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ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL

I. Anamnese: o Apure evolução, exames e tratamentos


realizados em relação à doença atual;
1. Identificação: o Verifique se a história obtida tem começo, meio
o Nome Completo; e fim;
o Idade; o Confirme a história com o paciente ao final do
o Sexo; relato, usando vocabulário compatível com a
o Estado Civil; realidade do paciente.
o Cor / Etnia;
o Profissão Atual; IMPORTANTE: Evite ao máximo indicar diagnósticos
o Profissão Anterior; durante a HDA. Expressões como “dor típica de
o Naturalidade; infarto” não devem ser utilizadas por induzirem um
o Residência Atual; diagnóstico antes do momento certo.
o Residência Anterior;
o Religião; Análise de um sintoma:
o Nome da mãe / responsável / cuidador / o Início;
acompanhante (caso o paciente esteja - Fator(es) Desencadeante(s);
acompanhado). o Duração;
o Características (variam de acordo com o
2. Queixa Principal: sintoma): Localização; Qualidade ou Tipo;
Quantidade ou Intensidade; Relação com
Trata-se de uma afirmação breve e espontânea, Funções Orgânicas;
geralmente um sinal ou sintoma, transcrito com as o Evolução: Modificações; Freqüência;
próprias palavras do paciente, que descreve o motivo Tratamento; Fatores de Alívio; Fatores de
da consulta. Utilizam-se aspas para a citação. Deve-se Agravo;
evitar “rótulos diagnósticos”. o Manifestações Associadas: Buscar manifestações
Quando o paciente chega ao médico relacionadas anatomofuncionalmente com o
encaminhado por outro colega ou instituição médica, sintoma;
registra-se o motivo da consulta. o Situação atual do sintoma.
Obs.: A investigação pode ser feita para qualquer
Sugestão de Perguntas: sintoma, mas, primeiramente, começa-se pelo
o O que o(a) senhor(a) está sentindo? sintoma-guia, buscando relacionar os demais sintomas
o Qual o motivo da sua consulta? com ele.
o O que o(a) está incomodando?
IMPORTANTE: Não se esquecer que o sintoma deve
3. História da Doença Atual (HDA): ter início, meio e fim.

A HDA é um registro cronológico e detalhado do Cada sintoma apresenta suas particularidades


motivo que levou o paciente a procurar assistência semiológicas que devem ser colhidas. Dois dos mais
médica, desde o seu início até a data atual. freqüentes sintomas são a febre e a dor, que devem
ser analisados quanto:
Sintoma-guia: É o sintoma ou sinal que permite
recompor a HDA com facilidade e precisão. Não é Febre:
necessariamente o sintoma mais antigo, tampouco o o Início (Súbito ou Gradual);
mais realçado, mas estes fatos contam para a escolha. o Intensidade (Grau);
Em geral, utiliza-se a queixa de mais longa duração, o o Duração;
sintoma mais comum ou a queixa principal. o Modo de Evolução (Padrão; Freqüência);
o Término (Em crise ou em lise).
Recomendações:
o Permita ao paciente falar de sua doença; Dor:
o Determine o sintoma-guia, descreva-o o Localização;
minuciosamente e use-o como fio condutor da o Irradiação;
história, estabelecendo as relações das outras o Qualidade ou tipo;
queixas com ele, em ordem cronológica; o Intensidade;
o Não induza respostas; o Início e Duração;
o Evolução;
o Relação com funções orgânicas;

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o Fatores desencadeantes ou agravantes; controle dos esfíncteres; aproveitamento


o Fatores atenuantes; escolar);
o Sinais e sintomas associados. o Desenvolvimento Sexual:
- Menarca: Idade da 1ª menstruação;
Também devem ser incluídos na HDA: - Telarca: Idade do aparecimento das mamas;
o Tratamento (Medicamento, via de - Pubarca: Idade do aparecimento dos pêlos
administração, dose e freqüência de uso; pubianos;
o Exames Complementares (Tipo e data); - Adrenarca: Idade do aparecimento dos pêlos
o Sintomas ausentes (que sejam relevantes para axilares;
um diagnóstico diferencial); o Vida Sexual:
o Doenças Crônicas relevantes para o quadro atual - Sexarca: Idade da 1ª relação sexual;
(diabetes, hipertensão). - Ativa / Inativa;
- Freqüência;
4. História Patológica Pregressa (HPP): - Quantidade de parceiros;
- Uso de preservativos e anticoncepcionais;
É a investigação de patologias antecedentes, - Orientação Sexual;
buscando organizá-las em ordem cronológica, se o Ciclos Menstruais:
possível. - Menstruação mais recente;
- Regularidade (Amenorréia, oligomenorréia,
o Doenças da infância com ou sem complicações polimenorréia);
(sarampo, caxumba, varicela*, rubéola, - Volume (Menorragia, hipomenorréia).
coqueluche);
* Não usar a palavra “catapora” IMPORTANTE:
o Doenças em geral (Diabetes, hipertensão, AVC, o Amenorréia: Ausência de menstruação por
cardiopatias, anemia, hipercolesterolemia, mais de três meses.
câncer, artrite, asma, bronquite, pneumonia, o Oligomenorréia: Ciclos menstruais mais longos.
doença mental, epilepsia, hérnias, doenças o Polimenorréia: Ciclos menstruais mais curtos.
renais, hemorróida, febre reumática, o Menorragia: Aumento da quantidade e duração
tuberculose, hepatite B, doença de chagas, do fluxo menstrual.
difteria, poliomielite, escarlatina, tétano, o Hipomenorréia: Diminuição da quantidade e
meningite, malária, verminoses e doenças duração do fluxo menstrual.
venéreas); o Metrorragia: Sangramento entre os períodos
o Internações e cirurgias (tipo, data, anestesia, menstruais.
transfusões, complicações, resultado);
o Traumatismos (tipo, localização, data, o História Gestacional (gestações, partos e
complicações, seqüelas); abortos):
o Alergias (Medicamentosa, alimentar, ambiental, - Utilizar a expressão: Gesta x para y, abortos z;
química, animais); onde x, y e z são os respectivos valores;
o Imunizações (Tétano, difteria, coqueluche, - Aborto: Espontâneo ou Provocado?
poliomielite, sarampo, rubéola, caxumba, gripe, - Condições da gestação (idade, dieta, doenças,
hepatite B, Haemophilus influenzae do tipo B, hemorragia, infecções, acidentes, drogas,
vacina pneumocócica); tabagismo, alcoolismo);
o Exames laboratoriais realizados (Papanicolaou, o Padrão das fezes e urina.
mamografia, dosagens de colesterol - junto com
resultado e data). 6. História Familiar:

5. História Fisiológica: Sugestão de Pergunta Inicial: “Seus pais são vivos e


o Gestação e Nascimento (Tipo de parto; saudáveis?”
classificação quanto idade gestacional;
interferência de fórceps ou eutócito; o Mencionar estado de saúde de: pai, mãe,
complicações; aleitamento); irmãos, filhos e cônjuge;
o Desenvolvimento Psicomotor e crescimento o Mencionar óbitos na família, suas respectivas
(anotar a idade – dentição; engatinhar e andar; causas e data de ocorrência;
falar; desenvolvimento físico (peso e tamanho o Presença ou ausência de: diabetes, hipertensão,
ao nascer – comparar com irmãos); APGAR; cardiopatia, hipercolesterolemia, AVC, doença
renal, doença tireoidiana, câncer (tipo

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específico), artrite, tuberculose, asma ou


pneumopatia, enxaqueca, distúrbios A) Sintomas Gerais: Febre; astenia; alterações do
convulsivos, doença mental, suicídio, peso; sudorese (hiperidrose, anidrose); calafrios;
dependência química, alergias, sintomas cãibras; claudicação intermitente; insônia.
semelhantes aos apresentados pelo paciente. B) Pele e Fâneros: Alterações de coloração,
textura, umidade, temperatura e sensibilidade;
IMPORTANTE: Em casos de suspeita de doença prurido; urticária; lesões; erupções; nódulos;
hereditária (hemofilia, anemia falciforme, rins feridas; máculas (manchas).
policísticos, doenças metabólicas) deve-se realizar um C) Cabeça: Cefaléia; traumatismo; tonteira;
levantamento genealógico mais rigoroso, incluindo vertigem; desmaio; convulsões; alopécia;
avós e parentes próximos, e sempre indagar quanto a tumorações.
ocorrência de cruzamentos consangüíneos na família. D) Olhos: Acuidade visual; miopia; hipermetropia;
presbiopia; astigmatismo; uso de lentes de
7. História Social: contato ou óculos; último exame; dor ocular; dor
retroorbitária; vermelhidão; queimação ou
Refere-se aos hábitos de vida do paciente, ardência; lacrimejamento excessivo;
englobando alimentação, habitação, lazer, atividades ressecamento ocular; secreção ocular;
físicas e outros hábitos. escotomas; flashes de luz; glaucoma; catarata;
fotofobia; exoftalmia; ptose palpebral; diplopia;
o Escolaridade; estrabismo convergente; estrabismo divergente;
o Trabalho (Condições de trabalho; nível de nistagmo.
satisfação; ocorrência de acidentes; riscos; E) Ouvido: Acuidade auditiva; hipocusia; acusia;
insalubridade; uso de EPIs); uso de aparelhos auditivos; zumbido; otalgia;
o Condições de Moradia (Estrutura da habitação; otite; otorréia; otorragia;
água tratada; coleta de lixo; rede de esgoto; F) Nariz e Seios Paranasais: Gripes freqüentes;
energia elétrica; nº de habitantes; nº de prurido; espirros; rinorréia; congestão nasal;
cômodos); rinite alérgica; epistaxe; anosmia; hiposmia;
o Alimentação* (Avaliação qualitativa e cacosmia; parosmia; dor nos seios da face;
quantitativa); G) Boca e Faringe: Polifagia; inapetência; perversão
o Higiene (Quantidade de banhos e escovação dos do apetite; sialose; halitose; aftas; gengivorragia;
dentes); dor de dente; dor de garganta; disfagia;
o Atividades Físicas; odinofagia; pigarro; roncos; rouquidão.
o Padrões de Sono (Qualidade do sono, quantas H) Pescoço: Dor; nódulos; tumorações; bócio;
horas dorme); adenomegalia; limitação de movimentos;
o Relacionamento familiar e social; turgência jugular.
o Religião (se ainda não perguntado); I) Mamas: Nódulos; Dor ou desconforto; secreção
o Uso de drogas (alcoolismo, tabagismo e drogas mamilar; auto-exame mamário; cirurgia.
ilícitas); J) Sistema Respiratório: Dor; tosse (produtiva ou
o Animais domésticos (vacinação); improdutiva); expectoração (volume, cor, odor,
o Lazer; consistência); hemoptise; vômica; dispnéia;
o Viagens; ortopnéia; chieira; cornagem; soluço; última
o Banhos de rio. radiografia de tórax (data e resultado).
K) Sistema Cardiovascular: Hipertensão arterial;
Expressões de síntese alimentar: precordialgias (dor); desconforto torácico;
o “alimentação quantitativa e qualitativamente palpitações; cianose; edema; varizes; fenômeno
adequada”; de Raynaud; ECG prévios (data e resultado).
o “déficit calórico global”; L) Sistema Gastrointestinal: disfagia; odinofagia;
o “alimentação à base de carboidratos com pirose; regurgitação; eructação; náuseas;
déficit protéico”; vômitos; meteorismo; dispepsia; dor abdominal;
o “consumo de calorias acima das necessidades”; plenitude pós-prandial; hematêmese;
o “alimentação com alto teor de gorduras”; melenêmese; melena; enterorragia;
o “reduzida ingestão de verduras e frutas”; hematoquezia; diarréia; esteatorréia; lioenteria;
o “alimentação puramente vegetariana”; tenesmo; constipação; tipo das fezes e
o “alimentação láctea exclusiva”. freqüência de evacuações; icterícia; prurido
anal.
8. Revisão dos Sistemas:

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M) Sistema Urinário: Dor lombar; Poliúria; oligúria;


anúria; polaciúria; nictúria; hematúria; disúria;
redução da força ou do calibre do jato urinário;
incontinência urinária; retenção urinária;
gotejamento ao final da micção; cálculos renais.
N) Sistema Genital Masculino: Lesões penianas;
hérnia; secreção; úlceras; vesículas; nódulos; dor
ou massas testiculares; hemospermia;
priapismo; disfunção erétil; ejaculação precoce
ou ausente; diminuição da libido; último PSA.
O) Sistema Genital Feminino: Corrimento; prurido;
feridas; nódulos; polimenorréia; oligomenorréia;
amenorréia; menorragia (hipermenorréia);
hipomenorréia; metrorragia; dismenorréia;
fogachos; dispareunia; sinusiorragia; diminuição
da libido; frigidez; anorgasmia.
P) Sistema Musculoesquelético: Dor óssea;
Mialgias; artralgias; artrite; artrose; limitação de
movimentos; espasmos musculares; atrofia
muscular; fraturas; lombalgia.
Q) Sistema Nervoso: Desmaios; convulsões;
paralisia; parestesias; perda de sensibilidade;
tremores; automatismos; amnésia; disfonia;
disartria; dislalia; disritmolalia; dislexia; disgrafia;
afasia.
R) Sistema Hemolinfopoiético: Anemia;
hemorragias; petéquias; equimoses;
hematomas; eritemas; transfusões.
S) Sistema Endócrino: Nanismo; gigantismo;
acromegalia; puberdade precoce; puberdade
atrasada; ginecomastia; problemas tireoidianos;
polifagia; polidipsia; poliúria.
T) Exame Psíquico: Nervosismo; tensão;
depressão; manias; alucinações; angústia;
labilidade emocional; relacionamento; memória;
inteligência; vontade.

