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FACAMP – Faculdade de Campinas

Curso de Relações Internacionais


Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais – Lapri
IV
2º Semestre de 2010
Catarina Rodrigues Duleba RA: 200910938

Resenha do texto "Pode a África contribuir para resolver a crise do


ocidente?"

O que podemos aprender com as civilizações africanas para encontrar


soluções para os problemas ocidentais é o assunto apresentado por Latouche.
O autor propõe uma parceria para que se use a “riqueza” da África no que
somos pobres. Se a sociedade ocidental encontra problemas sociais, materiais
e culturais dos tempos modernos, em contraposição, é visível que a África
consegue se sobrepor em suas relações harmoniosas com o meio ambiente,
com o ser humano, na sua forma de resolver conflitos e nas relações sociais.
Para isso, é preciso entender que, ao contrário de um desenvolvimento
individualista difundido pelo capitalismo concorrencial em que o progresso
econômico é o principal objetivo, a riqueza das relações sociais pode valer
mais. Dessa forma, a África pode oferecer um remédio para contribuir em um
sistema econômico que nos deixa doentes. Portanto, o autor contraria a visão
de que somente podemos ajudar o continente, uma vez que é possível receber
ajuda também.

A “economia do débrouille”, que podemos entender como a economia do


“se virar”, se mostrou bem efetiva na África subsaariana, mesmo que seu
sucesso não esteja baseado em critérios da economia convencional em
questões de lucros e crescimento. A forma de administração africana, não
estipula que o setor informal é o de indigentes. Há uma auto-organização em
meio à bricolagem. Se não pensarmos de forma economicista, em que só é
possível atingir bons resultados através do crescimento econômico pleno,
podemos entender que a economia é um fundamento da vida social, e assim,
não ver o setor informal de forma negativa. Por se tratar de um tipo diferente de
sociedade, o êxito está nas relações sociais e até na falta de administradores,
já que são grandes as falhas nas intervenções nos moldes ocidentais.

Mais do que uma economia informal, há a sociedade vernacular. O


progresso não é visto a partir de uma ideia ocidental de valor econômico
individual, não obstante é entendido que o desenvolvimento está no bem estar
comum. Logo, os valores morais são mais consideráveis para o ideal de
progresso, diferente do valor ocidental de aumento de riqueza de forma
isolada. Além disso, o enriquecimento material individual poderia afetar
diretamente de maneira negativa a organização e o tradicionalismo das
sociedades africanas. Assim, o informal não é só uma forma atípica de
atividade econômica que serviria de tapa-buraco para uma situação de
necessidade, é um fenômeno social.

A África que conhecemos sob o olhar ocidental está falida econômica e


politicamente, porém, Latouche nos mostra que existe uma outra África, que
persiste mesmo com a derrota de sua economia. Deste modo, resiste à
racionalidade econômica e incorpora as funções de produção de riqueza na
sociedade. Além do fracasso do processo de globalização, há uma África viva,
da “sociedade civil”, como é chamada pelo autor. É, por consequência,
baseada em laços sociais e tradicionais e, é realizada pelos próprios africanos,
em que existe um certo dinamismo na estrutura social. O principal eixo está no
parentesco, ignorando assim, o individualismo e impondo a “solidariedade
africana”, afastando problemas recorrentes das sociedades ocidentais que são
a solidão e o isolamento.

Como as necessidades individuais não são priorizadas, a organização


política africana busca pensar no coletivo, em uma “sociedade de iguais”.
Deste modo, o autor nos apresenta o conceito de “palabre”, que se trata de
reuniões em que há participação de todos da comunidade para discutir
assuntos.

Sendo assim, entendendo a organização social da África, podemos


buscar saídas para problemas como a desigualdade, que é consequência da
estrutura social do capitalismo. O autor não nos diz como podemos aplicar tais
conhecimentos em uma sociedade capitalista estruturada como a nossa,
contudo, diz que é possível viver melhor rejeitando certos ideais capitalistas
como acumulação de capital e exploração da força de trabalho. Podemos nos
desligar de nossas necessidades artificiais para buscar sabedoria e felicidade
e, podemos aprender isso com a África.

Referência Bibliográfica:

LATOUCHE, Serge, "Pode a África contribuir para resolver a crise do


ocidente?". Tradução de Acácio Sidinei Almeida Santos. IV Congresso
Internacional de Estudos Africanos, Barcelona, 2004.

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