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Claudio Cezar Henriques

Língua Portuguesa:
Morfossintaxe

2009
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

H449L

Henriques, Claudio Cezar, 1951-


Língua portuguesa: morfossintaxe / Claudio Cezar Henriques. – Curitiba, PR:
IESDE Brasil, 2009.
276 p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0668-7

1. Língua portuguesa – Morfologia. 2. Língua portuguesa – Sintaxe. 3. Lín-


gua portuguesa – Gramática. 4. Linguagem e línguas. 5. Análise do discurso. I.
Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título.

09-1949. CDD: 469.5


CDU: 811.134.3’36

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: Jupiter Images / DPI Images

Todos os direitos reservados.

IESDE Brasil S.A.


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Claudio Cezar Henriques

Pós-doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); doutor em Letras


pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); mestre em Letras pela Uni-
versidade Federal Fluminense (UFF); licenciado e bacharel em Letras pela Univer-
sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Sumário
Introdução à morfossintaxe.................................................. 11
Nomenclatura gramatical e ensino de português......................................................... 11
Morfologia: morfemas, palavras e classificação.............................................................. 14
Sintaxe: termos e períodos..................................................................................................... 17
Morfossintaxe: palavras e sintagmas a serviço do texto . ........................................... 19

Mecanismos sintáticos............................................................ 27
Sintaxe de concordância: verbos e nomes em sintonia............................................... 27
Sintaxe de regência: verbos e nomes em hierarquia.................................................... 30
Sintaxe de colocação: palavras em sintonia e hierarquia............................................ 33
Adequação sintática e adequação semântica................................................................. 36

Termos essenciais da oração................................................. 47


O sujeito e o predicado............................................................................................................ 47
Predicação verbal....................................................................................................................... 49
Tipologia do sujeito................................................................................................................... 54
Tipologia do predicado............................................................................................................ 64

Termos subordinados ao verbo........................................... 69


Tipologia dos complementos verbais................................................................................. 69
Regência verbal: casos selecionados.................................................................................. 75
Tipologia dos adjuntos adverbiais....................................................................................... 82
Palavras denotativas: uma questão à parte...................................................................... 84

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Termos subordinados ao nome........................................... 93
Tipologia dos predicativos...................................................................................................... 93
Tipologia dos complementos nominais............................................................................ 96
Tipologia dos adjuntos adnominais.................................................................................... 99

Agente da passiva, aposto e vocativo ............................111


Tipologia do agente da passiva..........................................................................................111
Tipologia do aposto................................................................................................................115
Vocativo: uma questão à parte............................................................................................117
Particularidades morfossintáticas......................................................................................119

Estrutura do período: a coordenação..............................129


Período simples.........................................................................................................................129
Parataxe e hipotaxe (coordenação e subordinação)...................................................131
Tipologia das orações coordenadas..................................................................................133

Estrutura do período: a subordinação I...........................151


Tipologia das orações subordinadas.................................................................................151
Orações substantivas: particularidades...........................................................................154
Orações desenvolvidas X orações reduzidas..................................................................162

Estrutura do período: a subordinação II..........................171


Orações adjetivas: particularidades...................................................................................171
Função sintática dos pronomes relativos........................................................................180
Orações desenvolvidas X orações reduzidas..................................................................182

Estrutura do período: a subordinação III .......................191


Orações adverbiais: particularidades................................................................................191
Orações desenvolvidas X orações reduzidas..................................................................202

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Combinação de estruturas oracionais.............................215
Coocorrência de parataxe e hipotaxe no âmbito do período..................................215
Relações entre morfossintaxe e estilo..............................................................................226

Da frase ao texto......................................................................233
Situações contrastivas e progressivas...............................................................................233
Relações de causa, efeito e finalidade..............................................................................235
Referências temporais............................................................................................................241
Morfossintaxe, léxico e semântica.....................................................................................245

Gabarito......................................................................................257

Referências.................................................................................269

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Apresentação

Este é um livro destinado a estudantes e estudiosos da Língua Portuguesa.


A sensibilidade de quem investiga as relações entre a morfologia e a sintaxe ul-
trapassa os conteúdos desses dois componentes do campo gramatical e alcança
repercussões nas esferas da semântica, da estilística, da pragmática, da análise do
discurso – enfim, do texto.

O tratamento que damos aqui à morfossintaxe tem a preocupação prioritária


com a descrição do português, inserindo as ocorrências selecionadas em situa-
ções concretas de uso não apenas na língua literária, mas também na linguagem
jornalística, publicitária, nas letras de música, buscando apresentar o assunto
como uma parte integrante de nosso cotidiano. Consideramos muito importante
investir no saber expressivo, ou seja, na competência discursiva ou textual que
permite ao usuário da língua a concretização da capacidade de construir textos
em situações determinadas.

