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OMULU EM ANGOLA
Omulu ou Viango um dos mais velhos inkisse ou oríşa, hoje cultuado em várias casas de
candomblé, independente da nação que o professe, foi um dos primeiros deuses a pisar na
Bahia, segundo alguns curandeiros do século passado. O difícil é encontrar uma casa nos dias
hoje, que ainda tenha sua cultura obedecendo ao seu primitivismo com seus seguidores se
curvando a seus princípios para poderem assim usufruir de seus poderes. A explicação esteja
talvez, no cuidado e na responsabilidade de ter este deus em um barracão obedecendo a moldes
antigos. Os tópicos a seguir retratam a forma em que este deus e suas qualidades eram cultuados
no inicio do século passado. Acredito que a maioria das casas para cuidar destes inkisses
atualmente procure se adaptar aos dias de hoje, sem perder a sua essência, é o que espero.
O mais novo Omulu, conhecido em todos os barracões de Angola em todos os recantos da Bahia.
Seus apetrechos se resumiam em uma lança de madeira, medindo entre 40 e 50 cm, feita a haste
em madeira de loco e a lança da ponta em iputumuju (que segundo alguns curandeiros esta
madeira além de ser nobre era mística). Trazia uma cabaça e um bocapio (uma sacola grande
feita de palha) contendo suas bugigangas.
Seu assentamento era conhecido por ter três cabaças pequenas, vinte sete búzios e três lanças
(em alguns casos lanças de ferro e outras de pedra). Levava cuscuzeiro, mas não levava massa,
sendo obrigatório ter em seu assentamento três moedas de cobre, contendo cada um pouco de
plasma colhido de um corpo sem vida.
Suas roupas eram desfiadas nos lugares em que a sua doença apodreceu suas carnes, deixando
seus ossos descobertos. Suas cores preta e branca, em alguns lugares usavam o amarelo e o
preto. Laguidibá preto.
Conhecido nos terreiros dos antigos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma bengala feita de
loco com a ponta da lança em iputumuju, a qual ele carregava no ombro e nela pendurava sua
trouxa de lona com seus segredos e seu material. É de autoria dele o ditado que diz: “o poder da
missa afasta os pequenos males de senzala”. Por isso trazia uma cruz sobre o seu chapéu. Era
conhecido por trazer no pé dois guizos e no seu assentamento três cruzes, sete lanças e uma
bandeira, não podia faltar sete moedas de cobre com egum cada uma. Pegava cuscuzeiro, mas
não pegava massa. Sua roupa só eram farrapos nos lugares em que a doença já havia comido
suas carnes, deixando a pele e os ossos pintados. Suas cores: preto e branco. O seu laguidibá:
amarelo e preto.
Seu assentamento: quatorze alguidares, nove colheres de pau, um porrão. Sua roupa
características deveria lembrar um homem carregando algo nas costas.
Suas folhas: cajá, cajarana, cajueiro branco, pode usar as folhas de seus irmãos perfazendo um
total de nove folhas e mais a folha primordial para os três: o sangue lavô.
O mais velho dos Omulus, conhecido pelos velhos angolões. Sua bugiganga se resumia a uma
bengala na qual trazia pendurada uma trouxa, uma cabaça e um bocapio. Em seu chapéu
carregava uma pomba, e tinha outra pousada em sua bengala, que deveria ser apoiada no chão;
primeiro pelo peso do material amarrado e segundo para servir de apoio para o peso de seu
corpo. Era conhecido por trazer no pé três guizos e seu assentamento conter sete cabaças, sete
lanças, três bandeiras simples e um com uma pomba em cima, setenta e sete búzios, quatorze
moedas de cobre (com egum em cada uma). Pegava cuscuzeiro, mas não pegava massa. Seu
assentamento tinha dezessete alguidares para sua formação pessoal, nove colheres de pau e um
porrão. Suas roupas eram todas desfiadas por seu corpo não restando lugar para roupa comum,
pois a doença já havia tomado todo o corpo dele. Tinha por contraste um cão gordo para fazer
sua vez no que diz respeito à doença. Ele curava o povo e o cão o curava. Suas folhas são três
qualidades de carrapicho e o sangue-lavô (cana do brejo). Seu assentamento tinha o formato de
um homem com a bengala apoiada no chão e com as bugigangas penduradas.
