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ção de Gabriel Cohn para a análise das co- dos exemplos lembrados para demonstrar a
nexões entre comunicação, teoria e ideolo- intensa politização dos estudos e de modo
gia (COHN,1973), a investigação a partir de simultâneo a persistência da ausência de tra-
um modelo quantitativo, acerca da política balhos sobre novas modalidades de interação
no noticiário do Jornal do Brasil e Última entre mídia e política, as quais permaneciam
Hora entre 1960 e 1971 empreendida por Lu- bloqueadas pelo autoritarismo estatal brasi-
cila Scavone, Maria Belloni e Cléa Garbayo leiro.
(SCAVONE,1975) e a análise de discurso re- Aliás, as controversas relações entre o pe-
alizada por Haquira Osakabe, voltada para ríodo ditatorial e a comunicação permanece
preocupações teóricas e para a análise em- como temática revisitada mesmo por traba-
pírica de discursos de Getúlio Vargas (OSA- lhos desenvolvidos posteriormente. Dois de-
KABE,1978). les, uma tese de doutoramento e uma disser-
A ampliação dos espaços democráticos no tação de mestrado, podem ser citados: Mo-
final da década de 70 e no início dos anos dos de olhar o discurso autoritário no Brasil
80 permitiu o surgimento de inúmeras inves- (1968-1978): o noticiário de primeira página
tigações nas fronteiras alargadas da temática na imprensa e a propaganda governamental
comunicação e política. Duas vertentes de na televisão (MATOS,1989) e Ditadura & se-
estudos então se esboçaram, sem que isto dução. Redes de comunicação e coerção no
significasse necessariamente afinidades teó- Brasil - 1969/1974 (WEBER, 1994).
ricas. Antes conformavam espécies de sub- Não por acaso, um balanço sobre a pes-
temáticas, articuladas pela preocupação do- quisa em comunicação no país, realizado em
minante de pensar as mídias como aparelhos congresso no começo dos anos 80 e trans-
de luta política e principalmente ideológica. formado posteriormente em livro, além de
Deste modo, a atenção voltava-se para a arti- não destacar comunicação e política como
culação entre comunicação e regimes autori- área específica, traz muito poucas indicações
tários; classes dominantes e setores subalter- de trabalhos produzidos ou em andamento
nos. acerca da temática (MELO,1983).
Livros como A censura política na im- A campanha pelas "Diretas, já"(1984) e o
prensa brasileira 1968-1978 de Paolo Mar- fim da ditadura (1985) certamente aparecem
coni (MARCONI,1980); Comunicação de como primeiros momentos que põem em
massa sem massa e Televisão e capitalismo movimento, ainda que sutilmente, a mutação
no Brasil (CAPARELLI,1980 e 1982, res- significativa dos estudos brasileiros de mí-
pectivamente); Estado Novo: ideologia e dia e política, sintonizando-os com as ques-
propaganda política (GARCIA,1982); The tões características das sociedades ambienta-
impact of the 1964 revolution on brazilian te- das pelas mídias.
