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A EVOLUÇÃO NAVAL

TECNOLÓGICA NO SETOR NA

SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XIX

E AS CONSEQÜÊNCIAS PARA A

Marinha
do brasil*

ARMANDO AMORIM FERREIRA VIDIGAL

Vice-Almirante (ReP)

SUMÁRIO

Introdução
A propulsão mista: Da roda ao hélice
A Guerra da Crimcia e suas lições
A Guerra da Secessão Norte-Americana
A Guerra da Tríplice Aliança
A Guerra Austro-Prussiana - A Batalha de Lisa
A Guerra da Tríplice Aliança Continua
A Guerra Franco-Prussiana
Acirra-se o duelo couraça x canhão
As torpedeiras com tubos axiais
A Guerra Chile-Peru
Os Cruzadores
A evolução da pólvora
Ação francesa contra chineses
"Jeune
A École"
A Guerra Estados Unidos x Espanha
O Submarino de casco duplo
A Guerra Russo-Japonesa
A guerra de minas
A Batalha do Mar Amarelo
A Batalha de Tsushima
O Aparecimento do Dreadnought

N-R.:
O extenso uso do negrito foi dos diversos tópicos analisados, c que não mereciam
para chamar atenção
Um subtítulo.

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INTRODUÇÃO armada com a do Chile e a da República da

Argentina. Um confronto há pouco esboça-

fim da Guerra do Paraguai (1864-70), a do mais influente deste último


pelo jornal
Ao Marinha do Brasil era, sem nenhuma Prensa, de Buenos Aires, opõe a cada
país,/4
dúvida, significativa, só sendo superada, em um de nossos vasos de hoje válidos
guerra
número de bocas de fogo, pelas Marinhas da um competidor formidável, deixando, ainda,

Inglaterra, Rússia, Estado Unidos e Itália, nas sombras, com que compor mais de uma

nessa ordem. Poucos anos mais tarde, a Esquadra, capaz de medir-se com nossa.

Marinha nacional já não tinha ex- Deus nos dê por muitos anos as
qualquer paz com

pressão militar. nações que nos cercam. Mas, se ela se rom-

As razões para esta decadência são várias.


per, é no oceano que veremos jogar a sorte de
O enorme esforço financeiro do Império nossa honra. E essa
partida não será decidida
do Brasil durante os anos
pelo azar, mas pela pre-
em que se envolveu em vidência. A nulificação

guerras externas, muito de nossa Marinha é,

especialmente na Guerra "... um e


e no oceano veremos portanto, projeto
que
da Tríplice Aliança con- começo de suicídio.'"

jogar a sorte de nossa


tra Solano López, e du- A Proclamação da

rante os anos de turbu- honra" Barbosa) República tirou da Ma-


(Ruy
lência interna, após a In- l inha poder político, si-
E essa não será
partida
dependência, deixou ar- tuação se agravou
que
decidida azar, mas
ruinada a economia do pelo pela
ainda mais com a Revol-

País, não havendo recur- previdência. A nulificação ta da Armada de 1893, e,

sos para a manutenção sem a


de nossa Marinha é, poder político,
de uma Esquadra adequa- Marinha perdeu acesso
portanto, um e
da projeto
às necessidades de às verbas para a sua atu-

defesa ao longo do começo de suicídio


que, alização e renovação.

tempo, puderam ser Menos óbvio como

identificadas: nemaques- dessa


justificativa
tão das Missões com a nulificação do Poder

Argentina nem o aumento das tensões no Naval brasileiro, mas tão ou mais importante

subcontinente sul-americano, devido às dis- que as anteriores, foi o fato de o Brasil não ter
sensões entre a Argentina e o Chile sobre a acompanhar a verdadeira revolução
podido
Patagôniaeo Estreitode Magalhães, levaram tecnológica que ocorreu no setor marítimo, na

o Brasil a um programa de reaparelhamento segunda metade do século XIX. A Revolução

naval significativo. Em Cartas da Inglaterra, Industrial, que teve início na Inglaterra a


partir
Rui Barbosa, em 1896, retratou de forma dra- do final do século XVIII, só chegou aos

mática a situação de nossa Marinha, compa- navios de guerra na segunda metade do sécu-

rando-a, dentro da lógica da época, com as Io XIX, mas, então, as mudanças ocorreram

Marinhas dos demais


países do ABC (Argen- em profundidade e se processaram muito

tina-Brasil-Chile): rapidamente.
"Acabo
de ler com tristeza, em um opúscu- Não resta dúvida a rapidez das mu-
que
Io recente, o estudo comparativo de nossa danças se deveu, em
grande parte, ao desafio

1. BARBOSA, Ruy. Cartas da Inglaterra, p. 7-8.

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I
d° Poder Naval francês ao Poder Naval de guerra - mas esse esforço não teve conti-
hegemônico
da Inglaterra. Esse desafio per- nuidade, em parte pelas dificuldades finan-
s,stiu,
embora de intensidade decrescente, ceiras do País, mas, também, porque faltavam
ate
que, em 1886, a posse na pasta da Marinha as outras condições necessárias para a manu-
da França
do Almirante Théophile Aube, o tenção de um desenvolvimento industrial
Cnador
da Jeune École, afastou definitiva- auto-sustentável, como falta de ca-
pessoal
mente
a França em número suficiente,
da disputa pela supremacia pacitado, para absor-
naval.
ver as novas tecnologias, e dos insumos

Apesar de seu indispensáveis para a industrialização do País


poder de fogo, a Esquadra
brasileira
de 1870 era tecnologicamente retar- (por exemplo, pelo fato de o Brasil não haver
datária:
a maioria dos navios, desenvolvidos descoberto carvão em todo o século XIX, que
Para o cenário Prata, veio substituir
típico do Rio da eram a lenha como principal com-
'"adequados
para operar no mar (pequena bustível e era um dos elementos essenciais
borda
livre); embora alguns dispusessem de para a fabricação do aço, ficou impossibilita-
Propulsão
a vapor, usavam ainda a roda em do de industrializar-se).2
'uBar
do hélice, com todas as desvantagens Chegava ao fim, definitivamente, a época
daí decorrentes;
a grande maioria era de ma- em que uns poucos operários, dispondo de
^e'ra,
apenas levavam couraça; boa uma tecnologia tradicional, de aprendizado
poucos
Parte da artilharia usada era de canhões de longo mas dependente apenas da prática, e de
erro
montados sobre carretas, atirando, atra- ferramentas simples, ao alcance de qualquer
ves
de aberturas feitas no casco, um, podiam construir os maiores e mais sofis-
projetis
s°'idos
não-explosivos. Com a evolução ticados navios de guerra existentes. A partir
tecnológica,
sua obsolescência foi, pois, muito da revolução tecnológica, o país que não se
rápida.
industrializasse não teria mais condições de
A indústria naval brasileira - importante construir e mesmo de apenas manter Esqua-
desde
o colonial, com a Ribeira das dra moderna e eficaz. A famosa Esquadra
período
aus, em
Salvador, e, já no período imperial, brasileira de 1910, conforme veremos, é um
eom
o Arsenal da Corte
(hoje Arsenal de exemplo claro de que, mesmo existindo recur-
arinha),
no Rio de Janeiro, ambos capaci- sos a aquisição de navios modernos e
para
'ados
para a construção até mesmo de naus, sofisticados, não havendo uma base indus-
°s niais
poderosos navios de guerra da época trial capaz de mantê-los nem competência
nao
pôde acompanhar as mudanças para operá-los devidamente, eles muito pou-
tecnológicas
que se sucederam, e entrou em co significarão em termos de verdadeiro Po-
Acelerada
decadência. É bem verdade que derNaval.
Urante
a Guerra do Paraguai foi feito um Alguns fatos ocorridos na primeira meta-
c°nsiderável
esforço para a aquisição de de do século XIX serão aqui citados porque
tecnologia
moderna - o sucesso mais expres- eles foram etapas iniciais de processos que
SIV°
foi a construção de dois navios - tiveram conseqüências no setor naval na
®ncouraçados
e três monitores encouraçados segunda metade desse século; a nossa rese-
0 total,
foram construídos seis) nha da Primeira
que torna- estender-se-á até o início

Possível a Passagem de Humaitá, o acon- Guerra Mundial - 18)


^a,T1
(1914 porque eventos
Clrnento
de maior significação estratégica importantes então decorridos provêm de des-

Os Estados Unidos, pelo contrário, descobriu importantes reservas de carvão quase à flor da terra, criando
condições
excepcionais para uma rápida industrialização.

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dobramentos tecnológicos verificados ante- imediata, só se tornaram de emprego comum
riormente, enquadrando-se, portanto, no es- após 1850. A grande maioria dos navios de
copo deste trabalho. guerra antes desta data era de construção
toda em madeira, com propulsão apenas a
A PROPULSÃO vela, armadacom canhões de ferro, montados
MISTA: DA RODA sobre carretas, dispôs-
AO HÉLICE = ~^~"^^^ tos ao longo dos bor-
dos do navio e atirando
As transformações No início do século XIX, não projetis sólidos, das
resultantes do desen- havia diferença sensível na variantes existentes.3
volvimento tecnológico Um bom exemplo de
no setor naval ocorre- qualidade dos navios das navio típico do final da
ram em todas as áreas: grandes potências e de países primeira metade do sé-
na construção naval, na recém egressos do jugo culo XIX é o HMS
propulsão dos navios, colonial Victoria, uma fragata
nos seus equipamentos three-decker, isto é,
e, finalmente, nos seus com três conveses,
sistemas de armas. lançadaaomarem 1859
Embora os principais - que até 1867 foi o
desenvolvimentos só viessem repercutir nos capitania da frota inglesa do Mediterrâneo;
navios de guerra e nas formas de seu emprego era um navio construído de madeira, propul-
na segunda metade do século XIX, eles tive- são exclusivamente a vela, armado com 121
ram origem nas cinco primeiras décadas do canhões distribuídos nos seus três conve-
século; outros, ainda que tendo aplicação ses; uma bordada desses canhões era capaz

3. Até meados do século XIX, os projetis pouco mudaram, havendo quatro tipos principais:
o tiro sólido, que consistia numa esfera de ferro fundido, do tamanho compatível com o calibre do canhão.
Um tiro desse tipo, no caso de canhões de maior calibre, tinha um alcance de cerca de 4(K) jardas - para calibres
menores o alcance era da ordem de 2(K) jardas - e podia atravessar, quando usado a queima-roupa, 4 a 5 pés
de madeira maciça. Este tipo de tiro apresentava duas variantes: o "tiro com corrcnle". em que duas esteias
sólidas eram ligadas por uma corrente, e o "tiro-harra", cm que duas semi-esferas sólidas eram unidas por uma
barra de ferro soldada nelas; essas duas variantes eram usadas para avariar os mastros dos navios inimigos
c o aparelho de velas.
o tiro de estilhaços, que podia ser de dois lipos diferentes - 0 grape-slun ou 0 liro de metralha,
que consistia
cm diversas camadas de pequenas esferas sólidas de ferro dentro de um saco de lona grossa, amarradas juntas
de modo a formar um cilindro de diâmclro compatível com o canhão; e o case-shot, em que a metralha era
conseguida colocando-se grande número de tiros de mosqucle dentro de uma caixa cilíndrica metálica, de
diâmetro adequado ao calibre do canhão (funcionava como o shrapnet).
o liro iiucmliúrio, também de dois tipos - o hol-shol ou "tiro qucnlc". em
que a esfera de ferro era aquecida
até o rubro anles de ser colocada no canhão (para evitai a detonação prematura da pólvora propelente, o
"carcaça" ou "esqueleto".
projétil era isolado da pólvora por uma camada de palha úmida nu de argila); c a
que consistia numa estrutura de ferro, assemelhada às costelas de um corpo humano, cheia de material
combustível, de forma e tamanho compatível com o morteiro ou canhão a ser usado
o liro explosivo ou granada explosiva que, a partir de IK.V), passou a ser de uso comum a bordo (pelo menos,
alguns canhões de bordo podiam atirar esse tipo de granada); I esfera de ferro fundido era oca, sendo o espaço
va/io cheio de pólvora; um pavio, uma vez aceso fazia a pólvora explodir. Inicialmente, 0 pavio era aceso
antes de se colocar a granada no canhão, o que, obviamente, era muilo perigoso, razão pela qual a prática
foi abandonada tão logo foi constatado que a detonação da pólvora propelente acendia automaticamente
o pavio; este lipo de tiro era em geral usado em morteiros. O projétil moderno é uma evolução dessa granada
explosiva.

1.14 RMH4"T/2l>00
^
y'

Combate do Banco Santiago, 7 e 8/4/1827: Início do incêndio do Independência (Arg.)


do Almirante Trajano Augusto de Carvalho - No.\sa Marinha - 37)
(Aquarela p.

liberar 3.016 libras inglesas de metal, en- Nesse confronto sul-americ mo, sendo o

Quanto o total dos tiros de todos os Poder Naval dominante, o Brasil estabeleceu
peso
canhões
chegava a 6.167 libras, ou seja, pou- o bloqueio do Prata, e a Argentina, de menor
Co
menos de 3 toneladas. Poder Naval, decretou a de corso*
guerra
A última contra o comércio marítimo brasileiro. O mais
grande batalha naval envolvendo
aPenas
navios a vela ocorreu em 1827, na Baía importante combate naval da guerra-a Bata-

Navarino, lha de Santiago - embora uma vitória tática


quando uma força naval combi-
nada
da Inglaterra, França e Rússia, destruiu argentina, cujas foram inferiores às
perdas
a Enquadra
turco-egípcia, assegurando a in- brasileiras, foi uma vitóriaestratégica do Bra-
^Pendência
da Grécia, liberada então do sil, que conseguiu manter o bloqueiodo Prata
^°Tiínio
turco (Guerra da Independência da (semelhantemente ao que ocorreria na Primei-
^écia:
1821-27). ra Guerra Mundial, na Batalha da Jutlândia,

Na mesma época, as Esquadras argentina uma vitória tática da Alemanha, mas estraté-
e brasileira
se defrontavam na Guerra gica da Inglaterra). Embora as perdas argen-
que
Cisplatina
(1825-28) muito pouco diferiam tinas tenham sido menores que as brasileiras,
ern
termos tecnológicos dos navios da Es- os argentinos tiveram o núcleo de sua força

Quadra anglo-franco-turca. revolução naval destruído, ficando ela, pois, a partir daí,
A
tecnológica
só teria lugar alguns anos mais com o seu valor militar muito reduzido. A
ta'de,
não havendo diferença sensível na independência da Cisplatina, com o nome de
Validade República Oriental do Uruguai, fim ao
dos navios das grandes potências pôs
c ^
países recém egressos do jugo colonial, conflito, com o novo país funcionando como
diferenças "algodão
eram mais quantitativas do que um tampão entre Argentinae Brasil,
Qualitativas. no dizer de Lorde
entre dois cristais",

N.R.: sobre "O


o assunto, ver corso nas costas do Brasil", RMB Ia trim./2000, p. 53-78.

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135
Ponsomby, embaixador inglês e mediador do dos canhões inimigos, ainda estes fos-
que
acordo de paz.4 sem bastantes e tirava o espaço
primitivos,
As experiências para dotar os navios com destinado à artilharia, reduzindo o
própria
a propulsão a vapor vinham sendo feitas des-
poder de fogodo navio; umacerta hostilidade
de os últimos anos do século XVIII, mas as do pessoal do convés para com os maquinis-

primeiras embarcações práticas a usar o va- tas e foguistas, homens rudes, sempre às

por apareceram no início do século XIX: em voltas com óleos e graxas.

1801, o engenheiro escocês Willian Symington A oposição britânica ao vapor fundamen-

construiu um pequeno rebocador a roda; em tava-se ainda na consciência de que a adoção

1803, Robert Fulton fez um pequeno barco a generalizada desse tipo de espe-
propulsão,
vapor que navegou no Rio Sena, e, em 1807, cialmente os navios de linha,
para grandes

já de volta aos Estados Unidos, construiu tornaria obsoleta, de um só golpe, toda a sua

uma embarcação a vapor que fez a viagem de Esquadra, a mais poderosa do mundo, o trun-

Nova Iorque para Albany a uma velocidade fo lhe a condição de nação


que garantira
de 4 nós. Em 1812, Fulton começou o hegemônica. O Primeiro Lorde do Almiranta-
projeto
do primeiro navio de guerra a vapor, a Fragata do britânico, Lorde Merville, declarou em

USS Demologos, um catamarã com a roda 1828:


"Os
entre os seus dois cascos (a roda ficava mais lordes do Almirantado sentem é
que

protegida, mas o navio tinha pouca o seu dever maior desencorajar, até o limite de

manobrabilidade); ela tinha 156 pés de cum- sua capacidade, o emprego do navio a vapor,

primento e era armada com 24 canhões 32- porque consideram a introdução do va-
que

pounder, a fragata só foi completada em 1815, por foi planejada para dar um golpe fatal na

após o fim da Segunda Guerra de Indepen- supremacia naval do império." [trad.nossa]5

dência dos Estados Unidos e a morte de Entretanto, o desafio naval francês, enca-

Fulton; em 1829 foi destruída por uma expio- beçado pelo brilhante oficial de artilharia Henri

são no seu Paixhans - desde 1822, antecipava a


paiol. que,
As limitações do novo sistema de propul- revolução seria criada com a adoção do
que
são eram, porém, ainda muito grandes. As vapor e das granadas explosivas (desde 1830

Marinhas de todo o mundo, principalmente a os franceses, com o Aviso Spliinx, adotaram

da Inglaterra, opunham-se à construção de o vapor) - levaria o Almirantado a ir revendo

navios de guerra a vapor, só aceitando este as suas Assim é que em 1837 eles
posições.
tipo de propulsão para as pequenas embarca- lançam o seu navio de com
primeiro guerra
auxiliares,
ções como rebocadores, dragas, propulsão a vapor, a Chalupa HMS Gorgon,

etc. As razões para isso eram várias: a preca- com propulsão mista, a roda, armada com dois

riedadee pouca confiabilidade das máquinas canhões na linha longitudinal do navio, um

a vapor existentes; a dependência ao forneci- avante e outro a ré.

mento de carvão, nas viagens maiores, sendo Pouco tempo depois, cm 1839, aparece-

necessário instalar estações de reabasteci- ram as granadas explosivas, desenvolvidas

mento de carvão ao longo da rotas dos navi- por Paixhans; os navios passaram a dispor de
os; o uso da roda - o único recurso então canhões atiravam
que os projetis sólidos

existente para impulsionar o navio - tornava convencionais e de canhões as


que atiravam
os navios extremamente vulneráveis ao fogo granadas explosivas. Desde o final do século

4. CARDOSO, Efraim. El Império dei Brasil y El Rio de la Plata, pág. 19.


5. MCINTYRE, Donakl & liATHE, Basil W. Man of War-a Hislory of llie Combat Vessel, 75-76.
p.

136 RMB4T/2000
^ VIU
que a França e a Inglater-
ra faziam
experiências com esse
llP°
de
granadas mas, devido à
at'tude
do
pessoal de Marinha
c°ntra -
a explosiva
granada
clUe
consideravam tornaria a
"pouco
guerra cavalheiresca"
""
os desenvolvimentos
foram
'entos.
À medida
que os navios
foram
se tornando imunes à
artilharia
da época, esse pre- Aviso Corse, navio de a utilizar hélice em sua
primeiro guerra
onceito
foi desaparecendo. propulsão. Lançado em 1842 como navio de passageiros, em 1850 foi

Embora as incorporado à Marinha francesa, onde serviu por quase 50 anos.


^ primeiras experi-
er,eias Superou 12 nós e, aos 29 anos de serviço, navegou 11.000 milhas
com o hélice datassem
sem avaria. (Foto: Procecdings)
de 1825,
só em 1842osfrance-
ses 'ançaram
o primeiro navio com hélice, o O primeiro navio de guerra de certo porte
Aviso
Corse, com mista, al- a usar o hélice só surgiu em 1844: a Fragata
propulsão que
CanÇ°u
12,4 nós de velocidade. No ano se- USS Princeton, com hélice Ericsson.
êU|nte, os
ingleses lançaram a Escuna HMS Na Inglaterra ganha força a idéia de que o
Qttler,
de mista, a hélice, já com hélice não deveria ainda ser usado em navios
propulsão
°s
motores a vapor de dois de linha, acreditando-se
cilindros (até que a roda era mais
839 "dúvidas",
todos os motores eram de apenas um eficaz. Para dirimir as o Almiranta-
c'ündro).
do, em 1845, fez realizar uma série de
provas
No Brasil, o Arsenal da Corte construiu, entre a Escuna Rattler, a hélice, e a Escuna, de
eni 1843, a
primeira embarcação a vapor feita mesmo tamanho e potência, Alecto, a roda.
país, a
Barca Tetis, com deslocamento de As provas de velocidade, realizadas em di ver-
u toneladas.
. Os motores e caldeiras foram sas condições de tempo e de mar, foram todas
"Aportadas
da Inglaterra. vencidas pelo navio a hélice, assim como a
Em 1843 "um
, as mudanças tecnológicas che- prova final - cabo de guerra".
S^am também
às minas marítimas6. Samuel Enquanto os ingleses experimentavam, os
t desenvolveu "minas
um sistema de con- franceses inovaram: em 1845, colocavam em
tr°'adas",
em que as minas eram explodidas serviço a sua primeira fragata a hélice, a Pamo-
P°r ação
de um observador ne, três anos antes ingleses
que acionava um que os adotas-
sPositivo;
uma corrente elétrica circulava sem o hélice para suas fragatas. A Pamone

ao longo de cabos submarinos, fazen- dispunha de motor horizontal de 2 cilindros


a
mina explodir
quando o navio-al vo esta- de 22 HP, usava hélice Ericsson, e era capaz
Va
Próximo. Durante os testes, um navio a 5 de desenvolver 7 nós. Na época, as fragatas

de
distância do de observação desempenhavam o mesmo bem
posto papel que,
filhas
01 destruído
por uma dessas minas. mais tarde, os cruzadores desempenhariam.