Obaluayê
Obaluayê, Kajanjá ou Kaviungo um ser atrofiado que desde sua infância se dedicou a vida no
cemitério para estudar a morte de todos que fossem pra lá. E assim teria se criado sendo difícil
conversar com ele dentro de uma casa. Oríşa raro, pois para se conseguir alguma coisa dele
quando possuía uma pessoa, teria que levá-lo para o tempo e acender várias velas ao seu redor e
também em quem estivesse junto. Às vezes era preciso cobri-lo com um alá para então se
formular algum pedido e também oferecer um presente.
O seu assentamento é muito difícil, pois ele nesta cultura representa o verdadeiro Baba Regun e
tem que ser guardado por trezentos e sessenta e cinco eguns, todos em moedas de cobre, uma
caveira, nove lanças, nove cabaças, nove punhais, dezenove alguidares, um porrão, quatorze
colheres de pau. Tudo para dar o formato de atrofia e mais terra de vários lugares. Em seu pé
levava três guizos.
Suas cores: preto, vermelho e branco ou preta e vermelha. Não usava roupas, embora as tivesse,
tanto quanto os outros, mas só usava tanga, pois a atrofia atrapalhava para se vestir. Suas f olhas
são: dendezeiro, bambuzal e a jaqueira, pois todas as suas folhas são refúgios para egum.
Também se complementa com as folhas dos outros Omulus e eles se complementam com as
suas dependendo do momento e do ato a ser realizado.
Devo esclarecer que o que está descrito é simplesmente a respeito de Omulu-Viango, pois estes
assim eram chamados e conhecidos. E não TEMPO, este como inkisse que também é cultuado
em toda Bahia e em outras partes do Brasil, por quem tem conhecimento destes inkisses, que
são:
TEMPO LAMBARÁ, TEMPO ZARÁ, TEMPO DA BURIGANGA, TEMPO PEREPEPE, TEMPO
MACURA DE LÉ, TEMPO TAPERUÁ, TEMPO Z+Ê.
Tendo ainda em alguns barracões o culto de outras qualidades do inkisse Tempo, possuindo em
todas as casas de Angola, uma bandeira branca hasteada em sua homenagem, a qual teria por
princípio que estar sobre uma árvore frondosa, além de ter em seus galhos muito enfeites
coloridos amarrados. No chão ligado ao seu tronco, o assentamento deste inkisse, que possuía:
um fogareiro a lenha, uma grelha trempe com uma haste regular, sobre esta uma bandeira com
um pássaro, um pote, uma moringa, três quartinhas, um alguidar médio com uma jarra de barro
contendo o otá e outros segredos. Sem contar com setenta e sete ides, trezentos e sessenta e
cinco búzios, setenta e sete moedas de cada metal, obi, orobo, jalapa e dendê. Todo este
assentamento, colocado sobre porrão vestido com todas as cores, pois este inkisse representava
tudo, porque para tudo se precisa dele. Quero salientar que muitos barracões cultuavam este
deus com menos material que o descrito, porém tendo para isso um quarto reservado a Tempo e
representado por um galo arrepiado e outros objetos.
Em relação a feitura, este inkisse era e é muito complexo.
Primeiro: em mil pessoas se encontra um que seja realmente dele.
Segundo: não se pode contar com abrigo nenhum, pois terá que ser feito sob o tempo, embaixo
de uma árvore que combine com o mesmo.
Observação: Não confundir Omulu de origem bantu com Omolulu de origem sudanesa.
