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Modelação das Ondas de Rayleigh

Gonçalo Manuel de Sousa Henriques Vitorino

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em


Engenharia Civil

Júri
Presidente: Prof. Pedro Parreira
Orientador: Prof. João Teixeira de Freitas
Co-Orientador: Prof. Ionut Dragos Moldovan
Vogal: Prof. Luís Guerreiro

Outubro de 2010
Agradecimentos

Sinceramente nem sei por onde começar, para mim esta tese é um culminar de cinco
anos de muito estudo, amizades e convívio. É com algum pesar que escrevo esta parte, pois
significa que a minha vida de estudante acabou e está na altura de seguir em frente, cada um o
seu caminho. Gostaria não só de agradecer mas também congratular o Prof. João Teixeira de
Freitas por ser um belíssimo exemplo do que é ser Professor, não só a sabedoria e
conhecimentos científicos, mas uma boa pessoa, sempre disponível para ajudar assim como
claro e expedito em fazê-lo. O meu obrigado estende-se também à excelente pessoa que é o
Professor Ionut Moldovan, sempre despachado e obstinado, sempre que precisava da sua
ajuda sabia qualquer tipo de dúvida seria esclarecida e resolvida.
Não poderia deixar de agradecer aos meus pais, como é óbvio, não só por sempre me
ajudarem, mas como incansavelmente se propunham a fazê-lo, para além de terem sempre
confiança em mim no meu percurso escolar e me deixarem fazer sempre o que queria.
Obrigado a eles, e se tivesse de escolher outros pais no meio de seis biliões que o mundo tem,
escolheria os mesmos sem pestanejar.
Acabo esta conversa com um abraço e obrigado ao meu irmão, porque é simplesmente
o meu melhor amigo.

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ii
Resumo

As ondas de Rayleigh podem ser descritas através um conjunto de equações


diferenciais, sujeita a condições de superfície livre. A sua formulação é feita separando as
variáveis no espaço e no tempo, originando um conjunto de problemas definidos no domínio da
frequência. A discretização no tempo é normalmente feita recorrendo a séries de Fourier,
aproximando uma função periódica inicial por um certo de número de funções espectrais,
sendo a variação espacial definida pelas equações da Mecânica adequadas à modelação do
meio de propagação.
A combinação dessas equações origina a descrição espectral (ou de Helmholtz) da
equação da onda. As ondas de Rayleigh são então definidas combinando ondas-P e ondas-S
em condições de superfície livre. São estabelecidas admitindo dois tipos de meio (homogéneo)
de propagação, designamente meios de uma fase (por exemplo, solos secos) e meios de duas
fases (solos saturados). O modelo apresentado para as ondas de Rayleigh é formulado
admitindo um estado plano de deformação.
Para ultrapassar as dificuldades conhecidas na modelação de respostas não-periódicas
com séries de Fourier, utiliza-se uma base de aproximação no tempo definida sobre um
conjunto completo de Wavelets. Com o modelo definido, e com a variação no espaço e tempo
acoplados, é possível representar a propagação das ondas de Rayleigh provocadas por uma
acção sísmica.

Palavras-Chave
Modelação de Ondas de Rayleigh
Solos Homogénos
Solos Saturados
Modelação de Ondas no Tempo

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Abstract

Rayleigh waves can be defined by a set of differential equations subject to free-surface


conditions. These equations are derived separating the variables in space and time to obtain a
set of problems defined in the frequency domain. The discretization in time is usually
implemented using Fourier series, replacing the initial periodic function by a number of spectral
functions. The variation in space is defined by a set of equations that model adequately the
mechanical behavior of the medium of propagation.
The combination of these equations leads to the spectral (Helmholtz) definition of the
wave equation. Rayleigh waves are defined combining P- and S-waves under free-surface
conditions, assuming that they propagate in two distinct homogeneous media, namely single-
phase (dry) and biphasic (saturated) media The Rayleigh wave models are derived for states of
plane strain.
The approximation in time is implemented using a system of Wavelets to circumvent the
difficulties inherent to the modelling of non-periodic problems with Fourier series. The modelling
of the propagation of seismic waves is obtained combining this temporal series with the
solutions of the spectral definitions obtained for the Rayleigh waves

Keywords
Modelling of Rayleigh Waves
Homogeneous Soils
Saturated Soils
Transient Wave Modelling

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vi
Índice

1 Introdução ........................................................................................................................ 1
1.1 Objecto e Objectivo ................................................................................................... 1
1.2 Ondas Sísmicas .......................................................................................................... 2
1.2.1 Ondas de Volume............................................................................................... 2
1.2.2 Ondas de Superfície ........................................................................................... 3
1.3 Organização do texto ................................................................................................. 4
2 Solução de Equações Não Lineares Complexas .................................................................. 5
2.1 Introdução ................................................................................................................. 5
2.2 Método Gráfico ......................................................................................................... 6
2.3 Métodos Numéricos .................................................................................................. 6
2.3.1 Método da Bissecção ......................................................................................... 7
2.3.2 Método da Falsa Posição.................................................................................... 7
2.3.3 Método do Ponto Fixo ....................................................................................... 8
2.3.4 Método de Newton ............................................................................................ 9
2.3.5 Método da Secante ............................................................................................ 9
2.4 Conclusão ................................................................................................................ 10
3 Integração no Domínio do Tempo ................................................................................... 13
3.1 Introdução ............................................................................................................... 13
3.2 Série de Fourier ....................................................................................................... 13
3.3 Série de Fourier Complexa ....................................................................................... 14
3.4 Análise Periódica ..................................................................................................... 15
3.5 Análise Não Periódica .............................................................................................. 16
3.6 Conclusão ................................................................................................................ 17
4 Estado de Tensão num Sólido .......................................................................................... 19
4.1 Introdução ............................................................................................................... 19
4.2 Estado de tensão num ponto ................................................................................... 21
4.2.1 Tensor das tensões .......................................................................................... 22
4.2.2 Equilíbrio na fronteira ...................................................................................... 23
4.2.3 Equilíbrio no domínio ....................................................................................... 24
4.3 Estado Plano de Tensão ........................................................................................... 26
4.4 Conclusão ................................................................................................................ 27
5 Estado de Deformação num Sólido .................................................................................. 29
5.1 Introdução ............................................................................................................... 29

vii
5.2 Estado de deformação num ponto ........................................................................... 29
5.2.1 Deformação Homogénea ................................................................................. 29
5.2.2 Decomposição de deformações homogéneas................................................... 31
5.2.3 Deformação Pura ............................................................................................. 31
5.2.4 Tensor das deformações .................................................................................. 33
5.2.5 Compatibilidade no domínio ............................................................................ 34
5.2.6 Compatibilidade na fronteira ........................................................................... 34
5.3 Estado Plano de Deformação ................................................................................... 35
5.4 Conclusão ................................................................................................................ 36
6 Relações Constitutivas de um Sólido................................................................................ 37
6.1 Introdução ............................................................................................................... 37
6.2 Lei de Hooke Generalizada....................................................................................... 37
6.3 Simetria Elástica ...................................................................................................... 38
6.4 Lei de Hooke para Materiais Isotrópicos .................................................................. 39
6.4.1 Relação Tensão Normal-Extensão .................................................................... 40
6.4.2 Relação Tensão Tangencial-Distorção............................................................... 41
6.5 Estado Plano de Tensão ........................................................................................... 42
6.6 Estado Plano de Deformação ................................................................................... 43
6.7 Conclusão ................................................................................................................ 43
7 Propagação de Ondas de Rayleigh ................................................................................... 45
7.1 Introdução ............................................................................................................... 45
7.2 Formulação do Problema ......................................................................................... 45
7.2.1 Condições de Domínio ..................................................................................... 46
7.2.2 Condições de Fronteira .................................................................................... 47
7.3 Aproximação no Tempo ........................................................................................... 47
7.4 Formulação Espectral .............................................................................................. 49
7.5 Ondas de Rayleigh ................................................................................................... 50
7.6 Acção Sísmica .......................................................................................................... 51
7.7 Conclusão ................................................................................................................ 51
8 Solos Não Saturados ........................................................................................................ 53
8.1 Introdução ............................................................................................................... 53
8.2 Identificação das Variáveis ....................................................................................... 53
8.3 Equação da Onda ..................................................................................................... 55
8.4 Ondas Planas ........................................................................................................... 56
8.5 Ondas Cilíndricas ..................................................................................................... 56
8.6 Ondas de Rayleigh ................................................................................................... 57

viii
8.7 Conclusão ................................................................................................................ 59
9 Solos Saturados ............................................................................................................... 61
9.1 Introdução ............................................................................................................... 61
9.2 Identificação das Variáveis ....................................................................................... 61
9.3 Equação da Onda ..................................................................................................... 63
9.4 Ondas Planas ........................................................................................................... 64
9.5 Ondas Cilíndricas ..................................................................................................... 65
9.6 Ondas de Rayleigh ................................................................................................... 66
9.7 Solução das Ondas de Rayleigh ................................................................................ 67
9.8 Conclusão ................................................................................................................ 69
10 Aplicações Numéricas .................................................................................................... 71
10.1 Introdução ............................................................................................................... 71
10.2 Análise no Domínio da Frequência ........................................................................... 71
10.2.1 Frequência de 10 rads-1 .................................................................................... 71
10.2.2 Frequência de 100 rads-1 .................................................................................. 75
10.2.3 Frequência de 250 rads-1 .................................................................................. 79
10.3 Análise no Domínio do Tempo ................................................................................. 82
10.3.1 Definição das Bases de Aproximação................................................................ 83
10.3.2 Determinação das Amplitudes ......................................................................... 84
10.3.3 Resultados ....................................................................................................... 85
11 Conclusão ...................................................................................................................... 93
Apêndice 1: Raízes de Funções Não Lineares ........................................................................... 95
Apêndice 2: Equação da Onda em Solos Não Saturados ........................................................ 99
Apêndice 3: Campos de Deslocamento, Deformação e Tensão em Solos Não Saturados ..... 101
Apêndice 4: Equação da Onda em Solos Saturados.............................................................. 103
Apêndice 5: Campos de Deslocamento, Deformação e Tensão em Solos Saturados ............ 107
Apêndice 6: Propriedades do Solo de Ensaio ........................................................................ 109

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Índice de Figuras

Figura 1 - Ondas de Corpo ou Volume (ondas-P e ondas-S) ..................................................... 2


Figura 2 Ondas de Superfície (ondas de Rayleigh e ondas de Love) ......................................... 3
Figura 3 - Gráfico de uma função f real de variável real [4] ........................................................ 6
Figura 4 - Método da Bissecção [9] ........................................................................................... 7
Figura 5 - Método da Falsa Posição (Cordas) [9] ....................................................................... 8
Figura 6 - Método do Ponto Fixo [9] .......................................................................................... 8
Figura 7 - Método de Newton [9] ............................................................................................... 9
Figura 8 - Método da Secante [9] ............................................................................................ 10
Figura 9 - Variação temporal de uma função f(t) ...................................................................... 13
Figura 10 - Aproximação de uma função por Série de Fourier ................................................. 14
Figura 11 - Peça prismática sujeita a uma força F [5] .............................................................. 20
Figura 12 - Comportamento Elástico Linear [5] ........................................................................ 20
Figura 13 - Comportamento Elástico Não Linear [5]................................................................. 20
Figura 14 - Comportamento Elastoplástico [5] ......................................................................... 20
Figura 15 - Corpo sujeito a forças mássicas e de superfície [5]................................................ 21
Figura 16 - Vector tensão nas três facetas paralelas aos planos coordenados [5] .................... 22
Figura 17 - Significado dos elementos do Tensor das Tensões ............................................... 23
Figura 18 - Tetraedro Infinitesimal [5] ...................................................................................... 23
Figura 19 - Paralelepípedo de volume infinitesimal [3] ............................................................. 25
Figura 20 - Estado Plano de Tensão, componentes nulas do tensor das tensões .................... 26
Figura 21 - Corpo sujeito a uma deformação – estado inicial e estado final [5]......................... 29
Figura 22 - Corpo sujeito a uma deformação [5] ...................................................................... 30
Figura 23 - Paralelepípedo Infinitesimal [5] .............................................................................. 31
Figura 24 - Extensão segundo [5] ....................................................................................... 32
Figura 25 - Distorção entre os eixos e [5] ....................................................................... 32
Figura 26 - Diminuição do ângulo entre e [5] .................................................................. 33
Figura 27 - Corpo sujeito a um Estado Plano de Deformação [5] ............................................. 35
Figura 28 - Cubo sujeito apenas a uma tensão normal [5] ................................................ 40
Figura 29 - Cubo sujeito apenas a uma tensão tangencial [5] ........................................... 41
Figura 30 - Distorção provocada por [5] .................................................................... 41
Figura 31 - Domínio, Fronteiras de Neumann e Dirichlet e Sommerfeld [8] .............................. 45
Figura 32 - Ondas de Rayleigh – Solos Não Saturados ........................................................... 58
Figura 33 - Ondas de Rayleigh em Solos Saturados................................................................ 66
Figura 34 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 )................... 73
Figura 35 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads-1 ).............................. 73
-1
Figura 36 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads ) ......................... 74

xi
-1
Figura 37 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads ) .................................... 75
Figura 38 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 )................. 76
Figura 39 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads-1 ) ........................... 76
-1
Figura 40 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads ) ....................... 77
Figura 41 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads-1 ) .................................. 78
Figura 42 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 ) ................ 80
-1
Figura 43 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads ) ........................... 80
-1
Figura 44 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads ) ....................... 81
-1
Figura 45 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads ) .................................. 82
Figura 46 – Campos de tensões para solos homogéneos com base N=16 .............................. 86
Figura 47 – Campos de tensões para solos homogéneos com base N=32 .............................. 87
Figura 48 – Campos de tensões e pressão para solos saturados com base N=16 ................... 88
Figura 49 – Campos de tensões e pressão para solos saturados com base N=32 ................... 89
Figura 50 – Campo de deslocamentos, solos homogéneos com base N=16 ............................ 90
Figura 51 – Campo de deslocamentos para solos homogéneos com base N=32 ..................... 90
Figura 52 – Campo de deslocamentos no sólido para solos saturados com base N=16 ........... 91
Figura 53 – Campo de deslocamentos no líquido para solos saturados com base N=16.......... 91
Figura 54 – Campo de deslocamentos no sólido para solos saturados com base N=32 ........... 92
Figura 55 – Campo de deslocamentos no líquido para solos saturados com base N=32.......... 92

xii
Índice de Tabelas

-1
Tabela 1: Soluções de k para rads (solo não saturado) ............................................. 72
-1
Tabela 2: Soluções de k para rads (solo saturado) .................................................... 72
Tabela 3: Soluções de k para rads-1 (solo saturado) .................................................. 78
Tabela 4: Soluções de k para rads-1 (solo saturado) .................................................. 79

xiii
xiv
Índice de Quadros

Quadro 1 Implementação do Método da Bissecção ................................................................. 95


Quadro 2 Implementação do Método da Falsa Posição ........................................................... 96
Quadro 3 Implementação do Método do Ponto Fixo ................................................................ 96
Quadro 4 Implementação do Método de Newton ..................................................................... 96
Quadro 5 Implementação do Método da Secante .................................................................... 97

xv
xvi
Lista de Símbolos

Factor de Correcção de Tortuosidade


Matriz dos Coeficientes de Amortecimento
Tensor das Relações Constitutivas
Tensor das Deformações
Módulo de Elasticidade ( ou Módulo de Hooke)
Vector das Forças de Massa
Módulo de Distorção
Matriz de Rigidez
Número de Onda
Segunda Constante de Biot
Fracção de Líquido por Unidade de Volume
Período de onda
Vector dos Deslocamentos
Vector dos Deslocamentos Inicial
̈ Vector das Acelerações Espectrais
̇ Vector das Velocidades Espectrais
Vector das Velocidades Inicial
Função de Bessel de ordem
Vector dos Deslocamentos da Fase Líquida
Amplitude Generalizada

Primeira Constante de Biot


Número de Onda

Fronteira de Neumann
Fronteira de Dirichlet
Fronteira de Sommerfeld
Distorção
Tensor das Deformações
Número de Onda
Coeficiente que depende das Constantes de Biot e Lamé
Constante de Lamé
Constante de Lamé
Coeficiente de Poisson
Factor de Dissipação
Vector da Pressão da Fase Líquida
Matriz dos Coeficientes de Massa

xvii
Massa Volúmica da Água
Tensor das Tensões
Função Potencial
Frequências Numéricas
Frequência de Fourier
Frequência de Fourier Inicial
Tensor das Rotações
Gradiente de uma Função
Laplaciano de uma Função

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1 Introdução

1.1 Objecto e Objectivo

A investigação que aqui se resume incide sobre a modelação da propagação de ondas


de Rayleigh em solos não saturados e saturados. Esse modelo é formulado e testado, visando
a sua posterior incorporação num programa de elementos finitos desenvolvido para a análise
do comportamento elastodinâmico de solos [8].
Esse programa foi desenvolvido para realizar análises dinâmicas tanto no domínio da
frequência como no domínio do tempo de meios finitos e semi-infinitos. O tipo de elementos
finitos que aí são implementados (elementos finitos híbridos-Trefftz) caracteriza-se pela
utilização de bases de aproximação definidas sobre a solução formal da equação da onda. A
base incorpora, portanto, o comportamento mecânico do meio a analisar, o que permite, entre
outros aspectos, modelar facilmente o comportamento de fundações usando elementos semi-
infinitos ou fronteiras absorventes que satisfazem explicitamente a condição de Sommerfeld.
Os resultados aqui apresentados servem para generalizar a base de aproximação usada
nesse programa de modo a incluir as soluções de ondas de Rayleigh e utilizá-las para simular
a propagação de ondas sísmicas em meios de fundação. A definição das ondas de Rayleigh
está bem estabelecida para meios monofásicos, mas o mesmo não sucede em relação a meios
poroelásticos saturados. Acresce ser nula a experiência existente na utilização das soluções
formais das ondas de Rayleigh na modelação do comportamento de fundações pelo Método
dos Elementos Finitos, no contexto acima definido.
A formulação que aqui se usa baseia-se numa decomposição espectral do problema
elastodinâmico. Essa decomposição não pressupõe mas permite a modelação de movimentos
periódicos, servindo por isso para implementar análises no domínio da frequência (periódicas
ou periodicamente estendidas) e, também, análises no domínio do tempo (periódicas ou não
periódicas).
Essa formulação permite modelar as ondas de Rayleigh induzidas por uma acção
sísmica. A técnica que aqui se testa é a geração de um espectro de frequências (decorrente do
método de integração no tempo adoptado), a definição das famílias de ondas de Rayleigh
associadas a cada frequência e, finalmente, a determinação das suas amplitudes de modo a
recuperar o acelerograma que caracteriza o sismo.
Para simplificar a apresentação, a informação relativa ao método de integração usado e
à formulação do comportamento elastodinâmico de solos saturados é indexada à tese de
doutoramento que apoiou a realização deste trabalho, [8], podendo aí encontrar-se a
informação detalhada sobre as fontes usadas em cada tema.