levision (MATTOS,1982); O discurso sufo- Este ponto de mutação está expresso em
cado e Imprensa e capitalismo (MARCON- alguns livros e artigos publicados no pe-
DES FILHO,1982 e 1984, respectivamente); ríodo. Dentre eles cabe destacar A máquina
além dos coletivos Comunicação e classes do narciso. Televisão,indivíduo e poder no
subalternas (MELO,1980) e Comunicação e Brasil, no qual Muniz Sodré reflete acerca
ideologia (NEOTTI,1980) podem ser alguns das repercussões da mídia na contempora-
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Mídia e Política no Brasil 3
neidade e, em particular, da televisão sobre ficativo. Muitas vezes, esta possível aproxi-
o indivíduo, a sociedade e a política. Os im- mação só acontece enquanto discussão das
pactos de uma sociedade de ambiência mi- políticas (democráticas) de comunicação. A
diática, já conformada no país, sobre as con- reversão deste caráter somatório começa a
figurações de uma política em transição co- ocorrer em torno dos meados da década de
meçam então a ser esboçadas. 80. Para isto, contribui o artigo de Ro-
Outros textos buscam também analisar berto Amaral Vieira e César Guimarães de-
a nova situação. Um deles, o de Gisela nominado "A televisão brasileira na transi-
Swetlana Ortriwano, sintomaticamente in- ção. Um caso de conversão rápida à nova or-
titulado "Televisão e abertura: ensaio ge- dem"(VIEIRA,1986). Seguem-se a ele neste
ral"(MARCONDES FILHO, 1985), tenta percurso para as novas questões os artigos
pensar as novas modalidades de conexão em presentes no nono número da revista: "The
formação. Neste contexto também se ins- State, television and political power in Bra-
crevem os livros, publicados em 1985: Co- zil"(LIMA,1989) e principalmente "Meios
municação: teoria e política (MELO,1985- de comunicação de massa e eleições (um ex-
I) e Comunicação e transição democrática perimento brasileiro)", também de Amaral e
(MELO, 1985-II). Guimarães (VIEIRA,1989), que contempla
Com dificuldades, certamente oriundas do o tema das eleições, tão importante para os
inusitado da situação, livros posteriormente posteriores estudos neste campo.
buscam tematizar esta nova situação da inte-
ração entre política e mídia, agora livre dos
2 O Impacto das Eleições
entraves do período autoritário, e subsumi-
das às lógicas oriundas da política em tran- Presidenciais
sição, da indústria cultural e suas "gramáti- Sem dúvida, a eleição presidencial de 1989,
cas". Dentre estes livros podem ser reme- realizada depois de 29 anos sem eleições di-
morados: Opinião pública e debates políti- retas para presidente, aparece como aconte-
cos e Pesquisas eleitorais no debate da im- cimento detonador de um boom imediato e
prensa (THIOLLENT, 1986 e 1989, respec- posterior de reflexões sobre o enlace mídia e
tivamente); Virada eletrônica. O marketing política. Pode-se afirmar que este aconteci-
político na tv (VIANNEY,1987) e Política, mento eleitoral, ao fazer emergir em toda sua
o palco da simulação (BRUM,1988), além potência estas novas conexões entre mídia e
do artigo "Campanha política e meios de co- política, começa verdadeiramente a confor-
municação: a vitória de Jânio em São Paulo, mar um campo de estudos sobre comunica-
1985"(SILVA,1986). ção e política no país, perpassado por olhares
A trajetória da revista Comunicação & Po- sintonizados com esta nova circunstância de
lítica, fundada em março/maio de 1983, tam- sociabilidade acentuadamente midiatizada.
bém pode ser acionada para elucidar esta A rememoração de alguns textos quase
passagem. Em seus primeiros cinco núme- que escritos no calor da hora demonstra o
ros a revista parece trabalhar a comunica- impacto da eleição de 1989 sobre a produção
ção e a política como preocupações parale- acadêmica. A revista Comunicação & Po-
las, que nunca se encontram de modo signi-
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lítica, em duas edições publicadas em 1989 tro do labirinto: um estudo sobre a competi-
e 1990, traz quatro artigos sobre a temática. ção eleitoral na tv (CARVALHO,1994); Cul-
No seu número nove aparece o texto "Comu- tura política e imaginário. Eleição, cultura
nicação, espaço público e eleições presiden- política e comunicação: a eleição presiden-
ciais", na qual a mídia, em especial as tele- cial de 1989 (GUIMARÃES,1995); Política
novelas, já emergem como componentes im- e televisão: o horário gratuito de propaganda
portantes da construção do cenário político eleitoral e A batalha da presidência: o horá-
(RUBIM,1989). Na edição de número 11, a rio eleitoral na campanha de 1989 (ALBU-
revista publica quatro artigos, que têm des- QUERQUE,1991 e 1996, respectivamente) e
dobramentos posteriores desta área de estu- Construindo o significado do voto: retórica
dos: "O presidente na televisão. A cons- da propaganda política pela televisão (SOA-
trução do sujeito e do discurso político no RES,1996), além de inúmeros artigos em re-
guia eleitoral"(FAUSTO NETO,1990); "Te- vistas e capítulos de livros dedicados a esta
levisão e política: hipótese sobre a eleição temática.
