocupação do espaço e industrialização, formando heterogeneidades na sua vegetação (Perez-Mari et
al, 2012).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 182


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A região do Seridó, apresenta um solo pouco desenvolvido, segundo Duque (2004) afirma
que o solo do Seridó é muito pedregoso, ou seja, muito erodido, parcialmente coberto de seixos
rolados. É por causa dessas características que o Seridó Potiguar está inserido dentro dos 4 núcleos
de desertificação do Brasil (MMA, 2004).
Com chuva se concentrando no primeiro semestre do ano, sendo mais frequentes nos meses
de fevereiro e março e abril. Em Caicó, a média anual segundo SUDENE (1990) é de
aproximadamente 684 milímetros anuais, com uma altitude de 143 metros ao nível do Mar, com
uma temperatura média anual de 26,7 °C.
Caicó está inserido na mesorregião central potiguar, dentro da microrregião Ocidental do
Seridó, inserido dentro no polígono das secas, com uma vegetação predominantemente de Caatinga.
No CERES de Caicó, é notável a presença das espécies de Caatingas, pois são elas que
predominam por quase toda a área de estudo, sendo utilizada também no reflorestamento
juntamente com as exóticas e invasoras, como por exemplo: Tabebuia aurea (Caibreira), Licania
rigida (Oiticica), Copernícia prunifera (Carnaúba), Miracroduon urundeuva (Aroeira), e a
Caesalpinia ferrea (Jucá).
Visando ampliar os conhecimentos sobre o tema, o estudo teve como objetivo o
conhecimento da vegetação em área de fragmento de caatinga, no Seridó potiguar, inserido na
Universidade federal do rio Grande do Norte, Campus de Caicó, contribuindo para o planejamento
de uma área de preservação permanente.

2- MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de Estudo

O Trabalho foi realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Campus de


Caicó-RN. Localizado na mesorregião Central, inserido na região semiárida do sertão potiguar, na
microrregião do Seridó Ocidental do Estado do Rio Grande do Norte na cidade de Caicó-RN, (6°27'
S e 37°5' O) (figura 01).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 183


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 01: Mapa de localização – UFRN - CERES, Caicó-RN

De acordo com a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Rio Grande do Norte


(SERHID, 1998) a Geologia da Depressão Sertaneja é relacionada a litologias Pré-Cambrianas dos
complexos Caicó e Seridó, sobressaindo-se migmatitos, gnaisses migmatizados, quartzitos,
calcários cristalinos, entre outros, com os topos dos Planaltos Residuais se caracterizando por
sedimentos relacionados à Formação Serra dos Martins, do Terciário, onde se destacam arenitos
caulínicos e arenitos ferruginosos.
A temperatura média anual da região situa-se entre 26 e 28ºC, a insolação é de 3.240
horas/ano, a umidade relativa do ar gira em torno de 64% e a precipitação pluviométrica média
anual varia entre 645 e 750 mm, com uma taxa alta de evapotranspiração (SEPLAN, 2000).
A estação chuvosa é curta e concentrada entre os meses de janeiro e maio (87% do total de
precipitação total do ano), com chuvas esparsas e irregulares (DUQUE, 2004 MEDEIROS, 2004;),
com presença de grandes cheias no período de aproximadamente 10 em 10 anos. O objeto de estudo
tem uma área de aproximadamente 320 metros quadrados, inserido como agente modelador fixo da
paisagem, pela a dinâmica que o envolve com os processos de migração de alunos e funcionários
que diariamente habitam esse local.
Trata-se de uma pesquisa de identificação quantitativa das espécies vegetais do estrato
arbustivo-arbóreo da Caatinga e plantas exóticas inseridas como arborização ou que estão
espontaneamente dentro das limitações do campus-Caicó.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 184


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2.2 Procedimentos Metodológicos

Primeiramente realizou-se uma revisão bibliográfica, com vista à obtenção de aporte teórico
sobre os procedimentos a serem desenvolvidos e sobre os métodos adotados dentro da temática da
pesquisa.
Em seguida, foram realizadas visitas in loco na área de estudo para catalogar todos os
indivíduos do estrato arbustivo-arbóreo, onde foram utilizadas fitas de isolamento de áreas em
forma de quadrantes, com uma área de aproximadamente 10 metros quadrados para obter controle
da quantificação dos indivíduos de cada espécie.
Na construção dos mapas, foram utilizados arquivos vetoriais referentes aos logradouros do
município disponível no sítio do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foram
coletados diversos pontos de Coordenadas com o suporte do GPS do tipo Garmim Portátil Montana
650 onde esses dados foram espacializados com os softwares Google Earth Pro 2015 e o ArcGIS
10.3 (ArcMap) versão acadêmica. Utilizou-se também uma Câmera fotográfica da marca NIKON
com a finalidade de obter fotografias para identificação de espécies.
Na parte de gabinete, inicialmente foram tabulados os dados utilizando o Software Excel
2016 da Microsoft, onde foram separados por nome científico da espécie, sua família, e em nome
popular. Em seguida gerou-se uma tabela com todos a tabulação dos dados. Na identificação das
famílias, foram separadas por cada uma espécie, onde gerou um produto do tipo gráfico de pizza,
para que fosse possível encontrar a família dominante. Na escrita do trabalho, utilizamos o
programa da Microsoft, o Word também na versão 2016.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a análise de campo, a flora local é classificada como caatinga Savana-
Estépica hiperxerófila, com solos rasos que cobrem rochas do embasamento cristalino com presença
de solo exposto cuja fisionomia é caracterizada por árvores de pequeno porte, frequentemente com
altura inferior a 6,0 m, apresentando distribuição esparsa e menor número de espécies quando
comparada a outros tipos de caatingas (IBGE, 2012).
Para a identificação das espécies vegetais encontradas no CERES-Caicó, foi adotado uma
altura mínima de 1,6 metro, onde a partir dessa altura foram identificados 1.899 espécimes em toda
a área do CERES. Pôde-se constatar a presença de 34 espécies vegetais dentre das quais podemos
destacar as espécies mais predominante: Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Fabaceae-Mimosoideae
(Jurema preta) com 763 indivíduos, equivale a mais de 40% de toda as espécies encontrada no
CERES, e logo em seguida a Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Euphorbiaceae (Pião bravo) com 629
espécimes, equivale a aproximadamente 33% das espécies (ver tabela 01).

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Tabela 01: Espécies encontradas no CERES-Caicó


Nome Científico Família Nome popular N° de indivíduos Valor %

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Fabaceae-Mimosoideae Jurema preta 763 40,2%


Jatropha mollissima (Pohl)
Baill. Euphorbiaceae Pião bravo 629 33,1%
Prosopis juliflora (Sw) DC. Fabaceae-Mimosoideae Algaroba 108 5,7%
Pilosocereus gounellei (Weber). Cactaceae Xique-xique 64 3,4%
Azadirachta indica A. Juss. Meliaceae Nin 62 3,3%
Aspidosperma pyrifolium Mart. Apocynaceae Pereiro 46 2,4%
Tabebuia aurea (Silva Manso)
S. Moore. Bignoniaceae Caibreira 39 2,1%
Cereus jamacaru DC. Cactaceae Mandacaru 28 1,5%
Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul.
Var. Fabaceae-Caesalpinoideae Jucá 28 1,5%
Combretum leprosum Mart. Combretaceae Mufumbo 21 1,1%
Bauhinia forficata Link. Fabaceae Mororó-branco 18 0,9%
Cnidoscolus urens L. Euphorbiaceae Urtiga 12 0,6%
Cnidoscolus quercifolius Pohl. Euphorbiaceae Faveleira 11 0,6%
Ziziphus joazeiro Mart. Rhamnaceae Juazeiro 11 0,6%
Cabralea canjerana (Vell.)
Mart. Meliaceae Cajarana 7 0,4%
Crateva tapia L. Brassicaceae Trapiá 6 0,3%
Piptadenia stipulacea (Benth.)
Ducke. Fabaceae-Mimosoideae Jurema branca 6 0,3%
Ricinus communis L. Euphorbiaceae Carrapateira 6 0,3%
Calotropis procera (Willd.) Apocynaceae Papai noel 6 0,3%
Spondias purpurea L. Anacardiaceae Siriguela 6 0,3%
Tamarindus indica L. Caesalpiniaceae-Fabaceae Tamarindo 3 0,2%
Cocos nucifera L. Arecaceae Coqueiro 3 0,2%
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex
DC.) Bignoniaceae Pau-d'arco 3 0,2%
Erythrina verna Vell. Conc. Fabaceae-Papilionoideae Mulungu 2 0,1%
Angico
Anadenanthera colubrina (Vell.) Fabaceae-Mimosoideae vermelho 2 0,1%
Myracrodruon urundeuva Fr. Anacardiaceae Aroeira 1 0,1%
Bauhinia variegata L. Fabaceae Mororó-roxo 1 0,1%
Enterolobium contortisiliquum
(Vell.) Fabaceae-Mimosoideae Timbaúba 1 0,1%
Copernicia prunifera (Miller). Arecaceae Carnaúba 1 0,1%
Licania rigida Benth. Chrysobalanaceae Oiticica 1 0,1%
Anacardium occidentale L. Anacardiaceae Cajueiro 1 0,1%
Psidium guajava L Myrtaceae Goiabeira 1 0,1%
Annona squamosa L. Annonaceae Pinheiro 1 0,1%
Poincianella pyramidalis Tul. Fabaceae-Caesalpinoideae Catingueira 1 0,1%
TOTAL: 1899 100%

A partir desses dados, foi possível notar que as espécies M. tenuifloea e a J. molíssima são
responsáveis por mais de 73% de todas as espécies. Isso comprova que a vegetação do campus é
dominada basicamente por essas duas espécies. As outras espécies não representam um número
elevado de espécies, apenas a P. juliflora (algaroba) juntamente com as já citadas acima atingiram
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 186
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

um número superior a 100 espécies, as demais espécies representam um número bem abaixo das
espécies com o maior número, tendo as espécies M. urundeuva (Aroeira), B. variegata, (Mororó-
roxo), E. contortisiliquum (Timbaúba), C. prunifera (Carnaúba), L. rigida (Oiticica), A. occidentale
(Cajueiro), P. guajava (Goiabeira), A. squamosa (pinheiro), C. pyramidalis (Catingueira)
registradas com apenas 1 indivíduo, representando assim apenas 0,1% do valor total.
A partir dos dados tabulados, dividimos as espécies em suas respectivas famílias, onde
tivemos o valor de 14 famílias, são elas: Euphorbiaceae, Anacardiaceae, Annonaceae,
Apocynaceae, Arecaceae, Bignoniaceae, Cactaceae, Meliaceae, Brassicaceae, Chrysobalanaceae,
Combretaceae, Myrtaceae, e a Rhamnaceae. A família fabaceae merece destaque, pois são mais de
11 espécies dessa família, concretizando como a Família dominante da vegetação no Campus.
As famílias com maiores números de representantes foram as Fabaceae com mais de 31%, a
Euphorbiaceae com aproximadamente 11%, e a Anacardiaceae com 8%, somando essas famílias,
elas representam mais de 50% de toda a família encontrada no Campus. As demais famílias
representam um número menor de espécies, tendo com as famílias Brassicaceae, Chrysobalanaceae,
Combretaceae, Myrtaceae, Rhamnaceae com apenas uma espécie (Ver figura 02).

Famílias encontrada no CERES


3%
3% 3%
3%3%
6% 31%
6%
6%
6%
11%
6%
5% 8%

1. Fabaceae 2. Euphorbiaceae 3. Anacardiaceae 4. Annonaceae

5. Apocynaceae 6. Arecaceae 7. Bignoniaceae 8. Cactaceae

9. Meliaceae 10. Brassicaceae 11. Chrysobalanaceae 12. Combretaceae

13. Myrtaceae 14. Rhamnaceae

Figura 02: Gráfico do tipo pizza das famílias vegetais do CERES

DISCUSSÃO

Em um trabalho realizado no núcleo de desertificação o núcleo de desertificação do Seridó


(RN/PB) realizado por Costa, Thomaz C. et al. (2009) eles dividiram o Seridó em 16 fragmentos,
onde foram amostrados 3472 indivíduos, identificadas 15 famílias e 31 espécies. Onde podemos
perceber que eles obtiveram apenas 1 família a mais do que o nosso resultado.

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Nos levantamentos feitos por Amorim et al (2005) na estação ecológica do Seridó, ele
afirma que há uma ―grande‖ riqueza e diversidade florística com 3. 4247 indivíduos sendo
distribuídos em apenas 16 espécies e 10 famílias no Campus foram constatados que há em torno de
34 espécies distribuídas por todo o seu espaço.
Em uma análise realizado por Andrade et al (2005) no município de São João do Cariri
estado da Paraíba, a flora arbustivo-arbórea estudadas foram registrados 910 indivíduos,
representada por 8 famílias, e 16 espécies.
Em uma análise fitossociológica no agreste Paraibano, dentro de um remanescente florestal
arbustivo-arbóreo, Pereira, et al (2002) de acordo com a sua análise dos dados, foram registrados
um conjunto florístico de 1952, representado por 54 espécies, e 22 famílias. Dessas 22 famílias, 12,
ou seja, mais da metade foram representadas por apenas uma espécie. As famílias com maior
número de espécies foram Mimosaceae e Euphorbiaceae. Isso mostra que em diferentes ambientes,
seja em regiões mais úmidas ou na depressão sertaneja, a família Euphorbiaceae consegue se
adaptar e se proliferar, mantendo entre as famílias mais dominantes da Caatinga.
Araújo et al (2012) em uma área de Caatinga degradada no Seridó paraibano, em uma
fazenda situada no município de Santa Luzia, estado da Paraíba, de acordo com os dados de campo,
foram catalogados 545 indivíduos, distribuídos em 20 espécies vegetais dentro de 12 família. Tendo
a espécie M. tenuiflora como a espécie dominante com cerca de 49, 83% das demais espécie. Nota-
se que a presença da ação antrópica em esses dois ambientes (tanto no Campus como na fazenda)
tornou-se um agente modelador da paisagem, pois a M. tenuiflora é uma espécie pioneira de áreas
degradadas. Podemos notar que mesmo sendo em ambientes diferentes, suas peculiaridades
existem, como por exemplo: o número bastante elevado de uma única espécie, a M. tenuiflora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento quantitativo das espécies vegetais elaborado no CAMPUS de Caicó


apresenta sua composição florística constituída basicamente por espécies da Caatinga hiperxerófila,
com ocorrência de espécies exóticas introduzidas para a arborização, a exemplo da A. indica (Nim)
e outras que ocorrem espontaneamente, como por exemplo a ocorrência da P. juliflora (Algaroba).
De uma forma geral, a vegetação da área de estudo é composta por extrato arbustivo‐arbóreo
que em sua maior parte apresenta espécies de médio porte. Constatou‐se, que área abriga um grande
número de espécimes, adversa de um ambiente urbano.
Levando em consideração esse trabalho, o Campus de Caicó seria uma área de grande
importância para a conservação e diversidade de espécies, pois a área apresenta uma grande riqueza
na diversidade de espécies, podendo ser aplicada uma Área de Preservação Permanente (APP), para
que se possa conservar essa grande riqueza de inúmeros de espécies.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó e ao LAMMA –


Laboratório Multiusuário de Monitoramento Ambiental (UFRN – Campus de Caicó), pelo apoio
logístico e instrumental. A PROPESQ/UFRN (PIG – 13692/2016 e PVF – 13748/2016), ao CNPq
(MCTI/CNPQ/Universal Proc.447227/2014-9), ao CERES – Centro de Ensino Superior do Seridó e
ao LAMMA – Laboratório Multiusuário de Monitoramento Ambiental (UFRN – Campus de
Caicó), pelo apoio logístico e instrumental.

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Volume 1 (Diagnóstico). Caicó – RN, 30 de setembro de 2000.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 190


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO E ESTRUTURAL DE UM FRAGMENTO DE


CAATINGA E SEU POTENCIAL DE CAPTURA DE CARBONO

Pedro Henrique Freitas OLIVEIRA


Graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitário do IFCE - Bolsista do LEEABC
henriquehameson@gmail.com
Lucas da SILVA
Professor do IFCE - Campus Quixadá
Ronny Cruyjff Dias dos SANTOS
Estudantes do curso Técnico em Meio Ambiente do IFCE - Bolsistas do PIBICJr/CNPq/IFCE
Samuel Cabral Da SILVA
Estudantes do curso Técnico em Meio Ambiente do IFCE - Bolsistas do PIBICJr/CNPq/IFCE

RESUMO
O conhecimento dos aspectos florísticos e ambientais das espécies nativas dos biomas brasileiros,
pode ser um instrumento eficaz para elaboração de estratégicas ambientais sustentável para
minimizar dos impactos antrópicos nos espaços naturais, principalmente utilizar no melhoramento
dos estudos da Caatinga no semiárido brasileiro. O objetivo principal deste trabalho é realizar o
inventário florístico e estrutural de um fragmento de caatinga no IFCE campus Quixadá, identificar
e classificar, a flora da área de estudo, georeferrênciar espacialmente as espécies da flora, mapear as
espécies da flora. Preliminarmente conclui-se que o inventário florestal estrutural da área do campus
IFCE é um primeiro passo para uma série de benefícios para o ambiente e um bom conhecimento
acadêmico. O levantamento florístico constitui-se um instrumento estratégico para a mitigação dos
impactos antrópicos nas áreas de remanescentes de caatinga.
Palavras-Chave: CO2. Caatinga. Levantamento Florístico.
ABSTRACT
Knowledge of the floristic and environmental aspects of native species of Brazilian biomes can be
an effective tool for the elaboration of sustainable environmental strategies to minimize anthropic
impacts in natural spaces, mainly to improve Caatinga studies in the Brazilian semiarid region. The
main objective of this work is to carry out the floristic and structural inventory of a caatinga
fragment at the IFCE campus Quixadá, to identify and classify the flora of the study area,
georeferrênciar spatially the species of the flora, to map the flora species. It is preliminary to
conclude that the structural forest inventory of the IFCE campus area is a first step towards a
number of environmental benefits and good academic knowledge. The floristic survey constitutes a
strategic instrument for the mitigation of the anthropic impacts in the areas of caatinga remnants.
Keywords: CO2. Caatinga. Floristic Survey.

INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios da humanidade atual é a definição de um modelo de
desenvolvimento sustentável, que possa adelgaçar ações antrópicas causadores de impactos
ambiental do planeta. Tendo em vista, que o desequilíbrio ambiental que está acontecendo, decorre

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 191


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

das ações provocadas por seres humanos, sendo os grandes respondíveis de poluição e
contaminação dos espaços naturais, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis para a
produção de energia e extração dos recursos naturais. O reconhecimento de que é importante
preservar o meio ambiente, passando a ser objetivo de interesse de todos, exige de todos, um
comprometimento sustentável ainda maior como condicionantes para sobrevivência do homem.
O início de levantamentos fitossociológicos na caatinga deu-se a partir de uma série de
inventários florestais realizados por Tavares et al. (1969a; 1969b; 1970; 1974a; 1974b; 1975) na
finalidade de determinar o potencial madeireiro (Carvalho, 1971; Girão e Pereira, 1971; Sudene,
1979). Posteriormente as pesquisas tiveram como objetivos estabelecer padrões de vegetação e
florísticos, ou correlacionar fatores ambientais com as características estruturais da vegetação
(Gomes, 1979; Araújo et al., 1995).
Nesse sentido os inventários florestais devem ser executados periodicamente para permitir
ao proprietário ou ao gerente florestal a planificação das atividades em função das mudanças
ocorridas em determinados períodos de tempo considerado. Avaliar o crescimento, as mudanças
ocorridas após a exploração florestal, planejar a produção e os tratamentos silviculturais visando o
equilíbrio e a recuperação das florestas, exigem trabalhos árduos de campo.
Por isso tem-se como objetivo principal realizar o inventário florístico e estrutural de um
fragmento de caatinga no IFCE campus Quixadá, identificar e classificar, a flora da área de estudo,
georeferrênciar espacialmente as espécies da flora, mapear as espécies da flora.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em um fragmento de vegetação do bioma caatinga, localizado na


área pertencente ao de Quixadá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
Em uma área de amostragem de aproximadamente 90.000 m2 na Av. José de Freitas Queiroz, 5000,
sob coordenadas de latitude: -4.977819° e longitude: -39.057674.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1– Imagem mostrando o campus IFCE-Quixadá. Fonte: Google Earth, Satélite Quickbird 2016.

Para o levantamento florístico, foram utilizados em clinômetro para medir a altura de todos
os indivíduos maiores de um metro. Todos esses indivíduos foram georeferenciados como GPS.
Para determinação dos parâmetros fitossociológicos foram quantificados, em cada parcela, todos os
indivíduos vivos que com Circunferência à Altura da Base (CAB) > a 9 cm e altura (h) > a 100 cm
(Rodal, 1992).
A estimativa da biomassa foi realizada usando-se o método não destrutivo. Esse método, que
não exige a derrubada das árvores da floresta é, muitas vezes, considerado a alternativa mais precisa
do que o método direto, visto que neste último as informações obtidas costumam vir de parcelas de
pequeno tamanho, em pequeno número e selecionadas de forma intencional, geralmente em áreas
que sejam mais representativas do todo (BROWN et al., 1989, RIBEIRO et al., 2009). A biomassa
será calculada de acordo com a equação alométrica proposta por Chave (2005). O valor de
densidade básica das espécies foi obtido em literatura específica (LORENZI, 1992,1998, 2003;
CHAVE et al., 2009; ZANNE et al., 2009.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 139 indivíduos de 14 famílias diferentes, constatando uma espécie como
Credrela fissilis da família Miliaceae com 1 indivíduo. E outros em grande quantidade como os da
família Anacardiaceae. Foram consideradas somente as áreas sem edificações perfazendo 35 mil
metros quadrados de parcelas, abrangendo 40% da área total do campus Quixadá.

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Tabela 1
Famílias Biomassa (kg) Indivíduos Porcentagem (%) Carbono (kg)
Anacardiaceae 83590,06 35 41795,03
25,36
Arecaceae 50282,46 33 25141,23
23,91
Boraginaceae 5,608941 2 2,80
1,45
Brassicaceae 1993,466 8 996,73
5,80
Caparaceae 11,93127 2 5,96
1,45
Euphorbiaceae 10,23963755 2 5,11
0,72
Fabaceae 1230,97 18 615,48
1,45
Fabaceae -Mimosoideae 39739,39 20 19869,69
13,04
Leguminose 224,50 2 112,25
14,49
Malpighiacea 22,7 2 11,35
1,45
Malvaceae 1372,80 3 686,402
0,72
Miliaceae 6,01 1 3,0078
2,17
Rhamnaceae 24,25 3 12,129
2,17
Rubiaceae 65,87 8 32,9388
5,80
Fonte: Autor, 2017.

Podemos perceber na tabela a distribuição de acordo com as famílias das espécies seguido
da biomassa por família, número de indivíduos, porcentagem e kg de carbono obtidos a partir da
compilação dos dados em planilha do Microsoft Excel® para calcular os dados a partir dos métodos
citados em literatura. Assim, podemos perceber que temos como o maior representante de biomassa
a família Anacardiaceae que tem 21 espécies de Mangifera indica de grande ponte. A segunda
família Arecaceae com quase 24% da biomassa que tem sua principal espécie a Archontonphoenix
(Palmeira real) de grande porte, dessa forma, percebemos que as maiores biomassas do local
estudado são de espécies que não pertencem ao bioma Caatinga, pois as outras espécies são de
pequena significância quando comparado às nativas no quesito estoque de carbono.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos identificar dados importantes para a mensuração estimada das diversas espécies da
Caatinga, Porém a técnica usada não nos permite uma grande exatidão, pois não temos densidades
específicas das árvores do local, tendo em visto a pouca quantidade de indivíduos por hectare. Com
isso, podemos perceber que ainda se carece de estudos específicos de metodologia para mensuração
de biomassa em ambientes antropizados e com espécies invasoras. Assim sendo, o trabalho se trona
relevância estratégica para o aprofundamento de estudos de inventário florístico e estrutural nesse
nicho tão importante das instituições de ensino no nosso país, contribuindo para o avanço da
sustentabilidade em ambientes acadêmicos para servir de modelo de gestão ambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS
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TAVARES, S.; PAIVA, F. A.F.; TAVARES, E. J. de. S.; CARVALHO, G. H. de. Inventário florestal
na Paraíba e no Rio Grande do Norte. I. Estudo preliminar das matas remanescentes do Vale do
Piranhas. Recife, PE: SUDENE, 31 p. 1975. (SUDENE. Série Recursos Naturais 3

TAVARES, S.; PAIVA, F. A.F.; TAVARES, E. J. de. S.; LIMA, J. L. S. de. Inventário florestal do
Ceará. III. Estudo preliminar das matas remanescentes do município de Barbalha. SUDENE.
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 196


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EMPREGO DO PREDADOR Euborellia annulipes NO CONTROLE BIOLÓGICO DO


PULGÃO Brevicoryne brassicae SOB DIFERENTES TEMPERATURAS

Thais Aparecida Vitoriano DANTAS


Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Graduando do Curso de Ciências Biológicas
thaisvitorianodantas@gmail.com
Robério de OLIVEIRA
Universidade Federal da Paraíba - UFPB. PNPD do curso de Pós-graduação em Agronomia
roberio_b19@yahoo.com.br
Mileny dos Santos de SOUZA
Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Graduanda do Curso de Agronomia
mileny.lopes67@gmail.com
Jacinto de Luna BATISTA
Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Professor do DFCA- UFPB
jacinto@cca.ufpb.br

RESUMO
O estudo avaliou a predação de Euborellia annulipes quando alimentada com pulgões Brevicoryne
brassicae em três temperaturas. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Entomologia
do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais da Universidade Federal da Paraíba,
Areia/PB. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial.
A pesquisa foi realizada em câmaras climatizadas, nas temperaturas de 25, 30 e 35 ± 1ºC, umidade
relativa de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. A predação foi avaliada para ninfas de 1º e 3º instares
do predador E. annulipes, tendo como presa, ninfas de 1º e 2º instares e adulto de B. brassicae, com
10 repetições por tratamento. O maior consumo de B. brassicae por ninfas de E. annulipes ocorreu
para ninfas de 1º ínstar do pulgão.
Palavras-chave: Consumo, Dermáptero, Inseto-praga.
ABSTRACT
The study evaluated the predation of Euborellia annulipes when fed with aphids Brevicoryne
brassicae in three temperatures. The experiment was conducted in the Laboratory of Entomology,
Department of Plant Science and Environmental Science of the Federal University of Paraíba,
Areia/PB. We used the experimental design completely randomized with factorial scheme. The
search was realized in air-conditioned chambers at temperatures of 25, 30 and 35 ± 1ºC, 70 ± 10%
RH, and photophase of 12 h. Predation was evaluated for nymphs of 1st and 3rd instars of the
predator E. annulipes on the nymphs of 1st and 2nd instars and the adult stage of the prey B.
brassicae with 10 replicates per treatment. The higher consumption of B. brassicae by E. annulipes
nymphs occured to nymphs of 1st instar of the aphid.
Keywords: Consumption, Cabbage aphid, Earwigs.

INTRODUÇÃO
O pulgão das brássicas, Brevicoryne brassicae (Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Aphididae), é
considerado praga-chave da couve, Brassica oleracea L. (Salgado 1983), em praticamente todo o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

território do Brasil. Este afídeo causa o engruvinhamento e a redução do tamanho das folhas, além
disso, são vetores de vírus (Nunes et al., 1999). Seu controle é realizado principalmente por
aplicações sucessivas com produtos químicos, pois segundo Pinto et al. (2005) causam problemas
ao ambiente, tanto de forma indireta contaminando os alimentos, quanto indiretamente, afetando a
vida silvestre, prejudicando a saúde do homem, além de desencadear problemas de resistência
(Celoto et al., 2008).
O controle biológico natural é responsável por cerca de 95% da supressão de artrópodes-
praga em áreas cultivadas no planeta (Lenteren, 2009). Nesse sentido, esse método pode ser
empregado dentro de um programa de Manejo Integrado de pragas (MIP), pois compreende um
conjunto de ações que visam particularmente a minimização do uso de agrotóxicos no campo (De
Bortoli et al. 2005), considerando os aspectos ecológicos, econômicos, tecnológicos e sociais para a
tomada de decisão de controle (Fernandes e Carneiro 2006).
A ordem Dermaptera possui predadores vorazes que apresentam comportamento agressivo,
tornando-se um promissor agente de controle biológico para pulgões e ovos de diversas espécies de
lepidópteros. Dentre as espécies de dermápteros, a Euborellia annulipes (Lucas, 1847)
(Dermaptera: Anisolabididae) destaca-se por ser um agente controlador de populações de bicudo-
do-algodoeiro Anthonomus grandis (Boheman, 1843) (Coleoptera: Curculionidae) na região
Nordeste, consumindo larvas em diferentes estádios e pupas em cultivos de algodão (Oliveira et al.
2011); de ovos e larvas de Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae)
(Silva et al. 2009a) e de pulgões Hyadaphis foeniculi (Passerini, 1860) (Hemiptera: Aphididae)
(Silva et al. 2010ab ).
Informações a respeito do desempenho predatório de ninfas E. annulipes em diferentes
temperaturas são significativas para a inserção destes predadores em programa de MIP. De Clercq
& Degheele (1992) ressaltam que o emprego de entomófagos predadores em MIP depende da
compreensão das relações entre temperatura e o desenvolvimento biológico dessas espécies. Lemos
et al. (1998), avaliando o efeito de oito temperaturas no desenvolvimento biológico de E. annulipes,
concluíram que o período de desenvolvimento e sobrevivência está relacionado ao ínstar, estágio e
sexo do predador. Diante do exposto, a pesquisa tem por objetivo avaliar a predação de E. annulipes
quando alimentadas com ninfas e adultos de B. brassicae em três temperaturas.

METODOLOGIA

A criação de E. annulipes no Laboratório de Entomologia – LEN do Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da
Paraíba – CCA/UFPB, Areia/PB, à temperatura de 25 ± 2ºC, umidade relativa de 70 ± 10% e
fotofase de 12 horas. Ninfas e adultos de E. annulipes foram criados em recipientes retangulares

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 198


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

transparentes (22,5 x 15,0 x 6,0 cm) com tampa escura, apresentando um orifício vedado com
tecido tipo ―filó‖, a fim de fornecer um ambiente sem incidência de luz e com oxigenação. No
recipiente foi colocado papel absorvente como refúgio e substrato para oviposição, umedecido
diariamente, com água destilada. A alimentação dos dermápteros era composta pela dieta artificial
contendo leite em pó (130g), levedo de cerveja (220g), farelo de trigo peneirado (260g), ração
inicial para frango de corte peneirado (350g) e nipagin (40g).
A criação do afídeo B. brassicae foi estabelecida em ambiente ―telado‖, utilizando plantas
de couve B. oleracea var. acephala cultivadas em vasos com capacidade de 10L, contendo em seu
interior terra vegetal, esterco e areia na proporção de 1:2:1 sendo regado diariamente. A infestação
da couve com B. brassicae foi realizada através da transferência dos insetos adultos de plantas já
infestadas para as mudas com três folhas definitivas.
Para avaliar a predação foram individualizaram-se 180 ninfas de 1º e 3º instares de E.
annulipes com 12 horas de idade, correspondendo a 90 indivíduos para cada ínstar. Os instares de
E. annulipes foram separados em três grupos de 30 indivíduos que continha em cada grupo 10
repetições para os pulgões de 1º ínstar, 2º ínstar e adulto nas temperaturas de 25, 30 e 35 ± 1ºC em
câmaras climatizadas com umidade relativa de 70 ± 10% e fotofase de 12 horas. Espécimes de E.
annulipes foram individualizadas em placas de Petri (9,0 x 1,5 cm) contendo no seu interior papel
absorvente umedecido. Os recipientes foram vedados com fita adesiva, para se evitar a fuga dos
insetos. As presas, após sua identificação, foram fornecidas em quantidade superior ao que cada
ínstar ninfal de E. annulipes consumia diariamente definidas em testes preliminares.
O delineamento estatístico adotado foi inteiramente casualizado em esquema fatorial, cujos
valores de predação foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os dados obtidos foram analisados pelo software Assistat 7.6
(Silva & Azevedo 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O consumo total de B. brassicae por E. annulipes variou de 23,5 a 149,7 e 42,9 a 540,6
presas para os instares de 1º e 3º do predador nas temperaturas, respectivamente (Tabela 1). A
predação foi maior para o 1º ínstar do pulgão por ninfas de E. annulipes. Contudo, à temperatura de
30ºC não teve diferença significativa para ninfas de 1º ínstar do predador quando consumiram
ninfas de 1º e 2º instares de B. brassicae. Ao analisar o consumo por alimento, verificou-se que a
predação do predador foi maior na temperatura de 25ºC em seu 1º ínstar (ninfas de 1º ínstar) e 3º
ínstar (ninfas de 1º e 2º instares) sobre B. brassicae. Tal comportamento evidencia o efeito desse
fator abiótico sobre o predador quanto a sua capacidade predatória. Lemos et al. (1998) constataram
que o melhor desenvolvimento de E. annulipes acontece no intervalo entre 25 a 28ºC. Estudos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conduzidos por Silva et al. (2009a) inferem que o maior consumo de E. annulipes por ovos de
Spodoptera frugiperda (J.E.Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) é de acordo com o
desenvolvimento embrionário da praga independentemente do ínstar do predador e, por último,
Silva et al. (2010a) evidenciaram o alto consumo deste dermáptero sobre ninfas do pulgão
Hyadaphis foeniculi (Passerini, 1860) (Hemiptera: Aphididae), consumindo em maior número
ninfas de 1º e 2º instares.

Tabela 1 – Predação total e diária (± EP) de ninfas de Euborellia annulipes quando alimentada com estágios
de Brevicoryne brassicae em três temperaturas1 (Areia, Paraíba, Brasil).

Ninfas de 1º ínstar de E. annulipes Ninfas de 3º ínstar de E. annulipes2

Pulgões Temperatura (ºC)

25 30 35 25 30 35

Consumo total

1º ínstar 149,7 ± 5,52 aA 117,1 ± 5,55 aB 125,0 ± 4,06 aB 540,6 ± 15,21 aA 375,3 ± 33,76 aB 241,9 ± 12,93 aC

2º ínstar 70,4 ± 4,49 bB 106,4 ± 7,49 aA 68,4 ± 5,55 bB 302,4 ± 17,01 bA 224,5 ± 11,35 bB 168,4 ± 13,20 bB

Adulto 23,5 ± 1,74 cB 26,4 ± 1,95 bAB 42,5 ± 4,16 cA 163,0 11,02 cA 122,1 ± 7,72 cA 42,9 5 ± 3,55 cB

CV (%) 18,82 26,96

Consumo diário

1º ínstar 19,1 ± 0,81 aA 12,9 ± 0,80 aB 9,5 ± 0,63 aC 50,7 1 ± 1,59 aA 40,1 ± 2,44 aB 23,9 ± 0,80 aC

2º ínstar 8,8 ± 0,66 bA 8,0 ± 0,46 bA 7,3 ± 0,47 bA 21,7 1 ± 0,84 bB 28,8 ± 0,78 bA 14,5 ± 0,56 bC

Adulto 2,6 ± 0,15 cA 3,1 ± 0,30 cA 2,9 ± 0,16 cA 14,1 ± 0,45 cA 16,0 ± 0,72 cA 3,6 ± 0,10 cB

CV (%) 21,07 15,11

1
Médias seguidas pela mesma letra, minúscula nas colunas e maiúscula nas linhas, não diferem entre si pelo
teste de Tukey (P = 0,05); 2Ninfas de E. annulipes em seu 1° e 2° instares foram alimentadas com dieta
artificial.

O consumo diário de B. brassicae por ninfas de E. annulipes foi maior para ninfas de 1º
ínstar da presa nas temperaturas analisadas (Tabela 1), alcançando valores de 19,1; 12,9 e 9,5
afídeos para o 1º ínstar do predador nas temperaturas de 25, 30 e 35ºC, respectivamente.
Similarmente, ocorreu em seu 3º ínstar. Esse comportamento pode esta relacionado a necessidade
de alimento para desenvolvimento do predador em função dos seu ínstar, além disso, estes afídeos
possuem cutícula fina e frágil. O consumo de pulgão por E. annulipes de 1º ínstar, foi influenciado
apenas para o 1º ínstar da presa na temperatura de 25ºC, constatando que houve redução no
consumo do predador em função da elevação da temperatura. No entanto, não houve influência
quando forneceram presas de 2º ínstar e adultos. Desempenho idêntico foi registrado, em seu 3º

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 200


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ínstar, com exceção quando a predação ocorreu em quantidade maior de ninfas de 2º ínstar na
temperatura de 30ºC e para afídeos adultos. Essa variação da predação à temperatura de 30ºC
certamente ocorre em função do estresse, pois se encontra fora da faixa ótima de desenvolvimento
do predador afetando o seu desempenho predatório. Estudos conduzidos por Silva et al. (2009b)
com os alimentos ovos e larvas de 1º e 2º instares de S. frugiperda para E. annulipes demonstram
que seu consumo, é crescente preferindo a fase de ovo da praga.

CONCLUSÃO

O consumo de B. brassicae por E. annulipes, foi inversamente proporcional ao aumento da


temperatura sendo o 1º ínstar do pulgão mais consumido, independente da idade do predador.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 201


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 202


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FAUNA URBANA: OS ANIMAIS SINANTRÓPICOS NO CAMPUS I DA UDESC -


FLORIANÓPOLIS/SC

Weslley Luan SOARES


Graduando do curso de Geografia UDESC
weslley850@hotmail.com
Jairo VALDATI
Professor do Departamento de Geografia UDESC
javaldati@hotmail.com
Hariany da Silveira CARGNIN
Graduanda do curso de Geografia UDESC
harianyscargnin@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho faz parte de um estudo da fauna urbana que está em andamento no Campus I da
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), estes animais por se adaptarem aos ambientes
urbanos, são denominados animais sinantrópicos. O objetivo geral do estudo é o de reconhecer e
localizar as espécies que transitam ou habitam a área do Campus I. O levantamento da fauna, até o
momento está sendo realizado por observações de campo, através de busca ativa e de sentinela
durante diversos períodos do dia e nas quatro estações do ano, buscando observar os hábitos das
espécies, localizar suas áreas de preferência ou de nidificação. Há uma grande diversidade de
animais silvestres no Campus, dentre eles, podemos citar a presença de muitas aves, como quero-
queros, corujas-buraqueiras, também répteis como o jacaré-de-papo-amarelo, as rãs representando a
classe dos anfíbios, saguis, macacos, gambás e morcegos a classe dos mamíferos. Os resultados
preliminares indicam que existe uma significativa diversidade de fauna na área de estudo, mas que a
mesma não está distribuída de forma homogênea pelo Campus. Os diferentes ambientes naturais,
como mangue, lago, área florestada, gramados e a disponibilidade de alimento são os fatores que
condicionam a presença e a distribuição das espécies.
Palavras Chave: Fauna Urbana; Sinantropismo; UDESC; Florianópolis.
ABSTRACT
The present paper is part of a study of the urban fauna that is in progress in Campus I of the State
University of Santa Catarina (UDESC), these animals for adapting to urban environments are called
synanthropic animals. The general objective of the study is to recognize and locate the species that
transit or inhabit the Campus I area. So far, the survey of the fauna is being carried out by field
observations, through active search and sentinel during various periods of the day and in the four
seasons. The aim of the fieldwork is observe the habits of the species, locate their areas of
preference or nesting. There are a great diversity of wild animals in the Campus, among them, we
can mention the presence of many birds, such as southern lapwing, burrowing owls, also reptiles,
such as the broad-snouted caiman. Frogs representing the amphibian class; marmosets, possums and
bats in the class of mammals. The preliminary results indicate that there is a significant diversity of
fauna in the study area, but it is not homogeneously distributed across the Campus. The different
natural environments, such as mangrove, lake, forested area, lawns and the availability of food are
the factors that provide the presence and the distribution of the species.
Keywords: Urban Fauna; Synanthropism; UDESC; Florianópolis.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 203


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O crescimento dos centros urbanos é fato que há tempos vem ocorrendo, gerando o aumento
das áreas urbanizadas brasileiras. A grande maioria das áreas ocupadas pela expansão urbana ocorre
em detrimento de áreas vegetadas, com isso, a flora e a fauna são as mais prejudicadas devido à
perda de seus habitats naturais. Com a diminuição das áreas originais ocupadas pela fauna, tendo
como consequência a diminuição de recursos, tanto na alimentação quanto em área para
reprodução, alguns animais encontraram nas áreas urbanas meios de sobreviverem.
A fauna urbana é caracterizada por animais de diversas espécies que fazem uso dos
ambientes urbanos, tanto para alimentação, como também para proteção e nidificação. Estes
ambientes são completamente distintos de seus habitats naturais. As espécies da fauna que ocupam
as áreas urbanas podem ser divididas em três grupos, os animais domésticos (gatos e cães), animais
nocivos (ratos e baratas) e os animais silvestres, os quais se adaptaram a viver nas áreas urbanas, ou
simplesmente as utilizam de maneira transitória (como as aves migratórias) (SÃO PAULO, 2013).
Os ambientes naturais, por terem suas áreas reduzidas, não suportam maiores quantidades de
indivíduos das mesmas espécies por questões de equilíbrio dos ecossistemas. Os habitats que antes
abrigavam as espécies de forma natural, buscando o equilíbrio, quando se adaptaram aos ambientes
urbanos se interpuseram dentro de novos ecossistemas, conhecidos como sistemas urbanos.
Atualmente a fauna urbana se desenvolve em meio aos centros urbanos, criando novas relações
sistêmicas que também buscam atingir o equilíbrio, assim como nos sistemas não interferidos pelo
ser humano.
Os ecossistemas são divididos em quatro componentes básicos, sendo eles os abióticos, os
produtores, os consumidores e os decompositores, cada um desses componentes se inter-relacionam
em diversas escalas de um ecossistema. Este é um sistema aberto e as inter-relações geram fluxos
de energia onde ocorre a ciclagem de materiais (ODUM, 1988 e PETERSEN; SACK; GABLER,
2014). O componente abiótico é considerado o espaço onde ocorre às inter-relações dos demais
componentes dos ecossistemas, sem participar das relações caracterizadas pelas relações inter e
intraespecíficas, mas recebe e também é fonte de energia para o sistema. Estes fluxos de energia que
ocorrem devido às inter-relações num ecossistema, podem ser representados pelos níveis tróficos
(RICKLEFS, 2003).
Este trabalho tem por objetivo reconhecer e localizar as espécies que transitam ou habitam a
área do Campus I da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), para assim estabelecer as
conexões dos motivos pelos quais este espaço foi escolhido por cada espécie, além dos fatores que
se tornam atrativos para elas, seja por questões de proteção, nidificação, alimentação ou apenas
passagem.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 204


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FAUNA URBANA - O CASO DO SINANTROPISMO

Troppmair (2008) afirma que para o desenvolvimento, equilíbrio e dinâmica espacial dos
seres vivos são necessários que haja as relações ecológicas ou também inter-relações, em que, para
cada tipo de relação são necessários dois ou mais organismos. Dentre os mais diversos autores que
estudam questões ligadas aos ecossistemas referem-se às relações ecológicas nas mais diversas
interações, sendo elas de cunho positivo ou negativo para as espécies (DAJOZ, 1983; ODUM, 1988
e RICKLEFS, 2003). As relações interespecíficas são àquelas voltadas as espécies distintas, as
quais podem gerar como, por exemplo, o mutualismo (relação positiva) ou o parasitismo (relação
negativa). Já as relações intraespecíficas são relações que ocorrem entre indivíduos da mesma
espécie, podemos citar as colônias (relação positiva) e o canibalismo (relação negativa).
Segundo Figueiró (2015), as áreas urbanas podem ser consideradas grandes sistemas, os
quais recebem enormes proporções de matéria e energia, estando estas disponíveis aos organismos
que compõe esse sistema. Esta energia é processada e que por fim, seguirá para distintas
localidades dos limites urbanos, onde será acumulada. Um dos maiores problemas dos grandes
centros urbanos é o descarte da matéria orgânica. Matéria essa que poderia ser reciclada de volta ao
sistema, mas que são tratadas como resíduos, atraindo assim, algumas espécies (nativas ou exóticas)
que já se adaptaram a viver nos sistemas urbanos. Além do material descartado, o plantio de árvores
exóticas, algumas frutíferas, e geralmente com intuito paisagístico, acabam atraindo muitas aves e
outros animais, causando assim, a permanência dos mesmos em meios às áreas urbanas
(FIGUEIREDO, 1989).
O descarte incorreto dos resíduos, primeiramente atrai espécies que vão usá-los como fonte
de alimento, mas à medida que a matéria orgânica entra em estágio de decomposição, gera efluente,
trazendo desequilíbrio ao sistema (FIGUEIRÓ, 2015). Isto pode contaminar o lençol freático
através de elementos químicos que serão disseminados por processos distintos. Este fato acaba
afastando ou causando doenças às espécies que ora haviam sido atraídas para a malha urbana. Nos
casos das aves, além de alimento, o material descartado serve principalmente para construção de
seus ninhos, dentre os materiais preferidos por esses animais estão pedaços de tecidos, barbantes,
fios de linhas, entre outros (HÖFLING; CAMARGO, 2002).
Tendo em vista os sistemas urbanos e as inter-relações das espécies que compõe os
ecossistemas, chegamos à definição de sinantropismo. Conceito este atribuído pela Instrução
Normativa 141/2006 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), definindo que os animais sinantrópicos são todas as populações de animais silvestres,
exóticas ou nativas e que sua relação com as áreas urbanas sejam de, apenas como via de
deslocamento, local de descanso ou que por adaptação fizeram de uma área seu habitat, excluindo-
se desta definição os animais domésticos e aqueles ameaçados de extinção (BRASIL, 2006).
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tendo como referência o conceito de sinantropismo, procuramos identificar as espécies que


ocupam o Campus I da UDESC, distinguindo estas espécies primeiramente em quatro classes: aves,
mamíferos, répteis e anfíbios, posteriormente identificando-os pelo nome comum e científico. Além
disto, estamos acompanhando os locais onde os indivíduos destas classes são vistos, identificando o
ambiente de preferência de cada espécie.

CARACTERIZAÇÃO DO CAMPUS I DA UDESC

O Campus I da UDESC está localizado no bairro Itacorubi, Florianópolis/SC. A área de


estudo (Figura 1) é uma faixa de transição entre os ambientes de Mata Atlântica e manguezal. A
área de Mata Atlântica compõe a paisagem do Morro da Lagoa, formando a bacia do rio Itacorubi.
E o manguezal se encontra junto à foz do rio Itacorubi, abrange delimitações próximas à UDESC
até o estuário, possuindo uma área de aproximadamente de 1.875 km².
Além de espécies nativas destes dois ecossistemas, encontramos no Campus diversas plantas
frutíferas exóticas, tais como as nespereiras (Eriobotrya japonica Sp.). Esta espécie foi plantada
com intuito paisagístico, mas por produzirem frutos carnosos, acabam por atrair espécies de
morcegos (Chiroptera Spp.), pelo fato de fornecerem alimentos para esses e alguns outros animais.
Por fim, além da presença do mangue em pequenas faixas, em torno do Campus são encontradas
algumas residências, centros de pesquisas, campos de esportes, encostas com vegetação de Mata
Atlântica e proximidade (não explorada) com o Jardim Botânico de Florianópolis.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. Fonte: elaborado pelos autores.

MATERIAIS E METÓDOS

Para execução deste trabalho, foram feitos inicialmente levantamentos de espécies que
podem ser encontradas na área onde está localizado o Campus, em documentos oficiais como,
Estudos de Impacto Ambiental/Relatórios de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA)
disponibilizados pela Fundação do Meio Ambiente (FATMA). Buscando averiguar as informações
obtidas estão sendo realizadas observações in loco para coleta de dados das espécies para assim
estabelecer quais os motivos destas estarem ocupando os perímetros do Campus e em qual ambiente
se encontra.
Assim como os animais variam em sua morfologia, o intervalo biológico se faz muito
importante nos estudos de campo da Biogeografia, então o emprego de técnicas para observação
também teve de diferir para cada classe (FURLAN, 2011). Sendo assim, inferiu-se que o
levantamento de dados será realizado durante as quatro estações do ano, tendo duas (verão e
outono) já completas. Além da variação estacional, as espécies comportam-se diferentemente ao

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

longo do dia, seja por questões meteorológicas como por questões de variação de luz solar, isto
também está sendo levado em consideração. Para as coletas de dados realizadas até o momento,
foram efetuadas inúmeras pesquisas de campo com observações de forma direta e indireta, por meio
de busca ativa e também de sentinela com duração de 1 hora, buscando-se observar espécies de
répteis, anfíbios, mamíferos e aves dentro do perímetro do Campus I.
Para as observações estão sendo utilizadas máquinas fotográficas digitais e gravadores de
áudio e imagem, faz-se o uso também de binóculos para observações à distância e lanternas para
observações noturnas. Os dados de campo são registrados em uma tabela (Figura 2) previamente
testada, bem como caderneta de campo. A localização dos animais observados está sendo assinalada
em uma imagem aérea da área de estudo, para mapeamento direto sobre cartas básicas, delimitando
as áreas aonde foram encontradas as espécies, a fim de obtermos a localização das espécies nas
diferentes estações do ano e assim associar com os ambientes de preferência de cada espécie.

Figura 2 - Tabela para registros de campo durante as observações. Fonte: elaborado pelos autores.

RESULTADOS PARCIAIS

Os dados coletados até o momento registram a ocorrência de uma grande variedade de


animais silvestres, tanto nativos como exóticos, em toda a área de estudo delimitada pelo Campus I
da UDESC. A classe das aves é a que se apresenta em maior número, tanto de indivíduos como
também em espécies, seguida dos mamíferos e répteis e, por fim, dos anfíbios. Levantamentos da
fauna para a bacia do rio Itacorubi feito para o EIA da empresa VPC/Brasil (2008), apresenta em
seus dados a existência de 62 espécies de aves, as quais regularmente podem ser encontradas na
área. Em relação às outras três classes, apenas os animais de maior porte têm destaque, como o
jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). No EIA citado acima não são listados animais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pertencentes à classe dos mamíferos terrestres e anfíbios que possam ser encontrados na área de
estudo, no entanto eles são vistos com frequência.
Os dados do levantamento feito até o momento indicam um grande número de espécies de
aves, destacam-se principalmente no Campus os quero-queros (Vanellus chilensis), a garça-branca-
pequena (Egretta thula) e o íbis-preto (Plegadis falcinellus), estes podem ser observados durante
todo o ano nas mais diversas partes do Campus. Os quero-queros (Figura 3 - A) são vistos quase
sempre nas áreas mais abertas da universidade, geralmente entre quatro a seis indivíduos, ocupam
os campos abertos próximo ao Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (ESAG),
sendo este o local de preferência para nidificação. Nos estacionamentos e próximo à Academia
Prof. Dr. Ruy Jornada Krebs, além de nidificação, a espécie usa os locais para alimentação.
A garça-branca-pequena (Figura 3 - B) ocupa principalmente as áreas com presença de água,
principalmente onde se encontra um dos afluentes do rio Itacorubi, nos limites da área da
universidade. A espécie usa este ambiente principalmente para alimentação, visto que ali existem
pequenos peixes que fazem parte da dieta da mesma. Pode-se observar geralmente entre um ou dois
indivíduos em pontos distintos, podendo ser encontrada praticamente em todo o período de coleta
de dados do verão e outono.
O íbis-preto (Figura 3 - C) geralmente apresenta-se em grupos de mais de dois indivíduos,
ocupam as mesmas áreas que os quero-queros e a garça-branca-pequena, quanto maior a área, mais
animais podem ser observados. Além destes, num levantamento inicial, também foram registrados
gralhas-azuis (Cyanocorax caeruleus), corujas-buraqueiras (Athene cunicularia), joão-de-barro
(Furnarius rufus), pombas (Columba spp.), periquitos (Melopsttacus spp.), sabiás-do-campo
(Mimus saturninus), chupins (Molothrus bonariensis), entre outros.

Figura 3 - Avifauna encontrada no Campus I. A - Quero-quero em ambiente de campo, próximo à ESAG; B -


Garça-branca-pequena dentro de um dos afluentes do rio Itacorubi em frente ao CEART; C- Íbis-preto em
ambiente de campo próximo à ESAG. Fotos: Hariany da Silveira Cargnin e Weslley Luan Soares, março de
2017.

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Entre os répteis, o jacaré-de-papo-amarelo (Figura 4 - A) é o que chama mais atenção, pode


ser observado em dias com temperaturas acima da média, fazendo uso de uma pequena estrutura
similar a uma ilha no lago da academia para seu descanso. Em dias muito quentes passa a maior
parte do tempo na água, enquanto no período do outono pode ser visto com mais facilidade fora da
água por longos períodos de tempo. Além de descanso, a área serve também para sua alimentação,
uma vez que, por ter ligação com um afluente do rio Itacorubi, existem no lago alguns peixes que
fazem parte da dieta da espécie.
Além do jacaré, foram observados os lagartos-teiú (Tupinambis merianae), os quais podem
ser encontrados durante dias mais quentes, pois preferem locais mais abertos e ensolarados. São
mais difíceis de serem observados na área de estudo por utilizarem das construções do Centro de
Artes (CEART) para seus abrigos. Fazem uso de buracos abaixo das estruturas de alvenaria que
propiciam sua segurança. Além disto, acredita-se que estes lagartos (Figura 4 - B) aproveitam-se da
época de reprodução dos quero-queros para se alimentarem dos ovos, ou também dos ovos das
galinhas que são criadas nos terrenos vizinhos à UDESC.

Figura 4 - Répteis encontrados no Campus I. A - Jacaré-de-papo-amarelo descansando sobre a ilha no lago


da academia; B - Lagarto-teiú saindo de um dos buracos no CEART. Fotos: Weslley Luan Soares e Diogo
Andrade, agosto e março de 2017.

Representando os anfíbios, foram observadas até o momento somente as rãs (Ranidae spp.)
(Figura 5). Sua área de ocorrência se restringe apenas a uma pequena área banhada em frente ao
Centro de Ciências Humanas e da Educação (FAED). Dificilmente são vistos indivíduos fora
daquela área, porém podem ser ouvidos sons característicos destes animais ao entardecer e durante
a noite. Apesar de existir uma lagoa nas proximidades da academia, não foi observada ou ouvida
nenhuma sonorização de anfíbios na área. Acredita-se que a ausência de anfíbios neste lago é
devido à entrada de água salina em períodos de maré alta, fazendo, com que o lago não seja
propício ao desenvolvimento destas espécies, visto que sua pele possui características osmóticas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5 - Rã observada atravessando a área do estacionamento da FAED para a área úmida do mesmo
centro. Foto: Weslley Luan Soares, maio de 2017.

Dentre os mamíferos, o macaco-prego (Sapajus nigritus), se tornou um grande atrativo no


campus, principalmente para os frequentadores da FAED, pois este tem aparecido com certa
frequência nos períodos da manhã e da tarde durante todo o outono e início do inverno. Cada vez
mais este indivíduo tem se aproximado dos seres humanos, pois lhe é ofertado comida, além
daquela que o mesmo consegue das árvores frutíferas que podem ser encontradas em sua área de
abrangência. Não só o macaco-prego (Figura 6 - A) se aproveita desta fonte de alimento, mas
também os saguis (Callithrix penicillata) (Figura 6 - B) são bastante comuns nessa área, mesmo
havendo um grande número de indivíduos desta espécie na área de estudo, as duas espécies de
macacos nunca foram vistas no mesmo período, talvez por uma relação de competição do espaço ou
alimento. Além destes sabe-se da presença de outros mamíferos como, morcegos (Chiroptera spp.),
gambás (Didelphis spp.), ratos (Rattus spp.), tamanduá (Myrmecophaga sp.), entre outros.

Figura 6 - Mamíferos encontrados no Campus I: A - Macaco-prego nas proximidades da FAED; B - Sagui


usando as estruturas das árvores para atravessar o Campus até os limites urbanos. Fotos: Weslley Luan
Soares, agosto e maio de 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONCLUSÃO

Existe uma grande diversidade de espécies animais silvestres que se adaptaram a viver nas
áreas dentro dos limites da UDESC. Nota-se que muitas destas usam os espaços de acordo com suas
necessidades, algumas encontram alimentos com mais facilidade, outras abrigo e/ou apenas um
local de descanso. As inter-relações entre as espécies sinantrópicas necessitam de maior análise para
que possam ser apresentadas, porém inegáveis, visto que cada animal de acordo com suas
necessidades estabelece uma área de dominância, onde pode se alimentar e desenvolver-se.
A preservação desta diversidade faunística é muito importante para que haja o equilíbrio do
ecossistema. Entretanto, não somente a fauna como também a flora presente nas áreas do entorno da
universidade também precisam ser mais bem preservadas, visto a proximidade com o Jardim
Botânico de Florianópolis. Poderia haver um projeto que ligasse estas duas áreas, assim, valorizaria
ambas as localidades, pois facilitariam a passagem dos transeuntes. A criação de corredores
ecológicos também seria de grande importância para a preservação da fauna principalmente para os
animais que usam estes espaços apenas como passagem. Isso evitaria que os mesmos fossem
atropelados em locais onde há transito de automóveis ou mesmo sendo feridos por cercas de casas,
fiação elétrica ou ataques de outros animais domésticos.
Para finalizar, destacamos a importância dos estudos sobre os animais sinantrópicos na
Biogeografia abrangendo também seu potencial atrativo e não somente o grau de perigo que estes
podem oferecer. Sugerimos que estudos sobre a fauna, dentre eles o da fauna urbana, sejam mais
incentivados na Geografia, pois ao realizarmos esta pesquisa sentimos falta de trabalhos nesta área
na biogeografia.

REFERÊNCIAS

DAJOZ, R. Ecologia geral. 4. Ed. Petrópolis: Vozes, 1983. 472p. Tradução: GUIMARÃES, F. M.

FIGUEIREDO, L. F. de A. Boletim CEO. nº 2 (Reedição). São Paulo. Centro de Estudos


Ornitológicos, 1986. p. 1 - 38.

FIGUEIRÓ, A. S. Biogeografia: dinâmicas e transformações da natureza. São Paulo. Oficina de


Textos, 2015. v.1. 400p.

FURLAN, S. A. Técnicas de Biogeografia. In: VENTURI, L. A. B. (Org.). Geografia: práticas de


campo, laboratório e sala de aula. São Paulo: Editora Sarandi, 2011. p. 135 – 170.

BRASIL. Instrução normativa nº 141, de 19 de dezembro de 2006. Regulamenta o controle e o


manejo ambiental da fauna sinantrópica nociva. Disponível: em:
<http://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/IN%20141%20IBAMA%20DE
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 212
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Z%2006.pdf >. Acesso em: 22 de abr de 2017.

HÖFLING, E. CAMARGO, H. F. da A. Aves no campus. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2002. 157 p.

SÃO PAULO (Estado) Secretária do Meio Ambiente/Coordenadoria de Educação Ambiental.


Fauna urbana, Vol. I. PIEDADE, H. M. São Paulo: SMA/CEA, 2013. 216p.; (Cadernos de
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ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1988. 434p.

PETERSEN, J. F. SACK, D. GABLER, R. E. Fundamentos de geografia física. São Paulo:


Cengage Learning, 2014. Tradução NASCIMENTO, T. H. Revisão técnica VIEIRA, M. V.

RICKLEFS, R. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, c2003. 503 p.

TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 8. ed. Rio Claro: Divisa, 2008. 227p.

VPC/BRASIL tecnologia ambiental e urbanismo ltda. (Florianópolis). Prefeitura Municipal de


Florianópolis. Estudo de Impacto Ambiental – EIA: Desassoreamento dos Rios da Bacia do
Itacorubi. Florianópolis: VPC/brasil, 2008. 258 p.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REGISTRO DA FAUNA SILVESTRE ATRAVÉS DE FICHAS CATALOGRÁFICAS:


PARQUE MUNICIPAL DA LAGOINHA DO LESTE, FLORIANÓPOLIS, SC.

Jairo VALDATI
Professor Doutor em Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina
javaldati@hotmail.com
Willian Sartor PREVE
Graduando em Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina
williansartor@gmail.com
Bruna Cesário PEREIRA
Graduada em Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina
cp.bruninha@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo aplicar as fichas catalográficas desenvolvidas por Troppmair
(1984), para a fauna, como subsídios para a educação ambiental. A área selecionada para este
estudo foi o Parque Municipal da Lagoinha do Leste (PMLL), localizado em Florianópolis – SC.
Esta Unidade de Conservação foi criada em 1992 e desde então vem sofrendo ameaças à
biodiversidade, algo que se manifesta na quantidade de lixo depositada no parque, na captura de
espécies e na introdução de animais domésticos. Visando atingir nosso escopo, realizou-se
inicialmente uma abordagem acerca da preservação dos animais no PMLL, seguido por uma
apresentação das classificações ecológicas para a fauna. Na sequência há uma breve descrição da
área de estudo e apresenta-se a aplicação das fichas catalográficas para 2 espécies presentes no
Parque. Concluímos que há uma necessidade de se realizar estudos sobre a fauna em Biogeografia,
sobretudo pesquisas que ultrapassem um levantamento geral do número de espécies. Ademais, ao
aplicar as tabelas catalográficas como placas/avisos aos frequentadores do local, disponibiliza-se
informações mais específicas sobre a fauna, alertando sobre os possíveis perigos (veneno,
transmissão de doenças) e informando sobre seu potencial atrativo (a cor, o canto), contribuindo
assim para a preservação.
Palavras-Chave: Fauna Silvestre, Registro de Fauna, Educação Ambiental, Florianópolis.
ABSTRACT
This article aims to apply the cataloging file elaborated by Troppmair (1984), for fauna, as subsidies
for environmental education. The area of study chosen is Lagoinha do Leste Municipal Park
(PMLL), located in Florianópolis - SC. This Conservation Unit was created in 1992 and since then
has been suffering threats to biodiversity, manifested in the amount of garbage deposited in the
park, in the capture of species and with the introduction of domestic animals. Aiming to reach our
scope, it was carried out an approach about the preservation of animals in the PMLL, followed by a
presentation of the ecological classifications for fauna. Following is a brief description of the area
of study and the application of the cataloging file for 2 species present in the Park. We concluded
that there is a need to carry out studies about fauna in Biogeography, especially research that goes
beyond a general survey of the number of species. In addition, when applying the catalog tables as
signs/warnings to local visitors, more specific information about the fauna is made available,
alerting them to possible dangers (poison, disease transmission) and informing about their attractive
potential (color, bird‘s singing), thus facilitating preservation.
Keywords: Sylvan Fauna, Record of Fauna, Environmental Education, Florianópolis.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Os animais desempenham um papel fundamental para a manutenção do equilíbrio da


natureza, tendo sua preservação atrelada à conservação da biodiversidade da flora, uma vez que
muitas espécies de plantas dependem da fauna para serem disseminadas. A fauna exerce importante
papel na manutenção ambiental, visto ser responsável pela dispersão de sementes, quebra de sua
dormência, manutenção e estabilidade de populações de insetos, roedores, entre outros.
De acordo com Silva (2009), algumas das principais causas da perda da biodiversidade da
fauna são: a destruição dos hábitats, a exploração desordenada dos recursos naturais, o
desmatamento, a degradação dos ambientes naturais, a caça, o aprisionamento de exemplares
(tráfico) e a introdução de espécies exóticas. Assim, a degradação do meio ambiente já levou
inúmeras espécies faunísticas à extinção e outras tantas encontram-se ameaçadas.
O presente trabalho vem contribuir para o conhecimento da fauna presente no Parque
Municipal da Lagoinha do Leste (PMLL), situado em Florianópolis – SC. O local de estudo é uma
Unidade de Conservação que dispõe de uma paisagem natural composta por Mata Atlântica, praia,
restinga e lagoa formada por canais de drenagem provenientes das encostas do morro do Matadeiro
e Pântano do Sul. Sua paisagem é, por consequência, originária da correlação entre os aspectos
físicos (geologia, relevo e solo) associados ao clima mesotérmico (subtropical úmido), que
ocasionou uma cobertura vegetal peculiar (floresta e vegetação litorânea) e uma fauna diversificada.
O PMLL está localizado na porção sudeste da Ilha de Santa Catarina (Figura 1) e possui
atualmente uma área de aproximadamente 790 hectares. O parque foi criado pela Lei Municipal nº
3.701/92 e Decreto Municipal nº 8.701, com o objetivo de proteger a paisagem natural, a fauna e a
flora e o manancial hídrico da Bacia Hidrográfica da Lagoinha do Leste.
A presente área de estudo está inserida em uma capital do Mercosul, a qual tem no turismo
uma das principais atividades econômica desenvolvidas, recebendo na temporada de verão de 2016
aproximadamente 2 milhões de turistas (G1 SANTA CATARINA, 2016). Neste sentido, o turismo
ecológico passa a despertar interesse como mais uma alternativa de lazer, colocando o Parque em
evidência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 – Mapa de localização do PMLL.

No que diz respeito aos meios de acesso, tem-se a presença de duas trilhas, sendo a trilha
pela praia do Matadeiro a mais extensa, 4 km, e a segunda com 2,3 km, localizada em terreno mais
íngreme, tem início pela praia do Pântano do Sul. Durante o verão há também outra alternativa para
chegar ao parque, pois alguns barcos também fazem o transporte até a praia. Pode-se afirmar que
essa relativa dificuldade de acesso tem servido, ao longo do tempo, como escudo protetor do lugar.
A vegetação predominante na área é a Floresta Ombrófila Densa (Mata Atlântica), sendo,
segundo Coura Neto e Klein (1991), um dos últimos redutos de Mata Atlântica ainda preservados
em Florianópolis. Este tipo de formação florestal apresenta-se em diversos estágios de sucessão,
com fisionomias que vão de capoeirinha a capoeirão. Em menor área, localizada sobre as dunas e
nos cordões arenosos, existe a vegetação de restinga.
O estudo tem por objetivo aplicar as fichas catalográficas desenvolvidas por Troppmair
(1984) como subsídios para a educação ambiental da fauna, presente nesta Unidade de
Conservação. Para tal fim, abordam-se primeiramente as questões concernentes à preservação da
fauna no PMLL, expondo posteriormente as classificações fisionômicas utilizadas para a fauna. Na
sequência apresenta-se a área de estudo, os procedimentos realizados para o estudo da fauna e por
fim, aplica-se as fichas catalográficas para 2 espécies previamente selecionadas.

A PROBLEMÁTICA DA PRESERVAÇÃO DA FAUNA NO PMLL

Com o desenvolvimento do ecoturismo, pautado na prática de trilha, o número de visitantes


que adentra o PMLL vem colocando em risco a preservação da fauna. Embora seja proibido

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

introduzir animais domésticos no parque, muitos visitantes levam seus animais (principalmente
cães) para visita. Estes animais acabam comprometendo ninhos, matando alguns exemplares e
afugentando animais nativos que circulam nas proximidades da trilha.
O crescente número de visitantes no PMLL resulta em um aumento de barulho, o que
afugenta as espécies e causa muito estresse a esses animais, que tendem a ter baixa na imunidade,
ficando mais vulneráveis às doenças. Além disso, tem-se a prática de camping que vem ocorrendo
de forma desregrada nas áreas do parque, pois alguns visitantes fazem cortes de árvores a fim de
tirar lenha para fogo, abrindo assim clareiras que interferem na vida de muitas espécies animais.
Emerge ainda outras questões em relação aos turistas que frequentam o PMLL e
aproximam-se das espécies animais, adentrando seu hábitat. Há espécies que se constituem como
atrativos e outras como perigos, podendo ser nocivas ao ser humano. Animais nocivos são todos
aqueles que direta ou indiretamente são capazes de atingir a saúde e integridade física do homem ou
lhe causar algum dano, sendo que alguns animais podem ocasionar graves problemas ao homem,
tais como: escorpião, cobra, aranha, anfíbios em geral, entre outros. Outros animais, como
mosquito, mosca, carrapato, pulga, barata e roedores, podem causar ou transmitir doenças.
Por sua vez, os animais atrativos são todos aqueles benéficos ao homem ou que chamam a
sua atenção, seja por sua beleza exuberante, som emitido, como o canto ou por serem muito
diferentes, dificilmente identificados no dia-a-dia, despertando assim a curiosidade de quem os
encontra. São atrativos também aqueles que auxiliam na dispersão de sementes e na polinização.
Na natureza, segundo Furlan (1995), muitos animais podem ser atrativos e nocivos ao
mesmo tempo, algumas espécies de anfíbios e cobras, por exemplo, apresentam coloração viva,
muito bonita e que chama a atenção, especialmente de crianças. No entanto, muitos desses são
venenosos e podem também ser agressivos, atacando o homem, que se aproxima por curiosidade
para fotografar ou até mesmo para tocar nesses animais.

A CLASSIFICAÇÃO ECOLÓGICA DAS ESPÉCIES

Do número total de espécies vivas conhecidas, cerca de 1.750.000, mais de 90% destas são
animais (TOLEDO, 2013). Segundo Troppmair (2012), para melhor compreensão os cientistas
classificam os seres vivos de duas formas: as classificações artificiais (ou ecológicas) e as naturais
(genéticas). Esta última leva em consideração os aspectos genéticos e do aparato reprodutivo. Por
sua vez, as classificações ecológicas baseiam-se em aspectos externos, fisionomia e ecologia, sendo
muito utilizada pelos geógrafos.
Dentre as duas principais subdivisões da Biogeografia, Fitogeografia e Zoogeografia, existe
um maior número de estudos sobre a flora em detrimento aos estudos sobre a fauna, principalmente
nos que tangem sua classificação. Dentre as principais classificações ecológicas da vegetação

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

podemos citar as que se referem ao porte (herbáceo, arbustivo e arbóreo), outra a que se refere ao
espectro biológico (ou classificação de Raunkier), que se baseia nas condições de sobrevivência dos
vegetais nos períodos desfavoráveis. Há ainda a classificação proposta por Kuechler (1949), que
leva em consideração a classificação climática de Koeppen.
Já no que diz respeito à fauna, cabe ressaltar a importância em realizar trabalhos sobre a
mesma em Biogeografia (Zoogeografia), pois segundo Troppmair (2012), estes estudos carecem de
fundamentos consistentes e de comprovações, sendo que muitas vezes se limitam ao levantamento
do número de espécies ou indivíduos em uma determinada área. Segundo o autor citado acima, uma
das dificuldades a pontuar é que devido à grande mobilidade dos animais, estes marcam a paisagem
de forma pouco evidente, portanto, as classificações ecológicas são pouco utilizadas, valendo citar
duas: a do tamanho e aquela elaborada por Troppmair (1984).
Há três categorias de tamanho para a fauna, a saber: Macrofauna, Mesofauna e Microfauna.
A primeira abrange os grandes animais (boi e cavalo, por exemplo), a Mesofauna corresponde a
animais de porte mediano (besouros e borboletas, por exemplo) e a última, por sua vez, inclui todos
os animais de tamanho reduzido, que são geralmente visíveis no microscópio, podendo citar os
protozoários. A segunda classificação utilizada para a fauna foi elaborada por Troppmair (1984) e
baseia-se no aspecto fisionômico e no habitat dos animais, sendo que é fundamentada na
classificação desenvolvida originalmente por Stefenelli (1977), que cataloga a flora alpina por meio
de técnicas visuais.
Dessa forma, há uma sistematização para a fauna que pode ser ampliada e adaptada às
exigências da área em estudo e ao grau de detalhe desejado. Para a representação das características
do animal em estudo deve-se colorir o retângulo correspondente ao desenho e ao que é explicado na
legenda abaixo. Esta catalogação ocorre de forma ilustrada e contém as seguintes informações: tipo
do animal, cor, locomoção, cadeia trófica, habitat, hora de atividade, sociabilidade, qual a formação
vegetal em que vive, altitude, tamanho e fenologia. Abaixo encontram-se as figuras condizentes a
tabela de Stefenelli (figura 2) para a flora e a de Troppmair (figura 3) para a fauna.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 – Tabela desenvolvida por Stefenelli


Figura 3 – Tabela desenvolvida por Troppmair
(1977). Uma das vantagens dessa catalogação
(1984), a qual tem como base os trabalhos de
consiste na leitura e interpretação fácil, podendo
Stefenelli (1977).
ainda uma foto acompanhar cada tabela.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA O ESTUDO DA FAUNA NA LAGOINHA DO LESTE

Com o intuito de aplicar as fichas catalográficas desenvolvidas por Troppmair (1984) como
subsídio para educação ambiental, classificando 2 espécies silvestres presentes no PMLL, foram
realizadas pesquisas bibliográficas sobre o tema (Biblioteca Pública, BU-UDESC, FATMA e sites),
visita de campo e conversas com alguns frequentadores habituais do parque. Foi possível constatar,
in loco, a presença de alguns animais, assim como alguns frequentadores do parque afirmaram ter
visualizado tais espécies.
O levantamento da fauna local, realizado previamente8, foi feito tendo como base livros
sobre o assunto, sites, observações in loco e conversa com sete pessoas que são frequentadores
assíduos. Após esta etapa, foram selecionados vinte exemplares, sendo dez com potencial atrativo
(turístico) e outros dez considerados com potencial perigo. Dentre os vinte animais selecionados,
foram novamente elegidas 2 espécies, sendo um exemplar de réptil e uma espécie de mamífero, as
quais foram apresentadas por breve descrição e pelo preenchimento da ficha catalográfica.
Algumas modificações foram realizadas no modelo de Troppmair (1984): inseriu-se uma
fotografia do animal e alterou-se o layout da legenda, tornando-a de mais fácil visualização. A
legenda foi dividida em duas colunas e os aspectos relativos ao animal em questão foram

8
Consultar o levantamento em Pereira (2015).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 219


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sublinhados. Vale ressaltar que a cor vermelha foi utilizada para o preenchimento do animal de
potencial perigo, o réptil, e a cor verde para representar o animal de potencial atrativo, o mamífero.

RESULTADOS: APLICAÇÃO DAS FICHAS CATALOGRÁFICAS

Constata-se que entre as espécies da fauna de possível presença no PMLL, há mais de 20


espécies de anfíbios, mais de 180 espécies de aves, mais de 25 tipos de mamíferos, mais de 30
espécies de répteis e uma infinidade de insetos, crustáceos e aracnídeos. Na sequência são descritos
os 10 animais atrativos e, posteriormente, os 10 animais que possuem potencial perigo.
As espécies selecionadas que representam atrativo são: Teiu (Tupinambis merianae),
Tucano-Bico-Preto (Ramphastos vitellinus), Martim-Pescador-Verde (Chloroceryle amazona),
Coruja-Buraqueira (Speotyto cunicularia), Lontra (Lutra longicaudis), Lagartinho-Listrado-da-
Restinga (Cnemidophorus lacertoides), Picapauzinho-Verde-Carijó (Viniliornis spilogaster),
Cachorro-do-Mato (Cerdocyon thous) e Gralha-Azul (Cyanocorax caeruleus).
Aquelas espécies que, por sua vez, constituem potencial perigo são: Coral-Verdadeira
(Micrurus corallinus), Caninana (Spilotes pullatus), Aranha-Marrom (Loxosceles laeta), Jaracuçu
(Bothrops jararacussu), Formiga (Pachycondyla sp.), Jararaca (Bothrops jararaca), Abelha (Apis
sp.), Marimbondo (Philanthe sp), Cupim (Cornitermes sp.) e Aranha-Armadeira (Phoneutria
keyserlingia).
Na sequência, apresenta-se uma breve descrição das espécies nas quais se aplicou a ficha
catalográfica, a Coral Verdadeira (Figura 4) e o Cachorro do Mato (Figura 5).

CORAL-VERDADEIRA (Micrurus corallinus)

A coral-verdadeira é uma espécie de cobra de pequeno porte e muito venenosa, sendo uma
das mais venenosas do Brasil. Possui corpo alongado com anéis vermelhos e preto alternados por
distâncias iguais, cabeça arredondada com olhos pequenos e pupila circular, escamas lisas e
brilhantes sobre o corpo. Costuma ficar escondida no solo (subterrâneo), em cupinzeiros, sob as
folhas e em troncos em decomposição. Sua alimentação é baseada principalmente em outras cobras
e lagartos ápodos, mas também pode comer artrópodes, rãs e pequenos mamíferos. Apesar de muito
venenosa, não é agressiva e tende a fugir na presença de intrusos, no entanto, quando cercada se
movimenta freneticamente, podendo morder. Esta cobra tem importante papel na manutenção do
equilíbrio ambiental, pois auxilia no controle populacional de outras espécies, além de servir de
alimento para outros animais.

CACHORRO-DO-MATO (Cerdocyon thous)

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Canídeo de porte médio, pesando cerca de 7kg, possui hábitos crepusculares e noturno.
Assemelha-se muito com as raposas, apresentando pelagem acinzentada, amarela na base, com as
extremidades das patas mais escuras. Este canídeo alimenta-se de uma grande variedade de itens,
como pequenos mamíferos (roedores), répteis, insetos e frutos, sendo um importante dispersor de
sementes. O cachorro-do-mato costuma fugir na presença do homem. No PMLL, segundo relatos de
alguns visitantes, este animal tem se mostrado manso ao se aproximarem dos acampamentos, sendo
sua docilidade um atrativo aos visitantes que acampam no parque.

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Figura 4 – Ficha catalográfica referente à Coral Verdadeira.

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Figura 5 – Ficha catalográfica referente ao Cachorro do Mato.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos com este estudo que a catalogação de espécies animais apresentadas por meio
da ficha catalográfica, representa um excelente instrumento para conhecermos mais a espécie e com
isso contribuir para a sua preservação. Contudo, sugerimos que algumas alterações sejam feitas, tais
como introdução dos ecossistemas onde o animal vive, o período que ele é mais visível aos turistas,
o tipo de alimentação e etc.
Ao tratar da necessidade de estudos sobre a fauna em biogeografia, não devemos atentar
somente para a preservação de indivíduos isoladamente. Devemos nos conscientizar de que
determinado representante de uma espécie poderá vir a reproduzir-se, ou poderá ser responsável
pela orientação de um bando durante a atividade migratória para a reprodução. Dessa forma,
devemos estar cientes de que cada exemplar de nossa fauna tem seu papel na manutenção e
reprodutibilidade de sua espécie e consequentemente, na estabilidade dos ecossistemas (SILVA,
2009).
Além dos problemas mencionados anteriormente, e que afeta de forma direta a fauna do
PMLL, gostaríamos de registrar a questão do lixo, que acaba sendo deixado de forma displicente
pelos visitantes. São garrafas plásticas, restos de corda e tecido, restos de cigarros, latas e vidros,
estes últimos podem até causar queimaduras em dias quentes. Muitos animais se cortam ou ficam
presos nesses objetos, vindo a morrer ou virando presa fácil de outros animais e de algumas pessoas
que se aproveitam para se aproximar e capturar estas espécies.
Sugerimos então a implantação de placas informativas/alertas sobre a presença de animais
nocivos e atrativos e sobre cuidados importantes que se deve ter quando na área do PMLL. As
placas devem ser ilustrativas e de fácil entendimento, utilizando-se a ficha catalográfica aplicada
neste estudo, porém com uma maior simplificação para facilitar a compreensão do público usuário.
Recomenda-se elaborar material didático, através de folhetos educativos, sobre a preservação
ambiental da flora e da fauna presente no Parque.
Para concluir, salientamos que, conforme já mencionado no texto, existem poucos trabalhos
em Biogeografia que tratam sobre a fauna, ainda menos se considerarmos a sua forma de
representação, além do nome cientifico e origem. É, portanto, um campo que o Biogeógrafo com
formação em Geografia tem muito a contribuir.

REFERÊNCIAS

COURA NETO, A. B.; KLEIN, R. M. Síntese da Vegetação Atual da Ilha de Santa Catarina. In:
FLORIANÓPOLIS, Instituto de Planejamento Urbano – IPUF. Atlas de Florianópolis.
Florianópolis, 1991.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 224


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Florianópolis espera aumento de 20% no número de turistas em 2017. G1 Santa Catarina,


Florianópolis, 29 set. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/sc/santa-
catarina/noticia/2016/09/florianopolis-espera-aumento-de-20-no-numero-de-turistas-em-
2017.html>. Acesso em: 24 jun. 2017.

FURLAN, S. A. Técnicas de Biogeografia, In: VENTURI, L. A. BITTAR. (Org). Praticando a


Geografia: técnicas de campo e laboratório em geografia e análise ambiental. São Paulo: Oficina
de Textos, 2005. p. 99 – 129.

KUECHLER, W. A Physionomic Classification of Vegetation. Ann of the Am. Geor., 39 (3), 1949.

PEREIRA, B. C. Atrações e Perigos da Fauna Silvestre: estudo de caso no Parque Municipal da


Lagoinha do Leste, Florianópolis, SC. 2015. 101 f. TCC (Graduação) - Curso de Geografia,
Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2015. Disponível em:
<http://sistemabu.udesc.br/pergamumweb/vinculos/00000f/00000f73.pdf>. Acesso em: 15 jun.
2017.

SILVA, K. S. da. Educação ambiental e preservação da fauna. 2009. Disponível em


<http://www.webartigos.com/artigos/educacao-ambiental-e-a-preservacao-da-fauna/19726/>.
Acesso em: 05 nov. 2015.

STEFENELLI. I Fiori della montagna. Priuli e Verluca, Iuera, 1977.

TOLEDO, K. Ao menos 70% das espécies da Terra são desconhecidas. 2017. Agência FAPESP,
São Paulo, 25 fev. 2013. Disponível em:
<http://agencia.fapesp.br/ao_menos_70_das_especies_da_terra_sao_desconhecidas/16867/>.
Acesso em: 22 jul. 2017.

TROPPMAIR, H. Biótopos: Importância e Caracterização. Boletim de Geografia Teorética, vol.


14, n. 27/28, p. 57-67, 1984.

TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 9. ed. Rio de Janeiro: Technical Books, 2012.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 225


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Geoecologia das Paisagens

© Antonio David Diniz

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 226


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ANÁLISE MACROMORFOLÓGICA, FÍSICA E QUÍMICA DOS SOLOS DA


COMUNIDADE VENEZA NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB

Dayane Ferreira GUILHERME


Graduanda do Curso de Geografia da UEPB/ Campus III9
ferreiradayane16@hotmail.com
João Lucas Freitas de SOUSA
Graduando do Curso de Geografia da UEPB/ Campus III10
Joaolucasfreitas521@gmail.com
Carlos Antônio Belarmino ALVES (Orientador)
Prof. Dr. do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UEPB/Campus III11
c_belarminoalves@hotmail.com
Luciene Vieira de ARRUDA (Orientadora)
Prof Dr do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UEPB/ Campus III12
a a

luciviar@hotmail.com

RESUMO
A Serra do Espinho é o nome dado às elevações situadas na vertente oriental do Planalto da
Borborema, na área ocupada pelo município de Pilões/PB, em direção ao município de Cuitegi/PB.
Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a produção
agrícola e pecuária, a manutenção de florestas e animais e de forte potencial turístico, essa área
possui muitas limitações e instabilidades por conta do relevo acentuado e impermeabilidade de seus
solos. Atualmente os solos estão sendo muito explorados pela agricultura e pecuária, fatores que
mais contribuem para o processo de degradação. O objetivo dessa pesquisa é avaliar é realizar uma
análise macromorfológica física e química dos solos do Projeto de Assentamento (PA) Veneza,
Pilões/PB. Os métodos utilizados na pesquisa seguiram os escritos de Tricart (1977), Tedesco et al
(1995), Alvarez et al (1999), Lepsch (2010), Santos et al (2013) e Embrapa (2009; 2013). Os
estudos foram divididos em etapas de gabinete, campo e laboratório. Das 4 amostras de solo
coletadas no PA Veneza, três se encontram com pH ideal, (solos 1, 2, 3). O solo 4 é ácido e
necessita de calagem. Todos os solos analisados em Veneza são distróficos, não sendo ideias para
serem utilizados como base para as culturas existentes na comunidade.
Palavras-Chave: Solos, Análises Macromorfológicas, Potencialidades
ABSTRACT
Serra do Espinho is the name given to the elevations located on the eastern slope of the Borborema
Plateau, in the area occupied by the municipality of Pilões / PB, towards the municipality of Cuitegi
/ PB. Despite being an environment occupied by small communities, providing agricultural and
livestock production, maintenance of forests and animals and strong tourism potential, this area has
many limitations and instabilities due to the marked relief and impermeability of its soils. Soils are
currently being extensively exploited by agriculture and livestock, factors that most contribute to
the degradation process. Thus, the objective of this research is to evaluate is to perform a physical

9
Bolsista do PIBIC/CNPq-Membro do Grupo TERRA, CNPq.
10
Bolsista do PIBIC/CNPq -Membro do Grupo TERRA, CNPq.
11
Vice-líder do Grupo TERRA, CNPq.
12
Líder do Grupo TERRA, CNPq.

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and chemical macromorphological analysis of the soils of the Venice Settlement, Pilões / PB. The
methods used in the research followed the writings of Tricart (1977), Tedesco et al (1995), Alvarez
et al (1999), Lepsch (2010), Santos et al (2013) and Embrapa (2009; 2013). Following the
hypothetical-deductive method, with the General Theory of Systems as the basis for an integrated
study of the environment. The studies were divided into cabinet, field, and laboratory steps. The
importance of macromo - logical, physical and chemical diagnosis of the soils of the Venice
community in the Serra do Espinho lies in the fact that these soils provide agricultural and livestock
production, the maintenance of forests and animals, and still have relevant tourism potential. Of the
4 soil samples collected in the PA Veneza, three are found at ideal pH, (solos 1, 2, 3). All the soils
analyzed in Veneza are dystrophic, and are not ideas to be used as the basis for the cultures existing
in the community.
Keywords: Solos, Macromorphological Analyzes, Potentialities

INTRODUÇÃO

As serras e planaltos do Nordeste totalizam 124.241 km2, o referente a apenas 8% do total


da região, sendo que somente o Planalto da Borborema possui área total de 43.460 km2 e abrange os
estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas1 (SOUZA,1999). Na Paraíba o
Planalto da Borborema adquire importância fundamental na disposição dos recursos naturais, pois
condiciona os tipos de recobrimento vegetal, solos, climas e a disposição hidrológica, que vão
influenciar diretamente nas atividades econômicas, políticas e sociais.
A Serra do Espinho são as terras localizadas na porção leste do município de Pilões,
cortadas pela Rodovia PB 077 e compreende, aproximadamente, 40% da área municipal. A região é
formada, predominantemente, por material cristalino dissecado em colinas e lombas alongadas, de
topografias forte-onduladas a montanhosas, com densa rede de drenagem de padrão dendrítico e
sub-dendrítico. Apresenta ainda, quedas d‘água e vales em forma de ―V‖. (CPRM, 2005;
FERREIRA, 2012).
Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a produção
agrícola e pecuária, a manutenção de florestas e animais e ainda ter relevante potencial turístico,
essa área possui muitas limitações e instabilidades naturais devido ao relevo acentuado e a
impermeabilidade de seus solos, sujeitos a constantes deslizamentos (CARDOSO et al, 2012).
Nessa perspectiva objetivou-se nessa pesquisa fazer um diagnóstico macromorfológico, físico e
químico das terras no PA Veneza, na Serra do Espinho, Pilões/PB.

METODOLOGIA

A metodologia proposta para a presente pesquisa está dividida em: levantamento


bibliográfico e cartográfico; pesquisa de campo; análises laboratoriais; materiais utilizados e
caracterização da área da pesquisa. Foi realizado o trabalho de campo para obter os dados a serem
inseridos na base cartográfica. Foram escolhidas quatro áreas agrícolas no PA Veneza, listadas em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

uma tabela, com as seguintes informações: localização geográfica; coordenadas geográficas e UTM,
altitude (tabela 1), área, nível de declividade, e cultivo atual. As amostras de solo foram coletadas
com o uso do trado de caneco de 4‖, numa profundidade aproximada de 0-40 cm. Em seguida, as
amostras foram armazenadas em sacos plásticos e identificadas com a localização do ponto
(coordenadas UTM), o número e a data da coleta.

Tabela 1. Altitude e coordenadas geográficas dos solos coletados no PA Veneza na Serra do Espinho,
Pilões/PB.
Coleta Altitude local (m) Declividade Área (ha) Coordenadas UTM Cultivo atual
1 305 13% - 25% 0,5 0213176 – 9239992 banana
2 300 13% - 25% 0,2 0212843 – 9240071 banana
3 305 13% - 25% 0,6 0212958 – 9331656 mandioca
4 400 13% - 25% 0,3 0214046 – 9238883 urucum
Fonte: Trabalhos de campo 2017.

As amostras de solos coletadas foram analisadas em suas características físicas e químicas


nos laboratórios de Física do Solo e de Química e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e
Engenharia Rural do CCA/UFPB, conforme Tedesco et al (1995) e Embrapa (2009). As análises
físicas das amostras de solos consistiram apenas da classificação textural. As análises químicas
foram as rotineiras de fertilidade, com a determinação do potencial hidrogeniônico (pH) em água,
Fósforo (P), Potássio (k+), Sódio (Na+), Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+), Acidez Potencial (H + Al),
e Carbono orgânico. Em seguida, partimos para os cálculos das amostras de cada um dos solos, tais
como a Capacidade de Troca Catiônica (CTC), Saturação de Bases (V%), Saturação por Alumínio
(m%) e Soma de Bases (SB).

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DA PESQUISA

O município de Pilões é um dos menores da microrregião do Brejo, tanto em área territorial


quanto em população, distribuída entre a sede e os distritos ou comunidades (CPRM, 2005; IBGE,
2010). É na porção leste de pilões onde está localizada a Serra do Espinho, um ambiente com área
aproximada de 25 km2, ocupado por quatro comunidades rurais, entre estas, o Projeto de
Assentamento (PA) Veneza, situado a 3 km da sede do município (Figura 1). Trata-se de um
ambiente que possui diversas formas naturais (corredeiras, quedas d‘água, formações rochosas,
vales, cobertura vegetal exuberante) e desenvolve atividades humanas que estimulam a visitação,
como as apresentações culturais, o artesanato, o Memorial da casa de farinha e a gastronomia local.
Os 26 assentados que vivem no PA Veneza são cadastrados em políticas públicas federais,
estaduais, e municipais, promovendo um bom desenvolvimento social, referentes à infraestrutura
básica, tais como abastecimento de água, energia, habitação, educação e transporte. Os assentados
de Veneza exploram as terras com culturas tradicionais, marcadas por plantios morro abaixo,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

praticam queimadas, desmatam cabeças de morros, vertentes e áreas ribeirinhas, se utilizam de


agrotóxicos, praticam a caça aos animais silvestres e lançam resíduos sólidos e líquidos sobre as
águas e sobre os solos, justificando a falta de assistência pública municipal na coleta desses
resíduos.

Figura 1. Localização da Serra do Espinho, Pilões/PB, identificação do PA Veneza e dos pontos de coleta de
solos.

Fonte: Trabalhos de campo, 2017.

Nesse contexto, os agricultores se apropriam do relevo de modo a desestabilizar as vertentes,


quando da retirada de sua cobertura vegetal, que vai promover os processos erosivos e o
assoreamento dos cursos d‘água, indo refletir diretamente em perdas de solos, ao que Tricart (1977)
e Casseti (1991) definem como Sistema de Degradação do Meio Ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para facilitar a compreensão das características da camada arável dos solos estudados em
Veneza, é importante relembrar os conceitos e a importância dos principais parâmetros
macromorfológicos do solo: cor, textura, estrutura e consistência (Tabela 2). A cor do solo é função
principalmente da presença de óxidos de ferro e matéria orgânica (MO), além das condições de
drenagem e aeração do solo, da lixiviação, do material de origem, da intensidade dos processos de
alteração da rocha e da distribuição do tamanho das partículas (FERNANDEZ e SCHULZE, 1992).
Alguns solos refletem diretamente as cores do material geológico que o originou.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 2. Características Macromorfológicas da camada arável dos solos coletados no PA Veneza, da Serra
do Espinho Pilões/PB.
Z
Coleta Cor1 Textura Estrutura Consistência
7,5YR 4/4 Marrom Ligeiramente duro,
Franco-
1 2,5y R 2,5/ 2 Granular média friável, plástico,
arenoso
Vermelho muito forte muito pegajoso
10YR 3/3 Bruno escuro Ligeiramente duro,
Franco
2 10YR 2/2 Bruno muito Granular média firme, plástico,
arenosa
escuro pegajoso
5YR 4/6 Vermelho
Duro, firme,
amarelado Franco Granular
3 ligeiramente plástico,
5YR 3/4 Bruno arenoso pequena
ligeiramente pegajoso
avermelhado escuro
5YR 3/2 Bruno avermelh. Franco- Ligeiramente duro,
Granular
4 Escuro Argila firme, plástico,
pequena
5YR 2,5/1 Preto arenosa pegajoso

A textura tem relação direta sobre a fertilização do solo, ou seja, solos arenosos tendem a ser
menos férteis que solos argilosos; também tem relação com o nível de conservação do solo, ou seja,
solos arenosos têm alta permeabilidade à água, mas podem também ser mais susceptíveis à erosão
hídrica (KONDO, 2008). Juntamente com a textura, a estrutura do solo influencia na quantidade de
ar e de água, bem como na penetração e distribuição das raízes, necessárias às plantas para sua
fixação ao solo, absorção de nutrientes, atividade microbiana e na resistência à erosão, entre outros
(SANTOS et al, 2013). A análise da consistência se define com o tato, ou seja, a força imposta à
dureza ou mesmo à facilidade que uma amostra de solo tende a quebrar.
Das quatro amostras de solos coletadas em Veneza, as duas primeiras estão ocupadas com
bananicultura. O relevo regional é ondulado e a declividade local está entre 13 e 25%, apresentam
erosão do tipo laminar e em sulcos de grau moderado ou forte, em área não pedregosa e não
rochosa. O solo 3 está ocupado com plantação de roça e mandioca (Manihot esculenta Crantze), se
dispõe em relevo ondulado e ligeiramente inclinado com declividade entre 13-25%. Apresenta
erosão do tipo laminar e em sulcos, de grau forte, em área não pedregosa e não rochosa. O solo 4
está ocupado com urucum ou urucu (Bixa orellana). O relevo regional é ondulado e o relevo local é
inclinado (13 à 25%), apresenta erosão do tipo laminar e em sulcos de grau moderado, além de não
aparentar pedregosidade e rochosidade. A cobertura vegetal dos quatro solos é composta por mata
secundária.

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DOS SOLOS ESTUDADOS NA COMUNIDADE VENEZA


NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com relação à discussão dos parâmetros químicos dos solos do PA Veneza (Tabela 3), estes
seguem as classes de interpretação de fertilidade do solo utilizadas no Estado de Minas Gerais
(ALVAREZ et al., 1999).

Tabela 3. Características Químicas da camada arável dos solos coletados no PA Veneza, Serra do Espinho
Pilões/PB.

pH
Coleta M.O. P K+ Na+ Ca2+ Mg2 Al3+ SB (H+Al) CTC V
(H2O) +

..............................cmolc dm- ..%..


g/kg mg/dm3 3
................................
PA Veneza
1 5,9 13,2 5,8 62,4 0,04 0,70 0,65 0,10 1,56 1,98 3,54 44,07
2 6,0 21,0 44,9 406,0 0,15 0,78 1,11 0,00 3,08 5,86 8,94 34,46
3 5,8 11,4 30,4 168,6 0,06 0,93 0,42 0,05 1,84 3,96 5,80 31,77
4 5,3 23,4 9,7 144,6 0,07 0,74 0,27 0,45 1,45 8,66 10,12 14,36
Fonte: Laboratório de Química e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e Engenharia Rural do
Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Areia/PB.

Malavolta (2006) afirma que é essencial conhecer a participação dos elementos minerais na
vida da planta e suas quantidades necessárias, bem como as condições de pH do solo, uma vez que
pH muito baixo ou muito alto implica em condições desfavoráveis no desenvolvimento das plantas.
Os parâmetros químicos analisados no presente trabalho são: Potencial hidrogeniônico (pH),
matéria orgânica (MO), fosforo (P), potássio (K+), sódio (Na+), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2 +),
alumínio (Al3+), soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions (CTC e saturação de bases
(V%).
O pH define a acidez ou alcalinidade relativa de uma solução e sua escala varia de 0 a 14,
consiste na remoção dos cátions básicos (Ca2+, Mg2 +, K+ e Na+) – do sistema do solo, substituindo-
os por cátions ácidos (Al e H+) (TEDESCO et al, 1995). O valor 7,0 que está no meio, é definido
como neutro; valores abaixo de 7,0 são ácidos e aqueles acima de 7,0 são alcalinos. Solos muito
ácidos ou alcalinos são indesejáveis para a maioria das plantas restringindo seu crescimento, sendo
que a faixa de pH ideal para cultivo é de 5,5 a 6,5 (MALAVOLTA, 2006; PRIMAVESI, 2016).
Quando o pH do solo é ácido (< 5), íons fosfato se combinam com ferro e alumínio
formando compostos de baixa solubilidade, indisponíveis às plantas. Concomitantemente os teores
de Ca2 e Mg2 serão baixos, a CTC efetiva será baixa, assim como a V%. Por outro lado haverá
maior disponibilidade de Fe, Cu, Mn e Zn, podendo até causar toxidez por esses micronutrientes
(TOMÉ Jr., 1997). Nesse caso, aconselha-se corrigir o solo com calagem. Do contrário, se o solo
apresenta alcalinidade, aconselha-se a gessagem (ALVAREZ et al,1999).
Todavia, Luz et al (2002) afirmam que a gessagem elimina o Al3+, aumenta os teores de
bases trocáveis (Ca2+, Mg2+ e K+, principalmente) na subsuperfície e fornece Ca2+e S (enxofre) para
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

as plantas. Nesse contexto, das 4 amostras de solo coletadas na comunidade Veneza, os solos 1, 2 3
se encontra com pH ideal. O solo 4 é ácido e necessita de calagem. A condição de acidez ou
alcalinidade compromete os solos de Veneza, principalmente porque os agricultores não costumam
fazer a correção do solo, indo refletir no desenvolvimento das culturas.
A matéria orgânica do solo (MOS) é indispensável ao solo, pois indica a sua fertilidade.
Segundo Primavesi (2016) a MOS constitui-se em um dos melhores benefícios do solo à planta,
pois influencia nas características físicas, químicas e biológicas do solo; melhora a estrutura do solo
e, consequentemente, a aeração, drenagem e retenção de água; fornece carbono como fonte de
energia para os microorganismos, promovendo a ciclagem de nutrientes; interage, ainda com
metais, óxidos e hidróxidos metálicos, atuando como trocador de íons e na estocagem de nitrogênio,
fósforo e enxofre. A matéria orgânica da camada arável dos solos analisados variou entre 11,4 g/kg
até 23,4g/kg, uma quantidade muito boa (Alvarez et al,1999),
Rolim Neto et al., (2004) definem o P como um macronutriente que, apesar de ser exigido
em menor quantidade pelas plantas, em relação aos outros nutrientes, é um composto de energia que
faz extensa ligação com os colóides e constitui-se em fator limitante na produtividade da maioria
das culturas nos solos fortemente intemperizados, onde predominam formas inorgânicas de P
ligadas à fração mineral (com alta energia) e formas orgânicas estabilizadas física e quimicamente..
Nesse contexto, os solos analisados em Veneza apresentaram altas quantidades de P, sendo
que os solos 2 e 3 estiveram sempre acima de 30 mg/dm3. Em solos ácidos, como é o caso dos
solos 1 e 4, o P encontra-se precipitado com ferro, alumínio e magnésio, ou adsorvido a minerais
argilosos e óxidos e hidróxidos de ferro, alumínio e magnésio (EMBRAPA, 2009), podendo
comprometer as culturas.
No que diz respeito ao K, todos os solos estudados apresentaram altas reservas desse
nutriente, principalmente o solo 2, assegurando seu potencial para culturas frutíferas,
principalmente a bananeira, uma das espécies mais exigentes em potássio (BORGES, 1999) e que é
bastante cultivada nas áreas de serras nordestinas. O K influencia na resistência das plantas a
condições adversas, como baixa disponibilidade de água e altas temperaturas.
O Na+ corresponde ao sódio trocável e seu valor é utilizado na classificação de solos salinos,
sódicos e não salinos. Altas quantidades de Na+ causam dispersão do colóide argiloso no solo
(SALOMÃO e ANTUNES, 1998). Nenhuma das amostras de solos analisadas apresentou excesso
de Na+.
Com relação aos nutrientes Ca2+ e Mg2+, estes tendem a ser baixos em solos ácidos, assim
como a CTC e a V%. Considerando-se as 4 amostras de solos estudados na presente pesquisa, os
solos ácidos ou alcalinos (solo 4), apresentaram os menores teores, confirmando-se o que afirma a
literatura. Para Vale et al (1997) o Ca2+ é um nutriente imóvel que compõe a parede celular da

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 233


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

planta. O seu excesso altera o ritmo da divisão celular do vegetal. A sua falta reduz o crescimento
radicular, muda a coloração das raízes, provoca o curvamento dos ápices, deforma as folhas jovens,
causa clorose marginal podendo evoluir para necrose. Todos esses sintomas costumam apresentar-
se nas partes mais velhas do vegetal. Já o Mg2+ é um nutriente móvel essencial ao funcionamento
dos ribossomas, sendo um constituinte de cofactores enzimáticos, clorofila e proteínas (SALOMÃO
e ANTUNES, 1998). A sua falta nos vegetais provoca morte prematura das folhas, degeneração dos
frutos, cloroses intervenais, necrose foliar, redução do crescimento vegetal e inibição da floração,
iniciando-se, como nos demais casos, nas áreas mais velhas do vegetal. O excesso desse nutriente
altera absorção de K e Ca+ pela planta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a discussão dos resultados da presente pesquisa e ter constatado que todos os solos
estudados possuem um histórico de uso relacionado à agricultura canavieira e estão sendo utilizados
atualmente para a agricultura de subsistência, pastagem ou culturas permanentes, é possível fazer as
seguintes considerações:
 Das 4 amostras de solo coletadas no PA Veneza, três se encontram com pH ideal,
(solos 1, 2, 3). O solo 4 é ácido e necessita de calagem;
 O solo 4 é ácido e a V% foi baixa, associando-lhe a condição distrófica e por isso,
esse solo necessita de alguns cuidados para o seu melhor aproveitamento;
 Todos os solos analisados em Veneza são distróficos, não sendo ideias para serem
utilizados como base para as culturas existentes na comunidade.
A importância do diagnóstico macromofológico, físico e químico dos solos do PA Veneza
na Serra do Espinho reside no fato desses solos proporcionarem a produção agrícola e pecuária, a
manutenção de florestas e animais e ainda ter relevante potencial turístico. Assim, o estudo dos
solos do PA Veneza permitiu conhecer as potencialidades e as vulnerabilidades desse recurso
natural, que podem servir para orientação de futuros usos desses solos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EMISSÃO DE CO2 EM SOLO SOB PASTAGEM NA REGIÃO AGRESTE DA


PARAÍBA

Galileu Medeiros da SILVA


Graduando em Agronomia da UFPB
galileu.medeiros@hotmail.com
Tiago de Carvalho PESSOA
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFPB
tiago.pessoavw@gmail.com
Vânia da Silva FRAGA
Professora associada da UFPB
vfraga@cca.ufpb.br
Rodolfo José Silva FELIX
Graduando em Agronomia da UFPB
rodolfojsfelix@hotmail.com

RESUMO
Há, atualmente, uma grande preocupação com a ocorrência de eventos que estão contribuindo com
as enormes mudanças do clima no planeta, e uma das principais e preocupantes mudanças é com o
aumento da temperatura. O objetivo deste trabalho foi quantificar o efluxo de CO2 do solo em
distintas posições do relevo em uma encosta sob pastagem, com 20 anos de implantação. O
experimento foi realizado na microbacia hidrográfica de Vaca Brava, localizada entre os municípios
de Areia/PB e Remígio/PB. A encosta onde ocorreu o presente estudo, é composta pela posição do
ombro, meia encosta e pedimento, onde foi coletado solo para análises físicas, em cada posição. As
medidas meteorológicas foram registradas durante todos os dias de coleta. Foi utilizado um
esquema fatorial 3x22 que correspondem a três posições do relevo (ombro, meia encosta e
pedimento) e vinte e duas avaliações do efluxo, com três repetições, totalizando 198 amostras. O
efluxo de CO2 foi avaliado semanalmente, até o final do período chuvoso, pela quantidade de CO2
capturado na superfície do solo, através da captura do dióxido de carbono (CO2) dentro de câmaras
estáticas, por 40 mL de uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) a 1 Mol L-1 contidos dentro de
um recipiente durante 24 horas. Os valores médios das três repetições foram submetidos à análise
de variância e quando pertinente comparado às médias das posições pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Os maiores valores de efluxo de CO2 do solo, encontram-se a partir de 4.46μmolm-2s-1 de emissão,
as maiores emissões ocorreram nos períodos chuvosos, ou com chuvas ocasionais, e as menores
emissões, ocorreram no período seco do ano. Conclui-se que a emissão de CO2 varia ao longo do
ano, de acordo com o período seco ou chuvoso e entre as posições do relevo, de acordo com a
textura do solo.
Palavras chave: Textura do Solo, Precipitação Pluvial, Encosta, Posições do Relevo.
ABSTRACT
Currently there is a great concern about the occurrence of events that are contributing to the
significant changes in the climate of the planet, and one of the major and worrying changes is with
the increase in the temperature of the planet. The aim of this work was to quantify the CO2 efflux of
the soil in different positions of the relief on a slope under pasture, with 20 years of implantation.
The experiment was carried out in the hydrographic basin of Vaca Brava, located among the
municipalities of Areia/PB and Remígio /PB. The slope, where the present study occurred, is

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composed by the shoulder position, half slope and pediment, where was collected soil for physical
analysis, in each position. Meteorological data were recorded during all collection days. A factorial
scheme 3x22 was used that corresponded to three relief positions (shoulder, half slope and
pediment) and twenty two efflux evaluations, with three replications, totalizing 198 samples. The
efflux of CO2 was evaluated weekly, until the end of the rainy season, by the amount of CO2
captured at the soil surface by carbon dioxide (CO2) captured inside static chambers, by 40 mL of a
solution of sodium hydroxide (NaOH) to 1 Mol L-1 contained in a vessel for 24 hours. The mean
values of the three replicates were submitted to analysis of variance and, when relevant, compared
to the means of the positions by the Tukey test (P≤0.05). The highest values of CO2 efflux from the
soil are from 4.46μmolm-2s-1 of emission, the highest emissions occurred in the rainy season, or
with occasional rainfall, and the lowest emissions occurred in the dry period of the year. It is
concluded that the CO2 emissions varies during the year, according to the dry or rainy period and
between the positions of the relief, according to the soil texture.
Keywords: Soil texture, Precipitation, Slope, Relief position.

INTRODUÇÃO

Há, atualmente, uma grande preocupação com a ocorrência de eventos que estão
contribuindo com as enormes mudanças do clima no planeta, e uma das principais e preocupantes
mudanças é com o aumento da temperatura. Evento este advindo de uma série de contribuições
antropogênicas, que resulta em um fenômeno denominado de efeito estufa. As principais
contribuições para a ocorrência deste fenômeno são as enormes emissões de gases, principalmente,
o dióxido de carbono (CO2) e outros gases, tais como o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4)
(IPCC, 2007).
A quantidade de carbono armazenado na matéria orgânica dos solos equivale a quase duas
vezes a quantidade de carbono encontrado na atmosfera na forma de CO2, determinando assim um
estoque de 1300 a 1500 Pg (1Pg = 109 toneladas) nos primeiros 100 cm de solo (LAL, 2004) e
outros 600 Pg de Carbono na vegetação, que quando se obtém seu produto equivale a
aproximadamente três vezes a quantidade de Carbono contido na atmosfera (LAL, 2008). O dióxido
de carbono (CO2) é produzido facilmente nos primeiros 10 cm da superfície do solo, por meio de
processos desencadeado por microrganismos, através da decomposição aeróbica da matéria
orgânica e respiração do sistema radicular das plantas (D‘ANDRÉA et al., 2010).
No Brasil, cerca de 75% das emissões de CO2 são contribuídas pelas mudanças no uso da
terra e agricultura (CERRI&CERRI, 2007). As emissões de CO2 é um dos principais parâmetros
que se relaciona com a respiração, processo este que é geralmente estimulado pelo preparo do solo,
umidade do solo, dentre outros. Entre os fatores bióticos e abióticos que controlam o efluxo de CO2
do solo; destaca-se a disponibilidade de água e a temperatura do solo como os principais
controladores (VINCENT et al.,2006).

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A avaliação da taxa respiratória ou atividade microbiana, gerada pela evolução do CO2


proveniente da respiração de microrganismos heterotróficos aeróbicos durante a oxidação de
compostos orgânicos, é uma das mais usadas (KENNEDY & SMITH, 1995).
Dentre os ecossistemas, as pastagens são consideradas promissoras no sequestro de carbono
atmosférico, por fazerem parte de grandes áreas plantadas no território nacional. Mas, grande parte
destas áreas, não são bem manejadas, ou encontram-se em estado de degradação, o que em vez de
estocar carbono no solo, serve como emissor de carbono à atmosfera. A recuperação de pastagens
degradadas pode ser uma das alternativas de sequestro de carbono, reduzindo assim uma quantidade
de até 104,5 milhões de toneladas de CO2 eq, que poderiam contribuir para agravar o efeito estufa
(LEITE, 2010).
Diante disso, esse trabalho tem como objetivo quantificar o efluxo de CO2 do solo em
distintas posições do relevo em uma encosta sob pastagem, com 20 anos de implantação.

MATERIAL E MÉTODOS

Localização da área de estudo, clima e solo

O experimento foi realizado na microbacia hidrográfica de Vaca Brava (compreendida entre


as coordenadas geográficas: 06o57‘48‖ e 06o59‘43‖ de latitude S e 35o44‘03‖ e 35o45‘59‖ de
longitude O) (Santos & Salcedo, 2010) que possui predominantemente dois tipos de uso do solo,
uma área de reserva ecológica e outra de agropecuária familiar (794 ha), que juntas ocupam uma
superfície de 1.500 ha distribuídos entre os municípios de Areia/PB e Remígio/PB.
A maior parte da microbacia incluindo a reserva ecológica está localizada no município de
Areia/PB, que possui clima tropical chuvoso (pluviosidade anual de 1.200 mm) com déficit hídrico
de setembro a janeiro, e um relevo ondulado a fortemente ondulado, com solos Argilosos como
solos predominantes. No município de Remígio/PB, com características edafoclimáticas de
transição, com solos arenosos, relevo suave ondulado e marcante declínio na pluviosidade anual
(820 mm), com déficit hídrico de setembro a fevereiro, uma parte da microbacia está antropizada,
explorada pela agricultura familiar, onde a principal atividade é a criação extensiva de animais a
pasto (SANTOS et al., 2002) sem qualquer suporte técnico.

Classificação da encosta

A encosta onde ocorreu o presente estudo, está localizada a 6°57‘55,9‖ de latitude S e


35°46‘14,4‖ de longitude O, a mesma é constituída por pastagem de Urochloa decumbens
estabelecida há 20 anos. No presente estudo, a encosta (Figura 1) é composta pela posição do

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ombro, meia encosta e pedimento, posições estas onde ocorreram as avaliações (SANTOS et al.,
2002).

Figura 1. Posições do relevo na topossequência (Santos et al., 2002).

Avaliação física do solo

Foram coletadas amostras de solo, até uma profundidade de 20 cm, em cada posição da
encosta, para a caracterização física do solo (Tabela 1). As amostras coletadas foram destinadas ao
laboratório de Física do solo do CCA-UFPB, onde foram secas ao ar e peneiradas em peneiras com
malha de 2 mm, para em seguida serem analisadas pela metodologia da Embrapa (1997).

AT Silte Argila ADA Ds Dp PT Classificação Textural


Posição
-----------g kg-1 ------------- ---g cm-3--- %

Ombro 652 71 277 19 1,59 2,59 39 Franco argilo arenoso

M. encosta 672 57 271 19 1,59 2,60 39 Franco argilo arenoso

Pedimento 777 67 157 13 1,52 2,58 41 Franco arenoso

Tabela 1. Atributos físicos do solo, na camada de 0-20 cm de profundidade, nas posições do ombro, meia
encosta e pedimento em uma pastagem plantada há 20 anos.

AT = Areia total; ADA = Argila dispersa em água; Ds = Densidade do solo em campo (Método do anel); Dp=
densidade de partícula; PT = Porosidade total (1-(Ds/Dp)); Caracterização determinada pelo método da Embrapa
(1997).

Medidas meteorológicas durante o experimento

Os dados meteorológicos como precipitação pluvial e temperatura do ar (Tabela 2), foram


coletados nos dias de avaliação do efluxo de C-CO2, no local da avaliação, por uma estação
meteorológica (modelo HOBO® U30/NRC da Onset, Massachusetts, EUA), instalada em área
aberta dentro da pastagem e protegida da ação dos animais por uma cerca, feita de estacas de sabiá e
tela de arame.
Coletas Datas* Chuva (mm)** Temperatura

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(°C)***
1 30/04/2016 5,4 23
2 08/05/2016 43,2 22
3 13/05/2016 0 24
4 21/05/2016 0 23
5 27/05/2016 0 23
6 02/06/2016 5 23
7 08/06/2016 0 24
8 20/06/2016 3,8 22
9 02/07/2016 13,8 21
10 15/07/2016 0 22
11 22/07/2016 0 22
12 06/08/2016 0 22
13 12/08/2016 0 22
14 19/08/2016 10 22
15 25/08/2016 0 22
16 03/09/2016 1 23
17 09/09/2016 7,8 23
18 16/09/2016 0 23
19 28/09/2016 0 23
20 13/10/2016 0 24
21 11/11/2016 0 24
22 01/12/2016 0 24
Tabela 2. Dados meteorológicos referentes a cada dia das coletas.
*
Datas referentes aos dias em que foram realizadas as avaliações;
**
Precipitação pluviométrica acumulada referente aos dias em que foram realizadas as avaliações;
***
Temperatura média do ar referente aos dias em que foram realizadas as avaliações.

Efluxo de CO2

O efluxo de CO2 do solo foi avaliado na encosta em um estudo observacional com 66


tratamentos em um esquema fatorial 3x22 que correspondem a três posições do relevo (ombro, meia
encosta e pedimento) e vinte e duas avaliações do efluxo, com três repetições, totalizando 198
amostras. O efluxo de CO2 foi avaliado semanalmente, até o final do período chuvoso (onde a
atividade biológica estabiliza). Esta atividade foi medida pela quantidade de CO2 capturado na
superfície do solo usando a metodologia de Jenkinson & Powlson (1976) adaptada por Ivo &
Salcedo (2012).
Este método consisti na captura do dióxido de carbono (CO2) dentro de câmaras estáticas,
por 40 mL de uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) a 1 Mol L-1 contidos dentro de um
recipiente durante 24 horas. As câmaras estáticas foram feitas a partir de um recipiente circular
(Bacia com diâmetro de 22,3 cm e altura de 8 cm) ocupando uma área de 0,0391 m 2, com suas
bordas voltadas ao solo, para proteger o NaOH no recipiente, do CO2 presente na atmosfera. Os
recipientes contendo o NaOH tem uma área de 0,0154 m2 e foram envoltos pela câmara.

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O efluxo de CO2 (respiração autotrófica (atividade radicular)e respiração heterotrófica


(atividade meso, macro e microbiana)) no campo prosseguiu os seguintes passos: 1) Corte da parte
aérea das plantas no local, com auxílio de tesoura; 2) Implante de uma armação de ferro nivelada no
solo, com um martelo e nível de pedreiro; 3) inserção do recipiente com a solução sobre a armação;
4) Cobertura do recipiente com a câmara estática (Bacia); 5) Cobrir totalmente a câmara estática
com uma sacola plástica contendo areia, para evitar o fluxo de CO2 da câmara para atmosfera; No
tratamento controle (branco) o recipiente ficou tampado e protegido durante as 24 h em um saco
plástico fechado, no entanto, o recipiente foi exposto ao ar atmosférico pelo mesmo período dos
demais tratamentos durante a colocação (≈ 5 segundos) e retirada (≈ 2 segundos) do recipiente.
Completadas as 24 h, os recipientes foram retirados, tampados, armazenados, identificados e
transportados até o laboratório de matéria orgânica do solo, onde a solução de NaOH foi transferida
para recipientes fechados e armazenados na geladeira. O teor de C foi determinado por titulação
potenciométrica com ácido clorídrico (HCl) a 0,05 N (SAMPAIO & SALCEDO, 1982) e calculado
usando a seguinte fórmula:
C-CO2 (mg m-2 h-1) = (((VGT - VGB)*0,05)*12) * (VCR / VUT) * (AB / TH)
Onde: VGT = Volume de HCl gasto na titulação da amostra; VGB = Volume de HCl gasto
na titulação do branco; 0,05 = Normalidade do HCl utilizado na titulação; 12 = Massa molecular do
carbono; VCR = Volume de NaOH contido no recipiente; VUT = Volume de NaOH titulado; AB =
Área da câmara estática (Bacia); TH = Tempo em horas da captura do C-CO2.
Os valores médios das três repetições foram submetidos à análise de variância e quando
pertinente comparado às médias das posições pelo teste de Tukey (P≤0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As maiores emissões ocorreram nas sete primeiras coletas, que estão entre as datas amostrais
de 30 de abril à 08 de junho de 2016 (Figura 1), onde se observa que os maiores valores de efluxo
de CO2 do solo, encontram-se a partir de 4.46μmolm-2s-1 de emissão (décima coleta, realizada em 15
de julho de 2016), e que após esses valores há um grande agrupamento das médias de emissões,
entre as demais coletas com pouca ou nenhuma diferença estatística entre elas. Em relação às
menores emissões de CO2 do solo, ocorreram nas duas últimas coletas (coletas 21 e 22, nas datas 11
de novembro e 01 de dezembro de 2016, respectivamente) apresentando valores de 1,86 e 1,11
μmolm-2s-1, respectivamente. Esta variação tendendo a um agrupamento de comportamento está
associada às variações meteorológicas ao longo do ano (Tabela 2), sobretudo à precipitação
pluviométrica, que propicia uma melhor condição para a atividade autotrófica (respiração radicular)
e heterotrófica (macro, meso e microbiana), verificando assim que as maiores emissões ocorreram

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nos períodos chuvosos, ou com chuvas ocasionais, e as menores emissões, ocorreram no período
seco do ano.
Este trabalho apresenta resultados semelhantes com o trabalho desenvolvido por Pinto-
Junior et al. (2009), no qual os mesmos encontraram em área de pastagem valores de efluxo de CO 2
mínimo de 1,44 ± 0,38 μmolm-2s-1 (estação seca), e máximo de 8,27 ± 2,70 μmolm-2s-1 (transição
chuvosa-seca), demostrando assim que no período mais seco do ano o solo encontra-se com uma
baixa umidade e consequentemente há uma menor atividade da biota do solo, resultando assim em
menores valores de emissão de CO2 do solo. Nunes (2003) verificou que com a ocorrência de
chuvas, há um aumento do efluxo de CO2 do solo, encontrando em seu trabalho, em área de
pastagem, os maiores valores de efluxo de CO2 do solo no mês de janeiro, devido a ocorrência de
chuvas, contribuindo assim para o aumento da atividade microbiana do solo.
A umidade do solo é um dos fatores primordiais quando se trata em efluxo de CO2 do solo,
pois a mesma tem uma relação direta com o efluxo, quando a umidade do solo encontra-se alta há
uma maior emissão de CO2 e quando a mesma encontra-se baixa há uma menor emissão de CO2
(DIAS, 2006). BUNNELL, et al. (1997) afirmaram que quanto maior a umidade do solo, maior será
a emissão de CO2, mas quando há um excesso de água no solo ocorre problemas nas trocas de CO 2
e O2 do solo com a atmosfera, causando assim uma queda nas emissões de CO2 do solo.

Figura 2: Efluxo de CO2 durante o ano de 2016, em uma encosta, sob pastagem plantada há 20 anos
* As coletas (de 1 a 22) foram realizadas nas datas listadas na tabela 2.

Pode ser observado na figura 2, as grandes diferenças no efluxo de CO2 do solo, entre a
época chuvosa e a época seca do ano, representadas de forma bem clara na figura 2, onde na coleta
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 244
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1 (realizada em 30 de abril de 2016), no período chuvoso, foram registradas as maiores emissões de


CO2, e na coleta 22 (realizada em 01 de dezembro de 2016) registraram-se as menores emissões de
CO2, isso ocorre porque no período seco, com menor conteúdo de água no solo, houve menor
atividade biológica, o que gerou menor emissão, enquanto no período chuvoso há água no solo, em
quantidade adequada para atividade biológica, favorecendo as maiores emissões. Vale salientar que
em ambiente tropical e especialmente em zonas secas e úmidas, as chuvas representam a condição
Primming para o máximo da atividade biológica.
Na tabela 3 estão apresentadas as variações do efluxo de CO2 do solo, dentro do
agrupamentos de coletas, nas distintas posições da encosta (Ombro, Meia encosta e Pedimento),
onde no agrupamento de coletas (1, 3, 5, 6, 8, 10, 11, 12, 14, 20) não houve diferenças entre as
posições da encosta (ombro e meia encosta), mas houve diferenças significativas entre essas
posições e o pedimento, onde a posição do pedimento foi a que se destacou nas emissões de CO 2 do
solo. Isso pode ser explicado pelos dados apresentados na tabela 1 (onde é possível observar que
ombro e meia encosta possuem a mesma classe textural, e diferem da classe textural do pedimento)
através dessa informação observa-se que para as condições meteorológicas das datas amostrais
citadas, a textura mais arenosa e, portanto, mais macroporosa no pedimento, possibilitou maior
emissão que no ombro e meia encosta, que possuem textura mais argilosa e maior microporosidade
o que aparentemente dificultou a difusão do gás nessas datas.
Já no agrupamento das coletas (4, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22) não houve diferenças entre
as distintas posições da encosta (Ombro, Meia encosta, Pedimento), aparentemente, há uma época
no ano, onde a textura do solo não interfere na emissão de CO2, e isso ocorre quando há as menores
precipitações pluviométricas, podendo ser verificado na tabela 2, o que possivelmente, inibe as
difusões de CO2 do solo em menores quantidades no ano. No agrupamento das coletas (2, 7, 9)
houve diferenças nas emissões de CO2 do solo entre todas as três posições da encosta avaliada, em
que a posição do pedimento foi a que se destacou novamente no efluxo de CO2 do solo. Tais
resultados reforçam o que foi dito, anteriormente, de que a textura influi na emissão, mas não só a
textura e sim as características físicas como um todo (Tabela 1), onde o pedimento por ser uma
posição com maior teor de areia, possibilita maior emissão de CO2, que as demais posições do
relevo.
Dentre as características físicas do solo, a textura é uma das principais e mais importante no
que se refere a troca de gases entre a atmosfera e o solo, pois a mesma tem uma forte interferência
no que diz respeito a quantidade de água no solo, podendo assim facilitar ou dificultar a entrada ou
saída desses gases. Segundo Edwards (1975) a movimentação de CO2 nos poros do solo é
prejudicada pelo excesso de água.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 245


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A tabela 2 mostra as características físicas do solo de cada posição avaliada na encosta, onde
pode-se observar a diferença da textura de cada posição, onde a posição do ombro e meia encosta
apresenta textura franco argilo arenoso e a posição do pedimento apresenta textura franco arenoso, e
que o pedimento apresenta uma maior porosidade total em relação as demais posições avaliadas,
refletindo assim em seus resultados se expressarem no efluxo de CO2 do solo em relação ao ombro
e a meia encosta, dentro de cada grupo de coletas. Pois solos que apresentam textura mais arenosa,
tem uma maior quantidade de macroporos e consequentemente maior aeração, e como no solo tem-
se uma maior quantidade de CO2 em relação ao O2, esses solos apresentam uma maior facilidade na
difusão do gás (CO2). De acordo com LUCHESE, et al. (2001) a maior ou menor quantidade de
microporos e macroporos de um solo, depende de sua textura.
Coletas (1, 3, 5, 6, 8, 10, 11, 12, 14, 20)
Posição Diferenças
Ombro b
M. encosta b
Pedimento a
Coletas (4, 13, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22)
Posição Diferenças
Ombro a
M. encosta a
Pedimento a
Coletas (2, 7, 9)
Posição Diferenças
Ombro c
M. encosta b
Pedimento a
Tabela 3. Agrupamento de coletas na encosta.
*As coletas foram realizadas nas datas listadas na tabela 2.

CONCLUSÕES

A emissão de CO2 varia ao longo do ano, de acordo com o período seco ou chuvoso; porém
os eventos de chuva ao longo do ano, sejam eles regulares ou não, representam um aumento na
emissão de CO2 do solo;
A emissão de CO2 varia ao longo do ano entre as posições do relevo, de acordo com a
textura do solo, sendo que há uma tendência de maior emissão de CO2 na posição do pedimento, em
relação ao ombro e meia encosta.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 246


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AGRADECIMENTOS

Ao querido professor PhD. Ignacio Hernan Salcedo (In memorian) pelas valorosas
contribuições a esse trabalho. E a Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba
(PROPESQ-UFPB) pela concessão da bolsa de pesquisa.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS DO RIO ESPINHARAS NO TRECHO URBANO DO


MUNICÍPIO DE SERRA NEGRA DO NORTE/RN

Irami Rodrigues MONTEIRO JUNIOR


Graduando do curso de Geografia da UFRN/Campus de Caicó
iramirrodrigues@outlook.com
Ana Caroline Damasceno SOUZA
Graduanda do curso de Geografia da UFRN/Campus de Caicó
anacaroline.lama@gmail.com
Ana Clara Damasceno Souza de MEDEIROS
Graduanda do curso de Geografia da UFRN/Campus de Caicó
clarasouza.lama@gmail.com
Diógenes Félix da Silva COSTA
Professor Doutor do Departamento de Geografia UFRN/Campus de Caicó
diogenes.costa@pq.cnpq.br

RESUMO
No Brasil, a grande maioria das cidades surgiram as margens de rios, as atividades econômicas
dependiam desses fluxos de água que os rios ofereciam. Estes ambientes aquáticos proporcionam
diversos benefícios ao homem, sendo denominados serviços ecossistêmicos. O objetivo deste
trabalho foi identificar e classificar os serviços ecossistêmicos que são prestados desde a década de
1930 até atualmente no trecho urbano do rio Espinharas em Serra Negra do Norte/RN. As etapas
metodológicas consistiram em revisão bibliográfica do acervo local, pesquisa semiestruturada com
a comunidade, as visitas in loco e uma lista de checagem, utilizando a metodologia da Common
International Classification of Ecosystem Services – CICES, que classifica os serviços
ecossistêmicos em: 1) Provisão; 2) Regulação e Manutenção; e 3) Cultural. Em 1930, predominava
a criação de gado, abundância de capim, grande quantidade de plantas frutíferas, leques de
coqueirais ou canaviais, pescaria de subsistência, dessedentação animal, abastecimento da cidade,
lazer em contato direto com a água, enquanto que atualmente persistiram alguns desses serviços e
acresceram-se outros, como a criação de bovinos, equinos, ovinos, caprinos, suínos, o uso de
plantas para benzedeiras e rezadeiras. Sendo assim, a metodologia utilizada foi eficaz para
comparar e elencar os serviços ecossistêmicos presentes no trecho urbano do rio Espinharas, tendo
grande significação histórica, socioeconômica e cultural para a população.
Palavras chave: Caatinga; Fluxos de água; Biodiversidade.
ABSTRACT
In Brazil the vast majority of cities have emerged the banks of rivers, the economic activities
depended on these flows of water that the rivers offered. These aquatic environments provide
several benefits to man, being called ecosystem services. The objective of this work was to identify
and classify the ecosystem services that are provided in the 1930s and currently in the urban stretch
of the Espinharas river in Serra Negra do Norte/RN. The methodological steps consisted of a
bibliographical revision of the local collection, Semistructured research with the community, on-site
visits and a checklist, Using the methodology of the Common International Classification of
Ecosystem Services (CICES) which classifies ecosystem services in: 1) Provision; 2) Regulation
and Maintenance; Cultural. In 1930, cattle raising predominated, abundance of grass, large quantity
of fruit plants, fans of coconut trees or sugar cane, subsistence fishery, animal watering, supply of

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 249


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

the city, leisure in direct contact with water, while some of these services have persisted and others
have been added, such as cattle, horses, sheep, goats, pigs, the use of plants for healers and
mourners. Therefore, the methodology used was effective to compare and to list the ecosystem
services present in the urban stretch of the Espinharas river, having great historical, socioeconomic
and cultural significance for the population.
keywords: Caatinga; water flux; Biodiversity.

INTRODUÇÃO

As primeiras civilizações no oriente médio utilizavam os recursos associados aos rios para
sobrevivência. Desde os primórdios os povos procuram se estabelecer as margens dos rios para
usufruir dos fluxos de águas e sedimentos que eram trazidos pelas cheias apresentando solo rico
de nutrientes. O mesmo processo de ocupação das margens do rio ocorreu no Egito, na Inglaterra,
na Itália em outros diversos países e cidades do oriente e ocidente (BOULOS JUNIOR, 2013).
No Brasil, a grande maioria das cidades surgiram as margens de rios, as atividades
econômicas dependiam desses fluxos de água. O Seridó norte-rio-grandense ergueu-se diante da
ocupação das margens dos rios, surgindo assim as cidades que compõem o Seridó oriental e
ocidental (FARIA, 1980). Inicialmente, a principal atividade exercida relacionada a
disponibilidade hídrica foi à agricultura e a pecuária (MONTEIRO, 1984).
O município de Serra Negra do Norte/RN surgiu na margem oeste do rio Espinharas, com
vistas no uso dos recursos hídricos para a produção do algodão e rebanho bovino, sendo estes os
primeiros benefícios obtidos do ecossistema registrados na literatura local (CUNHA, 1971;
MONTEIRO, 1984; FARIA, 1980; LAMARTINE, 2004).
Entende-se atualmente que estes ambientes aquáticos proporcionam diversos serviços
ecossistêmicos ao homem (COSTA et al., 2014, 2015; OLIVEIRA et al., 2016; SOUZA et al.,
2016; MEDEIROS et al., 2017), os quais são entendidos como benefícios tangíveis (fluxos de
recursos naturais) e intangíveis (relacionados a valores e comportamentos humanos), prestados
pelos ecossistemas para o bem estar humano (CICES, 2011; ANRADE; ROMEIRO, 2009).
É necessário analisar o conhecimento e o registro dos benefícios obtidos às margens do rio
no trecho urbano, a fim de realizar uma comparação entre as atividades existentes na década de
1930 e os atuais serviços ecossistêmicos que são prestados, buscando através destas bases
científicas um maior empenho, visando a preservação dos recursos naturais diante de sua
importância nas esferas ambiental, social e econômica.
O objetivo deste trabalho foi identificar e classificar os serviços ecossistêmicos que são
prestados atualmente e na década de 1930 pelo trecho urbano do rio Espinharas em Serra Negra do
Norte/RN.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

METODOLOGIA

Área de estudo

A área a ser estudada é um recorte do trecho urbano da sub-bacia do Rio Espinharas


(RN/PB), situado no município de Serra Negra do Norte/RN (Mapa I) que está inserida na Bacia
Hidrográfica do Piranhas-Açu. O município de Serra Negra do Norte/RN, distante 318 km da
capital do estado, possui 8.152 habitantes (IBGE, 2016) e abrange aproximadamente 1.150 km do
rio Espinharas na área urbana.
O Rio Espinharas se forma pela confluência do Rio da Cruz, que nasce no município de
Imaculada/PB, como Rio da Farinha, originado no município de Salgadinho/PB, passando pelo
município de Patos/PB. Na divisa dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, o Rio
Espinharas deságua no Rio Piranhas, no município de Serra Negra do Norte/RN (SILVA; LIMA;
MENDONÇA, 2013).

Mapa I – Mapa de localização do trecho urbano do rio Espinharas em


Serra Negra do Norte/RN.
Fonte: Acervo dos autores, 2017.

Procedimentos metodológicos

As etapas metodológicas iniciaram com uma revisão bibliográfica digital, na biblioteca


pública, instituições privadas e estadual de ensino do município de Serra Negra do Norte (RN).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foram utilizados livros, teses, dissertações, monografias e artigos científicos que foram de
fundamental importância teórica sobre a temática de rios urbanos e a história local.
Foi realizado um levantamento in situ utilizando 01 aparelho GNSS para reconhecimento da
área, além de pesquisa semiestruturada com moradores durante o trajeto do curso do rio com o
objetivo de aplicar a técnica de lista de checagem (SÁNCHEZ, 2013) afim de identificar os
principais serviços ecossistêmicos, através da metodologia da Common International Classification
of Ecosystem Services – CICES, que classifica os serviços em: 1) Provisão; 2) Regulação e
Manutenção; e 3) Cultural gerados pelo rio Espinharas, buscando aprimorar uma fiel descrição de
cada um.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A literatura da década de 1930 descreve as primeiras funções que o ecossistema oferecia no


município de Serra Negra do Norte/RN as margens do rio Espinharas (Tabela I), sendo uma região
acidentada ainda coberta de matas de angicos, aroeiras e cumarus, e a terra era pouco favorável à
agricultura (LAMARTINE, 2004). Então os serranegrenses, desde os tempos remotos de Manuel
Pereira Monteiro dedicam-se preferencialmente a criação de bovinos (FARIA, 1980).

TRECHO URBANO DO RIO ESPINHARAS EM SERRA


NEGRA DO NORTE (RN), 1930
Criação de gado
Abundância de capim
Grande quantidade de plantas frutíferas
Leques de coqueirais ou canaviais
Pescaria de subsistência
Vazantes nas margens
Servia de bebedouro para rebanhos
Presença da mata ciliar
Abastecimento da cidade
Lazer em contato direto com a água
Tabela I. Serviços ecossistêmicos prestados em 1930.
Fonte: Cunha (1971), Faria (1980) e Lamartine (2004).

A pecuária foi à primeira fonte de renda do município as margens deste corpo hídrico,
associado a plantações de capim para alimentar o gado, posteriormente a agricultura de vazante no
período de seca em que eram plantadas batatas, feijão de corda, melancia, jerimum, entre outras, as
margens do rio e em seu leito, utilizando a umidade do lençol freático (LAMARTINE 2004).
Nesta época, é descrita também a presença de grandes quantidades de plantas frutíferas,
coqueirais e plantações de cana-de-açúcar, que durante a época da produção de rapadura no fim do
ano, havia a colheita para as casas de engenho. Além deste, o rio servia como área de lazer e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

interação entre os munícipes (figura I), tendo uma grande importância histórica, socioeconômica e
cultural para a população.

Figura I. Barragem do bairro Arécio Batista de 1930.


Fonte: Secretaria paroquial de Serra N. do Norte/RN, 2017.

A urbanização sem planejamento e a ausência de fiscalização e políticas apropriadas,


contribuíram para a degradação ambiental, onde foram desmatadas parte da mata ciliar, constando a
urgência em seu ordenamento, em busca de amenizar os impactos negativos trazidos a população
nos períodos de chuvas que ocasionam enchentes devido construções residenciais no terraço fluvial.
Devido à herança da intensa atividade pecuarista existente na área, até os dias atuais, é
possível encontrar animais ao longo de todo o percurso das margens do rio, como bovinos, caprinos,
suínos, equinos e ovinos, com isso, há uma exacerbada contribuição para que os recursos naturais
oferecidos sejam exauridos facilmente.
Ainda como serviços de provisão, destaca-se a água do leito do rio sendo utilizada para
irrigação de capim elefante e brachiaria, plantas frutíferas (mangueira, goiabeira, coqueiro, pinha),
agricultura de subsistência (feijão, batata, milho), além da dessedentação animal e utilização para
usos secundários, como regar plantas e canteiros, praças públicas e piscicultura (Quadro I).
SEÇÃO DIVISÃO GRUPO CLASSE TIPO DE CLASSE EXEMPLOS
Animais, por
Animais Bovinos, equinos, ovinos, caprinos, suínos
quantidade, tipo
Plantas, por quantidade,
Plantas Agricultura, fruticultura, capim
Biomassa

tipo
NUTRIÇÃO
PROVISÃO

Animais da Animais por quantidade,


Peixes
aquicultura tipo

Por quantidade, tipo e


Água

Água doce Irrigação, dessedentação animal


uso

Quadro I – Classificação CICES: Serviços de Provisão.


Fonte: Adaptado de Rabelo (2014).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na observação de campo realizada às margens do rio, notou-se na categoria serviços de


regulação e manutenção (Quadro II), a espécie aguapé, Eichornea crassipes (Mart.)
Solms/Pontederiaceae (figura II), bioindicadora de baixa qualidade de água.
O aguapé é uma planta carnosa, com raízes longas, capaz de absorver metais pesados e
duplicar sua massa em até duas semanas, causando problemas de crescimento excessivo em
reservatórios, diretamente relacionada à disponibilidade de nutrientes e às condições de temperatura
e luminosidade, selecionando ambientes com maior incidência de radiação (LIMA et al., 2003).

Figura II: Proliferação da E. crassipes, no Rio Espinharas, Serra N.do Norte/RN.


Fonte: Acervo dos autores.

Investigando as causas da presença do aguapé, recorreu-se a elencar pressões que impactam


o ecossistema. Segundo a Secretaria de Saneamento, Recursos Hídricos e Abastecimento do
município, Serra Negra do Norte possui 95% do esgoto tratado e 5% de fossa céptica (na periferia
da cidade), com o objetivo de diminuir os impactos sob o rio ao receber resíduos.
A montante, o rio Espinharas percorre a área urbana do município de Patos/PB, em que parte
do esgoto é canalizado e direcionado para o rio ―in natura‖, acarretando na elevação de nutrientes e
alterando a biota, e essa condição altera a qualidade da água que o trecho urbano do rio Espinharas
em Serra Negra do Norte recebe (SILVA; LIMA; MENDONÇA, 2013).
Outra causa que pode ser apontada é a utilização de fertilizantes e utilização de elementos
químicos para correção do solo na agricultura, assim como as fezes dos animais que têm elevada
concentração de nutrientes, que a posteriori são carregados para o leito do rio.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

TIPO DE EXEMPLOS
SEÇÃO DIVISÃO GRUPO CLASSE
CLASSE
Biorremediação por Desintoxicação Bioquímica

RESÍDU

Mediaçã
MEDIÇ
Por quantidade,

ÃO DE

o pela
biota
micro-organismos (Aguapé)

OS
tipo e uso
Filtragem, retenção Filtragem biológica (Aguapé)
Estabilização de
Estabilização dos ecossistemas

Fluxo de massa
massa e controle de Redução do
(Capim elefante, mata ciliar)
taxas de erosão risco, área
Atenuação dos fluxos protegida
Transporte de sedimentos
MEDIAÇÃO DE FLUXOS

de massa
MANUTENÇÃO E REGULAÇÃO

Ciclo hidrológico e Por


manutenção do fluxo profundidade, Abastecimento de água
Fluxos líquidos

da água volume
Redução do
Proteção contra as enchentes
Proteção de enchentes risco, área
(Barragem Arécio Batista)
protegida
Polinização e Animais (beija-flor, abelha, insetos,
Manutenção do
ciclo de vida,
QUÍMICAS E BIOLÓGICAS

dispersão de sementes macacos)


Por quantidade
CONDIÇÕES FÍSICAS,

habitat
MANUTENÇÃO DAS

A manutenção de e fonte
Habitats (alevinos)
habitats

Amenidade da temperatura e
Regulação
climática

Regulação climática Por quantidade,


aumento da umidade devido as
local concentração
plantas

Quadro II - Classificação de CICES: Serviços de Regulação e Manutenção.


Fonte: Adaptado de Rabelo (2014).

O leito do rio está em um processo acelerado de assoreamento, este é um processo natural, e


com o barramento do curso do rio pela barragem do bairro Arécio Batista (que auxilia no controle
de enchentes), e a retirada da cobertura vegetal para o cultivo de capim elefante (Pennisetum
purpureum Schum/Poaceae) e brachiaria (Brachiaria decumbens Stapf. Prain./Poaceae) nas
margens para produzir forragem animal, e estabilizar a sedimentação e controle de taxas de erosão,
no entanto, diminui a profundidade do leito, com bancos de areia visíveis devido ao transporte de
sedimentos.
Observa-se em suas margens que a cobertura vegetal ripária, ao longo dos ambientes
ribeirinhos intermitentes, é importante na proteção dos ambientes aquáticos e na regulação e
manutenção da diversidade biológica bem como é fator importante na estabilidade dos solos e na
manutenção do ciclo hidrológico (LACERDA et al., 2007).
Ao percorrer o trajeto na passarela (Figura III) que foi construída para auxiliar e incentivar
práticas de bem-estar da comunidade (Quadro III), encontram-se animais polinizadores, como beija-
flor, insetos, e mamíferos em geral, que se alimentam de flores, sementes e frutos que disseminam e
equilibram o ecossistema (Quadro II), assim como oferecem uma melhor qualidade de vida a quem

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 255


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

frequenta este local, obtendo contato com a natureza. O rio também propicia o nicho ecológico de
alevinos, que se refugiam de predadores as margens do rio.

TIPO DE
SEÇÃO DIVISÃO GRUPO CLASSE EXEMPLOS
CLASSE

Simbólico Plantas para rezadeiras

Espiritual ou
emblemática
Pelo uso, plantas
ESPIRITUAIS E
Crenças populares
INTERAÇÕES

SIMBÓLICAS Sagrado ou religioso


(Benzedeiras)

Existência Por plantas, Contemplação da paisagem


Outros animais,
Disposição de preservar para
Legado
CULTURAL

paisagem
as gerações futuras

Passarela para caminhada


Interações

vivenciais
físicas e
INTERAÇÕES FÍSICAS E
INTELECTUAIS COM O

Recreativo Usos Academia da saúde


ECOSSISTEMA

Registros fotográficos

Estético Paisagem cênica


representativas
Intelectuais e

Registros históricos e
Interações

Herança cultural Por uso, registros,


fotográficos
plantas, animais
Experiência do mundo
Entretenimento
natural

Quadro III - Classificação de CICES: Serviços Culturais.


Fonte: Adaptado de Rabelo (2014).

Nos serviços culturais, são elencadas plantas como vassourinha, carnaubeira, pinhão-roxo,
para interações espirituais, por rezadeiras e benzedeiras, crenças populares para afastar mau olhado
e energias negativas. Assim como oferece práticas de bem-estar ao homem pela existência de aves,
plantas e animais que melhoram a saúde mental e espiritual de quem frequenta a passarela de
caminhada e praças públicas, as margens do rio Espinharas.

Figura III: Passarela as margens do rio Espinharas, Serra Negra do Norte/RN.


Fonte: Acervo dos autores.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 256


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A tradição cultural vem sendo preservada ao longo dos anos passando para gerações futuras.
Crendice popular e tradição religiosa ainda se mantém presentes no seio da comunidade, as festas
religiosas e festa do agricultor são regularmente mantidas em datas especificas preservando as
características dos descendentes, valorizando a cultura local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da revisão bibliográfica dos acervos locais, pesquisa semiestruturada com a


comunidade, as visitas in loco e uma lista de checagem de quais atividades existiam na década de
1930, e atualmente em 2017, constatou-se que o rio Espinharas perdeu, manteve e adquiriu usos,
pois com a modernização e o meio técnico-científico-informacional se fazendo presente nos dias
atuais, contam com tecnologias e técnicas que facilitam o modo de vida, mesmo que perpetuando
algumas técnicas antigas.
A utilização de recursos naturais, desde os primórdios, consistiu em uma estratégia
encontrada pelas civilizações para deter poder econômico, e em muitos casos, os serviços
oferecidos são utilizados até a exaustão, a exemplo da cana-de-açúcar que era cultivada para fazer
rapadura.
Mesmo com as intervenções humanas às margens, muitos são os serviços ecossistêmicos
prestados pelo rio Espinharas, embora com menor intensidade, como plantações de capim, lavouras,
pesca e pecuária, sendo esta a fonte de renda de algumas famílias que dependem desse ecossistema.
Os serviços ecossistêmicos de provisão, culturais, regulação e manutenção do equilíbrio
natural do meio biótico, são de suma importância para a comunidade, onde as pressões decorrentes
da ocupação antrópica às margens do rio Espinharas possam alterar as condições ambientais,
prejudicando a biota e a qualidade de vida da população que reside ou transita próximo a este
trecho, que tem grande significado histórico, socioeconômico e cultural para a população.
Os autores agradecem ao CERES- Centro de Ensino Superior do Seridó e ao LAMMA-
Laboratório Multiusuário de Monitoramento Ambiental (UFRN- Campus de Caicó), pelo apoio
logístico e instrumental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

SITUAÇÃO ATUAL DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS URBANOS EM


IMPERATRIZ (MA) A PARTIR DO AGLOMERADO POPULACIONAL
DENOMINADO GRANDE CAFETEIRA

Jessica Conceição da SILVA


Graduanda de Ciências Biológicas – Universidade Estadual do Maranhão
jessicac.silva@hotmail.com.
Luiz Jorge Bezerra DIAS
Professor de Geografia Física, Universidade Estadual do Maranhão, Campus Paulo VI
luizjorgedias@hotmail.com
Jorge Diniz de OLIVEIRA
Professor de Química Analítica, UEMASUL, campus Imperatriz.
jzinid@hotmail.com

RESUMO
Demonstram-se os impactos causados pela tectogênese, como a formação de terrenos artificiais ou
tecnogênicos e suas implicações sobre a paisagem natural, a erosão do solo, o comprometimento de
vazão de pequenos corpos hídricos e mazelas relacionadas aos contextos sociais, como a saúde
humana e ambiental. Estes terrenos artificiais, tecnogênicos, ou antropogênicos, são também
denominados de depósitos, sendo estes com paisagens, solos, relevo e qualquer outra configuração
desencadeada direta ou indiretamente pela ação humana. O homem está filosoficamente
caracterizado como um ser que se diferencia espontaneamente da natureza, que sofre com suas
interferências e ação sobre a mesma. A intensidade da ação antrópica com intuito de ocupação de
terras para a fixação de população buscando maior desenvolvimento econômico trouxe consigo um
quadro de degradação ambiental jamais vista antes. Este trabalho aborda como se apresentam os
depósitos tecnogênicos partindo da revisão bibliográfica e posteriormente a ocorrência desses tipos
de configuração geológico-geomorfológicos urbanos na região denominada Grande Cafeteira no
município de Imperatriz, localizada no Sudoeste Maranhense. A área é entrecortada por dois
riachos, o Capivara e o Bacuri. Os depósitos estudados foram classificados de acordo com o tipo de
material constituinte. Certamente nas áreas estudadas há uma grande modificação da paisagem, do
relevo e do solo, alterações que trazem naturalmente situações de risco, principalmente inundações,
nos pontos próximos aos riachos.
Palavras chave: Análise da Paisagem. Depósitos Tecnogênicos. Impactos Socioambientais.
Imperatriz (Maranhão).
ABSTRACT
Impacts caused by tectogenesis, such as the formation of artificial or technogenic terrain and their
implications for the natural landscape, soil erosion, impairment of small water bodies, and hazards
related to social contexts such as human health and environmental. These artificial, technogenic, or
anthropogenic lands are also called deposits, these being landscapes, soil, relief and any other
configuration triggered directly or indirectly by human action. Man is ontologically characterized as
a being that spontaneously differs from nature, which suffers from its interference and action upon
it. The intensity of the anthropic action with the intention of occupying land for the fixation of
population seeking greater economic development brought with it a picture of environmental
degradation never seen before. This paper discusses how technogenic deposits are presented starting
from the bibliographical review and later the occurrence of these types of urban geological-

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

geomorphological configuration in the region known as Grande Cafeteira in the municipality of


Imperatriz, located in Southwest Maranhense. The area is intersected by two small rivers, the
Capivara and Bacuri. The studied deposits were classified according to the type of constituent
material. Certainly in the studied areas there is a great modification of the landscape, the relief and
the soil, changes that naturally bring situations of risk, especially floods, especially in the points
near the streams.
Keywords: Landscape Analysis. Technogenic Deposits. Socioenvironmental Impacts. Imperatriz
(Maranhão).

INTRODUÇÃO

A ação antropogênica é principal fator de alterações climáticas e geológico-geomofológicas


locais (TRICART, 1977). Para Tricart (1965 apud PENTEADO, 1980), as análises de formas de
relevo e suas alterações naturais e antropogênicas devem ser analisadas sob diferentes escalas.
Nesse contexto, a mais indicada para esse trabalho é a quinta ordem de grandeza, ou seja, a que
envolve espaços pequenos, circunscritos a poucos quilômetros quadrados de ocorrência. Por
conseguinte, a identificação de processos antrópicos associados a um espaço total local ou regional
é importante condição para o planejamento e ordenamento dos territórios (AB‘SÁBER, 2006).
Com base nesses ―recortes‖, é possível analisar com cautela as perturbações antrópicas
inseridas em um contexto territorial. Ao longo dos anos e com as alterações perceptíveis no
ambiente natural, o homem é colocado como um dos principais agentes geológicos em escalas
grandes (quer dizer, em espaços pequenos, como os urbanos) e precursor no que diz respeito ao
período geológico designado com Tecnógeno.
O acúmulo de diversos materiais com formas e composições heterogêneas inseridas muitas
vezes inadequadamente nos espaços naturais acabam por alterar as morfologias originais resultando
em novas formas de relevo, as quais implicam em modificações nas próprias relações ambientais
em curso no contexto geográfico em que essas perturbações ocorrem (RODRIGUES; GOUVEIA,
2013). Assim, a morfologia urbana acaba por ser di per si uma consequência das necessidades
humanas de incorporar mais áreas para atender às suas necessidades dentro das cidades, bem como
é a causa de processos severos socioambientais, como possibilidades de alterações na drenagem
superficial e erosão em vertentes (DIAS, 2015). E isso não seria real sem a interferência direta das
antropogêneses, que em função dos materiais heterogêneos dispostos nos mais variados espaços,
acabam por configurar novas formas de relevo através dos considerados depósitos tecnogênicos.
Desta maneira, depósitos tecnogênicos podem ser definidos como formas ou depósitos que
são resultantes da atividade humana, abrangendo depósitos construídos como os aterros, ou
depósitos induzidos, oriundos de sedimentos que se depositam em virtude da erosão decorrente do

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uso do solo (SUERTEGARAY et al., 2008, p. 236). Assim, a presença de vestígios humanos é
claramente um alterador considerável na configuração desse conceito.
Os depósitos tecnogênicos são encontrados em grande escala nas cidades, devido
principalmente às movimentações cotidianas urbanas e a produção de resíduos podem partir tanto
da ação residencial, quanto de grandes obras. Some-se a isso o descarte do consumismo urbano, que
por sua vez apresentam materiais que configuram ambientes tecnogênicos diferenciados. As áreas
que recebem as alterações antropogênicas ora mencionadas passam por perturbações irreversíveis, e
a tentativa de recuperação da natureza que se degradou passa a ser quase impossível.
Machado (2013) afirma que o sistema ambiental submetido a perturbações de ordem natural
ou antropogênica provoca em seus elementos componentes irregularidades nos processos de
transferência de matéria e energia, através dos quais a pesquisa científica pode utilizar-se para
detecção e monitoramento destas anomalias para predizer estados futuros ou passados da dinâmica
de funcionamento de um conjunto.
Podem-se mensurar as taxas de erosão, transporte e sedimentação em uma bacia hidrográfica
resultantes de desmatamento indiscriminado, ou ainda as alterações induzidas nas formas de relevo
fluvial por diferenças de débito e descarga da vazão da água. As consequências estendem-se por
todo sistema, entrelaçadas como elos de uma corrente provocando prejuízos ao ambiente e a
economia de uma região (MACHADO, 2013; DIAS, 2012). Rodrigues (2005), por sua vez, indica
que a ação antrópica deve ser considerada como ação geomorfológica, pois estas ações podem
modificar propriedades e localização dos materiais superficiais; interferir em vetores, taxas e
balanços dos processos e gerar de forma direta e indireta outra morfologia.
Destarte, no município de Imperatriz, mais precisamente em bairros afastados do centro
comercial, encontram-se diversas áreas em que facilmente são identificados depósitos tecnogênicos.
Comerciantes das áreas urbanas depositam em locais mais afastados do convívio da população do
município de Imperatriz materiais inorgânicos e orgânicos, permitindo o acréscimo de novos
terrenos à malha urbana pré-existente, ao passo que reconfigura as paisagens locais, causam
impactos ao solo e modificando a paisagem. Assim, na área da Região denominada grande
Cafeteira, Alto Bonito, Vila Cafeteira, Vila Ipiranga e Vila Zenira é possível encontrar muito dos
que são caracterizados como depósitos tecnogênicos, alguns mais afastados do convívio humanos,
outros até mesmo em seus quintais, trazendo assim riscos à saúde de animais domésticos e seres
humanos
Buscando contribuir no conhecimento sobre o assunto a nível local e melhor compreender a
ação antrópica no município de Imperatriz - MA, mais diretamente na área que compreende os
bairros da Vila Cafeteira, os quais são entrecortados pelos Riachos Bacuri e Capivara, propõe-se

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mapear e caracterizar os depósitos tecnogênicos locais, com vistas à identificação dos espaços mais
críticos quanto a problemas ambientais atualmente em curso.

A NECESSIDADE DE COMPREENDER AS DINÂMICAS TECNOGÊNICAS

O termo tecnógeno é usado para se referir à situação geológico-geomorfológica atual, em


que a ação geológica humana ganha destaque significativo, no que tange aos processos da dinâmica
externa em relação à processualidade anteriormente vigente, ou seja, relacionada aos eventos
holocênicos (PELOGGIA, 1998). Nesse contexto, as formas geradas direta ou indiretamente por
esforços antropogênicos são denominadas de depósitos tecnogênicos, formas estas que cada vez
mais fazem parte da morfologia, principalmente em áreas de intensa urbanização (PEREIRA,
2011). Ademais, esses depósitos são constituídos dos mais variados tipos de materiais. Isso envolve
desde restos de materiais de construções, resíduos sólidos, resquícios de queimada, além dos
materiais minerais que compõem os grupos de solos naturais, como argila, areia e silte
(MIYAZAKI, 2014).
Os depósitos tecnogênicos constituem-se como materiais superficiais correlativos à
participação humana nos processos de degradação e/ou agradação do relevo terrestre. Nestas
acumulações sedimentares é possível encontrar artefatos manufaturados pelo homem moderno a
partir de sua relação com a natureza como, por exemplo, fragmentos de plásticos, vidro, cerâmica,
materiais mistos indiscriminados, como entulhos, dentre outros, os quais resultam da transformação
de elementos naturais (1ª natureza) em uma 2ª natureza (KORB e SUETERGARAY, 2005).
Os tecnógenos podem ser considerados como depósitos altamente influenciados pelo
homem e são, de acordo com Fanning e Fanning (1989 apud PELOGGIA, 1998), classificados nas
seguintes categoriais: 1) materiais ―úrbicos‖ (do inglês urbic), relativos a detritos urbanos, materiais
terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno, frequentemente em fragmentos,
como tijolo, vidro, concreto, asfalto, prego, plástico, metais diversos, dentre outros; 2) materiais
―garbicos‖ (do inglês garbage) que são materiais detríticos como lixo orgânico, de origem humana,
e que, apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são
ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbias; 3) materiais ―espólicos‖ (do
inglês spoil), que correspondem a materiais terrosos escavados e re-depositados por operações de
terraplenagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis. Incluem-se os depósitos de
assoreamento causados por erosão acelerada; 4) materiais ―dragados‖, oriundos de dragagem de
cursos d‘água e, em geral, depositados em diques, topograficamente alçados em relação à planície
aluvial.
As transformações, assim ligam-se às necessidades do Homem como indivíduo e formador
de uma sociedade, vivendo em cidades, e consequentemente refletindo às dinâmicas associadas a

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uma rede socioeconômica induzida pela globalização, permitindo a extensão da rede de cidades
globais com suas necessidades de infraestruturas, associadas também as necessidades decorrentes
do crescimento populacional (PELOGGIA, 2005; DIAS, 2015). Estas necessidades estimulam o
desenvolvimento de diversas técnicas que acabam tornando o homem fator geológicos, sendo as
áreas urbanas, principais locais de criação de depósitos tecnogênicos, onde a ocupação e expansão
urbana periférica provocam alterações significativas na paisagem (GOMES, et al., 2012).

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido no município de Imperatriz, localizada no Sudoeste do


Estado do Maranhão, especificamente nos bairros Alto Bonito, Vila Cafeteira, Vila Ipiranga e Vila
Zenira, todos localizados na zona urbana (Figura 1). A cidade de Imperatriz, localizada na
mesorregião oeste maranhense, se estende pela margem direita do rio Tocantins e é atravessada pela
Rodovia Belém-Brasília, possui (segundo os últimos dados disponíveis) 253.873 habitantes e área
de 1.368,987 km² (IBGE, 2016).

Figura 01: Carta temática de localização da área de trabalho, com os principais depósitos tecnogênicos
identificados. Fonte: Registros da Pesquisa (2016).

Os depósitos tecnogênicos podem ser encontrados em ambientes urbanos e ambientes rurais.


Contudo, são nas regiões urbanas que se nota maior presença dos artefatos de origem humana,

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resultantes do elevado grau de modificação da paisagem e consequentemente, geração de


diversificados materiais (DIAS, 2012). Mais precisamente nas áreas de planícies mais baixas,
associadas à inundação dos pequenos cursos fluviais urbanos no caso de Imperatriz (MA), já que
estas recebem materiais transportados pelas enchentes, consequentemente são onde se encontram
com maior facilidade os depósitos tecnogênicos.
Para que seja possível a determinação dos depósitos tecnogênicos faz-se necessária à
compreensão quanto à composição os tipos de materiais, como estes agem sobre o meio, as reações
ou relações entre determinadas formas, como ocorre o processo de urbanização, e como a população
se comporta ao interagir com o tecnogênico.
Para a localização dos depósitos tecnogênicos, primeiramente foram utilizados softwares
como Google Eath® 2015, para observação das áreas onde possivelmente pudesse ocorrer a
formação de depósitos tecnogênicos. Para a elaboração dos mapas foi utilizado GPS Garmin Etrex®
para coleta de dados das coordenadas geográficas, software ArcMap® versão 10.1, disponível no
Laboratório de Cartografia e Ensino (LABCARTE), da Universidade Estadual do Maranhão,
Campus Imperatriz. Por conseguinte, utilizando o software QuantumGis 2.18 foram produzidos
documentos cartográficos que embasaram a presente pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram capturadas imagens das atuais paisagens dos pontos estudados, e nesta feita a
classificação dos materiais constituinte do então denominados depósitos tecnogênicos. Quanto aos
pontos estudados, dois foram no bairro Vila Ipiranga, um no bairro Alto Bonito; um no bairro Vila
Zenira; e dois no bairro Vila Cafeteira. Destarte, dentre todos os materiais encontrados, foi
observada a predominância de materiais úrbicos, com predominância de materiais de construção
civil e plásticos, conforme demonstrado na Figura 02.
No bairro Vila Ipiranga foram caracterizados dois depósitos tecnogênicos: o primeiro,
localizado na Rua C, bairro Vila Ipiranga, segundo moradores da região, foi configurado
espacialmente cerca de cinco anos. Ademais, também foi relatado que os dejetos (sólidos e líquidos)
de casas próximas são lançados no terreno em que se encontra o fato tecnogênicos ora descrito. No
segundo, foi observada predominância de materiais tecnogênicos manufaturados, plásticos, vidros,
materiais de construção civil, assim denominados materiais úrbicos.
Na região estudada, além dos depósitos encontrados nas ruas, foram observados depósitos
irregulares de resíduos sólidos urbanos (RSUs) dispostos às margens do Riacho Capivara. Dentre os
materiais identificados, observou-se em maior quantidade materiais úrbicos e gárbicos. Para Dias
(2012 e 2015), os depósitos tecnogênicos são fatores que contribuem para a alteração do regime
hídrico e do fluxo das águas superficiais e subterrâneas. Isso faz com que haja maior intensidade de

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escoamento pelos talvegues, o que provoca alagamento das áreas de baixadas ou áreas que sofrem
com o processo de solapamento presentes em margens de canais onde também verifica-se o
alocamento de detritos humanos formadores depósitos tecnogênicos. Esses processos são
absolutamente comuns entre os meses de dezembro e março, em que as chuvas são mais intensas
nos pontos amostrados por ocasião da presente pesquisa.

Figura 02: Localização e situação espacial da distribuição dos principais depósitos tecnogênicos na área de
pesquisa. Fonte: Registros da Pesquisa (2016).

No Bairro Alto Bonito identificou-se um único depósito tecnogênico, localizado na Rua


Polígono, e foram observados materiais alocados com cerca de 2 metros de altura, a análise
qualitativa da massa de resíduos sólidos encontrados permitiu caracterizá-los como materiais
úrbicos compostos por papéis, papelão, vidro, resto de materiais de construção civil. O estudo
comparativo entre materiais encontrados nos bairros Vila Ipiranga e Alto Bonito permitiu a
diferenciação entre alguns materiais, como, por exemplo, sacos plásticos, papelão e madeira.
O depósito tecnogênico existente no bairro Vila Zenira, situado na Rua Goiás, próximo ao
cemitério Parque dos Anjos, como nos outros pontos foram encontrados materiais úrbicos, contudo
neste ponto também foram encontrados materiais detríticos com lixo orgânico, classificados de
materiais gárbicos consorciados aos entulhos. Embora não haja planície de detritos, este depósito
possui cerca de 200 m2 de área total, com altura média de 3,0 metros acima do nível do solo.

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Numa identificação analítica qualitativa dos materiais sólidos depositados, notou-se uma
maior quantidade de sacolas plásticas. Diferentemente dos depósitos apresentados nos bairros Vila
Ipiranga e Alto Bonito que dispõem apenas de materiais úrbicos, o depósito tecnogênico do bairro
Vila Zenira dispõe também de materiais gárbicos em formação.
No bairro Cafeteira, identificaram-se dois depósitos tecnogênicos: um entre as Ruas Onofre
Correia e Tancredo Neves e outro na Rua Tumalina. O primeiro tem cerca de 1,5 metro de altura em
relação ao nível do solo, com predominância de matérias úrbicos, exclusivamente materiais de
construção. O terreno onde está localizado este depósito é de baldio sem qualquer tipo de estrutura
que impeça a livre disposição dos materiais em sua extensão, o que contribuiu para o lançamento
destes detritos. Já possui mais de 100 m2 de área ocupada, próximo às margens do Riacho Capivara,
mesmo tendo menos de um ano de existência. O segundo depósito encontrado na Vila Cafeteira,
está localizado na Rua Tumalina, próximo aos fundos do cemitério Parque dos Anjos, cuja
classificação não divergiu dos demais pontos estudados e classificados como materiais úrbicos.
De acordo com Silva e Nunes (2014), uma questão importante refere-se à própria maneira
como uma sociedade compreende a natureza, se ela é vista como um bem ou como um recurso a ser
apenas apropriado. Os resultados da interferência humana nos aspectos naturais tem se apresentado
de forma surpreendentemente prejudiciais ao próprio ser humano. O objetivo deste trabalho não se
refere a futuras calamidades, aos eventuais riscos ou potenciais perigos que os processos
tecnogênicos induzem, mas a uma inquietação com o futuro da segurança do habitat humano local
em relação aos problemas ambientais socialmente construídos. Com o estudo das formações dos
estudos tecnogênicos é possível obter uma nova visão da geográfica e geomorfológica dos seus
principais efeitos sobre o meio ambiente. Assim também é possível determinar as condições
socioeconômicas da região da zona urbana de Imperatriz (MA) denominada Grande Cafeteira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A deposição inadequada de resíduos sólidos nos compartimentos dos solos resultou na


alteração dos processos ambientais, como aqueles ligados a hidrodinâmica e ao escoamento
artificial principalmente, produzindo um quadro de degradação ambiental caracterizado pelo
assoreamento no Riacho Capivara e compactação do solo pelo uso de máquinas de terraplenagem
na retirada do mesmo.
A gênese dos depósitos tecnogênicos foi, portanto um indicativo qualitativo da relação
homem-natureza no tempo e no espaço, bem com a identificação e caracterização dos materiais
considerando sua composição e origem, permitindo subsídios para o entendimento da dinâmica das
paisagens nos bairros investigados. São conspícuas novas estruturas construídas ou induzidas pelo
homem. Foram encontrados dois tipos de depósitos tecnogênicos, o que reflete a existência de uma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

correlação entre estes e suas concentrações em uma determinada classe social ou determinado uso
de solo.
No que diz respeito aos processos de ocupação e uso do solo na zona urbana do município
de Imperatriz, as mazelas de natureza geológica e geomorfológica ocorrem em terrenos recobertos
por colúvios ou elúvios. No entanto, deve-se dar uma atenção especial as áreas que possuem
materiais classificados como gárbicos, pois estes apresentam maiores riscos à saúde das
comunidades em geral.
Espera-se que novos trabalhos como este sejam realizados em outros bairros do município
de Imperatriz com intuito de orientar e amenizar os efeitos das ações antrópicas sobre os bairros
com vista a manter o equilíbrio da paisagem e identificar áreas apropriadas para a expansão
humana, estabelecimento de loteamento e áreas degradadas a serem recuperadas.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 268


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO RIO APODI-MOSSORÓ


NO TRECHO DE PAU DOS FERROS/RN

Manoel Mariano Neto da SILVA13


Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
mariano.paiva@ufersa.edu.br
Wagner Bandeira da SILVA14
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA.
wagnerbandeira2010@hotmail.com
Joel Medeiros BEZERRA
Professor do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
joel.medeiros@ufersa.edu.br

RESUMO
Os corpos hídricos são de fundamental importância para manutenção dos ecossistemas naturais e
atender as necessidades humanas. No entanto, a degradação desses recursos é um agravante global
quando se considerada a crise hídrica instaurada no início do século XXI. Assim, este trabalho tem
por objetivo realizar uma análise preliminar acerca dos aspectos socioambientais do rio Apodi-
Mossoró, no trecho limitado pelo município de Pau dos Ferros/RN. Para tanto, foram realizadas
aplicação de questionários à população alocada nas proximidades do rio e visitas in loco. A partir da
percepção ambiental dos moradores, evidenciou-se a representatividade deste corpo hídrico para a
criação de animais, irrigação e extração de areia. Entretanto, devido às fragilidades dos serviços de
saneamento, associado ao pouco conhecimento ambiental da população, ocorre com muita
frequência o descarte de resíduos sólidos e efluentes domésticos às margens do rio, contribuindo
para a intensificação da degradação da qualidade do curso d‘água. Mediante tais discussões,
percebe-se que existem danos ambientais causados ao rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros/RN,
que interagem diretamente com os meios econômico, ambiental e territorial, tendo em vista as
limitações ambientais para execução de atividades antrópicas, a propagação de agentes infecciosos
e contaminantes, além da desvalorização imobiliária da área devido à poluição.
Palavras-chave: percepção ambiental, recursos hídricos, corpos lóticos, qualidade ambiental.
ABSTRACT
The water bodies are of fundamental importance for the maintenance of natural ecosystems and
human needs. However, the degradation of these resources is a global aggravating factor when
considering the water crisis established at the beginning of the 21st century. Thus, this work has the
objective of conducting a preliminary analysis about the socio-environmental aspects of the Apodi-
Mossoró river, in the municipality of Pau dos Ferros / RN. For that, questionnaires were applied to
the population allocated in the vicinity of the river. From the environmental perception of the
residents, the representativeness of this water body for the creation of animals, irrigation and sand
extraction was evidenced. However, due to the weaknesses of the sanitation services, associated
with the population's lack of environmental knowledge, the disposal of solid wastes and domestic
effluents at the river banks is very frequent, contributing to the intensification of the degradation of
the watercourse. Through these discussions, it can be seen that there are environmental damages
caused to the Apodi-Mossoró river, in Pau dos Ferros/RN that interact directly with the economic,

13
Bacharel em Ciência e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA
14
Bacharel em Ciência e Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 269


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

environmental and territorial means, considering the environmental limitations to carry out
anthropic activities, the propagation Of infectious agents and contaminants, besides devaluation of
the area due to pollution.
Keywords: Environmental perception, water resources, lotic bodies, environmental quality.

INTRODUÇÃO

Ao analisar o contexto histórico, percebe-se que as principais civilizações foram instauradas


às margens dos rios, o que evidencia a importância dos recursos hídricos para o desenvolvimento e
sobrevivência humana. Diante desta realidade, percebe-se que muitos fatores históricos e
ambientais foram alterados, mas as principais atividades antrópicas dependem direta ou
indiretamente da água para sua execução. Frente a isso, Walker et al. (2015) afirmam que a água
desempenha um papel fundamental em todos os aspectos da sobrevivência humana e dos
ecossistemas.
No entanto, o aprimoramento das atividades antrópicas trouxe consigo consequências que se
refletem na disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos. De acordo com Abed-Elmdoust e
Kerachian (2012), a redução da quantidade de água disponível é tido como uma grande
problemática, mas se evidencia que a qualidade dos recursos disponíveis passa a ser aceito como
fator fundamental no tocante à crise hídrica mundial.
Diante da conjuntura nacional, Souza e Moura (2015) apontam que o país apresenta grande
disponibilidade hídrica, mas a má distribuição deste recurso associada ao desperdício e a falta de
planejamento contribuem para um cenário de escassez. Sob esta perspectiva, o Ministério do Meio
Ambiente (2015) aponta que as maiores bacias hidrográficas do país ocupam uma área de 8,512 mil
quilômetros quadrados, proporcionando uma vazão de 182,17 m³/s, no entanto, ao comparar os
percentuais de distribuição dos recursos hídricos nas regiões brasileiras com os índices
demográficos, percebe-se que as regiões com maior disponibilidade hídrica acumulam os menores
contingentes populacionais, enquanto que as maiores concentrações de pessoas estão situadas nas
áreas com baixa concentração de recursos hídricos.
Em se tratando da Região Nordeste, conforme Bezerra e Bezerra (2016), há maior propensão
à ocorrência de longos períodos de estiagem são decorrentes dos fatores climáticos e antrópicos, o
que dificulta a manutenção das necessidades de alguns ecossistemas e contribui para a
descaracterização física e social dos ambientes mais afetados. Diante disso, a Agência Nacional das
Águas – ANA (2015) elenca que os volumes acumulados nas bacias hidrográficas da região
decresceram exponencialmente, considerando que em 2012, o percentual acumulado era de 75,2%,
reduzido a 45,9% em 2013, 33,0% em 2014, e 28,6% em 2015.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Não distante a tal realidade, o Estado do Rio Grande do Norte também convive com a
estiagem, visto que de acordo com a ANA (2015), apenas três bacias hidrográficas apresentavam
mais de 50% da capacidade volumétrica. Nesse sentido, Freitas, Guedes e Costa (2016) afirmam
que a Região do Alto Oeste Potiguar está inserida no polígono das secas, favorecendo longos
períodos de escassez dos recursos hídricos. Nesse contexto, situa-se o rio Apodi-Mossoró, que em
2015 apresentava 24,1% da capacidade, conforme a Secretaria de Administração e dos Recursos
Humanos – SEARH-RN.
Mediante tais discussões, este trabalho tem por objetivo realizar uma análise socioambiental
do rio Apodi-Mossoró, no trecho do município de Pau dos Ferros/RN. Dessa maneira, buscou-se
identificar as atividades antrópicas desenvolvidas a partir do rio, e, analisar a dinâmica
populacional, com base na percepção ambiental, no trecho correspondente à área de estudo.

METODOLOGIA

Caracterização do estudo

A pesquisa foi conduzida no município de Pau dos Ferros, situado na Mesorregião do Oeste
Potiguar, Estado do Rio Grande do Norte. Conforme dados do IBGE (2016), o município possui
uma população estimada em 30.206 habitantes, dos quais 92,07% estão situados na zona urbana,
enquanto que apenas 7,93% se encontra na zona rural. A densidade demográfica é de 116
habitantes/km², considerando a extensão territorial de 259,959 km².
No tocante à hidrologia, a área de estudo está totalmente inserida na Bacia Hidrográfica do
Rio Apodi-Mossoró, contribuindo com uma área de drenagem de aproximadamente 2.073 km², de
acordo com o Instituto de Gestão de Água do Rio Grande do Norte (IGARN), e, apresentando uma
média histórica de precipitação 801,4 mm, conforme a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio
Grande do Norte (EMPARN).
O trecho do Rio Apodi-Mossoró que passa por Pau dos Ferros apresenta características
distintas em relação ao uso e ocupação de seu entorno, que variam conforme as zonas urbana, rural
e de transição. Assim, foram selecionadas seis seções, considerando estes aspectos, afim de formar
uma amostra representativa.
Desta maneira, as áreas situadas na zona rural compreendem à Barragem de Pau dos Ferros
e à seção da ponte na BR 226; os ambientes de transição estão representados pelos bairros Manoel
Deodato e João XXIII; e, as áreas urbanas foram delimitadas através dos bairros São Benedito e São
Geraldo (Figura 1).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 – Localização da área de estudo, com a identificação dos pontos de amostragem no município de
Pau dos Ferros-RN

Fonte: Autoria própria, 2017.

Métodos empregados

O questionário para análise de percepção ambiental tinha por finalidade compreender como
ocorre a dinâmica entre a população e o rio Apodi-Mossoró, no município de Pau dos Ferros/RN.
Nesse sentido, era constituído por perguntas objetivas de múltiplas escolhas, que seguiam as
seguintes diretrizes: uso e ocupação do ambiente, saneamento ambiental e educação ambiental.
Aplicou-se 60 questionários aos moradores das áreas estudadas, que posteriormente foram tratados
com auxílio do Software Microsoft Excel 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da percepção ambiental, foi possível identificar quais as principais atividades


antrópicas desenvolvidas no entorno do rio Apodi-Mossoró, no trecho em Pau dos Ferros, e
compreender como ocorre a dinâmica da população com o rio. Nesse sentido, a Figura 2 demonstra
o período de ocupação das áreas de entorno das seções avaliadas, com base na percepção dos
moradores.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 – Tempo de ocupação das proximidades do rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros/RN, conforme
percepção ambiental da população

6,67%
6,67%
Até 01 ano

Entre 01 e 03 anos
11,67%

Entre 03 e 05 anos

Há mais de 05 anos

75,00%

Fonte: Pesquisa, 2017.

A permanência nas localidades por períodos prolongados permitiu aos moradores mais
antigos acompanhar as transformações sofridas pelo rio, desde os períodos em que ocorriam cheias,
práticas agrícolas e a pesca, até a atualidade, marcada pela degradação e esquecimento.
Pelo simples fato de estar inserida no ambiente, a população necessita interagir com este
meio, buscando suprir as necessidades cotidianas. Assim, pode-se afirmar que junto à ocupação das
proximidades do rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros, ocorre ainda a integração das principais
atividades sociais com o rio, considerando que conforme a Figura 3, destacam-se aproximadamente
40% dos entrevistados utilizam a área exclusivamente para fins de moradia, 15% praticam
atividades agrícolas, 18,33% instalaram pontos comerciais e 11,67% moram e desempenham
atividades agrícolas.
Além das atividades desenvolvidas pelos entrevistados, buscou-se analisar quais eram
perceptíveis à população local, considerando a atuação dos demais integrantes internos e à ação
externa. Logo, constatou-se que 8,33% da população identificam o uso para irrigação e
dessedentação animal, 26,67% afirmam que ocorre a criação de animais às margens do rio. Há os
casos em que não são identificados qualquer uso para a área, que corresponde a 8,33%, e, uma
considerável fração que aponta mais de um uso para o corpo hídrico. Essas informações reafirmam
a importância desse curso d‘água no contexto de Pau dos Ferros/RN, visto que mesmo em
condições pouco propicias favorece uma série de atividades que direta ou indiretamente beneficiam
a população.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3 – Atividades desenvolvidas pela população nas proximidades do rio Apodi-Mossoró, em Pau dos
Ferros/RN
1,67% 1,67% 1,67% Moradia
Prestação de serviços
6,67%
Atividades agrícolas
Comércio
11,67%
40,00%
Moradia e Prestação de serviços
1,67%
Moradia e Atividades Agrícolas
Moradia e Comércio
18,33%
Atividades agrícolas e comércio
Moradia, atividades agrícolas e comércio
15,00%
1,67% Prestação de serviços e atividades agrícolas

Fonte: Pesquisa, 2017.

Um dos fatores de maior importância social, considerando a qualidade de vida da população


e a preservação do meio ambiente são os serviços de saneamento, uma vez que permite o acesso à
água potável, coleta e tratamento dos efluentes domésticos e resíduos sólidos, e a drenagem urbana,
combatendo de diretamente a propagação de doenças, a degradação dos ecossistemas e a
desigualdade social. Nesse sentido, a Figura 4 apresenta informações sobre o abastecimento hídrico
nas áreas estudadas, de acordo com a percepção ambiental dos moradores.

Figura 4 – Caracterização do abastecimento hídrico nas áreas próximas ao rio Apodi-Mossoró, em Pau dos
Ferros/RN, de acordo com a percepção da população.

35,00% Caern
Poço
Misto
56,67%

8,33%

Fonte: Pesquisa, 2017.

Como ilustra a Figura 3, percebe-se que 56,67% dos entrevistados tem o abastecimento
direto da CAERN, 35% utilizam fontes mistas, que neste caso configuram o consumo de água
subterrânea e da distribuição realizada pela CAERN, enquanto que 8,33% consomem água advinda
unicamente de poços subterrâneos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Diante dessa realidade, Araújo et al. (2016) apontam que no Brasil apenas 84% da
população era atendida pelo sistema de abastecimento de água, e na Região Nordeste, percebe-se
que esta problemática alcança maiores proporções em decorrência da escassez hídrica. No entanto,
ao observar o índice de abastecimento total de água do Rio Grande do Norte, os autores afirmam
que o estado se encontra entre os que estão em melhores condições, considerando uma faixa
percentual entre 70% e 80%.
No contexto local, sabe-se que o abastecimento hídrico está comprometido, uma vez que o
reservatório local se encontra inativo. Frente a tal realidade, o abastecimento ocorre mediante uma
adutora de engate rápido, que transporta água da Barragem Santa Cruz em Apodi/RN. Diante dessas
condições, o racionamento se apresenta como uma medida necessária para otimizar o processo de
distribuição. No entanto, induz a população a procurar novas alternativas, configuradas pela
exploração de água subterrânea.
Os outros pontos ligados ao saneamento, analisados ao longo da pesquisa foram os serviços
de esgotamento sanitário e coleta de resíduos sólidos. Nesse sentido, as Figuras 5 e 6 apresentam os
gráficos desses segmentos.

16,67%
3,33%

48,33%
51,67%
80,00%

Sim, totalmente Sim, parcialmente Não Sim, totalmente Sim, parcialmente

Figura 5 – Caracterização do esgotamento sanitário Figura 6– Caracterização da coleta de resíduos


nas áreas próximas ao rio Apodi-Mossoró, em Pau sólidos nas áreas próximas ao rio Apodi-Mossoró,
dos Ferros/RN. Fonte: Pesquisa, 2017. em Pau dos Ferros/RN. Fonte: Pesquisa, 2017.

Devido à destinação inadequada dos efluentes, estes são direcionados às margens do rio
Apodi-Mossoró, comprometendo a preservação do corpo hídrico. Ao discutir a poluição ambiental,
Braga et al. (2005) pontua que os esgotos possuem muitos poluentes orgânicos, inorgânicos e
biológicos, altamente danosos aos corpos hídricos. Como resultado da poluição, tem-se a redução
dos índices de qualidade da água, a eutrofização e a redução ou modificação dos usos dos recursos
hídricos. Face a realidade apresentada, Galvão Júnior (2009) afirma que no Brasil o déficit dos
serviços de água e esgoto é mais acentuado nas populações de baixa renda, as quais apresentam
maiores problemas de saúde pública.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 275


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No tocante à coleta dos resíduos sólidos, toda a área de estudo é atendida total ou
parcialmente. Entretanto, os resíduos são destinados ao lixão municipal, que por apresentar uma
estrutura deficiente, permite a contaminação do solo, e, possivelmente do lençol freático e dos
corpos hídricos superficiais situados em suas proximidades.
Conforme Ferreira (2014), entre 2011 e 2012 a produção de resíduos sólidos apresentou um
crescimento de 1,3%, superior ao crescimento populacional, que foi de 0,9% para o mesmo período.
Pereira, Rocha e Teixeira (2014) apontam que a produção de lixo impacta diretamente na saúde
pública, e, esta realidade tende a se agravar devido à ausência de política públicas. Afirma-se que
no Brasil ―tem-se uma produção de 241.614 toneladas de lixo por dia, onde 76% são depositados
em lixões a céu aberto, 13% são depositados em aterros controlados, 10% em usinas de reciclagem
e 1% são incinerados‖ (PEREIRA; ROCHA; TEIXEIRA, 2014, p. 1).
Ao analisar os fatores associados à educação ambiental da população situada próximo ao rio
Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros, enfatizou-se a importância do rio para o meio ambiente. Assim,
constatou-se que a maior fração dos entrevistados reconhecem que o rio apresenta grande
importância ambiental, no entanto, 21,67% afirmam que não há importância e 13,33% o classifica
como pouco importante. Assim, percebe-se uma carência em relação a educação ambiental,
considerando que este curso d‘água favorece o desenvolvimento de muitas atividades, como a
agropecuária e extração mineral.
Ao discorrer sobre as principais fontes poluidoras do ambiente em estudo, de acordo com os
entrevistados, tem-se o descarte de resíduos sólidos, efluentes domésticos, cadáveres de animais e a
extração de areia. Partindo dos pontos já discutidos anteriormente, percebe-se que todas as fontes
poluidoras citadas interagem diretamente com a fragilidade dos serviços de saneamento básico, da
limitação de conhecimentos relacionados à educação ambiental e da aparente irrelevância que o rio
apresenta para uma parcela dos entrevistados
Considerando as condições ambientais do Rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros/RN,
48,33% dos entrevistados o classificam como péssimo e 28,33% como ruim, enquanto que 13,33%
afirmam que as condições estão razoáveis, 8,33% indicam que as condições estão boas e 1,67% não
souberam responder.
A Figura 7 elenca as condições ambientais do rio Apodi-Mossoró em Pau dos Ferros/RN,
ressalta-se que esses quantitativos demonstram que uma considerável parcela da população tem
consciência de que as condições de preservação e conservação do rio estão em estado de
precariedade, o que leva ao apontamento de possíveis alternativas capazes de minimizar os danos
causados pelas atividades antrópicas.

Figura 7 – Análise das condições ambientais do Rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros, de acordo com a
percepção da população.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 276


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1,67%
8,33%
Péssima
13,33% Ruim
48,33%
Razoável

28,33% Boas

Não sabe

Fonte: Pesquisa, 2017.


Ao discutir possíveis alternativas para melhorar as condições ambientais do rio Apodi-
Mossoró, em Pau dos Ferros/RN, os principais apontamentos da população são sobre os serviços de
saneamento ambiental, seguido da implementação de atividades de educação ambiental e ajustes
quanto aos usos e ocupações do rio, ver Figura 8.

Figura 8 – Alternativas para melhorar as condições ambientais do rio Apodi-Mossoró em Pau dos Ferros,
conforme a percepção ambiental dos moradores
Atividades de educação ambiental
1,67%
5,00%5,00%
Melhoramento do saneamento básico
8,33%
18,33% Atividades de educação ambiental,
Melhoramento do saneamento básico e
Adequação dos usos e ocupação do rio
Atividades de educação ambiental e
Melhoramento do saneamento básico

Melhoramento do saneamento básico e


20,00% Adequação dos usos e ocupação do rio
41,67%
Atividades de educação ambiental e Adequação
dos usos e ocupação do rio

Nenhuma

Fonte: Pesquisa, 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entorno do rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros possui uma ocupação muito
diversificada, que compreende a moradia, prestação de serviços, atividades agrícolas e o comércio.
Este fator decorre do fato deste trecho se estender em áreas com usos e ocupações distintas, na quais
o urbano e o rural produzem os maiores contrastes, e, fazem surgir ambientes de transição.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 277


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Partindo da percepção ambiental dos moradores, o rio apresenta grande importância para o
município de Pau dos Ferros, uma vez que muitas atividades são desenvolvidas em seu entorno,
onde se destaca a criação de animais, irrigação e extração de areia. Entretanto, evidencia-se um
descaso com a conservação desse corpo hídrico, tendo em vista o descarte de resíduos sólidos e
efluentes domésticos, que limitam os seus usos múltiplos e reflete diretamente na qualidade
ambiental.
Portanto, os efeitos da poluição no trecho do rio Apodi-Mossoró, em Pau dos Ferros/RN,
impactam os meios social e econômico, quando se considera as limitações impostas às atividades
antrópicas. Ressalta-se as perdas em relação à saúde, que decorrem da contaminação do corpo
hídrico e propagação de vetores de doenças, além das perdas territoriais, caracterizadas pela
desvalorização e inutilização das áreas, devido a poluição e contaminação do ambiente. Diante
desta realidade, explicita-se a importância dos serviços de saneamento e a educação ambiental
frente a preservação do corpo hídrico, e, dos ecossistemas inseridos no contexto local.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 280


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS USUÁRIOS DA PRAIA DO OLHO D‘ÁGUA,


MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, MARANHÃO

Maria Luiza Torres PIRES


Graduanda do curso de Oceanografia da UFMA
malutoresp@gmail.com
Vitor Martins MOREIRA
Graduando do curso de Oceanografia da UFMA
vitaomartins87@gmail.com
Laís Rodrigues ROCHA
Graduanda do curso de Oceanografia da UFMA
rlaisrocha@gmail.com
Flávia Rebelo MOCHEL
Profª Drª da Universidade Federal do Maranhão - UFMA
flavia.mochel@gmail.com

RESUMO
O estudo da percepção ambiental aplicado em ambientes costeiros, como instrumento de pesquisa
para a Educação Ambiental, ajustam-se como um importante estudo para o entendimento
comportamental, quanto a posturas e sensibilização do indivíduo para com o meio. Diante da
atuação da Oceanografia Socioambiental correlacionadas à percepção ambiental, o presente estudo
teve como objetivo realizar o diagnóstico da percepção dos frequentadores e/ou turistas sobre a
produção e descarte de resíduos na praia do Olho D‘Água, no município de São Luís, Maranhão.
Para isso, foram aplicados 41 questionários semiestruturados utilizando metodologias quali-
quantitativas e entrevistas. O estudo centrou-se em questões, como: informação sobre o
entrevistado, aspectos positivos e negativos observados pelos frequentadores; foi questionado
quanto a origem, consumação e como são descartados no ambiente. Indagaram-se também quais
alimentos eram mais observados e quais medidas poderiam ser tomadas para a preservação do
ambiente. Os resultados mostraram dentre os principais alimentos consumidos: coco, frutas e palitos
(de queijo), em culminância com os resíduos mais observados no ambientes: de caráter orgânico. As
medidas mais apontadas pelos entrevistados foram: a coleta seletiva, a introdução da Educação
Ambiental nas comunidades, políticas públicas, entre outros. Nesse cenário, a abordagem da
Educação Ambiental juntamente com os estudos da percepção é de fundamental importância como
forma de conscientização dos indivíduos com o meio, visando o desenvolvimento sustentável da
área.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Produção de resíduos; Sustentabilidade.

ABSTRACT
The study of environmental perception applied in coastal environments, as a research tool for
Environmental Education, fits an important study for the behavioral understanding, based on the
actions and the sensitization of a person towards the environment. Claiming for a new performance
meaning Socioenvironmental Oceanography, The present study aimed to diagnose the perception of
visitors and / or tourists about the production and disposal of residues at Olho D'Água beach, in the
municipality of São Luís, Maranhão. For this purpose, 41 semi-structured questionnaires were used
using qualitative-quantitative methodologies and interviews. The questions focused on issues such
as: information about the interviewees, positive and negative aspects observed by the participants;

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the origin, consumption and how the wastes were discarded in the environment. It was also asked
which types of food and disposals were most observed as well what effective actions could be taken
to preserve the environment. The results showed that the main wastes were some type of foods like
coconut shells (bark), other remains of fruits and sticks of baked cheese, leading to the conclusion
that the wastes at that beach were mainly organic ones. The most claimed effective actions for
solving those problems were the selective sanitation, public Environmental Education and
environmental public policies related. In this scenario, the approach of Environmental Education
together with the studies of perception, are of fundamental importance as a way of raising public
awareness on environmental issues, focusing the sustainable development of the area.
Keywords: Environmental education; Waste generation; Sustainability.

INTRODUÇÃO

Os ambientes costeiros possuem relevante importância dentro da dinâmica das cidades


litorâneas (Macedo-Silva, Tchaicka & Sá-Silva 2016, p.406). Entre os variados ambientes, as praias
destacam-se por executar um importante papel, não apenas de lazer e/ou turismo, mas por abrigar
diversas espécies de seres vivos, e por propiciar serviços ao homem, como ajuste da manutenção do
clima, controle de inundações e a proteção costeira, segundo o Panorama da conservação dos
ecossistemas costeiros e marinhos no Brasil (2010, p. 7). Esses ambientes, conforme Mochel (2005)
estão em constantes conflitos quanto à ocupação intensa e má uso, devido ao fato do seu espaço ser
um fator limitante e a presença de atividade comuns na mesma área como turismo, industrialização
e urbanização.
Em conformidade com Macedo-Silva, Tchaicka & Sá-Silva (2016, p. 406) impactos sobre
esse ambiente, tem sido facilmente observados, por efeitos antrópicos adversos, resultantes da má
conservação do ser para com o meio, quanto à produção de resíduos, pela contaminação de água por
despejo de efluentes sem o seu devido tratamento, entre outros.
Portanto, a Educação Ambiental e o uso da percepção nesse aspecto executam
atividades/ações/intervenções quanto à compreensão da problemática atuante, e como ela e o
indivíduo podem trabalhar em diferentes áreas/ambientes, em relação aos seus posicionamentos
perante o meio.
Assim como o estudo da percepção ambiental de uma comunidade configura-se em uma
ferramenta essencial para a compreensão acerca de comportamentos vigentes e para o planejamento
de ações que promovam a sensibilização e o desenvolvimento de posturas éticas e responsáveis
perante o ambiente (MARCZWSKI, 2006). Dessa maneira, para a realização dessa atividade, a
percepção ambiental tomou como base metodológica, a abordagem fenomenológica. Para
Chistofoletti (2000, p.22)

A fenomenologia preocupa-se em analisar os aspectos essenciais dos objetos da


consciência, através da supressão de todos os preconceitos que um indivíduo possa ter sobre
a natureza dos objetos, como os provenientes das perspectivas científicas, naturalistas e do

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senso comum. Preocupando-se em verificar a apreensão das essências, pela percepção e


intuição das pessoas, a fenomenologia utiliza como fundamental a experiência vivida e
adquirida pelo indivíduo.

A abordagem da Educação Ambiental, juntamente com a percepção do meio, dar-se pela


compreensão da interrelação entre o ser e o ambiente, sendo um importante instrumento quanto aos
estudos de manifestações comportamentais ambientais e de conduta dos seres humanos. Posto isto,
a Educação Ambiental, procura saber por meio de diferentes ferramentas, como uma comunidade
visualiza e/ou trata da problemática ambiental de uma determinada área.
Diante da importância da atuação da Oceanografia Socioambiental inteiramente ligada às
atividades de percepção ambiental, o aspecto investigado nesta pesquisa foi a percepção ambiental
de frequentadores da praia do município de São Luís do estado do Maranhão, denominada Olho
D‘Água, a respeito da produção e destinação de determinados resíduos, produzido durantes as
atividades de lazer dos mesmos.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado em uma praia urbana do município de São Luís, precisamente na
praia do Olho D‘Água, estado do Maranhão, entre as coordenadas 2° 28‘ 43.25‘‘S e 44° 13‘
45.69‘‘W. Para o estudo, dividiu-se a área em duas zonas, delimitando-se a faixa praial (ponto
EA_1P) e a zona dos bares e restaurantes (ponto EA_2B), conforme demonstra a figura 1.

Figura 1-Área de estudo delimitada na faixa de praia arenosa do bairro do Olho D´Água,
município de São Luís.
Para a realização da atividade, a turma de Educação e Ética Ambiental, elaborou em sala de
aula, um questionário semiestruturado utilizando metodologias quali-quantitativas e entrevistas com

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o intuito de conhecer a percepção dos frequentadores, enquanto ao consumo e destinação de


resíduos, abordando de modo geral questões como produtos de consumo, descarte de resíduos
sólidos e a percepção a cerca do ambiente da região. Posto isto, o mesmo contendo seis perguntas,
sendo estas: ―De onde você é?‖, ―Em relação ao meio ambiente, o que você acha da nossa praia?‖,
―Diga três aspectos que lhe chamou atenção.‖, ―Você prefere trazer sua comida ou consome a
comida dos bares e restaurantes?‖, ―Você consome os alimentos que os ambulantes oferecem
(vendem)?‖, ―Você sabe para onde vão os resíduos que você consome dos ambulantes?‖, ―Quais
alimentos que você mais consome (ou usa) mais e os mais observados no ambiente?‖ e ―Como você
acha que os frequentadores (visitantes) podem colaborar para diminuir a degradação ambiental das
praias?‖.
A turma formada por quinze alunos, sob a orientação da docente responsável, realizou a
atividade durante os dias 21 e 29 de janeiro de 2017, no período da manhã, abrangendo a maior
parte de bares e extensão de praia possível, para que pudessem ter um fluxo mais considerável e
distinto de participantes. A atividade teve como público alvo frequentadores da região e turistas.
Para melhor visualização da atividade, foi feito registros fotográficos durante o estudo.
Após a obtenção dos dados, a análise de informações coletadas foram organizadas em
tabelas e contabilizadas no programa Microsoft Excel 2010, de acordo com a similaridade entre
cada resposta. E as respostas mais discrepantes (as que obtiveram diferentes respostas, sendo estas
abertas), foram reunidas em uma categoria nomeada outros e/ou de acordo com as respostas
observadas em cada questionário.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Vasco & Zakrzevisk (2010) inúmeras técnicas são utilizadas para análise das
percepções ambientais, tais como: entrevistas, questionários, registros fotográficos e outros, porém,
as ferramentas mais abordadas, são as entrevistas e os questionários. Dessa maneira,a atividade
realizada, obteve no total de 41 questionários, dispondo como alvo: moradores e/ou visitantes
(brasileiros ou estrangeiros), que foram abordados de forma arbitrária, em diferentes extensões de
praia e bares, tendo assim um fluxo de entrevistados mais diversificado e considerável. O conteúdo
do questionário e das entrevistas aplicados (as) e o tipo de questionário (quali-quantitativo
semiestruturado) confeccionado foram determinados a partir do conhecimento acerca dos objetivos
propostos.
Deste modo, do grupo respondente ao questionário, através dos dados levantados, 76% dos
entrevistados residem no município de São Luís no estado do Maranhão, contrapondo aos 2% e 3%
residentes do município de Penalva e Viana respectivamente, também do estado do Maranhão. Já
outros municípios de outras federativas apresentaram 2%, sendo eles Belém, Curitiba e o estado de

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Santa Catarina, e 5% para os estado do Piauí e de São Paulo. Além dos 3% para estado do Rio de
Janeiro.
Com bases nos estudos da percepção, quando indagados à origem de alimentos consumidos
na praia, foram observados quatro resultados. Pouco mais da metade optará por levar de casa e
consumir seuspróprios alimentos (52%), já 33% optam por consumir em restaurantes, 10% em
ambos e 5% indicaram não levar seu alimento de suas casa e/ou consumir de bares ou restaurantes,
como constatado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Origem dos alimentos consumidos na área de estudo.

As praias atraem tanto frequentadores locais como turistas, aumentando a movimentação de


vendedores ambulantes, que utilizam este meio para o seu sustento. Dessa forma, os vendedores
ambulantes acabam por se envolver indiretamente como fontes de resíduos sólidos presentes nas
praias.
Quando questionado sobre os alimentos vendidos por ambulantes em ambos os pontos, 59%
afirmaram não consumir nenhum alimento desse campo, 41% apresentaram consumir alimentos de
vendedores, mas em grande parte de forma complementar junto ao alimento trazido de casa e/ou
consumido em restaurantes ou em outros estabelecimentos.
Dentre os alimentos mencionados pelos frequentadores, ―água de coco‖, ―frutas‖ e ―queijo‖,
foram as opções mais mencionadas, como demonstra o gráfico abaixo.

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Gráfico 2 – Percentagem de alimentos consumidos pelos entrevistados.

Referente à percepção dos entrevistados com o meio, perguntou-se aos frequentadores quais
aspectos positivos e negativos em ambos os pontos mais lhe chamaram a atenção, o destino final de
resíduos produzidos pelos mesmos, materiais produzidos a partir da consumação e medidas que
podem ser tomadas em relação ao meio.
As áreas litorâneas ao longo dos anos vêm sofrendo severas modificações, sendo muitas
delas ocasionadas por ações antrópicas. De acordo com Sodré & Farias Filho (2010), vêm causando
a degradação ambiental dessas áreas, pela introdução de bares, pela ausência de saneamento e de
planejamento para essas áreas, além da falta de sensibilidade dos frequentadores para com o meio.
Segundo Drew (1998 p. 128),

―... As costas do mundo inteiro são focos de povoamento humano. De toda a população
mundial, vivem junto do mar, metade das cidades do mundo com mais de 1 milhão de
habitantes está a beira-mar. Dessa forma, a pressão sobre a zona litorânea é grande,
enquanto se generalizam as alterações que visam beneficiar o ser humano.‖

Posto isto, dentre os aspectos mencionados pelos frequentadores em relação a pontos


positivos e negativos observados na área do presente estudo, contabilizou-se para a opção ―área
suja‖ 39%, para ―área limpa‖ 18%, ―esgoto‖ com 15%, ―área desorganizada‖ com 11%, ―área
organizada‖ e ―animais‖ com 7%, ―transito de carros‖ com 6% e ―área desmatada com 2%. Como
demonstrado também nos estudos de Teles et al. (2009) mais da metade dos seus entrevistados
consideraram a área poluída, tendo como os principais pontos negativos detectados: a presença de
esgotos a céu aberto, escorrendo em direção ao mar; a grande quantidade de lixo disposta na areia
da praia e da pós-praia, a poluição sonora, oriunda dos bares e carros estacionados ao longo da
praia, dentre outros. Um dos principais pontos negativos observados (o esgoto), conforme Souza
(2009), é comum nas praias do município de São Luís, que acabam sofrendo quanto ao mal
planejamento e até pelo mau uso do solo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foi questionado, quanto ao destino dos resíduos produzidos pelos frequentadores e outros.
De acordo com a amostra, a metade (50%) afirmou que sabe o destino dos resíduos por eles
consumidos e/ou produzidos. Já outras opções, como a ―coleta seletiva‖ apresentaram 29% e 21%
como destino a própria praia, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Resíduos dispostos ao longo da faixa praial.

Quando novamente questionado o destino do lixo produzido pelos entrevistados durante sua
permanência na praia, no estudo de Teles et al. (2009), a maioria das respostas demonstraram
―atitudes ecologicamente corretas‖, porém observou-se ao longo da área uma considerável
quantidade de resíduos sólidos sobre a faixa praial. Segundo o Ministério do Meio Ambiente
(2005), o ―lixo‖ não pode ser considerado como material dispensável, já que o mesmo é um
material rico, sujeito a aproveitamento. Dessa maneira, se o mesmo for tratado de maneira correta,
tomando as devidas providências quanto à aplicação de instrumentos educacionais nessas áreas que
são as mais afetadas, para a disseminação da problemática tendo como base: a redução e/ou
aproveitamento (gestão) de resíduos.
Foram coletados dados referentes aos alimentos mais observados no ambiente, sendo o foco
da investigação como mostra o Gráfico 3. Dentre os mais observados pelos entrevistados, o coco
apresentou-se com 21%, frutas/queijos/água e pet com 14%, camarão e ostra com 13%, latas de
refrigerante com 7%, castanhas/amendoim e moda praia com 6% e descartáveis com 5%.

Gráfico 3 – Quantidade de alimentos mais observados no ambiente de acordo com os entrevistados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quanto ao estudo da percepção em relação aos materiais produzidos pela consumação,


foram identificados os seguintes resíduos: latas de refrigerante, casca de coco, sacolas plásticas de
embalagens, palito de assados, conchas de mariscos, descartáveis e garrafa pet. Este mesmo perfil
de resíduos foram apontados por outros estudos em praias brasileiras como Gama et al.(2011),
Guimarães e Garcia (2012), Oliveira (2013), entre outros. Como demonstra o estudo de Sodré &
Farias Filho (2010), tendo como principais problemas apontados pelos entrevistados em relação ao
ambiente: a quantidade de resíduos,como casca de coco, restos de alimentos deixados pelos
banhistas, latas e outros descartáveis.
A contaminação por lixo, incluindo resíduos sólidos, principalmente plásticos, pode ser
percebida em todas as zonas marinhas do mundo, sejam elas povoadas ou não (Santos et al., 2009).
No entanto, em zonas povoadas a contaminação mostra-se de forma mais evidente. Os tipos de
contaminantes que podem ser encontrados nessas áreas, variam-se de plásticos, vidros, até resíduos
de origem orgânica (como casca de coco, palitos e outros). Outros motivos relacionados aos lixos
encontrados nessas áreas são: presença de esgotos, o que acarreta na alteração na balneabilidade
dessas áreas.
Os impactos causados pelo homem no meio ambiente nas praias são intensos, porém são
poucas as medidas tomadas para diminuir a poluição, tanto pela população quanto pelo poder
público (SODRÉ & FARIAS FILHO, 2010). Posto isto, questionou-se quais medidas e/ou
precauções poderiam ser tomadas quanto à diminuição da degradação ambiental das praias. Sendo
contabilizadas ações como: a conscientização dos frequentadores e/ou turistas, a introdução da
Educação Ambiental nas comunidades dessas áreas, entre outros como mostra o gráfico a seguir.

Gráfico 4 – Medidas e/ou precauções em relação à poluição.

Dentre as ações mencionadas, questionou quanto ―a consciência dos frequentadores e/ou


turistas‖ perante o ambiente. Cada indivíduo age e tem diferentes posições sobre o meio e dentre
suas ações, atuando sobre o mesmo a fim de sanar suas necessidades. Para Carneiro e Gonçalves

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(2013, p. 6) as interações que novos frequentadores têm com o meio, são bastante diferentes
daquela dos primeiros moradores, já que para os mesmos o ambiente é apenas para o seu lazer e
descanso, sem preocupar-se com os danos que possa estar provocando. Portanto o estudo da
percepção ambiental desenvolvidos nessas zonas baseia-se na tomada de medidas quanto à
consciência do ser e do ambiente.
Também como mencionado em uma das medidas positivas que poderiam ser tomadas, ―a
introdução da educação ambiental nas comunidades‖ é de suma importância, quanto à formação de
condutas mais equilibradas e sensibilizadas dos indivíduos com o ambiente. De acordo com Mochel
(2005) é importante que os profissionais educadores busquem meios para que os indivíduos
―descubram, construam e internalizem valores, princípios e novas técnicas compatíveis com a
sustentabilidade ambiental.‖ Desse modo a EA, é de suma importância quanto aplicados nessas
áreas, podendo-se conhecer a conduta de cada indivíduo acerca das questões ambientais. Mochel
(2005) ainda enfatiza que esses métodos inseridos ―nas atividades de EA, seja na escola ou fora
dela, seja em qualquer faixa etária, credo ou etnia.‖
Desse modo a educação ambiental, de acordo com Cascino (2000) se tornou uma ferramenta
para um mundo limpo e sustentável, orientando o ser quanto à conscientização e preservação, e com
isso contribuindo para que ocorram mudanças positivas e práticas corretas perante o meio. Neste
caminho o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos
compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, anseios,
satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. (FERNANDES et al., 2002) Esses assuntos
como comentando por Mochel, Ribeiro e Correa (2014), devem ser assimilados e
desenvolvidas/expressados, para que posteriormente possam ser trabalhados, colocando assim a
Educação Ambiental como uma boa técnina e/ou método de estudo para modificar o
comportamento do ser através de uma base de aprendizado.
Entre outras ações comentadas, contabilizou-se a ―conscientização‖, ―mutirões de limpeza
da própria comunidade‖, ―coleta seletiva‖, entre outras que de certo modo se correlacionam com a
introdução da EA nas comunidades costeiras. À vista disto, como comentado por Mochel (2016), a
idéia/ciência da sustentabilidade deve-se chegar aoseducadores, lideres comunitários e outros, para
que estes possam adequar-se e repara as realidades locais.

CONCLUSÃO

O comportamento dos frequentadores está intimamente correlacionado às normas de


condutas pessoais. Dessa forma, podemos concluir, a partir dos resultados apresentados, uma
carência quanto às ações de planejamento de órgãos públicos e privados no que se refere ao manejo
e descarte de resíduos, bem como de planos de reutilização de resíduos sólidos. Constatou-se,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

também, a necessidade de maior envolvimento de organizações não governamentais e da


implementação de programas e campanhas de Educação Ambiental sistemáticas, de modo a
desenvolver o bom senso individual e coletivo, implementando ações e atitudes transformadoras da
realidade atual.
Para um melhor gerenciamento dos resíduos sólidos dispostos na área costeira, recomenda-
se contêineres devidamente sinalizados em ponto estratégicos das praias, assim como a
implementação da coleta seletiva, já que a maioria dos resíduos encontrados podem ser reciclados.
Recomendam-se também campanhas de conscientização e/ou educação ambiental, para o
desenvolvimento sustentável da área quanto aos impactos gerados por resíduos.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 291


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

TEOR DE CARBONO ARMAZENADO EM UM ARGISSOLO SOB UMA DISJUNÇÃO


DE FLORESTA OMBRÓFILA ABERTA, E SOB ÁREA DE PASTAGEM

Rodolfo José da Silva FELIX


Graduando em Agronomia da UFPB
rodolfojsfelix@hotmail.com
Tiago de Carvalho PESSOA
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFPB
tiago.pessoavw@gmail.com
José Marcelino da SILVA JÚNIOR
Graduando em Agronomia da UFPB
jr.byke@hotmail.com
Matheus de Andrade BORBA
Graduando em Agronomia da UFPB
andrade.borba95@gmail.com

RESUMO
Para minimizar os efeitos adversos das mudanças climáticas, são realizadas pesquisas que visam
identificar os impactos no meio ambiente e as formas de mitigar esses efeitos. Com isso, novas
formas de minimizar os efeitos negativos ao meio ambiente foram criadas, sendo assim, a
agricultura sofreu algumas adaptações, tendo que adotar sistemas produtivos que minimizassem os
impactos ao meio ambiente. A determinação do teor de carbono total é a forma pela qual se
quantifica os teores de carbono que determinados sistemas armazenam no solo, assim esse teor
armazenado pode variar de um sistema para outro, sendo influenciado, principalmente, pelo manejo
adotado nesse sistema. Para melhor compreensão dessa variação, foi desenvolvido um trabalho no
município de Areia-PB, no brejo de altitude paraibano; para avaliação dos teores de carbono de um
Argissolo sob um fragmento de disjunção de Floresta Ombrófila Aberta, e de um Argissolo sob
pastagens de Braquiária (Urochloa Decumbens), vegetações predominantes no Município.
Objetivando, quantificar e comparar as variações nos teores de carbono total que esses dois sistemas
apresentam. Observou-se que os valores médios do teor de carbono no Argissolo sob um fragmento
de disjunção de Floresta Ombrófila Aberta foi de 67,5 g kg-1. Enquanto, o teor médio de carbono
em um Argissolo sob área de pastagem, bem manejada, foi de 23,23 g kg-1. Demonstrando a
elevada capacidade da floresta em estocar carbono em relação a pastagem, no mesmo solo, e nas
mesmas condições climáticas.
Palavras-chave: Estoque de carbono; Disjunção de mata atlântica; Sistemas pastoris; Emissão de
CO2; Efeito estufa;
ABSTRACT
To minimize the adverse effects of climate change, Research is conducted to identify impacts on the
environment and ways to mitigate these effects. With this, new ways of minimizing the negative
effects to the environment were created, thus, agriculture has undergone some adaptations, having
to adopt productive systems that minimize the impacts to the environment. The determination of the
total carbon content is the way in which the carbon contents that certain systems store in the soil are
quantified, so this stored content can vary from one system to another, being influenced, mainly, by
the management adopted in that system. For a better understanding of this variation, a work was
developed in the city of Areia-PB, in the swamp of Paraiba altitude; to evaluate the carbon contents

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

of an Argisol under an Open Ombrophylate Forest disjunction fragment, And of an Argisol under
pastures of Brachiaria (Urochloa Decumbens), predominant vegetation in the Municipality. Aiming,
quantifying and comparing the variations in the total carbon contents that these two systems
present. It was observed that the average values of the carbon content in the Argisol under an Open
Ombrophylate Forest disjunction fragment was 67.5 g kg -1. Meanwhile, the average carbon
content in an Argisol under well-managed pasture area was 23.23 g kg-1. Demonstrating the high
capacity of the forest to store carbon in relation to pasture, in the same soil, and in the same climatic
conditions.
Keywords: Carbon stock; Disjunction of Atlantic Forest; Pastoral systems; Emission of CO2;
Greenhouse effect;

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas as constantes mudanças climáticas levaram autoridades e órgãos


internacionais a reverem, como o homem utiliza os recursos naturais e seus impactos ao mesmo,
com isso, nos últimos anos, várias ideias foram pensadas para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa (GEE). Dessa forma a agricultura sofreu uma adaptação, tendo que adotar sistemas
produtivos que minimizassem os impactos ao meio ambiente; e mitigassem a emissão de gazes
poluentes, assim foram implantados sistemas como o consórcio de milho com pastagem, o sistema
de plantio direto (SPD), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), sistemas agroflorestais (SAFs)
entre outros, dessa forma evitando as práticas convencionais que emitiam uma grande quantidade de
gases para a atmosfera e aportavam pouco carbono ao solo.
O CO2 é um dos gases que mais contribuem com o aquecimento global. Para saber quanto
um determinado uso do solo aporta e retêm de carbono, reduzindo assim a emissão desse gás para a
atmosfera, um dos métodos que podem ser utilizados é a análise de carbono total (C total) e do
estoque de carbono do solo.
O C total do solo é o somatório do C orgânico e do C inorgânico, sendo que a maior parte do
C total está presente na matéria orgânica, para a maioria dos solos de clima tropical úmido. Em
geral, nas regiões de clima tropical, onde há lixiviação intensa do solo durante o processo de
formação e evolução, o C orgânico é a forma predominante, sendo o teor do C inorgânico
praticamente inexistente em solos ácidos e de baixa fertilidade (GUERRA & SANTOS, 1999). A
determinação desse C total envolve a conversão de todas as formas para dióxido de carbono (CO 2)
por combustão úmida; consequentemente quantifica-se o CO2 liberado por titulação com uma
solução de ferro (Fe2+).
Diante do exposto, objetivou-se analisar os teores de carbono total (C total) em uma área de
floresta preservada para ter como base de comparação quantitativa de carbono total (C total) com
áreas onde há outros sistemas de plantio. Para isso foram analisados os teores de carbono total do
horizonte A, na profundidade de 15 cm, em um Argissolo sob Floresta Ombrófila Aberta no brejo

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paraibano; e comparado esse teor com valores do teor de carbono em área de pastagem, na mesma
microrregião.

MATERIAL E MÉTODOS

Área da coleta

O trabalho foi realizado com amostras coletadas em um Argissolo sob um fragmento de


disjunção de Floresta Ombrófila Aberta (Mata Atlântica) no Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal da Paraíba (Figura 1), que está localizada no município de Areia, Brejo de
altitude da Paraíba. A altitude é de 618 m, o clima é tropical quente e úmido, com estação chuvosa
no período de outono-inverno, apresentando temperatura média de 23ºC, umidade relativa média de
80% e uma precipitação média anual de 1.400 mm.

Figura 1 - Localização da área de estudo. Fragmento de Floresta Ombrófila Aberta.


Imagem Astrium, dados do mapa 2017© Google.

Na área da floresta, foram delimitados 10 pontos, divididos em 10 parcelas de 25 m2 (Tabela


1) e, após avaliações in situ, foram selecionados 5 pontos onde houveram, aleatoriamente, a coleta
de amostras de solo totalizando 5 amostras coletadas (uma em cada ponto), retiradas com um
cilindro de 5 cm3, em uma malha de 25 x 10 m. A coleta foi realizada na profundidade de 0 a 15
cm. As amostras foram coletadas no mês de setembro de 2017 e preparadas para as análises no dia
da coleta.

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P1 P2 P3 P4 P5

P6 P7 P8 P9 P10

Tabela 1 - Malha de amostragem e parcelas.

Sala de recepção de amostra de solos

Ao término da coleta das amostras do solo, as amostras foram transportadas para a sala de
recepção de amostras de solos que fica no departamento de solos e engenharia rural (DSER) da
Universidade Federal da Paraíba, as amostras ficaram expostas durante 24 horas para perder a
umidade, depois desse período o solo foi triturado com um rolo de madeira e em seguida foi
peneirado em uma peneira de malha de 2 mm para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA).

Laboratório de matéria orgânica do solo

Em cada uma das amostras coletadas nos 5 pontos selecionados (uma amostra em cada
ponto), denominadas amostras simples de solo, ocorreu a retirada de uma subamostra, e em seguida
essas 5 subamostras foram misturadas e homogeneizadas afim de se obter uma amostra de solo
composta, esse método tem o objetivo de evitar a sub e a superestimação dos teores de carbono do
solo. Tornando o resultado da análise mais confiável e com uma representatividade média da área.
Em seguida macerou-se 10 gramas da amostra composta, em almofariz de porcelana e
depois se passou na peneira de 0,5 mm, pesou-se 0,1 grama da amostra do solo em 7 tubos de
ensaio, com volume de 100 ml, foram aquecidas três amostras e três não foram aquecidas, além de
uma testemunha, essa não se adiciona nada, em seguida foi pipetado 5 ml de dicromato de potássio
com molaridade de 0,167 mol L-1em cada amostra (Figura 3).

Figura 3 - Adição da solução dedicromato de potássio

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Em seguida acrescentou-se 10 ml de ácido sulfúrico concentrado em cada amostra,


realizando-se uma leve agitação do tudo, sempre evitando que as partículas da solução fiquem nas
paredes do tubo (Figura 4).

Figura 4-Adição do ácido sulfúrico concentrado.

Em seguida levou-se 3 tubos para o bloco digestor a 170°C por 30 minutos, os 3 tubos que
não são aquecidos, foram mantidos fora do bloco para posterior analises. (Figura 5).

Figura 5- Processo de digestão das amostras.

Decorrido o tempo de digestão, os tubos foram removidos do bloco digestor e mantidos na


capela por 20 minutos para resfriamento, em seguida o conteúdo de cada tudo foi transferido para
Erlenmeyer com volume de 250 ml devidamente identificados, em seguida adicionou-se 10 ml de
ácido fosfórico concentrado em cada erlenmeyer, depois adicionou-se água destilada até completar
50 ml.
Imediatamente ocorreu a titulação da solução contida nos erlenmeyer com uso da bureta
digital, a bureta continha solução de sulfato ferroso com molaridade de 0,4 mol L-1, para titular as 3
amostras aquecidas e as 3 não aquecidas foram adicionados cerca de 0,3 ml do indicador
difenilamina nos erlenmeyer, em seguida a solução da bureta foi adicionada nos Erlenmeyer até
ocorrer o ponto de viragem (ocorre quando a cor da solução muda de marrom esverdeado para
verde musgo), após o ponto de viragem sempre foram anotados as leituras observadas dos volumes
gastos na bureta para a realização dos cálculos do conteúdo de carbonos nas amostras.
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Calculo do teor de carbono orgânico total do solo

Peso do solo seco = 0,300 mg.


Concentração do Sulfato Ferroso = 0,4 mol L-1
Volume de FeSO4. (7 H2O) 0,4 mol L-1 gasto para titular:
- Brancos Não Aquecidos (média de três repetições): 12,6 mL.
- Brancos Aquecidos (média de três repetições): 10,0 mL.
- Amostra do solo sob mata: 4,80 mL.
Logo:
(A).(Conc. do Sulfato Ferroso).(0,003).(100)
C - total (%) 
Peso da Amostra (g)
A  [(10,0 - 4,80).(12,6 - 10,0)/12,6]  (10,0 - 4,80)
A  6.7

(6,7).(0,4).(0,003).(100)
C - total (%) 
0,300 (g)

C - total  2,5%

O carbono orgânico total determinado no solo da disjunção de floresta ombrófila aberta foi
comparado com os teores de carbono orgânico total de pastagens de Braquiária (Urochloa
Decumbens) predominantes na Região, que tem a pecuária como principal atividade agrícola. A
pastagem utilizada para comparação possui mais de 20 anos de implantada, o que representa que o
carbono do solo está estabilizado, além disso, essa pastagem é bem manejada, o que indica maior
capacidade de acumulo de carbono no solo. A metodologia para determinação analítica e a forma de
coleta do solo, foi a mesma utilizada em ambas as determinações. O valor médio, do teor de
carbono em pastagens bem conservadas da região foi de 23,23 g de Carbono kg-1 de solo, como
determinou Pessoa (2015) e Rebequi (2015). Vale salientar que tanto a floresta, como as pastagens
estudadas, estão sobre o mesmo tipo de solo (Argissolo), na mesma microrregião, sob as mesmas
influências climáticas e na mesma cidade (Areia-PB).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios do teor de carbono em um Argissolo sob um fragmento de disjunção de


Floresta Ombrófila Aberta foi de 67,5 g kg-1. Enquanto, os teores médios de carbono em um
Argissolo sob área de pastagem bem manejada foi de 23,23 g kg-1 (PESSOA, 2015). Demonstrando

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a elevada capacidade da floresta em estocar carbono em relação a pastagem, no mesmo solo, e nas
mesmas condições climáticas.
Essas informações vão ao encontro do que afirmaram (ALVES et al., 2008), de que o não
revolvimento do solo, leva à uma condição de equilíbrio no teor de carbono. Levando em
consideração que o solo dessas pastagens não foi revolvido há pelo menos 20 anos, é possível
afirmar que o carbono dessas áreas estabilizou em baixos teores. Diferindo de outros sistemas de
produção agrícola, principalmente os conservacionistas, onde há um alto teor de carbono no solo,
próximos, aos teores das florestas nativas (ASSIS et al., 2015; LOSS et al., 2011).
Resultados semelhantes foram apresentados por Silva et al. (2011), que constataram maiores
teores de COT em áreas de mata nativa quando comparado a áreas com plantio direto e integração
lavoura pecuária. Outro fator ligado a superioridade da floresta nativa, diz respeito a entrada de
carbono através de resíduos vegetais e a saída por meio da mineralização, que ocorrem de forma
concomitante e equilibrada. Enquanto que em sistemas extrativistas como as pastagens, há grande
mineralização e exportação de nutrientes com perda significativa do carbono do solo.
Por isso, ultimamente, para minimizar as perdas de carbono em áreas de pastagens e
incorporar os benefícios do equilíbrio dos estoques nas florestas naturais, surgiu a integração
lavoura pecuária floresta (ILPF). A introdução desse sistema em áreas agrícolas, com níveis
adequados de fertilidade, evidencia o potencial deste sistema em reduzir não apenas o impacto
ambiental das atividades produtivas, mas também as emissões de gases de efeito estufa, melhorando
o aproveitamento da água e dos nutrientes do solo, aprimorando os índices de qualidade do solo no
sistema ILPF em relação a pastagem convencional (ASSIS et al., 2015).
Tomando-se os valores dos teores de carbono da floresta 67,5 g kg-1 e de uma pastagem bem
manejada 23,23 g kg-1 (PESSOA, 2015; REBEQUI, 2015) e comparando com os teores
classificados na (tabela 1), pode-se observar que houve um teor médio de carbono total (C total) na
pastagem e muito alto teor na floresta, vale ressaltar que esse teor médio de carbono na pastagem,
advém dessa pastagem ser bem manejada, ou seja, uma pastagem conservada; o que levou a
estabilização do carbono no solo. Provavelmente, em uma pastagem degradada os teores de carbono
serão classificados como muito baixo em virtude da não estabilização dos teores de carbono no solo
(MOREIRA e SIQUEIRA, 2006).

Teor de carbono total Unidade Muito Baixo Médio Alto Muito alto
do solo baixo
COT g kg-1 ≤4 4,1 - 11,6 11,7 - 23,2 23,3- 40,6 > 40,6

Tabela 1. Classes de interpretação para o teor de carbono orgânico total do solo (COT)
*Adaptado do procedimento analítico adotado no setor de química e fertilidade do solo-CCA/UFPB.

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Esse resultado indica que a floresta estudada tem uma grande eficiência no aporte de
carbono total ao solo. Sendo assim um importante reservatório de carbono e um sistema mais eficaz
em estocar carbono, comparado a outras culturas manejadas no brejo de altitude paraibano, como as
pastagens, que em média apresentam 23,23 g kg-1 de C total. As diferenças no teor de carbono do
solo são reflexos da emissão do carbono do solo, na forma de CO2, para a atmosfera.
Em solos idênticos, como no caso do presente estudo, onde as duas áreas estão sobre o
mesmo tipo de solo, as diferenças de emissões de CO2 não podem ser atribuídas às características
do solo e sim ao tipo de vegetação sobre ele (PINTO-JÚNIOR et al., 2009).
Sendo que a floresta estoca um teor médio de 67,5 g kg-1 o que representa um aporte de
carbono quase três vezes maior, que o aporte de carbono de uma pastagem bem manejada na região.
Isto ocorre devido a maior diversidade de espécies na floresta, com aporte continuo de carbono ao
solo, onde o processo de fixação de CO2 tende a ser maior que a emissão de CO2, o que eleva os
teores de carbono no solo, enquanto na pastagem a emissão de CO2 tende a ser maior que a fixação
de CO2 o que leva a uma diminuição no teor de carbono no solo, até ocorrer o processo de
estabilização.
É importante ressaltar que esse processo de fixação é devido a fotossíntese das plantas, que
capturam CO2 para produzir energia (TAIZ e ZEIGER, 2012), e que o processo de emissão de CO2
é devido a mineralização de nutrientes e de carbono da matéria orgânica, pela atividade dos
microorganismos (ALVES et al., 2008; MOREIRA e SIQUEIRA, 2006), tais processos ocorrem em
ambos os sistemas, tanto em pastagens, quanto em florestas e nos demais sistemas vegetais, porém
em um sistema desequilibrado, como os sistemas agrícolas, predomina a emissão devido as altas
taxas de mineralização para disponibilidade de nutrientes às plantas.
O uso de práticas conservacionistas que estabilizem o carbono (C) do solo através da adição
de resíduos vegetais, que se assemelhem aos efeitos positivos dos sistemas naturais como as
disjunções de floresta ombrófila. Resultam em redução das perdas e da taxa de ciclagem deste
elemento no sistema solo-planta-atmosfera (STEWART et al., 2009). Resultando na mitigação das
emissões de gás carbônico (CO2) diminuindo a influência nas mudanças climáticas globais. Porém,
sabe-se que a conversão de áreas florestais em cultivos agrícolas convencionais, que não prioriza a
entrada de carbono no sistema, representa alterações drásticas no solo que se encontrava em estado
de equilíbrio sob mata nativa. Pois provocam alterações nos atributos morfológicos, físicos,
químicos e biológicos do solo (LIMA et al., 2011).
Salimon (2003) observou, ao longo do tempo, que na pastagem ocorreram os maiores
efluxos de CO2 do solo para atmosfera, quando comparado com a floresta. Esses resultados indicam
que a pastagem convencional é menos eficiente em manter o carbono no solo que a floresta.

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Resultados similares foram observados por Fernandes et al. (2002), em que pastagens apresentaram
maior efluxos de carbono que florestas na Amazônia Sul-Ocidental.
Por isso a adoção de práticas agrícolas que minimizem as excessivas perdas de CO 2 do solo
para a atmosfera, pelo estado de desequilíbrio no solo, são fundamentais na região, pois é muito
difícil o sistema pastagem convencional estocar a mesma quantidade de carbono de uma floresta,
porém se o carbono dessa pastagem estiver em equilíbrio (entradas semelhantes as saídas), os
efeitos deletérios ao meio ambiente é minimizado, no entanto, esse equilíbrio deve ser alcançado em
teores elevados de carbono no solo, e não em baixos teores.

CONCLUSÃO

Os indicadores relevantes observados por meio da determinação do carbono total, indicaram


grande quantidade de carbono presente nesse solo, mostrando que em áreas de florestas preservadas
há grande aporte de carbono, estocando grandes quantidades de carbono ao solo, tornando-se assim
o sistema mais eficiente nesse aspecto em comparação a sistemas de cultivo convencionais, como as
pastagens, mesmo que essas sejam bem manejadas, além disso, o maior estoque de carbono no solo
representa menor emissão de CO2 para a atmosfera.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GUERRA, J. G. M. & SANTOS, G. A. Métodos químicos e físicos. In: SANTOS, G.A.;


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 300


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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TAIZ, L; ZEIGER, E. Fisiologia Vegetal. [Tradução: Armando Molina Divan Junior... et al.];
revisão técnica: Paulo Luiz de Oliveira. 5ª ed., Porto Alegre: Artmend, 2013. 918 p Il.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A INFLUÊNCIA DA ANTROPIZAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA


EXTRAÇÃO DE AÇAÍ E DE CASTANHA-DO-PARÁ NA AMAZÔNIA

Victória de Paula Paiva TERASAWA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Energias Renováveis da UFRA
vterasawa@yahoo.com.br
Ana Luisa Kerti Mangabeira ALBERNAZ
Pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
anakma@museu-goeldi.br

RESUMO
Neste artigo é mostrada a análise de dois fatores antrópicos que influenciam na distribuição
geográfica da extração de açaí (Euterpe oleracea Mart.) e de castanha-do-pará (Bertholettia
excelsa) na Amazônia Legal entre os anos de 2004 e 2014. Mostrando-se o desmatamento como
fator maléfico e a domesticação dos frutos como fator benéfico. Os resultados demonstram que o
desflorestamento tem relação significativa com a diminuição da distribuição geográfica da extração
das espécies estudadas enquanto que a domesticação proporcionou ao açaí e à castanha-do-pará
chegarem a lugares não-nativos.
Palavras-chaves: Açaí, Castanha-do-pará, Desmatamento, Domesticação.
ABSTRACT
This paper presents an analysis of two factors that have influence in geographic distribution of
extraction of açaí (Euterpe oleracea Mart.) and of castanha-do-pará (Bertholettia excelsa) in the
Amazonia between 2004 and 2014. Showing the desforestation like an evil factor and the
domestication like a beneficial factor. The results show that desforestation has significant
relationship with the geographic distribution of extraction of species studied while the
domestication let the açaí and the castanha-do-pará get in places non-natives.
Keywords: Açaí, Castanha-do-pará, Desforestation, Domestication.

INTRODUÇÃO

Na Amazônia, a extração de recursos naturais tem sido relevante desde os primórdios de sua
ocupação (HOMMA, 2003a). Dentre os principais produtos extrativos vegetais oriundos da floresta
amazônica que foram economicamente importantes, estão o cacau (Theobroma cacao) e a
seringueira (Hevea brasiliensis), hoje cultivados, e outros que ainda são importantes, como a
castanha-do-brasil (Bertholettia excelsa), a madeira e o açaí (Euterpe oleracea Mart.) (HOMMA,
1989, 1993).
O IBGE conceitua o extrativismo vegetal como ―a exploraçăo dos recursos vegetais nativos
através da coleta ou apanha de produtos, que permite a produçăo sustentada ao longo do tempo, ou
de modo primitivo e itinerante, possibilitando, geralmente, apenas uma única produçăo. Os produtos
de extrativismo vegetal, segundo suas formas de aproveitamento, săo classificados em grupos:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

borrachas; gomas não-elásticas; ceras; fibras; produtos tanantes; produtos oleaginosos; produtos
alimentícios; produtos aromáticos, medicinais, tóxicos e corantes e madeira‖ (IBGE, 2002).
Os Produtos Florestais Não Madeiráveis (PFNMs), tem sido tema presente em muitas
discussões na região amazônica da atualidade. Devido ao seu potencial econômico, estes produtos
podem significar a geração de renda para as pessoas que vivem da floresta. A obtenção de renda
com a floresta em pé é vista como imprescindível para a conservação das florestas tropicais, e é
importante tanto para a conservação da biodiversidade como para a manutenção dos serviços
ambientais que ela presta. As comunidades que vivem ao longo dos rios em geral se utilizam dos
produtos não madeireiros de forma empírica e não ordenada (IBAMA, 2011).
O IAG (2005) menciona que faltam conhecimentos sobre o manejo e pesquisa básica dos
produtos não madeiráveis. Se estimulada a demanda por determinados produtos, especialmente os
não madeiráveis, na ausência de medidas acompanhamento e controle, a pressão em algumas
espécies poderá afetar sua disponibilidade em longo prazo (PEDROZO, 2011).
Nas áreas de extração de palmito e de fruto de açaizeiro no estuário amazônico, verifica-se
que a viabilidade econômica dessa atividade e a existência dos estoques de açaizais são decorrentes
das transformações da economia extrativa ao longo do tempo. A extração comercial do palmito de
açaí iniciou-se em 1968, quando entrou em operação a primeira fábrica em Barcarena, Pará, devido
à exaustão de estoques de juçara (Euterpe edulis Mart.) no centro-sul do Brasil. A palmeira E.
edulis não apresenta rebrotamento após o corte (HOMMA, 2008).
Segundo Peres (2003) citado por Homma (2008), os estoques de castanheiras, no Pará,
especialmente no sudeste paraense, foram substituídos por pastagens, projetos de assentamentos,
extração madeireira, mineração e expansão urbana. Além da destruição das árvores, o colapso
demográfico das castanheiras é evidenciado pela reduzida quantidade de castanheiras jovens,
decorrente da superextração dos frutos, impedindo a sua reprodução e a alimentação da fauna.
O cenário atual revela que há a consciência dos prejuízos causados pelo homem à
biodiversidade, porém não se buscam outros meios os quais possam beneficiar ambos os lados.
Nesse contexto, percebe-se a grande necessidade de haver pesquisas que analisem a influência da
antropização na natureza e partir delas, elaborar métodos que permitam a diminuição de tantos
danos ao meio ambiente através do desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é utilizar os dados do censo agropecuário do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Agropecuário e da Pesca (SEDAP), além dos de desflorestamento do Projeto PRODES realizado
pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para analisar a influência da antropização nas
mudanças de distribuição geográfica da produção do açaí e da castanha-do-pará na Amazônia.

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METODOLOGIA

Primeiramente houve a compilação de dados entre os anos de 2004 e 2014 de extrativismo


vegetal de produtos não madeireiros (açaí e castanha-do-pará) nos estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima retirados da obra ―Produção da
Extração Vegetal e da Silvicultura - PEVS‖, realizada pelo IBGE.
Posteriormente, foi realizada uma análise, por meio de mapas temáticos, elaborados no
Programa de Sistemas de Informações Geográficas, denominado Quantum GIS (QGIS). Na terceira
etapa foram utilizados dados de desmatamento do Projeto PRODES para comparar as mudanças
temporais da produção das duas espécies estudadas com o desmatamento nos mesmos anos. "O
projeto PRODES realiza o monitoramento por satélite do desmatamento por corte raso na
Amazônia Legal e produz as taxas anuais de desmatamento na região [...] As taxas anuais são
estimadas a partir dos incrementos de desmatamento identificados em cada imagem de satélite que
cobre a Amazônia Legal" (INPE).
Por último, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre as temáticas de extrativismo,
destruição de agentes polinizadores e domesticação de espécies. Dando destaque aos autores
Homma, Imperatriz-Fonseca e Wadt.

DISCUSSÃO

É possível concluir, a partir de dados disponibilizados pelo IBGE, que houve muitas
mudanças na quantidade de açaí e de castanha-do-pará extraídos entre os anos de 2004 e 2014 na
Amazônia Legal.

AÇAÍ

Como resultado da interpretação de dados do PEVS entre os anos de 2004 e 2014 pôde
perceber que ano de menor extração do fruto do açaí, em nível regional, deu-se em 2004 e o de
maior extração foi em 2011.
Em nível estadual, percebe-se algumas mudanças, como no caso do estado de Roraima que
até 2012 não tinha extração de açaí e partir de 2013 o quadro mudou para uma tonelada. Outro caso
é o estado de Rondônia que em 2004 houve extração de 25 toneladas já em 2014 os números
aumentaram para 1606 toneladas. O Amazonas teve um grande aumento na sua produção a partir de
2010, passando a figurar entre os 3 maiores produtores de açaí (Tabela 1, figura 1).

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UF 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
AC 741 907 961 1459 1537 1658 1674 1701 1620 3050 4020
AP 1390 1284 1160 1034 1294 1337 1427 1766 1893 2036 2225
AM 1134 1149 1172 1220 1274 1576 3256 89480 71146 71783 66642
MA 7226 9380 9441 10198 9191 9471 10930 12119 12310 12837 13897
MT 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
PA 90512 92088 88547 93783 107028 101375 106562 109345 110937 111073 109759
RO 25 65 56 134 314 347 408 818 1077 1435 1606
RR 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1
TOTAL 101028 104873 101337 107828 120638 115764 124257 215229 198983 202215 198150
Tabela 1 - Quantidade de açaí extraído em toneladas. Fonte:IBGE

120000

100000
AC
80000 AP
AM
60000 MA
MT
40000
PA
RO
20000
RR

0
2004 2006 2008 2010 2012 2014

Figura 1- Gráfico da produção anual do açaí

Comparando a produção dos diferentes estados, percebe-se que estes influenciam nos
resultados em níveis municipais. No ano de 2004 o estado do Pará liderava na extração do açaí por
conta da alta produção em municípios como Ponta de Pedras, Abaetetuba e Limoeiro do Ajuru. No
entanto, no ano de 2014, a extração do fruto aumentou consideravelmente em outros estados sendo
as maiores produções no estado do Pará e do Amazonas – tendo o município de Codajás
responsável por quase 13% do total (figura 2).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2- Variação na produção de açaí nos municípios da Amazônia Legal entre 2004 e 2014.

CASTANHA-DO-PARÁ

Como resultado da interpretação de dados do PEVS entre os anos de 2004 e 2014 pôde
percebe que ano de menor extração do fruto da castanha-do-pará, em nível regional, deu-se em
2004 e o de maior extração foi em 2007. Entre os Estados da Amazônia, percebe-se que há grandes
mudanças como é o caso do estado do Amapá que teve o ano de maior extração da castanha-do-pará
em 2004, com 1106 toneladas, e no decorrer dos outros anos a extração só diminuiu chegando a 390
toneladas em 2009. Outro caso importante para ser analisado é o estado do Pará que teve o ano de
menor extração em 2006 com 5291 toneladas e os números foram aumentando, até que em 2012 a
extração quase atingiu a maior produção da Amazônia, com 10449 toneladas (Tabela 2, figura 3).

UF 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
AC 5859 11142 10217 12142 11521 10313 12362 14035 14088 13599 13684
AP 1106 440 917 847 519 390 447 401 426 438 466
AM 9150 8985 9165 21486 9111 16012 16039 14661 10478 11785 12901
MA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
MT 385 373 473 476 1430 1527 1477 2234 1538 1596 1524
PA 7642 6814 5291 7639 6203 7015 8128 7192 10449 9023 6903
RO 2830 2710 2652 2105 1927 2107 1797 3523 1714 1689 1854
RR 88 91 91 90 102 104 106 105 112 171 166
TOTAL 27060 30555 28806 44785 30813 37468 40356 42151 38805 38301 37498
Tabela 2 - Quantidade de castanha-do-pará extraída em toneladas. Fonte: IBGE

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 306


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18000
16000 UFs

14000 AC

Produção (T)
12000 AP
AM
10000
MA
8000
MT
6000 PA
4000 RO
2000 RR

0
2004 2006 2008 2010 2012 2014
ANOS
Figura 3 – Gráfico da produção anual da castanha-do-pará

Pode se notar também que a produção anual estadual não tem muita relação com a produção
municipal. Prova disso é o município de Porto Velho (RO), que obteve o maior número de extração
em 2004, porém o estado que mais produziu a castanha-do-pará foi o Amazonas (Figura 4).
A partir do mapa abaixo são claras as mudanças, pelo fato de a maioria dos municípios
obterem variações temporais medianas, exceto certos municípios dos estados do Acre, do
Amazonas e de Rondônia.Com variações muito altas, altas e muito baixas respectivamente.

Figura 4 - Variação na produção de castanha-do-pará nos municípios da Amazônia Legal entre 2004 e 2014.

RELAÇÃO ENTRE A PRODUÇÃO E O DESMATAMENTO

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No ano de 2004, a maioria das unidades federativas que compõem a Amazônia sofreu a
maior taxa anual de desmatamento, entre outros motivos por não existir nenhum controle do
Governo para frear o desflorestamento (Tabela 3). O desmatamento estava sendo praticado de
forma desenfreada e por isso, no fim de 2004 foi lançado o Plano de Ação para a Prevenção e
Controle do Desmatamento na Amazônia legal. Em 2005, as taxas anuais de desmatamento
diminuíram drasticamente e isso possibilitou à floresta se recuperar e poucos anos mais tarde houve
aumento na quantidade de açaí e de castanha-do-pará (figuras 5 e 6).

Amazônia
Ano\UFs AC AM AP MA MT PA RO RR Legal
2004 728 1232 46 755 11814 8870 3858 311 27772
2005 592 775 33 922 7145 5899 3244 133 19014
2006 398 788 30 674 4333 5659 2049 231 14286
2007 184 610 39 631 2678 5526 1611 309 11651
2008 254 604 100 1271 3258 5607 1136 574 12911
2009 167 405 70 828 1049 4281 482 121 7464
2010 259 595 53 712 871 3770 435 256 7000
2011 280 502 66 396 1120 3008 865 141 6418
2012 305 523 27 269 757 1741 773 124 4571
2013 221 583 23 403 1139 2346 932 170 5891
2014 309 500 31 257 1075 1887 684 219 5012
Tabela 3 - Taxa de desmatamento anual nos Estados da Amazônia Legal. Fonte: INPE

A partir da análise comparativa entre a tabela de taxa de desmatamento anual e os dados da


produção anual do açaí e da castanha-do-pará para os Estados com produção acima de 5
toneladas/ano foi possível construir gráficos relacionando os três estados que mais produziram as
frutas estudadas com o desflorestamento.

120,000
100,000
Açaí (T)

80,000
60,000
40,000 UF$
20,000 AM
MA
0 PA
1 2 3 4
Desflorestamento (log)
Figura 5 - Relação entre a produção anual de açaí e o desflorestamento

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25,000

Castanha (T)
20,000

15,000
UF$
10,000
AC
AM
5,000 PA
1 2 3 4
Desflorestamento (log)
Figura 6 - Relação entre a produção anual de castanha-do-pará e o desflorestamento

A partir da análise gráfica, é possível concluir que o desflorestamento não influenciou tanto
na produção do açaí. No entanto, houve uma relação significativa estatisticamente entre a produção
da castanha-do-pará e o desmatamento (r²=0,41, p<0,001). Isso demonstra que a produção do fruto
sofreu com o desmatamento, seja direta ou indiretamente. Diretamente pelo fato de muitas das
vezes não haver preocupação com a legislação ambiental a qual institui que as castanheiras não
podem ser derrubadas (lei federal nº 4.771/1965) e indiretamente, pois, mesmo que a legislação seja
respeitada, a derrubada de toda área ao redor da castanheira pode afetar a produção individual por
falta de interações com as outras espécies que lá tinham.
Para o açaí, embora não tenha havido uma relação entre a produção anual estadual e o
desmatamento, a menor extração total ocorreu no ano que teve a maior taxa de desmatamento e o
ano em que teve maior extração total do açaí foi o que teve a menor taxa de desmatamento,
indicando que pode haver também uma influência do desmatamento na produção.

INFLUÊNCIA DA DOMESTICAÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA PRODUÇÃO

Embora o desmatamento cause diversas consequências negativas, surge um estímulo à


domesticação do açaí e da castanha-do-pará. Tais espécies frutíferas são bastante conhecidas e
possuem alta demanda no mercado, pois com elas é possível gerar diversos produtos que vão desde
a culinária até o artesanato. É sabido que a atividade extrativista não consegue suprir essa demanda
e por isso, há a domesticação de ambos de modo a facilitar o escoamento com o cultivo em áreas de
mais fácil acesso – ao longo de rodovias e o aumento da produção em áreas produtivas.
Com a domesticação do açaí, típico do ecossistema de várzea, foi possível a inserção da
espécie em regiões não-nativas e o fortalecimento da produção nas áreas em que são nativas. Há
duas espécies comerciáveis do fruto: Euterpe oleracea Mart. e Euterpe precatoria Mart. Sendo a
primeira típica do Pará e pode formar populações adensadas e a segunda, nativa dos outros estados

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

da Amazônia e tem hábito solitário. A E. oleracea Mart. foi levada para outros estados e apresentou
boas taxas de crescimento, como no estado do Acre, no município de Rio Branco atingindo a
produção de 512 toneladas em 2014 (IBGE).
Além disso, municípios que antes nem tinham produção do fruto passaram a ter com o
manejo. O município de Castanhal no Pará, região de terra firme, que nunca teve extração passou a
produzir 3250 toneladas do fruto a partir de 2011, segundo dados da SEDAP.
Quanto à domesticação da castanha, deu-se início aos estudos pela EMBRAPA Amazônia
Oriental de modo a produzir mudas para produção comercial. Atualmente, existem poucos
castanhais com esses objetivos, porém o maior deles fica no Amazonas, no município de Itacoatiara
na fazenda Aruanã com 1,3 milhão de castanheiras, mas só 380 mil são destinadas à produção. O
restante tem como finalidade a reposição florestal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com as análises foi possível concluir que a antropização mudou de várias maneiras a
distribuição geográfica de produção do açaí e da castanha-do-pará. Houve mudanças de teor
prejudicial, como é o caso do desmatamento, principal fator antrópico, que afeta não só a produção
comercial como também todo o ecossistema ao redor das espécies estudadas o que acarreta em
possível perda da biodiversidade amazônica.
Por outro lado, houve mudanças benéficas com a domesticação das espécies de modo a
aumentar a produtividade usando técnicas de manejo e cultivo em áreas de não ocorrência,
aumentando a distribuição geográfica das mesmas.
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MAPEAMENTO E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA COMUNIDADE DO MANGUE


SECO, NO MUNICIPIO DE RAPOSA, DO MARANHÃO COMO CONTRIBUIÇÃO
PARA A OCEANOGRAFIA SOCIOAMBIENTAL

Vitor Martins MOREIRA


Graduando do Curso de Oceanografia da UFMA
vitaomartins87@gmail.com
Maria Luiza Torres PIRES
Graduanda do Curso de Oceanografia da UFMA
malutoresp@gmail.com
Christiano Teixiera de FREITAS
Graduando do curso de Oceanografia da UFMA
christiano_freitas@outlook.com
Flávia Rebelo MOCHEL
Profª Drª da Universidade Federal do Maranhão -UFMA
flavia.mochel@globo.com

RESUMO
Os manguezais são ecossistemas costeiros, tropicais e subtropicais, tornando-se os mais produtivos
relacionados a zona costeira e suas espécies possuem grande tolerância ambiental, que ajustam seu
crescimento em condições diversificadas (PANNIER et. al., 1980). Conforme Odum (1971), esse
ecossistema altamente produtivo, baseia-se devido à uma grande carga de matéria orgânica gerada e
liberada para as águas, compondo assim não só uma base alimentar para várias espécies; mas
também, fornecem como comentado por Mochel (2011) uma ampla variedade de recursos para
comunidades que os rodeiam. A comunidade do Mangue Seco, localizada no Maranhão entre as
coordenadas 2º 27‘ 06,86‖ e 2º 27‘ 21,81‖ S e 44º 09‘ 20,33‖ e 44º 09‘ 45,76‖ W recebe esse nome
devido a grande vegetação de manguezal que vive ao seu redor, denominado mangue seco. A ampla
riqueza de recursos naturais do mangue seco contribuiu para que a comunidade se tornasse uma
região típica de pescadores; além disso, sua imensa riqueza visual atrai diversos turistas e
investidores em imóveis de veraneio. No entanto, o rápido e desordenado crescimento da
comunidade torna nitidamente perceptível o sofrimento do ecossistema sob tal pressão,
desmatamento, poluição, assoreamento, entre outros são possíveis observar ao longo da região do
manguezal. O presente trabalho teve como propósito, a realização de uma mapeamento da
comunidade do mangue seco no quesito socioambiental por meio da aplicação de questionários aos
moradores e também pela atividade de observação direta das características ambientais.
Palavras-chave: Manguezais, Ecossistemas Costeiros, Mapeamento, Ação Antrópica.
ABSTRACT
Mangroves are coastal, tropical and subtropical ecosystems, becoming the most productive coastal-
related species and their species have great environmental tolerance, which adjust their growth
under diverse conditions (PANNIER et al., 1980). According to Odum (1971), this highly
productive ecosystem is based on a great load of organic matter generated and released into the
waters, thus composing not only a food base for several species; But also, provide as commented by
Mochel (2011) a wide variety of resources for communities that surround them. The community of
the Dry Mangrove, located in Maranhão between coordinates 2º 27 '06,86 "and 2º 27' 21,81" S and

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44º 09 '20,33 "and 44º 09' 45,76" W receives this name due to Large mangrove vegetation that lives
around it, called dry mangrove. The rich natural resources of the dry mangrove contributed to the
community becoming a region typical of fishermen; In addition, its immense visual wealth attracts
diverse tourists and investors in real estate of summer. However, the rapid and disorderly growth of
the community makes it clearly noticeable the suffering of the ecosystem under such pressure,
deforestation, pollution, siltation, among others are possible to observe throughout the mangrove
region. The purpose of the present work was the mapping of the dry mangrove community in the
socioenvironmental question through the application of questionnaires to the residents and also the
direct observation of environmental characteristics.
Keywords: Mangroves, Coastal Ecosystems, Mapping, Anthropogenic Action.

INTRODUÇÃO

Os manguezais são ecossistemas costeiros, tropicais e subtropicais, tornando-se os mais


produtivos relacionados a zona costeira e suas espécies possuem grande tolerância ambiental, que
ajustam seu crescimento em condições diversificadas (PANNIER et. al., 1980). Conforme Odum
(1971), esse ecossistema é altamente produtivo, devido à uma grande carga de matéria orgânica
gerada e liberada para as águas; compondo assim, não só uma base alimentar para várias espécies;
mas também, fornecem como comentado por Mochel (2011) uma ampla variedade de recursos para
comunidades que os rodeiam.
Porém, de acordo com Coelho et al. (2007), em certas regiões do Brasil, há intensa
exploração de recursos naturais nesse ecossistema, principalmente próximo aos assentamentos
urbanos e industriais das grandes cidades. De acordo com Mochel (2005) os conflitos relacionados
à ocupação desse ambiente é intenso onde o espaço é limitante e atividades incompatíveis como
pesca, extrativismo, turismo e urbanização são colocados numa mesma área. Esses problemas,
conforme Tozoni-Reis (2002), vêm instigando inúmeros grupos para discussões sobre questões
ambientais, apontando diferentes abordagens e necessidade para o desenvolvimento de políticas
públicas de Educação Ambiental.
Posto isto, o estudo do mapeamento ambiental de acordo com Meyer (1991), em
determinada área trata-se como um importante instrumento didático quanto à compreensão do grau
de interferência em determinado meio e como essa interferência acarreta problemáticas aos seres
desse ambiente, em conformidade com Castro (2009) quando comenta como é possível a partir do
estudo do mapeamento entender a organização de um determinado espaço, como base para ações e
estudos futuros.
O presente trabalho permite então, constatar o mapeamento ambiental da praia do Mangue
Seco e áreas adjacentes, com o propósito de analisar a sensibilidade ambiental e a qualidade de vida
das pessoas. Os manguezais na ilha de São Luís, estado do Maranhão, apresentam-se distribuídos

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em uma área de 18.895 hectares, sobre a costa como franjas, atrás das praias, cordões litorâneos e
dunas arenosas, ou margeando rios e igarapés (Silva & Mochel, 1994).

METODOLOGIA

A área selecionada para a aplicação do estudo foi a comunidade do Mangue Seco, que
localiza-se no município de Raposa, ao noroeste da Ilha de São Luís e está inserido entre as
coordenadas: 2º 27‘ 06,86‖ e 2º 27‘ 21,81‖ S e 44º 09‘ 20,33‖ e 44º 09‘ 45,76‖ W. Para o
mapeamento da região foram selecionados quatro polígonos a serem percorridos tendo como
referencial a rua principal da comunidade, com o auxílio do programa Google Earth.
Para a realização da atividade, a turma de Educação e Ética Ambiental formada por 15
alunos, sob orientação da docente responsável, dividiram-se em quatro grupos (delimitando-se
assim os pontos: A1. Entrada da comunidade, A2. Área central da comunidade, A3. Borda e interior
do manguezal e A4. Praia do Mangue Seco). A metodologia proposta para o presente estudo
baseou-se na percepção e no mapeamento da comunidade, perpassando pela aplicação de
questionários semiestruturados utilizando metodologias quali-quantitativas e entrevistas. Tendo
como propósito o mapeamento das condições socioambientais dos moradores e da área, de acordo
com os tipos de residência, presença de energia elétrica, tipos de fonte de água, destino dos resíduos
domésticos, religião, entre outros. Além do propósito de analisar a sensibilidade ambiental e a
qualidade de vida da comunidade, quanto à supressão da região perante a ocupação desordenada e a
degradação ambiental. Posto isto, o mesmo contendo doze perguntas, sendo seis objetivas e seis
subjetivas, foram devidamente aplicados no dia 20 de janeiro de 2017, pelo turno da manhã, de
forma arbitrária.
Após a coleta das informações, os dados foram levados ao Laboratório de Ecologia de
Benthos e Manguezais (LAMA), para análise e tabulação de dados, com o auxílio do programa
Microsoft Office Excel 2010. As imagens de mapeamento foram feitas com o auxílio do programa
Google Earth.

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Figura 1: Área de estudo: comunidade do Mangue seco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O mapeamento realizado na comunidade através das aplicações dos questionários resultou


na obtenção de informações sobre indicadores de âmbito relacionado ao desenvolvimento
sustentável que, por meio desses foi possível observar as diferenças entres as zonas que a
comunidade fora segmentada. Os dados coletados por meio do questionário composto por questões
que abordavam aspectos socioeconômicos, condições de descarte de lixo em cada área, fatores de
escolaridade, culturais e medidas quanto a recuperação e/ou preservação da área, totalizando 48. Os
entrevistados eram escolhidos de acordo com as pessoas que circulavam e moradores nos (dos)
pontos delimitados.
Conforme com Costa et al (2005), os indicadores de desenvolvimento sustentável revelam-
se como importantes instrumentos que sintetizam um grande número de informações a uma
quantidade adequada para análise e tomada de decisões. Quando indagados se havia energia elétrica
nas residências, considerando toda a comunidade, 92,9% indicou ter energia elétrica em casa,
seguido de 4,8% para problemas com a energia (problemas oscilatórios) e 2% relataram não ter
energia elétrica. Considerados cada segmento, percebeu-se que no ponto A1, observou-se que mais
da metade dos entrevistados (81,8%) possuem energia elétrica em suas respectivas residências. Já
nos pontos A2 e A3, relatou-se de acordo com os dados, 100% em relação à presença de energia
elétrica. Apenas no ponto A4 (Praia do Mangue Seco), a ausência da energia se deu em apenas um
dos dados (uma residência), o restante (92%) indicou ter energia elétrica em suas (seus)
casas/estabelecimentos.
De acordo com Pinheiro (2008), a disponibilidade de água, acesso a energia e moradia são
questões de influência sobre o desenvolvimento social.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Os frequentadores quando questionados de onde vem a água de suas residências, registrou-


se uma porção de 51,1% para residências com água encanada, seguido de 44,2% que
possuem/utilizam poços artesianos e 4,7% para o uso de outro meio (empresas privadas).
Considerado a análise do mapeamento de cada ponto, percebeu-se que nos pontos A1, A2 e A3 a
utilização de água oriunda de empresas públicas (opção ―água encanada‖) apresentou-se em maior
percentagem (60%, 62,5% e 60% respectivamente) comparada ao ponto A4. Onde o mesmo, a
opção ―poço artesiano‖ indicou percentagem em 71,4%, seguindo de água encanada com 28,6%. O
uso de poço artesiano nos pontos A1, A2 e A3 indicaram a percentagem de 33,3%, 12,5 % e 40%
respectivamente. E nesses mesmos pontos (A1 e A2) foram relatados o uso de ―outros meios‖
(empresas privadas), sendo um para o ponto A1 e dois para o ponto A2. Quando indagados sobre
aos moradores sobre destino do esgoto, constatou-se que metade dos dados (56,8%) possui fossa,
contrapondo aos 36,4% que apontaram descarte no ambiente e a opção ―outros‖ com 6,8%. Nessa
mesma questão, percebeu-se um zoneamento entre as áreas onde, no ponto A1 50% dos
entrevistados relataram o uso de fossa e 33% relataram descartar no ambiente. No ponto A2, 50%
dos entrevistados também indicaram o uso de fossa e 37,5% relataram descartar no ambiente. Na
área A3, houve um destaque quanto à utilização de fossas para o descarte do esgoto. De acordo com
o dados, apenas 20% dos entrevistados relataram o descarte no ambiente, sendo que os outros 80%
relataram quanto ao uso de fossas. Já na zona A4, as opções ―fossas‖ e ―descarte no ambiente‖
empataram, apontando 50% (Figura 2).

6
Esgoto encanado
5
Fossa
4
Mangue/rio/rua
3 Outros
2

0
A1 A2 A3 A4

Figura 2 - Destino do esgoto doméstico por área.


De acordo com dados, em nenhuma das áreas apresentou-se a opção ―esgoto encanado‖,
levando-se em consideração, que o mesmo lançado diretamente no ambiente ou que não seja
devidamente tratado, poderá causar danos graves para o meio, como a contaminação por bactérias
ou fungos e outros. De acordo com Almeida et al (2001, p. 25), estes danos vão desde a poluição e
contaminação das águas e de espécies que vivem na área. Descataca-se ainda outra consequência
causada pelo ―esgoto‖ por Araújo & Maciel (1979), sendo ela a mortalidade significativa da

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

vegetação local (o mangue), devido a baixa de oxigênio disponível causado pelo lançamento do
esgoto nestas áreas.
Com relação a questão voltado para o descarte de resíduos na comunidade, boa parte dos
mesmos estão dispostos em cestos, varais, contêineres ou outros. Como mostra a Figura 4, de
acordo com a visualização direta do entrevistador, dentre os locais apropriados para destino dos
residuos solidos encontrados disposto na zona de estudo,70% destes eram compostos por cestos,
20% em contêineres e 10% em varais. Em contrapartida, na zona A3 concentra-se a maior parte
destes meios (30%), seguido da zona A1 (20%), A4 (20%) e A2 (10%).

Cesto
2
Varal
Containner
1

0
A1 A2 A3 A4

Figura 3 - Zoneamento de locais de deposição do lixo por Área.

Conforme a Comissão de Desenvolvimento e Meio Ambiente da América Latina e do


Caribe (1991), a zonas costeiras vêm sofrendo quanto à descarga de esgotos e lançamentos de lixos,
tanto de áreas urbanas ou industriais. Neste sentido, os ecossistemas de manguezais são largamente
afetados por esta carga de poluentes, especialmente junto às áreas urbanas (SOARES et al., 2001, p.
50). É evidenciado também, de acordo com Carvalho-Souza (2011), um completo descuido da
própria comunidade e de frequentadores quanto ao descarte de resíduos.
Quando indagados sobre o lixo no ambiente, questionou-se se estavam ensacados ou não, se
haveria animais sobre os resíduos. Quais materiais eram vistos, como exemplo: frutas, peixes, latas,
plásticos, vidros e outros. O lixo despejado e/ou disposto nas áreas de estudo estavam dentro de
sacos ou apenas soltos pelo ambiente (isto na zona A1 e A4). Na área A2, percebeu-se a presença de
lixo apenas ensacado, ao contrário da área A3. Em relação ao tipo de resíduos (organico e
inorgânico) encontrados no ambiente, apenas na área A4 houve a presença de lixo de somente um
tipo de lixo, orgânico (como restos de alimentos e outros produtos de pesca). Nas outras área houve
a presença dos dois tipos de lixo, com um destaque em maioria para resíduos inorganicos, como
vidros, plasticos, entre outros.
Como observado ao longo da história da humanidade, o homem sempre deixou resíduos do
que não lhe interessava. À época quando os produtos naturais eram manufaturados, os resíduos era
basicamente composto de matéria orgânica (restos de vegetação e animais). No entanto a partir da
Revolução Industrial, com a produção de materiais mais refinados, processos tecnológicos e a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

rápida evolução do mesmo passaram a produzir uma grande quantidade de lixo inorgânico
(Almeida et al, 2011). A ligeira urbanização de uma área, seja ela costeira ou não, se não
controlada pode acarretar a curto e longo prazo problemas tanto ao ambiente quanto a saúde,
principalmente quando relacionado a saneamento básico.
A produção em alta quantidade e despejo inadequado de resíduos sólidos como vidros,
plásticos, borrachas acaba se tornando para a comunidade um sério risco a saúde, servindo até de
berço para vetores de doenças, como exemplo a Aedes Aegypti (mosquito transmissor da dengue).
Em relação aos resíduos orgânicos, estes podem tanto se tornar colaboradores para o
desenvolvimento da fauna e flora do manguezal, servindo como alimento e fonte de proteínas.
Porém também podem acarretar na ocorrência e/ou desenvolvimento de doenças. Nas demais áreas
houve a presença dos dois tipos de lixo, com um destaque em maioria para resíduos inorganicos,
como vidros, plasticos, entre outros (Figura 4).

2 Organico
Inorganico

0
A1 A2 A3 A4

Figura 4 - Zoneamento dos tipos de lixos encontrados por Área.

No processo de ocupação de áreas costeiras, onde se encaixam os manguezais a construção


do comércio torna-se inevitável, geralmente são peixarias, que aproveitam os recursos próximos
para realizar a comercialização e também bares e restaurantes, além de supermercados de pequeno
porte para o fornecimento básico da população. Em regiões de manguezais, mesmo protegidos por
lei federal sobre os conceitos de preservação e sustentabilidade, ainda sofrem por diversos tensores,
principalmente antrópicos (MOCHEL, 1993).
Em relação a distribuição dos pontos de comércio na comunidade, o ponto A1 não
apresentou nenhum tipo de estabelecimento de comercio. Os bares (totalizando cinco) observados
encontram-se nos pontos A3 e A4, sendo que o último ponto de estudo apresentou mais bares,
devido a um maior atrativo visual moradores e/ou turistas. Quanto aos restaurantes, foram
observados seis ao longo da comunidade, distribuídos pelos pontos A2, A3 e A4. Das peixarias
presentes na comunidade (duas apenas), ambas localizam-se nos pontos A3 e A4., devido a sua

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

proximidade com o pior e/ou com o ponto de chegada dos peixes frescos. Os pequenos mercados
observados (quatro no total) encontravam-se nos pontos A2 e A3, sendo que a maior parte (no total
três), localizam-se no ponto A2, mais próximos da avenida, local de acesso do fornecedor.
Em relação a atuação da espiritualidade sobre comunidade do Mangue Seco, uma variedade
de doutrinas foi citadas nas entrevistas pelos moradores, como: protestatismo com 47%, o
catolicismo com 39%, matrizes africanas com 12% e a opção ―não possui nenhum tipo de crenças‖
com 2%. Em questão da opção ―matrizes africanas‖, observou-se uma generalização por parte da
comunidade ao denominar suas crenças. Quando realizada a comparação entre as Áreas, o numero
de seguidores do catolicismo mostrou-se mais presente na área 4 (30%), seguida da área A3 (25%)
e por ultimo as áreas A1 e A2, mostrado 21%, ambas. Seguidores de ensinamentos protestantistas
foram mais notados na área A3 (35%), em segundo, área A2 (31%) e por último as áreas A1 e A4,
com 17%. Em relação aos seguidores de matrizes africanas, estes foram presentes apenas nas áreas
A1 e A4, anotando três pessoas em cada área. Quanto aos que não seguem nenhuma religião,
apenas uma pessoa foi registrana, na área A4. A presença da espiritualidade como crença nas
comunidades costeiras, pode demonstrar sua influencia diretamente sobre o meio ambiente. Mochel
(2005) enfatiza a necessidade do fortalecimento das questões de espiritualidade na comunidade no
contexto da Educação Ambiental, sem a contação de religiosidade. E ainda destaca a autora ―A
espiritualidade no sentido de percebermos que tudo está ligado a tudo, que nós fazemos parte de um
todo, que somos feitos de partículas, que ao morrermos nossos restos serão incorporados ao solo,
aos animais, às plantas, e todos terão um pouco de nós.‖
Com relação a iniciativas ambientais observadas na comunidade, quando questionado sobre
ações positivas que poderiam ser realizadas, observou-se uma nítida diferença entre cada ponto. Das
iniciativas observadas encontram-se: plantação de hortaliças, placas de conscientização e disposição
de lixeiras improvisadas. O estudo permitiu perceber que no ponto A4 (Praia do Mangue Seco), os
índices de iniciativas ambientais eram notórios em relação aos outros pontos (presença de placas
incitando à conscientização tanto de moradores, como de visitantes/turistas). Já nos pontos A1 A3
foi observado apenas a implantação de lixeiras manufaturadas como ação positiva e plantação de
hortaliças, nenhum tipo de ação positiva foi observada no ponto A2.
A Educação Ambiental em comunidades costeiras representam um fator definitivo para o
equilíbrio desenvolvimento sustentável. A aplicação da percepção ambiental possibilitou a
realização de uma análise descritiva das características estruturais e sociais da comunidades do
mangue seco. Os fatores observados foram, estrutura das casas, presença de locais adequados para
locação de lixos residenciais assim como a presença dos mesmos dispersos no ambiente aberto, foi
observado também a presença de animais e as condições ambientais do manguezal , dunas, apicuns,
igarapés (de acordo com a zona a ser observada), a presença e condições dos bares, restaurantes e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mercados também foi um fator de observação e a presença de escolas nas proximidades da


comunidade.
O zoneamento relacionado a estrutura das moradias da comunidade, contabilizou os tipos
―madeira‖, ―alvenaria‖ e ―palha‖. Na área A1 a quantificação de número de casas com estrutura de
alvenaria contabilizou 75%, casas de palha com 17% e por últimas casas de madeira com 8%. Na
área A2 contabilizaram-se apenas casas de alvenaria, já a Área A3 apresentou-se empatado quanto
às casas de madeira e alvenaria, com 50%. A área A4 foi à única onde se notou um maior
percentual de casas com estrutura de madeira em sua maioria, contabilizando 93%, seguido de casas
de alvenaria com 7%.
Em relação às condições de cada ambiente, questionou-se quanto às modificações antrópicas
na área de estudo, como: a poluição, desmatamento, assoreamento, erosão, entre outros. Desta
maneira, o desmatamento ao longo das zonas costeiras, principalmente em áreas de manguezais
trata-se como um dos principais e mais antigos problemas ambientais. De acordo com Alves et al,
(2001) o processo de colonização nessas áreas promoveram uma intensa modificação, quanto ao
desaparecimento de extensões de manguezais para instalações de moradias e outras benfeitorias.
No que se refere a atividade de percepção das características físicas do ambiente das áreas
de mangue, apicum, dunas e igarapés, a partir das zonas A3 e A4, no quesito poluição, ambas áreas
foram notificadas problemas na balneabilidade. Dentre as quatro áreas de estudo, notou-se a
presença de áreas desmatadas para construções de casas e outros estabelecimentos. Nas áreas A3 e
A4 onde se localiza o pier, presenciou-se manchas de óleo no canal e objetos de pesca, como redes,
anzóis e outros. Em relação à estrutura do bosque de mangue observado, foi descrito um bosque
fechado e bastante denso com presença de árvores de porte médio e fauna diversificada, incluindo
caranguejos e pequenos peixes, até animais domésticos. Neste último caso no ponto A3, indagou-se
a presença de animais domésticos.

CONCLUSÃO

A comunidade do Mangue Seco é composta por residentes detodas as faixas econômicas,


subsidiadas pelos seus recursos naturais e beleza visual. No entanto, essa ocupação acabar por
gerar uma pressão antrópica sobre o ambiente, colocando-o em riscos de degradação. A atividade da
pesca tornou-se o sustento básico da maior parte dos moradores, porém, na comunidade também
apresentam-se empresários de lojas, restaurantes e bares de grande e pequeno porte.
A comunidade apresenta uma estrutura de saneamento básico precário, onde o sistema de
esgoto encanado não existe, encontram-se presente apenas fossas sépticas e em muitos casos,
esgoto a céu aberto. As zonas mais próximas a faixa praia, onde o acesso é mais difícil, percebe-se
uma maior precariedade de estrutura básica, saneamento, acesso a luz. No entanto, quando se trata

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de conscientização e conservação do meio ambiente, essa área apresenta maiores índices de


preocupação e ações preventivas de degradação do ambiente, visto que é a partir dele que muitos
moradores tiram o seu sustento.

REFERÊNCIAS

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143, 2011.

CASTRO, P. C. S.; OLIVEIRA, G. L.; SHUVARTZ, M. Mapeamento ambiental como proposta de


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sustentável no Brasil e em Portugal. In: Antonio, Nelso Rodriges (org). Planejamento urbano,
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CARIBE. 1991. Nossa Própria Agenda. São Paulo: Linha Gráfica/PNUMA. 242p

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SOUZA FILHO, PEDRO W.M.. Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia: Cenários


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PINHEIRO, J. O. C.. Desenvolvimento local em comunidades tradicionais situadas em áreas


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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Mudanças Climáticas,
Natureza e Sociedade

© Claudia Neu

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A PASSAGEM DE UM TORNADO NO MUNICÍPIO DE TAPEJARA/RS

Yan Castro LISBOA


Graduação em andamento em Geografia da UPF
y-ancl@hotmail.com
Marcia da Silva JORGE
Mestre em Geografia pela UFSC
marciaj@upf.br

RESUMO
O propósito deste artigo é descrever a ocorrência da passagem de um tornado no município de
Tapejara, no estado do Rio Grande do Sul, no ano de dois mil e quatorze. A descrição metodológica
do trabalho se refere, primeiramente, aos conceitos sobre o clima, tempo meteorológico e a
definição de tornados, sendo medidos através da escala Fujita. Além disso, a passagem do tornado
causou prejuízos e transtornos à população, a qual levou muito tempo para se restabelecer
socialmente e economicamente, desabrigando várias famílias, onde a cidade ficou totalmente
dependente da solidariedade da sociedade e do poder público.
Palavras chave: Clima, tempo meteorológico, tornados, Tapejara/RS.
ABSTRACT
The purpose of this article is to describe the occurrence of the passage of a tornado in the
municipality of Tapejara, in the state of Rio Grande do Sul, in the year two thousand and fourteen.
The methodological description of the work refers, firstly, to the concepts of climate, weather and
the definition of tornadoes, being measured through the Fujita scale. Moreover, the passage of the
tornado caused damage and disruption to the population, which took a long time to recover socially
and economically, displacing several families, where the city was totally dependent on the solidarity
of society and public power.
Keywords: Climate, weather, tornados, Tapejara/RS.

INTRODUÇÃO

Os tornados, começaram ser inicialmente observados nos Estados Unidos, onde o país
apresenta os maiores índices desses fenômenos naturais, mas são evidenciados em outros países
também, porém a América do Norte, tem o clássico corredor dos tornados, quando o mesmo toca ao
solo, sua velocidade e duração de tempo são surpreendentes, porque o mesmo tem uma curta
duração de tempo, mas a diferenciação da velocidade dos ventos, dependendo o caso, pode causar
graves prejuízos à população, principalmente, quando afeta as moradias, em áreas urbanas, são
completamente destruídas, já em áreas rurais, plantações são danificadas, tendo a possibilidade de
também animais mortos, como o gado, por exemplo. Portanto, esses problemas influenciam
diretamente nos fatores econômicos e sociais do município, do estado e do país onde eles ocorrem.

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A formação de um tornado, se deve a vários fatores climáticos, como o choque entre a frente
fria e a frente quente, e também com a influência da umidade e as ilhas de calor que se fixam nas
áreas urbanas da cidade. Existem vários tipos de tornados, como por exemplo, as trombas de água,
que ocorre nos mares, e os redemoinhos de pó ou de fogo, que ocorrem quando há muito calor, sem
nuvens e com muito vento e em incêndios florestais.
No Brasil há grandes ocorrências de tornado, principalmente na estação da primavera, tendo
como principais corredores a região sul, que é composta pelos estados de Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná, e a região sudeste que é constituída pelos estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Espírito Santo, no entanto, os mais violentos foram vistos nos estados de São Paulo,
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, muitas vezes, isso decorre pela frente quente que permanece no
estados colidindo com uma frente fria que vem da Argentina.
Esse foi o caso do município de Tapejara, no estado do Rio Grande do Sul, que se encontra
no bioma da Mata Atlântica, sua hidrografia pertence à Bacia do Rio Uruguai, o clima é classificado
como temperado, mesotérmico e superúmido. A passagem do tornado, que ocorreu no ano de dois
mil e quatorze, atingindo a área urbana, em cinco bairros, deixando-os em situação crítica, causando
graves problemas às famílias que perderam suas moradias, sendo destruídas pelos fortes ventos
levando o município a decretar estado de emergência pela Defesa Civil, sendo comprovado pela
Defesa Civil a passagem do tornado, pelas observações na destruição dos bairros, mexendo assim
com os fatores econômicos do município.
As mudanças climáticas que ocorreram nos últimos anos no Rio Grande do Sul, possibilitou
para que o mesmo, tivesse mais índices de passagens de tempestades, até porque, foi comprovado
em outros municípios esses fenômenos com a velocidade dos ventos nunca vistos antes,
influenciados pelos fenômeno El Niño, responsável por grandes índices pluviométricos no estado,
causando enchentes em algumas cidades prejudicando os móveis das casas.
O objetivo deste trabalho concerne em descrever, contextualizar e analisar as
predominâncias em relação ao tempo e clima, com eixo principal aos tornados, em especial, o que
atingiu o município de Tapejara, no estado do Rio Grande do Sul, assustando a população,
desabrigando várias famílias, onde a cidade ficou totalmente dependente da solidariedade da
sociedade e do poder público.

O MUNICÍPIO DE TAPEJARA

O Município de Tapejara está situado no nordeste do Estado do Rio Grande do Sul (Figura
1), na zona de relevo do Planalto Médio, pertencente à mesorregião nordeste do Estado e
microrregião de Passo Fundo. O município tem uma extensão territorial de 903 km 2,
correspondendo a 0,29% da área do Estado. Sua posição geográfica está determinada pelo paralelo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

28o de latitude sul e o meridiano de 52o de longitude oeste. A área atual do município é de 315,10
km2, sendo que 95,95% ou 302,34 km2 na zona rural e 4,5% ou 12,76 km2 na área urbana e de
expansão urbana, dentro do novo perímetro urbano. (BORTOLINI, 2016, p. 23)

Figura 1 – Localização do Município de Tapejara/RS. Fonte: Google Earth, Estado do Rio Grande do Sul,
localização do Município de Tapejara.

A ocupação do município de Tapejara se deu pelos imigrantes italianos que migraram para a
região de Tapejara, por volta de 1893, mas foi em 1940, que ocorreu a alteração do nome de Sede
Teixeira para Tapejara. Esta denominação tem origem indígena que moravam próximo ao Rio
Carreteiro, desta forma ―tape‖ que quer dizer ―Caminho‖ e ―Jará‖ que quer dizer ―Senhor‖, torna-se
o nome que em Tupi-guarani significa Senhor dos Caminhos. (PREFEITURA, 2017)
Através do Decreto-lei nº 720, de 29/12/1944, tomou o nome de Distrito Tapejara. No
quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o Distrito de Tapejara figura no Município de
Passo Fundo, assim permanecendo em divisão territorial datada de 01/07/1955. (BORTOLINI,
2016, p. 113)
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo Demográfico de
1980, o município possuía 21.138 habitantes. Em 1991, a população era de 18.887 e em 2000
haviam 15.115 moradores. Já em 2010 foram constatados 19.250 habitantes, destes 9.858 são
mulheres e 9.392 homens. Em Julho de 2015, o IBGE estimou 21.525 habitantes. O PIB per capita
(estimativa de 2012) é de R$ 32.417,11. O município é constituído de indústrias, com o total de
167, comércio e serviços, somando 1.161, propriedades rurais, em número de 912, residências
urbanas, totalizando 7.634 e estabelecimentos de ensino, num somatório de 19.
Os principais pontos turísticos do município são a Igreja Matriz Nossa Senhora da Saúde, a
Gruta Nossa Senhora de Lourdes, o Parque Municipal Ângelo Eugênio Dametto, a praça central
Sílvio Ughini, a praça Lucélia Poletto e o pinheiro que tem mais de 400 anos.
Portanto, pode ser considerada uma cidade de pequeno porte, com a economia baseada em
comércio e agricultura, com ênfase em plantações de soja, trigo e milho, também, com a criação de

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animais, como aves e gado para a produção leiteira e na produção de carne. Tendo um crescimento
maior que a média nacional, sendo conhecida como a Terra do Empreendedorismo.

TORNADOS: CONCEITOS BÁSICOS

Para compreender como acontece os tornados, é imprescindível abordar alguns termos como
o clima, o tempo meteorológico e os tipos de tornados existentes, a partir das bibliografias
específicas.
Segundo Ayoade (2003, p. 2), o clima refere-se às características da atmosfera, inferidas de
observações contínuas de um longo período. O clima abrange um grande número de dados das
condições médias do tempo de uma determinada área, por no mínimo 35 anos. Ele inclui
considerações dos desvios em relação as médias (variabilidade), condições extremas e as
probabilidades de frequência de ocorrência de determinadas condições de tempo. Desta forma, o
clima apresenta uma generalização, enquanto o tempo meteorológico trabalha com eventos
específicos.
Tempo meteorológico é a condição de curto prazo, do dia a dia da atmosfera. É uma
―fotografia‖ das condições atmosféricas e a situação do balanço de energia térmica entre a Terra e a
atmosfera. Elementos importantes que contribuem com o tempo são: a temperatura, a pressão
atmosférica, a umidade relativa, a velocidade e a direção do vento e fatores sazonais, como
recebimento de insolação relacionado à duração do dia e ao ângulo solar. (CHRISTOPHERSON,
2012, p. 206).
Em relação aos tornados, o mesmo autor (p. 224), ressalta que as correntes ascendentes
associadas ao desenvolvimento de cumulonimbus aparecem em imagens de satélite como bolhas
pulsantes de nuvens, às vezes como supercélulas de correntes ascendentes rotatórias. O atrito com o
solo reduz a velocidade dos ventos superficiais, mas no alto na troposfera, os ventos sopram com
mais intensidade. Desta forma, um corpo de ar se movimenta mais rapidamente a altitudes mais
altas do que na superfície, criando uma rotação no ar sobre o eixo horizontal paralelo ao solo.
Quando esse ar rotatório encontra as fortes correntes ascendentes associados com atividade frontal,
o eixo de rotação se desloca para um alinhamento vertical perpendicular ao solo, formando o
tornado.
Segundo TORRES e MACHADO (2011, p. 217),

um tornado é visto como uma coluna ondulante de nuvens que aparentemente suspensa de
uma espessa nuvem escura (Cumulonimbus), toca a terra. No seu centro, o ar torna-se
rarefeito sob a influência da força centrífuga e sua pressão cai para quase metade do seu
valor normal. A velocidade dos ventos perto do centro da coluna só pode ser calculada, pois
quaisquer instrumentos próximos são destruídos; provavelmente a velocidade alcance 480
km/h. A área central que produz danos sérios tem apenas 100 metros de largura, mas, na
medida em que o tornado avança, a coluna deixa atrás de si um longo rastro de destruição,
em uma faixa com aproximadamente essa largura. Os tornados ocorrem em frente frias,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 328


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quando o ar quente está muito úmido e instável. Aparecem onde há diferenças extremas
entre a direção das massas de ar frio e quente.

Segue a Tabela 1 com a definição da escala Fujita que vai de F0 a F5, com relação a
velocidade dos ventos dos tornados, e os danos.

Tabela 1: Escala Fujita de F0 a F5


Escala Velocidade dos ventos Danos
F0 64 km/h a 116 km/h Leve
F1 117 km/h a 180 km/h Moderados
F2 181 km/h a 252 km/h Fortes
F3 253 km/h a 330 km/h Severos
F4 331 km/h a 419 km/h Devastadores
F5 420 km/h ou mais Incríveis
Fonte: Infopédia (2017).

As diferenças de velocidades vão atuar diretamente nas questões econômicas e sociais, pois
quanto maior a velocidade, maiores são os prejuízos causados pelos tornados. Porém, os mesmos
são fenômenos naturais, mas quando atingem níveis elevados dos ventos, pode acarretar a morte de
uma pessoa, ou seja, o cuidado é muito relevante quando essa tempestade está se aproximando.
Refúgios em baixo das casas, são usados como forma de proteção nos Estados Unidos.

O TORNADO QUE ATINGIU O MUNICÍPIO DE TAPEJARA

Na madrugada do dia 12 de abril de 2014, na estação de outono, no horário de 5h30min., o


município de Tapejara, estado do Rio Grande do Sul, foi aterrorizado com a passagem de um
tornado, seguido por uma forte precipitação, o que ocasionou diversos problemas para a população.
O tornado se iniciou no município de Erebango, causando destelhamentos de casas na área urbana
do município, avançando para Tapejara. Chegou ao município com mais de 100 km/h, considerado
pela escala Fujita um tornado leve. No entanto, por onde passou foi destruindo e destelhando casas,
arrancando árvores do chão e derrubando postes.
Foram cinco bairros atingidos num total de seiscentas casas destruídas, deixando cerca de
mil pessoas desabrigadas, causando situações críticas. O primeiro bairro, Treze de Maio (Figura 2),
foi o mais prejudicado, em razão da ocupação por famílias de baixa renda, onde as casas são mais
simples, deixando a estrutura de algumas comprometida. Algumas foram totalmente destruídas,
outras somente destelhadas.
O tornado, também levantou o ginásio poliesportivo, seus destroços danificaram parte da
escola, que entrou em recesso devido aos danos causados. O segundo bairro, o Loteamento

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 329


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Bianchini, o tornado deixou uma criança e a mãe feridos com a queda de uma parede na casa. O
terceiro e o quarto bairro, respectivamente, Real I e Real II, as famílias, que ali viviam, tiveram que
sair de suas residências, ou seja, os telhados foram arrancados deixando as casas totalmente
danificadas, o que foi agravado pela forte chuva na sequência, ocorrendo a perda de móveis. Já o
quinto o bairro, São Paulo (Figura 3), houve a ocorrência dos postes caídos, quebra de vidros das
moradias, árvores arrancadas do solo, muros das casas caídos, destelhando indústrias com prejuízos
na perca de maquinários. Esse foi o último bairro, no qual, o tornado chegou ao fim se dissipando.

Figura 2 – Bairro Treze de Maio. Fonte: Prefeitura Figura 3 - São Paulo. Fonte: Prefeitura de Tapejara
de Tapejara (2014) (2014)

Na manhã do mesmo dia, os estragos foram grandes, assustando a população, que seguiram
sem energia elétrica nas residências. Apesar do grande prejuízo e do desconsolo das pessoas que
foram prejudicadas, iniciou o trabalho de limpeza, unidos aos Bombeiros voluntários, a Brigada
Militar e a Mux Energia. Também iniciou o serviço de organização, ou seja, os Bombeiros
voluntários junto com a Brigada Militar, foram auxiliar as famílias atingidas, oferecendo abrigo no
CTG Manoel Teixeira, recebendo doações do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
do município e de outros voluntários. Já a Mux Energia, se encarregou de retirar os postes das
avenidas, restabelecendo a energia elétrica para a população. A prefeitura decretou estado de
emergência na Defesa Civil, recebendo recursos do Ministério da Integração Nacional, tendo a
liberação emergencial de R$ 700 mil para socorrer os mais necessitados.
É importante entender que os tornados são fenômenos naturais, ou seja, a ocorrência dele é
algo natural e que independe da vontade humana, mas os prejuízos causados por eles, são extremos.
Observa-se que à população mais prejudicada é a de menor poder aquisitivo, o que denota a
fragilidade social, que em situações extremas, depende do poder público e principalmente da
solidariedade da sociedade.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 330


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os tornados dependendo da velocidade dos ventos, são tempestades violentas, quando tocam
o solo, representados pela Escala Fujita, que mede a velocidade dos tornados. Estes, podem sofrer
influencia das mudanças climáticas, pela presença dos fenômenos El Niño e La Niña, que estão
evoluindo e se modificando, ou seja, em determinadas regiões do Brasil, como por exemplo, há
secas na região nordeste do país e nas regiões do sul e sudeste com altos índices pluviométricos.
Também sofrem influência do relevo existente nas diferentes regiões.
Através desse artigo, determina, que essas tempestades são fenômenos naturais, que geram
os prejuízos econômicos e sociais. Contudo, nos últimos anos, esses fenômenos tem ocorrido de
forma irregular nos Estados Unidos, ao qual, se comprova que houve um aumento dessas
tempestades, sendo analisadas por via satélite nos campos meteorológicos.
No entanto, o tornado que atingiu o município de Tapejara, no estado do Rio Grande do Sul,
deixando um rastro de destruição na área urbana, comprova que a velocidade e o tempo de duração
podem causar estados de emergência em apenas minutos.

REFERÊNCIAS

AYOADE, J. O; SANTOS, Maria Juraci Zani dos; BASTOS, Suely; CHRISTOFOLETTI, Antonio.
(Org.) Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

BORTOLINI, Angélica Manica; SPANHOL, Itamar Antonio; DEFAVERI, Suelen. (Org.).


Tapejara: Origens e Desenvolvimento. Tapejara: Editora e Gráfica Caxias, 2016.

CHRISTOPHERSON, Robert W. Geossistemas: Uma introdução à geografia física. Traduzido por


Francisco Eliseu Aquino, Iuri Duquia Abreu, Jefferson Cardia Simões, Ricardo Burgo Barga,
Raul Menegat, Ulisses Franz Bremer. 7. Ed. Porto Alegre: Brookman, 2012.

EARTH, Google. Tapejara – RS. Disponível em: http://www.goolge.com.br/googleearth. Acesso


em 24/07/2017.

INFOPÉDIA. Escala Fujita. Disponível na Internet:


https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$escala-de-fujita. Acesso em: 24/07/2017.

PREFEITURA DE TAPEJARA. História do Município. Disponível em:


http://www.tapejara.rs.gov.br. Acesso em: 24/07/2017.

PREFEITURA DE TAPEJARA. Temporal em Tapejara. Disponível em:


http://www.tapejara.rs.gov.br. Acesso em: 24/07/2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 331


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

TORRES, Filipe Tamiozzo Pereira; MACHADO, Pedro José de Oliveira. Introdução à


climatologia. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 332


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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE NA


MALHA URBANA DE ARAGUARI/MG, UTILIZANDO-SE BANDA TERMAL DO
SATÉLITE LANDSAT 815

William Cesar BORGES


Graduando em Geografia, UFU
williamcesar@ufu.br
Paulo Cezar MENDES
Professor Doutor do Instituto de Geografia, UFU
pcmendes@ig.ufu.br

RESUMO
O sensoriamento remoto se caracteriza como uma ferramenta metodológica fundamental quando
utilizada em análises climáticas de temperatura, dado que, à sua funcionalidade e praticidade
possibilita diversas perspectivas de análise e resultados. O presente estudo tem como objetivo
principal analisar o comportamento de temperatura de superfície na malha urbana do município de
Araguari/MG, utilizando-se banda termal do satélite landsat 8. O município de Araguari localiza-se
na Macrorregião do Alto Paranaíba. Seu clima é caracterizado por verões úmidos e invernos secos,
podendo ser classificado como Aw. As análises foram realizadas a partir do processamento de
imagens de satélites das cenas geradas no sensor 10 (infravermelho termal) do satélite landsat 8 no
software ArcGis 10.1. Neste software foram realizados todos os processamentos de correção
radiométrica e conversão de valores de radiância para temperatura. Resultados exibem que no mês
de Junho de 2016 as maiores temperaturas concentraram-se na área central e no setor industrial da
cidade, variando entre 26°C a 29°C e as menores nos bairros residenciais mais afastados, onde as
temperaturas variaram de 22°C a 24°C. Já no mês de Outubro de 2016, as maiores temperaturas
variaram entre 34°C a 38°C e as menores entre 30°C a 34°C. Enfim, a realização deste estudo
possibilitou a indentificação da oscilação das temperaturas em distintos pontos da cidade, assim
como de uma estação para a outra.
Palavras-chave: Análise de temperatura, sensoriamento, Araguarí (MG).
ABSTRACT
Remote sensing is characterized as a basic methodological tool when used in climatic temperature
analysis, since its functionality and practicality enables various perspectives of analysis and results.
This study is meant to examine the surface temperature behavior of the urban area in the city of
Araguari / MG, using thermal band satellite Landsat 8. The city of Araguari is located in the Macro-
region of Alto Paranaíba. Its climate is characterized by wet summers and dry winters and can be
classified as Aw. The results were obtained from the processing of satellite images, with scenes
generated in the sensor 10 (thermal infrared) satellite Landsat 8 in ArcGIS 10.1 software. This
software conducted all processing of radiometric correction and conversion of radiance values for
temperature. Results show that in June 2016 the highest temperatures concentrated in the central
area and in the industrial sector of the city, ranging from 26 ° C to 29 ° C and lower in residential
areas further away, where temperatures ranged from 22 ° C to 24 ° C. Yet in October 2016, higher
temperatures ranged from 34 ° C to 38 ° C and 30 ° C lower from the 34 ° C. Finally, this study
promoted a sense of fluctuation of temperatures in different parts of the city, as well as from one
season to the next.
Keywords: Temperature analysis, sensing, Araguari (MG).

15
Apoio: PROEX/UFU, PROEXT/MEC – Programa: Monitoramento Climático para Prevenção de Desastres Naturais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 333


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INTRODUÇÃO
Nos estudos climáticos de temperatura, a utilização do sensoriamento remoto a partir de
imagens de satélites, tem assumido um papel de destaque devido à sua funcionalidade e praticidade
metodológica e perspectivas de análise, que podem estar voltadas para vários aspectos do cotidiano
das cidades, como, a variação da temperatura em determinados pontos do perímetro urbano. Neste
ambiente a Temperatura da Superfície Terrestre (LST) se torna uma importante variável climática
quando utilizada na constatação de variações térmicas a partir do controle da radiação terrestre e
superfície sensível em conjunto à superfície latente de troca de fluxo de calor com o ambiente.
(AIRES 2001; SUN 2003). Para Jin (1996), o LST está relacionado diretamente ao balanço de
energia da superfície e do comportamento termal integrado da atmosfera presente na camada limite
planetária.
Segundo Paiva (2005), as trocas de energia entre a vegetação e a atmosfera por meio do
balanço de radiação e fluxos de calor sensível e calor latente são fundamentais na modelagem
climática. Isso decorre capacidade que a troca de calor entre os diferentes materiais da superfície
terrestre possui de influenciar levantamentos de LST.
O LST amplia as diretrizes de análise que estão relacionadas à determinação de
comportamentos termais de diferentes materiais na superfície terrestre e consequentemente
possibilita a constatação de possíveis alterações climáticas em determinadas localidades. Cabe
destacar a elaboração de análises utilizando-se de canais termais de satélite se torna viável, quando
relacionada ao levantamento de dados e estudos sobre o comportamento de temperatura de
superfície. Salienta-se ainda que para o processamento e análise de imagens faz-se necessário a
utilização de dados de sensoriamento remoto no infravermelho termal (TIR), pelo fato de que,
imagens de satélite de temperatura de superfície são obtidas a partir da radiação emitida.

Na região do infravermelho termal (de 8 a 14 µm) do espectro eletromagnético, está situada


uma janela atmosférica que é definida como a região onde ocorrem as menores interações
da atmosfera com a radiação emitida ou refletida pela superfície da Terra. Sensores
posicionados de maneira a detectar a radiação, nesta região do espectro eletromagnético,
têm sido amplamente utilizados para determinação da TST. (GUSSO, 2007; et al.)

Os processos atmosféricos influenciam na determinação de LST, principalmente na absorção


e reemissão do fluxo radiante por gases atmosféricos o que influencia na alteração da qualidade de
medições no termal em consequência da dificuldade de separação entre temperatura e a
emissividade do objeto, Sobrinho (2008). Sendo assim, torna-se necessário realizar operações de
processamento que visem corrigir estas interações.
Perante essa premissas, este estudo objetivou analisar o comportamento de temperatura de
superfície na malha urbana de Araguari/MG (Figura 1), utilizando-se banda termal do satélite
Landsat 8.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 334


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Localização do perímetro urbano de Araguari – MG, 2017.

Fonte: BORGES (2017)

A cidade de Araguari, localizada na Macrorregião do Triangulo Mineiro no Estado de Minas


Gerais, possuí 116.267 mil habitantes, densidade demográfica 42,58 hab/km² e uma área territorial
de 2.730,632 km², Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010). Segundo a
classificação climática de Koppen, o clima da região é caracterizado por verões úmidos e invernos
secos, podendo ser classificado como Aw.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os estudos relacionados ao levantamento de LST são frequentemente analisados para o


entendimento do comportamento da temperatura da superfície terrestre. No presente estudo, a
análise desta variável foi realizada por meio de imagens de satélites, sendo necessário converter os
valores da radiância espectral para valores de temperatura de brilho em graus Kelvin (k) e
minimizar os efeitos que os processos atmosféricos causam na precisão da determinação da
temperatura dos diversos objetos que se encontram na superfície.
As imagens utilizadas no estudo foram disponibilizadas pelo centro de sensoriamento
remoto do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) a partir do satélite Landsat 8. O Landsat
8 possuí dois conjuntos de sensores que operam com uma resolução radiométrica de 12 bits. O

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 335


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conjunto OLI (operational Land Imager) que integra as bandas de 1 a 8 (região óptica do espectro) e
a banda 9 (pancromática) e o conjunto TIRs (Thermal Infrared Sensor) que opera com as bandas 10
e 11 no infravermelho termal.
As imagens correspondem às cenas geradas no sensor 10 (infravermelho termal) e
processadas no software ArcGis 10.1. No ambiente do software foram realizados todos os
processamentos de correção radiométrica e conversão de valores de radiância para temperatura. A
correção radiométrica toma como referência os valores de radiação obtidos no topo da atmosfera
(TOA), equação 1:
Equação 1

Onde:
 Lλ - valor da radiância espectral no topo da atmosfera - TOA, medida em Watts /m2 * srad *
µm.
 ML - fator multiplicativo escalonado específico constante no arquivo de metadado
(RADIANCE_MULT_BAND_x, onde x é o número da banda).
 AL - fator aditivo escalonado específico constante no arquivo de metadado
(RADIANCE_ADD_BAND_x, onde x é o número da banda).
 Qcal - produto padrão quantificado e calibrado por valores de pixel (DN). Este valor é
referente a cada banda da imagen.
Outra conversão realizada foi a transformação de radiância espectral em temperatura de
brilho do satélite em graus Kelvin (k), equação 2:

Equação 3

Onde:
 T - temperatura de brilho aparente em graus kelvin (K).
 Lλ - reflectância no topo da atmosfera (Watts/( m2 * srad* μm)).
 K1 - constante de conversão K1 específica para cada banda, também denominada de
constante térmica, disponível no arquivo de metadato (K1_CONSTANT_BAND_x, onde x
é o número da banda, 10 ou 11).
 K2 - constante de conversão K2 específica para cada banda, também denominada de
constante térmica, disponível no arquivo de metadato (K2_CONSTANT_BAND_x, onde x
é o número da banda, 10 ou 11).
Como produto final têm-se o raster em forma de matriz digital, com resolução espacial de 30
m, onde o atributo Z corresponde aos valores de temperatura em graus centigrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise compartimenta das imagens termais e do uso do solo possibilitou verificar a


variação e a correlação entre temperatura aparente da superfície de urbano da cidade de Araguari
(MG) com áreas edificadas e não edificadas. Nas figuras 2 e 3, é possível observar a espacialização

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 336


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térmica destacando as variações de temperaturas do perímetro urbano em função da cobertura de


superfície.

Figura 2: Temperatura de superfície do mês de Junho de 2016 do perímetro urbano do município de


Araguari/MG

De acordo com a figura 2, as temperaturas mais altas da cidade de Araguari/MG no mês de


junho de 2016 concentram-se na área central da cidade e no setor industrial. As temperaturas nessas
regiões variam entre 26°C a 29°C assinaladas pelas cores em amarelo e vermelha. As regiões onde
se concentram estas temperaturas mais elevadas são caracterizadas por uma grande concentração
populacional, onde os processos de produção e de comercialização são mais intensos, sendo assim,
os impactos gerados por este processo causam um aumento da temperatura. Áreas
impermeabilizadas e construídas não facilitam a dispersão das temperaturas acumuladas nestes
locais, a capacidade de absorção das construções e suas coberturas somam ao gradiente elevado de
temperatura e nota-se esta ação no setor industrial, na parte inferior da figura, uma região com
grande movimentação de veículos pesados por uma malha rodoviária com alto poder de conservar a
temperatura ambiente somado ao atrito e contato dos rodantes. Construções planejadas com
arborização em seu entorno, amenizam o efeito de transmitância da temperatura e podem reduzi-la,
produzindo zonas de frescor, criando um amortecimento para as elevações de temperaturas.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 337


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Já nos bairros residências mais afastados dessas regiões conurbadas, foram evidenciadas as
temperaturas mais baixas, variando de 22°C a 25°C, assinadas pelas cores em verde. Estas
temperaturas são reflexos de áreas arborizadas, algumas próximas a rios e córregos, caracterizadas
por áreas de preservação permanente que consequentemente permanecem conservadas, alterando o
sistema de temperaturas altas. Nota-se na parte superior da Figura 2, a proximidade da ocupação
residencial em relação a uma área arborizada e paralela a um curso d‘agua, esta região apresenta o
perfil de temperatura elevada com uma área de temperatura reduzida no centro da quadricula,
circundada pelas construções e ocupações que acumulam temperatura e apresenta variações
abruptas e próximas em escala da totalidade do perímetro urbano visto na imagem do Google Earth.

Imagem 1: Região com zona de frescor envolvida por áreas de calor. Clube Pica-Pau Araguari – Minas
Gerais.

Fonte: Google Earth, 2017.

Figura 3: Temperatura de superfície do mês de Outubro de 2016 do perímetro urbano do município de


Araguari – MG

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 338


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na figura 3, observa-se um aumento gradativo das temperaturas em todas as regiões da


cidade. Neste mês de outubro as maiores temperaturas se mantiveram na região central, setor
industrial e na região sul da cidade. As variações ficaram entre 35°C a 38°C nas cores em laranja e
vermelho. As regiões que no mês de junho foram caracterizadas pelas menores temperaturas
tiveram neste mês de setembro um aumento significativo, dado que, as temperaturas variaram agora
de 30°C a 34°C nas cores em verde e amarelo.
Em termos gerais, pode verificar por meio deste este estudo que o feedback térmico da área
inserida no perímetro urbano de Araguari(MG) e as diferentes tipologias de uso do solo exercem
grande influência na variação da temperatura do ar, promovendo a formação de pequenas ilhas de
calor, relacionadas a um maior adensamento de edificações e pavimentação, que contrastam com
ilhas de frescos localizadas ao longo de cursos d‘água, áreas verdes e espaços livres.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo ratifica a importância da utilização das imagens de satélites e dos algoritmos
aplicados como recursos essencialmente metodológicos. A partir dos cálculos processados, foram
obtidos resultados satisfatórios, dado que, os mapas evidenciaram uma espacialização lógica do
comportamento de temperatura em função da distinção variação da cobertura de superfície de
Araguari(MG).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 339


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Na imagem do mês de junho de 2016 as temperaturas variaram de 22°C a 29° C, enquanto


que na imagem do mês de outubro de 2016 as temperaturas variaram de 30°C a 38°C. Fica evidente
a significativa oscilação das temperaturas em distintos pontos da cidade, assim como de uma
estação para a outra.
Assim, os resultados preliminares deste estudo reafirma a eficiência da aplicação do
sensoriamento remoto como ferramenta de pesquisa de variação térmica urbana, como destaque
para as ilhas de calor e frescor. Ouro fato relevante é passibilidade de correlação entre as diferentes
temperaturas encontradas por com o uso do sensor TIR do Landsat 8, com os diferentes materiais
utilizados nas construções e pavimentação da superfície terrestre, que produzem respostas térmicas
diferentes das áreas não edificadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIRES, F., C. PRIGENT, W.B. ROSSOW, and M. Rothstein, 2001: A new neural network
approach including first-guess for retrieval of atmospheric water vapor, cloud liquid water path,
surface temperature and emissivities over land from satellite microwave observations. J.
Geophys. Res., 106, 14887-14907, doi:10.1029/2001JD900085.

JIN, M; TREADON, R. E., 2003: Correcting the orbit drift effect on AVHRR skin temperature
measurements. Int. J. Remote Sens., 24, 1–16.

SOBRINHO, J. A.; JIMÉNEZ-MUÑOZ, J. C.; SÓRIA, G.; ROMANGUERA, M.; GUANTER, L.;
MORENO, J. PLAZA, A.; MARTÍNEZ, P. Land surface emissivity retrieval from different
VNIR and TIR sensors. IEEE transactions on geoscience and remote sensing, vol. 46, n. 2,
february 2008, 316-317 pp.

DICKINSON, R. E., 1994: Satellite systems and models for future climate change. Future Climates
of the World: A Modelling Perspective, A. Henderson-Sellers, Ed., 16, World Survey of
Climatology, Elsevier, 27.

INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/portal/>.


Acessado em: Jun de 2017.

USGV – Serviço Geológico dos Estados Unidos. Disponível em <http://www.usgv.gov/>. Acessado


em: Jun de 2017.

PAIVA, C. M. Estimativa do Balanço de Energia e da Temperatura da Superfície Via Satélite


NOAA-AVHRR [Rio de Janeiro] 2005 XXIX, 218 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc., Engenharia
Civil, 2005). Disponível em:

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 340


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

http://wwwp.coc.ufrj.br/teses/doutorado/inter/2005/Teses/PAIVA_CM_05_t_D_rhs.pdf/>.
Acessado em: Jun de 2017.

GUSSO, A.; FONTANA, D.C.; GONÇALVES, G.A. Mapeamento da temperatura da superfície


terrestre com o uso do sensor AVHRR/ NOAA. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42,
p.231-237, 2007. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/%0D/pab/v42n2/12.pdf/>.
Acessado em: Jun de 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 341


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DE SÃO


LOURENÇO, MT

Evandro Marcos BIESDORF


Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
evandromarcospva@hotmail.com

Jadson dos Santos TEIXEIRA


Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
jadsonteixeira@gmail.com

Paulo Henrique Honorato SALLA


Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
phs.salla@mail.com

Jardel da Silva SOUZA


Graduando do Curso de Agronomia da UFPB
jardel.souza@live.com

RESUMO
O clima tem ação preponderante nas manifestações da fauna, da flora local e em todos os recursos
naturais que nos cercam. Nesse contexto, a classificação climática procura definir os limites
geográficos dos diferentes tipos de clima que ocorrem em todo o mundo, logo, é considerado um
estudo básico para áreas afins. Dessa forma, objetivou-se classificar climaticamente a sub-bacia de
São Lourenço, no município de Campo Verde, MT. Para isso, utilizou-se das metodologias de
Köeppen e de Thornthwaite em dados normais de temperatura do ar e precipitação pluviométrica no
período de 36 anos (1984 a 2014). Houve uma redução contínua dos índices de umidade e efetivo
de umidade enquanto houve um aumento contínuo do índice de aridez no período estudado. Além
disso, houve um decréscimo substancial na precipitação pluviométrica e um aumento da
temperatura em torno de 1,5 ºC no período estudado. Os índices resultaram na fórmula climática
de Thornthwaite de B2 rA‘ a‘. A classificação climática de Köeppen, apresentou a classificação Aw.
Palavras-chave: precipitação, Mato Grosso, balanço hídrico.

ABSTRACT
The climate has a preponderant action in the manifestations of the fauna, of the local flora and in
all the natural resources that surround us. In this context, a climatic classification seeks to define
the geographical limits of the different types of climate that occur all over the world, so it is
considered a basic study for related areas. Thus, it was aimed to classify a sub-basin of São
Lourenço, in the municipality of Campo Verde, MT, climatically. For this, the Köeppen and
Thornthwaite methodologies were used for normal temperature and rainfall data over a period of
36 years (1984 to 2014). There was a continuous reduction of humidity and effective humidity,
continued in the dryness index in the period studied. In addition, there was a substantial decrease
in rainfall and an increase in temperature around 1.5 ° C without study period. The indices
resulted in the Thornthwaite climatic formula of B2 rA 'a'. A climatic classification of Köppen
presented an Aw rating.
Keywords: precipitation, Mato Grosso, water balance.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 342


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A classificação climática tem como objetivo a definição dos limites geográficos dos
diferentes tipos de clima que ocorrem em todo o mundo, sendo considerado um estudo básico
para áreas afins (Cunha and Martins, 2009). Além disso, fornece subsídio científico para
posteriores inferências científicas na medida em que ordena um grande número de informações,
facilitando a rápida recuperação e comunicação.
A classificação é um ato com fins a simplificar, esclarecer e compreender os complexos
padrões climáticos do mundo (Ayoade, 2010). Nesse contexto, os sistemas de classificações
climáticas (SCC) são de grande importância, pois analisam e definem os climas das diferentes
regiões levando em consideração parâmetros ao mesmo tempo, facilitando a troca de informações
e análises posteriores para diferentes objetivos (Rolim et al., 2007).
Um dos SCC mais abrangentes é o de Köeppen (Köeppen, 1931), os quais, partindo do
pressuposto que a vegetação natural é a melhor expressão do clima de uma região, desenvolveu um
SCC ainda hoje largamente utilizado, em sua forma original ou com modificações. Já no SCC de
Thornthwaite (Thornthwaite, 1948), a planta não é vista como um instrumento de integração dos
elementos climáticos, e sim, como simplesmente um meio físico pelo qual é possível transportar
água do solo para a atmosfera. Dessa forma, um tipo de clima é definido como seco ou úmido
relacionado às necessidades hídricas das plantas, ou seja, dependente de um balanço hídrico.
A agricultura do Mato Grosso é importante no cenário nacional, pois o estado é o primeiro
na produção de grãos no país (Conab, 2015), no entanto, as medidas de rotina em estações
meteorológicas no estado de Mato Grosso, ainda são escassas e, sobretudo, apresentam grande
variabilidade espacial. Pela rede de estações do INMET (2014), existem 12 estações
meteorológicas convencionais, sendo que destas, apenas cinco apresentam bases de dados
superiores a 30 anos (normal climatológica) dentre as quais destaca-se a estação climatológica de
São Vicente da Serra.
O objetivo deste trabalho foi complementar e atualizar a classificação feita por Oliveira et
al. (2004) para a região sul do estado do Mato Grosso, analisando as alterações das variáveis
climáticas ocorridas) decorrente do histórico de 30 anos de dados fornecidos pela estação
climatológica da região, segundo os métodos de Thorthwaite (1948) e de Köeppen (1931).

MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo está localizada no sul do estado de Mato Grosso, Centro-Oeste do Brasil,
compreendendo cerca de 10.000 km2. A área é caracterizada pela vegetação de Cerrado e suas
tipificações (Radambrasil, 1982a,b). A área de coleta dos dados climáticos localiza-se no município

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 343


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de Campo Verde, MT, local em que está situado o Instituto Federal de Mato Grosso Campus São
Vicente, com coordenadas geográficas 15º 49‘ S e 55º 25‘ W com 790 m de altitude.
O material analisado neste trabalho e que o norteou no seu contexto final foram os dados
de observações do período compreendido entre 1984 a 2014, oriundos da estação climática de
Campo Verde, Mato Grosso, Brasil, vinculada à 9ª estação meteorológica localizada na cidade de
Cuiabá e ao Ministério da Agricultura.
Para avaliarmos esta análise de comportamento dos elementos climáticos da região, os
dados avaliados compreenderam o período de 1984 a 2014. De forma a verificar a influência do
tempo na classificação climatológica de Campo Verde lançou-se mão da construção de tabelas
que pudessem descrever a classificação climatológica entre os períodos de 1984 até 2014.

Método de Thornthwaite

O cálculo da evapotranspiração potencial foi feito de acordo com o método de


Thornthwaite (1948), e o cálculo do balanço hídrico climatológico (BHC), de acordo com o
método de Thornthwaite e Mather (1955), assumindo-se a capacidade de água disponível (CAD)
do solo igual a 100 mm.
Foram utilizadas a identificação dos tipos de clima de acordo com Ometto (1981) e Villa
Nova et al., (1989) os quais basearam-se na identificação dos tipos de clima que, além da
temperatura e precipitação, leva em conta a evapotranspiração potencial como fator determinante
de classes climáticas. Ou seja, foram utilizados os índices de umidade, de aridez e índice efetivo
de umidade (Equações 1 a 3). Foi adotado o valor de 100 mm para a capacidade de água disponível
no solo (CAD).

Equação (1)
100

Equação (2)

6 Equação (3)

em que:

Ia: índice de aridez;


Iu: índice de umidade;
Im: índice efetivo de umidade;
EXC: excedente hídrico oriundo do BHC (mm);
DEF: deficiência hídrica oriunda do BHC (mm);
ETP: evapotranspiração de referência ou potencial (mm).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 344


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Partindo-se do índice efetivo de umidade (Im) os dados foram interpretados utilizando-se


nove opções de tipos climáticos de acordo com a classificação de Thornthwaite (1948). A
definição de um clima, pelos símbolos representativos de diferentes valores ocorrentes do índice
de eficiência térmica e as variações estacionais de ambos, compuseram a fórmula climática. A
fórmula climática foi então representada por quatro letras consecutivas de acordo com
Thornthwaite (1948).
Além disso, realizou-se o balanço hídrico climatológico, considerando as médias mensais de
temperatura e precipitação pelo método de Thornthwaite (1948) para o período de 1984-2014.

Método de Koeppen (1931)

A classificação climática baseada no modelo de Köppen (1931) levou em consideração os


dados médios de temperatura do ar e precipitação da região e foi associado a uma simbologia que
representou os tipos e variedades climáticas; compreendendo um conjunto de letras maiúsculas e
minúsculas para designar os grandes grupos climáticos, subgrupos e, ainda, as subdivisões que
indicam características especiais sazonais.
Os cinco grandes grupos climáticos principais foram designados pelas letras iniciais do
alfabeto maiúsculas (A, B, C, D, E) e correspondem às regiões fundamentais, do equador aos
polos (Tabela 6) (Mendonça e Dani-Oliveira, 2007). A classificação proposta por Köeppen (1931),
simplificada por Setzer (1966) e utilizada neste trabalho, considerou os dados médios de
temperatura do ar e precipitação da região e os associou a uma simbologia que representou os tipos
e variedades climáticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As Tabelas 1 e 2 apresentam as temperaturas (ºC) média, máxima e mínima e


precipitações pluviométricas (mm) mensais e acumuladas para o período de 1984 a 2014 e o
balanço hídrico climatológico (BHC), respectivamente, para o município de Campo Verde, Mato
Grosso, no período analisado (1984 a 2014).

Tabela 1. Temperaturas (ºC) média, máxima e mínima e precipitações pluviométricas (mm) mensais e
acumuladas para o período de 1979 a 2014. IFMT núcleo avançado de Campo Verde, MT, 2015.
Temperatura (ºC) Precipitação
Mês (1) Pluviométrica Pluviométrica
Média Máxima Mínima
(mm) acumulada
Janeiro 23,9 27,81 20,23 288,00 288
Fevereiro 23,9 28,08 19,93 298,7 586,7
Março 23,9 28,16 17,68 276,8 863,5
Abril 23,8 28,38 19,92 188,2 1051,7

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Maio 22,2 27,35 17,59 78,7 1130,4


Junho 22,1 27,41 16,79 30,3 1160,8
Julho 21,6 27,68 16,21 14,3 1175,0
Agosto 23,6 29,89 17,39 22,1 1197,1
Setembro 24,1 29,55 19,00 78,2 1275,2
Outubro 24,8 29,7 20,10 168,1 1443,3
Novembro 24,1 28,42 19,85 229,0 1672,3
Dezembro 23,9 28,04 20,09 257,4 1929,8
Ano 23,9 28,1 19,4 1929,8 1929,8
(1)
A temperatura média em base diária foi calculada pela média aritmética da temperatura mínima diária e
temperatura máxima diária. Os registros constam somente das temperaturas médias.

Tabela 2. Balanço hídrico para capacidade de água disponível (CAD) igual a 100 mm considerando dados
médios do período de 1984 a 2014. IFMT núcleo avançado de Campo Verde, MT, 2014.
Pp (mm) ARM CAD
MÊS ETP P-ETP NEG-AC ALT ER DEF EXC
(normal) 100 mm
Janeiro 268,65 115 154 0 100 0 114,8 0 154
Fevereiro 266,4 99 168 0 100 0 98,5 0 168
Março 270,2 104 166 0 100 0 104,4 0 166
Abril 180,2 99 81 0 100 0 99,1 0 81
Maio 42,5 82 -40 -40 60 -40 82,1 0 0
Junho 10,8 77 -67 -106 0 -60 71,2 6 0
Julho 4,3 78 -73 -180 0 0 4,3 73 0
Agosto 20,4 98 -77 -257 0 0 20,4 77 0
Setembro 62,8 111 -48 -305 0 0 62,8 48 0
Outubro 165,45 123 42 0 42 42 123,2 0 0
Novembro 211,5 112 99 0 100 58 112,3 0 41
Dezembro 211,4 117 94 0 100 0 116,9 0 94
Ano 1714,6 1214,8 499,8 -886,9 702,6 0,0 1010,1 205 704
Em que NEG-AC refere-se ao negativo acumulado durante o período de déficit hídrico; ARM CAD, ALT, ER, DEF,
EXC referem-se à capacidade de armazenamento para máxima de 100 mm, alteração na CAD, evapotranspiração
real, deficiência hídrica e excesso de água respectivamente.

Verificou-se que os meses de junho, julho, agosto e setembro são aqueles com relevante
período de déficit hídrico, havendo, por conseguinte, necessidade de suplementação d‘água para
os cultivos. Simulando a capacidade de água disponível no solo (CAD) para algumas opções de
profundidade, observa-se a mesma tendência de comportamento conforme mostrado na Tabela 2.

