RELATÓRIO DA PRÁTICA 03: AOPs em Sistemas de Medição e Tensão de Offset

Bruno de Araujo Coutinho – bruno.coutinho.94@gmail.com; Douglas Piva Venicio – douglas.piva@hotmail.com; Turma T2

Resumo: Circuitos amplificadores são utilizados no O modelo matemático para a tensão de saída V out é
processo de medição de sinais. Sua função é, basicamente, obtido considerando o AOP como ideal. Desta forma,
dar um ganho ou atenuação no sinal que se quer medir. aplicando a LKC na entrada não-inversora obteremos a
Desta forma, torna-se necessário analisar os efeitos de erros Equação (2).
sistemáticos e aleatórios, assim como as não-idealidades,
deste dispositivo. VG V
+ out + 0=0 (2)
R G+R 1 R 2
Palavra chave: amplificador, não-linearidade, sinais
Rearranjando os termos da Equação (2) de forma a se
1. INTRODUÇÃO obter a relação de ganho mostrada na Equação (1), obtemos
um modelo matemático para a tensão de saída, V out , do AOP
Os AOPs são dispositivos que, do ponto de vista de em função das resistências da tensão de entrada, V G. Este
sinal, tem três terminais: dois terminais de entrada (entrada resultado está mostrado na Equação (3).
inversora e entrada não-inversora) e um terminal de saída. A
Figura 1 mostra o símbolo circuital do amplificador. R2
V out =− V (3)
R 1+ RG G
1.2. A Topologia Não-Inversora
A topologia inversora está mostrada na Figura 3.
Figura 1. Símbolo de um Amplificador Operacional [1]

Um AOPs ideal têm cinco características importantes:

1. A impedância de entrada é infinita, ou seja, a
corrente nos terminais 1 e 2 (entrada) é nula;
2. A impedância de saída é zero; ou seja, a saída
comporta-se como uma fonte de tensão ideal;
3. Ganho de modo comum nulo ou, equivalentemente,
rejeição de modo comum infinita;
4. Ganho de malha aberta, A, muito alto ou infinito;
ou seja, a tensão entre os terminais 1 e 2 é nula.
5. Tem largura de faixa de resposta em frequência
infinita, ou seja, o ganho A deve permanecer
constante desde a frequência zero até a frequência
infinita. [1]
O ganho de malha fechada de um amplificador
operacional é definido como mostrado na Equação (1).
V out
G≡
Vg
As duas topologias mais básicas com AOPs são a
topologia inversora e a não-inversora.
1.1. A Topologia Inversora
A topologia inversora está mostrada na Figura 2.
Figura 3. AOP com configuração não-inversora. [autoria própria]
Considerando o AOP como ideal, pode-se observar que a
tensão na entrada não-inversora será a mesma da entrada
inversora. Como, idealmente, não há corrente nas portas do
AOP, conclui-se que a tensão na porta não inversora é a
tensão de entrada. Assim, aplicando a LKC na entrada não-
inversora obteremos a Equação (4).
(1)
V G V out − V G
+ +0=0 (4)
R1 R2
Rearranjando os termos da Equação (4), obtemos um
modelo matemático para a tensão de saída, V out , do AOP em
função das resistências da tensão de entrada, V G. Este
resultado está mostrado na Equação (5). É importante notar
que a tensão de saída não é influenciada pela resistência da
fonte de sinal.

( )
V out = 1+
R2
V
R1 G
(5)

A temperatura e a tolerância dos resistores influenciam

no ganho do amplificador. Levando em conta estes fatores,
cada resistência pode ser representada pela Equação (6).
Figura 2. AOP com configuração inversora. [autoria própria] R= R nominal (1 +α T Δ T ) ± r %
0
(6)

1
onde Rnominal é a resistência nominal determinada pelo
fabricante, α T é o coeficiente de temperatura dado em ppm,
0

ΔT é a variação da temperatura em relação à temperatura de

referência e ± r % é a tolerância do resistor.
Pode-se observar pela Equação (6) que o valor da
resistência aumenta com o aumento da temperatura. Desta
forma, pelas Equações (3) e (5), conclui-se que o aumento
da temperatura implica em uma diminuição do ganho dos
amplificadores.
A tolerância dos resistores e a variação de temperatura Figura 5. Configuração para o cálculo da influência da tensão de offset
[2]
são exemplos de efeitos sistemáticos que interferem nos
amplificadores. Erros de calibração, efeito de carga Neste caso, considerando o AOP ideal e aplicando a
introduzido pelo instrumento de medição e as não- LKC, obtem-se a Equação (7).

