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XIII ERIAC

DÉCIMO TERCER ENCUENTRO


REGIONAL IBEROAMERICANO DE CIGRÉ
Puerto Iguazú 24 al 28 de mayo de 2009 XIII/PI-C4 -30
Argentina

Comité de Estudio C4 - Desempeño Técnico del Sistema

METODOLOGIA E CRITÉRIOS PARA ESTUDOS DE ENERGIZAÇÃO DE


TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA: EXPERIÊNCIA DA CHESF

J.M.S.C. COSTA * A.R.F. FREIRE S.A. BARROS

A.C.S.L.GUIMARÃES L.M. CASADO R.F. SILVA

Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf


Brasil

Resumo – A entrada em operação de novos transformadores no sistema de transmissão da Chesf é


precedida de estudos pré-operacionais que incluem análises de regime permanente e de transitórios
eletromagnéticos além de estudos de curto-circuito. Esses estudos definem ou revisam os procedimentos
operativos nas manobras de energização e desenergização de transformadores durante os processos de
recomposição geral e parcial da subestação ou de liberação/normalização de equipamentos, verificam as
condições de operação destes quanto à superação de suas capacidades nominais e geram subsídios para a
definição de ajustes das proteções. Os modelos computacionais, procedimentos e diretrizes operativas são
verificados ou validados através de acompanhamento em campo da manobra de energização.
Este trabalho se propõe a apresentar, metodologia, modelos e critérios usados nos estudos pré-operacionais
de energização de transformadores de potência realizados pela Operação da Chesf, incluindo a análise de
resultados encontrados e fenômenos detectados a partir de registros de campo, e as soluções adotadas.

Palavras chave: Transformadores de Potência – Energização – Metodologia de Estudo – Transitórios


Eletromagnéticos – Regime Permanente – Curto-circuito – Simulação – Registros de Campo.

1 INTRODUÇÃO
A Operação da Chesf vem realizando e aperfeiçoando seus estudos pré-operacionais de regime permanente e
transitórios eletromagnéticos de energização de transformadores de potência, objetivando gerar medidas
preventivas e recomendações operativas que buscam diminuir as solicitações impostas aos equipamentos
devido às manobras de energização, como também dar subsídios para a definição de ajustes de proteções
visando minimizar os riscos de desligamentos indesejados durante as manobras. Também são realizados
estudos de curto-circuito que enfocam a possibilidade de superação dos demais equipamentos em operação .
Além disso, são realizados estudos para avaliar os impactos dos novos acessantes ou outras transmissoras,
gerando requisitos que são apresentados aos agentes envolvidos durante o pré-operacional.
A partir dos resultados e das análises dos estudos realizados, são definidas as diretrizes ou procedimentos
operativos que são enviados para as áreas de normatização e proteção da Chesf, como também para o ONS,
visando à elaboração ou revisão das instruções de operação das instalações.
Os estudos pré-operacionais dos novos transformadores do sistema Chesf têm sido validados através de
registros em campo das tensões primárias e secundárias e das correntes dos transformadores durante sua
energização, como também a de outros transformadores em operação conectados ao mesmo barramento,
sendo verificada a interação simpática entre transformadores. Além da “energização assistida”, a Operação
da Chesf vem analisando através de registros feitos pelo seu sistema de oscilografia, presente na maioria de

* Rua Delmiro Gouveia, 333, Sala A312, CEP 50761-901, Recife-PE, Brasil - jmirses@chesf.gov.br
suas subestações, fenômenos relacionados às manobras de seus transformadores em operação, o que tem
gerado a oportunidade de se verificar os estudos e modelos utilizados.
Este trabalho se propõe a apresentar o estado atual do processo de estudos elétricos de energização de
transformadores de potência, realizados pela área de operação da Chesf, que é resultado da melhoria contínua
dos estudos pré-operacionais de regime permanente e de transitórios eletromagnéticos, incluindo os
procedimentos, metodologia, grandezas monitoradas e critérios adotados nos estudos. Além disso, são
também apresentados alguns resultados encontrados e fenômenos detectados a partir de registros de campo e
as soluções adotadas.