Devo esclarecer também que a respeito do egum nas moedas de cobre: os curandeiros sempre
colocavam uma moeda de cobre na boca de uma pessoa moribunda porque assim tinham a
certeza que a moeda de cobre absorvia o ectoplasma dessa mesma pessoa em seus momentos
finais. O processo de multiplicar essa moeda para a quantidade desejada é um segredo do culto a
estes inkisses.
Postado por Pai Wilson d'Oxum (Bambawara) às 13:53 2 comentários
Ògún de Ronda o eterno guerreiro, o encarniçado perseguidor dos exus, o eterno protetor dos
mendigos e dos bêbados, alcoólatras, o juiz justo dos zombadores e profanadores. É um inkisse
que requer muito cuidado, tanto na forma de cultuá-lo como em sua feitura, pois para tal tem
que ser Exu escravizado por Ògún, tendo para tanto que assentar Òşun.
Não pode ser feito dentro de casa e nem permanecer o seu assentamento dentro de casa. Para a
sua feitura é preciso muito conhecimento e prática, tem que ser tudo muito bem dividido, sem
que a balança penda mais para um lado. Também tudo duplo do kele aos bichos, na maioria dos
casos não é possível se fazer este inkisse sem se sacrificar para tal ato um cachorro, para se
completar suas obrigações.
Suas ferramentas são: uma espada, uma lança e um obé-fará. Para suas vestes, do lado direito é
uma roupa simples, do lado esquerdo em alguns lugares é cheia de nozes.
Suas comidas tanto podem ser as comidas comuns de Ògún, como os despachos feitos para os
escravos e postas no meio da rua.
À Ògún de Ronda todos os exus prestam satisfação dos atos praticados durante o dia, e ele por
sua vez, presta satisfação a quem de direito. Os filhos desse inkisse são destemidos e temidos,
quando cuidam dele conseguem tudo que querem na vida, todavia quando não cuidam
geralmente se acabam no meio das ruas. A maior parte dos filhos dele em tese carregam a
maldição das águas, sendo que uns pagam quando jovens e outros quando velhos, mas no fundo
são pessoas boas para se lidar.
Postado por Pai Wilson d'Oxum (Bambawara) às 18:51 1 comentários
Candomblé
Candomblé é uma derivação das culturas de religiões africanas, na qual cada uma
possui seus fundamentos, preceitos, deuses e demônios; mas que a finalidade
sempre é a mesma, ou seja, cultuar um Deus Independente. Algumas culturas
como: Angolão, Angola Paqueta, Congo, Congo de Ouro, Ketu Mussurumim, Ketu
Abiku, Alaketo, Gêge, Ijeşa, Nego, Nagô, Cambinda, Efan, Xambá, Catimbó,
Cabula, Giro, etc. pertencem ao Candomblé.
A cultura Angola é uma das mais antigas praticada no Brasil, portanto é
importante frisar sua organização, fundamentos, preceitos, tudo enfim é digno de
apreciação, de crédito, de fé e grande conceito dentro deste conjunto de religiões
intitulada Candomblé.
Depois de vinte e um dia o zelador trazia para sua roça todos estes materiais,
obedecendo a uma ordem. Dentro do gomo de bambu era então enterrado sob o
assentamento de “Exu” e era o egum representado ou pelo ferro ou pelas
ferramentas apropriadas. Oferecia-se então uma festa com sacrifícios de bode
preto, galos pretos, pombos pretos e comidas secas mais cachaça, velas, charutos,
etc. Isso sem deixar de cumprir com suas mais sérias promessas para convencer o
espírito a se aderir a tal sistema de vida. Entre essas promessas a de dar liberdade
total a estes espíritos nos seus dias de festa. Como as festas de máscaras na qual
davam o nome de afoxé, esta que para muitos é uma distração ou um desabafo
para seus cansativos dias de trabalho durante todo o ano de luta pela
sobrevivência, dando para isso o nome de carnaval que para os zeladores de santo
eram os dias de lazer de seus escravos, eram os dias dos eguns, dos exus; quando
então tinham como principio colocarem seus afoxés na rua, quatro dias antes da
festa de máscaras para só os recolherem na quarta feira de cinzas à meia noite
para os preparativos da festa dos mesmos.