presidencial de 1989"(LIMA, 1990); "Co- No interregno entre as eleições presiden-
municação e política: enigma contemporâ- ciais de 1989 e 1994, o episódio do impe-
neo"(RUBIM,1990) e "Pedagogias de despo- achment do presidente Collor produziu uma
litização e desqualificação da política brasi- nova quantidade de estudos, imediatos e pos-
leira"(WEBER,1990). teriores, que contribuíram para a continui-
A lista das reflexões imediatas, sem uma dade do delineamento desta área acadêmica.
preocupação exaustiva, pode ser acrescida Novamente, sem preocupação de produzir
dos seguintes textos: "Indústria da comu- uma listagem exaustiva, podem ser recorda-
nicação: personagem principal das eleições dos os textos: "Museu nostálgico: guerri-
brasileiras de 1989"(LINS DA SILVA,1990); lheiros udenistas"(BUCCI,1992); "Deveras,
Como ganhar uma eleição (FIGUEIREDO e uma fabulação do real?"(CASTRO,1993);
FIGUEIREDO,1990); A cena persuasiva da "O espetáculo da crise: os media e
propaganda política (VALLE,1990) e "Po- o processo de impeachment contra Col-
lítica e cultura no Brasil contemporâneo: lor"(ALBUQUERQUE,1993); "Política em
a experiência das eleições presidenciais de tempos de media: impressões de cri-
1989"(PEREIRA,1991). ses"(RUBIM,1993); "A cara pintada da po-
Este impacto certamente não se circuns- lítica"(WEBER,1993); "Vozes do impeach-
creveu ao entorno temporal das eleições, mas ment"(FAUSTO NETO,1994); O impeach-
permitiu posteriormente a emergência de no- ment da televisão (FAUSTO NETO,1995)
vos estudos atentos ao tema da eleição (inau- e Imprensa e poder: ligações perigosas
guradora) de 1989. Dentre estes trabalhos, (JOSÉ,1996).
muitos deles dissertações e teses, podem A eleição de 1994, apesar dos limites im-
ser lembrados: The role of television ’free- postos pela legislação eleitoral no uso da mí-
time’ in Brazil: a study of the 1989 pre- dia pelos partidos e candidatos (IMPRENSA
sidential election in a comparative pesrpec- OFICIAL,1993 e RUBIM,1994-I), como por
tive (SOUSA,1993); Eleições 89: a razão e a exemplo a proibição da utilização de exter-
sedução das elites (AGUIAR,1993); O cen- nas e de truncagens, permitiu o desenvol-
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ção na área e busca uma alternativa teórica A discussão de uma agenda de pesquisa
distinta das teses brasilienses do CRP. deve permitir a criação de condições para
Para completar este quadro institucional reduzir descompassos, ampliar a interlocu-
e temático-teórico, cabe assinalar no âmbito ção interdisciplinar e inaugurar um itinerá-
das universidades brasileiras, o Laboratório rio mais consistente no sentido de conformar
de Mídia e Política da IUPERJ, dirigido pelo um campo comum de estudos. Nesta pers-
pesquisador Marcus Figueiredo, e o Cen- pectiva dois horizontes de discussão tornam-
tro de Estudos de Opinião Pública da UNI- se essenciais: o mapeamento da sua situação
CAMP, o qual tem tangencialmente estudado teórica e a identificação da agenda temática
a questão dos enlaces entre mídia e política inscrita no campo.
no país, a partir do lugar comum intitulado Uma pauta de pesquisa comum aos co-
"opinião pública". municólogos e cientistas sociais e políticos
deve envolver uma avaliação prévia não só
da agenda temática hoje efetiva e em pers-
4 Agenda de Pesquisa
pectiva, mas também do estado teórico e dos
Sem dúvida, o desenvolvimento recente, o recursos metodológicos atualmente mobili-
interesse tardio e a fraca interlocução en- zados. Com certeza esta não parece ser uma
tre cientistas sociais - em especial cientis- tarefa fácil de realizar pois, se os temas que
tas políticos - e comunicólogos, separados têm freqüentado os estudos apresentam-se
em mundos acadêmicos distintos, se consti- como passíveis de identificação e mesmo de
tuem num dos principais fatores impeditivos classificação, não se pode afirmar o mesmo,
à conformação de uma área temática inter- sem correr riscos de avaliação, em relação ao
disciplinar - compartilhada basicamente por rastreamento teórico e metodológico dos tra-
comunicólogos e cientistas políticos, mas balhos aqui considerados.