2 ESTUDOS DE TRANSITÓRIOS ELETROMAGNÉTICOS


As manobras de energização de transformadores de potência podem gerar sobretensões e sobrecorrentes
transitórias elevadas no sistema. A amplitude e o amortecimento dessas grandezas dependem das
características não lineares do núcleo, do tipo de ligação dos enrolamentos dos transformadores, da
configuração e das características do sistema de transmissão e, também, dos instantes de fechamento dos
pólos do disjuntor em relação à onda de tensão. A presença de outros componentes não lineares nos
barramentos do transformador manobrado pode gerar ferrorressonâncias que desencadeiam elevadas
sobretensões sustentadas nestes barramentos. Estes fenômenos podem ser suficientes para comprometer a
suportabilidade do equipamento energizado, como também, a dos equipamentos em operação nesta e nas
subestações vizinhas e ainda levar à atuação das proteções associadas aos mesmos, comprometendo o
desempenho do sistema.
2.1 Objetivo
Nos estudos de transitórios eletromagnéticos são verificados os impactos da manobra de energização de
transformadores em vazio, no próprio transformador e nos demais equipamentos e instalações afetados pela
manobra. A fim de evitar atuações indesejadas da proteção, subsidiam a definição de ajustes dos relés
associados, geram recomendações operativas que evitem a superação da suportabilidade dos equipamentos
envolvidos, definindo limites de tensão pré-manobra, seqüência de energização dos transformadores em
recomposição, carga mínima a ser mantida nos transformadores em paralelo e demais medidas necessárias.
A investigação do fenômeno de ferrorressonância foi incluída nos estudos de transitórios eletromagnéticos a
partir de análises de registros de elevadas sobretensões no lado de 69kV de transformadores energizados em
vazio, obtidos através dos Registradores Digitais de Perturbação (RDP) existentes nas instalações da Chesf.
Através de simulações de transitórios eletromagnéticos foi verificado que, durante as manobras de
energização pelo lado de alta tensão, de transformadores de 230/69kV, ligados em estrela aterrada/delta, o
enrolamento de 69kV opera momentaneamente sem referência para terra e, a depender de algumas
características da instalação e do transformador de potencial indutivo (TPI) instalado neste ponto de conexão,
os estudos mostram que existe um elevado risco de ocorrer ferrorressonância por instabilidade de neutro, que
gera sobretensões fase-terra sustentadas e tensões 3V0 no enrolamento em delta do transformado energizado.
O fenômeno perdura até o fechamento do disjuntor do lado delta do transformador, devido à presença de
reatores de aterramento no barramento de 69kV da subestação, que são usados para dar referência à terra.
Esta investigação é estendida para os autotransformadores com enrolamentos de 13,8kV em delta com TPI
conectado a este enrolamento [1].
2.2 Procedimentos
A ferramenta computacional utilizada para os estudos de transitórios eletromagnéticos é o programa ATP
[4]. São realizados estudos estatísticos, nos quais o disjuntor do lado de alta tensão do transformador
energizado é submetido a 200 manobras, com um tempo de simulação de 1s. Destes resultados, são extraídos
os tempos de fechamento do disjuntor que geram as mais elevadas tensões, correntes de fase e correntes de
neutro nos equipamentos monitorados.
Nos estudos determinísticos, através da reprodução dos instantes de fechamento do disjuntor que maximizam
as grandezas de interesse, são obtidas as formas de onda que possibilitam analisar o comportamento das
grandezas ao longo do tempo.
As simulações são realizadas com o sistema em condição normal de operação em carga mínima, e também
com o sistema em recomposição geral. Em ambos os casos, a subestação (SE) do transformador manobrado é
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representada em recomposição de forma a se avaliar a seqüência de energização dos transformadores e a
definição da necessidade de tomada prévia de carga nos transformadores em operação conectados ao mesmo
barramento daquele manobrado.
A tensão pré-manobra toma como base a máxima tensão operativa, caso o sistema esteja em condição normal
de operação, ou a tensão máxima suportável pelos equipamentos em vazio, se o sistema estiver em