As explicações sobre palavras, termos, orações e frases têm como intuito al-
cançar o texto, numa expansão que se faz mediante o reconhecimento de cada
componente dessa imensa rede que começa num pequeno morfema e, prefe-
rimos dizer, não termina, pois a língua é um espaço em estado de construção
morfossintática.

A Morfologia e a Sintaxe – o leitor confirmará – são disciplinas da vida acadê-


mica e da vida real, que nos ajudam a alcançar um estágio superior na compreen-
são do mundo em que vivemos, pela leitura e pela escrita, pela expressão oral e
pela necessidade de ouvir.

Optamos, neste livro, por trabalhar progressivamente os conteúdos da morfo-


logia e da sintaxe em sintonia, partindo dos componentes menores das microrre-
lações das classes de palavras até os capítulos finais, que privilegiam as estruturas
mais complexas na esfera do período, do parágrafo e do texto.

O estudo da gramática é um instrumento valioso para todo profissional que


emprega a língua portuguesa com a responsabilidade que isso representa. Para o
futuro professor, em especial, conta-se com sua especial dedicação a esses assun-
tos, que o ajudarão na missão de preparar a juventude para o exercício pleno de
sua cidadania – essa é a principal lição que se pretende transmitir.

Claudio Cezar Henriques

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Introdução à morfossintaxe

O objetivo desta aula é conceituar os termos morfologia e sintaxe e de-


monstrar como ambos se vinculam a ponto de se agruparem no termo
morfossintaxe.

Nomenclatura gramatical
e ensino de português
Toda ciência tem a sua linguagem própria e uma terminologia especí-
fica. Não é diferente com os estudos linguísticos, que se valem de palavras
de significação especial nesse campo do conhecimento. Saber o significa-
do técnico que as palavras têm na área linguístico-gramatical é um com-
promisso de todo profissional que atua no ensino e na pesquisa de língua
portuguesa.

Terminologia gramatical = nomenclatura gramatical

Certamente é costume, no âmbito acadêmico, encontrar a expressão


nomenclatura gramatical acompanhada do adjetivo brasileira, populari-
zada numa sigla que é parte obrigatória da maioria das gramáticas que
nossos estudantes já tiveram em suas mãos: a NGB.

No entanto, se o profissional de Letras não se informar e não refletir cri-


ticamente a respeito das questões nomenclaturais voltadas para o ensino
e para a descrição do português, talvez sua prática docente ou científica
tenha danos significativos.

Em primeiro lugar, será preciso reparar que a palavra nomenclatura é


apenas o coletivo de nomes (e não uma camisa de força ou a própria gra-
mática). Apesar disso, nos níveis fundamental e médio de ensino, é peda-
gogicamente aconselhável que os professores não usem nomenclaturas
divergentes e múltiplas em suas aulas (o que se aplica obviamente a toda

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

e qualquer disciplina), o que acaba confundindo os alunos e pode até prejudicá-


los eventualmente em algum tipo de concurso público.

Isso não significa, no entanto, que as preocupações em torno da nomencla-


tura a ser utilizada nas escolas sejam mais importantes do que o próprio ensino
de Língua Portuguesa. Os Parâmetros Curriculares Nacionais reconhecem que,
até hoje, a perspectiva dos estudos gramaticais centra-se, em grande parte, “no
entendimento da nomenclatura gramatical como eixo principal”, frisando uma
das maiores críticas que se fazem ao ensino conservador, pelo qual “descrição
e norma se confundem na análise da frase, essa deslocada do uso, da função e
do texto”.
O estudo gramatical aparece nos planos curriculares de Português, desde as séries iniciais, sem
que os alunos, até as séries finais do Ensino Médio, dominem a nomenclatura. Estaria a falha
nos alunos? Será que a gramática que se ensina faz sentido para aqueles que sabem gramática
porque são falantes nativos? A confusão entre norma e gramaticalidade é o grande problema da
gramática ensinada pela escola. O que deveria ser um exercício para o falar/escrever/ler melhor
se transforma em uma camisa de força incompreensível. Essa concepção destaca a natureza
social e interativa da linguagem, em contraposição às concepções tradicionais, deslocadas do
uso social. O trabalho do professor centra-se no objetivo de desenvolvimento e sistematização
da linguagem interiorizada pelo aluno, incentivando a verbalização da mesma e o domínio de
outras utilizadas em diferentes esferas sociais. Os conteúdos tradicionais de ensino de língua,
ou seja, nomenclatura gramatical e história da literatura, são deslocados para um segundo
plano. O estudo da gramática passa a ser uma estratégia para compreensão / interpretação /
produção de textos e a literatura integra-se à área de leitura. (BRASIL, 1999, p. 137)

Alguns pontos, então, podem ser apresentados ao futuro profissional de


Letras em relação ao tema nomenclatura gramatical, entre os quais destacamos:

 É altamente recomendável a leitura crítica do texto da Portaria n.º 36, pu-


blicada no Diário Oficial de 11 de maio de 1959 (reproduzida nas páginas
preliminares de alguns dicionários e do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da ABL, e disponível em páginas da internet como o Portal de
Língua Portuguesa (www.portaldalinguaportuguesa.org), inclusive pelo
fato de ela, até hoje, não ter sido abolida pelo Ministério da Educação.