também por sociólogos, antropólogos, lin- Tal dificuldade provém da insuficiência de
guístas, semiólogos, filósofos, etc. - capaz de modelos teóricos anteriormente existentes;
viabilizar a convergência de abordagens ana- da já mencionada dispersão da produção e
líticas distintas; permitir a aquisição e uso sua existência recente; do caráter inovador
comum de linguagem, modelos e procedi- de inúmeras questões em cena, que exigem
mentos metodológicos que demonstrem afi- o uso de novas teorias e dispositivos me-
nidades e, finalmente, propiciar o desenvol- todológicos e da inexistência de um campo
vimento teórico acerca deste objeto comum. comum e interdisciplinar de pesquisa que
Evidentemente a inexistência deste campo possibilite a troca e a contraposição teórico-
de pesquisa interdisciplinar provocou prejuí- metodológicas mais nítidas.
zos para a compreensão mais rigorosa das re- Contudo - e apenas como um ponto de par-
lações existentes entre política e mídia. Esta tida para uma possível discussão mais apro-
situação terminou por gerar uma produção fundada sobre a questão - resume-se aqui
dispersa do ponto de vista institucional, te- as vinculações teóricas mais evidentes e re-
mático e teórico-metodológico nas áreas dis- correntes que a produção considerada neste
ciplinares afins, apesar dos pólos de agluti- texto adotou na trajetória que engloba o pe-
nação ora em constituição. ríodo pioneiro (anos 70 e 80) e o momento
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seguinte que se desdobra até hoje (final dos A marca deste segundo momento
anos 80 e década de 90). manifesta-se em um complexo processo
Entre os anos 70 e 80, como já foi anotado de reconfiguração teórica e metodológica,
em outra passagem deste texto, os temas re- ainda pouco definido quanto às suas direções
tinham um território alargado, com alta per- predominantes. Mas a assimilação entre
meação da categoria ideologia, certamente, comunicação e ideologia torna-se bastante
na época, noção chave demandada para des- nuançada pela introdução de uma diversi-
nudar a presumida relação mídia e política. dade de outros processos, perspectivas e
A noção de indústria cultural, muitas vezes interesses de investigação. Assim, algumas
manuseada de modo negativo e algo distinto das orientações teórico-metodológicas
do universo de seus formuladores Theodor anteriores persistem, mas modificadas pelo
Adorno e Max Horkheimer, inscritos na Es- enfrentamento das novidades e pela novas
cola de Frankfurt; a teoria da hegemonia de aquisições teóricas.
Antonio Gramsci e a noção derivada e trans- Os estudos do discurso, por exemplo,
mutada dos aparelhos ideológicos de Estado sem abandonar obrigatoriamente as atitudes
(AIE) passam a inspirar os estudos de comu- semiológico-estrutural, sofrem acentuada in-
nicação e, em especial, aqueles localizados fluência dos procedimentos de leitura da cor-
no campo da mídia e política. Mesmo os es- rente intitulada "análise de discurso", espe-
tudos estruturalistas, em fortalecimento na- cialmente de tradição francesa, e das teorias
queles anos e com presença significativa nas da enunciação e da recepção. A produção da
áreas da semiologia e da linguística, privi- UFRJ em comunicação e política, por exem-
legiam esta impregnância da noção de ideo- plo, inscreve-se majoritariamente nesta pers-
logia nas reflexões acerca da comunicação. pectiva.