recomposição [3].
O sistema elétrico brasileiro é representado no ATP de forma equivalentada. As barras de fronteira são
escolhidas pelo menos a duas barras de distância da barra em que será realizada a manobra. A experiência
tem mostrado que em alguns casos específicos o afastamento de duas barras não é suficiente para representar
com fidelidade as grandezas de interesse. Para verificação do nível de representação da rede na freqüência
fundamental, é feita uma comparação das correntes de curto-circuito monofásico e trifásico obtidas no ATP
na barra da manobra com aquelas obtidas no programa de cálculo de curto-circuito, onde todo o sistema
elétrico brasileiro está representado. É verificado ainda, se a rede equivalentada reproduz o Z(ω) da barra do
transformador energizado.
Um caso de regime permanente é ajustado no ATP, no qual são fixadas as tensões, os tapes dos
transformadores, carga e geração, de acordo com as condições pré-manobra desejadas.
Para a investigação da ocorrência de ferrorressonância são representadas nos transformadores e
autotransformadores com enrolamento em delta com TPI instalado neste ponto, as capacitâncias deste
enrolamento para a terra e a capacitância equivalente dos equipamentos associados a esta conexão de
transformador (CT) como também é representado o respectivo TPI. Foi desenvolvida uma rotina em
TACS/ATP, que identifica o aparecimento da ferrorressonância.
2.3 Modelagem do sistema
De uma maneira geral, os equipamentos são modelados a partir dos modelos disponibilizados no ATP [4] e
em alguns casos têm se desenvolvido modelos específicos com os sistemas de controle e proteção
implementados através das subrotinas TACS ou MODELS, disponíveis no ATP.
As linhas de transmissão são representadas a parâmetros distribuídos sem variação com a freqüência. As
linhas curtas são representadas a parâmetros concentrados, modelo PI, quando da incompatilibidade com o
passo de cálculo definido para o estudo. O modelo considera os circuitos completamente transpostos sem os
acoplamentos mútuos. Quando necessário são utilizados modelos com representação do ciclo de transposição
real e com variação dos parâmetros com a freqüência.
Os transformadores e autotransformadores são representados respeitando a ligação de cada enrolamento e
estes últimos são modelados com a representação dos enrolamentos série e comum [6]. Em ambos os casos,
estes equipamentos são modelados como bancos monofásicos, com curva de saturação, perdas no ferro e
impedâncias determinadas nos ensaios e, na ausência destes, são usados dados de projeto fornecidos pelo
fabricante. O tape do transformador energizado é mantido em 1pu e nos demais transformadores a relação de
transformação é corrigida pelo tape usado no estudo de regime permanente. Caso os resultados se
apresentem severos, são representados o fluxo residual típico (80% do fluxo máximo) e os pára-raios do
transformador energizado para monitoramento da energia dissipada.
Os pára-raios de ZnO são representados pelo “modelo 92” do ATP e os convencionais através de modelos
específicos.
Os capacitores e reatores shunts são representados por reatâncias calculadas a partir de suas potências e
tensões nominais, ligadas em estrela aterrado, com suas respectivas impedâncias de neutro. No sistema
Chesf, os capacitores de 69kV são ligados em estrela isolada, sendo representados com uma impedância de
neutro infinita.
Os capacitores série são representados por seus modelos detalhados para transitórios eletromagnéticos
quando a manobra pode gerar impactos relevantes nestes equipamentos, caso contrário, são representados
como uma capacitância série. Nos modelos detalhados são representados os varistores, disjuntores de bypass
e os dispositivos de proteção associados.
As cargas são geralmente representadas por resistência e reatância em série, ou série-paralelo, com as fases
ligadas em estrela aterrada, calculadas a partir do fluxo de potência ativa e reativa verificado no estudo de
regime permanente. As cargas são representadas concentradas nas barras de fronteira (transmissora-
concessionária), mas em alguns casos se faz necessário representar o regional para se verificar a influência
do fenômeno em análise sobre este e deste sobre o sistema.