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II. Febre: o Pirogênios Exógenos: Substâncias secretadas por


bactérias (ex.: LPS).
Normalmente, o centro termorregulador do
hipotálamo detecta alterações na temperatura do Febre X Hipertermia:
sangue regional, ativando ou inibindo mecanismos de Ao contrário do que ocorre na febre, não há
conservação ou liberação de calor, de maneira a alteração do SET POINT hipotalâmico na hipertermia.
manter a temperatura corporal determinada pelo Assim, a temperatura corporal encontra-se acima da
ponto de ajuste (“SET POINT”) do termostato determinada pelo SET POINT, devido a uma produção
hipotalâmico. excessiva de calor e/ou transferência de calor
excessivo para o corpo. Mesmo com todos os
Temperatura Normal: mecanismos de perda de calor ativados, o organismo
o Axilar – 35,5 a 37o C, com média de 36-36,5o C; não consegue eliminar esse excesso.
o Oral – 36 a 37,4o C; Como exemplos de hipertermia temos:
o Retal – 36 a 37,8o C (mais próxima da o Intermação: Aumento da temperatura corporal
temperatura central); por exposição exagerada a altas temperaturas;
o Variações comuns de temperatura: o Insolação: Aumento da temperatura corporal
- A temperatura aumenta após a alimentação; por exposição exagerada ao sol.
- Pela tarde, a temperatura é 0,5o C superior; Outras causas de hipertermia: choque térmico;
- Depois da ovulação, a temperatura é maior em indução por fármacos; hipertermia maligna (genética);
cerca de 0,6o C. síndrome neuroléptica maligna; síndrome
serotoninérgica; endocrinopatias (hipertireoidismo,
A febre é um sinal clínico que pode ser causado feocromocitoma); lesões do SNC.
por distúrbios no próprio cérebro ou por substâncias
tóxicas (pirogênios), que influenciam os centros Síndrome Febril: A febre não é apenas um sinal,
termorreguladores do hipotálamo. constituindo, na verdade, parte de uma síndrome
O mecanismo da febre é desencadeado pela (síndrome febril), caracterizada por: elevação da
liberação no sangue de substâncias pirogênicas, temperatura; astenia; inapetência; cefaléia;
capazes de elevar o SET POINT. Elevado o SET POINT, o taquicardia; taquipnéia; taquisfigmia; oligúria; dor no
hipotálamo inibe funções relacionadas à perda de calor corpo; calafrios; sudorese; náuseas; vômitos; delírio;
e ativa funções relacionadas à conservação de calor, confusão mental e até convulsões, principalmente em
aumentando a temperatura corporal e mantendo-a no neonatos e crianças.
novo SET POINT.
Ao que tudo indica, essas substâncias Principais causas de febre: Infecções bacterianas,
pirogênicas são citocinas produzidas por leucócitos, virais e outros parasitos; neoplasias malignas
que, quando sensibilizados por substâncias bacterianas (linfomas, leucemia, carcinoma broncogênico);
(pirogênios exógenos), vírus ou reações inflamatórias, anemias hemolítica e púrpura; doenças hemorrágicas
as produzem e liberam na circulação. (púrpura trombocitopênica, hemofilia, escorbuto);
Nas células do endotélio hipotalâmico, as reações inflamatórias; doenças autoimunes;
citocinas induzem a produção de prostaglandina E2, a medicamentos (ansiolíticos, diuréticos e
partir do ácido araquidônico, que, por sua vez, atua no anticonvulsivos).
hipotálamo desencadeando a reação febril.
Sinal de Lenander: Quando a temperatura retal excede
Pirogênio Exógeno  Leucócitos  Citocinas a axilar em 1o C ou mais. É um forte indicador de
Pirogênicas  Células do Endotélio Hipotalâmico  pelviperitonites.
PGE2   SET POINT  Hipotálamo  Vasoconstrição
Periférica com desvio central de sangue / Contrações 1. Características Semiológicas da Febre:
Musculares e  Metabolismo Hepático  
Anamnese:
Temperatura Corporal
o Início (Súbito ou Gradual);
o Intensidade (Grau);
Pirogênios: Substâncias de origem endógena ou
o Duração;
exógena capazes de elevar o ponto de ajuste (“SET
o Modo de Evolução (Padrão; Freqüência);
POINT”) do termostato hipotalâmico.
o Término (Em crise ou em lise).
o Pirogênios Endógenos: Interleucina-1 (IL-1);
fator de necrose tumoral (TNF); α1-interferon;
Início: Súbito (Ex.: Malária); Gradual (Ex.: Gripe).
interleucina-6 (IL-6); interleucina-2 (IL-2);

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Intensidade (Grau):
o Febre Leve ou Febrícula: até 37,5o C;
o Febre Moderada: de 37,5 a 38,5o C;
o Febre Alta ou Elevada: de 38,5 a 41,5o C;
o Hiperpirexia: acima de 41,5o C – causa comum
de convulsões em crianças.

IMPORTANTE: Pacientes idosos, pacientes em mau


estado geral e pacientes chocados podem não
apresentar febre mesmo em quadros infecciosos.

Duração:
o Febre prolongada de origem obscura: Quando a
febre perdura por 14 dias ou mais sem definição
diagnóstica. Doenças que causam este tipo de
febre: tuberculose, septicemia, malária,
endocardite infecciosa, febre tifóide,
colagenoses, linfomas e pielonefrite.

Modo de Evolução:
o Febre Contínua: Permanece sempre acima do
normal (sem apirexia) com variações de até 1o C.
Ex.: Febre tifóide, tuberculose, pneumonia,
gripe.
o Febre Irregular ou Séptica: Registram-se picos
muito altos intercalados por temperaturas
baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer
caráter cíclico nestas variações. Ex.: Septicemia,
abscessos pulmonares, empiema vesicular,
tuberculose, e fase inicial da malária.
o Febre Remitente: Permanece sempre acima do
normal (sem apirexia) com variações maiores
que 1o C. Ex.: Septicemia, tuberculose,
pneumonia.
o Febre Intermitente: Febre cíclica caracterizada
por períodos de apirexia. Pode ser: diária,
biquotidiana, terçã, quartã.
o Febre Recorrente ou Ondulante: Caracteriza-se
por período de temperatura elevada que dura
dias ou semanas seguido de período de apirexia
que também dura dias ou semanas. Ex.:
Brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas.

Término:
o Em crise: com desaparecimento súbito. Ex.:
Malária;
o Em lise: com normalização gradual da
temperatura.

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III. Dor: histamina, que promove a despolarização da


membrana do nociceptor.
Dor: Dor é uma desagradável experiência sensorial e
emocional associada a uma lesão tecidual já existente 2. Componentes da Dor:
ou potencial, ou relatada como se uma lesão existisse.
 Componente Sensitivo-discriminativo:
A dor é o nosso mecanismo básico de defesa,
pois: surge antes que ocorra uma lesão grave, como Corresponde ao mecanismo sensorial que
por ex.: quando se percebe um calor excessivo ou a desencadeia o processo da dor, caracterizado por um
pressão de um objeto cortante, a sensação dolorosa circuito elétrico com três mecanismos básicos:
provoca o afastamento imediato do objeto fonte do transdução, transmissão e modulação.
estímulo. A dor serve como base para aprender a
evitar objetos ou situações, impõe limites para a Transdução: É o mecanismo de ativação dos
realização de atividades e induz o repouso, essenciais nociceptores, fenômeno que se dá pela transformação
para a recuperação. de um estímulo nóxico (mecânico, térmico ou químico)
em potencial de ação.
1. Nocicepção: o Ativação direta: K+, H+, cininas, serotonina,
histamina;
 Dor X Nocicepção: o Sensibilização: cininas, prostaglandinas,
substância P;
A dor é um sintoma subjetivo, que depende de o Produção de extravasamento de plasma:
três componentes: sensitivo-discriminativo; afetivo- substância P e cininas.
motivacional; cognitivo-avaliativo.
A nocicepção, quando presente, é o Transmissão: É o conjunto de vias e mecanismos que
componente objetivo da dor, ou seja, é o processo permite que o impulso nervoso, gerado ao nível de
sensorial que provê sinais que desencadeiam a nociceptores, seja conduzido para estruturas do SNC
experiência da dor. comprometidas com o reconhecimento da dor.
Enquanto os nociceptores podem disparar de
forma contínua e desenfreada, a dor, como Via Neoespinotalâmica: Responsável pela condução da
experiência, pode surgir e desaparecer. O oposto dor aguda e bem localizada.
também pode ocorrer, e a dor pode surgir sem o Neurônio I: Corpo celular no gânglio da raiz
nenhum estímulo nociceptivo. dorsal. Apresenta um prolongamento periférico,
que termina como uma terminação nervosa livre
 Nociceptores: (nociceptor), e um prolongamento central, que
faz sinapse com o neurônio II (fibra de projeção)
Os nociceptores são terminações nervosas de na coluna posterior do H medular.
fibras C e Aδ. São ativados por estímulos que têm o o Neurônio II: Corpo celular no corno posterior do
potencial de causar lesão tecidual. Os estímulos H medular (lâmina I de Rexed). Seus axônios
capazes de causar lesão tecidual são: cruzam o plano mediano pela comissura branca
o Estimulação mecânica intensa: causa o e ascendem pelo funículo lateral do lado oposto
estiramento da membrana do nociceptor, o que com tracto espino-talâmico lateral. Une-se com
ativa canais mecanossensíveis, despolariza e o tracto espino-talâmico anterior ao nível da
gera potenciais de ação; ponte, formando o lemnisco espinhal, que
o Lesão tecidual mecânica: libera proteases, ATP e termina no tálamo (VPL) fazendo sinapse com o
K+ das células lesadas. As proteases quebram neurônio III.
cininogênio em bradicinina, que ativa canais o Neurônio III: Corpo celular no núcleo ventral
iônicos nos nociceptores. O ATP ativa póstero-lateral do tálamo (VPL). Seus axônios
diretamente canais iônicos. O [K+] despolariza formam radiações talâmicas, que se projetam
diretamente as membranas dos nociceptores; para o giro pós-central (área somestésica I).
o Deprivação de oxigênio:  Metabolismo
anaeróbico, havendo acúmulo de H+ e abertura Via Paleoespinotalâmica: Responsável pela condução
de canais iônicos nos nociceptores; do componente visceral da dor. Não é organizada
o Exposição a produtos químicos: Provocam a somatotopicamente, e conduz um estímulo de dor
degranulação de mastócitos com a liberação de pouco localizada, profunda e crônica.