1
1.2 Ondas Sísmicas

As ondas sísmicas que se propagam através da Terra têm geralmente origem em sismos
ou em explosões. As características destas ondas, estudadas pelos sismólogos, são registadas
por sismógrafos, sismómetros ou geofones, permitindo esses registos classificar as ondas
sísmicas em duas grandes famílias, as ondas de volume (ou de corpo) e as ondas de
superfície.

1.2.1 Ondas de Volume

As ondas de corpo ou volume propagam-se no interior da Terra, apresentando percursos


radiais deformados devido às variações de densidade e composição dos estratos que
atravessam. Trata-se de um efeito semelhante à refracção de ondas de luz. As ondas de corpo
são as responsáveis pelos primeiros tremores sentidos durante um sismo bem como grande
parte da vibração produzida posteriormente. Existem dois tipos de ondas de corpo: primárias
(ondas-P) e secundárias (ondas-S).
As ondas-P são as primeiras a chegar, pois têm uma velocidade de propagação maior.
São ondas longitudinais que fazem a rocha vibrar paralelamente à direcção da onda, tal como
um elástico em contracção. Verifica-se alternadamente uma compressão seguida de uma
distensão, com amplitudes e períodos baixos, impondo aos corpos sólidos elásticos alterações
de volume. No ar, estas ondas de pressão tomam a forma de ondas sonoras e propagam-se à
velocidade do som. A velocidade de propagação deste tipo de ondas varia com o meio em que
se propagam, sendo típicos valores de 330 m/s no ar, 1450 m/s na água e 5000 m/s no granito.
Não são tão destrutivas como as ondas-S ou as ondas de superfície que se lhes seguem. A
velocidade de propagação destas ondas é, em geral, ligeiramente inferior ao dobro da das
ondas-S.

Figura 1 - Ondas de Corpo ou Volume (ondas-P e ondas-S)

2
As ondas-S são ondas transversais ou de corte, o que significa que o solo é deslocado
perpendicularmente à direcção de propagação. Quando as ondas-S são polarizadas
horizontalmente, o solo move-se alternadamente para um e outro lado. A sua velocidade de
propagação é cerca de 60% da das ondas-P, para um dado material, mas a sua amplitude é
várias vezes maior que a amplitude dessas ondas. É o segundo grupo de ondas que são
sentidas. Provocam alterações morfológicas mas não causam a alteração de volume. As
ondas-S propagam-se apenas em corpos sólidos, uma vez que os fluidos (gases e líquidos)
não suportam forças de corte.

1.2.2 Ondas de Superfície

As ondas de superfície são semelhantes às ondas que se observam à superfície de um


corpo de água e propagam-se imediatamente abaixo da superfície terrestre. Devido à sua
baixa frequência, longa duração e grande amplitude, podem ser as ondas sísmicas mais
destrutivas. Propagam-se pela superfície a partir do epicentro de um sismo (tal como as ondas
de uma pedra ao cair num charco), com velocidades mais baixas que as ondas de corpo.
Existem dois tipos de ondas de superfície: ondas de Rayleigh e ondas de Love.

Figura 2 Ondas de Superfície (ondas de Rayleigh e ondas de Love)

As ondas de Rayleigh, ou ondas-R, são ondas de superfície que se propagam como as


ondas na superfície da água. A existência destas ondas foi prevista por John William Strutt,
Lord Rayleigh, em 1885. Resultam da combinação de ondas-P e S, e provocam uma vibração
no sentido contrário à propagação da onda, ou seja, um movimento de rolamento (descrevem
uma órbita elíptica). A sua amplitude diminui rapidamente com a profundidade.
As ondas de Love, ou ondas-L, são ondas de superfície que produzem corte horizontal
do solo e a sua energia é obrigada a permanecer nas camadas superiores da Terra por

3
ocorrerem por reflexão interna total. São assim chamadas em honra de A.E.H. Love, um
matemático britânico que criou o modelo matemático destas ondas em 1911. Essas ondas
resultam da combinação de duas ondas-S. São ligeiramente mais rápidas que as ondas de
Rayleigh e, sendo ondas de corte, são ondas altamente destrutivas.

1.3 Organização do texto

Este texto está organizado em três partes, que traduzem as diferentes fases do trabalho
realizado: a preparação de matérias básicas, o estudo da aplicação e a obtenção de
resultados.
A primeira parte incide sobre a recapitulação de dois temas da Análise Numérica,
designadamente solução de equações não lineares complexas (Capítulo 2) e métodos de
integração no tempo (Capítulo 3), e dos aspectos principais da Mecânica dos Sólidos,
nomeadamente a caracterização de estados de tensão (Capítulo 4) e de estados de
deformação (Capítulo 5) e a caracterização das relações constitutivas (Capítulo 6).
A segunda parte resume o estudo da aplicação, o qual exigiu a abordagem de duas
novas matérias, a formulação do comportamento dinâmico de meios contínuos e a modelação
de meios bifásicos, isto é, de misturas com uma fase sólida e uma fase líquida. Para evitar
repetições na apresentação, optou-se por formular primeiro (Capítulo 7) o problema em termos
gerais, definindo as equações nos domínios do tempo e da frequência. Essa formulação é
depois particularizada para meios monofásicos e bifásicos para modelar o comportamento
dinâmico de solos não saturados e de solos saturados, respectivamente. As ondas de Rayleigh
são caracterizadas nesses capítulos (Capítulos 8 e 9).
A terceira parte do texto inclui a apresentação dos resultados (Capítulo 10) e uma
apreciação não só desses resultados como da formação adquirida (Capítulo 11). A
apresentação dos resultados está organizada em duas partes. A primeira ilustra os resultados
obtidos no domínio da frequência e serve, fundamentalmente, para mostrar os modos que as
ondas Rayleigh tomam em solos não saturados e em solos saturados sujeitos a diferentes
níveis de frequências de excitação. A segunda parte ilustra a propagação dessas ondas
quando se admite que esse meio, não saturado ou saturado, é actuado por um sismo.

4
2 Solução de Equações Não Lineares Complexas

2.1 Introdução

Como adiante se mostra, as ondas de Rayleigh são caracterizadas combinando ondas-P


e ondas-S sob a condição de serem nulas as forças na superfície livre do solo. Esta
caracterização define um problema de valores e vectores próprios, representando os valores
próprios os números de onda e os vectores próprios os modos de combinação das ondas. Os
números de onda representam as raízes da equação discriminante do problema de valores e
vectores próprios, a qual é, em geral, uma equação não linear com variáveis complexas.
Foi esse o primeiro problema estudado, tendo como objectivo o desenvolvimento e a
validação de rotinas a inserir no programa de elementos finitos que suportou o trabalho aqui
apresentado, contribuindo assim para generalizar esse programa para a modelação da
propagação de ondas sísmicas em solos saturados.
Determinar a solução de uma equação pode ser considerada uma tarefa demasiado
simples quando estejam disponíveis as ferramentas necessárias, designadamente software
numérico ou analítico adequados. No entanto, é importante salientar que essas ferramentas
têm limitações, não sendo em geral suficiente programar a função e obter as raízes procuradas
chamando directamente as rotinas disponíveis.
A maior parte dos métodos de resolução de equações exige o fornecimento dos “limites”
onde se situam os zeros da função, por não ser viável estender a busca a todo o seu domínio.
Por outro lado, as estratégias de busca desses métodos baseiam-se sobre hipóteses feitas
sobre o comportamento da função, o qual tem, portanto, uma grande influência na eficácia da
estratégia de solução.
Consequentemente, a utilização de um determinado método obriga à realização de uma
análise preliminar da função. Essa análise, no caso mais simples, passa pelo esboço do gráfico
da função, permitindo estabelecer grosseiramente, os limites no domínio onde se encontram os
zeros.
Este capítulo resume o estudo feito sobre os principais métodos numéricos utilizados na
determinação de raízes de funções não lineares com variáveis complexas, tendo cada um
deles sido programado e devidamente testado no contexto da aplicação em causa, isto é, a
determinação dos números de onda e da direcção de propagação de ondas de Rayleigh em
solos saturados.

5
2.2 Método Gráfico

O método gráfico é o mais simples dos métodos disponíveis para a estimar os zeros de
uma função. Consiste no traçado da função (real) no intervalo que contem os zeros, seguido de
sucessivos zooms até se obter a precisão pretendida. O recurso a este método é essencial
para caracterizar o comportamento da função, o qual depende directamente do problema físico
que a função representa, e obter assim a informação que vai fundamentar a escolha do método
numérico a adoptar na determinação dessas raízes com a precisão desejada.
Para uma dada função começa-se por traçar o gráfico num intervalo suficientemente
amplo para conter as raízes esperadas (ver Figura 3), sendo esta operação muito facilitada
pelas ferramentas actualmente disponíveis, p. ex. “Mathematica”, [13].

Figura 3 - Gráfico de uma função f real de variável real [4]

Geralmente, o método gráfico é utilizado para a detecção das raízes de equações, ou


seja para verificar a existência, o número e o intervalo onde se localizam essas raízes. No
entanto, este procedimento é demorado, requer o traçado de vários gráficos e é inadequado
em termos de automatização do cálculo, tanto termos de precisão como de sistematização, os
quais exigem o recurso a um método numérico ajustado ao comportamento da função.

2.3 Métodos Numéricos

Os métodos que irão ser apresentados são iterativos (em oposição aos métodos
directos), ou seja fornecem-nos uma sucessão de valores que conduz, havendo
convergência, às soluções da equação , com a precisão desejada. Esta
sucessão é definida por recorrência, necessitando de um ou mais valores iniciais, dependendo
do método utilizado. A aplicação de um método iterativo coloca diferentes problemas formais e
práticos, a saber:
 A implementação da estratégia de pesquisa do método;
 O estudo de convergência da sucessão , obtida;

 O estudo da velocidade de convergência.

6
Como é impraticável efectuar um número infinito de iterações (repetição do mesmo
processo com valores iniciais diferentes, visando a obtenção de um dado termo da sucessão,
) será pois necessário escolher um limite, N, para o número de pesquisas. Isto põe o
problema de escolha de um bom critério de paragem, o qual dependente da precisão
desejada. A implementação de cada um dos métodos a seguir apresentados está apresentada
no Apêndice 1.

2.3.1 Método da Bissecção

Um dos métodos mais simples para a resolução de equações não lineares é o Método
da Bissecção. Considere-se um intervalo [ ] de uma certa função (ver Figura 4).

Figura 4 - Método da Bissecção [9]

O método consiste em identificar um intervalo em que se verifica a condição


, subdividir o intervalo ao meio e testar de novo a condição nos subintervalos, [ ] e

[ ] com , para determinar qual deles contém a raiz. O processo é repetido para o

novo subintervalo até se atingir a precisão desejada (ver Apêndice 1).

2.3.2 Método da Falsa Posição

O Método da Bissecção é bastante lento em termos de convergência, o que de certa


forma não é de estranhar pois exige apenas a informação sobre o intervalo que contém uma
raiz da equação . O Método da Falsa Posição ou Regula Falsi (também designado
por Método das Cordas) é muito semelhante ao Método da Bissecção. No entanto tem uma
convergência mais rápida, pois envolve informações adicionais sobre a função (ver Figura 5),
para além da informação sobre o intervalo que contém a raiz.

7
Figura 5 - Método da Falsa Posição (Cordas) [9]

Como no Método da Bissecção, este método requer dois valores iniciais, a e b, situados
na vizinhança da raiz. A corda definida pelos pontos 〈 〉 e〈 〉 intersecta o eixo dos
no ponto . A análise do gráfico representado na Figura 5 mostra que o eixo e a corda
formam dois triângulos semelhantes, o que permite escrever:

(1)

Esta equação pode ser resolvida na variável que aproxima a raiz da função, , o que
constitui a base da programação do Método da Falsa Posição (ver Apêndice 1).
O desempenho deste método é relativamente fraco em consequência do número de
testes que é necessário realizar em cada tentativa de localização da raiz.

2.3.3 Método do Ponto Fixo

Muitas vezes o problema de determinação do zero de uma função pode reduzir-se


à procura de um valor que verifique a igualdade , ou seja um ponto fixo da função
. A técnica em que este método se baseia consiste em transformar o problema de
encontrar uma solução da equação no problema de resolver a equação .
Uma das condições para a convergência do método é a boa escolha da função , (ver
Figura 6).

Figura 6 - Método do Ponto Fixo [9]

8
Para que o método seja convergente, a função tem de satisfazer certas condições,
as quais são definidas no Teorema do Ponto Fixo [4]. O Método do Ponto Fixo é bastante
eficaz em consequência da simplicidade das operações que envolve (ver Apêndice 1), mas a
qualidade do desempenho depende da natureza de cada problema, em consequência das
condições de convergência acima referidas.

2.3.4 Método de Newton

O Método de Newton, ou Newton-Raphson, é o método mais utilizado na solução de


equações não lineares por ser simples de implementar ter uma convergência muito rápida (a
convergência do método é quadrática [9]).
A velocidade de convergência do método decorre de se basear não só no cálculo da
função, como os métodos anteriores, mas também da sua derivada. A determinação da
derivada da função pode não ser viável em determinadas aplicações, mesmo quando essa
derivada é determinada numericamente, em consequência da perda de precisão que esse
cálculo geralmente implica.

Figura 7 - Método de Newton [9]

Como se ilustra na Figura 7, a estratégia do Método de Newton consiste em utilizar o


valor da função e da sua derivada num ponto para estimar o comportamento da função na
vizinhança desse ponto (ver Apêndice 1).
O Método de Newton apresenta dificuldades no cálculo de raízes de funções que
coincidam com pontos de extremos de função e, também, na distinção de raízes múltiplas ou
quase múltiplas. A convergência do Método de Newton depende, também, da escolha do valor
inicial .

2.3.5 Método da Secante

O Método da Secante é um método que alia a simplicidade conceptual do método da


bissecção com uma velocidade de convergência semelhante à do método de Newton. Como no

9
método da bissecção, ele requer dois valores iniciais, e , localizados numa vizinhança da
raiz da função .

