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Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória

História da Umbanda – EAD – Curso Virtual


Ministrado por Alexandre Cumino

Texto 2.02

Origem Espiritual
Como Origem Espiritual, ressaltamos a certeza dos umbandistas de que sua religião foi organizada no
astral pelos Caboclos e Pretos-velhos, para depois ser implantada no Brasil.
Leal de Souza conta que o Caboclo das Sete Encruzilhadas estava “no espaço, no ponto de intersecção de
sete caminhos, chorando sem saber o rumo a tomar; quando lhe apareceu, na sua inefável doçura, Jesus, que,
mostrando-lhe, em uma região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão humana, indicou-lhe o
caminho a seguir...”, dessa forma assumiu a missão de trazer a Umbanda ao Brasil.
Paulo de Deus apresenta uma “lenda” interessante, que revela uma origem espiritual para a Umbanda,
como vemos abaixo:

Umbanda!
(Homenagem ao Caboclo Tubiá da Cobra Coral)


O Verbo Divino rompe as densas trevas que envolvem o planeta, enchendo de luz o Orbe em
fulgurantes cintilações.
Umbanda!... Umbanda!... Umbanda!...
O eco altissonante estruge, repercute por toda parte, se multiplicando, levando aos mais
longínquos rincões da terra a palavra de ordem, a palavra de fé, a bandeira de amor, de caridade, de
fraternidade!
Umbanda!
Às ordens de Oxalá convocam-se as entidades representativas da Nova Lei (Lei dos Santos), de
combate ao mal em todas as suas formas.
O movimento estupendo, sem precedente, de espiritualidade, se inicia com a convocação dos
Arcanjos: Miguel, Gabriel, Rafael e Ismael.
Alistam-se, espontaneamente, legiões de espíritos das mais distantes plagas que se congregam em
um único desejo de servir, de trabalhar em prol da humanidade!
São os pretos e as pretas, nativos da África, e o povo do lendário Oriente!
Os espíritos que reinam nas selvas, nos mares, nos rios e nas cachoeiras!
Espíritos, enfim, das mais diferentes hierarquias acorrem, recebem uma senda e um título para as
características de trabalho que os distinguirão [...].
Urgia, pois, a existência na Terra, de uma lei em contraposição aos princípios regidos pela Magia
Negra e que a ela se opusesse de maneira firme, categórica e concludente.
Daí a Umbanda, Magia Branca, Mensagem Divina baixada à Terra, consolo dos pobres, dos humildes
e dos aflitos. Dos sequiosos de justiça. Umbanda! Porto seguro das almas desarvoradas, náufragas do
desespero!
Umbanda eu te saúdo! Saúdo o teu povo, as tuas falanges, os teus Orixás!

Rubens Saraceni apresenta em várias de suas obras essa origem espiritual da Umbanda, tanto em obras
doutrinárias quanto nos romances mediúnicos. Cito abaixo três passagens dos livros Guardião da meia-noite,
Umbanda Sagrada e Os arquétipos da Umbanda, respectivamente:

No começo do século XX, surgiu um grande movimento religioso no astral e os orixás se derramaram
por todos os lugares.
Era a árvore africana dando seus frutos. Milhares de espíritos de negros reencarnavam em corpos
brancos e traziam no subconsciente a última encarnação regida pelos orixás do panteão africano.
Tudo isso eu aceitava. Conhecia e aceitava.
Todas as sete linhas de lei foram postas em ação. Tanto à esquerda como à direita, moviam-se de
uma forma incontrolável.
O dom da mediunidade explodia em todos os lugares e surgia em meios até então inimagináveis, e
tudo o que era tabu começou a cair. Surgiram pequenos centros em vários lugares, todos amparados
pelas sete linhas de lei, ou seja, pelos orixás maiores.
Todas as linhas de força das Trevas foram requisitadas pelos seus maiorais, inclusive a minha. Tudo
que tínhamos feito até então havia sido apenas uma preparação para o movimento das linhas de lei.
Tudo havia sido orientado pelos orixás maiores e estava sendo posto em execução pelos menores. A
nossa linha, a sétima tanto à direita como à esquerda, saiu em campo. A minha, em particular, era
poderosa, e eu saí na frente de muitos outros guardiões.
A lei do carma abriu as portas para o reajuste de milhões de almas, e isto era do conhecimento dos
guardiões dos pontos de força das Trevas.
Minha legião foi se fracionando em sete, vinte e um, quarenta e nove ou setenta e sete Exus, que
acompanhariam os futuros mediadores entre os dois planos, através do dom do oráculo.
Era o nascimento do ritual da Umbanda no Brasil, um movimento místico, comandado pelos vinte e
um guardiões dos mistérios maiores.
Ninguém pôde contê-lo, nem a lei dos homens nem os homens dos outros rituais.
Sua expansão assustava a todos, mas era subterrânea. Não tinha estrelas visíveis, pois absorvia a
muitos de todos os níveis, e isto não podia ser coordenado.
Os orixás se derramavam para trazer um pouco de luz em meio a tanta ignorância a respeito dos
mistérios sagrados. Era a volta triunfal da Lei Maior sobre a lei das igrejas que se tornavam materialistas.
A Umbanda lançava sua rede em um mar revolto por espíritos que não se encontravam com o culto
estabelecido. Eram espíritos de antigos iniciados, de místicos e adeptos do culto africano.
O ritual estabelecido já não tinha respostas para tantos ao mesmo tempo, e estas só eram dadas
nos pequenos terreiros ou tendas [...].
Todas as religiões são criações de Deus. Não existe uma religião ou ritual religioso que seja criado
fora da ordenação divina. Sempre que se faz necessário, Deus cria as condições para que elas surjam na
face da Terra. Como uma gestação e um parto, exigem coragem e estoicismo. Como uma mãe que sofre
para trazer um espírito à carne, e que, por isso, é abençoada, os fundadores de uma religião também
têm que ser fortes e pacientes. Suportam tudo por um objetivo divino; não se incomodam com o preço a
ser pago. Simplesmente executam a sua missão com amor e dedicação a Deus [...].
O Ritual de Umbanda é uma religião aberta a todos os espíritos, tanto encarnados quanto
desencarnados. Para ela afluem milhões de espíritos de todo o planeta, oriundos das mais diversas
religiões e rituais místicos, mesmo de religiões já extintas, tais como a caldeia, a sumeriana, a persa, a
grega, as religiões europeias, caucasianas e asiáticas.
Eles formam o Grande Círculo Místico do Grande Oriente. São espíritos que não encarnam mais, mas
que querem auxiliar aos encarnados e desencarnados em sua evolução rumo ao Divino. Atitude mais que
louvável, e que indica que eles já se integraram aos seus dons ancestrais místicos.
O Ritual Africano entrou com as linhas de força atuantes no Cosmos, e os ameríndios, tais como os
índios brasileiros, os incas, astecas e maias, os norte-americanos, entraram por terem sido extintos, ou
por estarem em fase de extinção pelo Cristianismo, e não querem deixar o saber acumulado nos milênios
em que viveram em contato com a natureza.
Por isso, tanto negros africanos como índios já desencarnados se uniram à Linha do Oriente, e
fundaram o Movimento Umbandista ou Ritual de Umbanda, o culto às forças puras da Natureza como
manifestação do Todo-Poderoso [...].
Muitos tentam classificar a Umbanda como resultante de um sincretismo religioso. Erram
profundamente [...].
Ela (a Umbanda) é como é porque assim foi pensada por Deus, concretizada pelos sagrados Orixás e
colocada para todos pela espiritualidade.

Poderíamos citar ainda várias outras passagens da obra de Rubens Saraceni, no entanto, fico por aqui na
certeza de que neste momento nos importa mais qualidade que quantidade. Não pretendo cansar o leitor com
listas quilométricas de citações, e sim apenas aguçar sua curiosidade para esse universo chamado Umbanda,
que ainda está sendo desbravado por todos nós, pois os campos de estudo do fenômeno umbandista são ainda
pouco explorados pelos de dentro e pelos de fora. Ainda não vimos estudos mais sérios sobre o que seria o
sagrado e o profano na Umbanda, um tema que já foi levado à exaustão na maioria das escolas teológicas
cristãs, só para citar um tema.

Texto do livro História da Umbanda, Editora Madras, Alexandre Cumino. Direito autoral resguardado por
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