As m'nas,
com o nome de torpedos, foram inicialmente desenvolvidas no século XVIII pelo norte-americano
av'dBushncll, com a sua mina flutuante
que explodia ao se chocar contra o navio-alvo. Esta mina é a
ancestral
das minas modernas, pois só explodia
quando em contato com o alvo. Em 1777, foi usada com
sucesso
pelos norte-americanos contra a frota britânica no Rio Connecticut; ela foi lançada contra a Fragata
Cerberus, não a acertando, mas atingindo e afundando uma escuna ancorada nas suas proximidades.
KMB4UT/200()
137
Em 1846 são construídos e testados os cidade, foi necessário colocar entre o motor e

dois primeiros canhões com alma raiada e o hélice desse navio uma engrenagem redu-

carregamento pela culatra (o engrazamento tora, do


para conciliar o melhor rendimento
do projétil cilíndrico nas ranhuras do tubo motor (alta velocidade) com o melhor rendi-

alma tornava complicado o carregamento mento do hélice (baixa velocidade); com isso
pela
boca, daí a necessidade do carregamento foi possível usar caldeiras com maior
pela pressão,
culatra, além, é claro, da maior rapidez de tiro dando mais eficiência ao sistema propulsor

propiciada pelo carregamento culatra. como um todo; em termos estruturais, o


pela
Voltaremos a falar sobre isso). Estes canhões, Agamemnon era um three-decker-navio de

-
produzidos pelo Major Cavalli, oficial da arti- três conveses armado com 91 canhões

lharia da Sardenha, e pelo Barão Wahrendorf, (contra 90 do Napoléon).

mestre ferreiro sueco, não foram adotados Na América do Sul, em meados do século

nenhuma Marinha de expressão, apesar XIX, as tentativas argentinas


por para fazerre viver
de terem alcançado excelentes resultados nos o Vice-Reinado do Prata- a Argentina consi-

testes. derava-se herdeira da Espanha - e a forte

Os franceses, mais uma vez, se adiantam oposição do Império do Brasil a essa preten-

aos ingleses, lançando ao mar, em 1848, o são, mantinham vivas as tensões no sul do

primeiro navio de linha a hélice, de propulsão continente. Em virtude disso, o Brasil


procu-
mista, o Napoléon, projeto do grande Dupuy rou fortalecer o seu Poder Naval, não só

de Lôme; usando apenas o vapor, o Napoléon construindo em estaleiros nacionais alguns

alcançou a velocidade de 14 nós. Só nesse navios com propulsão mista, a roda-em 1850

ano, três anos após os franceses, os ingleses e 1851 são construídos três vapores nos

lançaram suas primeiras fragatas a hélice. -


estaleiros da Ponta da Areia* e da Saúde7

Os alemães, em 1848, desenvolveram uma , mas, também colocando encomendas no

série de testes na universidade de Kiel visan- exterior - em 1848 é incorporado o


primeiro
do a melhorar as minas existentes. As minas navio de guerra a vapor, a Fragata DomAfon-

controladas, por eles aperfeiçoadas, foram so, a roda, construída na Inglaterra.

usadas na guerra de emancipação de O apoio ostensivo de Rosas, ditador ar-

Schleswig-Holstein com o
propósito de pro- gentino, a Oribe que, em oposição ao governo
teger o Porto de Kiel da frota holandesa; legal do Uruguai, assumir o poder
pela pretendia
"associação
primeira vez, portanto, é usado um campo de para unir-se à Argentina, numa

minas em caráter defensivo e não, como era de iguais" (sic), levou a Argentina e o Brasil

usual até então, em caráter ofensivo. à guerra -conhecida entre nós como a Guerra

Em 1850, com dois anos de atraso em Contra Oribe e Rosas (1851-52). Sob o
ponto
relação aos franceses, os ingleses lançam o de vista naval, o fato mais importante do

seu primeiro navio de linha a hélice, o HMS condito foi a Passagem de Tonelero pela
Agamemnon; usando motores de maior velo- Esquadra brasileira. A havia sido
passagem

* N.R.: Sobre os
estaleiros da Ponla da Areia, ver A fábrica da Ponta da Areia, RMH 2" trim./1997, p. 61 a 69.
7. Na Ponta da Areia, foram construídos os Vapores Recife (1849), Pedro II (1850) e Paraense (1851); na Saúde,
o Vapor Golfinho (1851). O desenvolvimento do estaleiro da Ponta da Areia teve início em 1846
quando
Irincu Evangelista de Souza (o futuro Visconde de Mauá) adquiriu o Estabelecimento de Fundição e Companhia
Estaleiros da Ponla da Areia. Em 1848, o estaleiro contava com cerca de 300 operários, incluindo engenheiros
e operários europeus, dando início à construção de grande números de navios (em 11 anos foram construídos
72 navios, inclusive os vapores mencionados).
"A
(N.R.: Ver também história da construção naval no Brasil" na RMH 2" trim/1998, 159 e 160.)
pág.

RMB4"T/2000
fortificada com 16
pe-
Çasdeartilhariae2mil
hoimens;
para que as
forÇas brasileiras,
L w%4£k- * ^ i, ¦>
m mgm
pro-
94
, y I^^l5m <*^F m^^*\W^*\\\\\A
^H
venientes da Colônia |L.,.
de Sacramento,
pudes-
sem chegar a Diaman-
te-no Rio Paraná, e daí
atacar as forças de Ro-
Sas, seria necessário
transportá-las além de
T°nelero. Os vapores
brasileiros Dom Afon-
•So- capitania
de Gren- NAPOLEÃO LEVEL - CARLOS BRACONNOT
fe,UmaisoPeí/ro//,o (Fotos SDM)
Rec'fe e o D. Pedro,
chocando duas corvetas e um brigue, estes Sinope, na guerra entre a Rússia e a Turquia,
res a vela, tiveram êxito nessa e as a frota russa -cujos navios, na maioria, eram
passagem
r°pas brasileiras atacar e derrotar, armados com canhões Paixhans, ainda de
puderam
etT> Monte Caseros, as tropas de Rosas, alma lisa, mas já fazendo uso das granadas
pon-
do fim ao conflito.
explosivas -, sob o comando do Almirante
Com isso, cessaram todas as restrições Nakhimov, atacou e destruiu um esquadrão
Mue se faziam no Brasi I ao emprego do vapor; naval turco, sob o comando do OsmanPasha,
111 eertas circunstâncias, ficara comprovado, cujos navios não dispunham de canhões
a '"dependência em relação ao vento capazes de atirar as granadas explosivas.
era
,undamental
para a Marinha de Guerra. O Apesar de esmagadora superioridade naval
Ministro da Marinha, Conselheiro Vieira Tos- russa - que alinhava seis navios de linha,
tia> em
seu relatório de 1852, insiste na neces- duas fragatas e três vapores - contra os
'dade do aumento de número de navios a turcos - que dispunham de sete fragatas, três
*Por para a Esquadra, apoiando a sua argu- corvetas e dois vapores - o rápido massacre
cntação na experiência de Tonelero. dos turcos foi atribuído pelos analistas ao
Em 1852, começam a chegar do exterior os terrível efeito das granadas explosivas sobre
asi'eiros enviados se os navios de madeira.
pelo governo para
sPecializarem em estaleiros europeus nas A Batalha da Baía de Sinope não só de-
0vas tecnologias ligadas à construção mili- monstrou a eficácia das granadas explosivas,
ar- Napoleão Levei e Carlos Braconnot eram mas deixou claro que, dali para frente, impu-
Clvis trabalhavam
que no Arsenal da Corte e nha-se proteger os navios usando couraças.
"Ue se especializaram,
respectivamente, em
Ofistrução naval e máquinas. Com eles che-
Wrarn ao Brasil técnicos estrangeiros A GUERRA DA CRIMEIA E SUAS
para
arjalhar nas oficinas do Arsenal. As conse- LIÇÕES
MUericias dessas medidas logo se fariam sen-
""' conforme veremos. AGuerra da Criméia(l 854-56) trariaalguns
Em 1853, há o primeiro teste real das importantes ensinamentos para a guerra no
danadas explosivas. Na Batalha Naval de mar.
*MB4Or/2000
139
Ela representou excelente oportunidade do forte e depois de 4 horas de bombardeio,

para uma reavaliação dos confrontos, tão o forte russo, usara contra as baterias
que
freqüentes à época, entre navios e fortalezas flutuantes tanto projetis sólidos como
grana-
de terra; até então, esse confronto era franca- das explosivas, foi forçado a se render (45
mente favorável às fortalezas, não só devido mortos e 130 feridos), enquanto as três embar-

à fragilidade de navios de madeira sem coura- cações encouraçadas sofreram apenas avari-

ça mesmo em face dos projetis sólidos, mas, as insignificantes: os tiros sólidos do forte

também, à pouca eficácia dos canhões navais ricocheteavam na couraça e as granadas ex-

contra as poderosas defesas das fortalezas. explodindo contra a couraça, não


plosivas,
Os franceses foram os primeiros a reagir às nenhum dano. A daí não
produziam partir
lições de Sinope. Em 1855, desenvolveram mais se podia duvidar da eficácia da couraça

um tipo especial de embarcações para enfren- a


para os navios de guerra e ficava claro que
"ba-
tar os fortesde terra; conhecidas como tecnologia se voltaria o melhoramento
para
terias flutuantes" eram embarcações de fun- dos canhões e dos usados. Ficou
projetis
do chato, para operar em águas rasas, fácil a explosiva só
próxi- perceber que granada
mas à terra, construídas de madeira mas seria eficaz contra a couraça se
pro- pudesse
tegidas com couraças de ferro forjado de 4,5
perfurá-la e explodir na parte vulnerável dos

polegadas de espessura, montadas sobre pia- navios; para isso, o


projétil deveria ser cilín-

cas de madeira (teca) de 18 de drico e ter ponta (ogiva); com os canhões de


polegadas
espessura8; esta couraça fora alma lisa, o projétil ao deixar o tubo alma do
planejada para
resistir aos canhões típicos da época, os 68- canhão tinha uma trajetória muito instável

pounder9 de alma lisa. Nesse mesmo ano, as (dando verdadeiras cambalhotas), não se

três Baterias Flutuantes Dévastacion, Lave e ele acertaria aonde se


podendo garantir que
Tonnante, dispunham de a
que propulsão queria e muito mesmo que ele bateria de ponta
vapor capaz de deslocá-las a uma velocidade no alvo; a alma raiada, já testada e aprovada

de 2 a 3 nós, foram rebocadas o Mar desde 1846, conforme já vimos, seria a solu-
para
Negro fragatas de mista, a
por propulsão ção para este problema.
roda, e, compondo um esquadrão anglo-fran- Ainda nesse mesmo ano, o bombardeio de

cês com outros navios tradicionais, ti veram a Sebastapol por um esquadrão inglês, do qual

missão de neutral izar o forte russo de Kinburn, fazia o Agamemnon e outro navio da
parte
na foz do Dnieper. Enquanto os navios de mesma classe, mostrou o valor da propulsão

madeira, sem proteção, davam apenas fogo a vapor, já os dois navios de


que propulsão
de apoio e engajavam algumas baterias peri- mista, diferentemente dos navios a vela, po-
féricas do forte, os navios com couraça fica- diam se posicionar convenientemente em re-

ram estacionados a algumas milhares dejardas lação aos a serem atacados, dando
pontos

8. A idéia de empregar couraça nos navios é muito antiga. Já no século XVI, numa
guerra entre a Coréia e o Japão,
"navio
surgiu o primeiro navio, ainda a remo, protegido eom couraça; conhecido como tartaruga", pelo seu
aspecto exterior, dispunha de um convés em forma de domo, feito de chapas de ferro, às
quais foram soldados
verdadeiros espigões de ferro; o navio era praticamente invulnerável às armas da época e a sua abordagem

pelo inimigo era quase impossível.


9. Antes de os canhões serem designados
pelo calibre, o que só acorreria na segunda metade do século XIX, eles
eram designados pelo peso do projétil
que usavam: um canhão inglês 68-pounder era um canhão que atirava
um projétil pesando 68 libras inglesas. Devido à diferença de
padrão de pesos havia uma dificuldade de comparar
canhões de procedências diferentes; por exemplo, um 36-pounder francês atirava
projetis que pesavam,
aproximadamente, 39 libras inglesas; um 4R-pounder sueco, projetis de 45 libras inglesas; um 42 -
pounder
russo, projetis de cerca de 30 libras inglesas.

140 RMB4uT/2000
il J
;

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"
1
I"
/'

Fragata Amazonas. do Almirante Trajano Augusto Gonçalves - Nossa Marinha, 57)


(Aquarela p.

mais
eficácia ao bombardeio, indiferentes à consistiam em tubos de vidro cheios de ácido
^'reção
do vento. sulfúrico; quebrados pelo casco de
quando
No se refere de minas, os um navio, liberavam o ácido então se
que à guerra que
rUí>sos
usaram a minagem defensiva a misturava com clorato de potássio e açúcar,
para
Pr°teção
dos portos de Sebastopol, Sveaborg gerando calor e chamas suficientes para pro-
e Kronstadt,
usando minas de contato, isto é, vocar a explosão da mina.

^Ue explodiam casco Já apontamos durante a Guerra da


quando atingidas pelo que
um navio. Os fusíveis dessas minas, pro- Cisplatina os navios argentinos e brasileiros
Vavelmente
desenvolvidos por Alfred Nobel, eram muito semelhantes aos seus contempo-

Canhoneira no Brasil de Marinha da


Ipiranga. Primeiro navio de guerra a htílice construído (Arsenal
Corte). Projetado e construído por Napoleào Levei

do Almirante Trajano Augusto de Carvalho - Nossa Marinha. - 53)


(Aquarela p
râneos que lutaram em Navarino. Agora, pelo Ainda cm 1856 os ingleses desenvolvem
contrário, os navios de linha da frota anglo- o canhão A rmstrong, com carregamento pela
franco-turca na Criméia eram tecnologicamen- culatra, alma raiada, capaz dedispararprojetis
te muito superiores aos navios de Navarino, cilíndricos com ogiva, providos com cinta de
embora muito pouco afastados no tempo. chumbo para que pudessem engrazar nas
O Brasil procurava compensar o seu atra- ranhuras do tubo alma. O canhão Armstrong,
so tecnológico tanto adquirindo navios no que só seria usado a bordo alguns anos mais
exterior-em 1852, chega ao Brasil a Fragata tarde (1860), consistia num tubo alma no qual
de propulsão mista, a roda, Amazonas; em um número de jaquetas eram vestidas a quen-
1854, recebeda Inglaterra os primeiros navios tee, após o resfriamento, elas encolhiam e for-
a hélice (quatro canhoneiras); em 1856, mais mavam uma unidade sólida com o tubo alma.
três - como construindo no Brasil - em 1854 Desta forma, o canhão ia tendo sua resistên-
inicia a construção da Canhoneira Ipiranga, cia aumentada, da boca para a culatra. O tubo
que seria o primeiro navio a hélice construído alma era raiado internamente no sistema de
no País (projeto de Napoleão Levei, executa- múltiplas ranhuras (grande número de ranhu-
do no Arsenal da Corte; as máquinas e as ras rasas). O bloco de culatra, uma peça sólida
caldeiras, sob a supervisão de Carlos de ferro forjado, furada e com ranhura, era en-
Braconnot, foram construídas também no caixado a quente na parte oposta à boca; um
Arsenal) A Ipiranga participaria da Batalha rasgo aberto através dela e da jaqueta acima
Naval do Riachuelo. permitia que uma cunha fosse inserida, fe-
O agravamento das relações do Brasil chando esta extremidade do tubo alma; a eu-
com o Paraguai, conseqüência das di vergên- nha era mantida no lugar por um parafuso va-
cias quanto a questões de fronteiras e livre zado que antes da colocação da cunha permi-
navegação nos rios da região (houve ruptura tia o carregamento do canhão. Este sistema
das relações diplomáticas entre os dois pai- mostrar-se-ia propenso a causar acidentes.
sesem 1853),estimulou maiores invcstimcn- Dois anos mais tarde, a Marinha francesa
tos noPoderNaval brasileiro, principalmente adota o sistema de culatra com ranhura inter-
em termos de preparação de mão-de-obra rompida (quatro seções separadas): a alavan-
qualificada. ca de operação primeiro levava o bloco para
Os ingleses não tardaram a copiar os dentro da culatra e depois girava-o 1/8 de
navios encouraçados franceses que tão bom volta, fazendo com que as ranhuras do bloco
desempenho haviam tido contra os fortes de engrazassem com as da culatra, ficando 0
Kinburn, mas logodepois procuraram supera- bloco assim travado.
los, lançando ao mar quatro navios com cou- Também na Alemanha o carregamento
raça-o 1 IMS Thunderbolt, o Terror, o Aetna pela culatra mereceu a atenção dos técnicos,
e o Erebus — todos em 1856; embora não se começando o desenvolvimento do sistema
possa dizer que esses navios fossem de linha, Krupp, usando, como o Armstrong, um siste-
eles foram os precursores dos modernos na- ma de cunha, mas sem os inconvenientes do
vios de guerra, sendo os primeiros navios a sistema inglês.
combinar casco de ferro, couraça e propulsão Com o fracasso da missão diplomática do
a vapor.10 Almirante Pedro Ferreira de Oliveira, enviado

10. O tradicionalismo naval fez com que as Marinhas de (iuerra custassem a adotar o casco de ferro; desde 1832,
o engenheiro inglês Bruncl já lançara mão desle recurso na construção de um grande transatlântico: o Greal
Brilain.

142 RMB4°T/2000
a Assunção
pelo governo brasileiro, logo inspirou-se no bombardeio do Kinburn
pelas
aPós a
interrupção das relações diplomáticas baterias flutuantes francesas.
entre
os dois países (1853), um novo impulso Os franceses, em 1859, lançam ao mar o

Para a renovação do Poder Naval brasileiro Gloire, uma fragata de 5.600 toneladas, a
teve lugar.
Em 1857, é iniciada no Arsenal da primeira de uma classe de três navios
Corte
a construção da Corveta Niterói, até construídos de madeira mas dotados de cou-
então
vapor raça,
o maior navio de propulsão a projetadas por Dupuy de Lôme. Eram
construído
no Brasil; o navio seria dotado navios de mista a hélice (inicial-
propulsão
c°m canhões
de alma raiada. Por dificuldades mente o Gloire só dispunha de mastro de
tecnicas
a construção arrastou-se até 1863. sinais mas depois recebeu toda a aparelha-

A luz da experiência adquirida


quando da gem para vela), capaz de desenvolver, só com
fissão diplomática enviada à Assunção - o vapor, 13,5 nós. A mais significativa mudan-
c°m
exceção de um vapor em
pequeno que ça no Gloire estava na sua artilharia, toda ela
yiajou
o chefe da missão, todos os navios da concentrada numa única fileira de poderosos
força naval brasileira não
puderam subir o Rio canhões (pelo fato de todos os canhões es-
Paraguai
porque calavam muito-Tamandaré tarem num único convés do navio, apesar de
¦"ecebeu
o encargo de adquirir na Europa seu tamanho, foi classificado como fragata).
canhoneiras
que pudessem navegar no Prata A economia de peso assim conseguida permi-
e dispusessem
de couraça em face da existên- tiu que o navio recebesse uma cinta couraçada
C]a
de muitos fortes nas margens do Rio de 4,7 polegadas de espessura, fabricada por
Paraguai;
como resultado, são recebidas, no Creusot. O armamento do Gloire consistia em
alo de 1858, duas canhoneiras construídas 36 canhões de um novo modelo 66-pounder,
na França
e sete na Inglaterra, todas a vapor carregamento pela culatra, alma raiada, atiran-
e a hélice,
com pequeno calado para operarem do projetis explosivos, 34 deles ao longo da
nos rios
do Prata. Conforme aponta em seu borda do navio e dois montados em
pivôs. Um
relatório
para o Ministro da Marinha, dos três navios da mesma classe tinha casco
^amandaré,
no que diz respeito à couraça, de ferro, o Couronne, lançado em 1860.

Corveta
Niterói. (1862). Construído no AMRJ sob pia ;>s do Engenheiro Napoleão Levei; casco de madeira
e mista. (Aquarela do Almirante Trajam Augusto de Carvalho - Nussci Marinha - 88)
propulsão p.

I
I
if-
;• T—
-3
\

bordos dos navios, como os

navios mais antigos do perío-

do da vela. A época das bar-

betas e torres ainda não havia

chegado, embora, já nessa épo-

ca (1860) o canhão Armstrong

tivesse sido introduzido a bor-

do dos navios britânicos.

