Você está na página 1de 8

Recurso em Sentido Estrito

Fundamento: artigo 581 do CPP (também previsto nos artigos 294,


parágrafo único, do CTB, 516, do CPPM, e 2º, III, do decreto-lei 201/76).

Conceito: recurso utilizado para impugnar decisões interlocutórias e


terminativas de mérito previstas expressamente no artigo 581 do CPP.

Prazo: 05 (cinco) dias para interposição (salvo na hipótese do artigo 581,


XVI, CPP); 02 (dois) dias para razões.

Como identificá-lo: o problema dirá que o acusado foi intimado de uma


decisão. Para saber se o “rese” é a peça cabível, basta comparar o caso com
as hipóteses do artigo 581 do CPP.

Dica: não se esqueça de pedir, no momento da interposição, a retratação do


juiz que proferiu a decisão recorrida.

Importante: as hipóteses a seguir não mais ensejam o “rese”, mas agravo


em execução (LEP, artigo 197): a) concessão, negativa ou revogação da
suspensão condicional da pena (inc. XI); b) concessão, negativa ou
revogação do livramento condicional (inc. XII); c) decisão sobre unificação de
penas (inc. XVII); decisões relativas a medidas de segurança (incisos XIX,
XX, XXI, XXII e XXIII). Lembrando: se a decisão for proferida pelo juiz da
Vara de Execuções Penais, o recurso cabível será o agravo em execução,
jamais o “rese”.

Comentário: a chance de cair um “rese” é muito grande. Como ocorre com a


apelação, o recurso em sentido estrito é uma peça que comporta mais de
uma tese.

Apelação x ReSE: não há como confundir as peças. Se o problema falar em


“sentença”, analise minuciosamente o artigo 581 do CPP. Se a situação não
estiver prevista dentre as hipóteses do dispositivo, será o caso de apelação,
que funciona de forma residual, ou seja, aplicável onde o “rese” não é
cabível.

Recurso em Sentido Estrito – Problemas

PROBLEMA 01

(OAB/SP – 117º Exame de Ordem) Os indivíduos Felício e Roberval, após


uma partida de tênis, começaram a discutir. Felício que estava com a
raquete na mão, atingiu de lado e sem muita força a cabeça de Roberval, de
estrutura física inferior à do agressor e mãos desprovidas de qualquer
objeto. Roberval desequilibrou-se e, ao cair ao solo, bateu com a cabeça na
guia, vindo a falecer. Felício foi processado em liberdade perante a 1ª Vara
do Juri, por homicídio simples – art. 121 “caput” do C.P. e pronunciado pelo
magistrado, ao entendimento de que houve dolo eventual, pois o acusado
teria assumido o risco de produzir o resultado, ao golpear Roberval com a
raquete. A sentença de pronúncia foi prolatada há dois dias. Na condição de
advogado de Felício, elabore a peça adequada à sua defesa.