Na verdade, a recorrência a estas teses e teó- As teses gramscianas da hegemonia man-
ricos guardam íntima conexão com a recep- têm vigência em uma diversidade de estu-
ção positiva da Teoria Crítica e das obras de dos, por vezes de modo quase puro, por ve-
Gramsci, desde o final dos anos 60, e com a zes mitigadas com formulações posteriores,
ascensão do marxismo como paradigma do- como o cultural studies, cujos principais au-
minante no ambiente universitário brasileiro. tores Raymond Williams e Stuart Hall rece-
O momento seguinte, inaugurado em bem forte influência do próprio pensamento
torno do final dos anos 80, exige abordagens de Gramsci. O exemplo mais elaborado no
teórico-metodológicas que ensejem a com- Brasil da assimilação deste horizonte e da
preensão da nova situação das relações en- tentativa de, a partir dele e de outras contri-
tre mídia e política. Ele caracteriza-se pela buições afins, construir novos instrumentos
novidade da presença liberada da política no de análise (como a hipótese do CRP) está lo-
espaço virtual engendrado pelas mídias, in- calizado no Núcleo de Estudos sobre Mídia
clusive invadindo outros registros midiáti- e Política da UNB.
cos, como os ficcionais, e pelo impacto da Além destas teorias e autores, inúmeros
comunicação midiática na competição elei- outros estão presentes nos estudos de co-
toral (eleições de 1989 e 1994) e no processo municação e política do período em refe-
político (impeachment de Collor). rência. Jürgen Habermas certamente apa-
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rece como o mais referido deles, em espe- exemplo, aquelas mais próximas do compor-
cial por suas formulações sobre a "esfera pú- tamento eleitoral ou das análises da "opinião
blica"e por suas teses sobre a "ação comu- pública".
nicativa". Tais noções atravessam inúmeros Quanto a identificação da agenda temá-
estudos de comunicação e política brasilei- tica, ela deve não só servir para caracteri-
ros, seja para serem rejeitados ou assimila- zar os estudos já existentes, mas, simultane-
dos de modo crítico e consistente ou, por ve- amente, iluminar os territórios temáticos que
zes ainda, de modo apressado, sem o devido conformam o campo e as questões que de-
questionamento requerido pelo contexto teó- mandam esforços de investigações específi-
rico de origem destas noções. Dentre os fran- cas. Em uma aproximação certamente pre-
ceses, além das presenças de Jean Baudril- liminar pode-se propor as seguintes dimen-
lard e Paul Virilio, destaca-se Pierre Bour- sões: 1. comportamento eleitoral e mídias;
dieu, mais pela influência de sua noção de 2. discursos políticos midiatizados; 3. "es-
campo social, base teórica para a entendi- tudos produtivos da mídia"4. ética, política
mento do campo das mídias, que por suas e mídia; 5. mídia e reconfiguração do es-
teses acerca do "habitus"ou do "poder sim- paço público (formação da agenda, da opi-
bólico". nião pública e do imaginário social, cenários
A presença de autores anglo-saxãos ainda de representação, etc); 6. sociabilidade con-
aparece de forma tímida na literatura nacio- temporânea, mídia e política e 7. políticas
nal, com a exceção já assinalada dos traba- públicas de comunicações.
lhos de Afonso de Albuquerque; de mais al- 1. Apesar da crescente expansão dos es-
guns outros autores e daqueles marcados pe- tudos sobre mídia e comportamento eleito-
los cultural studies. No entanto, certa assimi- ral tanto na área da Ciência Política quanto
lação das teses da agenda-setting e newsma- na Comunicação, eles tendem, no primeiro
king permeiam muitos dos estudos aqui ana- caso, a subestimar o papel das mídias no
lisados sem alcançar, entretanto, um posição processo eleitoral e, no segundo caso, a
central como por vezes ocorre nos Estados superestimá-lo. Contudo, esta dimensão se
Unidos. Em zona de proximidade com as te- constitui numa das mais operativas linhas de
ses da agenda-setting, a reflexão de N. Luh- pesquisa desde as eleições presidenciais de
mann acerca da "tematização", filiada à tra- 1989 e certamente voltará a ganhar relevân-
dição teórica européia, também não teve uma cia estratégica no próximo ano quando ocor-
recepção compatível com a sua presença in- rerá mais uma eleição presidencial casada
telectual internacional. com eleições estaduais e renovação do Con-
O isolamento entre os estudos acadêmi- gresso Nacional. Ela aglutina temas que ar-
cos e as pesquisas voltadas para o mercado ticulam as mídias e vários aspectos do pro-
(institutos de pesquisa, agências de marke- cesso político, como a propaganda eleitoral,
ting e propaganda, etc.), sem dúvida, tam- a formação da agenda das mídias e a agenda
bém deve ser incluído como um dos fatores pública, o impacto da imprensa e da televi-
que dificultam um desenvolvimento mais rá- são na decisão do voto, etc.