A insistência das Marinhas

na propulsão mista, mantendo

ainda nos navios toda a apare-


Gloire (1859). Primeira fragata encouraçada francesa
I hagem para a propulsão a vela,
Rivisla Maritlima - Itália)
(Foto:
como no Gloire e no Warrior,

decorria de uma série de cir-

No ano de 1859 tem início a construção cunstâncias. Esses navios eram destinados

dos primeiros navios de linha dotados de aríete às grandes viagens marítimas, com extensos

que, breve, seria uma característica de todos cruzeiros abrangendo áreas onde os pontos
os encouraçados da época; projetados por para reabastecimento de carvão eram pou-
Dupuy de Lôme, são lançados em 1861 o cos, ficando muito afastados um dos outros,

Magenta e o Soferino, bastante semelhantes e, além disso, as máquinas então disponíveis

ao Gloire. A ineficiência dos canhões da eram deficientesequebravam freqüentemente,

época contra os navios encouraçados valo- daí o conservadorismo dos que não queriam
"Chaminés
rizou o aríete que, se supunha, podia atingir abrir mão da vela. A ordem para
os navios inimigos abaixo da linha d'água, na baixo; hélice up
para cima" ("Downjunnel;

parte não protegida pela couraça. Voltaremos screw"), que assinalava numa viagem a pas-

ao assunto mais adiante. sagem da propulsão a vapor a vela, tão


para
Os ingleses reagiram ao desafio francês freqüente à época, refletia uma situação bas-

do Gloire lançando ao mar, em 1860, o HMS tante comum: os navios mistos eram essenci-

Warrior, que é o primeiro navio de linha com almente navios a vela que, ocasionalmente,

casco de ferro. Embora fosse lançado um usavam o vapor. No B rasi I, por exemplo, que

pouco antes do Couronne, este foi incorpo- importava todo o carvão consumido pelos
rado primeiro. E um navio de propulsão ainda navios de Cardiff, na Inglaterra, era o próprio

mista, mas a propulsão a vapor é agora a Ministro da Marinha autorizava os tre-


que

principal, e não apenas um complemento à chos da viagem em que a propulsão a vapor

propulsão a vela. O Warrior deslocava 9.210 podia ser usada.

toneladas e dispunha de couraça de 4,5 pole- A medida que as estações de reabasteci-

foram o
gadas de espessura. Inicialmente, o navio era mento sendo instaladas por todo

dotado com canhões de alma lisa, carrega- mundo e as máquinas a vapor ganhavam em

mento pela boca, montados sobre carretas, desempenho e confiabilidade, a situação co-

mas eles foram sendo substituídos por ca- meçou a mudar. Entretanto, foi só quando o

nhões de alma raiada. aumento do peso dos armamentos e das cou-

Neste ponto da evolução dos navios de raças comprometeu a estabilidade dos navi-

guerra, duas considerações são importantes. os, reduzindo a borda livre de tal modo que

Tanto o Gloire como o Warriorcram ainda eles não mais podiam levar, sem risco, o peso

armados com canhões fixos, alinhados nos alto representado mastros e seus apa-
pelos

144 RMB4T/2000
—m i "i|ii»
"i|ii» jiJ jWiWv ' K K J
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'•3B . -j-
j j I"r L^ * . _ jJ .. »*

O inglês
ingles Warrior (1860).
(I860). Primeiro
Primciro navio de
do linha com casco de
dc ferro (Foio
(Folo (,'SNIP)
USNIP)

re'hos,
ou suportar o momento de aderna- armamento consistia em três canhões de 9
mento
do vento so-
provocado pela pressão polegadas, de alma lisa, e de um canhão de 6,
^reo
velame do navio,
que a vela foi finalmen- de alma raiada, montado em pivô, todos os
te abandonada.
Um acidente trágico, do canhões
qual passando através de aberturas exis-
daremos
adiante, contribuiu um tentes na casamata e atirando ex-
para por granadas
P°nto final na propulsão a vela. ainda na casamata, existiam dois
plosivas;

canhões de 7 polegadas, um atirando para


vante e outro ré; o navio dispunha de
para
batalhas de hampton aríete, de ferro, que se projetava 2
pés abaixo
roads
e lissa* da linha d'água. A velocidade era muito baixa,

de apenas 2 ou 3 nós.
Em 1861 teve início a Guerra de Secessão Por sua vez, a União desenvolveu o Moni-
,

Estados Unidos, se até tor, projeto de Ericsson, verdadeiramente re-


que prolongaria
1°s
esta
guerra foi rica de ensinamentos volucionário; tinha casco de madeira revesti-
relativos
à guerra no mar, em especial os do de couraça; a meia nau foi instalada uma
^correntes
da Batalha de Hampton Roads torre rotativa, a
primeira a ser instalada num
"62),
onde, pela
primeira vez, dois navios navio, com dois canhões de 11", à época o
Ct1couraçadosa
vapor sedefrontaram-sur- maior calibre embarcado; o seu convés, exceto
tendentemente
para a época os dois navios pela torre e por uma capuchana onde se abri-
eram
exclusivamente acionados a vapor, muito a pessoa responsável
gava pelo governo do
avunçados
quando comparados com os de- navio, era totalmente desimpedido; devido
mai«
navios do ao peso da torre o navio tinha
período. pequena borda
Recuperando uma fragata
que havia sofri- livre, não sendo, pois, projetado para operar
0 UtTi
grave i ncêndio, os confederados trans- em alto-mar mas apenas em águas
protegidas;
f
num navio encouraçado - o sua velocidade era da ordem de 5 nós.
^¦"Tiaram-na
'/gmia
que, entretanto, passaria para a his- Inicialmente, o Merrimack atacou os na-
r'a
com o seu antigo nome Merrimack. O vios da União bloqueavam
que o Rio
na vio
era dotado de uma casamata, construída Chesapeake, afundando a Fragata a vela
C(>tn
traves de carvalho revestidas com trilhos
Congress a tiros de artilharia e a Chalupa
Qa
estrada
de ferro e
placas metálicas; seu Cumberland com o seu aríete; os três navios

*
Kl
N-R-: "Os
Mais sobre essas batalhas, ver em encouraçados", RMB 1" ao 4" trim/1996.
,<VlB4u'l72000
145
A i

'

-- a
A GUERRA DA SECESSÃO

NORTE-AMERICANA

11 Fotos reproduzidas
I I mf [If de 1'roceedings
n

^ Virgínia (Merrimack)

t- Monitor - a guarnição cm período de descans"

4* Monitor

1
.

""^'

^
*>¦
remanescentes
fugiram, abrigando-se em quase nenhum armamento, para serem usa-
águas rasas ir. dos como verdadeiros aríetes contra os navi-
onde o Merrimack não podia
Na manhã os inimigos; os resultados
seguinte, com a chegada do Monitor foram excelentes
ao local, em termos de custo-benefício. É
iniciou-se um duelo de artilharia possível que
entre os dois Barroso, em Riachuelo, tenha levado em con-
encouraçados; após cerca de 7
horas de ta as experiências bem sucedidas no conflito
combate, a situação permanecia
mdecisa, um navio não norte-americano.
conseguindo perfurar
a couraça As lições de Hampton Roads repercutiram
do outro. A retirada do Merrimack

Para Norfolk um final à batalha. em todo o mundo, inclusive no Brasil: no


pôs ponto
Duas tentativas relatório de 1862,
posteriores foram feitas pelo o Ministro da Marinha,
navio confederado Almirante Joaquim Raimundo de Lamarefaz
para enfrentar o Monitor,
mas este, uma análise sobre o futuro desenvolvimento
obedecendo instruções do Con-

gresso, recusou sempre o combate: temia-se da força naval brasileira apoiado na evolução

9ue uma avaria mais séria no tecnológica em curso, ba-


Moniíor deixasse seando-se, em especial, na
o caminho
livre
para o Merrimack subir experiência de Hampton
0 Potomac
até Washington. Roads.
As couraças usadas
O combate demonstrou Na Guerra de Secessão

que as couraças usadas eram eram invulneráveis os dois lados lançaram mão
¦nvulneráveis
tanto aos da guerra de minas. O inci-
tanto aos
projetis
Projetis sólidos como às dente mais dramático ocor-
gra-
sólidos como às
nadas explosivas, reu
quer dis- quando do ataque de

Parados explosivas, Farragut a Mobile, em 1862.


por canhões de alma granadas
'isa
quer de alma raiada. Era disparados O esquadrão de Farragut,
quer por
claro com
que chegava ao fim a os navios em coluna,
canhões de alma lisa
construção forçava
de navios de ma- a entrada na Baía
deira sem de alma raiada
quer de Mobile
proteção de coura- sob o intenso

Ça e que seria necessário de- fogo, tanto do Forte


senvolversistemas
de armas Morgan como dos navios
mais eficazes. confederados no interior da
A ineficácia
dos canhões a atenção baía, o
empregados chamou quando Monitor Tecumseh ia a
que
Para a importância do aríete, atingir frente da coluna atingiu uma mina, explodiu,
que podia
os navios afundando imediatamente; os demais navios
abaixo da linha d'água, onde não
chegava e estabeleceu-se
a couraça (o afundamento da Chalupa pararam a desordem na co-
Cumberland refor- luna, com os
pelo aríete do Merrimack navios se embaralhando e um

Çava a idéia), mormente do bloqueando a linha de tiro do outro. Ao


porque o advento grito
vapor "torpedos"
facilitava muito as manobras para o dos vigias de
(até, aproximada-
abalroamento. mente, 1870, as minas eram chamadas de
Durante toda a Guerra de Secessão, am- torpedos), Farragut salvou o dia, mandando
bos os e, todos
partidos lançaram mão do aríete que os navios avançassem apesar das
"Danem-se
quando os navios não dispunham deste re- minas: os torpedos. Toda a velo-
curso, cidade
do abalroamento. Houve algumas de- adiante". Desta forma, e ao
graças
zenas de deficiente sistema de disparo das minas
encontros desse tipo, nem sempre usa-
°s maiores das, ele
danos sendo do navio abalroado. pôde forçar a estratégica passagem,
f'oram apesar da oposição de uma força
construídos navios encouraçados, com naval sob a

RMB4"T/2000
147
proteção de fortaleza de terra, como já ocor- dispunha de um cilindro de AP descarregan-

rera na Guerra da Cri méia, e, ainda, existência do dois cilindros de BP, com
para
de campo minado." reaquecimento entre o cilindro de AP e os de

Foi também na Guerra de Secessão que o BP (motor denominado de composto).

primeiro navio de guerra de porte, o Em 1863, é construído na Inglaterra,


para
Encouraçado USS Cairo, foi afundado, em a Holanda, o Navio de Defesa Costeira Rolf

dezembro de 1862, por ação de mina. Krake, armado com duas torres com canhões

Conforme apontamos, o canhão de 8 polegadas, de acordo com do


projeto
Armstrong tinha problemas que logo a prá- oficial da Marinha inglesa Cowper Coles,
que
tica mostraria: não existia nada que evitasse é o primeiro navio de a usar torre
guerra

que o canhão fosse disparado se a culatra não construído para operar em mar aberto (o
estivesse adequadamente fechada. Em 1862, Monitor, conforme apontado, não tinha

durante o bombardeio de Kagoshima, no Ja- condições para isso). É importante notar
que
"torre"
pão, por uma força naval inglesa, uma série de à época o termo tinha um significado

acidentes com o canhão Armstrong a bordo diferente do atual: significava uma casamata,

do capitânia HMS Euryalus, determinou a na qual se abrigava o canhão,


que era monta-
retirada desses canhões de todos os navios do numa rotativa no convés do navio
placa
ingleses, que, então, retornaram aos canhões (exatamente como no Monitor).

de carregamento boca, apesar de seus Tem início uma controvérsia,


pela que se pro-
inconvenientes. Este retrocesso tecnológico longaria até 1879, entre duas escolas: a dos

só foi a na
possível porque pólvora época que defendiam a torre ou torreta, como a do
usada como propelente era a pólvora negra Monitor, e a dos defendiam a barbeta,
que

que, sendo de queima rápida, permitia que os nome que se dava ao sistema em que os

tubos alma dos canhões fossem curtos, tor- canhões eram instalados em plataformas
nando possível o carregamento boca, rotativas montadas no topo de uma torre
pela
apesar das dificuldades para fazer o projétil encouraçada ou barbeta, aberta na de
parte
engrazar nas ranhuras do tubo alma. Somente cima (sistema preferido pelos franceses).

muito mais tarde, como adiante veremos, a A vantagem da barbeta sobre a torreta era

Marinha britânica, resolvidas as dificuldades o canhão, sendo montado mais alto,


que
com a culatra, e havendo necessidade de permitia à guarnição ter uma melhor visada (o
aumentar a velocidade inicial dos único dispositivo de direção de tiro disponí-
projetis dos
canhões, retornaria ao canhão Armstrong. vel era apenas a luneta) e impedia o
que
A propulsão a vapor também evoluía: é canhão fosse lavado pela água do mar (devi-

lançada ao mar, em 1862, a Escuna francesa do ao grande peso da torreta, a borda livre do

Actif,com máquina a vapor com dupla expan- navio era muito não sendo total-
pequena);
são (cilindro de alta pressão e de baixa mente fechada como a torre, a barbeta deixava
pres-
são); no ano seguinte, é lançado o Navio- a do canhão livre do ambiente
guarnição
Transporte francês Loiret, com uma variante enfumaçado do interior da torre. Suas des-

da máquina de dupla expansão: a sua máquina vantagens eram a dificuldade de carregar o

11. No período que vai da Guerra de Secessão até a Primeira Guerra Mundial, o maior desenvolvimento das minas
"chifre
foi o de um sistema independente de disparo, conhecido com o de Herz". Consistia em frascos de
vidro com solução ácida; quando o vidro se quebrava pela choque com o casco do navio alvo, a solução ácida
liberada tornava-se o eletrólito de uma bateria primária, produzindo assim uma corrente elétrica que acionava
o detonador da mina. Este foi um passo extremamente importante pois, como a mina continuava inerte até
ser quebrado o vidro, a sua vida era ilimitada.

14S RMB4T/2000
canhão
pela boca e a exposição da guarnição nós); sua guarnição era de oito homens;
do canhão ao tiro inimigo, principalmente dispunha de tanques de lastro e sistema de
durante o
recarregamento. Ambas as dificul- respiro com dois tubos; era armado com tor-
dades foram sanadas com a adoção dos sis- pedo-lança (spar-torpedo), uma carga expio-
temas hidráulicos, o ca- siva colocada
que permitiam que na extremidade de uma lança
nhão fosse
rebaixado da
para trás da proteção (manobrava-se a embarcação de modo que a
couraça
da barbeta quando recarregando. carga explosiva fosse de encontro ao casco
A evolução levou à combinação dos dois do navio inimigo, explodindo —
por impacto
llPos, fazerido-se
a casamata montada sobre algumas vezes
por disparo elétrico). É o pri-
a barbeta, meiro submarino a obter um êxito militar, ten-
dando origem ao que foi inicialmen-
te chamado "torre-barbeta",
de e, posterior- do afundado o navio de federalista
guerra
niente, simplesmente Housatonic,
torre ou torreta. o submarino, também
porém,
Por outro lado, havia ainda os afundou, com
que acredi- toda a sua tripulação; ao se
tavam afastar do local, com as escotilhas
no princípio da bordada, com os ca- abertas, o
nhões alinhados do submarino embarcou
ao longo dos bordos água e foi a
pique (an-
navio Na teriormente julgava-se
do Gloire e do Warrior).
(caso que ele tinha sido al-
fedida, cançado explosão);
porém, em que os canhões aumenta- pela o ataque foi feito
vam de com o submarino imerso.
tamanho, este sistema teve de ser
"bateria
modificado, transformando-se na
A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA
central", de
com os canhões situados dentro
uma cidadela co- Na América do Sul, o
encouraçada ou casamata, ano de 1864 fica
locada a marcado
meio-na vio. A bateria central, com pelo começo da Guerra da Tríplice
°s canhões Al iança (1864-1870), envolvendo, de um lado,
atirando principalmente pelos
bordos do com os Argentina, Brasil e
navio, foi muito popular Uruguai, e do outro o
navios de mista, nesses Paraguai. Coube exclusivamente
propulsão já que quase que
navios a aparelhagem a vela ao Brasil a responsabilidade
para a propulsão pela condução
impedia das operações
a operação da torre ou da barbeta, navais.
limitando dos seus ca- Em 1865, é travada
muito o arco de tiro entre brasileiros e
nhões 1865 seria lançado a Batalha Naval
(apesar disso, só em paraguaios do Riachuelo,
o uma batalha fluvial de caráter decisivo
primeiro navio com bateria central).
já que
Em 1863, os franceses lançam ao mar o a Esquadra foi dizi-
paraguaia praticamente
Submarino Le Plongeur; ele usava arcompri- mada. Embora a Fragata Amazonas, capitânia

mido tanto a como o brasileira, de


para propulsão para propulsão mista a roda, não
sistema de mergulho. Tinha dispusesse de aríete,
grandedificulda- o almirante brasileiro
de em manter a obstá- adotou a tática
profundidade (o maior de abalroar os navios
culo inicial o desenvolvimento do sub- e decidiu
para paraguaios, a sorte da batalha, ao
marino) e não dispunha de sistema afundar dessa forma
qualquer três dos navios
de armas. O projeto foi logo abandonado. e uma
paraguaios das chatas.

Nos Estados Unidos, ainda na Guerra de A força brasileira era composta de nove
Secessão, os confederados construíram em navios de casco de madeira e
propulsão mis-
1864, o Submarino Hunley, nada mais ta, enquanto a força
que paraguaia compunha-se
era do uma caldeira cilíndrica de ferro, também de nove navios rebocando
que chatas
com tampas cônicas em ambas as extremida- artilhadas; na verdade, lado
do paraguaio
des; tinha 40 apenas o Taquari
pés de comprimento, sua propul- era um navio de guerra,
são era a mão sendo
(a velocidade podia chegar a 2,5 os demais navios adaptados.

RMB4T/2000
149
As canhoneiras construídas na França e guerra desestimulou os esforços que se fazi-
na Inglaterra, chegadas ao Brasil como vimos am; seria necessário uma nova crise
para que,
em 185 8, com propulsão mista a hélice, cons- embora precariamente, se retornasse a cons-

tituíam o núcleo da Esquadra brasileira, com trução na década de 1880).12

os navios de maior porte e calado e menor O investimento feito na de


preparação
capacidade de manobra reservados a no início da década de 50 dava assim
para pessoal

proteção do tráfego marítimo ao longo das os seus melhores frutos.

costas do Brasil, inadequados que eram O Arsenal de Mato Grosso, situado na


para
operações fluviais. área próxima ao conflito, também contribuiu

A Batalha Naval do Riachuelo, embora para o esforço de guerra: em 1863, construiu

eliminasse a ameaça representada Es- uma canhoneira a vapor, de rodas; em 1864,


pela

quadra paraguaia e assegurasse o bloqueio um vapor fluvial de rodas13. O estaleiro da

do Paraguai pela vitoriosa força naval brasi- Ponta da Areia, em 1865 construiu duas

leira, não teve as conseqüências estratégicas canhoneiras14.

que se poderia esperar de uma batalha deci- Na Europa, prosseguiu arevolução naval-

siva. Graças às fortalezas que os paraguaios militar, com o lançamento, em 1865, do HMS

fizeram construir nas margens do RioParaguai, Belleroplion, navio de linha com


primeiro
"inexpugnável"
em especial a Humaitá, a Es- bateria central; sua bateria compreendia dez

quadra brasileira teve o seu acesso barrado canhões de 9 além de dois ca-
polegadas,
rio acima, não podendo,
pois, dispor da mais nhões de 7", montados numa bateria na
popa,
importante via de acesso logístico, numa re- e três canhões de 7", sem proteção, dos
quais

gião alagada onde as comunicações terres- dois poderiam atirar pela proa; o navio dispu-

tres eram extremamente precárias. nha de aríete e sua couraça de ferro tinha 6

A partir de 1865, o desafio criado de espessura.


pela polegadas

guerra iria ser a causa de um novo surto de

desenvolvimento da construção naval no A GUERRA AUSTRO-PRUSSIANA -

País, especialmente no Arsenal da Corte: em A BATALHA DE USSA

1865, foram lançados ao mar uma canhoneira

a vapor e dois navios encouraçados; em 1866, A Guerra Austro-Prussiana (1866), embo-

um navio encouraçado e duas bombardeiras; ra decidida em terra, ensejou a Batalha Naval

em 1867, uma corveta e três monitores de Lissa, objeto de inúmeras discussões.

encouraçados; em 1868, três monitores A Esquadra italiana - a Itália era aliada da

encouraçados, além do início da construção Prússia -, sob o comando do Almirante Con-

da Corveta Encouraçada Sete de Setembro, de Cario di Persano, escoltava um


quando
com casco de madeira e couraça de 4 comboio de tropas atacariam a Ilha de
polega- que
das (só seria concluída em 1874: o fim da Lissa, no Mar Adriático, avistou a Esquadra

12. Os navios lançados ao mar no Arsenal da Corlc foram: em 1865, a Canhoneira Taquari e os Encouraçados
Tamandaré e Barroso-, em 66, o Encouraçado Riachuelo c as Bombardeiras Pedro AJbnso c Forte de Coimbra;
cm 67, a Corveta Vilal de Oliveira c os Monitores Encouraçados Pará, Rio Grande e Magoas-, cm 68, os
Monitores Encouraçados Piauí, Ceará e Santa. Catarina, além do Vapor Levei e do Rebocador
pequeno
La/nego. Alguns dos encouraçados c dos monitores encouraçados seriam usados cm Humaitá.
13. Os navios construídos no Arsenal de Mato Grosso foram: cm 1863, a Canhoneira Cuiabá-, em 64, o Vapor
Fluvial Paraná.
14. Os navios construídos no estaleiro da Ponta da Areia em 1865 foram as Canhoneiras Greenlialgli e Mart ílio
Dias.