SOLUÇÃO – PEÇA COMENTADA


Interposição:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO
TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA ____.
Processo criminal n. ____.
FELÍCIO, já qualificado nos autos do processo criminal em epígrafe,por seu
advogado, nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, não
se conformando, “data vênia”, com a respeitável sentença de pronúncia, vem
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO EM
SENTIDO ESTRITO, com fulcro no artigo 581, IV, do Código de Processo
Penal.
Destarte, requer seja recebido e processado o presente recurso, e, caso
Vossa Excelência mantenha a r. sentença de pronúncia, encaminhado ao
Egrégio Tribunal de Justiça.
Obs.: atenção ao juízo de retratação! No “rese”, sempre faça menção à
possibilidade de o juiz voltar atrás de sua decisão.
Temos em que,
Pede deferimento.
Comarca, data.
Advogado,
OAB/____ n. ____.
Obs.: não invente dados! Se o problema informar a comarca, ou exigir que a
interposição ocorra em certa data, utilize as informações. Caso contrário,
diga apenas “comarca, data”. O mesmo vale para o nome do advogado e
para o número da OAB.
Razões:
Razões de Recurso em Sentido Estrito
Recorrente: Felício.
Recorrido: Ministério Público.
Processo n.:____.
Egrégio Tribunal de Justiça,
Colenda Câmara,
Douta Procuradoria de Justiça,
Obs.: se o “rese” for julgado pelo TRF, a saudação deve ser feita da seguinte
forma: “Egrégio Tribunal Regional Federal, Colenda Turma, Douto
Procurador da República”.
Em que pese o notável saber jurídico do Meritíssimo Juiz de Direito da 1ª
Vara do Tribunal do Júri da Comarca ____, a respeitável sentença de
pronúncia não merece prosperar, pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas:
I. Dos Fatos
Segundo a denúncia, no dia ____, após uma partida de tênis, o recorrente
desferiu um golpe de raquete na vítima Roberval, que, em razão do ataque,
perdeu o equilíbrio e chocou-se contra a guia do calçamento, vindo a falecer
e decorrência dos ferimentos
Por esse motivo, o Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor do
recorrente, com fulcro no artigo 121, “caput”, do Código Penal.
Encerrada a instrução, o magistrado entendeu que o acusado agiu com dolo
eventual, devendo ser submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri,
conforme sentença de pronúncia de fls. ____/____.
Obs.: não dedique muito tempo à narrativa dos fatos. A razão é simples: não vale ponto.
Ademais, tempo é o bem mais precioso na segunda fase. Não o desperdice! Além disso,
seja imparcial ao relatar o ocorrido: deixe as teses para o tópico “do direito”.

II. Do Direito
Contudo, a respeitável sentença de pronúncia não deve prosperar, pois é
contrária aos ditames legais.
Como já relatado, a vitima faleceu por motivos alheios à vontade e à conduta
do acusado, que não concorreu intencionalmente para a ocorrência do
fatídico desfecho – nem pôde prever ou assumir o resultado.
Para que houvesse o dolo eventual, o acusado teria que ter assumido o
resultado morte, o que não ocorreu, pois, como ficou comprovado, o golpe
desferido pelo recorrente sequer foi dado com força.
Entretanto, por infortúnio, a vítima perdeu o equilíbrio durante o entrevero e
chocou-se contra a guia da calçada, vindo a falecer em razão disso.
Portanto, inexistiu “animus necandi” na conduta do acusado, não havendo o
que se falar em crime doloso contra a vida, de competência do Tribunal do
Júri, sendo indubitavelmente excessiva a imputação que lhe é atribuída.
Em verdade, a conduta do acusado amolda-se perfeitamente à descrição do
tipo previsto no artigo 129, § 3º, do Código Penal, que trata sobre a lesão
corporal seguida de morte: “se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo”.
“Ex positis”, requer seja conhecido e provido o presente recurso em sentido
estrito, para que se desclassifique a conduta do recorrente para aquela
prevista no artigo 129, § 3º, do Código Penal, como medida de justiça.
Termos em que,
Pede deferimento.
Comarca, data.
Advogado,
OAB/____ n. ____.

PROBLEMA N. 02
(OAB/SP – 115º Exame de Ordem)”A” e “B” eram amigos de infância.
Resolveram excursionar por lugar extremamente perigoso, hostil, deserto e
com algumas cavernas, localizado no município de São Paulo. Ficaram
perdidos durante 2 meses. Finalmente, os bombeiros alcançaram o lugar
onde eles estavam. “A” havia tirado a vida de “B” e os homens viram “A”
sentado ao lado de uma fogueira, tranqüilamente assando a coxa da perna
esquerda de “B”. Os bombeiros ficaram horrorizados e “A” foi preso em
flagrante. Processado no Juízo competente, por homicídio doloso simples,
alcançou a liberdade provisória. Acabou pronunciado pelo magistrado, por
sentença de pronúncia prolatada há 2 dias. QUESTÃO: Elabore a peça
processual conveniente, em favor de “A” destinando-a à autoridade judiciária
competente.

SOLUÇÃO: Trata-se de Recurso em Sentido Estrito em duas petições.


A primeira de interposição endereçada ao Exmo. Sr. Juiz de Direito da Vara
do Júri, fundamentada no artigo 581, inciso IV do Código de Processo Penal,
sendo que nesta petição deverá constar o juízo de retratação. A segunda
petição deverá ser endereçada ao Egrégio Tribunal de Justiça, sendo que “A”
agiu em estado de necessidade, nos exatos termos do artigo 24 do Código
Penal, podendo também ser suscitado o artigo 23, inciso I do Código Penal.
Ao final o candidato deverá postular a absolvição sumária com base no
artigo 415, IV, do Código de Processo Penal.