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o Neurônio I: Corpo celular no gânglio da raiz manutenção da homeostase, como a pressão arterial e
dorsal. Penetra na medula e faz sinapse com o a temperatura.
neurônio II no corno posterior do H medular.
o Neurônio II: Corpo celular na coluna posterior Opióides naturais: β-endorfina (derivada da POMC);
(lâmina V de Rexed). Seus axônios seguem do metencefalina; leuencefalina; dinorfina.
mesmo lado e do lado oposto e ascendem no
funículo lateral, constituindo o tracto espino- Supressão Artificial da Dor: Pode ser feita pela
reticular (que acompanha o tracto espino- administração de opióides artificiais (morfina) em
talâmico lateral), e termina em sinapses com regiões de modulação da dor (substância cinzenta
neurônios III da formação reticular. periaquedutal, núcleos da rafe ou corno dorsal da
o Neurônio III: Corpo celular na formação medula).
reticular. Da formação reticular, partem fibras
retículo-talâmicas que terminam nos núcleos  Componente Afetivo-motivacional:
intralaminares do tálamo. Pode haver mais de
uma sinapse na formação reticular. É o responsável pelas manifestações
o Neurônio IV (ou +): Corpo celular nos núcleos neurovegetativas que acompanham a dor (vômitos,
mediais e intralaminares do tálamo. Axônios sudorese, náuseas e palidez), especialmente a dor
projetam-se para diversas áreas do córtex visceral.
cerebral, e não apenas para a área somestésica
no giro pós-central.  Componente Cognitivo-avaliativo:

Obs.: Para abolir dores profundas de origem visceral, É o componente da dor que depende de
são necessárias cordotomias bilaterais, visto que parte experiências passadas e sofre influências sociais,
das fibras não cruzam. culturais e religiosas. É o componente que confere
individualidade às manifestações dolorosas. A
Modulação: Capacidade de o SNC suprimir a sensação intensidade da dor depende de uma série de fatores:
de dor quando conveniente. intensidade do estímulo álgico; grau de atenção (a
atenção acentua a dor); estado emocional (o medo, a
Teoria do Portão Espinhal: Segundo essa teoria, há um apreensão e a ansiedade intensificam a dor); e
mecanismo espinhal de inibição da dor a partir de uma aspectos culturais e religiosos. Assim, o mesmo
estimulação tátil local. Segundo essa teoria, a ativação estímulo doloroso pode ser considerado intenso por
de uma fibra Aβ estimula um interneurônio inibitório um indivíduo e leve por outro ou mesmo pelo mesmo
na substância gelatinosa da medula (lâmina II de indivíduo, quando submetido ao mesmo estímulo em
Rexed), que, por sua vez, inibe o aferente secundário circunstâncias distintas.
(neurônio de projeção) da via da dor, suprimindo os
sinais provenientes das C e Aδ. 3. Classificação Fisiopatológica da Dor:

Portão Alto da Dor: O encéfalo pode suprimir as Dor nociceptiva: Deve-se à ativação dos nociceptores e
aferências de sinais dolorosos para o sistema nervoso à transmissão dos impulsos pelas vias nociceptivas até
através da ativação do sistema de analgesia. Os as regiões do SNC onde tais impulsos são
núcleos periventriculares do hipotálamo ativam a interpretados.
substância cinzenta periaquedutal, que envia axônios o Características:
para os núcleos magno da rafe e reticular - Começa simultaneamente ao início da
paragigantocelular no bulbo, que, por sua vez, estimulação, a qual pode ser usualmente
projetam axônios descendentes que vão aos cornos identificada;
dorsais da medula e ativam interneurônios inibitórios, - A remoção do fator causal provoca alívio da
que deprimem a atividade dos aferentes secundários dor;
da via da dor. Nessa situação, detecta-se aumento da - Nenhum déficit sensitivo é identificado;
concentração de opióides endógenos no líquor. A - A distribuição corresponde a das fibras
analgesia pode ser revertida pela administração de nociceptivas estimuladas;
naloxone (antagonista opióide). - Pode ser espontânea ou evocada (quando
desencadeada por determinada atividade);
Obs.: A dor pode ser provocada tanto pela ativação das - Pode ser localizada (dor somática superficial)
vias nociceptivas como pela lesão das vias ou difusa (dor somática profunda e dor visceral).
modulatórias (supressoras), o que torna a dor
semelhante a outras funções envolvidas na

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Dor neuropática: Decorre de lesão, de qualquer tipo, Dor somática superficial: É a forma da dor nociceptiva
infligida ao SNP ou SNC. Também denominada: dor por decorrente da estimulação de nociceptores do
injúria neural, dor por desaferentação (privação de um tegumento. É bem localizada e de qualidade bem
neurônio de suas aferências), dor central (quando distinta (picada, pontada, rasgando, queimor), na
secundária às lesões do SNC). dependência do estímulo aplicado. Sua intensidade é
o Características: variável e, de certa forma, proporcional à intensidade
- Pode começar simultaneamente à ação do do estímulo.
fator causal, mas, mais freqüentemente, ocorre
após dias, semanas, meses ou mesmo anos; Dor somática profunda: É a forma de dor nociceptiva
- A remoção do fator causal usualmente não é conseqüente da estimulação de nociceptores dos
possível, por não estar mais atuante ou por ser músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulação. É
impossível interromper sua atuação; uma dor difusa, de localização imprecisa, profunda,
- A maioria apresenta déficit sensitivo no local descrita como dolorimento. Sua intensidade é
exato da dor; proporcional ao estímulo causal, mas, geralmente,
- Pode ser espontânea (constante ou mais leve que a dor somática superficial.
intermitente) ou evocada.
Dor visceral: É a dor nociceptiva decorrente da
Obs.: O componente constante da dor neuropática, ao estimulação dos nociceptores viscerais. É uma dor
contrário da dor nociceptiva, tende a ser agravado pela difusa, de difícil localização, profunda, descrita como
interrupção cirúrgica das vias da dor, pois tais dolorimento. Tende a acentuar-se com a solicitação
procedimentos acentuam a desaferentação. funcional do órgão acometido.

Dor mista: Decorre dos dois mecanismos anteriores. Dor referida: Sensação dolorosa superficial localizada a
Ocorre, por exemplo, em certos casos de dor por distância da estrutura profunda cuja estimulação
neoplasias malignas, quando a dor se deve tanto ao nóxica é responsável pela dor. Obedece a distribuição
excessivo estímulo dos nociceptores quanto à dermatomérica. A explicação mais aceita para esse
destruição das fibras nociceptivas. fenômeno é a convergência de impulsos dolorosos
viscerais e somáticos para neurônios nociceptivos
Dor psicogênica: É uma dor de origem puramente comuns no corno dorsal da medula (lâmina V de
psíquica, sem nenhum substrato orgânico. Rexed). Como os estímulos álgicos somáticos
o Características: superficiais são muito mais comuns e apresentam
- Tende a ser difusa, generalizada e imprecisa. maior representação cortical, o córtex está
Quando localizada, a topografia tende a condicionado a interpretar estes estímulos como
corresponder à da imagem corporal que o superficiais.
paciente tem da estrutura que julga doente, por o Dor na face medial do braço (T1) em pacientes
exemplo, uma dor torácica paraesternal com IAM;
esquerda caso o paciente ache que o órgão o Dor epigástrica ou periumbilical (T6-T10) na
acometido é o coração; apendicite;
- Muda de localização sem qualquer razão o Dor no ombro (C4) em doença diafragmática ou
aparente; irritação do nervo frênico.
- Quando irradiada não segue o trajeto de
qualquer nervo; Dor irradiada: É a dor sentida a distância de sua
- Intensidade variável e dependente das origem, porém obrigatoriamente em estruturas
condições emocionais do paciente, embora ele inervadas pela raiz nervosa ou nervo cuja estimulação
negue; nóxica é responsável pela dor.
- É comumente descrita de forma dramática pelo
paciente; 5. Semiologia da Dor:
- Relação do início da dor com um
acontecimento negativo na vida do paciente; Decálogo da Dor:
- Apresenta sinais e sintomas de depressão e o Localização;
ansiedade crônicas associados; o Irradiação;
Pacientes são neuroticamente fixados em sua o Qualidade ou tipo;
dor, e utilizam-se de dezenas de medicamentos. o Intensidade;
o Início e Duração;
4. Classificação Anatômica da Dor: o Evolução;
o Relação com funções orgânicas;

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o Fatores desencadeantes ou agravantes; o Subaguda: dor que se desenvolve ao longo de


o Fatores atenuantes; horas, dias ou semanas;
o Sinais e sintomas associados. o Crônica: dor de duração superior a três meses.

Localização: Evolução: Variações em localização, qualidade,


o Deve ser discriminada utilizando-se a intensidade, duração, freqüência.
nomenclatura das regiões da superfície corporal; o Dor espontânea:
o Registrar todas as localizações de dor, e estudá- - Constante;
las semiologicamente em separado, mas não - Intermitente;
esquecer que dores distantes espacialmente e o Dor evocada.
aparentemente sem relação entre si podem
indicar uma única doença; Relação com funções orgânicas:
o Avaliar a sensibilidade na área de distribuição da o Dor cervical, dorsal ou lombar: pesquisar relação
dor e adjacências. A presença de hipoestesia é com os movimentos da coluna;
indicativa de dor neuropática. Também são o Dor torácica: pesquisar relação com respiração,
comuns hiperestesia e hiperalgesia. movimentos do tórax, tosse, espirro e esforço
físico;
Irradiação: o Dor retroesternal: pesquisar relação com a
o Prestar muita atenção na distribuição deglutição, posição e esforço físico;
dermatomérica; o Dor periumbilical ou epigástrica: pesquisar
o É interessante mencionar que processos relação com a alimentação;
patológicos anteriores ou concomitantes, o Dor no hipocôndrio direito: pesquisar relação
afetando estruturas inervadas por segmentos com a ingestão de alimentos gordurosos;
medulares adjacentes, aumentam a tendência o Dor no baixo ventre: pesquisar relação com a
para que a dor seja sentida em uma área servida micção, evacuação, menstruação e relações
por ambos os segmentos medulares, resultando sexuais.
em localização atípica da dor. Assim, uma dor
anginosa pode irradiar-se para o epigástrio, em Sinais e sintomas associados: A dor é muitas vezes
pacientes portadores de úlcera duodenal. acompanhada de manifestações neurovegetativas, que
se devem à estimulação do SNA pelos impulsos
Qualidade ou Tipo (Exemplos): dolorosos, incluindo sudorese, palidez, taquicardia,
o Dor latejante ou pulsátil – enxaqueca, abscessos hipertensão arterial, mal-estar, náuseas e vômitos.
e odontalgia; Além dessas manifestações, que por serem
o Dor em choque – neuralgia do trigêmeo, inespecíficas têm pouco valor diagnóstico, outras
lombociatalgia, cervicobraquialgia; manifestações associadas à dor e relacionadas com a
o Dor em cólica – cólica nefrética, biliar, intestinal, enfermidade são importantes para o diagnóstico, por
menstrual; exemplo: uma simples cefaléia, quando se acentua em
o Dor em queimação – úlcera péptica, esofagite de decúbito e acompanha-se de vômitos em jato, náuseas
refluxo; e diplopia é característica de hipertensão
o Dor em aperto (constrictiva) – angina de peito, intracraniana.
IAM;
o Dor em pontada – dor pleurítica;
o Dor surda – doenças das vísceras maciças;
o Dolor – dores musculares;
o Dor em cãibra – afecções medulares, musculares
e metabólicas.

Intensidade: Utiliza-se uma escala virtual de 0 a 10 em


que o paciente determina uma nota para a dor que
sente.