 É necessário lembrar que uma nomenclatura gramatical voltada para o


ensino só é aplicável aos níveis fundamental e médio (não se conceben-
do que ela se aplique monocordicamente a estudos superiores praticados
por especialistas e universitários), o que justifica plenamente a elaboração
de uma proposta para sua atualização e modernização.

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Introdução à morfossintaxe

 É discutível a atitude de substituir (nas escolas) termos consagrados nos


estudos linguísticos por novidades nomenclaturais (por exemplo: falar em
orações relativas em lugar de orações adjetivas ou em transpositores em
vez de conectivos), que devem ser reservadas para o ambiente universitá-
rio, onde poderão ser avaliadas do ponto de vista técnico.

 É fundamental ter em mente que o principal objetivo do ensino de Língua


Portuguesa não é a cobrança gratuita da nomenclatura pela nomenclatu-
ra e que esta tem de ser vista não como uma finalidade em si, mas como
um instrumento, um meio para se alcançar o aprendizado consciente da
língua.

Essas preocupações quanto ao ensino não são privilégio desses nossos


tempos, e as críticas à gramática são tão antigas quanto ela. O linguista dina-
marquês Otto Jespersen (1992) expressou, na conclusão de sua obra clássica The
Philosophy of Grammar, a esperança de que “o ensino de gramática no futuro
pudesse ser algo mais vivo do que tinha sido até então, com menos preceitos
mal-entendidos ou ininteligíveis, menos nãos, menos definições, e infinitamen-
te mais observações dos fatos da vida real” (p. 346). Para ele, este seria o único
modo pelo qual o ensino de gramática poderia tornar-se um componente útil e
interessante no currículo escolar.

É óbvio que há necessidade de se resolverem oficialmente muitas questões


acerca do ensino de Língua Portuguesa, inclusive o tema da nomenclatura uni-
ficada, de preferência comum a brasileiros e portugueses. Porém, enquanto
isso não acontece, espera-se que a conduta dos educadores, em sala de aula, não
acabe agravando ainda mais a situação, fazendo com que os poucos profissionais
bem preparados voltem a conviver com uma torre de Babel terminológica ou
passem a coexistir com a progressiva abolição do ensino da gramática como
instrumento para a aprendizagem crítica e reflexiva da língua. “Língua e gramá-
tica não rimam”, como diz Irandé Antunes (2007, p. 160), “quando se confunde
o estudo da nomenclatura com o estudo da gramática”, pois é preciso que se vá
além da nomenclatura “para encontrar os sentidos que transparecem nos usos
reais, concretizados, efetivados.” Mas
[...] a crítica à gramatiquice e ao normativismo não significa, como pensam alguns desavisados,
o abandono da reflexão gramatical e do ensino da norma-padrão. Refletir sobre a estrutura
da língua e sobre seu funcionamento social é atividade auxiliar indispensável para o domínio
da fala e da escrita. E conhecer a norma-padrão é parte integrante do amadurecimento das
nossas competências linguístico-culturais. (FARACO, 2006, p. 26)

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Morfologia: morfemas, palavras e classificação


O substantivo morfologia tem origem grega e significa estudo das formas. As
primeiras referências ao seu emprego, com esse sentido, nos estudos linguísti-
cos remontam ao século XIX. Se tivéssemos de resumir em breves palavras de
que cuida a morfologia, diríamos que é o ramo da gramática que trata da estru-
tura interna das palavras. Seu estudo propicia a análise dos princípios formais
que fazem dos morfemas a unidade básica da primeira articulação da lingua-
gem, isto é, a unidade que é dotada de um valor semântico indivisível, tanto no
âmbito da estrutura como no da formação.

Se definimos morfologia como o estudo das unidades e dos princípios que


regem os morfemas e sua ordenação no vocábulo, seja pela formação de novas
bases lexicais, seja pela sua flexão, também podemos afirmar que o componente
morfológico de uma língua como o português está suficientemente vinculado
a outras partes da gramática. Com isso, queremos frisar que nem tudo o que se
refere à unidade palavra é competência da morfologia, que nesse sentido serve
como importante componente de três campos de estudos: o lexical (por ajudar
a organizar as unidades memorizáveis das designações), o sintático (por ajudar a
explicitar as relações de articulação entre as unidades lexicais) e o discursivo (por
expressar relações como tempo, pessoa, lugar).