Método de Thornthwaite (1948)

Para os períodos compreendidos entre 1984 - 1989, 1984 – 1994, 1984 – 1999, 1984 –
2004, 1984 – 2009 e 1984 - 2014, os índices Iu, Ia e Im; calculados para as condições de São

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 346


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Vicente da Serra foram estimados em: 82,87%, 8,62% e 77,70%; 74,24%, 8,63% e 69,06%;
64,65%, 12,32% e 57,26%; 63,55%, 13,55% e 55,42%; 62,5%, 14,51% e 53,79%; 57,95%,
16,87% e 47,82%, respectivamente. Ou seja, houve uma redução contínua dos índices de umidade
e efetivo de umidade enquanto houve um aumento contínuo do índice de aridez.
Supondo o balanço hídrico para CAD igual a 100 mm, segundo os critérios propostos por
Thornthwaite (1948), em Campo Verde, o clima é e foi do tipo úmido com pequena ou nenhuma
deficiência de água, megatérmico, variante a‘ (B4 r A‘ a‘) no período de 1984 - 1989; úmido com
pequena ou nenhuma deficiência de água, megatérmica, variante a‘ (B3 r A‘ a‘) no período de
1984 – 1994; úmido com pequena ou nenhum deficiência de água, megatérmico, variante a‘ (B3 r
A‘ a‘) no período de 1984 – 1999; úmido com pequena ou nenhuma deficiência de água,
megatérmico, variante a‘ (B3 r A‘ a‘) no período de 1984 – 2004; úmido com pequena ou
nenhuma deficiência de água, megatérmico, variante a‘ (B3 r A‘ a‘) no período de 1984 – 2009;
úmido com pequena ou nenhuma deficiência de água, mesotérmico, variante a‘ (B2 r A‘ a‘)
atualmente, ou seja, para o período de 30 anos compreendido entre 1984 - 2014.
Dessa forma, notou-se alteração na classificação climática em função do tempo. Ou seja,
iniciando-se em 1984, o clima era classificado como da classe úmida B4. No período de 1984 –
1994 essa classe úmida foi reduzida para B3. Nos últimos cinco anos, compreendido entre 2009 a
2014 verificou-se novamente uma alteração na qual o índice de umidade foi alterado de B3 para
B2, ou seja, o índice efetivo de umidade foi sendo modificado em função dos anos com uma
tendência a reduzir sua umidade mais ainda nos próximos anos sugerindo mudanças climáticas
relevantes nessa região mato-grossense.

Método de Koeppen (1931)

Segundo critérios propostos por Köeppen (1931), em São Vicente da Serra no período
compreendido entre 1984 a 2014 passando-se ainda pelos intervalos de estudo de aumentativo de
cinco anos, o clima classifica-se como da zona climática A, variedade específica w, clima tipo
tropical chuvoso com estação seca no inverno e chuvosa no outono, com a seguinte descrição:
Aw.
Notou-se que com o passar dos anos, houve grandes alterações no balanço hídrico da
região e, consequentemente, na classificação climática (sobretudo na classificação climática de
Thorthwaite (1948)), pois verificou-se que de 1984 até o ano de 2014, o clima sofreu um processo
rápido de alteração e essas alterações têm feito com que os períodos de seca na região sejam mais
severos (observado pelo aumento dos valores de NEG-AC e redução dos valores de EXC) ao
longo dos anos.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 347


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Além disso, observou-se nítida alteração dos valores da precipitação pluviométrica e


temperaturas máxima e mínima para a região (Figura 1). Ou seja, houve um decréscimo
substancial na precipitação pluviométrica e um aumento da temperatura em torno de 1,5 ºC em
apenas 30 anos e isso influencia diretamente as atividades agrícolas da região.

Figura 1. Variação da precipitação pluviométrica (Pp) (mm ano -1), temperaturas máximas (Tmax) (ºC) e
mínimas (Tmin) (ºC) na região de São Vicente da Serra entre os períodos entre 1984-2014. IFMT Campus
São Vicente da Serra. Fonte: Estação climatológica de São Vicente da Serra.

Os resultados deste trabalho concordam com aqueles apresentados por Griggs et al. (2002)
e Hansen et al. (2005), os quais, observaram que durante os últimos 100 anos, o clima da Terra tem
experimentado um aquecimento médio de aprox. 0,8 ° C, com um aumento de 0,6 ° C somente nas
últimas três décadas. Além disso, de acordo com os autores, a década de 1990 foi à década de
maiores alterações. Assim, as mudanças climáticas são agora aceitas como as principais ameaças à
biodiversidade global (Sala et al., 2000).

CONCLUSÕES

Supondo o balanço hídrico para CAD igual a 100 mm, segundo os critérios propostos por
Thornthwaite (1948), em São Vicente da Serra, o clima é do tipo úmido com pequena ou
nenhuma deficiência de água, mesotérmico, variante a‘ com a seguinte fórmula: B2 r A‘ a‘.
De acordo com os critérios propostos por Koeppen (1931), em Campo Verde, no período
compreendido entre 1979 a 2014 passando-se ainda pelos intervalos de estudo quinquenais o
clima é classificado como da zona climática A, variedade específica w, clima tipo tropical
chuvoso com estação seca no inverno e chuvosa no outono, com a seguinte descrição: Aw.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 348


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Houve alteração da classificação climática ao longo do tempo na sub-bacia do rio São


Lourenço, iniciando-se em 1984, quando classificava-se como classe úmida B4 e, após esse
período foi alterada até a classe B2 atual.

REFERÊNCIAS

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2010.

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Manuel, SP. Irriga. 2009; 14(1):1-11.

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2007; 31(6): 1862-1866.

GRIGGS, D.J.; NOGUER, M. Climate change 2001: the scientific basis. Contribution of working
group I to the third assessment report of the intergovernmental panel on climate change.
Weather. 2002;57(8):267-269.

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temperature trends: 2005 summation. NASA Goddard Institute for Space Studies, New York;
2005.

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ensino e pesquisa. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep>. Acesso em: 04 out. 2014.

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1931.

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Janeiro, MMESG; 1982b

RADAMBRASIL. Levantamento de Recursos Naturais – Folha SE.21 Corumbá e parte da Folha


SE. 20- Volume 27. Rio de Janeiro, MMESG, 1982a. 440p.

ROLIM, G.D.S.; CAMARGO, M.D.; LANIA, D.G.; MORAES, J.D. Classificação climática de
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 349


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SALA, O.E.; CHAPIN, F.S.; ARMESTO, J.J.; BERLOW, E.; BLOOMFIELD, J.; DIRZO, R.
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SETZER, J. Atlas Climático e Ecológico do Estado de São Paulo. Comissão Interestadual da Bacia
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 350


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AVALIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA PRECIPITAÇÃO


DO MUNICÍPIO DE PATOS-PB

Maxsuel Bezerra do NASCIMENTO


Graduando no Curso de Ecologia da UFPB
Maxsuel10gba@hotmail.com
André Luiz dá SILVA
Graduado no Curso de Ecologia da UFPB
andre.ls01@hotmail.com
Walkimer Santana da SILVA
Graduando no Curso de Ecologia da UFPB
Walkimer.santana@hotmail.com
Lincoln Eloi de ARAÚJO
Doutor em Recursos Naturais da UFPB
lincolneloi@yahoo.com.br

RESUMO
A precipitação proporciona um papel fundamental para o desenvolvimento de regiões semiárida do
Nordeste brasileiro, se destacando com ampla relevância no abastecimento populacional, na
agricultura, pecuária e no desenvolvimento socioeconômico da região. Assim, o presente trabalho
tem como objetivo principal analisar a variabilidade climática do município de Patos-PB através da
climatologia espaço-temporal da precipitação. O município de Patos, localizado no Estado da
Paraíba, fica compreendido na mesorregião do Sertão Paraibano e microrregião de Patos. Para a
avaliação temporal da precipitação do município, utilizou-se dados fornecidos pela Agência
Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), no qual foi calculada as médias
mensais e anuais de precipitação do município. Para a espacialização utilizou-se o software surfer,
aonde foram utilizados 7 pontos meteorológicos que foram as cidades vizinhas a Guarabira. O
comportamento pluviométrico temporal do município de Patos se dá em dois períodos distintos, um
período de cinco meses úmidos e outro com sete meses secos.
Palavras-chaves: Chuva, Variabilidade, Nordeste, Planejamento, Agricultura.
ABSTRACT
Rainfall plays a key role in the development of semi-arid regions of the Brazilian Northeast,
highlighting with great importance the population supply, agriculture, livestock and socioeconomic
development of the region. Thus, the present work has as main objective to analyze the climatic
variability of the municipality of Patos-PB through the space-time precipitation climatology. The
municipality of Patos, located in the State of Paraíba, is comprised in the meso-region of Sertão
Paraibano and the micro-region of Patos. For the temporal evaluation of the precipitation of the
municipality, we used data provided by the Executive Agency of Water Management of the State of
Paraíba (AESA), in which the monthly and annual precipitation averages of the municipality were
calculated. For the spatialisation, the surfer software was used, where 7 meteorological points were
used, which were the neighboring cities of Guarabira. The temporal pluviometric behavior of the
municipality of Patos occurs in two distinct periods, one period of five humid months and the other
with seven dry months.
Keywords: Rain, Variability, Northeast, Planning, Agriculture.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 351


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A precipitação proporciona um papel fundamental para o desenvolvimento de regiões


semiáridas do Nordeste brasileiro, se destacando com ampla relevância no abastecimento
populacional, na agricultura, pecuária e no desenvolvimento socioeconômico da região.
―O Nordeste Brasileiro (NEB) tem como atributo grande irregularidade na precipitação,
sendo o seu comportamento decorrente de um conjunto de fatores, tais como: suas características
fisiograficas. ‖(Araújo, et al., 2008).

O índice de precipitação no estado da Paraíba depende de vários sistemas meteorológicos


tais como: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis
(VCAN), Sistemas Ondulatórios de Leste, Linhas de Instabilidade, Sistemas Frontais,
brisas terrestre e marítima, bandas de nebulosidade, assim como, efeitos orográficos locais
(Macedo et al., 2010).
A Paraíba tem como características climáticas marcantes, as irregularidades, tanto espacial
quanto temporal do seu regime de chuvas. Essas condições climáticas interferem
diretamente na produção de alimentos, fazendo com que haja a necessidade de se aumentar
a produção e produtividade das culturas, mas para que haja esse aumento é indispensável
que sejam aplicadas tecnologias já adaptadas para cada região, bem como, pesquisar novas
tecnologias (Menezes et al., 2010).
As informações das condições climáticas de uma determinada região são necessárias para
que se possam instituir estratégias, que visem o manejo mais adequado dos recursos
naturais, planejando dessa forma, a busca por um desenvolvimento sustentável e
implementação das práticas agrícolas viáveis e seguras para o meio ambiente e a
produtividade agropecuária do Estado da Paraíba (Francisco et al., 2014).
Vale ressaltar que o Estado da Paraíba é o Estado do Nordeste que proporciona uma das
maiores variabilidades espaço-temporal das chuvas. A climatologia do Estado pode ser
analisada de forma singular, pois as regiões do Agreste/Litoral do Estado apresentam
valores anuais acima de 1083,4 mm, em média, seguido da região do Sertão, com valores
iguais a 821,9 mm e pôr fim a região do Cariri/Curimataú, com valores médios em torno de
516,1 mm (Araújo et al., 2003).
Dessa forma, o monitoramento de períodos secos ou chuvosos e da variabilidade espaço-
temporal da precipitação no Nordeste brasileiro é de extrema importância devido a aspectos
como: a existência de inúmeros projetos de irrigação inseridos, e a serem implantados ao
longo dos principais rios; o abastecimento d'água das grandes cidades é, em sua maior
parte, dependente direto do escoamento dos rios, ou indiretamente do volume acumulado
nas barragens; a maioria das culturas agrícolas depende exclusivamente da regularidade das
chuvas e a possibilidade de uso de água subterrânea é pequena quando comparada ao da
água superficial (Freitas, 2005).

Assim, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar a variabilidade climática do
município de Patos-PB através da climatologia espaço-temporal da precipitação.

MATERIAIS E METODOS

O município de Patos (Figura 2), localizado no Estado da Paraíba (Figura 1), fica
compreendido na mesorregião do Sertão Paraibano e microrregião de Patos, localiza-se no centro do
estado com vetores viários interligando-o com toda a Paraíba a uma distância de 307 km de João
pessoa que é a capital do Estado, e viabilizando o acesso aos Estados do Rio Grande do Norte,
Pernambuco e Ceará. Abrange uma área de 512,791 km2 de extensão territorial e de acordo com o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2016 sua população foi estimada

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 352


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

em 107.067 habitantes. Patos é a 3ª cidade polo do estado da Paraíba, considerando sua importância
socioeconômica, o clima de Patos é semiárido quente e seco.

-6.5 -6.95
Latitude(°)

-7

Latitude(°)
-7

-7.5 -7.05

-8 -7.1

-38.5 -38 -37.5 -37 -36.5 -36 -35.5 -35


-7.15
Longitude(°) -37.5 -37.45 -37.4 -37.35 -37.3 -37.25 -37.2
Longitude(°)
Figura 1. Localização do Município de Patos, Figura 2. Localização do município de Patos-
em relação ao estado da Paraíba. PB.

Para a avaliação temporal da precipitação do município, utilizou-se dados fornecidos pela


Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (AESA), no qual foi calculada as
médias mensais e anuais de precipitação do município (Tabela 1).

Tabela 1. Tabela pluviométrica do município de Patos, ao longo de 21 anos (1994-2014).


Município Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
MEDIA 103,1 110,1 199,3 138,9 82,1 27,6 12,1 7,7 1,9 7,8 14,3 52,8

Foi obtido dados de 01 (um) posto pluviométrico, localizado no município de Patos, do qual,
foi disponibilizada uma série histórica de 21 anos, vale ressaltar que ao longo da série histórica de
dados foram encontradas algumas lacunas, porém, as mesmas não representaram alterações
significativas nos resultados. Para a climatologia, uma série como esta é considerada curta, contudo,
segundo Santos et al. (2011), ―embora curta, ela nos permite formular hipóteses sobre tendências de
aumento ou redução das chuvas‖.
Para a espacialização foram utilizados 7 pontos meteorológicos que foram as cidades
vizinhas a Patos, sendo elas São José de Espinharas e São Mamede ao NORTE, Santa Teresinha e
Cacimba de Areia ao SUL, Quixaba ao LESTE e Malta ao OESTE onde foram feitas a média de
cada cidade e depois foram plotados no software surfer para gerar a figura de espacialização da
cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O comportamento temporal da precipitação do município de Patos se deu em dois períodos
distintos, um período de cinco meses úmidos e outro com sete meses secos. A estação chuvosa se
inicia de Janeiro a Maio, apresentando o mês de março como o mais representativo atingindo uma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

média de 199,3 mm de precipitação, ―isto ocorre por causa da Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT) que atua de fevereiro a maio ocasionando uma maior precipitação nos meses de março‖
(UVO, 1989). Em contrapartida a estação seca vai de Junho a Dezembro, com o mês de setembro o
menor em termos de precipitação com valores médios em 1,9 mm (Figura 3).
250,0

200,0
Precipitação (mm)

150,0

100,0

50,0

0,0

Ago

Out

Nov
Mar

Abr

Mai

Jul
Jun
Fev

Dez
Jan

Set
Meses

Figura 3. Fluviograma mensal de Patos.

A distribuição da precipitação média do município de Areia se destaca na Figura 4, na qual


se distribui em 84% no período úmido, no qual se necessitar atentar a esses dados, para dedicar-se
de maneira positiva na preparação e elaboração de projetos que permitam o desenvolvimento do
município de Patos, assim como enfatiza Silva et al, 2012) ―o conhecimento da variabilidade inter e
intra-anual da precipitação é bastante útil para vários propósitos, inclusive na formulação de táticas
para implantações de culturas‖. Por outro lado 16%, da precipitação do município encontra-se
presente no período seco, é necessário um planejamento adequado, para que os municípios se
previnam armazenando e suprindo a quantidade de água, para suprir uma futura escassez hídrica.

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16%

84%

Media Periodo Chuvoso Media Periodo Seco

Figura 4. Percentual da precipitação do município de Patos-PB nas estações seca e chuvosa.

Através da série histórica, foi realizada a espacialização da precipitação acumulada do


município de Patos (Figura 5). Verificou-se que os maiores valores de precipitação são observados
na parte noroeste e sudoeste com valores variando de 820 a 850 mm, e pode-se notar que ao longo
da microrregião a precipitação diminui no sentido de oeste para leste, vai tendo uma diminuição
significativa com a are leste com menores valores de precipitação em 610 mm. Essa distribuição da
precipitação ao longo da figura pode ajudar a entender de que maneiras as chuvas se portam ao
longo do município, e ajudar assim a beneficiar as atividades humanas como também a flora e a
fauna, através da abundância ou da sua carência hídrica durante todo o ano.

850
830
-6.95 810
790
770
Latitude(°)

-7
750
730
-7.05 710
690
-7.1 670
650
630
-7.15 610
-37.5 -37.45 -37.4 -37.35 -37.3 -37.25 -37.2
Longitude(°)

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Figura 5. Distribuição Média Espacial da Precipitação do município de Patos.

CONCLUSÕES

De acordo com o presente trabalho o município de Patos-PB apresenta dois períodos, um


chuvoso que vai de Janeiro a Maio, sendo Março como o mês mais representativo em níveis de
precipitação; e outro, o período seco que se estende de Junho a Dezembro, sendo setembro o mês
mais seco.
A climatologia espacial do município de Patos-PB possui áreas específicas de distribuição
de precipitação, tendo a parte noroeste e sudoeste com maior influência da precipitação, e em
contrapartida a parte leste com menor intensidade de chuvas, sendo assim a área mais seca do
município.
Por fim vale ressaltar que a precipitação influencia diretamente nos fatores ecológicos do
município, beneficiando a flora e a fauna local, e os fatores econômicos destinados a população do
município.

REFERENCIAS.

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estado da Paraíba. In: xiii Congresso brasileiro de Agrometeorologia, 2003, Rio grande do Sul.
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 356


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Planejamento e Gestão de
Áreas Protegidas

© Giovanni Seabra

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SERRA DO TORREÃO: POTENCIALIDADES PARA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE


DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA NO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL

Aleson da Silva FONSECA


Graduando em Ciências Biológicas da UFRN
fonseca.aleson@gmail.com

Edweslley Otaviano de MOURA


Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da UFRN
Moura_eo@hotmail.com

Luiz Antônio CESTARO16


Docente do Departamento de Geografia da UFRN
cestaro@ufrnet.br

RESUMO
A caatinga, apesar de ser o único bioma exclusivamente brasileiro, é um dos menos protegidos por
Unidades de Conservação (UC), com apenas 7,8% do seu território nessa condição. O presente
trabalho tem a finalidade de analisar o potencial da Serra do Torreão em se tornar uma nova UC
baseado nos dados florísticos. Além disso, esse trabalho pretende indicar em quais categorias de UC
a serra poderia ser enquadrada. A Serra do Torreão está localizada na Comunidade do Corte, no
município de João Câmara/RN (5º 32‘ 3,55‖ lat S e 35º 50‘ 43,08‖ long W). Foram realizadas
quatro expedições para colher material botânico, o qual, depois de preparado e identificado, foi
depositado no Herbário UFRN. O enquadramento da área em uma das categorias se deu a partir da
análise da legislação nacional pertinente. O levantamento florístico apontou um total de 36 espécies,
31 gênero de 23 famílias. A família mais representativa foi Euphorbiaceae com 6 espécies. Embora
o levantamento não tenha indicado a presença de espécies em risco de extinção, mas registraram
espécies com distribuição restrita e/ou presentes em vegetação de caatinga bem conservada, como
por exemplo, Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f, Pilosocereus chrysostele (Vaupel)
Byles & G.D.Rouwley, Neocalyptrocalyx longifolium (Mart.) Cornejo & Iltis e Sida galheirensis
Ulbr. As categorias de UC mais adequadas para a realidade da serra são Refúgio de Vida Silvestre,
Monumento Natural ou Área de Relevante Interesse Ecológico, cuja criação deverá ser de
responsabilidade municipal. É recomendado ampliar o conhecimento sobre a serra para destacar sua
importância ambiental e avaliar os anseios da população local quanto à criação de uma UC na área.
Palavras-chave: João Câmara, conservação, levantamento florístico.

ABSTRACT
The Caatinga, is the only exclusively biome Brazilian, is one of the least protected by Conservation
Units, with less than 7,8% of its territory in that condition. The present work has the purpose of
analyzing the potential of Serra do Torreão to become in becoming a new conservation unit based
on floristic data. Besides that, this job this paper is intended to indicate in which categories of
conservation units of saw can be framed. The Serra do Torreão is located in the Corte, in the
municipality of João Câmara/RN (5º 32‘ 3,55‖ lat S e 35º 50‘ 43,08‖ long W). Were realized four
expeditions to harvest botanical material, which after being prepared and identified was deposited in
the Herbário UFRN. The framing of the area in one of the categories of conservation units was
based on the analysis of the relevant national legislation. The floristic survey pointed out a total of
36 species, 31 genus of the 23 family. Most representative family was Euphorbiaceae with 6
16
Doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela UFSCar.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

species. Although the floristic survey did no indicate the presence of species in danger of extinction,
but recorded species with restricted distribution and/or present in well conserved Caatinga
vegetation, for example Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f, Pilosocereus chrysostele
(Vaupel) Byles & G.D.Rouwley, Neocalyptrocalyx longifolium (Mart.) Cornejo & Iltis e Sida
galheirensis Ulbr. The categories of protected areas more suitable for reality of the saw are Wildlife
Refuge, Natural Monument, Area of Relevant Ecological Inte whose creation should be of
municipal responsibility. It is recommended to Knowledge about the saw to highlight its
environmental importance and assess the wishes of the local population creation of a conservation
unit in the area.
Keywords: João Câmara municipality, conservation, floristic survey.

INTRODUÇÃO
A Caatinga se destaca por ser o único bioma exclusivamente brasileiro, se estendendo por
todo o nordeste do país e ocupando uma área de aproximadamente 734.478 km2 (MMA, 2002). Esse
bioma é caracterizado pelos baixos índices pluviométricos, temperaturas elevadas em função da alta
incidência solar e solos cristalinos (LAIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012).
Casteleti et al. (2000) afirmam que a Caatinga é um dos biomas mais negligenciados em
termos de estudos sobre biodiversidade e conservação. De acordo com o MMA (2004) é o menos
protegido por Unidades de Conservação (UC), com apenas 7,8% do seu território sob tal condição.
O bioma Caatinga possui uma enorme vulnerabilidade ambiental e é susceptível à desertificação
devido às características climáticas, geomorfológicas e ações antrópicas (GARDA, 1996). Casteleti
et al.(2000) colocam-no na lista de biomas que mais tiveram interferência humana nos últimos anos.
A proteção à biodiversidade e o uso racional dos recursos naturais são temas de grande
relevância, isso porque o empenho para preservar tais recursos conflita muitas vezes com os
interesses sociais e econômicos. No entanto, o desenvolvimento sustentável, em linhas gerais, pode
ser uma alternativa viável, pois reúne e satisfaz os interesses das partes envolvidas, diminuindo os
impactos sobre a biodiversidade, sem esquecer as necessidades humanas (PRIMARCK;
RODRIGUES, 2001). Nessa perspectiva, a conservação de recursos naturais em áreas protegidas
torna-se importante, seja pela preservação da biodiversidade, seja para assegurar a oferta desses
recursos às futuras gerações.
Para Diegues (2001), a relação homem-natureza precisa ser considerada, conhecer as
necessidades básicas, ouvir os moradores, os conflitos sociais, econômicos e ambientais permite
uma melhor articulação para planejamento das políticas públicas, isso garante uma ação conjunta
para elaboração de planos de desenvolvimento sustentável. Diegues (2001) ressalta ainda a
necessidade da aceitação por parte da população local, ou seja, só criar UC não garante a
efetividade dos objetivos, é necessário o envolvimento das pessoas para garantir a proteção das
espécies.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O Rio Grande do Norte apresenta sete Unidades de Conservação (UCs) na Caatinga


(IDEMA, 2017), dominando aquelas de pequenas dimensões, embora exista necessidade urgente e
potencial para a criação de novas UCs. De acordo com Silva, Tabarelli e Fonseca (2004), o Rio
Grande do Norte apresenta cinco áreas prioritárias para a conservação, sendo duas classificadas
como de Extrema Importância Biológica (Chapada do Apodi e Seridó) e três de Alta Importância
Biológica (Região do Mato Grande e os municípios de São Bento do Norte e Acarí). Lucena (2014)
também identifica várias áreas prioritárias para conservação no estado e classifica a região do Mato
Grande, onde está inserido o município de João Câmara, como de Extremamente Alta Importância
Biológica.
A Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000 dispõem sobre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), cria categorias para áreas que tem potencial a ser conservado, descreve ainda
as características que são importantes para o planejamento e criação de uma nova UC (BRASIL,
2000).
O município de João Câmara tradicionalmente teve sua economia baseada na atividade
agropecuária, o que conduziu à redução das suas áreas naturais originais (Torquato et al., 2009;
2012). Nos últimos anos se observa no município a expansão acelerada da exploração da energia
eólica, o que colabora para ampliar ainda mais o impacto sobre as áreas do bioma Caatinga
restantes no município.
A Serra do Torreão ocupa lugar de destaque na paisagem de João Câmara e ainda se mantém
com a cobertura vegetal relativamente bem conservada. Sua importância ambiental e a necessidade
de sua preservação são reconhecidas há tempos pela sociedade local, aparecendo na antiga Lei
Orgânica do Município de 1990 com a denominação de "Estação Ecológica" (LOM, 1990). A
versão atualizada da Lei Orgânica do Município, de 2015, indica no inciso IX do parágrafo 146 que
caberá ao poder público preservar a Serra do Torreão, proibindo as ações que coloque em risco as
espécies da fauna e flora, recursos minerais e paisagismo, e não cita ―estação ecológica‖ (LOM,
2015).
Por outro lado, Plano Diretor Municipal (2006), instrumento da política de desenvolvimento
urbano do munício de João Câmara, além de dá outras providências, ele orienta e controla as ações
antrópicas próximos à área da serra, ainda que não haja o seu reconhecimento como UC.
Uma pedreira que tentou se instalar na serra em 2011 teve suas atividades paralisadas pela
mobilização da população. Mesmo assim, entretanto, diversas ações como a caça e a deposição de
resíduos urbanos têm contribuído para a degradação ambiental da serra. É necessário, portanto,
dotar a sociedade local de maiores informações a respeito da serra de maneira a se reconhecer a sua
importância e transformá-la numa Unidade de Conservação.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Este trabalho tem como objetivos avaliar o potencial da flora para a


conservação/preservação da Serra do Torreão e indicar, a partir do Sistema Nacional de Unidades
de Conservação, quais categorias de UC melhor se adequarão às condições locais.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A Serra do Torreão (Figura 1.b) está localizada na Comunidade do Corte, no município de


João Câmara/RN (5º 32‘ 3,55‖ lat S e 35º 50‘ 43,08‖ lat W) (Figura 1.a). O clima regional é seco
semiárido de baixas latitude e altitude (BSh) de acordo com o sistema de classificação de Köppen
(ALVARES et al., 2013), com os maiores volumes pluviométricos ocorrendo entre março e junho
(IDEMA, 2008).

Figura 1. a) Mapa de localização; b) Área de estudo: Serra do Torreão, Comunidade do Corte no Município
de João Câmara/RN.

A serra tem 147 m de altura e que se estende por aproximadamente 100 ha, é formada por
rochas graníticas e gnaisses. A vegetação dominante é a Savana-Estépica Arborizada (SALGADO
et al., 1981; IBGE, 2012) e abriga espécies de flora e fauna típicas do bioma Caatinga.

Coleta de material e análise dos critérios para o enquadramento da área em uma das Categorias
de Unidade de Conservação:

A lista de espécies foi baseada em amostras coletadas em quatro expedições na área de


estudo. O levantamento florístico ocorreu nos meses de fevereiro/2016,
janeiro/fevereiro/março/2017 com caminhadas não sistematizadas (FELFILI et al., 2011).
A identificação das espécies ocorreu no Laboratório de Botânica Sistemática da UFRN por
meio de consultas a especialistas, bibliografias especializadas e comparação com materiais já
depositados na coleção do Herbário UFRN.
O sistema de classificação adotado para delimitação das famílias é o APG IV. O material
botânico foi processado seguindo as recomendações básicas de Walter e Fagg (2015) e as exsicatas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

foram depositadas no acervo do Herbário UFRN (THIERS, 2016). As informações, tais como,
família e espécie e nomes dos autores foram agrupadas em uma tabela em ordem alfabética
(BRUMMITT; POWELL, 1999).
A lista de espécies serviu para caracterizar a composição florística da área e para indicar as
espécies com maior interesse para conservação local. Informações sobre a distribuição geográfica
das espécies, para indicar espécies raras e aquelas com distribuição geográfica restrita, foram
obtidas nos sites http://floradobrasil.jbrj.gov.br e http://splink.cria.org.br. Para verificar a existência
local de espécies ameaçadas ou em perigo, foi consultado Martinelli e Moraes (2013).
O enquadramento da Serra do Torreão em uma das categorias de UC seguiu os critérios
estabelecidos na Lei nº 9.985 de 2000, que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação
no país (BRASIL, 2000).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diversidade florística

O levantamento florístico apontou um total de 36 espécies, distribuídos em 31 gêneros de 23


famílias (Lista preliminar17 para consulta através do link <
https://drive.google.com/drive/folders/0Bzz9rJ7YEYwVSTh5UmdMTVlYOVU?usp=sharing>). A
família mais representativa foi Euphorbiaceae com 6 espécies. A vegetação que recobre a serra é
arbustiva (Figura 3.a), com espécies arbóreas concentradas mais no topo da Serra do Torreão
(Figura 3.b).

Figura 3. Fitofisionomias da vegetação da Serra do Torreão: a) Vegetação arbustiva; b) Vegetação arbórea.

Algumas espécies encontradas na área de estudo evidenciam certa perturbação, como é o


caso de Euphorbia tirucalli L., planta originária da África (COSTA, 2011), acredita-se que tenha
chegado à serra pelo uso por moradores como "cerca viva" (NASCIMENTO, 2007).

17
Em função do pouco material fértil disponível nos dias de coleta, só foi possível apresentar uma lista preliminar neste
trabalho. No entanto, o levantamento da diversidade florística ainda está em andamento.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

De acordo com os dados de Martinelli e Moraes (2013), o levantamento florístico não


indicou a presença de espécies em risco de extinção, mas registraram espécies com distribuição
restrita e/ou presentes em vegetação de caatinga bem conservada, como por exemplo, Bromelia
laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f, Pilosocereus chrysostele (Vaupel) Byles & G.D.Rouwley,
Neocalyptrocalyx longifolium (Mart.) Cornejo & Iltis e Sida galheirensis Ulbr.
Portanto, a ocorrência restrita dessas plantas é indicativa de associação às condições
climáticas favoráveis em ambientes de Caatinga, e em função da degradação ambiental desse bioma
pode levar a perda de espécies importantes. De acordo com Siqueira (2015) se faz necessário
priorizar as ações que visem conservação dessas plantas, mesmo elas não estando categorizada
como criticamente ameadas. Esse autor critica a visão antropocêntrica, imediatista e utilitarista
atualmente vigente, que faz com que muitos argumentos para conservação das espécies de plantas
não tenham validade dentro dos pressupostos do direito ambiental.

Análise dos critérios para o enquadramento da área em uma das Categorias de Unidade de
Conservação:

A proteção ambiental é resultado de um esforço conjunto. O Art. 225 da Constituição


Federal de 1988 deixa claro que o meio ambiente conservado é um direito de todos, e cabe à
coletividade o dever de mantê-lo em equilíbrio (BRASIL, 1988). Esse dispositivo ressalta ainda que
cabe ao poder público definir áreas para efetiva proteção de espaços territoriais com o propósito de
resguardar seus recursos, sejam eles biológicos e/ou paisagístico (BRASIL, 1988; BRASIL, 2000).
O SNUC estabelece critérios a serem seguidos para criação e administração das UCs. A Lei
n° 9.985/2000 institui duas categorias básicas de UCs, as unidades de Proteção Integral e de Uso
Sustentável (BRASIL, 2000). Levando em consideração que a área da serra é relativamente
pequena, sua função quase relictual em relação ao redor mais degradado, considerando o
estabelecido por Silva et al. (2004), a ausência de espécies vegetais raras ou em perigo, e o
completo desconhecimento da fauna local, não existem restrições maiores para que a Serra do
Torreão seja uma UC de Proteção Integral ou de Uso Sustentável. A seguir será analisada em quais
categorias a serra melhor se enquadra em função das suas características e seu conhecimento atual.
Dentre as UCs de Proteção Integral, o SNUC considera cinco categorias: Estação Ecológica,
Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre (BRASIL,
2000).
A Estação Ecológica faz restrições claras a visitações públicas, sendo permitido apenas se
tiver um caráter educacional, de acordo com Art. 9° parágrafo 2° da Lei nº 9.985/2000 (BRASIL,
2000). A Serra do Torreão todos os anos recebe visitas de inúmero fiéis, devotos de São Sebastião,
que escalam a serra como etapa de suas promessas (FONSECA; SANTOS, 2016). Seu

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

enquadramento nesta categoria, portanto, pode trazer restrições às visitações, interferindo nos
aspectos religiosos da comunidade. E de acordo com a Constituinte de 1988, mesmo sendo o país
laico, deve-se respeitar a liberdade religiosa dos cidadãos (BRASIL, 1988).
A Reserva Biológica não permite a interferência humana direta, e pelo uso religioso e
turístico já indicado acima, não se poderia enquadrar a serra nesta categoria de UC. A categoria
Parque geralmente implica em áreas mais extensas do que aquela da serra. Já Monumento Natural,
por preservar sítios naturais raros ou de grande beleza cênica, poderia atender aos interesses de
preservação local, visto que a serra se destaca na paisagem local e faz parte da cultura do município.
Torquato et al. (2009; 2012) falam de lendas que envolvem a serra no imaginário popular,
destacando-a como ponto turístico do município, e influenciando, inclusive, na elaboração da
bandeira de João Câmara, sendo, portanto, um símbolo da cidade.
A categoria Refúgio de Vida Silvestre coloca como preceito básico assegurar a reprodução
de espécies locais, sejam elas da fauna e flora, bem como assegurar a vivência e reprodução de
espécies migratórias, corroborando com o argumento apresentado por Silva et al. (2004), por se
tratar de uma área de reprodução de avoantes. Áreas como essa ajudam na reprodução e
desenvolvimento de inúmeros táxons (ARAÚJO, 2009). Por outro lado, garante a proteção de
espécies vegetais (LEITE; GEISELER; PINTO, 2011) que caracterizam bem o ambiente de
Caatinga, que já é um ambiente frágil devido à ação do homem (GARDA, 1996). O Art. 13 da Lei
n° 9.985/2000 em seu parágrafo 3° deixa aberta as restrições aos dispositivos estabelecidos no
Plano de Manejo da Unidade, cabendo ao órgão responsável definir os dispositivos regulatórios
(BRASIL, 2000).
Portanto, dentro dos critérios analisados e discutidos, Monumento Natural ou Refúgio de
Vida Silvestre são mais adequados para a realidade da área.
As categorias das Unidades de Uso Sustentável são: Áreas de Proteção Ambiental, Área de
Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva
de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000). A
Área de Proteção Ambiental envolve espaços territoriais de grande extensão não sendo uma
categoria de UC adequada para a serra.
A Área de Relevante Interesse Ecológico é em geral de pequena extensão, com pouca ou até
mesmo nenhuma ocupação antrópica, com biodiversidade regional único (BRASIL, 2000). Esta é
uma categoria apropriada para a Serra do Torreão, pois a área total da serra é de cerca de 100 ha. A
principal ameaça à integridade física e biológica da área é a atividade mineradora. Além disso, essa
categoria resguardaria os interesses da proteção à diversidade vegetal e animal, bem como o uso
religioso, inibindo a ação ilegal de mineradoras.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com relação à categoria Floresta Nacional, a conservação está ligada à proteção de espécies
nativas, à exploração sustentável dos recursos florestais e à pesquisa científica (BRASIL, 2000),
portanto, esse não é um bom critério para enquadramento da área de estudo. A Reserva Extrativista
está ligada à proteção de áreas onde há o uso direto das populações tradicionais, no entanto, por se
tratar de uma área de serra e por possuir muitos afloramentos rochosos, o uso da agricultura não é
tão utilizado, com exceção das famílias que possuem terrenos próximos a serra. Essa categoria
proíbe inclusive, as atividades mineradoras.
Outra categoria inadequada é a Reserva de Fauna que está atrelada as atividades de manejo
sustentável de espécies de animais, o que não corresponde com as características da área. E com
relação à categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável, só seria um bom critério se fosse
possível desenvolver projetos que envolvam as poucas famílias que compõem a população
tradicional do entorno, com as atividades de visitação e ecoturismo, atrelado aos aspectos
agroecológicos, o que não é bem esclarecido nos dispositivos que trata sobre essa categoria. Por se
tratar de uma área de domínio público em grande parte da sua extensão territorial, restam ainda
algumas porções de domínio privado, a categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural não é
relevante neste caso.
Portanto, dentro dos critérios analisados, a Serra do Torreão pode ser enquadrada em uma
das seguintes categorias de UC, para assegurar sua proteção. Com Unidade de Proteção Integral
pode tornar-se um Monumento Natural ou um Refúgio da Vida Silvestre, e como Unidade de
Desenvolvimento Sustentável pode ser considerada como Área de Relevante Interesse Ecológico.
Salienta-se que, pela área relativamente pequena da serra e pela identidade que apresenta ligada à
população local, a UC melhor se adequará se for criada em nível municipal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento florístico apontou uma lista de espécies variadas, formada em sua grande
maioria por espécies comuns ao bioma Caatinga, sendo algumas, entretanto, restritas a esse bioma.
Ocorrem na área algumas espécies plantas exóticas, o que mostra o certo nível perturbação de
origem antrópica na área de estudo.
Com relação ao enquadramento da Serra do Torreão enquanto UC, a mesma pode ser
atendida nas duas categorias. Uma está ligada a maior restrição ao acesso para garantir uma maior
proteção às espécies nativas e às migratórias, sendo denominadas de Refúgio da Vida Silvestre.
Monumento Natural é outro tipo possível. Ambas, segundo o SNUC , pertencem à categoria das
Unidades de Proteção Integral. Outra categoria está dentro das Unidades de Uso Sustentável, que
permite o acesso da população aos recursos naturais da área, de acordo com que está previsto em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

lei, garantindo a relação sustentável entre os agentes antrópicos e seus interesses, bem como a
proteção natural da área, sendo denominado de Área de Relevante Interesse Ecológico.
Os resultados aqui apresentados, de maneira nenhuma esgotam as informações necessárias
para o reconhecimento de importância ainda maior que a Serra do Torreão pode ter, seja no aspecto
natural seja na abordagem cultural para a população do município de João Câmara. São necessários,
portanto, estudos mais detalhados com relação a esses temas. Recomenda-se ainda, uma pesquisa de
cunho quali-quantitativo sobre a percepção da população do município quanto à importância da
serra e de sua potencialidade para se tornar uma UC, aumentar o esforço amostral, pois a área está
subamostrada do ponto de vista florístico, além disso, se faz necessário o levantamento da fauna
local. Depois de colhidas essas informações, será possível junto com a população e o poder público,
de forma clara e democrática, indicar a categoria mais adequada de UC a se criar, sintonizada com a
realidade socioambiental local.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A CRIAÇÃO DO PARQUE ECOLÓGICO MUNICIPAL DA SERRA DO LENHEIRO,


MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DEL-REI/MG, NA PERSPECTIVA DOS MORADORES
DOS BAIRROS TEJUCO E SENHOR DOS MONTES

Filipe César PEREIRA


Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei
fylipecesar@hotmail.com
Ivair GOMES
Professor do Curso de Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei
ivair@ufsj.edu.br

RESUMO
Neste artigo, o que se propõe é compreender o processo de criação do Parque Ecológico Municipal
da Serra do Lenheiro, no município de São João del-Rei (MG), na perspectiva dos moradores dos
seus bairros vizinhos: Tejuco e Senhor dos Montes. O desenvolvimento deste estudo se sustenta
através de um viés teórico-prático, de modo que nos permita compreender as contradições e
conflitos existentes no âmbito das iniciativas ambientais e preservacionistas – em conformidade
com a lei – tendo em vista a presença dos atores sociais situados às margens de tais projetos, frente
ao processo de expansão urbana. O eixo de análise se inscreve na perspectiva do planejamento,
gerenciamento e uso do território, a considerar os aspectos físico-naturais da paisagem, os impactos
sociais, a percepção dos sujeitos acerca do lugar e suas táticas de sobrevivência.
Palavras-chave: Planejamento; gestão territorial; contradições; percepção.
ABSTRACT
The proposed article aims is to understand the processo of criation of Ecological and Municipal
Park of Serra do Lenheiro, in the city of São João del-Rei (MG), through of people perspective that
inhabit the neighborhood: Tejuco and Senhor dos montes. The development of this article is
supported throught a theoretical and practical bias, in a way that allow us to understand the
contradictions and conflict in the context of environmental and preservationists initiatives – In
accordance with the Law – taking into account the presence of social actors that inhabit the margins
of such projects, according to the processo of urban growth. The axis of analysis is part of the
planning, management and use of territory, to consider the physical-natural aspects of landscape,
social impacts, the subjects perception about the place and their survivability tactics.
Keywords: Planning; territorial management; contradictions; perception.

INTRODUÇÃO

As diversas iniciativas, sejam elas de âmbito público ou privado, direcionadas para o


planejamento e gestão de áreas protegidas, tem se caracterizado como um desafio ambiental do
século XXI, frente as novas demandas de uso e ocupação do solo, agora sob a ótica da
sustentabilidade. No entanto, os desafios para a preservação do meio natural muitas vezes vão além
de recuperar e proteger os elementos paisagísticos, como a fauna e a flora, quando se tem próximo a
esses lugares a presença de cidades e bairros, cercados de costumes e identidades próprias.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Pensar sobre as relações estabelecidas entre natureza e cultura, ambos componentes da


paisagem e os processos de transformação ou preservação de ambos, requer, neste caso, maior
aprofundamento acerca das leis instituídas no Brasil, desde a constituição do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional IPHAN, no ano de 1937. Contudo, a relevância desta informação se
apresenta apenas como predicativo para entendermos que a criação e concepção de patrimônio no
Brasil sofreu alterações ao longo dos anos, incorporando novos critérios para a definição dos
―monumentos da nação‖, tendo como foco a sua recuperação e preservação, perante a lei.
No contexto ambiental, para legislar e gerir os ―patrimônios naturais‖, em 2000, o
Ministério do Meio Ambiente implantou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Neste sistema, essas unidades seriam os espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as
águas jurisdicionais com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder
Público, com objetivos de conservação e limites definidos sob regime especial de administração, ao
qual se aplica garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000). Essas unidades de conservação se
definem como:

―[...]espaços geográficos delimitados, oficialmente protegidos por ato do Poder Público, e


estão enquadradas em alguma das categorias de manejo atualmente existentes no País. As
categorias de manejo definem os objetivos de manejo das unidades de conservação, e
consequentemente o tipo de uso que é permitido em cada uma dessas áreas. (CONGRESSO
BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 1997, p.23).‖

No caso do SNUC, existe uma definição por categorias, que regula a criação, a gestão e de
modo geral explicita a preocupação governamental para a necessidade de delimitar e conservar
áreas com especificidades naturais que justifiquem seu tratamento diferenciado. Ressalta-se que a
proteção de áreas naturais, por meio da criação de Unidades de Conservação é considerada uma
estratégia para a conservação a longo prazo. Elas são elementos vitais para qualquer tática de
conservação da biodiversidade, frente à crise socioambiental. Além disso, são áreas onde os
processos ecológicos podem acontecer sem maiores intervenções antrópicas.
Apesar do médio ou longo prazo de execução, o fato de resgatar e preservar os espaços
destinados a conservação da biodiversidade por meio da criação das UCs pode significar uma
atividade econômica positiva para um município. Ou seja, a efetivação de um parque ecológico, por
exemplo, na condição de um atrativo turístico, pode ser uma iniciativa rentável, além da
possibilidade de arrecadação do ICMS ecológico, perante as medidas proteção e planejamento
adotados pelo mesmo.
As leis ambientais, de caráter preservacionista, se entrelaçam aos conflitos sociais
decorrentes das medidas de preservação, tendo como foco a consequência de um planejamento
fragmentado e descontínuo, pautado na falta de participação e envolvimento dos sujeitos situados
no entorno dos eventos. O distanciamento entre as leis e a sociedade se acentuam nesse processo,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

fazendo com que as melhorias estruturais atendam mais aos interesses políticos e econômicos, em
detrimento da população.
O território ganha centralidade nessa discussão, mediante as suas diferentes formas de uso e
apropriação. Ferramenta do geógrafo, esta categoria de análise nos permite reconhecer as
contradições e conflitos que se estabelecem ao logo de sua formação (SANTOS, 1997). Nesse caso,
cabe ressaltar as territorialidades, que se constroem entre os moradores e seus bairros, na dimensão
do espaço vivido e praticado, concebido como ―[...] a base da reprodução da vida e pode ser
analisado pela tríade habitante - identidade - lugar ‖, conforme apresentado por Carlos (1997, p.
17).
Portanto, este estudo se constrói a partir de uma contradição, que se materializa através de
um conflito, decorrente do distanciamento entre as leis ambientais e a sociedade. Partindo deste
pressuposto é que apresentamos este artigo, através de uma escala local, afim de demonstrar os
(possíveis) impactos decorrentes da efetivação do Parque Ecológico Municipal da Serra do
Lenheiro (PEMSL), no município mineiro de São João del-Rei, para os moradores do seu entorno.
Criar e consolidar uma Unidade de Conservação (UC), como é o caso do PEMSL, implica
de modo geral, na execução de projetos de recuperação da vegetação, dos aquíferos, mananciais e
da fauna endêmica. Por outro lado, deve-se considerar os impactos sociais – que podem ser
positivos ou negativos – sobre a qualidade de vida dos seres humanos, que em alguns casos
usufruem desses recursos para a sua subsistência.
Nesse contexto, a principal questão está em conciliar a preservação de áreas naturais sujeitas
a degradação e as diferentes formas de uso ocupação do solo. No mesmo sentido, se faz necessário
compreender a dinâmica da transformação ambiental decorrentes do processo de urbanização, no
entorno do parque ecológico, situado no município em questão. Sendo assim, este trabalho tem
como objetivo compreender o processo de criação do Parque Ecológico Municipal da Serra do
Lenheiro, na perspectiva dos moradores dos bairros Tejuco e Senhor dos Montes em São João del-
Rei/MG.
Nos vemos diante de um desafio, que se inicia no âmbito normativo, em vista da efetivação
de um Parque Ecológico e os impactos locais associados à sua implantação. O ponto de partida está
de um lado, voltado para o planejamento e gerenciamento do território, a considerar os aspectos
físico-naturais da paisagem; e de outro nos impactos sociais, a percepção dos sujeitos acerca do
lugar e suas táticas de sobrevivência.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho se orienta através da


percepção ambiental (TUAN, 2012), que se forma na dimensão do espaço vivido-praticado; de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

modo que nos permita articular as relações entre sujeito e lugar aos processos de territorialização a
eles associados (SANTOS, 1997); (CARLOS, 1996). Nesse sentido, a análise do território, também
compreendido como o palco das transformações sociais, nos permite pensá-lo como um campo de
luta e de resistência.
Associar a percepção dos moradores a realidade do seu entorno, nos propõe pensar em um
viver e saber cotidiano, responsável por aprofundar as raízes do sujeito ao lugar, de tal forma que os
processos de territorialização se entrelaçam, por meio das identidades e da relação de
pertencimento. Nesse sentido ―[...] o lugar pode ser compreendido como uma construção social,
fundamentado nas relações espaciais diretas, no cotidiano e na articulação entre a cooperação e o
conflito‖ (MOREIRA e HESPANHOL, 2008, p. 48).
A percepção ambiental, na perspectiva do geografo sino-brasileiro Yi-fu-Tuan (2012) está
associada ao que ele chamou de topofilia e diz respeito a carga identitária criada através da relação
afetiva entre sujeito e lugar. Daí a importância de analisar como ocorre a apreensão do espaço, na
perspectiva dos moradores, situados no entorno da Serra do Lenheiro, perante aos discursos e leis
de caráter preservacionista, propostas para uma nova organização daquele meio.
Afim de alcançar o objetivo desta pesquisa, nossa metodologia apresenta um caráter quali-
quantitativo, pois consistirá principalmente de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, com
os moradores dos bairros Tejuco e Senhor dos Montes, ambos situados nas bordas da Serra em
questão. Esta abordagem também possibilita o ―contato direto e prolongado do pesquisador com
ambiente e a situação que está sendo investigada, através de trabalho intenso de campo‖ (LÜDKE e
ANDRÉ, 1986, p. 11).
Os demais procedimentos metodológicos adotados no decorrer do estudo envolveram,
análises bibliográficas, consultas de leis em âmbito municipal, estadual e federal e informações
disponíveis através da Base de Dados do IBGE (2010) por setores, para obter o número de
moradores dos bairros analisados, situados nas proximidades da serra.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No decorrer das atividades de campo, que evolveram a aplicação dos questionários e demais
momentos de aproximação entre pesquisador e o recorte de estudo, foi possível levantar duas
questões centrais: a primeira diz respeito ao perfil socioeconômico dos moradores situados no
entorno do PEMSL; a segunda, está voltada para o grau de conhecimento desses indivíduos, quanto
a criação e efetivação do parque propriamente dito. Esses dois elementos se mostram relevantes
para a análise do nosso estudo de caso, por se tratar de uma consequência da falta de planejamento
urbano, responsável, na maioria dos casos, por segregar e omitir pessoas e culturas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quanto ao perfil socioeconômico desses moradores, foi possível observar que, na medida
em que as residências convergiam, sentido a serra, maiores eram os casos de vulnerabilidade. No
local de estudo, também foi possível presenciar a falta (ou precarização) das infraestruturas urbanas,
tais como a ausência de bocas de lobo em áreas de terreno declivoso, a falta de manutenção da
pavimentação nas ruas, esgotos a céu aberto e a ausência de iluminação pública em alguns trechos.
No ponto de vista das políticas públicas, que envolve o plano das ideias e das ações,
voltadas para o urbanismo brasileiro, Ermínia Maricato (2000, p. 122, grifo nosso) faz a seguinte
crítica:

―[...] O urbanismo brasileiro (entendido aqui como planejamento e regulação urbanística)


não tem comprometimento com a realidade concreta, mas com uma ordem que diz respeito
a uma parte da cidade, apenas. Podemos dizer que se trata de ideias fora do lugar porque,
pretensamente, a ordem se refere a todos os indivíduos, de acordo com os princípios do
modernismo ou da racionalidade burguesa. Mas também podemos dizer que as ideias estão
no lugar por isso mesmo: porque elas se aplicam a uma parcela da sociedade reafirmando e
reproduzindo desigualdades e privilégios. Para a cidade ilegal não há planos, nem ordem.
Aliás ela não é conhecida em suas dimensões e características. Trata-se de um lugar fora
das ideias.‖

A citação mencionada acima não se distancia do nosso estudo de caso, pois, nas
considerações apresentadas pelos moradores participantes da pesquisa, a falta de recursos públicos
básicos, direcionados para alguns setores do bairro, além ser um descaso, do ponto de vista do
saneamento, também contribui para o aumento da criminalidade, mediante o isolamento de tais
áreas ou, devido a ―omissão de uma realidade concreta‖ (MARICATO, 2000). Vale ressaltar, que a
maioria das casas que foram visitadas tem como área de fundo o sopé da serra, espaço também
reservado para o plantio de pequenas hortas e criação de animais destinados a subsistência, que no
ponto de vista do planejamento pode configurar um conflito ambiental.
O fator associado ao grau de conhecimento dos moradores dos bairros Tejuco e Senhor dos
Montes, no que diz respeito aos projetos voltados para a criação e efetivação do Parque também
chamou a atenção do pesquisador, haja vista que em ambos os casos a maioria dos entrevistados
não tinham conhecimento de tal iniciativa, conforme apresentado nos gráficos 01 e 02, que seguem
abaixo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Gráfico 01- Bairro Tejuco: grau de conhecimento dos entrevistados quanto a criação do Parque Ecológico
Municipal da Serra do Lenheiro. Fonte: Gráfico elaborado por Filipe César Pereira. Diário de Campo, 2016.

Gráfico 02: Bairro Sr. Dos Montes: grau de conhecimento dos entrevistados quanto a criação do Parque
Ecológico Municipal da Serra do Lenheiro. Fonte: Gráfico elaborado por Filipe César Pereira. Diário de
Campo, 2016.

No sentido desta análise, cabe ressaltar que a discussão sobre o tombamento, da Serra do
Lenheiro, bem como a criação de leis e decretos nas instâncias municipal e estadual, para fins de
preservação, não é um assunto recente. Conforme apontado por Ferreira (2017, p. 55), as propostas
conservacionistas, direcionadas para a serra, entraram em discussão no final da década de 70 e
início da década de 80, tendo como o documento mais atual o Decreto nº 6.408, de 14 de janeiro de
2016, que estabelece normas regulamentares para a gestão do PEMSL e sua zona de amortecimento.
Assim, observou-se que, apesar da proximidade da serra, os moradores se mostraram
distantes e preocupados, quanto as possíveis medidas e restrições a serem implementadas para a
efetivação do parque ecológico. Ou seja, a falta de conhecimento das causas e medidas de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conservação adotadas para o meio nos leva a considerar a falta de diálogo entre poder público e a
população, situada em ambos os bairros.
No sentido da percepção e afetividade dos moradores com os bairros, observou-se que a sua
relação com o lugar – principalmente os mais idosos – se fortaleceram por meio de lutas e
conquistas para o seu uso e manutenção. A serra, na maioria das vezes foi contemplada pelos
entrevistados como um ―presente‖ para a população, tanto em termos paisagísticos ou como uma
―farmácia a céu aberto‖, devido à variedade de frutos e ―ervas curandeiras‖ ali presentes. Por outro
lado, do ponto de vista ambiental, esta área também passou a ser vista como um patrimônio, em
constante degradação.
Na percepção dos moradores dos bairros envolvidos no estudo, o valor atribuído ao território
em sua dimensão simbólica e afetiva se entrelaça ao seu contexto de formação, ocorrido no século
XX. Conforme mencionado acima, através dos moradores mais antigos foi possível compreender a
relação que se estabelecia entre a serra e os bairros, onde se nota sobretudo as experiências e as
formas distintas de se relacionar com a natureza (TUAN, 2012).
Alguns entrevistados, também relataram que antigamente existia no local uma relação vital
(de fidelidade) com a serra, o que tem se perdido nas atuais gerações. Naquele tempo, o cuidado
com a natureza funcionava como uma moeda de troca, pois, esta fornecia água potável para o
consumo e lazer, além de contribuir com a renda, gerada através da lavagem de roupas, nos campos
abertos, em que a água corria por entre as pedras; ou através da relação espiritual, visto que o local
também é visitado por peregrinos de várias religiões. Em contrapartida, a população era mais
comprometida com a preservação do lugar.
Retomando Tuan (2012), é através dos elementos subjetivos (sentidos) e das relações
humanas, com a sociedade e o meio ambiente (natureza) que se cria o sentimento de pertencimento
e consequentemente os lugares. O meio físico, se agrega a base constituinte da vida, que ali se
instaurou e produziu uma história, memória e cultura. Paralelamente, constrói-se uma visão de
mundo – individual ou coletiva – onde enfim, são partilhadas as experiências comuns, em um
território comum. O impasse maior é que a percepção muda, na medida em que as pessoas mudam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os embates gerados a partir da criação do Parque Ecológico Municipal da Serra do Lenheiro


(PEMSL) decorrem de uma nítida necessidade de preservação do patrimônio natural, de modo que a
população se sinta contemplada e, não a margem dos projetos ambientais, conforme foi analisado in
lócus. Apesar das discussões de longa data, no que diz respeito ao parque, deve-se considerar que o
seu projeto ainda se encontra em tramitação, onde serão necessários a criação do plano de manejo,
da unidade de conservação e sua zona de amortecimento, somados aos demais procedimentos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

jurídicos, infraestruturais e burocráticos para a regulamentação e aplicação do projeto e,


posteriormente a sanção da lei definitiva.
Nos bairros Tejuco e Senhor dos Montes, foi possível constatar a falta de conhecimento e
participação dos moradores situados no entorno do PEMSL, quanto a sua construção, que geram
incertezas – ou até mesmo controvérsias – sobre os possíveis impactos socioambientais, sobretudo,
a restrição de uso; por não serem devidamente esclarecidos aos moradores, o que tem representado
um motivo de preocupação.
Analisar a dinâmica dos lugares e os diferentes espaços-tempos nos permite compreender
território em suas múltiplas facetas, elencando as suas potencialidades, contradições e fragilidades,
sem perder de vista a presença dos atores sociais que nele existe. Neste caso, estamos falando de
moradores de dois bairros antigos, portadores de tradições e histórias de superação para a sua
permanência no lugar.
Esses moradores percebem o lugar de forma particular e intensa, o que pôde ser observado
por meio de suas falas. Nesse sentido, a serra deixa de ser apenas uma formação rochosa, de
características morfoestruturais e ecológicas, para se tornar um símbolo, enraizado nas relações
afetivas, e no sentimento de pertencimento em um espaço considerado banal (SANTOS, 1997).
Através dos objetivos, métodos e discussões apresentados no decorrer da pesquisa foi
possível compreender os desafios para o planejamento e gestão de áreas protegidas, a levar-se em
conta os níveis de ocupação, decorrentes da expansão urbana. Neste caso, considerou-se que os
projetos direcionados a gestão do parque ecológico tem se mostrado uma iniciativa incompleta, por
se preocupar mais com as ações preservacionistas, em detrimento da população local.
Nos momentos de entrevista, conversamos com aposentados, estudantes, contratados e
desempregados, que desempenhavam atividades diversas, tais como servente de pedreiro, armador
de estruturas metálicas, cozinheiro (a), professor (a), lavadeiras, faxineiras, costureiras, etc. Esta
caracterização nos permitiu constatar que quanto maior o avanço das residências em sentido à serra
maiores os casos de vulnerabilidade social naquele setor.
Conforme apontado pelos entrevistados, de ambos os bairros, não existe uma associação de
moradores, voltada para a criação de pautas coletivas, que vislumbrem os interesses e melhorias de
sua população, o que pode significar uma fragilidade. Esta seria uma alternativa interessante para
que esses indivíduos tomassem conhecimento das iniciativas públicas voltadas para o bairro,
permitindo a eles maior envolvimento em tais questões.
A execução deste estudo nos coloca diante da necessidade de pensar em ações reflexivas e
participativas, direcionadas para um ponto comum: a preservação do meio natural, pensada
conjuntamente com a qualidade de vida da população. Daí a necessidade de estimular novos debates
acerca das contradições e conflitos gerados pela criação de leis, pensadas para a organização e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 378


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

gerenciamento do território e os reais impactos voltados para as populações situadas a margem dos
seus recursos.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 380


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE: UMA PROPOSTA PARA INSERÇÃO DA


DIMENSÃO SOCIOAMBIENTAL ATRAVÉS DO TRABALHO DE CAMPO

Gabriel dos Santos MARTINS


Graduando do curso de Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
gabrieldossantosmartins@yahoo.com.br
Edileuza Dias de QUEIROZ18
Docente do Curso de Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
edileuzaqueiroz@gmail.com

RESUMO
A crise societária promove relações conflitantes para a dinâmica socioambiental, visto que seu
modelo de desenvolvimento é constituído por crises. Por isso, coloca-se como plano de ação,
projeto societário, (re)pensar nas práticas educativas ambientais, que vistas de forma ampla em sua
complexidade podem promover transformações paradigmáticas no atual modelo de sociedade. A
Educação Ambiental (EA) crítica é parte integrante desse processo complexo, principalmente
quando atrelado ao trabalho de campo, metodologia de ensino-aprendizagem capaz de promover a
observação, experimentação, análise e o desenvolvimento pleno dos sentidos. O presente artigo
busca pensar nas relações entre a EA nos espaços não formais através da realização de um trabalho
de campo com a intenção de promover a reflexão e crítica acerca das problemáticas socioambientais
no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu-RJ (e no seu entorno) com os educandos da Escola
Municipal Ondina Couto (Mesquita-RJ), situada bem próxima à Unidade de Conservação (UC). A
metodologia de investigação consistiu na busca bibliográfica para consolidação do arcabouço
teórico, somado à análise do plano de ação da escola para averiguação da contemplação do trabalho
de campo e da EA; além de entrevistas com três docentes da instituição. As UCs são detentoras de
atributos que contemplam valores ecológicos, culturais e históricos, o Parque é constituído de
grande potencial para inúmeras temáticas que podem ser abordadas de forma interdisciplinar.
Apesar de tal importância, a metodologia de ensino anunciada não é muito explorada e/ou utilizada.
A pesquisa evidenciou a importância metodológica do trabalho de campo, e como tal atividade tem
caráter elucidativo, dinâmico e lúdico para a EA quando fomentado em uma UC, facilitando o
processo da interação teoria-prática, além de promover a valorização do lugar, Parque, em seus
aspectos histórico-ecológicos por meio do cotidiano dos educandos.
Palavras-chave: Educação Ambiental Crítica; Trabalho de campo; Espaços não formais.

ABSTRACT
The crisis of society promotes conflicting relationships in the socio-environmental aspects, since its
development model is constituted by crises. Therefore, is put as a plan of action, society project,
(re) thinking about environmental education practices, which seen in a wide way in its complexity
can promote paradigmatic transformations in the current model of society. Critical Environmental
Education (EA) is an integral part of this complex process, especially when linked to fieldwork, a
teaching-learning methodology capable of promoting observation, experimentation, analysis and
full development of the senses. This article tries to think about the relationships between EA in non-
formal spaces through the accomplishment of a field work with the intention of promoting
reflection and criticism about social and environmental problems in the Municipal Natural Park of
Nova Iguaçu-RJ (and its surroundings) with the students of the Municipal School Ondina Couto

18
Orientadora - Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal Fluminense.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(Mesquita-RJ), located very close to the Conservation Unit (UC). The research methodology
consisted of a bibliographical search for consolidation of the theoretical framework, together with
the analysis of the school's action plan to investigate the field work and the EA; Besides interviews
with three teachers of the institution. Conservation Units are holders of attributes that include
ecological, cultural and historical values, the Park is constituted of great potential for numerous
themes that can be approached in an interdisciplinary way. Despite such importance, the teaching
methodology announced is not much explored and / or used. The research evidenced the
methodological importance of the field work, and as such activity has an enlightening, dynamic and
playful character for the EA when fostered in a Conservation Units, facilitating the process of
theory-practice interaction, besides promoting the valorization of the place, Park, In its historical-
ecological aspects through the daily life of the students.
Keywords: Critical Environmental Education; Fieldwork; non-formal spaces

INTRODUÇÃO

Coloca-se como plano de ação, projeto societário, (re)pensar nas práticas educativas
ambientais, que vistas de forma ampla em sua complexidade, refletem nas relações sociais,
culturais, econômicas e histórico-geográficas (baseadas na dialética plena entre tais fatores). Assim,
a educação ambiental (EA) crítica é importante aliada para fomentar concepções renovadas de
estruturas de pensamentos, que tendem a influenciar nas práticas cotidianas mais simples e
complexas dos sujeitos, seja em casa com a família, na rua com os amigos, na escola, no bairro.
Para tal, o trabalho de campo é analisado como uma metodologia de ensino viável para
consolidar uma EA crítica fundamentada nas relações prático-teóricas para estruturar quebras
paradigmáticas (GUIMARÃES, 2004). A importância dada à metodologia de ensino anunciada se
faz por conta do seu poder de atu(ação), por meio do trabalho de campo crítico, algumas aquisições
são contempladas para a efetividade das atividades didático-pedagógicas em EA, como a
observação, a análise, a experimentação.
Encontramos na EA um aporte teórico-metodológico para o ensino de Geografia em uma
perspectiva de vivência do aluno em sua realidade. Entendemos que a EA crítica representa um
componente essencial no processo de formação e educação permanente, como uma abordagem
direcionada para a reflexão crítica e intervenção participativa na realidade em que se insere,
contribuindo para o envolvimento ativo dos diversos atores sociais. A EA crítica deve ser
consolidada e deve se afirmar diante da sociedade. Ela é capaz de nos levar a uma compreensão
educacional de mundo diferente da educação que se tem dominantemente hoje, ou seja, diferente de
uma educação ―[...] subsidiada por um referencial paradigmático e compromissos ideológicos, que
se manifestam hegemonicamente na constituição da sociedade atual‖ (GUIMARÃES, 2004, p. 25).
Com uma visão de formação do sujeito como um ―todo‖, Carvalho (2008) considera que a
EA tem essa vocação e a define como ―[...] aquela capaz de transitar entre os múltiplos saberes:
científicos, populares e tradicionais, alargando nossa visão do ambiente e captando os múltiplos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sentidos que os grupos sociais atribuem a ele‖ (CARVALHO, 2008, p. 125). Assim, observamos
que há no ensino de Geografia a possibilidade de fazermos um caminho para compreender e intervir
na realidade em que se vive e seus problemas socioambientais existentes, uma vez que esta ciência
tem na relação homem-natureza um de seus mais clássicos temas de reflexão, e se mostra como
uma das ciências com condições de trabalhos interconectados com a EA.
Refletindo sobre novas metodologias que aliem a EA à Geografia, encontramos no trabalho
de campo um forte aliado, pois a sua utilização é uma forma de despertar no aluno um interesse
maior pela disciplina e de aproximá-lo da sua própria realidade, fazendo com que ele possa manter
relações e interpretar diferentes realidades, especialmente a realidade mais próxima da sua vivência
cotidiana. Com uma abordagem local, por exemplo, seria mais fácil, posteriormente, compreender
fenômenos que ocorrem em uma escala mais ampla, abrir horizontes e perceber o que acontece ao
seu redor. Tomita (1999, p.13) entende o trabalho de campo como instrumento de ensino em
Geografia, destacando que, ―[…] dentre várias técnicas utilizadas no ensino de Geografia,
considera-se o trabalho de campo, uma atividade de grande importância para a compreensão e
leitura do espaço, possibilitando o estreitamento da relação entre a teoria e a prática‖.
Temos a certeza da necessidade de vincular teoria e prática como possibilidades de práticas
emancipadoras. Temos, assim, um grande desafio, de fazer do fazer do trabalho de campo uma das
possibilidades para que a teoria e a prática sejam articuladas na e articuladoras da pesquisa e da
reflexão necessárias à construção/reconstrução de (novos) saberes sobre a realidade geográfica.
Apesar da enorme importância atribuída ao trabalho de campo, é uma atividade pouco
utilizada nas redes básicas de ensino, e quando feito, geralmente não o é condizente com as
demandas das realidades escolares. Aparece como atividade extracurricular sempre chamado de
―passeio‖, o que denota a desvalorização do mesmo, como metodologia de ensino para extensão
entre os conteúdos aplicados em sala de aula para a prática. Nesse ensejo, salientamos como outra
problemática a desvalorização do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu (PNMNI) como espaço
pensado para a concretização dos saberes ambientais, visto que há poucas escolas que fomentam
atividades educativas envolvendo o mesmo, e quando feitas, em tempo esporádico. As UCs podem
ter ―papel‖ de destaque no processo formativo em EA crítica, sendo espaços considerados não
formais, mas com forte potencial para a educação formal.
Ressaltamos a importância da vivência in loco, pois esta, segundo Guimarães e Queiroz
(2013, p. 58), ―[...] colabora com o despertar do aluno para a pesquisa, para o sentido investigativo
do processo de ensino-aprendizagem, o que é fundamental para a formação de um profissional
pesquisador dinâmico e criativo [...]‖. Assim, acreditamos que a formação ancorada na vivência, no
contato direto com a realidade socioambiental, possibilita uma ―nova forma‖ de fazer ciência, uma
vez que o objeto estudado está sendo visto, sentido, vivido.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Este artigo apresenta o desenvolvimento de uma pesquisa do Programa de Iniciação


Científica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PROIC-UFRRJ) que analisou a
importância do trabalho de campo para o fomento da EA crítica em uma UC (PNMNI), com os
objetivos de compreender de que forma o trabalho de campo vem sendo utilizado pelos professores
da educação básica e suas possibilidades como prática formativa diferenciada do uso tradicional que
vem sendo dominantemente realizado. Através da seguinte metodologia de investigação: busca
bibliográfica do arcabouço teórico; entrevistas com os professores de uma escola do entorno, para
averiguação da abordagem da EA; análise do plano de ação das atividades da escola, a fim de saber
se o trabalho de campo é contemplado; planejamento e realização de um trabalho de campo para
(re)conhecimento e reflexões das questões socioambientais inerentes ao lugar estudado.

POTENCIALIDADES E DESAFIOS DO PARQUE

Um dos argumentos que podem ser levantados para expressar o potencial do Parque é dado
pela importância de uma UC para as dinâmicas ambientais, sendo fator para a preservação da
biodiversidade local e global, envolvendo a manutenção ecológica e cultural atribuída ao espaço
(VALENTI, et. al., 2012; VALLEJO, 2013). O PNMNI está situado na Serra do Maciço Gericinó-
Mendanha no município de Nova Iguaçu-RJ, sendo de suma importância para a preservação da
Mata Atlântica e para a prática cultural dos moradores do entorno e de municípios vizinhos, que o
veem como ponto de encontro para o lazer de baixo custo financeiro (MARTINS, et al, 2016). É
uma UC que pode ser considerada ilha verde em meio à grande densidade urbana em seu entorno.
Apenas a criação de uma UC não é o suficiente para uma efetiva manutenção e conservação
do ambiente (SANTOS, et. al., 2013), reque-se táticas que envolvam a comunidade para
estabelecimento de ações prático-reflexivas em prol do meio ambiente. Por isso, a EA crítica tem
papel de destaque para o envolvimento de todos os sujeitos no fomento dos ideais da equidade
socioambiental, pois oferece subsídios para a construção de novos conceitos, percepções e práticas,
fomentando mudanças paradigmáticas na relação com o lugar (GUIMARÃES, 2004; VALENTI,
2012). Há necessidade de inserções de projetos no PNMNI que o tornem mais ―atraente‖, onde a
comunidade crie laços de identidade, valorizando-o e dando-lhe maior visibilidade. Mas essas ações
também podem (e devem) partir das escolas e outras instituições, como as associações de
moradores e as universidades.
Outra estratégia para integrar a comunidade com as UCs e consolidar as premissas da EA se
dá por meio dos Planos de Manejos (PMa), pensados e elaborados visando o uso público
(VALLEJO, 2012). Para um uso público efetivo e coerente com o ambiente é de importância que o
PMa aborde ações para tal, pois é um documento técnico muito importante para gestão das UCs.
Sem um plano adequado, haverá falhas no uso público.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A EA deve ter posição de destaque no PMa, visto as potencialidades da mesma para a


efetivação dos objetivos gerais das Unidades, ou seja, ―se constituem em espaços privilegiados para
o desenvolvimento de ações de EA‖ (VALENTI, 2012, p. 268). Esse é um tema que deve ser
tratado com suma importância, pois processos formativos em EA nesses espaços não formais
tendem a ser mais efetivos e consolidados, já que são atividades mais dinamizadas, que
proporcionam ―experiências de contato direto com a natureza para promover transformações no
âmbito da percepção ambiental e no estilo de vida e de relação com o ambiente‖ (VALENTI, 2012,
p. 269).
Embora a EA esteja frequentemente ao longo do PMa do PNMNI, há apenas um subtópico
específico destinado a sua realização, intitulado ―subprograma de educação ambiental‖ na parte II –
Gerenciamento e manejo, item 5 – Programas de manejo para a implantação e operação da UC
(PLANO DE MANEJO PNMNI, 2000).
O plano considera como EA apenas as práticas escolares formais, uma visão minimalista
acerca dos aspectos e poder de atuação da temática. Coloca como seu objetivo a relação entre o
parque e as escolas do entorno, por meio de visitações no centro de informações; cursos de
preparação para educadores ambientais; fomento de materiais educativos acerca dos aspectos gerais
do Parque para distribuição nas escolas e promoção de palestras nas escolas. Ações pontuais que
não se fazem na prática, pois o centro de visitações é apenas uma sala com alguns poucos animais
empalhados e achados arqueológicos acerca da história do lugar. Há tempo o Parque não promove
visitações com as escolas do entorno, e ao longo do período da pesquisa, não houve nenhum projeto
para capacitação de educadores ambientais em vigência (DADOS DE CAMPO, 2016).
Muitos são os problemas atribuídos à EA no PNMNI, as ações destinadas no PMa não são
cumpridas com rigorosidade teórico-metodológica. Mas, em contrapartida, muitas são as
potencialidades que podem se colocar à frente dos desafios enfrentados pelo Parque, que envolvem
problemas estruturais, falta de recursos financeiros, falta de apoio da comunidade e do poder
público municipal.

TRABALHO DE CAMPO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA MUNICIPAL ONDINA


COUTO (MESQUITA-RJ) NO PARQUE

Há necessidade de pensar e realizar processos formativos de EA em espaços onde a natureza


seja um fator de grande inspiração. E o Parque é detentor de atributos que contemplam valores
ecológicos, culturais e históricos. Constitui-se com grande potencial para inúmeras temáticas que
podem ser abordadas de forma interdisciplinar.
A Escola Municipal Ondina Couto foi escolhida para fazer parte da pesquisa por estar
situada na zona de amortecimento do PNMNI, com poucos metros de distância até a entrada do

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mesmo, no município de Mesquita-RJ19. É uma instituição pequena, oferece apenas o primeiro


segmento do ensino fundamental (1º ao 5º ano).
Foi analisado o plano de ação da escola (ano de 2016), documento de suma importância que
norteia todas as atividades a serem desenvolvidas na escola. Nele, trabalho de campo é contemplado
apenas uma vez, para uma visita a um asilo situado ao lado da escola, corroborando para a
afirmação do pouco uso da atividade metodológica. Muitas questões se apresentam para a
inviabilidade do fomento de uma prática em campo, que tem relação com as questões estruturais da
escola, falta de auxílio e verbas para ônibus, empecilhos burocráticos, etc. São questões que não
atingem a escola estudada, pois não exige ônibus (por conta da proximidade com o Parque), além de
o corpo pedagógico ser totalmente aberto para novas abordagens20. Uma das intenções da análise do
plano foi a busca da conexão com o trabalho de campo com a EA, mas como não houve menção
direta ao mesmo, essa relação não foi estabelecida no plano.
No geral, a EA se apresenta no plano de forma coesa e crítica, sendo vista como atividade
interdisciplinar, com temáticas que abordam o entorno nas dinâmicas sociais, culturais e
econômicas. Dar-se por meio de ações integradoras, que perpassam por todas as outras, não sendo
privilegiada apenas em poucos momentos do ano (semana do meio ambiente, por exemplo). Além
da análise do plano de ação, foi realizada entrevistas com os docentes da instituição (Tabela 1).
As entrevistas foram realizadas com três professoras da escola, sendo: Prof.º 1, atua no 3º
ano; Prof.º 2, atua com 1º e 2º ano e Profº 3, atua no 5º ano. Entrevistas do tipo estruturadas, mas
com abertura ao diálogo amplo. Segue a tabela com resumo das perguntas e respostas.

Tabela 1 – Entrevistas com os docentes da EM Ondina Couto


Questões Prof. 1 Prof. 2 Prof. 3
Considera a EA de Sim Sim Sim
importância?
Métodos de
Trabalha a poluição Tema transversal, Livro destinado à EA
abordagem para as através de muitas geralmente apoiada distribuído pela
21
temáticas ambientais.
atividades. em pesquisas e CCR em convênio
reportagens, e no com a prefeitura.
próprio uso dos livros
didáticos, além dos
debates.
A EA é abordada de Sim, todos os Sim. Sim, o livro aborda
forma conteúdos são os conteúdos de
interdisciplinar? trabalhados assim forma
interdisciplinar.
Considera o trabalho Com certeza. Quando Considero. Eu acho Considero. É
de campo método de nós podemos fazer que a prática traz uma importante ter o

19
Embora o Parque pertença ao município de Nova Iguaçu, sua entrada principal é feita através de Mesquita.
20
Essa afirmação foi baseada pela reação da diretora e da coordenadora pedagógica ao ouvirem as nossas propostas a
serem desenvolvidas na escola. Ambas foram muito solícitas e abertas a tudo. Agradecemos imensamente à Denise
Fernandes Aluizio (diretora da escola durante a realização da pesquisa) pelo apoio.
21
Companhia de Concessões Rodoviárias.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

importância? passeios, nós falamos aprendizagem mais contato,


sobre isso. fácil, uma principalmente na
Infelizmente, aqui aprendizagem mais idade deles. Tudo que
nós temos um parque gostosa, falamos é uma coisa
mas não podemos principalmente para muito abstrato, então
fazer por conta da as crianças. eles precisam ter esse
violência. contato para
absorverem os
conteúdos de uma
forma mais concreta.
Elaboração: própria

De forma geral, os discursos foram coerentes com a forma de inserção da EA - de forma


interdisciplinar, pautado nos aspectos do local – e com o trabalho de campo, sendo reconhecido
como importante metodologia para interação da teoria à prática. Mas apesar disso, a atividade foi
chamada de ―passeio‖ pela prof. 1. Essa terminologia carrega intrinsicamente certo teor de
descaracterização da atividade, sendo vista puramente como um momento fora da sala de aula. Mas
o trabalho de campo, com rigor teórico-metodológico-conceitual, é uma extensão dos conteúdos
teorizados com a prática.
O livro didático teve aspecto de destaque na fala das docentes, algo que pode ser
problemático a depender da forma de utilização do mesmo. O livro distribuído pela CCR 22 é
específico para a EA, contendo variadas atividades que servem para auxiliar os professores, mas
não basta por si, já que traz exercícios e afirmações pontuais, sem compromisso com intervenções e
mudanças estruturais. É um livro que expressa a máxima das armadilhas paradigmáticas
(GUIMARÃES, 2004).
A importância atrelada à atividade apareceu apenas no plano do discurso, visto a grande
proximidade do Parque com a escola e o não aproveitamento do mesmo dentro do plano de ação
para desenvolvimento das temáticas. A prof. 1 levantou o argumento da violência do lugar, que em
alguns anos atrás afetou o fluxo de visitas no Parque por ter um ponto de vendas de drogas perto da
trilha de acesso que leva à entrada da UC. Hoje, esse fato se apresenta mais no imaginário,
fortalecido pelas lembranças e perpetuação dos discursos que apenas tendem a levantar os aspectos
negativos do local. Outro aspecto a ser ressaltado é que nenhuma das professoras já visitou o
Parque, todas são de outros municípios e não conhecem o potencial do local externo à escola. Havia

22
Somos convidados a refletir sobre as problemáticas entre o envolvimento das empresas com a educação escolar,
fomentando cartilhas e livros educativos, que são distribuídas nas escolas com convênios entre as secretarias de
educação. Roberto Leher, em uma palestra na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro no dia 18 de outubro de
2016, nos relatou sobre quem está pensando a educação no Brasil: representantes comerciais de movimentos
empresariais. Grupos que estruturam a educação neoliberal com a ideologia minimalista de cidadania. O grupo CCR
distribuiu pela secretaria de educação de Mesquita o livro “Educação ambiental: caminhos para a cidadania”, que
pode ser acessado em: < http://www.caminhosparaacidadania.com.br/content/pdfs/Livro-professor-MA.pdf> (acesso:
20/10/2016).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

tempo que não ocorria nenhuma atividade diretamente relacionada ao PNMNI, apesar da sua
proximidade e forte relação com o cotidiano dos educandos.

A FORMAÇÃO FORMAL NO ESPAÇO NÃO FORMAL

Após o período da análise documental e das entrevistas, foi realizado no mês de junho de
2016 o trabalho de campo com os alunos do 4º e 5º ano do ensino fundamental no PNMNI,
atividade que contou com dois momentos. O primeiro, em sala de aula para explanação teórica
acerca de uma temática específica, realizado por um projeto que se baseou na relação da
comunidade com o rio Dona Eugênia (utilizado para banho de cachoeira no Parque e se apresenta
poluído logo em frente à escola). O segundo momento com consolidação da abordagem teórica na
prática em campo.
O momento em sala de aula foi importante para uma primeira aproximação com os
educandos, onde foram feitas as apresentações. Iniciamos fazendo um debate crítico-reflexivo sobre
a percepção ambiental de cada um, onde foi exposto e construído com os mesmos um conceito de
ambiente e de natureza mais complexo (diferente do qual eles afirmaram em debate) não os
definindo somente com o verde, a natureza intocável, o que não pertence ao cotidiano do homem.
A intenção foi complexificar o conceito acerca de meio ambiente, com a construção de um
que não fortaleça a dicotomização entre sociedade-natureza. A discussão se ampliou para
identificação das problemáticas socioambientais instauradas no local, como a degradação do rio
Dona Eugênia, que passa em frente à escola. Debatemos sobre determinadas práticas (queimadas,
lixos no leito, programa de saneamento da prefeitura que direcionou o esgoto para o rio) e as
possíveis ações para a transformação da realidade vigente.
O que mais foi citado convergiu para mudanças de hábitos particulares/individuais, mas
após algumas perguntas instigadoras sobre o efeito dessas possibilidades minimalistas outras ações
emergiram como alternativas mais concretas: conversas com amigos e familiares para terem outra
relação com o meio; ideia da elaboração de uma carta ao prefeito. Os educandos se mostraram
bastante interessados e participaram de forma plena da discussão. Esse momento inicial foi
anunciado para a percepção sobre lugar cotidiano dos educandos, esse

[...] onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas
relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e
sociais de transformação do meio natural e construído (REIGOTA, 2007, p.14).

Após dois dias, foi realizado o segundo momento. Após a discussão em sala de aula, outros
temas puderam ser abordados, que possuem estreita relação com o rio. A análise das problemáticas
socioambientais foram tratadas desde a saída da escola, já que fizemos o trajeto da escola até o
Parque a pé (uma caminhada com duração de aproximadamente 40 minutos). Todo o campo foi

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

bem participativo, com amplo diálogo dos educandos e apontamentos pelos mesmos dos equívocos
instaurados no ambiente pelos diversos agentes (poder público – que canalizou o esgoto para o rio -,
moradores – que jogam lixo).
Muitas temáticas foram abordadas: importância, história e atual estado do rio; aspectos
gerais e sucintos da Mata Atlântica, fauna e flora; importância da vegetação para a dinâmica do rio
e dos microclimas, onde foi percebido por eles as ilhas de calor e de frescor; breve relato da
geologia do Parque; discussão acerca do conceito de meio ambiente, em perspectiva ampla e
integrada com as relações antrópicas; associação de que o rio usado para o lazer é o mesmo rio que
apresenta estado de degradação quando passa na zona mais urbanizada.
Aparentemente, são muitos os conteúdos que foram abordados, mas a apreensão por parte
dos educandos foi facilitado justamente por estarem na prática em campo, observando, tocando,
experimentando.
Ainda dentro do planejamento em campo, os educandos participaram de uma atividade
didático-pedagógica para melhor apreensão da proposta do campo voltado à EA: uma Corrida de
Orientação (DORNELES, 2010; FIGUEIREDO, 2003).
Para além da avaliação fornecida através da observação da participação durante o campo,
após, foi realizada uma atividade que consistiu no relato e desenho de uma futura perspectiva para o
ambiente local. No geral, os desenhos mostram uma realidade transformada, com o rio limpo e
pessoas convivendo harmoniosamente ali. A diretora da escola afirmou que alguns alunos pediram
para os pais e amigos mudarem a relação com o rio. Isto representa um pequeno ensaio para a
transformação da realidade vigente que o trabalho de campo proporcionou.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidenciou a importância metodológica do trabalho de campo, e como tal


atividade tem caráter elucidativo, dinâmico e lúdico para a EA quando fomentado em uma UC.
Após o trabalho de campo realizado com os alunos da EM Ondina Couto, ficou claro a relação
prático-teórica-reflexiva que a atividade pode consolidar e materializar para novas dinâmicas
socioambientais, nas bases de um ensino crítico que promova mudanças paradigmáticas, que
promova o reconhecimento das relações instituídas no espaço para a problematização, movimento
propício para (re)pensar as ações espaciais, na busca de novas relações no lugar.
A UC proporcionou esse contato direto com o diferente, o novo, que resultou em um
processo formativo em EA efetivo, por meio da curiosidade, da experimentação, da observação, de
um bojo de sentidos e sentimentos proporcionados pelo som do rio, dos pássaros, do balançar das
árvores, do cheiro da floresta e do toque no solo e nas folhas.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 389


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assim, emergem novas perspectivas, como a práxis promovida pela relação da prática e da
teoria fomentada no trabalho de campo e o olhar mais íntimo com o lugar e seus atributos
socioambientais (a comunidade, o rio, o Parque). Antes da atividade promovida na escola, havia
tempo que os educandos não visitavam o PNMNI, algo extremamente ruim, visto a importância
anunciada acima sobre a relação entre processos formativos em EA, trabalho de campo, ensino de
geografia e UCs, pois podem promover a valorização, manutenção, preservação e estudo dos
aspectos histórico-culturais do local.
Ressalte-se a necessidade de refletir acerca de diretrizes e procedimentos metodológicos
para projetos de EA em UCs, sobretudo, as localizadas em grandes centros urbanos.

REFERÊNCIAS
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Cortez, 2008.

DORNELLES, José Otávio Franco. Prospecto de apresentação do Esporte Orientação.


Confederação Brasileira de Orientação. Santa Maria. Julho de 2010.

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Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

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Comprometido com a Construção da Sustentabilidade Socioambiental. In: Santos, A.M.M;
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experiências de uma práxis socioambiental. 1ed. Seropédica-RJ: Editora da UFRRJ, 2013.

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lazer no Parque natural Municipal de Nova Iguaçu, RJ. In OLIVEIRA, A.L; ARRUZZO, R.C
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PLANO DE MANEJO PNMNI - SEMUAM - Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio


Ambiente da Cidade de Nova Iguaçu, RJ, 2000.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 390


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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gestão. Anais Uso público em unidades de conservação, n. 1 v. 1, 2013. Niterói-RJ.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 391


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO ESTRATÉGIA NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS


AMBIENTAIS URBANOS DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE

Maria Maiany Paiva LIMA


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária do IFCE
maianypaival@gmail.com
Lucas da SILVA
Professor Doutor do IFCE
lucasilva@ifce.edu.br

RESUMO
O município de Quixadá apresenta grandes conflitos ambientais de uso e ocupação do solo,
principalmente envolvendo a Unidade de Conservação de Proteção Integral Monumento Natural
dos Monólitos de Quixadá e o complexo do Açude Cedro, pois ambas as áreas de proteção vem
sofrendo impactos devido essa expansão urbana. A mitigação e compreensão desses conflitos
dependem notoriamente da adoção de um novo paradigma e de novos conhecimentos teóricos e
práticos e para alcançar um novo olhar sobre os recursos naturais, a educação ambiental apresenta-
se como a ferramenta mais eficaz. Á vista disso o presente trabalho teve como objetivo discutir a
importância da educação ambiental com estratégia na solução dos conflitos ambientais urbanos do
município de Quixadá. A partir do reconhecimento e discussão dos conflitos existentes, foi possível
identificar os programas e ações de educação ambiental mais apropriados para a solução desses
conflitos, considerando que existem instrumentos capazes de promover o diálogo entre os diferentes
atores sociais e instituições comprometidas em realizar campanhas de educação ambiental nas áreas
de conflito.
Palavras Chave: Áreas Protegidas, Gestão Integrada, Meio Ambiente.

ABSTRACT
The municipality of Quixadá presents environmental conflicts of use and occupation of the land,
with emphasis on the Integral Protection Conservation Unit of Natural Monument of the monoliths
of Quixadá and the complex of cedar, because both areas of protection has been suffering impacts
due to urban sprawl. Mitigation and understanding of conflicts depend on the notoriety of adopting
a new paradigm and new theoretical and practical knowledge and to achieve a new look at natural
resources, an environmental education presents itself as the most effective tool. The objective of
this study is to discuss the issue of environmental education in the solution of urban environmental
conflicts in the municipality of Quixadá. Based on the recognition and discussion of existing
conflicts, it was possible to identify the programs and actions of environmental education, more
suitable for a solution, conflicts, considering that there are instruments capable of promoting
dialogue between different social actors and institutions committed to carrying out Environmental
education in conflict areas.
Keywords: Protected Areas, Integrated Management, Environment

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 392


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A ocupação do semiárido brasileiro foi predominantemente marcada pela atividade


agropecuária e o extrativismo vegetal. Historicamente, a exploração de seus recursos naturais é
praticada de forma não-sustentável e a medida que a população aumenta esse quadro de degradação
se agrava (Sousa, 2010).
Dessa forma tornou-se necessária a delimitação de áreas a serem protegidas das ações
antrópicas, para que estas possam atuar no equilíbrio do meio ambiente, preservando a qualidade da
água, flora e fauna associadas. Essas áreas foram criadas para proteger o ambiente natural, não
permitindo nelas alteração do uso da terra (Pinto & Rossete, 2012).
Esses interesses distintos geram conflitos socioambientais que podem ser de uso dos
recursos, ocupação do espaço territorial, embates políticos e ampliação da malha urbana.
Destacando-se a ocupação do espaço territorial como um dos conflitos mais polêmicos, pois,
envolve a conservação dos recursos naturais e do uso do solo e seus aspectos econômicos e sociais
(Arce et al. 2014).
Acerca dos conflitos ambientais, o município de Quixadá no Sertão Central Ceará apresenta
peculiaridades que intensificam a sobreposição de interesses sobre seu território, com destaque para
a Unidade de Conservação de Proteção Integral Monumento Natural dos Monólitos de Quixadá e o
complexo do Açude Cedro, pois ambas as áreas de proteção vem sofrendo impactos devido à
expansão urbana.
A mitigação e compreensão desses conflitos dependem notoriamente da adoção de um novo
paradigma e de novos conhecimentos teóricos e práticos (Santos 2016). Para alcançar um novo
olhar sobre os recursos naturais, a educação ambiental apresenta-se como a ferramenta mais eficaz.
Atualmente a educação ambiental é considerada um importante instrumento para promover a
sustentabilidade sobre os problemas gerados pelo uso inadequado dos recursos naturais
disponibilizados pelo meio ambiente, possibilitando o desenvolvimento de um senso crítico em
relação às questões ambientais (Kuhnen, 2015). A criação de uma mentalidade voltada para as
problemáticas ambientais através da educação ambiental poderá acarretar numa mudança de
comportamento frente a essas questões, favorecendo discussões e possíveis soluções de problemas
que afetam o meio ambiente (Moritz, 2014; Santos, 2012).
A partir da percepção de que a cidade de Quixadá vem sofrendo forte expansão urbana,
ameaçando e impactando diretamente nas áreas protegidas do município. O presente trabalho tem
como objetivo discutir a importância da educação ambiental com estratégia na solução dos conflitos
ambientais urbanos do município de Quixadá.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 393


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONFLITOS AMBIENTAIS NO COMPLEXO DO AÇUDE CEDRO NO MUNCÍPIO DE


QUIXADÁ

O açude Cedro compreende cinco barragens fechando o vale do rio Sitiá, situado a seis
quilômetros da montante da cidade de Quixadá e é administrado atualmente pelo Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS. O reservatório se insere num inconfundível quadro
paisagístico, devido à beleza de seu relevo associada à intervenção humana, pois a obra de sua
construção possui relevante importância histórica, técnica e artística (IPHAN, 1983).
O primeiro projeto de construção da barragem do Cedro teve início ainda no período
Imperial brasileiro (1882), mas a obra só iniciou no ano 1890, e sua conclusão se deu após várias
interrupções, no ano de 1906. Sua construção contou em grande parte com o emprego de
trabalhadores vitimados das secas. A partir de sua barragem é possível ver um dos mais conhecidos
monólitos existentes no município de Quixadá, a Pedra da Galinha Choca.
No ano de 1984 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN tombou o
açude Cedro sob a justificativa de sua excepcional beleza paisagística e principalmente por seu
arcabouço histórico.
Na época da construção do açude, sua principal função social era garantir a população água
suficiente para o abastecimento e o serviço da lavoura, caracterizando-se como a primeira rede de
canais de irrigação no Brasil. O açude perdeu sua importância para o abastecimento, devido à
construção de outros reservatórios que atualmente abastecem a cidade de Quixadá.
Enquanto isso, a importância histórica e o patrimônio paisagístico foram cada vez mais
valorizados. Cordeiro & Bastos (2014) caracterizam a área como um importante polo geoturistico
com paisagens tipicamente sertanejas.
No ano 2002 foi criada a Unidade de Conservação Monumento Natural dos Monólitos de
Quixadá, da qual faz parte o açude Cedro. Alegando o grande valor ecológico e turístico da área.
A partir da criação da Unidade de Conservação, o uso dos recursos do complexo do açude
Cedro tornou-se mais restritivo, com incentivo a atividades que provoquem baixo impacto
ambiental e preservem a paisagem, com destaque para o turismo ecológico.
E nesse sentindo, vale destacar a organização da sociedade civil em prol da proteção do
patrimônio histórico e ambiental do açude Cedro, representada principalmente pela ONG Instituto
de Convivência com o Semiárido – IC.
Contudo, no ano de 2008 o DNOCS doa terreno dentro do complexo do açude Cedro para a
implantação dos campi da Universidade Federal do Ceará - UFC e do Instituto Federal do Ceará –
IFCE. Sob o pretexto da razão social dos empreendimentos, por se tratarem de instituições de
ensino capazes de promover pesquisas e atividades extensionistas em prol da preservação da área
apesar do significativo impacto da sua construção e operação.
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 394
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

À medida que a cidade foi se expandindo e principalmente após a instalação dos campi
universitários, a área do açude Cedro tornou-se alvo de especulação imobiliária, e atualmente possui
diversos loteamentos em seus arredores. Nesse sentido a situação tende a ser agravada à medida que
os lotes vão sendo ocupados e novos loteamentos inaugurados.
Outra situação de impacto ambiental identificada na área foi à exploração de seus recursos
hídricos subterrâneos. Diante da situação de seca que a região vem enfrentando nos últimos cinco
anos, houve um aumento significativo na exploração da água subterrânea como alternativa para o
abastecimento, mas isso tem provocado á diminuição do nível do lençol freático e causado
alterações na paisagem.
Atualmente os principais conflitos ambientais sobre o uso e ocupação do complexo do
Cedro referem-se à preservação da área por parte das organizações públicas e privadas de interesse
ambiental, tais como o IC, a SEMA, o DNOCS, o IPHAM e as próprias instituições de ensino
superior (IFCE e UFC), frente ao avanço da especulação imobiliária e extração de seus recursos
naturais, em especial a água subterrânea, conforme ilustra a figura 1.

Figura 1: Conflitos ambientais no açude Cedro. Fonte: Google Earth, 2017.

CONFLITOS AMBIENTAIS NA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL


MONUMENTO NATURAL DOS MONÓLITOS DE QUIXADÁ

A Unidade de Conservação de Proteção Integral Monumento Natural dos Monólitos de


Quixadá, foi criada através do Decreto Estadual nº 26.805 de 25 de outubro de 2002. Essa UC
abrange uma área delimitada pelas seguintes coordenadas geográficas: Latitude Sul entre 04° 54‘ e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 395


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

05° 02‘ e Longitude Oeste entre 38° 53‘ e 39° 06‘. Com uma área total de 16.635ha. Localiza-se no
Município de Quixadá a aproximadamente, 158 Km de Fortaleza, como mostra a Figura 2.

Figura 2: Localização do da Unidade de Conservação Monumento Natural dos Monólitos de Quixadá.


Fonte: Sousa, 2010.
Segundo a legislação vigente, a criação da Unidade de Conservação de Proteção Integral
tem por objetivo a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas pela interferência
humana, admitindo apenas o uso indireto de seus atributos naturais.
Apesar da Unidade de Conservação (UC) ser destinada a um uso específico, existe conflitos
de interesse sobre a área e principalmente os que dizem respeito ao uso e ocupação do solo.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 396


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A apropriação da natureza através do uso e ocupação do solo é uma derivação das atividades
econômicas e vão refletir em última análise, o grau de desenvolvimento do sistema técnico-
científico e as relações estabelecidas entre sociedade e natureza. Também se pode notabilizar,
através das formas de uso e ocupação do solo, o grau de conservação, preservação e degradação dos
recursos naturais, diante da ocupação histórica e dos processos produtivos (Sousa, 2010).
Para o entendimento das atuais formas de uso e ocupação do Município de Quixadá se
pressupõe uma análise histórica do processo de ocupação e de formação territorial prevalente nos
Sertões do Nordeste Brasileiro, tendo em conta que desde os primórdios da colonização brasileira, o
semiárido vem sendo explorado de modo inadequado, sobretudo pelas práticas agrícolas
rudimentares e pela retirada da vegetação nativa (Sousa, 2010).
Acerca dos conflitos ambientais urbanos relacionados à Unidade de Conservação, observa-
se que estes estão relacionados diretamente com o aumento da demanda por novas áreas
residenciais. Sob o ponto de vista social, essa crescente demanda precariza as condições de
moradia, gerando diversos conflitos sociais urbanos. Já no quesito ambiental, observa-se que devido
ao crescimento da malha urbana de Quixadá, seus limites urbanos hoje já conflitam com o limite da
Unidade de Conservação, se apresentando assim como uma das principais pressões externas à
Unidade.
Esse conflito surgiu principalmente pela gestão inadequada e individualizada do território,
pois o atual Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) do município incorpora com área
urbana parte da área da Unidade de Conservação definida pela SEMACE.
A expansão urbana da cidade de Quixadá apresenta-se principalmente em direção ao açude
Cedro, como já mencionado neste trabalho, e também nas áreas próximas a CE-060. Observa-se que
se mantidos os padrões de expansão urbana do município logo outras áreas urbanas entraram em
conflito com as áreas protegidas pela Unidade de Conservação

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONFLITOS AMBIENTAIS URBANOS

O entendimento da relação sociedade ambiente por meio de ações e programas de educação


ambiental, depende do desenvolvimento da percepção ambiental do indivíduo mediante um novo
olhar sobre o ambiente (Carvalho et al, 2012).
Quando se tem por finalidade a gestão de unidades territoriais demarcadas, sem, contudo,
deixar de associar tais problemas às questões macrossociais em que se inserem e à visão integradora
do ambiente, os pressupostos da educação ambiental tornam-se os mais adequados, pois trabalham
os problemas específicos de cada grupo social (Loureiro, 2004).
É por meio da ação territorializada dos diferentes atores sociais, com suas distintas
propensões, entendimentos e necessidades que se realizam os processos educativos voltados para a

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 397


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

gestão democrática do ambiente, por meio da probematizaçao dos conflitos, acordos e diálogos e
pela apropriação e uso do patrimônio natural. (Loureiro, 2002).
Santos (2016) evidencia claramente que a mitigação desses conflitos só pode ser obtida se
forem ou estiverem atreladas a programas de educação ambiental, devendo este estar vinculado à
identificação dos conflitos ambientais, representados por todas as atividades exercidas pelos
diversos atores sociais.
O principal ambiente de problematização e identificação dos conflitos dos quais trata o
presente trabalho são as reuniões do Conselho Gestor da Unidade de Conservação Monumento
Natural dos Monólitos de Quixadá, da qual faz parte o complexo do Açude Cedro e as reuniões da
Comissão Gestora do Sistema Hídrico Cedro, integrante do Comitê da Sub-Bacia do Rio Banabuiú.
Ambos os espaços contam com a participação de representações dos diversos atores sociais,
como: Secretaria do Meio Ambiente - SEMA, Superintendência Estadual do Meio Ambiente -
SEMACE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA,
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará - COGERH, Departamento Nacional de
Obras Contra a Seca – DNOCS, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN,
Instituto Federal do Ceará - IFCE, Universidade Federal do Ceará -UFC, Instituto de Convivência
com o Semiárido - IC, prefeitura municipal de Quixadá e associações das comunidades que
integram as áreas protegidas do município.
Esses espaços são ideais para promover a conscientização da sociedade civil e setor público
sobre o uso dos recursos das áreas protegidas, pois através de negociações e da busca por um
consenso, os conflitos ambientais podem ser resolvidos. Portanto é preciso que haja a gestão
integrada e participativa dessas áreas. E para isso todos os envolvidos nos conflitos ambientais
identificados devem fazer parte do diálogo.
E preciso que toda a sociedade compreenda a importância da preservação do patrimônio histórico e
ambiental do açude Cedro e da Unidade de Conservação. Para atingir de forma mais ampla a
população, as campanhas de educação ambiental são os instrumentos mais eficazes. E nesse sentido
vale destacar as ações da SEMA, do IFCE e da Prefeitura Municipal, principalmente por meio de
eventos periódicos como a Festa Anual das Arvores e a Semana do Meio Ambiente.
No caso do complexo do Açude Cedro, onde estão as universidades, em especial o IFCE, que conta
com o curso de Engenharia Ambiental e Sanitária e Técnico e meio ambiente. Observa-se forte
incentivo a pesquisa e as atividades extensinistas que visem à preservação e recuperação ambiental.
Por meio dessas ações também é possível promover a conscientização dos diferentes atores
envolvidos nos conflitos ambientais e compensar os impactos de sua instalação em uma área
protegida.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 398


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cidade de Quixadá encontra em seu território conflitos ambientais urbanos revistos de


complexidade e atribuídos principalmente a gestão individualizada, a falta de diálogo entre as partes
interessadas e de consciência ambiental.
Contudo, para que haja a devida problematização e resolução dos conflitos, o município conta com
um arcabouço de organizações que propiciam o diálogo e o debate acerca desses conflitos. Além de
contar com instituições comprometidas com a preservação de suas áreas protegidas, que
periodicamente realizam ações de educação ambiental.

REFERÊNCIAS

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do Parque Tizo em São Paulo. HOLOS. São Paulo, ano. 30, v.1, 2014.

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diferentes atores sociais deVieiropolis, PR. Qualit@s Revista Eletrônica, 13(1), 2012.

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IPHAN. SPHAN: pró – memória (Boletim informativo nº 25). Ministério da Educação e Cultura,
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KUHNEN, C. F. C; MARCOLAN, D. C; ROCHA, M. C. Proposta de Educação Ambiental na


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 399


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ambiental com alunos do ensino fundamental na ―Trilha do Jatobá‖ em Ilha Solteira, SP. Revista
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na bacia hidrográfica do Rio Grande, oeste da Bahia. HOLOS, v. 08

n. 32, 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 400


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA NECESSIDADE COTIDIANA

Moacir Apolinário da COSTA


Graduando em Licenciatura em Geografia – UNEMAT
moahbtw@gmail.com
Victor Pereira de SOUSA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
victordesousa@outlook.com.br
Marcelo Penna da SILVA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
celo_penna2@hotmail.com
Luzinete Scaunichi BARBOSA
Mestrado em Geografia – UNIR
scaunichibarbosa@hotmail.com

RESUMO
Este artigo tem como objetivo contribuir para discussões acerca da relação homem-natureza na
contemporaneidade, para isso, traz a educação ambiental como argumento principal. A educação
ambiental, ignorada por muitas vezes em função do desenvolvimento capitalista, é de extrema
relevância para a compreensão da harmonia possível entra o homem e o pouco do ambiente natural
que ainda nos resta. A respeito de tal harmonia, as unidades de preservação são fragmentos
remanescentes de espaços naturais já consumidos e explorados por atividades antropogênicas,
portanto, são exemplares de uma biodiversidade que precisa ser preservada. Nesse sentido, será
relatada algumas considerações sobre o Parque Florestal de Sinop, como um fragmento florestal
amazônico natural no norte de Mato Grosso.
Palavras-chave: Geografia, Educação Ambiental, Parque Florestal de Sinop.

ABSTRACT
This article aims to contribute to discussions about the relationship between man and nature in
contemporary times, for which environmental education is the main argument. Environmental
education, often ignored by capitalist development, is of extreme relevance in understanding the
possible harmony between man and what little of the natural environment we have left. In regard to
such harmony, the preservation units are remnants fragments of natural spaces already consumed
and exploited by anthropogenic activities, therefore, they are exemplary of a biodiversity that needs
to be preserved. In this sense, some considerations will be reported on the Sinop Forest Park, as a
natural Amazonian forest fragment in the north of Mato Grosso.
Keywords: Geography, Environmental Education, Sinop Forest Park.

INTRODUÇÃO

No decorrer da história, é possível perceber a dependência que o homem possui com o


ambiente natural. Desde os primeiros grupos organizados em comunidades praticantes do
nomadismo, do sistema feudal e o uso da terra, até os dias atuais, do homem "desenvolvido", a

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 401


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

natureza, fauna e flora, biodiversidade, elementos geográficos, foram e ainda são essenciais para o
desenvolvimento e a sobrevivência da espécie humana.
A contemporaneidade na abordagem da educação ambiental é marcada pela degradação do
ambiente natural, a relação homem-natureza desde o pretérito vem sendo conturbada pela
exploração exagerada e inadequada da nossa espécie, principalmente, por tratar o meio natural
como possível fonte relacionada a algum desenvolvimento de economia, levando esse motivo como
fator principal, e não o bem-estar do nosso planeta. Portanto, a exploração do espaço geográfico
com fins de produção de culturas capitalistas acaba sendo motor para a devastação das florestas no
Brasil e no mundo. ―O progresso equivale por vezes ao controle da natureza e do mundo natural que
se julga consistir de ‗fatores de produção‘ ou meios pelos quais o homem pode se beneficiar
materialmente‖ (DREW, 1998).
O cenário ambiental nos dias atuais é preocupante, apesar de tratados internacionais e
atividades de instituições voltadas para a proteção dos ambientes naturais e sua respectiva
biodiversidade, como mostra a figura abaixo (figura 1), a cada dia, torna-se mais comum notícias
relacionadas a extinção de espécies vegetais e animais, e principalmente, o desmatamento.
Na sociedade moderna, a expansão do agronegócio com as lavouras de grãos, com fins de
produção de alimentos, a construção de represas de usinas hidrelétricas, com fins de solucionar
problemas energéticos, são vistos como progresso para uma região, e que de fato são, se
relacionadas à economia, em contrapartida, por traz dessa visão, está a destruição sem preocupação
com os aspectos naturais dessas regiões afetadas diretamente por suas consequências.
Como uma concepção social e ao mesmo tempo natural, o meio ambiente na observação
ambiental tem na sustentabilidade uma alternativa de harmonizar a construção da sociedade com a
preservação dos ambientes naturais. Nesse sentido, salienta-se duas racionalidades, ―a primeira é a
construção do princípio de preservação social [...]. A segunda questiona a transformação social que
supera a insustentabilidade do modelo de desenvolvimento atual‖ (ACSERALD, 2001. p. 27).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 402


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Linha do tempo do desenvolvimento sustentável


Fonte: Leandro Dias de Oliveira, 2015.

A utilização de recursos naturais é fundamental para o desenvolvimento das sociedades que


dependem da exploração do espaço. Nesse sentido o meio ambiente é palco para ações de Educação
Ambiental.

Todavia, é importante congregar, sob a terminologia de meio ambiente, a natureza e a


sociedade onde os elementos naturais e sociais sejam entendidos de forma interativa.
Sinteticamente, quando falamos em defesa do meio ambiente significa, para o movimento
ecológico-ambientalista, a preocupação com a relação sociedade-natureza nos moldes
atuais. Esta dicotomia presente na discussão sobre o meio ambiente refere-se aos diferentes
enfoques de percepção da questão do homem em relação à natureza, que podem ser
resumidas como a visão ecocêntrica, que pretende enxergar o mundo natural em sua
totalidade, e visão antropocêntrica, que opera na relação dicotômica entre homem e
natureza, e entende as riquezas naturais enquanto recurso para a exploração do homem
(OLIVEIRA, 2015, p. 149).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 403


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A transformação social sugerida por Ascerald (2001) é um dos objetivos da Educação


Ambiental. Nesse sentido, a preservação dos ambientes naturais pode ser representada através das
reservas ambientais, unidades de preservação, parques florestais, entre outros.
Esta produção abordará a conceitos e objetivos inerentes da educação ambiental
correlacionando com considerações sobre o Parque Florestal de Sinop, que exemplifica as
discussões aqui proposta.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM RETRATO DO PARQUE FLORESTAL DE SINOP

A região norte do estado de Mato Grosso possui algumas áreas que fazem parte da
Amazônia Legal, termo adotado pelo governo brasileiro para regionalizar a Amazônia, que se
estende num espaço interestadual, e dessa forma, ―institui, em 1966, a Amazônia Legal,
compreendida pelos Estados do Acre, Pará e Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia, e ainda por
áreas de Mato Grosso, Goiás e Maranhão‖ (TORRES, 2005, p. 35).
Portanto, a vegetação dessa área é predominantemente composta originalmente pela floresta
subtropical. Nesse sentido, as floretas do norte mato-grossense fazem parte da região da Amazônia,
essa região brasileira que ainda possui uma grande área rica em biodiversidade atribuída a sua
posição geográfica no globo. Ao destacar a Amazônia como floresta úmida tropical, o Drew (1998)
explica que:

Elas recebem a maior incidência de energia solar de qualquer zona-climática e o maior


índice pluviométrico durante todo o ano. São o mais produtivo ecossistema terrestre do
planeta (produtividade duas ou três vezes maior que da floresta temperada), com um
sistema imensamente complicado de equilíbrios entre o vasto número de plantas e espécies
de animais (DREW, 1998).

Assim, o Parque Florestal de Sinop é um fragmento da floresta amazônica preservado dentro


da área urbana da cidade da cidade de Sinop (MT) e tem como objetivo ―preservar os ecossistemas
naturais existentes, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de
atividades de educação ambiental e de turismo ecológico‖ (BARRETO, 2016, p. 3). Foi inaugurado
em 1990, tendo como órgão gestor a prefeitura do município, após 24 anos, em 2014 foi
transformado em ―Unidade de Preservação na categoria ‗Parque Natural Municipal‘. ‖ (BARRETO,
2016, p. 3).
Políticas públicas são essenciais para a manutenção e para o aproveitamento de espaços de
preservação ambiental, sendo assim, as instituições responsáveis por áreas com tal finalidade devem
estar abertas às propostas de participação da população, escolas e interessados. O Parque Florestal
de Sinop, possui atividades voltadas para educação ambiental apoiadas pela secretaria do meio
ambiente do município de Sinop. Este órgão municipal conta com um ―calendário ecológico‖ que

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 404


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

destaca datas importantes relacionadas ao meio ambiente natural, a fim de auxiliar, principalmente
às escolas a desenvolverem atividades com os alunos dentro da área do parque.
Em relatório divulgando às atividades realizadas no Parque Florestal de Sinop durante o ano
de 2012, é destacado a Educação Ambiental como ferramenta para a educação infantil e consciência
cidadã. Durante o ano citado, atividades como palestras, fóruns, seminários, mutirão de limpeza
foram realizados a fim de proporcionar a interação da sociedade com o ambiente natural do parque.
De acordo com o relatório de 2012 a ―Educação Ambiental prepara o indivíduo para a vida
enquanto membro da biosfera, fazendo-o compreender, saber lidar com sistemas ambientais de
maneira global gerenciando melhor as relações sociais e ambientais‖ (PREFEITURA DE SINOP,
2012). O documento ainda argumenta a respeito da importância de uma formação educacional com
atividades ligadas ao Meio Ambiente.

A incorporação do Meio Ambiente a Educação formal possibilita o contato direto dos


educadores e educandos com a realidade complexa de processos de preservação da
natureza, social e ecológica, trazendo uma compreensão do mundo através de diferentes
processos desde a formação nível básico até formação do superior (PREFEITURA DE
SINOP, 2012)

A teoria da Educação Ambiental aliada à prática em campo traz o Parque Florestal de Sinop
como um espaço propício ao estudo da biodiversidade regional, principalmente, da fauna e flora.
São inúmeras as espécies encontradas nesta unidade de preservação, entre elas o Macaco Prego,
espécie encontrada em três biomas brasileiros, Amazônia brasileira, caatinga e cerrado.

Figura 2. Macaco Prego no Parque Florestal de Sinop.


Foto: COSTA, 2016.

De acordo com Barreto (2016), em cartilha específica para a descrição das espécies
encontradas no Parque, o macaco prego se alimenta de frutas e invertebrados, formam grandes
grupos sociais contendo cerca de 20 macacos cada grupo. A organização dessa espécie em grupos,
facilitam a observação da mesma, pois, geralmente, vários animais se aproximam dos observadores.
Outras duas espécies de macacos também fazem parte da fauna do Parque, Macaco Aranha e
o Macaco Sauá.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A divisão do parque pode ser feita em três partes. Para fins de compreensão de Biogeografia,
separa-se nesta produção o espaço do Parque em três partes, na sequência numérica de 1,2, e 3. Na
parte 1, está a entrada do parque, nessa área está a primeira parte da vegetação, no entanto, a flora
será destacada com maior ênfase na parte 3.
Na primeira visão, encontra-se a maioria da fauna visível, como a arara verde, arara
vermelha, arara de Canindé, capivaras, tatu, tracajá, jabuti, garças, o macaco prego citado
anteriormente, entre outros. Portanto, é no Parte 1 onde se encontra como mais visibilidade aspectos
faunísticos. Nesta parte, encontramos também a Arara Vermelha, que de acordo com Barreto (2016)
é a mascote do Parque, escolhido por votação em escolas públicas e privadas da cidade de Sinop.

Figura 3. Imagem de satélite com a divisão do parque. Adaptado de Google Earth (2017).

A segunda parte, a Parte 2 do Parque, compreende a área do lago. Esta parte possui um
tamanho suficientemente grande para garantir a sobrevivência de espécies como, tucunaré, pacu,
sardinha de água doce, cará, jacaré, outros.
O lago presente no centro parque, necessita de uma preocupação exclusiva quanto a limpeza
do lixo jogado pelos visitantes, pois as espécies que ali vivem podem acabar se ser vitimadas com
algum dano causado por embalagens plásticas ou produtos químicos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 4. Lado no centro do Parque (Parte 2). Foto: Figura 5. Parte 3 – Área de Coleta de Sementes.
COSTA, 2016. Foto: COSTA, 2016.

A terceira e última parte é mais voltada para espécies florísticas. Nesta parte encontra-se
uma área destinada à coleta de sementes de árvores, lá estão distribuídas espécies como o Guarantã,
Seringueira, Açaí, Champanhe, Itaúba, Jatobá, entre outras. Esta parte é usada para coleta de
semente de árvores, e na nossa divisão possui mais aspectos fitogeográficos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação homem-natureza sempre foi de dependência por parte do homem, é evidente que
nós precisamos do meio natural e seus recursos para o nosso desenvolvimento e para nossa
sobrevivência, entretanto, a natureza sobrevive e se regenera sem a presença de nossa espécie.
Afinal, somos nós quem precisamos dela, e não ela de nós, assim como nos afirma Boff (2013) ela
pode continuar coberta de cadáveres, sem nós e até mesmo melhor que nós.
A Educação Ambiental tem o papel de trazer essa compreensão para os cidadãos desde os
primeiros anos da aprendizagem escolar e social, uma educação formal e informal, dentro e fora dos
muros escolares. Nas áreas urbanas a presença de unidades de preservação como os parques
florestais são de significativa importância para o desenvolvimento de atividades voltadas para este
âmbito.
A prática da vivencia sustentável com o ambiente natural e social, tende a ser ferramenta
para a formação de mentes com percepção clara da existência harmônica e sustentável da sociedade
com o a natureza. Políticas públicas e projetos de incentivo às instituições de ensino na pesquisa e
exploração desses ambientes de preservação, contribuem para o desenvolvimento científico e,
principalmente, para a formação cidadã.

REFERÊNCIAS

ACSERALD, H. Sentidos da Sustentabilidade Urbana. In: A Duração das Cidades:


sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 407


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

BARRETO, M. R. Conhecendo o Parque Florestal. Sinop, 2016.

BOFF, L. Agroecologia: Cuidando da Saúde do Planeta. Conferencia de Abertura do VIII CBA –


Agroecologia. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UW-doPpcDkk (acesso
em 18/08/2015 as 10h01min)

DIAS, L. A Cidade e o Modelo de Desenvolvimento Sustentável. Geografia Urbana. Consórcio


CEDERJ. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2015.

DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1998.

OLIVEIRA, L. Geografia Urbana: a cidade e a problemática ambiental contemporânea.


Consórcio CEDERJ. Rio de Janeiro: CECIERJ, 2015.

PREFEITURA DE SINOP. Relatório de Atividades de Educação Ambiental. Secretária De Meio


Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, 2012.

TORRES, M. (Org.). Amazônia revelada: os descaminhos ao longo da BR-163. Brasília, CNPq,


2005.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 408


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

UMA ANÁLISE AMBIENTAL DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DO PARQUE


ESTADUAL HORTO DOIS IRMÃOS, LOCALIZADO NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE- PE

Áurea Nascimento de Siqueira MESQUITA


Graduanda Economia Doméstica, UFRPE
aurea.nsiqueira@hotmail.com
Williams Nascimento de SIQUEIRA
Doutorando em Tecnologia Energética e nucleares
Williams.wns@gmail.com
Antônio Helton Vasconcelos dos SANTOS
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente
heltomvasconcelospenet@hotmail.com

RESUMO
A relação homem-natureza tem-se tornado cada vez mais discutidas em âmbito global, pois a
interferência antrôpica de impactos negativos tem destruídos diversos habitats naturais e trazendo
sérios problemas de equilíbrio natural. O objetivo desse trabalho é analisar o ambiente da Unidade
de Conversação do Parque estadual dois Irmãos, tornando possível o contato humano com o meio
ambiente, buscando ferramentas adequadas para a conscientização ambiental e a sensibilidade
social, verificando a importância trazida através da conservação, além de apontar o
desenvolvimento social, cultural e econômico da área de estudo.
Palavras-chave: Análise Ambiental, Conservação, Meio Ambiente.

RESUMEN
La relación hombre-naturaleza se ha vuelto cada vez más discutida a nivel global, pues la
interferencia antrópica de impactos negativos ha destruido diversos hábitats naturales y trae serios
problemas de equilibrio natural. El objetivo de este trabajo es analizar el ambiente de la Unidad de
Conversación del Parque estadual dos Hermanos, haciendo posible el contacto humano con el
medio ambiente, buscando herramientas adecuadas para la concientización ambiental y la
sensibilidad social, verificando la importancia traída a través de la conservación, además de Señalar
el desarrollo social, cultural y económico del área de estudio.
Palabras clave: Análisis Ambiental, Conservación, Medio Ambiente.

INTRODUÇÃO

Para Santos (2006), a interação do homem com a natureza, trouxe mudanças do meio natural
para um meio cada dia mais artificializado, ou seja, trazendo mudanças e transformações por essa
mesma sociedade. Essas mudanças levaram a grandes impactos ao meio ambiente desde períodos
remotos até os dias atuais.
As áreas naturais tem sido tema de diversos debates que fundamentam a conservação de
ecossistemas, aliado a um desenvolvimento econômico e social. Iniciados, sobretudo, por volta da
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

década de 1970 quando o meio técnico-científico e informacional acelerou a captura de recursos


naturais em prol de um desenvolvimento desenfreado, questões foram apontadas a cerca da
manutenção da biodiversidade, inicialmente, na Conferência de Estocolmo em 1972 e no Rio 92,
quando assinado o Protocolo de Kyoto.
O Brasil possui a maior diversidade do mundo, apresentando 17 locais da terra que abriga
alto índice de biodiversidade, os países megadiversos segundo dado da Conservação Internacional
(2013). Mesmo com tanta riqueza, torna-se importante a manutenção da vida dos seres vivos.
Segundo o Anuário Mata Atlântica (2014), as principais ameaças a conservação da
biodiversidade são a degradação e a perda de habitat. A Mata Atlântica vem sofrendo impactos
com essas devastações contribuindo para diminuição da diversidade de espécies de fauna e flora, o
desmatamento compromete serviços ecológicos como a produção de água. Contudo, a amenização
do desmatamento é uma das principais medidas para salvaguardar o meio ambiente e os serviços
ecossistêmicos oferecidos pela Mata Atlântica.
A Mata do Dois Irmãos é uma reserva ecológica remanescentes da Mata Atlântica criado
inicialmente como Reserva Ecológica da Região Metropolitana do Recife (PLANO DE MANEJO
PARQUE ESTADUAL DE DOIS IRMÃOS, 2014). O Parque Estadual Dois Irmãos é uma unidade
de conservação, ou seja, são áreas de proteção ficam localizados em zonas urbanas, podendo ser
atribuídas naturais ou paisagísticos, geológicos, educacional, recreativo ou turístico, cuja finalidade
é resguardar a natureza em contato o ser humano.
Diante das ameaças na Unidade de Conservação do Parque Estadual Horto Dois Irmãos, a
percepção ambiental será uma ferramenta fundamental para perceber e avaliar os ambientes de
forma variada, através dos olhares das pessoas que não vêem a mesma realidade TUAN (2012).
Neste contexto a percepção ambiental está inserida a culturas que interfere diretamente em na forma
de pensar , agir e sentir, contribuindo diretamente para concepções diferentes de pessoa para
pessoa.
Devido a constantes transformações em áreas urbanas, ocasionando impactos ambientais,
intensificando por vários setores (desmatamento, degradação do solo, chuva ácida e outros) que
afeta tanto a qualidade de vida da sociedade como dos demais seres vivos. Será avaliado através da
percepção ambiental como instrumento de pesquisa no Parque estadual Dois Irmãos, localizado na
região Metropolitana do Recife-PE.
O objetivo é compreender e analisar os impactos ambientais da zona de amortecimento da
Área de Proteção Ambiental – APA do Parque estadual Horto Dois Irmãos, utilizando como
principal instrumento a percepção ambiental, para elaboração de projetos voltados a conversação
do meio ambiente.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O PARQUE ESTADUAL DOIS IRMÃOS

O Parque Estadual Dois Irmãos, também conhecido popularmente como Horto Florestal de
Dois Irmãos, foi fundado no ano de 1916 no Engenho Dois Irmãos, que pertencia aos irmãos
Antônio e Tomás Lins Caldas. (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, 2016). O Parque
está localizado na Região Metropolitana do Recife, no Estado de Pernambuco, na Praça Faria
Neves, entre os bairros de Dois Irmãos, Apipucos, Sítio dos Pintos, Macaxeira e Córrego do
Jenipapo, encontra-se delimitada pelas coordenadas 7º59‘30‖ e 8º01‘00‖S e 34º56‘30‖ e
34º57‘30‖W, com a área aproximadamente de 384,42 hectares de Mata Atlântica, sendo reservados
14 hectares ocupados para o Parque.

Figura 01. Localização Geográfica do Parque Estadual Dois Irmãos, Recife-PE.


Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano na Região Metropolitana do Recife (2005)

Segundo o Governo do Estado de Pernambuco - 2016, a reserva do Zoológico é considerada


uma das maiores reservas brasileiras, possuindo cerca de seiscentos animais nativas do Brasil.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Atualmente, o Parque é administrado pela Secretária do Meio Ambiente e Sustentabilidade do


Estado de Pernambuco. A reserva do Horto Dois Irmãos é uma Unidades Protegidas do Recife que
conforme o Plano Diretor do Recife (Lei Municipal nº 17.511/2008) classifica aquelas que
apresentam corpo d‘água, Matas, mangues, que possuem preservação de áreas florestais e condições
de convivência com a natureza. O Plano Diretor fundamenta-se no conjunto de diretrizes que
permite a gestão pública fermentar o desenvolvimento de áreas sustentáveis, de acordo com a
justiça social, o crescimento econômico e no equilíbrio do meio ambiente, promovendo a sociedade
melhores condições de vida.
A Mata de Dois Irmãos é um vestígio da Mata Atlântica com grande potencialidade de
cobertura vegetal, apesar de ter sofrido diversas alterações ao longo do perímetro, possui
conversação de mananciais como no caso do Açude do Prata, utilizada pela Companhia
Pernambucana de Saneamento – COMPESA.

CONSERVAÇÃO DAS ÁREAS AMBIENTAIS DO PARQUE

A importância da conservação da Mata Atlântica no horto se constitui pela preservação de


inúmeras espécies que ainda habitam na fauna e na flora, que segundo o Ministério do Meio
Ambiente – MMA – (2010), seu processo histórico de utilização irracional que iniciou na época da
vinda dos povos europeus (1500). Devido o desmatamento dessas matas em busca de matéria prima
para exportação, dessas florestas valorizando as madeiras, nesse período eram ignoradas e também
desconhecidas as questões voltas ao uso e preservação do meio ambiente que atualmente são
debatidas.
Houve grande impacto ambiental devido a implantação de inúmeros órgãos públicos, como
no caso da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Laboratório Farmacêutico do
Estado de Pernambuco (LAFEPE) e a Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA, que
reduziram o tamanho de hectares da reserva (Maria Goretti C. de Lima1 Antonio Carlos de Barros
Corrêa, revista UFPE). Devido a esses impactos antrópicos a área outrora de 591 hectares hoje
possui apenas 384 hectares de área vegetal.
A Reserva do Horto Dois Irmãos deve ser preservada e consolidada, pois apresentam para a
sociedade tanto para a população que habitam no Recife com para outras e também de outros
Estados, como espaço de lazer, recreação, que contribui para incentivar crianças, adolescentes e
adultos a prática de preservação com o meio ambiente, onde abriga mata primaria e em estágio de
regeneração que torna-se como área protegida de impactos ambientais (MELO, FORTUNADO,
2006). A reserva conta com inúmeras leis de proteção e preservação, como a lei Estadual nº
11.622/1998 que apresenta a área de 384,4 há, além da lei municipal que protegida pela Leio Lei de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife, nº16. 176/96, como a Zepa 2 – Zona Especial de
Proteção Ambiental 2, tornando uma Unidade de Conservação1 Municipal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância de preservar esses ambientes naturais em áreas urbanas torna-se fundamental


para o convívio do homem com o meio ambiente utilizando sempre como suporte para as práticas
voltadas ao ecoturismo sustentável que permite utilizar o espaço de forma consciente possibilitando
o convívio direto com a natureza.
O Parque Estadual Dois Irmãos, apresenta imenso espaço verde que cumpri sua função de
conservar os recursos naturais ainda existentes, com inúmeras variedades de fauna e flora que
permite aos visitantes conhecer a importância da preservação do meio e a necessidade de melhoria
na qualidade do parque. O ecoturismo sustentável tornou-se uma ferramenta para os problemas
ambientais, demonstrando a potencialidade do contato homem-natureza sem causar grandes
impactos, porém faz-se necessário práticas continuas no para a preservação da área e incentivos
públicos e privados para manutenção do parque.

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Pedro de Alcântara; STIGLIANO, César Beatriz Veroneze; RAIMUNDO,


Sidnei; NUCCI, João Carlos. Ecoturismo . Introdução ao Ecoturismo Paisagens Naturais
Brasileiras Planejamento do Ecoturismo em áreas protegidas. 2007, São Paulo. Disponível a
partir de: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/tu000004.pdf> Acesso em 10
out. de 2016.

DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DE ONU NO AMBIENTE HUMANO, Estocolmo, 5-16 de


junho de 1972. Disponível a partir de:
<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc> Acesso em 04 out. 2016.

FENNELL, David A. Ecoturismo: Uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002.

FLORESTAS URBANAS. Estudo sobre as Representações Sociais da Mata Atlântica de Dois


Irmãos, na Cidade do Recife – PE. 2006. Disponível a partir de :
<http://www.rbma.org.br/rbma/pdf/caderno_34.pdf> Acesso em: 20. Set 2015.

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Parque Dois Irmãos, Recife-PE. Disponível a


partir de: <www.parquedoisirmaos.pe.gov.br/> Acesso em 20 Set. 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 413


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

LEIS MUNICIPAIS – RECIFE, PERNAMBUCO. Plano Diretor. 2008. Disponível a partir de:
<https://leismunicipais.com.br/plano-diretor-recife-pe> Acesso em: 04 out. de 2016.

LIMA, Maria Goretti C; CORRÊA, Antonio Carlos de Barros. Propriação de uma unidade de
conservação de mata atlântica no espaço urbano de recife – pe: o caso da reserva de dois
irmãos. Disponível a partir de: <http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.

php/revista/article/viewFile/39/11. Acesso em: 20 set. de 2016.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Mata Atlântica. Disponível a partir de:


<http://www.mma.gov.br/> Acesso em: 18 Set. 2016.

PETROCCHI, Mario. Turismo Planejamento e Gestão. Editora Futura, 2002.

PROTOCOLO DE QUIOTO. Editado e traduzido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com o


apoio do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil.Disponível a
partir de: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0012/12425.pdf> Acesso em 01 out. 2016.

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DIRETORIA DE POLÍTICAS AMBIENTAIS. As


Unidades Protegidas do Recife. Fevereiro de 2012. Disponível a partir de:
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SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

WEBER, Ângela; REZENDE, Sérgio M. Reserva ecológica e Parque Dois Irmãos: histórico e
situação atual. In: MACHADO, Isabel Cristina; LOPES, Ariadna Valentina; PÔRTO, Kátia
Cavalcanti (Org.). Reserva ecológica de Dois Irmãos: estudos em um remanescente de Mata
Atlântica em área urbana (Recife – Pernambuco – Brasil). Recife: UFPE, Ed. Universitária,
1998. p. 9-19.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

OS EFEITOS DAS ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ASSOCIADAS ÀS


PRÁTICAS DO ECOTURISMO NO PARQUE ESTADUAL DE DOIS IRMÃOS,
RECIFE-PE

Daíza Ellen da Silva BORGES


Graduanda do curso de Zootecnia da UFRPE
daiza.e@gmail.com
Sueny Carla da SILVA
Professora Mestre do Curso Técnico de Meio Ambiente/ETEASD
suenysilvac@gmail.com

RESUMO
Objetivou-se com este estudo analisar os efeitos das atividades de educação ambiental associados às
práticas do ecoturismo no Parque Estadual de Dois Irmãos- PEDI, Recife – PE, com o intuito de
promover um maior conhecimento da associação da prática da educação ambiental no ecoturismo,
dentro de uma unidade de conservação. Além de fornecer informações pertinentes que auxilie na
tomada de decisões em melhorias no parque. A área de estudo está localizada em um dos maiores
remanescentes de mata atlântica de Pernambuco. Para obtenção dos dados do estudo foram feitas
entrevistas pessoais, aplicação de questionário semi-estruturado, realização de trilhas e pesquisa
bibliográfica. As entrevistas ocorreram com os funcionários do parque e os questionários aplicados
aos visitantes. A pesquisa é de caráter quantitativo e qualitativo. As atividades de educação
ambiental no PEDI são realizadas durante o ano todo por meio do Centro de Educação Ambiental
(CEA), que existe dentro do parque. Para os visitantes, das atividades ecoturistas oferecidas, as
trilhas possui a menor procura. A maior demanda dos visitantes é o contato com os animais. As
atividades educativas no parque surgem efeito, mas as questões de infraestrutura e orçamento
dificultam a eficácia da sensibilização ambiental. O potencial turístico no parque deve ser
fortalecido com ações de educação ambiental em conjunto com a população ao entorno do parque e
com os visitantes, para a promoção de valores ambientais e manutenção da conservação da
natureza.
Palavras-chave: ecoturismo; educação ambiental; instalações ecoturísticas.
ABSTRACT
The purpose of this study is to analyze the results of some environmental education activities
related to ecotourism practices in the Dois Irmãos State Park, situated in Recife – PE, in order to
promote a better knowledge of the association of environmental education practice in ecotourism, in
a conservation unit, and to provide relevant information to help in making decisions on
improvements in the park. The investigation area is located in one of the largest remnants of
Atlantic forest in Pernambuco. The data obtained from the study were personal interviews, semi-
structured questionnaire application, hikes and bibliographical search. The interviews happened
with park staff and questionnaires applied to its visitors. The search is quantitative and qualitative.
Environmental Education activities in the park were performed throughout the year through the
Environmental Education Center (CEA) that exists in the park. For visitors, from the ecotourism
activities offered, the trails have the lowest request. The biggest demand of the visitors is the
contact with the animals. Educational activities in the park take effect but infrastructure and budget
issues complicate the effectiveness of environmental awareness. The tourist potential in the park
should be consolidated with environmental education actions in conjunction with the population

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

surrounding the park and with visitors, to promote environmental values and maintenance of nature
conservation.
Keywords: ecotourism; environmental education; ecotourism facilities.

INTRODUÇÃO

O ecoturismo é o segmento turístico que mais cresce no mundo. A atividade tem como ideia
interagir em áreas naturais que conservem a natureza, visando atentar as pessoas para a importância
de desenvolver uma consciência socioambiental mais ampla, no que tange a utilização e
preservação do meio ambiente e dos recursos naturais.
Para o ministério do turismo o ecoturismo é conceituado como ―o segmento da atividade
turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação
e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações.‖ (BRASIL, 1994, p.19).
No ecoturismo é muito normal serem observadas atividades como: observação da fauna,
flora, de formações geológicas, astronômica, espeleoturismo, de caminhadas, safáris fotográficos,
trilhas interpretativas, mergulho livre etc. (BRASIL, 2010).
É habitual perceber a prática do ecoturismo em Unidades de Conservação (UCs), que
permitem o uso de atividades recreativas, educativas e de lazer. Quando esse segmento do turismo é
praticado de forma sustentável nas UCs, trazem grandes benefícios, pois promove uma interação
ambiental e se torna um grande potencial para a conservação da natureza. O Parque Estadual de
Dois Irmãos, Recife – PE é um exemplo de UC que associa suas atividades a prática do ecoturismo.
Essas práticas permitem que o turista vivencie experiências e sensações junto à natureza e
possui um grande potencial educativo e de conservação do meio ambiente.
Em virtude disso, a educação ambiental também é uma importante ferramenta nesse elo
(ecoturismo – unidade de conservação), pois promove a cidadania ambiental, demonstrando novos
modelos de valores e práticas que contribui para a sensibilização ambiental, influenciando nas
mudanças de comportamento e proteção do ambiente natural.
A educação ambiental (EA) constitui uma possibilidade de conter os impactos negativos da
atividade ecoturista. Quando as ações são trabalhadas em conjunto formam grandes ideais
ambientalistas e promove experiências privilegiadas de educação, por meio de um processo
educativo, tendo a configuração de um sujeito ecológico (BUENO; PIRES, 2016).
O propósito desse trabalho em face das características de interação da educação ambiental e
o ecoturismo foram analisar os efeitos das atividades de educação ambiental associadas às práticas
do ecoturismo no Parque Estadual de Dois Irmãos (PEDI), Recife-Pernambuco, nos visitantes. Com
o intuito de compreender como funcionam as atividades de educação ambiental e como são

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

realizadas as práticas de EA com o público e os benefícios que são trazidos para o público e o
PEDI.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido no Parque Estadual de Dois Irmãos - PEDI, localizado na região
Noroeste do Recife. O seu território está inserido nos municípios de Recife e Camaragibe, Estado
de Pernambuco. Sua menor porção está situada na cidade do Recife que dispõe de uma área de
219,493 km2 (RECIFE, 2014).
O PEDI foi criado em 1998 e possui uma área de aproximadamente 1,158 ha, que está
incluso o fragmento florestal Mata de Dois Irmãos, zoológico, o fragmento florestal da antiga
Fazenda Brejo dos Macacos (RECIFE, 2014) e ainda conta com os açudes do Prata, do Meio, de
Dentro e o de Dois Irmãos. Nessa área encontram-se um dos maiores remanescentes de Mata
Atlântica de Pernambuco. No seu entorno estão situadas várias comunidades residenciais, como
Córrego da Fortuna e Sítio dos Macacos que fazem limite direto com a área do Parque.
A nível municipal, o PEDI está categorizado como Zona Especial de Proteção Ambiental II
(ZEPA II) (RECIFE, 1996). No contexto mundial, está definida como Zona Núcleo da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica em Pernambuco (LIMA, 1998).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização desta pesquisa foi utilizado os métodos qualitativo e quantitativo. Os


procedimentos para coleta de dados foram realizados por meio de pesquisa bibliográfica,
documental e de trabalho de campo.
O levantamento bibliográfico buscou matérias baseado no arcabouço de informações de
artigos científicos, livros, revistas e relatórios de instituições públicas. Com isso foi possível a
reunião do conhecimento voltado ao tema do ecoturismo, unidade de conservação, educação
ambiental e instalações ecoturísticas, interagindo com o PEDI.
O trabalho de campo foi feito em dois momentos. No primeiro, realizou o reconhecimento
da área de estudo, a localização das trilhas a serem estudadas e a fotografia de toda área percorrida.
Foram feitas três trilhas (Macaco, Tigre e Caminho do Prata). Por meio dos registros fotográficos e
elaboração de uma ficha de campo foram estabelecidas questões a serem observadas nas trilhas,
como, por exemplo, o tipo de acesso, sinalização e impactos.
No segundo momento o trabalho de campo se dedicou a realizar a aplicação dos
questionários com os visitantes do parque e realizar as entrevistas com os funcionários. O
questionário semiestruturado contou com seis perguntas relacionadas ao conhecimento de educação
ambiental, ecoturismo, unidade de conservação e motivação para ir ao PEDI. Foram entrevistados

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cinquenta visitantes. Com os funcionários (Monitor de engenharia florestal, bióloga administrativa,


gestor) o foco da entrevista estava em detectar os programas que são desenvolvidos e como
funcionam os trabalhos de interação com os visitantes.
As visitas ao PEDI aconteceram todas durante o horário de funcionamento, nos dias de
semana e finais de semana (esse por conter um número maior de visitantes).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Identificações das atividades de Educação Ambiental e Caracterização da interação dos visitantes

O Parque Estadual de Dois Irmãos possui um espaço dedicado a desenvolver atividades de


educação ambiental, o local é conhecido como o Centro Vasconcelos Sobrinho de Educação
Ambiental- CEA, localizado na entrada do parque.
O CEA tem como objetivo proporcionar atividades de interação e de cunho educacional ao
visitante dentro do parque e promover uma maior consciência e sensibilização ambiental. O espaço
também integra um museu de Ciências Naturais que explica sobre a biodiversidade dos
ecossistemas do Brasil e dos animais presentes no PEDI.
Em visita ao CEA a bióloga responsável pelo local informou que existe um planejamento
anual das atividades de educação ambiental realizadas no parque. O calendário compõe a realização
de atividade em datas comemorativas (Semana do Índio, Dia das Crianças, Semana do Meio
Ambiente, etc) e aplicação de ações interativas (trilhas ecológicas interpretativas, colônias de férias,
zoo noturno, zoo especial, além de trabalhos de sensibilização com as comunidades do entorno do
parque). As atividades de EA, desenvolvidas pelo parque, chegam a acontecer todos os dias ao
longo do ano.
O zoo férias acontece no período de Janeiro e Julho e o zoo noturno, ocorre sempre na
ultima sexta-feira do mês. A trilha analisa os animais de hábitos noturnos e também conta com
histórias antigas e de assombrações.
A principal atividade ecoturística desenvolvida no Parque são as trilhas ecológicas
interpretativas, composta pelas trilhas: Leão, Macaco, Tigre, Chapéu do Sol, Bromélias, Caminho
do Prata e Macaxeira (RECIFE, 2014). Em conversa com os monitores do Parque, apenas uma
dessas não oferece recursos necessários ao seu uso, a trilha do Caminho do Prata, sendo esta
destinada para atividades extras do PEDI, como pesquisas. A trilha do Chapéu do Sol é proibida
para pessoas com problemas cardíacos e respiratórios, devido a sua altitude.
Para a realização das trilhas é necessário que seja feito um prévio agendamento de cinco dias
como previsto no plano de manejo do parque e só ocorrem de terça a sábado. As mesmas está aberta
para o público em geral (escolas, universidades, famílias), funcionando das 09:00 tendo término às

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 418


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

16:00 horas. Só podem ser realizadas com no máximo vinte pessoas, acompanhadas de um técnico
ou monitor.
A engenheira florestal do parque confirmou que em média o número de visitantes nas trilhas
é de no mínimo dez pessoas. Caso atinja o número máximo de vinte pessoas são solicitados mais
técnicos ou monitores para acompanhar. Essa equipe é responsável em desenvolver a atividade da
trilha promovendo a mudança de hábito do ecoturista por meio da educação ambiental.
Para os que fazem usem uso da trilha é necessário pagar a entrada do Parque e um valor
acrescido para realizar a atividade. Sabendo que todo o valor arrecadado nas trilhas é para reparo e
manutenção do Parque. O Gerente Executivo do Parque informou que toda renda adquirida na
venda dos ingressos é destinada a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de
Pernambuco – SEMAS.
Para se estimar o grau de funcionamento das instalações ecoturísticas do PEDI, foram feitas
três das sete trilhas ecológicas interpretativas (Macaco, Tigre e Caminho do Prata), sob supervisão
de um monitor responsável pela atividade. Durante a realização das trilhas observou-se a presença
de espécies endêmicas da Mata Atlântica animais como saguis, jaguatiricas e diversas espécies
diferentes de insetos, importantes a manutenção do ecossistema.
Na trilha do Caminho do Prata foi encontrado resquícios de práticas religiosas. A falta de
infraestrutura e segurança impede o seu funcionamento, apesar de sua beleza. Em entrevista com o
gestor existe um projeto para revitalização da área e reforma dessa trilha, além de colocar grade
para delimitar área do parque.
No decorrer das trilhas realizadas foram observada a falta de placas de sinalização, placas
informativas e estruturas voltadas a acessibilidades e a minimização dos impactos gerados durante a
visita. A dificuldade de locomoção, dentro dos espaços naturais de visitação, também foi vista como
um problema em virtude do tombamento de árvores nativas no decorrer de sua extensão, e de
intervenções inacabadas no local que acabam por descaracterizar o ambiente natural. É de extrema
importância que as áreas naturais disponham de instalações físicas adequadas, além de boas
condições em suas proximidades para um desenvolvimento eficaz do ecoturismo. A falta de
instalações acaba por fomentar a entrada de pessoas e visitantes das comunidades do entorno,
facilitando a abertura de trilhas clandestinas, desmatamento da remanescente de Mata Atlântica, e
disposição irregular de resíduos, como observado na trilha do Caminho do Prata.
Planejamento, projeto e critérios de instalações adequados devem ser aplicados a fim de
minimizar o impacto sobre o meio natural, fornecer certo grau de autossuficiência funcional e
contribuir para a melhoria da qualidade da experiência dos visitantes. (LINDBERG HAWKINS,
1999 apud HANAI et al, 2015)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As instalações são meios para que os ecoturistas tenham uma compreensão do local e o
conheçam de forma detalhada, permitindo perceber que a visita é algo fora do usual, uma
oportunidade preciosa de aprender a valorizar e sentir a natureza. (HANAI; NETO 2006).
Para os gestores das áreas ecoturísticas é um desafio que exige cuidados específicos frente a
sua criação. Essas ferramentas auxiliam no desenvolvimento do ecoturista para uma interpretação
mais fácil do meio natural, bem como um maior nível de segurança e o desempenho da função de
referenciamento do local.
O emprego dessas instalações deve visar promover aos visitantes mecanismos que facilitem
desenvolver o proposto pela atividade, que tem por objetivo a experiência interpretativa do
ambiente, por meio da prática da educação ambiental – EA, que contribui para a formação de uma
consciência ambientalista.
Considerando os dados encontrados é provável que os impactos constatados nas trilhas,
estejam relacionados à ausência de planejamento, de manutenção, fiscalização e de questões
financeiras. O parque não possui um trabalho de fiscalização contínuo. A unidade conta com o
apoio da polícia militar (CIPOMA).
Em meio a tantos pontos negativos as trilhas que ainda permanecem ativas dentro do parque
desempenham um papel de extrema importância voltado à preservação da natureza. Mesmo com os
respectivos problemas apontados as atividades desenvolvidas nos espaços ainda se aproximam do
proposto pelo ecoturismo.
A presença de monitores na área de educação ambiental, responsáveis por executar os
projetos desenvolvidos por meio do CEA, é essencial. Esses colaboradores facilitam a
conscientização dos visitantes em relação à conservação da natureza.
A entrevista com os visitantes apontou as seguintes questões. Quando perguntadas se sabiam
o que é educação ambiental 70 % responderam que sabiam e 30% desconheciam. Nas perguntas
relacionadas ao que é preservação ambiental 90% desconhecem o assunto e 10% conheciam. Sobre
o que é ecoturismo 53% afirmaram conhecer e 47% desconhecem. Ao perguntar sobre o que é uma
unidade de conservação 50% responderam que sim e 50% que não. Por qual motivo você vem ao
PEDI, 50% responderam para ver os animais, 33% lazer, 14% pela área verde e 3% para a
realização das trilhas. Sobre a finalidade da unidade de conservação 50% conseguiu responder e
outros 50% deixaram em branco ou não soube responder.
Esses resultados esclarecem a importância de se manter presente às atividades de educação
ambiental. Pois a mesma promove experiências privilegiadas de educação, que estimulam a elucidar
valores, incentivar, informar e esclarecer em prol da conservação da natureza e da consolidação de
um novo comportamento social (BUENO; PIRES,2006).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assegurando que a responsabilidade de cuidar e preservar do ambiente natural são um


direito de todos que usufruem o espaço e que no processo de visitação aos locais naturais o turista
depara-se com a reflexão do que está exposto no artigo 225 da Constituição Federal: ―Todos tem
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖ (BRASIL, 1988).

CONCLUSÃO

Este trabalho visou mostrar a importância da interação da Educação Ambiental – EA com o


ecoturismo dentro do Parque Estadual de Dois Irmãos – PEDI, visto que, a relação efetiva dessas
duas ferramentas é capaz de agilizar o processo de mudança de hábitos socioculturais e econômicos
existentes na relação entre o homem e a natureza.
O ecoturismo desenvolvido no PEDI, por si só se caracterizar como uma alternativa viável
na mudança de hábitos dos visitantes, ao passo que essa segmentação do turismo, desenvolvida nas
Unidades de Conservação – UC tem como finalidade: oferecer recursos necessários para a
promoção da EA, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico.
No parque são desenvolvidos vários projetos e, apesar das limitações encontradas na
execução das trilhas, eles podem estabelecer mudanças, sensibilizando os participantes a unir
esforços e se mobilizar em prol da conservação da área protegida.
Para que essa relação de interdependência se dê de maneira mais eficiente e benéfica para o
PEDI, sentiu-se a necessidade de fontes geradoras de recursos financeiros diretos para o parque.
Não obstante, vale salientar que o programa de educação ambiental – EA, oferecido pelo parque,
em partes apresenta resultados significativos.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO JÚNIOR, S. M. de. et al. Reserva Ecológica de Dois Irmãos: Estudos em um


Remanescente de Mata Atlântica em Área Urbana (Recife - Pernambuco - Brasil). Secretaria De
Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Recife: Universitária, 1998.

BUENO, F.; PIRES, P. S. Ecoturismo e educação ambiental: possibilidades e potencialidades de


conservação da natureza – Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL Universidade de
Caxias do Sul – Mestrado em Turismo Caxias do Sul, RS, Brasil, 2006

BRASIL. Constituição, 1998. Artigo 225.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 421


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Diretrizes para uma política nacional de
ecoturismo. Brasília: MMA, 1994. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/sedr_proecotur/_publicacao/140_publicacao20082009043710
.pdf. Acesso em julho 2017.

BRASIL, MINISTÉRIO DO TURISMO (M.TUR). ECOTURISMO: Orientações básicas, 2. ed.


Brasília: M.TUR, 2010. Disponível em:
http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoe
s/Ecoturismo_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf. Acesso em maio 2017.

HANAI, F.Y; SILVA-NETO, J.P. Instalações ecoturísticas em espaços naturais de visitação:


meios para propiciar a percepção e a interpretação ambientais. Revista Olam Ciência e
Tecnologia. Ano VI, v. 6, n. 2, p. 200-223. Dez-2006.

LINDBERG, K; HAWKINS, D.E. Ecoturismo: um guia para planejamento e gestão. Tradução:


Leila Cristina de M. Darin. 2ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 1999.

SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE. Plano de Manejo- Parque


Estadual Dois Irmãos. RECIFE, 2014. Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&
ved=0ahUKEwinqdLMt4LWAhWExFQKHfsyBOMQFgguMAE&url=http%3A%2F%2Fwww.
semas.pe.gov.br%2Fc%2Fdocument_library%2Fget_file%3Fuuid%3D84488ef4-39f6-4f84-
ba50-
bcfff9f997e7%26groupId%3D709017&usg=AFQjCNGeGsHeGfzQEQCt3ka7KtDBEERqAQ

Acesso em maio 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DAS UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO MARANHÃO

Gabriel Alves Ferreira da SILVA


Graduando em Geografia na Universidade de Brasília
gabfsilva@gmail.com
Yata Anderson Gonzaga MASULLO23
Doutorando em Geografia na Universidade de Brasília
yanderson3@hotmail.com
Helen da Costa GURGEL24
Professora Adjunta Doutora do Departamento de Geografia da UnB
helengurgel.unb@gmail.com

RESUMO
Este estudo se baseou em 11 unidades de conservação (UC) do estado do Maranhão, entre elas,
reservas extrativistas, reservas biológicas e parques. A pesquisa estrutura-se a partir do
processamento digital de imagens dos satélites LANDSAT 5 e LANDSAT 8, com uma resolução
espacial de 30 metros. Foram analisadas imagens no período antes da criação das UC‘s e no ano de
2016. Com base nas características de uso e cobertura da terra, a análise desenvolve-se a partir das
métricas de paisagem referentes a área, forma, densidade e tamanho, relativo a região intra unidade
e suas respectivas zonas de amortecimento. Os resultados evidenciam, inicialmente, que as métricas
obtidas na zona de amortecimento tendem a variar de forma similar aos resultados obtidos na área
interna das UC's e que a um aumento no grau de fragmentação da cobertura florestal dentro das
unidades de conservação é um dado em 82% dos casos, assim como a diminuição da cobertura
florestal em 63% casos. O estudo permitiu analisar a dinâmica territorial na qual as UC's estão
inseridas e destacar os dados que indicam aspectos positivos no manejo das UC's.
Palavras-chaves: Conservação, Maranhão, Socioambiental, Efetividade, Vulnerabilidade.
ABSTRACT
This study was based on 11 protected areas (PA) in the state of Maranhão, among them extractive
reserves, biological reserves and parks. The research is based on the digital processing of images of
the LANDSAT 5 and LANDSAT 8 satellites, with a spatial resolution of 30 meters. The analyzed
images were from the in the period before the creation of the PAs and in the year 2016. Based on
the characteristics of land use and coverage, the analysis is developed from the landscape metrics
referring to area, shape, density and size, relative to the internal area of the PAs and their respective
damping zones. The results show, initially, that the metrics obtained in the damping zone tend to
vary in a similarly to the metrics obtained in the internal area of the PAs and that an increase in the
degree of fragmentation of the forest coverage within the protected areas is a fact in 82% of the
cases, as well as the decrease of forest coverage in 63% of cases. The study allowed an analysis of
the territorial dynamics in which PAs are inserted and highlighted the data that indicate positive
aspects in the management of PAs
Keywords: Conservation, Maranhão, Socio-environmental, Effectivity, Vulnerability.

23
Co-orientador.
24
Orientadora.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

No Brasil, a função da administração das Unidades de Conservação no âmbito nacional é,


desde 2007, exclusivamente do ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. Antes, esta função era do IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis. Na UC municipal ou estadual, existem órgãos, específicos para cada
esfera, que fazem o monitoramento, ambos ainda legislados pelo SNUC (Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza). Em todas as instâncias, é preciso considerar seu contexto
regional para a sua gestão, levando a situações onde podem haver cenários variáveis quanto à
tendência de expansão da unidade, fluxo turístico, recursos disponíveis, dados e pesquisa,
conscientização local, e outras pautas que vão além da simples administração da unidade. (SOUZA;
MILANEZ, 2015).
Neste sentido, as unidades de conservação (UC´s), são definidas como áreas reconhecidas
pelos governos federal, estaduais e municipais, que devem ser protegidas ou utilizadas de forma
adequadas e sustentáveis, visando à preservação de ecossistemas significativos, em termos de
recursos naturais e/ou culturais (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). No caso do Brasil, a Lei federal
nº 9.985, publicada em 18 de julho de 2000, que implementou o SNUC, serve como a diretriz e
sistema de proteção às unidades de conservação em todo o Brasil. Quanto a zona de amortecimento,
ela representa ―uma área delimitada no entorno das unidades de conservação, com o propósito de
minimizar os impactos negativos externos sobre elas‖ (BRASIL, 2000). Esta última vai ser
fundamental para evitar o isolamento da unidade de conservação, a preservação da diversidade
genética na fauna e flora, aumento da biodiversidade e evitar extinções (PRIMACK &
RODRIGUES, 2002 apud MORAES et al., 2015).
No Maranhão, assim como no Brasil, as UC‘s vivem um paradoxo entre a sua
institucionalização e efetivação. Uma forma de possibilitar a ultrapassagem dessa fronteira, é a
construção de parâmetros metodológicos que direcionem o planejamento e gestão destas áreas
(NUNES et al, 2005). Desta forma, entendendo o alto grau de variabilidade, as diferentes formas
metodológicas de análise, a pesquisa desenvolve-se com o objetivo de analisar o nível de
efetividade das unidades de conservação do Maranhão se baseando nas características de uso e
cobertura da terra, a partir das métricas de paisagem referentes a área, forma, densidade e tamanho,
em 11 UC‘s e suas respectivas zonas de amortecimento. Os resultados obtidos por meio dessa
pesquisa poderão contribuir para fundamentar estratégias e propostas visando promover a
preservação e conservação destas áreas.

METODOLOGIA

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Atualmente as UC‘s maranhenses correspondem a 27% do seu território estadual


(aproximadamente 92 mil km²). Entre estas, as UC‘s de Uso Sustentável compostas por Áreas de
Proteção Ambiental – APA e Reservas Extrativistas - RESEX, ocupam cerca de 85,8% deste
percentual, enquanto que as UC‘s com características de proteção integral, representadas por
Parques e Reserva Biológica – REBIO, somente 14,2% (Figura 01).
O presente estudo tem como objeto de análise 11 UC‘s do Maranhão e suas respectivas
zonas de amortecimento, sendo distribuídas entre 3 UC‘s Estaduais com características de proteção
integral e 8 UC‘s Federais (três com nível de proteção integral e cinco de uso sustentável). Criadas
com a finalidade de proteger regiões de grande relevância socioambiental e cultural, tanto do bioma
Amazônico quanto do Cerrado, elas abrangem atualmente 21 municípios e uma área de
aproximadamente 13.809 km², que correspondem a 4,2% do território estadual. (Figura 1).

Figura 1: Mapa de Localização das UC‘s em estudo no Maranhão.

A partir do processamento digital das imagens de satélites LANDSAT 5 e LANDSAT 8, com


uma resolução espacial de 30 metros, para classificar a dinâmica espacial das UC‘s, tendo sido

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

analisados dois períodos: o período anterior à criação da UC e no ano de 2016. Para análise e
fotointerpretação das imagens, foi produzido uma combinação de bandas para elucidação dos alvos
em estudo: área urbana, mosaico de ocupações, floresta, vegetação aberta, corpos hídricos, área
não-observada e área natural não vegetada.
Para o processamento e classificação das imagens empregou-se a técnica de classificação
supervisionada. Assim, foram utilizadas as ferramentas digitais de balanceamento de cores,
alteração dos efeitos de background, e o classificador Máxima Verossimilhança no software
ArcGIS, a partir de um sistema de amostragem por classe, utilizando a informação espectral de cada
"pixel". Com as imagens classificadas, utilizou-se a extensão Patch Analyst do software ArcGIS
para o cálculo das métricas da paisagem. As métricas da paisagem selecionadas estão relacionadas a
área, forma, densidade e tamanho do fragmento, possibilitando retratar as dimensões, configuração
e nível de alteração da paisagem.
As áreas das classes (CA) foram calculadas com a finalidade de quantificar e mensurar o
percentual da área Urbanizada / Mosaico de Ocupações, Floresta, Vegetação Aberta e a Área
Natural Não Vegetada. Quanto ao tamanho dos fragmentos das classes foi selecionada a métrica
MPS (tamanho médio da classe) e para o número de fragmentos NUMP (número de fragmentos).
Por último, utilizou-se a métrica MSI (índice de forma médio), que representa a relação
perímetro/área do fragmento florestal, esta métrica mostra o índice igual a 1 (um) quando todas as
manchas forem circulares e aumenta com a crescente irregularidade da forma da mancha.
A pesquisa documental foi realizada através de consultas na Secretaria de Meio Ambiente
Estadual - SEMA, Ministério do Meio Ambiente e Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade - ICMBIO. Para a análise bibliográfica, estruturou-se a pesquisa acerca das
publicações por meio do portal de periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), SCIELO e Google Acadêmico, a partir das palavras chaves: Métricas da
paisagem - Efetividade de Áreas Protegidas - Unidades de Conservação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este artigo busca sintetizar os resultados obtidos. Será apresentado, inicialmente, um


panorama geral, e como resultado serão destacados os casos que merecem mais atenção. O MPS,
média dos tamanhos dos fragmentos, combinado com a métrica de número de fragmentos NUMP,
pode indicar relações e tendências gerais da UC's, variando de classe para classe. A seguir, na tabela
1, estão as indicações da variação destas duas métricas, levando em conta todos os dados de todas
as UC's analisadas, desde de o período antes de sua criação, até 2016. Tabela pretende evidenciar a
situação predominante do território das unidades de conservação analisadas no Maranhão.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Floresta / Área Natural Vegetação Aberta Área Urbana / Mosaico de


não Vegetado Ocupações

Métrica: MPS (m²) NUMP MPS (m²) NUMP MPS (m²) NUMP

Variação: -911052 +23902 -367008,4 -41009 +50874,2 +9951


Tabela 1: variação das métricas MPS e NUMP levando em conta os dados de todas as UC's, em sua Zona
intra-UC, de antes de sua criação até 2016.

Observa-se nos dados acima (tabela 2), referentes a cobertura florestal e área natural não
vegetada, que existe uma tendência de diminuição do tamanho médio do fragmento e um aumento
número de fragmentos. Ou seja, amplia-se o grau de fragmentação da paisagem, com considerada
antropização das áreas naturais. Um fragmento é uma mancha originada por fragmentação, isto é,
por subdivisão promovida pelo homem, de uma unidade que inicialmente apresentava-se sob forma
contínua, como uma matriz, segundo Metzger (2001) (apud SILVA, 2012).
No entanto, estes dados, por si só, não significam que houve uma redução da cobertura
florestal e áreas naturais, inclusive poderiam indicar o contrário, com a expansão da cobertura
florestal, porém com fragmentos menores, por isso diminui a média de tamanho e aumenta o
número de fragmentos. Quando compara-se com a métrica CA (área de classe), que nota-se que, de
fato, só houve um aumento da cobertura florestal e área natural na área interna em apenas 4 UC's.
Assim pode-se concluir que houve uma redução dessa classe, de modo geral. Essas quatro UC's
mencionadas, são a RESEX do Ciriacó, PN das Chapadas das Mesas, PN dos Lençóis Maranhenses
e PE do Rangedor.
Compara-se com os dados da métrica CA, da zona de amortecimento, identifica-se que duas,
das 4 UC's mencionadas anteriormente, tiveram um decrescimento da mesma classe na ZA, que
foram a PN da Chapada das Mesas e PE do Rangedor. Ao apresentar a figura 2, serão abordadas
mais questões acerca da ZA.
Relativo a classe vegetação aberta, na tabela 1 é possível perceber uma redução do número
de fragmentos e do seu tamanho médio. Quanto a métrica CA, 7 UC's sinalizam uma expansão da
classe de vegetação aberta, entre estás, 4 também apresentaram um crescimento da área urbana e
ocupada. E, no total, 6 UC's apresentaram expansão da área urbana e ocupações, o que também
pode ter contribuído para o aumento da fragmentação da cobertura florestal, assim como o tamanho
médio dos fragmentos. De acordo com os dados obtidos com o ICMBIO e SEMA, essa ampliação
ocorre principalmente por avanço de áreas agrícolas e agropecuárias, somado a reduzida
abrangência da regularização fundiária e mecanismo de fiscalização e monitoramento que existem
atualmente nessas UC‘s.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2: gráfico representando a variação percentual das métricas MPS em m2 e NUMP em suas devidas
zonas de amortecimento.

A figura 2 mostra que, das zonas de amortecimento das unidades de conservação, referente à
classe de floresta e área natural não-vegetada, 7 delas tiveram sua métrica de tamanho médio (MPS
em m2) aumentado e 6 delas tiveram seu NUMP reduzido. Referente a classe de área urbana ou
mosaico de ocupações, 10 ZAs de UC's tiveram seu MPS em m2 reduzido e 7 delas tiveram seu
NUMP aumentado. Em relação à classe vegetação aberta, 8 ZAs registraram MPS em m2 reduzido e
em 8 UC‘s, observou-se ampliação número de fragmentos.
Portanto, observa-se que apenas 4 UC's obtiveram uma expansão da classe de cobertura
florestal e a área natural não vegetada quanto à métrica CA. Analisando os dados, conclui-se que, de
forma geral, houve uma diminuição da cobertura florestal e uma maior fragmentação, porém essa
ocorreu de tal forma que os tamanhos médios dos fragmentos também aumentaram. Pode ter
ocorrido, por exemplo, um desmatamento dos fragmentos menores, preservando os fragmentos
maiores.
Quanto a questão da área urbana e ocupações, percebe-se, que em geral, ocorreu um
aumento de seus fragmentos, pelo seu NUMP e seu tamanho médio reduzido. Comparando com as
métricas CA, foi perceptível o aumento da área urbana. Já a vegetação aberta foi vista redução em 8
ZAs e quanto as métricas de NUMP e MPS está ocorrendo uma fragmentação e redução do
tamanho médio, de fato indicando um recuo da vegetação aberta.
Ao se tratar da redução de cobertura florestal e o ganho de área urbana na zona de
amortecimento, pode-se associar este fenômeno ao aumento da pressão intra-UC e consequente
perda de biodiversidade na UC, com efeitos perceptíveis a curto, médio e longo prazo. Uma
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

primeira consequência é considerar um processo de fragmentação da cobertura florestal da UC.


De acordo com a maior fragmentação, forma-se menos conectividade e assim, menos
corredores ecológicos. Estes são importantes para promover maior descolamento e dispersão das
espécies entre matrizes, diminuindo o isolamento, aumentando a diversidade genética e
biodiversidade da unidade em questão. Aumentando essa fragmentação, consequentemente leva-se a
perda de biodiversidade por diminuir o fluxo genético e a dispersão das espécies, que tem como
função a manutenção do ecossistema. Outros fatores que ameaçam a conectividade e agravam o
efeito de borda são pastagens, agricultura, urbanização, queimadas descontroladas, extração mineral
e vegetal, construção de estradas, etc.
O chamado efeito de borda varia de acordo com aspectos como o bioma, clima e relevo, mas
pode-se afirmar que a borda provoca efeitos químicos, físicos e biológicos como diminuição de
umidade, variações na temperatura, permite a maior permeabilidade do vento, afetam a
disponibilidade de água e afeta a presença de espécies no território. Quanto mais longe da borda,
menor serão os efeitos e, quanto mais borda o fragmento tiver, maior será a abrangência deste efeito
(JUVANHOL et al., 2011; MAYWALD & JÚNIOR, 2012; SILVA, 2012).
Quanto à métrica MSI, que indica o índice de regularidade do fragmento, 63%, tiveram
aumento um aumento no índice desde a criação da UC, ou seja, se distanciam da forma circular e se
aproximam de uma forma irregular. A forma, quanto mais regular e circular é melhor, pois desta
forma o fragmento terá menos perímetro, menos borda e, assim, um efeito de borda menor,
principalmente. Isso em comparação a um fragmento que possui caraterísticas antagônicas, ou seja,
maior perímetro e menor área. Ainda sobre a forma, outro fator positivo é dispersão das espécies
(isso, sem considerar barreiras geomorfológicas), quanto mais circular, mais possibilidades
movimentação terão os animais, e isso acarreta, ao mesmo tempo, numa maior possibilidade de
território predatório e maior possibilidade da espécie de evitar predação. Tais probabilidades num
fragmento mais retilíneo e irregular diminuem (WALZ, 2011).
Observam-se os fragmentos que estão em volta da unidade de conservação, não protegidos
pela unidade, com estas características (tamanho e forma), são julgados de extrema importância.
Esses fragmentos são os que desempenham com mais proficiência a conectividade da unidade,
criando corredores e trampolins ecológicos e, viabilizando vários benefícios que chegam através
desta condição. Outro fator a ser considerado é proximidade deste fragmento com outros, o
suficiente para criar um corredor ecológico. Assim, a importância variando conforme seu tamanho,
forma e proximidade (SILVA, 2011).
Quanto ao destaque, merece atenção os resultados dos dois parques nacionais abordados. O
PN dos Lençóis Maranhenses e o PN da Chapada das Mesas ambas, em suas zonas intra-UC,
apresentaram um recuo da urbanização e expansão da cobertura florestal e área naturais não

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 429


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

vegetadas, e o mesmo aconteceu com suas zonas de amortecimento. No entanto, na Chapada das
Mesas apresentou uma tendência de crescimento quanto à classe de vegetação aberta.
Provavelmente, fruto da questão já apresentada da expansão da fronteira agrícola em territórios
ilegais.
Nos Lençóis Maranhenses, na zona intra-UC, isto indicou um processo de desfragmentação
da cobertura florestal e aumento do tamanho médio dos fragmentos, assim como uma diminuição
dos fragmentos da classe de área urbana e ocupações. Já na Chapada das Mesas, na zona intra-UC,
mesmo com a expansão da cobertura florestal, houve uma maior fragmentação, e diminuição do
tamanho médio desses fragmentos. Os resultados demonstraram alterações no território com
ampliação de 220% do tamanho médio da cobertura de vegetação aberta e diminuição da
fragmentação em 60%.
A PE do Rangedor apresentou uma drástica redução da cobertura urbana e ocupações
passando de 22% da cobertura do solo da UC para 2.2%. Além de ter expandido sua cobertura
florestal e área natural não vegetada de 56% para 72%. Quanto às 5 RESEX analisadas: a da Mata
Grande apresentou grande crescimento da classe de área urbana e mosaico de ocupações, passando
a representar 41% da UC, quando antes era cerca de 9%. Isto representou um recuo da área de
vegetação aberta e cobertura florestal. O melhor resultado foi a RESEX do Ciriacó, registrando o
melhor resultado, com uma expansão da cobertura florestal com indo de 36% para 49%, redução da
área de vegetação aberta 61% e 43% e uma expansão maneirada da cobertura de ocupações e
urbana: de 3% até 8%.
O pior resultado de conservação da cobertura florestal e área de natural não-vegetada
(redução de 72% para 22%) foi observado na RESEX do Quilombo do Frechal, onde houve
aumento da cobertura de vegetação de 17% para 47% e da cobertura urbana e ocupações de 10%
para 23%.

CONCLUSÃO

O Maranhão está localizado na macrorregião do Nordeste, contendo 3 biomas


predominantes, floresta amazônica, a caatinga e o cerrado sendo que o último se trata de um bioma
considerado hotspot, ou seja, tem alto índice de biodiversidade ao mesmo tempo que tem um alto
índice de desmatamento. Ao tratar das unidades de conservação do Maranhão, percebe-se que
muitas das unidades possuem nível de efetividade reduzida visto que estás áreas protegidas passam
por um processo conversão dos remanescentes florestais em áreas agrícolas e pastagem. Isto é, em
sua gestão, são constatadas diversas vulnerabilidades. Destaca-se, como um dos principais pontos, a
questão da invasão e ocupação ilegal da unidade de conservação. Os dados indicam a
vulnerabilidade na gestão das zonas de amortecimento das UC's, o que favorece a realização de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 430


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

atividades humanas não permitidas naqueles territórios.


O IBAMA e WWF (2007), explicitam alguns pontos que podem ser os causadores da
vulnerabilidade, entre eles estão: a ―dificuldade de monitoramento das atividades ilegais,
aplicabilidade da legislação, ocorrência de omissão, suborno e corrupção, distúrbios civis ou
instabilidade política, conflitos entre práticas culturais, [...], existência de recursos com alto valor de
mercado, acesso fácil para atividades ilegais, [...], dificuldade de recrutamento e manutenção de
funcionários, falta de monitoramento sobre a eficácia do manejo da área, estrutura de fiscalização
deficiente e ausência de limites claramente demarcados‖.
Segundo Hockings et. al (2000), entre estes tópicos acima, a capacidade de gerir uma UC,
vai englobar 3 esferas: governança, referente ao suporte político, legislação e questões acerca do
sistema de manejo aplicado sobre o parque; comunidade, referente ao apoio e conscientização da
comunidade que está situada na área de entorno do parque, recursos, referentes aos funcionários,
recursos econômicos, infraestrutura e disponibilidade e acesso à informação acerca do parque. Estes
tópicos podem apresentar soluções e saídas para a crise percebida nas unidades de conservação
analisada. O monitoramento e conscientização da comunidade se apresenta por ser uma boa
ferramenta no auxílio da conservação
O estudo permitiu analisar a dinâmica territorial na qual as UC's estão inseridas, indicando
as possíveis causas para as questões encontradas e possibilidades de intervenção visando a
minimização desses problemas. Além de destacar os dados que indicam o nível de efetividade das
unidades de conservação. Por fim, faz-se necessária a adaptação de diferentes metodologias de
forma que se alcance a agregação de elementos comuns em diversos contextos e perspectivas.

APOIO:

Gostaria de agradecer o apoio da Universidade de Brasília, CNPq e o Laboratório de


Geografia, Ambiente e Saúde da UnB - LAGAS.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA PRÁTICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO


PARQUE ECOLÓGICO BAGUAÇU, MUNICÍPIO DE ARAÇATUBA - SÃO PAULO

Guilherme FERREIRA
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente no SENAC
ferreira.guilherme2014@gmail.com
Charles da Silva FRANÇA
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente no SENAC
tharlessf@aasp.org.br
Josiane Blasioli da SILVA
Aluno do curso Técnico em Meio Ambiente no SENAC
blasiolijo@outlook.com.br
Breila Pessoa DIAS
Docente do curso Técnico em Meio Ambiente no SENAC
breiloca@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho relata uma prática de Educação Ambiental vivenciada entre alunos do curso
Técnico em Meio Ambiente da Instituição SENAC, unidade de Birigui - SP, com um grupo de
crianças de uma escola municipal de Araçatuba, como atividade integradora e participativa ao dia
mundial da água no Parque Ecológico Baguaçu (PEBA). O objetivo foi apresentar as crianças
conceitos importantes sobre a preservação e sustentabilidade de ambientes classificados como
Áreas de Preservação Permanente dentro de espaços urbanos, além de proporcionar aos autores do
trabalho vivências necessárias para o melhoramento profissional neste contexto educacional. O
PEBA proporciona estas vivências através de trilhas interpretativas seguidas por monitores
ambientais, que no trabalho presente, foi executada pelos próprios alunos do SENAC. Por ser um
relato de experiência não houve uma metodologia cientificamente detalhada para levantamento de
dados, sendo o método utilizado para os registros das atividades a observação direta através de
arquivo de fotos, breve descrição das atividades e análises dos possíveis feedbacks apresentados
pelas crianças. Este trabalho considera-se, primeiramente, valorativo, no sentido de acrescentar
conhecimento e experiência profissional necessários aos alunos do curso de Meio Ambiente do
SENAC de Birigui para a conclusão do módulo II em Educação Ambiental dentro da formação
Técnica oferecida. Em segunda instância, mas não menos importante, as práticas realizadas com
crianças são fundamentais para o despertar da consciência sustentável e pode, possivelmente,
dinamizar este objetivo da sensibilização e da chamada de atenção sobre a necessidade das práticas
sustentáveis, tão emergenciais para elas e também para o nosso futuro comum.
Palavra – chave: Educação Ambiental, Relato de Experiência, Meio Ambiente

ABSTRACT
The present work reports an Environmental Education practice experienced among students of the
Environmental Technical course of the SENAC Institution, Birigui - SP unit, with a group of
children from a municipal school in Araçatuba, as an integrative and participative activity to World
Water Day In the Baguaçu Ecological Park (PEBA). The objective was to present children with
important concepts about the preservation and sustainability of environments classified as
Permanent Preservation Areas within urban spaces, as well as providing the authors with the
necessary experiences for professional improvement in this educational context. The PEBA

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

provides these experiences through interpretive tracks followed by environmental monitors, which
in the present work was carried out by SENAC students themselves. As an experience report there
was no scientifically detailed methodology for data collection, the method used to record the
activities was direct observation through a photo archive, brief description of the activities and
analysis of the possible feedbacks presented by the children. This work is considered, first of all,
valuable, in the sense of adding the necessary knowledge and professional experience to the
students of the Environment course of Birigui SENAC for the completion of module II in
Environmental Education within the offered technical training. In the second instance, but not least,
the practices carried out with children are fundamental for the awakening of sustainable awareness
and can possibly boost this objective of raising awareness and attention to the need for sustainable
practices, which are so urgent for them and also For our common future.
Keywords: Environmental Education, Experience Report, Environment

INTRODUÇÃO

Antigamente confundia-se a educação com a obediência. O aprendizado era imposto por


meio do respeito forçado, de castigos ou tarefas, o que não encorajava os educandos a
compreenderem reflexivamente sobre o conteúdo proposto, podendo, até mesmo, desestimulá-los.
Esta estrutura do ensino tradicional vem sofrendo mudanças significativas com metodologias
diferenciadas e novas tecnologias de apoio, apresentando uma educação inovadora no modo de
ensinar e aprender, com inserção de novos valores, novas práticas, novos pensamentos e novas
atitudes.
Uma mudança imprescindível e relativamente nova na educação do homem, foi a inclusão
de uma educação voltada para os princípios da sustentabilidade e da cidadania, que busca não só o
cuidado, a exploração sustentável e a preservação dos ambientes naturais, mas também, ensina e
sensibiliza o homem para a cidadania planetária - uma Educação Ambiental (EA) que busca a
transformação de atitudes. Sua aplicabilidade, hoje, é inclusa nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) como uma ferramenta interdisciplinar (BRASIL,1998), bem como em outras
dimensões fora da escola, no ensino não-formal, nas indústrias, parques turísticos, centros
comerciais, ambientes domiciliares, dentre outros, de acordo com a Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA)(BRASIL, 1999).
A necessidade de uma reeducação do homem frente os prejuízos lançados pela sua conduta
predatória aos recursos da natureza e as desigualdades sociais, incluiu a Educação Ambiental como
uma proposta pedagógica para sensibilizar e mudar este comportamento humano.
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º. "Entendem-
se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade." (BRASIL, 1999)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para que os objetivos da PNEA sejam efetivos, necessita-se da formação de educadores


ambientais preparados no entendimento de suas dimensões e de sua aplicabilidade, dentro e fora do
ambiente escolar. As práticas ambientais, seja em ambientes naturais ou transformados, são
ferramentas importantes neste processo, pois fogem das metodologias tradicionais de ensino,
podendo despertar ao aluno ou aprendiz, através dos conceitos da sustentabilidade, um interesse no
querer aprender e desejar mudar, frente as dinâmicas existenciais entre homem e ambiente.
O trabalho proposto foi idealizado e desenvolvido pelos alunos do curso Técnico em Meio
Ambiente do Senac Birigui - SP, através da monitoria de trilhas guiadas e interpretativas no Parque
Ecológico Baguaçu (PEBA) município de Araçatuba-SP, juntamente com crianças de ensino
fundamental II de uma escola municipal da mesma cidade, tendo por objetivo algumas atividades
práticas que abordaram conceitos importantes sobre a preservação e sustentabilidade de ambientes
classificados como Áreas de Preservação Permanente dentro de espaços urbanos e a mudanças de
atitude necessárias do homem na incansável busca pela sustentabilidade presente e futura. Além
deste, o presente trabalho também objetivou desenvolver esta prática como parte das atividades
propostas do módulo II de Educação Ambiental do curso Técnico em Meio Ambiente aos autores
responsáveis.

JUSTIFICATIVA

Este trabalho justifica-se pela necessidade constante da aplicação da Educação Ambiental


em todas as esferas educativas, através de práticas reflexivas, participativas e interpretativas, pela
elucidação e aprendizado sobre os conceitos científicos que regem as dinâmicas dos ambientes
naturais e urbanos e suas inter-relações e pela necessidade da formação de futuros educadores
ambientais aptos ao pleno desenvolvimento desta proposta, fundamental para a formação técnica
destes.

OBJETIVO GERAL

Sensibilização sobre a importância de áreas de APP‘s em ambientes urbanos, a importância


de sua preservação e relação direta com a sociedade civil, bem como a sensibilização para a
mudança de uma conduta humana exploratória para uma conduta humana sustentável.

Objetivos Específicos

Desenvolvimento de uma trilha guiada com abordagem de conceitos importantes


relacionados ao ambiente de estudo e sua inter-relação com a população local;

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Elucidar a importância da preservação do Ribeirão Baguaçu e de suas matas ciliares como


principal fonte de captação de água para o município de Araçatuba – simulação de solos erodidos na
ausência de matas;
Despertar o interesse dos alunos quanto a educação ambiental, a mudança de atitude e sobre
a sustentabilidade ambiental;
Dinâmicas reflexivas sobre conceitos de sustentabilidade.

METODOLOGIA

As atividades foram realizadas no Parque Ecológico Baguaçu – PEBA pelos alunos do curso
Técnico em Meio Ambiente do SENAC de Birigui-SP, com crianças do ensino fundamental II de
uma escola municipal da cidade de Araçatuba. As mesmas integraram, através de um convite, o
cronograma proposto pelo Departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da cidade de
Araçatuba-SP como reflexão a Semana da água e ao ―Dia Mundial Da Água‖, enfatizando a
importância do Parque Ecológico e do Ribeirão Baguaçu (que abastece 70% da cidade de
Araçatuba-SP) para a população local.
De acordo com os objetivos propostos segue abaixo a descrição das atividades:

Atividade 1 – ―Dinâmica da Palavra‖


Em uma pequena roda, as crianças descreveram em uma palavra como sentiam-se antes do início
das atividades propostas objetivando receber destas as expectativas apresentadas.
__________ ―Dinâmica Morcego e Mariposa‖
Conceituar a relação de predador e presa e a importância das interações ecológicas em ambientes
naturais. (Figura 1)

Atividade 2 – ―Mata ciliar‖


Uma pequena simulação em recipientes apropriados demonstrou as diferenças de um solo protegido
por florestas e um outro desprotegido, em dias chuvosos. (Figura 2 e 3)

Atividade 3 – ―Caminhada pelas trilhas interpretativas do Parque Ecológico‖ (Figuras 4 e 5)


Nesta atividade os alunos foram guiados e orientados pelos monitores em um percurso de 800
metros de caminhada nas trilhas existentes do Parque, com explicações sobre as dinâmicas do
ambiente explorado, abordando diversos conceitos ambientais sobre tipo de solo, importância do
Ribeirão Baguaçu, características e classificação da vegetação local, da fauna local e a relação
antrópica direta sobre estes, conceituando e identificando os aspectos e impactos ambientais
gerados pelo processo de urbanização e esclarecendo a necessidade da preservação de APP‘s em
ambientes transformados. Além destas, para estimular o olhar observador, foram colocadas em
vários pontos da trilha mudas de árvores nativas da região local, como a Pitangueira (Eugenia

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

uniflora) e Camu-camu (Myrciaria dúbia) onde as crianças procuraram por estas mudas e quando
encontradas puderam levá-las para casa e orientadas a plantarem em seus bairros. Também foram
escondidos diversos objetos não pertencentes ao ambiente natural estudado estimulando a criança a
procurá-los e apontá-los como resíduos de ações antrópicas.

Atividade 4 - ―Bingo da Natureza‖ (Figura 6)


Como última atividade proposta e também para estimular a observação, um monitor foi citando
palavras –chaves que as crianças teriam que relacioná-las com as ―peças‖ existentes no ambiente
natural local. As crianças procuraram no ambiente coisas que se relacionavam a eles.

Atividade 5 - Dinâmica ―Palavra‖


Novamente as crianças em uma palavra descreveram como sentiam-se após o término das
atividades propostas, objetivando um feedback como resposta a idealização do trabalho e, neste
momento, os monitores elucidaram a importância destas atividades de Educação Ambiental como
ferramenta para a sensibilização e a mudança de atitude do homem.
Para finalizar, as crianças foram levadas para as mesas de recreação do Parque onde puderam ter
um convívio harmonioso com os monitores através de um piquenique oferecido pelos responsáveis
do evento.

RESULTADOS

Os resultados foram apresentados em formato de imagens com breve descrição dos


feedbacks observados durante as atividades.

Atividade 1 - Dinâmica Morcego e Mariposa

Figura 1

Nesta atividade da figura 1 acima, as crianças puderam vivenciar a dinâmica sobre o


conceito de predador e presa e o entendimento da importância de cada grupo de ser vivo para a
dinâmica dos ecossistemas naturais e urbanos. Houve uma reflexão exposta pelos monitores

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ambientais e comentários feitos por parte das crianças quanto à necessidade da preservação de áreas
naturais.

Atividade 2 – Dinâmica Mata Ciliar

Na dinâmica sobre a importância da preservação das matas ciliares, os monitores ambientais


simularam um processo de erosão de áreas ausentes de vegetação com áreas de APP‘s preservadas.
As crianças puderam observar com mais clareza a importância das florestas, respondendo a
perguntas feitas pelos monitores, esclarecendo dúvidas, e refletindo sobre as atividades antrópicas
presentes no parque (Figura 2 e 3).

Figura 2 Figura 3

Atividade 3 – Caminhada pelas trilhas interpretativas do Parque Ecológico

A caminhada pela trilha teve por objetivo despertar a observação das crianças na percepção
das diferentes espécies de plantas e animais existentes no parque, conhecer a classificação
sistemática destes e sua importância ecológica, despertar o olhar para a biodiversidade local e a
preservação destas matas inseridas em ambientes urbanos. Atentarem para o principal rio que
abastece a cidade e a situação atual da qualidade de suas águas, sobre as Leis Ambientais vigentes
do código Florestal, dentre outras. Muitas perguntas por parte das crianças foram realizadas, num
sentimento de euforia e alegria, por estarem em um ambiente diferente de seu cotidiano escolar,
misturados a atenção naturalmente dada aos monitores que iriam oferecer atividades interessantes,
possivelmente pode ter havido uma reflexão sincera destas crianças sobre as ações do homem, sobre
a necessidade da postura sustentável e permanente e sobre a preservação destes ambientes já tão
fragilizados (Figura 4 e 5).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 4 Figura 5

Atividade 4 - Bingo da Natureza

Esta atividade propôs também estimular a observação da biodiversidade local e a integração


destes ambientes com o homem. As crianças procuraram relacionar frases e palavras ditas pelos
monitores a estruturas existentes no ambiente em estudo. Todas as crianças ali presentes
participaram integralmente das atividades propostas pelos monitores e este fator contribui para o
processo do entendimento, da sensibilização e mudança de atitude necessária a todos (Figura 6)

Figura 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As atividades de Educação Ambiental não devem se restringir somente aos ambientes


naturais, pois ela está e se faz necessária em todos os ambientes e esferas educativas. Ela é
interdisciplinar. Porém, trabalhá-la em ambientes naturais é prazeroso para o aluno e estimulante,
pois estes ambientes são diferentes do seu cotidiano escolar e proporcionam sensações positivas,
que acalmam e alegram e que, quando explorados para o despertar da conduta sustentável, se
tornam ferramentas muito produtivas. Por serem ambientes que levam a sensações boas, logo, o
homem desejará que estes sempre estejam presentes para o seu desfrutar, mas um desfrutar com
vistas na sustentabilidade. De certa forma, a Educação Ambiental trabalhada nestes ambientes,
proporciona vivências ao aluno capaz de fazê-lo realmente pensar nas suas atitudes e refletir sobre a
sua conduta. Acredita-se aqui que, o trabalho presente possivelmente tenha colaborado para um
maior entendimento destas crianças sobre a crescente e urgente necessidade da mudança de atitude,
do ser e permanentemente viver com a prática cotidiana da sustentabilidade. Para além, estas
atividades também são valorativas no sentido da formação profissional, como educadores
ambientais, dos respectivos alunos do curso Técnico em Meio Ambiente e autores responsáveis pelo
desenvolvimento deste trabalho. A Educação Ambiental necessita de números crescentes de
profissionais bem qualificados no entendimento da proposta e na forma de sua aplicabilidade e,
quanto mais se faz através dela mais ela se estabelece e se transparece no nosso presente. A
Educação Ambiental deve agir para que o sujeito mude suas atitudes, enraizadas neste capitalismo
consumista, para uma atitude igualitária que se estabelece através da postura sustentável.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO DE UM ROTEIRO GUIADO NO PARQUE


PARREÃO I, FORTALEZA – CE

Irana Maria Pinheiro SOARES


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas (bacharelado) UFC
nanasu.soares@bol.com.br
Dominik Garcia Araújo FONTES
Pesquisadora Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior UFC
dominikfontes@ufc.br

RESUMO
O Parque Parreão I é uma das áreas verdes existentes em Fortaleza. Buscando divulgar a
biodiversidade deste local e envolver a sociedade em sua conservação, o projeto Pró-Parreão tem
promovido ações de educação ambiental. O objetivo deste artigo foi apresentar o roteiro guiado de
visitação do Parque Parreão I abordando sua produção e importância para a realização da
caminhada ecológica e discorrer acerca da aplicar deste roteiro junto a alunos de escolas públicas e
instituições não formais de ensino. Para elaboração do roteiro guiado, foram realizados estudos
bibliográficos sobre o local e um prévio trabalho de campo para registros, identificações e
observações das principais espécies da flora e da fauna encontradas no parque. O percurso da
caminhada ecológica foi construído para ter uma hora de duração. Os pontos determinados para o
roteiro foram sistematizados de forma a possibilitar explanações e discussões sobre a importância
de áreas verdes para a cidade, histórico do local, a diversidade e riqueza do parque, os impactos
ambientais locais existentes e outros assuntos relevantes, enfatizando a importância da preservação
desta e de outras áreas verdes da cidade. Os animais observados durante o trajeto foram
identificados indicando a relevância do Parque Parreão I na manutenção da vida desses animais,
dialogando assim com diversas áreas do conhecimento. Além da caminhada propriamente dita, o
projeto Pró-Parreão convidou integrantes de outra instituição e de outro projeto da UFC para
promover atividades lúdicas educativas que abordaram a temática de combate ao mosquito Aedes
aegypti como desfecho da atividade. Após a conclusão do roteiro foram convidados integrantes de
duas instituições para participar da caminhada ecológica. Constatou-se a importância dos dois
métodos para a promoção da educação ambiental contribuindo assim para a preservação e
valorização da biodiversidade do Parque Parreão I.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Caminhada Ecológica, Conservação, Parque Parreão I
ABSTRACT
The Parque Parreão I is one of the green areas in Fortaleza. Seeking to disseminate a biodiversity of
this place and to involve a society in its conservation, the Pro-Parreão project has promoted actions
of environmental education. The objective of this article was to present the guided tour of the
Parque Parreão I discussing its production and conditions for a collective learning course and
discussing the script together with students from public schools and non - formal teaching
institutions. The guided tour was based on bibliographical researches carried out about the Parque
Parreão I and previous field work for records, identifications and observations of the main species
of flora and fauna found in the area. The ecological walking path was built for an hour long. The
points established for the itinerary were systematized in order to make possible explanations and
discussions about the importance of green areas for a city, the site's history, park biodiversity,
environmental impacts and other relevant aspects, emphasizing the importance of preserving others
green areas of the city. The animals observed during the journey were identified indicating a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

relevance of the Parque Parreão I in the maintenance of animal life, thus dialoguing with several
areas of knowledge. In addition to the walk itself, the Pró-Parreão project invited members of
another projects to promote educational recreational activities that address the issue of combating
the Aedes aegypti mosquito as an outcome of the activity. After the completion of the script with
integrated guests of two institutions to participate in the ecological walk. It was verified the
importance of the two methods for a promotion of environmental education for a preservation and
valorization of the biodiversity of the Parque Parreão I.
Keywords: Environmental Education, Ecological Walk, Conservation, Parque Parreão I

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é um processo constante, que leva as pessoas e a comunidade a


tomarem consciência do seu meio-ambiente e a obter conhecimentos e valores que os tornam
capazes de agir e resolver problemas ambientais (DIAS, 2000). Ela surgiu como um instrumento
transformador em um cenário de intensa degradação ambiental, despertando a consciência ecológica
nos indivíduos e sensibilizando-os quanto aos problemas ambientais (FOFONKA, 2015).
A partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em
Tsibilisi (EUA), em 1977, iniciou-se um processo para a formação de uma nova consciência sobre o
valor da natureza, o que tem possibilitado a realização de experiências concretas de educação
ambiental de forma criativa e inovadora por diversos segmentos da população e em diversos níveis
de formação (JACOBI, 2003).
Sendo assim, a Educação Ambiental é uma ação interdisciplinar para ser trabalhada por
todas as idades, comunidades e realidades, pois ela aponta para propostas pedagógicas centradas na
conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de
avaliação e participação dos educandos (PÁDUA e TABANEZ, 1998). O contato com as áreas
naturais contribui para a formação de um indivíduo com valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes voltadas para a conservação e uso sustentável do ambiente e de uma visão
holística sobre os espaços que compõe a cidade (MACIEL et al., 2015).
A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente
do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de
sentidos sobre a educação ambiental. A questão ambiental envolve todo um conjunto de atores do
universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento, a
capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar
(JACOBI, 2003).
Diante desse cenário, diversas estratégias têm sido apontadas para a construção de uma
conscientização por parte da população, onde o conhecimento é parte fundamental no processo de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sensibilização ambiental (GURGEL, 2011). Tais ações são de grande importância para a melhoria
do uso e preservação do meio ambiente.
Em Fortaleza, O Parque Parreão constitui uma área verde da cidade, considerada Zona de
Proteção Ambiental 1(ZPA1) pela Lei Complementar 0202, de 13 de maio de 2015, ou seja
constitui faixa permanente de preservação de seus recursos hídricos, apresentando grande
importância ecológica na manutenção dos ecossistemas aos quais elas pertencem, abrigando
espécies da fauna e da flora e proporcionando conforto térmico em meio ao deserto urbano da
cidade (LIMA, AMORIM, 2006). Localizado entre as avenidas Borges de Melo e Eduardo Girão,
no Bairro de Fátima, o parque possui uma área de 31.582 , é bastante utilizado pela população
local como equipamento de lazer e prática de atividades físicas junto à natureza. Possui também um
riacho que leva o mesmo nome e corre por toda sua extensão (ALVES, 2013).
Devido a essa importância ecológica buscou-se envolver a sociedade ativamente na
conservação, preservação e valorização do Parque Parreão. Para isso, o projeto Pró-Parreão
produziu um roteiro guiado com o objetivo de realizar caminhadas ecológicas no local,
desenvolvendo a educação ambiental junto a alunos de escolas públicas e de outras instituições de
educação não formal possibilitando o conhecimento e divulgação da riqueza natural e cultural do
parque de forma interdisciplinar. Através da educação ambiental é possível sensibilizar a população
em geral acerca dos problemas ambientais, facilitando o processo de tomada de consciência sobre a
gravidade dos impactos ambientais e a necessidade urgente de ações de gestão sustentável do
patrimônio natural.
Assim, o objetivo do presente artigo é apresentar o roteiro guiado de visitação do Parque
Parreão I abordando sua produção e importância para a realização da caminhada ecológica e aplicar
este roteiro junto a alunos de escolas públicas e instituições não formais de ensino.

MÉTODOS

Para elaboração do roteiro guiado, foram realizados estudos bibliográficos sobre o local e
um prévio trabalho de campo para registros, identificações e observações das principais espécies da
flora e da fauna encontradas no parque.
O percurso não abrangeu a área total do parque, de 31.582 m², pois foi necessário adaptar-se
ao tempo de permanência das instituições no local. Assim, o percurso da caminhada ecológica foi
construído para ter uma hora de duração.
Os pontos determinados para o roteiro foram sistematizados de forma a possibilitar
explanações e discussões sobre a importância de áreas verdes para a cidade, histórico do local, a
diversidade e riqueza do parque, os impactos ambientais locais existentes e outros assuntos
relevantes, enfatizando a importância da preservação desta e de outras áreas verdes da cidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Os animais observados durante o trajeto foram identificados indicando a relevância do


Parque Parreão I na manutenção da vida desses animais, dialogando assim com diversas áreas do
conhecimento.
Além da caminhada propriamente dita, o projeto Pró-Parreão convidou integrantes de outra
instituição e de outro projeto da UFC para promover atividades lúdicas educativas que abordaram a
temática de combate ao mosquito Aedes aegypti como desfecho da atividade.
Após a conclusão do roteiro foram convidados integrantes de duas instituições para
participar da caminhada ecológica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Roteiro

Antes da caminhada propriamente dita, os participantes foram acolhidos pela equipe do


projeto no anfiteatro do parque que fizeram uma apresentação inicial do projeto e do Parque
abordando aspectos históricos relacionados a sua criação e a importância da preservação de áreas
verdes na cidade. Também foram informadas normas de conduta de maneira a fornecer todas as
informações necessárias para um melhor aproveitamento do percurso.
Foram definidos 5 pontos de parada temporária ao longo da caminhada ecológica.
A primeira parada foi diante da maior árvore existente no Parque, podendo chegar a cerca de
30 metros de altura, e que também é símbolo do projeto Pró-Parreão, o Piroá (Pterygota
brasiliensis). Além de discorrer sobre os locais onde esta espécie é endêmica, foi abordado suas
características e de forma complementar apresentou-se duas espécies de aves que dela se
alimentam: o periquito jandaia e o periquito da caatinga. Ocasião em que foram mostradas fotos das
duas espécies de forma a possibilitar que o participante identificasse a diferença entre eles. Levou-
se ainda informações acerca de suas características, alimentação, reprodução e hábitos.
A segunda parada foi definida numa área com grande presença de Mungubas (Pachira
aquatica), espécie muito utilizada no paisagismo da cidade. Nesse ponto foi apresentado aos
participantes o conceito de espécies nativas e exóticas e seus impactos ao meio ambiente
ressaltando a grande presença do Nim (Azadirachta indica) na cidade de Fortaleza. Também foram
apresentadas as características desta espécie e de alguns animais que se alimentam de seus frutos,
como os soins, e do néctar de suas flores, como os beija-flores.
A terceira parada foi definida nos Abricós de Macaco (Couropita guianensis), uma espécie
endêmica da Amazônia e que chama muito atenção dos transeuntes do Parque por sua beleza
exótica. Foifeita uma explanação sobre suas principais características chamando atenção para seus

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

frutos, conhecidos como bolas de canhão por se assemelharem a elas, e flores, que lembram
espécies de plantas carnívoras.
A quarta parada localizou-se nas proximidades das margens do riacho Parreão, onde os
participantes puderam ouvir um pouco da história do riacho e realizar uma análise das águas do
riacho Parreão, através do projeto Observando os rios da ONG SOS Mata Atlântica, que com a
ajuda de voluntários, vem realizando o monitoramento da qualidade da água do riacho Parreão.
A quinta parada foi diante de um Juazeiro (Ziziphus joazeiro), uma espécie nativa da
Caatinga adaptada ao clima semiárido. Neste ponto foram apresentadas as características da espécie
e da Caatinga bem como aspectos históricos relacionados a origem da cidade de Juazeiro do Norte
no estado do Ceará.
A sexta e última parada foi definida diante do Pau-Brasil (Paubrasilia echinata). Além da
explanação acerca das principais características da espécie também foram ressaltados aspectos
históricos levando em conta tratar-se da espécie da qual se originou o nome de nosso país e que foi
durante muito tempo extraída de forma predatória.
Durante o trajeto também foram apresentados, através de fotos, alguns animais da fauna
local como iguana, socó-boi, sabiá, bico-de-lacre, garça, soin, gavião carijó, dentre outros. Alguns
destes animais puderam ser avistados durante o percurso.
Outro assunto abordado durante a caminhada ecológica foi a presença de gatos no local e o
impacto causado por eles ao ambiente uma vez que se alimentam de aves e répteis causando
desequilíbrio ambiental.

A Caminhada Ecológica

Foram realizadas duas visitações, ocorridas nos dias 6 e 8 de junho de 2017, no período da
tarde. No dia 6 de junho, participaram cerca de 40 crianças e jovens do Lar Fabiano de Cristo,
instituição que realiza ações sociais e educativas com famílias carentes. Os alunos chegaram ao
local às 14h30 e foram recebidos no anfiteatro do Parque Parreão I, onde foi realizada a
apresentação da equipe do Pró-Parreão e abordado aspectos históricos do local. Em seguida,
iniciou-se a caminhada ecológica, que seguiu o roteiro planejado. Após a caminhada, os alunos
participaram de uma ″Caça ao tesouro″, atividade educativa relacionada ao combate do mosquito
Aedes aegypti, desenvolvida pelo PROSA, Programa de Promoção à Saúde do Departamento de
Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará. A atividade consistiu em recolher o lixo que foi
colocado em pontos estratégicos, a fim de combater os focos do mosquito. Ao fim da atividade,
houve um momento para o lanche e um momento livre. Os jovens permaneceram no parque até as
17h.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No dia 8 de junho, foram recebidas 30 crianças e adolescentes da rede municipal de ensino


da Escola Papa João XXIII. Os alunos chegaram ao local às 14h e foram recebidos no anfiteatro do
Parque Parreão I, onde foi seguido o mesmo procedimento de apresentação da equipe e abordagem
dos aspectos históricos do local. Em seguida, iniciou-se a caminhada ecológica, com duração de
uma hora, que seguiu o roteiro planejado. Após a caminhada, houve a realização do teatro de
fantoches, feito pela equipe da Guarda Municipal de Fortaleza, cujo tema foi o combate do
mosquito Aedes aegypti. Em seguida, houve o momento para o lanche e um momento livre, onde os
jovens permaneceram no parque até as 16h30.
Após a realização da caminhada ecológica com os alunos, observou-se que os participantes
gostaram de conhecer o parque por dois motivos: pelo lazer e bem-estar proporcionado pela área
verde e pelos novos conhecimentos adquiridos durante a caminhada ecológica. Foi observado
também que os poucos alunos que já que conheciam o Parque Parreão não tinham noção da
importância e existência de tantas espécies no local, principalmente por estar localizado numa área
tão urbana.
As áreas verdes, como o Parque Parreão, apresentam grande importância ecológica na
manutenção do ecossistema, abrigando espécies da fauna e da flora e proporcionando conforto
térmico em meio ao deserto urbano da cidade. Além disso, a população usufrui dos benefícios
oferecidos por esses espaços. Assim, estes ambientes também cumprem a função de arejamento,
recreação e beleza da cidade.
Com a aplicação do roteiro, foi visto que houve uma modificação na forma que os alunos
perceberam o parque e a cidade, contribuindo para que os visitantes construíssem uma nova
percepção de preservação e valorização do espaço, atuando assim na conservação do local.
Através dessa ação de educação ambiental foi possível sensibilizar crianças e adolescentes
acerca dos problemas ambientais, facilitando o processo de tomada de consciência sobre a
gravidade dos impactos ambientais e a necessidade urgente de ações de gestão sustentável do
patrimônio natural. Dessa forma, a avaliação positiva do projeto deve-se à percepção ambiental
adquirida pelos alunos na relação sociedade/natureza.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o desenvolvimento do roteiro guiado e da realização das caminhadas ecológicas, foi


possível constatar a importância e necessidade dos dois métodos para a promoção da educação
ambiental contribuindo assim para a preservação e valorização da biodiversidade do Parque Parreão
I.
A elaboração e aplicação do roteiro produzido mostrou que é possível a construção de uma
cultura ambiental nas crianças e jovens que, quando construídas via sensibilização e não mais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

baseada em ensinamentos direcionados facilmente descartados pelos mesmos, possibilita a


manutenção de práticas de uso e manejo sustentabilidade no local.

REFERÊNCIAS

ALVES, T. C. V. A. Parques urbanos de Fortaleza: espaço vivido e qualidade de vida. 2013. 198f.
Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas.
Rio Claro, 2013. Disponível em
˂http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/104416/alves_tcva_dr_rcla.pdf˃. Acesso em
10 jul 2017.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2000.

FOFONKA, L. Inclusão social e educação ambiental: uma relação possível. Revista EA.
Disponível em ˂http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=2052˃. Acesso em 10 jul 2017.

GURGEL, Fernanda F. Compromisso pró-ecológico. In: CAVALCANTE, Sylvia. ELALI, Gleice


A. (Orgs.) Temas básicos em psicologia ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 159-173.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p.


189-205, março/ 2003.

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001.

LIMA, V.; AMORIM, M. C. C. T. A importância das áreas verdes para a qualidade ambiental das
cidades. Revista Formação, n.13, p. 139 -165. 2006. Disponível em
˂http://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/viewFile/835/849˃. Acesso em 10 jul.
2017.

MACIEL, J. L. et al. Metodologias de uma Educação Ambiental Inclusiva. Revista Escola de


Gestão Pública. Disponível em
˂http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sma/revista_EGP/Metodologia_Jaqueline_outros.pdf˃.
Acesso em: 10 jul. 2017.

PÁDUA, S.; TABANEZ, M. (orgs.). Educação ambiental: caminhos trilhados no Brasil. São
Paulo: Ipê, 1998.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO PARA O GEOSSÍTIO CÁRSTICO GRUTA


DO URUBU REI, LAGOA DOS PATOS - MG

Lediane Carvalho de OLIVEIRA


Graduanda em Geografia UFU
ledianegeo@gmail.com
Drª Ângela Maria SOARES
Professora do Instituto de Geografia UFU
angelamsoares@gmail.com

RESUMO
O geoturismo surge como um seguimento que evidencia os notáveis atributos de caráter abióticos
no sentido de proporcionar às pessoas o contato e o aprofundamento do conhecimento acerca dos
geossítios/geomorfossítios, conscientizando-os para a importância de conservá-los. Este trabalho
tem como objetivo caracterizar o geossítio Gruta do Urubu Rei enfatizando a necessidade de
conservação por meio do geoturismo. A metodologia utilizada consistiu em classificar segundo
critérios não matemáticos, os elementos intrínsecos, o uso potencial e a necessidade de
geoconservação do geomorfossítio. Os resultados do estudo demonstraram que o geossítio Gruta do
Urubu Rei apresenta aspectos intrínsecos de caráter local, evidenciado pelo Rio que abastece as
famílias do entorno, uso potencial para atividades didáticas, científicas e de lazer, apresenta-se
vulnerável a degradação devido à falta de sensibilização ambiental acerca das peculiaridades locais
e a falta de uma legislação protetiva específica que assegure a geoconservação do geossítio e sua
área de influência, conferindo a necessidade de ações de planejamento ambiental.
Palavras Chave: Geoturismo, Planejamento, Gruta do Urubu Rei.
RESUMÉN
El geoturismo surge como un seguimiento que evidencia los notables atributos de carácter
abióticos, sin sentido de intercambio a las personas y contacto con la profundización del
conocimiento sobre los geosítios / geomorfosítios, concientizándolos para la importancia de
conservados. Este trabajo tiene como objetivo caracterizar el geosítio Gruta del Urubu Rei
enfatizando la necesidad de conservación por medio del geoturismo. Una metodología utilizada
para la enseñanza superior y la necesidad de conservación de la geosítio. Los resultados del estudio
demostraron que el geomorfosítio Gruta del Urubu Rey presenta objetos intrínsecos de carácter
local, evidenciado por el Río que abastece como familias del entorno, uso potencial para actividades
didácticas, científicas y de ocio, se presenta vulnerable la degradación debido a la falta de
sensibilización ambiental sobre las peculiaridades locales y falta de una legislación protectora
específica que asegure una conservación de geosítio y su área de influencia, dando una necesidad de
acciones de planificación ambiental.
Palabras Clave: Geoturismo, Planificación, Gruta del Urubu Rei.

INTRODUÇÃO

Designa-se geossítio a ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade, bem


delimitado geograficamente e com valor científico, pedagógico, turístico, cultural, etc (Brilha,
2005). As cavidades naturais subterrâneas, aqui denominadas de geossítios com expressiva beleza
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

natural, são exemplos de feições naturais contendo variedades e inusitadas feições resultantes da
dissolução da rocha, ambientes que desde os primórdios trazem histórias com significância cultural,
principalmente para as comunidades mais próximas.
No Brasil, as cavidades naturais subterrâneas de acordo com o decreto 6.640/2008 devem
ser protegidas de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem técnico-científica, bem como
atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo. Por outro lado,
o mesmo decreto dispõe sobre graus de relevância classificando as cavidades naturais subterrâneas,
sob enfoque regional ou local, como sendo de baixo, médio ou alta relevância de modo que
dependendo de sua classificação e mediante licenciamento ambiental estas poderão ser impactadas
irreversivelmente.
Nesse sentido o planejamento ambiental visando diagnosticar as condições ambientais
peculiares de um dado território, de forma a definir estratégias que cheguem à melhor forma de
aproveitamento dos recursos naturais disponíveis, é indispensável para a minimização dos impactos
negativos promovendo a preservação e conservação dos ambientes naturais. As áreas cársticas,
essencialmente de rochas carbonáticas, são visadas para a extração do calcário com finalidades,
dentre outras, à fabricação de cimentos e produção de cal, muitas vezes comprometendo as
estruturas dos ambientes cavernícolas.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo analisar as potencialidades e fragilidades
do geossítio gruta do Urubu Rei localizado no município de Lagoa dos Patos norte de Minas Gerais.
As potencialidades são relativas ao aproveitamento para o geoturismo local, utilizando das
peculiaridades da gruta para a disseminação do conhecimento da mesma com a finalidade de
conscientização dos geoturistas e ações conservacionistas. Levantando as fragilidades será possível
prever riscos que possam surgir como empecilhos aos geoturistas nas visitações.
Para a realização desse estudo realizou-se revisão bibliográfica, leituras cartográficas e
reconhecimento in loco através de três campanhas de campo realizadas entre os anos 2013 a 2015.
A carta geológica da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais - CODEMIG e a
carta topográfica 1:100.00 do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro foram essenciais para as
análises e desenvolvimento do estudo.

CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS DA ÁREA DE ESTUDO

Geologicamente, a área de estudo insere-se no domínio interno do Cráton São Francisco. A


porção cratônica possui cerca de 500.000 km² e engloba parte dos estados de Minas Gerais, Bahia e
Goiás. O Grupo Bambuí constitui a cobertura neoproterozóica de maior distribuição no Cráton, este
é formado por duas sucessões estratigráficas principais, a basal composta pela Formação Serra de
Santa Helena (pelítico-carbonática), seguida pela Formação Lagoa do Jacaré (carbonática) ambas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pertencentes ao grupo paraopeba indiviso, sobrepostas em contato gradacional (Costa & Branco
1961 apud Iglésias e Uhlein, 2009), no topo destas unidades são encontradas por discordância
erosiva rochas pertencentes ao Grupo Areado (CODEMIG, 2013).
Na localidade é possível verificar dois conjuntos de morfologias: as chapadas
correspondentes às rochas relacionadas ao Cretácio do Grupo Areado e os terrenos dissecados
correspondente às rochas sedimentares do Grupo Bambuí (CODEMIG, 2013). As cotas altimétricas
variam entre 660 a 765 metros.
A forma tabular das chapadas favorece o predomínio da infiltração da água pluvial
recarregando os aquíferos. Nas bordas das chapadas onde as formações carbonáticas são expostas
apresentam certo grau de dissecação do relevo, expondo os maciços calcários da formação Lagoa
do Jacaré, esse fator é mais favorável ao intemperismo devido ao ataque dos agentes atmosféricos
causando a dissolução, esse fator favorece a formação das diversas dolinas captando as drenagens
para o ambiente subterrâneo.
A partir das análises efetuadas na carta topográfica Ibiaí 1:100.000 do Ministério do
Exército e processamento dos dados a partir do software Arc gis versão 10.1 disponibilizado no
laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal de Uberlândia, foi possível concluir que
as águas que drenam a área cárstica são pertencentes à microbacia do Riacho do Barro (Figura 1),
afluente do lado esquerdo do Rio São Francisco.
O Riacho do Barro compõe a unidade de planejamento de gestão das águas do São Francisco
centro, sob jurisdição do Comitê de Bacia Hidrográfica dos Rios Jequitaí e Pacuí.
O curso d‘água que atravessa a Gruta do Urubu Rei acompanhando o seu desenvolvimento é
o Rio Sumidouro, este foi descrito por Rubbioli (1991) com possibilidades de ser o Rio subterrâneo
de maior vazão do estado de Minas Gerais. A água do Rio Sumidouro é utilizada por cerca de treze
famílias o que corresponde ao abastecimento de aproximadamente setenta pessoas. Segundo
informações dos moradores que captam água, durante análises de vazão para o requerimento de
outorga junto ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas - IGAM, o referido Rio demonstrou vazão
de cerca de 550 l/s.
O bioma Cerrado é o maior de Minas Gerais, ocupando cerca de 57% do estado, é
caracterizado como uma formação do tipo Savana tropical. Os Cerrados ―Também chamados
campos cerrados, são conjunto de arboretas da mesma composição dos cerradões, porém não
escondem a superfície do solo que lhe serve de suporte ecológico‖ (AB‘SÁBER, 2003 p.2).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Localização da área de estudo. Org. das autoras.

A cobertura vegetal exerce a função de proteger a superfície do solo de duas maneiras: pela
intercepção das precipitações e pelo papel amortecedor dos detritos vegetais. A diminuição da força
do impacto da precipitação favorece um fluxo lento e facilita a infiltração da água pluvial no solo.
Em contrapartida, com o solo desnudo e com a diminuição da infiltração da água no solo, ocorre a
erosão pluvial que consiste na ―destruição dos agregados do solo pelo impacto das gotas da chuva‖
(TRICART, 1977, p. 26).
Dada a importância do recobrimento florístico, é oportuno analisar algumas atividades
exercidas pelo homem e que necessita a retirada da vegetação ou conseqüentemente a partir dela se
extingue a vegetação natural, diminuindo a resistência do solo provocando ou intensificando os
processos erosivos.
Na área de estudo podem ser observadas três classes de usos do solo. Nas áreas que
circundam a gruta do Urubu Rei predominam atividades pecuárias, essa área se relaciona aos locais
de afloramentos calcários da Fm. Lagoa do Jacaré de composição carbonática e, portanto, mais
propensa a dissolução.
O solo sem cobertura vegetal necessária para a atividade pecuarista, aliado ao pisoteio do
gado, causa a alteração da dinâmica morfológica da área intensificando os processos erosivos.
As áreas com maiores coberturas vegetais aparecem nas áreas de chapadas coincidindo com
as rochas areníticas do Grupo Areado.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O GEOSSÍTIO GRUTA DO URUBU REI

Inúmeras feições destacam-se nas paisagens naturais apresentando notoriedade, seja pela
beleza, história ou significado para o local em que se insere, porém as informações relacionadas à
sua formação, evolução e formas de conservação, nem sempre são divulgadas. O Geoturismo tem se
destacado no sentido de transmitir as informações de natureza abiótica com a finalidade de
proporcionar aos visitantes a contemplação, o lazer e o conhecimento daquilo que é visualizado.
O geossítio cárstico, foco desse estudo, surpreende aos que o visitam desde os metros
iniciais da trilha de acesso, onde é possível ouvir o barulho das águas do Rio Sumidouro em atrito
com os blocos rochosos. O Rio acompanha o desenvolvimento da cavidade pelos condutos
subterrâneos em sua extensão de 2.250 metros de projeção horizontal. Esse número a coloca na
posição de décima quarta maior caverna de Minas Gerais. A Gruta do Urubu Rei ainda não foi
totalmente mapeada, os últimos registros sobre a topografia, espeleometria e mapeamentos que se
obtiveram informações constam de 1991 (Figura 2), o que indica que a sua extensão supera os
números divulgados.

Figura 2: Mapa da gruta do Urubu Rei. Fonte: Gonçalves, (2013) (modificado)

A gênese da dolina pode ser representada pelo abatimento do terreno, seguido de erosão
fluvial. São 40 metros de desnível, e a sua entrada principal apresenta cerca de 16 metros de altura
(Figura 3). A presença de blocos soltos no seu interior afirma para a gênese por abatimento, os
depósitos clásticos de origem alóctone são diversos, composto por matacões, calhaus, cascalhos e
sedimentos finos. O amplo salão conforme figura 4 se situa nos primeiros 50 metros da gruta com
fácil acesso de visitantes.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Entrada principal do geossítio. Figura 4: Salão principal do geossítio.


Fonte: acervo das autoras (2015) Fonte: acervo das autoras (2015)

A sua excepcionalidade frente às demais grutas no município é a presença no Rio


Sumidouro. O Rio subterrâneo mantém sua perenidade mesmo nos períodos de estiagem. Rubbioli
(1991) descreve as belezas subterrâneas do geossítio cárstico durante a exploração e mapeamento
apontando a presença de duas quedas d‘águas de 20 e 10 metros. A representação cartográfica
resultante do mapeamento aponta que as quedas d‘água se localizam no Rio da Cobra, um curso
d‘água intermitente, porém durante as campanhas de campo não foram visualizadas as cachoeiras
que provavelmente se formam apenas no período chuvoso.

GEOTURISMO E PLANEJAMENTO

Foldmann (2010) destaca que o geoturismo está vinculado à divulgação atraente do


conteúdo geológico e à conservação deste, promovendo a educação ambiental no sentido de
conhecer para conservar e segundo HOSE o ―Geoturismo [...] promove o valor e o benefício social
de geossítios geológicos e geomorfológicos, assegurando simultaneamente a sua conservação para
uso de estudantes e turistas‖ (HOSE, 2000 apud BRILHA, 2005 p.122). Porém, a valorização do
patrimônio geológico deve preceder a divulgação, pois a falta de planejamento prévio à visitação
turística poderá causar mais impactos negativos do que os resultados positivos esperados.
A promoção de cenários informativos relevantes a divulgação das informações inerentes ao
local visitado requer cautela e conscientização dos planejadores, pois nesse sentido inviabilizaria o
informar para sensibilizar, se as estruturas impostas estiverem causando a degradação ou a poluição
do ambiente natural. Dessa forma, acredita-se que as menores adaptações no local e um esforço
maior para a preparação dos visitantes é cabível quando a finalidade maior é a geoconservação dos
ambientes de interesse geológicos/ geomorfológicos.
Brilha reforçando para a importância de a valorização anteceder a divulgação dos geossítios,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 454


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conceitua valorização como ―o conjunto de acções de informação e interpretação que vão ajudar o
público a reconhecer o valor dos geossítios‖ (BRILHA, 2005 p. 108). O planejamento desde a
produção de materiais de divulgação, audiências e a ação junto ao público escolar deve visar a
sensibilização, pois essa quando é alcançada ocorre uma mudança de paradigmas, não sendo uma
conscientização momentânea, mas o saber, o praticar e o replicar das informações para além do seu
convívio mais próximo.
A Gruta do Urubu Rei é pouco conhecida, até mesmo entre os munícipes, onde alguns dos
que a conhece a vê como local de riscos, associando muitas vezes, com histórias fictícias obscuras,
no entanto essas formações são peculiaridades da região e da localidade, necessitando que se
permita conhecer a realidade e em que estão inseridos e as razões existentes que possibilitam o
surgimento dessas feições na localidade.
Após a devida valorização do geossítio e assegurada à sensibilização em favor da
geoconservação, é necessário que oriente os geoturistas na rota que seguirá para a contemplação e
atividades relacionadas ao geoturismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento ambiental assume um papel irrevogável, tanto no campo de sensibilizar a


comunidade da necessidade de conservação por meio da educação ambiental, da proteção da
vegetação como amortecedora dos impactos da chuva prevenindo erosões, da conscientização dos
fazendeiros donos de gados para evitar o pisoteio nas áreas com terreno inclinado e próximo às
cavidades, enfim, no manejo adequado da área em todos os aspectos.
Esse estudo sinaliza os aspectos da Gruta do Urubu Rei como exemplo da geodiversidade e
a relevância da geoconservação por intermédio do geoturismo demostrando as potencialidades e
fragilidades, porém faz-se necessário um plano de manejo dessa área para que medidas de
conservação sejam sistematicamente trabalhadas, evitando o acúmulo de sedimentos no interior da
cavidade, o que pode comprometer o abastecimento da água para as famílias que dela utilizam.
O emprego do geoturismo como forma de sensibilizar para a proteção do geossítio cárstico
Gruta do Urubu Rei e do seu entorno, pode ser um excelente aliado para cessar e evitar as
intervenções depredatórias.
As ações de educação ambiental junto à comunidade poderão formar agentes de proteção a
esse ambiente, disseminando o conhecimento para além da localidade e atraindo outros
geoturistas, o que poderá proporcionar uma dinamização da economia do município, porém o
ganho maior e inestimável é a conservação do patrimônio natural local.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS

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dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território
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BRILHA J. Patrimônio Geológico e Geoconservação: a conservação da natureza na sua


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geomorfológica de longo termo: uma aproximação com base no caso do Setor Oeste do Curral
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL: TRABALHANDO A


IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DE NASCENTES NA
COMUNIDADE PIROÁS, REDENÇÃO, CEARÁ

Letícia Kenia Bessa de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Agronomia da UNILAB
leticia.kbo7@gmail.com
Francisca Evelice Cardoso de SOUZA
Graduanda do Curso de Agronomia da UNILAB
veh-cs@hotmail.com
Rafael Santiago da COSTA
Graduando do Curso de Agronomia da UNILAB
rafaelsantiagodacosta@yahoo.com.br
Aiala Vieira AMORIM
Professora Dra. do Curso de Agronomia da UNILAB
aialaamorim@unilab.edu.br

RESUMO
O Brasil tem enfrentado, nos últimos anos, uma das maiores crises hídricas de sua história, e apesar
da crescente necessidade por água, os ecossistemas produtores deste bem não são preservados.
Neste contexto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar as concepções dos moradores da
comunidade Piroás após atividades de conscientização ambiental no que se refere à importância da
conservação das nascentes e a preservação do meio ambiente. Este estudo configura-se como sendo
de caráter qualitativo e para a coleta de dados utilizou-se a técnica de entrevistas semiestruturadas.
A pesquisa foi realizada somente após a realização de todas as atividades com a comunidade
(palestras, capacitações, visitas in loco aos olhos d‘água e plantio de mudas), sendo realizada no
período de 05 de junho a 05 de agosto de 2017, onde, na ocasião foi aplicado um questionário
abordando a temática para um universo de 20 pessoas. Os resultados demonstraram que os
moradores participantes acharam muito importante as ações de conscientização feitas na
comunidade e quando indagados sobre a importância de preservar os olhos d‘água, todos
responderam que acham importante haver essa preservação. Contudo, ao serem questionados a
respeito da qualidade atual da água desses mananciais, alguns acreditam que esta é de má qualidade
por conta da poluição. As atividades de conscientização ambiental contribuíram para sensibilizar e
motivar os participantes a trabalharem em grupo e possibilitaram a construção de um pensamento
crítico voltado à preservação dos recursos naturais, de forma a ampliar a visão da comunidade em
relação à atual situação hídrica da região.
Palavras-Chave: Conscientização; Educação ambiental; Recursos naturais.

ABSTRACT
The Brazil has faced one of the largest water crises in its history in recent years, and despite the
growing need for water, the ecosystems that produce this well are not preserved. In this context, the
objective of this work was to evaluate the concepts of the residents of the Piroás community after
environmental awareness activities regarding the importance of the conservation of the springs and
the preservation of the environment. This study is configured as a qualitative one and the data
collection technique was used semi-structured interviews. The research was carried out only after

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

all activities with the community (lectures, trainings, on-site visits in the eyes of water and planting
of seedlings), being carried out in the period from June 5 to August 5, 2017,
where, at the time, a questionnaire was applied addressing the theme for a universe of 20 people.
The results showed that the participating inhabitants found the community awareness actions very
important and when asked about the importance of preserving the water eyes, all of them answered
that they consider it important to have this preservation. However, when asked about the current
water quality of these sources, some believe that it is of poor quality because of pollution. The
environmental awareness activities contributed to sensitize and motivate participants to work in
groups and enabled the construction of a critical thinking focused on the preservation of natural
resources, in order to broaden the community's view of the current water situation in the region.
Keywords: Awareness; Environmental education; Natural resources.

INTRODUÇÃO

O Brasil tem enfrentado nos últimos anos uma das maiores crises hídricas de sua história, e
muitos são os fatores atribuídos a este problema, tais como diminuição no regime de chuvas,
poluição dos corpos de água e aumento populacional. Barreto (2010), afirma que no Brasil existem
grandes cidades nas regiões de cabeceiras, perto das nascentes. Ou seja, a demanda é maior onde a
oferta de água é menor e a poluição é mais intensa onde mais deveria ocorrer a preservação.
Apesar da crescente necessidade por água, os ecossistemas produtores deste bem não são
preservados e os mananciais e as nascentes são constantemente destruídos, bem como as matas
ciliares que protegem essas fontes de água. Entende-se por nascente o afloramento do lençol
freático na superfície do solo, o que vai dar origem a uma fonte de água de acúmulo (represa) ou
cursos d‘água, como por exemplo rios (CALHEIROS et al., 2004). Por se tratar de uma fonte
natural e que oferta água de boa qualidade, possui valor inestimável dentro de uma propriedade
agrícola, necessitando de especial proteção para sua preservação.
Entretanto, apesar de sua enorme importância, nos últimos tempos as nascentes vêm
sofrendo grande devastação, o que leva o seu desaparecimento, em virtude da exploração
desordenada e a retirada da mata ciliar para ocupação agropecuária. Esse fato evidencia a relação
direta entre a vegetação e a manutenção dos corpos de água, uma vez que existência de áreas
preservadas implica em fontes e nascentes com água de melhor qualidade (BARRETO, 2010).
Desta forma, para que se garanta o fornecimento de água para o atendimento das
necessidades humanas básicas é necessária a promoção de ações que visem a preservação das
nascentes e dos ecossistemas nos quais estão inseridas. Contudo, ações deste tipo esbarram na falta
de consciência ambiental de grande parte da população, deixando claro que o caminho para a
proteção das fontes de água está em educar além de conservar, pois mais do que preservar é
necessário conscientizar.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Educar e sensibilizar a sociedade para o convívio com o meio ambiente de forma sinérgica e
respeitosa é um dos grandes desafios para profissionais de diversas áreas de estudo. Utilizar a
educação ambiental como instrumento transmissor de conhecimentos acerca do ambiente e do
desenvolvimento sustentável é uma forma de contribuir para a mudança de concepção das pessoas,
principalmente dos agricultores que lidam diariamente com a terra, levando-os a refletir sobre o
local onde vivem e que se sintam capazes de modificar sua realidade (OLIVEIRA et al., 2016).
Neste contexto, a educação ambiental é uma das ferramentas existentes para a sensibilização
e capacitação da população em geral sobre os problemas ambientais. É um processo de formação
dinâmico, permanente e participativo, no qual as pessoas envolvidas passam a ser agentes
transformadores, participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos
ambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais (MARCATTO, 2002).
Deste modo, educadores e alunos do curso de Agronomia da Universidade da Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), preocupados com as questões referentes à
intensa degradação ambiental na comunidade Piroás que está culminando no desaparecimento das
nascentes da região, proporcionaram capacitações e palestras para membros da comunidade, como
produtores rurais, adolescentes e donas de casa, com o intuito de educá-los ambientalmente, alertá-
los sobre os efeitos negativos de práticas realizadas por eles e instigá-los a produzir de forma
sustentável, reduzindo os danos à natureza e seus recursos.
Neste contexto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar as concepções dos moradores
da comunidade Piroás após atividades de conscientização ambiental, promovidas pelo corpo
discente e docente da universidade, no que se refere à importância da conservação das nascentes e a
preservação do meio ambiente.

METODOLOGIA

Este estudo configura-se como sendo de caráter qualitativo, que,


segundo Bogdan e Biklen (2003), envolve a obtenção de dados descritivos obtidos no contato direto
do pesquisador com a situação estudada, de forma a enfatizar mais o processo do que o produto,
preocupando-se em retratar a perspectiva dos participantes.
Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de entrevistas semiestruturadas, realizadas
através de uma conversação de natureza informal, seguindo roteiros pré-planejados com o intuito de
obter informações sobre o estado em que as nascentes se encontravam, se havia a presença de água,
sobre os manejos agrícolas das propriedades, a situação dos locais onde as nascentes estão inseridas,
as mudanças ocorridas nos últimos anos nestes locais, poluição de fontes de água, presença de lixo e
esgoto a céu aberto, dentre outras. Vale ressaltar que essa aplicação de questionários ocorreu após

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

serem realizadas as atividades de conscientização, com o intuito de analisar a percepção por parte
da comunidade no que diz respeito às mudanças de hábitos e atitudes.
Quanto às atividades, estas foram divididas nas seguintes etapas: realização de palestras e
capacitações junto à comunidade para conscientização acerca da preservação das nascentes de
Piroás (realizadas nas dependências da Fazenda Experimental da Unilab), visitas in loco aos olhos
d‘água para caracterização do ambiente e plantio de mudas nativas da Caatinga no entorno das
fontes.
No tocante às palestras e às capacitações, estas tinham como temas: ―Ciclo hidrológico:
aspectos relacionados às nascentes‖; ―Legislação e Conservação das Nascentes‖; ―Uso do fogo na
agricultura‖ e ―Implantação de Agroflorestas‖. Nestas temáticas discutiu-se sobre o conceito de
ciclo hidrológico e suas respectivas fases, o papel deste na formação das nascentes, as principais
causas de degradação e técnicas de preservação e recuperação das fontes de água. Foram
apresentados também as principais leis e os principais decretos sobre conservação dos olhos d‘água,
as implicações geradas pelas queimadas, formas de realizar a queima controlada e meios
alternativos à utilização do fogo como a implantação de agroflorestas. Em paralelo a isso, nos dias
de encontro, foram distribuídas à comunidade mudas nativas da Caatinga com potencial medicinal,
alimentício e paisagístico.
Por meio da realização de turnês guiadas com a presença de agricultores, foram feitas visitas
às nascentes da comunidade Piroás, afim de identificá-las e caracterizá-las quanto ao ambiente onde
estão inseridas, observando-se a composição da flora ao entorno, a presença ou a ausência de lixos e
água e o seu estado de conservação. Ao todo, foram visitados quatro olhos d‘água.
Para auxiliar e ajudar na recuperação das nascentes, foram realizados o plantio de 31 mudas
de duas espécies nativas da Caatinga, tiririca (Mimosa arenosa) e jurema branca (Piptadenia
stipulacea). A ação contou com a participação dos agricultores da comunidade e com a colaboração
do grupo de pesquisa em Biologia Vegetal da Unilab, o qual foi responsável pela disponibilização
das mudas e apoio técnico.
A pesquisa foi realizada somente após a realização de todas as atividades com a comunidade
no período de 05 de junho a 05 de agosto de 2017, sendo aplicada a um universo de 20 (vinte)
pessoas. O questionário possuía 11 (onze) perguntas que tinham como foco analisar o conhecimento
dos participantes acerca da temática abordada e verificar o avanço destes em relação ao grau de
instrução sobre a preservação das nascentes e sua importância para a manutenção do ciclo
hidrológico (Quadro 1).

Quadro 1 – PERGUNTAS
1) Na sua opinião qual a importância das nascentes para a Comunidade Piroás?
( ) muito importante;

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

( ) importante;
( ) pouco importante;
( ) não é importante.
2) Qual a importância das chuvas para as nascentes?
3) Você acha importante preservar os olhos d‘água?
( ) Sim ( ) Não
4) Você utiliza a área ao entorno das nascentes para praticar alguma atividade? Se sim, qual?
5) Você joga lixo na área das nascentes?
( ) Sim ( ) Não
6) Em seus plantios, realiza a queima da vegetação nativa?
( ) Sim ( ) Não
7) A área ao entorno dos olhos d‘água possui a presença de animal pastando?
( ) Sim ( ) Não
8) O (a) senhor (a) acredita que a água das nascentes seja de qualidade?
( ) Sim ( ) Não

9) Após a capacitação, o senhor (a) irá cuidar e preservar as nascentes da Comunidade?

( ) Sim ( ) Não
10) O (a) senhor (a) acha que a preservação dos olhos d‘água irá melhorar a problemática da água na
Comunidade?
( ) Sim ( ) Não
11) Você achou que as ações de conscientização da preservação das nascentes foi:
( ) muito importante;
( ) importante;
( ) pouco importante;
( ) não é importante.

Após a aplicação do questionário, as informações fornecidas pelos participantes foram


tabuladas e expressas em gráficos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As nascentes nas quais foram realizados os plantios estão localizadas em terreno declivoso e
estavam sem a presença de água no momento do plantio. A área ao entorno destas era utilizada para
agricultura, sendo efetuado todos os anos a prática da queimada para a implantação do plantio. Este
fato evidencia a necessidade de ações que conscientizem os moradores da comunidade quanto à
conservação das áreas de preservação permanente.
As Áreas de Preservação Permanente (APPs) são espaços especialmente protegidos nos
termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal. O conceito legal de APP relaciona tais áreas,
independente da cobertura vegetal, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Para as nascentes a lei estabelece um raio
mínimo de 50 metros no seu entorno independentemente da localização. Tal faixa é o mínimo
necessário para garantir a proteção e integridade do local onde nasce a água e para manter a sua
quantidade e qualidade (SCHÄFFER et al., 2011).
Com a realização de palestras para a educação ambiental e conscientização dos moradores,
foi possível apresentar à comunidade os mais variados temas, desde como as nascentes se formam,
até a legislação que define como estas devem ser preservadas, além de se ter exposto a respeito dos
problemas ocasionados pelas queimadas e as técnicas de uso controlado do fogo, bem como formas
alternativas a esse uso.
Deste modo, pode-se dizer que a Educação Ambiental é um dos fundamentos de
recuperação do meio ambiente, seja por meio da Escola e de seus currículos, das ações da
comunidade, do cooperativismo, da solidariedade ou de atitudes individuais. Para tal recuperação, é
necessário ter a clareza que a natureza não é fonte inesgotável de recursos, suas reservas são finitas
e devem ser usadas de maneira racional, evitando o desperdício (SILVA, 2013).
Diante das ações de conscientização para preservação das fontes de água, os moradores
participantes da capacitação foram indagados a respeito da importância das nascentes para a
Comunidade Piroás, e todos responderam que estas são muito importantes. O que demonstra o
entendimento por parte destes, quanto a importância dos olhos d‘água para a comunidade.
Quanto à importância da chuva para as nascentes, segundo os entrevistados, esta é
importante para que a água penetre no solo e assim abasteça os lençóis freáticos. Segundo Baggio et
al. (2013), as nascentes existem graças ao acúmulo da água da chuva no solo, nos chamados lençóis.
O funcionamento destes lençóis depende de sua capacidade de armazenamento e do uso da terra no
seu entorno. Os lençóis freáticos dependem do regime anual de chuvas e das condições físicas para
que a água penetre no solo. Deste modo, as práticas para melhorar o abastecimento dos lençóis,
como a proteção do entorno das nascentes, são necessárias para manutenção das fontes de água.
Quando indagados sobre a importância de preservar os olhos d‘água, todos os participantes
da capacitação responderam que acham importante haver essa preservação. Todavia, a maioria
destes respondeu que antes da capacitação utilizava a área ao entorno das nascentes para a prática
de agricultura.
A Comunidade Piroás não é assistida regularmente pela coleta de lixo, sendo tal serviço
ofertado à comunidade apenas a cada quinze dias. Desta forma, os seus moradores fazem o descarte
do lixo no meio ambiente e ao serem questionados se o descarte é realizado no entorno das
nascentes, a maioria respondeu que não, porém alguns indivíduos realizam tal atividade nessas
áreas. Ao serem perguntados sobre a preparação do terreno para o plantio, a maioria respondeu que
realiza a queima da vegetação nativa (Figura 1).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1. Porcentagens das respostas referentes à pergunta de número cinco e seis.

Os entrevistados, em sua totalidade, não permitem a presença de animais pastando no


entorno dos olhos d‘água. Contudo, ao serem questionados a respeito da qualidade da água desses
mananciais, alguns acreditam que esta é de má qualidade por conta da poluição. Apesar da maioria
dos participantes deste estudo acreditarem que as ações de preservação serão capazes de melhorar a
problemática da água na comunidade, alguns acreditam que tais ações são poucas e não contribuem
expressivamente para conservação da água (Figura 2).

Figura 2. Porcentagens das respostas referentes à pergunta de número oito e dez.

Todos os entrevistados afirmaram que acharam muito importante as ações de


conscientização feitas na comunidade, bem como asseguraram que irão cuidar e preservar as
nascentes após a capacitação, pois estes perceberam e se conscientizaram da importância em se
conservar as fontes de água.
Com a aplicação do questionário, foi possível verificar que após as ações de educação
ambiental os moradores capacitados adquiriram um senso de responsabilidade e conservação para
com o meio ambiente. Estes perceberam a importância de preservar as fontes de água e os
ecossistemas ao seu entorno para manutenção dos recursos hídricos, e assim melhorar a
problemática de água enfrentada pela comunidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Neste contexto, a educação ambiental apresenta-se como um elemento indispensável para a


transformação da consciência ambiental e pode levar à mudança de valores e comportamentos, o
que torna evidente a importância de educar os cidadãos para que ajam de modo responsável e com
sensibilidade, conservando o ambiente no presente para o futuro, modificando-se tanto
interiormente, como pessoa, quanto nas suas relações com o meio (DA SILVA, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da realização deste trabalho pôde-se perceber que um grande agravante que
culminou na degradação em áreas de nascentes foi a falta de informação dos participantes no
tocante à legislação e às práticas conservacionistas. Daí a importância de se levar ações como as
aqui mencionadas ao meio rural, onde o interesse é alertar a comunidade sobre os problemas ao seu
redor e sugerir formas alternativas e menos danosas para manter a conservação das fontes de água e
meio ambiente no geral.
A importância da preservação das nascentes de Piroás é notória, uma vez que essas estão
tornando-se temporárias, diminuindo o tempo de utilização da água pela comunidade e interferindo
em vários processos naturais, tais como o ciclo hidrológico.
As atividades de conscientização ambiental contribuíram para sensibilizar e motivar os
participantes a trabalharem em grupo e possibilitaram a construção de um pensamento crítico
voltado à preservação dos recursos naturais, de forma a ampliar a visão da comunidade em relação à
atual situação hídrica da região, a qual vem se tornando cada vez mais escassa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://www.5elementos.org.br/5elementos/files/pdf/downloads/nascentes_do_brasil.pdf> Acesso
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BOGDAN, R. S.; BIKEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CALHEIROS, R. O.; TABAI, F. C. V.; BOSQUILIA, S. V. Preservação e recuperação das


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 465


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A IMPORTÂNCIA DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL DAS NASCENTES DO


MUNDAÚ PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INCLUSIVA

Lorena de Moura MELO25


Graduanda do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas – UPE
lorem.moura@gmail.com
Marcos Renato Franzosi MATTOS26
Professor da UFRPE/UAG
mattos@uag.ufrpe.br
Marina de Sá Leitão Câmara de ARAÚJO
Professora do Curso de Ciências Biológicas da UPE
marina.araujo@upe.br

RESUMO
Esta pesquisa consistiu em expor como uma unidade de conservação pode ser utilizada para fins de
educação ambiental inclusiva. Através da mesma foram expostas as atividades realizadas no Parque
Natural Municipal das Nascentes do Mundaú, o qual é uma unidade de conservação situada no
município de Garanhuns/PE. Que através de suas ações visa desenvolver a consciência ambiental na
população do município, e de forma especial, nas pessoas detentoras de necessidades especiais.
Palavras-chave: Educação ambiental inclusiva. Unidades de conservação. Parques municipais.
ABSTRACT
This research consisted of exposing how a conservation unit can be used for inclusive
environmental education purposes. Through the same were exposed the activities carried out in the
municipal natural park of Mundaú springs, which is conservation unit located in municipality of
Garanhuns/PE-Brazil. That through their actions aimed at developing environmental awareness in
the municipality's population, and in a special way the persons who have special needs.
Key words: Inclusive environmental education. Conservation unit. Municipal parks

INTRODUÇÃO

A consciência ambiental veio sendo propagada com maior intensidade a partir do século
XX, após serem notados os efeitos degradatórios que o crescente consumismo e a industrialização
estavam ocasionando sobre os recursos naturais. Uma forma de alerta para a comunidade mundial,
quanto às consequências das ações antrópicas sobre o meio, foi à catástrofe ambiental, smog, que
ocorreu na Inglaterra no ano de 1952, e que provocou a morte de 1.600 pessoas (DREW, 2005).
Posteriormente a esse e outros fatos, houve-se um maior interesse mundial quanto às
questões ambientais. Isso pôde ser expresso através de eventos como, a Conferência de Estocolmo
(1972), a criação, pela ONU, de um organismo denominado Programa das Nações Unidas para o
25
ONG Econordeste.
26
Colaborador voluntário nos projetos da ONG Econordeste.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 466


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Meio Ambiente – PNUMA (1972) e Rio-92 (1992). Os quais abordavam o desenvolvimento


sustentável, a melhor gestão dos resíduos e o trabalho da educação ambiental (EA) na sociedade
(DIAS, 2004).
Como reflexo dos eventos supracitados, no século XXI se vê uma maior prudência dos
órgãos públicos nacionais e internacionais, a respeito do meio ambiente. Isso pode ser visto na
Agenda 21 Brasileira (BRASIL, 2002), que relata:

A primeira grande inovação da Agenda 21 é que o objetivo comum a ser atingido não está
restrito à preservação do meio ambiente, mas ao desenvolvimento sustentável ampliado e
progressivo que introduz, na discussão, a busca do equilíbrio entre crescimento econômico,
equidade social e preservação ambiental. Trata-se, portanto, da procura por uma nova
racionalidade que garanta a solidariedade e a cooperação, tanto quanto a continuidade do
desenvolvimento e da própria vida para as gerações futuras, ameaçadas pelo consumismo
perdulário e pela exploração predatória dos recursos naturais.

Um meio de alcançar tais objetivos é através da educação ambiental, que se caracteriza


como o meio pelo qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. A qual deve ser
estabelecida como componente essencial e permanente na educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal. Ademais, a EA como parte do processo educativo mais amplo, é direito de
todo cidadão (BRASIL, 1999). Dentro desta perspectiva, partindo-se da ideia de que a Educação é
uma prática social promotora de cidadania, a Educação Ambiental, como uma das dimensões da
Educação, pode colaborar também à efetivação da Educação Inclusiva (GATTO, 2012).
Uma forma de contribuir com o desenvolvimento da educação ambiental/educação
ambiental inclusiva na sociedade, é a utilização das Unidades de conservação (UCs) como
instrumentos da EA. O que facilita o emprego destas unidades como instrumentos é a existência de
programas de educação ambiental em seus planos de manejo (BRASIL, 2012).
Um exemplo de UC usada para fins de educação ambiental inclusiva é o Parque Natural
Municipal das Nascentes do Mundaú (PNMNM), que está situado no município de Garanhuns/PE.
No qual, através das suas atividades, há a contribuição para o desenvolvimento da consciência
ambiental na população do município, e forma de especial, às pessoas detentoras de diferentes tipos
de deficiências. Como forma de expor a importância de se usar UCs à inclusão social, tendo como
meio para isso a utilização dos recursos naturais, como facilitadores para o desenvolvimento da
consciência ambiental, foi que este trabalho foi desenvolvido.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 467


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATERIAIS E MÉTODOS

O Parque Natural Municipal das Nascentes do Mundaú, criado por Decreto Municipal de Nº
023/2011 (GARANHUNS, 2011), é uma unidade de conservação pública situada no Município de
Garanhuns/PE, caracterizada como resquício de Mata Atlântica de Brejo de Altitude em
regeneração e algumas minações difusas contribuintes da Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú. Esta
UC possui 34 ha, havendo-se a pretensão de incorporar a mesma uma área de 7,19 ha da antiga
Rede Ferroviária Federal (RFFSA), de forma que será necessário atualizar e corrigir seus limites.
Seu plano de manejo está em processo de elaboração pela ONG Econordeste, através do projeto
"Parque Natural Municipal das Nascentes do Mundaú: plano de manejo e educação ambiental
inclusiva", projeto este patrocinado pela Fundação SOS Pró-Mata Atlântica. Mesmo sem a
implantação do referido Plano, o PNMNM recebeu constantes visitas de escolas e do público em
geral de forma organizada, controladas pela então Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos em parceria com a ONG Econordeste, com destaque para as atividades de
Educação Ambiental Inclusiva, proporcionando o acesso a pessoas com ou sem deficiência ao
Parque (ECONORDESTE, 2015).
A experiência adquirida com as visitações de estudantes, de pessoas com deficiência, de
educadores, dentre outros, resultou em conhecimentos que culminaram com a ideia de
desenvolvimento de um espaço mais especializado para educação ambiental inclusiva, assim existe
hoje, como estrutura facilitadora do desenvolvimento da educação ambiental na área da UC, um
jardim sensorial em fase de implantação, que se localiza na sua futura zona de amortecimento
(Figura 1). Este jardim está incluso no plano de execução do projeto "Parque Natural Municipal das
Nascentes do Mundaú: plano de manejo e educação ambiental inclusiva". A escolha da área do
jardim se deu pelo fato da mesma ser contemplada pela passagem de um riacho, apresentar
diferentes extratos vegetais, ser de fácil acesso, além de ter sido descaracterizada e degradada no
passado, necessitando de recomposição (Figura 2). Importante destacar que o Jardim Sensorial está
sendo implantado com o uso de materiais inertes ao meio ambiente e aproveitando os espaços já
existentes e abertos, sem qualquer supressão vegetal e aproveitando-se dos atributos naturais
disponíveis, os quais podem contribuir para o desenvolvimento das atividades sensoriais. Também
nas proximidades desta área, dentro da mesma propriedade pública, há uma sementeira (viveiro), a
qual através da produção de mudas das mais variadas espécies, para fins de embelezamento urbano
e recuperação de áreas degradadas, também é um instrumento capaz de conscientizar os seus
visitantes, no que se refere a importância da vegetação para os ecossistemas, além de ser um meio à
participação efetiva de visitantes guiados no conhecimento e mesmo nas atividades de produção de
mudas por eles próprios. Ademais, a vegetação nativa existente na localidade, é um elemento
sensorial e paisagístico crucial às atividades de trilhas, visitações e oficinas.
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 468
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 - Área de implantação do jardim sensorial. Figura 2 - Processo de construção do jardim


Econordeste (2017) sensorial. Econordeste (2017)

Algumas das atividades desenvolvidas na Unidade de Conservação visando o


desenvolvimento da educação ambiental inclusiva, foram realizadas juntamente com instituições
voltadas às pessoas com necessidades especiais, como o Centro De Apoio Pedagógico Às Pessoas
Cegas (CAP) e Centro de Reabilitação e Educação Especial Lions Clube. Junto ao CAP foi
realizada uma trilha simples (Figura 3), com o foco lúdico, por entre as árvores, oportunizando a
exploração de todos os órgãos dos sentidos, em especial as texturas das folhas, troncos e ramos de
árvores, epífitas e demais plantas. Também foram explorados os sons locais de insetos, pássaros e
das águas, odores de diferentes plantas e algumas degustações de frutas diretamente das árvores.
Além disso, também foram expostas, aos deficientes visuais, espécies arbóreas em nível muda e já
com várias dezenas de anos de desenvolvimento, apresentando diâmetros de tronco e alturas
bastante distintos, permitindo uma exploração da imaginação. No solo a trilha permite aos
caminhantes e mesmo aos que se utilizam de cadeiras de rodas, de trechos diferenciados de
cobertura ou substrato para explorar a sensação de tato pelos pés, como solo úmido ou seco, coberto
com gravetos, com folhas secas e folhas verdes recém-colhidas (MATTOS; SOUZA; DIAS, 2016).
Já com os componentes do Centro de Reabilitação, foi apresentado aos mesmos o funcionamento da
sementeira (Figura 4), quanto o processo de produção de mudas e a finalidade delas, além disso,
também foi exposta a importância do porquê preservar área do PNMNM.

Figura 3 – Trilha sensorial realizada junto ao CAP. Figura 4 – Apresentação da sementeira aos
Econordeste (2015). componentes do Centro de Reabilitação e Educação
Especial Lions Clube. Econordeste (2015).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 469


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como fruto das seguintes ações, notou-se que ao apresentar o cenário da Unidade de
Conservação aos componentes do CAP, através da participação nas atividades de produção de
mudas e acesso aos espécimes jovens, recém-plantados e espécimes da mesma planta com mais de
cem anos, os participantes puderam compreender a evolução natural e desenvolver o pertencimento
ao ambiente. Os resultados foram expressos nas feições dos que não falavam e nos comentários dos
que falavam (MATTOS; SOUZA; DIAS, 2016). Também através do contato direto com o meio,
houve uma senhora com deficiência visual, necessidade especial adquirida aproximadamente aos 7
anos, que ao tatear uma arbórea, pau-ferro (Caesalpinia ferrea) centenária, relembrou da localidade
onde estava, com isso se sentiu emocionada ao estar naquele ambiente. A mesma até então não
sabia que estava no mesmo lugar em que frequentava quando ainda era criança e foi capaz de
reconhecer o lugar apenas pela sensação de tato sobre o exemplar arbóreo. O PNMNM fica em uma
área que no passado foi cedida ao Estado de Pernambuco para produção de mudas, através da
SEMENP, sendo popularmente chamada à época de sementeira do Estado. Ao tatear a árvore, já no
final da atividade lúdica e prestes a ir embora, a senhora, de mais de 70 anos de idade se emocionou
e expressou: ―eu já sei onde estou! Estou na sementeira do estado! Meu pai trabalhou aqui. Eu vinha
brincar aqui! Eu conheço essa árvore!
Já os membros do Centro de Reabilitação e Educação Especial Lions Clube, expressaram
interesse quanto à importância da preservação dos recursos naturais e produção de mudas para fins
de reflorestamento. Notou-se que ao terem o contato direto com o meio, exteriorizaram a
responsabilidade que possuíam quanto à preservação do meio ambiente, deste modo, sendo
colocados em posição igualitária quanto a temática ambiental
À vista disso, verificou-se a necessidade de apresentar às pessoas com necessidades
especiais o ―Homem‖ como parte integrante, indissociável e modificadora desta ―Natureza‖. Ou
seja, que depende do ambiente e das diversas relações ecológicas que nele ocorrem, incorporando as
dimensões sociais, econômicas, políticas, culturais e históricas que levaram e levam ao atual
contexto ambiental. Dentro desta perspectiva, vê-se EA como uma ação interdisciplinar para ser
trabalhada por todas as idades, comunidades e realidades, considerando-se o meio ambiente em sua
totalidade: o resgate e o surgimento de novos valores sociais que conduzam a um modo de vida
mais consciente e sustentável. Essa educação deveria preparar o indivíduo, mediante a compreensão
dos principais problemas do mundo contemporâneo, proporcionando-lhe conhecimentos técnicos e
as qualidades necessárias para desempenhar uma função produtiva, com vistas a melhorar a
qualidade de vida e proteger o meio ambiente, prestando a devida atenção aos valores éticos
(MACIEL et al., 2010)

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 470


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste trabalho pôde ser notado que o uso das Unidades de Conservação vai além da
preservação dos recursos naturais, também englobando a educação ambiental. A qual deve ser posta
como meio fundamental para que haja a criação/manutenção das UCs. Além disso, é observado o
potencial que uma unidade de conservação possui para o desenvolvimento da educação ambiental
inclusiva, deve haver, neste tipo de área, o melhor aproveitamento dos seus recursos naturais à
educação.
A educação ambiental deve ser desenvolvida de forma inclusiva, para que as pessoas com
necessidades especiais possam compreender, dentro de suas limitações, como podem contribuir à
criação/preservação dos diferentes tipos de unidades de conservação e divulgação do conceito de
sustentabilidade, assim, passam a ser multiplicadores das temáticas ambientais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321>. Acesso em: 29 ago. 2017.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21 brasileira: ações prioritárias. Brasília:


MMA/PNUD, 2002. 160 p.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente: Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.


Recomendação nº 14, de 26 de abril de 2012. Recomenda a adoção da Estratégia Nacional de
Comunicação e Educação Ambiental em Unidades de Conservação - ENCEA. Ministério do
Meio ambiente, 2012. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/recomen/recomen12/Recomed142012.pdf>. Acesso em:
29 ago. 2017.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004.

DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. 6ªed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2005.

ECONORDESTE. Parque Natural Municipal das Nascentes do Mundaú: plano de manejo e


educação ambiental inclusiva. Econordeste: Garanhuns, 2015.

GARANHUNS. DECRETO Nº 023/2011. Cria o Parque Natural Municipal das Nascentes do


Mundaú e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Garanhuns, Garanhuns/PE, 18
jul. 2011.
ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 471
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

GATTO, E. Educação ambiental e educação inclusiva: um estudo com os profissionais na Escola


de Educação Básica. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Vale do Itajaí, Pró-
reitoria de Pesquisa. Pós-graduação, Extensão e Cultura, 2012.

MACIEL, J. L. et al. Metodologias de uma Educação Ambiental Inclusiva. Revista virtual EGP.
Porto Alegre. v.1, n. 1, 2010.

MATTOS, M.R.F.; SOUZA, A.P.S.; DIAS, V.C. Educação ambiental inclusiva – jardim sensorial.
In: Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco -
JEPEX, 16, 2016, Garanhuns, PE. Anais (online). Garanhuns: JEPEX, 2016. Disponível em:
<http://www.eventosufrpe.com.br/2016/anais/resumos/R2354-1.html>. Acesso: 31 ago. 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 472


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AS TRILHAS COMO INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CASO DO


MANGUEZAL DO RIO COCÓ

Maria Carollyne Matos BATISTA


Graduanda em Geografia Bacharelado pela Universidade Estadual do Ceará - UECE
caroline.matos@aluno.uece.br
Fábio Perdigão VASCONCELOS
Professor Adjunto do curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará – UECE
fabioperdigão@gmail.com
Jailson Cavalcante LIMA
Graduando em Geografia Bacharelado pela Universidade Estadual do Ceará - UECE
jailson.lima@aluno.uece.br
Maria Bonfim CASEMIRO
Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Ceará - UECE
mariabonfimc@gmail.com

RESUMO
Tendo em vista a intrínseca necessidade de práticas de contato com a natureza para a sensibilização
da sociedade com questões ambientais, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a utilização
das trilhas como um mecanismo de educação ambiental. Anteposto, abre-se o debate acerca da
importância da educação ambiental no processo de construção de valores ecológicos e de uma
relação saudável entre homem e natureza apresentando, como estudo de caso, o manguezal do Rio
Cocó. A degradação dos manguezais é uma problemática que cresce vertiginosamente e, visto isso,
a necessidade de ações voltadas a preservação e manutenção desse ecossistema torna-se
indispensável. Enquadra-se, neste cenário, as trilhas como uma estratégia de conscientização
ambiental e preservação de ambientes.
Palavras-chave: Educação Ambiental; Trilha; Manguezal.

ABSTRACT
Considering the intrinsic need for contact with nature practices to raise awareness of environmental
issues, the present research aims to analyze the use of trails as an environmental education
mechanism. In the foreground, the debate about the importance of environmental education in the
process of constructing ecological values and a healthy relationship between man and nature is
presented, presenting, as a case study, the mangrove of the Cocó River. The degradation of
mangroves is a problem that grows vertiginously and, given this, the need for actions aimed at the
preservation and maintenance of this ecosystem becomes indispensable. It fits, in this scenario, the
tracks as a strategy of environmental awareness and preservation of environments.
Keywords: Environmental Education; Trail; Mangrove.

INTRODUÇÃO

Compreende-se Educação Ambiental, citado também como EA, como uma prática social
fundada no conhecimento interdisciplinar, envolvendo uma diversidade de elementos social,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 473


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cultural, político, econômico e ambiental. Essa compreensão também é ratificada pela Política
Nacional de Educação Ambiental, que entende por este tipo de educação

[...] os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a preservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999).

A história da Educação Ambiental se confunde com a história da preocupação humana em


proteger a natureza, na qual ambas caminham lado a lado. Isso pode ser evidenciado ao enfatizar
que o termo Educação Ambiental, foi adotado pela primeira vez em um evento de educação,
promovido pela Universidade de Keele, no Reino Unido, datando da década de 60, mesmo período
em que os debates acerca da preservação e proteção do meio ambiente estavam surgindo.
Na conjuntura brasileira, em 1975, de acordo com Dias (1992):

[...] alguns órgãos estaduais brasileiros voltados ao meio ambiente iniciaram os primeiros
programas de educação ambiental em parceria com as Secretarias de Estado da Educação.
Ao mesmo tempo, incentivados por instituições internacionais disseminava-se no país o
ecologismo, deformação de abordagem que circunscrevia a importância da educação
ambiental à flora e à fauna, à apologia do ―verde pelo verde‖, sem que nossas mazelas
socioeconômicas fossem consideradas nas análises. (DIAS, 1992, p. 81).

Em 1977, em Tbilisi (na ex-URSS), aconteceu a Primeira Conferência Intergovernamental


sobre Educação Ambiental promovida pela UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente. Especialistas de todo o mundo definiram os princípios e objetivos da educação
ambiental, além de formular as recomendações para a atuação internacional e regional sobre o tema.
Nesse mesmo ano era criado o primeiro documento brasileiro sobre Educação Ambiental, que foi
assinado pela Secretaria Especial do Meio Ambiente e pelo Ministério do Interior, denominado
"Educação Ambiental", baseado na Conferência Internacional de Tbilisi de 1977.
Visto isso, o tema educação ambiental surge a partir da grande preocupação do homem com
os aspectos ambientais, devido à intensa degradação dos recursos e dos sistemas naturais que têm
acarretado grandes impactos no meio ambiente nas últimas décadas. Esse quadro configura-se
atualmente em uma crise ambiental global na qual, em consequência do desenfreado
desenvolvimento industrial, altera progressivamente a qualidade ambiental (ARAÚJO, 2012).
A degradação ambiental, que ocorre de forma multiescalar, altera as dinâmicas naturais
causando diversos impactos que, por sua vez, evidenciam-se no ambiente de forma irreversível. Em
nível regional e local, salienta-se a degradação da zona costeira e de seus ecossistemas e feições,
uma vez que esta se apresenta como um ambiente intensamente dinâmico e vulnerável. Nesse
cenário ressalta-se os manguezais, que correspondem a ambientes frágeis e importantes para o
equilíbrio da paisagem litorânea e das comunidades que nela habitam.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 474


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As áreas de manguezais possuem expressiva dinâmica natural, sendo capazes de se


recuperarem de forma eficaz em relação a outros ambientes. Esses ecossistemas que estão situados
em um dos ambientes naturais mais susceptíveis do planeta sofrem influência da ação da maré, da
energia dos ventos, dos fluxos fluviais, e da ação antrópica, tanto no que concerne aos grandes
empreendimentos, quanto nas ações cotidianas das pessoas que vivem integradas a esses
ecossistemas. Destarte, esse complexo ecológico apresenta condições determinantes ao
desenvolvimento social e econômico, sobretudo nas comunidades que dependem diretamente da
extração de recursos naturais para sua sobrevivência.
O estudo de caso abordado neste trabalho, têm seu recorte espacial localizado na porção
nordeste da cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, correspondente ao trecho estuarino localizado
no bairro da Sabiaguaba. A hidrografia do manguezal corresponde ao rio Cocó representando o
principal recurso hídrico da Região Metropolitana de Fortaleza, que nasce na vertente oriental da
serra da Aratanha, município de Pacatuba/CE.
No que diz respeito a flora, na zona estuarina do rio Cocó predomina uma vegetação espessa
do tipo arbóreo-arbustiva, com presença de quatro espécies de vegetação de mangue: o mangue
vermelho (Rhizophora mangle), o mangue preto (Avicennia shaueriana e Avicennia germinans), o
mangue branco (Laguncularia racemosa) e o mangue de botão (Conocarpus erecta). Sua área possui
fauna característica, composta por diversas espécies de aves, peixes, crustáceos, moluscos, entre
outros, nas quais compõem cadeias alimentares com ambientes propícios para reprodução, desova,
crescimento e abrigo natural.
Pelo estuário estar inserido em diversas unidades de conservação (Parque Estadual Cocó,
Parque Nacional Municipal das Dunas da Sabiaguaba, Área de Proteção Ambiental (APA) da
Sabiaguaba e Área de Proteção Permanente (APP) do Rio Cocó) entende-se que ele seja
efetivamente preservado, contudo, o manguezal do Rio Cocó atualmente sofre por diversos
processos de degradação ambiental em sua área, ressaltando o assoreamento e a poluição do rio
como exemplo.
O encolhimento da vegetação de mangue ocorre por ações naturais e por interferência
antrópica. No caso do manguezal do rio Cocó, há uma longa história de exploração extensa e
irracional por parte do homem. Em destaque, em 1980 houve aterramento de extensa área de
mangue para a efetivação da obra de construção de um shopping e continuaram outras investidas da
especulação imobiliária agravando a ameaça do ecossistema. Também, a construção da ponte do
Caça e Pesca, região inicial do mangue e foz do rio - obra autorizada em dezembro de 2002,
paralisada em dezembro de 2004 e retomada em fevereiro de 2009 é outro exemplo que polemiza a
questão ambiental desta área.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 475


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Essa degradação promove supressão da vegetação de mangue e de unidades do ecossistema


manguezal, impermeabilização do solo, extinção de setores da planície de inundação, planície de
maré e demais áreas úmidas vinculadas ao sistema estuarino, representando intervenções em um
sistema ambiental de fundamental importância para a cidade de Fortaleza.
Nesse contexto de intenso desequilíbrio da dinâmica natural do manguezal do Cocó, insere-
se o Ecomuseu Natural do Mangue (Ecomunam) que, localizado no bairro da Sabiaguaba, possui
um importante papel de conscientização ambiental da região. Com base nas práticas defendidas pela
EA, o Ecomunam é uma Organização Não-Governamental (ONG) que atua há 16 (dezesseis) anos
de forma voluntária na preservação desse ecossistema e na defesa dos direitos das comunidades
circunvizinhas da região.
Quanto à conscientização e a sensibilização, fundamentada pela EA, a principal missão do
Ecomunam é expor a importância e a responsabilidade que cada cidadão tem sobre o meio
ambiente, educar a população a usar nossos recursos de maneira sustentável. Para isto, o Ecomuseu
se utiliza de práticas sociais que tragam a reflexão e discussão acerca das temáticas ambientais, de
forma espontânea e extrovertida. Dentre as atividades utilizadas pelo Ecomunam, destaca-se a trilha
por ter um papel essencial no processo de educação e desconstrução, por meio do contato com a
natureza, dos alunos que visitam o Ecomuseu e da própria comunidade lá inserida.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo principal avaliar a utilização das trilhas como
instrumento de Educação Ambiental, tendo como recorte espacial o Ecomuseu Natural do Mangue.
Da mesma forma, qualificar a participação e papel dos pesquisadores e membros da comunidade na
construção da trilha, tendo em vista a expressiva importância desses agentes no decorrer da ação.

BREVE DISCUSSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

No cerne da Educação Ambiental autores como Leff (1999) e Dias (1992) foram de extrema
importância para a construção do conhecimento acerca dos princípios da EA, e da necessidade da
mesma no cenário atual. Acerca do ecossistema manguezal, sua caracterização geoambiental e a
degradação que o mesmo vem sofrendo, Andrade e Romeiro (2009) foram demasiadamente
importantes na bibliografia e, no que diz respeito do estado do Ceará, Meireles (2007) foi de intensa
contribuição para o entendimento das dinâmicas estuarinas.
Dias (1992, p. 121) afirma que

um dos principais objetivos da educação ambiental consiste em permitir que o ser humano
compreenda a natureza complexa do meio ambiente, resultante das interrelações dos seus
aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. Ela deveria facilitar os meios de
interpretação da inter dependência desses diversos elementos, no espaço e no tempo, a fim
de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para satisfazer
as necessidades da humanidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A EA proporciona a reflexão do indivíduo sob o espaço que se insere, tornando-se eficiente


no processo de pertencimento, reconhecimento, sensibilização e conscientização. Para isto, a
reconstrução de ideias e valores requer métodos dinâmicos e educativos que facilitem a absorção
dos papéis sociais e suas formas de atuação. Leff (1999) reforça afirmando que a EA é estratégica
na condução do processo de transição paradigmática para uma sociedade sustentável. De acordo
com Moradillo & Oki (2004) a EA propõe uma transformação do educando através do
desenvolvimento de novos valores, hábitos, posturas, condutas e atos na relação com o ambiente
considerado em toda a sua complexidade.
Ao se tratar dos manguezais, estes são áreas de extrema importância para o equilíbrio e
manutenção da vida em nosso planeta, trata-se de ambientes de transição entre o continente e o
oceano com águas biologicamente mais produtivas, que estimulam a produtividade de várias
espécies caracterizando-se por serem o berçário natural da vida marinha (MEIRELES, 2007).
Assim como os demais ecossistemas, os manguezais desempenham funções e serviços
essenciais ao bem-estar social. Andrade e Romeiro (2009) destacam que por meio das funções
ecossistêmicas são gerados os serviços ecossistêmicos, entendidos como os benefícios diretos e
indiretos adquiridos pelo homem. Visto isso, destacam-se algumas funções e serviços
ecossistêmicos associados ao ecossistema manguezal como: produção e regulação de gases;
regulação do clima; refúgio de vida silvestre; controle da erosão e retenção de sedimentos; proteção
da costa contra extremos climáticos, deslizamentos e enchentes; controle biológico; produção de
alimento; recreação; cultura; amortecimento das consequências previstas pelo aquecimento global;
entre outros.
A respeito da utilização das trilhas na EA, Guimarães (2006) afirma que as trilhas são
experiências ―dinâmicas, participativas e colaborativas‖, dotadas de múltiplos estímulos sensoriais,
que envolvem aspectos ligados à memória, afetividade, cognição, percepção, interpretação e
valoração ambientais dos sujeitos envolvidos.

PROCEDIMENTOS TÉCNICO-OPERACIONAIS

Na busca de alcançar os objetivos, foi realizada uma pesquisa teórica preliminar de modo a
embasar o estudo aqui proposto. A metodologia aplicada no trabalho iniciou-se com levantamento
bibliográfico (artigos, monografias, dissertações e teses), no qual abordou-se temas relacionados à
educação ambiental, ao ecossistema manguezal e seus processos de degradação, e a utilização de
instrumentos e práticas voltados para a EA.
Nesta perspectiva, a prática de pesquisa bibliográfica foi fundamental, visto que o
conhecimento deve ser continuamente renovado e reconstruído quando se trata de estudos
ambientais e sociais. No atual momento de intensas transformações na sociedade e no meio, a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

rigidez dos planos de pesquisa podem se transformar em obstáculos para as descobertas de novas
relações com o objeto pesquisado. Visto isto, a pesquisa deu-se de forma contínua no decorrer da
elaboração do trabalho, utilizando e comparando outros recortes espaciais para o desenvolvimento
analítico do tema abordado.
A posteriori, o campo na pesquisa em Geografia é essencialmente um instrumento
metodológico que envolve e motiva, agregando teoria e prática tornando possível avaliar se as
atividades desenvolvidas proporcionaram mudanças nos que participam desse processo. É através
desse contato real no campo, que se estabelecem relações com o que é observado, possibilitando
uma maior aproximação com a realidade.
Para a realização deste projeto foram realizados no Ecomunam 12 (doze) trabalhos de
campos ocorridos aos sábados durante aproximadamente 3 (três) meses. Para isso, foi necessária a
oficialização da pessoa física como voluntariado do Ecomuseu na qual, tornou possível uma maior
interação entre pesquisador, membro comunitário e educando.
Para a análise da utilização das trilhas como instrumento de EA, foram acompanhadas 4
(quatro) trilhas executadas pelo Ecomunam, em diferentes dias, com itinerário de aproximadamente
1,5 km de distância com percursos um pouco distintos, mas ambas passando pela sede do Ecomuseu
e pelo acervo de itens naturais (Figura 1). Dentre estas, 2 (duas) foram com educandos de ensino
fundamental e médio, e outras 2 (duas) foram com educandos de ensino superior e técnico. Esta
informação torna-se importante, pois, ao analisar cada trilha, o comportamento e a forma de
absorção do conhecimento que era repassado pelo guia deu-se de forma diferenciada nos grupos.

Figura 1: mapa de localização da sede do Ecomunam e do Acervo. Fonte: elaborado pelos autores.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No percurso principal das trilhas é apresentado os tipos de vegetação de manguezal


encontradas na área (mangue preto, vermelho, branco e de botão), o acervo de peças dispostos pelo
Ecomuseu (Figura 2) – dentre os itens, estão inúmeras espécies de animais que habitam o
ecossistema manguezal, resíduos sólidos que são encontrados no mangue, entre outras. O segundo
percurso diferencia-se do principal apenas pela entrada no terreno lamoso do mangue vermelho e
preto alterando, assim, um pouco o ponto final da trilha.

Figura 2: percurso das trilhas avaliadas. Fonte: Google Earth, 2017.

Para a avaliação da atividade levou-se em consideração a participação dos educandos no


decorrer das trilhas, as dinâmicas realizadas pelo guia, o sentimento de curiosidade e descontração
dos educandos e as falas realizadas pelos educandos ao final das trilhas, como forma demonstração
do que foi absorvido.
Destarte, durante todo o percurso das trilhas, buscou-se despertar o espírito investigativo e a
reflexão crítica dos educandos ao tentar construir, em conjunto, o conhecimento. Procurou-se
intercalar a explicação dos aspectos naturais contidos no caminho com os questionamentos
abordados pelos educandos, fazendo com que os alunos participassem da construção dos conteúdos
e temáticas abordadas durante as trilhas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como já visto no decorrer deste trabalho, a trilha, como uma atividade educacional, busca
uma intensa mudança de ideias e valores, atitudes e responsabilidades com o ambiente. Essa

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sensibilização ocorre principalmente através de observações diretas, isto é, do contato e da imersão


na natureza em si.
Primeiramente, as trilhas realizadas com educandos do ensino fundamental e médio
houveram a necessidade de maior atenção, lê-se precaução, por parte do guia e dos pesquisadores,
com os alunos. Isto foi constatado pois, de acordo com a faixa etária dos mesmos, a concentração na
fala do guia e dos pesquisadores tornava-se mais dispersa, visto que, o sentimento de curiosidade
desses grupos de educandos era demasiadamente maior, uma vez que a grande maioria destes não
conheciam o ambiente estuarino.
No decorrer das trilhas com esses grupos de educandos notou-se o intenso sentimento de
curiosidade, como já citado, pela quantidade de questionamentos que eram feitos para o guia e para
os pesquisadores. Foi da mesma forma analisado, o entusiasmo de cada educando ao fazer os
questionamentos, fator importante ao tratar a espontaneidade da trilha como forma de capturar a
atenção dos alunos. No que diz respeito a captura da atenção dos educandos, as dinâmicas
realizadas pelo guia eram de essencial eficiência. Foi observado que em todos os momentos de
dinâmica ou maior originalidade executados pelo guia, os alunos fixavam-se cada vez mais na trilha
e nas informações.
Ao final das trilhas, com os alunos deste grupo de escolaridade, eram apresentadas quais
informações tinham sido absorvidas com a trilha. As informações mais apreendidas pelos
educandos foram aquelas relacionadas ao ecossistema manguezal, a exemplo: os tipos de
manguezais, características geoambientais, e alguns serviços ecossistêmicos. Neste momento, a
troca de saberes e conhecimentos era intensa uma vez que, a fala do guia e dos pesquisadores eram
complementadas por falas dos educandos mostrando, assim, a riqueza da atividade na formação
intelectual dos sujeitos.
Observou-se que as trilhas realizadas com esse grupo de alunos podem ser caracterizadas
como uma vasta onda de novos conhecimentos e de ideias unindo-se sempre com a descontração.
No que diz respeito à descontração e a desinibição dos educandos, de acordo com o guia e com
os/as responsáveis das escolas presentes, esse comportamento se dá pelo fato da ausência de
familiares responsáveis (progenitores). Ao comparar as trilhas em que os pais estavam ausentes com
uma trilha peculiar em que os pais estavam presentes27, foi possível observar uma maior
naturalidade dos educandos naquela em que os pais não estavam comparecentes.

27
Esta, não citada no decorrer do trabalho, pois caracterizou-se como uma trilha atípica, devido ao meio percurso
percorrido, ao teor das informações que foram discutidas e a quantidade de indivíduos que estavam envolvidos na
atividade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: [A]: início da trilha, onde o guia faz as primeiras falas; [B]: trecho da trilha onde é apresentado o
mangue branco. Fonte: elaborado pelos autores.

Ao tratar das trilhas realizadas com educandos de escolaridade diferente, estes sendo de
universidades e alguns de escolas técnicas, é possível destacar, inicialmente, que houve uma maior
liberdade por parte do guia e dos pesquisadores, ou melhor, por serem de maior faixa etária, estes
alunos, não necessitavam de uma maior rigidez comportamental, o que permitiu uma maior
autonomia do guia, tanto na fala quanto na conduta ao decorrer da trilha.
As trilhas que envolveram esse grupo de indivíduos são caracterizadas por serem uma
constante troca de ideias, de pontos de vista e de conhecimentos. Esses educandos por terem, em
sua grande maioria, uma consciência crítica construída são mais susceptíveis a discussões mais
profundas, a exemplo da produção do espaço urbano pela especulação imobiliária, que caracteriza-
se por ser umas das problemáticas vinculadas à Sabiaguaba.
No decorrer da trilha percebe-se que os educandos ultrapassam mais facilmente os limites da
ansiedade e do medo adentrando corajosamente o mangue vermelho e atravessando o terreno
lamoso, característico dos ambientes estuarinos, com o mínimo ou nenhum receio. Este percurso,
intitulado ―trilha dos pés pretos‖, foi seguido pelas duas turmas dessa escolaridade na qual, todos os
alunos optaram por entrar no solo lamacento do manguezal, fato que mostra a disposição dos
educandos em se aventurarem na trilha. No entanto, é de fato importante salientar que essa
característica envolve mais fortemente a faixa etária, e não a escolaridade
Nesse mesmo momento, em que os alunos penetram nas matas fechadas do manguezal, a
proximidade com o ambiente aumenta drasticamente. A principal dinâmica realizada pelo guia
nesta etapa é vinculada à utilização perceptiva dos sentidos. Ou seja, o guia incentiva os alunos a
ouvirem, verem e sentirem (utilizando o olfato e o tato) o ambiente, tornando mais tênue a linha
entre o indivíduo e o meio ao seu redor.
O trabalho de conscientização ambiental na trilha com esses grupos de alunos torna-se mais
natural, como em uma simples conversa. Como já dito, o processo de construção de uma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

consciência crítica sobre o ambiente e a EA já está quase que amplamente desenvolvido. Essa
característica não apenas simplifica a atividade da trilha, mas a inova. Isto porque, os próprios
educandos estimulam a continuidade das atividades, e afirmam a veracidade da trilha como uma
prática importante na educação ambiental.

Figura 4: [A]: trecho da trilha em que o guia expõe o mangue vermelho; [B]: entrada dos educandos no
terreno lamoso do mangue. Fonte: elaborado pelos autores.

A troca de saberes e conhecimento é presente em ambas as trilhas, mesmo com grupos


diferentes. A sensibilização com o ambiente torna-se presente na medida que os educandos
compartilham seus pensamentos e fazem indagações criteriosas acerca dos problemas ambientais, e
até mesmo sociais, que a região da Sabiaguaba, e tantas outras, enfrentam. Esta já é uma evidência
da importância de utilizar atividades educativas diferenciadas, que levem a sociedade a conhecer a
natureza de perto. Ao refletir sobre os valores do meio ambiente, as pessoas passam a reconhecer
valores únicos nos locais onde vivem, aumentando sua autoestima e gerando um sentimento de
orgulho em manter essa riqueza (ALVARENGA, 2005).
Pode-se notar também que a atividade é enriquecedora para despertar a curiosidade dos
estudantes sobre questões ambientais em geral, tendo em vista a quantidade de questionamentos
feitos pelos mesmos no decorrer da trilha. Isto foi possível ser evidenciado na totalidade das trilhas
avaliadas na pesquisa.
Com a trilha, os educandos devem aprender sobre a natureza conhecendo-a no ambiente no
qual residem, valorizando a biodiversidade, os saberes e os personagens que estão inseridos naquele
contexto. O contato com o ambiente natural leva os estudantes a repensarem sua relação com a
natureza, possibilitando a se entenderem como parte dela. Ou seja, a promoção da proximidade
entre o estudante e a natureza desperta neles a reflexão para a conservação ambiental. Além disso, a
experiência na trilha e os conhecimentos ali adquiridos podem perdurar por mais tempo na memória
dos alunos pelo fato de envolver todos os sentidos e por ser essencialmente presencial.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação das trilhas como prática de EA apresentou-se como um instrumento de


demasiada eficiência para a abordagem da temática ambiental de conscientização, sensibilização e
construção de ideias e valores ambientais e sociais. A trilha, que por sua vez possui um viés
interdisciplinar e de contextualização com o seu redor, detém um amplo leque de experiências a
serem vividas e apreendidas pelos indivíduos dos quais participam tornando, assim, esta atividade
um grande receptáculo de aprendizagens.
Apesar da trilha ter um roteiro e os pontos predeterminados para serem destacados, existe ali
uma ampla gama de sensações e itens a serem observados que não fizeram parte do planejamento,
como foi possível observar na ―trilha dos pés pretos‖, onde as emoções e o sentimento de aventura
são estimulados nos educandos.
Sensibilizar para tornar as pessoas conscientes da importância das suas atitudes é um
caminho para a solução dos problemas. Sabemos que a compreensão da questão ambiental em todas
as suas nuances e complexidade não é uma tarefa fácil e que os jogos educativos apenas por si só
não são capazes de promover reflexão e mudança de atitudes.
Entretanto, a Educação Ambiental, como um movimento político e pedagógico no sentido
de uma construção consciente da cidadania, é uma alternativa viável e necessária diante da
complexidade do assunto, uma vez que se configura, atualmente, como um caminho para se talhar
as mudanças necessárias e urgentes. E aprender isso de forma prazerosa, desafiadora e socializante,
como a atividade de trilha, pode ser o caminho mais viável quando se trata do atraente mundo da
atualidade.

REFERÊNCIAS

ALVARENGA, L.C.A.; NOGUEIRA-FILHO, S.L.G. Escalas de avaliação de sentimentos: um


novo instrumento para projetos de Educação Ambiental. In: III EPEA – ENCONTRO DE
PESQUISA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 2005, Ribeirão Preto – SP. Anais... Ribeirão
Preto. Trabalho nº 70, p. 118. Disponível em:
<http://www.epea.tmp.br/epea2005_anais/pdfs/plenary/70.pdf >. Acesso em: 13 mai. 2015.

ANDRADE, Daniel Caixeta de ; ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Valoração de Serviços


Ecossistêmicos: notas introdutórias a uma abordagem dinâmico-integrada. In: XIV Encontro
Nacional de Economia Política, 2009, São Paulo. Anais do XIV Encontro nacional de Economia
Política, 2009.

ARAÚJO, Sarah Carneiro. O licenciamento ambiental no Brasil: uma análise jurídica e


jurisprudencial. 2012. Tese de Doutorado.
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BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 28 abr. 1999.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992.

GUIMARÃES, S.T.L. Trilhas Interpretativas e Vivências na Natureza: reconhecendo e


reencontrando nossos elos com a paisagem. Anais do Iº Congresso Brasileiro de Planejamento e
Manejo de Trilhas. Rio de Janeiro: UERJ, 2006. Disponível em: http://migre.me/faruJ Acesso
em: 14 jun. 2013

LEFF, Henrique. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável. In REIGOTA, Marcos (org.).


Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999 (p.111-129).

MEIRELES, A. J. de A. As unidades morfo-estruturais do Ceará. In: SILVA, J. B. da;eta al. Ceará:


um novo olhar geográfico. 2 ed. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007.

MORADILLO, E. F.; OKI, M. C. M. Educação ambiental na universidade: construindo


possibilidades. Quim. Nova, Vol. 27, No. 2, 332-336, 2004.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE ÁREAS PROTEGIDAS:


CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DO CÓRREGO DO ÓLEO EM
UBERLÂNDIA – MG

Maria Eliete SILVA


Graduanda do Curso de Geografia da UFU
eliete9ms@yahoo.com.br
Dorilda Pereira de ABREU
Graduanda do Curso de Geografia da UFU
doris-abreu@hotmail.com
Ângela Maria SOARES
Professora Adjunta Doutora em Geografia UFU
angelamsoares@gmail.com

RESUMO
O presente artigo trata do Córrego do Óleo, importante afluente do Rio Uberabinha o qual abastece
a cidade de Uberlândia. O Córrego é objeto de vários estudos para manter preservadas suas
nascentes. Entretanto, não há uma preocupação consciente da população para preservação do
mesmo, e sua importância para o equilíbrio ambiental local não é reconhecida. Com o
desenvolvimento urbano, verifica-se que ao passar do tempo, a cidade invade as áreas verdes nas
proximidades do córrego e com a expansão da construção de casas na área, ocorre o agravamento
da situação de acúmulos de uma grande quantidade de lixo tais como: restos de materiais em
decomposição, lixo doméstico, sacolas plásticas, lixo hospitalar, entulho de construção civil, entre
outros. É possível perceber que grande parte do lixo que degrada essa área são ali depositados pelos
próprios moradores da região, o que evidencia a falta de conscientização ecológica.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Preservação, Planejamento e Gestão.

ABSTRACT
This article deals with the Córrego do Óleo, an important tributary of the Uberabinha River, which
supplies the city of Uberlândia. The Stream is the object of several studies to keep its springs
preserved. However, there is no conscious concern of the population to preserve it, and its
importance for local environmental balance is not recognized. With the urban development, it is
verified that over time, the city invades the green areas in the vicinity of the stream and with the
expansion of the construction of houses in the area, the aggravation of the accumulation situation of
a large amount of garbage such as: Debris from decomposing materials, household waste, plastic
bags, hospital waste, building rubble, among others. It is possible to see that much of the waste that
degrades this area is deposited there by the inhabitants of the region, which shows the lack of
ecological awareness.
Key-words: Environmental Education, Preservation, Planning and Management

INTRODUÇÃO

A cidade de Uberlândia tem sua economia baseada principalmente no setor agroindustrial,


com a fixação de importantes indústrias alimentícias, além de ter contar com empresas do setor de
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

distribuição e atacadista. Esse desenvolvimento econômico está relacionado com a posição


geográfica privilegiada em relação aos principais centros econômicos do país, ocupando uma
posição geográfica estratégica no centro do Brasil. A malha rodoviária, ferroviária e o Terminal
Intermodal de Cargas ligam a cidade aos principais mercados do País.
Tal desenvolvimento também teve repercussões negativas. Como afirma Cunha (2003), a
área urbana de Uberlândia, de maneira geral, apresenta sérios problemas ambientais provenientes do
grande crescimento demográfico, falta de planejamento urbano, bem como os impactos ocorridos
nas bacias hidrográficas que não são controlados pelos órgãos fiscalizadores.
O presente artigo visa apresentar as atuais condições ambientais em que se encontra o
Córrego do Óleo, afluente do Rio Uberabinha – principal curso d‘água do município de Uberlândia,
Minas Gerais. Para alcançar tal propósito, foram desenvolvidas as seguintes atividades: realizar o
diagnóstico ambiental da microbacia; mapear o uso e ocupação da terra (Diagnóstico da situação
atual); mapear as Áreas de Preservação Permanente relacionadas aos cursos d‘água e mananciais
(Diagnóstico da situação ideal tendo em vista a legislação pertinente); identificação das áreas de
conflito e por fim propor medidas de recuperação destacando a importância da educação ambiental.

LOCALIZAÇÃO DO MUNICIPIO DE UBERLÂNDIA – MG: CARACTERIZAÇÃO.

Figura 1 - Mapa de localização do município de Uberlândia, 2007.

O município de Uberlândia – no qual está inserida a Bacia Hidrográfica do Córrego do Óleo


– encontra-se localizada na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Estado de Minas
Gerais, Região Sudeste do Brasil, região Oeste do Estado de Minas Gerais. Atualmente, Uberlândia
possui uma população com cerca 604.013 habitantes (IBGE, 2014). O crescimento do sítio urbano
se deu de forma rápida, desordenada e vem agravando consideravelmente com expansão do
perímetro urbano.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A área urbana de Uberlândia, de maneira geral, apresenta sérios problemas ambientais,


provenientes do grande crescimento demográfico e da falta de planejamento urbano, com isso
cresce também os impactos promovidos nas bacias hidrográficas que não são controlados pela
legislação, como afirma Cunha (2003).
O município está situado no Domínio dos Chapadões, recobertos por cerrados e permeado
por florestas-galerias (AB‘ SABER, 1977). Através da pesquisa de campo realizada na Bacia
Hidrográfica do Córrego do Óleo, percebe-se que Uberlândia possui áreas de topo, com relevo
plano, vales abertos, e com pouca ramificação da drenagem, denominada de ―Áreas Elevadas de
Cimeira com Topos Amplos e vales rasos‖ (BACCARO, 1994). À medida que se desloca em
Uberlândia, sentido cidade Prata, o relevo se altera. Na bacia do Córrego do Óleo a geomorfologia
está representada como Área de Relevo Medianamente Dissecado. ―A área que apresenta formas
convexas, topos aplainados e vertentes de baixas declividades‖ (BACCARO, 1993).
O ―clima predominante na região é o tipo Aw, megatérmico, com épocas sazonais bem
definidas‖ (BACCARO, 1994), com duas estações, sendo uma seca (inverno) e outra chuvosa
(verão). Sua temperatura média é entorno de 21,4°C e as médias de temperatura máxima e mínima
são 26,4°C e 14,2°C, respectivamente. A umidade relativa do ar apresenta um valor médio de 71%,
sem grandes variações no decorrer do ano. A respeito dos solos do município de Uberlândia, são
encontrados diferentes tipos, com predomínio dos Latossolos. São solos relacionados à
intemperização e lixiviações intensas que são responsáveis pelas baixas atividades das argilas. São
solos profundos e de coloração relativamente homogênea com tom avermelhado ou amarelado.
A cidade de Uberlândia está em processo de crescimento, nota-se que tal expansão causa
impacto direto nos córregos afluentes do Rio Uberabinha, principal curso de água do município,
onde a devastação da vegetação original cede lugar à área urbana, comportando construções, ruas e
avenidas provocando inundações e deterioração ambiental.
Foram utilizadas técnicas de geoprocessamento para mapear o uso e ocupação da terra, as
APPs - Áreas de Preservação Permanente, relacionadas aos cursos d‘água e mananciais tendo em
vista a legislação pertinente, bem como sugestões de medidas para recuperação e ações mitigadoras
de impactos.

BACIA DO CÓRREGO DO ÓLEO

Afluente do Rio Uberabinha, o Córrego do Óleo é considerado um dos maiores e mais


importantes córregos da cidade de Uberlândia, tanto por extensão quanto por volume de água. O
córrego corta a cidade no sentido Sul-Norte, percorrendo vários bairros da cidade, entre eles o São
Lucas, Chácaras Tubalina e Luizote de Freitas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No alto curso do córrego do Óleo, os principais problemas são o desmate da vegetação, o


acúmulo de lixo e a ocorrência de propriedades rurais com atividades ligadas à produção de
alimentos e criação de animais. No médio e baixo curso os problemas encontrados são a destruição
e invasão da APP, poluição do curso d‘água por rede de esgoto, acúmulo de lixo, presença de
depósitos de ferro velho.

Localização da microbacia do Córrego do Óleo no município de Uberlândia

Fonte: Google Earth (2015) Figura 2 - Mapa da microbacia do Córrego do Óleo, 2015.

O objetivo desse artigo apresentar um panorama geral e atualizado da situação do Córrego


do Óleo, pois ainda encontra-se em pleno processo de ocupação antrópica. Dessa forma, contribuir
com educação ambiental mostrando que a cidadania deve estar integrada de forma a conscientizar à
população da importância do mesmo e da necessidade de que determinados cuidados e hábitos
devem ser adotados por todos, a fim de que o entorno do Córrego do Óleo se torne um espaço de
convivência e lazer, para que os moradores usufrua do contato com a natureza dentro do espaço
urbano.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar a análise da situação atual em se encontra o Córrego do Óleo, foi realizado um
prévio levantamento bibliográfico acerca da importância deste córrego para a população dos bairros
por onde passa e também estudos sobre as características geográficas, fisiográficas e
socioeconômicas do município de Uberlândia MG, com ênfase no Córrego do Óleo.
Este estudo foi desenvolvido com a utilização da Folha Cartográfica SE. 22-Z-B-VI-S-
SE/MI – 2451/3-SE, na escala: 25.000 onde foram elaborados mapas temáticos sobre aspectos
ambientais e socioeconômicos compreendendo toda a bacia hidrográfica. Além das informações
cartográficas e bibliográficas, foram realizadas atividades de campo, onde foi possível realizar

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

registros fotográficos, bem como, avaliar a atual condição ambiental na qual o Córrego do Óleo está
inserido e os efeitos da urbanização sobre o mesmo.
A informação das áreas de conflitos requer a adoção de etapas metodológicas que auxiliem a
população a compreender a necessidade de participação na preservação do córrego como um todo,
tais como:
 Caracterizar a área da bacia considerando seus componentes ambientais e socioeconômicos;
 Levar a reflexão para a mudança de atitude que minimizem os impactos ambientais nas áreas
urbanas, assim como reduzir os prejuízos causados por eventos climáticos proporcionando
uma boa qualidade de vida para os moradores;
 Que as escolas da Região Oeste, que visem conscientizar os alunos para a importância da
preservação do Córrego do Óleo e sua biodiversidade;
 Que a população conscientize da importância da coleta seletiva, e descartá-los nos locais
corretos mostrando a importância do córrego para a região e para a cidade.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL.

As ocupações nas áreas de Preservação Permanente - APPs, estão causando grandes danos
aos córregos que abastecem o rio Uberabinha, situação que não é diferente no Córrego do Óleo, a
oeste de Uberlândia. Nele pode-se observar que há presença de muito lixo, a mata ciliar está
bastante degradada, há presença de esgotos clandestinos e também se identifica a presença de
cupinzeiros e das Imbaúbas, planta presente em lugares onde já ocorreram alterações antrópicas. De
maneira geral, como ressalta Baccaro (1991), ―a instabilidade das vertentes são mais pronunciadas
onde a cobertura natural do Cerrado é retirada e os processos de erosão são acelerados, causando
assoreamento nas margens‖.
O córrego do Óleo percorre vários bairros da Cidade, de modo que ele é considerado um dos
maiores e mais importantes de Uberlândia, por extensão e por quantidade de água. No entanto, com
o desenvolvimento urbano, verifica-se que com o passar do tempo cada vez mais, a Cidade invade
as áreas verdes nas proximidades do córrego a expansão da construção de casas na região, só vem
agravando essa situação atual.
Normalmente estas áreas são utilizadas pela população mais carente da cidade e sem
recurso, assim utilizam desses espaços para ocupação, estando então irregulares e sujeitas a todos os
riscos ambientais imagináveis. Lixo e esgoto têm como destino estas áreas que se tornam, com o
tempo, insalubres e repletas de vetores de doenças, sendo então, desprezadas pelos moradores e
pelos entes da gestão pública.
No local há rede de esgoto lançada diretamente nas águas, sem nenhum tratamento.
Provavelmente trata-se de um esgoto ligado de forma errada ou clandestina na rede fluvial.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Também é possível observar a criação de animais nas proximidades da APP do Córrego do Óleo.
Outro fator de degradação diz respeito aos entulhos nas proximidades do Córrego. É muito grave
pela quantidade e quando chove todo o entulho vai pra dentro do Córrego, contaminando-o. O
descaso do poder público local sobre a questão ambiental faz com que só agrave a situação.
Diversos fatores que dificultam a conservação da Bacia Hidrográfica do Córrego do Óleo
apresentam-se todos os dias ao longo de sua extensão. Desde as áreas de nascente até a foz no rio
Uberabinha multiplicam-se os exemplos de descaso com a preservação deste curso d‘água tão
importante para a cidade de Uberlândia. Em campo, foi possível visualizar o despejo de lixo
diretamente no Córrego. Entre manilhas e esgoto, tudo é despejado nas nascentes e no leito do
Córrego. A população ainda não se conscientizou que dela depende a preservação do espaço natural
em que vive. O poder público, por sua vez, também não se mostra preocupado com a questão
ambiental. Importância é dada apenas ao crescimento econômico da cidade.
Uma das soluções para salvar estes cursos d‘água remanescentes nas áreas urbanas de
maneira sustentável é a implantação de parques lineares. Estes parques podem solucionar o
problema a partir de uma nova maneira de ver a ocupação dessas áreas, um espaço onde a água é
uma aliada de destaque na solução integrada com os aspectos ambientais, sociais, econômicas e
culturais. Se a população juntamente com o poder público local não se conscientizar sobre a
importância da preservação do Córrego para a região, em pouco tempo teremos mais um córrego
extinto na cidade e os prejuízos serão incalculáveis num futuro muito próximo.

PREJUIZOS AMBIENTAIS

O presente artigo mostra o grande impacto ambiental presente nas proximidades do Córrego
do Óleo. São processos erosivos acelerados pelo desmatamento, lixos de todas as espécies e até
despejo clandestino de esgoto. Isso tudo compromete seriamente a qualidade e a quantidade da água
desse manancial, que é um dos principais afluente do Uberabinha, principal rio da cidade de
Uberlândia.
Há grande evidência, no decorrer do estudo, do agravamento de problemas na região com a
ocupação desordenada do território. Além dos problemas de degradação ambientais visíveis, temos
ainda a ameaça constante por parte do setor imobiliário às áreas relativamente preservadas. Por esse
motivo, surge à necessidade de pensar em um modelo de desenvolvimento para Uberlândia com
bases sustentáveis que englobe os aspectos econômicos sociais e culturais.
Negligenciar estes fatos pode trazer sérias conseqüências para toda a sociedade. Desse
modo, torna-se imprescindível que sejam tomadas medidas mitigadoras visando amenizar tais
impactos e solucionar, pelo menos em grande parte, os problemas apresentados. Propomos então,
elaborar planos de educação ambiental para a população circunvizinha do córrego, com organização

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de palestras de mobilização em parceria com a Associação de Moradores dos bairros pertencentes à


bacia, com o envolvimento do comércio local.
A escola tem um papel fundamental nesse processo de conscientização. Por isso é necessário
também envolvê-la neste processo através de diversas atividades em datas especiais sobre o meio
ambiente como, mostra fotográfica na semana do meio ambiente, plantio de espécies nativas no Dia
da Árvore com; caminhada ecológica pelo córrego Dia Mundial da Água, dentre outras sugestões.
Além disso, é necessário que seja cobrada do poder público a implementação do Parque
Municipal do Óleo, existente na área, e a implantação imediata do Parque Natural Municipal das
Garças, outro parque que já está planejado. Poderá também ser estudada a viabilidade de integração
dessas áreas com outras de outros pontos da cidade, criando assim um corredor ecológico contínuo,
dando mais condições de regeneração da fauna e da flora.
Medidas como estas contribuirão para a uma boa saúde ambiental da cidade e a manutenção
dos processos ecológicos, melhorando a qualidade de vida da população que deve conviver com a
natureza de forma sadia e sustentável. São propostas simples, mas acreditamos no poder de
transformação, seja a médio ou longo prazo, que elas podem trazer ao espaço urbano. Um espaço
que deve ser pensado sempre numa visão interdisciplinar, procurando corrigir os diversos conflitos
oriundos de planejamentos passados e atuais que procuram sempre privilegiar uma pequena parcela
da população. Portanto, deve-se pensar em modelos de planejamento que atinja o mais próximo
possível do utópico conceito de sustentabilidade mundial.
Compreende-se que a proteção dos recursos hídricos deve ser priorizada, as cabeceiras do
córrego abrigam veredas que devem ser preservadas, pois são sistemas naturais que apresentam
grande fragilidade ambiental. As Áreas de Proteção Permanentes – APPs requerem grande atenção
e carece de recuperação, pois foram muito degradadas em função do grande adensamento urbano e
o pisoteio de animais, tendo como conseqüência à impermeabilização do seu entorno, aumentando o
escoamento superficial e, conseqüentemente, o aumento da vazão do corpo d‘água.

SUGESTÕES DE INTERVENÇÕES

O presente estudo evidenciou o grande impacto ambiental presente nas proximidades do


Córrego do Óleo. São processos erosivos acelerados pelo desmatamento, lixo de todas as espécies e,
até, despejo clandestino de esgoto. Isso compromete seriamente a qualidade e a quantidade da água
desse manancial, que é um dos principais afluentes do Rio Uberabinha principal rio da cidade de
Uberlândia.
Há grandes evidências, no decorrer do estudo, o agravamento da região com a ocupação
desordenada do território. Além dos problemas de degradação ambientais visíveis, temos ainda a
ameaça constante por parte do setor imobiliário às áreas relativamente preservadas. É necessário

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 491


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pensar em um modelo de desenvolvimento para Uberlândia com bases sustentáveis que englobe os
aspectos econômicos sociais e culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este Artigo abordou a importância das áreas de preservação permanente em meio urbano e
sugeriu medidas de recuperação e ações mitigadoras. É preciso repensar os espaços urbanos, no
sentido de reinventar a cidade, de criar novos paradigmas de intervenção urbana.
Fica evidente que o espaço urbano deve ser repensado, levando em consideração a variável
ambiental, pois, se continuar nesta perspectiva, além de degradar de forma irreversível os recursos
naturais, coloca muitas vezes em risco a população da cidade e principalmente que vive no seu
entorno.
Neste sentido, novas soluções devem ser pensadas para resolver o conflito entre conservação
das APPs e urbanização, isto é, a preocupação ambiental, por um lado, e do outro a urbanidade da
cidade. As APPs constituem-se em elementos fundamentais para um novo desenho urbano, mais
sustentável, com maior vitalidade. O entorno do Córrego do Óleo apresenta grande potencial
paisagístico através do qual possamos resgatar a função central da vida urbana, do convívio, das
trocas, da fruição do espaço. Enfim, uma cidade voltada para as pessoas.

Figura 3 – Foto de uma das nascentes do Córrego do Óleo, Bairro São Lucas. Fonte: SILVA, M. E. (2017).

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<http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza> Revista da Católica, Uberlândia, v. 1, n. 2,


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http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/27099 - *Artigo editado em 30.07.2015 às 01h24


<acessado em 21/10/2015

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

COMO VARIA O NÚMERO DE ESPÉCIES NAS CATEGORIAS DE AMEAÇA DA


IUCN NO CARIBE CONTINENTAL E INSULAR?

Matheus Araujo LAGARES


Graduando em Bacharelado em Ciências Biológicas na UFPB
matheus.lagares@hotmail.com
João Elias MOREIRA-FILHO
Graduando em Bacharelado em Ciências Biológicas na UFPB
joaoeliasufpb@gmail.com
Thayse de Albuquerque FERRAZ
Graduanda em Bacharelado em Ciências Biológicas na UFPB
thayseferraz@hotmail.com
José Domingos RIBEIRO-NETO
Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, CCA – UFPB
camponotus2@hotmail.com

RESUMO
A relação de diversidade das espécies está diretamente relacionada com o tamanho da área
disponível para suporta-las. Se tratando de ilhas, o isolamento influência diretamente nas dinâmicas
biológicas, devido a formação e desenvolvimento geograficamente isolada, as ilhas tendem a
apresentar certa sensibilidade ambiental e possuir biodiversidade característica. Todavia, as espécies
insulares são consideradas mais sensíveis devido a sua evolução restrita, o que reduz sua capacidade
de competição. A alta vulnerabilidade a invasão nas porções insulares ameaça diretamente a
diversidade do local, a ação humana se destaca entre os principais fatores de alteração direta no
equilíbrio da biota vegetal. Sendo assim, esse trabalho testou a relação entres as espécies de plantas
vasculares, listadas no banco de dados da IUCN, tentando responder se o aumento da área e
isolamento das ilhas do Caribe Insular interfere no número de espécies em risco de extinção
segundo a IUCN. Foi utilizado dados do continente Mesoamerico e as Ilhas do Caribe, somando um
total de 27 ilhas banhadas pelo Oceano Atlântico. Foi realizado teste de qui-quadrado para testar a
variação das espécies em cada categoria de ameaça, como também, o teste de Modelo Linear
Generalizado (GLM) utilizando as variáveis explicativas de área da ilha e distância ao continente e
o número de espécies por categoria como variável resposta. Houve variação na diversidade de
espécies entre as Ilhas Caribenhas e os continentes. Foi observado uma tendência no aumento da
proporção de espécies criticamente ameaçadas e vulneráveis proporcionalmente ao aumento da
superfície terrestre.
Palavras-chave: Biogeografia de Ilhas, IUCN, Categorias de ameaça, Ilhas do Caribe e Continente
Mesoamericano.
ABSTRACT
The relationship of species diversity is related to the size of the area available to support them. If
islands are concerned, the isolation directly influences the biological dynamics, due to
geographically isolated formation and development, as there is a tendency to a certain certainty and
to possess biodiversity. However, as island species are considered more sensitive due to their
restricted evolution, which reduces their ability to compete. The high vulnerability to invasion in the
island portions directly threatens the diversity of the site, human action stands out among the factors
factors of direct non-equilibrium change of plant biota. Thus, this work tested a relation as vascular

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 494


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

plant species, listed without IUCN database, trying to answer if the increase of the area and
isolation of the islands of the Insular Caribbean does not interfere in the number of species in
danger of extinction according to the IUCN. It was given data from the Mesoamerican continent
and as Islands of the Caribbean, adding a total of 27 islands bathed by the Atlantic Ocean. It was
developed as an explanatory variable of area of the island and distance to the continent and number
of species by category as response variable. There was variation in the diversity of species such as
the Caribbean Islands and the continents. A trend has been observed in increasing the proportion of
critically endangered and vulnerable species in proportion to the increase in land area.
Key-words: Island Biogeography, IUCN, Threat categories, Caribbean island and Mesoamerica
mainland.

INTRODUÇÃO

Na teoria da Biogeografia de Ilhas proposta por MacArthur & Wilson (1963, 1967), é
relacionado a riqueza de espécies com o tamanho da ilha. Os autores sugerem que a diversidade de
espécies está diretamente relacionada com a superfície da ilha, quanto maior a área maior o número
de espécies que ela suporta. De outro modo a diversidade é inversamente proporcional ao
isolamento, a quantidade de espécies deveria diminuir conforme o grau de distanciamento da ilha
aumentasse. Além disso, o equilíbrio dinâmico dos ambientes insulares é controlado pelo equilíbrio
entre a taxa de extinção versus a de colonização (Bordignon et al, 2007; Diegues, 1999; Santos,
2009).
Nas Ciências Naturais estuda-se o papel do espaço reduzido na diversidade de espécies, ou
seja, do isolamento geográfico nos processos ecológicos (Ângelo, 1989). O isolamento insular tem
grande influência sobre os mecanismos biológicos, sendo a repartição das espécies vegetais ou
animais, terrestres ou marinhas diretamente ligado a distância da ilha em relação ao continente.
Devido a sua formação e desenvolvimento geográfico isolado, as ilha apresentam alta sensibilidade
ambiental e possuem uma biodiversidade peculiar (Borges et al., 2009). As espécies insulares são
consideradas mais sensíveis devido a sua evolução em isolamento, reduzindo sua capacidade de
competição, principalmente em relação a introdução espécies exóticas (Diegues, 1999; Polleto &
Batista, 2008).
Por ser uma região de alta vulnerabilidade a invasão, essa diversidade é cada vez mais
ameaçada com a ocupação antrópica, principalmente nas ilhas que apresentam diversas espécies
endêmicas (Mello, 2013). A espécie humana é a principal responsável pela perda dessa diversidade,
seja pela destruição direta de habitas ou pela introdução de espécies, onde, de forma direta ou
acidental, leva consigo espécies exóticas de plantas e animais para os ambientes insulares
(Bordignon et al, 2007; Diegues, 1999; Ziller, 2001). Essas invasões biológicas afetam os processos
ecológicos, o meio físico, a biota e consequentemente desequilibram o ambiente. Plantas invasoras
podem produzir alterações em propriedades ecológicas essenciais tais como ciclagem de nutrientes

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e produtividade vegetal, cadeias tróficas, estrutura, dominância, distribuição e funções de espécies


num dado ecossistema, distribuição de biomassa, entre outros danos (Gimenes & Anjos, 2003;
Mello, 2013), afetando profundamente os ambientes em que se instalam. Deste modo é importante
monitorar a suscetibilidade desses ambientes insulares a introdução e invasão biológica.
Se tratando de ilhas, a região do Caribe Insular se destaca como um dos hotspots mundiais
de biodiversidade, contando com a presença de diversas espécies endêmicas. O Caribe compreende
um arquipélago de grandes e pequenas ilhas inseridas na região tropical, estendendo-se por cerca de
4 milhões de quilômetros quadrados e tem suas áreas entre as mais ameaçadas em todo o planeta.
As primeiras observações sobre a diversidade das plantas foram documentadas nos seculos XV e
XVI, a região possui um número bem expressivo de quantidade de plantas, em que mais ou menos
50% dessas são endêmicas, o que a torna região como um dos principais hotspots mundiais (CEPF,
2011; Santiago-Valentin & Olmstead, 2004).
A região do Caribe vem sofrendo com a perda de sua biodiversidade há milhares de anos,
desde a chegada dos ameríndios há cerca de sete mil anos até a chegada dos europeus, por volta de
1490, onde os impactos negativos aumentaram substancialmente (Brooks et al, 2002). Essas
ameaças vão desde a destruição e fragmentação de habitats, ocasionado pelas ocupações humanas
com desmatamentos, avanço das cidades, agricultura, até mesmo predação e competição por
espécies exóticas invasoras. Podemos também incluir como um fator de ameaça, as mudanças
climáticas que afetam a região e causam flutuações no nível do mar. Juntamente a essas ameaças,
inclui-se a falta de consciência sobre a importância da conservação ambiental e a não aplicação
correta das leis, onde muitas vezes as áreas de proteção ambiental não são devidamente respeitadas
(CEPF, 2011)
O trabalho tem como objetivo testar se a relação entre as espécies de plantas vasculares
listadas nas diversas categorias de ameaças registrada na base de dados da IUCN responde
positivamente conforme o aumento da área e isolamento das ilhas do Caribe Insular, na América
Central. Além de discutir se existe diferença significativa entre as espécies listadas nas categorias
entre as ilhas e continentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado utilizando dados do continente Mesoamericano e Ilhas do Caribe,


contando com um conjunto de 27 ilhas banhadas pelo Oceano Atlântico e localizadas na região
Neotropical (Morrone, 2006), com clima caracterizado por temperaturas elevadas (Givoni, 1994). A
região sofre principalmente com a introdução de espécies exóticas e avanço da urbanização (CEPF,
2010; Kairo et al. 2013). Ainda segundo a CEPF (2010) os principais desafios para conservação na
região do Caribe é a falta de consciência sobre a importância da biodiversidade e dos serviços dos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ecossistemas, a falta de apoio político aliado a legislação fraca e ineficaz, estruturas institucionais
ineficientes, conhecimento técnico-científico limitado, pouca disponibilidade de informações
necessárias para tomada de decisões efetivas, bem como a participação pública inadequada nos
processos de tomada de decisão.
Os dados sobre a distribuição das espécies de plantas vasculares foram obtidos através da
plataforma IUCN Red List™ (Lista Vermelha da IUCN) versão 2017-1. A base de dados da IUCN
se apresenta como uma excelente fonte de informação sobre o estado de conservação global das
espécies e seus respectivos dados de ocorrência. Foi utilizado o recurso de pesquisa e geração de
listas para as ilhas e para o continente separadamente, para cada local duas listas foram geradas,
uma abrangendo as espécies nativas e outra as espécies introduzidas das plantas vasculares.
A medição da distância das ilhas para os continentes foi obtida com auxílio do Google Earth
Pro™ (versão 6.0). Foram projetadas linhas retas das ilhas até o litoral continental mais próximo,
assumindo que a maior proximidade ilha-continente será a que maior influenciará o fluxo e
dispersão de espécies. Os dados geográficos (e.g. área total das ilhas) foram obtidos a partir da
plataforma The World Factbook 2013-14, disponível na base de dados da Central Intelligence
Agency (CIA).
Em relação as análises, foi realizado um Modelo Linear Generalizado (GLM) com a
utilização de duas variáveis explicativas, sendo a área da ilha e sua distância para o continente,
convertidas em log10 para melhor ajuste na curva de variação; e uma variável resposta, sendo o
número de espécies por categoria. A segunda análise realizada consistiu em um teste qui-quadrado
com o objetivo de testar se havia variação significativa de espécies em cada categoria entre as ilhas
e os continentes. O teste foi realizado de duas formas, com os dados em forma absoluta, ou seja, os
números totais das espécies em cada categoria em comparação ao total de espécies por categoria
nos continentes e na forma de valores proporcionais, onde o número de espécie por categoria foi
divido pelo total de espécies, como uma forma de melhor analisar os dados. Os testes foram
realizados utilizando o software R.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A diversidade de espécies nativas apresentou variação entre ilhas e das ilhas para o
continente. Foram registradas 123 famílias, 395 gêneros e 731 espécies nativas distribuídas nas 27
ilhas Caribenhas estudadas, como listado na tabela 1. Em relação aos táxons continentais, foram
registradas 129 famílias, 477 gêneros e 1455 espécies nativas, mostrando uma maior diversidade
biológica em relação as ilhas Caribenhas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

NATIVAS INTRODUZIDAS
ILHAS DISTÂNCIA (km) ÁREA (km²) F G E F G E
Anguilla 834 91 19 29 31 4 4 4
Antígua e Barbuda 700 442.6 27 55 60 3 3 3
Aruba 29.6 180 12 26 30 3 3 3
Bahamas 205.61 13880 35 76 102 5 7 7
Barbados 357.58 430 23 42 49 7 7 7
Bermudas 1048.7 54 24 34 41 3 5 5
Bonaire, Sint Eustatius and
89.83 322 20 47 57 3 3 3
Saba
Cayman 505.85 264 40 81 95 5 6 6
Cuba 212.2 110860 91 241 384 11 16 16
Curaçao 65.8 444 17 41 49 3 3 3
Dominica 506 751 31 74 90 5 6 6
Dominican Republic + Haiti 581.8 76420 56 146 216 7 15 15
Grenada 154.73 344 24 49 55 6 7 7
Guadeloupe 582 1705 32 68 76 6 8 8
Jamaica 637 10991 88 221 433 10 17 17
Martinique 430 1128 33 61 69 5 8 8
Montserrat 660 102 22 45 51 3 3 3
Puerto Rico 778.04 13791 60 139 195 10 18 20
Saint Barthélemy 800 25 10 17 17 2 2 2
Saint Kitts and Nevis 746 261 20 37 41 3 3 3
Saint Lucia 353 616 29 56 63 6 6 6
Saint Mantin (French +
817 88.4 20 45 51 3 3 3
Dutch part)
Saint Vincent and the
283 389 27 52 59 3 3 3
Grenadines
Trinidad and Tobago 13.6 5128 37 90 113 7 7 7
Turks and Caicos 905 948 24 48 56 1 1 1
Virgin Islands - British 860 151 28 50 62 5 5 5
Virgin Islands - U. S. 856 1910 27 55 64 3 3 3
América Central
Continental - 507966 129 477 1455 10 25 29

Tabela 1 Dados das ilhas Caribenhas com respectivas áreas, distâncias para o continente mais próximo e
número das espécies registradas, bem como os dados continentais – América Central. (F = Famílias, G =
Gêneros, E = Espécies).

Na figura 1 pode-se observar a existência de uma tendência no aumento da proporção das


espécies contidas na lista da IUCN nas categorias criticamente ameaçadas (figura 1a) e vulneráveis
(fig. 1c) conforme a área da superfície terrestre aumenta. Desta forma a vulnerabilidade das
espécies aumenta proporcionalmente com a área das ilhas, tendo espécies relatadas entre
criticamente ameaçadas e vulneráveis mais representadas nas ilhas maiores. De forma semelhante o
grau de ameaça das espécies responde proporcionalmente ao isolamento das ilhas, como observado
na figura (1b e 1c), em que o número de registros na Lista Vermelha da IUCN para espécies
ameaçadas e criticamente ameaçadas é substancialmente maior nas ilhas mais distantes da porção
continental. Em contrapartida, a quantidade de espécies pouco preocupantes diminui em
decorrência da área (fig. 1e) e distância para o continente (fig. 1f), esse resultado pode ser um
reflexo da complementariedade dos dados ou mesmo decorrente de um viés de amostragem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 Gráficos relacionando a proporção das espécies nas categorias de ameaças com a respectiva área: a)
criticamente ameaçadas, c) vulneráveis e e) pouco preocupante; e distância: b) criticamente ameaçadas, d)
ameaçadas e f) pouco preocupante; das mesmas para o continente.

A tabela 2 apresenta os resultados das análises estatísticas demonstrando a variação na


proporção das espécies separadas por grau de ameaça em relação a área e a distância das ilhas,
evidenciando mais uma vez a relação significativa entre o aumento da área da ilha com a proporção
de espécies ameaçadas.

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Categoria de ameaça Efeito gl Desvio residual p


Extinta Área (ha) 1,24 0,00 0,86
Distância para o continente (km) 1,23 0,00 0,49
Resíduos 25 0,00
Criticamente ameaçada Área (ha) 1,24 0,03 0,05
Distância para o continente (km) 1,23 0,03 0,02
Resíduos 25 0,04
Próxima de ameaçada Área (ha) 1,24 0,02 0,09
Distância para o continente (km) 1,23 0,02 0,94
Resíduos 25 0,03
Vulnerável Área (ha) 1,24 0,06 0,00
Distância para o continente (km) 1,23 0,05 0,30
Resíduos 25 0,10
Pouco preocupante Área (ha) 1,24 0,31 0,00
Distância para o continente (km) 1,23 0,25 0,02
Resíduos 25 0,46
Tabela 2 Resultados dos testes estatísticos mostrando a variação da proporção das espécies por grau de
ameaça da em relação a área e distância das ilhas.

Umas das prováveis causas da relação direta entre o aumento da área e o grau de ameaça
sofrida pelas espécies é a pressão antrópica, visto que, as ilhas com uma maior superfície terrestre,
consequentemente, possuem um maior número de habitantes que ocasionam pressão em cima das
espécies vegetais, sofrendo constantemente com perda e fragmentação de habitats, desmatamentos,
queimadas e outras influências provenientes da ocupação humana, a predação e competição por
espécies exóticas invasoras, até mesmo as mudanças climáticas (Kairo & Ali, 2003; Brown et al,
2007; CEPG, 2011).
Na figura 2 está representado os dados da proporção e os valores absolutos das espécies,
comparando as categorias de ameaça entre os dois hábitats (ilha e continente). As categorias
criticamente ameaçadas (CR), em risco (EN), pouco preocupante (NT) e vulneráveis (VU)
apresentaram maiores valores na porção continental, justificado pela maior superfície terrestre. Essa
maior extensão de área favorece uma melhor estabilidade da biota vegetal, pois este tende a
apresentar heterogeneidade ambiental, propiciando diversidade de hábitats e micro-hábitats para o
estabelecimento das espécies. Isto também pode justificar a ausência de espécies em extinção (EX)
registrada, a dinâmica ambiental apresentada pelo continente oferece as espécies maiores chances
de sobrevivência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figure 2 Gráficos com dados de proporção e valores absolutos das espécies, comparando as categorias de
ameaça entre os dois hábitats (Ilha e Continente).

Para os valores absolutos, em algumas categorias os dados das ilhas superam o dos
continentes, podendo ser justificado pelo maior número de registro para os ambientes insulares
disponíveis na plataforma da IUCN.
A tabela 3 exibe a comparação do número de espécies e a proporção de espécies em cada
categoria nas ilhas e continente, porém, nota-se que as ilhas e continentes não explicam as
diferenças no número de espécies em cada categoria de ameaças.

