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Língua Portuguesa:
Morfossintaxe
2009
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H449L
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0668-7
Mecanismos sintáticos............................................................ 27
Sintaxe de concordância: verbos e nomes em sintonia............................................... 27
Sintaxe de regência: verbos e nomes em hierarquia.................................................... 30
Sintaxe de colocação: palavras em sintonia e hierarquia............................................ 33
Adequação sintática e adequação semântica................................................................. 36
Da frase ao texto......................................................................233
Situações contrastivas e progressivas...............................................................................233
Relações de causa, efeito e finalidade..............................................................................235
Referências temporais............................................................................................................241
Morfossintaxe, léxico e semântica.....................................................................................245
Gabarito......................................................................................257
Referências.................................................................................269
As explicações sobre palavras, termos, orações e frases têm como intuito al-
cançar o texto, numa expansão que se faz mediante o reconhecimento de cada
componente dessa imensa rede que começa num pequeno morfema e, prefe-
rimos dizer, não termina, pois a língua é um espaço em estado de construção
morfossintática.
Nomenclatura gramatical
e ensino de português
Toda ciência tem a sua linguagem própria e uma terminologia especí-
fica. Não é diferente com os estudos linguísticos, que se valem de palavras
de significação especial nesse campo do conhecimento. Saber o significa-
do técnico que as palavras têm na área linguístico-gramatical é um com-
promisso de todo profissional que atua no ensino e na pesquisa de língua
portuguesa.
Esses elos, como se vê, mostram que existe uma dinâmica nas manifestações
dos componentes morfológicos e, por isso, é necessário destacar que os mais
importantes são as noções de morfema, de palavra e de classe.
Apresento aqui, com pequena adaptação, uma tabela que incluí no livro Sin-
taxe: estudos descritivos da frase para o texto e que mostra de maneira didática as
10 classes de palavras e suas propriedades morfológicas:
(HENRIQUES, 2008, p. 4)
Classes Gramaticais (10)
Verbo variável
Substantivo variável*
Adjetivo variável*
Pronome variável*
Advérbio invariável**
Numeral variável*
Artigo variável
Conjunção invariável
Preposição invariável
Interjeição*** ------
* Excepcionalmente, substantivos (lápis, tórax), adjetivos (piegas, simples), pronomes (eu,
quem, tudo) e numerais (dois, três) também podem ser invariáveis.
** Excepcionalmente, advérbios (todo, meio) podem se flexionar por atração1.
*** A interjeição poderia não fazer parte desse quadro, pois faz parte da função emotiva da
linguagem (vinculada à 1.a pessoa do discurso).
Esse tema é um dos que mais deve interessar ao professor de Português, não
só por representar um dos assuntos com que mais trabalhará em sua carreira
docente como também porque é pelo domínio da sintaxe que se pode começar
a conquistar, com plenitude, o texto.
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Não incluímos nessa série a palavra cláusula: unidade de significado que pode ter qualquer estruturação interna – diferente de oração, que
necessariamente deve apresentar um verbo. A cláusula ocorre no estrato funcional correspondente às funções “comentário” e “comentado”, como
em “Com toda certeza, o professor virá” (o comentário é “com toda certeza”; o comentado é “o professor virá”). Nesse trecho, há duas cláusulas, mas
apenas uma oração, pois só há um verbo. Entendemos que essa palavra interessa mais como um contraponto nomenclatural do que como um
conceito útil no âmbito do ensino e da descrição gramatical.
Nesse percurso que começa no mundo-micro (da oração), passa pelo mundo-
-midi (do período) e alcança o mundo-macro (do parágrafo e do texto), é bom
notar que cada um deles nada mais é do que a repetição dos outros, apenas em
tamanhos e graus diferentes.
Morfossintaxe: palavras
e sintagmas a serviço do texto
Dependendo dos objetivos e dos métodos adotados na explicação dos fatos
da língua, as classes gramaticais e as funções sintáticas, como vimos, podem
ser estudadas em separado (respectivamente, pela morfologia e pela sintaxe).
Na teoria e na prática, porém, essas duas partes da gramática se encontram em
muitos pontos, pois os valores associativos (morfológicos) se inserem em enun-
ciações lineares (sintáticas), o que comprova a existência de um vínculo inegável
entre elas. Isso nos lembra o que Flávia Carone (1995, p. 13) aponta como uma
das condições para que se chegue ao efetivo conhecimento de um objeto:
[...] é necessário que as partes obtidas pelo corte analítico não se dispersem, de tal maneira
que o todo mantenha sua integridade na consciência de quem o observa – pois analisar é
observar em uma ordem sucessiva as qualidades de um objeto, a fim de dar-lhes no espírito a
ordem simultânea em que elas existem.