Como os subsistemas integrantes de um sistema complexo, como o de uma


língua, se entrecruzam ou se superpõem de modo também complexo (BOSQUE;
DEMONTE, 2000, p. 4.309), cabe à gramática a tarefa de descrever como se inter-
relacionam esses subsistemas. No que diz respeito à morfologia, é preciso re-
conhecer, por exemplo, que as unidades léxicas têm propriedades fonológicas,
semânticas, morfológicas, sintáticas e discursivas que são pertinentes para o
funcionamento de seus estatutos.

Esses elos, como se vê, mostram que existe uma dinâmica nas manifestações
dos componentes morfológicos e, por isso, é necessário destacar que os mais
importantes são as noções de morfema, de palavra e de classe.

Chamamos de morfema todo e qualquer constituinte de um vocábulo, en-


globando os lexemas (morfemas dotados de significação externa, chamados
morfemas lexicais) e os gramemas (morfemas dotados de significação interna,
chamados morfemas gramaticais):

 significação externa – é a que se refere ao mundo real ou imaginado


(ações, sentimentos, coisas);

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 significação interna – é a que fica restrita ao campo gramatical (gênero,


número, conjugação, classe).

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Morfema – menor unidade gramatical que se pode identificar
e que é dotada de valor semântico indivisível.

Outra distinção técnica na terminologia morfológica é a que envolve a pró-


pria conceituação de palavra, usada na linguagem comum como sinônimo de
vocábulo, mas que nos estudos linguísticos tem uma acepção mais restrita e
pode ser compreendida a partir da leitura de uma pequena frase como “José
é fluminense, e eu sou carioca”. Não há dúvida de que essa frase contém sete
palavras, como também não há dúvida de que a segunda é e a sexta sou são
duas formas da mesma palavra, o verbo ser. Por isso, a contabilidade poderia nos
informar que a frase não tem sete, mas seis palavras, pois uma delas ocorre duas
vezes. Sete seria, então, o número de vocábulos da frase (e não de palavras).

Portanto, existe, a rigor, a necessidade de dizer que palavra é o termo que


se usa para designar a unidade mínima autônoma (lexical ou gramatical) para a
qual se espera, por exemplo, que exista uma entrada própria num dicionário ou
que, numa gramática, exista um paradigma que a inclua.

Esse paradigma contido numa gramática mostrará as classes das palavras,


definidas tradicionalmente conforme suas propriedades morfológicas, sintáticas
e semânticas. É por essa razão que se fala em palavras variáveis ou invariáveis

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(critério morfológico) ou em palavras que modificam outras (critério sintático)


ou que designam os seres (critério semântico). Essa forma de classificação apa-
rentemente mista é compreensível, pois afinal o universo lexical de uma língua
se compõe de elementos heterogêneos que se apresentam a nós sob essa forma
a que denominamos palavra.

Apresento aqui, com pequena adaptação, uma tabela que incluí no livro Sin-
taxe: estudos descritivos da frase para o texto e que mostra de maneira didática as
10 classes de palavras e suas propriedades morfológicas:

(HENRIQUES, 2008, p. 4)
Classes Gramaticais (10)
Verbo variável
Substantivo variável*
Adjetivo variável*
Pronome variável*
Advérbio invariável**
Numeral variável*
Artigo variável
Conjunção invariável
Preposição invariável
Interjeição*** ------
* Excepcionalmente, substantivos (lápis, tórax), adjetivos (piegas, simples), pronomes (eu,
quem, tudo) e numerais (dois, três) também podem ser invariáveis.
** Excepcionalmente, advérbios (todo, meio) podem se flexionar por atração1.
*** A interjeição poderia não fazer parte desse quadro, pois faz parte da função emotiva da
linguagem (vinculada à 1.a pessoa do discurso).

Há livros que tentam, sem grande sucesso, classificar as palavras de modo


menos heterogêneo, mas não nos parece que seja o caso de alterar substancial-
mente o que a descrição tradicional consagrou desde as primeiras gramáticas
das línguas ocidentais. O que cabe fazer é procurar descrever essas classes de
acordo com cada um dos três critérios mencionados, embora isso, ao final, nos
faça novamente refletir sobre aquelas conhecidas definições, pois veremos as
mesmas classes aparecendo, às vezes, simultaneamente nos três novos grupos.

Outra maneira seria distribuir as 10 classes em dois subconjuntos, o das pala-


vras lexicais (verbos, substantivos, adjetivos, advérbios) e o das palavras grama-
1
A flexão abonada do advérbio meio é registrada em muitas obras, como por exemplo no Dicionário Aurélio Eletrônico versão 5.0 (Positivo, 2004),
que apresenta a seguinte observação (grifos nossos): “Há muitos exemplos, no português antigo como no moderno, desse advérbio flexionado
(caso de concordância por atração): a cabeça do Rubião meia inclinada (M. de Assis, Quincas Borba); casou meia defunta (M. de Assis, Várias Histó-
rias); a mesma mulher, sempre nua ou meia despida (E. de Queirós, A Cidade e as Serras); Uns caem meios mortos, e outros vão / A ajuda convocando
do Alcorão. (L. de Camões, Os Lusíadas, III, 50); cinzeiros com cigarros meios fumados (José Régio, Histórias de Mulheres)”.