Figura 8 - Método da Secante [9]

Considera-se como primeira aproximação da raiz o ponto de intersecção do eixo do


com a secante da função, definida pelos pontos 〈 〉e〈 〉, como se mostra
na Figura 8. Este procedimento é equivalente a usar a secante como aproximação da tangente
da função no ponto 〈 〉, ou seja:

(2)

Substituindo esta estimativa da tangente no Método de Newton obtém-se o


procedimento de cálculo resumido no Apêndice 1.
Da definição do Método da Secante, facilmente se constata que a vantagem é a de
dispensar o cálculo formal da derivada da função. Se a função for bem comportada, contínua e
com derivada contínua, a aproximação secante da derivada é suficiente para obter velocidades
de convergência, medidas em tempos de cálculo, semelhantes às que caracterizam o Método
de Newton.

2.4 Conclusão

Neste capítulo foram apresentados cinco métodos para aproximação numérica de raízes
de funções. Os três primeiros apresentados, Método da Bissecção, Falsa Posição e Ponto Fixo
são métodos com convergência linear [4,9] e, portanto convergem lentamente para a solução.
Consequentemente, estes métodos não foram utilizados neste trabalho.
O Método de Newton e o Método da Secante são métodos com convergência supra
linear [4,9] e, por isso mesmo, a convergência é muito mais rápida na vizinhança da raiz de
uma equação não linear. Quando a derivada é difícil de determinar, ou o seu cálculo é
dispendioso, o Método da Secante é mais eficiente. Em problemas extremamente sensíveis,
estes dois métodos podem comportar-se de uma maneira menos boa, podendo ser necessário
recorrer a técnicas para determinar um intervalo óptimo para análise da função. Qualquer dos

10
dois métodos permite determinar raízes complexas, tendo isso sido tomado em consideração
na elaboração deste trabalho.
Apesar do Método da Secante ser ligeiramente mais lento que o de Newton, tem uma
grande vantagem face às equações não lineares que tiveram de ser resolvidas, a de dispensar
a definição da derivada da função que define o discriminante do problema de valores e
vectores próprios. O Método da Secante, nesta situação, revelou ser o melhor método
numérico para o cálculo de raízes de funções não lineares, pelo que veio a ser o escolhido
para a sistematização da caracterização das ondas de Rayleigh e da sua propagação em solos
saturados.

11
12
3 Integração no Domínio do Tempo

3.1 Introdução

Os problemas de Dinâmica Estrutural são usualmente resolvidos separando as variáveis


no espaço e no tempo. Dependendo do tipo informação que se pretende caracterizar, a
solução é descrita no domínio da frequência (análise espectral) ou no domínio do tempo
(análise temporal). Ambos os tipos de análise são frequentemente utilizados na modelação do
comportamento elastodinâmico de solos saturados, o âmbito do estudo que aqui se apresenta.
A abordagem que mais facilita a introdução dos conceitos envolvidos consiste em admitir
que o comportamento é periódico no tempo, ou que se recorre a uma extensão periódica do
problema, isto é, que a análise é estendida periodicamente, com um período suficiente grande
para minimizar os efeitos dessa restrição.
A Análise de Fourier é a que melhor se adapta a esta representação, permitindo
esclarecer facilmente os dois tipos de análise, no domínio do tempo e de frequência. É esse o
aspecto que é abordado na segunda parte deste capítulo, depois de recordar as bases da
aproximação de uma função por uma série de Fourier.
A análise no domínio do tempo baseia-se em métodos incrementais conceptualmente
muito distintos da Análise de Fourier, sendo as variantes do Método de Newmark [8,11] as
mais frequentemente utilizadas em Dinâmica Estrutural. Esses métodos não são aqui
abordados por se ter optado por recorrer a uma generalização do método de decomposição
espectral que não depende da periocidade do comportamento em análise [9,10]. Esse método
de análise não-peródica no domínio do tempo é descrito sumariamente na terceira e última
parte deste capítulo.

3.2 Série de Fourier

Qualquer função contínua, com um certo período T, pode ser representada combinando
um conjunto completo de funções periódicas simples, nomeadamente senos e cosenos, sob a
forma de uma série designada por série de Fourier.

Figura 9 - Variação temporal de uma função f(t)

Assim, uma função periódica (ou periodicamente estendida) pode ser descrita na forma,

13
∑ ∑ (3)

sendo a seguinte a definição dos coeficientes da série:

∫ (4)

∫ (5)

∫ (6)

Como a série é truncada, isto é, não se tomam infinitos termos na aproximação, a


representação harmónica de uma certa função periódica pode ser feita como se ilustra na
Figura 10, havendo no entanto a garantia de convergência para o número apropriado de
termos da aproximação

Figura 10 - Aproximação de uma função por Série de Fourier

3.3 Série de Fourier Complexa

É frequentemente vantajoso escrever a série de Fourier em forma complexa, recorrendo


à fórmula de Euler,

(7)

(8)

com , para , concluindo-se facilmente que:

14
( ) (9)

( ) (10)

Utilizando estas definições na equação (3) e sabendo que para a unidade

imaginária, obtém-se:

(11)

Escrevendo , e , e substituindo na equação (3)


obtém-se a expressão alternativa,

∑ ∑ (12)

ou, mais simplesmente [7]:

∑ (13)

∫ (14)

3.4 Análise Periódica

O movimento de uma partícula de um meio sujeito a uma acção dinâmica é descrito pelo
deslocamento, , pela velocidade, , e pela aceleração, . A separação de variáveis
consiste em admitir que esses campos podem ser escritos na forma seguinte:

∑ (15)

∑ (16)

∑ (17)

Se se admitir que o movimento é periódico, com período T, e se optar por uma


aproximação de Fourier no domínio do tempo,

15
(18)

obtêm-se as seguintes regras de integração no tempo para a velocidade e para a aceleração,

(19)

(20)

passando os coeficientes a representar os coeficientes de Fourier definidos pela


equação (12). Como adiante se mostra, esses coeficientes são determinados recorrendo ao
Método dos Elementos Finitos, impondo adequadamente as condições de equilíbrio e de
compatibilidade do problema e as relações constitutivas do meio poroso em análise, o solo
saturado.
Uma análise espectral consiste simplesmente em representar a variação da
componente espacial do problema, designadamente deslocamentos, velocidades, acelerações,
tensões ou deformações, varrendo uma determinada gama de frequências, classificada como
relevante para o problema em análise.
Uma análise temporal periódica (ou estendida periodicamente) consiste em combinar
cada uma dessas soluções espaciais, por exemplo o campo de deslocamentos obtido para
cada frequência, , e representar a sua evolução no tempo recorrendo à decomposição
(15) para a base de proximação no tempo .
No contexto da Análise de Fourier, essa recomposição da solução no tempo e no espaço
não é tão trivial como as equações em que se baseia podem sugerir, sendo necessário recorrer
a transformadas de Fourier para tornar o processo suficientemente expedito.

3.5 Análise Não Periódica

Visando este estudo modelar a propagação de ondas de Rayleigh num solo saturado
accionado por um sismo, não se pode admitir que o movimento é periódico e é pouco prático
admitir extensões periódicas desse movimento.
Em vez de recorrer à aplicação de métodos tradicionais de integração no tempo para
representar a resposta solo, optou-se por generalizar a decomposição (15) a (17) usando uma
base de aproximação no tempo, , não periódica [8,11]. Esse método gera regras de
integração no tempo semelhantes às obtidas para a aproximação periódica, definidas pelas
equações (19) e (20),

(21)

(22)

16
mas envolvendo duas diferenças fundamentais: dependem da configuração inicial do sistema,
definida pelo deslocamento e pela velocidade iniciais, e , pois o movimento não é
periódico, e envolve frequências algorítmicas (adimensionais), , isto é, frequências de
excitação que dependem da base de aproximação no tempo e do incremento de tempo
escolhido:

(23)

Como o problema em estudo é linear, torna-se possível substituir uma análise


incremental por uma análise realizada num único intervalo de tempo (como na Análise de
Fourier), o período de análise da acção sísmica (em vez do período da resposta), desde que se
adopte uma base de aproximação suficientemente estável e forte. A base que se utiliza para
obter os resultados adiante apresentados é um sistema de wavelets definidas no intervalo
[8,11].
Como se admite que a fundação está em repouso antes da acção sísmica, e
, conclui-se que formalmente são as mesmas as regras de integração a adoptar na
formulação do problema para análises periódicas (19) e (20) e não periódicas (21) e (22), o que
facilita a formulação do problema e a implementação do modelo de elementos finitos utilizado
na sua solução, bastando definir adequadamente as frequências do espectro gerado por cada
uma das bases de aproximação no tempo.

3.6 Conclusão

Mostra-se neste capítulo que a formulação aqui adoptada pode ser usada para resolver
problemas dinâmicos no domínio da frequência ou no domínio do tempo, recorrendo a
decomposições espectrais periódicas ou não periódicas. Para além de permitir usar a mesma
formulação para resolver um mesmo problema no domínio da frequência ou no domínio do
tempo, a separação de variáveis que é utilizada permite compreender essa formulação no mais
simples dos contextos possíveis, de aproximação de uma função por uma série de Fourier.

17
18
4 Estado de Tensão num Sólido

4.1 Introdução

Neste capítulo são descritas as características do estado de tensão a que um corpo


pode estar sujeito. Começa-se por apresentar o caso mais geral, Estado Tridimensional,
seguindo-se um caso particular deste, o Estado Plano de Tensão. As equações apresentadas
[1,2,3] serão fundamentais para a compreensão da formulação das equações das ondas
apresentadas adiante. Apresentam-se de seguida algumas definições e hipóteses
consideradas importantes:
Matéria:
 Descontínua – Caso real devido á natureza atómica do problema.
 Contínua – Simplificação do problema

Ao supor-se a matéria contínua, introduz-se um simplificação que na maior parte dos


casos não introduz erros significativos desde que se pretenda analisar o comportamento em
termos macroscópicos, como acontece na maioria dos problemas correntes, designadamente
no que é aqui estudado.
Material:
 Não Homogéneo
 Homogéneo

Diz-se que um material é homogéneo se, de ponto para ponto de um mesmo corpo, as
propriedades se mantêm iguais. Na generalidade dos casos supõe-se que o material é
homogéneo. No entanto, distintos materiais apresentam em geral propriedades distintas. Se um
determinado corpo for constituído por dois ou mais materiais homogéneos, existe uma
descontinuidade de deformação na transição entre os diversos materiais.
Isotropia:
 Material Anisotrópico
 Material Isotrópico

No material anisotrópico as propriedades variam com a direcção considerada, enquanto


no material isotrópico as propriedades são independentes da direcção.
Comportamento do Material:
 Elástico e Linear
 Elástico não linear
 Elastoplástico

19
Para explicar esta classificação muito simplificada das diferentes formas de
comportamento dos materiais estruturais, considere-se a peça prismática, encastrada numa
extremidade e livre na outra, sujeita a uma força aplicada nesta última extremidade (ver
Figura 11).

Figura 11 - Peça prismática sujeita a uma força F [5]

Assim, para os diferentes tipos de comportamento apresentam-se nas Figuras 12,13 e


14 a relação F- .

Figura 12 - Comportamento Figura 13 - Comportamento Figura 14 - Comportamento


Elástico Linear [5] Elástico Não Linear [5] Elastoplástico [5]

O comportamento de um material pode ser ainda classificado relativamente à ordem de


grandeza das deformações a que pode estar sujeito.
O aparecimento de grandes deformações depende das propriedades do material, da
geometria do elemento estrutural e da acção a que está sujeito, podendo ocorrer tanto em
materiais muito flexíveis (e.g., borracha) como em materiais muito rígidos (e.g., lâmina de aço).
O seu efeito não é considerado no presente trabalho.
Em resumo, admitem-se as seguintes hipóteses na representação do comportamento de
solos não saturados e saturados:
 Material contínuo.
 Material homogéneo.
 Material isotrópico.
 Material com comportamento elástico linear.
 No domínio das pequenas deformações.

20
Em rigor, nenhuma destas hipóteses é válida para qualquer acção sísmica. O solo é
tipicamente um material com três fases, sólida, líquida e gasosa. A fase gasosa não é
explicitamente considerada, atendo ao estado de saturação assumido, podendo o seu efeito
ser introduzido corrigindo os parâmetros constitutivos relevantes. As fases sólida e líquida são
modeladas explicitamente recorrendo à Teoria das Misturas, da qual resulta a definição de uma
material macroscopicamente equivalente, contínuo, homogéneo e isotrópico. As duas
hipóteses seguintes, de linearidade física e geométrica, decorrem simplesmente da
necessidade de simplificar o modelo nesta fase de desenvolvimento do estudo da propagação
de ondas de Rayleigh.

4.2 Estado de tensão num ponto

Nesta secção é apresentado o caso geral, isto é, o estado de tensão é caracterizado


em pontos de um corpo que apresenta uma forma qualquer no espaço a três dimensões.
Admite-se também que as forças podem estar orientadas segundo uma qualquer direcção no
espaço. Considere-se um corpo nas condições indicadas na Figura 15:

Legenda
C Corpo qualquer.
V Volume arbitrário do corpo C,
limitado pela superfície S.
P Ponto da superfície S.
⃗⃗⃗⃗⃗
𝑓𝑚 Forças mássicas aplicadas a V.
⃗⃗⃗
𝑓𝑠 Forças de superfície aplicadas a V
através de S.
ΔS Elemento de superfície S contendo o
ponto P.
𝑛̂ Normal a ΔS dirigida para o exterior
de S.
⃗⃗⃗⃗⃗⃗⃗
𝛥𝑓𝑠 Força exercida através de ΔS pela
matéria exterior a V sobre a matéria

Figura 15 - Corpo sujeito a forças mássicas e de superfície [5]

As forças mássicas ou de massa, exercem a sua acção sobre todos os elementos


infinitesimais de volume (e.g., forças gravíticas, forças de inércia). As forças de superfície
actuam na superfície exterior do corpo (e.g., acção do vento, acção de uma carga aplicada).
A definição da tensão no ponto P para uma faceta de normal ̂ será:

⃗⃗⃗⃗ ⃗
⃗ ̂
(24)

21
4.2.1 Tensor das tensões

Na Figura 16 está representado um cubo cujas faces são paralelas aos planos
coordenados. As três faces representadas na figura são aquelas cujo versor normal ̂ coincide
com ̂ , ̂ ou ̂ . As faces do cubo são facetas infinitesimais que contêm um mesmo ponto P.
Encontra-se ainda representado na Figura 16 o vector tensão ̂ , correspondente a cada uma
das três facetas.

Figura 16 - Vector tensão nas três facetas paralelas aos planos coordenados [5]

Cada um dos vectores representados na Figura 16 tem três componentes no espaço,


segundo ̂ , ̂ e ̂ . Isto significa que as forças são campos vectoriais,

⃗ ̂ ̂ ̂ (25)

sendo , e referindo-se às tensões nas facetas 1, 2 e 3 que contêm respectivamente


⃗ ,⃗ e⃗ .
Esta equação pode então ser escrita em notação tensorial, mais compacta.
Considerando que,

(26)
a equação pode ser reescrita, ficando com a seguinte forma:

⃗ ̂ (27)

Nesta equação, é o índice livre e é um índice mudo. A cada índice mudo está
associada a convenção do somatório de 1 a 3. A equação (27) pode ser apresentada
matricialmente, correspondente às 3 facetas visíveis no cubo infinitesimal da Figura 16
obtendo-se:

⃗ ̂
{⃗ } [ ]{ ̂ } (28)
⃗ ̂

22
A matriz de 3x3 com elementos representa o tensor das tensões. O tensor das
tensões num ponto do interior dum corpo é definido pelas componentes normais e tangenciais
dos vectores das tensões que actuam em três facetas ortogonais que se cruzam nesse ponto
(ver Figura 17).

Figura 17 - Significado dos elementos do Tensor das Tensões

Nos elementos do tensor das tensões , o índice está associado à faceta e o índice

está associado à componente de ⃗. As componentes com índices iguais ( , ) são


designadas tensões normais, enquanto que as tensões com índices diferentes ( , , ,
, e ) definem as tensões tangenciais.

4.2.2 Equilíbrio na fronteira

Considere-se um ponto P cujo estado de tensão é caracterizado pelo tensor . Na Figura


18 encontra-se representado um tetraedro infinitesimal (OABC).