Duração: Além de caracterizar (aguda, subaguda,


crônica) é fundamental quantificar.
o Aguda: dor de início súbito que pode vir
acompanhada de hiperatividade simpática;

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IV. Sinais Vitais: braquial, infla-se o manguito até 30 mmHg acima da


pressão sistólica determinada pelo método palpatório.
1. Pressão Arterial: Desinfla-se o manguito lentamente de maneira a
registrar o nível de pressão em que os ruídos de
Pressão arterial é a força exercida pelo sangue Korotkoff começam a ser auscultados e o nível de
sobre as paredes dos vasos. É um parâmetro fisiológico pressão em que os mesmos desaparecem, sendo,
indispensável na investigação diagnóstica, e o registro respectivamente, a pressão sistólica e a pressão
dos níveis pressóricos faz parte obrigatória do exame diastólica.
clínico. Analisaremos aqui a pressão arterial do ponto
de vista semiológico, sendo indispensável o Hiato auscultatório: É um intervalo durante o qual os
entendimento prévio das variáveis que a determinam sons de Korotkoff não são audíveis, pode aparecer
e dos mecanismos envolvidos em sua regulação. A entre as pressões sistólica e diastólica, durante a fase II
equação simplificada de cálculo da pressão arterial é: dos ruídos de Korotkoff. Pode levar a uma
subestimação da pressão sistólica e superestimação da
𝑃𝐴𝑚 = 𝐷𝐶 × 𝑅𝑉𝑃 diastólica.

Onde DC é o débito cardíaco, 𝑃𝐴𝑚 é a pressão arterial Diferença pressórica entre os membros superiores: A
média, e 𝑅𝑉𝑃 é a resistência vascular periférica. pressão arterial deve ser medida nos dois braços. Uma
diferença de pressão acima de 10 a 15 mmHg sugere
Note que a pressão arterial utilizada no cálculo é compressão ou obstrução arterial do lado de menor
a pressão arterial média. pressão. Possíveis causas: coarctação da aorta;
A pressão arterial média é a média das pressões síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar; doença
arteriais medidas a cada milissegundo durante certo vascular periférica.
intervalo de tempo. Ela não é igual à média aritmética
entre as pressões sistólica e diastólica, porque a Diferença pressórica devido à posição corporal: Em
pressão arterial permanece mais próxima à diastólica pacientes que usam medicação anti-hipertensiva,
que à sistólica durante a maior parte do ciclo cardíaco. apresentam histórico de desmaio, ou suspeita de
Para cálculo aproximado, usa-se uma média hipovolemia ou hipotensão postural, mede-se a
ponderada das pressões sistólica e diastólica, pressão arterial com o paciente em três posições
admitindo-se peso 2 para a pressão diastólica. A (decúbito dorsal, sentado e de pé). Normalmente, a PA
pressão de pulso é justamente a diferença entre as tende a cair quando o paciente passa de uma posição
pressões sistólica e diastólica. de decúbito para a uma posição mais verticalizada,
mas essa queda é de poucos mmHg. Uma queda
2 ∙ 𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 + 𝑃𝑠𝑖𝑠𝑡 sistólica de 20 mmHg ou mais, principalmente quando
𝑃𝐴𝑚 = acompanhada por sintomas, indica hipotensão
3
ou ortostática (postural).
𝑃𝑝𝑢𝑙𝑠𝑜
𝑃𝐴𝑚 = 𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 + 3 Diferença pressórica entre os membros superiores e
inferiores: Devido à ação da gravidade, normalmente,
a pressão nos membros inferiores é cerca de 20 mmHg
Agora que revisamos os conceitos de pressão acima da pressão nos membros superiores. Quando a
arterial, vamos entender a semiotécnica de aferição da pressão nos membros superiores excede a pressão nos
pressão arterial. membros inferiores, a provável causa do fenômeno é
uma obstrução ou compressão ao enchimento das
SEMIOTÉCNICA: artérias ilíacas a partir da aorta. Causas prováveis:
1º) Método Palpatório: Com o braço do paciente coarctação da aorta; aneurisma dissecante de aorta;
estendido ao nível do coração, palpa-se o pulso radial e síndrome de Leriche (obstrução aterosclerótica na
infla-se o manguito gradualmente até que o pulso bifurcação aorto-ilíaca).
radial desapareça, sendo este nível de pressão a
pressão sistólica. É sempre aconselhável a realização  Sons de Korotkoff:
do método palpatório antes do método auscultatório,
pois evita o desconforto decorrente de excessos SONS DE KOROTKOFF
desnecessários de pressão no manguito, e elimina os Fase Qualidade dos sons Base teórica
ocasionais erros gerados pelo hiato auscultatório. I ou Som súbito, forte, A pressão do manguito
2º) Método Auscultatório: Utilizando-se a campânula K1 bem definido, que iguala-se a pressão
(ou diafragma) do estetoscópio sobre a arterial aumenta em sistólica, ocorrendo
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intensidade passagem parcial da Classificação da PA Sistólica Diastólica


onda de pulso arterial. Normal (ideal) <120 <80
II ou Sucessão de sons Decorre de mudança no Pré-hipertensão 120-139 80-89
K2 soprosos, mais suaves calibre arterial (de Hipertensão I (Leve) 140-159 90-99
e prolongados estreito para mais largo) Hipertensão II (Moderada) 160-179 100-109
(qualidade de sopro com criação de fluxo Hipertensão III (Grave) ≥ 180 ≥ 110
intermitente) turbilhonado - o qual Hipertensão Sistólica Isolada ≥ 140 < 80
produz vibração do Tabela 2 – Classificação da PA
sangue (reverberação) e
da parede arterial,
ETIOLOGIA:
produzindo sopros.
III ou Desaparecimento dos À medida que a pressão
Hipertensão primária (essencial): Genética, estresse,
K3 sons soprosos e no manguito decresce, a obesidade, dieta, hábitos, sedentarismo.
surgimento de sons artéria permanece Hipertensão secundaria: Medicação (contraceptivos,
mais nítidos e aberta na sístole, mas descongestionantes nasais, glicocorticóides); renais
intensos (parecidos permanece parcialmente (doença renal parenquimatosa, estenose de artéria
ao da fase I), que fechada na telediástole renal); aterosclerose; coarctação de Aorta; endócrinas
aumentam em (diástole tardia). (síndrome de Cushing, hiperaldosteronismo,
intensidade. feocromocitoma).
IV ou Os sons tornam-se A pressão do manguito Hipertensão Sistólica Isolada: Esclerose, calcificação e
K4 abruptamente mais aproxima-se da pressão
endurecimento da artéria braquial podem levar ao
suaves e abafados, diastólica, até igualar.
são menos claros.
aparecimento de “pseudo-hipertensão”, condição em
V ou Desaparecimento A artéria permanece que os valores reais da pressão arterial (especialmente
K5 completo dos sons aberta durante todo o a sistólica) são menores que os obtidos pelo
ciclo cardíaco. Pressão esfigmomanômetro. Essa condição está presente nos
no manguito está abaixo idosos.
da pressão diastólica.
Tabela 1 – Sons de Korotkoff  Outras alterações pressóricas:

Pressão diastólica esperada: Sabendo-se a pressão


sistólica, podemos calcular o valor esperado de uma
pressão diastólica normal. Uma pressão diastólica
maior que a esperada indica pressão convergente, e
menor indica pressão divergente.

𝑃𝑠𝑖𝑠𝑡
𝑃𝑑𝑖𝑎𝑠𝑡 = 3 + (𝑒𝑛𝑡𝑟𝑒 10 − 20 𝑚𝑚𝐻𝑔)

Pressão Convergente: Pressão diastólica maior que a


esperada para o valor de pressão sistólica.
o Causas: Hipovolemia; estenose aórtica; derrame
pericárdico; pericardite constrictiva;
insuficiência cardíaca grave.
Figura 1 – Sons de Korotkoff
Pressão Divergente: Pressão diastólica menor que a
 Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): esperada para o valor de pressão sistólica.
o Causas: Síndromes hipercinéticas (febre,
A hipertensão arterial é definida como uma hipertireoidismo, insuficiência aórtica, fístula
condição fisiológica em que os níveis pressóricos são arteriovenosa); fibrose senil de grandes vasos
maiores ou iguais a 140 mmHg de pressão sistólica (pseudo-hipertensão).
e/ou 90 mmHg de pressão diastólica. A HAS deve ser
tratada como uma síndrome, e não somente como Pulso Alternante: Embora seja uma característica do
níveis pressóricos elevados. A avaliação da gravidade pulso, pode ser pesquisado durante a medida de
da hipertensão também deve incluir seus efeitos nos pressão arterial. Ao desinflar o manguito, durante a
órgãos-alvo (olhos, coração, cérebro, rins e sistema fase 1 de Korotkoff, deve-se atentar pela presença de
vascular periférico). alternância de um ruído forte e um fraco. O fenômeno
também é perceptível na palpação do pulso radial com
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o manguito insuflado ao nível da pressão sistólica.


Trata-se de um sinal de insuficiência ventricular Ritmo: Trata-se da regularidade dos intervalos entre as
esquerda (IVE). ondas de pulso.
o Regular (Rítmico) – Cuja frequência é constante;
Pulso Paradoxal: Assim como o pulso alternante, o Irregular (Arrítmico) – Cuja frequência é variável.
também pode ser pesquisado medindo-se a pressão Causas: Arritmia sinusal; extra-sistolia
arterial pelo método auscultatório. Nota-se uma ventricular; fibrilação atrial; bloqueio átrio-
diminuição na amplitude dos ruídos durante a ventricular de 2º grau.
inspiração forçada. Trata-se de um sinal de
tamponamento cardíaco, podendo ser causado por Amplitude: Relacionada com o grau de enchimento da
pericardite constrictiva, derrame pericárdico volumoso artéria durante a sístole e seu esvaziamento durante a
e enfisema pulmonar (pela hiperinsuflação pulmonar). diástole.
o Amplo (Magnus) – Causa: Síndromes
2. Pulso Arterial: hipercinéticas (febre, hipertireoidismo,
insuficiência aórtica, fístula arteriovenosa);
O exame dos pulsos arteriais permite contar a o Normal;
frequência cardíaca e determinar seu ritmo, avaliar a o Pequeno (Parvus) – Causa: Estenose aórtica;
amplitude e o contorno da onda de pulso e, às vezes, hipovolemia; insuficiência cardíaca grave.
detectar obstruções ao fluxo sanguíneo. Devemos,
portanto, ao palpar os pulsos analisar: Tensão: Avalia-se a tensão como a resistência da
o Frequência; artéria à compressão externa com interrupção de
o Ritmo; fluxo.
o Amplitude; o Duro – compressão exige maior pressão externa.
o Tensão; Causas: hipertensão arterial;
o Estado da Parede Arterial; o Normal;
o Tipos de Onda de Pulso. o Mole – de fácil compressão. Causas:
Deve-se também comparar as artérias hipovolemia; choque; insuficiência cardíaca
homólogas quanto à frequência e à amplitude dos grave.
pulsos: isocronicidade e simetria, respectivamente.
Estado da Parede Arterial: avaliação da presença de
SEMIOTÉCNICA: anormalidades na parede arterial, como:
Para avaliação do pulso periférico usa-se, endurecimento, tortuosidade, irregularidade da
normalmente, a artéria radial, situada entre o processo superfície.
estilóide do rádio e o tendão dos flexores. Para palpá- o Artéria em “traquéia de passarinho” – artéria
la empregam-se as polpas digitais dos dedos indicador com parede endurecida, irregular e tortuosa. É
e médio, variando a força de compressão até obter-se sinal de uma vasculopatia (mediosclerose de
impulso máximo. O polegar se fixa delicadamente no Mönckeberg).
dorso do punho do paciente. O examinador usa a mão
direita para examinar o pulso esquerdo do paciente, e Manobra de Osler: Palpação da artéria radial (sem
vice-versa. pulsação) mesmo após a insuflação do manguito acima
da pressão sistólica, por rigidez aterosclerótica da
Frequência: A frequência de pulso é normalmente parede arterial. É sinal de pseudo-hipertensão arterial
igual à frequência cardíaca. (fibrose senil de grandes vasos).
o Taquisfigmia (Taquicardia) – Pulso rápido, acima
de 100 bpm; Simetria e Isocronicidade: Diferenças quanto à
o Bradisfigmia (Bradicardia) – Pulso lento, abaixo amplitude e à frequência dos pulsos em artérias
de 60 bpm. homólogas traduzem uma possível obstrução ou
Obs.: Nem sempre a frequência do pulso periférico compressão da artéria de menor amplitude e
acompanha a frequência cardíaca. A condição em que frequência, sendo possíveis causas: coarctação da
a frequência cardíaca é maior que a frequência de aorta; síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar; doença
pulso é chamada déficit de pulso. Decorre do fato de vascular periférica.
algumas contrações ventriculares serem ineficazes,
isto é, não impulsionarem sangue para a aorta, ipso Além do pulso radial, comumente usado para
facto, não determinando onda de pulso. Causas avaliar a frequência cardíaca, devemos analisar a
comuns de déficit de pulso são: extra-sistolia presença de outros pulsos periféricos, como forma de
ventricular e fibrilação atrial. avaliar a perfusão dos segmentos corporais:
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o Pulso Temporal Superficial;


o Pulso Facial;
o Pulso Angular;
o Pulso Carotídeo;
o Pulso Axilar;
o Pulso Braquial;
o Pulso Femoral – entre os terços medial e
intermédio do ligamento inguinal;
o Pulso Poplíteo – figura 2;
o Pulso Pedioso – figura 3;
o Pulso Tibial Posterior – em posição
retromaleolar medial, figura 4. Figura 4 – Pulso Tibial Posterior

 Tipos de Onda de Pulso Arterial:

Ondas de Pulso Normais: Apresentam pressão de


pulso entre 30 e 40 mmHg. Contorno regular e
arredondado, com entalhe impalpável.