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ticais (artigos, conjunções, preposições). Mas aqui também poderíamos apontar


problemas, como por exemplo acontece com a multifacetada situação dos pro-
nomes (indefinidos são lexicais; relativos são gramaticais).

Sintaxe: termos e períodos


O estudo da análise sintática é um dos pontos fundamentais na formação de
quem aspira ser um usuário competente de sua língua. Duas das habilidades
principais de uma pessoa culta repousam nas atividades de ler e de escrever,
ações que podem caracterizar não só nossas carreiras profissionais, mas também
nossa vida como cidadãos.

Esse tema é um dos que mais deve interessar ao professor de Português, não
só por representar um dos assuntos com que mais trabalhará em sua carreira
docente como também porque é pelo domínio da sintaxe que se pode começar
a conquistar, com plenitude, o texto.

Ler ou escrever um texto é muito mais do que apenas compreender ou or-


ganizar palavras em frases e parágrafos. É algo que envolve um amplo mecanis-
mo a partir do qual o pensamento e as pretensões comunicativas do autor se
apresentam para reflexão e avaliação do leitor. Como se constroem esses textos?
Com palavras, sintagmas, termos, orações e períodos2 – elementos que mantêm
entre si um relacionamento interno de concordância, regência, colocação e atri-
buição (HENRIQUES, 2008).
IESDE Brasil S. A.

2
Não incluímos nessa série a palavra cláusula: unidade de significado que pode ter qualquer estruturação interna – diferente de oração, que
necessariamente deve apresentar um verbo. A cláusula ocorre no estrato funcional correspondente às funções “comentário” e “comentado”, como
em “Com toda certeza, o professor virá” (o comentário é “com toda certeza”; o comentado é “o professor virá”). Nesse trecho, há duas cláusulas, mas
apenas uma oração, pois só há um verbo. Entendemos que essa palavra interessa mais como um contraponto nomenclatural do que como um
conceito útil no âmbito do ensino e da descrição gramatical.

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A análise sintática é a análise das relações. Por exemplo: na estrutura da


oração, estudamos as relações que as palavras mantêm entre si na frase. Essas
relações são binárias: sujeito e verbo; verbo e complemento; núcleo e adjunto;
etc. Por esse motivo, quando pensamos na tradicional prática de exercícios vol-
tados para o reconhecimento da função sintática de um termo, vemos que ela
nem sempre alcança o real objetivo de sua aplicação.

Não se pode dizer qual é a função sintática de um termo se não se encontrar o


outro termo com o qual ele se relaciona, ou seja, não se pode encontrar o sujeito
de uma oração sem que se confirme sua relação de concordância com o seu par
(o verbo); não se pode reconhecer que existe um objeto direto sem apresentar
a prova (o verbo transitivo direto); não se pode afirmar que determinado termo
é o agente da passiva sem que seu parceiro sintático seja revelado (o verbo na
voz passiva). E assim sucessivamente com todos os termos da oração, pois cada
um deles só tem a classificação que tem porque possui uma relação com outro
termo – e cada uma dessas relações é única, sendo 10 os termos da oração (11,
se contarmos com o vocativo).

Um texto coeso e coerente organiza-se a partir de princípios lógicos, entre os


quais se incluem os processos relacionais, que, partindo de uma relação-micro,
como a existente entre o núcleo de um termo e seu adjunto adnominal, passam
por uma relação-midi, como a que nos mostra que uma oração é principal porque
outra é sua subordinada, e se encerram numa relação-macro, confirmando, por
exemplo, que uma notícia de jornal ou uma crônica literária teve começo, meio
e fim – e isso só acontecerá de fato se tiverem sido seguidas as regras elementa-
res de adição, oposição, reiteração, substituição e conclusão, entre tantas outras
regras que se baseiam em ampliações dos mecanismos primários expressos
pelos conectivos, conjunções, pronomes relativos e pessoais.

Nesse percurso que começa no mundo-micro (da oração), passa pelo mundo-
-midi (do período) e alcança o mundo-macro (do parágrafo e do texto), é bom
notar que cada um deles nada mais é do que a repetição dos outros, apenas em
tamanhos e graus diferentes.