Figura 18 - Tetraedro Infinitesimal [5]

23
A face ABC é uma faceta que apresenta uma orientação arbitrária definida pelo versor ̂ .
As faces OAB, OAC, OBC são paralelas aos planos coordenados.
O referencial utilizado tem a origem coincidente com o ponto P. Uma vez que o tetraedro
tem dimensões infinitesimais, no limite, todas as faces contêm o ponto P.
Impondo o equilíbrio vectorial no tetraedro segundo a direcção encontra-se a
condição,

⃗ ⃗⃗ | ̂ (⃗ ̂ )| ̂ (⃗ ̂ )| ̂ (⃗ ̂ )| ̂ ⃗ ̂ (29)

a qual, após algumas simplificações [2,3], pode ser reduzida à seguinte forma:

̂
(30)

O processo pode ser repetido para as outras direcções, e , obtendo-se assim de


uma forma mais compacta, em notação indicial, a equação de equilíbrio na fronteira:

̂
⃗ (31)

Na equação (31), que define a condição de Neumann, o índice refere-se à direcção dos

vectores ⃗, enquanto, o índice refere-se a cada um dos vectores na respectiva faceta 1,2 e 3.
Matricialmente ter-se-á:
̂

̂
[ ]{ }
(32)
̂
{ }

Este resultado mostra que o estado de tensão num ponto do interior dum corpo, definido
pelo tensor das tensões, não fica determinado pelas três condições de equilíbrio na fronteira.
Pelo contrário, as forças numa faceta da fronteira, caracterizada pelo versor ̂ , são
complemente determinadas pelo estado de tensão nesse ponto.

4.2.3 Equilíbrio no domínio

A determinação do campo de tensões instalado num corpo sujeito à acção de forças


exteriores conhecidas conduz a um problema estaticamente indeterminado ou hiperestático, na
medida em que as nove componentes de tensão estão relacionadas por apenas seis equações
de equilíbrio.
A simetria do tensor das tensões, , resulta da imposição das três condições de
equilíbrio de momentos. As três condições de equilíbrio de forças definem três condições
independentes sobre as seis componentes restantes do tensor das tensões ( , , , ,
e ).

24
Considere-se então o paralelepípedo de volume infinitesimal de arestas
representado na Figura 19.

Figura 19 - Paralelepípedo de volume infinitesimal [3]

Fazendo-se o equilíbrio de forças na direcção ,

∑ ( ) . /
(33)
( )

obtém-se, após simplificação e eliminação dos infinitésimos de ordem superior:

(34)

Obtêm-se equações análogas impondo o equilíbrio de forças nas outras duas direcções,
e :

(35)

(36)

Estas três equações definem as condições de equilíbrio no interior de um corpo. Tal


como se fez o equilíbrio de forças, o equilíbrio de momentos também se tem de verificar para
assegurar o equilíbrio estático do corpo. Sendo nulas as componentes de momento das forças
de massa, o momento resultante em relação a qualquer eixo tem de ser nula.
Se se considerar um eixo ̅ paralelo ao eixo e que passe pelo centro do elemento, ter-
se-á,

25
∑ ̅ ( )
(37)
. /

ou, após simplificação:

(38)

Repetindo a condição de equilíbrio relativamente a eixos ̅ e ̅, paralelos aos eixos y e z


respectivamente, passando pelo centro do elemento infinitesimal, obtêm-se relações análogas
sobre as componentes tangenciais do tensor das tensões,

(39)

(40)

o que estabelece a simetria do tensor das tensões.


Escrevendo a equações de equilíbrio de uma forma mais compacta, em notação indicial,
para os eixos x,y e z como 1,2 e 3 respectivamente, ter-se-á,

(41)

(42)

sendo um tensor de segunda ordem simétrico, tendo apenas seis componentes


independentes.

4.3 Estado Plano de Tensão

Existem vários tipos de estado de tensão num corpo, sendo importante salientar um caso
muito comum, o Estado Plano de Tensão. Se se considerar um corpo em que uma das suas
tensões principais é nula, diz-se que esse corpo está sujeito ao Estado Duplo de Tensão. Se se
verificar o estado duplo no corpo todo e se a direcção correspondente à tensão principal nula
for a mesma em todos os pontos do corpo, o Estado de Tensão diz-se Plano.

Figura 20 - Estado Plano de Tensão, componentes nulas do tensor das tensões

26
Se as componentes , e do tensor das tensões forem nulas (ver Figura 20),
devido à simetria do tensor das tensões, e também são nulas, resultando,

[ ] (43)

O estado de tensão caracterizado pelo tensor (43) verifica-se nas seguintes condições:
 Corpo com espessura h muito pequena quando comparada com as outras duas
direcções;
 Corpo simétrico em relação ao plano médio ;
 Todas as acções paralelas e simétricas em relação a esse plano.

4.4 Conclusão

Este capítulo resume a caracterização do estado de tensão num corpo sólido


tridimensional, a qual foi particularizada para o Estado Plano de Tensão. Foram apresentadas
as equações que serão utilizadas posteriormente para formular o problema de propagação de
ondas em meios homogéneos e em meios saturados.
Em qualquer um destes casos, as condições de equilíbrio no domínio serão
generalizadas para incluir o efeito de forças de inércia e de amortecimento. Na análise de
meios saturados, as condições de equilíbrio no domínio e na fronteira são ainda generalizadas
para incluir os termos que caracterizam o equilíbrio da fase líquida da mistura.
As equações de equilíbrio estático, tanto no interior de qualquer corpo (41), como na
fronteira (32), assim como a simetria (42) do tensor das tensões, são resultados importantes
para um melhor entendimento de formulações e resultados posteriores.

27
28
5 Estado de Deformação num Sólido

5.1 Introdução

Quando são aplicadas forças a um corpo, este deforma-se, sendo possível estudar as
características de deformação independentemente das forças que a originam. Apresentar-se-á
primeiramente o caso geral tridimensional, o qual é depois particularizado para o caso utilizado
na modelação de solos saturados, o Estado Plano de Deformação [1,2,3].

5.2 Estado de deformação num ponto


5.2.1 Deformação Homogénea

A chave para analisar a deformação de um corpo não está na definição do seu


movimento, isto é, na definição dos deslocamentos, mas na descrição do movimento relativo
de dois pontos, ou seja, da variação da distância entre quaisquer dois pontos do corpo (ver
Figura 21).

Figura 21 - Corpo sujeito a uma deformação – estado inicial e estado final [5]

Cada uma das componentes do vector deslocamento ⃗⃗, dependem da posição do ponto,

{ (44)

podendo a sua definição ser desenvolvida em série de Taylor,

. / ( ) . / ( ) . / ( ) (45)

com , respectivamente as direcções .

29
Na equação (45) apenas se consideram termos de primeira ordem, pois os termos de
ordem superior à primeira são potências de infinitésimos e, portanto, desprezáveis.

Considerando tem-se:

. / (46)

Se a origem do referencial coincidir com o ponto P, como se indica na Figura 22,


representa as coordenadas de um ponto Q situado na sua vizinhança infinitesimal, passando a
designar-se apenas por .

Figura 22 - Corpo sujeito a uma deformação [5]

Assim, o deslocamento do ponto P passa a ser o deslocamento da origem ⃗⃗ e o


deslocamento do ponto Q passa a ser o deslocamento de um ponto genérico ⃗⃗. Substituindo
na equação (46), obtém-se,

(47)

sendo:

̅ (48)

. / (49)

O facto de esta relação ser linear implica que, na vizinhança infinitesimal de um ponto,
todos os pontos apresentam a mesma deformação, tratando-se portanto de uma deformação
homogénea.

30
5.2.2 Decomposição de deformações homogéneas

De acordo com a equação (47), se se decompuser na soma de um tensor simétrico


com um antisimétrico, resulta,

( ) ( ) (50)

tomando a equação (47) a seguinte expressão:

(51)

Nesta expressão, representa uma translação, porque é independente das

coordenadas, representa uma rotação e representa um deslocamento


que provoca uma deformação pura. A translação e a rotação são movimentos de corpo rígido,
isto é, isentos de deformação pura. Em notação matricial, a equação (51) ficará:

[ ] [ ] [ ][ ] [ ][ ] (52)

5.2.3 Deformação Pura

A deformação pura é caracterizada por um tensor simétrico , cujos termos têm a


seguinte definição:

. / (53)

5.2.3.1 Extensão

Considere-se um paralelepípedo de dimensões infinitesimais, com arestas , e


(ver Figura 23):

Figura 23 - Paralelepípedo Infinitesimal [5]

31
Se se fizer a projecção do paralelepípedo no plano , obtém-se um quadrado de
dimensões infinitesimais (ver Figura 24).

Figura 24 - Extensão segundo [5]

A Figura 24 mostra que,

(54)

verificando-se assim que o elemento representa uma extensão, isto é, uma variação de
comprimento por unidade de comprimento. Procedendo-se analogamente para as outras duas
direcções e ., obter-se-ia e . Em notação indicial ter-se-á,

(55)

com , correspondendo respectivamente às extensões, num corpo, segundo .

5.2.3.2 Distorção

Considere-se o paralelepípedo da Figura 23. Fazendo novamente a projecção no mesmo


plano , obtém-se a representação feita na Figura 25.

Figura 25 - Distorção entre os eixos e [5]

32
De acordo com a equação (53), é a seguinte a definição da componente de deformação,

( ) (56)

mostrando a Figura 25 que:

( ) (57)

O valor de representa assim a diminuição do ângulo entre os semi-eixos


positivos e (ver Figura 26).

Figura 26 - Diminuição do ângulo entre e [5]

A grandeza designa-se por distorção entre ,

(58)

ou, em notação indicial:

(59)

5.2.4 Tensor das deformações

Considerando as deduções feitas anteriormente, pode-se então definir o tensor das


deformações, o qual agrupa as componentes de extensão e de distorção:

(60)

[ ]

. / (61)

33
5.2.5 Compatibilidade no domínio

Admitindo a hipótese dos pequenos deslocamentos, as relações deformações-


deslocamentos tomam a seguinte forma em notação indicial:

( ) (62)

Trata-se dum sistema de seis equações diferenciais. Se se conhecerem as componentes


do deslocamento , com, , a equação (62) permite determinar de forma unívoca os
valores de (seis equações independentes a seis incógnitas). Pelo contrário, se forem as

componentes de deformação a ser conhecidas, pode não ser possível determinar os

deslocamentos (seis equações a três incógnitas).


Do ponto de vista matemático isso quer dizer que, dado um campo de deformações
arbitrário, pode ser impossível achar um campo de deslocamentos
contínuo que seja solução do sistema de equações diferenciais. Se se arbitrarem seis funções
de para as três extensões e para as três distorções, não se pode garantir a
existência de três funções de cuja derivação resultem as seis referidas funções.
Do ponto de vista físico, admita-se que se decompõe o corpo em cubos elementares e
que se deforma cada um desses cubos de acordo com o campo de deformações arbitrário
dado. Pode ser impossível reconstituir, a partir dos cubos elementares
deformados, um corpo deformado contínuo.
As equações de compatibilidade escritas em função das componentes de deformação
não são mais do que condições de integrabilidade do sistema de equações diferenciais, isto é,
condições a que devem satisfazer as componentes de deformação para que lhes corresponda
um campo de deslocamentos contínuo. Essas equações têm a seguinte definição indicial [1,2]:

(63)

É ainda de realçar que as equações de compatibilidade só fazem sentido quando as


deformações são funções duas vezes continuamente diferenciáveis, o que implica que os

deslocamentos sejam funções três vezes continuamente diferenciáveis.

5.2.6 Compatibilidade na fronteira

A relação deformações-deslocamentos (61) define as condições de compatibilidade no


domínio do corpo, ou seja, o campo de deformação compatível com um determinado campo de
deslocamento.
Para completar as condições de compatibilidade do corpo, que influem directamente no
estado de deformação que nele ocorre, é necessário definir as condições de compatibilidade

34
na fronteira (em pontos exteriores) do corpo. Essas condições, as condições de Dirichlet,
limitam-se a impor que o campo de deslocamento seja compatível com os deslocamentos que
possam estar impostos na superfície do corpo:

̅ (64)

5.3 Estado Plano de Deformação

Se se considerar um corpo em que uma das suas deformações principais é nula, diz-se
que esse corpo está sujeito ao Estado Duplo de Deformação. Se se verificar o estado duplo em
todos os pontos do corpo diz-se que esse corpo está sujeito a um Estado Plano de
Deformação.
Considere-se um corpo com as seguintes características (ver Figura 27):
 Corpo prismático gerado por translação de uma figura plana ao longo de um
eixo, sendo a secção geradora paralela ao plano e o eixo de
translação;
 A dimensão do corpo segundo é muito superior às restantes dimensões;
 Todas as acções têm componente nula segundo nula, isto é, actuam
paralelamente ao plano e não variam com .

Figura 27 - Corpo sujeito a um Estado Plano de Deformação [5]

Nestas circunstâncias admite-se que o deslocamento de qualquer ponto segundo é


nulo e que os deslocamentos segundo e não variam com :

{ (65)

Quando um corpo apresenta este conjunto de características diz-se que está sujeito a
um Estado Plano de Deformação.

35
O tensor das deformações (60) simplifica-se, sendo ∑ 0, tomando a seguinte
expressão:

[ ] (66)

5.4 Conclusão

Este capítulo, à semelhança do anterior, resume a caracterização do estado de


deformação num sólido tridimensional, o qual foi particularizado para o Estado Plano de
Deformação a que habitualmente se recorre para caracterizar a resposta de meios de
fundação.
Esta caracterização é posteriormente generalizada para combinar a descrição das
condições de compatibilidade das fases sólida e líquida dos solos saturados, recorrendo-se à
deformação volumétrica para descrever a deformação da fase líquida da mistura. A condição
de compatibilidade na fronteira é também generalizada para controlar a componente do
deslocamento da fase líquida normal à superfície que limita o meio de fundação (fronteiras
impermeáveis) ou para impedir a reflexão espúria de ondas quando se introduzem fronteiras
artificiais na discretização de meios semi-infinitos (fronteiras absorventes).
As equações que interessa reter são as que definem as condições de compatibilidade no
domínio (62) e na fronteira (64) do corpo, para além da equação que de define a simetria do
tensor das deformações.

36
6 Relações Constitutivas de um Sólido

6.1 Introdução

Nos capítulos anteriores foram caracterizados os estados de tensão e de deformação


num corpo sólido. Essas caracterizações foram feitas de forma independente, isto é, quando se
caracterizou o estado de tensão não se mencionou o estado de deformação e vice-versa.
São agora apresentadas as expressões que relacionam esses dois estados admitindo
que o material tem um comportamento elástico linear. Estas expressões são conhecidas como
relações tensão-deformação, ou relações constitutivas, e descrevem a deformação elástica
num sólido.
O estado de tensão num ponto é caracterizado pelo tensor das tensões, , cujos
elementos definem tensões normais e tensões tangenciais. Admitindo que o corpo está sujeito
a pequenas deformações e considerando a vizinhança infinitesimal de um ponto, supõe-se que
o estado de tensão apenas depende das componentes do tensor das deformações, , de
acordo com a seguinte relação:

(67)

6.2 Lei de Hooke Generalizada

Cada uma das funções pode ser desenvolvida em série de Taylor, desde que seja
uma função contínua com derivadas contínuas. Efectuando esse desenvolvimento na origem,
isto é para , tem-se,

(68)

O termo corresponde a um estado de tensão quando as deformações são nulas,


sendo portanto nulo, quando não existem tensões residuais. Admitindo-se a hipótese de
pequenas deformações, os termos de ordem superior à primeira são desprezados, resultando a
seguinte expressão:

(69)

Assim, e tendo em conta que e são tensores de segunda ordem, é um tensor

de quarta ordem, que passa a ser designado por ,

(70)

37
Esta relação define a lei de Hooke generalizada, sendo i e j índices livres, enquanto k e l
são índices mudos, o que implica a existência de somatórios de 1 a 3. O tensor de quarta
ordem tem 34 = 81 elementos.
O facto de tanto o tensor das tensões como o tensor das deformações serem simétricos
faz com que seja necessário apenas conhecer seis componentes de cada um dos tensores
(três componentes diagonais e três componentes não diagonais). Assim a relação entre
componentes independentes de ambos os tensores pode ser escrita na forma,

∑ (71)

permitindo considerações de carácter energético [2] para concluir que os coeficientes são

necessariamente simétricos, isto é, , o que reduz para 21 o número de coeficientes


independentes. Em notação matricial ter-se-á, portanto:

(72)

[ ] [ ][ ]

6.3 Simetria Elástica

Um material apresenta um determinado tipo de simetria elástica quando ao ser sujeito a


um campo de deformações com determinadas características de simetria, fica sujeito a um
campo de tensões com as mesmas características de simetria. Quando um material não
apresenta qualquer simetria, diz-se ser anisotrópico.
Considerando-se que um material apresenta simetria elástica em relação a um plano,
tomando-se como referência o plano , é possível mostrar [2,3] que alguns dos termos
do sistema (72) são nulos, ficando:

(73)

Considerando-se a mesma simetria elástica em relação aos outros dois planos,


e , as alterações ao sistema (72) serão, respectivamente:

(74)

(75)

38
É ainda possível mostrar que quando um material apresenta simetria elástica
relativamente a dois planos ortogonais entre si, está implícita uma simetria elástica em relação
a um terceiro plano ortogonal aos outros dois.
Nestas circunstâncias, em que um material apresenta simetria elástica relativamente a
três planos ortogonais entre si, diz-se que o material é ortótropo. Para um material com estas
características, a relação (72) entre os estados de tensão e de deformação toma a seguinte
forma simplificadas:

(76)

[ ] [ ][ ]

6.4 Lei de Hooke para Materiais Isotrópicos

Como é explicado em [2], para que a matriz das constantes elásticas seja
independente do referencial utilizado tem de se verificar as seguintes igualdades:

[ ] [ ] [ ] (77)

Designando por A os elementos , e , por B os elementos , e , e por


C os elementos , e , o sistema (76) toma a seguinte expressão,

(78)

[ ] [ ][ ]

podendo recorrer-se a uma transformação de coordenadas [2] para estabelecer ainda a


seguinte relação:

(79)

Assim, quando uma material é isotrópico, a matriz dos coeficientes elásticos depende
apenas de dois parâmetros independentes, A e B.