( )
idealidades do AOP são outros exemplos de efeitos R2
sistemáticos. Por outro lado, efeitos aleatórios podem V out =V OS 1+ (7)
R1
influenciar nos circuitos amplificadores simplesmente pela
quantidade de medições realizadas. Uma forma de minimizar o efeito da tensão de offset na
1.3. Folha de Dados do AOP 741 saída é adicionar um capacitor para acoplar o sinal de
entrada do circuito de amplificação.
Consultando a referência [2], obteve-se a pinagem do CI A tensão de saída também sofre influência das correntes
UA741, que pode ser vista na Figura 4. de polarização do AOP. Para a configuração mostrada na
Figura 6, a tensão de saída é dada pela Equação (8).
V out = I B1 R 2 ≈ I B R 2 (8)

Figura 4. Pinagem do Circuito Integrado UA741 [2]

Alguns parâmetros relevantes deste CI podem ser

observados na Tabela 1.
Tabela 1. Alguns parâmetros do UA741. [2]
Valor Figura 6. Configuração para o cálculo da influência da corrente de
Parâmetro polarização [2]
Min Typ Max
Tensão de Alimentação −18 V 18 V Uma forma de minimizar o efeito destas correntes é
adicionar uma resistência à entrada não inversora da
Tensão de Entrada −15 V 15 V
configuração.
Tensão de Offset de Entrada - 1mV 6mV Desta forma, levando-se em consideração a tensão e
Ganho de Amplificação 20 V / mV 200V /mV corrente de offset ( I OS =|I B1 − I B2| ), a tensão de saída do
Resistência de Entrada 0,3 M Ω 2MΩ AOP é dada pela Equação (9).
Resistência de Saída
CMRR 70 dB
75 Ω
90 dB ( )
V out = 1+
R2
V +R I
R 1 OS 2 OS
(9)

1.4. Tensão de offset

2. METODOLOGIA
A tensão de offset (V OS) de um amplificador operacional Os seguintes materiais foram utilizados para a realização
é a aquela que deve ser aplicada na entrada não-inversora da prática:
para anular o aparecimento de uma tensão cc na saída do
 2 Amplificadores Operacionais U741
dispositivo quando ambas as entradas são conectadas ao
 Resistores de 1 k Ω e 10 k Ω.
GND.
 1 potenciômetro de 10 k Ω
A análise do efeito de V OS é feita curto-circuitando os
 Plataforma NI-ELVIS II
sinais de entrada e ligando-os a terra. Tanto para a topologia
inversora quanto para a não-inversora, o circuito resultante  Fios para conexão
para análise será aquele mostrado na Figura 5.

2
 Primeiramente, mediu-se os valores reais das resistências
utilizando o DMM do NI-ELVIS na escala de 10k. Os
valores estão mostrados na Tabela 2.
Tabela 2. Medição das resistências com o NI-ELVIS.
R1 ( 1,0021 ± 0,0015) k Ω
R2 ( 9,9291 ± 0,0054 ) k Ω
Para o ganho da configuração inversora dado pela
Equação (3), podemos obter a incerteza combinada da
medição usando a Equação (10).
função desta plataforma tem uma limitação quanto à
amplitude dos sinais de tensão que podem ser medidos por
este (+/-10 V pico a pico).
Em seguida, utilizando o pino de cancelamento de offset
e um potenciômetro foi feita uma ligação a fim de
compensar o offset do amplificador operacional. A
compensação do offset foi realizada medindo os valores da
saída do circuito amplificador utilizando a função de
osciloscópio da plataforma NI-ELVIS quando a ambas as
entradas estavam aterradas. Após esta compensação, um
sinal senoidal de poucos mili Volts de amplitude foi
aplicada à entrada da configuração pata verificar a

√[( ] [( ) ]
2 2

uc (Gi )=
∂ Gi
∂ R1)u ( R1 ) +
∂G i
∂ R2
u (R 2 ) (10)
efetividade do cancelamento do offset.