Nesse sentido, a complexidade e a expressividade de um texto se medem a


partir de vários parâmetros. Um deles repousa certamente na observação da es-
trutura sintática de seus períodos e parágrafos. Por isso, o estudo da sintaxe é um
dos caminhos para desvendar os mecanismos composicionais escolhidos pelo
autor de um texto, sendo a nomenclatura e a fixação das regras básicas do rela-
cionamento sintático estratégias didáticas – e não o motivo principal do estudo.

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Introdução à morfossintaxe

Morfossintaxe: palavras
e sintagmas a serviço do texto
Dependendo dos objetivos e dos métodos adotados na explicação dos fatos
da língua, as classes gramaticais e as funções sintáticas, como vimos, podem
ser estudadas em separado (respectivamente, pela morfologia e pela sintaxe).
Na teoria e na prática, porém, essas duas partes da gramática se encontram em
muitos pontos, pois os valores associativos (morfológicos) se inserem em enun-
ciações lineares (sintáticas), o que comprova a existência de um vínculo inegável
entre elas. Isso nos lembra o que Flávia Carone (1995, p. 13) aponta como uma
das condições para que se chegue ao efetivo conhecimento de um objeto:
[...] é necessário que as partes obtidas pelo corte analítico não se dispersem, de tal maneira
que o todo mantenha sua integridade na consciência de quem o observa – pois analisar é
observar em uma ordem sucessiva as qualidades de um objeto, a fim de dar-lhes no espírito a
ordem simultânea em que elas existem.

Tanto material como idealmente, faz-se essa composição e essa decompo-


sição harmonizando-se as relações existentes entre as coisas – como explica
André Lalande (1960), também citado por Carone.

A sintaxe tem duas parceiras especiais. Uma é a semântica, a ciência do sig-


nificado. Afinal, o entendimento de uma frase depende da sua estrutura e das
sutilezas que envolvem a construção do sentido. Outra é a estilística (a ciência
da expressividade), pois compete ao autor da frase fazer as escolhas sobre como
será sua organização, a partir do repertório que a língua lhe oferece.

Entretanto, para se obter êxito no estudo da sintaxe do português, há um


pré-requisito, pois a sintaxe e morfologia são assuntos interligados. Ter um bom
conhecimento acerca das classes de palavras é fundamental para entender a es-
trutura de uma oração e de um período. Recordemos, por exemplo, nosso estudo
de verbos, substantivos, adjetivos e advérbios nos livros e aulas de morfologia
– suas flexões, significações e particularidades. Depois, a atenção sobre o verbo
como elemento central da oração, o substantivo como núcleo de um termo, o
adjetivo como um elemento periférico ou atributivo de outro, o advérbio como
um determinante, sobretudo dos verbos.

Morfologia  estudo dos valores associativos das


formas linguísticas.

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

Sintaxe  estudo da inserção das formas linguísticas


em enunciações lineares.

Morfologia  Sintaxe = Morfossintaxe

Com isso, queremos enfatizar que um sólido estudo de morfologia é funda-


mental para o que se coloca diante do estudo de sintaxe, confirmando de algum
modo a advertência de Mattoso Câmara Jr. (2004, p. 57), quanto ao fato de que
“a distinção entre morfologia e sintaxe tem sido muitas vezes criticada, tanto de
um ponto de vista didático quanto teórico”. Sua argumentação, no entanto, jus-
tifica a procedência da distinção entre ambas, pois a unidade de cada uma pre-
valece por conta de suas relações, respectivamente, associativa (paradigmática)
e sintagmática. É uma opinião que não invalida o que Louis Hjelmslev (1991, p.
162) escreveu em 1939, num artigo em que comentava que, “malgrado todos os
esforços, nunca se conseguiu separar completamente a morfologia e a sintaxe”.
Talvez por isso, T. Givón (2001) , no prefácio de seu livro Syntax, fale em estruturas
morfossintáticas concretas e suas correlações semânticas e pragmáticas.

É o que mostra uma das questões incluídas no Exame Nacional dos Cursos de
Letras, realizado em 2002, cujo enunciado propunha:
Budista e japonês são palavras que podem ser categorizadas como substantivos e como
adjetivos, o que é comprovável em sintagmas como o japonês budista e o budista japonês.
Considerando apenas três possíveis critérios de classificação morfológica – o formal (ou
flexional), o semântico e o sintático –, aponte o critério mais decisivo para determinar a classe
gramatical desse tipo de palavras, justificando por que você o escolheu e excluiu os demais.

A grade oficial admitiu, entre as respostas, posicionamentos diferentes, com-


binados a justificativas pertinentes, mas considerou que o critério “mais decisivo”
para determinar a classe gramatical desse tipo de vocábulo é morfossintático.