39
6.4.1 Relação Tensão Normal-Extensão

Considere-se agora um cubo sujeito a uma tensão normal (ver Figura 28).

Figura 28 - Cubo sujeito apenas a uma tensão normal [5]

A relação entre uma tensão e uma deformação define o módulo de elasticidade do


material, . Esta grandeza representa, fisicamente, a tensão normal que se tem de aplicar
numa dada direcção para se obter uma extensão unitária nessa direcção:

(80)

O módulo de elasticidade varia de material para material, podendo ser determinado


experimentalmente.
Observando-se a Figura 28 constata-se que associado ao alongamento na direcção ,
estão associados encurtamentos nas outras duas direcções ortogonais e . O quociente
entre o encurtamento nestas duas direcções e o alongamento na direcção define o
coeficiente de Poisson. Esta grandeza adimensional,

(81)

pode também ser determinada experimentalmente.


Se se considerar que actuam no cubo da Figura 28 simultaneamente tensões normais
, e , resultam as seguintes extensões,

[ ] [ ][ ] (82)

podendo esta relação ser invertida para recuperar a forma (78):

[ ] [ ][ ] (83)

40
e definir as constantes A e B:

(84)

(85)

6.4.2 Relação Tensão Tangencial-Distorção

Considere-se agora um cubo, apenas sujeito a uma tensão tangencial (Figura 29).

Figura 29 - Cubo sujeito apenas a uma tensão tangencial [5]

Figura 30 - Distorção provocada por [5]

Pode-se constatar que ao aplicar a tensão tangencial não ocorre alongamento ou


encurtamento das faces do cubo. O que se verifica é uma distorção pura, , caracterizada
pela rotação das faces relativamente ao referencial inicial, como se indica na Figura 30.
Assim pode definir-se uma nova grandeza, designada por módulo de distorção, . Esta
grandeza representa a tensão tangencial que é necessário aplicar para obter uma distorção
unitária e, portanto, é dada pelo quociente:

41
(86)

Relacionando a equação (86) com o sistema (78), obtém-se a seguinte definição [2]:

(87)

Atendendo às equações (84) e (85), pode-se estabelecer a seguinte relação entre o


módulo de distorção, o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson:

(88)

Assim, pode caracterizar-se finalmente a Lei de Hooke para materiais isotrópicos:

(89)

[ ] [ ][ ]

sendo A, B e G os elementos definidos pelas equações (84), (85) e (88).


A matriz das constantes elásticas pode ser expressa em função de dois parâmetros
alternativos, e ,

(90)

[ ] [ ][ ]

que definem as constantes de Lamé:

(91)

(92)

6.5 Estado Plano de Tensão

Se um corpo estiver sujeito a um Estado Plano de Tensão, o tensor das tensões toma a
expressão (43),

[ ] (93)

sendo as seguintes as expressões alternativas que se obtêm as relações de elasticidade:

42
[ ] [ ][ ] (94)

[ ] [ ][ ] (95)

6.6 Estado Plano de Deformação

No Estado Plano de Deformação é a seguinte a expressão do tensor das deformações,


(66):

[ ] (96)

As descrições alternativas das relações de elasticidade são determinadas recorrendo às


relações tensão-deformação (90):

[ ] [ ][ ] (97)

[ ] [ ][ ] (98)

6.7 Conclusão

Este capítulo resume o último conjunto de equações que será utilizado na caracterização
do comportamento de solos saturados. Tal como nos capítulos anteriores, a Lei de Hooke é
apresentada em termos gerais, sendo progressivamente particularizada para materiais
ortotópicos e isotrópicos e, neste caso, para o Estado Plano de Tensão e para o Estado Plano
de Deformação.
Estas relações, definidas pela expressão (98) serão utilizadas para caracterizar o
comportamento da fase sólida dos solos saturados, sendo posteriormente generalizadas para
caracterizar o comportamento da fase líquida.

43
44
7 Propagação de Ondas de Rayleigh

7.1 Introdução

Neste capítulo apresenta-se a formulação geral dos problemas elastodinâmicos lineares


que será utilizada para modelar a propagação de ondas de Rayleigh em meios de fundação
actuados por um sismo.
As equações que caracterizam esse comportamento são primeiro definidas no domínio
do tempo, tomando como base a caracterização dos estados de tensão e de deformação
definidas anteriormente. São depois aproximadas no tempo aplicando a decomposição
espectral anteriormente apresentada.
Mostra-se que a formulação que assim se obtém pode ser usada para realizar análises
no domínio da frequência ou no domínio do tempo, usando uma base de Fourier (periódica) no
primeiro caso e uma base de wavelets (não periódica) no segundo.

7.2 Formulação do Problema

Na terminologia aqui usada, ilustrada na Figura 31, V define o domínio em análise,


representa a fronteira de Neumann (onde são conhecidas as forças aplicadas), representa a
fronteira de Dirichlet (onde são conhecidos os deslocamentos impostos) e representa a
fronteira de Sommerfeld.

Figura 31 - Domínio, Fronteiras de Neumann e Dirichlet e Sommerfeld [8]

45
A fronteira interior, , representada na mesma figura é considerada rígida em análises
estáticas de meios semi-infinitos, e colocada suficientemente longe da fonte da excitação para
assegurar a validade dessa hipótese. Quando se realiza uma análise sísmica, é usual fazê-la
coincidir com o substrato rochoso, aplicando aí as acelerações que caracterizam essa acção.
O inconveniente desta opção em análises dinâmicas é que a fronteira actua como um
reflector das ondas sísmicas, sendo necessário interromper a análise num momento que
assegure que essa reflexão não destrua a solução obtida. Para evitar esta forte limitação,
recorre-se a uma de duas técnicas alternativas. Uma consiste em caracterizar essa fronteira
como uma fronteira absorvente ou de Sommerfeld (onde as forças são proporcionais à
velocidade de propagação). A segunda técnica consiste em usar funções de aproximação que
satisfazem implicitamente essa condição.

7.2.1 Condições de Domínio

A condição de equilíbrio estático (41) é escrita matricialmente na forma,

(99)

sendo o vector que reúne as componentes independentes do tensor das tensões, o vector
das forças de massa e o operador diferencial de equilíbrio. As definições destes termos,
assim como as das equações que a seguir se resumem, são adiante explicitadas para meios
monofásicos e bifásicos.
Em regime dinâmico, a equação de equilíbrio (99) é generalizada para incluir o efeito das
forças de inércia e de amortecimento, tomando a seguinte forma,

̈ ̇ (100)

em que ̈ e ̇ definem os vectores de aceleração e velocidade, respectivamente, e as matrizes


e reúnem os coeficientes de massa e de amortecimento. É a seguinte a expressão matricial
da condição de compatibilidade no domínio (62),

(101)

e das relações de elasticidade (97),

(102)

sendo o vector que reúne as componentes independentes do tensor das deformações, o


vector dos deslocamentos, o operador diferencial de compatibilidade e a matriz de rigidez
do meio.

46
7.2.2 Condições de Fronteira

Nas fronteiras de Neumann , e de Dirichlet, , têm de se verificar as condições de


equilíbrio (32) e de compatibilidade (64), cuja notação matricial é a seguinte,

̅ (103)

̅ (104)

sendo a matriz que reúne as componentes da normal exterior unitária e ̅ e ̅ os vectores


que definem as forças e os deslocamentos impostos, respectivamente. A condição de
Sommerfeld, tem a seguinte expressão,

̇ (105)

sendo a matriz que reúne constantes do material, definidas de modo a caracterizar a fronteira
como um meio absorvente [11].

7.3 Aproximação no Tempo

É assumido que todas as variáveis presentes no modelo de comportamento


elastodinâmico são separadas no tempo e no espaço. Assim, para o deslocamento ,
velocidade e aceleração , tem-se,

∑ (106)

̇ ∑ (107)

̈ ∑ (108)

onde define um base de aproximação no tempo, a qual se admite ser completa no


intervalo . Como anteriormente se referiu, representa o período do movimento
em análises periódicas, sendo,

(109)

a base de Fourier, com frequências reais dadas por,

(110)

47
tomando as aproximações (106) a (108) as seguinte expressões, de acordo com as regras de
integração (19) e (20):

∑ (111)

̇ ∑ (112)

̈ ∑ (113)

Quando se realiza uma análise espectral não periódica, representa o intervalo da


análise, ou o incremento de tempo se essa análise for incremental.
Como anteriormente se referiu, representa agora o termo geral da base
aproximação, o qual é, em geral, complexa, e gera frequências numéricas, , também
complexas, tomando a frequência de Fourier equivalente a seguinte expressão:

(114)

Como também já se referiu, a opção seguida neste trabalho foi a de usar como base de
aproximação no tempo um sistema de wavelets, de modo a assegurar a necessária precisão
numa análise não periódica realizada num único incremento de tempo.
Como se admite que o meio está inicialmente em repouso, a expressão geral das regras
de integração, definidas pelas equações (21) e (22), é análoga à obtida para movimentos
periódicos, definidas pelas equações (19) e (20). As aproximações (106) a (108) são escritas
na forma,

∑ (115)

̇ ∑ (116)

̈ ∑ (117)

pois as funções (digitais) que definem a base de wavelets, , não têm expressão analítica.

48
7.4 Formulação Espectral

Aplicando a separação de variáveis no espaço e no tempo às restantes variáveis do


problema,

∑ (118)

∑ (119)

̅ ∑ ̅ (120)

̅ ∑ ̅ (121)

e igualando os termos da mesma ordem, obtém-se a seguinte descrição espectral paras as


condições de equilíbrio (100), compatibilidade (101) e elasticidade (102),

(122)

(123)

(124)

e para as condições de Neumann, Dirichlet e Sommerfeld, definidas pelas equações (103) a


(105):

̅ (125)

̅ (126)

(127)

Todas as matrizes presentes nas equações acima resumidas são apresentadas nos
capítulos posteriores sobre meios monofásicos (solos secos) e meios bifásicos (solos
saturados). Para simplificar a notação, deixa-se aí de identificar o modo de excitação, definido
pelo índice n.

49
7.5 Ondas de Rayleigh

Para caracterizar as ondas de Rayleigh, começa-se por escrever a condição de equilíbrio


no domínio (122) em função do campo de deslocamentos, recorrendo às condições de
compatibilidade (123) e de elasticidade (124):

(128)

Determinam-se primeiro as soluções gerais da equação homogénea,

(129)

as quais são utilizadas para definir a aproximação da componente espacial dos campos de
deslocamentos, deformação e tensão na forma,

(130)

(131)

(132)

impondo localmente as condições de compatibilidade (123) e de elasticidade (124),


respectivamente, representando um vector de amplitudes generalizadas.
Como adiante se mostra, para resolver a equação da onda (128), admite-se que o
campo de deslocamentos deriva de funções potenciais, sendo geradas ondas-P quando se
admite um potencial de gradiente,

(133)

e ondas-S usando um potencial de antigradiente:

̃ (134)

Em consequência destas hipóteses, a equação da onda (128) é reduzida à equação de


Helmholtz,

(135)

cujas soluções estão bem estabelecidas, representando o número de onda.

A expressão da onda de Rayleigh é finalmente determinada combinando as ondas-P e


as ondas-S de modo a assegurar que são nulas as forças na superfície livre da fundação,
impondo a condição (31) com ̅ para a aproximação (132) do campo de tensões.

50
7.6 Acção Sísmica

A definição assim obtida para as ondas de Rayleigh fica determinada a menos das
amplitudes do movimento, . Estas amplitudes são calculadas impondo uma condição
equivalente à condição de Dirichlet (126), em que o termo imposto representa os
deslocamentos definidos a partir do acelerograma que caracteriza o sismo.
Finalmente, a decomposição (115) é imposta para reconstruir a evolução no tempo da
componente espacial (130) do campo de deslocamentos, processando-se de modo análogo as
restantes variáveis que caracterizam a resposta do solo à acção sísmica, designadamente os
campos de tensão (118) e de deformação (119), recorrendo às aproximações espaciais (131) e
(132), respectivamente.
Foi escolhido um acelerograma do sismo de “Loma Prieta”, que atingiu a baía de São
Francisco a 17 de Outubro de 1989, às 17:04 hora local. Foi provocado por um deslizamento
ao longo da falha de Santo André. Teve uma duração entre 10-15 segundos e uma intensidade
de 6.9 na escala aberta de Richter.

7.7 Conclusão

Este capítulo resume a formulação dos problemas elastodinâmicos lineares, tendo-se


usado uma notação geral que permite a sua utilização na representação do comportamento de
meios monofásicos ou multifásicos. As equações que caracterizam esse comportamento são
primeiro definidas no domínio do tempo e são depois aproximadas no tempo aplicando uma
decomposição espectral generalizada. Resume-se, também, o procedimento geral para a
caracterização de ondas de Rayleigh no domínio da frequência ou no domínio do tempo,
usando três frequências no primeiro caso e uma base de wavelets (não periódica) no segundo.

51
52
8 Solos Não Saturados

8.1 Introdução

A formulação apresentada no capítulo anterior é agora particularizada para se obter a


caracterização da propagação de ondas de Rayleigh em solos homogéneos monofásicos, isto
é, sem a presença de água (não saturado).
Começa-se por definir as variáveis necessárias para caracterizar um Estado Plano de
Deformação usando a formulação espectral anteriormente definida, pois é a usada para
resolver problemas tanto no domínio da frequência como do tempo. Como já se referiu, deixa-
se de indicar o índice que identifica a frequência de excitação para simplificar a notação.
Os resultados obtidos são depois utilizados para obter as definições das ondas-P e das
ondas-S, de cuja combinação resulta a definição das ondas de Rayleigh. Consideram-se duas
situações distintas, consoante se pretende analisar o comportamento de ondas planas ou de
ondas esféricas.
As ondas de Rayleigh são formuladas apenas para o caso plano, por ser aquele que se
adequa à aplicação estudada neste trabalho. Após definir o problema de valores e vectores
próprios que caracteriza a definição das ondas Rayleigh como uma combinação linear de
ondas-P e ondas-S, ilustra-se a sua implementação recorrendo aos métodos de solução de
equações não lineares apresentados no Capítulo 2.
A informação apresentada neste capítulo baseia-se nas referências [8,11,13],
resumindo-se nos Apêndices 2 e 3 a dedução dos resultados obtidos.
O solo em estudo, é um solo arenoso (Molsand), estando as suas características
identificadas no Apêndice 6. O estudo deste capítulo pressupõe o uso das propriedades sólidas
do solo.

8.2 Identificação das Variáveis

Como se admite um Estado Plano de Deformação, é a seguinte a definição dos vectores


que definem os estados de tensão e de deformação e o campo de deslocamentos no solo de
fundação:

(136)

(137)

(138)

53
As expressões que se encontram para o operador diferencial de equilíbrio, para as
matrizes de massa e de amortecimento e para o vector das forças de massa presentes na
equação de equilíbrio no domínio (122) são as seguintes,

0 1 (139)

[ ] (140)

* + (141)

onde representa o massa volúmica e o coeficiente de amortecimento. Como o objectivo é


analisar o efeito de ondas de Rayleigh, despreza-se a contribuição das forças de massa:

(142)

Na equação (123), o operador diferencial de compatibilidade é o adjunto do de equilíbrio,


ficando para problemas de primeira ordem, e nas relações constitutivas (124) a
matriz de rigidez é definida para Estados Planos de Deformação:

[ ] (143)

Relativamente às condições de fronteira, encontram-se as seguintes formas explícitas


para as condições de Neumann (125) e de Dirichlet (126),

̅
[ ]{ } { ̅ } (144)

̅
, - {̅ } (145)

em que e definem as componentes da normal exterior unitária, . A matriz de absorção


presente na condição de Sommerfeld (127) tem seguinte definição,

[ ] (146)

em que as constantes e dependem das propriedades mecânicas do meio [8,11]. Essas


constantes não são aqui definidas porque a expressão que se obtém para as ondas de
Rayleigh satisfazem implicitamente a condição de Sommerfeld.