3. RESULTADOS
Primeiro, é necessário obter os coeficientes de 3.1. Análise do ganho, tensão de saída e incertezas
sensibilidade relativos a cada variável. Para este cálculo, não
foi considerada a incerteza associada ao valor da resistência Para a configuração inversora, a tensão calculada pode
interna do NI-ELVIS, que é de RG=50 Ω [3], pois a mesma ser obtida através da Equação (3). Importante observar que
não foi encontrada. deve ser considerado o valor RMS da tensão de entrada e
∂ Gi R 2 10 k Ω também a resistência interna da fonte. Este cálculo está
 ∂ R = 2= 2
=0,01 Ω/ Ω2 mostrado na Equação (12).
1 R 1 ( 1k Ω )
3
∂ Gi 1 −1 10 ×10 −3
 =− = =− 0,001Ω /Ω V out = 3 ∗ 300,52×10 =2,862V (12)
∂ R2 R 1 1k Ω 1× 10 +50
Como os resistores têm tolerância de 5% e assumindo A incerteza combinada deste cálculo pode ser obtida pela
que eles seguem uma distribuição uniforme, as incertezas Equação (14) fazendo a incerteza combinada dado que, a
associadas a cada um são: partir da Equação (1), podemos escrever a Equação (13).
1000 ∗ 5%
 u ( R 1) = =28,866 Ω V out =GV i (13)
√3
10000 ∗ 5 %
 u ( R 2) = =288,675 Ω Assim, temos que
√3

√[( ] [( ) ]
2 2
Utilizando a Equação 3 para calcular a tensão de saída e
a Equação 10 para obter a incerteza combinada, teremos o
valor esperado da tensão de saída para esta primeira
u c ( V out ) =
∂ V out
∂G )u (G ) +
∂ V out
∂V i
u ( V i) (14)

configuração.
Para a Equação (14), os coeficientes de sensibilidade são
u ( G i ) = √ ( 0,01⋅ 28,868 ) + (− 0,001⋅ 288,675 ) =0,408 calculados como:
2 2
(11)
∂ V out
Seguindo-se os mesmos passos para a configuração não-  =V i =300,52 mV
∂G
inversora levando-se em consideração a Equação 5 para o ∂ V out − R2 −10 ×10
3

ganho da configuração, obteremos o mesmo resultado.  =G= = =− 9,52V / V

A plataforma NI-ELVIS foi utilizada para a geração de
um sinal senoidal de entrada de 850 mVpp e frequência de
100 Hz. Este sinal senoidal foi então aplicado à
configuração amplificadora e o sinal de saída foi medido
com a utilização de um multímetro. Em termos de valor
RMS, este sinal é dado por
−3
850 ×10
v irms = =300,52mV
√2
Outra função da plataforma NI-ELVIS, a Bode, foi
conectada ao circuito amplificador para a obtenção das
curvas de resposta em frequência da configuração. É
importante observar que a função Bode não necessita de
uma fonte de sinal separada para avaliar a resposta do
circuito. Na verdade, a plataforma NI-ELVIS não permite
que o usuário utilize a função Bode caso a função FGEN
esteja sendo rodada e o contrário também é verdadeiro.
Outro ponto importante a ser ressaltado é o fato que a
∂V i RG +R 1 50+1×10 3
A incerteza da tensão de entrada é 10 mV, como obtido
em [3]. A incerteza do ganho da configuração inversora é
dada pela Equação (15). Assim, a incerteza da tensão de
saída calculada é:
√ 2
u ( V out )= ( 300,52× 10−3 ⋅ 0,408 ) +( − 9,52⋅ 10 ×10 −3 )
2
(15)
=0,158V / V
(12)
A tensão de saída medida para esta configuração foi de
2,826 V. A incerteza desta medição pode ser obtida pela
Equação (16), onde os coeficientes para o cálculo foram
obtidos em [4].
u ( V out ) =1 %⋅ 2,826 +3 ⋅ 0,001=0,031 (16)
Analogamente, para a configuração não-inversora,
teremos que o ganho é dado pela Equação (5). Para os
valores de resistência usados, a tensão de saída é dada pela
Equação (17).

3
 ( )
3
10× 10 −3
V out = 1+ 3 ∗ 300,52×10 =3,306V (17)
1×10
A incerteza deste cálculo é obtida pela Equação (14),
cujos coeficientes de sensibilidade para esta configuração
são obtidos a seguir:
∂ V out
 =V i =300,52 mV
∂G
3
∂ V out R 10× 10
 =G=1+ 2 =1+ =11 V /V
∂V i R1 1×10 3
Deste forma, do ganho da configuração não-inversora é
dada pela Equação (18)