Para terminar, lembremos que um texto deve ter uma adequação gramati-
cal compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se assim julgar
pertinente – procurará atingir o nível de exigência da linguagem-padrão pra-
ticada por escrito pela comunidade culta em que se insere. Tudo entrelaçado,
interligado, no âmbito da palavra e da oração ou da frase (morfossintaticamen-
te) para permitir que alcancemos a competência discursiva ou textual, caracteri-
zando o que Eugenio Coseriu (1992) chama de saber expressivo, ou seja, a com-
petência discursiva ou textual, a capacidade de construir textos em situações
determinadas.

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Introdução à morfossintaxe

Texto complementar

Nomenclatura Gramatical Brasileira:


um necessário passo à frente
(BECHARA, 1999)

Hugo Schuchardt dizia, com muito acerto, que a nomenclatura estava


para o cientista assim como o farol para o marinheiro: aplaina-lhe a estrada
e o conduz a bom porto.

Em muito boa hora, na época em que o Ministério da Educação se preo-


cupava com as medidas substantivas ao aperfeiçoamento do ensino e, por
consequência, o aprimoramento da cultura, reuniu o ministro as autoridades
que mais estavam debaixo de sua jurisdição – os competentes catedráticos
do Colégio Pedro II – para, sob a presidência do decano e emérito Antenor
Nascentes, apresentar proposta de unificação da nomenclatura gramatical
reinante nos livros didáticos e científicos (mormente nos primeiros), nas es-
colas e entre professores de Língua Portuguesa.

Para tal tarefa, começaram a trabalhar os professores catedráticos em


exercício no Externato e no Internato do Colégio Pedro II: Cândido Jucá
(filho), Carlos Henrique da Rocha Lima, Celso Cunha e Clóvis Monteiro, aos
quais, depois vieram associar-se, como consultores, Antônio José Chediak,
Serafim da Silva Neto e Sílvio Elia, todos também pertencentes ao quadro de
magistério do Colégio Pedro II.

Se a iniciativa era inédita em língua portuguesa, não o era em outras


partes do mundo, pois a Inglaterra e a França já tinham dado os primeiros
passos neste sentido da unificação dos termos constantes e correntes na no-
menclatura gramatical de seus idiomas, para fins escolares.

Para orgulho dos brasileiros, saída a proposta (não era uma imposição!)
da NGB, a iniciativa estimula a que filólogos e linguistas portugueses, espe-
cialmente de Coimbra e Lisboa, com Manuel de Paiva Boléo na secretaria
da comissão, passassem a trabalhar para consecução dos mesmos objetivos,
orientando-se no esquema traçado pelos catedráticos do Pedro II, mas guar-
dando a orientação tradicional da sua terminologia que, diga-se de passa-
gem, pouco difere da praticada entre nós.

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

É fácil perceber a floresta, quase selva selvaggia, reinante nos livros di-
dáticos e entre o magistério de língua portuguesa: sem ainda Faculdades
ou Institutos de Letras (que só começaram nos últimos anos da década de
30); com as mais díspares orientações da gramaticografia nascente no século
XIX; com a influência das gramáticas filosóficas, lógicas, puristas, ao lado de
outras sem nenhuma orientação de valor científico; com o privilegiamento
de nomenclaturas próprias da gramática clássica, especialmente latina (fa-
lava-se tranquilamente em nominativo, dativo, acusativo, ablativo, genitivo,
consecutio temporum, etc.), ao lado das modernas novidades trazidas pelos
livros que divulgaram os métodos histórico-comparativos (Brachet, Egger,
Brunot, entre outros) ou da gramaticografia alemã e, principalmente, inglesa
(Becker, Bain, Holmes, Mason e Whitney).

Diante desta multiplicidade de fontes e correntes doutrinárias, é claro


que não haveria unanimidade terminológica e conceitual entre os autores
que, a partir da reforma do ensino de línguas promovida por Fausto Barreto,
em 1887, maxime do português, começaram a escrever seus compêndios de
gramáticas escolares.

É bem verdade que tivemos autores que, desde cedo, se preocuparam em


apresentar, para os diversos domínios da gramática, uma racionalização da
nomenclatura. Entre esses, cabe menção especial aos esforços de Júlio Ribei-
ro, Maximino Maciel e, posteriormente, de José Oiticica, Martinz de Aguiar e
Antenor Nascentes.

A pluralidade terminológica chegou a tal exagero, que Antônio José Che-


diak arrolou dezenas de denominações para o que hoje chamamos adjunto
adnominal. Daí, em boa hora, veio a ideia da organização de proposta para
escolha de um rótulo oficial para cada fato de língua que ostentava uma ri-
queza perturbadora – e inútil – de classificações.