ISO RMB4uT/2000
(

BRASILEIROS CONSTRUÍDOS NO BRASIL

\'iuil|^/r, Mveini''|K<>7•'

Alagoas (1867), 1 H -
r
moniior-cncourafado '
4
Sele de Setembro (1874). fragala brasileira (no texto ela c classificada como corveta) (Foto: SDM)

liellerophion (1865). inglês

(Foto: JFS-1898)

Affoiuliilore (1865), italiano (Foto: JFS-1898)

152 RMB4uT/2(>00
austríaca, Com o lançamento ao
sob o comando do Almirante Von mar em 1866 da
Tegetthoff, Ambas as Fragata HMS Pallas, a máquina a vapor de
vindo para o ataque.
Esquadras de navios com dupla expansão é usada em navios de maior
eram constituídas
canhões na obso- anteriormente
borda, que já se tornavam porte; (1862) ela fora usada
'etos, sendo italiano numa escuna.
a única exceção o navio

Affondatore, com No ano de 1867, o oficial Marinha


que dispunha de torreta de
dois canhões e, tam- austríaco Johann Luppis e inglês
de alma raiada de 9,75" o Robert
bém, de aríete - Whitehead desenvolvem o
sem dúvida, o mais poderoso projeto do primei-
navio ro torpedo autopropulsado, arma que, após
que participou da batalha (recém-saído
do estaleiro uma série de aperfeiçoamentos, iria revoluci-
construtor na Inglaterra, o navio
não tinha reais onar a guerra no mar, como adiante veremos.
condições para o combate). A
frota austríaca, O
numericamente superior, ti- primeiro torpedo tinha um motor de ar
nha a maioria de seus navios com propulsão comprimido que lhe imprimia uma velocidade

a hélice, mas sem couraça; seus navios de 6 nós, e dava-lhe um alcance de apenas 300

encouraçados Max e transportava uma carga


Erzherzog Ferd.ina.nd jardas; de dinamite

Hcibsburg ainda não tinham recebido os no- de 18 libras no nariz.

vos canhões Krupp, tendo A partir de 1867 o vapor

c°mo armamento e ser usado a bordo


principal os passa
velhos
canhões na borda, para ac ionamento de máqui-
56-pounder, de lisa, nas auxiliares, como,
alma por
Praticamente inúteis contra Navios de madeira da exemplo, para a geração de
as couraças italianas; os energia elétrica, movimen-
Esquadra brasileira, não
outros cinco navios da frota tação de guindastes, paus
enfrentar
só dispunham podiam de carga e cabrestantes, ti-
de canhões
64 -pounder, de carregamen- fortalezas equipadas com ragem forçada das caldeiras

topelaculatraeraiados,e56- (o que permitia maiores ra-


a artilharia da época

Pounder de alma lisa. A arti- zões de combustão) e para


'haria da frota italiana era uma melhor ventilação dos

muito superior à da austría- compartimentos habitáveis

ca; embora seus canhões do navio. Uma verdadeira

fossem também na borda, eram de alma raiada. revolução, não é na


que quase percebida
Inferiorizados na artilharia, os austríacos re- atualidade.

solveram fazer uso da tática de aríete. O

Encouraçado italiano Re d'Italia foi afunda- A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA

do dessa maneira; o Palestro, atingido CONTINUA


por
uma na popa, explodiu.
granada
No momento em mente, Na América do Sul,
que, incontestável prosseguia a Guerra
a couraça mostrava-se decididamente supe- da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Apesar

rior ao canhão e se atribuía ao aríete enorme daesmagadora vitória brasileira em Riachuelo,

valor, impunha-se a Esquadra não


que o maior número possí- pôde prosseguir rio acima

vel de canhões da bateria antes do conflito, os paraguaios ha-


principal pudesse porque,
atirar o navio tentava viam feito construir modernas fortalezas, en-
pela proa, já que que
alcançar o outro com aríete tinha tre as
que avançar quais Humaitá, nas margens do Rio

de Paraguai; numa região alagadiça como aque-


proa para o inimigo e era importante que o
fizesse la, o rio era a única via disponível
com os seus canhões atirando. para o apoio

RMB4°T/2000 153
logístico das forças em operação e o livre canhão era de 120 mm; nos outros, o canhão

acesso a ele era, pois, indispensável. Com os era de 70 mm.

navios que, em 1865, compunham aEsquadra O projeto desses monitores era totalmente

brasileira a neutralização das fortalezas era, baseado no projeto do seu ilustre antecessor

porém, impossível: navios de madeira, con- da Guerra de Secessão, o Monitor.

forme já foi aqui apontado, não en- Em fevereiro de 1868, a foi


podiam passagem
frentar fortalezas equipadas com a artilharia forçada navios encouraçados
pelos
da época. (ironclad) Barroso, Bahia e Tamandaré, cada
Foi assim necessário que o Arsenal da um levando a contrabordo, bombordo,
por
Corte desenvolvesse a tecnologia adequada um monitor couraçado, respectivamente, o

e construísse os navios com couraça Rio Grande, o Alagoas e o Para; as conseqü-


que

pudessem forçar a passagem da Esquadra ências da rendição da fortaleza de Humaitá

para além de Humaitá, conforme as lições da pouco depois, em julho, foram quase imedia-
Guerra da Criméia (o bombardeio do forte de tas: em de 1869 as tropas aliadas
janeiro
Kinburn e de Sebastopol já ocupam a capital inimiga;a

comentados) e, as mais re- ainda


guerra prosseguiu
centes, da Guerra de Seces- mais um tempo, até março
Os dos
são nos Estados Unidos projetos de 1870, mas já decidida,

(David Farragutt em Mobi- encouraçados e dos com as tropas da Tríplice

le). Já vimos que a


partir de monitores encouraçados
Aliança
perseguindo im-

1865 a Marinha construiu através do


placavelmente,
eram de Napoleão Levei, e
um número considerável de território paraguaio, as de-

navios. as máquinas instaladas sorganizadas mas aguerri-

Os projetos dos encou- foram de das tropas de Solano


projeto e
raçados e dos monitores López.
construção nacionais, a
encouraçados, conforme Durante o conflito da

apontado cargo de Carlos Braconnot


anteriormente, Tríplice Aliança, os

eram de Napoleão Levei, e lançaram mão


paraguaios
as máquinas instaladas fo- da de minas, sob
guerra
ram de projeto e construção nacionais, a inspiração da Guerra da Secessão. Para tanto,

cargo de Carlos Braconnot. (Ver fotos na contrataram um ex-oficial da Marinha dos

pág. 139) Estados Unidos, Thomas H. Bell,


que produ-
Os monitores encouraçados eram de ziu minas no Arsenal de Assunção. As minas

construção mista de madeira e ferro (os vaus ali desenvolvidas consistiam num recipiente

eram de ferro) e levaram couraça de ferro; vedado, cheio de a um


pólvora, preso
sua única propulsão era a vapor; dispunham flutuador, com um sistema mecânico de dis-

de um canhão montado em torre giratória, paro. As minas eram lançadas rio abaixo con-
na linha de centro do navio, na forma de tra os navios brasileiros.

um prisma retangular com duas faces Para se prevenir contra este tipo de
guerra,
circulares (menor peso); tinham o Brasil contratou por sua vez um engenheiro
pequeno
calado e ótima manobrabilidade aos norte-americano
graças que, durante a guerra civil,
dois eixos propulsores. Em três monitores servira à Marinha dos Estados Confedera-
- Ceará, Piauí e o Santa -
Catarina o dos: James Hamilton Tomb*. Para proteção

* "Diário
N.R.: Sobre esse engenheiro, ver do Captain Tomb", RM1I 1" trim./2000, 137-156.
p.

154 RMB4T/2000
'—¦ 4SL^mmmmmmmnrlt*itmm*ékm - -t*^*"< '" '* —^—^4ttaid^ "¦¦ '. I
.

/ííi/i/í/ e Tamandaré (IS6S1. Encouraçados brasileiros

*-^É-ati
-o^-l
ris

Pará (1868). Monitor encouraçado brasileiro

¦^^B^i^a_M^aa^aa^i^ki ^^^^^^^^^^^^

RM B4T/2OO0 155
dos navios contra as minas derivantes, ele na batalha de Sedan; a incontrastável supe-

rioridade naval francesa - a França era o


adotou redes de proteção, colocadas junto

aos navios fundeados, e estabeleceu um sis- Poder Naval de desafiava o Poder Naval

tema de escaleres tripulados a patrulha hegemônico da Inglaterra - não teve nenhu-


para

dos rios, com o de encontrar e ma influência na guerra. Pode-se tirar disso


propósito

desviar as minas lançadas. uma importante 1 ição: para que o Poder Naval

Apesar dessas medidas, durante o bom- exercer todas as suas capacidades é


possa

bardeio de Curuzu pelas forças navais brasi- indispensável que a guerra tenha certa dura-
na Guerra Austro-
leiras (1866), o Encouraçado brasileiro Rio de ção, conforme já ficara claro

Janeiro foi atingido por uma mina e afundou, Prussiana, quando a derrota no mar dos itali-

com boa parte de sua tripulação. anos, aliados da Prússia, não teve conseqü-

O reconhecimento do valor da couraça ências significativas para o desfecho do con-

aumentava em toda a parte; com a evolução flito (a decisiva Batalha de Sadowa definiu a

dos canhões e dos projetis impunha-se o uso sorte da guerra).

de couraças cada vez mais espessas: a partir Continuavam as experiências com o torpe-

de 1868 as couraças dos navios de linha do Whitehead. Após algumas experiências

realizadas pela Esquadra


passaram a ter até 9 pole-
ain- britânica do Mediterrâ-
gadas de espessura,

da de ferro. neo,em 1870, alnglater-

A com ra comprou o direito de


preocupação
Para o Poder Naval
o uso dc aríete levou, que fabricação desses torpe-

conforme já aqui assina- exercer todas as suas dos; posteriormente, ou-


possa
lado, a esforços para dar tros países, como aFran-
capacidades é
aos navios uma clara li- ça, a Alemanha, a Aus-
indispensável a
nha de tiro que guerra tria, a Itália, a Rússia e a
pela proa:

dentro desse espírito, é tenha certa duração Suécia fizeram o mesmo.

lançado ao mar, em 1868, Estava aberta a porta para

o HMS Hércules, arma- que essa arma tivesse

do com uma bateria cen- adoção geral embora ain-

trai de oito canhões de 10 polegadas, quatro da levasse algum tempo para que ela demons-

dos instalados sobre plataformas trasse toda sua eficácia e viesse revolucionar
quais

rotativas nos cantos da cidadela avante, per- a arte da guerra no mar.

mitindo que eles pudessem cobrir um arco de

tiro indo da proa até a alheta; o navio dispu- ACIRRA-SE O DUELO

nha ainda de dois canhões de 9" e quatro de COURAÇA x CANHÃO

7", metade deles atirando para vante, metade

Um importante acontecimento tem lugar


para ré.
em 1871. O HMS Captain, navio de

A GUERRA FRANCO-PRUSSIANA mista e armado com torreta,


propulsão

emborca e afunda. O navio era projeto do

No ano de 1870 tem lugar a Guerra Franco- oficial da Marinha britânica Cowper Coles.

Prussiana, última etapa do processo de unifi- Durante a construção do navio, Coles

caçãoda Alemanha, soba liderançada Prússia estava doente e, por isso, não a supervisio-

nou; os foram sendo colocados a


de Bismarck. Foi um conflito exclusivamente pesos que

terrestre, sendo decidido muito rapidamente bordo deixaram de ser controlados, de forma

156 RMB4T/2000
"*hrt _ I M-
*^_
!
f í—fc

i
I>*P^i-» _ r-lilnir. Dreadnoughl (1875). Encouraçado inglês (Ambas folos: CAB)

^—"~T^ ~^ "X

<* _Xri_r-Jl Jl_-- /1

K
que o deslocamento do navio, que fora pro- A resposta não se fez tardar: ainda em

jetado para 6.963 toneladas., alcançou 7.767, 1871 foi lançado ao màxoHMS Devastation,

e a borda livre de projeto, que era de 8 Vi pés, primeiro navio de linha com propulsão exclu-
lA
caiu para apenas 6 pés na ocasião da si vãmente a vapor, só dispondo de um peque-

entrega. no mastro para sinais. Era

Algumas importantes li- — dotado de torres a vante e

ções foram tiradas desta tra- A torreta, com seu enorme a ré da superestrutura, com

gédia: tornava-se evidente canhões de 12", com


mostrava-se
peso,
que a propulsão mista, im- conteira ainda manual; sua
totalmente incompatível
plicando no uso de mastros, couraça atingia 12" de es-

vergas e toda a aparelhagem com a a vela pessura, extraordinária


propulsão
necessária para a propulsão para a época. Essa combi-
a vela, era incompatível com nação de grande couraça e

o emprego das couraças, cada vez mais pesa- de torres com grandes canhões só foi possí-
das; a torreta, com seu enorme peso, mostra- vel porque o navio não dispunha de velas.

va-se totalmente incompatível com a propul- Em 1871, um importante acontecimento

são a vela. teve lugar no que concerne à propulsão


a

¦ Ambas fotos:
Iniinaerer
WMM
¦* CA"
(1872). _
Encoura^ado

' ''
'
vapor: dois canhões de 11" montados
o oficial da Marinha francesa F. du em barbeta.
Temple inventa de Em 1875, foi lançado o navio da mesma classe
a caldeira aquatubalar
tubos finos, Vice-Almirante Popov, só que
tornando obsoletas as antigas seus canhões
caldeiras eram de 12". Embora esses navios
flamatubulares. Posteriormente, os fossem,
mgleses Thornycroft e o francês como estáveis, mes-
e Yarrow projetado, plataformas
Normand desenvolvem mo em condições de mar em
outros modelos des- que outros navi-
te tipo de torna de os jogavam muito, o fundo chato em forma de
caldeiras, que, assim, se
uso "batessem"
universal. disco fazia com que muito com o

Em 1872, é lançado ao mar o HMS mar e que o seu convés estivesse quase
Thunderer,
da mesma classe que o permanentemente imerso quando em viagem.
Devastation, de vante O em virtude desse
mas com os canhões projeto, problema, foi
de 12,5" , operados c com definitivamente abandonado.
hidraulicamente
c°nteiraavapor. Em mais uma etapa do duelo entre a cou-

No Brasil, é lançada ao mar, no Arsenal da raça e o canhão, é lançado ao mar em 1875 o


Corte, em 1873, HMS Dreadnought - homônimo
a Corveta Trajano, que assi- do navio
nala o início se tornaria famoso três décadas
de um novo ciclo de construção que mais
naval no
País, embora a situação econômica tarde - o primeiro encouraçado a usar couraça

do País fizesse de muito de 14" de espessura. foto na pág. 157)


com que ele fosse (Ver
menor expressão sob A Guerra de Secessão mostrara
que a do ciclo anterior, que pe-
motivação da Guerra do Paraguai. Dois navi-
quenos navios, embora armados com os tipos
°s encouraçados, foram mais de torpedos - o torpedo-
de propulsão mista, primitivos
'ançados longo da lança ou o torpedo Harvey (uma carga expio-
no mesmo Arsenal ao
década de de casco de si va rebocada que era levada a explodir contra
70; eram cruzadores
madeira, de muito baixa velocidade e de pe- o costado do navio inimigo)15 - ter
podia

queno valor militar. sucesso contra um na vio maior e melhor arma-

Uma curiosa tentativa teve lugar na do: pequenas embarcações conhecidas como
"Davids"
Rússia, as
em 1873. Para dar aos navios (porque se opunham aos grandes
"Golias"
características da força federal) realizaram ataques
de uma boa plataforma de tiro,
e. ao mesmo com êxito - inclusive
tempo, conciliar um grande des- contra o navio USS
'ocamento Albermale, afundando-o — embora
com pequeno calado, nesse ano algumas
0s russos o Navio vezes sendo vítimas das
lançaram ao mar explosões que pro-
Encouraçado Novgorocl, vocaram. Em 1875, coube
para defesa costeira aos noruegueses
de casco circular, lançar ao mar a Torpedeira
com o formato semelhante Rap, para defesa
ao de uma frigideira. O navio dispunha de três costeira, uma pequena embarcação de 7 a 8
conjuntos seis toneladas, com 55
de máquinas acionando pro- pés de comprimento, capaz
Pulsores, lhe davam uma velocidade de desenvolver uma velocidade de 15 nós;
que
máximade8,5 nós; sua artilharia compreendia barcos semelhantes foram construídos
para a

'5. O torpedo Ilarvcy, uma invenção do oficial da Marinha inglesa Harvey, consistia basicamente numa carga
explosiva (à época, explodir debaixo d'água era chamado de torpedo),
qualquer dispositivo para que era lançada
pela popa da embarcação atacante presa por um fio; quando rebocada em alta velocidade tendia, a se afastar
da esteira da embarcação atacante formando com ela um ângulo de 45° (um dispositivo semelhante ao usado
na pesca ajudava essa tendência); a carga podia ser preparada para explodir
quando se chocasse contra o casco
do navio alvo ou acionando-se eletricamente um dispositivo
podia ser preparada para explodir quando a carga
estivesse em ao alvo. O torpedo-lança consistia numa carga explosiva
posição conveniente em relação
"lança"
colocada na extremidade de uma longa presa à proa da embarcação atacante.

KMB4"'1720<>0 159
Suécia, Dinamarca, Áustria e Argentina; em- reduzida a pedaços. Os italianos decidiram a

bora o torpedo auto-propulsado já tivesse favor do aço.

aprovado, como vimos, em testes realizados Os canhões de 17,7", porque na época não

em 1870, nenhum desses navios dispunha existia nenhum sistema de carregamento ca-

dessa arma; dispunham apenas dos primiti- paz de carregá-los e operá-los com eficiência,

vos torpedos. logo se mostraram inadequados, apresentan-

Em 1875, surge um novo tipo de navio, do uma cadência de tiro muito baixa; mostra-

com o lançamento ao mar do Cruzador ram-se menos eficazes que os canhões de 12"

Encouraçado ou Encouraçado de 2a classe que, por isso, tornaram-se o armamento pa-

HMS Shannon, que se pretendia pudesse drão nos encouraçados de todo o mundo.

realizar tanto as tarefas do encouraçado, for- Com o Duilio foi iniciada a prática da

mando na linha de batalha, como as de cruza- cidadela central e torretas nos cantos opos-

dor, na proteção ou ataque ao tráfego maríti- tos da cidadela.

mo; foi o primeiro navio a ter convés Como o aumento da espessura das coura-

encouraçado, além da cinta-couraça até a ças passou a comprometer a velocidade dos

linha d'água, esta introduzida para dar prote- navios (havia limites para a potência instala-

ção aos novos motores de propulsão verti- da), tornou-se importante desenvolver cou-

cais; deslocava 6.000 toneladas e atingia a raças de outros materiais que, por terem me-

velocidade de 14 nós; seu armamento era do lhor resistência, poderiam ter menor espessu-

tipo bateria central. ra e peso. Os esforços nesse sentido não

Com o crescente aumento da espessura tardaram. Tanto na França (Marselha) como

das couraças, canhões cada vez maiores fo- na Inglaterra (Sheffield) foi desenvolvida a

ram sendo usados a bordo. Em 1876 foi couraça composta: umaplacade açoera sol-

lançado ao mar o Encouraçado italiano Duilio, dada sobre uma de ferro. Os testes realizados

de 12.000 toneladas (outro, da mesma classe nos dois países com esta couraça foram um

seria lançado em 1878, o Dandolo), armado enorme sucesso, de modo que nos dez anos

com quatro canhões gigantescos de 17,7" que se seguiram elas foram de uso obrigató-

(cada canhão pesando 100 toneladas), de rio, em todas as Marinhas do mundo, para os

carregamento pela boca; o navio dispunha de grandes encouraçados.

uma couraça de aço de 22", e desenvolvia a Em 1876, foi lançado ao mar o HMS
"sanduíche",
velocidade máxima de 15 nós. Injlexible, ainda com couraça

Para a escolha da melhor couraça, os de ferro forjado, com 24" de espessura, o

italianos realizaram testes entre uma couraça limite a que se podia chegar com couraças de
"sanduíche"
de ferro forjado (como usual até então) de ferro; o tipo compreendia duas

22", fabricada em Sheffield e em Marselha, chapas de ferro de 12", com madeira entre

e uma couraça de aço desenvolvida por elas. Deslocando 11.000toneladas,eraomaior

Schneider, de igual espessura, ambas navio até então construído; dispunha de

montadas sobre placas de madeira (teca) de quatro canhões de 16" (peso unitário de 80

19"; sabia-se de antemão que o aço oferecia toneladas), carregamento pela boca; seu com-

maior resistência que o ferro mas, por outro primento era de 320 pés e a boca moldada de
lado, ele se mostrava mais quebradiço. 75 pés. Para determinar as melhores caracte-

Ambos os materiais não foram perfurados rísticas para os seus hélices, foram realizados,

pelos tiros dos canhões de 10"e 12"; quando por William Froude, testes hidrodinâmicos

foram testados com o canhão de 17,7", a em tanques de prova e, graças a isso, apesar

couraça de ferro foi perfurada e a de aço foi do seu enorme tamanho, o navio podia desen-

160 RMB4T/2000
volver 15 nós. Dispunha de tanques anti- na foz do Rio Danúbio, duas canhoneiras

rolamento - turcas ancoradas; as lanchas, arma-


e de luz elétrica. Levava a bordo quando
uma concepção arrojada! - dois torpedeiras das, só eram capazes de desenvolver 5 nós e,

de 60 como o torpedo tinha ser levado de


pés, com os primeiros tubos de torpedo que
submersos. complexidade, o encontro ao casco inimigo, elas ficaram muito
Devido à sua
navio só foi comissionado em 1881. tempo sob o fogo do inimigo, mas
pesado

Em 1876, foi lançado ao mar o HMS apesar disso, o ataque foi um sucesso: a

Lightning, uma torpedeira de 19 toneladas, Canhoneira turca Seife foi a pique sem que a

fabricado lancha que a atacou tivesse sofrido qualquer


pela Thornycroft, com velocidade
de 18 nós. A importância dessa embarcação baixa.

está no fato de modelo


dela ter servido para
um número embarcações seme- AS TORPEDEIRAS COM TUBOS
grande de
'hantes AXIAIS
construídas pela própria Thornycroft
e
pela Yarro w, em face do enorme sucesso do
Lightning, depois que ela recebeu, algum Nesse ano, é lançada a Torpedeira france-

tempo depois sa Embarcação Torpedeira Na 1 antes


do lançamento, um dispositivo que,
de lançamento do torpedo do Lightning, é a primeira embarcação
pela popa prepa-
autopropulsado logo veremos, não rada para lançar os torpedos Whitehead,
(como por
foi, 'água,
tubos axiais, situados abaixo da linha d
porém a primeira embarcação a dispor de
tubo um avante e outro a ré, entre os dois eixos. É
para lançar o torpedo Whitehead).
Novos melhoramentos foram introduzi- uma embarcação de 101 toneladas, acionada

dos na construção naval: em 1876, é lançado por duas máquinas alternativas de três cilin-

ao mar Rédoutable, dros, que lhe imprimiam uma velocidade de


o Encouraçado francês
navio com 14,25 nós. Embora não tenha sido um suces-
casco de aço e couraça de aço de
22 so, devido à sua baixa velocidade, seu
polegadas (como se vê, a couraça compos- projeto
ta custou serviu de base um novo tipo
a ser usada); primeiro navio a ter as para de navio

cavernas anos mais tarde, seria conhecido


de aço, conipartinientagem estan- que, como

flue com duplo fundo e anteparas estanques navio contra os torpedeiros ou


transversais contratorpedeiro.
e longitudinais.