Diversidade Categoria de ameaça X2 gl p


Proporção Extinta 0,00 1 0,98
das espécies Criticamente ameaçada 1,60 1 0,20
Ameaçada 0,32 1 0,57
Vulnerável 0,81 1 0,36
Próxima a ameaçada 0,20 1 0,65
Pouco preocupante 1,16 1 0,28
Número de Extinta 5,33 1 0,02
espécies Criticamente ameaçada 9,59 1 0,00
Ameaçada 2,07 1 0,14
Vulnerável 0,02 1 0,97
Próxima a ameaçada 1,59 1 0,20
Pouco preocupante 292,68 1 <0.01
Tabela 3 Análise de qui-quadrado comparando o número de espécies e a proporção de espécies em cada
categoria nas ilhas e continente.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONCLUSÃO

Em termos biológicos, o isolamento das ilhas dificulta a manutenção dos fluxos genéticos e
a dispersão das espécies vegetais, assim como ilhas com menores dimensões tendem suportar
menores populações, seja devido a menor disponibilidade de hábitats ou mesmo fatores ambientais
característicos das mesmas, o que dá suporte aos resultados observados. Metodologicamente, isso
pode ser justificado pelo viés de amostragem, em que as ilhas maiores dispõe de dados mais
completos e, as ilhas menores e mais distantes, possuem dados menos abundantes. A limitação da
pesquisa se dá pela falta da padronização na amostragem dos dados, que embora seja bem
documentado para algumas regiões ainda carecem da atenção dos pesquisadores em outras.
Em geral, foi observado que existe uma relação significativa entre o número das espécies
ameaçadas com a área e grau de isolamento das ilhas. Ou seja, as espécies registradas pela Lista
Vermelha da IUCN como vulneráveis, ameaçadas e criticamente ameaçadas apresentaram
correlação com o tamanho das ilhas (áreas) e a distância das mesmas para o continente
(isolamento), aumentando o número de registros conforme as medidas aumentaram.
Os resultados demonstram de certa forma uma fragilidade maior dos ambientes insulares,
principalmente entre as menores e mais isoladas ilhas.

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A DIVERSIDADE VEGETAL CATARINENSE: O CASO DO PARQUE MUNICIPAL


DA LAGOA DO PERI, FLORIANÓPOLIS, SC.

Natalia Feltz ALANO


Graduanda do curso de Geografia, UDESC
nataliafeltz@hotmail.com
Jairo VALDATI
Professor do Departamento de Geografia, UDESC
javaldati@hotmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho é evidenciar a importância da preservação da diversidade vegetal
encontrada na Unidade de Conservação do Parque Municipal da Lagoa do Peri. Esta unidade de
conservação está localizada no sul da Ilha de Santa Catarina – Florianópolis. O presente trabalho se
deu a partir de pesquisas bibliográficas e atividade de campo. Primeiramente é abordado o tema
sobre a diversidade das formações vegetais presentes no Estado de Santa Catarina, e em seguida a
diversidade presente na ilha e de consequência da unidade de conservação. Apresenta-se o
zoneamento do parque como um importante instrumento para a gestão. A partir dele é possível
analisar o uso atual do parque, tanto como área de estudos quanto como área de lazer e sua
importância na conservação da vegetação nativa.
Palavras chaves: Formações Vegetais, diversidade vegetal, Lagoa do Peri, Florianópolis.
ABSTRACT
The objective of this paper is to highlight the importance of preserving plant diversity found in the
conservation unit ―Parque Municipal da Lagoa do Peri‖. This conservation area is located in the
south of Santa Catarina Island –Florianopolis. This work took place from bibliographic researches
and field activity. Firstly, the topic approached is diversity of plant formations present in Santa
Catarina State, secondly the diversity present on the island and then as a result of the conservation
unit. It is presented the zoning of the Park as an important tool for management. From that it is
possible to analyze the current use of the park, not only as an area where studies are placed
but as a recreational area and its importance concerning the conservation of native vegetation.
Key words: plant formations, plant diversity, Lagoa do Peri, Florianopolis.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa busca apresentar a diversidade vegetal que é encontrada dentro do


Parque Municipal da Lagoa do Peri localizado no sul da ilha de Santa Catarina entre as praias do
Morro das Pedras e Armação do Pântano do Sul a partir do estudo prévio da diversidade vegetal
característica do Estado de Santa Catarina e da ilha denominada Florianópolis. No estado de Santa
Catarina é possível observar uma variedade fisionômica na vegetação, na qual, sua diversidade é
principalmente influenciada pelas condições climáticas e de relevo de cada região. A Mata Atlântica

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é o bioma que cobre todo o território de Santa Catarina incluindo as ilhas costeiras, tal como
Florianópolis.

Figura 1: Localização do Parque Municipal da Lagoa do Peri


Autor: Lucas Barros. Agosto de 2017

O Parque Municipal da Lagoa do Peri é uma das áreas da Ilha de santa Catarina que possui
exemplares de Mata Atlântica primária, e grandes áreas de vegetação secundária em estágio
avançado de sucessão vegetal. Zoneado pelo IPUF em três grandes áreas, o parque é dividido em
espaço de lazer, reserva biológica e paisagem cultural. Atualmente o parque é administrado e
fiscalizado pela Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM) que cuidam
das unidades de conservação e áreas protegidas do município de Florianópolis. Dentro do parque
promovem à conscientização e proteção do meio ambiente, através da educação ambiental, e
auxiliam nas atividades de pesquisas e turismo nas diferentes trilhas.

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DIVERSIDADE VEGETAL CATARINENSE E DA ILHA DE SANTA CATARINA

A cobertura vegetal de um lugar é formada a partir de suas características naturais. Fatores


como o clima e o relevo são muito importantes. E é por isso que Santa Catarina possui grande
diversidade de formações vegetais. No estado existem lugares de baixas e altas altitudes e uma
grande variação de temperaturas entre as regiões, o que favorece o surgimento de diferentes
formações vegetais. O Estado é ocupado em sua totalidade pelo bioma Mata Atlântica, com uma
extensão territorial de 95.985 km² onde, 85% eram originalmente cobertos pela Mata Atlântica. As
principais formações vegetais presentes no Estado de Santa Catarina são: Mata Atlântica (Floresta
Tropical Atlântica ou Floresta Ombrófila Densa), Mata de Araucárias (Floresta de Araucária,
Floresta de Pinhais ou Floresta Ombrófila Mista), Floresta Decidual (Floresta Subtropical do Rio
Uruguai ou Floresta Estacional Decidual), Estepes (Campos do Planalto ou Campos do Sul) e
Vegetação Litorânea (Manguezal, Restinga e de Áreas Alagadas ou Formações Edáficas de
Primeira Ocupação). Todas elas possuem características especificas da área onde estão localizadas.
A Floresta Ombrófila Densa (IBGE, 2012), Floresta Tropical Atlântica (KLEIN, 1978) ou
Mata Atlântica ocupa as planícies próximas ao litoral e é bastante influenciada pela umidade vinda
do Oceano Atlântico. Em função disso é uma floresta com árvores grandes, de mata fechada e de
difícil locomoção em seu interior. Sua área de ocorrência são planícies e serras litorâneas do
território do Estado, com índice de umidade de maior elevação e amplitude térmica de menor
elevação. Essas condições ambientais propiciam uma floresta característica, com várias espécies. É
uma cobertura vegetal do tipo latifoliada, perenifólia, densa e heterogênea. São espécies dessa
cobertura vegetal: canela, guamirins, bicuiba, peroba vermelha, cedro, palmiteiro, figueira, entre
outras. Em Santa Catarina, protege-se a Mata Atlântica em uma grande variedade de unidades de
conservação localizadas no estado.
A Floresta Ombrófila Mista (IBGE, 2012), Floresta de Araucárias ou Floresta de Pinhais
(KLEIN, 1978) é uma formação vegetal que possui algumas semelhanças com a Mata Atlântica. Por
estar mais distante do mar e em áreas de relevo elevado, não recebe tanta influência do oceano, se
adaptando ao clima mais frio. A Araucária é a árvore mais marcante dessa vegetação, um tipo de
mata formada também por espécies vegetais mais baixas, o que facilita a locomoção em seu
interior. Essa formação é visível no planalto catarinense, em altitudes acima de 500 metros, em
região de clima de maior amenidade, misturada com a flora tropical e temperada. É uma vegetação
acessível, aciculifoliada e homogênea. Além da araucária (Araucária angustifólia), são espécies
presentes desse domínio: canela, erva-mate, bracatinga, imbuia e as resistentes araucárias.
A Floresta Estacional Decidual (IBGE, 2012) ou Floresta Subtropical do Rio Uruguai
(KLEIN, 1978) ocupa áreas do oeste de Santa Catarina, na bacia do Rio Uruguai, próximas a divisa
com o Rio Grande do Sul. Uma região distante do Oceano e com um relevo relativamente baixo,
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formando um clima único em nosso estado. A principal característica da vegetação decidual é a


perda das folhas no inverno. Nessa formação vegetal é destacado a grápia, o angico-vermelho, o
louro-pardo e a guajuvira. Entre as espécies perenifólias são visíveis o pau-marfim, a canela, os
camboatás, os tanheiros, dentre outras.
As Estepes (IBGE, 2012) ou Campos do Planalto (KLEIN, 1978) ocupam áreas de relevo
elevado e clima frio e são formados principalmente por plantas rasteiras. São coberturas vegetais
variadas, campestres, intercaladas com áreas florestadas (capões). São muito visíveis no Planalto
Serrano, associando-se com frequência às araucárias. São constituintes de paisagem de excelência
para o gado, exercendo influência na economia regional. As espécies mais quantitativas são as
gramíneas (capim-colchão, capim caninha, grama forquilhinha, grama sempre verde e grama
missioneira) como também espécies que pertencem à família das ciperáceas, leguminosas,
verbenáceas e compostas.
A ilha de Santa Catarina já esteve ligada ao continente em tempos geológicos recentes, o
que possibilitou semelhanças na distribuição de muitas espécies de animais e plantas entre o
continente e a ilha. As formações vegetais da Ilha de Santa Catarina podem ser agrupadas em
conjuntos distintos: um grupo deste conjunto são as formações vegetais edáficas, em que as
condições do solo são dominantes. É o caso da vegetação litorânea que se subdivide em três
subformações muito distintas e com características próprias: mangue e restinga. Os mangues, nas
áreas de solos pantanosos salinos do litoral; vegetação de praia, duna e cordões arenosos, nos solos
arenosos do litoral, denominada restinga e as formações vegetais climáticas, representadas pela
Floresta Pluvial da Encosta Atlântica, onde o clima é o elemento determinante, tendo os demais
fatores um papel secundário (BISHEIMER, 2013).
Na Ilha as condições mais propícias para o desenvolvimento dos manguezais se encontram
no litoral oeste, que é formado pelas baías Norte e Sul. Acompanhado do mar, a barra e as margens
do curso baixo dos rios que nelas desembocam encontram-se as maiores formações de mangue na
Ilha. Também chamados de floresta de mongrove, os mangues são associações halófitas com
predomínio de espécies arbustivas e de pequenas arvores latifoliadas perenes, que se desenvolvem
sobre solos pantanosos salgados, nas baías, reentrâncias do mar e desembocadura dos rios, sob
influencia das marés. (CARUSO 1990). Destacam-se por suas extensões, os Manguezais que se
encontram na foz e ao longo das margens do Rio Ratones, ao norte; do Rio Tavares, ao sul, e do Rio
Itacorubi, nas proximidades da zona urbana da capital do Estado. As áreas com manguezais na Ilha
de Santa Catarina se caracterizam pela ocorrência de três espécies de árvores, o mangue-preto, o
mangue-branco e o mangue vermelho. O Mangue-preto compõe a vegetação mais frequente,
ocupando ¾ dos manguezais, sendo encontrados em áreas inundadas ou não pelo mar. O mangue-
branco ocupa as áreas mais secas ou as partes mais internas, sendo inundável apenas nos períodos

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em que ocorrem as marés mais altas. O mangue-vermelho, árvore que caracteriza os mangues em
outras regiões, no Estado de Santa Catarina é encontrado em menor densidade.
A vegetação de praia encontra-se na faixa logo após a zona das marés, a mesma que é
constituída por elementos pioneiros: as plantas psamófitas-halôfitas, seguidas de plantas psamófitas
à medida que se avança para o interior. As primeiras estão sujeitas a ação da salinidade e das ondas
do mar; as segundas, adaptadas à excessiva exposição aos raios solares, à sequidão e à pobreza do
solo arenoso. Na Ilha, como todo o litoral do Estado, a capotiraguá é a espécie dominante da
vegetação herbácea e pioneira das praias. Esta espécie ocupa uma estreita faixa do litoral arenoso,
geralmente bastante úmida. Ela tem uma dispersão irregular e descontínua em determinadas praias
da Ilha de Santa Catarina. É na praia da Lagoinha do Leste e na praia de Jurerê que se encontram os
agrupamentos mais característicos (BISHEIMER, 2013).
Nas dunas a vegetação se distribui entre a faixa de transição da praia e dos cordões arenosos.
Elas são formadas pelos depósitos de areias transportadas pelo vento, podendo ser móveis ou
semifixas. Entre a Lagoa da Conceição e as praias da Joaquina e do Campeche, por exemplo, as
dunas são móveis e mudam sua forma com a ação dos ventos, o que acarreta grande escassez de
vegetação. As outras praias com presença de dunas são Ingleses, Santinho, Moçambique, Lagoinha
do Leste e Pântano do Sul, onde são semifixas. A vegetação das dunas procura se adaptar as
condições adversas do ambiente, como o sol intenso, a escassez de água, o solo pobre em nutrientes
e com alta salinidade. As raízes são extensas e ramificadas, importante para as plantas, na busca de
água . A espécie mais comum nessa região é a Spartina Ciliata, é uma gramínea que é capaz de se
fixar na areia das dunas. Na maioria das plantas as folhas podem ser pequenas ou estreitas e duras
para resistir ao vento e a insolação. Para diminuir os efeitos da ação do sol e reduzir a perda de
água, as folhas costumam apresentar alguns pelos (BISHEIMER, 2013).
A vegetação de restinga típica é aquela que cobre as dunas fixas e as áreas arenosas planas.
Também pode ocorrer após a vegetação de mangue, formando uma faixa de transição. A vegetação
próxima ao mar, presente em algumas praias, também é chamada de restinga. Esta estreita faixa
apresenta extrema limitação de diversidade de espécies, normalmente rasteiras, resultado das
condições adversas. Nessa zona, as condições ecológicas são muito diferentes das da zona de praia
e daquelas das dunas móveis ou semifixas. O solo é mais compacto, por ser constituído de areias
mais finas e ter um teor maior de argila, bem como por apresentar uma leve camada de humos. O ar
é mais úmido, devido à maior quantidade de plantas que protegem o solo de uma exposição direta
por conta da própria evaporação e transpiração das plantas (CARUSO 1990).
A Floresta Pluvial da Encosta Atlântica ou Floresta ombrófila Densa estende-se desde o
Estado do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, ela é encontrada na Ilha de Santa Catarina,
cobrindo os maciços cristalinos antigos, de topografia acidentada e partes das planícies quaternárias,

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em contato com as formações litorâneas. Esta floresta latifoliada ombrófila se caracteriza


principalmente pela sua grande potência, elevada densidade e heterogeneidade, quanto às espécies
de árvores altas, medias e arbustos, bem como um elevado numero de epífitas e lianas lenhosas.

Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos - subformas de vida macro e


mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das
outras classes de formações. Porém, sua característica ecológica principal reside nos
ambientes ombrófilos que marcam muito a ―região florística florestal‖. Assim, a
característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa a fatores climáticos
tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25o C) e de alta precipitação, bem-
distribuída durante o ano. (IBGE, 2012)

Apesar de ser a vegetação mais abundante da Ilha, ela não se encontra no seu estado
original. Após intensos desflorestamentos durante o período de colonização, o que se observe hoje é
uma floresta em diferentes estágios de sucessão. Alguns locais, como o noroeste e o sudeste da
Lagoa do Peri, Ponta dos Naufragados, noroeste e centro da Lagoa da Conceição e a arte sul do
Morro da Costa da Lagoa, representam os melhores trechos de mata secundária existente. Dentre as
diversas formas biológicas que constituem a vegetação da Floresta Pluvial da Ilha, destacam-se as
fanerófitas, as lianas e as epífitas, entre outras com menos destaques (BISHEIMER, 2013).

O ZONEAMENTO DO PARQUE MUNICIPAL DA LAGOA DO PERI

O Parque Municipal da Lagoa do Peri encontra-se na porção sul da Ilha de Santa Catarina,
possuindo 20,3 km² de área. A lagoa propriamente dita apresenta uma área superficial de 5,2 km², é
considerado o maior corpo de água doce do litoral catarinense e o maior manancial de água potável
da Ilha de Santa Catarina (CECCA, 1997). A Unidade de Conservação (UC) possui, também,
importante remanescente florestal de Mata Atlântica primária. Por conta desses fatores a UC foi
tombada como Patrimônio Natural do Município. O Parque Municipal da Lagoa do Peri ocupa 5%
da Ilha de Santa Catarina, a qual tem aproximadamente 42% de sua área constituída por Unidades
de Conservação, instituídas em legislação federal, estadual ou municipal (CECCA, 1997).
O parque é um dos principais ecossistemas em estágio de regeneração da Mata Atlântica
original, além de abrigar diversas espécies da fauna local. Com 2.030 hectares de unidade de
conservação é possível observar mais de 340 espécies diferentes de árvores. Além disto, é o maior
manancial de Florianópolis, a lagoa abastece mais de 100 mil pessoas no leste e sul da ilha,
somando a isto, atualmente possui a bandeira azul de qualidade. (BATISTA, 2004)
A partir do tombamento como patrimônio natural a Unidade de Conservação do Parque da
Lagoa do Peri teve o seu Plano Diretor de Ocupação e Uso do Solo desenvolvido pelo Instituto de
Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) que teve apoio da Fundação de Amparo à Tecnologia
e Meio Ambiente (FATMA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e se deu pelo
decreto municipal nº 091, de 1982. Mas anteriormente no ano de 1978 o IPUF já havia realizado o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

zoneamento dessa área do parque e o dividiu em três grandes áreas (figura II): Área de Reserva
Biológica, Área de Paisagem Cultural e Área de Lazer (IPUF, 1978).

A criação do Parque Municipal da Lagoa do Peri ―não teve a pretensão de ser algo
intocável, inacessível‖ (IPUF, 1978, p. 11), constituindo um benefício social comum
através da preservação do patrimônio natural, com o propósito de oferecer alternativas de
lazer, sem estimular as atividades e o turismo intenso, o que causaria uso demasiado dos
recursos naturais. Esse Parque é um dos que contém populações habitando no seu interior e
uma das propostas contidas no Plano Diretor de Ocupação e Uso do Solo é propiciar o
desenvolvimento social crescente da comunidade nativa, adequando o ser humano à
natureza, compatibilizando as atividades humanas com os recursos naturais. (BATISTA,
2004)

A Área de Reserva Biológica é destinada à preservação integral e permanente do


ecossistema e de seus recursos, tendo apenas seu uso permitido para fins científicos. Esta área é
considerada a reserva genética da flora e da fauna, para fins científicos e educacionais compatíveis
com os objetivos do Parque. A área da reserva biológica tem como principal enfoque as pesquisas,
realizadas pelas escolas e universidades. È nesta área que se encontram o maior número de trilhas,
locais onde se pode admirar a diversidade da cobertura vegetal.
A Área de Paisagem Cultural: Nesta área vivem algumas famílias, descendentes dos
primeiros moradores de cultura açoriana, onde desenvolvem atividades tradicionais tais como a
agricultura e trabalhos nos antigos engenhos onde beneficiam a cana-de-açúcar. Corresponde
também à porção de terra em que se desenvolvem as atividades agrícolas em nível de subsistência e
de transformação, como o artesanato. Garante a manutenção das atividades, preservando, assim, a
cultura e presença dos moradores locais.
A terceira é a Área de Lazer: representada pela área de restinga e a própria Lagoa onde se
pretende conciliar a preservação dos bens naturais com sua utilização para fins científicos,
educacionais e de lazer. Esta área é muito usada e frequentada pelos moradores e pelos turistas
principalmente na época do verão. Atualmente a lagoa possui a bandeira azul 28 de qualidade
ambiental.

28
O Programa Bandeira Azul tem como objetivo elevar o grau de conscientização dos cidadãos e dos tomadores de
decisão para a necessidade de se proteger o ambiente marinho e costeiro e incentivar a realização de ações que
conduzam à resolução dos conflitos existentes. O Programa Bandeira Azul é uma iniciativa da FEE (Foundation for
Environmental Education – Fundação para Educação Ambiental). No Brasil é operado pelo Instituto Ambientes em
Rede, com sede em Florianópolis/SC. O Programa Bandeira Azul baseia-se em princípios de sistema de gestão
ambiental, ou seja, ao cumprir uma série de critérios a praia ou marina que participa do Programa solicita a certificação
internacional: a Bandeira Azul. Fonte: http://www.bandeiraazul.org.br/ Acesso em: agosto de 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2: Mapa do zoneamento do Parque Municipal da Lagoa do Peri


Fonte: SBROGLIA, Regiane Mara. BELTRAME, Ângela da Veiga. O zoneamento, conflitos e
recategorização do parque municipal da lagoa do Peri, Florianópolis/SC. Acesso em: Julho de 2017

A Lagoa do Peri é um verdadeiro laboratório de pesquisas, além de servir como importante


manancial de captação d‘água para o abastecimento dos habitantes das regiões leste e sul da Ilha e
como área de recreação e lazer. Principalmente a área da reserva biológica é muitas vezes visitada
por estudantes universitários que utilizam da área para pesquisas cientificas e até mesmo por
estudantes de escolas da região que além de conhecerem o parque, contam com uma palestra sobre
educação ambiental, ministradas pelos funcionários da Fundação Municipal do Meio Ambiente de
Florianópolis (FLORAM) que administram a sede do parque. Toda a área do parque da Lagoa do
Peri é muito importante para a realização de estudos e pesquisas voltadas ao meio ambiente,
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

principalmente se estiverem relacionadas com a flora local, pois a diversidade vegetal da região é
extensa e da grande subsidio para as pesquisas feitas.
A lagoa por estar situada acima do nível do mar não é afetada pelas oscilações da maré, o
que deixa sua água doce. Nas localidades norte, oeste e sul, a lagoa é envolta por encostas com até
300 metros, composta por embasamento cristalino e coberta pela Mata atlântica ou também
denominada Floresta Ombrófila Densa (figura 3).
Na porção leste separada do Oceano Atlântico por uma faixa de superfície plana, composta
por depósitos sedimentares quaternários e coberta pela vegetação de restinga (figura 4), que faz
parte da nossa vegetação litorânea. Encontra-se sobre forte influência de ações antrópicas, devido à
intensa ocupação do entorno (SBROGLIA; BELTRAME, 2012).

Figura 3: Encosta da lagoa do Peri coberta pela Floresta Ombrófila Densa


Autor: Daniel Aguiar, agosto de 2017.

Segundo o IPUF a ocupação da Bacia da Lagoa do Peri teve inicio no desenvolvimento da


freguesia de Nossa Senhora da Lapa do Ribeirão da Ilha, instalada em 1761, auxiliando a constituir
posteriormente a comunidade do Sertão do Peri. Na região do parque, as atividades predominantes
no período da colonização até a época da implantação do parque eram a extração de madeira e a
agricultura como atividade principal das famílias do Ribeirão e do Sertão do Peri. Por outro lado a
área de restinga presente a leste foi ocupada por famílias da região da Armação onde também
trabalhavam com a pesca.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 4: Restinga de porte arbustivo na área de depósitos de cordões marinhos.


Autor: Daniel Aguiar, agosto de 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Parque municipal da Lagoa do Peri, unidade de conservação de Florianópolis-SC tem


grande importância na preservação da vegetação nativa da ilha. O parque possui áreas na qual
permitem que os visitantes vivenciem essa natureza. O zoneamento realizado pelo IPUF permite
com que as áreas do parque sejam muito bem utilizadas para fins de pesquisas em diversos
segmentos, e também, para o lazer da comunidade.
Com o trabalho da FLORAM o parque possui fiscalização ambiental e realiza atividades de
conscientização para a conservação da fauna e flora local, além de destacarem a importância do
reflorestamento da Mata atlântica nativa dento do parque. Contudo, nota-se que na área de lazer são
poucas as espécies nativas que possuem identificação para o visitante, e dentro do parque,
principalmente nas trilhas, que pertencem à área da reserva biológica, encontramos muitos
exemplares de espécies exóticas.
No decorrer das trilhas e em outras áreas do parque é possível observar o crescente
aparecimento de espécies exóticas como pinus e eucaliptos. Constantemente os funcionários do
parque fazem a remoção de exemplares jovens de pinus, para evitar uma invasão maior da já
existente, contudo a falta de pessoal para fazer esta atividade impede que sejam erradicados todos
os exemplares.
Atualmente o parque conta com pouca sinalização nas suas trilhas e em algumas é nula. Este
fato é um empecilho à orientação pelo percurso, dificultando a exploração da área que é muito

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

procurada para estudos e pesquisas, e até mesmo pela comunidade que frequentemente visita a área.
Hoje, o parque conta apenas com algumas poucas placas que informam o perigo do aparecimento de
algumas espécies animais no decorrer das trilhas e na área da lagoa.
Para finalizar, gostaríamos de parabenizar a gestão do parque e dos poucos funcionários, que
com todas as dificuldades encontradas, não medem esforços para preservar e restaurar a vegetação
nativa da Lagoa do Peri.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 515


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

APENAS VISITAÇÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NÃO PROMOVE


CONCEPÇÃO AMBIENTAL

Valéria Silva Felipe MOURA


Graduanda do Curso De Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
valleriafellipe13@gmail.com
Zaqueu Henrique de SOUZA
Professor Mestre do Curso de Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
zaqueu@fimes.edu.br
Mariane Rodrigues VIEIRA
Graduanda do Curso De Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
Myyy_rodrigues@hotmail.com
Stelamara Souza PEREIRA
Professora Mestre do Curso de Eng. Ambiental e Sanitária da UNIFIMES
stelamara@fimes.edu.br

RESUMO
Esse trabalho foi realizado no município de Mineiros-GO, com alunos de 9 a 13 anos de idade
participantes do projeto Polícia Militar Mirim no município de Mineiros - GO, onde é aplicado uma
disciplina de educação ambiental. Num primeiro momento, instigou-lhes sobre as concepções
ambientais em que as crianças registrassem por meio de um desenho, posteriormente realizou-se
uma visita ao Parque Nacional das Emas - PNE e novamente repetido o pedido do desenho. A partir
desses registros pictóricos analisou-se a percepção ambiental dos alunos usando as categorias
estabelecidas por Rodrigues e Malafaia (2009), sendo que a visita no PNE teve como objetivo
verificar o impacto da paisagem preservada na mudança ou não de percepção. Ao final do trabalho
observou que a paisagem em si não é capaz de produzir mudanças de percepção positivas, quando o
que produz essas mudanças são o processo didático envolvido no desenvolvimento da atividade de
educação ambiental. Apontando, assim, que a educação ambiental está para além do processo de
visitação em unidades de conservação.
Palavras Chaves: Percepção Ambiental, Educação, Meio Ambiente.
ABSTRACT
This work was carried out in the municipality of Mineiros-GO, with students from 9 to 13 years of
age participants in the Mirim Military Police project in the municipality of Mineiros - GO, where an
environmental education discipline is applied. At first, instigated them about the environmental
conceptions which the children to register by means of a drawing, later a visit was made to the
National Park of the Emas - PNE and again repeated the request of the drawing. From these
pictorial records the students' environmental perception was analyzed using the categories
established by Rodrigues and Malafaia (2009), and the PNE visit had as objective to verify the
impact of the preserved landscape on the change or not of perception. At the end of the study It was
observed that the landscape itself is not capable of producing positive perceptual changes, when
what produces these changes are the didactic process involved in the development of the
environmental education activity. Pointing, thus, that the environmental education is beyond the
process of visitation in units of conservation.
Keywords: Environmental Perception, Education, Environment.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 516


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Com o advento da crise ambiental vivida pela sociedade contemporânea, que promovem
mudanças muito rápidas nos ecossistemas colocando muitas espécies e a estrutura do próprio
ecossistema em risco e toda conjuntura social de exclusão ambiental cria um ambiente desfavorável
para a vida. Todo esse arcabouço aponta para a necessidade de uma mobilização da sociedade, para
reformule seus hábitos e comportamentos para a preservação e conservação do meio ambiente,
Porto-Gonçalves (2005) ressalta para a necessidade de uma mudança na forma de pensar, sentir e
produzir da sociedade para que possa ter uma melhor relação com o meio.
A educação é uma das possibilidades para que haja a mudança na forma da sociedade se
relacionar com meio ambiente, para Brandão (1981). Para Souza (2015) a ausência da educação
crítica é capaz de se relacionar com a realidade, abriu lacunas para que educações surgissem. Neste
sentido, a educação ambiental se inscreve, como uma educação mais ligada as questões ambientais,
porém deve se destacar que o conceito de meio ambiente vai mudando ao longo do processo, pois
Carvalho (2011) aponta para o nascimento do movimento ambiental dentro do movimento
ecológico, porém Carvalho (2011) e Souza (2015) aponta para a necessidade de avançar com o
discurso ambiental para além do naturalismo como iniciou o movimento ambientalista.
Esse processo temporal da mudança do conceito de meio ambiente produz várias correntes
para trabalhar com a educação ambiental, sendo destacadas por Suavé (2005). As existências destas
correntes estão muito ligadas a origem e o contexto do processo de educação ambiental, sendo
assim não há nada de errado nas correntes, por outro lado reforça a ideia de uma educação
ambiental plural.
No Brasil a Educação Ambiental é direcionada pela Lei nº 9.795, foi decretada em 27 de
1999, trata-se da Educação Ambiental, nela se encontra o conceito de EA e a metodologia de como
a mesma deve ser trabalhada na sociedade. E que a integração da Educação Ambiental deve estar
em todos níveis de ensino forma permanente e assídua, para que seja disseminada conhecimentos
para produção de uma sociedade sustentável.
O presente estudo retrata a análise dos registros pictóricos de uma turma com 36 alunos,
entre 09 e 13 anos de idade, do Projeto Policia Militar Mirim na cidade de Mineiros, localizado no
Sudoeste do Estado de Goiás. A análise tem como base compreender a relação entre a criança e o
meio ambiente e entender a visão diante do mesmo. As atividades foram feitas por meio de
questionários que deviam ser respondidos com desenhos, ao final de cada questionário foram
realizadas conversas com intuito de instigar cada vez mais a percepção dos alunos, para então
elaborar atividades contínuas que os fizessem se sentir parte do meio e assim contribuir como
aperfeiçoamento da percepção de um meio socioambiental.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 517


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Sendo assim, este trabalho assume uma perspectiva de analisar a percepção de alunos
envolvidos usando as categorias de Rodrigues e Malafaia (2009). Usando Carvalho (2005) como
referência em que os conceitos são como lentes para a leitura de mundo estabelecida pelos sujeitos.
Foi realizado uma visita no Parque Nacional das Emas, que é uma reserva de preservação
integral, que é aberta à visitação, sendo uma importante área de preservação do cerrado. Onde foi
feito uma visita com os alunos sem que houvesse uma interferência teórica afim de analisar a
influência da paisagem preservada percepção ambiental dos sujeitos envolvidos.
Após a realização da visitação ao Parque Nacional das Emas percebeu-se que o processo de
visitação não foi suficiente para a melhoria da percepção dos alunos, pois como o processo foi
conduzido de modo comercial, observou-se que muito sujeitos migraram da percepção romântica
apresentada inicialmente para a percepção utilitarista, demonstrando que é preciso ter mais que a
visitação.

METODOLOGIA

Este estudo parte de um contexto de analises representativas do meio ambiente na visão das
crianças do Projeto Policia Militar Mirim. Foram produzidos 72 registros pictóricos pelos 36 alunos
participantes da pesquisa dos quais 20 eram meninos e 16 eram meninas. A análise deles nos
permitiu integraliza-los através das concepções de Malafaia e Rodrigues (2009), que traz cinco
categorias de percepção ambiental, de acordo com os elementos presentes relacionados ao tema
meio ambiente sendo as seguintes concepções: romântica, utilitarista, abrangente, reducionista e
socioambiental.

Quadro 1 – Classificação de Categorias de Concepção Ambiental


Categorias Descrição
Romântica Elabora uma visão de ―super-natureza‖, mãe natureza. Aponta a grandiosidade da natureza,
sempre harmônica, enaltecida, maravilhosa, com equilíbrio e beleza estética. O homem não está
inserido neste processo. Dentro desta concepção está embutida uma visão dualística, homem
vs. natureza.
Utilitarista Esta postura, também dualística, interpreta a natureza como fornecedora de vida ao homem,
entendendo-a como fonte de recursos para o homem. Apresenta uma leitura antropocêntrica.
Abrangente Define o meio ambiente de uma forma mais ampla e complexa. Abrange uma totalidade que
inclui os aspectos naturais e os resultantes das atividades humanas, sendo assim é o resultado
da interação de fatores biológicos, físicos, econômicos e culturais.
Reducionista Traz a ideia de que o meio ambiente refere-se estritamente aos aspectos físicos naturais, como a
água, o ar, o solo, as rochas, a fauna e a flora, excluindo o ser humano e todas as suas
produções. Diferentemente da categoria ―romântica‖, não proclama o enaltecimento da
natureza.
Socioambiental Desenvolve uma abordagem histórico-cultural. Essa leitura apresenta o homem e a paisagem
construída como elementos constitutivos da natureza. Postula uma compreensão de que o
homem apropria-se da natureza e que o resultado dessa ação foi gerado e construído no
processo histórico. Muitas vezes o homem surge como destruidor e responsável pela
degradação ambiental.
Fonte: Malafaia e Rodrigues, 2009.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 518


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foram realizados vários encontros ao longo do primeiro semestre de 2017 sendo que no
primeiro encontro com a turma foi solicitado que fizesse uns registros pictóricos representando o
que significava meio ambiente para os alunos.
Em outro momento realizamos uma atividade de campo no Parque Nacional Das Emas,
local que poucos conheciam, posterior a aula de campo solicitamos que cada aluno desenhasse o
que lhes chamou mais atenção no Parque Nacional das Emas. Sendo que a visita foi realizada
somente acompanhando o roteiro estabelecido pelo Guia, sem interferência teórica dos
pesquisadores.

RESULTADOS E DISCURSÕES

Para esse trabalho entende-se que a percepção dos alunos sobre meio ambiente é algo
importante para pautar o desenvolvimento da educação ambiental, assim buscou-se em Tuan (2012
p. 18) o conceito de percepção que para o autor é:

Percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos como a atividade
proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros
retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que percebemos tem valor para nós,
para a sobrevivência biológica, e para propiciar algumas satisfações que estão enraizadas na
cultura.

Assim percebe-se que as representações são importantes para a leitura de mundo que se
estabelece para com o mundo, para Reigota (2010 p. 70), "as representações, ou modos de pensar,
atravessam a sociedade exteriormente aos indivíduos isolados e formam um complexo de ideias e
motivações que se apresentam a eles já consolidados. ‖
Neste sentido as percepções e a representação são formas no qual o sujeito vai ler o mundo,
para Freire (1994) aponta que a leitura de mundo precede a leitura da escrita, assim Carvalho (2011)
traz que para o processo de educação ambiental é importante permitir da troca de lentes dos
sujeitos, sendo que os conceitos são como lentes que permite outras leituras da realidade.
Na realização do trabalho foi feito analise dos registros pictóricos para poder compreender a
forma no qual os alunos representavam a leitura que tinham de meio ambiente, assim foi feito a
avaliação dos registros produzidos no primeiro encontro com a turma foi solicitado que fizesse um
desenho representando o que significava meio ambiente. Estes foram classificados de acordo com
Rodrigues e Malafaia (2009). Sendo apresentadas no Gráfico 1, em que 77,14% apresentou uma
percepção romântica de meio ambiente.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Gráfico 1- Percepção Ambiental dos Alunos no primeiro encontro.

0%
8,57%

8,57% Romantica
5,72% Utilitarista
Abrangente
Reducionista

77,14% Socioambiental

Fonte: Autores do trabalho.

As demais categorias analisadas apresentaram os seguintes dados à categoria abrangente e


socioambiental apresentou 8,57% e a utilitaristas 5,72%. Esse resultado apresenta uma realidade em
que os sujeitos envolvidos no projeto em primeiro momento apresentam uma visão romântica de
natureza, que percebe na natureza com bela, porém não percebe a sociedade envolvida por esse
meio, ainda reproduzindo um apartamento entre sociedade e natureza, mesmo valorizando essa
natureza. Considerando a faixa etária e os estudos de Souza (2015) que aponta para uma
probabilidade maior dos alunos que estão com a visão romântica migrarem para uma visão
socioambiental esses dados revelam que o grupo estudado se conduzido e oferecer conceitos para
que possam fazer outras leituras de mundo poderá com o tempo passar a ter uma visão
socioambiental. Porém no decorrer do trabalho percebe-se que essa perspectiva não ocorreu nesta
pesquisa, porém deve-se observar que no trabalho de Souza (2015) foi realizado tendo interversão
do pesquisador o que não foi neste trabalho.

Analise da Percepção de Alguns Desenhos Utilizados na Pesquisa:

Imagem 1: Percepção Socioambiental Imagem 2: Percepção Romântica

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Imagem 4: Percepção Socioambiental


Imagem 3: Percepção Utilitarista

O gráfico 2 apresenta valores um pouco diferente dos representados no gráfico 1, onde no


gráfico 2, 46,88% apresentou uma percepção utilitarista do local visitado e ultrapassou a percepção
romântica que apresentou 43,74% e a categoria abrangente apresentou 9,38%. O que chamou
atenção foi o crescimento da percepção utilitarista após a visita no Parque Nacional das Emas.

Gráfico 2- Percepção Ambiental do Alunos no segundo encontro.

0% 0,00%

9,38%

Romantica

43,74% Utilitarista
Abrangente
Reducionista
46,88% Socioambiental

Fonte: Autores do trabalho.

Como o objeto de trabalho na visita ao Parque Nacional das Emas foi à paisagem, e foi
perguntado aos alunos o que mais chamou atenção na visita muitos deles retrataram a ponte sobre o
Rio Formoso que é uma paisagem muito bela pelo estado de preservação que se encontra. Porém o
fato de muito retratarem a ponte também pode estar ligado ao fato da paisagem trabalhada durante a
visita, pois houve muitas atividades próximas a ponte e, portanto, isso pode ter chamado a atenção
de muitos dos sujeitos que participaram da vista.
Assim a paisagem que é um conceito que tem grande potencial para educação ambiental
como aponta Souza (2015), deve-se ressaltar que não só a paisagem, mas os conceitos que
conduzem à leitura da paisagem, que dará sentido a leitura de mundo do sujeito conforme Carvalho

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 521


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(2011). Assim o processo de educação ambiental deve ser conduzido de modo a oferecer esses
elementos de leitura de mundo aos envolvidos.

Analise da Concepção de Alguns Desenhos Utilizados na Pesquisa:

Imagem 5: Percepção Utilitarista Imagem 6: Percepção Romântica

Boa parte dos sujeitos percebe o meio ambiente como a natureza perfeita no primeiro
momento, e no segundo momento outros já entendem que a como meio de uso para a vida da
espécie humana. Os alunos que enxergam o meio ambiente como algo perfeito, precisam
aprofundar e compreender todos os conceitos sobre o meio que os cerca, assim sendo preciso
descontruir a ideia utilitarista que reproduz parte dos alunos. A análise nos possibilitou conhecer a
percepção de cada aluno, e foi essencial para a execução das aulas posteriores a análise dos
registros pictóricos. Contribuindo assim para o processo de auto reflexão do processo educacional
no qual o grupo está envolvido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa permitiu perceber que o processo de educação ambiental não ocorre apenas
com o conhecimento de novas paisagens, mas pela forma no qual é conduzido esse processo, assim
é preciso dar uma importância maior para o processo didático envolvida na educação ambiental,
pois há uma linha muito tênue entre a educação ambiental e o turismo ecológico sem processo de
educação ambiental.
Pois ao analisar o processo no qual foi desenvolvida as atividades percebeu-se erros no
processo de condução em que a paisagem não teve o sentido em que se espera para o
desenvolvimento critico dos sujeitos, pois no processo de visitação que foi desenvolvido aos moldes
comerciais não trouxe o resultado em que se espera. Neste sentido Leff (2012) aponta para a
preocupação da educação ambiental ser captada pelo capital de modo que não contribua para o
processo emancipatório do sujeito.
Desta forma observa que a educação ambiental não acontece apenas pela visitação, mas sim
pelos conceitos inseridos dentro do processo didático da visitação de um lugar, assim a educação

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ambiental precisa ser o que Carvalho (2011) apresenta os conceitos como lentes para fazer novas
leituras da realidade.
Assim o trabalho apresenta a necessidade de aprofundar em pesquisas sobre o método de
realização de educação em unidades de conservação, pois apenas o processo de visitação não se
mostrou eficaz para a formulação ou mudança de percepção na direção de sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito

Ecológico. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

BRASIL. Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999. Política Nacional de Educação Ambiental.


Disponível em: Acesso em: 17/08/2017.

MALAFAIA, Guilherme; RODRIGUES, Aline Sueli de Lima. Percepção ambiental de jovens e


adultos de uma escola municipal de ensino fundamental. Revista Brasileira de Biociências, Porto
Alegre, v. 7, n. 3, p.266-274, jul. 2009. Semestral. Disponível em:

<Http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/1178>. Acesso em: 18 de agosto de


2017.

SOUZA, Zaqueu Henrique de. TRABALHO DE CAMPO: UMA PERSPECTIVA PARA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR. 2015. 121 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Mestrado Profissional em Educação Para Ciências e Matemática, IFG, Jatai, 2015.
Disponível em: <http://www.jatai.ifg.edu.br/ppgecm/>. Acesso em: 27 nov. 2017.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Os (des) caminhos do meio ambiente. 5. ed. São Paulo:
Contexto, 2005.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção
Primeiros Passos).

REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2010. 93 p.
(Questões de Nossa Época).

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29. ed. São Paulo:
Cortez, 1994. (Questões de Nossa Época).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 523


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

SAUVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: SATO, Michèle;
CARVALHO, Isabel Cristina Moura (Org.). Educação Ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Cap. 1. p. 17-46. Tradução de Ernani Rosa.

TUAN, Yi-fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Londrina:
Eduel, 2012. Tradução de Lívia de Oliveira.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. 9. ed.


Petrópolis: Vozes, 2012. Tradução de Lucia Matheil de Endlic Orth.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 524


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Riscos, Impactos e
Desastres Naturais

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 525


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPACTOS SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA EXTRAÇÃO DE CAULIM NO


MUNICÍPIO DE JUNCO DO SERIDÓ-PB

Alice Costa de ALMEIDA


Graduanda em Engenharia Civil da UFERSA
alice1.0@hotmail.com
Antônio Carlos Leite BARBOSA
Prof., Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros, UFERSA
antonio.leite@ufersa,edu.br
Jorge Luis de Oliveira PINTO FILHO
Prof., Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros, UFERSA
jorge.filho@ufersa.edu.br

RESUMO
Objetivou-se determinar os impactos socioeconômicos e ambientais da exploração do Caulim no
município de Junco do Seridó – PB. Para a realização desse estudo, adotou-se uma metodologia
quanti-qualitativa, através de dados secundários de artigos científicos, bem como entrevistas
semiestruturadas junto com empresas e, a população do entorno. Constatou-se a existência de
amplas as reservas de caulim sendo exploradas em uma infraestrutura razoável, com um forte poder
de exportação e reconhecimento de mercado externo. Entretanto, verificou-se impactos ambientais
relacionados com retirada da vegetação, alteração das características do solo, modificação dos
regimes hídricos, geração de resíduos, efluentes e emissões, pressão na infraestrutura e, nas
comunidades locais. Ainda é possível mencionar que a pressão da referida atividade econômica
junto à comunidade refere-se à geração de poeira, tráfego de veículos. Diante dessa problemática
sugerem-se as ações atenuantes: melhorias no transporte do Caulim, certificação ambiental das
empresas, reaproveitamento de rejeitos, fechamento de galerias desativadas e, programas de
educação ambiental.
Palavras-chave: Atividade de Mineração. Impactos Ambientais. Ambiente e Sociedade. Gestão
ambiental.

ABSTRACT
The objective was to determine the socioeconomic and environmental impacts of the kaolin
exploration in the municipality of Junco do Seridó - PB. For a study, a quantitative-qualitative
methodology was adopted, through secondary data from scientific articles, as well as semi-
structured interviews with companies and a surrounding population. It was verified the existence of
ample reserves of kaolin being exploited in a reasonable infrastructure, with a strong power of
export and recognition of external market. Changes in water regimes, waste generation, effluents
and emissions, pressure on infrastructure and local communities. It is still possible to mention that
the pressure of economic activity together with a reference community, a generation of dust, vehicle
traffic. In response to this problem, mitigating actions are suggested: improvements in kaolin
transportation, environmental certification of Companies, reuse of tailings, closure of disabled
galleries and environmental education programs.
Keywords: Mining Activity. Environmental impacts. Environment and Society. Environmental
management.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 526


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1. INTRODUÇÃO

O caulim, ou ―Chinese Kauling‖ (colina alta em chinês), é uma rocha formada por um
grupo de silicatos hidratados de alumínio, com sua principal composição sendo caulinita
(Al2O3.SiO2.H2O), o que caracteriza sua coloração branca devido ao baixo teor de ferro.
Geralmente encontrado a uma profundida de dez metros, torna-se um dos seis minerais mais
abundantes da crosta terrestre, com uma significativa importância mineralógica devido a seus
múltiplos empregos na indústria29.
Em território nacional, a atividade mineraria do caulim tem grande importância em questões
socioeconômicas com suas várias aplicações industriais, aos quais está ganhando destaque
constantemente em pesquisas e aplicações da construção civil. Sua indústria e mercado circundam
na produção de cerâmica, porcelanas, pesticidas, produtos alimentícios e farmacêuticos e em
especial na industrialização de papel para fixação de tintas e alvura do componente, assim como
tantos outros produtos.
A região Nordeste faz parte de apenas 1% das reservas nacionais. A extração e prospecção
de minério causam impactos nas condições ambientais em termos físicos e bióticos. Essa
problemática atravessa limites de áreas refletindo na contaminação, atingindo a topografia do lugar,
sistema hidrológico e morfofisiológico do solo, fauna e flora; e conseqüentemente a vida ali
presente. A retirada de um volume expressivo do material rochoso do subsolo através da prática do
minério, técnicas de extração e beneficiamento, requer diferentes medidas para a recuperação
ambiental30.
No estado da Paraíba, a extração do minério se concentra na Mesorregião da Borborema.
Nesse sentido, esta pesquisa traz uma abordagem específica da extração do caulim no município do
Junco do Seridó-PB, onde se observa um grande potencial mineral fazendo dessa riqueza fonte
principal de geração de renda para a comunidade. Assim, adotou-se esse cenário como perspectivo
de estudo socioeconômico com reflexos ambientais abordados uma análise do processo de extração
até sua comercialização, levantando questionamentos como: Quais os impactos ambientais
decorrentes da exploração e seus possíveis reflexos na população local?
Dessa forma, a pesquisa objetiva determinar os impactos socioeconômicos e ambientais da
exploração do Caulim no município de Junco do Seridó – PB, bem como identificar os possíveis
efeitos na população do entorno das empresas da área de estudo.

29
Fonte: MME- Ministério de Minas e Energia, 2009.
30
Fonte: MME- Ministério de Minas e Energia, 2009.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 527


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2. METODOLOGIA

2.1. Caracterização da Área

A sede do Município de Junco do Seridó está situada a 233 km da capital do estado da


Paraíba, Mesorregião da Borborema, Microrregião do Seridó Ocidental Paraibano. E limita-se ao
norte com o Estado do Rio Grande do Norte, ao sul com o município de Assunção e Salgadinho, ao
leste com o município de Tenório e ao oeste com o município de Santa Luzia (Figura 01). ―Sua
altitude é de 590m e localiza-se entre as coordenadas geográficas de 06º 59‘48‖ S e 36º 42‘47‖ W,
(PRODER, 1997, p. 11). O clima predominante no município de Junco é o semiárido, caracterizado
por baixas precipitações e elevada temperatura, além da irregularidade das chuvas característica da
região nordeste, tendo como resultado o clima seco e quente na maior parte do ano.

Figura 01– Localização do Junco do Seridó-Pb, através do software QGiz.


Fonte: LIMA, Cícero Renato, 2017.

2.2. Procedimentos Metodológicos

A análise do contexto de identificação, degradação das áreas na extração do Caulim e a


relação da corporação no triangulo sócio-econômico-ambiental na cidade do Junco do Seridó-PB,
apresenta-se como elemento importante para compreensão e apreensão da dimensão espacial,
exploração e beneficiamento para a cidade. Nesse sentido, adotaram-se os seguintes procedimentos
metodológicos: a) pesquisa qualitativa sobre atividade de extração do Caulim; b) pesquisa
documental sobre a área de estudo e a temática abordada; c) visita de campo para aplicação de 6
questionários juntos aos gerentes das empresas e 81 moradores da área do entorno e; d) redação dos
dados para consolidação do trabalho.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 528


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 02– Procedimentos de pesquisa.

Fonte: Autoria própria, 2017.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Processo Produtivo da Extração e Beneficiamento de Caulim, em Junco do Seridó

A extração do caulim na cidade do Junco do Seridó é realizada nas montanhas entre as


rochas, onde na região denominam-se visgos. Um dos métodos de retirada é a extração no alto das
montanhas (ou serras, como é dito na região), de um caulim de tonalidade amarela usado em
indústrias farmacêuticas, onde estudos relevam que abaixo dessa camada pode-se encontrar o
caulim branco. Outra forma de extração é nas profundezas das montanhas, onde são abertas
trincheiras (galerias), no interior da montanha, onde os mineradores adentram nas fendas feitas na
rocha para coletar o minério. Em ambas as formas de extração o caulim é retirado e colocado em
caçambas, para serem encaminhas para o setor de beneficiamento.
A exploração é, em sua maioria, feita através de lavra subterrânea (o termo galeria, não se
adequa a este método de exploração, pois na verdade trata-se de escavações subterrâneas
desenvolvidas sem nenhuma orientação técnica), cujo acesso às frentes de serviços verifica-se por
meio de rústicos poços verticais com 22 a 35 metros de profundidade. Nas frentes de produção o
material é desmontado com o auxílio de picaretas e pás, cujo processo é facilitado pela natureza
friável do minério, chegando à superfície por intermédio de baldes de borracha acoplados a um
sistema rudimentar de carretel. Depois de retirado o material é estocado em um pátio onde será
transferido para o local de beneficiamento por intermédio de caminhões caçambas.
As condições de trabalho são bastante precárias, o ambiente de trabalho é muito escuro
devido à profundidade das banquetas (Poços verticais cavados pelos garimpeiros para extração do
caulim), sendo preciso aos garimpeiros luz de vela para iluminar o local escuro e com pouca
ventilação. Praticamente não há fiscalização por parte dos órgãos públicos responsáveis, e nem há

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 529


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

orientação de profissionais de mineração. Neste caso, a lavra geralmente é feita sem critérios
técnicos, tendo como resultado baixa produtividade das jazidas, deixando a mina sujeita os
constantes desmoronamentos chegando algumas vezes a fazer vítimas fatais.
Outro modelo utilizado no município de Junco do Seridó é da exploração realizada em lavra
a céu aberto que apesar de ser mais produtiva e segura que as subterrâneas, não é utilizada com
frequência, em virtude do alto investimento para aquisição de um trator que execute a decapagem
do material estéril. As galerias de exploração são abertas racionalmente, existe boa organização nas
operações de extração e transporte, empregam-se equipamentos mecanizados apesar de não haver
nenhuma orientação técnica de profissionais da área como geólogos, por exemplo.
O tipo de beneficiamento utilizados nas minas de exploração de caulim do Junco do Seridó
se dá através da forma úmida, que é realizado por etapas de dispersão, desareamento, separação
granulométrica em hidrociclone ou centrífuga, separação magnética, floculação seletiva,
alvejamento químico, filtração e secagem (MONTE et al., 2001). O processo de beneficiamento
inicia-se com a adição de água ao caulim bruto, através de batedores que é seqüenciada por um
pequeno tanque, no qual está acoplado a peneiras de malha de Nº100 para separação do material
não desejado (mica, quartzo, entre outros).
Esse material é removido manualmente, através de pás perfuradas, e depositados em
terrenos da empresa. Em seguida o caulim é transportado juntamente com água, através de
tubulações, para etapa de peneiramento, onde ocorre a classificação das partículas da mistura
através das peneiras de malha número 200 (0,074 mm) e 325 (0,044 mm), que estão empilhadas em
ordem crescente da abertura da malha. O material retido nas peneiras de número 200 é rejeitado e
seu passante consiste no resíduo fino da cadeia produtiva do caulim. Logo após passar por essas
peneiras, o caulim é novamente transportado com a água, através de tubulações, para uma bateria de
tanques de decantação.
O primeiro tanque recebe a mistura é preenchido completamente com água, nele ocorre à
separação da fração de maior granulometria através da sedimentação. A fração mais fina, que se
posiciona na região superficial, passa por transbordamento para o segundo tanque, que apresenta
um desnível de altura em relação ao primeiro, onde acontece a sedimentação da fração mais grossa.
A parcela mais fina é transbordada para o terceiro tanque. Esse procedimento se sucede até o ultimo
tanque do sistema. Depois de decantado, a água é retirada dos tanques e o caulim é bombeado por
um motor elétrico e depositado num filtro-prensa para retirar uma boa quantidade de água que ainda
está misturada ao caulim.
Na etapa de filtração retira-se a água do material proveniente do tanque de vazamento. Este
processo é realizado através do método da prensagem, em que a mistura é recalcada para dentro de
filtros prensa, por meio de uma bomba de recalque, obtendo-se assim uma torta com

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aproximadamente 65% de sólidos, nesse estágio a goma de caulim é prensada formando tortas, em
seguida o material passa pelo processo de secagem realizada, geralmente, por secagem ao sol para
ser comercializado. Em dias chuvosos, essa secagem é feita de forma forçada através de fornos à
lenha, onde o caulim é empilhado e a água em seu interior é evaporada de forma mais rápida pelo
processo de aquecimento. Depois da calcinação o produto é triturado, ensacado e destinado à
comercialização. O resultado é um pó de granulometria extremamente fino e de alvura característica
das argilas brancas, um produto de excelente qualidade e de vasta aplicabilidade. Esse processo
pode ser observado na Figura 03.

Figura 03 – Processo de extração e beneficiamento do Caulim

Fonte: Autoria própria, 2017.

3.2 Percepção Ambiental da População do Entorno das Áreas da Extração e Beneficiamento de


Caulim, em Junco do Seridó

Nos diálogos e pesquisas das comunidades circunvizinhas das minas de caulim foi
entrevistado um público de oitenta e uma pessoas, onde 53% compreendem o sexo masculino e
47% de sexo feminino, que tem uma faixa etária variando de 18 a 77 anos de idade. Uma fração de
73% dos entrevistados trabalha; 4% são aposentados e 23% desempregados, concluindo assim uma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

significativa parcela de pessoas ao qual não tem renda e/ou ofertas de emprego mesmo morando nas
intermediações de um grande setor econômico, onde 42% dessa população têm outras fontes de
renda que não se deriva da mineração, que se destaca a agricultura. Como pode ser observado no
Quadro 01, onde têm-se também uma parcela de 10% que prestam serviços públicos; 6% de
pedreiros; 4% de atendentes entre outros tipos de empregos que sustentam a qualidade de vida da
sociedade em geral.

Quadro 01 - Principais tipos de empregos da população circunvizinhas das minas de extração de


caulim do Junco do Seridó-Pb, 2017.
TIPOS DE TRABALHO POPULAÇÃO (%)
Agricultura 49,3%
Mineração 21%
Servidores públicos 10%
Pedreiro 6%
Atendente 4%
Pedreiro 1,2%
Sondador 1,2%
Operador de máquina 1,2%
Energia Eólica 1,2%
Bancário 1,2%
Cerâmica 1,2%
Caminhoneiro 2,5%
TOTAL 100%
Fonte: Autoria própria, 2017.

Há uma predominância de pessoas de naturalidade do próprio município em estudo, 84%


para sem mais exato; onde os 16% restantes se subdividem em Taperoá-PB, Juazeirinho-PB,
Parelhas-RN, Equador-RN, Campina Grande-PB, Santa Luzia-PB, Barra de Santa Rosa-PB e
Pocinhos-PB. Porém 72% dessa comunidade local é caracterizada como de baixo índice econômico
recebendo mensalmente em média cerca de 1 salário mínimo, com uma predominância de
população de baixa qualidade de vida e com um elevado nível de pessoas sem nenhum tipo de
remuneração, evidenciando, assim, o notável índice de desemprego presente nas comunidades. Um
cenário que não deveria existir em intermédio ao grande setor mineral ao qual está incluso nas suas
intermediações.
Grande parte dessa população habita essas áreas a mais de 30 anos (40% dos entrevistados),
ou seja, são os mais habilitados para proferir sobre as situações mais emergentes em termos
econômicos da comunidade e principalmente os reflexos ambientais aos quais vivenciam. Como
também, são capazes de definir com absoluta convicção os tipos de incômodos gerados no decorrer
do tempo proveniente do caulim, seja a poeira, os barulhos dos caminhões de carga passando a todo
o momento e as vibrações provenientes do desmonte da rocha, como será explanado mais a frente.
Em termos econômicos a população contatou que não existe crescimento econômico para o
município em função da extração, ou ainda, declaram que o município não apresenta interesse nesse

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

setor. Os problemas mais urgentes presentes na comunidade segundo os entrevistados são: em


primeiro lugar o desemprego, de acordo com 23% da fração entrevistada; 22,7% relatam a falta de
coleta de lixo; 20% constam ser a falta de pavimentação nas estradas e vias de acesso, seguidos de
18,3% de problemas com o desmatamento. Quando foi questionado sobre a relação da qualidade de
vida frente a mineração, 78% dos interrogados responderam que ‗sim‘, que existe um prejuízo
relacionado a atividade que interfere diretamente na qualidade de vida como doenças que possam
ser contraídas e/ou até mesmo problemas mais sérios decorrentes de acidente e mais visivelmente,
problemas relacionados ao ambiente que afetam diretamente a população que de certa forma está
interligada e depende da mãe natureza.
Enquanto 20% questionaram não ter nenhuma interferência dessa atividade em relação a
qualidade de vida, que pelo contrário a mineração ajuda a comunidade através da geração de
emprego; os 2 % restantes constaram não saber responder. Considerações similares as descrições de
Neto, Silva e Santos (2015), onde relatam que a saúde também é afetada, decorrente de acidentes de
trabalho, pelas condições inadequadas e a não utilização de equipamentos de proteção, levando
muitos casos a óbitos. Também o aparecimento de doenças respiratórias, tanto nos trabalhadores
diretos com a atividade mineira, como da população das proximidades das áreas de extração, pela
inalação involuntária da poeira.
O nível de conhecimento dos problemas ambientais e de saúde que as moradias nas
proximidades das minas de extração de caulim possam gerar é muito baixo. 83% dos entrevistados
não têm nenhum conhecimento sobre o assunto; enquanto apenas uma parcela de 17% é ciente dos
riscos. Apesar dos não conhecimentos dos riscos por grande parte da população, uma pequena
parcela já foi vítima de problemas que possam ser correlacionados com tal atividade, em média 6%
dos entrevistados.
Incômodos como a poeira foi o record em respostas, com uma fração de 27% de
reclamações devido principalmente à forma como é transportado o caulim nos caminhões caçambas
que passam todo o tempo por frente as casas com a carga seca e sem nenhum tipo de cobertura,
deixando assim todo o material à mercê do vento e do caminho de estradas de barro que fazem com
que parte do material seja derramado devido a irregularidade do solo. As doenças mais comuns
relatadas pela população que vive nas mediações das minas são: insuficiência respiratória,
pneumonia, asma, silicose, tuberculose, escoliose e bronquite. Ambas as doenças que se relaciona
com o sistema respiratório e que pode ser conseqüências negativas da atividade extrativa na região,
por intermédio da poeira.
Outro tipo de perturbação são os barulhos, parcela de 12%, proveniente da movimentação
dos caminhões, parcela representante a 5%, e dos explosivos para uso de desmonte das rochas que
também causa tremores e rachões nas edificações mais próximas, assim como alerta alguns

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

moradores nos diálogos, segundo eles não se podem utilizar revestimentos e forros de gesso em
suas residências, pois são frágeis a altos ruídos e vibrações, tendo como resultado, trincas e
aberturas que acarretam riscos aos moradores.
Os restantes 56% relataram não possuir nenhum incomodo frente a mineração. Em termos
de dispersão de material pelos caminhões caçambas os autores Andrade e Azevedo (2015), fizeram
a mesma analogia, onde relatam que existem grandes quantidades dessas partículas em suspensão
durante a extração como também no seu transporte, no qual é realizado sem nenhuma proteção.
A atuação do poder público para 48% dos entrevistados é tida como de nível ruim, seguida
de 22% de uma perspectiva fraca; 19% razoável; 6% constam como uma ótima atuação e 5%
desconhecem tal desempenho (Figura 04). O desenvolvimento das indústrias e de setores como o da
mineração faz necessário um equilíbrio entre exploração dos recursos naturais e investimentos
financeiros e para que haja isso é indispensável a atuação do poder público em investimentos para
reflexos positivos e crescimentos econômicos assim como relata Dalanhol (2002), onde segundo
ele, para que haver um desenvolvimento é necessário que haja crescimento econômico.

Figura 04 - Atuação do poder público na mineração do Junco do Seridó-PB, 2017.

Fonte: Autoria própria, 2017.

Quando se trata de aspectos relacionados ao meio ambiente 60,4% da população declarou se


incomoda com os aspectos visuais resultados do desmatamento da vegetação nativa, a poeira na
vegetação dos arredores das estradas proveniente da movimentação das cargas de caulim que
deixam o rastro branco no caminho e nas mediações; 36% não relataram nenhum tipo de incômodo;
1,2% não souberam responder e 2,4% se negaram responder. Assim como para Dalanhol (2002), a
conscientização da população em relação aos recursos naturais é de suma importância, já que
estamos lidando com um bem que tem reservas finitas e que podem obter a exaustão do meio ao
qual extraem e degradam.
Para a população o principal responsável pelos danos ao meio ambienta na extração do
caulim e pela proteção do meio ambiente é o governo. Para eles, o governo que deve desenvolver
ações e resolver os problemas ambientais provenientes da extração do caulim, seja por meio de leis
mais rígidas para a real efetivação das empresas perante a exploração do meio ambiente ou por
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

outros tipos de ações que reflita em resultados positivos em questões sociais, ambientais e
econômicas. Através dos diálogos e dos resultados obtidos em questionários, foram listadas
algumas atividades que a população juga como necessárias para serem desenvolvidas nas áreas
degradadas pela ação das mineradoras, como mostra a Figura 05.

Figura 05 – Ações propostas pela população do Junco do Seridó-Pb, 2017.

Fonte: Autoria própria, 2017.

Como observado na figura acima uma das principais ações propostas pela população é o
reflorestamento das áreas degradadas com 34% dos entrevistados, seguido da remoção total ou
parcial, transporte e disposição dos resíduos com 32%; 22% supõe a captação e condução das águas
superficiais promovendo assim um aproveitamento de um que é tão escasso na região; e 12%
referem-se à estabilização de taludes e blocos para prevenção contra desmoronamentos e até mesmo
a causa de mortes. Segundo Silva (2008), a restauração de áreas é algo impossível de acontecer,
pois restaurar implica na reprodução exata das condições do local antes da alteração sofrida. Ele
ainda salienta que a melhor forma seria a reabilitação, pois implica em colocar no local alterado
condições ambientais as mais próximas possíveis das condições anteriores. A reabilitação de
galerias através de seu preenchimento possibilita um ganho estético e uma melhor reabilitação
ambiental da área degradada, em termos de conformação topográfica e habitat potencial para as
espécies vivas.
Concluindo assim, que para melhor conformação das ações em primeiro momento é
necessária uma reabilitação com planejamentos e técnicas que façam do ambiente o mais adequado
possível em questões ambientais, topográficas, geológicas e morfológicas. Através do
reflorestamento de mudas nativas; remoção dos rejeitos que poluem não só o ambiente como a
visão; fechamento de galerias entre tantas outras ações de caráter inicial de reabilitação.

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4. CONCLUSÃO

O caso em estudo constatou, através de uma abordagem multidisciplinar e de pesquisas em


campo, a falta de planejamento ambiental e econômico da extração de caulim do município de
Junco de Seridó-PB que afeta os compartimentos ambientais, bem como a população local.
Através dos resultados obtidos em campo e analisados em estudo, percebe-se que em termos
sociais, o caulim é uma das principais fontes da renda da população e em muitos dos casos tidos
como única remuneração. As comunidades circunvizinhas são vítimas indiretas da extração devido
à poeira proveniente do transporte dos minérios; as estradas de acessos estão intensamente imersas
em efeitos decorrentes da passagem dos caminhões, através do derramamento de óleos
lubrificantes; a vegetação é desmata deixando o solo exposto aos intempéries.
Diante dessa problemática sugerem-se as ações atenuantes: melhorias no sistema de
transporte do caulim, com cobertura para minimização da dispersão do material em percurso;
reaproveitamento de rejeitos; fechamento de galerias desativadas; melhorias na estruturação das
atuais frentes de exploração e decantadores, dotando-lhes de condições para operar com um maior
nível de rendimento; maiores fiscalização da legislação trabalhista e; maior disponibilidade de
Equipamentos de Proteção Individual – EPI para os colaboradores.
Recomenda-se ainda a realização de novas pesquisas abrangendo os temas abordados neste
trabalho: significância dos impactos ambientais da referida atividade econômica, elaborar medidas
mitigadoras de pequeno prazo e de ágil aplicabilidade para resultados imediatos; desenvolver
técnicas de reaproveitamento dos rejeitos e reflorestamento de áreas com mudas nativas e, projetos
de educação ambiental que envolva tanto a sociedade quanto as empresas.

5. REFERÊNCIAS

ABNT - Associação Brasileira De Normas Técnicas, 2005. NRM9653 - Normas Reguladoras de


Mineração. Disponível em: <http://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=1073>. Acesos
em 03 de março de 2017.

ANDRADE, M. V., AZEVEDO, P. V. Analise da sustentabilidade da mineração do Caulim no


município de Junco do Seridó – PB. Revista Brasileira de Geografia Física V. 08 N. 05 (2015)
1393-1409. Disponível em: < http://www.revista.ufpe.br/rbgfe/index.php/revista/issue/view/53>.
Acesso em 18 de abril de 2017, às 18:49hrs.

BACCI, Denise De La Corte; LANDIM, Paulo Milton Barbosa; ESTON, Sérgio Médici De, 2006.
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CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, Nº 001. Ministério Do Meio Ambiente, de 23


de janeiro de 1986.

DALANHOL, André. Responsabilidade Civil: Reparação do Dano Moral Ambiental.


Florianópolis, 2002. Dissertação UFSC - Mestrado em Engenharia de Produção. Disponível em:
< http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/82766>. Acesso em 18 de abril de 2017, às
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DELOITTE, 2012. As tendências para o setor de mineração. Disponível em:


<www.deloitte.com/mining>. Acesso em 18 de abril de 2017, às 09:33hrs.

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, 2014. NRM16 - Normas Reguladoras de


Mineração. Operações com Explosivos e Acessórios. Disponível em: http://www.dnpm-
pe.gov.br/Legisla/nrm_16.htm>, acesso em 13 de abril de 17. Ás 23:45hrs

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, 2014. NRM19 - Normas Reguladoras de


Mineração. Disposição de Estéril, Rejeitos e Produtos. Disponível em: <http://www.dnpm-
pe.gov.br/Legisla/nrm_19.htm>, acesso em 13 de abril de 17. Ás 22:54hrs

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, 2014. Sumário mineral brasileiro.


Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/dnpm/sumarios/sumario-mineral-2014>. Acesso em
03 de março de 2017. Ás 10:34hrs.

MACHI, M. A., SANCHES, D. L., 2010. Impactos Ambientais da Mineração no Estado de São
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http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/16.pdf>, acesso em: 18 de abril de 17. Ás 00:45hr

Ministério de Minas e Energia – MME, Secretaria De Geologia, Mineração E Transformação


Mineral-SGM. Relatório técnico 39, Perfil do Caulim. 2009. Disponível em:
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NETO, Silvana Fernandes; SILVA, Tainara T. Santiago; SANTOS, Joelma Sales Dos. 2015.
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Agronomia – CONTECC‘2015- Fortaleza-CE, Brasil.

OLIVEIRA & SILVA, Egmar Rocha de. Caulim no Nordeste. Recife. SUDENE – Divisão de
Geologia, 1974.

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PEREZ, Benjamin Calvo. As rochas e os minerais industriais como elemento de desenvolvimento


sustentável. Rio de Janeiro, CETEM/MCT, 2001. Série Rochas e Minerais Industriais. n. ISSN -
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PRODER – Programa de Emprego e Renda: Junco do Seridó. João Pessoa, CEBRAE/PB/1997.


Série: (Diagnóstico Socioeconômico). Pág. 11.

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SILVA, Fernanda Arruda Nogueira Gomes, 2007. Estudos de caracterização tecnológica e


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Caracterização Tecnológica e Beneficiamento.Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE.
Rio De Janeiro, RJ. Disponível em: <
https://www.researchgate.net/publication/228452143_estudos_de_beneficiamento_e_caracter
zacao_do_caulim_da_regiao_borborema-serido>. Acesso em: 01 de maio de 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RIO CAPIBARIBE MIRIM E A DEGRADAÇÃO ANTRÓPICA: ESTUDO DE CASO DO


GRUPO HIDROCAMPUS

Andreza Caroline Dias FIGUEREDO


Graduanda do Curso de Geografia da UPE
dezafigueredo2012@hotmail.com
Jorge José Araújo da SILVA31
Doutor em Geografia Física pela USP. Professor adjunto da UPE
jasil1@terra.com.br

RESUMO
O Rio Capibaribe Mirim que tem sua nascente no sítio Quatis, no município de São Vicente Ferrer,
possui historicamente enorme valor social e cultural para as populações que as suas margens
permeiam. Memoravelmente seu uso sempre esteve atrelado a atividades domésticas, agregando
com o tempo funções industriais que nortearam a degradação fracionada do rio, principalmente no
município de Timbaúba. De acordo com a classificação de Horton, o rio Capibaribe Mirim consiste
num afluente da bacia do rio Goiana, que é a principal fonte de estudo do grupo de pesquisa
Hidrocampus, analisando dessa forma a configuração hierárquica da bacia, seus canais de
drenagem, reportando também a um estudo socioambiental do análogo tema. Com isso, o trabalho
tem por objetivo dissertar sobre a configuração hierárquica de drenagem do rio Capibaribe Mirim, e
sua degradação fluvial proveniente de ações sociais que desencadearam em problemas ambientais,
reforçando a atuação do grupo de pesquisa Hidrocampus e a sua importância enquanto
entendimento e desenvoltura científica de tal comitê de bacia pernambucana, visando mudanças
contextuais e complementares a ciência física e exata.
Palavras-chave: Rio Capibaribe Mirim, Degradação, Horton, Hidrocampus, ciência.
ABSTRACT
The Rio Capibaribe Mirim, which has its source on the Quatis site in the municipality of São
Vicente Ferrer, has historically had enormous social and cultural value for the populations that its
margins permeate. Historically, its use has always been linked to domestic activities, adding with
time industrial functions that guided the fractional degradation of the river, mainly in the
municipality of Timbaúba. According to the classification of Horton, the river Capibaribe Mirim
consists of a tributary of the Goiana river basin, which is the main study source of the Hidrocampus
research group, analyzing in this way the hierarchical configuration of the basin, its drainage
channels, also reporting To a socio-environmental study of the analogous theme. The aim of this
work is to discuss the hierarchical configuration of the Capibaribe Mirim river drainage and its river
degradation resulting from social actions that triggered environmental problems, reinforcing the
performance of the Hidrocampus research group and its importance as an understanding and
resourcefulness Scientific study of such a Pernambuco basin committee, aiming at contextual and
complementary changes to physical and exact science.
Keywords: Rio Capibaribe Mirim, Degradation, Horton, Hidrocampus, science.

31
Coordenador do projeto de pesquisa intitulado HIDROCAMPUS.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Os recursos hídricos são de fundamental importância para a sobrevivência na Terra, e a sua


gestão se situa como um dos meios mais eficazes de continuação desse determinado sistema
hídrico. Contudo, a poluição em seu meio durante séculos acarretou em variadas doenças que
buscam ser sanadas pelo próprio ser humano. O estado de Pernambuco não foge a essa regra, possui
um contexto hídrico bastante intenso no que tange a faixa litorânea e agreste; e rios perenes e
intermitentes no sertão que propicia a cultura de alguns produtos e a produtividade de vida para os
povo sertanejo.
Vários foram os estudiosos que buscaram hierarquizar toda essa estrutura hídrica,
destacando-se entre os mais seguidos, Horton, Strahler, Scheidegger e Shreve, que permearam nos
estudos buscando subsídio para localização e classificação do curso d‘água. Baseado em tais
estudos, a Bacia do rio Goiana no estado pernambucano, consiste de uma extensão que abrange
mais de 20 municípios, limitando-se ao Norte com o estado da Paraíba, tendo seus principais
afluentes: Rio Siriji, Capibaribe Mirim e Tracunhaém; de acordo com tange nas referências da
Agência Pernambucana de Águas e Climas.
Quanto ao objeto de estudo, o rio afluente, Capibaribe Mirim; sua nascente se encontra no
sítio Quatis (Silva et. al., 2016), onde então se inicia todo o seu fluxo de contribuição na Bacia. De
história fortemente atrelada a povoamento e surgimento dos primeiros municípios da Zona da Mata
Norte do estado de Pernambuco, o rio Capibaribe Mirim teve em todas as suas margens a presença
humana, contrastando com a beleza proporcionada pela natureza.
Atualmente, tal ocupação e uso desenfreado do que é ofertado pelo rio, é mostrada em todos
os âmbitos ambientais, onde é notório em todos os municípios nos quais se encontrada, alto grau de
degradação, com grande contingente de dejetos e esgotos domiciliares, em alguns momentos até
mesmo industriais, sendo aí seu primeiro grau de poluição, onde a presença de Usinas produtoras de
cana-de-açúcar despejavam seus resíduos no rio causando a acelerada poluição contínua de
determinado tributário hídrico.
Para análise de tal degradação fluvial, seu contexto socioambiental e estudo da hierarquia
fluvial da Bacia do Rio Goiana, surgiu o grupo de pesquisa Hidrocampus, que realiza estudos e
análises dos cursos d‘água da região, afim de enaltecer pensamentos científicos e comprovar a
sistematização de tributários e a composição de tais canais de drenagem. Sendo então o rio
Capibaribe Mirim um afluente da bacia, o grupo realiza pesquisas na área de teor socioambientais
visando resultados e perspectivas de melhora para a atual configuração degradada da parte hídrica
mencionada, e assim auxiliar e mudar concepções e contextos pré-determinados bibliograficamente.
Toda a pesquisa foi realizada partindo da metodologia exploratória, descritiva e qualitativa,
onde permeou não apenas em dissertações bibliográficas, assim como também observações in loco,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

indo de encontro com a atual configuração do rio e do diálogo estabelecido durante o trabalho com
as populações ribeirinhas e mais antigas do município de Timbaúba, no qual o rio corta a cidade.
Dessa forma, tal trabalho apresentado, tem como objetivo de análise a configuração
hierárquica do rio Capibaribe Mirim na Bacia do Goiana, assim como também sua atual conjuntura
degradada proveniente de ações antrópicas históricas e sociais, tendo como resultados a tabulação
estabelecidas pelo grupo de pesquisa Hidrocampus, visando mudanças de pensamentos e conceitos
socioambientais, sendo então um auxílio durante toda pesquisa bibliográfica e de campo conceitual.

A RELEVÂNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E A FORMAÇÃO HIERÁRQUICA FLUVIAL


ENQUANTO GESTÃO DE BACIAS

Os recursos hídricos emergem no âmbito social como fundamentais para o contexto vital,
tendo então suas funções atreladas as primeiras idealizações de vida na Terra como bases que
nortearam no desenvolvimento humano e de sociedades que de predeterminações hídricas viviam.
Dessa forma, historicamente, a vida em sociedade sempre esteve atrelada a junções com
configurações hierárquicas, levando-se em consideração a isso a formação dos primeiros povos
bárbaros, egípcios, incas e maias, que utilizavam desse recurso para melhorar suas condições de
vida, chegando em momentos da história a ser fonte de riqueza e poder.
A compreensão dessa formação hídrica sempre foi um desafio, atingindo então seus mais
valiosos estudos no século XX, com grandes nomes que carregaram a responsabilidade de
caracterizar a configuração de hierarquias fluviais. Sendo então esses nomes: Horton, Strahler,
Scheidegger e Shreve; que objetivaram estudar os canais de drenagem, seus tributários e ordem dos
cursos d‘água. A Bacia do Rio Goiana, localizada no estado de Pernambuco, possui mais de 2 mil
quilômetros de extensão, cortando necessariamente 26 municípios, e se limitando ao Norte com o
estado da Paraíba. Seu potencial hídrico é considerável, tendo com isso cinco reservatórios em toda
a sua extensão, fato proveniente de conter bons afluentes, sendo eles o Rio Capibaribe Mirim, Siriji
e Tracunhaém, como aponta em variadas bibliografias, contrastando com a hierarquia proposta por
Horton, quanto a ordem dos tributários pertencentes a Bacia.

A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DO RIO CAPIBARIBE MIRIM E SEUS PRIMEIROS SINAIS


DE DEGRADAÇÃO FLUVIAL

O Rio Capibaribe Mirim inteiramente situado no estado de Pernambuco, tem a extensão de


93km, correndo sobre uma bacia sedimentar numa altitude de 8m. A bacia desse rio é coberta
primitivamente por florestas de mata seca e de mata úmida (Lima, 1957), apresenta variados tipos
de solo e vegetação estudados por Veloso (1966) e climas dos tipos Am e As da classificação de
Koeppen.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Historicamente, o rio possui fortes vínculos com a agricultura e a pecuária desenvolvida às


suas margens contribuindo para a evolução das cidades e surgimento dos primeiros povos, assim
como também para a implantação de indústrias que se favoreceram de tal recurso, onde se
localizaram em suas margens para melhor produtividade de suas mercadorias. Contudo, tal
ocupação humana, e desenfreada má gestão do recurso, acabou levando ao rio que é um grande
afluente da Bacia, a passar por sequências de degradação contínuas. Na pesquisa realizada no
município de Timbaúba, região cortada por esse rio, foi notório em seus arquivos bibliográficos e
em visitas a campo que, durante a década de 90 o rio possui grandioso valor para a população que
ali residia.
O primeiro fator desencadeado pela porção hídrica foi, a formação do município, onde teve
seu primeiro povoado às margens esquerda do rio. Daí então iniciou-se o uso desenfreado do rio,
para consumo humano, produção de animais, cultivo de agricultura e subsistência própria. Em
relatos da comunidade e nos acervos bibliográficos disponibilizados no município, o rio Capibaribe
Mirim era além de uma fonte de recurso financeiro e pessoal, uma fonte de diversão também, onde
a população utilizava para pesca, lazer e banhos, permitindo a todos o uso de suas águas limpas e
nada degradadas. Contudo, a intensificação de ocupação humana nas suas margens desencadeou no
maior despejo de esgoto doméstico no rio, sendo evidente então o problema de infraestrutura
sanitária do local.
O rio agora lidava com esgoto doméstico, e também industrial, visto que a partir da década
de 50, houve a expansão de grandiosas Usinas produtoras de açúcar, onde segundo relatos, passou a
despejar no rio os dejetos de tais indústrias, deixando a coloração do rio escura, e elevando o
número de doenças e gradativo aumento no número de mortandade da fauna existente, como peixes
e capivaras.
Iniciava-se então o grande dilema de degradação do rio, com em meios a décadas passou a
acumular lixo em suas margens, produção de animais e agricultura, assim como também permitindo
o crescente número de casos de doenças resultantes de tal metodologia de descaso e má gestão
ambiental.

A ATUAL CONJUNTURA DE DEGRADAÇÃO DO RIO CAPIBARIBE MIRIM E SUAS


CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS

A presente poluição sem medidas no Capibaribe Mirim é extremamente nítida em suas


águas escuras e turvas que se estendem pelo município Timbaubense e demais inseridos nesse
afluente. As casas que estão em suas margens na forma de ocupação ilegal, estão diretamente
ligadas por canos que levam todos seus dejetos ao rio, causando perda da biodiversidade e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 542


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

provocando doenças a comunidade, dando continuidade ao processo de degradação proveniente do


século XX.
Não é apenas o esgoto doméstico que assola o rio como mais um dos fatores de degradação,
o lixo também é outro coeficiente extremamente presente em suas margens, onde acompanha todo o
curso do rio, e aa própria comunidade presente realizam o despejo desses dejetos, deixando o
acumulo muito maior com o passar do tempo, se propagando pelas margens e acarretando na levada
em seu leito de águas rasas, calmas e poluídas. Com isso, todo o processo histórico de poluição
fluvial se agrava gradativamente, dando continuidade a persistente degradação existente nessa
afluente da Bacia do Rio Goiana.

Figura 1: Dejetos sólidos no Rio Capibaribe Mirim em Timbaúba - PE.

Foto: FIGUERÊDO, Andreza

Como aponta Ross (2010) toda causa tem seu efeito correspondente, todo benefício que o
homem extrai da natureza terá a consequência em seus malefícios. Desse modo, parte-se do
princípio de que toda ação humana no ambiente natural ou alterado causa algum impacto em
diferentes níveis, gerando alterações com graus diversos de agressão, levando às vezes as condições
ambientais a processos até mesmo irreversíveis.
Outro enorme problema social decorre de alguns ribeirinhos, que residem em moradias
irregulares às margens do rio realizarem a criação de animais, sendo então uma grande variedade
deles como gados suínos, bovinos e caprinos, quqe bebem das águas do Capibaribe e contaminam
todo rio com as suas fezes e demais atividades realizadas por esses animais; repondo organicamente
de forma incorreta doenças que podem levar a mortalidade censitária humana, como:
Esquistossomose, leptospirose, ciguatera, balantidiose, giardíase.

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Figura 2: Criação de animais às margens do Rio Capibaribe Mirim em Timbaúba – PE

Foto: FIGUERÊDO, Andreza

O índice de casos nas unidades de pronto atendimento e atendimento a saúde da família das
localidades próximas a esse rio, demonstram os problemas a saúde da população provenientes desse
contato com as águas poluídas do Capibaribe, norteando numa cadeia desumana de patologias
desatinadas.
Presentemente, o rio Capibaribe Mirim se encontra em avançado grau de degradação,
resultante de tais ocorrências históricas e da atual configuração urbano-social instalada nos
municípios no qual ele corta. Além de uma poluição visível, a perda da biodiversidade do rio
também é outro fator alarmante. Animais estão chegando a óbito devido a pouca oxigenação da
água, que não permite a existência da diversidade que por anos foi endêmica do rio.
O assoreamento também é notório na sua atual configuração, permeando desde áreas rurais,
até centros urbanos; o rio se mostra invadido pela ação antrópica, que consiste na construção de
residências domiciliares e comerciais em suas margens e terraços fluviais. Com a retirada da mata
ciliar pertencente unicamente ao determinado rio, o processo de assoreamento se acelerou, fato
decorrente do avanço humano em suas áreas, e da retirada da mata ciliar para produção agrícola,
utilizando como drenagem o seguinte recurso hídrico, sendo então mais um meio de proliferação de
doenças.
Dessa forma, se acentua um contexto de poluição hídrica iniciada em meados dos anos 50, a
má gestão e o uso exaustivo de suas águas enquanto depósito de esgotos e efluentes industriais
aceleraram todo o processo de degradação fluvial do Capibaribe Mirim. Sua atual configuração é
notória em todos os municípios que são banhados por esse rio, poluição, esgoto domésticos e
industriais, lixos, assoreamento e o grande risco de doenças, contrapondo a ideologia
contemporânea de restaurar rios e conservá-los enquanto biodiversidade única e pertencente a
sociedade humana.

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O HIDROCAMPUS ENQUANTO GRUPO DE PESQUISA E A POSSIBILIDADE PASSÍVEL


DE REVERTER OS RESULTADOS OBTIDOS IN LOCO

O Hidrocampus como grupo de pesquisa, se compromete com a questão socioambiental do


rio, assim como também com os canais de drenagem da Bacia no qual está inserido, levando a
investigação e questionamentos de preceitos já estabelecidos de grandes pensadores como Horton e
Strahler, que elucidaram os questionamentos da seguinte pesquisa quanto a configuração
hierárquica do rio. Partindo do princípio socioambiental, o grupo de pesquisa vê no trabalho
estabelecido um mecanismo de mudança para a atual configuração degradante do rio, objetivando
perspectivas de mudanças futuras para o que foi apresentado.
Com base nas informações coletadas em documentos e principalmente nas visitas a campo
pode-se identificar algumas possíveis soluções de melhorias para a situação do geoambiental do rio
que necessitariam de apoio conjunto, integrado que resultaria em melhores condições de vida, assim
como também perspectivas positivas relacionadas aos recursos hídricos, flora ainda existente,
mesmo que minimamente e também a sua fauna, bastante prejudica diante a dificuldade de
sobrevivência em águas turvas e com pouca quantidade química de oxigênio.
O investimento em educação ambiental, auxílio das gestões municipais onde o afluente está
inserido, a conservação e manejo adequado do rio, o controle áreas de risco, a universalização da
coleta de esgotos, minimização dos conflitos de uso múltiplo das águas, a busca por segurança
hídrica com a proteção de mananciais, ampliação das áreas de infiltração e da cobertura vegetal,
possibilitariam melhorias na qualidade do ar, das águas e do solo, contribuir para a captura de
carbono e a amenização das temperaturas locais, assim como também reduzindo eminência doenças
e fornecendo habitat para a biodiversidade, possibilitando talvez o retorno de áreas de lazer através
dessa recuperação da paisagem.
Dessa forma, as mudanças almejadas pela pesquisa e pelo o que é estudado e analisado por
tal grupo de pesquisa, que auxilia nessa compreensão hídrica são melhorias que irão resultar de
ações integradas, que visam condições melhores e onde na prática buscam atuar de forma embasada
e adquirindo aos poucos mudanças gradativas e contínuas, sendo então objetividades desse estudo;
repor a sociedade o bem que é proporcionado através do conhecimento dando-lhes as devidas
informações sobre o meio no qual está inserido, direitos e ascensões sobre o futuro da sua sociedade
na busca por uma melhor condição de vida, que possibilite harmonia entre homem e meio ambiente,
e pautada em legislações ambientais de uso integrado, sistêmico e consciente do meio e das suas
ofertas por ele destinados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A água sempre foi a objetividade presente na vida humana, desde as primeiras formações de
sociedades até o tempo atual. Toda a sua configuração hídrica sempre foi desejo de estudo de
muitos pensadores, se destacando as principais e mais seguidas teorias no século XX. Com isso, o
estabelecido na hierarquia fluvial dos canais de drenagem de Pernambuco, colocam o Rio
Capibaribe Mirim como um dos mais importantes afluentes da Bacia do Rio Goiana, onde foi
bastante degradado durante décadas, resultados provenientes de ações antrópicas e industriais,
permitindo então que o grupo de pesquisa Hidrocampus se estabeleça de tal configuração, e a
análise, pautando também conceitos socioambientais e geográficos.
Com isso, o presente trabalho infere que a determinação hierárquica do rio Capibaribe
Mirim está atrelada a grandes estudiosos, como Horton, e que a atual configuração de degradação
do rio é proveniente de ações históricas e contextos sociais, que possibilitaram então o estudo do
grupo, e aperfeiçoamento de suas análises, e de propostas de novos conceitos, desmembrando então
preceitos já estabelecidos.

REREFÊNCIAS

Agência Pernambucana de Águas e Climas. Bacias Hidrográficas. Bacia do Rio Goiana. Disponível
em: <http://www.apac.pe.gov.br/pagina.php?page_id=5&subpage_id=15> Acesso em:
29/06/2017
CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. São Paulo: Blucher, 1980.
CHRISTOFOLLETI, Antônio. Geomorfologia. 2ª edição. São Paulo. Edgar Blücher, 1936.

CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente. Diagnóstico Socioambiental-litoral norte. Disponível


em: <http://www.cprh.pe.gov.br/downloads/24_Recursos_Hidricos_Superficiais.pdf > Acesso
em: 30/06/2017

CUNHA, Sandra Baptista da. II. GUERRA, Antônio Teixeira. Geomorfologia do Brasil. 3ª edição.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

FURRIER, Max et al. A Geomorfologia: uma reflexão conceitual. Departamento de Geociências –


UFPB, João Pessoa, 2013.

GUERRA, Antônio José Teixeira. Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. 9ª ed.
São Paulo: Bertrand Brasil, 2012.

LYRA, Luis Tavares de. Observações hidrobiológicas sobre a poluição do Rio Capibaribe-Mirim,
Pernambuco, Brasil. Núcleo de pesquisas da Bahia. Memorial Instituto Oswaldo Cruz, 1976.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 546


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Disponível em: <http://memorias-old.ioc.fiocruz.br/pdf/Tomo74/tomo74(f3-4)_166-203.pdf>


Acesso em: 28/06/2017

ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia ambiente e planejamento. 8. Ed., 3ª reimpressão-


São Paulo: Contexto 2010.

SILVA, José José Araújo da, et. al. Usos dos principais nascedouros fluviais da Bacia do rio
Goiana-PE. Revista FAFIRE, Recife, v. 9, n. 2, 2016.

SUNA, Lusivan. Timbaúba Ontem. Vol l. Timbaúba. Impresso no Brasil, 1992.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 547


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

USO DE LIQUENS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DO AR, NO PARQUE VILLA-


LOBOS DA CIDADE DE SÃO PAULO – SP.

Catarina de Araujo SIQUEIRA


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da PUC Campinas
siqueira.catarina@hotmail.com
Maisa Thiemy Damião de MATTOS
Graduanda do Curso de Engenharia Química da PUC Campinas
maisatdm@gmail.com
Luiza Ishikawa FERREIRA
Docente do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da PUC Campinas
ishikawa@puc-campinas.edu.br

RESUMO
Os bioindicadores consistem em princípios orgânicos que têm o intuito de verificar a presença de
determinados poluentes, entre eles verificou se a eficiência dos liquens que apesar de se adaptar a
qualquer escassez de recursos são sensíveis a variações atmosféricas. O objetivo do trabalho foi
comparar através do uso dos liquens, as condições da poluição atmosférica e o tipo de degradação,
que podem ser extremamente prejudiciais à saúde humana. A queima de combustíveis fósseis, a
principal fonte de energia da atualidade, pelos automóveis contribui para o agravamento da poluição
e da saúde. Durante o trabalho realizou-se a verificação de qualidade do ar no bairro nobre Alto dos
Pinheiros, situado na Zona Oeste da cidade de São Paulo, especificamente na área do Parque Villa-
Lobos. Utilizou-se o método de Helmut Troppmair (1977), que consiste na: coleta de dados através
do auxílio de uma tela quadriculada, cálculo de correção da porcentagem de cobertura liquênica e
contagem dos carros presentes na área. No total foram analisadas setenta e cinco árvores de espécies
variadas, tendo apenas catalogada na metodologia a espécie Syagrus romanzoffianum (coqueiro). O
estudo foi efetuado em 2016 e 2017, constatou-se que a qualidade do ar na área do Parque Villa-
Lobos piorou de um ano para o outro. No ano de 2016, havia altos índices de Classe V, zona não
poluída ou normal e Classe IV, zona fracamente poluída ou contestada externa. Contudo, no
segundo ano foi notória a mudança em todas as Classes, onde, a Classe I, deserto de liquens teve o
maior aumento entre elas, 14,67% e a Classe V, zona não poluída passou de 58,67% para 30,67%
no ano de 2017. Provavelmente, um dos principais motivos para a queda na qualidade do ar é a
quantidade de veículos em circulação no bairro, que aumentou 31% de um ano para outro.
Palavras-chaves: Poluição atmosférica. Combustíveis fósseis. Organismos bioindicadores.
ABSTRACT
Bioindicators consist in organic principles that have intention to verify the presence of certain
pollutants among them it was verified the efficiency of the lichens that despite adapting to any
scarcity of resources and are sensible to atmospheric variations. The study was made to compare the
use of lichens, atmospheric pollution conditions and the type of degradation, which can be
extremely harmful to human health. The burning of fossil fuels, it is the main source of energy
today, by automobiles contributes to the worsening of pollution and health. During the work the air
quality it was verified in the area of Alto dos Pinheiros neighborhood and it was located in the
West Zone in the city of São Paulo, specifically in the Villa-Lobos Park area. It was used the
method of Helmut Troppmair (1977) which consists of: data collection through the help of a
checkerboard, it was calculated the percentage of lichen cover percentage and the number of cars
present in these area. In total, seventy-five trees of different species were analyzed, and only

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Syagrus romanzoffianum (coconut) was cataloged in the methodology. The study was conducted in
2016 and 2017, it was found that the air quality in the Villa-Lobos Park area worsened from year to
year. In the year 2016, there were high Class V rates and unpolluted zone or normal and Class IV,
weakly polluted zone or external contested zone. However, in the second year the change was
noticeable in all Classes, where Class I, desert of lichens had the highest increase among them,
14.67% and Class V, unpolluted zone went from 58.67% to 30 , 67% in 2017. Probably one of the
main reasons for the drop in air quality is the number of vehicles in circulation in the neighborhood,
which increased 31% from year to year.
Key-words: Atmospheric pollution. Fossil fuels. Organismos bioindicadores.

INTRODUÇÃO

Quando se trata de profissionais da área ambiental há sempre uma grande preocupação


quanto à saúde humana, principalmente quando se pensa nos diversos tipos de poluentes em que as
pessoas estão expostas, uma delas em relação a qualidade do ar.

A poluição do ar é uma das mais nocivas para a humanidade, acarretando no aparecimento


de várias doenças cardíacas e pulmonares, podendo inclusive causar inúmeras mortes, tanto
nas áreas emissoras quanto nas regiões próximas. Este tipo de poluição tem duas causas
principais: Os processos naturais e os processos antrópicos, porém a maior parte da
poluição é decorrente dos processos antrópicos, que tem uma de suas origens a queima de
combustíveis fósseis em veículos, usinas elétricas e indústrias (MILLER JR, 2015).

Logo, o processo de poluição do ar é acentuado em grandes centros urbanos, devido à


intensa circulação de automóveis e a excessiva queima de combustíveis fósseis. Com o aumento na
poluição do ar acarretou também a necessidade de se ampliar os conhecimentos sobre os
organismos bioindicadores.
―Bioindicadores são parâmetros biológicos, qualitativos ou quantitativos, que são suscetíveis
a indicar condições ambientais particulares que correspondem a um estado natural ou variação do
meio‖ (CAIRNS E PRATT, 1993). A resposta do monitoramento através do bioindicador consiste
na sensibilidade deste ao poluente e sua concentração no ambiente. De acordo com Fioreze e Santos
(2013) entre os organismos mais utilizados, estão os liquens, que se destacam pela alta capacidade
de acumulação de elementos metálicos e do íon sulfato, gerando respostas significativas quando
expostos a ambientes sob influência de agentes contaminantes. Para Troppmair (1977), os liquens
são altamente sensíveis aos poluentes, o que permite a sua utilização como vegetais indicadores da
poluição. Vários estudos como este, visando identificar a qualidade do ar, já foram realizados desde
o século passado por diversos pesquisadores e em várias cidades do mundo.
―Liquens são organismos derivados do mutualismo obrigatório (simbiose), entre fungos e
algas, são espécies pioneiras bem adaptadas à escassez naturais, mas são muito vulneráveis ao
estresse por poluição, principalmente poluição do ar‖ (ODUM, 2012), ou seja, os liquens são
adaptados para sobreviver em ambientes com poucos recursos, mas são extremamente sensíveis a

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poluição atmosférica, portanto são utilizados como bioindicadores da qualidade do ar. ―Entretanto
alguns liquens são sensíveis a determinados poluentes, como a Usnea trichoderma e a Erwinia
amarela que são sensíveis ao excesso de dióxido de enxofre‖ (MILLER JR, 2015).
O objetivo do trabalho foi comparar as condições da qualidade do ar entre os anos de 2016 e
2017, de uma região da grande Metrópole do estado de São Paulo, densamente povoada e
demasiadamente afetada pela poluição do ar, como a sua capital.

MATERIAIS E MÉTODO

Área de Estudo

O local escolhido para o estudo foi o Parque Villa-Lobos (Figura 1), localizado no bairro de
Alto dos Pinheiros, na região Oeste da Capital, e próximo ao rio Pinheiros. Inaugurado em 1994, o
parque abrange uma área verde de 732 mil m², tornando-se uma das melhores opções de lazer ao ar
livre da metrópole.
A área onde o parque está situado, antes de 1989, era um deposito de lixo da Companhia de
Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CEAGESP), onde também eram
depositados materiais dragados do Rio Pinheiros e entulhos da construção civil.

Figura 3. Parque Villa-Lobos, São Paulo. (Imagem disponível na internet)

Em 1989, começou a ser implantado o parque, onde 500 mil m³ de entulho foram retirados e
o córrego Boaçava, que passava pela área, foi canalizado. Somente em 2004 criou-se o Conselho de
Orientação do Parque Villa-Lobos, que assegura o gerenciamento participativo e integrado da
sociedade civil no mesmo, e passou a solucionar os problemas de manutenção existentes no local,
decorrentes de seu histórico.
Contagem dos liquens
Esse estudo foi embasado na metodologia de Helmut Troppmair (1977) (Tabela 1).

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Tabela 1. Classes de poluição do ar, segundo o grau de cobertura de liquens sobre os troncos das árvores.
Classe Grau de cobertura (%) Zona
V 50 a 100 Não poluída ou normal
IV 25 a 50 Fracamente poluída ou contestada externa
III 12 a 25 Poluição média ou contestada mediana
II 6 a 12 Poluição alta ou contestada interna
I <6 Deserto de liquens

As contagens de liquens foram feitas em ambos os anos durante o final de semana e no


período vespertino (13h30 às 17h30). Em 2016, a análise ocorreu no sábado, 30 de abril. E em
2017, a análise ocorreu no sábado, 24 de junho.
Para a contagem dos bioindicadores, foram selecionadas 75 árvores, com 40 cm ou mais de
diâmetro, todas presentes na zona oeste do parque, uma vez que é nesse local que se tem o contado
direto com o bairro em questão, através da Av. Professor Fonseca Rodriguez. Utilizou-se uma tela
quadriculada, para estimar a porcentagem de liquens em cada árvore a um metro do chão (Figura 2).
O georreferenciamento do parque foi realizado via satélite a partir do programa Google
Earth, e o georreferenciamento das árvores aconteceu com o auxilio do aplicativo de celular
Location (iOS).
A contagem dos veículos fez-se em ambos os anos, no período vespertino (15h15min às
15h30min), durante o final de semana e durante a semana para obter uma média geral da quantidade
de carros que passam no local por dia. Em 2016, no sábado, 30 de abril, foi efetuado o cálculo do
final de semana; E a contagem durante a semana foi realizada na segunda-feira, 02 de maio. Em
2017, no sábado, 24 de junho, foi efetuado o cálculo do final de semana; E a contagem durante a
semana foi realizada na segunda-feira, 03 de julho.
Para o cálculo real de cobertura liquênica das árvores foi utilizado a seguinte formula de
correção:

Sendo:
%Y = Grau de cobertura corrigido, conforme a rugosidade da casca;
%X = Grau de cobertura lida na casca;
(i) = Índice de correção da espécie em estudo.
E a tabela utilizada como referencia para esse cálculo foi:

Tabela 2. Índice atribuído conforme superfície da casca.


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Superfície Índice
Casca lisa 90
Casca pouco rugosa 110
Casca com rugosidade média 155
Casca rugosa 250
Casca muito rugosa 300
Coquinho (Syagrus romanzoffianum) 148

Figura 4. Tela quadriculada, utilizada na contagem de liquens, a um metro do chão. (Foto: Mattos, 2016)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A árvore rugosa Chorisia speciosa, cujo nome popular é Paineira (Figura 3), foi a mais
encontrada no parque e consequentemente a mais analisada, tendo seu índice de correção da espécie
de 250 (casca rugosa), o grau de cobertura corrigido médio de 36,54% em 2016 e de 36,46% em
2017, e um grau de cobertura lida médio de 91,35% em 2016 e de 91,15% em 2017. Obteve-se
também analises de Coqueiros e de outras espécies desconhecidas. Os resultados gerais das espécies
e seus índices podem ser vistos com mais clareza na Tabela 3 presente na pagina 7.
O georreferenciamento das árvores está presentes na Tabela 3 e Figura 4.

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Figura 5. Árvore paineira, espécie mais encontrada no local de estudo. (Foto: Mattos, 2016)

A média da quantidade de carros que passaram em frente ao parque Villa-Lobos por dia em
2016 foi de 52.306, e a média da quantidade de carros que passam em frente ao parque Villa-Lobos
por dia no atual ano (2017) é de 68.750 (Tabela 4).

Tabela 3. Índice e georreferenciamento das árvores mais influentes na análise da área no ano de 2016 e no
ano de 2017, respectivamente.
Árvore Espécie Latitude Longitude Índice %Y %X Classe %Y %X Classe

1 Lisa -235442 -467255 90 33,33 30 IV 88,89 80 V

5 Paineira -235443 -467250 250 28 70 IV 40 100 IV

10 Paineira -235444 -467250 250 40 100 IV 39,6 99 IV

15 Paineira -235443 -467249 250 36,4 91 IV 40 100 IV

20 Paineira -235444 -467249 250 32,8 82 IV 38 95 IV

25 Coqueiro -235446 -467254 148 67,57 100 V 1,35 2 I

30 Pouco áspera -235445 -467242 110 74,55 82 V 9,09 10 II

35 Pouco áspera -235444 -467241 110 68,18 75 V 46,36 51 IV

40 Coqueiro -235447 -467236 148 48,65 72 IV 66,22 98 V

45 Rugosa -235444 -467228 250 40 100 IV 6 15 II

50 Pouco áspera -235445 -467229 110 77,27 85 V 72,73 80 V

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55 Coqueiro -235446 -467232 148 9,46 14 II 67,57 100 V

60 Muito rugosa -235448 -467235 300 27,67 83 IV 23,33 70 III

65 Rugosidade -235450 -467235 155 64,52 100 V 43,23 67 IV


média
70 Lisa -235453 -467235 90 70 63 V 0 0 I

75 Lisa -235453 -467236 90 78,89 71 V 42,22 38 IV

Figura 6. Georreferenciamento do Parque Villa-Lobos e das árvores nele analisadas por satélite do Google
Earth. (Vieira, 2016) Nota: Cada ponto laranja na imagem equivale a 7,5 árvores analisadas.

Tabela 4. Quantidade de carros circulando nos anos de 2016 e 2017 em frente ao parque nos períodos de 15
minutos, 1 hora e 1 dia.
Período 2016 2017
Semana 15 minutos 550 807
1 hora 2 200 3 228
1 dia 52 800 77 472
Final de semana 15 minutos 532 489
1 hora 2 128 1 956
1 dia 51 072 46 944
Média total 15 minutos 545 716
1 hora 2 179 2 865
1 dia 52 306 68 750

Comparando os dois anos de estudos, no que se refere às classes de poluição do ar de cada


ano, o primeiro ano (2016), teve altos índices de Classe V – Zona não poluída ou normal e Classe
IV – Zona fracamente poluída ou contestada externa. Contudo, no primeiro semestre de 2017 foi
notório a mudança em todas as Classes, onde, a Classe I – Deserto de liquens teve o maior aumento
entre elas passando de zero para 14,67%. A Classe II – Zona de poluição alta ou contestada interna
aumento 4%, a Classe III – Zona de poluição média ou contestada mediana dobrou de valor, a

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Classe IV – Zona fracamente poluída ou contestada externa teve um aumento de 5,33% e por fim a
Classe V – Zona não poluída ou normal foi a única que teve queda nos valor de 28% (Gráfico 1).
Com relação à quantidade de carros que passam em frente à área de estudo por dia houve um
aumento de 31% de um ano para o outro (Tabela 4).
Um dos motivos para ocorrer este aumento seria a construção de novos empreendimentos
imobiliários na região, aliados com a tendência no aumento da frota de automóveis em território
nacional, principalmente em grandes centros urbanos. Além disso, o aumento no número de carros
nesta região seria devido à busca de uma rota alternativa. O grande número de automóveis na
capital e aos inúmeros trechos que sofrem problemas de congestionamento faz com que muitos
mudem a rota para economizar e diminuir o tempo gasto no trânsito.

Gráfico 1. Frequência da análise das classes de poluição do ar nos anos de 2016 e 2017 no Parque Villa-
Lobos.
50
40
30
2016
20
2017
10
0
Classe I Classe II Classe III Classe IV Classe V

Comparando-se com trabalhos já publicados na área, Troppmair (1977), Piqué et al. (2005),
Fioreze e Santos (2013), nota-se que os resultados obtidos no presente trabalho são esperados, uma
vez que, ―a atmosfera urbana é constituída por uma complexa mistura de gases e materiais
particulados, dentre os quais se encontram vários agentes poluentes‖ (FIOREZE E SANTOS,
2013), devendo tornar a presença de líquens menor em ambientes urbanos.
Levando-se em consideração que diversos estudos indicam os líquens como um dos
melhores indicadores da qualidade, os dados obtidos por estes indicadores são confiáveis devido a
sua morfologia, que não sofre significativas modificações ao longo das estações, sua longevidade e
a rápida absorção e acumulação de íons metálicos, como os citados por Fioreze e Santos (2013). No
entanto, temos que considerar que, ambas as contagens foram realizadas em épocas distintas do ano,
ou seja, em 2016 a coleta de dados foi concretizada durante o começo do outono e no ano de 2017
foi realizado no inverno.
―A qualidade do ar piora durante os meses de inverno, quando as condições meteorológicas
são mais desfavoráveis à dispersão dos poluentes‖ (COCCARO, 2001).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Naturalmente, há outras interferências sazonais, dependendo do período seco ou chuvoso, e


neste último se houver chuva muito forte pode ocorrer ocasionalmente o desprendimento da
cobertura liquênica.
Apesar deste fato, pode se inferir que no presente trabalho constata se o agravamento da
poluição na região do Alto dos Pinheiros.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que em relação a 2016 a poluição atmosférica no ano de 2017 aumentou na
região estudada, esta inferência pode ser sustentada analisando-se a diminuição da cobertura
liquênica.
Outro fator extremamente importante para o aumento da poluição é o número médio de
carros que circulam pela região diariamente, uma vez que houve um aumento significativo neste
dado, observando se o impacto direto na diminuição da presença de liquens.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CENÁRIOS DO COTIDIANO, IMPACTOS ASSOCIADOS E EDUCAÇÃO


AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO NA COMUNIDADE SÃO RAFAEL EM JOÃO
PESSOA – PB

Flávia Tamires de Siqueira LEAL


Estudante de graduação de Lic. Ciências Biológicas UFPB
flavia_leal16@hotmail.com
Antonia Arisdélia Fonseca Matias Aguiar FEITOSA
Professora Adjunta da UFPB
arisdelfeitosa@gmail.com

RESUMO
O contexto mundial de degradação ambiental é evidente e complexo, principalmente com o
aumento populacional e industrial. O crescimento econômico traz consequências diretas na
paisagem seja pela retirada de recurso, por produção de resíduos ou pelo descarte de material
utilizado pela população. Algumas práticas humanas provocam contaminações de corpos d‘água,
assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças. Geralmente os hábitos
dos moradores colaboram para que estes não reflitam sobre suas próprias atitudes. A Educação
Ambiental – EA é uma estratégia de formação que pode alcançar forte nível de sensibilização
humana, com repercussão positiva na conservação ambiental e em mudanças de atitudes que
contribuam com a qualidade de vida no local onde se reside. Este estudo teve como objetivo
analisar situações problemas associadas aos cenários ambientais de degradação numa comunidade
urbana gerando indicadores e demandas de intervenções em Educação Ambiental. O local da
pesquisa foi a Comunidade São Rafael, situada às margens do Rio Jaguaribe, no bairro Castelo
Branco na cidade de João Pessoa – PB. A investigação foi orientada pela abordagem da pesquisa
qualitativa, a partir de estratégias como observação e leitura do meio por imagens. Cenários de
degradação sinalizam contextos socioambientais de risco à saúde; hábitos da comunidade refletem
relação de desequilíbrio com o meio ambiente; Serviços sociais se caracterizam precários, seja no
campo da gestão ambiental, ou em processos educativos. Entendemos tais sinais como indicadores
da necessidade de implementação de processos de educação ambiental para o exercício da cidadania
e para o desenvolvimento de melhores relações com o meio ambiente, na perspectiva da melhoria
da qualidade de vida local.
Palavras-chave: Impactos ambientais; Educação Ambiental; Cidadania.
ABSTRACT
The global context of environmental degradation is complex and evident, mainly with the increase
in population and industry. Economic growth brings direct consequences in nature, by either the
removal of natural resources, or the production of waste or even the disposal of material after
population‘s use. Some human habits lead to contamination of waterbodies, silting, flooding, and
proliferation of disease vectors. Usually people habits cause them to not reflect on their own
actions. Environmental Education – EA, is a strategy of formation able to achieve high levels of
human awareness, with positive impact on environmental conservation and changes in people habits
in order to contribute to life quality wherever they live. This study aimed to analyze the problems
associated with the environmental degradation in an urban community and in consequence
indicators and demands of interventions in Environmental Education were generated. The research
site was the community of São Rafael, located on the banks of Jaguaribe River, at Castelo Branco
neighborhood in the city of João Pessoa - PB. The research was guided by the approach of

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

qualitative research, including strategies such as observation and understanding of the environment
from images. Degradation environments indicate socio-environmental contexts of health risk;
Community habits reflect a relationship of imbalance with the environment; Social services could
be detected as precarious, whether in the field of environmental management or in educational
formation. We understand these signs as indicators of the need for implementing environmental
education processes for the exercise of citizenship and also for the development of better relations
with the environment, with a view to improving local quality of life.
Keywords: Environmental impacts; Environmental education; Citizenship.

INTRODUÇÃO

Quando se fala no contexto de paisagem automaticamente a degradação do ambiente vem


junto com sua estrutura, no caso, já modificada. O panorama natural vem sofrendo constantes
modificações ao longo do tempo, principalmente quando o homem entra em ação, causando mais
danos do que benefícios à natureza. As causas principais são: crescimento populacional com
aumento descarte de resíduos e/ou retirada de recursos, falta de saneamento, aumento de
construções, poluição de rios, desmatamento, entre outros.
Essa degradação do ambiente compromete a qualidade de vida da população, pois até
doenças podem ser vistas como consequência. Nota-se um agrave desde o inicio do século XX com
o aumento da atividade industrial; mesmo que o fator equilíbrio ecológico também já estivesse em
evidencia o homem produtor interfere negativamente prejudicando esse equilíbrio é necessário para
sobrevivência de fauna e flora (RAMOS 1996).
Um dos principais modeladores da paisagem é o curso das águas de rios que com seu
processo natural do percurso acaba se infiltrando no solo por vários processos, ou seja, a água pode
evaporar ou ser canalizada por copas de arvores, mas são agressivamente afetados com esse tipo e
degradação alterando seu destino e funções naturais. O que também pode ser visto com o
crescimento de bairros, ruas e edifícios, sendo um dos precursores de poluição e degradação desse
importante meio ecológico. Essas intervenções do homem já havia desde as primeiras civilizações,
porem os registros e precauções de forma educativa através da Educação Ambiental - EA só
entraram em atuação recentemente (ROSA 2011).
A vegetação em torno dos rios é fundamental para garantia de retenção de poluentes e
diminuição de água escoada, como também é importante para absorção de água do solo
enriquecendo e ajudando na manutenção de aquíferos. O material descartado que chega a ambientes
já com um índice maior de desmatamento é ainda mais afetado devido à ausência de atividade
retenção, causando assoreamento intenso na área (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA).
Na capital da Paraíba, o Rio Jaguaribe é circundado por ocupações irregulares com grandes
indícios de degradação da área e deposição direta de resíduos das comunidades em seu percurso. A

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Comunidade São Rafael, localizada no Castelo Branco JP-PB tem essa característica de ocupação e
deposição direta de resíduos pela sendo agravada pela ausência de saneamento básico, ou seja, um
dos maiores problemas para a poluição do rio é o lixo (PARAÍBA AGORA, 2012).
A ocupação humana, em áreas urbanas se dá alterando ambientes físicos e biológicos,
comprometendo os recursos e serviços naturais. A população urbana, seja em qual classe social se
situe, tem expectativas de viver em ambiente saudável, que lhe ofereça qualidade de vida
assegurada por: um ar puro, sem poluição, água potável e abundante. Contudo, esta realidade não se
registra na maioria das comunidades, em especial às que ocupam áreas urbanas periféricas. As
práticas inadequadas no tratamento aos resíduos provocam contaminações de corpos d‘água,
assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças. Acrescenta-se a isto, a
alteração na paisagem além do mau cheiro.
Aos arredores do rio Jaguaribe pode-se ver grandes quantidades de oficinas em atuação, um
exemplo curioso é o caso da existência de uma oficina dentro do vale, construída em uma área
próxima ao leito do rio, que tem localização nas imediações do Conjunto Residencial Castelo
Branco, próxima a principal via de circulação que dá acesso ao bairro de Miramar. Por estar quase
que totalmente dentro da localização urbana, o rio sofre muito com a poluição dos bairros que o
cercam. Embora haja obras de revitalização de seu curso, ainda existe grande carga de esgotos que
finalizam suas trajetórias no rio, onde tanto nos bairros populares como nos mais nobres é
descarregado lixo e esgoto em seu leito (ALVES, FARIAS e ARAUJO, 2009).
O cotidiano vivido encobre situações que apesar de visíveis, não são percebidos. Os
moradores, embora enxerguem casos de degradação ambiental, seus hábitos colaboram para que
estes não reflitam sobre suas atitudes, mesmo alertados por informações a esse respeito. Estudos
anteriores (PEREIRA, et all, 2012; RAMOS, 2016) apontam o alto nível de degradação deste curso
hídrico envolvendo todas as comunidades a ele circundante.
O Rio Jaguaribe é uma vitima desse problema com grandes indícios de degradação por
ocupações irregulares e deposição direta de resíduos das comunidades em seu percurso. Esse
problema de saneamento precário no Brasil é existente quase que em todo território, sendo mais
exposto em áreas mais pobres, sendo a fonte principal de proliferação de doenças entre jovens e
crianças. As gestões públicas possui grande parcela de culpa por essa ausência e descaso com a
população em suas obras lentas e inacabadas (PORTAL SANEAMENTO BÁSICO, 2016).
Com isso, a Educação Ambiental possui uma influência direta na formação humana e nas
atitudes da população em meio aos problemas decorrentes. Numa perspectiva crítica a EA tem suas
origens nos ideais democráticos e emancipatórios do pensamento crítico aplicado à educação. O
grande objetivo da EA crítica é levar a contribuição que gere a transformação de realidades que se
apresentam em uma grave crise socioambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O desafio de promover ambientes educativos de mobilização desses processos de


intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais é o objetivo maior da EA; e
propiciar um processo educativo em que nesse exercício todos sejam educandos e educadores para a
contribuição do meio em uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que
vivenciamos todos os dias (GUIMARÃES, 2004).
O campo da Educação representa um espaço social que congrega diferentes processos da
formação humana. A educação na perspectiva crítica tem suas raízes nos ideais democráticos e
emancipatórios do pensamento crítico aplicado à educação. No Brasil, estes ideais foram
constitutivos da educação popular que rompe com uma visão de educação tecnicista, difusa e
repassadora de conhecimentos convocando a educação a assumir a mediação na construção social
de conhecimentos implicados na vida dos sujeitos.
Inspirada nestas ideias-força que posiciona a educação imersa na vida, na história e nas
questões urgentes de nosso tempo, a educação ambiental acrescenta uma especificidade:
compreender as relações sociedade-natureza e intervir sobre os problemas e conflitos ambientais.
Desta forma, a EA crítica deve contribuir para uma mudança de valores e atitudes para a formação
de um sujeito ecológico, sujeito humano enquanto ser individual e social, historicamente situado
(CARVALHO, 2004).
O grande desafio da EA crítica é ser capaz de contribuir com a transformação de realidades
que se apresentam em uma grave crise socioambiental.
A EA crítica objetiva, portanto, promover ambientes educativos de mobilização desses
processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos
nestes ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo em que
nesse exercício, estejam educandos e educadores, nos formando e contribuindo pelo exercício de
uma cidadania ativa, na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos
(GUIMARÃES, 2004).
Nesta perspectiva, pensar uma mediação pedagógica que atenda aos fundamentos à EA
crítica, significa desenvolver ações pedagógicas que superem a uma transmissão de conhecimentos
ecologicamente correta, assim como as ações de sensibilização, envolvendo afetivamente os
educandos com a causa ambiental.
As ações pedagógicas de caráter crítico exercitam o esforço de ruptura com essa armadilha
paradigmática. Busca propiciar a vivência do movimento coletivo conjunto gerador de sinergia.
Estimula a percepção e a fomentação do ambiente educativo como movimento. Trabalha a
perspectiva da construção do conhecimento contextualizado para além da mera transmissão. Por
fim, a EA crítica se propõe a desvelar a realidade para, inserindo o processo educativo nela,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

contribuir na transformação da sociedade atual, assumindo de forma inalienável a sua dimensão


política.
A ação pedagógica da EA crítica deve ser desenvolvida por meio de projetos que estejam
para além das salas de aula em que educadores e educandos a realizem, conquistem em seu
cotidiano à práxis de um ambiente educativo de caráter crítico (GUIMARÃES, 2004).
Trabalhar educação ambiental na comunidade e nas escolas faz-se necessário devido ao
cenário critico de degradação do meio causado pelo crescimento populacional e econômico. Esse
crescimento em contrapartida traz o aumento do consumo de recursos naturais e de resíduos que
consequentemente são devolvidos ao meio. A população leiga, sendo a maioria considerada mais
pobre, está desprovida de informações primordiais de conservação do meio, o que estudos que
proporcionem essa fonte de informação suprem pelo menos grande parte, essa carência.
Este estudo contribuiu com informações para o desenvolvimento de processos educativos,
na comunidade e no espaço escolar, que se volta a reorientar as pessoas a desenvolverem melhores
relações com o meio ambiente na perspectiva da melhoria da qualidade de vida local.
Neste sentido, ao promover a visibilidade de alguns problemas socioambientais ocorrentes
na comunidade São Rafael, o estudo aguçou o olhar para intervenções educativas e realização de
novos estudos na área.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida no período entre janeiro – julho/2017. O estudo foi orientado
pela abordagem qualitativa, por meio do qual se buscou a compreensão de realidades, seus
significados e situações-problemas (MINAYO, 2009). Como estratégias metodológicas, adotou-se o
estudo de caso, para investigar um fenômeno dentro do seu contexto real (GODOI, 2006;
MARTINS, 2008).
O local da investigação foi a Comunidade São Rafael, situada às margens do Rio Jaguaribe
no Bairro Castelo Branco em João Pessoa – PB. A referida comunidade possui 60 anos de
existência, chegando acerca de 500 residências ao todo com 29 estabelecimentos comerciais
(CENTRO POPULAR DE CULTURA E COMUNICAÇÃO).
O primeiro momento da pesquisa pautou-se no levantamento socioambiental da comunidade
partir de estudos em fontes bibliográficas e publicações acadêmicas bem como aproximação à
comunidade por meio de representantes vinculados ao Centro Popular Comunitário.
No momento posterior, conversas informais e visitas periódicas à comunidade foram
realizadas com a finalidade de registrar cenários ambientais do cotidiano para visibilizar e entender
os impactos socioambientais associados. Foi utilizado o recurso da fotografia para captura das áreas
em volta da comunidade (cenários ambientais, aspectos do saneamento, infraestrutura, inundações e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

resíduos sólidos), como também foram registrados alguns focos de degradação ambiental
(esgotamento a céu aberto, descartes de resíduos, áreas de risco).

RESULTADOS

A Comunidade São Rafael – serviços, sujeitos e dinâmica funcional.

A comunidade estudada conta com 1500 habitantes, tem uma Escola Estadual de Ensino
Fundamental, Posto de Saúde, Posto de Distribuição de Pão e Leite, Praça, igrejas, Centro Popular
de Cultura e Comunicação e Rádios de Comunicação. Parte das ruas apresenta calçamento mais
ainda existem ruas não asfaltadas. No que diz respeito a instituições com ações diretas na
comunidade são Rafael, destacam-se a Associação de Prevenção à AIDS (AMAZONA),
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), de forma pontual por parte de vários setores, e, de forma
mais prolongada, por meio da Incubadora de Empreendimentos Solidários (INCUBES), Association
de Solidarité Internationale (ESSOR), Prefeitura Municipal de João Pessoa e a Universidade
Federal da Bahia (UFBA), especificamente a Incubadora Tecnológica de Economia Solidária e
Gestão do Desenvolvimento Territorial - ITES (LUCENA, 2013).
Se tratando de aspectos ambientais da comunidade, há inúmeros problemas constantemente
agravados pela população, onde os mais frequentes são o desmatamento e a poluição, já havendo
reconhecimento dos próprios moradores sobre a necessidade de intervenção socioeducativa sobre
impactos antrópicos na natureza (LUCENA, 2013).
Na observância à oferta de serviços à comunidade, ações voltadas às políticas que visam à
sustentabilidade, onde todos, governos, empresas e cada cidadão, se constituem responsáveis pela
preservação do meio ambiente (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE). Às margens do Rio
Jaguaribe, a comunidade São Rafael enfrenta os desafios vinculados às demandas de
preservação/conservação e qualidade ambiental. Desafios perceptíveis na sua infraestrutura (ruas
estreitas) e na proximidade das residências ao leito do rio, resultando em inundações e uso
inadequado deste recurso hídrico, são um dos fatores que geram preocupações e interesses de
solução.
A coleta de lixo é realizada três vezes por semana coletando o lixo até a área na qual o
caminhão consegue chegar, a partir desse ponto há um morador que coleta o lixo das residências
com um carro de mão, no qual esse lixo é levado até a área de alcance do caminhão de coleta maior.
Os demais depósitos de lixo são praticamente depositados em locais indevidos (morro, mata, rua,
proximidade do rio) ou diretamente no rio.
A comunidade São Rafael apesar de ser considerada como uma área pequena apresenta uma
grande proporção de moradias e moradores, o que representa boa parte das moradias próximas ao

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

rio. Com as cheias do rio, o arraste de resíduos descartados indevidamente é maior; já que muitas
moradias têm seus encanamentos de esgoto direcionados ao leito.
Com o aumento do consumo de produtos junto com seu descarte é decisivo para a qualidade
do ambiente que nos cerca, e a poluição do rio pode ser vista através da aparição de macrófitas
aquáticas que são bioindicadoras de resíduos tóxicos e poluentes causadas pelo descarte indevido de
resíduos da área populacional como também de grandes empresas que circundam o leito do rio.
Um agrave se da pela inatividade da estação de tratamento que é um fator que acarreta a
construção de saneamento inadequado, como também leva a população a descartar indevidamente
os resíduos sólidos, que por sua vez causa poluição da área. Essa poluição causada pelo
transbordamento de esgotos é um dos fatores causadores da poluição do Rio Jaguaribe, que com as
cheias causa o contato do esgoto das residências e das ruas com o leito do rio.

Aspectos Socioambientais da Comunidade São Rafael

Cenários ambientais indicam grandes demandas de atendimento aos serviços básicos, a


exemplo de fragilidade no saneamento, riscos de inundações e tratamento e destinação aos resíduos
sólidos, além de expor níveis de degradação ambiental existente como: esgotamento a céu aberto,
descartes de resíduos, áreas de risco.

Imagem 01 - Cenário socioambiental da comunidade São Rafael

Fonte: registro da pesquisa, 2017.

Por existirem moradias próximas ao rio a comunidade São Rafael apresenta problemas
sérios de inundações em dias de chuva e com as cheias. O descarte de resíduos sólidos frequente
nos quintais das casas próximas ao rio, mesmo havendo coleta de lixo; esse lixo é facilmente levado
pela corrente da água, principalmente em épocas de chuva quando o rio ultrapassa seu limite
causando as enchentes e carregando o lixo para si consequentemente, poluindo ainda mais o rio
causando grandes prejuízos ambientais.
O saneamento é um dos fatores mais importantes e almejados pela comunidade, pois o
mesmo é escasso, e as formas de escoamento de resíduos líquidos são adaptadas de forma irregular
por moradores, gerando uma poluição notória do ambiente. O escoamento indevido é
sobrecarregado de tal maneira que há o transbordamento do esgoto, que deveria ter um destino

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

apropriado, onde pode alagar as ruas ou até mesmo chegar dentro das residências afetando assim os
moradores.
A comunidade São Rafael possui uma infraestrutura com características e modelagem
pequenas, com diversidades de estabelecimentos como: padaria, igrejas, borracharias, centro
cultural e posto de saúde. Com o crescimento da população da região junto com o fato dos
moradores serem de classe media baixa, a construção de casas aumentou e trouxe construções sem
planejamento. Consequentemente houve um afunilamento das ruas, tornando-as estreitas
dificultando até a passagem de carros maiores, obrigando apenas o uso de motocicletas ou
bicicletas.
Os riscos das construções indevidas têm aumentado com essa deficiência de suporte das
cidades com o crescimento populacional e na comunidade São Rafael, a casas são construídas
próximas às outras; outras são construídas em áreas que excedem a segurança dos moradores,
aumentando a área de risco para os moradores.
Os transbordamentos do Rio Jaguaribe chegam facilmente entre ruas e principalmente
dentro das casas, causando até a perda completa de imóveis. Por não ter outro lugar para
alojamento, a evacuação não é feita e os moradores acabam indo para casa de vizinhos até que
providências sejam tomadas aos que tiveram prejuízos.

A Educação Ambiental Pensada para a Comunidade São Rafael

A Educação Ambiental representa uma importante estratégia para diminuir a degradação


ambiental. É um veículo de informação e formação para orientação aos sujeitos para mudança de
hábitos a exemplo dos descartes adequados do lixo produzido como também a uma conscientização
do uso dos recursos naturais.
Os moradores da comunidade São Rafael devem ter uma participação mais efetiva e
consciente no processo de coleta de resíduos diferenciados que podem ser separados,
antecipadamente, segundo a sua constituição ou composição, ou seja, coleta seletiva do lixo, que é
uma obrigação dos municípios e estado à implantação desse sistema; e propor aos mesmos esse tipo
de ação já facilita a coleta do lixo onde darão o destino certo aos resíduos.
Uma intervenção educativa, integradora e contextualizada (aulas de campo, palestras, rodas
de discussões, desenvolvimento do senso critico e participação ativa nas atividades) com os jovens
da comunidade este seria um dos pontos fortes para a implementação da Educação Ambiental. Este
tipo de informação gera ação direta nas obrigações mínimas dos moradores. O simples fato de
saberem onde e quando realizar o descarte de lixo de forma correta já é uma evolução positiva na
luta contra a degradação ambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Aos moradores mais antigos, a Educação Ambiental contribuiria para formar agentes mais
conscientes por meio de processos educativos, e palestras ministradas sobre os problemas de
degradação da própria comunidade, apontando as causas e suas soluções traz um leque de
informações nas quais são simples de executar em suas residências, que é a fonte de dispersão de
atitudes cabíveis e exemplares, e nas ruas que só tende a ganhar com um ambiente mais agradável e
limpo.
Propor aos moradores que haja uma cobrança aos lideres e aos órgãos responsáveis pelos
cuidados básicos de uma cidade também faz parte dessa rede de soluções da degradação ambiental,
a começar pelo saneamento básico e manutenção dos encanamentos já existentes nos quais
necessitam de troca para o retorno de utilização, pois é constante o entupimento e transbordamento
das bocas de lobo encontradas nas ruas. Isso é necessário, pois, nem todas as residências possuem a
fossa séptica e o escoamento dos esgotos é direcionado ao rio ou a estação de tratamento que está
inativa causando sempre seu transbordamento.

DISCUSSÃO

Alves, Farias e Araújo (2009) põem o aumento de construções e vias como uma das
principais causas do desequilíbrio ecológico, e não é diferente nos bairros que cercam o Rio
Jaguaribe, no caso, a Comunidade São Rafael que também foi vista em uma crescente com o passar
dos anos, proporcionando construções sem o mínimo de planejamento necessário para condições de
vivencia.
O saneamento básico é o inicio de toda a luta contra a degradação ambiental, pois é uma
fonte de poluição e doenças causadas pelas más condições da falta de tratamento de água e esgoto
como é tratado no Portal Saneamento Básico 2016 retratando a suscetibilidade da população a esse
tipo problema que é comum em áreas mais pobres.
As áreas consideradas mais pobres sofrem com a necessidade de moradias que
consequentemente são desprovidas de planejamento de acordo com a capacidade de suporte da
região, o que sujeita a ocorrência de inundações, pois pela falta de espaço essas moradias são
construídas próximas ao Rio, causando inundações durante as cheias. Barbosa 2006 diz que os
resultados dos problemas causados por inundações dependem do grau de ocupação da área pela
população e da frequência com a qual ocorrem as inundações, o que ocorre na São Rafael, a área de
ocupação proporciona inundações frequentes.
A população da área é consciente dos problemas ambientais e suas causas, o que facilita a
sensibilização com o estudo aplicado. Bonifácio e Abílio (2010) retratam em seu estudo com alunos
do ensino fundamental que os mesmos possuem facilidades de exemplificação desses problemas e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 567


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

suas causas, como também têm a facilidade de propor soluções, tendo ações já encaminhadas para
solucionar os problemas pontuados.
Bonifácio e Abílio (2010) ainda relatam o fator da necessidade de se trabalhar mais ainda a
Educação Ambiental para aplicação das ações de sustentabilidade e preservação do ambiente, o que
é proposto no trabalho de Borges e Tachibana (2005), uma potencialização de ações como redução
de custos através de uma utilização eficiente dos recursos com mais eficiência e procura de
mercados mais cuidadosos com relação às questões ambientalistas, ou seja, empresas que se
preocupam com o meio ambiente.
Borges e Tachibana 2005 mostram em sua pesquisa que com o passar dos anos que ao
mesmo tempo em que o meio ambiente é uma fonte de recursos também passa a ser um recipiente
aberto de resíduos descartados de forma indevida. Propor, com a Educação Ambiental, maneiras de
regulamentações coerentes e éticas tendem a controlar de forma positiva as interferências das
atividades humanas, num pensamento de preservação e conservação do meio ambiente.

CONCLUSÃO

A comunidade São Rafael, apesar de mostrar-se consciente dos problemas ambientais


encontrados nas redondezas, possui uma visível deficiência quanto às ações contra as degradações.
A situação é agravada pelo precário saneamento básico. As residências que não possuem fossas
sépticas descartam seus resíduos nas ruas ou os direcionam para o leito do rio.
A direção desses resíduos para o rio também se dá pela infraestrutura da comunidade; casas
construídas próximas ao rio facilita esse deposito que é praticamente direto através de encanações
ou escavações adaptadas. Essas moradias consequentemente sofrem com as cheias do rio em dias
chuvosos, resultando em perdas consideráveis aos moradores e providencias de órgãos de
responsabilidade com a capacidade de suporte da área precisam intervir e trazer soluções que
alcancem de forma positiva todos os envolvidos. Através das fotografias foram mostrados esses
problemas. A coleta do lixo é realizada, mas pouco aproveitada no sentido de seletividade do lixo; a
coleta seletiva necessita ser mais frisada e posta em prática para melhor destinar o lixo. Como
também a sugestão de por atividades de reciclagem de materiais descartados, que podem ser
reutilizados pelos mesmos consumidores.
Entendemos que levar tais informações à comunidade é um caminho mais palpável para se
encontrar a solução ou, pelo menos, amenizar os problemas encontrados, uma vez que mesmo
conscientes de tais carências, muitos apresentam atitudes contrárias ao que é básico para se cuidar
do meio ambiente. E a Educação Ambiental oferece os recursos necessários para mudanças de
atitudes da população, lembrando que as entidades responsáveis pelo básico de condições de
moradia também precisam entrar em ação para resultados mais promissores.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Estudos em áreas de risco e com problemas ambientais precisam ter mais atividade e vigor,
já que há uma crescente populacional e consequentemente um aumento de degradação do ambiente.
E em áreas consideradas mais pobres carecem desse tipo de informação e acabam no comodismo. A
sensibilização da população precisa ser constante para lembrar que cuidar do ambiente não é apenas
em dias de encontros ambientais e seus ambientalistas, e sim uma luta diária que começa dentro de
casa e alcança toda a paisagem e seus participantes.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 570


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CARGAS AMBIENTAIS ASSOCIADAS A UM PROTÓTIPO DE BOMBA DE CALOR


PARA DESUMIDIFICAÇÃO E AQUECIMENTO DO AR

Ícaro Stéfano da Nóbrega SOUZA


Graduando do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
icaro.souza@cear.ufpb.br
Anderson Felipe Chaves FORTES
Mestre em Engenharia Mecânica pela UFPB
anderson.fortesem@ifpi.edu.br 32

RESUMO
A atividade humana é uma das grandes responsáveis pelos efeitos associados ao uso de
combustíveis fósseis, como o efeito estufa. Diante disto, tornou-se necessário investir em estudos
para quantificar e atenuar impactos ambientais associados ao uso de equipamentos fundamentais à
atividade humana. A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) tornou-se uma ferramenta potencial para
quantificar impactos ambientais associados à fabricação e uso de um determinado produto, desde a
extração de suas matérias-primas, seu funcionamento e até o seu descarte. Neste trabalho foi
realizada uma análise ambiental de um protótipo de bomba de calor, na qual a metodologia da ACV
foi aplicada a dois cenários distintos, com o objetivo de quantificar os impactos ambientais
associados a configuração experimental, sua construção e descarte. Comprovou-se que a quantidade
de CO2-eq reduziu significativamente no cenário em que parte do protótipo foi levada a reciclagem,
devido a grande quantidade de alumínio em sua estrutura, quando comparada ao descarte total em
um aterro sanitário local. As informações fornecidas pelo presente trabalho tem fundamental
importância para estudos de mitigação dos possíveis impactos ambientais associados a configuração
e funcionamento de equipamentos utilizados em processos industriais.
Palavras-chave: Avaliação de Ciclo de Vida, Impactos Ambientais, Cargas Ambientais, Bomba de
calor.
ABSTRACT
Human activity is one of the main responsible for the effects associated with the use of fossil fuels,
such as the greenhouse effect. In view of this, it became necessary to invest in studies to quantify
and mitigate environmental impacts associated with the use of essentials equipments to human
activity. Life Cycle Assessment (LCA) has become a potential tool for quantifying environmental
impacts associated with the manufacture and use of a particular product, from the extraction of its
raw materials, its operation and even its disposal. In this work an environmental analysis of a heat
pump prototype was carried out, in which the LCA methodology was applied to two different
scenarios, with the objective of quantifying the environmental impacts associated to the
experimental configuration, its construction and disposal. It was verified that the amount of CO2-eq
reduced significantly in the scenario where part of the prototype was taken to recycling, due to the
large amount of aluminum in its structure, when compared to the total disposal in a local landfill.
The information provided by the present study is of fundamental importance for studies to mitigate
the possible environmental impacts associated with the configuration and operation of equipments
used in industrial processes.
Keywords: Life Cycle Assessment, Environmental Impacts, Environmental Loads, Heat Pump

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Monica Carvalho, Orientadora, Professora do Curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB.
monica@cear.ufpb.br

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Meio ambiente e energia já estão interligados na percepção do cidadão comum, devido aos
efeitos associados ao uso de combustíveis fósseis, como o efeito estufa. Esse cenário passa por uma
mudança radical, em que o aumento da participação das fontes renováveis de energia no total
gerado é inevitável (VICHI, MANSOR, 2009). Aumentar o conhecimento acerca do meio ambiente
e sobre os efeitos que a atividade humana causa é de fundamental importância para o progresso
futuro da humanidade, ao tempo em que dispor da quantidade de informações suficientes faz com
que o homem tome as melhores decisões, destacando-se a compreensão de que a solução dos
problemas ambientais em largo prazo consiste em analisar o caráter global do entorno, e não apenas
questões específicas (CHEHEBE, 1998). A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma metodologia
internacionalmente validada e consolidada para a quantificação de impactos ambientais associados
a um produto, processo ou serviço ao longo de todo o seu ciclo de vida (extração da matéria prima,
manufatura/fabricação/transformação, embalagem, transporte, distribuição, uso, manutenção e
descarte final) (GUINÉE, 2001; GUINÉE, 2002). Em outras palavras, a ACV é um procedimento
que analisa a interação de um sistema com o ambiente, partindo da premissa que os estágios do
ciclo geram impactos ambientais (SILVA, 2003). A ABNT (2014a; ABNT, 2014b) e as ISO 14040
(2006) e 14044 (2006) caracterizam a ACV como metodologia fundamental para estudar os
aspectos ambientais e os impactos significativos durante a vida útil de um produto, partindo da
extração da matéria-prima, passando pelos processos de produção, chegando a utilização e destino
final. A ACV é uma metodologia capaz de facilitar a análise dos impactos ambientais gerados pelas
atividades de uma empresa. Segundo HINZ et al. (2006), com a ACV é possível determinar uma
sistemática confiável a fim de se obter decisões plausíveis, visando gerar o menor impacto
ambiental possível, bem como verificar a poluição em si.
A bomba de calor é um dispositivo de alta eficiência térmica, com pouca dependência em
relação as condições climáticas, permitindo que alguns processos ocorram em baixas temperaturas
(PERERA; RAHMAN, 1997), e que, segundo Strommen (2000), apresenta reduzido impacto
ambiental devido ao seu baixo consumo de energia. Deve-se destacar a associação deste
equipamento a sistemas de aquecimento de água por coletores solares como fonte de energia
auxiliar, tornando-se alternativa aos sistemas convencionais, compostos por coletores solares e
aquecimento via resistência elétrica, que apresenta altos gastos energéticos. Além disso, as bombas
de calor são utilizadas nos processos de secagem da indústria alimentícia, que segundo Chou &
Chua (2001), tem por finalidade aumentar a vida útil, reduzir o custo de armazenamento e
transporte e garantir uma boa aparência, mantendo o conteúdo nutritivo dos produtos alimentícios.
Este trabalho tem como objetivo aplicar a metodologia da Avaliação de Ciclo de Vida
(ACV) para quantificar os impactos ambientais associados a configuração experimental de um
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

protótipo de bomba de calor, calculando os impactos ambientais associados a sua construção e


descarte. Este trabalho insere-se num projeto mais amplo, que inclui uma dissertação de mestrado e
um trabalho de conclusão de curso, objetivando a combinação da termoeconomia e da informação
fornecida pela ACV para distribuir os impactos ambientais associados a bomba de calor (construção
e operação) aos seus produtos (ar quente e seco, e água).

MATERIAIS E MÉTODOS

Avaliação do Ciclo de Vida

Com a problemática das mudanças climáticas, ocasionada principalmente pela emissão


exacerbada de gases de efeito estufa (IPCC, 2007), a utilização de produtos e processos menos
poluentes se torna mais necessária a cada dia. A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) se baseia na
utilização de métodos e técnicas de estudo dos impactos de produtos, processos e atividades, com o
intuito de quantificar as cargas produzidas, preenchendo os requisitos necessários como ferramenta
de apoio à utilização de produtos e atividades menos impactantes e mais sustentáveis (ISO 14040,
2006; ISO 14044, 2006).
A estrutura metodológica da ACV é dada pela International Organization for
Standardization (ISO) e no Brasil, e normatizada nos documentos similares aos da ISO: ABNT
NBR ISO 14040:2009 (Princípios e estrutura) e ABNT NBR ISO 14044:2009 (Requisitos e
orientações) (ABNT, 2014a; ABNT, 2014b). Para a obtenção de um estudo completo de ACV é
necessário concluir quatro fases: a primeira consiste na definição do objetivo e do escopo do estudo.
A segunda, Inventário do Ciclo de Vida (ICV), compreende a identificação e quantificação das
entradas e as saídas associadas ao processo. Na fase de Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida
(AICV), os dados da fase anterior são traduzidos em indicadores que refletem as pressões sobre o
meio ambiente e a saúde humana. A interpretação corresponde à quarta etapa e deve ser baseada no
objetivo e escopo definido (ABNT, 2014a,b).
Com o objetivo de analisar os dados de entrada e traduzi-los em cargas ambientais, dispõe-
se do software SimaPro 8.3.0.0 (PréConsultants, 2016a), que consiste em uma ferramenta
profissional altamente especializada para ACV, para coletar, analisar e monitorar o desempenho
ambiental de produtos, processos e serviços. Independente da complexidade da ACV, o SimaPro
permite modelar e analisar de acordo com as ISO 14040 (2006) e 14044 (2006). Dentro do
software há diversas bases de dados disponíveis para compor o inventário. A escolhida para este
trabalho foi a Ecoinvent (ECOINVENT, 2015), que contém dados sobre produção de energia,
transporte, materiais de construção, produção de produtos químicos e produção de metais. A base

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de dados Ecoinvent (ECOINVENT, 2015) contém mais de 10.000 conjuntos de dados interligados,
cada um dos quais descreve um inventário de ciclo de vida em um nível do processo.
São vários os métodos para avaliação de impacto ambiental, o adotado para este projeto foi
o IPCC 2013 GWP33 100 a, o qual contabiliza o total de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE),
expressando o resultado em termos de carbono equivalente de dióxido de carbono (CO2-eq) para um
sistema definido ou atividade (INTERNATIONAL PANEL ON CLIMATE CHANGE - IPCC, 2014).
Protótipo de bomba de calor
O sistema consiste numa bomba de calor (Figura 1), construída no Centro de Energias
Alternativas e Renováveis da Universidade Federal da Paraíba.

Figura 1 - Protótipo da bomba de calor.

Esta bomba de calor foi amplamente estudada desde perspectivas termodinâmicas desde
2007, sofrendo várias alterações ao longo do tempo, explanadas por Toscano (2017). Os estudos
anteriores compreendem a análise de montagem e instrumentação feitas por Luiz (2007), que
posteriormente também realizou um estudo sobre a transferência de calor e massa na secagem de
tomate utilizando a bomba de calor. Baseado na Lei da Conservação da Massa e Primeira e Segunda
Leis da Termodinâmica, Maia (2014) desenvolveu uma modelagem termodinâmica cuja finalidade
foi a desumidificação e o aquecimento do ar a temperaturas moderadas para a secagem de produtos
biológicos utilizando a bomba de calor. Um estudo teórico e experimental com a finalidade de
desumidificação e aquecimento do ar para a secagem de produtos termossensíveis também foi
realizado por Leite (2015), e para isso desenvolveu um modelamento termodinâmico baseado na
Primeira e na Segunda Lei da Termodinâmica e na Lei da Conservação da Massa, que foi simulado

33
(Global Warming Potential)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

na plataforma EES (Engineering Equation Solver). Fortes et al. (2016) deu sua contribuição através
da discussão da configuração experimental, cujo trabalho foi incorporado ao estudos de Grilo
(2017), o qual realizou uma revisão bibliográfica detalhada sobre bombas de calor aplicadas a
secagem de alimentos e desenvolveu análises termodinâmica, econômica e ambiental para o
equipamento experimental localizado no Centro de Energias Alternativas e Renováveis da
Universidade Federal da Paraíba.
A bomba de calor é uma máquina térmica cuja função é extrair calor de uma fonte quente e
rejeitar ao ar ou água a uma temperatura superior à desta fonte, apresentando os mesmos
componentes de uma unidade de condicionamento de ar. Há dois tipos de bomba de calor: o de
ciclo por absorção e o ciclo de compressão de vapor. Este último é o utilizado no protótipo do
trabalho.
O sistema em estudo é constituído por quatro componentes principais: um compressor, que
funciona como o elemento mecânico do sistema, elevando a pressão e promovendo a circulação do
fluido refrigerante, um condensador e um evaporador, que promovem as trocas térmicas entre o
fluido refrigerante e o ar atmosférico, e uma válvula de expansão, cuja função é de controle, criando
uma resistência à circulação do fluído refrigerante.
A composição material da bomba de calor está mostrada na Tabela 1.
Tabela 1 - Composição material do protótipo de bomba de calor.
Peso
Item Equipamento Composição material
(kg)
01 Suporte 35,04 Aço Galvanizado
02 Caixa externa 5,86 Madeira
03 Chapa Inox e ventilador 3,15 Aço inoxidável
04 Tubulação para gás 7,03 Cobre
refrigerante
05 Compressor 11,30 Aço
06 Fluido R-22 0,98 Diclorofluorometano
07 Condensadores 38,60 Alumínio
08 Válvula de expansão 1,00 Aço inoxidável
09 Motor elétrico 1,00 Aço

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 apresenta as emissões de CO2 equivalente por material que compõe o protótipo
utilizado. Verifica-se que os componentes que mais contribuem, apresentando emissão maior que
100 kg, são os condensadores, devido ao alumínio, somados ao suporte metálico, composto por aço
galvanizado.

Tabela 2 - Emissões de CO2 equivalente por componente da bomba de calor.


Emissões
Item Equipamento
(kg CO2-eq)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

01 Suporte 131,00
02 Caixa externa 0,92
03 Chapa Inox e Ventilador 15,40
04 Tubulação para gás refrigerante 55,00
05 Compressor 37,10
06 Fluido R-22 65,50
07 Condensadores 224,00
08 Válvula de expansão 4,62
09 Motor elétrico 5,84
TOTAL 539,38

Para interpretação dos resultados, foi necessário considerar dois cenários de destino final
para os materiais, após sua vida útil.

Cenário Primário

Considerou-se o descarte total do protótipo para o aterro municipal da cidade de João


Pessoa, conforme a Figura 2, constatando emissões adicionais de 17 kg CO2-eq. As emissões totais
associadas a construção do protótipo da bomba de calor foram de 556 kg CO2-eq.

Figura 2 - Cenário envolvendo o descarte total para aterro municipal (SimaPro®).

Não foram encontrados trabalhos na literatura brasileira que contabilizem cargas ambientais
associadas a bombas de calor para que fossem feitas comparações, fato que ressalta a relevância do
presente trabalho e o destaca enquanto pioneiro.

Análise de Sensibilidade

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Considerou-se um segundo cenário, no qual os componentes do protótipo que possuem


alumínio, aço e ferro foram enviados para reciclagem na cidade de São Paulo e os demais
descartados para o aterro municipal. Diante disto, verificou-se que o processo de reciclagem do
alumínio contribuiu significativamente para reduzir suas emissões (-675 kg, Figura 3), devido a sua
alta reciclabilidade, podendo ser reciclado infinitas vezes sem perder suas características, ou seja,
para a sustentabilidade em termos econômicos, ambientais e sociais, destaca-se a vocação da
indústria do alumínio.

Figura 3 - Cenário de Sensibilidade envolvendo a reciclagem de parte do protótipo (SimaPro®).

COMENTÁRIOS FINAIS

Este trabalho aplicou a metodologia da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) para quantificar
os impactos ambientais associados a configuração experimental de um protótipo de bomba de calor,
sua construção e descarte final. Trabalhos futuros dos autores incluirão a informação ambiental
proporcionada pela ACV em um modelo termoeconômico, para distribuir os impactos ambientais
associados a bomba de calor (construção e operação) aos seus produtos (ar quente e seco, e água).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As informações fornecidas pelo presente trabalho tem fundamental importância para estudos de
mitigação dos possíveis impactos ambientais associados a configuração e funcionamento de
equipamentos utilizados em processos industriais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade Federal da Paraíba pela bolsa do Programa


Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), e ao apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Bolsa de Produtividade em Pesquisa, nº 303199/2015-
6).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE SALINEIRA EM MOSSORÓ/RN

Jessica Rafaelly Almeida LOPES


Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
jessicarafaellyalmeida@hotmail.com
Larissa Nathane Lima de MORAIS
Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
larissa_nathane11@hotmail.com
Erick Ferreira de SOUSA
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária UFERSA
efdesousa94@gmail.com
Joel Medeiros BEZERRA
Professor do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA
joel.medeiros@ufersa.edu.br

RESUMO
A atividade salineira intervém na economia do país, bem como nos fatores sociais, uma vez que é
significativa fonte de emprego e renda. Por outro lado, provocam diversos impactos ao meio
ambiente. Diante de tal contexto, tem-se como objetivo identificar os impactos ambientais oriundos
da atividade salineira em Mossoró/RN, mediante a elaboração de uma matriz de avaliação de
impactos ambientais, tal como propor medidas mitigadoras frente ao cenário identificado. Por meio
de um fluxograma identificou-se cada etapa da atividade, bem como elencou-se os aspectos e
impactos oriundos do empreendimento. Adotando-se como metodologia a mensuração da
magnitude e significância dos impactos ao meio ambiente, tal como elaboração de listagem com
proposição de medidas mitigadoras por compartimento do ambiente. Dentre os impactos
identificados tem-se às modificações do regime, como, alteração do habitat, transformação da
cobertura do solo e emissão de gases. Além disso, a alteração no tráfego como a utilização de
automóveis e máquinas pesadas são os que mais afetam de forma negativa as características físicas
e químicas, bem como as condições biológicas do meio. Em contra partida, há também os impactos
positivos provenientes desta atividade, como a geração de emprego e renda e a dinamização do
setor comercial. Diante do exposto, a extração do sal ocasiona a degradação ambiental, devido às
alterações provocadas, sendo que podem comprometer o bem estar socioambiental. A partir dessas
análises, propõe-se a adoção de medidas mitigadoras e compensatórias, de caráter estrutural e não-
estrutural, de modo a atenuar os impactos adversos provocados em decorrência do funcionamento
do empreendimento.
Palavras-chaves: Planejamento ambiental. Matriz de interação. Gestão ambiental.
ABSTRACT
The saline industry intervenes in the country's economy, as well as in social factors, since it is a
significant source of employment and income. On the other hand, they cause several impacts to the
environment. In view of this context, the objective is to identify the environmental impacts of the
salt activity in Mossoró/RN, through the elaboration of an environmental impact assessment matrix,
such as proposing mitigating measures against the identified scenario. Through a flowchart each
step of the activity was identified, as well as the aspects and impacts from the project were listed.
Adopting as a methodology the measurement of the magnitude and significance of the impacts to
the environment, such as the preparation of a listing with proposition of mitigating measures per
environment compartment. Among the identified impacts are the modifications of the regime, such
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as habitat change, soil cover transformation and gas emission. In addition, the change in traffic such
as the use of cars and heavy machinery are the ones that most negatively affect the physical and
chemical characteristics as well as the biological conditions of the medium. On the other hand, there
are also positive impacts from this activity, such as the generation of employment and income and
the dynamism of the commercial sector. In view of the above, the extraction of the salt causes
environmental degradation, due to the alterations provoked, and can compromise the socio-
environmental well-being. Based on these analyzes, it is proposed to adopt mitigating and
compensatory measures, of a structural and non-structural nature, in order to mitigate the adverse
impacts caused as a result of the operation of the enterprise.
Keywords: Environmental planning. Interaction matrix. Environmental management.

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental encontra-se fortemente ligada à maneira como o homem tem


ocupado e utilizado a terra, de forma desordenada e predatória, modificando severamente a
paisagem original e gerando sérios danos ao ambiente.
Entre as distintas atividades antrópicas desenvolvidas no Rio Grande do Norte, a atividade
salineira tem sua influência significativa, de acordo com os dados do Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM, 2013) a atividade salineira fatura entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão
por ano. Com isso, observa-se a importância dessa atividade não somente em relação à geração de
emprego e renda e na geração de impostos, mas também porque ela dinamiza uma série de
atividades que estão atreladas a ela direta ou indiretamente.
A extração do sal marinho teve uma expansão no final dos anos 1960 e atrelado a isso a
aceleração na produção, mediante o crescimento e a modernização do setor tecnológico, sendo que
tal avanço propiciou e provoca até hoje impactos ambientais (IDEMA, 2014).
Barbieri (2007) refere-se a impacto como: às alterações no meio ambiente físico, biótico e
social decorrentes de atividades humanas em andamento ou propostas. Sendo que os impactos
podem gerar consequências positivas e/ou negativas, mas que há uma tendência em associá-los
somente aos resultados negativos sobre os elementos do ambiente natural e social.
Entre os principais impactos ambientais resultantes da extração do sal marinho pode-se citar:
O comprometimento do ar com o aumento das partículas quando as águas das salinas entram em
evaporação; Alterações dos solos devidos os cursos d‘águas ao qual é produzido o sal e descartadas
na maioria das vezes sem respeito ao meio ambiente; As águas sofrem alterações devidas aos
desvios dos rios, contribuindo também para a degradação do habitat marinho daquela região;
Comprometimento da flora onde estão inseridas as salinas. Assim, como a morte dos mangues já
que as salinas estão inseridas nesse tipo de ecossistema; e a alteração paisagística, em virtude da
supressão vegetal realizada para instalação e operação do empreendimento.

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Diversas modificações são provenientes devido às ações destas empresas, tendo em vista
que causam significativas ameaças ao desenvolvimento local sustentável. Portanto, objetivando um
auxilio quanto ao desenvolvimento das atividades práticas necessita-se avaliar os impactos
ambientais destas ações como forma de promover um manejo adequado dos recursos naturais
(RODRIGUES e CAMPANHOLA, 2003).
De acordo com Tinoco e Kraemer (2011), a carência de informação das empresas sobre os
impactos de suas atividades no meio ambiente ou mesmo a busca por interesses próprios, vem
acarretando diversos efeitos à sociedade, por exemplo: o esgotamento dos recursos naturais e as
mudanças climáticas, cada vez mais aceleradas, ocasionando consigo um desequilíbrio ambiental, e
consequentemente, altamente danoso para a economia.
Por outro lado, ainda conforme os mesmos autores, quando se observa as empresas com
maior consciência ambiental, verifica-se que suas atividades são realizadas de modo diferenciado,
seguindo os padrões que o mercado exige tanto do ponto de vista econômico como ambiental,
visando a promoção do desenvolvimento sustentável.
De acordo com Macedo (2002) o desenvolvimento não deve ser entendido apenas pela
eficiência econômica e proteção ambiental, porém este cenário deu origem ao conceito de
desenvolvimento sustentável, de modo a levar em consideração a igualdade social. Logo,
relacionou-se a proteção do meio ambiente com o crescimento econômico e melhoria do bem-estar
social.
Com isso, na tentativa em minimizar e até mesmo anular possíveis danos significativos à
qualidade ambiental, Seiffert (2009) expõe que a qualidade de vida do homem é uma consequência
direta da qualidade ambiental. Ambas são interdependentes e relacionam-se diretamente com a
questão econômica.
Entre as inúmeras metodologias que vislumbram avaliar a magnitude e significância dos
impactos ambientais temos a matriz de interação, a qual vem sendo utilizada amplamente em
distintos estudos e atividades impactantes. De acordo com Mota e Aquino (2002), a Matriz tem sido
utilizada procurando associar os impactos de uma determinada ação de um empreendimento com as
diversas características ambientais de sua área de influência. Ainda segundo os mesmos autores, o
procedimento concede um breve diagnóstico, ainda que preliminar, das questões ambientais
envolvidas num dado projeto. É amplo, pois envolve aspectos físicos, biológicos e
socioeconômicos.
Deve-se considerar que a proposição de medidas voltadas a redução dos efeitos indesejáveis
faz parte do processo de avaliação dos impactos ambientais, uma vez que a aplicação das mesmas
irá interferir na avaliação das reais alterações ambientais a serem observadas na área de influência
da atividade, devendo ser considerado o princípio da precaução.

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Em relação à extração de Sal, Mossoró possui todos os fatores naturais propícios para a
produção de sal marinho, dentre as quais estão: ventos fortes e constantes, clima, salinidade da água
do mar, e, além disso, a região está estrategicamente entre áreas propícias, tendo um porto a
disposição para escoamento de parte da produção (ALBUQUERQUE, 2016).
Diante do exposto, objetiva-se identificar os impactos ambientais oriundos da atividade
salineira em Mossoró/RN, mediante a elaboração de uma matriz de avaliação de impactos
ambientais, tal como propor medidas mitigadoras frente ao cenário identificado.

METODOLOGIA

Área de Estudo

O município de Mossoró localiza-se na Mesorregião Oeste Potiguar, abrangendo uma área


de 2.099,333 km². Apresenta uma densidade demográfica de 139,06 hab/km² e com população
estimada em 291.937 habitantes, sendo o segundo mais populoso do Estado, ficando atrás somente
da capital, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE de 2016.
Dentre as 30 salinas em funcionamento no Rio Grande do Norte, tem-se a Salina São
Camilo Ltda. (Figura 1), situada no município de Mossoró-RN, e conta com uma área de 1200 ha
(dados não publicados e repassados pelo consultor do empreendimento), e que junta com as demais
proporciona cerca de 15 mil empregos diretos e 50 mil diretos, além de comercializar cerca de 180
mil toneladas de sal marinho por ano, em suas mais variadas formas (SERV SAL NORDESTE,
2015).

Figura 7: Localização da zona Salineira do Rio Grande do Norte, tal como da Salina São Camilo, Mossoró-
RN. Fonte: Adaptado de Costa et al., 2013.
Segundo o Sindicato da Indústria e Extração de Sal (SIESAL, 2013) as indústrias salineiras
situadas na região de Mossoró-RN possuem uma importância significativa no mercado nacional.
Com isso, a produção industrial do setor sofre uma forte intervenção humana o que,

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consequentemente, provoca impactos ao meio ambiente, comprometendo ecossistemas como


também a qualidade de vida do homem. Logo a prática de extração do sal marinho é um dos
principais componentes que agridem o meio ambiental onde estas salinas estão inseridas (IDEMA,
2014).
Ainda neste tocante, o SIESAL (2013), menciona que as Indústrias Salineiras possuem suas
produções diretamente relacionadas ao clima, pois à fabricação de sal precisa de um clima com
intensidade baixa de chuvas.
Segundo a Norte Salineira S/A Indústria e comércio NORSAL (2014), o processo de
extração do sal marinho divide-se em três etapas: a concentração da água do mar, a cristalização do
cloreto de sódio e a colheita e lavagem, de acordo com a Figura 2, observa-se o fluxograma das
atividades realizadas pela salina.

Figura 2: Fluxograma de atividades da salina.


Fonte: CIMSAL, 2016.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os métodos de Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) são utilizados para determinar de


forma precisa à significância de uma alteração ambiental e com o intuito de facilitar sua abordagem.
Além disso, são mecanismos estruturados visando analisar os impactos ambientais de uma proposta
oriundos de uma atividade. As matrizes de interação de impactos constituem-se em uma listagem
abrangente de fatores ambientais e das atividades de um projeto, dispostos de uma forma matricial,
onde as relações de causa e efeito são identificadas pelo cruzamento destas informações.
Em outras palavras, são instrumentos formais e predefinidos, com o objetivo de determinar a
magnitude e a importância dos impactos. As matrizes de interação caracterizam-se por serem muito
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flexíveis, adaptando-se às diversas situações, em que devem ser contemplados os aspectos do meio
físico, biótico e socioeconômico dos projetos a serem avaliados.
Neste sentido, o processo de AIA pode ser definido como um conjunto de procedimentos
concatenados de maneira lógica, com a finalidade de analisar a viabilidade ambiental de planos e
programas e fundamentar uma decisão a respeito (SANCHEZ, 2006).
Diante dos tipos de atividades existentes no empreendimento optou-se por realizar
levantamento prévio, estabelecendo relação de causa e efeito, identificando atividade, aspecto e
impacto ambiental.
Portanto, observa-se que nesta etapa do estudo ambiental são atribuídos mensuração dos
impactos, na qual para a classificação dos impactos da Matriz de Leopold utiliza-se a equação (1), a
qual foi utilizada para determinar o impacto total, juntamente com os valores como indica a de
valorização de impactos (Quadro 1):

Quadro 1: Valorização de impactos.


Valorização do impacto
Caráter (Ca) Positivo (1) Neutro (0) Negativo (-1)
Importância (I) Alta (3) Média (2) Baixa (1)
Cobertura (Co) Regional (3) Local (2) Pontual (1)
Duração (D) Permanente (3) Média (2) Curta (1)
Reversibilidade (R) Irreversível (3) Parcial (2) Reversível (1)

IT = Ca x (I + Co + D + R) (1)

Diante do prognóstico dos impactos significativos identificados pela matriz foram propostas
medidas mitigadoras ou compensatórias para os impactos adversos ou significativos, sendo
proposto um plano de ação ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Almejando facilitar a compreensão da relação de causa e efeito, tem-se a Tabela 1, a qual


apresenta as principais atividades, aspectos e impactos ambientais provenientes da salina em estudo.

Tabela 5: Atividades, aspectos e impactos ambientais da Salina em Mossoró-RN


ASPECTOS AÇÃO IMPACTOS
Captação de água Utilização de bombas Consumo de energia
Emissão de gases decorrente do uso do
Colheita do sal Contaminação da atmosfera
maquinário
Secagem do sal Uso de esteira para empilhamento Consumo de energia
Moagem do sal Uso de moinho Consumo de energia
Emissão de gases decorrente do uso do
Transporte Contaminação da atmosfera
maquinário
Geração de efluente/ geração de resíduos
Apoio aos trabalhadores Contaminação do solo/ lençol freático
sólidos
Lavagem de maquinário Efluente contendo óleos e graxas Contaminação do solo/ lençol freático

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Abastecimento de veículos Uso de combustível Contaminação do solo/ lençol freático


Manutenção de maquinário Resíduos sólidos, liberação de óleos e graxas Contaminação do solo/ lençol freático
Manuseio de transportes Mão de obra Geração de emprego e renda
Distribuição do sal Comercialização do sal Dinamização do setor comercial

Os processos de avaliação de impactos ambientais são essenciais, imprescindíveis e


obrigatórios para todas as atividades ou empreendimentos que possam causar ou causem
significativos danos ao meio ambiente, mediante consumo e/ou degradação dos recursos naturais.
Diante disso, elaborou-se uma matriz de interação de impactos da atividade salineira, elencando
potenciais e efetivos impactos resultantes da etapa de operação do mesmo, conforme a Figura 3.

Fatores
Características Físicas e Quinicas Condições Biológicas Relações
Culturais
Ecológica
Terra Água Atmosfera Processos Flora Fauna “Status” Cultura s

Animais terrestres, incluindo os répteis


Qualidade (gases, particulados)
Materiais de Construção

Densidade populacional
Características Físicas

Usurpação de matas
Saúde e segurança

Cadeia alimentar
Superficial

Empregos
Qualidade

Arbustos
Recarga

Árvores
Erosão
Solos

Aves
Modificação de Habitat -7 -9 -11 -7 0 -4 0 -10 -4 -6 -8 -5 0 0 0 -6 -6

Alteração da Cobertura do
-10 -5 -10 -8 0 -8 0 -10 -5 -5 -4 -4 0 0 0 0 0
Modificações de Regime

Solo
Alteração do balanço
0 0 0 -9 0 -9 0 0 -4 -4 -4 -4 0 0 0 -4 0
hidrológico

Alteração da drenagem 0 -9 0 -9 0 -9 0 -8 -6 -6 0 0 0 0 0 0 0

Pavimentação de
0 -10 0 -10 0 -10 0 -8 -4 -4 0 -4 0 5 0 0 0
superfícies

Emissão de gases 0 -5 -5 -6 -8 -8 -10 0 -4 -4 -6 -5 -10 0 0 -8 0


Ações de Projeto

Ruídos ou vibração 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -4 -5 -4 0 0 0 0
Transformação do Espaço e

Aterro 0 0 -5 -5 0 -10 0 6 0 0 0 -4 0 5 0 -4 0

Rede de esgoto 0 0 -6 -6 0 -8 0 0 0 0 0 0 8 5 0 0 0
Construção

Núcleos urbanos 0 0 -7 -7 -8 -8 -9 0 0 0 0 -8 -6 5 -8 0 0

Energia 0 0 -8 0 0 0 0 0 0 0 0 -4 0 5 0 0 0

Escavações de superfície 0 -5 -9 -7 0 -5 0 -9 -5 -6 0 -4 0 5 0 -4 -4

Automóveis 0 0 0 -5 -5 0 -8 0 0 0 0 -4 0 0 6 0 0
Alteração no
Tráfego

Pirâmides de sal 0 -5 -6 -6 -6 -8 0 0 0 0 0 -5 0 0 0 -5 0

Máquinas pesadas -10 -5 -10 -8 0 -8 0 -10 -5 -5 -4 -4 0 0 0 0 0

Figura 3: Matriz de avaliação de impactos oriundo da atividade salineira em Mossoró.

Com isso, analisou-se que a atividade salineira interfere fortemente no desenvolvimento


econômico do país e estado, como também no tocante aos fatores sociais, uma vez que é
significativa fonte de emprego e renda.

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Segundo Bezerra et al. (2012) existem alguns impactos ambientais diretamente negativos,
que podem ser oriundos da produção do sal, em que destacam-se: a remoção da cobertura vegetal e
alteração das camadas de solo, além dos impactos sobre a fauna silvestre regional, decorrentes da
destruição do seu habitat, bem como a degradação do solo e águas, em virtude da disposição
inadequada dos rejeitos da produção do sal.
Além disso, observou-se por meio da matriz de interação que o meio abiótico foi o mais
afetado em que as características físicas e químicas sofreram interferência mediante todas as ações
de projeto (modificações do regime, transformação do espaço e construção, alteração no tráfego).
Em virtude do crescimento e a modernização do setor tecnológico e esse avanço provocou e
provoca até hoje impactos ambientais (IDEMA, 2014). Os principais fatores são: comprometimento
do ar, alterações dos solos, alterações em cursos d‘água e comprometimento da flora.
Segundo Bacci (2006), as consequências ambientais estão ligadas às diversas etapas de
exploração dos bens minerais, como: retirada da vegetação e o transporte e beneficiamento do
minério (geração de poeira e ruído), e assim, afeta direta ou indiretamente os meios físico, biótico e
antrópico.
Outros impactos que podem ser relacionados a esta atividade são: o desmatamento da
vegetação de nativa de Caatinga; fragmentação da paisagem; alteração da topografia local; emissão
de gases (oriundo dos tanques de decomposição de matéria orgânica e saprófitos) e particulados,
dentre outros.
De acordo com Ferreira, Miranda e Gomes (2015) a partir de um estudo dos impactos
ambientais provocados pela indústria salineira que, na verdade, são pouco citados, mas provocam
riscos à saúde de trabalhadores/moradores e grandes danos ao meio ambiente, entre outros:
interrupção de cursos d‘água, devastação de manguezais, salinização de áreas produtivas e férteis,
alteração da umidade da região pelo incremento da evaporação das salinas, alteração do ecossistema
marinho e terrestre com redução da fauna.
Diante dos impactos ambientais identificados tem-se a proposição de medidas mitigadoras e
compensatórias, conforme a Tabela 2, sendo estas distribuídas em compartimentos do ambiente,
visando compreender os aspectos identificados, os quais apresentaram impactos mais relevantes.

Tabela 2: Plano de ação para controle ambiental da atividade salineira em Mossoró-RN.


Compartimen
to do Aspecto Objetivo Ação
ambiente
Movimentação das Evitar a compactação Análises sistemáticas com o
máquinas do solo auxílio de uma sondagem
Físico Assegurar os níveis de
Desmatamento Monitorar a salinidade do solo
salinização
Lançamento de Proteção dos Construção de poços de coletas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

efluentes mananciais para posterior análise


Desmatamento/Ge Monitorar processos erosivos,
Aplicar um Plano de
ração de resíduos destinação de resíduos sólidos,
Controle Ambiental
sólidos cursos de água, drenagem.
Formar amortecedores Plantio de árvores no entorno dos
Desmatamento
naturais núcleos urbanos
Alteração do Preservar os canais
Construir barreiras artificiais
regime naturais de drenagem
Replantio de espécies nativas do
Modificação da Manter o habitat das
ecossistema (Mangue, Apicum e
área espécies
Caatinga)
Conscientizar sobre a
Transformação da
Biótico importância da fauna e Ações socioeducativas
cobertura do solo
flora
Um monitoramento sobre a
Extração das Levantar as espécies
expansão e cobertura na área
espécies nativas remanescentes
pesquisada
Manuseio de Assegurar emprego e Melhoria no padrão de qualidade
transportes renda de vida dos empregados
Ações socioeducativas voltadas
Sensibilizar os
Supressão vegetal para a importância da fauna e
trabalhadores
flora
Antrópico
Parcerias com empresas locais
Exploração das Ampliar a cultura e o
para alavancar o desenvolvimento
atividades locais turismo
local
Dinamização do Aperfeiçoamento da
Qualificação dos operários
setor comercial mão de obra

CONCLUSÃO

Embora a atividade salineira seja uma atividade de extrema importância no setor


socioeconômico, vale salientar que a extração do sal é vista como uma atividade passível de causar
significativos impactos ambientais. Se por um lado tem-se a geração de emprego e renda, em
contrapartida ocorre a degradação ambiental (meios físicos e bióticos), sendo que pode
comprometer o bem-estar socioambiental.
Por isso, a avaliação dos impactos ambientais gerados é de fundamental importância para a
prevenção de situações adversas, ou seja, os impactos negativos provocados pela ação humana
sobre um ecossistema vulnerável que causam danos humanos, materiais e ambientais, bem como
consequentes prejuízos econômicos e sociais.
No entanto, as características físicas foram as mais afetadas, pela modificação do regime,
seja paisagística e/ou estética da área, contudo, diante deste cenário cabe a proposição da
intervenção de tais impactos ocasionados pelo encerramento deste empreendimento, sendo
necessário que o ambiente seja recuperado.
Desta forma, destaca-se a necessidade de medidas que revertam os problemas ambientais
identificados ou que possam reduzir os impactos já causados, sejam estas estruturais ou não

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

estruturais, mitigadoras ou compensatórias, diminuindo assim as consequências negativas sobre o


meio ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ABSORÇÃO DO TEBUTHIURON EM SOLOS COM DIFERENTES TEORES DE


MATÉRIA ORGÂNICA PELO MÉTODO DE BIOENSAIO

Matheus Ferreira França TEIXEIRA


Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
teixeiramff@gmail.com
Jadson dos Santos TEIXEIRA
Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
jadsonteixeira@gmail.com
Evandro Marcos BIESDORF
Pós-graduando em Fitotecnia na UFV
evandromarcospva@hotmail.com
João Virgínio da SILVA NETO
Graduando do curso de Agronomia da UFAL
Jamesjvdsn@gmail.com

RESUMO
A atividade agrícola tradicional requer quantidade considerável de agrotóxicos, dentre os quais se
destaca a utilização dos herbicidas. O tebuthiuron é um herbicida residual amplamente utilizado na
cana-de-açúcar cultivada no sistema tradicional, em aplicações pré e pós-emergência das plantas
daninhas, para controle das principais espécies anuais infestantes à cultura. Todavia o
comportamento do herbicida tebuthiuron em solos com diferentes teores de matéria orgânica ainda
é pouco conhecido e estudado. Neste trabalho, foram estimadas a sorção do tebuthiuron em cinco
substratos de latossolo vermelho-amarelo, com diferentes teores de matéria orgânica (MO), que
variaram de 0,0 a 1,0 kg de MO/kg de solo. A partir do bioensaio, foram obtidos valores para a C50,
que variaram de 0,2932 a 0,9257 para a fitotoxicidade e de 1,0466 a 2,3926 para a massa seca
relativa, e para a razão de sorção, que variaram de 0,1390 a 2,5963 para a fitotoxicidade e de 0,4185
a 2,2428 para a massa seca relativa, sendo os valores mais altos apresentados pelo substrato com
maior teor de matéria orgânica. Desta forma, a partir dos resultados obtidos, observou-se que,
quanto maior o teor de matéria orgânica no solo, maior é a sorção no herbicida aos coloides do solo.
Palavras-chave: adsorção, controle químico, impacto ambiental.
ABSTRACT
Traditional agricultural activity requires a considerable amount of agrochemicals, among which the
use of herbicides stands out. Tebuthiuron is a residual herbicide widely used in sugarcane grown in
the traditional system, in pre and post emergence applications of weeds, to control the main annual
weed species. However, the behavior of the herbicide tebuthiuron in soils with different organic
matter contents is still little known and studied. In this work, sorption of tebuthiuron in five
substrates of red-yellow latosol, with different organic matter (OM), ranging from 0.0 to 1.0 kg of
MO / kg of soil was estimated. From the bioassay, values for C50 were obtained, ranging from
0.2932 to 0.9257 for phytotoxicity and from 1.0466 to 2.3926 for the relative dry mass, and for the
sorption ratio, ranging from 0.1379 to 2.5963 for phytotoxicity and from 0.4185 to 2.2428 for the
relative dry mass, the highest values being presented by the substrate with the highest organic
matter content. Thus, from the results obtained, it is seen that the higher the organic matter content
in the soil, the higher the herbicide sorption to the soil colloids.
Keywords: adsorption, chemical control, environmental impact.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 591


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO
Nos últimos dez anos, o mercado mundial de defensivos agrícolas cresceu cerca de 93%,
enquanto que o mercado brasileiro teve um crescimento de 190%. No segundo semestre de 2010 e o
primeiro semestre de 2011, o mercado nacional de agrotóxicos movimentou 936 mil toneladas de
produtos, de modo que os herbicidas representaram cerca de 45% do total de agrotóxicos
comercializados. Os fungicidas responderam por 14% do mercado nacional, os inseticidas 12% e as
demais categorias de agrotóxicos por 29% (ANVISA; UFPR, 2014).
O destino mais provável dos agroquímicos após sua inserção no ambiente é o solo, onde
podem sofrer processos físicos e químicos tais como retenção, lixiviação, volatilização,
fotodegradação, degradação (química e microbiológica), escoamento superficial e absorção pelas
plantas, os quais são responsáveis pelo destino destas moléculas no ambiente (OLIVEIRA e
BRIGHENTI, 2011).
O herbicida tebuthiuron, (N −[5 − (1,1 − dimetiletil) − , 1,3,4 − tiadiazole − 2 − il]− N, ' N −
dimetilureia) (BONATO et al., 1999), pertence à classe dos compostos derivados da uréia.
Apresenta solubilidade em água de 2500 µg mL-1 (WILLIAM, 1998), prolongada meia-vida no
solo, 360 dias em média, e baixo coeficiente de sorção (PESSOA et al., 1999). Apesar dos
herbicidas à base de uréia terem sido introduzidos a mais de seis décadas atrás, os compostos desta
classe ainda são amplamente aplicados em tratamentos pré e pós-emergência para controle de
plantas daninhas (MOLINS et al., 2000).
Uma vez que estes herbicidas são relativamente polares, eles podem lixiviar no perfil do
solo e acumular em baixas concentrações em águas superficiais e subterrâneas (GOGER et al.,
2001). Devido à capacidade da matéria orgânica do solo associar-se a outros compostos orgânicos,
muitos pesquisadores têm estudado a possibilidade de utilizar esse fenômeno para melhorar as
condições do solo, notadamente, no que diz respeito à sua capacidade de reter compostos orgânicos,
como pode ser observado nos trabalhos de Khandelwal e Rabideau (2000).
A resistência e magnitude com que moléculas de herbicidas são adsorvidas à matéria
orgânica presente no solo sofrem influência das características químicas e físicas dos adsorventes,
da natureza dos herbicidas, das propriedades do "sistema do solo" como quantidade e tipo de argila
mineral, pH, quantidade e carga dos cátions trocáveis, temperatura e umidade (STEVENSON,
1972).
A sorção é um importante parâmetro que pode ser utilizado para avaliar o potencial risco de
contaminação de águas superficiais e subterrâneas (SILVA et al., 2010). A compreensão dos
processos de sorção de um herbicida no solo possibilita identificar a natureza das forças que retêm
as moléculas do herbicida no solo e da ligação herbicida-coloide do solo. (KOSKINEN &
HARPER, 1990; OLIVEIRA & BRIGHENTI, 2011).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 592


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A necessidade de estudos sobre a dinâmica dos herbicidas no ambiente e da avaliação de


risco desses compostos nas mais diversas condições de solo demanda manejos diferenciados,
visando à manutenção dos sistemas de produção. Com isso, objetivou-se nesse trabalho avaliar o
efeito da matéria orgânica nos processos de sorção do herbicida tebuthiuron por método biológico,
visando recomendações técnicas seguras desse herbicida do ponto de vista agronômico e ambiental.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em casa de vegetação, no campus da Universidade Federal de


Viçosa. Foi utilizados amostra de um latossolo vermelho amarelo, da cidade de Viçosa-MG, com 5
diferentes teores de matéria orgânica, as quais foram provenientes de esterco bovino. Para isso, o
solo foi misturado de forma homogênea com o esterco bovino e incubado por um período de 15
dias, de forma a se obter solos com os seguintes teores de matéria orgânica: 0,0; 0,250; 0,500; 0,750
e 1,00 kg de MO kg-1 de solo. A Tabela 1 e a Tabela 2 apresentam os dados das análises químicas e
físicas de cada substrato.

Tabela 1 - Dados das análises químicas de cada substrato. Universidade Federal de Viçosa, 2017.
pH P K Ca Mg Al H+ Al
Substrato -3 -3
(H2O) ------(mg dm )-------- ---------------------(cmolc dm )----------------------
1 5,4 1,2 30 0,3 0,3 0 3,1
2 5,73 1,9 44 0,8 1,8 0 4
3 5,14 2,8 42 0,8 1,99 0 3,9
4 4,78 2,6 43 0,7 2,3 0 4,7
5 5,65 2,6 48 0,9 2,45 0 4,3
SB (t) (T) V m MO p-rem
Substrato
------------(cmolc dm-3)----------- ----------(%)-------- (dag.kg-1) (mg L-1)
1 3,14 0,68 17,64 18 0 1,55 23,9
2 5,8 15,8 19,8 79,8 0 2,84 36,7
3 6,52 16,52 20,32 80,8 0,06 3,97 32
4 6,22 15,22 22,82 76,3 0,07 6,35 38,4
5 7,74 14,74 25,04 77,4 0 7,28 38,4

Tabela 2 - Dados das análises físicas de cada substrato. Universidade Federal de Viçosa, 2017.
Argila Silte Areia
Substrato Classe textural
------------------------------------(%)-------------------------
----------
1 39 12 49 Argiloso
2 41 13 46 Argiloso
3 41 12 47 Argiloso
4 43 15 42 Argiloso
5 45 15 40 Argiloso

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 593


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado em um fatorial 11 x


6 com três repetições, onde o fator A constitui-se em doses de tebuthiuron (0,0; 0,125; 0,250; 0,375;
0,500; 0,625; 0,750; 0,875, 1,0; 1,125 e 1,250 kg ha-1) e o fator B constitui-se de diferentes teores
de matéria orgânica (0,0; 0,250; 0,500; 0,750 e 1,00 kg de MO/kg de solo) + substrato inerte (areia).
Para a realização do método biológico, foi utilizada areia como substrato inerte.
Inicialmente, a areia foi peneirada em malha de 2,0 mm de diâmetro. Em seguida, ela foi tratada
com uma solução de ácido clorídrico, de grau analítico, na proporção de 600 mL de ácido para cada
10 L de água, em baldes de polietileno. Foram tomados os devidos cuidados de manter uma lâmina
de cerca de 10 cm da solução acima do ácido. Após o tratamento, a areia foi lavada com água
corrente, para retirar o excesso de ácido, até atingir um valor de pH próximo de 7.
Após o preparo do substrato inerte, foram preparados os tratamentos, onde foram utilizados
copos plásticos para a execução dos experimentos. Em cada um dos copos foram colocadas
amostras dos solos encubado com os diferentes teores de matéria orgânica, e também foram
realizados ensaios com a areia, sendo que todos os copos possuem a mesma massa dos substratos.
Após o preparo das amostras, foram aplicadas as doses do herbicida tebuthiuron sobre os
copos, de acordo com o delineamento experimental definido. O tebuthiuron foi aplicado com
pulverizador de alta precisão pressurizado a CO2, TTI 110.02. Após aplicação do herbicida foi
realizada a sua homogeneização em toda a amostra do solo.
Após a realização da homogeneização, foi realizado o plantio da espécie bioindicadora, onde
foram semeadas 4 sementes de pepino (Cucumis sativus), selecionada em ensaio preliminar como
planta indicadora da presença do herbicida no solo. As sementes foram plantadas a cerca de 3 cm no
solo. A umidade do solo nos vasos, durante a condução do método biológico, foi mantida próxima à
capacidade de campo, sendo os copos pesados diariamente. Foi aplicada uma solução nutritiva
como complementação para as plantas, sendo essa aplicação dividida em três, durante a condução
do experimento em casa de vegetação. A verificação da sorção do tebuthiuron foi avaliada por
método indireto, avaliando-se o índice de intoxicação da planta bioindicadora aos 7, 14 e 21 dias
após a aplicação (DAA).
A determinação da intoxicação da planta foi realizada através da atribuição de notas de 0
(ausência de intoxicação) a 100 (morte da planta) de acordo com escala da EWRC (1964)
modificada. Aos 21 DAA, foi medida a altura das plantas e estas foram seccionadas rente ao solo,
acondicionadas em sacos de papel e levadas a estufa de circulação forçada de ar (70 ± 2 ºC), até
atingir uma massa constante, determinando-se, assim, a massa da matéria da parte aérea (MSPA)
das plantas. Os valores obtidos para estes parâmetros foram comparados a uma testemunha, que é
um ensaio em que não há a aplicação do herbicida. A quantificação dos resíduos do tebuthiuron no
solo foram realizadas através da curva de dose-resposta da matéria seca da espécie indicadora. Os

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 594


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valores obtidos foram ajustados ao modelo log-logístico não-linear proposto por Seefeldt et al.
(1995):

(1)

Em que C e D correspondem ao nível máximo e mínimo da curva de dose-resposta; b, ao


declive da curva em torno do C50; e o C50, à dose-resposta referente à redução de 50% da massa de
matéria seca da planta indicadora.
A partir dos dados obtidos de C50 para cada solo e para areia, foi calculada a relação de
sorção (RS) do solo em relação à resposta obtida em areia para a espécie indicadora (SOUZA,
1994):
(2)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1 são apresentados os gráficos de porcentagem de fitotoxicidade para 21 dias em


função das doses de tebuthiuron aplicadas.

120 120

100 100
Fitotoxicidade (%)

Fitotoxicidade (%)

80 80

60 60

3 7 8994 6 5 5
𝑦 8994 𝑅 99 𝑦 9 𝑥 𝑅 99
40 𝑥 40 ^ 3 99
93 ^ 58 3 76

20 20

0 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
-1
Doses tebuthiuron (kg ha ) Doses tebuthiuron (kg ha-1)

A B
120 120

100 100
Fitotoxicidade (%)

Fitotoxicidade (%)

80 80

60 60

40 8 5 35 4589 40
𝑦 3 36 8 𝑥 𝑅 98 7 8 56 4589
𝑦 4589 𝑅 98
5 3 ^ 78 5 𝑥 6545
20 20 748

0 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

Doses tebuthiuron (kg ha-1) Doses tebuthiuron (kg ha-1)

C D

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120 120
4 84 8 489
𝑦 8 484 𝑥 𝑅 98
9 57 ^8 7 9
100 100
Fitotoxicidade (%)

80

Fitotoxicidade (%)
80

60
60

40 8 3 4 38
40 𝑦 4 38 𝑥 𝑅 99
20
574 ^ 795
20

0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
Doses tebuthiuron (kg ha-1)
Doses tebuthiuron (kg ha-1)

E F
Figura 1 - Gráficos de porcentagem de fitotoxicidade aos 21 dias após a aplicação do tebuthiuron na planta
bioindicadora em função das doses de tebuthiuron aplicadas. (A) Substrato 1; (B) Substrato 2; (C) Substrato
3; (D) Substrato 4; (E) Substrato 5; (F) Areia.

Na Tabela 3 são apresentados os valores de C50 e da razão de sorção (RS) para cada
substrato baseadas na avaliação da fitotoxicidade.

Tabela 3 -Valores de C50 e da Razão de sorção (RS) para cada substrato baseadas na avaliação da
fitotoxicidade. Universidade Federal de Viçosa, 2017.
Substratos C50 RS
1 0,2932 0,1390
2 0,3076 0,1950
3 0,5230 1,0318
4 0,6545 1,5442
5 0,9257 2,5963
Areia 0,2574 0,0000

Observou-se que o valor da C50 para a areia foi o menor valor encontrado, o que era
esperado, visto que, neste substrato o herbicida encontra-se totalmente disponível para a planta
bioindicadora, necessitando de uma menor concentração do herbicida para gerar uma porcentagem
de fitotoxicidade de 50% (Figura 1; Tabela 3). Notou-se também que à medida que o teor de
matéria orgânica aumenta, a C50 também aumenta, pois, o herbicida vai ficando mais sorvido no
solo, ou seja, ficando menos disponível para a planta bioindicadora.
Foi realizada, também, a avaliação da massa seca da parte aérea relativa da planta
bioindicadora. Na Figura 2 são apresentados os gráficos de porcentagem de massa seca relativa em
função das doses de tebuthiuron aplicadas.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 596


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

97 89 3 36 9
120 𝑦 73 36 9 𝑥 𝑅 98 120
^ 4
466
95 833 7 65
𝑦 7 65 𝑅 99
100 100
𝑥 464 ^ 6 5
Massa seca relativa (%)

Massa seca relativa (%)


80 80

60 60

40 40

20 20

0 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4

Doses tebuthiuron (kg ha -1) Doses tebuthiuron (kg ha-1)

A B
98 58 66 8
99 4 63 86 𝑦 66 8 𝑅 98
120 𝑦 63 86 𝑅 97 120 𝑥
4 4 ^ 3
𝑥 7 43 ^ 5 3 3

100 100

Massa seca relativa (%)


Massa seca relativa (%)

80
80

60
60

40
40

20
20

0
0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 Doses tebuthiuron (kg ha-1)
Doses tebuthiuron (kg ha -1)
D
C
120 120
97 5949 55 88 4
𝑦 55 88 4 𝑥 𝑅 98
100 100 7378 ^ 574
Massa seca relativa (%)
Massa seca relativa (%)

80
80

60
60

40
40

20
20

0
0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4
Doses tebuthiuron (kg ha -1)
Doses tebuthiuron (kg ha -1)

E F

Figura 2 - Gráficos de porcentagem de massa seca relativa aos 21 dias após a aplicação do tebuthiuron na
planta bioindicadora em função das doses de tebuthiuron aplicadas. (A) Substrato 1; (B) Substrato 2; (C)
Substrato 3; (D) Substrato 4; (E) Substrato 5; (F) Areia.

Na Tabela 4 são apresentados os valores de C50 e da razão de sorção (RS) para cada
substrato baseadas na avaliação da massa seca relativa.

Tabela 4-Valores de C50 e da Razão de sorção (RS) para cada substrato baseadas na avaliação da
massa seca relativa. Universidade Federal de Viçosa, 2017.

Substratos C50 RS
1 1,0466 0,4185
2 1,2464 0,6893
3 1,7143 0,9765
4 2,1424 1,9037

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 597


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5 2,3926 2,2428
Areia 0,7378 0,0000

Verificou-se que o valor da C50 para a areia foi o menor valor encontrado, o que era
esperado, visto que neste substrato, o herbicida encontra-se totalmente disponível para a planta
bioindicadora, necessitando de uma menor concentração do herbicida para gerar uma redução de
50% na massa seca (Figura 2; Tabela 4). Observou-se também que à medida que o teor de matéria
orgânica aumenta, a C50 também aumenta, pois, o herbicida vai ficando mais sorvido no solo, ou
seja, ficando menos disponível para a planta bioindicadora. Isso ocorre porque, para a grande
maioria dos solos brasileiros, a sorção de herbicidas básicos e não iônicos está relacionada à CTC
do solo e ao teor de carbono orgânico.
A maior sorção do tebuthiuron está relacionada ao maior teor de matéria orgânica, pela
maior superfície específica e sítios de adsorção disponíveis no solo (KEARNS et al. 2014). De uma
forma geral, a interação do herbicida pelos colóides do solo ocorre por meio das interações de
superfície, como ligações de hidrogênio e interações de Van der Waals (CLAUSEN et al. 2001;
KOVAIOS et al., 2006 e VIVIAN et al. 2007), podendo ligar-se a grupos hidroxílicos e
carboxílicos disponíveis (LIAO et al. 2014).

CONCLUSÃO

Analisando os valores de C50 encontrados para o tebuthiuron nos substratos com baixo e alto
teor de matéria orgânica, pode-se dizer que este herbicida adsorve preferencialmente na matéria
orgânica, o que nos levam a crer que em solos com baixo teor de matéria orgânica, este herbicida
pode ser lixiviado para outras camadas do solo e até mesmo para o lençol freático

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 600


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ESTUDO DA EROSÃO MARINHA E VULNERABILIDADE DAS PRAIAS DA


PAJUÇARA E PARTE DA PONTA VERDE, MACEIÓ-AL

Kedyna Luanna Tavares BEZERRA


Graduanda em Engenharia Ambiental da UFAL
kedyna.luana@gmail.com
Rochana Campos de Andrade Lima SANTOS
Profa Dra. CTEC e do PPG em Geografia da UFAL
rca.lima@hotmail.com
Clyvia Roberta Gomes de SOUZA
Graduanda em Engenharia Ambiental da UFAL
clyviaroberta@gmail.com
Odete Thais Freitas Alves de MELO
Graduanda em Engenharia Ambiental da UFAL
odete.melo@hotmail.com

RESUMO
O processo erosivo no litoral do município de Maceió vem sendo desencadeado desde a década de
80. Santos (2004) verificou que a Pajuçara era o trecho mais crítico do ponto de vista da erosão
costeira no município de Maceió havendo assim, processo de destruição de muros de contenção
localizados na orla. Esse trabalho tem como objetivo apresentar a caracterização morfodinâmica da
praia da Pajuçara e parte da praia da Ponta Verde, através da análise de perfis de praia, assim, será
identificado áreas de erosão, deposição e bem como quantificar o volume de sedimentos
transportados, considerando a dinâmica natural e as características das praias. Também serão
levantados os impactos produzidos pelo homem, e a determinação do grau de vulnerabilidade das
praias, considerando-se o uso e ocupação. Assim foi um plano de continuidade dos estudos sobre a
evolução da linha de costa associada ao grau de desenvolvimento urbano das praias de Maceió,
desenvolvido por Santos (2004). Onde foi verificado que as ondas que ali chegam sofrem difração
no recife de franja, que foi intensificada pela retirada da linha de recifes e pela construção do clube
Alagoinha, apresentando assim estágio de erosão, agravada pela ausência da pós-praia. Para isso
foram realizados perfis morfológicos e com base nos levantamentos destes perfis atuais e
comparados com o trabalho realizado anteriormente por Santos (2004). A praia da Pajuçara
apresenta uma tendência erosiva nos pontos P1 e P3, influenciada pela construção como calçadas,
muros e bares sobre o pós-praia, que além de agredir a paisagem, contribuem para aumentar o
déficit de sedimentos. No ponto P2 observou-se uma deposição de sedimentos, provavelmente
provocada pela retida da ponte do Clube Alagoinha em 2005.
Palavras-chave: Erosão, Sedimentologia, Dinâmica costeira, Vulnerabilidade.
ABSTRACT
The erosion process in Maceió‘s coastline has been happening since the 1980‘s. Santos (2004) saw
that Pajuçara had the most critical erosion spot in the county, resulting in the destruction of
beaches‘ retaining walls. This study aims to present the morphodynamic characterization of
Pajuçara‘s beach and part of Ponta Verde‘s beach through analysis of the beaches‘ profiles so
erosion and deposition areas can be identified as the volume of transported sediments, whereas
natural dynamic and beaches‘ characteristics. Anthropic impacts were also considered to determine
beaches‘ vulnerability, whereas the area use and occupation. This study is a complement of the

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 601


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

studies realized by Santos (2004) relating the coastline evolution with the urban development rate in
Maceió‘s beaches. It was verified that waves that get there undergo diffraction in fringing reef
which was intensified by the withdrawal of reef e by the construction of Alagoinha club, presenting
an erosion state aggravated by the absence of the backshore. To do that, nowadays morphological
profiles were compared to the ones previously studied by Santos (2004). Pajuçara‘s beach presents
an erosion tendency in spots P1 and P3, influenced by the construction of sidewalks, retaining walls
and bars on the backshore that contributes to the rise of sediments‘ deficit besides the environment
aggression. In spot P2, it was observed a sediment deposition, probably caused by the withdrawal of
Alagoinha club‘s bridge in 2005.
Keywords: Erosion, Sedimentology, Coastal Dynamic, Vulnerability.

INTRODUÇÃO

As condições geológicas e geomorfológicas, juntamente com a dinâmica costeira durante o


quaternário, originaram as feições morfológicas presentes na planície costeira atual. Os recifes de
arenito e os de coral e algas constituem feições morfológicas importantes na distribuição dos
sedimentos e mudanças na morfologia costeira (Santos, 2004).
Para Santos (2004), as praias têm sua morfologia condicionada aos processos
hidrodinâmicos que são responsáveis pela erosão, transporte e deposição de sedimentos ao longo da
costa e também pelo tipo de sedimento que as compõem. A variação de energia desses processos
costeiros durante um curto período de tempo imprime às praias, mudanças morfológicas.
O ambiente costeiro maceioense vem sendo ocupado desde a colonização para diversos fins,
passando por modificações contínuas e progressivas e concentrando atividades econômica,
industrial, recreação e de turismo, tendo como consequência, variações diversas inclusive na linha
de costa.
O processo erosivo no litoral do município de Maceió vem sendo desencadeado desde a
década de 80. Santos (2004) verificou que a Pajuçara era o trecho mais crítico do ponto de vista da
erosão costeira no município de Maceió havendo assim, processo de destruição de muros de
contenção localizados na orla.
A erosão das praias é geralmente ocasionada por processos naturais, a ação das ondas e dos
ventos, que atuam sobre os sedimentos fazendo com que eles sejam erodidos, transportados e/ou
depositados. Esse processo pode ser intensificado por ações antrópicas, ou seja, desencadeadas pelo
homem. (NORDSTROM, 2010).
O grau de vulnerabilidade à erosão costeira está diretamente correlacionado ao
deslocamento da linha de costa, a estabilidade da praia, aos processos hidrodinâmicos,
morfodinâmicos e sedimentares, as intervenções antrópicas e ao grau de urbanização (COUTINHO,
et al, 2001).

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Assim, tem-se por finalidade compreender, analisar a configuração morfológica e dinâmica


das Praias da Pajuçara e parte da Ponta Verde, que possibilitará subsídios à erosão costeira, e por
fim o grau de vulnerabilidade.

METODOLOGIA

Com base na diversidade de informações coletadas durante esse trabalho, decidiu-se por
subdividir a metodologia em levantamento bibliográfico e cartográfico, trabalho de campo e
laboratório, de maneira a organizar e demonstrar com maior clareza as etapas desenvolvidas e por
fim, a classificação do grau de vulnerabilidade.

- Levantamento bibliográfico e cartográfico

Inicialmente, foram coletadas informações pretéritas em fontes primárias, a qual inclui


documentos públicos e privados, material cartográfico, entre outros; e também em fontes
secundárias, onde estão inclusas, teses, dissertações, artigos, livros, jornais que fornecessem
informações relacionadas ao tema, além de dados e resultados já obtidos em pesquisas anteriores
sobre a área de estudo. Na sequência, utilizaram-se estas informações para construção das bases
conceituais dos procedimentos metodológicos desenvolvidos neste trabalho.
Posteriormente, foi montada uma base cartográfica na escala 1:100.000, com base nos
mapas topográficos, cartas náuticas e fotografias aéreas. Esta base serviu de apoio à realização dos
trabalhos de campo e para a apresentação final.
Todos os dados meteorológicos, dos recursos hídricos e hidrodinâmicos (correntes e marés),
foram coletados da bibliografia e sites, entre outros.

- Trabalho de campo

As atividades realizadas durante os trabalhos de campo consistiram na execução de


levantamentos topográficos e coletas dos sedimentos ao longo dos 2,8 km de extensão distribuídos
nas praias de Pajuçara e parte da Ponta Verde, limitada ao sul pelo porto de Maceió e ao norte pelo
recife de franja da Ponta Verde.

- Levantamento topográfico

Com a base cartográfica montada, admitimos para realização dos perfis praiais 3 (três)
pontos, perpendiculares à linha de costa, estes já utilizados em trabalhos anteriores, possibilitando a
comparação dos dados antigos com os atuais. As etapas de campo foram realizadas sempre durante
as marés de sizígia, segundo a metodologia de Emery (1961), utilizando-se um nível topográfico,
mira, GPS, trena e bússola. Cada perfil teve seu nível de referência (RN), fixados em locais

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protegidos da ação das ondas, como próximos à postes, muros e calçadas, todos localizados na
região da pós-praia e altitude absoluta, referida ao zero hidrográfico, determinada através do
programa ―Per-Mare‖. As cotas, nos perfis, foram determinadas por visadas horizontais, efetuadas
com mira vertical. Estas referências foram utilizadas como pontos de partida para o
desenvolvimento dos perfis topográficos.

Figura 8: Mapa da localização dos perfis topográficos. Fonte: Autor, 2017.

Foram fotografados pontos da praia durante os trabalhos de campos para que se fizesse
possível o acompanhamento da alteração morfológica do perfil em um curto espaço de tempo.
A Figura 1 apresenta a localização dos perfis em campo, e o desenvolvimento dos
monitoramentos realizados trimestralmente (agosto de 2015 a outubro de 2016), nas praias de
Pajuçara e parte da Ponta Verde, pontos P1 (localizado em frente ao Hotel Solara), P2 (restaurante
Lopana) e P3 (próximo ao antigo clube Alagoinha), abrangendo as estações de inverno e verão, e
que a distância horizontal, em direção ao mar, teria seu início no nível de referência.

- Coleta dos sedimentos

Os sedimentos foram coletados trimestralmente (agosto de 2015 a outubro de 2016), nas


praias da Pajuçara e parte da Ponta Verde, nos pontos P1, P2 e P3, em paralelo com o levantamento
topográfico. Correspondendo cada setor do ambiente praial (pós-praia; praia e antepraia). As

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

amostras coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados, lacradas


para serem analisadas em laboratório.

- Etapa laboratorial

A etapa laboratorial foi realizada no Laboratório de Geofísica e Geologia das Engenharias


da Universidade Federal de Alagoas, onde as amostras passaram por dois processos: o peneiramento
úmido e o peneiramento seco. O primeiro visa separar as frações de cascalho, areia e finos (silte e
argila), permitindo uma classificação inicial dos sedimentos. O segundo tem o objetivo de
classificar a fração de areia em fina, média ou grossa com o auxílio do software SysGran. A
classificação das amostras, segundo sua granulometria, é feita de acordo com a ABNT NBR
6502/95.

Cascalho – Parcela que fica retida na peneira de 2mm, constituída por grãos de quartzo e
fragmentos de conchas.

Areia – Parcela que fica entre as peneiras de 0,063mm e 2mm. A areia pode ser ainda classificada
em fina, média ou grossa.

 Areia fina - Areia com grãos de diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 0,2 mm;
 Areia média - Areia com grãos de diâmetros compreendidos entre 0,20 mm e 0,60 mm;
 Areia grossa - Areia com grãos de diâmetros compreendidos entre 0,60 mm e 2,0 mm.

Finos – Parcela que passa pela peneira de 0,063mm. É composta por silte e argila. Neste trabalho,
silte e argila não foram separados, apenas quantificados como fração fina.

Em laboratório, as amostras coletadas eram colocadas separadamente em recipientes de


porcelana para serem levadas à estufa para total secagem do material. Quando secas, 100g de cada
amostra eram recolhidos para início do peneiramento úmido. Esses 100g são diluídos em água e
levados às peneiras de 0,063mm e 2mm para separar as frações de cascalho, areias e finos. As
partes que ficaram retidas nas peneiras de 0,063mm e 2mm são levadas novamente para a estufa
para que sequem completamente e se faça o peneiramento seco e a pesagem da fração de cascalho.
O peneiramento seco tem por objetivo separar as frações de areias. Somente o material que
ficou retido na peneira de 0,063mm é utilizado nesta etapa. Para isso, é utilizada uma série de
peneiras (1mm; 0,500mm; 0,250mm e 0,125mm) e um fundo que são colocados em um agitador
mecânico por dez minutos – é o peneiramento seco. Terminados os dez minutos, as parcelas de
areia que ficaram retidas em cada peneira e a que passou para o fundo são pesadas e os valores são
registrados em tabela. Esses valores são utilizados no software SysGran, que calcula parâmetros
estatísticos - classificação granulométrica da amostra, segundo Folk & Ward (1957).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

- Vulnerabilidade

A vulnerabilidade está associada a diversos processos costeiros em interação com as


características geomorfológicas, as variações do nível do mar, e a intervenção antrópica, sendo esta
última a mais prejudicial a área em estudo.
Entende-se por vulnerabilidade erosiva de um litoral, o quão frágil uma região é à ação dos
processos da dinâmica costeira (Albuquerque, 2009).
O problema da erosão costeira vem sendo observado em diferentes locais do mundo, sendo
considerado atualmente um fenômeno global (Bird, 1993). Com a intensa urbanização das orlas,
principalmente a partir da década de 1970, esse fenômeno passou a ser tratado não apenas pelos
estudos voltados para a compreensão dos processos físicos, mas também sob um enfoque
socioeconômico devido aos seus impactos sobre as construções urbanas (Lins-Barros, 2005).
A avaliação da vulnerabilidade é de suma importância para identificar as prioridades de
ocupação na área costeira. Para o estudo desse parâmetro foi adaptado o modelo de classificação de
Dal Cin & Simeone (1994), tendo sido atribuídos três índices de vulnerabilidade.

 Alta – ausência de pós-praia, o estirâncio ou praia é reduzido e há presença de estrutura de


proteção.
 Média – ocorre frágil estabilidade ou ligeira tendência a instabilidade (setor próximo ao
Alagoinhas, ás vezes com presença de vegetação de fixação.
 Baixa – onde há tendência a propagação de estirâncio ou pós-praia, o perfil é bem
desenvolvido e há ausência de obras de contenção.

Figura 2 – Mapa de Vulnerabilidade da área de estudo. Fonte: Autor, 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para melhor visualização dos parâmetros estudados, foram estabelecidas cinco bandas
(adaptado de Esteves & Finlk, 1998), figura 2, ressaltando na banda 4 a vulnerabilidade, onde foi
considera de ALTA vulnerabilidade o setor em frente ao restaurante LOPANA, onde pode ser
verificado um muro de contenção construído desde 2004 (figura 4).Foram considerados setores de
MÉDIA vulnerabilidade toda a parte norte da área em estudo, ou seja, do LOPANA até o antigo
Alagoinhas (figura 5).E o setor considerado como de BAIXA vulnerabilidade o extremo sul da área
em frente ao hotel Solara, que se encontra protegido pelas várias ampliações do porto de
Maceió/AL.

DISCUSSÕES

Os processos de erosão e deposição que ocorrem em uma praia são resultados de fatores
oceanográficos/hidrológicos, meteorológicos/climáticos, geológicos e antrópicos (Souza, 2005 apud
Souza, 1997). Os fatores oceanográficos/hidrológicos envolvem a ação dos ventos, ondas e marés,
bem como as correntes geradas por cada um desses agentes. Quando aos fatores
climáticos/meteorológicos tem mais influência em sua variação temporal e na atuação dos ventos,
modificam o comportamento do clima de ondas e nas correntes costeiras. Aos fatores geológicos
atuantes no litoral, os mais importantes são os processos sedimentares (erosão e deposição), além
destes, o homem também pode interferir diretamente nesses processos.
De acordo com Villwock (2005), as ondas chegam a praia gerando uma série de correntes
capazes de movimentar grandes quantidades de sedimentos. Esse movimento de areia é denominado
deriva litorânea e constitui um dos processos mais significativos de transporte de sedimentos ao
longo das costas arenosas. Segundo Suguio (2005) a erosão praial é o fenômeno dos mais
interessantes entre os processos costeiros e este se transformou em problema emergencial na
maioria das áreas costeiras do mundo.
Para o conhecimento das características textuais dos sedimentos, ao longo dos perfis, foram
coletadas amostras em cada setor praial (antepraia, praia e pós praia) para a análise granulométrica.
Com isso foi possível classificar as amostras coletadas, nos três pontos de monitoramento. No
Ponto (P1) Solara Praia Hotel, observamos uma tendência de sedimentos com textura variando de
média a muito fina. O segundo perfil, Ponto (P2) no Lopana, foi constatado sedimentos de
granulometria média. Já no terceiro perfil Ponto (P3) no Alagoinha em sua maioria houve uma
variação de granulometria fina a média e em março de 2016 o setor de praia apresentou uma
granulometria grossa.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Perfil 1 - Hotel Solara

O perfil apresentou como principal característica no período monitorado uma uniformidade


de morfologia, porém, vale salientar que as vezes ele é descaracterizado pois a prefeitura passa
máquina na praia para limpeza. No período de monitorado apresentou formação de um canal no
estirâncio/praia, em agosto/2015 com preenchimento em maio. O mês de maio/2016 foi o de maior
acréscimo de sedimento com volume de 118,4 m3/m. Na área estudada foi considerada baixa
vvulnerabilidade o extremo sul da área em frente ao hotel solara, que se encontra protegido pelas
várias ampliações do porto de Maceió.

Gráfico 1: Configuração do envelope praial do perfil P1 de agosto/2015, março/2016 e maio/2016


4

3
Cota (m)

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Distância (m)

Agosto Março Maio

Figura 3: Localização P1. Fonte: Autor, 2017.

Perfil 2 – Restaurante Lopana

Nesse perfil, o setor de pós-praia encontra-se totalmente descaracterizado, pois foram


construídos muros, colocação de pedras (enrocamento), que hoje encontram-se soterrados pelo
aporte de sedimentos, barracas, bares e calçadas. No setor da praia, verificamos em todos os meses

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

prevaleceu a deposição com volume médio de 45,24 m3/m. Na área estudada foi considera de alta
vulnerabilidade o setor em frente ao restaurante Lopana, onde pode ser verificado um muro de
contenção construído desde 2004 (figura 4).

Gráfico 2: Configuração do envelope praial do perfil P2 de agosto/2015, março/2016 e maio/2016.

1
Cota (m)

0
0 10 20 30 40 50
-1

-2
Distância (m)

Agosto Março Maio

A B

Figuras 4: Localização P2, (A) agosto 2015, (B) agosto 2006. Fonte: Autor, 2017.

Perfil 3 – Clube Alagoinha

O perfil apresenta mudanças intensas se compararmos os levantamentos realizados por Lima


2004. Pois neste intervalo foi retirada a passarela de acesso ao club que levou os sedimentos da
Ponta verde serem transportados para Pajuçara. No mês de agosto verifica-se na distância de 10
metros a formação de uma escarpa de berma. E a variação de volume máxima foi no mês de maio
com 73,12 m3/m. O grau de vulnerabilidade nesse setor foi de média.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Gráfico 3: Configuração do envelope praial do perfil P3 de agosto/2015, março/2016 e maio/2016


2

Cota (m)
0
0 10 20 30 40 50 60
-1

-2
Distância (m)

Agosto Março Maio

Figuras 5: Localização P3. Fonte: Autor, 2017.

CONCLUSÕES

Durante os trabalhos de campo, verificou-se que embora o desequilíbrio no setor costeiro


possa ter origem natural (mudanças climáticas e déficit de sedimentos) o processo se agrava por
ações antrópicas como construções de muros e aterros no setor de pós-praia e ocupação
desordenada nas desembocaduras dos rios.
A praia da Pajuçara apresenta uma tendência erosiva nos pontos P1 e P3, influenciada pela
construção como calçadas, muros e bares sobre o pós-praia, que além de agredir a paisagem,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

contribuem para aumentar o déficit de sedimentos. No ponto P2 observou-se uma deposição de


sedimentos, provavelmente provocada pela retida da ponte do Clube Alagoinha em 2005.
De acordo com os resultados, percebe-se que há padrões distintos de distribuição do
tamanho dos grãos, indicando que o transporte litorâneo de sedimentos é peculiar a cada ponto.
As modificações vistas nas praias estão associadas a fenômenos naturais e/ou antrópicos,
denominados de erosão costeira, onde as praias representam formas de acumulação de um litoral em
equilíbrio, enquanto o processo de erosão representa uma modificação deste equilíbrio, que, de
positivo passa a ser negativo.
Com base nos levantamentos realizados para os volumes remanejados, nos perfis atuais e
comparando-se com o trabalho realizado por Santos (2004), verificamos que no perfil P2 ocorreu
deposição máxima em agosto 2001 de 54,01 m3/m. No perfil P1 erosão máxima em agosto 2002 de
181,54 m3/m e no P3 apesar da baixa variação morfológica o mesmo apresentou-se deposição
máxima em agosto de 2002.
Desta forma, a determinação do grau de vulnerabilidade é de grande importância devendo
considerar o grau de risco do uso e ocupação da praia em estudo. Segundo metodologia de Dal Cin
& Simeoni (1994), na área em estudo foi considerado ALTA vulnerabilidade o setor em frente ao
Lopana. Foi considerado MÉDIA vulnerabilidade os setores entre o Lopana e o antigo
Alagoinha.Enquanto que foi considerado BAIXA vulnerabilidade o setor em frente ao Hotel Solara,
extremo sul da nossa área. Deste modo, podemos observar que o aumento da vulnerabilidade na
área em estudo está diretamente relacionado com o aumento populacional.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 612


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DAS EXTRAÇÕES INADEQUADAS DE


GRANITOS NA CIDADE DE BOM JARDIM-PE

Viviane da Silva VASCONCELOS


Graduanda do Curso de Geografia da UPE
vivianne_paty@hotmail.com
Helena Paula de Barros SILVA
Curso de Licenciatura em Geografia – CMN/UPE
helena.silva@upe.br

RESUMO
O meio ambiente vem sendo cada dia mais alterado pelos seres humanos devido a necessidade de
consumir mais que o necessário nesse modelo capitalista. A rocha é sem dúvida um desses minerais
que vem sendo extraídos cada vez mais e de forma inadequada na cidade de Bom Jardim-PE. Essas
extrações irregulares vêm aumentando no Brasil devido a sua matéria prima poder ser usada desde a
fabricação de eletrodomésticos a construção civil, além dos avanços tecnológicos que colaboram
para executar novas formas e cores, atribuindo maior valor e uso a esses recursos. Dessa forma, esse
artigo tem por objetivo mostrar os impactos ambientais causados pelas extrações de granito no
município e mostrar a importância de um ambiente equilibrado através da conservação.
Fundamenta-se em pesquisas bibliográficas, livros, artigos e observações realizadas in loco. Como
resultado, tem-se os impactos causados por essas atividade, a falta de fiscalização, planejamento e
qualificação por parte do trabalhadores. Diante disto, é mostrado toda essa problemática e a
importância da educação ambiental na sociedade.
Palavras-chave: Pedreira, extrações, impactos ambientais, Bom Jardim – PE
ABSTRACT
The environment has been increasingly altered by humans due to the need to consume more than
necessary in this capitalist model. Rock is undoubtedly one of these minerals that has been extracted
more and more and inadequately in the city of Bom Jardim-PE. These irregular extractions are
increasing in Brazil due to its raw material can be used from the manufacture of home appliances to
civil construction, in addition to the technological advances that collaborate to execute new forms
and colors, attributing greater value and use to these resources. Thus, this article aims to show the
environmental impacts caused by the extraction of granite in the municipality and show the
importance of a balanced environment through conservation. It is based on bibliographical research,
books, articles and observations made in loco. As a result, one has the impacts caused by these
activities, the lack of supervision, planning and qualification by the workers. In view of this, all this
problematic and the importance of environmental education in society is shown.
Keywords: Quarry, extractions, environmental impacts, Bom Jardim - PE

INTRODUÇÃO

Em meio a esse mundo globalizado, moderno, e perverso, surgem-se a necessidade de


consumir-se cada vez mais, as indústrias, são os principais fatores em transformar a matéria-prima
em produtos. Constantemente, surgem novos produtos buscando através da propaganda o incentivo

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 613


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ao consumo desses bens de serviços. Segundo Mauro (2011), o granito tem variadas cores e é
extraído da natureza, afim de ser submetido a processos de industrialização e ser aplicado a vários
segmentos de construções civis.
Os produtos da mineração brasileira vêm se destacando em nível mundial, e em Bom
Jardim-PE, há muitas extrações de granitos, sendo em sua maioria, extrações clandestinas, e as
pessoas utilizam esse recurso natural para bens lucrativos, levando a destruição do ambiente e
causando grandes impactos ambientais sem que haja fiscalizações e monitoramentos. Mediante a
isto, paisagem, a vegetação, o solo e o ar, vem sendo modificados, e os afloramentos rochosos vem
diminuindo, causando diversos impactos ao ambiente.
De acordo Medeiros (1998), apud Mendes (2002), o Estado de Pernambuco está inserido na
Província Borborema, cuja evolução é marcada por uma grande mobilidade tectônica, com
alternância de regimes compressivos e distensivos, responsáveis pela geração de abundantes jazidas
de rochas não orientadas (granitóide) e movimentadas (ortognaisses e migmatitos), sendo essas
rochas dominantes em toda a região Agreste e na Zona da Mata do Estado de Pernambuco.
A sociedade precisa exigir que os órgãos públicos e as leis comecem a agir, afim de buscar
melhores soluções, pois cuidar do ambiente é dever de todos, e os recursos naturais são bens finitos
que merecem ser conservados. Dessa forma, essa pesquisa teve como objetivo, descrever esses
impactos ambientais, causados pela extração inadequada de granito no município e mostrar a
importância da conservação desses ambientes, para as presentes e futuras gerações.
A metodologia aplicada foi a exploratória, de caráter descritivo e qualitativo, pautada nas
observações in loco na cidade de Bom Jardim/Pernambuco, onde ocorreu o contato direto com o
objeto de estudo, através de fotos e conversas com os trabalhadores das pedreiras. Todo o resultado
foi contabilizado a partir da visita ao local, onde foi constatado que essas atividades ocorrem de
formas irregulares, os materiais que são utilizados na extração e também se os trabalhadores estão
com equipamentos necessários para poder executar tais atividades.
As pesquisas bibliográficas, foram realizadas em livros e artigos científicos que possuem
embasamento e proficiência no que é dissertado. Além de pesquisas em sites como o Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM, como subsidio e maior aprofundamento nos estudos.
Localização da cidade de Bom Jardim e a importância da mineração no Brasil
Bom Jardim está localizado no Estado de Pernambuco e inserido na mesorregião Agreste e
na microrregião Médio do Capibaribe do Estado de Pernambuco, faz limite ao Norte com Orobó e
Machados, a Sul com João Alfredo, a Leste com Vicência e Limoeiro, e a Oeste com Surubim e
Casinhas. Essa cidade é conhecida como a terra do Granito Marrom Imperial por ter-se nela uma
empresa de Minério Marrom Imperial. Bom Jardim é rodeado por muitos afloramentos rochosos, o
que facilita ainda mais a prática essas atividades. E existem alguns áreas de afloramentos que ainda

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

não foram exploradas como a Pedra de Nossa Senhora de Lourdes, Pedra do Caboclo e Pedra do
Navio, por serem locais considerados turísticos e até mesmo religiosos.
Segundo o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) (2007), mineração é uma
palavra que deriva do latim medieval – mineralis – relativo a mina e a minerais. Dessa forma, a
ação de cavar criou-se o verbo ―minar‖ no séc. XVI, como consequência da prática de escavar
fossos em torno das fortalezas, surge a palavra ―mina‖ para designar explosivos militares. Com a
junção das duas atividades deu origem ao termo mineração, visto que a escavação das minas
geralmente se faz com auxílio de explosivos.
Desde o passado que ocorrem extrações de minerais, contudo só aumentou com o passar dos
anos, conforme Vasconcelos, et al., (2016), a mineração é uma atividade indispensável ao homem
moderno, visto que, os bens minerais estão em praticamente todas as atividades humanas, tais como
habitação, construção, saneamento básico, transporte, agricultura, além das tecnologias de ponta nas
áreas de comunicação e medicina. Dessa maneira fica difícil adotar práticas sustentáveis, quando o
meio ambiente é explorado cada dia mais, incentivando o consumo para a população.
De acordo com Farias (2002), mineração faz parte dos setores básicos da economia no país,
e contribui de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e
futuras gerações. Conforme Wagner (2002), o setor mineral, em 2000, representou 8,5% do Produto
Interno Bruto (PIB) do Brasil, ou seja: US$ 50,5 bilhões de dólares, gerou 500.000 empregos
diretos e um saldo na balança comercial de US$ 7,7 bilhões de dólares, além de ter tido um
crescimento médio anual de 8,2% no período 1995/2000. Dessa forma, fica nítido o quanto essas
atividades interferem na economia brasileira, e seu crescimento durante os anos.

Figura 1 - Distribuição das mineradoras no Brasil. Fonte: CNPM – 2012.

Como mostra a figura 1, a região Nordeste encontra-se em segundo lugar no ranking de


mineradoras no Brasil, e no município de Bom Jardim – PE, encontra-se a Empresa de Granito

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Marrom Imperial, onde é vendido para todo o Brasil, e resto do mundo. Contudo, vale ressaltar que,
existe no municípios áreas de extrações de granitos irregulares, na zona rural, onde os moradores
em suas residências extraem esses minerais afim de comercializa-los, e sem o licenciamento que
permite essas atividades.
Os trabalhadores não são qualificados, ficam expostos às más condições de trabalhos,
podendo sofrer graves acidentes, prejudicando a sua saúde, e recebendo baixos salários. Para
extração do granito é utilizado materiais como martelo de fundo de furo, para o desmonte da rocha,
é utilizado explosivos, tais como, dinamites, sem nenhum equipamento e planejamento.

Alguns impactos ambientais causados pela extração do granito.

Essas atividades causam grandes impactos ao meio ambiente e com relação a alguns deles,
Souza (2007, p. 12) destaca:

1. Impacto Visual;
2. Disposição inadequada de resíduos;
3. Perda da vegetação nativa;
4. Movimento de solo (erosão e assoreamento).

Machado (1995), alega que os principais impactos ambientais causados pela mineração são:
desmatamentos e queimadas; alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico dos cursos
de água; queima de mercúrio metálico ao ar livre; desencadeamento dos processos erosivos;
mortalidade da ictiofauna; fuga de animais silvestres; poluição química provocada pelo mercúrio
metálico na hidrosfera, biosfera e na atmosfera.
Kopezinski (2000), diz que impactos ambientais seriam processos que perturbam,
descaracterizam, destroem características, condições ou processos no ambiente natural; ou que
causam modificações nos usos instalados, tradicionais, históricos do solo e nos modos de vida ou na
saúde de segmentos da população humana; ou que modificam, de forma significativa, opções
ambientais.
Ainda sobre impactos ambientais a CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais)
(2002) apud Silva (2007), nos traz que esses problemas causados pela mineração podem ser
classificados em cinco categorias. Sendo eles, Poluição da água, poluição do ar, poluição sonora,
subsidência do terreno, incêndio caudados pelo carvão e rejeito radioativos.
Dessa maneira, é notável esses impactos ambientais causados nas extrações de granito da
cidade de Bom Jardim (figura 2), essas atividades irregulares levam a alterações no ambiente, nos
ecossistemas, desequilibrando e causando a perda de algumas espécies.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 - Áreas ativas de extração de granito na cidade de Bom Jardim-PE. Foto: Vasconcelos, Viviane
(2017).

Para se instalar uma mineradora ou pedreiras é necessário planejamentos, estudos através de


pesquisas na área, para poder ocorrer a implantação ou até mesmo a desativação, afim de observar
se foram deixados impactos negativos ao local. De acordo com a norma NBR ISO 14.001: 2004,
impacto ambiental seria ―qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte,
no todo ou em parte das atividades, produtos ou serviços de uma organização‖. Esses impactos
ambientais tanto podem ser positivos como negativos, sendo que o que mais ocorrem em nossa
sociedade são os impactos negativos.

A importância das legislações no quesito Meio Ambiente.

Para que ocorra uma organização e mais planejamentos os empreendimentos precisam estar
de acordo com as legislações. As leis Federais, Estaduais e Municipais precisam atuarem para que a
sociedade e o meio ambiente consigam entrar em equilíbrio. De acordo com o artigo 225 da
Constituição Federal (1988), todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, para
o bem comum do povo, mas que o Poder Público e à sociedade devem defender e preservar para as
presentes e futuras gerações. E de acordo com 2° parágrafo, aquele que explorar esses recursos
naturais deverá recuperar o ambiente degradado, exigido pelo órgão público, na forma da lei. Dessa
forma, fica evidente que todos devem agir de forma consciente com o meio ambiente, e aquele que
o degradar, deverá recuperar de acordo com a lei. Contudo, nem sempre é possível recuperar o
ambiente da mesma forma que foi encontrado anteriormente.
Segundo o artigo 218 da Constituição do Estado de Pernambuco (2012), os Estados e os
Municípios, de acordo com a União, deverão zelar pelos recursos naturais, fiscalizando as jazidas e
minas, e estimular pesquisas geológicas e de tecnologia mineral. Vale ressaltar, no segundo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

parágrafo deste artigo, que o funcionamento destas atividades dependerá do ambiente em que ela
esteja inserida, respeitando as legislações específicas vigentes. Desta forma, fica evidente a
importância do uso correto dos recursos naturais, pois sua conservação leva a estudos e pesquisas
científicas.
As leis responsáveis pela fiscalização das atividades ocorridas nos municípios é a Lei
Orgânica e o Plano Diretor, cada município elabora suas respectivas normas, respeitando a
Constituição e as Leis Federais e Estaduais.
A cidade de Bom Jardim-PE não possui o Plano Diretor, em contato com os representantes
legais, eles relataram que este estaria em construção, sendo obtida assim, apenas a Lei Orgânica. No
que tange ao Meio Ambiente, o 1° Parágrafo da Lei Orgânica da Cidade de Bom Jardim (1990) diz
que, deve-se realizar estudos prévios de impacto ambiental, para que haja implantação de alguma
atividade que venha causar degradações ao meio ambiente.
Dessa maneira, dever-se-ia haver fiscalizações, monitoramentos, punições para esses
agentes que não atuam de forma correta com o meio, e como foi verificado não ocorre uma
fiscalização e preocupação com o ambiente na cidade onde as extrações ocorrem de forma irregular,
em vários recordes espaciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante as observações in loco, imagem fotográfica e resultados da pesquisa ficaram


evidentes os impactos ambientais causados pela extração de granito na cidade de Bom Jardim-PE,
uma atividade irregular, onde os trabalhadores, não usam roupas, nem equipamentos de proteção
adequados e não há um licenciamento para a execução dessa prática. Como pode-se perceber o
meio ambiente e a sociedade ficam em risco, e como fazemos parte de um sistema, um desequilíbrio
ambiental causa grandes estragos ambientais e sociais.
Para Sánches (2008, p. 21) o ambiente é um meio de onde a sociedade extrai os recursos
essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento
socioeconômico. Dessa forma, se faz necessário cuidar do meio ambiente, utiliza-lo de maneira
econômica e racional pensando nas presentes e futuras gerações, visto que os recursos naturais são
bens finitos que merecem ser conservados por todos. Para Sousa:

É, altamente recomendável incorporar de uma vez por todas a necessidade de respeitar e


proteger o meio ambiente, cuidando da recuperação das degradações já cometidas, evitando
novas agressões e encontrando alternativas econômicas para o aproveitamento de resíduos
de pedreiras e indústrias. A crescente preocupação com as questões ambientais deve ser
tomada como irreversível, exigindo, por isso mesmo, adoção de atitudes e práticas
empresariais compatíveis com os novos tempos (SOUZA, 2007. p. 40).

Dessa maneira, é ressaltado que se deve atenuar os impactos causados ao ambiente com
práticas e atitudes positivas, quando constatadas as diversas agressões por parte das extrações ou
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

outra atividade que cause dano ambiental. Além, da necessidade, de serem colocadas em práticas as
Leis, já que temos uma constituição tão bem estruturada afim de minimizar essas atividades
inadequadas.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001 2004: Sistema de


gestão ambiental – Requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro. 2004.

BOM JARDIM. Câmara Municipal. Lei orgânica do município de Bom Jardim. Bom Jardim, 1990.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 5 de out. de 1988.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em: 05 mai. 2017.

DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral. Anuário Mineral Brasileiro, 2007.

FARIAS, C. E. G. Mineração e meio ambiente no Brasil. Relatório preparado para o CGEE. 2002.
Disponível em <http://www.mma.gov.br/estruturas/sqa_pnla/_arquivos/minera.pdf> Acesso em:
07 mai. 2017.

KOPEZINSKI, I. Mineração x Meio Ambiente: conceitos legais, principais impactos ambientais e


seus processos modificadores – Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

MACHADO, I. F. O meio ambiente e a mineração. In: Economia mineral do Brasil. Coord.


Barboza, F. L. M. E GURMENDI, A. C. Brasília: DNPM. 1995.

MAURO, G. C. Estudo do processo produtivo dos granitos no Estado do Espírito Santo


objetivando a aplicação destes na construção civil. 2011. 55 p. Trabalho de Conclusão do Curso
de Especialização (Especialização em Construção Civil) – Programa de Pós-Graduação em
Construção Civil, Universidade Federal de Minas gerais, Belo Horizonte, MG, 2011. Disponível
em <http://pos.demc.ufmg.br/novocecc/trabalhos/pg2/74.pdf> Acesso em: 07 mai. 2017.

MENDES, V. A. Rochas Ornamentais de Pernambuco - Encontro Ítalo-Brasileiro de Rochas


Ornamentais, 1., 2002, Recife. Palestra Proferida na sede da FIEPE.

PERNAMBUCO. Constituição do Estado de Pernambuco. Assembleia Legislativa do Estado de


Pernambuco. Atualizada em 28 de ago. de 2012. Disponível em
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Acesso em: 05 mai. 2017.

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SÁNCHEZ, L. H. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de


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SOUSA, J. G. Análise ambiental do processo de extração e beneficiamento de rochas ornamentais


com visitas a uma produção mais limpa: Aplicação em Cachoeiro de Itapemirim – ES. 2007. 42
p. Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização (Especialização em Análise Ambiental) –
Programa de Pós-Graduação em Análise Ambiental, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Espirito Santo, ES, 2007. Disponível em
<http://www.ufjf.br/analiseambiental/files/2009/11/Jos%C3%A9-Gon%C3%A7alves-de-
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Pernambuco-Brasil. Revista REGNE, Rio Grande do Norte, v. 2, número especial, p. 941 – 949,
2016. Disponível em <https://periodicos.ufrn.br/revistadoregne/article/viewFile/10556/7474>
Acesso em: 06 jul. 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

OCORRÊNCIA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS EM UM RESERVATÓRIO DE


ABASTECIMENTO PÚBLICO NO CEARÁ

Adjuto RANGEL JÚNIOR


Graduando em licenciatura em Programa Especial de Formação Pedagógica (Biologia)
jr_arangel@hotmail.com
Anne Jussara RANGEL
Mestre (a) em Bioprospecção Molecular, Universidade Regional do Cariri – URCA34
annerangel20@hotmail.com
Fernanda Custódio CAVALCANTE
Professora do Instituto Federal do Maranhão – IFMA

Sírleis Rodrigues LACERDA


Professora do Departamento de Ciências Biológicas DCBio/URCA

RESUMO
O presente trabalho objetivou realizar um levantamento da macroflora aquática, avaliando a sua
ocorrência como bioindicadoras de poluição no Reservatório Thomaz Osterne de Alencar, Crato-
Ceará. As macrófitas aquáticas são importantes à estabilização dos ecossistemas aquáticos, sendo
relevantes ferramentas à caracterização do estado trófico desses ambientes. As coletas foram
realizadas mensalmente, no período de agosto/2011 a julho/2012, em cinco pontos de amostragem.
Posteriormente as amostras foram transportadas ao Laboratório de Botânica da Universidade
Regional do Cariri-URCA, onde se realizou a montagem de exsicatas, análise e envio do material
botânico a especialistas para confirmação na identificação das espécies. Foram identificados quatro
grupos ecológicos de macrófitas aquáticas (submersa enraizada, flutuante livre, enraizada com
folhas emersas e enraizada com folhas flutuantes), representadas por cinco espécies: Chara
rusbyana M. A. Howe, Apalanthe granatensis (Bonpl.) Planch., Polygonum hispidum Kunth,
Nymphoides indica (Linaeus.) Kuntze e Salvinia oblongifolia Mart. Quanto a Frequência de
ocorrência, as espécies Chara rusbyana (Macroalga), Apalanthe granatensis e Polygonum hispidum
(Angiospermas) foram classificadas como muito frequentes, com registros de ocorrência > 70%. As
macrófitas mostraram-se como importantes bioindicadoras das condições de trofia do ambiente
aquático, a partir de suas características ecológicas e sanitárias, constatou-se que a qualidade da
água do reservatório pode estar comprometida. Por isso, a relevância de analisar as espécies de
macrófitas aquáticas, a fim de, zelar por tais ambientes aquáticos, que são essenciais a
sobrevivência nas regiões semiáridas do país.
Palavras-chave: Macroflora Aquática; Indicador Biológico, Ecossistema Aquático.
ABSTRACT
The present study aimed to survey the aquatic macroflora, assessing their occurrence as pollution
bioindicators in Reservatório Thomaz Osterne de Alencar in Crato, Ceará. The macrophytes are
important for the stabilization of aquatic ecosystems and relevant tools for the characterization of
the trophic state of these environments. Samples were collected monthly from August/2011 to
July/2012 in five sampling points. Subsequently the samples were transported to the Laboratório de
Botânica from Universidade Regional do Cariri-URCA, where the exsiccatae was assembled and
the plant material analysed and sent to specialists for confirmation in species identification. Four

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Severidora Pública em EMATERCE/Brejo Santo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

environmental groups of macrophytes were identified (rooted submerged, free floating, rooted
emergent and rooted with floating leaves), represented by five species: Chara rusbyana MA Howe,
Apalanthe granatensis (Bonpl.) Planch, Polygonum hispidum Kunth, Nymphoides indica (Linaeus.)
Kuntze and Salvinia oblongifolia Mart. As for the occurrence frequency, the species Chara
rusbyana (macroalgae), Apalanthe granatensis and Polygonum hispidum (Angiosperms) were
classified as very common, occurring records of > 70%. The macrophytes were important
bioindicators of trophic conditions of the aquatic environmens. From its ecological and health
characteristics, it was found that the quality of the reservoir water might be compromised.
Therefore, the relevance of analyzing the species of aquatic weeds in order to ensure such aquatic
environments, which are essential to survival in the semiarid regions of the country.
Keywords: Aquatic Macroflora; Biological Indicator; Aquatic Ecosystem.

INTRODUÇÃO

No Brasil, os problemas relacionados à distribuição espacial e temporal da água têm


representado desafios para milhares de pessoas (MARQUES et al., 2011). Nas regiões semiáridas
do país (Agreste e Sertão) a demanda por água potável é muito grande. No Estado do Ceará, a
democratização do acesso aos recursos hídricos, bem como, à distribuição de água para o
abastecimento humano não está efetivada. Há disponibilidade global de água, entretanto, há má
distribuição pela sazonalidade das chuvas e no espaço territorial, configurando a insegurança
hídrica. Desse modo, vários reservatórios foram construídos com o intuito de minimizar os
impactos da seca (SANTANA, 2008; NASCIMENTO, 2010).
Nesse sentido, os reservatórios consistem em ecossistemas que além de relevantes à
sociedade, apresentam importante papel ambiental, uma vez que, são colonizados por vários grupos
de organismos aquáticos, e dentre estes, as macrófitas aquáticas (LIMA et al., 2011).
Macrófitas aquáticas são vegetais que variam desde macroalgas a angiospermas, e que
podem habitar os mais variados ambientes. Sendo importantes onde ocorrem, uma vez que, suas
raízes possuem efeitos bactericidas, responsáveis por eliminar colônias patogênicas, essencial à
manutenção da qualidade do ecossistema aquático (THOMAZ; ESTEVES, 2011).
Nesses ecossistemas aquáticos do semiárido as macrófitas em sua maioria, representam a
principal comunidade produtora de biomassa, podendo influenciar a dinâmica de várias
comunidades e até mesmo o ecossistema lacustre como um todo (ESTEVES, 2011). Em regiões
tropicais, estes vegetais atuam como fornecedores de matéria orgânica para a cadeia detritívora, e
são responsáveis muitas vezes pela maior porcentagem do material orgânico que entra no ambiente
aquático através dos processos de decomposição e ciclagem de nutrientes (TRINDADE et al.,
2010). Portanto, desempenham também um importante papel trófico, servindo como fonte de
alimento para algumas espécies de aves e mamíferos aquáticos (MOURA-JÚNIOR, 2010).
São vegetais que apresentam grande capacidade de adaptação e amplitude ecológica. Em sua
maioria, são capazes de suportar longos períodos de seca. Sustentam um elevado número de
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

organismos, diminuindo a turbulência das águas e, consequentemente, sedimentando os materiais


em suspensão, principalmente em locais onde a mata ciliar foi suprimida (MOURA et al., 2009;
ESTEVES, 2011). Portanto, constituem um importante elemento à conservação do equilíbrio
ecológico (NERY et al., 2010).
Com base na importância que as macrófitas desempenham ao ambiente aquático, este
trabalho teve como objetivo realizar um levantamento da macroflora aquática e indicar seu papel de
bioindicadora, considerando suas características ecológicas, no Reservatório Thomaz Osterne de
Alencar, Crato-CE.

MATERIAL E METÓDOS

O Reservatório Thomaz Osterne de Alencar está localizado no distrito de Monte Alverne,


município de Crato, Ceará, entre as latitudes 7º 5‘ 28‘‘ norte, 7º 6‘ 43‘‘ sul e longitudes 39º 28‘ 43‘‘
leste, 39º 31‘ 33‘‘ oeste. Foi construído em 1982 pelo Departamento Nacional de Obras Contra a
Seca – DNOCS. Tem capacidade hídrica de 28.780.000 m³, vazão regularizada de 570 l/s
(COGERH, 2012). Contribui economicamente para a região com atividades de pesca, lazer,
pecuária e principalmente irrigação. Há várias residências em seu entorno, tendo sido os pontos de
coleta dessa pesquisa delimitados à proximidade destas. O Reservatório é caracterizado pela
presença de bancos de macrófitas aquáticas em suas margens (Figura 1).

Figura 1 - Vista parcial do Reservatório Thomaz Osterne de Alencar, Crato-CE. Em destaque, bancos de
Macrófitas Aquáticas as suas margens.

As coletas das macrófitas aquáticas foram realizadas mensalmente, durante o período de


agosto/2011 a julho/2012, sendo delimitados cinco pontos para a realização da amostragem. Os

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

exemplares das macrófitas foram obtidos manualmente, com exceção das espécies enraizadas que
foram coletadas com auxilio de tesoura de poda. As informações sobre os hábitos dos vegetais
coletados foram devidamente anotadas em cadernetas de campo (MOURA-JÚNIOR et al., 2010).
Posteriormente, as amostras foram depositadas no Laboratório de Botânica da Universidade
Regional do Cariri – URCA, quando foi realizada a montagem de exsicatas e análise do material
botânico. A identificação foi feita por meio de bibliografia especializada, como: Bicudo e Bueno
(2004), Pompêo et al. (2008), Esteves (2011), Rodrigues (2011), Lima et al. (2011) e envio do
material botânico a taxonomistas, que após identificado foi incorporado ao acervo do Herbário
Prisco Bezerra da Universidade Federal do Ceará (EAC – UFC) em Fortaleza.
A frequência de ocorrência se fez de acordo com a metodologia de Mateucci e Colma
(1982), sendo expressa levando em consideração o número de amostras em que cada espécie
ocorreu, e classificado nas seguintes categorias: muito frequente – ocorrência maior que 70%;
frequente ≤ 70% > 40%; pouco frequente ≤ 40% > 10% e esporádica ≤ 10%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificadas cinco espécies de macrófitas aquáticas, distribuídas nas seguintes


classes: Charophyceae (1 sp.), Pteridophyta (1 sp.) e Angiospermae (3 spp.), sendo estas: Chara
rusbyana M. A. Howe; Salvinia oblongifolia Mart; Apalanthe granatensis (Bonpl.) Planch.;
Polygonum hispidum Kunth e Nymphoides indica (L.) Kuntze, respectivamente (Figura 2, Tabela
1).

Figura 2- Macrófitas Aquáticas identificadas no Reservatório Thomaz Osterne de Alencar - Crato/


CE: A- Chara rusbyana M. A. Howe; B- Salvinia oblongifolia Mart; C- Apalanthe granatensis
(Bonpl.) Planch.; D- Polygonum hispidum Kunth; E- Nymphoides indica (L.) Kuntze.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CLASSE FAMÍLIA GÊNERO/ESPÉCIE GRUPO ECOLÓGICO

Charophyceae Characeae Chara rusbyana SE


Pteridophyta Salviniaceae Salvinia oblongifolia FL

Angiospermae Hydrocharitaceae Apalanthe granatensis SE

Angiospermae Poaceae Polygonum hispidum EE

Angiospermae Menyanthaceae Nymphoides indica EF


Tabela 6- Macrófitas Aquáticas identificadas no Reservatório Thomaz Osterne de Alencar- Crato/ CE.
Grupos ecológicos (Esteves, 2011): SE = submersa enraizada; FL = flutuante livre; EE = enraizada com
folhas emersas; EF = enraizada com folhas flutuantes.

As espécies de macrófitas identificadas na presente pesquisa são relevantes bioindicadoras,


pois apresentam distintas preferências ecológicas, e sua ocorrência e permanência são determinantes
a caracterização da qualidade da água do reservatório.
Chara rusbyana consiste em uma macroalga submersa e fixa ao substrato, que habita
diferentes profundidades. Ocorre durante todo o ano, podendo formar desde pequenos a grandes
bancos. É uma espécie comumente encontrada em ambientes de água doce ou salobra,
principalmente após a ocorrência de alguma perturbação do ambiente. Ecologicamente, possui uma
grande contribuição no processo de estabilização de um reservatório, uma vez que, ao mesmo
tempo em que serve de abrigo para outros seres vivos, contribui com a diminuição da turbidez da
água, o que torna o ambiente propício para a estabilização de outras espécies aquáticas (PARENTE,
2010). Os domínios fitogeográficos desta espécie compreendem Amazônia, Caatinga e Cerrado
(FLORA DO BRASIL, 2016).
Salvinia oblongifolia é uma espécie que possui folhas flutuantes oblongas, cerca de três
vezes mais longas que largas (BARROS; XAVIER, 2007). As espécies de macrófitas flutuantes
livres são limitadas principalmente pelas concentrações de nutrientes e velocidade da água,
ocorrendo com frequência em ambientes eutrofizados. Desse modo, os lagos e represas submetidos
à eutrofização artificial, que possuem elevadas concentrações de nutrientes na água, especialmente
nitrogênio e fósforo, propiciam o crescimento e a proliferação desses vegetais, que podem cobrir
extensas áreas de lagos e reservatórios, impedindo a penetração de luz e, por conseguinte, o
desenvolvimento de algas e da vegetação submersa. Entre os gêneros mais comuns de plantas
aquáticas flutuantes destacam-se as Salvinia (BIANCHINI JUNIOR, 2003; CAMARGO et al.,
2003; THOMAZ; ESTEVES, 2011).
Apalanthe granatensis é uma monocotiledônea herbácea de água doce. Consiste em uma
espécie submersa fixa, podendo atingir até 1m, tendo folhas regularmente espaçadas ao longo do
caule ramificado. A. granatensis possui ampla distribuição e apresenta domínios fitogeográficos na
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal (AONA; AMARAL, 2002; LIMA et al.,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2013; LOURENÇO; BOVE, 2016). A mesma pode se comportar como invasora potencial de
reservatórios (POTT; POTT*, 2003).
Polygonum hispidum consiste em uma erva ou subarbusto com até 1m de altura. Planta
vascular sem tecido lenhoso, podendo ser anual, bienal ou perene. A espécie ocorre nas margens de
lagos e lagoas das regiões Norte e Nordeste do Brasil, muito comum no semiárido baiano, às
margens de lagoas e de rios, como também em locais inundáveis. (MARQUES, 1996; MELO 1999,
2000, 2008; USDA, 2016). As Polygonaceae formam significativos bancos próximos às margens
dos corpos hídricos, onde seus ramos mais distais se elevam bem acima da lâmina d‘água,
desenvolvendo muitas vezes ramos flutuantes de vários metros (FRANÇA et al., 2010).
Pedralli (2003) afirma que as espécies pertencentes ao gênero Polygonum, indica, em geral,
que a qualidade das águas não é boa e que os usos destas podem estar comprometidos. Os mesmos
relatam ainda, que a ocorrência dessas espécies, entre outras, está diretamente relacionada à
progressiva eutrofização de reservatórios, como ocorre em várias regiões do país.
Quanto ao gênero Nymphoides, no Brasil ocorre uma única espécie, sendo esta: Nymphoides
indica, erva aquática com folhas cordiformes flutuantes e flores delicadas. A espécie incide ao
longo das margens de corpos de água doce, podendo estar presente também em ambientes aquáticos
de baixa salinidade. A mesma oferece proteção para pequenos peixes e invertebrados no ambiente
natural. No entanto, pode se comportar como invasora de culturas de arroz ou se alastrar em canais
de irrigação. Portanto pode se tornar infestante e cobrir áreas, impedindo a entrada de luz abaixo da
superfície da água, limitando e prejudicando outras plantas (GOTTFRIED, 1997; POMPÊO, 2008;
TRINDADE et al, 2010).
Em estudo realizado em um lago raso subtropical no Rio Grande do Sul, Palma-Silva et al.
(2008), observaram que os indivíduos pertencentes à N. indica podem utilizar diferentes fontes de
nutrientes, tanto do sedimento como dissolvidos na coluna de água, e concentrá-los no tecido
vegetal. Os autores indicam a grande importância desta espécie para o ambiente, visto sua variação
da biomassa total e capacidade de participarem dos ciclos de nutrientes, e sugerem que esta
apresenta uma alta taxa de produtividade primária durante seu período de crescimento, e o seu
padrão sazonal de crescimento e mortalidade apresenta o potencial de influenciar as características
de trofia do corpo de água.
Das cinco espécies de macrófitas identificadas no Reservatório Thomaz Osterne de Alencar,
durante o período de amostragem, três se destacaram como Muito Frequentes, ou seja, com
registros de ocorrência maior que 70%, como: Chara rusbyana (Macroalga), Apalanthe granatensis
e Polygonum hispidum (Angiospermas) (Figura 3).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Apalanthe granatensis

Polygonum hispidum

Chara rusbyana

Salvinia oblongifolia

Nymphoides indica

0 20 40 60 80 100

Figura 3 - Frequência de ocorrência das espécies de macrófitas aquáticas identificadas no Reservatório


Thomaz Osterne de Alencar – Crato/CE, durante o período de amostragem.

As macrófitas apresentam disposição ou potencial para se ajustar à diversidade de habitats e


apresentam diferentes formas biológicas em uma comunidade, o que reflete seu caráter
comportamental associado à variação do nível da água (MOURA-JÚNIOR, 2010).
Trindade et al. (2010) afirmam que fatores ambientais como a turbidez da água e o vento,
favorecem o crescimento heterogêneo dos diferentes grupos ecológicos de macrófitas aquáticas. É
frequente observar nestes casos, macrófitas submersas e com folhas flutuantes crescendo entre as
emersas e uma das adaptações desses vegetais é poder se ajustar às condições ambientais através de
alterações na morfologia das folhas.
Para Thomaz e Esteves (2011), além dos efeitos de variáveis abióticas, as populações de
macrófitas aquáticas também são afetadas por interações biológicas, destacando-se a competição
(intra e interespecífica), herbivoria e facilitação. Destacando-se, a competição interespecífica, que
tem sido largamente investigada tanto em regiões temperadas como tropicais. A mesma pode
ocorrer entre espécies do mesmo tipo biológico (p. ex. duas espécies emersas ou duas flutuantes
livres) ou entre espécie de tipos biológicos diferentes (p. ex. entre flutuantes livres e submersas
enraizadas).
De acordo com Santana (2009), no Estado do Ceará, o que se constata é a imensa falta de
compreensão da população sobre o que significa conviver com o semiárido, uma vez que, as
informações sobre a lógica deste clima, seus efeitos sobre a água, o solo, as plantas, os animais e os
seres humanos, não tem sido apontada de modo massivo a população, muito menos as estratégias e
alternativas para conviver com esta realidade. Embora seja crescente a preocupação da sociedade
com a qualidade das águas, a manutenção desta qualidade através das ações individuais, ainda é
rudimentar. Desse modo, o crescimento populacional associado à falta de saneamento básico e aos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

maus hábitos de higiene tem contribuído para a degradação dos recursos hídricos (SANTANA,
2008).
Para Moura-Júnior et al., (2010), a interferência antrópica nos ecossistemas aquáticos vem
causando prejuízos no equilíbrio ambiental, em virtude do lançamento de uma grande quantidade de
produtos industriais e agrícolas ricos em nutrientes. Onde, o crescimento populacional tem
influência direta na qualidade de vida humana, podendo causar prejuízos em alguns setores de
desenvolvimento, como na irrigação, abastecimento de cidades, recreação, entre outros.
No contexto climatológico, embora a convivência com o semiárido seja um desafio para
subsistência das mais variadas formas de vida, as macrófitas apresentam diferentes estratégias de
sobrevivência, até mesmo diante de secas prolongadas, ao mesmo tempo em que contribuem ao
equilíbrio e manutenção do ambiente aquático - que tendem a perder a qualidade com a redução dos
níveis de água-, bem como são excelentes bioindicadoras das condições de trofia desses corpos
hídricos.

CONCLUSÕES

Foram identificadas cinco espécies de macrófitas aquáticas no ReservatórioThomaz Osterne


de Alencar: Chara rusbyana, Apalanthe granatensis, Polygonum hispidum, Salvinia oblongifolia e
Nymphoides indica. A avaliação das preferências ecológicas, bem como a frequência de ocorrência
das espécies, atuaram como importante indicador ecológico ao monitoramento dos impactos
ambientais, que podem ser consequência das atividades antrópicas sofridas pelo reservatório, como
também às condições naturais, decorrência das secas características da região.
Através das características ecológicas e sanitárias das espécies, constatou-se que a qualidade
da água do ambiente em estudo pode estar comprometida. Portanto a relevância de analisar as
espécies de macrófitas aquáticas ocorrentes no reservatório, avaliando tanto o mau uso dos recursos
hídricos, como os impactos causados pela seca, e monitorar a qualidade da água do reservatório de
abastecimento público, a fim de, zelar por tais ambientes aquáticos, que são essenciais a
sobrevivência nas regiões semiáridas do país.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: INSTRUMENTO PARA DIFUSÃO DO CONHECIMENTO


ACERCA DA POLUIÇAO ATMOSFÉRICA OCASIONADA PELA QUEIMA DA
PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR

Alyne Dayane Alves da SILVA


Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia da UPE
alynedayane18@gmail.com
Raniel Marcelo de SANTANA
Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia da UPE
ranielsantana950@gmail.com
Helena SILVA
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPE
helena.silva@upe.br

RESUMO
De acordo com o relatório emitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (2015) estima-se
que, anualmente, mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo tenham sua saúde e seu bem-estar
prejudicados e corram o risco de vir a óbito em consequência de problemas respiratórios
ocasionados pela poluição atmosférica. É possível encontrar pesquisas relacionando a temática a
fontes geradas principalmente nos centros urbanos. No entanto, a presente pesquisa buscou
analisar a poluição atmosférica tendo como autor as queimadas advindas dos canaviais existentes no
entorno urbano. O objetivo teve como propósito utilizar a Educação Ambiental como instrumento
para alertar a população a respeito dos perigos da contaminação atmosférica gerada pela queima da
palha da cana-de-açúcar. A prática pedagógica desenvolvida buscou estimular os estudantes do 9º
ano do ensino Fundamental II da Rede municipal de ensino de Nazaré da Mata – PE a compreender
a dinâmica dos processos geográficos a partir de uma análise local. As atividades foram
fundamentadas em exercícios práticos e dinâmicos, onde foi realizada uma oficina, sendo esta
dividida em três momentos, o primeiro composto pela introdução, o segundo por uma explanação
com base em fotografias e o terceiro por um jogo de tabuleiro denominado por Quiz Ambiental. A
partir dos resultados obtidos com as práticas desenvolvidas foi possível perceber que os jovens
conhecem a realidade de forma superficial e que não se preocupam com as consequências. No
entanto, boa parte dos estudantes ao longo da oficina mostraram estar sensibilizados com as
observações e com os esclarecimentos realizados, no qual passaram a entender que os mesmos
também são atores e difusores na busca por uma sociedade mais justa e sustentável.
Palavras-chaves: Meio Ambiente; Saúde; Sustentabilidade.
ABSTRACT
According to the report issued by the World Health Organization (WHO) (2015), it‘s estimated that,
annually, over 2 million people worldwide are affected by their health and well-being and are at risk
of death because of respiratory problems caused by atmospheric pollution. Therefore, it is possible
to find research relating the theme to sources generated mainly in urban centers. However, the
present research sought to analyze the atmospheric pollution having as an author the fires from the
sugarcane plantations existing in the urban surroundings. The objective was to use Environmental
Education as an instrument to alert the population about the dangers of atmospheric contamination
generated by the practice of burning sugarcane straw. The developed pedagogical practice sought to
stimulate students of the 9th grade of Elementary School II of the Municipal School Network of

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Nazaré da Mata - PE to understand the dynamics of geographical processes based on a local


analysis. The activities were based on practical and dynamic exercises, where a workshop was held,
which was divided into three moments, the first composed by the introduction, the second by an
explanation based on photographs and the third by a board game called Quiz Ambiental. From the
results obtained with the developed practices it was possible to perceive that young people know the
reality in a superficial way and they do not care about the consequences. However, most of the
students throughout the workshop proved to be sensitized with the observations and the
clarifications made, in which they could understand that they are also actors and diffusers in the
search for a more just and sustainable society.
Keywords: Environment; Health; Sustainability.

INTRODUÇÃO

Conforme estudos realizados por Dias (1949) em uma escala histórica as primeiras
preocupações a respeito das questões ambientais surgiram em meados de do século XVIII. Entre os
primeiros precursores estão Geddes, Huxley, Marsh, Darwin, Bates, Warning e Haeckel. Na época,
as discussões eram baseadas em abordagens descritivas, e então, a partir do século XIX, as
concepções passaram a discorrer sobre as consequências da aceleração urbana e da perda da
qualidade ambiental devido às grandes explorações que se iniciavam. Desde o final da Idade
Moderna, as questões mais debatidas até os dias atuais, referem-se principalmente ao
desmatamento, ao desenvolvimento acelerado da indústria e do meio urbano, aos altos padrões de
consumo, às queimadas, que mesmo sendo proibidas, ainda ocorrem de maneira frequente; e a
imposição dos países desenvolvidos sobre os países que se encontram ainda em desenvolvimento.
No Brasil, o assunto começou a receber atenção apenas no final do século XIX, onde houve a
promulgação de decreto 8.843 de 1891, dando origem a Reserva Florestal do Acre.
Dias (1949) aponta que um dos primeiros desastres ambientais aconteceu em Londres, no
ano de 1952, quando um nevoeiro causado pela queima de combustíveis fosseis encobriu a cidade
provocando a morte de mais de 1.600 pessoas e deixando uma grande parcela da população com
sequelas. Assim, logo após alguns acontecimentos e inquietações, diversos eventos foram
desenvolvidos no intuito de abordar a problemática, tendo sido a Conferência de Estocolmo
considerada como um dos eventos mais importantes para a abordagem ambiental.
Desde os primeiros debates, muitas temáticas já foram discutidas com foco no meio
ambiente. Nos dias atuais, encontramos diversas pessoas que se preocupam com questões
ambientais, ou que pelo menos possuam interesse no assunto. No entanto, em meio às discussões, é
perceptível que certas temáticas recebem mais atenção do que outras. Não por serem mais
importantes que as demais, mas sim por estarem embasadas pela ação midiática. A contaminação
atmosférica é uma delas, pois seus efeitos não dispõem de fácil percepção, logo, tanto a população
como as autoridades governamentais não oferecem a devida atenção para o problema.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Contudo, nos últimos anos a poluição do ar vem apresentando um aumento significativo da


sua importância, segundo pesquisas realizadas pelo Health Effects Institute (2017). Atualmente, a
magnitude dos efeitos gerados pela poluição é maior do que a observada anteriormente, isso se dá
por conta da expansão acelerada dos agentes poluidores. A ocorrência é perceptível principalmente
nos centros urbanos, pois nessas áreas se encontram as diferentes fontes de emissão de gases, sejam
essas de origens móveis, estacionárias ou agrossilvopastoris. De acordo com o relatório emitido
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (2015) estima-se que, anualmente, mais de 2 milhões
de pessoas em todo o mundo tenham sua saúde e seu bem-estar prejudicados e corram o risco de vir
a óbito em consequência de problemas respiratórios ocasionados pela poluição atmosférica.
É possível encontrar pesquisas relacionando a temática a fontes geradas principalmente nos
centros urbanos, como por exemplo, por veículos automotores, indústrias, queima de resíduos
provenientes de grandes lixões etc. Entretanto, a presente pesquisa buscou analisar a poluição
atmosférica tendo como autor as queimadas advindas dos canaviais existentes no entorno urbano,
no intuito de apresentar os resultados da pesquisa de Iniciação Cientifica desenvolvida por
estudantes da Universidade de Pernambuco, na qual, encontra-se intitulada por Mapeamento dos
poluentes atmosféricos decorrente do beneficiamento da cana-de-açúcar, onde tem como objetivo
trabalhar a problemática centrada nas consequências que a queima da palha da cana-de-açúcar causa
ao meio ambiente e consequentemente a saúde da população que reside próxima aos canaviais.
Portanto, a justificativa desenvolve-se a partir de análises realizadas na região da Mata Norte
de Pernambuco, onde pôde-se observar que existe um déficit acerca de pesquisas e atividades que
abordem as consequências ocasionadas pelas queimadas. Logo, o trabalho reverte-se em uma
ferramenta de grande importância para a população local, já que estes, com a pesquisa e com as
atividades desenvolvidas, tiveram a oportunidade de esclarecer indagações e, com base nelas,
adquirir novos conhecimentos. Dessa forma, o objetivo teve como propósito utilizar a Educação
Ambiental como instrumento para alertar a população a respeito dos perigos da contaminação
atmosférica gerada pela da queima da palha da cana-de-açúcar.

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SEUS FEITOS À SAÚDE RESPIRATÓRIA OCASIONADOS


PELA QUEIMA DA PALHA DA CANA-DE-AÇÚCAR

―O Brasil é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar e exportador de açúcar do mundo


gerando entorno de mais de 2 bilhões de dólares por ano na balança comercial brasileira.‖
(ANTUNES; AZANIA; AZANIA, 2010). Apesar dos benefícios econômicos e sociais apresentados
por este setor, ―alguns aspectos ambientais precisam ser avaliados, e um dos mais importantes, é a
prática da queima da palha da cana-de-açúcar, que apresenta um alto potencial de impacto
ambiental‖ (FERREIRA; SIQUEIRA; BERGONSO, 2009).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

―A queima para a colheita é uma prática historicamente usada nos canaviais para elevar a
produtividade dos trabalhadores, diminuindo lesões ocasionadas pelas folhas cortantes das plantas e
ataques de animais peçonhentos‖ (SAIANI; PEROSA, 2015). No entanto, ―a queima desta matéria
orgânica libera para a atmosfera gases tóxicos primários, como, monóxido de carbono, dióxido de
carbono, metanos e hidrocarbonetos‖ (CRUZ, 2000). ―Em contato com o sol, muitos desses gases –
como o monóxido de carbono, o metano e os hidrocarbonetos – podem produzir ozônio (O3), por
meio de reação fotoquímica‖ (RIBEIRO; ASSUNÇÃO, 2002 citado por PARAISO, 2014). O
interessante é que ―o potencial de contribuição da cana-de-açúcar para os impactos ambientais não
inclui o gás carbônico emitido pelas queimadas, pois a absorção durante o crescimento da planta
através da fotossíntese é superior às emissões‖ (MANGABEIRA; HOTT; OMETTO, 2005). Já os
outros gases mencionados são altamente prejudiciais ao meio ambiente e consequentemente a saúde
humana, pois ―provocam e agravam doenças respiratórias e cardiovasculares‖ (CRUZ, 2000). De
acordo com Saiani e Perosa (2015):

Pesquisas sinalizam consequências distintas de acordo com faixas etárias, sendo as crianças
e os idosos os maiores prejudicados, já que estes possuem sistemas respiratórios mais
frágeis que os demais. As crianças são lesadas em função do menor volume pulmonar e do
desenvolvimento parcial do seu sistema imunológico, e os idosos por conta da debilitação
natural dos sistemas respiratórios e imunológicos.

Estudos realizados por pneumologistas, biólogos e físicos confirmam que as partículas


contidas nesses gases, especialmente as finas e ultrafinas, ―penetram no sistema respiratório
provocando reações alérgicas e inflamatórias, e ainda causam complicações em diversos órgãos
através da penetração via corrente sanguínea.‖ (FULIGEM, 2009 citado por FERREIRA;
SIQUEIRA; BERGONSO, 2009). Já os danos ambientais produzidos pela queima da palha da cana-
de-açúcar são ―perceptíveis principalmente na flora, com a devastação da cobertura vegetal; na
atmosfera, com o aumento das emissões dos gases tóxicos e na fauna, com o massacre dos animais
engolidos pelo fogo‖ (SERENINI; FILHO, 2013). Além disso, ―a queimada ainda aumenta a
temperatura e diminui a umidade natural do solo, levando à maior compactação e perda de
porosidade‖ (GONÇALVES, 2002 citado por ABREU et al., 2011). É importante ressaltar também,
que as queimadas ocorrem justamente no período de estiagem, quando as ―condições de
temperatura, umidade e velocidade dos ventos são desfavoráveis à dispersão dos poluentes,
mantendo-os assim por mais tempo no ar e, consequentemente, aumentando seus efeitos‖ (RAMOS;
JUNIOR, 2008).
―Os poluentes têm causado inúmeras internações e, consequentemente, altos gastos para o
Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, por serem efeitos indiretos da queima da cana-de-açúcar
acabam não sendo considerados‖ (FERREIRA; SIQUEIRA; BERGONSO, 2009). ―A questão é que
a maior parte dos atingidos por problemas de saúde ocasionados pela poluição atmosférica tem

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

gastos com consultas e remédios, mas não chegam a ser internados, o que indica que os efeitos são
ainda mais alarmantes‖ (DELFINE, 2006 citado por FERREIRA; SIQUEIRA, BERGONSO, 2009).
Assim, ―justifica-se a necessidade de redução ou eliminação de importantes e persistentes fatores de
risco para a ocorrência de doenças respiratórias‖ (PARAISO, 2014). Por esse motivo, é importante
desenvolver práticas que tenham como objetivo alertar a população a respeito dos riscos
ocasionados pelas queimadas.

OFICINA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE LOCAL DA


QUALIDADE DO AR NO MUNICÍPIO DE NAZARÉ DA MATA - PE

A prática pedagógica desenvolvida teve como pretensão proporcionar aos estudantes do 9º


ano do ensino Fundamental II da Rede municipal de ensino de Nazaré da Mata - PE a possibilidade
de vivenciar momentos descontraídos e produtivos, estimulando-os a compreender a dinâmica dos
processos geográficos a partir de uma análise local, no qual foram abordadas questões relacionadas
aos perigos da contaminação atmosférica gerada pela queima da palha da cana-de-açúcar.
As atividades foram fundamentadas em exercícios práticos e dinâmicos, sendo
desenvolvidos na Semana do Meio Ambiente, em junho de 2017, com realização na Biblioteca
Pública Municipal, localizada no município de Nazaré da Mata - PE. É importante salientar que
todas as abordagens aconteceram a partir de uma oficina, sendo esta dividida em três momentos, o
primeiro composto pela introdução, o segundo por uma explanação com base em fotografias e o
terceiro por um jogo de tabuleiro denominado por Quiz Ambiental, elaborado com perguntas e
respostas a respeito dos malefícios da monocultura canavieira.

Imagem I: Estrutura da Oficina

Fonte: O autor (2017)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Introdução da Oficina

A palestra inicial foi desenvolvida com o objetivo de fornecer informações preliminares a


respeito da problemática debatida durante a exposição. Nesse momento também houve uma breve
explicação a respeito das etapas seguintes, onde foram divididos os estudantes em oito grupos, cada
um com três componentes. A explanação na cabine fotográfica ocorreu com dois grupos por vez,
sendo estes direcionados para o Quiz Ambiental ao termino das apresentações. Em seguida, dois
grupos eram novamente direcionados para a cabine e assim sucessivamente.

Imagem II: Momento de Interação

Fonte: O autor (2017)

Explanação com base em fotografias

Por se tratar de uma abordagem em que os alunos já possuíam um conhecimento prévio,


optou-se por realizar uma exposição fotográfica, pois a mesma ―exerce o papel de perpetuar a
memória e de resgatar as lembranças‖ (CAMPANHOLI, 2014). Durante a exposição houve a
preocupação de sintetizar as informações em um esquema onde as imagens estivessem em uma
ordem de fácil compreensão. Primeiramente, foram apresentadas para os estudantes as regiões
produtoras de cana-de-açúcar no Brasil, segmentadas a nível nacional, estadual e municipal.
Posteriormente, foram apontadas as características que são favoráveis para o plantio e produção da
cana-de-açúcar na Mata Norte do estado de Pernambuco, região na qual desenvolve-se a pesquisa.
Em seguida, foram abordados os pontos positivos e negativos da monocultura canavieira, onde
houve uma melhor explanação a respeito dos malefícios gerados pelas queimadas, tanto para o meio
ambiente como para a saúde humana. Logo após, ocorreu um debate acerca dos benefícios da
colheita realizada a partir de maquinários, no entanto, durante esse momento também foram
enfatizadas as consequências sociais e ambientais ocasionadas por esta prática. Por fim, ocorreu um

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

levantamento das doenças respiratórias que são agravadas ou ocasionadas pela exposição às
substâncias liberadas pela queima da palha da cana-de-açúcar.

Imagem III: Cabine Fotográfica

Fonte: O autor (2017)

Quiz Ambiental

Um dos objetivos da oficina era realizar uma explanação que proporcionasse, além de
conhecimento, momentos descontraídos para os estudantes. Para finalizar as atividades foi
desenvolvido um jogo de tabuleiro denominado Quiz Ambiental, no intuito de reforçar o que foi
discutindo durante a exposição. Assim, as perguntas abordaram questões relacionadas desde o
plantio até os impactos gerados pelas queimadas ao meio ambiente e a saúde respiratória da
população que reside próxima aos canaviais.

Imagem IV: Dinâmica – Jogo de Tabuleiro

Fonte: O autor (2017)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dos resultados obtidos com a pesquisa foi possível deduzir que a saúde da população
está bastante vulnerável aos efeitos desta prática, que, infelizmente, persiste há décadas na região da
Mata Norte do estado de Pernambuco. Portanto, é preciso que haja engajamento por parte da
comunidade acadêmica em desenvolver estudos que detalhem as consequências ambientais e as

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 639


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

implicações à saúde humana provocadas pelas queimadas no período da colheita da cana-de-açúcar.


Durante as etapas de contato com a população foi possível perceber que a maior parte das pessoas
não tem conhecimento devido para discutir e exigir mudanças na forma como a pratica é
desenvolvida e, por isso, encontram-se conformadas com a situação.
Por esse motivo, buscou-se desenvolver meios que proporcionassem conhecimento a
comunidade, no intuito de fazer com que estes também se sentissem responsáveis na busca pela
mudança e que consequentemente se tornassem mais críticos, engajados e, principalmente, mais
sustentáveis. Mesmo sem possuir um conhecimento devido acerca da problemática, nesse processo
houve um respeito pelas concepções da população local, pois a temática trata-se de uma questão de
ordem ambiental/social em que todos fazem parte, compartilhando as responsabilidades.
Dentre as atividades realizadas com a comunidade, a oficina de educação ambiental com
estudantes do 9º ano do ensino Fundamental II da Rede municipal de ensino de Nazaré da Mata -
PE foi a que mais apresentou resultados positivos. Como citado anteriormente, o principal objetivo
foi abordar questões relacionadas aos perigos da contaminação atmosférica ocasionada pela queima
da palha da cana-de-açúcar na região da Mata Norte do estado de Pernambuco. Através da
exposição fotográfica pôde-se perceber que os jovens conhecem a realidade de forma superficial e
que não se preocupam com as consequências. No entanto, boa parte dos estudantes ao longo da
oficina mostraram estar sensibilizados com as observações e com os esclarecimentos realizados, no
qual passaram a entender que os mesmos também são atores e difusores na busca pela mudança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Ambiental como instrumento de difusão do conhecimento deve ser concebida


como um meio de responsabilidades que buscam desenvolver trabalhos contínuos em prol de uma
sociedade integrada, humanizada e sensível ao meio. Por isso, é importante abordar a concepção
ambiental a partir de uma escala temporal, espacial, visível e imediata à saúde humana e de todos os
outros seres vivos. Para isso acontecer é preciso rescindir paradigmas e fazer com que esta educação
esteja presente em todos os níveis do processo educativo sendo trabalhada de forma lúdica e integra
a fim de sensibilizar o maior número de pessoas.
Como mencionado, a poluição atmosférica vem recebendo uma maior atenção dentre os
trabalhos desenvolvidos com temática ambiental. No entanto, percebe-se que na maioria das vezes
as fontes de emissões locais são desconsideradas, o que faz com que a abordagem não seja realizada
de forma integra. No caso da poluição ocasionada pela queima da palha da cana-de-açúcar há a
necessidade de semear conhecimentos a respeito das consequências geradas, no intuito de instruir a
população. Assim, se torna essencial construir uma Educação Ambiental que atue com ênfase na
região da Mata Norte do estado de Pernambuco abordando os malefícios da poluição atmosférica

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 640


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ocasionada, principalmente, pelas queimadas. Porém, é importante que também haja preocupação e
engajamento em debater todas as temáticas ambientais, na tentativa de tornar a população cada vez
mais crítica e sustentável.

REFERÊNCIAS

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açúcar no Brasil e a saúde do trabalhador rural. São Paulo, 2011 Disponível em:
<http://www.anamt.org.br/site/upload_arquivos/revista_brasileir a_vo
lume_9_n%C2%BA_2_1212201310177055475.pdf> Acesso em: 05 mar. 2017.

ANTUNES, J. F. G.; AZANIA, C. A. M.; AZANIA, A. A. P. M. Impactos ambientais das


queimadas de cana-de-açúcar. Revista Cultivar, 2010. Disponível em:
<http://www.grupocultivar. com.br/ativemanager/uploads/arquivos/artigos/2701_gc_cana.pdf >
Acesso em: 28 fev. 2017.

CAMPANHOLI, J. A. M. Fotografia e educação: o uso da fotografia na prática docente. São


Paulo, 2014. Disponível em:
<http://mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus _7/julie.pdf> Acesso em:
24 mai. 2017.

CRUZ, A. P. F. N. A tutela penal das queimadas: o problema da cana-de-açúcar no nordeste


paulista. Justitia, São Paulo, v. 62, n. 189/192, p. 43-56, 2000. Disponível em: <http://bdjur.s
tj.jus.br//dspace/handle/2011/23741> Acesso em: 24 fev. 2017.

DIAS, G. F., 1949 – Educação ambiental: princípios e práticas / Genebaldo Freire Dias – 9. Ed. –
São Paulo: Gaia, 2004.

FERREIRA, J. C.; SIQUEIRA, S. S.; BERGONSO, V. R. Impactos causados pela fuligem da cana-
de-açúcar. Lins – SP, 2009. Disponível em: <www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/trabalho
/aceitos/CC29554518862A.pdf> Acesso em: 04. Mar. 2017.

MANGUEIRA, J. A. C.; HOTT, M. C.; OMETTO, A. R. Mapeamento de potenciais de impactos


ambientais da queima de cana-de-açúcar no Brasil. Goiânia: SBSR, 2005. Disponível em:
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PARAISO, M. L. S. Avaliação do impacto à saúde causado pela queima prévia de palha de cana-
de-açúcar no Estado de São Paulo. São Paulo: USP, 2014. Disponível em: <http://
www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-20022014-145043/pt-br.php> Acesso em: 14
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RAMOS, N. P.; JUNIOR, A. L. Impactos Ecológicos. Agência Embrapa de Informação


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RIBEIRO, E. P; LIMA, M. S. Estudos Multidisciplinares: uma abordagem holística. In:


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SAIANI, C. C. S.; PEROSA, B. B. Saúde Respiratória e Mecanização da Colheita da Cana-de-


Açúcar nos Municípios Paulistas: a importância do Protocolo Agroambiental. Brasília: RESR,
2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0103-
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 642


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

USO DE MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS SUBPROTUDOS COMO ADJUVANTES DE


CLADONIA SUBSTELLATA NA DESSALINIZAÇÃO DE SOLOS

Beatriz Teixeira de Araújo CLEMENTE


Graduanda do Curso de Geografia da UFPE
beatriz.tac96@gmail.com
Deyvson Natanael dos Santos LIMA
Graduando do Curso de Geografia da UFPE
deyvson.natanael@gmail.com
Andrezza Karla de Oliveira SILVA
Doutoranda na Pós-Graduação de Geografia da UFPE
andrezzakarlaufpe@gmail.com
Eugênia Cristina Gonçalves PEREIRA
Docente Departamento de Ciências Geográficas da UFPE
verticillaris@gmail.com

RESUMO
O processo de quelação ocasionado pela ação das substâncias liquênicas possibilita a liberação de
minerais consolidados no substrato, principalmente, rochas e solo. Neste sentido, visando
alternativas sustentáveis para recuperação de solos degradados pela salinização no Nordeste
brasileiro, objetivou-se avaliar a capacidade de Cladonia substellata de biorremediar solos
degradados pela salinização no município de Cabrobó (PE) a partir da incorporação de matéria
orgânica e seus subprodutos ao solo. Amostras de solo (9 kg), material liquênico (54 g) e matéria
orgânica (1,8 kg) foram utilizadas para montagem dos experimentos. O experimento foi subdividido
em dois tratamentos com uso de resíduos líquidos da decomposição da matéria orgânica nas
concentrações de 10% e 20%, e, um controle de laboratório, onde se fez uso de água deionizada.
Todos os grupos amostrais foram compostos por três réplicas. Realizou-se, mensalmente, coleta do
líquen (1 g) e de solo (10 g) para análise fenólica, bem como de fertilidade do solo aos três.
Observou-se bloqueio na síntese metabólica de C. substellata nos dois experimentos. É possível que
variáveis como matéria orgânica e seus resíduos e umidade ambiental podem ter interferido na
biossíntese da espécie. Constatou-se linearidade na produção de fenóis dos tratamentos e do
controle. Verificou-se que, mesmo, com níveis mais baixos de úsnico no talo houve a percolação
das substâncias para o solo em quantidades superiores, fato que favoreceu a quelação com os
elementos do solo. Portanto, C. substellata se mostra mais eficiente, quando em associação com a
matéria orgânica e seus subprodutos na recuperação de fertilidade de solos salinizados.
Palavras Chaves: Salinização, Biorremediação, Matéria orgânica, Líquen.
ABSTRACT
The process of chelation caused by the action of lichen substances allows the release of
consolidated minerals in the substrate, mainly rocks and soil. In this sense, aiming at sustainable
alternatives for the recovery of soils degraded by salinization in the Brazilian Northeast, the
objective was to evaluate the ability of Cladonia substellata of bioremediate soils degraded by
salinization in the municipality of Cabrobó (PE) from the incorporation of organic matter and its
byproducts to the ground. Soil samples (9 kg), lichen material (54 g) and organic matter (1.8 kg)
were used to assemble the experiments. The experiment was subdivided into two treatments with
the use of liquid residues from the organic matter decomposition at concentrations of 10% and 20%,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

and a laboratory control, where deionized water was used. All sample groups were composed of
three replicates. Lichen (1 g) and soil (10 g) were collected monthly for phenolic analysis, as well
as soil fertility at three. Blocking was observed in the metabolic synthesis of C. substellata in the
two experiments. It is possible that variables such as organic matter and its residues and
environmental humidity may have interfered in the biosynthesis of the species. Linearity was
observed in the phenols production of the treatments and control. It was verified that even with
lower levels of sole in the stem there was the percolation of the substances to the soil in higher
amounts, fact that favored the chelation with the elements of the soil. Therefore, C. substellata is
shown to be more efficient when in association with organic matter and its byproducts in fertility
recovery of salinized soils.
Key words: Salinization, Bioremediation, Organic matter, Lichen.

INTRODUÇÃO

Estudos desenvolvidos pelo Global Assessment of Soil Degradation-GLASOD


(ISRIC/UNEP, 1991) evidenciam que um total de 240 milhões de hectares do mundo são afetados
pela degradação química dos solos, desse total 12% é proveniente de um tipo de degradação
motivada, principalmente por interferências humanas. A utilização de técnicas de irrigação
inadequadas em solos com tendência a sodicidade e salinidade são um dos fatores que condiciona a
um processo de salinização. Dependendo da quantidade de água, do método utilizado para a
irrigação e da evapotranspiração da região, o solo pode se tornar salinizado (AGUIAR NETTO et
al., 2007).
A biorremediação se reverte como uma técnica que possibilita a utilização de organismos
vivos, tendo como finalidade reduzir ou remediar compostos orgânicos tóxicos ao ambiente. O
processo de biodegradação atua diante da introdução de processos biológicos, que aceleram e
incrementam a velocidade do processo natural de degradação (MARIANO, 2006). Ueta et al.
(1999) expõem que na biorremediação os microrganismos presentes no solo são capazes de
degradar e mineralizar substâncias tóxicas, tal fato permite a remediação biológica ou
biorremediação de uma área pela incorporação de microrganismos.
A capacidade quelante das substâncias produzidas pelos liquens podem se configurar como
possíveis agentes biorremediadores. A interação dos liquens com o solo subjacente pode ser
evidenciada a partir da volatilização de íons do substrato (VASCONCELOS, 2009) capturados
higroscopicamente pela espécie (NASH III, 2008), e na sucessão ecológica por meio da
modificação da composição química e na população microbiana do solo (SILVA, 2007).
A adesão dos liquens ao substrato é estabelecida pela penetração das hifas, ocasionando uma
desagregação física e liberação de compostos para dissolução de minerais (ADAMO e VIOLANTE,
2000). As substâncias liquênicas conseguem formar complexos solúveis com cálcio, magnésio,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ferro e alumínio (ISKANDAR e SYERS, 1972), sendo essa solubilidade facilitada pela presença de
grupos polares, como ―OH, ―CHO e ―COOH (RUNDEL, 1978).
Neste contexto, enquadram-se os liquens como possíveis agentes no processo de remediação
de solos degradados pela salinização no semiárido pernambucano, devido ao manejo inadequado e a
utilização de técnicas de irrigação mal supervisionadas, que tornam extensas áreas impróprias para
o cultivo agrícola. Deste modo, as substâncias orgânicas produzidas pelos liquens em associação
com os condicionadores orgânicos (matéria orgânica) podem interferir de maneira positiva nos
atributos físicos do solo, aumentando a condutividade hidráulica, a infiltração da água e
promovendo maior agregação às partículas do solo, com diminuição da dispersão promovida pelo
sódio (MIRANDA et al., 2011). Portanto, a presente pesquisa buscou avaliar a capacidade de
Cladinia substellata (líquen) de biorremediar solos degradados pela salinização no município de
Cabrobó (PE) a partir da incorporação de matéria orgânica ao solo.

METODOLOGIA

Coletas de líquen e solo foram realizadas nos municípios de Mamanguape-PB e Cabrobó-


PE, respectivamente. As amostras foram conduzidas para o Laboratório de Geografia Ambiental
(LAGEAM) para secagem e limpeza. O solo foi homogeneizado em uma única amostra e deixado à
temperatura ambiente (28 ± 3 ºC) por 15 dias para secagem e, posteriormente, peneirados para
diminuição de sua granulometria. Após esse processo foram separadas 9 amostras contendo 1 kg.
Selecionou-se uma porção do solo após homogeneização (500 g) para realização de análise
fertilidade (Ca, Mg, Na, P, K, Al, H, e pH em água) no Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).
Essa análise foi realizada aos 3 meses de montagem do experimento. Paralelamente, se construiu
biodecompositores orgânicos para geração e obtenção de matéria orgânica para montagem do
experimento (figura 1).

Figura 1 – Amostras de Neossolo flúvico (A), líquen Cladonia verticillaris (B) e matéria orgânica (C).

Foto: autores (2017).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foi montado experimento para observação da interação do líquen C. substellata com


Neossolo flúvico degradado pela salinização. Utilizaram-se 9 cúpulas de vidro transparente nas
dimensões de 20 x 15 x 15 cm, dividido em dois tratamentos e um controle de laboratório, todos
compostos por três réplicas, a saber: e) líquen (6 g) sobreposto a Neossolo flúvico (1 kg) e neste
acrescido matéria orgânica (200 g), sendo o talo do líquen borrifado com água deionizada; f) líquen
(6 g) sobreposto a Neossolo flúvico (1 kg) e neste acrescido matéria orgânica (200 g), sendo o talo
do líquen borrifado com água deionizada e chorume a 10%; g) líquen (6 g) sobreposto a Neossolo
flúvico (1 kg) e neste acrescido matéria orgânica (200 g), sendo o talo do líquen borrifado com água
deionizada e chorume a 20% (figura 2). Os borrifos no talo do líquen se deram com a quantidade de
5 mL, semanalmente.

Figura 2 – Montagem de experimento com Cladonia substellata e Neossolo flúvico com a incorporação de
matéria orgânica.

Foto: autores (2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os elementos químicos presentes no solo são de fundamental importância para a nutrição


dos vegetais subjacentes. Um solo para ser considerado fértil precisa abrigar as quantidades de
elementos químicos necessárias ao seu desenvolvimento à ausência de algum deles ou mesmo a
queda de sua concentração compromete o bom ciclo de vida das plantas (FAGEIRA e STONE,
2006).
Amostras do solo antes da montagem do experimento foram analisadas para quantificação
da fertilidade (Cálcio, Magnésio, Sódio, Potássio, Alumínio e Hidrogênio) e pH em água.
Observou-se que o solo no início do experimento apresentava um alto teor de sais, principalmente,
no que se refere à concentração de sódio. O cálculo da porcentagem de sódio trocável (PST=
(Na+/CTC)x100) resultou em solo salino-sódico (Tabela 1), caracterizando-se como um solo em
processo de degradação ambiental (EMBRAPA, 1997).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Solos do tipo Neossolo flúvico tem grande capacidade de reter substâncias pela grande
quantidade de argila expansiva (2:1), fazendo com que o solo tenha baixa capacidade de infiltração
de água e, consequentemente, dificuldades de drenagem o que facilitará a processos de salinização
(CHAVES et al., 2004; SILVA, 2014).
Constatou-se no experimento em que houve a incorporação de matéria orgânica ao solo os
tratamentos apresentaram redução de sódio aos três meses de experimento, quando comparado ao
controle de campo (Tabelas 1 e 2). Destaca-se, que devido à utilização de matéria orgânica se
evidenciou um incremento de fósforo ao solo no tratamento com uso de chorume a 20%, sendo de
aproximadamente 517%. Souza e Alcântara (2008) salientam os compostos orgânicos atuam como
condicionador e melhoram as propriedades físicas, físico-químicas e biológicas do solo, fornecendo
nutrientes, enraizamento e aumenta a resistência das plantas.
O enriquecimento de fósforo (P) nos três tratamentos: água, água acrescida de chorume a
10% e água acrescida de chorume a 20%, pode ser devido à utilização de matéria orgânica e do seu
subproduto líquido, pois de acordo com Costa e Sangakkara (2006), o teor de matéria orgânica -
MO pode ser identificado como determinante chave da fertilidade do solo. O aumento nos estoques
de MO constitui a principal base para todas as medidas agronômicas relacionadas a melhoria da
fertilidade do solo. A MO executa a função crucial de fornecer um número significativo de sítios de
ligação para elementos essenciais presentes no solo, contribuindo para o aumento da CTC e melhor
eficiência de utilização dos nutrientes.

Tabela 1 - Análise química da amostra de controle de campo de Neossolo flúvico antes da montagem do
experimento.
cmolc/dm3 %
2+ 2+ +
Análise P pH Ca Mg Na K+ A13-
H+ S(1) CTC V
química (mg/dm³) (H2O)
do solo
Controle 24 6,90 27,75 9,00 16,00 0,39 0,00 0,16 53,1 53,3 -
de campo
(1)
Soma de cátions
trocáveis
Fonte: IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco), 2016.

Tabela 2 - Análise química da amostra de Neossolo flúvico aos três meses de experimento com a
incorporação de matéria orgânica e talos de Cladonia substellata subjacente ao solo em diferentes
tratamentos.
cmolc/dm3 %
Amostras P pH Ca2+ Mg2+ Na+ K+ A13- H+ S CTC V
(mg/dm3) (H2O)
Análise da fertilidade do solo aos três meses de experimento
Solo/MO/Talo/ 86 7 13.0 6.65 14.0 2.4 0.0 0.57 36.1 36.6 98
Água
Solo/MO/Talo/ 123 6.9 13.9 8.1 14.0 3.0 0.0 0.90 39.0 39.9 98
Chorume 10%

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Solo/MO/Talo/ 148 6.9 12.25 6.95 14.0 2.9 0.0 0.90 36.1 37.0 98
Chorume 20%
Fonte: IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco), 2017.

Salienta-se que as substâncias liquênicas se constituem como importantes agentes no


processo de intemperismo sobre minerais rochosos. A capacidade das substâncias de ocasionarem
modificações na morfologia e composição dos minerais, principalmente pelas alterações nas
características da superfície rochosa, fragmentação de grãos, separação de camadas e dissolução de
cátions (CHEN et al., 2000). Esse fato corrobora com os resultados obtidos aos três meses de
pesquisa que evidenciaram alterações significativas em Neossolo flúvico degradados pela
salinização, estando de acordo com Galvan et al. (1981) que observaram a capacidade dos liquens
em modificar rochas metamórficas, descobriram que a interação líquen-rocha propiciava a retenção
de quartzo, já os minerais de mica foram encontrados retidos sob o talo liquênico, destacando que o
teor de retenção está relacionado à compactação da rocha e/ou teor de minerais de mica na rocha
matriz.

CONCLUSÃO

Constatou-se uma baixa produção fenólica de C. susbtellata em experimentos com uso de


Neossolo flúvico acrescido com matéria orgânica.
Verificou-se que houve interação química dos elementos contidos em Neossolo flúvico, da
matéria orgânica com as substâncias produzidas e percoladas por C. substellata. Esse fato foi
comprovado pelas alterações nos elementos químicos do solo, possibilitando maior equilíbrio. No
que tange o sódio, principal fator da salinidade/sodicidade do solo apresentou maior redução aos
três meses de experimento no tratamento com água acrescida com chorume a 20%.
Ressalta-se que a continuação de estudos nessa vertente e a utilização de outras técnicas
analíticas quantitativas poderão auxiliar na interpretação das relações líquen-solo salinizado e seus
condicionantes.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 650


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE PETRÓLEO EM PÓ EM PAVIMENTAÇÃO


ASFÁLTICA

Bervylly Lianne de Farias SANTOS


Graduanda em Engenharia Civil UFCG
bervylly.santos@gmail.com
Mila Thais Rezende e SILVA
Graduanda em Engenharia Civil UFCG
mila.rezende@outlook.com
José Bezerra da SILVA
Doutor em Engenharia de Processos UFCG
prbezerracg@gmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Pesquisadora Doutora em Engenharias de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com

RESUMO
A disposição incorreta de resíduos no meio ambiente está cada vez mais em pauta nos meios
políticos e acadêmicos, ganhando espaço nas politicas publicas e nos tópicos de pesquisas voltadas
para o desenvolvimento de novas alternativas de utilização dos resíduos em diversos setores de
mercado. Diante dos impactos ambientais gerados pelas indústrias que produzem resíduos como
consequência do seu processo produtivo, o estudo de uma destinação eficaz para esses resíduos é
crucial para diminuir os efeitos de degradação do meio ambiente e aumentar a qualidade de vida da
sociedade. A indústria petrolífera, por exemplo, é responsável por gerar um volume considerável de
resíduos diariamente, e tem sido feito estudos de alternativas no intuito de minimizar essa
problemática. Uma dessas alternativas é a utilização do resíduo oleoso na construção civil, mais
especificamente no setor de pavimentação asfáltica. Esse trabalho tem o propósito analisar a
incorporação de resíduo oleoso nos teores de 3,5, 4 e 4,5%, moldando três corpos de prova para
cada teor de CAP, seguindo o método de Dosagem Marshall, e realizando o ensaio de resistência à
tração por compressão diametral, para verificar as tensões de compressão média de acordo com o
teor de resíduo oleoso. Observou-se que o traço desenvolvido para mistura de agregados e a tensão
de compressão média satisfizeram os valores limites estabelecidos pelo DNIT, sendo cabível a
utilização do resíduo no pavimento asfáltico de maneira a diminuir os impactos ambientais gerados
pela disposição incorreta desse resíduo no meio ambiente, além de contribuir com a diminuição de
custos de produção.
Palavras Chave: Construção Civil, Impacto Ambiental, Resíduo, Pavimentação, Petróleo.
RESUMÉN
La disposición incorrecta de residuos en el medio ambiente está cada vez más en pauta en los
medios políticos y académicos, ganando espacio en las implementaciones de políticas públicas y en
los tópicos de investigaciones dirigidas al desarrollo de nuevas alternativas de utilización de los
residuos en diversos sectores de mercado. Ante los impactos ambientales generados por las
industrias que producen residuos como consecuencia de su proceso productivo, el estudio de un
destino eficaz para esos residuos es crucial para disminuir los efectos de degradación del medio
ambiente y aumentar la calidad de vida de la sociedad. La industria petrolera, por ejemplo, es
responsable de generar un volumen considerable de residuos diariamente, y se han hecho estudios

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de alternativas para minimizar esta problemática. Una de estas alternativas es la utilización del
residuo oleoso en la construcción civil, más específicamente en el sector de pavimentación asfáltica.
Este trabajo tiene el propósito de analizar la incorporación de residuo oleoso en los niveles de 3,5, 4
y 4,5%, moldeando tres cuerpos de prueba para cada tenor de CAP, siguiendo el método de
Dosificación Marshall, y realizando el ensayo de resistencia A la tracción por compresión
diametral, para verificar las tensiones de compresión media de acuerdo con el contenido de residuo
oleoso. Se observó que el trazado desarrollado para mezcla de agregados y la tensión de compresión
media cumplieron los valores límites establecidos por e, DNIT, siendo adecuado la utilización del
residuo en el pavimento asfáltico de manera a disminuir los impactos ambientales generados por la
disposición incorrecta de ese residuo en el medio ambiente Además de contribuir a la disminución
de los costes de producción.
Palabras Clave: Construcción Civil, Impacto Ambiental, Residuos, Pavimentación, Petróleo.

INTRODUÇÃO

A utilização do petróleo na sociedade atual tem um papel cada vez mais predominante,
como uma das principais fontes de energia, e também através do aproveitamento de seus derivados
como matéria prima para produção de diversos bens de consumo. Temos então o petróleo como um
combustível fóssil de grande significado para a economia mundial, que também apresenta um
problema devido à sua frequente introdução no meio ambiente, não apenas pelas atividades de
transporte deste combustível como também pela sua larga utilização industrial (NASCIMENTO,
2003).
O petróleo, do latim petroleum, petrus = pedra e oleum=óleo, ―óleo de pedra‖, trata-se de
um conjunto de substâncias oleosas, sendo inflamável, com densidade inferior a da água, com
cheiro característico e coloração podendo variar de incolor ou castanho claro até o preto. Sua
composição é na sua maioria de hidrocarbonetos alifáticos, alicíclicos e aromáticos, podendo
apresentar quantidades menores de nitrogênio, oxigênio, compostos de enxofre e íons metálicos,
como níquel e vanádio. Devido à falta de alternativas viáveis que substituam a utilização do
petróleo e seus derivados em grande escala, é necessário que se atente aos impactos e as ameaças
ambientais provenientes do processo de produção de gás, óleo e água, que ocorrem nas indústrias de
petróleo durante a separação de seus diversos componentes, na etapa de refino. As preocupações em
relação aos impactos ambientais recaem na quantidade produzida de resíduos líquidos, gasosos e
sólidos, de difícil tratamento e acomodação. Em decorrência de tais fatos, a indústria de refino de
petróleo, pode ser, e muitas vezes é, uma grande degradadora do meio ambiente, pois tem potencial
para afetá-lo em todos os níveis: ar, água, solo e, consequentemente, a todos os seres vivos que
habitam nosso planeta (MARIANO, 2001).
Os resíduos industriais, principalmente os gerados nas indústrias petroquímicas, constituem-
se em um dos graves problemas socioambientais não só do Brasil como do mundo, e são apontados
como um dos grandes desafios para as áreas responsáveis pelas pesquisas em planejamento e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

operação do sistema de destino final de resíduos sólidos (PIRES et al., 2004). No intuito de
contornar esse problema e diminuir os efeitos produtivos das refinarias de petróleo, diversas
pesquisas e estudos de alternativas estão sendo realizados. A incorporação desses resíduos na
construção civil é uma alternativa, pois esse é um dos setores responsáveis por grande parte da
exploração dos recursos naturais, incluindo a utilização abundante de derivados do petróleo, como o
cimento asfáltico de petróleo (CAP), na construção de vias urbanas e rodoviárias e manutenção de
pavimentos.
A relevância do estudo de destinação desses resíduos para a pavimentação asfáltica é ainda
mais significante ao se considerar a magnitude do território brasileiro, onde segundo a Associação
Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto (ABEDA) mais de 90% das estradas
pavimentadas nacionais são de revestimento asfáltico, e o número de vias e rodovias não
pavimentadas é considerável, além do percentual de manutenções anuais com as vias já
pavimentadas.

SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE

As questões ambientais estão ganhando cada vez mais enfoque, devido à escassez dos
recursos naturais e a preocupação com o meio ambiente, a sociedade tem buscado alternativas que
possibilitem a sustentabilidade das atividades econômicas, através de medidas que proporcionem
um crescimento sustentável com o mínimo de degradação ambiental. O manejo racional de resíduos
se encontra entre as questões mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente,
visando o alcance de um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todo o mundo
(CNUMAD, 2001).
A gestão ambiental dos resíduos sólidos é embasada na prevenção e minimização dos
resíduos sólidos, promovendo o consumo sustentável, a reciclagem e reutilização, propondo
destinação adequada aos rejeitos, que não podem ser reciclados ou reutilizados. A minimização
consiste em, através da redução na fonte, reutilização e reciclagem, diminuir a quantidade de
resíduos e/ou seu potencial de contaminação, minimizando a sua toxicidade e/ou periculosidade
(TEIXEIRA, 2000).
As indústrias petrolíferas estão buscando soluções alternativas e ecologicamente
sustentáveis para destinação dos resíduos gerados, no intuito de minimizar ao máximo os danos
causados ao meio ambiente, pois embora tenha ocorrido uma progressão na tecnologia no ultimo
século, os equipamentos e técnicas utilizados no refino do petróleo ainda são relativamente
primários, sendo necessária então a integração da variável ambiental no processo produtivo, desde o
planejamento até a operação da refinaria para minimização dos impactos gerados na produção. Uma
das maneiras de incorporar soluções sustentáveis é estabelecer na indústria a politica dos 3R‘s:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Reduzir, Reutilizar e Reciclar. A politica dos 3R‘s: Redução, Reutilização e Reciclagem,


consagrada na Agenda 21, têm por objetivo reduzir o impacto ambiental negativo das atividades
humanas, já que normalmente a sua aplicação implica na poupança de recursos não renováveis e
uma mais baixa emissão de poluentes para o solo, águas e atmosfera (PIO, 2002).
De acordo com Alves (2003), o tratamento e disposição final dos resíduos sólidos oleosos
oriundos da indústria de petróleo consistem em um desafio, pois é necessário compreender a
estrutura onde estão lado a lado fatores como a sobrevivência humana, preservação ambiental,
legislação ambiental, os limites tecnológicos, a economia local, a preservação dos recursos naturais
e a sustentabilidade da atividade petrolífera, enquanto fonte de energia e capital, e também de
degradação ambiental.
A disposição das borras oleosas é um problema para as indústrias de petróleo, devido ao alto
teor de compostos perigosos presentes, como as espécies metálicas ou os compostos orgânicos
carcinogênicos como o fenol e o benzeno (AL-FUTAISI et al., 2007). As atividades de
reaproveitamento desse e de outros resíduos torna-se uma medida fundamental para um sistema
sustentável, evitando os agravantes do descarte inadequado, como contaminação do solo e água.
O setor de pavimentação asfáltica é uma das áreas mais produtivas da construção civil,
representando uma das vertentes do comércio da indústria petrolífera, de forma a ser um produtor
indireto dos resíduos gerados com a produção do cimento asfáltico de petróleo (CAP). Além dos
impactos ambientais causados na produção do asfalto, ainda tem-se os impactos gerados no
dimensionamento do pavimento, que no geral tem um ciclo de vida de 20 anos, dependendo da
qualidade asfáltica. Esse ciclo de vida é dividido em cinco etapas, extração do material, produção,
construção, manutenção, utilização e fim da vida útil do asfalto.
Fazendo a análise das circunstâncias, certifica-se a necessidade de medidas alternativas que
propiciem a reciclagem dos resíduos, que minimizem o lançamento dos sedimentos no meio
ambiente e estimule a utilização dos resíduos como matéria-prima para novos insumos, no intuito
de diminuir gastos com matérias-primas não renováveis e reduzir a emissão de poluentes,
promovendo uma qualidade de vida melhor para a população.

RESÍDUO OLEOSO DE PETRÓLEO

Em um campo de petróleo, marítimo ou terrestre, ocorre a produção de óleo, gás e água


simultaneamente, sendo a produção de hidrocarbonetos (óleo e gás) o enfoque econômico. Quando
se extrai o petróleo dos poços, ele vem à tona com grande quantidade de água, gás e sedimentos.
Antes de seguir para o refino, precisa passar por processamentos primários nos quais, o óleo e o gás
são separados da água e das outras substâncias. O destino dos resíduos, denominado de Borra

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Oleosa, que são resultantes desse processo é um desafio para a produção de petróleo, uma vez que
contém metais, óleo pesado e outros poluentes (PAULINO, 2011).
Os resíduos oleosos ou cascalhos de perfuração são misturas de pequenos fragmentos de
rochas impregnados com o fluido usado para lubrificar e resfriar a broca durante a perfuração. Estes
podem conter contaminantes que dependem da composição química utilizada no fluido de
perfuração e da composição da formação rochosa, podendo apresentar hidrocarbonetos e metais
pesados como arsênio, bário, cádmio, chumbo, cromo, mercúrio, prata e selênio, e altos índices de
cloretos, óleos e graxas (MENDONÇA, 2015). Costuma-se adotar o termo borra oleosa para
designar materiais sólidos oleosos da indústria de petróleo, devido as suas características físico-
químicas. Segundo a NBR 10004 (ABNT, 2004), são classificados como resíduos de classe I –
perigosos.
Segundo Mendonça (2015), a destinação dos resíduos sólidos provenientes da indústria de
petróleo consiste uma problemática, adotando comumente o lançamento no subsolo, a recarga das
camadas profundas por bombeamento ou armazenagem em lagoas para evaporação e infiltração. O
impacto ambiental na indústria petrolífera se deve em grande parte, a disposição inadequada desses
resíduos, que pode ocasionar em poluição do solo, derrames acidentais e obras de terraplenagem
ocasionadas pelo setor petrolífero.
O tratamento e a disposição da borra oleosa representam os maiores desafios para as
indústrias de petróleo, onde diversas tecnologias convencionais têm sido executadas, tais como o
tratamento biológico, incineração, entre outros. Porém, nenhuma tecnologia tem alcançado
atualmente uma solução altamente satisfatória e eficaz do ponto de vista ambiental.
Consequentemente, existe uma necessidade de tecnologias ambientais capazes de neutralizar
eficazmente a borra oleosa e de reduzirem seus impactos adversos no ambiente (COSTA, 2010).
A determinação do método de tratamento vai depender das características físico-químicas do
resíduo, e do suporte financeiro para execução do método. Os tratamentos que já foram testados até
então não foram capaz de solucionar integralmente o problema, sendo necessário descobrir uma
solução para cada caso em particular. No entanto, ao analisar a amplitude do impacto ambiental
causado pelo despejo das borras oleosas no solo e os números crescentes de produção de petróleo
no Brasil, segundo a PETROBRAS (2017) alcançou a produção média no país de 2,2 milhões de
barris por dia no mês de julho, 0,6% superior ao mês de maio, é crucial que se considere medidas
alternativas para destinação desse resíduo, tais como a reciclagem na área da construção civil.

CONSTRUÇÃO CIVIL – PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

A construção civil costuma ser empregada como indicativo do desenvolvimento econômico


do país, por está ligada a infraestrutura e ser responsável por parte significante da geração de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

emprego e rendas de uma nação. O crescimento da área da construção civil resultou no aumento no
consumo de recursos naturais, de modo a promover a manutenção do equilíbrio e sustentabilidade
ambiental, por meio de medidas alternativas, tais como a reciclagem de resíduos sólidos
provenientes de outra atividade para substituir ou ser adicionado na produção de novos produtos, e
assim evitar um colapso devido ao esgotamento de um recurso natural não renovável.
O setor de pavimentação asfáltica, que é um dos maiores setores da construção civil, vem
demandando uma quantidade considerável de recursos naturais oriundos do petróleo, gerando assim
impactos ambientais na produção do asfalto utilizado. O uso de resíduo oleoso de petróleo na
composição do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) mostra-se uma solução viável e sustentável,
de maneira a diminuir os gastos e os impactos envolvidos na comercialização do asfalto, e oferecer
uma destinação adequada para um material anteriormente descartado, muitas vezes
inadequadamente.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados na realização do estudo, foram:


Agregados Graúdos: Para a pesquisa foram utilizadas britas de origem granítica, com
dimensões máximas de 19,0 mm e 9,5 mm, provenientes de jazida localizada no município de
Campina Grande – PB.
Agregado Miúdo: Oriundo de jazida localizada no município de Campina Grande – PB, o pó
de pedra com diâmetro máximo de 4,8 mm foi utilizado como agregado miúdo na mistura asfáltica.
Fíler: O Resíduo Oleoso (RO), proveniente da perfuração de poços de petróleo da unidade
de Taquipe da PETROBRÁS no Estado da Bahia, e originalmente em forma de cascalhos, foi
submetido aos processos de trituração, destorroamento, e peneiramento, para a obtenção de
partículas com dimensões menores que 0,075mm, adicionadas como fíler na mistura asfáltica e
atuando como material de enchimento na mistura.
Ligante asfáltico: O Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) utilizado nessa pesquisa,
fornecido pela PETROBRAS, foi caracterizado e classificado pelo seu grau de penetração como
CAP 50/70 de acordo com nova especificação brasileira (ANP, 2005). O CAP 50/70 é comumente
utilizado para misturas CBUQ na região Nordeste por apresentar menor suscetibilidade a altas
temperaturas.
Inicialmente foi realizada a caracterização dos materiais através de ensaios de granulometria
e determinação da massa específica. Sequencialmente foi utilizado o método analítico para
determinação dos teores dos materiais utilizados na mistura, com o objetivo de enquadrá-la na faixa
―C‖ do DNIT, descrita na especificação de serviço (DNIT 031/2006 – ES) para pavimentos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

flexíveis. Nesta etapa, a mistura de agregados é considerada como 100%, e as porcentagens do


ligante devem ser referentes a este percentual.
Os agregados graúdos provenientes de rocha granítica apresentaram valores de massa
especifica com pouca variação. Apesar do pó de pedra ter a mesma formação que as britas, este
apresentou valor inferior que pode ser explicado pelo fato deste material ser proveniente de uma
jazida diferente. O valor obtido para o CAP 50/70, segundo a literatura foi de 1,207 g/cm³. Os
resultados obtidos são apresentados na Tabela 1.

Tabela 7-Massa Específica dos materiais utilizados


Material Massa especifica do material (g/cm³)
Brita #19 mm 2,647
Brita #9,5mm 2,662
Pó de Pedra 2,525
Resíduo Oleoso (RO) 2,340
Fonte: Autoria Própria.

Foram moldados três corpos de prova para cada teor de CAP, seguindo o método de
Dosagem Marshall descrito na norma do DNIT – ME 043/95, e compactados em uma única camada
com 75 golpes por face para determinação da resistência a tração por compressão diametral.
Resistência à tração por compressão diametral: O ensaio de resistência à tração por
compressão diametral (RT) é um ensaio de ruptura, onde o corpo de prova é posicionado
horizontalmente e a carga é aplicada diametralmente a uma velocidade de 0,8 ± 0,1mm/s. Os
ensaios foram conduzidos à temperatura de 25ºC e realizados segundo a norma DNIT 136/2010-
ME. Foram utilizados os teores de resíduo oleoso de petróleo de 3,5%, 4% e 4,5%. O teor ótimo de
ligante obtido pelo ensaio Marshall para Concreto Betuminoso Usinado à Quente – CBUQ foi de
5,3%.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Figura 1 ilustra os resultados obtidos com a utilização do método analítico para


elaboração do traço inicial para misturas do Concreto Betuminoso Usinado à Quente – CBUQ.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1- Traço desenvolvido para as misturas do CBUQ.


Fonte: Autoria Própria.

Observa-se na Figura 1 que o traço desenvolvido se enquadra entre o limite mínimo e


máximo para faixa ―C‖ do DNIT. A tensão média de compressão foi analisada de acordo com o
percentual de resíduo oleoso de petróleo, de acordo com os dados ilustrados na Figura 2.

Figura 2 – Tensão média de compressão (MPa) versus Porcentagem de resíduo oleoso de petróleo (%).
Fonte: Autoria Própria.

Obseva-se que os melhores resultados obtidos para a tensão média de compressão de 0,939
MPa foi obtida para a mistura com adição do teor de 4,5% de resíduo oleoso de petróleo. Porém
para todos os percentuais analisados os valores obtidos foram superiores ao limite mínimo de
0,65MPa estabelecido pelo DNIT.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Os resultados do estudo mostraram-se positivos, sendo o resíduo oleoso de petróleo passivel


de ser utilizado como agregado na pavimentação asfáltica, atingindo resultados que atendem aos
parametros estabelecidos, contribuindo para a redução do impacto ambiental originário da geração
diária de volumes significantes desse resíduo pela indústria petrolífera e da sua disposição incorreta
no meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os dados obtidos, pode-se concluir que:

O resíduo oleoso de petróleo denota potencialidade para utilização na pavimentação


asfáltica, com o traço desenvolvido mantido dentro dos limites da faixa ―C‖ do DNIT e as tensões
de compressão média da mistura superiores ao limite mínimo estabelecido pelo DNIT, para todos os
percentuais de resíduo oleoso analisados no estudo.
O emprego do resíduo oleoso na composição do pavimento asfáltico como material
alternativo irá colaborar com a redução dos impactos ambientais oriundos do descarte incorreto
desse sedimento no meio ambiente, além de impactar positivamente o consumo de materias primas
no processo produtivo que será reduzido, assim como o custo de produção. A solução mostra ser
possível trazer para construção civil mais um material alternativo, com ganhos econômicos,
ambientais e socioeconômicos.

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em http://www.ambiente.sp.gov.br/residuos/ressolid_ind/palest.htm Acesso em: Agosto 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 660


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ANÁLISE DE IMPACTOS DOS PARQUES EÓLICOS NOS DISTRITOS DE MUNDAÚ


E FLECHEIRAS, TRAIRI-CEARÁ

Bruna Gabriele de Oliveira ARAÚJO


Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária da FANOR
bgoa.geo@gmail.com
Tyhago Aragão DIAS
Professor/Orientador do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da FANOR
tdias@fanor.edu.br

RESUMO
O presente trabalho abre discussão sobre os impactos ambientais causados na implantação dos
parques eólicos no litoral cearense, com ênfase nos distritos de Mundaú e Flecheiras, que
respectivamente localizam-se no litoral oeste do Ceará, no município de Trairi à aproximadamente
150 km de Fortaleza. A instalação dos aerogeradores na área foi feita sob o discurso que a chegada
desse tipo de empreendimento na região haveria um ―desenvolvimento sustentável‖, propiciando
muitas vantagens socioeconômicas à população local, sem alterar consideravelmente a dinâmica
paisagística, além de ser considerada uma energia ―limpa‖. Porém, no presente estudo percebeu-se
que esse discurso não condiz com a realidade encontrada na região após a implantação dos parques
eólicos. Observou-se que os parques eólicos estão localizados na APA do Rio Mundaú e em área de
APP, no qual, uns dos impactos mais evidenciados foram que as formações de dunas móveis,
sofreram modificação pela ação antrópica, tornando-as fixas para evitar danos às torres, entre outros
impactos. O levantamento de dados em campo propiciou que se chegasse a conclusão que os
impactos não se limitaram apenas ao ecossistema, mas houveram impactos socioeconômicos, como
por exemplo, o aumento da criminalidade no local, que sempre foi conhecida por ser uma área
pacata.
Palavras-chaves: Parque eólico, Trairi, Impactos Socioambientais.
ABSTRACT
This work opens discussion on the impacts on the implementation of wind farms in Ceará, with an
emphasis on Mundaú and Flecheiras district which is located on the west coast of Ceará, in the
municipality of Trairi at 150 km from Fortaleza. The installation of wind turbines in the area, was
made in the speech that the arrival of this type of development in the town there would be a
"sustainable development", providing many socio-economic benefits to the local population,
without significantly change the dynamics landscaping as well as being considered a clean energy".
However, in this study it was realized that this speech does not match the reality found in the region
after implanting the wind farms. It was observed that wind farms are located in the APA Mundaú
River and in APP area , where one of the most evident impacts were the formations of mobile dunes
were changed by anthropic action, making them fixed to prevent damage to the towers, among other
impacts. Data collection in the field, led to arrive at the conclusion that the impacts are not limited
only to the ecosystem but there were socioeconomic impacts, such as increased crime on site, which
has always been known for being a quiet area.
Keywords: Wind farm, Trairi, Social and Environmental Impacts.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O litoral nordestino é repleto por belezas singulares com um elevado valor paisagístico e
cultural. Historicamente são as áreas mais ocupadas em todo o território do estado. Configuram-se
por seus sistemas ambientais dinâmicos e frágeis, com um alto nível de vulnerabilidade frente às
atividades antrópicas, portanto gerando impactos negativos por grandes empreendimentos. Dentre
eles um dos que causam impactos no litoral, principalmente na zona costeira cearense, são os
parques eólicos. Tendo em vista que a energia eólica destaca-se devido ao enorme potencial do país,
à constante redução do preço MW/hora negociado nos leilões e ao interesse crescente de
investidores‖ (MELO, 2013).
No Brasil, o primeiro projeto foi instalado na Ilha de Fernando de Noronha, em 1992, para
substituir a produção a diesel. Atualmente, existem no Brasil, segundo dados da Agência Nacional
de Energia Elétrica (ANEEL, 2015), 36 empreendimentos de produção de energia eólica em
operação, com produção de 602.284 kW, ou 0,57% dos 105.853.740 kW pelos 2.138
empreendimentos em operação.
O presente artigo faz um recorte para análise dos impactos ambientais causados pela
implantação dos parques eólicos no município de Trairi, especificamente nos distritos de Mundaú e
Flecheiras (Mapa 1), que fica localizado aproximadamente à 150 km da capital Fortaleza, no litoral
oeste do estado.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Mapa 1:Localização do Municipio de Trairi- CE.

Primeiro foi identificado que há na região estudada uma Área de Proteção Ambiental (APA)
do Estuário do Rio Mundaú, no qual, evidencia-se que não há o cumprimento da legislação
ambiental vigente. De acordo com Jatobá Lins (2008), ―[...] os estuários sofrem influencias de
diversos agentes, como os ventos, descargas fluviais, ondas e marés; são áreas que se configuram
como de transição entre o continente e o oceano‖. Desta forma, demonstra-se a fragilidade dos
ecossistemas litorâneos cearense.
Foi observado que na área do distrito de Flecheiras, o parque eólico foi instalado em uma
Área de Preservação Permanente (APP). Cabe salientar que as APPs possuem papel fundamental na
perpetuação da biodiversidade e de abastecimento hídrico, além de apresentar-se como um
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

importante mecanismo na melhoria da qualidade do ar, de regulação das médias dentre outros
serviços ambientais.
No projeto da obra, a empreiteira alega que a Lei Federal 4771/64 no Art° 4, estabelece que
possa existir a intervenção e supressão da vegetação em área de preservação permanente, para
realizar obras ou atividades de caráter de utilidade pública, quando inexistir alternativas técnica ou
locacionais. Porém, como cita Meireles (2011):

[...] há alternativas locacionais, para instalação de usinas eólicas, sem prejudicar a


uma área de preservação, como por exemplo, em áreas onde exista a
disponibilidade de vias de acesso asfaltadas e estradas carroçáveis;que
anteriormente eram áreas utilizadas para atividades agrícolas, com áreas
desmatadas e vegetação secundária; áreas disponíveis afastadas dos sistemas
ambientais de preservação permanente (dunas móveis e fixas, rios, riachos e lagoas
sobre o tabuleiro); em geoambientais mais estáveis; áreas afastadas da rota das aves
migratórias que utilizam a zona costeira,principalmente os estuários entre os
campos de dunas;[...]

Essa região foi de forma gradativa ocupada por grandes empreendimentos (Mapa 2), onde os
investidores alegaram que tais empreendimentos servirão como geradores de emprego, melhoria na
qualidade de vida das comunidades tradicionais e fomento para economia local.

Mapa 2: Localização dos parques eólicos.

A medida que foi implementado a noção que a comunidade não possuía acesso a
informação, baixa escolaridade e pouca qualificação profissional, ocorria o aproveitamento do
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poder público, o qual sobrepõe-se ao poder de permuta das empresas, assim, evidenciou-se uma
facilidade para a instalação de atividades sócio econômicas impactantes a unidade ambiental.
Desta forma, os habitantes dos distritos acreditam que este tipo de empreendimento é
importante para a região, propiciando empregos para comunidade e construindo expectativas
positivas para economia local.
Em contraponto, o que percebe-se são empregos de baixa remuneração que distanciam os
jovens das atividades tradicionais herdadas dos pais, além de impactar negativamente o ambiente
natural, prejudicando a dinâmica do turismo regional, uma vez que ocorre a perda das belezas
cênicas do litoral e, dessa forma, retirando as expectativas positivas construídas diante do cenário de
melhorias planejadas.