Pulso Parvus e Tardus: Pulso de pequena amplitude e


prolongado.
o Causas: Estenose aórtica; hipovolemia;
insuficiência cardíaca grave; exposição ao frio.

Pulso Célere ou Martelo d’água: Aparece e some com


rapidez. Pressão de pulso bastante aumentada.
o Causas: Síndromes hipercinéticas (febre,
hipertireoidismo, insuficiência aórtica, fístula
arteriovenosa, anemias graves, canal arterial
patente).

Figura 2 – Pulso Poplíteo

Pulso Bisferiens: Pulso arterial de amplitude


aumentada com duplo pico sistólico.
o Causas: cardiomiopatia hipertrófica; dupla lesão
aórtica (estenose + insuficiência); insuficiência
aórtica.

Pulso Bigeminado: Pulso que apresenta alternância


entre uma onda normal e uma extra-sístole (de menor
amplitude que a onda precedente), que se soma a
Figura 3 - Pulso Pedioso onda precedente.
o Causas: Extra-sístoles supraventriculares.

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o Respiração Rápida e Profunda (Hiperpnéia ou


Ritmo de Cantani): Respiração rápida de
amplitude aumentada.
Causas: Exercício físico; ansiedade; acidose
metabólica; infarto agudo do miocárdio; hipóxia
Pulso Alternante: Pulso caracterizado por alternância ou hipoglicemia (que estimulam o centro
entre uma onda ampla e uma onda de menor respiratório).
amplitude. Detectada ao medir-se a pressão arterial.
o Causas: Insuficiência Ventricular Esquerda (IVE)

o Respiração de Kussmaul: Movimentos


Pulso Paradoxal: Pulso caracterizado por uma redução inspiratórios e expiratórios de grande amplitude,
palpável na amplitude do pulso durante a inspiração com períodos de apnéia ao fim de cada
tranqüila. movimento. Simbolicamente conhecido com a
o Causas: Tamponamento cardíaco; pericardite “fome de ar”.
constrictiva; doença pulmonar obstrutiva. Causas: Acidose metabólica (cetoacidose
diabética); síndrome metabólica.
3. Respiração:

No exame dos sinais vitais, deve-se observar a


respiração do paciente e determinar:
o Frequência Respiratória;
o Ritmo Respiratório; o Respiração Lenta (Bradipnéia): Incursões
o Amplitude (Profundidade). respiratórias de duração normal, amplitude
normal ou aumentada e intervalos mais longos
Frequência Respiratória: Medida em incursões entre as incursões.
respiratórias por minuto (irpm). Os valores normais são Causas: Coma diabético; depressão respiratória
de 14 a 21 irpm. induzida por fármacos; aumento da pressão
o Taquipnéia – frequência respiratória maior que intracraniana.
21 irpm; o Respiração de Cheyne-Stokes: Observam-se
o Bradipnéia – frequência respiratória menor que pausas de apnéia seguidas de movimentos
14 irpm. respiratórios, que, a princípio, superficiais e
quase imperceptíveis, vão gradativamente
Ritmo: Trata-se da regularidade dos intervalos tornando-se mais profundos, mais amplos, mais
respiratórios. longos, agitados e ruidosos, para depois
o Regular (Rítmico) – Cuja frequência é constante; diminuírem, também progressivamente,
o Irregular (Arrítmico) – Cuja frequência é variável. tornando-se pouco a pouco, menos amplos,
menos longos, mais calmos, até nova pausa de
Amplitude: Trata-se da profundidade dos movimentos apnéia, depois da qual se repetem os mesmos
respiratórios, relacionados com a capacidade da fenômenos.
parede torácica em variar volume. Causas: Insuficiência cardíaca grave; uremia;
depressão respiratória induzida por fármacos;
Tipos Respiratórios: hipertensão intracraniana; AVE; traumatismo
o Normal (Eupneia): Inspiração dura quase o cranioencefálico (TCE); tumor cerebral.
mesmo tempo que a expiração, sucedendo-se os
dois movimentos com a mesma amplitude, e
intercalados por uma breve pausa.
o Respiração Rápida e Superficial (Taquipnéia):
Respiração rápida de amplitude normal ou o Respiração de Biot (Atáxica): A respiração
menor. apresenta-se em duas fases: uma fase de apnéia,
Causas: doença pulmonar restritiva; dor torácica seguida de uma fase de frequência e amplitude
pleurítica; elevação do diafragma de incursões anárquicas. Fisiopatologia
(hepatomegalia; abscesso subfrênico). semelhante à Respiração de Cheyne-Stokes.

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Causas: Meningite; depressão respiratória novo período de apnéia. Esses ritmos são causados por
induzida por fármacos; AVE; TCE. qualquer condição que diminua a perfusão cerebral
cronicamente.

o Respiração Suspirosa: Movimentos respiratórios


predominantemente normais interrompidos por
suspiros isolados ou agrupados.
Causas: ansiedade; tensão emocional.
o Respiração Obstrutiva: Padrão de respiração em
que a expiração está prolongada em decorrência
do estreitamento das vias respiratórias. Figura 6 – Respiração de Cheyne-Stokes
Causa: Asma; bronquite crônica.

FISIOPATOLOGIA DA RESPIRAÇÃO DE CANTANI E


KUSSMAUL:
Caracterizam-se pela presença de inspirações e
expirações profundas e ruidosas, sem fases de apnéia
(Cantani) ou seguidas de pausas de apnéia entre elas
(Kussmaul). A queda no pH sanguíneo, devido a
acidose metabólica estimula o centro respiratório a Figura 7 – Respiração de Biot
aumentar a frequência e profundidade da respiração.
4. Temperatura:

Temperatura Normal:
o Axilar – 35,5 a 37o C, com média de 36-36,5o C;
o Oral – 36 a 37,4o C;
o Retal – 36 a 37,8o C (mais próxima da
temperatura central);
o Variações comuns de temperatura:
- A temperatura aumenta após a alimentação;
- Pela tarde, a temperatura é 0,5o C superior;
- Depois da ovulação, a temperatura é maior em
cerca de 0,6o C.

Figura 5 - Respiração de Kussmaul – Paciente em coma


diabético

FISIOPATOLOGIA DA RESPIRAÇÃO DE CHEYNE-STOKES


E BIOT:
Caracterizam-se por períodos de respiração seguidos
de períodos de apnéia. Sendo os períodos respiratórios
de profundidade crescente e, em seguida, decrescente
(Cheyne-Stokes), ou de respiração anárquica (Biot).
Esses ritmos são provocados por uma depressão do
Centro Respiratório no SNC, sobre o qual atuam a
hipoxemia e a hipercapnia. A queda no fluxo sanguíneo
para o centro respiratório diminui a excitabilidade do
mesmo provocando apnéia com hipoxemia e
hipercapnia. A hipercapnia e a hipoxemia, induzida no
período de apnéia, excitam o centro respiratório que
aumentam a frequência e profundidade respiratórias,
normalizando os níveis sanguíneos dos gases, o que
diminui a excitabilidade do centro respiratório e causa
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V. EXAME FÍSICO GERAL (ECTOSCOPIA):


Disfasia ou Afasia: Alterações corticais na
O exame físico geral é realizado por inspeção e interpretação e/ou expressão da fala. Não envolve o
palpação. Há diversas ordens pré-estabelecidas de órgão fonador e os músculos da fonação.
avaliação dos parâmetros ectoscópicos, sendo
aconselhável que o examinador desenvolva sua própria Disgrafia: Perda da capacidade de escrever.
ordem de exame, desde que ele não dispense nenhum
parâmetro. Dislexia: Perda da capacidade de ler.

Avaliação Geral: 2. Avaliação Física:


o Estado Geral (Bom, Regular ou Mau);
o Nível de consciência (Lúcido ou Coma);  Fácies:
o Orientação no tempo e no espaço;
o Cooperação com o exame; Fácies Hipocrática: Olhos fundos (enoftalmia), parados
o Fala e Linguagem. e inexpressivos; nariz e lábios finos; presença de
Avaliação Física: batimento de asas do nariz; sudorese facial; palidez
o Fácies; cutânea; discreta cianose labial; ausência de gordura
o Biotipo; facial; pele de coloração escurecida.
o Posição e Atitude no leito; Causas: Doenças crônicas terminais (AIDS, câncer).
o Postura (Cifose, Escoliose, Lordose,
Cifoescoliose); Fácies Renal: Edema facial predominantemente
o Movimentos Involuntários; periorbital, mais intenso ao acordar; palidez cutânea;
o Marcha. lábios inchados.
Avaliação Cutânea: Causas: Síndrome Nefrótica.
o Pele;
o Mucosas; Fácies Leonina: Pele espessa com grande número de
o Fâneros (Cabelos e Unhas); lepromas; supercílios deprimidos; nariz espesso e
o Enchimento Capilar; alargado; lábios grossos e proeminentes; nódulos em
o Circulação Colateral; bochechas e mento; desaparecimento ou escassez de
o Edema. pêlos.
Causas: Hanseníase.
Deve-se atentar também para a avaliação do
estado de nutrição e hidratação do paciente, sendo Fácies Parkinsoniana: Cabeça inclinada para frente e
aconselhável registrar qualquer indício de desnutrição imóvel nesta posição; olhar fixo; supercílios elevados e
e desidratação. fronte enrugada (expressão de espanto).
Causas: Doença de Parkinson.
1. Avaliação Geral:
Fácies Basedowiana: Olhos salientes (exoftalmia) e
 Fala e Linguagem: brilhantes; rosto magro; presença de bócio.
Causas: Hipertireoidismo.
Disfonia ou afonia: É uma alteração do timbre da voz
(rouquidão, bitonalidade, voz fanhosa). Indica um Fácies Mixedematosa: Rosto arredondado; nariz e
problema no órgão fonador. lábios grossos; pele seca, espessada e com acentuação
dos sulcos; pálpebras infiltradas e enrugadas;
Dislalia: Pequenas alterações da fala, como trocas de supercílios escassos (madarose) e cabelos secos e sem
letras. brilho; fisionomia de desânimo.
Causas: Hipotireoidismo, mixedema.
Disritmolalia: Distúrbios no ritmo da fala (gagueira,
taquilalia). Fácies Acromegálica: Saliência dos arcos supraorbitais;
proeminência mandibular; aumento do tamanho do
Disartria: Problemas na articulação da fala pelos nariz, lábios e orelhas; olhos aparentemente menores.
músculos da fonação. Pode indicar incoordenação Causas: Acromegalia.
cerebral (voz arrastada, escandida), hipertonia no
parkinsoniano (voz baixa, monótona e lenta), ou perda Fácies Cushingóide (de lua-cheia): rosto arredondado
do controle piramidal (paralisia pseudobulbar). com atenuação dos traços faciais; bochechas
vermelhas; presença de acne; hirsutismo.
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Causas: Síndrome de Cushing; hiperfunção do córtex banqueta, e as mãos apoiadas no colchão para
adrenal; corticoterapia. melhorar um pouco a respiração (Sinal da
Ancoragem). Também pode considerar-se
Fácies da Paralisia Facial Periférica: Assimetria facial; ortopnéica a utilização de dois ou mais
impossibilidade de fechar as pálpebras; desvio da travesseiros para recostar-se na cama, na
comissura labial; apagamento do sulco nasolabial. tentativa de colocar o tórax mais ereto (Sinal do
Causas: Paralisia facial periférica. Travesseiro). Essas atitudes diminuem o retorno
venoso.
Fácies Miastênica (de Hutchinson): Ptose palpebral Causas: Insuficiência cardíaca, asma brônquica e
bilateral, o que obriga o paciente a franzir a testa e ascites volumosas.
levantar a cabeça. o Genupeitoral (de “prece maometana”):
Causas: Miastenia grave e outras miopatias que Paciente de joelhos com o tronco fletido sobre
comprometam os músculos da pálpebra superior. as coxas, enquanto a face anterior do tórax
repousa sobre o chão ou colchão. O rosto
Fácies Etílica: Olhos avermelhados e certa ruborização descansa sobre as mãos, também repousadas. A
da face, associada a hálito etílico, voz pastosa e sorriso atitude aumenta o retorno venoso.
meio indefinido. Causas: Derrame pericárdico (tamponamento
cardíaco).
 Biotipo: o De Cócoras: Paciente agachado com os joelhos
flexionados, tronco curvado para frente e
Longilíneo ou Hipoestênico ou Leptossômico: apoiado nas coxas, com membros superiores
o Estrutura muscular delgada, com tendência à estendidos sobre o joelho. Apenas os pés tocam
magreza; o apoio. A atitude alivia parcialmente a hipóxia
o Envergadura proporcionalmente maior que o generalizada.
tronco. Os apêndices predominam sobre o Causas: Cardiopatia congênita cianótica (em
tronco; crianças).
o Tórax chato, com ângulo de Charpy fechado o De Decúbitos:
(inferior a 90º). Decúbito Lateral: É comum na dor de origem
pleurítica. Paciente prefere deitar-se em
Brevilíneo ou Hiperestênico ou Pícnico: decúbito lateral sobre o lado acometido, pois a
o Indivíduo mais atarracado, com tendência à posição diminui a movimentação dos folhetos
obesidade; pleurais e, consequentemente, diminui o atrito,
o Musculatura mais robusta, com predomínio do diminuindo a dor.
tronco em relação à envergadura; Decúbito Dorsal: Com pernas fletidas sobre as
o Ângulo de Charpy mais alargado, normalmente coxas e estas sobre a bacia. É atitude típica de
superior a 90º. processos inflamatórios pelviperitoneais.
Decúbito Ventral: Acompanhado do
Normolíneo ou Estênico ou Atlético: posicionamento de um travesseiro sob o ventre.
o Maior proporcionalidade entre a envergadura e É atitude típica da cólica intestinal.
o tronco; Obs.: decúbitos preferenciais com variados
o Ângulo de Charpy = 90º; graus de flexão da coluna podem indicar
lombalgias.
 Posição e Atitude no leito:
Atitudes Involuntárias:
Atitude: Posição adotada pelo paciente no leito ou o Atitude Passiva: Paciente permanece na posição
fora dele, por comodidade, hábito ou com o objetivo em que é colocado no leito, sem que haja
de conseguir alívio para algum sintoma. Algumas contratura muscular.
posições são voluntárias e outras são involuntárias. o Ortótono: Paciente com tronco e membros
o Atípica: Sem valor diagnóstico; rígidos, sem se curvarem.
o Típica: Atitude voluntária ou involuntária o Opistótono: Paciente com contratura da
indicativa de determinada patologia ou grupo de musculatura lombar. O corpo se apóia na cabeça
patologias. e nos calcanhares, como um arco.
Causas: Tétano e meningite.
Atitudes Voluntárias: o Emprostótono: Paciente com o corpo formando
o Ortopnéica: Paciente permanece sentado à uma concavidade para frente (contrária ao
beira do leito com os pés no chão ou numa opistótono).
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Causas: Tétano, meningite e raiva. impregnação cerebral por hiperbilirrubinemia do


o Pleurostótono: Paciente curva lateralmente o neonato (kernicterus).
corpo.
Causas: Tétano, meningite e raiva. Hemibalismo: Movimentos abruptos, violentos, de
o Posição em gatilho: Paciente com hiperextensão grande amplitude, rápidos e geralmente limitados a
da cabeça, flexão das pernas sobre as coxas e uma metade do corpo. São muito raros e decorrentes
encurvamento do tronco com concavidade para de lesões extrapiramidais.
diante.
Causas: Irritação meníngea (meningite). Asterix (Flapping): Movimentos rápidos, de amplitude
variável, que ocorrem nos segmentos distais e têm
 Movimentos Involuntários: certa semelhança com o bater de asas das aves. É um
movimento frequente na insuficiência hepática, e no
Os movimentos involuntários devem ser coma urêmico.
analisados pelo examinador durante a realização do
exame físico. Os principais movimentos involuntários SEMIOTÉCNICA:
são: Para melhor notar o flapping, com o braço do paciente
estendido e sua mão hiperestendida, force com a mão
Tremores: Movimentos alternantes regulares de ainda mais a hiperextensão da mão do paciente e, a
pequena ou média amplitude, que afetam seguir, largue-a, observando a acentuação dos
principalmente o segmento distal dos membros. movimentos de flapping.
o Tremor de Repouso: Surge durante o repouso e
desaparece com os movimentos e o sono; é um Convulsões: São movimentos musculares súbitos e
tremor oscilatório, em regra mais evidente nas incoordenados, involuntários e paroxísticos, que
mãos, simulando o gesto de “enrolar cigarro”. ocorrem de maneira generalizada ou apenas em
Ocorre no parkinsonismo. segmentos do corpo. As convulsões são causadas por
o Tremor de Atitude: Surge quando o membro é epilepsia, tétano, meningites, hipoglicemia, tumores
colocado em determinada posição, não sendo cerebrais, febres altas em crianças e intoxicações
muito evidente no repouso ou no movimento. exógenas (álcool, inseticidas).
Ocorre no pré-coma hepático (flapping ou o Convulsões tônicas: Caracterizam-se por serem
asterix), na doença de Wilson, e no tremor mantidas permanentes e imobilizarem as
familiar. articulações.
o Tremor de Ação: Surge ou se agrava com a o Convulsões clônicas: São rítmicas, alternando-se
execução de um movimento. Aparece nas contrações e relaxamentos musculares em ritmo
doenças cerebelares. mais ou menos rápido.
o Tremor Vibratório: Tremor fino e rápido, como o Convulsões tônico-clônicas: Caracterizada por
uma vibração. Pode surgir no hipertireoidismo, apresentar uma fase tônica e uma fase clônica.
no alcoolismo, na neurossífilis, ou, mais
comumente, de origem emocional. Tetania: É uma forma particular de movimentos
involuntários caracterizada por crises exclusivamente
Movimentos Coréicos (Coréia): Movimentos tônicas quase sempre localizadas nas mãos e pés
involuntários amplos, desordenados, inesperados, (espasmos carpopodais). Pode ocorrer
arrítmicos, multiformes e sem finalidade. Localizam-se independentemente de qualquer manobra, porém às
na face, nos membros superiores e inferiores. São as vezes pode ser desencadeada por uma. Ocorre na
manifestações principais da síndrome coréica, hipocalcemia (hipoparatireoidismo por exemplo) e na
cumprindo lembrar seus dois tipos clínicos mais alcalose respiratória por hiperventilação.
encontrados: coréia de Sydenham (coréia infantil), que
é de etiologia infecciosa, relacionada à febre SEMIOTÉCNICA:
reumática; e coréia de Huntington, que apresenta Sinal de Trousseau: Infla-se o manguito, no braço do
caráter hereditário. paciente, em um nível intermediário entre a máxima e
a mínima pressão arterial (ex.: 140/90 mmHg, infla-se
Movimentos Atetósicos (Atetose): Movimentos o manguito a 110 mmHg). Ao fim de 10 minutos,
involuntários lentos e estereotipados, lembrando um observa-se um movimento involuntário dos dedos
movimento reptiforme ou o movimento dos tentáculos (espasmo carpal), caracterizado como “mão de
de um polvo. Podem ser uni- ou bilaterais. Indicam parteiro”. O fenômeno em sua totalidade recebe a
lesão dos núcleos da base. Podem ser causados por designação de Sinal de Trousseau.

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Marcha Cerebelar (ébria): Paciente caminha com os


 Marcha: pés bem separados e ziguezagueia como um bêbado.
Traduz incoordenação de movimentos em decorrência
Marcha Hemiplégica (helicópode ou ceifante): de lesões cerebelares (ataxia cerebelar).
Paciente mantém membro superior homolateral
fletido em 90º com o cotovelo e em adução, colocado Marcha Vestibular: Paciente não consegue andar em
transversalmente como apoio, e mão fechada em leve linha reta, lateralizando a trajetória. Ao solicitar que o
pronação. Membro inferior apresenta trajeto de paciente ande para frente em linha reta e volte,
semicírculo sem flexão do joelho. Indica lesão do também em linha reta, de costas, ele descreve uma
neurônio motor superior (síndrome piramidal). trajetória semelhante a uma estrela. Traduz lesão
vestibular (ataxia vestibular).
Marcha Espástica (em tesoura): Dois membros
inferiores enrijecidos e espásticos, permanecendo Marcha Tabética (talonante): Paciente mantém os
semifletidos, os pés se arrastam e as pernas se cruzam, olhos fixos no chão. Os membros inferiores são
uma na frente da outra a cada passo. Presente nas levantados abruptamente e explosivamente e, ao
formas espásticas de paralisia cerebral (lesão bilateral serem recolocados no chão, os calcanhares tocam o
do neurônio motor superior). solo pesadamente. A marcha piora ainda mais com os
olhos fechados. Traduz perda da propriocepção por
Marcha Escarvante: Paciente levanta acentuadamente lesão do cordão posterior da medula. Presente na
o membro inferior, com excessiva flexão da coxa sobre tabes dorsalis (ataxia sensorial).
o quadril, evitando que o pé paralisado toque o solo e
ele tropece. Indica paralisia do movimento de flexão
dorsal do pé (músculo tibial anterior), pode ocorrer por
lesão do nervo isquiático, fibular comum ou raiz de L5,
e também presente como sequela de poliomielite.

Marcha Anserina (de pato ou miopática): Paciente


acentua a lordose lombar e inclina o tronco ora para a
direita, ora para a esquerda, lembrando o andar de um
pato. É encontrada em doenças musculares e traduz
uma diminuição da força dos músculos pélvicos e das
coxas. O paciente utiliza-se dos quadrados lombares
para movimentar o quadril.