54
8.3 Equação da Onda

Quando se substituem os resultados definidos na secção anterior na equação da onda


(129) e se admite que o campo de deslocamentos deriva do gradiente de um potencial, definido
pela equação (133) com:

{ } (147)

obtém-se a seguinte equação diferencial escalar (ver Apêndice 2), em que representa o
Laplaciano:

(148)

Como adiante se mostra, este resultado define uma onda-P com o seguinte número de
onda (ver Apêndice 2):

(149)

Se, pelo contrário, se admitir que o campo de deslocamentos deriva do anti-gradiente de


um potencial, definido pela equação (134) com,

̃ { } (150)

obtém-se a seguinte equação diferencial escalar (ver Apêndice 1),

(151)

que gera as ondas-S, sendo a seguinte a expressão do número de onda correspondente:

(152)

Os resultados (149) e (152) mostram que os números de onda dependem da frequência


, e das propriedades do solo, designadamente a massa volúmica, , o amortecimento, , e as
constantes de Lamé, e , constatando-se que são números reais apenas na ausência de
amortecimento.
Apresentam-se a seguir as expressões para as ondas-P e para as ondas-S, de cuja
combinação resultará a definição das ondas de Rayleigh. Consideram-se duas situações
distintas, consoante se pretende analisar o comportamento numa zona restrita da superfície
(ondas planas) ou se pretenda modela a curvatura da superfície (ondas esféricas).

55
8.4 Ondas Planas

A solução geral da equação de Helmholtz (135) escrita em coordenadas Cartesianas é


uma função exponencial,

(153)

sujeita à condição (ver Apêndice 3):

(154)

O campo de deslocamentos é definido impondo esta solução nas definições (133) e


(147) para as ondas-P,

, - { } (155)

e nas definições (134) e (150) para as ondas-S:

, - { } (156)

As tensões são definidas impondo as relações constitutivas (124) depois de determinar


as deformações compatíveis (123), no contexto dos Estados Planos de Deformação (ver
Apêndice 3)

{ } { } (157)

{ } { } (158)

8.5 Ondas Cilíndricas

A solução geral da equação de Helmholtz (135) escrita em coordenadas polares tem a


seguinte expressão,

( ) (159)

em que que é a função de Bessel de ordem , isto é, a solução geral da equação de


Bessel:

( ) *( ) + (160)

56
Repetindo o processo anteriormente descrito, obtêm-se as seguintes definições para as
ondas-P,

, - 2 3 (161)

{ } { } (162)

e para as ondas-S:

, - 2 3 (163)

{ } { } (164)

A condição de Sommerfeld (127) e a expressão (146) para a matriz de absorção podem


ser recuperadas usando os resultados acima definidos [8,11].

8.6 Ondas de Rayleigh

Para aplicação tratada neste trabalho interessa formular as ondas de Rayleigh como
ondas planas. O procedimento aqui descrito pode ser adaptado à formulação de ondas de
Rayleigh cilíndricas. As ondas de Rayleigh planas são definidas como uma combinação linear
das soluções (155) a (158) obtidas para ondas-P e para as ondas-S:

, - { } { } (165)

{ } { } { } (166)

Os pesos da combinação, e , representam as amplitudes (desconhecidas) e a


relação entre eles é determinada impondo a condição de superfície livre num meio semi-infinito
(ver Figura 32), podendo as ondas decair tanto em extensão (direcção ) como em
profundidade (direcção ). De acordo com a definição (153), o decaimento ou amplificação da
amplitude da onda são controlados pela parte imaginária dos números de onda, definindo a
parte real o modo de propagação.

57
Figura 32 - Ondas de Rayleigh – Solos Não Saturados

Utilizando a notação definida na Figura 32, a condição de superfície livre é imposta


recorrendo à definição (166) do campo de tensão para :

, - { } { } , - (167)

Para que este sistema seja válido para qualquer ponto da superfície, isto é, para
qualquer coordenada , é necessário impor a seguinte condição,

(168)

transformando o sistema (167) no seguinte problema valores e vectores próprios:

0 1{ } , - (169)

Para obter as soluções deste sistema, para além da solução trivial , sem
interesse prático, impõe-se que o determinante da matriz seja nulo, obtendo-se a seguinte
equação quártica em ,

(170)

√ ̅ (171)

√ (172)

em que, de acordo com as definições (149) e (152),

̅ (173)

58
podendo os vectores próprios ser determinados através de uma das duas soluções:

{ } { } (174)

{ } { } (175)

Os resultados (170), (174) e (175) podem ser reescritos numa forma mais simples e
adimensional:

( √ ). √ ̅ / (176)

{ } 2 √ 3 (177)

A equação (176) mostra que para solos com apenas uma fase (fase sólida), os valores
próprios ondas de Rayleigh não dependem da frequência de excitação, , mas apenas das

constantes elásticas do meio (constantes de Lamé), através do parâmetro ̅ definido pela


equação (173). Este parâmetro é real mas as raízes da equação (176) são, em geral,
complexas. Apesar das raízes que assim se obtêm serem independentes da frequência, o
mesmo não sucede para os números de onda, em consequência das definições (168) e (152).

8.7 Conclusão

Neste capítulo são identificadas as variáveis e os operadores que intervêm na


formulação espectral da propagação de ondas em solos não saturados. Definem-se as duas
famílias de ondas que se podem propagar em meios monofásicos, as ondas-P e as ondas-S, e
combinam-se essas famílias para caracterizar ondas de Rayleigh planas. Essas ondas são
equacionadas definindo um problema de valores e vectores próprios que deixa livre a definição
da amplitude da onda, a qual será posteriormente determinada para acções sísmicas
recorrendo à definição dos acelerogramas que os caracterizam.

59
60
9 Solos Saturados

9.1 Introdução

A formulação apresentada no Capítulo 7 é agora aplicada à caracterização da


propagação de ondas de Rayleigh em solos homogéneos saturados, isto é, em solos definidos
como uma mistura de uma fase sólida e de uma fase líquida.
A estrutura da apresentação é análoga à adoptada no capítulo anterior. Começa-se por
identificar as variáveis do problema (também como estado plano de deformação) e caracterizar
todos os termos presentes nas condições de domínio e de fronteira. Definem-se depois as
ondas-P e as ondas-S, verificando-se que, em consequência da existência de duas fases,
existem agora duas famílias de ondas-P, permanecendo apenas uma família de ondas-S por a
fase líquida não resistir a deformações de corte.
A caracterização das ondas de Rayleigh em meios bifásicos continua a ser formulada
definindo combinações lineares das ondas-P e das ondas-S, conduzindo a um problema de
valores e vectores próprios de ordem superior ao encontrado na caracterização de solos não
saturados. Tal como no capítulo anterior, a informação apresentada baseia-se nas referências
[8,11,13], resumindo-se nos Apêndices 4 e 5 a dedução dos resultados obtidos. O solo em
estudo é o mesmo, estando as propriedades definidas no Apêndice 6.

9.2 Identificação das Variáveis

Para além de caracterizar o estado de tensão na fase sólida do solo, é agora também
necessário definir o estado de tensão (isotrópico) na fase líquida, o qual é caracterizado pela
pressão, , tomando o vector das tensões a seguinte expressão:

(178)

Analogamente, a caracterização do estado de deformação é generalizada para incluir a


deformação volumétrica da fase líquida, :

(179)

Para caracterizar o campo de deslocamentos é agora necessário definir o movimento da


fase sólida e da fase líquida ou, o que é equivalente, o movimento da fase sólida, definido
pelas componentes e , e o movimento relativo das fases sólida e líquida, definido pelas

componentes e :

(180)

61
A condição de equilíbrio no domínio (122), em que se continua a admitir forças de massa
nulas,

(181)

é generalizada para incluir as condições de equilíbrio da fase líquida, encontrando-se as


seguintes expressões para o operador diferencial de equilíbrio e para as matrizes de massa e
de amortecimento:

(182)

[ ]

(183)

[ ]

[ ] (184)

Nestas definições, representa a massa volúmica da fase líquida (água), é o factor


de correcção que tem em conta a tortuosidade da mistura, é fracção de líquido por unidade
de volume e é o factor de dissipação.
Na equação (123), o operador diferencial de compatibilidade continua a ser o adjunto do
de equilíbrio para problemas de primeira ordem, , e nas relações constitutivas (124) a
matriz de rigidez toma a seguinte expressão,

[ ] (185)

em que,

(186)

sendo e as constantes de Lamé da fase sólida e e o primeiro e o segundo coeficientes


de Biot, respectivamente, por se admitir uma percolação regida pela lei de Darcy.

62
Relativamente às condições de fronteira, a condição de Neumann (125) toma agora a
seguinte expressão, para controlar a pressão que possa estar imposta sobre a fase líquida:

̅
[ ]{ } { ̅ } (187)
̅

Na forma explícita da condição de Dirichlet (126),

̅
2 3 {̅ } (188)
̅
define a componente normal à fronteira do deslocamento relativo das fases sólida e líquida:

(189)

A matriz de absorção presente na condição de Sommerfeld (127) tem seguinte


expressão geral,

[ ] (190)

podendo também ser determinada usando os resultados que adiante se apresentam para a
definição da propagação de ondas-P e ondas-S em meios bifásico [8,11,13].

9.3 Equação da Onda

As ondas-P e as ondas-S são ainda determinadas a partir das definições (133) e (134),
admitindo-se agora que o movimento relativo das fases sólida e líquida, , é proporcional ao
movimento da fase sólida, . Como adiante se mostra, esse coeficiente de proporcionalidade,
, toma valores para ondas-P1, , ondas-P2, , e ondas-S, .

Nestas condições, as definições (133) e (134) tomam as seguintes expressões,

, - { } (191)

̃
, - 2 3 (192)
̃

mantendo-se válidas as definições (147) e (150) para os vectores gradiente e o antigradiente.


Substituindo a definição (191) na equação da onda (129), tendo em consideração as
identificações feitas na secção anterior, chega-se ao seguinte sistema de equações diferenciais
(ver Apêndice 4),

63
( ) ( )
2 (193)
( ) ( )

onde:

(194)

Para recuperar a equação de Helmholtz (135), resolve-se o sistema (193), encontrando-


se duas soluções para os valores próprios,

(195)

e, portanto, dois números de onda, associados aos vectores próprios do mesmo sistema:

(196)

Estes resultados caracterizam duas famílias de ondas-P, as ondas-P1 e as ondas-P2,


adiante definidas.
Quando se substitui a definição (192) na equação da onda (129), chega-se a um sistema
de equações diferenciais (ver Apêndice 4),

{ (197)

cuja redução à equação de Helmholtz produz apenas um valor próprio,

(198)

e um vector próprio, caracterizado pelo número de onda:

(199)

Esta solução define a família de ondas-S adiante definida.

9.4 Ondas Planas

As definições (153) e (154) mantêm-se válidas para a solução geral da equação de


Helmholtz (135) escrita em coordenadas Cartesianas. O campo de deslocamentos é obtido
aplicando a definição (191) para ondas-Pj ,

{ } (200)

{ }
e a definição (192) para as ondas-S:

64
{ } (201)

{ }

Os campos de tensão e pressão são definidos usando as relações constitutivas (124),


para a identificação (185), depois de determinar as deformações compatíveis com os campos
de deslocamentos (123), encontrando-se as seguintes expressões para as ondas-Pj
e para as ondas-S, respectivamente (ver Apêndice 4):

[ ( ) ]
[ ( ) ]
{ } (202)

{ ( ) }

{ } { } (203)

9.5 Ondas Cilíndricas

As definições (159) e (160) mantêm-se válidas para a solução geral da equação de


Helmholtz (135) escrita em coordenadas polares, encontrando-se as seguintes expressões
para os campos de deslocamentos e tensões de ondas-Pj ,

{ } (204)

{ }

( )
( )
{ } (205)

{ }
e para as ondas-S:

{ } (206)

{ }

65
{ } { } (207)

A condição de Sommerfeld (127) e a expressão (190) para a matriz de absorção podem


ser recuperadas usando os resultados acima definidos [9].

9.6 Ondas de Rayleigh

Tal como para o caso dos solos não saturados, as ondas de Rayleigh planas são obtidas
combinando linearmente as ondas-P e as ondas-S, as quais são agora definidas pelas
equações (200) a (203), obtendo-se as seguintes expressões para os campos de
deslocamento,

, - ∑{ } { } (208)

, - ∑{ } { } (209)

e para o campo de tensões:

[ ( ) ]
[ ( ) ]
{ } ∑ { } (210)

{ ( ) }

onde a combinação dos pesos e , representam as amplitudes generalizadas,


desconhecidas, dos termos das Ondas-P e das Onda-S.
A particularidade destas ondas reside no facto de à superfície as tensões e a pressão
serem nulas, podendo decair tanto em extensão como em profundidade, analogamente ao que
foi dito para os solos não saturados (ver Figura 33).

Figura 33 - Ondas de Rayleigh em Solos Saturados

66
Utilizando a notação definida na Figura 33, a condição de superfície livre é imposta
recorrendo à definições (210) do campo de tensão para :

[ ( ) ]
∑{ } { } { } (211)
( )

Tal como para os solos não saturados, o decaimento ou a amplificação da amplitude de


onda é controlado pela parte imaginária dos números de onda, definindo a parte real o modo
de propagação.

9.7 Solução das Ondas de Rayleigh

A condição de superfície livre (211) torna-se independente da posição dos pontos de


superfície fazendo,

(212)

sendo as equações (171) e (172) substituídas pelas seguintes,

√ ̅ (213)

com ̅ e , de acordo com as definições (196) e (199),

̅
̅ (214)
̅ ̅

onde:

̅ (215)

Usando as definições das (212) a (215), e após algumas simplificações, o sistema (211)
pode ser reduzido à forma seguinte:

[ ]{ } { } (216)

onde,

̅
(217)
̅

( √ ̅ ) (218)

67
(219)
̅
para , e:

( √ ) (220)

(221)

As amplitudes , e representam o peso das contribuições das diferentes famílias


de ondas, de ondas-P1, ondas-P2 e ondas-S, para a caracterização de uma determinada onda
de Rayleigh.
É conveniente recorrer à terceira equação do sistema (216) para extrair a contribuição de
uma das ondas-P, fazendo:

{ } { } (222)

Substituindo este resultado nas equações restantes do sistema (216), recupera-se um


problema de valores e vectores próprios semelhante ao definido na análise de solos não
saturados,

[ ]{ } , - (223)

onde se tem, de acordo com as definições (217) e (218):

(224)

0( ). √ ̅ / ( ). √ ̅ /1 (225)

É fácil concluir que os vectores próprios do sistema (216) são definidos por uma das
duas expressões alternativas:

( )( √ )

{ } ( )( √ ) (226)

( )
{ }

68
( )
{ } (227)
( )
{ }

Os valores próprios do sistema (216) são definidos impondo que seja nulo o
determinante do sistema (223) , encontrando-se a seguinte equação resolvente:

( √ )0 . √ ̅ / . √ ̅ /1 (228)

Resolvendo esta equação em ordem à variável obtém-se a solução para a propagação


de ondas de Rayleigh em solos saturados. A grande diferença desta equação para a equação
dos solos não saturados, a equação (176), reside no facto de para além de depender das
propriedades do material (sólido e fluído), também depende explicitamente da frequência de
excitação, .

9.8 Conclusão

A existência de duas famílias de ondas em meios monofásicos, as ondas-P e as ondas-


S, e o desdobramento da primeira família em meios poroelásticos saturados são resultados
bem estabelecidos, assim como o é a definição da propagação de ondas de Rayleigh em
meios monofásicos. No entanto, o mesmo não sucede em relação à generalização desse
resultado para meios bifásicos. Esse é o tema central deste capítulo, o qual está estruturado de
modo a manter o procedimento geralmente adoptado na formulação da propagação de ondas
de Rayleigh.

69
70
10 Aplicações Numéricas

10.1 Introdução

Na primeira parte deste capítulo apresentam-se os resultados obtidos no domínio da


frequência para ilustrar os modos de propagação de ondas de Rayleigh em solos não
saturados e saturados, para diferentes valores da frequência de excitação. Na segunda parte
do capítulo, esses modos são combinados no domínio do tempo para simular a propagação de
ondas de Rayleigh associadas ao sismo de Loma Prieta.
Cada tipo de análise dinâmica é precedido por uma descrição sumária do procedimento
adoptado para obter os resultados que se apresentam. As características do solo utilizado
nestes testes de ensaio e validação estão definidas no Apêndice 6. Todos os resultados estão
apresentados para um domínio rectangular com 100 m de extensão e 30 m de profundidade.