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Os compensadores estáticos são representados por seus modelos completos ou simplificados quando a
manobra pode gerar impactos relevantes nestes equipamentos, caso contrário, são representados como os
elementos de compensação shunt. Nos modelos detalhados para transitórios é representado o sistema de
controle.
Os compensadores síncronos são representados pelo modelo de máquina síncrona do ATP, “modelo 59”,
com representação da resistência de armadura. Quando necessário, são representados os reguladores de
tensão.
Os equivalentes de curto-circuito são representados como fontes ideais, utilizando o “modelo 14” do ATP,
conectadas às barras de fronteira, em série com suas respectivas impedâncias de curto-circuito, de seqüência
positiva e zero, como também as de transferências. As impedâncias são representadas pelo modelo RL
acoplado (51/52/53) do ATP.
Os geradores são representados pelos modelos de máquina desenvolvidos para transitórios eletromagnéticos.
Para os geradores síncronos hidráulicos e térmicos é utilizado o “modelo 59” do ATP. Para os aerogeradores,
a Chesf vem utilizando modelos desenvolvidos em TACS para três tecnologias: máquina síncrona a imã
permanente(GSIP), máquina de indução diretamente conectada (GIG) e máquina de indução duplamente
alimentada (DFIG), onde para os três casos é modelado a máquina, o conjunto mecânico das pás e as malhas
de controle. [5]. Quando necessário, são representados os reguladores de tensão e velocidade.
O disjuntor é representado pelos modelos disponíveis no ATP. Nos casos determinísticos é usada uma chave
de tempo controlado e nos casos estatísticos são usadas chaves estatísticas com distribuição gaussiana e
dispersão máxima entre os pólos correspondente aos valores de ensaios. Nos casos que há superação dos
limites suportáveis, caso o disjuntor possua resistores de pré-inserção, estes são representados [2].
Os Transformadores de instrumento são representados os transformadores de potencial indutivo, os
transformadores de potencial capacitivo e transformadores de corrente. Os enrolamentos de medição e
proteção são modelados respeitando o tipo de ligação e são representadas suas respectivas cargas, conectadas
entre fases ou entre fases e terra. A curva de magnetização e impedâncias são calculadas a partir de dados
fornecidos pelo fabricante.
2.4 Grandezas Monitoradas
São observados os valores máximos das simulações estatísticas e as formas de onda obtidas nos estudos
determinísticos das seguintes grandezas:
• Tensão fase–terra nas barras do transformador energizado e das subestações circunvizinhas,
principalmente nos barramentos que contêm compensação de reativos.
• Correntes de fase e de neutro do transformador manobrado e dos transformadores das subestações
circunvizinhas;
• Correntes no enrolamento ligado em delta dos autotransformadores;
• Correntes nos bancos de capacitores shunts;
• Tensões e correntes nos componentes internos e sinais de controle dos compensadores estáticos;
• Tensões e corrente de armadura dos compensadores síncronos, e os sinais dos reguladores de tensão.
• Tensões e corrente de armadura dos geradores, e os sinais dos respectivos reguladores de tensão e
velocidade.
• Energia nos pára-raios;
• Tensões 3V0 nos enrolamentos em delta do transformador energizado.
• Outras grandezas monitoradas pela proteção, como por exemplo a tensão residual 3V0 e a relação I2/I1.
2.5 Critérios
As sobretensões transitórias máximas admitidas nos barramentos são definidas pelas curvas tensão versus
tempo garantidas pelo fabricante e, na falta dessas informações, o limite será de 1,40pu a partir do décimo
ciclo, a fim de não exceder os limites de suportabilidade dos equipamentos. Estas sobretensões não poderão
gerar disparos dos pará-raios convencionais e, para os pára-raios de ZnO, a energia dissipada durante a
manobra de energização do respectivo transformador não pode exceder o valor especificado pela Chesf.
As sobrecorrentes admitidas são limitadas pelos ajustes das proteções de sobrecorrente instantânea e
temporizada para evitar atuações indesejadas. No que diz respeito à suportabilidade dos equipamentos
quanto às sobrecorrentes observadas, a Chesf está desenvolvendo um critério com base nas normas técnicas e