√ 2
u ( V out )= ( 300,52 ×10 ⋅ 0,408 ) +( 11⋅ 10× 10 )
−3 −3 2
(18)
=0,165 V /V
A tensão de saída medida para a configuração não
inversora foi de 3,274 V. A incerteza desta medição pode
ser obtida pela Equação (19).
u ( V out )=1 % ⋅ 3,274 +3⋅ 0,001=0,036 (19)
Os resultados das medições e cálculos da tensão de saída
para as configurações inversora e não-inversora estão
resumidos na Tabela 3. Figura 8. Sinal de entrada (rosa) e sinal de saída (vermelho) para a
configuração não-inversora.
Tabela 3. Cálculo e medição das tensões de saída para as configurações
inversora e não-inversora Similarmente, ela análise da Figura 8, pode-se observar
Configuração Tensão Calculada Tensão Medida que o ganho de sinal é de 3,225/302,31×10−3=10,67, que
está próximo ao ganho esperado de 11.
Inversora ( 2,862± 0,158 ) V ( 2,826 ± 0,031) V Com o auxílio do Analisador de Bode do NI-ELVIS,
( 3,306± 0,165 ) V ( 3,274 ± 0,036) V foram obtidas as Figuras 9 e 10 que mostram os diagramas
Não-Inversora
de Bode para cada configuração.
Os sinais de entrada e saída para a configuração
inversora e para a configuração não-inversora pode ser
observados nos gráficos das Figuras 7 e 8. Estes gráficos
foram obtidos com o auxílio do Osciloscópio do NI-ELVIS.

Figura 9. Diagrama de Bode para a configuração inversora.

Figura 7. Sinal de entrada (rosa) e sinal de saída (vermelho) para a
configuração inversora.
Pela análise da Figura 7, pode-se observar que o ganho
de sinal é de 2,77 /287,53×10−3 =9,633, que está próximo
ao ganho esperado de 9,52.
Analisando-se a resposta em frequência da configuração
inversora e não-iversora, pode-se dizer que sua operação
com ganho linear e inversão de fase está restrita a
frequências de até aproximadamente 1 kHz.

4

Figura 10. Diagrama de Bode para a configuração não-inversora.
Na configuração não-inversora, é possível verificar um
comportamento linear numa maior faixa de frequência do
que na configuração inversora, porém ela também
apresentará não linearidade dada altas frequências
3.2. Análise da tensão de offset
O circuito equivalente para análise da tensão de offset é
o mesmo para as configurações não-inversora e inversora,
sendo assim para isso basta analisar uma configuração. De
acordo com o datasheet do amplificador 741 [2], a tensão de
offset possui valor tipíco de ±15mV.
A compensação do offset, pode ser ajustada com a
introdução de um potênciomentro no terminal de offset null,
e variando o valor da resistência diminuir o efeito da tensão.
Porém, o grupo não conseguiu realizar a compesação do
offset, sendo que a tensão não estava mudando com a
variação da resistência.
Para obter a tensão de offset, conecta-se ambas as
entradas do amplificador operacional ao terra. O valor
medido da tensão de saída foi de 13,12 mV.
Com as entradas conectadas ao sinal de entrada, foram
obtidos os gráficos das Figuras 7 e 8.
Com o offset ajustado, obteve-se a tensão de saída da
configuração inversora, que está mostrada na Figura 11.
Observe que depois do ajuste do offset, a tensão de saída
tem um valor médio próximo de zero.
Após a verificação da tensão de offset, é testada a
compensação desta tensão a fim de trazer o comportamento
do amplificador para mais próximo do ideal.
5
Figura 11. Tensão de saída para a configuração inversora com offset
ajustado
4. CONCLUSÃO
Quando o sinal de interesse para a medição possui baixa
amplitude, pode ser interessante o uso de amplificadores,
porém essa aplicação vem acompanhada de alguns pontos
negativos, como por exemplo a influência da tensão de
offset, que como foi para o grupo, nem sempre é possível ser
anulada.
Além disso, a faixa de passagem das configurações
podem alterar o ganho dado para as saídas e alterar a
medições causando falhas de intepretação. Contudo, os
amplificadores, apresentam-se como uma boa opção de
auxílio para medições de pequenos sinais, adequando-se
qual componente usar e qual a melhor configuração para o
sinal que é desejado medir.
REFERÊNCIAS
[1] Adel S. Sedra; Kenneth C. Smith, Microelectronic
Circuits, 7th Edition, Oxford University Press: New York,
2015
[2] Texas Instruments, Datasheet for the UA741, 2018,
disponível em http://www.ti.com/lit/ds/symlink/lm741.pdf.
[3] National Instruments, NI-ELVIS II Specifications,
2009, disponível em www.ni.com/manuals em 02/12/2012.
[4] Fluke, Models 175, 177, 179 True RMS Multimeters
User Manual, 2003, disponível em
www.vortex.com.br/fluke/fluke_pdf/manual_170.pdf
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