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FACAMP – Faculdade de Campinas

Curso de Relações Internacionais


Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais – LAPRI
V
Prof.ª Tatiana Maranhão
1º Semestre de 2010
Catarina Rodrigues Duleba RA: 200910938

Comentário do Filme “O Processo”

O filme de Orson Welles foi feito baseado no livro homônimo de Franz


Kafka, um dos principais nomes da literatura moderna. O autor nasceu em
Praga em 1883 e se destaca por retratar as ansiedades e a alienação do
homem do século XX, com uma narrativa angustiante e fechada. O filme
começa com a parábola “Diante da lei”, inserida no romance de Kafka, que
estabelece uma importante discussão que dura até o final do filme. É possível
analisá-la relacionando com algumas questões do Direito, como a dificuldade
de um cidadão comum em ter acesso ao Poder Judiciário. O homem do interior
acredita que a lei é acessível a todos os homens, porém tem dificuldade em
interpretar a mensagem expressa pelo porteiro que está diante da lei.

Joseph K., um bancário burocrata, acorda numa manhã, cercado por


oficiais de um tribunal, que lhe informam que será preso e portanto, deverá se
apresentar ao tribunal para prestar depoimento e ser julgado. Não lhe
apresentam os motivos, os crimes e nem os acusadores. Nessa situação que
mais parece um pesadelo, “absurda”, o filme relaciona de forma aflitiva o
homem e a lei. Kafka se notabilizou por explorar em suas obras a alienação
humana, assim como, na obra de Welles, retrata a condição humana na nossa
sociedade diante da culpa, ou seja, aceita-la sem discussão. K. é preso em
abstrato e não apresenta ameaça alguma. Assim é problematizada a questão
entre indivíduo e autoridade. A culpa e a injustiça são discutidas fora do plano
individual, sendo uma questão coletiva.
K., se torna paranóico ao procurar entender os mecanismos que
envolvem seu processo. Há, aí, uma crítica ao modelo de justiça de sua época.
K. busca o motivo de sua acusação assim como muitas pessoas aspiram à
justiça e esperam alcançá-la. Desse modo, é visto a crítica ao modelo
burocrático estatal e seus servidores. Em todo o filme, há relações de
subordinação, além de relação de submissão sob a influência do poder, que
poucos detêm. O filme também questiona as instituições, despersonalizadas
que permanecem durante o tempo. Reforçando a idéia da espera pela verdade
e pela efetivação da justiça, há uma cena em que Joseph K. vai ao tribunal e
encontra muitos velhos na frente.

Podemos, portanto, relacionar a situação de alienação de Joseph K. e o


controle do sistema da época sobre as pessoas. A burocratização foi um
elemento importante para distanciar o indivíduo de uma consciência política.
Orson Welles procurou adaptar a obra de Kafka a uma realidade pós-Segunda
Guerra, nos levando a uma reflexão de regimes autoritários.

Mais que isso, a alienação política pode estar até sob um sistema que
conhecemos por democrático. Wright Mills faz uma análise da sociedade
americana e apresenta modelos de consciência política. O primeiro a ser
discutido pelo autor é o liberalismo, que foca o cidadão individual. Seu princípio
é de que o cidadão individual se torna atuante e age conforme seus interesses
políticos ao conhecer seus direitos. Pode ser preciso certo grau de instrução,
mas isso é um direito que o liberalismo procura estender a todos. Mills ainda
discute a deficiência desse modelo com um argumento de Walter Lippmann
que o define como utópico já que o cidadão não tem capacidade para saber o
que de fato se passa na política.

O segundo modelo, o marxismo, foca mais a classe do que o indivíduo.


O autor pontua que, para que haja consciência de classe, é necessário
conhecimento racional dos interesses e identificação com eles, conhecimento
do interesse de outras classes e sua rejeição e, por fim, disposição para o fim
político de defender os interesses de uma classe. No texto, o autor ainda
lembra que ao analisar um cálculo inexato de interesses, Marx admitiu que
possa haver uma “falsa consciência” e atribui a isso um erro de raciocínio
devido a ignorância.

Então, o autor nos apresenta a tendência à indiferença política, um


impasse do liberalismo e das expectativas socialistas. Ao ser politicamente
passivo, não se vê significado político em sua vida, assim, os símbolos políticos
podem perder sua eficácia. Para explicar tal fenômeno, o autor considera três
elementos: o primeiro deles, a função dos meios de comunicação de massa; o
segundo, características da estrutura histórico-social americana; e terceiro, as
instituições políticas dos Estados Unidos. Dessa maneira, o autor conclui que a
ideologia profissional das camadas sociais de sua época tornou-se
politicamente passiva, faltando-lhe consciência de seus interesses e
organização a partir desses interesses.

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