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especificações dos fabricantes para determinar as sobrecorrentes transitórias máximas que poderão ser
admitidas no transformador energizado, como também nos demais equipamentos afetados pela manobra.
O conteúdo harmônico das correntes transitórias do transformador energizado é analisado para subsidiar o
ajuste da proteção diferencial. É extraído o percentual de segundo harmônico em relação à fundamental
(I2/I1) da máxima corrente de inrush. Está sendo desenvolvida uma rotina a ser implementada nos estudos
estatísticos que informe as correntes de inrush cujo conteúdo de segundo harmônico observado nas 200
energizações possa levar a atuação da proteção diferencial.
As tensões 3V0 resultantes das manobras devem ser inferiores ao ajuste da proteção 59R, que no sistema de
transmissão da Chesf, é normalmente de tempo definido, com temporização típica de 1,3s e amplitude de
0,5pu.
2.6 Resultados Típicos
A título de ilustração, as figuras abaixo mostram resultados de estudos de energização de
autotransformadores (ATR) e transformadores (TR), e comentários pertinentes.
800 1200
[kV] [A]
600
800
400
400
200

0 0

-200
-400
-400
-800
-600

-800 -1200
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0
(f ile tf zd1v .pl4; x-v ar t) v :FZDT1A v :FZDT1B v :FZDT1C (f ile tr_taÇu13_tr3_106.pl4; x-v ar t) c:AC113A-BCAC1A c:AC113B-BCAC1B
c:AC113C-BCAC1C

Fig. 1 - Tensões SE Fortaleza 500kV – energização Fig. 2 - Correntes no BC - 3,6Mvar SE Açu


ATR 600MVA, sistema em recomposição. 13,8kV, energização de TR elevador de uma UTE.
3000 1600
[A] [A]

2000 1200

1000 800

0 400

-1000 0

-2000 -400

-3000 -800
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0
(f ile tr_prd_f _termocabo_m4_ibc_if n.pl4; x-v ar t) c:PRD23A-PR123A (f ile tr_prd_f _termocabo_m4_ibc_if n.pl4; x-v ar t) c:NPR123-
c:PRD23B-PR123B c:PRD23C-PR123C

Fig. 3 - Correntes de fase lado de 230kV TR Fig. 4 - Corrente de neutro lado de 230kV TR
100MVA SE Pirapama, energização do próprio TR 100MVA SE Pirapama, energização do próprio TR
A energização do autotransformador 550/230/13,8kV – 600MVA da SE Fortaleza II, com a Área Norte em
recomposição pelo 500kV totalizando 638 km de linhas de transmissão entre o ponto de manobra e a geração
(fig.1), sem carga nas subestações intermediárias, resultou em sobretensões pouco amortecidas que
superaram a suportabilidade de equipamentos da própria barra e da barra adjacente, sendo necessário limitar
a tensão de pré-manobra em 558kV de maneira a manter as tensões dentro dos limites permitidos.
Devido às correntes resultantes nos bancos de capacitores de 13,8kV da SE Açu, estes equipamentos
precisam ser retirados de operação sempre que houver manobra de energização de transformador(es)
elevador(es) de uma usina térmica vizinha a essa subestação.
As elevadas correntes de irunsh observadas durante a energização de um transformador 230/69kV -
100MVA da SE Pirapama (fig. 4 e fig.5), com o sistema em condição normal e com as térmicas próximas a
essa subestação em operação, levaram à modificação de ajustes das proteções de sobrecorrente.