Inkisses de Angola
Angola Yorubá
Lembá Oshala
Roxo Macumbo Ògún
Tananin Oshossi
Zaze Quendenbala ou Kassubetá Şàngó
Bamburucura Yansan
Dandabunga Yemaja
Nana-Iacô Nanan
Viango Omolu
Catende Ossain
Camba-Lacinda; Rere Izaquitala Òşun
Lã-Buru (Pó em outras culturas)
Existem ainda muitos outros nomes dentro desta cultura, fazendo assim jus a
aderência de muitas outras culturas a este nome de Angola.
Assim eram chamados os santos primitivos. Os escravos (exus) eram chamados de
Bombogira ou Aluvaia.
Exu é o principal ponto de partida para todos os princípios espirituais, nada se faz
sem que antes tenha se dado a eles a parte que lhe é de direito. Isso sem distinção
dessas ou daquela obrigação, oferenda; tanto para alguns dos mais antigos da
casa, como para as pessoas que viessem a precisar dos cuidados espirituais através
da mesma.
Assim sendo as pessoas em estado de iniciação dentro da cultura do candomblé
(abiãs) que são o princípio de um todo, nunca poderiam fugir a regra, teriam
primeiro que agradar Exu.
Então obedecendo às regras, lá estava o pessoal da casa às voltas com as
obrigações para Exu, obrigações esta que davam o nome de “venda dos escravos”.
Esta festa como diziam os mais velhos era uma festança de muitos para o bem de
um só, desde que este “um só” compreendesse e entendesse futuramente o
significado de tudo aquilo. As festas para compra dos escravos eram feitas
geralmente um mês antes do recolhimento do yawo, quando então no meio da
festa o zelador virava os inkisses de seus filhos, tanto fazia ser abiã como yawo,
todos viravam no santo, porque naquela época todos os zeladores tinham o
costume de usar uma toalha para enxugar os inkisses dos filhos ou para recolher
uma cura de todos os santos que raspavam. Essas toalhas eram usadas para virar
os inkisses de seus filhos todos de uma só vez, passando com a mesma sobre todos
em círculo no barracão quando então suspendiam os inkisses dos que já eram
feitos e dos abiãs que não iriam se recolher, deixando assim apenas os que
estavam prontos para se recolherem. Depois cantavam para que os inkisses
subissem e ali deixassem os êres para prosseguirem com a cerimônia da compra
de escravos. Logo que os êres chegavam saíam correndo do barracão para se
esconderem. Coisa esta que faziam bem feito, dando assim muito trabalho para
serem achados. Minutos após eles terem sumido o zelador avisava que quem
quisesse participar da brincadeira podia sair e procurar os êres e que aquele que o
encontrasse e o trouxesse consigo ao barracão seria o comprador do escravo
daquele santo e, por conseguinte o seu padrinho. O padrinho do santo do, o
padrinho do yawo, sendo dali por diante obrigado a participar de todas as
cerimônias da feitura do mesmo e ao mesmo tempo tendo que oferecer o bicho de
quatro patas e algumas coisas mais para o santo de seu afilhado.
De 1935 à 1955, tempo pelo qual nasci, me criei e me iniciei convivendo com várias
senzalas pertencentes aos negros de minha família, o culto do Angola era assim:
2) Tanto o iniciado como os animais que iam ser sacrificados tinham que passar
em sete águas correntes às 4 horas da manhã, antes de começar o banho
(maionga) para purificação dos corpos de ambos.
3) A primeira coisa a ser feita era a venda de escravo, esta dedicada a encontrar
um padrinho para o santo e através do santo deste padrinho se conhecer o escravo
a ser assentado, para o santo do iniciado.
5) Tudo pronto do escravo era a vez do inkisse. Trabalho para o capitão do mato e
a yámoro. A colheita das ervas de cada santo: três ervas do inkisse a ser feito; três
do juntó e sete ou três de Lemba (Oshala) como cobertura.