Em 1877, numa das recorrentes guerras O emprego operacional do torpedo


entre russos autopropulsado deu um
e turcos, quatro lanchas russas, novo e extraordiná-

armadas rio impulso à tática


com torpedos-lança, atacam à noite, naval. Os dispositivos

Rédoutable (1876). Encouraçado francês (Foto: JFS 1898)


I/ncscar (1865).
Monitor chileno

— ¦-^ ^ v *• ' '' '' ' •"•"t • * r- —

Almirante Corhranc.
Cruzador chileno
— (Ambas fotos: JFS-1898)

para lançamento dos torpedos Whitehead, podia ser lançada uma torpedeira, alojada

quer os instalados no convés quer em tubos nesse compartimento; duas outras torpedeiras

axiais submersos, tornaram-se comuns em eram transportadas no convés superior. As

quase todos os navios de combate, mas, pequenas torpedeiras transportadas nos gran-
especialmente, valorizou as pequenas des encouraçados seriam, algum tempo de-

torpedeiras. pois, designadas torpedeiras de 2" classe,

O sucesso do Lightning, após as modifi- distingui-las das maiores, ditas de 1"


para
cações que o capacitaram a lançar os novos classe, que operavam independentemente.

torpedos, deu origem, confor-

mejá tivemos ocasião de sali- A GUERRA CIIILE PERU

entar, a uma série de torpedei-


O emprego operacional
ras, de construção inglesa, mas Um incidente no mar, ocor-
do torpedo
adquiridas pelas pequenas rido cm 1877, foi importante

Marinhas de todo o mundo. autopropulsado deu um em evidência as


porque pôs
As torpedeiras Thorny- limitações dos cruzadores da
novo e extraordinário
croft deslocavam 13 tonela- época. Tendo o Monitor pe-
impulso à tática naval
dasedesenvolviam 14 nós; as ruano Huescar se envolvido

Y arrow, 27 toneladas e 17 nós; — em atos de foi ele


pirataria,
ambos os tipos podiam lançar interceptado pelo Cruzador

dois torpedos Whitehead. Inicialmente, es- inglês HMS Shah\ apesar da enorme superi-

sas embarcações eram projetadas para serem oridade do cruzador sobre o monitor no que

levadas a bordo dos navios de linha, operan- diz respeito à artilharia-o cruzador dispunha

do a partir deles; o Dtiilio, conformejá foi dito, de 18 canhões, sendo dois de 10 polegadas e

transportava torpedeiras: ele dispunha de um 16 de 6 polegadas - o encontro não foi con-

grande compartimento a ré, na altura da linha clusivo; devido à baixa velocidade inicial dos

d'água, fechado na extremidade posterior por canhões do Shali, que usavam pólvora negra

pesadas portas estanques, através das quais como propelente, seus projetis não conse-

162 RMB4T/2000

.
guiram a couraça de 4Vi de ferro mais do que um canhão funcionando, estava
penetrar
forjado com tiros sem leme e estavam fora de combate cerca de
do navio peruano, mesmo
disparados três de sua tripulação. Depois de
à queima-roupa. Nesse duelo entre quartos
a couraça era extenso trabalho de reparas o Huescar, agora
e o canhão, a tendência para
canhões arvorando o pavilhão chileno, enfrentou em
cada vez maiores (veja-se o caso do
Duílio) vez mais resis- 1880 o Monitor peruano Manco Capac numa
e para couraças cada
tentes sem
e espessas (veja-se o caso do batalha qualquer resultado para um dos

Inflexible). lados.

O confronto entre o Huescar e o Sliali O primeiro êxito em combate de um torpe-

ficou também do autopropulsado não tardaria a chegar. Na


marcado porque foi a primeira
vez extremidade mais remota do Mar Negro, em
que um torpedo Whitehead foi lançado
ern combate; Batoum, enfrentavam-se russos e turcos;
o torpedo lançado pelo cruzador o
falhou, comandante russo, Almirante Makharof,
possivelmente porque o navio peru- vi-
ano nha tentando atacar os turcos usando
pôde se esquivar (mais provavelmente
devido torpedeiras armadas com o torpedo Harvey,
às deficiências ainda existentes no
torpedo). sem nenhum resultado. Somente com a che-

O Huescar, de volta mais tarde ao controle gada dos torpedos Whitehead, a situação iria
do mudar; os torpedos e seus dispositivos
governo do Peru, representou um papel de
relevante lançamento foram colocados em dois barcos
na Guerra do Chile contra o Peru e
aBolívia( especialmente preparados
1879-82), em que o Poder Naval foi para isso;em 1878,
usado Em 1879, o eles atacaram e afundaram um vapor turco de
de maneira intensa.
Huescar e o Encouraçado Independência, da 2.000 toneladas lançando os torpedos a uma
t' ota distância de apenas 80 jardas.
peruana, enfrentaram a Chalupa chilena
Esmeralda Os motores compostos
e a Chalupa Cavadonga; o Inde- que, como vimos,
Pendência foi levado a encalhar vinham sendo usados desde 1863, atingem o
pelo
Cavadonga até se transfor- seu máximo desenvolvimento em 1878, com
e bombardeado
^ar num casco soçobrado e o Huescar afun- o lançamento ao mar dos Navios de Despa-
dou o Esmeralda; com o resultado de ação, cho - correspondente aos avisos franceses -
foi suspenso da Marinha britânica, o íris e o Mercury,
temporariamente o bloqueio de
que
Iquique atingem a velocidade recorde
pelos chilenos. Em outubro do mes- de 18,5 nós.
¦no ano, dois Em 1879, mais um acidente
o Huescar foi atacado por grave na Ma-
navios chilenos, rinha britânica traz conseqüências importan-
o Blanco Escalada eoAImi-
''cinte tes: explode um dos canhões de
Cochrane e, depois de uma batalha 12", carrega-
heróica, não dispunha de mento pela boca, do HMS Thunderer. Depois
rendeu-se, quando

Iris c Mercury (1896). Navio de Despacho inglês (Foto: JFS-1898)


de uma nega de fogo, o canhão foi inadverti- das abaixo da linha d'água do navio -
praças
damente carregado com um segundo tiro (pro- de máquinas, de caldeiras e os paióis de

jetil e carga) e, quando feito o novo disparo, munição - eram


protegidas por um convés de
explodiu. A análise do acidente indicou
que aço, com espessuras que iam desde 3á" até 6".

esse tipo de acidente só


pôde ocorrer porque Eram dotados de compartimentagem estan-

o carregamento do canhão era pela boca. e, como adicional, suas


que proteção
Conforme veremos, o acidente do carvoeiras foram colocadas
junto ao costado
Thunderer contribuiu os ingleses do navio.
para que
voltassem a usar o carregamento
pela culatra. Os cruzadores encouraçados dispunham

A verdade, porém, é que mesmo nesses ca- de couraça lateral, o que lhes dava uma pro-

nhões, continuavam a ocorrer acidentes; isso teção superior a dos O primeiro


protegidos.
só acabaria quando, mais tarde, o tubo alma destes navios apareceu, conforme menciona-

dos canhões, que era de ferro forjado, fosse do anteriormente, em 1875, o Cruzador

feito de aço. Encouraçado HMS Shannon. Eram também

Em 1879, é lançado o submarino HMS chamados de encouraçados de 2a classe.

Resurgam, do da igreja A tendência para a adoção nos cruzadores


projeto padre
anglicana Garrett. O navio tinha propulsão a de couraça lateral foi muito
persistente apesar
vapor: na superfície, uma caldeira de alguns analistas navais
quando julgarem que, mais

produzia vapor que era descarregado num do couraças e ca-


que poderosas grandes
tanque de água quente; o calor latente assim nhões, a melhor característica dos cruzadores

armazenado era usado para a propulsão era a velocidade superior,


quan- própria dos cruza-
do o submarino estava imerso; por este pro- dores protegidos, e maior rapidez de tiro; o li-

cesso, o navio podia operar mergulhado mite da couraça seria aquele


por que não sacrifi-
ou 5 horas, com velocidade em torno de 3 casse a velocidade ou o raio de ação do navio.

nós. Usava tanques de lastro lhe davam No final da década surgiria uma novaconcep-
que
uma pequena reserva de flutuabilidade. Mer-
ção, sobre o qual falaremos mais adiante.

gulhava com auxílio de hidroplanos. Foi um No ano de 1880, é lançada a primeira


total fracasso, tendo afundado durante as torpedeira seria classificada como de 1"
que

provas de mar. classe, a Torpedeira russa Batoum. Era uma

A partir de 1880, começam asepopulari- embarcação de 40 toneladas, 100 pés de com-

zar os navios construídos com casco de aço -


pri mento, motor de 500 HP e velocidade de 22

já vimos que o primeiro navio com casco de nós. Foi construída na Inglaterra
pela Yarrow.
aço foi o Rédoutable, lançado ao mar em 1876 Em 1880, é lançado ao mar o Cruzador de
- o
que representava um grande avanço pois Batalha Itália, concepção de Benedetto Brin

o aço era mais leve, mais resistente e de menor o Duilio). Optando manutenção
(como pela

preço do que o ferro. dos grandes canhões de 17,7 polegadas


e

acreditando que a velocidade seria um fator

05 CRUZADORES fundamental para esse tipo de navio, o


proje-
tista optou por sacrificar completamente a

Na década de 80 também estavam em de- cinta-couraça; somente as bases das duas

senvolvimento duas concepções diferentes torretas, os elevadores de munição e a base

de cruzadores: os cruzadores protegidos e os das chaminés eram protegidas por couraças,


cruzadores encouraçados. constituindoacidadelacentral.Paracompen-

Os cruzadores protegidos não dispunham sar esta vulnerabilidade, em toda a extensão

de couraça lateral; suas vitais, situa- do navio foi usado um sistema celular de
partes

164 RMB4°T/2000
Proteção, que correspondia à divisão do cas- A bateria secundária, constituída por ca-
co em grande número de nhões de tiro rápido, é instalada, a partir de
pequenos compar-
«mentos estanques, cheios de carvão ou de 1882, a bordo dos encouraçados, de modo
cortiça; a economia de
peso resultante permi- que eles pudessem repelir o ataque das
tlu que atingisse a velocidade de 18 nós, torpedeiras. São canhões de 6 polegadas, ou
admirável na época menores, de carregamento pela culatra, gran-
para um navio desse
Porte. O Itália e o Lepanto, da mesma classe, de rapidez de tiro, instalados em grande nú-
lançado em 1883, são os mero ao longo dos bordos do navio.
precursores dos
cruzadores de batalha da era dos
dreadnoughts. Esta arrojada concepção - o A EVOLUÇÃO DA PÓLVORA
abandono da couraça e a adoção dos ca-
nhões gigantes - não iria O aparecimento desses canhões está as-
persistir, porém,
mesmo na Itália. A maior proteção dada por sociado à evolução da pólvora. A pólvora
couraças mais leves, mas mais resistentes e as inicialmente usada como propelente era a
dificuldades operacionais dos grandes ca- pólvora negra, constituída de grãos peque-
nhões iriam contribuir para isso; os canhões nos, e cuja principal característica é liberar
de 12 polegadas caminhavam para se tornar toda a energia imediatamente após a ignição.
"padrão".
Como a precisão, o poder de impacto e o
Em 1881, Schneider introduz o processo alcance do canhão dependem da velocidade
de tempera do aço mergulhando-o em óleo do projétil ao deixar a boca do canhão (velo-
após o forjamento. As couraças feitas com cidade inicial), foi desenvolvida uma pólvora,
este novo aço mostraram-se mais resistentes feita com grãos maiores (pelotas) e, mais
aos tiros dos canhões de 17,7 polegadas do tarde, em forma de prismas de seis lados, de
que as couraças compostas. Logo, a França modo a ela queimar mais lentamente, exercen-
e a Itália as adotariam do sua ação sobre o projétil por mais tempo,
para todos os navios.
Conforme havíamos antecipado, em 1881 e, portanto, imprimindo-lhe maior velocidade
a Inglaterra voltou a usar os canhões inicial. O tubo alma dos canhões teve que ser
Armstrong, de carregamento pela culatra. feito mais longo ou, do contrário, não haveria
Em 1881, é introduzido o projétil de aço tempo para que toda a pólvora queimasse
«indido. (uma certa quantidade dela em chamas sairia

Cruzadores de batalha italianos Lepanto (1882) e Itália (1880) (Foto: JFS-1898)


pela boca do canhão). Com isso, evidente- julgando o Almirantado que esse conceito só

mente ficava mais difícil o carregamento pela era válido para pequenas Marinhas. As

boca, o que tornava o carregamento pela cu- torpedeiras foram projetadas para combater

latra praticamente obrigatório. Acresce que navios bloqueando como, à época, o


portos;

a alma raiada ia se tornando mandatória, pois, bloqueio era muito usado, as torpedeiras as-

ela dava maior estabilidade ao projétil na tra- sumiram considerável importância.

jetória e, portanto, menos dispersão (mais Um conflito ocorrido nesse mesmo ano

acerto), e, com o advento da ogiva, era impres- contribuiu ainda mais para a valorização das

cindível que o projétil batesse de ponta, o torpedeiras. Para forçar os chineses a aceita-

que, sem al ma raiada, era i mpossível. O engra- rem as reivindicações da França na Indonésia,

zamento do projétil nas ranhuras do tubo alma uma força naval francesa, sob o comando do

era muito difícil com o carregamento pela boca Almirante André Coubert, foi enviada com a

e, assim, impunha-se a alma raiada. missão de atacar os chineses em Foochow,

A pólvora de queima mais lenta, resultante situada Rio Min acima; para alcançar seu

da redução da quantidade de enxofre e au- objetivo, os navios franceses teriam que for-

mento da de salitre e carvão, é a pólvora çar a passagem em partes estreitas do rio,

marrom (ou chocolate); com o seu uso a bastante fortificadas pelos chineses. Como

velocidade inicial do projétil passou de 1.600 os maiores cruzadores franceses não tinham

pés/segundo para mais de 2.000. calado adequado para subir o rio, Coubert

O próximo desenvolvimento levou à pól- passou o seu pavilhão para o pequeno Vapor

vora sem fumaça, uma mistura de nitroglice- Volta, de 1.200 toneladas, e, com cinco pe-
rina e algodão-pólvora, feita em longos cor- quenos cruzadores sem couraça, três

dões (cordite) que desenvolve muito mais canhoneiras e duas torpedeiras, rumou para

energia que as pólvoras comuns, permitindo Foochow, tendo que vencer não só as forti-

o uso de menores cargas para um dado alcan- ficações nas margens do rio mas ainda uma

ce (isso iria permitir, lá para o fim do século, força naval de 11 navios de guerra, dos quais

que os canhões de tiro rápido de 6 polegadas seis tinham mais de 1.000 toneladas -o maior

e maiores tivessem a carga propelente alojada tinha 1.600 - além de nove juncos armados

em estojos de latão; em caso de calibres com canhões de 47, alma lisa, antigos, e dois

menores, o estojo e o projétil foram ligados canhões de 10 polegadas.

numa única peça (munição engastada). O ataque foi tão exitoso quanto ousado.

Em 1884, teve lugar um importantedesen- Uma das torpedeiras francesas, de 32 tonela-

volvi mento na área da propulsão, que traria das, 92 pés, com a sua aproximação bem

com o tempo mudanças expressivas nesta coberta pelo fogo dos navios maiores, atacou

área: Charles Parsons patenteia a primeira com sucesso o Yanou, capitania chinês, dei-

turbina a vapor. xando-oem chamas e lançando a confusão na

frota chinesa; a outra torpedeira, idêntica à


AÇÃO FRANCESA CONTRA
primeira, destruiu a Canhoneira Foo Sing¦
CHINESES
Tendo reduzido a frota chinesa a destroços,

E a partir de 1884 que as torpedeiras de Coubert desceu o rio; no caminho aniquilan-

1" classe tornam-se importantes elementos do os fortes dos estreitos à hábil


graças
de algumas das principais Marinhas, como a manobra de seus navios.

da Rússia e da França. A Inglaterra, embora Em 1885, patenteado por Hadfield, surge

uma das maiores construtoras desse tipo de o projétil de aço fundido, com ponta endure-

embarcações, como vimos, é uma exceção, cida e corpo de material macio.

166 RMB4uT/2000
Em 1885, Nordenfeld, empregando o mes- encouraçados, afetando a sua estabilidade, o


princípio do Resurgam, constrói, na Sué- que seria fatal para eles, pois, no entender do
cia um submarino da école,
de 60 toneladas e 64 pés de pai jeune eram navios fáceis de
comprimento. emborcar (o acidente
A principal diferença entre eles com o HMS Capstain
era mantinha a certamente contribuiu
que o barco de Nordenfeld para o fortalecimento
Profundidade verti- desse conceito); os teorizadores
por meio de dois hélices para da es-
cais, acionados auxiliares a cola, a no mar seria
por máquinas guerra principalmente
Vapor, voltada contra o tráfego marítimo - a
de 6 HP, comandadas por uma válvula
guerra
hidrostática atuando
em função da profundi- de corso - para o que os cruzadores
(e, mais
dade. É o tarde, os submarinos e, bem mais tarde ainda,
primeiro submarino a levar o torpedo
Whitehead, num tubo no lado de fora do os aviões embarcados e os baseados em
casco na tinha terra) eram os meios mais
popa do submarino; o torpedo adequados; ao

Propulsão a vapor. enfatizar a defesa dos - afinal, à


portos época,

o bloqueio de portos era uma tática muito


A JEUNE ÉCOLE
freqüente -
a jeune école valorizava ainda
"poeira
A assunção do Almirante Téophile Aube mais a naval".

°a 1886, criou Coerente com suas idéias, Aube,


pasta da Marinha da França, em na sua
a oportunidade na na da Marinha,
para a aplicação prática gestão pasta parou com a
das teorias de école, por ele criada. As construção dos encouraçados, e mandou
jeune
dificuldades advindas da derrota da França construir 14 cruzadores e 34 torpedeiras. Para

Para a Prússia em 1870 e o desgaste provoca- alguns analistas, por essa razão, ao ter início

do esforço vinha sendo feito a Primeira Guerra Mundial, a Esquadra france-


pelo que para

Porem cheque a hegemonia naval da Inglater- sa era inferior às Esquadras tanto da Inglater-

ra sucesso), especial através da ra como da Alemanha,


(sem em países onde ainda
inovação tecnológica, levaram o Almirante predom i na va o conceito clássico de confron-
Aube a repensar a estratégia naval do seu to entre as linhas de batalha das Esquadras

País; para ele, os grandes encouraçados, cuja oponentes.

missão era compor a linha de batalha, estavam Como seria de esperar, na


gestão de Aube
condenados verdade, a França não foi criada na França uma escola de torpedos
(na já
tinha como construí-los c mantê-los), já que para preparar o pessoal para o emprego cor-
as torpedeiras, armadas com os novos torpe- reto das torpedeiras e de seus torpedos.
dos autopropulsados, representavam uma Conforme adiantamos, uma das mais

ameaça significativa a eles: tão espetaculares conseqüências do risco repre-
grandequeos
encouraçados a contar com uma sentado
passaram pela proliferação das torpedeiras foi
forte bateria secundária, com canhões de tiro o aparecimento, em 1886, de um navio espe-

rápido, com o i mpedir cialmente destinado a enfrentar essas


propósito específico de peque-
a aproximação das temíveis torpedeiras (mais nas embarcações seriam
(hoje os
tarde, como logo adiante veremos, surgiram contratorpedeiros): construído na Inglaterra

os contratorpedeiros, navios
projetados para para a Espanha, é lançado ao mar o Destructor,
enfrentar estapoussière navale); Aube, navio de 386 toneladas usando
para que, dois
era também rápidos, motores de tripla expansão,
possível que cruzadores pela primeira vez
armados com os novos canhões de tiro rápi- usados a bordo - em seqüência, cilindros de
do, empregando explosivas carre- alta, média e baixa -
granadas pressão podia desenvol-

gadas com alto explosivo, fossem capazes de ver 22,5 nós. Na apresentou muito
prática,
atingir as não dos defeitos, razão não teve sucesso.
partes protegidas pela qual

HMB4üT/20«0 167
Destructor

(1886),
contratorpedeiro
espanhol

(Folo: JFS 1898)

Em 1886, é lançado ao mar o navio de Preocupados com o aumento do


grande
defesa costeira dinamarquês Ivar Hvifeld, número de torpedeiras francesas, os ingleses

especialmente projetado para levar a bordo lançam ao mar, em 1887, o HMS Grasshopper,

duas torpedeiras. A idéia, porém, não vinga- chamado de torpedo boat ou torpedo
gun
ria, mas o registro é feito para mostrar o catcher, uma tentativa mais feliz que a ante-

enorme prestígio, na ocasião, dessas rior desenvolver um navio capaz de


para
"contrator-
torpedeiras. destruir as torpedeiras, um navio

As idéias da jeune école levaram os fran- pedeiro". Essa classe foi seguida pela classe

ceses, com o apoio de Aube, a desenvolver o Spcinker (1889) e Jason (1892), navios com

projeto de um pequeno submarino para ser velocidade abaixo de 20 nós, deslocando de

levado a bordo dos


grandes navios, como se 700 a 800 toneladas; sua baixa velocidade e

fosse uma torpedeira de 2a classe. Em 1886, pouca manobrabil idade fizeram com que eles
é lançado ao mar o Goubert, de apenas 16,5 não tivessem sucesso contra as torpedeiras,

pés de comprimento, deslocando 10 tonela- pri ncipalmente quando estas, como era praxe,
das, acionado por motor elétrico, com tripula- faziam ataques noturnos.

ção de dois homens. O controle da profundi- Uma série de melhoramentos nos projetis

dade a vante e a ré era garantido surgiu em 1887: aparece o projétil


por um pên- encapsu-

dulo: qualquer variação em uma delas deslo- lado (slieatliedprojectilé): o corpo do


projétil,
cava o pêndulo no sentido da ponta mais mer- feito de material macio, é envolvido
por uma

gulhada e esse movimento acionava uma pe- capa de material duro; aparecem os primeiros

bomba rotativa então, transferia fabricados de aço-cromo e


quena que, projetis (França)
lastro do tanque da ponta mais os perfurantes, em que o aço fundido é subs-
pesada para a
mais leve, até se igualarem as profundidades. tituído pelo aço forjado (Inglaterra).