METODOLOGIA
O trabalho foi embasado a partir da concepção metodológica geossistêmica, que objetiva a
compreensão das unidades de paisagem da área de estudo, no qual, enfatiza a realização de uma
análise integrada dos elementos estudados, dessa forma, auxiliando o entendimento das relações que
ocorrem entre os meios físico-naturais e os antrópicos.
Destaca-se que para elaboração de tal estudo foi necessário realizar uma etapa de
identificação e caracterização das unidades que fazem parte da paisagem costeira do Ceará, assim,
embasando a análise dos impactos ambientais.
Associado a identificação e caracterização da região, foi realizado um levantamento
bibliográfico a respeito do tema, por meio de livros e principalmente artigos eletrônicos, além de
visitas programadas a campo, com o objetivo de conhecer a realidade socioambiental da região
onde ocorreu a implantação dos parques eólicos e a APA do Estuário do rio Mundaú, incluindo as
comunidades do entorno e que adquirem dela os seus recursos naturais. Por fim, a análise dos dados
ambientais e sociais seguiu uma linha sistêmica e integrada.

RESULTADOS E DISCUSSÂO
Observar-se que a distribuição dos parques eólicos não foi feita sobre o solo de maneira
igual, constante e equilibrada. Geralmente para a instalação de tais empreendimentos há uma
influência da ocupação humana e suas construções, pelas características da cobertura vegetal, pela
variação do relevo, dos fenômenos térmicos como os ventos e chuvas, etc.
Apesar do grande potencial eólico do Brasil em números absolutos, da ordem de 145 GW
(equivalente a 10 usinas de Itaipu), em contrapartida não é em qualquer local que as instalações de
parques eólicos são viáveis economicamente.
Percebe-se que é necessário um conjunto de vários fatores, os quais variam de ordem
técnica, ambiental, jurídica, estrutural e econômico-financeira. Em primeiro lugar para ser
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considerado viável, é fundamental que o projeto de um parque eólico busque sua implantação em
locais com abundância em vento, com velocidades médias, fato que ocorre em quase todo o litoral
do Ceará.
Um parque eólico apresenta uma baixa taxa de ocupação em relação às propriedades que
ocupam, permitindo, assim, a utilização partilhada da área com outros usos, tais como: agricultura,
agropecuária, piscicultura, carcinicultura, dentre outros. Porém, boa parte das obras civis dizem
respeito basicamente às fundações da torre, sendo essa etapa de instalação, a qual ocasiona maior
impacto ambiental do ambiente físico natural. Esse impacto ambiental é tido como ―alteração
significativa de parte ou da totalidade do ambiente‖ (ESPINOZA, 2001).
Verifica-se que para assegurar o acesso às turbinas e cabines de controle, estradas foram
construídas sobre o sistema ambiental litorâneo onde encontra-se a formação de dunas. Portanto,
por sua fragilidade e instabilidade ocorreua compactação das dunas, afetando assim,a infiltração da
água pluvial advinda da precipitação e reduzindo a recarga do lençol freático.
Ressalta-se, que este sistema ambiental, o solo é arenoso, propiciando a infiltração,
fundamental para recarga hídrica do lençol freático, diferente do que predomina no interior do
Estado do Ceará, que é constituído de terreno cristalino, onde praticamente não ocorre recarga
subterrânea.
Outro fato elencado, foi que para evitar que as dunas móveis avançassem, soterrando as
bases das torres e as estradas foram fixadas com técnicas artificiais. Portanto, ocorre assim
incremento no transporte de areia para o rio, produzindo o impacto ambiental negativo do
assoreamento do recurso hídrico, consequentemente comprometendo a vazão da calha do rio.
Com isso, podemos nos referir à capacidade de suporte da região, no qual, denomina-se ao
nível de utilização dos recursos naturais e da intervenção que um sistema ambiental pode suportar
sem ocorrer impacto ambiental, esta capacidade de suporte torna-se ultrapassada, quando o
consumo sobressai a reposição, ou seja, ocorrem, principalmente, quando este, torna-se irreparável
pelo alto grau de degradação do sistema ambiental.
Assim, partindo do princípio que a degradação segundo Pires e Santos apud Oliveira
Machado (1999) tem as funções comprometidas, a qualidade ambiental diminui. "Considera-se,
então, que houve um desequilíbrio ambiental, ou seja, que foi ultrapassado o limite regulador do
ambiente, por uma sobrecarga em sua capacidade suporte‖. Vale ressaltar, a maleabilidade deste
conceito de avaliação, pois se concentra em variáveis e não absolutas.
Além disso, a capacidade de suporte estabelece uma relação entre as potencialidades e as
limitações. De acordo com Souza et al(2009):

As potencialidades são tratadas como atividades ou condições exequíveis de praticar em


cada sistema ambiental, sendo propícias à implantação de atividades ou de infraestrutura.
As limitações ao uso produtivo, além das restrições ligadas à legislação ambiental, são

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identificadas com base na vulnerabilidade e nas deficiências do potencial produtivo dos


recursos naturais e no estado de conservação da natureza, em função dos impactos
produzidos pela ocupação urbana.

Dessa forma, a princípio a capacidade de suporte para FILET apud Oliveira Machado
(1999) apresenta-se como a eficiência dos ambientes em acomodar, assimilar e incorporar um
conjunto de atividades antrópicas sem que suas funções naturais sejam fundamentalmente alteradas
em termos de produtividade primária. Estas advêm como, conceito de avaliação do sistema
ambiental à frente das intervenções e uso.
Além dos impactos físicos ao ambiente, a implantação de um parque eólico também acarreta
conflitos internos na comunidade. Isso ocorre, pois há uma divergência de opiniões: de um lado
população está a favor do empreendimento, entendido como fomentador de emprego e renda, e de
outra contra, entendendo a instalação e a manutenção do negócio como causadoras de problemas
ambientais e sociais.
A priori, sabe-se que a absorção de trabalhadores locais para as obras gerou uma alteração
que pode ser significativa no perfil da população local. O aspecto positivo associado é que é
previsível a mitigação de problemas de adaptação às condições locais, bem como a redução nos
custos com deslocamento e moradias para os trabalhadores, além de trazer um ―desenvolvimento‖
mais real à região.
Por outro lado, trabalhadores de outras regiões eram atraídos. Assim, tem-se um aumento
populacional, o que requer novas demandas em diversos setores do serviço público, por exemplo,
consumo de energia elétrica e a utilização de postos de saúde.
Assim, tal incremento populacional pode diminuir a qualidade de serviços que são essenciais
ao bem-estar das pessoas e que nem sempre apresentam qualidade satisfatória. Algo relatado pelos
moradores era que na medida em que o empreendimento começou a ser implantado e
consequentemente houve a atração de novos habitantes, o índice de criminalidade aumentou.
Muitos atrelam isso ao fato da região depois da instalação dos parques eólicos ficarem muito visada
por outros investimentos, ou pelo motivo que com o termino das etapas de construção do parque
eólico, o serviço de parte dos empregados já não era necessário, assim, a oferta de emprego fixo e
consequentemente melhores condições de vida transformou-se em desemprego e falta de
perspectiva entre alguns membros da comunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Ceará em decorrência da sua localização privilegiada foi o pioneiro em investimentos na


construção de parques eólicos e continua expandindo de forma acelerada. De acordo com a ADECE
(Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará), ―o Ceará deverá ter em seu território, o

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funcionamento de 69 usinas eólicas, sendo em sua maioria situada na sua zona costeira, resultando
em uma potência de 1.818,0 MW até o final do ano de 2016‖.
Assim, é notório que o potencial instalado de energia eólica no Ceará continua a crescer e tal
ampliação precisa ser cautelosa para que não existam problemas irremediáveis(figura 1). Em suma,
como cita Meireles (2011),

[...] os impactos físicos causados pela implantação dos parques eólicos destacam-se:
alterações topográficas e morfológicas; aterramento de dunas fixas e eliminação de sua
vegetação; alteração do nível hidrostático do lençol freático, o que pode influenciar no
fluxo de água subterrânea e na composição e abrangência espacial das lagoas interdunares;
secção das dunas, lagoas e planície de aspersão eólica; mudança na dinâmica eólica,
acelerando o processo erosivo; impermeabilização do solo, que pode alterar o nível de água
doce nos aquíferos.

Figura 1: Processo de compactação das dunas na praia de Mundaú para a instalação das torres eólicas em
2013.

Com relação aos impactos sociais, faz-se necessário atentar-se para o fato que os mais
beneficiados foram aqueles moradores que já haviam uma boa renda familiar, causando o efeito
reverso pelo que foi proposto, ao invés de contribuírem para uma maior distribuição de renda,
colaboraram para uma maior concentração de renda na comunidade.
Na tentativa do alcance ao ―desenvolvimento sustentável‖ e na mudança da matriz
energética para uma ―energia limpa‖, observou-se que todo isso gera uma desigualdade de custos e
benefícios entre grupos sociais da localidade de Flecheiras e Mundaú.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. J. A. Análise regional da energia eólica no Brasil. Revista Brasileira de Gestão e


Desenvolvimento Regional, v. 6, n. 1. Taubaté: 2010.

ADECE. Agencia de Desenvolvimento do Estado do Ceará. Disponível em:


http://www.adece.ce.gov.br/index.php/sala-de-imprensa/noticias/43489-ceara-deve-ter-65-
parques-eolicos-ate-2016-. Acesso em: 10 dez. 2015.

ANEEL (Brasília, DF). Energia Eólica. Disponível em: www.aneel.gov.br/aplicacoes/atlas/pdf/06-


ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 668
Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Energia_Eolica(3).pdf. Acesso em: 10 dez. 2015.

ESPINOZA, G. Fundamentos de Evaluación de Impacto Ambiental. Banco Interamericano de


Desarrollo – BID. Santiago, Chile, 2001.

JATOBA, L; LINS, R.C. Introdução a Geomorfologia. Revista e Ampliada, v. 5, p. 45-50. Recife:


2008.

MEIRELES, A. J. A. Danos socioambientais originados pelas usinas eólicas nos campos de dunas
do Nordeste brasileiro e critérios para definição de alternativas locacionais. Confins [Online],
v. 11, 2011. Posto online em 03 Setembro 2011. Disponível em:
<http://confins.revues.org/6970> Acesso em: 15 dez. 2015.

MELO, E. Fonte eólica de energia: aspectos de inserção, tecnologia e competitividade. In: Estudos
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MENDES, J. S.; GORAYEB, A.; MACHADO, Y. L. Os grandes empreendimentos e as


comunidades tradicionais: o caso da comunidade de Mundaú- Trairi, Ceará. Revista Monografias
Ambientais, v. 14, n. 3, p. 3357- 3365, Santa Maria: 2014.

OLIVEIRA, T. A.; VIADANA, A. G. A comunicação geossistêmica e a prática profissional do


geógrafo bacharel: recursos e possibilidades. Revista de Geografia, v. 3, n. 1, p. 1-7, Juiz de
Fora: 2013.

SILVA, B. B.; ALVES, A. J. J. Variabilidade espacial e temperal do potencial eólico da direção


predominante do vento no nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia, v.19, n. 2, p.
189-202, São José dos Campos: 2004.

SOUZA, M. J. N; OLIVEIRA, J. S; OLIVEIRA, V. P. V. Sistemas Ambientais e Capacidade de


Suporte na Bacia Hidrográfica do Rio Curu-Ceará. Revista Continentes, v. 1, n. 1, p. 119-
143,2013.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO E QUALITATIVO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E


ANÁLISES FÍSICO–QUÍMICAS DA ÁGUA E DO SOLO DO HORTO FLORESTAL DE
MAMANGUAPE – PB

Caroline Dias GOMES


Graduanda do Curso de Ecologia da UFPB
carol_dias1093@hotmail.com
Jerferson de Lima FREIRES
Graduando do Curso de Ecologia da UFPB
jerferson_lima@hotmail.com
Évio Eduardo Chaves de MELO
Professor do curso de Ecologia da UFPB
evioeduardo@gmail.com
Nadjacleia Vilar ALMEIDA
Professora do curso de Ecologia da UFPB
nadjageo@gmail.com

RESUMO
O meio ambiente vem sofrendo diversos impactos nas últimas décadas e a preservação de áreas
naturais, cada vez mais, vem sendo objeto de preocupação de pesquisadores, assim se encaixa o
horto florestal que tem uma grande importância ecológica para a manutenção da biodiversidade
regional. Diante disso, a pesquisa teve como objetivo realizar levantamento quantitativo e
qualitativo dos resíduos sólidos e análises físico-químicas da água e do solo no horto florestal
localizado no município de Mamanguape – PB. Para o estudo, foi realizado dois transectos de 100
metros e subdivididos em quadrantes. Os resíduos sólidos foram quantificados e qualificados de
acordo com o tipo. Os parâmetros analisados da água foram pH, cloreto, alcalinidade, dureza,
condutividade elétrica e salinidade e do solo foram alumínio, pH e fósforo. O levantamento dos
resíduos sólidos mostrou que a maior quantidade foi encontrada nos quadrantes próximos ao leito
do rio. Os parâmetros físico-químicos analisados da água apenas a condutividade elétrica se
apresentou alterado provavelmente devido ao lançamento de esgoto doméstico no rio, e todos
demais parâmetros estão dentro do limite previsto na legislação. Os valores dos parâmetros
analisados das amostras de solo apresentaram compatíveis com os encontrados na literatura para
esse ambiente.
Palavras Chave: Meio Ambiente, Biodiversidade, Preservação, Contaminação.
RESUMÉN
El ambiente viene sufriendo diversos impactos en las últimas décadas y la preservación de áreas
naturales, cada vez más, viene siendo objeto de preocupación de investigadores, así se encaja el
huerto forestal que tiene una gran importancia ecológica para el mantenimiento de la biodiversidad
regional. La investigación tuvo como objetivo realizar elevación cuantitativa y cualitativa de los
residuos sólidos y análisis físico-químicos del agua y del suelo en el huerto forestal localizado en el
ayuntamiento de Mamanguape - PB. Para el estudio, fue realizado dos transectos y subdivididos en
cuadrantes. Los residuos sólidos fueron cuantificados y calificados según el tipo de los residuos
sólidos. Los parámetros analizados del agua fueron pH, cloruro, alcalinidad, dureza, conductividad
eléctrica y salinidad y del suelo fueron aluminio, pH y fósforo. El levantamiento de los residuos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sólidos mostró que la mayor cantidad fue encontrada en los cuadrantes cercanos al lecho del río.
Los parámetros físico-químicos analizados del agua sólo la conductividad eléctrica se presentó
alterada probablemente debido al lanzamiento de desagüe doméstico en el río, y todos los demás
parámetros están dentro del límite previsto en la legislación. Los valores de los parámetros
analizados de las muestras de suelo presentaron compatibles con los encontrados en la literatura
para ese ambiente.
Palabras clave: Ambiente, Biodiversidad, Preservación, Contaminación.

INTRODUÇÃO

Hortos Florestais são constituídos por áreas de domínio público ou privado, caracterizadas
pela existência de culturas florestais nativas ou exóticas, passíveis de exploração racional por meio
de manejo sustentado. Constituem-se em centros de pesquisa e bancos genéticos onde são altamente
recomendados, sob zoneamento, o cultivo, a conservação e a recomposição de populações nativas
vegetais ou animais, bem como o ensino, a educação ambiental e o lazer (BUDKE, 2012). Com o
crescimento da população urbana aumenta os impactos ambientais causados nesses ambientes,
principalmente pela excessiva geração de resíduos sólidos e sua destinação inadequada. Assim, os
ambientes naturais próximos a centros urbanos são os que mais sofrem com o mau gerenciamento
dos resíduos sólidos produzidos pelas cidades.

A expressão impacto ambiental, segundo a Resolução n° 001 do Conselho Nacional do Meio


Ambiente (CONAMA), de 23 de setembro de 1986 é definida como:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população, as
atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986).

A destinação inadequada dos resíduos sólidos urbanos (RSU) tem várias consequências
negativas, entre elas o tempo de persistência de seus componentes no ambiente, ocasionando
impactos ambientais associados a poluição ou contaminação química por substâncias perigosas
presentes nos resíduos, carreadas pela infiltração de lixiviados no solo e nos aquíferos subterrâneos,
ou quando este atinge, por escoamento superficial, corpos d‘água (CASTILHO JÚNIOR, 2006).
Lanza (2009) destaca também que a decomposição dos resíduos sólidos libera gases que
intensificam o efeito estufa; causa a geração do chorume que contamina o solo, as águas
subterrâneas e superficiais; gera a poluição visual, a poluição olfativa e a proliferação de vetores de
doenças. Marques (2001) ressalta que os principais efeitos nos parâmetros físico, químico e
biológicos dos corpos hídricos mediante a presença dos RSU são: elevação da demanda bioquímica
de oxigênio (DBO), redução dos níveis de oxigênio dissolvido, formação de correntes ácidas, maior
carga de sedimentos, elevada presença de coliformes, aumento da turbidez, intoxicação de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

organismos presentes naquele ecossistema. Mucelin e Bellini (2008) relatam que no ambiente
urbano determinados impactos ambientais ocasionado pela destinação inadequada do lixo como
poluição do solo, da água e do ar, além da ocupação desordenada e crescimento de favelas nas
periferias, edificação de moradias em locais inapropriados ou nas áreas de preservação tais como
encostas, margens de rios, mananciais e até regiões de mangue precisam ser repensados e novos
hábitos estimulados.
Para que haja um controle da problemática do lixo que gera poluição para a água e solo local
é necessária à implementação de ações que devem ser planejadas de forma racional e integradas,
levando a um gerenciamento adequado do lixo e dos efluentes que são lançados no corpo d‘água,
além de vir ao encontro de um desejo maior que é a melhoria da qualidade de vida e da conservação
do meio ambiente. Assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar o levantamento
qualitativo e quantitativo dos RSU e análises físico-químicas da água e do solo afim de conhecer os
possíveis impactos gerados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos no horto florestal do
município de Mamanguape – PB.

MATERIAL E MÉTODOS

Mamanguape é um município localizado na Microrregião do Litoral Norte do estado da


Paraíba e possui uma população residente estimada de 44.694 habitantes, numa área territorial de
340.482 km2 (IBGE, 2016). O Horto Florestal Municipal com área equivalente de 6,63 hectares está
situado no bairro do Condado (Figura 1), dentro do perímetro urbano do município e inserido na
Unidade Geoambiental dos Tabuleiros Costeiros.

Figura 1: Localização do Horto Florestal de Mamanguape - PB

Para o estudo do levantamento quantitativo e qualitativo de resíduos sólidos presente no


horto, foram marcados dois transectos (A e B) de 10 metros (Figura 2) subdivididos em quadrantes
(MARCHESANI et al 2010 adaptado de CORDEIRO, 2006). Ao longo de cada transecto foram

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definidos 10 quadrantes de 1m² (1m x 1m). Após a definição dos quadrantes foram sorteados cinco
quadrantes para cada transecto e dentro de cada quadrante sorteado foram retirados todos os
resíduos, acondicionados em sacos plásticos, devidamente identificados com o número do
quadrante e pesados. Por fim, todos os resíduos foram separados por tipo (papel, plástico, vidro,
material de construção civil, isopor e tecido) e novamente pesados (FLOR & LEITE, 2001).
Foram realizadas três coletas de água ao longo do rio Gurguri que corta o horto. A primeira
coleta foi feita no limite oeste do horto, e as outras duas foram feitas a jusante do primeiro ponto, na
parte central do Horto (Figura 3). Para coletar as amostras foram utilizadas três garrafas pet de 500
mL (providas de tampa), previamente esterilizadas em solução ácida para eliminação de materiais
interferentes. As amostras foram acondicionadas nos recipientes hermeticamente fechados,
etiquetados e identificados de acordo com o ponto de coleta, e em seguida, levadas para o
Laboratório de Ecologia Química (LEQ) da UFPB, onde foram armazenadas na geladeira para
posteriormente realizar as análises de pH, cloreto, alcalinidade, dureza, condutividade e salinidade
com três réplicas cada ponto amostral, utilizando metodologia de Baird & Clesceri (2012).
As amostras de solo foram coletas em uma profundidade de 0 a 20 cm ao longo dos 2
transectos subdivididos em 10 quadrantes (Figura 3). O número de amostras foi definido de acordo
com a metodologia de Machado (1999 apud GALVANI & FERNANDES 2005). Foram realizados
sorteios para definir 5 quadrantes (Figura 2) em cada transecto para realizar as coletas de solos. Em
seguida, foram coletadas 5 amostras simples por transecto combinando uma amostra composta do
transecto A e do B. Após realizar as coletas, as amostras de solo foram colocadas em sacos
plásticos, identificadas e levadas para o LEQ para serem secas ao ar (TFSA), destorroadas e
passadas em peneira de 2 mm, onde foram feitas as análises com três réplicas de cada ponto
amostral. Para análise de pH e de alumínio trocável foi utilizada a metodologia da EMBRAPA
(1997).

Figura 2: Pontos de coletas dos Resíduos Sólidos do Figura 3: Pontos de coletas de Solo e Àgua do
Horto Florestal de Mamanguape – PB Horto Florestal de Mamanguape - PB

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 673


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A partir dos dados encontrados, calculou-se a mediana, desvio padrão, valor mínimo e
máximo de ocorrência dos parâmetros físico-químicos da água e do solo, considerando-se todas as
amostragens realizadas, além dos valores máximos permissíveis em água (V.M.P.) estabelecidos na
Resolução CONAMA Nº 357/2005.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No transecto A foram feitas coletas nos quadrantes 2, 5, 6, 7 e 10, foram encontrados


resíduos sólidos nos quadrantes 2, 6 e 7, e sem nenhum registro de material nos quadrantes 5 e 10
(Tabela 1). Diante dos dados, notamos que a quantidade de resíduos sólidos produzido é
considerável, principalmente, tratando-se de um fragmento de mata atlântica que deveria estar
preservada. Entretanto, com o descarte inadequado dos resíduos sólidos pela população do
município, muitos resíduos são transportados pelos cursos de água para o horto, causando impactos
negativos no meio biológico.

No transecto B foram feitas coletas nos quadrantes 1, 2, 4, 8 e 10. Na análise dos resíduos,
os quadrantes 2, 4, 8 e 10 apresentaram resíduos sólidos, exceto o quadrante 1 (Tabela 1).
Verificamos que a quantidade de resíduos sólidos coletados no transecto B é considerável, mas
inferior ao quantificado no transecto A. Mesmo assim mostra que a distribuição dos resíduos
sólidos está presente em grande parte da área do horto. O ser humano ainda não consegue
compreender os malefícios que podem acarretar com o mau gerenciamento dos resíduos, causando
alterações ambientais físicas e biológicas ao longo do tempo, modificando a paisagem e
comprometendo o ecossistema (MUCELIN & BELLINI, 2008).

Tabela 1: Valores correspondentes a pesagem dos resíduos sólidos nos transectos A e B


Transecto A Transecto B
Peso (kg) Peso (kg)
Quadrante 2 0,085 Quadrante 1 0,000
Quadrante 5 0,000 Quadrante 2 0,310
Quadrante 6 1,100 Quadrante 4 0,470
Quadrante 7 3,280 Quadrante 8 0,185
Quadrante 10 0,000 Quadrante 10 0,025
Total 4,465 Total 0,990
Mediana 0,085 Mediana 0,185
Desvio Padrão 1,264 Desvio Padrão 0,177
Mínimo 0,000 Mínimo 0,000
Máximo 3,280 Máximo 0,470

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A maioria dos resíduos sólidos encontrados no horto foi transportado pelo rio e pelas águas
da chuva e depositado na área de inundação do rio, gerando um grande acúmulo desses materiais
nas encostas do rio (Figuras 4). Resíduos gerados e descartados inadequadamente pelo homem,
além de causarem a poluição visual e olfativa, poluem a água, o solo e colocam a fauna em risco,
através de ferimentos com materiais cortantes ou ingerindo os materiais inapropriados para sua
alimentação. Esses aspectos do cenário atual necessita de mudança da percepção da sociedade sobre
a realidade ambiental e comprova a intensidade da ação antrópica destrutiva sobre o meio ambiente
(OLIVA JÚNIOR & FREIRE, 2013).

A B C
Figuras 4 A, B e C: Resíduos sólidos depositados no leito do rio Gurguri no Horto Florestal de Mamanguape
– PB.

Com relação à quantificação total dos resíduos sólidos, constatamos que o quadrante 7 do
transecto A apresentou maior quantidade de resíduos com 73% do total encontrado (Gráfico 1) isso
pode ser explicado devido ao quadrante ter proximidade com curso do rio. No transecto B,
constatamos que o quadrante 4 evidência uma maior quantidade de material com 47% do total dos
resíduos (Gráfico 2), reforçando o resultado encontrado no transecto A, que os quadrantes próximos
ao leito do rio, recebem o maior aporte de resíduos, mostrando que os materiais encontrados no
horto é de origem exógena, ou seja, são transportado pelas águas da chuva que escoam para o curso
do rio que corta o interior do horto florestal.

0% 2% 3% 0%

25% 19% Quadrante 2


Quadrante 2 31%
Quadrante 4
Quadrante 6
0% Quadrante 8
Quadrante 7
73% Quadrante 10
47%

Gráfico 1: Valores em porcentagem (%) dos Gráfico 2: Valores em porcentagem (%) dos
resíduos sólidos no transecto A. resíduos Sólidos do transecto B.

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Dentre as atividades desenvolvidas, a triagem foi um dos processos de qualificação dos


resíduos do transecto A e B. Diante do montante coletado nos transectos, os resíduos foram
separados e posteriormente pesados dentro das classificações: plásticos, tecido, esponja, vidro,
isopor e material de construção civil (Tabela 2). Na área estudada, por apresentar grande quantidade
de resíduos transportados pela água do rio para o interior do horto, o processo de triagem trata-se de
uma etapa essencial no processo de reciclagem, sendo considerado o passo inicial para a destinação
adequada dos resíduos e para identificação dos malefícios desses materiais para o ecossistema.

Tabela 2: Valores da triagem de Resíduos sólidos do Horto Florestal de Mamanguape - PB


Classificação Peso (kg)
Plástico 0,490
Tecido 0,535
Esponja 0,035
Vidro 0,270
Isopor 0,105
Construção civil 4,020

Constatamos que entre os diferentes materiais, o entulho de construção civil apresentou


maior porcentagem em relação aos demais tipos de resíduos (Gráfico 3). Verifica-se que o horto
florestal está sendo utilizado pela população local como uma área de depósito irregular de resto de
material de construção civil. O plástico ficou em terceiro lugar em proporção aos demais resíduos.
Esse material é bastante prejudicial para o meio ambiente, pela dificuldade de ser compactado e da
longa decomposição natural, possibilitando desastres ambientais de diferentes proporções para
biodiversidade.
De maneira simples, pode-se afirmar que o lixo urbano que acaba chegando aos rios, mares
e florestas é o resultado da atividade diária do homem em sociedade e que existem dois fatores
principais que regem sua origem e produção: o aumento populacional e a intensidade da
industrialização (LIMA, 2004). A falta de recursos técnicos e financeiros vem limitando os esforços
no sentido de ordenar e qualificar a disposição dos resíduos, que são lançados diretamente no solo,
ar e recursos hídricos, trazendo assim poluição ao meio ambiente e redução da qualidade de vida
dos seres vivos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

10%

11%
1%
6% Plastico
Tecido
70% 2% Esponja
Vidro
Isopo
Construção Civil

Gráfico 3: Quantificação dos tipos de resíduos sólidos e valores percentuais.

Para a revitalização do horto florestal serão necessários planos de mitigação que visam
reverter danos parciais e minimizar os descartes inadequados nesta área de grande importância
ecológica para a manutenção da biodiversidade regional. Entre as formas de reduzir esses impactos
deve-se: retirar todo lixo existente na área; implementar equipamentos que inibam a entrada desses
materiais carreados pelo rio para o interior do horto; estimular e promover projetos que visem à
redução da geração de resíduos; aprimorar a fiscalização dos descartes irregulares; promover e
implantar processos de reutilização e reciclagem de resíduos pela comunidade circunvizinha.
Nas amostras das águas do rio Gurguri, as médias obtidas nos três pontos de coletas com
relação aos parâmetros analisados se mostraram com valores muito próximos (Tabela 3), indicando
que provavelmente os pontos selecionados estão sob influência dos mesmos fatores ambientais, não
tendo grande diferença ao longo do curso do rio analisado. Esses valores semelhantes podem ser
explicados também devido à proximidade dos pontos de coleta e também devido as coletas serem
realizadas no período chuvoso.
As médias de cloreto variaram de 139 a 143,6 mg/L de Cl. Esses valores estão abaixo do
valor máximo estabelecido pelo CONAMA (2005). Lima et al (2015) ressalta que a água que
contém menos de 150 mg/L de Cl é satisfatória para diversos fins. A dureza variou de 237 a 250,5
mg/L de CaCO3, sendo classificada como dura, ou seja, apresentando muito cálcio e/ou magnésio,
mas se enquadrando nos valores permitidos pela legislação do CONAMA (2005).

Tabela 3: Valores das análises de água do rio Gurguri no horto florestal de Mamanguape - PB
Alcalinidade Alcalinidade Alcalinidade
Cloreto Dureza Salinidade Condutividade pH de de de
bicarbonato hidróxido carbonato
Amostra 1* 139 250,5 0,1 616 6 210 0 0
Amostra 2* 142,6 237 0,1 628,2 6,5 190 0 0
Amostra 3* 143,2 248 0,1 632,2 6,7 202 0 0
Mediana 142,6 248 0,1 628,2 6,5 202 0 0
Desvio
1,9 5,9 0,0 6,9 0,3 8,2 0 0
Padrão

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Mínimo 139 237 0,1 616 6 190 0 0


Máximo 143,2 250,5 0,1 632,2 6,7 210 0 0
VMP** < 250 <500 < 0,5 <1000 6–9 < 250 0 0
Cloreto (mg/L de Cl); Dureza (mg/L de CaCO3); salinidade (‰); Condutividade (µS/cm); Alcalinidade de
Bicarbonato (mg/L de CaCO3); Alcalinidade de Bicarbonato (mg/L de CaCO3); Alcalinidade de Hidróxido
(mg/L de CaCO3); Alcalinidade de Carbonato (mg/L de CaCO3). * médias das réplicas de cada ponto
amostral; **VMP valores máximos permitidos (CONAMA / Classe 1 água doce).

A condutividade elétrica variou de 616 a 632,2 µS/cm apresentando valores elevados para
água doce. As águas naturais apresentam teores de condutividade na faixa de 10 a 100 µS/cm, em
ambientes poluídos por esgotos domésticos ou industriais os valores podem chegar a 1.000 µS/cm
(BRASIL, 2014). Lima e Garcia (2008) acrescentam que esse parâmetro não determina
especificamente quais íons que estão presentes na água, mas pode contribuir para possíveis
reconhecimentos de impactos ambientais que ocorram na bacia de drenagem, ocasionados por
lançamentos de resíduos industriais, mineração, esgotos, etc.
Os valores de pH apresentaram pequena variação entre 6,0 a 6,7 e estando dentro dos
valores de referência (6,0 - 9,0) para água doce classe 1 (CONAMA, 2005). As salinidades de todas
as amostras apresentaram valores de 0,1‰. De acordo com a Resolução CONAMA Nº 357, de 17
de março de 2005, que destina o uso correto da água através da qualidade exigida para diferentes
fins, são adotadas definições de ―águas‖ que podem ser doces (águas com salinidade igual ou
inferior a 0,5‰), salobras (águas com salinidade superior a 0,5‰ inferior a 30‰) e salinas (águas
com salinidade igual ou superior a 30‰).
A alcalinidade de bicarbonato apresentou valores entre 190 a 210 mg/L de CaCO3. Com
relação a alcalinidade de hidróxido e de carbonato todas as amostras apresentaram valor igual a 0
mg/L de CaCO3, estando de acordo com os valores previsto no CONAMA (2005).
Para os parâmetros das amostras de solos analisados nas duas amostras composta (Tabela 4)
apresentaram valores próximos por se tratar de uma área relativamente homogênea.
Os valores de pH foram de 6,5 e 6,6 se apresentando próxima a neutralidade. De uma
maneira geral, a variação do pH do solo na faixa entre 5,0 a 6,5 é favorável ao crescimento da
maioria das plantas, pois há um maior equilíbrio e disponibilidade dos nutrientes na solução do solo
(MEURER, 2007).

Tabela 4:Valores das análises de solo do horto florestal de Mamanguape - PB

pH (H2O) Al (cmol.dm-3) P (mg.dm-3)


Transecto A* 6,5 0,2 4,9 mg/L
M MB B
Transecto B* 6,6 0,3 5,2 mg/L
M MB B
pH em água; P: extrator Mehlich-1; Al: extrator KCl 1 mol L-1; M = Médio; MA = Muito Alta; B = Baixo,
MB = Muito Baixo; A = Alto. * médias das réplicas de cada ponto amostral.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O alumínio trocável (Al) apresentou valores de 0,2 e 0,3 cmol.dm-3. Fageria (1999) ressalta
que valores elevados de alumínio ocorre geralmente em pH abaixo de 5,5, corroborando com os
valores quantificados do nosso trabalho que apresentou valores baixos de alumínio numa faixa de
pH acima de 6,0. Camargo (1984) concluiu que as concentrações de alumínio são
significativamente dependentes do pH do solo.
Os valores de fósforo, 4,9 e 5,2 mg.dm-3, esses foram classificados como baixo CFSEMG
(1999). Os baixos valores de fósforo disponível no ambiente de mata sugerem a pobreza natural
desses solos com a relação a esse nutriente (JAQUELATIS et al 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No levantamento quantitativo dos resíduos sólidos a maior abundância de material foi


encontrada nos quadrantes próximos ao leito do rio, mostrando que os resíduos foram transportados
pelas água pluviais e depositados no curso do rio que passa pelo o interior do horto florestal. Para os
parâmetros físico-químicos analisados da água (pH, cloreto, alcalinidade, dureza, condutividade
elétrica e salinidade) apenas a condutividade elétrica se apresentou elevada, mas abaixo do valor
máximo estabelecido pela legislação do CONAMA. Os valores dos parâmetros analisados das
amostras de solo apresentaram compatíveis com os encontrados na literatura para esse ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 681


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

OS PERIGOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE ASSOCIADOS AO CONSUMO E


DESCARTE DE BATONS: UM ESTUDO DE CASO

Caroline Lins FERNANDES


Graduanda do Curso de Licenciatura em Química UEPB
clflins@gmail.com
Pedro Henrique Luna NASCIMENTO
Graduando do Curso de Licenciatura em Química UEPB
phln_@live.com
Maria Janaína de OLIVEIRA35
Doutoranda em Química e Biotecnologia pela UFAL
jana.uepb@gmail.com
Lígia Maria Ribeiro Lima
Profª. Drª. Universidade Estadual da Paraíba – DESA
ligiauepb@gmail.com

RESUMO
O Brasil configura-se como um dos maiores consumidores de cosméticos labiais. Estes
compreendem uma área da cosmetologia com taxa de consumo elevada, principalmente pelo
público feminino, e apresenta perigos para saúde dos usuários a longo prazo, devido a presença de
substâncias potencialmente tóxicas, como alguns metais nas formulações cosméticas. Estes metais
apresentam-se em proporções mínimas na composição e produção industrial desses produtos de
embelezamento facial e podem acarretar em riscos à saúde humana, como o desenvolvimento de
doenças, por exemplo, efeitos neurológicos, anemia, intoxicação e alergias e degradação ambiental
com a contaminação do solo e águas, além de contribuir para o desequilíbrio do ecossistema. O
conhecimento de efeitos indesejáveis e toxicidade de produtos cosméticos, a nível populacional, são
limitados. Na presente pesquisa, foi verificado que via de regra os centros de distribuição e vendas
de cosméticos labiais não transmitem as informações sobre os componentes químicos presentes
nesse tipo de produto para os consumidores e, na maioria das vezes, não possuem pontos de coleta
para as embalagens e resíduos da bala, parte pigmentada do batom remanescente nos tubos, sejam
por não uso ou prazo de validade, ocasionando o descarte em locais inapropriados, como os lixos
domiciliares. Neste contexto, este trabalho objetiva discutir os impactos que os metais tóxicos
causam ao meio ambiente e a saúde através de uma pesquisa realizada no centro de uma cidade do
estado da Paraíba (PB) com uma amostragem de 102 indivíduos do sexo feminino. Ademais, os
impactos que cosméticos como batons de diferentes marcas comerciais, constituídos de espécies
potencialmente tóxicas em concentrações expressivas, causam ao meio ambiente e a saúde, são
informações que a maioria dos consumidores desconhece. Os resultados obtidos revelaram a falta
de conhecimento dos usuários referente a informações básicas sobre a temática abordada.
Palavras-chaves: cosméticos; batons; metais tóxicos; meio ambiente; saúde.

ABSTRACT
Brazil is among the greatest lip cosmetic product consumers. Those products are in a cosmetology
area with high consumption rate, mainly because of female consumers, and shows long term health
threats for users due to potentially toxic substances, such as metals in their cosmetic formulations.

35
Orientadora

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

The cosmetic composition has low amount of those metals and the industrial manufacturing of
facial beautification products can lead to human health risks and development of diseases such as
neurological effects, anemia, intoxication and allergies and also ecological imbalance and
environmental degradation as a result of soil and water contamination. The population knowledge
of products‘ side effects and toxicity are often limited. In this research project, it was verified that
distribution and selling centers for lip cosmetic products, as a rule, do not offer information for
consumers about chemical compounds existent in this kind of product; most often they also do not
offer collecting points for lipstick bullet packing and residues, pigment residues in the cup (either
for its non-use or expiration date), causing discarding in inappropriate areas, such as household
garbage. Given the background, this work aims to debate the toxic effects of metals on the
environment and health through a research made in downtown of a city in the state of Paraíba (PB)
with statistical population of 102 female individuals. Moreover, the impacts on the environment and
health that cosmetic products like lipsticks from different brands can cause are often unknown from
the consumers. The obtained results show consumers‘ lack of knowledge of basic information about
the theme addressed.
Keywords: Cosmetics; lipsticks; toxic metals; environment; health.

INTRODUÇÃO

O consumo de batons no Brasil, em 2014, segundo a Associação Brasileira da Indústria de


Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) é em torno de R$ 1,4 milhões, tornando o
quarto país do mundo que mais adquire esse tipo de cosmético. Porém, a maioria dos usuários
desconhece a composição dos cosméticos labiais e, consequentemente, os danos que estes podem
causar à saúde humana e ao meio ambiente.
Existem diversos tipos de cosméticos labiais como os batons, delineadores de boca, cremes e
brilhos labiais e hidratantes labiais (MAEHATA, 2016). O batom é uma haste, acondicionada em
um estojo de recolher (―roll-up‖), composta por pigmentos, ceras, gorduras e misturas de óleos,
também sendo usualmente acrescentados perfumes e conservantes (DRAELOS, 1991; ATZ, 2008).
A composição básica de um batom consiste em dispersão de pigmentos e lacas (corantes
transformados em pigmentos a partir da cobertura com substratos como o sulfato de bário e cálcio)
em uma massa estruturada com base composta basicamente de ceras vegetais ou minerais. A
mistura de compostos químicos nas formulações cosméticas labiais confere dureza, brilho, ponto de
fusão, aderência e fácil aplicação do produto. Podem ser inclusos aditivos para melhorar sabor, dar
proteção contra a oxidação ou contaminação biológica do produto acabado (RIBEIRO, 2010).
Dentre as muitas matérias-primas que compõem um batom (orgânicas, tensoativas, emolientes,
umectantes, espessantes, hidratantes, conservantes, perfumes, entre outras), os pigmentos
inorgânicos são os que mais possuem elementos metálicos (HERNANDEZ; MADELEINE;
FRESNEL, 1999).
Os batons que não mancham os lábios são, costumeiramente, formulados com corantes
inorgânicos, dióxido de titânio e vernizes metálicos, ou seja, pigmentos insolúveis precipitados, ou

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vernizes em um substrato metálico tal como o óxido de alumínio. Os batons podem ser pigmentados
com (acabamento mate), gelados (brilho perolado) ou transparentes (brilhantes), a combinação e
quantidade dos componentes dependerão da aparência, cobertura e durabilidade (fixação) desejada
(DRAELOS, 1991). Os pigmentos são definidos como qualquer substância que dá cor, tingimento a
uma superfície (pele, mucosas, cabelos), sendo divididos em naturais e sintéticos. Os naturais como
carotenoides e a clorofila são utilizados em alimentos e o carmim em cosméticos, e os sintéticos são
substâncias orgânicas cíclicas aromáticas. Os pigmentos também podem ser inorgânicos, como os
óxidos metálicos de titânio, cobre, ferro ou cromo, os metais em forma de pó (alumínio ou ferro), e
cromatos de chumbo. Já os orgânicos podem ter as seguintes origens: animal (melanina), mineral
(negro de fumo) e vegetal (carotenos) (REBELLO, 2004).
Neste contexto devido à presença de substâncias potencialmente tóxicas presentes nos
batons e à exposição a que os consumidores estão sujeitos, tais parâmetros devem ser avaliados,
entretanto pesquisas conduzidas nesse aspecto não são frequentes.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) N° 44 (2012) incorpora limites permissíveis
para impurezas de elementos em corantes orgânicos, não podendo ser superiores a 3 ppm para As
(expresso como As2O3), 20 ppm para Pb (expresso como Pb total) e 100 ppm de outros metais.
Contata-se que os parâmetros brasileiros normativos atuais e relevantes para limites permissíveis
relativos à presença de metais/ametais tóxicos são amplos e confusos para assegurar os níveis dos
contaminantes inorgânicos dos produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. São
encontrados metais caracterizados como tóxicos, tais como chumbo (Pb), mercúrio (Hg), níquel
(Ni), cromo (Cr), cádmio (Cd) e arsênio (As), (ATZ, 2008) que conferem perigos diretos no
desenvolvimento de doenças através de bioacumulação no corpo humano, isto é, o uso excessivo e
facilidade de armazenamento nos organismos vivos, como também na poluição ambiental,
ocasionando desequilíbrio em locais sensíveis, como a água e solo, visto que ambos já possuem
quantidades expressivas destes elementos metálicos e um aumento na concentração destas
substâncias remete a condições para a insalubridade do meio, elevando o ciclo de contaminação
entre o homem e o ambiente como um todo (MAEHATA, 2016).
Por exemplo, no organismo humano, o chumbo não é metabolizado, e sim, complexado por
macromoléculas, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado. Os compostos orgânicos de
chumbo são capazes de penetrar através da pele íntegra e a intoxicação por este grupo ocorre
principalmente por compostos de chumbo tetraetila e tetrametila, os quais são absorvidos
rapidamente pelos pulmões, trato gastrointestinal e também pela pele (TSALEV; ZAPRIANOV,
1985; SADAO, 2002). O organismo acumula chumbo durante toda a vida e o libera de forma muito
lenta, devido à sua grande afinidade pelo sistema ósseo. Após uma única exposição, o nível de
chumbo no sangue de uma pessoa pode retornar ao normal e, no entanto, o conteúdo corpóreo total

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pode ainda ser elevado. Mesmo doses pequenas, por um tempo determinado, podem causar
intoxicação. Assim, grandes exposições agudas não precisam ocorrer para que uma intoxicação por
chumbo se desenvolva. A concentração total do chumbo no corpo é que está relacionado com o
risco de efeitos adversos (ATSDR, 2007). Além dos efeitos neurológicos, o chumbo provoca
desvios hematológicos que levam à anemia e são considerados como resultado de sua ação tóxica
sobre as células vermelhas e eritropoiéticas na medula óssea. Entretanto, a anemia não é uma
manifestação precoce do envenenamento por chumbo, ela só é evidente quando o nível de chumbo
no sangue é significativamente elevado por períodos prolongados (MINOZZO; WAGNER;
SANTOS; DEIMLING; MELLO, 2009).
O descarte de cosméticos como batons, normalmente, é realizado de forma inadequada, em
locais inapropriados, como lixos domiciliares. Essa prática favorece a contaminação do meio
ambiente por metais tóxicos, visto que na maioria das vezes não existem locais destinados ao
descarte correto destes materiais e não há locais de recolhimento com o propósito de reciclá-los. Por
outro lado, as lojas que vendem estes produtos não dispõem de suportes de devolução quando estes
materiais acabam ou ultrapassam o período de validade.
Outro fator que favorece para a ausência de conhecimento da população em relação ao
descarte indevido destes materiais é a falta de campanhas publicitárias produzidas pela mídia que
mostrem os impactos que o consumo em grandes quantidades destas espécies potencialmente
tóxicas, através de produtos labiais, pode causar ao meio ambiente e à saúde dos indivíduos. Além
disto, as lojas deveriam informatizar a população como um todo, principalmente o público que
consome a maior quantidade destes produtos, as mulheres, dos malefícios do consumo exagerado e
prolongado, pois, isso pode ser fruto da falta de informações dos próprios vendedores quanto à
problemática exposta.
É fundamental conscientizar a população sobre o consumismo exacerbado, o qual está
acarretando o aumento considerável de resíduos destinados a aterros sanitários, lixões e locais
inadequados, muitas vezes sem o monitoramento correto. Fazem parte desse conjunto, todos
aqueles resíduos perniciosos que integram diversos bens de consumo: metais tóxicos, fogo-
retardantes e mais de 8 mil de substâncias químicas (LEONARD, 2011).
A conscientização ambiental a respeito destes metais se faz necessário, visto que pode ser
definida como, simplesmente, a tendência ou voluntariedade de uma pessoa de tratar os assuntos
relativos ao meio ambiente de maneira a favor ou contra. Assim, indivíduos com maiores níveis de
consciência ambiental tenderiam a tomar decisões levando em consideração o impacto ambiental
das mesmas (BEDANTE; SLONGO, 2004).
A maior problemática está ligada a tendência que os metais se acumulam em plantas e
animais aquáticos, penetrando nesses organismos através da superfície do corpo e de estruturas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

respiratórias, e também pela ingestão que fazem de material particulado e água, criando uma
condição de toxicidade (MELVILLE; BURCHETT, 2002). A toxicidade manifesta-se como
distúrbios na função metabólica, implicando em possíveis mudanças na distribuição e na
abundância de populações (ELDER, 1988). Efeitos subletais podem incluir mudanças morfológicas,
fisiológicas, bioquímicas, comportamentais e na reprodução (CONNELL; MILLER, 1984). A
extensão da absorção de metal, a toxicidade e a bioacumulação variam dependendo do organismo, e
podem ser alteradas pelos efeitos da temperatura, do pH do meio reacional, da turbidez, do oxigênio
dissolvido e das concentrações de outros metais em solução, de tal forma que a acumulação de
metais em organismos aquáticos pode ser um indicador útil da presença de espécies potencialmente
tóxicas em formas biologicamente disponíveis (MORTIMER, 2000). Pouco se conhece, no entanto,
sobre os efeitos tóxicos de substâncias contaminantes em espécies animais tropicais, sendo, pois, de
interesse e importância sua determinação para a avaliação de impactos ambientais nos ecossistemas
aquáticos, visando esforços de preservação ambiental (DAMATO; SOBRINHO; MORITA, 1998).
Desse modo, haja vista os diversos impactos que os metais tóxicos, como os já citados,
ocasionam à saúde e ao meio ambiente, fica evidente a importância de desenvolvimento de projetos
no âmbito escolar e nas instituições acadêmicas, bem como a prática de ações que promovam a
educação ambiental para os discentes e à população em geral, visto que ela não é
compartimentalizada, pois necessita de todas as áreas do conhecimento científico e da escola, e
exige um trabalho conjunto entre a comunidade escolar e local para a construção de conhecimentos
significativos e ações participativas do meio em que vivem. Desenvolvem ainda, relações solidárias
de respeito e comprometimento com o meio ambiente em sua totalidade (QUADRO, 2007).
Portanto, o objetivo deste trabalho é discutir os impactos causados ao meio ambiente e à
saúde da população pelos metais tóxicos presentes em batons, através de uma pesquisa realizada em
uma cidade, localizada no estado da Paraíba (PB).

METODOLOGIA

O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de caso, pois buscou-se perquirir os


conhecimentos de um grupo de mulheres de uma cidade do estado da Paraíba (PB), dado que assim
como em todas as cidades do Brasil, estas mulheres são usuárias frequentes de cosméticos labiais e,
por isso, supunha-se que as mesmas tivessem alguma percepção dos danos que esses produtos
podem causar para a sua saúde e para o meio ambiente. Na visão de Marconi e Lakatos (2003),
pesquisa é um processo formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento
científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade. E para Gil (1991), a caracterização
do estudo de caso é dada pelo fato de ser um trabalho realizado com um número pequeno de
objetos, o que permite ao pesquisador adquirir conhecimento concreto sobre os objetos estudados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Ademais, essa pesquisa também pode ser caracterizada como quali-quantitativa, isto é, na
pesquisa qualitativa há uma preocupação em entender acontecimentos sociais específicos, sendo
ressaltadas as concepções dos sujeitos pertencente a amostra utilizada (Firestone 1987 apud
MOREIRA, 2009). Já a pesquisa quantitativa está relacionada com técnicas estatísticas para a
quantificação nas modalidades de coleta de informações e no tratamento dos dados obtidos através
da amostra escolhida (RICHARDSON, 1999).
A pesquisa foi realizada no centro da cidade, localizada no estado da Paraíba. No total, 102
(cento e duas) mulheres de diferentes idades e escolaridades foram entrevistadas. Os dados
coletados foram adquiridos através de um questionário estruturado constituído por 5 (cinco)
questões objetivas que tinham como finalidade principal sondar o nível de escolaridade dos
indivíduos participantes da pesquisa, bem como, a frequência com a qual os mesmos utilizavam
batons, onde esses produtos eram descartados e se elas possuíam algum conhecimento sobre os
perigos do descarte incorreto e o uso excessivo desses cosméticos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa realizada utilizou de um questionário para investigar aspectos considerados


importantes para o estudo, sendo esses:
 O nível escolar dos indivíduos participantes;
 A preferência em usar ou não cosméticos labiais;
 A frequência com que esses produtos são usados;
 O local que os batons são descartados;
 O conhecimento dos indivíduos acerca dos perigos que estes cosméticos causam para a
saúde e meio ambiente.
No primeiro momento do estudo optou-se por investigar o nível de escolaridade das
mulheres entrevistadas, considerando que quanto maior o nível educacional mais conhecimentos
sobre a composição e os perigos oferecidos pelo produto acabado comercializado. Os resultados
obtidos, estão apresentados no Gráfico 1.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

14% 4%
16%
8%

24% 34%

Ensino Fundalmental incompleto Ensino Fundalmental completo


Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo
Ensino Superior incompleto Ensino Superior completo
Gráfico 1: Nível escolar das mulheres entrevistadas.

Os resultados apresentados no Gráfico 1 mostraram que a maioria das mulheres que foram
submetidas ao questionário possui Ensino Médio completo, o que remete e é esperado, que
enquanto na escola o assunto sobre os perigos dos metais tóxicos tenha sido abordado em algumas
disciplinas como Biologia e/ou Química, uma vez que o papel da escola e dessas disciplinas é
exatamente proporcionar a edificação de um conhecimento científico com total relação entre os
conteúdos abordados e suas implicações ambientais, sociais, políticos e econômicos (BRASIL,
1999).
Mesmo que a quantidade de consumidores com nível superior completo, ou usuárias que
ainda estavam cursando não seja tão alto como desejado, também é esperado que as mesmas
tivessem adquirido durante a sua vida acadêmica conhecimentos relacionados a temática abordada,
uma vez que é de extrema importância para a vida como um todo.
No segundo questionamento buscou-se identificar dentre as 102 mulheres entrevistadas
aquelas que usam ou não os cosméticos labiais. O Gráfico 2 apresenta os resultados obtidos.

3%

97%

Sim Não

Gráfico 2: Quantidades de mulheres que usam cosméticos labiais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O Gráfico 2, mostra que a porcentagem alta relacionada as respostas afirmativas quanto ao


uso dos batons já era esperada, posto que segundo a Associação Brasileira da Indústria da Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC, 2014), o Brasil se apresenta como sendo o 4º país
que mais consume cosméticos no mundo, isto é, o batom está inserido nesse conjunto e,
consequentemente, é muito comprado pelas brasileiras. Estes dados revelam a importância de se
avaliar todos os fatores que podem conduzir a intoxicação dos consumidores, por compostos
químicos presentes na composição dos cosméticos labiais, demonstrando e informando os riscos
inerentes, caracterização do perigo e a avaliação da exposição ao produto.
Para a economia, esse número é muito favorável, por outro lado, mostra o uso excessivo e
descontrolado desses produtos sem que os devidos cuidados sejam tomados e com poucas
informações sobre os malefícios que essa quantidade imensa de batons e cosméticos no geral podem
trazer para população e meio ambiente.
A terceira pergunta refere-se a um complemento da segunda, onde as mulheres que usavam
batons informaram com a frequência que utilizavam esses produtos. As respostas obtidas
encontram-se no Gráfico 3.

30%
37%

33%

Sempre Às vezes Raramente

Gráfico 3: Frequência com que as mulheres usam os batons

O terceiro Gráfico deixa claro que a maioria das mulheres não se satisfaz em usar o batom
uma vez por dia, por exemplo. A maioria das mulheres quando questionadas afirmaram: ―não viver
sem o batom‖ ou ―é impossível sair de casa sem‖, o que é preocupante, pois, segundo Maehata
(2016), o uso exagerado de cosméticos, principalmente o batom que é fixado diretamente nos
lábios, pode causar grandes danos à saúde, vindo a desenvolver doenças graves como dermatite de
contato, disfunções renais, entre outras.
Esses resultados deixam bem explícito o quanto a sociedade é desinformada acerca dos
produtos que utilizam, as empresas ou até mesmo a mídia não se preocupam em repassar
informações que podem prevenir tais doenças.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O quarto questionamento, assim como o primeiro, mostra o quanto a escola e as disciplinas


em geral, bem como as próprias indústrias fracassaram quando o assunto é segurança da população,
e do próprio meio ambiente. Nesse momento, foi questionado em que local as entrevistadas
descartavam os batons fora da validade, ou aqueles que não queriam mais utilizar, e até mesmo as
embalagens. As respostas obtidas, estão expressas no Gráfico 4.

1%

99%

Lixo doméstico Devolve à loja

Gráfico 4: Local de descarte dos batons

O Gráfico 4 apresenta um dos resultados mais preocupantes da pesquisa, pois todas aquelas
mulheres que afirmaram usar batons, com exceção de uma, relataram descartar os batons no lixo
residencial, isto é, os batons que possuem metais tóxicos são descartados como se fossem resíduo
inofensivo e acabam indo parar em solos, contaminando todo o ambiente ao redor. Além desse
ponto, outro que chamou a atenção foi o questionamento que muitas das entrevistadas lançaram:
―Existe algum local de coleta para os batons que não são mais usados?‖ Na cidade em que a
pesquisa foi realizada, não é divulgado nenhum local ou nenhuma loja que preste esse serviço de
coleta. Entretanto, uma das entrevistadas afirmou levar os batons e embalagens para uma loja
especializada na venda de cosméticos, provando ainda mais que a divulgação para coleta realmente
não existe, pois estas informações são repassadas por e-mail e nem todos tem acesso à internet,
entretanto, tem acesso a cosméticos labiais baratos.
Por ser tão inesperada a resposta dessa última entrevistada, uma pesquisa foi feita na loja
citada e a partir disso, foi informado pela gerente comercial que a loja realmente resgata as
embalagens e os restos de batons de qualquer marca e estes são levados para um local de reciclagem
administrado pela própria empresa.
O quinto questionamento gerou muitas perguntas vindas das próprias entrevistadas, foi
questionado se elas já tinham ouvido falar sobre os impactos negativos que o uso dos batons pode
causar ao meio ambiente e à saúde. As respostas obtidas, estão apresentadas no Gráfico 5.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

15%

85%

Sim Não

Gráfico 5: Informações recebidas sobre os danos causados pelos batons

O quinto gráfico mostra que realmente a escola, quando se trata de educação ambiental, não
está cumprindo com seu papel, pois em concordância com Silva (2013) o nível de consciência e
educação ambiental ainda é considerado baixo. Os conteúdos que envolvem os metais tóxicos
devem ser tratados como prioridade além de ser trabalhados de forma contextualizada e
interdisciplinar, pois a prevenção do meio ambiente deve ser pauta importante em todas as
disciplinas escolares.
Infelizmente, é notório que isso não ocorre e a forma como as entrevistadas agiram quando
questionadas comprovou ainda mais, pois elas devolviam o questionamento, com outras diversas
perguntas: ―Quais os danos que causam?‖. Como resultado disso, a pesquisa passou a ser
praticamente um seminário informativo, onde os pesquisadores se sentiram responsáveis em
repassar as informações que deveriam ser recebidas na escola ou pelas empresas e mídia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente perceber com esta pesquisa a ausência de conhecimentos que a população possui
em relação aos impactos causados à saúde e ao meio ambiente oriunda do descarte indevido e do
uso excessivo de batons contendo espécies potencialmente tóxicas, como chumbo (Pb) e mercúrio
(Hg). Dessa maneira, é necessário que órgãos públicos, locais de vendas e distribuição, escolas,
instituições de ensino superior, utilizem estratégias de conscientização ambiental e humana para a
população, principalmente para o público que consome o maior número de cosméticos labiais: as
mulheres. Com isso, estas práticas educativas funcionarão como suporte para conscientizar estes
indivíduos a diminuírem o consumo exagerado destes produtos e passarem a ler os rótulos dos
batons, onde é verificada a composição do material e, consequentemente, as quantidades e quais
metais apresentam na sua formulação.
Portanto, a preservação ambiental é uma tarefa que toda a humanidade deve lutar para
proteger e diminuir os impactos oriundos de atividades inadequadas e incorretas, muitas das vezes
provenientes da falta de conhecimento, como evidenciado nos resultados desta pesquisa.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A IMPORTÂNCIA DO SENSORIAMENTO REMOTO E SUA APLICAÇÃO NOS


ESTUDOS CLIMÁTICOS E IMPACTOS AMBIENTAIS36

Cassia Ferreira NOBRE


Graduanda do Curso de Ciências Ambientais da UFC
cassiaferreir4@yahoo.com.br

Cézar Silva de ABREU


Graduando do Curso de Ciências Ambientais da UFC
cezarsilvabreu@gmail.com

RESUMO
O Artigo trata das ferramentas necessárias que são utilizados na obtenção da interdisciplinaridade
no estudo sobre o meio ambiente, ferramentas essas tais como, a utilização de sensoriamento
remoto para a geração de dados, que possuem a funcionalidade de auxiliar a maximização dos
estudos realizados com finalidade de ter um maior aproveitamento e uma maior gama de
informações e detalhamento. Estudos na área da vegetação, agricultura, cartografia, recursos
hídricos, geologia, solos e nas forças antrópicas que influenciam o ambiente físico pois acabam se
destacando e corroboram para o entendimento e preservação dos processos naturais que podem ser
fundamentais para a existência do homem moderno.
Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Estudos Ambientais, Mudanças Climáticas.
ABSTRACT
The article is about the necessary tools used to obtain interdisciplinarity in studies on the
environment, tools such as the use of remote sensing and geoprocessing of images for the
generation of data, which have the function of assisting in the maximization of studies performed
with the purpose of having a greater use and a greater range of information and detailing. Studies on
the vegetation, agriculture, cartography, water resources, geology, soils and anthropic forces that
influence the physical environment are highlighted and corroborated for the understanding and
preservation of the natural processes that may be fundamental to the existence for modern man.
keywords: Remote sensing, Environmental Studies, Climate Changes.

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, devido a necessidade do estudo e da observação diante das


transformações ocorridas no planeta as técnicas de obtenção de imagens tiveram uma expansão
muito acentuada, uma das principais ferramentas utilizadas para aquisição de imagens, de alta
qualidade, que é o sensoriamento remoto, uma das tecnologias mais atuais de captura de imagens e
de obtenção de dados sobre a nossa superfície terrestre, onde o sensoriamento remoto, não tem
nenhum contato físico com a área estudada, logo podemos defini-lo como sendo:

36
Orientador – Professor Drº. Antonio Geraldo Ferreira

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

―Utilização conjunta de sensores, processamento de dados, transmissão de dados colocados a bordo de aeronaves,
espaçonaves, com objetivo de estudar eventos, fenômenos e processos que ocorrem na superfície da Terra a partir do
registro e análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias que compõem em suas mais diversas
manifestações.‖ (Evelyn, 2010, p.28)

No ano de 1858 Gaspard Felix Tournachon acaba tirando uma fotografia aérea a partir de
um balão, já no início do século XX, mais precisamente no ano de 1903, Alfred Maul acaba
patenteando câmeras que capturam imagens a partir de um foguete, câmeras fotográficas essas bem
leve, que possuía um disparador automático que eram fixados sobre os ombros dos conhecidos e
chamados pombos correios, e tinham a finalidade de ficarem sobrevoando grandes áreas
estratégicas, pois o objeto instalado sobre seu peito servia para observar e fotografar o local, sendo
assim se poderia localizar a posição inimiga e conhecer suas bases militares. Ainda no mesmo ano,
de 1903, foram captadas as primeiras fotografias de um aeroplano, criado pelos irmãos Wright,
onde nessa época se deu um notável passo para a obtenção de imagens de uma altura considerável.
Os anos que se viriam, a seguir, seriam de extrema importância para a consolidação do que
conhecemos atualmente como sensoriamento remoto.
Na década de cinquenta ocorreu o lançamento dos primeiros satélites, o Sputnik
representando a União Soviética, que foi a primeiro satélite lançado na história da humanidade;
após 3 meses, os estadunidenses responderam com o lançamento do Explorer I, que obteve um
enorme sucesso ao revelar o cinturão de Van Allen, área que ocorrem fenômenos atmosféricos
devido o campo magnético terrestre.
Em 1960 se deu um outro avanço para a evolução do sensoriamento remoto, pela ocorrência
de vários projetos e pesquisas de desenvolvimentos na área espacial; ainda na mesma década
ocorreria um marco histórico que ficaria conhecido como a corrida espacial, entre os Estados
Unidos e a antiga União Soviética, que procuravam demonstrar poder com seus lançamentos ao
espaço e entender mais a fundo como era o planeta visto de um outro ângulo , o que resultou em
um grande avanço nos lançamentos de foguetes e lançadores de satélites, pois através desse
processo, pode se colocar no espaço satélites artificiais que possuem diversas finalidades de
pesquisa.
Após todo o avanço tecnológico que o sensoriamento remoto obteve, principalmente na área
bélica, chegamos finalmente ao final do século XX onde alguns impactos ambientais, mais
drásticos, já começariam a recair com mais intensidade sobre a sociedade, tais como o aumento e a
diminuição da temperatura em certas localidades, a invasão do mar sobre certas regiões, a extinção
de fauna e flora, a poluição atmosférica eram e ainda continuam sendo os principais pontos críticos
e os problemas mais comuns, que com o tempo só tendem a piorar caso o homem não mude sua
cultura anti ecológica, e com a necessidade de se entender os novos acontecimentos no planeta o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sensoriamento passou então a ser um dos principais aliados em estudos, pesquisas e análises sobre o
meio ambiente.
E se engana quem acha que não exista sensores remotos naturais. Grande parte de nossa
população possui a visão humana uns dos principais sentidos que possuímos, e com isso detemos de
um sensor natural capaz de reconhecer e analisar o objeto em estudo, segundo (Bernardo,2008)
justamente pelo fato de nossos olhos que captam as ondas eletromagnéticas, advindas do reflexo do
objeto, conseguimos enxergar mesmo a uma distância considerável o objeto que queremos analisar,
e assim tiramos conclusões finais sobre o mesmo.
É notório destacar que tudo isso se deu aos avanços dos estudos da ciência que ajudaram na
confecção de foguetes e satélites, que serão tratados aqui como exemplos para conhecimento e
explicação dos estudos ambientais, entre os destaques temos Isaac Newton e suas leis sobre a
mecânica, James Clerk Maxwell com a teoria aditiva das cores e também desenvolveu a teoria
eletromagnética ondulatória, assim como Galileu Galilei e Albert Einstein com seus estudos sobre o
espaço.

A IMPORTÂNCIA DO SENSORIAMENTO REMOTO NOS ESTUDOS AMBIENTAIS

Com avanço das tecnologias foram se aperfeiçoando e aprimorando os satélites e os usos


dessas ferramentas, onde atualmente, esses satélites têm como objetivo fornecer informações e
imagens de alta qualidade, para os levantamentos de dados ambientais. Segundo Evlyn (2010) a
importância da utilização do sensoriamento remoto se denota principalmente nas seguintes áreas:
 Urbanas (inferência demográfica, cadastro, planejamento urbano, suporte ao setor
imobiliário).
 Agrícolas: condições das culturas, previsão de safras, erosão de solos).
 Geológicas: minerais, petróleo, gás natural.
 Ecológicas (regiões alagadas, solos, florestas, oceanos, águas continentais).
 Florestais (produção de madeira, controle de desflorestamento, estimativa de biomassa).
 Cartográficas (mapeamento topográfico, mapeamento temático, atualização de terra).
 Oceanográficas (produtividade primária, monitoramento de óleo, estudos costeiros,
circulação oceânica etc.).
 Hidrológicas (mapeamento de áreas afetadas por inundações, avaliação de consumo de água
por irrigação, modelagem hidrológica).
 Limnológicas (caracterização da vegetação aquática, identificação de tipos de água;
avaliação do impacto do uso da terra em sistemas aquáticos).
 Militares, e muitas outras.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 697


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

No caso do satélite CBERS (Satélite Sino Brasileiro de Recursos Terrestres), que possui
como foco de missão o fornecimento de imagens de altíssimo padrão de qualidade para o
levantamento de dados ambientais na superfície terrestre.
Podemos citar também o satélite CALYPSO (Cloud-Aerosol Lidar e Infravermelho
Pathfinder de Observação), que seu objetivo científico geral da missão é o perfilamento da
distribuição vertical de nuvens e aerossóis e seu papel no aquecimento e resfriamento da terra, além
de quantificar as melhoria e estimativas para o forçamento radiativo direto e indireto, e melhoria na
precisão dos fluxos radiativos de ondas longas na terra e na superfície e dentro da atmosfera.
Já o satélite NOAA (National oceanic and atmospheric administration), irá coletar
informações sobre atmosfera e o meio ambiente da Terra, para melhorar a previsão do clima e as
pesquisas climáticas em todo o mundo, o que influencia diretamente nos oceanos.
E por último podemos destacar a importância do satélite VIIRS (Visible Infrared Imaging
Radiometer Suite), que possui um conjunto de radiômetro de Imagem de Infravermelhos Visíveis e
fornece dados únicos para monitorar com precisão os padrões climáticos globais e outras
informações para indústrias tão diversas como agricultura e transporte, seguros e energia.
As aplicações desse satélite no monitoramento ambiental são de total relevância como
podemos observar logo abaixo.

Figura 01 - Tempestade tropical captada pelo canal do infravermelho (11,45 µm), no leste do Havaí. (Crédito
da Imagem CIMSS SATELLITE)

Na Figura 01, observamos uma Tempestade Tropical que começou como uma depressão
tropical a cerca de 900 milhas a leste do Havaí por volta de 03 UTC em 08 de julho de 2015, onde

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 698


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

correram ventos de até 110 km/h, com velocidades de até 23 km/h, os meteorologistas categorizam
o furacão na categoria 4, o que resultou em enormes impactos e prejuízos ao meio ambiente e as
cidades mais próximas de onde ocorreu a tempestade tropical. O que leva mais uma vez a notificar a
importância do sensoriamento remoto no controle e monitoramento dos fenômenos climáticos, pois
através do satélite VIIRS se pode acompanhar como essa tempestade se comportava e através do
monitoramento foi possível levantar hipóteses por quais regiões ocorreria a trajetória do furacão, o
que resultou em ações de mitigação para regiões próximas do furacão , e alertas geral para a
população que estocavam alimentos e reforçaram suas casas com madeira e estruturas de aço para
evitar ao máximo os danos que seriam causados pelo o mesmo.

Figura 02 - Desprendimento de um iceberg da plataforma de gelo Larsen-C, na Antártida, captado pela


banda day/night 0,7 µm. (crédito da imagem BBC BRASIL)

Na figura 02 mostra o grande iceberg chamado A-68, que se separou da plataforma de gelo
Larsen-C na Antártida, isso se deve ao fato das grandes consequências climáticas causados pelo
aquecimento global, essa massa de gelo flutuante um iceberg gigante, contém cerca de 5 mil
quilômetros quadrados e possui uma espessura de 200 a 600 metros , esse iceberg é um dos maiores já
registrado, espera-se que ele se divida em fragmentos ou que permaneça em uma unidade só, o que
se nota em questão é o fato de que esse iceberg já está flutuando e impedindo o fluxo de geleiras
que a alimentam, segundos os cientistas e especialistas da área o seu derretimento não irá alterar
imediatamente o nível dos oceanos mais que é certeza ele causar uma alteração no nível das águas,
segundo alguns pesquisadores e cientistas relataram, que caso a plataforma continue perdendo
blocos de gelo, irá resultar na separação das geleiras rumo ao oceano, o que poderia elevar a uma
altura de até 10 centímetros no nível do mar, quanto a plataforma Larsen-C é provável que continue

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 699


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

flutuando até o norte em águas mais quentes onde facilitará ainda mais o processo de derretimento
do bloco e corroborar para o processo de aumento do nível das águas no oceano. O que podemos
destacar é a destruição de alguns habitats devido ao derretimento e a invasão de águas devido ao
aumento ocorrido do nível das águas.

APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO NOS ESTUDOS AMBIENTAIS

CBERS - Exemplo Brasileiro de Sensoriamento Remoto nos Estudos Ambientais.

Em 06 de julho de 1988, o governo brasileiro juntamente com o governo da China assinara


um mútuo acordo de cooperação espacial, algo que iria revolucionar até então a história espacial
brasileira, assim nascia o que conhecemos hoje como CBERS (CHINA-BRAZIL EARTH
RESOURCES SATELLITE). Inicialmente foram acertados a construção de dois satélites, cujas suas
missões era a geração e o fornecimento de imagens de alta qualidade para levantamento de dados
ambientais na superfície terrestre, os responsáveis pelos futuros satélites foram o INPE
(INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS) e a CAST (ACADEMIA CHINESA DE
PESQUISAS ESPACIAIS) em que o Brasil detinha 30% do satélite e a China os outros 70%.
Após se passarem 11 anos de acordo, o primeiro satélite sino brasileiro de sensoriamento
remoto era colocado em órbita, ficou conhecido como CBERS-1. Abordo do CBERS-1 estavam
grandes sensores, como o CCD, IRMSS, WFI, capazes de captarem imagens de alta qualidade
mesmo a grandes distâncias da Terra. Após o desligamento do CBERS-1 e sua missão ter sido
concluída com sucesso em outubro de 2003 o CBERS-2 foi colocado em órbita, com os mesmos
sensores e com a mesma missão do primeiro CBERS. Ainda no ano de 2002 foi assinado um novo
acordo entre as duas nações com a continuação do projeto CBERS agora com o satélite 3 e 4, com a
demora durante o processo de construção dos satélites os dois países acabaram em comum acordo
pela construção de um terceiro satélite mais simples, porém que desempenhasse as mesmas funções
que os dois primeiros satélites, logo foi criado o CBERS-2B, este que entrou órbita no ano de 2007
com a mesma missão e mesma estrutura dos satélites CBERS-1 e 2, com dois módulos segundo
(AVELYN,2010) um módulo de carga útil com sensores, e um módulo onde existe equipamentos
de energia, computador de bordo, gravadores, sistemas de telecomunicações e outras funções do
satélite, ressaltando que todos os modelos do CBERS tem placas solares para captação de energia
solar, porém o CBERS-2B iria com um sensor novo designado como HRC e os demais sensores
continuam com exceção do IRMSS.
Após o encerramento da primeira geração de CBERS agora se iniciava uma nova jornada,
em que a segunda geração deveria ser melhor e mais eficaz nas missões, logo em nove de
dezembro de 2013 se iniciou uma nova aventura espacial brasileira com o lançamento do CBERS-3,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 700


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este muito superior tecnologicamente aos seus antecessores, com Câmera Pancromática
Multiespectral (PAN), Câmera Multiespectral Regular (MUX), Imageador Multiespectral e Termal
(IRS), Câmera de Campo Largo (WFI), Dois Transmissores de Dados de Imagem ( MWT e PIT),
Gravador de Dados Digitais(DDR), Sistema de Coleta de Dados(DCS) e Monitor do Ambiente
Espacial (SEM); todos esses sistemas seriam eficazes para fazer com que o CBERS entrasse na
história espacial brasileira, porém por um erro fatídico de desligamento de propulsores antes da
hora o satélite não atingiu a órbita desejada e acabou entrando novamente na órbita terrestre onde
foi desintegrado. Com isso foi dado o adiamento do CBERS 4.
Atualmente o CBERS 4 ainda está em órbita fornecendo imagens de alto padrão de
qualidade para compreensão dos fenômenos ambientais, na figura abaixo nota-se a importância do
mesmo para estudos meteorológicos nas regiões nordestinas, com a formação de nuvens
Nimbostratus Praecipitatio, que impedem a passagem de radiação solar e vem acompanhada de
uma intensa precipitação, estas que por sua vez podem ocasionar transtornos aos grandes centros
urbanos, tais como, enchentes, deslizamento de terra, etc.

Figura 3 - Imagens, cortadas, do satélite CBERS - 4 no litoral nordestino, dia 21 de julho de 2017 às 12:55,
horário de Brasília, mostrando grande concentração de massas de nuvens com grande probabilidade de
ocorrer um evento meteorológico, deixando em alerta grande parte do litoral nordestino para grandes
precipitações.

Com as imagens captadas pelos satélites, podemos observar maior detalhamento de


informações sobre os fenômenos meteorológicos e assim possamos compreender da melhor maneira
possível, como eles ocorrem, e de que maneiras podem influenciar nos ciclos naturais do meio
ambiente.

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Figura 4 - Imagem sensorial, do dia 27/07/2017 às 14:26, pelo satélite CBERS 4-IRS, no estado do
Amazonas, podemos perceber através da imagem, que se passa diversos cursos de rios ou seja faz parte de
uma bacia hidrográfica, onde esses cursos de rios passam pelas cidades de Manacapuru, Anamã.

A figura 4 - imagem sensorial está na banda espectral do Infravermelho próximo, fazendo


com que as regiões próximas aos cursos de rios possuam uma tonalidade de cor de vermelho menos
intensa, devido às áreas estarem degradadas ou sem nenhuma quantidade significativa de biomassa
presente na área.
Nota se também uma grande área com uma cobertura vegetal extensa pelo fato da
vegetação, refletir uma coloração mais intensa da cor vermelha, justamente no infravermelho
próximo, pois na imagem também podemos notar uma intensidade de cor mais fraca do vermelho,
isso se deve ao fato dos solos não possuírem nenhum tipo de cobertura vegetal e por isso ela reflete
uma cor de intensidade de vermelho mais fraca , e com isso esse contraste de cores facilita no
estudos de áreas degradadas, que sofrem impactos ambientais e quais áreas que sofreram ações de
queimadas ou áreas que sofreram derrubada de vegetação para produção agrícola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

São nítidas a importância e a difusão que o sensoriamento remoto, teve e tem até os dias de
hoje nos estudos de como a natureza se modifica, pelos seus processos naturais, e como
modificamos nosso espaço físico, por forças antrópicas, conforme o passar do tempo. A
humanidade conseguiu chegar a um ponto muito elevado de conhecimento e assim pode se produzir
ferramentas tecnológicas que auxiliaram a evolução e o saber científico de nossa sociedade, no que
tange ao planejamento urbano e ambiental.
Tanto CBERS, CALYPSO, NOAA e VIIRS, satélites com tecnologias avançadas, são
responsáveis por diferentes aspectos dentro dos estudos de cunho ambiental, aspectos esses como o
ar, pelo CALYPSO, terra, com o CBERS, água e calor com o NOAA, e o VIIRS que apresenta um

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

aspecto mais geral, reunindo todos os 4 elementos que são pilares para uma sustentabilidade
pensada na geração futura do nosso planeta.
Cabe ainda ressaltar o quanto o Brasil cresceu nessa área, através do CBERS, porém depois
de muito sucesso em suas missões o futuro do nosso satélite ainda é obscuro, devido aos cortes de
gasto que governo brasileiro vem fazendo nos últimos anos, com isso podemos dizer que acarretará
um grande retrocesso a pesquisa prejudicando a toda sociedade no geral, já que em tempos de
mudanças climáticas e um maior entendimento dos processos do meio ambiente, e como esses vão
influenciar em nossa sociedade, se faz necessário a fomentação da pesquisa através do nosso aliado,
que é o sensoriamento remoto.

REFERÊNCIAS

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Rudorff, Bernado. Introdução ao sensoriamento Remoto. 2008. Instituto Nacional de Pesquisas


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 704


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ESTUDO DA CAPACIDADE DE DESENVOLVIMENTO DE ATRIPLEX


NUMMULARIA NO SERTÃO CENTRAL

Reinaldo Fontes CAVALCANTE


Doutorando em Saneamento Ambiental - Universidade Federal do Ceará – UFC
reinaldo.ifce@gmail.com
Francisco Auricio Nogueira de SOUZA
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
auricio.nogueira11@gmail.com
Jorge Alisson Oliveira CUNHA
Graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
eng.jalisson@gmail.com

RESUMO
A salinização e desertificação são impactos ambientais que precisam ser avaliados através de
práticas que visem a sustentabilidade das atividades rurais nas regiões áridas e semiáridas que
apresentam tendências para esses processos. O sertão central Cearense composto por 19 municípios
e uma população de 618.000 habitantes tem vivido esta situação que tem se intensificado nas
últimas décadas com o avanço da salinização sobre as áreas agricultáveis da região. O objetivo
deste trabalho foi de avaliar as condições necessárias para o desenvolvimento da espécie Atriplex
nummularia e também sua capacidade de combater a salinização do solo da região associada a
inserção da mesma nos arranjos produtivos locais. Notou-se que a região detém as condições
climáticas necessárias para o cultivo da espécie e que a mesma tem apresentado em outras
experiências relevantes resultados na recuperação de áreas degradadas, na produção animal de
ovinos e caprinos, sob a forma de feno, no aproveitamento energético de seu poder calorífero e mais
recentemente no suporte a produção de alimentos com baixos teores de sódio. Estes fatores fazem
do cultivo da Atripex nummularia na região do Sertão Central Cearense uma importe ação de
combate ao avanço da salinização relevante no processo de convivência com o semiárido e na busca
pelo alcance do desenvolvimento sustentável da região.
Palavras-chave: biotratamento, degradação, sustentabilidade
ABSTRACT
Salinization and desertification are environmental impacts that need to be evaluated through
practices that aim at the sustainability of rural activities in the arid and semi-arid regions that
present trends for these processes. The central sertão Cearense, made up of 19 municipalities and a
population of 618,000 inhabitants, has experienced this situation that has intensified in the last
decades with the advance of the salinization on the agricultável areas of the region. The objective of
this work was to evaluate the conditions necessary for the development of the species Atriplex
nummularia and also its ability to combat the salinization of the soil associated with the insertion of
the same in the local productive arrangements. It was noted that the region has the climatic
conditions necessary for the cultivation of the species and that it has presented in other relevant
experiments results in the recovery of degraded areas, in the animal production of sheep and goats,
in the form of hay, in the energy utilization of its calorific power and more recently in the support to
the production of foods with low sodium contents. These factors make the cultivation of Atripex
nummularia in the region of Central Sertão Cearense an important action to combat the advance of
relevant salinization in the process of coexistence with the semi-arid region and in the search for the
sustainable development of the region.
Keywords: biotreatment, degradation, sustainability

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A Região Nordeste ocupa 18,27% do território brasileiro, com uma área de 1.561.177,8 km²;
desse total, 962.857,3 km² se situam no Polígono das Secas, delimitado em 1936 por meio da Lei
175 e revisado em 1951. O Polígono, que compreende as áreas sujeitas repetidamente aos efeitos
das secas, abrange oito Estados nordestinos: o Maranhão é a única exceção, além de parte
(121.490,9 km²) de Minas Gerais, na Região Sudeste; já o Semiárido ocupa 841.260,9 km² de área
no Nordeste e outros 54.670,4 km² em Minas Gerais e se caracteriza por apresentar reservas
insuficientes de água em seus mananciais (SUDENE, 2004). Nessa região do Brasil a irrigação é
uma ferramenta fundamental para o progresso da agricultura, no entanto, a prática da irrigação
aumenta as concentrações de sais na superfície do solo (DANTAS et al., 2002). Estima-se,
atualmente, que, no mundo, 25% dos solos irrigados estão afetados por diferentes níveis de
salinidade (RHOADS et al., 2003). O Nordeste brasileiro possui de 20 a 25% da área irrigada com
solos afetados por sais (HOLANDA & AMORIM,1997). Com essas práticas, os solos salinos e
sódicos são encontrados com mais frequência nessas regiões áridas e semiáridas, e nesses solos há
diferentes proporções de cátions de sódio, cálcio e magnésio, além de quantidades menores de ânios
de bicarbonato, carbonato e nitrato (CORDEIRO, 2001). Portanto, práticas de recuperação e manejo
eficientes devem ser elaboradas e adotadas, partindo do princípio que o solo é um importante
recurso natural para agricultara.
A Atriplez nammularia é uma espécie que tem se destacado no semiárido pela facilidade de
adaptação a fatores abióticos e capacidade de fitoextração de sais solo (SILVA 2010). É uma planta
forrageira da família Chenopodiacea nativa da região desértica da Austrália, que apresentou bom
desenvolvimento nas regiões áridas e semiáridas da América do Sul, em particular da Argentina,
Chile e Brasil (SILVEIRA et al, 2009). Foi introduzida no nordeste brasileiro através de Inspetoria
Federal de Obras contra a Seca (OBRAS. . ., 1938).
Desta forma, o presente artigo busca estudar a capacidade da Atriplex nammularia de se
adaptar a regiões áridas e semiáridas e as condições necessárias para seu desenvolvimento no Sertão
Central – Ceará.

CONTEXTO DA SALINIZAÇÃO

A salinização do solo é um dos principais processos de degradação no ambiente semiárido,


causada por danos nas propriedades do solo, comprometendo o desenvolvimento vegetal e
intensificando os severos impactos ambientais e sociais (Souza et al., 2008; Ashraf, 2009; Ashraf &
Akram, 2009). Segundo Nedjimi (2014) 40% dos solos do mediterrâneo são afetados pela

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

salinidade. É uma problemática que vem aumentando de forma constante na maioria das partes do
mundo devido a irrigações pobres em práticas de drenagem (Drevo et al 2001).
Na região do Nordeste brasileiro a prática da irrigação aumenta as concentrações de sais na
superfície do solo (Dantas et al., 2002). A intensa evaporação superficial dessa região auxilia para
que parte dos sais fiquem retidos na camada externa do solo (Cordeiro, 2001).
Segundo Silva (2010) 55% das terras do mundo correspondem a regiões áridas e semiáridas
representam, isso equivale a 2/3 da superfície total de 150 países, com uma população ao redor de
700 milhões de pessoas. No Brasil o Nordeste ocupa 18,27% de território, grande parte dessa região
está situado sobre rochas cristalinas e com contato direto, no subsolo, a água proveniente desse tipo
de rocha, eleva o processo de salinização (Silva, 2010).
Estes problemas são intensificados em regiões que tem como a base de sua economia a
chamada agricultura de subsistência como os 19 municípios que compões a região do Sertão Central
Cearense, com uma área de 29.683,5 Km2 e uma população estimada em 617.840 habitantes, com
48% da população residente na zona rural e um IDH médio de 0,60 associado a países da África
como a República Popular do Congo e a Namíbia (IPECE, 2014). A região do Sertão Central já
sofre com a escassez hídrica e seu relevo acidentado, tem encontrado na rápida salinização de seu
solo um outro fator de depreciação e perdas significativas na eficiência da agricultura e pecuária.
Estes aspectos fazem de ações como o combate a salinização e o incremento de tecnologias de
convivência com a seca se tornem essencial para o desenvolvimento local.

ATRIPLEX NAMMULARIA

É de conhecimento comum pela comunidade cientifica que as halófitas podem acumular


altas concentrações de sais em seus tecidos celulares. Esses atributos contribuem para conclusões de
alguns pesquisadores a sugerir que as halófitas podem ser cultivados para remover sal do solo
(Chaudhri et al., 1964).
A espécie Atriplex numularia é uma planta originaria da Austrália que tem obtido bons
resultados em regiões áridas e semiáridas da América do sul. No Brasil foi introduzida na década de
40 do século XX pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) em áreas
experimentais no estado da Bahia e Pernambuco, tendo suas características sendo mais
intensamente estudadas nas últimas décadas. (PEQUENO et al., 2014). Ela tem se destacado em
regiões áridas e semiáridas por manter abundante fitomassa, sendo capaz de suportar áreas salinas e
ácidas, adaptando-se muito bem em regiões com precipitação ao redor de 100 a 200 mm/ano (Porto
et al, 2000). Wallker, et al., (2014) afirmaram que a introdução de plantas halófitas, plantas
resistentes a salinidade do solo por conta de seu mecanismo osmótico diferenciado, acompanhado
de uma diminuta necessidade hídrica, podem contribuir de forma significativa no aumento da

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eficiência dos usos das terras agricultáveis em regiões áridas. Outra vertente para o uso da Atriplex
numulária para fitoextração é a remoção de contaminantes, em particular metais, do solo através da
absorção de raiz e translocação para os brotos. A fitoextração eficiente requer plantas de alta
biomassa com propriedades de translocação eficientes e que acumulam de forma característica
grandes quantidades de sais em material de tecido acima do solo e podem produzir alta produção de
biomassa (JORDAN, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo os estudos de MIYAMOTO (1996) a planta vegeta bem em altitudes que variam
desde o nível do mar até 2800 metros de altitude, como em alguns países andinos como o Peru e
Chile, suportando temperaturas que podem variar de 18 a 35°C de média. Condições favoráveis as
estas podem ser observadas no Sertão Central Cearense com altitude média de 250 metros acima do
nível do mar e uma temperatura média variando de 25 a 32 °C. (IPECE, 2014). Ainda de acordo
com este, a região apresenta uma pluviosidade média anual de 813mm/ano concentradas nos meses
de Fevereiro a Maio e uma evapotranspiração média anual de 1200mm, possuindo solos em geral,
rasos ou moderadamente profundos, com grande frequência de chãos pedregosos e afloramentos
rochosos, sendo as associações mais comuns de Luvissolos Crômicos, Neossolos Litólicos,
Planossolos, Vertissolos, Neossolos Flúvicos e Argissolos Vermelho Amarelos (BRASIL, 2010).
Aganga et al., (2013) registraram em seu trabalho de investigação sobre o potencial
forrageiro da Atriplex numulária valores de tolerância da planta a temperaturas variando entre -8 e
35 °C, com a ressalva de que temperaturas invernais próximas ao limite podem causar a sua morte,
e valores de precipitação anual entre 49 e 1.000 mm, não registrando inconvenientes em
desenvolver-se em solos rasos. Estas informações coadunam com as condições encontradas na
região do Sertão Central Cearense possuindo um grande potencial para o fornecimento das
condições ideais de cultivo da espécie arbórea.
A região conta com 4.123 hectares de área plantadas e passou mais recentemente a ser alvo
da preocupação do uso de espécies mais resistentes a salinização em decorrência do avanço das
áreas em processo de salinização e desertificadas o que fez com que a região fosse enquadrada no
rol de áreas de grave suscetibilidade a salinização e desertificação pelo Ministério do
Desenvolvimento Agrário em seus estudos já no ano de 2010. Este fator é atribuído não só por
conta das características naturais do solo e clima, mas também é atrelado a práticas rudimentares de
agricultura e utilização de águas superficiais e subterrâneas que trazem em sua constituição
elevadas concentrações de sais (Brasil, 2010).
A estimativa de Singh (2015) é que 25% dos solos que receberam irrigação com águas
salobras apresentem elevados estágios de erosão e salinidade, trazendo como reflexo a diminuição e

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até a inviabilização da prática da agricultura nestas regiões, estes valores representa no Sertão
Central Cearense uma área de 1025 hectares de área agricultável. Zucca et al., (2014) afirmam que
em termos ambientais o cultivo da espécie Atriplex nummularia possui o potencial de contribuir de
forma significativa com a estabilização e recuperação de solos degradados trazendo como
consequência o aumento e posterior restabelecimento da diversidade de invertebrados endêmicos
dos solos da região, Contribuindo também para redução de vazamento e posterior recarga do lençol
freático da região, estabilização de áreas salinas para que outras culturas possam ser plantadas. Os
mesmos autores destacaram a importante contribuição para a recuperação de diversas parcelas de
solo tratados com Atriplex nummularia, com vários espaçamentos diferentes, na região do
Marrocos.
Em termos econômicos a espécie possui um relevante potencial forrageiro constituindo-se
como fonte alternativa de alimentos podendo ser incorporado à alimentação animal na forma de
feno (PEQUENO et al., 2014). Seus valores nutricionais são descritos na tabela 01 sendo as
experiências mais exitosas ocorrendo quando misturada a alimentação dos processos de criação de
ovinos e caprinos. Souto et al., (2002), trabalhando com engorda de ovinos da raça Santa Inês, com
dietas tendo como fonte proteica o feno da erva-sal, encontraram resultados de 138g de peso vivo
por dia, utilizando 64,57% de feno de Atriplex nummularia misturado com energéticos e
volumosos, tais como raspa de mandioca, capins, palma ou melancia forrageira.
Estes valores foram sendo confirmados com estudos posteriores como registrados por
Mattos (2009) onde se observou o uso de Atriplex nummularia sob a forma de feno proporcionando
ganhos de até 300 g/animal/dia para ovinos confinados em rações com 75,5% de Atriplex
nummularia e 24,5% de capim elefante, e por Ahmed et al., (2014) na observação da digestibilidade
da planta em ovinos.
Estes resultados conferem a Atriplex nummularia um significativo potencial de sua
utilização no Sertão Central tendo em vista o porte do rebanho de ovinos e caprinos da ordem de
24.640 cabeça de ovinos e 6700 cabeças de caprinos (IPECE, 2014).

Tabela 01. Valores nutricionais da Atriplex nummularia


Parâmetros Valores em (g/Kg)

Na 69,7

K 20,3

Ca 5,5

Mg 4,6

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 709


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

P 2

Cinza 230

Proteína 103

Fibra 445

Lignina 9

Gordura 21,5

Fonte: Aganga, et al., (2003)

Já Gleen et al., (2013) descrevem, em seus estudos sobre bioenergia, o produto da poda da
Atriplex nummularia com um importante recurso energético, tendo os rendimentos por hectare de
lenha da planta variando de acordo com as condições com que a espécie é cultivada. Para citar um
exemplo na Tunísia, em localidades com precipitações de 280 mm/ano, cultivou-se Atripex
nummularia, durante o 1° ano, obteve-se 3.700 kg/ha de lenha fresca, equivalente a 1.900 kg depois
de secas. No segundo ano, os valores por hectare se elevaram a 5.800 kg de lenha fresca e 3.000 kg
em estado seco (Franclet & Le Houérou, 1971). Esses mesmos autores indicam que a densidade de
lenha de A. nummularia é relativamente elevada (0,75 g/cm3) e que desse arbusto pode-se obter
carvão de boa qualidade, estando seu poder calorífico em torno de 4.540 kcal/kg (Garcia, 1993).
Esse valor é aceitável quando comparado com o poder calorífico de algumas madeiras nativas da
África e América do Sul, que oscila em torno de 4.770 kcal/ kg, bem como da algaroba (Prosopis
sp.) que obtiveram média de 4.935 kcal/kg na madeira de seis espécies de algaroba (Pereira &
Lima, 2002) e de 4.088,55 kcal/kg para nim indidano (Azadirachta indica) (Araújo et al., 2000).

CONCLUSÕES

Por meio desse artigo é possível perceber que o Sertão Central Cearense apresenta
características para o desenvolvimento da Atriplex nummularia de forma a colaborar para a redução
de impactos do avanço das áreas salinizadas sobre a região, além da possibilidade do incremento de
produtos agropecuários importantes na fixação da população rural e a sustentabilidade da produção
rural. E além, que a utilização planejada da espécie Atriplex nummularia reflexos econômicos como
a possibilidade de participação nos processos produção de Ovinos e Caprinos, na produção de lenha
e no estudo de suas propriedades como tempero para alimentação humana, se constituindo como
uma importante variável nas questões que envolvem a convivência com o semiárido Cearense,
possibilitando impactos sociais diretos a aproximadamente 296.594 habitantes residentes da zona
rural da região do Sertão Central Cearense.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 710


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 711


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 712


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RISCOS AMBIENTAIS NO ENTORNO DA


BARRAGEM JAIME UMBELINO EM SÃO CRITÓVÃO-SE

Glauber Vinícius Pinto BARROS


Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
glauber.barros@hotmail.com
Jocimar Coutinho RODRIGUES JUNIOR
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
jocimar_junior@hotmail.com
Livia Mirelle da Silva VIEIRA
Discente de Engenharia Ambiental e Sanitária – DEAM/CCET/UFS
liviamsv18@gmail.com
Fernanda de Souza STINGELIN
Engenheira Ambiental e Sanitária - UFS
f.stingelin@hotmail.com

RESUMO
A Barragem Jaime Umbelino está localizada no rio Poxim-Açu em São Cristóvão Sergipe, na
região metropolitana de Aracaju e de acordo com a DESO (companhia de saneamento de Sergipe)
armazena cerca de 32 milhões de metros cúbicos de água, quantidade acumulada em pouco mais de
quatro meses, durantes os meses de chuva na região. Ainda segundo a DESO, a estrutura física da
barragem possui uma extensão de 1.125 metros, com uma área de inundação de 5,2 km² e uma
lamina d‘água de 15m. A construção de barramentos em rios para represar água, afeta diversos
fatores do corpo d‘água e dos ecossistemas que os circundam. Fatores físico-químicos, hidrológicos
e geomorfológicos do rio, uma vez alterados, podem causar transtornos à biota do ecossistema
aquático e alterar a qualidade da água a montante e a jusante da barragem, prejudicando o uso da
água para certas atividades. Em função dessas alterações, torna-se importante um estudo e gestão
dos impactos e risco, ambientais e sociais, que surgiram após a construção da barragem. Para
realizar essa avaliação foi aplicada um modelo de análise de riscos denominada Árvore de Eventos
(AAR), também chamada de Série de Riscos (SR). Neste sentido, com os dados obtidos a partir de
uma visita à área, foi elaborado um fluxograma que evidencia os acontecimentos movidos por um
evento, que geralmente ocasionam perigos.
Palavras Chaves: Barragem. Impactos. Gestão.
ABSTRACT
The Jaime Umbelino Dam is located on the Poxim-Açu River in São Cristóvão Sergipe, in the
metropolitan region of Aracaju, and according to DESO (Sergipe sanitation company) it stores
about 32 million cubic meters of water, amount accumulated in a few months, during the months of
rain in the region. Also according to DESO, the physical structure of the dam has an extension of
1,125 meters, with a flood area of 5.2 km² and a water slide of 15m. The construction of riverbeds
to dam water affects several factors of the body of water and the ecosystems that surround them.
Physico-chemical, hydrological and geomorphological factors of the river, once altered, can cause
disruption to the biota of the aquatic ecosystem and alter the quality of the water upstream and
downstream of the dam, damaging the use of water for certain activities. Due to these changes, it
becomes important to study and manage the environmental and social impacts and risks that arose
after the construction of the dam. To carry out this evaluation, a risk analysis model called the

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Event Tree (AAR), also called the Risk Series (SR), was applied. In this sense, with the data
obtained from a visit to the area, a flow chart was elaborated that shows the events driven by an
event, which generally cause hazards.
Keywords: Dam. Impacts. Managements.

INTRODUÇÃO

O primeiro passo entender os diversos impactos da construção de barragens ao longo das


últimas décadas, em diversos lugares do mundo, requer, antes de mais nada, uma breve análise dos
objetivos e significados desses grandes empreendimentos. A barragem Jaime Umbelino foi
construída para garantir o abastecimento normal de água para a grande Aracaju pelos próximos 20
anos, atendendo a uma população estimada em 800.000 pessoas. (VIANA, 2003).
Segundo McCully (1996), assim como todo rio é único nas características de sua vazão, da
região que ele percorre e das espécies que ele sustenta, assim também o é o design e o modelo de
operação das barragens e os efeitos nos rios e ecossistemas que dela decorrem.
O barramento dos rios para a formação de represas provoca alterações nos ecossistemas
aquáticos, causando modificações físicas e químicas do ambiente, da água e consequentemente na
organização das comunidades biológicas, além de influencias nas comunidades bióticas a jusante da
barragem (ARMENGOL et al., 1999).
A interceptação do fluxo natural do rio causa profundas modificações hidrológicas nos
sistemas fluviais como um todo, tanto a jusante como a montante. Na jusante, em particular, as
alterações mais evidentes são as variações nas vazões e velocidades de fluxo, as alterações na
quantidade, tipo e granulométrica dos sedimentos transportados, alterações nas formas dos canais,
dentre outras. Conforme o propósito da barragem construída, a descarga líquida pode aumentar
permanecer a mesma ou diminuir seu valor original e, independente dos modelos de controle de
descarga implementadas, sua distribuição será diferente do fluxo natural, bem como a alteração nos
valores de descarga influencia o tamanho, a largura e o rebaixamento dos canais, sua vegetação e os
eventos de cheia que, em geral, tendem a ser suprimidos gerando impactos ambientais. Com a
implantação da barragem, ocorre a redução no fornecimento de carga de sedimentos, que ficam
aprisionados a montante do empreendimento. A água que passa a escoar do reservatório sai
praticamente limpa, desprovida de sua carga de sedimentos (SIQUEIRA et al., 2013).
Essa progressiva degradação afeta os processos e fatores hidrológicos, geológicos e
ecológicos, como: modificação da temperatura e salinidade da água, distribuição e disponibilidade
dos nutrientes à biota, com consequente afetação da qualidade das águas estuarinas e costeiras e
respectiva produção biológica; declínio dos peixes anádromos com repercussões negativas nas
cadeias alimentares estuarinas e costeiras; incremento da erosão e o assoreamento a jusante da

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barragem e modificações no nível hidrostático das toalhas freáticas a montante e a jusante


(FONSECA, 2002).

ÁREA DE ESTUDO

Figura 01: Em vermelho á área alagada gerada pelo barramento da água, e em azul, a localização da estrutura
da barragem. Fonte: Google Earth.

METODOLOGIA

Os riscos ambientais podem ser definidos como as consequências de procedimentos sociais


atuantes no desenvolvimento econômico de uma região ou organização, sendo também um
componente estrutural deste processo. De acordo com Henkels (2002), o estabelecimento de um
método para identificar os aspectos ambientais de uma atividade ou serviço, é verificar a
vulnerabilidade ambiental da organização ou região e suas áreas e processos, principalmente os
críticos e severos.
O meio ambiente e a sua relação com a ocupação habitacional, podem ser interpretados
como o conjunto das distintas relações proporcionadas entre a sociedade e o meio físico que é
construído, que acontecem em um determinado espaço territorial. Assim, segundo Andrade e
Turrioni (2000), a identificação dos riscos inerentes às atividades de uma determinada organização
e a análise de suas possíveis decorrências compõem os primeiros passos nas tomadas de decisões
para a implementação de medidas mitigadoras.
Sob estas considerações, com visitas à campo nas proximidades da barragem Jaime
Umbelino em São Cristóvão, foi aplicada uma análise de riscos denominada Árvore de Eventos
(AAR), também chamada de Série de Riscos (SR), que consiste em uma técnica de identificação de

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perigos e análise de riscos que averiguar sequências de eventos que podem ocasionar um Evento
Iniciador (VASCONCELOS, 1984).
Neste sentido, com os dados obtidos foi elaborado um fluxograma que evidencia os
acontecimentos motivos por um evento, que geralmente ocasionam perigos. Com base na realização
completa da análise de riscos, é permito a visualização dos possíveis contratempos que possuem
ímpetos maiores de ocorrerem, danificando o ambiente local.

RESULTADOS

Com a aplicação da metodologia de Árvore de Eventos, foram averiguadas as principais


ações que ocasionam perigos e impactos na área em estudo. A Figura 02 dispõe esta Árvore de
Eventos, que mostra a hierarquia de causa e consequências dos riscos registrados no local.

OCUPAÇÃO
PRÓXIMO DO RIO
POXIM

CONSTRUÇÃO DA
BARRAGEM

ALAGAMENTO DE
ÁREAS DE
VEGETAÇÃO

MORTE DE
HABITAT
NATURAL

FALTA DE
FALTA DE REDE FALTA DE COLETA SUPRESÃO DA
ABASTECIMENTO
COLETORA DE RESÍDUOS VEGETAÇÃO
DE ÁGUA

DESPEJO DE RESÍDUOS EM EROSÃO E CONSUMO DE


EFLUENTES SEM ÁREAS EXPOSIÇÃO DO ÁGUA NÃO
TRATAMENTO INAPROPRIADAS SOLO AVERIGUADA

POLUIÇÃO DE
POLUIÇÃO DO AUMENTO DE
RECURSOS
SOLO VETORES
HÍDRICOS

Figura 02: Árvore de eventos no entorno da barragem

Nesta conjunta, foi registrado no local, o depósito irregular de lixo e resíduos sólidos de
origem doméstica. O povoado Timbó sofre com a falta de coleta de lixo, por parte dos órgãos

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públicos, assim, o lixo produzido pela população, é jogada em locais próximos do rio Poxim ou é
queimado.
Estes atos, possivelmente originam perigos em razão de proporcionarem agravantes na
poluição do solo e da água, além de provocar um odor desagradável e propiciar o alastramento de
vetores de doenças, comprometendo assim, a saúde pública da área. Os resíduos possuem atributos
específicos, características que colocam em risco a sociedade, o que torna obrigatória a necessidade
de diversas maneiras de coleta, tratamento e disposição. Já a queima dos resíduos, em épocas de
forte calor durante o verão, pode dá início a incêndios que por sua vez acabam degradando ainda
mais a situação do local e pondo em risco a vida dos moradores.
O povoado Timbó e adjacências vive atualmente sérios problemas em relação ao
alastramento de mosquitos e pernilongos, possivelmente, este fato, pode ter se agravado com a
irregular destinação de lixo na área, que propicia condições para o alastramento de vetores.
O local também não possui rede coletora de esgoto, então, em diversas partes da área ocorre
esgotos a céu aberto, acarretando mais perigos com transmissões de doenças, além de poluição do
Rio Poxim e outros corpos d´agua. Além disto, a área carece de um sistema de abastecimento de
água, com isso, a população é obrigada a construir e utilizar poços, ou em alguns casos, os
moradores coletam água na barragem para a realização de atividades domésticas.
Outra problemática encontrada no local, é verificada com relação à retirada da vegetação.
Com a remoção da mata ciliar, grande parte do equilíbrio ecológico é modificado, a biodiversidade,
os cursos d‘agua, tornando assim, os rios mais vulneráveis a uma degradação acelerada.Com isso,
as matas ciliares possuem uma função fundamental para a manutenção ambiental da área, pois
promove proteção para os recursos hídricos e para o solo, controlando o assoreamento e erosão,
mantendo a qualidade da água e impedindo a entrada de poluentes para o meio aquático, servindo
como uma forma de barreira natural.
Os processos de cunho sócio-espaciais, interagem sinergicamente de certa maneira, com as
características biogeofísicas regionais da área, e proporcionam um contexto complexo e vulnerável
de problemas socioambientais decorrentes da ocupação irregular e da construção da barragem no
local em estudo. Perante esta análise, os perigos envolvendo a destinação irregular de resíduos
sólidos, a falta de coleta de efluentes e a supressão da vegetação, são frequentes e possuem
severidade que carecem de atenção. Além disto, possivelmente tendem a gerar mais transtornos
com o passar do tempo para a população da área. Estes riscos, que são decorrentes da falta de gestão
e planejamento para moradias ocasionam a população poucas alternativas para realização de
atividades. Pode ser visto na Figura 03, moradores utilizando a barragem para lavar roupas. Na
figura 04, podemos ver uma imagem com acumulo de lixo nas proximidades da barragem, e
vestígios de queimada deste material. Já na figura 05 pode-se ver a piscina de uma propriedade

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

particular que foi desapropriada pelo governo para a realização da obra, pode-se notar o descaso do
poder público em relação essa área uma vez que a situação dessa piscina abandonada serve de área
de reprodução de vetores de doenças.

Figura 03: Moradores que utilizam o rio Poxim para lavagem de roupas. Fonte: O autor.

Figura 04: vestígios de queimada à lixo. Fonte: O autor.

Figura 05: Piscina abandonada em propriedade desapropriada. Fonte: O autor.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONCLUSÕES

Diante do exposto, pode-se concluir:


Os recursos naturais do local e o bem-estar da população estão vulneráveis a suportar
problemas de diferentes origens em razão de medidas de gestão que não estão de acordo com
conservação ambiental e crescimento habitacional adequado.
Com a construção da barragem, medidas de gerenciamento de sistema de abastecimento de
água e coleta de efluentes necessitam ser implementados com mais severidade, para não tornar mais
vulnerável os impactos da área.
Com os resultados adquiridos, podem servir de base para a elaboração de medidas e metas
de gestão que visam a diminuição dos riscos presentes na área, além de minimizar ações
provocadoras de impactos para incrementar maior segurança no planejamento ambiental da área em
estudo.

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capacidade-maxima > Acessado em: 19/02/2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 720


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IED INDUSTRIAL NO ESTADO DE PERNAMBUCO NO PERÍODO 1995-2011:


POTENCIAL DE IMPACTO AMBIENTAL, SOBRE A RENDA E O EMPREGO

Márcia Cristina Silva PAIXÃO


Professora do Departamento de Economia da UFPB
marciapaixao2014@gmail.com
Hyolitta Adrielle Costa de ARAÚJO
Graduanda em Ciências Econômicas pela UFPB e aluna PIBIC/CNPq/UFPB
hyolitta01@gmail.com

RESUMO
A pesquisa avalia o perfil do IED no estado de Pernambuco à luz de hipóteses sobre a interface
desse investimento com o meio ambiente e sobre o comportamento inovador de empresas
estrangeiras no país recipiente, levantadas em literatura da Economia Internacional e da Economia
do Meio Ambiente. Utilizaram-se dados dos Censos BACEN Anos-base 1995, 2000, 2005, 2010 e
de uma tabulação especial obtida com o IBGE das edições 2000 e 2008 da PINTEC. Avaliaram-se
as seguintes variáveis: país de origem do IED, atividade econômica, principal mercado, pessoal
ocupado, salários, valor da transformação industrial, dispêndios com atividades inovadoras,
estrutura de financiamento desses dispêndios, natureza e importância do impacto causado pela
inovação (consumo de energia, de água, segurança etc.). Como principais resultados pode-se
destacar que a maior parte do estoque de IED em Pernambuco é originário de economias
desenvolvidas, porém alocada, principalmente, em atividades intensivas em recursos naturais e em
escala, o que sugere risco ambiental relevante. Ainda, houve queda importante nos dispêndios com
atividades inovadoras, apesar de um crescimento do investimento em treinamento e aquisição de
conhecimentos externos. Chamou a atenção o fato de que as empresas declararam obtenção de
impacto relevante com suas inovações para elevar a capacidade produtiva, porém impacto baixo ou
sem relevância sobre o consumo de água e energia. Concluiu-se que, no caso do estado de
Pernambuco, o IED parece contribuir principalmente com aspectos da dimensão socioeconômica do
desenvolvimento sustentável. No caso da dimensão ambiental, o estado tem o desafio de monitorar
o comportamento das empresas principalmente em termos de emissão de poluentes e utilização de
recursos naturais. Em especial, não apenas o estado de Pernambuco, mas a Região Nordeste deve
adotar estratégias seletivas de atração do investimento estrangeiro e de controle ambiental tendo em
vista que, como ressaltou o estudo, a simples presença de IED originário de economias
desenvolvidas não garante contribuição para o desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: Investimentos estrangeiros. Inovações. Desenvolvimento sustentável. Pernambuco,
Brasil.
ABSTRACT
The paper evaluates the stock of foreign direct investment (FDI) in the state of Pernambuco
under hypotheses from the literature of International Economics and Environmental Economics
on the interface of this investment with the environment and the innovative behavior of foreign
companies in the recipient country. Data from the Brazilian Central Bank Census (BACEN) from
base-years 1995, 2000, 2005, and a special tabulation obtained with IBGE from 2000 and 2008
editions of PINTEC were used. The following variables were evaluated: country of origin of FDI,
economic activity, main market, people occupied, salaries, value of industrial transformation,
expenditures with innovative activities, financing structure of these expenditures, nature and
importance of the impact caused by innovation (energyconsumption, water consumption, safety

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 721


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

etc.). As main results, it can be emphasized that most of the stock of FDI in
Pernambuco originated in developed economies, but it is mainly destined to natural resource or
scale intensive activities, suggesting a significant environmental risk. Also, there was a significant
drop in expenses with innovative activities, despite the increase in investment in training and
acquisition of external knowledge. The fact that companies declare to have a relevant impact with
their innovations to increase productive capacity, despite the low or insignificant impact on the
consumption of water and energy also called attention. It was concluded that, in the case of the state
of Pernambuco, FDI seems to contribute mainly to the socioeconomic dimension of sustainable
development. In the case of the environmental dimension, the state has the challenge of monitoring
the behavior of companies, mainly in terms of emission of pollutants and use of natural resources.
In particular, not only the state of Pernambuco, but the Northeast Region should adopt selective
strategies for attractiveness of foreign investment and for environmental control, since, as the study
pointed out, a simple presence of FDI from developed economies does not guarantee a contribution
to the sustainable development.
Keywords: Foreign investments. Sustainable development. Innovations. Pernambuco, Brazil.

INTRODUÇÃO

No Brasil, historicamente o maior receptor de Investimento Estrangeiro Direto (IED) na


região da América Latina e Caribe, os influxos representaram, em média, cerca de 14% da
Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no período 1996-2014 contra apenas 2% no período 1990-
1995. Inclusive, o País ficou entre os sete maiores receptores mundiais dessa modalidade de
investimento entre 2010 e 2015.37
Motivado por tal cenário, e ampliando estudo anterior para a Região Nordeste 38, este
trabalho avalia o estoque de IED industrial e o comportamento inovador das empresas de IED no
estado de Pernambuco com o objetivo de identificar o potencial de impactos ambientais e
socioeconômicos desse tipo de investimento naquele território. Pretende-se responder a seguinte
pergunta-problema de pesquisa: o IED na Região Nordeste contribui para o desenvolvimento
sustentável?
A escolha pelo estado de Pernambuco como recorte geográfico deve-se ao fato de que dados
dos Censos BACEN mostram que ocorreu um boom de investimentos estrangeiros nos estados da
Bahia, Ceará e Pernambuco entre 1995 e 2005. Inclusive, segundo o Censo BACEN Ano-base
2010, esses estados e a Paraíba concentram a maior parcela de estoque de IED na Região Nordeste.
O potencial de impacto ambiental e socioeconômico é investigado à luz de hipóteses sobre a
interface entre IED e meio ambiente e sobre o comportamento de empresas estrangeiras no país
recipiente, hipóteses essas levantadas em literatura especializada e recente, que relaciona tópicos da

37
Ver, por exemplo, UNCTAD (2011, 2013, 2015a, 2015b).
38
Considera-se oportuno mencionar que este estudo foi motivado exatamente pelo interesse em aprofundar a análise
empreendida em tese de doutorado voltada para a Região Nordeste, a qual recebeu a segunda colocação do Prêmio
Celso Furtado de Desenvolvimento Regional 2014, concedido pelo Ministério da Integração Nacional, e conta com
publicações derivadas em revistas nacionais e em uma internacional.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 722


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Economia Internacional e do Meio Ambiente.39 Especificamente, se apoia na hipótese, inclusive


recorrente na literatura, de que empresas multinacionais, especialmente as originárias de países
desenvolvidos, apresentam tecnologias mais limpas e avançadas, práticas operacionais e gerenciais
mais eficientes, com ganhos ambientais e socioeconômicos para economias em desenvolvimento.
Uma justificativa empírica é que a literatura recente é dedicada recorrentemente a avaliações
com base em dados agregados nacionais e para atividades industriais específicas. Este estudo,
alternativamente, utiliza dados desagregados estaduais e para atividades distintas entre si, com o
objetivo de capturar características do IED e das empresas de IED que passariam despercebidas em
análises com dados nacionais e para determinados setores da indústria de transformação.
Um terceiro fator que justifica o estudo é a recente recomendação da UNCTAD (2012) aos
países em desenvolvimento sobre a necessidade de adoção da chamada nova geração de políticas de
investimento, qual seja aquela que confere o mesmo nível de importância para objetivos de
crescimento e desenvolvimento econômico e objetivos de desenvolvimento sustentável.
A pesquisa tem por objetivo geral investigar o perfil do IED industrial presente em estados
selecionados da Região Nordeste no período 1995-2011 e avaliar o correspondente potencial de
contribuição para o desenvolvimento sustentável. Os objetivos específicos são: a) identificar o país
de origem e o perfil setorial do IED industrial atraído pelo estado de Pernambuco no período 1995-
2011; b) avaliar o país de origem desses investimentos como um possível determinante do
comportamento ambiental da empresa na economia recipiente; c) avaliar o perfil setorial desses
investimentos quanto ao potencial poluidor e o tipo de tecnologia de produção para identificar o
potencial de impacto sobre o meio ambiente; d) avaliar o comportamento inovador das empresas de
IED industrial no estado como um indicador do potencial de spillover tecnológico e de benefícios
ambientais e socioeconômicos em termos de geração de emprego e renda; e) à luz dos resultados
obtidos, discutir a contribuição potencial do capital estrangeiro industrial para a consecução de
objetivos de desenvolvimento sustentável pelo estado investigado.
O trabalho está dividido em mais três seções. A segunda seção trata das fontes e do método
de análise dos dados utilizados. A terceira a apresenta e discute os resultados. Por fim, são
apresentadas as considerações finais.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo faz uma avaliação descritiva-comparativa e tem como principais fontes de dados e
informações: a) o Banco Central do Brasil (BACEN) - são utilizados dados dos Censos de Capitais
Estrangeiros realizados no País (denotados aqui simplesmente como ―Censos BACEN‖) e
referentes aos Anos-base 1995, 2000, 2005 e 2010; b) o Instituto Brasileiro de Geografia e

39
Paixão (2014) apresenta uma extensa revisão de literatura teórica e empírica que corrobora essa afirmação.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 723


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Estatística (IBGE) – obteve-se tabulação especial com dados de empresas estrangeiras derivados da
primeira e de recentes edições publicadas da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), as
edições 2000, 2008 cuja referência temporal é 1998-2000, 2006-2008, respectivamente.
Reconhece-se a limitação de parte dos dados utilizados: o IBGE disponibilizou, sob
demanda específica, um número reduzido de observações sobre o comportamento inovador das
empresas de IED no estado. Ao mesmo tempo, tem-se em vista que essa restrição é parcialmente
compensada pelo fato de que a avaliação empreendida somente foi possível em razão da obtenção,
após sete meses da apresentação da demanda, de uma tabulação especial com dados de empresas
com capital controlador ―estrangeiro‖ ou ―nacional e estrangeiro‖.
Ainda, deve-se ter em vista especificidades da PINTEC e a limitação da tabulação especial
obtida que podem afetar a inferência dos dados aqui apresentados, a saber: a) apoiada na hipótese
de que a inovação é um fenômeno raro, a seleção amostral da PINTEC é propositadamente
desbalanceada, sendo as empresas de grande porte (mais de 500 empregados) pesquisadas de forma
censitária, isto é, incluídas com probabilidade um na amostra, e as pequenas e médias selecionadas
com probabilidade proporcional ao número de pessoas ocupadas, além de serem divididas em dois
estratos de acordo com a chance de serem inovadoras; b) a chance da empresa ser inovadora é
afetada por diferenças setoriais na indústria, como o grau de conteúdo tecnológico; c) em especial, a
tabulação obtida para a Região Nordeste contém poucas observações porque o universo de
empresas ―estrangeiras‖ ou ―nacionais e estrangeiras‖ é muito reduzido40.
Em suma, o leitor deverá ter em vista que a comparação entre edições da PINTEC fica
prejudicada tanto porque a variabilidade da amostra afeta a inferência dos resultados como pelo
número reduzido de observações, especialmente no caso nordestino. Por fim, os dados utilizados no
estudo são indicadores das variáveis de interesse relacionadas no Quadro 1.

Quadro 1 - IED na Região Nordeste: variáveis de interesse da pesquisa


Características e comportamento inovativo da empresa
País de origem
Atividade econômica e principal mercado
Pessoal ocupado, salários, valor da transformação industrial
Dispêndios com atividades inovadoras e estrutura de financiamento desses dispêndios
Natureza e importância do impacto causado pela inovação (consumo de energia, de água,
segurança etc.)
Fonte: Elaboração dos autores com base em literatura sobre IED e meio ambiente e publicações da PINTEC.

O estudo também conta com o auxílio de taxonomias que classificam os setores das
indústrias extrativa e de transformação segundo o potencial poluidor (mais poluentes,

40
Pela PINTEC 2008, respondiam por apenas 4% do total dessas empresas no país contra 14% do Sudeste exclusive
São Paulo (Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) e 60% de São Paulo isoladamente.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 724


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

intermediários, mais limpos) e o tipo de tecnologia de produção (produção intensiva em recursos


naturais, trabalho, escala, com tecnologia diferenciada). Respectivamente, são as taxonomias
propostas por Ferraz e Seroa da Motta (2002) e pela OECD (1987) apud Nassif (2006).
A utilização dessas taxonomias é justificada pelo fato de que, conforme previsto pela
literatura pertinente (MUELLER, 2007; MAY, 2010; UNCTAD, 1999), considera-se que a
utilização intensiva de recursos naturais e, em certos casos, a escala elevada de produção são
aspectos intimamente associados a determinadas atividades industriais e podem implicar impacto
ambiental significativo. Por sua vez, atividades industriais intensivas em conhecimento são
relativamente mais limpas, isto é, de menor potencial poluidor, e, adicionalmente, podem gerar
maiores oportunidades de inovação tecnológica e melhoria da qualidade dos empregos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como já mencionado, a análise do IED em termos de sua performance ambiental potencial


nas economias recipientes considerando os respectivos países de origem e seu nível de
desenvolvimento está em consonância com resultados empíricos e consequentes recomendações da
literatura sobre a interface ―IED - meio ambiente‖ do final dos anos 1990.
Como argumentou Paixão (2014), com base em Zarsky (1999), o rigor do mercado
consumidor de países desenvolvidos e o acesso destes a tecnologias mais avançadas pela maior
capacidade técnica e financeira implicariam em legislação e fiscalização ambiental mais rigorosas, e
em comportamento ambiental sustentável das empresas que, em tese, seria replicado em países
receptores de investimentos dessas mesmas empresas. E, em especial no caso de economias em
desenvolvimento, esta seria uma justificativa para políticas de atratividade desse IED.
De acordo com a Tabela 1, com dados dos Censos BACEN Ano-base 1995, 2000 e 200541,
mais da metade do estoque de IED no estado de Pernambuco é proveniente de economias
desenvolvidas. Canadá, Holanda e Espanha respondiam juntos por 78% desse estoque em 2005.
Inclusive, destaque-se a entrada e a forte participação do Canadá (50%) no estoque de IED,
tornando-se o maior investidor estrangeiro na economia pernambucana nesse período mais recente.
Em relação a investimento de economias em desenvolvimento, tem-se 13% de participação
de países como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas e Uruguai. Deve-se considerar que o dado
de 2005 divulgado pelo BACEN leva em conta o país remetente dos recursos. Como o próprio
BACEN destaca no relatório do Censo de 1995, esse dado favorece a parcela de paraísos fiscais. 42

41
Até o fechamento deste trabalho, o BACEN não tinha divulgado resultados do Censo Ano-base 2010 combinando as
dimensões país de origem dos recursos e unidade da federação.
42
Inclusive, para minimizar esse problema, o BACEN adotou novos critérios no Censo Ano-base 2010: levantou o dado
por país investidor imediato (da empresa que participa diretamente do capital da empresa investida) e por país
investidor final (da empresa que ocupa o topo da cadeia de controle da empresa investidora imediata).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Diante desses primeiros dados de estoque de IED em Pernambuco em 2005, pode-se afirmar
que o perfil do IED atraído pelo estado seria favorável quanto ao potencial de comportamento
ambiental sustentável.

Tabela 1 – Pernambuco: origem do IED, países selecionados, 1995-2005 (%)


Região econômica e país 1995 2000 2005

Economias desenvolvidas 46 75 82
Canadá 0 0 50
Países Baixos (Holanda) 30 67 17
Espanha 1 0 11
Japão 7 1 2
Bermudas 0 0 1
Luxemburgo 0 0 1
Estados Unidos 7 4 0
França 0 2 0
Itália 1 1 0
Economias em desenvolvimento 43 13 13
Ilhas Cayman 0 3 11
Ilhas Virgens Britânicas 8 9 1
Uruguai 5 0 1
Argentina 30 1 0
Diversos estrangeiros 10 11 7
Fonte: BACEN (2016). Censo de Capitais Estrangeiros. Elaboração das autoras.

A Tabela 2 apresenta o estoque de IED no estado de Pernambuco por atividades produtivas


da indústria de transformação classificadas segundo o potencial poluidor. Cabe destacar que um
percentual importante (15%) do estoque não foi divulgado pelo BACEN segundo a atividade
produtiva porque são informações que não passaram pelo critério de confidencialidade (quando o
número de declarações é muito reduzido e o dado permite a identificação da empresa).
Os dados de 2010 revelam uma concentração (64%) do estoque de IED em Pernambuco em
setores de nível intermediário quanto ao potencial poluidor (bebidas, produtos alimentícios,
produtos de metal) e 9% do estoque em setores de alto potencial poluidor (produtos químicos,
produtos de metais e minerais não metálicos).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 726


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Pode-se afirmar que essas características do IED em Pernambuco são favoráveis na medida
em que, conforme mostrou o estudo de Paixão (2014), o dado agregado para o Nordeste como um
todo mostra o dobro dessa concentração (22%) em atividades de alto potencial poluidor.
A Tabela 3 reapresenta o perfil setorial do IED no estado de Pernambuco e classifica os
setores segundo a tecnologia de produção. Novamente, observe-se que 15% do estoque não pode ser
avaliado em razão do critério de confidencialidade do BACEN.

Tabela 2 - Pernambuco: estoque de IED por setores da indústria de transformação e potencial poluidor, 2010
Setores da ind. de transformação US$ milhões1 Participação (%)
Setores mais poluentes 9
Produtos químicos 170 5
Produtos de minerais não metálicos 73 2
Metalurgia 88 2
Setores intermediários 64
Bebidas 1.923 53
Produtos alimentícios 328 9
Produtos de metal 87 2
Setores relativamente mais limpos 8
Produtos de borracha e material plástico 295 8
Demais setores declarados2 97 3
Outros3 626 15
Total 3.590 100
Fonte: BACEN (2016). Censo de Capitais Estrangeiros. Elaboração dos autores.
1
Participação estrangeira no capital. Desconsidera empréstimos intercompanhias. 2 Demais setores da
indústria de transformação declarados pelas empresas. O dado inclui dois setores não pertencentes à essa
indústria (impressão e reprodução de gravações). 3 Inclui setores não declarados pelas empresas e
informações que não atenderam ao critério de confidencialidade da divulgação dos dados.

Tabela 3 - Pernambuco: estoque de IED por setores da indústria de transformação e tipo de tecnologia, 2010
Setores da ind. de transformação US$ milhões¹ Participação (%)
Intensivos em recursos naturais 65
Bebidas 1.923 54
Produtos alimentícios 328 9
Produtos minerais não metálicos 73 2
Intensivos em trabalho 2
Produtos de metal 87 2

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Intensivos em escala 15
Produtos de borracha e material plástico 295 8
Produtos químicos 170 5
Metalurgia 88 2
Demais setores declarados² 97 3
Outros³ 626 15
Total 3.590 100
Fonte: BACEN (2016). Censo de Capitais Estrangeiros. Elaboração das autoras.
1
Participação estrangeira no capital. Desconsidera empréstimos intercompanhias. 2 Demais setores
declarados pelas empresas. Inclui setores não pertencentes à indústria de transformação: impressão e
reprodução de gravações. 3 Inclui itens não elencados e informações que não atendem ao critério de
confidencialidade.

Chama a atenção a concentração em Pernambuco de investimento estrangeiro em atividades


intensivas em recursos naturais. Nada menos que 65% do estoque de IED estão alocados em
atividades com essa característica (bebidas, produtos alimentícios e produtos minerais não
metálicos). Se também se considerar os setores intensivos em escala (15% do estoque de IED) e que
quanto maior a produção, maior o potencial de impacto ambiental, 80% do estoque de IED em
Pernambuco são altamente preocupantes em termos de potencial de impacto ambiental.
Por outro lado, como afirma Nassif (2008), setores intensivos em escala detêm atividades
com maior sofisticação tecnológica e por isso são importantes para a difusão de avanços
tecnológicos. Ao mesmo tempo, note-se a ausência de IED em Pernambuco em setores com
diferencial tecnológico ou intensivos em ciência, os quais também são tidos como poupadores do
meio ambiente. Paixão (2014), inclusive, identificou esse comportamento para toda a Região
Nordeste: apenas 2,4% do estoque de IED na Região estariam alocados em setores dessas categorias
como o de produção de máquinas e equipamentos, equipamentos de informática, produtos
eletrônicos e ópticos, produtos farmoquímicos e farmacêuticos.
Em suma, pelas Tabelas 1, 2 e 3 identificou-se que o estado de Pernambuco tem atraído
principalmente IED originário de países desenvolvidos, para setores de médio potencial poluidor e
intensivos em recursos naturais. Essas constatações sugerem que, apesar de atrair investimentos de
economias estrangeiras mais exigentes de qualidade ambiental na produção e no consumo, esse
estado tem o desafio de monitorar o comportamento das empresas de IED em termos de emissão de
poluentes e utilização de recursos naturais em nível local e regional, principalmente.
Os dados da PINTEC permitem avaliar o comportamento inovador das empresas de IED e,
ampliando-se a análise, identificar potencial de spillover tecnológico e impacto ambiental positivo
dada a hipótese de que empresas estrangeiras, especialmente se originárias de países desenvolvidos,
são inovadoras e esse comportamento tem o potencial de gerar ganhos ambientais e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 728


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

socioeconômicos para a economia doméstica.


Pela Tabela 4, os dados da PINTEC confirmam a predominância em Pernambuco de
empresas estrangeiras originárias de países desenvolvidos (Estados Unidos e países europeus) nos
períodos considerados. Curiosamente, não aparecem empresas canadenses apesar do Censo BACEN
apontar predominância desse capital no estoque de IED em 2005. Uma possível explicação é o fato
de que a seleção amostral da PINTEC é desbalanceada, como já foi explicado.
De todo modo, ainda que empresas do Canadá não tenham sido capturadas nas duas edições
da PINTEC aqui consideradas, a análise à luz da hipótese sobre o comportamento de empresas de
países desenvolvidos pode ser empreendida dada a predominância de empresas europeias e
americanas na parcela de empresas capturadas. Inclusive, a segunda parte da Tabela 1 confirma a
hipótese: o percentual de empresas inovadoras desses países é elevado e praticamente se manteve
entre os dois períodos considerados. Note-se que, ainda que 50% das empresas asiáticas sejam
inovadoras, esse dado corresponde a apenas duas empresas, enquanto a parcela de 53% da Europa
corresponde a nove empresas.
A Tabela 5 traz dados de empresas de IED, total e inovadoras, segundo o potencial poluidor,
porém com dados da PINTE. Assim como os dados do BACEN, indica a predominância de
empresas de médio potencial. Ainda, que cerca de 70% dessas empresas são inovadoras. Esse
resultado é favorável em termos de potencial de impacto ambiental e spillover tecnológico.

Tabela 4 – Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo a origem do capital controlador –
Brasil, Nordeste, Pernambuco - 1998-2008
1998-2000 2006-2008
Empresas Brasil NE PE Brasil NE PE
Total 2.113 97 29 2.300 102 24
Origem do capital controlador (número de empresas)
Mercosul 105 1 1 142 4 1
Estados Unidos 520 33 10 505 27 3
Ásia 212 13 4 160 16 2
Europa 1.123 40 14 1.317 43 18
Canadá e México¹ - - - 80 9 -
Empresas inovadoras (%)
Mercosul 60 - - 52 25 -
Estados Unidos 76 73 74 60 67 68
Ásia 59 100 100 56 50 50
Europa 57 42 57 54 46 53

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 729


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Canadá e México - - - 59 78 -

Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.


1
Dado não coletado na PINTEC 2000.

Tabela 5 – Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo o potencial poluidor – Brasil,
Nordeste, Pernambuco - 1998/2008
Potencial 1998-2000 2006-2008
poluidor Brasil NE PE Brasil NE PE
Total (número de empresas)
Alto 611 50 7 577 39 4
Médio 919 32 18 1175 36 11
Baixo 582 14 3 548 27 8
Inovadoras (%)
Alto 71 74 100 54 53 23
Médio 61 50 48 56 66 72
Baixo 52 91 100 58 44 41
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.

A Tabela 6 mostra que o principal mercado das empresas de IED em Pernambuco é o


mercado interno. A maioria declarou que a produção é voltada para os mercados nacional e
regional. Dada a hipótese de que mercados consumidores de países em desenvolvimento são menos
exigentes quanto ao comportamento socioambiental das empresas e a qualidade de seus produtos,
essa característica do IED em Pernambuco seria desfavorável para o estado.

Tabela 6 – Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo o principal mercado –


Brasil, Nordeste, Pernambuco - 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Principal mercado
BBrasil NE PE Brasil NE PE
Total (número de empresas)
Estadual 495 7 2 380 10 1
Regional 223 13 7 137 4 3
Nacional 1153 62 11 1405 75 18
Mercosul 70 5 5 145 1 -
Estados Unidos 38 7 - 68 1 -
Europa 104 - - 114 8 -
Ásia 18 3 3 20 2 1
Inovadoras (%)
Estadual 51 86 50 68 60 100

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 730


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Regional 65 38 14 56 50 33
Nacional 67 66 82 57 57 56
Mercosul 63 100 100 33 100 -
Estados Unidos 68 57 - 44 - -
Europa 34 - - 31 37 -
Ásia 33 100 100 55 50 -
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.

Outra forma de avaliar o comportamento inovador das empresas de IED é observar a


evolução da parcela de dispêndios com atividades inovadoras. A Tabela 7 mostra uma queda de
nada menos que cerca de dois terços no total dispendido entre os dois períodos considerados. E a
parcela do investimento em aquisição de máquinas e equipamentos caiu de 42% para 5%. Por outro
lado, observam-se dois movimentos importantes em atividades tidas como canais de spillover
tecnológico: aquisição de outros conhecimentos externos e investimento em treinamento. Pode-se
considerar que, assim sendo, o resultado da avaliação desse ponto pode ser tido como inconclusivo.
Quanto a estrutura de financiamento das atividades inovadoras, a Tabela 8 mostra que 100%
dos dispêndios realizados foram próprios. Esse dado confirma a hipótese de que empresas de IED
tem capacidade financeira elevada para investimentos em inovação e, assim sendo, trariam consigo,
efetiva ou potencialmente, tecnologias mais limpas.

Tabela 7 – Empresas estrangeiras industriais, segundo o valor dos dispêndios com atividades inovadoras,
com indicação das atividades desenvolvidas – Brasil, Nordeste, Pernambuco - 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Atividades inovadoras
Brasil NE PE Brasil NE PE

Dispêndios com inovações (em milhões de reais)

Total 10.885 211 85 18.149 337 30

Dispêndios por atividade inovadora desenvolvida (em percentagem)

Atividades internas de P&D 16 7 9 35 35 2

Aquisição externa de P&D 3 1 - 5 0 0

Aquis. outros conhecimentos 7 1 - 4 24 28


externos

Aquisição de máquinas e 47 58 42 39 23 5
equipamentos

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 731


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Treinamento 2 1 0 2 1 11

Outras atividades 26 31 48 16 17 54

Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.

Tabela 8 – Empresas estrangeiras industriais inovadoras, segundo a estrutura de financiamento das atividades
de P&D e demais atividades inovadoras – Brasil, Nordeste, Pernambuco - 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Fontes de financiamento
Brasil NE PE Brasil NE PE
Dispêndios com inovações (em milhões de reais)

Total 10.885 211 85 18.149 337 30

Origem dos recursos (porcentagem de empresas)


Recursos Próprios 89 100 100 88 100 100
Atividades Recursos Privado 2 - - 1 - -
de P&D de Público 9 - - 11 - -
terceiros
Recursos Próprios 91 71 100 91 81 100
Demais
Recursos Privado 2 - - 2 17 -
atividades
de Público 7 - - 7 2 -
inovadoras
terceiros
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.

Avaliando-se a Tabela 9 com dados de declaração de empresas de IED em Pernambuco


sobre o nível de impacto das inovações voltadas para o processo produtivo e o meio ambiente, e
enfocando o período mais recente (os dados de 2006-2008), tem-se o seguinte quadro: a) a maioria
declarante de inovação voltada para aumento da capacidade produtiva informou que obteve impacto
importante (alto ou médio), um aspecto delicado do ponto de vista ambiental se se considerar que
maior produção envolve maior uso de recursos naturais e maior geração de resíduos; b) a maioria
declarante de inovações voltadas para redução de consumo de matéria prima, água e energia
informou que obteve impacto insignificante (baixo ou não relevante), outro aspecto que também
pode ser preocupante; c) no caso das empresas que declararam inovações para redução de impacto
ambiental e/ou em aspectos ligados à saúde e segurança, tem-se que uma parcela significativa
também declarou que obteve baixo impacto ou não relevante. Em síntese, pode-se concluir que
Pernambuco apresenta um cenário preocupante da perspectiva ambiental.

Tabela 9 – Empresas estrangeiras industriais inovadoras, segundo o tipo de impacto em inovações


(selecionados) e grau de importância – Brasil, Nordeste, Pernambuco - 1998/2008
Impactos das inovações e grau 1998-2000 2006-2008

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 732


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de importância Brasil NE PE Brasil NE PE


Impactos associados ao processo produtivo/meio ambiente (núm. de empresas)
Alta 480 19 6 587 33 5
Aumento da Média 312 10 8 266 12 6
capacidade Baixa e NR 499 35 5 422 10 2
produtiva
Alta 133 12 11 128 5 3
Redução do Média 203 15 1 187 9 -
consumo de Baixa e NR 956 37 7 961 42 9
matéria-prima
Alta 127 6 5 136 7 3
Redução do Média 232 8 5 221 21 3
consumo de Baixa e NR 933 50 9 917 28 7
energia
Alta - - - 91 14 2
Redução do Média - - - 130 5 -
consumo de água1 Baixa e NR - - - 1.055 37 10
Redução do Alta 468 24 5 808 65 8
impacto ambiental Média 259 10 6 529 21 2
e/ou em aspectos Baixa e NR 565 30 8 1.584 39 8
ligados à saúde e
segurança
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.
1
Dado não coletado na PINTEC 2000.

Os benefícios potenciais associados ao estoque de IED presente nas economias em


desenvolvimento também podem ser analisados em termos de potencial de geração de renda e
emprego. Tem-se ainda por hipótese que empresas inovadoras geram maior número de empregos,
pagam melhores salários, são exportadoras e apresentam maior produtividade da mão de obra.
A Tabela 10 confirma o comportamento fortemente superior das empresas inovadoras.
Constata-se que as empresas de IED com comportamento inovador respondem no estado de
Pernambuco pela maior parcela do pessoal ocupado (PO), do total de salários e do valor da
transformação industrial (VTI) das empresas de IED no estado de Pernambuco.

Tabela 10 – Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, variáveis selecionadas – Brasil, Nordeste,
Pernambuco – 1998-2000
Variável 1998-2000 2006-2008

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 733


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Brasil NE PE Brasil NE PE
Variáveis selecionadas (número de observações e 1.000 R$)
PO total 827.157 29.251 11.144 1.176.847 40.762 10.733
Salários 18.393.038 393.242 147.589 45.965.895 1.166.035 253.672
VTI 84.132.364 2.205.536 824.603 22.7420.002 5.977.324 1.399.535
Empresas inovadoras (%)
PO total 85 62 75 82 74 66
Salários 86 74 78 84 71 67
VTI 87 74 73 87 60 69
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.

A Tabela 11, por sua vez, apresenta um indicador de produtividade da mão de obra
(VTI/PO). Constata-se o mesmo desempenho mais elevado para o Brasil e o estado de Pernambuco.
Quando se trata da Região Nordeste, a produtividade das inovadoras é inferior, o que pode derivar
da menor participação de IED alocado em atividades de capacidade tecnológica superior ou
intensivas em ciência.

Tabela 11 – Empresas estrangeiras industriais, inovadoras e não-inovadoras, segundo o perfil inovador –


Brasil, Nordeste, Pernambuco – 2006-2008
Produtividade
VTI (R$ mil) Pessoal Ocupado (PO)
Território (VTI/PO)¹
Inovadoras Não-Inov. Inovadoras Não-Inov. Inovadoras Não-Inov.
Brasil 198.426.885 227.420.002 944.330 1.144.213 210 199
Nordeste 3.570.515 5.977.324 30.309 40.762 117 147
Pernambuco 969.198 1.399.535 7.116 10.733 136 130
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração das autoras.
1
O dado de produtividade do trabalho corresponde ao Valor da Transformação Industrial (VTI) dividido pelo
número de Pessoal Ocupado (PO).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Quadro 2 apresenta um resumo das inferências feitas no trabalho com base nos dados
observados. A ilustração permite identificar que de dez características do IED presente no estado do
Pernambuco avaliadas como possíveis fontes de impacto potencial relevante sobre o meio ambiente,
apenas quatro contribuiriam para o desenvolvimento sustentável porque seus impactos seriam
positivos.

Quadro 2 - Efeitos potenciais da presença de IED no estado de Pernambuco


Característica considerada como origem do efeito Impacto potencial

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 734


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Ambiental Socioeconômico
(+)
País de origem do IED (Tabela 1) (+)
via spillover
Setores de atuação do IED classificados segundo o (-) n.a.
potencial poluidor (Tabela 2)
Setores de atuação do IED classificados segundo o (-) inconclusivo
tipo de tecnologia da produção (Tabela 3)
País de origem e o comportamento inovador segundo (+)
o país de origem (Tabela 4) (+)
via spillover
O potencial poluidor e o comportamento inovador (+)
das empresas (Tabela 5) (+)
via spillover
Mercado destino da produção (Tabela 6) (-) (-)
Dispêndios com inovações (Tabela 7) inconclusivo inconclusivo
Estrutura de financiamento dos dispêndios com (+)
inovações (Tabela 8) (+)
via spillover
Impacto das inovações em termos de aumento da
capacidade produtiva e de redução do consumo de (-) n.a.
matéria prima (Tabela 9)
Impacto das inovações em termos de redução do
consumo de energia, água e impacto ambiental e/ou (-) n.a.
aspectos ligados a segurança (Tabela 9)
PO, Salários, VTI e comportamento inovador das n.a. (+)
empresas (Tabela 10)
Produtividade do trabalho (VTI/PO) e n.a. (+)
comportamento inovador das empresas (Tabela 11)
Fonte: elaboração dos autores a partir de dados da pesquisa.
Nota: n.a. = não aplicável. A conclusão obtida não seria aplicável à dimensão em questão.

Em termos de potencial de impactos socioeconômicos, das nove características do IED


consideradas com potencial de impacto relevante, seis contribuiriam para o desenvolvimento
sustentável do estado.
Conclui-se, portanto, que os resultados da avaliação descritiva-comparativa empreendida
neste estudo sugerem que, no caso do estado de Pernambuco, o IED parece contribuir positivamente
principalmente em aspectos da dimensão socioeconômica do desenvolvimento sustentável. No caso
da dimensão ambiental, esse estado tem o desafio de monitorar o comportamento das empresas de
IED principalmente em termos de emissão de poluentes e utilização de recursos naturais em nível
local e regional.
Sem perder de vista a restrição de disponibilidade de dados desagregados estaduais,
considera-se a possibilidade de dar continuidade a este estudo recorrendo-se a análises

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 735


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

econométricas possíveis para testar estatisticamente os resultados aqui obtidos. Ainda, estudos
complementares são necessários para contemplar o efetivo comportamento individual das empresas
e detectar, por exemplo, o nível de eficácia ou eficiência de seus sistemas de controle ambiental, sua
reação econômica e socioambiental a instituições formais e informais etc.

REFERÊNCIAS

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1995/2000/2005/2010. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?CENSOCE>. Acesso em: 2011;
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em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_0863.pdf>. Acesso em: 20 dez.
2016.

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pesquisa. 2008. Disponível em: <http://www.pintec.ibge.gov.br>. Acesso em: 2012, 2013.

______. ______. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. Pesquisa Industrial de Inovação


Tecnológica (PINTEC). Tabulação especial derivada da PINTEC 2000 e 2008 – empresas
estrangeiras industriais. 2013. Dados disponibilizados sob demanda específica da autora, contra
apresentação de projeto de pesquisa à Gerência de Atendimento e Recuperação de Informações
(GEATE) do Centro de Documentação e Disseminação de Informações (CDDI) do IBGE.
Recebimento dos dados via E-mail.

MAY, Peter H. (Org.). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MÜELLER, C. C. Os economistas e as relações entre o sistema econômico e o meio ambiente.


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 736


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Disponível em: <www.unctad.org/wir>. Acesso em: mar. 2012.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 737


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE ENCHENTES E INUNDAÇÕES NO ALTO CURSO


DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ANIL, ILHA DO MARANHÃO

Ismaylli Rafael COSTA


Graduando do Curso de Geografia da UEMA
ismallirafael@hotmail.com
Estevânia Cruz TEIXEIRA
Graduanda do Curso de Geografia da UEMA
estevaniacruz@gmail.com
Cristiane Mouzinho COSTA
Mestranda do Curso de Geografia da UEMA
cristianemouzinho@hotmail.com
Quésia Duartes da SILVA
Dr. Professora do Curso de Geografia da UEMA
quesiaduartesilva@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo aborda de forma preliminar as ocorrências de enchentes e inundações no alto
curso da bacia hidrográfica do Anil. O objetivo da pesquisa foi analisar a situação das áreas com
enchentes e inundações, mapear áreas com esses fenômenos e identificar a população atingida.
Nesse sentido, tem-se uma revisão teórica sobre os conceitos de enchentes e inundações, sobre a
problemática de áreas urbanas e o contexto geográfico da área para entender os fenômenos.
Adotaram-se os procedimentos técnico-operacionais alicerçados em Minayo (2000) da pesquisa
quantitativa, e para o alcance dos objetivos, foram executados os seguintes procedimentos:
levantamento bibliográfico e cartográfico, organização do ambiente de trabalho, mapeamento das
áreas atingidas por enchentes e inundações, realização de trabalhos de campo e entrevistas.
Palavras chave: Enchente, Inundações, Anil.

ABSTRACT
The present article addressed preliminarily the occurrences of floods and floods in the upper course
of the river basin of Indigo. The objective of this research was to analyze the situation of areas with
floods and floods, map areas with these phenomena and identify the population concerned. In this
sense, there is a theoretical review on the concepts of flooding and flooding, on the problems of
urban areas and the geographical context of the area to understand the phenomena. The adopted
technical-operational procedures grounded in Minayo (2000) quantitative research, and to the
achievement of the goals, the following procedures were performed: bibliographic survey and
mapping, organization of the work environment, mapping of areas hit by floods and floods,
conducting field work and interviews.
Keywords: Flood, Floods, Anil.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 738


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O problema das enchentes e inundações em áreas urbanas existe em muitas cidades


brasileiras e suas causas ocorrem de diversas formas como: assoreamento do leito dos rios,
impermeabilização das áreas de infiltração na bacia de drenagem e fatores climáticos. As
inundações são fenômenos naturais que podem ser agravados devido à interferência antrópica nos
sistemas naturais. As enchentes são caracterizadas pela elevação do nível d‘água no canal devido ao
aumento da vazão, atingindo cota máxima sem extravasar (TOMINAGA, et al, 2011). Já a
inundação abrange o transbordamento d‘água do curso fluvial e atinge a planície de inundação ou
área de várzea (TOMINAGA, et al, 2011).
Para o Ministério das Cidades/IPT (2007), a inundação representa o transbordamento das
águas de um curso d‘água, atingindo a planície de inundação ou área de várzea, no entanto, as
enchentes ou cheias são definidas pela elevação do nível d‘água no canal de drenagem devido ao
aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém, sem extravasar.
A inundação ocorre quando a enchente atinge a cota acima do nível máximo da calha
principal do rio e assim, ocorre o extravasamento das águas do canal de drenagem para as áreas
marginais planície de inundação, várzea ou leito maior do rio (CARVALHO et al, 2007).
Deve-se entender que o desencadeamento dos fenômenos de enchentes e inundações e
escorregamentos relacionam-se a uma conjunção de fatores naturais, podendo estar relacionados à
ação humana. Dentre os fatores naturais, considera-se a precipitação, o comportamento fluvial, a
morfometria e o relevo. Dentre os fatores antrópicos, consideram-se os fatores estruturais, ―quando
ocorre a modificação do rio‖ e os estruturais, ―quando o homem convive com o rio‖ (TUCCI,
2002).
Neste sentido, o principal objetivo desta pesquisa é analisar a situação das áreas com
enchentes e inundações no alto curso da bacia hidrográfica do Anil, Ilha do Maranhão,
considerando os fatores estruturais, tais como, as modificações dos cursos d‘água e
impermeabilização do solo, tendo em vista que a área objeto de estudo encontra-se densamente
urbanizada, com construções residenciais, comerciais e industriais, resultantes das intervenções
antrópicas nos cursos d´água o qual intensificam os fenômenos supracitados.

DESASTRES, RISCO E VULNERABILIDADE

Denominamos de Desastre Natural a ocorrência de um fenômeno natural que modifica a


superfície terrestre e atinge áreas ou regiões habitadas, causando danos materiais e humanos. Os
desastres naturais podem ser provocados por diversos fenômenos, tais como: inundações,
escorregamentos, erosão, terremotos, tornados, furacões, tempestades, estiagem, entre outros.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 739


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A ocupação e intervenção humana em áreas de perigo geológico potencializam a ocorrência


de desastres. O tipo de ocupação também é um fator que deve ser considerado como ocupação
irregular nas áreas de risco.
Além da intensidade dos fenômenos naturais, o acelerado processo de urbanização
verificado nas últimas décadas, em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, levou ao
crescimento das cidades, muitas vezes em áreas impróprias à ocupação, aumentando as situações de
perigo e de risco a desastres naturais.
Para que uma ocorrência seja considerada um desastre é necessário que o fenômeno ou o
perigo atinja a população, causando uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade,
envolvendo perdas devidas, perdas materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão, de
forma que os impactos estejam além da capacidade dessa comunidade de se recuperar com seus
próprios recursos.
Quando os fenômenos naturais atingem áreas ou regiões habitadas pelo homem, causando-
lhe danos, passam a se chamar desastres naturais. Os desastres naturais ocorrem, geralmente,
inesperadamente, de várias maneiras e apresentam diferentes gravidades.
No Glossário da Defesa Civil Nacional desastre é tratado como sendo ―resultado de eventos
adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos
humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômico se sociais. A intensidade
de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento adverso e o grau de
vulnerabilidade do sistema receptor afetado‖ (Castro, 1998).
Desastres naturais podem ser definidos como o resultado do impacto de fenômenos naturais
extremos ou intensos sobre um sistema social, causando sérios danos e prejuízos que excede a
capacidade da comunidade ou da sociedade atingida em conviver com o impacto. (Tobin e Montz,
1997; Marcelino, 2008).
O risco pode ser definido pelas perdas que podem ocorrer (de vidas, ferimentos em pessoas,
propriedades, rupturas das atividades econômicas ou danos ambientais), resultantes da interação de
perigos naturais que podem ter sido induzidos ou não pelo homem, da vulnerabilidade e do dano
potencial.
É importante fazer a distinção dos conceitos de cheia (ou enchente) e inundação. A enchente
caracteriza-se pela ocorrência da vazão relativamente grande do escoamento superficial, enquanto a
inundação distingue-se pelo extravasamento do canal. Uma enchente pode ou não causar inundação.
Obras de controle podem ser realizadas no rio para evitar a ocorrência da inundação. Por outro lado,
a existência de alguma obstrução no escoamento natural do rio pode levar à inundação, mesmo não
havendo grande aumento do escoamento superficial. Em suma, a enchente refere-se a uma
ocorrência natural, cíclica, que normalmente não afeta diretamente os habitantes da região; já as

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 740


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

inundações são decorrentes de alterações no uso do solo e podem provocar danos de grandes
proporções.
A ocorrência de enchentes e inundações está diretamente ligada à impermeabilização do
solo, o acumulo inadequado de resíduos sólidos, à ocupação das margens dos cursos d‘água e
retirada da cobertura vegetal. A inundação representa o transbordamento das águas de um curso
d‘água, atingindo a planície de inundação, também conhecida como área de várzea. Este é o
fenômeno natural mais comum em todo o mundo, as inundações também podem se caracterizar
tanto pela elevação de alguns centímetros, com podem, também, cobrir o telhado de uma casa.
Quando esses eventos ocorrem de maneira súbita são denominados de inundações relâmpagos ou
inundações bruscas.
Vale lembrar que somente as casas instaladas nas margens dos cursos d‘água estão sujeitas à
inundação isso nem sempre. As grandes inundações atingem toda a planície fluvial. Neste caso,
moradias distantes alguns metros do rio podem ser atingidas também.
Já as enchentes ou cheias são definidas pela elevação do nível d‘água do rio, devido ao
aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal, porém, sem extravasar. Quando extravasam,
as enchentes passam a ser chamadas de inundações e podem atingir as moradias construídas sobre
as margens do rio e se transformar em um desastre natural. Ressalta-se que os eventos supracitados
apresentam-se com um grande poder de destruição.
A exposição aos perigos ambientais coloca uma população em situação / condição de
vulnerabilidade frente aos efeitos de eventos catastróficos. Vulnerabilidade envolve um conjunto de
fatores que pode diminuir ou aumentar os efeitos do contato com os perigos a que o ser humano,
individualmente ou em grupo, está exposto nas diversas situações da sua vida como, por exemplo,
uma enchente, um assalto, a perda do emprego, uma doença, entre outras.
Para Galderisi et al., (2010) vulnerabilidade seria a combinação do estado de um sistema
com outros fatores, como capacidade para enfrentar e se recuperar de um evento catastrófico, o que
introduz os conceitos de resiliência e resistência.

METODOLOGIA DE TRABALHO

Esta pesquisa utiliza o método empírico43, sendo descritiva quanto aos objetivos e
quantitativos quanto à relação sujeito/pesquisador/sujeito sendo alicerçada em Minayo (2000). A
partir do objetivo geral e dos específicos adotados para este trabalho, foram realizadas diversas
etapas para o desenvolvimento da pesquisa, as quais estão descritas a seguir.

 Levantamento bibliográfico e cartográfico, acerca de trabalhos produzidos e publicados

43
Conforme Fernandes et al.(2001) e Savage et al., (2004), apud Tominaga (2009).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 741


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sobre enchentes e inundações no alto curso da bacia hidrográfica do Anil.


 Organização do ambiente de trabalho se deu com a criação de uma pasta digital no Windows
Explorer por nome ―Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Anil‖, com a utilização do
software ArcGIS for Desktop Advanced, versão 10.2, licença EFL999703439.
 Realização de trabalhos de campo: Foram realizados seis (6) trabalhos de campo na área de
estudo.
 Realização de entrevistas: Dezoito (18) pessoas foram entrevistadas, entre elas, os afetados e
os líderes comunitários.
 Elaboração do mapa de localização das áreas com enchentes e inundações

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A área de estudo está localizada no município de São Luís, na porção oeste da Ilha do
Maranhão, apresentando uma área de 5,26 km². A área apresenta grande impermeabilização do solo
em virtude do uso e ocupação urbana nos bairros Anil, Pirapora, Residencial João Alberto, Vila
Lobão, Vila Conceição, Tirirical, João de Deus e Jardim Alvorada. A dinâmica dos cursos fluviais
foi alterada em virtude da pressão da ocupação urbana, em que parcelas significativas da população
ocupam as áreas protegidas ilegalmente das planícies de inundação, acarretando problemas
ambientais relacionados à enchentes e inundações.
De acordo com lideranças da comunidade e os próprios afetados, mais de 100 famílias são
afetadas pelos eventos em questão com danos materiais, correspondentes à perda de móveis
domésticos devido à subida da água no interior das residências no período chuvoso, e imateriais,
como os de ordem psicológica.
A área apresenta uma urbanização bem consolidada, com residências e comércios com
empresas diversas, ocupando a planície de inundação. A vegetação característica é a secundária e há
grande deposição de resíduos sólidos nos canais, o que pode contribuir e intensificar estes
fenômenos nos períodos chuvosos. Entre os bairros afetados os mais atingidos são o Pirapora, Vila
Lobão e Vila Conceição. Nas demais comunidades, foram identificados somente pontos atingidos,
sem ocorrências de danos aos moradores.
No Anil (Área 1 da figura 1), o canal encontra-se retificado o que gera alterações dos cursos
d´água aumentando ainda mais sua magnitude, sendo no período de cheias as vias de acesso
interditadas onde o nível da água chega a 80 centímetro. No bairro Pirapora, representado pela Área
2 (Figura 1), cerca de 18 famílias já foram afetadas com as cheias do rio. Este bairro possui uma
grande ocupação irregular próxima ao rio e os residentes são famílias de baixa renda. Durante a
pesquisa também foi possível observar aterros na planície de inundação para construção de um

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 742


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

condomínio o que pode vir a agravar a situação de enchentes e inundações afetando moradores e
áreas adjacentes.
No residencial João Alberto (Área 3), várias famílias ocupam a planície de inundação;
durante os trabalhos de campo foram identificadas 22 casas em área de risco às enchentes e
inundações. Esta área caracteriza-se pela retirada da vegetação que acompanha o rio e depósito de
entulho para tentar reduzir o risco às cheias.
Na Vila Lobão (Área 4), os entrevistados relataram que já sofreram com as cheias e para
reduzir os impactos, os próprios moradores construíram um muro para contenção da água, podendo
gerar problemas ainda maiores aos moradores da comunidade. Mais de 60 casas estão instaladas
próximas ao rio; o último registro de cheia foi em 2004 que causou prejuízo e danos às famílias.
No bairro Vila Conceição que está localizado a Área 4 (Figura 1), o canal fluvial apresenta
em suas margens, vegetação secundária; as residências distam cerca de 30 metros do rio, porém,
alguns moradores constroem suas residências próximas ao canal fluvial. O representante do bairro
relatou que as cheias eram frequentes nas empresas e acredita-se que com o aterro construído, as
cheias não acontecem mais no bairro. Aproximadamente oito (8) casas já foram atingidas por
enchentes e inundações. Na Área 5 foram identificados somente pontos de enchente e inundações,
sem danos ao moradores da área.
No bairro Jardim Alvorada (Área 6), o rio está totalmente descaracterizado e tem-se apenas
a ocorrência de gramíneas nas margens do canal. Hoje, o rio é apenas um córrego com resíduos
sólidos e durante fortes chuvas, os moradores instalados às margens dele não conseguem sair de
suas residências. A figura 1 apresenta as enchentes e áreas em que ocorreram inundações nos
últimos anos, como os bairros Anil, Pirapora, Residencial João Alberto, Vila Lobão, Vila
Conceição, Tirirical, João de Deus e Jardim Alvorada. Acredita-se que a pesquisa contribuirá para o
planejamento integrado da área em questão, tendo um banco de dados atual e georreferenciado onde
foram mapeadas áreas de risco de inundações. Esse banco de dados pode ser utilizado na prevenção
de desastres e melhoria da qualidade de vida da população.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 743


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1- Mapa com áreas de enchentes e inundações no alto curso da bacia hidrográfica do Anil
Fonte: própria pesquisa, 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O problema das enchentes e inundações em áreas urbanas existe em muitas cidades


brasileiras e suas causas são variadas como assoreamento do leito dos rios, impermeabilização das
áreas de infiltração na bacia de drenagem ou fatores climáticos.
As enchentes aumentam a sua frequência e magnitude em razão da impermeabilização do
solo e da construção da rede de condutos pluviais. O desenvolvimento urbano pode também
produzir obstruções ao escoamento, como aterros, pontes, drenagens inadequadas, obstruções ao
escoamento junto a condutos e assoreamento. Geralmente essas inundações são vistas como locais
porque envolvem bacias pequenas.
Nesta pesquisa foram identificadas constatadas seis (6) áreas com ocorrências dos
fenômenos de enchentes e inundações. A partir da literatura especializada e de trabalhos de campo,
tem-se observado nos últimos anos que os bairros Anil, Pirapora, Vila Lobão, Vila Conceição e João
Alberto apresentam forte impermeabilização do solo em virtude do uso e cobertura, além de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 744


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

apresentar grande densidade populacional. Durante a pesquisa foi possível identificar 108 famílias
que sofreram e sofrem com as enchentes e inundações durante o período chuvoso.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 745


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPACTOS DA ENERGIA EÓLICA NO RIO GRANDE DO NORTE: UMA


ABORDAGEM OCORRIDA NO LITORAL COSTA BRANCA (RN)

Italo Henrique Monteiro da SILVA


Graduando do curso de Gestão Ambiental/UERN
it.alohenrique82@hotmail.com
Francisca Wigna da Silva FREITAS
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais – PPGCN/UERN
wignagreitas@yahoo.com.br
Letícia Gabriele da Silva BEZERRA
Graduando do curso de Gestão Ambiental/UERN
leticia_gabriele@outlook.com
Márcia Regina Farias da SILVA
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia - PPGEO/UERN
mreginafarias@hotmail.com

RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre os problemas ambientais decorrentes da construção e
operação de usina eólica. Para tanto, foram realizadas pesquisas em publicações nacionais e
internacionais, visitas técnicas a empreendimentos eólicos na região Costa Branca. O litoral da
Costa Branca é um território delimitado entre os municípios de Galinhos e Grossos e recebe este
nome devido ao seu grande potencial salino, sendo localizado no litoral setentrional do estado. O
litoral Costa Branca dispõe de um total de 24 (vinte e quatro) parques eólicos em operação,
evidenciando assim, um crescimento na geração eólica no estado. O setor de ―energias limpas‖ tem
criado um solavanco na exploração e produção energética, uma vez que a fonte energética é
abundante. A produção de energia eólica no Brasil tem ganhado destaque principalmente no
Nordeste, afim de diversificar a matriz energética atual, trazendo menos problemas ambientais
comparada a geração de energia por fontes poluidoras, porém deve-se promover o debate afim de
melhoria do sistema. O presente artigo aborda fatores relacionados aos problemas ambientais
ocasionados na implementação de parques eólicos no estado do Rio Grande do Norte,
especificamente no litoral da Costa Branca, demonstrando e evidenciando o desenvolvimento da
tecnologia eólica e identificando possíveis problemas ocorridos no processo de instalação e
operação das unidades eólicas na região.
Palavras-chave: eólica, problemas ambientais, energia, costa branca.
ABSTRACT
This article presents a study on the environmental problems arising from the construction and
operation of the Wind mill. For this reason, surveys were conducted in national and international
publications, technical visits to wind farms in the Costa Branca region. The coastline of the Costa
Branca is a delimited territory between the municipalities of Galinhos and Grosso and receives this
name due to its large saline potential, being located on the northern coastline of the state. The Costa
Branca's coastline has a total of 24 (twenty-four) wind farms in operation, thus demonstrating a
growth in the wind generation in the state. The "clean energy" sector has created a jolt in the
exploration and energy production, since the energy source is abundant. The production of wind
energy in Brazil has gained prominence mainly in the Northeast, in order to diversify the current
energy matrix, bringing less environmental problems compared to generating energy by polluting

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 746


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sources, but it should promote the debate to improve the System. This article addresses factors
related to the environmental problems caused by the implementation of wind farms in the state of
Rio Grande do Norte, specifically on the coast of the Costa Branca, demonstrating and highlighting
the development of wind technology and Identifying possible problems occurring in the process of
installing and operating the wind units in the region.
Keywords: Wind, environmental problems, energy, Costa Branca.

INTRODUÇÃO
A produção de energia por meio da força dos ventos vem trazendo grandes investimentos e
preocupações, por se tratar de uma nova fonte de produção não se tem estudos amplos sobre os
problemas que podem ser gerados.
Segundo Terciote (2002) a energia eólica é uma fonte mais vantajosa economicamente e
socialmente devido as suas principais características, por ser inesgotável, renovável, não emite
gases poluentes e gerar incentivos para economia do local. Em relação a economia traz uma série de
benefícios para a comunidade onde será feito investimento para implantação do parque eólico,
geração de empregos no processo de instalação, funcionamento e manutenção, além disso a
empresa paga um valor referente ao uso do solo para o proprietário das áreas que será utilizada.
No processo de geração da energia eólica que ocorre pela força dos ventos que movimenta
as hélices, no qual aciona um rotor que se movimenta, e este está ligado a um gerador a qual produz
energia. Conforme Terciote (2002) a tecnologia utilizada pelas eólicas contribui fortemente com o
balanço energético, pois não emite gases como o Dióxido de carbono (CO²), não esgota as fontes de
combustíveis fosseis, assim como ocupam pouco espaço e esse mesmo espaço podem ser realizados
outras atividades produtivas como a agricultura e o pastoril.
Segundo o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia - CERNE (2014), a
capacidade de produção de energia eólica no mundo cresceu 12,39 % em 2013 (TORINO, 2014.
pag.1). O Brasil dispõe de uma grande capacidade na geração de energias renováveis do tipo eólico,
sendo o 5º país na posição de ranking mundial de expansão da capacidade energética de geração
eólica em 2016 (MME, 2017). Os dados são da Global Wind Energy Council (GWEC), entidade
internacional especializada em energia eólica, que apontou acréscimo de 2.014 Megawatts de
energia entre janeiro e dezembro de 2016 (BRASIL, 2017).
Em 2015, o Brasil assinou o compromisso internacional na Conferência das Partes (COP) 21
de aumentar para 33 % o uso de fontes renováveis no país, neste período o estado do Rio Grande do
Norte ganhou destaque nacionalmente como liderança em produção de energia eólica na matriz
energética brasileira (BRASIL, 2015).

Ao longo dos últimos sete anos, o Rio Grande do Norte ganhou destaque nacional e
internacional ao conquistar o primeiro lugar geral em novos projetos eólicos licitados na
série de leilões federais anuais envolvendo esta fonte renovável de energia, iniciada em

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2009. Guardadas as devidas proporções, a indústria dos ventos representa, para o Rio
Grande do Norte, um passaporte para o futuro tão relevante quanto o petróleo do pré-sal
para o Brasil. Entre 2009 e 2014, aportaram no RN mais de 10 bilhões de reais em
investimento direto, equipamentos, serviços e obras. Em 2014 o RN quebrou a barreira de 1
GW eólico em capacidade instalada, sendo o primeiro estado brasileiro a alcançar esta
marca. Por isso, é dever de todos nós, cidadãos norte-riograndenses, tratar bem desta
indústria e fazê-la crescer de forma sustentável, benéfica e produtiva para todos (CERNE,
2014, p. 4).

Segundo a Agência Reguladora de Serviços Públicos (Arsep, 2017), responsável pela


fiscalização dos parques eólicos no estado, o Rio Grande do Norte conta com 70 parques eólicos em
operação, 31 em construção e 67 já com autorização para serem iniciados. Sendo que os principais
parques eólicos estão situados no litoral norte-riograndense, inseridos nas cidades de Areia Branca,
Guamaré, Macau, Natal e Rio do Fogo. De acordo com o Centro de Estratégias em Recursos
Naturais e Energias Renováveis (Cerne, 2017) o litoral Costa Branca44, possui um grande potencial
na geração de energia eólica adotando um novo modelo na matriz energética brasileira.
Nesse sentido, o litoral Costa Branca tem como característica peculiar na produção da
energia eólica, em que possui extensas faixas de areia branca, apresentando grande diversidade
ecológica e geomorfológicas. Assim,

O Polo Costa Branca abrange 16 municípios localizados na zona oeste do estado,


caracteriza-se pela diversidade da paisagem, de um lado a vegetação típica da caatinga e do
outro as praias, dunas coloridas, mangues, falésias, águas termais e sítios arqueológicos e
paleontológicos expressivos. É conhecido como o lugar onde o mar encontra o sertão.
Destaca-se no polo municípios produtores de sal, petróleo e frutas. A faixa litorânea do
Costa Branca, com 170 km de extensão, apresenta pouco adensamento, ideal para turistas
que procuram destinos tranquilos, onde o turismo ainda é incipiente (SILVA, 2014).

Além do grande potencial salineiro, o litoral Costa Branca vem se destacando na produção
de energias renováveis, a eólica (aerogeradores) e a solar (placas fotovoltaicas). Com o acentuado
crescimento nos setores de ―energias sustentáveis45‖ principalmente no setor eólico nos últimos
anos, encontra-se franco o elo de desenvolvimento tecnológico e uso sustentável. Segundo a
COSERN46 (2003), a geração de energia eólica se inicia com velocidades de vento da ordem de 2,5
– 3,0 m/s. O litoral Costa Branca possui uma área bastante promissora para o aproveitamento
eólico, com velocidade média anuais acima de 8,0 m/s (a 50m de altura) nas melhores áreas.
Nessa perspectiva, o objetivo do estudo visa evidenciar o desenvolvimento da tecnologia e
potencial eólico no Litoral Costa Branca do estado do Rio Grande do Norte, identificando possíveis
problemas ocorridos no processo de instalação e operação das unidades eólicas na região.

44
De acordo com a Secretaria de Estado do Turismo, o litoral Costa Branca está localizado no Rio Grande do Norte e é
composto pelos municípios de Areia Branca, Grossos, Tibau, Porto do Mangue, Macau, Guamaré, Galinhos, Caiçara do
Norte e São bento do Norte
45
De acordo com a ONU (2012) Energia sustentável - a energia que é acessível, barata, limpa e mais eficiente - é
essencial para o desenvolvimento sustentável. Ela permite que as empresas cresçam, gerem empregos e criem novos
mercados.
46
COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Aspectos gerais da área de estudo

O litoral da Costa Branca é um território delimitado entre os municípios de Galinhos e


Grossos e recebe este nome devido ao seu grande potencial salino. A pesca artesanal, em conjunto
com outras atividades, contribui para o desenvolvimento econômico e social da região, sendo
responsável por uma considerável parcela da oferta de emprego e renda das populações locais
(SILVA, 2014).
O litoral Costa Branca está localizado no litoral setentrional do estado do Rio Grande do
Norte (Figura 01). Geomorfologicamente, a planície, os tabuleiros costeiros e os campos de dunas
são os elementos de relevo predominantes em todo o litoral. Geologicamente, a região é constituída
por rochas sedimentares de idade Cretácea, que estão recobertas por rochas da Formação Barreiras e
sedimentos Quaternários (dunas, rochas praiais, terraços marinhos e aluvionares, coberturas
arenosas diversas) (VITALL, 2003).

O Litoral Setentrional é limitado a este pelo Cabo Calcanhar, município de Touros e a oeste
pela praia de Tibau, município de Tibau (divisa entre os estrados do RN e CE). Este setor
apresenta-se com 244 km de extensão, e representa 59% do litoral do RN, assim
distribuídos: 194 km (80%) de praias arenosas, 10 km (4%) de praias lamosas, restritas as
desembocaduras dos rios Piranhas-Açu, e 40 km (16%) de falésias ativas (VITALL, 2003).

Figura 01 - Mapa de localização de cidades com empreendimentos eólicos na Costa Branca, 2017.

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FONTE: IBGE, 2015. Elaborado por: SILVA, 2017

O clima predominante é o tropical quente e seco ou semiárido (NIMER, 1989). Os ventos


apresentam velocidade média anual de 6.2 m/s entre os meses de agosto a abril (direção E 47) e maio
a julho (direção NE48). Os meses de agosto a dezembro proporciona os maiores índices de
intensidade chegando a atingir 9 m/s na estação de Macau (COSTA NETO, 2001; SILVEIRA,
2002; TABOSA, 2002; TABOSA et al. no prelo; CHAVES; VITAL, no prelo).

Metodologia

Lakatos e Marconi (2001) definem método como um conjunto de atividades sistemáticas e


racionais que favorecem o alcance de objetivos, traçando o caminho a ser trilhado, detectando
possíveis erros e auxiliando na tomada de decisões do pesquisador.
O tipo de metodologia formulada desenvolvida para a identificação de problemas resultantes
a partir de implantação de empreendimentos eólicos, considera sua causa/efeito. A metodologia
empregada foi a analítica, em que, Thomas e Nelson (1996) define como uma pesquisa que envolve
o estudo e avaliação aprofundados de informações disponíveis na tentativa de esclarecer o contexto

47
A direção do vento representada pela letra ―E‖ tem significado ―Cardeal Este‖.
48
A direção do vento representada pela letra ―NE‖ tem significado ―Colaterais Nordeste‖.

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de um fenômeno, categorizadas em histórica, filosófica, revisão e meta-análise. Utilizando-se


instrumentos básicos como o enquadramento teórico, registro fotográfico e análise documental.
A construção de dados foi originada a partir de visitas in loco associada a análise de registro
fotográfico. Referente a coleta para a formulação do banco de dados, foi adotado levantamento de
dados secundários em sites institucionais tais como: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte), bem como a consulta de
dados disponíveis em site governamentais e instituições privadas.

RESULTADOS E DISCURSÕES

Assim como as demais fontes de energias renováveis e não renováveis, a fonte de energia
eólica, apresentam vantagens e desvantagens de uso de sua aplicação no meio ambiente. Dentre as
vantagens advindas da implementação de empreendimentos eólicos, pode- se destacar a necessidade
de mão de obra por parte da empresa, gerando emprego e renda no município.
Como afirma Rocha e Rossi (2003), uma das mais importantes vantagens do uso da energia
eólica dar-se-á fato desta ser absolutamente renovável, abundante, inesgotável e limpa.
Outros pontos positivos que podem ser observados são: suprir a demanda energética do país;
e trazer investimento para a comunidade em geral. Logo, a relevância do uso de energias eólicas
está relacionada ao recurso natural utilizado, em particular o vento, uma vez que é abundante na
atmosfera.
A utilização da energia eólica apresenta ainda mais vantagens se comparada ao modo de
produção energética tradicional. Fonte inesgotável movida pelo vento sem emissão de gases
poluentes e resíduos, que apresenta baixo impacto ambiental comparada a outras fontes de energia.
Dentro deste contexto, no Brasil a primeira turbina foi instalada em junho de 1992 e
incorporada na matriz energética brasileira no século XXI, ganhando espaço principalmente no
nordeste brasileiro (BRASIL, 2008). Segundo a ANEEL (2017) o litoral Costa Branca apresenta um
percentual energético outorgado de aproximadamente 758.570 kW49. O quadro 01 a seguir demostra
a distribuição do potencial eólico no litoral setentrional (Costa Branca) no estado do Rio grande do
Norte.

49
Dados ANEEL retirados da plataforma BIG (Banco de Informação de Geração) estruturado em 3 módulos iniciais de
consulta: Capacidade de Geração do Brasil, Resumo Estadual e Agente de Geração

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Figura 01 – Distribuição do potencial eólico no litoral Costa Branca


CAPACIDADE ENERGÉTICA
MUNICÍPIOS
(kW)

Areia Branca 160.400

Caiçara 45.000

Galinhos 118.570

Guamaré 284.450

Macau 70.270

São Bento do Norte 80.000


Fonte: ANEEL, 2017.

Com um total de 24 (vinte e quatro) empreendimentos eólicos em operação, o litoral Costa


branca contará ainda com 76 (setenta e seis) novos complexos eólicos, dos quais 57 (cinquenta e
sete) estão em processo de Despacho de Registro de Recebimento de Outorga50 e 19 (dezenove) em
processo de iniciação de obras estruturais (ANEEL, 2017).
Dotado de um grande potencial eólico, o litoral setentrional do estado do Rio Grande do
Norte, precisamente a Costa Branca, vem ganhando destaque na geração de fontes renováveis, mas
cabe aqui destacar seus problemas adjacentes da instalação de usinas eólicas. Dessa forma, por meio
de estudos bibliográficos e visitas in loco foi possível identificar alguns problemas de origem
benéficos e maléficos em âmbito social, econômico e ambiental.
No âmbito social, notou-se in loco a perda de identidade natural para o cenário tecnológico,
ou seja, grande intensidade de impacto visual associado a alteração do dinamismo da paisagem
local. Além disso, foi constatado a perturbação causada por ruídos aerodinâmicos das pás, gerando
poluição sonora, como foi possível observar na pesquisa de Souza et al (2015).
Notou-se também, momentos de conflitos e resistências por parte de populações tradicionais
envolvendo uma espécie de desequilíbrio entre exploração e uso dos recursos naturais. Já
economicamente, houve um grande acréscimo na geração de empregos locais associado ao aumento
na receita dos municípios, assim como, houve acentuado aumento de turistas nessas localidades
motivados pela paisagem gerada pelos aerogeradores.
A produção de energia eólica também gera incômodo para a população que reside próxima a
essas áreas, pois são gerados ruídos podendo comprometer a qualidade de vida das pessoas.

Quando há pessoas que vivem perto de uma usina eólica, os cuidados devem ser tomados
para garantir que o som das turbinas de vento seja em um nível razoável em relação ao

50
Autorização para exploração de usinas termelétricas e outras fontes alternativas de energia e registro de centrais
geradoras com capacidade instalada reduzida (com potência igual ou inferior a 5.000 kW) (ANEEL, 2009).

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nível de som ambiente na área. Devido à grande variação dos níveis de tolerância individual
ao ruído, não há nenhuma maneira completamente satisfatória para se medir os seus efeitos
subjetivos, ou as reações correspondentes de aborrecimento e insatisfação (NOISE
ASSOCIATION, 2002).

No âmbito ambiental, foi possível observar em algumas cidades a extração irregular mineral
de areia para uso de fabricação das bases de apoio do aerogerador, bem como o uso indiscriminado
de Áreas de Proteção Ambientais - APA tendo como exemplos a Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Estadual Ponta do Tubarão - RDSEPT, localizada na cidade de Macau e a APA Dunas
do Rosado - APADR em processo de criação localizada nos municípios de Areia Branca e Porto do
Mangue (MAMERI, 2011; MELLO, 2014).
Assim como, é possível observar desvantagens relacionadas ao uso da fonte de energia
eólica, utiliza-se de uma grande área para a sua implementação, provocando desmatamento na área,
podendo vir a gerar perturbação das espécies daquela região.
Com relação à vegetação, a mesma pode ser suprimida no período de consolidação do
empreendimento, originando problemas como a degradação ambiental na região da Costa Branca,
podendo vim a modificar os habitats dos animais desta localidade.
Contudo, como toda atividade que utiliza recursos naturais os empreendimentos eólicos
geram problemas no meio ambiente. Nesse sentido, os pássaros, podem vir a colidir com as
estruturas (torres de alta tensão, mastros, janelas de edifícios) e com as turbinas eólicas, devido à
dificuldade de visualização (TERCIOTE, 2002. p. 30). Esse fator é bastante preocupante, pois altera
a rota dos pássaros e poderá causar a migração e extinção desses animais.

A mortalidade de aves e morcegos devido a colisões com as pás dos aerogeradores e


estruturas associadas é, atualmente, a questão que mais polêmica levantada. Um estudo de
revisão sobre este tema num universo de 15 000 aerogeradores implantados nos Estados
Unidos, estimou uma mortalidade de 2,19 aves/ aerogerador/ ano, ou seja,
aproximadamente 30 000 indivíduos, entre os quais 448 rapinas (SOUZA et al., 2015).

Podemos destacar a Interferência Eletromagnética (IEM) como um problema relevante pois,


como adverte Terciote (2002, p. 5) a,

[...] Turbina eólica pode causar IEM por reflexão de sinais das pás de modo que um
receptor próximo recebe um sinal direto e um refletido. A interferência ocorre porque o
sinal refletido é atrasado devido à diferença entre o comprimento das ondas alterado por
causa do movimento das pás. A IEM é a maior em materiais metálicos, que são refletores e
mínimos para pás de madeira, que absorvem.

Dessa forma, é notório os problemas que podem vim a ser gerados pela implementação de
parques eólicos em Áreas de Proteção Ambiental, uma vez que, interfere nos âmbitos social,
ambiental e econômico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O setor de energia eólica tem crescido cada vez no país, e o nordeste brasileiro se destaca na
geração da mesma, porém, sua implementação vem gerando inúmeras discussões mediante suas
vantagens e desvantagens. No qual, podem gerar modificações ambientais, sociais e econômicas no
local inserido.
As desvantagens não podem ser sanadas, porém para cada problema existe medidas capazes
de minimizar e controlar causa e efeito. No entanto para dar continuidade ao segmento de energia
eólica cabe ressaltar a melhoria do planejamento e adoção de políticas no intuito de buscar medidas
de remediação tanto para a seguridade do meio ambiente, quanto das populações tradicionais.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA AMBIENTAL EM ÁREAS DEGRADADAS PELO


HOMEM: AS IMPLICAÇÕES DA BARRAGEM ENGENHO PEREIRA, MORENO – PE

José Emanuel Sebastião da Silva PEREIRA


Graduando do curso de Psicologia da FAINTVISA
alabiyipsi@gmail.com;
Leandro Santos do NASCIMENTO
Graduando do curso de Psicologia da FAINTVISA
dcleandrosantos@hotmail.com;
Valdiane Soares da SILVA
Graduanda do curso de Psicologia da FAINTVISA
valdianesoares@hotmail.com;
Jeannine Maria ALVES
Professora Ms. do curso de Psicologia da FAINTVISA
jeanninemalves@gmail.com

RESUMO
Este trabalho traz as discussões sobre os impactos ambientais, sociais e psicológicos ocasionado na
maioria das vezes, pelas ações antrópicas no meio ambiente. Em virtude da busca exagerada do
TER e do SER por este mundo capitalista, que surgiu no século XXI, durante a Revolução
Industrial. Refletir sobre os possíveis impactos da construção da barragem do Engenho Pereira
sobre a vida das famílias transpostas para outras áreas é um grande desafio, mas ao mesmo tempo
uma oportunidade de estudar aquele ambiente. Para validação desse trabalho, foi adotada a pesquisa
exploratório-bibliográfica, em artigos, livros e reportagens relevantes ao tema, bem como visitas
exploratórias no Engenho Pinto. A contemporaneidade parece passar por uma inversão de valores, e
aos poucos emerge um ser humano da incompletude (LACAN, 1995), onde indica faltar quase tudo,
principalmente, educação, espiritualidade, amor, respeito, empatia, entre tantas outras virtudes
humanas. Implica em viver tempos de desequilíbrios, em particular, na relação homem-natureza. A
degradação ambiental é outro ponto de interrogação, considerando que não afeta só as pessoas,
prejudica todos os seres vivos de modo geral. Apresenta biologicamente falando, distúrbios para o
ecossistema, e consequentemente, surge o desequilíbrio das relações ser humano-natureza. Dessa
maneira inteiramo-nos da Educação Ambiental promovida pela Psicologia Ambiental como ponto
de apoio e resolução da problemática. A análise teórica da Psicologia Ambiental sobre o referido
impacto sofrido pelos moradores retirados do Engenho Pereira, é de fato elucidativa no que diz
respeito aos cuidados não só com o ser humano, mas também com o meio ambiente ao qual está
inserido e suas relações.
Palavras-chave: Educação ambiental; Psicologia ambiental; Barragem Engenho Pereira;
Degradação; Relações ser humano-natureza.
ABSTRACT
This work brings the discussions about the environmental, social and psychological impacts caused
in the majority of the times, by the anthropic actions in the environment. By virtue of the
exaggerated search to HAVE and BE for this capitalist world, which emerged in the XXI century,
during the Industrial Revolution. Reflecting on the possible impacts of the construction of the
Engenho Pereira dam on the lives of families transposed to other areas is a great challenge, but at
the same time an opportunity to study that environment. In order to validate this work, exploratory-

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bibliographic research was used in articles, books and reports relevant to the topic, as well as
exploratory visits at Engenho Pinto. Contemporaneousness seems to undergo a reversal of values,
and gradually a human being emerges from incompleteness (LACAN, 1995), where he indicates
that almost everything, especially education, spirituality, love, respect, empathy, among many other
human virtues, is lacking. It implies living in times of imbalances, in particular, in the relation
between man and nature. Environmental degradation is another question mark, considering that it
does not affect only people, it harms all living beings in general. It presents biologically speaking,
disturbances to the ecosystem, and consequently, the imbalance of human-nature relations arises. In
this way, we become aware of Environmental Education promoted by Environmental Psychology as
a point of support and resolution of the problem. The theoretical analysis of Environmental
Psychology about the impact suffered by the residents of Engenho Pereira, is in fact elucidative
with regard to care not only with the human being, but also with the environment to which it is
inserted and their relationships.
Keywords: Environmental Education; Environmental psychology; Barrage Engenho Pereira;
Degradation; Human-nature relations.

INTRODUÇÃO

A contemporaneidade parece passar por uma inversão de valores, e aos poucos emerge um
ser humano da incompletude (LACAN, 1995), onde indica faltar quase tudo, principalmente,
educação, espiritualidade, amor, respeito, empatia, entre tantas outras virtudes humanas. Implica em
viver tempos de desequilíbrios, em particular, na relação homem-natureza. Ou o que Boff (2014)
intitulou de tempos das utopias mínimas viáveis.
As alterações climáticas, o aquecimento global, a escassez de água, a seca no semiárido
brasileiro, as enchentes desastrosas são indícios que o planeta está adoecido, assim como, a vida de
todas as espécies está ameaçada, inclusive o homem sapiens. Esse que por sua vez, destrói o próprio
habitat.
É nesse contexto que este trabalho busca estudar áreas degradadas pelo homem, em
comunidades de perca total, ou seja, pessoas /que perderam ―tudo‖, devido a intervenção humana
direta ou indireta. Quais impactos essas intervenções causam/causaram na vida das pessoas e no
próprio ambiente? É com base nessa questão que elegeu a Barragem Engenho Pereira, localizada no
Assentamento Herbert de Souza em Moreno – PE para aprofundar os estudos acerca da Psicologia
Ambiental, considerando o estudo do comportamento humano em seu contexto de inter-relação com
o meio ambiente.
Dessa forma, este trabalho introduz de modo geral o tema gerador desse estudo que é
Psicologia e Educação Ambiental. Enquanto a fundamentação teórica aprofunda os conceitos de
forma sistematizada, no sentido de estabelecer conexão com os conteúdos trabalhados em sala de
aula, e extraclasse. A metodologia referencia os passos dados para produção do trabalho. Ao passo
que as considerações finais fazem um fechamento sobre a percepção do grupo, e aponta
possibilidades de diminuir os impactos ambientais na comunidade estudada.

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METODOLOGIA

Para validação desse trabalho, foi adotada a pesquisa exploratório-bibliográfica (GIL, 2008),
visando proporcionar maior conhecimento sobre a Psicologia Ambiental aplicada em áreas degradas
pelo homem. Além de visita in lócus no Assentamento Herbert de Souza, para o levantamento de
informações que reforcem a importância desta discussão tanto no âmbito individual quanto coletivo.
Como também a coleta de dados relevantes para fomentação de projetos que visem contribuir com o
desenvolvimento local.

A PSICOLOGIA AMBIENTAL

De acordo com Moser (1998) a Psicologia Ambiental uma área muito recente da Psicologia,
as discussões surgem por volta de 1960, tendo como um dos relevantes nomes o psicólogo Kurt
Lewin. Os primeiros livros publicados foram na década de 70, onde uma boa parte dos textos
emergiam a importância na constatação da problemática ambiental, assim como a poluição na vida
da sociedade.
Tem como objetivo estudar o indivíduo em seu contexto, a partir das inter-relações entre ser
e ambiente. Em função disso, a Psicologia Ambiental tem conceitos próprios para explicar os
impactos ambientais, como por exemplo: cognição ambiental, mapeamento mental, história
residencial, identidade ambiental, (percepção de) aglomeração, saúde pública, educação ambiental e
bem-estar social (MOSER, 1998).
Conforme Hess (2011) a Psicologia Ambiental procura assimilar como se dá a conduta
humana no meio ao qual está inserido, de modo que seja possível entender como o ser humano
reage as diferentes interações para com o meio. Estudando-o em seu contexto tanto social quanto
físico. Assim é analisada qual a compreensão da sua função no ambiente inclusive em condições
alteradas do ambiente ou Condições Ambientais Extremas (CAE). Evidenciando dessa maneira a
relevância das atitudes e avaliações levando-se em conta a produção de comportamentos
relacionados ao ambiente.
Destarte, a Psicologia Ambiental ocupa-se na compreensão dos efeitos dos fatores
ambientais nos comportamentos humanos, e como os sujeitos percebem essas ações e atuam em
retorno, tanto no campo individual quanto no campo coletivo. Todavia ao se tratar de ambiente
deve-se levar em consideração não só o espaço físico, o natural (ecossistema) e o construído
(comunidades), mas também a dimensão social e suas interpelações com esses espaços. É nesse
contexto de indivíduo-espaço-lugar que se tem o mastro central de compreensão não só da relação
homem-ambiente, mas da sua atuação com relação ao meio, favorecendo ou não o desenvolvimento
de ambos, conforme completa Hess (2011).

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Silvia Lane (2006, p. 6) escreve que ―cada organismo humano tem suas características
peculiares; assim como não existem duas árvores iguais, também não existem dois organismos
iguais‖. Ela chama a atenção para a singularidade do indivíduo que convive com a pluralidade da
esfera social. Esse indivíduo representa o ―eu‖, e também o ―nós‖, a depender do lugar que esteja
analisando. Com isso, o sujeito e sociedade sofrem influências mútuas, visto que, ambos, são
agentes modificadores e agentes modificados.
Em Psicologia Ambiental as dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais estão
sempre presentes na definição e constituição dos ambientes, considerando que cada sujeito percebe
e tem comportamentos individuais e coletivos em relação ao seu ambiente físico e social. Ele é
responsável e corresponsável pelos efeitos positivos e negativos desse espaço. O que Lane (2006)
citou de influências mútuas, principalmente, pela intervenção humana, ou seja, reciprocidade entre
indivíduo e ambiente.
A Psicologia Ambiental dialoga com a estrutura psíquica dos indivíduos, que por algum
motivo recebeu forte influência do meio ambiente, como por exemplo, o rompimento da barragem
em Mariana, o incêndio da Boate Kiss, a instalação do Complexo Industrial de Suape, a destruição
dos Manguezais no Pina, e a construção da Barragem Engenho Pereira, cujo é objeto de estudo
bibliográfico nesse trabalho. Isso é só uma amostragem de alguns impactos, entre o indivíduo e o
ambiente físico, tanto o ambiente natural quanto o construído.

AMBIENTE E ÁREAS DEGRADADAS PELA AÇÃO HUMANA

As teorias sistêmicas dizem que ―é preciso reunir para compreender‖. Talvez essa questão
seja um dilema da contemporaneidade, principalmente, por vivermos em uma sociedade líquida,
onde muitas vezes, os indivíduos são vistos como coisas, ferindo os pressupostos constitucionais
básicos, o meio ambiente, e a humanização entre as pessoas (CAPRA, 1997).
É nessa conjuntura de juntar para compreender que a Psicologia Ambiental busca estudar as
inter-relações. Ao mesmo tempo, visa construir uma nova visão sobre o ser humano e o ambiente. A
emancipação, o diminuir os impactos, o fazer parte do ambiente requer mudança de cultura, e
certamente, novos comportamentos. O homem não é só, ele é apenas um, entre tantas outras
espécies. Entender e conviver harmonicamente com o ambiente humano, assim como, os demais
ambientes passa a ser uma pauta pública.
Por isso, importante saber que o conceito de ambiente é uma complexa
multidisciplinariedade das relações homem-ambiente, onde tudo pode ser construído e reconstruído,
desde que a vida do planeta seja respeitada e tratada em sua totalidade. Aqui considera todas as
espécies. Não basta só abrir barragens, necessário elaborar soluções sustentáveis tanto para a

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população, quanto para os demais habitantes daquela comunidade. Inclui gente, insetos, plantas,
animais e todos os demais seres da natureza.
Para Gliessman (2000, pág. 234) ambiente:

Pode ser definido como a soma de todas as forças e fatores externos, tanto bióticos quanto
abióticos, que afetam seu crescimento, sua estrutura e reprodução (...) o ambiente no qual o
organismo ocorre precisa ser compreendido como um conjunto dinâmico, em constante
mudança, de todos os fatores ambientais em interação, ou seja, como um complexo
ambiental.

Nesse sentido, emerge a discussão da interdisciplinaridade do ambiente, onde tudo foi feito
para se conectar. Remete pensar que o comportamento humano é o principal responsável pelas
modificações do ecossistema. Isso de maneira tão ignorante, irresponsável e perversa que os
elementos naturais são perdidos de tal modo, que o próprio indivíduo desconhece os demais seres
vivos, e a si mesmo.
Por consequente, há necessidade de nova intervenção humana para reversão da circunstância
presente, ou seja, um processo de busca pelo equilíbrio. Não sabendo o homem que isso pode ser
compreendido como autodestruição. Cuidar do ambiente é um compromisso pessoal e social.
Nesse contexto, vale ressaltar o conceito de meio ambiente:

Toda relação, é multiplicidade de relações. É relação entre coisas, como a que se verifica
nas reações químicas e físico-químicas dos elementos presentes na Terra e entre esses
elementos e as espécies vegetais e animais; é a relação de relação, como a que se dá nas
manifestações do mundo inanimado com a do mundo animado (...) ...é especialmente, a
relação entre os homens e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna);
entre homens e as relações que se dão entre as coisas; entre os homens e as relações de
relações, pois é essa multiplicidade de relações que permite, abriga e rege a vida, em todas
as suas formas. Os seres e as coisas, isoladas, não formariam meio ambiente, porque não se
relacionariam (TOSTES, 1994, p. 345).

Notório saber que o ser humano é um ser de múltiplas relações. É um ser de características
peculiares, onde tudo pode ser mudado, desde que, se tenha uma consciência mais crítica sobre o
ambiente, e educação ambiental, onde o desenvolvimento de habilidades e competências sejam
instrumentos didáticos para diminuir os impactos ambientais, uma vez que, o planeta vive uma
intensa degradação devido as intervenções humanas.
A degradação ambiental é hoje agenda mundial. Compõe a pauta estratégica dos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODS). Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente é
responsabilidade de todos os habitantes do planeta. Desenvolver uma consciência crítica sobre o
homem e o meio ambiente pode ser uma discussão muito profunda e complexa, sendo sobretudo,
necessária.
Por área degradada compreende ―os efeitos ambientais considerados negativos ou adversos e
que decorrem principalmente de atividades ou intervenções humanas. Raramente o termo se aplica

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às alterações decorrentes de fenômenos ou processos naturais‖ (EMBRAPA, 2008). E, degradação


ambiental ―ocorre quando há perda de adaptação às características físicas, químicas e biológicas e é
inviabilizado o desenvolvimento socioeconômico‖ (EMBRAPA, 2008).

CONTEXTO HISTÓRICO E A BARRAGEM ENGENHO PEREIRA

Desapropriado em 1983 para fins da Reforma Agrária pelo INCRA, o Engenho Pinto
tornou-se oficialmente Projeto de Assentamento do INCRA, o qual recebeu o nome de
Assentamento Herbert de Souza, cujo, é localizado na zona rural de Moreno – PE, às margens da
BR 232.
O assentamento compreende 147 lotes, e atualmente acolhe 400 famílias que conquistaram o
direito de permanecer e produzir na terra, em virtude da Política da Reforma Agrária, heranças e
verbas rescisórias por meio do Estado.
Para a surpresa da população, em 2012, o Governo de Pernambuco através da Companhia
Pernambucana de Saneamento (COMPESA), anunciou a construção da Barragem Engenho Pereira,
que tinha como objetivo o controle das enchentes do Rio Jaboatão que afetavam o município de
Moreno e cidades vizinhas: Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, e Vitória de Santo Antão,
além de aumento o fluxo de abastecimento de água de Moreno e Jaboatão dos Guararapes.
A partir daí foi montado uma comissão com representantes da população local, e esferas
governamentais para que juntos pudessem encontrar soluções de amenizar os impactos ambientais
naquela região. Mas isso, pouco foi considerado. E, aos poucos a população ia ficando sem vez, e as
obras continuavam. Greves, fechamento da BR, mas muito pouco adiantou. O que prevalecia era o
interesse de pessoas estranhas, de fora, os assentados não podiam ter seus interesses, nada mais, de
permanecer nos lotes, conforme divisão da União.
A COMPESA por sua vez, tenta amenizar a situação e oferece uma recompensa as famílias
pela destruição de suas casas. Consistiu que cada família assentada teria o direito de escolher as
verbas indenizatórias ou reassentado (em outro local). E, assim foi feito, todavia, ainda tem muito a
fazer, até porque a barragem foi iniciada, sem previsão para conclusão.
Enquanto isso, as famílias vivem o dilema da incerteza, ou seja, até quando podem ficar no
assentamento. Se serão removidas, se receberão todas as verbas prometidas. E, se realmente a
COMPESA fará o replantio das espécies nativas daquele ambiente.

RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (RIMA) E O ESTUDO DE IMPACTO


AMBIENTAL (EIA) DA BARRAGEM ENGENHO PEREIRA

Como já citado anteriormente, a construção da Barragem Engenho Pereira é um projeto


proposto pela COMPESA e os estudos ambientais - o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) e o

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Estudo de Impacto Ambiental (EIA) estão sobre a responsabilidade do Instituto de Tecnologia de


Pernambuco – ITP, cujo dados foram apresentados em audiência pública para a população e demais
autoridades que o assunto requer.
A barragem estava prevista para concluir em outubro de 2014, com orçamento de R$ 35.700
milhões. E, R$ 178 mil destinados para compensação ambiental, em atendimento, às Unidades de
Conservação do Estado.
De acordo com o RIMA, o barramento terá altura máxima de 36 metros e represamento de
44.650.000 m³, com capacidade de regularizar uma vazão de 900l/s. Em relação aos impactos
ambientais, o Estudo identifica 55 prováveis de ocorrerem, sendo os elementos mais afetados a
cobertura vegetal, a fauna terrestre e a fauna e flora aquáticas. Para neutralizar o efeito desses
impactos, são propostas medidas mitigadoras e elaborados programas de controle e monitoramento
ambiental (CPRH, 2011).
Segundo a geógrafa responsável pelo RIMA, Drª Edivânia Aguiar, a barragem viabilizará
melhoria na qualidade de vida da população afetada, tendo em vista que proporcionará a
dinamização de atividades econômicas no assentamento, o aumento do trabalho e renda, que juntos
contribuirão para o desenvolvimento sustentável da região.
A população afetada diretamente compreende as famílias assentadas da Reforma Agrária e
Agricultura Familiar, residentes do Projeto de Assentamento INCRA – Herbert de Souza, localizado
na zona rural de Moreno – PE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer desse trabalho foi percebido que a população do Assentamento Herbert de


Souza parece estar em um processo de sofrimento, principalmente, de incertezas, visto que, existe
um temor de a qualquer momento receber a ordem de deslocamento, e recomeçar tudo novamente.
Deixar para trás uma história construída, memórias, lotes produzindo, mudar de endereço. O que
fazer? Para onde ir? Têm sido perguntas de todas as famílias que vivem naquele ambiente.
A mudança de comportamento homem-ambiente já é visível, até mesmo pela obra inacabada
que se instaurou na região. O que era para ser um projeto de sucesso para o Estado, tem sido alvo de
muitas críticas pelos ambientalistas, psicólogos e população local.
O mais agravante é que as dimensões psicossociais, econômicas, e culturais daquele povo
estão abaladas, e com isso, tanto os assentados quanto o ambiente sofrem mútuas influências de
mais um projeto de Governo.
A degradação ambiental é outro ponto de interrogação, considerando que não afeta só as
pessoas, prejudica todos os seres vivos de modo geral. Apresenta biologicamente falando, distúrbios

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para o ecossistema, e consequentemente, surge o desequilíbrio das relações ser humano-natureza,


isso fruto da má educação ambiental.
O ambiente começa a dar respostas para tamanha agressão, como por exemplo, as fortes
chuvas que têm abalado o Assentamento Herbert de Souza, com grandes alagamentos. Fato que
inviabiliza o acesso das famílias que ficam ilhadas e o escoamento da produção agrícola.
A experiência de realizar um estudo bibliográfico a partir da Psicologia Ambiental em áreas
degradadas pelo homem, considerando o projeto de construção da Barragem Engenho Pereira nos
possibilitou aprofundar os conteúdos trabalhados em sala de aula pela professora Ms.ª Jeannine
Alves (Bióloga e Mestra em Oceanografia Biológica). Confrontar o conhecimento teórico com o
prático foi para nós motivo de crescimento profundo, enquanto pessoas e psicólogos em formação.
Ao mesmo tempo, entender que a Psicologia como ciência da subjetividade pode atuar em
diferentes contextos, e assim, contribuir para que as pessoas possam acreditar em si mesmas,
emancipassem, e construir novos referenciais de vida. Com certeza, a vida do planeta também será
melhor. Esse é o compromisso social da Psicologia, inclusive no meio rural, como é o
Assentamento Herbert de Souza, onde existe um ecossistema rico em sua biodiversidade, pessoas
que têm sua cultura, identidade, memórias, ou seja, toda uma vida construída.

REFERÊNCIAS

CPRH. Relatório Rima Engenho Pereira (2011). Disponível em:


http://www.youblisher.com/p/698767-Resumo-RIMA-Engenho-Pereira/. Acesso em 26 de
março de 2017.

BOFF, L. O tempo das utopias mínimas viáveis (2014). Disponível em:


https://leonardoboff.wordpress.com/2014/05/09/o-tempo-das-utopias-minimas-viaveis/. Acesso
em 26 de março de 2017.

CAPRA, F. A Teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo,
Cultrix, 1997.

TAVARES, S. R. L. Curso de recuperação de áreas degradadas: a visão da Ciência do Solo no


contexto do diagnóstico, manejo, indicadores de monitoramento e estratégias de recuperação.
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2008.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre:


Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

HESS, A. F. Psicologia Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2011.

LACAN, J. O Seminário, livro 4: A relação de objeto. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1995.

LANE, S. T. M. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.

MOSER, G. (1997). Psicologia Ambiental. Estudos de Psicologia, Natal, vol.3, n.1, p. 121-
130. Jan/Jun 1998. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X1998000100008.
Acesso em 26 de março de 2017.

TOSTES, A. Sistema de legislação ambiental. Petrópolis, RJ: Vozes/CECIP, 1994.

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AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS: UM ESTUDO DE CASO NA


COMUNIDADE DA ILHA DE DEUS - PE

Keila Suzana Glicerio ASSIS


Graduanda do Curso de Geografia da UFPE
keila-suzana@hotmail.com
Ítalo Rodrigo Paulino de ARRUDA
Graduando do Curso de Geografia da UFPE
italotavares0811@gmail.com
Diego Felipe dos SANTOS
Graduando do Curso de Geografia da UFPE
diego.felipeufpe@gmail.com
Danielle Gomes da SILVA
Professora Drª do Departamento de Geografia da UFPE
dannyavlis@gmail.com

RESUMO
As áreas costeiras são zonas constantemente afetadas pelo crescimento desordenado das cidades
acarretando diversos impactos ambientais. O objetivo desta pesquisa foi avaliar os impactos
ambientais na comunidade da Ilha de Deus localizada no Bairro do Pina, Cidade do Recife-PE.
Realizou-se levantamentos bibliográficos; aulas de campo, visita técnica na área; uso de mapas e
imagens disponíveis; fotografias in loco; e um check-list adaptado para áreas estuarinas baseado em
três fatores: meio físico, meio biótico, e ambiente antrópico. Os dados quantitativos foram expostos
em uma tabela e classificados os indicadores de impactos na área. Diversos são os impactos
identificados na área: poluição da água, perda da Biodiversidade local e consequentemente o
empobrecimento do solo. Percebe-se que se faz necessário à realização de projetos socioeducativos
voltados em educação ambiental para a comunidade, além de ações mitigatórias para os impactos
ambientais e participação do governo, setor privado em parceria com a comunidade.
Palavras chave: Impactos ambientais; Meio biótico; Biodiversidade.
ABSTRACT
Coastal areas are areas constantly affected by the disorderly growth of cities, leading to several
environmental impacts. The objective of this research was to evaluate the environmental impacts in
the Ilha de Deus community located in Bairro do Pina, City of Recife-PE. Bibliographical surveys
were carried out; Field lessons, technical visits in the area; Use of available maps and images;
Photographs in loco; And a checklist adapted to estuarine areas based on three factors: physical
environment, biotic environment, and anthropic environment. The quantitative data were presented
in a table and the indicators of impacts in the area were classified. There are several impacts
identified in the area: water pollution, loss of local biodiversity and consequently soil
impoverishment. It is noticed that it is necessary to carry out socio-educational projects focused on
environmental education for the community, as well as mitigating actions for environmental
impacts and participation of the government, private sector in partnership with the community.
Keywords: Environmental impacts; Biotic medium; Biodiversity.

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INTRODUÇÃO

Segundo Sánchez (2008), a definição de impacto é qualquer modificação ambiental


independente de sua importância, entendimento coerente com o de muitas outras definições de
impacto ambiental.
A comunidade Ilha de Deus está localizada na área central do município de Recife (Figura
1), a qual está situada no estuário do rio Tejipió e no Parque dos Manguezais. O Parque é
considerado um dos maiores manguezais urbanos do mundo estando inserido na Zona Especial de
Proteção Ambiental- ZEIS. A comunidade começou a ocupar esse espaço durante o processo de
migração e ocupação dos grandes centros urbanos ocorridos durante o crescimento econômico do
século XX, possuindo um adensamento populacional de 2.000 moradores, com cerca de 400
famílias (SEPLAG/FADE,2007).

Figura 1: O Manguezal do Pina e a Comunidade da Ilha de Deus (Pernambuco). Fonte: Adaptado do Google
Earth Pro (2017).

A área de estudo possui um potencial biológico bastante diversificado que é


sistematicamente utilizado, tendo seus pescados comercializados para demais locais e exportados
para outras regiões. Vale frisar que a proteção desta área legalmente protegida é essencial para o
desenvolvimento da fauna e flora local. Além disto, a área possui um papel sociocultural muito
importante para a comunidade, como para outras do entorno e para os turistas que visitam a
comunidade por via do catamarã que tem parceria com a mesma. Desta forma, a avaliação dos
impactos ambientais existentes na zona de amortecimento da APA é de suma importância, pois nos
permite conhecer os principais elementos impactantes presente na área e propor medidas
minimizadoras que contribuam para restauração ecológica da área estuarina.
No entanto, a comunidade geomorfológicamente está localizada em um estuário, que levou a
instalação por determinados grupos sociais, os quais se pode dizer que não tinha como sobreviver
em outra área, devido a sua classe social e entre outros motivos que os levou a se instalar na

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comunidade Ilha de Deus para terem seu modo de sobrevivência através da pescaria e atualmente
por cultivo de crustáceos por assim dizer.

Nativos, escravos, pobres livres recorreram aos manguezais brasileiros como fonte de
subsistência (SOFFIATI, 2004) sendo cada vez mais apropriados pelas camadas populares.
Na cidade do Recife, que teve sua urbe erguida sobre uma planície flúvio-marinha estuarina,
comportava inicialmente extensos manguezais. Com o processo histórico de exclusão social
e construção do espaço citadino que se inicia no período holandês em Pernambuco, as terras
alagadas foram ocupadas por populações pobres (ALVES, 2009) que construíram seus
mocambos ―casebres de palha, taboa ou pau-a-pique, e mesmo palafitas‖ (LEITE, 1977, p.
16), e se nutriram dos manguezais, evidenciando um ciclo biossocial, que Castro (1968)
denominou de ―O Ciclo do Caranguejo‖.

A comunidade está inserida na atividade de produção de alimentos que se encontra com uma
alta de produção no mercado do cultivo de crustáceos. Os moradores fazem vários tipos de cultivo
para obterem sua renda mensal e se manterem.

Através da produção de alimento que mais cresce no mundo (HERNÁNDEZ, 2000). São
desenvolvidas atividades de subsistência nos manguezais do recife como a aquicultura, ou
seja, o cultivo de qualquer organismo aquático, seja ele de água doce, salgada ou estuarina
(PILLAY, 1990).

Nos manguezais do Nordeste brasileiro, a carcinicultura intensiva tem-se instalado e


ampliado (BENTO, 2009), devido à grande viabilidade técnico-econômica de cultivo favorecida
pelas elevadas temperaturas, que permite gerar ciclos de cultivo praticamente ininterruptos durante
todo o ano, ao contrário de outras regiões brasileiras, que devido às baixas temperaturas durante o
inverno, permite de 1 a 2 ciclos de cultivo/ano (O CULTIVO, 2009).
Segundo Torres (2004), o Mangue é um ecossistema complexo de águas salobras pertinentes
á zona costeira e por se tratar de uma típica transição entre os ambientes terrestres e marinhos,
representam um dos habitats mais férteis da natureza, além de desempenhar um importante papel
para a reprodução e diversificação das formas de vidas aquáticas.
Verifica-se que devido à atividade de produção que ocorre no ambiente estuarino o que se
vem a propor são medidas mitigadoras que venham a minimizar tamanho descompasso que há entre
a produção e a manutenção do estuário, pois como se sabe o processo do mesmo não se dá de forma
rápida, e que necessita de tempo para repor suas espécies que podem vir a ser extintas devido à alta
demanda e o excesso de produtos que são injetados para acelerar o processo no ambiente.

Para Albuquerque (2010), a etnoecologia emerge em um contexto de discussões e debates


sobre a conservação da diversidade biológica e cultural, manejo dos recursos naturais e
políticas públicas, equidade e partição de benefícios, desenvolvimento e planejamento
urbano e rural, uma vez que a conservação da biodiversidade está atrelada, em muitos
casos, à manutenção da sociodiversidade, considerando as culturas tradicionais de relação
do homem com a natureza como mantenedoras da sustentabilidade ecológica, que tem sido
tratada como etnoconservação (SOUTO, 2008).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A renovação da água dos estuários precisamente em Recife onde se situa a comunidade


estudada vem há ocorre devido a um fator determinante que se encarrega de fazer a limpeza desses
estuários devido a oscilações verticais e periódicas das aguas dos oceanos dentre outros.

Schaeffer-Novelli (1995) explica que as renovações da água dos estuários são controladas
pelos regimes das marés, que são oscilações verticais e periódicas das águas dos oceanos,
resultantes das forças de atração da lua e do sol sobre a terra. No Recife, a circulação
hidrodinâmica de inundação do Rio Capibaribe em situação de maré enchente e vazante
executa essa tarefa - fenômeno descrito no estudo de Consulplan (2009) - e que é
responsável por carrear água limpa por entre as áreas estuarinas recifenses, além de auxiliar
na eliminação de poluentes e transporte de material particulado (ARAUJO; PIRES, 1998).

Verifica-se que dentre o ecossistema e a relação com o homem que ocorre na Ilha de Deus,
se pode chegar a um consenso que se pode propor um modelo de conservação da área que venha de
encontro com as práticas que são realizadas no ambiente estuarino pelas populações tradicionais.
Diegues (2000), critica o modelo de conservação dominante, que tem na sua base conceitual
a ideia de que para haver conservação é preciso separar as sociedades humanas e a natureza,
desconsiderando o conhecimento acumulado por populações tradicionais aos longos dos anos sobre
o seu ambiente e uso dos recursos.
Para a etnoconservação, esse modelo dominante de conservação se rompe, valorizando o
conhecimento dessas populações e de como ele pode ser importante ou utilizado para a manutenção
da sustentabilidade local. A sociodiversidade é vasta e interferem-nos diversos modos de inter-
relação entre povos e o seu ambiente, que apesar de haver homogeneidade nas características de um
ecossistema, a exemplo dos aspectos bióticos e abióticos, a forma de interação entre o homem e um
determinado ecossistema será variável nos diversos locais onde ele existir (SOUTO, 2008).

ESTUDOS DE CASO DA COMUNIDADE ILHA DE DEUS

A comunidade Ilha de Deus, faz parte do Parque dos Manguezais, na reserva estuarina da
bacia do Pina, e cercada por três rios – O Pina, Tejipió e Jordão. Situada no Bairro da Imbiribeira,
um bairro da zona sul da cidade do Recife, integra a 6ª Região Político-Administrativa da cidade,
faz limite com os bairros do Pina, Boa Viagem, Ipsep, Jiquiá e Afogados.
Está inserida nas áreas de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) - instituídas a partir
da Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife de 1983 (Lei n° 14.511/83) e conceituadas
como assentamentos habitacionais populares, surgidos espontaneamente a partir de ocupações em
áreas públicas e privadas, não dispondo de infraestrutura urbana básica de urbanização e sem ter sua
situação fundiária regularizada SEPLAG/FADE, (2007).
De acordo com a Fade (2007), estima-se uma população de 2.000 moradores, com cerca de
400 famílias, em uma área habitada de 3,65 ha. A área de estudo tem uma extensão total de 15,3 ha,
está inserida no estuário do rio Tejipió e no Parque dos Manguezais que possui aproximadamente

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 769


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

215 ha, é considerado um dos maiores manguezais urbanos do mundo e está inserido na Zona
Especial de Proteção Ambiental – ZEIS (Figura 1). Começou a ser ocupada durante o processo de
migração e ocupação dos grandes centros urbanos ocorridos durante o crescimento econômico do
século XX.
Em 2007 , quando o então governador Eduardo Campos escolheu a comunidade para
receber o primeiro projeto de urbanização de sua gestão, os moradores da ilha, em sua maioria
pescadores e catadores, viviam em barracos sobre estacas no mangue e atualmente as residências
são de tijolos, muitas construções possuem dois andares, e algumas casas existentes foram
construídas para atender os moradores mais antigos que possuíam um comércio na comunidade
(PPPS, 2017).
A priori, o estudo na comunidade foi realizado com intuito de agregar mais informações
sobre a população tradicional que reside nesta área, assim como dados referentes aos impactos
ambientais que o ambiente estuarino tem adquirido com a vivência desta população que lá reside e
assim propor mediadas mitigadoras para que ocorra um equilíbrio entre o ambiente e a população
que reside na mesmo.

METODOLOGIA

Revisão bibliográfica foi realizada sobre as principais causas e consequências das


intervenções presentes na área de observação Ilha de Deus. Também foi aplicado o método do
check- list no qual se complementa com o método da valoração do local de estudo, onde através
dele foram feitas analises referentes aos níveis de impactos que estavam ocorrendo na área de
estudo de forma que tinha uma variação de números para classificar se os impactos eram
moderados, extremos ou pequenos com alicerce de uma tabela que teve algumas adaptações que foi
feita por Tommasi (1994) para áreas estuarinas. Para realizar o estudo que foi feito in loco,
atribuindo um grau de representatividade aos impactos analisados. Abaixo a (tabela 1) por onde os
demais impactos foram valorados, onde cada impacto pode apresentar peso 1 (pequeno), 3
(moderado) ou 5 (extremo), estabelecidos subjetivamente, de acordo com a sua importância em
relação aos princípios da analise adotados.

Tabela 1: Tabela de ―check-list‖ para área estuarina. Fonte: Adaptada por Tommasi (1994).
Pesos dos impactos (Pi) Notas dos efeitos (Ne) Classificação (PixNe)
5 = extremo -5 = extremo -1 a -3 = pequeno
3 = moderado -3 moderado -5 a -9 = moderado
1 = pequeno -1 = pequeno -15 a -25 = extremo
0 = ausente

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assim como a utilização de fotografias retiradas in loco para compor os métodos de análises
a serem abordados durante a visita técnica na comunidade Ilha de Deus, e a utilização de mapa para
localizar a área.
As figuras expostas abaixo fazem referência a Ilha de Deus, onde foi realizado um estudo de
campo para se descrever algumas identificações e classificações de três fatores que fazem referência
aos impactos ambientais ocorridos no meio físico, meio biótico, meio antrópico, demonstrados em
fotografias e classificados, mais adiante em tabelas. Tendo em vista o conceito de impacto
ambiental abordado por Wathern apud Sánchez (2008), que define este conceito como sendo: ―A
mudança em um parâmetro ambiental, num determinado período e numa determinada área, que
resulta de uma atividade, comparada com a situação que ocorreria se essa atividade não tivesse sido
iniciada‖.
A partir dessa análise podemos verificar os impactos presentes nos meios físicos (geologia,
relevo, ar, recursos hídricos, clima entre outros); meio biótico (vegetação, fauna terrestre, fauna
aquática etc.) e por fim o meio antrópico (elementos socioeconômicos, saúde pública, entre outros).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com alicerce no que foi visto e analisado na comunidade Ilha de Deus, referente aos seus
aspectos biótico, físico e antrópico, alicerçado com o check list da área onde se propôs a analisar os
níveis de impactos que estão ocorrendo na mesma, se vem a concluir que referente ao nível de
poluições que há no local como: poluição do ar; poluição das aguas; poluição do solo. Pode se dizer
com alicerce na valoração que foi feita, quanto a poluição do ar que está exposto na tabela 1, que há
uma classificação moderada de -3. Quanto a poluição das águas que se encontra na tabela 2, tem
classificação entre moderado -3 e extremo -5, a qual não é uma boa classificação para um estuário,
pois o ideal seria entre 1 a 2, chegando-se a conclusão que a área não está praticamente apta para
manter as produções que realizam.
Quanto à poluição do solo que está na tabela 3, tem-se uma variação referente quanto ao
local, que vai de pequeno -1 a extremo -5, pois dependendo de onde o mesmo é utilizado a poluição
é muito alta. Portanto, com alicerce na análise e na valoração se vem a propor que a comunidade
pode vir a utilizar os demais dados da pesquisa para assim chegar a elaborar medidas mitigadoras
para minimizar os demais problemas da área em que vivem, onde uma vez que executarem as
medidas, como projetos sociais para conhecimento do local em que vivem, junto com a
disponibilização de oficinas de educação ambiental, pode-se chegar a um equilíbrio para o
ambiente, assim como para a comunidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 1. Expansão Urbana (Meio Físico). Fonte: Autores.


Impacto Tipo Área Temporalidade Reversibilidade Prazo Peso Efeito Classificação

Poluição do ar Direto Local Permanente Irreversível Imediato 3 -3 Moderado

Poluição das águas Direto Local Permanente Irreversível Imediato 5 -5 Extremo

Assoreamento nas Direto Local Permanente Irreversível Imediato 3 -1 Pequeno


margens do Rio

Durante o processo de ocupação, a vegetação vem sendo suprimida para ceder espaço às
moradias cada vez mais invasivas, como podemos observar na (Figura 2) e os impactos ao meio
ambiente, segundo o método de análise Check list, são considerados de grande relevância a biota
local.

Figura 2- Supressão das vegetações para ceder espaço áreas residenciais. Fonte: Autores

A figura acima expõe como vem se dando o modo de supressão da vegetação e com alicerce
na tabela, se observa que os impactos causados nestas áreas variam do moderado ao extremo e de
porte pequeno, chegando-se a concluir que se deve rever o modo como vem sendo ocupadas as
áreas de estuários.

Tabela 2. Expansão Urbana (Meio Biótico) Degradação da vegetação. Fonte: Autores.


Impacto Tipo Área Temporalidade Reversibilidade Prazo Peso Efeito Classificação

Turbidez da Direto Local Permanente Irreversível Imediato 3 -3 Moderado


água
Redução da Direto Local Permanente Irreversível Imediato 5 -5 Extremo
taxa
fotossintética

Perda da Direto/ Local Permanente Irreversível Imediato 3 -5 Extremo


biodiversidade Indireto

Na comunidade da Ilha de Deus também são desenvolvidos a carcinicultura (Figura 3) e a


captura de guaiamum e pesca de marisco (Figura 4), que devido a poluição das águas e do solo

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 772


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estão tornando-se cada vez mais escassos, comprometendo a renda familiar das pessoas que
dependesse meio de subsistência para se manter.

Figura 3 - Viveiros para a produção de Camarão. Fonte: Autores

Figura 4- Resíduo originado após a extração de marisco. Fonte: Autores

Tabela 3. Expansão Urbana (Meio Antrópico) Aterro nos manguezais. Fonte: Autores
Impacto Tipo Área Temporalidade Reversibilidade Prazo Peso Efeito Classificação

Empobrecimento Direto Local Permanente Irreversível Imediato 5 -5 Extremo


do solo
Perda da Direto Local Permanente Reversível Imediato 5 -5 Extremo
biodiversidade
Geração de Direto Local Permanente Irreversível Imediato 3 -3 Moderado
emprego

O crescimento urbano nas grandes cidades brasileiras intensificou-se durante o processo de


industrialização e o aumento da economia nos anos de 1950. Esse apogeu econômico impulsionou
boa parte da população residente nas áreas rurais a migrarem para as regiões mais desenvolvidas em
busca de uma melhoria na qualidade de vida, o conhecido ―Êxodo Rural‖. Um dos grandes
problemas desse fenômeno migratório deve-se a falta de infraestrutura nos centros metropolitanos
que não comportam o contingente de pessoas oriundas de diversas localidades. Na Cidade do Recife
não foi diferente, a falta de moradia e a má distribuição de renda, resultou na ocupação das áreas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ribeirinhas e de manguezal existente na cidade pelas palafitas, e moradias as margens do Rio


Capibaribe (Figura 5 e 6).

Figura 5- Palafitas margeando o Rio Capibaribe no centro da Cidade do Recife. Fonte: Sérgio Bernardo

Figura 6- moradias nas margens do Rio Capibaribe no centro do Recife. Fonte: Autores

Essa disputa por espaço que antes ocorria apenas com o mangue, anos mais tarde torna-se
feroz e passa a ser disputada com o próprio homem, devido ao inchaço urbano, valorização da área
e investimentos governamentais findou na ocupação das áreas alagadiças. Segundo (BEZERRA,
1965 p 38-39):

―Valeram-se, por isso da sua condição social e financeira e aforaram ou ocuparam grandes
áreas‖. Algumas ordens religiosas também obtiveram este privilégio. Crescia então a
cidade. Abriam-se ruas e avenidas e estradas. ―Fazia-se aterro, invadindo-se os mangues e
disputando até com sangue as terras afogadas do Recife‖.

O adensamento populacional e projetos governamentais, ―expulsaram‖ moradores para


outras localidades contribuindo assim para um processo de Gentrificação e Segregação social
bastante evidenciada ao longo do percurso em busca de um equilíbrio (Figura 7).

Figura 7 – Edifícios e palafitas no Bairro do Recife. Fonte: Autores

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Durante a visita técnica, observou-se que há uma coleta regular dos resíduos, porém alguns
moradores ainda descartam os materiais no mangue ou nos pontos de coleta fora dos dias indicados
pelo serviço de limpeza urbana (Figura 8).

Figura 8 - lançamento de resíduo (bacia sanitária) dentro do mangue. Fonte: Autores

CONCLUSÃO

Ao termino deste trabalho podemos ter outra perspectiva da cidade do Recife, em especial a
comunidade da Ilha de Deus. Realizando percurso por meio do Rio Capibaribe, percebemos o
quanto é significativo à relação do homem com o rio, de como os resquícios de uma colonização
ainda estão presentes na história recifense. Uma cidade que despertou interesse devido a sua
localização geográfica e características naturais traz consigo um relato de lutas não só as dos
colonizadores, mas do povo que aqui chegaram fugindo da seca ou em busca de uma melhor
qualidade de vida, e se instalaram em áreas que na época eram bem valorizadas, mas devido ao
crescimento econômico, expandiu-se e expulsou aqueles que ali residiam para áreas mais distante e
não apropriadas para moradia, eis a disputa territorial do homem x natureza e posteriormente do
homem x homem.
Vale frisar que a análise foi satisfatória, devido aos resultados obtidos onde se encontrou
impactos de níveis pequeno, moderado e extremo na localidade que foi estudada os quais servirão
para propor medidas mitigadoras para minimizar e até vir a solucionar os mesmos, na comunidade
Ilha de Deus.
Com o presente estudo podemos compreender como os processos impactantes nos meios
físicos, biótico e antrópico são decorrentes de um tempo cronológico e não de algo tão recente
quanto se parece. Durante as análises realizadas podemos observar e compreender quais os fatores
determinantes para a ocorrência do impacto constatado, quais as ações impactantes para a
comunidade se relaciona com o meio, quais as medidas preventivas e adequadas para solucionar tais
problemas.
Sendo assim, vale salientar que é de suma importância que venha a ser criado um
mecanismo de conservação ambiental na localidade assim como uma unidade de conservação, para

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

que essa comunidade venha a expor seus etnoconhecimentos e tecnologias patrimoniais inerentes,
que deveriam ser considerados. A permanência desses pescadores no Parque dos Manguezais com o
exercício de suas atividades tradicionais é possível, para isso, havendo a necessidade de diálogo e
consenso em torno da escolha da unidade de conservação que considere a realidade socioambiental
local, a delimitação de áreas de uso sustentável e de proteção integral, uma cogestão entre poder
público e comunidade, voltados para a conservação ambiental e o desenvolvimento local endógeno.
No que se trata das ONGs, se faz necessário desenvolver não só um trabalho de educação
ambiental, mas um trabalho social por parte do governo e instituições privadas para uma melhor
qualidade de vida da comunidade e ao seu entorno. Sendo assim, chega-se à conclusão de que a
partir dos impactos constatados na área estuarina, há como propor medidas mitigadoras para
minimiza-los para chegar-se a um equilíbrio para o ambiente de ambas as partes, como a antrópica,
física e biótica, através de trabalhos de educação ambiental para a comunidade onde a mesma
compreenderá a importância do meio em que vivem. Diante de tal assertiva fica aberto a demais
propostas.

REFERÊNCIAS

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Etnoecologia em perspectiva: natureza, cultura e conservação. Recife: Nupeea, 2010. 2.

ALVES, A.; SOUTO, F. J. B. Etnoecologia ou etnoecologias?. ALVES, P. R. M. Valores do


Recife: o valor do solo na evolução da cidade. Recife: Luci Artes Gráficas, 2009.

Blog das PPP‘s , Ilha de Deus entra 2017 de cara nova no Recife. Disponível em http/:
http://www.blogdasppps.com/2017/01/ilha-de-deus-entra-2017-de-cara-nova-no-recife.html

CHACON, Vamireh. O Capibaribe e o Recife: história social e sentimental de um rio. Recife:


Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, 1959.

CASTRO, Josué de. Homens e Caranguejos. São Paulo: Brasiliense, 1967.

SEPLAG/FADE. Diagnóstico Socioeconômico, Sócio-organizativo e Urbanístico-Ambiental da


Ilha de Deus. Recife: SEPLAG/FADE, 2007. 24. PILLAY, T. V. R. Aquaculture: Principles and
practices. Fishing New Books, Oxford. 1990. 25. RECIFE. Secretaria de Planejamento. Empresa
de Urbanização do Recife.

MELO. Normando Jorge de Albuquerque. Capibaribe do Recife: relações de lugar e


vulnerabilidade. Disponível em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Ambiental no Leste, Oeste e Sul. Experiências no Brasil, na Rússia e na Alemanha. 2° Ed. São
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SÁNCHEZ, L. H. Avaliação de Impacto Ambiental: Conceitos e Métodos. São Paulo: Oficina de


texto. p.06-95, 2008.

TORRES, Fernanda. O Manguezal. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO/Centro de


Tecnologia e Geociências/Departamento de Oceanografia. Recife: E. Bagaço, 2004.

TOMMASI, L. R. Estudo de Impacto Ambiental. São Paulo, CETESB/Terragraph, Artes e


Informática, 1994.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO,


PIAÇABUÇU, ALAGOAS.

Linaldo Freire SILVA


Graduando em ecologia (Bacharel) UFPB – Campus IV
linaldo.fs@hotmail.com
Maxsuel Bezerra do NASCIMENTO
Graduando em ecologia (Bacharel) UFPB – Campus IV
Maxsuel10gba@hotmail.com
Rene Pinto da SILVA
Técnico do Laboratório de Ecologia Química UFPB – Campus IV
renesilva@ccae.ufpb.br
Évio Eduardo Chaves de MELO
Professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente – UFPB
evioeduardo@gmail.com

RESUMO
A qualidade dos recursos hídricos tem sido comprometida devido à contaminação por atividades
antrópicas e industriais ao longo das ultimas décadas. O consumo de água com qualidade é de
extrema importância para a promoção da saúde e prevenção de riscos e agravos, sobretudo aqueles
relacionados à transmissão hídrica decorrentes de fatores ambientais. O atual trabalho foi realizado
em um trecho do Rio São Francisco localizado no município de Piaçabuçu – AL. Após a
identificação da área, as amostras foram coletadas manualmente ao longo das margens do rio São
Francisco, totalizando 5 amostras, utilizando garrafas pets tri-lavadas com água destilada,
dispositivos portáteis e GPS para demarcação das coordenadas geográficas. Foi realizado análises in
loco de temperatura, pH, condutividade e salinidade. Para a determinação da dureza total, os
materiais coletados foram encaminhados para o Laboratório de Ecologia Química da Universidade
Federal da Paraíba – Campus IV. Com os resultados obtidos de temperatura observa-se que ouve
uma pequena variação, cujos valores alteravam se entre 27,2 °C a 36 °C nos pontos amostrais. A
condutividade elétrica apresentou uma variação considerável entre os pontos amostrais,
apresentando maior valor de 726,9 µS/cm e o menor 8,69 µS/cm. O pH apresentou valores de
ligeiramente alcalinos à ligeiramente ácidos, revelando uma ótima capacidade de equilíbrio do
ecossistema. Em relação à dureza total, as amostras foram classificadas com muito duras de acordo
com o manual da FUNASA (BRASIL, 2014). Mediante os resultados das amostras, fica evidente
que a qualidade da água da foz do rio São Francisco não apresentou variações anormais para um
ambiente de estuário e essas alterações na quantidade de materiais dissolvidos podem ser
provocadas, tanto pelo despejo de esgotos e sedimentos, como pelo baixo nível de água que se
encontra no corpo hídrico que facilita o avanço do mar.
Palavras Chaves: análise, contaminação, parâmetros, recursos hídricos.
ABSTRACT
The quality of water resources has been compromised due to contamination by anthropic and
industrial activities in the last decades. Consumption of quality water is extremely important for
health promotion and prevention of risks and aggravations, especially those related to water
transmission due to environmental factors. The current work was carried out on a stretch of the São
Francisco River in the municipality of Piaçabuçu - AL. After the identification of the area, samples

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

were collected manually along the banks of the São Francisco river, totaling 5 samples, using
plastic bottles tri-washed with distilled water, portable devices and GPS for demarcation of the
geographical coordinates. In Loco analyzes of temperature, pH, conductivity and salinity were
carried out. In addition to forwarding the collected materials to the Laboratory of Chemical Ecology
of the Federal University of Paraiba - Campus IV. With the obtained results of temperature it is
observed that he hears a small variation, whose values changed between 27,2 ° C to 36 ° C in the
points of the samples. The electrical conductivity showed a considerable variation between the
sample points, presenting a value superior to 726,9 μS / cm and inferior to 8,69 μS / cm. The pH
presented values from slightly alkaline to slightly acidic, revealing an excellent ability to balance
the ecosystem. Regarding total hardness, the samples were classified as very hard according to the
FUNASA (BRAZIL, 2014). Based on the results of the samples, it is evident that the water quality
of the mouth of the São Francisco River did not show abnormal variations for an estuary
environment and these alterations in the quantity of dissolved materials can be caused by both the
discharge of sewage and sediments, low level of water that is found in the water body that facilitates
the advancement of the sea.
Keywords: analysis, contamination, parameters, water resources

INTRODUÇÃO

A água é o único recurso natural que tem a ver com todos os aspectos da civilização
humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valores culturais e religiosos
aprofundados na sociedade. De acordo com levantamentos geo-ambientais, cerca de 70% da
superfície do planeta são constituídos por água, sendo que somente 3% são de água doce e, desse
total, 98% estão na condição de água subterrânea (GOMES, 2011).
A qualidade dos recursos hídricos tem sido comprometida devido à contaminação por
atividades antrópicas ao longo das últimas décadas. O consumo de água com qualidade é de
extrema importância para a promoção da saúde e prevenção de riscos e agravos, sobretudo aqueles
relacionados à transmissão hídrica decorrentes de fatores ambientais (JESUS & SOUZA, 2013).
Segundo as Resoluções CONAMA No 357/05, 396/08 e 430/2011 e Portaria N.º 2914, do
Ministério da Saúde, a qualidade das águas é representada por um conjunto de características,
geralmente mensuráveis, de natureza química, física e biológica, as quais devem ser mantidas
dentro de certos limites estabelecidos. Arcova e Cicco (1999) relatam que a qualidade da água dos
mananciais de áreas naturais é resultado de influencias climáticas, geológicas, ―fisiográficas‖, como
também do solo e da vegetação da bacia hidrográfica. Portanto, águas de bacias hidrográficas
superficiais possuem seus parâmetros de qualidades diretamente relacionados com os fatores
supracitados.
A bacia do São Francisco faz parte das doze regiões hidrográficas estabelecidas na
Resolução nº 32, de 15 de outubro de 2003, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH),
que, ao definir a Divisão Hidrográfica Nacional, tem a finalidade de orientar, fundamentar e
implementar o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O rio São Francisco é um dos mais importantes cursos d‘água do Brasil e da América do
Sul. Passando por 5 estados e 521 municípios, tem sua nascente geográfica no município de
Medeiros e sua nascente histórica na serra da Canastra, no município de São Roque de Minas,
centro-oeste de Minas Gerais. Seu percurso atravessa o estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte
com Pernambuco, faz divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas e deságua no oceano
Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641.000 km² (UPB, 2017).
Portanto, o atual trabalho teve como objetivo analisar a qualidade ambiental da água da foz
do baixo curso do Rio São Francisco, a fim de verificar uma possível mudança no funcionamento
do ecossistema.

METODOLOGIA

O atual trabalho foi realizado em um trecho da foz do Rio São Francisco localizado no
município de Piaçabuçu – AL. O município de Piaçabuçu está localizado na região sul do estado de
Alagoas, limitando-se a norte com os municípios de Penedo e Feliz Deserto, a sul com o rio São
Francisco, a leste com o oceano Atlântico e a oeste com Penedo. Situado na mesorregião de leste
Alagoano e microrregião Penedo, apresentando uma área territorial de 240,014 km2, com estimativa
de 18.043 habitantes e localização geográfica 10°25'24" Sul de latitude e a 36°26'03‖ Oeste de
longitude (IBGE, 2010) (Figura 1). O município está inserido na bacia hidrográfica do Rio São
Francisco, que banha sua sede e o limita a SSW. No limite Sul do município, encontra-se o estuário
do Rio São Francisco (CPRM, 2005).
O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra (MG), e chega a sua foz, no oceano
Atlântico, entre Alagoas e Sergipe, percorrendo cerca de 2.800 km. A bacia hidrográfica engloba
parte do Semiárido brasileiro, que corresponde a aproximadamente 58% dessa região hidrográfica, e
está dividida em quatro unidades: Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco (ANA, 2017).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Localização da area de estudo e pontos de amostragem.

Para a realização das coletas de dados foram utilizadas garrafas pets tri-lavadas com água
destilada e GPS para a demarcação das coordenadas geográficas. Após a identificação da área, as
amostras foram coletadas manualmente ao longo das margens do rio São Francisco, totalizando
cinco amostras, com quatro repetições, totalizando 20 dados amostrais, utilizando garrafas pets tri-
lavadas com água destilada, dispositivos portáteis e GPS para demarcação das coordenadas
geográficas (Tabela 1). Foi realizado análises in situ de temperatura, pH, condutividade e salinidade
com auxilio de aparelhos portáteis. As amostras coletadas também foram encaminhadas para o
Laboratório de Ecologia Química da Universidade Federal da Paraíba – Campus IV, a fim de
realizar as análises químicas do parâmetro de dureza total da água seguindo a metodologia de
Standard Methods (2012).

Identificação Caracterização
Localizado em uma ilha fluvial, as margens do Rio São Francisco, onde
atualmente apresentando pouca vegetação, estando presentes algumas
Amostra 1
espécies de mangues, samambaias, coqueiros e alguns animais como
(A1)
caranguejos chama maré da família Ocypodidae. Sendo realizada às 10 horas
da manhã, apresentando maré baixa (Figura 2A).
Amostra 2 Também localizado em ilha fluvial, um pouco mais afastado da margem do
(A2) Rio São Francisco, formação de uma pequena lagoa, presença de mangue

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

morto e animais como caranguejos (maré). Sendo realizada às 10 horas e 52


minutos da manhã, apresentando maré baixa (Figura 2B).
Localizado próximo a um mangue, estando em uma transição de solos
(Gleissolos e Neosolo Quartizarênico), apresentando uma vegetação
Amostra 3 abstivera, predominando a espécie Rhyzophora mangle e Avicennia
(A3) schaueriana, além de apresentar algumas espécies de caranguejos. Sendo
realizada às 11 horas e 52 minutos da manhã, apresentando maré
intermediaria (Figura 2C).
Localizado as margens do rio São Francisco próximo ao mangue com
vegetação abstivera, estando localizado em uma transição de solos
Amostra 4
(Gleissolos e Neosolo Quartizarênico), estando presentes algumas espécies
(A4)
de peixes de pequeno porte. Sendo realizada às 12 horas e 02 minutos da
manhã, apresentando maré intermediaria (Figura 2D).
Localizado próximo à foz do rio São Francisco, onde é utilizado como área
Amostra 5 turística, em uma área de baldeação, apresentando como vegetação apenas
(A5) coqueiros. Sendo realizada às 12 horas e 24 minutos da manhã, apresentando
maré intermediaria (Figura 2E).
Tabela 1: Caracterização da amostragem realizada em um trecho do Rio São Francisco no município
de Piaçabuçu – AL.

A partir dos dados encontrados, calculou-se a mediana, desvio padrão, valor mínimo e
máximo de ocorrência dos parâmetros químicos da água, considerando-se todas as amostragens
realizadas, além dos valores máximos permissíveis em água (V.M.P.) estabelecidos na Resolução
CONAMA Nº 357 (BRASIL, 2005) e informações do Manual da Fundação Nacional de Saúde -
FUNASA (BRASIL, 2014).

B
A

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

C D

Figuras 2 (A-E): Registro fotográficos dos pontos de coletas na foz do rio São Francisco

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Baseada na Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005, que destina o uso


correto da água através da qualidade exigida para diferentes fins, são adotadas definições de
―águas‖ que podem ser doces (águas com salinidade igual ou inferior a 0,5‰), salobras (águas com
salinidade superior a 0,5‰ inferior a 30‰) e salinas (águas com salinidade igual ou superior a
30‰). De acordo com o resultado das análises das amostras, a salinidade variou de 5 a 25‰
(Tabela 2), classificado esse trecho do rio São Francisco como água salobra. Esses valores altos de
salinidade em alguns pontos amostrais devem-se aos impactos relacionados ao avanço do mar na
foz do rio. Segundo alguns pesquisadores, a salinidade pode ocasionar toxicidade na flora por
presença de alguns íons específicos (sódio, cloreto e boro) contidos no solo ou na água, que se
acumulam nas plantas em concentrações suficientemente altas para causar danos e reduzir os
rendimentos das culturas sensíveis (AYERS e WESTCOT,1991; NUNES FILHO et al., 2000).

Salinidade Temperatura Condutividade pH Dureza Total


(‰) (°C) Elétrica (µS/cm) (mg / L de CaCO3)
Amostra 1 15 36 26,78 7,47 4.453
Amostra 2 25 29,7 726,90 7,38 213,3
Amostra 3 5 28,2 37,99 6,4 6.413
Amostra 4 5 27,3 8,69 7,65 1.626

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Amostra 5 20 27,2 28 7,6 5.240


Mediana 15 28,2 28 7,47 4.453
Desvio Padrão 8,9 3,7 313,9 0,5 2583,4
Mínimo 5 27,2 8,69 6,4 213,3
Máximo 25 36 726,9 7,65 6,413
Valores de * Doce ≤ 0,5 -- ** de 10 a 100 para * 6,5 – 8,5 ** < 500 para água
referências Salobra > 0,5 águas naturais; potável
e < 30 ≤ 1000 para
Salgada ≥ 30 ambientes poluídos
por esgotos
domésticos ou
industriais
Tabela 2. Resultados das análises das amostras de água da foz do Rio São Francisco.
* Ministério do Meio Ambiente - Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA – Resolução Nº 357,
de 17 de março de 2005. ** FUNASA - Fundação Nacional de Saúde. 2014.

Com os resultados obtidos de temperatura, observa-se que ouve uma pequena variação, cujo
os valores alteravam se entre 27,2 °C à 36 °C nos pontos amostrais (Tabela 2). Podemos observar
que a temperatura diminui ao chegar próximo a foz do rio São Francisco (Figura 1 e Tabela 2). A
temperatura mais elevada identificada foi amostra 1, estando a 4,8 km de distância da amostra 5,
mostrando uma variação de temperatura decrescente entre as demais amostras. Baggio (2016)
também observou uma variação média de temperatura de 4,1°C ao longo do rio São Francisco: a
montante estabeleceu-se zonas térmicas com variações de temperatura entre 20,50ºC e 21,00ºC;
entre Várzea da Palma e o distrito de Buritis, a temperatura da água ficou posicionada entre 21,0°C
e 22,0ºC; e entre o distrito de Buritis, até a foz com o rio São Francisco, a zonas térmicas de
temperaturas da água situar-se entre 22,0°C a 24,5°C, apresentando os maiores valores, fato este
relacionado à morfologia do canal (profundidade do leito fluvial, fluxo laminar e velocidade da
água) e ao restrito sombreamento natural exercido pela vegetação ciliar.
Vale ressaltar que o parâmetro temperatura é uma variável constante, onde está sempre em
variação, estando dependente também de alguns fatores, sendo eles químicos, físicos ou biológicos.
Zumach (2003) afirma que a temperatura da água é influenciada por fatores tais como radiação
disponível, latitude, altitude, estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade. No
entanto a temperatura é um importante fator modificador da qualidade da água, onde exerce uma
influência direta sobre o metabolismo dos organismos aquáticos e pela relação com os gases
dissolvidos existentes nos corpos hídricos. Para Tucci (2004) a temperatura pode ser considerada a
característica mais importante do meio aquático, a variação térmica, influencia grande parte dos
outros parâmetros físico-químicos da água tais como: a densidade, viscosidade, pressão de vapor e
solubilidade dos gases dissolvidos.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 784


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Como foi observado nas análises realizadas, a condutividade elétrica apresentou uma
variação considerável entre os pontos amostrais, apresentando maior valor de 726,9 µS/cm e o
menor 8,69 µS/cm nas amostras 2 e 4 (Tabela 2). Vale advertir que ambas as amostras foram
coletadas próximas a uma área de mangues, estando a 3,18 km de distância entre elas, sendo que em
uma das áreas de coleta (amostra 2) existia um acúmulo de água (pequena lagoa) e espécies de
mangue mortos provavelmente pela maior concentração de íons dissolvidos oriundos do processo
de evaporação da água do rio. A resolução nº 357 do CONAMA (BRASIL, 2005) não preconiza
limites aceitáveis de condutividade, mas no manual de controle da qualidade da água para técnicos
que trabalham em ETAS (BRASIL, 2014) contém a informação que as águas naturais apresentam
teores de condutividade na faixa de 10 a 100 µS/cm, em ambientes poluídos por esgotos domésticos
ou industriais os valores podem chegar a 1.000 µS/cm.
De acordo com a CETESB (2009), a condutividade elétrica é caracterizada pela expressão
numérica da capacidade da água conduzir corrente elétrica, sendo uma função entre a temperatura e
a concentração iônica, indicativo de quantidade de sais na amostra, e é uma medida indireta da
concentração de poluentes, em geral, valores de condutividade elétrica superiores a 100 μS/cm
indicam ambientes impactados. Ternus et al (2011) e Pedrosa e Rezende (1999) diz que valores de
condutividade elétrica são mais influenciados por meios físicos (clima, hidrologia) e fatores
químicos (geologia local, solubilidade mineral) e por impactos humanos (por exemplo, o uso de
fertilizantes, as mudanças na vegetação) do que eles por fatores biológicos.
A condutividade e salinidade são de fundamental importância, pois indica possíveis
alterações na qualidade de corpos hídricos, principalmente quando está relacionada à concentração
mineral. Para Libânio (2008) a condutividade elétrica da água depende diretamente da temperatura,
pois a condolência elétrica propaga-se em função da presença de substâncias dissolvidas na água,
em que se dissociam em ânions e cátions, sendo diretamente proporcional à concentração de íons.
O pH é uma variável ambiental muito importante, onde indica a condição de acidez,
neutralidade ou alcalinidade de uma amostra, representando a concentração de íons de hidrogênio.
Com os dados obtidos foi observado que as amostras apresentaram valores de ligeiramente alcalinos
à ligeiramente ácidos (Tabela 2), revelando uma ótima capacidade de equilíbrio do ecossistema. A
resolução Nº 357 do CONAMA (BRASIL, 2005) define para águas salobras uma faixa de pH
variando de 6,5 a 8,5. Segundo Peres et al. 2009, as águas naturais de superfícies apresentam pH
variando de 6,0 a 8,5, intervalo adequado a manutenção da vida aquática, além de influi no grau de
solubilidade de diversas substâncias, na distribuição das formas livres e ionizadas de diversos
compostos químicos, definindo inclusive o potencial de toxicidade de vários elementos. Gonçalves
(2013) afirma que o pH não sofre muita variação com alta concentração de sólidos dissolvidos
totais e de íons carbonatos após a oxidação.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Em relação à dureza total, as amostras analisadas apresentaram elevados teores de cálcio e


magnésio, onde apresentam os maiores valores nas amostras 1, 3 e 5 e os menores valores nas
amostras 2 e 4, classificando as águas da foz do rio São Francisco como muito dura. No manual da
FUNASA (BRASIL, 2014) relata que a água pode ser classificada em mole ou branda: < 50 mg/L
de CaCO3; dureza moderada: entre 50 mg/L e 150 mg/L de CaCO3; dura: entre 150 mg/L e 300
mg/L de CaCO3; e muito dura: >300 mg/L de CaCO3. Notamos que os maiores valores foram
coletados em áreas de mangue e na foz do rio São Francisco e os menores valores as margens do rio
São Francisco (Tabela 1). Ainda no manual contem que para águas de abastecimento, o padrão de
potabilidade estabelece o limite de 500 mg/L CaCO3. De acordo com Gonçalves (2009), a dureza
natural tem origem na dissolução de minerais como rochas calcárias. Valores elevados podem
inviabilizar a água do corpo hídrico para posterior captação e uso devido ao alto grau de
incrustabilidade nas tubulações e baixa formação de espuma na higiene pessoal.

CONCLUSÃO

Mediante os resultados das amostras, fica evidente que a qualidade da água da foz do rio São
Francisco não apresentou variações anormais para um ambiente de estuário e essas alterações na
quantidade de materiais dissolvidos podem ser provocadas, tanto pelo despejo de esgotos e
sedimentos, como pelo baixo nível de água que se encontra no corpo hídrico que facilita o avanço
do mar.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DIAGNÓSTICO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DO


ENTORNO DA LAGOA DO APODI-RN

Lorena Lívina Lima Oliveira SOARES


Graduanda do Curso de Ciência e Tecnologia pela UFERSA
lorena_livina@hotmail.com
Jorge Luís de Oliveira PINTO FILHO
Professor do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA, DETEC, CMPF
jorge.filho@ufersa.edu.br
Alex Pinheiro FEITOSA
Professor do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA, DETEC, CMPF
alex.pinheiro@ufersa.edu.br
Joel Medeiros BEZERRA
Professor do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFERSA, DETEC, CMPF
joel.medeiros@ufersa.edu.br

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo diagnosticar a situação socioeconômica e ambiental do entorno da
Lagoa do Apodi-RN, bem como identificar as implicações na qualidade de vida das populações
ribeirinhas, situadas no bairro Malvinas, do referido município. Como procedimento metodológico
foi utilizado um questionário semiestruturado com questões sobre o perfil socioeconômico do
entrevistado e componentes de percepção ambiental. Foram realizadas 185 entrevistas, durante os
meses de fevereiro a maio de 2017. No tocante aos resultados coletados, os resíduos e efluentes de
esgotos residenciais causam diversos impactos ao ambiente, acarretando problemas ligados a saúde
da população e a degradação dos recursos naturais. Além disso, verificou-se que grande parte dos
indivíduos estão inseridos em um meio de vulnerabilidade socioeconômica e ambiental. A
realização de eventos culturais foi apontada pela população como um dos principais agentes da
poluição da lagoa. Apesar de tais poluições, a água desse ambiente aquático ainda é utilizada para
diversas as atividades, incluindo a pesca e agricultura. Assim, a Lagoa de Apodi, está com sua
condição ambiental comprometida e faz-se necessário a adoção de medidas mitigadoras, com o
intuito de promover o desenvolvimento sustentável e reverter o atual nível de degradação ambiental.
Palavras-chave: Degradação dos recursos hídricos; percepção ambiental; vulnerabilidade
socioeconômica.
ABSTRACT
The objective of this study was to diagnose a socioeconomic and environmental situation in the
surroundings of the Apodi-RN Lagoon, as well as to identify the municipal communiqué as an
implication in the quality of life of the riverside populations located in the Malvinas neighborhood.
As a methodological procedure, a semi-structured questionnaire was used with questions about the
socioeconomic profile of the interviewee, components of environmental sanitation resources and
environmental perception. A total of 185 interviews were completed during the months of February
to May 2017. Residues collected were not met and residential sewage effluents cause several
impacts to the environment, leading to serious problems related to population health and the
degradation of natural resources. In addition, it was verified that much of the case is inserted in a
medium of socioeconomic and environmental vulnerability. An accomplishment of cultural events
in the time of the population as agents of pollution of the lagoon. Despite such pollution, water from

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

this aquatic environment is still used for various activities, including fishing and agriculture. Thus,
an Apodi Lagoon has its environmental condition compromised and it is necessary to adopt
mitigating measures in order to promote sustainable development and reverse the current level of
environmental degradation.
Keywords: Degradation of water resources; Environmental perception; Socioeconomic
vulnerability.

INTRODUÇÃO
A água é apontada como um recurso renovável e inesgotável na natureza, com isso passa a
ser fator de preocupação em relação a sua disponibilidade e qualidade, necessitando de uma atenção
prioritária do poder público e da sociedade, para que seja possível promover a utilização sustentável
desse recurso (NEUTZLING, 2004).
Nesse sentido, observa-se que a água pode ser utilizada para diversos fins: consumo
humano; atividades agrícolas e pecuárias; geração de energia; transporte; abastecimento industrial;
pesca e aquicultura e turismo e lazer (DERÍSIO, 2012). Ainda é possível acrescentar os usos
múltiplos da água para: preservação da flora e fauna; harmonia paisagística e diluição de efluentes
(VON SPERLING, 2005).
Desta maneira, esses diversos tipos de usos corroboram para processos de poluição hídrica
(VON SPERLING, 2005). Nesse caso, a poluição hídrica classifica-se em: poluição térmica,
poluição química e poluição biológica (BENN; MCAULIFFE, 1981).
Ainda é possível apontar que os efeitos dos diferentes tipos de poluição da água são
complexos e, em muitos casos, ainda não compreendidos totalmente. Sendo assim, a contaminação
da água é um dos maiores agentes vinculados a patologias que comprometem à saúde humana, pois
é bastante afetada pelos vários tipos de poluentes (RIBEIRO; ROOKE, 2010).
Visto isso, é possível totalizar que os impactos ambientais dos recursos hídricos e sua
contaminação têm incontáveis consequências econômicas, sociais e ambientais, além de produzir
problemas de saúde pública e a deterioração dos recursos (MARTINELLI, 2009).
Diante desse contexto, tornam-se fundamentais investigações sobre a qualidade ambiental
dos recursos hídricos com influência antrópica, especialmente em áreas urbanas, já que nessas
localidades existe o eminente risco de ocorrer efeitos na saúde humana com maior frequência, já
que ocorre maior aglomerado humano.
No Semiárido, essa discussão precisa ser mais enfatizada, principalmente devido as
limitações climáticas dessa região, com isso no Oeste Potiguar, localiza-se o município de Apodi,
que teve seu crescimento associado ao uso e ocupação da Lagoa do Apodi-RN. Esse ambiente
aquático faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró – BHRAM/RN, sendo considerado
de suma importância econômica para agricultura e pesca, assim como um local de uso paisagístico,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

preservação das espécies aquáticas, recarga do lençol freático e, atuando para manutenção do
equilíbrio ambiental.
Dessa forma, tem-se como objetivo diagnosticar a situação socioeconômica e ambiental do
entorno da Lagoa do Apodi-RN, bem como identificar as implicações na qualidade de vida das
populações ribeirinhas, situadas no bairro Malvinas, do referido município.
METODOLOGIA
Esta pesquisa é classificada quanto à finalidade como exploratória, permite que a
problemática da Lagoa do Apodi-RN em questões socioambientais e econômicos seja mais
explicita. Quanto aos meios aplicados, é ordenada como pesquisa de campo, pela utilização do
método de Check List que abordou aspectos socioambientais e econômicos relacionado à lagoa, tal
como pesquisa bibliográfica, com a sondagem bibliográfica sobre os recursos hídricos, verificação
da vulnerabilidade socioambiental e econômica, percepção ambiental e gestão ambiental (GIL,
2008).
Portanto, utilizou o conceito de percepção ambiental para compreender as condições
socioeconômicas e ambientais da área em estudo, além de identificar a qualidade de vida da
população que reside as margens da Lagoa do Apodi-RN, no bairro Malvinas.

Caracterização da área de estudo

A região de interesse para esta pesquisa encontra-se no município de Apodi, situado na


microrregião da chapada do Apodi e na mesorregião do Oeste Potiguar, distando aproximadamente
340 km de Natal e 80 km de Mossoró, um importante polo regional do Rio Grande do Norte.
O município em questão está inserido na bacia hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró, além disso
possui um importante reservatório de infraestrutura hidráulica que abastece a maioria das cidades
circunvizinhas. Ressalta ainda que a cidade possui uma lagoa localizada no bairro Malvina (Figura
1), que é responsável pela manutenção de grande parte das atividades dos moradores ribeirinhos,
sejam estas econômicas ou culturais.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Delimitação da área de estudo.


Fonte: Adaptado do Google Earth, 2017.

Instrumento de percepção ambiental

Para ser abordado o perfil socioeconômico dos moradores e as condições de saneamento


ambiental do bairro Malvinas, foi utilizado como instrumento de percepção ambiental um
questionário semiestruturado com questões sobre: faixa etária, origem, escolaridade, abastecimento
de agua, esgotamento sanitário, saúde pública, educação ambiental, e os principais problemas da
área de estudo (FUNASA, 2011).

Processo de amostragem

O procedimento de amostragem, aconteceu por um método aleatório, do total de 358


residências, usando como fonte de dados Unidade Básica de Saúde – UBS (2016), do bairro
Malvinas, situado nas proximidades da Lagoa do Apodi-RN.
De acordo com Bolfarine e Bussab (2005), o tamanho da amostra para uma população de
358 (N=358), com margem de erro de 5%, confiança de 95% e variabilidade máxima, foi
determinado pela Equação 1:

N 358
n 2
 2
 185 (Eq. 1)
 E   0, 05 
4(n  1)    1 4(358  1)   1
 Z z  1,96 
 

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Em que:
N = tamanho da população;
Z  2 = é o valor crítico da distribuição de probabilidade normal;

E = margem de erro.

Pesquisa de campo

A pesquisa foi realizada com as famílias do bairro Malvinas, localizado ao entorno da Lagoa
do Apodi-RN, entre os meses de fevereiro a maio de 2017. A escolha do bairro foi decorrente de
serem considerados os mais sensíveis aos impactos ambientais ocorridos neste ecossistema.
No primeiro momento realizou-se um pré-teste com 10% da amostragem (19 questionários)
com a finalidade de adequar as variáveis, otimizar o tempo e, planejar a execução da aplicação do
survey. No segundo momento ocorreu o survey, com aplicação dos questionários semiestruturados
com os moradores do bairro, que abordaram os aspectos socioeconômicos e a percepção ambiental.

Tratamento de dados

Após a pesquisa de campo, o software Excel foi utilizado para a obtenção de gráficos e
efetuação de cálculos estatísticos, para a melhor visualização e interpretação dos dados coletados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Perfil Socioeconômico e Ambiental dos Entrevistados

De acordo com as informações obtidas 62,40% dos entrevistados eram do sexo feminino e
37,60% do sexo masculino, evidenciando uma discordância de dados quando confrontado com o
cenário brasileiro, visto que a população brasileira se depara com 51,0% de mulheres e 49,0% de
homens (IBGE, 2010).
Para uma melhor abordagem estatística dos dados coletados, a idade dos entrevistados foi
agrupada em alguns intervalos. O percentual da faixa etária dos moradores do bairro Malvinas varia
de 19 anos a 78 anos de idade, sendo que a faixa etária com maior representatividade foi a de 43 a
52 anos (27,15%). O menor percentual encontrado corresponde aos indivíduos que possuem de 19 a
25 anos e mais de 64 anos, ambos com a mesma porcentagem de 13,25%. Outros estudos também
obtiveram dados semelhantes, já que Pereira, Pereira e Castro (2014) em seu estudo acerca da
percepção ambiental dos moradores sobre a poluição do rio Cariús no município de Farias Brito –
CE encontraram uma faixa etária majoritária entre 40 e 49 anos de idade em 29% da população.
Quando sondados se suas condições de trabalho são formais, 42,80% dos moradores
mencionam que sim, enquanto 57,20% apontam o contrário. Pode-se afirmar que o baixo nível de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

escolaridade da população onde a maioria possui o ensino fundamental incompleto (46,70%)


contribui para o grande número de trabalho informal. Ressalta-se ainda o nível de escolaridade
como fator motivador, já que Balassiano, Seabra e Lemos (2005) afirmaram que o nível de
escolaridade tem uma implicação direta na empregabilidade, ou seja, um aumento no grau de
escolaridade poderá derivar em um resultado mais positivo em relação ao emprego do indivíduo.
A influência do equipamento de lazer do Calçadão da Lagoa do Apodi – RN é perceptível na
população investigada quando se identificou os tipos de vínculos empregatícios dos moradores do
bairro Malvinas, já que a ocupação prevalecente é comerciante (22,72%), como pode ser observado
na Figura 2.
Resultados diferentes foram determinados por Silva et al. (2015) ao estudarem a população
da lagoa do Jequiá da praia – AL, já que estes autores perceberam que a atividade econômica
preponderante foi a pesca (71,6%) e a agricultura (20,8%), enquanto 7,5% das atividades
ocupacionais relacionavam-se com o comércio e artesanato. Diante dessa situação, pode-se inferir
que a população da área de estudo encontra-se em um processo de diminuição da realização das
atividades tradicionais (agricultura e pesca) para desenvolver novas habilidades com maior
percentual econômico, como pode ser notada na Figura 3, uma lanchonete localizada as margens da
lagoa e um pescador exercendo o seu oficio.

Figura 2: Tipo de trabalho dos moradores do Bairro Figura 3: Estabelecimento comercial e pescador na
Malvinas localizado nas margens da Lagoa do Lagoa do Apodi-RN.
Apodi – RN. Fonte: Autor, 2017.
Fonte: Autor, 2017.

O contexto do baixo nível de escolaridade, maior quantidade da população com cargos


informais e as pessoas que possuem um trabalho tenham as menores porcentagens, influência nos
rendimentos familiares (PINTO FILHO, PETTA & SOUZA, 2016). Sendo assim, a realidade dos
moradores do bairro Malvinas também apresentou baixos valores em relação aos rendimentos
familiares, já que a 56,60% dos entrevistados possuem renda de até 1 salário mínimo por mês.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As transformações na população do bairro Malvinas também se referem à origem dos


entrevistados, já que mesmo existindo a predominância de 81,7% de naturalidade do município de
Apodi – RN, observa-se que este percentual diminui quando comparado com os resultados de Pinto
Filho e Martins (2008) que ao analisar os impactos socioambientais da ocupação desordenada das
margens da Lagoa do Apodi – RN em 2007, encontraram valor de 91,4% para população com
origem do referido município.
O período de residência no ambiente, além de oferecer conhecimento sobre a situação da
população, ainda pode inspirar a configuração de como os indivíduos se relacionam com ambiente
em que vivem (CARVALHO & RODRIGUES, 2015). Com isso, observa-se que grande parte da
população ribeirinha (53,90%) residem há mais de 20 anos nessa área.

Percepção Ambiental

Os moradores locais passaram e passam suas vidas com esse contato diário com a lagoa,
fazendo parte de suas histórias e para muitos como forma de sustento, por isso respeitam e seguem
preocupados sobre sua situação atual.
É possível observar que a maioria dos moradores entrevistados percebem a lagoa como
ambiente natural para ser preservado e apreciado (55,56%), demonstrando que possuem um vínculo
afetivo com a lagoa do Apodi-RN. Enquanto uma parcela de 10,46% considera um local sem
significância.
Foi investigado se os moradores faziam ou já fizeram algum tipo de uso da lagoa do Apodi –
RN. A menor parcela (35,95%) respondeu que sim, e em uma porcentagem significativa (64,05%)
responderam que não. Isso evidencia a pequena relação estabelecida entre esta população e esses
recursos hídricos. Em seguida, foi solicitado que especificassem para que fins utilizaram a lagoa,
sendo o principal tipo de uso destes ecossistemas aquáticos foi o banho (81,36%), seguido pela
pesca (11,86%).
Ao se questionar se alguém da família fazia ou já fizeram algum tipo de uso da lagoa do
Apodi – RN, constatou-se que uma parcela de 51,63% respondeu que sim, seguida de 48,37% que
responderam que não. Apesar da maioria da população afirmar não usar a água para nenhuma
atividade direta, é perceptível que os familiares desses ribeirinhos já fizeram ou fazem o uso da
lagoa, demonstrando relações e valorização do ambiente. Ao especificarem para que fins os
familiares utilizavam a lagoa, as utilizações mencionadas foram o banho (25,05%), pesca (25,04%),
lavagem de roupas (23,03%), plantação (14,95%) e pôr fim a pastagem (12,93%). As Figuras 4 e 5
demostra algumas das utilizações citadas pela população entrevistada.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 4: Morador fazendo uso da pastagem na Figura 5: Banhistas na Lagoa do Apodi – RN.
Lagoa do Apodi – RN. Foto: Autor, 2017.
Fonte: Autor, 2017.

No Semiárido os cursos d‘água representam fonte vida e esperança e possuem um


significado bastante amplo, pois estão relacionados a fixação do homem naquele ambiente
(PETROVICH; ARAÚJO, 2009). Nesta acepção, foi questionado aos entrevistados quais os
principais tipos de usos da lagoa do Apodi – RN no passado. Conforme as Figuras 6 e 7, o principal
tipo de uso deste ecossistema aquático no passado foi a pesca (31,50%).

Série1; Navegação; 2%

Série1; Diluição de
efluentes; 3%

Série1; Harmonia
paisagística; 4,50%

Série1; Abastecimento
animal; 5,50%

Série1; Recreação; 6%

Série1; Abastecimento
de água humano;
23,25%

Série1; Agricultura;
24,25%

Série1; Pesca; 31,50%

Figura 6: Principais tipos de uso da Lagoa do Apodi – RN no passado. Fonte: Autor, 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 7: Pai e filhos na Lagoa do Apodi-RN, 2017.


Fonte: Jorge Filho.

É notório que o principal uso da lagoa no passado ser a pesca por fatores que tinha um maior
volume de água e também por questões de poluição ser bem menores, visto que afetam a qualidade
da água e consequentemente os animais que seriam pescados no presente estarem possivelmente
contaminados.
Já na Figura 8 está ilustrado sobre quais principais tipos de usos da Lagoa do Apodi – RN no
presente. O principal uso apontado foi à recreação (37,71%), conforme a Figura 9 é possível
perceber atividades recreativas com uso de jet-skis. A construção do calçadão da lagoa acarretou o
desenvolvimento de comércios naquela região e a realização de eventos, tornando o ambiente mais
atrativo para o lazer.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Série1;
Abastecimento
Animal; 4%

Série1; Harmonia
paisagística; 4,77%

Série1; Navegação;
5,57%

Série1; Diluição de
efluentes; 8%

Série1; Agricultura;
14,66%

Série1; Pesca;
25,89%

Série1; Recreação;
37,71%

Figura 8: Principais tipos de uso da Lagoa do Apodi – RN no presente.


Fonte: Autor, 2017.

Figura 9: Passeio de jet-ski na lagoa do Apodi-RN, 2017.


Fonte: Jorge Filho.

Os moradores do bairro Malvinas classificam a poluição da lagoa do Apodi-RN muito


poluída (45,09%). No entanto, contradizendo a opinião da população em geral, existem relatos de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 798


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pescadores que tem um contato diário com a água da lagoa, classificando a lagoa como pouco
poluída.
A poluição urbana foi apontada por 56,25% dos entrevistados no passado, e se tratando do
presente os moradores questionados novamente indicaram que o principal tipo de poluição é a
urbana (63,50%). Diante dos resultados obtidos, pode-se afirmar que, apesar dos anos decorridos os
principais tipos de poluição da lagoa permanecem idênticos pela percepção dos moradores.
Como a maioria dos moradores do bairro Malvinas, afirmaram que, a lagoa está muito
poluída, para verificar esta relação perguntou-se aos entrevistados quais os principais agentes de
poluição da Lagoa do Apodi –RN. Sendo os 3 principais agentes apontados pela população como os
que mais contribuem para poluição da lagoa: despejos de esgotos (25,35%), descarte de resíduos
(20,21%) e a realização de eventos (18,59%).
A Figura 10 retrata a realização de um evento de grande porte realizado as margens da lagoa
do Apodi-RN. Sendo este tipo de ação um dos principais agentes da poluição da lagoa, o qual pode
desencadear os mais variados impactos ambientais. Visto que foliões que participam desse tipo de
evento, não são naturais do município e assim não tendo aquela preocupação com o ambiente
estudado, corroborando para descarte de resíduos sólidos (Figura 11).
É importante lembrar que uma das principais causas da poluição em lagoas, rios e riachos, é
o descarte de resíduos sólidos, que provoca a morte de peixes, mau cheiro, a propagação de
patógenos e contaminação dos recursos hídricos (PEREIRA, 2008).

Figura 10: Principais agentes da poluição da Figura 11: Carnaval de Apodi realizado no
lagoa do Apodi -RN. calçadão da lagoa, 2017.
Fonte: Autor,2017. Foto: Jânio Duarte.

Finalmente, foi solicitado que os entrevistados fizessem alguma sugestão para o que poderia
ser feito para que as condições de vida das pessoas que vivem da lagoa do Apodi-RN melhorassem,
permitindo que outros assuntos fossem abordados, inclusive de forma crítica.
O maior percentual de colocações se ateve à providência de serviços pela prefeitura do
município, sendo os recursos mais apontados pelos entrevistados: saneamento básico, estação de
tratamento de água e esgotos, fiscalização da poluição sonora no calçadão da lagoa e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

desenvolvimento de algum programa de educação ambiental. Resultados semelhantes foram


determinados por Pereira, Pereira e Castro (2016) ao estudarem a percepção dos moradores sobre a
poluição do rio Cariús, munícipio de Farias Brito, Ceará, em que os entrevistados apontaram que
entre as principais necessidades estão o saneamento básico (27%), implantação de uma estação de
tratamento de água (25%) e o desenvolvimento de um programa de educação ambiental (15%).

CONCLUSÃO

Por meio da abordagem multidisciplinar, constatou que a lagoa do Apodi sofre com
alterações ambientais principalmente devido às deficiências dos componentes de saneamento
ambiental, com destaque para a problemática dos resíduos sólidos e esgotos domésticos.
Constatou-se que a população do entorno da lagoa do Apodi apresenta baixo nível de
escolaridade, o que contribui para o grande número de trabalho informal, os quais geralmente
podem estar associados a regimes ocupacionais insalubres e perigosos, sendo um reflexo dos
rendimentos familiares que é de até 1 salário mínimo por mês. Ainda sobre o perfil socioeconômico
dos entrevistados foi possível constatar que a maioria é natural de Apodi – RN e residem há mais de
20 anos nessa área, tornando-se uma relação estreita com a problemática socioambiental
investigada.
Na percepção ambiental dos moradores do entorno da lagoa os principais tipos de poluição
desse ambiente aquático no passado e no presente permanecem idênticos, tendo maior ênfase a
poluição urbana. Os moradores do bairro reconhecem a poluição da lagoa, porém ainda é um
ambiente em que as atividades pesqueiras e agrícolas são predominantes, além de ser utilizada para
outros fins como banho, abastecimento animal e recreação. A realização de eventos no calçadão as
margens da lagoa, é apontado como um dos principais agentes da poluição da lagoa, corroborando
com o descarte de resíduos.
Diante da situação, ações precisam ser realizadas o quanto antes, no intuito de controlar os
efeitos de uma degradação de grande dimensão. É preciso que a população adquira conhecimentos,
tendo uma participação nas ações desenvolvidas pelos gestores municipais de Apodi para amenizar
a problemática da lagoa. É importante mencionar que se faz necessário atender os desejos da
população para solução dos problemas locais, principalmente relacionados com: a efetividade dos
componentes de saneamento ambiental, fiscalização da poluição sonora no calçadão da lagoa,
implementação de programas de educação ambiental e, restauração das matas ciliares deste
ambiente.
Portanto, é necessário que novos estudos ambientais sejam realizados, com ênfase no
diagnóstico da degradação ambiental a partir da memória viva, determinação da poluição sonora no
calçadão, qualidade de água da lagoa do Apodi-RN, qualidade do solo das margens deste ambiente,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

recuperação de matas ciliares, planejamento e gestão ambiental dos usos deste ecossistema e, gestão
ambiental empresarial dos empreendimentos locais.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

VULNERABILIDADES DE IMPACTOS HIDROMETEÓRICOS NA CIDADE DE


VITÓRIA DA CONQUISTA-BA: ESTUDO DAS PRECIPITAÇÕES ENTRE OS ANOS
DE 2012 A 2016

Lucas Libarino BARBOSA


Graduando do Curso de Geografia da UESB
lucas_kais@hotmail.com

Renaildo Santos da CONCEIÇÃO


Graduando do Curso de Geografia da UESB
renaildosanttos@hotmail.com

Tatiane de Oliveira CARVALHO


Graduanda do Curso de Geografia da UESB
tatianeocb@outlook.com
Marialda da Silva BRITO
Profa Drª do Departamento de Geografia-UESB
msbrito@uesb.edu.br

RESUMO
Buscou-se, neste estudo, averiguar as possíveis vulnerabilidades de aguaceiros, enxurradas e
alagamentos na cidade de Vitória da Conquista-BA. Para tal, teve-se como base estudos das
precipitações e dias com chuvas entre os anos de 2012 a 2016, assim como análise da topografia e
do processo de urbanização da cidade. Para realização da pesquisa, debruçou-se na teoria do
Sistema Clima Urbano e Subsistema Hidrometeórico proposto por Monteiro. A pesquisa é de
grande relevância para os citadinos, haja vista que os resultados trouxeram elucidações
contundentes a respeito da variabilidade dos índices pluviométricos, podendo, assim, fomentar
possíveis subsídios para planejamentos ambientais e urbanos. Diante das análises, comprovou-se
que, no período estudado, o volume pluviométrico se estabeleceu de forma irregular, com variações
extremas de alta concentração das chuvas nos meses de janeiro, fevereiro, sobretudo, novembro e
dezembro. Constatou-se, ainda, que os problemas de aguaceiros, enxurradas e alagamentos podem
ser potencializados devido à impermeabilização do solo pela extensão da malha urbana nas áreas
mais altas da cidade, e, consequentemente, o escoamento superficial. Esse problema ainda pode ser
intensificado pelas falhas do sistema de drenagem da cidade. Assim, fica claro que políticas
públicas devem considerar as condições climáticas das precipitações em seus planejamentos
ambientais e urbanos.
Palavras-Chave: Clima urbano. Volume Pluviométrico. Enxurradas. Alagamentos.
ABSTRACT
This study aimed to investigate possible vulnerabilities of downpours, flash floods and floods in the
city of Vitória da Conquista - BA. It was based on studies of rainfall and rainy days between the
years 2012 to 2016, as well as analysis of the topography and urbanization process of the city. The
research was based on the theory of the Urban Climate System and Hydrometer Subsystem
proposed by Monteiro. The research has a very important relevance for city dwellers, since the
results have provided conclusive elucidations regarding the variability of the rainfall indices, and
can thus foment possible subsystems for environmental and urban planning. Considering the
analysis, it was verified that, in the studied period, the rainfall volume was irregular, with extreme

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

high rainfall variations in the months of January, February, especially November and December. It
was also observed that the problems of downpours, flash floods and floods can be potentiated due to
the waterproofing of the soil by the extension of the urban network in the higher areas of the city,
and, consequently, the surface runoff. This problem can still be intensified by the failures of the
city's drainage system. Thus, it is clear that public policies must consider the precipitation climatic
conditions in their environmental and urban planning.
Keywords: Urban Climate. Pluviometric Volume. Flash Floods. Floods.

INTRODUÇÃO

Estudar o clima urbano é uma tarefa que exige muita cautela nas pesquisas, uma vez que os
espaços urbanos ganham complexidades à medida que o tempo avança, isto é, as cidades se mantêm
em dinâmicas contínuas em sua arquitetura com as construções civis e na própria conjuntura de
organização das edificações, assim como, no crescimento ou na perda da população. Por
consequência, os climas das cidades se configuram conforme a estrutura deste espaço construído e
se subdividindo em topoclimas com variabilidades distintas para cada área urbana, formando um
microclima para cada um destes territórios.
Diante de toda essa situação, são significativos estudos que abrangem o clima urbano para
cada cidade. Essas pesquisas são de vital importância para conhecimento dos citadinos acerca da
dinâmica do microclima local, haja vista que os resultados poderão elucidar problemas ambientais,
possíveis alertas à população e, também, subsidiar planejamentos para possíveis intervenções. Em
anuência com Mendonça (2009) o clima urbano institui numa das dimensões destes ambientes, de
tal maneira que seu estudo oferece contribuições significativas ao equacionamento da questão
ambiental das cidades. E, ainda, que as condições climáticas destas áreas são constituídas a partir da
paisagem natural e da sua substituição por um ambiente construído, se transformando em palco de
intensas atividades humanas.
Como os espaços urbanos se constituem nesta relação de primeira natureza, transformada
numa segunda, com ambientes quase ou totalmente modificados pela sociedade, é de vital
importância que cada cidade tenha planejamentos ambientais que visem a manutenção e o
crescimento dessas áreas, respeitando as condições ambientais, sobretudo topográficas e climáticas,
para que futuros problemas socioambientais sejam evitados. Todavia, na maioria dos casos, esses
planejamentos são inexistentes e, quando se tem, não são respeitados, principalmente, devido ao
crescimento populacional e industrial de cada cidade. Como consequência, a natureza responde a
essas mudanças de diversas formas, seja nas chuvas torrenciais irregulares e com grande volume
pluviométrico, ocasionando enchentes, fortes enxurradas, alagamentos, movimentos de massa; seja
nas mudanças abruptas da temperatura do ar, entre outros eventos. Isto é, mesmo com o avanço de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

estudos tecnológicos, as sociedades continuam vulneráveis a impactos ambientais, algumas áreas


mais susceptíveis que outras. Assim, em seus estudos, Gonçalves esclarece que:

No mundo atual, em que pesem o grande avanço tecnológico e os esforços para o


conhecimento das forças da natureza, as sociedades permanecem, ainda, bastante
vulneráveis e parecem tornar-se cada vez mais indefesas diante de ‗eventos‘,
particularmente aqueles de origem meteorológica, hidrológica e geológica. Embora possa
parecer um paradoxo, evidencia-se, entretanto, que à medida que a população do planeta
cresce numa progressão geométrica e que a ocupação se faz em áreas cada vez mais
extensas, também aumentam a chance e o risco diante de tais eventos. (GONÇALVES,
2009, p.69).

É preciso salientar que a natureza possui suas dinâmicas e que alguns eventos e impactos à
sociedade são inevitáveis, todavia, a ação humana, num ambiente local, pode acelerar esses eventos.
Em concordância com Lima e Veloso Filho (2016), as alterações realizadas pelo ser humano
associadas às características físicas do espaço da cidade podem gerar diversos impactos que, em sua
maioria, apesar de serem eventos naturais, são potencializados pelo processo de urbanização, que
ocasiona o aumento da taxa de ocupação de terra com a compactação, por superfícies impermeáveis
e construção de edificações, aumentando a velocidade de escoamento superficial e alterando o ciclo
hidrológico, já que diminui a capacidade de infiltração e, portanto, de alimentação dos mananciais.
É possível observar que, no Brasil, são muitas as cidades, principalmente as grandes
capitais, que sofrem eventualmente por diversos eventos naturais. Cotidianamente, vê-se, nos
telejornais e em outras redes de notícias, reportagens sobre cidades que estão sofrendo algum
evento fora do habitual. Estes eventos ainda se diferenciam em cada região, conforme as condições
específicas para determinada área, ou seja, ao mesmo tempo em que algumas cidades estão
passando por eventos de chuvas concentradas, ocasionando grandes transtornos de aguaceiros,
enxurradas, dentre outros, outras estão passando por escassez de chuvas, tendo que enfrentar a falta
d‘água.
Diante disso, pretende-se, com este processo analítico, averiguar as possíveis
vulnerabilidades de impactos hidrometeóricos na cidade de Vitória da Conquista-BA, tendo como
base um estudo da precipitação pluvial e dias com chuvas entre os anos de 2012 a 2016. Para a
realização do estudo, baseou-se na teoria do sistema clima urbano (S.C.U), proposta por Monteiro
(2009), sobretudo a respeito do Subsistema Hidrometeórico. Para Monteiro, um impacto
hidrometeórico:

[...] pressupõe conseqüências calamitosas, atacando a integridade da cidade como artefato


físico e perturbando, sensivelmente, as formas de circulação e comunicação internas e de
ligação externa. São episódios ou eventos restritos no tempo que são presos ao modo de
transmissão de energia, ou seja, ao ritmo de sucessão dos estados atmosféricos. Pela sua
natureza, são eventos que refletem variações externas e formas violentas do ritmo,
afastamentos ou desvios dos padrões habituais, disritmias. A variedade tipológica desses
meteoros é acompanhada por irregularidades de freqüência. Conforme os mecanismos de
circulação regional em que se inserem, podem ser raros e até mesmo excepcionais.
(MONTEIRO, 2009, p. 53).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Ainda, segundo Monteiro (2009), os impactos hidrometeóricos estão relacionados às


diversas manifestações meteóricas e a uma gama de fenômenos, como as tempestades, tornados,
furacões, fortes nevadas, aguaceiros, entre outros. Desta forma, esta pesquisa teve como estudo os
impactos que podem ser causados pela precipitação pluvial: tempestades, aguaceiros, enxurradas e
alagamentos. Estudos que abrangem possíveis impactos hidrometeóricos já vêm sendo feitos por
vários pesquisadores, com o intuito de verificar/comprovar esses eventos em localidades específicas
e trazendo possíveis alertas à população local. Como Soares, Pereira e Ferreira que, estudando os
impactos hidrometeóricos na cidade de Sobral-CE, esclarecem que:

Os impactos hidrometeóricos protagonizados no dia 03 de novembro de 2013 foram


caracterizados de maneira intensa na cidade Sobral, principalmente levando em conta a
localização desta nas proximidades do rio Acaraú, passível de inundações periódicas
associadas a eventos extremos climáticos, e mesmo junto ao maciço da Meruoca, principal
fator atmosférico, responsável pela efetivação das chuvas neste episódio, contribuindo de
maneira significativa ao desenvolvimento de diversos impactos socioambientais.
(SOARES; PEREIRA; FERREIRA, 2016, p. 383).

Verificando a intensidade dos impactos hidrometemeóricos em Belo Horizonte, Lucas et al.


comprovam que na área da Regional Pampulha, uma área com grandes equipamentos urbanísticos e
turísticos da cidade, se constitui com uma rede de drenagem densa apresentando alguns trechos
canalizados e outros abertos, o que gera uma série de impactos hidrometeóricos pontuais e à jusante
do Córrego do Onça. (LUCAS et al., 2015, p. 24).
Em se tratando de Vitória da Conquista, a cidade está localizada no interior do Estado da
Bahia e vem se destacando com o seu crescimento urbano, é a terceira maior cidade do Estado, com
grandes atrativos para novos imigrantes e instalações de novas indústrias. Ferraz (2001) esclarece
que Vitória da Conquista seguiu o processo de urbanização crescente, ocorrido no Brasil a partir da
década dos anos 40; desde então a cidade expandiu sua malha urbana e até meados de 1970 passou
por diversas transformações, que se intensificou em decorrência de abertura de loteamentos e do
incremento populacional vivenciado pela zona urbana do Município.
Para Passos (2009):
Ao se analisar a urbanização da cidade de Vitória da Conquista, Bahia, percebe-se que o
processo é similar aos das demais cidades médias brasileiras, com a expansão urbana
acontecendo de forma acelerada, enquanto se intensifica a segregação socioespacial com a
construção e organização seletiva determinando, por um lado, uma privilegiada rede urbana
e, por outro, as ocupações sem planejamento e discriminadas. O resultado dessa segregação
socioespacial é evidente na história e no presente da cidade, resultado de um espaço urbano
fragmentado e articulado no tempo e no espaço. (PASSOS, 2009, p. 15).

Esse espaço urbano fragmentado com ocupações sem planejamentos e discriminadas pode
acarretar sérios problemas ambientais para os citadinos de Vitória da Conquista, isto porque o sítio
urbano está localizado numa área de significativa amplitude altimétrica, o que também a caracteriza

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

com um Clima Tropical de Altitude. Essa relação da topografia de áreas mais baixas e outras mais
elevadas, em períodos chuvosos, podem ocasionar enxurradas, aguaceiros e inundações.
Nos estudos referentes às inundações nas áreas centrais de Vitória da Conquista, Soares,et
al. (2016) ratificam que o centro-sul da cidade se caracteriza por uma topografia mais aplainada, o
trecho norte é marcado pela vertente da Serra do Periperi, cuja área possui altitudes superiores a
1.100m em uma distância de 2,8km. A região central se situa a uma altitude em torno de 850m,
aproximando-se do nível topográfico do fundo do vale do Rio Verruga.
Vitória da Conquista (Figura 2) está numa área de transição entre o clima subúmido a seco e
semiárido, define-se com um clima Tropical de Altitude e Subúmido. Neste mesmo aspecto,
Conceição, Pereira e Veiga (2016), nos estudos sobre o clima do município de Vitória da Conquista,
comprovaram que as temperaturas do ar são amenas com médias mensais/anuais variando de 17,8 a
21,8ºC, com pluviometria média anual de 733,9 mm, e concentração das chuvas no regime
primavera/verão, sobretudo nos meses de novembro e dezembro.

Figura 2 - Localização de Vitória da Conquista, 2016.


Fonte: IBGE (2017). Elaborado por CONCEIÇÃO, R.S. (2017).

Ainda nos estudos de Conceição, Pereira e Veiga (2016) é esclarecido que o município passa
por períodos de vulnerabilidades e riscos ambientais, apontando que em certas épocas ocorre as
baixas temperaturas do ar e, consequentemente, a região vive temporadas com pouca
disponibilidade hídrica; e na primavera e verão com as altas temperaturas do ar, presencia um

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pequeno excedente hídrico e chuvas intensas com riscos de inundações e catástrofes ambientais,
sobretudo nas áreas urbanas onde possui um déficit no sistema de drenagem pluvial.
Desta forma, é possível observar que este estudo será de grande relevância para os citadinos
de Vitória da Conquista e que os resultados poderão trazer elucidações contundentes a respeito da
variabilidade dos índices pluviométricos, topografia e sua relação com os possíveis eventos de
aguaceiros, enxurradas e alagamentos na cidade. Além disso, também fomentar possíveis
planejamentos para o espaço urbano, assim como conscientizar a população local de possíveis
problemas e alertas de vulnerabilidades e riscos socioambientais.

PROCEDIMENTOS EXECUTADOS

Para a realização desta pesquisa, foi necessária uma profunda revisão da literatura com
diversos estudos sobre teorias dos climas urbanos, sobretudo do subsistema hidrometeórico
proposto por Monteiro, bem como estudos referentes ao espaço urbano e processo de urbanização
de Vitória da Conquista, além de pesquisas sobre o clima local, assim como os possíveis impactos
hidrometeóricos nos anos em estudo.
Utilizaram-se dados meteorológicos de precipitação e dias com chuvas entre os anos de
2012 a 2016, sendo que os dados foram coletados na plataforma digital do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET). Adiante, esses dados foram tabulados com o auxílio do Software Excel,
para transformação dos totais de precipitação diárias em mensais e, em seguida, em anuais para
geração de gráficos e correlação dos dias com chuvas.
Por conseguinte, analisou-se a altimetria do terreno urbano da cidade, com a estratégia de
averiguar a possível relação da topografia do sítio urbano e possibilidades de aguaceiros, enxurradas
e alagamentos. Para isso, teve-se também, como base, a relação do volume pluviométrico e dias
com chuva, uma vez que a dinâmica de distribuição de chuvas e a topografia pode ocasionar uma
saturação do solo, acelerando o escoamento superficial.
Para interpretação dos resultados, o trabalho seguiu com ilustração, interpretação e descrição
textual de mapas físicos, gráficos dos dados meteorológicos e de imagens a respeito dos impactos
hidrometeóricos, com a estratégia de tornar a pesquisa com resultados mais coesos e abrangentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para adentrar nos estudos dos totais pluviométricos anuais de Vitória da Conquista, é preciso
ressaltar que o município está inserido no polígono das secas, sendo assim, passa por longos
períodos de estiagem. Segundo o IBGE (2016), a Região Semiárida do país possui uma extensão
total de 982.563,3 km². Dessa área, o Nordeste concentra em torno de 89,5%, abrangendo a maioria
dos estados. Ainda conforme os dados do IBGE, a região Semiárida é delimitada com base na

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

isoieta de 800 mm, no índice de aridez de Thorntwaite de 1941 apresentando risco de seca superior
a 60%.
Por conseguinte, a normal climatológica estimada para o município é de 733,9, porém pode
ser observado (Figura 3) que, entre o período estudado, 2012 a 2016, só o ano de 2013 apresentou
um total anual acima da normal, os demais anos sempre abaixo, sobretudo 2015 que chama a
atenção por um alerta à estiagem com uma pluviometria anual de 490,4mm.

Figura 3 - Totais anuais do período de 2012 a 2016, Vitória da Conquista, 2017.


Fonte: INMET (2017). Elaborado pelos autores (2017).

Adiante, analisando os totais pluviométricos mensais, é possível verificar como o volume


pluviométrico em Vitória da Conquista se distribui de forma irregular, apresentando variações
extremas dentro do ano: meses de baixa pluviometria e outros com alta concentração. Essa
variabilidade de distribuição irregular pode ser verificada na Figura 4, observando-se que em 2012
houve um total anual de 598,8 mm, porém 358mm choveu no mês de novembro, ou seja, 60% do
total anual se concentrou em um mês e os demais meses do ano com índice pluviométrico baixo.
Em 2013, o ano com maior pluviometria, e o único acima da normal entre os demais em estudo,
apresentou um total anual de 850, 9 mm, entretanto ainda com variações extremas; as chuvas se
concentraram nos meses de fevereiro com 235,7 e dezembro 232,7mm, esses dois meses juntos
somam 55% do total anual. Tal variação temporal das chuvas permanece em 2014, em que se teve
um total anual de 641,6mm concentrados nos meses de novembro com 207mm e dezembro 167mm,
o volume somado destes dois meses totaliza 58% do total pluviométrico anual.

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Figura 4 - Totais mensais do período de 2012 a 2016, Vitória da Conquista, 2017.


Fonte: INMET (2017). Elaborado pelos autores (2017).

Verificou-se que o ano de 2015 apresentou menor pluviometria anual entre os anos em
pesquisa, todavia é preciso enfatizar que, de todo o período estudado, este foi o ano em que menos
apresentou irregularidades na distribuição mensal das chuvas, no qual o mês de fevereiro se
desponta com a pluviometria mais alta, 93mm, porém todos os demais meses apresentaram
precipitações superiores a 7mm. Entretanto, as irregularidades extremas de distribuição mensal das
precipitações voltam a chamar a atenção em 2016, o ano exibiu uma pluviometria de 633mm, com
concentração em três meses: janeiro com 215,2mm, novembro 114,8mm e dezembro 112,5mm; a
soma desses três meses equivale a 70% do total anual. Ainda, é necessário enfatizar que, em todo
período estuado, as precipitações pluviais seguiram um regime de baixos índices nos totais mensais
de março a outubro, e elevação significativa da pluviometria em novembro, dezembro e janeiro,
mesmo que se tenham diferenças sazonais dos índices mensais para cada ano dentro desse regime
mensal.
Na Figura 5, investiga-se os dias com chuvas mensais para cada ano em estudo, com isso,
verificou-se que no mês de novembro de 2012 choveu 358mm em apenas 18 dias; fevereiro de 2013
choveu 232, 7mm em apenas 9 dias e dezembro 235,7 em 20 dias; em 2014 as irregularidades na
distribuição temporal das chuvas permanecem, porém para o mês de novembro com um total
mensal de 167mm em apenas 14 dias de chuvas. O ano de 2015 não apresentou irregularidades
significativas, sendo que, conforme visto anteriormente, este foi o ano com menor precipitação total
anual, no entanto com melhor distribuição mensal das chuvas. Diferentemente, em 2016, as
oscilações extremas temporal das chuvas se exibem novamente com 215,2 mm em 19 dias de
chuvas em janeiro, novembro com 114,8 em 14 dias e dezembro 112,5 em 9 dias com chuvas.

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Figura 5 - Número de dias com chuvas mensais entre 2012 a 2016, Vitória da Conquista, 2017.
Fonte: Inmet (2017). Elaborado pelos autores (2017).

Diante das análises dos dias com chuvas mensais, correlacionando-os com as irregularidades
e oscilação temporal das chuvas, conclui-se que as precipitações em Vitória da Conquista se
apresentam com desvios extremos de alta concentração nos meses de janeiro, fevereiro, sobretudo,
novembro e dezembro dos anos em estudo. Destarte, é possível observar que Vitória da Conquista
está vulnerável a possíveis impactos hidrometeóricos de aguaceiros, enxurradas e alagamentos nas
áreas urbanas devido às concentrações temporais das chuvas.
É importante reiterar que, esses impactos ainda podem ser ocasionados pela topografia da
área urbana, como pode ser analisado na Figura 6, a cidade está situada numa alta amplitude
altimétrica entre 850 a 1100 metros, sendo que as áreas mais altas também passaram/passam pelo
processo de urbanização, construção civil e asfaltamento do solo. As áreas em questão estão
susceptíveis a enxurradas e alagamentos nos dias e meses com alta concentração pluviométrica,
uma vez que os solos urbanos dificultam a infiltração das águas pluviais, acelerando o escoamento
superficial. Se essas áreas não possuem um sistema de drenagem eficiente, como é o caso de Vitória
da Conquista que apresenta falhas, as irregularidades dessas chuvas, com concentração em alguns
meses: janeiro, fevereiro, novembro e dezembro, a cidade fica vulnerável a enxurradas nas áreas
mais altas e, consequentemente, alagamentos nas áreas mais baixas.

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Figura 6 - Relação da altimetria e do solo urbano em Vitória da Conquista.


Fonte: VEIGA (2013). Adaptado pelos autores (2017).

Esses problemas de enxurradas e alagamentos estão presentes na vida dos citadinos de


Vitória da Conquista, principalmente, nos meses em destaque de concentração pluviométrica,
janeiro, fevereiro, sobretudo novembro e dezembro. Tal situação pode ser verificada na Figura 7,
que exibe imagens de enxurradas, aguaceiros e alagamentos na cidade nos meses de novembro de
2012, que choveu 358mm em apenas 18 dias; dezembro de 2013, exibindo um total de 235,7 em 20
dias; novembro de 2014 com um total mensal de 167mm em apenas 14 dias de chuvas e, por último,
dezembro de 2016, que em 9 dias de chuvas apresentou um total de 112,5mm.

Figura 7 - Relação dos anos e meses com alta concentração pluviométrica e os problemas das enxurradas e
alagamentos em Vitória da Conquista nos anos de 2012, 2013, 2014 e 2016.
Fonte: Blog do Anderson.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assim, é possível verificar que a cidade de Vitória da Conquista está vulnerável a impactos
hidrometeóricos de aguaceiros, enxurradas e alagamentos nas áreas urbanas, e ainda que este
problema se exibe devido às oscilações extremas das precipitações nos meses de janeiro, fevereiro,
sobretudo em novembro e dezembro. Todavia, pode ser potencializado com a impermeabilização do
solo pela extensão da malha urbana nas áreas mais altas, uma vez que dificulta a infiltração das
águas pluviais, acelerando o escoamento superficial e, também, pelas falhas do sistema de
drenagem da cidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados alcançados nos estudos sobre a precipitação pluvial de Vitória da
Conquista e dos dias com chuvas no período entre 2012 e 2016, comprovou-se que o índice
pluviométrico mensal se estabelece de forma irregular com oscilações temporal extremas das
precipitações, concentradas nos meses de Janeiro, Fevereiro, Novembro e Dezembro. Nas análises,
verificou-se que o ano de 2012 teve um total anual de 598,8mm, porém no mês de novembro
choveu 358mm, correspondendo a 60% do volume anual em apenas 18 dias, em 2013, o mês de
fevereiro choveu 232, 7mm em apenas 9 dias e dezembro 235,7 em 20 dias; estes dois meses
somam 55% do total anual de 850,9mm. Em 2014, as irregularidades na distribuição das chuvas
permanecem, porém para o mês de novembro com um total mensal de 167mm em apenas 14 dias de
chuvas; em 2016 o mês de janeiro apresentou 215,2 mm em 19 dias de chuvas, novembro com
114,8 em 14 dias e dezembro 112,5 em 9 dias com chuvas, a soma do volume pluviométrico desses
três meses totaliza 70% do total anual de 633mm.
Ainda, com a correlação das oscilações temporal extremas das precipitações e dias com
chuvas mensais, a topografia do sítio urbano, que possui uma amplitude altimétrica significativa,
com extensão da malha urbana nas áreas mais elevadas, verifica-se que a urbanização dessas áreas e
impermeabilização do solo pode acelerar o processo de escoamento superficial das águas pluviais e,
portanto, todos esses fatores associados podem ocasionar e acelerar os impactos hidrometeóricos de
aguaceiros, enxurradas e alagamentos, uma vez que o sistema de drenagem pluvial da cidade
apresenta falhas.
Diante disso e também com as imagens comprovando a existência de enxurradas e
alagamentos na cidade, é possível afirmar que medidas mitigadoras e planejamentos ambientais
urbanos precisam ser adotados, principalmente, no que tange ao sistema de drenagem pluvial, para
tentar resolver ou amenizar este problema. Reitera-se que a continuação do crescimento da malha
urbana, para as áreas mais altas da cidade, poderá acelerar ainda mais esse problema. Fica claro,
também, que as políticas públicas devem considerar as condições climáticas das precipitações para

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

diminuir a vulnerabilidade de impactos hidrometeóricos da população em geral na cidade de Vitória


da Conquista.

REFERÊNCIAS

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<http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 29 abr. 2017.

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Acesso em: 24 abr. 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RISCOS E IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO NOS BIOMAS COSTEIROS: UMA


ANÁLISE DE CASOS ESPECÍFICOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Marcelo Penna da SILVA


Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
celo_penna2@hotmail.com
Victor Pereira de SOUSA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UERJ
victordesousa@outlook.com.br
Moacir Apolinário da COSTA
Graduando em Licenciatura em Geografia – UNEMAT
moahbtw@gmail.com
Leonardo de Souza MEDEIROS
Mestre em Cognição e Linguagem – UENF
Leonardosm1985@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho visa uma análise do processo de ocupação urbana dos biomas costeiros
articulada aos impactos ambientais causados e, consequentemente, os impactos urbanísticos. Dessa
forma, toma-se o distrito de Atafona, em São João da Barra/RJ e a Zona Sul da cidade do Rio de
Janeiro, como foco desta pesquisa afim de que, através da análise dos autores, compreenda-se que o
avanço da linha do continente em direção e sua ocupação, pode ser afetada pela dinâmica costeira
não regular.
Palavras-chaves: Urbanização; Biomas Costeiros;
RESUMEN
El presente trabajo busca en análisis del proceso de ocupación urbana de los biomas costeros
articulado a los impactos ambientales causados y, consecuentemente, los impactos urbanísticos. De
esta forma, se toma el distrito de Atafona, en São João da Barra / RJ y la Zona Sur de la ciudad de
Rio de Janeiro, como foco de esta investigación a fin de que, a través del análisis de los autores, se
comprenda que el avance de la investigación La línea del continente en dirección y su ocupación,
puede ser afectada por la dinámica costera no regular.
Palabras-claves: Urbanización; Biomas Costeros;

INTRODUÇÃO

Historicamente a sociedade humana passou progressivamente a intervir mais intensamente


na apropriação dos recursos naturais. Devido a isso, existe atualmente uma preocupação muito
grande em organizar o espaço, de modo que essas mudanças agridam o mínimo possível o meio
ambiente (MORAIS, 2009).
Assim, é possível observar que ao longo dos anos, a ocupação e, consequentemente, o
processo de urbanização na zona costeira, tem sido acentuado pelo aumento do quantitativo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

demográfico dessas áreas, causando assim, uma intensa apropriação dos espaços costeiros e sua
modificação, modelando-os à dinâmica daqueles que ali usufruem e que, por vezes, não enxergam
as consequências diretas e indiretas que causam em tais espaços. De uma forma geral,
compreendemos, assim como Kunst (2011) que:

Na zona costeira brasileira são encontrados muitos contrastes, devido à extensão e a


quantidade de população habitando a região e fazendo nela diferentes tipos de uso e
ocupação. Esses usos, muitas vezes, são conflitantes com as características naturais, com a
complexidade dos diversos ecossistemas encontrados nessa região. As consequências
podem ser desastrosos impactos ao meio ambiente. Pois, a zona costeira brasileira abriga
atividades: portuárias, industriais, turísticas, além da grande urbanização e da exploração
turística em larga escala, principalmente nas metrópoles e centros regionais litorâneos e,
várias dessas atividades são conflitantes umas com as outras, ou até mesmo com o meio
ambiente do local em que são realizadas. (KUNST, 2011 p. 12)

Em um aspecto mais específico, as áreas costeiras do estado do Rio de Janeiro tornaram-se,


a partir do século XX, um grande atrativo para a população no geral, de qualquer classe social, seja
para o simples lazer ou, para aqueles mais capitalizados habitarem, mesmo que na maioria das
vezes como habitações de veraneio e/ou sazonal. Assim sendo, podemos afirmar que o
comportamento antrópico impôs modificações nas condições ambientais pré-existentes, nos locais
em que praticam suas atividades e onde residem. Dessa forma, ao ponto que compararmos uma
determinada paisagem em momentos distintos será apresentado um ambiente mais equivalente ao
natural, no primeiro, e o outro, mais latente a ação humana.

[...] Essa diversidade de atividades desenvolvidas na região, sem adequado planejamento


ambiental e urbanístico, somada a um regramento jurídico confuso, obsoleto e em
descompasso com as demandas econômicas e sociais que ora se apresentam, constituem
entraves ao desenvolvimento sustentável da zona costeira [...] (LOUREIRO FILHO, 2014).

O crescimento populacional é a principal forma de pressão que ocorre no ambiente marinho


e costeiro. A necessidade de terras para construção de casas e infraestrutura, a dependência dos
recursos naturais para alimentação da população e a necessidade de água doce são alguns dos
problemas decorrentes do crescimento populacional especialmente nas grandes cidades
(FARINACCIO, 2008).
Logo, como afirmam Gama & Macedo (2013), as intervenções promovidas pela sociedade
no ambiente estão alterando a dinâmica da natureza nas escalas regionais e principalmente locais.
Sendo assim, podemos perceber que as intervenções entre sociedade e natureza, nos biomas
costeiros, é fruto de uma busca por áreas de grande valorização, visando um status social e
econômico. Assim, veremos como afirmam Silva & Sousa (2016), o homem busca impor-se à
natureza desde sempre, transformando a natureza em uma realidade da sua visão.
Dessa forma, tem-se por objetivos compreender a ocupação da área costeira, tendo por base
algumas cidades referenciando essa ocupação como o caso do distrito de Atafona, em São João da
Barra, e a Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, sendo possível discutir os efeitos causados pelo do

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

processo de ocupação dos biomas costeiros. Assim, o presente trabalho segue metodologicamente
por um estudo de gabinete, sendo arcabouçado em obras de autores renomados acerca de tal
temática, seguido da análise daqueles que compõem esta obra, sob a tutela de seu orientador e
culminando da compreensão através do diagnóstico de imagens providas pelo software Google
Earth.

OS BIOMAS COSTEIROS DO RIO DE JANEIRO E SUA OCUPAÇÃO

O homem é um agente ativo que tanto sofre influências do meio como atua construindo e
modificando o espaço em que vive (MORAIS, 2009). O Brasil possui uma área costeira de mais de
8.500 km, segundo o Ministério do Meio Ambiente, banhada pelo Oceano Atlântico e rica em uma
biodiversidade e relevos característicos responsáveis por uma dinâmica de construção e preservação
desta área. A zona costeira abrange uma interação de ecossistemas dos mais variados possíveis e é
considerada uma área de transição do ambiente terrestre para o marinho.
O ambiente costeiro é de grande valia para o país, e abriga além das atividades econômicas,
de acordo com o IBGE (2010), cerca de 23,58% da população brasileira vivendo em área costeira, e
assim, desempenhando papel de urbanização nesta área, que em sua grande maioria, visa um
processo urbanístico que depreda os biomas costeiros.
Assim, compreendemos que, segundo Morais:

A Zona Costeira pode ser definida como a interface ou espaço de transição entre a terra e o
mar, entendidos como grandes domínios ambientais que são influenciados tanto por
processos continentais como oceânicos. Ela se caracteriza pela tridimensionalidade dos seus
componentes, ou seja, é formada na área de interação direta, entre os componentes da
Geosfera (continente), Hidrosfera (águas doces e salgadas) e Atmosfera (MORAIS, 2009).

Dessa forma, grandes marcas dessa área são as dunas e restingas, ambas arremetidas à sua
beleza natural, sendo vistas como grandes símbolos desses ambientes e alvo desta pesquisa. Assim,
veremos que com o passar do tempo, esses dois biomas costeiros foram centro de profundas
transformações ocasionadas pelo homem em busca de uma ocupação destes locais.
Observamos que com a intensificação da ocupação das áreas costeiras, o processo de
urbanização também foi atenuado, dessa forma, compreendemos que as dunas tornam-se
fornecedoras de areia para aterros, a extração da vegetação das restingas e o relevo costeiro é
modificado a fim de ser ocupado por construções, pavimentação, dentre outros.
Talvez como resultado de tudo, a zona costeira é caracterizada pela competição intensa por
recursos e espaços terrestres e marinhos, por vários grupos de interesse, o que frequentemente
resulta em conflitos severos e destruição da integridade funcional do sistema de recursos
(ANDRIGUETTO FILHO, 2004, p. 190).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Podemos marcar o início do século XX na cidade do Rio de Janeiro, durante a Reforma


Pereira Passos, tendo por base a especulação imobiliária, a expansão demográfica e os interesses
sociais, a Zona Sul foi ocupada e desenhada de acordo que representasse as aspirações de uma
população elitizada, mesmo que isso custasse uma transformação, ou melhor, uma reformulação do
relevo costeiro.Dessa forma, as restingas que ali existiam foram destruídas, aqueles que conhecem
essa parte do Rio de Janeiro, já observaram que dunas são quase inexistentes. Toda essa região foi
reformulada para atender aos interesses sociais, sem mesmo uma visão dos problemas futuros
vindouros.
Outro grande marco da ocupação dos ambientes costeiros, na cidade do Rio de Janeiro,
pode-se citar a ocupação da praia do Aterro do Flamengo, tendo em vista que ocorreu a
progradação, o avanço da linha do litoral em direção ao oceano, sob a visão de um espaço voltado
para atender as atividades humanas, bem como seus luxos e desejos, sem compreender de forma
adequada quais seriam as consequências ao longo do tempo. Toda a área do Aterro do Flamengo,
como o nome mesmo já diz, é produto de um aterramento que foi realizado pela retirada de massa
do antigo Morro do Castelo e também pelo ―excesso‖ de sedimentos que presente nas praias da
Zona Sul que com o estreitamento da faixa de areia o excesso teve que ser destinado para algum
lugar.

Figura 1: Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória, Nicolas-Antoine Taunay (1817)

Ao compararmos tal fato, sob uma pequena e rápida análise da obra de Taunay (1817), como
consta na Figura 1, teremos uma pequena visão da ocupação primária desta região, tendo a linha do
mar atingindo uma parte mais para o interior do continente.

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Figura 2: Localização por software do crescimento urbano desde a obra de Taunay, na qual vê-se a marca da
Igreja do Outeiro

Assim, com a ocupação dos biomas costeiros, fez-se necessário prolongar a linha do
continente, tendo assim, a sociedade ocupando e reformulando esta área sob sua contextualização,
tornando-a uma região bem valorizada, caracterizada por suas praias ao longo de toda a Zona Sul,
com quase a inexistência de dunas e restingas.
Essa situação não predominou somente na capital, vemos que as ocupações de outros locais
foram bem marcadas como Atafona, distrito pertencente ao município de São João da Barra – RJ.
O caso de Atafona, no município de São João da Barra, tornou-se expressivamente
característico do efeito da ocupação destes ambientes, tendo até a presente data o poder público
enfrentando graves problemas com o referido distrito.
Através da análise de imagens disponibilizadas pelo software Google Earth, podemos
perceber que a área da praia não é estável, sofrendo o processo de transgressão e regressão marinha,
e assim, vemos que cada transgressão marinha, ocorre a progradação continental, o avanço da linha
continental em direção ao oceano, e neste caso, em um desses determinados períodos ocorreram a
simples ocupação desta área sem que ocorra um devido planejamento e análise desta ocupação.
Veremos de acordo com Noronha (s/d. apud Gomes, 2012) que a partir da década de 1940 do século
XX, Atafona vai presenciar um desenvolvimento urbano aliado ao processo intensivo do turismo na
localidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Atafona 1984 e 1992, respectivamente.

Figura 4: Atafona 2003 e 2012, respectivamente.

OS IMPACTOS CAUSADOS NA OCUPAÇÃO

Os processos de uso e ocupação das áreas costeiras, sejam os impulsionados pela


urbanização ou pelo desenvolvimento turístico, são responsáveis por uma série de modificações
significativas e muitas vezes de caráter irreversível nesses ambientes (AQUINO et al., 2003).

[...] A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioeconômicos


complexos que afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade
de internalizar as bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão
democrática dos recursos naturais. Estes processos estão intimamente vinculados ao
conhecimento das relações sociedade-natureza (LEFF, 2006, p. 61-62).

Por mais que os locais aqui analisados possuam uma dinâmica diferente entre si, podemos
perceber através de relatos e análises as graves consequências causadas por esta urbanização
imposta às áreas que antes se caracterizavam pelo domínio de biomas. Seja sua ocupação feita pelo
aumento da busca pelo lazer ou pelo simples aumento da população da localidade, enxerga-se que
tal urbanização visou somente o benefício humano, o querer social. E que mesmo quando procurou
atentes a necessidades básicas do ser humano – como o direito a moradia – foi realizado de forma
inadequada.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Dessa forma, a ampliação do tecido urbano pelo bioma costeiro no Pontal de Atafona,
causou perdas irreparáveis, tanto imobiliárias daqueles que ali habitavam, quanto também de
equipamentos do poder público.

À medida que se multiplicam os discursos sobre a erosão, sobre o cenário resultante e sobre
seus impactos sobre a vida dos moradores, Atafona torna-se um lócus privilegiado para
refletir sobre a diversidade presente na forma como os grupos sociais constroem sua relação
com o ambiente. Para além dos aspectos valorizados nas reportagens, nas quais a leitura
sobre as mudanças ambientais em Atafona são demasiadamente marcadas pelas perdas
patrimoniais[...] (GOMES, 2012).

Foi observado que no de 2016, o conglomerado de bairros costeiros da Zona Sul da cidade
do Rio de Janeiro foi marcado pela ocorrência de ressacas na zona praial que deixaram sua marca: a
orla sofreu graves prejuízos na área do Leblon, a ocorrência de ondas fortes e grandiosas
interditaram determinados trechos da Avenida Atlântica (avenida paralela à linha costeira), além de
em alguns casos, como em Ipanema e Copacabana, pode-se perceber que as ondas chegaram a
atingir a portaria de alguns prédios, como noticiou a mídia jornalística da época. Assim,
perceberemos que a ocupação da zona costeira na Zona Sul do Rio de Janeiro sofre com impactos
cada vez mais eventuais, causando a esta área impactos bem menores se comparados a outros
locais, como se comparado ao caso de Atafona.

Figura 9: Areia tomou conta da Avenida Delfim Moreira (Foto: Marcello Cavalcanti / Arquivo pessoal).
Disponibilizado por G1.com em 29/10/2016

Em Atafona, percebemos que a processo que ali atua ainda é algo em discussão para a
comunidade científica, que ainda não conseguiu estabelecer uma compreensão específica sobre a
dinâmica que ali ocorre. Porém, veremos que o impacto nesta localidade é mais agressivo e latente,

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sendo a perda do imobiliário urbano presente no Pontal do Atafona. Percebe-se que a cada processo
de progradação continental, avança-se a expansão do tecido urbano em direção à zona costeira,
sendo construído em áreas de dunas e restingas diversos tipos de construções como hotéis, casas,
etc. Dessa forma, como dito anteriormente, a zona costeira de Atafona não é bem definida, e a cada
processo de transgressão marinha e avanço das dunas, veremos chocar-se ambos os fenômenos com
o tecido urbano que ali foi estabelecido, causando para a localidade uma perda do imobiliário
urbano.

Conforme largamente noticiado na imprensa local e nacional, no distrito de Atafona


ocorreram e ainda ocorrem sucessivas variações na morfologia costeira, o que tem
provocado inúmeras perdas imobiliárias e a destruição de equipamentos públicos nas
últimas décadas. (GOMES, 2012)

Figura 6: Atafona 2003

Figura 7: Atafona 2015

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Figura 10: Atafona 2016

Diversas famílias tiveram que abandonar suas casas, empresários perderam seus
empreendimentos e até mesmo construções religiosas foram perdidas, como um templo católico que
existia na localidade.
O chamado processo de retrogradação levou à destruição de 183 construções, distribuídas
em 14 quadras, dentre as quais se contam casas de veraneio, uma colônia de pescadores,
dois faróis de sinalização, uma capela, um posto de gasolina e uma igreja, a de Nossa
Senhora dos Navegantes. (RIBERIO, 2004 apud GOMES, 2012)

Alguns estudos tratam a perda que ocorre em Atafona como algo relacionado somente a
questão física, algo que coloca essa área como variável, porém não enxerga a ampliação do tecido
urbano sob esta mesma instável área como um problema e tem assim, as perdas urbanas como grave
consequência, bem como os impactos causados em sua população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos bens indispensáveis ao ser humano,


por força de sua contribuição à sadia qualidade de vida e à dignidade social (LEITE, 2003, p. 284).
A preocupação com a integridade e o equilíbrio ambiental das regiões costeiras decorre do fato de
serem as mais ameaçadas do planeta, justamente por representarem, também para as sociedades
humanas, um elo de intensa troca de mercadorias, tornando-se alvo privilegiado da exploração
desordenada, e muitas vezes predatória, de recursos naturais, e ainda por terem se tornado, já na era
industrial, o principal local de lazer, de turismo ou de moradia de grandes massas de populações
urbanas (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006, p. 4).
Como verifica Morais (2009), para satisfazer suas aspirações socioeconômicas, o ser
humano, através do desenvolvimento de algum tipo de atividade utiliza-se de um espaço físico,
gerando, assim, efeitos sobre o meio ambiente. E é por meio da ocupação e estabelecimento das
suas atividades, que os seres humanos vão usufruindo e modificando os aspectos do espaço natural,
transformando a chamada primeira natureza em segunda natureza. Assim, como ressaltam Silva &
Lima (2013), veremos que a zona costeira vem sendo modificada decorrente de variados impactos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

que são provenientes de um processo urbanístico histórico de ocupação, de forma desplanejada e


ausente de qualquer forma de ordem, apresentando atualmente, os resultados dessa ocupação e
destruição dos biomas costeiros.
Em Atafona (RJ), percebe-se que a solução mais sensível encontrada, tanto pela população
quanto pelo poder público, foi à realocação daqueles habitantes que ali estavam. Já na Zona Sul do
Rio de Janeiro percebemos que a saída ainda é a realização do conserto do que foi destruído pela
ação do mar. Cremos que nesta região, devido os impactos não serem tão latentes quanto em
Atafona, por exemplo, as soluções apresentam-se mais como paliativos do que resoluções de fato,
afinal, sendo um bairro marcado pela alta especulação imobiliária e o alto domínio da elite carioca,
a realocação é algo totalmente fora de questão.
Nas analisadas neste trabalho, podemos perceber que a ação da dinâmica costeira atua
fortemente, sendo em uma, Atafona, de forma maior e mais intensa, todavia, a dinâmica é a mesma:
a urbanização que adentra e toma a zona costeira para si, em prol do benefício humano, sem
compreensão de suas consequências, sofre posteriormente com o processo costeiro, seja de forma
contínua e grave, como em Atafona, ou de forma momentânea e leve/moderada, como na Zona Sul
da cidade do Rio de Janeiro.

REFERÊNCIAS

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―usos e conflitos‖: uma reflexão sobre a evolução epistemológica da linha do ―costeiro‖.
Curitiba: EDUFPR, 2004.

AQUINO. M; MOTA, S; PITOMBEIRA, E. Impactos ambientais da ocupação desordenada da


Praia da Caponga-CE. II Congresso sobre Planejamento e Gestão das Zonas Costeiras dos
Países de Expressão Portuguesa. Ceará, 2003. Disponível em:
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/9270/1/2003_eve_fsbmota_impactos.pdf Acesso
em 20 de junho de 2017.

FARINACCIO, A. Impactos na dinâmica costeira decorrentes de intervenções em áreas arenosas e


canais estuários de áreas densamente ocupadas no litoral de São Paulo, uma aplicação do
conhecimento as áreas ocupadas. Tese (Doutorado em Ciências). Universidade de São Paulo,
2008.

GAMA, S. V. G. da; MACEDO, V. L. de. Espaço, natureza e sociedade. V. 1 e 2 – Rio de Janeiro:


Fundação CECIERJ, 2013.

GOMES, R. S. A Ilha, o Mar, e a ―Cidade Debaixo d‘Água‖: paisagens e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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KUNST, A. V. A dinâmica urbana e os impactos ambientais no município de Arroio do Sal/RS.


Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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LEFF, E. Epistemologia Ambiental. 4 Ed. São Paulo: Cortez, 2006.