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3 ESTUDOS DE REGIME PERMANENTE
3.1 Objetivo
Nas simulações de regime permanente são definidas as tensões pré-manobras e faixa de tapes para
excursionamento dos comutadores em carga (LTC). Alem disso são feitos estudos de fluxo de potência para
ajuste do caso de regime no ATP, onde são definidos a posição dos tapes dos transformadores e os fluxos
ativos e reativos das cargas e da geração do sistema a ser representado nos estudos transitórios.
3.2 Procedimentos
Nos estudos de regime permanente as ferramentas computacionais utilizadas são os programas Anarede
(CEPEL) e Powerworld. É feito o fechamento do disjuntor de alta do transformador para verificação das
tensões nos demais enrolamentos e definir a tensão pré-manobra e faixa de LTC. As tensões pós-manobra de
regime permanente devem estar dentro dos limites definidos, respeitando a tensão pré-manobra máxima
determinada nos estudos de transitórios eletromagnéticos. É observada a distribuição dos fluxos entre os
transformadores após o paralelismo como também as variações de tensão nas barras de carga.
As análises são feitas nas quatro condições de carga do sistema (mínima, leve, média e pesada), estando a
subestação em recomposição geral e parcial a partir dos casos base disponibilizados pelo ONS.
3.3 Critérios
A variação máxima admitida na barra de carga após paralelismo do transformador manobrado é de 5%. A
máxima tensão fase-terra admitida nos enrolamentos em vazio do transformador é de 1,1pu da tensão
nominal e a máxima tensão pré-manobra é limitada pelos estudos de transitórios eletromagnéticos. O
carregamento dos transformadores não pode exceder os limites definidos pela Chesf.

4 ESTUDOS DE CURTO-CIRCUITO
4.1 Objetivo
A instalação de um novo transformador provoca a elevação dos níveis de curto-circuito nas barras do sistema
elétrico e modifica a relação entre as impedâncias de seqüência zero e seqüência positiva (X0/X1). Em
alguns casos, a elevação das correntes de curto-circuito poderá exceder a suportabilidade dos equipamentos
de subestação. As alterações na relação X0/X1 podem atingir valores que violam também o critério de
adequabilidade dos reatores de aterramento.
Os estudos de curto-circuito têm o objetivo de detectar possíveis superações e apresentar soluções
provisórias que reduzam os níveis de curto-circuito até a substituição dos equipamentos superados, a fim de
minimizar os riscos associados à integridade física dos mesmos, mantendo a disponibilidade, o desempenho
e a operação das instalações da Chesf de acordo com os padrões estabelecidos.
Nestes estudos também são calculados os equivalentes de curto-circuito que serão usados nos estudos de
transitórios eletromagnéticos.
4.2 Procedimentos
Os estudos de curto-circuito são realizados utilizando o programa Anafas (Cepel), com o caso base do
sistema de transmissão fornecido pelo ONS e ajustado pela área de proteção e regulação da Chesf,
obedecendo as diretrizes e critérios estabelecidos nos Procedimentos de Rede [3].
É verificada a adequabilidade quanto a curto-circuito dos disjuntores, chave seccionadoras, transformadores
de corrente, pára-raios, transformadores de potência e reatores de aterramento.
Das simulações de curto-circuito são obtidos os valores das correntes simétricas de curto-circuito trifásico e
monofásico, referidos para a tensão máxima de operação, como também os fatores de assimetria X/R das
correntes de curto-circuito (X1/R1) para os trifásicos e (2X1+X0)/(2R1+R0) para os monofásicos; a relação
X0/X1 nos barramentos de 69kV e as sobretensões temporárias nas fases sãs, resultantes de curtos-circuitos
fase-terra.