Apesar de engenhoso, o sistema mostrou-se O material das couraças também evoluiu.

insatisfatório quando em funcionamento. Ainda em 1887, é aprovado nos Estados

Ivnr Hvifeld

(1886), navio

? dc defesa
costeira
dinamarquês

(Foto: JFS
1898)
¦¦•'¦"• - ' • I
.. , .
1' , * '** f*

Grasshoppert (1887), Spanker (1889) e Jastm (1892), os primeiros


"contratorpcdciros" JFS-1898)
ingleses (Fotos:

Unidos, após a couraça a mesma forma de charuto


uma série de testes, que o torpedo
fabricada de Whitehead. Sua velocidade
de aço niquelado (5%), na superfície era
Schneider; tanto à de 7 nós e submerso 5 nós. O
ela se mostra superior projeto, mais uma
couraça vez, era de Dupuy de Lôme, e foi executado
composta como à couraça Schneider
por
sem níquel. dispondo de Gustave Zédé. Realizou mais de 2.000 mergu-
A Inglaterra, não
tecnologia nique- lhos com pleno êxito. Era,
para fabricar chapas de aço porém, uma embar-
lado cação experimental, não
(5%) na espessura desejada, atrasa-se se destinando a ser
nesse setor; usado como embarcação de
só a partir de 1892 ela, vencida a guerra.
dificuldade, Ainda em 1888, é lançado ao mar na Ingla-
adota esta couraça.

O ano de 1888 vê o surgimento de dois terra o Cruzador Dogali, construído a


para
submarinos, represen- Itália. Dotado de convés encouraçado, deslo-
que sendo um deles
tou um cava 2.088 toneladas, sendo o
importante passo no desenvolvimen- primeiro navio
to dessa embarcação. a adotar os canhões de 6 de tiro
polegadas
Com Peral, é construído rápido (e outros de menor calibre). Dispunha
projeto de Isaac
na Espanha com de tubos de torpedo.
um submarino propulsão quatro
elétrica: de 30 HP Em 1888, é lançado ao mar o Cruzador
dois motores elétricos,
cada, são elétri- dinamarquês Valkyriam,
alimentados por 420 células que transportava a
cas. Motores bordo duas torpedeiras de 2" classe. São os
auxiliares movimentam as bom-
bas de lastro verticais, usados, dinamarqueses insistindo numa solução
e os hélices
que,
como no Submarino conforme já dissemos,
Nordenfeld, para contra- não aprovaria.
'e da de Embora de certa forma seja surpreenden-
profundidade. O submarino dispunha
uma torre ótica, central do te, até a época
projetada da parte que estamos tratando os cru-
casco cerca zadores todos eram de
de 6 pés, onde ficava o contra- propulsão mista. Como
•ador, apenas da torre eram navios destinados ao serviço de contra-
quando a parte superior
ficava le do
acima da superfície do mar; através de tráfego marítimo (policiamento) e às
vigias de vidro missões
existentes na torre era feito o de mostra da bandeira nas regiões
controle de mais remotas do mundo,
do navio (uma espécie periscó- serviços que impli-

P'o). Este submarino, como todos os seus cavam em longos cruzeiros e permanência
antecessores, em
tinha grande dificuldade prolongada em áreas afastadas, eles levaram
Manter a muito mais tempo os outros tipos de
profundidade. que
O o desenvolvimento navios a abandonar a vela. Somente em 1889,
grande passo para
do submarino foi foi lançado ao mar o HMS Blake o
dado pelos franceses, com o primeiro
lançamento cruzador sem mastros
ao mar do Gynmote, (ver foto na para velas.
Pág. 179) uma embarcação de 31 toneladas, Para o Brasil, adécada de 80 foi de tensão,

com devido às divergências


propulsão por motor elétrico alimentado com a Argentina so-

Por bateria. Com 60 tinha bre o Território


pés de comprimento, das Missões; conseqüente-

HMB4"T/20Ü0
169
Acima, Dogali (1888). cruzador italiano: logo abaixo. Valkxrien (1888). cruzador dinamarquês (Folos: JFS
IXW) c. abaixo, Hlciiliciin (IXX9). irmão do liltikc. eru/adores ingleses, os primeiros
sem mastros para velas. (Foto: CAI!)

17» RMB4T/2000
mente, apesar das limitações financeiras do batidas as quilhas de dois monitores, sendo
País, houve um certo estímulo que o Pernambuco só seria comissionado 20
para a constru-
Ção naval. No Arsenal da Corte, foram anos mais tarde e o Paraguassu, após 48
construídos dois cruzadores de propulsão anos! Terminava melancolicamente a luta para
mista, idênticos aos construídos na década implantar a construção naval no País; só na
de 70; uma canhoneira a vapor -a Iniciadora administraçãodo Almirante AristidesGuilhem
~" na pasta da Marinha, já na década de 1930,
que foi o primeiro navio construído no
Brasil com casco deferro; canhoneiras seria reiniciada a construção naval (o
quatro
a vapor com casco de aço.16 Paraguassu foi terminado justamente com o
Como todos os países de pequena Mari- propósito de preparar o pessoal do Arsenal
nha, o Brasil, nesta década, voltou-se para as para as novas construções).
torpedeiras e, a sua principal arma, o torpedo Em 1890, o engenheiro norte-americano
autopropulsado. Foram criadas oficinas de Harvey patenteou um novo método para o
torpedos, tanto no Arsenal da Corte como no endurecimento externo das chapas destina-
de Mato Grosso. As conse- das à fabricação de coura-
qüências dessa preocupa- ^~*^"^^ ^¦^¦^¦^¦^^ ças:istoeraconseguido pela
Ção puderam ser vistas apl icação de carbono, a tem-
quando da Revolta da Ar- Em 1887 é iniciada a peraturas muito elevadas,
mada (1893-5) contra construção do Cruzador por longo tempo, em chapas
Floriano Peixoto*. Em 1894, de aço níquel, seguindo-se
Tamandaré, de 4.537
a Torpedeira Gustavo a tempera por imersão em
Sampaio, das forças que toneladas, até hoje o água. Mais tarde este pro-
apoiavam Floriano, atacou maior navio de guerra cesso foi aperfeiçoado por
e afundou num ataque no- construído no Brasil Krupp. As couraças
turno o Encouraçado, das — fabricadas com estas cha-
^^^^^^^
forças rebeladas,/!quidabã, pas tinham tal resistência
Que estava fundeado; o navio foi posterior- que as couraças puderam ser feitas com muito
mente retlutuado, reparadoe modernizado.17 menor espessura, o que representava uma
Outras construções foram feitas no Arse- grande economia de peso, com todas as van-
naldaCortenofinaldadécadade80:eml887 tagens decorrentes. Navios de tonelagem
é iniciada a construção do Cruzador Taman- moderada puderam usar couraça sem sacrifí-
daré, de 4.537 toneladas, até hoje o maior cio de sua velocidade ou do seu raio de ação.
navio de guerra construído no Brasil; em O primeiro navio a usar esta couraça foi o
virlude de problemas financeiros e das difí- Cruzador francês Dupuyde Lôme, lançado ao
eu Idades decorrentes de um atraso tecno- mar em 1890. Ele dispunha de uma cinta
lógico que já se fazia sentir, o navio só foi encouraçada ao longo de todo o casco, de
'ançado ao mar em 90ecompletadoem93,seis apenas 4 polegadas de espessura, mas de
anos após o início da construção; em 90, são resistência superior à das couraças anterio-

•<>¦ Os cruzadores foram o Almirante Barroso e o Primeiro de Março; as canhoneiras, a Carioca, a Camocim.
a Cabedelo e a Cananéia. Foram feitas, também, aquisições no estrangeiro em 1883, o Couraçado Riachuelo;
em 84, cinco pequenas torpedeiras de porto; cm 85, o Encouraçado Aquidabã.
17. No livro de inúmeros autores, The Encyclopidia of Sea Warfare -from the first ironclads to the present
day, página 22, é dito erradamente que o Aquidabã afundou como resultado do ataque. Como o local era
raso, o navio apenas sentou no fundo.
* N.R.:
Ver "Os militares e a política durante a República", RMB todos os números de 1999 e 1" trim/2000.
RMll4"T/2000 171
'
L^.

Aqiiidalxl (1885), cncouraçado (Foto: SDM) e Primeiro de Março (1881), cruzador

Minas Gerais (1908), cncouraçado e Bahia (1908), cruzador, na DNOG

(Ambas, quadro a óleo de Balieslcr)

I\tr"

0
.

& v: . r> rv- .

"Quando
nan se podi* fazer
U# tudo o que so deve, devc-sc

fazer tudo o que so
pode"
iV /

" Iniciadora (1870),


canhoneira a vapor
I.'. I SDM)
(Foto:

Gustavo Sampaio
(1894), torpedeira

(Foto: SDM)

j,

"
¦ i T.

OS

BRASILEIROS

Taniandciré (1887), cruzador,


em seu projeto original.

(Foto: JFS 1898) Abaixo, o


mesmo navio após sua

transformação.

(Foto: SDM)

!
-i_ * — ^£*i~. n> I ...

. k.- c\t _ J\§¦} ésvwfi^íL fâ-in i i p*fi ir íXmTi^J^**; § ^ ¦ ¦ -

Acima. Dupuy cie L/mie (1890), cruzador trances: (Foto: JFS 1898) Abaixo. Pernambuco e Paraguassu
(1X90). monitores brasileiros. O segundo leve sua construção concluída cm 1938 (!) (Folos: SDM)

jf^ I

S«^p • * • • * fnijiiiIr 1533 BJflMíijiuiatluiuiuilk%-1j

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174 KMIUT/2
res, de
espessura muito maior; a borda inferior arrastando a mina até a toque o
que poita
da cinta iigava-se a um convés protetor fundo: a mina estará numa profundidade igual
abobadado,
de 1,5 de espessura; ao do comprimento da chumbada."
polegada
abaixo
deste convés, as No sistema hidrostático, a
protegendo praças poita e a mina
de máquinas,
vinha um outro convés à prova são lançadas juntas, indo ambas até o fundo
de estilhaços,
sendo o espaço entre os dois porque o tambor do cabo as une está
que
conveses
cheio de carvão, como uma travado por um pino solúvel ou
prote- por um retém
Ção adicional. O espaço da couraça será acionado um
por trás que por dispositivo de
era ocupado
uma estrutura estanque, de tempo (com isso dá-se um certo tempo
por para

pés de largura, dividida em que o navio mineiro se afastar em


pequenos possa
c°mpartimentos
cheios de celulose. Este sis- segurança da área); ao se dissolver o
pino (ou
tema, "defesa
conhecido como de em profun- atuar o dispositivo de tempo), a mina flutuan-
didade", te sobe à superfície
seria extensivamente usado, com presa ao cabo a liga
que
variantes, àpoita;elacarrega um dispositivo hidrostático
em navios com couraça.

Em 1890, as minas flutuantes são num cabo piloto ao cabo da na


preso poita;
Mantidas à fixa- a
profundidade desejada pela profundidade para qual o dispositivo

Ção do tamanho do cabo liga a poita à hidrostático foi regulado, ele atua, dando um
que
roina flutuante. se conhe- tranco no cabo liga a mina
Era essencial que que à poita, acio-
Cesse com do nando o freio do tambor desse cabo,
certa precisão a profundidade ficando
'°cal a mina na profundidade desejada,
onde a mina seria lançada: subtraindo- para a qual
Se dessa do se ajustou o dispositivo
o comprimento hidrostático.
profundidade
cabo a Em 1891, o Congresso
que ligava a poita à mina, tinha-se do Chile se volta

Profundidade em A partir contra o impopular e ditatorial Presidente


que ficaria a mina.
de 1890, dois no- Balmaceda, dando inícioa umaguerra civil em
porém, são desenvolvidos
v«s sistemas
para regulara profundidade
da que, mais uma vez, as torpedeiras mostram o
nina dispensam a necessidade de co- seu valor. Embora as forças navais
que do Cor-
nhecer local onde será sob o comando
a profundidade do gresso, de George Montt,
lançada de mantivessem sempre a iniciativa das ações no
a mina: o sistema de chumbada

Prumo e o sistema hidrostático. mar e, ao fim, lograssem a vitória, as forças

No sistema de chumbada, esta é liberada navais que permaneceram fiéis a Balmaceda


da realizaram,
poita imediatamente após o lançamento; o pelo menos, uma ação espetacu-
comprimento ser igual à lar: uma torpedeira, armada
da chumbada deve com o torpedo

Profundidade em ficar; lança- Whitehead de 14


que a mina deve polegadas, atacou e afun-
Se a mina dou o Encouraçado
e a poita juntas e à medida em que Blanco Encalada, de
e'as vão 3.500 toneladas;
mergulhando vai sendo pago o cabo é o primeiro sucesso do
"automóvel"
^e une a mina à poita, desenrolado de um torpedo contra um navio de
tambor
situado dentro da poita;
o tambor guerra bem armado.

P°de ser travado mola, que, Rudolt Diesel,


por um retém com em 1892, inventa o
entretanto, motor de
é mantido afastado da posição de combustão interna, ficaria
que
travamento "motor
conhecido com o
pelo peso da chumbada; quando diesel"; tanto para
esta atinge a propulsão como
o fundo, o seu peso deixa de atuar para os serviços auxiliares
eo retém fica de bordo, este
liberado, levando a mola a travar motor teria, no futuro, enorme
0 tambor;
a partir deste ponto, a poita afunda popularidade.

*
N.R.: Esse sistema era o usado nas minas brasileiras - MD - da década de 1930.

KMH4UT/2000
175
Em 1892, os franceses desenvolvem o A BATALHA DO RIO YALU
aço cromo-níquel que teria largo emprego
e se mostraria muito adequado para uso nas O ano de 1894 ficou marcado por um
couraças. combate naval - a Batalha do Rio Yalu - que
O primeiro navio realmente eficaz no daria margem para grandes discussões sobre
combate aos torpedeiros foi lançado ao mar o duelo perene entre a couraça e o canhão, a
em 1893, o HMS Havock; suplantando as defesa e o ataque. A batalha, envolvendo as
limitações dos seus antecessores - o Esquadras chinesa e japonesa, travou-se no
Destructor e o Grasshopper - foi verdadei- estuário do Rio Yalu; a Esquadra chinesa
ramente o primeiro contratorpedeiro. Pro- tinha como núcleo dois encouraçados de
duzido pela Yarrow era, realmente, uma fabricação alemã, lançados ao mar 12 anos
torpedeira de grande porte, deslocando 240 antes, e dispunha de alguns cruzadores; a
toneladas; com seus motores de tríplice Esquadra japonesa, em termos de compara-
expansão, desenvolvia 27 nós; seu arma- ção de poderes combatentes a mais fraca, era
mento compreendia uma bateria de tiro formada por um "esquadrão voador", de cru-
rápido - um canhão de 3 polegadas, um 12- zadores protegidos, relativamente novos e
pounder e três 6-pounder - e três tubos sobretudo rápidos (daí o seu nome), dispon-
de torpedo. do de um grande número de canhões de tiro
Em 1893, os franceses lançam ao mar rápido de 6 e de 4,7 polegadas. A Esquadra
o Submarino chinesa tentou
Gustave Zédé usar a mesma táti-
(ver foto pág. 179) causadaemLissa
que, com razão, por Tegetthoff,
assinala o nasci- itproandoàEsqua-
mento do subma- dia inimiga com a
rino moderno. intenção de
Deslocava 266 O inglês Havock (1893), primeiro contratorpedeiro eficaz abalroar os seus
toneladas Dispu- (Foto: JFS-1898) navios.
nha de propul- A vitória japo-
são elétrica alimentada por baterias, o que nesa deve ser atribuída principalmente à in-
lhe permitia desenvolver, quando mergulha- competência dos chineses e aos defeitos
do, a velocidade de 9,5 nós; na superfície, apresentados pela sua munição, que se con-
sua velocidade máxima era de 12 nós; seu trapunham ao alto estado de eficiência e dis-
raio de ação era de 75 milhas marítimas à ciplina dos japoneses; os navios japoneses
velocidade de 5 nós. Seu comprimento era usaram a sua superioridade para impedir que
de 148 pés. Levava a bordo três torpedos: os chineses pudessem usar os seus torpedos
um no tubo de popa e dois como com sucesso, e alcançaram a vitória; os chi-
sobrcssalentes. O Gustave Zédé foi o neses derrotados retiraram-se para a Baía de
responsável pelo primeiro lançamento de Wei-Hai-Wei.
torpedo feito de um submarino. Após uma Em torno desta batalha estabeleceu-se
série de modificações - aperfeiçoamento na uma grande polêmica envolvendo couraça,
bateria e adição de novos hidroplanos que velocidade dos navios, número e tamanho
melhoraram o controle de profundidade a dos canhões. Os defensores do conceito de
vante e a ré - tornou-se um sucesso, tendo que era me I hor uma força de navios de boa ve-
realizado mais de 2.500 mergulhos. locidade, fraca proteção e de muitoscanhões,
176 RMB4"T72000
I
y I

'-*" ~ '•"
"—•
"—-"" ¦ '

Majestic (1895). encouraçado inglês (Foto: CAB)

ainda Posteriormente, os atacaram


que de pequeno calibre, afirmavam que japoneses
a vitória razão, pois, ela duas vezes os navios chineses na Baía
japonesa dava-lhes por
tinha sido "esquadrão Wei-Hai-Wei afundando
obtida graças ao voa- cinco deles, repe-

d°r" tindo o sucesso de Coubert em Foochow.


(que tinha todas essas características).
Por outro couraça Em 1895, é 1 ançado ao mar o Encouraçado
lado, os defensores da
aPontavam HMS Majestic, o primeiro de uma classe que
o fato de que os inúmeros peque-
nos canhões causado se tornou pioneira no uso da torreta barbeta
não tinham
japoneses
qualquer avaria significativa nos dois velhos (como vimos, mais tarde o nome foi simplifi-
encouraçados, afundar cado para torreta). O navio dispunha de uma
só tendo conseguido
Urr> dos torreta com dois canhões de 12 a
dois cruzadores encouraçados chine- polegadas
Ses; capitania vante e outra igual a ré; o armamento secun-
argumentavam, ainda, que o

Japonês, sem couraça, ficou fora de combate dário todo em casamatas encouraçadas. Esta

aPesar impactos dos classe de navios representa o mais avançado


de só ter recebido três

grandes canhões chineses, sendo um estágio do desenvolvimento dos encoura-


que
^°s impactos sólido, antes do aparecimento do revolucio-
foi de um projétil que çados
atravessou sem causar nário Dreadnoughf, esses navios, bem como
o casco do navio

Maiores danos, outros semelhantes, por essa razão


e o outro, que não tinha carga passaram
explosiva, a ser conhecidos como encouraçados
desmanchou-se contra o navio, pré-
revelando dreadnought.
o seu lastro de cimento.

Como acontece com as polê- Os projetis têm, em 1895, desenvol vimen-


quase todas
micas, os tos importantes:
dois lados tinham suas razões, mas surge o projétil com uma

o capa de aço-cromo envolvendo um núcleo de


que parece verdadeiro, sem sombra de qual-

quer dúvida, é Rio Yal u é um material macio; é desenvolvido nos Estados


que a Batalha do
teste des- Unidos um
pouco significativo para a solução projétil semiperfurantecom carga
sas explosiva com capacidade de 5% (mais tarde
questões: a batalha foi decidida pelas
'áticas aumentada
equivocadas do almirante chinês e o para 6,5%), capaz de perfurar cou-
total despreparo de seus na- raças Harvey de espessura igual a 2/3 do
das guarnições
v'os, calibre do
aliados à qualidade duvidosa da muni- projétil.
Ção usada, ainda mais do lado japo- Quando duas linhas de batalha se enfren-
quando
°ês a foi tavam, a distância de combate era determina-
situação era oposta, conforme já
'ndicado. da não só pelo alcance dos canhões mas pela

RiMB4"T/2000 177
qualidade do sistema de direção de tiro dispo- dial, com novas responsabilidades, e, como

nível. Em 1896, na França, os exercícios de Mahan, iriam exigir a


preconizado por que
batalha passaram a ser feitos na distância de criação de um considerável Poder Marítimo,

5.500jardas, o que só se tornou possível pelo com uma componente naval forte o bastante

aumento do alcance dos canhões, evidente- para operar em dois oceanos.

mente, mas, principalmente, graças ao desen- No Pacífico, o Comodoro George Dewey

volvimento dos primeiros sistemas de dire- destruiu a frota espanhola fundeada em

ção de tiro, simples ainda mas mais avança- Manila, do que resultou a tomada das Filipi-

dos do que existia anteriormente: um arranjo nas pelos norte-americanos; no Atlântico, ao

envolvendo pequenos telêmetros e visores longo de Cuba, o Almirante Sampson des-

telescópicos. truiu totalmente a frota espanhola que tenta-

O primeiro navio a ter propulsão a turbina, va deixar Santiago, cuja era iminente
queda
o HMS Turbinia, é lançado ao mar em 1897. (como de fato ocorreu logo após o combate),
"independência"
E um pequeno navio deslocando 44 tonela- o que levou à de Cuba.

das, capaz de desenvolver com a sua turbina Com o desenvolvimento do telégrafo sem

Parsons composta (diversas rodas de diâme- fio, foi possível transmitir em 1899,
para um
tros crescentes) 34 nós de velocidade. Navi- navio à distância de 56 milhas, as notícias do

os de guerra teriam de esperar um pouco mais dia, permitindo que o navio editasse um pe-

por esse notável sistema. queno jornal.

A primeira transmissão com o telégrafo

sem fio foi feita em 1897 da estação Needles, O SUBMARINO DE CASCO DUPLO

montada por Marconi na Ilha de Wight (Ingla-

terra); foi feita a comunicação por este meio É lançado ao mar, no ano de 1899, o Sub-

com um rebocador situado a 18 milhas de marino francês Narval, uma embarcação de

distância. 200 toneladas projetada por Maxime Labeuf.