LEITE, J. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.

LOUREIRO FILHO, L. S. A competência do município na zona costeira urbana. Tese de


Doutorado apresente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo – SP,
2014.

MORAIS, L. Expansão urbana e qualidade ambiental no litoral de João Pessoa-PB. Dissertação


(Mestrado em Geografia). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.

SILVA, J. F. da; LIMA, C. dos S. Expansão urbana na zona costeira de São Luis – MA: a gestão
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SILVA, M. P; SOUSA, V. P. da O preço do progresso humano: a problemática ambiental


articulada ao processo de urbanização. XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica,
XVI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência –
Universidade do Vale do Paraíba, São José do Campos – SP, 2016.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ANÁLISE DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DECORRENTES DO


LANÇAMENTO DE EFLUENTES NO TRECHO DO CANAL FLUVIAL DO RIO
PIANCÓ NA CIDADE DE POMBAL-PB

Marcio Antonio Bezerra de ALMEIDA JUNIOR


Graduando do Curso de Geografia da UFCG/CFP
marcioaldjr@gmail.com
Francisco Heverton de Aquino COSTA
Graduando do Curso de Geografia da UFCG/CFP
heverton.rn@hotmail.com
Genilson Oliveira Costa SILVA
Graduando do Curso de Geografia da UFCG/CFP
Genilsoncostaesilva2017.1@gmail.com
Orientador: Dr. Aloysio Rodrigues de SOUSA
Professor Dr. do Curso de Geografia da UFCG/CFP
alorodriguesousa@gmail.com

RESUMO
A disponibilidade de água é um papel essencial para a sobrevivência humana e para o
desenvolvimento das sociedades, porém, a quantidade de água armazenada em cada um dos seus
grandes reservatórios na Terra, sofrem diariamente com a poluição que são decorrentes do
lançamento de efluentes domésticos em seus cursos d‘água. Os motivos que justificam a elaboração
dessa pesquisa, se consiste no fato do lançamento de efluentes sem devido tratamento no Rio
Piancó. O objetivo geral dessa pesquisa, é fazer uma análise descritiva dos impactos
socioambientais causados pelo lançamento de efluentes no trecho do canal fluvial no Rio Piancó na
cidade de Pombal-PB. Realizou-se estudos de referenciais bibliográficos através de documentos,
que possibilitou analisar, avaliar e diagnosticar os impactos socioambientais da área estudado. Os
resultados obtidos permitiram concluir que a poluição ocasionada pelo lançamento de efluentes no
trecho do canal fluvial do Rio Piancó, ocasiona impactos socioambientais, de forma direta ou
indireta, na área estudada.
Palavras chave: cursos d‘águas, efluentes domésticos, impactos socioambientais.
SUMMARY
Water availability is an essential part of human survival and the development of societies. However,
the quantities of water stored in each of its large reservoirs of water on Earth suffer daily from the
pollution that results from the discharge of effluents In their waterways. The reasons that justify the
elaboration of this research, is due to the fact of the discharge of effluents without due treatment in
Rio Piancó. The general objective of this research is to make a descriptive analysis of the social and
environmental impacts caused by the discharge of effluents in the stretch of the river channel in the
Piancó River in the city of Pombal-PB. Studies of bibliographic references were carried out through
documents, which made it possible to analyze, evaluate and diagnose socio-environmental impacts
in the studied area. The obtained results allowed to conclude that the pollution caused by the
discharge of effluents in the section of the fluvial channel of the Rio Piancó, causes
socioenvironmental impacts, directly or indirectly, in the studied area.
Keywords: water courses, domestic effluents, social and environmental impacts.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e o processo de urbanização intenso e desordenado, nas


margens de rios, têm causado problemas diversos impactos socioambientais como a degradação
ambiental dos corpos hídricos devido ao lançamento de efluentes domésticos sem o seu devido
tratamento, o que resulta em um desafio no âmbito social e ambiental.
Em busca de um ambiente ecologicamente equilibrado, e essencial a qualidade de vida,
criou-se em 5 de janeiro de 2007 a Lei Federal nº 11.445, que estabelece as diretrizes para o
saneamento básico em todo o país e abarca os serviços de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo de águas pluviais
urbanas, e reforçando ainda mais essa busca de um ambiente ecologicamente equilibrado.
Os motivos que justificaram a elaboração dessa pesquisa, se deu pelo fato da cidade de
Pombal, localizar-se próximo das margens do rio Piancó, onde o consumo de água da população
depende exclusivamente desse rio, que é perenizado pelo açude Estevam Marinho. Porém, o curso
do canal fluvial do Rio Piancó na cidade de Pombal, apresentam sinais de poluição devido ao
lançamento de efluentes em seu curso, sem o devido tratamento, o que provoca diversos impactos
socioambientais.
O objetivo geral deste artigo é fazer uma análise descritiva dos impactos socioambientais
causados pelo lançamento de efluentes no trecho do canal fluvial no Rio Piancó na cidade de
Pombal-PB, propondo, a partir de então, alternativa considerada adequada para o destino dos
efluentes domésticos na área estudada.

REFERENCIAL TEÓRICO

A região do semiárido brasileiro está situado na maior parte do Nordeste brasileiro, sendo
constituído por um conjunto de espaços caracterizados pelo balanço hídrico negativo, resultante das
precipitações médias anuais inferiores a 800mm (BRITO, et al., 2007, p. 37). A natureza no
semiárido brasileiro traz, em si, a marca da escassez hídrica, que em tem sua história diversos
eventos severos de secas (SOUZA FILHO, 2011, p. 3).
As reservas hídricas no Semiárido, apresentam déficit de água em seus mananciais, com
temperaturas elevadas durante todo o ano e altas taxas de evapotranspiração. Os totais
pluviométricos são inferiores a 900 mm/anuais, sendo estes superados pelos altos índices de
evapotranspiração, o que resulta em taxas negativas em seu balanço hídrico. Trata-se, portanto, de
um território em que a irregularidade de chuvas pode representar longos períodos de estiagem
(ANA, 2010, p. 21).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A partir de análises realizadas na qualidade da água dos mananciais, foi proposta uma
implantação de redes coletoras de esgotos e de estações de tratamento de esgotos para os
municípios que fazem a captação de águas próximos a sua área de drenagem, o que oferece diversos
impactos em termos de poluição, devido as ocupações urbanas sobre os mananciais de
abastecimento público (ANA, 2010, p. 60).
A Lei Ordinária N.º 11.445 de 05 de janeiro de 2007, definiu o saneamento básico como o
conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais que atendem o abastecimento de
água potável, o esgotamento sanitário, a limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos, assim
como a drenagem e manejo das águas pluviais (BRASIL, 2007).
De acordo com os dados do IBGE referentes a 2008, o saneamento básico no Brasil,
apresenta em sua realidade um imenso déficit, principalmente em relação à coleta e ao tratamento
efluentes. Cerca de 55% dos municípios brasileiros apresentam baixos índices na coleta de esgoto
sanitário, e cerca de 28% dos municípios recebem o tratamento de esgoto sanitário (IBGE, 2010).
No que tange o esgotamento sanitário, a Lei Ordinária nº 11.445 de 05 de janeiro de 2007,
define que o serviço de esgotamento sanitário são constituídos pelas instalações operacionais de
coleta, transporte, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários, desde as suas ligações até o
seu lançamento final no meio ambiente (BRASIL, 2007).
Porém esse é um serviço pouco disseminado na maior parte do território brasileiro,
principalmente na região Nordeste, no que se refere à coleta e ao tratamento do esgoto sanitário,
provocando diversas consequências ao meio ambiente e à saúde pública.
O decorrer do crescimento das cidades e das populações, os corpos d´água passaram a
receber maiores cargas poluidoras do que ás suas capacidades de autodepuração, tornando as águas
poluídas. Isso fez com que a sociedade buscasse uma nova de paradigma para a administração dos
recursos hídricos e meio ambiente (CAMPOS e STUDART, 2003, pp. 113-114).
As últimas décadas foram retratadas por um crescimento bastante acelerado em busca pela
demanda de água, e vários países encararam o problema da degradação da qualidade das águas,
onde é praticado hoje, taxas pelo uso dos recursos hídricos, e em que os consumidores poluidores
devem ser os pagadores (CAMPOS e STUDART, 2003, p. 117).
De acordo com Campos e Studart (2003), a cobrança de água encontra-se inserida na
legislação brasileira desde os anos 70, e a Lei nº 9.433/1997, estabelece as situações onde a retirada
de água estão passiveis à outorga e cobrança. A cobrança é fundamentada nos princípios do usuário-
pagador e do poluidor-pagador, que variam de acordo com as particularidades socioeconômicas e
geográficas de cada bacia (FACHIN e SILVA, 2014, p.170).
Dessa forma, o poluidor assume com os custos da manutenção, reparação dos danos
causados pela poluição e pela preservação dos bens ambientais utilizados, e o consumidor assume

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

com os encargos de sua prevenção (FACHIN e SILVA, 2014, p.171). A cobrança feita pelos
serviços públicos de saneamento, que envolve o tratamento de água e esgoto, são realizadas
mensalmente, por meio da emissão de uma fatura (TUCCI, 2001, p.131).
Em relação aos esgotos, a NBR 7.229 define como ―líquido que contém resíduos da
atividade humana‖, que podem ser de origem doméstica ou industrial. Essas as água residuárias que
constituem o esgoto de uma cidade, devem ser controlados por um sistema de tratamento adequado
antes do seu lançamento em um corpo receptor (SANTOS, 2007, p. 13-14).
No que tange aos esgotos domésticos, estes contêm aproximadamente 99,9% de água, e a
fração restante de 0,1%, são compostas por sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e
dissolvidos, bem como microrganismos, por isso que há necessidade de se tratar os esgotos, pela
ocorrência dos impactos que a poluição possa causar as águas (VON SPERLING, 1996, p. 59).
As características dos esgotos gerados são em função dos usos à qual a água foi submetida,
que variam com o clima, a situação social e econômica, e os hábitos da população. Desta forma,
entende-se que a qualidade dos esgotos gerados são provenientes das impurezas incorporadas à
água em decorrência do uso à qual a água foi submetida, variando com o clima, a situação
socioeconômica e hábitos da população (VON SPERLING, 1996, p. 59).
O nível de tratamento e a eficácia do seu tratamento nas Estações de Tratamento de Esgotos
(ETE), objetiva a remoção dos poluentes no tratamento, adequando o lançamento a um padrão de
qualidade, de acordo com a legislação vigente que prevê os padrões de qualidade para o efluente e
para o corpo receptor (VON SPERLING, 1996, p. 169).
De acordo com Von Sperling (1996, p. 169), o tratamento dos esgotos é usualmente
classificado através dos seguintes níveis: preliminar, primário e secundário.
O tratamento preliminar constitui-se pela à remoção de sólidos grosseiros e areia. Essa
remoção dos sólidos grosseiros é realizada por meio de grades, de forma que o material de
dimensões maiores do que o espaçamento entre as barras fiquem retidos, que tem como finalidade a
proteção dos dispositivos de transporte dos esgotos e a proteção das unidades de tratamento
subsequentes. Já a remoção da areia é realizada através de desarenadores (VON SPERLING, 1996,
p. 182).
O tratamento primário tem por finalidade à remoção de sólidos em suspensão sedimentáveis
e sólidos flutuantes. Esse tratamento é feito por tanques de decantação, onde os esgotos fluem
vagarosamente, o que permite que os sólidos em suspensão, sedimentem-se gradualmente no fundo
(VON SPERLING, 1996, p. 184).
O tratamento secundário tem como principal propósito a remoção da matéria orgânica, que
pode ser a matéria orgânica dissolvida, que não é removida pelos processos de sedimentação, como
ocorre no tratamento primário e a matéria orgânica em suspensão, cujos os sólidos dos tanques de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

decantação persistem na massa líquida, apesar de que boa parte é removida no tratamento primário
(VON SPERLING, 1996, p. 185).
De acordo com Santos (2007, p. 57), o sistema mais utilizado no tratamento de esgoto
sanitário no Brasil, é o de lagoa anaeróbica facultativa, que transforma o material orgânico em
produtos mineralizados na água residuária a ser tratada. Esse sistema de esgoto é bastante utilizado
na região Nordeste, devido aos baixos custos com a operação e a sua manutenção (SANTOS, 2007,
p. 164).
A lagoa anaeróbica facultativa (Figura 01) recebe o esgoto bruto que entra em uma lagoa de
dimensão menor e mais profunda, onde predomina-se as condições anaeróbias, tendo o seu período
de permanência na lagoa anaeróbica de 3 a 5 dias, aonde a decomposição da matéria orgânica é
parcial, porém essa remoção contribui aliviando a carga para a lagoa facultativa (VON SPERLING,
1996, p. 189).
O processo seguinte na lagoa facultativa depende, unicamente, de fenômenos naturais, sem a
necessidade alguma de equipamentos. Porém, a estabilização da matéria orgânica se processa em
um período superior a 20 dias (VON SPERLING, 1996, p. 186).

Figura 01. Lagoas anaeróbica – facultativas


Fonte: Von Sperling, (2017, p. 291).

Esse método é empregado no tratamento da fase líquida do esgoto, que corresponde ao fluxo
principal do líquido na estação de tratamento de esgotos, enquanto a fase sólida corresponde aos
subprodutos sólidos produzidos no tratamento, que correspondem ao lodo (VON SPERLING, 1996,
p. 173).
Porém nesse sistema de lagoa anaeróbica facultativa, o lodo permanece retido no sistema,
por isso leva essa média de 10 a 20 anos para ser removido e tratado, tendo a sua disposição final,
os aterros sanitários (VON SPERLING, 1996, p. 208).
A falta do esgotamento sanitário nas cidades e o acondicionamento inadequado dos
efluentes em corpos hídricos acabam ocasionando impactos socioambientais, o que provoca riscos à

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

saúde humana, por meio de doenças de veiculação hídrica e impactos diretos ou indiretos ao meio
ambiente.
Segundo a resolução Conama nº 001 de janeiro de 1986, o impacto ambiental é qualquer
modificação de propriedade física, química e biológica do meio ambiente, causada por qualquer
forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
prejudique a saúde, a segurança, o bem-estar da população, as atividades sociais, econômicas, a
biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais
(CONAMA, 1986).
De acordo com Sánchez (2008, p. 31), o impacto ambiental se trata de uma alteração do
meio ambiente provocada por ações antrópicas, que podem ser benéfica ou adversa, e isso deve ser
considerado quando se realiza um estudo de impacto ambiental.
Percebe-se desta forma, que o impacto ambiental é resultado de qualquer ação exercida pela
relação da sociedade com o meio ambiente, e que possa afetar a saúde, a segurança, o bem-estar da
população, as atividades socioeconômicas, fauna, flora, as condições sanitárias do meio ambiente e
a qualidade dos recursos ambientais.
Dessa forma, o termo utilizado neste trabalho é de impacto socioambiental, pois essa
expressão salienta a perspectiva das relações humanas e sociais com o meio ambiente e os impactos
ambientais que esse processo possa ocasionar.
Segundo Von Sperling (2017, p. 45), a poluição das águas se dar pela adição de substâncias
ou de formas de energia que altere de forma indireta ou direta, a natureza do corpo d'água,
prejudicando os legítimos usos que dela são feitos.
O lançamento de efluentes de origem doméstica, através de fontes de conexões irregulares
na rede de drenagem pluvial, é um dos principais fatores de degradação da qualidade da água nos
corpos d‘água, o que pode produzir substâncias tóxicas e patogênicas. Ressalta-se ainda, que o
lançamento de resíduos sólidos sobre os sistemas de drenagem, contribui para o aumento da
degradação ambiental dos sistemas hídricos (RIGHETTO; MOREIRA; SALES, 2009, p. 36).
Sánchez (2008, pp. 196-197), destaca que se o lançamento de esgotos domésticos forem
lançados em grande quantidade em um corpo d‘água sem o seu devido tratamento, isso acarretara
em um impacto cumulativo ou acumulativo no tempo ou no espaço, resultando na degradação da
qualidade das águas dos corpos d‘água.
Vale ressaltar, que o lançamento de efluentes sem tratamento em corpos d‘água, permite a
proliferação de inúmeras doenças, o que acaba refletindo no aumento da demanda pela busca de
serviços de saúde (TERA, 2017, p. 18). Von Sperling (2017, p. 99-100), ressalta que os
microrganismos presentes nos esgotos são capazes de causar doenças nos seres humanos e animais,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e a presença desse organismo são indicadores da eficiência da remoção dos patógenos no processo
de tratamento de esgotos (VON SPERLING, 2017, pp. 106-107).

METODOLOGIA

De acordo com Lakatos (2003, p. 183), a pesquisa bibliográfica fornece ao pesquisador


diversos dados, exigindo a manipulação e procedimentos diferentes, tais como a imprensa escrita,
material cartográfico e publicações, desde o uso de livros, teses, monografias e publicações avulsas,
o que abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo.
Dessa forma, este trabalho foi realizado durante o período de 22/05/2017 à 28/07/2017,
utilizando-se de materiais e métodos que viabilizaram a execução das atividades propostas, como o
embasamento da pesquisa bibliográfica, observação in loco, registro fotográfico, levantamento de
bases cartográficas em arquivos shapefiles e o uso do software de geoprocessamento Qgis 2.8.3
para o processamento das bases cartográficas para elaboração dos mapas.
A partir do uso do software Qgis, foi possível definir a área de estudo e o seu
georrefereciamento digital, levando em consideração a drenagem utilizada para o abastecimento e o
trecho de lançamento final dos efluentes domésticos na área estudada.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Pombal está localizado na porção Oeste do Estado da Paraíba, Região


Geográfica Intermediária de Patos e Região Geográfica Imediata de Pombal (IBGE, 2017, p. 24),
com coordenadas geográficas de 06º 46‘ S de latitude e 37º 47‘ W de longitude, e uma altitude de
160 metros. A área territorial do município é de 889,491 km², com uma população de 32.110
habitantes, e apresenta uma densidade demográfica de 36,13 hab/km² (IBGE, 2016), O Mapa 01
localiza o município de Pombal-PB com suas respectivas drenagens principais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 833


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Mapa 01. Mapa de localização geográfica do município de Pombal-PB.


Fonte: Elaborado pelos autores.

A área de estudo compreende o trecho do canal fluvial do Rio Piancó, que é utilizado para o
abastecimento urbano do município (Mapa 02). Esse trecho também compreende a área de despejo
final das águas residuárias, que são lançadas a céu aberto ou interligadas às galerias de drenagem
pluvial, o que ocasiona sérios impactos socioambientais no corpo hídrico receptor.

Mapa 02. Mapa de localização geográfica da área de estudo.


Fonte: Elaborado pelos autores.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 834


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O levantamento dos impactos socioambientais na área de estudo, foram realizados pela


observação in loco, e são retratadas pela atividade antrópica como uma potencial atividade
poluidora, levando em consideração os aspectos socioeconômicos e o meio físico no qual estão
inseridos a área pesquisada.
A identificação dos impactos socioambientais no trecho do canal fluvial do Rio Piancó
foram realizados a partir da descrição dos itens observados na área de estudo, que são elencados da
seguinte forma no Quadro 01:

ITEM IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS


OBSERVADOS NA ÁREA DE ESTUDO
Resíduos sólidos Presença de resíduos sólidos nas imediações do
rio; nos cursos dos efluentes e nas galerias
pluviais (Foto 02; Foto 03 e Foto 04)
Tratamento dos efluentes Ausência do funcionamento do sistema de
tratamento de efluentes (Foto 01)
Esgoto características Presença de efluentes ligeiramente preto, lançado
diretamente no Rio Piancó e no sistema de
drenagem pluvial (Foto 02 e Foto 03)
Canal fluvial do Rio Piancó Odor desagradável próximo ao lançamento dos
efluentes no corpo hídrico; Presença de resíduos
sólidos nas imediações do rio (Foto 03); Presença
do lançamento de efluentes em seu curso (Foto
03)
Reutilização das águas dos efluentes Presença da reutilização das águas residuárias
para irrigação sem tratamento o prévio (Foto 05)
Uso Animal Presença de animais fazendo dessedentação
próximo ao curso final dos efluentes (Foto 05 e
Foto 06)
Sistema de drenagem pluvial Presença de efluentes domésticos no sistema de
drenagem pluvial (Foto 02); Presença de resíduos
sólidos (Foto 02)
Quadro 01. Impactos socioambientais observados na área de estudo.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Os fatos descritos no Quadro 01 podem ser analisados nas Fotos a seguir:

Foto 01. Estação de Tratamento de Efluentes Foto 02. Galeria pluvial


Fonte: Elaborado pelos autores.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 835


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foto 03. Zona de mistura dos efluentes com o afluente Foto 04. Curso dos efluentes
Fonte: Elaborado pelos autores.

Foto 05. Coleta de efluente para irrigação Foto 06. Dessedentação animal no curso do efluente
Fonte: Elaborado pelos autores.

Como pode se verificar na descrição do Quadro 01, esse levantamento permitiu a


identificação e o diagnóstico de inúmeros impactos socioambientais adversos, que foram
encontrados nas imediações do curso do canal fluvial do Rio Piancó, nos cursos dos efluentes a céu
aberto e, nos canais de drenagem pluvial, ‗pela ausência do funcionamento do sistema de tratamento
de efluentes.
Em relação a ausência do funcionamento da lagoa de estabilização anaeróbica-facultativa na
Estação de Tratamento de Esgoto, a Controladoria Regional da União no Estado da Paraíba (CGU)
juntamente com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), constataram irregularidades graves na
execução das obras do esgotamento sanitário em Pombal, constatando a alteração do projeto sem
autorização da Funasa, o que acabou comprometendo o funcionamento do sistema de esgotamento
sanitário da cidade e, consequentemente, causando prejuízo ao erário público (CGU, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O esgotamento sanitário, apresenta um serviço ainda pouco disseminado nas regiões


brasileiras, principalmente no que se refere à coleta e ao tratamento do esgoto sanitário, o que
ocasiona serias consequências e impactos socioambientais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 836


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Por meio deste artigo, verificou-se que o sistema de tratamento de esgotos, que tem como
principais objetivos a remoção de material sólido, e a exterminação de microrganismos patogênicos
que possa causar algum dano a saúde pública e ao meio ambiente.
Dessa forma, analisando os impactos socioambientais através das informações obtidas sobre
a área de interesse para o estudo, observou-se a poluição ocasionada pelo lançamento de efluentes
no trecho do canal fluvial do Rio Piancó, pode ser entendida como a ação ou efeito de degradação
da qualidade ambiental, o que ocasiona impactos socioambientais, de forma direta ou indireta,
prejudicando a qualidade ambiental da área estudada.
Faz-se necessário o funcionamento do sistema de tratamento de efluentes, desde que seja
adequado o funcionamento com as normas vigentes, para que a qualidade do corpo hídrico possa
receber a menor carga possível de poluentes. Faz-se necessário também, uma análise laboratorial da
água próximo as áreas que recebem os efluentes domésticos para se obter com exatidão, o nível de
poluição que o corpo hídrico recebe e, planejar uma possível recuperação dessa área.

REFERÊNCIAS

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nacional /Agência Nacional de Águas; Engecorps/Cobrape. — Brasília: ANA: Engecorps/
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saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio
de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 838


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 839


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS PELOS CEMITÉRIOS: UMA BREVE


ANÁLISE NO CEMITÉRIO SÃO SEBASTIÃO - MOSSORÓ-RN.

Ozikleyton Rocha de Souza FONTES


Graduando no curso de História da UERN
ozikleyton_barcelona@hotmail.com
Lívia Laiane Barbosa ALVES
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da UFERSA
liviabarbosa17@yahoo.com.br
Cyntia Danielle da Silva PEREIRA
Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Ambiente, Tecnologia e Sociedade da UFERSA
cyntiagambiental@hotmail.com
Samylle Ruana Marinho de MEDEIROS
Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Naturais da UERN
samyllemedeiros@yahoo.com

RESUMO
Os cemitérios são empreendimentos presentes na sociedade desde muito tempo atrás. Na atualidade,
com o crescimento da população e a necessidade de mais áreas para acondicionar corpos, os
serviços funerários expandiram, contudo, a consideração e o estudo dos impactos socioambientais
dos cemitérios têm ficado à margem do mercado e das políticas públicas. No Brasil o Conselho
Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, desde 2003, através da resolução 335 dispõe sobre o
licenciamento ambiental de cemitérios, apresentando exigências para instalação e funcionamento
destes locais. Entretanto, o Brasil é um país que ainda possui muitos sepulcros antigos e que não
estão de acordo com a legislação. Tendo em vista a necessidade obter mais informações acerca dos
impactos ambientais causados pelos cemitérios, este trabalho tem como objetivo analisar a
percepção ambiental dos funcionários do cemitério São Sebastião quanto aos problemas
socioambientais do local. Verificou-se de acordo com as respostas dos entrevistados que eles não
costumam adquirir doenças com frequência. Com relação a utilização de EPI‘s, todos responderam
de forma positiva. Em campo, observou-se que vários túmulos não possuem um piso que impeça
que efluente gerado na decomposição entre em contato com o solo, podendo o necrochorume atingir
camadas mais profundas, e ocasionar a contaminação do solo e do lençol freático. Portanto, os
principais problemas observados afetam o meio físico. Foram identificados os principais impactos
ambientais do cemitério, bem como suas respectivas medidas mitigadoras, onde conclui-se que o
mesmo não se encontra dentro dos padrões exigidos pela legislação ambiental vigente.
Palavras-chave: Problemas ambientais, necrochorume, medidas mitigadoras.
ABSTRACT
Cemeteries are undertakings present in society for a long time. At present, with the growth of the
population and the need for more areas to accommodate bodies, funeral services have expanded,
however, the consideration and study of social and environmental impacts of cemeteries have been
marginalized market and public policies. In Brazil, the Conselho Nacional de Meio Ambiente -
CONAMA, since 2003, through resolution 335, has provided for the environmental licensing of
cemeteries, presenting requirements for the installation and operation of these sites. However,
Brazil is a country that still has many ancient tombs that do not conform to the law. Considering the
need to obtain more information about the environmental impacts caused by cemeteries, this work
aims to analyze the environmental perception of the employees of the São Sebastião cemetery

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 840


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

regarding the socio-environmental problems of the place. It was found according to respondents'
responses that they do not often get diseases. Regarding the use of EPI‘s, all respond positively. In
the field, it was observed that several graves do not have a floor that prevents that effluent generated
in the decomposition comes into contact with the ground, the necrochorume can reach deeper
layers, and cause contamination of the soil and the water table. Therefore, the main problems
observed affect the physical environment. The main environmental impacts of the cemetery were
identified, as well as their respective mitigating measures, where it is concluded that it is not within
the standards required by current environmental legislation.
Keywords: Environmental problems, necrochorume, mitigating measures

INTRODUÇÃO

Os cemitérios são empreendimentos presentes na sociedade desde muito tempo atrás.


Conforme registros arqueológicos, na pré-história, as comunidades neandertais já sepultavam seus
mortos, enterrando-os ou cobrindo-os com pedras. No entanto, o termo cemitério, foi introduzido
nos primeiros séculos da Era Cristã, e se refere aos terrenos destinados à sepultura dos mortos.
Na atualidade, com o crescimento da população e a necessidade de mais áreas para
acondicionar corpos, os serviços funerários expandiram, contudo, a consideração e o estudo dos
impactos socioambientais dos cemitérios sobre a qualidade ambiental e a saúde pública têm ficado à
margem do mercado e das políticas.
Os cemitérios passaram a ser visto como fontes poluidoras somente nas últimas décadas
(BOCCHESE et al., 2007). A carência de informações a respeito desse assunto pode ser um dos
principais motivos para que os problemas relacionados à atividade venham se agravando ao longo
dos anos. A instalação de cemitérios quando não acompanhada de estudo prévio de impacto
ambiental e da caracterização físico química do solo e subsolo, são construídos em locais
inapropriados. No Brasil, quase sempre, a implantação dos mesmos tem sido feita em terrenos de
baixo valor imobiliário ou com condições geológicas, hidrogeológicas e geotécnicas inadequadas,
cenário que propicia poluição e degradação ambiental a médio e longo prazo (PACHECO, 2006).
De acordo com pesquisas realizadas em 600 cemitérios do país pelo geólogo Leziro
Marques Silva, 75% dos empreendimentos poluem o meio ambiente tendo como principal causa de
contaminação o necrochorume (MELO; TUDOR: BERNARDINO, 2010). A deficiente gestão e
controle da qualidade das águas favorece a contaminação do lençol freático em várias cidades
brasileiras (BAUAB; LEME, 2013).
No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, desde 2003, através da
resolução 335 dispõe sobre o licenciamento ambiental de cemitérios, apresentando exigências para
instalação e funcionamento destes locais. Entretanto o Brasil é um país que ainda possui muitos
sepulcros antigos e que não estão de acordo com a legislação, estão irregulares e os órgãos

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 841


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

fiscalizadores não estão preparados para enfrentar tais problemas, de consequências sociais e
ambientais.
Em Mossoró, no Estado do Rio Grande do Norte, o Cemitério São Sebastião desperta
indagações quanto ao seu atendimento a Resolução CONAMA 335, por se tratar de um cemitério
antigo, em atuação desde a criação do município em 1842, e cuja localização é o centro da cidade
(área intensamente urbanizada), surgem questionamentos sobre sua adequação ambiental, sobre a
segurança e saúde dos funcionários, sobre a salubridade, e a conservação do ambiente.
Nesta perspectiva, este trabalho visou obter informações para responder as indagações
propostas. O objetivo geral foi analisar a percepção ambiental dos funcionários do cemitério São
Sebastião quanto aos problemas socioambientais do local, confrontando as evidências coletadas
com a Resolução 335 do CONAMA.

MATERIAL E MÉTODOS

Breve descrição da área de estudo

O objeto de estudo da pesquisa foi o cemitério São Sebastião, localizado no município de


Mossoró, o qual está localizado na porção oeste do estado do Rio Grande do Norte, latitude 5º 11‘
15‖ Sul e longitude 37º 20‘ 39‖ Oeste. O clima predominante na região é o quente e semiárido,
apresentando temperatura média anual de 36oC, precipitação pluviométrica bastante irregular
durante o ano, com média de 703,7 mm, e umidade relativa média anual de 70% (IDEMA, 2008).
Mossoró é conhecida principalmente pela atividade salineira e pela agricultura irrigada. No
tocante a sua população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE
(2017) o município possui 291.937 habitantes e é atendido por dois cemitérios, o cemitério Novo
Tempo e o São Sebastião, este último está localizado no centro urbano da cidade (Figura 1), e foi o
primeiro cemitério local, em atuação desde a criação da cidade em 1842. A cidade de Mossoró
expandiu justamente da área central (onde está localizado o cemitério) para os bairros periféricos,
contribuindo para o forte adensamento urbano no local.

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Figura 1 – Visualização da localização do cemitério São Sebastião no perímetro urbano de Mossoró/RN.


Fonte: Google Earth, 2017.

Etapas da pesquisa

Os procedimentos metodológicos aplicados neste trabalho constituíram-se de pesquisa


bibliográfica, documental e visitas de campo com aplicação de questionário associado ao diário de
campo e registro fotográfico. De acordo com Marconi e Lakatos (2012) o questionário é um
instrumento que serve para coletar dados, formado por uma quantidade de perguntas pré-
estabelecidas, onde as mesmas devem ser respondidas por escrito, sem a interferência do
entrevistador. O questionário continha sete perguntas fechadas e foi aplicado com todos os coveiros
que se encontrava no cemitério no dia da pesquisa de campo, totalizando em três coveiros
entrevistados.
As perguntas abordavam sobre as condições de higiene, saúde e segurança no trabalho,
conforme tabela 1.
Perguntas
1. É de costume você estar doente? Qual a doença comum?
2. Você trabalha com equipamento de proteção individual?
3. As vestes de trabalho são lavadas em casa?
4. Os corpos dos defuntos entram diretamente em contato com o solo?
5. Você já presenciou vazamentos de efluentes nos túmulos?
6. Existe presença de insetos no local?
7. Você já foi picado ou mordido por animais peçonhentos?
Tabela 1 - Perguntas realizadas aos funcionários do cemitério São Sebastião, no município de Mossoró/RN.

O diário de campo foi essencial para registrar as observações in loco, além disso, foram
realizados registros fotográficos mostrando as condições dos túmulos e suas edificações. Os dados

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 843


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

coletados foram analisados de acordo com a bibliografia consultada e a Resolução CONAMA


número 335/2003 cujos dispositivos foram alterados pela Resolução CONAMA nº 368/2006.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Riscos e problemas socioambientais identificados no cemitério São Sebastião: um olhar a partir da


perspectiva dos funcionários.

De acordo com Albuquerque (2008), os corpos quando entram em decomposição liberam


gases para a atmosfera e podem trazer um grande risco para a população. Os funcionários quando
questionados se adoeciam com frequência e qual a doença mais comum (É de costume você estar
doente? Qual a doença comum?), responderam que ―não‖ era comum adoecerem. Esta pergunta foi
proposta uma vez que as pessoas que trabalham no cemitério estão expostas a uma seria de
bactérias, fungos e compostos contaminantes.
Bocchese, Bocchese e Pellizaro (2007) cita que pessoas que morrem de doenças
infectocontagiosas, carregam as bactérias e vírus que são responsáveis pela morte do individuo, que
podem ser transmissores de doenças, como por exemplo, febre tifoide, paratifoide, hepatite
infecciosa e outras.
Para prevenção e precaução de doenças adquiridas no ambiente de trabalho cabe ao coveiro
a utilização do Equipamento de Proteção Individual (EPI). São exemplos de EPIs - as luvas,
máscaras, botas de cano longo, chapéu ou capacete, macacão, esses irão protegê-lo do contato com
substâncias tóxicas, alérgicas ou agressivas, que podem causar doenças ocupacionais.
Por isso foi feita a pergunta de numero 2, que trata do uso de EPI (Você trabalha com
equipamento de proteção individual?). Todos responderam que ―sim‖, no entanto, um dos
entrevistados alertou que a bota fornecida não é cano longo, é uma bota normal de construção civil.
Mesmo que de maneira deficiente existe o fornecimento de EPI, todavia, percebe-se que não
só o poder público é responsável pelo bem estar dos trabalhados em seu ambiente de trabalho, uma
vez que há uma negligencia quanto ao uso correto do EPI por parte dos próprios funcionários, o que
confirma a necessidade de um programa de educação e sensibilização contínuo. A figura 5, a seguir,
mostra o funcionário sem proteção adequada nas mãos, favorecendo a contaminação.
No trabalho de Cativo e Weil (2015), ao analisarem as condições de vida e os impactos
sobre a saúde dos coveiros do município de Parintins/Amazonas, observou-se que existe a entrega
dos materiais de proteção, mas que isso só acontece em virtude da cobrança dos próprios
funcionários.

Quando perguntado a eles sobre os materiais de segurança, eles relataram a mesma


resposta: ―só vem se a gente tiver cobrando do administrador, porque por eles mesmos não
vinham nada pra cá‖ (COVEIRO B). Compartilhando da mesma ideia outros afirmaram

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

que: ―olha os materiais é a farda, às vezes luva, algumas vezes vem máscara, mas é difícil, a
maioria das vezes a gente só ganha a farda e só!‖ (COVEIRO C) (CATIVO; WEIL, 2017,
p.11).

Um cenário que se repete também em Mossoró, tendo em vista que o trabalho dos mesmos
não é priorizado pela gestão pública. A pergunta 3 (As vestes de trabalho são lavadas em casa?),
foi sobre o local de lavagem das roupas dos funcionários, tendo em vista que ao findar o dia, estes
profissionais deve evitar de ir vestido com as vestes de trabalho para sua residência, pois os EPIs
podem estar contaminados com vírus e bactérias, estendendo o risco a saúde da família. É
aconselhável que estes equipamentos sejam higienizados e lavados em um local diferente das
demais roupas. Entretanto, os entrevistados relataram que os uniformes são lavados em casa,
juntamente com outras roupas. Não há um cuidado ou atenção quanto a isso.
A pergunta posterior, de número 4 (Os corpos entram diretamente em contato com o solo?),
buscou levantar possíveis evidências de contaminação do solo, considerando que o efluente
produzido na decomposição dos corpos é tóxico e potencial degradador da saúde humana e da
qualidade ambiental.

O processo de decomposição de corpos libera diversos metais que formam o organismo


humano, sem falar nos diferentes utensílios que acompanham o corpo e o caixão em que ele
é sepultado. O principal contaminante na decomposição dos corpos é um líquido conhecido
como necrochorume, de aparência viscosa e coloração castanho-acinzentada, contendo
aproximadamente 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas
degradáveis (KEMERICH; UCKER; BORBA, 2012, p.1).

Em campo e através das respostas foi possível identificar que no cemitério de Mossoró nem
todos os jazigos são do tipo túmulo, ou seja, tem um piso que impeça do efluente gerado na
decomposição ter contato com o solo, além disso, não existe uma canalização que armazene todo o
líquido em um recipiente adequado. O necrochorume pode atingir as camadas do solo, tornando-o
infértil e do subsolo, poluindo, caso exista, o lençol freático.
Na figura 2 é possível visualizar um tipo de sepultura no cemitério São Sebastião, na qual o
cadáver entra diretamente em contato com o solo podendo assim trazer malefícios para o meio
ambiente, confirmando as respostas dos funcionários de que ―não são todos os túmulos que estão
adequados‖.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 - Tipo de sepultura que o corpo entra diretamente em contato com o solo.
Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

De acordo com Petruski (2006), na Alemanha os médicos se preocuparam com o processo


de decomposição dos corpos, pois os mesmos emanavam das sepulturas vapores ou fumaça que
prejudicava a qualidade do ar e interferia na saúde do ser humano.
Para a pergunta de número 5 (Você já presenciou vazamentos nos túmulos?), os
entrevistados responderam que existem vazamentos e que estes já presenciaram. Durante a visita,
em campo, foi possível verificar manchas de umidade nos túmulos. Todavia para comprovar se o
efluente vazado é o necrochorume se faz necessário uma análise química para interpretar seus
compostos, no entanto, os vazamentos, por si só, já constituem evidências de alerta para promoção
de ações corretivas e de controle.
Em virtude da presença de efluentes e resíduos orgânicos alguns insetos são atraídos, estes
são capazes de promover a disseminação de patógenos. Os funcionários ao serem questionados
sobre a presença de insetos (Existe presença de insetos no local?) relataram que no cemitério São
Sebastião existe a presença de insetos e os mais comuns são barata, cobra de ―duas cabeça‖, mosca
grande e aranha. Apesar do risco biológico, os entrevistados ao responderem a pergunta 7 (Você já
foi picado ou mordido por animais peçonhentos?) disseram que nunca foram picados por estes
animais.

Outras evidências e sua correlação com a CONAMA nº 335/2003

A partir de conversas informais com os funcionários e a observação in loco, foi possível


notar que o cemitério São Sebastião não possui ossuário (local que serve para a acomodação dos
ossos), em virtude disso, os ossos permanecem no túmulo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O cemitério não exige a solicitação de reformas tumulares da parte dos usuários, pois são
muitos túmulos e não tem como identificar quem é o dono de cada um, muitos túmulos estão
abandonado e destruídos como mostra a figura 3, esses túmulos servem de habitat para insetos.

Figura 4 - Túmulo destruído.


Fonte: Dados da pesquisa, 2015.

Resolução CONAMA nº 335/2003 e a proposição de medidas mitigadoras

De acordo com a Resolução CONAMA nº 335/2003 cujos dispositivos foram alterados pela
Resolução CONAMA nº 368/2006, todo cemitério seja ele vertical ou horizontal é necessário
passar por licenciamento. No caso do cemitério São Sebastião, não foi investigado junto aos órgãos
municipais o atendimento as normas ambientais, contudo os funcionários relataram que acreditam
que o cemitério não passou por nenhuma fase de licenciamento ambiental, tendo em vista que o
mesmo foi criado antes mesmo da exigência legal, porém há de se cogitar a possibilidade do local
ter sido regulamentado pelas normas uma vez que este está em contínua operação. Com tudo, os
funcionários confirmaram não presenciar fiscalização ou monitoramento promovido pelos órgãos
responsáveis.
Outro requisito contido na resolução 335 diz respeito à estrutura de contenção para o
necrochorume, de acordo com a norma os cemitérios devem apresentar estrutura para que o
necrochorume não penetre o solo. Observou-se in loco que os corpos são muitas vezes colocados
diretamente em contato com o solo, visto que existem as covas que são estabelecidas diretamente
no solo, e há também túmulos que estão comprometidos em suas adequações, favorecendo o
vazamento do efluente.
Sobre o resíduo produzido pelo cemitério os entrevistados informaram que este é

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

armazenado em um determinado local, para que, posteriormente, a empresa responsável realize a


coleta. Porém, cabe destacar que, durante esse período acondicionamento, os resíduos são
armazenados em locais abertos e de fácil acesso, ficando exposto a ações climáticas, como altas
temperaturas, chuvas, vento, facilitando assim a atividade de microrganismos, ocasionando mau
cheiro e contaminação.
Alguns autores relatam a preocupação referente a corpos de pessoas que passaram por
tratamento de radioterapia ou receberam marca-passos cardiológicos, alimentados com fontes
radioativas, já que esses materiais radioativos são móveis na presença de água. Conforme Fernandes
(2014) em cemitérios cujo terreno está impermeabilizado pela pavimentação ao redor das ruas e
onde o sistema de drenagem é deficiente, as águas das chuvas podem escoar superficialmente e
inundar os túmulos mais vulneráveis. Esse contexto pode ser presenciado na cidade de Mossoró,
cujo cemitério está inserido no centro da cidade, onde já pode ser constatado cenários de drenagem
urbana ineficiente, realidade que favorece o transporte da água até a rede fluvial urbana, levando
contaminantes do interior do cemitério.
Nesta perspectiva, observa-se cada vez mais a necessidade de adequação ambiental dos
projetos e empreendimentos diversos, associada à preservação e manutenção de áreas verdes,
manejo da fauna, preservação da qualidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, que se
traduzem em última instância no bem estar e melhoria da qualidade de vida da população. No caso
específico para cemitérios e em consideração as evidências identificadas no objeto local estudado
apresentam-se a seguir a tabela 2 com os principais impactos ambientais recorrentes no cenário
brasileiro, assim como, as principais medidas mitigadoras com o objetivo de controlar ou eliminar
esses impactos.
Os impactos ambientais foram identificados ressaltando o meio que será afetado, podendo
ser o meio físico, que causa alterações na paisagem, qualidade do ar, recursos hídricos, solo e
geologia; o meio biótico, que promove alterações nos ecossistemas terrestres, com destaque para
flora e fauna; e o meio antrópico que promove alterações de forma geral nos padrões de uso e
ocupação do entorno do empreendimento, afetando direta ou indiretamente as atividades
socioeconômicas e a saúde humana.
No cenário brasileiro os principais problemas dos cemitérios antigos e que hoje se situam
em áreas de intensa urbanização, estão relacionados com meio físico, visto que este é o mais afetado
na fase de operação do empreendimento, onde solo, águas subterrâneas e o ar são os fatores mais
alterados pelo empreendimento. No meio biótico, destaque para a microfauna presente no solo que é
bastante alterada devido a mudanças em seu habitat. E para o meio antrópico os principais
problemas estão relacionados à segurança e saúde dos trabalhadores e visitantes do local.
Meio afetado Impactos Ambientais Medida mitigadora

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Evitar o contato do
Contaminação do solo-
Biótico/físico/Antrópico necrochorume diretamente
necrochorume
no solo.
Evitar o contato do
Contaminação do lençol
Biótico/Físico/Antrópico necrochorume diretamente
freático
no solo.
Tratar o necrochorume e os
Físico/Antrópico Geração de gases
gases por ele gerados.
Contaminação por material
Físico/Biótico/Antrópico radioativo presente nos Incineração de cadáveres.
cadáveres
Contaminação de solo e
Físico/Biótico/Antrópico Fitorremediação.
águas
Utilização de EPIs, controle
Acidentes de trabalho,
de transmissores de
Antrópico contaminação por patógenos
patógenos, realização de
e danos a saúde
exames frequentes.
Manutenção das covas,
Físico/Antrópico Mau cheiro
evitar vazamentos.
Programa de gerenciamento
de resíduos sólidos,
Físico/Biótico/Antrópico Resíduos sólidos
armazenamento temporário
em local adequado.
Programas de educação
Falta de sensibilização dos
Antrópico ambiental, saúde e
trabalhadores
segurança no trabalho
Tabela 2: Principais impactos ambientais recorrentes nos cemitérios brasileiros e proposição de medidas
mitigadoras: uma reflexão a partir de evidências identificadas no cemitério São Sebastião, Mossoró/RN.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi apresentado constata-se que o Cemitério São Sebastião não está em total
acordo com a resolução Conama n° 335/2003, encontrando-se o mesmo com várias irregularidades.
Cabendo ao poder público municipal o dever de se adequar, e aos órgãos ambientais competentes a
atribuição de promover o monitoramento e a fiscalização da atividade.
Os principais problemas do cemitério São Sebastião afetam o meio físico, destacando-se
para as evidencias identificáveis de possível contaminação do solo e águas subterrâneas, sendo
necessária para aferição, a elaboração de estudo de monitoramento da qualidade das águas
subterrâneas e do solo. O relato dos funcionários e a visita in loco, apesar de não constituírem
fundamentos exatos sobre o nível de degradação do local, chama atenção por apontarem evidências
não desejáveis para a segurança no trabalho e salubridade ambiental. Para traçar um caminho
ambientalmente adequado é fundamental a iniciativa de práticas que mitiguem e controlem os
problemas ambientais, visando à execução da atividade em conformidade com a legislação e com o
não comprometimento dos recursos naturais e da saúde humana.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A PROBLEMÁTICA DE DRENAGEM URBANA: ESTUDO DE CASO NO BAIRRO


RODOVIÁRIA NO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ-CE

Pollyana Maria Pimentel MONTE


Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE)
pollyanapimentelmonte@gmail.com
Priscila da Silva dos SANTOS
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
priscyllafap18@hotmail.com
Sara Letícia Lopes de Souza BRITO
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária – IFCE
saralopesbrito@gmail.com
Nara Gabriela de Mesquita PEIXOTO
Professora Temporária do Departamento de Arquitetura e Urbanismo - IFCE
nara.gabriela.mesquita@gmail.com

RESUMO
Em diversas cidades, um planejamento ineficiente do sistema de drenagem gera inundações,
deterioração das vias locais e aumento do risco de perdas humanas e bens materiais. No município
de Quixadá, localizado no interior do Ceará, ocorrem constantes alagamentos durante o período
chuvoso da região, o que se torna um grande problema para os moradores de determinados locais. O
presente artigo tem como objetivo realizar um estudo de caso em um bairro do município em
questão de forma a caracterizar as vias quanto a problemas de escoamento de águas pluviais,
verificando a existência de fontes para escoamento de águas. Na região localizada próximo ao
terminal rodoviário da cidade, um eficiente sistema de drenagem serviria para capturar e conduzir
as águas pluviais. Para a realização do estudo, caracterizou-se a área de acordo com índices de
fragilidade do sistema, divididos em natureza tecnológica, ambiental e institucional, ao qual
determinou-se o nível de cada rua localizada na área delimitada. Foi constatada a necessidade da
realização de melhorias no local, como a elaboração de projetos executivos, implantação de obras
de microdrenagem e macrodrenagem, desobstrução de dispositivos hidráulicos e a Recuperação de
dispositivos existentes, campanhas de educação pública ambiental.
Palavras-chave: Alagamento, Pluviosidade, Educação ambiental.
ABSTRCT
In several cities, inefficient planning of the drainage system, floods, deterioration of local roads and
increased risk of human losses and material assets. No municipality of Quixadá, located in the
interior of Ceará, there is constant flooding during the rainy season of the region, which is more of a
problem for residents of local departments. The objective of this article is to carry out a case study
in a neighborhood of the municipality in question in order to characterize as ways of rainwater
runoff problems, verifying the existence of sources for water drainage. In the region located near
the city's bus station, an efficient drainage system to capture and drive like rainwater. For an
accomplishment of the study, an area according to fragility indices of the system, divided in
technological, environmental and institutional nature was characterized, to which the level of each
street located in the delimited area is determined. There was a need to make improvements in the
area, such as drafting executive projects, implementing micro drainage and macro drainage works,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

clearing hydraulic devices and recovering existing devices, public environmental education
campaigns.
Keywords: flooding, rainfall, environmental education.

INTRODUÇÃO

As primeiras cidades surgiram a partir de uma série de transformações ocorridas, sejam elas
em escala social, econômica, tecnológica, política ou cultural. A medida que foram ocorrendo essas
transformações, tornou-se necessária a organização interna da cidade (DE SOUZA, 2005).
As cidades começaram a se desenvolver cada vez mais e sem um planejamento
adequado, ocorreu um inchamento populacional, o qual passou a comprometer as condições de vida
da população, pois a medida que a população crescia, maior a infraestrutura necessária à população
residente. A partir disso, percebe-se a necessidade de planejar o crescimento urbano de determinado
local, tornando possível o crescimento de uma cidade atrelado a melhoria de vida da população (DE
SOUZA, 2005).
No Brasil, o planejamento das cidades deve ser realizado pela gestão municipal,
representada pelo chefe do poder executivo municipal, o prefeito, e o poder legislativo do
município, os vereadores, que respondem por uma séria de medidas importantes a serem tomadas,
como a delimitação oficial da zona urbana, rural e demais territórios para onde são direcionados os
instrumentos de planejamento ambiental (MAGALHÃES, 2015).
Alguns problemas nas cidades são desencadeados principalmente pela forma como as
cidades se desenvolvem: falta de planejamento, controle do uso do solo, ocupação de áreas de risco
e sistemas de drenagem inadequados, a partir disso, torna-se necessário o planejamento adequado,
de forma a diminuir e controlar os problemas encontrados. Uma das razões para as inundações
urbanas, deve-se aos impactos das mudanças climáticas, atrelados a uma urbanização ocorrida de
forma acelerada e inadequada, assim como problemas ocorridos na infraestrutura da cidade,
causados por sua deterioração (PHILLIP; ANTON; STEEN, 2011).
Numa tentativa de solucionar o problema, a drenagem urbana do município deve ser
eficiente para capturar e conduzir as águas pluviais. Como resultado de um sistema ineficiente,
observa-se na área, inundações, deterioração das vias locais, agravamento das doenças transmitidas
de veiculação hídrica e aumento do risco de perdas humanas e bens materiais (SABOIA, 2017).
O objetivo desse artigo é realizar um estudo de caso em um bairro da cidade de
Quixadá, de forma a caracterizar as vias quanto a problemas de escoamento de águas pluviais,
verificando a existência de fontes para escoar as águas.

METODOLOGIA

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A área escolhida para a realização do estudo na cidade de Quixadá-Ceará, localizada no


interior do estado do Ceará, situado a 147 km da capital do estado, Fortaleza. Possui uma área de
2.019,82 km² e uma população de 80.604 no ano de 2010, com estimativa populacional de 85.991
para o ano de 2016 (IPECE, 2016). A área de estudo localiza-se na área central do município, como
pode ser observado na figura 1.

Figura 1: Área de estudo


Fonte: Google Earth

O principal problema encontrado no local de estudo ocorre durante o período chuvoso da


região, sendo esse de fevereiro a abril (IPECE, 2016), onde, após a precipitação, ocorre o
alagamento de vários locais na cidade, contemplando pontos importantes e causando transtornos
diversos a população. De acordo com a FUNCEME, ao analisar-se a série histórica do município de
Quixadá, numa contabilização das máximas precipitações ocorridas no município desde o ano de
1912 aos dias atuais. Nos três últimos anos, 2015, 2016 e nos meses de janeiro a março de 2017, foi
possível perceber que as precipitações registradas nesses períodos, foram 202mm, 100,1mm e
183mm, respectivamente, esta última, possui uma maior quantidade de chuva em três meses, do que
a registrada na quadra chuvosa do ano anterior.
Com isso, já foi possível avaliar problemas ocorridos, como afirma o site de notícias Diário
do Nordeste, já no ano de 2017, as chuvas ocorridas voltaram a incomodar moradores de áreas
consideradas críticas na cidade de Quixadá, como a Av. José Caetano, e ruas adjacentes, no entorno
do terminal rodoviário, o problema na avenida é antigo e perdura há quase duas décadas.
A partir dos dados iniciais referentes a obtenção de informações referentes à área de estudo
verificou-se a ocupação atual do local, compreendida pela rodoviária, onde encontra-se uma grande
movimentação de pessoas, além de ofertar em seu empreendimento, serviços como áreas de vendas
de produtos, contendo alimentação, além de loja de artesanato, caixas eletrônicos e uma farmácia.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Ao entorno da mesma, encontra-se comércios, sendo uma grande parte dele de uso misto, ou seja,
no térreo são pequenos comércios e no pavimento superior residências. Ao lado da rodoviária,
encontra-se ainda grandes empreendimentos, como dois postos de combustíveis e juntamente com
um desses postos, no sentido do centro da Cidade, encontra-se um hotel.
Após a observação quanto ao problema e empreendimentos existentes na área, analisou-se a
legislação vigente na cidade, de forma a determinar do que a mesma tratava-se com relação ao
sistema de drenagem, e de acordo com a Lei Orgânica do município de Quixadá, atualizada no ano
de 2009, compete ao município de acordo com o artigo 6° organizar e prestar, de forma direta ou a
partir de concessão, alguns serviços, dentre eles o de abastecimento de água e esgotos sanitários,
bem como limpeza pública, coleta domiciliar e destinação final do lixo e executar o Plano diretor e
obras de drenagem pluvial.
Conforme o art. 194, na Lei de Códigos e Posturas de Quixadá, não é licito a quem quer que
seja, sob qualquer pretexto, impedir ou dificultar o livre escoamento das águas pelas canalizações,
valas, sarjetas ou canais dos logradouros públicos, danificando ou obstruindo tais servidores. E, a
partir da referida lei, o art. 308 determina a proibição de obstrução direta ou indiretamente para a
obstrução de valas, calhas, bueiros, ou bocas-de-lobo, ou impedir, por qualquer forma, o
escoamento das águas.
Além disso, realizou-se entrevistas na área, onde foi possível observar a preocupação dos
moradores, que têm suas casas constantemente alagadas, além de problemas de alagamentos de
empreendimentos, podendo chegar a causar danos as mercadorias e a dificuldade em locomover-se
nessas áreas no período chuvoso. Eles relataram que o problema é bem antigo, que desde que
começaram a viver na área, esse problema já existe, quando questionados sobre alguma reforma por
conta da Prefeitura, eles disseram ser apenas promessas, e que nada do que era prometido era feito.
Eles relataram ainda que, quando chove, os colchões de casas vizinhas ficam boiando na rua, até
que o alagamento acabe.
Para determinar os problemas existentes nas vias do local, baseou-se no estudo
desenvolvido por Bruno Jardim da Silva e outros (UFBA) na Elaboração do Componente de
Drenagem do Plano Municipal de Saneamento Ambiental do Município de Alagoinhas. Esta
metodologia é apoiada em Indicadores de Fragilidade do Sistema – IFS e caracteriza as áreas
quanto ao seu nível de fragilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os efeitos do escoamento das águas pluviais não controlados podem converter em ônus
econômico cada vez maior e representam uma ameaça para a saúde, segurança e bem-estar da
comunidade. A rede de drenagem não cobre toda a extensão de ruas pavimentadas, e na região a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pavimentação é de má qualidade. Na região já foram feitas duas obras de drenagem para tentar
diminuir os incidentes com alagamentos, uma delas feita no ano de 2012, na Avenida José Caetano,
mas não houve nenhuma melhora. Outra obra está sendo realizada, neste ano de 2017, na Rua
Tabelião Enéas que está localizada na área selecionada. A obra está sendo feita para aumentar a
velocidade do escoamento, pois a região é rebaixada e chega a atingir 30 centímetros de lamina
d‘agua. Há um desnível na região, identificado através da obtenção das curvas de nível, com uma
diferença de 10m, indicando que o sentido da água é uma descida justamente na área de estudo. Na
Figura 2, é possível observar as ruas localizadas e estuadas na área.

Figura 2 –Representação das ruas da área.


Fonte: Google Earth, 2017

A caracterização da área obedeceu aos Indicadores de Fragilidade do Sistema – IFS, que


continha como princípios básicos, a composição dos dispositivos de redes de drenagem das águas
pluviais, que devem possuir funções hidráulicas e urbanas bem definidas, cabe ao Poder Público a
iniciativa de promover uma série de ações que resultem na melhoria do desempenho dos Sistemas
de drenagem, envolvendo diversos setores. Os Sistemas de Drenagem Urbana, com todos os seus
componentes, possuem uma responsabilidade relevante na qualidade ambiental das áreas onde estão
situados e deve possuir ampla integração com os demais serviços e sistemas relacionados com o
saneamento ambiental, objetivando a otimização das ações e a excelência dos resultados ambientais.
Os componentes de Indicadores de Fragilidade – IFS, possibilitaram a caracterização da
área, onde a partir da existência dos seguintes fatores seria possível estabelecer uma pontuação
destas manifestações de acordo com a relevância das mesmas. Cada ponto de estudo recebeu um

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indicador que caracteriza o somatório das relevâncias dos IFS. Este somatório é designado por
Índice Geral de Fragilidade-IGF. Este sistema de pontuação permitiu estabelecer a hierarquização
dos principais problemas a serem destacados. Contém 26 pontos, o qual, se a somatória a partir dos
problemas avaliados contiver número igual ou aproximado de 26, representará uma área com
diversos problemas, e, se a área conter 0, significa que não apresenta problema algum. A partir dos
indicadores, foi possível caracterizar as ruas através de seu índice de fragilidade.
Os índices de fragilidade, classificam-se em indicadores de três naturezas, tecnológico, que
apresenta os seguintes indicadores: ineficiência do escoamento nas vias, ineficiência dos
dispositivos de coleta, ineficiência da capacidade de transporte dos condutos, demanda de soluções
de maior custo, redução da vida útil dos equipamentos, redução da vida útil dos pavimentos.
Os indicadores de natureza ambiental, que são: degradação física dos terrenos, instabilidade
estrutural dos terrenos adjacentes às galerias, favorecimento da produção de sedimentos, diminuição
da recorrência das cheias mais significativas, restrição à implantação de áreas de inundação,
interferência inadequada no trânsito de veículos, interferência inadequada no movimento de
pedestres, ocorrência de alagamentos, contaminação do corpo receptor, potencialização do aumento
dos índices de insalubridade da população marginal ao corpo receptor, deposição de sedimentos nas
vias públicas e assoreamento do corpo receptor. Já os de natureza Institucional são: elevação dos
gastos com manutenção dos equipamentos, elevação dos gastos com conservação, aumento da
demanda de recursos financeiros para implantação de obras, perda de credibilidade da
administração pública, desgaste das relações interinstitucionais, ineficiência operacional, perda de
oportunidade de arrecadação financeira e deterioração da possibilidade de aplicação de recursos
legais e normativos
Na Rua Tabelião Enéas, encontrou-se, de acordo com o quadro acima, quatro problemas
relacionados à área tecnológica (T4), três problemas de natureza ambiental (A3) e cinco problemas
de natureza institucional (I5), somando-se no total 12 pontos. A Rua Francisco Eneas de Lima
apresentou T5, A10 e I5, somando 20 pontos. Travessa Aristides Gonçalves da Silva apresentou T6,
A12 e I8 totalizando 26 pontos. A Rua Rui Maia obteve T6, A7 e I2, totalizando 15 pontos. A
Travessa José Viana Souza obteve T5, A8 e I2, com 15 pontos. Na Rua Frazão Cravo encontrou-se
T5, A8 e I2, com 15 pontos. Rua José Cardoso somou 15 pontos, com T5, A8e I2. A Avenida José
Caetano, obteve 22 pontos, com T6, A11 e I5. A Avenida Plácido Castelo apresentou somatório de
10 pontos, com T6, A1 e I3. A Rua Rui Barbosa apresentou T5, A5 e I2, somando 12 e a Travessa
Estudante Antônio Brito contabilizou 26 pontos, provenientes de T6, A12 e I8.
Com esses resultados, observa-se que duas ruas encontraram maiores problemas, são elas a
Travessa Aristides Gonçalves da Silva e a Travessa Antônio Brito, ambas com 26 pontos e, como

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

rua que apresenta menores problemas, encontra-se a avenida Plácido Castelo, com apenas 10
pontos.
Listadas as ruas e estabelecido o IGF de cada uma, é necessário conhecer a elevação, para
entender um pouco mais o motivo do alagamento nas vias, portanto, a seguir, apresenta-se a análise
do perfil de elevação de algumas ruas citadas, assim como imagens que mostram a real situação da
área.
O desnível presente em toda extensão da Avenida José Caetano, equivalente a
aproximadamente 185m. Há um acentuado rebaixamento da via de aproximadamente 2 metros em
relação ao seu nível correto. O rebaixamento da área aliado a ineficiência do sistema de drenagem,
o qual há a presença em locais errados de bocas de lobo, ou mesmo em números menores do que o
necessário, as quais em suma maioria apresentam entupidas por lixo (Figura 3A), sendo assim faz
com que o sistema seja insuficiente para suprir toda água que escoa, contribuindo assim para o
alagamento do local, como pode-se observar na figura 3B, uma área completamente afetada pelas
águas da chuva, alcançando níveis superiores ao das calçadas que normalmente já passaram por
uma adaptação na tentativa de evitar a entrada da água nas residências.

Figura 3 – Boca de Lobo. Alagamento na Avenida José Caetano Almeida.


Fonte: Diário do Nordeste.

A rua Estudante Antônio Brito, apresenta dois principais desníveis, sendo o maior com
aproximadamente 3 metros de diferença do nível da rua sendo este de aproximadamente 185,3m A
via apresenta entulhos e materiais aptos para uso em construção dispostos em locais inadequados
(Figura 4A), a forma acidentada da rua por si mesmo dificulta o fluxo correto da água, além do
tamanho mínimo e posição incorreta da boca de lobo (Figura 4B), que se encontra posicionada de
frente para a calçada, ao invés de estar direcionada para a rua. Assim percebe-se que não ocorre
nenhum tipo de fiscalização perante a prefeitura, pois não é permitido a disposição de resíduos de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 859


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construção civil ou mesmo materiais propícios para uso, em vias públicas, sobe pena de multa,
como previsto em lei municipal.

Figura 4: Material de construção presente na via (A); Boca de lobo virada para a calçada (B).
Fonte: Autores.

A rua Rui Barbosa, apresenta, na Figura 5A, a boca de lobo reformada, estando essa com um
tamanho maior que as demais, não possui nenhum gradil para proteção contra entupimento com
resíduos, ou mesmo proteção para a população, podendo evitar acidentes posteriores, além de
encontrar-se na esquina, sendo esse local inadequado.
A rua Rui Maia apresenta um desnível, sendo este de aproximadamente 2 metros em relação
ao nível da rua, de aproximadamente 185m A via apresenta um ineficiente sistema de drenagem,
bocas de lobo inadequadas, localizadas em locais mais elevados, impossibilitando a chegada da
água, ou mesmo diminuindo a quantidade que podia ser absorvida. A Figura 5B mostra uma das
bocas de lobo localizadas no decorrer da via, a mesma é feita a partir de canos, a qual é diminuída
sua eficiência por não apresentar uma correta construção.

Figura 5: Boca de Lobo reformada (A); Bocas de lobo irregulares (B).


Fonte: Autores.

De acordoo com o perfil de elevação da Travessa Aristides Gonçalves da Silva, a via tem
um rebaixamento em torno de 2 metros em relação ao nível da rua. As bocas de lobo apresentam-se

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 860


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

em locais mais elevados, e menores que o necessário dificultando assim a chegada da água. Assim
como em toda área de estudo, as casas passam por uma adaptação na tentativa de minimizar a
entrada de água nas residências. São construídas calçadas mais altas, além da construção de batentes
nas soleiras das portas, como se pode ver na figura 6.

Figura 6: Portas das casas com batentes.


Fonte: Autores.

A Figura 7A, mostra alagamentos localizados na Rua Tabelião Enéas, localizada por trás da
rodoviária de Quixadá. A área sofre com elevados problemas de alagamentos, em toda sua
extensão, ocorre a existência de apenas uma boca de lobo, localizado próximo ao muro do
perímetro rodoviário, sento esta, constantemente entupida por lixo (Figura 7B), nessa mesma
imagem, próximo a boca de lobo, há um grande buraco presente, que pode provocar acidentes,
principalmente quando está submerso na água. Assim a falta de fiscalização, de limpeza das bocas
de lobo e o subdimensionamento do sistema de drenagem contribuem para o alagamento da área.

Figura 7: Alagamento na via (A); Boca de lobo obstruída (B).


Fonte: Autores

CONCLUSÃO

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

É notória a existência de problemas relacionados ao escoamento de água na área analisada,


afetando a comunidade, os comércios existentes na região, assim como pode causar problemas a
turistas que chegam na cidade dos Monólitos, visto que afeta diretamente o empreendimento da
rodoviária da cidade, podendo causar possíveis transtornos. Para isso, pode-se realizar na área
Elaboração de Projetos Executivos, implantação de obras de microdrenagem e macrodrenagem,
desobstrução de dispositivos hidráulicos e a Recuperação de dispositivos existentes, campanhas de
educação pública ambiental, evitando o acúmulo de resíduos nas bocas de lobo.
É possível também, a aplicação de instrumentos urbanísticos, dispostos no Estatuto da
Cidade, um deles pode ser aplicado na área, é a Contribuição de Melhoria, prevista na Constituição
Federal de 1988, tem como fato gerador o acréscimo do valor do imóvel localizado nas áreas
beneficiadas direta ou indiretamente por obras públicas. Essa contribuição, deve ser realizada no
caso de valorização de imóveis de propriedade privada, como apresenta o Art. 2° em virtude das
obras públicas como alargamento, pavimentação, iluminação, arborização, esgotos pluviais e outros
melhoramentos de praças e vias públicas; proteção contra secas, inundações, erosão, ressacas, e de
saneamento de drenagem em geral, diques, cais, desobstrução de barras, portos e canais, retificação
e regularização de cursos d‘água e irrigação.

REFERÊNCIAS

Desafios para governar metrópoles e cidades. Disponível em:


<http://www.futura.org.br/saladenoticias/videos/desafios-para-governar-metropoles-e-cidades/>.
Acesso em: 13 abr. 2017.

Diário do Nordeste. Chuvas voltam a causar transtornos em Quixadá alagando ruas e avenidas.
Disponível em: < http://blogs.diariodonordeste.com.br/sertaocentral/meteorologia/chuvas-
voltam-a-causar-transtornos-alagando-ruas-e-avenidas-de-quixada/>. Acesso em: 13 abr. 2017.

Diário do Nordeste. Chuva em Quixadá transforma ruas em rios, isola bairros e alaga casas.
Disponível em: < http://blogs.diariodonordeste.com.br/sertaocentral/meteorologia/chuva-de-
100mm-causa-alagamentos-e-transtornos-em-varios-bairros-de-quixada/>. Acesso em: 12 abr.
2017

HILLIP, R.; ANTON, B.; STEEN, P. V. D. Kit de Treinamento SWITCH: gestão integrada das
águas na cidade do futuro. Módulo 1. Planejamento estratégico: preparando-se para o futuro. 1.
ed. São Paulo: ICLEI Brasil, 2011. 53 p.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IPECE. PERFIL BÁSICO MUNICIPAL DE QUIXADÁ, 2016. Disponível em: <


http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Quixada.pdf>. Acesso em: 13 abr.
2017.

PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA. Manual de Drenagem Urbana. Volume VI.


Setembro, 2005. Disponível em:
<http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dep/usu_doc/manualdedrenagem.pdf>. Acesso
em: 28 abr. 2017.

Portal Hidrológico do Ceará. Disponível em: <http://www.hidro.ce.gov.br/acude/nivel-


diario/novo#3>. Acesso em: 26 abr. 2017

SABOIA, M. A. M. [et. al] Climate changes impact estimation on urban drainage system located in
low latitudes districts: a study case in Fortaleza-CE. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
vol 22. Porto Alegre, 2017

SOUZA, M. L.;. ABC do Desenvolvimento Urbano. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 863


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DA BARRA DE GRAMAME:


ABORDANDO SEUS PARÂMETROS OXIGÊNIO DISSOLVIDO E DEMANDA
BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO.

Ricardo de Azevedo Ramalho ROSAS


Graduando de Engenharia Civil do UNIPÊ
ricardoarrosas@gmail.com
Lucivânia Rangel de Araújo MEDEIROS
Mestre em Engenharia Civil e Ambiental. Profa. do UNIPÊ
lucivaniarangel@gmail.com

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo avaliar a qualidade da água da Barra de Gramame, avaliando
seus parâmetros: Oxigênio Dissolvido e Demanda Bioquímica de Oxigênio. O campo de estudo se
fez em um ponto na parte baixa do rio Gramame na divisa das cidades de João Pessoa e Conde, no
Estado da Paraíba. Foram utilizados dados de monitoramento da qualidade da água fornecido pela
Fundação SOS Mata Atlântica e pelo projeto Observando os Rios, consistindo de visitas e análises
de campo por meio de kits com instrumentos para coleta e medições. Em relação à análise dos
dados quantitativos foram utilizados gráficos para interpretação e observação do comportamento de
cada um dos parâmetros pesquisados. Após a análise dos dados pode-se concluir que o ponto
estudado do rio Gramame oferece um nível abaixo do aceitável e preocupante em relação aos
parâmetros da qualidade da água ali apresentados.
Palavras-chave: Qualidade da Água, Oxigênio Dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio.
ABSTRACT
The present article aimed to evaluate the water quality the Barra of Gramame, evaluating its
parameters: Dissolved Oxygen and Biochemical Oxygen Demand. The study field was a point in
the lower Gramame River on the border of the cities of João Pessoa and Conde in the State of
Paraíba. Water quality monitoring data provided by the SOS Mata Atlântica Foundation and the
Observando os Rios (Observing the Rivers Project) were used, consisting of visits and field
analyzes kits with instruments for collection and measurements. In regard to the quantitative data
analysis, graphs were used to interpret and observe the behavior of each parameter studied to obtain
the WQI. After data analysis, it was brought to conclusion that the studied point in the Gramame
River presents a precarious and worrying level regarding the quality of the water presented.
Keywords: Water Quality, Dissolved Oxygen, Biochemical Oxygen Demand.

INTRODUÇÃO

O Brasil se faz um país muito extenso, nele o controle da qualidade da água é algo que passa
longe da simplicidade, exigindo sempre um planejamento bem estudado a fim de monitorar todo o
processo de sua qualidade, pois, qualquer problema ambiental por menor que seja poderá alterar
toda a finalidade de determinada água que possui inúmeras características físico-químicas e
biológicas, essas se mantidas dentro de certos limites, viabilizam a água para determinado uso.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Esses limites por sua vez, constituem critérios (recomendações) ou padrões (regras aplicadas por
leis) da qualidade da água. (TUNDISI, 2011)
Inúmeras são as razões que se justificam a realização de pesquisas em se tratando da
avaliação de qualidade da água. Uma delas tem a ver com o interesse em constatar a observância ou
violação dos padrões de qualidade da água. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já prevê isso e
sugere algumas formas básicas de obtenção de dados de qualidade da água. Outro motivo que
parece passar despercebido por grande parte da população é a relação qualidade da água/saúde
pública. A água poluída apresenta inúmeros riscos à saúde humana podendo provocar doenças
como Cólera, Febre Tifoide, Hepatites, entre outras.
Ao contrário do que muitos pensam, matérias orgânicas biodegradáveis jogadas no meio
aquático podem causar a destruição da fauna ictiológica e de outras espécies aeróbias em razão de
consumo de oxigênio dissolvido pelos organismos decompositores. Um exemplo disso é o despejo
de esgotos domésticos em rios, podendo o prejuízo ocorrer não pela presença de substancias tóxicas
nesses despejos, mas pela diminuição da concentração de oxigênio dissolvido disponível na água.
(BRAGA, 2005)
A poluição pode ter origem química, física ou biológica, sendo que em geral a adição de um
tipo destes poluentes altera também as outras características da água. Desta forma, o conhecimento
das interações entre estas interações é de extrema importância para que se possa lidar da melhor
forma possível com as fontes de poluição.
Este artigo teve como objetivo estudar a qualidade da água da Barra de Gramame, localizada
no baixo curso do Rio Gramame, próximo à desembocadura com o mar localizado no município de
João Pessoa, no Estado da Paraíba-Brasil. Para a realização desse estudo foram analisados os
parâmetros de qualidade Oxigênio Dissolvido (OD) e Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).

QUALIDADE DA ÁGUA

O conjunto de ações produzidas pelas atividades humanas ao explorar os recursos hídricos


para expandir o desenvolvimento econômico e a urbanização, além de fazer frente às demandas
industriais e agrícolas somadas ao crescimento da população afetam diretamente e tendem a um
único caminho, a degradação da qualidade e quantidade da água. (TUNDISI, 2011)
A água pode ter sua qualidade afetada pelas mais diversas atividades do homem, sejam elas
domésticas, comerciais ou industriais. Cada uma dessas atividades geram poluentes característicos
que têm uma determinada implicação na qualidade do corpo receptor.
A qualidade da água pode variar de acordo com a sua finalidade. Considerado o mais nobre
e prioritário, o abastecimento humano, se faz o mais importante uma vez que o homem depende de
uma oferta adequada de água para sua sobrevivência. A qualidade de vida dos seres humanos está

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

diretamente ligada à água, já que ela é utilizada para o funcionamento adequado de seu organismo,
o preparo de alimento, higiene pessoal, entre outros. (BRAGA, 2005)
Usada para abastecimento doméstico, a água deve apresentar características sanitárias e
toxicológicas adequadas, tais como estar livre de organismos patogênicos e substancias tóxicas que
provocam danos à saúde e ao bem estar. No ano de 2015 a Organização Mundial de Saúde (OMS)
estimaram por meio de pesquisas e estudos um número elevado de pessoas que morrem por dia por
causa de doenças transmitidas pela água e por falta de saneamento adequado, sendo mais da metade
de crianças com menos de cinco anos de idade.
A água para uso humano deve atender a critérios rigorosos de qualidade, e para isso, não
deve conter elementos nocivos à saúde, ou seja, substâncias tóxicas e organismos patogênicos, nem
conter sabor, odor ou aparência desagradável. Podemos considerar água potável uma água própria
para este fim, e ela deve atender os padrões de potabilidade pré-estabelecidos. (TSUTIYA, 2006)
Padrões de qualidade são determinados por meio de portarias, resoluções e leis a fim de
aferir e controlar procedimentos e estabelecer responsabilidades relativas a todo esse meio que
envolve a qualidade da água.

CONDIÇÕES ATUAIS DOS RECURSOS HÍDRICOS

Atualmente a Agência Nacional das Águas (ANA) desenvolve, juntamente com os Estados,
o Programa Nacional de Avaliação de Qualidade das Águas, que tem como objetivo ampliar as
redes de monitoramento e padronizar seus procedimentos.
De acordo com a ANA, utilizando o Índice de Qualidade das Águas (IQA), foram
monitorados 1.988 pontos no país em 2010, tanto em áreas urbanas como rurais, foi constatado a
condição ―ótima‖ em apenas 6% dos pontos monitorados, ―boa‖ em 75%, ―regular‖ em 11%,
―ruim‖ ou ―péssima‖ em 7%. Quando analisado apenas os corpos d‘água em áreas urbanas,
constatou-se que, no mesmo ano, 47% dos pontos monitorados apresentaram condição ―péssima‖
ou ―ruim‖, no qual podemos atribuir a uma alta taxa de urbanização observada no País e dos baixos
níveis de coleta e tratamento de esgotos domésticos. (ANA, 2012)
Para a ANA (2012) esses rios localizados em áreas urbanas geralmente apresentam suas
bacias em grande parte impermeabilizadas, poluídas pelos esgotos domésticos, efluentes industriais,
resíduos sólidos e cargas difusas, que impactam a qualidade de vida nas cidades brasileiras, pois
assim degradam a paisagem urbana, diminuem as oportunidades de lazer e admitem a veiculação de
doenças.
Partindo da macro para a micro região em estudo, temos a cidade de João Pessoa – PB. A
cidade é atravessada por diversos rios, riachos e córregos, dentre quais nove se destacam por
possuírem seu trajeto totalmente inserido na zona urbana ou de cidades vizinhas, que englobam a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

grande João Pessoa. Esses cursos d‘água são de vazão perene, parcialmente degradados, porém, em
determinadas trechos possuem qualidade de água suficiente para consumo humano após um
tratamento adequado descrito pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). (REIS,
2016)
Os rios que cortam a cidade tiveram seus trajetos alterados quase que por completo, em
função do processo de urbanização, gerando um aumento na rede de microdrenagem das águas
pluviais e alterando o regime da rede de macrodrenagem de João Pessoa. A consequência disso é a
saturação do volume de água que degradam sua qualidade, causando transtornos socioeconômicos
em algumas áreas da cidade, principalmente para aqueles que residem próximo aos rios.

CAMPO DE PESQUISA

A presente pesquisa compôs de um levantamento de dados para estudo que consistiu da


obtenção de medições e análises de monitoramento realizadas em um ponto predeterminado do Rio
Gramame na divisa das cidades de João Pessoa e Conde no estado da Paraíba pelo projeto
Observando os Rios da Fundação SOS Mata Atlântica.
O ponto trabalhado, em destaque (Fig. 1), fica próximo à desembocadura do rio com o mar
(mais de 300 metros), nas respectivas latitude e longitude: 7°14'09.50"S, 34°48'25.60"W.

Figura 1: Campo de pesquisa. Fonte: Elaboração própria via Google Earth Pro (2017)

INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

O principal instrumento de trabalho do Observando os Rios é o monitoramento da qualidade


da água e a caracterização ambiental por percepção da bacia hidrográfica. Foi utilizado para a coleta

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e análise da qualidade da água kits de monitoramento e a metodologia fornecida pela Fundação


SOS Mata Atlântica. Esse kit consiste de instrumentos como vidrarias, cubetas, coletor de água,
tabletes ou pastilhas reagentes, cartelas colorimétricas individuais para cada parâmetro da água
seguido por informações explicativas de procedimento, juntamente com um manual de campo.
Posteriormente os resultados obtidos em cada ponto de coleta, definido e georeferenciado, foram
aplicados e lançados por seu respectivo grupo no banco de dados disponibilizado pelo Observado os
Rios.

OXIGÊNIO DISSOLVIDO

O Oxigênio dissolvido (OD) é importante para que haja as condições necessárias para a
existência de vida aquática, se tornando um parâmetro bastante importante para a análise da
poluição de um rio.
A quantidade de oxigênio dissolvido na água é um índice expressivo em relação a sua
qualidade sanitária, pois, águas superficiais de boa qualidade devem estar saturadas de oxigênio.
Uma vez saturada, a água pode ou não estar poluída, mas a saturação indicará que a mesma não está
contaminada por matéria oxidável. (TUCCI, 2014)
Quanto maior for à temperatura, a concentração de oxigênio dissolvido irá diminuir. O OD
tem uma concentração máxima para dadas condições de temperatura e salinidade da água,
conhecida como concentração de saturação. (COLLISCHONN E DORNELLES, 2013)
Exemplificando em uma água de boa qualidade, apenas usando a variável temperatura como
diferencial, temos em números uma diferença aproximada de 8 ppm (partes por milhão) entre 0° a
40° (Tabela 1).

Temperatura da água [°C] Concentração de OD [ppm]


0 14,6
5 12,7
10 11,3
15 10,1
20 9,1
25 8,2
30 7,5
40 6,4
Tabela 1: Concentração de OD de saturação na água doce em diferentes temperaturas.
Fonte: Collischonn e Dornelles (2013).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A Agência Nacional de Águas (ANA) destaca que as águas poluídas por esgotos apresentam
uma baixa concentração de oxigênio dissolvido, já que ele é consumido no processo de
decomposição da matéria orgânica. Então, já as águas limpas apresentam concentrações altas de
OD, consideradas maiores que 5mg/l ou 5ppm.
Existem meios em que ocorre a introdução do oxigênio na água, um delas é através da
fotossíntese das algas durante o dia, elevando assim os valores de oxigênio durante o dia e
diminuindo durante a noite devido à ausência de luz. Outra maneira de inserção do oxigênio é
através do processo físico, por meio dos movimentos da água e sua velocidade.
Traçando as quantidades de oxigênio dissolvido medido por mais de um ano de intervalo
(Gráfico 1), percebemos que o ponto de estudo do Rio Gramame apresentou níveis baixos desse
parâmetro de qualidade.

OD (ppm) x Período das coletas


7,5
7,0
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5 Classe 4
4,0 Classe 3
3,5
3,0 Classe 2
2,5 Classe 1
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0

Gráfico 1: Relação entre Oxigênio Dissolvido da água para seus respectivos períodos de coletas.
Fonte: Elaboração própria (2017).

Aplicando os limites indicados na resolução do CONAMA para cada classe das condições e
padrões, percebemos que em sua maioria os níveis estão iguais ou abaixo de 2ppm, levando a
enquadrar esse trecho na classe 4, se tratando apenas de oxigênio dissolvido.
Isso nos remete a um fato preocupante, pois segundo a resolução do CONAMA, a classe 4 é
destinada apenas para à navegação e harmonia paisagística. Determinados fins como abastecimento
humano, irrigação e pesca, por exemplo, não são citados. Levando a conclusão que essa água tem
um déficit de OD e que esse trecho do rio está prejudicado. A situação se agrava se levarmos em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conta que todas as medições foram realizadas no período matutino, onde os valores de OD são
maiores.
O oxigênio também é produzido por plantas aquáticas, algas, e fitoplâncton como um
produto da fotossíntese. Cada espécie necessita de uma certa quantidade de oxigênio para
sobreviver. Geralmente, níveis de oxigênio abaixo de 3ppm são inadequados para alguns
organismos aquáticos. Águas com níveis abaixo de 2 ou 1ppm, como foi apresentado acima, não
possuem peixes, caso real que foi confirmado pela equipe do Observando os Rios que quantificaram
a quantidade de peixes durante esse período de coleta igual a zero. Diferente da realidade
apresentada, um rio para ser considerado limpo, em condições normais deve apresentar valores
maiores ou iguais a 6ppm de OD. Caso isolado que aconteceu apenas na medição de setembro de
2016, não podendo assim ser considerado importante.

DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO)

Demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) é um indicador que determina indiretamente a


concentração de matéria orgânica biodegradável através da demanda de oxigênio exercida por
microrganismos através da respiração. A DBO é um teste padrão, realizado a uma temperatura
constante de 20oC e durante um período de incubação também fixo, 5 dias. É uma medida que
procura retratar em laboratório o fenômeno que acontece no corpo d´água. Assim uma amostra é
coletada em duplicata, e em uma das amostras é medido o oxigênio dissolvido após a coleta; o
oxigênio da outra amostra é medido após 5 dias, período em que a amostra fica em uma incubadora
a uma temperatura de 20oC. (PORTO, 1991)
A diferença de concentração de oxigênio representa a demanda bioquímica de oxigênio
(oxigênio consumido para oxidar a matéria orgânica via respiração dos microrganismos). É um
indicador estimativo, já que as condições: turbulência das águas, aeração e insolação entre outros
não são consideradas.
Quando a água possui muita matéria orgânica e microrganismos, é necessário diluir a
amostra e introduzir nutrientes. Para efluentes indústrias que não possuem oxigênio suficiente e
nem microrganismos, é necessário além da diluição e introdução de nutrientes, adicionar "semente",
ou seja, uma porção de esgoto com microrganismos e DBO conhecido para corrigir o resultado
final. No período de 5 dias a 20oC (DBO5), é consumido cerca de 70% a 80% da matéria orgânica
(esgoto doméstico); após 5 dias começa a demanda nitrogenada, em que durante cerca de 20 dias
são consumidos 100 % da matéria orgânica. O esgoto é considerado biodegradável quando a relação
DQO/DBO (Demanda química de Oxigênio/Demanda Bioquímica de Oxigênio) é menor 5. A DBO
se faz um excelente índice para indicar a eficiência de uma Estação de Tratamento de Esgotos
(ETE), quando se compara a DBO do esgoto bruto e do efluente final.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Temos para o cálculo do DBO;


A = mg/L de OD da amostra instantânea
B = mg/L de OD da amostra de 5 dias
Calculando assim com a seguinte equação (Eq. 1):
(1)

A seguir quantificamos os níveis de DBO durante os quinze meses de coleta (Gráfico 2) a


fim de analisar suas respectivas variações.

Níveis de DBO (ppm)


2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00

Gráfico 2: Níveis de DBO para seus respectivos períodos de coletas.


Fonte: Elaboração própria (2017).

Um fator importante a ser observado é que nas reações que ocorrem na DBO, o pH tem
como faixa ideal de 6,5 a 8,5 para garantir a sobrevivência dos microrganismos.
Outro fator importante que pode variar a DBO é a temperatura que pode aumentar ou
diminuir a velocidade da reação de oxidação.
Como podemos perceber os níveis de DBO sofreram uma pequena variação no período de
coletas, variando apenas de 0 a 2 ppm. Existindo meses onde a diferença subia ou despencava
bruscamente.
Para os termos da resolução do CONAMA os níveis de DBO apresentados estão todos
enquadrados nos mesmos da classe 1, menores que 3 ppm. O que torna a Barra de Gramame bem
conceituada para esse parâmetro.
Podemos associar esses baixos níveis de DBO a pouca existência, proporcionalmente
falando, de matérias orgânicas como folhas de árvores, cadáveres de animais, restos de comida,
madeira, entre outras coisas. Pois, quanto menor for à quantidade de material proveniente dos seres
vivos na água, menor será a quantidade de oxigênio necessária para depurá-la.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Barra de Gramame encontra-se com suas águas poluídas. Nesse estudo, todos os objetivos
traçados foram pensados a partir de problemas causados por eventos ocasionados pelo homem que
geram a poluição hídrica. Através de analises dos parâmetros conseguimos identificar e investigar
algumas possíveis causas reais desses potenciais poluentes lançados diariamente em nossos rios,
pois cada parâmetro tem características próprias podendo acusar suas possíveis origens.
O prejuízo com essas ações antrópicas desenvolvidas dentro de bacias hidrográficas dos rios
são problemas socioeconômicos que merecem e devem ser tratadas com medidas de gestão
ambiental aplicadas nas áreas afetadas visando garantir não somente o acesso humano a recursos
hídricos de qualidade, mas também a conservação ambiental.

REFERÊNCIAS

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Brasília: ANA, 2012.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

OS IMPACTOS AMBIENTAIS NA ZPA8 EM NATAL - RN

Eduardo Furtado CHAVES


Educador ambiental e graduando em História UFRN
eduardo.furtado.efc@gmail.com
Richerlida Helena Teixeira da SILVA
Educadora ambiental e graduanda em Geografia UFRN
richerlidas2@hotmail.com
Vinnícius Vale Dionizio FRANÇA
Educador ambiental e graduando em Geografia UFRN
vinniciusdionizio@gmail.com
Adjael Maracajá de LIMA
Professor Orientador
adjaelmaracaja13@gmail.com

RESUMO
Esse trabalho trata sobre a Zona de Proteção Ambiental de número 8, como sendo uma das áreas de
extrema importância para a conservação da natureza dentro da cidade de Natal, capital do Rio
Grande do Norte. Apresenta os recorrentes impactos ambientais sofridos pelo manguezal do
estuário do Rio Potengi, situado na ZPA 8, oriundos da falta de conscientização humana: Prática da
Carcinicultura, pescas em desconformidade com a legislação, lançamento de lixo e esgoto.
Evidencia a eficácia das medidas legais tomadas para a proteção deste ambiente. Sendo o
manguezal um ecossistema de grande biodiversidade, mas também muito frágil, está inserida nos
limites resguardados pelo Plano Diretor de Natal, instrumento utilizado pelo poder público do
município. O macrozoneamento será exposto como o meio aderido para melhor gerência da
ocupação territorial.
Palavras chave: Zoneamento ambiental, Manguezal, Plano diretor, Rio Potengi, Natal/RN.
ABSTRACT
This paper is about Environmental Protection Zone number 8, as being one of the most important to
the nature‘s conservation amongst the city of Natal, capital of Rio Grande do Norte. This article
shows recurring environmental impacts suffered by the mangrove along the Potengi River, situated
on ―ZPA‖ (Environmental Protection Zone) 8, resulting from the lack of human consciousness:
Shrimp farming, fisheries not according to the law, irregular waste disposal, all that is evidence of
the inefficacy from the legal measures taken to protect this environment. Being the mangrove an
ecosystem of great biodiversity, as well as fragile, it is inserted on the boundaries of the Natal‘s
Director Plan, instrument utilized by the city‘s governors. The macrozoning will be shown as the
means to the best occupancy territorial management.
Keywords: Environmental zoning, Mangrove, Master Plan, Rio Potengi, Natal / RN.

INTRODUÇÃO

O Espaço geográfico é produto dos indivíduos que vivem nele e de suas relações sociais e
econômicas. Áreas consideradas como campo e cidade são bons casos para exemplificar tal ligação.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 874


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No campo, imagina-se uma população pouco numerosa. Existem poucas pessoas, as casas são
menores e em menos quantidade. A necessidade de locomoção é baixa e quando ocorre, é
facilmente realizada utilizando animais em estradas de terra. Apesar do crescente uso de
tecnologias, ainda pode-se perceber características de uma população que desenvolve atividades
primárias, sem grandes alterações no ambiente – Toda a infra-estrutura é sintetizada, tendo em vista
as circunstancias citadas. Na cidade observa-se outra realidade: O contingente populacional é por
vezes triplicado e para atender as necessidades de todos e mais habitações são edificadas. Mais
hospitais e escolas são instalados, ruas são alargadas e asfaltadas para se adequarem aos carros –
sendo estes cada vez maiores e mais numerosos. Todavia, o crescimento raramente é acompanhado
pelo planejamento urbano. Depara-se comumente com grandes áreas urbanas sempre favoráveis a
obtenção de lucro rápido e uma sociedade disposta a transpor qualquer barreira para otimização
econômica, inclusive as barreiras postas pela natureza, em sua própria existência.
Foi em um passado recente que se iniciou a discussão para o melhor planejamento urbano no
Brasil, refletindo assim na criação de Políticas Públicas e leis que potencializassem minimamente a
gestão territorial devida. Entendeu-se, ainda que lentamente, a indispensabilidade de resguardar o
que de fato é essencial para a existência humana e que isso não pode ser oferecido por máquinas
construídas, mas sim, pelo ambiente natural.
A cidade de Natal é capital do estado do Rio grande do Norte e está situada no nordeste
brasileiro. Possui área de 167,264 km² e uma estimativa de 877.662 pessoas, para o ano de 2016
(IBGE). Trata-se de um município em crescente urbanização e não diferente de outras cidades
atentou há pouco às discussões sobre ordenamento territorial, com a inserção dos interesses
ambientais. Em decorrência dos debates, instituiu-se na cidade o instrumento denominado Plano
Diretor e em suas diretrizes, define o macrozoneamento como um dos métodos para beneficiamento
da gestão territorial. O macrozoneamento ambiental, contido no Plano, estabelece Zonas de
Proteção Ambiental em Natal e somam um total de dez áreas definidas e resguardadas.
Apesar dos aparatos criados legalmente para a segurança do ambiente em toda área
municipal, percebe-se que estes não foram suficientes para inibir totalmente os meios de impactos
sofridos. A Zona de Proteção Ambiental de número 8 está localizada nas margens do Rio Potengi,
corpo hídrico que divide a cidade e tem padecido em função da fragilidade detectada em seu
regulamento e tentativas de preservação.

OBJETIVOS

Analisar historicamente os impactos causados pela ação humana através do processo de


urbanização. Verificar as medidas legais adotadas para proteção de ambientes naturais, tendo como
referencial a Zona de Proteção Ambiental 8 em Natal-RN.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para atingir os objetivos desta pesquisa foi necessária a adoção de alguns procedimentos
metodológicos, como a realização de uma revisão bibliográfica relacionada aos temas abordados:
História da formação da cidade de Natal, Ecossistemas de manguezais e impactos sofridos por eles,
Plano Diretor e Zoneamento Ambiental. Também foi realizada uma análise cartográfica da área que
corresponde a Zona de Proteção Ambiental 8, localizada em Natal-RN, através de imagens de
satélite obtidas através do software Google Earth. Elas possibilitaram uma melhor visualização e
interpretação dos processos sucedidos na área de manguezal da ZPA 08. Realizou-se um
levantamento de dados de origem pública, trabalhos já realizados sobre a área de estudo, como
relatórios do Ministério Público e da Prefeitura Municipal de Natal.

OCUPAÇÃO DO SOLO E LEGISLAÇÃO EM NATAL

No modo de colonização lusitana, em países da América do Sul, procuravam-se


características geomorfológicas e geográficas especificas para a instalação do que seriam as
primeiras cidades: a proximidade com um corpo hídrico é uma delas e tem como razão a
necessidade de abastecimento da população e seus animais. Na cidade de natal, o mesmo padrão de
colonização portuguesa pode ser identificado: A cidade foi fundada as margens do ―Rio Grande‖,
como chamado pelos portugueses, hoje nomeado Rio Potengi e foi marcada pelo modo de
exploração que Portugal tinha ao dominar um país com a grande extração de materiais do ambiente.
Em meados de 1599, período inicial da fundação da cidade, os habitantes dependiam do
recurso hídrico, pois era imprescindível à manutenção de suas atividades econômicas e de
subsistência. Exemplifica-se: A pesca, agricultura, pecuária - familiar ou de exportação, e
transporte; Todas elas inteiramente condicionadas à disponibilidade de água. O passar cronológico
findou por atestar a valoração desse fluido único, o Rio Potengi, que proveu o sustento necessário
para o desenvolvimento social.
Em diferentes contextos, o Potengi vai obtendo novas funções: Escoadouro, a partir da
instalação do porto; pista de pouso para hidroaviões pertencentes aos Estados Unidos da América,
durante o período da segunda grande guerra mundial (época de intensas modificações na capital do
estado); entre outras. Em função do progresso econômico e estrutural na localidade, o descaso com
o ambiente acentuava-se. Percebe-se que Natal seguiu o curso comum das cidades brasileiras:
Tornou-se urbanizada, industrializada e promoveu impactos negativos em áreas que necessitam de
proteção ambiental.
Com o passar dos anos, as discussões sobre a proteção às áreas naturais multiplicaram-se,
pela compreensão de que se trata de uma parte essencial para o bem-estar social. Os resultados

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

dessas discussões trouxeram também reflexos jurídicos com a criação de leis e regulamentos para
resguardar e incentivar o uso responsável da natureza.
A legislação brasileira tem seu arcabouço legal e jurídico fundamentado por uma série de
instrumentos. A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da natureza. O SNUC, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é o conjunto de
unidades de conservação a nível federal, estadual e municipal. São "espaços territoriais e seus
recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei"
(art.1º, I). Ou seja, áreas com características naturais que necessitam de proteção.
O Plano Diretor de ordenamento territorial, por sua vez, regula o uso da área municipal e
proporciona diretrizes para seu crescimento, gestão, beneficiando a melhor destinação de recursos
para este fim. O artigo 2 do PDDU de Natal (2007) define como objetivo de sua existência ―o pleno
desenvolvimento das funções sociais, e ambientais da cidade e da propriedade, garantindo um uso
socialmente justo e ecologicamente equilibrado do seu território, de forma a assegurar a todos os
seus habitantes, condições de qualidade de vida, bem-estar e segurança. ‖ Ele é elaborado por uma
equipe com profissionais de diferentes áreas da ciência (SOUZA, 2013) e obrigatório para
municípios com população acima de 20.00 habitantes, integrantes de regiões metropolitanas ou
onde o Poder Público local queira desenvolver atividades que tragam algum impacto ambiental
(SOUZA, 2010). Sua revisão é obrigatória em um período de dez em dez anos, tendo em vista o
surgimento de novas necessidades da cidade que aparecem no decorrer do tempo.
Natal atende a todas as características que fazem necessária a existência desse instrumento.
Como mostra Marise Costa (2010) em sua tese, havia antes preocupação com a preservação de
áreas verdes, mas sem a preocupação social e nem grandes aprofundamentos sobre impactos
ambientais. O Plano Serete, uma das primeiras tentativas registradas de ordenar o uso do espaço na
capital do estado, elaborado de forma privada pela empresa de mesmo nome, surge em 1968. O
primeiro Plano Diretor foi devidamente aprovado e instaurado em 1974, possuía grande influência
daquele criado em 68 e repetiu os mesmos erros: Pouca democracia, reflexo do contexto histórico
da época. Em sua tese ―Espaços Especiais Em Natal: Moradia E Meio Ambiente‖, Marisa aponta a
percepção de uma tímida preocupação com determinados fragmentos da cidade que mais tarde
seriam reconhecidas como Zonas de Proteção Ambiental, todavia visando a conservação
paisagística.
Em 1984, o Plano Diretor foi revisado pela segunda vez – um reflexo dos interesses
políticos do governo vigente na época, excluindo a participação social em sua fase de construção,
apesar de seus singelos avanços (SOUZA, 2010). A versão de 1994 se difere das outras por sua

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

maior preocupação com a garantia de direitos, preservação ambiental e função social de áreas,
contando ainda com a população para a coleta de informações para o planejamento. Foram
identificadas áreas de fragilidade ambiental que necessitavam da proteção do poder público – aí de
fato iniciou-se a discussão sobre as ZPA‘s. Houve falha na implementação do que fora posto e em
1999, iniciou-se outra revisão do plano que significou retrocesso e em 2000, novas modificações
foram feitas. Como exemplo, tem-se a Lei Complementar nº 27/2000 que tem por objetivo incitar o
crescimento do Bairro de Ponta Negra, mudando-a de Área de Adensamento Básico para Zona
Adensável.
Assegurado pela lei complementar nº 082, de 21 de junho de 2007, o plano mais recente é
do mesmo ano, mas teve seu processo de formação iniciado em 2004. Assim como esperado,
esclarece inicialmente os objetivos a serem alcançados e termos utilizados. Aborda a política
urbana, a gestão territorial e administrativa, como também aspectos paisagísticos da cidade,
arborização, mobilidade. Trata sobre os empreendimentos e impactos ambientais gerados por eles.
Define o zoneamento a partir de características ambientais, econômicas, de vulnerabilidade e
interesse social, entre outros. Traz mapas para representação destas separações ao final do
documento.
No Processo Nº 001.07.216313-6, em uma ação civil pública, considerou-se os seguintes
pontos: A Zona norte de Natal como adensável, sendo permitida a construção de prédios com até 33
pavimentos, regulando as construções até que os problemas que envolvem esgotamento sanitário
sejam resolvidos; concluiu a insuficiência da autorização da construção de estações de tratamento
de esgoto particulares, afetando o abastecimento hídrico para a população e sua saúde; apontou e
julgou as negatividades causadas pelo não cumprimento de exigências feitas legalmente sobre as
construções no entorno do Parque das Dunas de Natal.

MACROZONEAMENTO E ZONA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL 8

Atualmente, todo território de Natal é tido como Zona Urbana e nela está posta o
Macrozoneamento. Ele direciona o uso da área municipal, definida no Plano Diretor da cidade
(2007). Está dividida em: Zona de adensamento básico, Zona Adensável e Zona de Proteção
Ambiental. Conforme citado em arquivo publicado pela Secretária de Meio Ambiente e Urbanismo
(SEMURB), José Afonso da Silva, jurista atuante na área do direito ambiental, define como ZPA
―as áreas nas quais as características do meio físico restringem o uso e ocupação do solo urbano,
visando à proteção, manutenção e recuperação dos aspectos paisagísticos, históricos, arqueológicos
e científicos.‖ A inserção do Zoneamento Ambiental no documento ameniza as problemáticas de
destruição das áreas mais frágeis em cidades e municípios. Contam-se dez Zonas de Proteção
Ambiental na cidade, correspondendo a 34% da área do município. Parte delas conta com leis

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

especificas e estão devidamente regulamentadas e implementadas. Segue o mapa (Figura 01) da


localização das ZPA‘s de Natal:

Figura 01: Mapa de localização das ZPA‘s de Natal/RN. Fonte: SEMURB, 2008.

A Zona de Proteção Ambiental de número 8, recorte espacial utilizado como objeto de


discussão nesse artigo, contem bairros das regiões administrativas norte e leste da cidade: Sendo
Potengi e Redinha ao Norte, totalizando área de 1.585,98 hectares e a sul (região administrativa
oeste), Salinas, Quintas, Nordeste, Bom Pastor, Felipe Camarão e Guarapes - totalizando 623,73
hectares. Sua área é de 2.209,71 hectares, sendo 35,61% das ZPA‘s de Natal e 13,11% da área
municipal, sendo a maior de todas (SILVA, 2016). Nela está também a nascente do Rio Jaguaribe e
sua bacia hidrográfica. Instituída a partir do PDDU do ano de 1994 (não devidamente
implementada), foi expandida no Plano Diretor de 2007. Passou a abranger e proteger o estuário do
Rio Potengi, bem como o restante do manguezal que não era contemplado na formatação antiga.
Este a reconhece como ―Ecossistema Manguezal e Estuário do Potengi/Jundiaí‖ e apresenta sua
importância para a cidade representada pelos serviços ambientais prestados.
No mapa a seguir (Figura 03), visualiza-se a localização da Zona de Proteção Ambiental 8 e
os bairros contidos em suas delimitações para melhor compreensão de sua abrangência. Bem como,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

parte do estuário do Rio Potengi, corpo hídrico de extrema importância para a cidade de Natal,
apesar de seu estado de poluição.

Figura 02: Mapa de Localização da ZPA – 08. Fonte: FRANÇA, 2017

MANGUEZAL E SUA IMPORTÂNCIA

O manguezal é um tipo de ecossistema costeiro e de transição entre os ambientes terrestre e


marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais (SCHAEFFER, NOVELLI, 1995). Ele
apresenta alta produtividade, proporcionando um ambiente favorável para o crescimento e
sobrevivência dos estágios iniciais do ciclo de vida de animais marinhos (SCHULER, 2000). Além
de ter alta produtividade, ele também possui alta vulnerabilidade a diversos impactos, sendo eles de
ordem natural, mas, sobretudo de ordem artificial e antrópica. Devido a sua importância e
fragilidade, os manguezais são áreas de preservação permanente, porém ainda assim sofrem com a
expansão urbana, obras de engenharia, lixões, marinas, aterros e cultivo de camarão (NANNI,
2005). Podemos considerar o ecossistema como base da cadeia alimentar dos oceanos, pois nele
desenvolve-se grande parte da fonte de alimentos para os peixes, como algas e líquens.
O ecossistema de manguezal possui diversas importâncias, pode-se citar as de ordens
ambientais, sociais, culturais e econômicas. Importância ambiental, pois, toda a área é um
verdadeiro berçário para diversas espécies, além de possuir uma grande biodiversidade, abrigando
desde pequenos invertebrados até grandes vertebrados como peixes, répteis, mamíferos e aves.
Alguns animais não são exclusivos dos manguezais, possuem origem em ambientes terrestres,
marinho ou de água doce. Importância social/cultural, pois, algumas comunidades da cidade do

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 880


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Natal/RN utilizam o local como fonte de sobrevivência. Pescadores que são moradores da
comunidade do Passo da Pátria (Figura 03-B) tiram do manguezal seu sustento, coletando mariscos
e realizando práticas de pesca como a tapagem (Figura 03-A). Importância econômica, pois, é na
área de manguezal que está localizado os viveiros de camarão. A carcinicultura que produz camarão
em cativeiro, sendo responsável por boa parcela das exportações do estado.
Além de abrigar uma avifauna que utiliza o manguezal como área de alimentação,
reprodução, desenvolvimento e refúgio. A capacidade de reciclar e reter nutrientes, gerando mais
energia do que podem consumir e a presença de todos os tipos de produtores faz do manguezal um
ambiente de grande importância econômico-ambiental (NANNI, 2005).

Figura 03: A: Prática da pesca de Tapagem no Manguezal do Estuário do Potengi. B: Comunidade do Passo
da Pátria – Natal/RN. Fonte: FRANÇA, 2016.

IMPACTOS AO MANGUEZAL

Como visto na contextualização histórica da cidade, a degradação ao ecossistema manguezal


presente na ZPA 8 se deu desde o início da formação de Natal. Passados os anos, o manguezal
recebeu efetivamente um reconhecimento da sua importância econômica-ambiental.
A variedade de impactos induzidos pela ação do homem pode ser agrupada da seguinte
forma: obras de canalização, represamento, drenagem do manguezal, bloqueio da água salgada,
aterros, sedimentação, exploração mineral, poluição térmica, derramamento de óleo, descarga de
efluentes, deposição de lixo e salinas (SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRON, 1994, citado em
QUIÑONES, 2000).
Devido à localização dos manguezais, estes ambientes possuem grande importância
econômica e acabam sendo degradados diariamente, pela ação e ocupação humana. As principais
ameaças aos manguezais Brasileiros segundo Lacerda (1989) são: Desmatamento para expansão
industrial, urbana e portuária; Uso potencial para aquicultura; Poluição ambiental; Crimes
ambientais; Acidentes ambientais; Especulação imobiliária; Extração de madeira; Terras para
agricultura; Contaminação por metais pesados; Pesca predatória; Poluição por dejetos sanitários.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A carcinicultura é uma das atividades que mais causam impactos no ecossistema de


manguezal (Figura 04-A). Um dos principais impactos trata-se da contaminação a partir da grande
quantidade de nutrientes e metais pesados que é lançada nas águas estuarinas (CUNHA, 2010
Citado em SOARES, 2016). No Brasil, a produção do camarão em cativeiro teve início nos anos
1970, no estado do Rio Grande do Norte, tendo uma maior expansão a partir da década de 1990,
quando a espécie Litopenaeus vannamei, advinda do Equador, foi introduzida nos viveiros, obtendo
melhores resultados que a espécie introduzida inicialmente, a Penaeus japonicus. (SEPLAN, 2001
apud CUNHA, op. cit). No tocante à área de estudos deste trabalho, a carcinicultura deveria ter
encerrado suas atividades em 2015, de acordo com o laudo pericial realizado para a abordagem da
ZPA 8, pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo. Porém, ainda existem viveiros
ativos no local, sendo possível observar o efeito dos impactos presentes sobre o ecossistema
(SOARES, 2016).
Outro agravante ao manguezal é o lixo, os resíduos sólidos que a população joga no estuário
do Potengi (Figura 04-B), acabam chegando naturalmente pela ação da correnteza na área de
mangue, é comum observar eletrodomésticos velhos, como geladeiras, fogões, além de móveis
como sofás, dentre outros, além de plásticos, vidros, metais, que se acumulam na margem do rio, ou
seja, na área de mangue da ZPA 08. Além disso, o lançamento de água servida sem tratamento ao
estuário, também gera um impacto ao manguezal. Ligações clandestinas que despejam o esgoto na
rede de drenagem acabam levando para o mangue e para o rio, o esgoto que deveria ser tratado em
uma estação de tratamento.
As principais ameaças aos manguezais Brasileiros segundo Lacerda (1989) são:
Desmatamento para expansão industrial, urbana e portuária; Uso potencial para aquicultura;
Poluição ambiental; Crimes ambientais; Acidentes ambientais; Especulação imobiliária; Extração
de madeira; Terras para agricultura; Contaminação por metais pesados; Pesca predatória; Poluição
por dejetos sanitários.

Figura 04: A: Viveiros para o cultivo de camarão no manguezal da ZPA 8, Natal/RN. Fonte: (NORTE, 2017)
B: Geladeira depositada na área de manguezal. Fonte: FRANÇA, 2016.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Nota-se que apesar da proteção dada aos fragmentos naturais da cidade, há insuficiência de
ações para alcance êxito total. Uma das razões para isto é a necessidade de trabalho junto à
população sobre a importância do ecossistema e de sua conservação, encucando nela a
responsabilidade que é cabível não apenas ao poder público tendo em vista o interesse comum à
todos. Sendo assim, desde o ano de 2006, está em funcionamento o Projeto de Educação Ambiental
Chama-Maré. Este é de responsabilidade do Governo do Estado, representado pelo Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) e operacionalizado pelo Fundo de
Desenvolvimento Sustentável para a Terra Potiguar (FUNDEP). Trata-se da realização de aulas
passeio no estuário do Rio Potengi, à bordo de uma embarcação do tipo Catamarã. São dirigidas por
uma equipe de educadores ambientais junto ao público que é, em sua maioria, formado por
estudantes do ensino básico. Nelas podem ser contemplados e discutidos diversos aspectos da
cidade: história, monumentos importantes, cultura e meio ambiente. O ultimo ponto é representado
também pelas Zonas de Proteção Ambiental 7 e 8. Sendo assim, tais áreas ainda servem como
instrumento de conscientização e aproximação entre os indivíduos e a natureza a partir da
possibilidade da percepção dos impactos ocasionados por eles mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que o homem pautou sua relação com a natureza a partir do que poderia extrair
dela, sem ponderar sobre os resultados desse tipo de uso. A sociedade está despertando lentamente
para a urgência da regulação justa do uso e ocupação do ambiente, através da criação de
instrumentos como o Plano Diretor. Entretanto, mesmo com a definição de parâmetros, a
conscientização é ínfima em diversos atores sociais – Poder público, empresas e cidadãos - e isto
ainda repercute de maneira drástica, diminuindo a expectativa de sobrevivência não só de plantas e
animais, mas também do ser humano.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 885


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

QUALIDADE DA ÁGUA NAS PRAIAS BESSA E MANAÍRA NA CIDADE DE JOÃO


PESSOA/PB

Rômulo Henrique Teixeira do EGITO


Estudante deGestão Ambiental no IFPB-João Pessoa
romuloegito2@hotmail.com
Bruna Leticia Oliveira SILVA
Estudante de Gestão Ambiental no IFPB-João Pessoa
b.leticia1997@gmail.com
João Paulo Ramalho LEITE
Graduado em Gestão Ambiental no IFPB-João Pessoa
pauloramalholeite@gmail.com
Gilcean Silva ALVES
Professor Titular Doutor em Agronomia IFPB-João Pessoa
biopb@hotmail.com

RESUMO
As regiões costeiras urbanas são influenciadas diretamente pelas ações antrópicas, por meio de
esgotos residências e industriais, pela rede de drenagem, entre outras formas. Toda essa
problemática ambiental pode causar sérios impactos na população que utiliza a região como uma
forma de lazer, visto que uma água que possui um elevado índice de poluição é um grande
transmissor de doenças de veiculação hídrica. O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo
fazer uma análise da qualitativa e quantitativa das características água do mar nas praias de Manaíra
e do Bessa na cidade de João Pessoa/PB, a partir de dados coletados no órgão responsável pelo
monitoramento e saber se as praias citadas estão com uma qualidade suficiente para o seu uso para
balneabilidade.
ABSTRACT
The urban coastal regions are directly impacted by the anthropic actions, by means of residential
and industrial sewage system, by the drainage network, among other means. This entire
environmental problem can cause serious impacts on the population that uses the region for leisure,
since water there that has a high pollution index and it is a great transmitter of waterborne diseases.
The present work was developed with the objective of analyzing the qualitative and quantitative
characteristics of the seawater characteristics in the Manaira and Bessa beaches in the city of João
Pessoa / PB, from data collected in the responsible entity for monitoring and knowing if the beaches
are with sufficient quality for their use for bathing.

INTRODUÇÃO

A pressão urbana nas regiões litorâneas está problematizando a qualidade da água dos mares
em todo mundo, segundo Calheiros e Oliveira (2005) 80% dos esgotos no Brasil são lançados em
corpos d‘água sem o devido tratamento, destes, 85% são provenientes de esgotos domésticos e 15%
esgotos industriais. Em todo mundo cerca de 60% da população vive numa distância de menos de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 886


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100 km do mar, isso acarreta uma grande pressão de degradação de ecossistemas costeiros e
marinhos. Observamos que o Brasil segue essa tendência mundial em seus aproximados 7.500 km
de costa, que sofrem diariamente essa sobrecarga ambiental (RODRIGUES & MAIA, 2003). De
acordo com dados coletados no Portal do Saneamento básico 25% das internações por doenças
infecciosas e parasitárias estão ligadas a deficiência no sistema de saneamento básico, 2016, na
cidade de João Pessoa/PB. O problema do saneamento atinge diretamente a qualidade da água do
mar, visto que, muitos desses corpos hídricos das áreas urbanas que recebem esgotos vão em
direção das praias.
Outra forma de poluição dos recursos hídricos costeiros é por meio de problemas nas redes
de drenagens nas cidades. Na cidade de João Pessoa é possível observar que alguns pontos das
praias estudadas existem redes de drenagem que estão desaguando no mar, mesmo em períodos de
seca, e aparentam características de água de esgoto. Além disso, de acordo com informações
coletados na SEINFRA (Secretaria Municipal de Infraestrutura) não existe um mapeamento da rede
pluvial da cidade, nem um conhecimento total de todos os dados, isso acaba dificultando o controle
de interferência de esgotos nesse tipo de redes. O presente trabalho objetivo informar sobre como
está à qualidade para balneabilidade das praias de Manaíra e Bessa na cidade de João Pessoa/PB.

METODOLOGIA

Para tanto, foi desenvolvido a partir de dados espaços-temporais de balneabilidade das


praias de Manaíra e Bessa fornecidos pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente
do estado da Paraíba (SUDEMA), que é responsável pelo monitoramento das águas das praias,
comparando com as legislações vigentes de balneabilidade que é a Resolução do CONAMA n° 274
de 29 de novembro de 2000 e a de classificação e enquadramento dos corpos hídricos Resolução do
CONAMA n° 357 de 17 de março de 2005.
As informações foram explanadas de formas qualitativas que facilitam a compreensão e
interpretação, através do Microsoft Excel 2013. Além disso, informações importantes foram obtidas
a partir do site da ONG Mata Atlântica que tem alguns projetos relativos à preservação do bioma
marinho. Os dados analisados foram do período de janeiro de 2016 a março de 2017.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a Resolução CONAMA n° 357/2005, a qual dispõe sobre a classificação dos
corpos hídricos e seu enquadramento, as águas salinas podem ser classificadas por meio da
salinidade da água compreendida entre 0,5%o e 30%o;
Outra legislação ambiental é a Resolução CONAMA n° 274/2000 que define os critérios de
balneabilidade em águas brasileiras mediante o contato primário e prolongamento com a água, cuja

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 887


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possua maior probabilidade do banhista ingerir água em atividades como a natação, mergulho ou
esqui-aquático.
As águas são subdivididas em categorias como ―excelente‖ quando em 80% das amostras
conterem, no máximo, 250 coliformes totais (termotolerantes) ou 200 Escherichia coli; ―muito boa‖
quando 80% das amostras conterem, no máximo, 500 coliformes totais (termotolerantes) ou 400
Escherichia coli; ―satisfatória‖ quando em 80% das amostras conterem, no máximo, 1000
coliformes totais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli; ―imprópria‖ quando a última
amostragem for superior a 2400 coliformes totais (termotolerantes) ou 2000 Escherichia coli
(CONAMA, 2000).
Com base no Relatório Parcial de Balneabilidade entre janeiro de 2016 a março de 2017,
fornecido pela SUDEMA, pode-se constatar que no total de 253 amostras, entre os locais das praias
do Bessa I, Bessa II, Caribessa (esse ponto a partir de setembro de 2016 que começou a ser
coletadas amostras), Quadra de Manaíra e o outro ponto ―Manaíra Bahamas‖, foram constatados os
seguintes resultados: 101 resultados considerados Impróprios, 42-Satisfatórios, 46-Muito Boa e 64-
Excelentes.

Figura 1. Classificação entre excelente, muito boa, satisfatória ou imprópria das praias de João Pessoa entre
jan/2016 a março/2017.

120

101
100

80
64
60
46
42
40

20

0
excelente muito boa satisfatória impropria

Fonte: Autor

A Figura 2, denota uma melhor qualidade nas praias do Bessa II e Caribessa com 8 amostras
excelentes, em contra partida no ponto de 4 Manaíra Quadra, 2 Manaíra Bahamas e 1 Bessa I foram
impróprias. Totalizando 42% de amostras excelentes, corroborando com uma boa qualidade da água
para lazer e bem-estar.

Figura 2. Amostras no mês de novembro de 2016 com maior classificação ―excelente‖.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 888


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Novembro/2016
5

4
1
3

2 4 4 4 2
3
1
1
0
BESSA I BESSA II CARIBESSA MANAÍRA MANAÍRA
QUADRA BAHAMAS

Excelente Muito Boa Satisfatória Imprópria

Fonte: Autor.

A Figura 3, foi totalizado 56% das amostras como imprópria, sendo 5 Bessa I, 4 no Manaíra
Quadra e 5 no ponto do Manaíra Bahamas. Preconizando com alto potencial de impacto ambiental,
podendo colocar em risco os banhistas que frequentarem essas praias.

Figura 3. Amostras no mês de março de 2017 com maior classificação de ―imprópria‖.

Março/2017
6
4 1
4 1 4
2 5 5
3
0 1 1
BESSA I BESSA II CARIBESSA MANAÍRA MANAÍRA
QUADRA BAHAMAS

Excelente Muito Boa Satisfatória Imprópria

Fonte: Autor

CONCLUSÕES

Torna-se mais do que importante saber não apenas onde praticar atividades de lazer, mas
também a boa qualidade do recurso hídrico que iremos nos expor que seja por contato primário, seja
por contato secundário. Os dados discutidos foram apresentados entre o máximo e o mínimo de
cada mês a fim de elucidar a disparidade das amostragens. Um fato preocupante nessa análise é que
39,93% das amostras totais coletadas estão classificadas como Impróprias para balneabilidade,
comprova o grande risco que a população está correndo ao utilizar a área para lazer. Ações
mitigadoras devem ser tomadas de imediato para que não haja nenhum problema mais grave para o
bioma marinho e para as pessoas.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 889


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AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal da Paraíba, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico e a Sudema.

REFERÊNCIAS

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Corumbá e Ladário. ADM – Artigo de Divulgação na Mídia, Embrapa Pantanal, Corumbá-MS,
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CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 274/2000, de 29 de novembro de


2000. Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. Brasília, DF: Diário Oficial da
União, 2000.

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n° 357/05, de 17 de março de 2005.


Estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional. Brasília,
DF: Diário Oficial da União, 2005.

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RODRIGUES, R.A.; MAIA, L. P. Impactos ambientais na zona costeira e a qualidade de vida das
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Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, 2003.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 890


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ZONA RURAL DE CAMPINA GRANDE-PB

Thalis Leandro Bezerra de LIMA


Graduando em Engenharia Agrícola da UFCG
tthallisma@gmail.com
Regina Wanessa Geraldo Cavalcanti LIMA
Mestre em Ciências Agrárias – Agroecologia da UFPB
reginawanessa@hotmail.com
Viviane Farias SILVA
DSc Eng. Agrícola; Pós doutoranda em Recursos Naturais da UFCG
flordeformosur@gmail.com
Vera Lúcia Antunes de LIMA
Prof.ª DSc. Da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da UFCG
antunes@deag.ufcg.edu.br

RESUMO
A degradação ambiental pode ser originária por diversos fatores, seja natural ou antrópica, afetam
diretamente o ecossistema. Uma das alternativas para verificar as degradações é através do
diagnóstico ambiental em visitas no local identificando e registrando a situação atual,
principalmente em regiões semiáridas, que estão mais propicias a degradação ambiental, devido as
condições edafoclimáticas. Nesse contexto, a presente pesquisa foi realizada objetivando-se
executar o diagnostico ambiental em zona rural do município de Campina Grande-PB. O
diagnóstico ambiental ocorreu através da identificação das fontes de degradação na área em estudo
sendo observadas a partir de visitas in loco. Foram identificados 4 corpos hídricos na área estudada,
assim como a criação de animais e cultivo de milho em grandes áreas de plantio. A área foi
detectada com uma bacia hidrográfica devido as características identificadas por meio de imagens
de satélites. A área está degradada em alguns locais, com indícios de desmatamentos, deposição de
lixos, erosão avançada, sendo recomendado um planejamento de recuperação ambiental e ações
governamentais de incentivo nesse local.
Palavras-chave: impactos ambientais; degradação; desmatamento
ABSTRACT
Environmental degradation can be sourced by several factors, whether natural or anthropogenic,
directly affect the ecosystem. One of the alternatives to check the degradation is through on-site
visits environmental assessment identifying and registering the current situation, especially in semi-
arid regions, that are more propitious environmental degradation, because the soil and climate
conditions. In this context, the present research was carried out aiming to perform the
environmental diagnosis in a rural area of the city of Campina Grande-PB. The environmental
diagnosis occurred through the identification of the sources of degradation in the area under study
being observed from on-the-spot visits. 4 water bodies were identified in the study area, as well as
the breeding and cultivation of corn in large planting areas. The area was detected with a watershed
because the characteristics identified through satellite images. The area is degraded in some places,
with evidence of deforestation, waste deposition, erosion, being recommended an environmental
recovery planning and governmental actions of encouragement in that location.
Keywords: environmental impacts; degradation; deforestation

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 891


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental pode ocorrer por diversos fatores, como por exemplo os resultados
ocasionados pelo desmatamento indiscriminado de enormes áreas sem planejamento para restituir
as áreas perdidas, ou por desastres naturais, como enchentes, furações, entre outros. Wanderley &
Silva (2015) afirmam que as ações antrópicas são responsáveis por diversas modificações afetando
toda a humanidade. Conforme Silva et al. (2015) relatam que a degradação antrópica resultando em
desequilíbrio, com redução de biodiversidade assim como mudanças no processo hidrológico.
De acordo com Santos (2010) a posse de área de forma inadequada contribuindo para a
degradação do solo através de processo erosivos, com perdas de solo e nutrientes por meio da
desagregação, transporte e deposição de sedimentos para cotas de menores elevação, como em
reservatórios hídricos, reduzindo a capacidade de armazenamento e comprometendo a qualidade da
água. O processo erosivo pode ser reduzido com a presença de cobertura vegetal, servindo como
proteção do solo contra os agentes erosivos, entre outras técnicas conservacionistas.
Na região semiárida, a degradação ambiental é um aspecto relevante nesta região devido
suas características edafoclimáticas e vegetativas, com épocas de seca prolongada, solo raso e
pedregoso, e em épocas de estiagens a vegetação perde as folhagens e a paisagem fica com
tonalidade acinzentada, peculiaridade da vegetação caatinga. A seca ocasiona diminuição da
vegetação, da biodiversidade e o esgotamento do solo, afirmam Silva et al. (2015). O
desmatamento, as práticas agrícolas exploratórias e incorretas afetam profundamente todo o
ecossistema, desse modo o diagnóstico ambiental visa como uma maneira de verificar os danos
ocorridos, alertar a população e ao poder público dos impactos que estão sendo gerados naquela
área em estudo, para que seja preservada e que as gerações futuras tenham a possibilidade de
usufruir dos recursos da natureza.
O diagnóstico ambiental é o agrupamento de diversos de fatores que degradam o meio
ambiente em uma determinada localidade e os possíveis fatores responsáveis por este impacto
negativo ocorrido ou que estar acontecendo. Paulino (2010) definem diagnóstico ambiental como
sendo a percepção dos elementos ambientais de uma área caracterizando a qualidade ambiental.
Assim a realização de um diagnóstico ambiental é expor as condições atuais ambiental encontrada e
descrever os fatores e impactos ocasionados nos aspectos físicos, biológicos e sócio culturais, como
explica Verdum & Medeiros (2002).
Nesse contexto, a presente pesquisa foi realizada objetivando-se executar o diagnostico
ambiental em zona rural do município de Campina Grande-PB.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 892


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo realizado é considerado como exploratório descritiva, por haver menor severidade
mas proporciona uma visão global da área através das observações, descrições da situação
encontrada no local, de acordo com Gil (1999) e Polit et al. (2004). A pesquisa foi realizada em
zona rural de Campina Grande-PB, conforme observa-se na figura 1, com Latitude 7°15'4.52"S e
Longitude 35°51'59.32"O.
O diagnóstico ambiental ocorreu através da identificação das fontes de degradação na área
em estudo sendo observadas a partir de visitas in loco, em seguida realizou-se visualmente um
levantamento dos principais contribuintes do processo de degradação ambiental e agravantes desse
ecossistema, através dos registros fotográficos.

Figura 1. Localização da área rural da cidade de Campina Grande-PB e a elevação da área. Fonte: Google,
2017.

As linhas metodológicas de avaliação são mecanismos estruturados para comparar,


organizar e analisar informações sobre impactos ambientais de uma proposta, incluindo os meios de
apresentação escrita e visual dessas informações. A identificação e caracterização qualitativa dos
impactos ambientais foram feitas, utilizando-se a Metodologia Espontânea (Ad Hoc) que é um
método baseado no conhecimento empírico do especialista do assunto e/ou da área em questão.
Além disso, de acordo com a metodologia supracitada, utilizou-se a Listagem Descritiva
―checklists‖ (lista de checagem) que representa um dos métodos mais utilizados em Avaliação de
Impactos Ambientais. Consiste na identificação e enumeração dos impactos, a partir de uma
descrição minuciosa ambiental realizada por especialistas dos meios físicos, biótico e
socioeconômico (CRISPIM et al., 2013).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 893


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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram detectados os corpos hídricos exigentes e evidenciados no mapa os 4 reservatórios


hídricos verificados na localidade. O reservatório 3 faz parte da área verde que está sendo
implantada no município de Campina Grande-PB (Figura 2).

Figura 2. Localização dos corpos hídricos identificados na área em estudo, Zona rural de Campina Grande-
PB, 2017. Fonte: Google, 2017.

Ao analisar a figura 2, verifica-se que na área existe redes de drenagens, que são divisores
de água, sendo assim afirma-se que a área estudada faz parte de uma rede de captação de água, ou
seja, faz parte da bacia hidrográfica da região. Conforme Barrela et al. (2007) o grupo de terras
drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de
água, onde as águas das precipitações escoam superficialmente formandos reservatórios hídricos,
como riachos e rios, parte infiltra no solo abastecendo os lençóis freáticos. As águas das
precipitações escoam e ficam acumuladas nas partes mais baixas formando os reservatórios hídricos
e contribuindo com outros tributários.
Numa bacia hidrográfica suas características como, forma, relevo, geologia, rede de
drenagem, entre outros é importante devido influenciar no comportamento hidrológico, assim como
a cobertura vegetal (LIMA, 1976). O processo do ciclo hidrológico pode ser afetado pelas ações

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 894


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antrópicas, com o desmatamento, modificação do relevo, e demais agressões ao meio ambiente,


como afirma Tornello (2005).
Na figura 3 observa-se o cercamento da área para divisão do terreno, no qual será destinado
como área verde no município de Campina Grande-PB. Decorrente as últimas chuvas na região
houve aumento na quantidade de água no açude.
Nascimento et al. (2016) realizando o diagnostico ambiental no açude pertencente a UEPB,
campus de Lagoa Seca-PB, verificaram que os impactos ambientais gerados, concluíram que o nível
de conservação é muito alterado, pelas ações antrópicas, principalmente, além da presença de
animais e cultivo de algumas culturas.

Figura 3. Imagem dos Reservatórios Hídricos 3. Fonte: Autor, 2017.

Na figura 4, verifica-se área descampada apenas com vegetação rasteira, devido a retirada de
plantas nativa. É perceptível a presença de animais, como observa-se o ninho de pássaros em
árvores.

Figura 4. Área próxima ao Reservatório Hídrico 3 com detecção de desmatamento e presença


de animais nativos. Fonte: Autor, 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 895


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na área pesquisada ainda existe vestígios de mata fechada com mínimo de degradação
ambiental, com a preservação da mata nativa, a presença de cupinzeiros na árvore, local onde é
realizado caminhadas ecológicas, trilhas de bicicletas e moto, (figura 5). Constata-se a cobertura do
solo pelos restos vegetais da vegetação, protegendo o solo e melhorando as condições físicas e
químicas do solo.

Figura 5. Identificação de área de preservação. Fonte: Autor, 2017.

Analisando a área de preservação ambiental no municipio de Lagoa Seca-PB, Nascimento et


al. (2016) constataram o depositos de residuos, como sacos plasticos e restos de mudas, assim
como cortes de árvores, com a remoção da mata nativa e prática de queimadas quando proximos as
comunidades.
Contatou-se em algumas propriedades a criação de animais (figura 6), como também foi
constatado a localização do abatedouro Vera Cruz, a principal cultura encontrada foi a do milho
(Zea mays), com enormes plantações.

Figura 6. Criação de animais e plantio de milho. Fonte: Autor, 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 896


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A ocorrência de erosões no estágio bastante avançado de degradação, com formação de


voçorocas em diversos pontos da área, de acordo com a figura 7, em decorrência a ausência de
cobertura vegetal no local, facilitando os processos erosivos, principalmente os causados pela
chuva. Sendo importante a cobertura vegetal do local e a contenção da erosão por meio de práticas
de conservação, como por exemplo paliçadas.
As formas de controle de erosão são priorizar a cobertura vegetal protetora, contudo em
estágio avançados de erosão é recomendado por Bertoni & Lombardi Neto (1990) a aplicação de
outros métodos que auxiliem na recuperação, sendo a paliçadas uma alternativa.
Bacellar (2006) aponta algumas razões que determinam o desenvolvimento e surgimento de
voçorocas sendo: ações antrópicos, como queimadas, desmatamento e manejo inadequado de
plantações; fatores geológicos passivos e ativos; fatores pedológicos, fatores climáticos ativos e
passivos e fatores geomorfológicos. Gerra et al. (2007) afirmam que a remover a vegetação, o solo
fica sem proteção exposto as intempéries, reduzindo a permeabilidade e aumentando o escoamento
superficial.

Figura 7. Presença de processos de erosão. Fonte: Autor, 2017.

Foi encontrado dentro da mata fechada vestígios de resíduos, como garrafas PET (figura 8)
além de abandono de residências em grau de deterioração bastante significativo, resultado do êxodo
rural.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 897


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 8. Presença de lixo e residências abandonadas. Fonte: Autor, 2017.

A presença de animal em fase de decomposição (figura 9) e área com ausência de cobertura


vegetal, além da presença em trechos próximos a zona urbana de disposição de lixos.

Figura 9. Decomposição de animal e presença de disposição de resíduos. Fonte: Autor, 2017.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem locais com vegetação preservada, contudo precisa de incentivo para manter e
ampliar a conservação da área;
A área foi detectada com uma bacia hidrográfica devido as características identificadas por
meio de imagens de satélites;
A área está degradada em alguns locais, com indícios de desmatamentos, deposição de lixos,
erosão avançada, sendo recomendado um planejamento de recuperação ambiental e ações
governamentais de incentivo nesse local;
As pessoas que visitam o local para alguma atividade não devem lançar resíduos, mantendo
as condições originais para que seja apreciada por todos as condições naturais;
Nas áreas de erosão é necessário a utilização de práticas para reduzir os processos erosivos e
a recuperação da área;
Necessário que os órgãos públicos encorajem a práticas ambientais e aplicação de projetos
ambientais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 898


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 900


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AVALIAÇÃO TEMPORAL A PARTIR DE IMAGENS DE SATÉLITE DAS


CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO DE BELÉM DO SÃO
FRANCISCO – PE

Wenderson Sávyo Aguiar da SILVA


Graduando do Curso de Geografia da UFPE
aguiarsavyo@gmail.com
Bruno Fonseca da SILVA
Graduando do Curso de Geografia da UFPE
brunodasilva1996@hotmail.com
Emely Christine Sulino de MELO
Graduanda do Curso de Geografia da UFPE
emelychristinegeo@gmail.com
Andrezza Karla de Oliveira SILVA
Doutoranda na Pós-Graduação de Geografia da UFPE
andrezzakarlaufpe@gmail.com

RESUMO
A aplicação dessas ferramentas para avaliação do grau de degradação ambiental em áreas do
semiárido nordestino possibilita verificar a expansão do processo de desertificação, principalmente
em seus Núcleos. Neste sentido, objetivou-se realizar um processo comparativo entre imagens de
satélite de escalas temporais diferentes para análise ambiental do município de Belém do São
Francisco, Pernambuco. Imagens de satélite Landsat TM 5 foram adquiridas no site do INPE para
os anos de 1993, 1994, 2007 e 2008 foram obtidas para observação da escala temporal para
verificação da sazonalidade existente no Nordeste brasileiro. Após seleção e aquisição das imagens
estas foram processadas no software Erdas 9.1. Fez-se o Índice de Vegetação por Diferença
Normalizada (NDVI), e, posteriormente, o NDVI classes, por meio de classificação não
supervisionada, para o qual foram estabelecidos quatro escalas, a saber: a) água/corpos hídricos; b)
áreas susceptíveis à desertificação; c) solo exposto; d) vegetação espaçada; e) vegetação densa.
Com a obtenção do NDVI classes se calculou a porcentagem de cada variável a partir do valor do
pixel. Verificou-se que houve redução da área de Caatinga espaçada no intervalo entre 1993 e 2008
(período seco), de 25,2% para 21,4%, e diminuição dos ambientes susceptíveis à desertificação que
variou de 33,3% para 29,7%. Foi possível na comparação das imagens de 1994 e 2007 (período
úmido) no município de Belém do São Francisco que houve um aumento das áreas de vegetação
densa, espaçada, susceptíveis à desertificação e nos recursos hídricos. Conclui-se que na observação
comparativa da escala temporal que o município teve perdas de cobertura vegetal devido ao
aumento da fragmentação das áreas de vegetação densa no período úmido. Em adição se verificou
que o período seco é o intervalo em que há uma maior retração da vegetação pela redução da
umidade, com isso maior incidência de áreas com solo exposto.
Palavras Chaves: Desertificação, Caatinga, NDVI.
ABSTRACT
The application of these tools to evaluate the degree of environmental degradation in areas of the
northeastern semi-arid region makes it possible to verify the expansion of the desertification
process, especially in its Nuclei. In this sense, the objective was to carry out a comparative process

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between satellite images of different temporal scales for environmental analysis of the city of Belém
do São Francisco, Pernambuco. Landsat TM 5 satellite images were acquired on the INPE website
for the years 1993, 1994, 2007 and 2008 were obtained for observation of the time scale to verify
seasonality in the Brazilian Northeast. After selecting and acquiring the images, they were
processed in Erdas 9.1 software. The Normalized Difference Vegetation Index (NDVI), and later
the NDVI classes, were made by unsupervised classification, for which four scales were
established, namely: a) water / water bodies; B) areas susceptible to desertification; C) only
exposed; D) spaced vegetation; E) dense vegetation. With the obtaining of the NDVI classes we
calculated the percentage of each variable from the value of the pixel. It was verified that there was
a reduction of the area of Caatinga between 1993 and 2008 (dry period), from 25.2% to 21.4%, and
a decrease in the environments susceptible to desertification that varied from 33.3% to 29, 7%. It
was possible in the comparison of the images of 1994 and 2007 (wet period) in the municipality of
Belém do São Francisco that there was an increase of areas of dense, spaced vegetation, susceptible
to desertification and in water resources. It is concluded that in the comparative observation of the
temporal scale that the municipality had losses of vegetal cover due to the increase of the
fragmentation of the areas of dense vegetation in the humid period. In addition, it was verified that
the dry period is the interval in which there is a greater retraction of the vegetation by the reduction
of humidity, with this higher incidence of areas with exposed soil.
Keywords: Desertification, Caatinga, NDVI.

INTRODUÇÃO

A Caatinga é um bioma de elevada biodiversidade e inúmeros endemismos. Leal et al.


(2003) expõem que a Caatinga é uma região de características áridas cercada de biomas tropicais,
enquadrando esse bioma como uma anomalia climática detentora de variedades de plantas,
invertebrados e vertebrados adaptados a um regime de chuvas espaças. Tornando-se, assim, a
vegetação um espelho das condições restritivas, limitantes do meio ambiente como solo, regime
hídrico, temperatura e luminosidade. Vasconcelos Sobrinho (2000) destaca que o Nordeste não é a
região-problema. O problema é o homem que o habita, que erradamente planeja e insiste em ignorar
as limitações ecológicas dos seus recursos.
A exploração da Caatinga com a retirada da cobertura vegetal exerce impactos sobre esse
ecossistema. Tais fenômenos são verificados pela remoção de estratos herbáceos, arbustivos e
arbóreos para a agricultura e pecuária, principalmente criação de caprinos e ovinos, que se
alimentam de forma predatória de algumas espécies vegetais, ocasionando o rompimento dos vasos
condutores das plantas - xilema e floema – e, consequente, interrupção da passagem da seiva
elaborada para as raízes, levando a morte vegetal (REIS, 1996).
A zona da Caatinga é a maior zona fitogeográfica pernambucana, caracterizada por uma
vegetação de porte médio a baixo, com espécies tropófila (decídua), formada de pequenas folhas ou
espinhos, com presença de cactáceas e bromeliáceas (ANDRADE-LIMA, 2007; MAIA, 2012).
Nesse contexto estão os municípios pernambucanos inseridos no domínio semiárido, como o
Núcleo de desertificação de Cabrobó, pertencente à subzona do sertão central, caracterizado por

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uma vegetação, em sua homogeneidade, arbórea, de pequeno porte. Além desta fitofisionomia são
encontradas áreas com cobertura vegetal arbustiva, bem como complexos degradados por efeito
antrópico (ANDRADE-LIMA, 2007).
A desertificação se constitui de um fenômeno complexo e a construção de indicadores
auxilia na tentativa de compreender os fatores causas e consequências para tentar propor ações
mitigadoras. Rodrigues (1992) expõe que a desertificação deve ser entendida como um fenômeno
integrador de processos econômicos, sociais e naturais e/ou induzidos que destroem o equilíbrio do
solo, da vegetação, do ar e da água, bem como a qualidade de vida humana, nas áreas sujeitas a uma
aridez edáfica e/ou climática. Neste sentido, o monitoramento e a recuperação das áreas críticas se
constituem de uma ação necessária por meio da implantação de medidas de contenção/minimização
para conter o processo de desertificação, sendo fundamental o sábio manejo dos recursos naturais.
Dentre os métodos de monitoramento ambiental está à utilização das geotecnologias como
ferramentas importantes para análises e interpretações do espaço geográfico. Deste modo, o
geoprocessamento e o sensoriamento remoto estão, cada vez mais, se tornando ferramentas
utilizadas por vários órgãos públicos e privados, principalmente, para as questões de ordenamento
territorial e monitoramento ambiental. Pois, as informações contidas nas imagens permitem a
interpretação, de acordo com a temática a ser pesquisa, dentre elas as relativas às mudanças
ambientais, sendo um excelente recurso para o manejo e monitoramento de recursos naturais e
desenvolvimento urbano (GALVÍNCIO e SILVA, 2012).
Estudos com a aplicação de imagens de satélite para avaliação ambiental foram empregadas
por Sá et al. (2006) com imagens Landsat TM 5 datada no ano de 2002 observaram que o município
de Belém do São Francisco se configura como uma área com níveis de degradação entre baixo,
acentuado e severo. Em adição Ribeiro (2016) fez o monitoramento ambiental a partir de
parâmetros biofísicos (albedo, emissividade, temperatura da superfície, Índice de vegetação) da
bacia do rio Pajeú e observou que a porção centro–sul da bacia apresenta território considerável de
solos expostos com indicação de elevado grau de susceptibilidade à erosão, principalmente na foz.
Demonstrando assim, a eficácia dos parâmetros biofísicos para a compreensão da dinâmica dos
padrões espaciais, temporais e espectrais de ambientes semiáridos como o do sertão nordestino.
Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo realizar um processo comparativo
entre imagens de satélite de escalas temporais diferentes para análise ambiental do município de
Belém do São Francisco, Pernambuco. A análise temporal das imagens, a partir de intervalo de 15
anos, teve o intuito de demonstrar as mudanças ambientais ocorridas através da variação temporal,
bem como pela sazonalidade do semiárido pernambucano.

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METODOLOGIA

Para a realização do estudo foram adquiridas no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) imagens do satélite Landsat 5 TM. Foram selecionadas imagens do município de Belém do
São Francisco, Pernambuco. As imagens dos anos de 1993 (21-09-1993), 1994 (19-05-1994), 2007
(05-04-2007) e 2008 (01-11-2008) foram obtidas para observação da escala temporal,
aproximadamente 15 anos, bem como a verificação da sazonalidade existente no Nordeste
brasileiro, com intervalos de precipitação e seca. Por isso, selecionaram-se imagens dos meses de
abril e maio, intervalo úmido, e, setembro e novembro período seco.
Após seleção e aquisição das imagens estas foram processadas no software Erdas 9.1, onde foram
empilhadas formando uma única composição de bandas. Posteriormente, se executou o recorte da
imagem para escala municipal de análise através da base de dados do Zoneamento Agroecológico
de Pernambuco (ZAPE). Esse processo permitiu a visualização inicial das alterações ambientais
ocorrentes na localidade devido ao intervalo de tempo. Sequencialmente, fez-se o Índice de
Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI), e, posteriormente, o NDVI classes, por meio de
classificação não supervisionada, para o qual foram estabelecidos quatro escalas, a saber: a)
água/corpos hídricos; b) áreas susceptíveis à desertificação; c) solo exposto; d) vegetação espaçada;
e) vegetação densa. Com a obtenção do NDVI classes se calculou a porcentagem de cada variável a
partir do valor do pixel.
Utilizou-se o software de geoprocessamento ArcGis 9.3, licença DCG/UFPE, para construção dos
layouts dos mapas. Realizou-se confecção dos mapas de NDVI classes dos anos de 1993 e 2008
(período seco), e, 1994 e 2007 (período úmido).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O NDVI é o índice mais comumente empregado pela comunidade científica em estudos locais,
regionais e globais (WARDLOW e EGBERT, 2008), proposto por Rouse et al. (1973) esse índice
permite o monitoramento da densidade e do estado de vigor da vegetação verde sobre a superfície
terrestre em estudos sobre vegetação que detém a habilidade para minimizar efeitos. Os resultados
obtidos da análise de NDVI se pode ter uma visão mais ampla sobre as mudanças das características
físicas de determinada localidade, e, principalmente uma quantificação.
Atualmente existe uma série de trabalhos, que utilizam os dados de NDVI, podem comprovar a
eficácia dos dados obtidos, tais como Dantas (2015) que faz uma análise geológica/geomorfológica
do domínio Vaza Barris e utiliza o Índice de Vegetação a classificação de uso da terra, onde os
resultados encontrados foram de suma importância para o planejamento ambiental na localidade.

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Neste presente trabalho os dados comparativos de NDVI obtidos demonstram certas modificações
ocorridas, tendo como relevante, as mudanças na vegetação densa e de corpos hídricos. A partir dos
dados obtidos pelas imagens em NDVI (figura 1) e da quantificação dos pixels (Tabela 1) é possível
inferir que houve uma redução da área de Caatinga espaçada no intervalo entre 1993 e 2008, de
25,2% para 21,4%, destacada na imagem na área norte do município. Além disso, observou-se
diminuição das áreas susceptíveis à desertificação que variou de 33,3% para 29,7%. É possível que
a redução da vegetação espaçada seja reflexo da retirada da madeira para carvoarias e construção de
cercas.
Em contrapartida no referido intervalo anual para o período seco se constatou um aumento nos
corpos hídricos com relativa acentuação do volume do rio São Francisco e a construção de
reservatórios na área central e norte do município para acumulo de água no período da seca na
região. Ressalta-se a elevação do solo exposto de 36,3% para 41,3%, esse aumento é associado à
redução da área de vegetação espaçada, bem como das áreas susceptíveis à desertificação. Salienta-
se que houve, mesmo no intervalo de seca hídrica na região, um aumento da área de vegetação
densa (figura 1 e Tabela 1).
Sá et al. (2006) em estudos com uso de imagens de satélite Landsat TM 5 datada no ano de 2002
observaram que o município de Belém do São Francisco se configura como uma área com níveis de
degradação entre baixo, acentuado e severo. Esses dados ratificam os resultados obtidos na
pesquisa, que salientam as áreas de solo exposto e susceptíveis à desertificação como localidade em
níveis potenciais de degradação.
Silva e Galvínicio (2012) em desenvolvimento de comparação da variação do NDVI e SAVI em
uma área no município de Petrolina, Pernambuco, para o período seco observaram que o NDVI
interfere nas respostas do solo, e, isso pode ocasionar respostas diferenciadas na cobertura vegetal
devido a uma subestimativa. Os autores salientam, ainda, que o bioma Caatinga sobre bastante
influência do solo. Deste modo, se destaca que durante o período seco as áreas de solo exposto e
susceptibilidade são as que possuem maior fragilidade ambiental.
Vasconcelos Sobrinho (1978) destaca que a caatinga é um espelho das condições restritivas e
limitantes do ambiente: solo, regime hídrico, temperatura e luminosidade. Reis (1996, p. 15)
salienta que a cobertura vegetal nas áreas de semiárido é essencial para a manutenção do ciclo de
energia. Expõe que o processo de devastação causa uma esterilização do solo, comprometendo

―os sítios ecológicos e a quebra dos elos das cadeias alimentares, atingindo diretamente a fauna de superfície e do solo.
Interrompe o fornecimento de matéria orgânica e extermina os estoques existentes pela exposição aos raios solares,
inibindo a vida microbiana e afetando a estabilidade dos agregados dos solos‖.

A exploração da caatinga com a retirada da cobertura vegetal exerce impactos sobre esse
ecossistema. Tais fenômenos são verificados pela remoção de estratos herbáceos, arbustivos e

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arbóreos para a agricultura e pecuária, principalmente criação de caprinos e ovinos, que se


alimentam de forma violenta de algumas espécies vegetais, ocasionando o rompimento dos vasos
condutores do xilema e floema e consequente interrupção da passagem da seiva elaborada para as
raízes, levando a morte vegetal. Além disso, a exposição do solo gera impacto provocado pelas
gotas da chuva devido à energia cinética (REIS, 1996).

Figura 1 – Imagem em NDVI classes anos 1993 e 2008 (período seco) do município de Belém do São
Francisco, Pernambuco.

Fonte: INPE, elaborado pelos autores.

Tabela 1 – Quantificação a partir dos pixels das imagens para os anos de 1993 e 2008 (período seco) no
município de Belém do São Francisco – PE.
BELÉM ANO 1993
Pixel Porcentagem Porcentagem x 100
Rio/Água 23688 0,012871045 1,3%
Áreas susceptíveis à desertificação 612545 0,332830728 33,3%
Solo exposto 676269 0,367455621 36,7%
Vegetação espaçada 463340 0,251759119 25,2%
Vegetação densa 64568 0,035083487 3,5%
Total 1840410

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BELÉM ANO 2008 Pixel Porcentagem Porcentagem x 100


Rio/Água 53953 0,028859943 2,9%
Áreas susceptíveis à desertificação 555585 0,297187395 29,7%
Solo exposto 771633 0,412753406 41,3%
Vegetação espaçada 399229 0,21355117 21,4%
Vegetação densa 89077 0,047648086 4,8%
Total 1869477

Fonte: Imagens Landsat TM 5. INPE. Adaptado pelos autores.

Foi possível na comparação das imagens de 1994 e 2007 (período úmido) no município de
Belém do São Francisco que houve um aumento das áreas de vegetação densa, espaçada,
susceptíveis à desertificação e nos recursos hídricos (figura 2). Ressalta-se que o aumento aparente
apresentado pela vegetação densa no comparativo de 1994 e 2007 foi devido a uma fragmentação,
tendo em vista que na imagem de 1994 é perceptível a observação de uma mancha de vegetação
densa mais uniforme. Em contrapartida no intervalo de 2007, essa mesma mancha vegetacional
sofreu fragmentação e passou a ter enclaves de vegetação espaçada. Deste modo, mesmo com a
relativa elevação nas porcentagens de pixels referentes à área com vegetação densa essa perdeu em
qualidade.
Lira et al. (2010) em estudos sobre com a utilização de NDVI para quantificação da
vegetação em área do agreste central pernambucano, observaram que os maiores índices de NDVI
são os encontrados em localidades de maior elevação topográfica, que dão suporte a uma vegetação
de maior porte.
Verificou-se que, possivelmente, devido a índices de precipitação mais elevados no intervalo
de 2007 a vegetação espaçada, de caráter arbustivo, se expandiu para áreas de solo exposto. Esse
fato pode explicar o aumento de 18,1% para 26,5% da vegetação espaçada e a redução de 35,5%
para 27,0% do solo exposto (tabela 2). Associado a isso, Ferreira et al. (2012) em verificação da
dinâmica da cobertura vegetal a partir de escala temporal no município de Petrolina, salientaram
que nos períodos chuvosos foram detectados os elevados índices de vegetação e temperaturas
amenas, e, consequentemente, nos períodos secos uma retração da cobertura vegetação com
aumento de áreas espaçadas e altas temperaturas.
Dentre os parâmetros de análise foram observadas as áreas susceptíveis à desertificação que
durante intervalo úmido tiveram uma redução em sua abrangência territorial (figura 2 e tabela 2).
Entretanto, essa diminuição do representou uma concentração nas áreas próximas aos corpos
hídricos, que tiveram um aumento de volume de 2,5% para 3,1%. É possível que com a elevação ou

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surgimento de rios temporários e intermitentes, bem como dos perenes as áreas próximas tenham
sido utilizadas pelos agricultores para uso agrícola.
Ribeiro (2010) destaca que o manejo inadequado do solo e da água condicionado por
desrespeito às características dos solos devido a desconhecimento ou priorização de fatores políticos
e financeiros. Tais implicações fazem com que, em determinadas localidades, não haja execução
dos sistemas de drenagem e irrigação de terras marginais por meio do uso excessivo de água e a
falta de manejo, fatos estes verificados com frequência em perímetros irrigados na região semiárida
brasileira.
O manejo inadequado e a utilização de técnicas de irrigação mal supervisionadas têm
tornado extensas áreas inutilizadas para o cultivo. Essas áreas quando utilizadas de forma intensiva
durante intervalo de tempo curto a médio, tendem a diminuição da fertilidade e da produção, e
consequentemente a um processo de salinização do solo e o abandono pelos agricultores.
Rodrigues (1992) salienta que a irrigação quando praticada sem levar em consideração as
características ecológicas e socioeconômicas da terra tem provocado o surgimento de áreas
desertificadas em aproximadamente 50 milhões de hectares (40% das terras irrigadas, afetando em
média 40% da população rural das terras áridas, 70 milhões de habitantes), o que ocasiona impactos
socioeconômicos e ambientais.
Barbosa et al. (2011) explana que a vegetação da Caatinga é muito sensível as mudanças no
clima e que a dinâmica da vegetação é um forte indicador das mudanças climáticas e/ou
antropogênicas. Esse fato já ressaltado por Vasconcelos Sobrinho em estudos nas décadas de 70 e
80 no Nordeste brasileiro, que aborda a vegetação como espelho do meio e, principal indicador das
alterações no bioma.

Figura 14 – Imagem em NDVI classes anos 1994 e 2007 (período úmido) do município de Belém do São
Francisco, Pernambuco.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Fonte: INPE, elaborado pelos autores.

Tabela 2 – Quantificação a partir dos pixels das imagens para os anos de 1994 e 2007 (período úmido) no
município de Belém do São Francisco – PE.
BELÉM ANO 1994 Pixel Porcentagem Porcentagem x 100
Rio/Água 46774 0,024973251 2,5%
Áreas susceptíveis à desertificação 525778 0,280719758 28,1%
Solo exposto 664537 0,354805004 35,5%
Vegetação espaçada 339409 0,181214909 18,1%
Vegetação densa 296466 0,158287079 15,8%
Total 1872964

BELÉM ANO 2007 Pixel Porcentagem Porcentagem x 100

Rio/Água 58240 0,03109558 3,1%


Áreas susceptíveis à desertificação 510029 0,272315377 27,2%
Solo exposto 505428 0,269858804 27,0%
Vegetação espaçada 496265 0,264966483 26,5%
Vegetação densa 302973 0,161763756 16,2%
Total 1872935
Fonte: Imagens Landsat TM 5. INPE. Adaptado pelos autores.

CONCLUSÃO

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

É possível concluir que houve mudanças significativas na configuração espacial no


município de Belém do São Francisco, Pernambuco. Essas alterações estão associadas de forma
significativa a interferência que o período úmido ocasiona na paisagem.
Na observação comparativa da escala temporal de aproximadamente 15 anos o município
teve perdas de cobertura vegetal devido ao aumento da fragmentação das áreas de vegetação densa
no período úmido. Em adição se verificou que o período seco é o intervalo em que há uma maior
retração da vegetação pela redução da umidade, com isso maior incidência de áreas com solo
exposto.
Deste modo, afirma-se que a vegetação pode ser caracterizada como um espelho
significativo do meio e da dinâmica ambiental no semiárido nordestino, refletindo as mudanças
sazonais e as interferências antrópicas.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 912


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONTRIBUIÇÃO DAS AÇÕES ANTROPÍCAS NA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL EM


PARTE DO RIO PEDRA COMPRIDA, SUMÉ-PB

Rafaela Ribeiro BARBOSA


Graduanda do curso de Engenharia de Biossistemas da UFCG
rafaela.r.barbosa@bol.com.br
Welinagila Grangeiro de SOUSA
Graduanda do curso de Engenharia de Biossistemas da UFCG
welinagilagrangeiro@gmail.com
Santana Lívia de LIMA
Graduanda do curso de Engenharia de Biossistemas da UFCG
livialima24s@gmail.com
George do Nascimento RIBEIRO
Professor Titular Doutor em Engenharia Agrícola da UFCG
george@ufcg.edu.br

RESUMO
A degradação ambiental é um processo evolutivo que minimiza a capacidade de um ecossistema,
prejudicando o equilíbrio ambiental, alterando a fauna e flora local, e o processo de urbanização
tem sido fator de aceleração para tal ação. O objetivo deste trabalho é realizar um levantamento
acerca das atividades antrópicas no trecho urbano do rio Pedra Comprida no município de Sumé,
semiárido paraibano. Dados obtidos a parti de visitas in loco, por meio de diagnóstico visual com
auxílio de registros fotográficos e uso de GPS nos meses de março e junho de 2017 ao longo do
trecho urbano do rio, relativo aos aspectos naturais e suas alterações por intermédio de ações
antrópicas como elemento de aceleração da degradação daquele trecho. Os resultados constataram
lançamento de esgotos in natura ao longo do trecho do rio; estágio de eutrofização em alguns
pontos; presença de construções urbanas irregulares; e a disposição inadequada de lixo.
Palavras-chave: Antropização. Degradação Ambiental. Recursos Hídricos.
ABSTRACT
Environmental degradation is an evolutionary process that minimizes the ability of an ecosystem,
damaging the environmental balance, changing the local fauna and flora, and the process of
urbanization has been the acceleration factor for such action. The aim of this study is to conduct a
survey about the anthropogenic activities in the urban stretch of the Long Stone River in the
municipality of Sumé, Paraíba semi-arid region. Data obtained the visits in loco, through visual
Diagnostics with the aid of photographic records and GPS use in the months of March and June
2017 along the urban stretch of the River, on the natural aspects and their changes through human
actions as part of accelerated degradation of that stretch. The results found sewage release in natura
along the stretch of the river; stage of eutrophication in some points; building uneven urban
presence; and the inadequate disposal of garbage.
Keywords: Anthropization. Environmental Degradation. Water Resources

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 913


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental é fruto do processo entre os elementos socioeconômicos,


institucional e atividades tecnológicas. Aspectos como o aumento da população, crescimento
econômico, pobreza, urbanização, expansão da agricultura, aumento no uso de transportes e
necessidades de novas fontes de energia, ocasionam em problemas ambientais, ou seja, a motivação
da degradação ambiental é resultado da concepção social, econômica e ambiental de uma região
(CRUZ et al, 2008).
Entende-se como degradação ambiental segundo o CONAMA (lei nº 6.938, de 1981) como
a ―alteração adversa das características do meio ambiente‖. A degradação do meio ambiente ocorre
tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais. Nas áreas urbanas a degradação é mais perceptível
mediante o deslocamento e corte das encostas (NASCIMENTO et al, 2010).
Coelho (2001), considera que os seres humanos, ao se centralizar num determinado espaço
físico, agilizam os processos de degradação ambiental, que aumentam ao passo que a concentração
populacional aumenta. Desse modo, cidades e problemas ambientais apresentam entre si uma
associação de causa-efeito rígida. Desta forma, parte-se do prefácio de que toda ação humana no
ambiente natural ou modificado gera algum impacto em diversos níveis, causando alterações com
situações múltiplas de agressão. O crescimento desenfreado das áreas urbanizadas acarreta a
degradação ambiental do meio natural mediante o seu significativo crescimento demográfico
(NETO et al, 2006).
No semiárido da Paraíba, a ação depredadora do homem, como práticas de desmatamento,
queimadas e outro manejos desapropriados de utilizar e agricultar as terras, vem arruinando a
cobertura vegetal, assoreando os recursos hídricos e, por conseguinte, pondo em risco a fauna
silvestre e a permanência da população na zona rural (SOUSA, 2007). ―No Brasil, o Estado que
possui o maior percentual de áreas com nível de degradação é a Paraíba, com mais de 70% da sua
área considerada degradada, e 29% com nível de degradação considerado muito grave, com sérios
problemas de erosão e redução da fertilidade dos solos‖ (BRASIL, 2005).
Afluente da Bacia do Alto rio Sucuru, o rio Pedra Comprida está localizado em sua
totalidade no município de Sumé, Estado da Paraíba, Região Nordeste do Brasil (SIQUEIRA et al,
2015). O trecho em estudo encontra-se atualmente em processo de degradação ambiental,
acarretadas pelo crescimento urbano desordenado naquela região.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho está direcionado ao estudo da degradação ambiental
ocasionada por fatores relativos a distribuição irregular da ocupação citadino em trecho urbano do
rio Pedra Comprida, município de Sumé-PB por meio de análises de imagens fotográficas, com fins
de elucidar aspectos inerentes aos processos degradatórios que permeiam o ambiente urbano do
referido rio.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O trecho em estudo está localizado entre as coordenadas 7°39‘47.16‖ e 07°40‘28.38‖


latitude Sul e 36°52‘58.66‖ e 36°52‘56.63‖ longitude Oeste, com 1,41 km de comprimento. Apenas
seu trecho urbano foi estudado. Assim como maior parte dos rios da região, o Rio Pedra Comprida é
igualmente intermitente. Tem sua formação na zona rural, na comunidade Bananeira, município de
Sumé, a parti do encontro de dois riachos, o Poço Escuro e Riacho das Cinco Vacas, tendo sua
classificação de ramificação dentro de uma bacia (Classificação proposta por HORTON) atribuída
como sendo de ordem 2.
O clima é do tipo BSh, ou seja, semiárido quente, segundo Koppen (PDRH-PB, 1996), e o
regime pluviométrico nessa região é constituído por precipitações médias anuais que variam entre
350 e 600 mm, com concentrações anuais em fevereiro, março, abril e maio (AESA, 2011). A
umidade relativa atinge medias mensais de 60 a 75%, verificando-se que os valores máximos,
advêm, no período de junho, ao passo que os mínimos, no mês de dezembro. Com relação à
velocidade do vento na região, os valores variam entre 3 a 4 m/s (CANTALICE, 2010).
A vegetação predominante é a caatinga hiperxerófila. Esta vegetação possui porte arbóreo
baixo, ou arbóreo arbustivo, apresentando alta densidade (ALENCAR, 2008), sendo a Algaroba
(Prosopis juliflora), a leucena (Leucaena leucocephala), e a Barauna (Schinopsis brasiliensis) as
plantas mais encontradas na área.
Os solos mais encontrados são do tipo Luvissolos Crômicos que cobrem todo o cristalino
efetivo na área de extensão da região do alto curso do rio Paraíba. O relevo é ondulado a fortemente
ondulado, com variância hipsométricas, que alcançam as cotas acima de 1000 metros (MARINHO,
2011).
Para avaliação da degradação ambiental, foi realizado levantamento de campo, por meio de
visitas in loco, no período da primeira quinzena do mês de março e junho de 2017, mediante
diagnostico visual com auxílio de registros fotográficos, e para determinação das coordenadas
geográficas, foi empregado o uso de GPS Garmin eTrex 20
Conforme a figura 1, dispomos do mapa da área a qual o estudo foi realizado, observa-se o
município de Sumé, juntamente com a área central da cidade, tal como, o percurso do rio Pedra
Comprida em seu trajeto urbano, mostrando que a população urbana ocupa as duas margens do rio,
potencializando os danos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1- Localização da Área de estudo. Fonte: Adaptado da AESA (2017).

Por ser um rio intermitente, como maior parte dos rios da região semiárida, o rio Pedra
Comprida não apresenta água em alguns períodos do ano, (ao longo do trecho estudado), percebe-se
que maior parte do leito do rio, encontra-se seco, contudo, alguns pequenos pontos apresentam
parcela significativa de água, mesmo com os registros fotográficos em diferentes meses do ano
(março e junho), não houve alterações significativas quanto a presença de água no corpo hídrico.
Barbosa et al (2017), enfatiza que a degradação ambiental ao longo do rio Pedra Comprida no
município de Sumé é evidente.
As imagens do trecho do rio no mês de março nos pontos a qual encontra-se água, acha-se
completamente degradado, alguns locais apresentam crescimento elevado de plantas aquáticas
(eutrofização), maximizando os níveis de poluição, considerados responsáveis pela redução dos
diversos usos pretendidos do corpo da água (Figura A1). Smith e Schindler (2009), enfatizam a
eutrofização como a maior problemática dos dias atuais em corpos de água superficiais, apontada
como um dos exemplos mais visíveis das modificações geradas pelo homem à biosfera. Os autores
reconhecem que a eutrofização é a conjunção que contribui o desenvolvimento de florações de
cianobactérias e microalgas, seguidas pelas disposições de luz, temperatura e pH convenientes.
Em alguns trechos, há presença de diversos tipos, garrafas/recipientes de plástico em quase
sua totalidade, (Figura A2), lançamento de grande quantidade de esgotos in natura, advindos das
residências e estabelecimentos comerciais que ficam as margens (Figura A3, A4), ocasionando
fenômenos que colaboram para diminuição da qualidade da água. Segundo Readman et al., (2001),
o lançamento de esgoto doméstico com ou sem prévio tratamento em ambientes aquáticos,
prejudica a qualidade da água do sistema receptor, promovendo diminuição do oxigênio dissolvido,
ampliando a turbidez, alterações do pH, como também, gerando reflexos sobre a manutenção do
estado ideal da água para a sobrevivência dos organismos e saúde humana.

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Figura 2- Trecho do rio com a presença de água. Fonte: Autor, 2017

De acordo com o exposto na Figura 3, nota-se neste trecho do rio, aumentos no processo de
degradação ambiental motivadas pela ação antrópica, é visível a presença acentuada de lixo em
quase toda sua extensão, (Figuras B1, B2, B3), o qual, a própria comunidade das proximidades do
rio os lança, devido à ausência de coleta seletiva do lixo pelo serviço público do município,
informação está, expressada pelos moradores. Heiden (2007), explica que a excessiva quantidade de
lixo gerada e depositada em locais indevidos geram danos na natureza, sendo um dos maiores, a
contaminação do solo e de cursos d´água, propagação de vetores transmissores de doenças
entupimento de redes de drenagem urbana, enchentes, degradação do ambiente e desvalorização
imobiliária.
Outro fator de aceleração de degradação, é a pratica da queima do lixo, ocasionando assim,
riscos à saúde da população que habita o entorno do rio e principalmente, a contaminação do lençol
freático, que alimenta o corpo hídrico e minimiza a quantidade de microrganismos e mata ciliares
presentes no ecossistema. Situação esta, que confirma o pensamento de Almeida et al, (2013), que
descreve que as práticas da queima do lixo acentuam os índices de contaminação do ar e baixa
capacidade de fertilidade do solo, minimiza a fração da população da fauna e flora existentes na
localidade e principalmente, atinge o lençol freático que sustenta o rio.
A inexistência de saneamento básico no referido rio, também tem provocado problemas na
qualidade da água, conforme Barbosa et al (2017) cita. Fato este que se dá em decorrência do
lançamento de esgoto doméstico (Figura B4), sem qualquer tipo de tratamento. Ribeiro (2010),
explica que a presença de saneamento básico é primordial numa cidade, pois ela auxilia na
prevenção da poluição das águas de rios e outros mananciais, assegurando a qualidade da água
utilizada pelos habitantes para consumo.
Verifica-se na imagem (Figura B5), há existência de construções urbanas indevidas, bem
próximo as margens do rio, alguns moradores invadiram as proximidades das margens e
implantaram cercas, com intuito de se apropriar do espaço, que segundo eles, não existe donos.
Conforme a cidade se expande, seguidamente acontecem impactos com o aumento da produção de
sedimentos, pelas mudanças ambientais das superfícies e produção de resíduos sólidos, o
agravamento da qualidade da água pelo uso cotidiano e lançamento de lixo/esgoto (MUCELIN;
BELLINI, 2008).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Em outros pontos (Figura B6), o assoreamento é perceptível, fenômeno que contribui para
redução da qualidade do rio. Segundo Penteado (1983), ela promove a redução da profundidade
gradual dos rios, derivado de processos erosivos, oriundos principalmente pelas águas da chuva,
como de processos físicos, químicos e antrópicos, que desagregam solos e rochas, produzindo
sedimentos que serão transportados e ampliando o assoreamento do rio.

Figura 3- Trecho do rio sem a presença de água. Fonte: Autor, 2017

Por ser uma época do ano sem frequência de chuvas no mês de junho (AESA, 2016), o rio
Pedra Comprida não apresentou grande presença de água no corpo hídrico, contudo, pode-se
observar, excepcionalmente, pontos com pequenos acúmulos de água. Outro fator que diferenciou
nesta última visita, além da grande quantidade de lixo exposto, foi a presença de animais vivendo
nas proximidades da água, (jabutis, cagados), (Figura C1, C2, C3). Também foi possível verificar
mais trechos com lançamento de esgoto doméstico oriundos daquela população local, lançados
diretamente no corpo d‘água (C4). Alguns trechos, possuem certa quantia de vegetação, algumas
rasteiras, e outras de maior porte, o qual, não havia em tamanha quantidade, como na primeira visita
(Figura C5, C6). A mata ciliar é um amparo natural contra o assoreamento, sem ela, a erosão das
margens arrasta a terra para dentro do rio, e os sólidos em suspensão conduzem prejuízos
ecológicos como também, complicação no tratamento de água para abastecimento (LUSTOSA et
al., 2010).

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Figura 4- Trecho do rio com a presença de água. Fonte: Autor, 2017

Nas imagens da Figura (D1, D2), encontrou-se novos pontos adicionais de lançamento de
esgoto doméstico, ao todo, foram encontrados quatro novos locais, em região que anteriormente
(mês de Março) , não existiam.
Beltrame et al., (2016), afirma que a geração de efluentes deve ser ponderada, todavia, se a
mesma não pode ser evitada, tem-se que assegurar um tratamento adequado dos mesmos.
O avanço urbano também ampliou, há grande quantidade de residências construídas e em
fase de execução (Figura D3), estabelecimentos comerciais, depósitos de construção, bem como
ampliação da extensão do cemitério municipal (Figura D4), que aliás, está a poucos metros da
margem do rio.
É importante saber, que o art. 2º do Código Florestal (Lei 12.651/2012), limitam uma área
non edificandi, (Zona onde é proibido qualquer tipo de construção) à margem de rios e de outros
reservatórios de água, na intenção de proteger a mata ciliar e os recursos naturais a eles
relacionados, sendo proibido nessas áreas de proteção permanente, sofrerem algum tipo de
modificação humana (BRASIL, 2012).
A criação de animais é outro fato que foi constatado (Figura D5, D6), com a existência de
muitos cercados, com animais presos e também alguns soltos, haja vista, que como não há água em
alguns trechos, mas há presença de vegetação, a qual, os animais procuram se alimetar. Contudo,
isso gera um grande problema, pois a prática da criação de animais em locais impróprios como as
margens do rio, gera a degradação, uma vez que, os animais depositam suas fezes e urina próximo
ao leito do rio, e no período das chuvas todos os dejetos acabam sendo arrastados para o corpo
hídrico (OLIVEIRA, 2016).
Na foz do rio Pedra Comprida, observou-se, a maior parcela de lixo (Figura D7 ,D8), grande
quantia de embalagens e recipientes/plasticos, vidros, roupas, calçados, televisão, e principalmente,
lixo domésticos lançados justamente pela comunidade vizinho do rio, diretamente no curso d‘água.
Para Beltrame et al, (2016), uma alternativa é o reuso e utilização desses materiais acima
informados, e que são danosos ao solo, é a reciclagem, a qual é proporcionada por meio da coleta
seletiva, diminuindo desta maneira, o direcionamento para locais impróprios e sem a mínima
estrutura para a sua disposição final.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5- Trecho do rio sem a presença de água. Fonte: Autor, 2017

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo dos anos, constatou-se que as margens do rio tiveram suas áreas invadidas por
habitações ilegais, devido ao crescimento populacional, ocorrido sem qualquer previsão ou estudo
material do espaço físico e hídrico da localidade, desrespeitando as orientações mínimas de
normatização existente na legislação, até mesmo por parte dos órgãos públicos municipais. Um dos
principais agravantes encontrados foi a degradação da formação das matas ciliares no trecho
estudado, visto que, o crescimento da cidade ao longo dos últimos anos as margens do rio, tem
favorecido tal degradação de maneira cada vez rápida. Não deixando de mencionar, a péssima
qualidade da água do referido rio, haja vista, a quantidade de poluentes descarregados através de
esgotos domésticos e também diretamente pela comunidade local.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Políticas Públicas,
Projetos e Ações

© Antonio David Diniz

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 924


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A CONTRIBUIÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS GERADOS NO CENTRO DE


TECNOLOGIA - CTEC, PARA A COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE ALAGOAS –
COOPREL

Felipe Rosa do NASCIMENTO


Graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFAL
felipe.nascimento@ctec.ufal.br

Rochana Campos de ANDRADE LIMA


Prfa. Dra. CTEC-UFAL/LABMAR
rca.lima@hotmail.com

Camilla Karlla Alves DOS SANTOS


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFAL
camilla.k.alves@gmail.com

Heverton Henrique Nascimento SILVA


Graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFAL
hhenriquens@hotmail.com

RESUMO
As ações de gerenciamento e destinação correta dos resíduos sólidos não acompanham o
crescimento do descarte desses materiais. No Brasil, dentre as medidas que vêm sendo tomadas a
fim de minimizar os danos provocados devido à destinação incorreta dos resíduos, está a Política
Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). Esta lei estabelece providências a fim de gerar
soluções para os resíduos sólidos através do gerenciamento sustentável e da gestão integrada. No
entanto, ainda não é possível constatar ampla efetividade em todas as medidas impostas, pois em
torno de 45% dos municípios brasileiros ainda descartam seus resíduos a céu aberto, em lixões e
não em aterros sanitários, como prevê a lei. Outra medida estabelecida foi o Decreto nº 5.940/2006,
que torna obrigatória a instalação da Coleta Seletiva Solidária em instituições públicas federais. As
Universidades se enquadram nesta determinação, apesar disso, poucas possuem algum plano de
gerenciamento de resíduos, como é o caso da Universidade Federal de Alagoas, que aplica apenas
algumas medidas isoladas de recolhimento de pilhas e baterias. Este trabalho tem como objetivos
implantar coleta seletiva no CTEC, no qual os materiais coletados serão doados à COOPREL, de
modo a potencializar a renda dos cooperados; incentivar ações de educação ambiental, como
realização de palestras, elaboração de questionário e uma intensificação da divulgação do projeto,
com o intuito de promover a conscientização em relação à temática dos resíduos sólidos.
Palavras chave: Resíduos Sólidos, Política Nacional dos Resíduos Sólidos, Coleta Seletiva,
Educação Ambiental.
ABSTRACT
The procedures of management and proper disposal of solid waste do not follow the increase in the
production of these materials. In Brazil, The National Solid Waste Policy (Federal Law
12.305/2010) is one of the measures taken by the government to minimize the damage caused due
to improper disposal of waste. This legislation establishes charges in order to generate solutions for
solid waste management through sustainable and integrated practices. Nevertheless, it is still not
possible to ascertain broad effectiveness of all exigencies imposed by the law, since nearly 45% of
Brazilian municipalities continue to discard their waste in unprotected areas as garbage dumps,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

rather than in landfills. Another measure established was the Decree No. 5,940/2006, which
obligates Federal Public Institutions to implement a solidary selective collection system. Despite the
Federal Universities fit this determination, few have some waste management plan. Such as the
Federal University of Alagoas which applies only isolated measures related to the collection of
batteries. This work aims to implement selective collection in the CTEC, in which the collected
materials will be donated to COOPREL, in order to increase the income of the cooperative;
encourage environmental education actions, such as lectures, elaboration of a questionnaire and an
intensification of the dissemination of the project, in order to promote awareness regarding the issue
of solid waste.
Keywords: Environmental Education, National Solid Waste Policy, Selective Collection, Solid
Waste.

INTRODUÇÃO

A geração de resíduos sólidos está intimamente ligada ao desenvolvimento econômico, logo


sua gestão é um dos principais problemas enfrentados pela população. Á medida que esta cresce se
urbaniza e adquire melhores condições de renda, o consumo de bens e serviço cresce de maneira
que aumenta também a produção de resíduos. O Brasil também segue essa tendência, pois de
acordo com ABRELPE (2013) ―a geração total de Resíduos Sólidos no Brasil em 2013 foi de
76.387.200 toneladas, o que representa um aumento de 4,1%, índice que é superior à taxa de
crescimento populacional no país no período, que foi de 3,7%‖. Contudo, a principal problemática
da gestão de resíduos sólidos não tem sido a geração dos mesmos e sim o armazenamento e
destinação desses resíduos.
Como consequências da disposição incorreta de resíduos encontra-se a proliferação de
vetores prejudiciais à saúde pública e à saúde ambiental; a poluição do solo e do ar; contaminação
de lençóis freáticos e águas superficiais; dentre outros.
Existe na legislação brasileira dispositivos legais destinados aos resíduos sólidos, a Lei nº
12.305/2010, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), é definida como,

―um conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados


pelo governo federal, isoladamente ou em regime de cooperação com estados, Distrito
Federal, municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.‖

Contudo a maioria das ações definidas nesta lei são aplicadas na prática, pois de acordo com
os dados levantados pelo Ipea (Instituo de Pesquisa Aplicada) (2014), ―2.507 dos 5.564 municípios
brasileiros (45%) ainda destinam o lixo coletado nos domicílios e aquele proveniente do sistema de
limpeza pública em lixões,que são áreas sem nenhum controle ambiental e a céu aberto.‖ O que
contraria a meta da PNRS de acabar com os lixões no país até 2014.
As Instituições de Ensino Públicas Federais possuem deveres referentes à gestão correta de
resíduos sólidos, tendo em vista a responsabilidade social que as mesmas tem de formar opiniões e

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estarem atreladas à práticas ambientais adequadas ao manejo dos resíduos que estimule a
participação e conscientização da comunidade acadêmica como define o Decreto Federal nº
5.940/2006 de 25 de outubro de 2006, que institui a Coleta Seletiva Solidária, ―órgãos e entidades
da administação pública federal devem promover a separação dos resíduos recicláveis na fonte
geradora e destinar tais materiais à associações e cooperativas de catadores de materiais
recicláveis‖.
De acordo com RIBEIRO, I. B. G.; FERREIRA I.V.L., ―A Universidade Federal de Alagoas
ainda não possui medidas concretas relacionadas ao gerenciamento dos resíduos sólidos, apenas
ações isoladas como o recolhimento de pilhas e baterias, além da destinação do papel descartado no
prédio da reitoria à reciclagem‖.
A coleta seletiva é uma prática que tem se mostrado viável e econômica para o
gerenciamento de resíduos sólidos. Utiliza a conscientização da população envolvida facilitando a
seleção e disposição de diferetentes tipos de resíduos no processo de reciclagem. Além disso, a
reciclagem exerce um papel socioeconômico, pois além de contribuir para a preservação do meio
ambiente, gera emprego e renda para população.
De acordo com AQUINO, D. S., ―A conscientização coletiva é a mais eficiente ferramenta
para obtenção do sucesso em um adequado gerenciamento de resíduos sólidos urbanos‖. Logo,
este trabalho vai além do que estabelecer um sistema de coleta seletiva dentro da Unidade
Acadêmica Centor de Tecnologia (CTEC) pois também promove a conscientização da comunidade
acadêmica que frequenta a Unidade através de educação ambiental.

METODOLOGIA

Para a execução desse projeto foram utilizadas lixeiras para papel, plástico e metal. Essas
lixeiras foram distribuídas em quatro setores, um conjunto de tambores em frente à cantina, no
corredor e em baixo da escada no prédio velho e um no prédio novo, além de tambores pequenos
nas salas de aula. Os Resíduos coletados foram recolhidos pela Cooperativa COOPREL
periodicamente, de acordo com o volume armazenado. Paralelamente, foram divulgados
procedimentos de coleta seletiva e reciclagem.

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Figura 1: Lixeiros sinalizados com as categorias de materiais recolhidos pela coleta seletiva

A escolha pela separação dos resíduos em materiais de plástico, papel e metal se deu pois no
trabalho de RIBEIRO, I. B. G.; FERREIRA I.V.L. foram avaliados a produção de resíduos sólidos
no CTEC e os principais produtos vendidos na lanchonete e se optou por recolher apenas os
materiais de plástico, metal e papel, visto a geração de resíduos de vidro era insignificante.
Devido às grandes dimensões da Unidade Acadêmica CTEC, que possui dois edifícios, 1021
alunos de graduação, 110 alunos de pós-graduação, 72 professores, 30 funcionários terceirizados e
16 administrativos, dividiu-se o bloco em quatro setores, de modo que os bolsistas e colaboradores
estariam responsáveis pela coleta seletiva em cada setor.

Figura 2: Setores de coleta seletiva do Centro de Tecnologia (CTEC)

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A principal ferramenta da coleta seletiva é a conscientização por meio da educação


ambiental. De acordo com AQUINO, D.S. (2008), ―mesmo num ambiente universitário, os desafios
e as dificuldades para o sucesso do correto gerenciamento dos resíduos são enormes e
intrinsecamente correlatos à participação comunitária integrada‖. Portanto, não bastava a disposição
dos recipientes para o descarte dos materiais, era preciso informar sobre a correta disposição dos
resíduos sólidos, como também incentivar as pessoas a colaborar com a coleta seletiva. Assim, com
esse intuito algumas ações foram tomadas tais como afixar cartazes nos corredores da Unidade
Acadêmica, como também nas proximidades dos lixeiros, os cartazes tinham objetivo de informar
da implantação do projeto, assim como dos tipos de matérias que não seriam recolhidos; no setor da
cantina, conversar com o proprietário do estabelecimento e com os funcionários que trabalham no
local, conscientizando-os e explicando o projeto; informar e orientar os funcionários da firma
terceirizada responsável pela limpeza da Unidade Acadêmica sobre que tipos de materiais poderiam
ser reciclados e sobre a disposição dos mesmos nos tambores; e divulgar e orientar o projeto através
das redes sociais, mais precisamente através das redes dos principais grupos estudantis do CTEC
como os Centros Acadêmicos por exemplo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos primeiros meses o projeto passou por dificuldades no que diz respeito à colaboração da
população que freqüenta a Unidade Acadêmica. Uma dessas dificuldades foi o descarte dos resíduos
de maneira incorreta por parte da comunidade acadêmica, como ilustrado na figura a seguir.

Figura 3: Descarte incorreto de resíduos no coletor de resíduos plásticos

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Acredita-se que o descarte inapropriado possa ser proveniente da carência de informação


relacionada à disposição correta de materiais, deficiências na sinalização ou da falta de interesse em
colaborar. Por isso, a divulgação da importância do projeto e de como realizar o descarte
corretamente foi intensificada com cartazes afixados acima dos coletores; os bolsistas e
colaboradores do projeto passaram de sala em sala explicando os alunos sobre o descarte correto;
grupos estudantis do CTEC ajudaram na divulgação através de suas redes sociais divulgando artes e
avisos. O gráfico a seguir ilustra o impacto que tais ações tiveram na coleta.

Figura 4: Gráfico dos dados de coleta por setor no período de setembro de 2016 a maio de 2017

Como pode observar na figura 4, no primeiro mês a contribuição foi pouca sendo apenas
significativa em dois dos quatro setores, nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2016, a
contribuição foi mais significativa em três dos quatro setores, contudo em dezembro teve uma greve
dos discentes na Universidade, logo teve uma queda nas contribuições. Já em 2017, logo em janeiro
com o retorno às atividades da Universidade pós greve, a campanha de coleta foi intensificada
novamente pelos bolsistas e colaboradores do projeto e a colaboração voltou a ser significativa e
crescente, atingindo seu ápice no mês de fevereiro no setor 1, e estabilizando-se até o mês de maio,
mês esse da realização deste artigo.
Dentro do período de setembro de 2016 a maio de 2017 foram pesados 578,6 quilogramas
de resíduos no total, sendo destes, 524,5 quilogramas de papel e 37,65 quilogramas de plástico e
16,45 quilogramas de metal. Como ilustrado a seguir.
De acordo com a Cooperativa, o valor de um quilograma de papel, plástico e metal são
respectivamente R$0,30, R$0,90 e R$ 3,70, logo os resíduos pesados nesses primeiros meses
geraram uma renda de R$252,10 para COOPREL.

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Figura 5: Quantidade percentual dos resíduos coletados no período de setembro de 2016 a maio de 2017

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo que significativa, a quantia arrecada pode ser maximizada até o final do projeto, em
agosto de 2017 e tendo em vista que a duração do projeto ser estendida com possíveis editais
futuros da Pró-reitoria de extensão, portanto espera-se que até o final deste projeto a quantidade de
resíduos cresça de maneira considerável consequentemente aumentando a renda da cooperativa e
aumentando a conscientização e educação ambiental da população atingida pelas atividades do
projeto.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013. ISSN 2179-8303. (Referência:
Abrelpe - Disponível em: http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2013.pdf - Acessado às
11:29 do dia 18 de junho de 2017).

AQUINO, D. S. In: Revista Ponto de Vista (vol5). Educação Ambiental Como Ferramenta da
Coleta Seletiva a Universidade Federal de Viçosa. 2008. Paginas 131 à 141.

BRASIL (2006). Decreto Federal nº 5.940 de 25 de março de 2006. Institui a Coleta Seletiva
Solidária.

BRASIL (2010). Lei Nº 12.305. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2010.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Folha de São Paulo (SP): Lixo:
País não conseguiu erradicar os lixões no prazo; coleta avançou. 2014. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/maragama/2014/08/1494203-lixo-pais-nao-conseguiu-
erradicar-os-lixoes-no-prazo-coleta-avancou.shtml – Acessado às 14:42 do dia 18 de junho de
2017).

JARDIM, N. S.; WELLS, C.. apud JACOBUCCI, D. F. C.; JACOBUCCI, G. B., Lixo Municipal:
Manual de Gerenciamento Integrado. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas:
CEMPRE, 1995. ( artigo 11).

RIBEIRO, I. B. G.; FERREIRA, I. V. L. Resíduos sólidos gerados o Centro de Tecnologia da


UFAL: Subsídios para a elaboração do plano de gerenciamento de resíduos. In: 27º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2013. Goiânia, GO. III-173. Anais eletrônicos...
2013.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: PERCEPÇÃO QUANTO A


SUA VIDA E EXPECTATIVAS FUTURAS POR MEIO DA ANÁLISE
DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

Gerbeson Carlos Batista DANTAS


Graduando em Bacharelado em Ciência e Tecnologia pela UFERSA
Gerbeson_dantas@hotmail.com
Quezia Fonseca de LIMA
Graduanda em Engenharia química pela UFERSA
quezia.f.de.lima@gmail.com
Thais Cristina de Souza LOPES
Doutoranda em Manejo, Solo e Água pela UFERSA
thaiscristina13@hotmail.com
Alessandra Carla Oliveira Chagas SPINELLI
Docente do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA.
alessandraspinelli@ufersa.edu.br

RESUMO
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/10, traz importantes instrumentos no tocante à
gestão dos resíduos no Brasil. Dentre esses, destacam-se a coleta seletiva e o incentivo à
organização de catadores, tornando os resíduos uma importante ferramenta de inserção
socioeconômica. Contudo, apesar de imprescindíveis no processo de gestão, os catadores ainda
representam a classe menos beneficiada por tal atividade. Conhecer sua realidade e anseios é um
importante passo para fomentar mudanças mais efetivas. Nesse contexto, o objetivo do presente
trabalho foi identificar o perfil de catadores de uma cooperativa de catadores de recicláveis
localizada em Maceió/AL e a percepção dos mesmos quanto à renda, saúde ocupacional, lazer,
expectativa futura. O estudo adotou pesquisa de natureza quali-quantitativa por meio das técnicas de
observação direta intensiva e extensiva e do Discurso do Sujeito Coletivo. Para a coleta dos dados,
foi realizada uma entrevista com 45% dos cooperados. Conforme identificado, os catadores
entrevistados eram majoritariamente mulheres, acima dos 40 anos, originárias do próprio Estado da
pesquisa e apresentavam ensino fundamental incompleto. A maioria estava trabalhando como
catador pela primeira vez e a entrada na cooperativa representou a possibilidade de ocupação e
renda. A renda gerada pelo trabalho ficava abaixo do salário mínimo vigente e destinava-se ao
pagamento das despesas com alimentação. A falta de equipamentos de proteção individual foi
identificada como responsável pelos principais riscos da atividade. O descanso em casa foi citado
como a principal forma de lazer. Quanto à expectativa de futuro, o principal sonho era ganhar mais,
uma vez que, apesar de gostar do que faziam, desejavam que a atividade de catador lhes
promovesse mais segurança econômica. Nessa perspectiva, foi perceptível que, apesar dos avanços
legais, faz-se necessário criar mecanismos que de fato promovam a inclusão social e a qualidade de
vida dos catadores de resíduos recicláveis.
Palavras-chave: Cooperativas. Catadores. Inclusão. Discurso do Sujeito Coletivo.

ABSTRACT
The National Solid on Waste Policy, Federal Law 12,305/10, raise important instruments regarding
waste management in Brazil. Among these, the selective waste collection and incentive to the

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organization of waste pickers, making waste an important tool of socioeconomic insertion.


However, although essential in the management process, these workers still represent the least
favored class for such activity. Getting knowledge about their reality and yearning is an important
step towards fostering more effective changes. Thus, the present study aimed to identify the profile
of waste pickers from a waste pickers cooperative placed in Maceió/Alagoas and their perception
regarding income, occupational health, leisure and future expectation. The study consisted in a
qualitative-quantitative research using intensive and extensive direct observation techniques and the
Discourse of the Collective Subject. Data collection was carried out through an interview with 45%
of the members. As identified, the interviewed waste pickers were mostly women, over 40 years
old, from the State where the research took place and had an incomplete elementary education.
Most of them were working as a waste picker for the first time and the participation in the
cooperative represented occupation and income possibilities. The income generated by such work
did not reach the current minimum wage and was intended to pay for food expenses. The lack of
personal protective equipment was identified as the leading factor for the occupation main risks.
Resting at home was cited as the main leisure option. As for the expectation of the future, the main
dream was to earn more, although they enjoyed what they have been done, they wanted such
occupation to promote economic security. From this perspective, it was noticeable that, despite the
legal advances, creating mechanisms that in fact could promote social inclusion and quality of life
for recyclable material collectors is necessary.
Keywords: Cooperatives. Waste Pickers. Inclusion. Discourse of the Collective Subject.

INTRODUÇÃO
A ação do homem sobre o meio ambiente tornou-se mais intensa ao longo da história. O
modelo de desenvolvimento capitalista-industrial centrado na produção em larga escala, nos
avanços tecnológicos, no consumo exacerbado, aliado ao crescimento populacional e a crescente
urbanização, tem contribuído significativamente para a degradação ambiental. Nesse contexto, a
geração significativa de resíduos, em quantidade e em composição diversificada, surge como um
dos principais desafios, tornando-se ainda mais evidente nos centros urbanos (GOUVEIA, 2012).
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE, 2015), no Brasil, no ano de 2015, foi gerado cerca de 79,9 milhões de toneladas de
resíduos sólidos urbanos, com 41,3% ainda dispostos de forma inadequada em aterros controlados
ou em depósitos a céu aberto. Fato que sugere riscos socioambientais e perda econômica decorrente
do destino inadequado dos resíduos reaproveitáveis e recicláveis. Conforme o Instituto de Pesquisa
Aplicada (IPEA, 2010), a destinação ambientalmente inadequada e o volume não aproveitado dos
resíduos sólidos urbanos representa uma perda aproximada de R$ 8 bilhões por ano, além das
inúmeras oportunidades de geração de renda que são perdidas em virtude desse procedimento.
Nessa perspectiva, no Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída pela
Lei Federal 12.305/10, entre seus objetivos, busca a prevenção e a redução na geração de resíduos,
tendo como proposta, a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos
para propiciar o aumento da reciclagem, fomentar a reutilização dos resíduos sólidos e a disposição
ambientalmente adequada dos rejeitos (BRASIL, 2010).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Entre os instrumentos para tornar possível a redução e destino adequado dos resíduos, a
referida Lei prevê a obrigatoriedade da coleta seletiva dos resíduos e a necessidade de estímulo à
criação e ao desenvolvimento de cooperativas de catadores ou outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis (BRASIL, 2010). A coleta seletiva, bem como, o
incentivo à organização dos catadores, torna os resíduos uma importante ferramenta de inserção
socioeconômica, além de propiciar inúmeras vantagens ambientais como redução de uso dos
recursos naturais e do gasto energético.
Apesar das exigências legais, a realidade brasileira no que se refere a gestão dos resíduos
ainda se apresenta limitada, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do país. Conforme dados
da ABRELPE (2015), no que se refere a iniciativas de coleta seletiva, 69,3% dos municípios
brasileiros apresentam alguma iniciativa e, no caso dos municípios nordestinos, esse dado perfaz
apenas 49,3%. Nesse contexto, a figura dos catadores torna-se imprescindível. Responsáveis
efetivamente pela reintrodução dos resíduos recicláveis no processo produtivo, os mesmos também
exercem uma eficiente ação educativa junto à sociedade ―ao conferir cara, rosto, personalidade e
história para a reciclagem‖ (TEODÓSIO; DIAS; SANTOS, 2016, p. 31).
Entretanto, apesar de fundamentais no processo de gestão de resíduos, os catadores de
materiais recicláveis ainda representam a classe que menos se beneficia por tal atividade. Na
informalidade ou mesmo organizados em cooperativas, os catadores ainda são vistos como
exercendo uma atividade inferior. Conforme Pereira, Secco e Carvalho (2014, p. 182), distante das
condições adequadas de trabalho e de inserção social, ―o contexto da catação de materiais
recicláveis traz a marca do trabalho realizado em condições precárias, insalubres, a exploração
pelos atravessadores e ainda a ausência de direitos básicos de proteção social‖.
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi identificar o perfil de catadores de uma
cooperativa de coleta seletiva localizada em Maceió/AL e, por meio da análise do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC), identificar a percepção dos mesmos quanto a sua condição de vida no que
tange a renda, saúde ocupacional, lazer e a expectativa de futuro. Identificar como os catadores
percebem suas vidas e o que esperam do futuro, pode ser considerada uma importante ferramenta de
compreensão do contexto vivido pelos mesmos, dos reais desafios da inclusão social, na perspectiva
da proposição de mudanças.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis,


localizada na capital do Estado de Alagoas, Maceió. A cidade de Maceió possui uma unidade
territorial de 509,909 km2, uma população de 932.748 habitantes e IDH-M de 0,721 (IBGE, 2010).

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Foram realizadas visitas à cooperativa, bem como foram aplicados formulários junto aos
cooperados. O formulário semiestruturado dispunha de perguntas abertas e fechadas. Foram
aplicados nove formulários no total, representando 45% dos cooperados e o percentual alcançado
foi decorrente da disponibilidade dos mesmos para a participar da pesquisa. As atividades foram
executadas em janeiro de 2014.
A pesquisa adotou uma análise quali-quantitativa por meio das técnicas de observação
direta, intensiva e extensiva (MARCONI; LAKATOS, 2005), e por meio da análise do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC) (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003). A técnica da análise do DSC tem como
proposição expressar o pensamento coletivo do grupo em questão. As informações quanto ao perfil
dos entrevistados e à análise do DSC estão apresentadas com indicações entre parênteses no que se
refere a quantidade de respondentes e o número total dos mesmos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Breve Histórico da Cooperativa e Perfil dos Catadores Entrevistados

A cooperativa em estudo atuava no ramo da coleta seletiva de materiais recicláveis na


capital do Estado de Alagoas, Maceió, desde 2004. Funcionava das 8 às 17 horas, em prédio cedido
pela Prefeitura, e realizava coleta em sete bairros da cidade, além de dois condomínios. A referida
cooperativa possuía, no período da realização das entrevistas, 20 cooperados.
O trabalho dos catadores consistia em coletar o que era cedido, separar de acordo com o tipo
de material e comercializar os resíduos sólidos recicláveis oriundos de doações tanto domiciliares,
quanto empresariais.
O processo de trabalho dos catadores era compreendido por quatro fases, sendo elas: coleta,
triagem, armazenamento e comercialização. Para a fase de coleta, os cooperados utilizavam um
caminhão cedido pela Prefeitura e carros de tração para recolher os resíduos recicláveis cedidos pela
população nos bairros. Na segunda fase, a triagem dos materiais era realizada no galpão da
cooperativa, separando plástico, papel, fiação, alumínio dos rejeitos que eram encaminhados para
descarte. Na terceira etapa, era realizado o armazenamento dos resíduos por material no galpão da
cooperativa e a quarta etapa consistia da comercialização destes materiais junto a intermediários.
Conforme observado na pesquisa, apesar de organizados em cooperativa e receber apoio da
Prefeitura, a dificuldade na etapa de comercialização ainda se configura como uma realidade para
muitos catadores de resíduos recicláveis. De acordo Magalhães (2016), organizados em
cooperativas ou trabalhando individualmente, os catadores muitas vezes dependem dos
intermediários para vender o que coletam. Conforme o autor, o pequeno ―poder de barganha‖ dos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

catadores e a falta de tecnologia para reciclagem concorrem para essa realidade, tornando o catador
o elo menos beneficiado dessa cadeia.
A maioria dos catadores entrevistados era do gênero feminino (6/9) e, na sua totalidade,
apresentavam faixa etária distribuída entre 19 e 67 anos, com média de 39 anos. A maioria possuía
idade entre 30 e 49 anos (6/9), com dois entrevistados entre 50 e 70 anos. De acordo com o IPEA
(2013a), diferente do observado na presente pesquisa, no Brasil observa-se uma predominância de
homens no trabalho de coleta de recicláveis (68,9%), entretanto, esse dado pode estar associado ao
fato das mulheres não se reconhecerem como catadoras e se identificarem no Censo como
exercendo atividades do lar. No que se refere a faixa etária, os catadores da cooperativa em estudo
possuíam média de idade similar a média nacional para os catadores, que é de 39,4 anos, e similar
aos catadores especificamente da região Nordeste que possui média de idade de 38,3 anos (IPEA,
2013b).
Concernente à origem, os entrevistados eram originários de diversos municípios do próprio
Estado da pesquisa (7/9). E, no que se refere à escolaridade, cinco dos nove entrevistados possuíam
ensino fundamental, em sua maior parte, incompleto, e três dos nove entrevistados eram
analfabetos. Apenas um possuía ensino médio completo. Esse dado reflete a realidade de baixa
escolaridade dos catadores no Brasil, especialmente na região Nordeste (IPEA, 2013b). De acordo
com Aragão Neto e Gomes (2016), essa condição muitas vezes está associada a inserção no mundo
do trabalho desde muito cedo.
De fato, na presente pesquisa, os entrevistados começaram, em sua maior parte, a trabalhar
precocemente, entre 10 e 16 anos (7/9, sendo: 10 anos – 3/9; 12 anos – 2/9 e 16 anos – 2/9),
especialmente, ajudando a família na agricultura (6/9). Outras profissões ou ocupações exercidas e
citadas pelos entrevistados foram de trabalhador doméstico, vendedor, guarda municipal,
marisqueiro, motorista e padeiro. Apenas uma entrevistada (1/9), já havia exercido a atividade de
reciclagem antes de trabalhar na cooperativa, tendo iniciado tal atividade com sua mãe aos 18 anos
de idade.
Todos os entrevistados residiam em Maceió e, na sua maioria, moravam em casas próprias
(6/9), incluindo aqui aquelas cedidas por parentes, em geral, os pais do entrevistado ou do cônjuge.
Moravam nas casas entre 1 e 4 moradores, com no máximo, dois adultos por lugar. As casas
variaram em número de cômodos: três dos nove com apenas um único cômodo e as demais com 3
até 8 cômodos e uma (1/9) não possuía banheiro.
Quanto à destinação dos resíduos produzidos em suas residências, cinco dos nove
entrevistados afirmaram que havia coleta domiciliar regular. Três dos nove entrevistados
depositavam os resíduos dos seus domicílios em caçambas e um deles mencionou que fazia

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separação prévia e que levava para cooperativa. Um dos entrevistados afirmou que lançava os
resíduos em um corpo d‘água próximo. Todos se mostraram satisfeitos com sua moradia.
A maioria dos catadores entrevistados (6/9) estava a menos de dois anos na cooperativa. Os
demais se encontravam há cinco (1/9), nove (1/9) ou desde a fundação da mesma, ou seja, 10 anos
(1/9) até janeiro de 2014. A maioria estava trabalhando pela primeira vez como catador. Todos
disseram que gostavam do trabalho que exerciam. Cinco dos nove gostariam de continuar e os
demais (4/9) desejavam sair especialmente em função da baixa renda obtida. O motivo apresentado
para permanecer na cooperativa para a maioria era para evitar o desemprego (5/9), três afirmaram
gostar do que faziam e um não respondeu.

Percepção dos Catadores Entrevistados quanto a sua Condição de Vida Atual e Expectativas
Futuras: Análise do Discurso do Sujeito Coletivo

A entrevista realizada junto aos cooperados abordou questões quanto à renda, à saúde, ao
lazer, à situação atual e expectativa de futuro e objetivou estudar a percepção dos mesmos quanto a
sua vida atual e futura por meio da análise do Discurso do Sujeito Coletivo.
As respostas fomentaram a construção dos discursos a partir dos principais trechos
selecionados dos relatos de cada entrevistado. Os discursos do sujeito coletivo, formados para 5
perguntas, foram divididos em 21 ideias centrais (IC) e estão apresentados no Quadro 01. A análise
dos discursos está apresentada na sequência.
Quadro 01- Ideias centrais resultantes das entrevistas realizadas junto aos cooperados entrevistados por meio
da análise do Discurso do Sujeito Coletivo
PERGUNTA IDEIA CENTRAL – ( /N)
Conseguir um emprego (3/9)
Comprar mobília para casa (2/9)
A) Qual a principal mudança na sua condição de Pagar dívida (1/9)
vida após a entrada na cooperativa? Ausência de pressão (1/9)
Por ganhar pelo trabalho e receber doações (1/9)
Não mudou nada na vida (1/9)

B) Qual o principal destino da sua renda? Gasto com alimentação (9/9)

Manusear o lixo sem luva (5/9)


C) Quais os riscos de saúde relacionados com o Pegar em peso excessivo e presença de animais
trabalho na cooperativa? (3/9)
Apenas para quem não se previne (1/9)
Descansar e ir à igreja (4/9)
Não tem lazer (2/9)
D) Qual o seu principal lazer? Ir ao shopping (1/9)
Plantar no sítio (1/9)
Passear (1/9)
Ganhar mais (3/9)
Ter a casa própria (2/9)
Terminar os estudos (1/9)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

E) Qual o seu sonho? Ter mais disposição para trabalhar (1/9)


Ter o próprio negócio (1/9)
Não soube responder (1/9)
Nota: N1: número de entrevistados que apresentaram a Ideia Central; N: número total de
entrevistados.

Em linhas gerais, identificou-se a partir das entrevistas e por meio da análise do DSC que os
cooperados entrevistados consideraram sua condição de vida atual mais satisfatória após a entrada
na cooperativa, sobretudo por não estarem mais desempregados e pela melhora na sua condição
econômica. As ideias centrais que predominaram foram ―Consegui um emprego‖ (3/9) e ―Melhorou
porque comprei mobília e eletrodomésticos para minha casa‖ (2/9).
Nessa perspectiva, percebe-se, conforme identificado por Gonçalves et al. (2013, p. 244),
que os catadores de resíduos ―avaliam as condições de vida e saúde quantitativamente, ou seja,
atêm-se à prioridade de ter que assegurar a sobrevivência e não com base numa medida qualitativa,
que diz respeito ao prazer de viver‖. A atividade de catação é representada como uma alternativa ao
desemprego.
No que se refere ao destino da renda, de forma unânime, os entrevistados afirmaram que o
principal destino da renda, oriunda da cooperativa, destinava-se à despesa com alimentação para si e
sua família. Os cooperados entrevistados afirmaram que, no período da pesquisa, a renda ficava
abaixo do salário mínimo vigente e quatro dos nove entrevistados disseram que o trabalho na
cooperativa era a única fonte de renda familiar.
É possível identificar, conforme destacam Medeiros e Macedo (2007), como a atividade de
catador é paradoxal, pois, ainda que haja a inserção no mundo do trabalho e geração de renda
familiar, não possui a capacidade de suprir as necessidades mínimas das famílias dos catadores,
representando o que chamou de uma ―inclusão perversa‖. A precarização do trabalho, a ausência de
direitos trabalhistas, o preconceito social e insuficiência da renda, conforme citado pelos autores,
retrata a ―exclusão por inclusão‖ uma vez que o catador é incluído socialmente pelo trabalho, mas
excluído, pelo tipo de trabalho que realizam.
Nessa perspectiva, conforme apregoa Pinheiro e Francischetto (2016, p. 08):

É inegável, portanto, que se trata de um mercado altamente rentável, o problema constitui-


se, entretanto, na desigualdade instalada entre os participantes da cadeia de reciclagem.
Nota-se que enquanto, de um lado, as empresas de reciclagem possuem altos índices de
lucros, o catador de material reciclável, que é a figura de extrema importância no processo,
visto que a maior parte dos materiais passa pelas suas mãos – seja nas ruas ou organizados
em associações e cooperativas –, compartilha uma realidade precária e de muita luta na
busca pela concretização de seus direitos básicos.
Mesmo a reciclagem sendo um fator de inclusão, já que muitos indivíduos excluídos do
mercado formal de trabalho recorrem à atividade de catação em busca da sobrevivência,
ainda é recorrente a disparidade entre os benefícios extraídos da atividade para o grupo dos
empresários e para o grupo dos catadores, os quais enfrentam situações de completa
ausência de direitos para conseguirem o próprio sustento e de sua família. (PINHEIRO;
FRANCISCHETTO, 2016, p. 08).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 939


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na perspectiva saúde, quando questionados quais seriam, em sua percepção, os riscos do


trabalho de catador, os cooperados entrevistados concordaram que o trabalho pode sim apresentar
algum risco, especialmente pela não utilização de luvas, a presença de animais como cobras e ratos
e a quantidade de peso carregado. Cinco dos nove entrevistados destacaram que ―Tem sim, porque a
gente manuseia o lixo sem luva‖ e três dos nove afirmaram que ―Tem sim, porque a gente pega em
muito peso e tem os animais‖.
Conforme Cavalcante e Franco (2007, p. 213), os riscos associados ao contato com lixões
são de duas naturezas: ―pelo modo direto, quando há um contato estreito do organismo humano com
agentes patogênicos presentes no lixão, e pelo modo indireto, por meio da amplificação de algum
fator de risco‖. Ferreira e Anjos (2001) identificam os riscos que os catadores enfrentam na sua
atividade como diversos, tais como: agentes químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e acidentes.
Um dos relatos quanto ao peso carregado pode ser exemplificado a partir do texto seguinte: ―a
gente, mulher, tem que subir no carro com os materiais e descarregar quando chegam da coleta‖.
Quando questionados quanto a forma de lazer, a maior parte dos entrevistados definiu o
mesmo como descansar e ir à igreja (4/9) e dois dos nove afirmaram não ter lazer. Essa concepção
reforça a ideia do quão extenuante é sua atividade, o que os leva a associar lazer com descanso, e
mesmo, como o lazer pode ser visto como secundário diante de suas necessidades básicas.
No que se referem aos sonhos, os cooperados entrevistados expressaram a necessidade de
melhores condições econômicas, seja pelo aumento nos rendimentos mensais (3/9), como na
expectativa de ter a casa própria (2/9), de ter seu próprio negócio, ou ainda, concluir os estudos.
Nesse sentido, torna-se visível que os anseios dos catadores entrevistados novamente se referem a
satisfação de necessidades básicas, partindo de uma geração de renda mais adequada.
Nessa perspectiva, conforme observado por Aragão Neto e Gomes (2016), percebe-se que a
inserção social dos catadores não se dá oportunizando um trabalho somente, mas oferecendo as
condições indispensáveis para que os mesmos satisfaçam suas necessidades, vivam dignamente e,
sobretudo, desenvolvam suas potencialidades plenamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os catadores entrevistados eram, na sua maioria, mulheres e apresentavam faixa etária


elevada, acima dos 40 anos. Eram originários do próprio Estado da pesquisa e possuíam ensino
fundamental incompleto. Começaram a trabalhar muito cedo e a maioria estava trabalhando como
catador pela primeira vez.
A entrada na cooperativa representou um aspecto significativo na vida dos entrevistados
especialmente em função do risco do desemprego. A maioria identificou como principais riscos de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 940


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sua atividade o contato com patógenos, especialmente pela falta de equipamentos de proteção
individual (EPI) disponíveis cotidianamente, bem como o peso que precisam manusear diariamente.
Apesar de gostar do que faziam, desejavam que sua atividade lhes promovesse mais
segurança econômica, sob risco de buscar outro trabalho. Nesse sentido, é preciso refletir mais
significativamente a respeito da inserção social dos catadores e os meios para alcançá-la mais
efetivamente, ouvindo seus anseios e desejos.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 942


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL DE UM APLICATIVO PARA


QUANTIFICAÇÃO DE PEGADA DE CARBONO EM EDIFÍCIOS PÚBLICOS

Jordan Nunes de FIGUEIREDO


Graduando no curso de Engenharia de Energias Renováveis da UFPB
jordan.figueiredo@cear.ufpb.br
Gustavo Colaço D‘Albuquerque CAVALCANTI
Graduando no curso de Ciências da Computação da UFPB
gustavo.colaco@hotmail.com
Rommel Santana FREIRE
Professor Dr. do Departamento de Finanças e Contabilidade, CCSA - UFPB
professorrommel@uol.com.br
Monica CARVALHO
Professora PhD do Departamento de Eng. de Energias Renováveis UFPB monica@cear.ufpb.br

RESUMO
O aumento do consumo de energia elétrica atrelado a uma geração desta por meio da queima de
combustíveis fósseis reflete em um aumento da poluição e agravamento do efeito estufa, efeitos
antes ignorados por gerações anteriores e que muito preocupa as novas gerações. Há um crescente
reconhecimento acerca da importância de mudar o comportamento de consumo energético das
pessoas. Para que as mudanças comportamentais relacionadas ao consumo energético sejam
duradoras e significativas é crucial que essas informações sejam passadas de forma clara e continua.
Reconhecendo que prédios públicos e residências são os maiores responsáveis pelo consumo de
energia elétrica no Brasil, este artigo contribui com o desenvolvimento conceitual de um aplicativo
para smartphone para ser utilizado como uma ferramenta que promova a conscientização do
consumo de energia elétrica de maneira racional, eficiente e sustentável. Por meio da Avaliação de
Ciclo de Vida (ACV) estabelecer-se-á uma relação entre pegada de carbono (kg CO2-eq) e consumo
de energia elétrica (kWh) levando em consideração a matriz energética brasileira.
Palavras-chaves: Avaliação de ciclo de vida, sustentabilidade, eficiência energética,
conscientização.
ABSTRACT
The increasing consumption of electricity along with its fossil fuel generation results in increased
pollution and enhanced global warming effect, which have been ignored by previous generations
but concerns significantly new generations. There is increasing recognition on the importance of
changing the energy consumption behavior of people. For long-lasting and significant behavior
changes associated with energy consumption, it is crucial that these information are disseminated a
clear, continuous manner. Recognizing that public buildings and residences are responsible for the
greatest share of electricity consumption in Brazil, this study contributes with the conceptual
development of a smartphone application that can be used to promote awareness on electricity
consumption in a rational, efficient and sustainable way. Utilization of the Life Cycle Assessment
(LCA) methodology will establish a relationship between the carbon footprint (kg CO2-eq) and
electricity consumption (kWh), considering the Brazilian energy matrix.
Keywords: Life cycle assessment, sustainability, energy efficiency, awareness.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 944


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1. INTRODUÇÃO

Uma das maiores preocupações socioambientais vigente é com o consumo de energia


elétrica. Desde a Revolução Industrial, ficou claro para o mundo que a energia estava
correlacionada com o desenvolvimento econômico e com a qualidade de vida. Essa influência se
torna cada vez mais decisiva em frente a globalização e as preocupações globais (TOLMASQUIM;
GUERREIRO; GORINI, 2007).
Com o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico a demanda de energia
elétrica cresce disparadamente durante os anos. Segundo o Ministério de Minas e Energia
(BRASIL, 2015), a expansão do consumo residencial de eletricidade no Brasil será de 4.3% ao ano
no período de 2014-2024. Este aumento de consumo de energia elétrica atrelado a uma geração
desta por meio da queima de combustíveis fósseis reflete em um aumento da poluição e
agravamento do efeito estufa, efeitos antes ignorados por gerações anteriores e que muito preocupa
as novas gerações.
Há um crescente reconhecimento acerca da importância de mudar o comportamento de
consumo energético das pessoas. Vários esforços de pesquisa têm sido direcionados para o tema da
mudança de comportamento pró-ambiental (das quais o comportamento relacionado ao uso da
energia é um componente) (ENERGY SAVINGTRUST), 2007). Se mais consumidores
concordarem com uma mudança em direção a um comportamento mais consciente em termos
energéticos, serão alcançadas importantes reduções nos impactos ambientais.
Reconhecendo que prédios públicos e residências são os maiores responsáveis pelo consumo
de energia elétrica no Brasil, este artigo visa contribuir com uma ferramenta que promova a
conscientização do consumo de energia elétrica de maneira racional, eficiente e sustentável. Por
meio da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) estabelecer-se-á uma relação entre pegada de carbono
(kg CO2-eq) e consumo de energia elétrica (kWh) levando em consideração a matriz energética
brasileira.
Apresenta-se aqui o desenvolvimento conceitual de um aplicativo (app) para computador e
smartphones que, a partir dos hábitos do usuário, estabelece seu consumo de eletricidade (kWh) e
fornece a quantidade de gases de efeito estufa emitida para a atmosfera. O app também possibilita o
acesso a várias sugestões para melhoria de eficiência energética e informações sobre efeito estufa e
aquecimento global. O objetivo final é conscientizar o usuário, diminuindo assim os impactos
ambientais e a fatura de energia elétrica.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Avaliação de ciclo de vida

Todo e qualquer produto, incluindo a energia elétrica, causa um impacto ambiental ao longo
de sua vida útil, seja na retirada da matéria prima, na produção, utilização ou descarte. Faz-se
necessário o conhecimento destas etapas para que se busque uma menor sobrecarga na natureza
(CHEHEB, 1998).
A crescente preocupação social com o meio ambiente, fez com que ferramentas de proteção
fossem criadas, e umas delas é a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), onde avaliam-se os potenciais
impactos ambientais associados a um produto desde a extração da matéria-prima, levando em conta
todos os seus processos, até o seu descarte (CHEHEB, 1998).
Segundo International Organization for Standardization (ISO) 14040 (2006) a ACV é uma
ferramenta de gestão que contabiliza entradas e saídas (materiais e energia) associadas com um
produto, serviço ou atividade, com o objetivo de avaliar o desempenho ambiental durante as
diversas etapas do seu ciclo de vida. A ACV é utilizada para identificar quais etapas do ciclo de
vida são mais impactantes e o correspondente impacto de possíveis alterações. A ACV é uma
metodologia reconhecida internacionalmente, e segue os padrões estabelecidos pelas normas da ISO
14040 e 14044.
No Brasil, a estrutura e princípios da ACV são regulamentados por um conjunto de normas
publicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (ABNT, 2014a; ABNT 2014b).
A ACV é composta por quatro fases (ABNT, 2014a): i) Objetivo e escopo (Estabelecimento das
fronteiras, extensões e propósitos dos estudos. O objetivo deve ser claro ao definir os propósitos e
conter todos os aspectos relevantes para direcionar as ações que deverão ser realizadas).; ii) Análise
do inventário (Fase de coleta e quantificação de todas as variáveis como emissão, matérias primas,
consumo de energia, processos e transportes. Nesta fase também irá ocorrer o refinamento do
objetivo e escopo e todas as partes de cálculos - balanços de massa e de energia - pertinentes); iii)
Avaliação do impacto (Analisar e quantificar os aspectos ambientais da etapa anterior e apresentar
intervenções necessárias aos indicadores), e iv) Interpretação dos resultados (Avaliação do estudo
de acordo com os objetivos estabelecidos, apresentação gerando conclusões e recomendações para
diminuição de impactos).
Por meio da ACV, será realizada a quantificação do impacto ambiental proveniente do
consumo de energia elétrica em edificações (prédios públicos e residências). O software utilizado
foi o SimaPro 8.3.0.0 (PRE CONSULTANTS, 2015), que permite a modelagem e avaliação dos
mais complexos ciclos de vida de forma sistemática e compreensível, seguindo ISO 14040 (2006) e
ISO 14044 (2006).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Devido a preocupações com aquecimento global, o método para avaliação de impacto


ambiental selecionado foi o IPCC 2013 GWP 100a (IPCC, 2013). Este método utiliza as tabelas de
conversão atualizadas do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), órgão internacional
de avaliação e estudo de assuntos relacionados a mudanças climáticas (IPCC, 2013). Com este
método, pode-se quantificar e caracterizar os impactos ambientais associados as emissões gasosas
atmosféricas de acordo com o seu ―Potencial de Aquecimento Global‖ (Global Warming Potencial,
GWP) (IPCC, 2013). O impacto ambiental será expresso como pegada de carbono (kg CO2-eq).

2.1.2 Mix elétrico brasileiro

Esta seção do trabalho baseia-se em Delgado e Carvalho (2017). A partir da base de dados
EcoInvent v.3.3 (2015), processos foram adaptados para representar o mix de geração elétrica
brasileiro para o ano de 2015. Este é o ano mais recente disponível pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE).
A matriz de geração elétrica do Brasil (Tabela 1) foi obtida da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) (BRASIL, 2016). Os percentuais de geração, por fonte, para composição do mix
foram formados realizando uma média entre o primeiro, décimo quinto e último dia de cada mês de
2015, e em seguida, a média dos percentuais de cada mês, seguindo Delgado e Carvalho (2017). Os
valores já incluem as importações da Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela: 61,30% hidráulica,
16,92% termelétrica, 7,49% biomassa, 5,64% eólica, 1,32% nuclear e 0,02% solar.
As etapas de transmissão, distribuição e transformação da energia elétrica também foram
incluídas de modo a representar de 1 kWh de eletricidade consumida em baixa tensão (consumo em
edifícios).

2.2 Desenvolvimento do app

O número de usuários de smartphones no mundo vem crescendo 25% ao ano, e dados de


2015 mostram que há aproximadamente 1.6 bilhão de usuários de tais aparelhos (DE NUCCIO,
2015). De acordo com StatCounter (SIMPSON, 2017; WINDOWS, 2017), o crescimento da
utilização de smartphones foi tão significativo que no começo de abril de 2017, o sistema
operacional (SO) para dispositivos móveis da Google, o Android, se tornou o sistema mais utilizado
do mundo, ultrapassando o Windows, que desde os anos 80 era o SO mais utilizado. Devido a
simplicidade de se usar um ―celular inteligente‖ e com tantos aplicativos que, além de entreter,
facilitam a vida das pessoas, a procura por desenvolvimento de apps vem se tornando algo comum.
Grandes empresas, investidores e empreendedores buscam criar aplicações móveis pelas
mais diversas razões, uma delas podendo ser a conscientização das pessoas e alerta para questões de
sustentabilidade. Tendo como princípio esse motivo, foi decidido desenvolver um aplicativo que irá

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 947


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ajudar as pessoas a saberem sua pegada de carbono além de mostrar dicas de como economizar
mais energia elétrica.
Com uma interface simples e intuitiva o usuário não terá dificuldades ao utilizar o
aplicativo, bastando apenas arrastar o dedo na tela de um lado para o outro para que se tenha acesso
as principais funções do app. O usuário conta com uma vasta lista de itens onde é possível localizar
equipamentos, utensílios e vários outros objetos encontrados em prédios públicos ou residências
para que seja feito o cálculo da sua pegada de carbono.
Após a realização dos cálculos, o usuário poderá acessar o guia de dicas, com matérias,
estudos e artigos que trazem diversas maneiras de se economizar sua energia. Além disso o app
contará com uma seção onde mostrará um gráfico com sua pegada de carbono do mês em que foi
feito o cálculo, para que o usuário possa ter uma noção do mês em que gastou mais e assim facilitar
o seu entendimento da razão pelo qual gastou mais em determinado mês.
A versão atual do aplicativo foi totalmente desenvolvida na Application Programming
Interface (API) 15 e superior do Android. Assim, o app consegue rodar em aproximadamente
97,4% dos dispositivos ativos na Google Play Store, serviço de loja virtual da Google, onde se
encontram todos os tipos de apps para download. A versão atual do aplicativo foi toda
desenvolvida em Fragments, (2017) que surgiram logo após a chegada dos tabletsAndroid, e assim
o aplicativo pode rodar em qualquer tamanho de tela, mantendo uma excelente experiência de
usuário.
O uso de bibliotecas (códigos que formam um subprograma, cuja finalidade é auxiliar o
desenvolvedor a resolver certos problemas) foi fundamental para a disponibilização de gráficos
funcionais no app. Para isso, utilizou-se a biblioteca MP Android Chart. A versão atual do
aplicativo inclui um serviço de cadastro de usuários, e o Firebase foi utilizado, que além de permitir
armazenar dados em um banco em tempo real, tem uma fácil manutenção e implementação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Avaliação de Ciclo de Vida

Após inserção de todas as etapas do Sistema Elétrico de Potência (SEP) (geração,


transmissão, distribuição e transformação) no software SimaPro, selecionou-se o método de
avaliação de impacto ambiental IPCC 2013 GWP 100a, e obteve-se um valor de 0,299 kg CO2-
eq/kWh consumido (pegada de carbono associada ao consumo de 1 kWh de eletricidade no Brasil,
em baixa tensão).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

3.2 GO GREEN app

O aplicativo foi desenvolvido com o intuito de ser atraente no seu design, simples na sua
utilização, eficaz na sua aplicação e acessível para os usuários. O aplicativo é claro no que diz
respeitos aos passos a serem seguidos para se obter a pegada de carbono de forma simples.
A primeira tela é a de login e se encontra na Figura 1, e nesta tela o usuário já cadastrado
com o nome do edifício público terá acesso ao app.
Caso o usuário não tenha cadastrado o edifício ainda, a opção ―Não tem conta? Crie uma!‖
Deve ser clicada e a segunda tela, Figura 2, irá aparecer. Nesta o usuário deve cadastrar o edifício,
colocar um e-mail para eventual contato e escolher uma senha segura.
Após o cadastro ou login, o usuário será redirecionado para a terceira tela, Figura 3, que
fornece um breve tutorial sobre como utilizar o aplicativo e seus objetivos.
Na quarta tela, Figura 4, uma lista com 102 equipamentos eletrônicos é fornecida e bem
como a potência de cada um, havendo ainda a opção de adicionar mais equipamentos caso não
estejam presentes na lista. Os aparelhos estão todos desmarcados, se o usuário possuir um
equipamento deste, basta selecioná-lo e fornecer a quantidade existente. Nesta tela ainda, o usuário
deve informar o número de ambientes do edifício para que seja feita a organização dos
equipamentos por ambiente.
Na Figura 5, o usuário deve fornecer ao app o número de horas diários e quantos dias por
mês cada equipamento é utilizado. O app foi desenvolvido na tentativa de tornar estas etapas mais
interativas para o usuário.
Ao finalizar esta etapa, o app irá calcular o consumo de energia elétrica do edifício
), em kWh, a partir da potência de cada equipamento ( ) em W, o número de horas de
utilização diário ( ) em h e o número de dias utilizados no mês ( ), a partir da Equação 1:

(1)

A partir do consumo total, a pegada de carbono total ( ), em kg CO2-eq, pode ser calculada
multiplicando-se a pegada de carbono da eletricidade (0,299 kg CO2-eq/kWh) pelo consumo de
eletricidade do edifício:

99 (2)

Após a realização do cálculo, a pegada de carbono total do edifício será mostrada na


próxima tela, Figura 6, e junto a este, um parecer será fornecido sobre a pegada de carbono.
A próxima tela é a de dicas de redução do consumo de energia, Figura 7, que possui artigos
e matérias sobre o tema.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na Figura 8, o usuário pode acompanhar a pegada de carbono mensal do edifício em forma


de gráficos simples. Assim o usuário pode acompanhar o desenvolvimento positivo de sua pegada
de carbono a partir das dicas de redução do consumo de energia elétrica. Trabalhos em andamento
incluem o caso de redução significativa da pegada de carbono, e assim o edifício ganhará estrelas
ou medalhas virtuais, que podem ser compartilhados em redes sociais para que todos possam ver.
A Figura 9 mostra as informações do aplicativo, como por exemplo, sua versão, as pessoas
envolvidas neste projeto, os apoiadores e contato.

Figura 1: Tela de login. Figura 2: Tela de cadastro.

Figura 3: Como usar o app. Figura 4: Tela de equipamentos e ambientes.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5: Horas por dia e dias por mês de Figura 6: Pegada de carbono
utilização.

Figura 7: Dicas de redução de consumo de Figura 8: Gráficos de pegada de carbono.


energia.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 9: Informações sobre o app. (IDEP)

O que se espera com este app é uma conscientização da sociedade e uma mudança
comportamental consequente, que gera uma redução da carga de poluentes emitidas para a
atmosfera provindas da utilização da energia elétrica. Este estudo insere-se num projeto mais
amplo,
Este trabalho é uma continuação do trabalho desenvolvido por Silva et al. (2016), e nessa
fase inicial, concentram-se esforços em despertar a atenção dos usuários para as emissões
relacionadas ao consumo da energia elétrica. A progressiva conscientização leva a um processo de
mudança comportamental, que é o esperado na fase introdutória de uso do app.
O próximo passo está sendo de otimização da interface e da interatividade do aplicativo.
Acrescentando mais funções, como novos gráficos, novas dicas, estudos mais recentes, mais
aparelhos eletrônicos e promovendo a interação do usuário através de objetivos para cumprir a fim
de conquistar recompensas que podem ser acumuladas e guardadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresentou o desenvolvimento conceitual de um aplicativo para ser utilizados em


prédios públicos e futuramente em residências e a partir deste almejar a eficiência energética,
reduzindo emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente e reduzindo gastos com energia pública.
O que se espera é uma conscientização da sociedade e uma mudança comportamental
consequente, que gera uma redução da carga de poluentes emitidas para a atmosfera provindas da
utilização da energia elétrica.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 952


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Como pode ser observado, o app promove não somente a conscientização, como a educação
ambiental, levando o usuário a conhecer um estilo de vida ambientalmente correto e limpo. Espera-
se não somente a redução do consumo de energia como também um despertar do usuário para a
preservação ecológica.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica


(PIBIC) da Universidade Federal da Paraíba, e do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (Bolsa de Produtividade 303199/2015-6, Projeto Universal 428377/2016-
5).

6. REFERÊNCIAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Gestão ambiental:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 955


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS VIA PROJETO


―ECO KIDS E ECO TEENS‖

Letícia Vitória Fernandes ROCHA


Graduanda do curso de Engenharia Ambiental do IFBA
leticiavfrocha@gmail.com
Karina Gomes CHERUBINI
Promotora de Justiça, especialista em Direito Educacional pela PUC/MG
kgc@mpba.mp.br
Jacson Tavares de OLIVEIRA
Professor EBTT D403 do IFBA Vitória da Conquista
jacson123@gmail.com
Leonardo Di Lauro Cunha OLIVEIRA
Graduando do Curso de Engenharia Elétrica do IFBA
leodilauroo@gmail.com

RESUMO
Hoje em dia, a Educação Ambiental (EA) vem sendo considerada urgente e importante para a
sociedade, pois o futuro da humanidade e das demais formas de vida tem relação direta com as
ações que se estabelecem entre a sociedade e a natureza. Nesse diapasão, a EA é vista como um
processo vivido ao longo de toda a vida humana, na qual cada pessoa é responsável pela melhoria
das condições ambientais em seu meio, conscientizando-se dos problemas existentes e buscando a
sua superação. Assim, a EA que se desenvolve nas escolas é essencial para a conscientização
ecológica não somente dos alunos, professores e funcionários, mas, sobretudo, para as comunidades
que habitam o seu entorno. É nesse contexto que surge o projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖, uma
iniciativa do Ministério Público da Bahia, em parceria com instituições de ensino e órgãos
ambientais, onde alunos do Ensino Fundamental I e II são estimulados a produzir um jornal
regionalizado, no qual eles próprios são os autores e leitores das matérias. O projeto é viabilizado
por recursos provenientes de sanções administrativas e criminais canalizados pelo MP para os
fundos municipais de Meio Ambiente, com aplicação acompanhada pelos Conselhos Municipais de
Meio Ambiente. O projeto está presente em 15 municípios parceiros nos estados da Bahia e do
Piauí e, desde o seu início em 2009 já passou por 92 escolas, mobilizou mais de 25 mil alunos e
venceu, em âmbito nacional, o concurso do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
2016 de melhor projeto na área de Defesa dos Direitos Fundamentais. O objetivo deste trabalho é
analisar o trabalho de Educação Ambiental desenvolvido pelo projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖, seus
fundamentos legais e sua expansão no período 2009/2016, na promoção do aperfeiçoamento da
justiça e na busca de uma sociedade sustentável.
Palavras-chave: Ministério Público; Jornal Ambiental; Sustentabilidade.

ABSTRACT
Nowadays, Environmental Education (EE) has been considered urgent and important for society,
since the future of humanity and other forms of life has a direct relation with the actions that are
established between society and nature. In this context, EE is seen as a process lived throughout
human life, in which each person is responsible for improving environmental conditions in their
environment, becoming aware of existing problems and seeking to overcome them. Thus, the EE

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 956


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

that is developed in schools is essential for the ecological awareness not only of students, teachers
and employees, but above all for the communities that inhabit their environment. It is in this context
that the "Eco Kids and Eco Teens" project, an initiative of the Ministério Público da Bahia (MPB),
in partnership with educational institutions and environmental agencies, is being developed where
Elementary School I and II students are encouraged to produce a regionalized newspaper, which are
themselves the authors and readers of the articles. The project is made possible by resources from
administrative and criminal sanctions channeled by the MPB to the municipal funds of the
environment, with application accompanied by the municipal councils of environment. The project
is present in 15 partner countys in the states of Bahia and Piauí and since its inception in 2009 has
already passed 92 schools, mobilized more than 25 thousand students and won, nationally, the
contest of the Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) 2016 for best project in the area of
defense of fundamental rights. The objective of this paper is to analyze the work of environmental
education developed by the project "Eco Kids and Eco Teens", its legal bases and its expansion in
the period of 2009 to 2016, in promoting the improvement of justice and in the search for a
sustainable society.
Keywords: Public Ministry; Environmental Newspaper; Sustainability.

INTRODUÇÃO

A problemática ambiental, apresentada e debatida nas últimas décadas no século XX, foi
ganhando proporção à medida que os danos ambientais foram chamando a atenção dos governos e
das sociedades, como reflexo de uma postura predatória do homem sobre a natureza, intensificada
pelas várias Revoluções Industriais. Para que haja uma mudança profunda nos comportamentos,
atitudes e valores (MACHADO, 2011), faz-se necessário a implementação de medidas de
preservação, conservação e sensibilização ambiental com caráter de urgência. Assim sendo,
conjuntamente à crise ambiental, a educação passou a ser analisada como uma dimensão importante
para o enfrentamento da questão e como medida preventiva de conservação ambiental (FERREIRA,
2007), principalmente nas conferências de Belgrado e Tbilisi.
O termo Educação Ambiental é autoexplicativo, de forma que cada pessoa, intuitivamente,
possui uma definição apenas relacionando as palavras ―educação‖ e ―ambiente‖, mas, em termos
técnicos, há vários conceitos ligados às diferentes visões de mundo por diferentes grupos sociais.
Entre as diversas definições, destaca-se a que foi estabelecida na Conferência Sub-Regional
de Educação Ambiental para a Educação Secundária, em Chosica/Peru, em 1976:

A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade


educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, dos tipos de
relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas
derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma
prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que
promovem um comportamento dirigido à transformação superadora dessa
realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no
educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação
(CONFERÊNCIA..., 1976).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Nesse contexto, a EA é vista como um processo vivido ao longo de toda a vida humana, na
qual cada pessoa é responsável pela melhoria das condições ambientais em seu meio,
conscientizando-se dos problemas existentes e buscando a sua superação.
Assim, debruçando-se em fundamentos e práxis pedagógicas conscientizadoras, busca-se
formular uma educação centrada na questão ambiental, ainda que frágil e com muitos desafios a
serem superados. No Brasil, a EA surgiu primeiramente em atividades isoladas, trabalhadas em
escolas em diversos níveis e comunidades preocupadas com impactos ambientais locais.
Posteriormente, no campo jurídico a Lei 6.938/81 institui a Política Nacional do Meio Ambiente e a
Lei nº 9.795/1999 dispõe sobre a Educação Ambiental, sendo marcos normativos relevantes para a
definição, caracterização e institucionalização da EA em todo território brasileiro (BRITO, 2013).
Buscando a promoção de uma Educação Ambiental inovadora e participativa, o Ministério
Público da Bahia, através da Promotoria Regional de Meio Ambiente, criou o Projeto ―Eco Kids e
Eco Teens‖, que consistem em jornais sobre meio ambiente elaborados por estudantes do ensino
fundamental, tanto de escolas públicas quanto privadas. O jornal traz temáticas ambientais
escolhidas pelo contexto em que os alunos vivem e é custeado por infratores ambientais em
cumprimento de pena alternativa, e tem por objetivo tornar os estudantes envolvidos em atores
sociais participativos na proteção e preservação do meio ambiente.
O projeto é coordenado pela promotora de justiça Karina Cherubini e teve início na cidade
de Ilhéus, em 2009, e, devido ao retorno positivo, outras cidades da Bahia e do Brasil passaram a
realizar o projeto em suas escolas.

METODOLOGIA

O processo de elaboração adotado para a realização desta pesquisa consistiu, inicialmente,


em um estudo bibliográfico, envolvendo a produção científica e legislação aplicável concernente à
temática em estudo — A Educação Ambiental nas escolas –, da qual serviu de embasamento teórico
para o desdobramento dessa pesquisa.
Após a etapa de leituras sobre o tema em seu sentido mais amplo, passou-se a fase de
estudos específicos voltados ao trabalho de EA desenvolvido pelo Ministério Público através do
projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖ nos municípios parceiros. Foram analisados o portfólio do projeto e
os relatórios das atividades desenvolvidas desde 2009, com os dados tabulados para facilitar a
discussão e a elaboração de mapas temáticos sobre sua expansão territorial. Para a confecção dos
mapas temáticos utilizou-se a malha territorial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) para os estados da Bahia e do Piauí, sendo as informações espaciais tratadas no software
MapViewer 7.0.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil, na década de 1980, a EA passou a ser um dos instrumentos da Política Nacional


do Meio Ambiente. Em 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, reconheceu-se em
nosso País que ―todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações‖ (Art. 225),
cabendo ao Poder Público ―promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente (Item VI) (BRASIL, 1988).
Também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece que ―os currículos do
ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a educação
ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios‖ (Art. 26; § 7°) (BRASIL, 1996).
Para implementar o artigo 225 da Constituição federal, foi instituída, em 1999, a Política
Nacional de Educação Ambiental (PNEA), por meio da Lei Federal nº 9.795, que define a EA como
―os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltados para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade‖
(BRASIL, 1999).
A EA que se desenvolve nas escolas é essencial para a conscientização ecológica não
somente dos alunos, professores e funcionários, mas, sobretudo, para as comunidades que habitam o
seu entorno. Entretanto, a forma como vem sendo desenvolvida, de forma descontínua e superficial,
pouco contribui para que as escolas possam se constituir como espaço educador ambientalista
(MACHADO, 2011). Dessa forma, são fomentadas práxis isoladas, fragmentadas e pontuais,
trabalhando conceitos ―ecologicamente corretos‖, não propiciando a construção de habilidades e
valores que farão do indivíduo um agente transformador do modelo vigente de sociedade.
Para além dos problemas enfrentados pela Educação Ambiental no Brasil, o projeto ―Eco
Teens e Eco Kids‖ surgiu como um instrumento de EA, com respaldo legal, que visam o estímulo a
cidadania ambiental desde as primeiras faixas etárias e implantação da educação ambiental nas
escolas de educação básica. Além de estarem em concordância e protegidos por cinco importantes
dispositivos legais: a Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999 – Lei da Política Nacional de
Educação Ambiental; o Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002 – Regulamento da Lei da Política
Nacional de Educação Ambiental; a Lei Complementar Federal nº 140, de 08 de dezembro de 2011;
a Resolução 422, de 23 de março de 2010 – Conselho Nacional do Meio Ambiente e Lei nº 9.394,
de 20 de dezembro de 2006 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As escolas que participam do projeto desenvolvem sua edição do jornal e promovem
diversas atividades com os alunos para que eles produzam o material que irá ilustrar o informativo,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 959


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

como por exemplo, visitas de campo, entrevistas, desenhos e trabalhos de reciclagem, entre outros.
Isso faz com que os alunos envolvidos pesquisem, estudem e discutam as temáticas ambientais,
proporcionando sensibilização e percepção ambiental, que resultará em menos infratores ambientais
e mais agentes de proteção ambiental.
Na edição do ―Eco Kids‖ da Escola Municipal Adelieta Ramalho, em Barra do Choça- BA
(Figura 1), os alunos visitaram a nascente do rio Catolé e puderam ver o nível de degradação do rio.
No informativo produzido por eles, trouxeram informações e produziram material sobre lixo,
reciclagem e poluição de rios.

Figura 1 – Alunos da escola Municipal Adelieta Ramalho visitam a nascente do rio Catolé, em Barra do
Choça-BA – Dezembro de 2014

Fonte: Ministério Público da Bahia, 2014.

No Colégio Alves Batista, em Itanhém-BA, os alunos comentaram acerca da proposta do


projeto e sobre o que aprenderam com a experiência:

A gente ficou bastante entusiasmado, só que no decorrer do trabalho a gente foi sentindo
uma certa dificuldade para montar os projetos porque o tempo até tava um pouco curto para
ter todo o planejamento. Só que quando a gente viu que as coisas estavam começando a dar
certo, a gente começou a se esforçar mais, nós nos preocupamos em deixar as coisas mais
bonitas porque, aliás é um projeto que envolve toda a comunidade escolar, é uma coisa que
a gente queria mostrar bem feita. E foi realmente o que aconteceu (Aluno Christian Ferreira
Oliveira Souza, junho, 2017). [...] Dessa revista, a gente vai levar que a gente tem que
cuidar mais da natureza e fazer o ato. Porque se um só não começar a preservar, a
humanidade não vai conseguir, mas se um ter (sic) o ato de ir protestar para não derrubar
essa árvore, para não jogar lixo, assim vai incentivar outras pessoas a não fazer esse
desmatamento igual está tendo no nosso Brasil e no planeta hoje (Aluno Miqueias Silva
Rodrigues, junho, 2017) (ITANHÉM SEM PARAR, 2017).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 960


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A proposta participativa do projeto mobiliza os estudantes para a observação crítica do


entorno. No caso de uma escola rural, os estudantes filhos de agricultores familiares têm condições
de identificar o nível de degradação de suas propriedades rurais, relacionado a temas como
desmatamento, erosão, redução da biodiversidade, esgotamento dos recursos hídricos, poluição da
água, do ar e do solo, desertificação, geração de resíduos, etc. No caso de uma escola urbana, os
estudantes são estimulados a pensar sobre problemas como lixo, esgotos, congestionamentos,
poluição atmosférica, visual e sonora, redução das áreas verdes, ilhas de calor, poluição dos rios,
enchentes, desmoronamentos, entre outros. Vendo dessa forma, o aluno passa a estudar realidades
concretas e se transforma em um pesquisador.
Na reflexão apurada de Merleau-Ponty51, o pesquisador que apenas registra e grava o que vê
fica apenas na superfície, na horizontalidade, tendo como resultados, de um lado, o pesquisador
como sujeito passivo e, de outro, uma pesquisa como espelho que simplesmente reflete a realidade.
É o campo do verbo ver. Para sair da superfície e penetrar na face lisa do espelho e ganhar
verticalidade, o pesquisador precisa olhar, fazer da visão um campo de significações e se colocar
como sujeito ativo. ―O olhar é necessitado, inquieto e inquiridor. O olhar pensa; é a visão feita
interrogação‖ (CARDOSO, 1998, p.349).
Assim, trata-se de não somente observar, mas, sobretudo, ver as coisas de uma outra forma,
com olhar crítico, a fim de se tornarem pessoas conscientes e capazes de atuar positivamente no
processo de revitalização dos recursos naturais, numa tentativa de busca conjunta – a luz do
conhecimento científico – das soluções adequadas e sustentáveis para os problemas encontrados.
Devido ao crescimento regional do projeto, tanto em municípios parceiros quanto em
número de escolas e alunos envolvidos, vários pesquisadores em ecopedagogia e educomunicação
incluíram em seus estudos, a avaliação do referido projeto, como contribuição na disseminação de
uma nova consciência socioambiental.
Sousa et al (2015, p. 266) avaliaram várias práticas ecopedagógicas de inclusão escolar
voltadas para crianças com deficiência e ressaltam a importância de realizar atividades ao ar livre,
uma vez que são derrubadas as barreiras físicas ou de comunicação, resultando em benefícios para a
socialização, valorização da natureza e ao sentimento de pertencimento ao lugar e ao grupo:

Os resultados revelam que se trata de uma grande contribuição para a área da Educação
incluir a Ecopedagogia no processo de aprendizagem dos alunos. É possível planejar e
desenvolver ações ecopedagógicas que apresentem resultados positivos no que diz respeito
ao seu objetivo principal que é formar cidadãos conscientes, planetários e aptos a
relacionarem-se de maneira harmoniosa com o planeta.

51
Discussão realizada por Sérgio Cardoso em seu artigo ―O olhar viajante (do etnólogo)‖ em que aborda a distinção
entre os verbos ver e olhar.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Bastos (2016) analisou a aplicação da educomunicação no ensino de ciências, destacando o


projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖ como elemento fortalecedor da auto-estima e capacidade de
expressão dos alunos, tanto no aspecto individual quanto no coletivo.
Desde 2009, quando o projeto piloto foi lançado na cidade litorânea de Ilhéus, na Bahia, o
―Eco Kids e Eco Teens‖ já ultrapassou as fronteiras do município pioneiro e, atualmente, está
presente em 15 municípios, sendo 13 na Bahia e 2 no Piauí, conforme está demonstrado na Figura
2.
Figura 2 – Municípios parceiros do projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖

Fonte: Mapa produzido pelos autores a partir de dados do projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖ e com base
cartográfica extraída da malha territorial do IBGE (2010) e utilização do software MapViewer 7.0.

O projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖ envolve diversos setores da sociedade e integra várias
áreas do conhecimento, favorecendo a interdisciplinaridade, a interinstitucionalidade e a
interprofissionalidade. Durante a implantação do projeto, é montado o Conselho Editorial do Jornal,
que delibera sobre prazos, recursos, apresentação da "boneca" do jornal e de lançamentos. Os
membros do Conselho são representantes da Secretaria Municipal de Educação, Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, Conselho Municipal do Meio Ambiente, Conselho de
Acompanhamento do Fundeb e Setor Educacional do Estado, além dos diretores das escolas.
O Ministério Público realiza reunião com os diretores das escolas escolhidas pelo Conselho
Editorial para participar do projeto, no qual cada escola elabora sua edição do jornal (Figura 3), que

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 962


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

será ilustrado por trabalhos dos alunos, a partir de exploração do entorno da escola, visita a órgãos
ambientais, entrevistas, trabalhos de reciclagem, entre outros.

Figura 3 – Edições do projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖

Fonte: Portfólio do projeto ―Eco Kids e Eco Teens, 2017.

Com a aprovação do informativo pelo Conselho Editorial, ocorre o lançamento do jornal na


própria escola, com apresentações artísticas realizadas pelos alunos-pesquisadores-escritores. Junto
ao lançamento, ocorre a distribuição do jornal para os alunos, para as salas de leitura da escola, para
a Biblioteca Pública Municipal e para o Conselho de Meio Ambiente, e outras escolas do município
também recebem exemplares. Vale ressaltar que os custos são pagos com recursos oriundos de
termos de ajustamentos de conduta ou prestação pecuniária em crimes ambientais, colaborando com
a reparação do dano e revertendo-o em benefício da comunidade atingida, fomentando o
aperfeiçoamento da justiça.
De acordo com muitos autores e pesquisadores, uma das principais limitações encontradas
ainda pela Educação Ambiental é a falta de estrutura de um sistema de ensino que trabalha de forma
conservacionista, pautada na dicotomia de homem-natureza e ainda, com análises fragmentadas
sobre os desafios socioambientais e descontextualizadas do ambiente na qual está sendo trabalhada.
Para eles, o problema consiste não em abordar a temática ambiental, mas sim em como torná-la
efetiva e participativa em todos os diálogos de saberes e nas esferas cultural, histórica, política,
social e econômica da sociedade. O projeto busca romper com essas limitações ao promover a
participação dos alunos, fazendo com eles produzam em linguagem acessível e se envolvam com o
meio em que vivem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para Loureiro (2004, p. 12): ―A educação ambiental promove a conscientização e esta se dá


na relação entre o ‗eu‘ e o ‗outro‘, pela prática social reflexiva e fundamentada teoricamente. A
ação conscientizadora é mútua, envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes
saberes, e a transformação ativa da realidade e das condições de vida‖.
Sendo assim, ao participarem da escolha do tema e ao serem estimulados a pesquisar,
conhecer e interagir com o meio ambiente, os estudantes são colocados em um novo patamar de
ensino e produção de conhecimento, que os coloca como instrumentos de transformação social
ruma a mudança ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖ teve início em 2009 e não se sabia, naquele momento, o
quão grande iria se tornar, em abrangência regional, número de municípios parceiros, escolas e
alunos. Ele foi crescendo gradativamente, acumulando experiência através dos erros e acertos e
incorporando novos elementos metodológicos e estruturais que o fez renomado e premiado
nacionalmente. Atualmente, conta com 15 municípios parceiros nos estados da Bahia e do Piauí e já
produziu EA de qualidade para mais de 25 mil alunos em 92 escolas.
De acordo com Loureiro (2004, p. 143): ―Não existe receita, fórmula ou método tido como
correto para se fazer Educação Ambiental. Sendo assim, na dimensão da escola, cabe a cada
educador definir e redefinir prioridades e estratégias, e estabelecer a práxis revolucionária,
transformando os indivíduos, a sociedade e o planeta‖.
O projeto fortalece a EA que se desenvolve nas escolas e a dissemina novas formas de
comportamentos ambientais, mais conscientes e responsáveis, bem como a sua difusão pelo
território através da ação dos estudantes, considerados multiplicadores de ideias e alternativas
viáveis. Representa uma oportunidade real para testar, na prática, os conhecimentos científicos
aprendidos em sala de aula e contribui para a resolução de problemas que aflige a comunidade do
entorno da escola. O trinômio Ministério Público–Escolas–Órgãos Ambientais representa uma
inusitada parceria que se traduz em interdisciplinaridade, interinstitucionalidade e
interprofissionalidade, capaz de relacionar os saberes acadêmicos e populares num projeto concreto
e regionalizado que atende as especificidades locais e contribui para o desenvolvimento rural e
urbano com produtividade e sustentabilidade.
Ao propor o projeto ―Eco Kids e Eco Teens‖, o Ministério Público contribui com o
Município e o Estado para a promoção e a mobilização social sobre as problemáticas ambientais
locais, trazendo aos pequenos cidadãos o sentimento e incumbência de agentes ambientais,
responsáveis pela preservação e mitigação dos danos ambientais. A proposta do jornal rompe com a
ideia engessada e propagada da EA como matéria ou disciplina específica, que ao ser finalizada,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 964


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

terminaria sua influência sobre os estudantes, e a coloca de forma transversal, contínua e


permanente capaz de propiciar a comoção e sensibilização ambiental.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 966


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

TRABALHANDO A SUSTENTABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS POR MEIO DA


AVALIAÇÃO SOCIAL DO CICLO DE VIDA

Luana Fracimaria Oliveira da SILVA


Graduanda do Curso Bacharelado em Administração UEPB
luanafracimaria@live.com
Eumara Ramos BEZERRA
Graduanda do Curso Bacharelado em Administração UEPB
ramoseumara@gmail.com
George Ferreira de SOUSA
Graduando do Curso Bacharelado em Administração UEPB
sousageorge500@gmail.com
Sibele Thaíse Viana Guimarães DUARTE
Doutora em Engenharia da Produção pela UFRJ/COPPE
sibelethaise17@gmail.com

RESUMO
O referido trabalho aborda a relação existente entre a sustentabilidade social, a Avaliação Social do
Ciclo de Vida (ACV-S) e o aproveitamento de tais abordagens nas empresas, visando com isso à
redução de impactos sociais, o melhoramento da qualidade de vida dos sujeitos envolvidos na
cadeia produtiva e, ainda, a importância de políticas públicas acerca de tais temas. Partindo desse
desígnio, o objetivo geral deste artigo é discutir a Avaliação Social do Ciclo de Vida como
possibilidade para trabalhar a sustentabilidade social nas empresas. A metodologia utilizada é
caracterizada como bibliográfica, considerando a utilização de materiais já elaborados publicados
em livros, artigos, dissertações de mestrado, tese de doutorado, relatórios internacionais e
documentos da UNEP/SETAC. A ACV- Social está ligada diretamente a sustentabilidade social por
ter em comum o foco em aspectos sociais, tratando-os paralelamente a aspectos ambientais e
econômicos reunidos à rotina da empresa. Possibilitam diversas vantagens à organização, dentre
elas, aparece como ferramenta de decisão para redução dos impactos sociais e socioeconômicos
gerados pelos seus respectivos processos produtivos. As semelhanças existentes entre a
sustentabilidade social e a ACV-S, harmonizam a relação de tais com o uso de bens e serviços,
agregando valores às empresas que as ressaltam, como menores custeios das cadeias produtivas,
selos verdes, visão positiva da marca, entre outros.
Palavras Chaves: ACV-S; Sustentabilidade Social; Políticas Públicas;

ABSTRACT
This article presents the relationship between social sustainability, Social Life Cycle Assessment
(S-LCA) and the use of such approaches in companies, aiming at reducing social impacts,
improving the life quality of subjects involved in the production chain, and also the importance of
public policies on such topics. Starting from this design, the general objective of this article is to
discuss the Social Life Cycle Assessment as a possibility to work the social sustainability in the
companies. The methodology used is characterized as bibliographical, considering the use of
already elaborated materials published in books, articles, master dissertations, doctoral thesis,
international reports and UNEP / SETAC documents. S-LCA is directly linked to social
sustainability by having in common the focus on social aspects, treating them in parallel with

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

environmental and economic aspects brought together to the routine of the company. They offer
several advantages to the organization, among them, it appears as a decision tool to reduce the
social and socioeconomic impacts generated by their respective productive processes. The
similarities between social sustainability and S-LCA, harmonize the relationship of these with the
use of goods and services, adding values to the companies that highlight them, such as lower costs
of production chains, green stamps, positive view of the brand, between others.
Keywords: S-LCA; Social Sustainability; Public policy

1. INTRODUÇAO

A Avaliação social do ciclo de vida (ACV-S) é uma metodologia direcionada a identificação


de impactos sociais em um determinado processo produtivo, ela foi desenvolvida a partir da
Avaliação do Ciclo de Vida de produtos (ACV) com a proposta de consolidar a perspectiva
sustentável, que apresentava um maior direcionamento a aspectos econômicos e ambientais,
tratando os aspectos sociais como coadjuvantes.
Em sua essência essa metodologia considera o capital humano em suas associações
ambientais e econômicas para identificação de impactos, auxiliando no desenvolvimento de práticas
e projetos que busquem o bem estar comum. Ela pode representar um grande auxilio ao ambiente
empresarial, considerando que as exigências de mercado tornam-se cada vez maiores devido a
maior carga de conhecimento adquirida pelos consumidores e a importância de buscar se adequar a
um novo paradigma da sustentabilidade, que vai ao encontro de ações que sejam proativas para o
desenvolvimento sustentável.
Com esta proposta é possível buscar uma melhor qualidade de vida, por exemplo, para
consumidores, colaboradores e a sociedade de um modo geral, com o objetivo de diminuir
desigualdades, valorizar e desenvolver o capital humano, utilizar melhor os recursos e promover a
cidadania, possibilitando com isso o desenvolvendo da sustentabilidade social.
O objetivo principal deste artigo é discutir a metodologia ACV-S como possibilidade para
trabalhar a sustentabilidade social nas empresas, tendo como objetivos específicos: (1) a
apresentação da metodologia ACV-S; (2) a descrição da importância da sustentabilidade social no
contexto atual; e (3) a interconexão entre os dois temas (ACV-S e a sustentabilidade social). Para
isto, optou-se por realizar um estudo bibliográfico.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2. REFENCIAL TEÓRICO

2.1 A Metodologia ACV-S

A Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma metodologia que permite a avalição dos aspectos
ambientais e os respectivos efeitos sobre o meio ambiente ao longo da vida do produto, desde a
aquisição da matéria prima, passando pela produção, uso e disposição final (SETAC, 1991).
Ainda de forma embrionária, os primeiros estudos de ACV foram realizados durante a crise
do petróleo, no final da década de sessenta, nessa época cresceu a busca por formas alternativas de
energia e cresceu também a conscientização da sociedade sobre a necessidade de melhor utilização
dos recursos naturais disponíveis. (CHEHEBE, 1998).
A partir da década de 1990, expandiram-se consideravelmente os estudos, debates,
conferências e congressos a cerca de ACV, impulsionados pela normalização proporcionada pela
série de normas ISO 14040.
Juntamente com o debate sobre responsabilidade social das empresas, tem sido demandadas
também, direções e orientações na incorporação de questões sociais nas estratégias de
sustentabilidade e avaliações de impacto, para cobrir, de forma mais coerente e integrada, todos os
pilares do desenvolvimento sustentável.
Na Avaliação do Ciclo de Vida, a discussão sobre como lidar com critérios sociais e
socioeconômicos surgiu no início deste século, como uma categoria de impacto da ACV,
denominada bem-estar social, passou-se então a ser desenvolvida a Avaliação Social do Ciclo de
Vida (ACV-S).
Segundo a Unep (2009, p. 37):

a Avaliação Social do Ciclo de Vida de Produto (ACV Social) é uma técnica utilizada para
avaliar os impactos sociais, positivos ou negativos, causados pelo ciclo de vida de um
produto, incluindo a extração e processamento de matéria, fabricação, distribuição, uso,
reuso, manutenção, reciclagem e disposição final, finalizando assim o ciclo de vida deste
produto.

O objetivo da ACV-S é promover melhorias nas condições sociais e no desempenho


socioeconômico de todas as partes envolvidas ao longo do ciclo de vida do produto. A ACV-S,
portanto, trata de relações não de fluxos, mas de relações que estão conectadas no espaço e no
tempo (UNEP, 2009).
Atualmente a ACV-S vem sendo cada vez mais aceita como resposta às indagações de
impactos sociais, esta avalia impactos sociais e socioeconômicos, potenciais ou não, ligados ao
ciclo de vida de produtos, processos e serviços. Dessa forma, as empresas podem decidir quais
estratégias adotar para a redução dos impactos sociais e socioeconômicos gerados por seus
processos produtivos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A ACV-S atende à série de Normas ISO 14040, publicada em setembro de 1997. A ISO
14040 estabelece quatro fases para o desenvolvimento de uma ACV-S: definição do objetivo e
escopo; análise do inventário; avaliação do impacto e interpretação do ciclo de vida. Os estudos de
ACV-Social atentam-se aos impactos sociais sobre os trabalhadores, comunidade local,
consumidores, sociedade e cadeias produtivas.
A ACV- Social pode ser usada individualmente ou em conjunto com a ACV ambiental, tal
ferramenta utilizada individualmente não tem aptidão, nem o papel de tomar decisões sobre a vida
do produto. Tem como funcionalidade, apenas registrar a utilização durante a vida do produto,
através das suas avaliações, em que as informações coletadas podem auxiliar nas condições sociais
de produção, uso e disposição final do produto. Teoricamente, a ACV- Social pode ser utilizada em
qualquer produto, até mesmo os que são notavelmente prejudiciais a sociedade (armas, por
exemplo), (UNEP, 2009).
Para Cultri et. al. (2010 p, 4) ―Diferentes objetos podem ser abordados nos estudos de ACV-
Social, dentre eles estão os impactos sociais sobre os trabalhadores, comunidade local,
consumidores, sociedade e cadeias produtivas‖, tais impactos sociais caracterizam-se como
categorias, que quando selecionadas, implicam possibilidades e limitações típicas nas análises da
ACV- Social. Dessa forma, é notável a necessidade em deixar claro os critérios de avaliação que
serão utilizados em cada tipo de categoria, de modo a amenizar falhas que venham a surgir nos
resultados.
A categoria de impacto social consumidor é muito importante para a precisão nos estudos
referente à cadeia do produto, no aspecto social. Ela divide-se em quatro subcategorias, que são:
saúde e segurança, mecanismo de feedback, privacidade do consumidor, e transparência. Toda
subcategoria de impacto pode ser determinada utilizando distintos indicadores sociais (UNEP,
2009).
Fontinele (2010 p. 31) aponta que:

o indicador social é capaz de sinalizar as questões sociais existentes em dada sociedade,


mostrando, à semelhança de um termômetro, quais os picos mais intensos que precisam ser
considerados prioritariamente ou investigados com maior aprofundamento. Constitui-se um
instrumento de grande relevância que possibilita, até certo ponto, quantificar aquilo que não
é quantitativo (a realidade social), contribuindo para solucionar problemas ou
redimensionar ações.

A utilização das ferramentas abordadas proporciona a facilidade na compreensão das


análises e da avaliação final da ACV-S, em que é perceptível a importância de tais métodos
utilizados em conjunto, complementando ainda que, quanto mais arrematado e delineado o desígnio
de cada método, melhores vão ser as condições para a desenvoltura dos estudos e a obtenção dos
objetivos almejados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2.2 Sustentabilidade Social

As primeiras concepções de sustentabilidade surgiram com relatório Nosso Futuro Comum


(relatório de Brundtland) no ano de 1987, a partir da definição do conceito de desenvolvimento
sustentável, abriram-se as discursões sobre o tema, proporcionando interesse a população mundial.
O desenvolvimento sustentável, segundo o relatório de Brundtland (1987), consiste na capacidade
da geração presente atender as suas necessidades sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de atenderem as suas. Este é o direcionamento para a sustentabilidade, sendo tratado por
muitos autores como conceitos equivalentes.
A sustentabilidade apresenta um melhor entendimento a partir da definição de um método o
Triple Bottom Line formulado por John Elkington, neste sentido, a sustentabilidade é concebida
como um tripé constituído pelos aspectos ambiental, econômico e social. Este método tem como
objetivo avaliar o desempenho organizacional a partir da atuação integrante dos três aspectos,
considerando a eficiência econômica, equidade social e preservação ambiental. (LORENÇO &
CARVALHO, 2013).
O foco do tema desenvolvimento sustentável ainda encontra-se em seu direcionamento
econômico e principalmente ambiental, a sua base social é pouco tratada pela população acadêmica
e, na maioria das vezes, esquecida pelo meio empresarial, sendo tratada por poucos e de maneira
casual, apenas como reflexo do direcionamento das outras duas bases.
A sustentabilidade social em seu caráter técnico e em suas interpretações apresenta-se na
maioria das vezes associada à sustentabilidade ecológica, mantendo uma relação direta entre ambas.
Até a década de noventa, temas como pobreza e incremento populacional, traziam à tona a
dificuldade de distinção e desvinculação entre estes dois pilares da sustentabilidade, nesta
perspectiva, o social era tido como ―limitado‖ considerando que ele só poderia existir caso suas
ações atingissem algum elemento do ecológico. Por muitas vezes este pensamento pode encobrir os
verdadeiros problemas que causam impactos sociais, deixando de lado as capacidades humanas e
considerando problemas como poluição e degradação de ecossistemas. (FOLADORI, 2002).
Segundo Lourenço & Carvalho (2013), para o meio empresarial a integração mais relevante
é realizada entre os aspectos econômicos e sociais, são eles os responsáveis por gerar a ética
empresarial, onde é levada em consideração a forma como a empresa contribui e investe na
sociedade, demostrando seu relacionamento com a comunidade, oferecendo tratamento igualitário
as pessoas e inserindo os stakeholders em suas transações econômicas. Neste contexto, esclarece
que há uma relação entre a sustentabilidade social e gestão de pessoas, considerando o
relacionamento com os stakeholders e as comunidades sobre as quais exerce algum impacto.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Segundo Faladori (2002), a sustentabilidade social em sua interpretação individual considera


elementos que se associam a melhoria da qualidade de vida, à democracia ou aos direitos humanos
sem afetar as relações de propriedade ou apropriação dos recursos, assim como as relações de
produção. Pode ser considerada como um agrupamento de ações com o objetivo de atingir uma
melhor qualidade de vida para determinada população e diminuir desigualdades, possibilitando
acesso à cidadania.
Estas ações necessitam de estratégias para serem atendidas, e estão associadas às questões
motivadas pelo ambientalismo no momento em que busca a constituição de uma cidadania para os
desiguais, dando ênfase aos direitos sociais, ao impacto da degradação das condições de vida e a
necessidade de se ampliar os esforços pela educação ambiental. O assunto dedica-se a repensar o
público através da sociedade e viabilizar a criação de canais institucionais para novas formas de
cooperação social. É importante perceber que a educação para a cidadania é uma possibilidade de
motivar e sensibilizar as pessoas no contexto social, dinamizando a sociedade e ampliando o
controle social da coisa pública. (JACOBI, 2003).

3. METODOLOGIA

A pesquisa desenvolvida neste artigo é caracterizada como bibliográfica, considerando a


utilização de materiais já elaborados, pulicados em livros, artigos, dissertações de mestrado, tese de
doutorado, relatórios internacionais, e documentos da United Nations Environment Programme
(UNEP)/ Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC). Materiais estes que estão
acessíveis ao público em geral.
Eles têm seu direcionamento tanto para os assuntos principais e específicos para esta
pesquisa (ACV-S e Sustentabilidade Social), quanto para assuntos afins a estes temas, como:
Desenvolvimento Sustentável, Políticas Públicas, Educação Ambiental e, Cidadania. Todos
buscando fortalecer a temática e alcançar os objetivos propostos para esta pesquisa.
O estudo dessa natureza é de grande importância para a comunidade acadêmica
considerando o seu caráter técnico-científico, uma vez que contribui de maneira significativa para o
desenvolvimento, progresso, registro e preservação do conhecimento, assim como o refinamento de
várias percepções. Com ele o conhecimento é aprimorado para que a sociedade, de modo geral, em
suas diversas áreas de estudo, possa fazer o melhor uso de suas informações e tecnologias.

4. DISCURSÃO

Nos últimos anos a metodologia de uso da ACV-S vem ganhando espaço, isso se detém ao
fato de agregada a rotina da empresa, ela oferecer diversas vantagens à organização, como
ferramenta de decisão para redução dos impactos sociais e socioeconômicos gerados pelos seus

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 972


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

respectivos processos produtivos. Essa metodologia analisa e avalia os impactos gerados, sejam eles
adversos ou benéficos refletidos à sociedade, ao meio ambiente e aos agentes inseridos nos
processos da cadeia produtiva.
A ACV-Social proporciona ainda às organizações, melhores condições de desempenho e o
bem-estar das categorias de impacto, ocasionando assim, amplo valor de decisão para a consciência
social e aos aspectos socioeconômicos. Podendo ser usada em qualquer produto, porém, não tendo o
intuito de fornecer informações acerca de um produto ser ou não produzido (FONTINELE, 2010).
Para a realização das análises utilizam-se quatro etapas baseadas na ISO 14044, sendo elas:
definição do objetivo e escopo, análise do inventário do ciclo de vida, avaliação do impacto do ciclo
de vida e interpretação. Quanto à metodologia de avaliação, necessita grande quantidade de dados;
fornece conhecimento útil para apoiar a tomada de decisão; aparelha e pondera a qualidade dos
dados; organiza e avalia as áreas de risco que desempenham o mesmo papel; cogita com
procedimentos interativos (UNEP, 2009).
A ACV- Social está ligada diretamente a sustentabilidade social por ter em comum o foco
em aspectos sociais, tratando-os paralelamente a aspectos ambientais e econômicos; assim como,
buscado o bem estar social através da redução ou evidência de impactos causados a sociedade,
como exemplo, mão de obra escrava, trabalho infantil, etc., ambas contribuindo de maneira
eficiente para o desenvolvimento sustentável.
A sustentabilidade social está associada diretamente à perspectiva de uma melhor qualidade
de vida da população e alcance de cidadania, suas práticas vão ao encontro da diminuição das
desigualdades sociais e extensão dos direitos à população, garantindo acesso a serviços básicos
como educação e saúde. A trajetória para atingir estas perspectivas vai ao encontro de vários
aspectos afins ao seu conceito.
Segundo Jacobi (2003), o fato da maior parte da população brasileira viver em cidade,
possibilita a degradação em suas condições de vida, ou seja, vive-se numa ―sociedade de risco‖ e
com isso surge à necessidade de se multiplicar práticas sociais embasadas no direito ao acesso a
informação e a educação ambiental, trazendo uma perspectiva integradora, motivando as pessoas a
buscarem uma melhor qualidade de vida; estimulando permanentemente as responsabilidades éticas
e reconsiderando aspectos referentes à equidade, e justiça social.
Duas temáticas nos apontam a discussão de sustentabilidade social ―pobreza e incremento
populacional‖. Considerando que a população pobre tende a ter mais filhos, proporcionando um
maior crescimento populacional que ocasiona, falta de empregos, menor acesso a formação
profissional e intelectual, falta de acesso ao conhecimento e escassez de recursos, devido à alta
demanda populacional não planejada, a sustentabilidade social, em contrapartida, tem evoluído no

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

decorrer dos anos, procurando ressaltar a importância e a qualidade das pessoas, com o objetivo de
se construir um futuro melhor e mais justo para a população vulnerável.
A necessidade de métodos de proteção social é crescente, pórem, a capacidade do Estado de
custear estas necessidades segue no sentido contrário, a sociedade não pode renunciar aos
mecanismos de proteção social (Saúde, Educação, e Previdência) que necessitam de ações
adequadas por parte do poder público. (MENKES, 2004).
Em busca destes objetivos, a sustentabilidade social vai ao encontro das políticas públicas,
que são a conexão entre o poder público e a sociedade, buscando soluções para conflitos entre as
necessidades sociais e o processo decisório, a fim de realizar uma melhor divisão dos recursos em
custos e benefícios sociais.
Segundo Teixeira (2002), as politicas públicas têm por objetivo atender as demandas, em
especial as dos setores marginalizados da sociedade, visam expandir e efetivar direitos de cidadania,
também desenvolvidos nas lutas sociais e que passam a ser reconhecidos institucionalmente. Desta
maneira, o autor esclarece a importância do engajamento social em busca dos direitos da própria
população, para cobrar do poder público, a satisfação das necessidades básicas, para o alcance da
cidadania e uma melhor qualidade de vida, deixando a entender que este poder através das políticas
públicas, por si só, não cumpre seus objetivos de maneira satisfatória.
Menkes (2004) considera que uma postura integrada da sociedade pode atingir a ordem
social, econômica e política, e pontua que o poder público através do Estado deve se fortalecer
como implementador das ações e regulamentador de ações de outros atores sociais, como empresas
privadas e organizações sociais.
Isto fortalece a importância da associação entre a iniciativa pública e privada, para levar as
populações uma melhor qualidade de vida, unindo-se a sociedade, para desta maneira buscar os
direitos dos cidadãos que devem ser assegurados pelo Estado, ou seja, proporcionar assistência
social.
Segundo Teixeira (2002), através da formulação de uma assistência social é possível superar
padrões de merecimento de caridade, o novo paradigma concebe a assistência social como direito
de cidadania, vislumbrando ações de combate à pobreza e promoção de bem estar social, a partir da
associação das políticas públicas com outras políticas econômicas.

5. CONCLUSÃO

A sustentabilidade social relaciona-se diretamente com a metodologia ACV-S, no momento


em que ambas apresentam um olhar social diante de um contexto de maior ênfase em aspectos
ambientais e econômicos. A valorização ao capital humano esclarece que este é essencial para a
preservação dos recursos ambientais e o desenvolvimento dos recursos econômico, assim, a ACV-S

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pode contribuir como influenciadora de uma maior consciência social (diante da apresentação de
impactos), assessora na vantagem competitiva do ambiente empresarial, da qualidade de vida da
população e promotora do desenvolvimento sustentável.
As semelhanças existentes entre a sustentabilidade social e a ACV-S, harmonizam a relação
de tais com o uso de bens e serviços, agregando valores às empresas que as ressaltam, como
menores custeios das cadeias produtivas, selos verdes, visão positiva da marca, entre outros.
Desta maneira pode-se concluir que, considerando a sustentabilidade social associada às
políticas públicas, é possível observar um relacionamento de interesses comuns, onde ambas
objetivam por melhores condições à sociedade, em especial, a parcela que nela encontra-se
marginalizada. Também é possível observar uma interdependência a partir do momento em que
ações para diminuir impactos sociais ou promover cidadania são desenvolvidas através de políticas
públicas, salientando, assim, sua importância para o desenvolvimento de um meio social mais
sustentável.
Partindo desse pressuposto e dos estudos feitos, nota-se a carência existente em pesquisas
relacionadas a tais temas que são de suma importância para a preservação do meio ambiente e para
conhecimento da população, diante disso, é sugerida uma pesquisa de maior profundidade aos
temas relacionados, onde seja mostrada a positividade de tais itens postos em empresas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL E SEUS INDICADORES:


O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO DO ALTO CURSO DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO APODI-MOSSORÓ/RN

Antônio Carlos Gardel de Freitas CASTRO


Graduado em Ciência e Tecnologia da UFERSA
gardel.castro@hotmail.com
Lauro César Bezerra NOGUEIRA
Professor Dr. em Ciências Econômicas UFERSA
Jorge de Oliveira PINTO FILHO
Professor Dr. em Ciências Ambientais UFERSA

RESUMO
O principal objetivo desse estudo foi investigar a evolução e comportamento do Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – dos municípios que compõe a Região do Alto
Curso da bacia hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró – RN no período de 1991 a 2010. Para tanto,
adotou-se o Sistema de Informação Geográfica – SIG. Os resultados permitiram verificar que o
maior entrave ao desenvolvimento dessa região está diretamente relacionado aos aspectos
educacionais e de renda de seus habitantes. Especificamente, o IDHM educação retrata que apenas
quatro dos dez municípios analisados se encontram na categoria de baixo desenvolvimento.
Enquanto os demais se apresentam com muito baixo desenvolvimento. Essa situação é bastante
semelhante quando se analisa o IDHM renda. Especificamente em 2010, todos os municípios dessa
região se encontravam em situação de baixo desenvolvimento de renda.
Palavras-chave: IDHM. Educação. Saúde. Renda.

ABSTRACT
The main objective of this study was to investigate an evolution and behavior of the Municipal
Human Development Index - IDHM - of the municipalities that make up the Apodi / Mossoró - RN
Rio Alto Hydrographic Basin Region from 1991 to 2010. The Geographic Information System -
GIS. The results allowed to verify the major impetus for the development of the region, and are
related to the education and income of its inhabitants. Specifically, IDHM education portrays that
only four of the ten counties analyzed are in the low development category. During developmental
development. This situation is fairly new when analyzing the IDHM income. Specifically in 2010,
all municipalities in this region were in a situation of low income development..
Keywords: IDHM. Education. Health. Income.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil tem avançado nas últimas décadas, especialmente, a partir de 1990 com a abertura
comercial e implantação do plano real. Todavia, esses avanços ainda são considerados abaixo do
desejado. Verifica-se que tal fenômeno é mais significativo nas grandes metrópoles. Essa

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 977


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

caracterização origina a necessidade de haver uma maior interação entre as localidades, regiões, etc.
em busca de um desenvolvimento mais justo e igualitário (GIAMBIAGI e MOREIRA, 1999).
Nesse ensejo, as regiões Norte e Nordeste do país apresentaram melhorias significativas na
qualidade de vida nas últimas décadas. Entretanto, os indicadores de bem estar nessas regiões são
significativamente inferiores ao observado nas demais regiões do país. Especialmente, quando
analisamos dados sobre renda e educação (MONTEIRO NETO; CASTRO e BRANDÃO, 2017).
De maneira específica, o estado do Rio Grande do Norte – RN – retrata um pouco dessa
descompactação econômica ou desigualdade regional. Uma vez que, economicamente dependem-se
basicamente de alguns setores, como a indústria do sal, petróleo, mineração, comércio e o setor
turístico. No agronegócio temos a produção de frutas e a carcinicultura (TRINDADE, 2010).
Por sua vez, em 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –
cria o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – o qual tem por objetivo apurar o nível de
qualidade de vida de um país, região, localidade, etc. O IDH retrata três importantes características
populacionais. Isto é, longevidade, educação e renda (PNUD BRASIL, 2016).
Todavia, os resultados observados para o Brasil são bem modestos comparados a outros
países em desenvolvimento. Essas diferenças se tornam ainda mais expressivas quando se
desagrega os indicadores por regiões. Especificamente, os 12 piores IDH estaduais observados no
ano 2010 pertenciam às regiões Norte e Nordeste. Aonde o RN apresentou um indicador 20%
inferior ao Distrito Federal. Embora, alguns possam caracterizar como normal essa diferença dada
as peculiaridades regionais há situações bem mais intrigantes. Por exemplo, o RN apresenta um
indicador de qualidade de vida aproximadamente 10% acima do observado em Alagoas.
Diante disso, surgem alguns importantes questionamentos: que fatores fazem regiões tão
parecidas exibirem níveis expressivos de desigualdade? De maneira, mais sucinta relata-se a seguir
algumas diferenças observadas dentro de uma mesma sub-região/estado. Por exemplo, na sub-
região do Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró – BHRAM – tem-se os
municípios de São Miguel e Venha-Ver, os mesmos apresentam respectivamente IDHs de 0,606 e
0,555 no ano de 2010. Ou seja, uma disparidade observada de 10%.
Posto isso, esse estudo tem como principal objetivo investigar a evolução e comportamento
dos Indicadores de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – dos municípios pertencentes ao
Alto Curso do BHRAM do estado do RN. Para tanto, utiliza-se a metodologia de Sistemas de
Informações Geográficas – SIG – que possibilita a visualização do comportamento analítico de
determinados fenômenos. Nesse sentido, serão usados dados sobre o IDHM referentes aos períodos
de 1990, 2000 e 2010.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 978


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para compreender e analisar o IDH da região proposta, a priori, apresenta-se determinadas


definições teóricas, como também, algumas considerações sobre os indicadores utilizados.

2.1 Desenvolvimento

No que se refere ao desenvolvimento, faz-se necessário uma análise de diversos segmentos,


já que o termo está ligado diretamente a três atores sociais: O poder público, a administração privada
e a sociedade. Porém, o significado de desenvolvimento econômico possui diferentes vertentes
econômicas. Para muitos, desenvolvimento e crescimento econômico são semelhantes. Nessa
corrente, considera-se uma sociedade como desenvolvida quando ela exibe um forte Produto Interno
Bruto – PIB. Em outras palavras, se uma sociedade possui renda per capita alta, consequentemente
exibe qualidade de vida e desenvolvimento social (AZEVEDO, 2011).
Em outra linha de pensamento, o desenvolvimento ocorre quando os direitos e
oportunidades individuais são garantidos. De forma que, o bem-estar social não se refere somente à
renda per capita, mas também a questões culturais, sociais, etc. Para estes, o desenvolvimento de
uma região é um processo complexo e abrangente de ser quantificado. E deve considerar os mais
diversos fatores que possam influenciar na qualidade de vida de uma sociedade. Por exemplo,
educação, saúde, segurança, renda, entre outros. (VEIGA, 2005)
Nesse estudo, adota-se o IDH, considerado um importante sinalizador do desenvolvimento
de uma sociedade, embora, haja ressalvas por alguns. Atualmente, o IDH prioriza a renda, educação
e saúde na tentativa de mensurar a qualidade de vida de uma sociedade.

2.2 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM

O IDHM foi criado pelo PNUD na década de 1990 e tem como responsável, no Brasil, o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA – e a Fundação João Pinheiro. Esse índice
possibilita a visualização de áreas que requerem uma maior atenção, em especial, do setor público.
O IDHM é composto por três características fundamentais na representação do desenvolvimento
social e econômico; educação, longevidade e a renda per capita.

2.2.1 Cálculo do IDHM

O cálculo é obtido através da identificação da dimensão em que a longevidade, a


educação e a renda nacional bruta influenciam o IDH. Segundo o PNUD, para os cálculos
dos indicadores primários, chamados de índices de dimensão, são escolhidos valores
mínimos e máximos para cada um, servindo como referência para determinação das
informações desejadas. O valor atribuído a cada indicador varia de 0 a 1. Onde 1 expressa

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 979


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

o desejado/ótimo e 0 o indesejável social. Após o calculo dos índices de dimensão, faz-se a


média geométrica entre eles e se obtém o IDHM.

Figura 1 - Faixas de Desenvolvinmento Humano Municipal

Fonte: PNUD, 2016.

2.2.1.1 Índice de longevidade – IL

A longevidade ou expectativa de vida pode ser mensurada e tem um papel importante para a
qualificação de uma população. Como mencionado, aos índices de dimensão, são atribuídos valores
extremos de expectativa de vida, que servem como referencia. O máximo valor é 85 anos e o
mínimo 25 anos. Para o calculo, basta utilizarmos a formula a seguir. (ATLAS BRASIL, 2013)
(1)

2.2.1.2 Índice de educação – IE

Na educação, os principais pontos abordados são em relação à escolaridade da população


adulta e o fluxo escolar da população jovem. O indicador educacional pode ser expresso por:
(2)

2.2.1.3 Índice de renda – IE

No setor econômico, o índice de dimensão usado é o PIB per capita, sendo a soma dos
valores incluídos por todos aqueles ativos na economia, dividido pela quantidade de pessoas, ou
seja, o que cada contribui individualmente.
(3)

Encontrado o que cada segmento indicador contribui no IDHM individualmente, podemos


fazer o processo final através da equação 03, mostrada a seguir, e assim obtermos o valor final
desejado.
(4)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

2.3 Resultados da Literatura

Em Lima, Hersen e Klein (2015), utilizando alguns indicadores, em especial, o IDHM,


analisaram a qualidade de vida da região Oeste do Paraná. Os principais resultados relatam que a
região Oeste segue a mesma tendência de crescimento do estado e do Brasil. Especificamente, o
quesito longevidade é o que apresenta os melhores prognósticos, e assim, o que mais contribui para
a formação do bem-estar social. Já a educação apresentou os piores efeitos. Em números,
respectivamente, 0,81 e 0,48, para Catanduvas e Diamante do Sul.
Em estudo semelhante, Azevedo (2011), investigou o comportamento do desenvolvimento
no período de 1991 e 2000 no estado do Rio de Janeiro. Os achados mostraram que Niterói ofertava
a melhor qualidade de vida a sua população exibindo IDHM de 0,89. Por outro lado, Pinheral e
Iguaba Grande, exibiam o mais baixo bem-estar social, com índice de 0,79. Adicionalmente,
verificou-se que apesar do estado apresentar bons números e certa evolução, o mesmo perdeu
posições no ranking nacional caindo da quinta para sétima posição nacional.
Por sua vez, Oliveira e Masongele (2013), analisaram os entraves da evolução da República
democrática do congo. O resultado mais importante indica que houve um retrocesso em 2010,
embora, tenha havida evolução nos períodos anteriores. Sendo as turbulências politicas e
econômicas existentes os principais fatores para tal feito, que acabam por não garantir oportunidade
e acesso aos serviços públicos básicos. Em outro estudo, Winzer (2016), revela a complexidade
existente entre desenvolvimento humano, desigualdade, proporção de pessoas pobres e violência no
Brasil. Os resultados não confirmam que o aumento de qualidade de vida, expressa pelo IDHM,
diminui a violência. Entretanto, há indícios que a diminuição de homicídios no período estudado
influenciou positivamente o IDHM de 2010.

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Delimitação da área de estudo

A escolha pela do Alto Curso da BHRAM dar-se por diversos fatores socioeconômicos. Por
exemplo, baixos IDHM, nível de pobreza elevada, forte desigualdade de renda, etc.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 981


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2: Delimitação do Alto Curso da BHRAM/RN

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

3.2 Sistema de Informação Geográfica - SIG

Segundo CÂMARA (2003), as técnicas de Geoprocessamento são uma poderosa ferramenta


de trabalho, em especial, para aqueles aonde o lugar é fundamental no processo. Pois, o uso de
instrumentos que permitem a representação espacial georeferenciada do local de estudo tem uma
extrema importância e agrega um grande valor a pesquisa.

FIGURA 3 – Funções do Sistema de Informações Geográficas

Armazenamento

Coleta de dados Integração

SIG
Representação Análise e
espacial Processamento

Fonte: Elaboração própria, segundo ROCHA, 2000.

Por sua vez, Rocha (2000), relata que o SIG possui a capacidade de inserir e integrar em
única base de dados informações espaciais provenientes de dados cartográficos, dados censitários e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 982


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cadastro urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos numéricos do terreno. Além disso,
oferece mecanismos para combinar diversas informações. Bem permite consultar, recuperar,
visualizar e plotar o conteúdo da base de dados georreferenciados. Cabe destacar que o SIG atende
as necessidades da presente pesquisa.

3.3 Descrição dos Dados

A base de dados é composta pelos índices IDHM. E foi coletada na plataforma do atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil. As informações pertencem a dez municípios da BHRAM/RN,
referentes ao período 1991, 2000 e 2010. A seguir na Figura 1 ilustra-se o comportamento do IDHM
para todos os 10 Municípios que compõe a Região do Alto Curso.

4. RESULTADOS

De acordo com a Figura 04, em 1991, todos os municípios do Alto Curso da BHRAM
apresentavam muito baixo desenvolvimento. Para se ter uma ideia do problema, o município de
Venha-Ver – pior IDHM da amostra – apresentava 0,20 de IDHM. Ou seja, para este município
evoluir para próxima categoria – baixo desenvolvimento – o mesmo teria que evolucionar 147,5%.

Figura 4: Mapas temáticos do IDHM das cidades do Alto Curso – 1991

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

Essa realidade era presente em todos os municípios do Alto Curso no início dos anos 90.
Pois, o município com melhor desempenho em IDHM – Doutor Severiano (0,33) – estava aquém do
baixo desenvolvimento em 0,17. Em média, os municípios apresentavam um desenvolvimento

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 983


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

humano em torno de 0,30. Em suma, o desenvolvimento médio da região do Alto Curso da BHRAM
era tão precário que se situava 41% abaixo da próxima categoria de desenvolvimento.
De acordo com a Tabela 1, os melhores resultados apresentados em 1991 referiam-se ao
IDHM saúde – longevidade – com um valor médio 0,55. Onde o município de Luís Gomes se
destacava com um indicador 0,60 compondo a categoria de médio desenvolvimento no aspecto de
saúde de seus habitantes. O pior resultado nesse quesito pertencia ao município de Venha-Ver.

Tabela 01: IDHM do Alto Curso da BHRAM - 1991


Município IDHM IDHM-R IDHM-L IDHM-E
Coronel João Pessoa 0,26 0,34 0,53 0,10
Doutor Severiano 0,33 0,37 0,53 0,18
José Penha 0,31 0,38 0,57 0,14
Luís Gomes 0,32 0,40 0,60 0,13
Major Sales 0,30 0,36 0,59 0,13
Paraná 0,32 0,38 0,54 0,15
Riacho Santana 0,30 0,32 0,54 0,16
São Miguel 0,31 0,43 0,53 0,13
Tenente Ananias 0,30 0,38 0,55 0,13
Venha ver 0,20 0,38 0,51 0,04
Alto Curso da BAHRAM 0,30 0,37 0,55 0,13
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

Quanto a componente educação, observam-se os piores resultados. O IDHM médio da


educação era de 0,13. Precisava-se melhorar a qualidade da educação em praticamente 285% para
chegar à próxima classificação. Portanto, há evidencias fortes de muito baixo desenvolvimento
regional da educação. Para entender o tamanho do problema, pode-se notar que o melhor
desempenho obtido entre os 10 municípios do Alto Curso da BHRAM – 0,18 – pertencente ao
munícipio de Doutor Severiano fica a 0,32 pontos abaixo da linha de baixo desenvolvimento.
Para o ano 2000, observa-se que o desenvolvimento regional foi incrementado em 43,4%.
Olhando para Figura 4, observa-se uma evolução positiva. Todavia, esse processo ocorre de forma
muito modesta. Por exemplo, o município de Venha-Ver pior desempenho entre os 10 municípios
analisados exibia IDHM de 0,33. Esse valor estar 49,7% distante da fronteira de baixo
desenvolvimento. Por outro lado, os melhores índices de desenvolvimento observados no período
pertencem ao munícipio de Major Sales. Com um IDHM de 0,46. É importante destacar sua
evolução de 7a posição para o melhor IDHM da região.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5: Mapas temáticos do IDHM das cidades do Alto Curso – 2000

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

Buscando entender o comportamento evidenciado pela Figura 5 analisam-se a partir da


Tabela 2, as informações desagregadas por setores. No tocante a educação, é disparada a maior
carência regional. Em termos práticos, o IDHM médio alusivo à educação é de 0,26. Ou seja, bem
abaixo da próxima categoria de desenvolvimento. Mesmo tendo dobrado o indicador na década é
importante destacar a pobreza educacional da região. Pois, precisaria ainda dobrar suas
potencialidades na próxima década para atingir a zona de baixo desenvolvimento.
Quanta renda dos municípios que compõe a amostra, o indicador médio evidência ainda um
muito baixo grau de renda de seus moradores. Comparado a 1991, houve um acréscimo médio de
renda em torno de 40%. Cabe destacar que o valor de renda observada nesses municípios no ano de
1991 era muito baixo52. Em termos nacionais, estava-se 5,36 vezes abaixo da renda média
observada para o mesmo período, que era de R$ 447,56.

Tabela 02: IDHM do Alto Curso da BHRAM - 2000


Município IDHM IDHM-R IDHM-L IDHM-E
Coronel João Pessoa 0,41 0,44 0,65 0,24
Doutor Severiano 0,43 0,43 0,65 0,29
José Penha 0,45 0,49 0,71 0,25
Luís Gomes 0,43 0,46 0,71 0,23
Major Sales 0,46 0,46 0,70 0,31
Paraná 0,43 0,43 0,65 0,28
Riacho Santana 0,44 0,42 0,67 0,31
São Miguel 0,45 0,47 0,67 0,29
Tenente Ananias 0,41 0,43 0,66 0,23
Venha ver 0,33 0,38 0,61 0,16
Alto Curso da BAHRAM 0,42 0,44 0,67 0,26
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

52
Segundo dados Atlas Brasil (2013), o valor da renda média é R$ 83,54.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 985


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Já no âmbito da saúde/longevidade, os números são bem mais animadores. O indicador da


saúde médio era de 0,67. Porém, esses resultados contratam com os outros indicadores observados.
Uma vez que, em uma região com muito baixo desenvolvimento em educação e renda era de se
esperar baixas expectativas de vida. Acredita-se que tal fenômeno possa ser explicado pelas
características de vida dos moradores dessa região.
No referente à década de 2010, conforme ilustra a Figura 5, todos os municípios
pertencentes ao Alto Curso evoluíram de classificação. Embora, 50% apresentavam baixo
desenvolvimento humano. Apenas os municípios Doutor Severiano, José da Penha, Luiz Gomes,
Major Sales, São Miguel evoluíram para médio desenvolvimento humano.

Figura 6: Mapas temáticos do IDHM das cidades do Alto Curso - 2010

Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

Dos cinco municípios que evoluíram para essa categoria em 2010, Major Sales exibe o
maior avanço na qualidade de vida no período. Em números, saltou de 0,30 para 0,61. Ou seja,
incrementou seu índice de desenvolvimento municipal em 103,3%. Embora ainda se encontrasse em
médio nível de desenvolvimento é plausível considerar o desempenho observado como satisfatório.
Por outro lado, o município de Paraná proporcionou o comportamento mais modesto.
Evoluindo seus indicadores em 86%. Além disso, observou-se em 2010, um IDHM médio da
BHRAM/RN de 0,60. Onde todos os 10 municípios em média elevaram o nível de qualidade de
vida 102,37%. Sob essa ótica é prudente verificar que em 20 anos os municípios que compõe a
região da BHRAM duplicaram seus indicadores sociais.

Tabela 03: IDHM do Alto Curso da BHRAM - 2010


Município IDHM-M IDHM-R IDHM-L IDHM-E
Coronel João Pessoa 0,58 0,55 0,75 0,47
Doutor Severiano 0,62 0,56 0,75 0,57
José Penha 0,61 0,58 0,79 0,49
Luís Gomes 0,61 0,54 0,78 0,53

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 986


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Major Sales 0,61 0,57 0,77 0,53


Paraná 0,59 0,53 0,78 0,50
Riacho Santana 0,59 0,54 0,78 0,49
São Miguel 0,61 0,57 0,75 0,52
Tenente Ananias 0,59 0,57 0,78 0,46
Venha ver 0,56 0,50 0,72 0,47
Alto Curso da BAHRAM 0,60 0,55 0,76 0,50
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados.

Em geral, retratado na Tabela 3, o município de Venha-Ver tinha a pior avaliação de


desenvolvimento regional. Comparando ao RN o município estava 23% aquém e ocupava o 162°
lugar dentre os 167 municípios. Em contrapartida, Doutor Severiano apresentava o melhor IDHM.
Isto é, 062. Mesmo assim, expunha um indicador 10% inferior ao observado em relação a todo
estado. E no ranking geral ocupava a 57a posição. Quando comparado ao Brasil, esse gap se torna
maior. Ou seja, respectivamente essa diferença sobe para aproximadamente 36% e 13%.
Designadamente, o município de Tenente Ananias era o que possuía o pior nível
educacional. Já Doutor Severiano denotava a melhor educação entre os municípios analisados.
Porém, os resultados para o grupo analisado são tão modestos, que quando comparados a
municípios como São Caetano do Sul – SP, o diferencial observado chega 73%.
Quanto ao indicador de longevidade, nitidamente era o que demonstrava os melhores níveis
obtidos. Nesse aspecto, o município de Tenente Ananias era o mais qualificado. E a pior expectativa
de vida era observada em Venha-ver. Porém, conforme descrito acima, os níveis de
desenvolvimento referentes à educação e renda da região são classificados, em 2010, como baixo
desenvolvimento mesmo após duas décadas analisadas. Apesar de ter havido uma evolução no
período analisado, esse processo ocorreu de forma lenta. Pois, se compararmos aos valores
nacionais, de acordo com o relatório Atlas do Brasil (2013), tem-se que a renda média observada na
região era R$ 253,56 contra 793,87. Isto é, os níveis de renda média do Alto Curso da BHRAM
para esse ano eram de 3,13 inferiores a observada para o Brasil.
Esse achado certamente retrata os altos níveis de desigualdade de renda vividas no Brasil,
em especial, referentes às Regiões Norte e Nordeste. Se compararmos a renda média da região a
obtida no estado mais rico do país veremos que essa desigualdade de renda eleva-se
consideravelmente. Em números, o estado de São Paulo em 2010 obtinha uma renda média de R$
1.084,46. Ou seja, os paulistanos exibiam uma renda média 4,28 vezes maiores do que a região
analisada. Mesmo que se tenha que considerar as diferenças dos custos de vida de cada região.
Já no que se refere à educação, a desigualdade evidenciada também era um pouco brusca.
Pois, o indicador de educação brasileiro em 2010 era de 0,64 contra 0,50 da região do Alto Curso.
Apresentavam-se em classificações diferentes, ou seja, respectivamente, médio e baixo
desenvolvimento educacional, com uma diferença média de 28%. Entretanto, Esse resultado não

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

deve ser de forma alguma comemorado. Uma vez que informa a educação brasileira como de média
qualidade, em um todo.

5. CONCLUSÃO

Esta pesquisa procurou analisar a evolução e comportamento do IDHM na Região do Alto


Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi/Mossoró no período de 1991 a 2010. A fim de capturar
o comportamento desses indicadores aplicaram-se ferramentas de georreferenciamento espacial.
Especificamente utilizou-se o Sistema de Informações Geográficas. Os resultados apontaram para
uma situação de subdesenvolvimento na região estudada.
Especificamente, os resultados referentes à qualidade e desenvolvimento educacional são os
que mais preocupam. O IDHM educação relata o descaso de políticas publicas educacionais na
região. Pois, dos 10 municípios pertencentes à região apenas quatro conseguiram evoluir de muito
baixo desenvolvimento educacional para baixo desenvolvimento educacional após duas décadas.
Numericamente, evolui-se de um indicador médio de 0,13 em 1991 para 0,50 em 2010.
Os resultados referentes a fator renda são similares. O que vai de encontro uma das
principais teorias econômicas. Isto é, quanto maior o desenvolvimento educacional de uma
sociedade maior a renda de seus agentes. Especificamente, sai-se de um indicador de 0,37 para 0,55.
Ou seja, elevou-se o indicador em 48,7% em 20 anos. Os melhores resultados foram exibidos pelo
indicador de longevidade. Em termos práticos, em 1991, nove dos dez municípios apresentavam
baixo desenvolvimento. Isto é, apenas a cidade de Luiz Gomes exibia médio desenvolvimento em
saúde. E em 2010, os números são bastante satisfatórios no tocante a longevidade. Ou seja, a região
do Alto Curso, sem exceções, apresentava alto desenvolvimento desse indicador.
Contudo, diante dos resultados observados, especialmente, aos referentes à educação e renda
sugerem diversos questionamentos. Por exemplo, porque após duas décadas a Região não conseguiu
evoluir satisfatoriamente nesses aspectos? Embora, esse comportamento se repita para maior parte
das regiões potiguares e outras tantas pelo país. Nesse sentido, acredita-se que a maior contribuição
dessa pesquisa foi proporcionar o avanço de pesquisas nesse sentido. Uma vez que, poderíamos
tentar associar o baixo desempenho desses fatores a aspectos políticos, como também, a ausências
de políticas públicas efetivas.

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WINZER, Lylla. Relação entre o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal e taxas de mortes
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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PROJETO GTAR- VERDELUZ: O OCEANO COMO FONTE DE EDUCAÇÃO


AMBIENTAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CE

Alice Frota FEITOSA


Graduanda em Ciências Biológicas UFC
alicefrota_1@hotmail.com
Gabriel Chagas de LIMA
Graduando em Ciências Biológicas UFC
gabrielclgabriel@gmail.com
Rodrigo Rabêlo de Castro SOUSA
Graduando em Medicina Veterinária UECE
rodrigo_rcs@live.com
Carminda Sandra Brito SALMITO-VANDERLEY
Doutora em Ciência Animal pela UFMG e professora adjunta da UECE
sandra.salmito@uede.br

RESUMO
O Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR-Verdeluz), hoje projeto de
extensão da UFC e da UECE, e projeto do Instituto Verdeluz, começou sua atuação no litoral
fortalezense em 2014, propondo-se a desenvolver atividades de educação ambiental nas
comunidades do Serviluz e da Boca da Barra da Sabiaguaba, em escolas e no formato de
capacitações voltadas para profissionais. A sensibilização e informação da população de Fortaleza
com o tema de conservação dos oceanos e proteção do espaço em que vivem é de extrema valia
para o futuro de todos que convivem em Fortaleza. Dentre as problemáticas que abordamos nas
atividades estão a conservação dos oceanos, a desova das tartarugas na costa cearense e a
desconfiança da comunidade com as pessoas do projeto. O período escolhido para abordagem do
presente trabalho foi de Fevereiro de 2016 a Junho de 2017, quando houve a formalização das
atividades por meio de Projetos de Extensão nas Universidades Federal e Estadual do Ceará.
Durante o período foram desenvolvidas 22 ações de educação ambiental, com apoio de entidades
locais, com as crianças das comunidades alvo e de escolas, além de seis ações externas como
capacitações e exposições públicas, alcançando diretamente cerca de 860 pessoas entre cinco e 60
anos em nossas atividades. O trabalho na Sabiaguaba e no Serviluz, principalmente, fora proveitoso,
tendo como resultado a participação dos moradores locais no registro das ocorrências de tartarugas
e problemas ambientais nas comunidades, formando uma rede de troca de informações, integrando
a comunidade e o meio acadêmico. Embora os resultados sejam promissores, as atividades precisam
ser expandidas para outras localidades de Fortaleza, bem como a outros profissionais que
necessitem de capacitações acerca do tema dos oceanos.
Palavras-Chave: Tartarugas, Instituto Verdeluz, Ensino, Capacitação, Conservação.
ABSTRACT
The Marine Turtle Studies and Joints Group (GTAR-Verdeluz), today a UFC and UECE extension
project, and a Verdeluz Institute project, began its activities in the in 2014 at Fortaleza‘s coast.
Aiming to develop environmental education activities in the communities of Serviluz and Boca da
Barra da Sabiaguaba, in schools and in the form of technical capacitation for professionals. The
awareness and information of the population of Fortaleza with the oceans conservation theme and
protection of the space in which they live are from an extreme value for the future of all who live in

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 990


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Fortaleza. Among the problems we work in the activities are the conservation of the oceans, the
spawning of turtles on the coast of Ceará and the distrust of the community with the people of the
project. The period chosen to approach this work was from February 2016 to June 2017, when the
activities were formalized through Extension Projects at the Federal and the State Universities of
Ceará. During the period, 22 environmental education actions were carried out, with the support of
local entities, the children of the target communities and schools, as well as 6 external actions such
as technical capacitation and public exhibitions, directly reaching about 860 people between 5 and
60 years old. The work at Sabiaguaba and Serviluz had been excellent, resulting in the participation
of local residents in the recording of occurrences of turtles and environmental problems in the
communities, forming a network of information exchange integrating the community and the
academic environment. Although the results are promising, the activities need to be expanded to
other locations in Fortaleza, as well as to other professionals who need training on Oceans.
Keywords: Turtles, Verdeluz Institute, Teaching, Training, Conservation.

INTRODUÇÃO

O Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR-Verdeluz) surgiu em


2014 a partir do encalhe de uma tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) viva que posteriormente
morreu devido à demora no resgate e reabilitação, na região do Titanzinho, no Serviluz, bairro de
Fortaleza-CE, próximo à Associação Boca do Golfinho, um lugar de atuação do então Projeto
Verdeluz. Sabe-se que existem sete espécies de tartarugas marinhas no mundo, ocorrendo cinco
delas no litoral brasileiro, inclusive na costa do Ceará, estando todas em risco extinção de acordo
com a International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN). Como os
registros em Fortaleza eram escassos, o foco do GTAR-Verdeluz passou a ser entender a
problemática acerca de encalhes e desovas dos quelônios marinhos na orla e documentar as
ocorrências, observadas também pelas praias do Futuro, Sabiaguaba, Abreulândia, Barra do Ceará,
dentre outras.
Conforme o Grupo estudava, buscava capacitação e apoio de projetos de conservação, como
a AQUASIS e o Projeto TAMAR, foi entendido que seria necessário que houvesse ações periódicas
de Educação Ambiental nas comunidades do Serviluz e da Boca da Barra da Sabiaguaba,
trabalhando prioritariamente com crianças de três a 13 anos, que viriam a atuar em suas famílias
como multiplicadores dos conhecimentos adquiridos, além de escolas da Capital e capacitações
voltadas para profissionais federais e estaduais.
Dentre as problemáticas abordadas nas atividades estão o lixo nas praias, a conservação dos
oceanos, a desova das tartarugas em alguns pontos da costa cearense, o encalhe delas próximo à
área habitada da praia e a desconfiança da comunidade com as pessoas do projeto. Tais problemas
persistem, dentre outros fatores, devido à negligência de informação dos órgãos competentes dentro
das comunidades quanto aos pontos de coleta do lixo, a inexistência de coleta seletiva pública e os
fatores que afetam não somente a conservação marinha, mas também do local onde moram.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A medida que o Grupo foi se inserindo nas discussões em favor da fauna marinha e da
educação na cidade de Fortaleza, passou a contar com assentos nos Conselhos Gestores das
Unidades de Conservação da Sabiaguaba (Parque Natural Municipal das Dunas e APA da
Sabiaguaba), criadas em fevereiro de 2006, e Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio,
estabelecendo também parceria com o Projeto TAMAR e a Secretaria de Urbanismo e Meio
Ambiente de Fortaleza (SEUMA). São áreas de relevante interesse ecológico e contam com a
presença de comunidades tradicionais pesqueiras, que convivem em harmonia com o espaço.
Resultados de trabalhos feitos na praia da Sabiaguaba sugerem que os impactos antrópicos
na região provavelmente afetam diretamente esses quelônios marinhos, dentre eles o tráfego de
carros na região de praias, que prejudica o acesso das fêmeas para ovoposição, e provoca a
compactação dos ninhos, o que dificulta o percurso dos neonatos até o mar; O descarte de lixo nas
praias; O abandono de cães na praia, que, de acordo com relatos, chegam a violar os ninhos para
comer ou por curiosidade, diminuindo o número de filhotes nascidos.
Em 2016, o Grupo adquiriu licença do Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade (SISBIO- 53083-2) e oficialização de vínculo institucional com a UECE, por meio
do Projeto de Extensão intitulado ―Existem tartarugas marinhas em fortaleza: interação com a
comunidade para identificar ameaças e traçar planos de conservação e conscientização ambiental‖.
Além de realizar registro das ocorrências nas praias, o Grupo passou a realizar necropsia dos
animais encontrados mortos, que não estivessem em estado avançado de decomposição, para a
pesquisa da causa mortis, em parceria com os Laboratórios de Anatomia e Patologia e Medicina
Legal Veterinária, a fim de propor ações mitigatórias para a redução da mortalidade.
A sensibilização e informação da população de Fortaleza com o tema de conservação dos
oceanos e proteção do espaço em que vivem é de extrema valia para o futuro de todos que
convivem na cidade litorânea. Os trabalhos têm se mostrado eficazes com a participação dos
moradores locais no registro das ocorrências de tartarugas e problemas ambientais nas
comunidades, formando uma rede de troca de informações, integrando a comunidade e o meio
acadêmico.

Unidades de Conservação existentes nas áreas alvo das atividades

De acordo com o Plano de Manejo do Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba
(PNMDS) e Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba, elaborado em 2010 pela prefeitura
de Fortaleza em parceria com o Centro de Educação Popular em Defesa do Meio Ambiente
(CEPEMA), o PNMDS foi criado em 2006 como área de proteção integral, possuindo 467.60
hectares. Foi efetivado através do decreto municipal nº 11.986, de 20 de fevereiro de 2006, tendo
como objetivo a preservação dos ecossistemas naturais existentes, viabilizando a realização de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental para os


frequentadores da região. A região abriga ainda a (APA) da Sabiaguaba, possuindo 10009.74
hectares.
A criação do Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio ocorreu por meio da Lei
Estadual Nº 12.717 de cinco de setembro de 1997, com o objetivo de proteger uma área de
produção e alimentação das espécies marinhas, além de resgatar a pesca artesanal e desenvolver
estudos e programas sustentáveis para a pesca na região, bem como a pesquisa científica.

Por que o estudo de Ecologia e Meio ambiente?

Estudar ecologia é imprescindível para a compreensão da interação ser humano-natureza,


especialmente na atual conjuntura socioambiental do meio ambiente se torna cada vez mais
degradado nas mãos do homem, em busca de retirar dele todo o proveito para sua vida e para seu
excesso de consumismo. Dessa forma, a ecologia no seu sentido mais amplo é aporte fundamental
para a discussão dos profundos problemas ambientais existentes ao nosso redor.
Na verdade, a crise ambiental não passa de uma profunda crise humana que envolve,
portanto, valores, perspectivas, e projetos de desenvolvimento social (FIGUEREDO, 2007, p. 73)
Porém, não deixa de ser uma crise moral, acerca dos nossos padrões de consumo insustentáveis.
Para o mesmo autor (2007, apud OLIVEIRA 2007, p. 65), o que permanece em crise, hoje, é a atual
cultura de vida humana. A crise ecológica, assim, representaria, em seu cerne, um conflito da
relação homem-natureza.
Precisamos reconhecer em nós mesmos "que estamos todos inseridos nos processos cíclicos
da natureza e que deles dependemos para viver." (CAPRA, p. 01). É necessário refletirmos a
construção de uma ecologia realmente envolvida com o cuidado da natureza, nos colocando como
parte dela, percebendo que fazemos parte intrínseca de seu diagrama de inter-relações, ao invés de
atribuir a ela "um valor apenas instrumental ou utilitário." (CAPRA, p. 01).
Podemos ressaltar ainda que a educação ambiental crítica se propõe a desencobrir a
realidade, para, ao impor seu processo educacional, promover a mudança real de nossa sociedade,
revelando, de forma concreta, sua forma política de ação. Portanto, na educação formal, certamente
esse processo educativo não se basta dentro dos muros de uma escola (GUIMARÃES, 2004, p. 34).
Ainda para o mesmo autor:

A proposta da ação pedagógica da Educação Ambiental Crítica vir a ser desenvolvida


através de projetos que se voltem para além das salas de aula pode ser metodologicamente
viável, desde que os educadores que a realizam conquistem em seu cotidiano a práxis de
um ambiente educativo de caráter crítico.

Assim, precisamos de uma educação voltada a uma formação ecológica e humana, capaz de
formar seres humanos comprometidos com o respeito ao ambiente, pois, segundo Figueiredo 2007

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(p. 21), "uma práxis ambiental transformadora" só pode ocorrer "por meio de uma práxis educativa
dialógica".

Objetivos

A presente pesquisa tem como objetivo principal a análise dos trabalhos de Educação
Ambiental desenvolvidos no período de Fevereiro de 2016 a Julho de2017, procurando avaliar e
refletir sobre os aspectos positivos e negativos das atividades desenvolvidas no período, além de
quantificar e qualificar as atividades realizadas e seu público alvo.

Desenvolvimento

O presente trabalho buscou a pesquisa qualitativa e quantitativa como metodologia de


análise de seus resultados. De acordo com POLIT et al. (2004) os métodos qualitativos estão mais
relacionados com o levantamento de dados acerca das motivações de determinados comportamentos
grupais, buscando compreender as expectativas dos indivíduos de uma população. Procuramos
utilizar como recurso principal a observação de campo, analisando os resultados comportamentais
antes e depois das atividades serem realizadas. Já a pesquisa quantitativa busca seus resultados
através de dados concretos e palpáveis, de modo que utiliza procedimentos estruturados e
instrumentos formais para coleta de dados. Quando colocados juntos na pesquisa, ambos os
métodos propiciam melhores análises dos resultados, principalmente quando se lida com ensino e
extensão universitária.
As atividades realizadas nos bairros da Sabiaguaba e Serviluz possuíam um calendário
mensal, sendo programada uma atividade por mês em cada bairro, com o propósito de atender de 10
a 20 crianças. As aulas de Educação Ambiental voltadas para turmas esporádicas de escolas ou de
ONGs ocorriam de acordo com a solicitação de cada instituição, não possuindo um cronograma
planejado com antecedência. Um plano de aula para cada atividade foi elaborado, possuindo
duração média de 3h. Uma gama de métodos de abordagem dos temas das aulas foi utilizada, desde
aulas expositivas com slides e vídeos à formulação de peças de Teatro. Para produzir os planos de
aula, foi utilizado principalmente o livro ―Guia do Professor - Nossas águas sempre limpas‖,
elaborado pelo Projeto TAMAR e publicado pelo Instituto Arcor Brasil. Ao final de cada atividade
havia uma conversa em grupo, com o propósito dos alunos se auto avaliarem quanto ao
aprendizado, bem como para os educadores analisarem as diferenças de opiniões e pensamentos
antes e depois das atividades.
As capacitações realizadas atenderam à demanda dos grupos-alvo abordados, e consistiam
em uma parte teórica e outra prática. Para a parte teórica utilizou-se de slides e vídeos para abordar
os eixos temáticos de problemas ambientais relacionados a fatores antrópicos, encalhes e desovas de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

tartarugas marinhas, pesca predatória e o histórico biológico dos quelônios no mundo, dentre outros.
A parte prática foi o segundo momento da capacitação, reforçando os conhecimentos teóricos e
ensinando como atuar frente a diversas ocorrências. Ao final de cada capacitação uma roda de
conversa foi realizada, objetivando analisar o aprendizado dos alunos.
As atividades abertas ao público tinham o propósito de informar à população sobre a
ocorrência de tartarugas marinhas em Fortaleza, bem como explicar como os impactos antrópicos
têm causado grandes impactos ao ciclo de vida destes animais. Para a sensibilização das pessoas,
foram realizadas exposições, de modo a realizar a divulgação científica do modo mais amplo
possível, utilizando de recursos digitais, exposição de espécimes em formol e taxidermizados,
atividades lúdicas, brincadeiras, pinturas de rosto, dentre outros. Durante cada evento, uma
abordagem mais pessoal com cada pessoa atingida foi realizada, buscando retificar as dúvidas e os
pré-conceitos de cada indivíduo a cerca do que era exposto. Os temas abrangiam desde conservação
marinha a problemáticas relacionadas a resíduos urbanos. Ao final de cada exposição era
contabilizado o número de pessoas atingidas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atividades Desenvolvidas

ATIVIDADE PERÍODO (MESES) QUANTIDADE DE Nº DE PESSOAS


ATIVIDADES ATINGIDAS
DIRETAMENTE

Educação ambiental 2016 - 13 atividades


Fevereiro de 2016 a
nos Bairros Serviluz 250
Maio de 2017 2017 - 4 atividades
e Sabiaguaba

Atividades de
Educação Ambiental Fevereiro de 2016 a 2016 -3 atividades
280
Externas/Abertas ao Junho 2017 2017- 1 atividade
público *

Atividades de
Maio, Junho e Julho de
Educação Ambiental 2017 - 5 atividades 148
2017
em Escolas/ONGs

Junho de 2016 e Junho 2016 - 1 atividade


Capacitações 162
de 2017 2017 - 1 atividade

Março de 2016 a Junho 2016 - 4 atividades


Limpezas de Praia 150
de 2017 2017 - 1 atividade

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quadro 1: Registro de Atividades de Educação Ambiental entre Fevereiro de 2016 e Julho de 2017.
*Enquadram quaisquer atividades que não envolvem um público alvo delineado e específico: Ex. Exposição
acerca da diversidade marinha em Fortaleza aberta ao público.

Atividades de Educação ambiental realizadas nos Bairros Serviluz e Sabiaguaba

No bairro Sabiaguaba foram atingidas, em média, 10 crianças por atividade, de faixa etária
de 4 a 12 anos. No bairro Serviluz o público possuía entre 8 e 16 anos, sendo atingidas, em média,
20 crianças por atividade. O trabalho de Educação Ambiental na Sabiaguaba gerou 10 ações no
período analisado, e se mostrou eficaz com a participação voluntária dos moradores locais, muitos
deles pais ou familiares das crianças que participavam das atividades, no registro das ocorrências de
tartarugas na praia, formando uma rede de troca de informações, integrando a comunidade e o meio
acadêmico e quebrando um pouco a barreira que existe entre esses dois grupos sociais. Porém,
durante o passar dos meses, foi constatado a diminuição do número de crianças em cada atividade,
possivelmente creditado a conflitos internos da comunidade, gerado devido a alguns outros projetos
anteriormente inseridos na comunidade, que haviam gerado o sentimento de uso das comunidades
para fins acadêmicos, sem retornos palpáveis ou continuidade das atividades.
No Serviluz foram realizadas 7 atividades, com o decorrer de cada uma foi notado uma
maior aceitação dos jovens, bem como um número crescente de pessoas atingidas, demonstrando
maior aceitação desta comunidade com as propostas pedagógicas do projeto. Notamos que, a partir
da parceria com a comunidade, que reconhece a dedicação e o empenho dos estudantes em buscar
melhorias e incentivos locais para a preservação da APA, o trabalho, tanto de pesquisa, quanto de
educação ambiental nas comunidades, tornou-se mais eficiente.

Atividades de Educação Ambiental em Escolas/ONGs

Procurando métodos lúdicos e interativos de divulgação científica e educação ambiental,


atividades foram realizadas em instituições de ensino formais. Durante o ano, foram realizadas 2
atividades com as turmas de 1º e 2º ano do ensino fundamental na escola particular Colégio Santa
Izabel, com 6 turmas, e 2 atividades na Escola de Aplicação Yolanda Queiroz (financiada e
gerenciada pelo grupo Edson Queiroz), com 4 turmas, totalizando 150 crianças atingidas
diretamente. A realidade das duas escolas é bastante diferente, porém a curiosidade dos alunos e a
ansiedade de informação foram parecidas. As atividades envolveram uma pequena palestra e uma
posterior roda de conversa acerca da preservação dos animais marinhos com enfoque em tartarugas,
e a confecção de uma tartaruga personalizada de garrafa pet, a qual os alunos podiam levar para
casa. O Colégio Santa Izabel limitou bastante o tempo das atividades, nos dando pouca flexibilidade
quanto à adaptação do planejamento inicial, e foi notório o pesar dos alunos com o pouco tempo
que possuíram conosco. Já na Escola de Aplicação Yolanda Queiroz nos foi dado maior autonomia

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 996


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e pudemos desenvolver as atividades de forma mais adaptada e prazerosa com os alunos. Notamos
que, mesmo com a pouca idade, entre seis e oito anos, as crianças queriam sempre falar o que
sabiam e o que já haviam visto nas praias que foram com os pais, e alguns relataram que já haviam
visto tartarugas, inclusive alguns tinham jabutis de estimação e sabiam a diferença entre os grupos
terrestres, marinhos e dulcícolas de testudines. Em ambos os casos, obtivemos resultados
satisfatórios quanto ao aprendizado e curiosidade dos alunos, que tiveram tempo de nos relatar o
que pensavam sobre a temática das tartarugas na cidade em que moravam e como achavam que
podiam colaborar com sua preservação.
Uma atividade foi realizada na ONG AQUASIS (Associação de Pesquisa e Conservação de
Ecossistemas Aquáticos), com 12 crianças entre nove e 14 anos, como aula piloto para uma possível
parceira com atividades mensais ministradas pelo Grupo. A turma a qual lecionamos participa de
2017 atividades diárias na ONG há pelo menos um ano, dependendo do aluno, nos proporcionando
uma experiência mais rica, uma vez que as crianças tinham contato com o tema da preservação
marinha e sabiam bastante dos problemas enfrentados por esse ecossistema. O tema principal foi a
preservação das tartarugas marinhas no litoral de fortaleza com enfoque nos procedimentos com
encalhes e desovas, onde os alunos puderam falar sobre o que já sabiam e sobre o que tinham
dúvidas.