6) Preciso salientar aqui que o recolhimento de Angola era de nove meses, sendo
seis dentro do ronkóientar aqui que o recolhimento de Angola era de nove meses,
sendo seis dentro do roncra ser feito.erimonias ura de todos os san e três no
barracão, então o yawo ia aprender a fazer seus apetrechos para a saída do inkisse
e suas orações que se chamava “Angôrossi”.
Monzenze, mozenze
Catula gira a yawo
Monzenze catula gira
Cadê tateto monzenze catula gira
Cadê mameto
Então o zelador de santo saía do ronco com as abiãs ou futuros yawos, do jeito que
estivessem recolhidos e ainda sem terem feito nenhuma obrigação desde que
foram recolhidos. Davam três voltas no barracão, dando jinká na porta da rua, nos
pés das engomas, na porta do ronco e na porta do quarto do santo, daí
regressavam ao ronkó para entregarem seus cabelos ao seu inkisse.
O zelador se recolhia com os yawos, onde já estava os esperando as pessoas do
runtó da casa, capacitados para ajudá-lo, assim como três ou quatro zeladores de
outras roças para assistirem as cerimônias a serem realizadas naqueles abiãs e
futuramente dar-lhe votos de fé e confiança perante o público que ali estava; mais
um futuro zelador de santo digno de toda fé pública.
8) Todos os zeladores visitantes seguravam cada um, uma das coisas a serem
empregadas nos santos a serem feitos. Ao mesmo tempo orgulhosos de saberem
que estavam na presença de um verdadeiro zelador de santo que nada tinha a
esconder, pois era consciente do que iria fazer e não haveria quem não lhe desse
crédito de seus atos. Procediam assim: um segurava a urupemba, outro o obetam,
o obérece, outro os contra-eguns, as senzalas, o kelê, as miçangas, o xaorô, o mokã
todos prontos para a catulagem. E mais o bêro, a macassaporonga, macassá, a
erva-tupi, o dandá, o azeviche, o paxolim, o begerim; todos estes ingredientes
ralados é que se fazia o pó para curar, e ainda o obí, o orobô, a lobaça etc.
Enquanto isso o zelador de santo preparava as dilongas (prato de ágata) para
colocar o otá do santo, e providenciava o sacrifício dos animais, estes todos
brancos por ser este primeiro sacrifício dedicado a Oshala. Então começavam a
catulagem com esta cantiga:
Quero salientar também que era chamada a atenção dos zeladores visitantes para
os preparativos que estavam sendo feito para que eles lembrassem algo que por
acaso vissem que estava sendo feito errado ou não tivesse sido feito. Naquele
recinto não poderia existir retraimento, mas sim o saber, a ciência, a compreensão
e a fé, o que era mais importante.
Terminada a catulagem e os sacrifícios de animais todos que estavam dentro do
ronkó colocavam uma coisa no yawo, o que para o zelador de santo dono da casa
era uma grande satisfação, e para o inkisse uma grande honra receber os exés das
mãos de um zelador de outra roça. É bom frisar que os zeladores visitantes eram
sempre mais antigos de santo que o dono da roça em questão. Feita esta cerimônia
traziam o yawo com tudo em cima para o barracão com esta cantiga.
Encerrando a cerimônia, por mais três meses, tempo este em que o yawo tinha que
aprender as rezas, os cânticos, as danças, grande parte do dialeto usado na roça.
A Jura
A Jura era uma cerimônia muito importante, porque neste ato os próprios
inkisses “juravam” obediência e fidelidade para os mais velhos e para aqueles que
dali por diante serão os seus padrinhos aqui na terra, não permitindo que seus
filhos se desviassem por outros caminhos que não sejam citados e jurados perante
seus superiores, deixando que seus padrinhos arcassem com as conseqüência de
seus erros*. As pessoas que eram destinadas a serem padrinhos e madrinhas de
algum santo tinham por obrigação acompanhar toda a criação do yawo, porem,
sem entrar no ronco, a menos fossem pessoas feitas e aptas para qualquer fim
dentro da cultura além de serem ao mesmo tempo destacadas ou privilegiadas na
compra dos escravos dos santos a serem feitos.