Marcha de Trendelemburg: Inclinação contralateral do


tronco para abduzir o quadril do lado afetado. Indica
lesão do músculo glúteo médio. Figura 8 – Alguns tipos de marcha patológica

Marcha Parkinsoniana: Paciente anda como um bloco 3. Avaliação Cutânea:


enrijecido, sem o movimento automático dos braços. A
cabeça permanece inclinada para frente e os passos  Pele:
são curtos e rápidos, dando a impressão de que o
paciente “corre atrás de seu centro de gravidade” e Ao avaliarmos a pele do paciente, temos que ter
que vai cair para frente. Ocorre nos portadores de em mente os seguintes elementos a serem
doença de Parkinson. pesquisados:
o Coloração;
Marcha de Pequenos Passos: Caracterizada pelo fato o Umidade (seca; úmida; sudorenta);
de o paciente dar passos muito curtos e, ao caminhar, o Textura (lisa; normal; áspera; enrugada);
arrastar os pés como se estivesse dançando o Espessura (atrófica ou fina; normal; hipertrófica
“marchinha”. É típica da atrofia cerebral (paralisia ou espessa);
pseudobulbar). o Mobilidade;
o Elasticidade;
Marcha Claudicante: Paciente manca para um dos o Turgor;
lados. Ocorre na insuficiência arterial periférica e em o Temperatura;
lesões do aparelho locomotor. o Sensibilidade (dolorosa; tátil; térmica);
o Fotossensibilidade e fotodermatoses;
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o Continuidade ou integridade; insuficiência cardíaca congestiva grave, em que


o Lesões elementares. se encontra congestão pulmonar, diminuindo a
oxigenação do sangue, e estase venosa
Coloração: periférica com perda exagerada de oxigênio.
o Palidez generalizada: Traduz diminuição das Causas: insuficiência cardíaca congestiva grave.
hemácias circulantes nas microcirculações
cutânea e subcutânea, podendo ser decorrente Obs.: A cianose ainda pode ser devida a uma alteração
de mecanismos neurohormonais de bioquímica da hemoglobina, que pode impedir ou
vasoconstrição generalizada, de anemias, dificultar a fixação de oxigênio pelo pigmento (anemia
hipovolemia, ou por insuficiência cardíaca grave. falciforme).
o Palidez localizada ou segmentar: causada
principalmente pela isquemia por obstrução ou IMPORTANTE: A oxigenoterapia é eficaz em casos de
estenose de um vaso responsável por irrigar cianose central, melhora casos de cianose mista, mas
determinada área. Sempre comparar regiões é ineficaz no tratamento da cianose periférica.
homólogas.
o Vermelhidão (eritrose) generalizada: Indica o Icterícia: Pigmentação amarelada ou amarelo-
aumento da quantidade de sangue na rede esverdeada da pele, decorrente da deposição de
vascular cutânea, podendo ser decorrente de bilirrubina causada por seu acúmulo sanguíneo.
uma vasodilatação ou do aumento no número Para um quadro ser caracterizado como ictérico,
de hemácias. Ocorre em pacientes febris, deve-se constatar icterícia também em mucosas,
insolação, estados policitêmicos e em infecções pois certas drogas e o consumo excessivo de
generalizadas de pele. carotenos podem amarelar a pele sem, no
o Vermelhidão localizada ou segmentar: Causada entanto, amarelar as mucosas.
por vasodilatação local, geralmente associada a Causas: hepatites; obstrução de vias biliares
processos inflamatórios. (tumor de cabeça de pâncreas); doenças
o Cianose: Coloração azulada da pele, que se hemolíticas (eritroblastose fetal).
manifesta quando a hemoglobina reduzida o Albinismo: Coloração branco-leitosa decorrente
alcança valores superiores a 5 g/100 mL de de deficiência na produção de melanina.
sangue. Deve ser procurada ao redor dos lábios, o Bronzeamento: Na maioria das vezes é artificial,
na ponta do nariz, nos lobos das orelhas e por exposição aos raios solares, mas pode ser
extremidades de pés e mãos. Em caso de natural como na doença de Addison e na
cianose muito intensa, todo o tegumento hemocromatose, por distúrbios endócrinos que
cutâneo assume coloração azulada. Avalia-se alteram o metabolismo da melanina.
quantitativamente em: leve, moderada e o Fenômeno de Raynaud: Mudanças na coloração
intensa. cutânea que evolui de uma palidez local para
- Cianose generalizada: distribuída por todo o uma cianose e termina com uma hiperemia
corpo. Uma cianose detectada em todas as reativa.
regiões mais sensíveis já é considerada uma Causas: colagenoses (lúpus eritematoso,
cianose generalizada. esclerodermia); tromboangeíte obliterante;
- Cianose localizada: detectada apenas em síndrome do desfiladeiro cérvico-axilar (costela
determinado segmento corporal. Causada por cervical).
obstrução venosa local.
Mobilidade: Capacidade da pele mover-se sobre os
FISIOPATOLOGIA DA CIANOSE: tecidos subjacentes. Para a avaliação, pousa-se
o Cianose central: Ocorre por insaturação arterial firmemente a palma sobre a superfície que se quer
excessiva, mantido um consumo normal de examinar e movimenta-se a mão para todos os lados,
oxigênio. observando a capacidade da pele deslizar sobre as
Causas: diminuição no teor de oxigênio estruturas subjacentes.
inspirado (ar rarefeito); hipoventilação o Diminuída: Pode ser causada por processos
pulmonar; fístula arteriovenosa. cicatriciais; elefantíase; infiltrações neoplásicas
o Cianose periférica: Perda exagerada de próximas a pele (ex.: câncer de mama);
oxigênio ao nível da rede capilar. esclerodermia.
Causas: estase venosa ou vasoconstrição da o Aumentada: Síndrome de Ehlers-Danlos; idosos.
microcirculação.
o Cianose mista: Associação de mecanismos Elasticidade: Capacidade da pele distender-se quando
centrais e periféricos da cianose. Observada na tracionada. Para a avaliação, pinça-se uma prega
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cutânea com o polegar e o indicador, fazendo a seguir consistência variável. Apresenta diâmetro maior
certa tração, ao fim da qual se solta a pele. Avalia-se a que 0,5 cm.
elasticidade da pele à tração. Causas: furúnculo; eritema nodoso; hanseníase;
o Hipoelasticidade: Pode ser causada por uma cistos; neoplasias; sífilis; cisticercose.
desnutrição e/ou desidratação. o Tubérculo: Elevação sólida circunscrita de
o Hiperelasticidade: Síndrome de Ehlers-Danlos. diâmetro maior que 0,5 cm. Localizado na
derme. Pode apresentar consistência mole ou
Turgor: Capacidade da pele de reassumir sua forma e dura. A pele circunjacente pode ter coloração
posição após ser tracionada em prega. Para a normal ou pode estar eritematosa, acastanhada
avaliação, pinça-se uma prega da pele com o tecido ou amarelada.
subcutâneo e, a seguir, larga-se a prega. Normalmente, Causas: sífilis; tuberculose; hanseníase;
a prega se desfaz rapidamente. Uma prega que se esporotricose; sarcoidose; neoplasias.
desfaz lentamente traduz turgor diminuído, indicando o Placa: Lesão superficial elevada com 1 cm ou
desidratação. mais, frequentemente formada pela
coalescência de pápulas.
Lesões elementares: Denominam-se lesões o Vergão: Área superficial, ligeiramente irregular e
elementares modificações do tegumento cutâneo relativamente transitória de edema cutâneo
determinadas por processos inflamatórios, localizado.
degenerativos, circulatórios, neoplásicos, por Causas: picada de mosquito; urticária.
distúrbios do metabolismo ou por defeito de
formação. Segue abaixo uma lista das principais lesões
elementares da pele.

a. Lesões elementares caracterizadas por


modificações da pele, sem relevo ou espessamento
(vide fig. 9):

Figura 10 – Lesões elementares sólidas

c. Lesões elementares de conteúdo líquido (vide fig.


11):

Figura 9 – Lesões elementares sem relevo ou espessamento

o Mácula: Área de coloração distinta da região


que a circunda, de diâmetro menor que 1 cm.
o Mancha: Área de coloração distinta da região
que a circunda, de diâmetro maior que 1 cm.

b. Lesões elementares sólidas (vide fig. 10):


o Pápula: Elevação sólida da pele, de pequeno
Figura 11 – Lesões elementares de conteúdo líquido
tamanho (até 1,0 cm de diâmetro), superficial,
bem delimitada, com bordas bem definidas.
Vesícula: Elevação circunscrita da pele que contém
Causas: picada de inseto; leishmaniose;
líquido seroso em seu interior. Não ultrapassa 1,0 cm
blastomicose; verruga; acne; hanseníase.
de diâmetro.
o Nódulo: Elevação sólida de localização mais
Causas: varicela; herpes simples; herpes zoster;
profunda que a pápula, limites imprecisos e
queimaduras.

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Bolha: Elevação da pele contendo líquido seroso em Atrofia: Adelgaçamento da pele com perda de seus
seu interior. Diferencia-se da vesícula pelo tamanho, sulcos normais, apresentando aspecto mais brilhante e
sendo maior que 1,0 cm de diâmetro. transparente do que o normal.
Causas: queimaduras; pênfigos; piodermites; alergias Causas: insuficiência arterial; estrias.
medicamentosas.
Esclerose: aumento da consistência da pele, que se
Pústula: Elevação da pele que contém líquido torna mais firme, aderente aos planos profundos e
purulento. difícil de ser pregueada com os dedos.
Causas: acne; impetigo; varicela; herpes zoster; Causas: esclerodermia.
queimaduras; piodermites.

Abscesso: Coleção purulenta, mais ou menos


proeminente e circunscrita, de proporções variáveis,
flutuantes, de localização dermo-hipodérmica ou
subcutânea. Quando acompanhado de sinais
inflamatórios é conhecido como abscesso quente,
enquanto na ausência de sinais é conhecido como
abscesso frio.
Causas: furunculose; hidradenite; blastomicose;
abscesso tuberculoso.

d. Lesões Secundárias (decorrentes de alterações nas


lesões elementares) (vide figs. 12 e 13): Figura 13 – Lesões secundárias 2

Escama: Fina lasca de epiderme esfoliada, que se


desprende da superfície cutânea.
Causas: caspa; pele seca; pitiríase versicolor; psoríase;
queimaduras por raios solares.

Crosta: Formação proveniente do ressecamento de


secreção serosa, sanguínea, purulenta ou mista que
recobre uma área cutânea previamente lesada.
Causas: cicatrização; eczemas; impetigo; psoríase.

e. Lesões Vasculares (vide fig. 14):


Figura 12 – Lesões Secundárias 1

Erosão: Perda da epiderme, sem praticamente perda


da derme. A superfície é úmida, mas não sangra.
Causas: ruptura de vesículas, bolhas e pústulas.

Úlcera: Perda mais profunda da epiderme e derme.


Pode sangrar e constituir cicatriz.
Causas: úlcera de estase da insuficiência venosa;
cancro sifilítico (cancro duro); cancro mole; lesões
malignas de pele.
Figura 14 – Lesões Vasculares e outras
Fissura: Fenda linear na superfície da pele, não
determinada por qualquer instrumento cortante.
Eritema: Mancha de cor rósea ou vermelho-viva
Causas: pé-de-atleta.
decorrente de vasodilatação. Desaparece com a
digitopressão local.
Escoriação: Abrasão ou marca de arranhadura. Pode
Causas: doenças exantemáticas (sarampo, varicela,
ser linear ou arredondada, como na picada de um
rubéola); escarlatina; sífilis; febre reumática;
inseto coçada pelo paciente.
septicemias; alergias cutâneas.
Causas: traumática; secundária a picada de insetos.
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o Umidade (seca, úmida);