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4.3 Critérios
Quanto a Corrente de Curto-Circuito: Os valores calculados de corrente de curto-circuito monofásico e
trifásico, simétrica e assimétrica, são corrigidos para a tensão máxima de operação (1,05pu) e não devem
exceder os valores nominais ou limites dos equipamentos.
Os principais equipamentos elétricos analisados são os disjuntores, quanto à capacidade de interrupção e
condução da corrente de curto-circuito; considerados os critérios e procedimentos estabelecidos pela norma
de fabricação destes equipamentos; as chaves seccionadoras; os transformadores de corrente e os pára-raios
quanto a suportabilidade na condução em curto-circuito; e os transformadores de potência em relação a
capacidade quanto ao efeito térmico nos enrolamentos terciários de 13,8kV.
Quanto as Sobretensões Temporárias: Os reatores de aterramento, conectados ao barramento de 69kV, são
considerados adequados quando a relação X0/X1 neste ponto estiver compreendida ente 3 e 10. Também é
avaliado o impacto das sobretensões temporárias de freqüência industrial, resultantes de curtos-circuitos
fase-terra, com relação a suportabilidade dos equipamentos de 69kV, levando em conta a duração do curto-
circuito. Adotou-se o limite de 1,40pu, que corresponde à tensão de freqüência industrial suportável por um
tempo de 1,0s, de forma a evitar que a sobretensão nas fases sãs provoque solicitações excessivas sobre o
isolamento dos equipamentos de 69kV, ou riscos elevados de evolução de defeitos monofásicos para
bifásicos / trifásicos.
5 MONITORAÇÃO EM CAMPO
Para realimentar o processo de estudos pré-operacionais, buscando a sua melhoria contínua, é realizada a
“Energização Assistida” do transformador, que consiste no acompanhamento em campo da manobra de
energização, com medições das grandezas de regimes transitório e permanente. Nesta etapa os modelos e
procedimentos são verificados ou validados e são avaliadas, na prática, as diretrizes operativas geradas pelos
estudos.
As figuras 5 e 6 a seguir mostram os resultados de simulação (à esquerda) e registros de campo(à direita),
para dois casos analisados. Observa-se que as grandezas transitórias calculadas apresentam uma boa
concordância com as formas de onda e amplitudes medidas e as eventuais diferenças estão a favor da
segurança e não tem acarretado qualquer recomendação ou restrição operativa adicional, contudo, em alguns
casos, fornecem um indicativo de necessidade de melhorias nos modelos.
SIMULAÇÃO - Corrente de fase 04T2 no lado de 230kV MEDIÇÃO - Corrente de fase 04T2 no lado de 230kV
1000 1000
[A] 750
500 500
250
0 0
-250
-500 -500
-750
-1000
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0
-1000
2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 *10 6 3,4
(file ensaio.pl4; x-var t) c:ICO23A-ICOT2A c:ICO23B-ICOT2B c:ICO23C-ICOT2C (file 2008_06_01_17_18_08.CFG; x-var t) c:IA_230_10 c:IB_230_10 c:IC_230_10
SIMULAÇÃO - Corrente de neutro 04T2 no lado de 230kV MEDIÇÃO 2 - Corrente de neutro 04T2 no lado de 230kV
500 500
[A] [A]

250 250

0 0

-250 -250

-500 -500
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 [s] 1,0 1,9 2,1 2,3 2,5 2,7 [Ms] 2,9
(file ensaio.pl4; x-var t) c:NT2ICO- (file 2008_06_04_00_14_57.CFG; x-var t) c:IN_3I0_100
Fig. 5 - Resultados de simulações e registros de campo, das correntes de fase e de neutro, durante a
energização do transformador 230/69kV – 100MVA da SE Icó pela barra de 230kV desta SE.
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SIMULAÇÃO - Tensão na CT de 69kV 04T1 MEDIÇÃO - Tensão na CT de 69kV 04T1
120 120