Para a feitura do inkisse, caso este alguém não pudesse fazer estas oferendas,
teriam que “vender” seus direitos a quem pudesse, ou melhor, não deveria nem
participar da procura dos êres, que era a cerimônia da compra dos escravos do
santo e a procura do padrinho para o mesmo. A bem da verdade o que poderia
parecer uma brincadeira era uma coisa muito séria para vida futura do yawo, e
para o progresso daquele que por ventura tivesse a graça de ser seu padrinho.
*É provado que quando o yawo foge as regras citadas para serem cumpridas por
ele e sendo as mesmas juradas pelos seus oríşás, inkisses ou voduns, só os seus
padrinhos pagam por eles, esse fato é tão meticuloso que só mesmo os verdadeiros
observadores podem notar porque algo não vai bem para alguém que serviu de
padrinho para o santo de algum yawo. Talvez por isso, que hoje em dia é difícil
encontrar alguma roça que pratique este ritual.
O Lava Pés
Saídas
Orupi
Um tabuleiro forrado com uma toalha branca com folhas, o mokunã do yawo no
meio, a cabeça do quadrúpede sacrificado para o inkisse em cima. Muito milho
branco por cima de tudo com mel, e as outras comidas e exés sobre a mesa. Todas
obedecendo a uma ordem, arrumando-se isto, tudo coberto com muita pipoca e
enfeitado com penas. As folhas nas quais o yawo esteve deitado no seu tempo de
recolhimento eram colocadas na esteira usada por ele, enrolando as isabas
(folhas) nesta e assim está pronto o orupi para ser entregue no lugar de direito do
inkisse e escolhido por este, através do jogo de búzios, ou em um lugar tradicional
da roça. Arrumado o orupi era posto na porta do barracão ou do ronkó para que os
yawos darem adobá e rezarem o angôrossi para sair. Quando então o yawô
carregava o orupi do seu inkisse na cabeça, e lá chegando arriavam o carrego,
batiam o paó e rezavam o angôrossi, antes de entregar ao rio ou ao mar ou ainda
nas matas os seus carregos e só aí estavam prontos e podiam dizer que estavam
com seu inkisse bem feito e sem nada faltar.
Quitanda
Sete dias após a festa do nome de santo, se fazia a “quitanda dos êres”. Este ritual
era feito com muitos doces, frutas, comidas de santo, farofas, bolinhos dos mais
variados e o tradicional atori (vara de madeira) para castigar os que tentassem
roubar suas comidas sem pagar.
Antes de começar as mães pequenas davam duas voltas no quarteirão, onde está
localizado o barracão, mostrando as encruzilhadas para os yawos, quando eles
chegavam ficavam abaixados para bater o makó (palmas) para Exu em
agradecimento por terem proporcionado a paz, a tranqüilidade, desde sua entrada
no barracão até a a saída do inkisse. Davam três voltas sobre esta lentamente,
jogando o corpo para um lado e para o outro como se tivessem em transe, depois
voltavam para o barracão, onde estava tudo pronto a espera deles para começar a
quitanda. Os yawos ao chegarem da rua eram recolhidos ao ronkó para trocarem
suas vestes e serem virados nos santos e depois nos êres. Saiam do ronkó com
todos seus pertences, davam uma volta no barracão e voltavam para o ronkó para
depois saírem com seus tabuleiros de comidas, dançando sob a direção da mãe
pequena, com os cânticos apropriados para o ritual. Na frente vinha uma ou duas
yatabaxé com as dicissas (esteiras) e os atoris. Após terem dançado e cantado, os
tabuleiros eram postos em cima das dicissas em um canto do barracão onde os
êres sentados tomavam conta de seu tabuleiro. Cada êre com seu atori, era a hora
então de dar início a vendas das bugigangas e comidas. Enquanto os êres
negociavam suas mercadorias os outros yawos e o runtó da casa dançava e
cantava. Nesta festa muitos compravam, outros roubavam e muitos levavam
pancadas, mas tudo em harmonia. Por fim, tudo vendido e roubado, pelo povo
presente, inclusive os tabuleiros e dinheiro, a mãe pequena perguntava aos êres
tinham autorização para venderem aquelas mercadorias, se tinham nota fiscal,
etc. Enquanto isso alguém da casa dizia que eles eram clandestinos, que estavam
fora da lei e ia chamar a polícia. Os êres tentavam fugir, mas davam de encontros
com policiais, daí então iam embora dando lugar ao inkisse que ficavam
espalhados no barracão. E assim são recolhidos a um canto esperando que o runtó
dissesse aos ogãs para cantarem o xirê para eles, depois do xirê de cada inkisse
presente encerrava-se a festa. E sendo assim mais um capítulo na vida dos novos
yawos e com ele o progresso do inkisse, bem como a elevação na hierarquia
espiritual.