Telangiectasia: Dilatação da microcirculação. o Lesões elementares.
Desaparece com a pressão local. As telangiectasias
venocapilares estão presentes nas pernas e coxas de Principais alterações de mucosa:
pessoas do sexo feminino e denominam-se varículas o Mucosas hipocoradas: Diminuição ou perda da
ou microvarizes. Podem ser vistas, também, no tórax cor róseo-avermelhada. Avalia-se
de pessoas idosas. As aranhas vasculares são um tipo quantitativamente usando-se uma escala de
particular de telangiectasia, localizada em face, cruzes, graduando-se de uma a quatro cruzes.
pescoço, parte superior do tronco. São mais sensíveis que a pele.
Causas: Anemias.
Petéquia: Mancha hemorrágica puntiforme (de 1 a 3 o Mucosas hipercoradas: Acentuação da
mm) e de pequeno tamanho. coloração róseo-avermelhada, podendo assumir
Causas: êmbolos cutâneos; distúrbios hemorrágicos; coloração vermelho-arroxeada.
traumatismos. Causas: Inflamações mucosas; policitemias.
o Cianose: Coloração azulada das mucosas,
Púrpura: Mancha hemorrágica de maior tamanho que significando cianose central. As mucosas são
as petéquias. mais sensíveis à cianose do que a pele.
Causas: distúrbios hemorrágicos; traumatismos. o Icterícia: Coloração amarelada ou amarelo-
esverdeada, resultante de impregnação por
Víbice: Mancha hemorrágica que assume forma linear. bilirrubina. Os locais mais sensíveis para sua
Causas: distúrbios hemorrágicos; traumatismos. avaliação são: mucosa conjuntival, esclerótica e
frênulo da língua.
Equimose: Mancha hemorrágica de grande tamanho, Causas: hepatites; obstrução de vias biliares
coloração azulada, evoluindo para verde, amarelo e (tumor de cabeça de pâncreas); doenças
castanho com o tempo. hemolíticas (eritroblastose fetal).
Causas: distúrbios hemorrágicos; traumatismos.
CUIDADO: Pacientes afrodescendentes apresentam
Hematoma: Equimose que apresenta elevação da pele esclera naturalmente amarelada, tornando-se mais
por acúmulo de sangue. difícil avaliar a presença de icterícia.
 Fâneros:
f. Lesões Diversas (vide fig. 14):
Cabelos: Devem ser analisados quanto às seguintes
Cicatriz: É a reposição de tecido destruído pela características:
proliferação do tecido fibroso subjacente. o Tipo de implantação: Varia de acordo com o
Causas: traumatismos; qualquer lesão cutânea que sexo. Na mulher, a implantação é mais baixa,
evolua para a cura. enquanto nos homens a implantação é mais alta
e apresenta entradas laterais. Distúrbios
Quelóide: Formação fibrosa, saliente, de consistência endócrinos masculinos (hipogonadismo) podem
firme, róseo-avermelhada, bordas nítidas, implicar em implantação feminóide dos cabelos.
frequentemente com ramificações curtas. Distúrbios endócrinos femininos (hiperprodução
Causas: espontânea; secundária a qualquer agressão à de androgênios) podem determinar implantação
pele. masculina dos cabelos.
o Distribuição (uniforme; alopécia; calvície parcial
Liquenificação: Espessamento da pele com acentuação ou total);
de estrias, resultando em um quadriculado em rede - Causas de alopécia: tíneas (micoses);
como se a pele estivesse sendo vista através de uma hipoparatireoidismo; sífilis secundária;
lupa. dermatopatias do couro cabeludo; alopécia
Causas: eczemas liquenificados; prurido intenso. psíquica; queimaduras; mixedema; estados
carenciais; esclerodermia; lúpus eritematoso;
 Mucosas: alopécia medicamentosa;
o Quantidade (atentar para a queda de cabelo);
As mucosas facilmente examináveis a olho nu e o Coloração (atentar para a mudança para uma
sem auxílio de qualquer aparelho são as mucosas coloração alaranjada, indicativa de deficiência
conjuntivais e as mucosas labiobucal, lingual e protéica);
gengival. Deve-se analisar os seguintes parâmetros: o Outras características (brilho, espessura e
o Coloração; consistência):
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- Cabelos secos e quebradiços: Presentes no crônica, leucemia mielocítica crônica, mixedema,


hipotireoidismo e na deficiência de vitamina A; hiperparatireoidismo).
- Cabelos finos, lisos e brilhantes: Presentes no o Linhas de Beau (fig. 16): Sulcos transversais ou
hipertireoidismo. depressões paralelas às lúnulas. Representam
um período de parada temporária no
Pêlos: Analisa-se a distribuição dos pêlos, atentando-se crescimento da unha ocasionado por traumas
para anormalidades. metabólicos.
o Hirsutismo: Excesso de crescimento de pêlos Causas: infecções (febre reumática, malária,
dependente de androgênios. AIDS); distúrbios nutricionais (desnutrição,
o Hipertricose: Excesso de crescimento de pêlos pelagra); estados dismetabólicos (diabetes,
independente de androgênios, geralmente por hipertireoidismo, hipocalcemia); doenças do
fatores genéticos. aparelho digestivo (diarréia, pancreatite
crônica); uso de medicamentos
Unhas: (quimioterápicos); etilismo crônico.
o Forma: Podem ser detectadas alterações em Obs.: Sabendo que a unha cresce 0,1 mm/dia
estados carenciais, onicomicose, psoríase; podemos estimar o tempo deste trauma,
o Implantação; medindo a distância entre a linha e a prega
o Espessura; ungueal (ex.: 4 mm = 40 dias).
o Superfície; o Linhas de Mee: linhas claras, paralelas à lúnula.
o Consistência; Causas: hipoalbuminemia; doença de Hodgkin;
o Brilho; intoxicações por tálio e arsênico; febres altas;
o Coloração (palidez, cianose). desnutrição grave.
o Linhas de Muehrcke: linhas pareadas,
esbranquiçadas e transversais.
Causas: hipoalbuminemia.
o Unha de Lindsay (fig. 17): Porção proximal do
leito ungueal esbranquiçado, e porção distal
róseo-avermelhada, comumente meio a meio.
Causas: insuficiência renal crônica.
o Unha de Terry (fig. 18): Leitos ungueais
esbranquiçados (alargamento da lúnula) até 1 a
2 mm da borda distal, que é rósea.
Causas: cirrose hepática; diabetes;
hipoalbuminemia; insuficiência cardíaca.
o Unhas em colher (Coiloníquia) (fig. 19): Unha de
superfície côncava.
Causas: estados carenciais (ferro);
Figura 15 – Principais anormalidades ungueais coronariopatias; sífilis; contato com sabões e
detergentes fortes.
Principais anormalidades ungueais (vide fig. 15): o Unha de Plummer (Onicólise): Unha
o Baqueteamento digital (hipocratismo digital): parcialmente descolada do leito ungueal.
aumento da porção distal do dedo (em forma de Causas: hipertireoidismo; traumatismos;
baqueta de tambor) e que se acompanha do infecções fúngicas; psoríase; eczemas.
aumento do ângulo formado entre a prega o Unha distrófica: Unha de formato irregular,
proximal da unha e seu platô (ângulo de rugosa e espessada.
Lovibond > 160º). A unha convexa característica Causas: traumatismos repetidos; portadores de
é conhecida como “unha em vidro de relógio”. isquemia crônica de membros inferiores.
Causas: cardiopatias cianóticas congênitas ou o Unha em casca de ovo: Unha plana, translúcida,
adquiridas (endocardites, cor pulmonale, fístula frágil e quebradiça.
arteriovenosas); pneumopatias (bronquiectasias, Causas: traumatismo; deficiência vitamínica;
abscessos pulmonares ou empiemas pleurais); desnutrição; sífilis.
enteropatias e hepatopatias (doença o Paroníquia: Infecções periungueais, observadas
inflamatória intestinal, cirrose hepática, em jardineiros, dentistas e outros trabalhadores
abscessos hepáticos, amiloidose); intoxicações manuais.
(arsênico, fósforo, álcool, sílica ou berílio); Causas: Monilíase ungueal.
familiar; outras (siringomielia, pielonefrite
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o Leuconíquia: manchas ou estrias ungueais


esbranquiçadas.
Causas: traumas locais; cirrose hepática.
o Psoríase: Unhas apresentam pequenas
depressões, espessamento, onicólise e uma
coloração amarelada circunscrita, conhecida
como lesão “em mancha de óleo”.

Figura 19 – Unha em colher (Coiloníquia)

 Enchimento Capilar:

SEMIOTÉCNICA:
Pressiona-se o polegar contra a região a ser avaliada
durante alguns segundos, retira-se o dedo
rapidamente e observa-se o local comprimido. Em
condições normais, o tempo necessário para a
recuperação da coloração é de menos de 1 segundo.
Em casos de hipotensão e choque, a volta à coloração
normal é nitidamente mais lenta.

Figura 16 – Linhas de Beau  Circulação Colateral:

Circulação Colateral: Presença de circuito venoso


anormal visível ao exame da pele, indicando
dificuldade ou impedimento do fluxo venoso através
dos troncos venosos principais (Veia Cava Inferior, Veia
Cava Superior, Tronco Braquiocefálico, Veias Ilíacas
Comuns). Por causa dessa dificuldade, o sangue se
desvia para as colaterais de maneira compensatória.
Avalia-se:
o Localização;
o Direção do fluxo sanguíneo;
o Presença de frêmito (palpação) e/ou sopro
(ausculta).

SEMIOTÉCNICA:
Avaliação da direção do fluxo sanguíneo: Comprime-
Figura 17 – Unhas de Lindsay se com as polpas digitais dos dois indicadores,
colocados rentes um ao outro, determinado segmento
da veia. Afasta-se as polpas digitais (por 5-10 mm),
mantendo a pressão que impede a passagem de
sangue, garantindo que o segmento venoso esteja
completamente vazio. Retira-se um dedo de uma
extremidade, mantendo-se o outro na outra
extremidade, e observa-se se houve enchimento do
vaso. Caso ocorra o enchimento, o fluxo vem da
direção do dedo retirado, caso contrário, vem no
sentido oposto. Repete-se a manobra retirando-se o
Figura 18 – Unhas de Terry outro dedo para confirmar o resultado.

Principais tipos de circulação colateral:


o Obstrução de VCS: Circulação colateral se
desenvolve na metade superior do tórax. O fluxo
sanguíneo segue em direção tóraco-abdominal

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ECM SEMIOLOGIA MÉDICA: GERAL

para encher tributárias da VCI, e chegar ao acompanharam de repetidos surtos


coração por meio desta. inflamatórios. Ex.: elefantíase.
o Obstrução de Veia Porta: Circulação colateral se
desenvolve nas regiões periumbilical, epigástrica Elasticidade: Capacidade de a pele retornar a sua
e face anterior do tórax. Fluxo sanguíneo forma original após compressão do edema.
centrífugo a partir do umbigo, enchendo o Edema elástico (sem cacifo): fóvea perdura por
tributárias da VCS no tórax e tributárias da VCI pouco tempo.
no abdome (circulação “em cabeça de medusa”). o Edema inelástico (com cacifo): fóvea perdura
o Obstrução de VCI: Circulação colateral se por muito tempo (Sinal de Godet).
desenvolve na parte inferior do abdome, região
umbilical, flancos e face anterior do tórax. O FISIOPATOLOGIA DO EDEMA:
fluxo sanguíneo periumbilical é centrípeto (em
direção ao umbigo), enchendo as tributárias da
veia porta. O fluxo também ascende enchendo
as tributárias da VCS no tórax.

 Edema:

Edema: Excesso de líquido acumulado no espaço


intersticial ou no interior das próprias células. Avalia-
se:
o Localização e distribuição (localizado ou
generalizado);
o Intensidade (em cruzes - +, ++, +++ ou ++++);
o Consistência;
o Elasticidade;
o Temperatura da pele circunjacente: é quente no
edema inflamatório, é fria quando a irrigação
sanguínea está comprometida, e é normal nos
demais casos;
o Sensibilidade da pele circunjacente; Principais Causas de Edema:
o Outras alterações da pele circunjacente (palidez, o Retenção de Sódio e Água: Edema de Retenção
vermelhidão, cianose, textura, espessura). Renal (Síndrome Nefrítica; Pielonefrite;
Insuficiência Cardíaca);
SEMIOTÉCNICA: o  Permeabilidade Capilar: Edema Inflamatório e
Avaliação da Intensidade do Edema: Comprime-se de Alérgico (Edema de Quincke);
maneira firme e sustentada o edema, utilizando-se a o  Pressão Oncótica: Edema Carencial; Edema da
polpa digital do polegar ou indicador, contra uma Cirrose Hepática; Edema da Síndrome Nefrótica;
estrutura rígida profunda (ossos). Retira-se o dedo do o  Pressão Hidrostática: Edema de Estase
local comprimido e avalia-se a intensidade do edema (Insuficiência Cardíaca; Edema da Hipertensão
pela profundidade da fóvea (depressão). Utiliza-se uma Porta; Edema Pulmonar (Hipertensão
graduação de uma a quatro cruzes. Pulmonar);
o Obstrução dos Linfáticos: Edema Linfático
Obs.: Pode-se também avaliar a intensidade do edema (Linfedema);
medindo-se diariamente o peso do paciente, o que o Mixedema: Forma particular de edema
indica uma retenção ou eliminação de água, ou caracterizada pela deposição de
medindo-se o perímetro da região edemaciada. mucopolissacarídeos no interstício, levando a
uma retenção de água por estes. Localiza-se
Consistência: Grau de resistência encontrado ao se principalmente na face, região periorbital, mãos
comprimir a região edemaciada. e membros inferiores. Surge no hipotireoidismo.
o Edema mole: facilmente deprimível, significando ATENÇÃO: Não confundir o mixedema do
retenção hídrica de duração recente com hipotireoidismo com o “mixedema pré-tibial”, sendo
infiltrado de água em tecido celular subcutâneo. este típico do hipertireoidismo (doença de Basedow-
o Edema duro: maior resistência à depressão, Graves).
significando deposição fibroelástica que ocorre
nos edemas de longa duração ou que se
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