É o que mostra uma das questões incluídas no Exame Nacional dos Cursos de
Letras, realizado em 2002, cujo enunciado propunha:
Budista e japonês são palavras que podem ser categorizadas como substantivos e como
adjetivos, o que é comprovável em sintagmas como o japonês budista e o budista japonês.
Considerando apenas três possíveis critérios de classificação morfológica – o formal (ou
flexional), o semântico e o sintático –, aponte o critério mais decisivo para determinar a classe
gramatical desse tipo de palavras, justificando por que você o escolheu e excluiu os demais.
Para terminar, lembremos que um texto deve ter uma adequação gramati-
cal compatível com as pretensões e intuitos de seu autor, que – se assim julgar
pertinente – procurará atingir o nível de exigência da linguagem-padrão pra-
ticada por escrito pela comunidade culta em que se insere. Tudo entrelaçado,
interligado, no âmbito da palavra e da oração ou da frase (morfossintaticamen-
te) para permitir que alcancemos a competência discursiva ou textual, caracteri-
zando o que Eugenio Coseriu (1992) chama de saber expressivo, ou seja, a com-
petência discursiva ou textual, a capacidade de construir textos em situações
determinadas.
Texto complementar
Para orgulho dos brasileiros, saída a proposta (não era uma imposição!)
da NGB, a iniciativa estimula a que filólogos e linguistas portugueses, espe-
cialmente de Coimbra e Lisboa, com Manuel de Paiva Boléo na secretaria
da comissão, passassem a trabalhar para consecução dos mesmos objetivos,
orientando-se no esquema traçado pelos catedráticos do Pedro II, mas guar-
dando a orientação tradicional da sua terminologia que, diga-se de passa-
gem, pouco difere da praticada entre nós.
É fácil perceber a floresta, quase selva selvaggia, reinante nos livros di-
dáticos e entre o magistério de língua portuguesa: sem ainda Faculdades
ou Institutos de Letras (que só começaram nos últimos anos da década de
30); com as mais díspares orientações da gramaticografia nascente no século
XIX; com a influência das gramáticas filosóficas, lógicas, puristas, ao lado de
outras sem nenhuma orientação de valor científico; com o privilegiamento
de nomenclaturas próprias da gramática clássica, especialmente latina (fa-
lava-se tranquilamente em nominativo, dativo, acusativo, ablativo, genitivo,
consecutio temporum, etc.), ao lado das modernas novidades trazidas pelos
livros que divulgaram os métodos histórico-comparativos (Brachet, Egger,
Brunot, entre outros) ou da gramaticografia alemã e, principalmente, inglesa
(Becker, Bain, Holmes, Mason e Whitney).
Passados tantos anos desde que a Linguística foi introduzida entre nós,
alcançamos maturidade para dar um passo à frente, que é a elaboração de
um Glossário ou Dicionário da Terminologia Gramatical, em que não só se le-
vanta uma nomenclatura específica, mas também se propõe uma conceitu-
ação de cada termo, acompanhada de exemplificação adequada. Está claro
que será uma proposta (não uma imposição), no domínio da escola de nível
fundamental e médio.
Para tanto, a comissão que venha a ser designada ou escolhida para tal
empreendimento já conta com excelentes subsídios que vai haurir dos di-
versos dicionários e léxicos gramaticais elaborados por Antenor Nascentes,
Sílvio Elia, J. Mattoso Câmara Jr., Zélio dos Santos Jota, Pedro Luft, sem contar
as obras estrangeiras de David Crystal, André Martinet, Mário Pei, Theodor
Lewandowiski, Werner Abraham, Hadumod Bussmann, last but not least,
Lázaro Carreter.
Dicas de estudo
AZEREDO, José Carlos de. “Para que serve o ensino da análise gramatical?”, apên-
dice do livro Fundamentos de Gramática do Português.
Estudos linguísticos
1. Comente a seguinte afirmação de Irandé Antunes (2007, p. 160):
Língua e gramática podem ser uma solução: se damos à gramática a função que de fato ela
tem; nem mais nem menos; se reconhecemos seus limites; se a enquadramos na sua justa
valoração, nas suas justas medidas e aceitamos sua insuficiência frente à necessidade de
outros saberes e de outras competências.
Introdução à morfossintaxe
1. Resposta pessoal. A expectativa é que o aluno mostre a importância
do estudo da gramática como um instrumento para a aprendizagem
da língua, frisando que essa importância precisa ser relativizada diante
dos “outros saberes e competências” de que fala a autora.