Em 1898, surge uma importante contribui- Os antecessores dele e do Gustave Zéclé

ção para o aperfeiçoamento dos torpedos: o podiam ser classificados como submersíveis,
austríaco Orby inventa um equipamento para isto é, embarcações que, eventualmente, po-
aumentar a precisão do torpedo, usando um diam mergulhar, enquanto que esses dois

giroseópio para o controle da sua direção. assinalam o aparecimento dos submarinos,

embarcações destinadas a navegar imersas.

A GUERRA O surgimento do submarino de propulsão


ESTADOS UNIDOS x ESPANHA nuclear, muitos anos mais tarde daria margem

a um raciocínio semelhante, designando-se

A Guerra dos Estados Unidos com a todos os seus predecessores como submer-

Espanha (1898) envolve dois oceanos e põe síveis.

em destaque o Poder Naval. Para Mahan, a A grande inovação trazida pelo Narval era

guerra representou uma excelente oportuni- o casco duplo: um casco interno, ou casco

dade para demonstrar a importância, para os resistente, em forma de charuto, que abrigava

Estados Unidos.de um Poder Naval bastante todos os equipamentos vitais; o casco exter-

expressivo de modo a se poder projetar nos no, de chapa mais fina, tinha o formato seme-

dois oceanos que o banham. Embora as bata- lhante ao de uma torpedeira. Os tanques de

lhas navais ocorridas não trouxessem novos lastro ficavam entre os dois cascos, dando ao

ensinamentos sobre táticas navais, a guerra submarino um coeficiente de flutuabilidade

mostrou que surgia uma nova potência mun- de 42% (os anteriores tinham um coeficiente

178 RMB4ÜT/2000
No alto. Gynmotc (1888). 30 toneladas;

'
^J - _ «M ' **~^' ~**~

Acima, /.c Guslave Zede (1895) (ver pág. 176). 200 toneladas, o primeiro submarino a

alirar torpedos em alvo em movimento c;

Abaixo, Narrai velocidade de 12/8 nós. o primeiro a ficar submerso por 12 horas consecutivas
(1899),
(Folos Pmccedings)

& Jl
I

• • Lv£JI

RMI14"T/2000
ji

*
*

'is>-

llenri IV (1899), cncouraçado francês (Foto: JFS-1B98)

de apenas 2 ou 3%). Na superfície, suas tempo para isso era de cerca de 21 minutos;

características eram semelhantes às de uma mais tarde reduzido para 12 minutos.

torpedeira. O Narval dispunha de quatro Foi o primeiro submarino a ter vela (torreta)

tubos externos de torpedos. e um verdadeiro periscópio. Sua aparência era

Uma outra grande inovação do Narval era a de um submarino moderno, exceto pela
o sistema de propulsão: embora a propulsão chaminé por ante a ré da vela.

em imersão fosse feita com motores elétricos A partir do Narval, os submarinos de

alimentados por bateria, que lhe davam uma casco duplopassaram a ser considerados
"ofensivos"
velocidade máxima mergulhado de 6,5 nós, a como (ou de ataque, na nomen-

propulsão na superfície compreendia um clatura moderna), enquanto os de casco sin-

motor de tríplice expansão, de 250 HP, al i men- gelo, operar em águas


projetados para
"defensi-
tado por uma caldeira aquatubular a óleo (o abrigadas (defesa de portos), como

motor servia também para carregar as bate- vos", dentro do espírito da jeune école.

rias), o que lhe dava um raio de ação de 500 Dois anos após o lançamentodo Turbinia,

milhas marítimas a 6,5 nós e uma velocidade é lançado, em 1899, o navio de


primeiro
máxima de lOnós. guerra a usar turbinas para a propulsão, o
Agrandelimitaçãodo Narval era a neces- HMS Viper, um contratorpedeiro que atingiu

sidade de, antes de poder mergulhar, ter de a velocidade recorde de 36,6 nós. Para obter

esperar até que todo o vapor fosse expelido essa velocidade o navio foi construído com

da caldeira e que ela esfriasse; inicial mente, o uma estrutura muito leve, com a chapa lateral

Vittorio Emmaiutele (1904), irmão do Regina Eleita (1904), cncouraçados italianos (Folo: CAli)

4
do costado
com apenas 0,5 de es- conceito desenvolvido na França
polegada por Émile
Pessura; apesar de construído com aço de Bertin: o do Encouraçado-Cruzador
alta-tensão, "battleship-
seu casco era extremamente frá- ("cuirassé croiseur" ou

S'l para operações em alto-mar. O acidente cruiser"), nome usado em oposição ao do


com o
HMS Cobra, idêntico ao Viper exceto cruzador encouraçado do tratamos.
qual já
Pelo fato de desenvolver 1 nó a menos de Era uma tentativa de corrigir o defeito deste
Velocidade -
saía do estaleiro cons- último: mesmo os maiores não eram adequa-
quando
trutor
para receber o seu armamento, o navio dos para tomar o seu lugar na linha de batalha

Partiu-se e afundou - causou uma enorme nem, por serem muito lentos,
para desempe-
reação
na Inglaterra contra a turbina e as altas nhar as funções típicas dos cruzadores, de
velocidades
repercu- fazer escolta e
que ela proporcionava, proteger/atacar o tráfego ma-
hndo noutros o rítimo. Já o Almirante Fisher fizera
países e, assim, retardando pouco caso
Uso da dos cruzadores
turbina e o dos contratorpedeiros, até encouraçados, dizendo
que
cIUe o
lançamento do Dreadnouglit um eles eram inadequados tanto
pôs para lutar como
fim a mais esta manifestação de para fugir.
conservadorismo. Os couraçados-cruzadores eram navios
Em 1899, é lançado ao mar o sacrificando da proteção da cou-
pequeno que, partes
Encouraçado raça, podiam levar canhões de
francês Henri IV,ác9.000 tone-
grande calibre
'adas,
projetado por Émile Bertin, e que foi o (em geral, de 12 polegadas) econseguiam uma

Primeiro navio a usar uma "antepara elásti- velocidade cerca de 2 nós acima da dos
Ca", isto é, encouraçados
uma antepara longitudinal curva da sua época. Nenhuma outra

Para absorver o choque de explosões subma- Marinha, além da italianae da


japonesa, ado-
r,nas,
causadas, exemplo, choque tou esse conceito.
por pelo
c°m uma O Regina Elena deslocava
mina ou a explosão de um torpedo. 12.500 tonela-
Posteriormente, das e desenvolvia uma velocidade de 22 nós;
os alemães desenvolveram
este sistema o era armado com
de antitorpédico, dois canhões de 12 polega-
proteção
Rue deu aos seus navios de linha uma das e 12 canhões de 8. Somente os
japoneses
notável seguiram o exemplo italiano, lançando ao mar,
capacidade de resistir a explosões
submarinas, em 1904,
como a Primeira Guerra Mundial dois desses cruzadores, o lkoma e
""ia demonstrar. ingleses o Tsukuba,
Sendo os navios de 13.000 toneladas, velocidade
dotados - devido à de 21 nós, armados com
de menor boca limitada
quatro canhões de 12
'argura
dos diques secos existentes na Ingla- polegadas em torretas duplas, 12 de 6", 12 de
'erra!- não 4" e
em pro- 12 de 3"; sua cinta couraça
podiam adotar a defesa variava de 7
fundidade, a 4
ficando mais vulneráveis às ex- polegadas de espessura. Na verdade,
Plosões submarinas. esses navios, com toda a engenhosidade do
E a seu
partir da década dei 900 que as caldei- projeto, não
passavam de pequenos
ras
marítimas carvão come- encouraçados
que queimavam pvé-dreadnought.
Çam a ser substituídas a óleo. Os O telégrafo sem fio, em
por caldeiras 1901, passa a ter
contratorpedeiros lan-
ingleses classe River, um alcance de 200 milhas; o contínuo aumen-

Çadosaomarde 1903 a 1905, são os primeiros to desse alcance desde então tornou
possível
navios o uso comercial
a usar essas caldeiras, embora, pelas desse equipamento, tornan-
razões
já apontadas, voltassem a usar máqui- do rotineiras as comunicações entre navios e
nas alternativas entre
no lugar da turbina. esses e as estações de terra. Em 1914,

Com o lançamento em 1901 do Cruzador quando do inícioda Primeira Guerra Mundial,


'taliano
Regina Elena, é um o uso do telégrafo era
posto em prática generalizado (foi atra-

RMB4"T/2000
181
vés do telégrafo "a//
sem fio que os navios ale- to do big-gun ship", do navio só com

mães foram informados do início das hostili- canhões.


grandes
dades, imediatamente Para Fisher,
procurando portos porém, isso não era o bastan-
neutros escapar à destruição, sendo, te:
para para que o navio pudesse escolher a dis-

porém, internados; as forças navais britâni- tância ideal de combate ele deveria ter supe-

cas, espalhadas por todo mundo, foram infor- rioridade de velocidade sobre os seus opo-

madas da existência do estado de


guerra com nentes e a capacidade de manter esta veloci-

a Alemanha através do telégrafo). dade por longos períodos de tempo. Eviden-

Em 1903, os ingleses desenvolveram um temente, a máquina alternati vajá tinha atingi-

projétil perfurante com 2,5 polegadas de do o limite da sua e, da


potência portanto,
capacidade, capaz de couraças de velocidade dar aos navios, no
perfurar que podia
espessura igual ao calibre do uma espaço disponível a bordo. Diferentemente
projétil,
evolução do projétil semiperfurante. do que ocorria com um navio mercante, onde,

No início do século, os canhões


grandes por não haver limite para a altura da máquina,
instalados nos navios tinham um alcance a máquina alternativa
podia ter um curso do
muito superior às distâncias usuais de embolo muito longo e, assim, desenvolver

combate, que oscilavam entre 3.000 e 5.000 grandes potências com baixa rotação, as limi-

jardas no máximo. Conforme já vimos, isto tações de espaço de um navio de guerra


se devia à precariedade dos sistemas de obrigavam a que as máquinas trabalhassem a

direção de tiro mas, também, à dificuldade rotações muito altas; nessas condições, o

de fazer a espotagem dos tiros de canhões desgaste e as eram muito acentua-


quebras
de diferentes calibres; causa disso, dos e freqüentes, o choque e os esfor-
por pois,
tornou-se necessário todas as armas induzidos mudança de direção do
que ços pela
usadas numa salva fossem de mesmo movimento de enormes êmbolos, haste e

calibre, tendo, portanto, os seus o conectoras, a cada revolução do eixo, eram


projetis
mesmo tempo de vôo; era preciso ainda causa de freqüentes avarias e, é claro,
que provo-
a salva fosse dada menos cavam um desgaste acentuado das
pelo por quatro partes
canhões de modo que a coluna d'água feita móveis da máquina.

pelo projétil ao cair no mar fosse visível e, A turbina a vapor, com todas as suas

também, que a razão de tiro (velocidade de móveis rotativas, era a resposta ade-
partes
tiro) fosse suficientemente elevada, de a esses o de-
quada problemas, permitindo
modo que a distância entre os dois navios senvolvimento das altas necessá-
potências
não variasse muito entre as salvas em riascomelevadíssimograudeconfiabilidade,

virtude das mudanças de rumo do alvo. sem as freqüentes quebras de máquinas,


prin-
Nessas condições, o combate ser cipalmente quando era necessário desenvol-
poderia
travado eficazmente a maiores distâncias, ver, por um tempo razoável, a
potência máxima
tornando praticamente inúteis os canhões do navio.

de calibre menor. Assim, esses canhões

menores podiam ser dispensados e o peso

ganho e o espaço deixado aproveitado A GUERRA RUSSO-JAPONESA


para
aumentar o número de canhões.
grandes
Obrilhanteprojetista naval italiano Vittorio Enquanto esses conceitos iam se conso-

Cuniberti é o pioneiro em advogar as vanta- lidando, acontece, eni 1904, a Guerra Russo-

gens de um encouraçado armado apenas com Japonesa (1904-05), cuja repercussão seria

grandes canhões de mesmo calibre: o concei- enorme, em todo o mundo.

182 RMB4QT/2000
O ataque das torpedeiras ram os tiros dos inúmeros
japonesas canhões de tiro

rápido da frota russa, sem, contudo, sofrerem

A teve início com um ataque de maiores danos. O fracasso desta operação,


guerra
surpresa- sem a formalidade
de uma declara- em que todas as condições eram favoráveis,

Ção de guerra, como ocorreria cerca de quatro deveu-se, especialmente, à ineficácia dos
décadas mais tarde no
ataque a Pearl Harbour torpedos então existentes (fracasso ainda
~
deslanchado
por dez torpedeiros japoneses maior ocorreria noutra ocasião, quando 40
contra a Esquadra russa fundeada em Port torpedeiras japonesas não acertaram um úni-

Arthur, em fevereiro de 1904. A frota russa co alvo). A medida que o desenvolvimento


estava em regime normal de apenas tecnológico
porto, melhorasse a qualidade dos tor-
com o vapor disponível
para as auxiliares, sem pedos, sua influência seria cada vez mais

Precauções especiais contra um ataque de relevante na evolução da tática naval.


surpresa, exceto uma rede de
por proteção
Combate ao largo do Porto Arthur
antitorpédica e de dois navios selecionados

Para manter uma busca com holofotes duran- Na manhã seguinte a este ataque, o Almi-
te a noite e dois destróieres usados como rante Togo, comandante das forças navais do

piquetes, cerca de 20 milhas o lado do Japão, levou a Esquadra os


para japonesa para
mar. acessos de Port Arthur, esperando encontrar

As torpedeiras tinham sido a frota russa ainda desarvorada ataque


japonesas pelo
construídas em 1899 pela Thornycrofte pela das torpedeiras. Não teve sucesso, porém.
Yarrow; eram navios de cerca de As duas Esquadras passaram, em rumos opos-
pequenos
300 toneladas, capazes de se deslocar a uma tos, à distância de cerca de 7.000 jardas,
velocidade de até
30 nós, armados com dois canhoneando-se. Era de se esperar
que gran-
tubos de torpedos Whitehead de 18 des danos recíprocos
polega- ocorressem, mas os
das e um canhão 12-pounder e cinco 6- defeitos dos navios pre-dreadnought torna-

Pounder, todos de tiro rápido. As torpedeiras ram-se evidentes: as baterias com canhões de

haviam sido desenvolvidas exatamente para calibres diferentes tornaram difícil a


este tipo de ataque e foram a causa da insta- espotagem e a precariedade dos primitivos
'ação de
um grande número de canhões de tiro sistemas de direção de tiro tornavam o tiro
rápido nos
grandes navios de 1 inha, conforme muito errático. Após o desengajamento, os

já vimos. cruzadores russos, que tinham sido os navios

O ataque das torpedeiras foi


japonesas próximos do inimigo, e, portanto, tinham rece-
feito a noite de certa
e, a despeito confusão bido o seu fogo concentrado, sofreram uma
entre os devido à escuridão
japoneses e a série de impactos, mas nenhum ficou fora de
interferência dos navios
piquete, de cujaexis- ação por isso; também os encouraçados rus-
'ência a força japonesa não suspeitava, -
ata- sos foram atingidos inúmeras vezes um
caram os encouraçados e os cruzadores rus- -
deles, o Pobieda, 15 vezes mas como a
sos muito de atirando 19 torpedos
perto, maioria dos tiros provinha da bateria secun-
contra os alvos estacionários, a distâncias dária dos navios japoneses, as couraças não

lue variavam de 700 a 1.600 jardas; só três foram e, em conseqüência, os


perfuradas
torpedos atingiram o alvo, avariando dois danos foram as russas
pequenos; perdas
encouraçados e um cruzador russos; as totalizaram 21 mortos e 101 feridos. Do lado
torpedeiras exceto a divisão encouraçados foram atingi-
japonesas, que japonês, quatro
'iderou -
o ataque e acertou três torpedos, dos o Mikasa três vezes de
por projetis
foram apanhadas holofotes e recebe- - mas os danos sofridos foram
pelos grosso calibre

RMB4"T/2000
183
apenas superficiais e as baixas ainda menores A guerra de minas
que as russas.
As Esquadras oponentes eram assim A Guerra Russo-Japonesa foi plena de
constituídas: ensinamentos no que se refere à guerra de
-a linha de batalha japonesa era liderada minas. As minas foram amplamente usadas
por seis encouraçados, que constituíam a pelos dois contendores e com muita eficácia.
Primeira Divisão, com o Mikasa como Os campos minados foram usados mesmo em
capitania, todos típicos encouraçados da era mar aberto, com o propósitode influenciar as
pré-dreadnought, cada um com quatro ca- manobras da Esquadra inimiga, o que, ganha-
nhões de 12 polegadas, montados em duas ria uma enorme dimensão na Primeira Guerra
torres barbetas, e 14 canhões de 6 polegadas Mundial.
montados em casamatas ao longo dos bordos Em abril de 1904, a Esquadra russa con-
dos navios; seguia-se um esquadrão homo- tinuava concentrada em Port Arthur, mas
gêneo de cruzadores encouraçados, cinco agora protegida contra incursões japonesas
navios ao todo, com quatro canhões de 8 em por vários campos minados defensivos, com
barbetas duplas minas controla-
e 12 ou 14 ca- das. Osjapone-
nhõesdeópole- ses por sua vez
gadas; na reta- lançaram um
guarda, um es- campo minado
quadrãodequa- ofensivo ao lon-
tro cruzadores go da entrada
protegidos, três do porto: ten-
dos quais com (ando ocultar
dois canhões de esta operação,
8 e dez de 4,7 po- realizaram simul-
legadas de tiro taneamente um
rápido, e o quar- novo ataque
to com quatro Mikasa (1904), encouraçado japonê !, aqui visto transformado em torpédico, a ti-
canhões de 6 e monumento nacional na cidade de Yokosuka (Foto: Proceedings) tulo diversio-
oitode4,7pole- nário, mas sem
gadas de tiro rápido. êxito. No dia seguinte, um esquadrão de
-a linha de batalha russa, desfalcada dos cruzadores japoneses deslocou-se até a
dois encouraçados e do cruzador avariados entrada da baía, procurando atrair as forças
no ataque a torpedo feito anteriormente, for- russas para um combate que, na aparência,
mou com cinco encouraçados, liderados pelo seria fácil para elas (que ignoravam a
capitania Petropavlovsk, com armamento presença, logo além do alcance visual, do
semelhante ao dos encouraçados japoneses, grosso das forças japonesas e, pensavam
e um esquadrão misto de cruzadores, que os japoneses, também, a existência dos
comprecndiaoCruzador Encouraçado Bayan, campos minados). O Almirante Makharov
com dois canhões de 8 e oito de 6 polegadas, aceitou o desafio dos cruzadores e saiu em
e três cruzadores protegidos, cada um com sua perseguição, evitando os campos
oito ou doze canhões de 6 polegadas de tiro minados; ao perceber, porém, a aproxima-
rápido e dois cruzadores ligeiros com ca- ção das demais forças japonesas procurou
nhões de 4,7" de tiro rápido. voltar para o porto, mas uma hábil manobra
184 RMB4T/2000
¦^
,';U4\ ¦¦

1'

Pclropavlov.sk
Pelropavlov.sk (1900), encouraçado
cncoura^ado russo (Folo: A Marinha amiga
autiga e a moderna)

Japonesa levou-o a atravessar o campo A Batalha do Mar Amarelo


binado, com conseqüências: o
trágicas
Capitânia
Petropalovsk afundou, com 600 As idéias de Cumiberti e Fisher iam assim
homens
da sua tripulação, e o Poblieda foi sendo confirmadas no teste real de batalha,
severamente
danificado. conforme vimos no ataque a Port Arthur em
Um mês mais tarde, os russos deram fevereiro, e o seriam ainda mais no combate
0 troco. O Navio Mineiro Amur, após em alto-mar entre as duas Esquadras, em
minuciosa dos movimentos
observação agosto de 1904, no que seria conhecido como
dos navios
japoneses que efetuavam o a Batalha do Mar Amarelo, ficou
quando
bloqueio,
conseguiu lançar um campo claramente demonstrado o tiro dos ca-
que
binado na inimiga.
rota da patrulha Os nhões de 12 polegadas, nas distâncias em
que
Encouraçados
Hatsuse e Yashima bate- só eles alcançar, era mais eficaz do
podiam
ram
em minas: o afundou e o o fogo indiscriminado de todos os ca-
primeiro que
Segundo,
quando regressando para o Japão nhões nas distâncias menores, dentro do
a fim de fazer reparos, teve de ser alcance de todos. Também ficou claro que,
abandonado.
Os tentaram varrer numa batalha envolvendo navios com coura-
japoneses
a área
minada, mas antes que o conseguis- o único canhão resultados
ça, que produzia
Sern
três cruzadores bateram em minas era o de 12", sem os canhões menores
(os que
russos
mudaram de lugar as bóias deixadas dano significativo.
provocassem
Pelos indicar as áreas Logo no começo da ação, o Mikasa, atin-
japoneses para
'¦mpas).
gido por dois tiros de canhões de 12 polega-

As de ambos os lados ação das, sofreu extensivos danos e teve muitas


perdas por
de minas foram impressionantes. Os russos baixas; os mais tarde,
quando japoneses,
Perderam um encouraçado, um cruzador, tiveram oportunidade de usar todos os seus
d°is destróieres e duas embarcações me- canhões de mais de 6 polegadas contra a frota
n°res;
os japoneses, dois encouraçados, russa, esta nada sofreu. Após
praticamente
luatro cruzadores, dois destróieres, uma diversas horas de canhoneio, com o Mikasa
torpedeira
e um navio mineiro (o Yenisei, repetidamente atingido, seus danos e suas

guando operando em um campo minado baixas crescendo sempre, e a batalha parecia


'ançado
pelos próprios japoneses). chegar a termo com o que seria uma vitória

RMB4"T/2000
185
1 .

-emmm BfHfc*^áJ*T .