Fim do Recolhimento
O yawo depois que saía do ronkó com seus pertences e os do seu inkisse, mantinha
todo o requinte do mais humilde dos servos de seu inkisse, de seu barracão. O
povo de Angola não tinha por tradição a roupa branca, se não para alguns rituais
internos; fora disso a primeira característica era os pés no chão, a segunda era
suas cabeças cobertas, suas miçangas descobertas com seu pano da costa cobrindo
seu pescoço, sua roupa estampada combinando com as cores de seu inkisse, trazia
um atakã amarrado na cintura onde trazia enfiada sua dilonga (prato de ágate),
seu dilongá (caneco de ágate), e às vezes em uma bolsa uma moringa d’água.
Trazia sua cabeça sempre baixa, onde quer que estivesse. Não fazia parada pelo
meio da rua; não fazia e nem recebia visita. Não entrava onde não era permitido
para pedir ou comprar qualquer coisa. Para onde quer que ande, seu zelador
ficava sabendo através do seu xaorô, pois este não parava de tilintar o tempo todo.
Os yawos geralmente ocupavam todo o seu tempo de kelê vendendo algo que
pertencesse ao seu inkisse como:
- Yawo de Roxo Macumbo (Ògún) vendia: farofa de frango, camarão ou acarajé.
- Yawo de Tananim (Oshossi): farofa de frango e frutas.
- Yawo de Zaze Quendembala (Şàngó): fatos, acará, peixe, acarajé.
- Yawo de Bamburucura (Yansan): acarajé, abará, acará.
- Yawo de Viangô (Omolu): mocotó, cuscus, acarajé, verduras.
- Yawo de Dandabunga (Yemaja) bolinhos diversos, cocada.
- Yawo de Nana-Iacô (Nanan): cuscus e arroz doce.
- Yawo de Lembá (Oshala): lelê, mungunzá, acaçá.
- Yawo de Catende (Ossain): ervas diversas.
- Yawo de Camba-Lacinda (Òşun): arroz doce e rolete de cana.
- Yawo de Tempo vendia: comidas diversas.
Agindo assim todos aqueles yawos tinham a certeza de estarem participando da
vida histórica de seus inkisses e assim fazendo os agradava cada vez mais. É
importante frisar que tudo isso era feito sem taxar preço, pois isso não era a título
de comércio e sim por questão de ética.
Era um unge feito com três costelas tiradas das cabras dos inkisses femininos.
Depois que levantavam as obrigações fazia-se a festa da Lebara com os restos das
comidas e as três costelas. Tínhamos o Padê que era feito com a cabeça do boi de
Şàngó ou de Ògún. Depois das festas com o que sobrava fazia-se a festa para Exu.
Sabemos que para todas as festas e para todos os atos Exu era e será servido em
primeiro lugar. Estas festas citadas eram totalmente independentes dos despachos
de Ex u, para a segurança da casa.
Afoxé
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