PROBLEMA N. 03
(OAB/SP – 125º Exame de Ordem) João foi acusado pelo Ministério Público
de praticar homicídio qualificado por motivo fútil porque disparou tiros que
atingiram Pedro, seu amigo, e causaram- he a morte, assim agindo porque
este cuspira, em brincadeira, no seu rosto. Na decisão de pronúncia, o juiz,
além de admitir a qualificadora do motivo fútil, acrescentou, ainda, a
qualificadora da traição porque, segundo a prova colhida, João mentira para
Pedro, convidando-o para almoçar em sua casa e, aproveitando-se de
momento em que ele estava sentado à mesa, atingiu-o pelas costas.
QUESTÃO: Como advogado de João, verifique o que pode ser feito em sua
defesa e, de forma fundamentada, postule o que for de seu interesse por
meio de peça adequada.

SOLUÇÃO: Peça: Recurso em sentido estrito (art. 581, IV). Endereçamento:


Tribunal de Justiça. Pedido e fundamento – Afastamento das qualificadoras.
Afastamento da qualificadora do motivo fútil porque cuspir no rosto de outra
pessoa pode configurar, até mesmo, crime de injúria, e não é insignificante.
Afastamento da qualificadora da traição porque não fora incluída na
denúncia, havendo necessidade de aditamento. Pode-se, também, pleitear a
nulidade da pronúncia pela inclusão da segunda qualificadora.
PROBLEMA N. 04
(OAB/SP – 127º Exame de Ordem) João, em 5.1.2005, foi denunciado pelo
crime de homicídio duplamente qualificado: por motivo fútil (discussão
anterior por dívida de jogo) e por uso de recurso que impossibilitou a defesa
(a surpresa com que agiu). Procurado para ser citado, João não foi
encontrado, realizando-se a sua citação por edital e sendo declarada a sua
revelia. Foi-lhe nomeado Defensor Dativo, que apresentou a defesa prévia.
Durante a instrução foram ouvidas duas testemunhas. A primeira, arrolada
pela acusação, afirmou ter visto quando João, por ela reconhecido
fotograficamente na audiência, surgiu de repente e logo desferiu disparos em
direção à vitima Antonio, causando-lhe a morte, tendo sabido pela esposa
da vítima que o motivo era discussão anterior em virtude de dívida. A
segunda testemunha, arrolada pela defesa, afirmou que conhecia João há
muito tempo, sabendo que, na data do fato, ele não estava no Brasil e, por
isso, não podia ser o autor dos disparos. Oferecidas as alegações pelas
partes, João foi pronunciado por homicídio duplamente qualificado, nos
termos da denúncia, sob o fundamento de que o depoimento da testemunha
da acusação, por ser ela presencial, merece crédito, além do que, em caso
de dúvida, deve o acusado ser pronunciado, já que, nessa fase processual,
vigora o princípio in dubio pro societate. João, intimado da decisão no dia
15.09.95, no mesmo dia deu ciência ao seu advogado. QUESTÃO: Como
advogado de João, redija a peça processual mais adequada à sua defesa.
SOLUÇÃO:
Recurso em sentido estrito
Fundamento – Havia necessidade de suspensão do processo conforme
dispõe o artigo 366 do Código de Processo Penal. No mérito, há dúvida
razoável sobre a autoria. O reconhecimento fotográfico, apesar de admitido,
não se prestaria à comprovação da autoria. A prova testemunhal é
controvertida, pois, enquanto uma afirma que o acusado era o autor dos
disparos, outra assevera que ele estava fora do país. Não é correto afirmar
que, na decisão de pronúncia, vigora o princípio “in dubio pro societate”, pois
a dúvida razoável, em virtude do princípio do favor rei, beneficia o acusado,
mesmo em relação a essa espécie de decisão.
Pedido no Recurso em sentido estrito:
Preliminar – declaração de nulidade;
Mérito – impronúncia.

Você também pode gostar