pido deste campo de estudos, em especial, Promissora do ponto de vista temático e
em algumas dimensões temáticas, como, por contando com recursos metodológicos e ana-
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gadas pelos dispositivos próprios da soci- de uma interlocução mais sistemática, apesar
abilidade contemporânea, a qual (re)define das iniciativas, entre estas áreas disciplinares
as hierarquias sociais e as relações de po- afins e igualmente entre o meio acadêmico e
der instaladas e em funcionamento na so- as entidades profissionais deste setor e, por
ciedade. Trata-se aqui de buscar entender fim, a reduzida elaboração teórica.
quais as (re)configurações, tensões e impas- Para acelerar esta trajetória de desenvol-
ses que caracterizam a realização dos cam- vimento e conformar de modo consistente
pos da política e da comunicação em uma este campo comum de estudos, será neces-
sociedade midiática. Esta linha de estudos sário adensar o número de projetos, investi-
requer a compreensão das mutações expe- gações e análises; adotar desenhos de pes-
rimentadas pela comunicação, pela política, quisa articulados a modelos teóricos e pro-
por seus componentes e suas conexões na cedimentos metodológicos mais orientados
atualidade. para a especificidade do objeto de estudo; re-
7. Nesta linha, que já vem sendo desenvol- forçar o repertório teórico e metodológico da
vida desde algum tempo na área de Comuni- área; ampliar as modalidades de intercâmbio
cação, se encaixa os estudos relativos à polí- entre os pesquisadores e fortalecer lugares
tica e a regulação governamental para o setor institucionais de ancoramento de grupos de
das comunicações (legislação, agências e ór- estudiosos. A interlocução entre as colabo-
gãos institucionais, processos de concessão rações acadêmico-intelectuais das diversas
de canais, etc.) e a análise do seu impacto no áreas disciplinares envolvidas, em especial
plano político, ideológico e na configuração os estudos de Comunicação e as Ciências So-
do mercado nacional ou regional de comuni- ciais e Política, aparece como dado primor-
cação. Exemplos de estudos que podem ser dial para permitir a tessitura deste campo in-
desenvolvidos dentro desta dimensão são os terdisciplinar de trabalho e pesquisa.
estudos de casos sobre os processos de to-
mada de decisão sobre legislações específi-
5 Bibliografia
cas, o que envolve a reconstituição da arena
decisória e o jogo dos atores envolvidos no AGUIAR, Carli B. Eleições 89: a razão e
processo e a avaliação do impacto das deci- a sedução das elites. São Paulo, Escola
sões tomadas. de Comunicações e Artes, 1993 (tese de
Em resumo, pode-se concluir este pe- doutoramento).
queno e preliminar esboço do panorama de
estudos de mídia e política no Brasil relem- AGUIAR, Carli B. A imprensa e as eleições
brando traços fundamentais que demarcam de 1989: imagens e atores da política.
sua configuração atual, mesmo sem esque- In: Comunicação & Política. Rio de
cer os avanços significativos acontecidos nos Janeiro, I (3): 179-194, abril/julho de
últimos anos. Assim podem ser lembrados 1995.
os seguintes aspectos: seu caráter recente; ALBUQUERQUE, Afonso de. Política e te-
o descompasso de interesses de suas disci- levisão: o horário gratuito de propa-
plinas afins; o ainda pequeno repertório nu- ganda eleitoral. Rio de Janeiro, Escola
mérico de trabalhos realizados; a ausência
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