Saída a NGB em 1959, nenhum dos seus signatários concordaria total-


mente com ela (Cândido Jucá, no mesmo ano, lançou um livro intitulado 132
restrições à NGB). Ainda assim, os compêndios gramaticais vindos à luz na
década de 60 tiveram de, bem ou mal, agasalhar os nomes propostos e, pas-
sados 40 anos, pode-se dizer que a proposta ministerial, com essa ou aquela
exceção, trouxe remédio para o carnaval terminológico a que se assistia nos

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Introdução à morfossintaxe

livros, em aula, entre professores e, especialmente, nos exames de admissão,


apesar dos defeitos e omissões que se podem imputar à NGB, e de algumas
incursões a medo no campo conceitual, decorrentes de certas opções termi-
nológicas facilmente detectáveis na leitura do seu texto.

Sendo hoje totalmente diferente o panorama dos estudos linguísticos,


filológicos e gramaticais, cremos que uma reedição pura e simples dos pri-
mitivos propósitos da NGB dos anos 50, ainda que acrescidas de nomes es-
quecidos à época (núcleo, por exemplo) e de outros trazidos pelo progresso
das disciplinas, terá resultados insignificantes, se não inócuos, dada a relativa
uniformização da nomenclatura promovida pela NGB.

Passados tantos anos desde que a Linguística foi introduzida entre nós,
alcançamos maturidade para dar um passo à frente, que é a elaboração de
um Glossário ou Dicionário da Terminologia Gramatical, em que não só se le-
vanta uma nomenclatura específica, mas também se propõe uma conceitu-
ação de cada termo, acompanhada de exemplificação adequada. Está claro
que será uma proposta (não uma imposição), no domínio da escola de nível
fundamental e médio.

Para tanto, a comissão que venha a ser designada ou escolhida para tal
empreendimento já conta com excelentes subsídios que vai haurir dos di-
versos dicionários e léxicos gramaticais elaborados por Antenor Nascentes,
Sílvio Elia, J. Mattoso Câmara Jr., Zélio dos Santos Jota, Pedro Luft, sem contar
as obras estrangeiras de David Crystal, André Martinet, Mário Pei, Theodor
Lewandowiski, Werner Abraham, Hadumod Bussmann, last but not least,
Lázaro Carreter.

Um bom modelo, aperfeiçoado, é o Glosario de la terminología gramati-


cal, sob a direção de Antonio Alonso Marcos (pela Editora Magistério, Madrid,
1986), com base no documento elaborado por uma Comissão de cinco mem-
bros, entre os quais figuram Rafael Lapesa Melgar e Fernando Lázaro Carreter.

Aperfeiçoemos o plano primitivo da NGB, sem nos esquecermos de que se


trata de um nomenclator para o nível de 10 e 20 graus, com leve projeção para
os cursos universitários. Só assim, em nosso parecer, estaremos contribuindo
para o progresso dos estudos gramaticais e o aperfeiçoamento de seu ensino
entre nós.

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

Dicas de estudo
AZEREDO, José Carlos de. “Para que serve o ensino da análise gramatical?”, apên-
dice do livro Fundamentos de Gramática do Português.

O autor expõe opiniões importantes a respeito das possibilidades de se ensi-


nar a análise gramatical de um modo isento dos vícios e defeitos que a tornaram
desinteressante.

HENRIQUES, Claudio Cezar. “Conceitos básicos”, capítulo do livro Morfologia: es-


tudos lexicais em perspectiva sincrônica.

O capítulo trata das definições de termos como sincronia e diacronia; sintag-


ma e paradigma; palavra e vocábulo; morfema lexical e morfema gramatical –
todos fundamentais para o desenvolvimento dos estudos de morfossintaxe.

Estudos linguísticos
1. Comente a seguinte afirmação de Irandé Antunes (2007, p. 160):
Língua e gramática podem ser uma solução: se damos à gramática a função que de fato ela
tem; nem mais nem menos; se reconhecemos seus limites; se a enquadramos na sua justa
valoração, nas suas justas medidas e aceitamos sua insuficiência frente à necessidade de
outros saberes e de outras competências.

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Introdução à morfossintaxe

2. A existência de uma nomenclatura gramatical unificada no ensino de Língua


Portuguesa dos níveis Fundamental e Médio é uma questão relevante para
os professores e para os alunos?

3. Explique de que modo os estudos de morfologia e de sintaxe estão interli-


gados.

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Gabarito

Introdução à morfossintaxe
1. Resposta pessoal. A expectativa é que o aluno mostre a importância
do estudo da gramática como um instrumento para a aprendizagem
da língua, frisando que essa importância precisa ser relativizada diante
dos “outros saberes e competências” de que fala a autora.

2. Resposta pessoal. A expectativa é que o aluno defenda a existência


de uma nomenclatura uniforme e aponte para a necessidade de uma
atualização da que está em vigor desde 1959.

3. Os estudos estão interligados em virtude de as unidades linguísticas


(os itens lexicais) fazerem parte dos objetivos de ambas as disciplinas,
seja por seus valores associativos, seja por sua inserção em enuncia-
ções lineares.

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Língua Portuguesa: Morfossintaxe

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