IX- cima para baixo,


'"5? '' llalsuse e Yashiina,
^—pmf^ ¦?-'¦ ,, ^:*m^\ Ç^^t_\v * encouraçados japoneses.
(Fotos: CAB)
Ttarevkh (1901) e
Osslybia (1899).
encouraçados russos
t ¦ :'^i7 •.- (Fotos: ,-t Marinha anliü"
e (/ moderna)

¦ríÁ
IV».. 18f.-RMl'4""'

*"
V^ mmWi^mTr " i^^mmm^L*"T*Q^^^t^K^^^^^^~^S^LC^y r ^s^ff-^^aasBffl^sMsl^^B.
russa,
a explosão de duas granadas de 12 três cruzadores e destróieres, para seguir

Polegadas no capitânia russo, mudou a situ- viagem via Suez, enquanto a força principal
aÇão: com seguiria a rota do Cabo. Os dois
o navio fora de controle, estabele- grupos
cendo-se foi, voltaram
a confusão na linha russa que a se reunir na Ilha de Madagascar,
então,
obrigada a uma retirada ignominiosa. O rumando então juntos com destino a
Almirante russo Witheft, a bordo do Vladivostock.
Tzarevitch
morreu atingido por uma granada. As forças russas e japonesas encontra-

Como conseqüência dessa batalha, a Ia de ram-se no mais ao sul da Ilha de


ponto
Janeiro de 1905, Port Arthur estava nas-mãos Tsushima; os russos em duas colunas tinham
dos
japoneses. os japoneses a boreste; graças a superior

velocidade dos japoneses, pôde Togo cortar


A Batalha de Tsushima o"T"dos russos-uma manobra que permitia

que todos os navios japoneses usassem os

A e decisiva batalha estava, seus canhões numa bordada contra os rus-


grande po-
rem,
ainda
por vir. Em maio sos, enquanto esses fica-
de 1905, nos Estreitos de vam limitados ao uso ape-
Tsushima,
a Esquadra ja- nas dos poucos canhões

Ponesa aniquilou a Esqua-


Só três navios russos que podiam atirar pela proa.
dra russa vinda do Báltico Tão grande era a superiori-
sobreviveram e
e> ainda
desta vez, foi o tiro dade de velocidade dos
dos canhões alcançar
de 12", atiran- puderam navios de Togo, ele
que
do
próximo ao limite do seu Vladivostock. pôde ainda guinar com os
alcance,
que determinou o seus navios e pela segun-
Nenhum navio de linha
resultado
da batalha. davezcortaro"T"daforça

A frota russa do Báltico foi


japonês perdido russa. A 6.000 de
jardas
teve de
fazer uma viagem de distância, os japoneses
cercade
18.000milhasmarí- concentraram seu fogo
tunas -
para vir de sua base em Kronstadt até à contra os líderes das duas divisões russas
"ha de
Tsushima, onde encontraria o seu fim. o Suvaroff, com o pavi lhão de Rojdestvensky,
Como
ao longo de todo o percurso não havia e o Osslyabia ,comopavilhãodeFalkersam18;
uma única
base onde esta Esquadra pudesse logo, o Osslyabia estava em chamas e
pouco
Procurar apoio, ela foi reabastecida em via- depois afundou; o Suvaroff com o leme ava-

gem por navios carvoeiros ingleses riado deixou a linha, estabelecendo-se a con-
(colliers).
Somente
em outubro de 1904, quando a Ba- fusão nas forças russas e teve início o verda-
•alha
do Rio Amarelo já tinha selado a sorte deiro massacre dessas forças. Num combate
dos navios russos de Port Arthur,
pôde o que durou cerca de 20 minutos, um a um foram
Almirante
Rojdestvensky sair com a sua for- sendo fora de combate os
postos
Ça, constituída 45 navios, incluindo os encouraçados russos. O Suvaroffdurou até o
por
navios "trem
que hoje chamaríamos de de dia seguinte, foi abandonado
quando por
Esquadra";
sob o comando do Almirante Rojdestvensky, se transferiu um
que para
Falkersam
foi destacada uma força, composta destróier que, pouco depois, foi aprisionado

Pe'os três menores navios de linha da força,


pelos japoneses.

'8- Falkersam havia falecido dois dias antes, mas Rojdestivensky não queria que os demais navios tomassem
conhecimento do fato.

R.MB4"T/2000
187
"'J
'r
'T -o:
-a:
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TrT 1T ilr Tt 1] ^

t
i

Dreadnought (1906). o revolucionario cncoura^ado ingles (Folos: CAB e USNIP)

Só três navios russos sobreviveram e A concretização das expectativas de

alcançar Vladivostock - dois CunibertieFisheremTsushimalogo tiveram


puderam

destróieres e o Cruzador Ligeiro Almaz\ seis conseqüências práticas.

pequenos navios chegaram a neu-


portos
tros e foram internados; dois encouraçados O APARECIMENTO DO

que não afundaram foram aprisionados, DREADNOUGIIT

reparados e mais tarde incorporados à

Marinha japonesa (prática tinha sido Em 1906, os ingleses lançaram ao mar o


que
comum na era da Marinha a vela). Encouraçado 11MS Dreadnougth, um navio

Nenhum navio de linha


japonês foi perdi- tão revolucionário
que os navios

do; apenas três torpedeiras foram afundadas. encouraçados antes dele seriam conhecidos
"pré-dreadnoughts"
Sofreram avarias de diferentes
graus três cru- como e os que o suce-

zadores e seis destróieres. deram como dreadnoughts. Ele incorporava

É incontestável que a vitória de Tsushina todos os ensinamentos recentes: era um na-

foi tão decisiva quanto a de Trafalgar. vio de 18.000 toneladas, armado com dez

Em 1904 são lançados ao mar os canhões de 12 polegadas (na era precedente,


Submarinos franceses Aigrette e um encouraçado não teria mais de quatro
Cigone-, são navios de 175 toneladas, canhões desse calibre), em torres duplas, e

flutuabilidade de 29%; são os primeiros uma bateria segundária - cuja fina-


principal
navios a usar os novos motores de lidade era repelir o ataque das torpedeiras

combustão interna óleos cada vez mais temidas à medida


que queimam que se aper-

pesados. feiçoava o torpedo - constituída de canhões

188 RMB4uT/2000
12-pounder
e de 3 polegadas de tiro rápido Em 1906, tendo em vista as lições de

(liais tarde substituídos canhões de 4 Tsushima, o novo Ministro da Marinha,


por
Polegadas); dispunha ainda de cinco tubos Alexandrino de Alencar, fez modificações no
de torpedo -
de 18 polegadas quatro nos Plano anterior, estabelecendo o Plano Naval
lados
e um a ré, abai xo da 1 i nha d' água. Graças de 1906 foi o efetivamente realizado,
que
as turbinas de 23.000 HP, acionando seus dando origem à Esquadra de 1910, nucleada

quatro eixos, desenvolvia 21 nós. em dois dreadnoughts.20 Esses navios repre-

A confiabilidade das turbinas como siste- sentavam um enorme desafio tecnológico,


Ha de
propulsão ficou demonstrada na práti- face ao nível industrial do País e o nível de
Ca
quando o Dreadnought realizou uma via- preparo profissional de todo o pessoal. É

§em de 17.000 milhas marítimas, numa excep- verdade sob alguns aspectos os navios
que
c'onal
velocidade mantida de 17,5 nós, sem não representavam o que havia de mais mo-
aPresentar
qualquer avaria, um feito impen- derno: por exemplo, a propulsão do encou-
savel
na época das máquinas alternativas. raçados era com máquina alternativa
quando,
Também no Brasil, a Ba- à época, a maioria dos encou-
talha
de Tsushima teve im- raçados e cruzadores já usa-
?
P°rtantes desdobramentos. E importante o Brasil va a turbina; os contratorpe-
Depois de um longo deiros ingleses lançados
perí- em
desenvolver um Poder
od° sem
que se investisse na 1903 usavam caldeiras a

•"enovação Naval consentâneo com
da frota naval, óleo. E inegável,
porém, que
Pelas razões apontadas, o as suas aspirações, um os dois encouraçados, dois
Plano
Naval de 1904, do Al- cruzadores e dez
verdadeiro instrumento protegidos
mirante
Júliode Noronha, foi contratorpedeiros constituí-
aPro de apoio à
vado e foram alocadas as política
am uma força de expressão
V£rbas externa do País
para a sua implanta- mundial.
Çao. Isto se devia à melhoria De lamentar, porém, éque,
(Barão do Rio Branco)
das condições
financeiras do devido à falta de recursos,
^a*s
(o Compromisso de não foi construir,
possível
Taubaté
relativamente ao café e a exploração conforme tanto no Plano de 1904
previsto
^a borracha
natural na Amazônia para aten- como no de 1906, o estaleiro de Jacuacanga,
der
à demanda criada indústria o apoio de manutenção desses navios,
pela jovem para
automobilística)
mas, também, ao apoio do nem se investiu na do
preparação pessoal
^arão
do Rio Branco, chanceler no
período de para operação, manutenção e reparo dessa
1902
a 1912 ,
que, com sua visão esclarecida, frota. Mal conduzidos, mal mantidos, esses
defendia
a importância de o Brasil desenvol- navios, ao invés de terem servido como uma
Ver um
Poder Naval consentâneocom as suas base sólida a construção de uma nova
para
asPirações,
um verdadeiro instrumento de Marinha, logo se transformariam em fator de
aPoio
à política externa do País.19 frustração. A defasagem tecnológica entre a

'9. A defesa de Laurindo Pitta das verbas da Marinha no Congresso Nacional foram importantes a sua
para
aprovação.

A nova Esquadra compreendia os dois dreadnouglils, Minas Gerais e São Paulo, de 19.500 toneladas,
velocidade 21 nós, armados de 12 canhões de 305 mm (12 polegadas) e 14 canhões de 120 mm (4,5"); dois
cruzadores o Bahia e o Rio Grande do Sul, de velocidade
protegidos, 3.150 toneladas, de 27 nós, propulsão
a turbina, armados com dez canhões de 120 mm; dez contratorpedeiros, de 560 toneladas, velocidade 28 nós
e armados com dois canhões 101,6 mm
de (4") e dois tubos lança-torpedos.

RMB43T/2000 189
Esquadra e o parque industrial do País seria outra torreta, de tal forma que apenas algumas
"poderosa"
fatal e, logo, esta Esquadrajá não torres podiam atirar pelos dois bordos do

tinha um expressivo valor militar (embora isso navio; além disso, como as torres e os paióis

não fosse considerado na época, provável- ficavam espalhados todo o navio, havia
por
mente ela tinha uma capacidade dissuasória muita dificuldade para um projeto bom para as

considerável). praças de máquinas. Com o novo sistema,

Após Tsushima, os ingleses, que não todo o armamento principal ficava na linha de

acompanharam os italianos e japoneses no centro do navio, assim, todos os


podendo,
desenvolvimento de encouraçados-cruzado- canhões disparar por bordo, num
qualquer
res, definiram a configuração dos seus cruza- arco de 160° a partir da proa ou da popa. Antes

dores de batalha, lançando ao mar, em 1907, os da adoção das torretas superpostas foi ne-

HMS Inflexible, Indomitable e Invincible, cessário resolver um como as


problema:
navios de 17.250toneladas, torretas tinham na parte
capazes de desenvolver 25 ^— — superior uma de
janela
nós, graças a turbina observação, o sopro do

Parsons de 41.000 HP, aci- disparo da torre superior


Mal conduzidos, mal
onando quatro eixos do prejudicava a observação
mantidos, esses navios, da
navio; eram armados com na torre inferior; a difieul-

oito canhões de 12 e 16 de Esquadra de 1910, ao dade foi resolvida remo-

4 polegadas de tiro rápido vendo-se a janela de ob-


invés de terem servido

(bateria secundária); eram servação da parte superi-


como uma base sólida
dotados de couraça lateral or da torreta, substituin-

leve. navios a construção de uma do-a por visores com tela,


Sem dúvida, para

que incorporavam as lições nova Marinha, logo se projetados das paredes


de Tsushima (grandes ca- laterais da torreta. As tor-
transformariam em fator
nhões em grande número, retas superpostas torna-
de frustração
velocidade ram-se
alta e couraça prática comum em
leve). todos os navios de linha.
" Q
Embora as experiências aCJVento Jqj gran-
com radiotclefonia datas- des canhões, cujo alcan-

sem do início do século XX, somentecni 1907 ce era de 10 ou mais m i lhas, tornou necessário

foi feita experimentalmente uma transmissão o aperfeiçoamento dos sistemas de direção

de música e voz, recebida nas estações rádio de tiro para que o tiro a estas grandes distân-

de diversas navios estavam no mar. A cias pudesse ser eficaz.


que

partir daí, seu desenvolvimento foi rápido. As primeiras medidas tomadas foram sim-

Uma importante contribuição para o pro- pies: os navios foram dotados de telêmetros

colocados na mais mastro de


jeto da artilharia dos navios veio, nessa épo- parte alta do

ca, dos Estados Unidos: foi adotado um sis- vante; através de uma rede de tubos acústi-

tema de torretas superpostas, uma atirando cos até os canhões, eram transmitidas as

- sistema conhecido distâncias


por sobre a outra como (alcances) que deveriam ser ajus-

superfiring. O propósito dessa inovação era tadas nos visores individuais de cada ca-

eliminaro problema, existente após a adoção nhão; o oficial de controle de fogo, na posição

da torreta, de alguns canhões terem o seu arco elevada, dava a ordem de fogo para todos

de tiro reduzido pela obstrução causada pela canhões, de modo que o tiro fosse simultâ-

superestrutura do navio ou até mesmo por neo, ou seja, por salva; estudando as colunas

190 RMB4"T/2000
Invinrible (1903). cruzador de batalha inglês (Foto: Proceedings)

^ água formadas
pelos projetis, o controlador ção generalizada dos dreadnoughts. Assim,
Passava as correções simultâneas
para a ajus- em 1909, tem início na França a construção do
tagem
da distância. Posteriormente, o sistema Encouraçado Danton,
primeiro de uma série
f°i eletri
ficado: uma luneta ou alça diretora era de seis, acionados a turbina, com armamento
'nstalada
no topo do mastro; quando ela era de quatro canhões de 12 e 12 de 9,4
polega-
Movimentada
para visar o alvo, acionava ele- das; apesar da data do início da construção,
Wcamente
os indicadores dos canhões, per- esses navios ainda são típicos navios pré-
ruindo
que todos atirassem na mesma marca- dreadnought. Logo após vieram os verdadei-
Ção e com a mesma elevação. ros dreadnoughts, os quatro navios da cias-
Os telêmetros foram melhorados, tornan- se Jean Bart, cuja construção teve início em
do-se
mais acurados; os alemães destaca- 1910e 1911; são navios de 23.120 toneladas,
ram-se
nesta área usando um sistema armados com 12 canhões de 12
polegadas, em
estereoscópio.
torretas duplas superpostas a vante e a ré, e
Em 1909, é lançado o torreta dupla não-superposta
primeiro em cada con-
dreadnought
italiano, o DanteAlighieri, pri- vés; acionados
por turbinas Parsons de 28.000
Meiro navio
a usar torretas triplas (um total HP, desenvolviam velocidade de 21-22 nós.
c'e
quatro torretas triplas com canhões de 12 Um ano mais tarde, esses navios foram segui-
Polegadas). O navio de 20.500 toneladas ain-
dos pelos três super-dreadnoughts da classe
^a não usava as torretas superpostas de Bretagne, do mesmo desloca-
praticamente
Modo
que só três canhões podiam disparar na mento, mas armados com dez canhões de 13,4
'¦nha
de
proa do navio e três na linha de popa. polegadas. Sem dúvida, a postura oficial fran-
Com o advento do all-big-gun sliip, a cesa não podia estar mais distante da jeune
tendência
passou a ser a construção de navi- école.
0s cada
vez maiores, armados com canhões Com a do uso das
quase generalização
Sernpre
de maior calibre. Os i ngleses lançaram turbinas, cujo maior rendimento é em alta velo-
a° mar, em 1909, o HMS Orion, o primeiro cidade, a engrenagem rcdutora tornou-se
SuPer-dreadnouglit,
um navio de 22.500 to- obrigatória, o melhor rendimento do
já que
ne'adas,
armado com dez canhões de 13,5 héliceéem baixa rotação. Assim, em 1911, são
Polegadas, em torres duplas superpostas na lançados os Contratorpedeiros ingleses
' 'nha
central, e dotado de couraça lateral de 12 Badger e Beaver, com engrenagem redutora
Polegadas.
na turbina de AP a título experimental. Em
Os conceitos dajeune école, 1914,
que predomi- são lançados os, Contratorpedeiros,
navam
na França desde a
gestão de Aube na também ingleses, Leonidas e Lucifer, que já
Pasta da Marinha,
perderam força com a ado- usam a engrenagem redutora única
para todas

RMB4"t/2000
191
•W

Acima, O ri ou (1909), o primeiro supcr-dreadnoiiglil inglês; Abaixo: Vergniaud (1909). irmão do DíiiiIi"1-
e o Couberl, irmão do Jean Bati (1910), ambos encouraçados franceses (Todas as fotos: Prorcedings)

iJrJw

' I *•
''

I |

t
I ^ I
I

Kentucky
(1898), encouraçado
americano
(Foto: CAB)

S3

nJ W1'- Hr

Ao lado: Geórgia (1904). Notar o convés do


principal
^SP^SSkI^^ss^^ cncouraçado americano com torretas e
principal
BfTu. w^ni'' -? fr~J*''!
secundária superpostas (Foto: CAB)

^¦EL5%SnD«

TORRETAS SUPERPOSTAS

-I

w '
'
Micliigan
S 1' *
('908), com
IS
torretas Jbc*'
(principais)
superpostas.

Encouraçado

americano

(Foto: CAB)
I1
•j
•i

HIB o ^ \ \ m

A-i^UjSU^I B=^gg2£^yfagj|0

Badger (1911). contratorpedeiro inglês Ilistory of lhe War - vol. 11, 5)


(Times pág.

as turbinas (engrenagem helicoidal dupla com dos favoráveis, a propulsão turboelétrica,

dentes com perfil envolvente). O sistema mos- usada em todos os encouraçados americanos

trou ser livre de vibrações e apresentou um construídos após 1915 Os


(turboelétrica).

nível de ruído aceitável, além de que a durabi- americanos só adotariam a turbina com engre-

lidade dos dentes da engrenagem superou as nagem redutora em 1937.

melhores expectativas. Uma outra importante As vantagens da turboelétrica


propulsão
vantagem do sistema de engrenagem redutora são várias: as máquinas (moto-
propulsoras
é a pequena perda de transmissão associada a res elétricos) podem ser controladas de qual-

este sistema, além de ele é muito mais do navio; é usar toda a


que quer parte possível

barato para fabricar e para instalar. potência quando dando máquina atrás, o que

A solução passou a ser adotada por todos é impossível numa propulsão clássica a vapor

os países, com a única exceção dos Estados (queda do vácuo no condensador


principal);
Unidos que adotaram, com os mesmo resulta- como as turbinas que acionam os geradores

Daiiie Alighiere (1909), encouraçado italiano, o primeiro a usar tones triplas (Foto: CAI!)

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KyfiLitV
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!vir
1'
^

New Uampshire, cncouraçado norte-americano (antigo), primeiro navio a receber c transmitir


sinais radiotelcgráficos, em 1915

e'étricos
operam a velocidade constante, é mentos acompanhados por meio de

Possível usar altas temperaturas de vapor radiogoniômetros.


suPeraquecido,
do que resulta melhor rendi- Em dezembro de 1912, o Submarino grego

^ento Dolphin realiza dois ataques com torpedos a


para a planta.

A importante limitação da propulsão elé- navios de guerra turcos, sem sucesso, porém (o
tr'ca,
especialmente no caso de navios de pri meiro ataque torpédico realizado por subma-
guerra, é a vulnerabilidade dos circuitos elé- rino que teve êxito só ocorreu em 1914, quando
tr]cos
(chaves, disjuntores, etc.) ao choque o Submarino alemão U-21 afundou o Cruzador

Provocado explosões Batalha da HMS Pathfinder, de 3.000 toneladas).


por (a
Jutlândia,
na Primeira Guerra Mundial, de- O rádio telefone de ondas longas de
•^onstrou
essa vulnerabilidade, com diver- Marconi representou um avanço significati-
s°s navios ingleses sofrendo esse efeito). vo em termos de alcance: em 1914, de uma

Em 1912, Marconi adquire a patente de estação montada Marconi em Cliften,


por
UlTi equipamento
desenvol- Irlanda, foram enviadas mensagens
que vinha sendo que pu-
v'do
desde 1904 para identificar a posição de deram ser ouvidas por navios de guerra itali-
"avios,
através da marcação de sinais rádio anos ao longo da costa da Sicília, a mais de

Provenientes de duas ou mais estações 1.750 milhas de distância.


transmissoras
de terra cuja a posição fosse O primeiro navio a receber um equipamen-
conhecida.
Era o radiogoniômetro, nesse to de radiotelefonia, que lhe permitia tanto
¦ttesmo
ano instalado experimentalmente num transmitir como receber, foi o USS New
navio
mercante britânico. A sua difusão en- Hampshire, em 1915.0 seu uso só generali-
tao foi
rápida, inclusive zaria anos mais tarde.
para a área militar, até
¦^esmo
no setor de inteligência: a Esquadra APrimeira Guerra Mundial (1914-8) marca,
alemã
que se deslocava para enfrentar a ingle- indubitavelmente, o início de uma outra etapa
Sa numa -
batalha histórica a Batalha da no desenvolvimento do Poder Naval, fora,
Jutlândia -
(1916) teve todos os seus movi- portanto, do contexto deste trabalho.

^CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


^CIÊNCIA
& TECNOLOGI A> / Desenvolvimento de equipamentos /; Sistemas de propulsão;
Sistemas
de artilharia; Sistema de direção de tiro; Sistemas de comunicação;

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O conquistador e
é sempre um

amante da
paz.

Gostaria de entrar em nossa terra

sem oposi^ao.
oposição.

Karl Von Clciusenwitz


Clausenwitz

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