Exposições e Limpezas de praia

Com o intuito de disseminar informações sobre tartarugas marinhas e informar a população


sobre a ocorrência das mesmas no litoral fortalezense, foram realizadas algumas atividades externas
como a participação na Semana da Criança, promovida pelo Zoológico Municipal de Fortaleza,
Sargento Prata, com o alcance de aproximadamente 200 crianças em dois dias de atividade.
Foram realizadas limpezas de praia na Sabiaguaba, que contaram com o apoio de moradores
locais, da SEUMA através do fornecimento de sacos plásticos, luvas e lanche para as atividades,
além de voluntários alcançados através de divulgação das atividades nas páginas de Facebook e
Instagram ou por convite das crianças e educadores do projeto.

Capacitações

Em 2016 e 2017 foram realizadas duas capacitações internas do corpo de membros do


GTAR-Verdeluz para a reciclagem dos conhecimentos e discussão dos principais desafios
encontrados nas atividades de campo, com as principais alternativas a serem aplicadas, ambas
ocorridas no primeiro semestre de cada ano. Em junho de 2017 foi realizada uma capacitação
externa com o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado do Ceará, abordando a biologia das
espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, impactos antrópicos sobre os oceanos,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 997


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

manobras de salvamento e atuação em situações de encalhes de animais vivos ou mortos e


nidificação na faixa de praia. Esta última capacitação ocorreu de uma demanda local por
informações, tendo em vista que há uma mudança periódica no corpo de membros do Corpo de
Bombeiros, fazendo-se necessárias capacitações periódicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades propostas pelo GTAR-Verdeluz foram cumpridas e foi possível observar


pontos positivos e negativos quanto à execução das mesmas e a aceitação do público alvo. Gerando
para o grupo reflexões sobre o que podemos acrescentar e retirar de nosso planejamento e como
podemos atingir um maior público e da melhor maneira. É importante salientar que o crescente
reconhecimento do projeto GTAR-Verdeluz pela comunidade fortalezense tem sido importante para
o desenvolvimento das ações propostas, porém, existem muitas limitações para a realização de
todas as atividades que o projeto vem propondo ao longo dos últimos dois anos. A falta de verba
para confecção de atividades mais elaboradas, em espaços mais propícios e que possam atingir mais
pessoas ainda é um aspecto de grande impacto negativo nos resultados das atividades. A
negligência dos órgãos competentes em capacitar seus funcionários, principalmente os que lidam
diretamente com o ambiente marinho, é notável, além da despreocupação em pôr em prática um
plano de educação ambiental público que atinja toda a comunidade da Capital.
Embora as tartarugas existam em nosso litoral a muito mais tempo do que nós, a grande
maioria da população de Fortaleza desconhece sua existência e os problemas que enfrentam em
nossas praias turísticas. A própria mídia pouco divulga os casos que acontecem semanalmente, e a
informação dos cidadãos e a capacitação dos profissionais que lidam com essas problemáticas fica
de responsabilidade de projetos como o GTAR-Verdeluz. Estamos alcançando cada vez mais
pessoas e agregando cada vez mais cidadãos para essa causa tão importante de preservação.

REFERÊNCIAS

CAPRA, Fritjof. Alfabetização Ecológica: O desafio para a educação do século 21. In:

FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 24. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

FIGUEIREDO, João Batista de Albuquerque. Educação Ambiental Dialógica: As contribuições de


Paulo Freire e a cultura sertaneja nordestina. Fortaleza: UFC Edições, 2007.
GUIMARÃES, MAURO. Educação ambiental crítica. In: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE.
Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília. 2004.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 998


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem:


métodos, avaliação e utilização. Trad. de Ana Thorell. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 999


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O EXERCÍCIO CRÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

Amanda Rayza Brito dos PRAZERES


Graduanda do curso de Serviço Social da UFPE
Amanda.brito0708@hotmail.com
Maria das Graças e SILVA
Professora Doutora do Departamento de Serviço Social da UFPE
Gracita.pe@gmail.com
Mikaelle Gondim CORDEIRO
Assistente social na Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Recife-PE
mikaelle@recife.pe.gov.br
Rebeca Gomes de Oliveira SILVA
Graduanda do curso de Serviço Social da UFPE
Rebecagomes.gomes@gmail.com

RESUMO
Esse relato trata da experiência profissional na Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente do Recife-PE, no monitoramento de projetos de educação ambiental desenvolvidos pelas
escolas municipais no Programa Educar para uma Cidade Sustentável. Aborda a importância da
educação ambiental emancipatória no enfrentamento da ―questão ambiental‖ e a atuação do Serviço
Social neste campo.
Palavras-Chave: Educação ambiental; Serviço Social; Emancipação Social.
ABSTRACT
This report deals with professional experience in the Secretariat of Sustainable Development and
Environment of Recife-PE, without monitoring of environmental education projects developed by
municipal schools, not the Educating for a Sustainable City Program. It addresses the importance of
emancipatory environmental education without confronting the "environmental issue" and an
update of Social Service in this field.
Keyworks: Environmental education; Social Work; Emancipation Social.

INTRODUÇÃO

O relato em tela consiste na experiência profissional no âmbito da Secretaria de


Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (SDSMA) da Prefeitura do Recife - PE, com
atuação no Divisão de Educação Ambiental –DEA, realizando o acompanhamento dos projetos de
educação ambiental inscritos no programa educação ambiental que está vigente desde 2014
intitulado ―Programa Educar para uma Cidade Sustentável‖. Dentre as várias linhas de ação do
Programa, está a ―Educação ambiental nas Instituições de Ensino‖, objetivando implementar ações
de educação ambiental. Este programa tem a finalidade de formar educadores ambientais visando a
compreensão das problemáticas ambientais tanto do entorno da escola quanto planetária.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1000


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Profissionais do Serviço Social compõe a equipe multiprofissional que atua no programa, ficando
responsável por escolas de uma determinada região político administrativa (RPA), visando um
acompanhamento das etapas dos projetos submetidos ao programa.
Este programa se vincula intimamente ao movimento global de expansão da discussão sobre
as transformações ocasionadas pela intervenção humana no meio ambiente, impulsionada pelo
modo de produção capitalista, o qual é metabolicamente destrutivo (MESZAROS, 2008). Trazendo
à tona a discussão sobre a importância da educação ambiental como modo de intervenção e
administração da ―questão ambiental‖.
Ao realizar o monitoramento dos referidos projetos verificamos uma tendência a
intervenções sob o viés de educação ambiental instrumental, entendemos que historicamente esta
vertente está centrada em mudanças comportamentais, responsabilizando o indivíduo,
desconsiderando a estrutura sócio histórica. Desse modo, a educação ambiental instrumental
contribui para a propagação da lógica do capital, pois propõe apenas reformas, administrando a
―questão ambiental‖, eximindo de responsabilidade a estrutura social e o modo de produção
(LOUREIRO, 2006).
Visando a mudança e o aprofundamento crítico desse modo de educação ambiental,
realizamos o acompanhamento de forma a incentivar junto aos professores o fomento a consciência
crítica para a elaboração e realização das atividades juntos aos alunos que contribuam para o
entendimento acerca das problemáticas ambientais de modo a ultrapassar a imediaticidade. É
possível perceber mudanças significativas na abordagem e olhar acerca dessa problemática,
demonstrando que a prática do Serviço Social potencializa o exercício da educação ambiental
emancipatória, de modo a questionar o modo de produção capitalista. Dessa forma, pois, o Serviço
Social contribui para que a intervenção na ―questão ambiental‖ não se paute em reformas pontuais,
mas que esteja baseada na perspectiva transformadora, tendo como finalidade formar agentes
políticos que compreendem o espaço no qual estão situados, e que intervenham na realidade a fim
de transformá-la.
Portanto, a partir da experiência no exercício profissional, dos materiais bibliográficos e de
documentos, pretendemos nesse relato trazer a reflexão o modo como a educação ambiental em sua
vertente próxima a ideologia burguesa tem contribuído para a manutenção do sistema econômico
vigente e destacar a importância da educação ambiental emancipatória como forma de
transformação da realidade. Salientamos que o Serviço Social atua visando à perspectiva de
educação ambiental emancipatória, baseando-se em seu projeto ético-político que possui valores
emancipatórios que possibilitam que os/as profissionais de Serviço Social realizem escolhas que
contribuam para superação da ordem capitalista.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1001


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CARACTERISTICAS E DIRETRIZES DO PROGRAMA EDUCAR PARA UMA CIDADE


SUSTENTÁVEL

O Programa Educar para uma Cidade Sustentável foi criado em 2013, sendo o Programa
Municipal de Educação Ambiental da Cidade do Recife desenvolvido pela Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (SDSMA). No âmbito da ―Educação Ambiental
nas Instituições de Ensino‖ atua em parceria com a Secretaria Municipal de Educação com o intuito
de forma de educadores ambientais, com vista a intervir na problemática ambiental local como
forma de transformação da realidade. O mesmo conta com a participação voluntária de 99
instituições de ensino (escolas, creches e centros municipais de educação infantil), totalizando 25
mil estudantes envolvidos.
Ancorado no viés da sustentabilidade que ―está normalmente relacionado com uma
mentalidade, atitude ou estratégia que é ecologicamente correta, viável a nível econômico,
socialmente justo e com uma diversificação cultural‖ (Caderno do Professor, Diretrizes do
Programa de Educação Ambiental do Recife, 2014). O mesmo tem como desafio conquistar, através
da educação, uma cidade sustentável.
O referido Programa rege-se pelos princípios básicos da Educação Ambiental estabelecidos
na Lei Federal nº 9.795/1999, quais sejam:

I – o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;


II – a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência
entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III – o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e
transdisciplinaridade;
IV – a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V – a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI – a permanente avaliação crítica do processo educativo;

Como também pela Lei 18.083 de 12/12/2014 que instituiu a Política Municipal de
Educação Ambiental da Cidade do Recife – PMEA que prevê:

Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação em


âmbito municipal, devendo estar presente, de forma articulada, em todas as modalidades do
processo educativo, em caráter formal e não-formal, visando ao desenvolvimento
sustentável da cidade, à melhoria da qualidade de vida da população e ao conhecimento e
participação dos munícipes, em nível individual, coletivo e/ou representativo.

E tem como objetivo geral ser implantado e implementado na rede municipal de ensino e
como objetivos específicos:

- Formar os Educadores da Rede Municipal de Ensino do Recife, visando a consolidação do


fazer pedagógico nas escolas focado no desenvolvimento sustentável e na cidadania
planetária.
- Subsidiar a vivência de projetos pedagógicos sobre sustentabilidade.
- Envolver os equipamentos, estruturas e infraestrutura ambientais da cidade no cotidiano e
nas atividades escolares da Rede Municipal de Ensino do Recife.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1002


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

- Integrar as diferentes áreas do conhecimento à temática Meio ambiente, no viés da


sustentabilidade.
- Promover o empoderamento e o protagonismo dos aprendentes nas escolas municipais do
Recife, pela construção do conhecimento sistêmico acerca das questões ambientais locais
(Programa de Educação Ambiental: Educar para um Cidade Sustentável – Recife).

Tendo a sustentabilidade como tema central que se estende nos seis eixos temáticos: verde
urbano, água, resíduos sólidos, biodiversidade, poluição sonora e mudanças climáticas. O Programa
tende a fortalecer as ações de educação ambiental desenvolvidas pelas escolas municipais. O
desenvolvimento do Programa nas Instituições de Ensino compreende: etapa de formação para
professores, onde são abordados conteúdos ambientais e dadas orientações sobre a elaboração e
inscrição dos seus projetos no Programa, que por sua vez são elaborados abordando os temas acima
citados. As escolas inscritas são acompanhadas por uma equipe multiprofissional que ocupa o cargo
de Analistas em Desenvolvimento Ambiental, espaço onde se encontra o Serviço Social, realizando
visitas periódicas nessas instituições com vista a auxiliar os projetos desenvolvidos.
As escolas situam-se nos bairros das seis Regiões Políticas Administrativa –RPA‘s da
cidade, onde cada analista fica responsável por uma ou mais RPA‘s. O Serviço Social está
responsável pelas escolas situadas nas RPA 1 e 2, totalizando o número de 23 escolas localizadas
nos seguintes bairros, RPA 1: Santo Amaro, Ilha Joana Bezerra, Soledade e Derby, e RPA 2:
Cajueiro, Bomba do Hemetério, Torreão, Encruzilhada, Campo Grande, Agua Fria e Linha do Tiro.

A ―questão ambiental‖ e a urgência do exercício da educação ambiental

O referido programa está interligado ao movimento que vem ocorrendo em âmbito global
desde as décadas de 1970 e 1980 do século XX, nas quais já se sentia a crise de reprodução do
capital, seu aprofundamento enquanto sistema metabolicamente destrutivo (SILVA, 2010).
A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (CNUMAH), também
conhecida por Conferencia de Estocolmo, realizada em 1972, é um marco na história ambientalista,
pois trouxe à tona a discussão sobre o uso dos recursos naturais, da preservação do meio ambiente.
Procurou soluções para os problemas ambientais, reconhecendo que a ação humana vem
produzindo uma crescente dilapidação da natureza. Este fenômeno é intitulado como ―questão
ambiental‖ que segundo Silva (2010, p. 67)

refere-se a um conjunto de deficiência na reprodução do sistema, o qual se origina na


indisponibilidade ou escassez de elementos do processo produtivo advindos da natureza,
tais como matérias-primas e energia e seus desdobramentos ideopolíticos. Em outras
palavras, trata-se da incapacidade do planeta de prover, indefinidamente, os recursos
necessários à reprodução da vida, em condições históricas e sociais balizadas pelo alto nível
de produção e consumo.

Nesta Conferência também se discutiu a necessidade de se vincular a educação e o meio


ambiente, onde se inseria a educação ambiental possuindo um papel importante para a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conscientização dos indivíduos sobre as problemáticas ambientais, trazendo a discussão sobre a


participação coletiva e o controle social do uso dos recursos naturais. Ainda nesse encontro, as
soluções propostas para a superação da crise ambiental se fundamentavam no retorno do debate
sobre o desenvolvimento, acalentado pela ideologia neoliberal, mas com um novo elemento, o
discurso da sustentabilidade ambiental, buscando compatibilizar interesses econômicos, políticos,
sociais e preservação do meio ambiente (MACHADO; PINTO; VILANI, 2015). Esse discurso
ganha força na agenda internacional de vários países, conseguindo simpatia de diversos segmentos
da sociedade. Assim, a educação ambiental ancora-se na ideia de Desenvolvimento Sustentável53,
propagando uma nova relação entre sociedade e natureza (SILVA, 2010).
Dessa maneira, do mesmo modo que tentou-se compatibilizar o crescimento econômico com
a preservação ambiental, a educação ambiental é utilizada pelo sistema capitalista como uma das
mais importantes ferramentas para o ―enfrentamento‖ e a administração da ―questão ambiental‖
(SILVA, 2010). Os estudiosos dessa temática destacam duas vertentes ideopolíticas dessa prática
pedagógica: uma que se caracteriza por estar inserida na perspectiva hegemônica, contribuindo
fortemente como papel ideológico, pois em sua prática enfatiza-se a dimensão ecológica, com forte
sentido comportamentalista, culpabilizando os indivíduos, convertendo a ―questão ambiental‖ em
uma problemática individual, encontrando a solução em atitudes particulares, como o consumo
consciente. Percebe-se que nesta vertente há uma ausência de crítica, de uma análise histórica, não
situando socialmente o indivíduo, focando em aspectos subjetivos como se estes estivessem fora da
organização social (LOUREIRO, 2006). Trata-se de uma forma educativa que ―tornou-se uma peça
do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível a
reprodução do injusto sistema de classe‖ (MESZAROS, 2008p. 15). Essa prática educativa que se
distancia da realidade é chamada de Educação ambiental instrumental.
A outra vertente se caracteriza por situar historicamente os indivíduos, incentivando uma
análise crítica da realidade, questionando a estrutura da sociedade capitalista e sua natureza
predatória do meio ambiente (SILVA, 2010). Compreendendo o lugar ocupado pelos diferentes
grupos sociais e a forma assimétrica que se apropriam dos recursos naturais. Segundo Loureiro
(2010, p. 24),

A educação atua no processo ensino-aprendizagem, na problematização e tomada de


consciência de dada realidade pelo conhecimento e pela intervenção prática, na construção
de valores e condutas, na reflexão crítica do que fazemos e da realidade objetiva e na
criação de meios instrumentais (técnicas) que propiciem determinado tipo de transformação
da natureza para atendimento de nossas necessidades.

53
Foi em 1987 que a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) emitiu o relatório
intitulado ―Nosso Futuro Comum‖ o qual notabilizou o termo Desenvolvimento Sustentável (SILVA, 2013).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assim, essa vertente tem por objetivo a formação de uma consciência crítica, anticapitalista,
tendo por finalidade atuar no processo emancipatório. Essa perspectiva vincula-se a um projeto
societário para além do capitalismo, pois compreende que as reformas dentro da própria ordem
burguesa são incapazes de resolver a ―questão ambiental‖. Essa vertente é conhecida como
educação ambiental emancipatória.
Em 31 de agosto de 1981 foi promulgada a Lei n. 6938, que estabelecia no Brasil a Política
Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que tem como uma de suas diretrizes, segundo o Artigo 4ª ―-
à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio
ambiente e do equilíbrio ecológico‖ (BRASIL. 1981). Desse modo, a política ambiental brasileira
estava vinculada as aspirações mundiais que defendiam o crescimento econômico, com equidade
social e preservação ambiental, mantendo as características de produção do capital.
Até a Constituição Federal de 1988 a política ambiental brasileira foi gerida de forma
centralizada, sem a participação popular (LOUREIRO, 2006). Nesta mesma Constituição, em seu
capítulo VI, tem-se a defesa do direito coletivo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e a
exigibilidade da educação ambiental, como no art. VI – que defende o exercício da educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente.
O movimento ambientalista ganha força no Brasil apenas no final da década de oitenta,
fortalecendo o debate acerca da educação ambiental. Em 27 de abril de 1999 com a publicação da
Lei n. 9795 foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA).
A Política de Educação Ambiental vem se fortalecendo em âmbito nacional. A Organização
das Nações Unidas (ONU) promoveu a década da educação para o desenvolvimento sustentável que
foi de 2005 a 2014, afirmando ser pertinente para o enfrentamento dos problemas contemporâneos,
visando cumprir dois dos oito Objetivos do Milénio: Educação básica de qualidade para todos;
Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente (LOUREIRO, 2010). Atendendo aos objetivos dessa
década, em 12 de dezembro de 2014, foi instituída a Política Municipal de Educação Ambiental da
cidade do Recife, baseada nos princípios básicos da Política Nacional de Educação Ambiental, já
citada anteriormente.
Tanto a Política Municipal de Educação Ambiental quanto o Programa Educar para uma
Cidade Sustentável são estratégias de gestão ambiental, inseridos no movimento global, para o
enfrentamento da ―questão ambiental‖.
Compreende-se a importância de tal Política ao analisar o contexto das principais cidades do
Brasil. A cidade do Recife vem se caracterizando pelo seu desenvolvimento descontrolado,
incentivado pela sua insaciável necessidade de acumulação do capital, capaz de financiar a
expansão desordenada do crescimento urbano, independente das suas consequências sociais,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ambientais ou políticas (HARVEY, 2014). O exemplo tem-se a construção da Via Mangue, um


projeto que tem como objetivo resolver os problemas de transito da Zona Sul recifense, mesmo que
para isso tenha sido necessário destruir grande área de manguezais, um ecossistema protegido por
lei54.

O exercício da mediação como modo de ultrapassar as aparências das problemáticas ambientais e


ferramenta central da intervenção do/a assistente social

Tendo em vista a totalidade deste processo, na qual todas as dimensões, social, política,
ambiental e cultural, encontram-se interligadas, partindo do exercício da mediação como processo
de articulação central entre as partes dessa totalidade, ultrapassando assim a aparência dos
fenômenos (PONTES,2000) entendendo educação ambiental como ferramenta de transformação
social, salientamos que nossa intervenção profissional junto ao Programa tem como referencial a
educação ambiental emancipatória.
Durante o acompanhamento aos projetos escolares inseridos no Programa identificamos uma
tendência ao desenvolvimento de ações sob a perspectiva da educação ambiental instrumental que
exerce um importante papel na manutenção do sistema, realizando apenas ajustes, corrigindo
detalhes defeituosos da ordem estabelecida, mantendo intactas as determinações estruturais
fundamentais do sistema de produção (MESZAROS, 2008)
Assim, observamos que as atividades dos projetos, muitas vezes, foram pensadas apenas
para intervenções no espaço escolar, limitando-se a singularidade das ações. Como exemplos, de
temas trabalhados de forma imediata têm-se: na temática da água, destaca-se o consumo consciente,
com o não desperdício; na do verde urbano, têm-se o incentivo ao plantio, como hortas e jardins
dentro das escolas; no de resíduos sólidos se observa o fomento a coleta seletiva e a reciclagem; na
temática de biodiversidade abordam o bioma local, as suas características biológicas. Desse modo,
essas ações centram-se nas mudanças de comportamento, desconsiderando as determinações que
constroem a realidade.
Em nossa intervenção buscamos ultrapassar tal abordagem, incentivando junto aos
professores um olhar crítico sobre a ―questão ambiental‖. Ao realizar o nosso monitoramento, que
acontece periodicamente, salientamos a importância de transpor os muros da escola, buscando o
diálogo com o global e com a vizinhança (local). De acordo com o projeto elaborado pela própria
escola, a qual escolhe qual tema deseja trabalhar, buscamos dialogar sobre as problemáticas,
expondo que elas estão interligadas ao crescimento frenético do sistema capitalista. Observamos
como está sendo desenvolvido o projeto, quais atividades realizadas, se realizou parcerias com

54
Via expressa sobre o mangue. Disponível em: http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/6/via-
expressa-sobre-mangue-227259-1.aspx. Acessado em: 25/02/2016.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

outras instituições como modo de fortalecer as ações do projeto, como também se trabalhou de
modo crítico e interdisciplinar a discussão sobre o meio ambiente.
Observamos que nossa busca pela essência das transformações tem mostrado resultados.
Determinadas escolas conseguem ir além de seus muros, relacionando o ambiente escolar, com o
entorno e o movimento global, conseguindo problematizar a questão do lixo, da poluição dos rios,
do mangue e a falta de áreas verdes no entorno das escolas, como também em toda a cidade. Desse
modo, incentivamos a realização de um diagnóstico socioambiental a fim de identificar os
problemas ambientais existentes no local relacionando ao contexto global considerando os aspectos
que compõem a realidade.
Destacamos também que as instituições de ensino, no desenvolvimento dos seus projetos,
buscaram articulações com a sociedade civil organizada, a fim de ampliar e fortalecer suas ações, a
exemplo de articulações estabelecidas com associações de moradores, movimentos em defesa das
áreas verdes e animais, associações de catadores, movimento de mulheres, culturais, entre outros.
Como também realizaram, junto à comunidade escolar, ações que estimulam à participação e o
controle social, a fim de garantir qualidade nos serviços públicos prestado a população,
incentivando assim o exercício da cidadania, a exemplo de entrevistas aos moradores, com vista a
identificar as responsabilidades (população, poder público, setor produtivo) pelos problemas
ambientais da comunidade, carta coletiva ao prefeito solicitando melhorias para o bairro, tendo
possibilidade de contribuir e fortalecer as lutas sociais para transformação da realidade.
O incentivo a educação ambiental emancipatória suscita a formação de sujeitos críticos que
podem, a partir da consciência das problemáticas, intervir politicamente nas decisões que interferem
em suas vidas, ―formando agentes políticos que pensam, que agem e que usam a sua atuação e
palavra como arma para transformar o mundo‖ (MESZAROS, 2008, p. 12). A importância de
incentivar a participação política dos sujeitos a partir do processo educativo formal e informal
destaca que

o papel da educação é soberano tanto para a elaboração de estratégias apropriadas e


adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a auto mudança
consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social
metabólica radicalmente diferente (MÉSZÁROS, 2008, p. 65).

Entretanto, não podemos esquecer as dificuldades que essas escolas possuem devido ao
sucateamento da educação pública, sendo inúmeros os relatos feitos pela equipe pedagógica sobre
os obstáculos encontrados para implementação de seus projetos. É comum as informações sobre
falta de valorização profissional como o não cumprimento do piso salarial e não reajuste salarial 55,

55
Na segunda-feira, dia 24 de julho de 2017, professores da rede municipal de ensino ocupam o gabinete do prefeito do
Recife, Geraldo Júlio, como forma de reivindicar o reajuste salarial e exigir o piso nacional da educação. Disponível
em:http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/vida-rbana/2017/07/25/interna_vidaurbana,
714649/professores-continuam-ocupacao-da-prefeitura-sem-agua-comida-e-benhe.shtml. Acessado em: 25/07/2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

falta de recursos financeiros para realização das atividades previstas, estrutura física precárias, falta
de material pedagógicos, corte nos transportes escolares para realização de visitas de campo,
sobrecarga de trabalho, entre outros, sendo necessário solicitar mais apoio das Secretarias
envolvidas no Programa para o êxito de suas ações. Pois, assim como destaca Mészáros (2008, p.
16), ―no reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público
de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo esgotamento dos cortes de recursos dos
orçamentos públicos‖.
É importante destacar que a temática ambiental vem sendo cada vez mais interpelada ao
Serviço Social como forma de oferecer respostas ao agravamento da ―questão ambiental‖. E essa
inserção se realiza a partir da incorporação dos/as assistentes sociais no planejamento, execução e
monitoramento das atividades referentes a problemática ambiental, em destaque para as atividades
de educação ambiental. Embora não seja um campo apenas dos/as assistentes sociais, a educação
ambiental reforça o caráter pedagógico da profissão, tencionando sua direção, o projeto de classe
(SILVA, 2010).
Diante das demandas institucionais o Serviço Social se depara com requisições técnico-
operativas marcadas pelo imediatismo, por ações que levem em conta apenas atitudes individuais.
Assim, torna-se importante, para sair do imediatismo e das atitudes gestionárias, realizar a mediação
com a totalidade da ―questão ambiental‖, sendo conduzida pelo pensamento crítico. Essa posição se
fundamenta pelo projeto ético-político do Serviço Social que se vincula a um projeto societário que
propõe a construção de outra ordem social, que responde aos interesses das classes trabalhadoras e
subalternas, sem dominação/exploração de classe, etnia e gênero, visando a emancipação social
(TEIXEIRA; BRAZ, 2009).

CONCLUSÃO

Destarte, diante da crescente degradação ambiental como resultado da racionalidade do


sistema capitalista e seus imperativos de expansão a todo custo, o referido Programa desenvolvido
pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente se mostra necessário. A nossa
vivencia nesse programa nos adverte sobre as mudanças por ele suscitadas e sobre os desafios
constantes de promover a discussão sobre as problemáticas ambientais dentro das escolas. A
despeito dos avanços, muito há que inovar no sentido de ampliar o horizonte da perspectiva crítico-
emancipatória em educação ambiental.
Isto posto, exercer a educação ambiental se faz urgente diante do agravamento da questão
ambiental em nível planetário. Essa questão associa-se a mais profunda crise do sistema capitalista
que se expõe de diversas frentes, como a financeira, a ambiental, a urbana e a política (MOTA,
2012). Como reflexo local dessa crise estrutural, atualmente estamos vivenciando o enxugamento

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

da maquina pública municipal, no qual o Programa aqui referenciado, que surgiu na estrutura de
uma secretaria municipal de meio ambiente, hoje se apresenta como uma secretaria executiva
intitulada Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente que dentro dela estão
inseridas: a Gerência Geral de Administração Financeira, a Secretaria Executiva Emprego,
Qualificação e Empreendedorismo, a Secretaria Executiva e Desenvolvimento econômico, a
Secretaria Executiva projetos especiais, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente e a Secretaria
Executiva de Controle ambiental. Esta mudança vem resultando na fragilização da autonomia
política e financeira trazendo conseqüências para a execução do referido Programa.
Dessa forma, fica evidente a urgência da efetivação da educação ambiental emancipatória
principalmente nesse contexto de retrocesso que atinge todas as dimensões da vida social. Assim, a
essência da educação ambiental é a problematização da realidade, dos comportamentos em práticas
dialógicas (LOUREIRO, 2010). Logo, se faz preciso estruturar processos participativos, garantindo
o exercício da cidadania, uma vez que apenas com a participação popular se poderá alcançar a
transformação social, pois apenas pela atuação de sujeitos críticos são reveladores de
potencialidades emancipatórias.
O Serviço Social vem sendo cada vez mais chamado para atuar nas refrações da ―questão
ambiental‖, e neste exercício se faz necessário realizar a mediação com as dimensões que compõem
as problemáticas ambientais. Em sua prática pedagógica o Serviço Social ―não pode distanciar-se
de uma das principais conquistas legadas pela história da profissão: seu projeto ético-político-
profissional‖ (SILVA, 2013p. 37). Afirmá-lo na prática cotidiana, encontrar as mediações que
vinculam a problemática ambiental e as determinações essenciais da desigualdade social, eis um
grande desafio profissional.

REFERENCIAS

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BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999.Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política
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https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=278697. Acessado em: 22/02/2016.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1009


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HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São Paulo: Martins
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LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo (org). Gestão Ambiental e educação ambiental: caminhos
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TEIXEIRA, JoaquinaBarata; BRAZ, Marcelo. O projeto ético-político do Serviço Social. In:


Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E EXTENSÃO: APLICAÇÃO PRÁTICA EM ESPAÇO


ESCOLAR DE FORTALEZA – CE

Anderson da Silva MARINHO


Graduando do Curso de Geografia UFC
asm.jems100@gmail.com
Carlos Senna Soares FARIAS
Graduando do Curso de Geografia UFC
sennafarias1@gmail.com
Suedio Alves MEIRA
Doutorando em Geografia da UFC
suediomeira@gmail.com
Antônio Jeovah de Andrade MEIRELES
Professor do Departamento de Geografia da UFC
antoniomeireles4@gmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental (EA) é uma ação pedagógica atuante na sociedade com que objetiva a
sensibilização dos sujeitos sociais para as questões socioambientais, compreendendo a
indissociabilidade da relação entre sociedade-natureza e as implicações das atividades exploratórias
humanas ao meio ambiente. Na perspectiva da aprendizagem para transformação social, as escolas e
as universidades públicas brasileiras são esferas essenciais para aplicação das concepções de
Educação Ambiental. O presente artigo apresenta uma breve discussão sobre o potencial da EA na
sensibilização dos agentes sociais diante das realidades sociais, destacando as práticas extensionista
do projeto SVAV na rede publica municipal de ensino em Fortaleza - CE.
Palavras chave: Educação Ambiental, Extensão e Aprendizagem.
RESUMEN
La Educación Ambiental (EA) es una acción pedagógica actuante en la sociedad con que objetiva la
sensibilización de los sujetos sociales para las cuestiones socioambientales, comprendiendo la
indisociación de la relación entre sociedad-naturaleza y las implicaciones de las actividades
exploratorias humanas al medio ambiente. En la perspectiva del aprendizaje para la transformación
social, las escuelas y las universidades públicas brasileñas son esferas esenciales para la aplicación
de las concepciones de Educación Ambiental. El presente artículo presenta una breve discusión
sobre el potencial de la EA en la sensibilización de los agentes sociales ante las realidades sociales,
destacando las prácticas extensionistas del proyecto SVAV en la red pública municipal de
enseñanza en Fortaleza - CE.
Palabras clave: Educación Ambiental, Extensión y Práctica.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) é uma ação pedagógica atuante na sociedade com que objetiva
a sensibilização dos sujeitos sociais para as questões socioambientais, compreendendo a
indissociabilidade da relação entre sociedade-natureza e as implicações das atividades exploratórias

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

humanas ao meio ambiente. A EA busca o desenvolvimento de uma percepção crítica aliada a um


senso ecológico que mobilize o indivíduo a intervir e transformar a realidade.
No cenário nacional, a busca pela sensibilização ambiental apresenta-se na crescente rede de
discursões sobre a temática da sustentabilidade, resultando em ações coletivas dos movimentos
sociais e das práticas governamentais na difusão da problemática ambiental e objetivando criar
espaços de reflexão no desenvolvimento de medidas na busca pelo equilíbrio ambiental. Nesse
contexto, o projeto de extensão universitária Sala Verde Agua Viva (SVAV), ação desenvolvida
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), é implantado, tendo enquanto premissa a implantação
de espaços socioambientais em instituições de ensino com objetivo de formar de cidadãos críticos e
atuantes na sociedade.
Na perspectiva da aprendizagem para transformação social, as escolas e as universidades
públicas brasileiras são esferas essenciais para aplicação das concepções de Educação Ambiental.
Fato oriundo da capacidade intrínseca de condução dos conhecimentos construídos para difusão nas
comunidades nas quais estão inseridas, ampliando assim a quantidade de indivíduos sensibilizados.
Nesse sentido, o presente artigo apresenta uma breve discussão sobre o potencial da EA na
sensibilização dos agentes sociais diante das realidades sociais, destacando as práticas extensionista
do projeto SVAV na rede publica municipal de ensino em Fortaleza - CE.
Para a realização do presente trabalho fez-se necessário, no primeiro momento, a busca de
referencial teórico sobre o escopo da EA, bem como de metodologias a serem aplicadas nas
atividades desenvolvidas no âmbito escolar. A segunda etapa é caracterizada pela realização de
trabalhos práticos, relacionados ao paradigma da sustentabilidade, junto aos alunos da unidade de
ensino selecionada, sendo esses procedimentos metodológicos descritos posteriormente. Por fim,
tendo como suporte as percepções e dados oriundos da aplicação prática realizada, deu-se a
confecção do escrito.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O CONTEXTO ESCOLAR

A educação é um potencial atuante dentro das organizações sociais, estando presente nos
ciclos de convívio, nas relações interpessoais e comunitárias, difundindo-se de múltiplas maneiras a
cada individuo participante da estrutura social. Portanto, a educação participa na socialização de
informações que acrescem a consciência coletiva e cultural da população para formação da
sociedade, onde os pertencentes ao espaço que convivem, transformam a realidade social.
De acordo com Brandão (p. 13,2002), a educação participa do processo de produção de
crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e
poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta é a sua força‖.Educação voltada às
práticas transformadoras é aquela que busca a percepção crítica de cada membro da sociedade em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

seu cenário inserido. Nesse contexto a Educação Ambiental tem sido uma importante ferramenta na
mudança de comportamento em relação ao meio ambiente, por meio da educação crítica da
realidade e o fomento a uma formação cidadã.
Segundo Reigota (2009), a EA apresenta-se como uma po/ssibilidade de intervenção cidadã
e sensibilização com caráter reflexivo, participativo e comportamental, conduzindo a praticas e
ações voltadas a justiça social. Assim, a EA está diretamente relacionada à capacidade de
sensibilização para a apropriação de práticas e ações sustentáveis pelos indivíduos no meio social,
colocando-os no eixo central para efetivação das práticas cidadã e realização da justiça social. Esse
processo pedagógico encontra-se inserido dentro das diversas esferas sociais buscando a
consolidação da ética e criticidade na população.
De acordo com Loureiro (p. 40, 2003) a EA que transforma é possível por meio da
afirmação da educação ―enquanto práxis social que contribui no processo de construção de uma
sociedade pautada por novos patamares civilizacionais e societários distintos dos atuais, em que a
sustentabilidade da vida e a ética ecológica sejam seu cerne‖.Diante disso, discutir esse caráter da
EA dentro do ambiente escolar promove uma etapa essencial no processo de construção do
individuo, o desenvolvimento ético nas relações sociais e sua sensibilização diante das questões
socioambientais. Ademais, a escola atua como caminhos transmissores de ideias e princípios aos
receptores indiretos e subjetivos, sendo esses os familiares e amigos dos estudantes.
Ao longo da trajetória das discussões sobre sustentabilidade e EA os órgãos investiram nos
espaços educacionais formais para disseminar os conceitos ambientais. Na década de 90, após um
longo processo construção dos princípios ambientalista, em contexto nacional e nacional, o
Ministério da Educação (MEC) e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) atuaram junto para
construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), colocando as abordagens sobre o meio
ambiente como temática transversal e interdisciplinar necessária a formação do educando como
membro social. Outro elemento foi a criação da Política Nacional de Educação Ambiental,
sancionado pela lei Nº 9.795, de 1997, que direciona os campos de atuação da EA em conjunto ao
MEC proporcionando iniciativas nacionais para a atuação da temática nas escolas e universidades.
No seu capítulo I, a lei Nº 9.795, conceitua a Educação Ambiental e estabelece âmbitos
sociais de abrangência, ressalta sua definição:

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).

As discussões ambientais permearam as instituições de ensino tornando a escola uma


unidade centralizadora para práticas da EA, porém, as práticas pedagógicas tradicionais que
engessam os conteúdos disciplinares impossibilita a interdisciplinaridade escolar, aplicando os

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

temas isoladamente e sem a contextualização necessária para práxis do ensino. No entanto,


atividades pontuais são recorrentes nas unidades escolares, onde inserem a discussão da temática
em exposições anuais ou em datas comemorativas, possibilitando a integração entre diferentes áreas
do conhecimento e incentivando o estudante a explorar a temática.
As universidades são instituições que nos últimos anos aumentaram a capacidade de
desenvolver a EA em diferentes espaços e com múltiplas finalidades, sejam elas no ensino, no
desenvolvimento de formação especializada e oferta de conteúdos disciplinares, na pesquisa, com
abordagens diferenciadas em escalas das temáticas, ou na extensão, buscando integrar os
conhecimentos acadêmicos nas unidades regulares de ensino e com os saberes populares.

SALA VERDE ÁGUA VIVA E PRÁTICAS EXTENSIONISTAS NO ESPAÇO ESCOLAR: UMA


APLICAÇÃO METODOLÓGICA

O projeto de extensão universitária ‗Sala Verde Água Viva‘ consiste no incentivo a ações e
práticas sustentáveis, com enfoque nas questões socioambientais, dentro das escolas públicas
municipais e em comunidades tradicionais. A ação objetiva a construção de centros informacionais
e de desenvolvimento socioambiental, destinando-se à disponibilização e democratização do acesso
a informação, utilizando-se de mecanismos pedagógicos como: palestras, oficinas, encontros,
trabalhos de campo e cursos que favoreçam a formação individual e social dos membros
envolvidos.
Nos anos 2000, na efervescência do debate ambiental e das discussões sobre o uso dos
recursos naturais brasileiros, a proposta estava em organizar espaços para fomentar os debates e
possibilitar a divulgação de materiais didáticos a fim de favorecer a compreensão sobre a
problemática, contribuindo nessa função estava em vigor o projeto ‗Biblioteca Verde‘, porém,
possuía uma deficiência espacial, não atendendo a nível nacional. É dentro dessa problemática que
o conjunto de parcerias aliados ao MMA revitaliza e amplia a ‗Biblioteca Verde‘, a qual para se
chamar ‗Sala Verde‘, sendo distribuídos por todo o país. A mesma manteve o propósito inicial,
porém adere a um caráter de construção de espaços socioambientais para formação e a comunicação
das questões ambientais.
Em 2005, o projeto chega a Universidade Federal do Ceará (UFC), na forma de extensão
universitária, no Departamento de Geografia, vinculado ao Laboratório de Geoecologia das
Paisagens e Planejamento Ambiental (LAGEPLAN), com apoio institucional do Departamento de
Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA).
Durante esses anos o projeto vem atuando em meio as escolas da rede pública de ensino e
em comunidades tradicionais, localizadas na região metropolitana de Fortaleza – CE. Utiliza o seu
potencial transformador para construir momentos reflexivos sobre o papel dos estudantes em

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

relação ao bairro em que eles moram, a importância deles para a mudança social, favorecendo o
desenvolvimento da criticidade e da consciência ecológica, além da democratização da informação
por meio da biblioteca ‗Sala Verde Água Viva‘ que contém 540 livros e 425 cartilhas sobre a
temática ambiental e áreas afins para consulta e distribuição.
No ano de 2016, o projeto atuou na escola pública municipal Professor José Parsifal
Barroso, Fortaleza, com a temática central ―Educação Ambiental e Água‖, consistindo em ações e
práticas desenvolvidas em quatro etapas distintas: a primeira, uma discussão sobre o dia mundial da
água e a crise hídrica no Brasil; a segunda, agroecologia e a permacultura; a terceira, a reutilização
dos resíduos sólidos; a quarta, jardim escolar.
A primeira etapa da atividade iniciou com uma roda de conversa sobre a temática
norteadora, nesse momento, o dia mundial da água e a crise hídrica no Brasil. O objetivo principal
era a compreender a noção inicial que os estudantes obtinham do assunto e estabelecendo um
diálogo necessário em meio às práticas pedagógicas, possibilitando o individuo expressar suas
ideias e assim resultar em uma construção coletiva de conhecimentos. Utilizando-se de recursos
audiovisuais, a continuação da ação consistiu na apresentação de vídeos educativos sobre a data
comemorada, a importância da água e o seu ciclo, intervenções sociais na qualidade da água e
manejo sustentável da água pelas esferas sociais. A etapa adquire papel essencial para articulação
do conhecimento, onde se une os saberes prévios com as novas informações culminando na geração
de novos saberes a partir da reflexão e o diálogo entre os membros envolvidos (Figura1).

Figura 1 - Discussão e exibição de vídeos educativos sobre a temática. Fonte: MOREIRA, 2016.

Inserida no tripé universitário, a extensão permite a comunicação de saberes desenvolvidos


dentro do campo acadêmico e no âmbito escolar, possibilitando uma construção de conhecimentos a
partir da interação entre as esferas. A segunda etapa das ações do projeto resultou no deslocamento
dos estudantes para efetivar uma visita institucional ao Centro de Ciências Agrárias, da
Universidade Federal do Ceará, com objetivo de realizar uma oficina sobre manuseio de hortas
sustentáveis e efetuar o plantio de sementes de vegetais (Figura 02).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2 - Visita ao Centro de Ciências Agrárias - UFC. Fonte: FARIAS, 2016.

Essa atividade desenvolveu-se a partir de uma conversa inicial sobre o ciclo da água, os
impactos antrópicos nesse ciclo e a importância da agroecologia e das hortas sustentáveis na
conservação da qualidade dos lençóis freáticos e corpos hídricos. Em seguida, apresentou-se os
passos para a construção de uma composteira para geração de adubo orgânico, onde os estudantes
puderam manusear e utilizar o adubo gerado, conseguinte, aprenderam sobre como se prepara as
mudas e o transplante das mesmas. Por fim, cada estudante plantou várias sementes para serem
cuidadas no espaço e receberam sementes para reproduzirem a atividade em suas casas.
Além disso, os estudantes conheceram o Grupo de Estudo em Permacultura (GEEEP), uma
ação extensionista da UFC que realiza atividades de pesquisa em permacultura e atua na prática
desses princípios. Os estudantes puderam discutir e tirar suas dúvidas sobre a permacultura e os
impactos humanos no ambiente socioambiental, realizaram uma trilha no espaço e receberam
mudas, já em etapa para o transplante. Essa segunda etapa ressalta a sua importância para a
visualização dos conhecimentos construídos na etapa anterior e na possibilidade de prática
consolidando o objetivo de sensibilização dos estudantes.
A terceira etapa abordou a temática sobre os resíduos sólidos que emerge diante dos efeitos
oriundo do consumismo e da produção industrial em alta escala, implicando na poluição de espaços
socioambientais e na alteração da dinâmica bioecológica natural. A poluição urbana foi um dos
aspectos recorrentes nas falas dos estudantes nas duas primeiras etapas, incentivando a discussão
sobre a água virtual, consumismo e princípios da reutilização e reciclagem.
A atividade baseou-se em uma conversa inicial para exposição de opiniões e pensamentos
dos estudantes sobre o tema, realizando uma atividade lúdica, que consistiu em distribuir entre os
estudantes pedaços de papeis de rascunho onde deveriam escrever o que eles jogam diariamente na
lixeira de suas casas, após isso, recolhiam-se os papeis e apresentava o que realmente era lixo e o
que poderia passar por processos de reutilização e reciclagem. Após isso, apresentou-se em forma

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de exposição visual os conceitos de reutilização e reciclagem, os destinos dos resíduos sólidos e as


implicações dos mesmos para os ambientes naturais. Conseguinte, ocorreu a exibição do ―Cine-Sala
Verde‖ sobre o assunto e a realização da oficina de reutilização de caixa Tetra Pack na construção
de carteiras sustentáveis (Figura 3).

Figura 11 - Oficina de reutilização de caixas Treta Pack. Fonte: MARINHO, 2016.

A quarta etapa culminou através dos conhecimentos construídos durante as fases da ação
que foram essenciais para consolidar e concluir o projeto na escola, sendo finalizado com a
construção de um jardim horizontal e um vertical. A atividade esteve integrada com o projeto da
unidade de ensino intitulado ―Defensores do Meio Ambiente‖, no qual alguns estudantes eram
responsáveis por desenvolver atividades que melhorassem o meio ambiente e compartilhasse isso
dentro da escola. Assim, os estudantes que estavam responsáveis por essa ação passaram por todas
as etapas do projeto e nesse receberam novamente orientações sobre como construir um jardim e
quais os passos necessários para a sua manutenção. Após isso, os estudantes construíram um jardim
horizontal e vertical sob a nossa tutoria, mas com autonomia de decisões (Figura 04).

Figura 12 - Construção de jardim vertical e horizontal. Fonte: MARINHO, 2016.

Na construção do jardim horizontal, os estudantes escolheram o espaço e o limparam para


iniciar o plantio. O ambiente escolhido foi na entrada da escola objetivando melhorar o aspecto
visual, em seguida, manusearam o adubo orgânico e a preparação da terra, depois ocorreu o plantio
e a primeira irrigação manual.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na construção do jardim vertical, os estudantes e o núcleo gestor realizaram uma ação


cooperativa para que os demais estudantes trouxessem garrafas plásticas necessárias para a
construção. Após orientação, os estudantes manusearam as garrafas, decoraram e escolheram o
ambiente no qual seriam implantado, no caso, também no portão de entrada da unidade. A atividade
demostrou a capacidade criativa e crítica dos estudantes no processo de planejamento e execução
das ações, incentivando o trabalho coletivo, coadunando com o objetivo do projeto já existente na
unidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto Educação Ambiental e Água, realizado pela Sala Verde Água Viva, por meio de
suas ações conseguiu alcançar diretamente 308 estudantes da escola pública municipal Professor
José Parsifal Barroso, distribuídos do 6º ano ao 9º ano do ensino fundamental II, nos turnos manhã e
tarde, num período de execução de 6 meses. Os principais objetivos alcançados foram o
compartilhamento e a coletivização de ações que promoveram construção de novas perspectivas
ambientais e sujeitos sociais mais conscientes dos seus papéis e de suas responsabilidades, o
comprometimento dos envolvidos no projeto com ações ecologicamente orientadas para a
manutenção do meio ambiente equilibrado alicerçada pelas ideias de coletividade, respeito, ética e
solidariedade, e a sensibilização ambiental dos estudantes contemplados.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? . 41. ed. : Brasiliense, 2002.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9795.htm. Acesso em: 18/04/2017.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos


parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília:
MEC/SEF, 1997.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental Princípios e Práticas. 9ª. ed. São Paulo: Gaia, 2004.
p. 23-201; 363-533.

DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2ª. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. p. 107-
130..

LOUREIRO, C. F. B. (Org.) ; TORRES, Juliana Rezende (Org.). Educação Ambiental dialogando


com Paulo Freire. 1a. ed. São Paulo: Cortez, 2014. v. 1. 184p.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1018


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Premissas teóricas para uma educação ambiental
transformadora. Disponível em: <https://goo.gl/fD4vDt>. Acesso em: 28/06/2017

MARINHO, A. S.; VIANA, V. N. ; FARIAS, J. F. ; MEIRELES, A. J. A. ; SILVA, E. V.


Sustentabilidade e Educação Ambiental: a (re) construção da consciência ecológica nas escolas
públicas de Fortaleza-CE. Acta Geográfica (UFRR), v. v.1, p. 87-102, 2016.

MMA. PROJETO SALAS VERDES. Disponível em: http://www.mma.gov.br/educacao-


ambiental/educomunicacao/salas-verdes#oprojeto. Acesso em: 18/04/2017.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental?. São Paulo: Brasiliense, 2014.

SILVA, Edson Vicente da; RABELO, Francisco Davy Braz; RODRIGUEZ, José Manuel Mateo
(Org.). Educação Ambiental e Indígena: Caminhos da Extensão Universitária na Gestão de
Comunidades Tradicionais. Fortaleza: UFC, 2011.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1019


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO

Anna Raquel Nunes SANCHEZ56


Graduanda em Ciências da Natureza e suas tecnologias na UFSB
annaraquel88@gmail.com
Maria Henriqueta Andrade RAYMUNDO57
Pesquisadora do Projeto Assentamentos Agroecológicos /ESALQ/USP
henriquetasss@gmail.com
Alessandra Buonavoglia COSTA-PINTO58
Prof. Titular da UFSB
alegubcp@gmail.com

RESUMO
A construção do Projeto Político Pedagógico de Educação Ambiental (PPPEA) do Parque Nacional
do Pau Brasil (PNPB) - uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral (PI), é um grande
passo para o enraizamento da Educação Ambiental na região Sul do Estado da Bahia. Criado em
abril de 1999, com plano de manejo publicado em maio de 2016, o PNPB é responsável pela
conservação e proteção de quase 20 mil hectares de Mata Atlântica, favorecendo o
(re)conhecimento da biodiversidade desse bioma, contribuindo com a pesquisa científica e
estimulando o turismo de base ecológica no território sul baiano. Gerida pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a UC desenvolve desde novembro de 2016,
junto ao seu Conselho Consultivo e sua Câmara Temática de Educação Ambiental (CTEA), a
construção participativa do PPPEA. O PNPB é a primeira UC de PI a incorporar este instrumento,
tornando-se referência para demais UCs na região. O PPPEA em construção vem promovendo
sinergia entre diferentes instituições na formulação de processos formativos em Educação
Ambiental, em especial na sua zona de amortecimento, alinhando-se às diretrizes, metas e objetivos
de instrumentos legais como as Política e o Programa Nacional de Educação Ambiental, a
Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em Unidades de Conservação, o
Programa de Educação Ambiental na Agricultura Familiar, a Política Estadual de Educação
Ambiental do Estado da Bahia e a Política Municipal de Meio Ambiente de Porto Seguro.
Palavras chave: Educação Ambiental Crítica, Metodologias Participativas, Unidades de
Conservação
ABSTRACT
The construction process of the Pedagogical Political Project of Environmental Education (PPPEA)
of the National Park of Pau Brasil (PNPB) - a Conservation Unit (UC) of Full Protection (PI), it‘s a
great step towards the establishment of Environmental Education in the southern region of the State
of Bahia. Created in April 1999, with a management plan published in May 2016, the PNPB is
responsible for the conservation and protection of nearly 20000 hectares of Atlantic Forest, favoring
the acknowledgement of the biodiversity of this biome, contributing to the scientific research and
stimulating ecological-based tourism in the territory of the south of Bahia. Managed by Instituto

56
Tecnóloga em Gestão Ambiental pela FMU/SP
57
Mestra em Educação Ambiental pela ESALQ/USP, Bióloga pela Universidade Braz Cubas/SP
58
Doutora em Filosofia da Natureza e do Ambiente pela Universidade de Lisboa, Coord. do Núcleo de Pesquisa e
Extensão Universitárias em Educação Ambiental NUPEEA/UFSB

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), the UC develops, since November


2016, together with its advisory council and the Environmental Education Theme Chamber (CTEA),
the participatory construction of the PPPEA. The PNPB is the first UC of PI to incorporate this
instrument, becoming a reference to the other UCs in the area. The PPPEA under construction has
promoted synergy between different institutions in the formulation of formative processes in
environmental education, in particular in its buffering zone, aligning itself to the guidelines, goals
and objectives of legal instruments, such as the National Policy and Program of Environmental
Education, the National Strategy for Environmental Education and Communication in Conservation
Units, the Environmental Education Program on Family Agriculture, the State Policy of
Environmental Education of the State of Bahia and the Environmental Education Policy of Porto
Seguro.
Keywords: Critical Environmental Education – Participating Methodology – Conservation Unit

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo integrar as ações e contribuições do ―Núcleo de


Pesquisa e Extensão Universitárias em Educação Ambiental da Universidade Federal do Sul da
Bahia‖ (NUPPEA UFSB), na região de Porto Seguro – BA, por meio de um projeto de iniciação
científica voluntário.
Desde novembro de 2016 o Parque Nacional do Pau Brasil (PNPB) vem construindo seu
Projeto Político Pedagógico de Educação Ambiental (PPPEA). Pouco antes, no mesmo ano, o
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão de
todas as unidades de conservação federais, lançou um documento denominado ―O PPPEA em
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS e NA GESTÃO DA BIODIVERSIDADE‖.
De acordo o documento supracitado, o PPPEA:

―É um processo que objetiva discutir, refletir, planejar, articular e promover a


implementação de processos educativos (formais, não formais e de educação ambiental)
necessários à melhor conservação da biodiversidade, gestão da unidade de conservação e
qualidade de vida dos grupos sociais prioritários na gestão da unidade. É um processo
estruturante que deve ser construído de forma participativa com os atores locais envolvidos
(instituições públicas, comunidades locais, entidades do segundo e terceiro setor, etc).‖
(ICMBIO, 2016)

Por compreender a dificuldade de semearem-se processos formativos de Educação


Ambiental Crítica59 (EAC), principalmente na difusão do acesso ao conhecimento e à participação
social das populações historicamente excluídas, buscar estudar, refletir, participar e debater
propostas como a construção do PPPEA do PNPB, em Porto Seguro, constitui-se como uma única

59
―Em uma concepção crítica de Educação, acredita-se que a transformação da sociedade é causa e consequência
(relação dialética) da transformação de cada indivíduo, há uma reciprocidade dos processos no qual propicia a
transformação de ambos. Nesta visão, educando e educador são agentes sociais que atuam no processo de
transformações sociais e nesse processo se transformam; portanto, o ensino é teoria prática, é práxis. Ensino que se abre
para a comunidade com seus problemas socioambientais, sendo a intervenção nesta realidade a promoção do ambiente
educativo e o conteúdo do trabalho pedagógico. Aqui a compreensão e atuação sobre as relações de poder que
permeiam e estruturam a sociedade são priorizados, significando uma Educação política, a qual nos faz perceber e ser
os sujeitos que somos na história.‖ (GUIMARÃES, M., 2016)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

oportunidade de formação ativa.


Nesse sentido, o presente artigo busca refletir sobre o que representa a construção de
Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) em termos de gestão e principalmente, de gestão de
Unidades de Conservação, considerando todo seu potencial educativo. O que são PPPs e como
podem contribuir com a gestão de Unidades de Conservação, trazendo como objeto de estudo o
processo em desenvolvimento no PARNA Pau Brasil. Dessa forma, espera-se que o texto contribua
com o aprimoramento teórico metodológico da Educação Ambiental Crítica.

METODOLOGIA

A pesquisa vem se desenvolvendo com base no aprofundamento bibliográfico sobre


educação ambiental crítica, da educação rural e popular, na história dos movimentos
socioambientais, da luta por terra, nas concepções críticas acerca de sustentabilidade, nas
metodologias participativas, na pedagogia freireana, onde a educação é uma prática de liberdade, na
cadeia dos afetos de Espinosa, onde a investigação da natureza dos afetos permite um
aprimoramento das relações e tomadas de decisão/ação, e inúmeras outras referências que almejam
a liberdade individual e o bem viver60 coletivo, através de práticas democráticas. Além do
aprofundamento teórico, a pesquisa também sustenta-se na participação ativa do processo de
construção do PPPEA, na investigação acerca da relevância ecológica e cultural da região somada
aos seus conflitos inerentes, principalmente através de observação participante e de leituras
complementares.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Um Projeto Político Pedagógico é um instrumento de gestão escolar bastante conhecido


entre profissionais da área. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), N.º 9.394 de 1996, tornou
obrigatória a elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) nas escolas, justamente para que
estas alcancem uma reflexão sobre suas identidades e condutas políticas, considerando sua
responsabilidade social.
O documento deve ser elaborado de forma democrática e participativa, como se fosse um
guia a ser visitado e revisitado nas tomadas de ação institucional, favorecendo condutas

60
―...como atitude social moderna, de uma sociedade em notória crise, a ciência irrompe em contradições e
desarticulação; e o conhecimento que se emprega e se difunde como base da educação forma e desenvolve indivíduos
que têm sido, ao mesmo tempo, contraditórios e desarticulados. Já uma atitude monista (ou holística, ou interdisciplinar,
ou quântica, etc.) em relação ao mundo tem o poder de formar uma visão coincidente entre as possibilidades da
sociedade e da natureza; pode, enfim, bem cultivar, fundamentar e estruturar o ―alimento‖ que possibilita o
desenvolvimento cognitivo – o conhecimento –, por meio de pedagogias, atitudes e estratégias de aprendizagem
devidamente coerentes: éticas, no sentido primordial de bem viver, compactuando com o sentido social humano e o
sentido natural humano, retirando a dúvida de qual (cons)ciência se deve ter do mundo.‖(LOOS, H. & SANT‘ANA, R.
S., 2007)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sociopolíticas inclusivas.

―O projeto político-pedagógico, ao se constituir em processo democrático de decisões,


preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os
conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo
com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no
interior da escola diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as
diferenças e hierarquiza os poderes de decisão‖ (VEIGA, 2002, p.9)

Após seus processos de construção, dependendo de como são realizadas, os PPPs das
escolas acabam, mais comumente do que pensamos, fadados ao esquecimento. Muitas escolas
apenas encomendam seus PPPs para formalizar seu funcionamento. Isso ocorre por inúmeros
fatores, porém, a omissão do Estado na formação continuada dos profissionais da educação e na
adequação das escolas as necessidades locais, evidentemente é o principal motivo.
Apesar da problemática dos PPPs de escolas, as políticas públicas de Educação Ambiental
têm adotado desde 2004 o uso de projetos políticos pedagógicos como instrumentos metodológicos
pelo seu alto caráter formativo. Além disso, suas construções têm forte potencial para estabelecer
sinergia interinstitucionais, com participação ativa da sociedade civil. Metodologias participativas
que integram diferentes agentes sociais, são fundamentais para o processo de formação da
identidade política, uma vez que predispõe às pessoas formas de considerar o pensamento/visão de
todas/os, bem como o compartilhar de conhecimentos, com diálogo de saberes.
Na sua aplicabilidade, a gestão institucional, deve utilizar o PPP na condução de decisões
que afetarão a comunidade, buscando alcançar os valores, desejos e integrações ambicionados na
sua construção. Um PPP deve ser renovado, buscando adequar seus objetivos e metas, que assim
como as sociedades, também estão em constante transformação.
De natureza interdisciplinar, o PPP caracteriza-se essencialmente como um instrumento de
Educação Ambiental Crítica, uma vez que esta primazia buscar inverter a pirâmide social onde a
economia está sempre no topo, com meio ambiente e sociedade na base, ou seja, a EAC busca no
―topo‖ constituir o bem-estar das sociedades, tendo na base o meio ambiente e a economia.
Se Marx e Engles afirmaram um dia que nos falta um sistema de ensino novo para poder
modificar as condições sociais, os processos educadores ambientalistas, tanto na educação formal
quanto informal, integram a este sistema de ensino novo, capaz de modificar as concepções e
condições sociais e consequentemente, o estabelecimento de novas relações benéficas e conscientes
entre seres humanos e ambiente.
Nesse sentido, o sufixo EA atribuído ao PPP pelo ICMBio, acaba sendo um pouco
redundante, mas terminologias a parte, fortalecer, reforçar e divulgar a construção desse tipo de
instrumento, é capilarizar a EAC, é valorizar, conservar e conceber mecanismos equânimes às
diversidades sociocultural e ambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O PARNA PAU BRASIL

Considerada um hotspot de biodiversidade, a região que abrange o sul da Bahia e todo o


estado do Espirito Santo, constituí a área denominada Corredor Central da Mata Atlântica, de
acordo com o Projeto Corredores Ecológicos, fruto da Aliança Para Conservação da Mata Atlântica,
que congrega a Conservação Internacional (CI) e a Fundação SOS Mata Atlântica. (MMA, 2006):

―Um corredor corresponde a uma grande área de extrema importância biológica, composta
por uma rede de unidades de conservação entremeadas por áreas com variados graus de
ocupação humana e diferentes formas de uso da terra, na qual o manejo é integrado para
garantir a sobrevivência de todas as espécies, a manutenção de processos ecológicos e
evolutivos e o desenvolvimento de uma economia regional forte, baseada no uso
sustentável dos recursos naturais (Sanderson et al., 2003; Ayres et al., 2005).‖ (MMA,
2006)

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) reconheceu, através da Portaria N.º 492 de 17 de


Dezembro de 2010, o ―Mosaico de Áreas Protegidas do Extremo Sul da Bahia‖ - MAPES, que
dentre seus objetivos, busca integrar e fortalecer a rede de áreas protegidas da região. No Mapa I é
possível visualizar as 12 áreas protegidas que integram o MAPES, identificando o PNPB na região
6. (MAPES, 2010)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Mapa I – Mosaico de Áreas Protegidas do Extremo Sul da Bahia (MAPES, 2010)

Considerando os aspectos acima citados e o alto índice de variabilidade genética e


endemismo na região, Porto Seguro ainda assim ocupa o segundo lugar no ranking entre os
municípios brasileiros que mais desmataram num período de 30 anos, entre 1985 e 2015, segundo o
Atlas da Mata Atlântica produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
A mesma pesquisa aponta que o estado que mais desmatou em 2015 foi a Bahia, com os
municípios Belmonte e Santa Cruz Cabrália (vizinhos de Porto Seguro), liderando o topo do
ranking, constatando-se o crescimento de 206% de desmatamento no estado e totalizando 30% de
desmatamento de Mata Atlântica.
Percorrendo as estradas entre os três municípios é comum identificar grandes áreas de
pecuária, silvicultura e exploração imobiliária, seja para o turismo, seja para propriedades
particulares de pessoas com alto poder aquisitivo. Nos últimos dois anos, intensificaram-se
denúncias de queimadas ilegais no município, dentro e fora de áreas protegidas. Entre os meses de
fevereiro e março de 2016, houveram mais de 10 dias de queimadas sucessivas, em diversas
localidades, incluindo na orla norte de Porto Seguro, nos distritos de Trancoso, Arraial D‘Ajuda, e
também em alguns pontos da BR 367, que liga Porto Seguro ao município de Eunápolis.
Estes impactos somam-se à inúmeras problemáticas sociais, como o avanço das cidades, a
precariedade da educação pública, o acesso a saneamento básico, a marginalização e abandono das
populações tradicionais, constituindo um cenário extremamente favorável ao racismo e à injustiça
ambiental.
Apontamentos como estes reforçam a responsabilidade socioambiental das Unidades de
Conservação da região enquanto gestoras de uma significativa porção da biodiversidade
remanescente, e também enquanto instituições de extrema influência.
A região do PNPB possuí um histórico bastante complexo, do período colonial até os dias
atuais, em que ainda imperam a ocupação desordenada e o extrativismo intenso. Cenário recorrente
em inúmeras localidades do território nacional, as particularidades do entorno do PNPB, de acordo
com seu Plano de Manejo, giram principalmente acerca das atividades econômicas ali desenvolvidas
(agricultura, pecuária, monocultivo de eucalipto).
Potencializadas pela precarização da infraestrutura nas comunidades do entorno do parque,
essas atividades geram riscos potenciais para a UC, como incêndios, desmatamento, contaminação
por agrotóxicos, turismo predatório, caça de animais silvestres, extrativismo vegetal de espécies com
grande valor ecossistêmico e inúmeros outros impactos negativos, que são produto de um sistema
despreocupação com a população, com a biodiversidade e com as futuras gerações.
Apesar da falta de investimento nas UCs, a gestão do PARNA do Pau Brasil vem trabalhando

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1025


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

com as comunidades da zona de amortecimento para minimizar estes impactos e promover a


qualidade de vida para as populações ali residentes. Com a criação do Conselho Consultivo em 2005,
e renovado em 2014, este objetivo vem sendo pauta em reuniões periódicas com os participantes do
conselho (Conselho Gestor do PNPB, associações e demais organizações da região).
Além disso, a parceria estratégica do PNPB com o Projeto Assentamentos Agroecológicos
(PAA) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ /
USP), vem sendo determinante para o desenvolvimento local e sustentabilidade em compromisso
com os movimentos sociais, na criação de novas estratégias e modelos adaptados à realidade local
que permitam a transição agroecológica na região.
Outro resultado dessa parceria é justamente a construção do PPPEA, que teve início em
novembro de 2016 a partir da facilitação assumida conjuntamente.

O PPPEA DO PARNA PAU BRASIL

Destaca-se que, logo após o primeiro mês de construção do PPPEA do PARNA Pau Brasil já
surgiu o seu primeiro resultado que foi a criação da Câmara Temática de Educação Ambiental
(CTEA) do Conselho Consultivo do Parque. Iniciou-se neste momento, como parte da construção do
PPPEA, um processo de formação e autoformação da CTEA com objetivos de diálogos, produção de
conhecimentos e fortalecimento da atuação da mesma como gestora do projeto político pedagógico
que se constrói.
A CTEA é composta por diversas instituições atuantes no território que estão vivenciando um
processo que soma à formação de agentes educadores ambientalistas. Por meio de metodologias
participativas, que são o carro chefe do processo de construção do PPPEA, evidencia-se a
consolidação de um desejo por maior articulação entre coletivos educadores na região e em todo o
município.
A construção de PPPs ou PPPEAs em UCs, ainda se alinha às diretrizes, metas e objetivos de
instrumentos legais, como as Política e o Programa Nacional de Educação Ambiental, a Estratégia
Nacional de Comunicação e Educação Ambiental em Unidades de Conservação, o Programa de
Educação Ambiental na Agricultura Familiar. Mais localmente, o PPPEA do PNPB, também ratifica
a Política Estadual de Educação Ambiental do Estado da Bahia, a Política Municipal de Educação
Ambiental de Porto Seguro e o Plano Municipal de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica
de Porto Seguro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A edificação deste instrumento, quando finalizado, atribuirá ao PNPB a importante marca de


ser a primeira UC de Proteção Integral a ter um PPPEA, e desejavelmente, estimulando demais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

unidades da região a engajarem-se em prol da Educação Ambiental, tanto UCs federais, quanto
estaduais e municipais. Antes do PNPB, as outras unidades que tiveram seus PPPeas consolidados,
foram a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Itatupã-Baquiá, na região Marajoara, no
estado do Pará e, a Floresta Nacional de Tefé, no estado do Amazonas. No início de 2017, segundo
Juvenal Vicenzi, da assessoria de Comunicação Social do Ministério do Meio Ambiente (MMA),
três outras UCs também estão iniciando seus processos de construção do PPPEA, sendo elas a Área
de Proteção Ambiental (APA) do Planalto Central, a Reserva Biológica da Contagem e o Parque
Nacional de Brasília.
O processo realizado nos últimos nove meses com a CTEA, vem potencializando um grupo
diverso, com instituições públicas e privadas, associações comunitárias, organizações não
governamentais, unidades de conservação e universidades. Este grupo já se encontrou cinco vezes. A
facilitação do PPPEA, com o apoio de membros da CTEA, em agosto de 2017, realizou
aproximadamente dez atividades abertas com as comunidades do entorno para ampliar a participação
e incluir a diversidade de olhares no projeto.
As previsões, desejos e inquietações acerca deste PPPEA são extremamente positivas, mas
ainda é preciso lembrar que tanto o ICMBio e o MMA, quanto os demais órgãos de gestão pública e
ambiental, precisam aumentar os investimentos e promover ações que facilitem o acesso à processos
formadores ambientalistas e o engajamento participativo de pessoas e grupos sociais historicamente
excluídos nestes processos.
Uma construção pautada na participação social, nas sensações de representatividade,
pertencimento, alegria, inclusão, consolida-se muito mais forte, e nesse sentido, a Câmara Temática
de Educação Ambiental do Parque Nacional do Pau Brasil, com todas/os suas/os integrantes e sua
facilitação pelo PARNA/ICMBio e PAA/ESALQ, estão ―gestando um bebê democrático‖, elementar
para a transformação de uma realidade tão delicada da Costa do Descobrimento.

REFERÊNCIAS

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Educação Ambiental. 2016.

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MARX, K e ENGELS, F. Textos sobre Educação e Ensino / Karl Marx e Friedrich Engels.
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1029


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IED INDUSTRIAL NO ESTADO DO CEARÁ NO PERÍODO 1995-2011: POTENCIAL


DE IMPACTO AMBIENTAL, SOBRE A RENDA E O EMPREGO

Márcia Cristina Silva PAIXÃO


Professora do Departamento de Economia da UFPB
marciapaixao2014@gmail.com
Claudio Bernardino de OLIVEIRA JUNIOR
Graduando em Ciências Econômicas pela UFPB e aluno PIVIC/CNPq/UFPB
claudio.bernareconomicus@hotmail.com

RESUMO
A pesquisa avalia o potencial de contribuição do Investimento Estrangeiro Direto (IED) para o
desenvolvimento sustentável da Região Nordeste. Parte de hipóteses da literatura sobre a relação
―IED e meio ambiente‖ e sobre o IED originário de economias desenvolvidas e um consequente
maior potencial de as empresas dessas economias apresentarem processos e produtos mais
avançados e conservadores do meio ambiente, além de contribuírem para o progresso tecnológico
da economia receptora. Especificamente, faz-se uma análise descritiva-comparativa do perfil
setorial do IED e do comportamento inovador das empresas no estado do Ceará utilizando-se dados
estaduais dos Censos de Capitais Estrangeiros do BACEN Anos-base 1995/2010 e da PINTEC,
edições 2000/2008. Avaliaram-se as variáveis país de origem, atividade econômica, principal
mercado das empresas, pessoal ocupado, salários, valor da transformação industrial, dispêndios com
atividades inovadoras, estrutura de financiamento desses dispêndios, natureza e importância do
impacto causado pela inovação (consumo de energia e água etc.). De dez características do IED e
das empresas avaliadas como possíveis fontes de impacto ambiental potencial relevante, cinco
contribuiriam para o desenvolvimento sustentável porque seus impactos seriam positivos e de onze
características consideradas relevantes para impacto socioeconômico, sete contribuiriam
positivamente. Conclui-se que os resultados obtidos com o estudo sugerem que o IED tem potencial
para contribuir com o desenvolvimento sustentável do estado do Ceará.
Palavras-chave: Investimentos estrangeiros. Desenvolvimento sustentável. Inovações. Ceará, Brasil.
ABSTRACT
The research evaluates the potential contribution of foreign direct investment (FDI) for the
sustainable development of the Northeast Brazil Region. Considers disseminated hypotheses in the
literature on the relationship between FDI and environment and about FDI from developed
economies and a resulting greater potential of firms from these economies to adopt more advanced
processes and products that contributes to environment protection as well as for technological
progress of the recipient economy. Specifically, it makes a comparative descriptive analysis of the
industry sectors of the FDI and of the innovative behavior of firms in the State of Ceará using FDI
stock data from the Brazilian Central Bank‘s census of Foreign Capital in the Country dated
1995/2010 and data from the Research on Technological Innovation (PINTEC) dated 2000/2008.
The following variables were evaluated: country of origin, economic activity, main market of the
companies, people occupied, salary, value of industrial transformation, expenditures with
innovative activities, financing structure of these expenditures, nature and importance of the impact
caused by innovation (water and energy consumption etc.). Of ten characteristics of FDI and firms
evaluated as possible sources of potential environmental impact, five would contribute to the
sustainable development because their impacts would be positive and of eleven characteristics
considered relevant for socio-economic impacts, seven would be of positive impacts. The

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

conclusion is that it appears that FDI has potential to contribute to the sustainable development of
the State of Ceará.
Keyword: Foreign investments. Sustainable development. Innovations. Ceará, Brazil.

INTRODUÇÃO

A pesquisa corresponde a um aprofundamento de estudo anterior voltada para a Região


Nordeste do Brasil.61 Parte de ideias disseminadas na literatura sobre a relação entre Investimento
Estrangeiro Direto (IED) e meio ambiente, precisamente de hipóteses sobre o IED originário de
economias desenvolvidas e um consequente maior potencial de as empresas dessas economias
apresentarem processos e produtos mais avançados e conservadores do meio ambiente, além de
contribuírem com o progresso tecnológico da economia receptora inclusive via spillover.62
Nesse sentido, amplia o primeiro estudo ao enfocar o IED, seu perfil setorial e o
comportamento inovador das empresas observando dados desagregados estaduais. No caso, estuda
especificamente o estado do Ceará, um dos estados nordestinos com a maior parcela de estoque de
IED em nível regional, conforme apontam os dados dos Censos de Capitais Estrangeiros do Banco
Central do Brasil (BACEN) Anos-base 1995, 2000, 2005 e 2010 (PAIXÃO, 2014).
Pretende-se responder a seguinte pergunta-problema de pesquisa: o IED na Região Nordeste
contribui para o desenvolvimento sustentável?
Reconhece-se a limitação de parte dos dados utilizados: por critérios de confidencialidade, o
BACEN divulgou dados desagregados de estoque de IED e de indicadores relacionados
correspondentes a somente 40% desse estoque no estado do Ceará. Ainda, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) disponibilizou, sob demanda específica, um número reduzido de
observações sobre o comportamento inovador das empresas de IED no estado.
Ao mesmo tempo, tem-se em vista que essa restrição é parcialmente compensada pelo fato
de que a avaliação empreendida somente foi possível em razão da obtenção, após sete meses da
apresentação da demanda, de uma tabulação especial com dados de empresas com capital
controlador ―estrangeiro‖ ou ―nacional e estrangeiro‖.
Tem-se por objetivos específicos: a) identificar o país de origem e o perfil setorial do IED
industrial atraído pelo estado do Ceará no período 1995-2011; b) avaliar o país de origem desses
investimentos como um possível determinante do comportamento ambiental da empresa na
economia recipiente; c) avaliar o perfil setorial desses investimentos quanto ao potencial poluidor e
o tipo de tecnologia de produção para identificar o potencial de impacto sobre o meio ambiente; d)
avaliar o comportamento inovador das empresas de IED industrial no estado como um indicador do

61
Considera-se oportuno mencionar que a pesquisa foi motivada por tese de doutorado que recebeu a segunda
colocação do Prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional 2014, concedido pelo Ministério da Integração
Nacional e conta com publicações derivadas em revistas nacionais e em uma internacional.
62
Paixão (2014) apresenta uma extensa revisão de literatura teórica e empírica que corrobora essa afirmação.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

potencial de spillover tecnológico e de benefícios ambientais e socioeconômicos em termos de


geração de emprego e renda; e) à luz dos resultados obtidos, discutir a contribuição potencial do
capital estrangeiro industrial para a consecução de objetivos de desenvolvimento sustentável pelo
estado investigado.
O trabalho está dividido em mais três seções. Na segunda, são discutidos os dados e o
método de análise utilizado. Na terceira seção são apresentados os resultados e a discussão
correspondente. A quarta corresponde às considerações finais.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo faz uma avaliação descritiva-comparativa e tem como principais fontes de dados:
a) o BACEN - são utilizados dados dos Censos de Capitais Estrangeiros realizados no País
(denotados aqui simplesmente como ―Censos BACEN‖) e referentes aos Anos-base 1995, 2000,
2005 e 2010; b) o IBGE – obteve-se tabulação especial com dados de empresas estrangeiras
derivados da primeira e de recentes edições publicadas da Pesquisa de Inovação Tecnológica
(PINTEC), as edições 2000, 2008 cuja referência temporal é 1998-2000, 2006-2008,
respectivamente.
Deve-se ter em vista especificidades dos dados da PINTEC e a limitação da tabulação
especial obtida que podem afetar a inferência dos dados aqui apresentados, a saber (IBGE, 2010): a)
apoiada na hipótese de que a inovação é um fenômeno raro, a seleção amostral da PINTEC é
propositadamente desbalanceada, sendo as empresas de grande porte (mais de 500 empregados)
pesquisadas de forma censitária, isto é, incluídas com probabilidade um na amostra, e as pequenas e
médias selecionadas com probabilidade proporcional ao número de pessoas ocupadas, além de
serem divididas em dois estratos de acordo com a chance de serem inovadoras; b) a chance da
empresa ser inovadora é afetada por diferenças setoriais na indústria, como o grau de conteúdo
tecnológico; c) em especial, a tabulação obtida para a Região Nordeste contém poucas observações
porque o universo de empresas ―estrangeiras‖ ou ―nacionais e estrangeiras‖ é muito reduzido (pela
PINTEC 2008, respondiam por apenas 4% do total dessas empresas no país contra 14% do Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo e 60% de São Paulo).
Em suma, o leitor deverá ter em vista que a comparação entre edições da PINTEC fica
prejudicada tanto porque a variabilidade da amostra afeta a inferência dos resultados como pelo
número reduzido de observações, especialmente no caso nordestino. Por fim, os dados utilizados no
estudo são indicadores das variáveis de interesse relacionadas no Quadro 1.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quadro 1 - IED na Região Nordeste: variáveis de interesse da pesquisa


Características e comportamento inovador das empresas
País de origem
Atividade econômica e principal mercado
Pessoal ocupado, salários, valor da transformação industrial
Dispêndios com atividades inovadoras e estrutura de financiamento desses dispêndios
Natureza e importância do impacto causado pela inovação (consumo de energia, água,
matéria prima etc.)
Fonte: Elaboração dos autores com base em literatura sobre IED e meio ambiente e publicações da PINTEC.

O estudo também conta com o auxílio de taxonomias que classificam os setores das
indústrias extrativas e de transformação segundo o potencial poluidor (mais poluentes,
intermediários, mais limpos) e o tipo de tecnologia de produção (produção intensiva em recursos
naturais, trabalho, escala, com tecnologia diferenciada). Respectivamente, são as taxonomias
propostas por Ferraz e Seroa da Motta (2002) e pela OECD (1987) apud Nassif (2006).
A utilização dessas taxonomias é justificada pelo fato de que, conforme previsto pela
literatura da Economia do Meio Ambiente ou correlata (MUELLER, 2007; MAY, 2010; UNCTAD,
1999), considera-se que a utilização intensiva de recursos naturais e, em certos casos, a escala
elevada de produção são aspectos intimamente associados a determinadas atividades industriais e
podem implicar impacto ambiental significativo. Por sua vez, atividades industriais intensivas em
conhecimento são relativamente mais limpas, isto é, de menor potencial poluidor, e,
adicionalmente, podem gerar maiores oportunidades de inovação tecnológica e melhoria da
qualidade dos empregos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira metade da Tabela 1 apresenta evidências do boom de IED na Região Nordeste na


primeira metade da década de 2000 conforme foi destacado por Paixão (2014). No caso do estado
do Ceará, os dados dos Censos BACEN Anos-base 1995, 2000 e 200563 também revelam um
crescimento importante do estoque de IED no período e que uma parte significativa desse
investimento é originário de países desenvolvidos, principalmente dos Estados Unidos da América
(EUA) e de países europeus. Juntos, esses países somam mais de 50% do estoque de IED no estado
nos três períodos observados, cabendo destacar as primeiras posições dos EUA, Alemanha, Itália,
Portugal e Países Baixos (Holanda) no ano 2005.

63
Ressalte-se, por oportuno, que até o fechamento desta pesquisa, o BACEN não tinha divulgado os dados de estoque
de IED por Unidade da Federação levantados no Censo Ano-base 2010.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 1 – Região Nordeste e estado do Ceará: estoque de IED na indústria de transformação, segundo o país
de origem, anos 1995/2000/2005
Período 1995 2000 2005
Estoque de IED (US$ milhões)
Região Nordeste 1.618 3.187 5.511

Ceará 142 558 336


Região econômica e economias (%)
Desenvolvidas 77,54 53,13 62,38
Estados Unidos da América 7,26 5,11 24,39
Alemanha 0,03 0,2 9,94
Itália 0,1 1,63 7,94
Portugal 1,1 0,23 7,42
Países Baixos (Holanda) - 1,26 5,94
Suíça 16,46 3,57 2,99
Luxemburgo 26,34 6,57 1,87
Espanha 0,14 34,55 1,56
França 26,11 0,01 0,33
Em desenvolvimento 21,67 43,5 17,39
Virgens, Ilhas (GB) - - 15,07
Uruguai 2,93 3,69 1,76
Bahamas, Ilhas 18,74 13,71 0,63
Equador - 0,04 -
Argentina - 0,58 -
Panamá - 24,94 -
Cayman, Ilhas - 0,54 -
Diversos estrangeiros 0,79 3,37 20,23
Fonte: BACEN (2016). Censos de Capitais Estrangeiros. Elaboração dos autores.
Nota: sinal convencional utilizado: - Corresponde a dado numérico igual a zero na tabela do BACEN.

Em relação à dinâmica do IED no estado, constata-se uma perda de participação relativa de


países europeus, movimento este compensado pela ascensão dos EUA que se tornou o principal
investidor no período mais recente. Já quanto a participação de países em desenvolvimento, chama
a atenção a presença expressiva de capital originário de ilhas conhecidas como paraísos fiscais.
Deve-se ter em vista que o dado de 2005 divulgado pelo BACEN leva em conta o país remetente
dos recursos. Como o próprio BACEN destaca no relatório do Censo de Capitais Estrangeiros de
1995, esse dado favorece a participação relativa de paraísos fiscais.64
Diante desses primeiros dados, pode-se avaliar, com base nas hipóteses consideradas, que o

64
Inclusive, para minimizar esse problema, o BACEN adotou novos critérios no Censo Ano-base 2010: levantou o dado
por país investidor imediato (da empresa que participa diretamente do capital da empresa investida) e por país
investidor final (da empresa que ocupa o topo da cadeia de controle da empresa investidora imediata).
Lamentavelmente, como já mencionado, os dados desse Censo não foram disponibilizados até o fechamento desta
pesquisa.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

perfil do IED que o estado do Ceará atraiu no período mais recente seria favorável em termos de
maior potencial de impactos positivos na economia recipiente. Dada a predominância de
investimento originário de economias desenvolvidas, tem-se uma indicação de um maior potencial
de comportamento ambiental sustentável por partes das empresas e de contribuição para um
processo de inovação e difusão tecnológica.
Como sugerido na literatura, e como dados do comportamento inovador de empresas de IED
mais adiante neste trabalho também apontam, empresas de países desenvolvidos possuem
capacidade técnica e financeira mais elevada e, assim sendo, é de se esperar que adotem tecnologias
mais limpas, avançadas e práticas organizacionais mais eficientes resultando em ganhos ambientais
e socioeconômicos para a economia receptora.
A Tabela 2 apresenta dados do Censo BACEN Ano-base 2010. O estoque de IED é
apresentado por setores da indústria de transformação os quais são classificados segundo o
potencial poluidor. Constata-se que pelo menos 31% do estoque de IED no estado do Ceará em
2010 se concentravam em setor de alto potencial poluidor (fabricação de produtos químicos) contra
apenas 2,56% em setor mais limpo (fabricação máquinas, aparelhos e materiais elétricos).

Tabela 2 - Ceará: estoque de IED por setores da indústria de transformação e potencial poluidor, 2010
Participação
Setores US$ (milhões)
(%)
Setores mais poluentes 31,01
Produtos químicos 596 31,01
Setores intermediários 5,34
Produtos alimentícios 67 3,50
Máquinas e equipamentos 23 1,19
Manutenção, reparação e instal. de máquinas e equipamentos 5 0,28
Produtos têxteis 5 0,26
Confecção de artigos de vestuário e acessórios 2 0,11
Setores mais limpos 2,56
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 49 2,56
1
Outros 1.174 61,06
Total 1.922 100
Fonte: BACEN (2016). Censos de Capitais Estrangeiros. Elaboração dos autores.
1
Inclui itens não elencados e informações que não atendem ao critério de confidencialidade .

Essas evidências são preocupantes. Uma parcela significativa do estoque de IED se


concentra numa atividade produtiva com potencial elevado de degradação ambiental. Ainda, há que
se ter em vista que, como já mencionado, não foi possível classificar 61,06% do estoque de IED
porque os dados desagregados não foram disponibilizados pelo BACEN seguindo critérios de
confidencialidade. Adicionalmente, os dados divulgados sugerem baixa participação de setores

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

relativamente mais limpos, o que diminui o potencial de difusão de tecnologias mais limpas
provenientes dos países desenvolvidos investidores diretos no estado.
O potencial de impacto ambiental e de difusão tecnológica também pode ser avaliado
classificando-se os setores de atividade de atuação do IED segundo o tipo de tecnologia em questão.
A Tabela 3 mostra que 3,50% do estoque de IED do estado do Ceará em 2010 se concentravam em
setores intensivos em recursos naturais contra 31,06% em setores intensivos em escala e apenas
4,03% em setores cujo insumo principal são tecnologias diferenciadas. Novamente, tem-se a
restrição de que não foi possível classificar 61,06% desse estoque.

Tabela 3 - Ceará: estoque de IED por setores da indústria de transformação e tipo de tecnologia, 2010
Setores US$ (milhões) Participação (%)
Intensivos em recursos naturais 3,50
Produtos alimentícios 67 3,50
Intensivos em trabalho 0,37
Produtos têxteis 5 0,26
Confecção de artigos de vestuário e 2 0,11
acessórios
Intensivo em escala 31,01
Produtos químicos 596 31,01
Com tecnologia diferenciada 4,03
Máquinas e equipamentos 23 1,19
Manutenção, reparação e instalação de
5 0,28
máquinas e equipamentos
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 49 2,56
Outros1 1.174 61,06
TOTAL 1.922 100
Fonte: BACEN (2016). Censo de Capitais Estrangeiros. Elaboração dos autores.
1
Inclui itens não elencados e informações que não atendem ao critério de confidencialidade.

Essa distribuição segundo o tipo de tecnologia também sugere um risco ambiental


importante na medida em que a degradação ambiental tanto é função da escala de produção quanto
da sua composição em termos de potencial de poluidor. No caso do estado do Ceará, nada menos
que 31,06% do estoque do IED está concentrada em uma atividade intensiva em escala (fabricação
de produtos químicos). Além disso, essa mesma atividade é de alto potencial poluidor como já foi
dito.
Por outro lado, há que se considerar que setores intensivos em escala detêm atividades com
maior sofisticação tecnológica e por isso são importantes para a difusão de avanços tecnológicos,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

como argumentou Nassif (2008). Ao mesmo tempo, chama a atenção à baixa participação de setores
intensivos em tecnologia diferenciada e ausência de setores intensivos em ciência. Nesse último
caso, perde-se potencial de difusão tecnológica, direta ou via spillover.
Investigar o perfil inovador das empresas estrangeiras também é útil para testar as hipóteses
quanto ao país de origem dos investimentos como determinante de sua qualidade. Isto porque, em
tese, empresas de IED originárias de países desenvolvidos apresentam maior capacidade técnica e
financeira para implementar soluções tecnológicas inclusive com objetivos ambientais e contribuir
direta ou indiretamente (via spillover) para o desenvolvimento sustentável da economia recipiente
Os dados do Censo BACEN Ano-base 2005 revelaram predominância no estado do Ceará de
IED originário de economias desenvolvidas (62,38%). A Tabela 4, com dados da PINTEC,
confirma a maior presença de empresas norte americana e europeia.

Tabela 4 - Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo a origem do capital controlador -
Brasil, Nordeste, Ceará - 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Empresas
Brasil NE CE Brasil NE CE
Total 2113 97 16 2371 102 22
Inovadoras 1291 64 5 1325 56 14
Inovadoras (%) 61 66 31 56 55 64
Origem do capital controlador (número de empresas)
Mercosul 105 1 - 142 4 -
EUA 520 33 6 505 27 13
Canadá e Mexico¹ - - - 80 9 -
Outros países da América 140 10 - 35 2 -
Ásia 212 13 - 160 16 1
Europa 1223 40 10 1.317 43 7
Oceania ou África 13 - - 61 1 1
Empresas inovadoras (%)
Mercosul 60 - - 51 25 -
EUA 76 74 67 60 66 92
Canadá e Mexico¹ - - - 59 79 -
Outros países da América 45 100 - 37 50 -
Ásia 59 100 - 56 50 100
Europa 57 42 10 53 47 43
Oceania ou África 57 - - 67 100 100
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.
1
Dado não coletado na PINTEC 2000.

Os dados também revelam que, no período mais recente, a quase totalidade das empresas
norte-americanas investiram em inovações enquanto menos da metade das empresas europeias
adotaram esse comportamento. Como o número de empresas norte-americanas é o dobro do das

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1037


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

europeias, pode-se considerar que o perfil inovador das empresas de IED relacionado com a região
econômica de origem, corresponde ao esperado. Inclusive, o comportamento inovador das empresas
dos EUA é mais frequente no estado do Ceará do que em nível nacional e regional. Já o
comportamento das europeias segue o padrão desses territórios.
Chama a atenção a entrada de empresas da Ásia e da Oceania ou África. Apesar de
apresentarem comportamento inovador, há que se considerar a região econômica de origem. Por
exemplo, Paixão (2014) identificou a entrada da China entre os dez países maiores investidores
diretos na Região Nordeste segundo os dados de estoque de IED do Censo BACEN Ano-base 2005.
A autora avaliou esse caso como preocupante por se tratar de um país ainda em desenvolvimento e,
o mais grave, porque a China responde pelas cidades mais poluídas do planeta.65
Os dados da Tabela 5 também corroboram os dados do BACEN em termos do perfil setorial
do IED industrial no estado do Ceará e o correspondente potencial poluidor: pelos dados da
PINTEC, também predomina a concentração de empresas de IED em atividades de alto potencial
poluidor. Por outro lado, essa desvantagem pode ser compensada em alguma medida pelo
comportamento inovador das empresas mais recorrente se se considerar o período mais recente.

Tabela 5 - Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo o potencial poluidor – Brasil,
Nordeste e Ceará 1998/2008
Potencial 1998-2000 2006-2008
poluidor Brasil NE CE Brasil NE CE
Total (número de empresas)
Alto 611 50 11 648 39 14
Médio 919 32 4 1.175 36 7
Baixo 582 14 1 548 27 1
Empresas inovadoras (%)
Alto 71 70 14 54 53 76
Médio 61 50 67 56 66 75
Baixo 52 91 100 58 44 100
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.

Segundo a literatura pertinente, o destino da produção importa na medida em que mercados


de economias desenvolvidas são mais exigentes da qualidade do comportamento ambiental e social
das empresas. A Tabela 6 mostra que as empresas de IED no estado do Ceará produzem para
atender ao mercado interno. Portanto, tem-se aqui um aspecto que desfavorece o potencial de

65
Segundo Motta (2013) em notícia do Jornal O Globo: ―Estimativa do Banco Mundial (BIRD) indica que 16 das 20
cidades mais poluídas do planeta são chinesas.‖ Inclusive, a mesma notícia anunciou que o governo chinês tinha recém
promulgado um pacote de medidas rigorosas para o controle da poluição industrial, com meta de redução das emissões
em cerca de 30% até 2017. Nesse contexto, convém destacar um ponto relevante: a literatura prevê que a empresa
estrangeira tem fortes incentivos para reproduzir no país receptor a tecnologia adotada em outras unidades de sua
propriedade!

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1038


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ganhos socioambientais para a economia recipiente.

Tabela 6 - Empresas estrangeiras industriais, totais e inovadoras, segundo o principal mercado – Brasil,
Nordeste e Ceará – 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Principal mercado
Brasil NE CE Brasil NE CE
Total (número de empresas)
Estadual 495 7 - 380 10 -
Regional 223 13 - 137 4 1
Nacional 1.153 62 13 1.405 75 21
MERCOSUL 70 5 - 145 1 -
EUA 38 7 3 68 1 -
Europa 104 - - 114 8 -
Ásia 18 3 - 20 2 -
Outros 12 1 1 31 - -
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.

A Tabela 7, por sua vez, permite testar a hipótese de elevada capacidade financeira de
empresas de IED originárias de economias desenvolvidas, a origem predominante no caso do estado
do Ceará. Constata-se que as empresas, inclusive em nível regional, não são dependentes de
financiamento público para investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) ou outras atividades
inovadoras. Essa é uma característica importante, muito favorável para o estado porque eleva o
potencial de spillover tecnológico e contrasta com o resultado anterior sobre o destino da produção.
Ainda, chama muito a atenção o elevado crescimento do valor dos dispêndios entre os dois
períodos considerados: esse valor cresceu nada menos que quase nove vezes no caso do estado do
Ceará e cerca de quatro vezes em nível regional e nacional.
Por fim, a Tabela 8 mostra o grau de importância (alta, média, baixa) do impacto das
inovações associadas ao processo produtivo e, consequentemente, também ao meio ambiente. O
cenário pode ser considerado equilibrado dado que um nível baixo de impacto sobre o consumo de
um certo recurso ambiental parece ser compensado, grosso modo, por outro impacto de alto nível. A
saber, considerando-se o segundo período observado:

a maioria das empresas inovadoras relatam ter obtido aumento relevante (alto) da
capacidade produtiva e baixo impacto em termos de redução do consumo de matéria prima.
Esses resultados são preocupantes da perspectiva ambiental se se considerar que todo
processo produtivo industrial é per se gerador de impacto ambiental e que quanto maior a
capacidade produtiva, maior pode ser a escala de produção e o consumo de matérias primas
implicando em risco de impactos ambientais relevantes;
esse resultado é, aparentemente e grosso modo, compensado pelo efeito relevante das
inovações em termos de redução do consumo de energia e de água e de impacto ambiental
e/ou aspectos ligados a segurança.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1039


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 7 - Empresas estrangeiras industriais inovadoras, dispêndios com inovação e estrutura de


financiamento por atividades selecionadas – Brasil, Nordeste e Ceará - 1998/2008
Dispêndios e fontes 1998-2000 2006-2008
de financiamento Brasil NE CE Brasil NE CE
Dispêndios com inovações (1.000 R$) 10.885.268 211.097 3.497 18.148.832 337.131 30.940
Empresas inovadoras (%)
Recursos próprios 89 100 100 88 100 100
Atividades Recursos Privado 2 - - 1 - -
de P&D de Público 9 - - 11 - -
terceiros
Recursos próprios 65 71 100 91 81 94
Demais
atividades Recursos Privado 19 26 - 2 17 4
de Público 16 3 - 7 2 2
inovadoras
terceiros
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.

Tabela 8 - Empresas estrangeiras industriais inovadoras, segundo o tipo de impacto das inovações – Brasil,
Nordeste e Ceará - 1998/2008
Impacto das inovações 1998-2000 2006-2008
e grau de importância Brasil NE CE Brasil NE CE
Impactos associados ao processo produtivo/meio ambiente ¹ (núm. de empresas)
Aumento da Alta 480 19 3 587 33 13
capacidade Média 312 10 1 266 12 1
produtiva Baixa e NR 499 35 1 422 10 3
Redução do Alta 133 12 - 128 5 1
consumo da matéria Média 203 15 1 187 9 -
prima Baixa e NR 956 37 4 961 42 16
Alta 127 6 - 136 7 1
Redução do
consumo da energia Média 232 8 - 221 21 11
Baixa e NR 333 50 5 917 28 5
Alta - - - 91 14 11
Redução do
consumo de água² Média - - - 130 5 -
Baixa e NR - - - 1.055 37 6
Redução do Alta 468 25 3 492 34 12
impacto ambiental Média 259 10 2 317 13 6
e/ou aspectos
ligados a segurança Baixa e NR 565 30 1 838 22 2
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.
1
O processo produtivo industrial per se é gerador de impacto ambiental. 2 Dado não coletado na PINTEC
2000.

Este trabalho também discute os benefícios esperados com o IED em termos de geração de
renda e emprego. Antes, cabe ressaltar que Paixão (2014), considerando dados agregados
divulgados pelo IBGE (PINTEC 2005), mostra que empresas inovadoras, sejam elas nacionais ou
estrangeiras, respondem pela maior parcela de pessoal ocupado (PO) na indústria, receitas líquidas,
valor da transformação industrial (VTI) e produtividade do trabalho (VTI/PO).
A autora também encontrou evidências desse desempenho para o caso da Região Nordeste.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1040


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Inclusive, foram esses resultados para dados agregados que motivaram o aprofundamento da
investigação observando-se também dados estaduais, notadamente dos estados da Bahia, Ceará e
Pernambuco (estes respondem pela maior parcela de IED na Região Nordeste).66
Dessa perspectiva, a Tabela 9 caracteriza o IED industrial no estado do Ceará quanto ao
porte das empresas, a partir do indicador de pessoal ocupado (PO) dividido pelo número de
empresas. Também, apresenta dados do desempenho comercial com o exterior, inclusive
destacando a parcela das empresas inovadoras. Constata-se que as empresas de IED são de médio
porte (ocupam entre 250 a 499 pessoas) e exportadoras líquidas (apesar de a produção ser voltada
principalmente para o mercado interno como também foi mostrado).

Tabela 9 - Empresas estrangeiras industriais, totais e inovadoras, segundo variáveis selecionadas – Brasil,
Nordeste, Ceará – 1998/2008

Variáveis 1998-2000 2006-2008


selecionadas Brasil NE CE Brasil NE CE
Total 2113 97 16 2371 102 22
Inovadoras 1291 64 5 1325 56 14
Inovadoras (%) 61 66 31 56 55 64
Variáveis selecionadas (número de observações e valor US$ FOB)
PO Total 827.157 29.251 7.469 1.144.320 40.762 8.676
PO/empresa 392 302 465 497 401 393
VEXP¹ - - - 39.643 998 58
VIMP¹ - - - 29.778 694 53
EXP líquidas¹ - - - 9.865 304 5
Empresas inovadoras (%)
PO 85 62 57 83 74 92
VEXP - - - 91 65 85
VIMP - - - 89 68 87
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.
1
Valor em US$ 1.000.000 FOB. Dado não coletado na PINTEC 2000.

Por sua vez, a segunda parte da Tabela 9 permite confirmar a hipótese de desempenho
superior de empresas inovadoras: considerando o período mais recente avaliado, são as empresas de
IED inovadoras que respondem por 92% do PO e por cerca de 85% do volume exportado e
importado.
A Tabela 10 também permite testar a hipótese de desempenho superior das empresas
inovadoras: em nível nacional e regional nos dois períodos avaliados e no estado do Ceará no
período mais recente, constata-se que elas responderam pela maior parcela do valor da

66
Bahia é o próximo estado a ser estudado.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1041


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

transformação industrial (VTI).67 Como se sabe, quanto maior o VTI das empresas, maior sua
importância econômica em dado território e, portanto, maior seu potencial de contribuição à
geração de emprego e renda.
Ainda, utilizando-se os dados de VTI e PO (Tabela 9) para calcular um indicador de
produtividade do trabalho, como apresentado na segunda parte da Tabela 10, tem-se, exceto para
uma das observações, que a produtividade das empresas inovadoras é maior em nível nacional e
regional. Especificamente no caso das empresas do estado do Ceará, essa superioridade não é
observada.

Tabela 10 - Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras e não-inovadoras, valor da transformação


industrial e da produtividade do trabalho - Brasil, Nordeste, Ceará - 1998/2008
1998-2000 2006-2008
Empresas
Brasil NE CE Brasil NE CE
Valor da Transformação Industrial (VTI) (1.000 R$)
Total 84.132 2.206 268 227.420 5.977 708
Inovadoras 73.831 1.632 103 198.427 3.571 632
Inovadoras (%) 88 74 38 87 60 89
Produtividade (VTI/PO) (1.000 R$)
Total 102 75 36 199 147 82
Inovadoras 105 91 24 210 118 79
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.

Nesse caso, o indicador de produtividade para estado do Ceará no primeiro período


considerado pode estar refletindo a parcela muito reduzida de empresas inovadoras. Já o indicador
do período mais recente pode estar refletindo diferenças na relação capital/trabalho e conteúdo
tecnológico das principais atividades industriais de empresas de IED no estado ou, como a
produtividade é maior quando menos trabalhadores são empregados, pode estar sugerindo um
menor nível de qualificação da mão-de-obra local e, consequentemente, uma necessidade de
compensação em termos quantitativos.
Adicionalmente, como mostrado por meio da Tabela 3, há que se ter em vista que nada
menos que 61% do estoque de IED industrial do estado não podem ser classificados quanto à
tecnologia de produção e, assim sendo, não se pode confirmar, por exemplo, uma maior
participação relativa de setores intensivos em mão-de-obra, o que também contribuiria para explicar
o menor valor de produtividade observado.
A Tabela 11, por sua vez, revela uma diferença insignificante entre a remuneração do total
de empresas de IED e de empresas inovadoras. Esse resultado está condizente com o fato de que,
dada a capacidade técnica e financeira mais elevada, espera-se que empresas estrangeiras e, em
67
O valor da transformação industrial corresponde ao valor bruto da produção menos o custo das operações
industriais (IBGE, 2002).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1042


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

especial, as inovadoras paguem maiores salários. Ao mesmo tempo, mostra uma diferença
expressiva entre essa remuneração no estado do Ceará e a no país ou na Região Nordeste como um
todo. Paixão (2014) também identificou essa disparidade numa comparação da Região Nordeste
com a Região Sudeste avaliando a remuneração em número de salários mínimos. Assim, pode-se
afirmar que os dados sugerem que a qualidade dos empregos gerados pelas empresas de IED no
estado seria desfavorável pela baixa remuneração numa comparação com essas empresas em outras
regiões do país.
Um ponto é que características socioeconômicas da região geográfica envolvida (nível
educacional da mão de obra, por exemplo) também podem ser fortes determinantes da remuneração
do trabalho, além de características próprias das empresas (a atividade desenvolvida, o perfil
inovador, entre outras). Esses aspectos expressam bem a noção de que a simples maior presença de
empresas estrangeiras não garante seus supostos benefícios.

Tabela 11 - Empresas estrangeiras industriais, total e inovadoras, segundo o total de salários e os salários
individuais médios anual e mensal - Brasil, NE e Ceará – 2000 e 2008 (1.000 R$)
2000
Salário anual Salário mensal
Salários (1.000 R$)
Regiões individual médio¹ individual médio ²
Total Inovadoras Total Inovadoras Total Inovadoras
Brasil 18.393.038 15.937.077 22 23 1,71 1,74
Nordeste 393.242 293.021 13 16 1,03 1,25
Ceará 31.454 21.908 4 5 0,32 0,39
2008
Brasil 45.965.895 38.831.703 40 41 3,09 3,16
Nordeste 11.66.035 830.263 29 27 2,20 2,11
Ceará 153.619 139.679 18 17 1,36 1,35
Fonte: PINTEC/IBGE. Elaboração dos autores.
1
A remuneração do trabalho acumulada no ano e dividida pelo pessoal ocupado. 2 A remuneração anual
individual dividida por treze (janeiro a dezembro mais décimo terceiro salário).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Quadro 2 apresenta um resumo das inferências feitas no trabalho com base nos dados
observados. Essa ilustração permite identificar que de dez características do IED presente no estado
do Ceará avaliadas como possíveis fontes de impacto potencial relevante sobre o meio ambiente,
cinco contribuiriam para o desenvolvimento sustentável porque seus impactos seriam positivos.
Já no caso das onze características consideradas com potencial de impacto socioeconômico
relevante, sete contribuiriam para o desenvolvimento sustentável do estado. Conclui-se, portanto,
que os resultados da avaliação descritiva-comparativa empreendida neste estudo sugerem que, no
caso do estado do Ceará, o IED parece contribuir para o desenvolvimento sustentável.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1043


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quadro 2 Efeitos potenciais da presença de IED no estado do Ceará


Impacto potencial
Característica considerada como origem do efeito
Ambiental Socioeconômico
(+)
País de origem do IED (Tabela 1) (+)
via spillover
Setores de atuação do IED classificados segundo o (-) n.a.
potencial poluidor (Tabela 2)
Setores de atuação do IED classificados segundo o tipo (-) inconclusivo
de tecnologia da produção (Tabela 3)
País de origem e o comportamento inovador segundo o (+)
país de origem (Tabela 4) (+)
via spillover
O potencial poluidor e o comportamento inovador das (+)
empresas (Tabela 5) (-)
via spillover
Mercado destino da produção (Tabela 6) (-) (-)
(+)
Dispêndios com inovações (Tabela 7) (+)
via spillover
Estrutura de financiamento dos dispêndios com (+)
inovações (Tabela 7) (+)
via spillover
Impacto das inovações em termos de aumento da
capacidade produtiva e de redução do consumo de (-) n.a.
matéria prima (Tabela 8)
Impacto das inovações em termos de redução do
consumo de energia, água e impacto ambiental e/ou (+) n.a.
aspectos ligados a segurança (Tabela 8)
PO, porte das empresas, desempenho comercial com o
exterior e comportamento inovador das empresas (Tabela n.a. (+)
9)
VTI e comportamento inovador das empresas (Tabela 10) n.a. (+)
Produtividade do trabalho (VTI/PO) e comportamento n.a. inconclusivo
inovador das empresas (Tabela 10)
Remuneração do trabalho (Tabela 11) n.a. (-)
Fonte: elaboração dos autores a partir de dados da pesquisa.
Nota: n.a. = não aplicável. A conclusão obtida não seria aplicável à dimensão em questão.

Sem perder de vista a restrição de disponibilidade de dados desagregados estaduais,


considera-se a possibilidade de dar continuidade a este estudo recorrendo-se a análises
econométricas possíveis para testar estatisticamente os resultados aqui obtidos. Ainda, estudos
complementares são necessários para contemplar o efetivo comportamento individual das empresas
e detectar, por exemplo, o nível de eficácia ou eficiência de seus sistemas de controle ambiental, sua
reação econômica e socioambiental a instituições formais e informais etc.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1044


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS

BACEN. Banco Central do Brasil. Censo de Capitais Estrangeiros no País, Estatísticas econômicas
de capitais estrangeiros no País Anos-base 1995/2000/2005/2010. [2013?]. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?censoce >. Acesso em: 2011; 2013.

FERRAZ, C.; SEROA DA MOTTA, R. Regulação, Mercado ou Pressão Social? Os Determinantes


do Investimento Ambiental na Indústria. Rio de Janeiro: IPEA, 2002. (Texto para discussão, n.
863).

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados da PINTEC 2000. Rio de Janeiro:
IBGE, 2002.

______. ______. Resultados da PINTEC 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

______. ______. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria. Pesquisa Industrial de Inovação


Tecnológica (PINTEC). Tabulação especial – empresas estrangeiras industriais. 2013. Dados
disponibilizados sob demanda específica, contra apresentação de projeto de pesquisa à
Gerência de Atendimento e Recuperação de Informações (GEATE) do Centro de Documentação
e Disseminação de Informações (CDDI) do IBGE. Recebimento via E-mail.

MAY, Peter H. (Org.). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier,
2010.

MOTTA, C. China impõe limites para emissão de poluentes atmosféricos. Jornal O Globo, [São
Paulo?], 18 jun. 2013. Disponível em: <www.oglobo.globo.com/ciencia/china-impoelimites-
para-emissao-de-poluentes-atmosfericos-8734753>. Acesso em: 2 jul. 2013.

MÜELLER, C. C. Os economistas e as relações entre o sistema econômico e o meio ambiente.


Brasília: UnB, 2007.

NASSIF, A. Há evidências de desindustrialização no Brasil? Rio de Janeiro: BNDES, 2006. (Texto


para Discussão, n. 108).

PAIXÃO, M. C. S. Investimento estrangeiro direto no cenário ambiental e socioeconômico do


nordeste brasileiro. 2014. 218 f. Tese (Doutorado em Economia) - Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

UNCTAD. United Nations Conference on Trade and Development. World Investment Report 1999:
FDI and the Challenge of

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1045


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Development. New York e Geneva/Suíça: United Nations, 1999. Disponível em:


<www.unctad.org/wir>. Acesso em: mar. 2012.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1046


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS: UMA ANÁLISE DA


IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA MUNICIPAL NA REGIÃO METROPOLITANA DE
PATOS/PB

Dayane Renaly Lopes de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Administração UEPB/CAMPUS VII
dayanee.reenaly@gmail.com
José Emanuel Laurentino DINIZ
Graduando do Curso de Administração UEPB/CAMPUS VII
emanuelaurentino@gmail.com
Eunice Ferreira CARVALHO
Professora Mestre - UEPB/CAMPUS VII
elocarvalho12@gmail.com
Karlla Karolinne França LIMA
Professora doutoranda - UEPB/CAMPUS VII
karlla.direito@gmail.com

RESUMO
O Brasil conta com um arcabouço legal que estabelece diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos
por meio da Política Nacional de Resíduos Sólidos e para prestação de serviços públicos de limpeza
urbana que aborda um conjunto de diretrizes. Destaca-se ainda a elaboração do Plano Municipal de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) que é um documento que aponta e descreve as
ações relativas ao manejo de resíduos sólidos urbanos, contemplando os aspectos referentes a
redução, reutilização, reciclagem e disposição final ambientalmente adequada. Por isso, o objetivo
dessa pesquisa é analisar as ações desenvolvidas pelo poder público do município de Patos com
relação a gestão dos resíduos sólidos a partir do PMGIRS e como objetivos específicos: evidenciar
os Plano relacionado a Gestão dos resíduos sólidos do município e identificar as ações
desenvolvidas pelo poder público local para atingir os objetivos da sua política ambiental. A
pesquisa foi desenvolvida a partir de uma análise documental através do PMGIRS do município e
uma entrevista ao representante da Secretaria do Meio Ambiente. A pesquisa mostrou portanto, que
não existe, enquanto gestão, um compromisso em priorizar a política ambiental através da execução
e cumprimento do Plano tendo em vista que as ações propostas, nesse documento, não foram
iniciadas desde a sua implantação(2014) e nem se encontram em plano de desenvolvimento. É
preciso que o poder público perceba o grau de relevância das questões ambientais e invista em
projetos e ações que reformem o cenário atual.
Palavras Chaves: Gestão Pública – Resíduos Sólidos - PMGIRS.
ABSTRACT
Brazil has a legal framework that establishes guidelines for solid waste management through the
National Solid Waste Policy and for the provision of public urban cleaning services that addresses a
set of guidelines. Also worth mentioning is the preparation of the Municipal Integrated Solid Waste
Management Plan (PMGIRS), which is a document that identifies and describes actions related to

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1047


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

urban solid waste management, including aspects related to reduction, reuse, recycling and final
disposition environmentally proper. Therefore, the objective of this research is to analyze the
actions developed by the public authority of the municipality of Patos in relation to the solid waste
management from the PMGIRS and as specific objectives: to highlight the Solid Waste
Management Plan of the municipality and to identify the actions Developed by local government to
achieve the objectives of its environmental policy. The research was developed based on a
documentary analysis through the PMGIRS of the municipality and an interview with the
representative of the Secretariat of the Environment. The research therefore showed that, as a
management, there is no commitment to prioritize the environmental policy through the execution
and fulfillment of the Plan, since the actions proposed in this document have not been initiated since
its implementation (2014) and Development plan. It is necessary that the public power perceive the
degree of relevance of environmental issues and invest in projects and actions that reform the
current scenario
Keywords: Public Management - Solid Waste - PMGIRS

INTRODUÇÃO

Alterações ambientais físicas e biológicas ao longo do tempo modificam a paisagem e


comprometem o ecossistema. Tais alterações, segundo Fernandes(apud Mucelin e Bellini, 2008),
ocorrem por inumeráveis causas, muitas denominadas naturais e outras oriundas de intervenções
antropológicas, consideradas não naturais.
A ampliação das áreas urbanas e o crescimento populacional bem como o aumento da
produção e consumo têm contribuído, na sociedade moderna, para agravar as condições ambientais,
sobretudo no cenário urbano. Além disso, o desenvolvimento tecnológico e as culturas das
comunidades têm contribuído para que essas alterações no meio ambiente se intensifiquem,
causando vários danos.
Ademais, o crescimento das cidades brasileiras não foi acompanhado pela provisão de
infraestrutura e de serviços urbanos, entre eles os serviços públicos de saneamento básico, que
incluem o abastecimento de água potável; a coleta e tratamento de esgoto sanitário; a estrutura para
drenagem urbana e o sistema de gestão e manejo dos resíduos sólidos.
É possível observarmos que os impactos negativos ao meio ambiente, estão se acirrando
motivado principalmente, pelo uso, crenças e hábitos culturais do morador das cidades. No Brasil
por exemplo, esses impactos significativos no ecossistema urbano, podem ser compreendidos com
uma situação de crise e sugerem, definitivamente, uma reforma ecológica que possibilite uma
adequada utilização dos ambientes urbanos, pois a ocupação humana de ambientes mais saudáveis
―requer do cidadão a condição de ser agente principal no processo de interação com o meio‖
(Mucelin e Bellini, 2008). É a compreensão de que ele próprio deve melhorar as condições

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ambientais, modificando formas de uso e manutenção do lugar onde habita através de hábitos mais
saudáveis.
Essa mudança de comportamento pressupõe um compromisso de todos os agentes sociais,
pois a qualidade do meio ambiente depende do controle e da minimização das fontes de poluição e
do encaminhamento correto dos resíduos gerados pelas empresas e comunidades. A limpeza do
meio ambiente é um compromisso ético de todos.
O destino dos resíduos levanta problemas de variadas naturezas como: biológica, química,
volume e consequentemente de custos. A educação ambiental, voltada para a campanha dos 3
Rs(Redução, Reutilização e Reciclagem) é o instrumento que melhor contribui para informação,
conscientização e mobilização da população e deve estar no primeiro plano de qualquer projeto de
instalação de coleta seletiva.
O Brasil conta com um arcabouço legal que estabelece diretrizes para a gestão dos resíduos
sólidos por meio da Política Nacional de Resíduos Sólidos(Lei n. 12.305/2010), e para prestação de
serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos por meio da Lei Federal de
Saneamento Básico (Lei 11.445/2007) que aborda um conjunto de diretrizes para a prestação dos
serviços públicos de limpeza urbana e gestão dos resíduos sólidos.
O município de Patos, localizado na Mesorregião do Sertão paraibano, com uma população
de aproximadamente 100.674, sendo 97.278 da zona urbana (IBGE, 2009). Sua população está
vinculada á estrutura do sistema produtivo e às características do quadro natural. De acordo com
dados do IBGE e do IDEME, o munício apresentou ao longo do período compreendido entre os
anos de 2000 e 2011 um crescimento considerável com um grande potencial de consumo. Outro
destaque que Patos apresenta é que o município é a 3ª maior região metropolitana do estado (2ª no
interior). É a região metropolitana que tem mais municípios no estado da Paraíba e na Região
Nordeste do Brasil.
Com a aprovação do Estatuto das cidades em 2001(Lei 10.257/2001), foram estabelecidos
novos marcos regulatórios de gestão urbana, como as leis de saneamento básico e de resíduos
sólidos. O Estatuto regulamentou e estabeleceu as condições para uma reforma urbana nas cidades
brasileiras. Obrigou os principais municípios do país a formular seu Plano Diretor visando
promover o direito à cidade nos aglomerados humanos sob vários aspectos: social, ambiental,
econômico, sanitário etc.
Guiado pelo Estatuto das Cidades o Plano Diretor do município de Patos, foi aprovado em
2006, estabelece diretrizes para organizar o crescimento da cidade além de propor soluções par os
problemas existentes.
Destaca-se ainda a elaboração do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos(PMGIRS) que é um documento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

resíduos sólidos urbanos, contemplando os aspectos referentes a redução, reutilização, reciclagem e


disposição final ambientalmente adequada. O objetivo central desse documento é propiciar a
cooperação do governo federal com os municípios para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Esse
Plano foi criado como instrumento do Plano Nacional de Resíduos Sólidos(PNRS), pelo Decreto nº
7.404 e indica estratégias e metas as ações necessárias para a implementação dos objetivos e
prioridades nacionais.
No entanto, a cidade de Patos, gera cerca de 80 toneladas de resíduos/dia, de acordo com
ASCAP (Associação dos Catadores do Município de Patos). Todo o resíduo coletado,
principalmente o hospitalar, é levado ao vazadouro a céu aberto, localizado em terras do próprio
município e não apresenta as mínimas condições técnicas e ambientais. Essa prática adotada pela
prefeitura de Patos contrapõe a forma adequada de destinação final do RSU prescrita pelo PNRS em
seu Art. 47º que proíbe como ―destinação final de resíduos o lançamento in natura a céu aberto‖
mas, a distribuição ordenada em aterros sanitários. Além disso, os serviços de limpeza urbana no
município são terceirizadas(MEDEIROS, 2015).
Partindo desse contexto, a pesquisa hora proposta questiona: Qual o objetivo do Plano
Diretor de política Ambiental do município de Patos e sua relação com o PMGIRS? Quais as ações
desenvolvidas para atingir os objetivos desses planos?
E para responder ao problema tem-se como objetivo geral – Analisar as ações desenvolvidas
pelo poder público do município de Patos com relação a gestão dos resíduos sólidos a partir do
PMGIRS e como objetivos específicos: Evidenciar os Planos relacionados a Gestão dos resíduos
sólidos do município; Relacionar a política ambiental descrita no Plano Diretor com PMGIRS do
município; Identificar as ações desenvolvidas pelo poder público do município para atingir os
objetivos da sua política ambiental e especificamente do gerenciamento dos resíduos sólidos.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

O município de Patos está situado na mesorregião do Sertão, na porção central do estado da


Paraíba, a uma distância de 305 km da capital João Pessoa. Devido a seu tamanho e importância no
cenário estadual, a cidade de Patos sedia a microrregião de Patos, que abrange vários municípios em
seu entorno. O IBGE (2015) informa que o referido município possui uma área territorial de
473,056 km2 e uma população de 100.674 habitantes no ano de 2010, resultando em uma densidade
demográfica de 212,82 hab/km2. A cidade de Patos tem uma economia pujante, principalmente
devido ao seu comércio. A mesma está dividida em 23 bairros e 1 distrito. Ainda segundo o IBGE
em junho de 2014 o município de Patos contava com uma população estimada em 105.531
habitantes, com uma população urbana superior a 100 mil habitantes.

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No município de Patos os serviços de limpeza urbana são terceirizados, sendo administrados


pela empresa Light Engenharia, que realiza os serviços de coleta dos RSU, além dos serviços de
varrição das vias públicas, capinagem e pintura de meio fio. Outro dado importante sobre a limpeza
pública é a composição gravimétrica dos RSU (Resíduos Sólidos Urbanos). Esta informação
descreve a participação de cada tipo de resíduo no total produzido no local. Segundo os dados da
Ecosam (2014), os RSU da cidade de Patos são, em maioria, inorgânicos e possuem potencial de
reutilização ou reciclagem. Cerca de 36% correspondem aos materiais mais reciclados (plásticos,
papel/papelão e metais ferrosos/ não-ferrosos).
De acordo ainda com informações da Ecosam (2014), a cidade de Patos tem uma geração
média de resíduos em torno de 0,75 Kg/habitante. A partir desta informação, pode-se projetar uma
geração diária de mais de 70 toneladas de resíduos apenas da população residente em Patos, mas o
mesmo estima que a população flutuante produz aproximadamente 30 toneladas extras de resíduos
por dia, totalizando 100 toneladas de RSU por dia.
Para desenvolver este trabalho foi adequado, metodologicamente, caracterizar a pesquisa
como uma pesquisa de caráter descritivo, que tem como principal objetivo a descrição das
características de uma determinada população ou grupo como sua distribuição por idade, sexo,
dentre outras características.
Quanto aos procedimentos utilizados, trata-se de uma pesquisa documental e estudo de caso
onde descreveu-se algumas diretrizes do Plano Municipal de Resíduos Sólidos da cidade de Patos
para averiguar a sua aplicação.
Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é classificada como qualitativa, porque, de
acordo com Diehl e Tatim (2006), a pesquisa foi construída com enfoque na compreensão e na
interpretação dos significados dos próprios sujeitos.
Para a coleta de dados, além da análise do PMIRS documento oficial publicado em 2014, foi
realizada uma entrevista semiestruturada com roteiro previamente estabelecido, com um
representante da Secretaria do Meio Ambiente do município. De acordo com Diehl e Tatim (2006:
66), a entrevista é um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para
ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social.
Para a análise dos dados, comparou-se a pesquisa documental com a entrevista realizada e
fez-se uma análise interpretativa, levando em consideração também a observação dos
pesquisadores.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

POLÍTICA DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE PATOS

Ao observar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos observa-se que ele contempla a


problemática dos diversos tipos de resíduos gerados, as alternativas de gestão e gerenciamento
passíveis de implementação, planos de metas, programas, projetos e ações correspondentes e que,

―A gestão de resíduos sólidos urbanos contribui para uma eficiente inserção da coleta
seletiva, inclusão de catadores de materiais recicláveis, incentivo à reciclagem e
maximização do reaproveitamento, redução da disposição inadequada de resíduos no solo,
participação da sociedade na busca de melhorias dos serviços prestados pelas empresas e na
organização da qualidade do ambiente urbano‖. (JACOBI; BESEN apud MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, 2017).

No entanto, a Política Nacional de Resíduos Sólidos dá ênfase ao planejamento em todos os


níveis, do nacional ao local, e ao planejamento do gerenciamento dos resíduos. É exigida a
formulação dos Planos Estaduais e Municipais como condição necessária, inclusive, para os
municípios terem acesso aos recursos da União, destinados à limpeza urbana e ao manejo dos
resíduos sólidos.
A cidade possui o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS)
aprovado em dezembro de 2014 e que discute sobre a importância dos serviços de limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos no Município de Patos.
De acordo com informações contidas nesse Plano, o Estado da Paraíba não dispõe de lei
Estadual para os resíduos sólidos, estando em fase de elaboração e estudo para definir a
regionalização estadual. Já os municípios possuem vários instrumentos legais que podem regular os
serviços de limpeza urbana como a Lei Orgânica Municipal, as Leis específicas, Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano, Código de Meio Ambiente, entre outros.
Já a Lei Nº 3.503/2006 define o Plano Diretor de desenvolvimento integrado do município
de Patos, e dá outras providências. E de acordo com o Plano Diretor, artigo 30, a Política Ambiental
contemplará, no mínimo, Diretrizes, Projetos e Programas como, por exemplo: Implantar o sistema
de coleta seletiva, destinação e processamento do lixo; Desenvolver programas de Educação
Ambientais junto às escolas públicas e privados no município de Patos; Melhorar o sistema
municipal de coleta de lixo; Criar um sistema municipal de coleta seletiva e destino adequado;
Desenvolver projetos de reciclagem e compostagem de resíduos; Implantar um aterro sanitário
promovendo a disposição adequada dos resíduos sólidos.
O Plano Municipal de Gestão Integrada do município está estruturado em três volumes e foi
elaborado a partir de dados levantados nas diversas Secretarias Municipais do município afins a
Gestão dos Resíduos Sólidos, principalmente junto a Secretaria de Serviços Públicos – SESP
responsável pela gestão dos resíduos sólidos urbanos – RSU municipais visando atender a Lei do

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Saneamento Básico 11.445/05 e a Lei 12.305/2010 que trata sobre a Política Nacional de Resíduos
Sólidos que institui a elaboração de um Plano Municipal.
Com o propósito de acatar as premissas da PNRS, o município de Patos desenvolveu esse
importante instrumento como ferramenta de gestão, como resultado de um contrato(539/2013)
firmado entre a prefeitura do município e a Consultoria em Saneamento Básico Ambiental LTDA
(ECOSAN) e está inserido no plano de saneamento básico do município, que inclui ações nas áreas
de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo dos resíduos
sólidos e drenagem de águas pluviais com abordagem amparada.
Para a formulação do Plano que foi publicado em 2014 e que é coordenado pela Secretaria
do Meio Ambiente do município, foi desenvolvida uma Metodologia(conforme anexo do plano) que
foi construída a partir de eventos abertos a comunidade local, a exemplo de oficinas, seminários,
consultas públicas para discussão e participação popular. O documento inclui: panoramas gerais dos
resíduos sólidos, diagnóstico do município, marcos legais e diretrizes específicas com metas e
prazos. Foi elaborado levando em consideração os instrumentos legais já existentes no município
como: Lei orgânica municipal, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, Código do Meio
Ambiente entre outros. O Plano Diretor, por exemplo, é citado na página 66 do volume I do
documento.
Ao observar o PMGIRS do município, identificou-se, diretrizes gerais com estratégias,
metas e prazos para: redução dos resíduos sólidos urbanos, implantação da coleta seletiva e
reciclagem, implantação do aterro sanitário, inclusão dos catadores e recuperação ambiental do
lixão atual(descritas a partir da página 51 do volume II do Plano). Tais diretrizes, foram elaboradas
a partir de um diagnóstico no ano 2013, indicando no entanto, ações que demandam projetos e
programas que viabilizem à Política Ambiental exigida por Lei como objetiva, também, o Plano
Diretor do município.
Ao observar os programas propostos no PMGIRS, identificou-se um alinhamento dos
programas(exposto no planos) aos objetivos básicos da Política Ambiental descritos no Plano
Diretor principalmente no que se refere ao tratamento adequado aos resíduos e o sistema de
Educação ambiental explícitos no PMGIRS. Porém, a partir do que foi proposto e para atingir o
objetivo proposto neste trabalho, se faz necessário identificar as ações desenvolvidas pelo poder
público local no sentido de implementar as diretrizes gerais do Plano.

AÇÕES DESENVOLVIDAS PELO PODER PÚBLICO DO MUNICÍPIO A PARTIR DO PMGRS

As informações aqui presentes foram adquiridas através de uma entrevista com um


representante da Secretaria do Meio Ambiente do município o Engenheiro Químico, Sílvio Alves
Moreira que, apesar de não ter participado diretamente da construção do Plano, acompanha ações

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

relacionadas aos resíduos sólidos e é também o responsável por passar informações ao Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento (ISNIS). A entrevista teve como intuito investigar as
atividades realizadas pelo poder público local, a partir das Diretrizes Gerais presentes no PMGIRS.
Segundo o entrevistado, o que motivou a elaboração do Plano de Gestão dos resíduos
sólidos foi basicamente a exigência da Lei ao alinhamento dos municípios ao Plano Nacional de
Resíduos Sólidos, embora os vários instrumentos legais de regulação da gestão ambiental existir
anteriormente.
Porém, ao ser questionado sobre a atuação o poder público local no tratamento dos Resíduos
sólidos, ele afirmou que eram guiados pelo ‗Código de Postura‘ do município e o Código
municipal de meio ambiente(criado em 2006 e reformulado em 2012). Nesta reformulação foi
incluído o ―licenciamento ambiental‖ que cobrava ações de tratamento e manejo dos resíduos. Por
isso, deram início as práticas como: levantamento e cadastro(para banco de dados) das empresas do
munícipio para orientação de gestão dos resíduos dessas empresas processo que ainda não foi
concluído(desde 2012) por falta de um sistema adequado. Além disso, ações de fiscalização e
orientação a partir das reclamações de entulhos encontrados na cidade. Já existia também algumas
orientações, através de algumas palestras nas escolas públicas e privadas, quanto a separação dos
resíduos seco e molhado isso. Porém, só começou a partir da lei de 2010 e eram práticas que
aconteciam sobretudo, a partir de iniciativas das próprias escolas através de convite.
Outra ação nesse sentido foi a criação da Associação dos Catadores, em 2006 e em 2010 foi
formada uma equipe multidisciplinar que resultou na criação da ONG ECOPLANTE que tinha
como objetivo viabilizar um infraestrutura para os catadores dessa associação através de projetos. A
ONG não sobreviveu por falta de incentivos e recursos mesmo assim, alguns resultados foram
alcançados como: um terreno(embora apresente várias dificuldades relacionadas a
documentação)construção de um Galpão, alguns equipamentos para os catadores e um caminhão(a
prefeitura doou). No entanto, são várias as dificuldades enfrentadas impedindo que a ações avancem
que são: falta de consciência da própria comunidade e falta de entendimento por parte da prefeitura
em colocar as questões ambientais como prioridade.
Quanto as ações após a elaboração do PMGIRS, a partir do ano de 2014, e de acordo com as
Diretrizes Gerais contidas no Plano o representante afirmou que quanto a Redução dos Resíduos
Sólidos Urbanos não existe uma forma de Triagem desses resíduos, apenas um galpão sem muita
estrutura. Não existe também o sistema compostagem tampouco ECOMPONTOS, apenas uma
proposta para coleta nas escolas. Assim observa-se que ainda não se cumpriu o que prevê o Plano
quanto a criação de dois núcleos de Triagem e quatro ECOMPONTOS. Também não há nenhuma
orientação para a Compostagem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para a Implantação da coleta seletiva e reciclagem, argumentou-se que há um projeto em


elaboração e com o propósito de tornar lei nas escolas mas ainda em fase de institucionalização: o
NEA (Núcleo de Educação Ambiental) com proposta de subnúcleos nas escolas. O projeto tem o
objetivo de criar ECOPONTOS nas escolas para o recolhimento do material propício à reciclagem
bem como outras atividades, como construção de hortas nas escolas, por exemplo. Esse projeto
também visa levar palestras que conscientizem o corpo docente e discente acerca da separação do
lixo seco e molhado, facilitando assim, o trabalho dos catadores. Mas não existe no município uma
unidade de Reciclagem como prevê o plano, apenas um Galpão como já foi citado para separação
de alguns resíduos por parte de alguns catadores associados.
Um dos pontos abordados no Plano Municipal é a criação de um aterro sanitário que
promova a disposição adequada dos resíduos. Neste sentido, o próprio Plano enfatiza a importância
do aterro e afirma que o município já possui uma área adequada e que foi disponibilizada para a
construção do mesmo. No entanto, a partir da entrevista foi possível perceber que a questão do
aterro retrocedeu devido à falta de pagamento por parte da Gestão, dificultando o cumprimento das
diretrizes expostas no Plano Municipal de Resíduos Sólidos.
E relação à inclusão socioeconômica dos catadores, o entrevistado afirmou que há grandes
dificuldades. Existe no município 60 catadores e, de acordo com o Plano, 53 são associados.
Contudo, segundo ele, atualmente apenas 13 associados se encontram ativos(os demais estão no
lixão), e esses se deparam com grandes obstáculos para trabalhar por dificuldades financeiras no
Galpão.
Os catadores têm um transporte para irem pegar nos condomínios e estabelecimento
comerciais e industriais mas destacou-se a falta de motorista habilitado para fazer o transporte, os
altos custos de manutenção e emplacamento do veículo e, a principal dificuldade encontra-se no
baixo índice de materiais recicláveis que o município detém. Tendo em vista que o poder público
não executa projetos periódicos para a coleta desses materiais, isso dificulta o trabalho dos
catadores, e consequentemente diminui a renda mensal dos mesmos, tornando inviável
economicamente.
Há de se considerar portanto, que das várias sugestões dada pelos catadores no diagnóstico
feito em 2013 para a elaboração do Plano não foi realizado, em sua maioria. Apenas a construção
do galpão(que vale salientar não está nome deles, está processo de transferência); um valor mínimo
de R$ 5.400 que é disponibilizado pela prefeitura no final do mês(mas insuficiente para cobrir as
necessidades) e alguns convênios com algumas empresas para fornecerem um volume de resíduos.
No entanto, uma infraestrutura com ações direcionadas e continuas para inclusão dos catadores.
O Plano Municipal prevê por último, a recuperação ambiental do lixão atual, envolvendo
projetos de recuperação ambiental do lixão de Patos; licenciamento ambiental do projeto;

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

implantação do projeto de recuperação ambiental e monitoramento ambiental da área degradada.


Quanto a esses aspectos, o entrevistado afirmou que nada tem sido feito. O lixão continua sendo a
forma de despejo dos rejeitos recolhidos na cidade, mesmo tendo a consciência de que essa prática é
irregular.
Desse modo, observa-se que as diretrizes propostas no Plano não foram ou estão sendo
executadas. Percebe-se a fala de políticas públicas que conscientize a população e desenvolva
projetos que proporcionem melhorias ao meio ambiente e à qualidade de vida da população
residente na cidade de Patos. Não há concretização de projetos periódicos que estimulem a coleta
seletiva e proporcionem maiores índices de materiais recicláveis. Sendo assim, entende-se que o
PMGIRS foi criado pela exigência da Lei e é apenas um instrumento ilustrativo, visto que os
programas são, em grande parte, inexistentes. Afirmam que a limitação está na falta de Educação
Ambiental principalmente dos próprios gestores e na falta de sensibilidade em priorizar (não faz
parte da prioridade dos recursos) o problema dos resíduos como política pública.
Ele destaca por fim, que a falta de gestão dos resíduos sólidos no município esbarra também
na falta de conscientização individual da população frente a sua responsabilidade no descarte
adequado dos resíduos o que comprova mais uma vez, que o plano não está sendo executado quanto
as estratégias de comunicação para despertar a corresponsabilidade da população como propõe.
Outro fator que é possível ressaltar, é a falta de compromisso da gestão municipal quanto ao
cumprimento da lei ambiental e execução do PMGIRS.
Assim conclui-se que dos vários projetos listados no Plano com o intuito de atender os dez
programas listados no item anterior não foram cumpridos. Apenas um projeto de Educação
Ambiental em fase inicial e tímida através do NAC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O elevado índice de degradação ao meio ambiente tem se mostrado como um dos principais
problemas da atualidade. Isso porque o consumo desenfreado tem sido responsável pela contínua
produção de resíduos sólidos, que desencadeia uma série de ameaças à qualidade de vida do homem
através dos seus mais diversos impactos.
Todos esses desdobramentos têm mostrado a necessidade de desenvolver projetos que
conscientize a população, diminua o índice de resíduos gerados e elabore formas adequadas de
tratamento do lixo. Destarte, é imprescindível que todos os entes da federação desenvolvam, com
participação da sociedade, planos de gestão capazes de equacionar o enfrentamento da questão dos
resíduos sólidos nos seus respectivos territórios, estabelecendo estratégias gerenciais, técnicas
financeiras, operacionais, urbanas e socioambientais.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Todavia, identificou-se que as atividades relacionadas ao meio ambiente no município de


Patos são ineficientes. O Plano Municipal de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, que tem o
objetivo de criar projetos e diretrizes que, se cumpridos, solucionarão vários problemas
relacionados ao meio ambiente se mostra apenas como um documento de diagnóstico, sem
execução.
Os motivos apontados para a falta de cumprimento do Plano são, em grande parte, a
inexistência de consciência por parte dos gestores quanto às questões ambientais e a falta(ou falta
de prioridade) de recursos destinados a esta área. Constatou-se que o Plano em questão foi
elaborado apenas para cumprimento da Lei, onde o cenário ambiental, que deveria ser o foco
principal, foi mais uma vez preterido.
Questões como coleta seletiva e reciclagem, inclusão socioeconômica dos catadores, aterro
sanitário e recuperação das áreas degradadas são debatidas no Plano, com datas e prazos para serem
executadas. No entanto, grande parte dessas ações não foram desenvolvidas e nem se encontram em
plano de desenvolvimento.
Dessa forma, constata-se uma necessidade imediata de mobilização por parte dos atores
sociais no que diz respeito à instituição de programas e práticas de incentivo e conscientização para
os problemas ocasionados ao meio ambiente, a partir da má destinação dos resíduos sólidos. É
preciso que o poder público perceba o grau de relevância das questões ambientais e invista em
projetos e ações que reformem o cenário atual.

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Campina Grande/UFCG. Campina Grande, 2008.

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métodos e técnicas. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.

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MEDEIROS JÚNIOR, G. & SILVA, José Irivaldo Alves O. Programa de Educação Tutorial e a
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Brasília, 2017.

MONTEIRO, José Henrique Penido... [et al] Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos
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MUCELIN, Carlos Alberto & BELLINI, Maria. Lixo e Impactos Ambientais Perceptíveis no
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PREFEITURA MUNICIPAL DE PATOS. Lei nº3.503/2006 – PLANO DIRETOR, 2006.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1058


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ASSISTÊNCIAS DE MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DE SECAS: ESTUDO DE CASO DE


PEQUENAS COMUNIDADES DOS MUNICÍPIOS DE MILHÃ E SOLONÓPOLE -
CEARÁ

Epaminondes Pinheiro MACHADO NETO


Universidade Estadual do Ceará
epaminondes7pinheiro@gmail.com
Francisca Leiliane Sousa de OLIVEIRA
Universidade Estadual do Ceará
leila.geografia@gmail.com
Maria Lucia Brito da CRUZ
Universidade Estadual do Ceará
mlbcruz@gmail.com

RESUMO
A presente pesquisa se fundamenta em avaliar assistências de combate à seca em quatro
comunidades localizadas nos municípios de Milhã e Solonópole no Estado do Ceará Alto Mar,
Cruzeiro, Bom Jesus I e Alferes. Assistências de mitigação é definida como ação de ajudar
atenuando os efeitos da seca, de vir em auxilio, podendo ser identificadas na área quatro tipos
cisternas, açudes, poços e presença de carro pipas. Entre elas, apenas as cisternas, poços e carro
pipa são financiados por meio de recursos públicos, os açudes foram implantados com recursos dos
moradores. A partir de atividade de campo para levantamentos de dados, revisões bibliográficas e
uso de ferramentas de geoprocessamento obteve-se resultados que mostram uma grande
discrepância entre as assistências de mitigação existentes nas comunidades analisadas. A
comunidade Alto Mar se destaca por apresentar melhores estruturas com cisternas, açudes, poços e
carro pipas com boa articulação, tendo esta comunidade boa capacidade adaptativa a seca, enquanto
as outras três, continuam dependentes das cisternas.
Palavras chaves: Seca. Assistências públicas. Capacidade adaptativa.
ABSTRACT
the present research is based on evaluating assists to combat drought in four communities located in
the municipalities of Million and Solonópole of Ceará high seas, cruise, Good Jesus I and Ensign.
Mitigation assistance is defined as action to help mitigating the effects of drought, to come to help,
and may be identified in the area four tanks, ponds, wells and presence of cars. Among them, only
tanks, wells and pipa cars are financed through public resources the dams were deployed with
resources of the residents. From field activity for data surveys, literature reviews and use of
geoprocessing tools obtained results that show a huge discrepancy between the existing mitigation
assistance in communities analyzed. The community high seas stands out by offering best tank
structures, dams, wells and kite-flying cars with good articulation, having this community adaptive
capacity good drought, while the other three are still dependent on the tanks.
Keywords: Drought. Public assistance. Adaptive capacity.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O semiárido nordestino engloba sete estados do Nordeste, entre eles o Ceará, historicamente
afetado por constantes estiagens e falta de políticas públicas adequadas a realidade da população,
comprometendo a qualidade de vida dos que abitam esta região. Muitas vezes faltam assistências
governamentais, sendo que, quando ocorrem são feitas de formas inadequadas com aplicação de
estudos gerais, com pouco eficácia na resolução efetiva de problemáticas, tendo em vista, a variação
dos efeitos gerados pelas secas e das diferentes necessidades de cada localidade. Para aplicação de
assistências que visem melhorar a capacidade adaptativa das comunidades que lidam com a seca é
preciso verificar quais ferramentas são apropriadas, assim como cita Eduardo Vivas, cientista
português.

Para o desenvolvimento destas ferramentas de apoio, além da avaliação meteorológica do


fenómeno de seca, será necessário adequar/conceber os sistemas de avaliação e alerta às
características de cada região (vulnerabilidades), bem como definir estratégias de acção e
prevenção, a incluir nos planos de gestão de secas, adaptadas à capacidade de gestão e de
aplicação de medidas das entidades responsáveis. Para tal, será necessário definir a
dimensão espacial onde tanto a componente de avaliação como de aplicação de medidas
possam ser convenientemente integradas, de acordo com as especificidades da região. Essa
área será doravante designada por unidade de análise. (VIVAS et al. 2010. Pg. 2)

As secas ocorrem em todo o globo de modos diferentes, ocasiona grandes impactos sociais e
econômicos em áreas como o semiárido cearense. Este evento é definido como um período longo
com baixos índices pluviométricos que ocasiona problemas ambientais e socioeconômicos. Para o
Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (2012) ―as secas são anuais ou plurianuais, totais ou
parciais, devendo-se sua maior ou menor abrangência espacial à suscetibilidade de um dado
território à variabilidade climática‖.
As localidades estudadas estão em duas unidades administrativas municipais diferentes,
Milhã e Solonópole no Estado do Ceará. O município de Milhã possui 13 063 habitantes com área
de 502 344 km2, o Produto Interno Bruto-PIB é de 45 500. O município pertence ao chamado
polígono das secas, possui vegetação do bioma caatinga, clima Tropical Quente Semiárido e
predominância de solos rasos, sua população tem como fonte de renda principal o serviço público e
a pecuária. (IBGE. 2012)
O município Solonopóle possui 17 663 mil habitantes, com área total de 1.536,15 km 2, e o
PIB é de 66 651. Sua vegetação predominante é a caatinga, possui solos rasos, seu clima é Tropical
Quente Semiárido com grande predominância de atividade agropecuária nas zonas rurais e
economia urbana voltada ao serviço público como o mais importante. (IBGE. 2012).
As comunidades Alto Mar, Cruzeiro estão situadas em Milhã, Bom Jesus I e Alferes em
Solonópole. Elas foram escolhidas devido a facilidade de acesso e por pertencerem a dois
municípios com maneiras de administração diferentes, com o intuito de analisar elementos de

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assistência a seca de duas unidades administrativas do Estado. Este estudo se realiza em pequenas
unidades de análise, buscando uma avaliação especifica das potencialidades das áreas estudadas,
pois dessa maneira é possível identificar formas de melhorar a capacidade adaptativa da população.

Figura I. Mapa de localização das comunidades estudadas. Machado Neto. 2016

PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

Dois conceitos são norteadores deste estudo: Capacidade adaptativa, definido pela Noções
Unidas - ONU (2009) como ―La habilidad de la población, las organizaciones y los sistemas,
mediante el uso de los recursos y las destrezas disponibles, de enfrentar y gestionar condiciones
adversas, situaciones de emergencia o desastres‖ e assistência: que é definida pelo dicionário como
ação de ajudar, de vir em auxilio.
Esta pesquisa utilizou revisão bibliográfica voltada ao estudo das secas, e formas de
amenizar os problemas gerados por este evento natural, principalmente no semiárido nordestino.
Foram realizados estudos em campo com aplicação de questionários e uso de observação.
As quatro comunidades estão localizadas em dois municípios do Sertão Central Milhã e
Solonópole no Estado do Ceará. As localidades possuem distância de 16 quilômetros da sede destes
municípios, com distancia, entre elas de em média cinco quilômetros. A proximidade das áreas de
estudo favoreceu o levantamento de dados em campo, permitindo aferir as assistências de mitigação
existentes nas comunidades e a coleta de informações.
Foi utilizado questionário direcionada no formato de entrevistas aplicado nas 17 residências
habitadas com 5 perguntas, tendo o objetivo de obter informações dos moradores sobre os modos de
vida destes e quais as políticas de combate à seca que elas fazem uso em suas casas.

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Tabela I: Questionário aplicado no estudo. Autor: Machado Neto


Questionário
1 Quais estruturas geradas pelo governo se observa presente em sua comunidade para diminuir os problemas
provocados pela seca?
As opções eram: cisternas, açudes, poços, presença de carros pipas ou outras
2 Como você avalia este período de seca na sua renda mensal, ela afetou negativamente?
3 Qual a fonte que sua família utiliza para obter água nos últimos 12 meses?
4 Qual o principal meio de renda de sua família?
5 Como você avalia a qualidade de vida da sua família neste período de seca?

Figura II. Aplicação de questionário na comunidade Cruzeiro. Machado Neto. 2016

Para a representação da área de trabalho se utilizou ferramentas de geoprocessamento


aplicada ao mapeamento das comunidades, pontuação e vetorização de áreas, das residências e das
assistências existentes em cada uma, em suas individualidades, utilizando programas como ArcGis
na versão 10.2, com licença estudantil, e imagens obtidas no Google Earth Pro aplicadas com
georeferenciamento.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As comunidades analisadas possuem população de 59 habitantes distribuídas em 17


residências com indícios de êxodo rural, com 17 casas abandonadas e/ou em uso temporário.
Mapeamento da área na figura I.
Foram identificados por meio do campo, como elementos de assistência de mitigação dos
efeitos de secas, 17 cisternas, 22 açudes e 2 poços ativos. No geral há uma má articulação destas
assistências, pois se constatou má distribuição da água, sem articulação entre as estruturas, fato que
se fosse utilizado aumentaria a capacidade adaptativa da população e consequentemente melhoria
da qualidade de vida das pessoas.

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Tabela II: Dados das comunidades. Autor: Machado Neto. 2016


Dados das comunidades
Comunidades Número de assistências detectadas nas comunidades
Cisternas Açudes Poços
Cruzeiro 7 15 1
Auto Mar 5 3 1
Bom Jesus I 5 2 0
Alferes 2 2 0

Alto Mar

Na comunidade Alto Mar foi constatado frequência mensal de carro pipas para
abastecimento das cisternas, e importante interligação delas com o poço que complementa o uso da
água para atividades diversas como banho, lavar roupas e para os animais. Nesta comunidade foram
identificadas 9 pessoas distribuídas em 3 casas das 5 residências existentes, sendo 2 abandonadas. A
área pode ser observada na figura IV e os dados na tabela II.

Figura III. Açude na comunidade Alto Mar. Figura IV: Mapa da comunidade Alto Mar. Machado
Machado Neto. 2016 Neto. 2016

Cruzeiro

A comunidade Cruzeiro possui população de 24 pessoas, 7 casas ocupadas e 9 abandonadas,


há presença de carro pipa mensalmente. A comunidade pode ser observada no mapeamento na
figura VI e os dados na tabela II.

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Figura V. Cisterna na comunidade Cruzeiro. Figura VI. Mapa da comunidade Cruzeiro. Machado
Machado Neto. 2016 Neto. 2016

Alferes

Esta localidade pertence ao município de Solonópole, ela possui 11 habitantes distribuídos


em 5 casas, sendo 3 habitadas e 2 abandonadas. A área é apresentada na figura VIII e os dados na
tabela II.

Figura VII. Açude na comunidade Alferes. Figura VIII. Mapa da comunidade Alferes. Machado
Machado Neto. 2016 Neto. 2016

Bom Jesus I

Esta área faz parte do município de Solonópole, ela possui 15 moradores, 4 casas habitadas e
2 abandonadas. Mapeamento da comunidade na figura X e os dados na tabela II.

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Figura VI. Açude na comunidade Bom Jesus I. Figura X. Mapa da comunidade Bom Jesus I.
Machado Neto. 2016 Machado Neto. 2016

Todos os entrevistados relataram que a renda da família foi muito afetada e que a qualidade
de vida neste período era regular em 10 famílias, ruim em duas e péssima em 3. Já em relação a
quais meios de obtenção de água temos os seguintes resultados: 2 famílias utilizando poços, 9
utilizando cisternas, 4 açudes e apenas duas com todas possibilidades existentes na região.
Os principais meios de renda destas localidades são a agricultura no período de inverno e
pecuária com produção permanente. Das 17 famílias 8 utiliza as duas formas, 1 apenas da
agricultura, muito exposta, e 8 famílias utilizando a pecuária que é fragilizada pela necessidade de
grande quantidade de água e massa vegetal, sendo que, ―os efeitos do desastre natural da seca sobre
as populações do semiárido nordestino particularmente as que vivem nas zonas rurais debilitam a
economia regional através das perdas na agricultura e na pecuária e, por extensão, nos demais
setores produtivos‖ (Vasconcelos et al, 2010, pg. 04).
Foram observadas poucas estruturas aumentando a exposição dos moradores, sendo a
maioria, cisternas, onde ―a construção de cisternas não responde a grandes demandas nem ao
incremento de garantia de oferta dos grandes usos, como irrigação, aglomerados urbanos ou polos
industriais, por outro lado representa um importante recurso para demandas dispersas‖ (Araújo et al,
2005, pg. 299), sendo de origem dos recursos municipais apenas as cisternas e carro pipas tendo na
comunidade Alto Mar um poço perfurado com recurso público no geral se registrou poucas
assistências publicas efetivas.
As comunidades Bom Jesus I e Cruzeiro sofrem com a falta de articulação das estruturas,
tendo apenas como assistências publicas as cisternas e presença de carro pipas mensais, não
possuindo articulação entres os açudes e o único poço existente tem origem privada, sendo esta falta
de poços, condição para a diminuição da capacidade adaptativa. Já no Alferes o maior problema é a
dependência de um único açude e poucas cisternas, fragilizando este local. A comunidade Alto Mar
se mostrou com melhor resiliência com todas as assistências existentes detectadas no estudo, tendo
uma boa articulação entre elas.

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Para melhoria da capacidade adaptativa destas comunidades se mostra como necessário a


perfuração de poços em áreas estratégicas como a comunidade Cruzeiro e Bom Jesus I e uma
melhor distribuição de cisternas e estudos voltados a construção de açudes ou cisternas
subterrâneas, sendo todas estas possibilidades dignas de críticas, mas se mostram como assistências
importantes se executadas de forma correta dentro das individualidades de cada local.
No geral temos grandes diferenças em pequenas áreas, mostrando as discrepâncias
existentes no auxílio a estas comunidades que poderiam ser modificadas com estudos e registros
simples como este, desnudando as necessidades das populações sem grandes dificuldades e
supercílios, para se objetivar melhorias para as pessoas que nelas habitam.

CONCLUSÕES

Todo o trabalho de avaliação e reflexão executado nessa pesquisa se apresenta de maneira


introdutória, entretanto, é fundamental aprofundar a temática para se estudar este que é um evento
constante e marcante na vida de comunidades como estas, para buscar melhorias na capacidade
adaptativa das populações destas áreas de forma a estuda-las em pequenas dimensões territoriais,
mostrando com isto, as problemáticas individuais de cada realidade.
A importância do método de análise de localidades reduzidas para se desvendar como
trabalhar com a seca e solucionar questões que são de conhecimento dos moradores locais, distante
dos responsáveis pela gerencia de recursos e assistências de combate à seca, ou seja, os gestores
que, muitas vezes, não visitam as comunidades e tomam decisões sem considerar os detalhes,
peculiaridades de cada comunidade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO AGENTE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS

Hadassa Leticia de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Construção Civil da UNICAMP
haddyoliveira@gmail.com
Rafael Costa FREIRIA
Professor Doutor da Universidade Estadual de Campinas
rafaelfreiria@ft.unicamp.br
Lubienska Cristina Lucas Jaquiê RIBEIRO
Professora Doutora da Universidade Estadual de Campinas
lubi@ft.unicamp.br

RESUMO
A realidade brasileira de pessoas com deficiência intelectual se desdobra de forma diferente dos
demais em diversos quesitos. A atuação destes em situações do cotidiano é, por muitas vezes,
comprometida pela falta de aplicação e conhecimento daqueles que os circundam, trazendo
prejuízos em detrimento dos demais. A educação ambiental porta-se como ferramenta fundamental
para a mudança de paradigma em aplicação de atividades correlatas com situações cotidianas, e é
utilizando esta educação que se pautará a análise das interações com esse público alvo e a
sociedade. Dessa forma, o presente artigo procura estudar as políticas públicas de inclusão social e
sua efetividade na vida de jovens com deficiência intelectual para entender sua realidade e pautar
uma discussão atrelada às suas reais necessidades, buscando, por meio da educação ambiental,
aumentar o potencial de mobilização para uma inclusão digna e pessoal.
Palavras Chave: Políticas públicas, inclusão social, educação ambiental.
ABSTRACT
The Brazilian reality of people with intellectual disabilities unfolds differently from the other
quests. An update in everyday situations, many times, compromised by lack of application and
knowledge of those who surround, bringing losses to the detriment of others. Environmental
education is a fundamental tool for a paradigm shift in the application of related activities to
everyday situations, and it is to use this education and analyze the analysis of interactions with this
public and a society. Thus, the present article seeks to study how public policies of social inclusion
and their effectiveness in the lives of young people with intellectual disabilities to understand their
reality and guide a discussion linked to their real needs, seeking, through environmental education,
to increase the potential of Mobilization for dignified and personal inclusion.
Keywords: Public policies, social inclusion, environmental education.

INTRODUÇÃO

Desde 1992 quando se observou as condições de vida insatisfatória para os portadores de


deficiência intelectual, dada pela falta de apoio, de compreensão e incentivos registrou-se uma
marginalização destes em detrimento do restante da sociedade; cenário que se perpetua com o
passar do tempo e que compõe o processo de exclusão social.
Através desse contato com pessoas portadoras de deficiência intelectual surge a necessidade

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de entendimento por aqueles que não veem o mundo por esta ótica, de modo a conferir a estes
condições de vida equiparadas com o restante da sociedade, no que tange ao desenvolvimento e
qualidade nas interações sociais.
Dessa forma, tentativas educativas de inclusão social tem se erguido pelos pais e
educadores, que em maior contato com estes, sentem a necessidade de resgatar o respeito e a
dignidade que a todo ser humano se confere, dando a estes acesso aos recursos provenientes da
sociedade em que convivem (CAZZANIGA, 2000).
Para que tais tentativas de inclusão atinjam a todos e garantam, em sua totalidade, os direitos
do cidadão com deficiência intelectual há a necessidade de que as políticas públicas - responsáveis
pela ação estratégica que envolve Estado e sociedade - sejam adotadas e seguidas por toda a
sociedade inserida no poder deste Estado. A Constituição Brasileira de 1988 institui como
competência do Poder Público, no capítulo VI, a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos
os níveis de ensino e a preservação do meio ambiente como agente de conscientização social.
Para entendermos a Política Pública de Inclusão Social devemos entender o termo ―social‖
de modo que não se aplique exclusivamente a pobreza ou a discriminação por condição, mas que
inclua todas as espécies, indivíduos pertencentes a um contexto comum. Dessa forma, inclusão
social abrange qualquer ação inclusiva daquele que foi marginalizado ou possui dificuldades de
participação de questões sociais da vida cotidiana. Significa tornar essas pessoas excluídas
participantes da vida social, política e econômica. (MENEZES, 2008).
É inevitável que o homem altere o ambiente em que vive já que é nele que existimos. No
entanto não existe consenso quando o assunto é definição exata de ambiente, pois este é moldado
segundo os interesses de quem sugere a definição. Adotando o conceito técnico, utilizado pelos
cientistas, temos o ambiente como um conjunto de sistemas físicos e biológicos se contrastando
com o os sociais, políticos e econômicos, propondo uma interação orgânica entre estes que
pressupõe uma interdependência (TORRES, M. L., 2015).
Desse modo não há como dispensar o viés ambiental quando discutimos interações do ser
humano - Social - com o meio em que habita e se relaciona com os demais sistemas. A educação
ambiental funciona como um processo que relaciona o ser social e suas particularidades ao
ambiente que o circunda, sendo este componente do indivíduo em sua totalidade. O PNEA (Política
Nacional de Educação Ambiental), instituída pela Lei Federal n. 9795/1999, traduz bem essa inter-
relação: ―Educação ambiental é um processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos e habilidade, atitudes voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade‖.
Portanto, o processo de educação ambiental permite a construção de valores e conceitos, que

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se desdobram em habilidades e atitudes que possibilitam que o agente social entenda a realidade de
vida de forma lúdica e se posicione no meio que vive. (LOUREIRO, 2000). O que se observa
quando se utiliza a educação ambiental como precursora de melhoria e mudança de paradigma são
processos práticos e reflexivos que se consolidam em valores favoráveis a justiça social e a
valorização da vida.
Utilizando então a educação ambiental do pertencimento, da responsabilidade cidadã e do
auto reconhecimento pode-se entender aqueles que enxergam o mundo por outra ótica - deficientes
intelectuais - e dialogar com a inclusão social que os fará se sentirem cidadãos efetivos e
conscientes e, nos fará acessíveis a estes.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E REALIDADE SOCIAL DE DEFICIENTES INTELECTUAIS

A educação ambiental apesar de ter muitas ramificações pertence, antes, ao contexto da


educação em seu sentido próprio e seus processos de ensino e aprendizagem. A educação quando
expandida também tem a proposta de desenvolver o cidadão através do conhecimento de seus
direitos e deveres e da ética social, proporcionando uma compreensão do que vem a ser uma nação.
Entretanto, tal formação não depende apenas deste ramo para concretização do ser cidadão, a
participação do Estado como agente facilitador e promotor aproxima o conhecimento cognitivo a
realidade situacional que unem o sentimento de pertencimento a partir do conhecimento de qual é
seu lugar na sociedade.
É por esta percepção que Jean Piaget diz acertadamente que o conhecimento não advém de
copiar a realidade, mas de a interpretá-la a partir das estruturas cognitivas do indivíduo que se
desdobra em um processo construtivo. Para desenvolver um cidadão é necessário conhecê-lo e agir
sobre ele de modo a assimilá-lo em suas estruturas para então transformá-lo. O fortalecimento de
ações voltadas para a educação com apoio do Estado também é ponto prioritário nas metas da ONU
a fim de alcançar um mundo próprio para crianças e jovens.
O desenvolvimento de um indivíduo em todas as suas particularidades se dá de acordo com
o meio em que este vive e, é necessário que este meio, que aqui é a sociedade, proporcione
condições nas quais o jovem com deficiência intelectual seja solicitado a agir, pensar, resolver seus
problemas, refletir sobre suas ações e assim progredir. O deficiente intelectual, passa pelos estágios
de desenvolvimento assim como o não deficiente, sendo que absorvidas as premissas de sua
condição que o permite passar pelos estágios em um tempo diferenciado, este também recebe as
influências do meio em que está inserido e é desenvolvido por estas interferências externas como os
demais, já que a estas não têm o poder de vetá-las.
Duas pessoas não podem viver uma situação da mesma forma pois tem uma bagagem
própria fundamentada em suas experiências pessoais que o faz se orientar nas situações cotidianas

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para se desenvolver no mundo. Em toda a história social das civilizações temos as mesmas cisões
no que tange a condição do ser humano. Olhando para isso, o que se espera de uma sociedade
inclusiva é não haver uma concepção apenas física do indivíduo em comunidade, mas sociocultural
(SCHUTZ, 1979).
As trocas sociais que o indivíduo vivencia desempenham papel importante no
desenvolvimento. O significado de social está muito ligado ao de grupo o qual traz o sentimento de
pertencer a situações com costumes e normas vivenciados por algumas pessoas que compartilham
dos mesmos interesses e dispõe de papéis que geram aceitação do restante. O que nota-se com
frequência é a adequação de um indivíduo para ser aceito em um grupo, ficando evidente que
grande parte da vida social advém das normas dos outros (ROJAS, 2001).
A condição social do indivíduo com deficiência intelectual é determinada pelos agentes
sociais que limitam suas atuações sociais às escolas especiais e não o reconhecem como ser social.
Muitas vezes o deficiente intelectual não possui elementos da sociedade em que está inserido,
limitando sua participação e o impedindo de construir uma experiência compartilhada com os
agentes de sua comunidade.
Desde os relatos das primeiras civilizações organizadas a sociedade busca um padrão tanto
comportamental quanto estético para os indivíduos que dela fazem parte. Quando se tem um desvio
desse padrão desconfortos são causados. A deficiência intelectual se apresenta como uma variedade,
mostrando que não pode ser inserida em um padrão comportamental nem mesmo comparado a
outros portadores pois estes são indivíduos únicos, com experiências próprias decorrentes do meio
em que vivem e sua condição. Marin et al, (2009) abordam a fundo essa relação indivíduo e
sociedade:

"Nossa interação com o mundo é emotiva, volitiva, imagética, mas só nos concebemos
como seres racionais. Não percebemos nossa própria integralidade na nossa relação com o
mundo. É pela consciência que julgamos nos vincular ao mundo, mas de fato, nossa
consciência nada pode dizer de grande parte das nossas vivências no mundo. Nosso corpo,
é testemunha viva de toda nossa história, é materialização dos efeitos que o meio tem sobre
nós, é matéria da mesma natureza que o mundo, é por ele atravessado a todo instante, corpo
e consciência inseridos como unicidade num mundo que afeta não só como sujeitos
cognoscentes, mas como corpos viventes. Mudar nossa relação com o mundo não é mudar
somente nossa consciência, mas também a forma como nos entregamos afetivamente ao
mundo."

MEIO AMBIENTE E O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO

Na antiguidade, com relação às interações do homem com o meio ambiente, encontramos


um o homem subjugado a natureza. Com o passar do tempo e o advento ciência este homem passou
a se colocar acima da natureza, praticamente se apropriando dela. A esta postura que causou
degradação não apenas a natureza mas a todo o meio ambiente, entendeu-se que o homem está
interligado ao meio a que pertence de modo a compartilhar de suas dores e prazeres.

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A relação de alteridade entre seres humanos e a natureza que o circunda ocorre de um


processo doloroso que é o olhar ao redor e sentir o mal que a falta de conhecimento e sensibilidade
poderiam ter poupado. A construção de sentimentos e valores refletem-se em novas posturas e
comportamentos através da educação que baseada no ambiente consolida cidadãos com um olhar
para o que é seu, fazendo com que acesse memórias, situações vividas e expectativas futuras que os
permite criar vínculos a fim de preservar a identidade do meio ambiente em que vive.
O raciocinar ambiental é oriundo do potencial produtivo da natureza que é fundamental ao
desenvolvimento humano de maneira sustentável e baseado na ética, na harmonia, nos valores
culturais e na diversidade atrelado a racionalidade substantiva e cultural (LEFF, 2012). Dessa
forma, a temática das interações com o meio ambiente deve-se chegar aos meios sociais das
comunidades através da educação ambiental para a disseminação de valores e condutas que
permitam o aprimoramento de relações sustentáveis com o meio que se habita.
Segundo Carvalho (2012), a educação ambiental conscientiza ambientalmente os indivíduos
tornando estes ‗sujeitos ecológicos‘. É por meio desta educação que o cidadão constrói por si
mesmo conceitos que o permitirão analisar e interpretar as interações com o meio ambiente e se
posicionar criticamente, criando uma relação com o meio que o fará sentir-se parte dele.
O indivíduo deficiente intelectual que recebe essa educação ambiental vinculada a realidade
de vida desses, ganha lupas para olhar além do horizonte e pode desenvolver esse sentimento de que
é parte de um todo cheio de possibilidades. Consegue fazer uma leitura das interações pessoais com
a natureza e com outros indivíduos pertencentes ao mesmo meio. Entende de forma lúdica o sentido
do compartilhar e, assim, extrapola o pensamento pequeno de ser único e diferente dos outros em
um processo orgânico e natural.
O indivíduo ao sentir-se pertencente do meio, age intervindo em acontecimentos que
norteiam as posturas adotadas passando a sensação de fazer parte de algo maior, algo relevante.
Esse sentimento advém da participação na proporção de quanto mais ativo nas atividades
corriqueiras do meio em questão, maior o envolvimento e o senso de responsabilidade construído de
modo colaborativo (PIEPER, 2014).

INCLUSÃO SOCIAL A PARTIR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A palavra inclusão está presente no discurso de muitas pessoas em nosso cotidiano,


entretanto, na maioria das vezes desprovida de essência e aplicação. Não se pode negar que em
nossos dias a maneira como a sociedade e o Estado lidam com o deficiente intelectual alcançam
posicionamentos não esperados se olharmos para a história passada. Ignorar este processo de
melhoria ofuscaria nossa compreensão das implicações e nos faria perder o sentido desta luta.
Ao olharmos para o começo de nossa história pouquíssimos relatos mencionam pessoas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

deficientes. Para os espartanos os fracos e imperfeitos deveriam ser eliminados. Por muito tempo, as
sociedades estabelecidas tinham como estrutura geral os nobres, a realeza versus os servos,
escravos, o que nos permite inferir que se essa categorização era feita de forma genérica, incluía
também os deficientes. Aparentemente temos os portadores de deficiência basicamente a mercê
daqueles que faziam caridade, estando excluídos da sociedade.
A partir da promoção de políticas públicas atreladas às necessidades de jovens com
deficiência intelectual pode-se, através do planejamento e gestão promover estratégias aplicadas
inclusive ao espaço que estes ocupam na nação (RODRIGUES; SILVA, 2013). Dessa forma,
promovendo discussões e abrindo espaço para conhecer essa população deficiente, pode-se
realmente entender suas carências e alcançar o que chamamos de inclusão.
Criando espaços nas comunidades com atividades enriquecedoras, recreativas e
potencialmente voltadas para estes jovens concebe-se um relacionamento entre os promotores deste
e os portadores de deficiência, de modo a haver um real entendimento do cotidiano de ambos e uma
incorporação à suas bagagens pessoais.
Aparentemente se torna complicado concretizar essa realidade de modo que seja efetiva,
mas é através da educação ambiental que isso se viabiliza e se torna palpável e eficiente. Cascino
(2013) sintetiza como essa inter-relação é possível quando diz que a educação ambiental aspira
entender ambientes de maneira não excludente, mas agregada aforando o respeito e a igualdade nas
relações a fim de, através do diálogo livre e estruturado, opor-se às polêmicas e controvérsias que
sejam instauradas.
Nestes espaços todos são beneficiados pois adquirem conhecimento de vida na participação
do olhar o mundo pela ótica do outro, daquele que é diferente de mim. Assim, em uma primeira
etapa há análise sendo realizada através da aproximação orgânica e diluída que as próprias
atividades proporcionam, de modo que sejam identificadas as necessidades dos jovens portadores
de deficiência intelectual.
A etapa seguinte consiste na intervenção dirigida através de atividades relacionadas à análise
anterior atrelada a autonomia dos jovens diante destas. Por meio de atividades da vida cotidiana
como preparar alimentos, cuidados com a casa, higiene pessoal, lazer, planejamento financeiro bem
como outras atividades consideradas fundamentais para se viver uma vida independente vai se
observando o reagir dos deficientes e a incorporação destes ensinamentos em sua vida.
Como última etapa dá-se o processo de empoderamento pois o jovem já está tão inserido em
um grupo heterogêneo, com pessoas deficientes e não deficientes, e habituado com as práticas de
vida, as normas de conduta e os princípios do meio que está inserido que pode, agora, ser orientador
de outros tendo como evidência sua própria experiência pessoal. Munindo a comunidade com tais
experiências alcançamos o propósito de dispormos de cidadãos conscientes e pensantes que podem

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

não só cumprir seu papel sendo inclusivos e humanos, como promovendo e lutando por incentivar e
ensejar políticas públicas inclusivas atreladas às necessidades reais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão levantada neste artigo representa uma tentativa engajada de ampliar o conceito e
atuação da educação ambiental de forma prática e incorporada a realidade de uma comunidade
jovem e deficiente intelectual que faz parte da sociedade-estado e que não foi absorvida a este
ambiente.
O meio pelo qual se pode alcançar o maior número de pessoas favorecidas se dá através das
políticas públicas que tem como propósito difundir e legitimar ações para um bem comum.
Portanto, cabem à sociedade civil organizada, bem como aoEstado oferecer serviços que sejam
necessários aos indivíduos com deficiência intelectual garantindo interação com o restante da
comunidade e perpetuação de propostas inclusivas inovadoras e vitais. A identificação de tais
políticas públicas inclusivas atreladas à realidade dos deficientes intelectuais só se dará de maneira
satisfatória se incorporada ao processo de participação e interiorização.
Fica demonstrado que através da educação ambiental que traz o indivíduo a analisar o meio
ambiente como seu meio e as interações com este meio e outros seres como criadores de bagagens
pessoais, leva a mudança com objetivo prioritário de transformar o próprio indivíduo. Assume-se a
importância do envolvimento com a comunidade a fim de buscar integração, mas a verdadeira
transformação ocorre quando o indivíduo se torna protagonista de sua experiência de vida.

REFERÊNCIAS

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONDIÇÕES DE TRABALHO DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS


ASSOCIADOS NO INTERIOR POTIGUAR

Gerbeson Carlos Batista DANTAS


Graduando do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA
gerbeson_dantas@hotmail.com
Henriqueta Monalisa FARIAS
Graduanda em Engenharia de Biotecnologia e Bioprocessos da UFCG
monalisa_miller@hotmail.com
Sileide de Oliveira RAMOS
Docente do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA(orientadora)
sileide.ramos@ufersa.edu.br
Sâmea Valensca Alves BARROS
Docente do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia da UFERSA
sameavalensca@ufersa.edu.br

RESUMO
A realidade das condições de trabalho de catadores de materiais recicláveis é bastante preocupante
uma vez que a precariedade da infraestrutura do trabalho termina por ameaçar a saúde destes.
Diante dessa conjuntura, este trabalho objetiva avaliar as condições de trabalho que catadores
vinculados a uma associação de materiais recicláveis, no interior do Rio Grande do Norte, estão
submetidos. A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de um formulário, uma entrevista,
análise documental e posteriormente, observado os processos da atividade em conjunto dos
trabalhadores. A pesquisa utilizou as técnicas de Observação Direta Intensiva/Extensiva e a
documentação indireta. No total, 11 trabahadores são associados deste organização de modo que
(10/11) estão diretamente nos processos produtivos e (1/11) é o presidente da associação. Quanto
aos riscos ocupacionais, foi identificado que esses trabalhadores estão expostos a todos os riscos
ambientais (físicos, ergonômicos, de acidentes, biológicos e químicos). Quanto às doenças foram
identificados dermatites cutâneas, hérnias de disco, problemas de respiração, leishmaniose, tétano e
bursite. Quanto às medidas de mitigação, sugere-se: Formalização dos trabalhadores, criação do
PPRA e PCMSO, com o treinamento, mapa de risco, sinalização, utilização dos EPIs e realização
dos exames. Todas essas medidas passam pelo apoio municipal junto a associação.
Palavras chave: Catadores, Condições de Trabalho, Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

ABSTRACT
The reality behind employment conditions of recyclable waste pickers is concerning since the
precariousness of work environment infrastructure ends up threatening their health. Given this
situation, this study aims to evaluate the work conditions faced by recyclable waste pickers
integrated into a recyclable materials association, in the countryside of Rio Grande do Norte state.
The qualitative-quantitative research was carried out through the application of a form and an
interview, and then the activity processes were observed and applied together with the employees.
The research employed the techniques of Direct Intensive/Extensive Observation and
Indirect documentation. In total, 11 workers are members of this organization so that (10/11) are
directly in the productive processes and (1/11) is the association president. Regarding occupational
hazards, it was identified that these workers are exposed to all environmental risks (physical,
ergonomic, mechanical, biological and chemical). As for the diseases were identified Dermatitis,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cutaneous, disk hernias, breathing problems, leishmaniosis, tetanus and bursitis. Regarding the
mitigation measures, it is suggested: Formalization of employees, creation of PPRA and PCMSO
and with training, risk map, signalling, use of PPE and health screening. All these measures are
supported by the municipal association.
Keywords: Waste pickers, Work Conditions, National Solid on waste policy.

INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos, mais especificamente, período pós Revolução Industrial, a


industrialização dos processos de produção, a formação e o consumo dos conglomerados urbanos,
surge em decorrência desse modelo de expansão econômica a era dos descartáveis e a cultura do
consumismo que terminam por gerar graves problemas de ordem ambiental, causado pela
vertiginosa quantidade de resíduos sejam sólidos, semi-sólidos ou efluentes depositados na natureza
em quantidade e composição difíceis de serem depurados pelo ambiente. Estes resíduos com
destinação ambientalmente inadequados causam consequências aos sistemas ambientais solo, ar e
terra, personificados em enchentes, degradação da qualidade do ar, obstrução de bueiras,
contaminação do solo, acometimento de doenças e estes, infligem danos à qualidade do meio, e, por
conseguinte, a vida das pessoas (SEIFERT, 2009; OLIVEIRA, 2011).
Neste contexto, o Brasil se insere como potencial poluidor. De acordo com dados
apresentados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais
(ABRELPE), em 2015 houve uma geração de 218.274 toneladas por dia de resíduos sólidos
urbanos, tendo o Nordeste uma parcela de 43.894 toneladas por dia (22,1%). Cerca de 58,7% dos
rejeitos produzidos no Brasil, seguiram para destinação adequada, enquanto que a porcentagem
restante (41,3%), continuou sendo destinadas a aterros controlados ou lixões, fato que ocorreu em
59,8% do total de municípios brasileiros, contabilizando cerca de 30 milhões de toneladas de
rejeitos por ano, fato semelhante ao ocorrido no ano anterior (ABRELPE, 2015). Em adição à
quantidade dos resíduos solidos urbanos gerados, outro problema é a heterogeneidade, uma vez que
o tratamento e a destinação desses resíduos ocorre em função de sua natureza.
Assim, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR-10004, os
resíduos sólidos podem ser classificados em dois tipos: Resíduos Classe I – Perigosos e Resíduos
Classe II – Não perigosos. Os resíduos de Classe II podem ser divididos em: Classe II-A (Resíduos
não inertes) e Classe II-B ( Resíduos inertes). Os Resíduos de Classe I são aqueles que apresentam
periculosidade, tais como: Inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxidade, patogenicidade.
São exemplos baterias, pilhas, óleo usado, resíduo de tintas e pigmentos, resíduo hospitalar, resíduo
inflamável, resíduo de agrotóxico. Já os Resíduos de Classe II-A são aqueles que não se enquadram
nas classificações de resíduos classe I - Perigosos ou de resíduos classe II B – Inertes e apresentam
caraterísticas de solubilidade em água, biodegradabilidade, combustibilidade. São exemplos os
resíduos de natureza orgânica como restos de alimentos, mas também se enquadram: resíduos de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

varrição não perigoso, sucata de metais ferrosos, borrachas, espumas, materiais cerâmicos, vítreos.
Enquanto os Resíduos de Classe II-B são aqueles que não se solubilizam quando em contato
dinâmico com a água, tais como rochas, tijolos, vidros, entulho/construção civil, luvas de borracha,
isopor (ABNT, 2004).
A soma da quantidade dos resíduos, conjuntamente com a natureza (composição), conforme
classificado pela NBR 10004/2004, são fatores que determinam como deve ser o tratamento e a
destinação final ambientalmente adequada desses resíduos sólidos urbanos. No entanto, outros
fatores adjacentes influenciam esse processo, tais como, a infraestrutura, as políticas de incentivo, a
gestão dos resíduos sólidos pelos governos e os trabalhadores diretamente envolvidos nesse
processo. Então, não abstraído desta realidade, o Brasil, atento a complexidade da questão dos
resíduos sólidos, somando com a deficiência estrutural que terminam por comprometer os esforços
no sentido da mitigação dos impactos ambientais negativos e, sobretudo, atento aos atores sociais
envolvidos nessa atividade, participa desse debate e implementa políticas que atuem nessa direção.
Dentre essas medidas, mais especificamente dos resíduos sólidos, ressalta-se a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS).
Nessa perspectiva, a Lei Federal 12.305/10 instituiu a PNRS, buscando, por meio de
princípios, objetivos, instrumentos, medidas, instituir um novo horizonte na questão da gestão dos
resíduos sólidos. Dentre as medidas previstas pela PNRS, está a obrigatoriedade da criação e
implementação dos Planos de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos e os Planos de Gerenciamento
dos Resíduos Sólidos, nas dimensões estaduais e municipais e inseridos neles, devem estar os
sistemas de logística reversa, a coleta seletiva, a responsabilidade compartilhada desde a geração,
até a destinação final ambientalmente adequada e, principalmente, o fomento à criação das
cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis (BRASIL, 2010).
Nesse contexto, o catador ocupa eixo central dentre os atores sociais envolvidos na gestão
dos resíduos sólidos urbanos. A atividade é regulamentada desde 2002 (Classificação Brasileira de
Ocupações – CBO nº 5.192-05) e tem como função coletar, separar, classificação, processar e
comercializar resíduos reutilizáveis, recicláveis e reaproveitáveis, de modo a contribuir
essencialmente para o gerenciamento dos resíduos sólidos dos munícipios (BRASIL, 2002). Devido
a natureza e quantidade das mais distintas e a precariedade das condições de trabalho impostas aos
catadores, no mesmo passo em que a questão de saúde e segurança no trabalho tem sido
problemática, estudar as condições de trabalho tem sido cada vez mais objeto de debate em todos os
segmentos econômicos, em especial, no setor de reciclagem relacionados as associações e
cooperativas.
Segundo estudos relacionados a atividade de catador de materiais recicláveis realizados pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os catadores, durante a atividade laboral, estão

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submetidos a uma série de riscos ambientais. Os riscos ambientais são classificados como: físicos,
químicos, biológico, ergonômico e de acidentes. Esses riscos ambientais são personificados na
exposição ao calor, a umidade, os ruídos, a chuva, o risco de quedas, os atropelamentos, os cortes e
a mordedura de animais, o contato com cobras, ratos, moscas e agentes microbiológicos, o mau
cheiro dos gases, a fumaça que exalam dos resíduos acumulados, principalmente do chorume, a
sobrecarga de trabalho e levantamento de peso, as contaminações por materiais perfurocortantes,
embalagens de produtos químicos e etc (IPEA, 2013). Vale salientar que a ausência de educação
ambiental e de gerencimento adequado dos resíduos pelo poder público sobressaltam tais riscos,
uma vez que os resíduos não chegam com triagem prévia, fazendo com que os catadores tenham
contato com agentes infectobacteriológicos como por exemplo, agulhas e seringas contaminadas,
que não deveriam ser destinadas a estas organizaçoes, podendo ocasionar contágio de doenças.
Em combate a essa exposição aos riscos ambientais, o Ministério de Trabalho desenvolve,
por meio das Normas Regulamentadoras (NRs), mecanismos e instrumentos de proteção ao
trabalhador. Essas normas são compostas atualmente por 36 NRs que vão sendo paulatinamente
atualizadas em decorrência das adequações das demandas que vem surgindo. Dentre as Normas
Regulamentadoras, destaca-se a NR 9 (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA). A
NR 9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação de um plano de proteção, com
engajamento do empregador, empregado e instituição visando à proteção ou minoração dos
impactos negativos da exposição aos riscos ambientais a saúde do trabalhador, de modo que esteja
articulado com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), conforme
previsto na NR-7 (BRASIL, 1978b; BRASIL, 1978c).
Em adiação a estas, as NR-6 cujo objetivo é a utilização dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPI) adequados a atividade e que deve possuir Certificado de Aprovação (CA). Os EPIs
visam à proteção individual do trabalhador ao contato com agentes agressivos a sua integridade
física e mental (BRASIL, 1978a). Além dos EPIs, a NR-15, cujo objetivo é conjecturar as
condições de insalubridade, estabelece que os trabalhadores submetidos a insalubridade ganhem um
adicional que varia de 10 a 40% do vencimento básico até que o agente causador de insalubridade
seja cessado. Para a atividade de catador o adicional é máximo, portanto, 40% do vencimento
básico, em razão do risco iminente à saude do trabalhador (BRASIL, 1978d).
Diante desse contexto desafiador, o presente trabalho tem como objetivo avaliar às de
condições de trabalho que catadores de materiais recicláveis organizados em uma associação,
localizado no interior do Estado do Rio Grande do Norte, estão submetidos.

METODOLOGIA

Área de estudo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A pesquisa foi realizada com um grupo de catadores de materiais recicláveis vinculados a


uma Associação deste ramo, localizada em uma cidade da região Seridó, no Estado do Rio Grande
do Norte. A escolha se deu pelo fato da associação ter iniciado recentemente suas atividades e por
apresentar inúmeras dificuldades associadas às condições de trabalho, mais especificamente, as
questões de saúde e segurança no trabalho, muito em função da problemática do gerenciamento dos
resíduos sólidos pelo município e o apoio insuficiente do governo municipal aos catadores, tanto no
apoio técnico quanto ao apoio em infraestrutura, em dissonância da PNRS.

Procedimento da pesquisa

Para coleta das informações, foram realizadas duas visitas à Associação, nos dias 11 e 12 de
novembro de 2016. No primeiro dia, foi realizada a aplicação de um formulário e efetuado
entrevista com cada associado. O formulário é enquadrado como estruturado, organizado em
perguntas relacionadas à estrutura de trabalho da associação. A entrevista com os catadores deu-se
no sentido de coletar a percepção dos associados quanto às condições de trabalho. Posteriormente,
foi observado o processo de trabalho e identificado as condições em que o trabalho é executado,
bem como os riscos ocupacionais de cada etapa de trabalho. Também foram analisados os dados
documentais da associação com o intuito de verificar os números de acidentes e afastamentos que
ocorreram nos anos de 2015 e 2016. A pesquisa abrangeu todos os trabalhadores associados, em um
total de 11 pessoas.
A pesquisa adotou como artifício metodológico as técnicas da Observação Direta Intensiva e
Extensiva, assim como, a documentação indireta (MARCONI; LAKATOS, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estrutura de Trabalho

A Associação, objeto deste estudo, atua no ramo de coleta de materiais recicláveis na cidade
em questão desde 2014. Os catadores desempenham suas funções no período de segunda à sexta. O
turno de trabalho é compreendido no período das 6h às 17h, com pausa para almoço das 11:30h às
13h. O material é advindo do perímetro urbano, realizando coleta em três bairros da cidade. A
referida Associação possuía, no período da pesquisa, 11 catadores associados, sendo 10 ligados ao
processo produtivo e 1 responsável pela parte administrativa, exercendo o cargo de presidente.
Segundo a Associação, o trabalho dos catadores consiste em 6 etapas: coleta, transporte,
triagem, compactação, armazenamento, comercializção. A primeira etapa da coleta é recolhido casa
a casa dos bairros material com potencial para ser comercializado, em especial, garrafas PET
(Polietileno tereftalato), papelão, alumínio (panelas, utensílios doméstico) e cobre (fiação de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

instalações elétricas). Na segunda etapa é realizado o transporte do material até a associação. A


terceira etapa consiste na triagem dentre os materiais coletados aqueles de interesse pelos catadores,
cujo valor agregado e potencial de renda seja considerado razoável pela Associação, focando mais
em papelão, garrafas PET, alumínio e cobre de qualidade apresentável. Na quarta etapa é realizado
a compactação dos materiais separados quando há necessidade. Na quinta é armazenado o material
separado num espaço delimitado pelos catadores no galpão, separado por uma das quatro classes de
material supracitado em razão da sua homogeneidade e na última, é feita a comercialização destes
materiais junto aos intermediários.
Os catadores são divididos em três grupos principais de coleta: dois destinados as coletas de
bairros distintos e um grupo destinado à separação do material coletado. Um dos associados é a
presidente, cuja função é destinada as questões administrativas.

Riscos ocupacionais

Quando interpelados sobre os riscos ocupacionais, houve diversos riscos observados. Tais
riscos podem são enquadrados nos riscos ambientais, de modo que todos os grupos de riscos foram
observados. Os riscos ambientais e profissionais são agrupados em cinco categorias: riscos físicos,
riscos químicos, riscos biológicos, riscos ergonômicos e riscos de acidentes. Nesse sentido, o
Quadro 1 mostra os riscos ambientais observados.

RISCOS AMBIENTAIS TIPOS DE RISCOS


Calor oriundo do transporte dos resíduos dos bairros
até o galpão;
Temperaturas altas devido à reduzida ventilação do
Riscos físicos galpão;
Exposição à radiação do sol durante o processo de
coleta dos resíduos;
Ruídos dos prensadores de materiais
Posturas inadequadas;
Carregamento de peso excessivo;
Riscos ergonômicos Jornada prolongada;
Produtividade elevada;
Esforço repetitivo.
Máquina de prensagem sem sinalização;
Quedas de material;
Riscos de acidentes Cortes;
Iluminação insuficiente artificial e natural.
Picada de cobras.
Condições sanitárias precárias devido à presença de
resíduos acumulados muitos dias;
Condições sanitárias do banheiro que os trabalhadores
Riscos biológicos
usam;
Presença de animais e insetos (por exemplo: ratos);
Contato com materiais perfurocortante como agulhas.
Riscos químicos Contato direto com o chorume resultantes da

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

decomposição dos resíduos;


Contato com embalagens tóxicas, baterias, pilhas,
lâmpadas.
QUADRO 1 – Riscos ocupacionais observados

Os riscos observados ocorrem no desempenho das atividades, com maior ou menor


frequência ou natureza em função da etapa de trabalho. Na etapa de coleta nos bairros,
identificaram-se riscos de natureza física e ergonômica, sobretudo, com a postura, o esforço fisico e
a exposição ao calor, as temperaturas e a radiação do sol. A coleta é realizada com o auxílio de um
carro de mão, empurrado manualmente por um dos catadores, o que se traduz em grandes cargas de
esforços físicos e repetitivos. Na etapa de transporte observaram-se com maior intensidade os riscos
físicos e ergonômicos, conforme citados na etapa de coleta.
Na etapa de triagem, cujo ocorrência dá-se dentro do galpão da associação, verifica-se a
ocorrência da postura inadequada na descarga do material, esforços repetitivos nos membros
superiores, os riscos químicos relacionados ao contato com o chorume e outros gases insalubres ao
catador. Ainda nesta etapa é observado o risco biológico, além dos agentes microbiológicos, os
resíduos acumulados atraem a presença de animais e insetos, vetores de doenças, como é o caso de
ratos, mosquitos, baratas. Nesse sentido, a etapa da triagem mostra-se potencialmente perigosa,
devido ao contato com o chorume e agentes microbiológicos. De acordo com Fernandes et al.
(2012), o contato com o chorume e os agentes etiológicos atraídos pelo fluido, podem provocar
danos à vida humana.
Na etapa compactação há uma grande incidência de riscos físicos provenientes do ruído da
prensa mecânica e de acidentes oriundo de cortes e manipulação da máquina. Na etapa de
armazenamento os riscos característicos estão relacionados aos ergonômicos, físicos, químicos. Na
comercializção ocorrem os riscos ergonômicos, personificados com as posturas inadequadas,
grandes esforços, carregamento de pesos, por exemplo.
De maneira geral, ressalta-se que todos os riscos, mesmo que em menor grau, são
observados em todas as etapas desenvolvidos pelos catadores. Os riscos são agravados pelas
instalações inadequadas da associação, cujo galpão tem pouca ventilação, telhado de fibrocimento,
disposição dos resíduos ao acaso, ausência de janelas, fatores estes que somados traduzem-se em
alta exposição dos riscos supracitados. Os riscos observados estão em consonância com as respostas
dos entrevistados que identificaram parte desses riscos, uma vez que (7/11) atribuem ao contato
direto com os materiais, a mais perigosa exposição ao risco que termina por ameaçar sua saúde,
corroborando a visão de Fernandes et al. (2012).

Doenças Ocupacionais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na perspectiva dos riscos ocupacionais, muitas questões estão inseridas. Segundo Santos e
Anjos (2001), o trabalho de catador inflige ameaça a sua integridade física e mental. Por esta razão,
deve-se investigar a fundo os riscos e os possíveis danos que a natureza da atividade e ao mesmo
tempo, as condições de trabalho, implicam ao trabalhador.
Nesse sentido, quando questionados sobre os riscos, (11/11) afirmaram que a atividade traz
riscos a sua saúde. Quanto aos quais riscos que estão submetidos, (7/11) disseram que os maiores
riscos estão relacionados ao contato com os materiais, enquanto (3/11) respondeu que a jornada de
trabalho pesada é a maior causa de problemas a saúde. Quanto ao maior temor no manejo dos
resíduos, (4/11) afirmaram sofrer picada de animais peçonhentos, (3/11) ser infectado por uma
bactéria, (2/11) adoecer e ficar sem poder trabalhar e (2/11) cortar-se com um material
perfurocortante e contrair uma doença grave. Quanto aos acidentes, (3/11) sofreram picada de cobra
e escorpião, (3/11) sofreram com queda de material prensado nos pés no transcorrer da etapa de
armazenamento dos materiais, (2/11) dores fortes nas costas e articulações e (2/11) sofreram com
descamação da pele e dificuldade de respiração. Quanto aos afastamentos, a maioria disse que
nunca se afastou do trabalho em tempo superior a 30 dias, no entanto, alguns atestados médicos já
foram emitidos devido os trabalhadores apresentarem quadros de infecção, dores nas costas e picada
de animais peçonhentos. Segundo Nogueira, Silveira e Fernandes (2017), os catadores tem ciência
dos riscos envolvidos, das condições de trabalho precárias, demonstram sua insatisfação e procuram
outros empregos, mas como não conseguem, só permanecem na atividade pois é a única forma de
obter renda.
Segundo a presidente da associação, houve 19 atestados médicos, com média de 1,72 casos
por catador contabilizados em 2016. No ano anterior, o total de atestados foi 12 casos, em um
universo de 13 associados, com média de 0,92 casos por catador. Em comparação com os dois anos,
houve aumento no número absoluto de adoecimentos (aumento de 7 casos), como também nos
números relativos proporcionais ao número de trabalhadores (aumento de 0,81 nos casos por
catador). Esses números revelam aumento dos casos de adoecimento em razão de doenças do
trabalho em função das condições precárias de exposição aos riscos do manejo de resíduos urbanos
sem a devida proteção. Vale salientar que boa parte dos afastamentos não são justificados com
atestado médico, pois muitos catadores negam-se de ir ao médico, comunicando apenas a presidente
sobre sua ausência.
Quanto às doenças, alguns trabalhadores apresentaram quadros de doenças graves: (3/11)
demartites cutâneas, (2/11) hérnia de disco, (1/11) problemas de respiração, (1/11) leishmaniose,
(1/11) tétano e (1/11) bursite. O restante dos trabalhadores (2/11) afirmaram não ter tido nenhum
problema do gênero ou do grau, mas relataram ter sido acometidos por gripes, alergias, coceiras,
dores de cabeça. Também foi identificado que dois associados do ano de 2015 foram solicitaram

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

desligamento da associação devido terem sido acometidos por doenças graves, que impossibilitaram
permanecer trabalhando em contato com os resíduos.

Medidas Mitigadoras

Nessa perspectiva das condições precárias de trabalho em que os catadores estão


submetidos, sugerem-se algumas medidas mitigadoras visando minorar os danos da atividade e das
condições em que esta é executada na integridade física e mental dos catadores. Dentre as
possibilidades, sugere-se a implantação de um PPRA associado ao PCMSO. Nestes programas deve
estar inseridos o treinamento técnico especializado para o desenvolvimento de percepção-ação dos
riscos, utilização correta dos EPIs, sinalização dos equipamentos e da área de trabalho,
monitoramento da saúde do catador com a realização dos exames, principalmente, admissionais e
periódicos, bem como o monitoramento dos riscos ambientais. Como elemento adjacente, sugere-se
a criação de um Mapa de Risco do galpão. Salienta-se que todas essas medidas podem ser
realizadas em parceria com a prefeitura municipal, fazendo-se valer das prerrogativas legais da
PNRS.
Quanto ao PPRA, a NR 9 dispõe sobre a implantação deste visando a proteção e segurança
do trabalhador. Especificamente nesse trabalho este plano vislumbra-se como fulcral, uma vez que
os catadores, conforme expresso no tópico 3.2, estão expostos a uma série de riscos ambientais.
Segundo a NR-9, o PPRA deve compreender 4 etapas: planejamento anual com estabelecimento de
metas, prioridades e cronograma; estratégia e metodologia de ação; forma do registro, manutenção e
divulgação dos dados; periodicidade e forma de avaliação do desenvolvimento do PPRA. Deve ser
realizados ajustes no PPRA ao término do ano laboral para ajustes. Quanto ao conteúdo, o PPRA
deve contemplar a antecipação e reconhecimentos dos riscos, estabelecimento de prioridades e
metas de avaliação e controle, avaliação dos riscos e da exposição dos trabalhadores, implantação
de medidas de controle e avaliação de sua eficácia e eficiência, monitoramento da exposição aos
riscos, registro e divulgação dos dados (BRASIL, 1978c). Com o PPRA, visa-se eliminar os riscos,
caso não seja possível, deve-se reduzir a propagação e atenuar os efeitos descendentes dos riscos
ambientais. Na ausência da possibilidade da completa eliminação dos riscos, deve estatuir o
adicional de insalubridade, cujo adicional para catador é máximo (40%) (BRASIL, 1978d).
O PPRA deve estar estritamente ligado ao PCMSO, pois enquanto o PPRA atua no sentido
de proteger o trabalhador, o PCMSO atua quanto à preservação e monitoramento da saúde, usando
os exames e laudos médicos como embasamento técnico para preservação da integridade nas
dimensões físicas e mentais do trabalhador (BRASIL, 1978b). Em posse dessas afirmações, é
possível criar e implementar esses programas, inserindo o treinamento especializado técnico capaz
de sensibilizar e instruir os catadores para utilizar, corretamente, o estipulado pelo PPRA. A

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utilização dos EPIs também é uma prerrogativa obrigatória como segurança do trabalhador,
conforme regido pela NR-6 (BRASIL, 1978a).
Como medida adjacente, elaborar e instalar o Mapa de Risco. Segundo a Secretaria de
Gestão e Planejamento do Estado de Goiás (SEGPLAN, 2012), o Mapa de Risco é um importante
instrumento nesse sentido, cujo objetivo é reduzir o número de acidentes de trabalho e danos a
saúde do trabalhador, em razão da visualização geral dos riscos que o trabalhador vai deparar-se no
desempenho da atividade laboral. Para a SEGPLAN, são seis etapas para criação e implementação
de um Mapa de Risco: Conhecer o processo de trabalho no local analisado; identificar os riscos
existentes no local analisado; identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia; identificar
os indicadores de saúde; Conhecer os levantamentos ambientais já realizados no local; Elaborar o
Mapa de Riscos, sobre o layout do órgão, indicando através de círculos o grupo a que pertence o
risco, de acordo com a cor padronizada. Uma vez elaborado o Mapa de Risco, deve-se localizá-lo
estrategicamente para que os catadores tenham fácil acesso à visualização, bem como, deve ser
monitorado constantemente para realizar alterações em função da ocorrência de outros riscos
(SEGPLAN, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, foi observado que a atividade de catadores de materiais recicláveis apresentam
adversidades no que concernente às condições de trabalho. Os riscos ocupacionais inseridos na
atividade laboral pertencem a todos os grupos de riscos ambientais e profissionais, sendo de
natureza física, ergonômica, químico, biológico e de acidentes. Esses riscos estão personificados
pelo calor, esforço físico extenuante, carga sonora elevada,cheiro proviniente do chorume, posturas
inadequadas, cortes rasos ou profundos, quedas de pilhas de resíduos, perfurocortante, agulhas entre
outros. Quanto aos acidentes, destacam-se picada de cobra e escorpião, queda de material prensado,
dores fortes nas costas e articulações e descamação da pele e falta de respiração. Quanto às doenças,
predominância de dermatites cutâneas, hérnia de disco, problemas de respiração, leishmaniose e
tétano. Embora não ter ocorrido afastamentos com direito a auxílio doença, houve afastamentos
intermitentes. Os resultados sugerem aumento dos casos de adoecimento dos trabalhadores.
Inclusive, houve associados que saíram da organização por doenças ocupacionais.
Diante dessas ameaças a saúde e a segurança do trabalhador sugerem-se como medidas
atenuadoras dos danos: implementação PPRA, do PCMSO nos conformes das NR-9 e NR-7,
respectivamente. Associados a esses programas devem conter capacitação técnica compatível com a
atividade de catador, a utilização correta dos EPIs, a realização de exames admissionais e periódicos
e como complemento, elaboração e implementação de um Mapa de Risco do galpão. Todos essas
medidas devem contar com apoio da prefeitura municipal, conforme estabelecido pela PNRS.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) NO TERRITÓRIO RURAL


DO MACIÇO DE BATURITÉ, CEARÁ

Renato Farias de PAIVA


Mestrando em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis da UNILAB
renatopaiva@unilab.edu.br
José Lucas Guedes dos SANTOS
Graduando em Agronomia da UNILAB
lucas2011guedes@hotmail.com
Ana Isabel PINHEIRO
Mestranda em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis da UNILAB
isabelmoreira1@hotmail.com
Aiala Vieira AMORIM
Professora Doutora do Instituto de Desenvolvimento Rural da UNILAB
aialaamorim@unilab.edu.br

RESUMO
O programa de aquisição de alimentos (PAA) tem se destacado nacionalmente por beneficiar
agricultores familiares, inserindo-os no mercado através da compra de seus produtos. Neste sentido,
objetivou-se com o presente trabalho realizar um levantamento do número de agricultores
participantes do referido programa (PAA) no Maciço de Baturité, Ceará. Os dados para esta
pesquisa foram coletados no sistema PAA DATA, sendo estes referentes ao período de 2011 a
2015. Nesta plataforma foram reunidas informações relacionadas ao número de agricultores
beneficiados por este projeto, conforme dois modelos de execução estadual: por convênio e por
termo de adesão. Através de uma análise dos dados, foi possível identificar que a sub-região dos
Vales/Sertão é a que apresenta o maior número de agricultores vinculados ao PAA, 959 no total.
Apesar do maior número de agricultores vinculados, a sub-região referida apresenta o maior índice
de municípios sem associados, com 33,3% juntamente com a sub-região Serrana que apresenta 20%
dos seus municípios sem nenhum cadastro. De acordo com esses resultados, supõe-se que muitos
agricultores ainda não conhecem o PAA no Maciço de Baturité, podendo isso, explicar os números
tão baixos para alguns municípios. Deste modo, espera-se que com a divulgação destes dados, seja
elaborada e realizada, por parte dos gestores municipais e estaduais, uma maior divulgação desse
programa na região, a fim de aumentar o número de agricultores cadastrados e beneficiados.
Palavras-chave: Agricultura familiar; Desenvolvimento rural; Políticas públicas.
ABSTRACT
The food acquisition program (PAA) has been nationally renowned for benefiting family farmers,
inserting them in the market through the purchase of their products. In this sense, the objective of
this work was to survey the number of farmers participating in the program (PAA) in the Baturité
Massive, Ceará. The data for this research were collected in the PAA DATA system, and these are
related to the period from 2011 to 2015. On this platform were gathered information related to the
number of farmers benefited by this project, according to two models of state execution: by
agreement and by term of accession. Through a data analysis, it was possible to identify that the
Vales/Sertão sub-region is the one with the largest number of farmers linked to the PAA, 959 in
total. Despite the greater number of tied farmers, the referred sub-region presents the highest index
of municipalities without associates, with 33.3% along with the Serrana sub-region that presents

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

20% of its municipalities without any cadastre. According to these results, it is assumed that many
farmers still do not know the PAA in the Massif de Baturité, being able to explain the numbers so
low for some municipalities. Thus, with the dissemination of these data, it is expected that
municipal and state managers will elaborate and carry out a greater dissemination of this program in
the region, in order to increase the number of registered and benefited farmers.
Keywords: Family farming; Rural development; Public policy.

INTRODUÇÃO

O território rural do Maciço de Baturité possui uma área de 3.709 km² sendo, por sua vez,
composto por treze municípios: Acarape, Aracoiaba, Aratuba, Barreira, Baturité, Capistrano,
Guaramiranga, Itapiúna, Mulungu, Ocara, Pacoti, Palmácia e Redenção. Esses municípios são
organizados em três sub-regiões homogêneas: Serrana: Aratuba, Mulungu, Guaramiranga, Pacoti e
Palmácia; dos Vales/Sertão: Aracape, Redenção, Baturité, Aracoiaba, Capistrano e Itapiúna e de
transição (Sertão / Litoral): Barreira e Ocara (MDA, 2010; SABINO, 2013).
Historicamente, a atividade econômica com maior oferta de postos de trabalho na região tem
sido a agricultura familiar. Encontra-se notadamente a horticultura na área serrana, devido ao relevo
acidentado e a exploração de grãos, caju e cana-de-açúcar nas regiões dos vales/sertão e de
transição. No entanto, hoje, um significativo percentual da população (55%) que sobrevive da
exploração de atividades rurais, não é capaz de prover renda suficiente para a sua subsistência
(CEARÁ, 2003).
A falta de incentivos sociais e econômicos encontrados pelo pequeno agricultor (TENÓRIO,
2011), associados, ao baixo nível tecnológico e a organização comercial dos produtores, reduz a sua
competitividade promovendo posteriormente, um processo de desvinculação do setor e migração da
população da zona rural para a periferia dos núcleos urbanos em busca de oportunidades de
emprego. Esses fatores acabam provocando posteriormente diversos problemas socioeconômicos,
que por sua vez, afetam a sociedade de forma geral.
No Brasil, a insuficiência de políticas públicas voltadas à área rural, ao fortalecimento da
agricultura familiar, e a falta de incentivo/atrativo à permanência de homens/mulheres sejam jovens,
adultos, crianças ou idosos no campo, vem contribuindo para que a população urbana cresça a cada
ano em um ritmo acelerado (SILVA et al., 2006; ABRAMOVAY et al., 1998). Visando atender a
finalidades como: o incentivo a agricultura familiar, promovendo a sua inclusão econômica e social,
com fomento à produção com sustentabilidade, incentivo ao processamento da produção e à geração
de renda, incentivo do consumo e a valorização dos alimentos produzidos pela agricultura familiar
surgiu o programa de aquisição de alimentos (PAA) com uma série de modalidades (MDS, 2014).
De acordo com Grisa et al. (2009), a criação do Programa de Aquisição de Alimentos da
Agricultura Familiar (PAA) em 2003 resultou de uma confluência entre dois debates importantes da

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década de 1990 no Brasil. Primeiramente, o Programa traz a discussão da segurança alimentar e


nutricional, debate que se intensifica a partir do final da década de 1980, tem impulso e retração nos
anos 1990 e encontra maior espaço a partir de 2003. Em segundo, contribui para o reconhecimento
da agricultura familiar, que já havia ganhado maior expressão com a criação do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Partindo de uma concepção inter setorial da
segurança alimentar e nutricional, o PAA integra as demandas de acesso aos alimentos às
necessidades de mercado para os produtos da agricultura familiar.
Apesar das significativas melhorias conquistadas pelos agricultores com o PAA, verifica-se
que muitos deles ainda não participam deste programa. Nessa perspectiva, objetivou-se com o
presente trabalho realizar um levantamento do número de agricultores participantes do programa de
aquisição de alimentos (PAA) no Maciço de Baturité, Ceará.

METODOLOGIA

Esta pesquisa configura-se como sendo de caráter quantitativo. De acordo com Richardson
(1989), a pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação, possuindo como
diferencial, a intenção de garantir a precisão dos trabalhos realizados, conduzindo-os a um
resultando com poucas chances de distorções.
Os dados utilizados na elaboração do presente trabalho foram coletados com base no sistema
PAA DATA, sendo estes referentes ao período de 2011 a 2015. Nesta plataforma foram reunidas
informações referentes ao número de agricultores beneficiados nas três sub-regiões do Maciço de
Baturité, Ceará, conforme dois modelos de execução estadual: por convênio e por termo de adesão.
Com estas informações realizou-se um comparativo entre o número de agricultores cadastrados.
O PAA DATA é um Sistema Integrado de Informações (SII), que foi desenvolvido com o
objetivo de dar suporte ao monitoramento, à gestão e ao planejamento. Além de apresentar ao
público informações sobre o PAA considerando todos os executores do programa. Esses executores
são: CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), Estados e Municípios. O sistema PAA
DATA permite, ainda, consultar dados desagregados por estados e municípios, apresentando
informações sobre agricultores fornecedores, tipo de produtos, recursos, entidades beneficiadas,
volume de produtos comercializados, entre outras.
No intuito de delimitar o objeto da pesquisa, foram selecionados dois modelos de execução
do programa de aquisição de alimentos: a execução estadual por meio de convênio e a execução
estadual por meio do termo de adesão. Vale ressaltar que a presente delimitação foi realizada com
base no modelo de execução que apresentasse um maior número de agricultores beneficiados.
As ações do PAA são operacionalizadas por meio do estabelecimento de convênios entre o
MDS e as administrações estaduais e municipais e através do termo de adesão. No caso dos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

convênios com os governos estaduais, prevê-se a constituição de uma coordenação do programa em


nível estadual visando a articular os diferentes agentes e, no âmbito dos municípios, há a
necessidade de que os projetos sejam aprovados por um conselho (MDS, 2012). Com o intuito de
facilitar essa operação foi aprovado o decreto nº 7.775 de 04 de julho de 2012, que incorporara a
possibilidade de atuação do ministério do desenvolvimento social e combate a fome em parceria
com estados, municípios e consórcios públicos, sem a necessidade de celebração de convênios
(MDS, 2014).
Por fim, foram elaborados, através da análise dos dados referentes aos municípios, alguns
gráficos e uma tabela, com o intuito de demonstrar de forma mais clara e objetiva, os resultados
obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De forma geral, observa-se na tabela 1 que a execução por meio do convênio, obteve 741
agricultores cadastrados entre o período de 2011 a 2015. 1,2% a menos que a execução por meio do
termo de adesão que apresentou 750 cadastros no mesmo período.

Tabela 1. Evolução do número de agricultores do Maciço de Baturité participantes do programa PAA em


função de dois modelos de execução, durante o período de 2011 a 2015.

Execução Estadual Execução Estadual

Municípios (Convênio) (Termo de adesão)

2011 2012 2013 2014 2015 2011 2012 2013 2014 2015

Aratuba 0 0 7 0 0 0 0 0 0 9

Guaramiranga 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Mulungu 13 13 10 0 0 0 0 0 16 20

Pacoti 7 14 11 0 0 0 0 0 0 6

Palmácia 0 13 6 0 0 0 0 0 0 9

Acarape 0 0 3 0 0 0 0 0 3 14

Aracoiaba 0 0 0 0 0 0 0 0 7 14

Baturité 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Capistrano 82 102 133 0 0 0 0 0 124 126

Itapiúna 19 86 72 0 0 0 0 0 95 79

Redenção 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Barreira 32 35 43 0 0 0 0 0 84 98

Ocara 0 11 29 0 0 0 0 0 22 24
Fonte: PAA DATA, 2015.

Em complemento a isso, verifica-se que no modelo de execução por convênio, os anos com
maior número de adesão ao PAA foram os de 2012 e 2013 com 274 e 314 produtores associados,
respectivamente. Já pelo termo de adesão, nota-se que os anos com maior frequência de inscritos
foram os de 2014 e 2015 com 351 e 399 agricultores associados. Este considerável aumento de
inscritos no modelo de execução pelo termo de adesão possivelmente ocorreu pela aprovação do
decreto nº 7.775 de 04 de julho de 2012, que incorporara a possibilidade de atuação do ministério
do desenvolvimento social e combate a fome em parceria com estados, municípios e consórcios
públicos, sem a necessidade de celebração de convênios (MDS, 2014).
Apesar da maior facilidade de acesso ao programa devido à aprovação do decreto nº 7.775
que permite a inclusão dos agricultores por meio do termo de adesão sem necessidade de convênios,
nota-se que a sub-região serrana (Figura 1), formada pelos municípios de: Aratuba, Guaramiranga,
Mulungu, Pacoti e Palmácia, apresentam um maior número de agricultores associados ao modelo de
execução estadual por meio de convênio, sendo Mulungu o município com maior número de
produtores vinculados (36), 80,5% a mais que o município de Aratuba, que apresenta, por sua vez, o
segundo menor número de agricultores associados a este tipo de execução.

40
36 36
35 32
Número de Agricultores

30
25
19 Execução
20 Esta dua l
(convênio)
15
9 9
10 7 Execuçã o
6
Estadual (termo
5
0 0 de a desão)
0
Aratuba Guaramiranga Mulungu Pa coti Pa lmá cia

Municípios

Figura 1. Número de agricultores associados ao PAA em função do modelo de execução na sub-região


Serrana, durante o período de 2011 a 2015.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O município de Mulungu, de acordo com dados do levantamento do perfil das regiões de


planejamento do IPECE (2016), no ano de 2014 apresentou um PIB de 77.883 mil reais, sendo
19,83% desse valor advindo de atividades agrícolas. Em contrapartida, segundo a mesma entidade,
o município de Aratuba apresentou, na mesma data, um PIB de 82.434 mil reais, cerca de 5,5% a
mais que o de Mulungu. Vale ressaltar que desses 82.434 mil reais, 25,67% são advindo de
atividades agrícolas.
Percebe-se que apesar de uma maior porcentagem do PIB advindo de atividades
agropecuárias, o município de Aratuba exibe um menor número de agricultores vinculados ao PAA.
Esse fato pode ser explicado pela possível falta de divulgação da política publica no município. De
acordo com Cordeiro (2007), a pouca divulgação impede que um número maior de pessoas tenha
acesso ao PAA. Em complemento a este fator limitante, Gomes e Bastos (2007) ao avaliarem o
referido programa em Recife-PE perceberam que a falta de clareza dos participantes do programa
em relação aos objetivos e procedimentos do mesmo também afeta a participação dos agricultores,
fazendo estes confundirem muitas vezes o PAA com um simples crédito de custeio.
No que diz respeito à sub-região Vales/Sertão (Figura 2) observa-se um maior número de
agricultores associados ao PAA nos municípios de Capistrano e Itapiúna com 567 e 351
respectivamente. De forma semelhante à sub-região 1, verifica-se um maior número de associados
ao modelo de execução estadual por convênio. Levando em consideração os dois municípios com
maior frequência de associados, contata-se que o número agricultores participantes do modelo de
convênio é 14,1% maior que o número agricultores participantes pelo termo de adesão.

350 317
300
Número de Agricultores

250
250

200 177 174 Execução Estadual


(convênio)
150
Execução Estadual
100 (termo de adesão)
50 17 21
3 0 0 0 0 0
0
Acarape Aracoiaba Baturité Capistrano Itapiúna Redenção
Municípios

Figura 2. Número de agricultores associados ao PAA em função do modelo de execução na sub-região


Vales/Sertão, durante o período de 2011 a 2015.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Segundo o IPECE (2016) no ano de 2014 os municípios acima citados apresentaram um PIB
de 111.972 e 104.764 respectivamente, sendo o setor de serviços responsável por a maior parte
desses valores: 78,32% em Capistrano e 84,81% em Itapiúna. O setor agropecuário, por sua vez, foi
responsável por apenas 17,99% do PIB em Capistrano e 11,70% em Itapiúna. A partir destes dados,
infere-se que, mesmo com o setor agropecuário correspondendo a uma menor parte no PIB dos
municípios, estes obtiveram um bom número de agricultores cadastrados, o que expressa uma
situação de investimento no programa por parte dos gestores, na busca possivelmente de diminuir as
dificuldades de comercialização da produção agrícola local.
Em consonância a esta questão, Fuscaldi (2010) ressalta que a criação do programa de
aquisição de alimentos (PAA), representa um marco na política agrícola brasileira, pelo fato do
estado passar a participar do processo de comercialização da pequena produção familiar, garantindo
a aquisição dos produtos a preços justos e fazendo com que dessa forma, os pequenos produtores se
sintam seguros e incentivados a produzir.
Na sub-região Sertão/Litoral (Figura 3), diferentemente das duas sub-regiões citadas
anteriormente, observa-se um maior número de agricultores associados ao modelo de execução
estadual pelo termo de adesão tanto no município de Barreira, como no de Ocara. O município de
Barreira apresenta um número 74,7% maior de agricultores vinculados a este modelo em relação ao
município de Ocara e, segundo o IBGE (2010) sua população rural é 28,9% maior que a urbana. No
entanto, apesar desta maior frequência de agricultores cadastrados e uma maior população rural,
apenas 12,04% do PIB do município é advindo de atividades agrícolas (IPECE, 2016). Este dado
indica que mesmo com um grande número de agricultores associados, boa parte dos 28,9% que
residem no meio rural possivelmente ainda não estão inclusos no programa.

200 182
180
160
Número de Agricultores

140
120 110
100 Execução Estadual
(convênio)
80
Execução Estadual (termo
60 46
40 de adesão)
40
20
0
Barreira Ocara
Municípios

Figura 3. Número de agricultores associados ao PAA em função do modelo de execução na sub-região


Sertão/Litoral, durante o período de 2011 a 2015.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O município de Ocara, por sua vez, apresenta uma população rural 53,6% maior que a
urbana (IBGE, 2010). Entretanto, segundo o IPECE (2016) apenas 14,18% do PIB do município é
resultante de atividades agrícolas. Observa-se deste modo que, apesar de uma grande porcentagem
da população viver em meio rural, é baixo o número de agricultores vinculados ao programa, sendo
este fator explicado possivelmente também pela falta de divulgação da política publica no meio
rural do município.

CONCLUSÕES

Verificou-se que a sub-região dos Vales/Sertão é a que apresenta o maior número de


agricultores vinculados ao PAA, 959 no total. Apesar do maior número de agricultores vinculados,
a sub-região referida apresenta o maior índice de municípios sem associados, com 33,3%
juntamente com a sub-região serrana que apresenta 20% dos seus municípios sem nenhum cadastro.
A sub-região serrana é a que apresenta o menor número de agricultores vinculados, 154 ao todo.
O modelo de execução estadual por meio de convênio é o que apresenta o maior número de
associados, 741 em sua totalidade.
Observou-se com o presente estudo que possivelmente muitos agricultores ainda não
conhecem e (ou) não tem acesso a (o) programa de aquisição de alimentos no Maciço de Baturité.
Deste modo espera-se que com a divulgação deste trabalho seja elaborada e realizada por parte dos
gestores municipais e estaduais uma maior divulgação do PAA na região a fim de que um número
cada vez maior de agricultores possa ser beneficiado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1098


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RECURSOS ENERGÉTICOS: SENSIBILIZAÇÃO NA PERSPECTIVA DA


RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Luciana Barros OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas Licenciatura- UEMA
lucianabarros2015@gmail.com

Hellen Jhohanne Caldas SILVA


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas Licenciatura – UEMA
hellenjhohanne_2009@hotmail.com

Fabíola de Oliveira AGUIAR


Professora – UEMA
Fabiola_@hotmail.com

RESUMO
Dentre os problemas ambientais atuais, destaca-se a disponibilidade do recurso energético,
ressaltando a importância dos recursos naturais. Com visão na educação ambiental e implementação
de ações com ênfase na redução de consumo da energia elétrica, foi almejando implantar medidas
de melhoria de práticas de consumo nos prédios de Química Licenciatura e Pró-Reitoria de
Graduação da Universidade Estadual do Maranhão/ UEMA, inseridas no dia a dia, com discussões e
reflexões no comportamento ao usar esse recurso, e posteriormente a formação de uma consciência
ambiental, na perspectiva de trabalhar a educação ambiental no âmbito acadêmico, com objetivo de
implantar hábitos sustentáveis, por meio de sensibilização, conscientização intervindo diretamente
na redução do consumo de energia. Podendo compreender, quanto ao uso responsável e consciente
da energia elétrica, contribuindo para a redução no consumo excessivo tornado menos necessária a
ampliação do sistema energético que consequentemente não aumentará os impactos ambientais nem
o desperdício de recursos financeiros.
Palavras-chaves: Educação Ambiental, Sensibilização, Recurso Energéticos.

ABSTRACT
Among the current environmental problems, the availability of the energy resource is highlighted,
emphasizing the importance of the natural resources. With a vision in environmental education and
implementation of actions with emphasis on the reduction of electricity consumption, it was
intended to implement measures to improve Practices in the buildings of Química Licenciatura and
Pro-Rectory of Graduation of the State University of Maranhão / UEMA, inserted in the day to day,
with discussions and reflections in the behavior when using this resource, and later the formation of
an environmental conscience, from the perspective Of environmental education in the academic
field, with the intention of implanting habits Sustainable, through awareness raising, awareness
directly intervening in reducing energy consumption. It can understand, as well as the responsible
and conscious use of electric energy, contributing to the reduction in the excessive consumption of
energy, rendering less necessary the expansion of the energy system that consequently will not
increase the environmental impacts nor the waste of financial resources.
Keywords: Environmental Education, Sensitization, Energy Resources.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1099


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Durante séculos na história da humanidade, falou-se no mundo que os recursos naturais


eram inesgotáveis. Acreditava-se também que a influência do homem era limitada na natureza.
Sabe-se que nos dias atuais a disponibilidade dos recursos no mundo é ilimitada e que o destino da
sociedade depende do comportamento, equilíbrio e conhecimento na utilização racional dos
recursos naturais.
A temática sustentabilidade e eficiência energética são importantes no equilíbrio da
necessidade de inserir ao meio ambiente sua produtividade, bem-estar, segurança e saúde da
humanidade.

A energia é empregada intensamente na sociedade em geral e em tudo o que se faz. Surge


então a necessidade de utilizá-la de modo inteligente e eficaz e entre as suas diferentes
formas interessam em particular, aquelas que são processadas pela sociedade e colocadas
à disposição dos consumidores onde e quando necessárias, e entre estas citamos a energia
elétrica. Podemos afirmar com segurança que a energia elétrica é vital ao bem-estar do
ser humano e ao desenvolvimento econômico no mundo contemporâneo. A
racionalização do seu uso possibilita melhor qualidade de vida, gerando
consequentemente, crescimento econômico, emprego e competitividade. (Governo do
Estado do Rio de Janeiro - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, pg 3,2007.)

A educação ambiental é uma das principais alternativas viáveis para trabalhar na sociedade,
visto que o ensino tem o poder de desenvolver habilidades, e formar uma consciência ecológica e
crítica, Dessa forma possibilitando a valorização e conservação do meio ambiente, para que assim
possamos utilizar destes recursos a longo prazo.

RECURSOS ENERGÉTICOS

A energia é um bem indispensável nos dias atuais, seria impossível hoje pensar em um País
desenvolvido sem a existência da produção de energia elétrica, visto que, o homem tornou-se
dependente deste recurso para desenvolver suas atividades cotidianas, desde sua residência até
outros ambientes frequentados.

A energia é necessária para o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade. Porém seu


consumo tem custos associados, os quais podem ser controlados e minimizados. Estes
custos são de utilização de infraestruturas, hábitos e equipamentos ineficientes e
desajustados, de impacto ecológico e econômico (SOUTO, 2013).

Para o desenvolvimento econômico a energia é um suprimento básico, e não apenas um


elemento do ambiente industrial, assim como, para os setores de transportes, telecomunicações,
comércio e educação. Analisando por outras vertentes, no que diz respeito à questão ambiental,
devem ser avaliados os desastres ecológicos e alterações ocasionadas no ambiente natural com a
geração de energia elétrica.
Este trabalho objetiva despertar a importância da sensibilização e conscientização da

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1100


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

educação ambiental no âmbito acadêmico, atendendo às necessidades da geração atual sem


comprometer as futuras gerações, viabilizando implantação de práticas sustentáveis nos prédios de
Química Licenciatura e Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Estadual do Maranhão.

METODOLOGIA

Com visão a redução do consumo, foi almejando implantar ações para a melhoria dos
recursos energéticos nos prédios de Química Licenciatura e Pró-Reitoria de Graduação
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA – Campos Paulo VI, na perspectiva de implantar
hábitos sustentáveis, na finalidade de mobilizar em relação ao consumo exacerbado de energia
elétrica, visando assim demonstrar os efeitos dos recursos energéticos no ambiente universitário,
evitando gastos desnecessários e contribuindo diretamente na redução de energia elétrica.
Objetivando resultados significativos, elaborou-se um questionário inicial semiestruturado e
após 6 meses reaplicou-se o mesmo para obtenção de dados comparativos em relação as ações de
sensibilização desenvolvidas, aplicados junto aos servidores, alunos, vigilantes e prestadores de
serviços da comunidade acadêmica, contendo sete perguntas de múltipla escolha, objetivas e
discursivas, estruturado em três momentos: identificação, hábitos de uso e conhecimento ambiental.
Realizaram-se palestras, conversas informais e colagem de adesivos contendo frases de
efeito, na intenção de sensibilizar o público, a desenvolverem práticas sustentáveis a respeito dos
recursos energéticos no ambiente universitário. Através destes diálogos, foram feitas
recomendações acerca do uso racional, redução e economia de recursos naturais e bens públicos a
médio e longo prazo.

RESULTADOS

Foram aplicados 121 questionários semiestruturados, junto à comunidade acadêmica, sendo


73 iniciais e 48 após ações de sensibilizações, com percentual representativo de 55% do sexo
feminino e 45% do sexo masculino, com faixa etária distribuída (tabela 1) em:

Tabela 1: Distribuição numérica e percentual da amostra quanto à idade dos entrevistados dos prédios de Química
Licenciatura e Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Estadual do Maranhão, Campus Paulo VI.
IDADE
Anos N %
Até 18 11 9
19 – 30 63 52
31 – 40 27 22
41 – 50 10 8
51 – 60 6 5
61 – 70 3 3
Em branco 1 1
Total 121 100
Fonte: Elaborado pelo autor.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Em percentual de público entrevistado em relação à função exercida nos prédios de Química


Licenciatura e Pró-Reitoria de Graduação na universidade (tabela 2) obteve-se os seguintes dados:

Tabela 2: Distribuição numérica e percentual da amostra quanto ao cargo dos entrevistados dos prédios de
Química Licenciatura e Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Estadual do Maranhão, Campus Paulo VI.
CARGO
Função N %
Estagiário 11 9

Assistente Administrativo 23 19
Estudante 42 34
Professor 4 3
Secretária 14 12
Segurança 6 5
Supervisor de Estagio 1 1
Coordenador 1 1
Assessor Jurídico 1 1
Prestador de Serviço 4 3
Em branco 14 12
TOTAL 121 100
Fonte: Elaborado pelo autor

Quando questionado sobre a importância da economia da energia, os entrevistados de ambos


os questionários afirmaram terem consciência dessa importância, justificando a economia financeira
e conservação do meio ambiente. Para entender a importância das energias renováveis dentro do
ambiente, Rios (2006) aponta que a crescente demanda de energia é um procedimento natural e
irremediável e está baseado no aumento populacional, na procura da melhoria de qualidade de vida
da sociedade e na democratização da energia. Goldemberg e Villanueva (2001) afirma que a
vinculação energia-meio ambiente tem consistido em objeto de muitos estudos e, algumas vezes é
possível estabelecer uma afinidade de causa e efeito entre o uso da energia e os danos ao meio
ambiente.
Em relação aos tipos de aparelhos utilizados que mais consomem energia nos prédios de
vivência dos entrevistados, 66% citaram ar condicionado, lâmpadas, equipamentos de laboratório e
computadores, porém, após as ações, 40% correlacionaram os mesmos citados. Nos dias atuais cada
vez mais a tecnologia dos equipamentos eletrônicos está presente, tornando-se imprescindível no
âmbito acadêmico na busca de novos conhecimentos, no entanto, deve-se considerar a necessidade
de reduzir o consumo de energia elétrica, isto é possível por meio de mudanças e atitudes, evitando
o desperdício.
Em relação às atitudes de boas práticas para diminuir o consumo de energia elétrica nos
prédios, as respostas com maior valor significativo foram quanto aos hábitos de desligar os ares -
condicionados, lâmpadas e evitar aparelhos eletrônicos ligados ao fim do expediente, com 74% no
questionário inicial e 73% no pós-ações. Observa-se que os mesmos praticam e têm conhecimento
da importância de boas práticas de consumo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Ao serem questionados se é perceptível o desperdício de energia nos prédios (Gráfico 1), os


entrevistados responderam que: sim, não e em branco, justificando ocorrência de desperdício em
lâmpadas e equipamentos ligados.

Gráfico 1: Percentual da percepção do desperdício de energia dos usuários do prédio de Química


Licenciatura e Pró Reitoria de Graduação da UEMA, Campus Paulo VI.
65%
55%

42%

29%

3% 6%

SIM NÃO EM BRANCO

INICIO FINAL

Conforme apresentado no gráfico 1, nos mostra que houve um aumento em relação aos
conhecimentos do início das ações de sensibilização, ao serem reaplicados após 6 meses de ações,
observou-se que houve um aumento de 10% em relação aos conhecimentos sobre o uso correto dos
recursos energéticos voltado ao uso dos mesmos no ambiente acadêmico, é de extrema importância
ressaltar que houve um decréscimo no percentual de desperdício quanto ao uso dos recursos,
decorrente das ações trabalhadas durante os 6 meses de ações de sensibilização nos prédios da
universidade.
A fim de compreender como pode ser feito para reduzir o consumo de energia na
universidade, com 29% do percentual inicial foi proposto a realização de campanha para o uso
racional de energia, com palestras, oficinas, cartazes entre outros. Já no percentual final, 44%
citaram a troca de lâmpadas fluorescentes por Led com sensores de presença. A iluminação possui
um dos maiores potenciais de consumo de energia e é o campo que pode ofertar as respostas mais
rápidas às necessidades de redução de consumo com os menores investimentos e retornos mais
rápidos (COSTA, 2006). É conhecido o fato de que as lâmpadas fluorescentes gastam menos
energia do que as incandescentes para emitir a mesma quantidade de luz (ABILUMI, 2007). No
entanto, as lâmpadas a LED (Light Emitting Diode, em inglês, ou Diodo Emissor de Luz)
consomem proporcionalmente ainda menos que as fluorescentes.
Ao serem indagados sobre a importância de conhecer a educação ambiental atrelado a sua
formação profissional (atual e futura), em ambos os questionários, foram afirmados que é de grande
relevância as informações de conscientização relacionada ao consumo da energia. Combater o
desperdício é usar a energia de forma inteligente, assumindo um compromisso com a conservação
da natureza, utilizando apenas o essencial, buscando o máximo com o mínimo de consumo.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1103


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Sobre o interesse a participarem de atividades/ações que visam o uso racional da energia, no


primeiro questionário a maioria afirmou que se disponibilizam para atuarem nesse contexto. No
questionário final, foi substituída a última pergunta por uma avaliação em nível de satisfação, no
qual o público avaliou as ações desenvolvidas ao longo dos 6 meses, as mesmas propostas a partir
do diagnóstico inicial. Tendo como resultado 85% de satisfação dos 48 pós-questionários aplicados,
podemos observar que os envolvidos, estavam dispostos a trabalhar em conjunto, objetivando
despertar um raciocínio consciente em relação a como usufruir dos recursos oferecidos pela
natureza, criando assim um comportamento e equilíbrio sobre as questões ambientais e a educação
ambiental desenvolvida pelas ações de sensibilização e conscientização no âmbito acadêmico.
Nas palestras apresentaram-se os objetivos e a importância dos recursos energéticos,
ressaltando o uso da energia que está presente nas atividades diárias, discutindo o porquê do uso
econômico e racional, tendo a consciência do quanto esse recurso é essencial para a existência e
usá-lo com responsabilidade, o que possibilita o bem-estar socioambiental. Foi explicado, como
podem adotar boas práticas com pequenas mudanças de hábitos, sendo de fundamental relevância
para o consumo sustentável do mesmo. Na oportunidade foi explanado o que seria o uso sustentável
e como buscar iniciativas e estratégias que possibilite resultados significativos.
Nas conversas informais realizadas com os servidores, solicitou-se a contribuição de todos,
para assim haver o feedback de acompanhamento acerca das questões voltada a infraestrutura,
iluminação quanto ao uso desnecessário da luz elétrica durante o dia, portas abertas facilitando a
saída do ar condicionados nos ambientes fechados, equipamentos ligados, além da parceria na
fiscalização da utilização desse recurso ao longo do dia no combate do desperdício. Com intuito de
reforçar as boas práticas, em parceria com Assessoria de Gestão Ambiental - UEMA, foram
produzidos adesivos de fixação, distribuídos nos prédios em pontos estratégicos (Imagem 1,2 e 3),
com mensagens de efeitos, sinalizando algumas atitudes sustentáveis afim de reduzir o consumo.

Imagem 1,2 e 3: Adesivos de fixação produzidos para sinalizar o consumo consciente nos prédios de
Química Licenciatura e Pró Reitoria de Graduação na Universidade Estadual do Maranhão, Campo Paulo VI.

Na oportunidade proporcionada pelas conversas, foi diagnosticado desperdício energético


nos laboratórios do prédio de Química, onde havia ligações unificadas de interruptores dos quatro

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1104


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

laboratórios e banheiros feminino e masculino, provocando ligações das lâmpadas diretas, após
detectado o problema, foi solicitado a Prefeitura do Campus Paulo VI, ao setor Elétrica e
Refrigeração para tomar as devidas providencias, que realizou o atendimento com êxito.
Com o aumento contínuo da demanda de energia e a frequente preocupação com o meio
ambiente, o consumo eficiente da energia surgiu como um importante componente na política
energética do país. Dessa forma, a criação de programas nacionais de conservação de energia foi
uma iniciativa estratégica adotada para racionalizar o consumo, aumentando a eficiência energética
(Martins, 1999).
Uma Política de Ação referente à Eficiência Energética tem como meta o emprego de
técnicas e práticas capazes de promover a utilização ―inteligente‖ da energia, reduzindo custos e
produzindo ganhos de produtividade e de lucratividade, na perspectiva do desenvolvimento
sustentável (Governo do Estado do Rio de Janeiro - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão,
pg 3, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto entende-se que os benefícios da gestão ambiental e a importância dos


recursos energéticos para a sociedade acadêmica oportunizam diferentes tipos de informação sobre
a temática, possibilitando uma visão de educação ambiental para a comunidade acadêmica. Foi
possível observar o real interesse que a temática ambiental estabelece a partir da análise.
Inicialmente promovendo discussões e reflexões tendo base a sensibilização ambiental e
posteriormente a formação de uma consciência ambiental crítica e politizada quanto ao modelo
econômico vigente e principalmente mudanças de hábitos no uso desses recursos no ambiente,
assim possibilitando estender-se nas atividades diárias cotidianas.
A Educação Ambiental deve ser exercida de forma contínua e permanente seja em caráter
formal, envolvendo todos os alunos e servidores que cercam o ambiente universitário ou em caráter
não formal envolvendo a sociedade em um todo, primando assim para a formação de
multiplicadores e de cidadãos conscientes e responsáveis, engajados para o uso consciente dos
recursos naturais que é indispensável para os seres vivos, principalmente aos humanos.
A energia elétrica é de suma importância para crescimento econômico, social e a melhoria
da qualidade de vida. Portanto, o uso responsável e consciente desse recurso, contribui para redução
no consumo excessivo de energia, tornado menos necessária a ampliação do sistema energético que
consequentemente não aumentará os impactos ambientais nem o desperdício de recursos
financeiros.

REFERÊNCIAS

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1105


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1106


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ESTUDO SOBRE O USO DE INDICADORES NA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Natália SILVÉRIO
Graduanda em Engenharia Sanitária e Ambiental - UFSC
nataliasilverio.ma@gmail.com
Luiz Gabriel Catoira de VASCONCELOS
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental - UFSC
luizgabrielcv@gmail.com

RESUMO
A partir do trabalho de conclusão de curso desenvolvido por Silvério (2017), foi detectado que a
avaliação dos projetos de educação ambiental (EA) é necessária para que os educadores ambientais
conheçam os resultados das suas ações educativas, e para isso, é interessante utilizar indicadores.
Apesar disso, verificou-se que há uma lacuna no estudo de indicadores para avaliação de projetos de
EA, e é por isso que essa pesquisa se propôs a sistematizar conhecimentos e experiências sobre o
uso de indicadores em projetos de EA. A pesquisa é baseada em levantamento de dados
secundários, através da revisão bibliográfica, e de dados primários, através de entrevistas. A revisão
bibliográfica foi baseada na revisão narrativa, e através dos passos metodológicos do método
SystematicSearchFlow. As entrevistas foram do tipo semiestruturadas, e contaram com o auxílio de
um roteiro-base para orientação, sendo os entrevistados, especialistas que atuam na área da EA.
Através da pesquisa, conclui-se que a EA deve ser avaliada, e que os indicadores são ferramentas
que poderão auxiliar nisso.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Avaliação, Indicadores, Projetos.
ABSTRACT
From the undergraduate thesis developed by Silvério (2017) it was detected that the evaluation of
environmental education (EE) projects is necessary for environmental educators to know the results
of their educational actions, and for this, it is interesting to use indicators. In spite of that, it was
verified that there is a gap on studies of indicators for evaluation of EE projects, and that is the
reason for this research to systematize knowledge and experiences on the use of indicators in EE
projects. The research is based on the collection of secondary data through bibliographic research
and primary data through interviews. The bibliographic research was based on the narrative review,
and through the methodological steps of the SystematicSearcFlow method. The interviews were
semi-structured, and were supported by a basic script for orientation. The interviewees are experts
in the EE area. Through this research, it become clear that EE should be evaluated, and the
indicators are tool that can help this.
Keywords: Environmental Education, Evaluation, Indicators, Projects.

INTRODUÇÃO

O acompanhamento e a avaliação da EA está prevista na Política Nacional de Educação


Ambiental (PNEA), em que o processo educativo deve ser avaliado de forma permanente e crítica,
cabendo ao Órgão Gestor da PNEA ―indicar critérios e metodologias qualitativas e quantitativas

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1107


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

para a avaliação de programas e projetos de Educação Ambiental.‖ e ―estimular o desenvolvimento


de instrumentos e metodologias visando o acompanhamento e avaliação de projetos de Educação
Ambiental;‖ (BRASIL, 2002).
A avaliação é muito importante para a EA, pois é a partir dela que o educador ambiental
poderá guiar o seu caminho, e gerar um aprendizado sobre a sua prática, e ―contribui para melhorar
o processo de ensino e aprendizagem, que fortalece a relação entre educando e educador como
sujeitos que interagem neste processo.‖ (ROLDÃO, 2009, p. 28). Com isso, percebe-se que a
avaliação é algo necessário às ações de EA, e que os indicadores podem ser ferramentas a serem
utilizadas para auxiliar as atividades avaliativas.
Este artigo é resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso em Engenharia Sanitária e
Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvido por Silvério (2017), que
durante as pesquisas, observou que a questão da avaliação e uso dos indicadores não são
comumente utilizados nos projetos de EA, e que ainda são pouco estudados. Com isso, observa-se
que há uma lacuna de estudos relacionados à utilização de indicadores em EA, como também
observado por Vieira e Morais (2016), e Pereira e Bessa (2012).
Diante dessa lacuna, é necessário que sejam realizados mais estudos sobre o tema
―avaliação‖ e ―indicadores‖, para que os educadores ambientais, educandos, e profissionais, possam
avaliar adequadamente os seus projetos de EA.
Para isso, a pesquisa teve como objetivo geral: sistematizar conhecimentos e experiências
sobre o uso de indicadores em projetos de Educação Ambiental, sendo os objetivos específicos:

 Compreender o conceito de avaliação no contexto da Educação Ambiental.


 Investigar o uso de indicadores em projetos de Educação Ambiental.
 Compreender a visão de especialistas na área de Educação Ambiental sobre o uso de
indicadores em Educação Ambiental

METODOLOGIA
A revisão bibliográfica se baseou em dois critérios: a busca exploratória (narrativa), em que
não se aplica critérios metodológicos, e a busca em base de dados, através da adaptação do método
SystematicSearchFlow (SSF).
A metodologia SSF foi desenvolvida por Ferenhof e Fernandes (2016), a fim de ―[...]
sistematizar o processo de busca ou buscas à base de dados científicas a fim de garantir a
repetibilidade e evitar viés do pesquisador.‖ (FERENHOF; FERNANDES, 2016, p. 7). O método é
composto por quatro fases, a ―Definição do Protocolo de Pesquisa‖, a ―Análise dos Resultados da
Busca‖, a ―Síntese dos Resultados‖ e a ―Escrita‖. Para essa pesquisa, utilizou-se apenas a primeira
fase (Definição do Protocolo de Pesquisa), para que fossem utilizados critérios metodológicos para

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

a busca nas bases Scopus, Web of Science, Scielo, EBSCO Host e Eric (Proquest).
Além disso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os seguintes profissionais:

 Renata Rozendo Maranhão: Diretor do Departamento de EA do Ministério do Meio


Ambiente (DEA/MMA);
 Maria Henriqueta Andrade Raymundo: pesquisadora no laboratório de Educação Ambiental
e Política Ambiental, da Esalq/USP, e membro da Articulação Nacional de Políticas
Públicas de Educação Ambiental (ANPPEA);
 Semíramis Albuquerque Biasoli: Pesquisadora do laboratório de Educação Ambiental e
Política Ambiental, da Esalq/USP, Secretária Geral do Fundo Brasileiro de Educação
Ambiental(FunBEA);
 Juliana Lopes: Psicóloga Educacional no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Santa Catarina.

As entrevistas foram realizadas através de Skype, ligação telefônica e também pessoalmente,


com auxílio de roteiros. Todas as entrevistas foram gravadas com o consentimento dos
entrevistados, e foram transcritas na íntegra, sendo que os entrevistados autorizaram o uso do
conteúdo. A análise das entrevistas foi do tipo temática, baseada no artigo de Braun e Clarke
(2006).

RESULTADOS

Educação Ambiental

A EA ainda é tratada como uma ferramenta que irá resolver a ―crise ambiental‖, ou seja, a
EA ainda é vista pelas pessoas como algo que apenas trabalha com temas relacionados à
conservação da natureza, dos animais, à questão do ―lixo‖, em ambientes como a escola, ficando
restrita a isso (Dados Maranhão em Entrevista, 2017). Percebe-se então que essa é uma visão do
―senso comum‖, que é a perspectiva da EA tradicional, conservadora, inserida na ―Corrente
Resolutiva‖, caracterizada por Sauvé (2005), que é bem diferente da EA crítica e transformadora
defendida pelos entrevistados.
Para que essa EA seja compreendida e valorizada pelo ―senso comum‖, é necessário que a
EA mostre os resultados das suas práticas, pois é a partir disso que as pessoas terão conhecimento
da riqueza das ações da EA, da sua dimensão, da sua diversidade, enfim do que ela é, pois para a
entrevistada Renata, ―é uma EA diferenciada e avançada‖ (Dados Maranhão em Entrevista, 2017).
Segundo a entrevistada Henriqueta, há uma cobrança muito grande por resultados no campo
da EA, ―a gente é cobrada por resultados, por coisas concretas, por coisas palpáveis, né‖ (Dados

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Raymundo em Entrevista, 2017). Essa cobrança pode estar pautada na ideia (do ―senso comum‖) de
que a EA não gera resultados concretos, que possam ser mensurados, pois como a EA tem a questão
da subjetividade muito presente, é difícil para os educadores ambientais demonstrarem os seus
resultados de maneira clara e objetiva (Dados Raymundo em Entrevista, 2017).
Tendo em vista que mostrar os resultados implica num maior reconhecimento sobre a
amplitude da EA, encontram-se nos educadores ambientais os responsáveis por esta tarefa, e é
necessário encontrar um caminho que os auxiliem a mostrar os seus resultados, e percebe-se que a
prática da avaliação, e o uso de indicadores sejam um bom caminho para essa demanda.

AVALIAÇÃO

A avaliação, conceituada brevemente, é entendida como o ato de julgar, ou ainda valorar


algo. Para Silvia Czapski, a avaliação ―É o julgamento contínuo e objetivo de um projeto, programa
ou política em andamento ou finalizado, incluindo seu planejamento, implementação e resultados.‖
(BRASIL, 2008, p. 356).
Para Mattos e Loureiro (2011), ―todas as abordagens da avaliação têm o mesmo objetivo
comum, que é determinar o mérito ou valor de um programa ou parte dele‖. (MATTOS;
LOUREIRO, 2011, p. 34).
No contexto da EA, é interessante trazer os modelos de avaliação apresentados por Mayer
(2006): o positivista, o interpretativo e o sócio-crítico.
O modelo positivista é aquele em que a visão do mundo é antropocêntrica e tecnocêntrica,
onde a solução da crise ambiental vem a partir da gestão adequada dos recursos naturais. Nesse
modelo, a EA tem o papel de informação, correta e objetiva, com vistas a informar comportamentos
adequados perante a natureza (MAYER, 2006) .
No modelo interpretativo, o objetivo da EA é a busca pela relação do homem com o
ambiente, em que é baseada na mudança de valores para se ter uma visão biocêntrica do mundo
(MAYER, 2006).
Por fim, no modelo sócio-crítico, a EA busca a mudança nos comportamentos, valores e
também das formas de conceber o mundo, da relação homem com o planeta. Essa mudança não é
apenas individual, mas também social, em que as soluções propostas advêm de discussão aberta e
crítica, de forma participativa. ―A visão do mundo é sistêmica e a atenção é focada nas relações
ecológicas, sociais, econômicas e políticas.‖ (MAYER, 2006, p. 4, tradução nossa).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A IMPORTÂNCIA E O DESAFIO DA UTILIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A importância da avaliação no contexto da EA é colocada em diversos documentos de


referência internacional, tais como a Carta de Belgrado (1975) e a Conferência de Tbilisi (1978). A
nível nacional a avaliação está inserida na PNEA (1999), e no ProNEA (2014).
No livro Measuring Environmental EducationOutcomes (2014), destaca-se que aavaliação
pode―demonstrar o sucesso e os desafios dos programas de educação ambiental, e assim ajudar os
educadores a avaliar os seus impactos e guiar as mudanças do programa.‖
Sabendo da importância da avaliação na EA, é necessário colocá-la em prática, o que é um
grande desafio para os educadores ambientais, como destacado por Tomazello e Ferreira (2001).
Partindo da perspectiva de que os tipos de avaliações baseadas no contexto escolar podem
servir de base para orientar a avaliação no contexto da EA, Mattos e Loureiro (2011) afirmam que
as formas de avaliação tradicionais, não são adequadas à EA, pois os resultados das ações
―dificilmente têm uma relação direta com uma única atividade que possa ser avaliada de forma
isolada e independente.‖ (MATTOS; LOUREIRO, 2011, p. 40), ou ainda ―correremos o risco de
prescindir de elementos que melhor caracterizam a educação ambiental.‖ (TOMAZELLO;
FERREIRA, 2001, p. 200), e ―algumas manifestações da educação ambiental nos seres humanos
não podem ser representadas numericamente‖. (NUNES, [s.d.], p. 1).

RECOMENDAÇÕES DOS ESPECIALISTAS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE EA

Diante dos desafios de como realizar a avaliação da EA, emergiram algumas falas dos
entrevistados que mostram como a avaliação deve ser feita, principalmente de Juliana, que trabalha
no ambiente escolar, onde a questão da avaliação é muito debatida.
Para Juliana, a avaliação deve estar de acordo com os princípios e ideologias dos projetos,
deve estar articulada com as concepções estabelecidas para o processo educativo, como
exemplificado pela entrevistada:

Então não adianta eu ter todo um discurso de que eu acredito no ensino que é processual,
que é construído na interação com o estudante, que o conhecimento se dá ao longo dessa
trajetória, dessa interação, e aí o meu instrumento de avaliação ser uma prova [...]. Isso vai
contra todo aquele discurso de que que eu acredito no processo educativo (Dados Lopes em
Entrevista, 2017).

Ou seja, a forma de avaliação (prova) vai contra a sua concepção de base, que é de
construção coletiva, com envolvimento das pessoas e processual. Para a EA não é diferente, é
necessário que haja um planejamento para que as avaliações das ações estejam de acordo com a sua
práxis.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A entrevistada destaca que além disso, é essencial que os projetos de EA tenham os seus
objetivos muito bem claros, para saber onde se quer chegar, e ter uma base para que a avaliação seja
guiada.
A entrevistada Semíramis também concorda que os projetos devem ter objetivos bem claros,
pois para ela é a partir dos objetivos que serão criados os indicadores do projeto.

E aí propriamente o objetivo do projeto, os objetivos específicos, o objetivo geral, deles


saem os indicadores, você tem que ter muita clareza, o projeto tem que ter muita clareza do
seu objetivo para que ele possa ter os indicadores (Dados Biasoli em Entrevista, 2017).

Como sugestão, Juliana destaca que é importante adotar diferentes instrumentos de


avaliação, tais como entrevistas, questionários e observação, e que a escolha do instrumento deve
ser totalmente de acordo com as concepções de base do projeto, e deve ser ao longo do processo,
para que todo o projeto seja avaliado, não apenas o resultado final, que é muito importante, mas que
as vezes sozinho não tem um significado muito abrangente (Dados Lopes em Entrevista, 2017).

INDICADORES

Para Valarelli(1999, p. 2), os indicadores ―são uma espécie de ―marca‖ ou sinalizador, que
busca expressar algum aspecto da realidade sob uma forma que possamos observá-lo ou mensurá-
lo.‖
Minayo(2009, p. 84) também concorda que os indicadores são uma espécie de ‗sinalizadores
da realidade‘, e que a maioria deles ―dá ênfase ao sentido de medida e balizamento de processos de
construção da realidade ou de elaboração de investigações avaliativas.‖. Os indicadores não dão
―certeza absoluta quanto aos resultados de uma ação ou de um processo, pois sua função é apenas
ser um sinalizador, [...] indicam o que devem indicar.‖ (MINAYO, 2009, p. 85).
Para a EA, os indicadores são ferramentas que podem ser utilizadas, e ―têm se apresentado
como instrumentos exitosos de orientação e apoio de projetos de educação ambiental‖ (VIEIRA;
MORAIS, 2016, p. 2), contribuindo para que os educadores ambientais consigam avaliar as suas
práticas a fim de melhorá-las, e consequentemente, contribuir para o fortalecimento da EA.
Para que os indicadores possam ser utilizados adequadamente, Mayer (s.d.) recomenda que
não se utilize apenas um indicador para a avaliação, mas sim, vários indicadores que devem estar
correlacionados dentro de um sistema, para que os indicadores sejam avaliados de maneira
sistêmica, assim como é na educação ambiental, em que ―a informação fornecida por todo o sistema
é maior que a fornecida pela soma de suas partes.‖ (MAYER, [s.d.], tradução nossa). O sistema de
indicadores deve estar baseado no contexto onde o projeto está inserido, e nos elementos a serem
avaliados, e devem ser dinâmicos, ou seja, revisados continuamente (MAYER, [s.d.]), a fim de
eliminar os indicadores que não são mais interessantes e incorporar novos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Em relação ao contexto do projeto, Valarelli (1999, p. 5) coloca que os aspectos da realidade


local são determinantes para a escolha de indicadores, e que por isso, recomenda que cada projeto
tenha o seu próprio sistema de indicadores, ―mesmo que o conjunto de variáveis utilizadas seja
semelhante aos de outros projetos, os indicadores deverão retratar as condições específicas de cada
realidade.‖. Por conta disso, sugere que na falta de informações sobre a realidade local, o projeto
seja iniciado com a realização de diagnósticos e pesquisas, a fim de obter informações precisas,
―configurando a situação inicial ou os pontos de partida para a construção dos indicadores.‖
(VALARELLI, 1999, p. 5).
Valarelli (1999) ainda complementa que os indicadores devem fornecer informações
relevantes e necessárias para contribuir para a análise e tomada de decisão; serem viáveis do ponto
de vista operacional e financeiro; e simples, para que todos possam compreendê-los.
Eles ainda devem ser coerentes com a concepção e visão dos envolvidos em relação aos
objetivos centrais, ―e resulta da negociação transparente e não impositiva dos diferentes interesses e
expectativas.‖ (VALARELLI, 1999, p. 6). Por isso, devem ser democráticos e participativos, a fim
de que todos contribuam para a escolha dos indicadores, de modo a gerar um aprendizado para os
participantes, e reflexões acerca dos indicadores. Além disso, a construção coletiva converge para
um consenso entre os participantes dos parâmetros que serão utilizados na avaliação, diminuindo as
chances de conflitos (VALARELLI, 1999).

O DESAFIO DA UTILIZAÇÃO DE INDICADORES NA EA

Os indicadores são ferramentas muito úteis para a avaliação no contexto da EA, mas se
percebeu que ainda são poucos utilizados ―[...] na prática da educação ambiental, seja pelo pouco
conhecimento sobre a sua utilização, ou mesmo, em decorrência do grau de importância que os
atores sociais envolvidos dão aos processos avaliativos na EA.‖ (PEREIRA; BESSA, 2012, p. 438).
Além disso, há uma dificuldade em definir indicadores para a EA, pois ―[...] existe uma grande
demanda por aprofundamentos conceituais e metodológicos nos assuntos da avaliação em educação
ambiental por parte de educadoras e educadores ambientais.‖ (LUZ; TONSO, 2015, p. 7).
Butzke(2001, p. 8), diz haver ―[...] uma grande dificuldade em se definir indicadores para
ações de natureza tão qualitativa e subjetiva quanto às ações educativas‖ e que por isso, sugere que
seja feita uma avaliação em relação às mudanças de opinião e comportamento desenvolvidos, que
podem ser medidas através de dados quantitativos, tais como: ―[...] consumo de energia e água, na
diminuição de rejeitos gerados, no aumento de resíduos recicláveis e no aumento da reutilização de
materiais.‖
Por ser um dos grandes desafios da EA, Sousa e Veiga (2009, p. 40) colocam que um dos
erros mais comuns em relação ao uso de indicadores ―[...] é assumir que o número de pessoas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

envolvidas em um programa é o melhor indicador de resultado‖, o que pode ser uma informação
importante, quando se quer avaliar a eficácia do projeto, ou seja, avaliar se os objetivos e metas
foram cumpridos, no entanto, não avalia a mudança de atitude e valores dos participantes.
Já para Pereira e Bessa (2012), o desafio está relacionado às metodologias para o uso de
indicadores, especialmente na EA não formal, pois existem ―[...] poucas pesquisas que abordam
especificamente este assunto.‖ (PEREIRA; BESSA, 2012, p. 435, tradução nossa) Além disso, as
autoras destacam a carência de material didático específico para o tema.

O QUE ESPECIALISTAS DIZEM SOBRE O USO DE INDICADORES PARA PROJETOS DE


EA

Assim como a avaliação, os entrevistados acreditam que os indicadores são necessários e


importantes. Para Renata, os indicadores são ferramentas que nos ajudam a ―conseguir expor para
as pessoas e para a sociedade como um todo, tudo que é feito pelos educadores ambientais‖ (Dados
Maranhão em Entrevista, 2017), o que consequentemente, auxilia as pessoas a compreenderem a
EA, e a sair um ―pouco desse senso comum sobre o que é a EA, que é com crianças, na escola, para
fazer coleta seletiva...‖ (Dados Maranhão em Entrevista, 2017).
De fato, a avaliação com base nos indicadores é importante, e para Henriqueta é um meio
pelo qual a EA poderá gerir os conhecimentos presentes nas mais variadas ações, que na maioria
das vezes se perdem por falta de registro. Além disso, a entrevistada pensa que os indicadores
auxiliarão no avanço da EA, para que ―emplaque‖ como política pública, e para que os educadores
ambientais consigam captar recursos.
Apesar de os indicadores serem ferramentas importantes, Henriqueta coloca que os
educadores ambientais ainda têm uma certa resistência em utilizar indicadores, e que ainda acham
instrumentos ―complexos‖ para serem utilizados para avaliar as suas práticas.
Essa dificuldade fica evidente quando se pensa em indicadores qualitativos, que são mais
difíceis de serem criados e monitorados, pois tem a questão da subjetividade muito presente, que
não está abrangida no indicador quantitativo.
Observa-se que o dado quantitativo por si só não é capaz de traduzir a aprendizagem, o
resultado do processo educativo, o significado da ação do projeto para as pessoas envolvidas, ou
ainda ―as motivações que levaram os indivíduos a ter essa atitude‖(DIAS; GÜNTHER, 2002, p. 2).
De fato, o indicador quantitativo não é capaz de ―medir‖ tudo isso, sendo inadequado para a
avaliação da ação, mas para Renata, é um ―ponto fraco acharmos que o quantitativo não diz nada,
esquecer deles‖ (Dados Maranhão em Entrevista, 2017), pois ―para alguém pode dizer alguma
coisa, então é importante também para alguns grupos terem acesso a esses quantitativos, que para o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

educador ele não diz muita coisa, [...] mas para o gestor, que atua em outras políticas, pode dizer‖
(Dados Maranhão em Entrevista, 2017).
Semíramis também concorda que os indicadores quantitativos são importantes e contribuem
para o fortalecimento da EA, ―eu acho que podemos quantificar, a gente também não precisa ter
medo de uma avaliação quantitativa, eu acho que ela é super importante‖ (Dados Biasoli em
Entrevista, 2017).
Partindo para uma perspectiva mais abrangente, a utilização de indicadores quantitativos, ou
ainda, indicadores ―macros‖ que sejam comuns aos territórios, facilita o monitoramento e
planejamento das ações para a EA, sendo ferramentas úteis para a gestão pública, o que para Renata
ajudam a ―ter um olhar único do território nacional, [...] para termos base histórica, porque nem isso
a gente tem, o que é outro desafio‖ (Dados Maranhão em Entrevista, 2017).

RECOMENDAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA PROJETOS DE EA

Semíramis coloca que é muito importante que os projetos tenham os seus indicadores
próprios, que respeitem a sua identidade de EA, e que consigam avaliar as suas particularidades.
Henriqueta complementa que a construção dos indicadores deve olhar para a realidade local, para o
território em que o projeto está inserido, respeitando o seu histórico econômico, social e político.
Para além disso, a entrevistada comentou que ―não dá para desconectar do todo‖ (Dados Raymundo
em Entrevista, 2017),então é necessário também ―olhar o todo, olhar o conjunto das coisas‖ (Dados
Raymundo em Entrevista, 2017). Ou seja, é necessário conectar o local com a realidade global, que
para Semíramis, significa que o projeto precisa ―estar conectado, pendurado em algumas políticas,
em programas‖ (Dados Biasoli em Entrevista, 2017).
Para além disso, Henriqueta coloca que a construção dos indicadores deve ser um processo
educador e participativo, em que os educadores ambientais obtenham um aprendizado com a
construção desses instrumentos, para que os indicadores não sejam destinados apenas para a gestão
de projetos, mas que sejam também uma oportunidade de formação para o educador ambiental, com
o envolvimento de educadores, educandos, gestores participantes das ações de EA.

CONCLUSÕES

A avaliação está instituída nos principais documentos referenciais da EA, e é essencial para
o avanço da EA, para que seja construído um novo olhar para ela, que é um olhar crítico e
emancipatório, nos seus territórios, com diferentes públicos e objetivos.
A partir das entrevistas, observou-se que para realizar uma avaliação adequada no contexto
da EA, é necessário ter bem claros os objetivos da ação: o que se quer trabalhar? Qual o público
alvo? A partir disso, deve-se respeitar as concepções de base, para que a avaliação não seja

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

destoante das ideologias e práticas presente no projeto. Além disso, a avaliação deve ser contínua
para que as práticas sejam ajustadas no decorrer do projeto, e deve-se utilizar diferentes
instrumentos de medição, tais como imagens, questionários, entrevistas, entre outros, sendo
destacado neste artigo os indicadores.
Destaca-se três aspectos sobre a construção de indicadores nos quais foram sugeridos
durante as entrevistas: olhar para a realidade local, construção participativa e com viés educativo.
Para que os indicadores consigam refletir sobre as ações dos projetos, é necessário que ele seja
construído a partir da realidade do projeto, a fim de compreender o contexto em que o projeto está
inserido e evitar indicadores que não ―dizem‖ nada para aquele local. Além disso, é interessante que
o processo construtivo seja participativo, de forma solidária e democrática, para que os atores
envolvidos conheçam o processo de criação e se sintam responsáveis e satisfeitos com os
indicadores concebidos. Para isso, é importante que a construção seja um processo educador, de
aprendizagem e formativo, para que todos os envolvidos sejam capazes de construírem indicadores
que consigam refletir as ações educativas.
Para além dos indicadores a nível de projetos, é importante que se tenham indicadores
comuns entre as ações de EA, o que seriam muito úteis para o monitoramento numa escala mais
abrangente, como a de um país, para que assim, sejam conhecidos os potenciais e dificuldades
encontradas nas práticas da EA, auxiliando no seu planejamento e melhoria. Para isso, os
indicadores quantitativos são adequados, devido à facilidade de serem utilizados e avaliados, sendo
úteis para uma escala mais abrangente.
Diante desse contexto, pode-se inferir que os indicadores qualitativos são adequados para os
projetos, quando se deseja conhecer as especificidades dos projetos referentes ao processo
educativo, com o intuito de refletir se os educandos aprenderam com o processo, o que é muito
importante para o educador ambiental, mas é interessante que esses indicadores não sejam muito
subjetivos, ao ponto de não serem facilmente explicados.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IDENTIFICAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS COMO FERRAMENTA PARA


O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Paulo Sérgio de ARAÚJO FILHO


Graduando do Curso de Geografia da UFPB
paulo.s11@outlook.com
María Grisel LONGO
Pós-doutoranda BJT-CAPES no PRODEMA-UFPB
mlongo@agro.uba.ar

RESUMO
Os benefícios que as sociedades obtém dos ecossistemas, tem-se definido como serviços
ecossistêmicos ou serviços ambientais. Para gerar políticas de desenvolvimento sustentável é
fundamental compreender o link entre o funcionamento dos ecossistemas, os serviços que eles
fornecem às comunidades e o bem estar de essas comunidades, já que o desenvolvimento
sustentável deve apontar a um menor impacto ambiental ao mesmo tempo que gerar bem estar em
todos os atores da sociedade. Nesta pesquisa exploratória se avaliou como o enfoque de serviços
ecossistêmicos permite pensar em políticas de desenvolvimento sustentável, considerando tanto o
estado dos ecossistemas como o bem estar da sociedade. A través de uma pesquisa bibliográfica, se
identificaram os beneficiários e os serviços fornecidos por ecossistemas presentes no território da
Aldeia Potiguara de Três Rios no Município de Marcação (Paraíba). O quadro teórico de serviços
ecossistêmicos permitiu visualizar o link entre os serviços ecossistêmicos e seus beneficiários de
uma maneira simples, que pode ser abordada por profissionais de diferentes disciplinas assim como
em práticas de educação ambiental. Este enfoque serve de base para analisar quais serviços
ecossistêmicos são favorecidos por determinadas políticas e quem são os beneficiários dessas
políticas.
Palavras Chave: Serviços Ecossistêmicos; Desenvolvimento Sustentável; Percepção Ambiental.

RESUMEN
Los beneficios que las sociedades obtienen de los ecosistemas son reconocidos con el nombre de
servicios ecosistémicos. Para generar políticas de desarrollo sustentable es fundamental comprender
el vínculo entre el funcionamiento de los ecosistemas, los servicios por ellos provistos y el bienestar
de las comunidad asociadas a ellos; ya que el desarrollo sustentable busca reducir el impacto
ambiental al mismo tiempo que generar bien estar en todos los actores de una sociedad. En este
trabajo se evaluó cómo el enfoque de servicios ecosistémicos permite pensar en políticas de
desarrollo sustentable, considerando tanto el estado de los ecosistemas como el bienestar de la
sociedad. A través de una investigación bibliográfica, se identificaron los beneficiarios y los
servicios provistos por los ecosistemas presentes en el territorio de la Aldea Potiguara de Três Rios
en el Municipio de Marcação (Paraíba). El cuadro teórico de servicios ecosistémicos permitió
visualizar el vínculo entre los servicios ecosistémicos y sus beneficiarios, de una manera simple que
poder ser abordada por profesionales de diferentes disciplinas, así como en prácticas de educación
ambiental. Este enfoque sirve de base para analizar cuáles servicios ecosistémicos son favorecidos
por determinadas políticas e quienes son los beneficiarios de las mimas.
Palabras Clave: Servicios Ecosistémicos; Desarrollo Sustentable; Percepción Ambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Apresentação do problema

A exploração dos recursos naturais que permite à humanidade satisfazer necessidades


básicas (alimentação, moradia, insumos para saúde) e não básicas (consumo de diversos produtos
que melhoram a qualidade de vida) gera uma transformação sobre a estrutura e o funcionamento
dos ecossistemas conhecido como impacto ambiental. No ano 2000, a ONU incumbiu diversos
cientistas ao redor do mundo a avaliação das consequências da alteração dos ecossistemas para o
bem-estar humano. Na avaliação observou-se que, para fornecer a crescente demanda de alimento,
água, madeira, fibra e combustível na segunda metade do século XX, as ações humanas mudaram
os ecossistemas numa velocidade e extensão maior de que em qualquer outro período da história
humana. Se bem as mudanças permitiram melhorar a qualidade de vida de algumas pessoas, o custo
tem sido uma alta degradação e perda de ecossistemas e a exacerbação da pobreza para alguns
grupos de pessoas o que se evidencia como um desenvolvimento não sustentável. Essas mudanças
minam a capacidade dos ecossistemas de satisfazer as necessidades de futuras gerações
(www.millenniumassessment.org).
A MEA define os serviços ecossistêmicos como os bens e serviços fornecidos pelos
ecossistemas para a sociedade. Os serviços ecossistêmicos podem ser classificados em serviços de
produção, de regulação, de suporte, e culturais. Os serviços de produção ou aprovisionamento são
os bens que se obtém dos ecossistemas tais como alimento, combustível, fibras, água potável, e
recursos genéticos. Os serviços de regulação são os benefícios que se obtém da regulação de
processos dos ecossistemas, inclusive a manutenção da qualidade do ar, regulação do clima,
controle da erosão, regulação de doenças humanas e purificação da água. Os serviços culturais são
os benefícios não materiais que as pessoas obtêm dos ecossistemas através de enriquecimento
espiritual, desenvolvimento cognitivo e experiências de reflexão, de recreação e estéticas. Por
último, os serviços de suporte são aqueles que são necessários para a produção de todos os outros
serviços de ecossistemas, como a produção primária, a produção de oxigênio e a formação de solo.
Uma lacuna importante identificada pelo estudo é a falta de informação no nível local e
nacional sobre o estado dos serviços ecossistêmicos. Em relação aos ecossistemas de florestas
úmidas decíduas tropicais e subtropicais, onde se encaixa o bioma brasileiro Floresta Atlântica, se
projeta uma perda aproximada de um 20% dos serviços ecossistêmicos até 2050, o que reforça a
necessidade urgente de identificar o estado atual do fornecimento de serviços ecossistêmicos,
especialmente em locais onde a pobreza é maior e pelo tanto as populações são mais vulneráveis.
Os ecossistemas naturais são capazes de suportar muitos serviços ecossistêmicos em níveis
elevados, mas não suportam produzir alimentos em grande escala ao mesmo tempo (FOLEY et al,

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2005). Num agro ecossistema (i.e. ecossistema agrícola), a produção de alimentos aumenta
significativamente em curto prazo ao custo de diminuir outros serviços ecossistêmicos o que se
entende como trade-offs entre serviços ecossistêmicos. Um exemplo disso é que o aumento do uso
de fertilizantes nos sistemas de cultivo, tem levado à degradação da qualidade da água em muitas
regiões, onde anteriormente a vegetação natural fornecia o serviço de regulação da qualidade de
água a través da retenção dos sedimentos do solo. Para maximizar a oferta de serviços
ecossistêmicos, deve se buscar uma situação intermediaria, na qual uma área de cultivo ou região
agrícola é gerenciada para manter outros serviços ecossistêmicos. Para isso é necessário antes
conhecer quais são os serviços fornecidos pelos diferentes ecossistemas de uma região.

Marco Legal

Em relação à conservação dos ecossistemas e ao desenvolvimento sustentável, destaca-se


legislações no nível nacional e no nível estadual. A Lei do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC) – Lei Nº 9.985 – criada em 2000, tem por objetivo principal
instituir ―o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza‖ estabelecendo ―critérios e
normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação‖ (art. 1°). A Lei define
uma unidade de conservação como ―o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as
águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder
Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao
qual se aplicam garantias adequadas de proteção‖ (Lei nº 9.985, art 2º, inciso I). Outros objetivos
dessa lei são: a conservação dos recursos naturais, o desenvolvimento sustentável a partir dos
recursos naturais e das práticas de conservação; a recuperação de áreas degradadas; o incentivo a
pesquisa, a estudos, a educação e a recreação; e a valorização econômica e social da diversidade
biológica e das comunidades tradicionais e suas culturas e meios de subsistência (GELUDA, 2005).
O SNUC agrupa as unidades de conservação em dois grupos, de acordo com seus objetivos
de manejo e tipos de uso: Proteção Integral e Uso Sustentável. As Unidades de Proteção
Integral têm como principal objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos
seus recursos naturais, ou seja, aquele que não envolve consumo, coleta ou danos aos recursos
naturais, dentre as atividades permitidas numa Unidade de Proteção Integral, estão a recreação em
contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica, educação e interpretação ambiental,
entre outras. As Unidades de Uso Sustentável, por sua vez, têm como objetivo compatibilizar a
conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a presença humana nas
áreas protegidas. Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e uso dos recursos naturais são
permitidas, desde que praticadas de uma forma consciente, mantendo constantes os recursos
ambientais renováveis e processos ecológicos. Esses dois tipos de uso permitem o fornecimento de

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serviços ecossistêmicos, no primeiro caso os serviços culturais, de regulação e de suporte, e no


segundo caso podem ser fornecidos todos os tipos de serviços entanto o uso seja sustentável.
O tema de serviços ambientais entra politicamente no Estado da Paraíba em 2013 através da
lei de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Esta Lei institui a Comissão Estadual da Política
de Pagamento por Serviços Ambientais, cria o Programa Estadual de Pagamento por Serviços
Ambientais e estabelece formas de controle e financiamento deste Programa. Dentre outras
diretrizes, a Política Estadual de Pagamentos por Serviços ambientais promove a utilização do PSA
como instrumento de promoção do desenvolvimento social, econômico e cultural das populações
tradicionais, dos povos indígenas e dos agricultores familiares. Porém, não existe ainda no nível
estadual ou municipal um relevamento de quais são os serviços ambientais fornecidos pelos
diferentes ecossistemas presentes na região, nem se tem identificado quem são os beneficiários
desses serviços. Por outro lado, na lei não se considera como vão se distribuir os serviços
ambientais entre os possíveis beneficiários, o que mina o alvo de um desenvolvimento com foco em
melhorar a qualidade de vida principalmente dos grupos mais vulneráveis.
O presente trabalho tem por objetivos:

 Identificar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos ecossistemas que formam parte do


ambiente em que se desenvolve a comunidade.
 Reconhecer os beneficiários desses serviços ecossistêmicos.

MATERIAIS E METODOS

Sitio de estudo

Escolhemos a localidade da Aldeia Três Rios, localizada no município de Marcação, estado


da Paraíba. Nessa aldeia se desenvolve uma população Potiguar tradicional que utiliza os
ecossistemas naturais da região para sua supervivência além de produzir cultivos próprios no seu
território. A Aldeia Três Rios encontra-se inserida na Microrregião do Litoral Norte (Mapa 1) e, por
conseguinte, na Mesorregião geográfica da Mata Atlântica Paraibana. Essa população e suas
atividades se inserem numa matriz agrícola canavieira de maior extensão. A produção agrícola tem
transformado fortemente os ecossistemas originais do litoral desde sua ocupação baseada na
produção da cana-de-açúcar, em 1634, ano em que foram instalados os primeiros engenhos, até os
dias atuais (MOREIRA E TARGINO, 1997).
Os Potiguaras se mantiveram no mesmo lugar desde a chegada dos colonizadores há cerca
de 500 anos até os dias atuais. Sua presença no litoral paraibano, mais notadamente na Baía da
Traição, está descrita em documentos sobre a história do atual Estado da Paraíba (MOREIRA E
TARGINO, 1997). De acordo com a base de dados disponibilizada em 2010 pelo Instituto

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Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total da população indígena nas 26 aldeias


Potiguara do estado da Paraíba é de aproximadamente 17.500 indígenas, essas aldeias estão
localizadas em sua maioria, entre os rios Camaratuba e Mamanguape nas cidades de Baía da
Traição, Marcação e Rio Tinto.

Mapa 1: Mapa do território indígena potiguara no estado da Paraíba. Fonte: Etnomapeamento dos Potiguara
da Paraíba, 2012.

Métodos da Pesquisa

Como tem-se descrito acima, o quadro teórico de serviços ecossistêmicos se desenvolveu


recentemente com o objetivo de gerar uma base científica interdisciplinar que permita o estudo
holístico dos sócioecossistemas. A meta final é gerar ações que promovam uma melhora na
qualidade de vida das pessoas, especialmente dos grupos mais vulneráveis. Nesse sentido é
indispensável compreender como os serviços ecossistêmicos afetam a qualidade de vida das
pessoas. A Figura 1 apresenta a relação entre serviços ecossistêmicos e diferentes componentes do
bem-estar. Porém, um desafio importante no que atinge a políticas de manejo dos ecossistemas, é

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compreender a relação entre os serviços de suporte e o bem-estar, o que seria o link que existe entre
um determinado estado de conservação ou degradação de um ecossistema e o bem-estar de uma
determinada comunidade ou grupo social.
Pelo fato de não ter estudos prévios na região com esse quadro teórico, que sirvam de base
para o presente estudo, a pesquisa se desenvolve no nível de pesquisa exploratória. A pesquisa
exploratória tem como finalidade "esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores" (GIL,
2008). Nesta pesquisa exploratória, se procura esclarecer como é a relação entre os serviços de
ecossistemas locais e o bem-estar de uma comunidade particular, que sirvam de base para definir
possíveis futuras pesquisas que poderiam melhorar o bem-estar dessa comunidade, por exemplo a
partir de pesquisas-ação.
As entrevistas são uma ferramenta muito útil na coleta de informação, especialmente neste
caso onde se tenta compreender um aspecto subjetivo tal como o bem-estar das pessoas;porém, para
realizá-las é indispensável estabelecer uma relação cuidadosa entre o pessoal entrevistado e o
entrevistador (GIL, 2008), além de ter um bom conhecimento da comunidade e do ecossistema a ser
estudado, de maneira que as entrevistas formuladas consigam obter a informação necessária.Pelo
fato de nos encontrar nos primeiros passos desta pesquisa e pelo tanto ainda não ter um profundo
conhecimento do sócio ecossistema, se optou por realizar uma pesquisa bibliográfica para atingir os
objetivos propostos. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos (GIL, 2008).
Se utilizou bibliografia científica relativa à caracterização de serviços ecossistêmicos para
identificar os serviços ecossistêmicos que estariam sendo fornecidos pelos ecossistemas da região.
Para isso se trabalhou com a classificação de serviços ecossistêmicos apresentado pela MEA,
definidos anteriormente, e com o artigo de De Groot e colaboradores (2002) que elenca uma série
de possíveis serviços ecossistêmicos fornecidos pelos ecossistemas. Em particular para esse sistema
se utilizou bibliografia que descreve os serviços fornecidos pela Mata Atlântica (Pagamentos por
Serviços Ambientais na Mata Atlântica: lições aprendidas e desafios, 2011), e para os
agroecossistemas da região se obteve dados do IBGE (Censo Agropecuário, 2015).
Para verificar quais desses serviços estão sendo efetivamente percebidos pela comunidade
local potiguara, se utilizou a informação de entrevistas realizadas e apresentadas numa dissertação
de mestrado realizada na Universidade Federal de Paraíba (MARQUES, 2009). Além disso se
realizou uma entrevista à autora desse trabalho que permitiu ampliar a informação. Esse estudo
permitiu identificar e caracterizar de modo geral os beneficiários locais dos serviços ecossistêmicos.
Para obter informação mais precisa sobre os serviços fornecidos pelo agro ecossistema do canavial,
se tentou entrevistar um funcionário da Usina Japungú mas não se conseguiu concretizar a

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entrevista. Também se procurou informação na sede da Associação de Plantadores de Cana da


Paraíba (ASPLAN) mas no local não foi fornecida informação específica sobre a produção de cana
da Paraíba, nem se logrou localizar à pessoa que foi encomendada pela secretária do organismo para
fazer a entrevista.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da bibliografia científica conseguimos identificar os serviços ecossistêmicos que são


fornecidos pelo ecossistema natural de floresta e dos dois tipos diferenciados de agro ecossistemas:
o cultivo de cana (grandes propriedades) e os cultivos de hortaliças (pequenas propriedades).
Porém, uma vez que as funções dos ecossistemas e os produtos que delas derivam só são
considerados serviços ecossistêmicos no momento que existe um benefício para a sociedade, é
apropriado reconhecer os serviços como são percebidos pela sociedade de maneira complementar
aos estudos ecológicos. Com essa idéia se utilizaram entrevistas com a população local realizadas
em outras pesquisas, para identificar quais de todos os possíveis serviços ecossistêmicos elencados
na literatura, são de fato percebidos pela sociedade.
Identificamos os cultivos e as atividades desenvolvidas na aldeia Potiguara de Três Rios, as
quais tem importância para sua subsistência, economia e cultura. Por conseguinte, elencamos os
serviços que se vinculam a elas. A comunidade indígena, faz o plantio de Macaxeira (Manihot
esculenta), Feijão de corda (Phaseolusvulgaris L.), inhame (Colocasiaesculenta), milho (Zeamays),
banana (Musa sapientum), amendoim (Arachishypogaea L.), coco (cocos nucifera L.), acerola
(Malpighia glabra Linn), mangaba (Hancorniaspeciosa), caju (Anacardiumorcidentale) e algumas
hortaliças e raízes os fazem em menor escala segundo MARQUES (2009). Alguns animais são
criados e engordados em terreiros, para o consumo da própria família. Essas atividades praticadas
no dia a dia da comunidade indígena, geram serviços ecossistêmicos como a produção de alimento
tanto para a população local como para a população de cidades próximas que compram o produto
nas feiras e mercados de pequeno porte onde é vendido o excedente da produção.
As roças e roçados em conjunto com a pesca e a coleta de crustáceos no mangue, ainda se
mantém como os principais meios de sobrevivência das famílias, segundo os próprios Potiguaras. O
cultivo da cana de açúcar se diferencia desse modelo citado anteriormente por ser uma monocultura
que altera o modo de vida dos habitantes da aldeia. Nesse sistema, a maior parte do lucro, fica com
os usineiros e os problemas acarretados pelo plantio da cana restam aos potiguaras, como a restrição
das áreas agriculturáveis, condições de trabalho insalubres, poluição dos rios e solos pelos
defensivos agrícolas e fertilizantes, danos à saúde causados pela queima da cana, entre outros
(ABREU, 2011). Por mais desigual e árdua que seja a relação entre os plantadores da comunidade
e as usinas, muitos ainda consideram a venda da cana-de-açúcar um negócio seguro e lucrativo, pois

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o roçado para dar certo, depende de muitos fatores como qualidade do solo, disponibilidade de água
e trabalho manual; já para plantar a cana, a Usina financia todo o processo, de equipamentos a
insumos e defensivos, além de já ter compradores certos para cada safra como a própria Usina e os
atravessadores que irão vender a mercadoria em outros lugares.
Os crustáceos e peixes que vivem no mangue são coletados para venda e consumo interno da
própria comunidade, lá se encontram crustáceos como Camarão, Caranguejo e Aratú e alguns
peixes como o Camborim, o Carapeba, o Curimã e o Aimoré. Algumas famílias Potiguara têm
construído em sua propriedade tanques para a produção de camarão sobre áreas de manguezais nas
margens próximas a foz do rio Mamanguape. Parte dos peixes e crustáceos obtidos através da pesca
e da Aquicultura, tem o mesmo destino dos agroprodutos, sendo vendidos em feiras e mercados de
pequeno porte (Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba, 2012).
Os recursos do vale do rio Mamanguape também são colhidos pelos moradores da
comunidade, como a extração de matéria prima, a exemplo da retirada de madeira para construção
das casas, cercas e móveis, fabricação de medicamentos naturais e suprimentos de água para
consumo e irrigação, através de construções conhecidas como cacimbas, que são pontos onde o
lençol freático é mais aflorado, geralmente nos tabuleiros ou nos paús, onde emerge água límpida e
ideal para se consumir (Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba, 2012). A Floresta que está
presente no vale do rio, traz consigo diversos benefícios para a comunidade local (microescala) e
para a população em geral (meso e macro-escala), já que seus solos são conservados devido a
proteção das arvores, prevenindo-o contra a erosão, ela age como refúgio ao fazer a manutenção
biológica e genética de algumas espécies de animais e plantas e regula a concentração de carbono
atmosférico a través da produtividade primária(MEA, 2005).Tanto pela fixação de carbono como
pelo seu papel no ciclo da água, as florestas têm um papel importante na regulação climática. Além
disso é fornecedora de serviços culturais pelo seu valor cientifico e educacional e pela beleza cênica
(MEA, 2005).
A ligação dos potiguaras com a natureza se torna mais evidente em sua cultura. A época da
chuva e da colheita tem uma grande importância cultural para os indígenas, celebrando essas datas
com festejos e banquetes. Estas datas podem se referir ao calendário religioso ou a comemorações
identitárias. Com base no clima local se define o calendário agrícola da aldeia e a partir dele que se
celebram as festas religiosas, desde seus antepassados até os dias atuais. Quando se festeja para um
santo, é uma forma de pedir para que a colheita seja prospera e a chuva abundante. Esse momento
se trata de uma união de um povo com a natureza, onde ela provém um bem cultural para aquelas
pessoas, algo que influencia seu modo de vida.
Na Tabela 1 se resumem os serviços ecossistêmicos identificados e descrito acima. Pode-se
observar que os ecossistemas naturais fornecem uma maior quantidade se serviços ecossistêmicos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

que os agro ecossistemas. Por outro lado, o ganho obtido pelos agroecossistemas leva o custo de
perder o fornecimento dos serviços de regulação e suporte, o que na literatura científica sobre
serviços ecossistêmicos é definido como a existência de trade-offs entre alguns serviços. O
reconhecimento de trade-offs entre serviços é importante para poder analisar aqueles casos onde
uma política ambiental, econômica ou social pode favorecer o fornecimento de um serviço ao
mesmo tempo de prejudicar o fornecimento de outro. Uma análise posterior sobre a relação entre
esses serviços e o bem-estar ajudaria a decidir qual vai ser a política que melhor influencia o bem-
estar. Da mesma maneira, conhecer quem são os grupos sociais beneficiados, permitiria priorizar as
políticas que favoreçam os grupos mais vulneráveis, o que uma das principais metas estabelecidas
pela ONU após o trabalho do Millenium Ecosystem Assesment (MEA).
Em sua luta para permanecer na terra, há que se salientar o papel dos indígenas nesse
processo, como ―fiscalizadores do meio ambiente‖, que acionam o MPF e o IBAMA em resposta
aos atos ilegais dos usineiros dentro do território tradicional indígena (MARQUES, 2009), como o
desmatamento de faixas de floresta que estavam sendo gradativamente destruídas pela usina, o
excesso do uso de vinhoto utilizado como fertilizante nos canaviais próximos da aldeia que é
altamente nocivo aos animais e ao solo, e que acaba escorrendo até o rio, deixando-o poluído
(Etnomapeamento dos Potiguara da Paraíba, 2012) e os arrendamentos ilegais de terras em território
indígena para a plantação de cana, que é crime segundo o ART. 171 , § 2º , I , CP . 1. da
Constituição brasileira, que diz que as terras indígenas, sendo patrimônio da União, são inalienáveis
e indisponíveis, insuscetíveis a exploração de terceiros senão pelos próprios índios, observando as
regras estabelecidas pela FUNAI.

Tabela 8. Serviços ecossistêmicos fornecidos por cada ecossistema presentes na região e agrupados por
classe segundo proposto pela MEA (2005). Os serviços que aparecem em cursiva são aqueles que foram
mencionados na bibliografia científica, mas não mencionados pelos entrevistados. Os ecossistemas são FL:
floresta pertencente à Mata Atlântica, MN: manguezal, CA: cultivo de cana de açúcar e OC: outros cultivos

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de produtores locais. As colunas dos ecossistemas se preencham com 'X'ou'b'quando o ecossistema fornece o
serviço elencado na coluna esquerda, em maior ou menor medida respectivamente, e com '-' quando o
ecossistema não fornece esse serviço para a comunidade segundo os dados coletados no desenvolvimento
desta pesquisa. Na última coluna se listam os beneficiários dos serviços indicando entre parêntesis o
ecossistema do qual se beneficiam mais diretamente.

SERVICIOS ECOSSISTÊMICOS FL MN OC CA BENEFICIÁRIOS


de Produção Famílias locais (OC, MN, CA)
Alimento - X X b Populações próximas onde se vendem
os produtos (OC, MN, CA)
Usineiros (CA);
Combustível X b - X Famílias locais (FL, MN)
População brasileira (CA)
Usineiros (CA);
Insumo farmacêutico X - X -
Matéria prima para construções e X X - - Famílias locais (FL, OC);
outros usos X b - - Famílias locais (MN, FL);
Produtos naturais para artesanato e Famílias locais (FL, MN)
decoração. Populações próximas onde se vendem
os produtos (FL, MN);
de Regulação
Sequestro de Carbono X X - - Sociedade global (FL, MN);
Regulação climática X X - - Famílias locais (FL, MN)
Prevenção contra a erosão X X - - Sociedade global (FL, MN);
Prevenção de inundações X X - - Famílias locais (FL, MN);
Regulação da qualidade da água do X X - - Famílias locais (FL, MN);
rio Famílias locais (FL,MN)
Pescadores e coletores de crustáceos
(MN);
Culturais
Festa da colheita - - X - Famílias locais (OC,CA);
Valor Histórico X X X - Famílias locais (FL, MN, OC, CA);
Valor cientifico e educacional X X b - Populações próximas (FL, MN, OC,
CA);
de Suporte
Produtividade primária liquida X X - - Sociedade em geral (FL,MN);
Ciclagem de nutrientes X X - - Sociedade em geral (FL,MN);
Hábitat para manutenção da X X - - Sociedade em geral (FL,MN).
biodiversidade

Em síntese, os serviços ecossistêmicos de produção e culturais foram facilmente percebidos


pela população, enquanto os outros serviços de regulação e suporte precisam de uma compreensão
mais aprofundada do funcionamento dos ecossistemas, e pelo tanto não foram percebidos pela
população em geral. O desconhecimento dos serviços fornecidos pelos ecossistemas e o
desconhecimento do estado (características estruturais e funcionais) em que tem que estar um
ecossistema para fornecer determinados serviços, pode influenciar fortemente as decisões de
manejo, já que não se sabe que e quanto se ganha ou se perde com determinadas práticas. A Tabela
1 pode ser uma ferramenta útil nas práticas de educação ambiental que buscam um maior
conhecimento dos ecossistemas presentes na região e seus benefícios.
Em soma, os ecossistemas naturais fornecem uma maior quantidade de serviços
ecossistêmicos a respeito dos agroecossistema. O fato de que a comunidade potiguar reconhece a

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

relação entre os serviços de produção e culturais com o seu próprio bem-estar, sugere que esses
serviços teriam maior influência sobre o bem-estar que os serviços de regulação e suporte. Porém,
devido ao curto prazo da realização da pesquisa, não se tem realizado uma busca exaustiva de
bibliografia que permitisse identificar outros beneficiários ou outras formas de relacionamento com
os ecossistemas presentes na região. Isso junto com entrevistas dirigidas a conhecer a percepção da
população local sobre os outros serviços ecossistêmicos permitiria uma descrição mais completa
sobre a relação entre os serviços ecossistêmicos e o bem-estar da população local.
Após estudar o modo de vida dos Potiguaras da Aldeia Três rios com seus costumes e
tradições, se entende que como principais beneficiários, e pelo fato de que seu modo de vida esteja
interligado com esses serviços, poderia-se conceder neles o papel de fiscalizadores do meio
ambiente, definindo áreas de proteção ambiental (APA) dentro do seu território, o que ao mesmo
tempo resgataria os elementos identitários da vida dessas comunidades. Os dois tipos de usos
estabelecidos pelo SNUC seriam compatíveis com esse objetivo.
A pesquisa exploratória permitiu aplicar um quadro teórico novo e esclarecer alguns dos
benefícios que são percebidos por uma comunidade. Esta informação junto com pesquisas
posteriores em pós desse conhecimento, é fundamental para pensar em políticas que tenham por
objetivo prioritário melhorar a qualidade de vida das populações locais. E, em sentido contrário,
essa informação também permitiria analisar que políticas beneficiam outros grupos sociais com
possíveis custos para a população local. Dado que existem trade-offs entre serviços ecossistêmicos,
é importante que nas políticas de manejo dos ecossistemas se considere quais são os componentes
do bem-estar afetados e de que maneira, de modo fique explícito como uma política vai melhorar a
qualidade de vida de um ou vários grupos sociais.

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avaliação. Avaliação do Milênio dos Ecossistemas, p. 32, 2003.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1130


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REAPROVEITAMENTO DO POLITEREFTALATO DE ETILENO (PET) PARA USO


NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Pedro Azevedo da SILA NETO


Graduando em Engenharia Civil UFCG
pedro_asneto@hotmail.com
Camila Gonçalves Luz NUNES
Mestranda em Civil e Ambiental UFPB
camilanunes.engcivil@hotmail.com
Ana Maria Gonçalves Duarte MENDONÇA
Professora Doutora em Engenharias de Materiais UFCG
ana.duartemendonca@gmail.com
Walter Rubens Ribeiro Feitosa BATISTA
Graduando em Engenharia Civil UFCG
Walter_rubens1@hotmail.com

RESUMO
A construção civil é responsável pela transformação do ambiente natural em ambiente construído.
Os vários impactos que podem ser gerados durante esse processo motivam pesquisadores a buscar
técnicas e materiais alternativos, menos agressivos em relação aos meios convencionais de
construção. Nesse aspecto, considerando-se a abundância dos materiais plásticos no meio ambiente,
a utilização de insumos como o politereftalato de etileno (PET) na construção civil pode significar
uma opção para mitigar os efeitos negativos provocados por essa transformação. Além dos
benefícios ambientais, o uso desse material torna-se interessante também para o mercado, uma vez
que se trata de uma matéria-prima barata e abundante. Assim, neste estudo o PET micronizado foi
adicionado em argamassas e em seguida foram feitos ensaios para verificar a resistência a
compressão simples para verificar a viabilidade dessa incorporação. Para os ensaios foram
moldados corpos de prova contendo PET micronizado nos teores de 10% e 15%, nas dimensões de
5cmx10cm, para determinação da resistência à compressão simples, de acordo com a norma da
ABNT NBR 7215/1996, nas idades de 7, 14 e 28 dias. Verificou-se que a incorporação do PET
micronizado na argamassa aos 28 dias, proporcionou um aumento da resistência à compressão em
torno de 9,1% para o teor de 10% e 0% para o teor de 15%, em comparação com a argamassa de
referência. Estes valores se apresentam satisfatórios, tanto tecnicamente como economicamente,
pois alteram o custo de produção do mesmo, tornando-o mais barato e dando destino à um resíduo
que não seja ao meio ambiente, agregando assim mais valor ao material.
Palavras-chave: Construção Civil, Politereftalato de Etileno, Argamassa.
RESUMÉN
A construcción civil en el ambiente construido. Los diversos impactos que pueden ser gerados
durante este proceso motivan los investigadores a buscar técnicas y materiales alternativos, menos
agresivos en los medios de comunicación convencionales de construcción. Nesse aspecto, se
considera una abundancia de los materiales plásticos no medio ambiente, una utilización de insumos
como el politereftalato de etileno (PET) en la construcción civil puede significar una opción para el
tratamiento de los efectos negativos provocados por esta transformación. Además de los beneficios
ambientales, el uso del material también es útil para el mercado, una vez que se trata de una materia
prima barata y abundante. Assim, neste estudo o PET micronizado fue agregado en ensayos y

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ensayos para verificar una resistencia a compresión simple para verificar la viabilidad de esta
incorporación. Para los ensayos con moldes corpos de prueba que contienen PET micronizado nos
teores de 10% y 15%, las dimensiones de 5cmx10cm, para la determinación de la resistencia a la
compresión simple, de acuerdo con la norma ABNT NBR 7215/1996, nas idades de 7, 14 e 28 dias.
Verificou-se que una incorporación de PET micronizado en argamassa a 28 días, proporcionando un
aumento de la resistencia a la compresión en torno a 9,1% para el teor de 10% y 0% para el teor de
15% de referencia. Estos valores se presentan satisfactoriamente, tanto tecnológicamente como
económicamente, para alterar el costo de producción del mismo, tornando-o más barato y dar
destino a un residuo que no son similares al medio ambiente.
Palabras Clave: Construcción Civil, Politereftalato de Etileno, Argamassa.

INTRODUÇÃO

A cadeia produtiva da construção civil é responsável pela transformação do ambiente natural


em ambiente construído que precisa ser permanentemente atualizado e mantido. Dada a
complexidade e extensão de seu impacto no meio ambiente, na economia e na sociedade, a
construção de políticas, o desenvolvimento e aplicação de novos conhecimentos (inovação) de
forma sistêmica são de suma importância à manutenção do equilíbrio do planeta que vem sendo
alterado significativamente pelo desenvolvimento promovido pela humanidade (AGOPYAN;
JOHN, 2011).
Questões ambientais tem sido preocupação crescente, seja em países desenvolvidos ou não,
e a quantidade de resíduos deixados por construções (atualmente mensurados em cinco vezes mais
do que de produtos), tornou-se um dos centros das discussões da sustentabilidade. Uma postura
consciente nas mais diversas etapas da construção civil, além de financeiramente viável, demonstra
a preocupação da empresa com a situação do meio ambiente junto ao público (YEMAL et al.,
2011).
No Brasil, em 2015, foram produzidos cerca de 537,2 Ktons (ABIPET, 2016) de produtos
com PET. Desse total apenas 51% são reciclados, ocasionando problemas como a elevada ocupação
de espaço nos aterros sanitários. Além disso, esse material é de difícil decomposição (SANTOS,
2014).
A ABNT NBR 13.281:2005 define as argamassas como uma mistura homogênea de
agregado(s) miúdo(s), aglomerante(s) inorgânico(s) e água, contendo ou não aditivos, com
propriedades de aderência e endurecimento, podendo ser dosadas em obra ou em instalação própria
(argamassa industrializada). Elas podem ser utilizadas em vários locais com função diferenciada,
cada um dos empregos faz jus a uma série de propriedades que corresponde a um tipo de argamassa
específico (SANTOS, 2014).
As argamassas devem apresentar características, como: permitir deformações necessárias
para os diversos tipos de ambientes/situações; suportar/aderir aos blocos; resistir às cargas atuantes

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sem apresentar rupturas; complementares sistemas de isolamento acústico e térmico; ter adequada
resistência à compressão, à tração e ao ataque de agentes químicos oriundos de materiais de limpeza
(se alvenaria à vista), dentre outros (MARTINELLI, 1991; SÁNCHEZ, 2013).
Vários estudos têm sido realizados com a utilização de resíduos plásticos em concretos e
argamassas, seja como modificadores da pasta de cimento, ou como materiais inertes, nesse último
caso, com função de fibras de reforço ou de agregados leves. O resíduo pós-consumo mais utilizado
experimentalmente foi o de garrafas PET, substituindo a areia percentualmente, em peso ou volume
(CHOI et al, 2009; MARZOUK, 2006; CANELLAS, 2005, MODRO et al, 2009). Outros resíduos
poliméricos também foram usados, embora em menor número, como o polietileno de alta densidade
e o polipropileno (NAIK et al, 1996; ZAINAB et al, 2007). Os resultados indicam que a adição de
agregado leve de resíduos plásticos na argamassa ou concretos ocasionou uma relativa perda de
resistência mecânica, aumento do teor de ar incorporado e redução da trabalhabilidade. Por outro
lado, ocorreram também redução do peso específico e do módulo de elasticidade e aumento da
ductilidade das amostras com agregado leve de resíduo plástico. Desse modo, a adição de tais
resíduos como agregados em compósitos cimentícios não se restringe apenas à questão ambiental,
mas também à possíveis modificações nas propriedades desses compósitos, as quais, entre outros
efeitos, pode reduzir a propagação de fissuras em decorrência de esforços mecânicos (MELLO et
al., 2011).
Assim, este estudo tem como objeto propor uma medida mitigadora para o descarte de
materiais a base de Politereftalato de etileno (PET). Sendo proposta e investigada a sua utilização na
construção civil através da sua adição em argamassas. Após a incorporação do PET a resistência a
compressão simples dos corpos de prova foi medida e comparada com a do corpo de prova de
referência sem a adição do material.

METODOLOGIA

Os materiais utilizados na pesquisa foram:


Agregado miúdo: O agregado miúdo, utilizado na pesquisa, foi do tipo natural proveniente
de jazida do leito do Rio Paraíba, apresentando diâmetro máximo de 4,8mm, finura igual a 2,78%,
massa específica de 2,618g/cm3, massa unitária solta igual a 1,429g/cm3, e teor de materiais
pulverulentos de 0,07%;
Água: Fornecida pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA);
Cal Hidratada: obtida no comércio local de Campina Grande-PB, apresentando teor de
49,35% de cálcio (CaO), 26,45% de óxido de magnésio, e granulometria com diâmetro médio de
9,87μm, com D10 de 0,47μm, D50 de 4,28μm e D90 de 30,84μm. Para esta cal não existe partículas
superiores a 100μm.

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Cimento Portland CPII F32: O cimento Portland foi obtido no comercio local do município
de Santa Rita-PB, apresentando massa específica igual a 2,91 g/cm3 e finura igual 2,84%;
Politereftalato de Etileno: apresenta um pico exotérmico de 200°C, indicando a ocorrência
de modificações físicas e químicas na composição do material; pico endotérmico de
aproximadamente 82,64ºC, indicando a mudança de estado físico do material (sólido para líquido),
havendo uma pequena perda de massa; pico exotérmico de 129,62°C indicando uma nova mudança
de estado físico (líquido para vapor); perda de massa total de 0,24%; bandas características: em
aproximadamente 3000cm-1, identificada pela vibração de deformação axial do grupo (=C–H),
presentes em compostos aromáticos (benzeno); em 1709cm-1 estiramento C=O de ácido carboxílico;
em 1247cm-1 estiramento C(O)–O de grupos éster; em 1091 e em 1018cm-1 indicativo de
estiramento da ligação C–O e aproximadamente 726cm-1, deformação angular dos carbonos dis-
substituídos no anel aromático.
Os métodos de ensaios utilizados baseiam-se em normas, entre elas, da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e normas internacionais da ASTM e da AASHTO. Após a
escolha dos materiais foram feitos os estudos de dosagem e a produção dos corpos de prova. Em
seguida a resistência dos corpos-de-prova foi medida por meio do ensaio de resistência a
compressão simples.

Dosagem dos materiais

O traço utilizado na pesquisa foi o de 1:2:9, para a determinação do fator água/cimento (fa/c)
utilizou-se o método de Selmo e uma simplicação do Ensaio de Consistência.
Método de Selmo: propõe a dosagem racional de adições argilosas em argamassa de
revestimento e assentamento a partir de curvas de trabalhabilidade que correspondem à relação
entre agregados/cimento em misturas experimentais: ao variar a relação areia/cimento obtém-se
empiricamente, a quantidade mínima de adição capaz de plastificar a argamassa.
Simplificação do Ensaio de Consistência: o ensaio de Consistência é regido pela NBR 13279
(Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e teto – Preparo da mistura e
determinação do índice de consistência) ABNT (2005).
Utilizando-se os dois métodos obteve-se o fator água/cimento (fa/c) igual a 2,18, o qual
atende as condições de boa moldagem da argamassa. Assim obteve-se o traço de 1:2:9:2.18 que
correspondem respectivamente as proporções de cimento, cal, areia e água.
Com o traço finalizado, iniciou-se o procedimento de cálculo das quantidades de materiais
necessários para confecção dos corpos de prova. Algumas informações importantes par iniciar os
cálculos: dimensões 5cmx10cm (diâmetro x altura).
Inicialmente realizou-se o cálculo do consumo de cada material pela Equação (01).

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1000
C Eq. (01)
1 a b
  x
c a b
Onde:
ðc, ða e ðb são respectivamente, as massas específicas reais do cimento, areia e da brita;
1:a:b:x é o traço do concreto expresso em massa;
C é o consumo de cimento por metro cúbico de concreto, 1000 dm3.
Assim, para os corpos de prova de referência e com os teores de substituição tem-se o
quantitativo apresentado na Tabela 1.

Materiais
1:2:9:2.18

Misturas Cimento Portland (g) PET (g) Cal (g) Agregado miúdo (g) Água (g)
Traço

Referência 33 - 66 296,96 71,93


10% 33 29,70 66 267,26 71,93
PET 15% 33 44,54 66 252,42 71,93
Tabela 1: Quantitativo de materiais para moldagem de um corpo de prova. Fonte: Autoria Própria

Produção e preparação dos corpos de prova

Inicialmente foi realizada a pesagem dos elementos constituintes do material a saber, o


cimento, areia e PET micronizado. Sequencialmente foi realizada a homogeneização da mistura.
Os corpos de prova foram moldados segundo norma da ABNT NBR 13279 (Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e teto – Preparo da mistura e determinação do índice de
consistência) ABNT (2005).
Para esta etapa foram moldados corpos de prova nas dimensões de 5cmx10cm para a
argamassa de referência e para a argamassa incorporada com 10% e 15% de PET segundo a NBR
13279 (Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e teto – Preparo da mistura e
determinação do índice de consistência) ABNT (2005).

Figura 1: Produção da argamassa e moldagem dos corpos de prova. Fonte: Autoria própria.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Inicialmente foi passado o óleo lubrificante nos moldes para facilitar a desmoldagem.
Posteriormente colocou-se 3 camadas de material, com aplicação de 25 golpes com soquete para
cada camada. Em seguida regularizou-se a superfície com régua para uma melhor distribuição das
tensões, conforme ilustrado na figura 1.

Processo de cura

Realizado todo procedimento de preparo e moldagem, os corpos de prova permaneceram


inicialmente 24hrs à temperatura ambiente e posteriormente foram levados a câmara úmida até
serem retirados para ensaio, conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2: Cura dos corpos de prova. Fonte: Autoria própria.

Determinação da Resistência à Compressão Simples

Para a caracterização mecânica dos corpos de prova de argamassa incorporadas com PET,
nas dimensões de 5cx10cm, foi realizado o ensaio de resistência à compressão simples, de acordo
com a norma ABNT NBR 7215 (ABNT 1996), nas idades de controle de 7, 14 e 28 dias. O
equipamento utilizado para realização do ensaio está ilustrado na Figura 3.

Figura 3: Rompimento dos corpos de prova. Fonte: Autoria própria

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Resistência à compressão

Os resultados referentes ao ensaio de resistência à compressão para a argamassa de


referência e para a argamassa incorporada com PET micronizado nos teores de 10 e 15%, estão
apresentados na tabela 2.

Teor de Pet Resistência (MPa)


incorporado 7 dias 14 dias 28 dias
0 % (referência) 0,70 0,90 1,10
10% 0,90 1,10 1,20
15% 0,95 0,95 1,10
Tabela 2: Resistência a compressão simples. Fonte: Autoria própria.

A Figura 4 ilustra a resistência a compressão da argamassa incorporada com 10% de PET


em substituição ao agregado miúdo em comparação com a argamassa de referência.

1,3
1,2
1,2
1,1 1,1
1,1
Tensão (MPa)

1
0,9 0,9
0,9

0,8
0,7
0,7 Referência

0,6 10% PET incorporado

0,5
0 7 14 21 28
Tempo de Cura (dias)

Figura 4: Resistência à compressão simples para a argamassa de referência e para a argamassa com 10% de
PET incorporado. Fonte: Autoria própria.

De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que a argamassa com 10% de PET
incorporado em substituição do agregado miúdo, a tensão de compressão é maior durante todas as
fases de cura, tanto para 7, 14 e 28 dias, com um aumento percentual de 28,6%, 22,2% e 9,1%
respectivamente, em comparação com a argamassa de referência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

De acordo com a NBR 13281 a partir do resultado de resistência à compressão (1,20 MPa)
aos 28 dias, podemos classificar esta argamassa como sendo do tipo I, sendo ≥ 0,1 e < 4,0, para
assentamento e revestimento.
A Figura 5 ilustra a resistência a compressão da argamassa incorporada com 15% de PET
em substituição do agregado miúdo em comparação com a argamassa de referência.

1,2
1,1
1,1

1 0,95 0,95
0,9
Tensão (MPa)

0,9

0,8
0,7
0,7 Referência
15% PET incorporado
0,6

0,5
0 7 14 21 28
Tempo de cura (dias)

Figura 5: Resistência à compressão simples para a argamassa de referência e para a argamassa com 15% de
PET incorporado. Fonte: Autoria própria.

Ao analisar os resultados obtidos para a argamassa com 15% de PET em substituição do


agregado miúdo, verifica-se que a resistência de compressão em comparação com a de referência é
maior para as fases de cura para 7 e 14 dias, se tornando igual a de referência aos 28 dias, com um
aumento atípico da resistência aos 7 dias, isso deve-se ao fato do PET micronizado proporcionar um
maior empacotamento. Porém com o decorrer do tempo, esse material não tende a elevar tanto sua
resistência, fazendo com que tenha um ganho de resistência de 35,7% para 7 dias, de 5,6% para 14
dias e aos 28 dias se iguala a resistência da argamassa de referência.
De acordo com a NBR 13281 a partir do resultado de resistência à compressão aos 28 dias,
podemos classificar esta argamassa como sendo do tipo I, sendo ≥ 0,1 e < 4,0, para assentamento e
revestimento.
A Figura 6 ilustra a resistência a compressão da argamassa incorporada com 10% e 15% de
PET em substituição do agregado miúdo em comparação com a argamassa de referência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1,3
1,2
1,2
1,1 1,1
1,1

1 0,95 0,95
Tensão (MPa)

0,9 0,9
0,9

0,8
Referência
0,7
0,7 10% PET incorporado
15% PET incorporado
0,6

0,5
0 7 14 21 28
Tempo de Cura (dias)

Figura 6: Resistência à compressão simples para a argamassa de referência e para a argamassa com 10 e 15%
de PET incorporado. Fonte: Autoria própria.

Analisando os resultados obtidos para a resistência das argamassas ao longo dos 28 dias,
podemos observar que a incorporada com 10% de PET obteve um melhor resultado comparado com
15% de PET e com a de referência, indo de encontro com a maioria dos resultados na literatura que
diminuem a resistência da argamassa.
O resultados de Canellas (2005), que substituiu a areia da argamassa por partículas
floculadas de garrafas PET nos percentuais de 10, 30 e 50%, mostraram uma forte redução na
resistência mecânica à medida que aumenta o teor de partículas de plástico na argamassa. Os de
Marzouk (2006) demonstram uma ligeira redução nas resistências à compressão e à flexão, 15,7% e
32,8%, respectivamente, quando foi efetuada a substituição de até 50% em volume da areia por
resíduos de PET. Choi et al (2009), mostrou que a resistência a compressão decresceu em 5%, 15%
e 30%, com a incorporação de agragado plástico em 25%, 50% e 75%, respectivamente.
Outro fator importante a levar em consideração nos experimentos foi a diminuição da
trabalhabilidade de acordo com o aumento do teor de PET incorporado na argamassa, segundo
Mello (2011) é ocasionada pela redução da homogeneidade das misturas, redução da consistência,
retenção de água e uma maior segregação das partículas da argamassa. Como também pelo fato do
agregado de polietileno ter menor peso e maior volume comparado com o agregado natural e que os
traços produzidos em peso apresentam um volume de PET bastante elevado.

CONCLUSÕES

Foi avaliado no presente trabalho a utilização de Politereftalato de etileno micronizado como


alternativa ao agregado miúdo em argamassas, visando buscar outros meios para a destinação desse

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

material, reduzindo os impactos ambientais gerados pela elevada produção e pelo descarte e
acumulação nos aterros sanitários e lixões, como também reduzir custos na preparação de
argamassas, atendendo todos os parâmetros estabelecidos nas normas. A partir dos resultados
obtidos no estudo experimental, podemos concluir que:

 Para a resistência à compressão simples das argamassas, notou-se que para os teores de
substituição (10% e 15%), obteve-se resistência superior a argamassa de referência para
todas as idades (7,14 e 28 dias). É notável que para o teor de 10% PET obteve um melhor
desempenho nesta análise, se mostrando muito satisfatório. Analisando-se a resistência à
compressão aos 28 dias, nota-se que é possível destacar que em relação à argamassa de
referência, a combinação 10% PET é 9,1% superior em resistência e se tornou igual a de
referência para 15% PET.
 Para os resultados obtidos pode-se classificar esta argamassa como sendo do tipo I segundo
a ABNT NBR 13281.
 Solução ambiental no que diz respeito ao descarte e acumulação de material no meio
ambiente, incentivando a utilização pela indústria da Construção Civil ocasionado pela
redução de custos na produção da argamassa.

REFERÊNCIAS

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resistência à compressão. Rio de Janeiro/RJ, 1996.

_______. NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos –


Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.

______. NBR 13281: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – requisitos.
Rio de Janeiro, 2005.

AGOPYAN, V; JOHN, V. M. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil. Ed. Edgard


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CANELLAS, S. S. Reciclagem de PET, visando a substituição de agregado miúdo em argamassas.


78p. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2005.

CHOI, Y. W.; MOON, D. J.; KIM, Y. J.; LACHEMI, M. Characteristics of mortar and concrete
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MARTINELLI, F.A.; HELENE P.R.L. Usos e funções das argamassas mistas destinadas ao
revestimento de alvenarias. Boletim técnico da escola politécnica da USP. Departamento de
engenharia de construção civil. São Paulo: EPUSP, 11p. 1991.

MARZOUK, O. Y.; DHEILLY, R. M.; QUENEUDEC, M. Valorization of post-consumer waste


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MELLO, A.L. Utilização de resíduos de PEAD como alternativa aos agregados naturais em
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NAIK, T. R.; SINGH, S.S.; HUBER, C. O.; BRODERSEN, B. S. Use of post-consumer waste
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SANTOS, W. J. Desenvolvimento de metodologia de dosagem de argamassas de revestimento e


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Workshop International Adavances in Cleaner Production. São Paulo. 2011.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1141


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONFECÇÃO DE CARTILHA SOBRE COLETA SELETIVA DESTINADA A


MORADORES DE CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS VERTICAIS COMO
ESTRATÉGIA DE PROMOVER EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Pedro Henrique Luna NASCIMENTO


Graduando do Curso de Licenciatura em Química da UEPB
phln_@live.com
Vera Lúcia Meira de Morais SILVA
Professora Doutora da UEPB
meiravlms@gmail.com
Lígia Maria Ribeiro LIMA
Professora Doutora da UEPB
ligiauepb@gmail.com
Rejane Mirelle Izabel PORTO
Graduanda do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UEPB
rejanemirelle@gmail.com

RESUMO
Nos dias atuais, é expressivo o número de discussões acerca dos impactos ambientais envolvendo o
consumo exacerbado da população e da enorme quantidade de resíduos sólidos descartados no meio
ambiente de forma inadequada e em locais inapropriados. À vista disto, são evidentes as
consequências dessas práticas no planeta Terra, como o aquecimento global e o efeito estufa, duas
questões frequentes em debates ao redor do mundo. No Brasil, a quantidade de resíduos sólidos
descartados é enorme e, em muitas localidades, a população não possui práticas educativas
ambientais, nem hábitos de sustentabilidade no dia a dia. Com isso, o trabalho coletivo surge como
uma estratégia que pode funcionar para diminuir estes impactos ambientais. A população deve ser
conscientizada e orientada por órgãos competentes que possam contribuir para o crescimento de
atividades capazes de minimizar estes riscos ao meio ambiente. A coletividade em condomínios
residenciais verticais pode funcionar como uma tática para conscientização e práticas que possam
melhorar o meio ambiente. Portanto, o objetivo deste trabalho é a confecção de uma cartilha acerca
de coleta seletiva destinada a condomínios residenciais verticais da cidade de Campina Grande,
localizada no estado da Paraíba (PB), com o propósito de promover educação ambiental. A cartilha
é constituída de orientações e informações, a fim de conscientizar a população destes locais sobre
práticas de sustentabilidade e de cuidados com o meio ambiente.
Palavras-chaves: cartilha; coleta seletiva; resíduos sólidos; meio ambiente; condomínios
residenciais.
ABSTRACT
Nowadays, the number of discussions about environmental impacts involving the exacerbated
consumption of the population and the enormous amount of solid waste discarded in the
environment is inadequate and in inappropriate places. In light of this, the consequences of these
practices on planet Earth, such as global warming and the greenhouse effect, are evident in two
debates around the world. In Brazil, the amount of solid waste disposed of is enormous, and in
many localities the population does not have environmental education practices or sustainability
habits in everyday life. With this, collective work emerges as a strategy that can work to reduce

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1142


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

these environmental impacts. The population must be aware and guided by competent bodies that
can contribute to the growth of activities capable of minimizing these risks to the environment. In
view of this, the community in vertical residential condominiums can act as a tactic for awareness
and practices that can improve the environment. Therefore, the objective of this work is the
preparation of a primer on selective collection for residential residential condominiums in the city
of Campina Grande, located in the state of Paraíba (PB), with the purpose of promoting
environmental education. The booklet is made up of guidelines and information in order to raise the
awareness of the population of these places about sustainability and environmental care practices.
Keywords: primer; selective collect; solid waste; environment; residential condominiums.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é uma modalidade muito empregada para informar e conscientizar


populações acerca dos impactos ambientais presentes na sociedade contemporânea, possibilitando
estratégias que favoreçam para a diminuição destes impasses.
Nos dias atuais, verifica-se a contribuição desigual de pessoas com diferentes estilos de vida
e práticas de consumo, com relação aos problemas ambientais globais (PORTILHO, 2004). ―Em
nossa sociedade capitalista, praticamente, 80% dos recursos naturais são consumidos por 20% da
população e o sucesso é medido pela quantidade de coisas que se pode ter. Como consequência, o
cidadão está cada vez mais despolitizado, reduzido à condição de consumidor‖ (BRINGHENTI,
2004).
O consumismo desenfreado da população está ocasionando o aumento considerável de
resíduos destinados a aterros sanitários e locais inapropriados, muitas das vezes sem o
monitoramento adequado. Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são todos os rejeitos gerados nas
mais diversas atividades urbanas. Fazem parte desse conjunto, todos aqueles resíduos perniciosos
que integram diversos bens de consumo: mercúrio, chumbo, fogo-retardantes e mais de 8 mil
substâncias químicas. O aumento significativo de produtos manufaturados no lixo não é novidade,
visto que o acesso aos bens de consumo tem sido facilitado, sendo preferível, por ser mais fácil e
econômico, substituí-los do que consertá-los (LEONARD, 2011).
Em 2010, com a da Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), o Brasil instituiu sua Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS) que discorre sobre princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes
relacionadas ao gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Esta lei também propõe a não geração
e a redução da geração de resíduos, sugerindo a prática de hábitos de consumo sustentável e uma
série de mecanismos para favorecer o aumento da reciclagem, a reutilização dos resíduos sólidos e a
destinação ambientalmente correta dos rejeitos (MAZETO; ABREU, 2014).
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais –
ABRELPE - mostrou através do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE, 2013), que
o país descarta incorretamente quase 42% dos resíduos sólidos produzidos. Isso demostra a grande

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1143


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

preocupação que a sociedade e os órgãos públicos devem possuir em criar mecanismos e políticas
para diminuir os impactos ambientais causados pelos Resíduos Sólidos. Além disso, é indispensável
o trabalho coletivo como meio de fortalecer as estratégias elaboradas para sanar estes problemas. A
população deve ser conscientizada e orientada por órgãos competentes que possam contribuir para o
crescimento de atividades capazes de minimizar estes riscos ao meio ambiente.
À vista disto, o sistema de coleta seletiva em condomínios residenciais verticais pode
funcionar como uma tática para conscientização e práticas que possam preservar o meio ambiente.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi a confecção de uma cartilha acerca de coleta seletiva
destinada a condomínios residenciais verticais da cidade de Campina Grande, localizada no estado
da Paraíba (PB), com o propósito de promover educação e sensibilização ambiental aos moradores e
funcionários dos condomínios participantes.