*10 3 *10

68 68

16 16

-36
-36

-88
-88

-140
-140 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 *10 6 2,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 (f ile 2008_09_22_16_37_10_PLOTXY .cf g; x-v ar t)
(f ile TESTE2.pl4; x-v ar t) v :BJ_69A v :BJ_69B v :BJ_69C T:(13_A )(VA_69KV )(69KV )(KV )(2008_09_22_16_37_10)(WA
T:(14_B )(VB_69KV )(69KV )(KV )(2008_09_22_16_37_10)(WA
Fig. 6 - Resultados de simulações e registros de campo da sobretensão no enrolamento de 69kV ligado em
delta do transformador 230/69KV-50MVA da SE B. J. da Lapa, devido ferrorressonância, durante
energização, pela barra de 230kV.

6 CONCLUSÕES
A importância da realização de estudos elétricos para a energização de transformadores em vazio é definir
condições seguras para a realização das manobras, de maneira que os limites de suportabilidade dos
equipamentos não sejam violados, subsidiar os ajustes das proteções, com o objetivo de minimizar os riscos
de desligamentos indesejados, e fornecer elementos para os estudos sistêmicos sob a responsabilidade do
ONS. Esses estudos visam garantir, sobretudo, a disponibilidade, integridade e vida útil dos equipamentos
das instalações das empresas de transmissão.
Nos estudos de transitórios eletromagnéticos, regime permanente e curto-circuito para analisar a viabilidade
da energização em vazio de transformadores e autotransformadores de potência, com tensão acima de
138kV, a Operação da Chesf tem observado que os maiores impactos causados por essas manobras são
sobretensões fase-terra, correntes de inrush com baixo amortecimento que chegaram a provocar
desligamento de transformadores ligados ao barramento da manobra, sobretensões sustentadas devidas ao
aparecimento de ferrorressonância na CT de 69kV em delta dos transformadores energizados, elevadas
correntes nos bancos de capacitores shunts e risco de desligamento de compensadores estáticos.
Tem-se observado ainda, que de uma forma geral, os resultados da análise comparativa entre os valores
medidos em campo das grandezas elétricas e aqueles obtidos através de simulação, ratificaram as diretrizes
operativas geradas pelos estudos desenvolvidos, indicando que os modelos dos equipamentos e do sistema
elétrico utilizados nesses estudos apresentam uma resposta satisfatória.

7 REFERÊNCIAS
[1] A.R.F. FREIRE, L.R. LINS e A.J.S CAMPOS, “Ferrorressonância Durante Manobras de Energização
em Vazio do Transformador Abaixador do Compensador Estático da Subestação Funil”, X ERLAC, CE
33, FOZ DO IGUAÇU-PR, Maio de 2003.
[2] A.R.F. FREIRE, S.A. BARROS, S.O. PINTO e L.BARBOSA FILHO, “Estudos de Transitórios
Eletromagnéticos para a Energização de um Autotransformador de 550/230kV – 600 MVA e Influência
do Comportamento Transitório de Compensadores Estáticos e Sistemas de Proteção”, IX ERLAC, 2001.
[3] OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO – ONS, Diretrizes e Critérios para Estudos
Elétricos, Submódulo 23.3, Set. 2007.
[4] LEUVEN EMTP CENTER, “ATP – Alternative Transients Program – Rule Book”, Herverlee,
Belgium, July 1987.
[5] A.C.S.L. GUIMARÃES, A.R.F. FREIRE, J.M.S.C.COSTA, R.K.D.M.MEDEIROS,S.A.BARROS.
“Análise da Entrada em Operação de uma Usina Eólica no Nordeste, Utilizando Modelo de Transitórios
Eletromagnéticos no ATP”, XIX SNPTEE, G IV, RIO DE JANEIRO-RJ, Out. 2007.
[6] R.A.OLIVEIRA, R.J.C.G.SILVA. “Modelagem de Transformadores Reguladores para Estudos de
Transitórios Eletromagnéticos através da Representação de seus transformadores Constituintes”, XIX
SNPTEE, G X, Rio de Janeiro-RJ, Out. 2007.

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