10.2 Análise no Domínio da Frequência

É o seguinte o procedimento seguido para caracterizar as ondas de Rayleigh no domínio


da frequência:
 Definem-se as propriedades do solo e o valor da frequência de excitação;
 Determinam-se as raízes do descriminante do problema de valores próprios,
definidas pelas equações (176) e (228) para solos não saturados e para solos
saturados, respectivamente;
 Determinam-se os vectores próprios usando as equações (177) e (227),
respectivamente para cada um desses casos;
 Calculam-se os números de onda através das equações (171) e (172) para solos
saturados e da equação (213) para solos saturados;
 Definem-se os campos de deslocamento e de tensão da onda de Rayleigh usando
as definições (165) e (166) para solos não saturados e as definições (208) a (210)
para solos saturados.
Apresentam-se a seguir os resultados obtidos para três valores característicos da
frequência de excitação: baixa (10 rads-1), média (100 rads-1) e alta (250 rads-1). Estes
resultados foram obtidos para uma amplitude, definida nos capítulos 8 e 9, unitária .

10.2.1 Frequência de 10 rads-1

A frequência escolhida, rads-1, corresponde a uma frequência induzida pelo


tráfego rodoviário. Os valores próprios adimensionalizados correspondentes às raízes da
equação (176) para solos não saturados definem pares conjugados e simétricos, estando
apresentados na Tabela 1.

71
ki Parte Real (Re) Parte Imaginária (Im)
1 -0.51367 -0.0734362
2 -0.51367 0.0734362
3 0.51367 0.0734362
4 0.51367 -0.0734362
5 -1.07241 0
6 1.07241 0
-1
Tabela 1: Soluções de k para rads (solo não saturado)

Esses seis valores, obtidos pelo método de Newton, não dependem da frequência de
excitação, a qual intervém apenas na definição dos números de onda correspondentes. Pode-
se verificar que quatro raízes são complexas e duas são reais, representando ondas sem
decaimento no espaço, mesmo quando se considera o efeito do amortecimento, ver equações
(168), (173) e (176). Não se representam os campos de tensão e de deslocamento associados
às raízes reais da equação (176), uma vez que produziriam ondas de Rayleigh sem
decaimento com o afastar da origem da excitação sísmica.
Os valores próprios adimensionalizados obtidos para a mesma frequência no solo
saturado estão resumidos na Tabela 2. As ordens dos valores obtidos são bastante diferentes
dos relativos ao mesmo solo não saturado. Não estão incluídas na Tabela 2 duas raízes com
significado físico muito dúbio (da ordem de ), não tendo sido possível assegurar que a sua
identificação pelo algoritmo de solução de equações não lineares complexas resultava de
insuficiente precisão numérica.

ki Parte Real (Re) Parte Imaginária (Im)


1 -0.486437 0.135749
2 0.486437 -0.135749
3 -0.467805 -0.148975
4 0.467805 0.148975
5 -0.47681 -0.120302
6 0.47681 0.120302
7 -0.458479 0.126295
8 0.458479 -0.126295
9 -2.66009 2.60588
10 2.66009 -2.60588
11 -1.05578 0.00600318
12 1.05578 -0.00600318
13 -1.04014 -0.00893715
14 1.04014 0.00893715

Tabela 2: Soluções de k para rads-1 (solo saturado)

A parte real dos resultados obtidos para os campos de deslocamento e de tensão no


solo não saturado para a raiz estão representadas nas Figuras 34 e 35, respectivamente.
Esses resultados identificam claramente a frente da onda e mostram que a superfície da
fundação está livre de tensões, havendo, no entanto uma forte variação dos componentes de
tensão em extensão e em profundidade.

72
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real do campo de deslocamentos


Figura 34 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 )

a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente


-1
Figura 35 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads )

73
Os resultados obtidos para o solo saturado com uma da mesma ordem de grandeza da
usada para ilustrar o comportamento do solo não saturado estão apresentados nas Figuras 36
e 37. Em termos relativos, verifica-se agora que o movimento é mais amortecido, devido à
presença da fase líquida, obtendo-se no entanto modos de tensão globalmente semelhantes.

a) Parte real da componente na fase sólida

b) Parte real da componente na fase sólida

c) Parte real do campo de deslocamentos na fase sólida

d) Parte real da componente do movimento relativo

e) Parte real da componente do movimento relativo

f) Parte real do campo de movimento relativo


-1
Figura 36 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads )

74
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente

d) Parte real da pressão


Figura 37 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads-1 )

Faz-se notar que todos os resultados apresentados no domínio da frequência são


obtidos para uma amplitude unitária nas definições dadas nos Capítulos 8 e 9 para o peso do
vector próprio que define as ondas de Rayleigh .

10.2.2 Frequência de 100 rads-1

Os valores resumidos na Tabela 1 mantêm-se válidos para a excitação de solo não


-1
saturado com uma frequência rads . Todavia, o efeito dessa frequência nos números
de onda e, consequentemente, nos campos de deslocamento e de tensão das ondas de
Rayleigh é muito forte, para a mesma raiz, , como se mostra nas Figuras 38 a 41.
O movimento da onda está bem evidenciado, com um maior amortecimento em extensão
e em profundidade. A condição de superfície livre continua a ser verificada, mostrando a
solução uma concentração de tensões mais acentuada.

75
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real do campo de deslocamentos

Figura 38 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 )

a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente


-1
Figura 39 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads )

76
a) Parte real da componente na fase sólida

b) Parte real da componente na fase sólida

c) Parte real do campo de deslocamentos na fase sólida

d) Parte real da componente do movimento relativo

e) Parte real da componente do movimento relativo

f) Parte real do campo de deslocamentos relativo

Figura 40 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads-1 )

77
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente

d) Parte real da pressão


Figura 41 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads-1 )

Os valores próprios adimensionalizados obtidos para a mesma frequência no solo


saturado estão resumidos na Tabela 3, podendo verificar-se que não são substancialmente
-1
diferentes dos obtidos para a frequência de 10 rads , resumidas na Tabela 2.

ki Parte Real (Re) Parte Imaginária (Im)


1 -0.514434 0.133057
2 0.514434 -0.133057
3 -0.464396 -0.201298
4 0.464396 0.201298
5 -0.484433 -0.101479
6 0.484433 0.101479
7 -0.43647 0.0988796
8 0.43647 -0.0988796
9 -1.06914 0.00686039
10 1.06914 -0.00686039
11 -1.01351 -0.0289133
12 1.01351 0.0289133
13 -0.945622 0.762574
14 0.945622 -0.762574

Tabela 3: Soluções de k para rads-1 (solo saturado)

78
Mantêm-se os padrões gerais obtidos para a onda de Rayleigh no solo saturado, sendo
no entanto agora muito mais expressivo o movimento relativo entre as fases sólida e líquida do
solo, com um forte amortecimento em extensão. Relativamente ao campo de tensões, a maior
diferença que se verifica é a concentração da variação da pressão na fase líquida na
vizinhança da superfície livre.

10.2.3 Frequência de 250 rads-1

-1
Como se mostra nas Figuras 42 a 45, o aumento da frequência de 100 rads para 250
-1
rads traduz-se numa forte amplificação dos efeitos anteriormente ilustrados, mantendo-se, no
entanto, uma fraca variação dos valores próprios adimensionalizados da onda de Rayleigh,
resumidos na Tabela 4.

ki Parte Real (Re) Parte Imaginária (Im)


1 -0.534889 0.12459
2 0.534889 -0.12459
3 -0.487406 -0.26227
4 0.487406 0.26227
5 -0.488558 -0.0908571
6 0.488558 0.0908571
7 -0.436623 0.0695122
8 0.436623 -0.0695122
9 -1.07241 0.00365288
10 1.07241 -0.00365288
11 -0.982135 -0.0281761
12 0.982135 0.0281761
13 -0.74198 0.428054
14 0.74198 -0.428054

Tabela 4: Soluções de k para rads-1 (solo saturado)

Para o modelo de fase única (solo não saturado), os resultados apresentados na Figura
42 mostram que o movimento no solo de fundação é fortemente localizado, apresentando o
campo de tensões um andamento semelhante, como se mostra na Figura 43. Os resultados
ilustrados nas Figuras 44 e 45 mostram que a presença da fase líquida no modelo de solo
saturado reforça o decaimento dos deslocamentos e das tensões.
A relevância destes resultados, que continuam a verificar exactamente a condição de
superfície livre e todas as condições de domínio em regime elastodinâmico linear, é
principalmente de ordem numérica. A estabilidade das soluções obtidas, tanto para baixas
como altas frequências, é uma condição central para garantir a robustez do programa de
elementos finitos para a análise tanto no domínio da frequência, em que geralmente se varre
um espectro bastante amplo, como nas análises no domínio do tempo usando uma base de
wavelets.

79
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real do campo de deslocamentos

Figura 42 - Campo de deslocamentos (solo não saturado, raiz , rads-1 )

a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente

Figura 43 - Campo de tensões (solo não saturado, raiz , rads-1 )

80
a) Parte real da componente na fase sólida

b) Parte real da componente na fase sólida

c) Parte real do campo de deslocamentos na fase sólida

d) Parte real da componente do movimento relativo

e) Parte real da componente do movimento relativo

f) Parte real do campo de deslocamentos relativo


-1
Figura 44 - Campo de deslocamentos (solo saturado, raiz , rads )

81
a) Parte real da componente

b) Parte real da componente

c) Parte real da componente

d) Parte real da pressão

Figura 45 - Campo de tensões (solo saturado, raiz , rads-1 )

10.3 Análise no Domínio do Tempo

Para simular a propagação de ondas de Rayleigh em solos saturados e não saturados


actuados por um sismo, começa-se por executar o programa de integração no tempo,
determinando-se as funções de aproximação, nas equações (15) a (17), e as frequências
algorítmicas, , a partir dos quais se determinam as frequências de excitação equivalentes
através da equação (114).
Com base nessa informação, e nas propriedades do solo, implementa-se o procedimento
descrito na secção anterior para calcular os valores e vectores próprios das diferentes famílias
de ondas de Rayleigh. Inicia-se depois o processo de determinação das amplitudes dessas
ondas recorrendo ao acelerograma que carecteriza o sismo, sendo depois as ondas de
Rayleigh combinadas para definir os campos de tensão e de deslocamento em cada instante
do período em análise.

82
Interessa sublinhar que a determinação dessas amplitudes é feita de maneira distinta
nos ensaios que a seguir se apresentam e no programa de elementos finitos que este estudo
apoia.
No programa de elementos finitos as amplitudes são determinadas incluindo as soluções
obtidas para as ondas de Rayleigh na definição do campo de aproximação dos elementos, o
qual inclui, ainda, todas as soluções da forma homogénea da equação da onda,
designadamente, as famílias de ondas-P e de ondas-S anteriormente definidas. O sinal sísmico
é introduzido impondo os deslocamentos ou as acelerações registadas num ou mais pontos da
superfície, consoante a extensão do meio de fundação a analisar. A discretização em
elementos finitos permite modelar meios estratificados e a representação do sinal pode ser
imposta localmente (método da colocação) ou em média (método de Galerkin).
A simulação que aqui se faz corresponde a admitir que existe um único elemento e que o
meio é homogéneo, não permitindo, portanto, analisar meios estratificados. Para além disso,
admite-se que o sinal sísmico é medido num único ponto da superfície. Assim, o problema
consiste, essencialmente, em determinar quais são as amplitudes de uma combinação de
ondas de Rayleigh que, em cada instante, recuperam os deslocamentos medidos nesse ponto.
Portanto, a base de aproximação no espaço não contém as famílias de ondas-P e de ondas-S
que definem as soluções da forma homogénea da equação da onda.
Da aplicação deste método (de colocação) para a determinação das amplitudes pode
resultar um sistema resolvente com dependências (subdeterminado mas possível), sendo a
indeterminação aqui resolvida aplicando o método dos mínimos quadráticos. A depedência
decorre do número de soluções de Rayleigh para cada uma das frequências de excitação, cujo
número depende da dimensão da base de aproximação no tempo, a qual só pode ser definida
para um número discreto de instantes durante o período da análise, em consequência da
natureza binária das funções de aproximação (wavelets).

10.3.1 Definição das Bases de Aproximação

Como anteriormente se referiu, as variáveis são separadas no tempo e no espaço,


usando-se para a aproximação no tempo uma base não periódica definida sobre um sistema
de wavelets. Por exemplo, para o campo de deslocamentos tem-se:

∑ (229)

Ensaiaram-se duas bases, uma com N=16 termos e outra com 32. O método de
integração no tempo gera, para cada base, N funções de aproximação, , e as
correspondentes frequências adimensionais, , a partir das quais se determinam as
frequências de excitação, , a partir da equação (114), ficando assim definida a informação
necessária para aplicar as regras de integração dos campos de velocidade e aceleração,

83
definidas pelas equações (21) e (22), admitindo um estado inicial de repouso, e

As bases usadas são relativamente fracas, pois a análise no domínio do tempo é


executada num único passo, isto é, o método de integração é aplicado num único incremento,
cuja dimensão corresponde ao período da análise sísmica. A qualidade da solução pode ser
melhorada aumentando substancialmente a dimensão da base, com N=2p, pois o sistema de
wavelets é muito estável. Tal não foi feito por economia de tempos de execução e,
principalmente, porque a aplicação da segunda base (N=32) se revelou suficiente para validar
o estudo.
Conhecendo as frequências de excitação e as características do meio, define-se a
dimensão espacial da aproximação,

(230)

em que, tal como para a análise espectral, a matriz reúne as soluções das ondas de
Rayleigh anteriormente definidas e o vector define as correspondentes amplitudes.

10.3.2 Determinação das Amplitudes

O método de colocação é aplicado admitindo que o sinal do sismo, ̅ , é conhecido


na origem do sistema de coordendas, , recorrendo-se ao método de integração no tempo
para obter os termos da sua decomposição espectral:

̅ ∑ ̅ (231)

Os termos dessa decomposição, ̅ , podem ser determinados para as bases de


wavelets utilizadas, recorrendo a expressões que generalizam a decomposição de Fourier,
definida pela equação (12). No entanto, optou-se por resolver o sistema (231) também por
colocação, nos pontos diádicos das bases de wavelets.

Esses valores são usados para impor o sistema (232) para cada onda,

̅ (232)

e para as duas componentes do deslocamento da fase sólida, obtendo-se a seguinte


expressão geral para o sistema resolvente:

̅ (233)

As dependências do sistema são resolvidas aplicando o método dos mínimos


quadráticos na forma,

84
(234)
encontrando-se a seguinte solução:

̅ (235)

10.3.3 Resultados

Conhecidas as amplitudes, , decompõe-se a solução para cada ondas de Rayleigh, ,


e determina-se o campo de deslocamentos em cada ponto e em cada instante usando as
aproximações (231) e (232). Aplica-se um procedimento análogo para definir o estado de
tensão usando agora a aproximação,

∑ (236)

em que a matriz reúne os campos de tensão anteriormente definidos para solos


homogéneos e saturados. Em qualquer dos casos, os instantes em que se representam as
soluções, t, correspondem aos pontos diádicos da base de aproximação.
As soluções obtidas para o campo de tensão para o modelo monofásico estão
representadas nas Figuras 46 e 47 para as bases N=16 e N=32, respectivamente. As soluções
correspondentes obtidas com o modelo de solo saturado, Molsand, estão apresentadas nas
Figuras 48 e 49. Esses resultados mostram que, para os mesmos instantes de tempo, a
solução melhora significativamente quando se usa a segunda base de aproximação no tempo,
pois nota-se uma transição mais suave na modelação da propagação das ondas. Por definição,
os campos satisfazem exactamente as condições de equilíbrio no domínio e na fronteira da
fundação.
Nas Figuras 50 e 51 mostram-se os campos de deslocamente calculados com o modelo
de solo homogéneo. Também aqui se verifica ser insuficiente a qualidade da solução obtida
com a série de wavelets com apenas 16 termos. No entanto, deve-se lembrar que a solução é
obtida usando apenas um passo de integração no tempo, tal como para todos os outros testes.
Os campos determinados com o modelo de solo saturado estão representados nas
Figuras 52 a 55. Nas Figuras 52 e 53 se mostram as respostas das fases sólida e líquida para
a base N=16 e nas Figuras 54 e 55 as respostas obtidas com a base mais enriquecida, N=32.
Na leitura qualitativa desses resultados deve-se ter em conta que os valores máximos
encontrados são da ordem de 4 MPa para as tensões e de cerca de 25 cm para os
deslocamentos, sendo que os deslocamentos retirados do acelerograma chegavam a um
máximo de 15 cm. É de notar que os resultados obtidos podem ser mais elevados pois são
baseados numa formulação elástica, não se considerando a plasticidade do solo.
A animação da evolução dos campos de deslocamento e de tensão é apresentada na
versão electrónica deste trabalho.