METODOLOGIA

O trabalho foi elaborado utilizando uma pesquisa na literatura para confecção de uma
cartilha sobre coleta seletiva de resíduos sólidos, a fim de promover educação ambiental para
moradores de condomínios residenciais verticais da cidade de Campina Grande, no estado da
Paraíba (PB).
Caracteriza-se como uma pesquisa de aspecto qualitativo, visto que pretende analisar a
produção e os conteúdos inseridos na cartilha. Desse modo, a pesquisa qualitativa se descreve pela
necessidade de apresentar uma preocupação em compreender um determinado fenômeno social,
levando em consideração as perspectivas que são apresentadas pelos sujeitos pesquisados
(FIRESTONE, 1987 apud MOREIRA, 2009).
A cartilha foi confeccionada a partir de um projeto de extensão aprovado pela comissão
avaliadora da PROEX, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) como um dos requisitos
necessários para o desenvolvimento do projeto. Este visa promover Educação Ambiental aos
moradores de condomínios, direcionando para os cuidados com os resíduos sólidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cartilha foi criada para ser divulgada nos condomínios residenciais verticais de
Campina Grande (PB), em locais selecionados para tal ação, seguindo as seguintes etapas de
elaboração:

1) Conceito de coleta seletiva;


2) Conceito de reciclagem;
3) Significado de separação de resíduos sólidos;

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1144


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

4) Tabela com diferenciação entre cores e tipos de resíduos;


5) Definição de resíduo;
6) Imagem mostrando período de decomposição de vários materiais;
7) Regra dos 3R‘s e para que serve;
8) Motivos para se praticar coleta seletiva nas residências;
9) Vantagens da coleta seletiva;
10) Verificação de alguns cuidados no manuseio destes resíduos;
11) Curiosidades;
12) Lei Nº 10.041 de 09 de julho de 2013, referente a obrigatoriedade de disponibilização de
recipientes para coleta seletiva de lixo.

Foto 1 – Cartilha coletiva seletiva

Foto 2 – Cartilha coleta seletiva

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1145


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foto 3 – Cartilha coleta seletiva

Foto 4 – Cartilha coletiva seletiva

Foto 5 – Cartilha coletiva seletiva

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foto 6 – Cartilha coletiva seletiva

Foto 7 – Cartilha coletiva seletiva

Desse modo, a cartilha segue um padrão de informações: conceitos gerais, informes, alertas,
vantagens, tabelas, imagens e uma lei estadual respaldando a importância da coleta seletiva em
edificações residenciais, com o propósito de orientar os moradores nas suas práticas de
sustentabilidade e de cuidados com o meio ambiente.

CONCLUSÕES

É notório observar que a Educação Ambiental pode favorecer às práticas ambientais de


moradores de condomínios residenciais verticais, visando benefícios para o meio ambiente, como
também conscientizar a população destes locais acerca dos impactos ambientais que o planeta Terra
vem sofrendo devido ao descarte e manuseio inadequados dos Resíduos Sólidos.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1147


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS


ESPECIAIS (ABRELPE). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2013. Disponível em:
<http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2013.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2017.

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altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da
República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 03 ago. 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 28 abr.
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BRINGHENTI, Jacqueline. Coleta Seletiva de Resíduos Sólidos Urbanos: Aspectos operacionais e


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LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que
consumimos. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 302p.

MAZETO, Carlos Cassiano; ABREU, Estela Pinheiro de. Implantação da Coleta Seletiva em um
condomínio residencial em Curitiba. (Trabalho de Conclusão de Curso) – Departamento
Acadêmico de Química e Biologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2014,
53p.

MOREIRA, M. A. Pesquisa em ensino: Métodos qualitativos e quantitativos. Subsídios


metodológicos para o professor pesquisador em ensino de ciências. 1°ed. Porto Alegre. Brasil,
2009.

PORTILHO, Fátima. Limites e Possibilidades do Consumo Sustentável. Apresentado no Programa


de Comunicação Ambiental da Companhia Siderúrgica de Tubarão; Vitória (ES), Brasil, 08 jul.
2004.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DA PRAIA DE BOA VIAGEM,


RECIFE-PE

Priscila Thais Bezerra do NASCIMENTO


Graduanda do curso de Geografia pela UFPE
priscilathaisb@gmail.com
Heitor Bezerra da COSTA
Mestrando do curso de Geografia pela UFPE
Heitorcosta1@gmail.com
Jaelson de Melo BEZERRA
Graduando do curso de Geografia pela UFPE
Jaelson_1995@hotmail.com
Tamires Gabryele de Lima MENDES
Graduanda do curso de Geografia pela UFPE
Tamires25lima@hotmail.com

RESUMO
A praia de Boa Viagem, localizada na zona sul da cidade do Recife, está localizada no perímetro
urbano da cidade e é considerada área nobre por conta da grande rede de serviços e residências de
luxo que se instalaram na região, a praia é uma importante área de turismo do Recife, recebendo
turistas do mundo inteiro. Contudo, com a quantidade de turistas que frequentam a faixa de praia, os
serviços destinados ao turismo e a especulação imobiliária, a praia pode sofrer impactos negativos e
consequentemente, degradação ambiental. Com essa problemática, o objetivo deste trabalho é
delimitar as áreas de estudo, que abrange a faixa de praia mais próxima a costa, onde há atividades
como banho de sol e a faixa de praia mais próxima ao mar, que é a área mais rasa da praia.,
identificar indicadores de degradação e a partir de um checklist medir o nível de degradação
ambiental. Se concluiu que o nível de degradação ambiental da praia é baixo, por conta dos
banhistas que a frequentam, do comércio ali instalado e das campanhas promovidas pela Prefeitura
Municipal do Recife que criam ações para sensibilização ambiental, que incentiva a conservação
das praias.
Palavras-chave: Degradação, Praia, Recife, Boa Viagem.

ABSTRACT
The Boa Viagem beach, located in the southern part of the city of Recife, is located in the urban
perimeter of the city and is considered a noble area, due to the large network of services and luxury
residences that have been installed around it, the beach is a Important tourist area of Recife,
receiving tourists from all over the world. However, with the number of tourists that go to the
beach, services for tourism and real estate speculation, the beach can suffer negative impacts and,
consequently, environmental degradation. With this problem, the objective of this work is to delimit
the study areas, which covers the strip of beach closest to the coast, where there are activities such
as sunbathing and the strip of beach closest to the sea, which is the shallowest area of the Identify
degradation indicators and from a checklist measure the level of environmental degradation. It was
concluded that the level of environmental degradation of the beach is low, due to the bathers that
attend it, the commerce installed there and the campaigns promoted by the Municipality of Recife
that create actions for environmental awareness, which encourages the conservation of the beaches.
Keywords: Degradation, Beach, Recife, Boa Viagem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

As ações antrópicas sobre a natureza podem causam impactos que muitas vezes são
superiores à capacidade de suporte do meio natural. Um exemplo disso é a urbanização desordenada
no litoral, podendo causar descaracterização ambiental, degradação e desestruturações irreversíveis
(CORIOLANO, 2001). Estas ações podem provocar a poluição destes ambientes, inviabilizando o
seu uso e acarretando graves problemas ambientais. A poluição representa um dos principais
problemas para a maior parte das costas em todo o mundo, podendo trazer graves consequências
ambientais e econômicas.
O Brasil apresenta 8.500 km de linha de costa (AWOSIKA & MARONE, 2000), com alta
potencialidade turística advinda do processo de ocupação comercial e turística na faixa litorânea,
que são possíveis por conta de diversos fatores, dentre eles se destaca o clima ameno, um fator
relevante para atração de brasileiros, e até mesmo os estrangeiros para atividades turísticas durante
todo o ano, tendo maior procura nos meses ensolarados. Com isso pode-se perceber uma sobrecarga
turística e consequentemente ambiental.
Em decorrência deste grande conglomerado de pessoas por conta dos prédios residenciais,
comércios, atividades turísticas e mal gerenciamento dos órgãos públicos no ambiente praial, o
mesmo vem sofrendo um processo de degradação ambiental, que para GUERRA & GUERRA
(1997, p.184) é:

... causada pelo homem, que, na maioria das vezes, não respeita os limites impostos pela
natureza. A degradação ambiental é mais ampla que a degradação dos solos, pois não
envolve só a erosão dos solos, mas também a extinção de espécies vegetais e animais, a
poluição de nascentes, rios, lagos e baias, o assoreamento e outros impactos prejudiciais ao
meio ambiente e ao próprio homem.

Sendo o Brasil um dos países a qual grande parte das atividades turísticas estão concentrada
em ambientes praiais e a especulação imobiliária é também muito forte nessas áreas, é inegável a
sua a sobrecarga ambiental advinda desses fatores. O resultado desta sobrecarga ambiental ocasiona
degradação nessas áreas, que de acordo com SÁNCHEZ (2008) caracteriza-se como um impacto
ambiental negativo.
Consta na Resolução CONAMA nº 001 de 1986 a seguinte definição de impacto ambiental:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente,


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que
direta ou indiretamente afetem:
I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; IV - a qualidade dos recursos
ambientais.

Por isso, este trabalho tem como principal objetivo fazer uma avaliação dos possíveis
impactos ambientais presentes na praia de Boa Viagem, advinda do grande volume de visitantes e

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

do comércio ali instalado, tendo em vista analisar as áreas de praia, subdivididas neste trabalho
entre a porção mais próxima a costa, sendo a área de atividades recreativas e banho de sol, e porção
mais próxima ao mar, que é a área com mais interferência das ondas, e a partir daí fazer um
checklist dos principais indicadores de degradação, e a partir desta listagem preliminar,
identificarmos os níveis deste impactos, que significa medir o nível de degradação a qual a praia de
Boa Viagem se encontra, e a partir deste resultado sugerir ações para frear esta degradação.

A PRAIA DE BOA VIAGEM

Em toda sua extensão, o conjunto de praias da cidade do Recife apresenta danos ambientais
causados pela ação antrópica, esta degradação é decorrente de um históricos de exploração,
especificamente da orla da praia de Boa Viagem, na década de 70, a praia foi palco da exploração
turística que acelerou seu processo de urbanização. Sem planejamento adequado a orla da Boa
Viagem passou a ser explorada não só pela atividade turística, mas também pela atividade
imobiliária, resultando na perda das características ambientais. A especulação imobiliária na área
acelerou a verticalização e aumentou o custo de vida da população local, sendo o bairro da Boa
Viagem um dos bairros com maior custo de vida da cidade. Devido ao crescimento desordenado,
parte da praia sofreu mudança paisagista devido aos processos de erosão costeira (Gregório 2004,
Souza 2004, Leal 2006).
A faixa litorânea do Recife compreende a praia de Pina e a praia de Boa Viagem, e é um dos
maiores exemplos de praias urbanas da região nordeste, que de acordo com Smith (1991), são
aquelas que circundam cidades, bairros ou balneários consolidados de diversos níveis de
desenvolvimento. Ou seja, são as praias sob ocupação e influência humana direta, utilizadas tanto
pela população local, tanto quanto por visitantes. A praia de Boa Viagem tem uma faixa litorânea de
8 km os quais se apresentam em um conjunto paisagístico composto de sol, areia, mar e recifes de
arenito paralelos a linha de costa (Costa & Kahn 2003, Costa & Souza 2002) e uma população
residente de 100.388 habitantes em todo bairro. A orla da Boa Viagem pode ser classificada como
―exposta com urbanização consolidada‖ (PROJETO ORLA 2001). SMITH (1991) ainda a classifica
como cidade resort, ou praia altamente desenvolvida. Esta praia apresenta diferentes graus de
conservação em relação ao ambiente praial. Os recifes de arenito são responsáveis pela formação de
piscinas naturais durante a maré. A maioria dos hotéis de luxo construída na orla da Boa Viagem
encontram-se em frente a maior faixa de extensão desses recifes, explorando a beleza cênica do
local.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

A área delimitada para identificação e listagem dos indicadores de degradação ambiental foi
a extensão da praia de Boa Viagem que totaliza 8km, nos atemos a apenas zona solarium e zona
ativa, descrita por Polette et al. (2001) e Polette & Raucci (2003) no período de 3 á 5 de fevereiro de
2017.

Figura 01. Delimitação de toda extensão da praia de Boa Viagem. Fonte: autor (Priscila Nascimento)

A princípio, nos utilizaremos do trabalho de Polette et al. (2001) e Polette & Raucci (2003),
que sugerem um zoneamento do ambiente praial a partir das características morfológicas,
hidrodinâmicas e de uso, da seguinte maneira:

1 - Zona solarium (supra e mesolitoral) – onde são realizadas atividades como tomar banho de sol,
armar barracas e guarda-sóis, etc.
2 - Zona ativa (mesolitoral) - faixa de praia junto ao mar, altamente influenciada pela oscilação da
maré, utilizada para caminhadas e atividades recreativas na areia (jogos, castelos de areia e etc.).
3 - Zona de surf (infralitoral) - faixa onde ocorre a quebra das ondas, e na qual são realizadas
atividades recreacionais aquáticas que não necessitam do uso de equipamentos (nado e banho de
mar).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Contudo, para os fins deste trabalho, as áreas utilizadas nesse estudo serão apenas a zona
solarium e zona ativa.

Figura 2: Delimitação das áreas de praia em Zona Solarium, Zona Ativa e Zona de Surf. Fonte autora
(Priscila Nascimento).

Para identificação dos indicadores e aplicação de um checklist elaborado segundo a


metodologia proposta por Tommasi (1994), foram feitas visitas in loco, além da realização de
entrevistas informais com banhistas e comerciantes ambulantes. Na aplicação do checklist foi
preenchida uma tabela, onde os principais impactos ambientais são apresentados em colunas e os
seus efeitos em linhas. Cada impacto pode apresentar peso 1 (pequeno), 3 (moderado) ou 5
(extremo), estabelecidos subjetivamente, de acordo com a sua importância em relação aos
princípios de análise adotados. Foram considerados extremos os impactos que interferem de forma
abrangente e extensa em cada ambiente, moderados todos aqueles que, mesmo sendo expressivos,
tinham características mais pontuais e pequenos os que descaracterizam o ambiente, mas não o
degrada. Os efeitos dos impactos também receberam valores, porém notas negativos (-1, -3, -5),
dependendo de sua intensidade, ou com nota zero (0), quando ausentes. Os resultados da
multiplicação dos pesos atribuídos aos impactos pelas notas de seus efeitos permitiram classificar

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cada impacto nas seguintes categorias: pequeno (valores de -1 a -3), moderado (valores -5 a -9) e
extremo (valores -15 a -25). O somatório dos valores desta multiplicação fornece o índice geral de
impacto na área estudada, sendo considerado pequeno (-1 a -100), moderado (-101 a -170) e
extremo (-171 em diante).

RESULTADOS

O nível de degradação das zonas solarium e da zona ativa da praia de Boa Viagem
apresentou índice geral de -81 (tabela 01) e foi considerado como pequeno. Os pesos atribuídos aos
indicadores foram iguais (3), os maiores efeitos foram atribuído aos indicadores de resíduos sólidos
e deposição do lixo, fazendo assim com que os mesmos obtivessem classes mais elevadas.

Check list
Indicadores Peso Efeito Classe
Monitoramento 3 -3 -9
dos recursos
hídricos
Fragmentação 3 -3 -9
da cobertura
vegetal
Resíduos 3 -5 -15
sólidos
Material 3 -3 -9
Orgânico
Deposição do 3 -5 -15
lixo
Perda da 3 -3 -9
biodiversidade
Poluição sonora 3 -3 -15
TOTAL -81
Tabela 01.Indicadores de degradação ambiental. Fonte: autor (Priscila Nascimento)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos, portanto, que a praia de Boa Viagem, localizada na RMR (região


Metropolitana do Recife), mesmo sendo um dos pontos turísticos mais visitados da cidade,
recebendo turistas das mais diversas partes do mundo, comportando toda rede de serviço que

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

envolve as atividades turísticas e ainda com uma grande parcela de moradores fixos, possui um
baixo nível de degradação ambiental. Contudo, gostaríamos de ressaltar que esse estudo é apenas
para medir o nível de degradação a qual a praia se encontra atualmente apenas nas áreas delimitadas
pela metodologia proposta, levando em consideração apenas os indicadores de degradação
ambiental propostos no checklist.
Este resultado é fruto de um conjunto de fatores, o mais atenuante são as ações de
sensibilização ambiental promovidas pela prefeitura municipal do Recife, que promove campanhas
regularmente para conscientização dos banhistas e também dos comerciantes formais e informais
que estão instalados na praia.
Em entrevistas informais podemos perceber que os comerciantes informais disponibilizam
sacolas para os banhistas instalados em suas barracas para tentar amenizar a quantidade de lixo na
areia. A grande parte dos banhistas também ressaltaram que a praia possui muitos lixeiros, o que
facilita o descarte de resíduos sólidos e materiais orgânicos.

REFERÊNCIAS

AWOSKA , L. & MARONE , E. Scientific precisa avaliar a saúde dos oceanos em zonas
costeiras: uma perspectiva dos países em desenvolvimento. Costa do oceano . Manag . , V.43 ,
p.781-791 , 2000.

COSTA, M. & KAHN, J. R. . Boa Viagem erosion prevention and beach nourishment project.
Anais do II Congresso sobre Planejamento e Gestão das Zonas Costeiras dos Países de
Expressão Portuguesa, IX Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, II
Congresso do Quaternário dos Países de Língua Ibéricas, Recife, meio magnético (CD). 2003.

COSTA, M. & SOUZA, S. T.. A zona costeira Pernambucana e o caso especial da praia da Boa
Viagem: Usos e Conflitos. P. 1-16. In: Construção do Saber Urbano Ambiental: A Caminho da
Transdisciplinaridade. Editora Humanidades, Londrina, 99 p. 2002

GUERRA, A. J. T. Processos erosivos nas encostas. In GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B.


Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. 4. Ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, p.
149-209. 2001.

GREGÓRIO, M. N., ARAÚJO, T. C. M. & VALENÇA, L. M. M.. Variação sedimentar das praias
do Pina e da Boa Viagem, Recife (PE) Brasil. Tropical Oceanography, 31(1):39-52. 2004

KAY, R. & ALDER, J. Coastal Planning and Management. E & FN spon, London 1999.

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MORAIS, J. O. de; PINHEIRO, L, S & SILVA, L. P. Riscos hidrodinâmicos sazonais versus


balneabilidade da Praia de Futuro – CE. Revista de Ciência e Tecnologia da UECE, Fortaleza,
v.3, n. 2, p. 59 – 65. 2001

LEAL, M. M. V. . Percepção dos usuários quanto à erosão costeira na praia da Boa Viagem,
Recife (PE), Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Pernambuco, Brasil, 108p. 2006

MANSO, V.A.V.; COUTINHO, P. N.; LIMA, A. T. O.; MEDEIROS A. B.; ALMEIDA, L. E. S.


B.; BORBA, A. L. S.; LIRA, A. R. A.; PEDROSA, F. J. A.; CHAVES, N. S.; DUARTE, R. N.;
IVO, P. S. Estudos da erosão marinha na praia de Boa Viagem. Convênio
ENLURB/FADE/LOOM – UFPE. Relatório Técnico, Recife, 98p. 1995.

POLETTE, M. Raucci, G. D., & CARDOSO, R. C. Proposta metodológica para análise da


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balneário Camburiú-SC (Brasil). I Congresso Sobre Planejamento e Gestão do Litoral dos Países
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SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de


Textos, 2008.

SILVA, J.S.; BARBOSA, S.C.T.; Leal, M.M.V.; LINS, A.R. & COSTA, M.F. Ocupação da praia
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SOUZA, S. T.. A saúde das praias da Boa Viagem e do Pina, Recife- PE. Dissertação de Mestrado.
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SMITH, R. A. Beach resorts: A model of development evolution. Landscape and Urban Planning,
21 (3): 189-210. 1991

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1156


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

COMUNICAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA: O CASO DO


ESTALEIRO NAVAL PROMAR S.A – PERNAMBUCO

Rebeca Gomes de Oliveira SILVA


Graduanda do curso de Serviço Social da UFPE
Rebecagomes.gomes@gmail.com
Maria das Graças e SILVA
Professora Doutora do Departamento de Serviço Social da UFPE
Gracita.pe@gmail.com
Émile Nycole Carvalho de FREITAS
Graduanda do curso de Serviço Social da UFPE
emilenycole@gmail.com

RESUMO
Esse artigo propõe-se a refletir sobre o Programa de comunicação Social e interação com a
comunidade desenvolvido pelo Estaleiro Naval Promar S.A/PE como parte das medidas de
mitigação dos impactos sociais negativos relativos ao licenciamento ambiental do empreendimento.
Problematiza a noção de desenvolvimento, os impactos ocasionados por esse empreendimento nas
comunidades tradicionais afetadas, a ação (ou omissão) do Estado no monitoramento dos
Programas de compensação e mitigação; e os conflitos socioambientais daí decorrentes.
Palavras-Chave: Gestão Ambiental Pública; Comunicação Social; Conflitos socioambientais.
ABSTRACT
This article proposes to reflect on the Program of social communication and interaction with the
community developed by Naval Shipyard Promar S.A / PE as part of the measures to mitigate the
negative social impacts related to the environmental licensing of the enterprise. It problematizes the
notion of development, the impacts caused by this enterprise in the traditional communities
affected, the State's action (or omission) in the monitoring of the Compensation and Mitigation
Programs; And the resulting socio-environmental conflicts.
Keywods: Public Environmental Management; Social Communication; Socio-environmental
conflicts.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho refere-se aos resultados de estudos que vem sendo desenvolvidos desde
2014 com apoio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC/ CNPQ, nos
quais se buscou explorar o campo da gestão pública do meio ambiente, tendo como foco a análise e
identificação de medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos do Estaleiro Promar S.A.
situado no Complexo Industrial e Portuário de Suape – CIPS. Essas medidas foram evidenciadas no
Estudo de Impactos Ambiental/Relatório EIA/RIMA e contempladas nos Planos Básicos
Ambientais – PBAS.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1157


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O CIPS, localizado na porção sul da Região Metropolitana do Recife –RMR, em


Pernambuco, foi idealizado como um importante meio para se alcançar o desenvolvimento no
estado (RABELO, 2014). O Território Estratégico de Suape - TES68, onde está situado esse
Complexo, é rico em diversidade ambiental, além de comunidades tradicionais que ali vivem,
subsistindo a partir do suporte dos recursos naturais da localidade. Todavia, a instalação do CIPS
vem produzindo alterações abruptas tanto no meio físico natural, quanto no modo de vida dessas
comunidades, a exemplo da remoção da comunidade habitante da ilha69, supressão de vegetação
nativa, principalmente a de mangues e obras de dragagem do canal de acesso, resultando em vários
impactos ambientais e sociais.
Desse modo, o Estaleiro Promar está inserido em um campo de conflitos, de um lado, o
impulso por desenvolvimento, o avanço do capital, e por outro, a necessidade de garantia dos
direitos das comunidades tradicionais pesqueiras, agricultoras, que habitavam a ilha e da
preservação dos recursos naturais. Segundo o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e
Saúde no Brasil, Suape é um dos principais pontos de conflitos, onde os pescadores tradicionais e
agricultores familiares veem seus direitos serem violados pelos empreendimentos instalados no
território que historicamente ocupam (ram).
Em 2010 o governo de Pernambuco aprovou as obras de expansão do CIPS, com a
instalação do Estaleiro Naval Promar S.A. e em 2011 a Agencia Estadual do Meio Ambiente –
CPRH concede licença para sua implantação em Pernambuco, na Ilha de Tatuoca, em Ipojuca,
destinada ao polo naval, ficando ali instalados o Estaleiro Atlântico Sul e o Estaleiro Promar. Este
último, trata-se de uma empresa formada por dois grupos: o brasileiro PJMR e o coreano STX
Business Group. O investimento nesse empreendimento gira em torno de US$ 104 milhões, com
capacidade de gerar 1.500 empregos diretos (RABELO, 2014).
Para sua instalação e operação foram necessárias intensas mudanças na localidade,
resultando em vários impactos ambientais e sociais. Nesse sentido, cabe ao Estado ordenar e
controlar o uso dos recursos ambientais, devendo avaliar impactos ambientais, disciplinar a
ocupação do território e outras funções que explicitam seu papel de mediador, praticando, desse
modo, a gestão ambiental pública (QUINTAS, 2006), sendo o licenciamento ambiental um dos seus
principais instrumentos. Desse modo, quando empreendimentos geram impactos ambientais são
exigidas a elaboração e a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental – EIA como também o
Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, tendo como objetivo informar à sociedade sobre os
impactos, indicar as principais medidas de mitigação e compensação e orientar o monitoramento

68
O Território Estratégico de Suape compreende oito municípios na sua área de influência direta e indireta: Cabo de
Santo Agostinho, Escada, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Moreno, Ribeirão, Rio Formoso e Sirinhaém
69
Trata-se de 48 famílias, aproximadamente 200 pessoas.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1158


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

das ações, de responsabilidade dos empreendimentos. (RABELO, 2014). Em Pernambuco o órgão


responsável pelo licenciamento é a Agência Estadual de Meio Ambiente – CPRH.
O EIA-RIMA do Promar evidencia que a instalação desse empreendimento resulta em
impactos sociais e ambientais negativos e positivos, sendo 13 positivos e 33 negativos. Dentre os
impactos negativos, três são considerados de ALTO impacto: a retirada/relocação das famílias que
habitavam a ilha de Tatuoca, a perda de renda dessa população e a dragagem do canal de acesso.
Constata-se, então, que os interesses econômicos prevalecem em detrimento dos meios naturais e
dos segmentos mais pauperizados da população (SILVA, 2013).
O referido estudo aponta para cada dano ambiental previsto, ações preventivas e corretivas
com vistas a minimizar os impactos, definindo, assim, os Programas Básicos Ambientais – PBA‘s.
No caso da indústria naval em Pernambuco, a responsabilidade pela execução dos programas é
dividida entre a Empresa Suape e o Promar.
Entre os PBAS que estão sob responsabilidade da Empresa Suape há o Programa
Comunicação Social e interação com a comunidade. Segundo o EIA- RIMA do Promar, a Empresa
Suape seria responsável pela retirada da população que habitava a ilha de Tatuoca, entretanto, as
obras de instalação do Estaleiro Promar tiveram início antes da retirada dessa população. Sendo
assim, ganha relevância o Programa de Comunicação Social, pois a comunicação social é vista
como um instrumento facilitador dos processos de remanejamento da população e de divulgação de
ações dentro do CIPS. Portanto, o eixo central do Programa de Comunicação Social é manter um
canal de diálogo sempre aberto, através do qual se possa ouvir as denúncias e as demandas das
populações afetadas (EIA-RIMA- C, 2010).
Portanto, o presente artigo tem como objetivo analisar as medidas mitigadoras dos impactos
sociais do Estaleiro Promar – particularmente o Programa de Comunicação Social e interação com a
comunidade. Nessa perspectiva, pretende-se evidenciar as transformações sociais e os conflitos
socioambientais ocasionados pela chegada desse empreendimento, destacando a importância e os
limites do licenciamento ambiental, ao tempo que demonstra como um de seus mecanismos, a
comunicação social - a qual deveria possibilitar a participação social das comunidades na gestão
ambiental pública – acaba se revestindo de um caráter propagandístico e de marketing empresarial.

O COMPLETO INDUSTRIAL PORTUÁRIO DE SUAPE E O DISCURSO DE


DESENVOLVIMENTO

A trajetória da expansão capitalista no Brasil parece revelar que a via privilegiada tem sido a
exploração intensiva dos recursos naturais (JUNIOR; GARCIA; VIANA, 2015). Essa tendência
está em consonância com a histórica subordinação da periferia do sistema do capital aos países

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1159


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

centrais, revelando um traço fundamental da acumulação capitalista: a crescente concentração de


riquezas (SILVA, 2013).
O CIPS integra-se a essa dinâmica. Desde sua idealização foi projetado de modo estratégico,
tendo sua localização geográfica bem posicionada, interligando-se, via sistema portuário, a mais de
160 portos em todos os continentes (DOMINGUES; SANTOS; GURGEL, 2014). Esse Complexo
foi implantado, ainda nos anos de 1970, a partir da desapropriação de terras de antigos engenhos e
de áreas anteriormente destinadas à reforma agrária. A partir dos anos 2000, com o Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) - o qual ―propunha gerar riqueza e desenvolvimento para o
estado, empregos para a população local, assim como melhorias nas condições de vida da
população‖ - o CIPS exibiu um grande impulso econômico e aceitação social (DOMINGUES;
SANTOS; GURGEL, 2014, p 17).
Localizado em uma área coberta por Mata Atlântica, manguezais, restingas, o CIPS impacta
diretamente esses ecossistemas bem como a população que vive em intrínseca relação com a
natureza, como as comunidades tradicionais que vivem no território onde foi instalado, pois,

Tal modelo vem ampliando e intensificando a exploração dos recursos naturais através dos
chamados ―grandes projetos de desenvolvimento‖ que afetam de maneira dramática as
terras, os territórios, os recursos e os modos de vida de camponeses, indígenas, povos e
comunidades tradicionais, resultando em intensos conflitos socioambientais (JUNIOR;
GARCIA; VIANA, 2015, p. 182)

Desse modo, faz-se imprescindível a gestão ambiental pública. Esta pode ser entendida
como processo de mediação de conflitos de interesses, dada a existência de
assimetrias/desigualdade na organização do poder político e econômico (LAYRARGUES, 2002). O
licenciamento é um dos mais importantes instrumentos da gestão pública do meio ambiente e uma
exigência legal70 a que estão sujeitos todos os empreendimentos ou atividades que possam causar
algum tipo de poluição ou dano ambiental. O licenciamento ambiental do Estaleiro Promar é de
responsabilidade da CPRH, à qual coube proceder à liberação da licença como também acompanhar
as ações propostas como medidas mitigadoras nos PBAS71. O EIA-RIMA complementar deste
empreendimento (proc. CPRH nº 7742/2010)72, aponta os impactos positivos e os negativos, bem
como indica as medidas destinadas ao controle dos impactos negativos e outras de caráter
mitigatório, tanto ambientais quanto sociais, condensadas no Plano Básico Ambiental, constituído

70
As principais diretrizes do licenciamento ambiental estão traçadas na Política Nacional do Meio Ambiente Lei
6.938/81,e no art. 225 da CF/88 que trazem um conjunto de normas para a preservação ambiental. As Resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 001, e 237/97 e Lei Complementar 140/2011 estabelecem
procedimentos para o licenciamento ambiental.
71
As medidas de mitigação são propostas para cada impacto ambiental identificado pelo EIA e incorporadas ao Plano
Básico Ambiental - PBA, citado no EIA/RIMA e exigido para a licença do empreendimento.
72
O EIA-RIMA do Estaleiro Promar é considerado complementar devido a existência no CIPS de outro
empreendimento com o mesmo perfil, o Estaleiro Atlântico Sul (RABELO, 2014).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pelos diversos Programas Básicos Ambientais, cuja responsabilidade coube às duas empresas:
Empresa Suape e Estaleiro Promar73.

A Gestão Ambiental Pública e o Estaleiro Naval Promar S.A

As medidas de mitigação e compensação das comunidades atingidas têm como mediação o


estabelecimento de um canal de comunicação diretamente com a população em todas as fases da
obra (Licença Prévia (L.P), Licença de Instalação (L.I) e Licença de Operação (L.O)). Essa
comunicação deveria ser de caráter informativo prévio, ou seja, deveria antecipar informações e não
disseminá-la de modo posterior aos fatos. Desse modo, dois programas deveriam ser executados
articuladamente: o Programa de Comunicação Social, sob responsabilidade do empreendimento e o
Programa de Comunicação Social e Interação com a Comunidade, sob responsabilidade da Empresa
Suape; ambos integram o Plano de Comunicação Social o qual deveria:

- Criar um mecanismo que possibilite um atendimento constante e específico para manter


um canal sempre aberto com a comunidade e, assim, sempre possa se expressar e registrar
suas queixas e aspirações a serem atendidas pelo respectivo projeto;
- A relação entre os afetados e o Empreendedor deve ser a mais transparente possível, de
forma que a troca de informações além de esclarecer as duas partes, possa também
fundamentar as soluções a serem adotadas e levar a um resultado positivo dessa ação
conjunta. (EIA-RIMA, 2010, p. 74, 75)

Nestes termos, Programa de Comunicação Social e Interação com a Comunidade tem como
objetivo central construir e fortalecer esse canal de comunicação, de modo a ―utilizar a
comunicação social como instrumento facilitador dos processos de remanejamento da população e
divulgação de ações dentro do CIPS‖ (EIA, 2010, p. 350).

73
Segundo o EIA/RIMA Complementar, as responsabilidades estão assim constituídas:
Programas sob a responsabilidade de SUAPE
Programa de Compensação Ambiental
Programa de remanejamento, relocação e acompanhamento de população afetada
Programa de comunicação social e interação com a comunidade
Programa de integração com as atividades de planejamento, controle e
fiscalização do uso e ocupação do solo das bacias dos Rios Tatuoca e Massangana
Programa de controle ambiental (PCA) durante a implantação das obras
Programa de proteção aos manguezais que não serão suprimidos
Programa de acompanhamento e monitoramento da qualidade ambiental do CIPS e áreas circundantes
Programa de prospecção, acompanhamento e resgate arqueológico
Programas sob a responsabilidade da PROMAR S.A:
Programa de Gestão Ambiental;
Programa de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD;
Programa de Controle Ambiental – PCA durante Implantação;
Programa de Controle Ambiental – PCA durante Operação;
Programa de Comunicação Social e Educação Ambiental;
Programa de treinamento e capacitação de mão de obra;
Programa de condições e meio ambiente na indústria da construção, PCMAT;
Programa de prevenção de acidentes e riscos ambientais durante a fase de operação.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Entretanto, a negativa de acesso a documentos acerca deste Programa74 evidencia a falta de


transparência no trato das ações públicas, seja ao considerarmos que se trata de condicionantes de
licenciamento ambiental, portanto de área de competência do órgão ambiental, seja por se tratar de
um programa cuja execução ficou a cargo de uma empresa pública, a qual deveria zelar pela
transparência de suas ações. Do ponto de vista deste estudo, o desvelamento das ações realizadas e
dos métodos empregados podem ser reveladores da direção social que norteia o cumprimento das
condicionantes de licenciamento ambiental e, nestes termos, da relação entre o empreendimento, o
órgão ambiental e as populações afetadas.
Por outro lado, o estaleiro Promar facultou acesso aos relatórios do Programa de
Comunicação Social e Educação Ambiental do ano de 2015. Afirma-se que o programa de
comunicação social e interação com a comunidade sob responsabilidade da Empresa Suape tem
sobretudo o dever de atuar no processo e urbanização da ilha de Tatuoca, cabendo ao Programa de
comunicação social e educação ambiental de responsabilidade do Estaleiro Promar atuar de modo
local, com vista a esclarecer a necessidade de proteção ambiental, principalmente junto aos
empregados, servindo como facilitador para outros PBA‘s. Este último tem dentre alguns dos seus
objetivos:

- Informar os diferentes segmentos da sociedade local acerca da implantação do


Empreendimento, dos benefícios decorrentes, das alterações na rotina da região durante e
após a mesma, dos riscos e incômodos, e o cronograma dos principais eventos das obras e
de sua operação. (EIA, 2010, p. 360)

Os dois programas aludidos estão divididos sobretudo no responsável por sua execução, pela
aproximação mais direta com as comunidades relocadas e com os trabalhadores do Estaleiro
Promar. No entanto,

A separação de PBA‘s para efeitos de apresentação deste EIA complementar, não implica
na dissociação deles quando da implantação do Empreendimento, muito pelo contrário, as
duas Empresas, SUAPE e PROMAR S.A devem estar totalmente entrosadas e focadas na
mitigação conjunta dos impactos ambientais identificados neste Estudo (EIA- RIMA
Promar, p. 75/76).

Isto posto, o fato de não ter sido facultado o acesso aos relatórios – da CPRH, por alegada
inexistência e os da Empresa Suape por recusa em atender à solicitação - partiu-se da constatação de
que os programas de comunicação social (da Empresa Suape e do Promar) devem (ou deveriam)
estar imbricados.75 As atividades, sumariamente relatadas, podem ser assim classificadas: a)

74
Após solicitação ao órgão ambiental dos documentos relativos aos Planos Ambientais Básicos e os relatórios de
monitoramento das ações nele previstas, fomos informados que os mesmos não estavam sob o domínio da CPRH (no
primeiro caso) ou não existiam (no segundo). Em contatos posteriores com o empreendimento e com a Empresa Suape,
apenas recebemos relatórios do empreendimento (relatórios do Programa de Comunicação Social). A despeito das
sucessivas investidas junto à empresa Suape, nenhum retorno obtivemos da mesma.
75
Foram analisados relatórios relativos aos meses de janeiro, fevereiro, abril, maio e junho, julho, agosto, setembro,
outubro e novembro de 2015, os quais mostram as ações desenvolvidas pelo Programa de Comunicação Social do

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

entrevista com os coordenadores das equipes dos programas ambientais da empresa; b) Divulgação
de atividades educativas na empresa, a exemplo da semana do meio ambiente, Dia mundial da água,
dentre outros; c) Elaboração de textos para confecção de informativos alusivos a temas ambientais,
os quais abordaram temas como consumo consciente da água, reciclagem etc.; d) Divulgação das
ações dos programas ambientais para os funcionários e fornecedores da empresa.
Pelo exposto, fica evidenciado que as ações de comunicação social não dialogam com a
comunidade local, a proposta de comunicação não evidencia a complexidade do empreendimento,
dos impactos negativos que originou. A comunicação é realizada de forma instrumental,
pragmática, voltada para ações pontuais, assumindo mais um caráter informativo, de divulgação da
política empresarial para os trabalhadores e parceiros, não dialogando com o que acontece no
território onde está inserido o Estaleiro. Dessa maneira, a análise dos relatórios revela que não há
uma interlocução com a população afetada, nem há menção nos relatórios a parcerias com a
empresa Suape no tocante às ações de comunicação social. Assim, esta é implementada de forma a
atender as determinações legais e de maneira bastante seletiva, divulgando apenas questões do
interesse imediato dos empreendedores. Todos os relatórios afirmam que esse programa está à
disposição para redação de artigos de opinião, visando ocupar espaços privilegiados na mídia, como
modo de dar visibilidade, um retorno positivo, a imagem institucional do Estaleiro.
Por sua vez, a ausência de informações por parte da empresa Suape não implica
necessariamente o desconhecimento da realidade local. Esta vem sendo sistematicamente
denunciada pelos moradores locais por utilizar-se da força e da intimidação como métodos para
obtenção de seus intentos. Denúncia realizada pelo Fórum Suape Socioambiental76 junto à
Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico – OCDE, em 2015, e acatada em
2016, relata a violação dos direitos humanos e socioambientais cometidos pela empresa
multinacional holandesa Van Oord contratada pelo CIPS para as atividades de dragagem no canal
de acesso ao Estaleiro Promar. A referida denúncia destaca a falta de comunicação da empresa
sobre a severidade dessa dragagem que atingiu a população e o meio ambiente e mediante a qual o
Promar não advertiu dos danos ambientais, ao atingir áreas de maior ocorrência pesqueira,
refletindo diretamente nas condições de vida das comunidades. Deve-se salientar que as obras de
dragagem foram executadas através da licença emitida pelo órgão licenciador, a CPRH.

empreendimento. Tais relatórios são produzidos pelo INSTITUTO MONITORE e refere-se ao monitoramento
ambiental do ESTALEIRO VARD PROMAR, em conformidade com as exigências contidas na Licença de Instalação
(LI) nº 01.11.03.002866-4 e Licença de Operação (LO) nº 05.14.05.002691-5, emitidas pela Agência Estadual de Meio
Ambiente (CPRH).
76
O Fórum Suape Espaço Socioambiental é uma organização composta por vários sujeitos da sociedade civil; surgiu
como forma de resistência ao processo de acumulação por espoliação, à forma truculenta a qual os moradores do
entorno de Suape e o meio ambiente são submetidos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Conforme sinalizado anteriormente, no Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental


e Saúde no Brasil77, o Complexo de Suape é apontado como responsável pela piora na qualidade de
vida da população que vive no TES e por violência para retirada das pessoas de suas casas, de suas
terras, para assim dar espaço a expansão do Complexo. Outro elemento que revela a falta de diálogo
com a comunidade atingida é o relatório lançado em julho de 2016 pelo Conselho Pastoral dos
Pescadores (CPP) sobre os Conflitos Socioambientais e Violações de Direitos Humanos em
Territórios Tradicionais Pesqueiros no Brasil78. Esse relatório aponta como exemplo dos conflitos
mais exacerbados, aqueles enfrentados pelos pescadores de Pernambuco com as atividades do
Complexo Portuário de Suape79.
As comunidades que viviam na ilha de Tatuoca podem ser compreendidas enquanto
comunidades tradicionais, pois estão instaladas no local há mais de 200 anos e tiram seu sustento
diretamente da natureza, possuem uma estreita relação e interdependência com o meio ambiente,
seus conhecimentos são aprofundados na natureza e nos seus ciclos, possuem grande vínculo com o
território. A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais – PNPCT80, define comunidades tradicionais como

Art. 3º - I grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem
formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais
como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição;

Entretanto, esses direitos estão sendo violados. Este processo pode ser interpretado como
uma nova expressão da velha luta de classes, um embate desigual, onde os interesses do capital se
sobressaem aos demais, transformando territórios antes ocupados por comunidades que sobrevivem
diretamente da natureza, em territórios do capital. Harvey (2014) nomeou esse processo de
acumulação por espoliação, formas de apropriação de bens comuns existentes que tiveram início
nos primórdios do capitalismo (então denominado de Acumulação Primitiva) e que se mantém e se
modernizam no capitalismo contemporâneo. Segundo ele ―todas as características da acumulação
primitiva que Marx menciona permanecem fortemente presentes na geografia histórica do
capitalismo até os nossos dias‖ (p. 121), porém ―alguns dos mecanismos da acumulação primitiva
que Marx enfatizou foram aprimorados para desempenhar hoje um papel bem mais forte do que no
passado‖ (p. 122). Assim, ―a acumulação por espoliação pode ser aqui interpretada como o custo
77
PE – No complexo de Suape, agricultores familiares lutam por indenizações justas e por seus direitos. Disponível em:
http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=ficha&cod=408. Acessado em: 09/08/2016.
78
Nesse relatório reuniu-se dados sobre os principais conflitos ambientais envolvendo comunidades pesqueiras em 14
estados, dentre eles Pernambuco.
79
CPP lança relatório sobre conflitos socioambientais enfrentados por comunidades pesqueiras no país. Disponível:
http://peloterritoriopesqueiro.blogspot.com.br/2016/07/cpp-lanca-relatorio-sobre-os-conflitos_12.html. Acessado em:
21/07/2016.
80
Brasil. Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Decreto nº 6.040,
de 07 de fevereiro de 2007. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm.
Acessado em: 10/08/2016.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

necessário de uma ruptura bem-sucedida rumo ao desenvolvimento capitalista com o forte apoio
dos poderes do Estado‖ (p 128). A acumulação por espoliação contribui para que o capital
sobreacumulado, excedentes de capital ociosos, tenham escoadouro lucrativo, através do ―ajuste
espacial‖ no qual são incorporadas novas áreas à lógica de acumulação.

O que a acumulação por espoliação faz é liberar um conjunto de ativos (incluindo força de
trabalho) a custo muito baixo (e, em alguns casos, zero). O capital sobreacumulado pode
apossar-se desses ativos e dar-lhes imediatamente um uso lucrativo. No caso da acumulação
primitiva que Marx descreveu, isso significa tomar, digamos, a terra, transferindo então a
terra a corrente principal privatizada da acumulação do capital (HARVEY, 2014, p. 124).

Dessa maneira, buscam-se novos meios de valorização do capital de forma que, dentre seus
mecanismos, verifica-se: a) a ênfase na propriedade intelectual e biopirataria; b) a destrutividade
dos recursos ambientais globais (terra, ar água); c) a mercantilização de formas culturais; d) a
privatização dos bens públicos (HARVEY, 2014). Portanto, caracteriza-se por uma ruptura forçada
para que determinadas áreas não capitalistas, como as comunidades tradicionais, ou meios ainda
não tidos como mercadorias, sejam integrados à dinâmica do sistema capitalista, submetendo tanto
o social como o meio ambiente à lógica da lucratividade81.
Neste contexto, o Estado, enquanto grande agente da acumulação vem propiciando ao
capital a reprodução da sua dinâmica predatória, sendo este uma estrutura que dá viabilidade e
integra a sua estrutura de classe e relações de produção (MÉSZÁROS, 1987). A insuficiência da
ação reguladora do Estado, através do órgão licenciador, ou diretamente a sua recusa em exercer o
monitoramento dos programas voltados à mitigação dos impactos negativos do empreendimento,
acaba por conceder ampla liberdade ao capital no processo de apropriação dos recursos naturais,
desconsiderando os interesses dos demais segmentos da população local.
Neste sentido, as contradições da sociedade burguesa se camuflam, dentre outras estratégias,
a partir da conexão entre ideologia e Estado, ― os interesses gerais de classe são capazes de ser
transformados num ―interesse geral ilusório‖, pois a classe dirigente pode, com sucesso,
universalizar suas ideias como ―ideias dominantes‖‖ (HARVEY, p. 79, 2005). As ideias aparecem
como autônomas, como se tivessem um significado independente de qualquer interesse de classe
específico. Mandel (1985) destaca a função integradora do Estado, que tem o papel de integrar as
classes dominadas, garantindo que a ideologia da sociedade continue sendo aquela da classe
dominante, contribuindo para que os dominados aceitem sua exploração.

81
A autora Virgínia Fontes (2010) discorda da teoria de acumulação por espoliação defendida por David Harvey, pois
segundo Harvey, para o capital se propagar é necessário atingir áreas não capitalistas, as externalidades. Entretanto,
para a autora, o processo de expropriação dentro do sistema capitalista nunca se normalizou, não existe áreas totalmente
fora do capitalismo, a violência inicial própria da acumulação primitiva é permanente e constitutiva adequando-se as
peculiaridades dos momentos históricos do capitalismo. As lutas não se dão fora do capitalismo, nas externalidades,
mas sim internamente, ocorrendo diferente e sucessivas expropriações, sendo a ―expropriação a base fundante da
relação social que sustenta a dinâmica capitalista, permite melhor apreender a dinâmica interna da lógica do capital,
como ponto de partida, meio e resultante da concentração de capitais‖. (p. 74).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Dessa maneira, a função integradora contribui para a dominação de classe. Essa função
integradora se propaga pelas diferentes ideologias, e ―a reprodução e evolução dessas funções
integradoras efetivam-se pela instrução: pela educação, pela cultura e pelos meios de comunicação
– mas sobretudo pelas categorias de pensamento peculiares à estrutura de classe de uma sociedade‖
(MANDEL, 1985 p. 334). Logo, o apelo ideológico está presente no CIPS ao se difundir a ideia de
―desenvolvimento‖, propagando-o como grande impulsionador do crescimento que beneficiará a
todos. Esses conceitos são mais do que ferramentas ideológicas, ligam-se ao Estado e estão
intimamente associados ao sistema legal burguês (HARVEY, 2005). Assim como, o Estado, no
capitalismo tardio, tem papel central para a valorização do capital, garantindo assim oportunidades
para que sejam evitadas as crises intrínsecas a esse modo de produção.

CONCLUSÕES

O caminho trilhado pela pesquisa revelou que o modelo de desenvolvimento econômico


seguido por Suape tem causado grandes impactos ambientais, territoriais e sobretudo nas
populações. Evidencia que ―o atual modelo de desenvolvimento, impulsionado pelo Estado em
nome do progresso e da socialização dos ganhos, tem se revelado essencialmente desigual e
predatório‖ (SILVA, 2015, p. 443). A peça ideológica utilizada que alegava a melhoria de vida para
todos tem como finalidade obter legitimidade social para as práticas predatórias construídas no
TES.
No segundo semestre de 2014 Suape foi atingida pelo aprofundamento da crise capitalista.
Junto a crise econômica e política a operação Lava-Jato iniciou sua investigação sobre lavagem e
desvio de dinheiro envolvendo a Petrobrás, a qual suspendeu contrato com diversas empresas. A
indústria naval tem sido fortemente atingida por essa crise na Petrobras. O polo naval de
Pernambuco já vem promovendo o fechamento de mais de 3 mil empregos diretos e aponta
tendência a queda82. E no final de 2016 a Petrobras confirmou a venda do Complexo Petroquímico
de Suape para a empresa mexicana Alpex. O valor da venda foi US$ 385 milhões83. Assim, o CIPS
vivencia uma crise que atinge de forma direta os trabalhadores e moradores da região.
Essa crise estrutural que se mostra nas diferentes esferas da vida social põe em xeque o
licenciamento ambiental. Como evidenciado no decorrer do trabalho, o licenciamento ambiental,
importante ferramenta da Política Nacional de Meio Ambiente, deveria se constituir um efetivo

82
Agrava-se crise no setor naval. Disponível em:
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/pernambuco/noticia/2015/12/15/agrava-se-crise-no-setor-naval-
entenda-212543.php. Acessado em: 04/02/2016.
83
Petrobrás aprova venda da Petroquímica Suape e da Citepe por US$ 385 milhões. Disponível em:
http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2016/12/economia/539205-petrobras-aprova-venda-da-petroquimica-suape-e-da-
citepe-por-us-385-milhoes.html. Acessado em: 10/03/2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mecanismo de controle que o Estado possui para regular as atividades econômicas, tendo na
participação sua característica mais avançada.
No entanto, o licenciamento tem sido negligenciado e, na atual conjuntura observa-se uma
tendência à forte flexibilização do licenciamento, sendo está uma das escolhas feitas pela atual
agenda econômica do país para a saída da crise. Diante disso, faz-se imprescindível fomentar
condições para efetivar o papel social do licenciamento, ultrapassando sua dimensão meramente
―técnica‖, incorporando em seu processo os sujeitos que vêm sendo duramente atingidos pelo dito
desenvolvimento (LOUREIRO, 2010). Trata-se de uma luta política, na defesa de direitos
conquistados e sua ampliação. Ainda que insuficientes para fazer face à ofensiva do capital, a
defesa de uma gestão ambiental pública, democrática e participativa segue sendo indispensável no
processo de desvelamento das contradições da sociabilidade burguesa e sua lógica expansiva, de
largos custos sociais e ambientais.

REFERÊNCIAS
Denuncia: O Problema das dragagens no CIPS/PE: denúncia dos impactos e irregularidades.
Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0ahUKEwid
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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1167


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1168


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO ATRAVÉS DA LUDICIDADE: UMA


EXPERIÊNCIA INSTITUCIONAL DO DIA MUNDIAL DA ÁGUA NA PARAÍBA

Vanessa Oliveira Fernandes CÂMARA


Gestora Ambiental, Servidora da SEIRHMACT
vanessa.oliveirafernandes@gmail.com
Flávia Dias SUASSUNA
Bióloga, Servidora da SEIRHMACT
flaviasuassuna@gmail.com
Waldjan Lima MENDONÇA
Bióloga, Servidora da SEIRHMACT
waldjamlm@gmail.com

RESUMO
A dificuldade de promoção de ações socioeducativas das instituições públicas concentra-se na
escassez de recursos financeiros, técnicos e humanos. Na expectativa de vencer estes desafios e
assim promover a formação do sujeito ecológico, os gestores fazem uso de intervenções
combinadas para estimular a sensibilização ambiental. Este artigo apresenta uma experiência
inovadora e contextualizada, baseada na articulação interinstitucional de órgãos públicos para
promoção de atividades educativas voltadas para a sensibilização ambiental e o uso adequado da
água. Enfoca fundamentos teóricos das abordagens em questão, destacando a importância de uma
parceria entre instituições públicas que atuam na área ambiental. Neste sentido, o presente trabalho
objetivou compartilhar uma experiência exitosa na perspectiva da educação ambiental crítica, lúdica
e contextualizada com a crise hídrica e outras temáticas associadas, bem como a aceitação do
público infantil envolvido e a repercussão entre a comunidade escolar.
Palavras Chave: Educação ambiental, crianças, água, ludicidade.

ABSTRACT
The difficulty of promoting socio-educational actions of public institutions is concentrated in the
scarcity of financial, technical and human resources. In the expectation of overcoming these
challenges and thus promoting the formation of the ecological subject, managers make use of
combined interventions to stimulate environmental awareness. This article presents an innovative
and contextualized experience based on the interinstitutional articulation of public agencies to
promote educational activities focused on environmental awareness and the adequate use of water.
It focuses on the theoretical foundations of the approaches in question, highlighting the importance
of a partnership between public institutions that work in the environmental area. In this sense, the
present work aimed to share a successful experience in the perspective of critical environmental
education, playful and contextualized with the water crisis and other associated themes, as well as
the acceptance of the children involved and repercussion among the school community.
Keywords: Environmental education, children, water, playfulness.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1169


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Diversas experiências profissionais, fundamentadas teoricamente em trabalhos técnicos de


pesquisadores, permite perceber que atividades práticas e situações de ensino-aprendizagem, ainda
que seja não-formal, mas que se apeguem ao lúdico, é de fundamental relevância no processo de
formação do sujeito ecológico (CARVALHO, 2011). Atividades lúdicas promovem a aprendizagem
num processo de encantamento e redescoberta, desenvolvendo a autonomia e criatividade tanto do
educando quanto do educador. Neste contexto, entende-se que os órgãos públicos podem ajudar os
educadores a introduzir conteúdos e construir significados, a partir de atividades lúdicas
promovidas em paralelo ao calendário letivo formal. Aproveitar as datas alusivas para explorar
novos conceitos ambientais entre os estudantes constitui uma oportunidade de contribuir nos
processos educativos na busca do estado de sustentabilidade. Este estudo teve por recorte temático a
água e suas fragilidades ambientais contextualizadas em todas as atividades aqui apresentadas.
A água tem fundamental importância para a manutenção da vida no planeta, e, portanto,
falar da relevância dos conhecimentos sobre a água, em suas diversas dimensões, é falar da
sobrevivência da espécie humana, da conservação e do equilíbrio da biodiversidade e das relações
de dependência entre seres vivos e ambientes naturais (TUNDISI, 2003). O Brasil detém
aproximadamente 15% de toda a água doce do planeta, conta com grandes as bacias hidrográficas
como as dos rios São Francisco e Paraná e ainda cerca de 60% da Bacia Amazônica. Mas como esse
elemento vital não é inesgotável, logo, é necessário o uso racional e eficiente das nossas águas,
numa perspectiva interdisciplinar e sustentável (BRASIL, 2008).
A possibilidade de abordagens com o tema água devem estar presentes nos contextos
educacionais, tanto na educação formal, não-formal ou informal, com enfoque na ética e na
formação do cidadão consciente do lugar que ocupa no mundo, num espaço real, dinâmico, que
parte do local e se relaciona com o global, onde todas as coisas podem tomar parte de um processo
maior, de um sistema integrado (JUNIOR, 2004). Assim, segundo Carvalho (2011. p.87), ―é
possível sair do paradigma da causalidade tão enraizado no ensino de ciências e praticar um ensino
mais contextualizado, situar espaço-temporalmente os fenômenos‖, ou seja, levar em conta seu
aspecto histórico-cultural e assim compreender a complexidade do contexto e causalidade de um
fenômeno.
O dia 22 de março de cada ano é destinado a discussão sobre os diversos temas relacionadas
a água. Esta data foi instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1992, como o Dia
Mundial da Água. No Estado da Paraíba, a Lei estadual Nº. 6.756, de 08 de Julho 1999, institui a
Semana Estadual de Mobilização em defesa da Água, onde a programação deve constar de
campanhas junto as populações sobre a conscientização da importância dos Recursos Hídricos.
Consta ainda que compete às organizações governamentais e não governamentais a promoção e

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1170


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

divulgação da Semana Estadual de Mobilização em Defesa da Água que realizar-se-á anualmente


durante a última semana do mês de Março.

CONTEXTUALIZAÇÃO

Neste sentido, o Governo do Estado da Paraíba, tomando por base essas referências e através
da Secretaria de Estado de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e
Tecnologia (SEIRHMACT), mobilizou diversas instituições para atividades de sensibilização em
torno do uso racional das águas, aproveitando a data mundial de mobilização, o dia 22 de março.
Para tanto, organizou e participou, junto com outros órgãos estaduais, da Semana Estadual de
Mobilização em defesa da Água com o Tema: Água não se joga fora, tendo como público-alvo
estudantes das redes estadual e privada de ensino da cidade de João Pessoa. Nesta experiência,
foram convidadas a participar da articulação as instituições que estão diretamente ligadas com meio
ambiente e recursos hídricos no âmbito do Estado da Paraíba. Cada instituição foi também
responsável pelos custos da atividade desenvolvida, o que possibilitou a abrangência do evento no
sentido de ratear os gastos gerais entre as instituição. A seguir, estão devidamente identificadas com
suas respectivas atividades desenvolvidas no evento alusivo, conforme é possível observar no
quadro 1.

Quadro 1: Síntese de identificação das instituições participantes do Dia mundial da Água na Paraíba e suas
respectivas atividades desenvolvidas.
Instituição Atividades

Painel – Tempo de decomposição dos


01 SEIRHMACT resíduos sólidos (contextualizado com a
poluição hídrica)
02 AESA Painel ―O ciclo da água‖

Companhia de águas e esgoto da Apresentação Teatral – Espetáculo ―Água


03
Paraíba - CAGEPA mole em pedra dura tanto bate até que fura‖
Superintendência de Administração Lanches (Kits individuais)
04
do Meio Ambiente - SUDEMA
Fundação Nacional de Saúde - Exposição da Unidade Móvel de Controle
05
FUNASA da qualidade da água
Exposição de material e campanha contra a
06 Secretaria Estadual de Saúde
dengue
Exposição de filmes educativos ―No
07 Secretaria Estadual de Educação
escurinho do cinema‖
Comitê de Bacia Hidrográfica – Oficina de Desenhos
08
Litoral Norte
Disponibilização de material didático:
09 Instituto Jogue Limpo cartilhas e agendas educativas.
Fonte: Dados do relato, 2017

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com o objetivo de receber e sensibilizar crianças de 06 a 14 anos, foi utilizado uma


pluralidade de ferramentas pedagógicas que possibilitam a interação infantil com a temática
conservação dos recursos hídricos. Foram recebidas 1000 (mil) crianças de 4 escolas da Capital
João Pessoa. Sendo 500 crianças por turno (manhã e tarde), divididas em grupos de 250 crianças
para percorrer as atividades executadas no dia. O evento foi realizado no Teatro de arena do Espaço
Cultural José Lins do Rego, na cidade de João Pessoa, no dia 23 de março de 2016.

ETAPAS METODOLÓGICAS

Para alcançar os objetivos propostos a SEIRHMACT iniciou o processo de articulação


institucional para mobilizar os órgãos parceiros, seguindo os seguintes passos:

Figura 1: Etapas percorridas para realização do evento Dia Mundial da Água na Paraíba

Convite das instituiçoes parceiras


Realização de Reuniões intitucionais
Foram delimitadas as
instituiçoes de influência Convite das escolas
e relação com os recursos Foram realizadas quatro
hídricos para reuniões prévias para
mobilização, articulação e Após definiçoes, foram
estabelecimento das enviados convites para
parcerias. definiçoes das atividades, escolas públicas e privadas,
local, data e estruturas sendo feito contatos para
necessarias para o evento. confirmaçoes e fechamento
de um quantitativo de
crianças participantes.

Fonte: Dados do relato, 2017

Conforme exposto na Figura 1, cada etapa foi cumpriu seu papel no processo de articulação
institucional para promoção do evento, sendo possível a sensibilização e educação ambiental de
crianças. Na oportunidade, estas passaram a receber informações acerca da conservação e uso
adequado da água de maneira lúdica, interativa e divertida. Adiante vejamos a descrição das
atividade desenvolvidas com as crianças durante do dia.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

A seguir apresentamos alguns registros fotográficos das atividades desenvolvidas no evento


alusivo ao Dia Mundial da água, conforme é possível observar nas figuras 2, 3 e 4.

Figura 2: Conjunto de imagens de atividades desenvolvidas no evento do dia mundial da água na Paraíba

Fonte: Acervo técnico da SEIRHMACT PB, 2016.

Na imagem nº1, contida na figura 2 é registra-se a entrada e recepção das crianças na


estrutura de entrada. Na imagem n° 2 observa-se a atividade ―No escurinho do cinema‖, nesta as
crianças assistiram vídeos de curta duração sobre o uso consciente da água, sendo coordenada pela
Secretaria de Educação do Estado – SEE. Nas imagens 3 e 4 apresenta-se a atividade do Painel
―Tempo de decomposição do lixo‖, sendo contextualizado com a disposição inadequada dos
resíduos sólidos e a poluição hídrica, bem como o tempo que cada tipo de resíduo pode permanecer
no ambiente se destinado em local errado. O fundo azul representou as águas e os vários tipos de
resíduos com indicações do seus respectivo tempo de decomposição. Na figura 3 vê-se mais
atividades.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 3: Conjunto de imagens de atividades desenvolvidas no evento do dia mundial da água na Paraíba

Fonte: Acervo técnico da SEIRHMACT PB, 2016.

Nas imagens nº 5 e nº 6 nota-se a atividade executada pela Agência Executiva de gestão de


Águas da Paraíba - AESA e o Comitê de Bacia Hidrográfica do Litoral Norte. Na oportunidade foi
apresentado o ciclo da água através do painel combinada com a oficina de desenho, as crianças
receberam lápis de cores de papel para expressarem a compreensão e percepção sobre o ciclo
hidrológico e os cuidados necessários com a água.
Na imagem nº 7 foi apresentado equipamentos de combate ao mosquito Aedes aegypti, bem
como coleções biológicas com várias espécies de mosquitos para apresentar as diferenças físicas do
agente transmissor da dengue e outros, sendo feita a conexão com a disposição inadequada de águas
e a proliferação do mosquito da dengue, esta atividade foi coordenada pela Secretaria Estadual de
Saúde - SES. Enquanto na imagem n° 8 observa-se a exposição da Fundação Nacional de Saúde –
FUNASA (Regional da Paraíba) com a Unidade móvel de controle de qualidade da água. Nesta as
crianças puderam conhecer os procedimentos básicos para uma análise de água, entrar na unidade
móvel e aprender sobre a importância da qualidade hídrica de maneira interativa.
Assim, após percorrer todas as atividades disponíveis em momentos distintos para cada
grupo de crianças, juntou-se todas ao final para assistirem o espetáculo teatral da Companhia
Paraibana de Comédia intitulado ―Água mole em pedra dura tanto bate até que fura‖, com duração
de aproximadamente 50 minutos e forte interação do público infantil, foram realizadas duas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

apresentações, uma em cada turno, sendo esta atividade custeada pela Companhia de Água e esgoto
da Paraíba – CAGEPA. Na figura 4 é possível observar o registro da apresentação.

Figura 4: Espetáculo teatral apresentado no evento do dia mundial da água na Paraíba.

Fonte: Acervo técnico da SEIRHMACT PB, 2016.

Logo após a apresentação teatral as crianças participantes foram encaminhadas à área de


saída e receberam kit de lanche oferecido pela Superintendência de Administração do Meio
Ambiente da Paraíba – SUDEMA. Também foram entregues cartilhas e agendas ambientais
fornecidas pelo Instituto Jogue Limpo em parceria com o Governo do Estado.

CONISDERAÇOES FINAIS

Diante o exposto, destaca-se a relevância de uma articulação e integração institucional, aqui


com o objetivo de promover atividades educativas voltadas para a conservação dos recursos
hídricos. Neste sentido, as atividades foram bem aceitas pelas crianças participantes e as escolas
aderiram bem aos convites. Todas as atividades desenvolvidas foram participativas, colaborativas e
provocativas. Usando a ludicidade para sensibilizar os infantes para o uso racional da água e uma
conduta ética e adequada para com o meio ambiente. Dessa maneira, espera-se poder ampliar o
evento para receber um número maior de crianças e atender melhor a comunidade escolar que
anseia por vivências externas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1176


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PROPOSTA DE UM PLANO DE CONTROLE AMBIENTAL PARA EXTRAÇÃO E


BENEFICIAMENTO DE SCHEELITA, CURRAIS NOVOS-RN

Wagner Bandeira da SILVA


Graduando do curso Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
wagnerbandeira2010@hotmail.com
Joel Medeiros BEZZERRA
Orientador Professor Adjunto A da UFERSA, CMPF, DETEC
joel.medeiros@ufersa.edu.br
Manoel Mariano Neto da SILVA
Graduando do curso Engenharia Ambiental e Sanitária da UFERSA
mariano.paiva@ufersa.edu.br

RESUMO
A mina Brejuí, localizada no município de Currais Novos – RN durante muito tempo representou o
Nordeste brasileiro como a maior exportadora de scheelita do hemisfério sul. No entanto, a
atividade mineradora exercida pelo grupo Tomaz Salustino S/A na exploração de scheelita vem
provocando sérias alterações ambientais negativas significativas nos mais diversos compartimentos
ambientais. Nessa perspectiva, faz-se necessário a elaboração de mecanismos que atuem para
prevenir e/ou controlar impactos socioambientais da referida área de estudo, a fim de evitar
conflitos ambientais, sociais, econômicos, territoriais, políticos e de saúde pública. Portanto, esse
trabalho tem como objetivos identificar aspectos e impactos ambientais, e propor medidas de
controle ambiental para o ciclo produtivo da mina Brejuí localizada no município de Currais Novos
– RN. A pesquisa é de caráter descritiva e exploratória, onde realizou-se levantamento bibliográfico
e visita in loco, mediante a listagem de impactos ambientais da mina Brejuí /Currais Novos – RN,
com o objetivo de propor um plano de controle ambiental. Diante disso, foram elencados os
aspectos/impactos observados e definidas ações de gestão para cada compartimento ambiental. A
proposta para os planos, programas e projetos poderão ser utilizadas como subsídios para futuras
pesquisas acadêmicas, propiciando embasamento para novas investigações, assim como servindo de
ferramenta para busca de novas tecnologias, técnicas e conhecimentos.
Palavras-chave: Planejamento Ambiental; Gestão Ambiental; Recursos Minerais.
ABSTRACT
The Brejuí mine, located in the municipality of Currais Novos - RN for a long time represented the
Brazilian Northeast as the largest exporter of scheelite in the southern hemisphere. However, the
mining activity carried out by the Tomaz Salustino S / A group in the Scheelite exploration has
been causing serious negative environmental changes in the most diverse environmental
compartments. In this perspective, it is necessary to elaborate mechanisms that act to prevent and /
or control socio-environmental impacts of this area of study, in order to avoid environmental,
social, economic, territorial, political, and public health conflicts. Therefore, this work aims to
identify environmental aspects and impacts, and to propose environmental control measures for the
production cycle of the Brejuí mine located in the municipality of Currais Novos - RN. The
research is descriptive and exploratory, where a bibliographic survey and on-site visit was carried
out, by means of the listing of environmental impacts of the Brejuí / Currais Novos-RN mine, with
the objective of proposing an environmental control plan. In view of this, the observed aspects /
impacts were identified and management actions were defined for each environmental
compartment. The proposal for the plans, programs and projects could be used as subsidies for

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

future academic research, providing support for new research, as well as serving as a tool to search
for new technologies, techniques and knowledge.
Keywords: Environmental Planning; Environmental Management; Mineral Resources

INTRODUÇÃO
O Seridó é uma região nordestina que abrange os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte,
com áreas ricas em reservas minerais de scheelita, berilo, cassiterita, tantalita, ferro, mica, ouro,
cobre, columbita, enxofre, barita, coridon e alguns tipos de gemas, como a água marinha, turmalina
e quartzo, essa região destaca-se por sua geodiversidade (AAE/RN, 2011).
Nesse contexto, o nordeste brasileiro durante muito tempo foi representado mundialmente
pela maior exportadora de scheelita do hemisfério sul, a mineração Tomaz Salustino (mina Brejuí)
localizada no município de Currais Novos – RN (FERNANDES, 2011).
O surgimento da mina Brejuí aconteceu na década de 40, no ano de 1943 data na qual foi
descoberta a existência do minério no estado do Rio Grande do Norte. A partir dos anos 80, inicia-
se o declínio da mineração em consequência da oscilação dos preços internacionais da Scheelita e
da utilização de outros minérios para a fabricação de artefatos industriais e tecnológicos, levando a
mina Brejuí a reduzir suas atividades de extração mineral e buscar novas alternativas econômicas.
(MINERAÇÃO TOMAZ SALUSTINO S.A., 2017).
Gerab (2014) afirma que a partir dos anos 90 as atividades mineradoras foram retomadas em
todo o município de Currais Novos, porém, a reação internacional do mercado de scheelita veio
apenas em 2004 com a volta das atividades de mineração de scheelita no Brasil. De acordo com
grupo Tomaz Salustino S/A, a mesma possui uma lavra explorável de scheelita de
aproximadamente 20 anos.
O grupo Tomaz Salustino S/A prefere a scheelita para vende-la para seus parceiros
comerciais, para que estes, por conta própria, realizem o processo de beneficiamento do tungstênio,
pois esta atividade é bastante onerosa e demandaria um alto investimento pela a empresa. No ano de
2005 a produção do concentrado de scheelita na mina Brejuí era de aproximadamente 2.000 kg por
mês. (FERNANDES, 2011).
Conforme Petta et al. (2014) desde o início de sua operação (por volta da segunda guerra
mundial) até hoje o processamento mecânico de scheelita acarretou a formação de elevadas
quantidades de rejeito e estéril acumuladas em pilhas a céu aberto sem nenhuma proteção, sendo
expostas à ação do vento e da água da chuva. Na mina Brejuí, duas pilhas de rejeito cobrem uma
área de 121.500 m², com volume de 1.943.200 m³, totalizando 3.110.400 toneladas.
Diante disso, a atividade mineradora exercida pelo grupo Tomaz Salustino S/A no município
de Currais Novos – RN na exploração de scheelita vem provocando sérias alterações ambientais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

negativas significativas nos mais diversos compartimentos ambientais, desde problemas como
erosão, assoreamento, contaminação de corpos hídricos e do solo, supressão vegetal, emissões
atmosféricas, poluição sonora, até a poluição visual devido ás pilhas dos rejeitos e estéreis
(MINERAÇÃO TOMAZ SALUSTINO, 2017)
Petta et al. (2014) constataram a presença de metais pesados (V, Cr, Co, Ni, Cu, Zn, As, Rb,
Sr, Zr, Mo, Sn, Ba, W) nos sedimentos do reservatório Gargalheiras, localizado no município de
Acari- RN (a jusante de Currais Novos), oriundos da atividade de mineração na região, que podem
acarretar problemas de ordem socioambiental e de saúde pública, já que o reservatório abastece o
município de Acari - RN.
Nessa perspectiva, faz-se necessário a elaboração de mecanismos que atuem para prevenir
e/ou controlar impactos socioambientais da referida área de estudo, a fim de evitar conflitos
ambientais, sociais, econômicos, territoriais, políticos e de saúde pública (PINTO FILHO; PETTA,
2016).
Portanto esse trabalho tem como objetivos identificar impactos e aspectos ambientais, e
propor medidas de controle ambiental para o ciclo produtivo da mina Brejuí localizada no
município de Currais Novos – RN.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa é de caráter descritivo e exploratório, onde se realizou levantamento


bibliográfico e visita in loco, mediante a listagem de impactos ambientais da mina Brejuí /Currais
Novos – RN, com o objetivo de propor ações de gestão ambiental.
A mina Brejuí está localizada na região do Seridó do estado do Rio Grande do Norte, na
cidade de Currais Novos, com localização geográfica 770.237 m E, 9.300.602 m S (Ver Figura 1), a
mesma possui uma área total de aproximadamente 83 ha.
Geologicamente o município de Currais novos é representeado por rochas antigas
(metamórfica e ígnea) do embasamento cristalino, também conhecido como Complexo Brasileiro
ou Complexo Gnáissico-Migmatítico. Essa estrutura data da Era pré-cambriana e é inserida na
região de dobramentos Nordeste da Província Borborema, aflorando em toda área do município em
estudo, bem como em toda Região do Seridó, formando 60% do estado do Rio Grande do Norte
(OLIVEIRA; CESTARO, 2012).
Litologicamente o embasamento cristalino é representado por granitos, quartzitos, gnaisses e
micaxistos, são predominantemente rochas plutônicas máficas e ácidas. Ainda de acordo com
Oliveira e Cestaro (2012) o município de Currais Novos é representado por dois grupos de unidades
geológicas: O primeiro por litótipos do Grupo Seridó representado pela Formação Seridó, Formação
Equador, Formação Jucurutu, Complexo Caicó e por suítes intrusivas graníticas diversas. Já o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

segundo é formado por rochas sedimentares representadas pela Formação Serra do Martins. No
referido município esta formação se apresenta em relevo com declive suave a ondulado e relevo
inclinado a fortemente inclinado, em altimetria que varia de 310m a 650m (OLIVEIRA;
CESTARO, 2012).

Figura 1 – Localização da mina Brejuí, Currais Novos – RN

Fonte: Elaborado pelo autor

O município é dividido em cinco unidades geomorfológicas: Planalto da Borborema,


Chapada da Serra de Santana, Encosta da Chapada da Serra de Santana, Maciços Residuais e
Planícies Fluviais. Quanto aos solos é possível encontrar no município de Currais Novos
associações de Latossolo Amarelo Distrófico, Podzólico Vermelho-Amarelo, Bruno Não-Calcico e
Litólicos Eutróficos (OLIVEIRA; CESTARO, 2012).
A drenagem do município de Currais Novos é representada pelo encontro entre os rios
Currais Novos e Picuí que a partir de então é denominado rio Acauã. A sub-bacia do rio Acauã
corresponde a áreas nos municípios de Currais Novos e Acari, fazendo parte da sub-bacia do rio
Seridó, pertencentes à bacia hidrográfica do rio Piranhas – Açu. Todos estes rios são de caráter
intermitente e configuram um padrão de drenagem tipo dendrítico (OLIVEIRA; CESTARO, 2012).
A temperatura média anual do Seridó é de 27,5 °C, com máximas de 33 °C e mínimas de 18
°C. Com uma insolação de aproximadamente 2.455 horas/ano e sujeito à influência dos ventos
alísios secos do Nordeste, o clima do Seridó é seco, com altas taxas de evapotranspiração, que
contribuem para a formação de rios temporários e pouca retenção de água no solo (AAE/RN, 2011).
Em relação a vegetação há a predominância da Caatinga do tipo: Hiperxerófila e
Subdesértica ―Seridó‖ (Caatinga Hiperxerofila do Seridó), Floresta Subcaducifólia e Mata Ciliar
(OLIVEIRA; CESTARO, 2012).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

De acordo com o IBGE (2010) o município de Currais Novos possui uma área total de
864,349 km², população de 41.652 habitantes e Índice0 de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM) de 0,691. As principais atividades econômicas realizadas no município são a extração
mineral, indústria têxtil, turismo, agronegócio e as cerâmicas.
A mina Brejuí localizada na região sudoeste do município de Currais Novos – RN, faz
fronteira com o município de Acari – RN. Sua estrutura conta com galerias e túneis, dunas minerais,
memorial Tomaz Salustino, museu Mineral Mário Porto, artesanato mineral e loja de souvenir,
parque de esculturas, almoxarifado, garagem de tratores e vila operária (casas, igreja, escola, quadra
esportiva, entre outros).
A identificação e a listagem de aspectos e impactos ambientais decorrentes das atividades da
mina Brejuí deram-se através da aplicação de checklist (causa-efeito), mediante inspeção de campo,
além de consulta bibliográfica. Assim, levou-se em consideração os impactos ambientais mais
relevantes dentre os aspectos identificados.
A elaboração do plano de ação ambiental foi fundamentada em Santos (2004). Seguindo as
etapas de diagnósticos ambiental (levantamento teórico da caracterização da área, descrição do
processo produtivo da atividade econômica, identificação dos impactos ambientais e, descrição das
ações desenvolvidas), planejamento ambiental (levantamento das ações de gestão ambiental para
atenuar impactos ambientais da etapa anterior) e gerenciamento ambiental (proposta de aspectos de
monitoramento das ações de gestão ambiental).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Impactos da cadeia produtiva

O método de extração de scheelita praticado pela mina Brejuí é a lavra subterrânea que vai a
uma profundidade de mais de 900 metros dividido em 8 níveis, com 65 km de túneis por toda a
mina e a temperatura variando de 19ºC a 43ºC.
Segundo Fernandes (2011) inicialmente é realizada a supressão vegetal da área a ser
explorada acompanhada de escavações, logo em seguida ocorrem as detonações com uso de
explosivos, no interior da mina. Posteriormente os fragmentos das rochas são depositados em um
tipo de grelha com o objetivo de separar a areia das rochas. Ao passar pela grelha, as rochas são
transportadas, através de esteiras, para o britador, que irá quebrar os fragmentos passantes na grelha,
em seguida, o material com granulometria reduzida é transferido para as peneiras vibratórias,
conforme pode ser observado na Figura 2.
O beneficiamento da scheelita após o processo de cominuição (britagem e moagem) é
realizado por equipamentos de concentração gravitica explorando as características físicas do

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

mineral, principalmente a massa específica (densidade), onde geralmente são utilizadas as mesas
vibratórias e jigues, na qual a concentração inicial é realizada por jigagem onde se encontra um
material com uma maior granulometria, e o rejeito do jigue alimenta as mesas gerando o
concentrado final. Estes equipamentos exploram a característica da scheelita apresentar uma
elevada massa específica.
Ainda de acordo com Fernandes (2011) a scheelita é um mineral friável, a falta de controle
na etapa de cominuição do minério acarreta em uma geração excessiva de finos, prejudicando o
processo de concentração gravítica, ainda de acordo com o mesmo os jigues e mesas não são
eficientes para tratar os finos, assim os finos não concentrados compõem o rejeito final. Vale
ressaltar que em nenhum dos processos são utilizadas substâncias químicas, apenas processos
físicos (Figura 2).

Figura 1 - Fluxograma de beneficiamento da scheelita na mina Brejuí (LEITE; ARAUJO; SANTOS, 2007)

Segundo o Grupo de Mineração Tomaz Salustino (2017) aproximadamente 99,2% do


material que é extraído e tratado na indústria de beneficiamento de scheelita são desperdiçados,
sendo apenas 0,8% do total extraído representativo da scheelita. Assim, o principal problema
ambiental da mineração da scheelita na mina Brejuí é a geração de resíduos provenientes da etapa
de beneficiamento.

Identificação de impactos e aspectos ambientais na mina Brejuí

Nos Quadros 1 e 2 são elencadas as atividades com seus respectivos aspectos e impactos
ambientais físicos e bióticos negativos identificados na mina Brejuí:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quadro 1 – Atividades, aspectos e impactos ambientais físicos e bióticos identificados na mina Brejuí,
Currais Novos – RN (etapa de extração)
ATIVIDADES ASPECTOS IMPACTOS
Poluição visual
Supressão da vegetação Redução da biodiversidade
Alteração da qualidade das águas superficiais e subterrâneas
Poluição visual
Eliminação da biodiversidade
Alteração da topografia
Abertura de
Compactação do terreno
acessos
Alteração da qualidade do solo
Movimentação de terra
Alteração da infiltração da água
Aumento do escoamento superficial
Processos erosivos
Assoreamento
Alteração da recarga do lençol freático
Poluição visual
Compactação do solo
Escavação mecânica Processos erosivos
Alteração da infiltração da água
Desmontes de
Emissão de ruídos
Rochas
Vibrações
Emissão de ruídos
Utilização de explosivos
Ultralançamento de fragmentos de rochas
Dispersão de fumos, gases e poeira
Poluição do ar
Transporte Utilização de combustíveis
Contaminação do solo e água
Fonte: Elaborado pelo autor

Quadro 2 – Atividades, aspectos e impactos ambientais físicos e bióticos identificados na mina Brejuí,
Currais Novos – RN (etapa de beneficiamento)
ATIVIDADES ASPECTOS IMPACTOS
Descarregamento
Geração de poeira e ruído Poluição do ar e sonora, desconforto aos trabalhadores
do minério
Poluição do ar e sonora, riscos de doenças pulmonares e
Geração de poeira e ruído
desconforto aos trabalhadores
Britagem da rocha Riscos de acidentes Perdas de vida e materiais
Consumo de energia Utilização de recursos naturais
Vibração de equipamentos Perdas de rendimento
Consumo de água e energia Utilização de recursos naturais
Poluição visual
Peneiramento, Geração de resíduos sólidos Contaminação de águas superficiais e subterrâneas
britagem, moagem, Geração de pilhas de estéreis
jigagem e mesa Geração de efluentes líquidos Contaminação do solo e água, danos a fauna e flora
vibratória Dispersão de fumos, gases e poeira
Emissões atmosféricas Poluição do ar e sonora, riscos de doenças pulmonares e
desconforto aos trabalhadores
Umidificação das
Utilização de recursos naturais, eventuais acidentes,
correias Consumo de água
redução da suspensão das partículas
transportadoras
Transferência de Escape/perda de material Riscos de acidentes, conforme o diâmetro do minério
materiais Geração de poeira e ruído Danos à saúde do colaborador
Geração de ruído, poeira e emissão de
Poluição do ar e sonora, intoxicação por gases
Estocagem do gases produzidos pelas máquinas
produto Contaminação das águas superficiais e assoreamento de
Perdas de material
córregos próximos
Fonte: Adaptado pelo autor (BACCI; LANDIN; ESTON, 2006).

Para Gerab (2014) o impacto mais significativo provindo das atividades do beneficiamento é
a formação das pilhas de rejeitos, já que as mesmas são depositadas a céu aberto. Estima-se que

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1183


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

haja mais de 7 milhões de toneladas desse rejeito somente na mina Brejuí decorrente de décadas de
exploração do minério (GERAB, 2014).
Essas pilhas de rejeito trazem impactos ambientais negativos como a aspecto visual
negativo, danos à saúde dos colaboradores, contribuem com o assoreamento dos mananciais
próximos, assim como contaminam o solo, ar e a águas superficiais e subterrâneas.
Nas áreas de disposição inadequada das pilhas de estéril e rejeito, é comum a ocorrência da
Drenagem Ácida de Mina (DAM) resultante da oxidação de sulfetos em presença de água. A prática
da DAM tem sido reconhecida como um dos mais graves impactos ambientais associados à
atividade de mineração tendo em vista que pode atingir rios e o lençol freático e, geralmente,
contém elevadas concentrações de elementos dissolvidos potencialmente tóxicos, ou seja, a
acidificação pode aumentar a dissolução de metais pesados, tais como cádmio, cobre e zinco
(NASCIMENTO, 2015).
Em estudos sobre as minas Barra Verde e Olho d‘Agua, localizadas também no município
de Currais Novos – RN, Nascimento (2015) identificou que as áreas de deposição de estéril e rejeito
na mina ativa apresentavam nível de degradação do solo mais acentuado dentre as áreas mineradas,
apresentando teores de Cd, Cu e Pb no solo acima do permitido pela legislação brasileira
(CONAMA, 2009).
A atividade de extração de scheelita na mina Brejuí ocasiona uma série de impactos no meio
antrópico, alguns positivos e outros negativos, dentre os positivos pode-se destacar: geração de
empregos, incremento na economia local através de investimentos, turismo, aumento da
arrecadação de impostos e tributos, expansão da infraestrutura local, valoração de lotes e
empreendimentos da região e qualificação de mão-de-obra local. Quanto aos impactos negativos
pode-se citar a perda de patrimônio cultural, redução da diversidade cultural, impacto visual,
desconforto ambiental, riscos à saúde humana, entre outros.

Planejamento e gerenciamento ambiental para a mina Brejuí

A proposta de planejamento e gerenciamento ambiental da área da mina Brejuí consiste na


determinação dos planos, programas e projetos para a manutenção, prevenção, mitigação, correção
e o controle das atividades, processos e produtos desenvolvidos no referido empreendimento, sendo
organizados conformes à intervenção nos aspectos ambientais, sociais e econômicos.
Assim, a proposição de ações para variável socioambiental envolve os compartimentos água,
solo, biota, ar, além da população diretamente afetada pelas atividades executadas no
empreendimento (colaboradores, vizinhança e sociedade). Foram levados em consideração os
principais aspectos/impactos observados mediante visita in loco para elaboração do plano de
controle ambiental, ver Tabela 1.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1184


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Tabela 1 - Plano de controle ambiental para a mina Brejuí com abordagem socioambiental
PLANEJAMENTO AMBIENTAL GERENCIAMENTO AMBIENTAL
ASPECTO OBJETIVO AÇÃO RESPONSÁVEL META PRAZO ETAPAS MONITORAMENTO
Plano de ação: Registro dos tipos poluição
Investigar a identificação, sonora; mensuração da
qualidade Caracterização, poluição sonora; período de
Projeto de Grupo de mineração, Regular Fluxo
Geração de sonora das quantificação, maior ocorrência; atividades,
controle de Prestadora de 100% das contínuo,
ruídos e atividades, classificação e processos e/ ou produtos
poluição Serviços e fontes em com ações
vibrações. processos e medição das áreas geradores; área de influência
sonora. Universidades. 5 anos. mensais.
produtos com potencial de da geração da poluição sonora
desenvolvidos poluição sonora na e; técnicas adotadas para
área analisada. controle.
Monitoramento desse processo
Identificação,
ocorre através de registro dos
Identificar as caracterização,
tipos de gases emitidos;
principais Fluxo quantificação,
Projeto de Grupo de mineração, Regular quantidade emitida; período de
Geração de fontes de contínuo, classificação;
gestão de Prestadora de 100% das maior emissão; atividades,
Emissões emissões com análise medição e
emissões Serviços e, fontes em processos e/ou produtos
atmosféricas atmosféricas, os das emissões controle das
atmosféricas. Universidades. 5 anos. emissores; área de influência
principais gases mensais. emissões dos
da emissão e;
emitidos gases na área
técnicas adotadas para controle
investigada.
da emissão.
PLANEJAMENTO AMBIENTAL GERENCIAMENTO AMBIENTAL
ASPECTO OBJETIVO AÇÃO RESPONSÁVEL META PRAZO ETAPAS MONITORAMENTO
Diagnóstico das
Tratar os
fontes geradoras;
efluentes
elaboração de
industriais
estudo de
através do
tratamento; Monitoramento do reuso de
reuso no
Em 5 anos premissas para efluentes industriais será por
processo Grupo de mineração, Fluxo
Geração de Projeto de reuso reutilizar elaboração do meio da identificação,
produtivo e, Prestadora de contínuo,
Efluentes de efluentes 100% dos projeto; caracterização, quantificação,
realizar sua Serviços e, com ações
industriais. industriais efluentes avaliação da classificação, reuso primário;
destinação de Universidades. mensais.
líquidos. viabilidade reuso secundário; tratamento e
forma
econômica do disposição final.
adequada
projeto e;
atendendo os
implementação do
aspectos
reuso de efluente
legais.
industrial.
Identificar os Fluxo Identificação e
Adequar o
sistemas contínuo, levantamento dos
uso de Monitoramento com os
hídricos, Plano de técnica com análise sistemas hídricos;
Grupo de mineração, 100% das parâmetros físicos, químicos e
Consumo de apontar seus de controle da das águas caracterização dos
Prestadora áreas de biológicos dos recursos
recursos usos, poluição hídrica superficiais sistemas hídricos;
de Serviços e, exploração hídricos. Além disso, torna-se
hídricos determinar as e do consumo ou determinação dos
Universidades. dentro do crucial uma investigação
fontes de hídrico. subterrâneas métodos analíticos
prazo de 5 quantitativa da água.
poluição e a cada 5 e; tratamento de
anos.
seus efeitos. anos. dados.
Qualificação
profissional;
Incorporação de
resíduos no ciclo
produtivo;
Destinar
Objetiva execução de Quantitativo de áreas cobertas,
de forma
controlar e Grupo de mineração, Fluxo projetos de dos volumes de resíduo sólidos
Projeto de correta
monitorar os Prestadora contínuo, educação em (pilhas de estéreis) coletados,
gestão de 100%
resíduos de Serviços e, Com ações resíduos sólidos; transportados, armazenado,
resíduos sólidos desses
sólidos Universidades. diárias. identificação, tratados e destinados de forma
produtos
Geração de gerados classificação, definitiva.
em 5 anos.
Resíduos separação, coleta,
sólidos transporte,
tratamento e;
destino final dos
resíduos.
Realizar o
Adequar
reuso ou a Verificar potencial
Grupo de mineração, corretamen Fluxo Monitoramento com os
incorporação Projeto de reuso de reuso junto as
Prestadora te 100% contínuo, parâmetros físicos, químicos e
a cadeia de resíduos industriais da
de Serviços e, desses Com ações o volume produzido e
produtiva do minerais construção civil
Universidades. produtos diárias comenrcializado
estéril não ou cerâmicas
em 5 anos
processado
Realizar um Classificação dos
levantamento tipos de solos;
do meio classificação dos
Execução de auditorias
físico, usos da terra;
ambientais para checar as
interpretar Destinar definição da
conformidades e não
riscos e Grupo de mineração, de forma Fluxo aptidão dos usos
Plano de conformidades ao longo da
capacidades Universidades, correta contínuo, da terra;
Degradação Manejo e implementação do plano e,
de uso para Prefeituras e, Órgãos 100% com análise identificação de
do solo Conservação do propor as respectivas ações
redução da Estaduais de Meio desses de solo a locais de
solo corretivas, bem como a
degradação Ambiente. produtos cada 5 anos. degradação
realização de testes de
das terras e, em 5 anos. ambiental;
verificação das características
elaborar um elaboração das
físicas, químicas e biológicas.
plano de ações de manejo
ações para do solo;
uso proposição de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sustentável medidas de
do recurso conservação do
solo. solo e;
monitoramento do
plano de manejo e
conservação do
solo.
Identificar os Identificação e
Adequar a
sistemas levantamento dos
utilização
elétricos, sistemas elétricos; Monitoramento do uso de
Programa de Grupo de mineração, de energia Fluxo
Consumo de apontar seus caracterização dos energia elétrica em todos os
Controle de uso Universidades, elétrica em contínuo,
energia usos, sistemas elétricos; processos, serviços e produtos;
de energia Prestadora de 100% dos com ações
elétrica determinar as determinação dos quantidade gasta; horário de
elétrica serviços processos mensais.
fontes de métodos analíticos maior gasto.
no prazo
poluição e e; tratamento de
de 5 anos.
seus efeitos. dados.
PLANEJAMENTO AMBIENTAL GERENCIAMENTO AMBIENTAL
ASPECTO OBJETIVO AÇÃO RESPONSÁVEL META PRAZO ETAPAS MONITORAMENTO
Objetiva à Reconhecimento
preservação dos riscos;
da saúde dos estabelecimento
Riscos ambientais, incluindo
colaboradores de prioridades e
informações sobre o tráfego, o
e da metas de avaliação
controle de armazenamento de
população e controle;
Fluxo produtos perigosos, o controle
situada na avaliação dos
contínuo, nas atividades de
área riscos e da
Mapear com medidas abastecimento de veículos e
Riscos á investigada, Programa de Grupo de mineração, exposição dos
100% dos diárias, máquinas, sensibilização
saúde dos através do prevenção de Prestadora de trabalhadores;
riscos semanais, ambiental e treinamento, a
trabalhadores controle da riscos Serviço, Consultoria implantação de
dentro de 5 mensais e divulgação das informações
. ocorrência de ambientais e, Universidades. medidas de
anos. anuais, sobre as substâncias químicas,
riscos controle e
dependendo o controle da saúde dos
ambientais avaliação de sua
da ação. trabalhadores, a investigação
potenciais ou eficácia;
de acidentes, as inspeções de
existentes por monitoramento da
segurança e o controle de
agentes exposição aos
registros.
físicos, riscos e; registro e
químicos e divulgação dos
biológicos. dados.
Fonte: Adaptado pelo autor (PINTO FILHO; PETTA, 2016).

Os planos e programas de controle ambientais elencados possuem a finalidade de mitigar,


monitorar, controlar, compensar ou restaurar danos ambientais, podendo ainda, potencializar os
benefícios ou impactos positivos de determinadas ações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades, processos e produtos desenvolvidos na mina Brejuí (Currais Novos -RN)


podem gerar efeitos adversos nos compartimentos ambientais. O desmatamento, degradação do
solo, contaminação dos corpos hídricos superficiais e subterrâneos, erosão, assoreamento,
lançamentos de efluentes industriais não tratados, emissões atmosféricas e manejo inadequado de
estéreis estão deteriorando o ecossistema local, portanto, é imprescindível que as atividades
desenvolvidas pela mina Brejuí e por outros grupos de mineração da região, sejam gerenciadas a
fim de seus efeitos adversos serem controlados, minimizados, mitigados, atenuados, ou até mesmo
compensados, garantindo dessa forma, o desenvolvimento sustentável na região.
Por meio desse trabalho, poderão ser realizados outras pesquisas que investiguem mais a
fundo os impactos ambientais adversos causados pela atividade mineradora, assim como, analisar
novas medidas de controle ambiental para cada processo, produto e serviço, a fim de garantir
melhoria contínua na cadeia produtiva da scheelita.
Por consequência, a proposta para os planos, programas e projetos poderão ser utilizadas
como subsídios para futuras pesquisas acadêmicas, propiciando embasamento para novas

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1186


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

investigações, assim como servindo de ferramenta para busca de novas tecnologias, técnicas e
conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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estratégica do conjunto de ações integrantes do plano de desenvolvimento integrado do turismo
sustentável pdits, dos polos turísticos costa das dunas, costa branca e seridó. Ministério do
turismo, vol.2. jun. 2011.

BACCII, D. De La C.; LANDIM, P. M. B.; ESTON, S. M. De. Aspectos e impactos ambientais de


pedreira em área urbana. Revista escola de minas, Ouro preto, v.59, n.1, p.111-222, 2006.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução n. 420, de 28 de


dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental das
áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Publicado no
DOU nº 249, de 30/12/2009, p.81-84.

FERNANDES, B. R. B. Aproveitamento dos finos de Scheelita utilizando concentração centrífuga


e lixiviação ácida. 2011. 75 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco.
Recife. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mineral. 8 de set. 2011.

GERAB, A. T. F. S. C. Utilização do resíduo grosso do beneficiamento da scheelita em aplicação


rodoviária. 2014. 106 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Natal. Maio de 2014.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo Demográfico 2000 – Características


Gerais da População. Resultados da Amostra. IBGE, 2003. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/ populacao/cnso2000/default_populacao.shtm. Acesso
em 15 de abril de 2017.

IBGE. Infográficos: dados gerais do município, currais novos. Disponível em:


<http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?codmun=240310>. Acesso em: 14 abr. 2017.

LEITE, J. Y. P.; ARAUJO, F. S. D.; SANTOS, E. P. Análise das plantas de concentração de


scheelita no estado do RN. II Jornada Nacional da Produção Científica em Educação Profissional
e Tecnológica, São Lúis – MA, p1-6. 2007.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1187


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MINERAÇÃO TOMAZ SALUSTINO. Meio Ambiente. Disponível em:


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NASCIMENTO, A. R. V. J. Atributos físicos e químicos de áreas degradadas pela mineração de


scheelita na região tropical semiárida. 2015. 79 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Natal. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental.

OLIVEIRA, A. V. L. C. De; CESTARO, L. A. Caracterização do meio físico para subsidiar um


zoneamento geoambiental do município de Currais Novos – RN - Brasil. Revista geonorte,
Manaus, v.3, n.4, p.1419-1432, 2012.

PETTA, R. A.; SINDERN S.; SOUZA, F. R.; CAMPOS, F. C. T. Influence of mining activity on
the downstream sediments of scheelite mines in currais novos (NE Brazil). Environ. earth sci,
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PINTO FILHO, J. L. O.; PETTA, R. A. Propostas de diretrizes de gestão ambiental para o campo
petrolífero Canto do Amaro, RN, Brasil. Revista estudo & debate, Lajedo, v.23, n.2, p.245-264,
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SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental: teoria e prática. São Paulo: Editora Oficina de Textos,
2004.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1188


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Movimentos Sociais, Legislação


e Direito Ambiental

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1189


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MOVIMENTOS SOCIAIS, ESTADO E CAPITALISMO NO TENSIONAMENTO DA


QUESTÃO AMBIENTAL

David Yuri Souto AYRES


Graduando do Curso de Serviço Social da UFPE
david.yuri@gmail.com
Erica Paula Elias Vidal de NEGREIROS
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia da UFPE84
evidaldenegreiros@yahoo.com.br
Maria das Graças e SILVA
Professora Associada I do Curso de Serviço Social da UFPE85
gracita.pe@gmail.com

Edgar Gonçalves dos SANTOS


Graduando do Curso de Serviço Social da UFPE
santos.aprendiz@gmail.com

RESUMO
No capitalismo contemporâneo, o meio ambiente encontra-se no centro das disputas e das
contradições inerentes ao sistema, servindo como base material e meio de trabalho essenciais para o
seu desenvolvimento e consolidação como sistema universal de produção de riquezas. Este artigo
tem por objetivo refletir sobre a importância dos movimentos socioambientais, no caso específico, o
Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, na cidade de Recife/PE, como parte dos
tensionamentos à reprodução da questão ambiental no capitalismo monopolista. Este sistema
explora de maneira desenfreada os recursos naturais, apropriando-se da riqueza natural e
explorando a força de trabalho na busca de lucros exorbitantes, cada vez mais concentrados nas
mãos da burguesia. Para a sistematização das reflexões aqui apresentadas foram utilizadas pesquisa
bibliográfica, baseada em autores que tratam da temática, bem como análise documental, a partir de
leis, documentos e publicações que versam sobre o tema central do estudo. Foram encontradas
diversas literaturas, proporcionando um debate sobre a apropriação privada de bens públicos
naturais por uma pequena parcela da sociedade, bem como expressões da questão ambiental e seus
impactos sobre a vida da classe trabalhadora. Conclui-se, que a acumulação privada não considera a
finitude dos recursos naturais e que o Estado burguês impulsiona o desenvolvimento capitalista
predatório. Como resistência a esse processo, emergem os movimentos socioambientais
emancipatórios, que insurgem contra as práticas destrutivas, lutando para que sejam preservados os
recursos naturais e a vida dos que destes dependem para sobreviver.
Palavras Chave: Movimentos Sociais, Questão Ambiental, Estado, Capitalismo.
RESUMEN
En el capitalismo contemporáneo, el medio ambiente se encuentra en el centro de las disputas y de
las contradicciones inherentes al sistema, sirviendo como base material y medio de trabajo
esenciales para su desarrollo y consolidación como sistema universal de producción de riquezas.
Este artículo tiene por objetivo reflexionar sobre la importancia de los movimientos
socioambientales, en el caso específico, el Movimiento en Defensa da Mata do Engenho Uchôa, en

84
Assistente Social.
85
Assistente Social e Doutora em Serviço Social.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1190


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

la ciudad de Recife / PE, como parte de las tensiones a la reproducción de la cuestión ambiental en
el capitalismo monopolista. Este sistema explora de manera desenfrenada los recursos naturales,
apropiándose de la riqueza natural y explorando la fuerza de trabajo en la búsqueda de ganancias
exorbitantes, cada vez más concentradas en las manos de la burguesía. Para la sistematización de las
reflexiones aquí presentadas se utilizó investigación bibliográfica, basada en autores que tratan de la
temática, así como análisis documental, a partir de leyes, documentos y publicaciones que versan
sobre el tema central del estudio. Se encontraron diversas literaturas, proporcionando un debate
sobre la apropiación privada de bienes públicos naturales por una pequeña parte de la sociedad, así
como expresiones de la cuestión ambiental y sus impactos sobre la vida de la clase trabajadora. Se
concluye que la acumulación privada no considera la finitud de los recursos naturales y que el
Estado burgués impulsa el desarrollo capitalista predatorio. Como resistencia a este proceso,
emergen los movimientos socioambientales con carácter de emancipación social, que se mueven
contra las prácticas destructivas, luchando para que se protejan los recursos naturales y la vida de
los que de éstos dependen para sobrevivir.
Palabras Clave: Movimientos sociales, cuestión ambiental, Estado, Capitalismo.

INTRODUÇÃO
O Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, na cidade de Recife/PE, resiste há
mais de 30 anos para que uma área de resquícios de Mata Atlântica, mangue e restinga, seja
preservada, tornando-se um movimento de relevância social, por defender um ecossistema que vem
sendo explorado largamente pelos interesses capitalistas, ora por ser desmatado para construir
luxuosos empreendimentos, ou mesmo para a produção agrícola. Enfatiza-se também, que a
preservação de importantes áreas verdes como esta, se faz necessário na medida em que
proporciona uma melhor qualidade de vida para a população, através da melhoria da qualidade do
ar, da água e do ambiente nos bairros circunvizinhos que é, em sua grande maioria, conformado
pela classe trabalhadora.
A problemática trabalhada se refere ao tensionamento da questão ambiental, gerada no seio
do capitalismo mundializado, no qual a disputa de classes pelo meio ambiente natural ou construído
continua sendo um dos traços essenciais do processo de acumulação. Nestes termos, o movimento
em defesa da Mata do Engenho Uchoa resiste numa área urbana, lutando pela preservação de uma
área verde adjacente, produzindo diversas reflexões sobre o tema. Com isso, pretende-se incentivar
o pensamento crítico acerca da problemática ambiental, evidenciando como o modelo capitalista de
produção, explora e destrói o meio ambiente e, posteriormente, culpabiliza o indivíduo pela
degradação ambiental criada pela sua dinâmica.
Conclui-se que os conflitos entre os movimentos sociais e o Estado capitalista são parte da
dinâmica contraditória da reprodução do capital, na medida em que se evidencia que o ambiente
natural está sendo cada vez mais explorado e destruído pelas iniciativas do capital em busca de
lucratividade. Por sua vez, os ambientes modificados pelo homem, ainda que ocorram mediante o
argumento do desenvolvimento econômico e social, na verdade não abrangem a classe trabalhadora

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1191


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

de baixa renda que sofre com o déficit habitacional, ausência de saneamento básico e uma precária
condição de vida, como parte de uma profunda crise urbana.

IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS AMBIENTAIS PARA A PRESERVAÇÃO DO


MEIO AMBIENTE.

O Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa, vem lutando há mais de 30 anos para
a preservação de uma área verde, localizada num eixo estratégico que dá acesso a 8 (oito) bairros do
Recife/PE, os quais se caracterizam, em sua maioria, como bairros populares. A Área de Proteção
Ambiental (APA) Engenho Uchôa possui uma área de aproximadamente 192 hectares de área
verde, situada na Região Político Administrativa (RPA) 6, no bairro do Ibura. Ela é composta por
colinas, tabuleiros, terraços, planícies aluviais e baixios de maré, ficando localizada na bacia
hidrográfica do rio Tejipió e sendo cortada pelo rio Moxotó. Dessa maneira, o rio Tejipió define o
limite Norte, enquanto o Moxotó, o Sul. Nessa área encontram-se também, riachos, olhos d‘aguas e
áreas alagadas que dão uma diversidade abundante para a área, a qual tem características de
mangues, rios e mata atlântica, contendo uma enorme variedade de Aves. (SECRETARIA DE
MEIO AMBIENTE, 2010).
Na Figura I, podem-se observar os bairros circunvizinhos que são afetados
direta/indiretamente pela mata:

Figura 1 - Mapa dos arredores da APA do Engenho Uchôa


Fonte: Secretaria de Meio Ambiente: proposta de recategorização da APA, 2010.

Evidencia-se, assim, que a luta do movimento para a preservação desta área natural, dotada
de uma rica biodiversidade, implica a defesa da qualidade de vida, do ar e do meio ambiente
daquela região, para que a mesma não seja afetada pela intervenção humana. Outra questão que
influencia na resistência desse movimento, é o fato da situação fundiária dessa localidade ser de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

propriedade privada e pública. Esta, se divide em 4 glebas de antigos proprietários que não utilizam
a área atualmente, sendo de responsabilidade pública apenas uma pequena parcela equivalente ao
manguezal, dificultando a proteção ambiental dessa área por parte do governo. (SECRETARIA DE
MEIO AMBIENTE, 2010.)
A história do Movimento se inicia a partir da década de 1979, quando denúncias ambientais
começam a evidenciar que um dos proprietários estava desmatando parte da área. Dessa forma,
iniciou-se como Grupo de Amigos em Defesa da Mata Uchôa, integrado por moradores das
redondezas que se preocupavam com a questão ambiental daquela região, e se uniram em favor de
um interesse comum: a preservação da Mata. Em meados de 1980, o grupo ganha força e se
transforma em Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa. No seu histórico, desde seu
início até o momento atual, o movimento já resistiu à: criação de um condomínio de luxo; criação
de um loteamento popular, o que produziu certa tensão entre os moradores da região, favoráveis à
construção de casas populares e o Movimento que defendia a preservação daquele ecossistema; e
por último, resistiu à criação de um Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTR) – proposta de
João da Costa - que impactaria de forma bastante agressiva não só para a mata, mas os entornos do
CTR, atingindo milhares de famílias com danos irreversíveis para sua saúde e bem estar. Dessa
forma, o Movimento identificou que a melhor opção para a preservação da Mata do Engenho Uchoa
seria a criação de um Parque Ecológico. (PERNAMBUCO, 2013, p. 26)
Em meados de 1980, foi apresentada uma proposta de criação de reserva florestal,
institucionalizando 20 hectares como Reserva Ecológica do Estado. Já em 1994, houve diversos
incêndios criminosos e constantes ameaças de degradação ambiental, na tentativa de tensionar a
resistência e os moradores da área, de forma que a área fosse liberada para venda. Contudo, o
movimento resistiu, pressionando para que o poder público tomasse medidas protetivas mais
eficazes. E foi assim que a Prefeitura do Recife decreta o Regime Temporário de Controle do Uso e
Ocupação do Solo86, ficando a cargo do Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM) a tarefa
de realizar estudos sobre a situação ecológica e fundiária do Engenho Uchôa, como também de
analisar a proposta do Parque Ecológico idealizada pela Associação Pernambucana de Proteção à
Natureza (ASPAN). (Ibid., 2010, p. 14)
Desse modo, fez- se necessária a mobilização de novos militantes, que somaram na luta
coletiva, representando o interesse da população em preservar um ecossistema natural de grande
relevância, como é o caso da mata atlântica. Na medida em que o mesmo possibilita uma maior

86
A Lei nº 16.176/96 de Ocupação e Uso do Solo do Recife/PE criou a Unidade de Conservação Municipal Engenho
Uchôa, no qual em seu Art. 20 define a ―Zona Especial de Proteção Ambiental 2 - ZEPA 2, constituída por áreas
públicas ou privadas com características excepcionais de matas, mangues, açudes e cursos d`água‖ (RECIFE, 1996),
regulamentada no mesmo ano pelo Decreto Municipal nº 17.548/1996 como Área de Proteção Ambiental, garantindo
institucionalmente a preservação dessa área.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

beleza local, uma região com maior qualidade de vida, inclusive servindo como espaço para
pesquisas científicas, além de ambiente propício para atividades de educação ambiental e turísticas.
Nos termos acima evidenciados configura-se um conflito socioambiental, os conflitos
socioambientais são propulsores para a garantia da preservação do meio ambiente e do acesso da
classe trabalhadora a esses espaços de interesse coletivo, em contraposição à sua apropriação
privada.
Segundo Scotto e Limoncic (1997, p. 19, apud, COSTA 2009, p. 45),

O estudo dos conflitos, nesse sentido, procura ―captar o conteúdo específico das disputas
que têm os elementos da natureza como objeto e que expressam relações de tensão entre
interesses coletivos/espaços públicos versus interesses privados/tentativas de apropriação
de espaços públicos‖. (COSTA, L. 2009, p. 45)

Observa-se a importância de movimentos socioambientais, partindo do pressuposto de que o


equilíbrio ambiental traz benefícios para a população, sendo um universo transversal a todas as
esferas da vida. O meio ambiente equilibrado proporciona melhorias na qualidade de vida, seja na
saúde, no lazer, na pesquisa científica, para essa e futuras gerações, garantindo a reprodução da
vida, visto que todos fazem parte da natureza, não sendo nenhuma espécie superior ou apartada
dela, como bem explica Marx:

A natureza é o corpo inorgânico do homem, ou seja, a natureza na medida em que não é o


próprio corpo humano. O homem vive da natureza, ou também a natureza é seu corpo, com
a qual tem de manter-se em permanente intercambio para não morrer. Afirmar que a vida
física e espiritual do homem e a natureza são interdependentes significa apenas que a
natureza se inter-relaciona consigo mesma, já que o homem é uma parte da natureza
(MARX apud SILVA, 2010, p. 54).

Também é notável que o interesse pela área ambiental venha crescendo dentre os principais
temas, como afirma Maria das Graças e Silva,

A problemática ambiental vem ocupando um espaço crescente na agenda dos mais diversos
segmentos da sociedade contemporânea. Embora sua emergência esteja inscrita nos anos 60
do século passado, a ênfase que adquire no tempo presente não deixa dúvidas: em razão do
apelo ético que porta – tendo em vista que remete às condições e às possibilidades de
reprodução da vida – o debate ambiental abarca das instituições de ensino às diversas
instancias do Estado, das entidades empresariais às representações sindicais de
trabalhadores, além de ONGs, movimentos sociais e ambientalistas, dentre outros.
(SILVA, M. G. 2013, p. 19)

Os conflitos socioambientais se dão no âmbito das relações humanas/natureza abarcando: a


classe trabalhadora, que demanda necessidades específicas em relação do acesso ao meio ambiente
construído ou natural, privada em sua maioria de ambientes saudáveis e equilibrados. Compõem
esse universo também os movimentos socioambientais, que contribuem para a garantia de
legislações que defendam o meio ambiente, que irão mediar os conflitos socioambientais na luta
pela defesa dos interesses de classe; o Estado burguês, que atende primariamente aos interesses

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

capitalistas, porém através da ação dos movimentos se vê obrigado a executar processos educativos
voltados para o meio ambiente, dentre outros.

CAPITALISMO E A APROPRIAÇÃO PRIVADA DOS MEIOS NATURAIS

Diante do exposto, é importante salientar que na sociedade capitalista existem diversos


conflitos. Os conflitos socioambientais, aqui referidos, giram em torno da especulação imobiliária,
da busca do capital por se apropriar dos recursos naturais para gerir grandes negócios, seja na
construção de luxuosos residenciais, prédios empresariais ou qualquer outro grande
empreendimento que traga lucros. Por outro lado, têm-se a maioria da população, que vive nas
periferias das cidades, sem acesso à habitação, às áreas verdes – estas que proporcionam maior
qualidade de vida – a saneamento básico, entre outros. No mais, vivem sem condições dignas de
moradia e de vida.
O Brasil é um exemplo claro disso, pois sua formação urbana decorreu da prática de
autoconstrução de moradias ilegais, pelos trabalhadores ou pela população mais pobre, sem
ordenamento por parte dos governos, criando periferias ao redor dos grandes centros urbanos, nos
quais encontravam empregos e meios de subsistência para sua família. (MARICATO, 2015, p. 26)
Para assegurar as condições mínimas de sua reprodução, os segmentos mais pobres da
população se lançam nas lutas sociais, tensionando o Estado burguês para que este garanta a
execução das políticas públicas, mecanismo que instrumentaliza e possibilita a conquista dos
movimentos sociais em defesa dos direitos sociais. Porém, as empresas capitalistas, detêm
instrumentos que emanam poder atuando fortemente junto aos poderes executivos e legislativos,
visando manipular as políticas públicas em favor de seus interesses.
Além do mais, sabe-se que o território da cidade é um campo de interesses, pois dependendo
da localidade as propriedades podem ser mais ou menos valorizadas. Como afirma Maricato (Ibid.
2015, p. 23),

A renda fundiária ou imobiliária aparenta ser uma riqueza que flutua no espaço e aterrissa
em determinadas propriedades, graças a atributos que podem estar até mesmo fora delas,
como por exemplo um novo investimento público ou privado feito nas proximidades.

Sendo assim, podemos vislumbrar o real interesse das instituições privadas em intervir numa
área tão rica no aspecto ambiental, transformando o acesso aos recursos naturais em objeto de luxo
restrito àqueles que detêm os meios de produção e exploram tanto a natureza como a força de
trabalho, desde a gênese do capitalismo.
No caso da Mata do Engenho Uchôa, a sua possível incorporação por alguma iniciativa
privada, os empreendimentos nela operados visará benefícios para a elite historicamente dominante.
Vivemos num país de capitalismo periférico e nele se opera uma desigualdade social estrutural, com

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

suas bases fincadas desde o período da colonização portuguesa, rebatendo até os dias atuais, nos
quais o direito à cidade, à saúde, à educação dentre outros é destinado àqueles que têm maior poder
aquisitivo, seguindo uma lógica contrária aos interesses e necessidades da maioria da população.
É imprescindível ressaltar que os movimentos sociais, se tornam um poderoso instrumento
da população na conquista de direitos sociais, pressionando o Estado burguês em contraposição aos
interesses capitalistas. E é por meio desse instrumento, materializado no Movimento em Defesa da
Mata do Engenho Uchôa, que os moradores mais antigos utilizam para resistir diante das investidas
do capital. Sendo assim, é necessário ressaltar a importância de um Movimento Ambiental para essa
e futuras gerações, levando em conta que o Brasil é um país que vive na periferia do capitalismo
mundializado, sofrendo mais intensamente as expressões da apropriação privada dos meios naturais.
Como ressalta Bosquet (1976, p. 134 apud LOUREIRO, 2012, p. 72),

Com 13% da população mundial, os países capitalistas industrializados consomem 87% dos
recursos energéticos. Apropriam-se da metade da pesca mundial, não deixando ao terceiro
mundo mais do que a quinta parte. Eles utilizam, para se alimentar, de 20% das superfícies
agrícolas do globo além das suas próprias [...] mas os 500 milhões da Europa Ocidental e
da América do Norte causam hoje ao meio ambiente tantos estragos como o fariam (se
existissem) dez bilhões de indianos.

A partir dessa reflexão, podemos inferir que às atividades predatórias do capital na atual fase
de desenvolvimento histórico, vêm se contrapondo um conjunto de ações impulsionadas por
movimentos socioambientais que buscam se colocar em defesa dos interesses coletivos, para que o
meio ambiente não seja expropriado e subtraído por interesses privados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se com as reflexões aqui apresentadas oferecer uma reflexão acerca das
problemáticas ambientais, localizando-as na relação de exploração da natureza pelo capital, este que
busca acumular riquezas às custas dos bens naturais, pertencentes a todos os seres vivos, mas que
estão subjugados a um sistema que beneficia o capital em detrimento da vida.
Este processo vem sendo tensionado pelos movimentos socioambientais – a exemplo do
Movimento em Defesa da Mata do Engenho Uchôa - para que as atuais e futuras gerações
usufruam de um planeta equilibrado ambientalmente, que proporcione qualidade de vida a todos,
não só a uma pequena parcela elitista da sociedade, que detém o acumulo de riqueza extraída da
super exploração do meio ambiente e da força de trabalho da classe trabalhadora, esta que
historicamente tem sido expropriada da riqueza social e coletivamente construída.
Neste sentido destaque-se a importância das lutas sociais como um meio eficaz de se
reivindicar as demandas de classe, visando uma população mais consciente dos impactos ambientais
gerados pela destruição do ambiente natural, possibilitando desmistificar o processo de apropriação
da riqueza produzida, coletivamente, pelas mãos de poucos, especialmente nos países periféricos. E

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

como já foi aqui ressaltado, só por meio das lutas socioambientais e emancipatórias, materializadas
nos movimentos sociais, torna-se possível enfrentar a degradação ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, L. Educação ambiental, gestão pública, movimentos sociais e formação humana: uma
abordagem emancipatória. Org. LOUREIRO, C. F. B. – São Carlos: RiMa Editora, 2009. 175 p.
il.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetórias e fundamentos da educação ambiental – 4. Ed. – São Paulo:


Cortez, 2012.

MARICATO, Erminia. Para entender a crise urbana. 1.ed. – São Paulo : Expressão Popular, 2015.
112 p. :il.

PERNAMBUCO. Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Plano de Manejo do Refúgio de


Vida Silvestre Mata do Engenho Uchôa /Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade,
Agência Estadual de Meio Ambiente; texto Giannina Cysneiros Bezerra; equipe técnica Ana
Cláudia Sacramento ... [et al.]. – Recife: A Secretaria, 2013. 90p.: il.

RECIFE. Lei n. 16.176, de 13 de setembro de 1996. Estabelece a lei de uso e ocupação do solo da
cidade do Recife. Recife, 13 de setembro de 1996. Disponível em: <
https://leismunicipais.com.br/a/pe/r/recife/lei-ordinaria/1996/1617/16176/lei-ordinaria-n-16176-
1996-estabelece-a-lei-de-uso-e-ocupacao-do-solo-da-cidade-do-recife>. Acesso em: jun. 2017.

RECIFE. SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE. Proposta preliminar de zoneamento e


intervenções para o parque natural municipal mata do engenho uchôa: Proposta de
Recategorização da Área de Proteção Ambiental (APA). Org. BRAGA, A. C.; SOUTO, E. A.;
LEITE, J. Prefeitura do Recife. Recife, 2010.

SILVA, Maria das Graças. Educação ambiental e Serviço Social: o PEAC e o licenciamento na
gestão pública do meio ambiente. Org. ARAUJO, N. M. S. A.; SANTOS, J. S.; SILVA, M. G. –
2. ed. rev. ampl.. – São Cristovão: Editora UFS, 2013.

SILVA, Maria das Graças e. Questão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: um desafio ético-
político ao Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2010.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EXPOSIÇÃO DE TARTARUGA MARINHA VÍTIMA DE INTERAÇÃO COM LIXO E


PESCA COMO FERRAMENTA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RELATO DE CASOS
DA ONG ECOASSOCIADOS, PERNAMBUCO – BRASIL

Felipe Andrade SOUSA


Graduando do curso de Ciências Biológicas da UFPE
felipe_10as@hotmail.com
Gerlaine Amara da SILVA
Bióloga ONG Ecoassociados
Gerlaine.ecoassociados@gmail.com

RESUMO
A Educação Ambiental, seja ela formal ou informal, é uma das principais ferramentas utilizadas
para criar uma conscientização ambiental na sociedade acerca dos problemas de origem antrópica
que atingem o meio natural causando o declínio de populações de espécies marinhas. As tartarugas
são um grupo extremamente afetado pelas interações antrópicas como a pesca e a poluição, sendo
esses fatores os principais responsáveis pela diminuição da população desses animais. A
Ecoassociados é uma ONG que atua no monitoramento e reabilitação de tartarugas marinhas que
desovam no litoral do Ipojuca, em Pernambuco, além de promover educação ambiental a escolas,
turistas e moradores locais. Esse estudo objetivou relatar a utilização da exposição de tartaruga
marinha vítima de interação com lixo e pesca como ferramenta de educação ambiental no Museu
das Tartarugas Marinhas. O estudo foi realizado nos meses de julho e agosto de 2017 e foram
utilizados dados de encalhes do arquivo da ONG no período entre setembro de 2015 a agosto de
2017. No museu, encontra-se em exposição um exemplar de Chelonia mydas vítima da ingestão de
lixo e a simulação de uma tartaruga interagindo com rede de pesca. As ações educativas foram
realizadas e fotografadas. Da análise dos dados do arquivo foram registradas 9 tartarugas, sendo que
33,33% interagiram com resíduos sólidos, 44,44% interagiram com a pesca e 22,22% interagiram
com as duas ameaças, isso provavelmente resultou na morte de 66,66% dos animais. 44,44% dos
animais foram considerados filhotes, e 55,55% juvenis. Do total de encalhes, 33,33% foram
liberados após tratamentos. A exposição promove uma participação efetiva dos visitantes,
provocando inclusive discussões acerca do tema. O contato direto das pessoas com espécies
ameaçadas de extinção é capaz de levar a uma maior sensibilização, sendo a educação ambiental,
portanto, uma ferramenta fundamental para que esse objetivo seja atingido de maneira mais eficaz.
Palavras Chave: Tartarugas Marinhas, Resíduos sólidos, Pesca, Educação Ambiental.
ABSTRACT
Environmental education, whether formal or informal, is one of the main tools to create an
environmental awareness in society about the problems of anthropogenic origin that produce the
natural environment causing the decline of populations of marine species. Turtles are a group that is
extremely affected by anthropogenic interactions such as fishing and pollution, and these are the
main factors responsible for the decrease in the population of the animals. Ecoassociados is an NGO
that acts in the monitoring and rehabilitation of sea turtles that spawn on the coast of the Ipojuca
city, in Pernambuco, besides promoting environmental education. This study aimed to report the
exposure of marine turtle victims of interaction with marine debris and fishing as an environmental
education tool in the Museum of Marine Turtles. The study was conducted in the months of July
and August 2017 and provides stranded data from the NGO archive between September 2015 and
August 2017. At the museum is on display an individual of Chelonia mydas victim of garbage

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ingestion and the simulation of a turtle interacting with fishing net. The educational actions were
made and photographed. From the data analysis, 9 turtles were recorded, with 33.33% interacting
with marine debris, 44.44% interacted with a fishery and 22.22% interacted as two threats, resulting
in the death of 66.66% of the animals. 44.44% of the animals were pups and 55.55% juveniles.
Total strandings, 33.33% were released after treatments. The exhibition promotes an effective
participation of the visitors, provoking even discussions on the theme. The direct contact of people
with threatened species of extinction is able to lead to a greater awareness, being an environmental
education, therefore, a fundamental tool for this objective to be executed in a more effective way.
Keywords: Sea Turtles, Marine Debris, Fishing, Environmental Education.

INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental pode ser entendida como uma ferramenta utilizada para conhecer o
meio ambiente e suas relações ecológicas, bem como para promover percepções acerca do uso dos
recursos naturais pelo ser humano de forma sustentável e a sensibilização ambiental. Essa prática,
seja ela formal ou informal, se tornou uma necessidade a partir do momento em que a humanidade
começou a sentir os efeitos da degradação ambiental (Dias et al., 2016).
Como um processo de aprendizagem contínua, a Educação Ambiental se expressa das mais
diversas formas e lugares como áreas públicas, empresas privadas, unidades de conservação,
atividades culturais, todas as formas que respeita o que se encontra na lei nº 9.795 de 1999 que
institui a Política Nacional de Educação Ambiental, onde dispõe em seu artigo 13 sobre EA não
formal deixando o poder público, nas três esferas de governo, responsável por incentivar a
participação da escola, da universidade e de organizações não governamentais na elaboração e
execução de atividades de EA não formais voltadas para sensibilização da coletividade sobre as
questões ambientais e a sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Neste contexto, lugares como um museu tem um diferencial importante para práticas
educativas, onde proporcionam uma maior liberdade de aprendizagem comparada com outros
espaços educacionais, segundo Leff (2003) exposições fixas ou itinerantes podem, dentro de um
espaço que abriga o conhecimento científico, apresentar conteúdos que envolvam outras formas de
conhecimento e suas estratégias de apropriação da natureza.
As atividades humanas estão diretamente ligadas às causas dos declínios de populações de
espécies nos ambientes marinhos e terrestres. Os impactos diretos são principalmente a destruição e
exploração de habitats, embora a poluição, a introdução de espécies exóticas e a disseminação de
doenças também sejam impactos significativos (Hero; Ridgwa, 2006).
No Brasil, os encalhes de tartarugas marinhas mortas ou vivas ocorrem das regiões nordeste
a sul do país, por vários motivos, como a pesca incidental, as grandes embarcações e a poluição na
zona costeira (Silva et al. 2012; Poli et al. 2014).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As tartarugas marinhas são consideradas como um fator-chave na base de muitos


ecossistemas marinhos e encontram-se atualmente em processos de extinção. Processos educativos
baseados no respeito e na melhoria da autoestima incentivam as comunidades locais a participarem
de programas e projetos de conservação e preservação (Monteiro et al. 2005).
No Brasil, existem cinco espécies de tartarugas marinhas: tartaruga verde, Chelonia mydas
(Linnaeus, 1758); tartaruga cabeçuda, Caretta caretta (Linnaeus, 1758); tartaruga de pente,
Eretmochelys imbricata (Linnaeus, 1766); tartaruga oliva, Lepidochelys olivacea (Eschscholtz,
1829) e tartaruga de couro, Dermochelys coriacea (Linnaeus, 1766).
No litoral do Ipojuca, em Pernambuco, ocorrem nidificação de quatro espécies, sendo a
Dermochelys coriacea a única sem registros reprodutivos para a região e se encontram na lista de
espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN,
2017), fazendo-se necessário, portanto, o uso da educação ambiental para a sensibilização da
sociedade a respeito da conservação das tartarugas marinhas.

AS TARTARUGAS MARINHAS E AS INTERAÇÕES COM A PESCA E O LIXO

A captura incidental na pesca é considerada a principal ameaça de influência antrópica as


tartarugas marinhas (Oravetz, 1999; ICMBio, 2016). As redes de arrasto de crustáceos e peixes são
responsáveis pelo maior índice de mortalidade de animais, enquanto as outras interações como o
emalhamento em restos de redes descartados, a pesca de espinhel pelágica e de profundidade e os
demais tipos de pesca, são consideradas a segunda maior fonte de mortalidade (NRC, 1990;
Oravetz, 1999).
As tartarugas marinhas são animais pulmonados e precisam subir até a superfície para que as
trocas gasosas sejam devidamente realizadas. A submersão forçada, causada pela interação com a
pesca (figura 1- A), ocasiona um maior consumo de energia pelo animal que diminui rapidamente o
seu estoque de oxigênio e promove uma série de mudanças no organismo que podem ser cruciais,
levando o animal à exaustão e a uma possível morte (NRC, 1990).
A segunda maior ameaça às tartarugas marinhas é a degradação do hábitat causada pelos
diversos tipos de poluição (ICMBio, 2016) como os resíduos. Entende-se que resíduos sólidos são
todos os materiais sólidos de origem antrópica encontrados no ambiente como: plástico, papel,
metal, vidro, espuma, isopor, borracha, entre outros (UNEP/IOC/FA0, 1991). Na literatura, os
resíduos sólidos são classificados como sendo os poluentes mais abundantes e danosos aos animais
marinhos (Carr, 1987; Laist, 1987; Ivar do Sul, 2007).
O principal resíduo consumido pelas tartarugas é o plástico (figura 1- B), seguido de artigos
relacionados à pesca (Ivar do Sul, 2007; Tourinho, 2010). Tartarugas marinhas geralmente não
conseguem distinguir suas presas dos resíduos antrópicos presentes nos oceanos e podem confundir

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

facilmente uma água-viva com uma sacola plástica, por exemplo. Os detritos ingeridos podem
bloquear o trato digestivo ou podem ser acumulados no estômago, fazendo com que o espaço para o
fluxo de alimentos seja diminuído (Laist, 1987) e, a depender da quantidade do detrito que é
consumido, o animal pode vir a óbito.

Figura 1. A: tartaruga marinha em rede de pesca e B: tartaruga marinha em interação com resíduo sólido.

ONG ECOASSOCIADOS E A CONSERVAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS

A Ecoassociados é uma organização associativa, pública de direito privado, sem fins


lucrativos, que atua na conservação de tartarugas marinhas que nidificam no litoral do município de
Ipojuca, em Pernambuco, Brasil. A ONG foi fundada em 2003, tem sua sede em Porto de Galinhas
e realiza atividades de monitoramento reprodutivo e não reprodutivo, reabilitação, gestão e
educação ambiental. No processo de reabilitação, a instituição já lidou com vários casos de
tartarugas marinhas debilitadas, tanto de ocorrências locais quanto de outras procedências. Em sua
maioria, trata-se de animais que ingeriram lixo plástico, sofreram ferimentos ou traumas decorrentes
de interação com artefatos de pesca ou mesmo agressões físicas. (Correia et al., 2016).
Quando ocorre sucesso no processo, os animais são liberados no mar e em caso de óbito,
passam por necropsia e a carcaça é utilizada para fins educativos, assim como os resíduos sólidos
encontrados no trato digestivo.
A educação ambiental tem sido promovida de forma contínua junto aos diversos atores
envolvidos na região como os pescadores e hoteleiros bem como com a prefeitura do município.
Além disso, a instituição abriga o Museu das Tartarugas Marinhas, localizado na sede do projeto,
que visa atingir comunidade local, escolas e turistas de todas as partes do mundo, com visitas
guiadas por monitores e ainda promove palestras, oficinas e minicursos. Na praia é feito o
nascimento de filhotes de tartaruga em público, promovendo um momento de ação pedagógica de
educação ambiental.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Sendo assim, o estudo teve como objetivo relatar a utilização da exposição de tartaruga
marinha vítima de interação com lixo e pesca como ferramenta de educação ambiental no museu da
tartaruga marinha da ONG Ecoassociados, Pernambuco – Brasil.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada nos meses de julho e agosto de 2017 no Museu das Tartarugas
Marinhas localizado em Porto de Galinhas, litoral sul de Pernambuco e foram utilizados os dados de
encalhes do arquivo da Ecoassociados do período de setembro de 2015 a agosto de 2017.
Os dados dos encalhes foram organizados por data, local do encalhe, espécie, idade e destino
final.
Foi exposta uma tartaruga vítima de ingestão de lixo, fixada em álcool e uma simulação de
interação com rede de pesca no Museu das Tartarugas Marinhas e foram realizadas ações educativas
para os visitantes.
As ações educativas foram registradas através de fotografias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da análise dos dados de arquivos, foram registrados durante o período, nove encalhes de
tartarugas marinhas, sendo cinco da espécie Chelonia mydas, três Lepidochelys olivacea e uma
Eretmochelys imbricata. Todas interagiram de alguma forma com os resíduos sólidos (33,33%) ou
com a pesca (44,44%), ou, ainda com os dois casos (22,22%) o que provavelmente resultou na
morte de 66, 66 % dos animais (Tabela I).
Entre as espécies registradas, Chelonia mydas foi a que mais interagiu com as ações
antrópicas (55,55%). Awabdi et al. (2013) sugerem que a ingestão de resíduos como o plástico e o
nylon pode ser favorecido pelo hábito alimentar e pelo modo como esses animais capturam o
alimento. C. mydas é preferencialmente herbívora e seus locais de forrageio estão associados a áreas
mais costeiras (BJORDNAL, 1997). Bugoni (2001) e Awabdi et al. (2013) relataram um número
elevado dessa espécie interagindo com resíduos sólidos nos estados do Rio Grande do Sul e do Rio
de Janeiro, respectivamente.
Em relação ao estágio de desenvolvimento foram classificados como sendo filhotes
(44,44%) e juvenis (55,55%). As tartarugas possuem hábito majoritariamente pelágico até a fase
adulta (Musick, 1997) o que pode corroborar para uma maior susceptibilidade tanto a ataques de
presas como a interações com a pesca e com a ingestão de lixo antrópico. Bjorndal et al. (1994)
testaram a hipótese de que tartarugas da costa da Flórida com um tamanho menor, ainda de hábitos
pelágicos, seriam mais vulneráveis à ingestão de resíduos sólidos quando comparadas as de
tamanho maior, no entanto, não houve diferença significativa. Em contrapartida, Plotkin e Amos

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(1990) observaram, nas necropsias, resíduos sólidos em um grande número de tartarugas


consideradas juvenis na costa do Golfo do México.
Do total de encalhes, 33,33% responderam aos tratamentos e foram liberadas.
A exposição de animais fixados vem sido desenvolvida pela ONG desde a abertura do
museu em 2014 como ferramenta importante para sensibilização e segundo dados coletados pela
instituição, recebe em média seis mil visitantes por ano. A exposição da tartaruga vítima de ingestão
por lixo da espécie C. mydas juvenil fica no centro do museu junto com o material (lixo) retirado de
seu trato digestivo (figura 2 - A).

Estágio de
Espécie Destino Diagnóstico clínico
desenvolvimento
Chelonia mydas Juvenil Óbito Impactação intestinal
Amputação de membro
Chelonia mydas Juvenil Soltura
anterior/interação com pesca
Chelonia mydas Juvenil Soltura Interação com pesca
Chelonia mydas Juvenil Óbito Impactação intestinal
Chelonia mydas Juvenil Óbito Interação com pesca
Lepidochelys Impactação
Filhote Óbito
olivacea intestinal/interação com lixo
Lepidochelys
Filhote Soltura Interação com lixo
olivacea
Lepidochelys Filhote
Óbito Interação com pesca/lixo
olivacea
Eretmochelys
Filhote Óbito Interação com pesca
imbricata

Tabela 1: Casos de tartarugas, vítimas de interações antrópicas, resgatadas pela ONG Ecoassociados
no período de Setembro de 2015 a Agosto de 2017.

O museu é aberto diariamente e os visitantes entram de forma espontânea ou com


agendamento prévio, a visita é guiada por monitores treinados que são em sua maioria acadêmicos
das áreas ambientais voluntários ou biólogos que passam ao o público conhecimento desde a
biologia do animal até sua importância ecológica, assim como as formas de colaborar com a
conservação desses animais.
100% dos visitantes são levados a conhecerem o trabalho que a ONG desenvolve com as
tartarugas debilitadas e são postos frente a um caso real de uma tartaruga que não sobreviveu e
podem analisar de perto a quantidade e variedade de tipos de resíduos sólidos que uma tartaruga
pode ingerir. Esse é o momento mais impactante e que chama mais atenção durante o passeio no
museu e não é raro ouvir relatos dos visitantes de que só tinham visto algo assim em documentários

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ou programas de televisão, deixando claro o distanciamento em relacionar seus atos com as


consequências ao meio ambiente, neste contexto, Carvalho (2006) escreve:

Quando falamos em meio ambiente, muito frequentemente essa noção logo evoca as ideias
de ―natureza‖, ―vida biológica‖, ―vida selvagem‖, ―flora e fauna‖. Tal percepção é
reafirmada em programas de TV como os tão conhecidos documentários de Jacques
Cousteau ou da National Geographic e em tantos outros sobre a vida selvagem que
moldaram nosso imaginário acerca da natureza. Até hoje esse tipo de documentário serve
de modelo para muitos programas ecológicos que formam as representações de meio
ambiente pela mídia (Carvalho, 2006, p. 35).

Também no centro do museu, encontra-se uma simulação de uma interação com rede de
pesca (figura 2- B). Nesse momento, fala-se sobre a pesca incidental e que esses animais são
pulmonados e podem se afogar em caso de emalhe. Muitos visitantes retornam com perguntas sobre
a respiração das tartarugas e então o trabalho educativo passa a ser mais específico com explicações
sobre o sistema respiratório e as adaptações que as tartarugas sofreram para a vida marinha. O
museu ainda dispõe de algumas fotos retratando a realidade que as interações com o lixo e com a
pesca podem causar aos animais.

Figura 2. A: tartaruga fixada em exposição e B: Simulação da interação com rede de pesca no Museu da
Tartaruga Marinha da ONG Ecoassociados, Fontes: Arquivos Ecoassociados 2017.

A exposição proporciona uma participação efetiva do público e foram observadas discussões


traçadas sobre a temática ambiental em questão, deixando transparecer a importância dos ―saberes‖
e não apenas do conhecimento científico imposto enquanto verdade aos visitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contato direto com animais de espécies ameaçadas, sejam vivos ou fixados, em


exposições leva a uma maior sensibilização sobre as possíveis formas de minimizar os impactos que
levaram tais espécies a chegarem nessas condições. A relação global homem/natureza é melhor
esclarecida quando se pode explicar e mostrar de forma real como atitudes não ambientais podem
ter consequências trágicas. A exposição de animais vítimas de ações antrópicas negativas é

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

importante, válida e precisa ocorrer de forma pedagogicamente planejada onde proporcione uma
resposta rápida e positiva, a educação ambiental informal, como a que ocorre no Museu das
Tartarugas, tem se mostrado um importante agente para que a sensibilização da sociedade seja
atingida. As práticas realizadas no museu funcionam como atividades complementares
fundamentais que causam questionamentos, indagações e impacto no modo de pensar dos visitantes,
uma vez que a realidade acerca dos motivos que ameaçam as tartarugas marinhas é passada de
forma íntegra.
Desse modo, conclui-se que a Educação Ambiental quando promovida de maneira adequada
é uma importante ferramenta para disseminar informações que podem levar a uma mudança de
pensamentos e de atitudes. Esses processos educativos são considerados primordiais para que as
ações de conservação desses animais sejam realizadas de maneira mais efetiva.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INSTITUTO VERDELUZ: UMA PROPOSTA PRÁTICA E TRANSDISCIPLINAR DE


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Gabriel Chagas de LIMA


Estudante de Graduação em Ciências Biológicas UFC
gabrielclgabriel@gmail.com
Alice Frota FEITOSA
Estudante de Graduação em Ciências Biológicas UFC
alicefrota_1@hotmail.com
Beatriz Azevedo de ARAÚJO
Graduada em Direito UFC
beatrizbaa@hotmail.com
Cecília Perdigão BARRETO
Graduada em Oceanografia UFC
ceciliacpb@gmail.com

RESUMO
A globalização oferece impactos e transformações profundas no contexto ambiental e no meio social.
Atualmente, é possível observar os impactos das atividades humanas em diversas esferas, surgindo
assim a necessidade de propor soluções que quebrem o modelo reducionista, focado e
descontextualizado. Neste cenário, a Educação Ambiental deve fazer parte da essência e dos
fundamentos educacionais, promovendo interações com importantes fatores para o desenvolvimento
pessoal e social e, sobretudo, despertar o humano para a sua relação com o planeta. Entendendo a
transdisciplinaridade como um caminho rico por proporcionar ampla compreensão e profundo
processo de experienciação do meio, o Instituto Verdeluz a utiliza como um de seus embasamentos
teóricos na busca de compreender, integrar e solucionar fatos na temática socioambiental na cidade de
Fortaleza. O presente trabalho se baseia nos métodos exploratório e descritivo de análise de estudo de
caso, sob a abordagem qualitativa como meio de aprofundamento e detalhamento dos objetos da
pesquisa. Para coleta de dados, o principal meio utilizado foram as observações in loco das atividades
de Educação Ambiental e ativismo político propostas pelo Instituto. Os seis projetos que fazem parte
da Instituição em 2017 foram propostos por necessidades de ação comunitária, por observações do
contexto global e pela sensibilização de pessoas nos espaços educativos locais. O Verdeluz, através do
seu trabalho, vem interligando instituições, sociedade, pessoas e meio ambiente na perspectiva de um
desenvolvimento sustentável, através da explanação de ideias e iniciativas na busca da justiça
socioambiental sendo importante agente na disseminação de informação e sensibilização para a
reflexão nas respectivas áreas de influência. Romper com o pensamento cartesiano, encaixotado e
arcaico é fundamental para instigarmos os jovens a resgatarem seus potenciais de curiosidade, ação e
sensibilidade, provocando assim novos anseios e paradigmas para uma sociedade mais integrada.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Transdisciplinaridade, Projetos.
ABSTRACT
Globalization offers profound impacts and transformations in the environmental context and in the
social environment. Nowadays, it is possible to observe the impacts of human activities in different
spheres, thus arising a need to propose solutions that break the reduced, focused and decontextualized
model. In this scenario, Environmental Education should be part of the essence and educational
foundations, promoting interactions with important factors for personal and social development, above
all, to awaken the human to its relation with the planet. Understanding transdisciplinarity as a rich path

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

by providing a wide variety of understanding and environment, Instituto Verdeluz uses one of its
theoretical ambassadors in the search for truth, integrating and solving facts on the socio-
environmental theme in the city of Fortaleza. The present work is based on exploratory and descriptive
methods of case study analysis, under a qualitative approach as a means of deepening and detailing the
objects of the research. For data collection, the main means used as site observations of the activities
of Environmental Education and Political Activism projects by the Institute. The six projects that are
part of the institution in 2017 are proposed by needs of community action, by observations of the
global context and by the sensitization of people in the local educational spaces. Through its work,
Verdeluz has been linking institutions, society, people and the environment with a view to sustainable
development, through the explanation of ideas and initiatives in the search for social and
environmental justice, being an important agent in the dissemination of information and awareness for
a reflection in the Respective areas of influence. Breaking with cartesian, boxed and archaic thinking is
fundamental to instigating young people to rescue their potential of curiosity, action and sensitivity,
provoking as new yearnings and paradigms for a more integrated society.
Keywords: Environmental Education, Transdisciplinarity, Projects.

INTRODUÇÃO

O mundo vem passando por um período de intensas mudanças no aspecto ambiental, devido
aos processos econômicos de exploração e produção. Além disso, o presente processo de globalização
não oferece impactos e transformações apenas ao contexto ambiental natural, traz grandes
consequências e transformações também para o meio social.
É possível observar e enquadrar os impactos em diversos eixos temáticos, sejam eles: O
descarte de resíduos urbanos, o aquecimento global, a contaminação de fontes de água doce, o
desmatamento de florestas, a extinção de espécies, a contaminação e acidificação dos oceanos, o uso
de agrotóxicos e contaminação do alimento e do solo, a desigualdade social, a exclusão, a
desvalorização de culturas, a superexploração de recursos, o desperdício, o consumo exagerado, a
fome, a seca, as relações de imposição de poder, os comportamentos extremistas, entre tantos outros.
Por serem temáticas muito abrangentes, muitas vezes não conseguimos reconhecer as ligações
entre os pontos, suas origens e consequências, e acabamos por nos direcionar à especialização para
alcançarmos ações práticas possíveis. Esse vem sendo um obstáculo difícil de resolver, visto que os
problemas da presente civilização são muitos e precisam ser resolvidos com urgência e, ao mesmo
tempo, a visão focada e fechada sobre um determinado problema sempre foi o modo de resolução mais
utilizado.
Tal momento, que nos coloca entre explosões de problemáticas e métodos de resolução focados
e descontextualizados, nos direciona a uma situação de conflitos internos e externos. O processo de
especialização, aliado a um pensamento reducionista, acaba muitas vezes trazendo-nos para a atual
situação: pesquisadores distantes de suas motivações, jovens pesquisadores desestimulados em rotinas
acadêmicas, com pouca curiosidade e longe de problemáticas, ações e pesquisas distantes da
comunidade e perspectivas de mudanças apenas no campo teórico, sem grandes e importantes

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

encaminhamentos na esfera das políticas públicas ou da legitimação de direitos em prol da


conservação e da sustentabilidade como um todo.
Embora todas essas mudanças estejam ocorrendo concomitantemente, observamos uma certa
inércia institucional frente às transformações nos acontecimentos globais, que muitas vezes afrontam
direitos de populações vulneráveis e transgridem legislações ambientais. Morin (2005, p. 34) fala um
pouco dessa inércia, consequente das más administrações e burocracias, e ressalta que são nos erros da
máquina pública que, como solo fértil, podem brotar ações revolucionárias que contrapõem-se ao atual
modelo e proporcionam novos caminhos institucionais.
E para a quebra de tais modelos, são necessários novos modos de se fazer, pensar e viver
educação. Sauvé (2005) fala, portanto, de uma Educação Ambiental (EA) que sobrepõe a ideia de ser
só mais um modo de se fazer educação. Na realidade, a EA não se restringe apenas à resolução de
problemas ou como ferramenta de apoio à gestão. É algo maior, que deve fazer parte da essência e dos
fundamentos educacionais, promovendo as interações como importantes fatores para o
desenvolvimento pessoal e social e, sobretudo, despertar o humano para a sua relação com o que ela
chama ―casa de vida‖, o próprio planeta.
As ações de Educação necessitam desse caráter complexo em suas realizações para a obtenção
efetiva e profunda de transformações em nossa sociedade. Morin (2007, p. 83) expressa que o
pensamento simples resolve os problemas simples, o pensamento complexo não resolve os problemas
complexos, mas estabelece estratégias para resolvê-los. Ainda fala que devemos considerar a realidade
como mutante, o que vivemos hoje nunca foi vivido e nunca será vivido exatamente do mesmo modo,
portanto é preciso compreender que existem outros fatores fora do plano cartesiano que podem
influenciar qualquer e todo tipo de ação, com tal pensamento nos tornamos seres mais prudentes.
Nicolescu (1999) conceitua a transdisciplinaridade como um ponto de direcionamento que
busca analisar não somente o objeto de estudo das disciplinas, mas todo o arcabouço de conhecimento
encontrado nas relações, nas incertezas, imprecisões dentro e fora do espaço disciplinar. Morin (2007,
p. 105) fala de um pensamento complexo que não traz a compreensão total das coisas, mas considera o
incompreensível. Apesar de não conhecermos totalmente as coisas, podemos sempre nos predispor a
conhecer mais, nunca dando-as como finitas.
Entendendo a transdisciplinaridade como um caminho rico, fundado e satisfatório quanto a sua
ampla compreensão e profundo processo de experienciação, o Instituto Verdeluz a utiliza como um de
seus embasamentos teóricos na busca de compreender, integrar e solucionar fatos na temática
socioambiental. Acredita-se que práticas transdisciplinares promovem, nos sujeitos envolvidos, uma
maior capacidade de reflexão e compreensão sobre tudo aquilo que está todos os dias se modificando
ao nosso redor. E, em consequência disso, propõe-se de maneira mais efetiva soluções para as
problemáticas socioambientais.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Desse modo, o objetivo principal deste trabalho é o de investigar como projetos de Educação
Ambiental e Ativismo Político podem contribuir para alcançar a transdisciplinaridade prática e
continuada. Como objetivos específicos: 1) Compartilhar a metodologia empregada nas atividades
transdisciplinares do Instituto Verdeluz. 2) Refletir sobre os desafios da prática em Educação
Ambiental. 3) Estimular ações práticas de caráter inter e transdisciplinar.

METODOLOGIA

O presente trabalho se baseia nos métodos exploratório e descritivo de análise de estudo de


caso, sob a abordagem qualitativa como meio de aprofundamento e detalhamento dos objetos da
pesquisa. Segundo Minayo (2002, p.21), a pesquisa qualitativa tem uma maior preocupação com os
aspectos motivacionais dos autores, participantes e atingidos pelo trabalho, objetivando reconhecer
inquietações, reflexões, ideias, necessidades e compreensões em todo o processo. Na pesquisa
qualitativa, o objetivo da amostra é de produzir novas informações aprofundadas e ilustrativas
(DESLAURIERS, 1991, p. 58).
O estudo de caso, que neste trabalho se constitui na avaliação da execução de projetos
transdisciplinares de EA e de ativismo político no Instituto Verdeluz é, de acordo com Yin (2005,
p.17), "um método de investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu
contexto na vida real‖. Ainda segundo este autor, quanto mais a pesquisa procurar explicar "como" ou
"por que" esse fenômeno tem aplicação funcional na sociedade, mais o emprego do método de estudo
de caso é relevante (YIN, 2005, p. 4).
Quanto ao método de coleta de dados, o principal meio utilizado foram as observações in loco
das atividades de EA e ativismo político propostas pelo Instituto. A partir destas observações, foi
possível caracterizar as ações executadas e as metodologias empregadas, além de analisar a viabilidade
de execução dos projetos transdisciplinares.

O HISTÓRICO

O Verdeluz nasceu em 2013, como projeto de extensão universitária na Faculdade de Direito da


Universidade Federal do Ceará (UFC), a partir da vertente de meio ambiente do Grupo de Estudos e
Discussões sobre Assuntos Internacionais (GEDAI). O grupo de jovens estudantes de Direito tinha o
objetivo de se inserir em comunidades para trabalhar temas relacionados à sustentabilidade, na busca
de ações práticas que aplicassem os variados conhecimentos teóricos da formação acadêmica.
Escolher trabalhar meio ambiente em comunidades vulneráveis foi uma decisão difícil, cujas
motivações giravam em torno da exclusão daquela parcela da população do acesso aos recursos
básicos de educação, saúde e saneamento, corroborando para um baixo índice de desenvolvimento

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

humano e para a desigualdade social. Portanto, a entrada do Verdeluz nesse tipo de localidade se dava
pela existência de uma noção mais ampla de responsabilidade coletiva e justiça social.
A cidade de Fortaleza é uma das mais desiguais do país, repleta de zonas vulnerabilizadas, fato
que estimula, nos estudantes, o despertar em si próprios de uma maior sensibilidade, de capacidade de
observação, de empatia e de senso de justiça tanto antes como durante todo o processo de inserção
comunitária. A escolha do Serviluz, no bairro Cais do Porto, como localidade onde se iniciaram os
trabalhos partiu de situações vivenciadas anteriormente por membros do projeto, que frequentavam o
local para a prática do surf e, por isso, tiveram a oportunidade de conhecer melhor os moradores da
região e perceber os problemas enfrentados por eles, criando um certo tipo de elo.
Bronckart (1996) fala, com base em Vygotsky, sobre a importância das representações para o
passado, presente e futuro de cada indivíduo pois, muitas vezes, é no contato com diversos ambientes e
relações sociais que são promovidos processos de interação, internalização representativa e
apropriação. Estes contato pode, muitas vezes, ser determinante na escolha da temática, do local e no
desenvolvimento dos trabalhos. É, muitas vezes, o fator motivador entre pesquisador e objeto.
Dentro do bairro, a acolhida foi feita pela Associação Boca do golfinho, de liderança
comunitária e ação multitemática, um espaço ideal para abraçar um novo tema e proposta de trabalho.
Logo, iniciaram-se ali as atividades de Educação Ambiental do Instituto Verdeluz, aos fins de semana,
com crianças e adolescentes da comunidade local frequentadores da Associação.
Em 2014, o Verdeluz ampliou sua área de ação para outro bairro fortalezense, a Sabiaguaba,
que, em um contexto diverso, possui características mais primitivas que o Serviluz e tem grande
relevância nas esferas ecológica e etnobiológica, visto que o território onde se situa abriga
comunidades pesqueiras tradicionais e importantes Unidades de Conservação (UC's) da cidade de
Fortaleza. Manteve-se o público-alvo de crianças e adolescentes da comunidade e, no período de 2
anos, foi realizado um trabalho ininterrupto aos fins de semana na comunidade da Boca da Barra de
Sabiaguaba.
Reflexões sobre as práticas executadas pelo Instituto ao longo do tempo direcionaram o
Verdeluz a outros níveis de ação, na busca de melhorias mais efetivas e permanentes que abrangessem
toda a cidade de Fortaleza. Assim, atualmente, o Instituto trabalha de maneira difusa em diversos
espaços da cidade, com o seu próprio CNPJ, conquistado em 2016.

A AÇÃO

O Verdeluz surgiu como projeto de extensão universitária e logo sentiu a necessidade de se


projetar como Instituto, buscando autonomia, maior impacto, ações correlacionadas aos interesses
socioambientais de Fortaleza, práticas mais palpáveis e a experimentação de novas relações,
compreensão de contextos e proposições de métodos. Para tal, o Instituto Verdeluz traçou, através da

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

sua liderança - uma equipe de escritório -, o modus operandi da ONG, objetivando alcançar as esferas
comunitária, acadêmica e política, através da reconstrução de uma conexão entre estas esferas e da
evidenciação de problemáticas e de responsabilidades interinstitucionais.
De modo geral, a instituição nasce de uma sede de traçar estratégias e colocar ações em prática
na busca de melhorias sociais e ambientais nos locais onde se insere. Freire (2000, p.43) deixa claro
que nas relações do homem com a realidade, na criação, recriação e decisão, uma dinamização é
gerada da própria realidade, trazendo também aspectos de humanização. Contudo, nessa ação de
grande força humana, é necessário ter uma permanente atitude crítica, pois somente ela possibilitará ao
homem a vocação de integração, indo muito além do simples ajustamento ou acomodação,
proporcionando a profunda compreensão das temáticas e responsabilidades de sua época.
Com esse referencial, o Verdeluz necessitou buscar ferramentas, procedimentos e
comportamentos capazes de despertar a população para uma visão crítica sobre seus hábitos e, mais
que isso, sobre seu posicionamento perante todas as cadeias existentes na sociedade, sejam elas
ecológicas, sociais, econômicas e políticas. Deste modo, a Educação Ambiental e o Ativismo Político
vieram como importantes linhas diretivas para nortear a execução prática do trabalho. Sauvé (2005, p.
18) apresenta uma gama de correntes na área de Educação Ambiental, e muitas destas perpassam pelos
ideais da instituição, sendo a corrente holística, a práxica e a resolutiva as que traduzem melhor o
posicionamento, o engajamento e a ação institucional.

AS PROBLEMÁTICAS

Quando se ultrapassa as muralhas da Universidade e há a inserção nas dinâmicas sociais e


comunitárias, as observações, inquietações e ideias começam a aflorar independentemente de vontades
ou capacidades pessoais. Este é um simples e, ao mesmo tempo, complexo resultado das interações
humanas com o meio. É um período de evidenciação de problemáticas que, para muitos que vivem
cotidianamente as referidas situações, podem passar despercebidas ou como de incabíveis mudanças.
Freire (1989, p. 17) aborda a questão de reflexão crítica mais uma vez atrelada a uma visão
necessária para um trabalho transdisciplinar efetivo, que passe a observar além das obviedades. O
modelo multidisciplinar oferece um aporte teórico muito grande mas pouco conectado com as reais
situações vivenciadas no cotidiano. Portanto, através de uma ação transdisciplinar, o pensamento sobre
a prática e sobre a realidade em que ela se desenvolve acaba por conduzir e revelar obviedades que não
eram suspeitas.
Dessa forma, Freire (1989, p. 17) indica que, quando se deparar com o óbvio, pegue-o, abra-o,
analise-o e logo perceberás que não era algo tão óbvio assim. A transdisciplinaridade provoca essa
conexão entre o aprendizado contínuo e as situações de transformação na qual estamos inseridos.
Compreender que o óbvio para o ser educador está longe do óbvio do ser educando é imprescindível

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

para se dar início ao processo de sensibilização, considerando diferentes formações, vivências e


estruturações cognitivas.
As problemáticas vivenciadas pelo Instituto Verdeluz sempre tiveram maior aproximação com
as questões socioambientais, até pela própria formação pessoal de cada membro, e pela identificação
da ONG como socioambiental. Portanto, muitas das problemáticas levantadas são provenientes desse
contexto, porém levadas ao público de forma crítica, encarando a desigualdade e exclusão social como
fatores importantes a serem considerados.
Os atuais projetos que fazem parte da Instituição foram propostos por necessidades de ação
comunitária, por observações do contexto global e pela sensibilização de pessoas nos espaços
educativos locais. As temáticas ocupam esferas transdisciplinares e se superficialmente exploradas não
aparentam desenvolver relações ou interações. Porém, quando se desenvolve uma análise mais
profunda, é possível achar diversos pontos de conexão entre elas. Tais questões surgiram de
problemáticas e necessidades nas escalas local e global. No seguinte tópico evidenciaremos a
estruturação geral da instituição e seus projetos de ação.

A ESTRUTURAÇÃO

A estruturação geral da organização tem uma liderança que se reúne semanalmente em


escritório, para direcionar e articular todas as ações em Educação Ambiental e Ativismo. Tais
modalidades perpassam todas as atividades propostas em níveis diversos, variando de acordo com cada
projeto.
O Verdeluz tem um histórico de realização projetos desde 2013, tendo alguns já finalizado sua
execução enquanto outros seguem em atividade. Atualmente, os projetos em andamento são: GTAR -
Grupo de Estudos e Articulações sobre Tartarugas marinhas -, GRU - Grupo de Estudos e Articulações
sobre Resíduos Urbanos -, Agroeco, EcoEnglish, Recife Vivo e Comitê de Estudos e Pesquisas sobre
Meio Ambiente.
Novamente de acordo com Freire (1985, p. 7), é de fundamental importância pensar sobre a
prática para, teoricamente, melhorá-la. Ou seja, a prática realizada deve sempre estar sujeita à novos
avanços teóricos que lhe subsidiarão de melhor modo nas seguintes ações. Portanto, embora muitas
vezes a temática do projeto pareça superior às condições e capacidades do grupo naquele dado
momento, é necessário posicionar-se continuamente como ser educando, para uma imersão e
capacitação na temática cada vez mais intensa.
Os objetos de trabalho de cada projeto são a conservação de tartarugas marinhas, os resíduos
urbanos, a agroecologia, o ensino de inglês, a conservação do recife de arenito de Iparana e o estudo e
avaliação do cumprimento da legislação ambiental e análise dos fundos para o meio ambiente nas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

esferas municipal, estadual e federal. Todos nascem de questões observadas nas realidades de trabalho
nas quais estão inseridos.
O GTAR à exemplo, nasce da problemática de encalhe e desova de animais na região do
Serviluz, que através de um maior aprofundamento pode-se perceber que é algo recorrente em toda a
orla da cidade. No contexto urbano, em meio a estes casos, pode-se observar ameaças como a
poluição, que pode ser um grande impacto a toda a biodiversidade e aos ecossistemas. Assim nasce o
GRU para compreender, analisar e, se possível, mitigar tal problema. Em meio à vulnerabilidade da
região do Serviluz, surge o EcoEnglish aliando o ensino de inglês, como um fator importante para o
mercado de trabalho, à Educação Ambiental. Na observação da escala do agronegócio e dos seus
impactos no Brasil e no mundo, nasce a necessidade de discutir e divulgar a ideia de agroecologia em
escolas, onde uma estudante bastante interessada na temática solicitou ao Instituto auxílio na
recuperação da horta didática de sua escola. O Recife Vivo visa monitorar a região costeira de arenito
em uma praia próxima a Fortaleza que passa por diversos impactos oriundos da coleta de peixes
ornamentais, poluição e pisoteamento de espécies de corais propondo, a longo prazo, uma solução
baseada em ecoturismo.
São problemáticas que estão no meio social e que a falta de informação, de sensibilização e de
direcionamentos terminam por gerar impactos a nível socioambiental. Morin (2007) deixa claro que,
segundo a complexidade, as coisas programadas são importantes porém não devem ser mutiladoras do
trabalho. No momento não programado ou de desequilíbrio, devem surgir as estratégias para a não
omissão ao problema que apareceu, sendo necessárias para considerar o complexo, o todo e a
realidade.
A equipe interdisciplinar do Instituto corrobora para um entrelaçamento de visões diversas, que
contribuem para a observação de um ser em sua complexidade. Morin (2007, p.38) coloca o sujeito
como um ator que surge junto ao mundo, e eles se revolucionam juntos. Portanto, a
transdisciplinaridade se torna a linha norteadora, na qual o envolvimento com problemáticas vai muito
além de obter notas, ou carga horária, é um compromisso humano, pela humanidade e por toda a
biodiversidade existente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A transdisciplinaridade, que surge de uma visão complexa atrelada à educação, tem se


mostrado importante propulsor de ações e reflexões efetivas e profundas sobre o papel do eu social, eu
ambiental e eu individual. Compreender que grande parte das problemáticas atuais provém de razões
antropogênicas, permite encarar a humanidade como a única espécie que precisa ser sensibilizada para
a conservação e o desenvolvimento harmônico junto ao ambiente. Enxergar o humano como ser
destruidor e tão somente isso é no mínimo uma desconsideração à própria essência.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A transdisciplinaridade através da educação ambiental traz consigo isso, a reconexão humana


com seu próprio eu, e em consequência disso, um equilíbrio mental e físico. A prática e a reflexão são
fatores importantes para o aprimoramento do ser, do convívio e de suas técnicas.
O Verdeluz através do seu trabalho vem interligando instituições, sociedade, pessoas e recursos
ambientais na perpectiva de um desenvolvimento sustentável, através da explanação de ideias e
iniciativas na busca da justiça socioambiental sendo importante agente na disseminação de informação
e sensibilização para a reflexão nas respectivas áreas de influência.
Romper com o pensamento cartesiano, encaixotado e arcaico é fundamental para instigarmos
os jovens a resgatarem seus potenciais de curiosidade, ação e sensibilidade, provocando assim novos
anseios e paradigmas para uma sociedade mais integrada ao ambiente que lhe sustenta.

REFERÊNCIAS

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perspectiva vygostkiana. Revista brasileira de Educação, no. 3, p. 64-74, 1996.

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FREIRE, Paulo. Virtudes do Educador. São Paulo: Vereda, 1985.

FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

FREIRE, Paulo. Educadores de rua: uma abordagem crítica: alternativas de atendimento aos meninos
de rua. Colômbia: Unicef, 1989.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

SALVÉ, Lucie. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. In: SATO, Michèle; CARVALHO,
Isabel Cristina Moura. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. p.
317-322.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1216


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE NA EDUCAÇÃO


BÁSICA EM POMBAL, PB

Jolinda Mércia de SÁ
Graduanda do curso de Agronomia da UFCG
jolindamercia@gmail.com
Camile Dutra Lourenço GOMES
Graduanda do curso de Agronomia da UFCG
camiledutralg@gmail.com
Francisco Jean da Silva PAIVA
Graduando do curso de Agronomia da UFCG
Je.an_93@hotmail.com
Kilson Pinheiro LOPES
Doutor em agronomia, Professor adjunto, UFCG
kilson@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
A educação ambiental é considerada como ponto chave para proporcionar uma melhor qualidade de
vida das futuras gerações através do despertar de novos hábitos relacionados principalmente à
cidadania e sustentabilidade. As atividades desse projeto têm como objetivo, a sensibilização e
conscientização de crianças e pré-adolescentes quanto às questões ambientais por meio do emprego
de ferramentas metodológicas. O trabalho foi desenvolvido no decorrer dos anos 2015 e 2016 na
Escola Municipal Poeta Belarmino de França, esta, de ensino fundamental, na cidade de Pombal-
PB. Foram desenvolvidas atividades relacionadas a oficinas de reciclagem e reutilização de
materiais, produção de mudas, palestras e rodas de conversas. De acordo com o que foi abordado
durante o desenvolvimento das atividades, através dos modos comportamentais presenciados,
comprovados a partir da aplicação de questionários, conclui-se que o trabalho desenvolvido
apresentou resultados positivos sobre o comportamento de todos os envolvidos, sobre questões
relacionadas ao meio ambiente em que vivem.
Palavras- Chave: Conscientização, ferramentas metodológicas, ecologia.
ABSTRACT
The environment education is considered a key point to provide a better quality of life to the future
generations by waking up new habits most related to citizenship and sustainability. The objective of
the activities from this project is raise awareness of both children and preadolescents to
environment questions by employing methodological tools. The work was developed between of
2015 – 2016 at the local Poeta Belarmino de França School, which is an elementary School, at
Pombal-PB city. There, a couple of activities were developed such as recycling workshops and
reuse of materials, production of seedlings, lectures and conversation wheels. According to what
was addressed during the development of the activities, through the behavioral modes witnessed,
which were proved by the application of questionnaires, it is concluded that the work developed
presented positive results about the behavior of all those involved, about questions related to the
environment where they live.
Keywords: Awareness, methodological tools, ecology.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais existentes surgiram em função do aumento da urbanização, onde a


medida que os recursos naturais são extraídos para a satisfação pessoal, há produção em excesso de
lixo e resíduos orgânicos, somados a geração de toneladas de gases poluentes oriundos da queima
de combustíveis de automóveis e indústrias, afetando a qualidade de vida e a saúde das pessoas
(KURY, 2009).
Estudos revelam um desequilíbrio cada vez maior entre as necessidades humanas em termos
de recursos naturais e aquilo que a natureza é capaz de produzir. De acordo com a ONG americana
Global Footprint Network, para alimentar cada brasileiro é necessário, em média, 2,25 hectares
globais, ou seja, a produção de tudo o que consome precisa de 22,5 mil metros quadrados. Essa
média ainda é inferior à média de outros países que somados, constam um valor de 2,6 hectares
(FAVA, 2009).
O problema é que o total disponível de área produtiva no mundo, a chamada biocapacidade,
é de apenas 1,8 hectares global por pessoa. Além disso, a biocapacidade vem diminuindo pelo
aumento da população e consequente degradação do solo, da água, florestas e mares (FAVA, 2009).
É notória que o meio ambiente está em constante perda dos recursos essenciais à sobrevivência de
qualquer espécie sobre a terra, por isso, a melhoria das condições ambientais requer emergência,
devido à abrangência da problemática.
Nos dias atuais a educação ambiental nas escolas assume um papel cada vez mais
dinamizador, sendo inserida como ferramenta indispensável para a construção de novos conceitos
educacionais, estimulando o espaço escolar para repensar novas práticas sustentáveis na formação
de indivíduos por meio da interdisciplinaridade (CARVALHO, 2004; CRIBB, 2010).
Segundo Sorrentino e Trajber (2007), a educação ambiental assume sua parte no combate à
crise ambiental a partir da contribuição com mudanças de valores, comportamentos, atitudes e
sentimentos, aos quais devem ser atrelados à sociedade de cada base territorial, de maneira
permanente e frequente a todos os envolvidos. Neste contexto, a educação ambiental é inserida
como uma medida racional para minimização dos problemas ambientais vivenciados no dia-a-dia
(JACOBI, 2003).
Para Effting (2007), é de fundamental importância a sensibilização dos seres humanos para a
realidade do meio em que vivem, para que assim hajam de maneira responsável e consciente na
utilização dos recursos naturais, priorizando a conservação do ambiente em que vivem tornando-o
saudável no presente bem como para as gerações futuras. A conscientização ambiental deve ser
iniciada nas primeiras fases do desenvolvimento das crianças, onde as mesmas devem ser
estimuladas a desenvolver hábitos saudáveis que deverão ser prolongados por toda a vida.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Atividades que conectem as crianças a natureza é uma das estratégias indispensáveis para
estimular hábitos saudáveis. Com isso, o trabalho teve como objetivo despertar o interesse dos
alunos do ensino fundamental para assuntos relacionados à educação ambiental através de
atividades dinâmicas que envolvem o meio ambiente em que vivem.

MÉTODOLOGIA

O trabalho foi realizado na Escola Municipal Poeta Belarmino de França localizada no


munícipio de Pombal- PB, com turmas do pré-escolar ao 5º ano do ensino fundamental, com alunos
na faixa etária de 4 a 14 anos. A instituição dispõe de um corpo técnico com 14 professores, três
auxiliares de serviços gerais, uma coordenadora pedagógica, uma diretora e um total de 263 alunos
matriculados, funcionando durantes os turnos matutino e vespertino. A direção, bem como todos os
professores foi envolvida diretamente nas atividades do projeto na escola.
Os alunos foram inseridos na proposta pedagógica de ensino oferecida pelo projeto de modo
a promover reorganização de hábitos através de atividades práticas e palestras interativas
demonstrando desta forma a importância da educação ambiental.
Decidiu-se pela separação das atividades de acordo com a classe e faixa etária, sendo
aplicadas dinâmicas diferentes para cada grupo. Os alunos foram separados em dois grupos, onde o
grupo I foi constituído por alunos do pré-escolar ao 2° ano do ensino básico; e o grupo II
constituído por alunos do 3° a 5° ano do ensino básico. Para os alunos do grupo I, buscou-se sempre
executar atividades que envolvessem diálogo simples e que prendessem a atenção, para facilitar o
entendimento das crianças. Para os alunos do grupo II, as atividades envolviam diálogos mais
elaborados com apresentação audiovisual e questionamentos.
As atividades foram desenvolvidas seguindo um cronograma baseado em datas
comemorativas, onde foram desenvolvidas atividades práticas como produção de mudas e
reciclagem de papel; palestras relacionadas à importância das florestas e preservação dos recursos
naturais; e palestra sobre produção de mudas. As atividades foram realizadas segundo a descrição a
seguir:
Palestras: Foram realizadas as palestras intituladas ―Importância das Florestas‖ e ―Produção
de mudas‖ para os alunos de 3º ao 5º ano. A palestra sobre a ―Importância das Florestas‖ foi
proferida em comemoração ao dia da floresta Amazônica, no dia 05 de setembro de 2016. Utilizou-
se como ferramenta apresentações audiovisuais, onde foi feita a definição de florestas englobando
todos os seres vivos que nela existem, com destaque para sua importância na manutenção da vida na
terra. Diante disso foi apresentada a importância de se conservar os biomas.
A palestra sobre Produção de Mudas foi realizada paralela à atividade prática de ―Produção
Mudas‖, para alunos do 1º ao 5º ano. Foi abordada através de apresentação audiovisual destacando

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

os seguintes tópicos: o que é a pratica de produção de mudas; e importância da produção de mudas


para o cultivo de muitas culturas fundamentais para a alimentação humana. Foram mostradas todas
as etapas do processo de produção de mudas através de imagens, bem como os materiais que são
necessários para a realização de tal prática.
Oficina de Papel Machê: O papel machê é caracterizado por ser um material modelável, de
fácil manuseio e que desperta bastante interesse das crianças, podendo dar origem a brinquedos,
objetos decorativos, além de diversas outras finalidades, pois este, quando postos para secagem
dispõem uma durabilidade considerável, permitindo assim o seu uso durante muito tempo. Esta
atividade é considerada de suma importância, uma vez que atingi diretamente o propósito do
trabalho, pois todo o material utilizado (folhas de papel, resto de cola branca) foi coletado e
reciclado pelos alunos da escola durante o decorrer das semanas.
Primeiramente os papéis foram submersos em um balde contendo água para facilitar o
processo de trituração, ficando assim durante um período de 24 horas, sendo adicionada uma colher
de chá de hipoclorito de sódio, para que houvesse a sanitização do material. Logo em seguida com a
utilização de um liquidificador, foi realizada a trituração do mesmo. Junto ao material triturado foi
adicionado cola branca para que houvesse a união e posterior moldagem do papel. Cada criança
recebeu um determinado volume de massa e individualmente elaboraram seus respectivos
brinquedos. Uma semana depois foi realizada a pintura e posterior distribuição de cada peça, onde
cada um levou consigo o material produzido para casa.
Produção de mudas: Essa atividade tem uma influência direta na prática de reflorestamento,
como também na produção de frutíferas, hortaliças e demais culturas. Durante a atividade todos os
alunos do 1º ao 5º ano foram envolvidos de forma ativa, colaborando para uma melhor execução da
atividade. A prática foi realizada envolvendo todas as etapas, desde o preparo do substrato, escolha
de espécies, semeadura, irrigação, tratos culturais e transplantio para local permanente. À medida
que foram acontecendo as práticas, palestras foram sendo ministradas enfatizando importância das
árvores para o meio ambiente. Embora os alunos tivessem pouco conhecimento sobre a produção de
mudas em si, foi notório que essa atividade influenciou bastante sobre o conhecimento, visto que a
didática utilizada foi articulada de forma prática, dinâmica e precisa, aumentando assim a
empolgação dos alunos com as atividades.
Rodas de conversas: Com o objetivo de repassar para os alunos da pré-alfabetização I e II, a
importância das árvores para o meio ambiente, foi realizada uma roda de conversa, onde foi contada
uma historinha intitulada ―Salvando uma árvore‖. Em vários pontos da historinha fizeram-se
perguntas aos alunos com objetivo de induzi-los a distinguir sobre atitudes corretas ou erradas sobre
a preservação do meio ambiente. Houve uma participação bastante ativa das crianças, onde estas
relataram alguns fatos interligados às historinhas que elas viram em alguns desenhos animados e no

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

seu dia-a-dia. Ao final do conto, foi entregue um desenho para que os alunos colorissem, como
forma de captar por mais tempo a atenção das crianças.
O rendimento de todas as atividades foi avaliado através da aplicação de questionário aos
alunos e professores envolvidos. Os questionários foram aplicados aos alunos do 4º e 5º ano,
compreendendo um total de 140 alunos. O questionário aplicado aos professores constou de seis
perguntas de múltipla escolha e teve como objetivo identificar se as atividades surtiram efeitos
sobre o comportamento dos alunos e qual o grau de inserção de atividades sobre a questão
ambiental no âmbito escolar, por parte da dinâmica pedagógica da própria escola.

RESULTADOS E DISCURSÃO

Questionário aplicado aos alunos

O questionário foi dotado de perguntas tais como: 1) O que é meio ambiente? Quais
problemas ambientais são visualizados no meio ambiente em que vive? É constante o assunto ―meio
ambiente‖ em sala de aula? É constante o assunto ―meio ambiente‖ fora da escola? Você sabe o que
é reciclagem? Você já produziu alguma coisa reciclada? Você entende a importância de preservação
do ambiente em que vive? As atividades desenvolvidas sobre educação ambiental são importantes
para vocês?
Quando questionados sobre ―o que é meio ambiente‖, de acordo com a Figura 1, pode-se
observar que a maioria dos alunos (55 %) entendem o conceito de meio ambiente, enquanto os
demais consideraram fatores isolados como sendo relacionados ao conceito de meio ambiente. Por
mais que este conceito possa parecer de fácil compreensão notou-se a dificuldade dos alunos de
compreender tal definição. Sendo assim percebe-se que as informações sobre o que é meio
ambiente são pouco difundidas. De acordo com a resolução CONAMA 306/2002 inciso XII: ―
Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influencias e interações de ordem física, química,
biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abrigam e regem a vida em todas as suas
formas.

Todas as coisas vivas e não vivas Somente as árvores


Somente os animais Somente as pessoas

10%

10%

55%
25%

Figura 1. O que é meio ambiente?

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Como os problemas ambientais são diariamente abordados, seja em rádio, televisão, internet
ou outros meios de comunicação, perguntou-se aos alunos se eles já haviam visualizado algum tipo
de problema ambiental na rua, escola ou na própria casa, e 13,5% responderam que não sabiam do
que se trata, e 86,5% afirmaram que haviam percebido situações de degradação ambiental. Dos que
responderam sim, 52% destacaram o desperdício de água, 45% relataram os problemas consequente
do lixo, e 3% apontaram problemas com o desmatamento (Figura 2). A capacidade das crianças de
identificar problemas, ainda que pequena, é um grande passo para o destino que se deseja alcançar,
uma vez que é sob essa capacidade que se deve trabalhar a conscientização ambiental.
3%

Desperdício de água Lixo Desmatamento

45%
52%

Figura 2. Problemas ambientais identificados pelos alunos.

A escola é um ambiente muito importante para as crianças aprenderem valores e atitudes


que devem ser tomadas no dia-a-dia, pois é no ambiente escolar que os alunos também aprendem
conceitos de julgar o que é certo ou errado e solucionar os problemas do cotidiano, transformando
seus hábitos. O ambiente é escolar é local indispensável para despertar nas crianças a importância
da preservação ambiental (BONAGURIO, 2009). Portanto, conhecendo a importância de se
trabalhar a consciência ambiental nas escolas, foi constatado, de acordo com a afirmação dos
alunos, que o tema é constantemente abordado em sala de aula (Figura 3).
O diálogo com a família é de fundamental importância para a educação pessoal das crianças
acerca de comportamentos diversos e de suas relações com a comunidade em que vivem. Em
função disso, os alunos foram indagados se, em casa, costumam conversar com irmãos, pais,
familiares e amigos sobre problemas ambientais, onde 84,28% dos alunos responderam que
possuem diálogo familiar em relação ao meio ambiente, e 15,72% afirmaram não ter nenhum tipo
de conversa com os familiares sobre o referido tema. As relações interpessoais no âmbito familiar e
comunidades, a forma como os adultos tratam as crianças, a forma de lidar com a limpeza ou com o
lixo, entre outros, representam situações de ensino e aprendizagem, em que as crianças tomam para
si os exemplos que vivenciam no dia-a-dia (SILVA, 2007).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Sim Não

8%

92%

Figura 3. O tema ―Educação Ambiental‖ é frequentemente abordado em sala de aula?

A prática de reciclagem de produtos parece ser comum entre os envolvidos no projeto, uma
vez que 85% relataram já terem produzido algum material reciclado (Figura 4). Os alunos que
responderam sim afirmaram ter participado de oficinas realizadas através deste trabalho na
confecção de imã de geladeira com papel velho (oficina de papel machê). Trabalhar com as crianças
a importância da reciclagem e da reutilização de matérias produzidos pela indústria induz as
mesmas o desenvolvimento da criatividade, ao mesmo tempo em que enfatiza a importância da
redução da acumulação de resíduos sólidos na natureza.
Segundo Medeiros et al. (2011), as atividades que as crianças podem tocar, transformar
objetos e materiais trazem mais prazer ao desenvolver tais tarefas. Isto terá um significado maior
para o aluno, quando ele tiver a oportunidade de conviver com o ambiente natural, assim podendo
trabalhar de forma interdisciplinar, aumentando o processo de construção do conhecimento.

Sim Não

15%

85%

Figura 4. Conhecimento sobre a prática de reciclagem de produtos.

Do total de alunos entrevistados, 95% afirmaram entender a importância de estudar o meio


ambiente através da educação ambiental na escola (Figura 5). Dentre as atividades desenvolvidas
durante a execução desse trabalho, a produção de mudas e oficina de papel machê estão entre as que
os alunos mais gostam e mostram interesse. A inserção dos alunos em atividades dinâmicas e em
grupos desperta mais interesse dos mesmos pelas discursões acerca da temática trabalhada, uma vez
que essas atividades fogem da monotonia da sala de aula e consequentemente facilita e aumenta a
capacidade de compreensão das crianças.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Muitos professores consideram a possibilidade de trabalhar temas transversais como o meio


ambiente em sala de aula como uma atividade difícil de realizar, pois as salas são sempre lotadas,
com muitos conteúdos para serem lecionados durante o ano letivo, o qual deve ser cumprido
segundo a grade curricular (MEDEIROS et al., 2011). Há ainda problemas maiores resultantes do
reflexo da própria rotina escolar como: carência de material e sobrecarga burocrática (SEGURA,
2001), sendo esses problemas, a realidade de muitas escolas brasileiras.

Sim Não
5%

95%

Figura 5. Conhecimento sobre a importância do estudo em educação ambiental

Ficou evidente nos alunos a importância de conservação do meio ambiente em que eles
vivem, estimulando, nos mesmos, mudanças de hábitos após as atividades realizadas no projeto
como: a questão do descarte do lixo em locais apropriados; a problemática da escassez de água e a
necessidade de economizar tal recurso natural e a necessidade de reciclar/reutilizar materiais.
Portanto, percebe-se que ao longo das atividades os alunos têm desenvolvido um
pensamento mais consciente sobre as questões do meio ambiente em que vivem, alcançando,
portanto, os objetivos propostos pelo trabalho. Estas constatações puderam ser reforçadas pelos
professores da referida escola que afirmaram, por unanimidade, terem observado mudanças
positivas no comportamento dos alunos em relação ao meio ambiente, após o desenvolvimento das
atividades. Acreditam ainda que tais resultados foram alcançados em função da adequação das
atividades aos diferentes níveis de idade e escolaridade.

CONCLUSÃO

O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e sensibilizada para questões
ambientais. Acredita-se que pequenas iniciativas podem ser de grande valia para conscientização,
principalmente das crianças, que possuem pouco entendimento sobre problemas ambientais, mas
que precisam dessas informações na construção do conhecimento, para que cresçam motivadas a
mudar, sempre para melhor, o espaço em que vivem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Na escola onde foi desenvolvido este trabalho, é possível perceber que a educação ambiental
é um assunto discutido e faz parte de um plano pedagógico, no entanto as crianças não aparentam
ter um conhecimento bem desenvolvido sobre o assunto. Sendo necessário motivar as escolas para
que esse assunto seja constantemente discutido em sala de aula, para reforçar a consciência e o
conhecimento das crianças sobre a preservação do meio ambiente.
As atividades desenvolvidas com os alunos contribuem para conscientiza-los sobre hábitos
sustentáveis, bem como promover a interação em grupo, contribuindo para uma formação cidadã
voltada para construção de valores mais humanizados.

REFERÊNCIAS

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<http://www.ambientedomeio.com/2007/07/29/conceito-de-meio-ambiente/> Data de acesso: 25
de julho de 2017.

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Secretaria Executiva/ Diretoria de Educação. Identidades da educação ambiental brasileira.
Ambiental (Org.). Brasília: MMA, 2004.

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Monografia. Pós-Graduação em ―Latu Sensu‖ Planejamento Para o Desenvolvimento
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Data de acesso: 25 de Julho de 2017.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1226


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RENDA DOS CATADORES NO LIXÃO DE JI-PARANÁ SOB O PRISMA DO


SURGIMENTO E FORTALECIMENTO DA COOPERATIVA

José Eduardo Moura DE TOLEDO JÚNIOR


Graduando do Curso de Engenharia Ambiental da UNIR
tzejunior@gmail.com
Renata Gonçalves AGUIAR
Professora Adjunta II Doutora em Física Ambiental UNIR
rgaguiar@unir.br
Lasliery Conrado MIRANDA
Graduanda do Curso de Engenharia Ambiental da UNIR
lalinha.jipa@gmail.com
João Gilberto de Souza RIBEIRO
Professor Adjunto Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos UNIR
joao.gilberto@unir.br

RESUMO
A Política Nacional de Resíduos Sólidos trata com especialidade o protagonismo dos catadores de
materiais recicláveis. Nesse contexto, uma ação de investimento social em compensação a um
grande empreendimento financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
se encontra com a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Ji-Paraná - Rondônia. Essa
cooperativa tem executado um primoroso projeto de fortalecimento para transformar os meios de
produção dos catadores com vistas a melhorar suas condições de trabalho e renda. Este trabalho tem
a finalidade de verificar a hipótese de melhoria de renda dos catadores de material reciclável no
lixão de Ji-Paraná após as novas instalações e perceber algumas direções da evolução do processo
de adaptação à preconizada gestão integrada dos resíduos sólidos. Nas análises foram utilizados
dados da renda dos catadores de junho a setembro de 2016, feitos testes estatísticos e a observação
do processo produtivo. Os resultados demonstram que houve redução significativa da renda dos
catadores. Considera-se dois motivos prováveis: despesas com obrigações não cumpridas de outros
agentes na gestão integrada dos resíduos e a ausência de coleta seletiva.
Palavras-chave: Coleta Seletiva, Resíduos Sólidos e Gestão Integrada.

ABSTRACT
The National Solid Waste Policy exposes the protagonism of collectors of recyclable materials. In
this context, social investment action in compensation for a large enterprise financed by the
National Bank for Economic and Social Development meets the Cooperative of Waste Pickers of Ji-
Paraná– Rondônia. This cooperative executes an exquisite project of strengthening that will
transform the means of production pretending to improve their working conditions and income.
This work has the purpose of verifying the hypothesis of improving the income of recyclable waste
pickers in the Ji-Paraná dump after the new facilities and to perceive some directions of the
evolution of the process of adaptation to the recommended integrated management of solid wastes.
In the analyzes were used data of the income of the collectors from June to September of 2016,
made statistical tests and the observation of the productive process. The results show that there was
a significant reduction in the income of the collectors. Two probable grounds are considered:
expenses with unmet obligations of other agents in the integrated waste management and the
absence of selective waste collection.
Keywords: Selective Waste Collection, Solid Waste, Integrated Management.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1227


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O crescimento e a sofisticação das necessidades básicas tem impulsionado a produção de


mais resíduos (BERRÍOS, 1999) e sua má disposição dinamiza os impactos tendo em vista que os
rejeitos têm se tornado cada vez mais tóxicos (PINHEIRO; FRANCISCHETTO, 2016).
Enquanto a gestão de resíduos sólidos digna desse nome praticamente inexistiu no Brasil até
2010 (BARROS, 2012), há décadas surge a figura dos catadores nas ruas e nos lixões praticando
uma economia marginal (NÓBREGA, 2006), que lhes permite sobreviver a partir da porção
reciclável do rejeito.
―O catador atua como elemento base de um processo produtivo bastante lucrativo, no
entanto, paradoxalmente, trabalha em condições muitas vezes precárias, sub-humanas, e não obtém
ganho que lhe assegure uma sobrevivência digna.‖ (LEAL et al. 2002 apud ALVES; MEIRELES,
2013)
A Lei n. 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos, ainda que tardia, promulga a
instituição de metas para a eliminação e recuperação dos lixões, associadas à emancipação
econômica dos catadores de materiais recicláveis (BRASIL, 2010).
No município de Ji-Paraná, a implantação de aterro sanitário e efetivo gerenciamento dos
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) estavam previstos para 2013 através de um termo de ajustamento
de conduta – TAC, proposto pelo Ministério Público Federal e assumido pela prefeitura (SANTOS,
2011).
A 4ª Conferência de meio ambiente, em 2013, com a temática: Brasil sem lixão ratificou o
prazo de extinção previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, para 2014, mas a
reabertura da discussão em plenária nacional acabou por retardar a meta. E ―não se tendo notícias
concretas de prorrogação do prazo estabelecido‖ (CITADINI, 2016), no imbróglio dos
acontecimentos, a obra do aterro sanitário encontra-se embargada e o Plano Municipal de
gerenciamento dos resíduos continua no papel.
Na prática, o histórico da destinação final adequada dos resíduos em Ji-Paraná, sob o escopo
da nova lei, vem da atuação incipiente de uma pequena parcela cidadã e de forma mais incisiva da
contínua atuação dos catadores.
Até o surgimento da Cooperativa de Catadores de Material Reciclável de Ji-Paraná –
COOCAMARJI, no fim da década passada, o processo produtivo se resumira em ‗garimpar‘ a céu
aberto os recicláveis comercializáveis de todo o lixo urbano misturado e coletado de forma
convencional e toda forma de bota fora protagonizado por empresas públicas e privadas.
Posterior e recentemente, entre outros motivos, por se localizar no entorno de um
empreendimento financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social -
BNDES, a cooperativa, no período de março de 2014 à dezembro de 2015, foi alvo de um projeto

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de fortalecimento que teve envolvido, por sua coordenação, vários atores de diversas instituições,
no intuito de trazer mais dignidade ao trabalho dos catadores melhorando suas condições e gerando
mais renda.
O projeto de fortalecimento, além de estruturar os meios de produção da cooperativa com
centro de reciclagem (barracão pavimentado, esteira, prensas, instrumentos de gestão eletrônica,
etc.) sede social e caminhões, transformando a cooperativa em referência nacional, trouxe medidas
instrutivas aos cooperados e a comunidade diante das adaptações necessárias; com planos de gestão
e de sensibilização.
Em uma espécie de incubação de aproximadamente um semestre. É o momento
transformador do processo produtivo, que traz à tona um aspecto significativo do processo; a saber,
a despesa com os meios de produção.
Nesse contexto, o presente trabalho teve a finalidade de verificar a hipótese de melhoria de
renda dos catadores de material reciclável no lixão de Ji-Paraná após as novas instalações e
perceber algumas direções da evolução do processo de adaptação à preconizada gestão integrada
dos resíduos sólidos.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no município de Ji-Paraná - Rondônia, no km 11 da linha 11, saída


para Porto Velho, onde está instalada a COOCAMARJI e onde ainda está ativo o ‗lixão‘ municipal
desde meados de 2017.
Os dados que fornecem as estatísticas da renda dos cooperados após a inauguração das
novas instalações foram obtidos a partir de planilhas do programa utilizado pela cooperativa e
fornecidas pelo seu presidente. As planilhas apresentavam os valores mensais da renda líquida de
cada cooperado e as despesas da cooperativa.
Foram discriminados três grupos de dados da renda: um representou a renda líquida –
recebida de fato pelo cooperado; outro composto pela soma da renda líquida mensal com o valor
equivalente ao quociente das despesas mensais da cooperativa pelo número de catadores da
cooperativa (Renda+DT) e um terceiro grupo onde aos valores da renda líquida foram somadas
apenas às despesas com o rejeito do processo de triagem (Renda+DR).
Até a coleta de dados do presente trabalho, haviam sido geradas planilhas de seis meses
(maio a outubro de 2016), visto que foi realizado para ser apresentado em dezembro de 2016, em
disciplina do curso de Engenharia Ambiental. No mês de outubro, por problemas em equipamento,
só houve produção durante quinze dias. Para que não interferissem negativamente nas estatísticas
optou-se então por descartar os dados desse mês e do mês de maio; que também não foi trabalhado
integralmente.

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Os parâmetros utilizados foram extraídos de valores declarados no relatório final do projeto


de fortalecimento (SOCIALZINK, 2016), que aponta a renda média mensal dos catadores: R$
750,00 no início do projeto em março de 2014, R$ 1.300,00 em dezembro de 2015 e a previsão de
R$ 2.200,00 quando o projeto estivesse a pleno vapor.
Também foram considerados os dados do relatório do IPEA (2013), que foi elaborado com
dados do Censo demográfico de 2010 (IBGE) e atribuiu uma renda média de R$ 607,25, aos
catadores da Região Norte. Todos os valores de renda foram corrigidos proporcionalmente, do
salário mínimo vigente à época para o de 2016.
Para verificação da igualdade estatística entre as médias mensais e os parâmetros utilizou-se
o test t para uma amostra, com nível de significância de 0,01 (α) e o teste de Anderson-Darling para
verificação da normalidade. A análise dos dados foi realizada por meio do programa Minitab 17
(MINITAB Inc.).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primeiramente foi realizada a correção dos valores, ficando então estabelecidos os


parâmetros: R$ 973,45 referente à renda no início do projeto em março de 2014; R$ 1.047,80
referente à renda projetada pelo IPEA com valores do Censo demográfico de 2010; R$ 1.451,78
proporcional à renda dos catadores no final de 2015, quando foram entregues os equipamentos e
instalações e R$ 2.200,00, que permaneceu inalterado (Figura 1).
Os testes realizados mostraram que a renda média dos catadores cooperados, nos meses de
junho a setembro de 2016, diminuiu em relação à renda que obtinham antes do processo de
fortalecimento ao qual foram alvo. E ficou muito aquém da meta proposta com a instalação da
infraestrutura - industrialização.

Figura 1 – Renda dos catadores nas novas instalações e os intervalos de confiança.


Notas: DT – despesa total, DR – despesa com o rejeito.

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A hipótese mais provável para tal discrepância é a do aumento das despesas; energia
elétrica, material de limpeza, equipamentos de proteção, internet, almoxarifado, insumos,
manutenção predial e do maquinário; a maioria advinda com a mudança dos meios de produção.
Sem embargo, diante dessa hipótese, os testes revelam, com nível de significância de 0,01
que, ainda se todo o valor com a despesa mensal fosse acrescido à renda líquida, essa soma da renda
média mais o quociente da despesa total pelo número de cooperativados no mês (Renda+DT)
poderia ter atingido o valor previsto para o final de 2015 apenas no mês de setembro de 2016, isso
se for considerado o intervalo de confiança.
Ainda vislumbrando esse acréscimo à renda, relativo ao gasto para operação dos novos
meios, nos meses de junho e agosto teria atingido apenas o valor corrigido da média do IPEA para a
Região Norte e no mês de julho, sequer se aproxima do valor da renda média do início do projeto
que é o parâmetro de menor valor.
Outro fator observado ‗in loco‘ é que pouco ou nada mudou no tocante a um dos principais
aspectos do modo de produção: a qualidade do resíduo a ser triado. A coleta seletiva, fundamental
para a gestão integrada dos RSU (IPEA, 2013) iniciada com o projeto de sensibilização, foi
interrompida por falta de recursos.
Segundo os catadores a visita aos bairros estava ‗dando prejuízo‘ devido à despesa com o
combustível, ao lento processo de adesão da sociedade e a qualidade do material separado. Vale
ressaltar que é responsabilidade, da qual se abstém o setor público municipal competente, a de
estabelecer a coleta seletiva e priorizar a contratação de cooperativas de catadores, Art. 36, §1º da
PNRS (BRASIL, 2010).
Além da interrupção, a cooperativa, com foco na triagem do resíduo proveniente da coleta
convencional, fez outra adaptação ao projeto original, trocando um caminhão novo por uma pá
carregadeira e uma caçamba ‗velha‘ os quais são utilizados no manejo desse resíduo; empurrando-o
da rampa para a linha de triagem e carregando o rejeito da esteira para as células do aterro, a um km
do barracão. O rejeito da esteira é a diferença entre aproximadamente 78 t dia-1 (SANTOS, 2011) e
o reciclado, 2 t dia-1 (SOCIALZINK, 2016).
É esse um dos principais fatores para o incremento crescente nos custos do processo. Gastos
com combustível e (cada vez mais) manutenção dessas duas máquinas e conflitos entre os
cooperados desabituados à gestão de patrimônio levaram ao afastamento de muitos que retornaram
às células do aterro para a catação à moda antiga, conforme pode ser observado na Figura 2.

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Figura 2 – Relação entre a quantidade de cooperados e as despesas mensais da cooperativa de junho a


setembro de 2016.

Supondo que a empresa responsável arcasse com os gastos de óleo diesel e a manutenção
desse maquinário, consideraríamos então a renda média acrescida da despesa com o rejeito
(Renda+DR). Poder-se-ia ter ultrapassado ao menos o valor corrigido da média do IPEA da Região
Norte (valor-p 0,062; 0,033; 0,035) para os meses de junho, agosto e setembro, respectivamente.
Seria uma melhora considerável que poderia ter evitado o afastamento de grande parte dos
cooperados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A hipótese da presente pesquisa foi refutada, verificou-se uma redução significativa da renda
média dos catadores no período analisado em relação aos parâmetros estabelecidos. Ainda que se
destaque do contexto aspectos positivos que os números não revelam; a saber, melhoria nas
condições de segurança do trabalho, além das condições de representação dos direitos e das relações
interinstitucionais, a diminuição da renda foi alarmante.
A cooperativa é uma importante entidade na execução do PNRS. Todavia não compete que
se responsabilize por obrigações do poder público e de empresas privadas. No caso particular, a
cooperativa deve ser, emergencialmente, desonerada das despesas com rejeito e novamente
incubada no processo instrutivo de práticas de gestão.
Diante de outro aspecto importante observado, a renda média mensal, mesmo incrementada
com valor semelhante ao da despesa total do processo produtivo, não teria atingido as metas
propostas, e sabendo-se do enorme potencial de reciclagem pela porção de materiais recicláveis

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sendo depositados em células de aterro, sugere-se a retomada da coleta seletiva executada com o
plano de sensibilização concomitante e continuadamente.

REFERÊNCIAS

ALVES, J. C. M.; MEIRELES, M. E. F. Gestão de resíduos: as possibilidades de construção de


uma rede solidária entre associações de catadores de materiais recicláveis. Sistemas e Gestão,
[s.l.], v. 8, n. 2, p. 160-170, 2013. Disponível em: < http://repositorio.ufop.br/bitstream
/123456789/4419/1/ARTIGO_Gest%C3%A3oRes%C3%ADduosPossibilidades.pdf>. Acesso
em: 2 dez. 2016.

BARROS, R. T. V. Elementos de gestão de resíduos sólidos. BH: Tessitura, 2012.

BERRÍOS, M. R. Consumismo e geração de resíduos sólidos. GEOUSP, São Paulo, n. 6, p. 17-26,


1999.

BRASIL. Decreto-lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos. Diário Oficial da União, Seção 1, Brasília, n. 147, p. 3-7, 3 ago. 2010.

CITADINI, A. R. A política nacional de resíduos sólidos e o tribunal de contas. R. TCEMG, Belo


Horizonte, v. 34, n. 1, p. 10-12, jan./mar. 2016.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. Situação Social das Catadoras e


dos Catadores de Material Reciclável e Reutilizável. Brasília, 2013.

MINITAB Inc. Minitab 17. State College, Pensilvânia, 2016. Disponível em: <
http://www.minitab.com/pt-br/products/minitab/free-trial/>. Acesso em: 29 nov. 2016.

NÓBREGA, J. S. As possibilidades de uma ecologia de saberes: a negociação de sentidos no


processo de incubação. 2006. 165 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social)–Pontifícia
Universidade Católica, São Paulo, 2006.

PINHEIRO, T. P.; FRANCISCHETTO, G. P. P. A política nacional de resíduos sólidos como


mecanismo de fortalecimento das associações de catadores de materiais recicláveis. Derecho y
Cambio Social, Lima, n. 43, ano XIII, fev. 2016. Disponível em:
<http://www.derechoycambiosocial.com/revista043/A_POLITICA_NACIONAL_DE_RESIDU
OS_SOLIDOS.pdf.> Acesso em: 1 dez. 2016.

SANTOS, L. R. Caracterização física dos resíduos sólidos urbanos do município de Ji-Paraná-


Rondônia. 2011. 48 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia
Ambiental)–Universidade Federal de Rondônia, Ji-Paraná, 2011.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1233


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

SOCIALZINK. Relatório final. Compromisso Social JTE: Fortalecimento da Cooperativa de


Catadores de Ji-Paraná (COOCAMARJI) e apoio ao plano de gestão de resíduos sólidos de Ji-
Paraná. Ji-Paraná, mar. 2016.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PARQUE LAGOA DA VIÚVA, FORTALEZA, CEARÁ: REFLEXÕES SOBRE O


MOVIMENTO AMBIENTAL E SUAS IMPLICAÇÕES

Lucas Emerson Uchôa RIBEIRO


Graduando em Geografia Bacharelado pela Universidade Estadual do Ceará
lucasemersonce@hotmail.com
Madson dos Santos COSTA
Graduando em Geografia Bacharelado pela Universidade Estadual do Ceará
madson.costa@aluno.uece.br
Frederico de Holanda BASTOS
Professor adjunto do curso de Geografia da Universidade Estadual do Ceará
fred.holanda@uece.br

RESUMO
Debater a questão ambiental no âmbito das grandes cidades demanda reflexões que vão além do
aspecto puramente natural. Também estão envolvidas questões de ordem social, política, cultural e
econômica, que tornam a compreensão do meio ambiente inserido no espaço urbano mais
complexa. Em virtude disso, pretende-se com este estudo abordar a conjuntura atual do Parque
Urbano da Lagoa da Viúva, localizado no bairro Siqueira, em Fortaleza (CE), atrelado ao debate das
áreas verdes no mesmo município, bem como contextualizar o movimento ambiental por trás de sua
criação. A argumentação desenvolvida na presente discussão baseia-se em temas e conceitos como
a relação ―natureza x cidade‖, parques urbanos, áreas verdes e movimentos ambientais, destacando-
se também os aspectos legais referentes à criação de parques urbanos na cidade de Fortaleza.
Através da pesquisa teórica, do trabalho de campo e da realização de entrevista com um
representante do movimento ambiental local, constatou-se que, apesar de já regulamentado,
conquista que foi resultado de diversas mobilizações por parte de entidades locais, o parque em
análise, assim como vários outros exemplos espalhados pela cidade, carece de infraestruturas que o
caracterizem de fato como parque e que permitam o seu aproveitamento mais adequado pela
população. Enquanto legalmente o parque existe, a área sofre com a deposição inadequada de lixo,
tentativas de ocupações irregulares e desmatamento da vegetação nativa, onde tanto a população
local como a própria Prefeitura são responsáveis por tais práticas. Complementando a presente
discussão, algumas reivindicações do movimento são apresentadas diante a conjuntura atual do
parque em destaque.
Palavras-Chave: áreas verdes, parque urbano, movimento ambiental.

ABSTRACT
Debating the environmental issue in the big cities demands reflections that go beyond the purely
natural aspect. Also involved are social, political, cultural and economic issues that make the
understanding of the environment inserted in the urban space more complex. As a result, this study
intends to address the current situation of the Urban Park Lagoa da Viúva, located in the Siqueira
neighborhood, in Fortaleza (CE), linked to the green areas debate in the same municipality, as well
as to contextualize the environmental movement by behind its creation. The argument developed in
the present discussion is based on themes and concepts such as the relation "nature vs. city", urban
parks and green areas, as well as the legal aspects regarding the creation of urban parks in the city
of Fortaleza. Through the theoretical research, the fieldwork and the interview with a representative
of the local environmental movement, it was verified that, despite already regulated, conquest that
was the result of several mobilizations by local entities, the park in analysis, As well as several

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other examples scattered throughout the city, lacks the infrastructures that really characterize it as a
park and that allow it to be used more appropriately by the population. While legally the park exists,
the area suffers from improper disposal of garbage, attempts at irregular occupations and
deforestation of native vegetation, where both the local population and the Municipality itself are
responsible for such practices. Complementing the present discussion, some claims of the local
population are presented in view of the current situation of the highlighted park.
Keywords: Green areas, urban park, environmental movement.

INTRODUÇÃO

A relação ―homem x meio‖ é uma das mais tradicionais questões no entendimento do objeto
central da ciência geográfica. Tal associação demanda, em determinado momento, de uma
abordagem mais complexa quando se chega à necessidade de entender suas imbricações e a
correspondente influência na organização espacial da Terra. Assim, como compreender a superfície
terrestre através de práticas que considerem, ao mesmo tempo, o equilíbrio ecológico e o uso
sustentável da Terra? Sabe-se que nos tempos atuais, é inviável considerar a natureza em sua
totalidade como intangível, ao mesmo tempo que é posta de maneira desigual a disposição da
população como um todo. Os interesses humanos sobre a mesma devem ser compatibilizados de
maneira democrática, coletiva e compreensiva com perspectivas futuras, a partir do momento que
dependem dos recursos naturais para sua própria sobrevivência.
Porém, tais fatos confrontam-se com problemáticas concomitantes ao processo de expansão
urbana e adensamento populacional nas cidades e, na perspectiva da apropriação de áreas verdes,
tais questões se tornam ainda mais intensas. Sobre a definição de área verde, o Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) a conceitua como ―[...] o espaço de domínio público que
desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade
estética, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de
impermeabilização‖ (BRASIL, 2006).
Objetivando colaborar na padronização de conceitos utilizados para identificação do verde
urbano, Cavalheiro et al. (1999) e Nucci e Cavalheiro (2016) enfatizam a diferenciação entre
espaços livres de construção, áreas verdes e cobertura vegetal. Esses autores consideram como
espaços livres de construção os espaços urbanos ao ar livre utilizados, de forma geral, para
recreação e entretenimento, que podem ser privados, potencialmente coletivos ou públicos,
desempenhando funções estéticas, de lazer, ecológico-ambientais etc.
As áreas verdes, abrangidas pela definição anterior, têm como elemento fundamental de
composição a vegetação, assim como a presença de solo não impermeabilizado (devendo ocupar
pelo menos 70% da área), e servirem à população, depreendendo-se, assim, que devem ser públicas.
Esse conceito diferencia-se do de cobertura vegetal por este ser considerado como a projeção do

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verde em cartas planimétricas, isto é, inclui toda a mancha de vegetação da cidade, esteja ela
presente nos espaços construídos, livres e de integração, unidades de conservação ou áreas rurais
(CAVALHEIRO et al., 1999).
Loboda e De Angelis (2005) destacam a importância das áreas verdes no mosaico urbano
por inserirem-se como espaços com condições mais próximas às circunstâncias normais da
natureza, tendo se convertido nos ―principais ícones de defesa do meio ambiente pela sua
degradação e pelo exíguo espaço que lhes é destinado nos centros urbanos‖ (LOBODA e DE
ANGELIS, op. cit., p. 129). Desta forma, esses autores avaliam que a questão ambiental tem
ganhado notoriedade, materializando-se no espaço urbano através da produção de praças e parques
públicos, fundamentados em propostas de melhoria da qualidade de vida na cidade, preservação
ambiental, recreação e sociabilização, o que fariam dessas áreas atenuantes da paisagem urbana.
Entretanto, Gomes (2014), tece críticas à lógica por trás da criação de inúmeras estruturas
voltadas para o ―verde urbano‖. Segundo o autor, tal lógica relaciona-se às intencionalidades do
capital para (p)reservar espaços para futuras expansões, tornar possível a continuidade de sua
reprodução por meio da exploração de recursos naturais, além da ―apropriação do verde‖ como
mercadoria. Com essa finalidade, o histórico dos parques remete à geração conflitos, contradições e
desigualdades. O autor ainda aponta que os parques urbanos podem atuar como equipamentos
importantes na cidade, desempenhando funções ecológicas e sociais. Para tanto, devem ser
implantados de acordo com as necessidades coletivas da população e em áreas em que o conteúdo
natural seja realmente significativo.
Expressos na Política Ambiental de Fortaleza87 como Áreas de Preservação Especial, os
parques urbanos são definidos como ―áreas verdes urbanas de relevância natural com função
ecológica, estética e de lazer, cuja extensão é maior que os polos de lazer, praças e jardins públicos‖
(FORTALEZA, 2014). No ano de 2014, através de decretos, foram criados, regulamentados e
delimitados parques pré-existentes e novos, tendo a cidade de Fortaleza alcançado o número de 21
parques e unidades de conservação88. Sob tutela estadual, o município em destaque ainda dispõe do
Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, da Área de Proteção Ambiental (APA) do
Estuário do Rio Ceará, da APA do Rio Pacoti (junto com os municípios de Eusébio e Aquiraz), da

87
Este documento reconhece como integrantes do Sistema Municipal de Áreas Verdes Urbanas as Unidades de
Conservação de Proteção Integral e as Unidades de Conservação de Uso Sustentável (ambas conforme a Lei Federal nº
9.985/2000) e as Áreas de Proteção Especial, nas quais inserem-se os parques urbanos, cujos objetivos são
―compatibilizar a oferta de espaços de lazer e convivência com a preservação e/ou conservação dos recursos naturais;
incrementar ao potencial paisagístico e ambiental do município os equipamentos ou áreas particulares; regulamentar o
uso do solo nas Áreas Verdes Urbanas existentes e nas futuras‖ (FORTALEZA, 2014).
88
Parque Municipal Natural das Dunas da Sabiaguaba – PMNDS, Área de Proteção Ambiental – APA da Sabiaguaba,
Parque Rachel de Queiroz, Parque Rio Branco, Parque Adahil Barreto, Parque das Iguanas, Parque Guararapes/Bosque
Presidente Geisel, Parque do Riacho Pajeú, Parque do Riacho Maceió, Parque do Riacho Parreão e os parques das
seguintes lagoas: Parangaba, Porangabussu, Messejana, Maria Vieira, Itaperoaba, Mondubim, Opaia, Jacarey, Catão,
Maraponga e Papicu (FORTALEZA, 2014).

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Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Sítio Curió e do recém regulamentado Parque do
Cocó, maior área verde da cidade.
Já em 2015 é criado, regulamentado e delimitado o Parque Urbano da Lagoa da Viúva 89
(Figura 01), principal área verde do bairro Siqueira na Região do Grande Bom Jardim, objeto de
estudo da presente discussão, que passa atualmente por situações conflituosas. Embora já
institucionalizado, não possui uma demarcação física, sofre com a supressão da vegetação nativa, e
é ameaçado por tentativas de ocupação irregulares. A população do bairro, entidades locais e
ambientalistas de outros lugares da cidade organizam-se em ações para reverter a situação. Mesmo
assim, o papel do Estado em mediar tais conflitos ainda é insuficiente quando os casos acima
ocorrem.
Definem-se como objetivos deste trabalho a descrição da conjuntura atual do Parque Urbano
Lagoa da Viúva dentro do debate das áreas verdes no município de Fortaleza, bem como pela
contextualização do movimento ambiental por trás de sua criação. Esta discussão justifica-se como
um meio de fornecer subsídios à gestão da área a partir de ações e estratégias provenientes da
sociedade civil e poder público, dando visibilidade à questão ambiental nas grandes cidades e
discutindo, especificamente para o caso de Fortaleza, a necessidade de desconcentração dos parques
urbanos para as periferias da cidade.

Figura 01 – Mapa de localização do Parque Urbano Lagoa da Viúva. Fonte: Elaborado pelos autores.

89
Cf. Decreto N° 13.687, de 09 de novembro de 2015 (FORTALEZA, 2009).

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METODOLOGIA

Dentre os procedimentos que tornaram possível a realização dos objetivos deste trabalho,
destacam-se o levantamento bibliográfico, documental e cartográfico, a elaboração de hemeroteca
temática, a realização de trabalho de campo na área de estudo com entrevista com uma
representante ambientalista do bairro Siqueira e a elaboração de mapas relativos ao propósito do
estudo.
A primeira etapa desta metodologia define-se pelo levantamento bibliográfico, buscando-se
estudos focados em temas como a relação ―natureza x cidade‖ e parques urbanos (GOMES, 2014),
áreas verdes (CAVALHEIRO et al., 1999; LOBODA e DE ANGELIS, 2005; NUCCI e
CAVALHEIRO, 2016) e movimentos ambientais (SANTILLI, 2005 e COSTA, 2014), que
auxiliaram na fundamentação teórica do presente trabalho. Concomitantemente, o levantamento de
documentos e materiais cartográficos foi essencial para a coleta de dados oficiais acerca da criação,
regulamentação e delimitação da poligonal do Parque Urbano da Lagoa da Viúva, bem como do
zoneamento ambiental da cidade de Fortaleza, destacando-se o Plano Diretor Participativo do
Município de Fortaleza, Diário Oficial do Município de Fortaleza (Nº 15.204, de 21 de janeiro de
2014, e Nº 15.645, de 11 de novembro de 2015) e a Política Ambiental de Fortaleza.
Ainda nesta primeira etapa, a elaboração de hemeroteca temática, com notícias e reportagens
veiculadas nos principais jornais cearenses, entre os anos de 2014 e 2016, sobre o Parque Urbano da
Lagoa da Viúva, serviu como outro recurso da pesquisa e fonte complementar de informações.
Posteriormente, seguiu-se a realização do trabalho de campo na área do parque, localizado
no bairro Siqueira, e a realização de entrevista com um representante ambientalista do bairro a fim
de elucidar pontos referentes ao processo de regulamentação e implantação do parque, interesses,
perspectivas futuras e reivindicações da população local, além da necessidade de áreas verdes no
bairro.
Por fim, baseado no levantamento documental e cartográfico e no trabalho de campo,
procedeu-se o levantamento de imagens de satélites disponíveis no software Google Earth Pro
(referentes aos anos de 2004, 2007, 2012 e 2016), georreferenciamento e elaboração do mapa
espaço-temporal, evidenciando a expansão da mancha urbana em direção à lagoa e às áreas verdes
adjacentes, submetido posteriormente à análise levando em consideração o zoneamento urbano e
ambiental da cidade de Fortaleza.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Definindo-se a partir de espaços aquáticos estagnados de origem natural ou antrópica,


característicos pela presença de água doce, as lagoas no contexto da cidade de Fortaleza exprimem,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1239


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

concomitante ao processo de urbanização, problemáticas atreladas à especulação imobiliária,


supressão da vegetação nativa e poluição dos corpos d‘agua. Claudino-Sales (2017) destaca que,
desde 1970, a especulação imobiliária representa uma das mais importantes atividades econômicas
locais, e as lagoas foram sendo soterradas em razão da produção de solo urbano. Atrelado a isso, a
poluição por conta do descarte de resíduos e o despejo de esgoto sem tratamento são problemáticas
frequentes nas lagoas do município, decorrentes tanto de indústrias como de residências, pois parte
da população liga seus esgotos à rede de drenagem das chuvas ao invés da utilização de fossas.
Santilli (2005) indica que ―o socioambientalismo brasileiro nasceu na segunda metade dos
anos 80, a partir de articulações políticas entre os movimentos sociais e ambientalistas‖
(SANTILLI, op. cit., p. 12). De acordo com Costa (2014), ―o primeiro movimento social
ambientalista de Fortaleza ergueu sua bandeira para impedir a construção de moradias e a instalação
de outros empreendimentos nos terrenos às margens do rio Cocó, onde mais tarde viria a ser
instalado o Parque Adahil Barreto‖. Após tal período, determinados movimentos com o intuito da
preservação das lagoas destacam-se como SOS Lagoa da Parangaba, SOS Lagoa da Maraponga,
Movimento Pró-Parque Lagoa da Itaperoaba etc.
A cidade de Fortaleza possui diversas lagoas com respectivos parques instalados nas
mesmas. Para a presente discussão, destaca-se o Parque Urbano Lagoa da Viúva, localizado no
bairro Siqueira, inserido na regional V, zona oeste de Fortaleza. Esse parque engloba duas lagoas
que incorporam a Bacia do Rio Maranguapinho, especificamente em parte do seu médio curso, se
tratando de dois açudes90 (Figura 02), visto a existência de barramentos e sangradouros construídos
com materiais de alvenaria. Sua criação se deu em 8 de novembro de 2015, através do Decreto
13.867, resultado de parcerias entre o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS),
Centro de Cidadania e Valorização Humana, a Rede de Desenvolvimento Local e Integrado e
Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS), movimentos sociais e a Prefeitura de Fortaleza.
O parque, em sua totalidade, compreende uma poligonal de 39,85 hectares, dividida em quatro
trechos.
As presentes lagoas sempre tiveram grande importância para os moradores da Região do
Grande Bom Jardim na questão da conservação de tais espaços. Os mesmos recursos hídricos dessa
região sempre possuíram vários tipos de funcionalidades como o banho, a pesca artesanal,
piqueniques, eventos culturais locais, atividades de educação ambiental, entre outros.

90
De acordo com Melo et.al. (2008), a partir do momento que um lago é formado pelo barramento de uma nascente ou
curso d‘água, em geral para fins de irrigação, dessedentação etc., denomina-se açude o conjunto constituído pela
estrutura de barramento e o respectivo reservatório ou lago formado.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1240


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 02 – Açude da Viúva (A) e Açude Varjota (B), ambos localizados no trecho 01 da delimitação do
referente parque urbano. Fonte: elaboradas pelos autores.

O histórico do movimento ambiental em defesa do referente parque, remete, inicialmente, a


meados da primeira década do século XXI, onde a comunidade lutava pelo ―Pulmão Verde do
Siqueira‖, área que corresponde ao trecho 03 do parque, contra o avanço da especulação imobiliária
e ocupações irregulares, que refletiam no processo de supressão da vegetação nativa. Iniciado
prioritariamente pela Rede de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS),
em 2012, com várias entidades envolvidas na luta pela preservação das lagoas, o movimento
ambiental começa a procurar articulações com os órgãos municipais para efetivas ações no âmbito
legal.
Em 2012, juntamente a um debate com os candidatos à Prefeitura de Fortaleza, foi
produzido um documento denominado ―Plataforma das Lutas Prioritárias do Grande Bom Jardim,
Jangurussu e Ancuri‖, onde várias demandas foram colocadas em pauta no contexto da Região do
Grande Bom Jardim. Algumas das reivindicações incluíam a urbanização, preservação e
recuperação dos mananciais de água, como as lagoas da Viúva e Varjota, para fins de uso público,
onde tanto as ocupações irregulares fossem proibidas, além de que as condições naturais das áreas
verdes do bairro Siqueira fossem preservadas. Assim, após três anos de mobilizações, entre 2012 e
2015, incluindo audiências públicas, articulações entre movimentos sociais e órgãos municipais e o
apoio da comunidade local, a área das lagoas, de duas quadras e o que seria o pulmão verde do
Siqueira, juntas, foram decretadas como parque urbano.
Antes mesmo da criação do parque, a área das lagoas fazia parte, segundo a Lei
Complementar n° 062, de 02 de fevereiro de 2009, que instituiu o Plano Diretor Participativo do
Município de Fortaleza, de Zonas Especiais Ambientas – ZEA (Seção III, Art. 140), definidas por
áreas, de cunho público e privado, que possuam porções de determinados ecossistemas naturais,
com suas respectivas relevâncias ambientais, com quatro objetivos explícitos:

I - promover ações que visem à manutenção das áreas de conservação, proteção e


preservação ambiental; II - oferecer espaços públicos adequados ao lazer da população, sem
interferência significativa no bioma, tais como trilhas ecológicas, mirantes, entre outros; III
- promover a interconexão de remanescentes de vegetação e de fauna, possibilitando a
criação futura de corredores ecológicos; IV - proporcionar a criação de unidades de
conservação mediante estudos de viabilidade ambiental. (FORTALEZA, 2009).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1241


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Nos últimos dois anos (2016-2017), algumas problemáticas surgiram mesmo com a
instalação do presente parque. Uma delas é o desmatamento realizado a partir de tentativas de
invasão e fixação de moradias, onde aproximadamente sete hectares de mata nativa foram
devastados, atreladas a algumas práticas de queimadas. Várias espécies vegetais como carnaúbas,
mororós, jucás etc., típicas da área, sofreram com tais práticas predatórias. A especulação
imobiliária avança sobre as áreas naturais remanescentes com o passar dos anos, e vários episódios
do tipo são observados.
É constatado também que as margens das lagoas servem como depósitos finais de resíduos
sólidos, onde o descarte irregular do lixo é observado em vários pontos com concentração de
sacolas plásticas, materiais de construção, garrafas PET e materiais orgânicos. Além disso, quando
solicitado aos órgãos públicos competentes a limpeza de determinados trechos poluídos, a ação se
faz, por vezes, com concomitante corte da vegetação, expondo solos e dando margem ao processo
de assoreamento dos corpos d‘água.

Figura 03: Expansão urbana no entorno do Parque Urbano da Lagoa da Viúva. Fonte: elaborado pelos
autores.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1242


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 04 – Depósito de resíduos sólidos (A) e (B), e resquícios de vegetação após desmatamento para a
retirada de lixo (C) e (D). Fonte: elaboradas pelos autores.

Embora seja uma reinvindicação desde a criação do parque, não há uma delimitação física
para a poligonal e, além disso, o entorno carece de estruturas que possibilitem a melhor utilização
sem interferir negativamente na paisagem natural como calçadão, iluminação pública de qualidade,
equipamentos de ginástica etc. Tais construções permitiriam que os espaços dispostos ao lazer
fossem melhor aproveitados, e posteriores ocupações fossem impedidas, sem maiores danos
prejudiciais ao meio.
As ações ambientais promovidas no interior do parque, mobilizadas principalmente pelos
movimentos sociais da Região do Grande Bom Jardim, atrelados ao apoio da Prefeitura de
Fortaleza, têm garantido aos poucos que a paisagem natural seja preservada. As intervenções se dão
através de atividades voltadas para a educação ambiental como trilhas ecológicas, aulas de campo,
reflorestamento de espécies nativas, além da fiscalização e monitoramento ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os parques urbanos na cidade de Fortaleza foram resultados de grandes pressões dos


movimentos sociais na luta por áreas verdes. Concomitante a isso, os parques instalados hoje se
apresentam mais valorizados por órgãos públicos estando concentrados na porção leste do
município, conhecida como a "área nobre", parte mais privilegiada da cidade. Contudo, aos poucos
a periferia vem ganhando uma maior visibilidade na discussão das questões ambientais urbanas.
Na perspectiva do Parque Urbano da Lagoa da Viúva, algumas pendências judiciais se
apresentam desde sua oficialização, como a indenização de famílias que possuíam suas residências
inseridas dentro da poligonal. Ao mesmo tempo, a necessidade imediata de terras para moradias faz

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1243


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

com que os conflitos atinjam diretamente a paisagem natural, tanto por meio de ocupações quanto
por loteamentos que se fazem cada dia mais presentes nas proximidades dos corpos hídricos.
É interessante observar que os movimentos sociais urbanos por moradia na cidade de
Fortaleza anseiam pela abertura, implementação e regularização de políticas públicas habitacionais
que subvencionem a população de baixa renda do mercado imobiliário formal. Assim, através do
equilíbrio na luta pelas demandas por moradia com as reivindicações do parque, é possível que o
local se torne mais agradável e acessível para a população como um todo.
Entre as reinvindicações atuais, destacam-se como principais a implantação de mobiliário
91
urbano , consolidação do saneamento ambiental das comunidades do entorno, confronto às
ocupações irregulares através da regulamentação fundiária, programas de educação ambiental
atrelados à estruturação de trilhas ecológicas, pesquisa, catalogação e sinalização sobre espécies
animais e vegetais locais, segurança dos banhistas impossibilitando afogamentos, além do
reflorestamento com plantas nativas para a recuperação de áreas já desmatadas. Para isso, as ações
públicas devem ser efetivadas a partir de abordagens participativas, não tendo só os recursos
naturais como foco, mas também a qualidade de vida da população que abrange suas áreas
circunvizinhas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9283: Mobiliário urbano. ABNT,


1986.

BRASIL. Resolução Conama nº 369, de 28 de março de 2006. Disponível em:


<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiano1.cfm?codlegitipo=3&ano=2006 >. Acesso em:
28 de julho de 2017.

CAVALHEIRO, F., NUCCI, J. C., GUZZO, P., ROCHA, Y. T. Proposição de terminologia para o
verde urbano. Boletim Informativo da SBAU, Rio de Janeiro, RJ, ano VII, n. 3, jul./ago./set.
1999.

CLAUDINO-SALES, V. Lagoas costeiras na cultura urbana da cidade de Fortaleza, Ceará.


Revista da ANPEGE, v. 2, n. 2, p. 89-96, 2017.

COSTA, A. Demandas do movimento ambiental por áreas verdes em Fortaleza. Fortaleza: Banco
do Nordeste do Brasil, 2014.

91
De acordo com a NBR 9283, o mobiliário urbano compreende ―todos os objetos, complementos e pequenas
construções integrantes da paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder
público, em espaços públicos e privados‖ (ABNT, 1986). Na presente discussão, o termo refere-se à implantação de
cerca verde, calçada, iluminação pública, equipamentos de ginástica e playground.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1244


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FORTALEZA. Diário Oficial do Município de Fortaleza, Ceará, 24 ago. 2009.

FORTALEZA. Plano Diretor Participativo. 2009. Disponível em:


<http://legislacao.fortaleza.ce.gov.br/index.php/Plano_Diretor>. Acesso em 27 de julho de 2017.

FORTALEZA. Política Ambiental de Fortaleza. 2014. Disponível em: <


http://salasituacional.fortaleza.ce.gov.br:8081/acervo/documentById?id=f4c1f890-589b-48e0-
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GOMES, M. A. S. Parques urbanos, políticas públicas e sustentabilidade. Revista Mercator, v. 13,


n. 2, p. 79 a 90, 2014.

LOBODA, C. R; DE ANGELIS, B. L. D. Áreas verdes públicas urbanas: conceitos, usos e funções.


Ambiência, v. 1, n. 1, p. 125-139, 2005.

MELO, C. I. P., CARVALHO, J. C., CAMARGOS, L. D. M. M., e FILGUEIRAS, J. A. R.


Glossário de Termos Relacionados à Gestão de Recursos Hídricos. 2008. APA

NUCCI, J. C; CAVALHEIRO, F. Cobertura vegetal em áreas urbanas-conceito e método.


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<http://www20.opovo.com.br/extra/documentodebate.pdf>. Acesso: 11 de agosto de 2017.

SANTILLI, J. Socioambientalismo e novos direitos-Proteção jurídica à diversidade biológica e


cultural. Editora Peirópolis LTDA, 2005.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1245


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Patrimônio Cultural
e o Saber Ambiental

© Claudia Neu

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1246


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

IMPORTÂNCIA DOS SABERES HEREDITÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO


AMBIENTAL NA COMUNIDADE DE PESCADORES DE RIO FORMOSO (PE)

Paulo Wanderley de MELO


Graduando em Ciências Biológicas da UFPE
paulowmelo03@gmail.com
Maria Danise de Oliveira ALVES
Professora da FAFIRE
danisealves@hotmail.com
Maria Elisabeth de ARAÚJO
Professora Titular do Departamento de Oceanografia da UFPE
betharau08@gmail.com

RESUMO
As comunidades de pescadores artesanais do Brasil têm sofrido com políticas públicas e abordagens
de Educação Ambiental que não consideraram todos os seus aspectos socioculturais. A comunidade
pesqueira de Rio Formoso apresenta tradições culturais bastante ricas que, apesar do declínio da
profissão - causado por impactos ambientais e pelo surgimento de novos empregos - e do
desinteresse dos jovens, ainda persistem nos dias de hoje. Boa parte da sua cultura está ligada ao
ambiente de manguezais e de mar que circunda essa comunidade. Foram identificados lendas e
causos passados de pai para filho que estimulam a educação e preservação do meio ambiente. Esses
componentes culturais devem ser utilizados em projetos futuros de educação ambiental pelo fato de
estimularem o orgulho da comunidade perante sua própria cultura e o meio no qual se insere.
Palavras Chave: Educação Ambiental, Pesca Artesanal, Cultura, Rio Formoso.
ABSTRACT
Fishing communities in Brazil have surffered with public politics and environmental approaches
wich didn‘t consider all their socioculturals aspects. The Rio Formoso fishing community has rich
cultural traditions that, besides of the decline of the profession – caused by environmental impacts
and by the emergence of new jobs – and the lack of interest of young people, still persist today. A
good part of their culture is linked to the environment of mangrove and the sea that surround this
community. Were identified legends and popular stories passed from father to son that stimulate the
education and the environmental preservation. These cultural components must be used in future
environmental education projects because they stimulate the community's pride in its own culture
and the environment in which it is embedded.
Keywords: Environmental education, Fishing communities, Culture, Rio Formoso.

INTRODUÇÃO

A realidade das comunidades pesqueiras no Brasil hoje é fruto de um passado pouco


eficiente na aplicação de políticas públicas de educação ambiental. A implementação delas,
verticalizada e sem considerar as especificidades locais, fez e ainda faz com que permaneçam
inócuas ou não obtenham o resultado esperado (Araújo et al, 2014).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1247


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Quando se fala em Educação Ambiental em comunidades pesqueiras por muitas vezes


busca-se ―educar o pescador‖ sem reconhecer a sua riqueza cultural (Pereira, 2006). Porém o que
muitas vezes não acontece é a busca do entendimento e valorização histórico-cultural por trás
daquela realidade. Muitas vezes existe uma dicotomia entre o que o governo ou o pesquisador pensa
que é melhor para uma comunidade e o que ela realmente precisa. Não conhecendo suas reais
necessidades, estes podem pensar que ela precisa de informações técnicas sobre o uso de um
recurso, quando, talvez, seus membros identifiquem que o maior problema é que os mais velhos não
estão mais passando seus conhecimentos sobre tais recursos (Albuquerque et al, 2014). Muitos
programas de educação ambiental se baseiam exclusivamente em uma mudança de conhecimento
que promova uma mudança de hábito. Porém sabe-se que existe um longo caminho entre saber de
um problema e fazer algo sobre isso (Butler et al, 2013).
Diante disso, políticas públicas, ou ações isoladas de pesquisadores que não consideram
todos os aspectos que envolvem a comunidade não conseguem atingir completamente seus
objetivos. A educação ambiental apresentada às comunidades de forma lúdica e informal,
considerando o contexto, modo de vida e costumes, com troca de conhecimento através de teatro,
livros e workshops se apresenta como uma boa alternativa (Albuquerque et al, 2014). Pois uma
metodologia que envolva as tradições culturais e promova um sentimento de pertença ao lugar se
torna eficiente em comunidades pesqueiras (Pereira, 2006).
A comunidade pesqueira de Rio Formoso apresenta as suas festividades, ainda hoje, como
um ponto forte na cultura do seu povo (Araújo et al, 2014). Hoje ela passa por uma situação de
declínio da atividade pesqueira por causa dos impactos ambientais que atingem o local tais como a
poluição e a sobrepesca. A diminuição do pescado e o surgimento de empregos em atividades
turísticas vêm fazendo as novas gerações abandonarem a atividade.
O presente artigo visa demonstrar a importância dos saberes hereditário para a educação
ambiental na comunidade pesqueira de Rio Formoso frente ao declínio socioeconômico e cultural
que esta apresenta.

METODOLOGIA

A comunidade de pescadores artesanais de Rio Formoso se localiza no litoral Sul de


Pernambuco e se insere em duas áreas de proteção ambiental: APA Costa dos Corais e APA de
Guadalupe. A comunidade é composta por pescadores da zona urbana e da zona rural, sendo esta
última descendente de quilombolas.
O artigo foi desenvolvido a partir de entrevistas realizadas para a produção do livro
―Histórias de Pescadores: meio ambiente, recursos pesqueiros e tradição em Rio Formoso –
Pernambuco‖ (Araújo et al, 2014) pelo IMAT (Grupo de Ictiologia Marinha Tropical), da UFPE,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1248


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

em 2014. Essas entrevistas foram semiestruturadas, realizadas no período de agosto de 2012 a


fevereiro de 2013, com 25 pescadores, conforme autorização do Comité de Ética da Universidade
Federal de Pernambuco, UFPE-CET (CAAE 34814314.2.0000.5208).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os pescadores artesanais hoje apresentam desconfiança quanto a medidas educacionais que


o governo ou academia busquem aplicar em suas comunidades. Isso foi fruto de um passado onde
políticas públicas eram aplicadas de maneira vertical e sem um trabalho integrado para com eles.

―Botaram (Ibama) essa carta (Lei de Defeso) ali, né? Mas não vieram explicar, dar uma
explicação que num pescasse. Aí enquanto eles não vieram, todo mundo pescava‖
(Dona Leu).

De forma lúdica e com riqueza de detalhes, os pescadores de rio Formoso contam seus
causos e lendas. Dentre as narrativas mais conhecidas, figuram as lendas da ―cumade Florzinha‖, da
―pedra Grande‖, do ―pai do mangue‖ e ―perdidos no mangue‖. Destaca-se o causo da ―pedra da
inês‖, com detalhes fictícios e reais (Araújo et al, 2014). Dos 25 entrevistados, 16 fizeram menção a
tais histórias. ―O cenário da maioria das histórias está relacionado aos ambientes do manguezal e do
mar, locais onde os pescadores passam a maior parte da vida. Por este motivo, a associação com a
atividade pesqueira está presente sob a forma de assombrações e desorientações nos ambientes
acima citados‖ (Araújo et al, 2014).
De fato, 17 das 25 citações aos causos e lendas obtidos nas entrevistas mencionam, de algum
modo, o ambiente do manguezal e do mar. A essas lendas foi atribuído um ―papel ambiental‖ na
educação das novas gerações (Fig. 1), com destaque para ―Pai de mangue‖ e ―Pedra da Inês‖ que
representaram metade das citações. A lenda ―Pai do mangue‖ representa um papel de educador
ambiental bem evidenciado pelos pescadores, pois, além de ser tido como uma ―assombração‖,
também é mencionada a sua proteção do manguezal.

―Dizem que se a pessoa não tratar bem o mangue, ele (O Pai do mangue) pega o cara la
dentro e o cara fica meio desorientado‖ (Zau).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1249


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Fig. 1 Lendas e causos da comunidade pesqueira de Rio Formoso, de acordo com as citações nas entrevistas.

A lenda da ―Pedra da Inês‖ tem um papel turístico e ambiental interessante na comunidade,


pois ―acredita-se que a devastação das margens do rio possibilitou uma maior descarga de água nos
períodos de grandes chuvas e marés altas, destruindo casas, inclusive da dona Inês, restando apenas
a pedra que havia em seu quintal‖ (Araújo et al, 2014). Nos relatos, a pedra da Inês é um dos pontos
onde os pescadores levam os turistas nos passeios de barco. Nessas oportunidades eles mencionam
a lenda, atrelando a ela os impactos causados pela erosão costeira e invasão do mar nas casas.

―Ela (Dona Inês) ficava fazendo a renda e com o tempo a erosão, né, fez com que a casa
dela saísse dali e hoje tá uma pedra enorme e nunca mais vi ela se cobri‖ (Chico).

A imaginação e a memória desses pescadores e pescadores fazem com que essas histórias
ainda permaneçam e divulguem ricos ensinamos às gerações cultura, porém essas tradições estão se
perdendo ao longo dos anos (Araújo et al, 2014). A perda de interesse nas novas gerações não
somente com relação à atividade pesqueira, mas também à cultura repassada por várias gerações é
bastante preocupante. Os saberes hereditários presentes na pesca artesanal estão sendo prejudicados
pela aculturação existente através da introdução de novos valores presente no capitalismo (Pereira,
2006).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CONCLUSÃO

Apesar das influências do sistema capitalista e de um passado de desvalorização das


comunidades pesqueiras, as tradições em Rio Formoso ainda apresentam uma grande importância
para o município. Apesar de muitos concordarem que as festividades não são mais como
antigamente, algumas comemorações são aguardadas com grande expectativa pela população
(Araújo et al, 2014). Esse cenário apresenta dois lados: o lado mais positivo, que indica que essa
comunidade ainda persiste com suas tradições hereditárias; e o lado negativo, que mostra que a
tendência é de que as novas gerações passem a não mais valorizar tanto esse conteúdo cultural das
antigas gerações.
No artigo pôde-se ver que a educação ambiental se faz presente nas comunidades mesmo
antes de qualquer política pública ou projetos de universidades para tal, através de lendas e causos
repassados de pai para filho. A identificação disso nos possibilita inserir componentes culturais
dentro de futuros projetos de educação ambiental na comunidade. Dessa forma fortalece-se o
respeito e dá-se a liberdade para que ela sinta seus próprios saberes como importantes valores para a
educação de seus membros (Pereira, 2006; Albuquerque et al, 2014).
A comunidade de pescadores artesanais de Rio Formoso necessita, portanto, de um
―retorno‖ dos pesquisadores e de políticas públicas em prol da ―revitalização‖ da sua cultura. Desse
modo, aumenta-se o orgulho da comunidade pelas suas tradições e potencializa-se uma mudança de
hábito para a preservação do meio ambiente no qual está inserida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino, et al. ―Returning‖ Ethnobiological Research to the


Communities. In: ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino, et al. (Editor). Methods and Techniques
in Ethnobiology and Ethnoecology. Humana Press, 2014. p. 451.

ARAÚJO, Maria Elisabeth; ALVES, M. D. O. ; SILVA, M. J. A. ; Moreira, M. A. . Rio Formoso e


seus atores. In: Maria Elisabeth de Araújo, Maria Danise de Oliveira Alves, Lilia Simões..
(Org.). Histórias de Pescadores: Meio Ambiente, recursos pesqueiros e tradição em Rio
Formoso - Pernambuco. 1ed. recife: editora ufpe, 2014.

BUTLER, Paul, GREEN Kevin & GALVIN Dale. The Principles of Pride: The science
behind the mascots. Arlington, VA: Rare. 2013.

PEREIRA, Maria Odete da Rosa. Educação Ambiental com pescadores artesanais: um convite à
participação. Tese de mestrado. FURG. Rio Grande – RS. 2006.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1251


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A Economia Solidária nos


Arranjos Produtivos Locais

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1252


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

HORTAS COMUNITÁRIAS: UMA EXPERIENCIA COM APENADAS DO PRESÍDIO


FEMININO MARIA JULIA MARANHÃO EM JOÃO PESSOA, PB

Hellen Viveiros Santos da SILVA


Graduanda de Tecnologia em Geoprocessamento do IFPB
hellenviveiros@gmail.com
Diogo de Freitas INOJOSA
Graduando de Tecnologia em Geoprocessamento do IFPB
inojosa.diogo@gmail.com
Hérica Rayane Rodrigues ARAÚJO
Graduanda de Tecnologia em Geoprocessamento do IFPB
hericarayanne@gmail.com
Marcia Viana da SILVA
Orientadora e Docente do IFPB, Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente,marcia.silva@ifpb.edu.br

RESUMO
Projeto de extensão tem como contexto, educação ambiental, resgate da autoestima, valores éticos e
morais. Através da ressocialização, despertar da consciência ambiental e também da criação de
novos hábitos alimentares, mais saudáveis, para as apenadas do Presidio Feminino Maria Julia
Maranhão. A criação da produção das hortaliças coletivas pelos apenados, que irão vivenciar novos
hábitos e fomentar uma cultura sadia com os alimentos, contribuindo na economia mensal,
diminuindo as despesas da administração penitenciária com a aquisição desses produtos/alimentos.
Tudo isso será feito com treinamento prévio das reeducandas, através de vídeos aulas e orientação
dos bolsistas e voluntários do projeto.
Palavras-chave: Conscientização ambiental, ressocialização, hábitos e hortaliças coletivas.

ABSTRACT
The extension project has as context, environmental education, recovery of self-esteem, ethical and
moral values. Through re-socialization, the awakening of environmental awareness and also the
creation of new habits, more healthy, for the prisoners of the Female Presidio Maria Julia
Maranhão. The creation of the production of the Collective vegetables by the prisioners, who will
experience new habits and foment a healthy culture with foods, and contribute in the monthly
economy decreasing expenses of the penitentiary administration with the acquisition of products /
foods. All this happens with the previous training of the reeducations, through video classroom and
orientation from the scholarship and volunteers of the project.
Keywords: Environmental awareness, resocialization, habits and collective vegetables.

INTRODUÇÃO

A população carcerária feminina cresceu muito nos últimos anos no Brasil, em 2014 o Brasil
tinha a quinta maior população carcerária feminina, atrás apenas dos Estados Unidos, China, Rússia
e Tailândia, segundo dados estatísticos do Infopen.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1253


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

―Abordando o sistema prisional, é importante salientar que a mulher pertence a um dos


grupos mais vulneráveis em um segmento já vulnerável, que é a população carcerária.
Esquecemos, muitas vezes, que sobre a mulher recai uma reprovação moral que vai muito
além do crime que ela praticou, tornando a sanção muito mais pesada para ela do que para
os homens (LÍDICE, 2016).

Por essa condição de vulnerabilidade, pelo direito a melhor condição de dignidade humana e
na tentativa de ressociabilizar, é previsto na Lei de Execução Penal Brasileira – LEP – Lei nº 7.210
de 11 de julho de 1984 -, que todos os condenados devem trabalhar, mas dificilmente essas
obrigações legais são compridas, pois as autoridades não consegue fornecer trabalho para todas as
condenadas.
Ratificando o acima exposto, a LEP assim preceitua:

―Art.28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá
finalidade educativa e produtiva.
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir,
pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.
Art. 128. O tempo remido será computado para a concessão de livramento condicional e
indulto.‖

Com o intuito de trazer tais oportunidades e gerar trabalho para as carcerárias, criou-se o
projeto de extensão - Hortas comunitárias: uma experiência com apenadas do presídio feminino de
João Pessoa Maria Júlia Maranhão – PB. O projeto utiliza da agricultura orgânica para a produção
coletiva de hortaliças.

―A produção orgânica fundamenta-se no princípio do equilíbrio biológico da natureza, que


tem permitido a permanência e evolução da vida sobre a Terra. É um sistema que permite
alcançar bons níveis de produtividade, evitando ao mesmo tempo os riscos de
contaminação química do agricultor, dos consumidores e do meio ambiente. Por outro lado,
nada tem de atrasada pois incorpora os avanços da ciência e promove a participação criativa
dos agricultores, respeitando seu conhecimento, cultura e experiência. - Cleusa Maria
Mantovanello Lucon & Alexandre Levi Rodrigues Chaves Instituto Biológico, Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, São Paulo, SP, Brasil.‖

O trabalho realizado pelas apenadas traz benefícios na educação ambiental, resgata a


autoestima, valores éticos e morais. Além de trazer conhecimentos e possível aplicação econômicas
tanto para o presidio quanto para as detentas quando terminarem suas penas de reclusão.

MATERIAIS E MÉTODOS

A implantação da horta, inicia-se com seu planejamento para definir o espaço a ser utilizado,
tipo de produção e equipe de responsável pela execução das atividades, para isso realizou-se
uma transmissão do conhecimento técnico realizada principalmente por meio de vídeo aulas,
constituídas de encontros práticos no próprio presídio, nos quais priorizará o uso de tecnologia
adaptada para o uso de práticas agroecológicas, dando ênfase ao saber tradicional no uso e manejo
dos recursos locais.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1254


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para o local de instalação da horta é de fundamental importância levar em consideração o


acesso, a maior quantidade de luz possível e disponibilização de água para assim selecionar que tipo
de culturas podem ser produzidas baseado nos dados regionais de clima, solo dentre outras
características.
As características físicas, químicas e biológicas do solo são aspectos que interferem no bom
resultado da horta, portanto foi necessário realizar correções de PH do solo, com o uso de
compostagem orgânica, pois o solo estava deficiente de alguns nutrientes como potássio, ferro e
fósforo.
A construção dos canteiros foram feitos pelas próprias apenadas na direção norte-sul para o
aproveitamento do sol e a fase inicial de plantio, optou-se pelo plantio direto com também em
sementeiras, pois cada cultura tem o seu ciclo de germinação diferente com necessidade de água e
exigências nutricionais que variam de acordo com a cultura a ser plantada. Foi escolhida as
seguintes culturas para início das atividades: cenoura, beterraba, coentro, cebolinha, cebola roxa,
cebola branca e alface. Os canteiros da horta socioeducativa serão manejados de forma ecológica,
evitando-se o uso de agrotóxicos contra pragas e doenças, e optando-se por utilização de
biofertilizantes, bioinseticidas e adubos orgânicos doados por colaboradores do projeto (EMPASA),
aproveitando-se os recursos naturais encontrados no próprio presídio. O tipo de rega com
mangueiras e regadores foi indicado para esta atividade devido as apenadas terem disponibilidade
de tempo no sistema prisional, com regas diárias nas horas mais frescas e no mínimo duas vezes ao
dia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 1: Oficinas sobre Hortas Comunitárias com as apenadas do Presídio Feminino Júlia Maranhão – João
Pessoa/PB. Fonte acervo pessoal

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1255


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A oficina sobre Hortas Comunitárias foi apresentada pela equipe do IFPB em parceria com a
SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária da Paraíba) às apenadas sobre a
preparação do terreno (adubagem, correção do solo para equilibrar o PH, preparação dos canteiros),
plantio de mudas nas sementeiras, transplante para o terreno, processo de agoar as plantas, cuidado
com a limpeza do terreno e etc. Nesse primeiro contato da equipe com as apenadas foi realizada
uma dinâmica em que as apenadas e a equipe do projeto de extensão do IFPB (docente e discentes)
se apresentaram e, algumas relataram que o projeto seria um aprendizado para quando ganhassem
liberdade poderiam desenvolver até em suas casas.

Figura 2: Atividades de preparação do Terreno para produção da horta Comunitária – Presídio Feminino
Júlia Maranhão – João Pessoa/PB. Fonte acervo pessoal

Desde as primeiras atividades, se estabeleceu uma parceria entre a equipe do projeto e as


apenadas que participaram de todo o processo, tornando a experiência enriquecedora. Haja vista que
se tornou um desafio elaborar e colocar em prática um projeto num ambiente que excluído pela
sociedade de uma maneira geral. A população carcerária feminina enfrenta desafios ainda maiores
sobre sua aceitação da sua condição de reclusão, pois muitas quando são encarceradas jamais
recebem uma visita de familiares e as que recebem são em sua maioria de suas próprias mães. O
grau de instrução da maioria que trabalham nesse projeto tem o ensino fundamental incompleto, o
que torna o trabalho desafiador, pois os materiais didáticos a serem utilizados para as oficinas sobre
a dinâmica da Horta Comunitária devem ser ilustrativos para facilitar a apresentação das
informações.

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Figura 3: Plantação das sementes nas sementeiras – Presídio Feminino Júlia Maranhão – João Pessoa/PB.
Fonte acervo pessoal

A cada etapa do projeto, novos desafios foram se apresentando, mas nada que fizesse a
equipe desanimar, apenas estimulava cada vez mais a superar cada processo neste aprendizado de
cidadania em sua mais profunda definição. Afinal, essas mulheres são cidadãs que buscam através
do trabalho dentro do presídio a refletirem seus antigos atos e, caminharem em busca desse
processo de ressocialização.
Alguns depoimentos dessas apenadas serviram de lição de vida para a equipe do projeto e
dentre eles, temos:

―A gente agradece por vocês, professoras por estarem aqui e terem pensado na gente,
porque a gente é muito esquecida, como se fosse invisível para a sociedade‖ (Testemunho
de uma apenada atendida pelo projeto).

Uma indagação surgiu diante da situação dessas mulheres, e se perguntou se elas tivessem
tido oportunidades na vida com escolas, empregos entre outros se elas iriam se encontrar naquele
lugar e todas foram categóricas e disseram que não estariam naquele lugar. Portanto, essas mulheres
objetivam sua liberdade através do trabalho ou dos estudos colaborando para o resgate da cidadania
tão preciosa para todos.
A importância do projeto das hortas comunitárias para as apenadas também foi
testemunhado por uma delas que disse o seguinte: ―Quando eu sair daqui quero fazer uma horta na
minha casa, para poder comer um alimento livre de veneno e barato. ― (Testemunho de uma
apenada atendida pelo projeto).

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Figura 4: Atividades de semeadura, plantio de mudas em parceria com as bolsistas e as apenadas do Presídio
Feminino Júlia Maranhão. Fonte acervo pessoal

A etapa de semeadura tem que ser realizada com assistência técnica para ter um pleno êxito
do plantio que resultará no crescimento adequado da planta. O estabelecimento das parcerias é
construído com todo o cuidado, e para isso os parceiros precisam estar comprometidos com suas
responsabilidades para que o processo esteja fluindo paulatinamente especialmente quando tratamos
de um setor da sociedade que teve poucas oportunidades ou nenhuma e, precisam resgatar a
cidadania em sua plenitude.

CONCLUSÕES

A implantação do projeto das hortas comunitárias no presidio feminino considerou as


necessidades da apenadas que tiveram a oportunidade de conhecer as etapas de preparação da horta
desde as etapas de planejamento, tornando-se atores importantes e gestores da produção do alimento
que serão utilizados no preparo da alimentação do presídio e, como também, reproduzir futuramente
quando estiverem em liberdade, em suas próprias residências a produção através das hortas que tem
inúmeras vantagens desde o seu baixo custo até o aproveitamento de pequenos espaços para
iniciarem a produção de mudas e temperos, sem o uso de agrotóxicos.
A troca de conhecimento foi um ponto chave para o desenvolvimento das diversas etapas do
projeto que durante o percurso encontrou inúmeros desafios, mas com as parcerias construídas
durante todo esse processo facilitaram alcançarmos os resultados significativos e gratificantes para
todos da equipe do Projeto e do sistema penitenciário.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5: Equipe de trabalho da Horta Comunitária do Presídio Feminino Júlia Maranhão. Fonte acervo
pessoal

REFERÊNCIAS

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Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm> Acesso em 08, 2017.

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crime não compensa. Disponível em:<http://emporiododireito.com.br/reeducanda-do-sistema-
prisional/> Acesso em 08, 2017.

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias INFOPEN - JUNHO DE 2014. Disponível


em: < http://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-
feira/relatorio-depen-versao-web.pdf> Acesso em 08, 2017.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PESCA INTENSIVA DA FAMILIA LUTJANIDAE NO ESTUÁRIO RIO


FORMOSO (PE – BRASIL)92

Lorene Lourenço da SILVA93


Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UNICAP
lorene18lourenco@gmail.com
Vanessa Pimentel da SILVA
Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UNICAP
pimentelvanessa77@gmail.com

RESUMO
O estuário do rio Formoso, com 12 Km de extensão, localiza-se no Município do Rio Formoso, ao
Sul da cidade do Recife e é alvo de intensa atividade pesqueira. O presente trabalho teve como
objetivo estimar os parâmetros de crescimento da família Lutjanidae, através dos métodos aplicado,
como a biometria e peso, e levantamento de Espécimes analisados. A pesca é considerada um
recurso facilmente esgotável e existe a necessidade de respeitar seu ciclo biológico. Os recursos
pesqueiros são relevantes no estuário e a comunidade pesqueira coleta principais espécies de peixes
de grande valor econômico pertencentes a família Lutjanidae. A família Lutjanidae é formada por
17 gêneros e aproximadamente cem espécies, sendo o gênero Lutjanus composto por 64 espécies,
representados por peixes que vivem em fundos rochosos e coralíneos. São conhecidos,
popularmente como vermelhos, ciobas ou caranhas, e na região Nordeste do Brasil são
denominados por pargos. As espécies exploradas foram a cioba Lutjanus alanis (Lutjanidae), dentão
Lutjanus jacu ,(Lutjanidae), baúna Lutjanus griséus (Lutjanidae), caranha Lutjanus cyanopterus
(Lutjanidae). No entanto a família Lutjanidae apresenta grande valor econômico no mercado e são
fonte de renda para a comunidade ribeirinha. A pesca intensiva agrava e reduz a comunidade
ictiofaunistica causando declínio de algumas espécies.
Palavras chave– estuário Rio Formoso, família Lutjanidae, pesca intensiva

ABSTRAT
The estuary of the Beautiful river, with 12 Km of extension, is located in the Local authority of the
Beautiful Rio, to the South of the city of the Reef and is a target of intense fishing activity. The
present work had as I aim to appreciate the parameters of growth of the family Lutjanidae, through
the methods applied, like the biometria and weight, and lifting of analysed Specimens. The fishing
is considered an easily drainable resource and there is the necessity of respecting his biological
cycle. The fishing resources are relevant in the estuary and the fishing community collects main
sorts of fishes of great economical value pertaining to family Lutjanidae. The family Lutjanidae is
formed for 17 types and approximately hundred sorts, being the type Lutjanus composed by 64
sorts, represented by fishes that live in rocky and coralline bottoms. They are known, popularly as
red, ciobas or caranhas, and in the Northeast region of Brazil they are called for pargos. The
explored sorts went to cioba Lutjanus alanis (Lutjanidae), dentão Lutjanus guan, (Lutjanidae), dog
snapper gray Lutjanus (Lutjanidae), caranha Lutjanus cyanopterus (Lutjanidae). However the
family Lutjanidae presents great economical value in the market and there are a fountain of income
for the riverside community. The intensive fishing aggravates and reduces the community
ictiofaunistica causing decline of some sorts.
Keywords – estuary Rio Formoso, family Lutjanidae, intensive fishing
92
Goretti Sonia – Silva‖ Orientadora‖
93
Estagiário do Núcleo de pesquisa em Ciências ambientais (NPCIAMB)

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1260


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

A família Lutjanidae é formada por 17 gêneros e aproximadamente cem espécies, sendo o


gênero Lutjanus composto por 64 espécies, representados por peixes que vivem em fundos rochosos
e coralíneos (Figueiredo & Menezes, 2000). São conhecidos, popularmente como vermelhos, ciobas
ou caranhas, e na região Nordeste do Brasil são denominados por pargos. Segundo Magalhães et al.
(2003) as espécies Lutjanus analis, L. jocu, L. vivanus e L. synagris revelaram-se recursos
pesqueiros importantes em desembarques na região Nordeste do Brasil. De acordo com estes
autores, os peixes da família Lutjanidae são caracterizados por apresentarem crescimento lento (K{
1,5) e longevidade média a alta ( vinte e trinta anos) o que torna estas espécies altamente
vulneráveis a sobrepesca. A carne dos peixes dessa família é considerada de excelente qualidade,
atingindo elevado valor comercial, sendo, portanto, alvo de pescarias em várias regiões em todo o
mundo (Nelson, 1994, Begossi et al., 2011). Ao longo da costa tropical brasileira ocorrem 15
espécies de lutjanídeos (Menezes et al., 2003), chamados de "vermelhos" ou "pargos" e são
comumente explorados pelos pescadores artesanais (Frédou et al., 2006). A produção pesqueira dos
lutjanídeos analisada no período de 1967-2000 indicou a vulnerabilidade e extinção desses peixes
do mercado local do Rio Grande do Norte e Pernambuco no Nordeste da costa brasileira (Rezende
et al., 2003). Os lutjanídeos são importantes recursos pesqueiros, e seus estoques estão sendo
ameaçados pela pesca predatória. Portanto são necessários estudos que subsidiem a gestão desses
recursos. Pesquisas sobre os aspectos reprodutivos de peixes têm servido de parâmetros para o
entendimento dos mecanismos que envolvem a perpetuação das espécies e também para fornecer
subsídios para a gestão pesqueira (Murua et al., 2003).
O estuário é reconhecidamente um local de desova e criadouro de várias espécies de peixes,
crustáceos e moluscos, respondendo, direta ou indiretamente, pela sustentabilidade de algumas
espécies de interesse para a pesca (Severino-Rodrigues et al.,2001). O estudo destas áreas tem
colaborado no melhor entendimento da dinâmica de recursos pesqueiros e dos diferentes parâmetros
abióticos que interferem nesse sistema biológico (EL-DEIR, 1996). A pesca é uma parte importante
das atividades humanas nas regiões costeiras e estuarinas, e isto cria múltiplas interações e reforça a
necessidade de um gerenciamento integrado (Blaber et al. 2000). No estuário de rio Formoso, litoral
sul de Pernambuco, as comunidades vivem numa verdadeira simbiose com esse sistema estuarino,
cuja pesca é feita de maneira artesanal e, segundo Andrade et al. (2000), as artes de pesca mais
utilizadas pelos moradores locais correspondem a equipamentos precários do tipo tarrafa, rede de
cerco, rede de arrasto, rede de espera e puçá. Dentre as técnicas de captura desenvolvidas na região,
a pesca com rede de arrasto é considerada uma arte de captura predatória e desestabilizadora das
comunidades bentônicas por não selecionar os organismos, quanto à especificidade das espécies e
ao seu tamanho. Muitos autores fazem referência da pesca artesanal de espécies de valor

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1261


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

socioeconômico como uma alternativa viável para o setor pesqueiro (Coelho e Santos,1993,1994;
1995; 1995; Vieira, 1991). O estuário do rio Formoso (litoral sul de Pernambuco), neste contexto, é
alvo de intensa atividade pesqueira, na qual é explorado pelas comunidades ribeirinhas,
representando o pescado a principal fonte de renda dessas famílias (SILVA et. al. 2000). A família
Lutjanidae é formada por 17 gêneros e aproximadamente cem espécies, sendo o gênero Lutjanus
composto por 64 espécies, representados por peixes que vivem em fundos rochosos e coralíneos
(Figueiredo & Menezes, 2000). A produção pesqueira dos lutjanídeos analisada no período de
1967-2000 indicou a vulnerabilidade e extinção desses peixes do mercado local do Rio Grande do
Norte e Pernambuco no Nordeste da costa brasileira (Rezende et al., 2003). Os lutjanídeos são
importantes recursos pesqueiros, e seus estoques estão sendo ameaçados pela pesca predatória.
Considerando esta situação se torna necessários estudos que subsidiem a gestão desses recursos.
Pesquisas sobre os aspectos reprodutivos de peixes têm servido de parâmetros para o entendimento
dos mecanismos que envolvem a perpetuação das espécies e também para fornecer subsídios para a
gestão pesqueira (Murua et al., 2003).

DESCRIÇÃO DA ÁREA

O estuário do Rio Formoso, (Figura, 1) com 12 Km de extensão, localiza-se no Município


o ‘ ‘‘ o ‘ ‘‘
do Rio Formoso (8 39 45 Sul e 35 06 15 W), 76 Km ao Sul da cidade do Recife. O clima da
região é do tipo As‘ na parte Oeste e Ams‘ no Leste na escala de Köppen. O tipo As‘ é
caracterizado por ser quente e úmido, com chuvas de outono/inverno e, o tipo Ams‘ é tropical-
chuvoso, do tipo monção, com verão seco. A precipitação pluviométrica anual é em torno de 2.000
o
mm e temperatura média anual de 24 C (CONDEPE,1992). O município está inserido nas bacias
hidrográficas dos rios Sirinhaém e Una, e em grupos de pequenos rios litorâneos. Nesse complexo
fluvial destaca-se, o estuário do Rio Formoso que é formado pelos rios dos Passos, Lamenho,
Ariquindá e Formoso (CONDEPE, 1992). Economicamente o Município do Rio Formoso vive da
agroindústria da cana-de-açúcar, da industrialização do látex e da atividade pesqueira. Os recursos
naturais representam, aqui, alimento direto e indireto para as comunidades que vivem próximas do
estuário (CONDEPE,1992).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 – Mapa do estuário do rio Formoso, PE, Brasil

MATERIAL E METODOS

A pesquisa foi realizada no município de Rio Formoso (8o39, 45‘S e 35o06, 15W) está
inserido as bacias hidrográficas dos rios Sirinhaém e Una e pequenos complexos fluviais, tendo o
estuário do rio Formoso como principal sistema hídrico. Mensalmente foram feitas amostragens
diurnas no período entre janeiro de 2015 a dezembro 2016 compreendo período de estiagem e
chuvoso. Paralelamente foi feito o acompanhamento dos desembarques pesqueiros da frota
artesanal na comunidade pesqueira na comunidade pesqueira do estuário rio formoso PE (Brasil) e
registrados os principais pescados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesca predatória no estuário rio formoso é muito intensa levando consequências na


economia pesqueira para as comunidades ribeirinhas, tendo em mão a pesca excessiva, causando
declínios de muitas espécies de peixe de grande valor econômico, como a cioba Lutjanus analis,
dentão, Lutjanus jacu, baúna, Lutjanus griséus. O uso de petrechos irregular pela legislação causa
nos estuários danos ambientais como a de cerco, rede de arrasto. Em termos de Frequência de
Ocorrência, as famílias Mugilidae, Gerreidae e Centropomidae representaram 50% do pescado. As
famílias Lutjanidae e Carangidae ficaram em torno de 25% e estão desaparecendo do estuário. As
ações antrópicas da pesca artesanal podem alterar ciclos de vida dos peixes, e consequentemente a
distribuição dos mesmos no ambiente, principalmente os níveis de densidade. Na coleta de dados
foram capturados 40 exemplares da família Lutjanidae, todos jovens de comprimento entre 5 a 10
cm de comprimento, dentre as espécies capturadas de 40 capturados, 10 exemplares são Lutjanus
jacu e Lutjanus griséus monitorado entre os desembarques em barcos de pesca artesanal. A pesca de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cerco de camboa constitui-se de um cercado de rede fixada por estaqueamento de madeira de


mangue, de comprimento entre 30 a 80m e malha variando entre 18 a 40mm; em media são 20
cerco por semana e são capturados 300kg de pescado/camboa, obtendo através de entrevista com os
pescadores. O declínio no numero de espécies observados e seus impactos foram evidentes e
assinados pela numero de populações de espécies exploráveis. Muitos autores fazem a referência de
que o stress natural do ecossistema estuarino está associado ao conjunto de estressores
antropogênicos e que intervém na distribuição dos recursos pesqueiros.

CONCLUSÃO

O estuário do rio Formoso comprova ser uma área de berçário para diversas espécies de
peixes e a comunidade pesqueira local vive através de uma pesca artesanal rudimentar em função de
suas condições sócio- econômicas. A condição social gera prejuízos ao sistema estuarino, seja pela
depredação do mangue, como também, pela utilização de redes de pescas inadequadas que
interferem na Frequência de Ocorrência da ictiofauna. O impacto causado pela pesca intensiva
estar causando declínio nas populações da família Lutjanidae.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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manguezal do Rio Formoso, Pernambuco- Brasil. In: Mangrove 2000, Sustainable use of
estuaries and mangrove: Challenges and prospects. Recife . Anais, 2000.

BEGOSSI, A.; SALIVONCHYK, S. V.; ARAUJO, L. G.; ANDREOLI, T.B.; CLAUZET, M.;
MARTINELLI, C. M.; FERREIRA, A. G.L.; 2 OLIVEIRA, L.E.C.; SILVANO, .R.A.M.
Ethnobiology of snappers (Lutjanidae): target species and suggestions for management. Journal
of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.7, p. 11, 2011.

BLABER, S. J. M.; CYRUS, D. P.; ALBARET, J. J.; CHING, C. V.;DAY, J. W.; ELLIOT, M.;
FONSECA, M. S.; HOSS, D. E.; ORENSANZ, J.; POTTER, I. C.; SILVERT, W. Effects of
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COELHO, P. A. Os crustáceos dacápodos de alguns manguezais pernambucanos. Trabalhos do


Instituto Oceanográfico da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, v. 7/8, p. 71 – 90.
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CONDEPE. Rio Formoso. Monografias Municipais, Recife, v.2, 1992. 173p.

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ELDEIR, S. S. Sustentabilidade me áreas de manguezal: um estudo etnobiologico da comunidade


de Vila Velha, Itamaracá – PE (Brasil). 32f. Recife, Dissertação de Mestrado - Universidade
Federal de Pernambuco, Recife. 1996.

Figueiredo, J.L. & Menezes, N.A. Manual de peixes marinhos do Sudeste do Brasil. São Paulo:
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FRÉDOU, T.; FERREIRA, B.P.; LETOURNNEUR, Y. A univariate and multivariate study of reef
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MAGALHÃES, S.R.; FERREIRA, B.P. & FREDOU, T. A pesca de lutjanídeos no Nordeste do


Brasil: histórico das pescarias, características das espécies e relevância para o manejo. Boletim
Técnico Cientifico do CEPENE, n. 1, v. 11, p. 35- 44. 2003.

MURUA, H.; KRAUS, G.; SABORIDO-REY, F.; WITTHAMES, P.R; THORSEN A.;
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REZENDE, S.M.; FERREIRA, B.P.; FRÉDOU, T. A pesca de lutjanídeos no Nordeste do Brasil:


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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Produção Rural,
Sustentabilidade Social e
Segurança Alimentar

© Giovanni Seabra

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1266


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIEDADES AGRÍCOLAS DE PORTEIRAS-CE


QUANTO AO CONSUMO DE ÁGUA E DISPOSIÇÃO DE EMBALAGENS DE
AGROTÓXICOS

Alana Rafaela Cardoso de BRITO


Graduanda de Engenharia Ambiental - IFCE
alanabrit@gmail.com
Mailodovinci de Sousa PEREIRA
Graduando de Engenharia Ambiental – IFCE
mailodovinc@gmail.com
João Rafael ALVES
Graduando em Engenharia Ambiental – IFCE
rafawky@gmail.com
Cieusa Maria Calou e PEREIRA
Orientadora. Doutora. Professora do IFCE
cieusacalou@gmail.com

RESUMO
A implementação de tecnologias agrícolas incoerentes com a realidade ambiental regional pode
ameaçar recursos ambientais essenciais à vida. No caso do nordeste brasileiro, de um modo geral, a
água constitui um fator limitante para a realização de atividades que demandem muita água, como a
agricultura. Logo, há a necessidade de se adequar as tecnologias agrícolas à realidade climática
local. Ainda no âmbito da agricultura, um potencial problema ambiental é a disposição inadequada
de embalagens de agrotóxicos e a aplicação destes sem a utilização de equipamentos de proteção
individual (EPIs). Os danos ambientais ocorrem devido ao caráter recalcitrante dos agrotóxicos os
quais têm a capacidade de se acumular ao longo dos níveis tróficos e causar graves problemas a
organismos superiores. Este estudo buscou, portanto, identificar e comparar as tecnologias de
irrigação aplicadas em propriedades agrícolas de Porteiras- Ce quanto ao consumo de água por área
cultivada, bem como avaliar o modo de descarte de embalagens de agrotóxicos e,assim, determinar
a conformidade das práticas agrícolas com a proteção de mananciais subterrâneos e promoção de
consumo racional de recursos hídricos.
Palavras-chaves: agrotóxicos; agricultura; água;

ABSTRACT
The implementation of inappropriate agricultural technologies for the regional environmental reality
could aggravate environmental problems in this area. Regard to brazilian northeast water constitutes
a limiting factor for the execution of activities that demand large volumes of water like agriculture.
Therefore there is the necessity for adjustment of agricultural technologies to the local reality. A
potential environmental concern is the incorrect disposal of pesticides packing bottles and its
application without using individual protective equipment. The environmental damages occur due
to the recalcitrant character of pesticides which possess the capacity of bioaccumulation throughout
the trophic levels which may cause severe problems to superior organisms. This study aimed to
identify irrigation technologies used in agricultural properties in Porteiras-CE regard to water
consumption per unit area as well as determining the suitability of the applied technologies to
groundwater protection and promotion of rational use of water resources.
Keywords: pesticides; agriculture; water;

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1267


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

1. INTRODUÇÃO

A diversidade climática verificada em território brasileiro devido à grande extensão


territorial especialmente no sentido latitudinal propicia a ocorrência de diferentes pressões
ambientais no que se refere à disponibilidade de recursos. Como assinalado por REBOUÇAS
(1997), a região nordeste brasileira já apresenta calor e terra, no entanto, a água se mostra como
fator limitante. Percebe-se, portanto, que a variedade de usos bem como a relevância dos recursos
hídricos na manutenção do ser humano e de suas atividades impulsiona a criação de tecnologias
voltadas para minimizar desperdícios e conservar a qualidade hídrica.
Lamentavelmente, mesmo em regiões onde há escassez hídrica pode-se citar diversos
exemplos de aplicação de tecnologias incompatíveis com a realidade ambiental vivenciada ou de
práticas operacionais deficientes que diminuem a eficiência de sistemas de saneamento, como
exemplificado por REBOUÇAS (2001).

A captação da água subterrânea - fontes, galerias ou poços - que deve ser controlada pelo
poder federal, estadual ou municipal. Além disso, é necessário considerar que uma obra de
captação mal construída, operada ou abandonada, pode se transformar em foco de
contaminação do manancial subterrâneo, irreversível no curto e médio prazo. Além disso, a
extração descontrolada da água subterrânea de uma bacia hidrográfica poderá desequilibrar
o seu balanço hidrológico.

Prejuízos de consumos exacerbados podem não ser verificados em intervalos de tempo


reduzidos, no entanto, a longo prazo, os ciclos de renovação de corpos hídricos podem não
acompanhar a demanda requerida.
Simultaneamente, a agricultura dispõe no ambiente diversas substâncias comprometedoras
da qualidade dos mananciais, destacando-se os defensivos agrícolas os quais podem gerar efeitos
adversos à saúde dos organismos especialmente pela sua dificuldade de biodegradação. Como
observado por TAVELLA (2002) ―Apesar de a legislação brasileira ser bastante moderna e
abrangente, os casos de intoxicação em trabalhadores rurais são frequentes no País‖. Dentre os
efeitos adversos relatados na literatura tem-se dor de cabeça PERES, ROZEMBERG & LUCCA
(2005); vômito, tontura BEDOR et al (2009) BOCHER (2006), hipertensão arterial CASTRO E
CONFALONIERI (2005), problemas dermatológicos TRAPÉ (1993) , problemas respiratórios
FARIA et al (2006), depressão e relação com causas de suicídio FARIA et al (1999),PIRES et al
(2005),MEYER et al (2007),ARAÚJO et al (2007).
Entretanto, não apenas os agrotóxicos são objetos de preocupação, mas também os
recipientes que os contêm, pois são frequentemente descartados em locais inapropriados, apesar de
haver a obrigatoriedade legal, consoante à redação da lei 9974/2000 dos fornecedores em receber
estes resíduos.

§ 5o As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1268


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e
comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela
ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua
reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos
registrantes e sanitário-ambientais competentes.

Os agravantes desses problemas ambientais comumente residem em falta de informação por


parte dos usuários e resistência em se adotar os aconselhamentos de profissionais habilitados na
área, como resultado, tem-se a instauração de um contexto ambiental inseguro à manutenção da
saúde pública.
Neste âmbito, o estudo propôs-se a examinar os desperdícios de água verificados em
propriedades rurais do município de Porteiras- CE onde frequentemente há captação de poços
artesianos, bem como avaliar os métodos de disposição de recipientes de agrotóxicos. Houve,
portanto, a preocupação em se estabelecer uma comunicação com os produtores, objetivando-se
dirimir problemas ambientais advindos de práticas agrícolas indesejáveis inclusive com relação a
não utilização de EPIs, além de se instaurar conhecimento (se este não se fizer presente) de que os
fornecedores de insumos agrícolas devem receber recipientes vazios.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O clima predominantemente seco da região nordeste brasileira impõe desafios aos


produtores agrícolas os quais terão de adequar suas tecnologias às condições de escassez hídricas
com o intuito de se diminuir impactos ambientais significativos. Como salientado por BRITO et al
(2010), faz-se importante a adoção de práticas agrícolas sustentáveis para o desenvolvimento
produtivo do semiárido, tendo-se em vista a deficiência de sistemas hídricos eficazes, de solos
férteis e de políticas públicas adequadas para a região. No entanto, ainda no nordeste brasileiro,
pontualmente observa-se regiões privilegiadas as quais dispõem de maior quantidade de água.
Nestas áreas, percebe-se a desvalorização do recurso hídrico, realidade observada por REBOUÇAS
(2001):

A água é uma matéria prima de difícil valoração como ―ativo natural por ser muito grande
sua utilidade e não haver substituto para a maioria de seus usos. Além disso, os seus valores
de mercado são geralmente muito baixos, mesmo se os produtos finais dela derivados
alcancem altos valores de venda, tal como os produtos industriais. Desta forma, a maior
parte da água utilizada em todos os países do mundo ainda é, com frequência, considerada
um bem livre, isto é, sem valor financeiro implícito.

Outro agravante ambiental das práticas agrícolas inadequadas refere-se à contaminação dos
lençóis freáticos e do solo com agrotóxicos. No entanto, os danos destas substâncias também podem
ser vivenciados por produtores agrícolas que não utilizam equipamentos de proteção individual.
Como observado por ARAÚJO et al (2007), ―a exposição a múltiplos pesticidas, especialmente do
grupo dos organofosforados, levou a quadros clínicos que variaram de intoxicação aguda, até a

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1269


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

episódios subagudos, de efeitos persistentes e crônicos decorrentes da sobre-exposição aos


agrotóxicos‖.
Com relação ao cenário verificado no município de Porteiras-Ce, percebe-se abundância
hídrica principalmente em relação à água advinda de poços artesianos. A disponibilidade de água
pode gerar certo descuido em relação ao consumo e adoção de técnicas agrícolas menos prejudiciais
ao meio ambiente. Buscou-se ainda investigar o manejo de agrodefensivos e o grau de consciência
ambiental da população quanto aos efeitos lesivos destas substâncias.

3. METODOLOGIA

3.1. Objeto de Estudo e Visitas in loco

A avaliação quanto ao consumo de água e descarte de embalagens de agrotóxicos ocorreu na


cidade de Porteiras - Ce. Foram visitadas propriedades agrícolas no município, com o intuito de
coletar dados sobre a tecnologia de irrigação aplicada, incluindo-se demanda hídrica das culturas,
necessidade de aplicação de agrodefensivos e modo de descarte de embalagem desses produtos. As
visitas de levantamento de dados ocorreram nos dias 18 de março de 2017 e 08 de abril de 2017 nas
seguintes propriedades rurais: Sítio Barro Vermelho, Sítio Cocho, Sítio Areia Branca, Sítio Abreus,
Sítio Muquém, Lagoa do Mato, Abreus-Muquém, Lisboa.

3.2. Método de Levantamento de Dados

As informações foram obtidas por meio de aplicação de questionários cuja composição


engloba questionamentos acerca da propriedade, a saber, área cultivada, forma de captação de água,
culturas cultivadas. Há ainda perguntas referentes às tecnologias de irrigação, como a vazão da
bomba e técnica de irrigação aplicada, e ao gerenciamento de agrotóxicos, obtendo-se dados de
agrotóxicos utilizados, utilização de EPIs e modo de destinação de embalagens. O anexo ao final do
artigo apresenta o questionário aplicado neste estudo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Consumo de água

Os dados de consumo de água, área irrigada, tecnologia de irrigação e tipo de cultivo obtidos
através da aplicação de questionário nas propriedades visitadas estão relacionados na tabela abaixo.
Tabela 1.

PROPRIEDADE ÁREA TECNOLOGIA DE TIPO DE CULTIVO CONSUMO DE ÁGUA


IRRIGADA IRRIGAÇÃO (m³/dia)

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1270


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(m²)
P1 272250 Pivô Milho/feijão 1350
P2 10000 Microaspersão/as Hortaliças/ 40
persão feijão/capim
P3 43560 Microaspersão Macaxeira/ 306
Feijão
P4 20000 Aspersão Macaxeira/
Feijão/batata 374
doce
P5 9075 Microaspersão Milho/ Feijão/ 40
Alface/ jerimum
P6 14520 Mini Aspersão Milho/ 45
Pimentão/
Mandioca
P7 72600 Gotejamento/ Feijão/Milho/ 297.5
aspersão Macaxeira/
Pimentinha
P8 30000 Microaspersão Milho/ 272
Feijão/Tomate/
Pimentão
P9 70000 Microaspersão/as Milho/ Feijão 250
persão
P10 21780 Aspersão Capim 280
FONTE: Autor

O gráfico a seguir representa o consumo de água em razão da área cultivada para as


propriedades visitadas.

A partir da análise gráfica, pode-se concluir que as tecnologias de aspersão são responsáveis
pelo maior consumo de água em relação a área irrigada. De modo contrário, as tecnologias de pivô,
microaspersão e mini aspersão apresentaram menores consumos. Como esperado, ao se observar o
total de propriedades, aquelas que se utilizam de microaspersão demonstraram melhor economia de
água, com exceção de uma propriedade cujo sistema é a mini aspersão, provavelmente o volume
consumido reduzido associa-se à demanda da cultura de hortaliças as quais requerem menores
volumes de água. Por fim, Apesar de a técnica de gotejamento ser bastante promissora na economia

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1271


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

água, a propriedade que utilizava essa técnica também fazia do uso de aspersão o que provocou um
grande aumento no consumo.

Tabela 2. Técnicas de Manejo de Agrotóxicos


Propriedade USO DE USO DE EPI DURANTE DESCARTE DE
AGROTÓXICO APLICAÇÃO EMBALAGENS

P1 Sim Sim Retorno ao


fornecedor
P2 Sim Sim Retorno ao
fornecedor
P3 Sim Não Retorno ao
fornecedor
P4 Sim Não Retorno ao
fornecedor
P5 Sim Sim Retorno ao
fornecedor
P6 Sim Sim Retorno ao
fornecedor
P7 Não ------ ------
P8 Sim Sim Retorno ao
fornecedor
P9 Sim Sim Retorno ao
fornecedor
P10 Não ----- -----
FONTE: Autor

A partir da tabela anterior, pode-se inferir que em todas as propriedades que utilizam
agrotóxicos, há o descarte correto com a prática de devolução ao fornecedor do produto. Duas
propriedades apresentaram inconformidades em relação à utilização de equipamentos adequados
para a proteção individual no momento de aplicação dos agrotóxicos (EPIs), fato preocupante
devido às graves consequências para a saúde dos trabalhadores, especialmente a longo prazo. Deve-
se salientar que apenas duas propriedades não fazem uso de agrotóxicos em suas produções.

5. CONCLUSÕES

Pode-se concluir, portanto, que a técnica de irrigação por aspersão demonstra alto nível de
desperdício de consumo de água por unidade de área se comparada às tecnologias de
microaspersão, mini aspersão, gotejamento e pivô, representando um maior gasto, porém é utilizada
em 50% das propriedades visitadas. Além disso, nenhum dos produtores soube ao certo a
quantidade de água utilizada em suas culturas, logo, para realização dos cálculos de consumo,
utilizou-se a potência da bomba de captação de água e o período em que esta permanece ligada.
Quanto às técnicas de manejo de produtos agro defensivos, conclui-se que há uma certa
preocupação por parte de todos os produtores com a destinação das embalagens de agrotóxicos, mas

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1272


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

não é feito nenhum controle de quantidades e tipologia destes.Deve-se salientar que todos tinham
conhecimento de que as embalagens de agrodefensivos devem ser retornadas aos fornecedores
destes produtos.

6. REFERÊNCIAS

BRITO, L. T. de L.; MELO, R. F. de; GIONGO, V. (Ed.). Impactos ambientais causados pela
agricultura no Semiárido brasileiro. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2010.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1274


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

BATATA-DOCE: DO PLANTIO À COLHEITA

Douglas Ferreira dos SANTOS


Graduando do Curso de Engenharia Agronômica UFAL
douglasferreira.agro@gmail.com

Paulo Vanderlei FERREIRA


Orientador. Professor Dr. UFAL
paulovanderleiferreira@bol.com

Jackson da SILVA
Mestrando em Agronomia-Agricultura UNESP
jackson.silva.batalha@gmail.com

Felipe dos Santos de OLIVEIRA


Doutorando em Agronomia UEM
felipe.smc2011@gmail.com

RESUMO
A batata-doce é uma cultura amplamente cultivada em todo o mundo e, no Brasil, em quase todos
os Estados da federação, ela se destaca pelas suas características, que inclui a rusticidade, ampla
adaptação, alta tolerância a seca, fácil cultivo, além de suas qualidades nutricionais. Assim, o
objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre a batata-doce do plantio a
colheita. Um dos pontos de destaque para a batata-doce é o fato dela ser pouco exigente em
adubação e, ainda apresenta a habilidade de usar formas menos disponíveis de P. Um outro ponto é
a utilização de herbicidas como Fusilade ou Paraquat (0,5 a 0,7 L.ha-1) em pós-emergência das
plantas daninhas. A planta da batata-doce não apresenta um ponto específico de colheita, mas varia
entre 90 a 150 dias, este momento de colheita é definido pelo tamanho ou peso das raízes, que
devem ter aproximadamente 300g. A colheita pode ser mecanizada, podendo-se utilizar diversos
equipamentos que executam o corte do solo ao lado das leiras ou abaixo delas.
Palavras-chaves: Ipomoea batatas L., manejo, revisão, manual, cultivo.

ABSTRACT
Sweet potato is a widely cultivated crop worldwide, and in Brazil, in almost all States of the
federation, it is notable for its characteristics, which includes the rusticity, wide adaptation, high
tolerance to drought, easy to grow, in addition to its nutritionals qualities. Thus, the objective of the
present study was to conduct a review of the literature on sweet potato from planting to harvest.
One of the highlights for the sweet potato is the fact that it is undemanding in fertilization and also
has the ability to use less available forms of P. A another point is the use of herbicides such as
Fusilade or Paraquat (0.5 to 0.7 L.ha-1) in post-emergence of weeds. The sweet potato plant does not
present a specific harvest point, varying between 90 to 150 days, this harvesting time is defined by
the size or weight of the roots, which should be approximately 300g. The harvesting can be
mechanized, being able to be used several equipment that execute the cut of the ground next to the
lines or below them.
Keywords: Ipomoea batatas L., management, review, manual, cultivation

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1275


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ASPECTOS BOTÂNICOS

A batata-doce, (Ipomoea batatas L. (Lam.)) é originária de regiões tropicais de baixa


altitude na América do Sul, sendo encontrada desde a Península de Yucatam, no México, até a
Colômbia. Para alguns pesquisadores essa espécie foi domesticada pelos Incas, Mayas e Astecas. É
uma espécie dicotiledônea pertencente à família botânica Convolvulacae, que agrupa
aproximadamente 50 gêneros e mais de 1200 espécies (BARRERA, 1986; EMBRAPA, 2004;
FILGUEIRA, 2008).
A planta possui hábito de crescimento indeterminado, sendo o caule herbáceo, ligeiramente
achatado, cilíndrico e, na maioria das cultivares, apresenta manchas de cor púrpura ou violeta na
região exposta ao sol. O caule, mais conhecido como rama, pode ser segmentado e utilizado como
rama-semente para formação de lavoura. As ramas-semente têm capacidade de emitir raízes em
tempo relativamente curto, que pode variar de três a cinco dias, dependendo da temperatura e da
idade do tecido (SILVA et al., 2002).
O enraizamento é mais rápido em condições de temperatura elevada e em ramas
recentemente formadas, pois as partes mais velhas apresentam um tecido mais rígido, por terem
paredes celulares lignificadas e menor número de células meristemáticas, demandando maior tempo
para que ocorra o processo de totipotência, que é o fenômeno da reversão de células ordinárias em
meristemáticas, que dão origem às gemas vegetativas (EMBRAPA, 2004).
Hábito de crescimento rasteiro no solo, com ramificações de tamanho, cor e pilosidade
variáveis. As folhas apresentam cor verde e manchas roxeadas, purpúreas ou vermelhas, além de
tamanhos variados de acordo a variedade, fertilidade e condições climáticas (BARRERA, 1986).
A batata-doce possui dois tipos de raiz: As raízes absorventes, que se formam a partir do
meristema cambial, tanto nos nós, quanto nos entrenós e concentram-se até 10 cm de profundidade.
São abundantes e altamente ramificadas, o que favorece a absorção de nutrientes. E as raízes de
reserva ou tuberosa, que constitui a principal parte de interesse comercial, e a raiz absorvente,
responsável pela absorção de água e extração de nutrientes do solo. As raízes tuberosas se formam
desde o início do desenvolvimento da planta, sendo facilmente identificadas pela maior espessura,
pela pouca presença de raízes secundárias e por se originarem dos nós (SILVA et al., 2002).
As raízes tuberosas podem apresentar o formato redondo, oblongo, fusiforme ou alongado.
Podem conter veias e dobras e possuir pele lisa ou rugosa. Além das características genéticas o
formato e a presença de dobras são afetados pela estrutura do solo e pela presença de torrões, pedras
e camadas compactadas do solo (BARRERA, 1986; EMBRAPA, 2004).
Tanto a pele quanto a casca e a polpa podem apresentar coloração variável de roxo, salmão,
amarelo, creme ou branco (EMBRAPA, 1995).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1276


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As flores da batata-doce são hermafroditas, porém de fecundação cruzada devido à sua


autoincompatibilidade, e constituem uma inflorescência, a qual a corola das flores podem medir
cinco cm de comprimento e quatro de largura, tendo forma de um sino afunilado na base e
apresenta-se nas cores roxa, vermelha ou branca. O ovário apresenta dois lóculos com dois ovários
em cada um, enquanto que o androceu é composto de cinco estames desiguais, soltando um pólen
pulverulento e claro (BARRERA, 1986).
Os frutos são do tipo cápsula, em forma de globo, deiscente com duas, três ou quatro
sementes com 6mm de diâmetro e cor castanho-clara. Da fertilização da flor à deiscência do fruto
transcorrem seis semanas (BARRERA, 1986).
As sementes botânicas são achatadas, angulosas e pretas, medindo cerca de três milímetros
de comprimento, sendo coberta por uma película escura e resistente, sendo necessário quebrar a
dormência física das sementes. Essas sementes botânicas são de extrema importância para
programas de melhoramento para desenvolvimento de novas variedades (BARRERA, 1986).

CLIMA

A batata-doce é uma cultura tropical, assim exige temperaturas relativamente altas, mas se
desenvolve melhor em locais que a temperatura média é superior a 24 °C, alta luminosidade,
fotoperíodo longo e suficiente umidade do solo. Para esta hortaliça vale a regra de quanto mais alta
a temperatura e a luminosidade, menor será o seu ciclo. Corroborando com isso Mortley et al.
(2009), observaram que o fotoperíodo mais longo (18 horas) proporcionou maior produtividade de
raízes tuberosas que o fotoperíodo curto (9 horas).
Em regiões quentes a batata-doce produz raízes com maior teor de açúcar e menor teor de
amido. É oportuno ressalvar que quando a cultura é submetida a temperaturas inferiores a 10 °C o
crescimento da planta é severamente retardado, havendo destruição dos tecidos vegetativos. A
cultura não suporta geada, mas pode ser cultivada em regiões temperadas, nos períodos da
primavera e verão, quando a temperatura elevada e a alta radiação solar favorecem o
desenvolvimento da cultura. Quanto ao regime pluvial, a cultura deve ser implantada em locais com
pluviosidade anual média de 750 a 1000 mm, sendo que cerca de 500 mm são necessários durante a
fase de crescimento (EMBRAPA, 2004).

SOLO

A cultura se adapta melhor a solos de textura média ou arenosa, leves, soltos, arejados,
permeáveis, bem drenado, sem presença de alumínio tóxico, com pH ligeiramente ácido e em solo
com alta a média fertilidade natural. Solos arenosos facilitam o crescimento lateral das raízes,
evitando a formação de batatas tortas ou dobradas. Além disso, facilita a colheita, permitindo o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

arranquio das batatas com menor índice de danos e menor esforço físico. A produção é muito
prejudicada em solos encharcados ou muito úmidos, pois a aeração deficiente retarda a formação
das raízes tuberosas (EMBRAPA, 1995; FILGUEIRA, 2008).
Segundo Barrera (1986) o pH ideal para a batata-doce está na faixa de 5,5 a 6,5, podendo
tolerar pH até 7,0. No entanto para EMBRAPA (1995) essa espécie pode crescer e produzir bem em
solos com pH desde 4,5 até 7,5. Em solos cujo pH esteja abaixo de 5,5 é recomendado a correção
através do calcário que deve ser aplicado 90 a 100 dias antes do plantio.
Quanto à topografia, a utilização de áreas de pouco declive facilita as operações
mecanizadas. No entanto, áreas relativamente acidentadas também podem ser utilizadas pois a
construção de leiras em nível promove um controle eficiente da erosão do solo (EMBRAPA, 2004).

PREPARO DO SOLO

O preparo do solo é essencial para o bom desenvolvimento da batata-doce. O preparo do


solo consiste na formação de leiras ou camalhões com 30 cm de altura, distanciadas de 80 a 100 cm,
utilizando-se para isso um sulcador com dois bicos, o espaçamento entre plantas pode ser de 25 a 40
cm, dependendo da variedade (hábito de crescimento, área foliar, ciclo, sistema radicular),
finalidade, fertilidade do solo, adubação, local, época de plantio, colheita e tratos culturais. Em
locais com solos arenosos pode-se dispensar a aração, mas em solos argilosos é necessário fazer
primeiramente uma aração para descompactar o solo e, em seguida, duas gradagens para que seja
bem destorroado e uniformizado (EMBRAPA, 1995).
As leiras devem ser construídas em nível, principalmente quando a área tiver topografia
acidentada, pois atuam como controladoras de erosão.
Quando for necessário aplicar fertilizantes, estes devem ser distribuídos nas linhas
correspondente às leiras, antes da sua construção, de forma que os fertilizantes fiquem localizados
na base das mesmas.

ADUBAÇÃO

A planta de batata-doce é pouco exigente em adubação, mas possui um sistema radicular


muito ramificado, o que a torna eficiente na absorção de nutrientes, especialmente o fósforo. Esta
cultura tem a habilidade de usar formas menos disponíveis de P, em consequência de uma
associação com micorrizas, porém essa associação vai perdendo sua eficiência pelo uso de
fertilizantes (BARRERA, 1986; FILGUEIRA, 2008).
De acordo com Filgueira (2008) a adubação para esta cultura só se justifica para solos de
baixa fertilidade, sendo pelo menos uma fertilidade mediana satisfatória as baixas necessidades
nutricionais da batata-doce.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1278


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Segundo Cavalcante et al. (2003), as exigências minerais da cultura são em ordem


decrescente: potássio (K), nitrogênio (N), fósforo (P), cálcio (Ca) e magnésio (Mg).
De acordo com EMBRAPA (2004), para uma produção de 13 a 15 t.ha-1 de tubérculos a
batata-doce extrai do solo 60 a 113 kg de nitrogênio, 20 a 45,7 kg de fósforo, 100 a 236 kg de
potássio, 31 a 35 kg de cálcio e de 11 a 13 kg de magnésio. Sendo essas quantidades variáveis
segundo as variedades, solo, clima e ciclo da cultura.
Segundo Filgueira (2008) o K tem notável influência na formação das raízes tuberosas e no
sabor.
O nitrogênio é o nutriente que mais merece atenção, pois a resposta a uma dosagem
incorreta pode resultar em diminuição da produtividade. Em solos com alta disponibilidade desse
elemento ocorre um intenso crescimento da parte aérea, em detrimento da formação de raízes de
reserva. O grande crescimento de folhas e ramas causa o auto sombreamento excessivo, que reduz a
taxa de fotossíntese e favorece o crescimento de patógenos, principalmente os fungos. Por outro
lado, a deficiência de nitrogênio prejudica o desenvolvimento da planta, causando a redução da
fotossíntese, o amarelecimento e a queda das folhas basais (EMBRAPA, 2004).
Para evitar o excesso, bem como a deficiência do elemento, deve-se acompanhar o
crescimento da cultura. A aplicação de fertilizante nitrogenado só deve ser feita quando houver
sintomas de deficiência do nutriente que é o amarelecimento das folhas, principalmente as mais
velhas. Esta atenção deve ser dada antes que as plantas atinjam cerca de 45 dias, pois a partir desse
período torna-se mais difícil realizar qualquer operação na lavoura, devido ao entrelaçamento das
ramas (EMBRAPA, 2004).
Em relação ao potássio, por ser um elemento solúvel e bastante móvel no solo, é
recomendado que se faça a aplicação da metade da dose no plantio e o restante aos 45 dias.
Os nutrientes cálcio e magnésio são geralmente supridos através da calagem com calcário
dolomítico.

ÉPOCA DE PLANTIO

A época de plantio varia em função das condições locais (temperatura, luminosidade,


fotoperíodo) e da cultivar (precoce vigor e tipo de planta). Deve-se considerar ainda a
disponibilidade de equipamento de irrigação (EMBRAPA, 2004).
A melhor época para o plantio da batata-doce é na metade do período chuvoso, nos meses de
novembro, dezembro e janeiro, nos Estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. No Nordeste,
deve-se plantar no início da estação chuvosa, de abril a junho, entretanto, sob condições de
irrigação, pode-se plantar durante todo o ano, desde que não ocorram temperaturas menores que 10
°C por períodos longos (SOARES et al., 2002).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1279


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MATERIAL DE PROPAGAÇÃO

A batata-doce pode ser multiplicada por meio de sementes botânicas, batatas, ramas, mudas,
folhas enraizadas e cultivo de meristemas apicais ou outros tecidos. Porém em plantios comerciais a
forma mais usada se dá pelo uso de ramas (EMBRAPA, 1995).
As ramas são pedaços de caule contendo seis a oito entrenós (cerca de 30 cm). As ramas
devem ser retiradas das partes mais novas do caule de lavouras em crescimento, até cerca de 60 cm
da extremidade, ou seja, deve-se retirar até duas ramas a partir do ponteiro, por se enraizarem mais
rápido e também por serem menos contaminadas por pragas e patógenos, especialmente os fungos
localizados no solo (EMBRAPA, 2004).
As ramas devem ser retiradas quando as plantas tiverem 2 a 3 meses. Nesta fase, elas estão
em pleno crescimento vegetativo, e a retirada dos ponteiros não prejudica a produção, pois as folhas
remanescentes são suficientes para dar continuidade ao desenvolvimento da planta, e ocorre
rapidamente a formação de novas ramas (EMBRAPA, 2004).
As primeiras raízes que se formam a partir de gemas que surgem dos meristemas dos nós e
na região cambial localizada entre o cortex (casca) e o tecido lenhoso. O surgimento de gemas na
região do corte é facilitado por que o tecido meristemático é exposto quando se faz o corte para a
remoção do segmento de rama das plantas matrizes. Por isso, as primeiras raízes se formam nos
cortes ou nos nós e, posteriormente, em outras partes do entrenó ou a partir da ramificação das
raízes já formadas (EMBRAPA, 2004).
A transformação dos tecidos meristemáticos em pontos de crescimento de gemas radiculares
dura cerca de três dias. Neste período, denominado pelos produtores como descanso, as ramas
devem ser colocadas em um local fresco e úmido, evitando-se, em parte, a sua desidratação no
campo. Quanto à remoção ou não das folhas das ramas-semente, estas folhas se destacam da rama
em alguns dias após o plantio e, como o enraizamento ocorre em três a cinco dias, não se justifica a
execução de tal trabalho, embora as folhas se constituam superfície transpirante que favorece a
desidratação das ramas. Havendo umidade no solo, a porcentagem de pegamento é alta, não
justificando o replantio. Contudo, se morrem mais de 10% das ramas-semente, então deve-se
realizar a substituição das ramas, cerca de dez a quinze dias após a implantação da lavoura
(EMBRAPA, 2004).

PLANTIO

Consiste em enterrar parte da rama-semente na leira de plantio. No Brasil o plantio é


geralmente realizado manualmente, fazendo-se primeiramente a distribuição das ramas no
espaçamento adequado e, em seguida, faz-se um orifício com utilização de uma haste pontiaguda,

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denominada de ―bengala‖. Nesse orifício é depositada a base da rama, enterrando-a até a metade do
seu comprimento – deve ser enterrados três a quatro entrenós, pois se forem enterrados muitos
entrenós ocorrerá produção de muitas batatas pequenas, e se for enterrado um entrenó a tendência é
produzir poucas batatas graúdas - e, com auxílio da mesma ferramenta, acomoda-se o solo ao redor
da rama (FILGUEIRA, 2008).
Caso não haja disponibilidade de água para irrigação, recomenda-se fazer o plantio
lateralmente e na base das leiras. Dessa forma, a rama-semente fica em contato com a parte mais
úmida da leira, uma vez que a crista é formada por solo solto e drenado, que facilita a desidratação
da rama, reduzindo a chance de pegamento (EMBRAPA, 2004).
O plantio mecanizado é realizado com uma transplantadora de construção relativamente
simples. Nela, dois operários que trabalham sentados na parte traseira da máquina, com a função de
distribuir as ramas-semente no sulco. Na parte superior do equipamento, um outro operário se
encarrega de distribuir as ramas, mas antes realiza o seu tratamento, mergulhando-as na solução
desinfestante (EMBRAPA, 2004).
Para ambos os métodos, deve-se evitar que as ramas se tornem quebradiças sendo
aconselhável corta-las um dia antes do plantio. As mesmas devem penetrar 10 a 15 cm no solo,
sendo que 5 ou 10 cm das pontas ficam para fora (EMBRAPA, 2004).

CAPINA

A capina tradicionalmente é feita manualmente, pois não existem herbicidas registrados para
essa cultura. Em condições de alta infestação por gramíneas, alguns produtores utilizam
graminicidas de uso geral, como Fluazifop-b-butil (Fusilade ou similar). Adota-se também a
aplicação de Paraquat (Gramoxone ou similar 0,5 a 0,7 L.ha-1) que é um herbicida dessecante, e
portanto utilizado em pós-emergência das plantas daninhas. É aplicado quando as plantas daninhas
estão com 10 a 15cm de altura, utilizando-se um funil invertido, denominado de chapéu, para
proteger a planta cultivada (BARRERA, 1986; MIRANDA et al., 1987).
O controle físico pode ser realizado preparando o solo duas ou três semanas antes do plantio.
Nesse intervalo, havendo umidade no solo, ocorre a emergência das plantas que são eliminadas com
herbicidas não residuais de ação de contato ou sistêmico, que deve ser aplicado na véspera do
plantio (EMBRAPA, 2004).
O período crítico de competição de plantas invasoras se dá até aproximadamente 45 dias
após o plantio, dependendo do clima e do ciclo da cultivar. Em condições de clima frio, as plantas
têm crescimento mais lento e demoram mais a cobrir o solo. Em clima quente, principalmente
quando se fazem adubação e irrigação, as plantas têm crescimento acelerado e cobrem mais
rapidamente o solo. Como referência, deve-se acompanhar o crescimento das plantas e realizar a

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última capina quando as extremidades das ramas mais longas estiverem alcançando a base da planta
da leira vizinha. Durante a capina o operário deve preservar as leiras. Para isso, após o corte da
planta invasora, o operário deve separar o mato da terra e, realizando movimentos laterais com a
enxada, retornar a terra para as laterais das leiras (EMBRAPA, 2004).

AMONTOA

A amontoa consiste em reformar as leiras. Esta operação tem a finalidade de escarificar o


solo, tornando-o mais frouxo e portanto com menor resistência ao crescimento lateral das raízes de
reserva, o que favorece a formação de raízes menos tortuosas. Outra função da amontoa é vedar as
rachaduras do solo formadas pelo crescimento das raízes. Por meio dessas rachaduras, alguns
insetos-praga fazem a postura diretamente nas raízes, favorecendo a sua danificação (EMBRAPA,
2004).
A amontoa é geralmente realizada uma única vez, alguns dias após a última capina. Deve ser
uma operação exclusiva, pois nesse caso o operário trabalha caminhando lateralmente, utilizando
uma enxada para retirar terra da entrelinha para reformar a leira.
A operação de amontoa pode ser realizada mecanicamente utilizando-se um sulcador. Neste
caso, a operação deve ser feita antes do entrelaçamento das ramas minimizando os danos às
mesmas.

IRRIGAÇÃO

A batata-doce é uma espécie que é resistente à seca, porém é aconselhável irrigar quando os
plantios forem em épocas secas ou quando ocorrerem longos períodos sem chuva. O período crítico,
para estacas não enraizadas, é a primeira semana após o plantio, quando o solo deve ser mantido
úmido. Para isso é necessário a utilização irrigações leves e frequentes, para evitar a desidratação do
material vegetal até que se formem as raízes (EMBRAPA, 2004).
Após o início das brotações, as irrigações podem ser mais espaçadas, dependendo do tipo de
solo, e deve prosseguir pelo menos até os 40 dias após o plantio, para promover um bom pegamento
das ramas e um bom desenvolvimento vegetativo. Em termos práticos, recomenda-se irrigar duas
vezes por semana até o vigésimo dia, uma vez por semana dos 20 aos 40 dias e a cada duas semanas
após os 40 dias até a colheita. Pois a batata-doce possui um sistema radicular profundo (75 a 90 cm)
e ramificado, o que lhe possibilita explorar maior volume de solo e absorver água em camadas mais
profundas do que a maioria das hortaliças (SILVA, 2004 a).
De acordo com EMBRAPA (1995), a quantidade suficiente de água para esta cultura se
desenvolver adequadamente é de cerca de 4mm de água por dia, a depender do tipo de solo,
cultivar, velocidade do vento, umidade relativa e a temperatura do ar.

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PRINCIPAIS DOENÇAS

Mal-do-pé (Plenodumus destruens), pode ocasionar grandes perdas e até inviabilizar o


cultivo. Os sintomas são: pequenos pontos escuros na base do caule e depois tomam toda a base da
planta. Como consequência, a planta murcha e morre, caso não haja brotação secundária das ramas.
A infecção pode atingir as raízes tuberosas, as quais apodrecem.
Ferrugem branca (Albugo ipomoea), raramente provoca danos que justifiquem medidas de
controle. Os sintomas são: pequenas manchas amareladas na parte superior das folhas e com
pústulas esbranquiçadas na parte inferior e aparecimento de pústulas esbranquiçadas no caule. Nas
folhas as áreas afetadas ficam deformadas, como se fossem bolhas.
Sarna (Monilochaetes infuscans), esta doença ataca somente as raízes. Os sintomas são:
manchas escuras e difusas, que afetam a película das batatas. A sarna acaba desvalorizando-as
comercialmente os tubérculos, porém a polpa não é afetada.
Mancha-de-alternária (Alternaria ssp) é uma doença que tem por sintoma o amarelecimento
das folhas, ocasionado pela toxina liberada pelo fungo, lesões no limbo e pecíolos foliares. Essa
doença só tem importância econômica quando cultivares suscetíveis são plantadas sob condições de
temperatura e umidade altas.
O vírus identificado como o mais prejudicial é o Feathery mottle ou vírus do mosqueado,
cujo sintoma é um mosaico suave. Geralmente é difícil identificar plantas com vírus, mas para essa
doença as plantas apresentam pequeno crescimento, folhas se tornam estreitas e amareladas. Para
que os sintomas de vírus sejam identificáveis, os mesmos dependem da concentração do vírus na
planta, variedades e condições climáticas.
Os nematoides que mais causam limitação do potencial produtivo são do gênero
Meloidogyne, estes, além de impedirem um desenvolvimento satisfatório das raízes, podem
provocar rachaduras longitudinais e/ou irregularidades no formato.

PRINCIPAIS PRAGAS

Broca-da-raiz (Eucepes postfasciatus) são besouros com 3 a 5 mm de comprimento, com


coloração castanha ou marrom, tendo manchas claras. As fêmeas fazem a postura em pequenos
orifícios localizados na base do caule da planta ou diretamente sobre as raízes. Após eclodirem as
larvas cavam galerias danificando as raízes, desvalorizando-as e alterando o seu aspecto físico, odor
e sabor, tornando-as imprestáveis para o consumo.
Broca-do-coleto (Megastes pusialis) as fêmeas depositam seus ovos no caule e nas hastes da
planta próximo à base, por isso recebem o nome de ―borca-do-coleto‖. As larvas eclodem e

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penetram nas ramas escavando galerias que podem abrigar as lagartas, podendo se estender até as
batatas.
Vaquinha ou bicho-do-alfinete (Diabrotica speciosa) os adultos são besouros verdes, com
manchas amarelas nos élitros. A fêmea põe os ovos no solo ou na base do caule da planta. As larvas
são geralmente brancas e atingem até 10 mm de comprimento e seus principais danos são pequenos
furos na raiz que podem servir de porta de entrada para fungos e bactérias.
Besouro ou Larva-arame (Conodus sp.) os besouros têm coloração castanha ou marrom,
corpo alongado e achatado medindo 15 a 25mm. As larvas medem até 20 mm de comprimento,
apresenta corpo rígido, cilíndrico, fortemente quitinizadas. Ataca as batatas, perfura o caule e outras
partes subterrâneas da planta, os furos são profundos, diminuindo com isso o valor comercial das
raízes, além de facilitar a entrada de fungos e bactéria.

COLHEITA

A planta da batata-doce não apresenta um ponto específico de colheita, mas em condições


ideais de cultivo, a colheita pode se iniciar aos 90 dias, mas em geral, a colheita ocorre entre 120 e
150 dias. A antecipação geralmente corresponde a uma menor produtividade. O momento de
colheita é definido pelo tamanho ou peso das raízes, que devem ter aproximadamente 300g. A
colheita pode ser antecipada ou retardada, dependendo da oportunidade de comercialização. A
prorrogação do ciclo pode implicar em maior dano por insetos, por permitir maior número de ciclos
das pragas, além de se formarem raízes grandes e frequentemente mais defeituosas (EMBRAPA,
1995).
Quando executada manualmente, os operários escavam lateralmente as leiras à uma certa
distância da base da planta, para evitar corte e ferimentos nas raízes. Ao revolver a leira, as raízes
são expostas, sendo então recolhidas e posteriormente lavadas.
A mecanização simples consiste em revolver a leira para expor as raízes. Para isso, podem
ser utilizados diversos equipamentos que executam o corte do solo ao lado das leiras ou abaixo
delas. Geralmente são equipamentos semelhantes aos arados modificados para facilitar a separação
do solo, tendo à frente um disco vertical para cortar as ramas. Outra opção consiste em passar uma
lâmina abaixo da zona de crescimento das raízes ou utilizar a colheitadeira de batata (EMBRAPA,
2004).
Tanto para a colheita quanto também para a embalagem e transporte deve-se evitar bater,
esfolar e cortar os tubérculos, pois ficam sujeitas ao apodrecimento causado por fungos que não
conseguem penetrar na casca, mas quando encontram rompimentos penetram e podem provocar
prejuízos consideráveis (BARRERA, 1986).

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Após a colheita é recomendado se fazer armazenagem dos tubérculos de batata-doce, pois


quando bem armazenada se conserva em bom estado por bastante tempo, além de melhorar o sabor
tornando a raiz mais saborosa, pois a armazenagem favorece a transformação do amido em açúcar e
aumenta a quantidade de vitamina A (EMBRAPA, 1995).

CONCLUSÕES

A batata-doce é pouco exigente em adubação e, ainda apresenta a habilidade de usar formas


menos disponíveis de P, maximizando a absorção de nutrientes. Muitos agricultores utilizam
herbicidas como Fusilade ou Paraquat em pós-emergência das plantas daninhas. O ponto específico
de colheita depende de vários fatores, mas em geral a colheita varia entre 90 a 150 dias. A colheita
pode ser mecanizada, podendo-se utilizar diversos equipamentos para tal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRERA, P. Batata-doce: uma das doze mais importantes culturas do mundo. São Paulo: Ícone,
1986. 91 p.

CAVALCANTE, J. T., FERREIRA, P.V., SOARES, L. Avaliação de clones de batata-doce


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CRUZ, C. D. Programa GENES: análise multivariada e simulação. Viçosa: Ed. UFV, 2006. 175 p.

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FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e


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MIRANDA, J. E. C.; FRANÇA, F. H.; CARRIJO, O. A.; SOUZA, A. F. Batata-doce (Ipomoea


batatas (L.) Lam.). Brasília, DF: EMBRAPA-CNPH, 1987. 14 p. (EMBRAPA-CNPH. Circular
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MORTLEY, D. G. Influence of daily light period and irradiance on yield and leaf elemental
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SILVA, J. B. C.; LOPES, C. A.; MAGALHÃES, J. S. Cultura da batata-doce. In: CEREDA, M. P.


(coord). Agricultura: tuberosas amiláceas latino americano. São Paulo: Fundação Cargil, 2002. v.
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SOARES, K. T.; MELO A. S.; MATIAS, E. C. A cultura da batata-doce (Ipomoea batatas L.


Lam). João Pessoa: EMEPA-PB, 2002. 26 p. (EMEPA-PB. Documento, 41).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1286


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

MATÉRIA ORGÂNICA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS


QUÍMICAS DO SOLO

Francisco Wellington Andrade SILVA


Graduando em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido- UFERSA
fwellintonas@gmail.com
Jeane Cruz PORTELA
Docente - Universidade Federal Rural do Semi-Árido- UFERSA
jeaneportela@ufersa.edu.br
Veroneide Maria de OLIVEIRA
Graduanda em Geografia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
veroneideoliveira@hotmail.com
Mikhael Varão dos SANTOS
Graduando em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido- UFERSA
mikhaelsantos@hotmail.com

RESUMO
Embora esteja presente em um percentual pequeno na maioria dos solos minerais, a Matéria
orgânica do solo exerce uma influencia notável sobre a qualidade do solo de forma geral,
contribuindo muito mais do que o seu baixo percentual indica, o que tem levado a comunidade
científica mundial a adotá-la como um parâmetro eficaz no que se refere à discriminação e
monitoramento da qualidade do solo ao longo do tempo em função das reações que esta influencia
em diversos processos no solo, e entre estas, aspectos químicos tais como: Capacidade de troca
catiônica (CTC) e disponibilidade de nutrientes, servindo como fonte alternativa e complementar de
nutrientes as plantas, em contribuição a fração argila que é inerente ao material de origem, como
também, a adubação mineral. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma
discussão dos resultados de pesquisa obtidos por diversos autores da literatura que corroboram esta
explanação, com o estudo geral sobre a matéria orgânica do solo, com destaque para suas
influências sobre alguns atributos químicos do solo.
Palavras-chave: Matéria orgânica, Capacidade de troca catiônica, Nutrientes, Atributos químicos.
ABSTRACT
Although it is present in a small percentage in most mineral soils, soil organic matter has a notable
influence on soil quality in general, contributing much more than what its low percentage indicates
which has led the world scientific community to adopt it as an effective parameter regarding the
discrimination and monitoring of soil quality over time due to the reactions that this influences in
diverse processes in the soil, and between these aspects Such as: cation exchange capacity (CTC)
and nutrient availability, serving as an alternative and complementary nutrient source to plants, in
relation to mineral fertilization. In this sense, the objective of the present work was to conduct a
discussion of the research results obtained by several authors of the literature that corroborate this
explanation, with the general study on soil organic matter, with emphasis on their influence on
some soil chemical disturbances.
Keywords: Organic matter; Cation exchange capacity; Nutrients; Chemical Attributes.

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INTRODUÇÃO

O solo pode ser considerado um sistema ativo e dinâmico que interage e converge
sinergicamente com todos os componentes da pedosfera e a sua interface com os mundos da rocha
(litosfera), do ar (atmosfera), da água (hidrosfera) e da vida (biosfera) essenciais a manutenção da
estabilidade nos variados eco e agroecossistemas, com dinamismo e versatilidade, tendo assim,
influência direta e constante dos processos que regem as transformações atuantes dentro dessa
interface, além de apresentar estreita relação com o ciclo biogeoquímico global do carbono. De
natureza trifásica, o solo é constituído de uma fase líquida, ocupada pelo ar e a água e os solutos e
uma fase sólida subdividida em duas frações, a saber: mineral e orgânica, constituindo a matriz do
solo. Em solos minerais de textura franca, cerca de metade do volume de solo fica ocupado por ar e
água, enquanto a fração mineral corresponde a 45% e a fração orgânica apenas 5%, sendo que em
solos bem drenados pode haver variação de 1 a 6% na camada superficial (BRADY e WEIL, 2013).
Com exceção da classe dos Organossolos, onde os teores de carbono orgânico são superiores a 80
g/Kg, e a ação da matéria orgânica se sobrepõe a das partículas minerais, uma vez que esta domina
amplamente as propriedades de superfície (EMBRAPA, 1997 citado por RAIJ, 2011).
Embora a MOS perfaça o total de apenas 5% do horizonte mais superficial de solo, na
particularidade de textura franca a mesma conferi boas condições para o crescimento das plantas.
(BRADY e WEIL, 2013). Mesmo nessa condição de baixa percentagem, a (MOS) em função de sua
elevada reatividade exerce notáveis influências em diversificadas propriedades químicas, físicas e
biológicas do solo, tais como: estabilização de agregados, retenção de água, redução de densidade,
disponibilidade de nutrientes, sendo uma das principais responsáveis pela CTC do solo sob a forma
humificada, funcionando como uma fonte de liberação lenta de nutrientes para as plantas,
especialmente N2, S e o P. A MOS adiciona ainda ao solo dois elementos extrínsecos à sua
constituição litológica e, portanto, não existentes no material de origem: o C e o N que são
incorporados gradativa e paralelamente ao seu desenvolvimento ao longo do tempo (RAIJ, 2011).
A matéria orgânica é uma das principais formas de estoque de carbono, podendo conter de 3
a 4 vezes mais do que a totalidade encontrada em toda a vegetação mundial, desempenhando
importante papel na ciclagem deste elemento por meio de sua captura e liberação pela atividade dos
microrganismos (BRADY e WEIL, 2013). Além disso, tem-se ainda a sua interação com a
microbiota do solo, servindo de substrato para os microrganismos que obtém a partir dela a sua
nutrição ou leito de proteção para aqueles que vivem em associação simbiótica com as raízes das
plantas. Por influenciar os processos físicos, químicos e biológicos no âmbito do solo, a MOS tem
sido ainda apontada como um eficiente índice de qualidade do solo (IQS), muito utilizado para
avaliar e monitorar a qualidade e consequentemente a produtividade do solo ao longo do tempo em
função dos tipos de sistema de uso e ou manejos de solos adotados. Desta forma , a MOS contribui

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mais do que o seu valor percentual indica, desempenhando papel singular na manutenção da
qualidade do solo, bem como de sua capacidade produtiva, sobretudo nos agroecossistemas
tropicais e subtropicais onde a manutenção da produtividade de seus solos está intimamente ligada
ao aporte, manutenção e decomposição dos resíduos de plantas, sendo que a sua redução do aporte
orgânico compromete a manutenção e ou melhoria da qualidade do ambiente.
Portanto, o presente trabalho objetivou realizar discussão dos resultados de pesquisa obtidos
por diversos autores da literatura, com o estudo geral sobre a matéria orgânica do solo, com
destaque para suas influências sob o ponto de vista da química do solo econsequentemente suas
implicações na qualidade do solo.

FORMAS DA MOS NO SOLO

A matéria orgânica do solo (MOS) compreende a todo material de origem vegetal e animais,
e até mesmo a população microbiana habitante do solo, em processo constante e dinâmico de
transformação, resultantes dos processos de decomposição dos resíduos e de sua interação com a
interface solo-ambiente, passando a ser componente ativo do solo, tanto na sua forma viva,
componente das células dos organismos vivos e na biomassa microbiana, bem como na sua forma
não viva, que compreende a matéria macro orgânica e em estágio avançado de decomposição,
resultando no coloide orgânico. Segundo Silva e Mendonça (2007) a fração orgânica também
chamada de MOS, é constituída sumariamente de elementos como C,H,O,N,S e P que perfazem
cerca de 58% da MOS, sendo que o C perfaz o total de 58% da MOS, seguido do H com 6% , O
33% , sendo menor a contribuição percentual dos elementos N,P e S que contribuem
individualmente com 3%.
Ainda segundo os mesmos autores supracitados, a MOS pode ser divididos em dois
compartimentos presentes no solo: a matéria orgânica viva e a matéria orgânica não viva. A MOS
viva corresponde ao material presente, porém imobilizado, dentro das células dos organismos vivos,
apresentando, contudo, potencial para mineralização, desde as raízes, aos macro organismos
componentes da fauna do solo, bem como microrganismos, sendo esta uma fração influente nos
processos de transformação e decomposição de compostos orgânicos. Dentre estes, a biomassa
microbiana viva se destaca, pois atuam como agentes decompositores e como reservatório de C na
forma lábil. Já as raízes funcionam como canais de exsudação de uma variada gama de compostos
que em parte passarão a constituir a MOS morta, enquanto a macro e microfauna do solo atua em
processos como liberação de seus excrementos (minhocas), imobilização e deposição de substâncias
húmicas.
Já a MOS não viva corresponde a matéria macro orgânica constituída de resíduos orgânicos
em vários estádios de decomposição que responde por cerca de 3 a 20% do COT (carbono orgânico

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total). O húmus por sua vez é dividido em substâncias húmicas e não húmicas sendo que algo em
torno de 20 a 30 % deste se constitui de substâncias não húmicas sendo que as substâncias húmicas
podem ser divididas em três grupos: ácidos húmicos, fúlvicos e huminas que na sua totalidade
responde por cerca de 85% a 90% do COT do solo e apresentarem alta reatividade e interação com
todos os componentes da solução do solo (BRADY e WEIL, 2013).
Essa substância se constitui de uma complexa mistura heterogênea de compostos orgânicos
amorfos de cor escura, que em função de sua complexidade apresentam alta resistência a atividade
microbiana, além de exibir comportamento coloidal orgânico o que lhe confere elevada área
superficial específica e por conseguinte alta capacidade de retenção de cátions e água. Enquanto
isso, as substâncias não húmicas perfazem cerca de 20 a 30 % do húmus do solo, sendo de menor
complexidade e apresentam maior sensibilidade ao ataque microbiano em relação ao húmus,
podendo influenciar a disponibilidade de nutrientes para as plantas tais como nitrogênio e ferro
(BRADY e WEIL, 2013).

INFLUÊNCIA DA MOS NA QUÍMICA DO SOLO

A matéria orgânica do solo (MOS) em função de sua elevada área superficial específica e
capacidade troca catiônica e dominância sobre as propriedades de superfície influencia de forma
marcante a química do solo, sobrepondo-se a fração argila de atividade coloidal baixa ( minerias
1:1), sobretudo em solos muito intemperizados, embora apresente uma atividade coloidal baixa,
quando comparada com os argilominerais que apresentam cargas permanentes, oriundas da
formação dos minerais, por substituições isomórficas (CONCEIÇÃO et al. 2005). Esse fato torna-se
mais perceptível nos agrecossistemas de solos tropicais, onde o aporte de matéria orgânica pode ser
restrito, em função do padrão climático, onde a vegetação nativa fornece diversos resíduos
orgânicos, criando condições favoráveis à manutenção e a melhoria da qualidade e produtividade do
solo nestas regiões, quando usado de forma racional, com bom senso e observação as
particularidades locais.
Segundo Raij (1981) a contribuição da matéria orgânica para a CTC de solos sob condições
tropicais é extremamente importante, sendo estimada na ordem de 56% a 82% da CTC total desses
solos. Ramos e Cunha (1985) em seus estudos de caracterização de solos afetados por sais em
condições hidromórficas onde relacionam a CTC com a COT do solo numa proporção de 1 g de
C/Kg de solo equivalente a 4cmolc Kg de solo, o que indica a necessidade de manutenção de aporte
de resíduos orgânicos na superfície. Dado a parcela de contribuição expressiva dos MOS para
manutenção da qualidade química desses solos, a eliminação ou redução do aporte orgânico na
superfície compromete o sucesso das atividades agrosilvipastoril.
Silva Junior, Boechat e Carvalho (2012), verificaram esse efeito da MOS sobre a

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manutenção da fertilidade do solo ao estudarem as características físicas e químicas de um


Latossolo Vermelho Distroférrico em uma área de mata preservada em agroecossistemas, na região
de Concórdia-Pará. Os autores observaram que a redução do aporte de matéria orgânica em área
com intenso uso, que preconizam a retirada da vegetação nativa para implantação de atividades
agrícola, envolvendomonocultivos e pastagens conduzidas de forma inadequada, tem relação direta
com a perda da qualidade química, física e biológica do solo, em função da depreciação dos
estoques de MOS, causados pelo sistema de uso e manejo do solo adotados, comprometendo a
produtividade agrícola nesses agroecossistemas.
Esse notável poder da fertilidade que a MOS confere ao solo, tanto em agroecossistemas
frágeis (a semelhança dos tropicais), com intemperismo químico intenso, se deve principalmente ao
incremento de CTC que esta propicia , servindo como fonte de liberação de nutrientes, ao longo do
tempo (PAVINATO e ROSOLEM, 2008).
Ciotta et al. (2003), confirma a contribuição da MOS para aumento da CTC em um trabalho
desenvolvido em Latossolo, com argila de atividade baixa, sob dois sistemas de plantio: direto e
convencional. Ao estudar a relação entre aporte de matéria orgânica e o aumento da capacidade de
troca de cátions nesse Latossolo, sob os dois sistemas de plantio, os autores concluíram que o
acúmulo de matéria orgânica após 21 anos de uso em sistema de plantio direto (sendo que este
sistema apresenta teor de CO 29% maior em relação ao sistema de plantio convencional) foi capaz
de aumentar consideravelmente a CTC deste solo, que tem predominância de argila de atividade
baixa nas duas situações em estudo, em relação ao sistema de plantio convencional. Desta forma, o
acúmulo de MO nesse sistema de uso e ausência de preparo promoveu incremento expressivo da
CTC em superfície com aumento variando de 17 a 85% nas camadas mais superficiais (até os
primeiros 8 cm do solo), mostrando que a manutenção de MO sob forma de palhada no sistema de
plantio direto contribuiu consideravelmente para incremento da CTC do solo estudado ao longo do
tempo.
Canellas et al. (2000) estudando as frações da material orgânica e o seu comportamento em
função da localização na paisagem em seis solos de uma topossequencia no estado do Rio de
Janeiro, concluiu em seu estudo que o incremento da CTC propiciado pela MOS foi elevado nas
regiões de interflúvio (parte mais alta) da topossequencia que favoreceram a manutenção da MOS
no solo em comparação as outras áreas , sendo estes incrementos da CTC da ordem de 14,6% a
117,5% com contribuição nos horizontes superficiais, diminuindo em profundidade, havendo
também correlação positiva do íons K+ e Na+ com os teores de carbono orgânico total (COT).
Canellas et al. (2003) avaliando as propriedades químicas de um Cambissolo cultivado com
cana-de-açúcar no norte do Rio de Janeiro, estudou 4 áreas: em uma delas a cana foi cultivada 55
anos sem queima, com aporte de cana crua em superfície, na outra o cultivo foi realizado durante

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35 anos com adição de vinhaça; e nas outras duas áreas houve queima durante 55 anos e não houve
adição de vinhaça durante 35 anos. Ao avaliar as propriedades químicas do solo, os autores
chegaram à conclusão de que o manejo feito com a manutenção de cana crua e a adição de vinhaça,
ao longo do tempo, foram capazes de aumentar os valores de macro e micronutrientes, com
destaque para o K+ e Ca+2, que nas áreas de cana queimada era de 1,5 cmolc dm-3e 0,81cmolc dm-3
respectivamente e passou a ser de 8,5cmolc dm-3 e 5,3cmolc dm-3 nas áreas com cana crua e
vinhaça. Além disso, CTC e a CTC efetiva variou de 57% a 68% nas camadas superficiais de 0-20 e
20-40 em comparação aos valores encontrados na área de cana queimada, sendo encontrada uma
correlação muito significativa entre CTC efetiva e teor de COT do solo, levando a conclusão de que
o aporte de MO na forma de cana crua e a adição de vinhaça, ao longo do tempo, contribuíram para
o incremento de CTC e consequentemente melhoria da fertilidade do solo.
Tendo em vista que o processo fisiológico de desenvolvimento das plantas contempla
absorção de nutrientes presentes no solo a fitomassa vegetal, também, e a MOS passa a funcionar
como fonte estoque de nutrientes diversos, principalmente N, P e S (COSTA et al., 2015), além da
fração argila. Assim, a MOS funciona como um estoque de nutrientes na medida em que estes são
absorvidos e imobilizados na fitomassa vegetal, sendo posteriormente disponibilizados no solo por
meio da mineralizaçãopromovida pela atuação de microrganismos decompositores que atuam sobre
as taxas de mineralização e decomposição da MOS, servindo posteriormente como fonte paulatina
de liberação nutriente necessária as plantas, adicionando ainda ao solo dois elementos extrínsecos
litologia, a saber: Nitrogênio e Carbono, que são adicionados a este à medida que ocorre
decomposição dos resíduos vegetais e mineralização da MOS ao longo do tempo (RAIJ, 2011).
Nesse sentido, tanto a manutenção de aporte orgânico bem como incorporação de Mos ao
solo sob forma de adubação orgânica é de fundamental importância para a manutenção da
fertilidade do solo ao longo do tempo, garantindo manutenção e melhoria de sua capacidade
produtiva.
Esse efeito foi verificado por Menezes e Silva (2008) que ao estudarem os efeitos da
adubação orgânica sobre a mudança na fertilidade de um Neossolo Regolítico cultivado com batata
após 6 anos de adubação concluiram que a incorporação de 15 ton há1 de esterco bovino foi capaz
de propiciar incrementos significativos nos teores de carbono orgânico (CO), pH , nutrientes
(macro e micro), CTC e troca de bases, nas camadas superficiais de 10-20 e 20-40. Assim, houve
aumento de CO, N, P e S nas camadas consideradas, sendo que o N total aumentou de 142% a
147%, o P aumentou significativamente, sendo o seu maior incremento no tratamento com adição
de esterco variando de 165% a 187% nos seis anos. O enxofre não houve diferença significativa
entre tratamentos, contudo os seus valores foram superiores aos encontrados na literatura,
aumentando juntamente com os teores de CO, o que os autores atribuem a aplicação de esterco

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bovino, chegando à conclusão de que a adubação com esterco bovino foi capaz de garantir teores
adequados do S durante o período de tempo em estudo. Houve também incremento de
micronutrientes, com destaque para o zinco, que na camada de 0-20 variou de 88% a 151% nos dois
tratamentos em que se utilizou esterco combinado com crotalária e somente esterco 15 toneladas
por hectare-1 respectivamente.
Aita et al. (2001) conduziu um experimento na Universidade Federal de Santa Maria (RS)
em um Argissolo vermelho durante 4 anos , com o objetivo de avaliar o fornecimento de nitrogênio
as plantas de milho em sistema de plantio direto por meio da utilização de plantas de cobertura no
solo, no qual utilizou três leguminosas, a saber : ervilhaca comum, ervilha forrageira, tremozo azul
e chícaro, além de um tratamento com pousio invernal, (plantas invasoras) e gramínea aveia preta,
sendo feita aplicação de doses de N (0,80 e 160 kg há-1). Os autores concluíram que as leguminosas
foram às espécies que acumularam as maiores quantidades de N na parte aérea em comparação a
aveia preta e as plantas espontâneas, com destaque para o tremoso azul, que apresentou o maior,
incorporando 113,7 kg há-1de N a sua massa. Além disso, eles verificaram que a utilização de
leguminosas do tipo ervilhaca comum e tremozo azul antes da implantação da cultura do milho,
levaram esta cultura a não produzir efeitos de resposta à adubação nitrogenada, levando a conclusão
de que a utilização destas leguminosas é capaz de garantir bom fornecimento de N a esta cultura
devido à baixa relação C/N, que acelera a sua decomposição, servindo como uma fonte rápida de
fornecimento de N ao solo, pois a decomposição de seus resíduos nos primeiros 30 dias da
realização do manejo foi capaz de liberar 60% do nitrogênio acumulado em sua parte aérea, o que
indica que a utilização resíduos de plantas (sobretudo leguminosas) se constitui em uma fonte
alternativa de fornecimento de nutrientes, especialmente o N, reduzindo a aplicação de adubos
minerais quando o cultivo de leguminosas precede o cultivo das culturas desejadas
Boer et al. (2007) ao estudar o acúmulo e liberação de nutrientes N, P , K+, Ca+2 , Mg+2 e S
da MOS proveniente de plantas de cobertura em um Latossolo Vermelho Distroférrico de textura
argilosa no cerrado, constataram que plantas de cobertura funcionam como estoque de nutrientes ao
incorporá-los a sua fitomassa vegetal, assim como servem de fonte deliberação de nutrientes ao
meio por meio da decomposição de sua palhada, concordando com (ROSOLEM; CALONEGO;
FOLONI, 2003).
No experimento foram avaliadas as seguintes plantas: capim-pé-de-galinha, milheto e
amaranto. O milheto e capim-pé-de-galinha foram capazes de acumular a maior quantidade de
nutrientes em sua fitomassa, cerca de 10.801 Kg há-1 e 8.753 Kg há-1 respectivamente, contra 2.891
Kg há-1 do amaranto, ao passo que os resíduos culturais de amaranto, devido a baixa relação C/N e
elevada taxa de decomposição, demonstraram elevado potencial de liberação dos nutrientes N, P ,
K, Ca, com destaque para o potássio, com 88,6 % liberado durante os 30 primeiro dias, contra

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75.5% e 55,5 % do milheto e capim-pé–de–galinha nessa ordem. Desta forma, os autores


constataram que a MO proveniente dos resíduos de milheto e capim-pé-de-galinha servem como
estoque de nutrientes em longo prazo e proteção física do solo na forma de cobertura em função de
sua maior resistência a decomposição e reduzida velocidade de deposição de nutrientes, ao passo
que a MO dos resíduos culturais de amaranto, demonstraram elevado potencial de fornecimento dos
nutrientes N, P , K, Ca as plantas , sobretudo o K , servindo como fonte rápida de liberação desses
nutrientes devido a sua baixa relação C/N.
Giacomini et al. (2003) corrobora com resultados encontrados por Aita et al. (2001), em um
experimento conduzido em um Argissolo Vermelho, com o objetivo de estudar o efeito da Mos
sobre a liberação de nutrientes N,P e K por meio da utilização do consórcio de plantas de cobertura
no inverno, avaliando a produção de matéria seca bem como a liberação e incremento de nutrientes
em comparação a utilização de culturas isoladas. Os autores concluíram que a utilização de resíduos
de plantas, sobretudo de leguminosa ervilhaca, em consórcio com as outras culturas estudadas
foram responsáveis por altos incrementos de matéria seca, bem como apresentaram eficiente
acúmulo e disponibilização de nutrientes, tais como N, P e K em comparação a utilização dessas
culturas isoladamente e a vegetação de pousio em inverno, o que indica que a utilização de plantas
de cobertura em consórcio com culturas em apreço se constitui fundamental para a manutenção da
fertilidade do solo e sustentabilidade de sistemas agrícolas, aumentando produtividade das culturas
e reduzindo as necessidades de adubação mineral, dado o potencial de mineralização e aporte de
nutrientes oferecidos pela MOS na medida em que ocorre a sua decomposição (BERNARDES et al.
2010).
Lovato et al. (2004) corrobora com os resultados de pesquisa de Giacomini et al. (2003) ao
conduzir um experimento de longa duração, em um Argissolo Vermelho degradado por manejo
inadequado do solo e dos cultivos agricolas na área experimental UFRGS, Eudorado do Sul. Neste
experimento, os autores avaliaram o efeito da ausência e presença de MOS no solo, a fim de estudar
acontribuição desta na adição de C e N nos diferentes sistemas de preparo do solo adotados
utilizando leguminosas em consórcio com a cultura do milho, sendo que o experimento continha os
seguintes tratamentos: (aveia/milho, ervilhaca/milho, aveia + ervilhaca/milho + caupi), onde se
utilizou os sistemas de preparo convencional, preparo reduzido e plantio direto bem como aplicação
de adubação nitrogenada. Os autores concluíram que a utilização de leguminosas em consócio com
o milho, assim como a adubação nitrogenada propiciou recuperação da qualidade química deste
solo degradado, pois houve recuperação dos estoques de C e N apenas no sistema de plantio direto
em função da manutenção de MOS sob a forma de palhada, melhorando a produtividade da cultura
do milho, o que indica que a MOS contribui para a manutenção e recuperação da qualidade química
do solo, na medida em que funciona como fonte liberadora de nutriente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A matéria orgânica do solo desempenha papel fundamental nos eco e agroecossistemas,


sendo que seu o aporte é essencial para manutenção e/ou preservação dos ambientes, em função da
interação que exibe com a interface solo-planta-atmsofera, a ponto de ser responsável pela
manutenção da produtividade e fertilidade dos solos em agroecossistemas frágeis como os tropicais,
onde predomina o processo perdas de elementos químicos essenciais às plantas pela ação da chuva,
pelo processo de lixiviação, em função do intemperismo químico intenso, consequentemente,
apresentam baixa fertilidade natural.
Entre os atributos químicos do solo, a MOS influencia de forma notável a disponibilidade de
nutrientes e a CTC por meio de suas taxas de decomposição e mineralização, principalmente em
solos que apresentem baixa fertilidade natural, servindo como fonte de nutrientes as plantas, sendo
que a manutenção e incorporação da MOS no solo sob forma de resíduos, e ou cultivo de culturas
como adubos verdes em sistemas de consórcio para posterior incorporação ao solo promove
importantes incrementos de CTC e de nutrientes a curto e longo prazo às plantas em relação a
adubação mineral, se constituindo em uma prática alternativa e sustentável.
Vale ressaltar, da importância de estudos que levem em consideração as particularidades
locais e o bom senso, envolvendo práticas adequadas a melhoria e/ou manutenção do aporte de
resíduos orgânicos, com implantação de diversidades de plantas e o uso do preparo mínimo do solo,
contribuindo para a preservação do ambiente.

REFERÊNCIAS

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DO CULTIVO DE PINHÃO MANSO EM ASSENTAMENTO COMO ALTERNATIVA:


UM ESTUDO DE CASO NO RIO GRANDE DO NORTE

Jessica Jessiana Ferreira ALVES


Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
jessica_jessiana@hotmail.com
Rosany Rossi Pereira GOMES
Graduanda do curso de Gestão Ambiental da UERN
rosanyrpg@outlook.com
Yáskara Fabíola de Monteiro Marques LEITE
Professora Dra. Orientadora e Adjunta ao Departamento de Química da UERN
ya.marques2@gmail.com

RESUMO
O Pinhão Manso (Jatropha curcas L.) consiste em ser uma espécie de planta oleaginosa, podendo
ser capaz de se adequar a diversas variações de clima e solo, assim como se adequar ao solo do
semiárido, além de produzir sementes que contém óleo para a fabricação de biodiesel, que pode ser
de grande vantagem para o produtor rural com um incremento na renda do mesmo e para o meio
ambiente, com a redução da emissão de gases nocivos na atmosfera. Com isso, o objetivo principal
do presente trabalho foi mostrar a comunidade de Montana, localizada no assentamento Eldorado
do Carajás II, a importância da prática de compostagem utilizando uma macrófita conhecida
popularmente como aguapé (Eichhornia crassipes) como adubo para aplicação no crescimento da
espécie Pinhão Manso com o intuito de fabricar biodiesel através da extração de óleo dos frutos da
planta, dando uma oportunidade para o aumento da renda das famílias assim como a melhoria da
qualidade ambiental.
Palavras-chaves: Compostagem; pinhão manso; biodiesel; comunidades rurais.
ABSTRACT
The Pinhão Manso (Jatropha curcas L.) consists of being a species of oil plant, being able to adapt
itself to diverse variations of climate and soil, as well as to adapt to the soil of the semiarid, besides
producing seeds that contain oil for the which can be of great advantage to the rural producer with
an increase in the income of the same and to the environment, with the reduction of the emission of
harmful gases in the atmosphere. The main objective of this work was to show the community of
Montana, located in Eldorado do Carajás II settlement, the importance of composting practice using
a macrophyte popularly known as aguapé (Eichhornia crassipes) as fertilizer for application in the
growth of Pinhão Manso in order to manufacture biodiesel through the extraction of oil from the
fruits of the plant, giving an opportunity to increase family income as well as improving
environmental quality.
Keywords: Composting; pinhão manso; biodiesel; rural communities.

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INTRODUÇÃO

A planta Pinhão Manso, sendo seu nome científico Jatropha curcas L., é uma espécie que
ocorre em todas as regiões tropicais e até nas regiões temperadas sendo cultivada no continente
americano desde a época pré-colombiana. Suas sementes possuem um óleo que desde a década de
1920 foi usada para a iluminação de casas rurais nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro,
sendo também utilizada como lubrificante para motores de ignição durante a Segunda Guerra
Mundial, que durou de 1939 a 1945. Além disso, a torta resultante da planta pode ser utilizada para
a fabricação de sabão e o arbusto pode ser utilizado como cerca viva em pequenas propriedades
(SATURNINO et al., 2005).
A grande preocupação em relação às alterações climáticas e a Crise do Petróleo que ocorreu
no ano de 1973, motivaram as pesquisas científicas voltadas para fontes alternativas e renováveis de
energia, que não degradasse de maneira significativa o meio ambiente (SATURNINO et al., 2005).
No final dos anos de 1970, foi lançado o Pró-Álcool no Brasil, sendo considerado um programa
modelo para o atendimento à demanda de combustível que fosse renovável e alternativo no país
(CÂMARA, 2006).
De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) foram-se desenvolvendo correntes
tecnológicas mundiais tendo em vista a escassez do combustível fóssil e também para a
minimização dos efeitos negativos desses combustíveis em meados do século XXI, para a
sensibilização de grandes produtores agrícolas, pesquisadores, como também o Governo Brasileiro,
que criou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, para a comercialização dos
biodieseis (ANP, 2008). A produção global de biodiesel é da ordem de 18 milhões de m³ e na
década passada cresceu 300% mais precisamente entre os anos de 2005 e 2009. Marques (2007)
aborda que os países Brasil e a Índia planejam uma ampla expansão deste setor para a próxima
década e diversas espécies de plantas exóticas e nativas, ainda pouco conhecidas, apresentam-se
com potencial de abastecer à indústria com o biocombustível. Assim, o pinhão manso (Jatropha
curcas L.) se destaca como opção sustentável para o biodiesel (ANP, 2008).
O plantio de plantas que são oleaginosas pode ocorrer em todas as regiões do Brasil, porém
quando se usa as mesmas para a produção de óleo vegetal em larga escala, são exigidas espécies
que apresentem menores gastos com insumos agrícolas, apresentando também uma maior
produtividade em relação à área plantada, para ser inserida nos cenários de agricultores familiares
(MARQUES, 2007).
Por ser uma planta oleaginosa que resiste a diversas variações de solo e clima, o Pinhão
Manso se torna uma alternativa que poderá trazer grandes benefícios para pequenas propriedades
rurais, principalmente se o mesmo estiver inserido em ambientes onde o clima apresenta níveis
pluviométricos baixos e alto nível de evapotranspiração, com longos períodos de estiagem. O

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Pinhão Manso tem a vantagem de possuir um ciclo perene e produtividade média de duas toneladas
por hectare (MELO et al., 2006). Como é uma planta que se caracteriza por ser rústica, a mesma
pode se adaptar em terrenos áridos e pedregosos, além de desempenhar um grande papel para a
recuperação de áreas degradadas que sofrem com a erosão pluvial e eólica (ARRUDA et al., 2004).
Com isso, percebe-se o quanto o plantio da espécie pode ser de grande vantagem para o agricultor
familiar que possui sua propriedade em regiões áridas ou semiáridas, como a região Nordeste do
Brasil.
Para a maximização dos benefícios para o meio ambiente, podem-se utilizar técnicas
ambientalmente seguras para o tratamento do Pinhão Manso, sendo tal técnica, a compostagem.
Para Lindenberg (1992, p. 3) a compostagem consiste como:

―um processo biológico de decomposição da matéria orgânica contida em restos de origem animal ou vegetal, e tendo
como resultado final um produto - composto orgânico - que pode ser aplicado ao solo para melhorar suas características,
sem ocasionar riscos ao meio ambiente e sendo um método natural por meio do qual os materiais normalmente
considerados como lixo orgânico é transformado em material humificado, de cor escura e cheiro agradável, isento de
sementes de ervas daninhas ou de microrganismos causadores de doenças em plantas.‖

Como a compostagem traz diversos benefícios, atualmente ela está sendo diversificada e
aplicada tanto em espaços rurais como urbanos, sendo praticada dentro da própria residência de
quem opta por realizar este processo para se obter adubo, que servirá para a adubação de jardins,
plantações e etc. Tal procedimento traz diversos benefícios para o meio ambiente, pois, com a
fabricação de adubo através da compostagem, diminui-se a quantidade de resíduos nos aterros
sanitários, dando uma finalidade aos resíduos orgânicos que seriam descartados sem nenhuma
finalidade. Além disso, o adubo produzido a partir de resíduos orgânicos poderá melhorar a
estrutura do solo, devolvendo os nutrientes de que a terra necessita, permitindo o controle da erosão
e a capacidade do solo de reter água, evitando também o uso de fertilizantes que alteram
negativamente a qualidade dos solos (SILVA, 2000).
A produção de biodiesel através da planta oleaginosa Pinhão Manso tratado com técnicas
sustentáveis, como a compostagem, se tornam alternativas de grande importância a serem
desenvolvidas em propriedades rurais, uma vez que o acesso dessas comunidades a oportunidades
de trabalho são limitados por estarem localizados, na maioria dos casos, em zonas rurais. Tais
técnicas poderão ser desenvolvidas de forma que se preserve o meio ambiente, trazendo benefícios
às famílias com oportunidades de trabalho.
Com isso, o principal objetivo do projeto foi mostrar a técnica de compostagem para a
Comunidade de Montana, localizada no Assentamento Eldorado do Carajás II, com a utilização de
um resíduo tido como praga nos ambientes urbanos, principalmente nos corpos d‘água, sendo este o
aguapé (Eichhornia crassipes) existente em grande quantidade devido o lançamento de grandes
cargas de matéria orgânica nas águas através de emissários de esgoto. Tal resíduo poderá ser

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1300


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

utilizado para a produção de composto que deverá ser usado no plantio de Pinhão Manso para a
produção de biodiesel, que poderá trazer grandes benefícios com a minimização da emissão de
Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera, bem como a geração de renda para os produtores rurais
presentes na comunidade.

METODOLOGIA

Breve Caracterização da Área de Estudo

Mossoró é um município brasileiro no interior do estado do Rio Grande do Norte (latitude 5º


11‘ 15‘‘ S; longitude 37º 20‘ 39‘‘ W e altitude de 40,5 metros), situado na mesorregião do Oeste
Potiguar e microrregião homônima, Região Nordeste do país. Ocupa uma área de aproximadamente
2.110,21 km², sendo o maior município do estado em área, estando distante 285 quilômetros da
capital estadual, Natal. O município possui um clima quente e semiárido. Em 2016 sua população
foi estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 291.937 habitantes, sendo
o segundo mais populoso do Rio Grande do Norte (ficando atrás somente da capital) e o 93º de todo
o país (IDEMA, 2008).
Localizada entre duas capitais, Natal e Fortaleza, às quais são ligadas pela BR-304, Mossoró
é uma das principais cidades do interior nordestino, considerada uma das cidades de médio porte
brasileiras mais atraentes para investimentos no país. O município é o maior produtor em terra
de petróleo no país, como também de sal marinho. A fruticultura irrigada, voltada em grande parte
para a exportação, também possui relevância na economia do estado, tendo um dos maiores PIB per
capita da região (IDEMA, 2008).
O assentamento Eldorado do Carajás II é o maior assentamento da reforma agrária do Rio
Grande do Norte, estando localizado no município de Mossoró à cerca de 280 quilômetros da
capital Natal no Território da Cidadania Açu/Mossoró. O mesmo foi criado em 2004 e compreende
uma área total de aproximadamente 19,7 mil hectares, tendo capacidade para 1.150 famílias, essas
distribuídas em dez agrovilas, sendo sete no município de Mossoró, incluindo a agrovila de
Montana e três no município de Baraúna (INCRA, 2017) (Figura 1).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1301


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1 – Localização da área de estudo. Fonte: Elaborado por Jessica Alves, 2017.

Classificação da Pesquisa e Coleta de Dados

Os procedimentos metodológicos que compõem o trabalho se deram através de pesquisas


bibliográficas e pesquisas de campo. A abordagem da pesquisa se caracteriza por ser quali-
quantitativa. Para Gil (2008), o estudo de campo procura o aprofundamento de uma realidade
específica através da observação direta dos acontecimentos.
Para a obtenção dos dados, foi realizada uma coleta de informações que aconteceu no dia 09
de Janeiro de 2016 na comunidade de Montana, localizada no assentamento Eldorado dos Carajás
II, onde, chegando lá, foi primeiramente aplicado um questionário contendo perguntas relacionadas
a temática Compostagem. Após a aplicação do questionário, foi apresentada uma palestra
abordando os pontos que anteriormente tinham sido questionados e também foram reproduzidos
alguns vídeos a respeito da importância de se realizar a compostagem em casa. Feito isso, foi
reaplicado o mesmo questionário, a fim de determinar se os participantes haviam compreendido o
que foi repassado na palestra. Após alguns dias da apresentação da primeira palestra na
Comunidade de Montana, foi coletadas espécies da macrófita aguapé (Eichhornia crassipes) no
segundo barramento do Rio Apodi-Mossoró, localizado no Centro do município de Mossoró com o

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

intuito de obter composto a partir da macrófita para futura aplicação em mudas de Pinhão Manso,
como mostra a Figura 2 a seguir.

Figura 2 - Coleta da macrófita Eichhornia crassipes no leito do Rio Apodi-Mossoró (A); Macrófita
processada para obtenção de adubo. Fonte: Jessica Alves, 2016.

A metodologia de apresentação de palestras e aplicação de questionários se seguiu no decorrer da


apresentação de mais duas palestras, onde na segunda apresentação foram mostradas as principais
características da espécie Jatropha curcas L., ou seja, o Pinhão Manso, além dos seus benefícios
para o produtor rural. Na terceira apresentação, foram repassadas para a comunidade, as vantagens
do plantio de Pinhão Manso para a produção de biodiesel, onde se aplicou um questionário antes e
depois das apresentações com questionamentos relacionados à temática da apresentação.
Ao fim do projeto, foram plantadas sementes de Pinhão Manso, ao qual no decorrer do seu
crescimento, foram medidas as folhagens e caules para o acompanhamento do crescimento de cada
muda, que totalizou por volta de 30 mudas. Com isso, foi realizada a atividade de campo que teve
por finalidade a entrega das mudas para a comunidade de Montana.
Para a tabulação dos dados dos questionários foi utilizado o software Excel. Em relação ao mapa de
localização da área de estudo, foi utilizado o software Quantum GIS 2.14.11 (QGIS) e Google Earth
(versão 7.1.5.1557).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi apresentar e incentivar os moradores da comunidade a
importância da prática da compostagem para a aplicação do adubo feito com aguapé no plantio de
Pinhão Manso que poderá trazer grandes benefícios, tanto para o produtor rural como para o meio
ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados obtidos dos questionários antes e depois da apresentação da


primeira palestra, sendo esta sobre a importância da compostagem, obtiveram-se os seguintes
resultados expressos no Gráfico 1, onde os resultados foram positivos, sendo que antes da
apresentação da palestra, obteve-se 83,5% de acertos e 16,5% de erros. E após a palestra, os

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

resultados positivos tenderam a aumentar, onde se obteve 87,6% de acertos e apenas 12,4% de
erros.

100,00% 87,60%
83,50%
80,00%

60,00%

40,00%
16,50% 12,40%
20,00%

0,00%
ANTES DEPOIS

ACERTOS ERROS

Gráfico 1 – Primeira palestra sobre Compostagem. Fonte: Autores, 2016.

O segundo questionário tratou de questões básicas sobre a planta Pinhão Manso, temática da
segunda palestra apresentada à comunidade. Através da comparação dos questionários antes e
depois da palestra, mostrados no Gráfico 2, é possível perceber que o objetivo de repassar os
benefícios do plantio da espécie em solos do semiárido foi atingido, tendo como acertos no primeiro
questionário um percentual de 68,9%, e 31,1% de erros. Enquanto na segunda aplicação do
questionário após a palestra, os acertos aumentaram para 90,2% e os erros caíram para 9,8%.

100,00% 90,20%

80,00% 68,90%

60,00%

40,00% 31,10%

20,00% 9,80%

0,00%
ANTES DEPOIS

ACERTOS ERROS

Gráfico 2 - Segunda palestra sobre a espécie Pinhão Manso. Fonte: Autores, 2016.

No terceiro e último questionário, onde foram abordadas perguntas a respeito da produção


do biodiesel a partir do Pinhão Manso (Figura 3), os resultados se mantiveram positivos. Como
apresentados no Gráfico 3, o primeiro questionário obteve 74,1% de acertos e 25,9% de erros. Já na
segunda aplicação os dados apresentam um percentual de 87,0% de acertos e apenas 13,0% de
erros, havendo um aumento de quase 13,0% de questões acertadas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

100,00%
87,00%
90,00%
80,00% 74,10%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00% 25,90%
20,00% 13,00%
10,00%
0,00%
ANTES DEPOIS

ACERTOS ERROS

Gráfico 3 - Terceira palestra sobre biodiesel fabricado a partir do Pinhão Manso. Fonte: Autores, 2016.

Figura 3 - Apresentação da terceira palestra sobre biodiesel a partir do Pinhão Manso (A); Aplicação de
questionário (B). Fonte: Autores, 2016.

Após as palestras, foi semeada a espécie Pinhão Manso, ao qual totalizou cerca de 30
mudas, com a finalidade de entregar para a população residente da comunidade de Montana, para
que a mesma obtenha os benefícios que a espécie pode trazer para o produtor rural. No decorrer do
desenvolvimento das mudas, foram realizadas medições nas folhagens e caule, para o
acompanhamento devido do crescimento das mesmas.
A primeira medição ocorreu no dia 09 de setembro, sete dias após as sementes serem
semeadas, onde já apresentava um bom desenvolvimento na maioria das mudas, como apresentado
na tabela 1. No total foram quatro medições e estas ocorreram a cada sete dias.

Plantas 1 a 10
Plantas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Circ. do 0,5
0,5 mm 0,5 mm 0,4mm 0,4 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,6 mm 0,5 mm 0,4 mm
Caule mm
Altura da 18
19 cm 17 cm 16 cm 16 cm 17 cm 23 cm 24 cm 17 cm 9 cm
planta cm
Total de
31 32 30 27 26 30 30 36 26 29
folhas
Plantas 11 a 20
Plantas P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20
Circ. do 0,4
0,4 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,4 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,5 mm
Caule mm

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Altura da 15
15 cm 20 cm 20 cm 15 cm 20 cm 18 cm 20 cm 21 cm 22 cm
planta cm
Total de
22 24 32 30 30 33 36 28 28 36
folhas
Plantas 21 a 30
Plantas P21 P22 P23 P24 P25 P26 P27 P28 P29 P30
Circ. do 0,5
0,5 mm 0,4 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,5 mm 0,4 mm 0,5 mm 0,6 mm
Caule mm
Altura da 18
17 cm 11 cm 14cm 19 cm 13cm 16 cm 20 cm 17 cm 20 cm
planta cm
Total de
34 25 15 27 22 16 20 32 27 29
folhas
Tabela 1 – Primeira medição das mudas de Pinhão Manso ocorrido no dia 09 de setembro de 2016. Fonte:
Autores, 2016.

Os primeiros resultados comparados à segunda medição, que ocorrera no dia 17 de


setembro, mostram que o crescimento da planta se manteve favorável diante de sua comprovada
resistência às diversas variações de solo e clima do semiárido, caracterizado pela baixa umidade e
pouco volume pluviométrico, além de apresentar um bom desenvolvimento com o adubo feito a
partir da macrófita Eichhornia crassipes.

Plantas 1 a 10
Plantas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Circ. do 0,7
0,9 mm 0,8 mm 0.9 mm 0,8 mm 0,7 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,7 mm 0,8 mm
Caule mm
Altura da 24
26 cm 23 cm 23 cm 19 cm 26 cm 22 cm 25 cm 26 cm 24 cm
planta cm
Total de
43 53 47 61 41 51 48 52 51 53
folhas
Plantas 11 a 20
Plantas P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20
Circ. do 0,6
0,8 mm 0,6 mm 0,7 mm 0,6 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,7 mm 0,8 mm 0,6 mm
Caule mm
Altura da 22
24 cm 23 cm 24 cm 20 cm 23cm 22 cm 24 cm 26 cm 25 cm
planta cm
Total de
37 56 43 54 48 55 52 43 56 42
folhas
Plantas 21 a 30
Plantas P21 P22 P23 P24 P25 P26 P27 P28 P29 P30
Circ. do 0,7
0,7 mm 0,5 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,6 mm 0,7 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,8 mm
Caule mm
Altura da 21
22 cm 15 cm 18cm 19 cm 13cm 19 cm 23 cm 22 cm 23 cm
planta cm
Total de
52 42 30 47 52 40 30 47 56 58
folhas
Tabela 2 – Segunda medição das mudas de Pinhão Manso ocorrida no dia 17 de setembro de 2016. Fonte:
Autores, 2016.

Já na terceira avaliação das oleaginosas, ocorrida no dia 24 de setembro, as mesmas


mantiveram seu desenvolvimento, aumentando valores instáveis entre a maioria das mudas, apesar
de algumas terem avançado seu crescimento mais rapidamente que outras logo na primeira semana.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Plantas 1 a 10
Plantas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Circ. do 0,9
1 cm 0,9 mm 1 cm 0,9 mm 0,9 mm 0,9 mm 0,9 mm 0,9 mm 0,9 mm
Caule mm
Altura da 28
35 cm 32 cm 33 cm 28 cm 37cm 32 cm 34 cm 35 cm 32 cm
planta cm
Total de
56 60 64 73 68 77 64 75 72 68
folhas
Plantas 11 a 20
Plantas P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20
Circ. do 0,9
0,9 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,8 mm 1 cm 0,9 mm 0,9 mm 1 cm 0,8 mm
Caule mm
Altura da
34cm 33 cm 29 cm 33 cm 28 cm 31 cm 29 cm 32 cm 34 cm 29 cm
planta
Total de
58 78 63 70 67 69 75 60 78 68
folhas
Plantas 21 a 30
Plantas P21 P22 P23 P24 P25 P26 P27 P28 P29 P30
Circ. do 0,9
0,9 mm 0,8 mm 0,9 mm 0,9 mm 0,8 mm 0,8 mm 0,9 mm 0,9 mm 1 cm
Caule mm
Altura da 28
31 cm 22 cm 26 cm 28 cm 25 cm 28 cm 30 cm 30 cm 31 cm
planta cm
Total de
70 73 58 65 72 58 52 65 78 70
folhas
Tabela 3 – Terceira medição das mudas de Pinhão Manso ocorrida no dia 24 de Setembro de 2016. Fonte:
Autores, 2016.

Ao final do acompanhamento, sendo a última avaliação no dia 01 de outubro, as mudas já


apresentavam valores consideravelmente elevados tanto na altura da planta, como na circunferência
do seu caule e quantidade de folhas, tendo em vista o pouco tempo do cultivo.

Plantas 1 a 10
Plantas P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
Circ. do
1 cm 1 cm 1 cm 1,2 cm 1 cm 1,2 cm 1 cm 1 cm 1 cm 1 cm
Caule
Altura da 33
42 cm 38 cm 40 cm 34 cm 45 cm 41 cm 42 cm 39 cm 40 cm
planta cm
Total de
87 94 91 102 96 122 98 110 92 102
folhas
Plantas 11 a 20
Plantas P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20
Circ. do
1 cm 1 cm 0,9 mm 0,9 mm 0,9 mm 1 cm 1cm 1 cm 1,2 cm 1 cm
Caule
Altura da 41
42 cm 36cm 40 cm 37 cm 39 cm 36 cm 40 cm 42 cm 36 cm
planta cm
Total de
89 117 98 96 91 104 119 93 123 100
folhas
Plantas 21 a 30
Plantas P21 P22 P23 P24 P25 P26 P27 P28 P29 P30
Circ. do
1 cm 1 cm 0,9 mm 1 cm 1 cm 0,9 mm 0,9 mm 1 cm 1 cm 1,1 cm
Caule
Altura da 36
39 cm 33 cm 31cm 42 cm 32 cm 30 cm 37 cm 39 cm 40 cm
planta cm
Total de
98 103 87 96 107 97 92 119 123 119
folhas
Tabela 4 – Quarta medição das mudas de Pinhão Manso ocorrida no dia 01 de outubro de 2016. Fonte:
Autores, 2016.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1307


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 4 - Entrega de Mudas para a comunidade (A e B). Fonte: Autores, 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O biodiesel vem se tornando uma nova solução para os problemas energéticos vivenciados
na atualidade, podendo ser fabricado a partir de plantas oleaginosas através de seus frutos, onde se
pode obter biodiesel de boa qualidade. Entre as espécies de plantas oleaginosas que são cultiváveis
no Brasil, a J. curcas L. (Pinhão Manso) é uma das mais promissoras, por ser uma planta perene e
apresentar uma alta produtividade de frutos que poderão gerar altas concentrações de biodiesel,
além de ser rústica o que garante sua adaptação aos diferentes tipos de solo e clima, como é o caso
da região semiárida, tornando-se uma importante alternativa para produtores rurais, com a obtenção
de aumento de renda através da venda do biodiesel, contribuindo para a melhoria da qualidade
ambiental, através da diminuição de Gases de Efeito Estufa na atmosfera.
Pode-se observar que os objetivos do projeto de trazer a importância da compostagem com a
utilização da macrófita aguapé (Eichhornia crassipes), bem como apontar uma proposta que será de
grande relevância para o produtor rural, sendo esta a prática do plantio de Pinhão Manso para a
fabricação de biodiesel foram alcançados, pois os resultados dos questionários antes e após as
palestras foram bastante positivos, podendo-se salientar que os participantes já tinham algum
conhecimento de práticas utilizadas para a melhoria da qualidade ambiental.
Dessa forma, é possível concluir que os moradores conseguiram assimilar bem a
importância das práticas que foram repassadas, e com o recebimento das mudas poderão obter os
benefícios que a espécie Pinhão Manso pode gerar, tanto para a comunidade como para o meio
ambiente.

REFERÊNCIAS

ANP. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Resolução ANP n° 21,
10/07/2008. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/biocombustiveis/biodiesel.asp>. Acesso
em: 06 mar. 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1308


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ARRUDA, F. P. et al. Cultivo de pinhão manso para o Semi Árido nordestino. Revista Brasileira de
Óleos e Fibras. Campina Grande, v.8, n.1, p.789-799, jan-abr. 2004.

CÂMARA, G. M. de S. Biodiesel Brasil – Estado Atual da Arte. Conselho de Informações sobre


Biotecnologia. São Paulo, Set. 2006. Disponível em:
<http://www.cib.org.br/pdf/biodiesel_brasil>. Acesso em: 06 mar. 2017.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE – IDEMA.


Perfil do seu Município: Mossoró. v. 10, p. 1-24. 2008. Disponível em: <
http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000013950.PDF> Acesso em: 09 jun.
2017.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA.


Assentamento Eldorado do Carajás II. 2017. Disponível em: < http://www.incra.gov.br/rn-incra-
inicia-vistoria-no-assentamento-maisa> Acesso em: 09 jun. 2017.

LINDENBERG, R. C. 60 Questões Sobre a Compostagem. São Paulo, 1992, 15 p.

MARQUES, D. de A. Pinhão manso para produção de biodiesel: um promissor negócio ou um


grande desastre. APTA, São Paulo, ago. 2007. Disponível em:
<http://www.apta.sp.gov.br/noticias.php?id=2709>. Acesso em: 06 mar. 2017.

MELO, J. C. et al. Avaliação preliminar do potencial do pinhão manso para a produção de


biodiesel. 2006. Disponível em:
<www.biodiesel.gov.br/docs/congressso2006/produção/Preliminar20.pdf>. Acesso em: 07 abr.
2017.

SATURNINO, H. M. et al. Cultura do pinhão manso (Jatropha curcas L.). Informe Agropecuário.
Belo Horizonte, v.26, n.229, p.44-78, 2005.

SILVA, Edmilson B. Compostagem de Lixo na Amazônia: Insumos para a Produção de Alimentos.


In: Simpósio Sobre a Reciclagem de Lixo Urbano para fins industriais e Agrícolas, Belém, 1998.
Anais: Belém, PA, Embrapa Amazônia Ocidental, 2000, p.57-64.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1309


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DIAGNÓSTICO MACROMORFOLÓGICO, FÍSICO E QUÍMICO DAS TERRAS DA


COMUNIDADE POÇO ESCURO NA SERRA DO ESPINHO, PILÕES/PB

João Lucas Freitas de SOUSA


Graduando do Curso de Geografia da UEPB/ Campus III94
Joaolucasfreitas521@gmail.com
Dayane Ferreira GUILHERME
Graduanda do Curso de Geografia da UEPB/ Campus III95
ferreiradayane16@hotmail.com
Carlos Antônio Belarmino ALVES (Orientador)
Prof. Dr. do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UEPB/Campus III96
c_belarminoalves@hotmail.com
Luciene Vieira de ARRUDA (Orientadora)
Prof Dr do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da UEPB/ Campus III97
a a

luciviar@hotmail.com

RESUMO
O solo se caracteriza como um importante elemento natural da superfície terrestre, mas foi ao longo
do processo evolutivo da raça humana que esse recurso natural passou a ser utilizado intensamente.
Nesse contexto, atualmente o solo tem sido muito explorado através da agricultura e pecuária, sendo
estes os fatores que mais contribuem para a degradação do mesmo. Assim, o objetivo dessa
pesquisa é diagnosticar as características macromorfológicas, físicas e químicas dos solos da
comunidade Poço Escuro, na Serra do Espinho, Pilões/PB, no intuito de classificá-los quanto a sua
aptidão nutricional analisando o estado em que se encontram e a melhor forma de uso. Os
procedimentos metodológicos foram pautados na pesquisa de campo, laboratório e gabinete,
abarcando quatro amostras de solos, que foram analisadas em suas características
macromorfológicas, físicas e químicas. Os resultados demostraram que o solo 1 apresenta as
melhores condições para a agricultura, no que diz respeito à macromorfologia, pH, matéria orgânica
e saturação de bases (V%), assim como à sua condição fisica e sua distribuição no relevo local. Os
outros solos se encontram em relevo forte-ondulado e inclinado, sendo os solos 2 e 4 os mais
comprometidos, devido à condição distrófica. Os solos 3 e 4 são alcalinos e precisam de correção.
Palavras-chave: Solo; aptidão agrícola; sustentabilidade.
ABSTRACT
The soil is characterized as an important natural element of the terrestrial surface, but it was
throughout the evolutionary process of the human race that this natural resource came to be used
intensely. In this context, currently the soil has been much exploited through agriculture and
livestock, these being the factors that contribute the most to the degradation of the same. Thus, the
objective of this research is to diagnose the macromorphological, physical and chemical
characteristics of the soils of the community of Poço Escuro, in Serra do Espinho, Pilões/PB, in
order to classify them as to their nutritional suitability by analyzing the state in which they are and
The best way of use. The methodological procedures were based on field, laboratory and cabinet
94
Bolsista PIBIC/CNPq-Membro do Grupo TERRA, CNPq.
95
Bolsista do PIBIC/CNPq-Membro do Grupo TERRA, CNPq.
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Vice-líder do Grupo TERRA, CNPq.
97
Líder do Grupo TERRA, CNPq.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1310


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

research, covering four soil samples, which were analyzed in their macromorphological, physical
and chemical characteristics. The results showed that soil 1 presents the best conditions for
agriculture, with respect to macromorphology, pH, organic matter and base saturation (V%), as well
as to its physical condition and its distribution in the local relief. The other soils are in strong-wavy
and sloping relief, with soils 2 and 4 being the most compromised due to the dystrophic condition.
Soils 3 and 4 are alkaline and need correction.
Keywords: Ground; Agricultural aptitude; sustainability.

INTRODUÇÃO
As serras e planaltos do Nordeste totalizam 124.241 km2, o referente a apenas 8% do total
da região, sendo que somente o Planalto da Borborema possui área total de 43.460 km2 e abrange os
estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas (SOUZA,1999). Na imensa
extensão dessa formação geológica, que ocupa grande parte do centro leste da região nordestina
brasileira, entre as mesorregiões do agreste e da zona da mata ou zona litorânea, são observados
diversos modos de ocupação, influenciados pelas condições ambientais, econômicas, políticas e
sociais formando territórios diferenciados.
No estado da Paraíba o Planalto da Borborema adquire importância fundamental na
disposição dos recursos naturais, pois condiciona os tipos de recobrimento vegetal, os tipos de
solos, de climas e a disposição hidrológica, que vão influenciar diretamente nas atividades
econômicas, políticas e sociais.
Trata-se de uma área beneficiada pela umidade proveniente do litoral paraibano,
especificamente na região que abrange o município de Pilões/PB até os limites com Cuitegi/PB,
área ocupada por pequenas comunidades de agricultores, como é o caso de Poço Escuro, formada,
predominantemente, por material cristalino dissecado em colinas e lombas alongadas, de
topografias forte-onduladas a montanhosas, com densa rede de drenagem de padrão dendrítico e
sub-dendrítico. Apresenta ainda quedas d‘água e vales em forma de ―V‖ (CPRM, 2005;
FERREIRA, 2012).
Apesar de ser um ambiente ocupado por pequenas comunidades, de proporcionar a produção
agrícola e pecuária, a manutenção de florestas e animais e ainda ter relevante potencial turístico,
essa área possui muitas limitações e instabilidades naturais devido ao relevo acentuado e à
impermeabilidade de seus solos, sujeitos a constantes deslizamentos (CARDOSO et al, 2012).
Nesse contexto, elegeu-se nessa pesquisa fazer um diagnóstico macromorfológico, físico e químico
das terras da Comunidade Poço Escuro, na Serra do Espinho, Pilões/PB.

METODOLOGIA
A metodologia proposta para esta pesquisa está dividida em: levantamento bibliográfico e
cartográfico; pesquisa de campo; análises laboratoriais; materiais utilizados e caracterização da área

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1311


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

da pesquisa. Foi realizado o trabalho de campo para obter os dados a serem inseridos na base
cartográfica. Foram escolhidas quatro áreas agrícolas na comunidade Poço Escuro e levantadas as
seguintes informações: localização geográfica; coordenadas UTM, altitude, área, nível de
declividade e cultivo atual (Tabela 1). As amostras de solo foram coletadas com o uso do trado de
caneco de 4‖, numa profundidade de 0-40 cm. Em seguida, as amostras foram armazenadas em
sacos plásticos e identificadas com a localização do ponto (coordenadas UTM), o número e a data
da coleta. Os pontos de coleta são identificados nessa pesquisa pelos números 1, 2, 3 e 4.

Tabela 1. Altitude e coordenadas geográficas dos solos coletados na comunidade Poço Escuro, Serra do
Espinho, Pilões/PB.
Coleta Altitude Declividade Área Coordenadas UTM Cultivo atual
local (m) (ha)
1 106 25% - 55% 0,5 0214265 – 9239685 Pastagem cultivada
2 107 25% - 55% 0,2 0215529 – 9238871 Mandioca e banana
3 140 25% - 55% 0,6 0214621 – 9239363 Mandioca e banana
4 150 25% - 55% 0,3 0214008 – 9239847 Mandiocultura
Fonte: Trabalhos de campo 2017.

As amostras de solos coletadas foram analisadas em suas características físicas e químicas


nos laboratórios de Física do Solo e de Química e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e
Engenharia Rural do CCA/UFPB, conforme Tedesco et al (1995) e Embrapa (2009). As análises
físicas das amostras de solos consistiram apenas da classificação textural. As análises químicas
foram as rotineiras de fertilidade, com a determinação do potencial hidrogeniônico (pH) em água,
Fósforo (P), Potássio (k+), Sódio (Na+), Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+), Acidez Potencial (H + Al),
e Carbono orgânico. Em seguida, partimos para os cálculos das amostras de cada um dos solos, tais
como a Capacidade de Troca Catiônica (CTC), Saturação de Bases (V%), Saturação por Alumínio
(m%) e Soma de Bases (SB).

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DA PESQUISA


A microrregião do brejo paraibano pertence à mesorregião do Agreste Paraibano, inserida no
Planalto da Borborema, sendo formada por Pilões e mais oito municípios, onde vivem 116.437
habitantes, em uma área total de 1.202,1 km2 (IBGE, 2010). O município de Pilões é um dos
menores da microrregião supracitada, tanto em área territorial quanto em população, distribuída
entre a sede e os distritos ou comunidades (CPRM, 2005; IBGE, 2010). É na porção leste desse
município onde está localizada a Serra do Espinho, um ambiente com área aproximada de 25 km2,
ocupado por quatro comunidades rurais. A comunidade Poço Escuro é objeto da presente pesquisa
(Figura 1) e sua toponímia se justifica na força das aguas das cachoeiras que, ao impactar-se como o
solo, formam grandes buracos, cuja água aparenta ser de cor escura.

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Figura 1. Localização da Serra do Espinho, Pilões/PB, identificação da comunidade Poço Escuro e dos
pontos de coleta de solos.

A comunidade Poço Escuro é formada por cerca de 100 residências, com aproximadamente
cinco pessoas por família, que vivem em terras cedidas, tendo a construção das residências oriundas
de renda própria. Estas, em sua maioria, são de alvenaria, compostas de dois cômodos, dotadas de
banheiro, energia elétrica e cisternas implantadas pelo Governo Federal. As famílias são cadastradas
nas políticas públicas atuais e cada família possui renda de até um salário mínimo com as suas
atividades, sendo a principal fonte de renda o cultivo da banana e agricultura de subsistência. A
maioria dos idosos recebe aposentadorias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para facilitar a compreensão das características da camada arável dos solos estudados em
Poço Escuro, é importante relembrar os conceitos e a importância dos principais parâmetros
macromorfológicos do solo: cor, textura, estrutura e consistência (tabela 2). A cor do solo é função
principalmente da presença de óxidos de ferro e matéria orgânica (MO), além das condições de
drenagem e aeração do solo, da lixiviação, do material de origem, da intensidade dos processos de
alteração da rocha e da distribuição do tamanho das partículas (FERNANDEZ e SCHULZE, 1992).
Alguns solos refletem diretamente as cores do material geológico que o originou. O manganês
(Mn), por exemplo, tende a dar cores negras ao solo, a matéria orgânica (MO) induz a tonalidades
preta e marrom, elevados conteúdos de cálcio (Ca2+) e magnésio (Mg2+) atribuem cores
esbranquiçadas ao solo (SANTOS et al., 2013).

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Tabela 2. Características Macromorfológicas da camada arável dos solos coletados na comunidade Poço
Escuro, Serra do Espinho Pilões/PB.
Coleta Cor1 Textura Estrutura Consistência
5YR 5/4 Argilo- Granular, forte, Lig. duro, friável,
1 5YR 3/2 bruno averm. arenosa grande plástico pegajoso
Escuro
5YR 4/6 Vermelho- Franco- Granular, forte, Duro, firme, Lig.
amarelado Argilo- pequeña plástico, M. Pegajoso
2
2,5YR 2,5.1 Preto arenosa
avermelhado
7,5YR 3/2 Marrom escuro Franco- Granular, forte Duro, friável,
3
5YR 2,5/1 Preto Arenosa pequena plástico, pegajoso
10YR 3/2 Bruno acinz. Franco- Granular, fraca, Macio, muito friável,
muito escuro Arenosa pequena não plástico, não
4
10YR 3/1 Marrom muito pegajoso
escuro
Fonte: Trabalhos de campo, 2014 e 2017. 1 A tomada de cores do solo na Carta de Munsell obedeceu às
condições: seca (s) e úmida (u).

A textura do solo tem relação direta sobre a sua fertilidade, ou seja, solos arenosos tendem a
ser menos férteis que solos argilosos; também tem relação com o nível de conservação do solo, ou
seja, solos arenosos têm alta permeabilidade à água, mas podem também ser mais susceptíveis à
erosão hídrica (KONDO, 2008). Juntamente com a textura, a estrutura do solo influencia na
quantidade de ar e de água, bem como na penetração e distribuição das raízes, necessárias às plantas
para sua fixação ao solo, absorção de nutrientes, atividade microbiana e na resistência à erosão,
entre outros (SANTOS et al, 2013).
A análise da consistência se define com o tato, ou seja, a força imposta à dureza ou mesmo à
facilidade que uma amostra de solo tende a quebrar. Pode-se dizer que a consistência está
relacionada à capacidade que tem o solo de resistir à desagregação através de determinada pressão
exercida sobre o mesmo. Lepsch (2010) menciona que o solo sofre mudanças não apenas por causa
das características mais fixas do solo (textura, estrutura e agentes cimentantes), mas também pelo
teor de umidade nos poros por ocasião de sua determinação. Assim, a consistência do solo está
classificada em três estados de umidade: saturado (para estimar a plasticidade e pegajosidade);
úmido (para estimar a friabilidade) e seco (para estimar a dureza ou tenacidade).
Na comunidade de Poço Escuro foram analisados quatro solos, aqui enumerados de 1 a 4. O
solo 1 se desenvolve em área montanhosa, com inclinação entre 25% e 55%, é ligeiramente
rochoso, mas sem pedregosidade e está ocupado com pastagem cultivada. Os solos 2 e 3 são
utilizados para o plantio de mandioca (Manihot esculenta Crantze) e banana (Musa sp),
respectivamente. O relevo regional é ondulado e o relevo local é inclinado com declividade entre 25
à 55 %, apresentando erosão do tipo laminar e em sulcos de grau moderado, além de não aparentar
pedregosidade e rochosidade. A cobertura vegetal é composta por mata secundária. O solo 4 está
sendo utilizado apenas com mandiocultura, em relevo ondulado, com declividade entre 25 a 55%.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Apresenta área extremamente pedregosa e muito rochosa. A cobertura vegetal é de mata secundaria,
com resquícios de queimadas.
Com relação à discussão dos parâmetros químicos dos solos da comunidade Poço Escuro
(Tabela 3), estes seguem as classes de interpretação de fertilidade do solo utilizadas no Estado de
Minas Gerais (ALVAREZ et al., 1999).

Tabela 3. Características Químicas da camada arável dos solos coletados na comunidade Poço Escuro, Serra
do Espinho Pilões/PB.
pH
Coleta M.O. P K+ Na+ Ca2+ Al3+ SB (H+Al) CTC V
(H2O) Mg2 +
3 -3
g/kg mg/dm ....................................cmolc dm ..................................... ..%..
Comunidade Poço Escuro
1 6,4 15,23 2,6 164,2 0,08 3,55 1,65 0,0 5,70 1,15 6,86 83,15
2 5,2 18,50 10,0 160,9 0,04 0,67 0,52 0,2 1,64 6,60 8,24 19,90
3 7,1 27,97 69,2 290,9 0,34 1,72 0,51 0,0 3,32 2,56 5,87 56,45
4 7,1 20,38 32,5 245,4 0,07 0,93 0,28 0,0 1,91 2,23 4,14 46.16
Fonte: Laboratório de Química e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e Engenharia Rural do
Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em Areia/PB.

Malavolta (2006) afirma que é essencial conhecer a participação dos elementos minerais na
vida da planta e suas quantidades necessárias, bem como as condições de pH do solo, uma vez que
pH muito baixo ou muito alto implica em condições desfavoráveis no desenvolvimento das plantas.
Nesse contexto, os parâmetros químicos a serem analisados no presente trabalho são: Potencial
hidrogeniônico (pH), matéria orgânica (MO), fosforo (P), potássio (K+), sódio (Na+), cálcio (Ca2+),
magnésio (Mg2 +), alumínio (Al3+), soma de bases (SB), capacidade de troca de cátions (CTC e
saturação de bases (V%).
O pH define a acidez ou alcalinidade relativa de uma solução e sua escala varia de 0 a 14,
consiste na remoção dos cátions básicos (Ca2+, Mg2 +, K+ e Na+) – do sistema do solo, substituindo-
os por cátions ácidos (Al e H+) (TEDESCO et al, 1995). O valor 7,0 que está no meio, é definido
como neutro; valores abaixo de 7,0 são ácidos e aqueles acima de 7,0 são alcalinos.
Particularmente, o pH dos solos varia de 3,0 a 10,0 e influencia no desenvolvimento das culturas de
forma indireta, através das mudanças que provoca nas disponibilidades dos elementos essenciais
existentes no solo. Solos muito ácidos ou alcalinos são indesejáveis para a maioria das plantas
restringindo seu crescimento, sendo que a faixa de pH ideal para cultivo é de 5,5 a 6,5
(MALAVOLTA, 2006; PRIMAVESI, 2016).
Quando o pH do solo é ácido (< 5), íons fosfato se combinam com ferro e alumínio
formando compostos de baixa solubilidade, indisponíveis às plantas. Concomitantemente os teores
de Ca2 e Mg2 serão baixos, a CTC efetiva será baixa, assim como a V%. Por outro lado haverá
maior disponibilidade de Fe, Cu, Mn e Zn, podendo até causar toxidez por esses micronutrientes
(TOMÉ Jr., 1997). Nesse caso, aconselha-se corrigir o solo com calagem. Do contrário, se o solo
apresenta alcalinidade, aconselha-se a gessagem (ALVAREZ et al,1999).

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Todavia, Luz et al (2002) afirmam que a gessagem elimina o Al3+, aumenta os teores de
bases trocáveis (Ca2+, Mg2+ e K+, principalmente) na subsuperfície e fornece Ca2+e S (enxofre) para
as plantas. Nesse contexto, das 4 amostras de solo coletadas na comunidade Poço Escuro, apenas a
amostra 1 se encontra com pH ideal. O solo 2 é ácido e necessita de calagem e os solos 3 e 4 são
alcalinos. A condição de acidez ou alcalinidade compromete os solos de Poço Escuro,
principalmente porque os agricultores não costumam fazer a correção do solo, indo refletir no
desenvolvimento das culturas.
A matéria orgânica do solo (MOS) é indispensável ao solo, pois indica a sua fertilidade.
Segundo Primavesi (2016) a MOS constitui-se em um dos melhores benefícios do solo à planta,
pois influencia nas características físicas, químicas e biológicas do solo; melhora a estrutura do solo
e, consequentemente, a aeração, drenagem e retenção de água; fornece carbono como fonte de
energia para os microorganismos, promovendo a ciclagem de nutrientes; interage, ainda com
metais, óxidos e hidróxidos metálicos, atuando como trocador de íons e na estocagem de nitrogênio,
fósforo e enxofre. A matéria orgânica da camada arável dos solos analisados variou entre 15,23
g/kg até 27,97 g/kg, uma quantidade muito boa (Alvarez et al,1999),
Rolim Neto et al., (2004) definem o P como um macronutriente que, apesar de ser exigido
em menor quantidade pelas plantas, em relação aos outros nutrientes, é um composto de energia que
faz extensa ligação com os colóides e constitui-se em fator limitante na produtividade da maioria
das culturas nos solos fortemente intemperizados, onde predominam formas inorgânicas de P
ligadas à fração mineral (com alta energia) e formas orgânicas estabilizadas física e quimicamente.
Os autores afirmam ainda que a falta deste nutriente na planta provoca o aparecimento de áreas
necróticas e pecíolos nas folhas e que, ao deixar de fazer o seu metabolismo, as células morrerão.
As folhas velhas tendem a ficar avermelhadas enquanto que as jovens escurecem. Nesse contexto,
os solos analisados em Poço Escuro apresentaram altas quantidades de P, sendo que os solos 3 e 4
estiveram sempre acima de 30 mg/dm3. Em solos ácidos, como é o caso dos solos 1 e 2, o P
encontra-se precipitado com ferro, alumínio e magnésio, ou adsorvido a minerais argilosos e óxidos
e hidróxidos de ferro, alumínio e magnésio (EMBRAPA, 2009), podendo comprometer as culturas.
No que diz respeito ao K+, todos os solos estudados apresentaram altas reservas desse
nutriente, principalmente os solos 3 e 4, assegurando seu potencial para culturas frutíferas,
principalmente a bananeira, uma das espécies mais exigentes em K+ (BORGES, 1999) e que é
bastante cultivada nas áreas de serras nordestinas. O K+ influencia na resistência das plantas a
condições adversas, como baixa disponibilidade de água e altas temperaturas.
O Na+ corresponde ao sódio trocável e seu valor é utilizado na classificação de solos salinos,
sódicos e não salinos. Altas quantidades de Na+ causam dispersão do colóide argiloso no solo

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

(SALOMÃO e ANTUNES, 1998). Nenhuma das amostras de solos analisadas apresentou excesso
de Na+.
Com relação aos nutrientes Ca2+ e Mg2+, estes tendem a ser baixos em solos ácidos, assim
como a CTC e a V%. Considerando-se as 4 amostras de solos estudados na presente pesquisa, os
solos ácidos ou alcalinos (solos 2 e 4), apresentaram os menores teores, confirmando-se o que
afirma a literatura. Para Vale et al (1997) o Ca2+ é um nutriente imóvel que compõe a parede celular
da planta. O seu excesso altera o ritmo da divisão celular do vegetal. A sua falta reduz o
crescimento radicular, muda a coloração das raízes, provoca o curvamento dos ápices, deforma as
folhas jovens, causa clorose marginal podendo evoluir para necrose. Todos esses sintomas
costumam apresentar-se nas partes mais velhas do vegetal. Já o Mg2+ é um nutriente móvel
essencial ao funcionamento dos ribossomas, sendo um constituinte de cofactores enzimáticos,
clorofila e proteínas (SALOMÃO e ANTUNES, 1998). A sua falta nos vegetais provoca morte
prematura das folhas, degeneração dos frutos, cloroses intervenais, necrose foliar, redução do
crescimento vegetal e inibição da floração, iniciando-se, como nos demais casos, nas áreas mais
velhas do vegetal. O excesso desse nutriente altera absorção de K+ e Ca+ pela planta.
Os solos citados acima são exatamente aqueles que apresentam CTC e V% baixa, pois o pH
ácido ou alcalino tende a bloquear a troca catiônica. Segundo Malavolta (2006) a CTC se dá quando
uma solução salina é colocada em contato com certa quantidade de solo, o que proporciona a troca
entre os cátions contidos na solução e os da fase sólida do solo. Esta reação de troca se dá com
rapidez, em proporções estequiométricas e é reversível. Segundo Chaves e Guerra (2006), baixo
valor de CTC caracteriza um solo sujeito à excessiva perda de nutrientes por lixiviação, e neste caso
os adubos e corretivos, caso sejam usados nestes solos, não devem ser aplicados de uma só vez.
A SB de um solo, argila ou húmus representa a soma dos teores de cátions permutáveis (Ca+,
Mg2+ e K+, Na+ e NH4+ trocáveis) e serve para indicar se o solo contém nutrientes disponíveis para a
planta. Nos solos ácidos de regiões tropicais, como os do Estado de Minas Gerais, os cátions
trocáveis Na+ e NH4+ geralmente têm magnitude desprezível. Essa afirmativa se confirma nos solos
estudados em Poço Escuro, onde SB é de baixa a média, com exceção do solo 1.
A V% é definida por Prado (2008) como a participação das bases (Ca2+, Mg2+ e K+) no
complexo sortivo do solo, expressa em porcentagem: V = SB% por T e x por 100 . Trata-se de um
dado utilizado no 3º nível categórico do Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos - SiBCs
(EMBRAPA, 2013) para distinguir as condições eutróficas ou distróficas no solo. Assim, quando os
valores de V% são iguais ou superiores a 50%, acontece uma alta V%, ou seja, os solos possuem
mais da metade dos pontos de troca dos coloides ocupados com as bases trocáveis e, por isso são
considerados eutróficos e são normalmente considerados os mais férteis. Caso contrário, se os
valores forem inferiores a 50% a V% é baixa e os solos são classificados como distróficos ou pouco

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férteis. Nesse contexto, vamos encontrar no conjunto de solos em análise dois solos eutróficos (1 e
3) e dois solos distróficos (2 e 4), sendo que o solo 2 apresentou o menor percentual (19,90%).
As características químicas analisadas permitem inferir que, dos 4 solos estudados da
comunidade Poço Escuro na Serra do Espinho, 2 possuem CTC e V% baixa, sendo que, desse
conjunto, 2 são ácidos e 2 são alcalinos. Tais características requerem que os solos ácidos sejam
submetidos a uma correção com adubos orgânicos e calcários, para que a acidez possa ser
minimizada (ALVAREZ et al, 1999).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a discussão dos resultados da presente pesquisa e ter constatado que todos os solos
estão sendo utilizados atualmente para a agricultura de subsistência, pastagem ou culturas
permanentes, é possível fazer as seguintes considerações:

 Das 4 amostras de solo coletadas na comunidade Poço Escuro, apenas uma se encontra com
pH ideal, (solo 1). O solo 2 é ácido e necessita de calagem, já os solos 3 e 4 são alcalinos e
necessitam de gessagem.
 Os solos 2 e 4 possuem CTC e V% baixa, que compromete qualquer tipo de cultivo nessas
terras;
 Os solos 1 e 3 são eutróficos e os solos 2 e 4 são distróficos, sendo o solo 2 aquele que
apresentou o menor percentual (19,90%).
 O solo 1 é ideal para culturas diversas, pois possui estoques suficientes de P, Mg²+ e Ca²+, o
que se traduz em CTC, SB e V% muito boa, caracterizando-o como eutrófico, mas o mesmo
vem sendo utilizado ininterruptamente, o que pode comprometer o seu potencial nutricional;

A importância do diagnóstico macromofológico, físico e químico dos solos da comunidade


Poço Escuro na Serra do Espinho reside no fato desses solos proporcionarem a produção agrícola e
pecuária, além da manutenção de florestas e animais. Assim, o estudo dos solos de Poço Escuro
permitiu conhecer as potencialidades e as vulnerabilidades desse recurso natural, que podem servir
para orientação de futuros usos desses solos.

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1321


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA COMO PRÁTICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


NO CAMPO: FORMAÇÃO DE JOVENS CAMPONESES PARA INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA NO SEMIÁRIDO PARAIBANO

Jonieliton de Azevedo MARQUES


Graduando de Tecnologia em Gestão Ambiental – IFPB
jonieliton.marques7@gmail.com
Danielson Soares de LIMA
Professor de História da Rede Pública de Ensino
limadanielson@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho relata as experiências das práticas de produção agroecológica dentro do Projeto
de Residência Agrária Jovem em desenvolvimento de tecnologias sociais sustentáveis no
Semiárido. O projeto teve como objetivo a formação sociohistórica de jovens camponeses para
inovação tecnológica no Semiárido Paraibano e foi executado por professores de cursos
multidisciplinares junto a jovens camponeses residentes e atuantes em áreas rurais, numa
perspectiva crítica e contextualizada da realidade sociohistórica da região semiárida paraibana. O
projeto atendeu à chamada CNPq n.19/2014 – Fortalecimento da Juventude Rural, com apoio
financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação - MTCI, Ministério do
Desenvolvimento Agrário - MDA/INCRA e Secretaria Nacional de Juventude, por meio do
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Neste estudo, objetiva-se
analisar a importância do projeto para os jovens camponeses que vivem na referida região
paraibana, a partir de um ponto de vista de uma educação transformadora e emancipatória que
valorizem suas tradições e preservem o meio ambiente, por meio de práticas de produção
agroecoecológica. Sendo assim, analisaremos os instrumentos pedagógicos trabalhados, os
componentes curriculares, a metodologia de ensino e os resultados alcançados pelo curso Formação
sociohistórica de jovens camponeses para inovação tecnológica no Semiárido Paraibano.
Palavras-Chave: Educação do Campo, Agroecologia, Educação Ambiental, Semiárido Paraibano.

ABSTRACT
The aim of this work is to report the experiences about agroecological production practices, from
Projeto de Residência Agrária Jovem, intending to develop sustainable social technologies in the
Semiarid. The aim of the project was based on the socio-historical formation of young peasants for
technological innovation of the Paraíba‘s Semiarid and had been executed by professors from
multidisciplinary courses together with young peasants that live and work in rural areas, focusing
on a critical and contextualized perspective of socio-historical reality of the Paraíba‘s semiarid
region. The project met the requirements of CNPq n.19/2014 - Fortalecimento da Juventude Rural
with financial support of Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação - MTCI, Ministério do
Desenvolvimento Agrário-MDA/INCRA and Secretaria Nacional de Juventude, through the
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Furthermore, this work aims to
analyse the importance of the Project for young peasants that live in that Paraíba‘s region, from a
point of view of transformative and emancipatory education. Therefore, we will analyse the
pedagogical resources, the curriculum components, the teaching methodology and the achieved
results by the course of socio-historical formation of young peasants for technological innovation in
the Paraíba‘s Semiarid.
Keywords: Field Education, Agroecology, Environmental Education, Paraíba‘s Semiarid.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1322


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

Na história de conflitos por terras no Brasil, violentos massacres ocorreram contra os


movimentos sociais do campo. Poderosos latifundiários empreenderam forças para anular uma
melhor distribuição agrária em nosso país, utilizando-se de diversas estratégias contra os pequenos
agricultores e produtores rurais. Formas violentas de ocupação e usurpação da terra foram utilizadas
para assegurar a sua posse e ampliar o poder, por uma elite latifundiária, sobre a questão fundiária
em nosso país. Além de expulsar famílias de agricultores de suas terras, os latifundiários,
impulsionados pelos interesses por trás da chamada Revolução Verde98 optaram por uma forma de
produção voltada para o mercado, o agronegócio, em detrimento da agricultura de subsistência,
praticada tradicionalmente por produtores rurais. Consequentemente, a má distribuição das terras
para habitação e a produção de alimentos por meios do uso de agrotóxicos ocasionaram graves
problemas que impactaram, principalmente, a configuração do modo de vida no campo. Além de
terem seu ―pedaço de chão‖ usurpado, provocando um grande êxodo rural, os camponeses se viram
excluídos também das cartilhas escolares adotadas pelo sistema de ensino tradicional do país, que
pouco contempla a realidade em que eles vivem.
Nesse contexto, o sistema educativo vigente no Brasil ainda segue a lógica do modelo de
economia capitalista, visando formar mão de obra para atender as demandas do mercado. Neste
sentido, os currículos disciplinares estão diretamente voltados para os interesses do capital,
especialmente para formar força de trabalho para as atividades econômicas situadas no meio urbano
e são marcados, sobretudo, por uma cultura que subtrai a realidade e as especificidades de cada
região.
Após os massacres de Corumbiara, no ano de 1995, em Rondônia; e depois, o de Eldorado
dos Carajás, em 1996, no Pará, o cenário de luta no campo por políticas públicas foi tomando corpo
e ganhando visibilidade. Assim, a organização dos movimentos sociais do campo foi primordial
para essas conquistas. Foi neste contexto que nasceu o Programa Nacional de Educação da Reforma
Agrária – PRONERA, com o objetivo de alfabetizar jovens e adultos, a partir da premissa da
Educação do Campo. Em 16 de abril de 1998 o PRONERA foi criado por meio da portaria do
Ministério Extraordinário da Política Fundiária – MEPF. Em 2010, o decreto n.º 7.352, assinado
pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornou o PRONERA uma política pública do governo
federal direcionada à Educação Formal de jovens e assentados da Reforma Agrária e do crédito
fundiário. Segundo Ribeiro (2013, p. 41) sobre a construção do conceito de Educação do Campo,

98
Modelo de produção baseado no uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos na agricultura. Essa
modernização na agricultura busca resultar numa maior produtividade agrícola por meio da fertilização de solos,
insumos químicos e mecanização dos processos de produção. Não obstante a isso, essa modernização veio a provocar
também diversos danos de ordem ambiental e social, como a concentração das terras agricultáveis e impactos negativos
no meio ambiente.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1323


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

esclarece que ―o conceito de educação do campo vem sendo construído nos movimentos que lutam
pela terra de trabalho, organizados na Via Campesina-Brasil. Campo, para esses movimentos, tem
uma conotação política de continuidade das lutas camponesas internacionais.‖
Nesse bojo, a Educação do Campo surge como uma alternativa ao sistema de educação
vigente no país, o qual está inserido numa lógica de ensino e aprendizagem voltados ao sistema do
mercado, na maioria das vezes preparando os alunos para serem inseridos no mundo do trabalho
sem dar possibilidades intelectuais para que pensem o meio em que vivem, nem valorizem suas
tradições de vida. Paulo Freire enfatizava que, na sala de aula, os conteúdos têm que partir da
realidade dos educandos. Em relação à lógica capitalista da educação, Ribeiro (2013, p.166) destaca
que a educação assume uma função ―retificadora‖ visando preparar as populações rurais para
adaptarem-se ao processo de subordinação ao modo de produção capitalista, que assume contornos
mais definidos, combinando a expulsão da terra com a formação de mão de obra para as indústrias
nascentes. Já em relação à proposta da Educação do Campo, o autor ressalta a possibilidade de um
novo caminho ―do mesmo modo que expressão campo remete às lutas históricas do campesinato,
educação popular carrega o sentido das organizações populares do campo e da cidade que, na sua
caminhada histórica, participam realizam e sistematizam experiências de educação popular.‖
(RIBEIRO, 2013, p. 43).
O projeto Residência Agrária Jovem, experiência que estudaremos neste trabalho, surge
trazendo o sentido de Educação do Campo, com o objetivo de formar jovens para um contexto
socialmente crítico e político, e, também, para começarem a se ver no campo, e não fora dele, além
de potencializar suas capacidades e habilidades. Hoje, no Brasil, os jovens pouco têm perspectivas
de vida no campo. Segundo Silva e Botelho (2016):

É verdade que a saída de jovens do meio rural faz parte de um movimento demográfico
geral, reflexo do processo de urbanização de nossa sociedade. Entretanto, este
deslocamento não pode ser interpretado como algo inexorável. O rural representa um modo
particular de utilização do espaço e de vida social. A ideia de ―fim do rural‖ ignora que esse
espaço de vida singular, constituído historicamente a partir de dinâmicas sócias internas e
externas, pode ser valorizado pelos jovens que ali residem. Escondem que parte
significativa do êxodo rural não é intrínseca ao processo de urbanização, mas explica pelo
histórico de ausência do Estado no campo, pela dificuldade de acesso aos serviços e às
políticas públicas, e principalmente pela dificuldade de acesso à terra e à renda – questões
diretamente associadas à estrutura fundiária dominante no país. (p. 60)

A falta de conexão dos conteúdos com a realidade visando um contexto cultural que não
parte do cotidiano dos educandos é uma das causas da desistência escolar. É nesta perspectiva que
os alunos desistem de frequentar a escola. Até aquelas que estão localizadas na zona rural têm
características de escola urbana, não levando em conta as peculiaridades dos jovens camponeses
que têm costumes diferentes dos que vivem no meio urbano e, muitas vezes, precisam ir ajudar os
pais na lavoura.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Não se vendo no meio em que vivem, os jovens do meio rural acabam tendo olhos para
novos horizontes na cidade, não no campo. A imagem reproduzida sobre este é associada a algo
atrasado e, para a juventude, não está em seus objetivos viver no atraso. Com o modelo de educação
atual que chega até as escolas rurais, o trabalho pesado na agricultura vai ficando de fora da
perspectiva dos jovens, pois a educação lhes traz um universo diferente daquele em que vivem.
Sendo assim, esse modelo de educação vigente tira a identificação dos jovens pela terra e por seu
meio.
Para estimular os jovens a pensarem o campo de maneira diferente e crítica, combatendo o
êxodo rural, o Residência Agrária Jovem vem abordar conteúdos que conectam os educandos à
realidade com a qual vivem no campo, buscando vinculá-los às organizações que fazem parte da
vivência camponesa – movimentos sociais, sindicatos rurais e associações.
Para analisar os objetivos e os resultados do projeto Residência Agrária Jovem, faremos uma
narrativa e análise de como se deu o curso de extensão Formação sociohistórica de Jovens
Camponeses para Inovação Tecnológica no Semiárido Paraibano, promovido pela Universidade
Federal da Paraíba – UFPB, por meio do Departamento de História, sendo contemplado pelo edital
de chamada CNPq n.19/2019 – Fortalecimento da Juventude Rural, com financiamento do governo
federal, através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI, Ministério do
Desenvolvimento Agrário - MDA e Secretaria Nacional de Juventude - SNJ. A operacionalização
das ações previstas pelo Edital foi realizada pelo CNPq.
Trataremos sobre os conteúdos que foram abordados para os educandos e como funcionou a
dinâmica e a organicidade do projeto. Diante disso, mostraremos também um dos resultados desse
projeto de Educação do Campo.

FORTALECIMENTO RURAL POR MEIO DO PROJETO RESIDÊNCIA AGRÁRIA JOVEM

O Projeto Residência Jovem surgiu em 2015, com o objetivo de trabalhar com jovens de
assentamentos, comunidades e/ou acampamentos, e outros vinculados a comunidades rurais. Desse
modo, o objetivo buscou contemplar um grupo de 300 famílias de agricultores, totalizando 1.200
habitantes da região do Semiárido Paraibano, conforme ilustra a figura 01.
Com orientação da proposta pedagógica da Educação do Campo, o elemento metodológico
central trabalhado foi a Pedagogia da Alternância, na qual o conhecimento teórico dialoga com a
realidade dos jovens. Seguindo os fundamentos pedagógicos do manual do PRONERA, os cursos
do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária têm o período letivo dividido em duas
partes: Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC). Assim, cria-se um vínculo do espaço de
formação com a comunidade que o educando vive.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A relação entre Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC) é uma forma de afirmar a
escola como espaço de formação conectada com a comunidade e com a organização
coletiva e luta social, seja na relação com a base acampada e assentada, seja pela
participação nas lutas nacionais e internacionais dos trabalhadores. É essa materialidade
que nos permite/exige ir além da escolarização e de formação técnica. (p.139)

O Tempo Escola é o período de presença dos educandos no espaço escolar para


desenvolvimento das atividades teóricas e práticas definidas pela Coordenação Política Pedagógica.
Já o Tempo Comunidade compreende o período em que os jovens levam os conhecimentos
adquiridos no Tempo Escola para trabalhar com as necessidades da comunidade.
O Residência Jovem foi realizado concomitantemente ao projeto ―Juventude Rural:
fortalecendo a inclusão produtiva na zona da Mata e Brejo Paraibano‖, cada um com suas
especificidades e proporcionando a troca de experiência das diferentes regiões. A realização dos
projetos foi firmada com a parceria entre o Departamento de História da Universidade Federal da
Paraíba e o Instituto Nacional do Semiárido – INSA.

Figura 01: Municípios dos educandos da 1ª turma.


Fonte: LAURENTI e LIMA, 2016, p.2.

Seguindo a orientação metodológica da Pedagogia da Alternância, o projeto foi dividido em


três módulos de Tempo Escola e três módulos de Tempo Comunidade. Os componentes curriculares
trabalhados na primeira etapa foram os seguintes: Disciplina, Identidade e Territorialidade, Questão
Agrária e Memória das Lutas Camponesas no Brasil, Zoneamento Agroecológico e Sistema de
Produção e Vivência no Semiárido.
Sobre o conceito de territorialidade, de grande importância para identificar o indivíduo no
espaço em vive. Para compreendemos melhor vejamos o que Milton Santos (1999) diz a respeito:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O Território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os


poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se
realiza a partir das manifestações da sua existência.
[...]
O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas
superpostas. O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em
si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer
àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das
trocas materiais e espirituais e do exercício da vida.

Já Bernardo Mançano Fernandes nos ajuda a compreender as duas formas de território:

Temos territórios materiais e imateriais. Os materiais são formados pelo espaço físico e os
imateriais no espaço social a partir das relações sociais por meio de pensamentos,
conceitos, teorias e ideologias. Territórios materiais e imateriais são indissociáveis, porque
um não existe sem o outro. A construção do território material é resultado da relação de
poder que é sustentada pelo território imaterial como pensamento, teoria e/ou ideologia.
(FERNANDES, 2008, p. 7).

Para os educandos entenderem sua origem no campo e valorizarem o território em que


vivem é imprescindível trabalhar com eles a história do território e as suas origens. Sendo assim, foi
discutido com os jovens o problema da concentração da terra no Brasil, com suas raízes no período
colonial. Traçou-se um histórico sobre a exploração no Brasil e, sobretudo, no território paraibano.
Situar os alunos em seu tempo histórico e em sua comunidade foi a questão central para cada um se
identificar como camponês. Além disso, atividade de abertura buscou trazer para os jovens que
iniciavam o curso os problemas enfrentados pela agricultura familiar, dentre os quais se destaca o
agronegócio99. Em contrapartida, os princípios agroecológicos, além de fortalecerem a vinculação
saudável com a terra e a posição dos camponeses, constituem-se em alternativa para combater o
agronegócio.
Antes dos alunos irem para a aula de campo, era realizada uma introdução com estudos
teóricos científicos sobre o conteúdo posteriormente trabalhado na aula prática, sendo que os
conhecimentos que os educandos traziam para a sala também eram respeitados e considerados para
a aula prática. Foi ensinada para os educando a importância da agroecologia, mostrando que não se
trata apenas de uma forma de produção alimentar, mas que também abrange uma filosofia de vida
que valoriza e fortalece a dimensão cultural da família e da agricultura e mantém uma relação de
respeito e sustentabilidade com a terra. Desse modo, a prática agroecológica busca uma relação de
integração com o meio ambiente, visando preservá-lo, e melhorar as produções agrícolas, além de
fortalecer as relações sociais do campo. Para isso, abordou-se a importância das práticas que não
utilizavam insumos químicos (agrotóxicos) nem produtos transgênicos, buscando assim uma
mudança de paradigma na produção de alimentos, visando também amenizar os danos à natureza.

99
Termo utilizado para se referir às relações dos setores econômicos (mercantis, financeiras e tecnológicas), ligados ao
setor agropecuário e as situadas na esfera industrial. (FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ, 2012, p. 79]

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Nas aulas de campo, os conhecimentos populares se somaram ao científico. Assim sendo,


nas aulas práticas os camponeses que possuem experiência prática que deram certo são convidados
a ensinarem junto de um técnico científico especialista da área. A cada término do Tempo Escola,
os educandos eram encaminhados para o Tempo Comunidade, no qual os conhecimentos que
aprenderam na sala de aula eram compartilhados com a comunidade, sendo que as experiências
eram divididas com um olhar crítico construtivo sobre a realidade dos camponeses.
Para o primeiro Tempo Comunidade foi orientado aos alunos realizarem oficinas com a
juventude para discutirem sobre a realidade de seus assentamentos, sítios ou acampamentos,
reforçando qual necessidade da comunidade e o que se poderia fazer para mudar e atingir os
objetivos a serem alcançados.
Após as visitas do Tempo Comunidade, a Coordenação Política Pedagógica prepara os
componentes curriculares para o Tempo Escola seguinte, de acordo com o diagnóstico realizado nas
visitas aos educandos. A partir dessa segunda etapa, o primeiro dia na sala de aula foi para os
educandos socializarem as atividades que foram desenvolvidas nas comunidades. Os temas
abordados foram: horticultura agroecológica para uma alimentação saudável; como ter alimentação
saudável; produção orgânica de hortaliças para fortalecimentos econômico e social; hortaliças
orgânicas; juventude reflorestando; agricultura com técnicas de irrigação com canteiros através de
energia solar; jovens que preservam o meio ambiente e trazem qualidade de vida ao campo;
descobrindo e cultivando conhecimento; juventude em ação.
Os projetos que os educandos elaboraram para sua comunidade partiram desse olhar da
necessidade local e dos desejos que cada quer para uma vida coletiva na sua comunidade. Para isso,
eles utilizaram o conhecimento empírico para desenvolver os projetos. Como fruto disso, foram
elaborados projetos, pelos jovens, que contemplavam a biodiversidade da agricultura, como hortas
orgânicas e agroecológicas cultivadas em seus quintais. Alguns educandos já possuíam experiência
prática do manejo de solo e água e outros foram aprendendo e adquirindo esse conhecimento a
partir do curso. Assim, em sala de aula, buscou-se desenvolver, com os educandos, instrumentos
para elaboração de projetos pessoais e para a comunidade. Desse modo, partindo dos projetos dos
alunos, os conteúdos sobre horticultura agroecológica em diversas realidades e a produção de
mudas foram inseridos nos componentes curriculares. O cultivo de hortaliças nas comunidades teve
orientação do princípio da produção agroecológica, possibilitando aos educandos minimizarem o
impacto no meio ambiente, utilizando técnicas de produção orgânica.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 02: Produção de mudas e horticultura agroecológica.

Os componentes curriculares da etapa seguinte foram: Manejo da Caatinga, Avicultura,


Caprinocultura, Suinocultura e Preparação de derivados de carnes. Esses novos conteúdos foram
inseridos para melhor aproveitamento da produção do camponês, ou seja, técnicas pecuaristas que
possibilitem aos jovens camponeses permanecerem no campo assegurando uma condição financeira
sustentável.

Figura 03: Aula prática na UFPB – Campus Bananeiras (26 de novembro de 2015)
Fotos: Danielson Lima, Luana Costa e Luana Fernandes. Acervo do Projeto.

Os conteúdos ministrados foram para que os educandos pudessem vislumbrar as


potencialidades do local em que vivem, de acordo com cada realidade, visando superar as
dificuldades apresentadas ao longo do processo. Foi nesta direção que a equipe pedagógica fez as

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

visitas nas comunidades, buscando interagir com os alunos sobre as dificuldades da sua comunidade
e o potencial que existe no local para ter uma vida harmoniosa no campo. As aulas de campo foram
contextualizadas para os educandos tecerem uma leitura crítica sobre os desafios que o capitalismo
impõe à agricultura familiar subsidiando o agronegócio para uma produção predatória e agressiva
para a saúde do homem. Como alternativa a esse cenário, foi incentivada a prática da agroecologia,
livre de agrotóxicos (produtos químicos que afetam os recursos naturais, como o solo e a água,
acarretando prejuízos para os agroecossistemas), estimulando o correto manejo do solo, sem o
excesso de fertilizantes, diminuindo os impactos negativos e preservando a biodiversidade
ambiental e proporcionando, também, a soberania alimentar através da continuidade das práticas
tradicionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências do projeto Residência Jovem foram consideradas positivas, haja vista a


formação de jovens capazes de tecerem uma leitura crítica e contextualizada da realidade
sóciohistórica da região do Semiárido brasileiro. Neste sentido, os resultados possibilitaram também
a inserção de alguns educandos nos movimentos sociais e organizações/instituições que se voltam
para a defesa do interesse dos homens trabalhadores do campo. O projeto também conseguiu
realizar práticas de vivências interativas entre docentes, educandos e produtores no processo de
pesquisas e aplicações práticas de tecnologias de convivência na região. Também foi possível
habilitar jovens do campo ao desenvolvimento apropriado de sistemas de produção sustentável no
Semiárido paraibano, elaborando e pondo em prática projetos como horta comunitária
agroecológica e reflorestamento, demonstrando que viver em harmonia com a natureza é possível e
saudável para a sociedade. Além disso, foi fortalecida junto aos educandos, produtores e às
comunidades e assentamentos a importância da agroecologia para a soberania alimentar, para o
meio ambiente, assegurando a preservação dos mananciais, das boas condições do solo, da
biodiversidade e para a valorização da cultura e da vida das pessoas que vivem no campo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

ALGODÃO COLORIDO COMO ALTERNATIVA DE RENDA PARA UM


ASSENTAMENTO DE REFORMA AGRÁRIA NO AGRESTE PARAIBANO

José Luiz Carneiro da SILVA


Graduando em Agronomia; Universidade Federal da Paraíba
zeluiz_90@hotmail.com
Douglas Vieira MARQUES
Engenheiro Agrônomo
douglasvieira45@hotmail.com
João Paulo de Oliveira SANTOS
Eng. Agrônomo, Mestrando em Engenharia Ambiental (UFRPE)
jpos@agro.adm.br
Murilo Araújo XAVIER
Graduando em Agronomia; Universidade Federal da Paraíba
muriloxavier17@gmail.com

RESUMO
A reforma agrária é essencial para se minimizar os conflitos no campo, no entanto não basta apenas
que a terra seja dada, ela precisa ser produtiva. Nesse contexto, a produção agrícola em moldes
conservacionistas e agroecológicos é uma ferramenta que pode agregar benefícios ambientais e
econômicos ao produtor. Atualmente a produção de algodão colorido vem ganhando espaço em
alguns lugares do semiárido, principalmente por apresentar preço diferenciado no mercado.
Objetivou-se nesse trabalho, avaliar a produção de algodão colorido agroecológico do assentamento
Margarida Maria Alves, município de Juarez Távora, Paraíba. O assentamento foi criado em 1997,
inicialmente com 37 famílias, das quais 36 ainda residem no local. Possui área total de 736 ha, dos
quais foram divididos em lotes de tamanhos variando de 15 a 20 hectares. No ano de 2016, 10
agricultores cultivaram o algodão colorido em uma área de 18 hectares, a estimativa de produção foi
de 3000 kg de algodão bruto. Levando-se em consideração um rendimento médio em algodão em
pluma de 30%, se tem um total de 900 kg de fibra para a comercialização. Dessa forma levando em
conta o preço do kg da pluma em R$ 12,50, se tem o montante de R$11.250. A produção de
algodão colorido no Assentamento Margarida Maria Alves nos moldes agroecológicos, ainda é de
pequena expressão ao se pensar em total de fibra produzida, fato que se deve em partes, a estiagem
que atingiu a região nos últimos anos. Visando o aumento da produtividade e do retorno econômico,
medidas como aumento da assistência técnica e a utilização de práticas agrícolas adequadas, são
essenciais.
Palavras-chave: agroecologia, produção sustentável, políticas públicas.
RESUMEN
La reforma agraria es esencial para minimizar los conflictos en el campo, pero no basta con que la
tierra sea dada, ella necesita ser productiva. En ese contexto, la producción agrícola en moldes
conservacionistas y agroecológicos es una herramienta que puede agregar beneficios ambientales y
económicos al productor. Actualmente la producción de algodón coloreado viene ganando espacio
en algunos lugares del semiárido, principalmente por presentar un precio diferenciado en el
mercado. En este trabajo se evaluó la producción de algodón colorido agroecológico del
asentamiento Margarida Maria Alves, municipio de Juárez Távora, Paraíba. El asentamiento fue
creado en 1997, inicialmente con 37 familias, de las cuales 36 aún residen en el lugar. Tiene un total

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de 736 ha, de los cuales se dividieron en lotes de tamaños que varían de 15 a 20 hectáreas. En el año
2016, 10 agricultores cultivaron el algodón coloreado en un área de 18 hectáreas, la estimación de
producción fue de 3000 kg de algodón crudo. Teniendo en cuenta un rendimiento medio en algodón
en pluma del 30%, si tiene un total de 900 kg de fibra para la comercialización. De esta forma,
teniendo en cuenta el precio del kg de pluma en R$ 12,50, si tiene el monto de R$ 11.250. La
producción de algodón coloreado en el Asentamiento Margarita Maria Alves en los moldes
agroecológicos, todavía es de pequeña expresión al pensar en total de fibra producida, hecho que se
debe en partes, el estiaje que ha alcanzado la región en los últimos años. Visando el aumento de la
productividad y del retorno económico, medidas como el aumento de la asistencia técnica y la
utilización de prácticas agrícolas adecuadas, son esenciales.
Palabras clave: agroecología, producción sostenible, políticas públicas.

INTRODUÇÃO

A questão agrária brasileira tem sua origem na estrutura fundiária predominante do modelo
colonialista, nas quais as características mais significantes foram: a grande propriedade, as
monoculturas de exportação e o uso do trabalho escravo (Carmo, 2000). O conceito de revolução
agrária implica necessariamente, na transformação da estrutura fundiária realizada de forma
simultânea com toda a estrutura social existente, visando à construção de uma nova sociedade
(Oliveira, 2007).
Os assentamentos de reforma agrária possibilitam, portanto, o acesso à propriedade da terra
para uma população marginalizada e historicamente excluída, que muito embora mantivesse algum
tipo de inserção no mercado de trabalho, o fazia em condições de irregularidade de oferta e em
condições de precariedade (Heredia, et al., 2002), por vezes beirando a miséria extrema.
A reforma agrária é importante não apenas do ponto de vista social, por propiciar acesso a
terra e melhorar as condições de vida dos agricultores e trabalhadores rurais pobres. Mas também
por ser uma política territorial que serve para minimizar os problemas inerentes a questão agrária.
No entanto não basta apenas que a terra seja dada, ela precisa ser produtiva. Nesse contexto, a
produção agrícola em moldes conservacionistas e agroecológicos é uma ferramenta que pode
agregar benefícios ambientais e econômicos a essas famílias.
No sertão e agreste paraibano, algumas culturas têm atraído os olhares dos agricultores,
sendo uma delas o algodão colorido, que engloba diversas variedades, possuindo em comum,
características como bons padrões de resistência, comprimento, textura e uniformidade; capacidade
de ser processado por indústrias têxteis modernas e geração de tecido com qualidade e estabilidade
de coloração, semelhante aos tecidos coloridos artificialmente (Brito, et al, 2012).
O plantio dessas variedades é uma opção de renda e de diversificação para agricultura
familiar, principalmente por apresentar preço diferenciado no mercado, quando comparado com o
algodão tradicional (Alves, et al., 2017). Uma das principais qualidades do algodão colorido refere-

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se ao fato de não ser necessários processos de beneficiamento da fibra, como o tingimento, processo
danoso ao meio ambiente, devido ao uso de corantes e grande consumo de água, da qual não é
possível o reaproveitamento (Muchinski & Sena, 2015).
Objetivou-se nesse trabalho, avaliar a produção de algodão colorido agroecológico do
assentamento Margarida Maria Alves, município de Juarez Távora, Paraíba. Servindo como base
para a proposição de soluções para os problemas encontrados e melhoria da produtividade.

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Juarez Távora está localizado na Microrregião de Itabaiana e na


Mesorregião do Agreste Paraibano, estado da Paraíba. Sua área é de 83 km², representando
0.1463% da Paraíba, 0.0053% do Nordeste e 0.001% de todo o território brasileiro. Está inserido na
unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semiárido
nordestino. A vegetação é composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta
Caducifólia. O clima é do tipo Tropical Semiárido, com chuvas de verão, com o período chuvoso
indo de novembro a abril (CPRM, 2005).
O assentamento Margarida Maria Alves está localizado na parte leste do município. Foi
criado em 1997, inicialmente com 37 famílias, das quais 36 ainda residem no local. O assentamento
possui área total de 736 ha, dos quais foram divididos em lotes de tamanhos variando de 15 a 20
hectares, 20% da área total é reservada para a reserva legal e existe uma área para uso coletivo.
Atualmente possui 45 famílias, muitas oriundas do casamento dos filhos dos primeiros moradores.
As atividades agropecuárias se concentram na criação de ovinos e caprinos e plantação de milho,
feijão e algodão colorido.

Figura 1: Campo de produção de algodão colorido agroecológico no Assentamento Margarida Maria Alves.

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Para a confecção desse trabalho, foi realizada uma visita in loco ao assentamento, buscando-
se junto aos moradores levantar dados de produção e práticas agrícolas adotadas na cultura do
algodão colorido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Logo após a criação do assentamento foi criada a associação de produtores, sendo a


comunidade escolhida para a implantação do projeto piloto Algodão e Cidadania, coordenado pela
Rede Nacional de Mobilização Social, em parceria com a Embrapa Algodão.
Para gerar um diferencial de produção e um produto com valor agregado se optou por
trabalhar com o algodão colorido BRS RUBI (Figura 2), desenvolvido pela EMBRAPA,
produzindo-se nos moldes agroecológicos. Essa cultivar foi lançada no ano de 2005, apresenta cor
marrom-escura ou marrom-avermelhada. Possui bom potencial produtivo, devendo seu cultivo ser
realizado primordialmente na região Nordeste onde há baixa incidência de doenças (Carvalho, et al.,
2011).

Figura 2: Algodão colorido BRS RUBI produzido no Assentamento Margarida Maria Alves.

Em 2015 foram cultivados 25 hectares, em 2016 devido à estiagem, a área plantada foi
reduzida para 18 hectares. As sementes inicialmente foram fornecidas pela Embrapa,
posteriormente, se formou um banco com as sementes advindas das safras anteriores e que passou a
atender as demandas dos agricultores do assentamento.
No ano de 2016, 10 agricultores cultivaram o algodão colorido. As projeções da safra eram
de uma média 3000 kg de algodão. Não se utiliza nem um defensivo químico, nem tampouco
adubos sintéticos. O controle do bicudo é realizado através do plantio tardio, evitando que na época
de liberação dos botões florais, a umidade alta favoreça a praga. Todo o plantio é realizado a mão,
assim como é utilizada a mão-de-obra familiar para os demais tratos culturais. Até 2013 a produção
recebeu o selo IBD orgânico. Agora se busca uma certificação participativa, de custo menor para os

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agricultores e com a auditoria feita pelos próprios produtores, de forma onde um vizinho audita o
outro.

Figura 3: Detalhe de parte do maquinário da usina do assentamento.

Todo o algodão produzido é beneficiado em uma usina no próprio assentamento (Figura 3).
Na usina se separa a semente da fibra que segue para as indústrias de fiação. Além da produção
local, também é beneficiada a produção de outros produtores que cultivam no sistema
agroecológico. Atualmente o quilo (kg) da pluma está sendo comercializado a R$ 12,50, toda a
produção tem destino a uma marca específica localizada em João Pessoa, Paraíba.
Nas condições adversas do semiárido a produtividade média das roças de algodão
agroecológico, vai de 100 a 200 kg de algodão por hectare. Proporcionando uma renda monetária
entre U$ 85 e U$ 170/ha (Lima, 2008). Para a safra de 2016, a estimativa de produção era de 3000
kg de algodão bruto, levando-se em consideração um rendimento médio em algodão em pluma de
30%, se tem um total de 900 kg de fibra para a comercialização. Dessa forma levando em conta o
preço do kg da pluma em R$ 12,50, se tem o montante de R$11.250. Se hipoteticamente todos os
10 agricultores tiverem a mesma produção, cada um terá de receita R$ 1.125 que deve ser somada
com a renda também da venda do caroço, que, no entanto, é um valor bem abaixo do valor da
pluma.

Figura 4: Algodão beneficiado e armazenado na usina do assentamento.

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Se feita uma comparação entre a produção de algodão no modo convencional, onde se


emprega uma série de técnicas agrícolas, e a produção agroecológica, é notório que a produtividade
na produção agroecológica é menor, podendo ser até 10 vezes inferior. No entanto essa
produtividade pode ser aumentada, igualada e até superar a produtividade do algodão convencional.
Basta apenas que a assistência técnica seja mais efetiva entre os produtores.
Seria utópico querer que a produtividade do algodão colorido fosse a mesma que a do
convencional, tomando como base a realidade do pequeno agricultor quando comparada com as
estratégias dos grandes grupos do agronegócio. No entanto ao plantar o algodão colorido e o
algodão convencional, com base em sua realidade, o algodão colorido é mais vantajoso para o
pequeno produtor, visto que além de não ter gastos com defensivos químicos, terá um produto com
valor agregado muito maior. A produção agroecológica não se baseia apenas nos ganhos
econômicos, mas também nos ganhos sociais, na valorização do saber local e das práticas agrícolas
passadas de pai para filho.
No contexto do semiárido brasileiro, os resultados já obtidos com o cultivo do algodão
colorido trouxeram diversos benefícios de ordem econômica e social para os agricultores,
especialmente aqueles pautados na agricultura familiar. Entre esses benefícios destacam-se alguns,
como a produção de sementes básicas das cultivares coloridas; transferência da tecnologia de
produção para produtores líderes; produção de fibras para parte da cadeia (confecção) e,
principalmente, levar condições de emprego e renda para os produtores e a mão-de-obra agregada
com o seu cultivo (EMBRAPA, 2008).

CONCLUSÕES

A produção de algodão colorido no Assentamento Margarida Maria Alves nos moldes


agroecológicos, ainda é de pequena expressão ao se pensar em total de fibra produzida, fato que se
deve em partes, a estiagem que atingiu a região nos últimos anos. No entanto, é perceptível que os
assentados têm apego pela terra e vontade de torná-la a mais produtiva possível. Com base nisso,
orientações técnicas são essenciais para que a produção possa crescer. Essa e outras ações podem
contribuir para a obtenção de melhores resultados na lavoura, respeitando claro, os princípios da
produção agroecológica e os saberes locais.

REFERÊNCIAS

ALVES, G. S. et al. Crescimento, produtividade e qualidade de fibra de algodão colorido


influenciados pela população de plantas. Rev. Ceres, v. 64, n.1, p. 068-076, 2017.

BRITO, L.F.; BERNARDES, G.A.; GODINHO, N.C.A.; LACA-BUENDÍA; J.P.; PENNA, J.C.V.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Estudo de Competição de Dez Progênies de Algodão de Fibra Colorida e Duas Variedades de


Algodoeiro Herbáceo no Município de Uberaba- MG. FAZU em Revista, n.9, p. 9-17, 2012.

CARMO, R. B. A. A questão agrária e o perfil da agricultura familiar brasileira. Bahia Agrícola, v.


4, n. 1, nov. 2000.

CARVALHO, L.Z.; ANDRADE, F. P.; SILVA FILHO, J. L. Cultivares de Algodão Colorido no


Brasil. Revista Brasileira de Oleaginosas e Fibrosas, v.15, n.1, p.37-44, 2011.

CPRM - Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água
subterrânea. Diagnóstico do município de Juarez Távora, estado da Paraíba. Recife,
CPRM/PRODEEM, 2005. 10 p.

EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cultivo do Algodão Colorido Orgânico


na Região Semi-Árida do Nordeste Brasileiro. Campina Grande, 2008. 49p. (Embrapa Algodão.
Documentos, 204).

HEREDIA, B. et al. Análise dos impactos regionais da reforma agrária no Brasil. Estudos
Sociedade e Agricultura, v. 18, p.73-111, 2002.

LIMA P. J. B. F. Algodão agroecológico no comércio justo: fazendo a diferença. Agriculturas - v.


5, n. 2 – jun. de 2008.

MUCHINSKI, C. H.; SENA, T. S,. Fibras têxteis sustentáveis: algodão colorido e orgânico, fibras
de bambu, soja e milho. Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística. v. 5,
n. 1, p. junho de 2015.

OLIVEIRA, A. U. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo:


FFLCH, 2007, 184p.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

UTILIZAÇÃO DE UM SIMULADOR DE CHUVAS PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL


NO SEMIÁRIDO PERNAMBUCANO

Luan dos Santos Miranda TOMAZ


Graduando em Gestão Ambiental do IFPE | Biólogo - UFPE
luandossantos14@hotmail.com
Thais Emanuelle Monteiro dos SANTOS (Orientadora)
Dra. Em Ciência do Solo - UFRPE
thaisemanuelle@hotmail.com
Mariana Caroline Gomes de LIMA
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFPE
marianalima.ambiental@gmail.com

RESUMO
A diretriz interação dialógica, da política nacional de extensão universitária, orienta o
desenvolvimento de relações entre Universidade e setores sociais marcadas pelo diálogo e troca de
saberes. Pensando assim, a presente proposta procura interligar pesquisa e extensão dentro do tema
meio ambiente, tendo em vista que os recursos naturais têm se tornado cada vez mais escassos pelas
práticas agrícolas inadequadas, o solo é um dos recursos naturais mais impactado pelo mau uso. Na
maioria das vezes estas atividades são praticadas por agricultores que não possuem o conhecimento
técnico mínimo para desenvolver técnicas de conservação do solo. Assim, o presente trabalho tem
como finalidade a utilização do simulador de chuvas para demonstrar as consequências do mau uso
do solo. A referida atividade terá como público alvo agricultores situados na região semiárida de
Pernambuco, município de Pesqueira, a região foi escolhida por apresentar características peculiares
como escassez hídrica e solos rasos que requerem a adoção de técnicas agrícolas que busquem a sua
conservação. Para isso, serão usadas mini parcelas onde serão adotadas práticas conservacionistas
afim de comparar o efeito do uso dessas práticas com a agricultura praticada pelos agricultores da
região. Alunos do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFPE realizaram as simulações
de chuvas e apresentaram estes resultados, em forma de curso de capacitação para a comunidade de
agricultores localizados no Assentamento Nossa Senhora do Rosário.
Palavras-chave: Simulador de chuvas, manejo do solo, agricultura sustentável, educação ambiental.
ABSTRACT
The dialogical interaction directive of the national policy of university extension guides the
development of relations between the University and social sectors marked by dialogue and
exchange of knowledge. In this sense, the present proposal seeks to link research and extension
within the environmental theme, since natural resources have become increasingly scarce by
inadequate agricultural practices, soil is one of the natural resources most impacted by misuse. Most
of the time these activities are practiced by farmers who do not have the minimum technical
knowledge to develop soil conservation techniques. Thus, the present work has as purpose the use
of the rainfall simulator to demonstrate the consequences of the misuse of the soil. This activity will
be aimed at farmers located in the semi-arid region of Pernambuco, in the municipality of
Pesqueira. The region was chosen because it presents peculiar characteristics such as water scarcity
and shallow soils that require the adoption of agricultural techniques that seek to preserve it. For
this, mini plots will be used where conservation practices will be adopted in order to compare the
effect of the use of these practices with the agriculture practiced by the farmers of the region.
Students of the Bachelor's Degree in Biological Sciences of UFPE performed the simulations of

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rainfall and presented these results, in the form of a training course for the community of farmers
located in the Nossa Senhora do Rosário settlement.
Keywords: Rainfall simulator, soil management, sustainable agriculture, environmental education.

1. INTRODUÇÃO

Segundo Couto et al. (1996), o Nordeste brasileiro abriga mais da metade dos
estabelecimentos rurais de base familiar do país. São mais de 2,0 milhões de estabelecimentos que
ocupam mais de dois terços do pessoal ativo e são responsáveis por cerca de 33% do valor da
produção agrícola regional, embora só ocupem 31% da área total e recebam apenas pouco mais de 8
% do total dos financiamentos. O nordeste brasileiro ocupa 1.600.000 km2 do território nacional e
tem incrustado em 62% da sua área, o Polígono das secas que circunscreve isoietas abaixo de 800
mm de pluviosidade por ano (Ribeiro, 2007).
O semiárido brasileiro caracteriza-se por possuir limitadas condições físicas para a prática
da agricultura e da pecuária. A ocorrência, nesta região, de chuvas escassas e irregulares, de secas
frequentes e de solos pedregosos ou muito arenosos dificulta a prática da agropecuária de maneira
regular e com alta produtividade. Nesta região, a principal alternativa para o cultivo, além da prática
da irrigação, é a agricultura de sequeiro feita com culturas como milho, arroz, feijão e outras, as
quais são cultivadas de maneira arcaica e improdutiva e o nível da sua produção depende
diretamente da quantidade de chuvas (Santos, 2006).
Os fatores relacionados com a erosão hídrica são chuva, solo, cobertura vegetal e topografia.
Dentre os quatro fatores mencionados, as chuvas têm papel ativo no processo de erosão (Bertol et
al., 2002), visto que é função exclusivamente de suas características físicas, entre as quais sua
quantidade, intensidade, diâmetro de gotas, velocidade terminal e energia cinética. Na expectativa
de detalhar os estudos desse agente erosivo, pesquisas têm demonstrado que as características da
chuva que proporcionam as correlações mais elevadas com as perdas de solo são a intensidade e a
energia cinética (Moreti et al., 2003). Nas condições do Brasil, localizado em grande parte na região
tropical do planeta, onde ocorrem precipitações intensas e as temperaturas são normalmente
elevadas, a erosão hídrica apresenta maior interesse, por apresentar uma ocorrência mais frequente
em relação aos demais tipos de erosão, se processar com maior rapidez e causar grandes prejuízos
não só ao setor agrícola, como também a diversas outras atividades econômicas e ao meio ambiente.
O uso de práticas conservacionistas no solo é uma das formas de controlar a erosão em
terrenos onde as características físicas da chuva, solo e topografia favoreçam a aceleração do
processo. Bertol et al. (2004) enfatizam que os preparos conservacionistas de solo, tal como
semeadura direta, com menor revolvimento, mantêm, parcial ou totalmente, os resíduos vegetais na
superfície e aportam continuamente matéria orgânica ao solo, a qual é responsável pela manutenção

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

e melhoria das propriedades físicas do solo (Lal & Greenland, 1979).


Diante do exposto e a elevada vulnerabilidade a qual está exposta o Nordeste brasileiro o
presente trabalho tem como finalidade analisar os impactos da chuva nos solos expostos do
semiárido pernambucano, e apresentar métodos de cultivo alternativos aos já praticados, visando
mitigar os efeitos do uso inadequado do solo pelos agricultores da região.

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo geral:

Utilizar simulador de chuvas para demonstrar os impactos do uso inadequado do solo.

2.2. Objetivos específicos:

 Promover a educação ambiental de agricultores;


 Realizar testes em parcelas experimentais comparando três diferentes tipos de solos;
 Obter uma recomendação de manejo simples e de baixo custo, para os agricultores através
do curso de capacitação.

3. METODOLOGIA E AVALIAÇÃO

O projeto foi desenvolvido entre uma integração pesquisa e extensão. Na etapa de pesquisa,
foi desenvolvido um experimento no laboratório de Máquinas e implementos agrícolas da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No laboratório foram montadas parcelas
experimentais onde foram avaliados os efeitos das seguintes densidades de cobertura morta: 0,2 e 4
Mg/ha, sobre as taxas erosivas do solo. Para isso foi utilizado um simulador de chuvas, com 3m de
altura, formado por uma armação retangular, apoiada sob quatro pés tubulares de aço removíveis.
Possui um motor com sistema eletrônico que realiza movimentos oscilantes temporizados e
funciona com um bico aspersor, Veejet 80-100, localizado no centro da armação, como podemos ver
na Figura 1 (Santos, 2006). O simulador foi alimentado por uma bomba e uma caixa de capacidade
de 1000L. As parcelas tiveram as seguintes dimensões: 1,0 x 0,5 (0,5m2), com 20 cm de
profundidade, contendo na parte inferior um dreno para coleta da infiltração (Figura 2). Na parte
inferior, uma calha coletou a água do escoamento superficial em intervalos de cinco minutos e cada
coleta terá duração de dez segundos. A chuva total foi determinada através de 10 pluviômetros que
serão distribuídos em torno de cada parcela experimental (Figura 3).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 1: Simulador de chuva e seus principais sistemas.

Figura 2: Características da parcela experimental.

Figura 3: Montagem para realização do experimento.

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3.1. Avaliação das taxas de perda e de desagregação do solo:

As taxas de perda de solo e a concentração de sedimentos foram determinadas pela pesagem


do material coletado, na calha, coletora com o auxílio de uma proveta durante 10 segundos. As
amostras da enxurrada serão acondicionadas em potes e, após pesagem, ficaram em repouso por um
período de 24h, a parte sobrenadante foi succionada e levados para estufa a 65ºC, durante 72h,
sendo em seguida pesados com o solo (Cogo, 1978). A concentração de sedimentos (kg.L-1) foi
expressa através da relação entre a massa de solo seco e a massa da água-sedimento. Foram também
avaliadas as perdas de solo.

3.2. Avaliação das características hidráulicas do escoamento:

Foi estimada a velocidade do escoamento superficial com o auxílio do corante azul de


metileno, aplicado a partir do início da parcela. O tempo foi cronometrado para cada tratamento,
assim como para o escoamento superficial. Este procedimento foi realizado durante intervalos
regulares de 5 minutos, simultaneamente a realização da coleta do material escoado na calha, a
partir da formação e do escoamento da lâmina de escoamento. Para estimativa da velocidade média
do escoamento, em m.s-1, realizou-se a cronometragem do tempo gasto para que o corante percorra
a parcela, e os valores da velocidade superficial foram multiplicados por um fator de correção,
conforme. Obteve-se a taxa de infiltração pela diferença entre a intensidade de precipitação e a taxa
de escoamento superficial resultante (Brandão et al,2006). De posse desses dados foi possível
conhecer a quantidade de solo e água perdidos com a erosão.
O trabalho de extensão foi desenvolvido junto com os agricultores situados na Fazenda
Nossa Senhora do Rosário, localizada em uma área de assentamento do Governo do Estado de
Pernambuco na Região Agreste, próximo ao Município de Pesqueira, a 220 km do Recife,
localizada na bacia hidrográfica do Rio Ipanema e situada entre as coordenadas geográficas 8º 15‘ e
8º 30‘ de Latitude Sul, 31º 45‘ e 37º 00‘ de Longitude Oeste de Greenwich e 650 m de altitude
(Figura 4). Segundo a classificação de KÖPPEN, o clima da região é semiárido quente tipo estepe,
com uma precipitação média anual de 730 mm (Hargreaves, 1974). A precipitação média anual na
região é de 607 mm, a temperatura média é de 23°C e a evapotranspiração é de cerca de 2000 mm.
Inicialmente, os agricultores da Fazendo Nossa Senhora do Rosário tiveram conhecimento do que
foi desenvolvido em laboratório, participaram da escolha do solo que será utilizado no experimento,
e foi discutido juntamente com eles as formas de cultivo que são praticadas na Fazenda.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 13: Local de coleta do solo, Bacia Representativa do Alto Ipanema, com destaque para os tipos de
solos. Fonte: Silva et al., 2011.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Características físicas do solo

Na Tabela 01, encontram-se as características físicas do solo estudado.

Areia Silte Argila Densidade das Densidade


- Porosidade
g Kg partículas do solo Classe textural
1 (g cm-3) (g cm-3) (%)

722,0 111,0 167,0 2,76 1,45 47,46 Franco arenosa


Tabela 1: Características físicas do solo

4.2 Calibração do simulador de chuvas

1º Etapa da calibração: Com as pressões: 10, 20, 30 e 40 kPa.

Os valores de intensidade de precipitação, e os coeficientes de uniformidade para cada


pressão utilizada encontram-se na Tabela 2. Observa-se que apenas a pressão de 10 kPa apresentou
coeficiente de uniformidade abaixo de 60%, provavelmente, a lâmina produzida por esta pressão
não foi suficiente para atingir todos os pluviômetros. Santos et al (2008) obtiveram coeficientes de
78,57, 86,45 e 88,49 % para as pressões de 20, 30 e 40 kPa respectivamente, para o mesmo bico
aspersor (Veejet 80-100). Com os coeficientes acima de 75%, considera-se que houve uniformidade
de chuva precipitada, que está de acordo com os dados de (SANTOS et al., 2008) exceto para a
chuva aplicada na pressão de 10 kPa.

Pressão Intensidade C.U.C


kPa mm h -1 %
10 75 58,04
20 76 80,19
30 80 91,50
40 90 92,45
Tabela 2: Resultados da calibração do simulador de chuvas com as pressões: 10, 20, 30 e 40 kPa. C.U.C =
Coeficiente de uniformidade de Christiansen.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A relação entre as intensidades e as pressões utilizadas é apresentada na Figura 7. Observa-


se que quanto maior a pressão utilizada no simulador maior a intensidade da chuva simulada.
92

Intensidade de chuca (mm h-1)


90
88
86
84
82
80
78
76
74
0 10 20 30 40 50
Pressão (kPa)

Figura 7: Relação entre a intensidade e as pressões utilizadas.

2º Etapa da calibração: Com a pressão 30 kPa

Nesta etapa da calibração foram realizadas 5 repetições utilizando a pressão de 30kPa. A


intensidade de precipitação média obtida neste teste foi de 96 mm/h e o CUC de 92,77%, o que
indica haver uniformidade de chuva precipitada. Alves Sobrinho et al. (2002) obtiveram
coeficientes de uniformidade entre 83 e 85,8% para uma pressão de 32,7 kPa, para o mesmo tipo de
bico (Veejet 80-100).

4.3 Perdas de solo

Analisando as taxas de perdas de solo nos tempos 0h e 24h, foi possível verificar que, as
médias de perda de solo no tempo 24h mantiveram-se superior as médias do tempo 0h (Figura 8).
Castro (2006) relatou em seu estudo, que este fato ocorre devido à desagregação das partículas do
solo, que seria ocasionada pela enxurrada, reduzindo a rugosidade superficial e, consequentemente,
a retenção e a infiltração de água no solo, pois quando a aplicação da chuva atinge intensidades
superiores à taxa de infiltração do solo, há um acúmulo de água na superfície e, consequentemente,
o escoamento superficial nesses pontos. A baixa taxa de infiltração também favorece o selamento
superficial, que vai refletir em maiores perdas de solo por erosão hídrica, principalmente nos solos
descobertos (CARVALHO et al., 2014; CASTRO, 2006; CARVALHO et al., 2012).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1345


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

0,01200000

Taxas de perda de solo


0,01000000

0,00800000

(kg m-2)
0,00600000

0,00400000

0,00200000

0,00000000
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo (min)

0h 24h

Figura 8: Taxa instantânea da perda de solo em cada tempo de coleta nas chuvas 0h e 24h.

Acompanhando a média de perda de solo, também se pode verificar maior perda de solo na
chuva 24h (Figura 9).

0,070000
0,060000
Perdas de solo (kg m-2)

0,050000
0,040000
0,030000
0,020000
0,010000
0,000000
0h 24h
Figura 9: Médias das perdas de solo, nos dois tempos de simulação (0h e 24h).

Os valores de perda de solo foram de 0,037 Kg/m2 e 0,0513 Kg/m2, para o tempo de 0h e
24h, respectivamente, isso se justifica pelo maior nível de impacto em que o solo se encontra devido
a primeira simulação (0h), o que o deixa vulnerável a qualquer precipitação precedente. Tartari et al.
(2012) avaliaram, em campo, as perdas de solo e água por erosão hídrica em entressulcos em um
Argissolo Vermelho-Amarelo, utilizando chuva simulada, encontraram perda de 0,15 Kg/m2, para o
solo descoberto.

4.4 Taxa de desagregação

Segundo Cassol et al. (2008), a desagregação é a fase que compreende o processo de


diminuição e individualização das partículas agregadas do solo causados pela energia cinética do
impacto das gotas de chuva sobre a superfície do solo, as partículas desagregadas salpicam e
retornam a superfície, onde são carreados pela lâmina de água que não consegue infiltrar e escoa,

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1346


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

pode-se observar que as taxas de desagregação da simulação (24h) apresentam-se maiores que a
primeira (0h) (Figura 10). Estas maiores taxas são decorrentes de mudanças nas condições da
superfície e na umidade do solo que foram ocasionados pelo impacto das gotas de chuva na
superfície do solo causado pela primeira chuva simulada, aumentando, assim, a desagregação das
partículas e, por conseguinte o selamento da camada superficial do solo.
Verifica-se ainda na Figura 10, que as taxas de perda de solo apresentam um pico e depois
decrescem, este fato também foi encontrado nos resultados de Cassol & Lima (2003), estes autores
aplicaram uma chuva simulada com intensidade constante de 60 mm h-1 durante 70 minutos, em
solo descoberto ou com a palha incorporada, e evidenciaram que as taxas de perda de solo são
crescentes até um determinado ponto depois do início da precipitação, apresentando a partir de
então comportamento decrescente.
Taxa de desagregação (kg / m2s)

0,0000080
0,0000070
0,0000060
0,0000050
0,0000040
0,0000030
0,0000020
0,0000010
0,0000000
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo (min)
0h 24h

Figura 10: Médias das taxas de desagregação nos tempos de coleta nos dois tempos de simulações (0h e
24h).

4.5 Escoamento Superficial

Os valores de Reynolds (<500) e de Froude (<1) (Tabela 3), de todos os tempos de


simulação (tempo 0h e 24h), caracterizaram o regime de escoamento como laminar lento, indicando
haver a ocorrência de erosão laminar, que segundo Alves (2000), é definida como a remoção
homogênea das partículas de solos em suspensão na superfície. Estes resultados estão semelhantes
aos encontrados por Santos et al. (2009) e Oliveira et al (2012).

Tempo Reynolds Froude


0h 23,23 0,046
24h 24,37 0,063
Tabela 3: Valores médios de Reynolds (Re) e Froude (Fr) para os tempos 0h e 24h de cada tratamento.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1347


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Pode-se observar o escoamento superficial na aplicação das duas chuvas simuladas (Tempo
0h e 24h), na Figura 11. O tempo de início de escoamento aconteceu mais cedo no tempo 24h,
segundo Cassol et al. (2008), isso deve-se ao selamento da superfície do solo, provocado pelo
impacto da gota de chuva na primeira simulação (0h). Também é possível notar um aumento da
velocidade do escoamento e maiores médias nos valores da segunda simulação aplicada (24h),
justificada pela umidade antecedente do solo, da primeira simulação (0h), o que ocasionou uma
rápida saturação da capacidade de retenção de água do solo, facilitando o escoamento superficial.

100
90
Escoamento superficial (mm/h)

80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo (min)
0h 24h

Figura 11: Médias do escoamento superficial (mm/h) nos tempos 0h e 24h.

Os resultados obtidos com o experimento em laboratório foram transmitidos aos agricultores


em forma de palestras, onde foram expostos vídeos exibindo como foram realizados os testes em
laboratório; seguido por uma apresentação das melhores alternativas de cultivo aos agricultores,
incentivando o desenvolvimento de atividades agrícolas, que visem o manejo adequado para a
conservação do solo local. Assim foi ministrado o Curso de capacitação para associação de
agricultores (Assentamento Nossa Senhora do Rosário) (Figuras 5, 6 e 7).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1348


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 5: Curso de capacitação com os agricultores da Fazenda Nossa Senhora do Rosário.

Figura 6: Curso de capacitação com os agricultores da Fazenda Nossa Senhora do Rosário.

5 CONCLUSÕES

Os regimes de escoamentos observados nas chuvas 0h e 24h foram caracterizados como laminar
lento, indicando assim a ocorrência de erosão entressulcos.
Houve um aumento da velocidade do escoamento e maiores médias nos valores da segunda chuva
aplicada.
As médias de perda de solo na segunda chuva simulada foram superiores as médias da primeira
chuva simulada.
O solo estudado apresentou grandes taxas de desagregação do solo.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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chuvas e sua distribuição entre 1989 e 1998 no município de Lages (SC). Revista Brasileira de
Ciência do Solo, v.26, n.3, p.455-464. 2002.

BERTOL I.; ALBUQUERQUE, J. A.; LEITE, D.; AMARAL, A. J.; ZOLDAN JUNIOR, W. A.
Propriedades físicas do solo sob preparo convencional e semeadura direta em rotação e
sucessão de culturas, comparadas às do campo nativo. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
v.28, n.1, p.155-163, 2004.

BRANDÃO, V.S; PRUSKI, F.F.; SILVA, D.D. 2006. Infiltração da água no solo. 3. ed. Viçosa:
Gráfica Universitária. 120. p.

COGO, N. P. Uma contribuição à metodologia de estudo das perdas por erosão em condições de
chuva natural: 1- Sugestões gerais, medição de volume, amostragem e quantificação do solo e
água da enxurrada. In: Encontro nacional de pesquisa sobre conservação do solo, 2. Passo
Fundo, 1978. Anais... Passo Fundo, 1978. p. 75-79.

COUTO, V. A.; ALVES, A.F.; GUANZIROLI, C.E. A agricultura familiar na região Nordeste
[Salvador, BA]: FAO/INCRA, 1996. 53 p.il. Versão preliminar Projeto: UFT/BR/036/BR.

LAL, R. & GREENLAND, B.J. Soil physical properties and crop production in tropics.
Chischester: John Willey, 1979. p.85. Ribeiro, M.B.D. A potencialidade do semiárido brasileiro:
Rio São Francisco transposição e revitalização, uma análise. Gráfica e Editora de Qualidade,
1ed., Brasília, 256p.

MORETI, D.; MANNIGEL, A. R.; CARVALHO, M. P. Fator erosividade da chuva para o


município de Pedrinhas Paulista, Estado de São Paulo. Acta Scientiarum: Agronomy, v.25,
p.137-145, 2003.

SANTOS, T.E.M. Avaliação de técnicas de conservação de água e solo em bacia experimental do


semiárido Pernambucano. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural de
Pernambuco. 2006, 69p.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1350


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EXPERIÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DA COMPOSTAGEM VISANDO A PRÁTICA DA


AGRICULTURA ORGÂNICA

Luís Carlos dos SANTOS


Estudante Técnico em Agronegócio pelo SENAR
karloskaka@hotmail.com
José Duca dos SANTOS FILHO
Estudante Técnico em Gestão Ambiental pelo IFAL
jducafilho@gmail.com
Pedro Herlleyson Gonçalves CARDOSO
pedroherlleyson@yahoo.com.br

RESUMO
A agricultura orgânica é um sistema de produção agrícola caracterizado pelo emprego de técnicas
totalmente naturais de cultivo, sem o uso de produtos químicos, como fertilizantes, defensivos
agrícolas e outros. Neste contexto, uma das técnicas utilizadas na agricultura orgânica é a
compostagem, a qual consiste no processo biológico de valorização da matéria orgânica, seja ela de
origem urbana, doméstica, industrial, agrícola ou florestal, e pode ser considerada como um tipo de
reciclagem do lixo orgânico. O presente trabalho objetivou mostrar experiências da utilização da
compostagem visando a prática da agricultura orgânica. Para tanto seguiu-se uma metodologia
básica quanto a sua natureza, quantitativa quanto à forma de abordagem do problema, exploratória
quanto aos fins da pesquisa, bibliográfica quanto aos procedimentos, hipotético-dedutivo quanto ao
método de abordagem e histórico quanto ao método de procedimentos. Coletou-se dados e
informações referente a trabalhos experimentais já realizados publicados no VIII simpósio
brasileiro de engenharia ambiental realizado em Curitiba, no ano de 2015 (ISBN 85-69865-00-7).
Neste sentido, pode-se concluir que a atividade agropecuária é considerada uma das maiores
geradoras de resíduos orgânicos e que a aplicação da compostagem apresenta vantagens como
pequeno uso de energia, flexibilidade operacional, baixo custo e obtenção de composto orgânico
rico em nutrientes, mas apresenta algumas desvantagens como a utilização de grandes áreas para
realização do processo e demanda de mão-de-obra intensa. Através deste trabalho foi possível
perceber a importância de se realizar a gestão dos resíduos orgânicos gerados, pois, tudo o que não
é aproveitado significa perda econômica.
Palavras-chave: Resíduos orgânicos, agricultura orgânica, desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT
Organic agriculture is an agricultural production system characterized by the use of totally natural
farming techniques, without the use of chemicals such as fertilizers, agricultural pesticides and
others. In this context, one of the techniques used in organic agriculture is composting, which
consists of the biological process of valorization of organic matter, whether of urban, domestic,
industrial, agricultural or forestry origin, and can be considered as a type of recycling of the Organic
waste. The present work aimed to show experiences of the use of composting for the practice of
organic agriculture. In order to do so, a basic methodology was followed as to its nature,
quantitative as to the approach of the problem, exploratory as far as the ends of the research,
bibliographic as to the procedures, hypothetical-deductive as to the method of approach and
historical as to the method of procedures. Data and information regarding experimental work
already published published at the 8th Brazilian Environmental Engineering Symposium held in
Curitiba in the year 2015 (ISBN 85-69865-00-7) was collected. In this sense, it can be concluded

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1351


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

that the agricultural activity is considered one of the largest organic waste generators and that the
application of composting presents advantages such as low energy use, operational flexibility, low
cost and obtaining nutrient rich organic compound, but presents Some disadvantages such as the use
of large areas to carry out the process and the demand for intense labor. Through this work it was
possible to realize the importance of managing the organic waste generated, since everything that is
not used means economic loss.
Keywords: Organic waste, organic agriculture, sustainable development.

INTRODUÇÃO

A agricultura orgânica é uma das alternativas para a produção de alimentos de maneira


sustentável. É um sistema de produção agrícola caracterizado pelo emprego de técnicas totalmente
naturais de cultivo, sem o uso de produtos químicos, como fertilizantes, defensivos agrícolas e
outros. O objetivo é garantir uma produção eficiente de alimentos sem comprometer a saúde de
quem os consome e manter a conservação dos solos e da natureza em geral.
Existem quatro princípios básicos da agricultura orgânica, sendo eles: respeito à natureza;
diversificação de culturas; independência entre os sistemas produtivos; e o solo como um
organismo vivo. Respeito à natureza, considerando a necessidade de se preservar os solos, os
recursos naturais, os animais etc..; Diversificação de culturas, com a preocupação de desenvolver a
diversidade de produtos cultivados, tanto para equilibrar o solo quanto para garantir variedade;
Independência entre os sistemas produtivos de modo a separar a produção agrícola dos sistemas
industriais e comerciais, ao contrário da agricultura mecanizada; e o solo é um organismo vivo, o
entendimento de que o solo deve ser preservado, incluindo a manutenção de seus nutrientes, micro-
organismos e seres vivos em geral (SENAR, 2015).
Pode-se citar alguns procedimentos utilizados na agricultura orgânica como: Adubação
verde que é uma técnica de enriquecimento do solo pelo uso de leguminosas sobre a superfície,
onde elas entram em decomposição e fornecem compostos naturais que ajudam na fertilidade,
principalmente o nitrogênio; Adubação orgânica que é o uso de materiais, como esterco de origem
animal e outros; Utilização de chorume e estercos líquidos curtidos, desde que estes não sejam
tratados quimicamente; Emprego da técnica da minhocultura, que permite maior nutrição e
enriquecimento do solo, além de sua porosidade; Uso comedido e racional da água; Emprego de
rochas e minerais moídos para obter enriquecimento de nutrientes ou para correção da acidez dos
solos (SENAR, 2015). Neste contexto, uma das técnicas utilizadas na agricultura orgânica é a
compostagem, a qual consiste no processo biológico de valorização da matéria orgânica, seja ela de
origem urbana, doméstica, industrial, agrícola ou florestal, e pode ser considerada como um tipo de
reciclagem do lixo orgânico.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Neste sentido, pode-se definir compostagem como um processo natural em que os micro-
organismos, como fungos e bactérias, são responsáveis pela degradação de matéria orgânica,
gerando um composto orgânico, que é um material estável, rico em substâncias húmicas e nutrientes
minerais, que pode ser utilizado em hortas, jardins e para fins agrícolas, como adubo orgânico,
devolvendo à terra os nutrientes de que necessita e evitando o uso de fertilizantes sintéticos (LIMA
2004; ROCHA et al. 2009; SENAR, 2015). Para Embrapa (2005) a presença de organismos é
imprescindível ao processo de compostagem, podendo estes serem micro ou macroscópicos.
A compostagem dos resíduos orgânicos viabiliza ainda a ciclagem dos nutrientes, por
transformar rejeitos em produtos apropriados para uso agrícola. A ciclagem dos nutrientes é
fundamental para manter a sustentabilidade do sistema produtivo agrícola, pois poupa recursos
naturais e financeiros pela substituição de fontes minerais de fertilizantes. A produção de compostos
orgânicos possibilita ainda sua comercialização, o que representa uma fonte direta de renda para
diversos produtores de criação animal viabilizando economicamente a produção do mesmo. Os
compostos orgânicos podem ser utilizados como fertilizantes ou condicionadores em várias classes
de solo, uma vez que, são fontes de macro e micro nutrientes e também melhoram suas
características físicas, químicas e biológicas. A compostagem pode ser feita em casa ou em usinas
de compostagem (AMORIM et al., 2005; PEREIRA NETO; 2007; VIDIGAL et al., 2010; A3P,
2013). Uma fonte importante de adubo orgânico é a poda de árvores urbanas, que vem sendo
utilizada há bastante tempo em outros países (FAO, 1980) e em pequena escala no Brasil (CORTEZ
et al, 2008).
Caso tenha a disponibilidade de grande quantidade de compostos orgânicos como esterco
animal, palhada e outros resíduos naturais é possível produzir seu próprio substrato por meio da
compostagem. Contudo, é recomendado procurar um Eng. Agrônomo para analisar os componentes
minerais necessários para a formação de um bom substrato e a necessidade outros nutrientes.
(SEBRAE, 2015).
No Brasil são produzidas 30 milhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano, mas
apenas 1,6% é destinado à compostagem. Os 98,4% restantes (mais de mil toneladas todos os dias)
vão para os aterros e lixões (A3P, 2013). Para Rocha et al. (2009), cerca de 60% da composição
gravimétrica dos resíduos urbanos é constituída por materiais de origem orgânica, portanto, Lima
(2004) salienta que a compostagem pode contribuir com a redução dos impactos ambientais
decorrentes da disposição inadequada dos resíduos urbanos.
De acordo com o exposto, o presente trabalho objetivou mostrar experiências da utilização
da compostagem visando a prática da agricultura orgânica.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

METODOLOGIA

A presente pesquisa caracteriza-se como básica quanto a sua natureza, pois objetiva gerar
conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve e
interesses universais. Quanto à forma de abordagem do problema caracteriza-se como quantitativa,
pois busca por resultados que possam ser quantificados, pelo meio da coleta de dados sem
instrumentos formais e estruturados que possam ser quantificados, pelo meio da coleta de dados
sem instrumentos formais e estruturados de uma maneira mais organizada. Quanto aos fins da
pesquisa, classifica-se como exploratória, pois tem como finalidade proporcionar mais informações
sobre o assunto que se propõe a investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é,
facilidade a delimitação do tema da pesquisa; orientando a fixação dos objetivos, formulando as
hipóteses ou descobrindo um novo tipo de enfoque para o assunto. Quanto aos procedimentos,
classifica-se como bibliográficas, pois é elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente de: livros, revistas, publicações e artigos científicos, jornais, boletins, monografias,
dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em
contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa (PRODANOV e FREITAS,
2013).
Quanto ao método de abordagem, ou seja, bases lógicas de investigação, o presente estudo
classifica-se como hipotético-dedutivo, pois é um método que inicia-se como um problema ou uma
lacuna no conhecimento científico, passando pela formulação de hipóteses e por um processo de
inferência dedutiva, o qual testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela referida
hipótese. Quanto ao método de procedimentos, ou seja, meios técnicos da investigação, classifica-se
em histórico, pois o foco está na investigação de acontecimentos ou instituições do passado, para
verificar sua influência na sociedade de hoje; considera que é fundamental estudar suas raízes
visando à compreensão de sua natureza e função (PRODANOV e FREITAS, 2013).
Coletou-se dados e informações referente a trabalhos experimentais já realizados publicados
no VIII simpósio brasileiro de engenharia ambiental realizado em Curitiba, no ano de 2015 (ISBN
85-69865-00-7). Ao autores empregados no resultado desta pesquisa foram Silva et al. (2015),
Chiarelotto et al. (2015), Maciel e Carrijo (2015) e Maciel et al. (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Principais fatores que influenciam no processo da compostagem

O tempo para decomposição da matéria orgânica depende de vários fatores. Quanto maior
for o controle das condições da temperatura e umidade mais rápido será o processo. Se as
necessidades nutricionais da pilha ou leira forem satisfatórias, os materiais adicionados de pequenas

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dimensões, mantida a umidade adequada e a pilha revolvida todas as semanas, o composto será
estabilizado dentro de 30 a 60 dias, e curado entre 90 a 120 dias. Após este período estará pronto
para ser utilizado. Percebe-se que o composto está pronto quando não ocorre perda de água, é de cor
escura, está solto e com cheiro de terra. Quando esfregar o composto entre as mãos elas não se
sujam. A Figura 1 mostra o passo a passo do processo de compostagem. O Quadro 1 exibe os
Principais fatores que influenciam no processo da compostagem.

Escolha um lugar
Coloque primeiro o material
sombreado, de fácil acesso
Reduza o tamanho graúdo (o mais adequeado é o de
e, preferencialmente, sobre a
do material, picando poda de árvores e cercaas vivas,
terra, de modo a manter
ou rasgado. devidamente picado) até uma
contato mais íntimo com a
altura de 20 cm.
vida do solo.

Acrescente outros Depois de colocar o material, recubra


resíduos de jardim e de com camada de grama, palha, folha
cozinha, evitando porém, de bananeira, de palmeira ou
Matenha o material
a formação de camadas folhagem para protegê-lo tanto do
solto e fofo.
nítidamente diferenciadas ressecamento quanto de chuvas
de um único tipo de fortes, conservando-lhe a umidade e
material. o calor.

Avalie a temperatura usando um termômentro de haste longa, uma


Molhe semore que
barra de ferrro ou colocando a mão no interior do monte. Se for
necessário para manter a
possível suportar o calor da barra ou do composto, a temperatura está
umidade, mais lembre-se que
bua, mas se é praticamente impossível segurar a barra ou manter a
não deve ficar úmido.
mão no monte, é preciso resfriá-la.

Figura 1 – Passo a passo do Processo de compostagem. Fonte: Recicloteca (2016).

Fatores Características
Umidade Garante a atividade microbiana, pois toda a atividade metabólica e de reprodução dos
microrganismos e dos outros organismos que atuam no processo de compostagem
dependem da água. Uma das maneiras de verificar o teor de umidade é apertar o composto
com as mãos: se o mesmo tiver uma concentração de água adequada, poderemos sentir a
umidade e a agregação do material.
Aeração O oxigênio é de vital importância para os microrganismos que realizam a decomposição
dos resíduos orgânicos, pois a decomposição é um processo de oxidação biológica das
moléculas ricas em carbono, com liberação de energia.
Temperatura É de grande relevância no processo de transformação da matéria orgânica é a temperatura
do ambiente onde se realiza o processo. Na compostagem de resíduos orgânicos, em
montes, ou em condições controladas, o calor desenvolvido se acumula, e a temperatura
pode chegar à cerca de 80ºC. É desejável que varie de 60ºC a 70ºC nos primeiros 25 dias
de compostagem e depois naturalmente a temperatura diminui.
Relação C:N A compostagem consiste em se criar condições e dispor, em local adequado, as matérias-
primas ricas em nutrientes orgânicos e minerais, que contenham especialmente, relação
C:N favorável. A relação C/N deve ser em torno de 30/1; isso quer dizer que para cada
parte de nitrogênio, na forma de esterco, devem estar presentes 30 partes de carbono na
forma de palhada.
Tamanho das As partículas dos materiais não devem ser muito pequenas, para evitar a compactação

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

partículas durante o processo, comprometendo a aeração. Por outro lado, resíduos como colmos
inteiros retardam a decomposição por reterem pouca umidade e apresentarem menor
superfície de contato com os microrganismos.
Sementes, A presença de sementes de plantas invasoras, pragas, patógenos e metais pesados, que
patógenos e interferem na produção agrícola, são considerados agentes indesejáveis. Esses agentes
metais pesados podem ser eliminados no início do processo de compostagem mediante cuidados
na específicos a cada um deles, obtendo-se um produto final com qualidade, ou seja, livre
compostagem desses agentes indesejáveis. Com relação aos patógenos e às sementes e plantas invasoras,
estes podem ser eliminados por meio do processo completo da compostagem. Quanto
maior for a diversidade de materiais para a elaboração do composto, melhor será a
qualidade do produto final em termos nutricionais.
Quadro 1 - Principais fatores que influenciam no processo da compostagem

Experiências da utilização da compostagem visando a prática da agricultura orgânica

Silva et al. (2015) analisou o tratamento de cama de equino em leiras de compostagem, no


qual objetivou avaliar a compostabilidade de cama de equino constituída de pó de serra (fonte de
carbono para o processo) e dejetos (fonte de nitrogênio), analisando o comportamento da
temperatura, pH, condutividade elétrica, redução de volume e massa e descaracterização do material
ao final do processo. A compostagem foi realizada em leira trapezoidal, montada em camadas,
intercalando os resíduos de forma que o pó de serra cobrisse o dejeto para evitar a atração de
insetos. Ao todo, utilizou-se 26 kg de pó de serra e 38,52 kg de dejeto, resultando em um volume
inicial de 0,204 m3. O período de compostagem totalizou 86 dias, sendo que, diariamente
monitorou-se a temperatura, quinzenalmente pH, condutividade elétrica (CE) e redução de volume,
e no primeiro e último dia de compostagem, avaliou-se a redução de peso. Quando necessário foram
realizados revolvimentos com auxílio de pás e enxadas a fim de promover a oxigenação e a
manutenção de temperatura. Também conforme o caso realizou-se a umidificação da leira,
utilizando regadores. Ao final do processo pode-se concluir que a compostagem de cama de equino
mostrou-se um tratamento eficiente e que poderia ser aplicado em larga escala, devido à
disponibilidade dos materiais fonte de carbono e nitrogênio que há nos locais de criação destes
animais e à facilidade em se desenvolver o método de compostagem em leiras. A temperatura
atingida na fase termofílica indica a possível morte dos agentes patogênicos que poderia haver nos
resíduos, resultando um composto sanitizado. A redução de massa foi pouco expressiva, porém a de
volume foi significativa. Ocorreu diminuição dos valores de condutividade elétrica (CE) e o pH
manteve-se estável, próximo da neutralidade.
Chiarelotto et al. (2015) estudou a proposição e aplicação de metodologia simplificada de
compostagem de resíduos orgânicos provenientes do restaurante universitário da UTFPR-FB, no
qual objetivou reciclar resíduos orgânicos provenientes do restaurante universitário. Para o
desenvolvimento do experimento foram adquiridos três recipientes plásticos retangulares e para

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

protegê-los das intempéries ambientais, condicionou-se uma cobertura com telhado de eternit, uma
base de telhas de barro e quatro colunas de madeira enterradas no solo para prover uma boa
sustentação da estrutura em questão. Os resíduos orgânicos utilizados neste experimento foram
coletados durante três semanas no Restaurante Universitário. De acordo com o cardápio das
semanas em questão, identificaram-se resíduos de arroz, feijão, macarrão, mandioca, batata, cascas
de laranja, alface, beterraba, carnes e ossos. Visando facilitar o processo de separação manual dos
compostos orgânicos indesejáveis disponibilizou-se dois recipientes de disposição dos resíduos
orgânicos e em um destes foi anexada uma etiqueta com os seguintes caracteres ―Carnes e ossos‖.
Após serem coletados, os resíduos passaram por um pré-tratamento, que incluiu a triagem e
trituração dos mesmos, estes devem se encontrar livres de quaisquer tipos de carnificinas, gorduras
e ainda, atender uma granulometria de 10 a 50 mm, para que o processo de degradação da matéria
orgânica seja eficiente. De tal modo, os resíduos foram triturados e dispostos em dois dos três
recipientes, utilizando-se o terceiro para revirá-los manualmente. O reviramento dos resíduos
ocorreu semanalmente, assim como as análises laboratoriais, sendo elas pH, teor sólidos voláteis ou
fixos e teor de umidade. A aferição da temperatura foi realizada in loco. As metodologias utilizadas
para as análises dos parâmetros embasaram-se no manual de análises químicas de solos, plantas e
fertilizantes da Embrapa. Com base nos resultados obtidos pode-se afirmar que a composteira se
apresentou como uma eficiente metodologia para transformação de resíduos orgânicos em um
composto estável. Além de ser uma alternativa para os resíduos gerados, esse processo auxiliou a
divulgação de informações bem como a sensibilização da comunidade acadêmica em relação a
problemática dos resíduos sólidos. Visando encontrar soluções ambientalmente corretas e
economicamente viáveis para a destinação dos resíduos orgânicos, os resultados desta pesquisa
foram de significativa importância para que futuramente seja implantado um sistema contínuo de
tratamento dos resíduos orgânicos provenientes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Câmpus Francisco Beltrão.
Maciel e Carrijo (2015) pesquisou a compostagem com casca do café cereja, no qual
objetivou realizar a compostagem utilizando resíduo do despolpador de café (casca madura) para
utilização na agricultura. Os materiais utilizados foram casca do café cereja e esterco bovino. A
compostagem foi realizada de forma manual, em um dos canteiros de alvenaria, com dimensões de
1m x 1m x 0,5m, perfazendo 0,5 m3 de capacidade, onde foram colocados 160 l de casca de café e
160 l de esterco bovino, dispostos em camadas sucessivas. Em seguida, foi umedecido e coberto por
uma lona plástica. O material foi revolvido 2 vezes por semana e umedecido quando necessário.
Também foram introduzidas minhocas da Califórnia ao composto. O teste de CRA (Capacidade de
Retenção da Água), utilizando-se 18 garrafas pet cortadas ao meio, 6 diferentes porcentagens de
mistura composto/solo (0; 20; 40; 60; 80 e 100% de composto) totalizando 1 kg, com 3 repetições,

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onde foi adicionado água, pesado e deixando o excesso de água escoar até o dia seguinte, quando o
solo atingiu a sua máxima capacidade de retenção de água, denominada de Capacidade de Campo
(CC). O composto foi retirado e peneirado, condicionado em vasos, para cultivo de alface. Foram
utilizadas as mesmas proporções de composto/solo para determinação da CRA. Em seguida foram
plantadas as mudas de alface e acomodadas na estufa, onde foram realizados os procedimentos de
manutenção e irrigação para seu desenvolvimento. Pelos resultados obtidos pode-se afirmar que a
compostagem é uma forma adequada para a destinação final da casca do café cereja, resultante do
processo de despolpamento, se tornando uma boa fonte de macro e micronutrientes para as plantas,
corrige a acidez do solo e aumenta a capacidade de retenção de nutrientes, entre outros benefícios.
Também melhora a capacidade de retenção de água do solo. A compostagem do café cereja é rápida
e eficiente quando complementada com esterco de gado, minimizando impactos ambientais e
evitando sua disposição em locais inadequados nas propriedades agrícolas.
Maciel et al. (2015) analisou a compostagem a partir de resíduo orgânico doméstico, no qual
objetivou desenvolver um processo de compostagem a partir de resíduos sólidos orgânicos
domésticos, coletados seletivamente, visando a utilização do produto final como insumo para hortas
domésticas. O experimento foi conduzido na área externa de uma residência, localizada no
município de Espirito Santo do Pinhal-SP. Para a construção da composteira foram utilizados
tambor de 100 litros, pá de jardinagem, aparas de árvores, arbustos e grama seca (como fonte de
carbono) e lixo orgânico gerado na residência (como fonte de nitrogênio). Os resíduos orgânicos,
foram introduzidos semanalmente na composteira, por um período de 30 dias, até o preenchimento
de cerca de 50% do volume da mesma, promovendo-se o revolvimento destes a fim de que os
mesmos fossem incorporados à massa de resíduos e aerados. O controle de umidade foi realizado
por meio de um teste prático e simples, conhecido como teste da esponja. No processo de
compostagem, a temperatura é o fator mais indicativo da ação dos microrganismos, e que mostra a
eficiência do processo. Após o preenchimento de cerca de 50% do volume da composteira com
resíduos orgânicos, deu-se início ao monitoramento da temperatura da massa em compostagem, já
que, a partir daí, se dispunha de quantidade suficiente de resíduos para proporcionar um ambiente
favorável ao processo. A temperatura da massa orgânica na composteira foi medida semanalmente,
com o auxílio de uma barra de ferro e termômetro. Decorridos três meses de compostagem, foi
retirado da pilha o material que ainda não estava degradado com o auxílio de uma peneira. Em
seguida, o composto foi utilizado em vasos, dentro da própria residência para cultivo de alface e
almeirão. A compostagem doméstica se mostrou uma boa alternativa para a reciclagem de resíduos
sólidos orgânicos domiciliares e, no período de 90 dias, originou um composto com boas
características produzidos a partir de resíduos sólidos orgânicos gerados dentro da residência com
um potencial poluidor está gerando um adubo para plantas. A compostagem doméstica de resíduos

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sólidos orgânicos domiciliares, se devidamente conduzida, considerando-se os fatores básicos do


processo, como aeração, umidade e temperatura, não provoca mau cheiro e atração de vetores.

CONCLUSÃO

A atividade agropecuária é considerada uma das maiores geradoras de resíduos orgânicos,


especialmente quando se refere ao confinamento de animais, atividade que resulta em elevada
produção de dejetos, que possuem potencial poluidor, se mal gerenciados. Em vista disso, vê-se a
necessidade de viabilizar uma técnica para o tratamento desses resíduos e a compostagem pode ser
promissora, pois permite a estabilização da matéria orgânica, gerando um material humificado,
biologicamente estável e rico em macro e micronutrientes.
A aplicação da compostagem apresenta vantagens como pequeno uso de energia,
flexibilidade operacional, baixo custo e obtenção de composto orgânico rico em nutrientes, mas
apresenta algumas desvantagens como a utilização de grandes áreas para realização do processo e
demanda de mão-de-obra intensa. No Brasil, poucas cidades utilizam compostagem como
tratamento de seus resíduos orgânicos. A utilização desse processo concentra-se em locais onde a
geração de resíduos é menor, como por exemplo, propriedades rurais e restaurantes.
As atividades agrícolas e agropecuárias geram grande quantidade de resíduos, como restos
de culturas, palhas e resíduos agroindustriais, dejetos de animais, os quais, em alguns casos,
provocam sérios problemas de poluição. O aproveitamento destes resíduos pode ser realizado
através de um processo denominado compostagem, que é o tratamento dos resíduos orgânicos de
origem urbana, industrial, agrícola e florestal. Sua finalidade é acelerar com qualidade a
estabilização da matéria orgânica, enquanto na natureza, a humificação ocorre sem prazo definido,
dependendo das condições ambientais e da qualidade dos resíduos orgânicos.
O lixo orgânico gerado em residências domésticas poderá ser diminuído pela compostagem
doméstica, onde o lixo orgânico, com um potencial poluidor que seria descartado, terá uma
destinação correta, gerando um produto de grande utilidade em atividades agrícolas. A
compostagem doméstica permite ao cidadão proceder à valorização dos seus resíduos orgânicos em
casa. A compostagem promove a decomposição de resíduos domésticos orgânicos por ação de
microrganismos, minimizando custos ambientais (poluição) de transporte e deposição desses
resíduos num aterro.
Através deste trabalho foi possível perceber a importância de se realizar a gestão dos
resíduos orgânicos gerados, pois, tudo o que não é aproveitado significa perda econômica.
Além dos benefícios econômicos, a compostagem também contribui para a sadia qualidade
de vida e a promoção da sustentabilidade pelo simples fato de realizar a coleta seletiva e redução do
volume gerado. A partir da separação mínima do resíduo orgânico, torna-se possível o seu

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

tratamento com a técnica da compostagem, de baixo custo e que agrega valor ao resíduo
transformando-o em possível insumo agrícola.

REFERÊNCIAS

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vermicompostagem de dejetos de caprinos: Efeito das estações do ano. Engenharia Agrícola,
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AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO PARA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO:


RECONHECENDO A IDENTIDADE DOS SUJEITOS DO CAMPO

Marcilene Santos SILVA


Graduanda em Licenciatura em Ciências Agrarias da UFPB/CCHSA
Marcilene-1995@hotmail.com
Rayana Vanessa Alves SILVA
Doutoranda em Sistemas de Produção Agrícola Familiar da UFPEL
rayana.vanessa@hotmail.com
Albertina Maria Ribeiro Brito de ARAÚJO
Orientadora UFPB/CCHSA
albertinari@hotmail.com
Maria Gabriela Galdino dos SANTOS
Graduanda em Agroecologia da UFPB
gabystr@hotmail.com

RESUMO
Em relação a maioria dos municípios Brasileiros a educação deixa muitas lacunas a preencher,
principalmente nas escolas do campo, no que se refere a metodologias e didáticas diferenciadas e
referentes a temas transversais. Este trabalho faz parte de uma ação desenvolvida pelo projeto de
Extensão intitulado: Agroecologia e educação para convivência com o semiárido, onde na
experiência da oficina relatada, buscou-se trabalhar temas como: a formação crítica dos educandos a
partir da compreensão do processo histórico do Brasil e do Nordeste, a origem do campesinato, a
valorização do sujeito do campo e aspectos introdutórios sobre a agroecologia e o Semiárido
Brasileiro. A oficina contemplou cerca de 60 educandos/as de escolas públicas do município de
Arara-PB e Solânea-PB. Contou com o apoio da equipe gestora das escolas envolvidas, de
educandos/as colaboradores/as do projeto Agroecologia e educação para convivência com o
semiárido e com a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB). Foi observada a
diversidade de conhecimentos dos/as educandos/as participantes do projeto e o interesse dos/as
mesmos/as nas atividades desenvolvidas, de maneira que todos/as se envolveram no processo de
ensino, possibilitando assim, a construção de conhecimentos múltiplos. Com isso, percebeu-se que
as escolas públicas deveriam trabalhar com metodologias mais participativas, pois os estudantes
teriam a possibilidade de serem protagonistas do próprio conhecimento e o aprendizado se daria de
uma maneira mais lúdica e contextualizada.
Palavras-chave: Processo histórico do Brasil, Educação do campo, Campesinato, Escola pública.
ABSTRACT
Regarding most municipalities Brazilian education leaves many gaps to fill, especially in rural
schools, as regards the methodologies and teaching differentiated and related cross-cutting issues.
This work is part of a program developed by the Extension project entitled: Agroecology and
education for coexistence with the semiarid region where the workshop sought to work the critical
training of students from the understanding of the historical process in Brazil and the Northeast,
origin of peasantry, human appreciation of the field and introduction to agroecology and the
Brazilian semiarid region. the workshop included about 60 student of public schools in the
municipality of Arara-PB and Solan-PB. Stopped supporting the management team of the schools
involved, employees of Agroecology and education project for coexistence with the semi-arid and

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semi-arid Brazilian Education Network (RESAB). It was observed the diversity of knowledge of the
student participants and the interest of even the developed activities, since everyone involved in the
teaching and learning process thus forming a multiple knowledge. Showing that public schools
should work in a more participating methodology, since the students would become protagonists
and learning would take place in a more playful and contextualized way.
Keywords: Historical process of Brazil, Rural education, Peasants, Public school.

INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo demarcado por desigualdades socioeconômicas relevantes, no qual


poucos se apropriam da maior parte das riquezas. Essa conjuntura no Brasil se dá ao longo de um
processo histórico marcado por apropriações desiguais de cargos e terras, vindo desde a colonização
até os dias atuais. Processo esse que, não é mostrado nitidamente nos livros didáticos, pois,
historicamente o que presenciamos é uma educação neoliberal, na qual a formação é totalmente
voltada para o mercado de trabalho, de consumo, de competição, em que não se enfatiza a história e
realidade dos sujeitos populares, utilizando-se para isto da sociologia das ausências e assim
reproduzindo este paradigma de sociedade.
Em relação a maioria dos municípios brasileiros, a educação deixa lacunas a preencher,
principalmente nas escolas do campo, no que se refere a metodologias e didáticas diferenciadas e
referentes a temas transversais como agroecologia, educação ambiental e educação contextualizada
para convivência com o semiárido brasileiro. Assim como questões de gênero, ética, pluralidade
cultural e valorização da identidade campesina, não são vistas em sala de aula e são de fundamental
importância para formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade
socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um/a e da
sociedade local e global.
Nesse sentido, é necessário pensar em uma educação que atenda às necessidades da
população e que forme sujeitos conscientes e construtores de sua própria história, a partir de suas
realidades, percebendo com sensibilidade que cada região tem suas especificidades e a escola deve
se adequar a isso de maneira que os educandos valorizem a realidade de seus povos. Kolling et al
(2002) declarou no Seminário Nacional de Educação do Campo, que: ―os povos do campo tem uma
raiz cultural própria, um jeito de viver e de trabalhar, distinto do mundo urbano, e que inclui
diferentes maneiras de ver e se relacionar com o tempo, o espaço, o meio ambiente, bem como de
viver e organizar a família, a comunidade, o trabalho e a educação‖. Nesse sentido, a educação do
campo tem que ser contextualizada para o campo.
É nessa perspectiva que trazemos parte das reflexões que fazemos com a execução desse
projeto, intitulado: Agroecologia e Educação para Convivência com o Semiárido. Tem como
objetivo geral: realizar ações socioambientais e culturais, com estudantes de escolas públicas em

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ambiente escolar, sobre a importância da agroecologia, da educação ambiental e da educação


contextualizada para a convivência com o Semiárido brasileiro. E em suas especificidades: mapear
atividades interdisciplinares, viabilizar ações educativas e culturais e executar propostas de ações
educativas que abordem valores humanos, questões de gênero, identidade e cultura, e que
fortaleçam a educação contextualizada para a convivência com o semiárido brasileiro e a
agroecologia. Especificamente, nesta oficina buscou-se trabalhar a formação crítica dos educandos
a partir da compreensão do processo histórico do Brasil e do Nordeste, origem do campesinato,
valorização do homem do campo e introdução a agroecologia no Semiárido brasileiro.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Esta atividade consiste em uma experiência de extensão, desenvolvida pelo projeto de


extensão (PROBEX) da Universidade Federal da Paraíba/ Centro de Ciências Humanas, Sociais e
Agrárias (UFPB/CCHSA), a qual foi desenvolvida no período de junho à agosto de 2016.
Contemplou duas escolas públicas: a Escola Municipal João Soares da Costa (E.M.J.S.C.)
localizada na comunidade Cacimba da Várzea no município de Solânea-PB, na qual participam as
turmas do 3° (terceiro) e 5° (quinto) anos do ensino fundamental, com aproximadamente trinta
educandos/as filhos/as de agricultores familiares camponeses/as. E a Escola Estadual de Ensino
Fundamental Anésio Deodônio Moreno (E.E.E.F.) no município de Arara-PB, na qual participaram
aproximadamente vinte e cinco educandos/as e contemplou o 8° (oitavo) ano do ensino fundamental
(figura 1).

Figura 1. Estudantes das escolas comtempladas com o projeto: A) E.M.J.S.C. Solânea-PB e B) E.E.E.F.
Arara-PB.

O projeto teve apoio das equipes gestoras das escolas envolvidas, de estudantes
colaboradores do projeto e da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB), que é um
espaço de articulação política regional da sociedade organizada, congregando educadores/as e
instituições governamentais e não-governamentais, que atuam na área de educação no Semiárido

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brasileiro, sem preconceitos de cor, raça, sexo, origem política, social, cultural ou econômica, com
o intuito de elaborar propostas de políticas públicas no campo educacional e desenvolver ações que
possam contribuir com a melhoria da qualidade do ensino e do sistema educacional do semiárido
brasileiro.
Os municípios de Arara e Solânea estão localizados no estado da Paraíba e incluídos na área
geográfica de abrangência do Semiárido brasileiro, inseridos na unidade geoambiental do Planalto
da Borborema e o bioma predominante é o da caatinga. O município de Solânea está localizado na
Mesorregião do Agreste Paraibano e na Microrregião do Curimataú Oriental, onde encontra-se
inserido nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Curimataú. Já o município de Arara, está
localizado na Mesorregião do Agreste Paraibano e na Microrregião do Curimataú Ocidental e
encontra-se inserido nos domínios da Bacia hidrográfica do Rio Mamanguape. O pertencimento à
região, aponta para a importância de se trabalhar a educação para a convivência com o Semiárido.
O Semiárido brasileiro corresponde a uma territorialidade que, segundo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), abrange 18,2% (982.564 Km²) do território nacional, e
abriga 11,84% da população do país, onde mais de 22,5 milhões de brasileiros/as vivem na região,
sendo 14 milhões na área urbana e 8,5 milhões no espaço rural. Dessa área, a Região Nordeste
concentra em torno de 89,5%, abrangendo a maioria dos estados nordestinos, com a exceção do
Maranhão, e o Estado de Minas Gerais, situado na Região Sudeste, possui os 10,5% restantes
(103.589,96 km²). Segundo a ASA (Articulação Semiárido Brasileiro) quase 41,3% da população
(10,9 milhões de pessoas) são crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 17 anos, e 81% dessa
população encontrar-se em comunidades quilombolas de todo o Brasil. Apresenta uma
diferenciação ecológica marcante, rica em biodiversidade, mais é olhado pelo ritmo capitalista a
partir das condições climáticas enquanto espaço de seca, pobreza e êxodo rural.
A oficina foi desenvolvida em vários momentos. No primeiro momento, a sala de aula foi
organizada em forma de círculo, para que o encontro se tornasse algo mais dinâmico, dialógico e
participativo, numa construção coletiva de conhecimento. Trabalhar desse modo incentiva os
próprios educadores das escolas envolvidas a saírem da forma padrão na qual os educandos estão
acostumados, as carteiras sempre enfileiradas, habituadas a décadas atrás e utilizada ainda hoje nas
escolas públicas e particulares de todo o país, tal modo de organização do espaço tiram o aspecto
coletivo tão bem proposto na educação contextualizada. Seguindo essa perspectiva de mudança de
paradigmas SOARES (2017) afirma que:

―eliminar as fileiras significa criar novos espaços para a aprendizagem, valorizando a


coletividade, a criticidade, maior participação nas aulas além do professor circular mais
pela classe o que diminui quaisquer tentativas de indisciplina e aumentando assim o foco na
aprendizagem dos conteúdos além é claro de melhorar a harmonia entre professores e
alunos‖.

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Em seguida, deixamos o ambiente mais místico, onde foi colocado no centro da sala uma
esteira com objetos que representassem um pouco da cultura dos povos do campo, a natureza e
saberes populares, para assim tornar o ambiente mais agradável, lúdico e contextualizado com o
Semiárido. As atividades iniciaram com a utilização de dinâmicas de apresentação em grupo,
músicas e brincadeiras acerca da temática proposta (figura 2).

Figura 2. Primeiro momento da oficina: A) Mística do ambiente e B) Dinâmica de apresentação Solânea-PB.

No momento seguinte, de forma participativa, dinâmica e dialógica foram abordadas as


temáticas: compreensão do processo histórico do Brasil e do Nordeste, a origem do campesinato no
Brasil e valorização da identidade do homem do campo, caracterização do SAB (Semiárido
Brasileiro) e introdução à agroecologia, com a utilização de recursos audiovisuais e expositivos.
Para esse momento foi realizada uma reflexão sobre a história do Brasil do ano de 50.000
a.C. até os dias atuais trazendo informações relevantes à proposta do projeto. A utilização do vídeo:
os indígenas, raízes do Brasil da Fundação cultura de Joinville, para trabalhar a história indígena e a
relação do homem com a natureza antes da colonização e abrir a discursão da relação do homem
com a natureza após a colonização. A partir daí iniciamos um diálogo e debate com os educandos,
sobre questões de distribuição de terras e origem do campesinato no Brasil. Assim, chegando na
discussão sobre agroecologia e convivência no Semiárido brasileiro, foi apresentado o vídeo
―comida que alimenta‖ elaborado pela ONG Centro Sabiá. Após a reflexão pedimos aos educandos
que pesquisassem em suas comunidades, em livros e internet o conceito e princípios da
agroecologia e o conceito do SAB para debatermos em um momento seguinte.
Em relação a valorização e identidade do homem do campo, tema de suma importância para
compreensão da agroecologia e da educação contextualizada para a convivência com o SAB,
utilizamos os vídeos do Chico Bento em ―na roça é diferente‖ e ―Chico Bento vai ao shopping‖,
para fazermos uma análise junto aos educandos sobre as diferenças entre o mundo rural e urbano e a
compreensão da importância do campo para a cidade e da cidade para o campo.

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RESULTADOS

Trabalhar de forma contextualizada com educandos/as de escolas públicas e em sua maioria


do campo, filhos/as de agricultores familiares, nos possibilitou grandes reflexões e uma maior
compreensão a respeito das potencialidades e desafios enfrentados por eles/as.
Observou-se a diversidade de conhecimentos dos/as estudantes participantes e o interesse
dos/as mesmos/as nas atividades desenvolvidas, pois todos/as se envolveram no processo de ensino
proposto, formando assim um ambiente propício para a construção de múltiplos conhecimentos.
Isso mostra que as escolas públicas deveriam trabalhar com metodologias mais participativas,
porque os/as estudantes teriam a possibilidade de serem protagonistas dos próprios conhecimentos e
o aprendizado se daria de uma maneira mais lúdica e contextualizada.
Na compreensão do processo histórico do Brasil e do Nordeste, os/as educandos/as já
demostravam muitos conhecimentos, como por exemplo, que ―não foram os portugueses que
descobriram o Brasil, pois quando eles chegaram os índios já estavam aqui‖ (Fala de um educando).
No final das atividades os/as educandos/as descreveram com palavras e em forma de desenho o que
aprenderam nesta oficina (Figura 3).

Figura 3. Atividades desenvolvidas pelos educandos. Solânea- PB.

Na compreensão do conceito de agroecologia, pode-se observar que embora seja um tema


digno de olhares e discursões, assim como um importante veículo para a formação de sujeitos

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conscientes e preocupados com a harmonia do homem com o meio em que vive, as escolas
envolvidas não trabalham a temática em sala de aula. Devido a isso, os/as educandos/as envolvidos
tiveram certas dificuldades em suas pesquisas e apenas relacionaram a temática com a agricultura
familiar e a produção orgânica.
Desenvolver a temática agroecologia no ambiente escolar, significa ampliar as diversidades
pedagógicas desenvolvidas em atividade ambientais, realizando integração das teorias e práticas de
forma contextualizada, estreitando as relações entre o conhecimento, os estudantes e o meio,
auxiliando no processo de ensino/aprendizagem através do trabalho coletivo entre os atores/atrizes
envolvidas, já que o meio ambiente é um tema transversal dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), que através da educação ambiental tem o objetivo de informar, orientar, conscientizar e
mobilizar a população sobre a agricultura sustentável, integrando os educandos e as comunidades,
contribuindo para a conscientização e sensibilização sobre a preservação do ambiente (ALMEIDA,
2006).
As atividades de valorização e identidade do sujeito do campo, como os vídeos do Chico
Bento, um típico indivíduo camponês de um universo rural, demostraram a vivência das tradições
camponesas. As histórias de Chico Bento resgatam as tradições camponesas, os valores morais para
a contemporaneidade e a preservação do meio ambiente e ecologia. Os desenhos foram importantes
ferramentas para se trabalhar as diferenças do mundo rural e urbano na percepção dos/as
educandos/as envolvidos e relacionar o campo como espaço de pluralidade e importante para o
processo de desenvolvimento econômico e social do país.

CONCLUSÃO

As escolas trabalhadas têm um grande potencial para o desenvolvimento da agroecologia e


da educação contextualizada, assegurando assim a formação de sujeitos que possam tomar decisões
conscientes sejam individuais ou coletivas, mas comprometidas com as questões ambientais
valorizando culturas e saberes distintos. Espera-se que as atividades desenvolvidas tenham
contribuído de forma significativa na vida dos/as educandos/as envolvidos/as.

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SOARES, Alexandre Aparecido. A importância das escolas sem fileiras e a melhora na relação
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importancia-das-escolas-sem-fileiras-e-a-melhora-na-relacao-professor-e-alunos>. Acesso em:
20 jul. 2017.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1369


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESIDÊNCIA AGRÁRIA: ESTÁGIO DE INTERDISCIPLINAR VIVÊNCIA NA


COMUNIDADE DE PEDRA GRANDE-PB

Maria Eduarda Benjamim de OLIVEIRA


Graduanda do Curso de Agroecologia na UFPB
eduarda_log@hotmail.com
Izabelita Cirne BELTRÃO
Mestre em Ciências das Religiões pela UFPB
izacbeltrao@yahoo.com.br
Joelma Silva de ASSUNÇÃO
Graduanda em Agroecologia na UFPB
joelma-assunçao@hotmail.com
Marcos Barros de MEDEIROS
Professor Doutor em entomologia da UFPB
Mbmedeir2016@gmail.com

RESUMO
O presente trabalho sintetiza parte das experiências da Residência Agrária no município de
Solânea/PB, durante um estágio de vivência realizado por estudantes do curso de bacharelado em
agroecologia, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), campus III, Bananeiras/PB. Objetiva
descrever parte da vivência do estágio de Residência Agrária do programa do CCHSA Centro de
Ciências Humanas Sociais e Agrárias campus III da UFPB. Esse estágio teve como base os projetos
de Produção Agroecológica e Gestão de Feiras Agroecológicas e a formação de estudantes do curso
de agroecologia envolvendo também o entendimento da concepção do processo saúde, doença e
cuidado na utilização da medicina popular. O estudo possibilita também a sistematização do
conhecimento das ervas, utilizado pelas agentes de cura, buscando a sua valorização com base na
agroecologia. O estágio foi construído coletivamente pelos parceiros do projeto e dividido em 4
etapas: Etapa I – Preparação dos estagiários, Etapa II – Vivência I, Etapa III – Intermediária, Etapa
IV – Vivência. O Programa de Residência Agrária contribui para a formação de profissionais
qualificados e comprometidos com a sociedade de maneira geral e com os agricultores familiares,
fortalecendo a participação e a cidadania da população.
Palavras Chave: Residência Agrária, Pedagogia da alternância, Medicina popular.

ABSTRACT
The present work synthesizes part of the experiences of the Agrarian Residence in the municipality
of Solânea / PB, during a stage of life realized by students of the baccalaureate course in
agroecology, Federal University of Paraíba (UFPB), campus III, Bananeiras / PB. It aims to
describe part of the experience of the Agrarian Residence stage of the program of the CCHSA
Center for Social and Agricultural Human Sciences campus III of the UFPB. This stage was based
on the projects of Agroecological Production and Management of Agroecological Fairs and the
training of students of the course of agroecology involving also the understanding of the conception
of the process health, disease and care in the use of popular medicine. The study also allows the
systematization of the knowledge of the herbs, used by the curing agents, seeking their valorization
based on agroecology. The stage was built collectively by the partners of the project and divided
into 4 stages: Stage I - Preparation of trainees, Stage II - Experience I, Stage III - Intermediate,
Stage IV - Experience. The Agrarian Residence Program contributes to the training of qualified

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1370


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

professionals committed to society in general and to family farmers, strengthening the participation
and citizenship of the population.
Keyword: Agrarian Residence, Popular Medicine and Phytotherapy

INTRODUÇÃO

Residência Agrária é uma experiência que prevê a alternância de Tempo/Escola e


Tempo/Comunidade baseado nos princípios da Pedagogia da Alternância. A Alternância é uma
pedagogia que prioriza a experiência do educando, valorizando os conhecimentos existentes no
meio em que ele vive/atua ou vai atuar. Trata-se de um processo formativo contínuo na
descontinuidade de atividades e de espaços e tempos, de formação que combinam e articulam
períodos de vivência no meio escolar e no meio familiar e/ou comunitário.
Para Teixeira, Bernartt e Trindade (2008) foi um grupo de agricultores franceses
insatisfeitos com o sistema educacional do seu pais, que iniciou em 1935 um movimento que
culminou no surgimento da pedagogia da alternância, esse grupo dava ênfase a necessidade de uma
educação escolar que atendesse às particularidades psicossociais dos jovens e propiciasse, além da
profissionalização em atividades agrícolas, elementos para o desenvolvimento social e econômico
da sua região. (TEIXEIRA, BERNARTT E TRINDADE, 2008)
A Alternância é uma pedagogia que prioriza a experiência do educando, valorizando os
conhecimentos existentes no meio em que ele vive/atua ou vai atuar. Trata-se de um processo
formativo contínuo na descontinuidade de atividades e de espaços e tempos, de formação que
combina e articula períodos de vivência no meio escolar e no meio familiar/comunidade, alternando
a formação agrícola na propriedade/localidades com a formação teórica geral na escola/Faculdade.
Seu propósito que alunos do curso possam transmitir conhecimentos adquiridos na área de Ciências
Agrárias em áreas de assentamentos, E a partir do conhecimento adquirido na vivência da realidade
rural poder formar pessoas conscientes para atuar no setor agrário de modo mais significativo.
O papel do método da alternância tem um diferencial para a relação com tempo escola, para
Gowacki et al (2007) a Pedagogia da Alternância e o seu desenvolvimento teve origem e é
desenvolvida de acordo com as necessidades da agricultura familiar. Essa dinâmica, que acontece
nas Casas Familiares Rurais (CFRs) e nas Escolas Famílias Agrícola (EFAs) é definida por
Estevam (2003) como um diferencial para a pequena propriedade. O processo de formação de um
estudante de agroecologia com o estágio de vivencia utilizando a metodologia da alternância uma
vez que o jovem faz a ligação entre o conhecimento científico e adquirindo e trocando
conhecimento popular assim, esse processo da alternância possibilita o contato entre a realidade
vivida e o conhecimento científico , despertando o interesse no jovem pelo aprendizado e
consequentemente o da família e da comunidade. (ESTEVAM, 2003)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para Barros et al. (2012) os produção agroecológica e comercialização de produtos da


agricultura familiar nos municípios de solânea e bananeiras na paraíba, financiado pelo
proext/sesu/mec, vem abrindo espaço para a formação e capacitação de jovens acadêmicos dos
cursos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Bacharelado em Agroindústria, Administração e
Agroecologia no Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias CCHSA, Campus III da
Universidade Federal da Paraíba, inserindo jovens junto ao Programa Residência Agrária. Os
profissionais com formação na área de ciências agrárias têm a possibilidade de usufruir de uma
vivência de aprendizagem dentro da unidade de produção familiar, acompanhando desde formas,
modos e técnicas de plantio voltados para a produção de subsistência de alimentos e manejos
diversos. (BARROS et al. 2012)
No caso do estágio vivenciado nessa pesquisa de ensino e aprendizagem, foi possível uma
experiência com produtos voltados para a saúde dos indivíduos. O hábito de recorrer às virtudes
curativas de certos vegetais, data das mais antigas civilizações, que cedo se aperceberam da
existência, ao lado das plantas com fins alimentares, das plantas com propriedades terapêuticas. O
uso de plantas como medicamento esteve muito tempo associado a práticas mágicas, místicas e
rituais, marcando um antigo desejo de compreender e utilizar a natureza como recurso terapêutico,
nas doenças que afligem o corpo e a alma. Essa associação dificulta a delimitação exata da evolução
da arte de cura. (MEDEIROS, MACEDO e ARAÚJO, 2011)
A utilização de plantas no Brasil, não só como alimento, mas também como fonte
terapêutica começou desde que os primeiros habitantes chegaram ao Brasil, há cerca de 12 mil anos.
Historicamente, quando os Portugueses aqui chegaram, encontraram índios que usavam urucum
para pintar e proteger o corpo das picadas de insetos e também para tingir seus objetos cerâmicos.
(MEDEIROS, MACEDO e ARAÚJO, 2011)
Entre 1560 a 1580 a partir das observações e anotações do uso frequente de ervas pelos
índios, o padre Anchieta detalhou melhor as plantas comestíveis e medicinais no Brasil em suas
cartas ao superior geral da companhia de Jesus. Das plantas medicinais, especificamente, Anchieta
falou muito em uma ―erva boa‖, a hortelã- pimenta, que era utilizada pelos índios contra ingestão,
para nevralgias e para aliviar nevralgias e para o reumatismo e as doenças nervosas. Apesar das
tentativas do padre Anchieta em despertar os portugueses para a diversidade das ervas medicinais
brasileiras, este esforço foi em vão. Segundo naturalista Von Marius, eles os ―selvagens ―conheciam
apenas algumas plantas comestíveis e outras para tinturas‖. Das ervas medicinais teriam unicamente
uma ―obscura noção‖, quase tudo que se sabe de flora brasileiras e continuamente dos nossos
governantes culmina no fato de quase tudo que se sabe da flora brasileira foi descoberto por
cientistas estrangeiros, especialmente os naturalistas, que realizaram grandes expedições ao Brasil,
desde o descobrimento pelos portugueses até o final do século XIX. (OLIVEIRA, 2015)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Este trabalho é oriundo das experiências vivenciadas em Pedra Grande zona rural de
Solânea/PB, e tem como características explanar a realidade vivenciada pelas agricultoras e
observar, a partir de um olhar construído no Estágio de Vivência (Residência Agrária) oferecido aos
estudantes do curso de agroecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus III, a
importância para o estudante em agroecologia de fazer parte dessa integração. As atividades deste
trabalho estavam vinculadas aos Projetos: Produção agroecológica e Gestão de Feiras
agroecológicas, nos Municípios de Solânea e Bananeiras na Paraíba, desenvolvido por alunos da
UFPB em parceria com sindicatos, associações comunitárias de trabalhadores rurais e com a
Organização Não Governamental de Integração da Família (ONGIFA) em 2013. Formação de
Estudantes e Qualificação, Profissional para a Assistência Técnica e Extensão Rural – Programa de
Residência Agrária.
Para darmos início às atividades realizamos reuniões com os estudantes nas quais foram
distribuídas enformes para cada um deles de como seria o envolvimento desses estudantes que iriam
participar da residência agrária, e assim com envolvimento dos presidentes das instituições
envolvidas, bem como da ONGIFA (Organização não Governamental da Integração da Família). A
Residência Agrária buscou proporcionar uma troca de saberes, bem como momentos de interação
entre o saber teórico-científico construído na Universidade, o saber popular do povo do campo e as
práticas desenvolvidas por eles em seu local de trabalho e vida cotidiana.
Serão relatadas neste trabalho as experiências vivenciadas junto às famílias de Pedra
Grande, buscando levar o leitor a entender a realidade atual dos pequenos agricultores familiares.
Os Projetos: produção agroecológica e Gestão de Feiras Agroecológicas, serviram de base
para este trabalho, na formação de estudantes do curso de agroecologia promovendo uma formação
humanista de estudantes dos cursos de ciências agrárias para atuarem em áreas de reforma agrária e
agricultura familiar com ações de pesquisa-ação promovendo o desenvolvimento sustentável de
forma crítica e participativa.
Observa-se nessa vivência a importância de compreender o uso de plantas medicinais e as
concepções populares sobre o processo saúde-doença-cuidado a fim de contextualizar a utilização
de ervas por um grupo social específico. O entendimento do campo da saúde como saberes e
práticas que disputam o monopólio do cuidado, acrescido do efeito dessa disputa sobre os pacientes,
abre a possibilidade de adoção de diferentes itinerários terapêuticos por parte desses últimos.
Além da contribuição para a formação dos estudantes, o estudo possibilita a sistematização
do conhecimento sobre ervas que, atualizado por meio dos ―Agentes de Cura‖, faz parte da
memória popular, inscrevendo-se num contínuo movimento de lembranças e esquecimentos.
Na experiência do estágio de vivência, os universitários passam a morar com a ervadeira em
suas comunidades rurais, atendida pelo programa de residência agrária, com cada um dos estudantes

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

em cada comunidade distinta e determinada conforme a resolução do projeto e suas atribuições, que
receberam esses estudantes durante duas semanas. Esta fase é caracterizada pela não intervenção na
propriedade rural, onde os estagiários que vivenciam a realidade desta comunidade, pode participar
das melhorias na forma de trabalho, como desenvolver procedimentos para o trabalho manual, sem
intervenção. A experiência nas propriedades rurais permite vivenciar e compreender a realidade da
vida no campo de forma que estabelece a troca de conhecimentos sobre seu modo de vida e de
cultivo, de maneira que possa contribuir na sua organização econômica, política e social dentro de
suas limitações a cada realidade. Esse trabalho tem por objetivo entender a concepção do processo
saúde; doença, cuidado, com a utilização da medicina popular, além da contribuição para a
formação acadêmica o estudo possibilita a sistematização do conhecimento das ervas, utilizado
pelas agentes de cura, buscando a valorização com base na agroecologia.
A pesquisa é enquadrada no enfoque qualitativo e classificada nos níveis descritivo, de
campo e bibliográfico. Foi realizado um roteiro de diagnósticos participativo com a finalidade de
colher experiência Pedra Grande.
O presente trabalho foi realizado no âmbito dos projetos de Estágio de Vivência da
Residência Agrária, Produção Agroecológica e Gestão de Feiras Agroecológicas, nos Municípios de
Solânea na Paraíba, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As comunidades acompanhadas
foram: Saco dos Campos, Salgados, Jacaré, Pedra Grande.Gruta de Santa Tereza, Chã de Solânea.
Os costumes culturais da gruta ―Pedra Grande‖ são peculiares e locais, típicos paraibanos,
nordestinos, com sotaques nordestinos são pessoas humildes e ricas por sua nobreza, e honestidade,
são bem religiosos, a família da vivencia é católica frequenta terços nas quartas e missa aos
domingos, frequentemente celebrada uma vez por mês. Na comunidade as mulheres exercem um
trabalho de arredores de casa, trabalhando com farmácia viva, artesanatos e feiras. Pedra Grande
situa-se em um dos principais municípios do Brejo Paraibano município no estado da Paraíba
(Brasil), localizado na microrregião do Curimataú Oriental. De acordo com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2010 sua população era estimada em 26.693
habitantes. O sistema urbano Solânea-Bananeiras possui peso demográfico e
geopolítico/geoeconômico similar ao de Guarabira. Clima tropical com estação seca. Existem mais de
cinquenta famílias, o nome Pedra Grande está relacionado á grande pedra que existe.
Durante o período de acompanhamento e apoio técnico foram feitas reuniões a respeito das
atividades que seriam realizadas na propriedade na qual foi estabelecida a melhor forma de intervir
junto a cada família atendida pelo programa de residência agrária. Essas reuniões foram realizadas
dentro das dependências da ONGIFA e da UFPB nas quais se encontravam presentes todos os
integrantes das feiras agroecológicas do município de Solânea e Bananeiras, ambos paraibanos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Foram promovidos diálogos por meio de reuniões com os professores, nos quais os
estudantes obtinham orientações acerca da atuação favorecendo o desempenho para realização da
vivência sendo divididas em quatro etapas:

 Etapa I – Preparação dos estagiários, com duração de 2 dias, onde foram ministradas aulas e
palestras, místicas, realizadas oficinas e visitas em agricultor experimentador objetivando
preparar teórica e praticamente os estagiários para a fase de Vivência;
 Etapa II – Vivência I, com duração de 1 dia, em que os estagiários permaneceram nas
comunidades com o objetivo principal de conhecer e interagir com as pessoas, estreitando o
relacionamento estagiário- comunidade. Os integrantes ficaram alojados nas residências dos
agricultores assentados, destinados a vivência;
 Etapa III – Intermediária, com duração de 2 dias, em que foi feita a avaliação parcial do
estágio e foram realizadas oficinas de técnicas de Planejamento Participativo e Diagnóstico
Rápido Participativo (DRPS); croqui da propriedade;
 Etapa IV – Vivência II – com duração de 15 dias, na qual os estagiários voltaram às
comunidades com o intuito de confeccionar os diagnósticos participativos da realidade local
e de potenciais parceiros das comunidades;

OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE A EXPERIÊNCIA

O Programa Residência Agrária (PRA) surgiu como uma iniciativa do PRONERA, suas
ações se desenvolvem no âmbito das políticas públicas de educação do campo de das políticas
públicas, essas ações são executadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A formação profissional
idealizada para o Residência Agrária foi concebida considerando-se a materialidade do trabalho nas
áreas de Reforma Agrária e Agricultura Familiar, a partir dos desafios completos que a escolha
política e ideológica para a construção de um modelo de desenvolvimento rural diferente do
hegemônico (principalmente das consequências sociais e ambientais que produz) coloca para a
execução de políticas públicas (Esmeraldo, 2009, p. 17). De acordo com Esmeraldo (2009), o
principal objetivo desse programa é criar novas estratégias de formação para estudantes e
profissionais das Ciências Agrárias, preparando-os para uma atuação capaz de compreender as
necessidades e ver a realidade e as necessidades da comunidade e a especificidades dos processos
de produção e de promoção do desenvolvimento rural no âmbito da reforma agrária e da agricultura
familiar. (ESMERALDO, 2009)

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Etapa I: A fase preparatória

Primeiramente aconteceram orientações por meio de reuniões com os professores,


coordenadores e alunos no campus III da Universidade Federal da Paraíba. Esta reunião teve a
finalidade de aprimorar as técnicas e desenvolvimento dos métodos de coleta e observação da
realidade que iriam ser vivenciadas pelos estudantes. A realização das atividades iniciava a partir de
um dia de campo, e teria o enfoque no desenvolvimento de práticas voltadas para sustentabilidade
da família.
Nessa oportunidade foram feitas discussões de alguns temas abordados, como por exemplo,
a importância da agricultura familiar, a agroecologia, métodos de produção e comercialização,
farmácia viva, trabalho das mulheres, entre outros. Foram realizadas também atividades para buscar
meios de convivência que não pudessem atrapalhar a rotina normal da família, facilitando o
acolhimento pelos agricultores. De início os estagiários foram divididos de forma que se
deslocassem para cada comunidade familiar onde aconteceria a Residência Agrária.
A residência agrária é de grande importância na vida acadêmica do profissional de Ciências
agroecologia, pois possibilita o contato com a as práticas realizadas cotidianamente na vivência das
famílias dos agricultores. (JESUS, 2011).

Etapa II: Vivência I na comunidade

Figura 1: Vivência e visita a comunidade, em Solânea, PB, 2013.

Etapa II – Vivência I, com duração de 1 dia, em que os estagiários permaneceram nas comunidades
com o objetivo principal de conhecer e interagir com as pessoas, estreitando o relacionamento
estagiário-comunidade. Os integrantes ficaram alojados nas residências dos agricultores assentados,
destinados aos estagiários; Nesta fase aconteceram trocas de saberes e experiências entre os
agricultores e os estagiários destinados a conhecer a propriedade.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Etapa III: A fase intermediária

Figura 2: Primeira visita farmácia viva de Solânea- PB pedra grande antecedendo a residência agrária.

Essa experiência tem grande importância, tanto para Agricultura Familiar, valorização de
trabalho com plantas medicinais, quanto para a formação profissional. Os estudantes em formação
profissional na área de agroecologia têm a possibilidade de participar de uma vivência inédita em
suas vidas dentro da unidade de produção familiar, acolhimento como membro da família
acompanhando o desenvolvimento das técnicas de plantio relacionadas para a produção de
subsistência de alimentos, conhecimento da farmácia viva e sobre as ervas medicamentos, preparo
de medicamentos, procedimentos básicos de manejo com animais pequenos ruminantes como
bovinos e aves animais rusticamente adaptados à convivência com o homem do campo no
semiárido paraibano.
Os profissionais que se submetem a essa vivência tornando-se uma experiência importante
que serve não só para um aperfeiçoamento profissional, mas contribui significativamente para a
formação humana do profissional, compreendendo os valores da vida, realidade e prática,
destacando o modo de produção agroecológica com suas formas e técnicas e seu vasto
conhecimento popular, esses jovens tiveram a oportunidade de conhecer diversidade de plantas
medicinais, como é seu cultivo, identificação das ervas.
Para Guzmán Casado et al (2000 p.81)

A prática agroecológica tem contribuído na constituição do corpus teórico e metodológico


sendo definida como aplicação dos princípios e conceitos da ecologia no manejo e desenho
de agroecossistemas mais sustentáveis. Isso defende uma nova ―revolução modernizadora‖.
Este processo tem como linha de pesquisa: " conhecimento local, incorporando o saber
popular e buscando integrá-lo com o conhecimento científico, para dar lugar à construção e
expansão de novos saberes socioambientais, com resultado no processo de transição
agroecológica.

Assim como os saberes populares em saúde. Devemos buscar sempre aprender e sempre
ensinar mais. Muitos problemas de saúde podem ser prevenidos e tratados em casa pelas pessoas,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

quando essas recebem instruções simples e claras. Então, se queremos ver nossa comunidade
saudável, não devemos guardar segredos sobre o que aprendemos, mas sim pensar em maneiras de
divulgar as informações. A comunidade poderá assim participar ativamente da construção de sua
própria e duradoura saúde. A palavra ―higiene‖, de origem grega, significa ―arte de viver‖. Ela
significa que devemos combater não apenas a enfermidade (sintomas, mal-estar, resposta de defesa
do corpo), mas sim as causas (os maus tratos que causamos a nós mesmos, a forma de vida
inadequada). O tratamento dos sintomas é apenas uma forma de continuar maltratando nossos
corpos, que já estão cansados. O ato de cuidar vai além de preparar e oferecer medicamentos.
Primeiramente, o cuidado deve acontecer independentemente da presença de doenças. Tendo um
Setor de Saúde cada vez mais forte e organizado, nossa comunidade deve ter cada vez menos
doenças, que é bem diferente de ter cada vez mais medicamentos. Além disso, as pessoas doentes
necessitam mais de atenção, carinho e compreensão do que de medicamentos. Não adianta fazermos
um chá para o doente e depois nem voltarmos para saber se fez ou não fez efeito. Então precisamos
acompanhar todo o tratamento, até a cura.
O trabalho com farmácia viva, tem um papel importante na comunidade para atender
pessoas da própria comunidade e de outras cidades, assim Dona Isabel por meio de sua experiência
de agricultora experimentadora leva para mulheres ervas e medicamentos para tratamentos do corpo
e do espírito.

Etapa IV: Vivência II

A fase de convivência com os agricultores foi realizada entre o período de 15 dias


(setembro/outubro de 2013), na qual foram realizadas as observações pertinentes para a pesquisa.
As informações sobre a propriedade e cultivo foram coletadas através de questionários aplicados
junto à família acolhedora, através da observação pode-se conhecer seus métodos e ao mesmo
tempo em que trocamos costumes sem interferir na realidade de cada família. Esta experiência
proporcionou um conflito de realidades por perceber práticas de agricultura sustentáveis.
As informações foram obtidas através do diálogo e foi realizado um diagnóstico com o
propósito de desenvolver estudos para o entendimento de como acontece a organização e estrutural
da família. O acompanhamento das atividades foi realizado através da vivência em Pedra Grande,
na propriedade de ―Seu José‖ que exercia atividade na roça com cultivos, acompanhado de sua
esposa e seus três filhos, todos agricultores familiares. A esposa de ―Seu‖ José a ―Dona‖ Isabel
agricultora, trabalha nos arredores de casa, com a Farmácia viva, em sua propriedade encontra-se
uma diversidade de ervas que de acordo com relatos da mesma tem mais de 300 espécies, sua
paixão e conhecimento popular, veio por meio de encontros das mulheres no sindicato e
participação na (ONGIFA), trabalho com as freiras e padres aprendendo conhecimentos e trocas de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

experiências com outras mulheres que trabalham com fitoterápicos. Sempre na luta pelo o
empoderamento da mulher, ―Dona‖ Isabel sofria com a cobrança e não aceitação do parceiro com
seu emprego de ―agente de cura‖, com sua tripla jornada, ela mulher guerreira acordava cedo para
cuidar da casa, cultivo, reuniões no sindicato, programa de rádio, onde tratava a saúde da mulher,
trabalhos de preparos com medicamentos e presença na igreja. Assim tentei acompanhar sua rotina
e luta. Conhecida como ―doutora‖ está sempre pronta para auxiliar a comunidade.

Figura 3: Entrega dos certificados da residência agrária na sala da UFPB Campus III Bananeiras- PB

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa experiência proporcionou grande importância, tanto para Agricultura Familiar, quanto
para a formação profissional dos estudantes que participaram do projeto de Residência Agrária.
Nesse projeto baseado na pedagogia da alternância os estudantes em formação profissional na área
de ciências agrárias têm a possibilidade de participar de uma vivência inédita em suas vidas dentro
da unidade de produção familiar, acompanhando o desenvolvimento das técnicas de plantio
relacionadas para a produção de subsistência de alimentos e trabalho com farmácia viva, também
técnicas e procedimentos com medicamentos naturais e caseiros com ervas, mostrando que mesmo
com os avanços dos medicamentos sintéticos, os medicamentos fitoterápicos seu espaço na
comunidade.
Destacando o modo de produção do agricultor familiar com suas formas e técnicas e seu
vasto conhecimento empírico, esses jovens tiveram a oportunidade te vivenciar o cultivo,
procedimentos de tratos culturais, colheita, beneficiamento e até a comercialização dos produtos
oriundos da produção.
Este programa representa uma proposta inovadora de formação profissional nos cursos
agrários, na medida em que se consegue atrelar a teoria à prática, o saber profissional ao saber
popular.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

A experiência possibilitou o fortalecimento da relação com os agricultores entre estagiário e


comunidade. Permitiu aprofundar e ampliar a visão crítica frente à realidade social em que vivem os
agricultores familiares, o conhecimentos popular, a identificação de ervas e preparo de
medicamentos caseiros. Possibilitou amadurecimento profissional no trato com os agricultores e
outros parceiros, fortalecimento de convicções políticas democráticas e de grande responsabilidade
social. Assumindo uma postura dialógica entre os diferentes atores sociais, acenando para uma
maior equidade das forças sociais atuantes no processo de tomada de decisão, o que pode levar a um
amadurecimento das relações democráticas. Aprendizagem de novas formas de manejo dos recursos
naturais que possam levar a um maior equilíbrio ecológico e produtivo.

REFERÊNCIA

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Educação do Campo e Movimentos Sociais. Bananeiras: Editora Universitária – UFPB, 2011.

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Pesquisa, São Paulo, v.34, n.2, p. 227-242, maio/ago. 2008

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1380


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DESENVOLVIMENTO E ACEITAÇÃO SENSORIAL DE DOCE DE XIQUE-XIQUE


(Pilosocereus gounellei)

Maria Evanira Araújo Silva ZACARIAS


Graduanda do curso em Tecnólogo em Agroecologia do IFRN
araujoeva320@ymail.com
Maria Eliane Araújo Silva OTACIANO
Técnica em Meio Ambiente - IFRN
mariaotaciano@gmail.com
Ítala Iara Medeiros de ARAÚJO
Professora EBTT Zootecnia do IFBaiano
itala.araujo@ifbaiano.edu.br

RESUMO
Objetivou-se com esta pesquisa avaliar o rendimento da polpa, verificar a aceitação sensorial e
também a intenção de compra das diferentes amostras de doce de Xique-xique. Para avaliar o
rendimento, pesou-se um quilo de massa crua e feita a comparação após o seu cozimento,
repetindo-se três vezes para obtenção do rendimento médio. Para a análise sensorial foram
elaboradas quatro amostras distintas: amostra 1 (doce puro de xique-xique), amostra 2 (doce de
Xique-xique com erva-doce), amostra 3 (doce de Xique-xique com calda de maracujá) e amostra 4
(doce de Xique-xique com calda de caju). Após as amostras prontas, foram aplicados testes de
aceitação sensorial com noventa avaliadores não treinados no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia – campus Ipanguaçu, utilizando-se escala hedônica, estruturada de 9 pontos,
realizando também a pesquisa de intenção de compra caso o produto estivesse no mercado. Para o
rendimento do doce de Xique-xique, em um quilo de massa crua obteve-se 434 g após o cozimento.
Quanto à aceitação global, a amostra 4 foi a mais bem aceita dentre as avaliadas, visto que 26,7%
dos avaliadores gostaram muito, enquanto que as 1, 2 e 3 foram avaliadas como ―Gostei
ligeiramente‖ (23,3%), ―gostei regularmente (21,1%) e ―gostei ligeiramente (22,2%),
respectivamente. Com relação à intenção de compra a amostra 1 apresentou maior intenção de
compra entre os avaliadores, visto que 26,7% dos avaliadores certamente compraria o produto.
Conclui-se que dentre as amostras avaliadas, a amostra 1 (doce de Xique-xique com calda de caju)
obteve uma boa aceitabilidade sensorial.
Palavras-chave: Cactácea, Pilosocereus gounellei, Rendimento.
ABSTRACT
The objective of this research was to evaluate the yield of pulp, check the sensory acceptance and
also the intention to purchase the different samples of sweet Xique-xique. To evaluate the
performance, weighed a kilo of raw dough and made the comparison after its cooking, repeating
three times to obtain the average income. For the sensory analysis were prepared four different
samples: Sample 1 (sweet pure xique-xique), sample 2 (sweet Xique-xique with fennel), sample 3
(sweet Xique-xique with passion fruit syrup) and sample 4 (sweet Xique-xique with cashew sauce).
After the ready samples, sensory acceptance tests were applied ninety evaluators not trained at the
Federal Institute of Education, Science and Technology - campus Ipanguaçu, using hedonic scale,
structured in 9 points, also making buying intention survey if product was in the market. For the
yield of sweet Xique-xique in a kilo of raw dough yielded 434 g after cooking. As for global
acceptance, the sample 4 was better accepted among the evaluated since 26.7% of the evaluators
loved, while 1, 2 and 3 were evaluated as "somewhat liked" (23,3%), "I liked it regularly (21.1%)

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and" like slightly (22.2%), respectively. Regarding intention to purchase the sample 1 showed
higher purchase intent among raters, since 26.7% of the evaluators certainly buy the product. It is
concluded that among the evaluated samples, sample 1 (sweet Xique-xique with cashew sauce)
obtained a good sensory acceptability.
Keywords: Cactaceae, Pilosocereus gounellei, Performance.

INTRODUÇÃO
Segundo Rocha e Agra (2002), as plantas cactáceas possuem um papel importante na
economia rural do Nordeste do Brasil, quanto ao seu valor forrageiro. Algumas espécies servem
como alimentação para bovinos, caprinos e ovinos, principalmente na época de estiagem.
Além de serem aproveitadas na pecuária nordestina, as cactáceas servem como fonte
alternativa na alimentação humana, mesmo tendo apresentado ainda pouco espaço (MOURA FÉ et
al., 2013)
De acordo com Barbosa (1998), o Xique-xique (Pilosocereus gounellei) é uma espécie
endêmica do semiárido brasileiro, podendo ser encontrada desde o Maranhão até a Bahia, com
ampla distribuição na caatinga, adaptando-se à solos areno-pedregosos e afloramentos rochosos, em
altitudes de até 800 m, sobre rochas graníticas. É uma cactácea de tronco ereto, com galhos laterais
afastados e descrevendo suavemente uma curva ampla em direção ao solo, armado de espinhos
fortes, de coloração verde-opaca; possui flores tubulosas, noturnas, grandes e brancas, com antese
às dezessete horas; frutos do tipo baga, arredondados, achatados em ambos os pólos, avermelhados,
com polpa purpúrea e pequenas sementes prestas e luzidias; frutifica de março a outubro.
A polpa do Xique-xique vem sendo utilizada por populações rurais na elaboração de
biscoitos, bolos e doces, sem, no entanto, terem conhecimento das suas características físico-
químicas. Esta polpa tem uma consistência que lembra o mamão verde, quando seca e transformada
em pó apresenta aroma agradável e delicado, podendo ser incorporada ao trigo para a elaboração de
produtos de panificação. Por ser uma planta excepcionalmente adaptada às condições do semiárido
nordestino, merece ser objeto de trabalhos que estimulem seu aproveitamento como fonte de
alimento e renda, visto que pode ser produzida em escala, aproveitando a vantagem comparativa
que advém de sua adaptação ao clima e solo (ALMEIDA et al., 2007).
Neste trabalho objetivou-se avaliar o rendimento da polpa, verificar a aceitação sensorial e
também a intenção de compra das diferentes amostras de doce de Xique-xique.

METODOLOGIA
A matéria-prima utilizada para a elaboração do doce de Xique-xique foi coletada no
município de Itajá – RN.

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Além da elaboração do doce, também foi avaliado o seu rendimento. Para isto, pesou-se um
quilo de massa crua (polpa do Xique-xique após retirada da casca) e foi feita a comparação após o
seu cozimento, repetindo-se três vezes para obtenção do rendimento médio.
Para a análise sensorial foram elaboradas quatro amostras distintas: amostra 1 (doce puro de
xique-xique), amostra 2 (doce de Xique-xique com erva-doce), amostra 3 (doce de Xique-xique
com calda de maracujá) e amostra 4 (doce de Xique-xique com calda de caju).
Para a obtenção do doce de Xique-xique (puro), utilizou-se 434g de Xique-xique e 283 g de
açúcar. Deve-se cozinhar o talo em panela de pressão, após 5 minutos de cozimento, retirar a casca
do talo e em seguida passar no liquidificador para fazer a massa. Depois deve-se colocar a massa
obtida numa panela, adicionar o açúcar e deixar cozinhar até dar o ponto (o ponto da quando o doce
fica grosso). Assim obteve-se a amostra 1. Para a obtenção da amostra 2, foi adicionada a erva-doce
à gosto durante o cozimento da massa pronta. Para a elaboração das amostras 3 e 4, utilizou-se o
doce de xique-xique acrescentando apenas a calda de maracujá e a calda de caju na respectiva
amostra.
Após as amostras prontas, foram aplicados testes de aceitação sensorial com noventa
avaliadores não treinados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – campus
Ipanguaçu, onde foram analisados os parâmetros de aceitação global, cor, odor, textura e sabor,
utilizando-se escala hedônica (PERYAM e PILGRIM, 1957), estruturada de 9 pontos, onde 9
representava a nota máxima ―gostei muitíssimo‖, 5 representava ―Indiferente‖ e 1 a nota mínima
―desgostei muitíssimo‖, realizando também a pesquisa de intenção de compra caso o produto
estivesse no mercado, conforme a Figura 1.

Figura 1 - Ficha modelo disponibilizada no teste sensorial das diferentes amostras de doce de Xique-xique.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o rendimento do doce de Xique-xique, em um quilo de massa crua obteve-se 434 g


após o cozimento (Figura 2).

Figura 2 - Massa pronta do doce de Xique-xique após o cozimento.

Quanto ao perfil dos avaliadores, 91,1% eram estudantes e 8,9%, servidores. A maior parte
era do sexo feminino (62,2%) e com idade entre 16-20 anos (76,7%) (Gráfico 1).

Percentual

76,7

10 7,8

16-20 anos 21-25 anos 26-30 anos

Gráfico 1 - Idade dos avaliadores.

Outros 5,6% corresponderam a duas pessoas com idade entre 31 e 35 anos (2,2%), uma
pessoa com idade entre 36 e 40 anos (1,1%) e duas com idade acima de 40 anos (2,2%). Não
participaram desta pesquisa pessoas com menos de 16 anos.
Quanto à aprovação do produto, para as duas primeiras amostras, os avaliadores se disseram
indiferentes quanto ao parâmetro cor do produto, 25,6% e 23,3%, respectivamente, sendo as
amostras 3 e 4 as mais aceitas (24,4%) por obterem ―gostei ligeiramente‖.

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Quanto ao odor, as amostras mais bem aceitas foram as amostras 2 e 4, com o mesmo
percentual (20%), sendo que para a primeira obteve-se como resposta um ―gostei ligeiramente‖ e a
segunda, ―gostei regularmente‖. Enquanto que as amostras 1 e 3, com o mesmo percentual (18,9%),
os avaliadores mostraram-se indiferentes.
Para o parâmetro sabor, a maior preferência foi para a amostra 4, em que 23,3% dos
avaliadores gostaram muito. As outras três amostras, 1, 2 e 3, foram bem avaliadas, visto que
15,6%, 25,6% e 23,3% dos avaliadores gostaram ligeiramente, regularmente e ligeiramente,
respectivamente.
Para a textura, a amostra 2 teve o maior percentual de aceitação, onde 24,4% dos avaliadores
gostaram muito, semelhante às amostras 3 e 4, sendo estas com um percentual menor, 20% e
22,2%, respectivamente. Enquanto que amostra 1 foi avaliada com percentual de 22,2%, como
―indiferente‖.
Por fim, quanto à aceitação global, a amostra 4 foi a mais bem aceita dentre as avaliadas,
visto que 26,7% dos avaliadores gostaram muito, enquanto que as 1, 2 e 3 foram avaliadas como
―Gostei ligeiramente‖ (23,3%), ―gostei regularmente (21,1%) e ―gostei ligeiramente
(22,2%), respectivamente.
Com relação à intenção de compra a amostra 1 apresentou maior intenção de compra entre
os avaliadores, visto que 26,7% dos avaliadores certamente compraria o produto (Gráfico 2).

Percentuais

26,7

25,6 25,6

24,4

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 (talvez Amostra 4


(certamente (provavelmente comprasse, talvez (provavelmente
compraria) compraria) não comprasse) não compraria)

Gráfico 2 - Resultado da intenção de compra.

CONCLUSÃO

Conclui-se que dentre as quatro amostras avaliadas nesta pesquisa, a amostra 1 (doce de
Xique-xique com calda de caju) obteve uma boa aceitabilidade sensorial, contudo quanto à intenção
de compra, obteve o pior resultado – provavelmente não seria comprado.

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Logo, são necessárias outras pesquisas para se avaliar a inclusão de ingredientes na receita
para melhorar a palatabilidade do doce para que possa ser comercializado, tornando-se uma nova
alternativa para o café da manhã ou lanche dos consumidores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, C. A.; FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M.; OLIVEIRA, F. M. N.
Características físicas e químicas da polpa de xiquexique. Rev. Ciên. Agron., Fortaleza, v.38, n.4,
p.440-443, Out.- Dez., 2007.

BARBOSA, H. P. Tabela de composição de alimentos do Estado da Paraíba: setor agropecuário. 2.


ed. João Pessoa: UFPB, 1998. 221p.

MOURA FÉ, C. R.; BORGES, G. R. S.; SOUSA, P. S. S.; CARMO, M. D. S. Uso das cactáceas na
alimentação animal e humana no Brasil e no mundo. In: II EITEC: Ciências e Inovação:
Tecnologias Sustentáveis Para Preservação do Meio Ambiente. 2013. Picos. Anais... Picos:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, 2013. P.79-81.

ROCHA, E. A.; AGRA, M. F. Flora do pico do Jabre, Paraíba, Brasil: Cactaceae juss. Acta
Botanica Brasilica, v. 16, n. 1, p. 15-21, 2002.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EFEITO DE DIFERENTES SUBSTRATOS ORGÂNICOS NO DESEMPENHO INICIAL


DE MUDAS DE TOMATE CEREJA

Mariângela Gomes PEREIRA


Graduando do Curso de Engenharia Agronômica da UFAL
mariangela14gomes@gmail.com
Jackson da SILVA
Orientador. Mestrando em Agronomia-Agricultura UNESP
jackson.silva.batalha@gmail.com
Jadson dos Santos TEIXEIRA
Mestrando em Fitotecnia UFV
jadsonteixeira@gmail.com
Moisés Tiodoso da SILVA
Mestrando em Produção Vegetal UFAL
moises.tiodoso@hotmail.com

RESUMO
A demanda desse tipo de tomate vem aumentando devido à grande aceitação dos consumidores, no
entanto existem entraves que dificulta o acesso da população a esse alimento, entre eles estão o alto
custo de produção e o sistema de cultivo convencional, o qual pode haver uso indiscriminado de
agrotóxicos, nessa situação os produtos podem apresentar qualidade e sabor inferiores, além de
aumentar os riscos ambientais e a saúde humana, contudo existe como alternativa a substituição de
substratos comerciais por substratos orgânicos. Assim, objetivou-se com o presente trabalho avaliar
o efeito de diferentes substratos orgânicos no desepenho inicial de mudas de tomate cereja. O
experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, onde foram avaliados cinco
tratamentos (T1: Bioplant (testemunha); T2: Húmus de minhoca; T3: Solo; T4: 50% Solo + 50%
Húmus de minhoca; T5: 75% Solo + 25% Húmus de minhoca) em quatro repetições, onde a parcela
útil cosistiu de 40 mudas da cultivar Carolina. Aos 14 dias após a semeadura as mudas foram
coletadas e avaliadas, onde não notou-se efeito significativo dos substratos em relação a maioria dos
caracteres avaliados, tendo em vista que os substratos alternativos tiveram desempenhos
semelhantes e até superiores ao substrato comercial. O experimento comprovou a capacidade de
produção dos substratos orgânicos frente aos substratos comerciais.
Palavras-chaves: produção, mudas, qualidade, desenvolvimento inicial, sistema sustentável.
ABSTRACT
The demand for this type of tomato has been increasing due to the great acceptance of consumers,
however there are obstacles that make it difficult for the population to access this food, among them
are the high cost of production and the conventional farming system, which can be indiscriminate
use Of agrochemicals, in this situation the products can present lower quality and taste, besides
increasing the environmental risks and the human health, however there is as an alternative the
substitution of commercial substrates by organic substrates. Thus, the objective of this study was to
evaluate the effect of different organic substrates in the initial elimination of cherry tomatoes. The
experiment was conducted in a completely randomized design, where five treatments (T1: Bioplant
(control), T2: worm humus, T3: soil, T4: 50% soil + 50% worm humus, T5: 75% soil + 25% worm
humus) in four replications, where the useful part consisted of 40 seedlings of the Carolina cultivar.
At 14 days after sowing the seedlings were collected and evaluated, where no significant effect of

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the substrates was observed in relation to the majority of the evaluated traits, where the alternative
substrates had similar and even superior performances to the commercial substratum. The
experiment proved the production capacity of the organic substrates against the commercial
substrates.
Keywords: production, seedlings, quality, initial development, sustainable system.

INTRODUÇÃO

O tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) é uma das hortaliças mais importante no mundo,
devido ao fato de ela fazer parte da alimentação da maioria dos povos (FERRARI et al., 2008). Em
especial aos tomates do grupo cereja, onde atualmente estão sendo muitos utilizados na culinária,
pelo seu excelente sabor, aparência, além do elevado teor de licopeno. A popularização desse tipo
de tomate vem aumentando devido à grande aceitação dos consumidores, além do aumento do
interesse dos agricultores, condicionado aos maiores valores de venda desse produto (TRANI et al.,
2003).
Entretanto, um dos entraves no cultivo do tomate cereja é o elevado custo da lavoura em
sistema convencional, isso se deve principalmente, pelo fato indiscriminado de agrotóxicos, nesse
contesto, os produtos podem obter um produto de qualidade e sabor inferiores, além de aumentar os
riscos ambientais e principalmente riscos a saúde humana (TILMAN et al., 2001). Assim, a adoção
do sistema orgânico pode acarretar em um produto livre de resíduos de agrotóxicos, o qual
apresentará qualidade superior, com isso, obtendo um produto de maior valor agregado.
A procura por produtos orgânicos vem crescendo no Brasil e no mundo a uma taxa de até
50% ao ano, de olho nesse público alvo os agricultores vêm aumentando a área de cultivo nesse
sistema de manejo (SANTOS et al., 2001). Desse modo, o sistema orgânico é uma maneira de
aumentar o valor do produto e ingressar em um mercado cuja oferta é muito inferior à demanda na
maior parte do Brasil, além de objetivar a sustentabilidade econômica, ecológica e agregada aos
benefícios sociais (MARTINS et al., 2006; SOLINO et al., 2010).
Contudo, esse sistema ainda apresenta valor do produto final elevado, onde pode-se ter
como alternativa de barateamento a substituição de substratos comerciais por substratos orgânicos
alternativos. Contudo, o material alternativo utilizado deve apresentar no mínimo a mesma
qualidade que os substratos comerciais para haver essa substituição, onde essa qualidade do
substrato lastreia-se nas suas características físicas e químicas. Segundo Lin et al. (1996), o
substrato tem como papel a substituição do solo, o qual fornece a planta nutrientes, água e oxigênio,
dando condições para uma boa formação do sistema radicular das mudas, além de dar sustentação,
podendo ser de diversas origens, tal como animal, vegetal, mineral e artificial (Mendonça et al.,
2002).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Já para SILVA et al. (2001), é necessário que os substratos tenham disponibilidade de


aquisição e transporte, ausência de patógenos, quantidades adequadas de nutriente, pH, textura e
estrutura. Vale ressaltar que o substrato utilizado não deve provocar qualquer tipo de impacto
ambiental negativo relevante.
Diante do exposto, objetivou-se com o presente trabalho avaliar o desepenho na fase inicial
de tomate cereja submetido a diferentes substratos orgânicos.

MATÉRIAIS E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Centro de Ciências Agrárias da


Universidade Federal de Alagoas (CECA/UFAL), localizada no município de Rio Largo-AL, o qual
está situado à latitude de 9°27‘S e longitude de 35°27‘W. Segundo a classificação de Köppen, o
clima do município é do tipo As, clima tropical chuvoso com verão seco, a uma altitude média de
100 a 200 m acima do nível do mar, com temperatura e pluviosidade médias anuais entre 24 a 26 °C
e 1300 a 1600 mm, respectivamente (ALVARES et al., 2014).
O presente trabalho se deu entre fevereiro a março de 2016, período esse em que foi
registrado as temperaturas máximas de 31,6 e 37,2ºC e mínimas de 20,1 e 21,2ºC nos meses de
fevereiro e março, respectivamente, segundo a Estação Agrometeorológica do CECA/UFAL.
Os tratamentos avaliados consistiram de cinco substratos: T1: Bioplant (testemunha); T2:
Húmus de minhoca; T3: Solo; T4: 50% Solo + 50% Húmus de minhoca; T5: 75% Solo + 25%
Húmus de minhoca. Tendo seus efeitos mensurados em tomate do grupo cereja, de cultivar
Carolina.
O delineamento adotado foi o inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro
repetições. A semeadura ocorreu em 27 de fevereiro de 2016, em bandejas de 98 células, onde a
parcela experimental consistiu nas 98 mudas das células, sendo a área útil as 40 mudas centrais da
bandeja. Antes do semeio as células das bandejas eram preenchidas com os tratamentos e feito um
espaço de 1 cm de profundidade para depositar a semente, cada semente em uma célula, em seguida
o espaço aberto era fechado com o mesmo tratamento.
As mudas eram irrigadas uma vez por dia até completarem 14 dias, onde na ocasião foram
avaliados os seguintes caracteres: Altura da Planta (AP), em cm; Diâmetro do Colo (DC), em mm;
Comprimento de Raiz (CR), em cm; Número de Folhas (NF), em unidade.
As análises de variância da presente pesquisa foram realizada de acordo com as
recomendações de Ferreira (2000) e, complementada com teste de média, onde utilizou-se o teste de
Tukey, no nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o aplicativo computacional AgroEstat
(BARBOSA & MALDONADO JUNIOR, 2015).

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Houve diferença significativa a 5% de probabilidade pelo teste F (Tabela 1) entre os


substratos apenas para o CR. Os coeficientes de variação para as variáveis ficaram entre 7,99 a
15,10%, sendo portanto, considerados de ótima e boa precisão experimental, respectivamente
(Ferreira, 2000).

Tabela 1. Resumo da análise de variância e comparação de médias para altura de plantas (AP),
diâmetro do colo (DC), comprimento de raiz (CR) e número de folhas (NF) em mudas de tomate do
grupo cereja cultivadas em bandejas com diferentes substratos orgânicos. Rio Largo-AL, UFAL,
2016.
Substratos1 AP (cm) DC (mm) CR (cm) NF (uni.)
T1 6,73 a2 1,86 a 10,10 a 9,20 a
T2 5,67 a 1,75 a 5,59 c 7,47 a
T3 5,12 a 1,71 a 8,69 ab 6,82 a
T4 6,14 a 1,94 a 6,52 bc 7,97 a
T5 6,58 a 1,97 a 8,34 ab 8,25 a
QM 1,74 ns 0,05 ns 12,86 ** 3,14 ns
CV (%) 13,24 7,99 15,10 13,34
ns e ** não significativo a 5% e significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
1/
T1: Bioplant; T2: Húmus de minhoca; T3: Solo; T4: 50% Solo + 50% Húmus de
minhoca; T5: 75% Solo + 25% Húmus de minhoca.
2/
Médias com mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Para a variável AP, todos os substratos tiveram comportamentos semelhantes, o que é um


excelente resultado, pois os substratos orgânicos não diferiram do comercial. Esse comportamento
dos substratos pode estar relacionado com a quantidade de materia orgânica presente nesse materal,
onde vários autores atribuem a ela a qualidade final da muda (Araujo Neto et al., 2009; Costa et al.,
2010). A maioria dos substratos tiveram maiores AP quando compadados aos substratos estudados
por Rodrigues et al., 2010, cujo valor foi de 5,61 cm, demostrando a qualidade dos substratos
orgânicos.
Os substratos não influenciaram o resultado de DC, para corroborar com isso, em estudo
realizado por Araújo et al. (2011), quando utilizaram fertilizantes orgânicos no cultivo do tomate da
variedade cereja, não foi observado efeito significativo entre os substratos para essa característica.
Contudo a maioria dos substratos apresentaram valores superiores aos observados por Costa et al.
(2015), onde avaliando-se o efeiro de diferentes tipos de substratos obteve para o melhor tratamento
o valor de 1,76 mm.

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O comprimento da raiz é uma variavel de grande importância, uma vez, que o desepenho da
planta esta relacionada diretamente com o seu comprimento. Plantas com sistemas radiculares mais
desenvolvidos têm maior capacidade de exploração do substrato e isso reflete em seu depenho.
Os substratos T1, T3 e T5 apresentaram os melhores resultados para a variável CR, tendo
destaque para os substratos orgânicos T3 e T5, que tiveram resultados semelhantes ao substrato
comercial (T1), indicando a viável substituição por substratos de fontes orgânicas, falicitando com
isso, o pegamento das mudas no transplantio e, apontando que os substratos apresentam baixa
resistência a penetração das raízes, mantendo a turgencência das células, ocasionando em mudas
mais vigorosas (Costa et al., 2012; Sampaio et al., 2008).
Quanto ao número de folhas das plantas (NF), notou-se não haver diferença estatistica entre
os substratos, percenbendo-se com isso a qualidade dos substratos orgânicos, haja visto que
apresentaram resultados semelhantes ao substrato comercial. Essa caracteristica pode se refletir na
produtividade final, pois segundo Rocha (2009), a folha é o principal órgão armazenador de matéria
seca na cultura do tomateiro.

CONCLUSÕES

Existe substratos alternativos que podem substituir o comercial, sendo os substratos T3 e T5


os recomendados. Com essa substituição não haveria perda da qualidade e do vigor da muda de
tomate cereja, o que acarretará num menor custo de produção, aumentando com isso o acesso das
pessoas a este produto tão apreciado, como também a não utilização de produtos químicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARBOSA, J. C.; MALDONADO JÚNIOR, W. Experimentação agronômica & AgroEstat:


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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1393


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

EFEITO DA NUTRIÇÃO MINERAL NA FLORAÇÃO DO ABACAXIZEIRO CV.


VITÓRIA CULTIVADO SOB DUAS COBERTURAS DE SOLO

Rafael Santiago da COSTA


Graduando em agronomia da UNILAB
rafaelsantiagodacosta@yahoo.com.br
Francisco Evair de Oliveira LIMA
Graduando em agronomia da UNILAB
evairoliveiralima@hotmail.com
Aiala Vieira AMORIM
Professora Doutora do Instituto de Desenvolvimento Rural da UNILAB
aialaamorim@unilab.edu.br
Claudivan Feitosa de LACERDA
Professor Doutor do Departamento de Engenharia Agrícola da UFC
claudivan_@hotmail.com

RESUMO
Objetivou-se no presente trabalho, avaliar os efeitos da adubação no solo e foliar com
micronutrientes na percentagem de indução floral de abacaxi cv. Vitória produzido no Perímetro
Irrigado Baixo Acaraú. Para isso, foram conduzidos, em campo dois experimentos: um em solo
coberto com bagana de carnaúba e outro com plástico preto de polietileno. O delineamento
estatístico empregado foi o de blocos casualizados com parcelas subsubdivididas, com quatro doses
de FTE-12 (parcelas), quatro níveis de adubação foliar (subparcelas), cinco épocas de coleta a cada
noventa dias (subsubparcelas) e cinco repetições. Aos 15 meses após o transplantio (MAT)
determinou-se a percentagem de inflorescência. A percentagem de inflorescência nos dois
experimentos foi influenciada pela aplicação de micronutrientes. A forma de adubação foliar com
micronutrientes no abacaxizeiro Vitória se mostrou efetiva para aumento da porcentagem de
inflorescência das plantas, tanto para o cultivo com cobertura plástica, quanto o de bagana de
carnaúba. O fornecimento de micronutrientes por via foliar é indicado para aumento da
inflorescência do abacaxizeiro Vitória para ambas coberturas.
Palavras-chave: Micronutrientes. Inflorescência. Sólidos solúveis. Acidez.
ABSTRACT
The objective of this work was to evaluate the effects of fertilization on the soil and leaf with
micronutrients on the percentage of floral induction of pineapple cv. Victory produced in the
Acaraú Low Irrigated Perimeter. To this, they were conducted two experiments in the field: one on
the ground covered with carnauba straw and the other with black plastic polyethylene. The
statistical design employed was a randomized block with sub-subdivided plots, with four doses of
FTE-12 (plots), four levels of leaf fertilization (subplots), five collection periods every ninety days
(subsubparcels) and five replications. At 15 months after transplanting (MAT) the percentage of
inflorescence was determined. The percentage of inflorescence in both experiments was influenced
by the application of micronutrients. The form of foliar fertilization with micronutrients in Vitoria
pineapple proved effective for increasing the percentage of inflorescence of plants, both for the
plastic cover crop and the carnauba bagana crop. The supply of micronutrients by foliar route is
indicated to increase the inflorescence of Vitória pineapple for both coverages.
Keywords: Micronutrients. Inflorescence. Soluble solids. Acidity.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1394


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos maiores produtores de fruta do mundo, e tem a maior parte de sua
produção destinada ao mercado interno, e apenas uma pequena parte é destinada ao mercado
externo (FAO, 2015). Dentre as principais frutas comercializadas, destaca-se o abacaxi (Ananas
comosus), uma monocotiledônea da família Bromeliaceae, que ocupa lugar de destaque no cenário
mundial. Os principais produtores mundiais dessa frutífera em 2009 foram: Filipinas, Tailândia,
Costa Rica, Indonésia e Brasil (FAO, 2010). Segundo dados do IBGE (2016), no Brasil a região
Nordeste é considerada a maior produtora dessa fruta, contribuindo com 32,7% da produção
nacional, numa área plantada de 22.142 ha.
Entre os anos de 2003 e 2008 o Ceará registrou crescimentos contínuos na produção,
entretanto, durante os anos de 2009 e 2010, houve uma reversão desse quadro, e a contribuição
cearense na produção brasileira dessa frutífera teve uma redução considerável (AGRIANUAL,
2011). Essa redução foi reflexo principalmente do difícil controle de doenças no campo e
consequente aumento dos custos de produção. As exigências dos consumidores e a procura de
frutos de boa qualidade e livres de doenças vêm aumentando cada vez mais, o que faz com que
algumas variedades resistentes se tornem mais viáveis para o produtor.
Um bom exemplo é a cultivar Vitória, um hibrído resistente à fusariose, desenvolvido pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical (Cruz das Almas - BA), em parceria com o Instituto
Capixaba de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), a partir de cruzamentos
entre as cultivares Primavera e Smooth Cayenne. Por ser resistente à fusariose, o abacaxi Vitória
não necessita da aplicação de fungicidas para o controle da doença, possibilitando a redução nos
custos de produção por hectare (ZAMPERLINI, 2010), logo essa variedade tornasse uma opção
viável para os produtores que mantém a cultura em regiões com focos da doença.
Um dos principais fatores determinantes de melhorias no desenvolvimento metabólico, na
produtividade e qualidade dos frutos é a nutrição mineral. Em geral, pouco se conhece sobre o
efeito da adubação com micronutrientes nas culturas tropicais (QUAGGIO; PIZZA JUNIOR,
2001). Alguns trabalhos reportam a importância do Boro e Zinco na cultura do abacaxizeiro
(MAEDA, 2005; SIEBENEICHLER et al., 2008). Entretanto, segundo Siebeneichler et al. (2008),
atualmente parece estar havendo certa conscientização por parte dos agricultores quanto ao uso de
micronutrientes na cultura do abacaxizeiro, sendo seu fornecimento realizado, geralmente, pela
aplicação direta nas folhas das plantas ou de forma natural, com a degradação da matéria orgânica
feita pelo uso de coberturas no solo.
O fornecimento de determinados nutrientes, pode auxiliar na melhoria da produção e até
mesmo induzir a floração das culturas. Segundo Sampaio et al. (1997), a irregularidade de floração
natural do abacaxi causa maiores custos na colheita por proporcionar desuniformidade na época de

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1395


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

maturação dos frutos, sendo de grande importância, buscar maior padronização da produção através
da indução floral.
Neste contexto, objetivou-se com o presente trabalho analisar as condições desejáveis de
adubação para uma nova cultivar de abacaxi resistente a fusariose, avaliando o efeito da aplicação
de micronutrientes, sobre aspectos da floração deste no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú.

METODOLOGIA

O experimento foi conduzido no período seco, em uma área de 0,348 ha localizada no


perímetro irrigado Baixo Acaraú, no Município de Marco, na região norte do estado do Ceará, a 210
km da capital Fortaleza, (com latitude de 3º07‘13‘‘ S e longitude de 40º05‘13‘‘ W). De acordo com
a classificação de Köppen, a área está sob influência do clima Aw‘ (tropical chuvoso).
O delineamento estatístico empregado foi o de blocos casualizados com parcelas
subsubdivididas, com quatro doses de FTE-12 (parcelas), quatro níveis de adubação foliar
(subparcelas), cinco épocas de coleta a cada noventa dias (subsubparcelas) e cinco repetições. Cada
bloco foi formado por quatro parcelas com 9,68 m de largura por 36,0 m de comprimento em que
foram distribuídas as quatro doses de FTE-12. Dentro de cada parcela havia quatro subparcelas, nas
quais foram aplicadas as adubações foliares com micronutrientes.
Para o preparo da área experimental foram realizados os processos de desmatamento e uma
calagem com calcário dolomítico cerca de cinco meses antes do plantio, obedecendo às
recomendações do Manual de Adubação e Calagem para o Estado do Ceará (FERNANDES, 1993).
Após a calagem foi realizada uma aração seguida de gradagem cruzada com remoção de raízes
expostas no solo, e uma adubação orgânica com esterco misto à base de esterco bovino e esterco
caprino, em dose equivalente a 2,0 kg de esterco por 1,2 m2 de solo como fonte de nitrogênio. Os
canteiros foram produzidos com o auxílio de um implemento agrícola ―rottcanteirador‖, e mediam
1,20 m de largura com 0,25 m de altura.
As mudas micropropagadas do abacaxizeiro cv. Vitória (Ananas comosus L. Merril) foram
obtidas do laboratório Biolab Tecnologia Vegetal Ltda, localizado no município de Goiânia, estado
de Pernambuco, e transportadas em bandejas. Em seguida foram transferidas para sacos plásticos de
polietileno preto, tendo como substrato areia adicionada de 800 g de superfosfato simples para cada
1 m3 de areia. Após a transferência, as mudas foram aclimatadas em um espaço coberto por
sombrite durante 6 meses.
A área foi dividida em duas subáreas para instalação de dois experimentos com diferentes
coberturas do solo. No primeiro, foi colocado sobre os canteiros, o plástico preto de polietileno de
1,5 m de largura e espessura de 100 micra, e no segundo colocou-se sobre os canteiros bagana de
carnaúba com camada de apenas 5 cm de altura em torno de 0,6 kg m-2. Em seguida as plantas

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

foram dispostas na área em fileiras duplas com espaçamento de 0,90 × 0,40 × 0,30 m, área de 38,4
m de largura e 88,0 m de comprimento, totalizando 14.080 plantas. Cada parcela era composta por
quatro subparcelas contendo quatro linhas duplas com 11 plantas por linha, sendo as duas linhas
centrais a área útil da subparcela.
Nos dois experimentos as plantas foram submetidas igualmente a diferentes tratamentos com
FTE-12 na fundação após a abertura das covas e diferentes níveis de micronutrientes aplicados via
foliar a cada 28 dias após o plantio, durante 15 meses (1 vez por mês).
As quatro doses de adubação com FTE-12, aplicadas nas covas das parcelas por ocasião do
plantio, foram: T1 (sem adubação); T2 (60 kg ha-1); T3 (120 kg ha-1) e T4 (180 kg ha-1). Os
micronutrientes da adubação foliar foram aplicados nas subparcelas com auxílio de um pulverizador
costal. Os quatro tratamentos utilizados foram: AF0 (sem adubação), AF1 (15 adubações foliares,
usando um total de 1158,75 g ha-1 de Fe, 844,65 g ha-1de Mn, 391,5 g ha-1 de Zn, 322,65 g ha-1 de
Cu e 216 g ha-1 de B); AF2 (15 adubações foliares, usando o dobro das quantidades do nível AF1) e
AF3 (15 adubações foliares, usando o triplo das quantidades do nível AF1). As adubações foliares
foram realizadas, mensalmente, sendo as concentrações definidas tomando-se como base a solução
nutritiva de Murashige e Skoog (1962) modificada. O volume total de solução em cada aplicação
foi de 463 L ha-1.
Para preparar as soluções de cada tratamento da adubação foliar utilizaram-se duas soluções
estoque, a primeira continha Na2EDTA 2H2O (3,73g L-1) e FeSO4.7H2O (2,78 g L-1) dissolvidos em
25 L de água destilada, enquanto a segunda continha H3BO3 (6,2 g L-1), MnSO4.4H2O (16,90 g L-1),
ZnSO4.7H2O (8,6 g L-1) e CuSO4.5H2O (6,2 g L-1) dissolvidos em 5 L de água destilada. A partir
das duas soluções estoque, preparou-se 20 L de solução para todas as subparcelas de cada
tratamento foliar e de cada tipo de cobertura de solo. As concentrações de sais iniciais foram
duplicadas nas três aplicações seguintes, triplicadas nas outras três aplicações e quadruplicadas nas
sete últimas. Com o objetivo de favorecer a absorção dos micronutrientes, a partir da terceira
pulverização utilizou-se de ureia a 2%, a qual foi adicionada em todos os tratamentos aplicados.
Os macronutrientes foram aplicados a todas as plantas, via fertirrigação, a partir dos dois
meses após o transplantio. Eles foram aplicados três vezes por semana, com exceção do fosfato
monoamônico – NH4H2PO4 (MAP), do nitrato de cálcio e do sulfato de magnésio que foram
aplicados uma vez por semana e apenas durante a fase vegetativa da cultura. Sendo o método de
irrigação adotado, o localizado por gotejamento com 29 linhas laterais, sendo uma linha por fileira
dupla de plantas e fita gotejadora, com espaçamento de 0,3 m entre os gotejadores e vazão de 1,5 L
h-1. O sistema teve como fonte de alimentação hídrica o canal terciário do Perímetro Irrigado Baixo
Acaraú.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

E após 13 meses do transplantio, foi realizada indução floral, quando a massa verde das
plantas do maior tratamento, avaliadas por amostragem, apresentavam cerca de 2 kg, com Ethephon
(2-chloroethylphosphonic acid), a solução contendo o regulador foi preparada no mesmo dia da
aplicação e tinha uma concentração de 1.500 mg L-1 do produto comercial, e foi distribuída sobre as
plantas de forma homogênea, nas primeiras horas da manhã, com ajuda de um pulverizador costal,
com capacidade para 20 L. Esse dia caracterizou-se pela ausência de precipitação e médias de
temperaturas máxima/mínima de 27,98/26,87 °C.
Os percentuais de inflorescências da área útil de cada subparcela foram determinados
quantificando-se a presença de todas as inflorescências visíveis no fundo da roseta foliar em relação
ao total de plantas, 60 dias após a aplicação do regulador de crescimento o que corresponde a 15
meses após o transplantio.
Os dados foram submetidos a análise de variância pelo teste F, ao nível de 5% de
probabilidade, com o emprego do software Assistat (SILVA; AZEVEDO, 2009). Os dados em que
ocorreram efeitos significativos foram analisados através de curvas de regressão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise de variância para a percentagem de inflorescência, observa-se que essa variável


foi influenciada, ao nível de 1% de probabilidade pela aplicação dos micronutrientes no solo e nas
folhas das plantas do experimento com bagana e plástico preto. Observou-se ainda que, na interação
entre as duas formas de adubação, apenas as plantas dos experimentos com plástico preto tiveram a
percentagem de inflorescência influenciada, com significância de 5% de probabilidade (Tabela 1).

Tabela 1. Resumo da análise de variância para percentagem de inflorescência das plantas de abacaxi cv.
Vitória, em função de diferentes doses de FTE-12 e níveis de adubação foliar (AF), sob dois tipos de
cobertura de solo: bagana e plástico preto, cultivado no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú - CE.
Quadrado Médio
Fontes de Variação GL Percentagem de inflorescência
Bagana Plástico preto
FTE-12 (A) 3 1474,17** 1406,10**
Resíduo (A) 12 124,55 46,14
AF (B) 3 3042,68** 3329,80**
Int. (A x B) 9 70,18ns 28,38*
Resíduo (B) 48 61,30 101,68
CV% (A) - 18,30 12,91
CV% (B) - 12,84 19,16
**,* e ns - significativo a 1% e a 5% de probabilidade e não significativo pelo teste F, respectivamente. CV –
coeficiente de variação em porcentagem.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1398


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

As plantas do experimento com bagana (Figura 1A e 1B) apresentaram incrementos nas


percentagens de inflorescência à medida que foram aumentadas as doses de FTE-12 e os níveis de
adubação foliar. Esse aumento foi de 39,12% da menor para a maior dose de FTE-12 e de 60,56%
do nível 0 para o 3 de adubação foliar. Esses dados mostram, portanto, a importância de aplicação
dos micronutrientes, tanto via solo quanto foliar, para estimular o florescimento das plantas de
abacaxizeiro.

Figura 1. Percentagem de inflorescência das plantas de abacaxizeiro cv. Vitória em função de diferentes
doses de FTE-12 e níveis de adubação foliar (AF), sob dois tipos de cobertura de solo: bagana (A e B) e
plástico preto (C), cultivado no Perímetro Irrigado Baixo Acaraú – CE. **p < 0,01 e * p < 0,05.

Nas plantas do experimento com plástico preto (Figura 1C) observa-se incrementos na
percentagem de inflorescência com a aplicação de FTE-12, mesmo na ausência de adubação foliar.
De forma semelhante, verificaram-se respostas positivas na percentagem de inflorescência
proporcionadas pelas aplicações de adubação foliar, mesmo na ausência de FTE-12.
Comparando-se a dose de 180 kg ha-1 em relação à dose 0 de FTE-12 levando-se em
consideração todos os níveis de adubação foliar, observou-se um aumento médio de 43,71% na
percentagem de florescimento. A maior percentagem de inflorescência foi de 79,64% observada na
interação da maior dose de FTE-12 com maior nível de adubação foliar das plantas do experimento
com plástico preto. Na ausência de adubação com micronutrientes ocorreu um florescimento em
torno de 30% das plantas (Figura 1C).

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1399


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Os dados obtidos com as maiores doses de FTE-12 e níveis de adubação foliar foram
semelhantes aos obtidos por Ledo et al. (2004) com a cultivar RBR-1 de abacaxizeiro, a qual, após
pulverizada com uma solução contendo 2 L de ácido 2-cloroetilfosfônico (Etefon) em 1000 L de
água, apresentou uma percentagem de inflorescência de 76,25%. No entanto, esses autores
conseguiram percentagens bem superiores nas cultivares de abacaxizeiro SNG-2 e SNG-3, com
valores médios de 87,50 e 92,18%, respectivamente.
A eficiência de indução floral em resposta a indutores de floração depende, principalmente,
do genótipo, das condições ambientais (temperatura, umidade, vento e chuva), do tipo e da forma de
aplicação do indutor (Bartholomew et al., 2003), do vigor, e da taxa de crescimento da planta
(Cunha, 1999). No presente estudo, é provável que as diferenças nas percentagens de florescimento
estejam associadas às diferenças no crescimento promovidas pelos tratamentos com
micronutrientes.

CONCLUSÕES

A adubação via foliar com micronutrientes no abacaxizeiro Vitória se mostrou efetiva para
aumento da porcentagem de inflorescência das plantas tanto para o cultivo com cobertura plástica
quanto o de bagana carnaúba.
O fornecimento de micronutrientes via foliar é indicado para o aumento da inflorescência do
abacaxizeiro Vitória em ambas as coberturas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES DA FEIRA LIVRE DO MUNICÍPIO DE


POMBAL - PB SOBRE O USO DE AGROTÓXICOS

Romélia Maria Wanderley CALADO100


Especialista em Educação Ambiental - FIP
romeliawanderley@hotmail.com
Alana Candeia de MELO
Professora das Faculdades Integradas de Patos
acmelopb@gmail.com

RESUMO
O uso de agrotóxicos é um dos maiores problemas da sociedade moderna, pois grande quantidade
de alimentos produzidos com tais substâncias é consumida diariamente pela população, que na
maioria das vezes não é informada sobre essa realidade. A pesquisa realizada na feira livre do
município de Pombal - PB teve como objetivos descrever o conceito dos consumidores a respeito
dos agrotóxicos, investigar se os mesmos têm conhecimento de que os produtos adquiridos contêm
ou não agrotóxicos e avaliar se eles possuem o hábito de adquirirem alimentos orgânicos. Procurou-
se também traçar o perfil socioeconômico das pessoas entrevistadas. Os dados foram coletados,
mediante a aplicação de questionários semiestruturados, aplicados a 30 pessoas e conversas
informais. Foi constatado que a maioria dos consumidores pertence ao sexo feminino, tem entre 50
e 59 anos de idade, bons níveis de renda e escolaridade, entretanto, parece não haver relação entre a
frequência semanal de compras e a renda mensal. Observou-se também grande número de
consumidores, que mesmo de forma empírica, conhecem os agrotóxicos e são conscientes de que os
mesmos oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente. Contudo, um elevado percentual de
indivíduos, além de não saber se os produtos comprados na feira contem ou não agrotóxicos,
desconhecem os alimentos orgânicos, pois poucos possuem o habito de consumir esse tipo de
produto, o que pode estar relacionado à deficiência na divulgação e variedade dos mesmos.
Palavras-chave: Consumidores. Feira livre. Meio ambiente. Produtos orgânicos. Saúde.
ABSTRACT
The use of pesticides is one of the largest problems of the modern society, because great amount of
foods produced with such substances is consumed daily by the population, that most of the time is
not informed about that reality. The research accomplished in the free market of the municipal of
Pombal - PB had as main objectives: to describe the consumers' concept regarding the pesticides, to
investigate the same ones has knowledge that the acquired products contain or no pesticides, to
evaluate still if they possess the habit of they acquire organic foods, besides drawing those people's
socioeconomic profile. The data were collected, by the application of 30 semi-structured
questionnaires and informal conversations. It was verified that most of the consumers belongs to the
feminine sex, she has among 50 and 59 years of age, good levels of income and education,
however, it seems there not to be relationship between the weekly frequency of purchases and the
monthly income. It was also observed great number of consumers, that even in an empiric way, they
know the pesticides and are conscious that the same ones offer risks to the health and the
environment. However, a high one percentile of individuals, besides not knowing the products
bought at the fair count or no pesticides, ignore the organic foods, because few possess inhabit of
consuming that product type, the one that can is related to the deficiency in the popularization and
variety of the same ones.
Key-word: Consuming. Free market, Environment, Organic products, Health.

100
Graduada em Licenciatura em Ciências com habilitação em Biologia - UFCG

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1402


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REVISÃO DE LITERATURA

O crescimento da população mundial trouxe consigo um aumento na demanda de alimentos,


o que culminou no desenvolvimento de novas tecnologias, cujo propósito era elevar a produção e
suprir as necessidades alimentares das nações. Foi à chamada ―Revolução verde‖. Para Machado
(2008, p. 81):

No início da revolução verde, da mesma forma que os fertilizantes, os pesticidas foram


necessários para garantir o aumento da produção agrícola. O mau uso desses produtos tem
os conhecidos problemas, tais como danos à saúde do aplicador, resistência de pragas aos
pesticidas, custo elevado e contaminação ambiental.

A prática da agricultura convencional, na sociedade moderna, é uma das maiores


responsáveis pelo uso indiscriminado de produtos químicos na produção de alimentos, cujos efeitos
afetam tanto a saúde humana como o meio ambiente do qual fazemos parte. Entretanto, tal cenário,
tem despertado a preocupação da população na busca de uma alimentação mais saudável e livre de
agrotóxicos, como acontecia até pouco tempo, antes do advento da agricultura moderna. Diante
desse fato, Noronha (2008, p. 15) afirma que:

a busca da qualidade de vida tem se tornado fator de preocupação para um número cada vez
maior de pessoas, as quais têm buscado, entre outras coisas, uma alimentação mais
saudável. Esta é uma tentativa de resgatar um tempo em que era possível se ter à mesa
alimentos de boa qualidade biológica, livres de produtos químicos. Com isso, os produtos
orgânicos vêm ganhando mercado nas diferentes classes sociais e a procura por alimentos
de produção ecologicamente correta aumenta a cada dia.

Todavia, esse patamar de consciência ainda está em fase de transição, visto que as pessoas
continuam adquirindo grande quantidade de alimentos produzidos com agrotóxicos, muitas vezes,
sem ter o conhecimento disso, evidenciando que não sabem o que estão consumindo. Isto acontece
principalmente nas feiras livres, nas quais o consumidor não é informado se o produto que está
comprando contém ou não tais substâncias, seja por falta de certificação, omissão dos comerciantes
ou ausência de preocupação da própria população. Logo, ―A certificação [...] é uma forma de
assegurar ao consumidor que o produto que ele está comprando foi produzido dentro de um
processo orgânico, sem a utilização de agrotóxicos, respeitando o ambiente e o homem, etc.[...]‖
(ARAÚJO; PAIVA; FILGUEIRA, 2007, p. 141)
A respeito disso, pesquisas sugerem que a falta de informação e a inexistência de divulgação
seriam as causas da pouca procura por produtos sem agrotóxicos. Durante estudos realizados na
cidade de Assú-RN, Araújo Júnior e Silva (2011, p. 3) concluíram que:

a falta de divulgação e consequentemente o não conhecimento da população a cerca dos


alimentos de origem agroecológica tem sido determinante para a não ocorrência de
demanda por estes produtos. Conforme o levantamento da pesquisa, cerca de 90% dos
entrevistados considera como ruim a divulgação destes produtos, sendo esta então a razão
pela qual o consumidor não conhece ou até mesmo não se interessa pelos mesmos. Mais de
40% dos entrevistados disseram não conhecer produtos orgânicos.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1403


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Assim, é muito comum, o fato de pessoas conscientes demonstrarem interesse em consumir


alimentos orgânicos, mas terem dificuldade de encontrá-los. Estudos mostram que a procura por
produtos sem agrotóxicos pode ser influenciada pelo grau de instrução e poder aquisitivo dos
consumidores pois, de acordo com Neutzling et al. (2010, p.1), ―[...] o nível de escolaridade está
associado à disposição em pagar preços superiores por alimentos orgânicos, assim como as faixas
etárias e faixas de renda familiar estão relacionadas à frequência de compra de alimentos
orgânicos.‖
De todos os aspectos mencionados acima, talvez um dos mais importantes seja o conceito
que as pessoas possuem a respeito dos agrotóxicos. Analisando a percepção de agricultores e
estudantes de ensino médio sobre o uso de agrotóxicos, Magri et al. (2010) observaram que:

[...] 86% dos estudantes participantes da pesquisa alegaram não conhecer os agrotóxicos,
suas funções e aplicações e, principalmente, conhecer os riscos que estes produtos oferecem
ao meio ambiente [...] Também foi observado que 4% dos alunos entrevistados já ouviram
falar sobre agrotóxicos, mas não compreendem a importância e os riscos que estes produtos
trazem [...] Ainda foi analisado que 6% dos entrevistados sabem o que são agrotóxicos [...]
mas desconhecem os seus riscos e por fim, apenas 4% dos entrevistados alegaram que
sabem o que são agrotóxicos, suas aplicações e que o uso destes produtos ocasionam
grandes problemas ao meio ambiente [...].

Com relação à preferência dos consumidores, observa-se uma maior aquisição de hortaliças
e frutas, justamente os produtos em que mais se utilizam defensivos químicos na sua produção.
Quanto ao perfil das pessoas que frequentam as feiras livres, a maioria pertence ao sexo feminino.
Em levantamentos feitos no município de Pombal, Costa e Silva (2011, p. 59), diagnosticaram que
―[...] A maior participação dos consumidores que vão à feira fazer compras é do gênero feminino.
Na feira de Pombal há um predomínio na venda de hortaliças e frutas [...]‖.
Por fim, é impossível falar sobre agrotóxicos sem destacar os riscos dos mesmos para a
saúde. Por isso, ―[...] ignorar o quadro latente de contaminação desse grupo de alimentos e os
reflexos disso no ambiente e nos trabalhadores, além dos consumidores, consiste numa atitude
política equivocada e inaceitável frente ao atual contexto da democracia brasileira [...]‖
(ALMEIDA; CANEIRO; VILELA, 2009 p. 98), uma vez que:

[...] a exposição aos riscos causados pelo uso de agrotóxicos não ocorre somente ao
trabalhador rural, mas também ao ambiente. Toda uma localidade rural pode receber os
danos causados pela toxidade dos agrotóxicos, e mais, os milhares de consumidores que ao
se alimentarem de hortaliças podem estar fadados a sofrer com a contaminação gerada pela
presença de resíduos destes agentes químicos. (SOUZA, 2011 p. 56)

Dessa forma, há de se concordar que o grande desafio da sociedade moderna é garantir o


acesso de todos a uma alimentação mais saudável, sem colocar em risco a saúde da população e do
ambiente no qual vivemos. Todavia, como comenta Funayama et al. (2009)

[...] no Brasil a produção de orgânicos ainda é pequena, encarecendo os alimentos


orgânicos e dificultando sua aquisição e consumo. Sendo preciso que haja uma ação mais

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

efetiva por parte da sociedade em particular os consumidores em estar divulgando e


conscientizando a população em relação aos benefícios que estes produtos trazem a nossa
saúde e ao meio ambiente, pois se o número de produtores convencionais continua sendo o
padrão dominante, provavelmente será difícil encontrar nas feiras e supermercados
alimentos totalmente livres de agrotóxicos.

Assim, diante dessa perspectiva, percebe-se que a problemática dos agrotóxicos não gira
somente em torno da conscientização dos consumidores a respeito do assunto, mas também esbarra
na realidade socioeconômica do mercado de produtos orgânicos, que infelizmente continua voltado
para a parcela da população mais instruída e com um maior poder aquisitivo.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida na feira livre do município de Pombal-PB, localizado na porção


Oeste do Estado da Paraíba, Mesorregião do Sertão Paraibano e Microrregião de Sousa (BRASIL,
2005), cuja distância da capital João Pessoa é de 371 km. A população do município atingiu a
proporção de 32.110 habitantes, distribuída em uma área territorial com exatamente 888,807 km2
(IBGE 2010).
Realizada tradicionalmente aos sábados no centro da cidade, ―[...] a feira do município de
Pombal consta com a aproximadamente 83 barracas [...]‖, segundo levantamento anterior feito por
Silva e Costa (2010, p.192).
A referida feira é conhecida pelo elevado fluxo de pessoas e pela grande variedade de
produtos, entre os quais estão os olerícolas, que são cultivados em parte pelos próprios feirantes,
sendo o restante oriundo de outras localidades. Silva e Costa (2010, p 191), constataram que ―[...]
Dos feirantes, 50% adquirem os produtos na CEASA (Patos – PB) e a outra metade é produzida
pelos mesmos‖.
A coleta dos dados foi realizada mediante visitas ao local, através da aplicação de um
questionário semi-estruturado e conversas informais. O universo da amostra aleatória constituiu-se
de 30 questionários, pois não se sabe o número exato de pessoas que frequentam a feira livre
semanalmente. Desse modo, as entrevistas ocorreram sempre em horários distintos, durante vários
sábados consecutivos, a fim de abranger o maior número de pessoas possível.
O questionário incluiu perguntas objetivas e subjetivas, abordando aspectos a respeito do
conceito que os consumidores possuem sobre os agrotóxicos, dos riscos que estes podem trazer à
saúde e ao meio ambiente, fatores socioeconômicos, questões relacionadas à consciência das
pessoas em saber se os produtos que consomem contêm ou não agrotóxicos, além da procura por
alimentos orgânicos, dos produtos mais consumidos e a frequência com que os consumidores
realizam compras na feira livre. Após a aplicação do questionário, os dados coletados foram
analisados estaticamente, expressos em porcentagem e apresentados na forma de gráficos e tabelas.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise dos dados, verificou-se que 76,7% dos entrevistados são do sexo
feminino, e 23,3% do sexo masculino, sendo notória a predominância das mulheres, provavelmente
pelo fato das mesmas serem mais exigentes com relação à qualidade dos produtos. Resultado
semelhante foi encontrado por Costa e Silva (2011, p. 57), no qual ―[...] a maior participação dos
consumidores que vão a feira fazer compras é do gênero feminino com 70%, enquanto que o gênero
masculino representou apenas 30% dos entrevistados [...]‖.
No que diz respeito à faixa etária dos consumidores, a maioria enquadra-se na faixa de 50 a
59 anos (30%), seguida das faixas de 40 a 49 anos (26,7%), 30 a 39 anos (23,3%), 20 a 29 anos
(13,3%), e 60 a 66 anos (6,7%) (Tabela 1). É possível que a nítida redução do percentual de idosos
esteja associada a uma menor disposição dos mesmos em dirigirem-se ao centro da cidade para
realizar compras, deixando essa tarefa a cargo dos familiares mais jovens.

Idade Frequência Porcentagem (%)


20 – 29 4 13,3%
30 – 39 7 23,3%
40 – 49 8 26,7%
50 – 59 9 30%
60 – 66 2 6,7%
Total 30 100%
Tabela 1: Percentual de consumidores quanto à idade.

Sobre o grau de instrução dos informantes, notou-se que 46,7% possuem o ensino superior
completo; 26,7% o ensino médio completo; 23,3% o ensino fundamental incompleto e apenas 3,3%
não concluíram o ensino superior (Gráfico 1). Dessa forma, o quadro dos consumidores da feira é
composto, em sua maioria, por pessoas com um bom nível de escolaridade.

3,3%
Ensino superior completo
23,3%
Ensino médio completo
46,7%
26,7%
Ensino fundamental incompleto

Ensino superio incompleto

Gráfico 1: Percentual de consumidores quanto ao grau de instrução.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Com relação ao tipo de atividade que exercem, 20% dos entrevistados atuam no setor da
educação; 20% são funcionários públicos; 16,7% donas de casa; 16,7% trabalham na área do
comércio; 6,7% no setor administrativo; 6,7% declararam-se autônomos; 3,3% são estudantes;
3,3%, agricultores e 3,3% profissionais do campo da saúde.
Um aspecto importante observado durante a pesquisa é que 96,7% dos consumidores são
residentes na sede do próprio município, enquanto que apenas 3,3% residem na zona rural de
Pombal. Essa particularidade pode estar relacionada ao fato da população rural produzir parte dos
produtos comercializados na feira, já que ―[...] há uma grande participação de pessoas da zona rural
(129 pessoas) na composição dos feirantes [...]‖ (SILVA; COSTA, 2010 p. 191).
Quando questionados sobre a renda mensal, a maior parte dos entrevistados não forneceu
muitos detalhes com relação ao valor exato dos seus rendimentos, mas 63,3% disseram ganhar mais
de um salário mínimo, 20% apenas um salário mínimo, seguidos de 10% que dependem da ajuda de
familiares e de uma pequena parcela que afirmou ganhar menos de um salário mínimo (6,7%)
(Gráfico 2).

Gráfico 2: Percentual de consumidores quanto a renda mensal.

Levando em consideração a frequência com que os consumidores realizam compras na feira,


o resultado obtido superou as expectativas, visto que 96,7% das pessoas disseram adquirir produtos
na feira semanalmente, e apenas 3,3% fazem isso quinzenalmente.
Ao comparar a renda mensal dos consumidores e a frequência de compra, não parece haver
relação entre esses dois fatores, isto porque, dos 63,3% entrevistados com renda acima de um
salário mínimo, 60% compram produtos na feira semanalmente e 3,3% a cada quinze dias. Além
disso, todos os informantes que ganham menos de um salário mínimo (6,7%), bem como os que
recebem apenas um salário mínimo (20%) ou dependem dos familiares para sobreviverem (10%),
efetuam suas compras toda semana. Tal hipótese foi avaliada por Carvalho et al. (2010, p. 131), em
um levantamento feito na feira livre de Alfenas-MG, quando ―[...] Constatou-se que o costume de ir
à feira para comprar essencialmente frutas, legumes e verduras independe da capacidade financeira

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1407


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

do cliente e está relacionado com a ideia de um local propicio a obtenção de alimentos que
proporcionam uma alimentação saudável, além de ser um ambiente de lazer [...]‖.
Entre os produtos adquiridos frequentemente pelos consumidores, destacam-se a banana
(63,3%), seguida da laranja, maçã e tomate (60%), cenoura (56,7%), batatinha (46,7%), mamão e
uva (40%), abacaxi, cebola e melancia (23,3%), melão (20%), coentro (16,7%), alface (13,3%),
manga, maracujá, repolho e pimentão (6,7%), além do grupo do abacate, goiaba, beterraba, couve,
chuchu, pepino (3,3%) em menor proporção. Dessa forma, os cinco produtos mais comprados na
feira livre são: banana, laranja, maçã, tomate e cenoura.
Analisando o conhecimento dos consumidores a respeito dos agrotóxicos, 90% afirmaram
saber o que são agrotóxicos (Grupo 1); 6,7% apenas ouviram falar (Grupo 2) e 3,3% não têm
nenhum conhecimento sobre o tema (Grupo 3) (Gráfico 3). Além disso, entre os 96,7% dos
informantes que representam a somatória dos grupos 1 e 2, quando indagados em relação ao
significado do termo agrotóxico, 40% disseram tratar-se de produtos químicos; 26,7% de venenos;
13,3% de substâncias químicas; 6,7% de inseticidas e 10% não souberam responder. Brito, Gomide
e Câmara (2009, p.212), diagnosticaram conceitos semelhantes em estudos com agricultores de uma
comunidade agrícola no Rio de Janeiro, nos quais ―[...] foram obtidas diferentes respostas: veneno,
remédio, inseticida, agrotóxico e produto [...].

Gráfico 3: Significado do termo agrotóxico segundo os consumidores dos grupos 1 e 2.

Verificou-se, ainda, que 96,7% dos consumidores da feira livre de Pombal são conscientes
de que os agrotóxicos fazem mal à saúde e 3,3% não sabem se os mesmos são maléficos à saúde.
Entre os perigos que os agrotóxicos podem acarretar para a saúde, estão doenças como o câncer,
com o maior número de citações (60%), depois as doenças gastrointestinais (10%), cardiovasculares
(6,7%) e respiratórias (3,3%), sendo que 33,3% dos entrevistados, embora reconheçam, que os
agrotóxicos são prejudiciais a saúde, não souberam identificar qualquer tipo de malefício (Gráfico
4).

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Gráfico 4: Perigos dos agrotóxicos para saúde segundo os consumidores.

Além disso, para a maior parte dos informantes, os agrotóxicos prejudicam o meio ambiente
(90%), alguns disseram que não prejudicam (6,7%) e somente 3,3% não souberam responder. Os
principais perigos dos agrotóxicos para o meio ambiente de acordo com consumidores são: poluição
da água (56,7%), do solo (36,7%) e do ar (3,3%), contaminação dos animais (6,7%), das plantas
(3,3%) e dos alimentos (3,3%), e degradação do solo (6,7%), entretanto, mesmo consciente de que
os agrotóxicos oferecem riscos ao meio ambiente 26,7% dos entrevistados não souberam apontar
nenhuma espécie de prejuízo.
Durante pesquisa realizada com agricultores e estudantes do Ensino Médio, Magri et al.
(2010), constataram que ―[...] a maioria dos jovens entrevistados não tem conhecimento sobre os
agrotóxicos, suas aplicações e seus riscos [...]‖. Percebe-se que com os consumidores das feiras
livres, o cenário é bem diferente, pois os mesmos demonstram um nível de consciência mais
elevada. Contudo, em ambos os universos, tal conhecimento parece ser fruto de um saber empírico,
ainda não lapidado do ponto de vista científico.
Um dado preocupante é a questão do repasse de informações, pois a maior parte dos
consumidores (66,7%) não sabe se os produtos que compram na feira livre de Pombal contêm
agrotóxicos, somente 33,3% afirmam saber, mas continuam consumindo porque, segundo os
mesmos ―não têm outra opção‖. Todavia, entre os 66,7% dos informantes que não sabem se estão
adquirindo produtos com agrotóxicos, 50% declararam se preocupar com a falta dessa informação,
enquanto 16,7% responderam que não se preocupam. Essa preocupação pode está fundamentada no
interesse por uma alimentação mais saudável, livre de agrotóxicos.
Apesar desse interesse, 55,3% dos consumidores não sabem o que é um produto orgânico,
apenas 46,7% conhecem tais produtos. Porém, destes 46,7%, grande parte não costuma consumi-los
(30%) e o percentual dos que consomem é bem menor (16,7%). Dos 16,7% que declararam
consumir produtos orgânicos, 6,7% fazem isso sempre e 10% raramente. Para Araújo Júnior e Silva
(2011, p.1), na cidade de Assú-RN ―[...] essa baixa demanda pode ser resultado da falta de
divulgação e da pouca oferta dos mesmos nos supermercados [...].‖ Dessa forma, é possível que

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

esses fatores também estejam relacionados ao baixo consumo de produtos orgânicos na feira livre
do município de Pombal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados obtidos mostram que a maioria dos consumidores da feira livre do município de
Pombal pertence ao sexo feminino, têm idade entre 50 e 59 anos, níveis de renda e escolaridade
elevados, e residem na sede do próprio município.
Verificou-se que grande parte dos consumidores costuma efetuar suas compras
semanalmente. Contudo, a frequência de compras pode não está relacionada à renda mensal, sendo
que os produtos mais adquiridos são banana, laranja, maçã, tomate e cenoura.
Apesar de um elevado percentual de consumidores conhecerem os agrotóxicos e serem
conscientes que os mesmos oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente, muitos não conseguiram
identificar a natureza desses malefícios, além de apresentar um conceito empírico com relação ao
significado do termo agrotóxico.
Um dos maiores entraves encontrados na feira é a falta de informação, pois grande número
de consumidores não sabe se os produtos comprados no local contêm agrotóxicos e mesmo
preocupados continuam consumindo-os por falta de opção. Dessa forma, existe um elevado
percentual de indivíduos que além de não saber se os produtos adquiridos possuem agrotóxicos,
desconhecem os alimentos orgânicos, pois poucos têm o habito de consumir esse tipo de produto.
Por fim, também é possível que o baixo consumo de produtos orgânicos na feira livre do
município de Pombal esteja relacionado à deficiência na divulgação e variedade dos mesmos, o que
dificulta a expansão do mercado de orgânicos na cidade.

REFERÊNCIAS

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ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1411


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do Vigário, Viamão/ RS. 2011. 66 f. Monografia (Graduação Tecnólogo em Planejamento e
Gestão para o Desenvolvimento Rural - PLAGEDER) – Faculdade de Ciências Econômicas da
UFRGS, Balneário Pinhal, 2011.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1412


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FORMAÇÃO DE EDUCADORES AMBIENTAIS: UM OLHAR VOLTADO À


AGRICULTURA FAMILIAR

Sidileide Santana MENEZES


Graduanda do Curso de Tecnologia em Agroecologia da UFRB - Bolsista PET
sidileidemenezes@gmail.com
Jesus Manuel DELGADO-MENDEZ
Professor Doutor em Recursos Florestais UFRB
jesusd@uol.com.br

RESUMO
Este trabalho é resultado das atividades desenvolvidas durante o Curso de Formação de Agentes
Populares de Educação Ambiental na Agricultura Familiar, promovido pelo Ministério do Meio
Ambiente (MMA) junto ao Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar (PEAAF), em
parceria com o Movimento de Apoio à Agricultura Familiar (AGROVIDA), com apoio da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em Cruz das Almas - BA. Tem como
objetivo descrever como se deu a execução do curso pelo AGROVIDA, onde através do
desenvolvimento do curso buscou-se atender o objetivo principal definido pelo PEAAF. As
atividades executadas ao longo do curso ocorreram a distância, através do Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) e presencialmente por meio de encontros entre alunos e tutores. O curso
abrangeu um público diversificado, composto em sua maioria por mulheres e distribuído entre
agricultores, jovens de comunidades rurais, representantes da sociedade civil, estudantes e
professores, os quais estiveram representando onze (11) territórios de identidade da Bahia.
Palavras Chave: Educação ambiental, práticas educativas, agricultura e meio ambiente.
RESUMEN
Este trabajo es resultado de las actividades desarrolladas durante el Curso de Formación de Agentes
Populares de Educación Ambiental en la Agricultura Familiar, promovido por el Ministério del
Medio Ambiente (MMA), junto al Programa de Educación Ambiental y Agricultura Familiar
(PEAAF), en sociedad con el Movimiento de Apoyo a la Agricultura Familiar (AGROVIDA), con
adesión de la Universidad Federal del Reconcavo de Bahia (UFRB) en Cruz das Almas - BA. Tiene
como objetivo describir como se dió la ejecución del curso por AGROVIDA, donde atraves del
desarrollo del mismo se busco atender el objetivo principal definido por la PEAAF. Las actividades
ejecutadas a lo largo del curso ocurrieron a distância, atraves del Ambiente Virtual de Aprendizaje
(AVA) y presencialmente por medio de encuentros entre alumnos y consejeros. El curso abarcó un
público diversificado, compuesto en su mayoría por mujeres y distribuído entre agricultores,
jovenes de comunidades rurales, representantes de la sociedad civil, estudiantes y profesores, los
cuales estuvieron representando once (11) territórios de identidad de Bahia.
Palabras Clave: Educación ambiental, prácticas educativas, agricultura y medio ambiente.

INTRODUÇÃO

Embora existam inúmeras definições de educação ambiental é importante ressaltar que o


diálogo em torno do meio ambiente não desassocia da Educação e que a mesma está inserida em
uma contextualização mais abrangente. A educação por sua vez é responsável por construir

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

cidadãos éticos e com responsabilidade social e deve possibilitar a construção do conhecimento de


forma que cada indivíduo detenha uma opinião crítica sobre sua realidade social.
Nesse contexto, Bernal e Martins (2015)1 define que a educação ambiental, com base no
conceito estabelecido pela Conferência Sub-Regional de Educação Ambiental para a Educação
Secundária em Chosica/Peru, em 1976, é um processo constante e permanente vivenciado em todas
as nossas relações, principalmente nos espaços políticos e sociais, complementa ainda que esta
educação deve despertar uma visão crítica que discuta os fatores, interesses, causas e consequências
de cada ação e/ou decisão seja ela coletiva ou individual.
Dessa forma, a discussão em torno da educação ambiental não deve alcançar somente
pessoas envolvidas nos espaços formais de educação, é necessário que se expanda para outros
segmentos que embora trabalhem no meio ambiente explorando seus recursos naturais e mantenham
constantemente relações políticas e sociais que refletem no meio, não estão diretamente ligados a
esta discussão.
Nessa perspectiva é necessário envolver a agricultura familiar nessas discussões e para isso
compreender a sua realidade no Brasil é verificar que existe uma grande fragilidade em seu
contexto rural quanto à educação ambiental, e que conforme Reigota (2009) deve ser trabalhada
enquanto componente reflexivo, participativo e comportamental dentro de sua esfera territorial
visando o envolvimento das pessoas diretamente ligadas à agricultura familiar no processo
ecopedagógico.
Uma ação desenvolvida pelo Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar
(PEAAF) via Ministério do Meio Ambiente e que resultou nesse trabalho propôs exatamente essa
questão. Formar através de um curso semipresencial, agentes populares em educação ambiental que
fossem capazes de atuarem em seu território identificando e refletindo de forma crítica as questões
socioambientais, além de tornarem disseminadores e realizadores, dentro de sua comunidade ou
território, de ações voltadas para a educação ambiental. Sendo assim, ao longo desse trabalho será
descrito como se deu a execução do curso Formação agentes populares em educação ambiental na
agricultura familiar, pelo Movimento de Apoio à Agricultura Familiar (AGROVIDA).

Programa de educação ambiental e agricultura familiar (PEAAF): uma construção coletiva.

Fruto das reivindicações dos agricultores familiares ao Governo Federal em 2009, o


programa foi desenvolvido pelo Departamento de Educação Ambiental (DEA) da Secretaria de
Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC) do Ministério do Meio Ambiente e
instituído pela Portaria Ministerial nº 169, de 23 de maio de 2012 para atender especificamente as
demandas desse público, cuja reivindicação foi no sentido de cobrar que ações de educação
ambiental também fossem direcionadas para a agricultura familiar.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1414


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

O PEAAF tem como objetivo juntamente com a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA) estimular ―o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e
social‖ (BRASIL, 1999) e ―visa suprir a necessidade de formação, capacitação, comunicação e
mobilização social dos sujeitos e organizações envolvidas com a agricultura familiar e o
desenvolvimento rural sustentável‖ (BERNAL; MARTINS, 2015)2 através de processos
educacionais críticos e participativos nos quais abordem temas relacionados as questões ambientais,
agricultura familiar, sustentabilidade no campo e agroecologia.
O programa dispõe de objetivos, princípios, diretrizes e linhas de ação dentre as quais se
destaca a linha 3 – Apoio a processos educativos presenciais e à distância, nesse sentido busca-se
através Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) realizar cursos relacionados a educação
ambiental, disponibilizar materiais divulgativos, bem como metodologias que possam auxiliar
instituições públicas e organizações da sociedade civil parceiras, na formação presencial e execução
dos cursos.

Curso de formação de agentes populares de educação ambiental na agricultura familiar:


integrando saberes.

Dentre as diversas ações desenvolvidas pelo PEAAF o curso de formação de educadores


ambientais foi elaborado para atender a linha de ação que trata do Apoio a processos educativos
presenciais e à distância. Baseando-se também no princípio da intersetorialidade, pluralidade e
interdisciplinaridade entre os grupos sociais, o curso pretendeu propiciar condições de vida digna no
meio rural, além de contribuir para a conservação ambiental, sustentabilidade dos agroecossistemas
e gestão ambiental.
Considerando que a educação ambiental feita no contexto da agricultura familiar apresenta
características e necessidades intrínsecas, Bernal e Martins (2015)3 relatam como deve ser a
percepção em relação aos trabalhadores rurais enquanto participantes desse processo de ensino-
aprendizagem:

[...] Os trabalhadores rurais não devem ser vistos apenas como alunos, pelo contrário,
devem ser considerados como segmentos sociais que trazem consigo grande riqueza de
conhecimento sobre os sistemas de produção de alimentos e de conservação do meio
ambiente. Conhecimentos que trazem técnicas, saberes e métodos perpetuados e
aperfeiçoados por gerações, caracterizando as diversas tradições culturais e modos de
produção e manejo ambiental praticados no Brasil (BERNAL; MARTINS, 2015, p. 15) 3.

Diante disso, ao abranger um público misto onde estão inseridos principalmente os


trabalhadores rurais, deve-se compreender que o saber empírico é tão importante quanto o científico
e que estes podem e devem andar em uma via de mão dupla, a fim de construir conhecimentos e
atingir a transformação social a partir da diversidade cultural, produtiva e social existentes entre os
diferentes segmentos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Para implementar o curso, o MMA lançou através do PEAAF em 27 de outubro de 2015, o


Edital de Chamada Pública nº 01/2015 ―Seleção de instituições parceiras para desenvolvimento do
curso Formação de agentes populares de Educação Ambiental na Agricultura Familiar‖ cujo
objetivo foi selecionar instituições proponentes/parceiras para apoiar e realizar o curso. Isso foi
possível depois de firmar um Acordo de Cooperação Técnica entre o MMA e a instituição parceria,
neste caso, o AGROVIDA umas das vinte e duas instituições selecionadas a nível nacional,
responsabilizando-a por organizar turmas locais e prover profissionais (tutores) para a orientação e
acompanhamento dos alunos.
O AGROVIDA instituição parceira selecionada para executar o curso no Recôncavo Baiano,
é uma entidade civil, sem fins lucrativos, fundada em 12 de fevereiro de 2004 e se constitui
enquanto grupo de estudantes oriundos ou envolvidos com comunidades rurais que apoiam ações
voltadas para a melhoria da qualidade de vida no campo, bem como para a agricultura familiar com
enfoque na agroecologia.
Desde a sua fundação e situada na cidade de Cruz das Almas – BA, a instituição
AGROVIDA tem desenvolvido diversas ações em torno das temáticas por ela apoiada, tais como
Encontros de Agroecologia e Agricultura Familiar, Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER)
no Recôncavo Baiano, participou da criação e compõe o Núcleo de Agricultura Familiar e
Agroecologia da UFRB e realiza espaços de formações e debates dentro e fora da universidade.

METODOLOGIA

A formação dos educadores ambientais se deu através da realização do curso na modalidade


semipresencial cuja metodologia aplicou-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
disponibilizado pelo MMA e aos encontros presenciais que ocorreram na Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB) em Cruz das Almas – BA. O período de execução foi de abril a
novembro de 2016 e contou com 55 alunos matriculados distribuídos em duas turmas as quais
foram nomeadas com elementos da natureza: turma Terra e turma Água.
A carga horária total do curso foi de 180 horas e ao longo do seu desenvolvimento cada
turma obteve o auxílio e acompanhamento de um tutor que passou por um processo de formação
pelo MMA a fim de capacitá-los para coordenar as atividades. O curso atingiu um público alvo
composto por agricultores, jovens de comunidades rurais, representantes da sociedade civil,
estudantes e professores.
Os assuntos trabalhados durante o curso foram organizados em sete volumes na forma de
cartilha e entregues para cada participante um kit do material impresso, além de disponibilizá-los
via AVA. Para cada tema foi realizado um encontro presencial com as duas turmas, sendo os temas
organizados na forma de módulos:

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

 Educação ambiental e a agricultura familiar no Brasil: aspectos introdutórios;


 O papel do agente popular de educação ambiental na agricultura familiar;
 Cenário socioambiental rural brasileiro e as formas de organização social e produtiva no
campo e na floresta;
 O planeta Terra: um sistema vivo;
 Sustentabilidade e agroecologia: conceitos e fundamentos;
 Fundamentos e estratégias pedagógicas para a educação ambiental na agricultura familiar;
 Ações para a sustentabilidade no campo.

Dessa forma, para que o aprendizado fosse alcançado em sua plenitude foi previamente
elaborado um cronograma de atividades juntamente com um coordenador pedagógico com o
objetivo de despertar o interesse dos alunos e facilitar a compreensão dos temas abordados. Dentre
as atividades realizadas destacam-se: palestras, dinâmicas em grupo, exibição de vídeos, visita
técnica, fóruns via AVA, atividade realizada na própria comunidade por cada aluno, trocas de
sementes e rodas de conversa. Cada atividade foi desenvolvida em torno do tema em questão.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com base no balanço realizado para identificação do perfil dos alunos, cidades envolvidas
no curso através da representação dos mesmos, além da avaliação de desempenho, observou-se que
dos 55 alunos matriculados 31 eram mulheres e 24 homens, dentre estes 28 alunos apresentavam
faixa etária entre 18 e 24 anos; 22 alunos faixa etária entre 25 e 29 anos e 5 alunos com faixa etária
entre 30 e 66 anos, mostrando um público diversificado interessado pela temática do curso. Ter uma
participação maior por parte da juventude é muito importante, visto que as causas do êxodo rural
em sua maioria são direcionadas à falta de qualidade de vida que a juventude não enxerga no
campo. A partir do envolvimento no curso cria-se um grau de responsabilidade em cada indivíduo
para que estes sejam disseminadores e atuantes em sua própria comunidade.
Observou-se também uma considerável representação dos Territórios de Identidade da
Bahia, conforme mostra a Figura 1, foram onze Territórios representados com destaque o
Recôncavo, Sisal e Vale do Jiquiriçá, pois tiveram maior representação respectivamente. Envolver
um público do qual está disperso em diferentes realidades da Bahia possibilita a expansão da
educação ambiental crítica e transformadora da realidade socioambiental que estes convivem.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Série1;
Recôncavo; 30

Nº de pessoas

Série1; Vale do
Série1; Baixo Sul;
Série1; Sisal; 5 Jiquiriçá; 5 Litoral
Série1; Série1; Médio
Série1;
4 Série1; Portal
Série1;doPiemonte
Série1; Litoral Sul;
Norte e Agreste Série1; Sertão
Sudoeste
Metropolitano
da de
sertão;
do 2Paraguaçu; 22
Baiano; 1 Produtivo;Bahia;
1 Salvador;
1 1

Figura 1. Representação dos Territórios de Identidade da Bahia através dos participantes do curso.

Entendendo que interligar os diferentes saberes contribui para a construção de um


conhecimento sistêmico onde tudo é observado de forma holística, sobretudo, quando se considera a
importância de cada parte que compõe o todo e não apenas uma isoladamente, os espaços virtuais e
presenciais de aprendizagem priorizaram pelo compartilhamento de experiências e saberes de cada
participante o qual possibilitou uma abertura maior para propor possíveis ações.
No primeiro encontro presencial foi apresentado o método do curso, uma orientação sobre
como trabalhar com o AVA e realizada a abertura das atividades com um breve histórico sobre o
AGROVIDA e PEAAF, participaram de uma dinâmica em grupo Figura 2 a qual os permitiu refletir
sobre a relação homem-natureza e a importância de se pensar e trabalhar em equipe deixando fluir o
espírito da coletividade e do bem em comum, além de facilitar o diálogo e a interação entre os
colegas da turma. Em seguida, participaram de uma palestra sobre Educação Ambiental e
Agricultura Familiar no Brasil onde foi apresentado um breve histórico da agricultura familiar no
Brasil e sua importância para a produção de alimentos, destacando que a distribuição de crédito do
governo para esse setor é relativamente baixa. Além disso, foram contextualizados os conflitos
existentes no campo e os problemas a serem enfrentados pela agricultura sustentável, ressaltando
em meio a esses desafios a importância de falar sobre Educação Ambiental com uma visão crítica.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Figura 2. Dinâmica em grupo realizada na abertura do curso no primeiro encontro presencial.

Iniciou-se o segundo e terceiro encontros presenciais com a confecção de um cartaz onde os


alunos ao chegarem escreviam o que os motivavam a estarem ali, dentre os escritos estavam
―Educação Libertadora‖, ―Aprendizado, cultura e educação‖ e ―Acreditar na Agroecologia‖.
Em seguida, participaram de uma palestra sobre Juventude e a reinvenção da ação política
na universidade, onde foi explanado um breve histórico sobre a criação da primeira universidade no
Território do Recôncavo e destacado que a extensão é um espaço de formação prática que se
trabalha em mão dupla. Abordou sobre os conceitos de juventude em sua multidisciplinaridade,
trabalhando a visão estereotipada que se tem sobre essa categoria, contextualizando a
transitoriedade da juventude e seu papel enquanto sujeitos sociais de uma sociedade que está em
constante transformação. Em outro momento os alunos assistiram a um filme o qual foi discutido
numa roda de conversa por meio de temas geradores.
Durante o quarto e quinto encontros foi realizada uma visita técnica à unidade de produção
orgânica com o objetivo de verificar as práticas de manejo adotadas na produção orgânica e como
se dá todo o funcionamento do sistema fazendo um paralelo com a produção agroecológica. Através
de um espaço no qual foi discutido Autonomia dos agricultores: perspectivas e desafios, os alunos
foram instigados a pensarem e falarem o que se entendia por autonomia, dentre as falas destacam-
se: ―liberdade‖; ―traçar caminhos‖; ―capacidade de realizar ações‖.
Com base nas falas surgiu uma inquietação sobre qual autonomia se está falando, se ela está
no campo neoliberal ou na autonomia coletiva que dá acesso a um impulso de vida, existência,

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

qualidade material e social. Nesse contexto, foram levantados alguns pontos para superar o desafio
organizacional nas comunidades, dentre eles: necessidade de percepção da unidade coletiva,
mudança no modelo de extensão rural, repensar os projetos voltados para a agricultura familiar e
empoderamento dos agricultores. Num outro momento foi realizado um espaço sobre sementes
crioulas e troca destas entre os alunos.
No sexto e sétimos encontros presenciais os alunos participaram de uma palestra que
abordou sobre as Estratégias pedagógicas para uma Educação Ambiental do campo, a mesma
permitiu dialogar sobre as categorias e concepções dentro da educação do campo e consciência
crítica, perpassando um pouco sobre a educação popular e destacando algumas práticas pedagógicas
intervencionistas. Foi discutido também sobre a Economia Solidária e Sustentabilidade no campo
destacando a autonomia que a economia solidária proporciona e suas principais demandas,
ressaltando que atrelada à Agroecologia que preza pelo saber e participação popular, se adaptando a
agricultura familiar e camponesa.
Ao final do encontro foi realizada uma avaliação geral sobre o curso entre alunos e tutores.
Vale ressaltar que durante cada módulo os alunos realizavam atividades propostas no AVA além de
responder uma avaliação referente a cada módulo estudado. Isto porque o aproveitamento no curso
deveria ser igual ou superior a 50%, percentagem alcançada através da realização das provas dos 7
módulos, para que obtivessem a certificação do curso.
No geral, apesar das dificuldades encontradas por um agricultor em acessar um computador,
aspecto que seria considerado um entrave caso o curso não fosse semipresencial, os alunos
obtiveram médias superiores a 50% e dos matriculados no curso 3 desistiram por questões de
dificuldade de deslocamento até os encontros presenciais. Assim, acredita-se que o curso
contribuiu a partir dessa formação na construção de educadores ambientais onde se pretende que
através de ações concretas alcancem os objetivos da educação crítica no contexto da agricultura
familiar.

CONCLUSÃO

A partir das análises de desempenho e diálogo mantido ao final do curso é possível inferir
sobre a contribuição do curso para a formação dos agentes populares em educação ambiental, cuja
percepção construída foi no sentido de desenvolver ações de educação ambiental voltadas para as
questões socioambientais do campo. Além disso, possibilitou-se a reflexão em torno do conceito de
educação ambiental e a necessidade que se deve ter em desenvolver a criticidade, quando abordada.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERNAL, A. B.; MARTINS, A. de M. C. (Orgs.). Formação de agentes populares de educação


ambiental na agricultura familiar: volume 1 – Educação Ambiental e agricultura familiar no
Brasil: aspectos introdutórios. Brasília: MMA, 2015. 64 p.

BERNAL, A. B.; MARTINS, A. de M. C. (Orgs.). Programa de Educação Ambiental e Agricultura


Familiar. Brasília: MMA, 2015. 32 p.

BERNAL, A. B.; MARTINS, A. de M. C. (Orgs.). Programa de Educação Ambiental e Agricultura


Familiar: Caderno conceitual do PEAAF. Brasília: MMA, 2015. 64 p.

BRASIL. Lei 9.795/1999. Lei da Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em: 25 de agosto 2017.

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2009.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS E ATIVIDADES


ANTIOXIDANTES DE FRUTAS DE CULTIVO AGROECOLÓGICO E
CONVENCIONAL DO SERIDÓ POTIGUAR

Valkleidson Santos de ARAUJO


Aluno do Curso de Alimentos IFRN
Sthefany Albuquerque Assunção MOREIRA
Aluna do Curso de Alimentos IFRN
stheralbuquerque@outlook.com
Monique Gabriela das Chagas Faustino ALVES
Professora Adjunta Doutora em Bioquímica UFRN
Marília da Silva Nascimento SANTOS
Professora Adjunta Doutora em Bioquímica IFRN

RESUMO
Frutas são importantes na alimentação, não só pela função nutricional, mas também pela presença
de compostos bioativos como os compostos fenólicos, que exercem importante papel protetor
atuando como antioxidantes. Entretanto, a forma de cultivo, se orgânico ou convencional, é
questionado por alterar a sua função nutriente e/ou bioativa. Assim, este estudo tem por objetivo
ampliar a compreensão acerca de possíveis interferências do sistema de produção no potencial
antioxidante e teor de fenólicos de frutas cultivadas na região do Seridó/RN. Para isso, a acerola e a
goiaba, de cultivo orgânico e convencional, foram selecionadas e submetidas à extração metanólica
para determinação do teor de fenólicos e da atividade antioxidante pelos métodos de capacidade
antioxidante total (CAT) e varredura de radicais DPPH. Os resultados mostraram que a acerola
possui maior teor de fenólicos que a goiaba, e este conteúdo não é significativamente alterado pelo
modo de cultivo. Também pode ser verificado que a CAT foi diretamente proporcional aos níveis
de fenólicos presente nas amostras. Além disso, todas as amostras apresentaram significativo efeito
na varredura de radicais de DPPH. Com relação a este efeito, não foi verificada diferença entre as
diferentes formas de cultivo da acerola, entretanto, a goiaba de cultivo agroecológico mostrou
potencial antioxidante superior à de cultivo convencional. Com exceção do elevado potencial do
extrato da goiaba agroecológica sobre o extrato convencional na varredura de radicais DPPH, não
foi verificado no método de CAT, diferença significativa nos padrões de atividade das amostras
com relação aos diferentes cultivos. Esses dados sugerem que tanto a acerola quanto a goiaba são
importantes alimentos bioativos com efetivo potencial antioxidante e este efeito possivelmente
independe do modo de produção.
Palavras chave: Compostos Fenólicos, Goiaba, Acerola, Atividade Antioxidante, Modo de Cultivo.
ABSTRACT
Fruits are important in nutrition, not only for the nutritional function but also for the presence of
bioactive compounds such as phenolic compounds, which exert an important protective role acting
as antioxidants. However, the form of cultivation whether organic or conventional, is questioned
because it changes its nutrient and / or bioactive function. Thus, this study aims to broaden the
understanding of possible interferences of the production system in the antioxidant potential and
phenolic content of fruits cultivated in the Seridó region/ RN. For this, acerola and guava of organic
and conventional cultivation were selected and submitted to methanolic extraction for determination

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

of phenolic content and antioxidant activity by total antioxidant capacity (CAT) and DPPH radical
scavenging methods. The results showed that acerola has a higher phenolic content than guava and
this content is not significantly altered by the cultivation method. It can also be verified that the
CAT was directly proportional to the phenolic levels present in the samples. In addition, all samples
had a significant effect on the DPPH radicalsscavenging. Regarding this effect, there was verified
no difference between the different forms of acerola cultivation, however, the guava
fromagroecological cultivation showed superior antioxidant potential to that of conventional
cultivation. Except for the high potential of the agroecological guava extract over the conventional
extract in the DPPH radical scavenging, significant difference in the activity patterns of the samples
with respect to the different cultivations was not observed in the CAT method. These data suggest
that both acerola and guava are important bioactive foods with an effective antioxidant potential and
this effect is possibly independent of the kind of production.
Keywords: Phenolic Compounds, Guava, Acerola, Antioxidant Activity, Mode of Cultivation.

INTRODUÇÃO

Frutas e hortaliças são muito importantes na nutrição humana, pois além de fornecer energia,
esses alimentos de origem vegetal representam uma rica fonte de fibras dietéticas, minerais e outros
importantes compostos bioativos (VAN DUYN; PIVONKA, 2000; JAIME et al., 2007).
Dentre esses compostos, podem ser citados os compostos fenólicos. Quimicamente, os
fenóis são considerados substâncias polares e podem ser definidos como compostos que possuem
anel aromático com um ou mais substituintes hidroxílicos e estrutura bastante variável, sendo,
assim, considerados multifuncionais (LEE, et al., 2005).
Os compostos fenólicos têm sido alvo de inúmeros estudos acerca de seu proeminente efeito
como interruptores de radicais livres, revelando sua eficiente função antioxidante (SHAHIDI;
JANITHA; WANASUNDARA, 1992).
O termo radical livre pode ser atribuído a qualquer átomo ou molécula que possua um
número ímpar de elétrons em sua última camada, característica que confere alta reatividade a estas
moléculas. Dentre esses compostos podem ser citados o radical hidroxila, o ânion superóxido e o
óxido nítrico (HALLIWELL; GUTTERIDGE, 2000; HALLIWELL, 1992).
Em condições fisiológicas os radicais livres são produzidos em níveis controlados pelos
mecanismos de defesa celulares. O estresse oxidativo ocorre quando há falha no equilíbrio entre a
produção de oxidantes e a concentração de defesas antioxidantes, o que acarreta danos celulares
(SALVADOR; HENRIQUES, 2004).
Inúmeros fatores foram descritos por afetar a qualidade e, conseqüentemente, o potencial
antioxidante de um alimento. Dentre estes fatores pode ser destacado o seu modo de produção:
agroecológico ou convencional (DAROLT, 2003).
O sistema de produção agrícola convencional está baseado no emprego intensivo de adubos
químicos e agrotóxicos. Visando à produtividade, a prática de produção convencional tem

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

culminado, por exemplo, no aumento dos custos de produção, esgotamento de recursos naturais e
redução da qualidade dos alimentos. Contrapondo-se a esse sistema de produção, a agricultura
agroecológica tem por finalidade a auto-sustentabilidade dos sistemas de produção, visando não só
a preservação ambiental, mas a qualidade de vida humana (CAMPOS, 2004; MEIRELLES; RUPP,
2016). Na produção agroecológica é excluída a utilização de fertilizantes e pesticidas sintéticos,
reguladores de crescimento de plantas e organismos geneticamente modificados (SINGH et al.,
2009).
Acredita-se que a utilização de fertilizantes sintéticos possa reduzir os níveis de compostos
antioxidantes em plantas, enquanto os fertilizantes orgânicos sejam capazes de aumentar esses
níveis (DUMAS et al., 2003; ALDRICH et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2013). Entretanto, na
literatura são encontrados resultados controversos acerca da fitoquímica de vegetais agroecológicos
e convencionais (FALLER; FIALHO, 2010; SINKOVIC et al., 2015).

OBJETIVOS

O presente estudo tem por objetivo avaliar e comparar o potencial antioxidante e os níveis
de compostos fenólicos da acerola (Malpighia emarginata) e goiaba (Psidium guajava) oriundos de
cultivos agroecológico e convencional da região do Seridó Potiguar.

METODOLOGIA

Material

A acerola e a goiaba utilizadas neste estudo foram cultivadas de modo convencional e


agroecológico. As amostras das frutas foram coletadas no Povoado Cruz, localizado na cidade de
Currais Novos, RN.

Extração

As frutas foram limpas com água corrente e a porção comestível desintegrada em


multiprocessador. Em seguida, as amostras foram pesadas e extraídas sob agitação com metanol
80% na proporção de 1/10 (p/v) durante 120 minutos, à 60°C sob refluxo. Posteriormente os
extratos foram filtrados com papel Whatman n°6 e o sobrenadante utilizado nos procedimentos que
seguem.

Teor de Fenóis totais

A concentração de fenóis totais foi determinada colorimetricamente conforme o


procedimento padrão de Folin-Ciocalteu (SINGLETON; ROSSI, 1965) e as leituras foram

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

realizadas a 755 nm. Para a curva de calibração foram usadas soluções aquosas de ácido gálico. O
teor de fenóis totais foi determinado por interpolação das absorbâncias das amostras contra a
respectiva curva de calibração.

ATIVIDADES ANTIOXIDANTES

Atividade antioxidante total

Uma alíquota de 0,1 mL dos extratos foi misturada em um tubo Eppendorf com 1 mL da
solução reagente (0,6 M de ácido sulfúrico, 28 mM fosfato de sódio e molibdato de amônio 4 mM).
Os tubos foram incubados a 95 °C por 90 min. Após o resfriamento das amostras a temperatura
ambiente, a absorbância foi mensurada a 695 nm (PRIETO, PINEDA; AGUILAR, 1999). Os
resultados foram expressos a partir da equação da reta obtida da curva de calibração do ácido
ascórbico.

Varredura de radicais DPPH

A atividade seqüestradora de radicais 2,2-difenil-1-picrilhidrazil (DPPH) foi determinada de


acordo com o método de Ye et al., (2008) modificado. 0,1 mL dos extratos foram adicionados em
1,5 mL de solução etanólica de DPPH (0,1 mM). Após 30 minutos em temperatura ambiente, a
absorbância foi mensurada a 517 nm. A atividade seqüestradora de radicais DPPH foi determinada
pela fórmula: atividade seqüestradora (%)= (1- Aamostra/ Acontrole) x 100, onde Acontrole se
refere a absorbância da solução etanólica de DPPH na ausência da amostra, a qual é substituída por
álcool etílico (absorbância do controle), e Aamostra se refere a absorbância da solução etanólica de
DPPH na presença da amostra teste (absorbância da amostra).

Análise estatística

Todas as determinações foram realizadas em triplicatas e apresentadas como média ± desvio


padrão (SD). Diferenças foram consideradas significantes quando p < 0.05. Todas as análises
estatísticas, incluindo as de correlação, envolveram o uso do software GraphPad Prism 5 (GraphPad
Software, Inc. San Diego, CA).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Teor de fenóis totais

A atividade antioxidante pode ser influenciada pelo substrato lipídico utilizado no


experimento, pelo solvente, ou ainda pela técnica de extração empregada (FRANKEL, 1993;
MADSEN; BERTELSEN, 1995). Dentre os solventes orgânicos utilizados na literatura, destaca-se

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

a utilização do metanol, por ser apontado pela capacidade de extrair elevada quantidade de
compostos bioativos (ECONOMOU; OREOPOULOU; THOMOPOULOS, 1991).
A Tabela I apresenta os valores obtidos na dosagem dos compostos fenólicos da acerola e
goiaba agroecológicas e convencionais. Os resultados mostram que, independente do modo de
cultivo, a acerola possui significativamente maior teor de fenólicos comparada a goiaba. Quando se
compara mais especificamente o modo de cultivo, pode-se notar uma leve diferença com relação ao
cultivo agroecológico ou convencional. A acerola cultivada de forma convencional apresentou
maiores taxas de fenólicos. Por outro lado, na goiaba agroecológica pode ser observado maior teor
de fenólicos com relação a goiaba cultivada de forma convencional.

Tabela I: Teor de compostos fenólicos da acerola e goiaba cultivadas de modo convencional e agroecológico.
Os resultados são apresentados como média ± desvio padrão.

Atividade antioxidante total (CAT)

O método de capacidade antioxidante total, descrito por Prieto, Pineda & Aguilar (1999),
fundamenta-se na redução do complexo fosfomolibdênico, que consiste na redução do Mo +6 para
Mo+5 e posterior formação do complexo fosfato-Mo+5, o qual pode ser verificado por sua coloração
verde em pH ácido e absorção máxima em 695 nm. Esse se destaca por ser um método sensível, de
simples execução e de baixo custo.
Para análise, foi construída uma curva de calibração com diferentes concentrações de ácido
ascórbico. As absorbâncias obtidas das amostras foram aplicadas a equação da reta encontrada para
a curva de calibração e os resultados foram expressos na forma de concentração relativa ao ácido
ascórbico. Assim, pode-se observar na FIGURA I que, tanto a goiaba quanto a acerola,
independente do modo de cultivo, apresentaram significativo potencial antioxidante. Além disso, o
padrão de atividade antioxidante não apresenta diferença significativa quando observados os modos
de produção.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

FIGURA I: Relação entre os diferentes modos de cultivo da acerola e da goiaba com a massa de ácido
ascórbico com efeito semelhante no ensaio de avaliação da capacidade antioxidante total. Valores foram
expressos em média ± desvio padrão.

Varredura de radicais DPPH

Este método é baseado na transferência de elétrons. Neste, o DPPH, ao sofrer a ação de um


antioxidante, é reduzido formando difenil-picril-hidrazina. Durante o processo, há uma mudança de
coloração do sistema que passa de púrpura a uma coloração amarelada.
Pode ser observado na Figura II, o potente efeito tanto da acerola quanto da goiaba na
varredura de radicais DPPH. Além disso, destaca-se o maior efeito da goiaba agroecologica frente a
goiaba produzida de modo convencional. Não foram verificadas diferenças na acerolacom relação
ao modo de cultivo.

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FIGURA II: Efeito dos diferentes modos de cultivo da acerola e da goiaba sobre a varredura de radicais
DPPH. Valores foram expressos em média ± desvio padrão.

Com relação ao modo de produção, há uma crescente adesão ao mercado orgânico de


produtores brasileiros. Dentre as regiões, destaca-se o Nordeste brasileiro com mais de 4 mil
agricultores com produção orgânica (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2016).
No Rio Grande do Norte existem 430 produtores orgânicos cadastrados no Ministério da
Agricultura (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2016). Mais especificamente, na região do
Seridó Potiguar é verificado um fortalecimento do comércio de pequenos produtores motivado pelo
aumento do consumo dos produtos orgânicos (DANTAS, 2016).
A prática da agricultura agroecológica é incentivada não só pelo uso sustentável dos
recursos naturais ou pela não promoção de danos ambientais relacionados à prática convencional. A
produção orgânica é incentivada, também, em virtude de uma maior valorização da qualidade
alimentar.
Na literatura são encontrados estudos a fim de elucidar possíveis diferenças entre os
compostos bioativos em vegetais produzidos pelos sistemas de produção orgânica e convencional.
No entanto, os resultados encontrados ainda são controversos. Pesquisas básicas e aplicadas são
importantes ferramentas para ampliar os conhecimentos nesta área.

CONCLUSÕES

Neste estudo pode-se observar a eficiência do metanol na extração dos compostos fenólicos
das amostras utilizadas neste estudo. Mais especificamente, foi observado que a acerola possui
maior teor de compostos fenólicos que a goiaba, independente do modo de cultivo.

ISBN: 978-85-68066-53-9 Página 1428


Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

Além disso, quando se correlaciona o efeito antioxidante total aos teores observados de
compostos fenólicos pode-se observar o efeito diretamente proporcional do conteúdo de fenólicos e
atividade antioxidante exibida pela acerola e goiaba.
Com exceção do elevado poder do extrato da goiaba agroecológica sobre o extrato
convencional na varredura de radicais DPPH, não foi verificado nos outros experimentos diferença
significativa nos padrões de atividade antioxidante das amostras com relação aos diferentes modos
de cultivo. No mais, ambas as frutas e seus diferentes modos de produção, conseguiram exibir
potente efeito antioxidante nas diferentes atividades avaliadas.
Os resultados aqui mostrados são dados preliminares. Assim, pesquisas futuras precisam ser
realizadas visando uma comparação mais acurada entre os dois cultivos.

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

TEMPERATURA INTERFERE NOS EFEITOS DOS ESTRESSES SALINO E


OSMÓTICO EM PLÂNTULAS DE FEIJÃO DE CORDA

Thiago Jorge Cavalcanti Carvalho de ALMEIDA


Graduando de Agronomia da UFRPE-UAG
thiagojorg@gmail.com
Luciana Maia Nogueira de OLIVEIRA
Profa. da UFRPE-UAG
lucianamaia_m@yahoo.com.br

RESUMO
As plantas submetidas a estresse salino, hídrico e de altas temperaturas apresentam uma série de
efeitos deletérios em seu desenvolvimento celular. Atualmente um dos grandes desafios dos
cientistas de plantas é compreender e tentar manter a produtividade de plantas sob condições
ambientais desafiadoras. O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de estresses abióticos
combinados com temperatura no crescimento de plântulas de feijão de corda (Vigna unguiculata L.)
através do seu comprimento e massa seca, bem como avaliar as concentrações de íons, Na+, K+ e
-
PO4 . Sementes de de feijão V. unguiculata cultivar IPA 206 foram colocadas para germinar em
papel filtro umedecido em água destilada, solução de NaCl (100mM) ou Manitol (200mM), em
câmara com fotoperíodo de 12 horas, nas temperaturas de 25°, 30° ou 40°C, durante 8 dias. Nossos
resultados mostraram que a temperatura de 40°C inibiu a germinação. A salinidade e o estresse
osmótico, em temperaturas de 25° e 30°C inibiram o crescimento de raízes e da parte aérea de
plântulas, entretanto, houve um efeito mais pronunciado desses estresses em temperatura de 25°C.
Em relação à massa seca, as raízes se mostraram mais sensíveis aos estresses. Já para na parte aérea,
houveram aumentos da massa seca em relação a salinidade e estresse hídrico. Os níveis de íons Na +
aumentaram em raízes e parte aérea em resposta a salinidade e os níveis de K+ diminuíram em todos
os estresses. Os níveis de fósforo nas raízes aumentaram em todos os tratamentos, mas diminuiram
na parte aérea. A salinidade e o estresse osmótico parecem interferir nos processos de transportes de
+ +
Na /K nas células, o que pode ocasionar problemas metabólicos em plântulas de feijão e esses
efeitos parecem ser dependentes da temperatura associada.
Palavras-chave: estresse, feijão, salinidade, temperaturas.
ABSTRACT
Plants submitted to salt stress, osmotic and high temperatures stress present a series of deleterious
effects on their cellular development. One of the major challenges for plant scientists today is to
understand and try to maintain plant productivity under challenging environmental conditions,
especially in times of global change. The aim of this work was to study the effect of combined
abiotic stresses on the growth of cowpea (Vigna unguiculata L.) seedlings through their length and
dry mass, as well as to evaluate the concentrations of Na+, K+ and PO4- ions in the roots and shoots.
Seeds of cv. IPA 206 from V. unguiculata were germinated on filter paper moistened with distilled
water, NaCl solution and Mannitol, and seedlings were developmented in a growth chamber under a
12 h photoperiod under different temperatures (25°, 30° and 40°C) for 8 days. Our results showed
that the temperature of 40° C inhibited germination. Salinity and osmotic stress at 25° and 30°C
inhibited root and shoot growth, but there was a more pronounced effect of these stresses at 25° C.
In relation to the dry mass, the roots were more sensitive to the stresses. Similary to shoots, there
were increases of dry mass in relation to salinity and water stress. The levels of Na+ ions increased
in roots and shoot in response to salinity. Already K+ levels decreased in all stresses. Phosphorus

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levels in the roots increased in all treatments, but in the shoot, they decreased. Salinity seems to
interfere with Na+/K+ transport processes in the cells, which can lead to metabolic problems in
bean seedlings. In addition, the effects of the tested abiotic stresses appear to be temperature-
dependence.
Keywords: cowpea, salinity, stress, temperature

INTRODUÇÃO

A espécie Vigna unguiculata (L.) Walp, conhecida vulgarmente como feijão-de-corda e


feijão caupi, é uma dicotiledônea que pertence à família Fabaceae que foi denominada previamente
como Leguminosae (VERCOURT, 1970). Ela apresenta ciclo de vida curto, capacidade para
desenvolver-se em solos de baixa fertilidade, capacidade de fixação de nitrogênio atmosférico
através da simbiose estabelecida com bactérias do gênero Rhizobium e baixa exigência hídrica
(ANDRADE JUNIOR, 2004). Dessa forma, o cultivo do feijão de corda constitui atividade agrícola
tradicional no Estado de Pernambuco (BARRETO, 2001).
Nas regiões cujas cotas pluviométricas estão abaixo da faixa entre 250 e 500 mm anuais, o
uso da irrigação é necessário para suprir a quantidade de água para o adequado crescimento e
desenvolvimento do feijão, o que pode acarretar em salinização dos solos (ANDRADE JUNIOR,
2004).
O estresse salino é um dos principais fatores que limita a produtividade de diferentes
culturas agronômicas (ALLAKHVERDIEV et al., 2000; APSE, 1999). Quase um bilhão de hectares
de solos agrários é afetado pela salinidade, o que representa 7% de toda a área terrestre. Dentre os
1,5 bilhões de hectares que são cultivados, cerca de 5% (77 milhões ha) são afetados por altas
concentrações de sais (MUNNS, 2002).
Os estresses salino e hídrico inibem ou retardam a germinação das sementes e o crescimento
das plântulas devido aos efeitos iônico e osmótico (MUNNS, 2005). Em situações de baixa
disponibilidade de água, a embebição é comprometida pela redução dos potenciais hídricos e o
crescimento da plântula é afetado pela diminuição da expansão e do alongamento celular
(MOTERLE et al., 2008). O excesso de sal causa restrição da captação de água devido à diminuição
do potencial osmótico do substrato (CHAVES et al., 2009), além de provocar toxicidade nos tecidos
devido ao acúmulo em excesso de íons Na+ e Cl- (YE et al., 2005; ESTEVES; SUZUKI, 2008;
GÓIS ET AL., 2008). Nas vias transpiratórias o excesso de íons provoca danos nos tecidos foliares
levando a uma inibição mais acentuada no crescimento da planta (MUNNS et al., 2006). A
toxicidade iônica pode ainda ocasionar o atraso da emergência das plântulas e da mobilização das
reservas ou até diminuir a viabilidade das sementes (MISRA; DWIVEDI, 2004; JOSHI et al., 2005;
ESTEVES; SUZUKI, 2008; KUMAR et al., 2008; MUNNS;TESTER, 2008; VOIGT et al., 2009).

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Diferentes respostas adaptativas são observadas em plantas submetidas aos variados


estresses ambientais, mas poucos trabalhos focam nos efeitos dos estresses combinados na
fisiologia e bioquímica de plantas de feijão caupi, assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar a
germinação, o crescimento e a compartimentação de íons em plântulas de feijão caupi submetidas
aos estresses salino e osmótico associados com diferentes temperaturas.

METODOLOGIA

Material Vegetal e Condições de crescimento

Foram utilizadas sementes de cultivar de feijão Vigna unguiculata (L.) Walp (caupi) cultivar
IPA 206 fornecidas pelo IPA. As plantas sob condição controle foram colocadas para germinar em
água destilada por 8 dias e desenvolveram-se em câmara de crescimento à temperatura de 25 e
30°C. As plantas sob condição de estresse salino foram submetidas à concentração de NaCl
(100mM), as plantas sob condição de estresse hídrico foram submetidas a concentração de manitol
(200mM) em diferentes temperaturas (25, 30 e 40°C).

Parâmetros de crescimento

O efeito dos diferentes tratamentos no desenvolvimento de plantas foi avaliado através do


comprimento, peso fresco e peso seco de plantas sob condição de estresse em relação às plantas em
condição controle. As diferentes partes da planta (raiz, caule e folhas) foram cortadas com lâmina, o
comprimento foi medido em cm e o peso fresco das raízes, dos caules e das folhas foi aferido em
balança analítica. Para as medidas de peso seco o material foi colocado em estufa a 45°C por uma
semana e os respectivos pesos serão mensurados em balança analítica.

Comprimento e Massa seca de plântulas

Ao final do teste de germinação, as plântulas normais foram submetidas a medições com


régua graduada em centímetro (plântulas) e em seguida, submetidos a secagem em estufa regulada a
80°C por 24 horas, conforme recomendações de Nakagawa (1999). Após a secagem em estufa foi
realizada a pesagem das plântulas.

Análise da concentração de íons Na+ , K+ e P .

As análises foram realizadas no laboratório de solos do CENLAG. Cerca de 100 mg das


amostras de matéria seca e moída, das diferentes partes das plântulas, foram pesadas e colocados
em tubos especiais de teflon PFA (perfluoro alquóxi etileno). Em seguida, as amostras foram
digeridas em solução contendo ácido nítrico (70%) e peróxido de hidrogênio (30%) em forno de

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Educação ambiental: biomas, paisagens e o saber ambiental

microondas (marca CEM; Modelo: Mars-Xpress). A programação dos ciclos de temperatura foi
selecionada de acordo com metodologia proposta por Almeida (2007). Posteriormente, as amostras
foram transferidas para balão volumétrico de 25 mL e o volume final completado com água
deionizada. A análise química do conteúdo de íons Na+, K+ e do P das diferentes partes das
plântulas foi analisado por fotometria de chama (EMBRAPA, 1999).

Delineamento experimental

Os experimentos foram realizados em laboratório utilizando delineamento experimental


totalmente casualizado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O efeito da salinidade, estresse hídrico e combinado com diferentes temperaturas no


comprimento de raízes e parte aérea de plantas de feijão de corda estão mostrados na figura 1 e
indicam que o comprimento de raízes de plântulas submetidas a 100mM de NaCl 25°C foi inibido
65,2%, enquanto em 30°C houve diminuição de 35%, mostrando que o efeito da salinidade foi
maior em 25°C. Nas raízes de plântulas submetidas a 200 mM de Manitol a 25°C, observou-se
diminuição de 68,8% e na temperatura de 30°C essa redução foi de 47,1%. Na parte aérea, o efeito
da salinidade (100mM de NaCl) a 25°C no crescimento mostrou redução de 69,6%, enquanto que,
em temperatura de 30°C essa redução foi bem menor, mostrando valor de 38,2%. Já no tratamento
de 100mM de manitol, a parte aérea, apresentou redução de 88,2% a 25°C e 70,8% a 30°C. Dessa
forma, o efeito negativo da salinidade no crescimento de plântulas foi maior na raiz que na parte
aérea. Resultados semelhantes foram encontrados por Costa et al (2003) e Otoch et al. (2001).

Figura 1. Comprimento em centímetro (cm) da raiz e da parte aérea de plântulas de Vigna unguiculata (L.)
Walp cultivar IPA 206. As sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos (T) 1-água destilada a
25°C, 2-100 mM de NaCl a 25°C, 3-200 mM de manitol a 25°C, 4-água destilada a 30°C, 5-100 mM de
NaCl a 30°C e 6-200 mM de manitol a 30°C.

A massa seca das raízes das plântulas de feijão em resposta à salinidade (NaCl 100mM) a 25
e 30°C, mostrou diminuição de 56,52 e 26,9% em relação ao controle, respectivamente. O estresse
hídrico acarretou redução nas raízes de plântulas de 4,3% e 65,3% para as temperaturas de 25 e

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30°C, respectivamente. Em relação à parte aérea, a 25°C houve um aumento da matéria seca de
54,6%, a 30°C em resposta à salinidade e esse aumento foi de 20% em relação ao controle de 30°C.
O tratamento de 200mM de manitol 25°C indica que houve aumento da massa seca de 126%,
superando o controle de 25°C. Em 30°C observa-se um ganho da matéria seca de 57% em relação
ao controle de 30°C. A razão da biomassa de raízes para a parte aérea parece ser governada por um balanço
funcional entre absorção de água pelas raízes e fotossíntese pela parte aérea. As plântulas submetidas a
temperatura de 40oC não conseguiram germinar e desenvolver-se em nenhum tratamento,
mostrando condição extrema de estresse.
O tratamento de 100mM de NaCl 25°C induziu um acréscimo na concentração de íon Na+
de 7,3 vezes nas raízes, em relação à referência de 25°C (Tabela 1). As raízes das plântulas com
tratamento de 200mM de Manitol 25°C, apresentaram o dobro da concentração de Na+, quando
comparado com o controle,. Os níveis obtidos no tratamento de 100mM de NaCl 30°C foi
aproximadamente 11 vezes maior, quando comparado com o controle na mesma temperatura.
Houve um efeito de aumento de 2 vezes, quando tratadas com 200mM de Manitol 30°C, quando
relacionadas com o controle de 30°C.

Figura 2. Massa seca (g) da parte aérea (A) e da Raiz (B) de plântulas de Vigna unguiculata (L.) Walp
cultivar IPA 206. As sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos (T) 1-água destilada a 25°C, 2-
100 mM de NaCl a 25°C, 3-200 mM de manitol a 25°C, 4-água destilada a 30°C, 5-100 mM de NaCl a 30°C
e 6-200 mM de manitol a 30°C.

Tratamento Raiz Parte aérea


Na+ K+ P Na+ K+
P
T1 4,01 56,2 0,07 0,81 34 0,02
T2 29,46 10,8 0,14 1,6 27 0,017
T3 8,32 6,8 0,20 0,58 10,5 0,014
T4 2,21 40,2 0,01 0,61 36,2 0,021
T5 24,34 18 0,03 1,9 29 0,019
T6 4,16 15 0,05 0,66 23 0,015
Tabela 1. Níveis de íons Na+, K+ e PO4- em plântulas de Vigna unguiculata (L.) Walp cultivar IPA 206. As
sementes foram submetidas aos seguintes tratamentos (T) 1-água destilada a 25°C, 2-100 mM de NaCl a
25°C, 3-200 mM de manitol a 25°C, 4-água destilada a 30°C, 5-100 mM de NaCl a 30°C e 6-200 mM de
manitol a 30°C. Os valores representam média de 2 experimentos independentes e foram expressos em mg/g
MS (matéria seca).

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Na parte aérea dessas plântulas, foi observado aumento na concentração de Na+ em resposta
ao estresse salino (NaCl 100 mM) de 2 vezes em comparação com o controle em temperatura de
25°C. No tratamento de 100mM de NaCl 30°C foi observado aumento de 3,11 vezes, quando
comparado com o controle na mesma temperatura. Uma diminuição de 28% foi observada quando
plântulas foram tratadas com 200mM de Manitol 25°C, e nenhuma alteração relacionada a
temperatura de 30°C (Tabela 1).
O aumento na concentração de Na+em plântulas de feijão expostas à alta salinidade foram
observados previamente (COSTA et al., 2003; FERNANDES DE MELO, ) e parece ser uma
resposta geral dessas plantas. Entretanto, se o Na+ estiver presente em altas concentrações, ele pode
interferir nos níveis de K+.
A concentração de potássio diminuiu em todos os tratamentos analisados, tanto na raiz como
na parte aérea, nas temperaturas de 25 e 30°C, indicando que o aumento da concentração de Na+
pode estar relacionado à interferência do Na+ na captação de íons K+, uma vez que alguns canais de
K+ não possuem alta afinidade, sendo não seletivos. Os resultados observados estão de acordo com
os encontrados por Costa et al (2003) que mostraram acúmulo desse íon em alguns genótipos de
feijão caupi. O tratamento de 100mM de NaCl induziu acréscimo na concentração de fósforo em
raízes das plântulas submetidas as temperaturas de 25 e 30°C, mostrando valores de 100 e 200%,
respectivamente. As raízes das plântulas com tratamento de 200mM de Manitol 25°C, apresentaram
aumento de 180% na concentração do fósforo. Já na parte aérea, as concentrações de fósforo
diminuíram em todos os tratamentos, mostrando a maior diminuição no tratamento com 200 mM
Manitol + 25oC (Tabela 1). O fósforo é um nutriente extremamente móvel nas plantas, podendo ser
transportado de um local para outro, dependendo da necessidade metabólica da planta. Além disso,
ele entra na composição de biomembranas e em moléculas envolvidas na transferência de energia,
como ATP, necessários nas respostas de plantas aos estresses ambientais. Dessa forma, raízes
devem ter demandado maior necessidade desse nutriente em detrimento da parte aérea.
Os efeitos dos estresses abióticos (salino e osmótico) na germinação e no crescimento de
plântulas parecem ser dependentes da temperatura associada. Entretanto, novas abordagens são
necessárias para a melhor compreensão dessas respostas em plantas de feijão de corda.

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