85
0.02

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0.36

0.40

0.44

0.48

0.52

0.56

0.60

0.64

Figura 46 – Campos de tensões para solos homogéneos com base N=16

86
0.02

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0.36

0.40

0.44

0.48

0.52

0.56

0.60

0.64
Figura 47 – Campos de tensões para solos homogéneos com base N=32

87
0.02

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0.36

0.40

0.44

0.48

0.52

0.56

0.60

0.64

Figura 48 – Campos de tensões e pressão para solos saturados com base N=16

88
0.02

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

0.24

0.28

0.32

0.36

0.40

0.44

0.48

0.52

0.56

0.60

0.64

Figura 49 – Campos de tensões e pressão para solos saturados com base N=32

89
Figura 50 – Campo de
deslocamentos, solos
homogéneos com base N=16

Figura 51 – Campo de
deslocamentos para solos
homogéneos com base N=32

90
Figura 52 – Campo de
deslocamentos no sólido para
solos saturados com base
N=16

Figura 53 – Campo de
deslocamentos no líquido
para solos saturados com
base N=16

91
Figura 54 – Campo de
deslocamentos no sólido para
solos saturados com base
N=32

Figura 55 – Campo de
deslocamentos no líquido
para solos saturados com
base N=32

92
11 Conclusão

Apesar deste relatório não o reflectir explicitamente, o trabalho aqui apresentado exigiu,
para além da formação já referida, a familiarização com programas de cálculo simbólico e de
representação gráfica, designadamente os programas “Wolfram Mathematica” e “TecPlot 9.0”,
[13], assim como a concepção e o desenvolvimento de programas em linguagem C.
O Capítulo 2 traduz uma aplicação prática de matérias de Análise Numérica. Foi
necessário testar as diferentes opções aí resumidas, e realizar diversos e exaustivos ensaios
para escolher a que melhor se adequava ao problema de aplicação, tendo-se implementando
alterações específicas à estrutura das raízes das equações que definem os valores próprios
das ondas de Rayleigh.
Relativamente ao tema do Capítulo 3, só uma pequena parte traduz matérias
curriculares (séries de Fourier). Para além da sua aplicação, serviu essa matéria para apoiar
um método de integração no tempo mais geral (a decomposição espectral não periódica) e,
ainda, experimentar a sua implementação usando uma nova base de aproximação (o sistema
de wavelets).
Os três capítulos seguintes resumem matérias curriculares utilizadas em diferentes
disciplinas do curso. São essenciais para fundamentar o estudo do tema que exigiu uma
formação adicional mais profunda, a modelação do comportamento dinâmico de solos,
resumida no Capítulo 7. Sendo uma matéria nova, optou-se por analisar primeiro (Capítulo 8) o
comportamento de sólidos homogéneos, os solos não saturados, para facilitar o estudo da
definição e do comportamento das duas principais famílias de ondas, as ondas-P e S, e a sua
combinação em ondas de Rayleigh. Esse estudo foi depois desenvolvido para analisar o
comportamento de solos saturados (Capítulo 9).
Os resultados apresentados no Capítulo 10 exigiram um grande esforço de
desenvolvimento e validação de novas rotinas e, também, da sua articulação com o programa
de elementos finitos [8] que este trabalho visa complementar. Os resultados apresentados
mostram que foram atingidos os objectivos inicialmente estabelecidos, designadamente a
generalização, ensaio e validação da base de aproximação usada nesse programa de modo a
incluir as soluções de ondas de Rayleigh e utilizá-las para simular a propagação de ondas
sísmicas em meios de fundação.

93
94
Apêndice 1: Raízes de Funções Não Lineares

São os seguintes os procedimentos adoptados na implementação dos diferentes


métodos de solução de funções não lineares:

Método da Bisecção

- Condição suficiente de convergência métodos:


 f contínua em [a,b]
 f(a)f(b)<0

- Inicialização:
a0=a, b0=b, x0=a ou x0=b

- Ciclo:
Para m≥0
𝒂𝒎 𝒃𝒎
𝒙𝒎 𝟏
𝟐

Se 𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝜺 ou 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝜺

Então fazer 𝒛 𝒙𝒎 𝟏 e terminar

Caso contrário,
Se 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝒇 𝒂𝒎 , então fazer

am+1=am e bm+1=xm+1

Se não, fazer,
am+1= xm+1 e bm+1= bm

Quadro 1 Implementação do Método da Bissecção


Método da Falsa Posição

- Condição suficiente de convergência métodos:


 f contínua em [a,b]
 f(a)f(b)<0

- Inicialização:
a0=a, b0=b, x0=a ou x0=b

- Ciclo:
Para m≥0
𝒃𝒎 𝒂𝒎
𝒙𝒎 𝟏 𝒃𝒎 𝒇 𝒃𝒎
𝒇 𝒃𝒎 𝒇 𝒂𝒎
Se 𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝜺 ou 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝜺

Então fazer 𝒛 𝒙𝒎 𝟏 e terminar

Caso contrário,
Se 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝒇 𝒂𝒎 então fazer,

am+1=am e bm+1=xm+1

Se não, fazer,
am+1= xm+1 e bm+1= bm

95
Quadro 2 Implementação do Método da Falsa Posição

Método da Ponto Fixo

- Condição suficiente de convergência métodos:


 f contínua em [a,b]
 f(a)f(b)<0
 Escolher uma função g tal que f(x)=0 ↔ g(x)=x com:
g ∈ (]a,b[)
g([a,b])C [a,b]
max |g´(x)|<1

- Inicialização:

Dado x0∈ [a,b]

- Ciclo:
Para m≥0
𝒙𝒎 𝟏 𝒈 𝒙𝒎

até 𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝜺 ou 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝜺

Quadro 3 Implementação do Método do Ponto Fixo

Método de Newton

- Condição suficiente de convergência métodos:


 f contínua em [a,b]
 f(a)f(b)<0
 f´(x)≠0 x ∈ [a,b]
 f´´(x)≠0 x ∈ ]a,b[
 𝒇 𝒂
𝒇 𝒂
<|b-a|,
𝒇 𝒃
𝒇 𝒃
<|b-a| ou f´´(x)f(x0)>0, x ∈ ]a,b[

- Inicialização:

Para todo x0∈ [a,b] ou para x0 escolhido.

- Ciclo:
Para m≥0
𝒇 𝒙𝒎
𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎
𝒇 𝒙𝒎

até 𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝜺 ou 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝜺

Quadro 4 Implementação do Método de Newton

96
Método da Secante

- Condição suficiente de convergência métodos:


 f contínua em [a,b]
 f(a)f(b)<0
 f´(x)≠0 x ∈ [a,b]
 f´´(x)≠0 x ∈ ]a,b[
 𝒇 𝒂
𝒇 𝒂
<|b-a|,
𝒇 𝒃
𝒇 𝒃
<|b-a| ou f´´(x)f(x0)>0, x ∈ ]a,b[

- Inicialização:

Para todo x-1, x0∈ [a,b] ou para x-1, x0 escolhido.

- Ciclo:
Para m≥0
𝒙𝒎 𝒙𝒎 𝟏
𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝒇 𝒙𝒎
𝒇 𝒙𝒎 𝒇 𝒙𝒎 𝟏
até 𝒙𝒎 𝟏 𝒙𝒎 𝜺 ou 𝒇 𝒙𝒎 𝟏 𝜺

Quadro 5 Implementação do Método da Secante

97
98
Apêndice 2: Equação da Onda em Solos Não Saturados

A equação de equilíbrio (espectral) toma a forma da (237):

(237)

O campo de tensão, , da equação tem a seguinte forma:

[ ][ ], - { } (238)
( )

Substituindo-se em (237) ter-se-á:

0 1{ } [ ], - , - (239)
( )

O campo de deslocamentos, , pode ser tomado como a derivada dos termos gradiente
e rotacional, de potenciais de funções escalares, , da seguinte forma:

(240)

O gradiente tomado, será a origem do aparecimento das Onda-P e Onda-S, podendo ser
da forma:

{ } (241)

̃ { } (242)

O último é também conhecido como anti-gradiente por ser perpendicular ao primeiro.

 Onda-P
Utilizando (241) em (240) e substituindo-se em (239) resultará no seguinte sistema de
equações:

( )
2 (243)
( )

Se se integrar a primeira equação em ordem a , a segunda equação em ordem a ,


e somando todos os termos com o mesmo índice obtém-se:

99
2 (244)

Ao observar-se atentamente, pode-se concluir que as duas equações são iguais e


portanto (244) resume-se a apenas uma equação:

(245)

A equação (245) pode então dividida pela constante , obtendo-se a equação


de Helmholtz:

(246)

(247)

 Onda-S
Utilizando agora o anti-gradiente, utilizando (242) em (240) e substituindo em (239),
obtém-se:

( )
2 (248)
( )

Da mesma forma que para a Onda-P, integram-se as equações desta feita em ordem a
a primeira e em ordem a segunda. Somando, resulta em:

( )
2 (249)
( )

Obtém-se então o sistema da (249), em que, as equações são iguais resumindo-se a:

(250)

Dividindo por , obtém-se a equação de Helmholtz:

(251)

(252)

Tanto para a Onda-P como para a Onda-S pode-se definir a equação de Helmholtz com
um índice , respectivamente Onda-P e Onda-S:

(253)

100
Apêndice 3: Campos de Deslocamento, Deformação e
Tensão em Solos Não Saturados

Considerando-se um potencial escalar, , ,

(254)

as suas derivadas parciais serão:

(255)

(256)

(257)

(258)

(259)

Substituindo (256) e (258) na equação de Helmholtz:

(260)

Pondo-se em evidência a função escalar:

( ) (261)

Visto uma função exponencial nunca ser nula, para que a (261) tenha solução, é
necessário que se verifique a seguinte condição:

(262)

Verifica-se assim que há uma relação entre os números de onda , e . Como o

potencial escolhido é uma solução possível para a equação de Helmholtz, então o campo

de deslocamentos, , para a Onda-P e Onda-S, será obtido através de (255) e (257):

{ } { } (263)

{ } { } (264)

101
Para os campos de deformações ter-se-á:

{ } { ( ) } { } (265)
( )

( )
{ } { } { } (266)
( )

Consequentemente para os campos de tensões, utilizando a relação da (262)e onde a


matriz ̅ representa a matriz de elasticidade obtém-se:

̅ ̅ { ( )}
{ } {̅ ̅ { ( )}} { }
̅ { ( )} (267)

{ }

̅ { ( )} ̅ { }
{ } {̅ { ( )} ̅ { }} { }
̅ { ( )} ( )
(268)

{ }
( )

102
Apêndice 4: Equação da Onda em Solos Saturados

A equação de equilíbrio (espectral) toma a forma:

(269)

O campo de tensão tem a seguinte forma:

[ ] { }

[ ]
( ) (270)

( )
( )
{ ( ) }

Substituindo-se em (269):

( )
( )
( )
[ ]{ ( ) }
(271)

{ } , -

[ ]

O campo de deslocamentos, , pode ser tomado como a derivada dos termos gradiente
e rotacional, de potenciais de funções escalares, , da seguinte forma,

, - { } (272)

definindo o tipo de gradiente o tipo de onda, P ou S:

{ } (273)

̃ { } (274)

103
 Ondas-P
Utilizando (273) em (272) e substituindo em (271) obtém-se:

( )
( )

( ) ( ) ( { }) (275)

( ) ( ) ( { })
{

Integrando-se a primeira e terceira equações em ordem a , a segunda e quarta


equações em ordem a , obtém-se um sistema em que as duas primeiras equações e as duas
últimas são iguais, reduzindo-se a:

( ) ( )
{ (276)
( ) ( ) ( { })

Rearranjando, obtém-se então duas vias para a equação de Helmholtz,

{ (277)

onde:

(278)

Uma vez que ambas as equações do sistema (277) tem de ser iguais então, para as
Ondas-P ter-se-á duas soluções e portanto duas ondas e consequentemente dois números de
onda:

(279)

Esta igualdade origina uma equação do segundo grau em ordem ao coeficiente de


proporcionalidade , obtendo-se a seguinte equação:

(280)

Obtêm-se duas soluções , dois números de onda e portanto duas Ondas-P.

104
 Ondas-S
Utiliza-se para esta solução de onda o anti-gradiente (274) em (272), substituindo em
(271):

( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( )

. 2 3/ (281)

. 2 3/
{

Integrando-se a primeira e terceira equações em ordem a , a segunda e quarta


equações em ordem a , obtém-se um sistema iguais duas a duas, primeira e segunda,
terceira e quarta:

( )
{ (282)
( { })

Simplificando, obtém-se o seguinte resultado para a equação de Helmholtz,

{ (283)

onde é dado por (278).


Com estes resultados chega-se à conclusão que há apenas uma Onda-S e que o seu
coeficiente de proporcionalidade, e o seu número de onda são dados por:

(284)

(285)

Assim, o índice representará as ondas .

105
106
Apêndice 5: Campos de Deslocamento, Deformação e
Tensão em Solos Saturados

Considerando-se um potencial escalar, , igual ao apêndice D.2:

(286)

As suas derivadas parciais serão:

(287)

(288)

(289)

(290)

(291)

Substituindo (288) e (258) na equação de Helmholtz:

(292)

Pondo-se em evidência a função escalar:

( ) (293)

Visto uma função exponencial nunca ser nula, para que a (293) tenha solução, é
necessário que se verifique a seguinte condição:

(294)

Assim o campo de deslocamentos será dado através da substituição de (274) em (272),


e com as definições de derivadas parciais dadas acima, ter-se-á para Ondas-P , ,e
Onda-S, :

2 3 { } { } (295)

107
2 3 { } { } (296)

As deformações serão dadas por:

( )
( )
{ } (297)
( ) ( )
{ ( ) ( )} { ( )}

( )

{ } { } (298)
( )
{ ( ) }

Para os campos de tensões, utilizando a relação (294) e onde a matriz ̅ representa a


matriz de elasticidade, obtém-se :

̅ { ( )} ̅ { ( )} ̅ { ( ) ( )}
̅ { ( )} ̅ { ( )} ̅ { ( ) ( )}
{ }
̅ { ( ) ( )}
{̅ { ( )} ̅ { ( )} ̅ { ( ) ( )}}
(299)
( ) [ ] ( ) [ ( ) ]
( ) [ ] ( ) [ ( ) ]

{ ( ) [ ] } { ( ) }

̅ { ( )} ̅ { } ̅ { ( ) }
̅ { ( )} ̅ { } ̅ { ( ) }
{ }
̅ { ( ) }
{̅ { ( )} ̅ { } ̅ { ( ) }} (300)

{ }

108
Apêndice 6: Propriedades do Solo de Ensaio

O solo “Molsand” é uma areia com uma matriz sólida incompressível com quartzo sub-
angular, em que o diâmetro do grão varia entre 0.07 e 0.6mm, conforme descrito em [8]. De
acordo com a notação anteriormente definida, o solo apresenta as seguintes características:

 ;
 ;
 ;


 ;


 ;

O factor de dissipação tem a seguinte expressão, , tomando-se para a

aceleração da gravidade . O significado físico de todas as constantes pode ser


encontrado na lista de símbolos.

109
110
Bibliografia

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Porto, Departamento de Engenharia Civil, Secção deEstruturas, 1996.

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Porous Media, Tese de Doutoramento, Instituto Superior Técnico, Universidade
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[9] RODRIGUES, J.A., Métodos Numéricos: Introdução, Aplicação e Programação,


Colecção Matemática, Vol.20, Ed. Sílabo, 2003.

[10] TECPLOT 9.0, Software de visualização gráfica de dados em formato industrial,


http://hmf.enseeiht.fr/travaux/CD0102/travaux/optmfn/micp/reports/s17teci/presenta.htm

[11] TEIXEIRA DE FREITAS, J.A., Rayleigh Waves in Saturated Poroelastic Media,


Relatório Interno, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,
Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, 2009.

[12] WANG, Z., H. HAO, Y. LU, Numerical Simulation of Blast Wave Propagation in Soil
Mass, Swets & Zeitlinger, Lisse, 2003.

[13] WOLFRAM MATHEMATICA, Software de Cálculo Automático de Matemática,


http://www.wolfram.com/products/mathematica/index.html

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